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Fundamentos de ELETROMAGNETISMO Desenhos: Belmiro Wolski e Mansa Helena Barão AS112~ LOITOIZA AMIMA Copyright 2005 by Belmiro Wolski, Rio de Janeiro, RJ/ Brasil Todos os direitos reservados e protegidos por Ao Livro Técnico Indústria e Comércio Ltda., pela Lei 9.610 de 19/02/1998. Proibida a reprodução parcial ou integral por quaisquer meios mecânicos, xerográficos, fotográficos etc., sem a permissão por escrito da editora. ISBN 85-215-0992-8 As opiniões contidas nesta obra são de responsabilidade exclusiva do autor. CIP — Brasil. Catalogação-na-fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ. Wolski, Belmiro W847f Fundamentos de eletromagnetismo / Belmiro Wolski. 1, ed. — Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 2005: il.; Contém exercícios resolvidos; inclui bibliografia 1. Eletromagnetismo; I. Título. CD D — 537 05-0015. CDU — 537 inkli EDITORA L-1J AO LIVRO TÉCNICO Rua Sã Freire, 40 São Cristovão CEP 20930-430 Rio de Janeiro RJ Brasil Tel. (21) 2580-1168 Fax (21) 2580-9955 e-mail: info@editoraaolivrotecnico.com.br cite: vorns.editoraaolivrotecnico.com.br Impresso em EDITORA E GRÁFICA AO LIVRO TÉCNICO Tel.: (21)2580-1168 Fundamentos de Belmiro Wolski ine EDITORA W AO LIVRO TÉCNICO Dedico esta obra aos meus queridos filhos Paulo Fernando e Manca e a minha amada esposa Criceli, a quem declaro meu eterno amor. Peço perdão pelas incontáveis horas que os privei da minha companhia para me dedicara esta obra. Aos meus filhos agradeço pelo carinho e afeto. A minha esposa, pelo amor, companheirismo e apoio que sempre me foram dados em todos os momentos. PREFÁCIO Este livro foi escrito visando atender às necessidades dos estudantes de ensino médio e de cursos profissionalizantes na área de eletricidade. O objetivo principal da obra é o de fornecer ao estudante um caminho fácil para o entendimento dos fenômenos de eletromagnetismo, através de um vocabulário acessível e de explicações detalhadas, usando matemática de nível médio. A estrutura da obra permite ao aluno galgar rapidamente o conhecimento através da leitura da teoria e do estudo dos exercícios resolvidos, permitindo atingir níveis de entendimento necessários para compreender o funcionamento de uma série de máquinas, equipamentos e dispositivos que usam o eletromagnetismo. A maioria dos capítulos vem acompanhada de sugestões para atividades de laboratório, que através de práticas simples e sem uso de equipamentos sofisticados contribuem para a sedimentação dos conhecimentos teóricos adquiridos. O Autor SUMÁRIO Unidade 1 - Magnetismo 11 1 — MAGNETISMO 1.1 — Introdução 13 1.2 - A história do magnetismo 13 2 — O %1VIA" 2.1 - A magnetita 14 2.2 — Pólos de um ímã 14 2.3 — Constituição interna de um ímã 15 2.4 — Princípio da inseparabilidade dos pólos 17 2.5 — Ímãs temporários e permanentes 18 2.6 — Desmagnetização por aquecimento 19 2.7 — Campo magnético de um ímã 19 2.8 — Vetor campo magnético 22 2.9 — Campo magnético uniforme 22 2.10 — Relação entre intensidade de campo e concentração de linhas de força 23 2.11 — O campo magnético da Terra 23 2.12 — A bússola 25 2.13 — Exercícios propostos 26 2.14 — Sugestões para laboratório 26 Unidade II - Eletromagnetismo 29 1 — CAMPO MAGNÉTICO DEVIDO À CORRENTE ELÉTRICA 1.1 — A experiência de Oersted 31 1.2 — Regra de Ampère 31 1.3 — Intensidade de campo em torno de um condutor 34 1.4 — Intensidade de campo no centro de uma espira 35 1.5 — Intensidade de campo no interior de um solenóide 36 1.6 — Exercícios resolvidos 39 1.7 — Exercícios propostos 40 1.8 — Sugestões para laboratório 44 2 — A NATUREZA DOS MATERIAIS MAGNÉTICOS 2.1 — Teoria dos domínios 47 2.2 — Indução magnética 50 2.3 - Fluxo magnético 54 2.4 - Permeabilidade magnética de um material 55 2.5 - Permeabilidade do vácuo 56 2.6 - Permeabilidade relativa 57 2.7 - Exercícios resolvidos 57 2.8 - Exercícios propostos 59 3 - CLASSIFICAÇÃO DOS MATERIAIS QUANTO À PERMEABILIDADE 3.1 - Classificação geral 61 3.2 - Materiais diamagnéticos 62 3.3 - Materiais paramagnéticos 65 3.4 - Materiais ferromagnéticos 66 3.5 - Exercícios propostos 68 4 - FENÔMENOS DE FERROMAGNETISMO 4.1 - Curva de magnetização 69 4.2 - Variação da permeabilidade relativa de materiais ferromagnéticos 71 4.3 - Histerese magnética 73 4.4 - Perdas por histerese 78 4.5 - Ciclo de histerese na determinação das características de um ímã 81 4.6 - Blindagem magnética . 82 4.7 - O mecanismo de ferro móvel 83 4.8 - Exercícios propostos 85 4.9 - Sugestões para laboratório 87 5 - CÁLCULO DE CIRCUITOS MAGNÉTICOS 5.1 - Circuito magnético 89 5.2 - Força magnetomotriz 90 5.3 - Relutância magnética 92 5.4 - A Lei de Ohm para circuitos magnéticos 93 5.5 - Núcleos laminados 94 5.6 - Resolução de circuitos magnéticos através da permeabilidade relativa 95 5.7 - Resolução de circuitos magnéticos utilizando curvas de magnetização 97 5.8 - Circuito magnético com entreferro 101 5.9 - Cálculo de um circuito magnético com entreferro 103 5.10 - Força portante de um eletroímã 105 5.11 - Exercícios propostos 108 Unidade III - Indução Eletromagnética 113 1 - LEI DE FARADAY 1.1 - A experiência de Faraday 115 1.2 - A equação da Lei de Faraday 118 1.3 - Força eletromotriz de movimento 118 1.4 - O gerador elementar 121 1.5 - Exercícios resolvidos 124 1.6 - Exercícios propostos 125 1.7 - Sugestões para laboratório 127 2 - POLARIDADE DAS TENSÕES INDUZIDAS 2.1 - A Lei de Lenz 129 2.2 - Fluxo variável no tempo 130 2.3 - Condutor em movimento dentro de um campo magnético 132 2.4 - Método do percurso fechado imaginário 135 2.5 - Regra de Fleming para determinação do sentido da corrente induzida 136 2.6 - Força devida ao fluxo de reação 137 2.7 - A Lei de Lenz e a corrente alternada senoidal 141 2.8 - Por que a corrente se atrasa em uma bobina? 143 2.9 - Por que surge uma faísca ao se desligar um circuito que contenha bobinas?. 147 2.10 - O motor de indução trifásico 147 2.11 - O motor de indução monofásico 151 2.12 - Exercícios resolvidos 152 2.13 - Exercícios propostos 154 2.14 - Sugestões para laboratório 156 3 - CORRENTES DE FOUCAULT 3.1 - Como ocorrem as correntes de Foucault 161 3.2 - Perdas por correntes parasitas 163 3.3 - Diminuindo o efeito das correntes de Foucault 163 3.4 - Freios magnéticos 164 3.5 - Simulador de carga para motores 167 3.6 - Exercícios propostos 167 3.7 - Sugestões para laboratório 168 4 - FORCAS MAGNÉTICAS 4.1 - Campo magnético de uma carga em movimento 170 4.2 - Força em uma carga em movimento dentro de um campo magnético 171 4.3 - Regra de Fleming para forças 171 4.4 - O efeito Hall 174 4.5 - Força em um condutor conduzindo corrente no interior de um campo magnético. 176 4.6 - Torque em uma espira 178 4.7 - O mecanismo de bobina móvel 179 4.8 - O motor de corrente contínua 181 4.9 - Força entre condutores conduzindo correntes 182 4.10 - Extinção de arco voltaico através de sopro magnético 185 4.11 - Exercícios resolvidos 186 4.12 - Exercícios propostos 188 4.13 - Sugestões para laboratório 189 5 - ACOPLAMENTO MAGNÉTICO 5.1 - Fluxo mútuo e fluxo de fuga 192 5.2 — Coeficiente de acoplamento 194 5.3 — Questões relativas à geometria do núcleo 194 5.4 — O transformador 197 5.5 — Funcionamento do transformador com carga 199 5.6 — Exercícios resolvidos 200 5.7 — Exercícios propostos 201 5.8 — Sugestões para laboratório 201 6 — INDUTÂNCIA 6.1 — Definição de indutância 203 6.2 — Indutância de bobinas com núcleo ferromagnético 205 6.3 — Fatores que influenciam na indutância de uma bobina 206 6.4 — Indutância de um toróide 207 6.5 — Indutância de um solenóide reto 208 6.6 —Força eletromotriz de auto-indução 209 6.7 — A reatância indutiva 209 6.8 — Mútua-indutância 212 6.9 — Relação entre indutância e mútua-indutância 213 6.10 — Força eletromotriz de mútua-indução 213 6.11 — Exercícios resolvidos 214 6.12 — Exercícios propostos 215 6.13 — Sugestões para laboratório 216 Unidade IV — Tópicos Avançados 219 1 — A ONDA ELETROMAGNÉTICA 1.1 — O campo elétrico 221 1.2 — O campo elétrico não eletrostático 224 1.3 — O campo elétrico gera um campo magnético 226 1.4 — Gerando uma onda eletromagnética 226 2 — FENÔMENOS DO ELETROMAGNETISMO 2.1 — O efeito pelicular 228 2.2 — A descarga atmosférica 231 2.3 — A levitação de um supercondutor em um campo magnético 232 2.4 — A proteção do campo magnético da Terra 234 Respostas dos exercícios 236 Referências 239 Unidade 1 Magnetismo MAGNETISMO 1.1 — Introdução No mundo de hoje, nos beneficiamos de um incontável número de maravilhas tecnológicas. Falamos ao telefone enquanto assistimos televisão, usamos o computador que cada vez mais nos é imprescindível, temos à nossa disposição diversos meios de transporte, temos a energia elétrica em nossos lares onde um sem número de eletrodomésticos torna nossa vida mais confortável. Entretanto, toda essa tecnologia não teria se desenvolvido se no curso da história o magnetismo não tivesse sido descoberto. Na verdade, a humanidade hoje não poderia mais sobreviver sem os recursos tecnológicos gerados pelo magnetismo e eletromagnetismo. Uma civilização extraterrestre avançada poderia facilmente nos dominar, neutralizando o eletromagnetismo em nosso planeta. 1.2 — A história do magnetismo A descoberta dos fenômenos magnéticos, bem como suas primeiras aplicações não contém registro histórico preciso. Presume-se que a primeira observação dos efeitos magnéticos tenha ocorrido alguns séculos antes de Cristo, numa região da Ásia que poderia ser a Grécia ou Turquia. A origem do nome "magnetismo", provavelmente deriva do nome da região onde teriam sido encontradas as primeiras pedras capazes de exercer uma atração por alguns metais, principalmente o ferro. Essa região seria a Magnésia, daí o nome magnetismo. Entretanto, alguns defendem que a origem do nome tenha sido atribuída a Magnes, um pastor de ovelhas que teria então, observado pela primeira vez a atração que uma rocha exercia sobre a ponta metálica de seu cajado. Essa rocha recebeu o nome de magnetita. Fundamentos de Eletromagnetismo 13 2 o IMÃ 2.1 — A magnetita Atualmente sabemos que a magnetita é composta de tetróxido de triferro( F304 ). Na China Antiga, era chamada de "pedra amante", que em francês aimant, originou a palavra ímã. Assim a magnetita pode ser chamada de ímã natural. Estudando a magnetita o homem aprendeu a construir ímãs artificiais, muito mais potentes, com formas e tamanhos variados, destinados às mais diferentes aplicações, como motores elétricos, geradores elétricos, alto-falantes, sensores magnéticos, hard drive (hd), etc. 2.2 — Pólos de um ímã Manuseando um ímã, podemos perceber que o seu poder de atração se manifesta mais fortemente em duas regiões denominadas pólos. Esses pólos são denominados de Norte e Sul. A atribuição desses nomes se deve à característica de um ímã em forma de barra de se orientar aproximadamente na direção norte-sul geográfica, quando suspenso pelo seu centro de gravidade. ( Portanto: Pólos são as regiões do ímã onde suas ações se manifestam de forma mais acentuada. Podemos testar essas ações segurando um clipe e aproximando-o de diferentes partes de um imã. Comprovaremos que a maior força de atração, com certeza, será próximo aos pólos do imã. 14 Editora Ao Livro Técnico A linha que separa os dois pólos de um imã é chamada de linha neutra. ( S linha neutra Para identificar os pólos de um ímã, normalmente se pinta o pólo norte de vermelho e o pólo sul de azul. 2.3 — Constituição interna de um ímã Podemos verificar experimentalmente que um ímã é capaz de exercer forte atração pelo ferro, níquel e cobalto, bem como suas ligas. No entanto, não percebemos qualquer influência sobre metais como o cobre, alumínio, estanho e demais metais. Também podemos verificar a atração e repulsão entre seus pólos. Pólos de nomes iguais se repelem, e de nomes diferentes se atraem. É a Lei de Du Fay para pólos magnéticos. N s 1E_ N N r- N N Mas que mistérios um ímã guarda em seu interior? Como é possível que alguns metais são atraídos e outros não? E como explicar as incríveis forças de atração e repulsão? Para começarmos a entender melhor esses comportamentos, vamos imaginar o ímã internamente como constituído de uma infinidade de pequenos ímãs alinhados num mesmo sentido que serão chamados por enquanto de ímãs elementares, representados abaixo por setas cujas pontas indicam seus pólos norte. N Ímãs elementares orientados num mesmo sentido constituem um ímã. Desta maneira, os efeitos individuais de cada ímã elementar se somam e a barra como um todo, assume comportamento de ímã. Utilizando-se dos ímãs elementares, como seria então internamente uma barra de ferro comum? Fundamentos de Eletromagnetismo 15 Como mostrado abaixo, seus ímãs elementares encontram-se desordenados e a barra de ferro como um todo não apresenta comportamento de ímã. Se orientarmos de alguma maneira esses ímãs elementares, teremos então transformado a barra de ferro em um ímã. Esse processo chama-se magnetização ou imantarão. Portanto: Magnetização é o processo pelo qual orientamos os ímãs elementares de uma barra, transformando-a em um ímã. Mas como poderíamos fazer isso? Existem basicamente duas maneiras. Uma é através do uso da corrente elétrica contínua, que estudaremos mais adiante. Outra maneira, bastante simples, consiste em esfregar ou simplesmente aproximar a barra a ser magnetizada de um ímã permanente. S N N S N o ímã é aproximado da barra desmagnetizada a barra se transforma em ímã e é atraída Isso faz com que os ímãs elementares da barra se alinhem por influência do ímã que está próximo. Note que o pólo norte da barra, agora magnetizada, está em frente ao sul do ímã. É por essa razão que a barra é atraída, pois ao aproximar a barra do ímã, este a magnetiza transformando-a em um ímã com pólos opostos e em seguida a atrai. Isto nos leva a uma conclusão muito importante. O ímã na realidade não atrai a barra de ferro. Ele primeiro a magnetiza, para em seguida atrair o ímã que acabou de ser criado. Outra conclusão que podemos extrair é que metais como o cobre, alumínio e outros que um ímã não atrai, são materiais que não apresentam ímãs elementares e que, portanto, não podem ser magnetizados. Logo: Metais que não possuem imãs elementares em sua estrutura atômica não podem ser atraídos por um ímã. 16 Editora Ao Livro Técnico — FF — 2.4 - Princípio da inseparabilidade dos pólos Se pegarmos um ímã em forma de barra e o quebrarmos ao meio, na esperança de separar os seus pólos norte e sul, veremos nossa tentativa fracassar. Manipulando as partes quebradas, veremos que ambas se transformam em dois novos ímãs, naturalmente com dois pólos cada. s N N Se quebrarmos novamente ao meio uma dessas partes, ainda assim não conseguiremos separar seus pólos. Nossa tentativa pode prosseguir, quebrando sucessivamente o ímã em partes cada vez menores, podendo chegar até o átomo isolado. Ainda assim ele será um ímã com dois pólos, um norte e um sul. Mesmo "quebrando" o átomo, as partes que sobrarem, ou seja, seus prótons e elétrons, continuarão a exibir comportamento de um ímã normal, com dois pólos cada um. O princípio da inseparabilidade dos pólos pode ser facilmente entendido, utilizando-se do conceito de ímãs elementares. N N Observe que ao partirmosum ímã ao meio, ou mesmo em partes desiguais, estamos apenas separando uma porção de ímãs elementares, que continuam orientados e, portanto, continuam constituindo um ímã. Obviamente a "força do ímã" ou o seu poder de atração e repulsão não permanece o mesmo quando o quebramos. Observando os desenhos anteriores, que- mostram as partes quebradas de um ímã, podemos concluir que há atração entre as partes quebradas, ou seja, o ímã tem tendência de unir novamente suas partes. No entanto, existem alguns casos em que quebramos um ímã e as partes quebradas se repelem. Por quê? Fundamentos de Eletromagnetismo 17 Tomemos, como exemplo, um ímã de alto-falante mostrado no desenho abaixo. Os pólos desse ímã encontram-se nas faces planas do mesmo. Neste caso, as partes resultantes de uma quebra serão pólos de mesmo nome frente a frente, e que por essa razão sofrerão repulsão magnética. 2.5 — Ímãs temporários e permanentes Um ímã é dito permanente quando seus efeitos persistem por tempo indeterminado. Os temporários mantém suas propriedades magnéticas por breves períodos de tempo. Ambos possuem aplicações práticas. Por exemplo, os ímãs permanentes são utilizados nos alto-falantes, pequenos motores elétricos, alguns tipos de medidores elétricos, bússola, microrruptores (reed-switch) etc. Uma aplicação típica dos ímãs temporários são os guindastes magnéticos. N A barra de ferro segura o clipe. N A barra afastada do ímã permanente solta o clipe, portanto a barra de ferro é um ímã temporário. 18 Editora Ao Livro Técnico Os ímãs temporários podem ser constituídos de ferro doce e aço não temperado. Os ímãs permanentes, por sua vez, normalmente são constituídos de aço contendo níquel e cobalto ou ligas de samário-cobalto. 2.6 — Desmagnetização por aquecimento Um ímã temporário, como vimos, se desmagnetiza rapidamente. Se quisermos desmagnetizar um ímã permanente, basta aquecê-lo à determinada temperatura. Com a temperatura alta, a agitação molecular pode chegar a níveis tais que todos os ímãs elementares voltam aos seus estados normais de desalinhamento. A essa temperatura denominamos de ponto de Curie, cujo valor varia conforme o material. Portanto: Ponto de Curie é a temperatura na qual um ímã se desmagnetiza. Existem também outros meios de desmagnetização, como a aplicação de campos eletromagnéticos, que veremos mais adiante em nosso estudo, e o choque mecânico. Com um choque mecânico, uma pancada por exemplo, podemos fazer com que os ímãs elementares em uma barra se desorientem, desmagnetizando-a. No entanto esse procedimento só se aplica a barras fracamente magnetizadas e com boa resistência mecânica. 2.7 — Campo magnético de um ímã Sabemos que ímãs interagem entre si, surgindo entre eles uma força que pode ser de atração ou repulsão. Portanto, se caminharmos com um ímã na mão, e de repente sentirmos uma força agindo sobre ele, certamente é porque estamos próximos de um outro ímã. Vamos chamar esse ímã que levamos na mão, de ímã de prova, ou mais especificamente um de seus pólos, de pólo de prova. Se colocarmos então nosso pólo de prova em uma determinada região do espaço onde percebemos que o mesmo fica sujeito a uma força, dizemos que nessa região existe um campo magnético. Portanto: Campo magnético de um ímã é uma região do espaço onde um pólo magnético ali colocado fica sujeito a uma força. ou Campo magnético de um ímã é a região dentro da qual ele exerce sua influência magnética. Fundamentos de Eletromagnetismo 19 Para delinear essa região em torno do ímã, podemos fazer uso dos resultados obtidos num experimento muito fácil de realizar. Coloca-se uma folha de papel sobre um ímã qualquer e sobre a folha derrama-se um pouco de limalha de ferro (pó de ferro). fv ( s 0 Cada grão de limalha de ferro que cair sobre a folha será magnetizada pelo ímã. Desta forma os inúmeros grãos de limalha magnetizada irão interagir entre si (pelo princípio de atração e repulsão entre os pólos magnéticos) e irão formar uma figura conhecida como espectro magnético . Espectro magnético é a figura formada pela limalha de ferro sobre uma folha de papel pela ação de um ímã embaixo da folha. Observando-se o espectro magnético, podemos verificar que a limalha se orienta sob forma de linhas que unem os pólos do ímã, segundo vários caminhos. Isto sugere que o campo magnético de um ímã possa ser representado por linhas, que denominaremos de linhas de força. 20 Editora Ao Livro Técnico Por convenção, foi atribuído um sentido para as linhas de força: As linhas de força saem do pólo norte e chegam no sul de um ímã, externamente a ele. Internamente ao ímã o caminho das linhas é ao contrário: vão do sul para o norte. As linhas de força sob o ponto de vista científico, podem ser conceituadas da seguinte forma: As linhas de força são as possíveis trajetórias para uma partícula imaginária norte, lançada nas proximidades do pólo norte. Isto quer dizer que se lançarmos em algum lugar dentro do campo magnético uma partícula imaginária norte*, ela ficará sujeita a uma força de atração pele, pólo sul e repulsão pelo pólo norte. Isto a fará descrever uma determinada trajetória até encontrar o pólo sul do ímã. Essa trajetória consiste em uma linha de força. Então, dependendo do ponto onde soltarmos essa partícula, ela descreverá trajetórias diferentes, regida pelas forças de atração e repulsão entre os pólos. A trajetória da partícula hipotética norte representa uma linha de força. No desenho acima, a partícula norte (n) fica sujeita a uma de força de repulsão pelo norte do ímã (FN) e, ao mesmo tempo, atração pelo sul (F5). A força resultante (FR) faz com que a partícula se mova segundo a trajetória mostrada, pois a cada deslocamento infinitesimal da mesma, o sentido da força resultante muda. * A partícula é dita imaginária, pois sabemos que não é possível obter um pólo isolado de um ímã. O fato de ser escolhida uma partícula norte é simplesmente por convenção. Fundamentos de Eletromagnetismo 21 2.8 — Vetor campo magnético Vimos que o campo magnético é a região em torno do ímã onde ele exerce sua influência. Sabemos também que essa influência é maior próximo aos pólos do ímã. Isso sugere que podemos atribuir ao campo magnético uma intensidade em um determinado ponto. E a linha de força que passará por esse ponto terá uma direção e um sentido. Ou seja: O campo magnético é uma grandeza vetorial, pois possui módulo, direção e sentido. j Como toda grandeza física, o campo magnético possui uma letra para representá- lo e uma unidade: Campo magnético: representação: H unidade: ampère/metro (A/m) o setor campo magnético é sempre tangente à linha de força no ponto considerado 2.9 Campo magnético uniforme Um campo magnético é dito uniforme quando possui, em todos os pontos, mesma intensidade, mesma direção e sentido. Por exemplo: 22 Editora Ao Livro Técnico Na figura anterior, as linhas de força que saem do norte vão diretamente para o sul a sua frente. Isto faz com que tenhamos na região central entre os pólos um campo magnético uniforme. Podemos ainda dizer que um campo é uniforme quando é representado por linhas de força paralelas e eqüidistantes entre si. 2.10 — Relação entre intensidade de campo e concentração de linhas de força Observando como estão dispostas as linhas de força em um campo magnético, podemos concluir à respeito da direção e sentido do campo nos diversos pontos. Podemos também concluir sobre a intensidade de campo em um ponto comparativamente a outro. Então analisemos a figura a seguir: Já sabemos que o campo magnético é mais intenso próximo aos pólos. Agora, observe que as linhas de força próximas aos pólos estão mais concentradas do que nas outras regiões. Isto nos leva a concluir que há umarelação entre intensidade de campo e concentração de linhas de força. A intensidade de campo é diretamente proporcional à concentração de linhas de força. 2.11 — O campo magnético da Terra Em 1600, Willian Gilbert, físico e médico da corte da rainha Elisabeth da Inglaterra, publicou um trabalho onde, entre outras teorias, sugeria que a Terra tem as mesmas propriedades de um ímã. Hoje, sabemos que sua teoria estava correta. A Terra realmente é um grande ímã, cujos pólos magnéticos estão orientados em uma direção próxima ao eixo norte- sul geográfico. Apesar de seu tamanho, a Terra apresenta um campo magnético bastante fraco. Entretanto, esse campo magnético é de vital importância para toda espécie de vida no planeta. Veja Unidade IV — 2.4. A proteção do campo magnético da Terra. Fundamentos de Eletromagnetismo 23 Sul magnético Norte magnético Sul geográfico Norte geográfico As linhas de força do campo da Terra se espalham desde a superfície até as camadas mais altas da atmosfera. A origem do campo da Terra ainda não é perfeitamente conhecida. A teoria mais aceita hoje postula que o campo se origina devido à correntes elétricas criadas pelo atrito entre camadas no interior da Terra. O ângulo que as linhas de força do campo da Terra formam em cada ponto da superfície com seus meridianos é denominado de declinação magnética. Esse ângulo varia dependendo do local em que estejamos sobre a superfície da Terra. Declinação magnética é o ângulo formado em cada ponto da superfície, entre as linhas de força do campo magnético da Terra e os respectivos meridianos que passam pelo ponto. As linhas de força passam praticamente paralelas à superfície próximo à linha do Equador. Em outras regiões, o campo é inclinado em relação à superfície. Junto aos pólos magnéticos, por exemplo, o campo é perpendicular à superfície . Esse ângulo entre as linhas de campo e a superfície chama-se de inclinação magnética. Logo: Inclinação magnética é o ângulo formado entre a superfície e as linhas de força do campo magnético da Terra. 24 Editora Ao I,ivro Técnico 2.12 - A bússola A bússola é um instrumento utilizado para orientação. Seu funcionamento baseia- se no princípio de atração e repulsão entre os pólos magnéticos. Ela é constituída de uma agulha imantada apoiada em seu centro de gravidade sobre um pino com pouco atrito e, portanto, livre para girar. A agulha , pelo fato de estar magnetizada, irá se orientar na direção norte-sul do magnetismo terrestre. Como as linhas de força do campo magnético da Terra apresentam a inclinação e a declinação magnética, a agulha da bússola indicará, além da direção norte-sul, o ângulo formado pelas linhas com a superfície ( inclinação magnética). Entretanto, as bússolas comuns não estão preparadas para medir a inclinação magnética, mesmo porque para a maioria das regiões do planeta, a inclinação magnética corresponde praticamente a zero grau, o que faz com que o ponteiro fique na horizontal. Nas regiões próximas aos pólos, a inclinação é bastante significativa, chegando a 90° exatamente sobre eles. Nestas situações, a inclinação magnética pode ser avaliada mediante uma bússola especial chamada de bússola de inclinação. A parte pintada da agulha da bússola aponta para aproximadamente o norte geográfico. E o norte geográfico corresponde aproximadamente ao sul magnético da Terra. Logo, a parte pintada da agulha é um pólo norte. As primeiras bússolas surgiram na China aproximadamente em 121 d.C. e eram feitas com um pedaço alongado de magnetita colocado sobre uma bóia, dentro de uma bacia com água. Fundamentos de Eletromagnetismo 25 2.13 - Exercícios propostos A — Responda as questões abaixo: a) O que são pólos magnéticos? b) Por que a maioria dos metais não á atraída por um ímã? c) O que é magnetização? d) O que é ponto de Curie? e) O que é um campo magnético uniforme? f) O que é inclinação magnética? g) O que é declinação magnética? h) Qual o princípio de funcionamento de uma bússola? i) O que são linhas de força ? j) O que é o campo magnético de um ímã? B — Represente através de linhas de força, os campos magnéticos dos ímãs abaixo. a) c) ( s 2.14 - Sugestões para laboratório Experiências com ímãs Objetivos: ▪ Comprovar as forças de atração e repulsão entre pólos de ímãs; -\,/ verificar que materiais um ímã é capaz de atrair; Ni observar o espectro magnético de um ímã; ▪ observar o funcionamento de uma bússola; ti identificar os pólos desconhecidos de um ímã. 26 Editora Ao Livro Técnico Material necessário: item quant. unid. especificação 01 02 pç ímã em forma de barra 02 01 pç clipe, moeda, ficha telefônica, pedaço de cobre, alumínio, ferro, aço, zinco, aliança de ouro, jóia de prata, etc. 03 01 pc ímã em forma de ferradura 04 - pc limalha de ferro 05 01 pç folha de papel sulfite 06 01 pç bússola Procedimento: 1 — Verifique como se processam as forças de atração e repulsão entre os pólos dos ímãs, aproximando o pólo norte de um ímã com o norte do outro ímã, o sul com o sul e o norte com o sul. Para tornar mais interessante essa experiência, peça para alguém segurar um dos ímãs e tente encostar os pólos de mesmo nome. 2 — Teste agora quais metais o ímã é capaz de atrair, experimentando um a um os diferentes materiais relacionados. 3 — Utilizando um pedaço de ferro preferencialmente de forma alongada, faça o ímã atraí-lo em uma de suas pontas. Observe agora como esse pedaço de ferro também se transformou em um ímã, fazendo-o atrair um pequeno clipe. Fundamentos de Eletromagnetismo 27 Se o ímã for suficientemente forte, você poderá constatar que o clipe também se transformou em um ímã, fazendo-o atrair outro clipe ou uma agulha de costura. 4 — Coloque um ímã em forma de barra sobre uma mesa e coloque sobre ele a folha de papel sulfite. Derrame aos poucos a limalha de ferro sobre o papel e observe a formação do espectro magnético. Substitua o ímã em forma de barra pelo ímã em forma de ferradura e repita o procedimento. Você pode observar também a formação do espectro magnético entre pólos de mesmos nomes e pólos de nomes contrários. Para pólos de mesmos nomes, coloque os ímãs frente a frente o mais próximo possível, pois haverá repulsão. Coloque a folha sobre eles e derrame a limalha. Para pólos de nomes contrários repita o procedimento, colocando agora um objeto entre eles, por exemplo uma borracha, para mantê-los a uma certa distância, pois haverá atração. Desenhe, utilizando linhas de força, a configuração do campo magnético para todos os casos observados. 5 — Mantendo-se distante dos ímãs, observe como a direção indicada pela agulha da bússola permanece inalterada por mais que a movamos para todas as direções. Localize a direção norte-sul geográfica através da posição do sol e compare com a direção indicada pela bússola. Coloque a bússola sobre a mesa e aproxime um ímã, observando como o campo magnético do ímã interfere na posição da agulha. Não aproxime muito o ímã da bússola pois poderá haver a desmagnetização da agulha. 6 — Podemos determinar a polaridade desconhecida de um ímã, se dispusermos de outro ímã com polaridade conhecida. Cubra com fita crepe as indicações de polaridade de um dos ímãs em forma de barra e com o outro ímã, tente descobrir a polaridade escondida. Para tanto, aproxime um pólo conhecido a uma das extremidades do ímã com pólos desconhecidos. Se houver atração, o pólo desconhecido será oposto ao pólo conhecido que foi aproximado. Se houver repulsão é porque os pólos são de mesmo nome. Pode-se também utilizar a bússola para determinação da polaridade, tomando-se o cuidado de não aproximá-la muito para não desmagnetizá-la. 28 Editora Ao Livro Técnico Unidade II Eletromagnetismo CAMPO MAGNÉTICO DEVIDO À CORRENTE ELÉTRICA 1.1 — A experiência de Oersted Foio físico dinamarquês Hans Christian Oersted que observou pela primeira vez, por volta do ano de 1820, que a corrente elétrica gera campos magnéticos. Ele verificou que quando um circuito elétrico é ligado, uma bússola colocada nas proximidades sofre uma influência, desviando seu ponteiro para outra posição. Podemos comprovar essa influência através do circuito a seguir. Com o condutor disposto paralelamente ao ponteiro da bússola, que até então estará indicando a direção do campo magnético da Terra , fechamos a chave S. Imediatamente percebemos uma mudança na indicação da bússola. Aumentando-se gradativamente a corrente, pelo aumento da tensão da fonte, percebemos que a bússola irá cada vez mais se inclinar em relação ao fio, tendendo a ficar perpendicular a ele. Desligando-se a chave, a bússola retorna a sua posição original. bússola bússola nte C( ft me CC regulável regulavel 1.2 — Regra de Ampère Depois da descoberta de Oersted, o cientista francês André Marie Ampère identificou a configuração do campo magnético em torno de um condutor. Utilizando-se de uma folha de papel atravessada ao meio por um fio percorrido por corrente elétrica, Ampère jogou limalha de ferro sobre o anteparo de papel. A limalha então adquiriu a forma de círculos concêntricos, ocorrendo uma concentração maior próximo ao fio. Fundamentos de Eletromagnetismo 31 Ampère também descobriu a relação entre o sentido da corrente e o sentido das linhas de força, propondo uma regra para sua determinação. Em sua homenagem, essa regra foi chamada de regra de Ampère, também conhecida como regra da mão direita para o sentido convencional da corrente. Segundo a regra, para se determinar o sentido das linhas de força em torno do condutor, basta envolvê-lo com os dedos, estando o polegar a indicar o sentido da corrente. Com isso os dedos indicam o sentido das linhas de força. n n Se quisermos mostrar um condutor segundo sua seção transversal, podemos utilizar a seguinte convenção para indicar o sentido da corrente: o corrente saindo corrente entrando As respectivas linhas de força então ficarão: A mesma convenção de ponto e cruz pode ser utilizada para representar um campo magnético. Por exemplo, olhando-se um cóndutor exatamente de perfil, suas linhas de força nos parecerão traços perpendiculares ao mesmo. 1 Agora podemos entender melhor o comportamento da bússola descrito anteriormente. Vimos que a bússola tende a alinhar sua agulha perpendicularmente ao fio condutor, proporcionalmente à corrente aplicada. 32 Editora Ao Livro Técnico I direção norte-sul magnética A questão para refletir é: • Porque a bússola não se alinha perpendicularmente ao fio com qualquer intensidade de corrente? Para entender isso, devemos lembrar que o campo da Terra continua presente e está "puxando" o ponteiro segundo a direção norte-sul. Quando aplicamos gradativamente uma corrente ao fio, o campo criado por ela vai aumentando na mesma proporção. Esse campo é perpendicular ao fio. x Sendo assim, o campo da Terra puxa o ponteiro para uma direção, enquanto o campo do fio puxa o ponteiro para outra posiçãd, perpendicular ao fio. A resultante entre os dois campos é que determinará então a posição final que a bússola assumirá. Hr HTerra Se Hfio se torna muito superior a HTe a resultante será praticamente H fio e a bússola ficará perpendicular ao fio. — — I,. IITerra E ltt Fundamentos de Eletromagnetismo 33 No entanto, para que isto ocorra, será necessário uma elevada corrente no condutor a fim de produzir um elevado valor de campo magnético. Se realizássemos a experiência de Oersted no espaço, numa região isenta de campo magnético, veríamos que a bússola ficaria perpendicular ao fio com qualquer intensidade de corrente. 1.3 — Intensidade de campo em torno de um condutor Vimos na experiência de Ampère que a limalha de ferro se distribui sob a forma de círculos concêntricos, ocorrendo uma concentração maior de limalha próximo ao fio condutor. Isto sugere que a intensidade de campo deve variar com a distância em relação ao fio. Realmente, podemos fazer a seguinte afirmação: A intensidade de campo num determinado ponto é diretamente proporcional à intensidade de corrente no fio, e inversamente proporcional à distância do centro do condutor ao ponto considerado. Matematicamente: H= 27Er II Onde: H ---> intensidade de campo (A/m) I —> intensidade de corrente (A) r --> distância do centro do condutor ao ponto considerado (m) Obsi: O sentido do campo magnético no ponto considerado é dado pela regra da mão direita. Obs2: A equação acima é válida para um condutor retilíneo e de comprimento infinito. Para situações reais, o valor será aproximado. 34 Editora Ao Livro Técnico 1.4 — Intensidade de campo no centro de uma espiro. O valor de campo magnético no centro de uma espira é dado pela seguinte equação: H = 2R Onde: H intensidade de campo no centro da espira(A/m) I --> intensidade de corrente na espira(A) R raio da espira (m) Para se determinar o sentido do campo no interior da espira, utiliza-se também a regra da mão direita aplicada à qualquer parte da espira. Entretanto, pode-se também utilizar uma variação da regra da mão direita, que usualmente chamamos de regra da mão direita para espiras e bobinas. Neste caso, seguimos a corrente contornando a espira com os quatro dedos principais e o polegar nos aponta o sentido do campo criado. 1-1 regra da mão direita para espiras e bobinas Fundamentos de Eletromagnetismo 35 Apresentamos agora uma equação para se calcular a intensidade de campo no centro de uma espira quadrada. H = na Onde: H ---> intensidade de campo no centro da espira quadrada(A/m) I --> intensidade de corrente na espira(A) a —› apótema do quadrado(m) 1.5 — Intensidade de campo no interior de um solenóide Um solenóide ou bobina é obtido com a disposição de várias espiras em série lado a lado. Por essa razão, o campo magnético do solenóide é o resultado da contribuição das diversas espiras individualmente. O sentido do campo magnético pode ser determinado pela regra da mão direita para espiras e bobinas. Neste caso, envolvemos a bobina com os quatro dedos no sentido da corrente e o polegar nos aponta o sentido das linhas de força do campo resultante. Observamos no desenho que o campo magnético no interior do solenóide é uniforme. A densidade de linhas de força diminui a partir das bordas o que nos leva a concluir que o campo é mais intenso na parte interna da bobina. 36 Editora Ao Livro Técnico N.I \141Z 2 +1,2 H = Considere a bobina abaixo vista em corte, e o gráfico abaixo dela, que mostra a intensidade de campo em função das distâncias a partir do centro. Observamos que no eixo das ordenadas temos os valores de H, onde colocamos simbolicamente o valor l para o maior valor de campo, que corresponde ao centro da bobina. Esse valor se mantém praticamente o mesmo até próximo às bordas da bobina, onde o campo cai à metade. À medida que nos distanciamos das bordas, o campo vai diminuindo e tendendo a zero. ti Para se determinar o valor de H no interior do solenóide, utilizamos a seguinte equação: Onde: H - -> campo magnético no interior do solenóide (A/m) N --> 02 de espiras do solenóide I —> intensidade de corrente (A) R --> raio do solenóide (m) L --> comprimento do solenóide (m) Fundamentos de Eletromagnetismo 37 Casos Particulares a) Solenóide muito longo ( L > R ) Neste caso, na equação para determinarmos o valor do campo no interior de um solenóide, vemos que R pode ser desprezado (igual a zero); Então: NI H= L b) Solenóide muito curto (R > L) vista em corte R Neste caso, L pode ser desprezado na fórmula e então temos: H = N.I 2. R Observe que a equação acima é a do campode uma espira, multiplicado pelo número delas. 38 Editora Ao Livro Técnico c) Solenóide Toroidal Em um solenóide toroidal, como visto na figura a seguir, as linhas de campo ficam confinadas em seu interior. Toróide com N espiras e raio médio R. Para calcular o campo no interior do toróide, utilizamos a equação do solenóide muito longo, substituindo o comprimento L pelo comprimento médio do toróide que é igual a 2nR. Então: N I H = 27ER Um toróide pode também ter sua seção transversal circular. 1.6 — Exercícios resolvidos A — Com um condutor de 2m de comprimento faz-se uma espira circular. Qual o campo magnético em seu interior se aplicarmos uma corrente de 3 A? O raio da espira assim obtida será dado por: R = R = 2-- R = 0,32m 27r 27r H= H= 3 H = 4,69 A / m 2R 2.0,32 Fundamentos de Eletromagnetismo 39 B — Em um solenóide de 300 espiras, com seção transversal circular de raio 2cm e comprimento 15cm está sendo aplicada uma corrente de 2A. Calcule a intensidade do campo magnético em seu interior. Para este tipo de solenóide, a equação do campo será: N .I 300.2 H — V4.0,022 +0,15' H= H = 3865A / m 4R 2 + L2 C Um solenóide toroidal com seção transversal quadrada 3x3cm possui 600 espiras. Sendo seu raio médio igual a 10cm, determine a corrente necessária para que em seu interior o campo magnético H seja igual a 1000 A/m. N. I H = H .27rR I -= I = 1000.271-.0,1 I =1.05A 27TR N 600 1.7 — Exercícios propostos A — Responda as questões abaixo: a) Por que a agulha de uma bússola tende a se alinhar perpendicularmente a um fio percorrido por corrente elétrica? b) Por que é necessário um elevado valor de corrente para a bússola ficar perpendicular ao fio? c) O que aconteceria de diferente na experiência de Oersted, se o campo magnético da Terra deixasse de existir? d) O que ocorreria com a bússola ao ser ligada a corrente, se o fio fosse alinhado desde o princípio, perpendicularmente à agulha? e) O que ocorreria com a bússola se o sentido da corrente aplicada ao fio fosse alterada? f) Qual seria a indicação da bússola se a corrente aplicada fosse alternada? 40 Editora Ao Livro Técnico B Indique qual o sentido que a agulha da bússola irá indicar, desprezando-se o campo da Terra. a) C) O b) C — Calcule a intensidade de campo magnético à distância de 5cm de um condutor que conduz uma corrente de 10A . D — Calcule a intensidade do campo resultante no ponto P para os casos abaixo: 4A a) cm 2A 6 P. b) locm 1= 8A 6,1 Fundamentos de Eletromagnetismo 41 d) H cni R,= R, 10cm Obs.: Espiras em planos perpendiculares E — Determine a que distância a partir do condutor que conduz I, o campo tem intensidade nula, nos casos abaixo, sendo 10 cm a distância entre os condutores: I,= $A a) I,= 3A b) I,= 6A I,— 2A 42 Editora Ao Livro Técnico F — Calcule a intensidade de campo no interior de uma espira circular feita com um condutor de 1 m de comprimento, por onde circula uma corrente de 5A. G — Calcule a intensidade de campo no interior de uma espira quadrada feita com um condutor de 1 m de comprimento por onde circula uma corrente de 5A . H — Determinar a intensidade e o sentido do campo resultante no centro comum às duas espiras. 11=5A 1-2=7A R1= 1 OCM R2=5cm I — Calcule a intensidade de campo no interior de um solenóide reto de 20cm de comprimento e 10cm de raio, tendo este 250 espiras por onde circula uma corrente de 0,5A. J — Calcule a intensidade de campo no interior de um solenóide toroidal de raio interno 6cm e raio externo 8cm, onde estão enroladas 600 espiras percorridas por uma corrente de intensidade 1,0A. L — Duas espiras circulares concêntricas (com mesmo centro) têm raios R, e R2 sendo que R,= 5R2 . A corrente I, = 6A . Qual deve ser o valor de I2 para que no centro das espiras o campo seja nulo? M — Em um tubo de PVC com diâmetro externo igual a 25mm, e o comprimento 20cm enrola-se uma camada de espiras com fio de cobre esmaltado de diâmetro 0,5mm. Considerando-se que as espiras fiquem bem unidas, calcule: a) o comprimento de fio necessário ; b)a intensidade de campo no interior do solenóide quando for aplicada uma corrente de intensidade 2A. Fundamentos de Eletromagnetismo 43 1.8 — Sugestões para laboratório Campo magnético produzido pela corrente elétrica Objetivos: Comprovar a experiência de Oersted; 'I observar o espectro magnético do campo em torno de um condutor, em uma espira e no interior de um solenóide. Material necessário: item quant. unid. especificação 01 02 pç bobina didática* 02 01 pç módulo de alta corrente** 03 01 m condutor rígido 2,5 mm' 04 01 pç amperímetro 0-2 A (CA-CC) 05 04 pç cabo de ligação 06 — — limalha de ferro 07 01 pç bússola 08 01 pç fonte CC regulável O - 30 V 09 01 pç resistor ou qualquer carga para 2 A 10 01 pç fonte CA regulável 0-240 V espiras * Bobina didática: Bobina com aproximadamente 10 espiras de fio 2,5 mm 2 espaçadas transpassando uma placa de acrílico. placa de acrílico ** Módulo de alta corrente Para se conseguir uma alta corrente, necessária para se poder observar o espectro magnético através da limalha, iremos utilizar um núcleo desmontável com duas bobinas, uma de 200 espiras e outra de 10 espiras. núcleo desmontável bobina de 200 espiras bobina de 10 espiras 44 Editora Ao Livro Técnico fonte CC regulável Resistor ou qualquer carga para 2 A bússola V2) A bobina de 10 espiras será ligada em curto-circuito enquanto se aplica um valor adequado de tensão na bobina de 200 espiras. Desta forma circulará uma elevada corrente (acima de 60 A) pela bobina de 10 espiras. Por essa razão é necessário que ela seja construída com fio grosso (pode ser 6 mm2, ou 3x2,5 mm2, ou 4x 1,5 mm2 em paralelo). Procedimento: Para realizar a experiência de Oersted, monte o circuito da figura abaixo: Tomando o cuidado de deixar o fio por baixo e alinhado na direção do ponteiro da bússola, aplique uma tensão, aumentando gradativamente até a corrente atingir 2 A, observando o comportamento da bússola. Efetue agora os seguintes procedimentos, sempre observando e anotando o que ocorre com o ponteiro da bússola. a) Inverta a polaridade da fonte e energize o circuito com uma corrente de 2 A. b) Com o circuito energizado, retire a bússola de cima do fio e a coloque por baixo dele. c) Substitua a fonte CC pela fonte CA e energize o circuito. Tome o cuidado de verificar se a carga empregada pode ser utilizada também em CA. Você deverá observar que, com a inversão da polaridade da fonte, a indicação da bússola se inverte. A indicação da bússola também se inverte quando ela é retirada de cima do fio e colocada por baixo, pois os sentidos do campo nesses pontos são contrários. Observe que em qualquer dos casos, a agulha da bússola não fica perpendicular ao fio. Ela indica a resultante entre o campo magnético da Terra e o campo criado pela corrente. Seria necessária uma corrente muito alta circulando pelo fio para que o campo gerado fosse alto o suficiente para tornar desprezível o campo da Terra na região onde se encontra a bússola. Somente assim a bússola ficaria perpendicular ao condutor. Em corrente alternada a bússola nada indica, pois o campo magnético se inverte muito rapidamente e a agulha, devido a sua inércia, não consegue acompanhar, permanecendo imóvel. Fundamentos de Eletromagnetismo 45 fonte C.A regulável fio rígido de 2,5mm anteparo Para observar o espectro magnético do campo de um condutor, monte o circuito abaixo: fio rícido de 2,5mri anteparo de papel sulfite O anteparo deve ser feito com metade de uma folha de papel sulfite com o condutor perfurando-a ao meio. Utilizar fita adesiva para prendê-lo ao condutor. Apliqueà bobina de 200 espiras do módulo, uma corrente de 2 A. Derrame aos poucos a limalha de ferro sobre o anteparo e observe como ela se alinha. Substitua o fio condutor com o anteparo por uma espira com anteparo como ilustra o desenho abaixo: Com o módulo de alta corrente energizado, derrame a limalha sobre o anteparo e observe a configuração do campo magnético. Substitua a espira pela bobina didática e repita o procedimento para observar a configuração do campo do solenóide. 46 Editora Ao Livro Técnico 2 j A NATUREZA DOS MATERIAIS MAGNÉTICOS 2.1 - Teoria dos domínios Explicamos no capítulo anterior a constituição interna de um ímã como sendo a composição alinhada de uma infinidade de ímãs elementares. Porém, surge a pergunta: O que é um ímã elementar? Para responder essa pergunta vamos mergulhar na estrutura atômica da matéria. Sabemos que um átomo qualquer é composto de um núcleo, onde se encontram os prótons e os nêutrons e, circulando ao redor deste, temos os elétrons. Vamos analisar um destes elétrons girando ao redor do núcleo. (sentido real) elétron em movimento ao redor do núcleo corrente em uma espira Observando os desenhos acima, notamos uma semelhança entre o elétron girando em sua órbita, e a espira por onde circula uma corrente. O elétron sozinho em sua órbita, constitui uma corrente elétrica elementar que, a exemplo da espira, gera um campo magnético. No desenho acima, o sentido do campo gerado pelo elétron está apontando para fora da folha*. Esse pequeno valor de campo é conhecido como campo magnético devido à corrente orbital . Além do campo devido à correntes orbitais, existe o campo magnético devido ao movimento de rotação do elétron em torno do seu próprio eixo, ou seja, devido ao spin do elétron. spin do elétron Fundamentos de Eletromagnetismo 47 O campo magnético criado pelo spin do elétron pode ser determinado pela regra da mão esquerda* onde o sentido da corrente corresponde ao sentido do movimento de rotação do elétron. Uma comparação a nível microscópico poderia ser feito com uma esfera carregada girando em torno de seu próprio eixo . Analogia com uma esfera carregada. Neste caso, as cargas que se encontram próximas da linha do equador da esfera estão girando mais rapidamente e o campo magnético é equivalente à de uma espira percorrida por corrente elétrica . Portanto, o campo magnético devido ao spin do elétron, vai adquirir a forma mostrada na figura a seguir. Campo magnético devido ao spin do elétron. * Usamos a regra da mão direita para o sentido convencional de corrente. Quando temos movimento de cargas negativas, isto corresponde ao sentido real de corrente e portanto a regra a ser utilizada é a da mão esquerda. 48 Editora Ao Livro Técnico Então o campo magnético de um átomo isolado é devido ao movimento orbital e ao spin do elétron. Existe ainda uma terceira contribuição, que é a do spin do núcleo do átomo. No entanto, seu valor é insignificante comparado às outras duas contri- buições supra-citadas. Representação do campo orbital e do campo de spin do elétron. Na figura acima mostramos as linhas de força do campo magnético devido ao movimento orbital e devido ao spin do elétron. A contribuição de campo devido ao spin é muito mais intensa do que devido ao movimento orbital . Agora imagine um átomo de um elemento químico qualquer, com dezenas de elétrons girando em órbitas diversas e cada um tendo seus spins uns num sentido e outros noutro sentido. Não fica difícil concluir que, para a maioria dos elementos químicos, os campos criados pelo movimento orbital e pelos spins se cancelam, produzindo no átomo um campo resultante igual a zero. Campo magnético resultante num átomo é igual a zero para a maioria dos elementos químicos. Fundamentos de Eletromagnetismo 49 No entanto, em uns poucos elementos químicos, não ocorre o cancelamento total do campo à nível atômico. Elétrons com spins de mesmo sentido fazem com que esses elementos apresentem um forte campo magnético. Assim, Átomos que apresentam um campo magnético resultante diferente de zero são denominados dipólos magnéticos. Em alguns materiais, esses dipólos são tão fortes que exercem influência uns sobre outros, fazendo com que se alinhem paralelamente em pequenos volumes chamados domínios magnéticos. Portanto: Domínios magnéticos são pequenos volumes dentro de um material onde dipólos magnéticos encontram-se alinhados. ffi domínios magnéticos Esse alinhamento espontâneo dos dipólos pode ocupar volumes que variam na ordem de 10-3 a 10-6 m de diâmetro. O ferro, o níquel e o cobalto, bem como suas ligas, apresentam domínios magné- ticos e são conhecidos como materiais ferromagnéticos. 2.2 — Indução magnética Vamos imaginar pequenos ímãs furados em seu centro de gravidade. 50 Editora Ao Livro Técnico Vamos agora pregar esses ímãs em uma mesa com pregos finos de tal modo . que os mesmos possam girar livremente. Dispondo então segundo posições aleatórias, poderemos ter a configuração abaixo: Se pusermos nos extremos da mesa os pólos norte e sul de um grande ímã, obteremos o alinhamento de cada pequeno ímã da mesa. Isto ocorre pela ação das forças entre seus pólos e os pólos do grande ímã. IN mi Em IN PIM ffigo mi NI ma - MI A situação que acabamos de analisar é uma boa analogia a nível macroscópico com o que ocorre com os domínios magnéticos sujeitos a um campo magnético. Nas análises que se segiiirão, os domínios serão representados por setas, cujas pontas correspondem aos seus pólos norte. N S N Fundamentos de Eletromagnetismo 51 Em uma barra desmagnetizada, teremos os domínios orientados aleatoriamente como mostrado abaixo. Domínios orientados aleatoriamente em uma barra de ferro. Vamos agora introduzir o conceito de indução magnética. Suponha então um campo magnético H, uniforme, no vácuo. Se jogarmos uma barra de ferro desmagnetizada em seu interior, ocorrerá uma orientação dos domínios magnéticos. H Os domínios magnéticos da barra se orientam. A barra, agora magnetizada, assume comportamento de um ímã, apresentando portanto o seu próprio campo magnético, que chamaremos de campo M, ou magnetização, pois é criado pela magnetização da barra de ferro. Linhas de força do campo magnético próprio da barra. 52 Editora Ao Livro Técnico Como conseqüência, haverá uma resultante entre o campo H inicial e o campo magnético induzido na barra de ferro (campo M). Observamos que internamente à barra, as linhas de força têm sentidos coincidentes enquanto que, fora dela, há pontos onde os sentidos são exatamente opostos ou formam ângulos entre si. De qualquer forma, não é difícil perceber que o campo resultante terá aproximadamente a forma abaixo: campo magnético resultante Resumindo, ao colocarmos a barra de ferro no interior do campo H, a orientação dos domínios magnéticos da barra produz o equivalente a um reforço do campo magnético no interior da barra. A esse novo valor de campo obtido pela soma em cada ponto, do campo H com o campo provocado pelo alinhamento dos domínios (campo M), dá-se o nome de indução magnética ou campo B. Portanto: Indução magnética é o campo efetivo num determinado meio. Observe que o campo B é a grandeza mais importante, pois é obtido pela soma das outras duas, H e M. Poderíamos escrever então que B = H + M. Nesse caso, em um meio sem a presença de materiais magnetizáveis, o campo M seria nulo e portanto B e H teriam o mesmo valor. Infelizmente, essa relação não é em todo verdadeira. Isto porque por razões históricas, foi atribuída ao campo B uma unidade diferente da unidade de H e M. Ou seja, enquanto H e M têm a unidade A/ m, B possui a unidade tesla (T) no sistema internacional de unidades. O relacionamento correto entre B, H e M se dá através da equação B = t0 (H + M), que será justificado mais adiante.Geralmente se faz muita confusão na distinção entre B e H. Inclusive no nome, pois com freqüência falamos em campo magnético quando queremos nos referir à indução magnética. O próprio campo magnético da Terra, ao qual já nos referimos, na realidade é a indução magnética da Terra, pois é medido em teslas. Entretanto, nunca ouvimos alguém se referindo à ele como indução magnética. Para esclarecer um pouco mais sobre essas diferenças, cabe salientar que os campos magnéticos têm basicamente duas origens: correntes livres e correntes ligadas. Fundamentos de Eletromagnetismo 53 As correntes livres são as correntes devido ao movimento de cargas 1 vres em condutores, ou a corrente elétrica propriamente dita. Já as correntes ligadas são as devidas aos movimentos orbitais e de spin no interior da estrutura atômica dos materiais. Assim, as correntes livres geram o campo magnético H enquanto as correntes ligadas geram o campo M. A soma dos dois nos dá o campo B. Vale salientEr que temos pleno domínio sobre o campo H, pois podemos interferir diretamente sobre seu valor, manipulando a corrente que o gera. Já não se pode dizer o mesmo sobre o campo M, pois sua origem é mais complexa. No CGS a unidade da indução magnética é o gauss, cuja re ação com o tesla é: 1T = 104 gauss. O instrumento que mede a indução magnética é o gaussímetro. Trata-se de uma ponta de prova fina e achatada acoplada a um instrumento que pode ser analógico ou digital. Para medir a intensidade de um campo basta então introduzir a ponta de prova (sensor) no interior do campo. / medindo a indução através do gaussímetro 2.3 — Fluxo magnético O fluxo magnético representa a quantidade total de linhas de força que atravessam uma determinada superfície perpendicular às linhas. Sua unidade no SI é o weber (Wb) e é representada pela letra 0 . s fluxo magnético através da superfície S 54 Editora Ao Livro Técnico Como a indução magnética é diretamente proporcional à concentração de linhas de força, existe então uma relação entre o fluxo e a indução. A indução é dada por: Onde: B —> indução magnética em tecla (T) 0 fluxo magnético em weber (Wb) S --> área perpendicular ao fluxo (m2 ) B o Como conseqüência da equação acima, a indução pode ser também referenciada na unidade Wb/m2. O fluxo através das áreas Si e S2 é o mesmo. No entanto, a indução em SI (B1) é maior que em S2 (B2). 2.4 — Permeabilidade magnética de um material Quando se fala em permeável, logo associamos à idéia de algo que permite a passagem. Por exemplo, um solo permeável é o que absorve rapidamente a água ou, em outras palavras, deixa o fluxo de água passar através dele. Ou ainda, tal tipo de solo possui boa permeabilidade. Estendendo o raciocínio para o magnetismo; podemos dizer que A permeabilidade magnética expressa a facilidade que um material magnético oferece à passagem das linhas de forca. No capítulo anterior, quando estudamos a indução magnética, concluímos que um pedaço de ferro é capaz de reforçar um campo inicial H. Fundamentos de Eletromagnetismo 55 Sob a ótica da permeabilidade, podemos dizer que o ferro possui permeabilidade magnética maior que a do vácuo. Por essa razão, as linhas de força preferem se concentrar pelo ferro, evitando o vácuo. Essa é uma forma simplificada de raciocínio, pois como vimos no item 2.2, o que ocorre é uma resultante entre campos magnéticos, que provoca uma deformação do campo inicial. Entretanto, podemos fazer uso desse artifício no momento para facilitar a compreensão do conceito de permeabilidade, embora não devamos esquecer que a configuração de linhas assim obtida é resultado da sobreposição de linhas do campo aplicado H com as do campo induzido M. Matematicamente a permeabilidade magnética, representada por µ, é definida como a relação entre o campo B e o campo H. Ou seja: A unidade da permeabilidade magnética é o henry/metro (H/m). Observe que se B e H tivessem a mesma unidade, a permeabilidade magnética seria adimensional, ou seja, não teria unidade. 2.5 — Permeabilidade do vácuo Para o vácuo, B e H tem o mesmo valor, apesar de expressos em unidades diferentes. Por isso, para relacionar B e H em suas respectivas unidades, a permeabilidade do vácuo possui o valor: = 47r.10 -7 H /m µ0--> permeabilidade do vácuo Para o vácuo, B=µ.H. Para materiais magnéticos, onde o campo M é diferente de zero, a indução é dada por B=µo (H + M), que é equivalente a B—µH. Ou seja, a permeabilidade magnética de um material µ considera a contribuição de M para o campo total B, sem fazer menção a ele. Por essa razão, a maioria dos autores trata desse assunto sem mencionar a existência do campo M. Nós o fizemos por achar que o entendimento do assunto, especialmente o conceito de campo B, pode ficar mais fácil. Para efeitos práticos, a permeabilidade do ar é considerada igual à do vácuo, pois a diferença entre seus valores é desprezível. 56 Editora Ao Livro Técnico ft R o a= 2cm b= 3cm 2.6 — Permeabilidade relativa A permeabilidade relativa é a razão entre a permeabilidade do material e a permeabilidade do vácuo. —> permeabilidade relativa Note que a permeabilidade relativa é adimensional. Podemos interpretar a permeabilidade relativa como o número de vezes que a permeabilidade do material é maior(ou menor) do que a do vácuo. Assim, um material que possua permeabilidade relativa igual a 5, significa que: . . = 5 = 1,1 — ou µ=5.µo Po Portanto, o referido material possui permeabilidade cinco vezes maior que a do vácuo. 2.7 — Exercícios resolvidos A — A indução magnética bem junto à superfície polar do ímã abaixo é de 0,5 T. Calcular o fluxo magnético que atravessa a referida superfície. Solução: A área da superfície polar do ímã equivale a: S=axb S = 2.10-2 x 3.10-2 S = 6.10-4 m2 O fluxo é dado por: B .S 0=0,5 x 6.104 (1) = 3.10-4 Wb Fundamentos de Eletromagnetismo 57 B — Calcular o fluxo magnético que atravessa a superfície abaixo: / A B= 1T MO" a.sen30° a= 10cm b= 20cm Solução: A área está inclinada em relação às linhas de força. Portanto, devemos calcular a projeção da área perpendicular ao fluxo, que será: S = b x a.sen30° S = 20.10-2 x 10.10-2 x 0,5 S= 100.10-4 m2 B.S (1)= 1 x 100.10-4 4)=10.10-3 Wb 4)=10 mWb C — Em um núcleo ferromagnético de permeabilidade relativa igual a 4500 e de dimensões 4x4x30 cm é enrolada uma única espira. Uma corrente de 5 A é então aplicada à mesma. Determine.a indução magnética no núcleo. Solução. A equação para uma espira quadrada nos dá a intensidade de campo no centro da mesma. Entretanto, podemos assumir que esse campo é o mesmo para toda a região interna à espira com razoável precisão. Então, utilizando a equação do campo de uma espira quadrada, onde o apótema equivale à metade do lado da seção transversal: a = 2 cm = 0,02m /.-N/2 H = H — H =112,54A / m Ira 7c0,02 B = pop,R H B = 4z.10-7.4500.112,54 B = 0,64T 58 Editora Ao Livro Técnico 2.8 - Exercícios propostos A — Responda as questões abaixo: a) Quais as causas que originam o campo magnético de um átomo? b) Como são chamados os átomos que apresentam um campo magnético diferente de zero? c) Por que nem todos os elementos químicos apresentam dipólos magnéticos? d) O que são domínios magnéticos? e) O que é indução magnética? f) Qual a relação existente entre a unidade de indução no sistema MKS e CGS? g) O que é um gaussímetro? h) O que é fluxo magnético e qual a sua unidade? i) Qual a relação entre o campo B e o campo H? j) Escreva as fórmulas para o cálculo do campo B em torno de um condutor, no centro de uma espira e no interior de um solenóide, estando todos no vácuo. B — Em um cilindro de aço de 20cm de comprimento e 3cm de raio são enroladas duasespiras de fio de cobre. Sendo a permeabilidade relativa do aço igual a 3000, calcule a indução magnética no cilindro quando a corrente aplicada for de 5A. C — Um ímã de dimensões polares 4x6cm e indução magnética medida junto à superfície polar igual a 0,8T é encostado a uma barra de ferro de permeabilidade relativa igual a 2000 e cujas dimensões são iguais a 8x6cm de seção transversal. Desprezando as perdas de fluxo magnético na junção, calcule: a) o fluxo magnético que penetra na barra de ferro; b) a indução magnética média na barra de ferro; c) o campo H no interior do ferro. D — Um toróide de raio interno 20cm, raio externo 25cm e espessura 5cm possui 1000 espiras, por onde circula uma corrente de 6A. Através de um pequeno orifício no toróide é medida sua indução magnética, obtendo-se o valor de 0,9T. Determine o fluxo magnético e a permeabilidade relativa do material constituinte do núcleo do toróide. Fundamentos de Eletromagnetismo 59 E — Um elétron gira a uma velocidade de 10.000km/s dentro de um pequeno acelerador de partículas de raio 1,5m. Calcule a intensidade de campo H gerada por esse único elétron? Dica: Considere o percurso circular do elétron como uma espira. Calcule a corrente nessa espira I= Oq At F — Dois núcleos de formatos geométricos idênticos são constituídos de materiais com permeabilidade relativa µ RI =800 e permeabilidade relativa I.I R2 = 10.000. Em cada um deles é enrolada uma espira e em seguida aplicada uma corrente de 2A no material com µ Ri =800. Qual a intensidade de corrente necessária para produzir no material com 142 = 10.000 uma indução igual ao do material com permeabilidade µ R , ? 60 Editora Ao Livro Técnico H [3 H ti.<1 3 CLASSIFICAÇÃO DOS MATERIAIS QUANTO À PERMEABILIDADE 3.1 — Classificação geral Em termos de permeabilidade relativa, todos os materiais enquadram-se nos três casos abaixo: Os materiais com µ, >1 reforçam um campo inicial. Isto é conseguido pelo alinhamento dos domínios no mesmo sentido do campo, que produz um campo resultante dentro do material mais intenso do que fora dele. lI alinhamento dos domínios campo resultante Fundamentos de Eletromagnetismo 61 No segundo grupo, encontramos o vácuo, µR =1. Uma vez que a permeabilidade relativa é definida em relação ao vácuo, então é natural que: PR = .: P R = Po Po Po p R = 1 No terceiro grupo, o campo dentro do material é menor do que fora dele. Isto é, o material com vt, <1 possui a propriedade de enfraquecer um campo inicial. Para que isto ocorra, deve haver um alinhamento dos dipólos magnéticos em sentido oposto ao do campo aplicado. 1I 13 Mas como isto é possível? Sabemos que os dipólos elementares se alinham sempre no sentido do campo. Você encontrará a resposta na seqüência estudando os materiais diamagnéticos. 3.2 — Materiais diamagnéticos Os materiais que apresentam p,<1 são chamados de materiais diamagnéticos. Eles apresentam a interessante propriedade de alinhar seus dipólos magnéticos em sentido contrário ao campo aplicado, reduzindo portanto o campo resultante em seu interior. Na realidade, esses materiais, na ausência de um campo aplicado, não apresentam dipólos magnéticos. Os campos magnéticos, devido ao movimento orbital dos elétrons e de seus respectivos spins, cancelam-se mutuamente, apresentando resultante igual a zero no átomo. Nesses materiais, os elétrons circulam de tal forma que equivalem a pares de elétrons circulando em cada órbita , em sentidos opostos e com spins também opostos. Isto justifica uma resultante nula na ausência de campo. Dois elétrons circulando em sentidos opostos, produzindo campos que se cancelam. 62 Editora Ao Livro Técnico Vamos separar os dois elétrons mostrados na figura anterior para melhor entender o que ocorre: Elétrons de um mesmo átomo separados convenientemente para análise. Vemos então que o campo produzido pelo primeiro elétron cancela o campo do segundo elétron. Quando aplicamos um campo externo, surgem forças sobre cada um dos elétrons. Fm Haplic. Haplic. Fm A força magnética Fm puxa a carga no sentido indicado. Uma carga circulando perpendicularmente a um campo fica sujeita a uma força cujo sentido depende dos sentidos de deslocamento da carga e do campo aplicado. Este assunto é abordado na Unidade III, 4.2 — Força em uma carga em movimento dentro de um campo magnético. Os dois elétrons estavam até então em equilíbrio em suas órbitas pela ação da força elétrica* atrativa exercida pelo núcleo e pela força centrífuga** exercida em sentido oposto. Então a força adicional Fm provoca um desequilíbrio, puxando o primeiro elétron para fora de sua órbita e o segundo elétron para dentro de sua órbita. Visto que as órbitas dos elétrons são quantizadas*** e a força magnética Fm é muito pequena, os elétrons permanecerão em suas órbitas, porém com velocidades F = K - 1-2 * A força elétrica é dada pela Lei de Coulomb: ** A força centrífuga é dada por: F= R *** As órbitas são quantizadas, ou seja, um elétron só pode migrar para outra órbita quando adquirir uma quantidade de energia mínima a qual chamamos de quântum. Fundamentos de Eletromagnetismo 63 diferentes. O primeiro elétron reduzirá sua velocidade para diminuir sua força centrífuga e permanecer em equilíbrio em sua órbita. Enquanto isso, o segundo elétron terá que aumentar a sua velocidade. Com isso, os campos magnéticos gerados por cada elétron deixarão de ser iguais. agora os campos produzidos pelos dois elétrons são diferentes Observe que o campo do primeiro elétron H1 é agora menor do que o campo H2. A resultante H1- H2 terá o sentido do maior que, portanto, se oporá ao campo aplicado. Reunindo os dois elétrons novamente, observaremos então que a presença de um campo aplicado, induz no átomo, um campo contrário. Chama-se de efeito diamagnético o aparecimento de um campo induzido no átomo, contrário ao campo aplicado. O efeito diamagnético está presente em todos os materiais, porém nem todos o apresentam exteriormente, pois outros efeitos o sobrepujam. O comportamento de um material diamagnético é novamente ilustrado na seqüência. s s aterial diamagnético tb<1 ou seja u<K, 64 Editora Ao Livro Técnico No desenho anterior, as linhas de força desviam exageradamente o material diamagnético. Na realidade esse efeito não é tão pronunciado. Os materiais diamagnéticos possuem permeabilidade pouquíssimo menor do que a do vácuo. Entretanto, se dispuséssemos de materiais com diamagnetismo bastante acentuado, poderíamos perceber que estes são repelidos por campos magnéticos. Na verdade, esses materiais existem, apesar de serem ainda instáveis e necessitarem de temperaturas muito baixas. São os supercondutores. Esses materiais são considerados diamagnéticos perfeitos e podemos fazê-los flutuar sobre um campo magnético de intensidade razoável. A seguir, relacionamos alguns materiais diamagnéticos e suas respectivas permeabilidades relativas. material liTz bismuto 0,99983 prata 0,99998 chumbo 0,999983 cobre 0,999991 água 0,999991 supercondutor 0,0 materiais diamagnéticos 3.3 - Materiais paramagnéticos São materiais paramagnéticos os que apresentam permeabilidade relativa ligeiramente maior que a unidade (µ, >1). Isto quer dizer que os materiais paramagnéticos reforçam um campo inicial. Os materiais paramagnéticos apresentam internamente dipólos magnéticos criados pelos spins dos elétrons. dipólo magnético Amostra de um material paramagnético, cujos dipólos encontram-se orientados aleatoriamente. Fundamentos de Eletromagnetismo 65 Os dipólos dentro do material ficam orientados aleatoriamente, devido ao seu estado de agitação térmica, mesmo à temperatura ambiente. Aplicando um campo externo, consegue-se alinhar parcialmente os dipólos. Esse alinhamento produzuma concentração maior de linhas de força dentro do material. A isso se dá o nome de efeito paramagnético. Portanto: Efeito paramagnético é o surgimento de um campo magnético maior no interior do material em função da orientação dos dipólos magnéticos. Haplic. *e. / Observe que esse campo ao ser aplicado também cria o efeito diamagnético. Se o efeito paramagnético for maior, o material é paramagnético. Entretanto, se o efeito diamagnético prevalecer, então o material será diamagnético. A seguir, apresentamos uma relação de materiais paramagnéticos e sua respectiva permeabilidade relativa. material PR ar 1,0000004 alumínio 1,00002 paládio 1,0008 materiais paramagnéticos 3.4 — Materiais ferromagnéticos Os materiais ferromagnéticos são aqueles que apresentam permeabilidade relativa muito maior do que a unidade (µR »1). São a classe de materiais de maior importância na eletrotécnica, visto que apresentam vasta aplicação prática, como na confecção de núcleos de máquinas elétricas, transformadores, reatores etc. A semelhança que existe entre essa classe de materiais e os materiais paramagnéticos reside no fato de ambos apresentarem permeabilidade relativa maior que um (ptR >1). Entretanto, nos materiais ferromagnéticos essa característica é bastante acentuada pela presença dos domínios magnéticos, assunto que abordamos no capítulo anterior. Isto confere aos materiais ferromagnéticos altíssimos valores de permeabilidade relativa. 66 Editora Ao Livro Técnico 11I Domínios magnéticos: partículas características dos materiais ferromagnéticos. Considerando-se a natureza cristalina dos materiais, podemos mostrar em um desenho em perspectiva como ficam dispostos os domínios em um cristal não magnetizado. Arranjo de domínios num cristal desmagnetizado. (ilustração esquemática) Sob a ação de campos externos, esses domínios tendem a se orientar, fazendo com que o material como um todo apresente um elevado valor de indução magnética em seu interior. Naturalmente não serão todos os domínios que irão se orientar com qualquer campo externo aplicado. Aqueles cujos eixos norte-sul estiverem mais próximos da direção do campo magnetizante irão se orientar primeiro. Para os demais, será necessário um campo mais forte para alinhá-los. (1) (2) s H Para um campo H aplicado crescente, o domínio (1) irá se orientar antes que o domínio (2). Fundamentos de Eletromagnetismo 67 Isto quer dizer que se formos aumentando um campo aplicado a um material ferromagnético, os domínios irão se orientando gradativamente. Este é o efeito ferromagnético. Assim: Efeito ferromagnético é o aparecimento de um forte campo induzido dentro do material produzido pela orientação dos domínios sujeitos a um campo magnetizante. São apenas três os elementos químicos que apresentam na sua forma pura o efeito ferromagnético de forma expressiva: o ferro, o níquel e o cobalto. Apesar disso, uma infinidade de substâncias produzidas através da combinação desses três elemehtos com outros, que a princípio não são ferromagnéticos, constituem os materiais ferromagnéticos largamente empregados na construção de máquinas elétricas como transformadores, motores, geradores etc. O mais importante dos materiais ferromagnéticos é sem dúvida o ferro. Tanto é verdade que o nome ferromagnético é usado para caracterizar a classe de materiais que têm comportamento semelhante ao ferro. Muitas vezes o termo material magnético é usado ao invés de ferromagnético. Neste caso, queremos apenas fazer distinção entre aqueles materiais que podem ser atraídos por um ímã e os que não podem, que são então chamados de materiais não magnéticos. Valores típicos de permeabilidade relativa e considerações sobre os materiais ferromagnéticos serão abordados no capítulo seguinte. 3.5 — Exercícios propostos A — Responda as questões abaixo: a) Quais as permeabilidades relativas típicas de materiais diamagnéticos, paramagnéticos e ferromagnéticos? b) O que é efeito diamagnético? c) Qual é a causa do efeito diamagnético? d) O que é efeito paramagnético? e) Qual é a causa do efeito paramagnético? f) O que é efeito ferromagnético? g) Qual é a causa do efeito ferromagnético? h) Quais as classes de materiais que apresentam dipólos magnéticos? i) Que classe de materiais apresenta domínios magnéticos? j) Por que os dipólos dos materiais paramagnéticos não formam domínios magnéticos? 68 Editora Ao Livro Técnico FENÔMENOS DE FERROMAGNETISMO 4.1 — Curva de magnetização Podemos traçar uma curva que mostre como a indução magnética, que depende principalmente da orientação dos domínios, varia em função de um campo H aplicado. Vamos tomar uma amostra de um determinado material ferromagnético desmagnetizado. Em seguida, vamos submetê-lo à variações crescentes de campo H. ÌÌ Ill Material ferromagnético desmagnetizado. Nossa fonte de campo H será uma bobina enrolada sobre o material, submetida a uma corrente elétrica. Campo H gerado pela bobina: H=NI/I Como a amostra está inicialmente desmagnetizada, a indução magnética é nula em seu interior. Aplicando uma pequena corrente na bobina, gera-se um pequeno valor de campo H. Este campo determina um crescimento naqueles domínios cuja posição inicial de seus eixos norte-sul está mais próxima da direção do campo aplicado. 11 Os domínios 2 e 3 irão crescer pela influência do campo H. Fundamentos de Eletromagnetismo 69 .,•••••• H aplic. Se aumentarmos o valor do campo H aplicado, aqueles domínios crescerão ainda mais e ajudarão a forçar os demais domínios a se orientarem no mesmo sentido. Essa orientação será gradativa à medida que formos aumentando o campo H. Portanto, aqueles domínios, cujo alinhamento inicial coincide com o campo aplicado simplesmente crescem em volume enquanto que os demais são forçados a girar no sentido do campo aplicado. Resumindo, os aumentos sucessivos no campo H farão com que a indução magnética no material também aumente, apesar de não ser uma relação linear. O gráfico a seguir nos mostra como varia a indução magnética em função do campo H aplicado a um material ferromagnético típico. Observe no gráfico que para um campo H=200 A/m a indução é de 0,2 T. Dobrando o valor de H, ou seja, para H=400 A/m, a indução pula de B(T) 0,8 0,2 T para 0,60 T, aumentando em três vezes o 06 seu valor inicial. Por outro lado, quando H aumenta 0,4 de 800 A/m para 1000 A/m, o valor de B aumenta 0.2 I I muito pouco. Se continuarmos a aumentar H, os o c› o c, c, c c, , 8 H(A/m) C•J sO 00 c, aumentos no valor de B serão cada vez mais curva de magnetização insignificantes. Quando isto ocorre, ou seja, quando não há mais um aumento significativo no valor de B, por mais que se aumente H, dizemos que o material está magneticamente saturado. A saturação, portanto, é atingida quando todos os domínios magnéticos estiverem orientados*. Todos os domínios estão orientados. O material está magneticamente saturado pela ação do campo H aplicado. * Na realidade, mesmo depois do ponto onde dizemos que o material está saturado, ainda existem domínios para serem orientados. Portanto, o campo B continua aumentando um pouco quando se aumenta o campo H. Mesmo que todos os domínios fossem orientados, ainda assim B continuaria aumentando com os aumentos de H, pois B=µ.(H+M). Então, mesmo que não haja mais domínios para serem orientados e portanto a magnetização M não mais aumente, há ainda aumento no valor de B proporcionado pelo aumento de H. Porém, a contribuição de H para o campo total B é muito pequena comparada às contribuições de M e desta forma podemos desprezá-la. Levando-se em conta essas considerações, torna-se difícil estabelecer com exatidão o ponto de saturação de um material. 70 Editora Ao Livro Técnico Na curva de magnetização mostrada como exemplo, o material satura, atingindouma indução máxima em torno de 0,831 Para melhor entender a saturação, imagine que a amostra estivesse sendo usada como um eletroímã. A força com que esse eletroímã atrai um pedaço de ferro depende diretamente da corrente aplicada. No entanto, não podemos aumentar indefinidamente a força desse ímã, aumentando a corrente aplicada. Chegará um ponto em que por mais que aumentemos a corrente, a força do eletroímã, não mais aumentará significativamente. Nossa intuição poderá então nos dizer para trocar de material, a fim de conseguir um ímã mais potente. Se assim fizermos, vamos constatar que existem materiais que nos proporcionam eletroímãs mais fortes do que outros. Ou seja, existem materiais que atingem seus pontos de saturação com valores mais elevados do que outros. Este fato está relacionado com a natureza atômica do material. B(T) Bmáx3 Bmáx2 Bmáx I H(A/m) Curvas de magnetização para 3 diferentes materiais Voltando ao eletroímã, naturalmente obteríamos melhores resultados utilizando- se o material 3, que é aquele que atinge a saturação com o mais elevado valor de indução magnética. 4.2 — Variação da permeabilidade relativa de materiais ferromagnéticos Observando a curva de magnetização a seguir e lembrando que a permeabilidade magnética é dada por = H e !IR vamos chegar a conclusão que a permeabilidade magnética de materiais ferromagnéticos não é uma constante. Fundamentos de Eletromagnetismo 71 Tomando os cinco pares de valores do gráfico e fazendo o cálculo e posteriormente = B H , teremos: B(T) 0,8 0,6 0,4 0,2 c) c, c) c) c) c, c) c> c) c) H(A/m) N 00 C> curva de magnetização µi= 0,2/200 = 0,001 H/m --> µRi= 0,001/4p.10-7 µR,= 796 µ2 = 0,6/400 = 0,0015 H/m p,R2 = 0,0015/4p.10-7 1R2= 1194 µ3 = 0,75/600 = 0,00125 H/m —> µR3= 0,00125/4p.10-7 gR3= 995 Fazendo os cálculos para os outros dois pares de valores, teremos: p.4 =0,001 H/m --> 1-1R4 = 796 µ5 = 0,00083 H/m R5 = 660 Portanto, para diferentes valores de campo H aplicados a um material ferromagnético, teremos diferentes valores de permeabilidade relativa. Podemos construir um gráfico de µR = f(H) para os valores acima. 1200 900 600. 300 C 0 o o o O o o o o C,1 <:t• oo H(A/m) curva de variação da permeabilidade em função do campo aplicado Observamos que o máximo valor de permeabilidade relativa ocorre nesse exemplo, com um campo aplicado de 400 A/m. Para valores iniciais de campo H aplicado, a permeabilidade do material é identificada no gráfico por um µR inicial. 72 Editora Ao Livro Técnico Concluindo, a permeabilidade relativa de materiais ferromagnéticos não é constante. Depende do valor de campo aplicado. Normalmente se utilizam os valores de permeabilidade relativa máxima e inicial para caracterizar um material ferromagnético. A seguir, forneceremos esses valores para alguns materiais. material µR inicial µR máxima aço-silício (3si) 7500 55.000 78 Permalloy (78,5 Ni) 8000 100.000 Supermalloy ( 79Ni,5 No) 100.000 1.000.000 Ferrite Ni - Zn 2.500 5.000 4.3 — Histerese magnética Quando materiais ferromagnéticos são submetidos à variações e inversões de campos magnéticos, ocorre um interessante fenômeno, cujas conseqüências em máquinas elétricas são muito importantes, conforme veremos na seqüência . Vamos adotar uma amostra de material ferromagnético qualquer, inicialmente desmagnetizada, e através de um campo externo aplicado, levá-la à saturação. 11 H aplic. material ferromagnético desmagnetizado material magneticamente magneticamente saturado (todos os domínios orientados) Da condição de desmagnetizado até a saturação, o material passa por estágios intermediários de magnetização que é ilustrado na curva de magnetização. B(T) H(A/m) curva de magnetização típica de materiais ferromagnéticos Fundamentos de Eletromagnetismo 73 (cì (d) 1 / N Material desmagnetizado Campo H aplicado. Elevado valor de campo Material parcialmente aplicado. Material já magnetizado. saturado. Se começarmos a diminuir o campo aplicado*, os domínios começarão a retornar às suas posições de alinhamento aleatório . Entretanto, nem todos voltam às suas posições originais, após cessado o campo magnetizante. Na seqüência, mostramos as orientações assumidas pelos domínios durante três etapas de magnetização e desmagnetização parcial . Um campo H será aplicado, aumentando até o ponto em que o material sature. Em seguida, será diminuído até retornar a zero. (a) (b) ( c) Campo aplicado retorna Campo aplicado igual do Campo aplicado sendo a zero. O material perna- item b. Os domínios não diminuído. Material ainda nece parcialmente magne- retomam à mesma posição. saturado. tizado. Para entender o que ocorre, compare as figuras (d) com (c), (e) com (b) e (f) com (a). Elas representam as orientações dos domínios para os mesmos valores de campo H aplicado durante a magnetização e desmagnetização parcial . Na figura (a), o material encontra-se completamente desmagnetizado, sem nenhum campo a ele aplicado . Na figura (b), são mostradas as •novas posições assumidas pelos domínios quando um campo H, de valor intermediário, é aplicado. Na figura (c), o campo aplicado é intenso o suficiente para o material atingir a saturação. Na figura (d), começa-se a diminuir o campo aplicado. O material ainda está saturado. Na figura (e), o campo foi diminuído para o mesmo valor de campo aplicado na figura (b). Apesar disso, os domínios não retornam às mesmas posições que as mostradas na figura (b). Finalmente, na figura (f), o campo aplicado foi trazido a zero. Comparando-se com a figura (a), observamos que os domínios não retornaram às mesmas posições * O campo magnético aplicado pode ser produzido por uma corrente circulando em uma bobina onde a amostra de material estaria imersa, ou por um ímã sendo aproximado ou afastado do material 74 Editora Ao Livro Técnico máx H(A/m) de desarranjo total. Pelo contrário, permaneceram levemente orientados mesmo sem a presença do campo aplicado. Isto quer dizer que o material permaneceu com uma indução denominada residual. Portanto: Indução residual é o valor de indução que permanece no material após cessado o efeito do campo magnetizaste. A curva de magnetização mostra os valores de indução adquiridas pelo material em função dos valores de campo H aplicados. Podemos, a partir dela, mostrar graficamente o que ocorreu com o material durante o aumento e a diminuição do campo aplicado. A curva a corresponde à magnetização do material pelo aumento do campo aplicado. Ela mostra o campo H aumentando desde zero até o valor assinalado por Hmáx Em conseqüência desses valores aplicados, a indução varia desde zero até o valor indicado por Bmáx. Ao variar de zero até Hmáx , o campo passa pelo valor intermediário "H l", que corresponde a uma indução no material igual a "Bi". A curva b corresponde à desmagnetização parcial do material. O campo H é então diminuído até zero. A indução diminui de Bmáx para Br, não retornado portanto a zero. Observamos que quando o campo está sendo diminuído e passa pelo valor "H l", a indução correspondente é B2 . Resumindo, quando o campo H é retornado a zero, o material ainda permanece magnetizado com valor Br. Se quisermos eliminar a indução residual do material, devemos aplicar um campo H em sentido contrário, portanto um campo negativo. Aumentando-se então gradativamente este campo, a indução irá aos poucos diminuindo até chegar a zero. Quando isto ocorre, os domínios estarão novamente em completo desalinhamento entre si. • Fundamentos de Eletromagnetismo 75 Observe no gráfico que à medida que H aumenta negativamente, B diminui até cair a zero quando H atingir o valor -Hc. A indução residual é, portanto, eliminada graças à aplicação de um campo -Hc, denominado campo coercitivo. Portanto:Campo coercitivo é o valor de campo necessário para eliminara indução residual. Se o campo continuar a aumentar negativamente, ocorrerá uma orientação gradativa dos domínios em sentido oposto. Se H aumentar suficientemente, o material poderá novamente atingir a saturação, agora negativa. 76 Editora Ao Livro Técnico Prosseguindo, agora diminuindo H até zero, a indução cairá de -Bmáx para -Br. Para eliminar -Br, invertemos novamente o campo H. O valor de campo que elimina a indução residual será agora Hc. Finalmente, se prosseguirmos aumentando H, o material vai saturar novamente. Assim fecha o nosso gráfico, conhecido como ciclo de histerese. Fundamentos de Eletromagnetismo 77 Histerese é uma palavra de origem grega e que significa atraso. Nos sucessivos aumentos, diminuições e inversões que procedemos no campo H, o que observamos é que a indução se atrasa em relação ao campo H. Veja por exemplo que, enquanto H está decrescendo a zero, a indução está chegando em Br. Depois, quando H já se tornou negativo e cresce até o valor -Hc, só então B chega a zero. E assim por diante, B está sempre atrasado em relação a H. 4.4 — Perdas por histerese Para obtermos o ciclo de histerese, havíamos aplicado a um material ferromagnético uma seqüência de valores de campo H como segue: a) aumenta-se H a partir de zero até Hmáx; b) diminui-se H desde Hniáx até zero; c) inverte-se H aumentando até -Hmu; d) diminui-se H desde -Hrnáx até zero; e) reinverte-se H aumentando-o até H rnáx, fechando o ciclo. Analisando máquinas e dispositivos que funcionam em corrente alternada, chegaremos à conclusão de que seus núcleos ficam expostos às mesmas variações de H. Vejamos o caso de um transformador. primária secundária e (V) O campo magnético criado na bobina primária do transformador é dado pela conhecida equação H = N I/ I. Sendo a corrente aplicada alternada, o campo H também o será: 78 Editora Ao Livro Técnico Isto quer dizer que o núcleo do transformador será submetido a uma seqüência de variações de H exatamente como descrevemos acima: aumenta, diminui, cai a zero, inverte e aumenta, diminui, cai a zero, reinverte etc. Então, a cada ciclo da corrente alternada, o núcleo fica sujeito a um ciclo de histerese. Em outras palavras, na freqüência de 60 Hz, ocorrerão 60 ciclos de histerese a cada segundo no material. As perdas por histerese surgem devido ao atrito interno a que ficam sujeitos os domínios entre si, ao sofrerem mudança em sua posição, devido a influência de um campo aplicado. Como conseqüência, o núcleo se aquece e a energia para aquecê-lo provém da fonte que alimenta o transformador ou qualquer que seja a máquina em questão. Resumindo, uma parcela de energia é desperdiçada no aquecimento desnecessário e indesejável do núcleo da máquina. Cada material apresenta ciclos de histerese diferentes como ilustrado abaixo, fato que está relacionado com a composição química do mesmo. O teor de materiais não ferromagnéticos, como, por exemplo, o carbono presente no aço determina o nível de atrito interno entre os domínios e as moléculas desses materiais. É isso que vai determinar a intensidade das perdas. A largura do ciclo de histerese é determinada pelo valor do campo coercitivo Hc. Então, materiais com largo ciclo de histerese, requerem mais energia da fonte para vencer o atrito interno durante as inversões de campo magnético. Mais especificamente, a perda por histerese é proporcional à área envolvida pelo ciclo de histerese. Fundamentos de Eletromagnetismo 79 A perda por histerese é proporcional à área envolvida pelo ciclo de histerese. Naturalmente, os núcleos de máquinas elétricas de corrente alternada devem ser feitos de materiais com ciclos de histerese com área menor possível. O ideal seria um material cujo ciclo de histerese tivesse área nula. 13 H Há ainda que se considerar que o ciclo de histerese nem sempre envolve a saturação do material. Na verdade, para a maioria das máquinas, os núcleos trabalham longe da saturação. Assim, as curvas de histerese para um mesmo material podem ser várias, dependendo do valor de Hmáx aplicado ao núcleo, dado efetivamente pelo valor da corrente que circula na bobina do dispositivo. A curva de histerese que envolve a saturação do material é chamada de curva de histerese de saturação. Curvas de histerese 80 Editora Ao Livro Técnico 4.5 - Ciclo de histerese na determinação das características de um ímã Se por um lado os núcleos de máquinas elétricas requerem materiais com estreito ciclo de histerese para minimizar as perdas, por outro lado existem aplicações específicas para os materiais com largo ciclo de histerese. A aplicação mais importante para esses materiais são os ímãs permanentes. Um bom ímã permanente só pode ser feito com materiais com largo ciclo de histerese. Analisemos na curva de histerese de saturação abaixo: Quando aplicamos um campo H ao material, de intensidade suficiente para levá-lo à saturação (Hmáx), a indução no material será então Bmáx. Isto quer dizer que este valor de H foi suficiente para orientar todos os domínios do material e qualquer incremento em seu valor não resultará em nenhum acréscimo significativo no valor de B. Se zerarmos o campo H aplicado, a indução cairá de Bmáx para Br. Como não há diferença significativa entre os dois valores, concluímos que uma vez magnetizado o material, não há mais necessidade do campo magnetizante H. Ou seja, o magnetismo residual do material permanece muito alto, o que é uma característica desejável de um bom ímã. Essa indução residual no ciclo de saturação é chamada de retentividade. Retentividade de um material é o máximo valor de indução residual. Outra característica desejável para os ímãs permanentes é a alta resistência à desmagnetização. Na curva, podemos perceber que é necessário a aplicação de um campo -Hc para zerar a indução residual. Esse campo, como vimos anteriormente, chama-se campo coercitivo e especificamente para o ciclo de saturação esse valor de campo é conhecido como coercitividade. Coercitividade é o valor do campo coercitivo no ciclo de saturação. Fundamentos cie Eletromagnetismo 81 Podemos também dizer que coercitividade é a grandeza que representa a resistência à desmagnetização de um material. A seguir apresentamos os valores de coercitividade e retentividade para alguns materiais: Material Coercitividade (A/m) Retentividade ( T ) Alnico 2 44.800 0,7 Alnico 5 44.000 1,25 Alnico 8 126.000 1,04 Aço-carbono 4000 1,0 Samario-cobalto 560.000 0,84 Aço-silício 3 4,8 1,22 Supermalloy 0,16 0,5 Pelos valores da tabela concluímos que o material mais resistente à desmagnetização é a liga samário-cobalto enquanto que o menos resistente é o Supermalloy. É necessário um campo de 560.000 A/m para desmagnetizar o samário-cobalto e apenas 0,16 A/m para o Supermalloy. Observamos que existem diferenças muito grandes nos valores de coercitividade e retentividade para os diferentes materiais. Essas diferenças se devem a muitos fatores, entre eles: características da estrutura molecular do material, impurezas, imperfeições na rede cristalina etc. 4.6 — Blindagem magnética Em algumas situações é desejável manter uma determinada área livre da interferência de campos magnéticos. É o caso de alguns instrumentos de medição, relógios etc. Para se conseguir isso, faz-se uso dos materiais ferromagnéticos. Para se proteger um objeto ou dispositivo qualquer de campos magnéticos estranhos, basta lhe fazer uma envoltória com material ferromagnético, denominada blindagem magnética. 82 Editora Ao Livro Técnico Internamente ao cilindro oco, o campo magnético é nulo. As linhas de força concentram-se pelo material ferromagnético e a região interna fica livre de qualquer campo magnético. Esse efeito é chamado de blindagem magnética. 4.7— O mecanismo de ferro móvel Um dos mecanismos mais simples e robustos utilizados nos instrumentos de medição é o mecanismo de ferro móvel. Seu princípio de funcionamento servirá para sedimentarmos os conceitos de indução e permeabilidade. Seja então uma bobina em forma de cilindro oco. Em seu interior, colocamos uma lâmina de material ferromagnético fixa à parede da bobina, e uma lâmina móvel acoplada a um sistema de eixo e mancais. Acoplado ao eixo, um ponteiro que avança sobre uma escala, indicando o valor da grandeza que normalmente é uma tensão ou uma corrente elétrica. Fundamentos de Eletromagnetismo 83 Então, quando uma corrente elétrica é aplicada à bobina, um campo magnético é criado. As linhas de força desse campo magnetizam as lâminas, transformando-as em ímãs com as polaridades indicadas na figura a seguir. Observa-se então que o pólo sul da lâmina fixa fica ao lado do pólo sul da lâmina móvel. O mesmo ocorre com as outras extremidades, ou seja, pólo norte da lâmina fixa ao lado do pólo norte da lâmina móvel. Ocorre então repulsão entre a lâmina móvel e a lâmina fixa. Desta forma, a lâmina móvel irá se afastar da lâmina fixa, girando através do eixo ao qual está vinculada e arrastando o ponteiro sobre a escala. Se a corrente na bobina for aumentada, aumentará a magnetização das lâminas e conseqüentemente a repulsão entre elas. A conseqüente proporcionalidade existente entre a corrente aplicada à bobina e a deflexão do ponteiro permite a construção de uma escala para medir essa corrente. Pode-se também construir uma escala para medir a tensão aplicada à bobina. A princípio, o mecanismo destinado a medir corrente deve ser feito com poucas espiras e fio grosso para apresentar baixa resistência interna, uma vez que o amperímetro é ligado em série com o circuito. Por outro lado, o voltímetro deve possuir muitas espiras de fio fino para possibilitar alta resistência, uma vez que é ligado em paralelo. Entretanto, um mesmo mecanismo pode ser utilizado como amperímetro ou voltímetro, procedendo-se pequenas alterações. 84 Editora Ao Livro Técnico Se você quiser saber se determinado voltímetro ou amperímetro utiliza o mecanismo de ferro móvel, verifique no canto inferior direito da escala se consta o seguinte símbolo: Símbolo mecanismo de ferro móvel 4.8 - Exercícios propostos. A — Responda as questões abaixo : a) O que é saturação magnética? b) Por que a permeabilidade relativa dos materiais ferromagnéticos não é constante? c) O que é histerese magnética? d) O que é indução residual? e) O que é campo coercitivo? f) O que é ciclo de histerese de saturação? g) O que é retentividade e qual sua unidade? h) O que é coercitividade e qual sua unidade? i) Qual o efeito causado nos núcleos de máquinas de CA que caracteriza a perda por histerese? j) O que é blindagem magnética? B — Na figura a seguir, um bastão de aço é gradativamente aproximado de um ímã até o instante em que o bastão consegue segurar um clipe. Então é medida a distância que separa o pólo do bastão (x). O bastão continua sendo aproximado até encostar no pólo e em seguida afastado. Ao ser afastado de uma distância bem maior do que x, percebe-se que o clipe continua atraído pelo bastão e inclusive ao ser afastado bem distante, continua atraindo o clipe. A experiência é feita com outro material ferromagnético, onde percebe-se que o clipe começa a ser atraído a uma distância 2x, e cai quando afastado a uma distância 3x. Chame de material A o primeiro e material B o segundo a ser testado. Então responda: Fundamentos de Eletromagnetismo 85 N a) Qual material se magnetiza mais facilmente? b) Qual material apresenta maior indução residual? C — Na experiência anterior, após ser magnetizado o bastão de aço, ele continua segurando o clipe mesmo depois de afastado do pólo. Se invertermos o pólo do ímã e o aproximarmos do bastão magnetizado, percebemos que a uma certa distância ocorrerá a queda do clipe. Por que isto ocorre? D — Observe os ciclos de histerese de saturação de dois materiais diferentes, denominado "x"e "y" e responda, qual material: ft material "y" a) Apresenta maior valor de retentividade? b) Apresenta maior valor de coercitividade? c) Apresenta maiores perdas por histerese? d) Que proporciona um bom ímã? 86 Editora Ao Livro Técnico 4.9 — Sugestões para laboratório Histerese magnética Objetivo: Observar o comportamento de diferentes materiais frente a campos magnetizantes. Material necessário: item quant. unid. especificação 01 01 pç bastão de aço 1020 02 01 pç bastão de aço 1045 03 01 pç bastão de aço 1060 04 01 pç ímã em forma de barra 05 01 pç clipe 06 01 pç régua Procedimento: Você irá magnetizar gradativamente cada bastão de aço através da aproximação de um ímã. O nível de magnetização, ou seja o campo B adquirido pelo bastão, pode ser avaliado visualmente pela força com que ele atrai um clipe. Quando o ímã for encostado ao bastão, teremos o maior valor de campo B embora não seja neces- sariamente seu valor de saturação. Quando o ímã estiver sendo afastado do bastão, o campo magnetizante irá diminuindo e a indução no bastão também. Lembrando da curva de histerese, sabemos que quando o campo magnetizante H for reduzido a zero, teremos ainda certo valor de indução residual no bastão. O valor dessa indução residual dependerá do material e deveremos ter condições em nossa experiência, de observar qual dos tipos de aço retém o maior valor de indução residual. Para eliminar a indução residual, lembremo-nos de que é necessário a aplicação de um campo magnetizante em sentido contrário. Portanto, na experiência serão invertidos os pólos do ímã e aproximado do bastão até o ponto em que a indução residual seja eliminada. Com o bastão de aço 1020 em uma das mãos e o ímã na outra, mantenha o ímã acima da barra a uma distância em torno de 30 cm, ambos na vertical. Peça para alguém segurar o clipe encostado na barra de aço, e comece a aproximar o ímã da barra até a distância em que o clipe seja atraído. Com a régua, meça a distância aproximada entre o bastão e o ímã e anote. Continue a aproximar o ímã até que ele encoste no bastão. Fundamentos de Eletromagnetismo 87 N S as a.) -o o tect cn ce Inicie a operação lenta de afastamento do ímã. Quando estiver afastado o suficiente (mais de 50 cm) observe se o clipe continua atraído. Dependendo do aço, poderá ocorrer que sim ou não. Se o clipe permanecer atraído, significando portanto um elevado valor de indução residual, inicie a aplicação de um campo contrário. Para tanto, inverta os pólos do ímã e inicie uma aproximação lenta, até o ponto em que o bastão seja desmagnetizado e o clipe caia. Meça a distância aproximada com que isso ocorreu e anote. Prossiga com a aproximação e observe como o bastão volta a atrair o clipe, pois se magnetizou com polaridade oposta. Repita o procedimento para os bastões de aço 1045 e 1060, sempre anotando o que ocorre, especialmente em relação às distâncias. Atente para as seguintes observações. O número do aço indica seu grau de dureza e quanto maior o número, maior o grau de dureza. Por outro lado, aços mais duros são aqueles que contém maior percentagem de carbono em sua constituição. E o carbono dentro de um material ferromagnético é um dos principais responsáveis pela retenção dos domínios magnéticos em posições forçadas. Ou seja, é o principal responsável pela indução residual. Assim, na experiência, você deverá observar que o aço 1020 é o que se magnetiza mais facilmente, ou seja, começa a segurar o clipe a uma distância maior do que os outros aços. Por outro lado, o aço 1020 também se desmagnetiza facilmente e provavelmente não será capaz de manter o clipe atraído após o afastamento do ímã. Já o aço 1060 na operação de aproximação do ímã,só conseguirá segurar o clipe a uma distância bem pequena, pois devido ao alto teor de carbono, os domínios do material são difíceis de serem orientados. Entretanto, uma vez magnetizado, esse material permanece segurando o clipe mesmo depois do ímã afastado. 88 Editora Ao Livro Técnico CÁLCULO DE CIRCUITOS MAGNÉTICOS 5.1 — Circuito magnético Uma bobina, com núcleo de ar alimentada por corrente elétrica, gera um campo magnético H cujas linhas de força se distribuem simetricamente em relação ao seu eixo por todo o espaço ao seu redor. Essa distribuição de linhas ocorre devido à sobreposição do campo produzido em cada pedacinho do condutor que constitui a bobina e, portanto, sua configuração só se altera através da mudança na geometria da bobina. Se essa bobina for enrolada sobre um núcleo fechado ferromagnético, seu campo H será capaz de induzir um campo M através do percurso ferromagnético. Esse campo gera um fluxo magnético através do núcleo, que se sobrepõe ao fluxo gerado pelo campo H. Como o fluxo magnético gerado pela magnetização M é infinitamente maior do que o fluxo criado pelo campo H da bobina, para efeitos de aplicação prática, normalmente este último é desprezado. Fundamentos de Eletromagnetismo 89 onde g é a condutividade (siemens/metro - S/m) R= 1 g. S , pois Assim, considera-se um fluxo homogêneo através do percurso constituído pelo material ferromagnético. Desta maneira, podemos dizer que: Um circuito magnético é um percurso definido para o fluxo magnético, normalmente constituído de material ferromagnético. 5.2 — Força magnetomotríz Em um circuito elétrico série contendo apenas uma fonte e um condutor comprido interligando os terminais dessa fonte, a corrente é dada pela Lei de Ohm: = R Onde: I -4 intensidade de corrente (A) V ----> fem aplicada (V) R ----> resistência do condutor (e) A resistência do condutor é dada por: 1 R=p s Onde: R ---> resistência do condutor (Q) p resistividade (em) comprimento do fio (m) 5 seção transversal (m2) Se ao invés da resistividade(p), utilizarmos a condutividade(g) na equação da resistência do fio, teremos: 90 Editora Ao Livro Técnico Resumindo, a corrente que passa pelo condutor é gerada pela força eletromotriz da fonte e é limitada pela resistência desse condutor. Essa breve análise do que ocorre em um circuito elétrico simples servirá de base para o estudo do circuito magnético. Os circuitos magnéticos são constituídos de materiais ferromagnéticos para oferecerem um caminho de fácil transposição por parte do fluxo magnético. Um circuito magnético, a exemplo dos circuitos elétricos, pode também ser série ou paralelo. Circuito magnético série. O fluxo se concentra pelo material ferromagnético, que oferece um caminho de fácil transposição. Circuito magnético paralelo. O fluxo se divide pelos dois braços. Para entendermos melhor os conceitos envolvidos, vamos tomar como exemplo um circuito magnético série. Nos circuitos magnéticos, podemos fazer analogias com as grandezas dos circuitos elétricos. Por exemplo, no circuito elétrico circula corrente elétrica, que na verdade é um fluxo de cargas elétricas. No circuito magnético é o fluxo magnético que circula. Portanto, a corrente elétrica e o fluxo magnético são grandezas análogas. No circuito elétrico, quem gera a corrente é a força eletromotriz (fem). No circuito magnético, a grandeza análoga é chamada de força magnetomotriz (fmm). Sabemos que o fluxo magnético de uma bobina é gerado através de uma corrente elétrica e que quanto maior o seu valor e quanto maior o número de espiras, maior será o fluxo. Portanto a força magnetomotriz será proporcional ao número de espiras e à intensidade de corrente que passa por ele. Em suma, podemos dizer que: Fundamentos de Eletromagnetismo 91 A força magnetomotriz é a grandeza responsável pela criação do fluxo magnético em um circuito magnético. A força magnetomotriz é então calculada por: Onde: fmm —> força magnetomotriz (A) N —> número de espiras da bobina I —> intensidade de corrente que circula na bobina (A) Min= N .1 Observe que a unidade da fmm é o ampère. A rigor, esta unidade deveria ser ampère.espira (A . esp.), pois fmm = N.I. No entanto, espira não é unidade de grandeza e por esta razão a maioria dos autores prefere utilizar apenas a unidade ampère para a força magnetomotriz. 5.3 — Relutância magnética Os circuitos magnéticos, como vimos, apresentam uma facilidade muito grande à passagem do fluxo. Mesmo assim eles não são perfeitos. Assim como o cobre, por exemplo, conduz muito bem a eletricidade e, no entanto, apresenta uma resistência elétrica dada pela equação: OU 1 R=ps R= 1 gS os circuitos magnéticos também apresentam uma oposição à passagem do fluxo. Essa oposição é caracterizada por uma grandeza chamada de relutância magnética. Relutância magnética é a oposição oferecida à passagem do fluxo magnético. A relutância magnética é a grandeza análoga à resistência elétrica. Ela também depende dos fatores geométricos seção e comprimento e ainda do material constituinte do núcleo, segundo a equação: = ,uS sendo !..t calculado por p =p o.p, 92 Editora Ao Livro Técnico Onde: 91 —> relutância magnética (ampère/ weber, A/Wb) I —> comprimento médio do circuito magnético (m) 1.1 --> permeabilidade magnética do material constituinte do núcleo (henry/metro,H/m) 5 -3 área da seção transversal do núcleo (m2) —> permeabilidade relativa do material —> permeabilidade do vácuo (p 0 =47r.10-7 H/m) Obs.: Note a semelhança da fórmula 9 = com a fórmula R= p.S g.S Por comparação, concluímos que permeabilidade (µ) é a grandeza análoga à condutividade (g). 5.4 — A Lei de Ohm para circuitos magnéticos Podemos ainda, por analogia, chegar a uma relação entre o fluxo, a fmm e a relutância magnética. No circuito elétrico, a lei de Ohm nos fornece a seguinte relação: I_ fem R Então, utilizando as grandezas análogas do circuito magnético, temos: = fmm Onde: (1) -4 fluxo magnético (Wb) fmm —> força magnetomotriz (A) —> relutância magnética (A/Wb) Podemos obter mais uma equação para a força magnetomotriz a partir da equação de campo H para um solenóide toroidal. N.I H = 1 H.I = N.I , mas N.I = fmm: logo: finm = H.1 Fundamentos de Eletromagnetismo 93 5.5 — Núcleos laminados Todos os núcleos utilizados em corrente alternada são laminados para diminuir os efeitos das correntes parasitas, assunto que será visto na Unidade III (3 — Correntes de Foucault). Um núcleo qualquer é constituído de um pacote de lâminas, todas isoladas eletricamente entre si através de uma película de óxido ou uma camada de verniz. A área da seção transversal do núcleo é dada pelo produto das dimensões a e b, ou seja, Sg = a x b , onde Sg chamaremos de seção geométrica do núcleo. Esta seção compreende a área correspondente ao material ferromagnético e ao isolante que envolve as chapas. Material ferromagnético Isolante entre as chapas Na ampliação acima observamos seções transversais de algumas chapas e seções transversais das camadas isolantes. Obviamente o fluxo magnético só passará pelo material ferromagnético. Então a área da seção transversal por onde o fluxo irá passar será menor do que Sg. Chamaremos de seção magnética, Sm, a área por onde efetivamente o fluxo passará e que corresponde somente à área de material ferromagnético. Para se chegar ao valor de Sm, utilizaremos um fator redutor de área, que chamaremos de fator de utilização. Esse número, multiplicado pela seção geométrica do núcleo, nos fornece o valor da seção magnética: Sm = Sg x fu Onde: Sm —> seção magnética do núcleo (m2) Sg --> seção geométrica do núcleo (m2) fu —> fator de utilização 94 Editora Ao Livro Técnico O fator de utilização é adimensional e é um número menor ou igual a1,0. Quando a bobina é alimentada por corrente contínua, não há necessidade de se laminar o núcleo. Nesse caso, o fator de utilização é igual a 1,0. As chapas de núcleos podem ainda ser constituídas de aço de grãos orientados (GO) ou aço de grãos não-orientados (GNO). No primeiro tipo, o aço recebe um tratamento que faz com que os domínios (grãos) fiquem previamente alinhados, o que melhora substancialmente as qualidades magnéticas do aço. Entretanto, não se pode utilizar esse aço em qualquer aplicação pois em muitos casos a geometria do núcleo não permite. No caso do aço GNO, não é feito esse tratamento. Por essa razão, sua aplicação não fica restrita à casos de geometria particular, embora o rendimento seja inferior ao aço GO onde esse pode ser utilizado. 5.6 — Resolução de circuitos magnéticos através da permeabilidade relativa Uma das maneiras de se resolver circuitos magnéticos é fazendo uso da permeabilidade relativa do material constituinte do núcleo. Desde que tenhamos então disponível este dado, o que na prática nem sempre acontece, podemos calcular grandezas de um circuito magnético, empregando as fórmulas que acabamos de apresentar. Por exemplo: Determinar a corrente necessária na bobina abaixo, para gerar um fluxo de 4 mWb no circuito magnético. Sg µR = 2000 N = 1000 espiras Unidades em cm. fu = 1,0 25 35 Para calcular a corrente I, temos que usar: fmm = N.I, onde N = 1000 esp e a fmm é desconhecida. Para calcular a fmm, podemos usar fmm = (1).9-t. Portanto, temos que calcular 9Z = 1 / (1.S). O comprimento médio I é representado pelo percurso do fluxo mostrado no desenho. Podemos obter seu valor pela média dos comprimentos interno e externo do núcleo. 1,„1 = 25+ 20+ 25+ 20 = 90cm; 1,,, = 35+ 30+35+30 = 130cm; 1= 90 +130 - 1= 110cm; 1= 1,1m 2 1= 1 + l ext 2 Fundamentos de Eletromagnetismo 95 Então: 9Z = I / .: 9Z = 87c.10-4.40.10- = 1,094.105 A / Wb 1,1 A seção geométrica Sg está representada no desenho da página anterior. É um retângulo de base 8cm e altura 5cm. Logo: Sg =8.10-2.5.10-2 ; Sg = 40.10-4 m 2 A seção magnética Sm terá o mesmo valor de Sg, pois o fator de utilização é 1,0: Sm = Sg.fu Sm = 40.104 . 1,0 Sm = 40.10' m2 = go .gR g = 47[10-7 .2000 .: = 8ic.10-4 H / m A força magnetomotriz será: fmm = = 4.10-3.1,094.105 .: fmm = 437,6 A E finalmente: fmm = N.I .: I = fmm/N = 437,6/1000 I= 0,44 A Resolvendo agora pela fórmula fmm = H.I H pode ser obtido por: H = Big .: onde B = (1)/Sm 0 4.10-3 B = = B=1T Sm 40.10-4 = go.g R = 47c.10-'.2000 = 8n.10-4 H / m Então H = B/µ = 1 87C.1 0-4 11=397'89A/111 fmm = H.1 fmm = 397,89.1,1 fmm = 437,6A fmm _ 437,6 N 1000 / = 0,44A 96 Editora Ao Livro Técnico 5.7— Resolução de circuitos magnéticos utilizando curvas de magnetização Pode-se resolver circuitos magnéticos com bastante precisão, fazendo uso das curvas de magnetização. Como cada material apresenta curva de magnetização diferente, torna-se necessário saber exatamente qual a composição do material ferromagnético do núcleo e ter em mãos sua respectiva curva de magnetização. Para nossos propósitos didáticos, utilizaremos a curva de magnetização de uma ferrite típica e de um tipo de aço-silício de grãos não orientados de alta qualidade, conhecido comercialmente como aço E-230, apresentados na seqüência. A curva da ferrite está em escala linear. Já a curva do aço silício encontra-se em escala semilogarítmica, para facilitar a obtenção de valores baixos de B ou H. Devido a isso, o aspecto dessa curva difere das curvas típicas estudadas, onde notamos no início um comportamento quase linear e posteriormente a região de saturação. Nesse gráfico, também é mostrada a curva de variação da permeabilidade relativa em função do campo H. B(T) 0,50 0,45 0,40 0,35 0,30 0,25 0,20 0,15 0,10 0,05 900 1000 H (A/m o 100 200 300 400 500 600 700 800 Curva de magnetização de uma ferrite típica Fundamentos de Eletromagnetismo 97 I II G II 1 ; -, i , 1 1 i 1T I i 1 _I 1 I I 1 i Tipo de A o/Grade : E- 230 Espessura! Thcle ess 0,50 nrn FrequCEcia i Frequency 60 Hz Densidade rDensi y 7,'0 gicnt' ----I--- ------1------ i I I ii i 1 100 1000 10000 INTENSIDADE DE CAMPO MAGNÉTICO / MAGNEMZING FORCE (A/M) 8000 ã.'7000 >- CO 6 000 uJ o. 5000 a LLI <4000 o 3000 a 2000 1000 o 10 o 100000 2000 800 1600 1400 z o 1200 o z 1000 — O .< c> 800 600 400 200 Dimensões em cm espessura: 10cm material: aço-silício fu=0,9 tr, C A corrente será calculada por: A força magnetomotriz, por: finco 1= N fmm = H . 1 CURVA DE MAGNETIZAÇÃO & PERMEABILIDADE DE PICO MAGNETIZATION CURVE & PERMEABILITY CURVES Gentileza: ACESITA Vamos então resolver os seguintes exercícios: 1 — Para o circuito magnético abaixo, determinar a intensidade de corrente necessária para produzir um fluxo de 6 mWb . 30 98 Editora Ao Livro Técnico O campo H será obtido da curva de magnetização para o aço-silício, a partir do valor do campo B. O campo B, por sua vez, será determinado por: B= Sm Então: a) Cálculo do campo B ou indução magnética: B= = ° = 6.10-3 =B=1,33T Sm Sg • fu 5.10-2.10.10-2.0,9 b) Determinação do campo H: Com o valor de B = 1,33T, para a curva de aço-silício, obtém-se o correspondente valor de H. Neste caso, H =250 A/m. c) Comprimento médio do circuito magnético (I): 1= 25 + 35 + 25 + 35 1= 120cm 1= 1,2m d) Cálculo da força magnetomotriz fmm: fmm = H. 1 fmm = 250.1,2 fmm = 300 A e) Cálculo da intensidade de corrente: / = finm 300 l_ 1= 3,O A N 100 2 — Calcular o número de espiras necessárias na bobina abaixo, para que a indução na parte mais grossa do núcleo seja de 0,8T. Dimensões em cm espessura: 2 cm material: aço-silício fu=0,9 10 Fundamentos de Eletromagnetismo 99 Como o núcleo apresenta seções diferentes, vamos identificá-las por 1 e 2 como mostra a figura da página anterior. Na mesma figura, a linha tracejada mostra o caminho médio do fluxo. O problema deverá ser resolvido em duas partes, uma para cada seção diferente do núcleo. Assim, teremos que determinar duas forças magnetomotrizes que ao final deverão ser somadas. a) Cálculo dos comprimentos médios: 1,=8+1+1 .: 11 = 10cm = 0,1m 12 = 2+10+1+1+8+1+1+10+2 .: 12 = 36cm = 0,36m b) Cálculo das seções magnéticas: Sm = a . b. fu Sm, = 4.10-2 .2.10-2 .0,9 Sm, = 7,2.10-4 m2 Sm, = Sm, = 3,6.10 m2 c) Cálculo das induções magnéticas. O fluxo em toda a extensão do circuito magnético é o mesmo, portanto: B, = 0,8T(dado) (P= B, .Sm, O = cp =5,76.10-4 Wb 01) .5;76.10-4 B Sm2 2 3,6.10-4 B2 = B2 = 1,6T d) Determinação dos campos H. Na curva de magnetização do aço-silício, temos: = 0,8T H1 = 95A/m B, = 1,6T ---> H2 = 2500A/m e) Cálculo das forças magnetomotrizes: fmm, = H1 .11 fmm, = 95.0,1 fmm, = 9,5A fmm2 = H2.12 fmm2 = 2500.0,36 fmm2 = 900A fmm,. = fmm, + fmm2 fmmT = 9.5+ 900 fmm, = 909,5A f) Cálculo do número de espiras: N = fmmr N = 909,5 0,5 N = 1819 espiras 100 Editora Ao Livro Técnico 1 R Resistência baixa, a corrente é alta. 5.8 — Circuito magnético com entreferro Um circuito magnético pode conter uma ou mais aberturas de ar chamadas de entreferro. Os entreferros podem ser feitos propositadamente (fig.01) ou podem Entr ferro Fig. 01 Entreferro Fig.02 Entreferro aparecer devido à características construtivas do núcleo (fig. 02), onde as duas partes do núcleo não ficam perfeitamente unidas. Nos motores elétricos, que são circuitos magnéticos mais complexos, o entreferro é inevitável pois o rotor deve ficar livre para girar no interior do estator. Contatores também são dispositivos que apresentam entreferro. Normalmente os entreferrossão da ordem de décimos de milímetros até alguns poucos milímetros e, apesar do pequeno comprimento, afetam de maneira significativa o comportamento do circuito magnético. Isto acontece porque o entreferro, normalmente de ar, apresenta uma relutância muito alta, o que dificulta a passagem do fluxo magnético. Para entender melhor, vamos usar a analogia com o circuito elétrico. Imagine um circuito elétrico onde a resistência é inicialmente baixa e a corrente flui com certa intensidade. Então acrescentamos uma resistência de alto valor RALTA em série com a resistência R. Certamente a corrente irá diminuir bastante. Ou então, se quisermos manter a corrente com mesma intensidade, a fem da fonte deverá ser aumentada. tcm R ai ta Resistência alta, a corrente é baixa. R Fundamentos de Eletromagnetismo 101 S S Com o circuito magnético ocorre da mesma maneira. O entreferro aumenta muito a relutância do circuito magnético e com isto, para uma mesma força magnetomotriz, o fluxo será menor. Ou seja, se quisermos manter o fluxo com mesmo valor, a fmm deverá ser aumentada. O fluxo magnético ao atravessar o entreferro se dispersa como na figura abaixo. Esse fenômeno chama-se de espraiamento. Como conseqüência do espraiamento, a área da seção aparente do entreferro, que chamaremos de Se, que é efetivamente a área ocupada pelo fluxo, é maior do que a área da seção geométrica do núcleo (Sg). Quanto maior o comprimento do entreferro, maior será o espraiamento e conseqüentemente maior a área aparente do entreferro. IC: <1e, Se i <Se: O valor da área da seção aparente do entreferro é estimada através do coeficiente de dispersão cd. O coeficiente de dispersão é um número maior do que 1 (um) pelo qual se multiplica a área da seção geométrica do núcleo (Sg) para se obter a área aparente do entreferro (Se). Se = Sg . cd Se área da seção aparente do entreferro (m2) Sg --> área da seção geométrica do núcleo (m2) cd -4 coeficiente de dispersão (adimensional ) 102 Editora Ao Livro Técnico 30 5 N-1100 c:p:ra, Uma boa aproximação para o coeficiente de dispersão, desde que o comprimento do entreferro não seja maior que 1/10 da menor dimensão do núcleo, é obtida por: cd = (a + le)(b + le) a. b Onde: cd —> coeficiente de dispersão. a e b --> dimensões da seção transversal do núcleo. 5.9 — Cálculo de um circuito magnético com entreferro O cálculo de um circuito magnético contendo um entreferro será feito em duas partes. Calcula-se primeiro as grandezas referentes ao núcleo propriamente dito, cujo procedimento é o mesmo já visto anteriormente. Em seguida, calcula-se para a parte do entreferro. Neste caso, a relação entre B e H não é obtida de uma curva de magnetização, pois para o ar, a dependência de B com H é linear. Então, dado um valor de B, o correspondente valor de H é obtido por: H = B/go. Vamos então aplicar essas considerações no exercício abaixo. Exercício: Determinar a corrente necessária na bobina abaixo para que o fluxo gerado seja de 15.10 3Wb. Dimensões em cm espessura: 20 cm material: aço-silício fu=0.9 cd=1,1 le=0.2 cm a) Comprimento médio do núcleo: In = 4 x 35 - 0,2 In = 139,8.10 m b) Indução no núcleo: i(P 15.10-3 B,, -- B = =B, = I,67T Sg.fit A' 5.10 -2.20.10-2.0,9 H, = 5500 A/m Fundamentos de Eletromagnetismo 103 c) Força magnetomotriz no núcleo: fmmN = HN . IN = 5500. 139, 8.10-2 fmm = 7689 A e) Comprimento do entreferro: le = 0,2 cm le = 0.002 m f) Coeficiente de dispersão: cd = (5 + 0,2)(20 + 0,2) cd = 1,05 5.20 g) Indução no entreferro: Be 5.10-3 e— = Be = 1,43T Se Sg.cd 5.10-2.20.10-2.1,05 h) Campo magnético no entreferro: He = Be = 1,43 He =1137957 A/m µo 4rc.10-7 i) Força magnetomotriz no entreferro: fmme = He .1e fmme = 1137957. 0,002 fmme = 2276 A j ) Força magnetomotriz total: fmm = fmmN fmm fmm = 7689 + 2276 fmm = 9965 A I ) Corrente necessária: fmm 9965 I= = N 1100 I = 9,06 A Obs.: Note que se o circuito magnético do exemplo não tivesse entreferro, a corrente necessária para gerar o mesmo fluxo seria de: I = finm" = 7689 N 1100 104 Editora Ao Livro Técnico 5.10 — Força portante de um eletroímã Um circuito magnético série com entreferro, apresenta uma força de atração entre as partes separadas. O fluxo magnético, ao atravessar o entreferro, age como se partisse de um pólo norte de um ímã permanente e chegasse ao seu correspondente pólo sul. Fica fácil de entender então que existe uma força que tende a unir as faces adjacentes do núcleo, eliminando o entreferro. Podemos aproveitar este efeito para construir eletroímãs destinados a atrair determinados objetos ferromagnéticos. \'‘ O eletroímã exerce uma força F sobre o objeto de peso P. Define-se força portante como: Força portante é a força mínima necessária exercida pelo eletroímã para segurar um objeto ferromagnético. Fundamentos de Eletromagnetismo 105 A força portante de um eletroímã pode ser dada pelas seguintes equações: F = go.H 2 .S F = B2 .S á 2 F= ,110 .S Onde: F --> força portante total do eletroímã (N) permeabilidade do vácuo (go = 47c.10-7 H/m ) H —> campo magnético no núcleo do eletroímã (A/m) S -3 área da sapata polar do eletroímã (m2) B --> indução na sapata polar do eletroímã (T) ci) —> fluxo no núcleo do eletroímã (Wb) Obs.: Caso as seções transversais das sapatas polares sejam diferentes, as forças individuais serão também diferentes e, portanto, deverão ser calculadas individualmente pelas equações: F = Po-112 •S F = B 2 .S F = 2 2µ0 2µ0 .S Exemplo de cálculo: Calcular a intensidade de corrente necessária na bobina do eletroímã para segurar a barra de aço-silício de 60kgf. Admita que a distância entre as sapatas polares e a barra de ferro quando em contato entre si é de 0,2mm. R I =20cm R2=1 8cm N=400 espiras fu= I ,0 espessura da barra e do eletroímã = 2cm material: aço-silício 30 cm 0,2 mm 2 cm A força necessária é de F = 60 kgf F = 60 . 9,8 F = 588 N 106 Editora Ao Livro Técnico 2 Usando a fórmula: F. `I' A ...0.---.\fr.p„A µ0.A (1) = -N/588 4n. •10-7 • 2.10-2 • 2.10-2 =5,4.10-4 Wb O fluxo magnético no eletroímã e na barra são iguais, pois o circuito é série. As induções neste caso também serão iguais, pois as seções transversais do eletroímã e da barra são iguais. B=B= = 5'4.10-4= B =1,35T S 2.10-2 • 2.10-2 Com a indução de 1,35T, temos os seguintes valores para H, no eletroímã e na barra: H = 320 A/m. As respectivas forças magnetomotrizes serão: l i = 30 + 30 + ir. 19 = 119,7 cm ...1,= 1,2m fmm, = 320.1,2 Mini = 384 A fmm2 = H2 . 1, l2 = 19+19+1+1 = 40 cm /, = 0,4 m fmm2 = 320 . 0,4 fmm, = 128 A Temos ainda a fmm nos entreferros. cd = (2 + 0,02)(2 + 0,02) 2.2 cd = 1,02 5,4.10 Be= Be= Be = 1,32T Se 2.10-2 .2.10-2 .1,02 He = Be He = 1,32 He = 1,05.10 6 Al m p. o 471. 10 -7 fmme = He . le fmme =1,05.106 . 0,2.10-3 fmm e = 210 A Como são dois entreferros : forme = 420 A A força magnetomotriz total será então: fmmT = 384+128+420 fmmT = 932 A Fundamentos de Eletromagnetismo 107 A corrente necessária será então: / = finni, 932 N 400 I=2,33 A 5.11 — Exercícios propostos A — Qual deve ser a intensidade de corrente nas 800 espiras do circuito abaixo afim de que o fluxo gerado seja de 150mWb. Dados: Dimensões em cm espessura: lcm fu = 0,9 = 1500 10 B — Calcule o número de espiras que deve ter o circuito abaixo afim de que o fluxo gerado seja de 100mWb. 1 1A Dados: Raio interno: 8cm Raio externo: 9cm 1.t R = 2000 Seção transversal circular C — Calcule a intensidade de corrente necessária na bobina do núcleo abaixo, a fim de que o fluxo magnético no núcleo seja de 0,05 mWb. Dados: N = 1200 esp. 6 dimensõesem cm fu = 0.95 1 material: ferrite espessura do núcleo = 1,5 cm 10 108 Editora Ao Livro Técnico N=2500 espia, I0 2 10 D — Calcular o número de espiras necessárias na bobina do núcleo abaixo para que a indução no núcleo seja de 1,41. Dados: Raio interno = 15cm Raio externo = 20cm espessura do núcleo = 5cm material aço-silício tu = 0.9 E — Calcule a intensidade de corrente que deve circular na bobina abaixo, para que a indução no entreferro seja de 0,21. Dados: N = 2500 esp. dimensões em cm 0,5 fu = 0,9 material ferrite espessura do núcleo = 3cm F — O sensor de um gaussímetro colocado no entreferro do núcleo abaixo acusa uma indução de 2000 gauss. Calcule o fluxo magnético que circula pelo circuito. Dados: Raio interno = 25cm Raio externo = 30cm seção transversal circular cd = 1,1 comprimento do entreferro = 1 mm Fundamentos de Eletromagnetismo 109 G — Calcule o valor de fluxo magnético que irá circular no circuito magnético abaixo. Dados: N = 500 espiras dimensões em cm fu = 0,9 material aço-silício espessura do núcleo = 2cm 5 2 H — Calcule a intensidade de corrente que deve circular na bobina do núcleo abaixo para que a indução na parte de ferrite seja de 0,3T. Aço-silício ) N=1000 espiras ) Entreferros ---, Ferrite 6 Dados: N = 1000 esp. 8 dimensões em cm fu = 1,0 4 espessura do núcleo = 5cm entreferros: 0,02cm cada 12 I — Para o mesmo circuito magnético da questão anterior, calcule a corrente necessária para gerar a indução requerida, caso o entreferro fosse reduzido a zero. J — Calcule o número de espiras necessárias na bobina abaixo para que a indução na parte mais estreita do núcleo seja de 1,0T. r•I Dados: C. fu = 0,9 I = 4A material aço-silício espessura do núcleo = 4cm dimensões em cm 6I o 5 15 5 110 Editora Ao Livro Técnico L — Calcule a intensidade de corrente que deve circular na bobina abaixo, para produzir um fluxo de 1,2mWb na coluna central do núcleo. Dados: fu = 0,9 material aço-silício espessura do núcleo = 4cm dimensões em cm N = 1600 esp. Dica: O circuito magnético acima é análogo a um circuito elétrico como mostrado abaixo. Ou seja, teremos então uma fmm produzindo um fluxo total 11) que se divide igualmente pelos dois braços do circuito. A fem desse circuito elétrico pode ser calculada por: fem = R,.I+R,.— (Lei 2. de Kirchhoff). Analogamente, a fmm do circuito magnético será determinada por: fmmT = H,.L, + H1.12 onde 1, é o comprimento médio da coluna central e 1, o comprimento médio de um dos braços do circuito. 1 2 1/2 RI RI R2 M — Determinar a corrente mínima necessária para que o eletroímã abaixo atraia a barra de ferrite: 2 4 Dados: dimensões em cm fu = 1.0 espessura da barra = 3cm espessura do núcleo do eletroímã = 2cm N = 4000 esp P= 100N 0,05 3 Fundamentos de Eletromagnetismo 111 N — Calcular a intensidade de corrente necessária na bobina para que a barra de aço-silício seja atraída pelo núcleo do eletroímã também de aço-silício. L.,6L 10 6 I 6 Dados: dimensões em cm 15 fu = 1,0 espessura da barra e do núcleo do eletroímã = 6cm N = 1000esp. 2 Peso da barra = 16 kgf. 6 O — No problema anterior, depois que a barra é atraída, calcule a intensidade da corrente mínima necessária para o eletroímã continuar retendo a barra. Admita a distância entre a barra e o núcleo do eletroímã é igual a 0,2mm. P — No eletroímã abaixo, calcule as forças individuais que cada braço exerce sobre a barra. 1 - 2A ° o n 4 Dados: espessura da barra e do núcleo = 2 cm 6 dimensões em cm fu = 1,0 N = 300 espiras 0,0? µR = 2000 (barra e núcleo) 2 8 112 Editora Ao Livro Técnico Unidade 111 Indução Eletromagnética T LEI DE FARADAY 1.1 - A experiência de Faraday Depois que Oersted demonstrou em 1820 que correntes elétricas geram campos magnéticos, Michael Faraday, um cientista inglês, manifestou sua convicção de que poderia através de campos magnéticos produzir correntes elétricas. Faraday só obteve sucesso em 1831, após dez anos de trabalho. Ele utilizou um circuito magnético com dois enrolamentos, uma bateria e um galvanômetro, que é um instrumento de zero central que acusa pequenas correntes. A figura a seguir mostra o esquema do equipamento utilizado por Faraday. Ele percebeu que ao fechar o interruptor S, o ponteiro do galvanômetro defletia para um lado, indicando que uma corrente elétrica estava passando por ele. Quando o interruptor é fechado, surge momentaneamente uma corrente, acusada pelo galvanômetro No entanto esta deflexão era momentânea e, mesmo estando o interruptor fechado, o galvanômétro nada indicava. Porém, no instante de desligar o interruptor, novamente o galvanômetro acusava uma corrente elétrica, agora em sentido contrário ao anterior. Fundamentos de Eletromagnetismo 115 No instante de abrir o interruptor, o galvanômetro também acusa uma corrente, porém, em sentido oposto. Como a bobina onde está ligado o galvanômetro é um circuito elétrico completamente independente do circuito que contém a fonte CC, Faraday concluiu que finalmente havia conseguido gerar corrente elétrica através do magnetismo, mesmo que momentaneamente. Faltava descobrir porque essa corrente só aparecia nos momentos de ligar e desligar o interruptor. Analisando o que ocorria em seu circuito magnético, Faraday descobriu o mistério. Vamos seguir o seu raciocínio e refazer essa descoberta. No instante em que o interruptor é fechado, a corrente elétrica que circula pelo enrolamento conectado à fonte, que chamaremos de enrolamento primário, produz um fluxo que fica confinado no circuito magnético. O sentido desse fluxo é determinado pela regra da mão direita para bobinas. e Observamos na figura acima que o fluxo magnético passa por dentro do enrolamento ao qual está conectado o galvanômetro, que chamaremos de enrolamento secundário. Poderíamos então concluir que é o fluxo magnético a causa da geração da corrente no enrolamento secundário. Entretanto, isto não pode ser verdade pois vimos que passado o instante inicial durante o qual a chave está sendo fechada, deixa de existir corrente elétrica no enrolamento secundário, muito embora o fluxo magnético continue existindo. O galvanômetro só volta a acusar corrente no instante de desligar o interruptor. O que será que existe de especial, então, nesses momentos de ligar e desligar o interruptor? 116 Editora Ao Livro Técnico t=0 fecha-se o interruptor t=t1 abre-se o interruptor At gráfico de variação do fluxo e corrente em função do tempo Quando ligamos o interruptor, permitimos que a corrente elétrica circule pelo enrolamento primário. Essa corrente, no entanto, não se estabelece instantaneamente. Ela cresce exponencialmente a partir de zero até atingir seu valor nominal, gastando para isso um tempo muito curto denominado transitório. Esse tempo depende das características da bobina, mas em geral está na ordem de milissegundos ou microssegundos. Ao desligar o interruptor, a corrente no enrolamento primário cai a zero, também gastando um tempo para que isso ocorra (transitório). O transitório de extinção da corrente é muito menor que o transitório de seu estabelecimento. O gráfico abaixo mostra a curva de variação da corrente em função do tempo. Uma vez que o fluxo magnético é gerado pela corrente elétrica, sua curva é considerada a mesma, salvo distorções causadas pela magnetização do núcleo que serão desprezadas nesse estudo. Então o que ocorre é que o fluxo cresce a partir do momento em que fechamos o interruptor até atingir seu valor nominal, mantém-se constante pelo tempo em que o circuito permanece ligado, e cai a zero quando desligamos o interruptor. Como a corrente no galvanômetro só surge nos instantes de abrir e fechar o interruptor,e nesses instantes o fluxo está variando, concluímos que é essa variação de fluxo a causa do surgimento da corrente induzida na bobina secundária. Portanto, não é o fluxo magnético o responsável pela corrente induzida, mas sim a sua variação. Podemos então enunciar o princípio que ficou conhecido como Lei de Faraday: Toda vez que um condutor ficar sujeito a uma variação de fluxo, nele se estabelecerá uma força eletromotriz, enquanto durar essa variação. Fundamentos de Eletromagnetismo 117 fem = N AO At a iv b 1.2 - A equação da Lei de Faraday Analisando o fenômeno mais detalhadamente, Faraday formulou uma equação matemática para a fem induzida. fem = força eletromotriz induzida na bobina (V) Acl) = variação do fluxo (Wb) At = intervalo de tempo durante o qual ocorreu a variação de fluxo (s) N = número de condutores ou espiras sujeitos à variação de fluxo. Obs.: O sinal negativo da equação se deve à contribuição de Lenz, que estudou a polaridade da força eletromotriz induzida, que será estudado no próximo capítulo: Polaridade das Tensões Induzidas. 1.3 — Força eletromotriz de movimento No dispositivo utilizado por Faraday, a variação de fluxo ocorria devido ao aparecimento ou a extinção da corrente na bobina primária. No entanto, existem outras formas do fluxo variar sobre um condutor. Uma dessas formas é quando um condutor se move no interior de um campo magnético constante, atravessando suas linhas de força. Um terceiro tipo de variação de fluxo seria uma combinação dos dois primeiros. Ou seja, um condutor em movimento dentro de um campo magnético variável. Seja então um condutor de comprimento I, se deslocando a uma velocidade v, perpendicularmente às linhas de força de um campo B constante. B Ao sair da posição a e chegar a posição b, o condutor percorre a distância Ax. Logo, terá varrido uma área AS = I.Ax, e a conseqüente variação de fluxo sofrida será: = B.AS. Aplicando a Lei de Faraday, temos: fem= —N — AO AO= B. AS --> N =1 At 118 Editora Ao Livro Técnico AS ftin= 1 B. --> AS = I. Ax- At —B.1. Ax Ax --> = v At At = —B.1.v Novamente, o sinal negativo é uma referência à Lei de Lenz. Entretanto, para se considerar uma tensão positiva ou negativa, é necessário estabelecer um referencial. Por exemplo, designar uma das pontas do condutor como a e a outra como b e então calcular a força eletromotriz femab, que poderá ser então positiva ou negativa. Com isto, teríamos estabelecido o potencial de cada extremidade do condutor. Utilizaremos, entretanto, a Lei de Lenz para determinar fisicamente a polaridade da força eletromotriz induzida. Logo, nos basta o valor em módulo da força eletromotriz e a equação fica: fem = B.l.v Onde: fem força eletromotriz induzida (V) B --> Indução magnética (T) I projeção do comprimento do condutor perpendicular à velocidade (m) v --> velocidade do condutor (m/s) 1.4 — O gerador elementar Uma aplicação bastante interessante da equação fem = B I v é o gerador elementar. Gerador elementar é o nome que se dá ao mecanismo básico com o qual se consegue gerar a corrente alternada senoidal. Trata-se de uma espira que gira no interior de um campo magnético. Fundamentos de Eletromagnetismo 119 fem = Ao efetuar o movimento de rotação, os lados da espira "cortam" linhas de força e conseqüentemente neles são induzidas tensões. O valor dessas tensões vai depender da posição em que a espira se encontra. Vamos identificar a posição da espira através de um ângulo que chamaremos de a. Esse é o ângulo formado entre a velocidade tangencial da espira v e o vetor campo magnético B. A velocidade tangencial v depende do número de rotações por minuto (rpm) com que a espira está girando e do raio da espira. Portanto, para um determinado gerador, a velocidade tangencial é uma constante. Entretanto, a componente da velocidade perpendicular ao campo B não permanece constante, mas sim, varia em função do ângulo a. Para melhor entender, vamos representar a espira vista de frente e sem os seus terminais (vista em corte), conforme ilustra o desenho a seguir: \v Vamos tomar um dos lados da espira para análise e visualizar o ângulo a. 13 C Observando a figura acima, constatamos que para o instante considerado, a velocidade v não é perpendicular ao campo B, mas forma um ângulo a com ele. Como na fórmula fem = B I v, a velocidade v é perpendicular ao campo, teremos que considerar a componente da velocidade que é perpendicular ao campo. Na figura a seguir, são mostradas as componentes paralela ao campo (v") e perpendicular ao campo (v'). Nos interessa a última, que pode ser calculada em função da velocidade v B tangencial v e do ângulo a, como: v'= v.sena, onde v' é a componente da velocidade tangencial perpendicular ao campo B. 120 Editora Ao Livro Técnico Logo, a força eletromotriz induzida em cada lado da espira, de comprimento 1' será: fem = B.l'.v' sendo v'= v.sena, então: fem = B.V.v.sena Uma análise quanto a polaridade da força eletromotriz gerada em cada lado da espira nos mostra que a força eletromotriz total gerada na espira corresponde à soma das forças eletromotrizes geradas em cada lado da espira. Portanto, a força eletromotriz total gerada na espira é igual a: fem = 2. B.V. v.sena Como o comprimento total da espira 1, corresponde à soma dos comprimentos de cada lado I; então: I = 2.1' e a formula da força eletromotriz do gerador elementar será: fem = B.1.v.sena Onde: fem ---> força eletromotriz gerada (V) B --> indução magnética dos pólos (T) —> comprimento ativo da espira (m) v --> velocidade tangencial da espira (m/s) a --> ângulo entre o vetor indução B e vetor velocidade tangencial v Obs: Entenda-se por comprimento ativo da espira, a soma dos comprimentos de cada lado da espira que ficam sujeitos ao campo, não contando portanto os comprimentos da parte de trás e da frente da espira, nos quais não se gera nenhuma força eletromotriz, por não estarem sob a influência do campo magnético. Assim, da fórmula obtida para o gerador elementar, observamos que a força eletromotriz depende não só de fatores intrínsecos ao gerador como B, 1 ,v, como também da posição relativa da espira no instante considerado, que é indicada pelo ângulo a. Resumindo, a força eletromotriz do gerador elementar não é uma constante. Vamos na seqüência determinar a força eletromotriz do gerador para diferentes posições da espira e evidenciar através de cálculos, a natureza senoidal da tensão obtida. Seja então a espira em posições distintas como segue: Fundamentos de Eletromagnetismo 121 Usando então a fórmula e = B 1 v sena, onde "e" é a tensão que o gerador disponibiliza para a carga, temos os seguintes valores para as posições indicadas na figura acima: a =O° --> e = O (V) a =90° e=B I v= Emáx (V) a =180° —> e = O (V) a =270° --> e=-B I v= -Emáx (V) a =360° e = O (V) Com os valores acima, podemos traçar o gráfico da tensão e em função do ângulo a. Entretanto, apenas com os valores acima, os pontos do gráfico seriam insuficientes para caracterizar a curva. Torna-se necessário calcular as tensões para vários valores intermediários de a, lembrando que quanto mais pontos o gráfico tiver, mais preciso ele será. Considerando esses cálculos já prontos, o gráfico assumirá a forma abaixo: Portanto, a tensão obtida no gerador elementar é do tipo senoidal. L5 — Exercícios resolvidos A — Em uma espira, o fluxo magnético varia da seguinte forma: Iniciando em zero, cresce linearmente até 10 mWb em um tempo de 5 ms; decresce então para 6 mWb em 10 ms; permanece constante pelos próximos 5ms; decresce finalmente a zero em 10 ms . Calcule o valor da fem induzida em cada intervalo de variação de fluxo e trace o gráfico de variação da fem em função do tempo. Solução: Para facilitar o trabalho,vamos traçar o gráfico de variação do fluxo em função do tempo e identificar cada intervalo. 122 Editora Ao Livro Técnico 10 15 20 25 30 t(ms 3 fem, =—N AO' = -1.(10-0).103 fem, = —2V At, (5 — 0).10- fem, = N 2 1 (6 —10).10-3 --> fem, = +0,4V At2 (15 — 5).10-3 -3 A03 (6 — 6).10 fem3 = —N = 1. —> fem3 = OV At3 (20 —15).10 3 A04 (O — 6).10-3 , fem4 = N = 1 --> fem4 = +0,6V Oto (30 — 20).10-3 As tensões calculadas são constantes para cada intervalo. O gráfico da força eletromotriz em função do tempo fem=f(t) será o mostrado abaixo: fem (V) +2 — To 20 25 30 t(ms) Fundamentos de Eletromagnetismo 123 B — Um condutor se desloca rente à superfície polar sul de um ímã em forma de C, com velocidade 10 m/s. O imã possui indução 0,6 T internamente e as dimensões são mostradas na figura abaixo. Calcule a tensão induzida no condutor. Solução: A indução rente à superfície polar é aproximadamente a mesma que internamente ao ímã. O comprimento do condutor a ser considerado é apenas o que corta o campo magnético perpendicularmente. Assim, a força eletromotriz pode ser calculada por: tem = B I v 0,6.0,1.10 tem = 0,6 V C — Determinar a força eletromotriz gerada no condutor abaixo: v=5m/s B=0,81' Solução: O comprimento a ser considerado é a projeção do condutor na perpendicular ao deslocamento, ou seja: 1 = 15.sen60° = 12,99cm. Logo: fem = B I v = 0,8. 0,1299. 5 fem = 0,52 V 1 24 Editora Ao Livro Técnico a) b) 20cm 10m/s 13-1,0T 20cm _ • • 1.6 — Exercícios propostos • A — Calcule o valor da força eletromotriz induzida nos condutores abaixo: • • • • • • • • B — • • • • • • • • • • • • • • • • • • D • • • • E • • • • • 20cm (1)-400µWh v----10m/s Calcule o valor da tensão que o voltímetro indicará na situação abaixo: / 13=0,5 T N v=5m/s s Scin 5crn a B=0,4T Um avião de caça viaja à velocidade de 2200 km/h numa região onde a componente do campo terrestre perpendicular ao seu deslocamento equivale a 60 gauss. Sabendo-se que a envergadura do avião é igual a 15 m, calcule o valor da tensão induzida entre os extremos de suas asas. — Com relação ao problema anterior, se um amperímetro fosse conectado aos extremos das asas através de um fio de resistência 1 S2, qual seria a corrente indicada pelo mesmo? Fundamentos de. Eletromagnetismo 125 C — O anel condutor abaixo, de raio 20 cm, se desloca horizontalmente com velocidade 2 m/s. Calcule que tensão um voltímetro indicaria se fosse conectado entre os terminais ab, bc, ac e bd. F — O condutor ab abaixo será deslocado com velocidade 5 m/s, deslizando sobre os trilhos com bom contato elétrico. Calcule o valor da corrente que o amperímetro indicará. 10c R=50 G — Com relação à questão anterior, qual a taxa de diminuição de fluxo no interior do circuito fechado? H — Os condutores ab e cd do esquema abaixo, deslizam com as velocidades indicadas, mantendo bom contato elétrico entre si. Calcule o valor da corrente indicada pelo amperímetro. 50 cm VI = 2m/s V2 = 5 mls I — Um gerador elementar possui a espira com comprimento ativo igual a 30 cm, girando com velocidade tangencial 20 m/s dentro de um campo magnético B = 0,3 T. Calcule: a) a máxima tensão gerada. b) a tensão gerada no instante em que a posição da espira for tal que envolva o máximo de fluxo em seu interior. c) a tensão gerada para a = 60°. 126 Editora Ao Livro Técnico 1.7 — Sugestões para laboratório Lei de Faraday Objetivo: Comprovar que tensões podem ser geradas em uma bobina através da variação do fluxo magnético. Material necessário: item quant. unid. especificação 01 02 pç bobina didática (entre 200 a 1000 esp.) 02 01 pç núcleo desmontável . 03 01 m multimetro analógico 04 01 pç galvanômetro (miliamperímetro de zero central) 05 05 pç cabo de ligação 06 01 pç interruptor 07 01 pç ímã em forma de barra 08 01 pç fonte CC regulável O - 30 V 09 01 pç fonte CA regulável 0-240 V Procedimento: a) Imã Conecte os terminais do galvanômetro aos terminais de uma bobina e proceda movimentos de aproximação e afastamento do ímã em relação à ela. Isto fará com que o fluxo magnético sofra aumentos e diminuições no interior da bobina, gerando tensões que serão acusadas pelo galvanômetro. Experimente movimentos mais rápidos e observe como o galvanômetro deflete mais o seu ponteiro. Note que são geradas tensões de diferentes polaridades conforme o movimento seja de aproximação ou de afastamento, ou seja, conforme o fluxo esteja aumentando ou diminuindo. Na seqüência, inverta os pólos do ímã e repita os movimentos observando o que ocorre de diferente. Experimente também movimentar o ímã em outras regiões nas proximidades da bobina. Anote tudo! No caso de não se dispor de um galvanômetro, o próprio multímetro analógico poderá ser utilizado em uma escala de miliampères ou microampères. galvanômetro N Fundamentos de Eletromagnetismo 127 b) Corrente contínua Com as bobinas colocadas no núcleo desmontável, faça a conexão de uma delas à fonte CC e outra ao multímetro, conforme ilustração abaixo: núcleo desmontável bobina 1 (200 a 1000 esp.) ,oblr -1:. 2 i20() .1 I nO0 esp.) 1 Ts multímetro O multímetro deverá estar ajustado para medir tensão contínua e o calibre à princípio pode ser 3 V, podendo ser diminuído se necessário. Ligue o interruptor S, observando como ocorre uma deflexão momentânea no ponteiro do multímetro. Permanecendo com o interruptor fechado, observe que apesar de existir fluxo magnético circulando através do núcleo, por ele ser constante, o multímetro nada indica. Desligue o interruptor e observe que o multímetro novamente deflete, agora em sentido oposto. Isto comprova que só há tensão gerada na bobina onde o multímetro está conectado, apenas nos instantes em que o fluxo magnético que passa por dentro dela está variando. Isto é, no instante do fechamento do interruptor, quando o fluxo está crescendo e no instante de abertura do interruptor, quando o fluxo está diminuindo. c) Corrente alternada Substitua a fonte CC pela fonte CA, tomando o cuidado de ajustar o multímetro para medir CA num calibre adequado (inicie com o calibre em torno de 300 V) Repita o procedimento anterior e observe como o multímetro deflete sempre, independente dos instantes de abertura e fechamento do interruptor. Isto ocorre porque a corrente alternada varia o tempo todo e conseqüentemente o fluxo também. 128 Editora Ao Livro Técnico POLARIDADE DAS TENSÕES INDUZIDAS 2.1 - A Lei de Lenz O estudo que iniciaremos agora nos permitirá descobrir a polaridade da tensão gerada em um condutor sujeito a uma variação de fluxo, ou o sentido da corrente induzida em um circuito fechado condutor. A Lei de Lenz estabelece que: Os efeitos da corrente induzida se opõem às causas que a originam. A causa do aparecimento de uma corrente induzida em um circuito fechado condutor é a variação do fluxo magnético, conforme a Lei de Faraday. O fluxo magnético pode variar em um circuito fechado devido ao movimento relativo entre esse circuito e um campo magnético constante. O fluxo pode também, variar devido às variações que a corrente, que lhe dá origem, sofre. Neste caso, dizemos que o fluxo é variável no tempo. Nas ilustrações abaixo, são mostradas algumas formas do fluxo variar sobre um circuito fechado: O número de linhas de força O fluxo diminui à medida que o O fluxo varia conforme diminui à medida que o imã imã se desloca para baixo. ocorrem as variações da se afasta e aumenta quando o corrente na bobina. ímã se aproxima. (fluxo variável no tempo) Em ambos os casos acima, ocorrem variações de fluxo que, pela Lei de Faraday, fazem com que surja uma corrente induzida no anel condutor. Porém, qual o sentidodessa corrente? Na seqüência, iremos angariar subsídios para responder a essa pergunta. Fundamentos de Eletromagnetismo 129 (I) Crescente (1)1,1i à 2.2 - Fluxo variável no tempo. Vamos analisar o caso abaixo: (1),C C MC O fluxo que atravessa o anel condutor da figura acima está crescendo. Pela Lei de Faraday, essa variação de fluxo determinará o aparecimento de uma força eletromotriz induzida que fará com que circule uma corrente, visto que o percurso é fechado e condutor. A corrente induzida, por sua vez, criará um campo magnético (dado pela equação H = I/2R), cujo fluxo terá sentido tal que se oporá às variações do fluxo que deu origem a ela. Como o fluxo aplicado ao anel está crescendo, a corrente induzida criará um fluxo em sentido oposto, para tentar impedir esse crescimento. A corrente induzida no anel gera um fluxo de reação, que se opõe ao fluxo que a originou. O fluxo criado pela corrente induzida é chamado de fluxo de reação. Uma vez determinado o fluxo de reação, o sentido da corrente induzida é finalmente determinado pela aplicação da regra da mão direita para espiras. O sentido da corrente induzida que cria o fluxo de reação é determinado pela regra da mão direita para espiras. 130 Editora Ao Livro Técnico Vamos analisar agora o que ocorre quando o fluxo aplicado ao anel começa a diminuir. (Ddecrescente A corrente induzida agora irá criar um fluxo no mesmo sentido do fluxo aplicado, para tentar impedir seu decréscimo. a/reação (Ddecrescente A corrente induzida cria um fluxo de reação que tenta impedir o decréscimo do fluxo aplicado. Conhecendo-se o sentido do fluxo de reação, podemos determinar o sentido da corrente induzida pela regra da mão direita para espiras. Oreação decrescente A força eletromotriz que produz a corrente induzida é chamada de força eletromotriz induzida. Ela sempre surge quando o fluxo estiver variando sobre um condutor. Já a corrente induzida depende de um percurso fechado condutor para circular. Isto é, nem sempre haverá corrente induzida e tampouco o fluxo de reação. Fundamentos de Eletromagnetismo 131 No exemplo que estudamos, a força eletromotriz está atuando em cada pedaço de comprimento infinitesimal do anel. É como se fossem infinitas pequenas fontes distribuídas ao longo do anel. Circuito equivalente ao anel condutor 2.3 — Condutor em movimento dentro de um campo magnético Como vimos, o fluxo pode variar por si só, o que chamamos de fluxo variável no tempo, ou então variar devido a um movimento relativo entre o condutor e o campo. Vamos analisar agora o segundo caso. Considere a espira retangular abaixo, deslocando-se com velocidade v e já parcialmente fora do campo B. :H 1-3 lv Nestas circunstâncias, o fluxo magnético em seu interior está diminuindo. Pela Lei de Faraday, concluímos que na espira está agindo uma força eletromotriz, e que, como conseqüência, está circulando uma corrente induzida pois existe um caminho fechado condutor. Pela Lei de Lenz essa corrente tem sentido tal que o fluxo que ela cria está no mesmo sentido que o do fluxo original, para tentar impedir seu decréscimo. Sendo assim, fica fácil determinar o sentido dessa corrente, bastando usar a regra da mão direita para espiras. 13 (I)reaçao 132 Editora Ao Livro Técnico Vamos localizar agora onde está agindo a força eletromotriz que dá origem à corrente induzida. Para isso, vamos analisar os quatro lados da espira. O lado de baixo e os dois laterais não cortam linhas de força do campo magnético. Apenas o de cima está cortando linhas de força e portanto é ali que está agindo a força eletromotriz. Para identificarmos a polaridade da tensão nesse condutor, basta lembrarmos que é ele a fonte de força eletromotriz. E a corrente sai de uma fonte pelo terminal positivo. Logo, o lado esquerdo do condutor possui polaridade positiva e o direito negativa. B (pregão polaridade da fem do condutor circuito equivalente Se a espira estiver entrando no campo magnético, o fluxo em seu interior estará aumentando. Sendo assim, a corrente induzida irá criar um fluxo em sentido contrário para tentar impedir que o fluxo aumente no interior da espira. B (pre.,i0 Nesse caso, o sentido da corrente que cria tal fluxo bem como a polaridade da força eletromotriz são mostradas na figura abaixo. v B Observe que tanto a corrente quanto a força eletromotriz são opostas em relação à situação onde a espira está saindo do campo. Quando a espira estiver totalmente imersa no campo magnético, o fluxo em seu interior não irá mais variar. Isto porque a quantidade de linhas de força que entram na espira pela parte da frente, saem ao mesmo tempo pela parte de trás. Fundamentos de Eletromagnetismo 133 a quantidade de linhas de força dentro da espira permanece constante Se o fluxo na espira não está variando, isto quer dizer que não há corrente induzida. No entanto, os condutores horizontais que formam a espira continuam cortando linhas de força e portanto deve haver força eletromotriz gerada nos mesmos. Porque então não há corrente elétrica circulando? Se compararmos a parte superior da espira na figura acima com a figura anterior, veremos que não há diferença nenhuma entre elas. Trata-se pois, do mesmo condutor deslocando-se com velocidade v para cima, dentro de um campo cujas linhas de força apontam para fora do plano do papel. Por comparação, concluímos que há força eletromotriz induzida nos condutores horizontais da espira, mesmo que o fluxo em seu interior não esteja variando. v ... : .... .B não há corrente induzida circuito equivalente A força eletromotriz gerada no condutor superior tende a produzir uma corrente no sentido horário. Enquanto isso, o condutor inferior é sede de uma força eletromotriz cuja corrente tenderia a fluir em sentido oposto, ou seja, anti-horário. Como as duas forças eletromotrizes são iguais, a corrente resultante é nula. A partir do momento que parte da espira cai fora do campo magnético, deixa de existir força eletromotriz sobre aquela parte e conseqüentemente passa a circular corrente elétrica pela ação da força eletromotriz do condutor que ainda está dentro do campo. 134 Editora Ao Livro Técnico 2.4 — Método do percurso fechado imaginário Na realidade, apesar de não haver variação de fluxo no interior da espira como um todo, os condutores que formam a espira e que estejam se deslocando de maneira a cortar linhas de força, estarão sujeitas a variações de fluxo individualmente. Tanto é que, no estudo da Lei de Faraday, deduzimos uma equação para a força eletromotriz gerada em condutores que cortam um campo: fem = B l v. Podemos atribuir percursos imaginários envolvendo os condutores da espira para determinar o sentido da hipotética corrente que circularia e conseqüentemente determinar a polaridade da força eletromotriz induzida. circuitos imaginários onde o fluxo está variando Na figura acima, observamos que no interior do percurso arbitrado na parte superior da espira, o fluxo está diminuindo. A corrente induzida deveria então circular no sentido anti-horário, pois só assim estaria contribuindo na tentativa de impedir o decréscimo do fluxo no interior do percurso. Enquanto isso, no interior do percurso arbitrado na parte inferior da espira, o fluxo está crescendo. A corrente induzida circularia então no sentido horário, para produzir um fluxo em sentido oposto ao do fluxo original, na tentativa de impedir seu crescimento. Fundamentos de Eletromagnetismo 135 Chegamos, então, à mesma conclusão obtida anteriormente em relação às polaridades das forças eletromotrizes na espira. v Observe que o uso de um percurso imaginário é mero artifício para se determinar a polaridade da força eletromotriz gerada em um condutor e só é válido para movimento relativo entre condutor e campo magnético. 2.5 — Regra de Fleming paradeterminação do sentido da corrente induzida. Alternativamente, pode-se determinar o sentido da corrente induzida em um condutor em movimento no interior de um campo magnético, fazendo-se uso de uma regra prática conhecida como regra de Fleming. A regra prevê o uso de três dedos da mão direita: o indicador, médio e polegar dispostos 90 graus um do outro. O dedo indicador aponta o sentido do fluxo magnético, o médio aponta o sentido da corrente induzida enquanto o polegar indica o sentido da velocidade. v Portanto, conhecidos os sentidos do fluxo e da velocidade, o sentido da corrente fica perfeitamente determinado pelo dedo médio. Observe que essa regra só pode ser utilizada para o caso de variação de fluxo devido a movimento relativo entre condutor e campo magnético. Fluxos variáveis no tempo não admitem essa regra. 136 Editora Ao Livro Técnico Vamos analisar um exemplo. Seja determinar o sentido da corrente induzida no condutor abaixo: Iv B A rigor não há corrente induzida no condutor pois este não forma um percurso fechado. Entretanto, isto não impede o uso da regra pois estaremos determinando o sentido da corrente que iria fluir caso o circuito fosse fechado. Então, dispondo-se os três dedos perpendicularmente entre si, devemos fazer com que o polegar indique o sentido do movimento do condutor ao mesmo tempo em que o indicador aponte para o sentido do fluxo. Fazendo isso, o dedo médio estará automaticamente apontando para a direita. tv : • . B Concluindo, a corrente induzida flui da esquerda para a direita 2.6 — Força devida ao fluxo de reação A Lei de Lenz diz que os efeitos da corrente induzida se opõem às causas que a originaram. Um dos efeitos da corrente induzida é o fluxo de reação que se opõe às variações do fluxo original, assunto discutido na seção anterior. Se a causa da variação do fluxo magnético for o movimento relativo entre um percurso condutor e um campo magnético, além do fluxo de reação, outro efeito estará presente: uma força de restrição ao movimento. Essa força atuará no sentido contrário ao movimento na tentativa de impedir a variação do fluxo que estiver ocorrendo. F B Surge uma força F para se opor ao movimento da espira. Fundamentos de Eletromagnetismo 137 A origem dessa força está na interação entre o fluxo original e o fluxo de reação. No desenho anterior, a corrente teria sentido anti-horário, pois o fluxo de reação deve ter o mesmo sentido que o fluxo original. Meação Observe que no interior do anel condutor, o fluxo de reação possui o mesmo sentido que o fluxo original. Porém, fora do anel, o fluxo de reação possui sentido contrário. F B O fluxo resultante no interior do anel naturalmente é a soma do fluxo original com o fluxo de reação. Enquanto isso, fora da região delimitada pelo anel, os fluxos se subtraem. Isto cria uma densidade de fluxo maior no interior do anel do que fora dele. v B Então, a força que se opõe ao movimento surge como uma reação natural ao desequilíbrio provocado pela interação entre os fluxos. Ela puxa a espira no sentido contrário ao movimento para tentar restabelecer a igualdade entre as densidades de fluxo interna e externamente ao anel. Se o anel estivesse entrando na região de campo B, o sentido da corrente induzida seria o contrário, e o fluxo de reação estaria em sentido contrário ao fluxo original. 138 Editora Ao Livro Técnico 13 O fluxo resultante interna e externamente ao anel ficaria como o mostrado na figura a seguir. B Portanto, independente do anel estar saindo ou entrando no campo, a força F sempre estará se opondo ao seu movimento. Obviamente, quando o anel estiver completamente imerso no campo, a força deixará de existir, visto que não haverá fluxo de reação. O desenho, abaixo, ilustra melhor a resultante entre os fluxos para o caso do anel entrando no campo. Fluxo do campo B c fluxo de reação Resultante dos fluxos Quando o fluxo for variável no tempo, poderá também surgir uma força sobre o circuito fechado condutor, dependendo de como ele estiver imerso no campo. Vamos supor um anel condutor em frente a um eletroímã. Fundamentos de Eletromagnetismo 139 Enquanto a corrente na bobina for mantida constante, o fluxo também o será e nada ocorre com o anel. Vamos então admitir uma elevação rápida no valor da corrente. Nesse instante, teremos um fluxo crescente atravessando o anel. Isto gera, pela Lei de Faraday, uma corrente induzida no anel. O fluxo de reação, gerado pela corrente induzida, terá portanto sentido oposto ao do fluxo que lhe deu origem. Podemos encarar o anel condutor como um pequeno eletroimã cujo pólo norte aponta para a esquerda. s Nesse caso torna-se óbvio que surgirá uma força de repulsão entre o eletroímã e o anel condutor. eri,einte 140 Editora Ao Livro Técnico fem = N A0 At Para o caso de a corrente no eletroímã diminuir, teremos comportamento contrário. O fluxo de reação terá o mesmo sentido do fluxo que lhe deu origem e conseqüente- mente haverá uma força de atração entre o eletroimã e o anel. F deerceeente 2.7 — A Lei de Lenz e a corrente alternada senoidal Quando um fluxo varia senoidalmente sobre uma espira ou uma bobina, a força eletromotriz induzida será também da forma senoidal. Para provar essa afirmação, vamos utilizar a Lei de Faraday para determinar a tensão induzida numa espira quando esta fica sujeita a uma variação de fluxo do tipo senoidal. A Lei de Faraday, escrita sob a forma fem = - N AO/At pressupõe variações lineares de fluxo (4.0) no intervalo At. Entretanto, uma variação senoidal não apresenta trechos lineares. Consideraremos então neste exemplo uma variação de fluxo senoidal aproximada a 12 intervalos de variação linear. Considere então uma espira sujeita a uma variação de fluxo como mostra o gráfico abaixo: A senóide, como se observa, foi dividida em trechos de variação linear de fluxo. Para calcular a tensão induzida em cada intervalo, aplicamos a equação: Fundamentos de Eletromagnetismo 141 e (mV) 50 36 C> O 0 O C> M V kr) :) CO E á t (ms) -36 -50 14 0 -14 Por exemplo, para o primeiro trecho de variação linear, temos AO = 0,5mWb e At = 10 ms. Sendo N = 1, temos portanto que 0,5 10-3 e1 = -1 e, = -50mV. Logo, durante os 10 primeiros milissegundos, a tensão induzida é constante e equivale a -50mV. Para os demais intervalos, calcula-se da mesma forma, obtendo- se o gráfico abaixo. gráfico da tensão induzida em função do tempo Como se observa, o gráfico da força eletromotriz induzida em função do tempo é uma aproximação grosseira de uma cossenóide invertida. Naturalmente, se diminuíssemos os intervalos At obteríamos mais valores para a força eletromotriz e consequentemente obteríamos uma aproximação bem melhor para a forma de onda da força eletromotriz induzida. Na verdade, se os intervalos At fossem reduzidos à valores extremamente pequenos (At -30, leia-se At tendendo a zero), obteríamos uma quantidade de valores para a força eletromotriz tendendo ao infinito. Neste caso, a curva da força eletromotriz induzida seria uma cossenóide invertida perfeita. Então o que ocorre na realidade é que um fluxo variando senoidalmente induz numa espira ou bobina uma força eletromotriz cuja forma de onda é uma cossenóide. Como não há distinção entre uma variação cossenoidal e senoidal quando as mesmas são prolongadas no eixo dos tempos, podemos dizer que a força eletromotriz é do tipo senoidal, defasada em relação ao fluxo. O gráfico a seguir ilustra essas relações. 10 . 10' 142 Editora Ao Livro Técnico t (ms) t (ms) Todo o trabalho que tivemos para mostrar que um fluxo magnético variando senoidalmente em uma bobina ou espira induzuma força eletromotriz que também varia senoidalmente, pode ser bastante reduzido utilizando-se o conceito de derivada de uma função. Nesse caso, a Lei de Faraday é escrita sob a forma: fem = —N — d0 dt dO O termo — dt é conhecido como a derivada do fluxo em relação ao tempo. Entretanto não utilizaremos a derivada em nossas análises para não fugir dos propósitos aos quais este livro se destina, que é o de proporcionar ao leitor o pleno entendimento dos fenômenos de eletromagnetismo sem o uso de matemática mais avançada. 2.8 — Por que a corrente se atrasa em uma bobina Quando o fluxo varia senoidalmente, a força eletromotriz induzida também é do tipo senoidal. Vamos reproduzir em um único gráfico a forma de onda do fluxo e da força eletromotriz induzida que obtivemos na seção anterior. Como o fluxo é produzido diretamente pela corrente elétrica, eles se encontram em fase. Portanto, no gráfico, a forma de onda que representa as variações do fluxo é a mesma que representa as variações da corrente. Fundamentos de Eletromagnetismo 143 Analisando a defasagem, concluímos que a força eletromotriz e está atrasada de 90° em relação à corrente i. Mas não aprendemos que em uma bobina a corrente é que está atrasada em relação à tensão? Vamos esclarecer esses fatos, aplicando em uma bobina uma tensão senoidal v. Admitindo-se que se trata de uma bobina ideal, ou seja, resistência interna nula, a corrente deveria assumir um valor tendendo para infinito, pois: . v = — R Observa-se experimentalmente que não e isso que ocorre. A corrente assume valores razoavelmente baixos, o que nos leva a concluir que existe algo mais que limita a corrente e que não é a resistência elétrica. Ocorre pois que, a corrente alternada ao circular pela bobina produz nela um fluxo também alternado que, pela Lei de Faraday, induz uma força eletromotriz na bobina. Essa força eletromotriz, pela Lei de Lenz, tem polaridade tal que a corrente que ela tende a produzir se opõe à corrente que deu origem a ela. Supondo que a polaridade instantânea da tensão aplicada seja positiva no terminal superior da fonte, a força eletromotriz na bobina também terá polaridade instantânea positiva em seu terminal superior. 144 Editora Ao Livro Técnico Sendo assim, a tensão aplicada v produz uma corrente i no sentido horário, enquanto a força eletromotriz da bobina e produz uma corrente i no sentido anti- horário. A corrente resultante da bobina será portanto iT = Então, a corrente que realmente circula na bobina é iT, cujo valor é baixo, pois é obtida pela subtração das duas correntes e cujo sentido é o horário, nesse exemplo. Obviamente, a corrente i será sempre maior que i', pois afinal de contas esta última é criada pela primeira. Caso a corrente induzida i' assumisse o mesmo valor da corrente aplicada i, a corrente resultante seria nula. Com isto não haveria fluxo e conseqüentemente não poderia existir força eletromotriz induzida na bobina e tampouco a própria corrente i'. Quando a tensão aplicada v inverter sua polaridade, a força eletromotriz da bobina também deverá inverter a sua, pois deverá continuar se opondo à tensão aplicada. Então, no diagrama senoidal a tensão v e a fem e deverão estar sempre opostas. V, e Obtivemos anteriormente o diagrama senoidal da força eletromotriz induzida em função do fluxo e corrente. Sobrepondo os dois diagramas, teremos: Logo: — A corrente está atrasada de 90° em relação à tensão aplicada à bobina. — A corrente está adiantada de 90° em relação à fem induzida na bobina. Fundamentos de Eletromagnetismo 145 Portanto, quando se diz que a corrente em uma bobina está atrasada em relação à tensão, obviamente está se referindo à tensão aplicada e não à força eletromotriz induzida. Mas ainda restou a intrigante pergunta. Porque a corrente se atrasa em relação à tensão aplicada? Quando ligamos o interruptor que conecta uma bobina a uma fonte alternada senoidal e supondo que isto ocorra no exato instante que a tensão da fonte está passando por zero, a corrente também inicia em zero e tende a crescer rapidamente pois ainda não há oposição a sua passagem. Entretanto o fluxo variável gerado na bobina faz surgir a força eletromotriz induzida, dada pela equação: e = —N At Essa força eletromotriz ainda não é perfeitamente oposta à tensão aplicada pois foi gerada por uma corrente que iniciou em fase com a tensão aplicada. e - fem v - tensão aplicada i - corrente Com isso, a corrente continua crescendo mesmo quando a tensão aplicada já começa a decrescer. A força eletromotriz da bobina começa a decrescer à medida em que a corrente diminui o seu ritmo de crescimento atingindo o valor zero no ponto marcado no gráfico por a', que corresponde ao instante que a corrente e conseqüentemente o fluxo deixa de variar ao passar pelo valor máximo. A corrente vai então, como se observa no gráfico, gradativamente se defasando até atingir em poucos ciclos a defasagem de 900 em relação à tensão aplicada. A defasagem se estabiliza em 90° pois é exatamente com esse valor que a corrente cria um fluxo capaz de gerar uma força eletromotriz na bobina oposta à tensão aplicada. Isso assegura a condição de equilíbrio necessária para que a corrente se estabilize num patamar estável. O atraso da corrente em relação à tensão aplicada é então essencialmente um mecanismo da natureza para preservar o equilíbrio. 146 Editora Ao Livro Técnico Naturalmente quando ligamos o interruptor nem sempre a tensão senoidal da fonte está iniciando em zero. Independente disso, a corrente sempre se ajustará de forma a se defasar de 90° em poucos ciclos, dependendo das características da bobina. De qualquer forma, seja qual o valor inicial da tensão da fonte, a corrente nos primeiros ciclos sempre terá valor máximo superior ao de seu valor máximo de regime. 2.9 - Por que surge uma faísca ao se desligar um circuito que contenha bobinas? Toda vez que ligamos ou desligamos um circuito com bobinas, quer seja em corrente contínua ou alternada, estamos promovendo uma variação no fluxo magnético gerado pela corrente. Especialmente quando desligamos o circuito, a variação de fluxo é muito rápida, pois a corrente tende a se extinguir rapidamente. Nestas condições, a força eletromotriz induzida na bobina atinge valores elevados e sua polaridade é tal que ela tende a manter a corrente no circuito a qualquer custo. Mesmo após a abertura definitiva dos contatos do interruptor, a corrente continua fluindo pelo ar, ocasionando o faiscamento característico. Resumindo, o faiscamento ocorre porque a bobina reage à diminuição da corrente, criando uma força eletromotriz que gera uma corrente no mesmo sentido que a da fonte para tentar impedir que ela diminua. 2.10 - O motor de indução trifásico O princípio de funcionamento do motor de indução trifásico é fundamentado inteiramente nas leis de Faraday e Lenz. Imagine então uma gaiola cilíndrica livre para Fundamentos de Eletromagnetismo 147 girar segundo seu eixo de simetria. Em torno dela, giram as superfícies polares de um ímã como mostra a figura abaixo: À medida em que o ímã gira, o fluxo magnético varia sobre os vários circuitos fechados existentes na gaiola cilíndrica. No desenho abaixo é mostrada a gaiola onde se vêem os circuitos fechados. Analisemos, então, o que ocorre quando uma sapata polar do ímã passa sobre esses circuitos. Por comodidade e facilidade de representação, a sapata polar norte é vista no desenho em linhas tracejadas. Ela se desloca segundo o sentido indicado. Isto faz com que o fluxo neste instante esteja aumentando no percurso fechado ABGHA enquanto que diminui no circuito CDEFC. No circuito BCFGB se mantém constante por enquanto. 148 Editora Ao Livro Técnico 11 Vamos descobrir quais os sentidos das correntes induzidas em cada circuito. No ABGHA, o fluxo de reação possuisentido oposto ao fluxo da sapata polar do imã e portanto a corrente induzida tem sentido anti-horário. No CDEFC, o fluxo de reação tem sentido coincidente com o fluxo polar. Logo, a corrente induzida tem sentido horário. 11 O efeito da corrente induzida em cada circuito resulta em um campo magnético cuja polaridade é indicada por fictícios ímãs representados na figura abaixo. 1-1 Fundamentos de Eletromagnetismo 149 barras rotóricas ROTOR ESTATOR Desta forma a sapata polar norte terá à sua frente um pólo norte gerado no percurso ABGHA. Ao mesmo tempo atrás da sapata polar norte surge um pólo sul gerado pela corrente induzida no percurso CDEFC. A sapata polar norte irá portanto repelir o pólo norte que está a sua frente e ao mesmo tempo atrair o pólo sul que se formou atrás dela. Conseqüentemente, a gaiola cilíndrica será arrastada no mesmo sentido do deslocamento da sapata polar norte. Naturalmente a velocidade de giro da gaiola cilíndrica será sempre menor do que à da sapata polar. É certo, porém, que sempre serão induzidas correntes nos circuitos fechados que criarão pólos segundo o desenho anterior. Há ainda que se lembrar que a sapata polar sul também estará criando efeito semelhante no lado diametralmente oposto da gaiola. Resumindo, a gaiola cilíndrica irá girar no mesmo sentido que os pólos do ímã e sua velocidade será sempre inferior à deste último. Caso a gaiola atingisse em determinado momento a mesma velocidade do ímã, deixaria de existir variação de fluxo sobre os circuitos fechados e conseqüentemente deixaria de existir a interação entre os campos. Com isso, a gaiola deixaria de ser arrastada pelas sapatas polares e fatalmente diminuiria sua velocidade. Um motor trifásico naturalmente não possui um ímã que gira em torno da gaiola. O papel desempenhado por este ímã é conseguido através de diversas bobinas convenientemente dispostas em uma carcaça ferromagnética denominada estator, e alimentadas por corrente trifásica. Isto faz com que se produza um campo magnético girante, equivalente ao do ímã girando em volta da gaiola cilíndrica. 150 Editora Ao Livro Técnico motor trifásico A gaiola cilíndrica é preenchida com material ferromagnético para concentrar melhor o fluxo magnético e o conjunto recebe o nome de rotor. Os condutores da gaiola recebem o nome de barras rotóricas e são dispostos ligeiramente inclinadas para diminuir o zumbido durante o funcionamento. 2.71 — O motor de indução monofásico O princípio de funcionamento do motor monofásico de indução é semelhante ao do motor trifásico. A diferença é que no motor monofásico não existe o campo girante como no trifásico. O que ocorre são inversões sucessivas de pólos, como mostra a seqüência abaixo: s t2 rotor t I t3 Evidentemente os pólos norte e sul mostrados na figura são também conseguidos através de correntes circulando em bobinas convenientemente dispostas em um estator e alimentadas por corrente alternada monofásica. Como se vê, então, o motor monofásico não possui torque inicial, pois não possui campo girante. Entretanto, se dermos um giro inicial no rotor até este atingir determinada velocidade, inicia-se um processo semelhante ao do motor trifásico e o rotor continua girando. Esse impulso inicial normalmente é conseguido através de um enrolamento auxiliar disposto no próprio estator junto com o enrolamento principal. Fundamentos de Eletromagnetismo 151 Esse enrolamento é ligado em série com um capacitor destinado a defasar o campo auxiliar do principal a fim de criar um campo girante semelhante ao campo do mo- tor trifásico. O enrolamento auxiliar é desligado automaticamente por um dispositivo chamado interruptor centrífugo assim que o rotor atingir 75% de sua velocidade no- minal. A partir daí, as inversões de campo proporcionadas pelo enrolamento principal são suficientes para manter o rotor em movimento. motor monofásico 2.12 - Exercícios resolvidos A — Determine o sentido da deflexão do galvanômetro quando a pilha for desconectada da bobina. Solução: Na figura abaixo estão representados o sentido da corrente e o correspondente sentido do fluxo magnético: „,„ , o ,,,, ic . • ...... ...... iiii: 152 Editora Ao Livro Técnico fluxo de reação v fluxo do imã núcleo N s Quando a corrente é interrompida, o fluxo tende a diminuir. Com isto, o fluxo de reação terá o mesmo sentido do fluxo original. Isto nos leva a concluir que a corrente deve se manter no mesmo sentido, agora sendo mantida pela força eletromotriz da bobina. Logo, o terminal inferior da bobina é positivo, pois uma corrente sempre sai do positivo de uma fonte. Como esse terminal está conectado ao terminal negativo do galvanômetro, este irá defletir para a esquerda. B — Em uma bobina, um núcleo de material ferromagnético será introduzido como mostrado na figura. Determine o sentido da corrente induzida. v 11111111111 N s núcleo Solução: O fluxo magnético do ímã que está ao lado da bobina está atravessando parte das espiras da mesma. À medida que o núcleo de ferro vai sendo introduzido, teremos um reforço no fluxo magnético no interior da bobina. Ou seja, o fluxo estará aumentando em seu interior. Desta forma, será induzida uma corrente que tende a produzir um fluxo em sentido contrário. Aplicando a regra da mão direita para espiras e bobinas, concluímos que o sentido da corrente se dará como mostrado abaixo: C — Determine o sentido da corrente induzida na seção transversal do condutor abaixo: o B v Fundamentos de Eletromagnetismo 153 Solução: Aplicando a regra de Fleming, ou seja, com os três primeiros dedos da mão direita dispostos de 90° um do outro, fazendo o dedo indicador apontar o sentido do fluxo magnético e o dedo polegar apontar no sentido da velocidade, teremos o dedo médio apontando para fora do plano do papel o que nos dá então o sentido da corrente induzida no condutor. o I B Me. 2.13 - Exercícios propostos A — Com base na Lei de Lenz, determine a polaridade da força eletromotriz gerada nos condutores abaixo: b) „ „ B XXIX X X X X X X X V B a) B — Determine qual o sentido da corrente e a polaridade da força eletromotriz induzida na bobina abaixo, quando o ímã estiver se aproximando da mesma. 11111111111 C — Qual o sentido da corrente induzida no anel condutor abaixo? N s 154 Editora Ao Livro Técnico condutores v 13 D — No esquema abaixo, a bobina em curto pode deslizar livremente pelo núcleo. Determine o sentido do deslocamento a que estará sujeita esta bobina quando o interruptor estiver sendo: a) ligado b) desligado E — Na ilustração abaixo, o ímã está passando por baixo de uma armação de condutores. Determine o sentido das correntes nos dois percursos fechados ABEFA e BCDEB. F — No exercício anterior, em qual condutor a intensidade de corrente é maior? G — Um dardo magnetizado é lançado sobre um alvo. Por trás da marca da mosca está instalada uma bobina cujos terminais estão conectados a um circuito eletrô- nico para avisar quando o dardo atingir a mosca. Determine o sentido da corrente induzida na bobina caso o dardo acerte a mosca. circuito eletrônico Fundamentos de Eletromagnetismo 155 H — O dispositivo abaixo será girado no sentido indicado. Determine o sentido das correntes induzidas nos setores da roda raiada à frente e atrás de cada pólo tendo como base a posição atual em que se encontra. O que ocorrerá com a roda raiada? I — Determine qual o sentido de deflexão do ponteiro do galvanômetro quando a chave S for fechada. J — Na questão anterior, supondo inicialmente a chave fechada, qual o sentido de deflexão do ponteiro do galvanômetro ao ser aberta a chave? 2.14 — Sugestões para Laboratório Comprovando a Lei de Lenz Objetivo: Comprovar a Leide Lenz através de duas experiências diferentes. Material necessário: item quant. unid. especificação 01 02 pç bobina didática com núcleo de ferro (entre 500 a 1500 esp.) 02 01 pç núcleo desmontável 03 01 pç ímã permanente em forma de barra 04 01 pç galvanômetro (miliamperímetro de zero central) 05 05 pç cabo de ligação 06 01 pç fonte CC 6V ou 12V 07 01 pç interruptor 156 Editora Ao Livro Técnico Experiência 1 Dado o esquema abaixo, analise e, utilizando a Lei de Lenz, determine o sentido de deflexão do galvanômetro quando o pólo norte do ímã estiver: a) Se aproximando da bobina. b) Se afastando da bobina. INIS1 Lembre que se o pólo norte estiver se aproximando da bobina, um fluxo dirigido para a esquerda estará aumentando sobre ela e o fluxo de reação estará dirigido para a direita. Ou ainda, se um pólo norte de um ímã se aproxima da bobina, ela cria um pólo de mesmo nome para se opor à aproximação do ímã. Seja qual for a maneira de interpretar, o sentido da corrente induzida será descoberto e consequentemente a polaridade da tensão induzida também o será. Assim, se concluímos que determinado movimento gera uma polaridade positiva no terminal esquerdo da bobina, então o ponteiro do galvanômetro defletirá para a direita pois a polaridade da tensão aplicada coincide com a polaridade do instrumento. Caso contrário, ele defletirá para a esquerda. Feitas as análises para as duas situações, faça a comprovação prática e verifique se sua conclusão estava correta. Repita a análise e depois faça a comprovação para um pólo sul se aproximando e depois se afastando da bobina. Experiência 2 Faça a montagem a seguir, utilizando o núcleo desmontável e as bobinas. Coloque a bobina com maior número de espiras na coluna esquerda do núcleo desmontável. Nesta experiência, o objetivo também é descobrir qual o sentido de deflexão do galvanômetro. Analise portanto e determine a indicação do galvanômetro no instante em que o interruptor for: a) ligado. b) desligado. Fundamentos de Eletromagnerismo 157 Um detalhe importante é que você deve conhecer o sentido de enrolamento das bobinas que estiver utilizando. O sentido de enrolamento de uma bobina é determinado no momento em que se está construindo a mesma. Observe nas figuras abaixo as duas diferentes maneiras de se enrolar uma bobina. Note que se aplicarmos uma corrente em ambos os terminais esquerdos das bobinas, os sentidos de fluxos gerados serão diferentes. Uma vez construída uma bobina, seu sentido de enrolamento será sempre o mesmo, independente da posição que a colocarmos. Por exemplo, se virarmos a primeira bobina do desenho anterior de "cabeça para baixo" e aplicarmos de novo uma corrente em seu terminal esquerdo, o sentido de fluxo não será afetado. Voltando à experiência, analise o sentido do fluxo gerado e do fluxo de reação no instante em que o interruptor é fechado. Lembre que nesse instante o fluxo é crescente. Descubra então qual a polaridade da tensão induzida na bobina secundária e qual o sentido de deflexão do ponteiro do instrumento. Repita a análise para quando o circuito for aberto. Agora é só comprovar experimentalmente. 158 Editora Ao Livro Técnico Bobina didática Experiência 1 Bobina em curto Fonte CA regulável A bobina que salta Uma montagem interessante e divertida que ilustra muito bem que os efeitos se opõem às causas como estabelece a Lei de Lenz, pode ser feita facilmente em laboratório. Material necessário: item quant. unid. especificação 01 02 pç bobina didática com número de espiras entre 500 a 1500, com núcleo longo. 02 01 pç fonte CA regulável 0-120V 03 01 pç amperímetro com calibre 2A 04 01 m fio esmaltado entre 16 a 20 AWG 05 03 pç cabo de ligação 06 01 pç interruptor de pressão Com o pedaço de fio esmaltado deve ser feita a bobina que irá saltar. Essa bobina deverá ter em torno de 20 espiras e ter o formato do núcleo, ficando ligeiramente maior que esse para que possa deslizar livremente. Para construir a bobina, aproveite o próprio núcleo como molde. Como a bobina deverá ter diâmetro maior que o do núcleo, revista o mesmo com algumas voltas de fita crepe antes de começar a enrolar. Enrole então o fio sobre o núcleo sendo que as duas pontas deverão ser firmemente conectadas e soldadas com estanho preferencialmente. Não esqueça de remover o esmalte do condutor, raspando com um estilete nas partes que serão conectadas. Feito isso, retirar a bobina do molde e firmar as espiras utilizando fita adesiva para que a mesma se torne compacta. Retire em seguida a fita crepe do núcleo e teste sua bobina, verificando se ela desliza livremente sobre o núcleo. Poderão ser feitas mais bobinas com diferentes números de espiras, pois algumas poderão dar melhor resultado na experiência. Feito isso, estamos prontos para iniciar as experiências. Fundamentos de Eletromagnetismo 159 A bobina didática deve ficar na vertical com seu núcleo excedendo o comprimento da mesma. Conecte a bobina à fonte CA regulável, que deverá inicialmente estar ajustada em zero volt e insira o amperímetro para monitorar a corrente. Aplique uma pequena tensão, aumentando gradativamente. À medida que a corrente na bobina vai aumentando, percebe-se que a pequena bobina começa a subir pelo núcleo. Essa bobina pode ser mantida suspensa em qualquer posição dependendo da corrente aplicada à bobina principal. Cuidado para não exceder o limite de corrente da bobina principal. Esse fenômeno ocorre porque o fluxo magnético gerado na bobina principal induz uma corrente na pequena bobina em curto-circuito. Essa por sua vez também irá produzir um fluxo magnético que estará em oposição ao fluxo que deu origem à ele. Ou seja, os fluxos da bobina principal e da pequena bobina estarão em oposição, ocasionando a repulsão. É a lei de Lenz. Você pode perceber indiretamente que pela pequena bobina circulou corrente. Basta verificar que durante a experiência ela se aqueceu. Experiência 2 0" Esta experiência deve necessariamente ser acompanhada por um professor. Agora você vai ligar diretamente a bobina principal à tomada de 127 V, sendo que esta deverá ter entre 200 e 500 espiras. Nesta experiência, o amperímetro não deve ser utilizado. Isto porque a corrente agora será muito elevada, excedendo os limites do amperímetro e da bobina. Essa corrente, apesar de elevada, não irá danificar a bobina pois irá circular por um tempo muito curto. Entretanto, se o amperímetro estivesse conectado certamente seria danificado. Para realizar essa experiência, são necessários certos cuidados. Em primeiro lugar, é necessário que a tomada, a ser utilizada, seja protegida diretamente por um disjuntor de 20 A ou 30 A. Esse deverá permanecer desligado até o momento culminante da experiência. Outro cuidado é posicionar a bobina principal em um lugar onde acima dela não haja luminárias ou lâmpadas no teto. Isto porque o dispositivo funcionará como um canhão, disparando a pequena bobina em alta velocidade. Agora você pode conectar a bobina à tomada. Em seguida ligue o disjuntor para ver a pequena bobina saltar em alta velocidade. Nesse momento, o disjuntor irá automaticamente desligar pois a corrente deve ultrapassar seu limite. Caso isso não ocorra, o resultado de sua experiência não deverá ter sido muito bom e você deve desligar o disjuntor imediatamente para não queimar a bobina principal. Para melhorar o desempenho do seu canhão você pode trocar a bobina principal por outra de menor número de espiras, ou ligar à tomada de 220 V, que deverá também possuir um disjuntor para protegê-la. Você pode também testar as outras pequenas bobinas cuja construção foi sugerida anteriormente. Observe que o fenômeno é o mesmo da experiência anterior. Apenas a corrente é aplicada bruscamente e com valor bem elevado, fazendo a bobina saltar. 160 Editora Ao Livro Técnico3 CORRENTES DE FOUCAULT 3.1 — Como ocorrem as correntes de Foucault Partindo-se do princípio de que um fluxo variável no tempo induz uma força eletromotriz em um condutor, como estabelece a Lei de Faraday, não fica difícil concluir que um núcleo magnético cuja bobina seja alimentada por corrente alternada fica sujeita também a esta força eletromotriz. Isso provoca no núcleo a circulação de correntes conhecidas como correntes de Foucault ou ainda correntes parasitas, pois na maioria das vezes são indesejáveis e causam perdas por aquecimento. Assim, podemos dizer que: Correntes de Foucault são correntes que circulam em núcleos metálicos sujeitos a fluxos magnéticos variáveis, produzindo aquecimento. Motores de corrente alternada, transformadores, reatores, contatores etc. ficam sujeitos à circulação de correntes de Foucault. Vàmos descobrir como circulam tais correntes e quais as conseqüências que acarretam. Considere então o núcleo de um transformador como mostrado abaixo. Admitindo que, no instante analisado, a corrente na bobina primária esteja crescendo no sentido indicado, teremos um fluxo magnético também crescendo circulando pelo núcleo no sentido anti-horário. Para maior facilidade, vamos analisar somente um pedaço do núcleo, uma vez que o fenômeno ocorre igualmente em toda a sua extensão. Considere então um corte imaginário na parte de baixo do núcleo, com o qual obtemos o seguinte pedaço, mostrado na figura a seguir. Fundamentos de Eletromagnetismo 161 corrente parasita fluxo de reação corrente resultante área efetiva por onde circulam as correntes parasitas Como no instante analisado o fluxo é crescente, pela Lei de Lenz deverá ser criado um fluxo em sentido oposto, para limitar seu crescimento. O fluxo de reação é criado para se opor ao fluxo que lhe origina (Lei de Lenz). reação, cujo sentido e dado pela regra da mão direita para espiras e bobinas. Observe que o interior do núcleo fica livre dessas correntes. Na verdade, para cada linha de força do fluxo de reação é necessário uma pequena corrente, com formato aproximadamente circular. Portanto, essas correntes também existem no interior do núcleo, mas cancelam-se mutuamente, ocorrendo a soma apenas na periferia do núcleo, conforme ilustra o desenho abaixo em corte transversal. Esse fluxo de reação é criado pela corrente elétrica que circula na bobina secundária e também por correntes periféricas no núcleo que são as correntes de Foucault. Forma-se então uma espécie de "casca de corrente" com a finalidade de produzir o fluxo de 162 Editora Ao Livro Técnico 3.2 — Perdas por correntes parasitas Vale relembrar que todo condutor possui uma resistência elétrica que é diretamente proporcional ao seu comprimento e resistividade e inversamente proporcional à sua seção e que uma corrente elétrica 1 ao atravessar uma resistência R, dissipa uma potência P dada por: P.R./ 2 . Pelo fato das correntes parasitas circularem apenas pela periferia do núcleo, seus trajetos se desenvolvem através de uma seção pequena. Isso representa para essas correntes um caminho de resistência maior do que se circulassem por todo o núcleo. Assim, a potência dissipada P = R.I 2 , que efetivamente se traduz em aqueci- mento no núcleo, se torna bastante significativa. Naturalmente essas perdas são supridas pela fonte, que entrega uma parcela de energia somente para aquecer o núcleo, o que é indesejável na maioria dos casos. Sendo assim, as correntes de Foucault contribuem para baixar o rendimento do transformador ou qualquer que seja a máquina ou dispositivo envolvido. Portanto, devem ser tomadas providências para reduzir o efeito das correntes parasitas. 3.3 - Diminuindo o efeito das correntes de Foucault Pode-se diminuir as perdas por correntes parasitas manipulando-se a composição química do núcleo. Se um núcleo for constituído de uma liga que apresenta alta resistividade, a intensidade das correntes parasitas será baixa, visto que a corrente terá um trajeto de maior resistência a ser percorrido. Entretanto, não se pode alterar muito a resistividade do núcleo sem comprometer as características magnéticas e mecânicas do mesmo. Principalmente porque para se obter uma resistividade alta implica em alto teor de carbono o que aumenta a retentividade do núcleo e consequentemente aumentam as perdas por histerese. Uma maneira mais eficiente de se reduzir a intensidade das correntes parasitas consiste na laminação do núcleo e isolação das chapas. Para entender como esse procedimento funciona, imagine aquele pedaço de núcleo que analisamos anteriormente. Se o cortarmos ao meio no sentido de circulação do fluxo e separarmos as partes obtidas, as correntes circularão pela periferia dessas duas partes, com aproximadamente metade de sua intensidade. Cortando mais uma vez ao meio as duas partes obtidas, as correntes terão intensidades menores ainda e circularão pela periferia de cada uma das partes obtidas. Fundamentos de Eletromagnetismo 163 Fazendo sucessivos cortes até que o núcleo esteja dividido em finas chapas, observamos que as correntes parasitas ficam com intensidade bastante reduzida e circulam confinadas na pequena área da seção transversal das chapas assim obtidas. Naturalmente para o núcleo preservar a sua forma original, é necessário unir todas as chapas isolando-as eletricamente através de um verniz ou película óxida, que impeça que as correntes parasitas de cada chapa voltem a se somar. Veja página 94, 5.5 — Núcleos laminados. Na prática, um núcleo é construído pela sobreposição de chapas finas isoladas, formando um pacote de lâminas com o formato desejado. Façamos agora uma análise final para verificar como a laminação do núcleo contribuiu para diminuir as perdas por correntes parasitas. Começamos pela intensidade dessas correntes que foram reduzidas à valores muito baixos. Com isso, a potência de perdas, dada por P= R.12 , agora é mínima visto que uma corrente muito pequena elevada ao quadrado fica menor ainda. Mas não é só isso. Laminando o núcleo e isolando as chapas, fizemos com que a corrente se distribuísse por toda a seção do núcleo. Isto quer dizer que a resistência do núcleo vista pela corrente é agora muito menor, uma vez que a resistência é inversamente proporcional à seção. Assim, na fórmula da potência P = R.I 2 , diminuímos o valor da corrente e da resistência de uma forma bastante significativa. Desta forma, podemos concluir que a laminação do núcleo e a isolação das chapas é um meio extremamente eficaz no controle das correntes de Foucault. 3.4 - Freios magnéticos As correntes de Foucault, como vimos, causam perdas nos núcleos de máquinas e dispositivos ligados em corrente alternada. Tanto é que também recebem o nome de correntes parasitas. Entretanto, existem dispositivos que funcionam graças às corren- tes de Foucault. Um deles é o freio magnético. O freio magnético consiste em um disco ou tambor acoplado ao eixo do dispositivo que se deseja frenar. dispositivo girantc tambor dispositivo girante dispositivo girante com freio a tambor dispositivo girante com freio a disco 164 Editora Ao Livro Técnico Nas figuras anteriores, o disco e o tambor giram junto com o dispositivo girante, que pode ser um motor , uma roda , um volante, sem exercer nenhuma ação frenante. Desejando-se que o dispositivo seja frenado, basta que um ímã seja aproximado do disco ou do tambor. Na maioria das aplicações práticas são usados eletroímãs alimen- tados por CC. Vejamos como isso funciona: Vamos analisar o que ocorre com o disco, servindo nossas conclusões também para o tambor, uma vez que o princípio é o mesmo. Um ímã é aproximado do disco que gira. Uma ação frenante é exercida. Para maior clareza, vamos observar o disco de frente. Ímã com suas linhas de força apontando paradentro da folha. Agora dividamos o disco em setores imaginários. Vamos nos ater aos setores em destaque 1 e 2 que são os que se encontram sob a ação do ímã. Como o disco está girando no sentido anti-horário, no setor 1 o fluxo está aumentando, enquanto que no setor 2 está diminuindo. Pelas leis de Faraday e Lenz, deerão circular correntes cujos sentidos são mostrados no desenho a seguir. Então, no setor 1 será criado um pólo norte apontando para fora do plano do papel e, no setor 2, um pólo sul. Fundamentos de Eletromagnetismo 165 Sentido das correntes de Foucault nos setores. Lembrando que o ímã tem sua face polar norte próxima ao disco, observamos uma repulsão entre seu pólo norte e o pólo norte criado pela corrente de Foucault no setor 1 e ao mesmo tempo, atração entre o norte do imã e o sul do setor 2. Obviamente isto se traduz numa força contrária ao movimento do disco. Pólos equivalentes criados pelas correntes de Foucault. Portanto, uma ação frenante é exercida sobre o disco. Observe que apesar do disco girar, os pólos norte e sul criados pelas correntes de Foucault continuam no mesmo lugar e, por essa razão a ação frenante é contínua até que o disco pare. Quando isso ocorrer, o fluxo não mais estará variando sobre os setores imaginários e, portanto, deixarão de existir as correntes de Foucault. O desempenho desse mecanismo é melhorado quando se utiliza um ímã em forma de ferradura envolvendo parte do disco. Uma das aplicações desse mecanismo está nos medidores de kWh, onde se deseja que o disco pare imediatamente assim que nenhuma energia estiver sendo utilizada. Caso o freio não existisse, ao se desligar uma carga, principalmente de alta potência como um chuveiro, o disco do medidor ainda daria várias voltas até parar, totalizando uma energia que efetivamente não estaria sendo utilizada. 166 Editora Ao Livro Técnico Alguns modelos de caminhões utilizam o freio magnético em conjunto com os métodos convencionais por atrito. A inexistência de contato físico no freio magnético não gera desgaste, proporcionando economia e dispensando manutenções freqüentes. No caso de frenagem de motores de corrente alternada, ao ser desligado o motor da rede, é injetado, em seguida, uma corrente contínua no enrolamento, fazendo o mesmo se comportar como um eletroímã. O rotor, ainda girando, será sede de correntes de Foucault que, interagindo com o campo magnético gerado pela CC, produzirá uma ação frenante. 3.5 — Simulador de carga para motores O princípio do freio magnético é também utilizado como simulador de carga para ensaios em motores elétricos. A carga mecânica simulada pode ser variada, aumentando-se ou diminuindo-se a corrente no eletroímã, o que gera uma ação frenante pelo efeito das correntes de Foucault no tambor rotativo acoplado ao eixo. motor Motor elétrico com simulador de carga utilizando correntes de Foucault. 3.6 - Exercícios propostos A — Responda as questões abaixo: a) Como surgem as correntes parasitas? b) Por que as correntes parasitas circulam na periferia dos núcleos? c) Qual o principal efeito das correntes parasitas em um núcleo? d) Quais as maneiras de se diminuir o efeito das correntes de Foucault? e) Por que as chapas de um núcleo devem ser isoladas entre si? f) Cite três aplicações das correntes de Foucault? Fundamentos de Eletromagnetismo 167 g) No desenho abaixo, indique uma direção correta para se chapear o núcleo a fim de reduzir as perdas por correntes de Foucault. h) Duas bobinas idênticas, porém uma com núcleo maciço e outra com núcleo laminado, são ligadas em paralelo a uma fonte CA. Pergunta-se: as bobinas absorverão da fonte a mesma corrente? Justifique sua resposta. 3.7 — Sugestões para laboratório Provar que a laminação do núcleo reduz as correntes parasitas. Objetivo: Comprovar que a laminação do núcleo com a respectiva isolação entre as chapas é um meio bastante eficaz na redução das correntes parasitas. Material necessário: item quant. unid. especificação 01 02 pç bobina (n° esp. entre 300 a 1800 esp.) 02 01 pç núcleo laminado 03 01 pç núcleo maciço 04 01 pç amperímetro com calibre conforme !max. das bobinas 05 04 pç cabo de ligação 06 01 pç fonte CA regulável 0-240 V Procedimento: Utilizando as duas bobinas iguais, efetue a montagem abaixo: núcleo maciço núcleo laminado IniUnC.01. 168 Editora Ao Livro Técnico Aplique uma corrente cujo valor não exceda os limites das bobinas. Aguarde no mínimo 5 minutos. Passado esse tempo, desligue o circuito e retire os núcleos. Compare a temperatura dos dois núcleos, segurando-os um em cada mão. Cuidado para não queimar a mão que estiver segurando o núcleo maciço. Se você dispuser de um termômetro, meça as temperaturas. Freio magnético Objetivo: Mostrar o funcionamento de um freio magnético. Material necessário: item quant. unid. especificação 01 01 pç ímã em forma de ferradura 02 01 pc chapa de alurninio(± 10x10 cm) 03 30 cm barbante 04 01 pç pedestal Procedimento: Faça um furo na chapa e pendure-a no pedestal. Experimente balançá-la, fazendo-a executar um movimento pendular e observe como ela oscila livremente. Disponha então o ímã ferradura embaixo da chapa de tal forma que, ao executar o movimento pendular, a chapa passe entre os pólos do ímã. Você verá que agora a chapa será frenada toda vez que passar em frente aos pólos do ímã. É o princípio do freio magnético. O ímã ferradura pode ser substituído por dois ímãs em forma de barra, com pólos opostos próximos. Neste caso, pode-se regular a distância entre os pólos e constatar que quanto mais próximos estiverem, maior será a ação frenante. Observe que a chapa não é frenada pela ação de atração do ímã. É por essa razão que se pede uma chapa de alumínio pois este não é um material magnético, como você pode constatar aproximando o ímã da chapa parada. Fundamentos de Eletromagnetismo 169 FORÇAS MAGNÉTICAS 4.1 - Campo magnético de uma carga em movimento A experiência de Oersted mostrou que surge um campo magnético em torno de um condutor quando este conduz uma corrente elétrica. Esse campo é o resultado da soma dos campos individuais criados por cada carga em movimento. Isto é, cada carga em movimento gera então um campo magnético elementar. A partir da configuração do campo magnético em torno de um condutor, podemos supor qual o aspecto do campo magnético de uma única carga em movimento. Campo magnético em torno de um condutor. Campo magnético de uma carga positiva em movimento. As linhas do campo da partícula são círculos concêntricos em planos perpendiculares ao movimento, dados pela regra da mão direita para cargas positivas e pela mão esquerda para cargas negativas. Em ambos os casos o dedo polegar indica o sentido do deslocamento da partícula e os demais dedos indicam o sentido das linhas. A maior intensidade se concentra num plano perpendicular ao movimento e que passa pelo centro da carga. Para maior comodidade e simplicidade na representação, consideraremos daqui por diante o campo magnético da partícula concentrado apenas nesse plano. Nr Simplificação do campo de uma carga positiva em movimento. 170 Editora Ao Livro Técnico O campo magnético gerado por uma carga negativa tem linhas de força em sentido oposto, que podem ser obtidas pela regra da mão esquerda. x x V é v vista em corte frontal do campo vista em corte frontal do campo de uma partícula positiva de uma partícula negativa 4.2 - Força em uma carga em movimento dentro de um campo magnético. Quando uma partícula carregada entra em um campo magnético com certa velocidade, ocorrem interações entre esse campo e o campo gerado pela partícula de forma que surge uma força. Essa força atua sobre a partícula, alterando sua trajetória. 9 r...... . . 2 F 3 I — Partícula carregada se aproximando de uma região de campo magnético B. 2 — Partícula entra no campo. Surge uma força pela interação de campos. 3 — Desvio de trajetória, provocado pela força F. O sentido dessa força pode ser determinado analisando-se os sentidos dos campos. Observe no desenho acima que o campo gerado pela partícula carregada tem sentido contrário abaixo dela. Isso quer dizer que há uma soma de campos na parte superior e uma subtração na parte inferior à partícula. Para compensar esse desequilíbrio, surge uma força que puxa a carga para baixo na tentativa de aliviar o excesso de linhas na região acima dela e, ao mesmo tempo, suprir a falta de linhas na região abaixo dela. 4.3 — Regra de Fleming para forças Pode-se utilizar a já conhecida regra de Fleming, só que agora para determinação da força que age sobre a carga em movimento dentro de um campo magnético. Utilizam- se os três dedos principais da mão esquerda para cargas positivas e da mão direita para cargas negativas. Fundamentos de Eletromagnetismo 171 v V ..................... .• Os dedos devem ficar mutuamente perpendiculares sendo que o polegar indica o sentido da força que atua sobre a carga, o indicador o sentido do campo B e o dedo médio indica o sentido do deslocamento. indicador polegar médio mão direita Dependendo da carga da partícula, de sua velocidade, massa e do campo B, poderá ocorrer um movimento circular uniforme dentro do campo. Ou seja, ao penetrar no campo, a partícula passaria a executar um movimento circular ficando confinada na região de campo magnético. Na presença de atrito, ocorre uma diminuição gradativa da velocidade com conseqüente diminuição do raio da trajetória, até a partícula atingir o repouso. Partícula confinada em um campo magnético. F = força magnética Fc = força centrífuga Trajetória de uma partícula em uma região de campo magnético, sujeita a atrito. Se a partícula penetrar obliquamente ao campo, além do movimento circular, terá velocidade linear, que combinados promovem uma trajetória helicoidal. Trajetória helicoidal de uma partícula carregada. 172 Editora Ao Livro Técnico A magnitude da força que age em uma partícula carregada é dada pela equação: F = B.q.v.sen8 B Onde: F --> força que atua sobre a partícula carregada (N) B ---> indução magnética (T) q —> carga da partícula (C) v --> velocidade da partícula (m/s) sen0 —> seno do ângulo formado entre o vetor velocidade v e o vetor indução B Ao descrever uma trajetória circular dentro de um campo, uma partícula carregada fica também sujeita a uma força centrífuga, que atua em sentido contrário à da força magnética, cujo valor é dado por: F = R ,„-- ------ Onde: F --> força centrífuga (N) m —> massa da partícula (kg) v ---> velocidade da partícula (m/s) R --> raio da trajetória (m) Fundamentos de Eletromagnetismo 173 O equilíbrio entre a força centrífuga e a força magnética determina o raio da trajetória, ou seja, quando a força centrífuga e a força magnética forem iguais: F =F = Bqvsen0 Sendo O = 900 m v2 Bqv = R mv R= qB 4.4 — O efeito Hall Chama-se de efeito Hall, a geração de uma força eletromotriz transversal em condutores conduzindo corrente elétrica no interior de um campo magnético. Considere então uma barra condutora, por onde circula uma corrente elétrica, imersa em um campo magnético, conforme figura abaixo: A corrente elétrica flui com suas cargas uniformemente distribuídas na placa condutora. Entretanto, ao passar na frente dos pólos do ímã, surge uma força sobre as cargas, cujo sentido pode ser determinado pela regra de Fleming, ou analisando-se a interação entre o campo do ímã e os campos individuais das cargas. Para a situação ilustrada na figura, as cargas são forçadas a se concentrarem mais na parte superior da placa condutora, estabelecendo uma diferença de potencial entre a parte superior e inferior da mesma. 111V 2 R 174 Editora Ao Livro Técnico C) O -.111-- O mecanismo que gera essa diferença de potencial é conhecido como força eletromotriz de Hall, cujo valor é muito baixo, ficando normalmente na faixa de microvolts. Logo: O efeito Hall consiste em uma força eletiq motriz que atua transversalmente em relação ao fluxo de cargas em uma placa condutora imersa em um campo magnético. Apesar de ser uma força eletromotriz de valor muito baixo, existem interessantes aplicações para o gerador de efeito Hall. Uma delas é o sensor utilizado nos gaussímetros. O gaussímetro mede a intensidade de campo B através de uma ponta de prova que consiste de uma lâmina condutora que, sob a ação do campo magnético a ser medido, gera uma força eletromotriz de Hall. ponta de prova do gaussímetro Na figura acima é mostrado o percurso da corrente elétrica que o gaussímetro, através de uma pilha ou bateria interna injeta na lâmina condutora. Quando a ponta de prova é colocada no interior do campo a ser medido, surge uma força eletromotriz de Hall nos terminais designados por 1 e 2, que é proporcional ao campo. Essa força eletromotriz é aplicada ao mecanismo de bobina móvel (ver em 4.7 — O mecanismo de bobina móvel) do gaussímetro, que deflete seu ponteiro de forma proporcional. Então, quanto maior for a força eletromotriz de Hall, maior será a deflexão do ponteiro sobre a escala que, devidamente graduada em gauss, irá indicar a intensidade do campo magnético B que se está medindo. Essa força eletromotriz de Hall, também pode ser convertida através de circuitos integrados em sinais digitais e o valor do campo B ser expresso num mostrador digital. Uma outra aplicação para o efeito Hall é o amperímetro alicate para corrente contínua. A maioria dos amperímetros alicate utilizam o princípio da indução eletromagnética, ou Lei de Faraday. Entretanto, esse mecanismo só funciona para correntes alternadas, pois é necessário que o fluxo magnético que atua seja variável. Em se tratando de corrente contínua, só é possível a construção de um amperímetro alicate através do efeito Hall. O princípio de funcionamento é semelhante ao gaussímetro. O campo magnético, gerado pela corrente que se deseja medir, é Fundamentos de Eletromagnetismo 175 aproveitado para criar uma força eletromotriz de Hall no sensor, que é aplicada à bobina móvel do instrumento. Como a força eletromotriz de Hall é proporcional ao campo magnético, e este último é proporcional à corrente no condutor, teremos um instrumento capaz de defletir seu ponteiro sobre a escala, proporcionalmente à corrente no condutor. 4.5 — Força em um condutor conduzindo corrente no interior de um campo magnético Como vimos em 4.2 — Força em uma carga em movimento dentro de um campo magnético — uma carga elétrica se deslocando no interior de um campo magnético, sofre a ação de uma força. Podemos extrapolar essa ação para o caso de um condutor conduzindo corrente no interior de um campo magnético. Nesse caso uma quantidade muito grande de cargas elétricas elementares flui pelo condutor, cada uma ficando sob a ação de uma força. XXXXXXXXX X 'X X X x x x x xIx x x x x x x x Como as cargas estão vinculadas fisicamente à estrutura do condutor, é este último que acaba sofrendo a ação da força resultante sobre todas as cargas. Podemos determinar o sentido dessa força, analisando a interação entre o campo magnético produzido pela corrente no condutor e o campo magnético onde o condutor está imerso. Na ilustração acima, observamos que o sentido do campo criado pela corrente no condutor, determinado pela aplicação da regra da mão direita, é o mesmo que o do campo B na região abaixo do condutor e sentido contrário na região acima. A resultante entre os campos é vista na seqüência em vista frontal e lateral esquerda. f Fvista frontal do campo resultante vista lateral do campo resultante 176 Editora Ao Livro Técnico Torna-se clara então a existência de uma força atuando sobre o condutor no sentido indicado, para tentar restabelecer o equilíbrio entre as linhas de força. Pode-se também determinar o sentido dessa força pela aplicação da regra de Fleming. Para o caso de condutores, os dedos da mão esquerda (para sentido convencional de corrente), indicam: • dedo polegar: sentido da força que atua no condutor • dedo indicador: sentido do campo B • dedo médio: sentido da corrente no condutor O módulo da força será dado por: Onde: F B.I .1 F -4 força que age sobre o condutor (N) B -> indução magnética (T) intensidade de corrente que flui pelo condutor (A) comprimento do condutor imerso no campo (m) Se o condutor estiver inclinado em relação ao campo magnético, deve ser considerada a projeção do mesmo na perpendicular ao campo. B 'seri° Logo, a equação da força sobre o condutor fica: F — B I 1 sene , onde O é o ângulo formado entre o condutor e as linhas de força do campo B. Obs.: Sempre considerar o comprimento do condutor que efetivamente está imerso no campo, pois na parte de fora do campo não se produzem forças. Fundamentos de Eletromagnetismo 177 Fe F 4.6 — Torque em uma espiro Uma espira imersa em um campo B, conduzindo corrente elétrica, fica sujeita à forças que tendem a girá-la em torno de seu eixo de simetria. Considerando um campo B apontando para a direita no desenho abaixo e a espira assentada num plano paralelo ao campo, podemos determinar o sentido das forças individuais em cada lado da espira. Aplicando a regra de Fleming, as forças apresentam os sentidos indicados, ou seja, no lado esquerdo aponta para dentro do plano, enquanto que no lado direito aponta para fora. Isto gera um torque na espira, fazendo-a girar no sentido das forças. Observe que na parte superior e inferior da espira não há forças geradas, pois esses condutores estão paralelos ao campo (O =05. eixo (IQ simetria Lembrando da Física, que uma força gera um momento em relação a um ponto de aplicação: Momento = Força x Distância. Na posição em que se encontra no desenho abaixo, a espira fica sujeita ao máximo torque, visto que essa é a maior distância possível entre as forças e seus pontos de aplicação, que correspondem ao centro de simetria da espira. Podemos também entender a razão pela qual a espira tende a girar, analisando a interação entre o campo permanente B e o campo gerado pela espira H. Enquanto o campo magnético B possui linhas dirigidas à nossa direita, o campo H produzido pela corrente circulando na espira, apresenta linhas de força dirigidas para baixo. Como linhas de força não se cruzam, há uma tendência da espira girar até que suas linhas de força fiquem alinhadas com as do campo B. 13 Se a espira estiver livre para girar, ela girará no sentido anti-horário. Entretanto, à medida que gira, o torque atuante sobre a mesma vai diminuindo, uma vez que vai diminuindo a distância entre as forças e seus pontos de aplicação. O torque torna-se 178 Editora Ao Livro Técnico ponteiro eixo órgão antagônico nulo quando as forças ficam em oposição como mostra a seqüência da ilustração abaixo. Neste caso, a distância entre os pontos de aplicação das forças é igual a zero, o que anula o torque. Ou ainda, é nessa posição que as linhas de força dos dois campos adquirem mesma orientação. Resumindo, podemos dizer que uma corrente circulando em uma espira imersa em um campo magnético, produz um torque sobre a mesma fazendo-a girar até uma posição final de equilíbrio. iF ±d=0 4.7 — O mecanismo de bobina móvel Uma interessante aplicação prática do princípio do torque na espira, visto na seção anterior, é o mecanismo de bobina móvel, que é um dos dispositivos mais empregados na construção de amperímetros, voltímetros e outros instrumentos de precisão. O mecanismo é constituído de uma bobina imersa em um campo magnético. Para maior simplicidade na análise, representaremos essa bobina por uma única espira. escala órgão antagônico d Fundamentos de Eletromagnetismo 179 A espira se encontra dentro do campo magnético gerado pelo ímã permanente. Quando circula uma corrente I com o sentido indicado, surgem as forças em cada lado da espira. Aplicando-se a regra de Fleming, concluímos que, no condutor pintado, a força é dirigida para a esquerda, enquanto que, no condutor sem pintar, a força é dirigida para a direita. Donde se conclui que a espira tende a girar no sentido horário, até que o seu campo se alinhe com o campo do ímã permanente, o que ocorre quando o plano da espira ficar perpendicular ao campo, com o condutor sem pintar à direita no desenho. Essa orientação final da espira seria conseguida mesmo com uma baixa intensidade de corrente, suficiente apenas para vencer a inércia mecânica da espira. Entretanto, no mecanismo analisado, são utilizados órgãos antagônicos que são uma espécie de mola, que se opõem ao movimento de giro. Então, para uma determinada corrente aplicada, a espira irá assumir uma posição de repouso intermediária, justamente quando as forças de oposição das molas se igualarem às forças magnéticas na espira. Desta forma, o ponteiro acoplado ao eixo estacionará em alguma posição sobre a escala. Se a corrente I aumentar, as forças magnéticas (F = B.I.1) também aumentarão sobre cada lado da espira, fazendo-a girar mais um pouco, até que a força de restrição das molas novamente se iguale às forças magnéticas. Com isso, o ponteiro também avançará um pouco sobre a escala. Observamos, portanto, que o ponteiro se desloca sobre a escala proporcionalmente à corrente aplicada. Pode-se então construir a escala de tal forma que o ponteiro indique a corrente que foi aplicada à bobina, obtendo-se portanto um amperímetro. A escala devidamente modificada pode também indicar a tensão aplicada à bobina, visto que tensão e corrente se relacionam linearmente. Neste caso, teríamos um instrumento para medir tensões, ou seja, o voltímetro. Observe que, quando a corrente for zerada, a espira retorna à sua posição inicial de repouso, pela ação dos órgãos antagônicos. Os órgãos antagônicos são também utilizados para alimentar a bobina. Isto é, os terminais da bobina são conectados eletricamente um a cada órgão antagônico. Desta forma, a corrente elétrica chega até a bobina através dos órgãos antagônicos. Na prática, o circuito magnético do mecanismo de bobina móvel é melhorado para se obter campos magnéticos mais intensos, o que é conseguido com um núcleo ferromagnético cilíndrico fixo para a bobina, que obviamente continua móvel. bobina móvel com núcleo 180 Editora Ao Livro Técnico 4.8 — O motor de corrente contínua O princípio de funcionamento do motor de corrente contínua pode ser ilustrado por uma espira conduzindo corrente no interior de um campo magnético. Seja então a espira à seguir em diversas posições, onde o sentido da força em cada condutor é determinado pela regra de Fleming. Observamos na seqüência das figuras que, a partir da posição inicial tomada como referência, a espira gira pela ação das forças atuantes nos dois lados da mesma, até uma posição final, onde continuam existindo as forças, porém, sem exercer torque algum. Portanto, ainda não temos um motor, pois, para que possa ser caracterizado como tal, é necessário que a espira continue girando. Teremos então que tomar algumas providências para que isso se concretize. Vamos experimentar inverter o sentido da corrente na última figura da seqüência. A aplicação da regra de Fleming nos mostra que os sentidos das forças se invertem, mas infelizmente o torque continua zero visto que a distância relativa entre os pontos de aplicação das forças continua zero. Entretanto, se dermos uma pequena ajuda à espira, girando-aalguns graus no sentido horário, ela começará a girar de novo, porém executará apenas meia rotação, quando novamente as forças ficarão em oposição, anulando o torque. 13 Invertendo o sentido da corrente, o sentido das forças se invertem, porém o torque continua nulo. Forçando a espira a girar alguns graus, surge um torque e a espira gira. Meia rotação depois, a espira pára novamente. Fundamentos de Eletromagnetismo 181 Se quisermos que ela continue girando, devemos efetuar a mesma operação de inversão da corrente e darmos aquele pequeno impulso. É evidente que esse tipo de motor continua inviável. Vamos então imaginar algum dispositivo que possa inverter automaticamente a corrente toda vez que a espira assumir essa posição crítica. Dotando os terminais da espira de semi-anéis (anel bipartido), a própria alimentação da espira pode ser feita através de escovas em contato deslizante com esses semi-anéis. Esse conjunto recebe o nome de dispositivo coletor-escova. Na seqüência das figuras abaixo, vemos a corrente se inverter na espira, após a passagem pelo ponto crítico. 1 1 -+ -+ -+ Corrente entrando pelo A corrente passa diretamente Corrente entrando lado pintado. O torque de um anel a outro. O torque pelo lado não pintado. está quase se anulando . é nulo. Ponto crítico. O torque começa a crescer. Mas como ela irá passar pelo ponto crítico? Teremos que continuar prestando aquela pequena ajuda, ou seja, aquele pequeno impulso? Felizmente não! Na nossa análise anterior esperávamos a espira parar para então inverter o sentido da corrente e dar o pequeno empurrão. Como agora temos o dispositivo coletor-escova, a espira vem girando e com o embalo (devido à inércia), atravessa o ponto crítico fazendo a corrente se inverter e continua girando indefinidamente. Eis o princípio do motor de CC. 4.9 — Força entre condutores conduzindo correntes Quando dois condutores conduzindo correntes se encontram próximos entre si, os campos magnéticos que cada um cria interagem, gerando forças de atração ou repulsão entre eles. Por exemplo, sejam os dois condutores da ilustração seguinte, cujos sentidos de corrente são iguais em ambos. Os sentidos dos campos magnéticos correspondentes são determinados pela aplicação da regra de Ampère (mão direita). 182 Editora Ao Livro Técnico X X X X Fl X X X X X X X X X X XX X tX X 2XX X X X X X XX X X X XXX X X X X x X X X X X X X X X X X X X x X X X X X X X X X X X X X x As linhas de força geradas por 11 saem do plano do papel na região acima do condutor e entram na parte abaixo dele. Já a corrente 12 gera linhas de força com sentido saindo do plano do papel na região acima do condutor 2 e entrando no plano do papel na região abaixo do mesmo. Observamos que na região compreendida entre os dois condutores, as linhas de força têm sentidos contrários enquanto que na região fora do espaço compreendido entre os condutores, os campos têm sentidos coincidentes. Há então uma grande concentração de linhas de força fora do espaço compreendido entre os condutores e uma rarefação de linhas entre eles, visto que, tendo sentidos contrários, se anulam mutuamente. Para tentar restabelecer o equilíbrio na concentração de linhas, surge então uma força que atua no sentido de unir os dois condutores. Podemos também determinar o sentido dessas forças pela aplicação da regra de Fleming a cada um dos condutores. Assim, para determinar o sentido da força no condutor que conduz 1, consideramos o campo gerado pela corrente 12e vice-versa. Se os sentidos de corrente forem opostos nos dois condutores, haverá concentração de linhas de força na região entre eles e conseqüentemente a força será de repulsão. Podemos determinar a intensidade da força que age entre os condutores pela aplicação da equação da força em um condutor imerso em um campo: F = B.1.1.sert0. Neste caso, B é o campo gerado por um dos condutores exatamente no local onde se encontra o outro condutor. Sejam então dois condutores separados por uma distância d. condutor conduzindo urna corrente 1, dentro de um campo B / i t X X X X X X X X X X XX X X xxxxxxxxxxxxx x condutor conduzindo uma corrente 1„ que gera uni campo B a uma distância d Fundamentos de Eletromagnetismo 183 O campo B gerado pelo condutor que conduz 12, é dado conforme a equação vista em Unidade II, 1.3 - Intensidade de campo em torno de um condutor. B = µ.012/21cd O ângulo 8 é o ângulo entre as linhas de força e o condutor. As linhas de força geradas por um dos condutores são perpendiculares ao outro condutor (0=900). Então: F = B.1.1sen9 F = B.11.1.sen90° F = (µ01/27cd).1/.1 F = µ0111,1/27cd Onde: F força que atua entre os condutores (N) 1,, Iz -› corrente nos condutores (A) I -4 comprimento individual dos condutores (m) d distância entre os condutores (m) - permeabilidade do vácuo (H/m) Se substituirmos o valor de µ0, teremos: F = 4n.10-7.1 117.1/2nd F = 2.10-7 11 12 1/d Passando o comprimento I para o lado esquerdo do sinal de igual, teremos a força por unidade de comprimento ou a força por metro de comprimento que age no condutor. F 2.10-71,12 1 d 184 Editora Ao Livro Técnico Observamos que a constante 10-7 faz com que a força seja muito pequena para correntes elétricas de baixa intensidade. A força só atinge intensidades significativas para distâncias pequenas e correntes elevadas, como no caso de curto-circuitos. Em tais circunstâncias, condutores alojados em bandejas em instalações industriais, por exemplo, podem saltar para fora das mesmas sob a ação das forças magnéticas, caso não estejam firmemente amarrados. 4.10 — Extinção de arco voltaico através de sopro magnético Quando um circuito indutivo é interrompido através de um interruptor ou disjuntor, ocorre um faiscamento entre os contatos (Veja Unidade III, 2.9 — Por que surge uma faísca ao se desligar um circuito que contenha bobinas?). Essa faísca é chamada de arco voltaico e consiste na continuidade da corrente a fluir através do ar entre os contatos do dispositivo interruptor, aquecendo-os a ponto de vaporizá- los parcialmente em alguns casos. Portanto, para preservar e proporcionar longa vida útil aos contatos, é necessário que o arco seja extinguido rapidamente. Arco voltaico ocorrendo durante a abertura de contatos Uma das maneiras de extinguir o arco rapidamente é através de um arranjo geométrico dos condutores próximos aos contatos, que aproveita as forças magnéticas devidas à corrente elétrica para "empurrar" o arco voltaico para fora da região entre os contatos. Esse dispositivo é chamado de sopro magnético, pois funciona como se o arco fosse soprado para fora da região dos contatos. Vejamos como esse dispositivo funciona. No desenho abaixo são mostrados os contatos de um dispositivo interruptor, com o contato fixo preso a um condutor dobrado. contato móvel campo gerado pelo arco 2 campo gerado pela corrente nos condutores • . •14 • • xxxxxxxx xx x x x x x x contato fixo Fundamentos de Eletromagnetismo 185 arco sendo extinguido XXX X X X X X X x x XXX x x x x O campo magnético gerado pela corrente devido ao condutor dobrado e ao condutor reto do contato móvel formam um campo com linhas de mesmo sentido na região entre os contatos. Assim, o arco voltaico fica imerso nesse campo. O fluxo de cargas elétricas, que constituem o arco voltaico, caracterizam uma corrente elétrica circulando por um caminho não perfeitamente definido através do ar. Isto nos permite comparar o arco voltaico a um condutor conduzindo corrente elétrica. Sendo assim, o arco voltaico produz também um campo magnético, cujas linhas de força se somam às linhas de força da corrente nos condutores reto e dobrado, à direita do arco. Sendo assim, há uma interação entre esses campos, resultando em forças magnéticas que agem em cada carga elétricaque constitui o arco voltaico. Aplicando a regra de Fleming para forças, concluímos que o sentido da mesma é para a esquerda. Ou seja, o arco voltaico é solicitado por uma força que o empurra para a esquerda, extinguindo-o rapidamente. Nos disjuntores, conforme suas aplicações em relação ao nível de tensão, o dispositivo de sopro magnético pode receber acessórios e melhoramentos visando otimizar sua performance, tais como bobina de sopro, câmaras de extinção de arco, etc. Entretanto, o princípio de funcionamento permanece inalterado. 4.11 — Exercícios resolvidos A — Determinar o módulo e o sentido da força que atua na partícula do esquema abaixo: B=0,8T 186 Editora Ao Livro Técnico Solução: Inicialmente convertendo todas as unidades das grandezas para o sistema internacional de unidades: v = 10.103 m/s 'q = 1.10-6 C Sendo: F= Bqvsen0 F= 0,8.1.10-6.10.103.0,5 F= 4.10-3 N Sentido da força: para dentro do plano da folha. B — Um próton é acelerado em um bétatron, cujo diâmetro é 8 m. A indução nos eletroímãs do bétatron em determinado instante é de 0,5 T. Calcule a velocidade do próton nesse instante. Dados: mp= 1,672.10-24 g qp= 1,6.10-19C Solução: No bétatron, as cargas sempre viajam perpendicularmente ao campo, logo 0=90°. Usando a identidade: M V 2 Bqv = — R Isolando a velocidade v, temos: BqR v= /12 0,5.1,6.10-19.4 v= 1,672.10-24.10 3 v=1,91.108m/s C — Determine a força por unidade de comprimento que atua entre dois condutores paralelos, separados pela distância de 5 mm, conduzindo correntes iguais a 25 A. F 2.10-7 1,12 F 2.10-7.25.25 1 d 1 5.10-3 = 25.10-3N/m 1 Fundamentos de Eletromagnetismo 187 20 cm xxxxxxxxxxx 2 A X X X X X X X X X X X XX X x X X X XX X x B = 0,1 T 0=90° 20 cm 4.12 — Exercícios propostos A — Determine a intensidade e o sentido da força que atua nos condutores dos casos abaixo: a) b) X X X X X X XX X X X B=0,8T d) 800gWb B — Calcule a força que atua sobre cada condutor de um rotor de motor de corrente contínua, sabendo-se que a indução magnética gerada nas sapatas polares é de 0,75 T e que o comprimento de cada condutor sob a ação do campo magnético é de 10 cm. A corrente que circula nos condutores é de 6 A. C — Dois condutores, fase e neutro, encontram-se dentro de um eletroduto de 3 m de comprimento, separados pela distância média de 0,5 cm. Sabendo-se que a tensão eficaz entre fase e neutro é igual a 127 V, determine a intensidade e o sentido das forças que agem entre os condutores quando uma carga de 5 kW estiver sendo alimentada. D — Em um barramento, cuja distância entre os condutores é de 2 cm e comprimento 2 m, ocorre um curto-circuito. Nesse instante, a corrente assume o valor de 1800 A. Calcule a intensidade das forças que agem entre os barramentos. Á 3A 10 cm ... B = 1 T 0=90" 188 Editora Ao Livro Técnico detalhe dos anéis (mancais) ( para a pilha condutor rígido E — Um dispositivo chamado câmara de bolhas é utilizado para observar o rastro deixado por partículas carregadas injetadas em alta velocidade. Nessa câmara é aplicado um forte campo magnético para que as partículas executem um movimento circular. Como existe atrito, o raio da trajetória vai diminuindo até a partícula atingir o repouso. Considere então que se observou que uma partícula entrou na câmara de bolhas, descrevendo uma trajetória com raio inicial de 20 cm. Conhecendo-se a indução da câmara que equivale a 2,5 T e sabendo-se que a velocidade com que a partícula foi lançada é de 10 km/s, determine a relação entre a massa e a carga da partícula. 4.13 — Sugestões para laboratório Força em um condutor conduzindo corrente no interior de um campo magnético. Objetivo: Comprovar a ação das forças magnéticas que agem em condutores sujeitos a campos magnéticos. Material necessário: item quant. unid. especificação 01 01 pç pilha de 1,5 V 02 01 m condutor rígido de 0,5 mm 2 03 01 pç ímã permanente em forma de barra 04 01 pç suporte de madeira Procedimento: Molde o condutor rígido, conforme ilustração abaixo, colocando suas pontas devidamente desencapadas nos anéis que servirão de mancais, permitindo o livre deslocamento do mesmo. Fundamentos de Eletromagnetismo 189 condutores Os mancais podem ser feitos de um pedaço de condutor desencapado dobrado, adequadamente fixo à madeira. Ou ainda, uma pequena arruela presa ao suporte de madeira. Outras alternativas podem ser utilizadas, bastando usar a imaginação. Coloque o ímã embaixo ou ao lado do fio. Utilizando cabos de ligação, conecte a pilha aos anéis que suportam o condutor rígido, observando que haja bom contato elétrico entre os anéis e as pontas do condutor. O condutor deverá ser atraído ou repelido pelo ímã. Caso a força seja muito pequena, utilize duas pilhas em série. Isto fará com que a corrente no condutor seja maior e consequentemente maior será também a força (F = B11). Comprove o sentido da força que age sobre o condutor, aplicando a regra de Fleming. Para determinar o sentido de corrente no condutor, lembre que a corrente sai do pólo positivo da pilha em direção ao pólo negativo. Inverta o sentido de corrente no condutor e observe o sentido da força, comprovando pela regra de Fleming. Inverta os pólos do ímã e repita o procedimento. Se houver disponibilidade de outros ímãs mais fortes ou mais fracos, você pode comparar a força devido à ação de cada um deles (F = B11). Força entre condutores conduzindo corrente elétrica. Objetivo: Comprovar a existência de forças magnéticas entre condutores conduzindo corrente elétrica. Material necessário: item quant. unid. especificação 01 01 pç módulo de alta corrente 02 01 pç interruptor 03 01 m condutor de cobre 1,5 mm2 04 01 pç suporte de madeira 05 05 pç cabo de ligação Procedimento: Inicialmente devem ser presos dois condutores sobre o suporte de madeira, de tal forma que fiquem bem próximos e paralelos. 190 Editora Ao Livro Técnico Fios presos ao suporte de madeira. REPULSÃO ' 200 esp. 10 esp. Fios presos ao suporte de madeira. ' 200 esp. 10 esp. ATRAÇÃO Proceda a ligação do módulo de alta corrente aos fios para verificar a força de repulsão e posteriormente a força de atração conforme os esquemas a seguir. Não esquecer de retirar a camada isolante da ponta dos fios. Ao ligar o interruptor, a corrente na bobina secundária irá assumir um valor alto, pois está praticamente em curto-circuito. Com isto, poderá ser observada a força atuante entre os fios. núcleo desmontável núcleo desmontável Note que utilizamos corrente alternada, pois se fosse corrente contínua, o transformador não funcionaria (Lei de Faraday). E sem o transformador não podemos dispor de uma corrente elevada, pois o disjuntor que protege os circuitos são normalmente em torno de 20 a 30 A, o que é pouco para a nossa comprovação. O fato da corrente alternada mudar periodicamente de sentido não modifica o sentido das forças atuantes, visto que a corrente nos dois fios se invertem simultaneamente. Fundamentos de Eletromagnetismo 191 5 ACOPLAMENTO MAGNÉTICO 5.1 — Fluxo mútuo e fluxo de fuga Quando o fluxo magnético produzido em um circuito envolve parcial ou totalmente outro circuito, dizemos que ambos estão acoplados magneticamente. Por exemplo, uma bobina gerando um fluxo magnético através de uma corrente nas proximidades de outra bobina. Observamos que parte do fluxo enlaça também a outra bobina. Chamamos de bobina primária aquela que está energizada por uma fonte externa e de bobina secundária aquela que se encontra desenergisada pela fonte externa. Logo, há acoplamento magnético entre ambas. Se as bobinas forem aproximadas ainda mais, o acoplamento melhorará, pois uma parcela maior de fluxo enlaçará a bobina secundária. No entanto, para se conseguirbons níveis de acoplamentos, o que é desejável para uma série de aplicações práticas, torna-se necessária a utilização de um circuito magnético. No estudo de circuitos magnéticos, mostramos que uma bobina enrolada em um circuito magnético, pode fazer fluir um fluxo, gerado pela magnetização do núcleo. A seqüência que gera o fato seria: uma corrente é aplicada à bobina, criando um campo H. Esse campo magnetiza o núcleo gerando o campo M, que por sua vez é o principal responsável pelo fluxo que irá circular pelo circuito magnético. Ressalte-se que a magnetização não é constante ao longo do núcleo, sendo maior na parte do núcleo envolvida pela bobina primária, onde o campo magnetizante H atua diretamente. Sendo assim, a orientação dos domínios magnéticos, que é o fator gerador do campo M, fica como ilustrado na figura a seguir. 192 Editora Ao Livro Técnico 5 ACOPLAMENTO MAGNÉTICO 5.1 — Fluxo mútuo e fluxo de fuga Quando o fluxo magnético produzido em um circuito envolve parcial ou totalmente outro circuito, dizemos que ambos estão acoplados magneticamente. Por exemplo, uma bobina gerando um fluxo magnético através de uma corrente nas proximidades de outra bobina. Observamos que parte do fluxo enlaça também a outra bobina. Chamamos de bobina primária aquela que está energizada por uma fonte externa e de bobina secundária aquela que se encontra desenergisada pela fonte externa. Logo, há acoplamento magnético entre ambas. Se as bobinas forem aproximadas ainda mais, o acoplamento melhorará, pois uma parcela maior de fluxo enlaçará a bobina secundária. No entanto, para se conseguir bons níveis de acoplamentos, o que é desejável para uma série de aplicações práticas, torna-se necessária a utilização de um circuito magnético. No estudo de circuitos magnéticos, mostramos que uma bobina enrolada em um circuito magnético, pode fazer fluir um fluxo, gerado pela magnetização do núcleo. A seqüência que gera o fato seria: uma corrente é aplicada à bobina, criando um campo H. Esse campo magnetiza o núcleo gerando o campo M, que por sua vez é o principal responsável pelo fluxo que irá circular pelo circuito magnético. Ressalte-se que a magnetização não é constante ao longo do núcleo, sendo maior na parte do núcleo envolvida pela bobina primária, onde o campo magnetizante H atua diretamente. Sendo assim, a orientação dos domínios magnéticos, que é o fator gerador do campo M, fica como ilustrado na figura a seguir. 192 Editora Ao Livro Técnico Veja que os domínios na parte do núcleo onde está a bobina primária, se orientam pela ação do campo H da bobina, enquanto que os demais são orientados pelos próprios domínios que já se orientaram. Isso justifica o menor índice de alinhamento dos domínios mais distantes da bobina primária. Como conseqüência disso, a distribuição de fluxo no núcleo fica como ilustrado abaixo: Observamos que uma parcela do fluxo total, que atravessa a bobina primária, não chega à bobina secundária. À essa parcela de fluxo, denominamos de fluxo de fuga. E o fluxo que circula dentro do circuito magnético, que é compartilhado com ambas as bobinas, é chamado de fluxo mútuo. Nos desenhos abaixo, são mostrados os fluxos para corrente aplicada na bobina 1 (1,) e corrente aplicada na bobina 2 (12). 4), , fluxo total (Wb) o, , 02 , --> fluxo de fuga (Wb) 0. 2 , 0, 1 --> fluxo mútuo (Wb) Já que o fluxo total se divide em duas parcelas, uma relação matemática óbvia pode ser escrita: (1) ! 011 4" 012 42 02.1 + 022 Fundamentos de Eletromagnetismo 193 A nomenclatura utilizada deve ser interpretada pela ordem de seus índices. Por exemplo: --> fluxo gerado na bobina 1 e que enlaça também a bobina 2. —> fluxo gerado na bobina 1, que fica vinculado apenas à bobina 1. 5.2 — Coeficiente de acoplamento Observamos que a presença de um circuito magnético melhora o acoplamento magnético entre duas bobinas. É certo porém que, dependendo do material e da geometria do núcleo, poderemos ter acoplamentos com maior ou menor fluxo mútuo. Para referenciar quantitativamente um acoplamento magnético, utilizamos o conceito de coeficiente de acoplamento. Coeficiente de acoplamento é a razão entre o fluxo mútuo e o fluxo total produzido em um circuito magnético. • Matematicamente: k = 01.2 k= 02 0 02 onde k é o coeficiente de acoplamento. Observe que o coeficiente de acoplamento é adimensional, pois a unidade weber no numerador simplifica com a mesma unidade weber no denominador. Note também que o maior valor possível para o coeficiente de acoplamento corresponde à unidade (k=1). Neste caso, teríamos a situação ideal onde todo o fluxo gerado em uma das bobinas envolveria também a outra bobina, sem haver fluxo de fuga. 5.3 — Questões relativas à geometria do núcleo Quando um campo magnetizante H atua no circuito magnético, observamos que um campo M é induzido e que os domínios magnéticos ao longo do núcleo não se alinham igualmente. Se o material tiver boa permeabilidade magnética, o que se traduz em uma grande facilidade na orientação dos domínios, teremos uma grande parcela de domínios orientados ao longo do núcleo. Podemos extrapolar o raciocínio para um hipotético material que possua permeabilidade infinita. Nesse caso, todos os domínios do núcleo se alinham por igual e o resultado é que o fluxo do campo M é o mesmo ao longo de todo o núcleo. 194 Editora Ao Livro Técnico Todos os domínios são orientados em O luxo do campo M circula pelo um material com permeabilidade infinita. interior do núcleo. Entretanto, continuamos tendo parcela de fluxo de fuga, que é justamente o fluxo do campo H da bobina. Portanto, apesar de estarmos considerando um material ferromagnético perfeito (permeabilidade infinita), ainda não conseguimos um acoplamento magnético perfeito (k=1). Isto só será conseguido com boa aproximação se o núcleo tomar a forma de um anel e o enrolamento for distribuído em toda a sua extensão. Um enrolamento, assim disposto, recebe o nome de toróide. A forma circular permite um alinhamento uniforme dos domínios. A distribuição do enrolamento por toda a extensão do núcleo é necessária para que a saída do fluxo por um dos lados da bobina fique exatamente em frente à entrada no outro lado da mesma. É o equivalente a termos uma bobina reta, longa, e a encurvarmos, fazendo uma ponta coincidir com a outra. O fluxo magnético, que sai por uma das pontas da bobina reta, flui pelo ar até chegar à outra ponta. Quando unimos as duas pontas, o fluxo magnético flui diretamente de uma ponta a outra, ficando totalmente confinado no interior do núcleo. Nesta situação, nem mais precisamos de um material ferromagnético perfeito para se conseguir um acoplamento Fundamentos de Eletromagnetismo 195 perfeito, pois existirá campo magnetizante para orientar os domínios de maneira uniforme em toda a extensão do núcleo. Portanto, se quisermos um acoplamento magnético perfeito, basta que a bobina primária seja enrolada na forma de um toróide e a bobina secundária, enrolada sobre a primária, não necessariamente em toda a extensão do núcleo. bobina primária bobina secundária acoplamento magnético perfeito Naturalmente a forma toroidal não é a mais usual na prática por questões relacionadas às dificuldades construtivas da mesma. Felizmente existem outras configurações geométricas capazes de proporcionar um acoplamento magnético quase tão bom quanto a do toróide e são utilizados principalmente na construção de transformadores. Uma das formas geométricas mais utilizadas é a ilustrada abaixo. As bObinas primária e secundária são enroladas uma sobre a outra na coluna central do núcleo. Quando uma corrente é aplicada à bobina primária, o fluxo se distribui igualmente pelos dois braços laterais do circuito. VII VII • 1111111: Observamos que, apesar de existir uma pequena parcela de fluxo quenão circula pelo circuito magnético, ao menos garante-se que praticamente a totalidade do fluxo que atravessa a bobina primária passa também pela bobina secundária, visto que ambas se encontram sobrepostas. Desta maneira, o fluxo de fuga da bobina primária em relação à secundária vai se dar apenas em algumas espiras, o que em termos práticos torna-se desprezível. Observe no desenho que a coluna central possui o dobro da seção transversal das colunas laterais, visto que o fluxo também é o dobro. Assim, garante-se uma indução magnética (B=4/S) constante em todo o núcleo. Pelo fato desta configuração apresentar dois caminhos para o fluxo, este núcleo é considerado um circuito magnético paralelo. 196 Editora Ao Livro Técnico 5.4 — O transformador Os circuitos magnéticos que discutimos na seção anterior são particularmente úteis na construção de transformadores. Embora a maior parte dos transformadores seja feita com circuitos magnéticos paralelos que propiciam um melhor acoplamento magnético, utilizaremos o circuito magnético série em nossas análises por ser didaticamente mais interessante. Sejam então as bobinas acopladas magneticamente abaixo: Transformador Transformador é um aparelho capaz de transformar uma tensão V; aplicada ao primário em uma tensão V, disponível no secundário. Naturalmente, pela lei de Faraday, é necessário que a tensão aplicada ao primário seja variável, para que possa ser induzida uma tensão no secundário. O transformador na prática é utilizado para transformar tensões alternadas senoidais. Considere então, uma fonte senoidal aplicada ao primário, com a polaridade instantânea como indicado. A corrente I, gera o fluxo total 0,, variável no tempo. Esse fluxo faz surgir uma força eletromotriz na bobina primária (normalmente chamada de força contra eletromotriz, devido aos efeitos previstos pela Lei de Lenz), que tende a criar uma corrente contrária para tentar impedir as variações do fluxo o,. Essa força eletromotriz é calculada por: v = N AO' 1 1 At Fundamentos de Eletromagnetismo 197 Enquanto isso, a bobina secundária está sujeita às variações senoidais da parcela de fluxo que a está envolvendo, (1), 2, e portanto uma força eletromotriz também está sendo gerada: V 2 = N2 001.2 At Resumindo, a bobina primária é atravessada pelo fluxo total dh, enquanto que a secundária pelo fluxo mútuo 0, 2. Como esses fluxos são variáveis no tempo (variação senoidal), pela Lei de Faraday, cada bobina ficará sujeita a uma força eletromotriz induzida: , v1 = —N I A ' v2 = N, A A O - At - At Sabendo-se Sabendo-se que: k _ 0'.z 0 e portanto: 01.2 k01 podemos reescrever a equação de v2 como: v2 = —N2k AO ' At` Agora podemos obter uma relação entre v, e v2, dividindo uma equação pela outra OA = At Ak V2 = — N2 At As letras minúsculas v, e v2 representam as tensões primária e secundária na sua forma instantânea. Normalmente, quando tratamos de tensões em transformadores, nos interessam os valores eficazes, que são representados por letras maiúsculas. A relação acima também é válida para valores eficazes e portanto podemos escrever: N, V, — - k N, V —N, N - k v v2 - N2 k N2 v2 198 Editora Ao Livro Técnico Quando desprezamos o fluxo de fuga e consequentemente consideramos o acoplamento magnético como sendo perfeito (k = 1), obtemos a seguinte relação: N2 V, Essa é, então, a chamada relação de transformação para um transformador. A relação anterior, que considera o coeficiente de acoplamento, costumamos chamar de relação de transformação corrigida. 5.5 — Funcionamento do transformador com carga Se conectarmos uma carga ao secundário de um transformador, a corrente que irá circular por ela e também pela bobina secundária ocasionará alterações em uma série de variáveis do circuito magnético. 1, ` ti ) v, R Pela Lei de Lenz, a corrente I, deverá circular com sentido tal que seu fluxo se oponha ao fluxo que a originou, ou seja, ()12. Supondo I, crescente no instante analisado, teremos que o fluxo criado por 12, que chamaremos de fluxo de reação (40 por ser de sentido contrário ao de 01.2, faz com que haja uma redução do fluxo no circuito magnético. Desta forma, também há uma redução nas tensões geradas nas bobinas primária e secundária (v = -Ná,ó/át). Só que uma redução na tensão gerada na bobina primária faz aumentar a corrente I,. Isto porque a corrente I, é dada pela diferença entre a corrente produzida pela fonte (1f) e a corrente produzida pela tensão gerada na bobina primária (lb), ou seja: I, = 1f — i b. Como 1b tornou-se menor devido a diminuição da tensão gerada na bobina primária e 1f manteve o seu valor inicial, teremos 1, agora maior. Mas I, aumentando, o fluxo 4)1 , também aumenta, fazendo com que o fluxo resultante no circuito retorne ao seu valor original. Naturalmente, todos esses fatos se processam quase que instantaneamente. Se fizéssemos a mesma análise para um instante onde I, estivesse decrescendo, teríamos o fluxo de reação com mesmo sentido e portanto se somando ao fluxo 012 Neste caso, 1, também Fundamentos de Eletromagnetismo 199 aumentaria porque a força eletromotriz induzida na bobina primária teria polaridade contrária à anterior, fazendo a corrente induzida lb se somar à corrente da fonte lt Seja qual for o caso, teremos então preservado o mesmo valor de fluxo magnético no interior do núcleo, independente se o transformador está a vazio, com pouca carga ou à plena carga. A potência aparente que a carga necessita, dada por S2=V21 2 é então transferida da fonte CA senoidal através do circuito magnético. Portanto, o incremento no valor de 1,, multiplicado pela tensão V1 , deve corresponder à potência S2. Desprezando o valor de 1, com o transformador a vazio e desprezando também as perdas envolvidas, podemos estabelecer a seguinte relação: S2 = V2 12 S,=S2, logo: ou V i l,=V212 S, = Vi l, 5.6 — Exercícios resolvidos A — Uma tensão de 100 V é aplicada ao primário de um transformador onde o número de espiras é 500. No secundário, o número de espiras é 1000. Considerando o coeficiente de acoplamento igual a 1, determine a tensão secundária. Solução: Sendo k = 1, utilizaremos a relação de transformação: N, V, V, 500 100 V2 = 200V N, 1000 V, B — Duas bobinas, sendo a primeira com 250 espiras e a segunda com 100 espiras, estão acopladas magneticamente com coeficiente 0,9. Determine qual a tensão secundária, se a tensão primária for igual a 200 V. Solução: Utilizando a relação de transformação corrigida: N, — fr V, 250 = 0,9 200 N„ V2 100 V2 V2 = 72V V,/V2 = 12/11 200 Editora Ao Livro Técnico C — Duas bobinas são dispostas em um circuito magnético de forma que se encontram acopladas magneticamente. Quando uma corrente é aplicada à primeira bobina, gera-se um fluxo total de 300 mWb. Destes, apenas 180 mWb atravessam também a segunda bobina. Determine o coeficiente de acoplamento entre elas. Solução: O fluxo total equivale a 300 mWb e o fluxo mútuo é igual a 180 mWb. Aplicando a equação que define o coeficiente de acoplamento: k=.012 k- 180.10-3 300.10-3 k = 0,6 5.7 - Exercícios propostos A — Determine o coeficiente de acoplamento entre dois circuitos acoplados magneticamente onde o fluxo total gerado corresponde a 400 mWb, sendo que 40 mWb se dispersam em forma de fluxo de fuga. B — Em um acoplamento magnético, o fluxo de fuga corresponde a 2% do fluxo mútuo. Determine o coeficiente de acoplamento. C — Em um transformador com N1 = 300 espiras e N2 = 500 espiras, aplica-se uma tensão alternada de 250 V na bobina 1. Medindo-se a tensão na bobina 2, encontra-se um valor equivalente a 400 V. Determine o coeficiente de acoplamento. D — Um transformador está sendo construído em um núcleo que proporciona um coeficiente de acoplamentoigual a 0,94. A tensão primária será de 220 V. O número de espiras da bobina primária será igual a 1500. Desejando-se que a tensão secundária seja exatamente 127 V, determine o número de espiras da bobina secundária. E — Um transformador possui 1000 espiras no primário e 1000 espiras no secundário. O coeficiente de acoplamento é igual a 0,9. Deseja-se que a tensão secundária seja igual a 200 V. Qual deverá ser a tensão aplicada à bobina primária? 5.8 — Sugestões para laboratório Determinação do coeficiente de acoplamento Objetivo: Determinar experimentalmente o coeficiente de acoplamento entre duas bobinas acopladas magneticamente. Fundamentos de Eletromagnetismo 201 Material necessário: item quant. unid. especific.ação 01 02 pç bobina (n° esp. entre 300 a 1800 esp.) 02 01 pç núcleo desmontável 03 01 pç multímetro 04 04 pç cabo de ligação 05 01 pç fonte CA regulável 0-240 V Procedimento: Coloque as bobinas no núcleo desmontável e aplique uma tensão alternada à bobina 1 através da fonte, com valor qualquer entre 50 a 200 V. núcleo desmontável Meça a tensão no secundário utilizando o multímetro, estando este preparado previamente para medir tensão alternada. Através da equação da relação de transformação corrigida, determine o coeficiente de acoplamento. NI = k VI N2 V2 — 202 Editora Ao Livro Técnico INDUTÂNCIA 6. / - Definição de indutância A indutância, também chamada de coeficiente de auto-indução, ou auto- indutância, é uma grandeza que caracteriza uma bobina. Define-se como: Indutéincia é a razão entre o número de enlaces de fluxo por unidade de corrente. Matematicamente: L N Onde: L --> indutância em henry (H) N número de vezes que o fluxo (i) enlaça a corrente I (1) —> fluxo que enlaça as N espiras (Wb) I —> corrente enlaçada (A) Entende-se por enlace de fluxo a cada vez que o fluxo fechar seu caminho envolvendo a corrente. Por exemplo: As linhas de força se fecham enlaçando As linhas de força enlaçam a corrente duas a corrente uma única vez. vezes ao fecharem seu percurso. Quando se trata de uma única espira, sempre o fluxo total gerado enlaça uma única vez a corrente. Porém, quando forem mais espiras, teremos parcelas de fluxo Fundamentos de Eletromagnetismo 203 que enlaçam algumas vezes a corrente e outras parcelas que enlaçam um número diferente de vezes a corrente. Linha de força enlaçando a corrente três vezes. Linha de força enlaçando a corrente uma única vez. Entretanto, se as N espiras estiverem bem unidas, poderemos considerar com razoável precisão que o fluxo total enlaça a corrente N vezes em uma bobina reta comprida. E em um solenóide toroidal, o fluxo total enlaça a totalidade das espiras. Nestas circunstâncias, a equação da indutância poderá ser interpretada de forma mais simplificada como: L = N — I Onde: L -9 indutância em henry (H) N --> número de espiras --> fluxo total que atravessa a bobina (Wb) I corrente que circula pela bobina (A) Ao considerar na fórmula que (I) é o fluxo total que atravessa o interior da bobina, devemos estar cientes de que isto é apenas uma aproximação da realidade para a maioria das situações práticas, o que dependerá principalmente da geometria da bobina. Valores típicos de indutância podem variar desde microhenries (µH) até algumas dezenas de henries. Por exemplo, as bobinas de um pequeno transformador podem apresentar indutâncias em torno de 50 H enquanto que bobinas retas com número de espiras em torno de 1000 e dimensões de alguns centímetros e possuindo núcleo de ar podem apresentar indutância de apenas algumas dezenas de milihenries. 204 Editora Ao Livro Técnico 6.2 — Indutância de bobinas com núcleo ferromagnético Considerando que o fluxo magnético é devido ao campo B e este último, salvo os ímãs permanentes, é criado pela corrente elétrica, podemos dizer que há uma dependência explícita do fluxo com a corrente. Mais precisamente, o fluxo magnético depende diretamente da corrente elétrica. Em meios como o vácuo ou o ar, essa dependência é linear, ou seja, se a corrente aumenta em uma bobina, o fluxo magnético criado aumenta exatamente na mesma proporção. Entretanto, em materiais ferromagnéticos essa dependência não é linear. Basta lembrarmos das curvas de magnetização para materiais ferromagnéticos. R(T) H(A/m) O eixo das ordenadas pode ser convertido para fluxo pela conhecida relação (1)— B.S e o eixo das abcissas pode ser convertido para corrente através da fórmula de campo H da bobina que está gerando o campo. Por exemplo, se for uma bobina muito longa, o campo é dado por H = N.I/1. Logo, I = H.I/N. Desta forma, a curva de magnetização, mantendo a mesma forma, pode expressar a dependência do fluxo magnético com a corrente elétrica. (Wb) 1(A) Vejamos quais as implicações que esse fato gera. Quando o fluxo varia linearmente com a corrente como ocorre com o vácuo e ar, aumentos ou diminuições no valor da corrente não afetam o valor da indutância. Por exemplo, em uma bobina de 10 espiras, o fluxo gerado por uma corrente de 1 A é 1 11.1Nb. Logo, a indutância será: L = 10. 1. 10-6/ 1, L=10.10-6 H. Se a corrente dobrar de valor, sabemos que o fluxo também dobrará e a indutância será: L= 10.2.10-6/2, L=10.10-6 H. Portanto, a indutância permanece com o mesmo valor, independente da corrente que está nela circulando. Fundamentos de Eletromagnetismo 205 Por outro lado, se a bobina estiver enrolada em um núcleo ferromagnético fechado, quando a corrente assumir determinado valor, teremos a indutância calculada pela fórmula L=N(1)/1. Se a corrente dobrar de valor, por exemplo, o fluxo aumentará, mas não na mesma proporção, ou seja, não dobrará de valor, pois não é uma relação linear. Isto fará com que o valor da indutância não seja o mesmo para os dois valores de corrente aplicados à bobina. Resumindo, para meios ferromagnéticos a indutância varia conforme a corrente aplicada. Apesar disso, há partes da curva de magnetização com trechos aproximadamente lineares. Nestes, podemos considerar a indutância constante, independente do valor da corrente. Ressalte-se que a indutância de uma bobina com N espiras com núcleo ferromagnético pode ser dezenas de vezes superior a uma mesma bobina com N espiras e núcleo de ar. Isto acontece porque com uma mesma corrente aplicada à bobinas idênticas, porém, uma com núcleo ferromagnético e outra com núcleo de ar, se consegue gerar muito mais fluxo magnético na bobina com núcleo ferromagnético. Em situações práticas, onde se deseja indutância elevada, mas com valor constante, isto é, independente da corrente elétrica, utiliza-se núcleo ferromagnético com um pequeno entreferro. Isto torna a dependência do fluxo com a corrente elétrica praticamente linear, pois um entreferro, mesmo pequeno, exige uma elevada força magnetomotriz para que o fluxo possa transpô-lo. Assim, o comportamento do fluxo frente a corrente passa a ser um misto entre bobina com núcleo ferromagnético fechado e bobina com núcleo de ar, onde prevalecem as características desta última. 6.3 — Fatores que influenciam na indutância de uma bobina Do que foi exposto nos tópicos anteriores, podemos concluir que a indutância de uma bobina depende de certos fatores. Pela definição de indutância, ou seja, número de enlaces de fluxo por unidade de corrente, podemos esperar que para bobinas com geometria diferente, mesmo com igual número de espiras, o número de enlaces de fluxo seja diferente. Obviamente, o número de espiras também modifica o número de enlaces de fluxo. Quanto à corrente, se a bobina for feita sem núcleo ferromagnético, seu valor não interfere no número de enlaces de fluxo por unidade de corrente, visto que uma variação no valor da corrente se reflete diretamente em uma mesma variação do fluxo magnético. Entretanto, em se tratando de núcleos ferromagnéticos, essa proporcionalidadenão se verifica, conforme discutido no tópico anterior. Inclusive bobinas com núcleos ferromagnéticos de natureza diferente também apresentarão diferença na relação entre o fluxo e a corrente. De tudo que foi exposto, podemos concluir que para bobinas com núcleo de ar, a indutância depende apenas da forma geométrica da bobina e de seu número de espiras. 206 Editora Ao Livro Técnico Para bobinas com núcleo ferromagnético, além da forma geométrica e do número de espiras, a indutância depende também do material empregado, mais especificamente da curva de magnetização do material constituinte do núcleo. 6.4 — Indutância de um to/Tilde Algumas formas geométricas simples admitem expressões para o valor da indutância. O toróide é um exemplo disso. Podemos deduzir a equação da indutância de um toróide utilizando algumas equações já conhecidas. Considere então um toróide com raio médio R, número de espiras N uniformemente distribuídas ao longo de seu comprimento e seção transversal circular S. Conforme já visto anteriormente, o campo H de um toróide é calculado por: H=N1/2TER. Admitindo- se um núcleo ferromagnético onde possa ser considerada uma permeabilidade magnética média t, teremos um campo B dado por: B=1.1.1\11/2nR. O fluxo magnético que atravessa a seção transversal S, conforme a equação 1)=B.S, será: 4=p A indutância para o toróide, segundo a equação L=NVI, pode então finalmente ser obtida: L = NjiNIS/2tRI, onde fazendo as simplificações, fica: ,WV 2 L = S (H) 27rR De forma semelhante, podemos obter a equação da indutância para um toróide com seção transversal retangular. Fundamentos de Eletromagnetismo 207 Nesse caso, considerando o raio interno r1 , o raio externo r, e a espessura a, teremos para a indutância a seguinte equação: 1,11\12a r, L = ln —= (H) 27r r, 6.5 — Indutância de um solenóide reto Para um solenóide reto, de comprimento 1 e seção circular de raio R, com uma única camada de espiras, podemos obter a indutância através da seguinte equação: ,u0 N 2zR2 4R 2 +12 ) A equação acima só é válida para a bobina com núcleo de ar. Caso um núcleo ferromagnético seja introduzido no interior da bobina, teremos um aumento significativo no valor da indutância. Entretanto, não poderemos prever o valor da• indutância pela simples substituição da permeabilidade do ar, que é aproximadamente igual a go, pela permeabilidade do material constituinte do núcleoµ na fórmula. Isto porque apenas parte do caminho do fluxo magnético seria feito pelo material ferromagnético (apenas no interior da bobina). O restante do caminho seria feito pelo ar, o que se torna um caminho misto. Mesmo para o núcleo de ar, a equação acima não fornece o valor exato da indutância, por ser uma fórmula aproximada. Pode haver variações no valor da indutância dependendo do diâmetro do fio utilizado e das proporções entre o comprimento e o raio da bobina. 208 Editora Ao Livro Técnico feri = -L AI At 6.6 - Força eletromotriz de auto-indução Quando uma corrente circula em uma bobina, um fluxo magnético atravessa a seção transversal da bobina com valor dado por O = LI/N, conforme a equação que define a indutância. Se ocorrer uma variação no valor da corrente (AI), teremos uma conseqüente variação no fluxo (AO). Lembrando da Lei de Faraday, que diz que uma variação de fluxo ocorrendo sobre N espiras gera uma força eletromotriz dada por fem =- NAq/At, podemos concluir que na referida bobina haverá uma força eletromotriz induzida devida à variação do fluxo por ela mesma produzida. Por essa razão, essa força eletromotriz é chamada de força eletromotriz de auto-indução. Então, se a corrente sofrer uma variação AI num tempo At, o fluxo deverá sofrer uma correspondente variação AO=LAI/N. Isolando-se Ao na equação da força eletromotriz, teremos AO = -fem. At/N. Igualando as duas equações para AO, teremos: L.AI/N=-fem.At/N. Finalmente, isolando-se a força eletromotriz na igualdade obtida, teremos a equação para a força eletromotriz de auto-indução em função da indutância e da taxa de variação da corrente no tempo. Onde: fem força eletromotriz de auto-indução em volt (V) L --> indutância em henry (H) AI variação linear da corrente em ampère (A) At intervalo de tempo em segundo (s) 6.7 — A reatância indutiva Quando aplicamos uma tensão alternada senoidal a uma bobina de indutância L, circula uma corrente senoidal cujo fluxo magnético por ela gerado também é senoidal. Sendo um fluxo senoidal, obviamente estará sofrendo variações o tempo todo. Conseqüentemente teremos uma força eletromotriz induzida na bobina, ou mais especificamente, uma força eletromotriz de auto-indução. Essa força eletromotriz, pela Lei de Lenz, terá polaridade instantânea tal que criará uma corrente (i') em sentido contrário à corrente da fonte (i) como forma de impedir sua variação. Fundamentos de Eletromagnetismo 209 Isso limita a corrente que circulará pelo circuito, pois do contrário, admitindo-se resistência zero para a bobina (bobina ideal), a corrente tenderia para o infinito. Observe que quanto maior o valor da força eletromotriz gerada na bobina, maior será a corrente (1`) que ela será capaz de gerar. Conseqüentemente, seu valor mais se aproximará da corrente gerada pela fonte (i) e como possuem sentidos contrários, menor será a corrente resultante no circuito. Vale lembrar que um amperímetro inserido no circuito irá indicar o valor da corrente resultante. De tudo que foi exposto, depreende-se que a intensidade de corrente que circulará no circuito será inversamente proporcional à força eletromotriz gerada na bobina, tanto é que, se a força eletromotriz gerada na bobina chegasse a igualar a tensão da fonte , a corrente no circuito se anularia. Porém, isso nunca poderá ocorrer, pois, se a corrente chegasse a zero, não haveria fluxo produzido e conseqüentemente não poderia existir a própria força eletromotriz que deveria ter valor instantâneo igual à da fonte. Isto levaria a uma situação inconsistente. Logo, a força eletromotriz induzida sempre terá valor instantâneo inferior à tensão da fonte. Apesar disso, se tentarmos medir ambas com um voltímetro, não conseguiremos perceber diferença alguma. Vamos analisar agora, porque em bobinas com indutâncias diferentes conectadas a uma mesma fonte CA circulam correntes diferentes. Vamos comparar bobinas com valores de indutâncias bem diferentes, que chamaremos de valores alto e baixo. Na bobina com valor de indutância baixo, teremos uma força eletromotriz induzida de valor menor que o da bobina com valor de indutância alto. Isto porque fem = - L.AVAt e como a taxa de variação da corrente está sendo admitida a mesma para ambas as bobinas, terá maior força eletromotriz induzida aquela que tiver maior valor de L. Com isto, a bobina com baixo valor de indutância terá corrente circulando com valor maior que a outra bobina, uma vez que a diferença entre as correntes i e i' será maior. /alta 'baixa fem fema„„ Isto equivale a dizer que a corrente que circula em uma bobina alimentada por uma fonte de tensão alternada senoidal é inversamente proporcional à indutância. Convenhamos, analisar o valor da corrente por meio deste raciocínio não é uma tarefa muito agradável. Pior ainda porque não temos parâmetros para avaliar 210 Editora Ao Livro Técnico quantitativamente a corrente. Melhor seria se pudéssemos raciocinar em termos da Lei de Ohm, como ocorre em corrente contínua, onde I = V/R. Felizmente, pode-se provar matematicamente que o valor eficaz da corrente, que circula em uma bobina alimentada por uma tensão alternada senoidal de valor eficaz V, é dado por: I_ V 27rfL Onde: valor eficaz da corrente na bobina (A) V tensão eficaz aplicada à bobina (V) f freqüência da tensão aplicada (Hz) L --> indutância da bobina (H) O denominador da equação assim obtida foi chamadode reatância indutiva X L = 274 Portanto, pode-se obter o valor da corrente na bobina através de uma equação semelhante à da Lei de Ohm para corrente contínua, ou seja: 1 = X, Por ser dimensionalmente igual à resistência elétrica (ambas são dadas pela relação VA), a reatância indutiva também possui a unidade ohm (Q). Então, podemos interpretar a reatância indutiva como o elemento que se opõe à passagem da corrente alternada em uma bobina. Vale lembrar que essa é uma interpretação segundo um modelo matemático criado para facilitar o cálculo da corrente. Na realidade, a corrente é limitada pela força eletromotriz de auto-indução gerada pela variação temporal da própria corrente, conforme expusemos anteriormente. Fundamentos de Eletromagnetismo 211 6.8 — Mútua-indutânda Também chamada de coeficiente de mútua-indução, representa a relação entre o número de enlaces de fluxo mútuo por unidade de corrente. Considere então um circuito magnético onde um fluxo mútuo é produzido. (512 Para a figura acima onde uma corrente I, produz um campo B cuja parcela de fluxo magnético que envolve a bobina com N2 espiras é 0,.21 definimos o coeficiente de mútua-indução por: M = N2 01.2 Onde: M coeficiente de mútua-indução (H) N, número de espiras da bobina 2 01 , ---> fluxo mútuo produzido pelo circuito 1 (Wb) —> corrente na bobina1 (A) Se ao invés de alimentarmos a bobina 1, alimentarmos a bobina 2, teremos fluxo mútuo produzido por esta última, 4)21, que envolve as N, espiras da bobina 1. Neste caso o coeficiente de mútua-indução é dado por: A .1 N 2.1 1 /2 Na realidade, a primeira equação a rigor seria a do coeficiente de mútua-indução do circuito 1 em relação ao circuito 2, M12, enquanto que a segunda seria a do coeficiente de mútua-indução do circuito 2 em relação ao circuito 1, M2 1, que são numericamente iguais e por essa razão foram chamadas simplesmente de M. 212 Editora Ao Livro Técnico 6.9 — Relação entre indutância e mútua-indutância Lembrando da relação entre fluxo mútuo e fluxo total que define o coeficiente de acoplamento, ou seja, k = (I), 2/01 sendo (1), = + onde Ou é o fluxo de fuga. Então: M =N2 / onde (1)12 =k4), e portanto M = N24,/1,. Mas (I),/l, = L,/N, segundo 12- IP a definição de indutância. Portanto: M = N2 k Li /N,. Fazendo a mesma substituição para a equação M = N1 02.1/12, teremos: M = N i kL2/N2. Igualando as duas equações de M, ficamos com a igualdade: N2 k L,/N,= N,kL2/N2. Daí se obtém que 11/L2 = N,2/N22. Isto dá origem a uma importante relação conhecida como relação de espiras: N, L, N2 L2 Retornando à equação anteriormente obtida M = N i kL2/N2, podemos substituir N i /N2 por L i /L21 /2. Então: M = kL2(L,/L2)1 /2 = k(L22 1_,/L2)1 /2 = k(L,L2)1 /2, ou seja: = Iz JL, L2 6.10 — Força eletromotriz de mútua-indução Sabemos que quando um fluxo varia no tempo, uma força eletromotriz é induzida segundo a Lei de Faraday. Então, quando um fluxo mútuo (1), 2 variar no tempo sobre as N2 espiras da bobina 2, acoplada magneticamente à bobina 1, teremos força eletromotriz induzida na bobina 2, dada por: AT A01 2 fem 2 — 2 At Para um fluxo mútuo gerado na bobina 2, que enlaça a bobina 1, a força eletromotriz de mútua-indução é dada por: AO, 1 fem i =A ri - At Fundamentos de Eletromagnetismo 213 fent = 0,6 (0,8 — 0,5) At 10.10-3 lem = L AI Da mesma forma como fizemos com a força eletromotriz de auto-indução, podemos substituir a equação da mútua-indutância na equação da força eletromotriz para obter: f Mem, = DI At feml = AIA; 6.11 — Exercícios resolvidos A — Determinar a indutância de um toróide de seção transversal circular de 4cm2 de área, tendo 1000 espiras enroladas sobre um núcleo ferromagnético de permeabilidade relativa 3000. O raio médio do toróide é de 15 cm. Solução: Utilizando a equação da indutância do toróide de seção circular: L = µWS L =-- 011 PRN2S L =- 4K10-73000.1000 2.4.10 27d? L = 1,6 H B — Determinar a força eletromotriz de auto-indução em uma bobina de 0,6 H quando a corrente variar de 0,5 A para 0,8 A num tempo de 10 ms. Solução: fem= —18V C — Em um núcleo ferromagnético, duas bobinas estão acopladas magneticamente. A bobina 1 possui 300 espiras enquanto a bobina 2 possui 150 espiras. Uma corrente de 2 A aplicada à bobina 1 gera um fluxo total de 200 mWb. Sabendo- se que o coeficiente de acoplamento é igual a 0,8, determine as indutâncias das bobinas 1 e 2 e também o coeficiente de mútua-indução. 27cR 2z15.10-2 214 Editora Ao Livro Técnico Solução: Podemos determinar de imediato a indutância da bobina 1. = 1 — L = 300 200. 2 10.- 11 ' L, =30.10-3H O coeficiente de mútua-indução pode ser determinado, lembrando que 1), 2=k1),. Então: M = N, 1 -- M = N 2 k0 11 M =150 0 8.200 10.- 2 M =12.10-3 H Finalmente, podemos determinar L, através de: i2 (12.10- 3 3 ) 2 M = k.\IL,L2 M 2 = k 2L,L2 L2 2 L 2 = k L, 0,82.30.10- L2 = 7.5.10-3 H 6.12 — Exercícios propostos A — Em uma bobina com núcleo de ar, uma corrente de 2 A produz um fluxo de 400µ Wb que enlaça suas 300 espiras. Determine o valor da indutância da bobina. B — Com relação à bobina da questão anterior, qual o valor da força eletromotriz de auto-indução se a referida corrente cair linearmente a zero num tempo de 0,5 s? C — Qual a indutância de uma bobina que induz em si própria uma tensão de 4 V quando a taxa de variação da corrente é de 2 A/s? D — Uma bobina de 0,5 H fica sujeita a uma variação de corrente conforme ilustra o gráfico abaixo. Determine a força eletromotriz de auto-indução em cada intervalo de variação. 1(A) 5 O 1012 22 24 t(ms) Fundamentos de Eletromagnetismo 215 E Uma bobina de 400 mH apresentando uma resistência interna de 1252 será ligada a uma fonte 12 VCC. Admitindo que, a partir do momento em que a chave for ligada, a corrente varia linearmente de zero até seu valor nominal em um tempo de 0,5 ms, determine o pico de tensão induzida nesse intervalo. Em uma bobina, quando ligada a uma fonte 12 VCC, a corrente é de 0,5 A. Quando ligada a uma fonte 120VCA, na freqüência de 60 Hz, a corrente é de 1,2 A. Determine a sua indutância. G Duas bobinas acopladas magneticamente com k=0,9 apresentam respec- tivamente indutâncias de 0,7 H e 0,9 H. Determine o valor do coeficiente de mútua-indução. H — Duas bobinas, sendo a primeira com N i =100 espiras e a segunda com N2=200 espiras estão acopladas magneticamente. Uma corrente de IA na bobina 1 produz um fluxo total de 100 mWb, dos quais 93 mWb enlaçam também as espiras da bobina 2. Determine o coeficiente de mútua-indução e as indutâncias de cada bobina. I — Duas bobinas estão acopladas magneticamente sendo que o coeficiente de mútua-indução é igual a 2,8 H. Determine a força eletromotriz de mútua-indução quando uma corrente varia linearmente em uma das bobinas à taxa de 10 A/s. J — Em duas bobinas acopladas magneticamente, as indutâncias próprias de cada bobina valem 4 H e 6H. Se o número de espiras da bobina 1 é 1200, determine N 2. 6.13 — Sugestões para laboratório Determinação dos coeficientes de auto-indução e mútua-indução Objetivo: Determinar experimentalmente o valor dos coeficientes de auto-indução e mútua- indução. Material necessário: item quant. unid. especificação 01 02 pç bobina (n° esp. entre 300 a 1800 esp.) 02 01 pç núcleo desmontável 03 01 pç multímetro 04 05 pç cabo de ligação 05 01 pç voltímetro 0-250 V 06 01 pç amperímetro 0-1 A 07 01 pç fonte CA regulável 0-240 V 216 Editora Ao Livro Técnico Procedimento: Inicialmente as bobinas devem ser colocadas no núcleo desmontável. Para determinação dos coeficientes de auto-indução ou indutância de cada bobina, pode-se fazer uso de instrumentos específicos como a ponte RLC, que além de medir a indutância,mede também capacitâncias e resistências. Na falta de um instrumento como esse, pode-se determinar a indutância através de medidas indiretas, utilizando um voltímetro, um amperímetro e um multímetro. Com o multímetro, mede-se a resistência interna da bobina. Essa resistência é devida aos fios que constituem a bobina. Em seguida, aplica-se uma tensão senoidal à bobina, medindo seu valor com um voltímetro e a respectiva corrente com um amperímetro. Essa tensão pode ser de qualquer valor desde que não resulte em uma corrente superior à que a bobina suporta. Inclusive os calibres do amperímetro e do voltímetro sugeridos na tabela podem ser outros em função dos valores de tensão e corrente que efetivamente serão aplicados. Deve-se escolher os calibres de forma que as leituras possam ser feitas no terço final da escala, onde a precisão é maior. De posse dos valores de tensão e corrente , determina-se a impedância da bobina pela Lei de Ohm para corrente alternada: Z = V/I. Sabendo que Z2 = R2 + X,2, extrai-se o valor de XL, ou seja: X, = (Z2- R2)112. Finalmente o valor da indutância é determinado através da equação da reatância indutiva: X, = 2itfL. Isolando-se L, temos: L = XL/2ltf. Esse procedimento deve ser feito para cada uma das bobinas individualmente estando ambas colocadas no núcleo desmontável. Observação: Pode-se também determinar a resistência interna das bobinas utilizando-se uma fonte CC, um amperímetro e um voltímetro. Aplica-se uma tensão contínua à bobina e mede-se a respectiva corrente. Em seguida determina- se a resistência através da Lei de Ohm. R = V/I. Fundamentos de Eletromagnetismo 217 Para se determinar o coeficiente de mútua-indução entre as bobinas, utilizam- se métodos indiretos. Uma das maneiras, consiste na aplicação da equação: M = Os valores das indutâncias L, e L, já foram obtidos e o valor do coeficiente de acoplamento pode ser obtido através do procedimento descrito na Unidade III, 5.8 — Sugestões para laboratório. De posse de todos esses valores é só aplicar a equação e determinar o valor de M. 218 Editora Ao Livro Técnico Unidade IV Tópicos Avançados A ONDA ELETROMAGNÉTICA 1.1 — O campo elétrico A eletrização é um fenômeno pelo qual objetos podem adquirir a propriedade de atração ou repulsão entre si. Essa propriedade pode ser adquirida atritando-se dois objetos de naturezas diferentes, ou, se já se possui um objeto eletrizado, pode-se eletrizar um outro objeto aproximando-o ou tocando-o no objeto eletrizado. Essa propriedade, já conhecida na Grécia antiga, teve seu nome originado devido à substância que os gregos utilizavam para atritar com um pedaço de lã. Essa substância era o âmbar, uma espécie de resina, que em grego chama-se elektron. Quando se dispõe de vários objetos eletrizados, observa-se que alguns se atraem e outros se repelem entre si. Para diferenciá- los, convencionou-se dizer que existem dois tipos de cargas elétricas: a positiva e a negativa. Mais tarde descobriu-se que o elétron, segundo essa convenção apresenta carga negativa e o próton, carga positiva. As ações entre os diferentes tipos de cargas ficou conhecida como Lei de Du Fay, que estabelece que cargas de mesmo sinal se repelem e de sinais diferentes se atraem. _io 021._ Lei de Du Fay A força entre as cargas pode ser determinada quantitativamente através da conhecida Lei de Coulomb: F = k q,q1r2. Com a evolução do conhecimento sobre a eletricidade, introduziu-se o conceito de campo elétrico. Campo elétrico é uma região do espaço onde uma carga de teste fica sujeita a uma força. Matematicamente, a intensidade de um campo elétrico é definida como a relação entre a força a que fica sujeita uma carga, pelo valor dessa carga. Fundamentos de Eletromagnetismo 221 E = Onde: E —> intensidade do campo elétrico em volt/metro (V/m) F força a que fica sujeita a carga q em newton (N) q —3 carga elétrica em coulomb (C) Através desse conceito, as relações de força entre cargas elétricas podem ser vistas sob outra ótica. Se colocarmos uma carga q 1 nas proximidades de outra percebemos a ação de uma força e portanto podemos dizer que q está imersa em um campo elétrico. Obviamente, nesta situação, o campo elétrico está sendo gerado pela carga q„. Isto nos leva a concluir que toda carga elétrica gera então um campo elétrico. O campo elétrico é representado através de linhas de força, que são linhas imaginárias que descrevem o sentido das forças que uma carga de teste positiva, por convenção, fica sujeita no interior do campo elétrico. Sendo assim ,as linhas de força do campo elétrico gerado por cargas positivas e negativas fica como o mostrado abaixo. rir \, / /T\ /T\ Agrupamentos de cargas podem gerar campos elétricos com as mais variadas formas. campo elétrico entre placas paralelas campo elét - ico de uma esfera carrLgada Quando analisamos o movimento ordenado de cargas elétricas em um condutor, ou mais precisamente, uma corrente elétrica, sabemos que esta é gerada quando uma diferença de potencial é aplicada entre os extremos de um condutor. Mas essa 222 Editora Ao Livro Técnico diferença de potencial é conseguida através de uma concentração de cargas de valor diferente entre os extremos do condutor. Isto gera um campo elétrico ao qual o condutor fica sujeito. ddp Diferença de potencial entre dois objetos carregados. Desta forma, a corrente elétrica ganha uma nova interpretação. Cada carga que está em movimento dentro do condutor e que no conjunto caracteriza a corrente elétrica, só pode estar se movendo devido a ação de uma força sobre ela. Essa força é originada pelo campo elétrico que está atuando sobre o condutor. E x k ,rx Observe que, sendo os elétrons as cargas livres do condutor, e portanto, cargas negativas, o sentido do movimento dessas cargas no interior do condutor se dará no sentido contrário ao do campo elétrico. A essa consideração, quanto ao sentido da corrente, chamamos de sentido real ou eletrônico da corrente elétrica. Por outro lado, a maioria dos autores prefere fazer uso do chamado sentido convencional de corrente, que considera as cargas em movimento como sendo positivas. Nesse caso, o sentido da corrente elétrica se dá no mesmo sentido que o do campo elétrico. E O Movimento dos elétrons dentro do condutor. Fundamentos de Eletromagnetismo 223 1.2 — O campo elétrico não eletrostático Partindo do pressuposto que o movimento de cargas elétricas em um condutor é resultado da ação de um campo elétrico sobre as cargas livres do condutor, estamos preparados para entender melhor alguns fenômenos e principalmente a relação que existe entre um campo elétrico e um campo magnético. Quando estudamos a Lei de Faraday, vimos que pode-se originar uma corrente elétrica em um percurso condutor sujeito a uma variação de fluxo. Corrente induzida devido a um fluxo crescente. Já estamos habituados a analisar situações como na ilustração acima e sabemos que a corrente I surge como uma tentativa da natureza em preservar o equilíbrio. Ou seja, a corrente é gerada para produzir um fluxo que se oponha ao tipo de variação de fluxo que estiver ocorrendo. Vamos testar nosso raciocínio agora em uma situação semelhante mas ainda não abordada. Vamos supor que temos um fluxo magnético concentrado em uma pequena região e um anel condutor envolve esse fluxo porém a uma distância bem grande. I ik variável anel condutor 224 Editora Ao Livro Técnico As linhas de força do campo magnético estão no centro do anel, porém não interceptam o mesmo devido à grande distância entre eles. A pergunta é: Há corrente induzida circulando no anel nessas condições ? Podemos responder a essa pergunta nos baseando estritamente no que diz a Lei de Faraday. Haverá força eletromotriz induzida no anel e, conseqüentemente, por ser este um percurso fechadocondutor, haverá corrente induzida, desde que haja variação de fluxo em seu interior. E como está havendo variação de fluxo em seu interior, haverá uma corrente induzida. Mas como pode isso ser possível, se o anel está muito distante das linhas de força do campo magnético? Vejamos a resposta. Afirmamos no início deste capítulo que uma corrente elétrica se processa devido à ação do campo elétrico sobre as cargas livres. No caso do anel imerso em um fluxo variável, não temos nenhuma diferença de potencial aplicada ao mesmo. Entretanto, observamos que uma corrente elétrica flui através dele. E se existe a corrente elétrica, é porque um campo elétrico deve estar atuando na região. Esse campo elétrico não tem origem em cargas elétricas estáticas como vimos anteriormente. É um campo elétrico gerado pela variação do fluxo magnético, cujas linhas de força são círculos concêntricos que se estendem até o infinito. 4crescente campo elétrico induzido Esse campo elétrico, por não ser originado por cargas elétricas estáticas, é chamado de campo elétrico não eletrostático. Um fluxo magnético variável no tempo dó origem a um campo elétrico não eletrostático, cuias linhas de força são círculos concêntricos. Desta forma, qualquer percurso fechado condutor, que envolva um fluxo magnético variável, ficará sujeito à componentes desse campo elétrico, que será então o responsável pelo aparecimento da corrente elétrica. O sentido do campo elétrico induzido pode ser determinado pela Lei de Lenz, bastando lembrar que o sentido do campo elétrico deve ser tal que a corrente que ele irá gerar deverá criar um fluxo magnético que se oponha ao tipo de variação de fluxo que estiver ocorrendo inicialmente. Fundamentos de Eletromagnetismo 225 4) crescente 1 I - corrente induzida circulando em um percurso fechado condutor 1.3 - O campo elétrico gera um campo magnético Assim como o fluxo magnético variável gera um campo elétrico, um campo elétrico variável também gera um campo magnético. Foi o brilhante físico escocês James Clerk Maxwell que, em 1864, provou matematicamente essas duas interações, selando definitivamente a união entre a eletricidade e o magnetismo, até então ciências separadas. Um campo elétrico variável no tempo gera um campo magnético, cujas linhas são concêntricas em torno das linhas do campo elétrico. Então, um campo magnético pode também ser gerado através da variação temporal de um campo elétrico. Por exemplo, entre as placas de um capacitor, durante a fase de carga ou descarga do mesmo, o campo elétrico está variando. Desta forma, um campo magnético, na forma de linhas concêntricas, é criado em torno das linhas de força do campo elétrico. campo magnético induzido campo elétrico variável 1.4- Gerando uma onda eletromagnética Imaginemos agora, um condutor conduzindo uma corrente variável no tempo. Essa corrente cria um campo magnético, também variável no tempo em torno do condutor. Campo magnético variável no tempo gerado por uma corrente elétrica variável no tempo. 226 Editora Ao Livro Técnico campo magnético ______ campo elétrico Visto que um campo magnético variável cria um campo elétrico que também pode ser variável no tempo, em torno de cada linha de força do campo magnético, teremos um conjunto de círculos concêntricos que são as linhas de força do campo elétrico. Por sua vez, esse campo elétrico variável no tempo gera um novo campo mag- nético, que é também representado por linhas de força concêntricas em torno de cada linha de força do campo elétrico. campo magnético campo elétrico _campo magnético campo elétrico E o ciclo se repete. Ou seja, um novo campo elétrico é gerado, que gera um novo campo magnético, que gera....Torna-se impossível representar no papel o conjunto dessas linhas de força de campos elétricos e magnéticos. O que se pode concluir, entretanto, é que esses campos se propagam em todas as direções constituindo então a chamada onda eletromagnética. Onda eletromagnética é um conjunto de campos elétricos e magnéticos que se propagam em todas as direções, sem necessidade de um meio físico que os conduza. A velocidade de propagação das ondas eletromagnéticas corresponde à velocidade da luz, ou seja 3.108 m/s. Na verdade, a própria luz é uma onda eletromagnética. A descoberta das ondas eletromagnéticas tornou possível o desenvolvimento das telecomunicações, cuja tecnologia está em constante evolução, tornando o dia-a- dia da humanidade mais fácil. Fundamentos de Eletromagnetismo 227 2 FENÔMENOS DO ELETROMAGNETISMO 2.1 — O efeito pelicular O efeito pelicular (ou efeito skin) é um fenômeno que ocorre com a corrente alternada, que faz com que a distribuição da mesma sobre a seção transversal do condutor ocorra de forma desigual. A intensidade de corrente será maior nas regiões internas ao condutor mais próximas da superfície. Seção transversal de um Seção transversal de um condutor conduzindo condutor conduzindo corrente alternada. corrente contínua. Esse efeito depende da freqüência da corrente alternada e, para freqüências bem altas (MHz ou mais), a corrente fica distribuída em apenas uma película do condutor. Daí o nome, efeito pelicular. Distribuição da corrente para altas freqüências. Efeito pelicular é o fenômeno que consiste em uma distribuição desigual de uma corrente alternada de alta freqüência pela seção transversal do condutor, ocorrendo uma densidade maior nas proximidades da superfície. Observe que praticamente toda a seção do condutor torna-se inútil em termos de condução de corrente. Tanto é verdade que poderíamos até remover toda a massa condutora interna, transformando o condutor num tubo de paredes bem finas, sem nenhum prejuízo para a corrente elétrica. Na realidade, isso é feito em algumas situações, por exemplo, algumas subestações onde são usados barrarnentos rígidos tubulares. 228 Editora Ao Livro Técnico 2 FENÔMENOS DO ELETROMAGNETISMO 2.1 — O efeito pelicular O efeito pelicular (ou efeito skin) é um fenômeno que ocorre com a corrente alternada, que faz com que a distribuição da mesma sobre a seção transversal do condutor ocorra de forma desigual. A intensidade de corrente será maior nas regiões internas ao condutor mais próximas da superfície. Seção transversal de um Seção transversal de um condutor conduzindo condutor conduzindo corrente alternada. corrente contínua. Esse efeito depende da freqüência da corrente alternada e, para freqüências bem altas (MHz ou mais), a corrente fica distribuída em apenas uma película do condutor. Daí o nome, efeito pelicular. Distribuição da corrente para altas freqüências. Efeito pelicular é o fenômeno que consiste em uma distribuição desigual de uma corrente alternada de alta freqüência pela seção transversal do condutor, ocorrendo uma densidade maior nas proximidades da superfície. Observe que praticamente toda a seção do condutor torna-se inútil em termos de condução de corrente. Tanto é verdade que poderíamos até remover toda a massa condutora interna, transformando o condutor num tubo de paredes bem finas, sem nenhum prejuízo para a corrente elétrica. Na realidade, isso é feito em algumas situações, por exemplo, algumas subestações onde são usados barrarnentos rígidos tubulares. 228 Editora Ao Livro Técnico ampo magnético externo ao condutor seção transversal ampo interno ao condutor campo interno ao condutor dc raio "a'ilerado por 1. parcela dc corrente que circula bem ao centro (1') Mas como ocorre o efeito pelicular? Primeiramente, precisamos aceitar o fato de que a corrente elétrica gera um campo magnético também no interior do condutor. Podemos entender melhor como esse campo é gerado, imaginando a seção transversal do condutor como composta de uma série de tubos concêntricos e um pequeno condutor maciço bem ao centro. Sendo assim, fica fácil entender que a parcelade corrente que circula bem ao centro e que chamaremos de 1', gera um campo magnético externo a ele, que são círculos concêntricos que se estendem por todo o espaço, inclusive sobre o restante da seção transversal do condutor de raio "a". campo externo ao condutor dc raio "a" gerado por Da mesma forma, o primeiro tubo, próximo ao condutor central, também gera um campo magnético que se soma ao campo do condutor central, tornando o campo mais intenso nessa região. Os próximos tubos também geram campos magnéticos de forma que o campo interno ao condutor vai se tornando mais intenso à medida que nos aproximamos de sua superfície. Pode-se obter a equação desse campo através da chamada Lei de Ampère, chegando-se ao seguinte: H = I r/27ca2, sendo r uma distância radial qualquer a partir do centro do condutor e a o raio do condutor (sendo que sempre para essa equação r 5 a). Fundamentos de Eletromagnetismo 229 corrente variável campo H externo variável campo H interno variável Vejamos agora o que gera o efeito pelicular. Para isso, devemos nos recordar das Leis de Faraday e Lenz, aplicando-as a um condutor conduzindo corrente variável no tempo. Vamos então considerar um condutor conduzindo uma corrente com intensidade crescente I. Pela Lei de Faraday, sabemos que todo condutor imerso em um campo magnético variável fica sujeito a uma força eletromotriz induzida dada por: fem = -N AO/At, que pode gerar uma corrente elétrica. Essa corrente, por outro lado, terá um sentido tal que deva se opor à causa que a originou (Lei de Lenz). Como a causa que a originou é a variação do campo magnético, no caso o crescimento do campo H, a corrente induzida deve ter um sentido que gere um campo magnético H' contrário ao campo H. Logo, o sentido dessa corrente induzida l' é contrário ao sentido da corrente I. Isto se resume em dizer que o valor original de I será subtraído do valor de l, reduzindo portanto seu valor inicial. I I Quanto mais rapidamente I variar, maior será o valor de I' e conseqüentemente maior será a redução no valor original de I. No caso de variações cíclicas como uma corrente alternada senoidal, podemos dizer que o valor de 1' será diretamente proporcional à freqüência. Voltemos agora ao nosso condutor composto por camadas tubulares. Quando uma corrente elétrica variável no tempo estiver circulando, teremos os campos magnéticos interno e externo também variando. Haverá então uma força eletromotriz dada por fem = -A41)/At. Assim, o condutor como um todo fica envolvido pelo fluxo devido ao campo magnético externo. 230 Editora Ao Livro Técnico Entretanto, as camadas mais internas do condutor ficam envolvidas por fluxos maiores. Tomemos por exemplo a fração do condutor delimitado pelo pontilhado. O fluxo magnético que envolve essa fração da seção transversal será o fluxo correspondente ao campo magnético externo mais o fluxo do campo magnético interno que a envolve. Sendo o fluxo então maior, é de se esperar que a força eletromotriz induzida nessa parte da seção transversal seja maior do que a induzida nas camadas mais próximas da superfície. Quanto mais internas as camadas, maior é o fluxo que as envolve e conseqüentemente maior serão as forças eletromotrizes induzidas. Isto se reflete diretamente no valor das correntes induzidas. Ou seja, teremos correntes induzidas de valores mais elevados nas regiões mais centrais do condutor, que irão subtrair do valor original da corrente. Isto afeta portanto a distribuição da corrente na seção transversal do condutor, ficando as maiores intensidades nas proximidades da superfície do condutor. Dependendo da freqüência da corrente que circula no condutor, poderemos ter correntes induzidas que anulam totalmente a corrente no condutor, sobrando apenas uma fina camada de corrente próximo à superfície. Por essa razão, esse fenômeno recebe o nome de efeito pelicular. 2.2 — A descarga atmosférica Descarga atmosférica é uma corrente elétrica de altíssima intensidade que se propaga no espaço compreendido entre uma nuvem carregada e a terra, através de um caminho irregular. Esse caminho é formado pela ionização do ar que ocorre devido ao elevado campo elétrico da nuvem carregada. Sendo então uma corrente elétrica, a descarga atmosférica, ou raio, também produz um campo magnético que é variável no tempo, pois a descarga sofre oscilações em sua intensidade. Conseqüentemente, um campo elétrico variável também é gerado e portanto, uma onda eletromagnética se forma a partir da descarga atmosférica e se propaga em todas as direções. Essa onda eletromagnética pode interferir nas telecomunicações, especialmente nas transmissões AM, onde é comum ouvirmos chiados em dias de tempestades. Esse campo Fundamentos de Eletromagnetismo 231 eletromagnético pode atuar também diretamente sobre cabos de comunicação e transmissão de dados, induzindo tensões que podem causar danos ao sistema se não forem tomados os devidos cuidados no tocante aos dispositivos de proteção. Existe toda uma engenharia por trás da proteção contra descargas atmosféricas. São inúmeras situações de risco para instalações, equipamentos, edificações e para a vida humana, cujos métodos de proteção vem sendo aprimorados através do desenvolvimento de novas tecnologias. Apesar disso, as descargas atmosféricas continuam fazendo estragos. No local de uma descarga, se pode perceber a violência e a energia contida em um raio. Quando ocorre em uma árvore por exemplo, a potência P = RR dissipada é tão grande que produz um aquecimento muito rápido no tronco que normalmente o despedaça e incendeia. Aliás, o aquecimento rápido do ar em torno do raio faz com que o mesmo se expanda e provoque o estrondo característico. Descargas atmosféricas possuem intensidades típicas na faixa de algumas dezenas de milhares de ampères podendo chegar até a duzentos mil ampères. 2.3 — A levitação de um supercondutor em um campo magnético Supercondutores são constituídos de ligas especiais que apresentam o efeito da supercondutibilidade, ou seja, resistência elétrica nula. Esse efeito é conseguido à temperaturas muito baixas, mas pesquisas estão sendo desenvolvidas para que a supercondutibilidade possa ser conseguida à temperaturas próximas à ambiente. Um efeito muito interessante que ocorre com os supercondutores é a levitação em campos magnéticos. Vamos ver como isso ocorre. 232 Editora Ao Livro Técnico Vamos imaginar um anel condutor se aproximando de um ímã permanente. Quanto mais se aproxima, mais o fluxo magnético aumenta em seu interior, gerando uma força eletromotriz fem = -Ao/At, que produz uma corrente que circula pelo anel. Essa corrente, pela Lei de Lenz, deve ter sentido de forma a se opor à causa que a origina, que no caso é o aumento do fluxo magnético. Portanto o anel deve produzir um fluxo dirigido para baixo, o que corresponde a um pólo norte se aproximando do ímã, que também apresenta nessa extremidade um pólo norte. Isso ocasiona uma repulsão entre ambos. Essa repulsão não é o suficiente para afastar o anel. Entretanto, se o anel fosse supercondutor, a corrente induzida teria valores muitíssimos elevados, pois a resistência elétrica é nula. O campo magnético, assim gerado, tenderia a expulsar o anel para bem longe. No entanto, quando o anel começa a se afastar devido à força de repulsão, ocorre a diminuição do fluxo magnético em seu interior, o que inverte o sentido da corrente induzida e o anel é então atraído. Ao ser novamente atraído, ocorre o aumento do fluxo em seu interior, gerando de novo pólos de mesmo nome e portanto repulsão. E o ciclo se repete numa freqüência muito alta, o que faz com que o anel permaneça imóvel em relação ao ímã. Na verdade, não é necessário que o supercondutor seja do formato de um anel. Qualquer bloco de um material supercondutor apresenta o mesmo efeito. bloco supercondutorlevitação de um bloco supercondutor Fundamentos de Eletromagnetismo 233 2.4 — A proteção do campo magnético da Terra O campo magnético da Terra está em constante evolução. Sua intensidade e principalmente sua direção norte-sul estão mudando constantemente. Estudando as camadas sedimentares nas bases dos vulcões, os geólogos descobriram que os cristais de magnetita encontram-se orientados em diferentes posições nas diferentes camadas. Na época em que determinada erupção acontecia, no momento da lava resfriar, esses cristais apontavam a direção norte-sul magnética da Terra. E se cada camada apresenta os cristais orientados de forma diferente, isso nos leva a concluir que o campo da Terra mudou de sentido ao longo de sua história, e possivelmente de intensidade, podendo ter desaparecido completamente em determinada época. Até algum tempo atrás, ninguém se importaria se o campo magnético da Terra viesse a desaparecer. Afinal de contas, já não se usa mais a bússola como instrumento de navegação. Entretanto, hoje se sabe que, se isso ocorresse, seria uma catástrofe comparável a uma guerra atômica e poderia dizimar a humanidade. O que faz então o campo magnético da Terra ser tão importante para nós? Acontece que a Terra é constantemente bombardeada por partículas altamente energéticas provindas do espaço exterior, chamadas de raios cósmicos, e do Sol, chamadas de vento solar. Se todas essas partículas chegassem até a superfície, poderiam destruir qualquer tecido vivo, ocasionando a morte ou provocando mutações genéticas. Felizmente, o campo magnético da Terra funciona como um escudo, desviando essas partículas, ou confinando-as em duas regiões denominadas de cinturões de Van Allen, em homenagem ao maior estudioso do assunto. Vejamos como funciona esse mecanismo de proteção do campo magnético da Terra. Vamos lembrar que uma partícula carregada em movimento gera um campo magnético. campo de uma carga positiva em movimento Quando essa partícula penetra em um campo magnético, ocorrem interações entre esse campo e o campo da partícula, o que ocasiona o surgimento de uma força perpendicular ao movimento. .e• • • """ 234 Editora Ao Livro Técnico As partículas que compõem o vento solar são prótons e elétrons, que são ejetados durante as explosões solares. Já os raios cósmicos são núcleos de átomos com alta velocidade provindos do espaço exterior. Logo, todas essas partículas apresentam carga elétrica e portanto ficam sujeitas a forças ao penetrarem no campo magnético da Terra, também conhecido como magnetosfera. Vamos supor então uma carga positiva se movimentando em direção à Terra, mostrada no desenho a seguir. Ao penetrar no campo magnético, a partícula carregada sofre a ação de uma força, que pela regra de Fleming, será no sentido apontando para fora do plano do papel. Isto modifica sua trajetória, que a desviará do curso original, evitando que atinja a superfície da Terra. Caso a partícula fosse negativa, a força seria no sentido para dentro do plano da folha de papel e da mesma forma seria desviada. Dependendo da velocidade e da carga da partícula, ela poderá ficar confinada dentro do campo magnético da Terra, descrevendo uma trajetória circular. No caso das partículas que chegam pela região dos pólos, a velocidade das mesmas não será perpendicular ao campo. Teremos então uma componente de velocidade perpendicular ao campo, que determinará a força sobre a partícula, e outra componente no sentido do campo, no qual nenhuma ação é exercida. Isto fará com que a partícula descreva uma trajetória circular combinada com seu movimento no sentido do campo, ou seja, descreverá uma trajetória helicoidal. Assim, as partículas que chegam nessa região são afuniladas em direção aos pólos. Quando chegam em grande quantidade, como no caso em que ocorre a atividade solar em maior intensidade, essas partículas ionizam o ar, que passa a emitir luz, gerando um fenômeno conhecido como aurora boreal. Esse fenômeno ocorre simultaneamente nos dois pólos da Terra. No pólo sul, é chamado de aurora austral. Fundamentos de Eletromagnetismo 235 RESPOSTAS Unidade I 2.13 (p. 26) A — a) São as regiões do ímã onde suas ações se manifestam de forma mais acentuada. b)Porque não apresentam ímãs elementares em sua constituição. c) É o processo de imantação de um material ferromagnético. d) É a temperatura na qual o ímã perde suas propriedades. e) É um campo com mesma intensidade, direção e sentido em todos os pontos. f) Ângulo formado entre as linhas do campo da Terra e a superfície. g) Ângulo que as linhas de força formam em cada ponto da superfície com os meridianos. h) Princípio da atração e repulsão entre pólos magnéticos. i) São trajetórias possíveis para uma partícula hipotética norte, móvel no campo. j) Região em torno do ímã onde ele exerce sua influência. Unidade II 1.7 (p. 40) A — a) Porque ela se alinha com o campo magnético do condutor, que é perpen- dicular a ele. b) Porque o campo magnético da Terra continua agindo sobre a bússola. c) A agulha da bússola se alinharia sempre perpendicularmente ao fio, mesmo com baixas intensidades de corrente. d) A agulha permaneceria imóvel ou tenderia a girar 180°, dependendo do sentido da corrente. e) Giraria em torno de 180°. f) O ponteiro da bússola não é afetado pelo campo da corrente alternada. B — a) para baixo b) para cima c) indiferente C — 31,8 A/m D— a) 31,8 A/m b) 72,7 A/m c) 127,3 A/m d) 36,1 A/m E — a) 7,3 cm b) 15,0 cm F — 15,7 A/m G — 1 8,0 A/m H — 45 A/m para fora da folha do papel I — 441,9 A/m .1 — 1364,2 A/m L — 1,2 A M — a) 31,4 m b) 3969,1 A/m 2.8 (p. 59) A — a) Movimento orbital e spin dos elétrons. b) Dipólos magnéticos. c) Porque os campos orbitais e de spin se anulam nesses materiais. d) São grupos de dipólos alinhados em pequenos volumes dentro de um material ferromagnético. e) É o campo magnético total devido à correntes livres e correntes ligadas. f) 1 T = 10' gauss g) É um instrumento que mede a indução magnética. h) É o número total de linhas de força que atravessam uma superfície perpen- dicularmente à mesma. Unidade: weber (Wb) i) B = jiH 1 N.1 i) B = lio B = P o — 21? B — Po 4R2 + B — 0,63 T C — a) 1,92 mWb b) 0,4 T c) 159,2 A/m D — 2,25 mWb, 168 E — 5,7.10 1" A/m F — 0,16 A 3 68) A — a) Diamagnéticos: ligeiramente menor que a unidade; paramagnéticos: ligeiramente maior que a unidade; ferromagnéticos: bem acima da unidade, chegando até centenas de milhares. 236 Editora Ao Livro Técnico RESPOSTAS Unidade I 2.13 (p. 26) A — a) São as regiões do ímã onde suas ações se manifestam de forma mais acentuada. b)Porque não apresentam ímãs elementares em sua constituição. c) É o processo de imantação de um material ferromagnético. d) É a temperatura na qual o ímã perde suas propriedades. e) É um campo com mesma intensidade, direção e sentido em todos os pontos. f) Ângulo formado entre as linhas do campo da Terra e a superfície. g) Ângulo que as linhas de força formam em cada ponto da superfície com os meridianos. h) Princípio da atração e repulsão entre pólos magnéticos. i) São trajetórias possíveis para uma partícula hipotética norte, móvel no campo. j) Região em torno do ímã onde ele exerce sua influência. Unidade II 1.7 (p. 40) A — a) Porque ela se alinha com o campo magnético do condutor, que é perpen- dicular a ele. b) Porque o campo magnético da Terra continua agindo sobre a bússola. c) A agulha da bússola se alinharia sempre perpendicularmente ao fio, mesmo com baixas intensidades de corrente. d) A agulha permaneceria imóvel ou tenderia a girar 180°, dependendo do sentido da corrente. e) Giraria em torno de 180°. f) O ponteiro da bússola não é afetado pelo campo da corrente alternada. B — a) para baixo b) para cima c) indiferenteC — 31,8 A/m D— a) 31,8 A/m b) 72,7 A/m c) 127,3 A/m d) 36,1 A/m E — a) 7,3 cm b) 15,0 cm F — 15,7 A/m G — 1 8,0 A/m H — 45 A/m para fora da folha do papel I — 441,9 A/m .1 — 1364,2 A/m L — 1,2 A M — a) 31,4 m b) 3969,1 A/m 2.8 (p. 59) A — a) Movimento orbital e spin dos elétrons. b) Dipólos magnéticos. c) Porque os campos orbitais e de spin se anulam nesses materiais. d) São grupos de dipólos alinhados em pequenos volumes dentro de um material ferromagnético. e) É o campo magnético total devido à correntes livres e correntes ligadas. f) 1 T = 10' gauss g) É um instrumento que mede a indução magnética. h) É o número total de linhas de força que atravessam uma superfície perpen- dicularmente à mesma. Unidade: weber (Wb) i) B = jiH 1 N.1 i) B = lio B = P o — 21? B — Po 4R2 + B — 0,63 T C — a) 1,92 mWb b) 0,4 T c) 159,2 A/m D — 2,25 mWb, 168 E — 5,7.10 1" A/m F — 0,16 A 3 68) A — a) Diamagnéticos: ligeiramente menor que a unidade; paramagnéticos: ligeiramente maior que a unidade; ferromagnéticos: bem acima da unidade, chegando até centenas de milhares. 236 Editora Ao Livro Técnico b) É o aparecimento de um campo induzido no átomo, contrário ao campo aplicado. c) Força magnética, atuando sobre pares de elétrons girando em sentidos opostos, produz desequilíbrio no campo do átomo. d) É o reforço do campo magnético em um material devido à orientação dos dipólos. e) Presença de dipólos. f) É o aparecimento de um forte campo induzido pelo alinhamento dos domínios magnéticos. g) Presença de domínios magnéticos. h) Materiais paramagnéticos e ferromag- néticos. i) Materiais ferromagnéticos. j) Porque são dipólos "fracos". 4.8 (p. 85) A — a) Ponto além do qual não se pode mais aumentar o campo B. b) Porque a curva de variação B x H não é linear. c) É o efeito da indução residual em materiais expostos à campos magnéticos alternados. d) É o valor de indução que permanece no material após cessado o campo magnetizante. e) É o valor necessário de campo para eliminar a indução residual. f) É o ciclo de histerese quando o campo aplicado é suficiente para saturar o material. g) É o valor máximo de indução residual em um material, (T). h) É o valor do campo coercitivo no ciclo de saturação (A/m). i) Aquecimento. j) Proteção feita com material ferro- magnético contra campos externos. B — a) B b) A C — O pólo contrário elimina a indução residual do bastão. D — a) y b) x c) x d) x 5.11 (p. 108) A — 0,44 A B — 271 espiras C — 24 mA D — 264 espiras E — 344,3 mA F — 4,32 .10 4 Wb G — 5,9.10-4 Wb H — 66,6 mA I— 35 mA J — 15 espiras L — 21,2 mA M — 116,4 mA N — 4,18A O — 74,3 mA P — 236,8 N e 473,6 N Unidade III 1.6 (p. 125) A— a) 2 V b) 0,02 V B — 125 mV C — Vab=Vbc= 160 mV, Vac = OV, Vbd = 320 mV D — 55 V E — zero F — 10 mA G — 0,05 Wb/s H — 0,29 A I — a) 1,8 V b) O V c) 1,56 V 2.13 (p. 154) A — a) esquerdo negativo b) superior positivo B — No terminal esquerdo, corrente para baixo, polaridade positiva. C — Olhando de frente para o anel, sentido anti-horário. D — a) para direita b) para esquerda E — No sentido ABEFA e BEDCB. F — No condutor BE. G — Para cima no terminal direito. H — No setor à frente: sentido horário; no setor atrás: anti-horário; a roda raiada irá girar. I — para esquerda J — para direita 3.6 (p. 167) A — a) São induzidas devido à variação do fluxo magnético. b) Porque na parte interna elas se cance- lam mutuamente. c) Aquecimento. Fundamentos de Eletromagnetismo 237 d) composição química do núcleo e laminarão do núcleo isolando-se as chapas e) Para evitar que as corrente parasitas se somem nas chapas. f) freios magnéticos, medidores de kWh, simulador de carga g) Paralela ao plano do papel. h) Não. A bobina com núcleo não lamina- do absorverá mais corrente, pois irá se aquecer mais pelas correntes parasitas. 4.12 (p. 188) A — a) 0,04 N para baixo, b) 0,35 N para dentro da folha c) 0,42 N para esquerda e para baixo a 45° d) 0,034 N para direita e para baixo a 45° B — 0,45 N C — 186 mN D — 64,8 N E — 0,00005 5.7 (p. 201) A — 0,9 B — 0,98 C — 0,96 D — 921 espiras E — 222,2 V 6.12 (p. 215) A— 60 mH B — 0,24 V C— 2H D — femi=-100 V, fem2 = -750 V, fem3= 0, fern4= 1250 V E — fem = -800 V F — 257 mH G — 0,71 H H — = 10 mH, L2 = 40 mH, M = 18,6 mH I — fem = -28 V J — 1470 espiras 238 Editora Ao Livro Técnico REFERÊNCIAS PLONUS, Martin A. Applied electromagnetics. New York: Mc Graw-Hill, 1978. 615p. HAYT JUNIOR, William Hart. Eletromagnetismo. Rio de Janeiro: LTC, 1985. 403p. QUEVEDO, Carlos Peres. Eletromagnetismo. São Paulo: Mc Graw-Hill do Brasil, 1977. 335p. EDMINISTER, Joseph A. Eletromagnetismo. São Paulo: Mc Graw-Hill, 1980. 232p. MORETTO, Vasco Pedro. 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