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MANUFATURA ENXUTA AULA 6 Prof. Everton Luiz Vieira 2 CONVERSA INICIAL Seja bem-vindo a nossa aula. Nessa aula, vamos aprender o processo A3, que é uma ferramenta que auxilia na resolução de problemas, que deve ser descrito em uma única folha de papel A3. Esse método é uma forma de organizar as ideias em um espaço único com a participação de todos os envolvidos no processo. Seguindo essa linha, vamos abordar o kaizen, que é o processo de melhoria contínua que deve estar enraizado na cultura organizacional. Também vamos aprender sobre Manutenção Produtiva Total, que é uma prática em que os operadores, juntamente com o setor de manutenção, trabalham para aumentar a vida útil das máquinas e equipamentos. A eficiência global do equipamento (OEE) será abordada sobre sua utilização e formas de cálculo. E, para finalizar, vamos entender por que algumas empresas fracassam na implantação do lean em seus processos. TEMA 1 – PROCESSO A3: GERENCIANDO PARA O APRENDIZADO Ferro (2009) cita que o termo A3 significa universalmente uma folha de papel de tamanho internacional com 29,7 x 42 centímetros. Mas, em uma empresa lean, um A3 tem um significado muito maior. Para a Toyota, cada problema ou desafio enfrentado, ou qualquer projeto que precisa ser implementado, deve ser possível de ser registrado em uma única folha de papel A3. Um exemplo de folha tradicional de tamanho A3 pode ser visualizado na Figura 1. 3 Figura 1 – Exemplo de folha A3 Créditos: ImYanis/ Shutterstock. Mais do que um relatório, é também considerado como um pensamento, pois é uma forma de se estruturar um problema e resolvê-lo, independentemente de relatórios. De forma prática, nessa única folha A3, líderes e suas equipes vão detalhar, em quadros que fazem a divisão da folha, o problema, projeto ou desafio a ser enfrentado. Além do mais, é preciso detalhar como ele será abordado, com as respectivas análises, ações corretivas e planos de ação (Ferro, 2009). De acordo com Ghosh e Sobek (2002), este modelo foi inspirado no ciclo PDCA (Plan, Do, Check, Action), sendo muito utilizado a ponto de tornar-se uma peça-chave para o programa de melhoria contínua da Toyota. Liker e Meier (2007) citam que o relatório A3 somente consegue ser tão bom quanto o processo que o gera e que sem um bom processo de solução de problemas, não se conseguirá a busca e o registro da lição aprendida. Para Schook (2008), o diagrama deve ser desenhado com clareza propondo um entendimento rápido, também podem ser utilizados símbolos dos Mapas de Fluxo de Valor (MFV). Quando se faz o diagrama, os esforços para solução de problemas focam no sistema e não nas pessoas. Ddesse modo, resulta em maior objetividade e uma postura menos defensiva ou da procura de culpados para as causas dos problemas. O uso dos relatórios A3 geram conhecimento novo em 4 todas as fases de abordagem dos problemas, e, o mais importante, uma metodologia para gerar conhecimento para a solução de problemas é criada. 1.1 Formato do relatório A3 Ghosh e Sobek (2002) sugerem oito passos para construção do relatório A3, conforme quadro 1. Quadro 1 – Passos para elaboração do relatório A3 Passos Descrição Título Definição de um título para o relatório A3. Definir sobre o que está sendo reportado. Definição - Por que se está falando sobre esse assunto? - Qual problema do negócio está se tentando resolver? - Indicar como esse problema afeta os objetivos da empresa ou como ele está relacionado aos valores da empresa. Estado atual - O que está acontecendo? - Demonstrar o problema de forma visual, por meio de gráficos e diagramas. - Inserir diagramas que sejam de fácil compreensão, para que todos possam compreender o problema. - Tornar o problema claro. - Destacar os grandes problemas. - Incluir medidas quantificadas sobre a amplitude do problema. Estado desejado ou meta - Inserir diagramas que ilustram como o processo proposto irá trabalhar após implementação das melhorias. - Especificar quantitativamente a melhoria esperada. Análise - Listar os principais problemas. - Utilizar a ferramenta “5 por quês?” até chegar na causa raiz do problema. - Analisar a lista de respostas para cada por quê. - Utilizar as ferramentas da qualidade: 5W2H, diagrama de causa e efeito, brainstorming etc. Proposta - Listar as contramedidas propostas. - Inserir um diagrama para ilustrar como o processo proposto irá trabalhar. - Listar todas as contramedidas que irão abordar as causas identificadas. - Prever a melhoria esperada na medida de interesse, de preferência quantitativamente. Plano de ação - Utilizar a ferramenta 5W2H, indicando a lista de ações, porque, onde, quando, responsáveis, método e quanto custará. Acompanhamento Acompanhar as ações perante o que foi planejado. Fonte: elaborado com base em Ghosh e Sobek (2002). 5 De acordo com Schook (2008), o relatório A3 não deve ser tratado apenas como um relatório que trabalhe com metas e problemas de maneira isolada e estática, mas sim como uma narrativa padronizada que compartilhe a história completa da situação estudada, realizando a relação entre os elementos específicos, sequenciando os fatos e informando as causas. Na figura 2, podemos observar um modelo de relatório A3. Figura 2 – Exemplo de formato do relatório A3 Fonte: Léxico Lean (2007). De acordo com Ferro (2009), o A3 representa uma ferramenta poderosa para resolução de problemas, execução de melhorias e fazer com que as coisas aconteçam, pois trata-se de um processo primordial para as organizações que queiram seguir de forma sólida e sustentável suas jornadas lean. De acordo com Schook (2008), “a essência do conhecimento enxuto é aprender fazendo”, e a ferramenta A3 proporciona este aprendizado. 6 Saiba mais Confira esse material sobre o processo de gerenciamento A3: Disponível em: <https://www.lean.org.br/comunidade/clipping/rev_lideranca.pdf>. Acesso em: 13 set. 2021. TEMA 2 – KAIZEN Segundo Hoeft (2016), o kaizen significa melhorias diárias, sempre incrementando. A tradução literal do termo em japonês fica mais perto de “pequenas mudanças para o bem”, também conhecido como melhoria contínua, que deve ser realizada por todos na empresa. Imai (1994) cita que o kaizen é um modo de vida, seja no trabalho, sociedade ou em casa, que merece ser constantemente melhorado. O Sistema Toyota de Produção sustenta-se por meio do aperfeiçoamento de iterações de trabalho padronizado seguidas pelo kaizen, seguidas novamente pelo trabalho padronizado, e repetidas. Algumas empresas realizam melhorias pontuais em seus processos, mas elas não se sustentam, pois não existe trabalho padronizado nem envolvimento das pessoas. Essa situação pode ser visualizada na figura 3, no processo sem kaizen, em que o processo melhora e piora continuamente, formando o que é conhecido como dente de serra. Figura 3 – Comparação de processo sem kaizen versus com kaizen Fonte: Everton Luiz Vieira (2021). 7 Na figura 3, ainda, temos o gráfico com kaizen, em que a melhoria é realizada de forma contínua no decorrer do tempo, para que a melhoria seja mantida é preciso usar ferramentas como o PDCA, que assegura melhorias planejadas e com estabilidade. O kaizen oferece a oportunidade de melhorar o que já foi melhorado em algum momento e isso se repete no decorrer do tempo, pois as oportunidades de melhorias surgem diariamente. O kaizen segue uma metodologia para sua implementação e utilização, que é composta por algumas etapas: definição do problema – identificação das oportunidades de melhoria (escolha do projeto e formação da equipe); medição – mapeamento do processo, seleção dos indicadores e coleta de dados; análise do processo atual– identificação e hierarquização das causas dos problemas; melhoria – geração, seleção e implementação das ações de melhoria; controle – avaliação dos resultados e documentação do processo para padronização; e monitoramento – para assegurar a manutenção e evolução das melhorias. Estas etapas podem ser balizadas dentro das etapas contidas no PDCA, que, conforme falamos no gráfico do processo com kaizen, auxiliam na implementação e manutenção das melhorias contínuas. 2.1 Princípios e elementos-chave do kaizen O kaizen é norteado por dez princípios básicos para se fazer melhorias, baseando-se na metodologia japonesa, conforme quadro 2. Quadro 2 – Princípios kaizen 1 Jogar fora todas as ideias fixas de como fazer as coisas; 2 Pensar em como o novo método irá funcionar, e não como esse não irá funcionar; 3 Não aceitar desculpas; 4 Não procurar a perfeição. Uma taxa de implementação de 50% é boa se for feita no ato; 8 5 Corrigir enganos nos momentos em que forem encontrados; 6 Não gastar muito dinheiro em melhorias; 7 Problemas dão a chance de usar o cérebro; 8 Perguntar “Por quê?” ao menos cinco vezes até encontrar a causa raiz; 9 As ideias de dez pessoas são melhores que as de uma pessoa; e 10 Melhorias não possuem limites. Fonte: elaborado com base em Brunet e New (2003). Esses princípios contribuem na criação de um ambiente onde todos os envolvidos se motivem em analisar problemas de modo a buscar as melhores alternativas de soluções. Com a criação desta mentalidade na empresa, o desenvolvimento do espírito da melhoria contínua ficará mais fácil de ser disseminado. Por meio da filosofia kaizen, é sempre possível fazer melhor. Existem elementos-chave para o kaizen: qualidade em tudo que se faz; esforço e dedicação; envolvimento de todos os funcionários da empresa, desde o presidente até o operador de máquinas; vontade de mudar e de vencer; e comprometimento. De acordo com Sharma e Moody (2003), o kaizen utiliza questões estratégicas que se baseiam no tempo. Nessa estratégia, os pontos-chave para os processos de produção são: a qualidade (como garanti-la), os custos (como reduzi-los e controlá-los) e a entrega pontual (como garanti-la). Se um destes três pontos fracassar, pode-se tornar perda de competitividade e sustentabilidade no ambiente de negócios. 2.2 Mandamentos do kaizen De acordo com Imai (1994), o kaizen é redigido por mandamentos, que devem ser levados em consideração para ser aplicado de forma positiva. Os dez mandamentos são: todos os desperdícios devem ser eliminados; todos os colaboradores devem ser envolvidos no processo de melhoria; 9 o aumento da produtividade deve ser baseado em ações que não necessitem de altos investimentos financeiros; pode ser aplicado em qualquer local/empresa; as melhorias obtidas devem ser divulgadas, como forma de ter uma comunicação transparente; as ações devem ser focadas no local de maior necessidade; o kaizen deve ser direcionado para que o seu objetivo seja unicamente a melhoria de processos; a priorização na melhoria das pessoas deve ser mais importante; e o foco do kaizen é aprender na prática. As ações de kaizen devem ser divulgadas e, para isso, pode-se utilizar da gestão visual, que ajuda a evidenciar anomalias e facilitar a comunicação, permitindo transmitir a informação de forma rápida e fácil a todas as pessoas. TEMA 3 – TPM – TOTAL PRODUCTIVE MAINTENANCE Segundo JIPM (2021), o TPM (Total Productive Maintenance), traduzido para o português como Manutenção Produtiva Total, teve sua origem no Japão, na Nippondenso, que era uma empresa fornecedora de componentes eletrônicos para a Toyota, na década de 1960, que teve como objetivo viabilizar o sistema JIT por meio da melhoria da confiabilidade dos equipamentos. A TPM é baseada na atividade de pequenos grupos de operadores, com o apoio e cooperação da direção e dos empregados em todos os níveis. As pessoas que possuem maior chance de dar conta das anormalidades ou outros sintomas raros no equipamento não são os trabalhadores da manutenção, e sim os operadores que trabalham no equipamento dia após dia (Shirose, 1994). Dennis (2008) cita que a TPM atribui um trabalho de manutenção básica, como: inspecionar, limpar, lubrificar e ajustar, aos membros da equipe de produção. Isso ajuda a liberar os membros da equipe de manutenção para que possam fazer uma manutenção preventiva, melhorias e vistorias no equipamento, treinamento e outras atividades que agreguem valor ao processo, conforme pode ser observado na figura 4. 10 Figura 4 – Como a TPM muda as tarefas de manutenção Fonte: Dennis (2008). Essa transferência de atribuições para produção vem ao encontro do conceito de manutenção autônoma, que pode ser traduzido como um processo de capacitação dos operadores, com o propósito de torná-los capacitados a promover no ambiente de trabalho mudanças que garantam altos níveis de produtividade, desse modo, a manutenção autônoma significa mudar de “eu fabrico, você conserta” para “do meu equipamento cuido eu” (Yamaguchi, 2005). Na figura 5, podemos observar um exemplo de operador cuidando da sua máquina. Figura 5 – Imagem de operador cuidando da sua máquina Créditos: Perfect Angle Images/ Shutterstock. 11 De acordo com Rodrigues (2014), a TPM vem sendo utilizada por muitas empresas com uma visão estratégica e com participação de todos, sendo um procedimento de extrema importância para o Lean Manufacturing e que possui alguns objetivos: integrar todo o setor produtivo e administrativo no processo de manutenção; otimizar o equipamento quanto ao seu desempenho e ciclo de vida; diluir a responsabilidade da manutenção com o operador de cada equipamento e com todos os outros setores da organização; motivar e capacitar o operador diante de detalhes técnicos ou operacionais do equipamento que utiliza; e reduzir custos de manutenção e operação. 3.1 Pilares da TPM Rodrigues (2014) cita que para a implantação da TPM devemos seguir alguns princípios, também conhecidos como pilares da TPM, que estão expostos na Figura 6. Figura 6 – Pilares da TPM Fonte: elaborado com base em Rodrigues (2014). Segundo Rodrigues (2014), a descrição dos oito pilares da TPM são: 12 gestão da manutenção planejada – equivale a elaborar um plano de manutenção preventiva e preditiva para maximizar a disponibilidade do equipamento; gestão dos processos de treinamento – corresponde a capacitar todos os atores envolvidos em liderança de equipes, técnica e modelo de gestão, ajudando a melhorar a compreensão e desempenho perante o projeto TPM; gestão da manutenção autônoma – consiste na capacitação dos operadores para revisar o equipamento que utiliza, na integração e comprometimento de toda equipe; gestão da manutenção focada – equivale às ações para eliminação de perdas crônicas de modo a aumentar a eficiência, a disponibilidade e o tempo de vida útil do equipamento; gestão dos equipamentos – consiste em garantir, por meio da eficiência dos equipamentos, os produtos finais com as características e especificações planejadas; gestão da manutenção da qualidade – corresponde à interação quanto à confiabilidade dos equipamentos com a qualidade dos produtos; gestão dos processos administrativos – diz respeito à garantia plena do funcionamento, sem desperdícios, das áreas de apoio administrativo, minimizando ou eliminando sua interferência na funcionalidade dos equipamentos; gestão da segurança, saúde e meio ambiente – trata da utilização e integração dos sete pilares anteriores para as melhorias das condições de trabalho, reduzindo os riscos e otimizando a efetividade. Esses pilares sustentam a TPM nas empresas, todos possuem grau de importância equivalente. Casoqualquer um deles perca força, poderá comprometer a estrutura da TPM na organização. 3.2 As seis grandes perdas De acordo com Wyrebsk (1997), as seis grandes perdas são classificadas da seguinte maneira. Perda por parada devido à quebra/falha: de acordo com JIPM (2021), é a perda mais significativa, origina-se da não manutenção ou da manutenção 13 realizada incorretamente. Essa perda causa prejuízo no tempo de operação e financeiro. A TPM trabalha no sentido de eliminá-la por meio dos oitos pilares, mas principalmente pelo pilar de manutenção autônoma. Perda por mudança de linha e regulagens: esta perda causa a parada de produção. O objetivo da gestão da produção é a minimização dessas paradas por meio de atividades de melhoria contínua que apontem qual a melhor metodologia envolvendo o planejamento e gestão da produção. Perda por operação em vazio em pequenas paradas: essa perda é motivada por pequenas inatividades da produção. Perda por queda de velocidade: essa perda pode ser reduzida por meio da atuação conjunta dos pilares de manutenção autônoma e planejada, garantindo o bom funcionamento e a confiabilidade de máquinas e equipamentos. Perda por defeitos gerados no processo de produção: esta perda é relativa a repetições de processos que geram defeitos e retrabalhos. A TPM trabalha para que máquinas e equipamentos operem com alta disponibilidade e qualidade na fabricação de produtos. Perda no início da operação e por queda de rendimento: esta perda diz respeito a tempo gasto para estabilização do processo demandando tempo e estudo. A TPM, por meio do pilar controle inicial, a reduz. A TPM baseia-se no conceito de quebra zero, e isso baseia-se no conceito de que a quebra é a falha visível, que é causada por uma série de falhas invisíveis, como um iceberg que está representado na figura 7. Figura 7 – Iceberg representando causas invisíveis gerando uma falha visível Fonte: elaborado com base em Yamaguchi (2005). 14 Logo, se os operadores e mantenedores tiverem a consciência de que devem evitar as falhas invisíveis, a quebra deixará de ocorrer. As falhas invisíveis são sinais que a máquina ou equipamento emite no decorrer do seu uso e vida. Para isso, Yamaguchi (2005) cita que essa mudança de consciência pode gerar melhorias que podem ser obtidas seguindo as etapas listadas: capacitar os operadores para conduzir a manutenção de forma voluntária; capacitar os mantenedores a serem polivalentes; capacitar os engenheiros a projetarem equipamentos que dispensem manutenção; e incentivar estudos e sugestões para modificação dos equipamentos existentes de modo a melhorar seu rendimento. Suzuki (1994) cita que existem três razões de por que o TPM se difundiu de forma rápida na indústria japonesa e mundial: garantia de drásticos resultados, transforma visivelmente os locais de trabalho e eleva o nível de conhecimento e capacidade dos trabalhadores de produção e manutenção. TEMA 4 – OEE – OVERALL EQUIPMENT EFFECTIVENESS – EFICIÊNCIA GLOBAL DE EQUIPAMENTOS Segundo Pintelon e Muchiri (2010), a OEE originou-se no TPM, parte integrante do STP, e o seu criador, Seiichi Nakajima, a desenvolveu como meio de quantificar não apenas o desempenho dos equipamentos, mas também uma métrica da melhoria contínua dos processos e equipamentos. Tornou-se referência mundial para medição do desempenho dos equipamentos das empresas industriais. Para Busso e Miyake (2013), a OEE origina-se da comparação entre o tempo ao qual a máquina agrega valor ao produto e à soma total das perdas. Para realizar o cálculo de OEE utilizam-se três parâmetros: disponibilidade, performance e qualidade em que organizam-se as seis grandes perdas, conforme figura 8. 15 Figura 8 – Fatores que formam a OEE Fonte: baseada em Serra et al. (2010). A disponibilidade é determinada pela fração de tempo que o processo está disponível em relação ao tempo total. Performance é a fração entre a quantidade de itens produzidos e a quantidade teórica que deveria ser produzida. Qualidade é a fração de itens produzidos dentro dos padrões especificados divididos pela quantidade total de itens produzidos (Chiaradia, 2004). Diante disso, a OEE tornou-se uma ferramenta fundamental para mensuração das melhorias implementadas pelo TPM. A figura 9 representa como o cálculo de OEE é realizado. Figura 9 – Cálculo do OEE Fonte: OEE (2021). 16 De acordo com Krüger (2015), o cálculo da disponibilidade é realizado da seguinte forma. Disponibilidade (%) = Tempo produzindo (h) Tempo programado (h) ∗ 100 Tempo produzindo: é o tempo em que a máquina está produzindo peças, independentemente da qualidade (peças boas ou ruins). Esse tempo é obtido excluindo o tempo programado, o tempo perdido pelas perdas de disponibilidade, como quebras de máquina, ociosidade, ajuste de máquina etc. Tempo programado: tempo efetivo programado para produção. Nesse tempo a máquina deverá estar disponível para produção. É obtido por meio da exclusão do tempo total, tempos não planejados e/ou alocados. Para calcular a performance, utilizamos a seguinte fórmula. Performance (%) = Qtde. produção real (un) Qtde produção teórica (un) ∗ 100 Quantidade de produção real: quantidade efetiva produzida, considerando o tempo em que o equipamento produziu, por algum motivo, com velocidade reduzida. Quantidade de produção teórica: é a quantidade que seria produzida se a máquina estivesse operando na velocidade padrão. Para o cálculo da qualidade, temos o que se segue. Qualidade (%) = Qtde. peças boas (un) Qtde total produzida (un) ∗ 100 Quantidade de peças boas: total de peças boas que foram produzidas e serão encaminhadas para o cliente final ou próximo processo. Quantidade total produzida: total de peças produzidas, independentemente da sua qualidade, incluindo refugos. Após calcular estes três fatores, podemos chegar ao valor de OEE. OEE (%) = Disponibilidade (%) ∗ Performance (%) ∗ Qualidade (%) 17 Para encontrar o valor de OEE, multiplicamos a disponibilidade pela performance pela qualidade. Para uma organização possuir um OEE de classe mundial (WCM – World Class Manufacturing), precisa-se atingir um valor mínimo de 85% do seguinte modo: disponibilidade igual ou superior a 90%, performance igual ou superior a 95%, qualidade igual ou superior a 99,9%. 4.1 Etapas para implementação da OEE Raposo (2011) sugere onze etapas para implementação da OEE para melhoria da capacidade produtiva. No quadro 3, podemos observar estas etapas: Quadro 3 – Etapas para implantação do OEE Etapas Atividades 1ª etapa Incorporar o indicador OEE em todos os setores da empresa, desde a alta administração até o chão de fábrica, por meio de treinamentos. 2ª etapa Definição de equipe responsável pela realização da medição e acompanhamento dos resultados de OEE. 3ª etapa Realizar estudo de tempos nas linhas de produção (cronoanálise). 4ª etapa Determinar o equipamento gargalo de cada linha de produção, sendo, nesse caso, o equipamento com maior tempo de ciclo. 5ª etapa Identificar as perdas do processo, conhecidas como paradas de linha, e realizar a codificação destas perdas. Nesse momento, é importante a participação dos operadores de produção, pois possuem familiaridade com o processo. 6ª etapa Elaboração de documentos padronizados que serão utilizados na coleta de informações para o cálculo do indicador de OEE, e a utilização de um programa de armazenamento. 7ª etapa Treinar todos os colaboradores envolvidos no processo sobre os conceitos de OEE e seus resultados. 8ª etapa Elaborar controles visuais com dados sobre a evolução do indicador de OEE e as causas de seus resultados. 9ª etapa Realizar atividades de pequenos grupos, por meio de reuniões com todos os envolvidosna área analisada. Isso pode ser realizado diariamente para discussão dos resultados de OEE. 10ª etapa Abertura de documento padronizado com informações sobre os problemas identificados e entrega, conforme o problema, ao representante da área responsável para a tomada de ações corretivas/preventivas. 11ª etapa Validação das ações realizadas, por meio de novas medições de OEE. Fonte: elaborado com base em Raposo (2011). 18 Para medição do OEE, é necessária a utilização de dados altamente confiáveis e frequentes. A coleta de dados é uma fase importante de medição de desempenho e melhoria contínua. Se o processo não for medido, não poderá ser melhorado. TEMA 5 – POR QUE AS EMPRESAS FALHAM AO IMPLANTAR O LEAN? Em 2007, a Industry Week publicou um estudo mostrando que somente 2% das empresas que possuem um programa para implementar o lean conseguem os resultados esperados. Dos Santos (2017) cita que a diferença fundamental da empresa que tem êxito na jornada lean e daquela que somente gasta dinheiro é a cultura. De acordo com Dennis (2008), a cultura da produção enxuta consiste em PDCA, padronização, gerenciamento visual, trabalho em equipe, intensidade, paradoxos e a produção lean como do ou caminho. O PDCA é a ferramenta central para o gerenciamento e levam anos para ser compreendida na sua totalidade. A padronização dá suporte ao controle das anormalidades. A gestão visual traz o conceito de “Posso até fugir, mas não posso me esconder”, deixando o processo transparente a todos os envolvidos. O trabalho em equipe tem tudo a ver com a frase “Um por todos e todos por um”, que é um mantra para os praticantes lean. O sistema Toyota de produção é cheio de paradoxos: Jidoka – pare a produção para que a produção nunca tenha que parar; padrões mudam a toda hora; produzir um de cada vez é mais eficaz do que a produção em lotes; a maximização de eficiência em unidades não maximiza a eficiência global; não produza nada que um cliente não tenha pedido; são os membros da equipe, e não os engenheiros industriais, que desenvolvem trabalho padronizado; e almeje a perfeição, mesmo sabendo que nunca a alcançaremos. Entender o sistema com humildade, reconhecendo que pode levar muito tempo para entendê-lo em sua totalidade. A intensidade é a procura interminável por perfeição. Usando PDCA, padronização, gerenciamento visual e assim por diante, forma-se uma cultura intensa entre os membros da equipe. 19 5.1 Alguns dos principais problemas na implementação do lean Lean Enterprise Institute (2017) listou algumas situações que dificultam a adoção do lean nas empresas. Foco na redução de custos: muitas empresas adotam o lean com o pensamento de redução de custos, sem entender a natureza estratégica e a necessidade de se concentrar na eliminação de desperdícios, para, assim, oferecer mais valor a seus clientes. Muitas empresas já possuem uma cultura de redução de custos, e pensam que as ferramentas do lean ajudarão a reduzir os custos mais rapidamente. Essas atitudes acabam sendo um “reforço das práticas antigas”. Figura 10 – Start na cultura lean Créditos: Olivier Le Moal/ Shutterstock. Colocar o lean em um sistema de lotes: quando a empresa pretende fazer uma virada lean, precisa entender que tudo deve mudar. Muitas empresas não entendem isso, buscam somente a redução de custos e, então, tentam colocar o lean em um sistema tradicional de lotes sem alterar nada. O lean é colocado como uma das melhores estratégias, porém, não é seguida. Isso, obviamente, não irá funcionar e vai causar confusão em todos os lugares, visto que uma parte da empresa vai em uma direção totalmente diferente das outras. 20 Falta de liderança: o lean prima o “aprender fazendo” e isso precisa ser liderado pela alta direção na prática. É necessário que o líder esteja no local de trabalho (gemba), conversando e ouvindo as pessoas, participando de eventos kaizen, aprendendo os detalhes do processo, estabelecendo metas e empurrando a organização para frente. Muitos gestores apenas patrocinam a implementação do lean, mas não participam na prática, apenas delegam funções. Na figura 11, podemos ver um exemplo de líder no chão de fábrica. Figura 11 – Liderança no chão de fábrica Créditos: BigPixel Photo/ Shutterstock. Falta de mudança estrutural: mudar de uma empresa tradicional para uma empresa enxuta, onde os objetivos de excelência operacional se aproximam da agregação de valor e todo colaborador possui responsabilidade por essa agregação de valor. É o passo crítico para seguir na virada lean. Não trabalhar em equipe: muitas pessoas não percebem que o lean é um esporte em equipe. Quando tenta-se adequar o tempo takt ao ritmo do cliente, trabalhar com fluxo unitário, estabelecer o trabalho padronizado e tornar o sistema puxado, desde o fornecedor até o cliente utilizando os princípios lean, é melhor que todos tenham os mesmos objetivos e trabalhem juntos. Na figura 12, podemos observar um exemplo de trabalho em equipe. 21 Figura 12 – Trabalho em equipe Créditos: Blue Planet Studio/ Shutterstock. Copiar os outros: copiar empresas que obtiveram sucesso na implementação do lean pode ser uma grande armadilha, pois, conforme já abordamos anteriormente, a cultura de cada empresa é única e os princípios devem ser adequados à realidade de cada organização. Figura 13 – Cultura organizacional Créditos: Rawpixel.com/ Shutterstock. Brazão (2019) cita que lean é uma jornada e aplicá-lo não é apenas usar ferramentas, mas entender sua essência. Lean é uma mudança cultural a longo prazo. 22 FINALIZANDO Nesta aula, estudamos sobre o processo A3, que ajuda no gerenciamento para o aprendizado, por meio de um formulário A3 muitos problemas podem ser resolvidos e as ideias concentradas em apenas um lugar. A prática do kaizen também foi abordada, a melhoria contínua deve fluir nas veias da organização na busca da agregação de valor para os clientes. Vimos também o conceito da TPM, em que os colaboradores cuidam das máquinas juntamente com o pessoal da manutenção, de modo a aumentar a vida útil dos equipamentos. O OEE foi abordado para conhecer a eficiência global do equipamento, por meio dos indicadores de disponibilidade, performance e qualidade. Por fim, observamos os motivos pelos quais as empresas falham na implantação do lean. Um dos fatores que contribuem para isso é a falta de incentivo por parte da alta direção para criação de uma cultura lean em toda organização. Chegamos ao fim da nossa aula, espero que tenha gostado de estudar sobre esses assuntos e que possa colocar em prática todos os ensinamentos em sua rotina. 23 REFERÊNCIAS BRAZÃO, M. Por que as empresas falham ao implantar programas Lean? LinkedIn, 25 mar. 2019. Disponível em: <https://www.linkedin.com/pulse/por- que-empresas-falham-ao-implantar-programas-lean-marcelo- braz%C3%A3o/?originalSubdomain=pt>. Acesso em: 05 abr. 2021. BRUNET, A. P.; NEW, S. 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