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Indicadores e índices de saúde Muito provavelmente você já ouviu falar, seja em uma reportagem em algum noticiário ou tenha lido em algum artigo científico o termo indicador de saúde. E mesmo sem saber ao certo como se chegou neste indicador, você já compreendeu que se tratava de uma medida ou uma sinalização a qual continha uma informação, que permitia compreender o desempenho de uma determinada questão em saúde, certo? E é isso mesmo, o indicador de saúde, em suma, apresenta uma informação que auxilia profissionais a compreenderem determinadas realidades; a fazerem a leitura de como aquela situação em saúde se encontra naquele momento. Agora que você já compreendeu um pouco sobre a função do indicador, veja abaixo quais deles existem e compõem medidas necessárias que permitem aos profissionais fazerem reflexões, inferências, deduções sobre o cenário epidemiológico e a situação de saúde. 1.1 Definição do indicador de saúde A OPAS (Organização Panamericana da Saúde), antes de definir o que seria um indicador, destaca que levou em conta o conceito de saúde adotado pela OMS (Organização Mundial da Saúde), que define a saúde, como “um completo bem- estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença ou enfermidade” (WHO, 1946). A partir disso, passou a destacar que todo indicador de saúde nada mais é do que uma estimativa de uma dimensão em saúde, em uma população específica. Dessa forma, teria como função mensurar, com um certo grau de imprecisão, uma questão de relativa à saúde. Mas cabe destacar que há diferença entre mensurar e mensuração (OPAS, s/d; PORTA; 2014). O termo mensurar é um procedimento que permite aplicar uma escala ou um conjunto de variáveis.O termo mensuração apresenta a extensão, a dimensão a quantidade atribuída. Segundo a OPAS (s/d, on-line), o ato de mensurar é realizado por meio de: • Observação direta de um indivíduo • Observação de um grupo ou de um espaço geográfico Quando se trata da observação de grupos ou espaço geográfico definido, as mensurações são usadas para definir indicadores. Conforme Morgenstern (1995), tais mensurações podem ser de três tipos distintos. Veja abaixo. Consolidada Ambiental/ecológica Global Quando se mensuram grupos ou locais, tratamos da definição acerca de indicadores de saúde da população, que é distinto do indicador de saúde do indivíduo. Para isso, faz-se necessário definir o evento de interesse, a população específica, destacando critérios que se referem à inclusão ou exclusão. Dessa forma, quando mensuramos dimensões de saúde de uma população, que não a de um indivíduo, estamos propensos à realização de estimativas que apresentam um certo grau de imprecisão quando chegamos ao dado final (MORGENSTERN, 1995). Mas além da definição da OPAS, existem outras classificações. Pereira (1995) aponta o conceito de indicador em saúde, que em geral é abordado como medida-síntese, que revela uma situação, um compilado de dados que, por si só, não seria claro, não seria evidente. Assim, quando tratamos de indicadores de saúde, sabemos que se refere à capacidade de mensurar um aspecto em saúde que diz respeito a uma população definida, normalmente essa população é apontada por critérios de inclusão e exclusão. Para facilitar o entendimento, consideraremos a partir das definições existentes na literatura, a título de melhor compreensão da unidade, que o indicador é uma mensuração, uma medida-síntese, o qual reflete uma determinada situação. Diante disso, compreende-se que um indicador, por si só, pode conter informações relevantes acerca dos cenários de saúde, demonstrando, por exemplo, como está o desempenho de um sistema de saúde (PEREIRA, 1995; OPAS, s/d). Portanto, é ferramenta que permite descrever e monitorar a situação em saúde de uma população. Os atributos se relacionam às características ou qualidades da saúde, e as dimensões da saúde compreendem o bem-estar físico, emocional, espiritual, ambiental, mental e social (PEREIRA, 1995; OPAS, s/d). No entanto, quando tratamos de indicadores, é importante distinguir algumas definições. Dados e índices, por exemplo, por mais que pareçam sinônimos, distinguem-se entre si na função que exercem na saúde pública e na epidemiologia. Para melhor compreender a diferença, podemos pensar que o dado será a fonte de informação ao indicador, o qual produz informação que leva ao conhecimento do cenário e permite a tomada de decisão em saúde, ou seja, a ação de melhoria ou manutenção das estratégias utilizadas (OPAS, s/d). Veja abaixo o espiral de hierarquia de conceitos em saúde pública para melhor recordar destas diferenças. #PraCegoVer: A imagem mostra a espiral de hierarquia de conceitos em saúde pública. E, se mesmo visualizando o espiral acima, ainda persistirem dúvidas acerca da diferença existente entre dado e indicador, veja a situação para melhor compreendê- los. Quando trabalhamos a taxa de prevalência de pacientes com diabetes Mellitus em uma população específica no ano de 2019, estamos nos referindo ao indicador de saúde. Mas para que possamos chegar a este indicador, precisamos de dados. Por isso, a importância da fixação do espiral acima! Nesse sentido, os dados seriam o número de casos de diabetes mellitus em residentes existentes em um determinado período, nesse caso, no ano de 2019 (numerador), e a população total residente naquele local (denominador). A esses dados, métodos de cálculo são aplicados para se chegar até o total do indicador. Mas, muito embora exista uma diferença quando analisamos sob a ótica da epidemiologia e da saúde pública, não podemos descartar a possibilidade de que o dado de cada novo caso de diabetes mellitus é também um indicador. E essa informação reflete os hábitos de vida populacionais ou a predisposição existente em determinadas pessoas, demonstrando um evento, situação que pode ser mediada por ações em saúde, e enfatizada pelos serviços que, nesse caso, poderiam ser ações de promoção à saúde, por exemplo. Além disso, destacamos que índice e indicador também não podem ser igualados, já que o primeiro expressa uma série de dimensões, diferente do indicador, que traduz somente um enfoque, como, por exemplo, a mortalidade. Assim, o índice irá incorporar numa única medida, mais de um indicador. Por exemplo, o IDH (índice de desenvolvimento humano), utilizado na saúde pública, e que contabiliza diversos indicadores (UNASUS, 2014). 1.2 Modalidades de indicadores de saúde Dentre os indicadores existentes, seis modalidades são consideradas as mais utilizadas e que estão destacadas abaixo: • indicadores demográficos; • indicadores socioeconômicos; • indicadores de mortalidade; • indicadores de morbidade e fatores de risco; • indicadores de recurso; e • indicadores de cobertura. Para melhor compreensão dos subconjuntos que compõem cada indicador, veja abaixo alguns exemplos. Exemplos de indicadores demográficos: • população total; • proporção de idosos na população; • taxa bruta de natalidade. Taxa bruta de natalidade: refere-se ao número de nascidos vivos, por mil habitantes na população residente em determinado espaço geográfico, no ano considerado. Exemplos de indicadores socioeconômicos: • taxa de analfabetismo; • níveis de escolaridade; • taxa de desemprego. Taxa de desemprego: percentual da população residente economicamente ativa que se encontra sem trabalho na semana de referência, em determinado espaço geográfico, no ano considerado. Exemplos de indicadores de mortalidade: • taxa de mortalidade infantil; • razão de mortalidade materna; • taxa de mortalidade em menores de 5 anos. Taxa de mortalidade em menores de 5 anos: númerode óbitos de menores de cinco anos de idade, por mil nascidos vivos, na população residente em determinado espaço geográfico, no ano considerado. Exemplos de indicadores de morbidade e fatores de risco: • incidência de sarampo; • incidência de sífilis congênita; • taxa de prevalência de aleitamento materno. Incidência de sarampo: número absoluto de casos novos confirmados de sarampo na população residente em determinado espaço geográfico, no ano considerado. Exemplos de indicadores de recurso: • número de profissionais de saúde por habitante; • número de leitos hospitalares por habitante; • valor médio pago por internação hospitalar no SUS. Número de profissionais de saúde por habitante: número de profissionais de saúde em atividade, por mil habitantes, segundo categorias, em determinado espaço geográfico, no ano considerado. Exemplos de indicadores de cobertura: • número de consultas médicas por habitante; • cobertura vacinal; • cobertura de consultas de pré- natal. Cobertura de consultas de pré-natal: distribuição percentual de mulheres com filhos nascidos vivos segundo o número de consultas de pré-natal, na população residente em determinado espaço geográfico, no ano considerado. Como observado, os cálculos para obtenção dos indicadores se distinguem conforme o que buscamos. Porém, com o tempo, ao realizar a leitura detalhada, você consegue perceber que, a depender do indicador, é possível chegar à dedução do cálculo. Mas isso exige prática, atenção e leitura sobre questões do universo da epidemiologia. O Datasus é uma plataforma nacional de acesso e disponibiliza informações que subsidiam análises objetivas da situação sanitária, tomadas de decisões, baseadas em evidências, e elaboração de programas de ações de saúde. O site é importante fonte de informações para os serviços vinculados ao SUS no Brasil. Nele, você encontra indicadores de saúde, bem como suas formas de cálculo e dados atualizados (DATASUS, 2012). 2 Avaliação de indicadores em saúde Quando estamos tratando de saúde, não há como negar a importância de que para se fazer gestão é preciso avaliar o que estamos fazendo, bem como as decisões tomadas e os resultados alcançados. É quase um vai e vem, precisamos por vezes rever nossa tomada de decisão, pensar em novas tentativas, estimar recursos e analisar as metas. E é nesse sentido que a avaliação em saúde se torna fator potente para auxílio no planejamento. Por isso, trataremos acerca da avaliação em saúde, sobre o que é avaliação? Se existe diferença entre avaliação e monitoramento e quais seriam as diferenças, quais as semelhanças? Como reconhecer a demanda pela avaliação da estrutura, do processo do resultado? Ao final, você perceberá a necessidade dessa ferramenta para o trabalho em saúde. 2.1 Modelo de avaliação em saúde O conceito de avaliação é ainda debatido na literatura, no entanto, existe um consenso de que a avaliação deve levar a um juízo de valor sobre o objeto avaliado. Dessa forma, o conceito definido por Patton nos serve de guia. Avaliação é a coleta sistemática de dados sobre atividades, características e efeitos de programas para uso de interessados, de forma a reduzir incertezas, melhorar a efetividade e tomar decisões com respeito ao que aquele programa está fazendo, quais são seus resultados e como pode ser ajustado (PATTON, 1990, p. 32). Assim a avaliação é ferramenta que pode ser aplicada desde o cuidado realizado ao indivíduo e família, pelo profissional no serviço de saúde, até a avaliação de complexos sistemas municipais, estaduais e nacionais de saúde, pelos gestores. Nesse sentido, muitas técnicas e métodos têm sido desenvolvidos e aplicados. No que tange o monitoramento, embora similares, sua especificidade está baseada na definição de Brasil (2009, p.11), “O processo de acompanhamento da implementação de determinadas ações, tomando-se como base o que um projeto (ou equivalente) estabelece como metas de sua implementação”. Ou seja, trata-se de uma ferramenta que acompanha objetivos, metas, se de fato estão sendo alcançadas. Sendo um acompanhamento sistemático sobre projetos, programas que são compactuados. Pois bem, agora que você compreendeu a diferença entre monitoramento e avaliação, vamos adentrar no universo da avaliação em saúde. Das abordagens existentes de avaliação em saúde, temos o modelo de referência de Donabedian (1990) que enfoca “estrutura - processo - resultado”. Tal modelo apresenta três componentes da avaliação, e é um dos mais utilizados. Veja abaixo. Estrutura Processo Resultado 2.2 Natureza da avaliação em saúde Foi durante os anos 70 que a avaliação das ações sanitárias passou a ganhar espaço, em meio a um contexto histórico em que o Estado passava a se responsabilizar financeiramente por alguns serviços de saúde, tornando-se indispensável o controle sobre os custos do sistema. Nesse sentido, as decisões precisavam se fundamentar em informações, demandando uma necessidade avaliativa. Dessa forma, a natureza da avaliação em saúde tomou duas dimensões (HARTZ, 1997). A natureza normativa segue uma linha mais tradicional de avaliação que se preocupa em julgar o cumprimento das normas estabelecidas, ou seja, julga a realidade que se observa a partir da intervenção realizada. Pode-se avaliar por meio de normas e critérios. Aqui, quando tratamos de intervenção, estamos nos referindo àquela realizada sob um problema de saúde, trata-se do meio que utilizamos para resolver um problema cotidiano do trabalho na área da saúde (HARTZ, 1997). É uma avaliação que ocorre a partir de critérios e normas, distinguindo-se da natureza avaliativa porque esta utiliza procedimento científico como método avaliativo. Este tipo de avaliação auxilia substancialmente nas fases de implantação de ações, de políticas, programas e serviços. Intenciona-se medir e julgar uma intervenção a partir de normas definidas (HARTZ, 1997; UNASUS, 2014). A natureza avaliativa busca o julgamento a partir de métodos científicos, indo desde a análise da pertinência dos fundamentos teóricos, da produtividade e de resultados de uma intervenção, relacionando-os com o contexto no qual se situa (UNASUS, 2014). A comparação com normas e padrões é insuficiente para essa avaliação, que deve ser aplicada no momento da implantação. Nessa modalidade de avaliação deve estar incluída a perspectiva de propor alternativas aos problemas identificados (UNASUS, 2014). Perguntas de natureza avaliativa são similares às perguntas de uma pesquisa científica (HARTZ, 1997). Esse tipo de questão busca estabelecer uma relação entre a intervenção a ser avaliada e o resultado da intervenção. Veja um exemplo de pergunta avaliativa: As ações das equipes de saúde das unidades básicas têm garantido acesso à saúde? Ou talvez, a estratégia de realizar teste do pezinho de 3 a 5 dias é efetiva? Da mesma forma, uma pergunta que se torna não avaliativa, seria por exemplo a de que fatores estão associados ao aumento dos casos de febre amarela? Pois essa seria uma questão que somente citaria os fatores. Uma intervenção pode ter dois tipos de avaliação, seja a normativa como a avaliativa. Quando buscamos estudar cada um dos componentes da intervenção em relação a normas e critérios estamos realizando uma avaliação normativa. Mas se quisermos examinar, por um procedimento científico, as relações que existem entre os diferentes componentes de uma intervenção, estaremos usando um tipo de pesquisa avaliativa (HARTZ, 1997). 2.3 Atributos de um bom indicador de saúde Agora que você já compreendeu um pouco sobre os indicadores de saúde, veja o que faz um indicador ser de qualidade. Validade Mensurabilidade RelevânciaCusto-efetividade DDefine-se o grau de excelência de um indicador pela sua validade (capacidade de medir o que se pretende 2.4 Fonte de informação de indicadores para avaliação e monitoramento em saúde Sabemos que alguns indicadores se concentram em bases de dados oficiais nacionais. Os sistemas de informação em saúde são instrumentos padronizados de monitoramento e coleta de dados, eles fornecem informações para análise e melhor compreensão de importantes problemas de saúde da população, subsidiando a tomada de decisão para a gestão dos problemas de saúde. No Brasil, a avaliação em saúde ocorre pelo monitoramento destes dados e indicadores em alguns sistemas, como destacado a seguir. Nessas bases e sistemas de informações, de forma mais frequente, são os indicadores, os dados de mortalidade e de morbidade que são monitorados por profissionais da saúde. Dessa forma, os sistemas auxiliam em processos de diagnóstico de situação de saúde e no monitoramento. 3 Medidas de frequência de doenças Situações cotidianas no exercício do trabalho em saúde exigem o conhecimento de prevalência e incidência, que dizem respeito a medidas de frequência de doenças. Ambas são extremamente importantes para a compreensão dos dados e indicadores epidemiológicos e para a leitura da evolução das doenças, tratando de medidas de ocorrência de eventos, comorbidades, doenças, auxiliam no planejamento em saúde e no monitoramento das ações e melhorias de políticas voltadas à saúde. 3.1 Prevalência Trata-se de uma taxa que mede o número de indivíduos em uma população, que apresentam uma doença num dado momento, num tempo definido (FRONTEIRA, 2018). Em outras palavras, prevalência se refere ao número de casos novos e velhos de uma doença em um determinado tempo, ou seja, trata-se da proporção da população que já possui a doença (BONITA; BEAGLEHOLE; KJELLSTROM, 2010). Os principais fatores que determinam a taxa de prevalência de uma doença são: a severidade da doença, que significa que se muitas pessoas estão morrendo, a prevalência é menor. A duração da doença, ou seja, se uma doença tem curta duração, sua prevalência será menor se comparada a uma doença com longa duração. Finalmente, o número de casos novos também é determinante na prevalência de uma doença, que significa dizer que se muitas pessoas contraírem a doença, a prevalência será maior se comparada a uma doença que as pessoas dificilmente contraem (BONITA; BEAGLEHOLE; KJELLSTROM, 2010). Para conseguirmos calcular a prevalência de uma doença na população, usamos como fórmula de cálculo: Prevalência = Número de casos existentes x constante (ex.: 100 ou 1000) Número de pessoas na população Veja abaixo uma situação hipotética para conseguir relacionar com sua prática profissional. Imagine, por exemplo, que em uma semana todos os profissionais de saúde de um hospital fizeram teste para detectar o vírus da Covid-19. Dos 400 profissionais de saúde participantes, 40 tiveram resultado positivo para o Coronavírus (Covid-19). Ou seja: Aplicando o cálculo de prevalência percebemos o seguinte: Prevalência = Número de casos existentes (40) x 100 = 10 casos existentes Número de pessoas (400) Ou seja, 40/400= 0,01 que ao ser multiplicado por uma constante, nesse caso pode ser pela constante de 100 que é uma potência mais “fácil” para compreender os dados, teremos um total de 10 casos existentes de Covid-19 a cada 100 profissionais de saúde. 3.2 Incidência Trata-se da velocidade em que novos casos ocorrem em uma população, ou seja, diz respeito ao número de casos novos de uma doença em um determinado período, que poderá ser em dias, em meses, em ano, dentre outros, a depender do período que se objetiva colher aquele dado (BONITA; BEAGLEHOLE; KJELLSTROM, 2010). Para a OPAS (s/d) a incidência, do ponto de vista matemático, trabalha a probabilidade em que um indivíduo pertencente a uma população em risco seja afetado pela doença de interesse num determinado tempo. Assim, a definição de sua fórmula de cálculo ocorre pelo número de casos novos de uma doença, dividido pela população em risco da doença, pela população que está exposta a determinada doença em pesquisa, considerando a população de um espaço geográfico específico, num período específico. Veja abaixo como fica a fórmula de cálculo da incidência: Incidência = Número de casos em um determinado período x constante (ex.: 100 ou 1000) Número de pessoas expostas ao risco no período Lembra-se da prevalência de Covid-19 que calculamos acima? Vamos pensar agora na mesma situação, para que você perceba o uso de ambas as medidas de frequência em uma mesma situação de saúde, mas agora numa tentativa de compreender a incidência. Imagine, por exemplo, que dentre 400 profissionais de saúde acompanhados durante um mês e que trabalham em um hospital de referência, foram diagnosticados 20 novos casos do vírus da Covid-19 dentre eles, qual seria a taxa de incidência de Covid-19 para cada 100 profissionais de saúde por mês? Aplicando o cálculo de incidência percebemos o seguinte: Incidência = Número de casos novos em um mês (20) x constante (100) = 5 casos novos/semana Número de pessoas expostas ao risco no mês (400) Ou seja, 20/400= 0,05 que ao ser multiplicado por uma constante, nesse caso pela constante de 100 que é uma potência mais “fácil” para compreender os dados, teremos um total de 5 casos novos de Covid-19 a cada 100 profissionais por mês. 4 Relação e distinções entre prevalência e incidência Após compreender a incidência e prevalência, cabe destacar que costumeiramente, o uso de ambas, pode ocorrer em distintas situações. Veja abaixo as diferenças existentes entre a prevalência e a incidência: Usualmente, em doenças agudas, aplica-se mais a verificação da incidência, ao passo que para doenças crônicas, percebe-se em sua maioria a determinação da prevalência. No entanto, isso vai depender de qual o meu objetivo enquanto profissional, se é conhecer os dados novos de uma determinada doença na população ou se é reconhecer o número de casos existentes nesta população (BONITA; BEAGLEHOLE; KJELLSTROM, 2010). Taxas de incidência e prevalência com frequência são questões cobradas em provas e em concursos públicos na área da saúde, isso porque ambas as definições podem confundir os profissionais da saúde que não estão habituados a utilizarem estes termos. Uma dica importante para distingui-las é se lembrar que quando se referir a: *casos novos de uma determinada doença = trata-se de incidência; *casos existentes de uma determina doença = trata-se de taxa de prevalência. Claro que o enunciado da questão deve sempre ser levado em conta e é extremamente importante para validar esta dica! Dentre os indicadores mais utilizados em saúde, encontram-se os de mortalidade. Por isso, estudaremos um pouco mais essa especificidade. 4.1 Indicadores de mortalidade Dentre os principais indicadores de mortalidade, estão o de Mortalidade proporcional por causa que envolve as doenças, por exemplo Diabetes, Câncer, Acidente Vascular Encefálico, dentre outras; Taxa ou coeficiente de mortalidade geral; Taxa de mortalidade específica por sexo, idade ou causa e os indicadores de Mortalidade infantil e de Mortalidade materna (UNASUS, 2014). Trata-se de um indicador que apresentará os óbitos por região, por causa, por sexo ou por idade (PEREIRA, 1995). Podendo ser obtido pela fórmula de cálculo: Número de óbitos por determinada causa em determinado período x constante (100, 1000 ou outra) Total de óbitos no período Para aplicar este cálculo em uma situação habitual podemos pensar por exemplo na situação hipotética descrita abaixo. Em 2019morreram 550 mil pessoas em um determinado país, por câncer. No total, o número de óbitos no período e neste mesmo país foi de 1,5 milhão de pessoas. Dessa forma, podemos dizer que de cada 100 mortes ocorridas em 2019, 36 foram por câncer. A taxa de mortalidade geral a qual se refere a toda população é simples e fácil no que tange a obtenção dos dados, sendo realizada por meio do cálculo: Taxa de mortalidade geral = Número de óbitos e um determinado período x constante (ex.: 100 ou 1000) População no meio do período Essa taxa também é factível de calcular a mortalidade por sexo, por idade ou por causa (PEREIRA, 1995). Veja um exemplo para sua mensuração quando se define a característica da mortalidade que se busca. Número de óbitos por idade no período x constante (100, 1000 ou outra) População da mesma idade na metade do período A taxa de mortalidade infantil permite estimar o risco de morte que uma população de nascidos vivos até um ano, de um determinado local está exposto (PEREIRA, 1995), conforme o método de cálculo abaixo: Número de óbitos de menores de 1 ano no período x 1000 Número de nascidos vivos no período Trata-se este de um indicador que também permite conhecer a qualidade de vida e de desenvolvimento, já que expressa a situação de saúde de uma comunidade (UNASUS, 2014). O indicador da mortalidade materna também permite aos profissionais reconhecerem o desenvolvimento de determinados países e a qualidade de vida, já que as questões que estão relacionadas ao seu aumento ou declínio, dizem respeito ao estilo de vida, ao acompanhamento de pré-natal pelas mulheres, bem como a nutrição e aos hábitos de vida das pessoas. Para aplicar o cálculo deste indicador, utilizamos como numerador e denominador: Número de óbitos maternos x 100.000 Número de nascidos vivos Cabe enfatizar que a OMS define como óbito materno a morte de uma mulher durante a gestação ou dentro do período de puerpério, independente da duração da gravidez, tendo relação com a gravidez ou sendo agravada por ela (OMS, 1997). 4.2 Esperança de vida O indicador esperança de vida ao nascer ou expectativa de vida ao nascer, ou também denominado vida média ao nascer, expressa a longevidade da população além de representar uma medida da mortalidade e de indicar melhores condições de vida da população (DATASUS, 2020), pois se pensarmos que quanto maior a esperança de vida, indubitavelmente estaremos dizendo que melhores são as condições de vida da população. Em se tratando do conceito deste indicador, trata-se do número médio de anos de vida esperados para uma pessoa recém-nascida, considerando o padrão de mortalidade no período e também, o determinado espaço geográfico e o período pesquisado (DATASUS, 2020). A usabilidade deste indicador está principalmente na análise de variações geográficas na expectativa de vida populacional, sendo importante para a avaliação dos níveis de vida da população. Dessa forma, este indicador propicia avaliações quanto ao planejamento, gestão das políticas e ações em saúde voltadas à população, principalmente à população idosa (DATASUS, 2020). Em um período de 15 anos, a expectativa de vida ao nascer do brasileiro se elevou, isso significa dizer que a qualidade de vida também, pois ao compararmos o ano de 2000 ao de 2015, percebe-se uma elevação média de 5 anos, podendo estar relacionado a melhores hábitos de vida, a maior acesso às ações e serviços de saúde, dentre outros inúmeros fatores que são reflexos importantes na qualidade de vida e por conseguinte, na esperança de vida ao nascer. AVA 4 1 Fecundidade A fecundidade refere-se à geração de filhos. É a capacidade de procriar e, com o aumento da sua prole, deixa descendentes. Como a epidemiologia estuda a população e a relação saúde- doença, a fecundidade é algo fundamental para esta relação. A epidemiologia é dinâmica, e sofre constantes mudança devido à alteração na população, e estas mudanças podem ter início com a alterações nas taxas de fecundidade. O Brasil passou por grandes mudanças no século XX. Estas transformações estão relacionadas, principalmente, com a estrutura e com a dinâmica populacional brasileira. O principal determinante para que esta mudança tenha ocorrido é a fecundidade, que, no século XX, teve uma redução nos números de forma rápida e de maneira intensa nos países mais populosos no mundo. 1.1 Fecundidade e fertilidade Apesar de a fecundidade ser um fator relevante para a mudança, ela não anda sozinha. A fertilidade também acompanha a fecundidade. Ambos os termos, fecundidade e fertilidade trazem referência à geração de filhos. Contudo,mesmo com a referência similar, eles não são sinônimos. Para evitar confusão sobre os seus significados, vamos começar trazendo a definição de ambos. A fecundidade possui algumas definições. A Associação Internacional de Epidemiologia - IEA (international epidemiolocal association) traz, no seu dicionário de epidemiologia, que é apresentado por Porta (2008, p. 93), o seguinte conceito para fecundidade: A capacidade de produzir filhos vivos. A fecundidade é difícil de medir, pois se refere à capacidade teórica de uma mulher de conceber e carregar um feto a termo. Se uma mulher produz um nascimento vivo, sabe-se que ela e seu parceiro foram fecundos durante algum tempo no passado. Este mesmo dicionário da associação Internacional de epidemiologia também traz a definição para fecundidade. “A produção real de filhotes vivos. Natimortos, mortes fetais e abortos não são incluídos na medição da fertilidade em uma população. Veja também gravidade; paridade” (PORTA, 2008. p. 93). Estas são algumas definições utilizadas internacionalmente. Porém, acredito que podemos utilizar outros conceitos para fecundidade e fertilidade mais próximos da realidade brasileira. Assim, segundo Pereira (1995, p. 145) a fecundidade é a “ geração de filhos, isto é, a materialização do potencial de procriar, é a informação prática de interesse, que é dada pelas medidas de fecundidade”. Assim, pode-se perceber que este autor menciona que a fecundidade é o potencial de procriar, mesmo que, de maneira prática, algumas mulheres possa não ser fecundas, por serem estéreis ou inférteis (PEREIRA, 1995). Segundo Pereira (1995, p. 145), também a fertilidade pode ser definida como: “a capacidade de gerar filhos. Toda mulher, teoricamente, tem essa capacidade, desde a menarca à menopausa”. Já, neste caso, seria a simples possibilidade de poder gerar filhos, ou simplesmente, de engravidar. De maneira geral, a faixa etária que é utilizada para determinar a fecundidade das mulheres é entre 15 e 49 anos de idade. No entanto, em algumas delas, a menarca pode ocorrer antes dessa idade, o que indica que ela já poderia ter filhos. Embora isso possa acontecer, para facilitar o assunto em termos estatísticos, utiliza-se 15 anos como limite inferior e também pelo fato de a maioria dos nascimentos no Brasil ocorrer após essa idade. 1.2 Estudos de fecundidade, origem dos dados Para estudar a fecundidade de determinada população, é importante conhecer onde ir buscar tal informação. É importante procurar uma fonte confiável e, se possível, oficial, pois assim não haverá “erros” nos dados. Apesar de o termo erro não significar que não possui nenhum viés, ele simplesmente aponta que os dados são oficiais e apresentados pelas autoridades, o que não exime a ocorrência de subnotificação, devido a erro durante o processo, erro no preenchimento ou, simplesmente, por falta de interesse do responsável. 1.3 Registro civil Os registros civis são uma fonte rica em informações para a epidemiologia. Neles, podemos encontrar diversas informações sobrea sociedade e, com isso, é possível inferir a tendência de saúde de toda a população. Mesmo que estes dados possam conter erros ou imprecisões, não invalidam a sua utilização, pois, com eles, é possível fazer uma avaliação aproximada da situação em quase que em tempo real. Tanto o IBGE (instituto brasileiro de geografia e estatística) quanto o Ministério da Saúde coletam estas informações sobre os nascidos vivos no País. 1.4 Inquéritos Hoje os inquéritos são menos utilizados devido ao alto custo. Contudo, em locais onde os registros de nascimentos são bastante imprecisos ou onde ocorra um número expressivo de nascimentos não notificados, é necessária a utilização de inquéritos para avaliar esse dado. Atualmente, o IBGE realiza uma pesquisa amostral para conhecer a fecundidade de toda a população. 2 Coeficiente de fecundidade O coeficiente de fecundidade, assim como outros valores de nascimento vivos em uma dada população, pode ser relacionado com outros valores. A utilização de um coeficiente ou taxa é uma maneira que permite comparar os valores entre as regiões. Como exemplo, podemos pensar que o nascimento no município de São Paulo (SP) é maior do que o número de nascimento em Porto Velho (RO). Porém, isso se deve ao fato que, na capital paulista, possui mais pessoas vivendo lá, o que, consequentemente, faz com que lá ocorra o nascimento de mais bebês - quando comparado a Manaus ou a outro município brasileiro. O termo coeficiente, que em inglês também é coeficiente, praticamente não é utilizado nos termos epidemiológicos no idioma inglês, que é o idioma de origem da epidemiologia. Assim, em textos brasileiros taxa e coeficiente podem ser considerados sinônimos. Porém, alguns utilizam taxa para macro indicadores e coeficiente para micro indicadores, mas isso não é uma definição. Por isso, utilizamos coeficientes ou taxas, e é possível comparar diferentes locais, pois, durante o cálculo, é levado em consideração a população exposta ao evento, nesse caso, as mulheres. 2.1 Taxa de fecundidade geral A TFG (taxa de fecundidade geral) traz a relação entre número de nascimentos vivos em determinado período. Para o cálculo, são consideradas mulheres com idade entre 15 e 49 anos. Este é um indicador bastante refinado (PORTA, 2008). A taxa de fecundidade é definida como: TFG=(Número de nascidos vivos no período)/(Número de mulheres entre 15 e 49 anos ) ×1000 Este indicador que é extremamente útil, porém, possui algumas limitações. Uma delas é, justamente, a estrutura etária da população. Por diversos motivos, as mulheres não possuem filhos na mesma faixa etária. Assim, a faixa etária é um instrumento extremamente importante. Por isso, a taxa de fecundidade geral não é muito utilizada. Dessa forma, a taxa de fecundidade geral por idade e a taxa de fecundidade total são mais utilizadas do que a taxa de fecundidade geral. 2.2 Taxa de fecundidade específica por idade A taxa de fecundidade específica por idade faz a relação entre o número de nascidos vivos (em relação a uma determinada idade da mãe) e o número total de mulheres na população que possui a mesma idade. Para esta taxa, é necessário conhecer a idade da mãe para que se possa calcular este indicador (PEREIRA, 1995). A fecundidade não é homogênea em todas as faixas etárias, e esta heterogeneidade é decorrente de diversos motivos em relação à idade da mulher. O próprio IBGE (2012) traz a definição para a taxa de fecundidade especifica por idade. A taxa específica de fecundidade por idade da mulher refere-se ao quociente entre o número de filhos tidos nascidos vivos de mães em um determinado grupo etário e o número de mulheres nesse mesmo grupo, indicando o número médio de filhos que uma mulher teria dentro daquele grupo etário (IBGE, 2012, p. 75). 2.3 Taxa de fecundidade total A TFT (taxa de fecundidade total) é calculada a partir das taxas de fecundidade específicas. Ela é bastante empregada quando se compara populações distintas. O dicionário da Associação Internacional de Epidemiologia, que é apresentado por Porta (2008, p. 93) traz o seguinte conceito para taxa de fecundidade total: O número médio de filhos que nasceriam por mulher se todas as mulheres vivessem até o fim de seus anos férteis e tivessem filhos de acordo com um determinado conjunto de taxas de fertilidade específicas da idade. É calculada somando as taxas de fertilidade específicas para cada idade e multiplicando pelo intervalo em que as idades são agrupadas. A TFT é uma medida importante de fertilidade. 3 Natalidade A natalidade é a quantidade de pessoas que nasceram em relação à população. Com isso, são excluídos os natimortos e são considerados somente os que nasceram vivos. Conforme a OMS (organização mundial da saúde), 2009, nascimento vivo é a expulsão completa do corpo da mãe independente da duração da gravidez. Que após o parto, ele seja capaz de respirar ou de ter qualquer sinal de vida, com o cordão umbilical cortado ou não. Cada produto de um parto que reúna estas condições é considerado uma criança viva. 3.1 Taxa de natalidade A natalidade também pode ser medida na população. Para isso, utilizamos a taxa de natalidade e o dicionário da Associação Internacional de Epidemiologia para conceituá-la. “Uma taxa resumida com base no número de nascidos vivos em uma população durante um determinado período, geralmente, 1 ano (PORTA, 2008, p. 93)”. E ela pode ser dada pela seguinte formula: TN=(Número de nascidos vivos no período)/(População no meio do período) ×1000 Como é possível observar nessa fórmula, o numerador é a quantidade de nascido em determinado período, geralmente, um ano. Contudo, esse lapso pode ser maior. Já o denominador inclui a população da metade do período. Entra como população: homens, mulheres, adultos e crianças. Como a taxa de natalidade leva em conta a estrutura da população, ela varia com a alteração dessa estrutura. Assim a taxa oscila com o tempo, e essa mudança pode ser resultante das mudanças no numerador e no denominador. Mesmo que a taxa sofra com alterações da estrutura da população, ela é de grande valia para sabermos o que está acontecendo com os indivíduos ao longo do tempo (PEREIRA, 1995). Ao analisar a taxa de natalidade por longos períodos, é preciso ter cuidado, pois a taxa varia com a estrutura da população. Contudo, quando esta observação é em curto período, não é necessário se preocupar com esta questão. Outra importância para a utilização da taxa de natalidade é devido ao fato de ela permitir acompanhar o crescimento natural da população. Isso é possível ao comparar a taxa de natalidade com a taxa de mortalidade; quando a primeira é maior do que a segunda, ocorre um aumento natural da população (PEREIRA, 1995). A epidemiologia faz uso dessa taxa para poder planejar as suas atividades nos serviços de saúde-doença, como o planejamento de leitos, hospitais, programas habitacionais etc. 3.2 Sub-registro de nascimento O número de nascimento é feito por meio dos dados oficiais. Logo, se uma pessoa não é registrada, ela não existe para o Estado; o que pode deixá-la fora dos programas governamentais e fazer com essa pessoa sem registro tenha dificuldades para ter acesso aos programas de saúde. Por isso, o sub-registro é algo que preocupa a epidemiologia, visto que não se sabe o número total de nascidos, o que não permite a ampliação dos sistemas de saúde na região. No passado, esse número era enorme. Na década de 40, o total de sub-registros de nascimento chegava a 40% em alguns Estados. Com o passar do tempo, esse número reduziu drasticamente, mas ainda existe isso no Brasil (PEREIRA, 1995). Apesar de parecer um pouco fantasiosa,ainda hoje ocorre sub-registro no país. Os dados oficiais do IBGE, no censo de 2010, apontou que cerca de 599 mil crianças com idade inferior a 10 anos não têm registro de nascimento. Essas crianças sem registro corresponde à aproximadamente 2% de crianças menores de 10 anos (IBGE, 2010). Em termos estatísticos, o sub-registro é sempre quando o registro ocorre após um ano de nascimento. Existe um problema social do sub-registro, porém, o grande problema para a epidemiologia é que, se o sub-registro for em grande quantidade, isso pode impossibilitar as estatísticas oficiais como fonte de informações. Diversos são os motivos para que ocorra os sub-registros. Eles podem variar por características regionais ou sociais, dentre elas a distância dos cartórios ou o custo de deslocamento. Outro impeditivo pode ser o desconhecimento sobre a importância do registro ou sobre a própria paternidade da criança. Algumas ações como o Bolsa Família, auxílio-maternidade e o BPC (benefício de prestação continuada), pagos INSS, são fatores que ajudam na redução dos sub- registros, pois, as famílias, para serem atendidas por estas programas e políticas sociais, precisam estar com todos os documentos em dia (MELO, 2019). 4 Composição da população A população é composta por seus indivíduos, e a composição da população não é igual nos diferentes locais ou ao longo do tempo. Por isso, idade e sexo são reflexos da história que esta população teve e também da dinâmica populacional. 4.1 Composição por idade e sexo A epidemiologia estuda quem, quando e onde os agravos ocorrem. Para isso, entender a influência dos fatores demográficos é de grande importância para os epidemiologistas. Ao conhecer os fatores demográficos, pode-se saber quais as características da população e quais agravos podem ocorrer. As diferenças na população são apresentadas quando se procura configurar a estrutura dessa população, em relação ao local de residência, estado civil, profissão, nível econômico. As variáveis demográficas são inúmeras, porém as mais apresentadas em trabalhos epidemiológicos são idade, sexo e local de residência. Diversas são as características e formas de apresentar estes dados. Essa mudança é devida à redução das taxas de fecundidade total no Brasil, e a composição da população brasileira também vem se alterando. Essas modificações são perceptíveis a cada censo demográfico divulgado pelo IBGE. A estrutura etária da população residente no Brasil sofreu profundas mudanças nos últimos 50 anos. Em 1960, o país tinha uma população mais jovem, com maior concentração na base da pirâmide. Em 2010, a estrutura mudou devido ao envelhecimento da população e houve ainda um alargamento da pirâmide na faixa etária dos 15 aos 35 anos. 4.2 Descrição da população Diversos são os motivos para a estruturação da população para a epidemiologia, um surto de determinado agravo, que acometa mais idosos, ou mulheres acima de 60 anos. Ao saber a estrutura da população, a epidemiologia pode utilizar estas questões para o planejamento das ações de intervenção. Outro exemplo para conhecer a importância do perfil da população é durante a implantação de um novo atendimento. Se você está na equipe de implantação de uma maternidade, onde antes não havia, é importante conhecer a população para buscar saber qual é a demanda que esta nova unidade de saúde deverá estar preparada para atender. Existem diversos meios para conhecer estas informações, seja por meio oficial, como pelo censo populacional, ou por meio outros dados. A população em certa idade (20 anos) é o resultado do número de nascimentos de 20 anos atrás menos a mortalidade que este grupo estava sujeito desde o nascimento. Esta é uma maneira de descrever a população em certo lugar. 4.3 Razão de sexo A razão de sexo é uma das medidas mais importantes. Ela aponta a variável demográfica mais conhecida e a mais importante. O equilíbrio entre os sexos na população humana é o que determina a união monogâmica. A razão de sexo é a medida mais utilizada, e ela compara a proporção de homens e mulheres. Conforme o dicionário da Associação Internacional de Epidemiologia, apresentado por Porta (2008, p. 228), o conceito de razão de sexo é: “a proporção de um sexo para o outro. Geralmente definida como a proporção de homens para mulheres (ou das bandas observadas em homens e mulheres).” E ele pode ser dado pela seguinte fórmula: RS = Número de homens em determinado lugar em certo período/Número de mulheres em determinado lugar em certo período ×100 A razão de sexo pode ser utilizada para a análise de algumas características da população como fecundidade, mortalidade, migração, mortalidade. A razão de sexo permite comparar, de maneira direta, a composição do sexo da população. No Brasil, a razão de sexo é maior na zona rural do que na urbana, conforme os dados disponibilizados pelo censo populacional de 2010 e também possui mais homens na zona urbana do que na zona rural. No País, é possível perceber como a razão de sexo se altera com o tempo. Veja a seguir. 4.4 Razão de dependência A razão de dependência também é utilizada para conhecer uma população. Ela mede a porcentagem da população potencialmente inativa em relação à população potencialmente ativa. O dicionário da Associação Internacional de Epidemiologia que é apresentado por Porta (2008, p. 63) traz o seguinte conceito para razão de dependência: Proporção de crianças e idosos em uma população em comparação a todos os outros (isto é, a proporção de economicamente inativo para economicamente ativo); “Crianças” são geralmente definidas com menos de 15 anos de idade e “idosos” com 65 anos ou mais. A razão de dependência pode ser dada pela seguinte formula: RS = (Nº indivíduos ≤14 anos)+(Nº indivíduos≥65 anos))/(Nº indivíduos entre 15 a 64 anos) ×100 Como a epidemiologia tem como pilar as ciências sociais, ela se preocupa com indicadores sociais - quanto menor for esta relação mais problemas sociais a região pode ter. Esses problemas sociais que esta população pode vir a apresentar, provavelmente, irá trazer problemas e agravos no futuro para esta população. 5 Epidemiologia das doenças transmissíveis (doenças infecciosas) As doenças transmissíveis são um importante fator de morte dos indivíduos, afligindo diversas pessoas pelo mundo. A doença é um desajuste no organismo, que ocorre em função de uma falha no equilíbrio natural do corpo. Durante o estágio inicial da doença, o organismo detecta a presença de vírus e tenta combatê-lo. Caso o sistema imune consiga vencê-lo, a doença não passa da fase subclínica. As doenças podem ser: • infecciosas; e • não infecciosas. Agora vamos aprofundar nas doenças infecciosas. 5.1 Doenças transmissíveis: definição As doenças infecciosas ou também conhecidas como doenças transmissíveis podem ser explicadas como cujo o agente etiológico é vivo e transmissível. Todas as doenças que o agente “parasita” outro indivíduo e pode migrar (transmitir) para outro indivíduo é causador de doença. Nesse caso, o parasita pode ser definido como vírus, bactéria, helminto, protozoário, assim seria a definição de um agente causador de doença, ou a própria definição do termo, em que causa uma relação desarmônica, nesse caso a doença. A maioria das doenças infecciosas estão relacionadas à pobreza, à miséria. Assim alguma dessas doenças transmissíveis estão intimamente ligadas à pobreza ou à falta de condições sanitárias adequadas. O epidemiologista atua, principalmente, em detectar a ocorrência da doença e implementar intervenções para resultados rápidos para interromper a cadeia de transmissão para outras pessoas, além de propor açõesque previnam a ocorrência dessas enfermidades. Assim, as doenças transmissíveis são aquelas causadas por agentes infecciosos específicos: bactéria, vírus, protozoário, helminto, fungo ou príon, ocorrendo após a transmissão de algum desses agentes, de uma pessoa ou animal infectado para um hospedeiro suscetível. Compreender este processo de transmissão é fundamental para o conhecimento e recomendações efetivas de prevenção e controle das doenças. O ambiente está intimamente interligado com a transmissibilidade das doenças. Cada agente etiológico tem uma relação diferente com o ambiente. No caso da esquistossomose, a doença precisa de um vetor, nesse caso caramujo que está em um ambiente aquático. Porém, se a doença for dengue, o ambiente irá influenciar de maneira diferente. Nesse caso, o vetor, que voa livre durante o dia, irá buscar uma pessoa para exercer a solenofagia e pode, nesse momento, inocular o vírus do dengue. No caso da gripe, uma pessoa transmite para outra, e o ambiente influencia de outra maneira. Diversas doenças transmissíveis possuem estrutura epidemiológica diferente. Alguns indivíduos podem ser hospedeiro quando sua função for servir para que a infecção cresça, e ele poderá servir como reservatório da doença quando ajudar na manutenção da enfermidade. 5.2 Transmissão do agravo Em se falando de doenças transmissíveis, o principal fato é como ocorre essa transmissão. Transmissão da doença é o termo utilizado por profissionais da saúde para afirmar a passagem do agravo entre pessoas. Contudo, esse termo menciona a doença, o que na verdade ocorre é a passagem do agente etiológico, o que por si só não pode garantir a manifestação da doença. Na realidade, pode-se entender que ocorre a transmissão do agente etiológico ou infeccioso. Como exemplo podemos citar a gripe, onde a transmissão da gripe na verdade é a transmissão do vírus influenza, o que não caracteriza a transmissão da doença, pois o indivíduo pode estar imunizado por vacina ou outro fator. 5.3 Elo de transmissão e manutenção A transmissão do agente pode ocorrer desde que tenha alguns fatores: • hospedeiro susceptível; • indivíduos não imunes e não infectados; • veículo ou vetor; • agente infeccioso; • ecossistema favorável. Apesar de o ecossistema estar em último, ele é o mais importante para a transmissão. É por meio dele que todos os outros agentes interagem para a manutenção e transmissão do agente. O agente infeccioso é o patógeno causador do agravo, da doença, ele pode ser o Plasmodium spp. Schistosoma mansoni, Trypanossoma cruzi. Cada um desses agentes infecciosos são causadores de uma doença diferente, sendo malária, esquistossomose e doença de chagas, respectivamente. O hospedeiro é de extrema importância. Ele alberga a agente, aquele pode ser o hospedeiro, onde os sintomas são manifestados, ou como reservatório. O reservatório possui grande papel para manter o agente etiológico e a manutenção do ciclo da doença. O reservatório também pode sofrer as ações da doença. Às vezes, devido a fatores imunológicos referentes ao reservatório, esta fase clínica pode ocorrer após anos ou meses depois do contágio. Além dessa característica referente ao hospedeiro, é necessário que ele seja susceptível à infecção. No decorrer da vida, o indivíduo tem contatos diários com diversos patógenos. Porém, devido ao fato imunológico inerente ao hospedeiro, como imunização prévia, entre outros, a infecção pode não instalar. Para o agente passar entre os hospedeiros, é necessário um veículo. Os veículos são objetos ou materiais que servem de meio para transportar o agente infeccioso, como água, poeira, solo, aerossóis etc. Caso o agente seja transportado por um ser vivo, este recebe o nome de vetor. O vetor é qualquer ser vivo que seja capas de transportar o agente infeccioso até o novo hospedeiro. Para que a espécie seja considerada vetor, o agente deve ser capaz de reproduzir no vetor. É o caso da malária, dengue ou Esquistossomose. O agente infeccioso é capaz de reproduzir no vetor. Nesse caso, o vetor pode ser mecânico, como é o caso do Trypanossoma evansi no continente americano, em que as moscas do gênero Tabanidae spp. ou Stomoxys spp. que são consideradas vetores mecânicos ou, conforme alguns autores, inoculadores mecânicos. Para ser considerado vetor propriamente dito, o agente infeccioso deve ser capaz de reproduzir nele, isso não ocorre no Trypanossoma evansi e seus vetores no continente americano. 5.4 Modelos de transmissão Hoje possuem alguns modelos para esclarecer a transmissão das doenças, sendo elas: transmissão horizontal ocorre quando o agente infeccioso é transmitido de pessoa em pessoa, ou seja, de uma pessoa para outra. Transmissão direta: é quando um indivíduo contaminado e infectado consegue transmitir o agente a outro indivíduo, seja por meio das mãos ou secreções oro nasais. Ou quando o agente é lançado dentro do outro indivíduo. Nesse caso, podemos pensar nas doenças sexualmente transmissíveis. A transmissão horizontal também pode ser indireta. Aqui, o agente necessita de agente mediador. Nesse caso, pode ser um vetor ou veículo. 6 Epidemiologia das doenças não transmissíveis (doenças não infecciosas) A epidemiologia é uma ciência em constante mudança. Antes as doenças infeciosas eram um grande problema, hoje já não é assim. Com o advento do antibiótico, e o avanço da medicina as doenças não transmissíveis ou doenças crônicas se tornaram um grande problema global de saúde. Essas doenças são responsáveis por um grande número de mortes ou incapacidades. O Brasil vem mudando o perfil da sua população. A pirâmide etária antes possuía uma base mais larga, indicando que o País era uma população mais jovem, com grande concentração de pessoas com menos de 15 anos. Com o passar do tempo, está ocorrendo um estreitamento na base da pirâmide populacional. Esse estreitamento deve continuar fazendo o país passar por uma transição demográfica. 6.1 Modelo explicativo das causas das doenças não transmissíveis O modelo explicativo para as doenças não transmissíveis é utilizado para doenças infecciosas, pois aqui, a doença deve-se a uma única causa. Isso não é aplicado nas doenças crônicas, pois elas são provocadas por uma cadeia de eventos de causalidade e não por um agente único. Ou seja, são consideradas doenças multifatoriais. Neste modelo, possuem alguns elementos que podem influenciar essa causalidade como. Veja a seguir. Biologia humana Ambiente Estilo de vida Organização de atenção à saúde 6.2 Evitar doenças não transmissíveis Como as doenças crônicas não são transmissíveis, você pode se perguntar como evitá-las? Nas doenças transmissíveis existe sempre algum meio para evitar a proliferação dessas doenças ao afastar-se do indivíduo que tenha contato com o agente etiológico. No caso das doenças não transmissíveis, como não ocorre a transmissão, não existe esse meio de atuação para a epidemiologia. No entanto, alguns fatores são modificáveis com o estilo de vida. Portanto, a epidemiologia, juntamente com a Organização de Atenção à Saúde, busca modificar esses coeficientes pode reduzir a incidência desses casos. Como exemplos, podemos citar o tabaco, a atividade física, o uso excessivo de álcool, a dieta não saudável, a obesidade, o colesterol, entre outros. Logo, a epidemiologia irá atuar nesses fatores modificáveis. Esses fatores modificáveis estão sempre em constante mudança e transição. No passado, a má nutrição infantil era um grande problema; hoje a obesidade infantil se tornou um enorme óbice. Atualmente, três de cada quatro óbitos têm como causa doenças não transmissíveis. No Brasil, as principaisdoenças não transmissíveis são: doenças cardiovasculares, câncer, doenças respiratórias crônicas e diabetes. 6.3 Abordagem para doenças não transmissíveis A abordagem para as doenças não transmissíveis deve ser feita em todas as etapas da vida dos indivíduos, desde os cuidados durante a gestação até a velhice dessa população. Neste caso, os fatores de risco estão difundidos por toda a sociedade, sendo estes fatores genéticos, comportamentais. Para evitar a epidemias das doenças crônicas, é necessária uma abordagem voltada para toda a sociedade, na qual deve incluir intervenções preventivas ou assistenciai. A atuação em todo o ciclo da vida é importante para a redução dos casos. Com o tempo, o risco aumenta, uma vez que as multicausas vão se acumulando no decorrer da vida das pessoas e, assim, o risco aumenta com o passar dos anos. A promoção à saúde deve iniciar na gravidez, nos cuidados pré-natais, passando pela nutrição correta e pelo aleitamento materno. Esses fatores são importantes na infância e na adolescência. Durante a vida adulta, os riscos mudam. Nessa fase, devemos cuidar de questões como o tabagismo, o estresse e o álcool (MALTA et al, 2018). Quando a epidemiologia atua de maneira eficaz no combate aos fatores de risco, é possível pensar que existe fatores de proteção, como a alimentação saudável e atividade física. Os cuidados nessas esferas devem iniciar na infância e persistir por toda a vida adulta (MALTA et al, 2018). Quando ocorre a interferência nos fatores de risco e estes se tornam fatores de proteção, o acúmulo do risco reduz durante a vida, e isso pode ser um determinante para o surgimento ou não da doença. Quando as medidas de prevenção das doenças crônicas falham, é necessário implementar ações voltadas para os portadores dessas enfermidades. Nestes casos, deve ocorrer uma atuação mais efetiva da atenção em saúde, visando reduzir o impacto dos danos causados por doenças crônicas. 7 Vigilância epidemiológica A vigilância epidemiologia é definida no país pela Lei n. 8.080. Leia a seguir o que diz a norma. Entende-se por vigilância epidemiológica um conjunto de ações que proporcionam o conhecimento, a detecção ou prevenção de qualquer mudança nos fatores determinantes e condicionantes de saúde individual ou coletiva, com a finalidade de recomendar e adotar as medidas de prevenção e controle das doenças ou agravos (BRASIL, 1990, on-line). A vigilância epidemiológica teve início nos séculos XIX e XX, quando Oswaldo Cruz deu início ao controle da peste bubônica, febre amarela e varíola. Cada um contava com uma abordagem diferente, a peste bubônica era combatida com a eliminação dos ratos, a febre amarela, através da eliminação do vetor e erradicação dos criadouros, outra medida que era adotada era a melhora das moradias. A varíola foi com a vacinação em massa de todas as pessoas, essas ações eram bastante polêmicas e causou o evento conhecido como revolta da vacina na então capital nacional Rio de Janeiro. A primeira ação que pode ser considerado como uma ação nacional de vigilância epidemiológica foi a campanha nacional de erradicação da varíola, que ocorreu entre 1966 – 1973. Esta campanha fomentou a organização das unidades de vigilância e das secretárias municipais e estatuais. Por meio da campanha de erradicação da varíola teve início no País uma lista de doenças cujo a notificação deveria ocorrer semanalmente a Fundação serviço de saúde pública. Esse não foi um processo simples, devido ao tamanho do país e ao início destas ações até então inéditas no Brasil. Com esse processo foi consolidar e estruturas tanto a nível local, estadual e nacional informações técnicas e propor campanhas de doenças com evitáveis por meio da imunização, nascia assim as campanhas nacionais de vacinação (CAVALCANTI et al, 2018). 7.1 Objetivos e métodos no sistema de vigilância epidemiológica Muitos podem ser os objetivos da vigilância epidemiológica ou a definição do objetivo, porém, o principal objetivo da vigilância epidemiológica é estudar o conjunto de doenças e o comportamento epidemiológico sobre vigilância. Ao se fazer esse acompanhamento das doenças sobre vigilância possibilita detectar de maneira antecipada dos surtos, epidemias ou alterações na ocorrência espacial das doenças. Outro objetivo da vigilância epidemiológica, é a de recomendar as ações preventivas e as medidas de controle das doenças que estão sob vigilância e acompanhamento. Quando se trata de doenças transmissíveis, a vigilância epidemiológica possui como objetivo a quebra da interrupção de transmissão, buscando assim interromper a cadeia de transmissão das doenças. Outro objetivo da vigilância na área de saúde pública é identificar e localizar novos agravos ou problemas de saúde pública. O método utilizado para o sistema de vigilância epidemiológica pode ser vários, porém, todo o método de coleta procura incluir a coleta de dados, identificação dos agravos, o mecanismo de detecção a análise e interpretação dos dados coletados. Além de saber como acompanhar os agravos, é importante saber quais doenças deve ser acompanhada. O sistema de vigilância leva em consideração quais as doenças devem ter vigilância é levado em conta a incidência ou a prevalência dessa doença, outros indicadores que devem ser levados em conta é a mortalidade e a letalidade da doença, assim, a gravidade da doença é levado em conta (CAVALCANTI et al, 2018). Como estes fatores pode levar a confusão de quais doenças deve ocorrer a vigilância, no Brasil existe doenças de notificação compulsória cujo deve obrigatoriamente tem que ser acompanhado. Todas essas doenças estão relatadas na Portaria n. 204, de 17 de fevereiro de 2016. Os dados para a vigilância epidemiológica podem ser obtidos por meio da notificação dos casos a partir dos serviços de saúde, hospitais, ambulatórios, laboratórios. Esses podem ser a fonte de dados para a vigilância, podendo ser utilizado somente uma dessas fontes isoladas ou combinadas, a depender do agravo ou doença. 7.2 Investigação epidemiológica A investigação epidemiológica procura apurar alguns fatores que possam ter favorecido o indivíduo a adoecer. A investigação epidemiológica procura identificar fatores ou ações, hábitos ou costumes, habitação ou presença de insetos no domicilio, fonte de alimento ou água, uso de substâncias licitas e ilícitas. A investigação epidemiológica busca assim identificar a causa da doença, o vetor, o local ou fonte de infecção da doença. A investigação epidemiológica pode ser realizada de duas maneiras distintas. Clínico-laboratorial e caso- índice. A investigação epidemiológica clínico-laboratorial objetiva esclarecer o diagnóstico e as informações sobre o caso- índice. A informação “de campo” é o momento muito importante para a investigação epidemiológica que possui o objetivo de ir mais fundo durante a investigação que houve início no momento da entrevista no caso-índice. As informações “de campo” busca coletar informações complementares que podem contribuir para a fonte de infecção ou fatores de risco relacionada com a transmissão da doença e auxiliando na descoberta de novos casos ou outros indivíduos que por ventura venham a ser exposto aos mesmo risco e na investigação “de campo” também busca orientar a população da profilaxia que deve ser adotada (BRASIL 2017; CAVALCANTI et al, 2018). Cada doenças possui um processo de investigação e este processo deve ser padronizado, por isso no Brasil possui o Guia de vigilância em Saúde, onde nele padroniza as medidas de vigilância a serem adotadas, no caso de leishmaniose visceral humana deve realizar a investigação de vetor e reservatório canino, casoseja confirmado for esquistossomose, deve investigar a origem do caso se autóctone ou não e a fonte de investigação com a pesquisa do caramujo do gênero Biomphalaria spp (BRASIL 2017). Hoje o modelo que é adota no Brasil quem é recomendado para a vigilância também é responsável peal gestão e execução das medidas de controle e prevenção a serem adotadas e práticas a depender do agravo. Adotar este modela apesar de apresentar uma contração de tarefa em determinado órgão, essa medida é importante pela aproximação de quem determina o caso e quem deve implementar a prevenção e profilaxia do agravo. Assim, o mesmo órgão responsável pela vigilância também faz a prevenção. As informações geradas por meio do sistema de vigilância são de grande valia e extrema importância, pois, todos que possuem interesse nessa informação pode utiliza-la e consulta-la. Ao divulgar as informações é possível demonstrar a todos que de alguma maneira estão envolvidos no sistema de vigilância a sua importância, como uma alimentação continua, ocorre a entrada de dados brutos e saem informações concretas por meio dos boletins epidemiológicos. Outra vantagem da divulgação é com a avaliação das mediadas de intervenção onde qualquer participante do sistema de vigilância epidemiológica pode ajudar nessa avaliação de intervenção ou evolução do agravo. As medidas de intervenção precisam ser avaliadas periodicamente, com a alimentação continua do sistema de vigilância é possível avaliar a eficácia da intervenção que foi adotado, essa avaliação ocorre por meio das series temporais de incidência e prevalência das doenças ou agravos que estão sob vigilância. Com isso é possível saber a eficácia das medidas de intervenção adotada e com esse conhecimento adaptar as medidas ou mantê-las. 8 Métodos de investigação epidemiológica A epidemiologia busca uma relação entre saúde-doença. Contudo, como dever ser realizada esta pesquisa pra responder estar questões? Para isso, a epidemiologia busca responder a estes temas que estão relacionados aos diversos agravos para a saúde. Para isso, a epidemiologia busca, por meio da interpretação dos dados, responder a estes questionamentos. Diversos são os meios para realizar a investigação epidemiológica e, a depender do tipo o método, eles são alterados. Destes métodos, os estudos epidemiológicos utilizam ferramentas para trazer as respostas. Com isso, a epidemiologia divide os estudos em dois grandes grupos. Veja a seguir. Estudos descritivo Estudos analíticos O delineamento epidemiológico consiste em traçar um caminho de acordo com os dados e buscar resposta para as perguntas. O delineamento está relacionado com o desenho do estudo, a técnica ou o método aplicado do estudo. A epidemiologia existe alguns delineamentos epidemiológicos que podem ser escolhidos a depender do objetivo pretendido ou dos dados disponíveis, agora nós iremos estudar esses delineamentos. 8.1 Estudo transversal ou seccional Os estudos transversais são utilizados para conhecer a situação de determinado agravo no tempo, naquele momento. Assim, é utilizado para estimar os paramentos da população alvo do estudo. Este delineamento é caracterizado pela observação de determina quantidade de indivíduos em um único momento. Os estudos transversais apresentam três elementos essenciais: • as medidas feitas em único momento no tempo; • excelentes para descrever uma variável ou a distribuição de determinado agravo; • constitui hoje o único desenho que permite conhecer a prevalência de um agravo. Os resultados podem contribuir para a dentição de características demográfica ou característica clinicas do grupo que foi objeto de estudo ou ainda revelar uma associação importante. Além disso, por meio dos estudos transversais, é possível gerar hipótese e estudar múltiplas associações. Por ser o único delineamento que permite conhecer a prevalência, esse tipo de estudo também é conhecido como estudo de prevalência. Para esse tipo de estudo, é realizado a amostragem da população. Assim ocorre a comparação entre quatro tipo de indivíduos: • expostos e doentes; • não exposto e doentes; • exposto e não doente; • não exposto e não doente. os resultados. São apresentados como razão de chance ou Odds ratio. Assim, é possível responder a chance de desenvolver a doença no grupo de expostos é maior (ou menor) do que no grupo de não-expostos. Nesse tipo de estudo, a unidade de análise é o indivíduo, e a ideia principal desse tipo de estudo é verificar na amostra as variáveis de exposição e o desfecho. A principal desvantagem dos estudos transversais é pela dificuldade em estabelecer uma relação de causa. Como este estudo utiliza uma amostra da população, ele é impraticável em doenças raras, justamente pela dificuldade de se amostrar os indivíduos doentes na população. Ou viés que pode apresentar é em relação a prevalência, pois, doenças de longa duração tendem a ter uma prevalência mais alta. Neste exemplo, podemos citar a doença de chagas crônica. Alguns locais podem possuir uma prevalência alta, porém, a incidência será zero ou baixa nessa doença. Outro erro que pode ocorrer é devido à amostragem, que, se não for realizada de maneira aleatória, pode comprometer a validade do estudo (MEDRONHO et al, 2009). 8.2 Estudo ecológico O termo ecológico vai mais além de verificar as variáveis ambientais, esse termo traz uma explicação mais ampla da população e o ambiente. Os estudos ecológicos ou estudos agregados buscam avaliar de que maneira os contextos social ou ambiental podem afetar a saúde de grupos populacionais. Neste caso, as medidas coletadas no nível individual são incapazes de refletir adequadamente os processos que ocorrem no nível coletivo (MEDRONHO et al, 2009). Nesse caso os dados são agregados para buscar identificar uma relação. Os estudos ecológicos se baseiam na comparação entre variáveis que possam estar relacionadas a exposição que uma população foi submetida e compara esses valores com outras populações para avaliar o nível de exposição ou múltiplas exposição. Nesse caso o epidemiologista utiliza várias informações e medidas agregadas e compara todas elas com variáveis ambientais e globais. Os estudos ecológicos são bastante utilizados na epidemiologia devido à rápida execução, pois os dados já podem ter sido coletados anteriormente. Por isso, possuem um baixo custo na execução. O principal objetivo desse tipo de estudo é gerar e testar hipóteses, e avaliar a efetividade das medidas de intervenção na população. Um exemplo foi apresentado por um estudo ecológico no qual foi levantada uma possível associação entre o El nino e os casos de leishmaniose tegumentar americana (CARDOSO et al, 2019). Este é um exemplo onde nos estudos ecológicos não foi possível testar esta hipótese. Porém, ao observar os dados, os pesquisadores foram capazes de gerá-la. Outra forma em que os estudos ecológicos são muito utilizados é para mensurar a efetividade de um programa de saúde implementado. Esse tipo de ação é bastante usado pelos órgãos de saúde pública. Além disso, os estudos ecológicos podem ser exploratórios, em que é possível comparar taxas em diversas regiões ao mesmo tempo ou comparar a evolução ao longo de um período. Em Belo Horizonte (MG), os pesquisadores puderam observar uma maior ocorrência dos casos de leishmaniose visceral canina nas mesmas regiões onde ocorreram casos de leishmaniose visceral humana. Porém, a leishmaniose canina ocorria antes dos casos humanos (ARRUDA et al, 2019). Há também os estudos ecológicos analíticos, em que é possível associar entre os diferentes níveis de exposição média e taxa da doença entre osdiferentes grupos. As principais desvantagens dos estudos ecológicos são a impossibilidade de associar a exposição e a doença em nível individual. Certos casos podem ocorrer associação em nível ecológico, porém, quando vai testar em nível do indivíduo, essa associação não é observada. E a outra a outra desvantagem é fato da dificuldade de controlar os efeitos de confusão no estudo, com resultados do nível de exposição média (MEDRONHO et al, 2009). 8.3 Caso-controle Os estudos de caso controle são utilizados na epidemiologia, e partem, principalmente, da presença ou ausência do agravo. Eles recebem esse nome porque o estudo é baseado em caso: • grupo que apresenta o desfecho e controle; e • grupo que não apresenta o agravo de interesse. Como os grupos são fundamentais para a validade do estudo, diz-se que todo estudo de caso-controle é retrospectivo, pois, a partir do indivíduo doente, e ao compará-lo com os indivíduos não doentes volta no passado para comparar o que pode ter ocorrido para a doença, ou seja, quais foram os fatores de exposição. Nesse tipo de estudo não estima a prevalência, nesse caso o número de casos e controle vai depender da amostra necessária e isso não depende da proporção de casos na população. O processo de amostragem é baseado na presença ou ausência da doença. Os diferentes delineamentos, apesar de serem semelhantes em alguns aspectos, possuem a sua peculiaridade. Caso- controle: seleciona casos com doenças e controles sem doença, e compara a frequência da exposição. Transversal: estima a prevalência da doença na população, ou em estratos dessa população. Esse delineamento é ótimo para doenças raras ou de longa duração, porém, quando o processo de exposição for raro, esse estudo não apresenta boa validade. Sendo assim, ineficiente em exposições raras. Outra característica: somente é possível estudar um desfecho por vez. Para a seleção dos controles, eles devem ser comparáveis com os casos. Ambos devem ter o risco igual para a exposição. Assim, o nível de exposição que é observado nos controles é o nível esperado em toda a população. Os controles são importantes pois, com eles, é possível estimar a frequência da exposição esperada na população. Além disso, é por meio dos controles que se pode validar o estudo, pois a seleção incorreta dos controles pode inviabilizar a pesquisa. O processo de seleção dos controles deve ser independente do status da exposição, com uma quantidade de quatro controle por caso. Dessa forma, esse valor será considerado a quantidade máxima. Outro fato importante para os controles é que eles devem fazer parte da população que originou os casos. Se isso não for possível, eles devem ter características similares aos casos. O estudo de caso-controle volta no tempo. Porém, isso é feito por meio de questionários ou entrevistas, em que se busca identificar o fator de exposição para comparar doentes e não doentes expostos, e doentes e não doentes com não expostos. Sendo assim, você parte do presente para o passado. Este tipo de estudo possui alguns vieses como o de aferição, e o evento ou a variável de exposição pode não ter sido relatada corretamente e hoje não é mais possível refazer essa aferição. Outro viés comum em estudo de caso-controle é o viés do observado, que este pode classificar de maneira errada o evento ou a exposição. O viés de sobrevivência também é algo que pode ocorrer em estudo de caso controle, pois os óbitos precoces são excluídos do estudo e somente entram na análise os casos prevalentes. A exclusão dos casos de óbitos precoce ocorre não por opção do epidemiologista, mas sim pelo fato de não ser possível acompanhar o indivíduo. Como nesse estudo não é possível calcular a prevalência ou a incidência, nesse caso deve-se calcular a odds da exposição em relação os casos e controle. Para isso, calcula-se a odds a doença entre expostos e odds da doença entre não expostos. Assim, chega-se à odds relativa. Caso o valor seja maior que 1, há associação, e ela é positiva; agora quando o valor da odds for menor do que 1, possui uma associação negativa, quando o valor da odds for igual a 1, o risco entre exposto e não exposto é igual (PEREIRA, 1995). O viés de memória é algo extremamente comum neste tipo de estudo. Ele ocorre devido ao fato de a exposição ter ocorrido no passado, e a memória pode enganar. Como esse estudo parte do presente para o passado, o viés de memória está presente em quase todos os estudos de caso-controle e, infelizmente, este viés está totalmente fora do controle do epidemiologista. Além dos vieses que possam ocorrer no estudo de caso-controle, existem algumas desvantagens como a dificuldade de seleção dos controles. A dificuldade na validação de algumas informações do passado, e o estudo detalhado para a exposição são difíceis de conseguir. 8.4 Estudo de caso-controle pareado O estudo de caso-controle pareado tem as mesmas características do caso- controle. Porém, possui uma variação na seleção dos controles. Neste caso, o processo de seleção dos controles deve possuir características iguais aos casos como idade, seco, status econômico, data e internação etc. Aqui pode ocorrer o pareamento individual, em que cada controle é similar aos casos para uma ou mais variáveis especificas ou também um super pareamento; neste caso, o pareamento é socioeconômico ou ambiental. 8.5 Coorte Os estudos de coorte são completos, a população é acompanhada por longos períodos. Eles partem da exposição, na qual o processo de amostragem, cujos indivíduos são selecionados com a presença ou ausência da exposição. Neste caso, os indivíduos ainda não apresentaram o agravo. Esse acompanhamento pode seguir por 10, 20, 50 anos ou mais; não existe um tempo determinado para o acompanhamento. Porém, quanto maior for o acompanhamento, mais informações poderão ser coletadas. O tempo de acompanhamento depende do agravo de estudo. Outro tipo de estudo de coorte são as coortes de nascimento, em que são selecionados indivíduos ao nascer e estes são acompanhados por longos períodos. Neste caso, a amostra representativa é selecionada ao nascimento e é acompanhada por muitos anos - com o consentimento de seus pais - para rastrear sua saúde, desenvolvimento, educação e outras circunstâncias da vida. No decorrer no tempo, o foco do estudo de coorte de nascimento pode ir mudando, pois, as características dos participantes, também vão alterando. Independentemente do tipo de coorte, sempre ocorre a comparação entre os grupos expostos e os não expostos e a incidência, mortalidade ou letalidade são calculados. A exposição que estiver relacionada com o agravo ou determinado comportamento ou fator de risco, haverá uma maior incidência da doença entre os expostos em comparação aos não expostos. Existem dois tipos básicos de estudos de coorte: • retrospectivos; e • prospectivos. Os estudos prospectivos irão seguir o curso natural do tempo. Neste caso, um estudo de coorte de nascimento, é um exemplo estudo de coorte prospectivo. Assim, iniciam-se os acompanhamentos dos sujeitos no presente e continuam para saber qual será o desfecho futuro. Um exemplo pode ser o peso ao nascer (exposição). Ele pode influenciar na mortalidade infantil. Assim seria um estudo de coorte prospectivo, desde que se inicia o acompanhamento ao nascer (MEDRONHO et al, 2009). Os estudos de coorte retrospectivos são semelhantes aos prospectivo. A diferença é que no presente “volta-se no tempo” para saber se os indivíduos examinam os dados para saber aqueles que haviam sido expostos e não expostos no passado. Também podemos ter como exemplo o nascimento. Para basta pensarmos em mãesque foram expostas à cocaína. Avalia- se se elas se tiveram o parto prematuro (MEDRONHO et al, 2009). Estes são exemplos onde um coorte pode responder diferentes perguntas, e analisar diferentes exposições e agravos. O estudo de coorte difere do estudo de caso controle, pois o estudo de caso controle é baseado na presença ou ausência da doença, e o estudo de coorte é baseado na presença ou ausência da exposição. Hoje existem diversos coortes sendo realizados no mundo. Porém, os de grandes impactos são as coortes de nascimento. No Brasil, é realizado um estudo de coorte de nascimento em Pelotas. Este é um estudo de base populacional, que começou em 1982, com a primeira amostragem. Houve uma segunda amostragem de recém-nascidos em 1993, e uma terceira amostragem em 2004. Todos os indivíduos ainda são acompanhados até os dias presentes. A principal vantagem dos estudos de coorte é a possibilidade de medir a incidência, e também é possível produzir medidas diretas de risco. Por meio desse estudo, é possível produzir um alto poder de análise, tendo um grande conhecimento das variáveis que foram expostas. Como nem tudo é só vantagens, existe algumas desvantagens neste tipo de estudo, como a vulnerabilidade de perdas durante o seguimento e o alto custo devido ao longo tempo de acompanhamento. Os estudos de coortes são inadequados para doenças que possuem baixa frequência ou agravos raros.