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DIFERENCIAR EPILEPSIA, CRISE EPILÉPTICA E CONVULSÃO • Crise epiléptica: expressão clínica decorrente de descarga anormal e excessiva do tecido cerebral. • Crise sintomática aguda (ou crise provocada): crise epiléptica decorrente de uma causa imediata identificada, como distúrbio metabólico, intoxicação exógena, abstinência de drogas sedativas ou dano neurológico agudo. • Crise única(isolada): uma ou mais crises que recorrem no período de 24 horas. Pode corresponder à uma crise aguda sintomática ou à primeira manifestação de epilepsia. • Epilepsia: doença neurológica caracterizada por ocorrência de crises espontâneas recorrentes. CONVULSÃO Uma ocorrência transitória de sinais e/ou sintomas devido à atividade neuronal anormal, excessiva ou síncrona no cérebro (geralmente com menos de 2 minutos de duração). EPILEPSIA 1) Duas ou mais crises não provocadas ou reflexas com intervalo > 24 horas ou 2) Uma única convulsão não comprovada ou convulsão reflexa + risco maior ou igual a 60% de ter outra convulsão nos próximos 10 anos. ou 3) Uma síndrome epiléptica Em relação ao segundo critério, as duas coisas que classificam uma pessoa como tendo um risco de 60% de ter uma segunda convulsão nos próximos 10 anos são (1) resultados em imagens cerebrais que têm potencial epileptogênico ou (2) atividade epileptiforme num eletroencefalograma (EEG). Um achado na imagem cerebral que seja anormal, mas sem potencial epileptiforme (por exemplo, um cisto aracnóide, atrofia difusa), juntamente com uma única convulsão não provocada, não preencheria os critérios para um diagnóstico de epilepsia. O ponto de corte de 60% foi escolhido porque este é o limite inferior do intervalo de confiança para alguém com duas crises não provocadas ter uma terceira crise. (HARRISON) Uma convulsão consiste na ocorrência transitória de sinais e sintomas devido a uma atividade neuronal anormal, excessiva ou sincrônica. De acordo com a distribuição das descargas, essa atividade cerebral anormal pode ter várias manifestações, que variam desde uma atividade motora dramática até fenômenos sensoriais dificilmente discerníreis por um observador. Embora diversos fatores influencie a incidência e prevalência de convulsões, cerca de 5 a 10% da população apresentara pelo menos uma convulsão, sendo as maiores incidências verificadas no início da infância e na idade adulta avançada. O significado do termo convulsão tem de ser cuidadosamente distinguido daquele de epilepsia. A epilepsia descreve uma condição em que uma pessoa corre risco de convulsões recorrentes devido a um processo subjacente crônico. Essa definição subentende que uma pessoa que sofre uma única convulsão, ou convulsões recorrentes em consequência de circunstâncias corrigíveis ou evitáveis, não tem necessariamente epilepsia. Epilepsia diz respeito a um fenômeno clínico mais do que uma entidade patológica única, pois existem muitas formas e causas de epilepsia. Não obstante, entre muitas causas de epilepsia figuram várias síndromes epilépticas, cujas características clínicas e patológicas são distintivas e sugerem uma etiologia subjacente específica. CORRELACIONAR A FISIOPATOLOGIA COM SINAIS E SINTOMAS (LAWAL, 2018 e HARRISON) A epilepsia foi reconhecida já em 4.000 aC. É um distúrbio neurológico não contagioso resultante de explosões de descargas elétricas excessivas em um grupo de células cerebrais. A OMS (2017) descreve a epilepsia como uma doença crônica do cérebro caracterizada por crises recorrentes, que são uma série de movimentos involuntários de uma parte do corpo (parcial) ou de todo o corpo (generalizados), com ou sem perda de consciência. A epilepsia é caracterizada por episódios recorrentes que podem incluir convulsões, distúrbios sensoriais e comportamento anormal (Cooper e Gosnell, 2015). A condição pode variar desde um breve lapso de atenção ou espasmos musculares até movimentos involuntários graves e prolongados. Incidência A incidência de convulsões varia com a idade e localização geográfica. Embora qualquer pessoa possa sofrer uma convulsão, a maior incidência ocorre em pessoas com menos de 2 anos e mais de 65 anos e o início ocorre antes dos 20 anos em 75% dos casos. Embora a epilepsia seja uma doença global, quase quatro quintos das pessoas afetadas vivem em países de baixo e médio rendimento. A variação geográfica na prevalência da doença é atribuída à natureza endêmica da malária, a uma elevada incidência de lesões causadas por acidentes rodoviários e lesões relacionadas com o nascimento, bem como à falta de programas preventivos e de infra-estruturas médicas em algumas áreas (OMS, 2017). Etiologia As causas desta doença crônica não transmissível são tão complexas quanto as suas manifestações. Em termos gerais, a epilepsia é classificada em duas categorias principais: primária (idiopática); e secundário (sintomático). • Epilepsia primária (idiopática) A epilepsia idiopática não tem uma causa subjacente óbvia e é a forma mais comum de epilepsia, representando 60% das pessoas com a doença. Embora não haja uma causa identificável de convulsões em muitas pessoas, considera-se que uma predisposição hereditária à hipersensibilidade dos neurônios desempenha um papel. • Epilepsia secundária (sintomática) Nesta categoria, há uma causa conhecida. As causas incluem lesões pré-natais ou perinatais, anomalias congênitas, traumatismo cranioencefálico grave, acidente vascular cerebral, infecção, certas síndromes genéticas e tumores cerebrais (OMS, 2017). As convulsões sintomáticas podem resultar de doença neurológica primária ou ser precipitadas por anormalidades estruturais do cérebro, como hipóxia, hemorragia intracraniana, infecção do sistema nervoso central, lesão ou desequilíbrio eletrolítico, distúrbio metabólico, disfunções congênitas, predisposição genética ou uso indevido de drogas ou álcool. Embora muitas pessoas com deficiências de desenvolvimento devido a problemas neurológicos graves também tenham epilepsia, a epilepsia não está associada à falta de capacidades intelectuais na ausência de outros distúrbios neurológicos. O cérebro é um órgão sensível protegido pelo osso rígido do crânio. Está dividido em quatro partes estruturais: cérebro; diencéfalo; tronco cerebral; e cerebelo. Os hemisférios cerebrais representam cerca de 83% da massa cerebral total e cada hemisfério possui cinco lobos: frontal; parietal; occipital; temporal; e insular. O cérebro coordena as funções do corpo controlando as atividades dos neurônios, que são células nervosas especializadas que conduzem impulsos elétricos por todo o sistema nervoso central e periférico. Para cumprirem suas funções de controle das atividades cognitivas, da percepção sensorial e das contrações dos músculos esqueléticos, as células nervosas (neurônios) devem trabalhar em harmonia. A atividade elétrica do cérebro pode ser medida por um eletroencefalograma e um registro de EEG é uma ferramenta útil de diagnóstico para epilepsia. Uma convulsão é causada pela despolarização súbita e descontrolada dos neurônios, resultando em atividade motora ou sensorial anormal com ou sem perda de consciência. As atividades celulares exatas que iniciam as convulsões não são claras; no entanto, as teorias de mecanismos específicos para a atividade convulsiva incluem permeabilidade alterada da membrana neuronal, redução do controle neuronal inibitório e um desequilíbrio nos neurotransmissores. Uma convulsão resulta de um desequilíbrio entre a excitação e a inibição neuronal, que surge da hiperexcitação e hipersincronização de uma rede neuronal. Alterações nos íons e neurotransmissores resultam em hiperexcitação, e a perda de neurônios inibitórios dá origem à hipersincronicidade, que pode resultar em convulsão parcial ou generalizada, dependendo da propagação de sua atividade. As propriedades da membrana neuronal podem mudar devido à hipóxia, alcalose, hipoglicemia e propriedades anormais dos neurotransmissores;isso pode fazer com que grandes quantidades de neurotransmissores sejam liberados na sinapse e consequentemente promover convulsões. A descarga neuronal anormal resulta em manifestações clínicas, com alterações na função motora, sensação, função autonômica, consciência e comportamento. Manifestações clínicas Sintomas temporários, incluindo perda de consciência ou distúrbios de movimento, sensação (visão, audição e paladar), humor ou habilidades cognitivas. Problemas físicos, como hematomas resultantes de lesões relacionadas a convulsões. Morte prematura. Os neurônios no foco epileptogênico apresentam limiar de estimulação mais baixo e, portanto, são hiperexcitáveis. Os neurônios irritáveis são facilmente ativados por quaisquer alterações fisiológicas, e certas condições, como fadiga ou falta de sono, estresse, febre e prisão de ventre, podem diminuir o limiar para convulsões. As células focais estimulam células normais próximas, levando à disseminação da atividade. Os fatores que podem desencadear a epilepsia em algumas pessoas incluem estímulos físicos, como ruído alto e luz brilhante, ou estímulos bioquímicos, como retenção excessiva de líquidos, hipoglicemia, mudança de medicação, alcalose, abstinência repentina de sedativos e álcool. O período imediato após uma crise epiléptica é considerado um estado pós-ictal; isso pode incluir dor de cabeça, confusão, disfasia, perda de memória, paralisia de curto prazo ou sono profundo. Classificação de convulsões Existem vários tipos de epilepsia e mais de 40 tipos de convulsões que podem afetar os indivíduos de diferentes maneiras. Boss e Huether (2017) afirmam que existem diferentes classificações de convulsões, com base nas manifestações clínicas, local de origem, leituras de EEG ou resposta à terapia. De forma um pouco diferente, Cooper e Gosnell (2015) classificaram as convulsões de acordo com a incidência, características e sinais clínicos. De acordo com VanMeter e Hubert (2014), uma classificação comumente aceitável divide as crises em duas grandes categorias de crises parciais e generalizadas. Todas essas classificações compartilham algumas semelhanças e são baseadas na classificação da Liga Internacional Contra a Epilepsia (ILAE). A forma como a convulsão é classificada é apresentada na Tabela a seguir. Convulsão de início focal Geralmente é unilateral, envolvendo uma área localizada ou focal do cérebro. As crises parciais ou focais envolvem neurônios em uma área do hemisfério cerebral, e os sinais e sintomas dependem da localização da atividade convulsiva (Blundell, 2006). As convulsões focais surgem a partir de uma rede neuronal localizada distintamente dentro de uma região cerebral ou distribuída mais amplamente, porém ainda situada dentro de um hemisfério cerebral. Com o novo sistema de classificação, foram eliminadas as subcategorias "convulsões focais simples" e "convulsões focais complexas". Em seu lugar, a classificação enfatiza o efeito na percepção (mantida - perceptiva - ou comprometida - disperceptiva) e a natureza do início (motor ou não motor). As convulsões focais também podem evoluir para convulsões generalizadas. No passado, esse tipo era designado convulsões focais com generalização secundária, porém o novo sistema baseia-se em descrições específicas do tipo de convulsões generalizadas que evoluem a partir da convulsão focal. O eletrencefalograma (EEG) interictal (i.e., entre as convulsões) de rotina em pacientes com convulsões focais está frequentemente normal ou pode demonstrar descargas breves, denominadas pontas epileptiformes ou ondas agudas. Como as convulsões focais podem surgir no lobo temporal medial ou no lobo frontal inferior (i.e., regiões distantes do couro cabeludo), o EEG registrado durante a convulsão pode não localizar o foco. Entretanto, a região de início da convulsão pode ser detectada com o uso de eletrodos intracranianos cirurgicamente implantados. * Convulsões focais perceptivas (intact awareness) As convulsões focais podem ter manifestações motoras (como movimentos tônicos, clônicos ou mioclônicos) ou não motoras (como sintomas sensitivos, autonômicos ou emocionais) sem comprometimento da percepção. Por exemplo, um paciente que apresenta uma convulsão motora focal oriunda do córtex motor primário direito próximo à região que controla os movimentos da mão irá perceber o aparecimento de movimentos involuntários na mão esquerda contralateral. Uma vez que a região cortical que controla o movimento da mão é imediatamente adjacente à da expressão facial, a convulsão também pode causar movimentos anormais da face, sincrônicos aos movimentos da mão. O EEG registrado com eletrodos no couro cabeludo durante a convulsão (i.e., um EEG ictal) pode demonstrar descargas anormais em uma região muito limitada na área apropriada do córtex cerebral se o foco da convulsão comprometer a convexidade do cérebro. Vale a pena mencionar três características adicionais das convulsões motoras focais. Primeiramente, em alguns pacientes os movimentos motores anormais podem começar em uma região muito restrita, como os dedos, e avançar de modo gradual (em questão de segundos a minutos) para incluir uma parcela maior do membro. Esse fenômeno, originalmente descrito por Hughlings Jackson e conhecido como "marcha jacksoniana", representa a disseminação da atividade convulsiva para uma região progressivamente maior do córtex motor. Em segundo lugar, os pacientes podem apresentar paresia localizada (paralisia de Todd) durante alguns minutos a muitas horas na região acometida após a convulsão. Em terceiro, em casos raros, a convulsão persiste durante horas ou dias. Tal situação, denominada epilepsia parcial contínua, muitas vezes é refratária ao tratamento clínico. As convulsões também podem manifestar-se como alterações na sensibilidade somática (p. ex., parestesias), na visão (luzes piscando ou alucinações bem formadas), no equilíbrio (sensação de queda ou vertigem), ou na função autonômica (rubor, sudorese, piloereção). As convulsões focais que surgem do córtex temporal ou frontal também podem causar alterações na audição, olfato ou estado emocional. Elas incluem a sensação de odores incomuns e intensos (p. ex., borracha queimando ou querosene) ou sons (grosseiros ou altamente complexos), ou uma sensação epigástrica que ascende do estômago ou tórax para a cabeça. Alguns pacientes descrevem sentimentos singulares, como medo, sensação de mudança iminente, dissociação, despersonalização, déjà vu, ou ilusões de que os objetos estão se tornando menores (micropsia) ou maiores (macropsia). Esses eventos "internos" subjetivos, que não são diretamente observáveis por outra pessoa, são designados auras. * Convulsões focais disperceptivas (impaired awareness) As convulsões focais também podem ser acompanhadas de comprometimento transitório da capacidade do paciente de manter contato normal com o ambiente. O paciente é incapaz de responder adequadamente a comandos visuais ou verbais durante a convulsão e tem memória ou percepção da fase ictal comprometidas. As convulsões costumam começar com aura (i.e., convulsão focal sem distúrbio cognitivo), estereotipada para cada paciente. O início da fase ictal consiste frequentemente em olhar fixo imóvel, que assinala o começo do período de comprometimento da percepção. A percepção comprometida é habitualmente acompanhada de automatismos, que são comportamentos automáticos involuntários, com ampla variedade de manifestações. Os automatismos podem consistir em comportamentos muito básicos, como mastigar, estalar os lábios, deglutir, ou movimentos de apanhar objetos com as mãos, ou comportamentos mais elaborados, como a expressão de emoção ou o ato de correr. Em geral, o paciente está confuso após a convulsão, e a transição até a recuperação plena da consciência pode demorar de segundos até 1 hora. O exame imediatamente após a convulsão pode revelar amnésia anterógrada ou déficits neurológicos transitórios(como afasia, heminegligência ou perda visual) causados por inibição pós-ictal das regiões corticais mais envolvidas na convulsão. A variedade de comportamentos clínicos possivelmente vinculados às convulsões focais é tão extensa que se aconselha extrema cautela antes de concluir que os episódios estereotipados de comportamento bizarro atípico não advêm de atividade convulsiva. Nesses casos, EEGs detalhados adicionais podem ser úteis. Caracterização das crises focais Crises cognitivas implicam alterações da linguagem ou de outras funções no domínio da cognição ou a presença de sintomas positivos como déjà vu, alucinações, ilusões ou distorções da percepção. As crises emocionais envolvem ansiedade, medo, alegria e outras emoções ou aparência de efeito sem emoções subjetivas associadas. As crises autonômicas são caracterizadas por fenômenos autonômicos, que podem envolver funções cardiovasculares, gastrointestinais, vasomotoras e termorreguladoras. Os exemplos incluem palpitações, náusea, fome, dor no peito, vontade de urinar ou defecar, arrepios, sensações sexuais, sensação de calor ou frio, piloereção, palidez, taquicardia ou bradicardia/assistolia, vermelhidão, alterações na pupila e lacrimejamento. Crises hipercinéticas compreendem movimentos violentos, bruscos e de pedalagem. E a paragem de atividade e em que a cessação de atividade é o aspecto dominante ao longo de toda a crise. Os automatismos tendem a ser movimentos coordenados e repetitivos mimetizando movimentos voluntários. Na maioria das vezes estão associados ao comprometimento da consciência e amnésia posterior. São exemplos: automatismos orais como mastigação, ranger de dentes, franzir lábios; manual ou pedal, apresentam componentes distais bilaterais ou unilaterais como mexer, bater, manipular movimentos; gestual, com movimentos desastrados ou exploratórios com a mão, direcionados para si ou para o ambiente; mímica, com expressões faciais como o medo; vocal, com gritos; verbal, com palavras ou frases curtas; gelástico, com explosões de riso; hipercinético, com movimento de pedalada e hipocinético tendo interrupção/ redução da atividade motora em andamento. Deve-se ter em mente que as crises atônicas, clônicas, espasmos epiléticos, mioclônicas e tônicas podem ter origem tanto focal quanto generalizada. EVOLUÇÃO DAS CONVULSÕES FOCAIS PARA CONVULSÕES GENERALIZADAS As convulsões focais podem disseminar-se e comprometer ambos os hemisférios cerebrais, produzindo uma convulsão generalizada, em geral do tipo tônico-clônica. Essa evolução é observada com frequência após convulsões focais, que surgem a partir de um foco no lobo frontal, mas também pode associar-se a convulsões focais que ocorrem em outras áreas do cérebro. Muitas vezes, é difícil diferenciar uma convulsão focal que evolui para uma generalizada de uma convulsão tônico-clônica primária de início generalizado, visto que as testemunhas tendem a enfatizar a fase convulsiva generalizada, mais dramática, da convulsão, e omitir os sintomas focais mais sutis presentes no início. Em alguns casos, o início focal da crise só fica evidente quando uma anamnese minuciosa identifica uma aura prévia. Porém, com frequência o início focal não é clinicamente evidente e só é estabelecido por uma análise cuidadosa do EEG. Entretanto, a diferenciação dessas duas entidades é de suma importância, visto que pode haver diferenças substanciais na avaliação e no tratamento das epilepsias caracterizadas por convulsões de início focal versus generalizado. CONVULSÕES DE INÍCIO GENERALIZADO As convulsões de início generalizado originam-se em algum ponto do cérebro, porém ocupam, imediata e rapidamente, redes neuronais em ambos os hemisférios. Diversos tipos de convulsões generalizadas apresentam características que as incluem em categorias distintas e que facilitam o diagnóstico clínico. * Crises de ausência típicas As crises de ausência típicas caracterizam-se por lapsos breves e súbitos da consciência sem perda do controle postural. Em geral, a convulsão dura apenas alguns segundos, a consciência retorna tão rapidamente quanto foi perdida e não há confusão pós-ictal. Embora a breve perda da consciência possa não ser evidente clinicamente ou ser a única manifestação da descarga convulsiva, as crises de ausência em geral acompanham-se de sinais motores bilaterais sutis, como rápido piscar de olhos, movimentos mastigatórios, ou movimentos clônicos de pequena amplitude das mãos. As crises de ausência típicas estão associadas a um grupo de epilepsias geneticamente determinadas que começam em geral na infância (entre 4 e 10 anos) ou no início da adolescência e são o principal tipo de convulsão em 15 a 20% das crianças com epilepsia. As convulsões podem ocorrer centenas de vezes durante o dia, mas a criança pode não ter consciência ou ser incapaz de expressar sua ocorrência. Como os sinais clínicos das convulsões são sutis, especialmente para pais que podem não ter nenhuma experiência prévia com convulsões, não causa surpresa o fato de que o primeiro indício da epilepsia de ausência muitas vezes corresponda a "devaneios" inexplicados e piora do rendimento escolar identificada por um professor. A marca eletrofisiológica das crises de ausência típicas é uma descarga em ponta- onda lenta generalizada simétrica de 3 Hz, que começa e cessa bruscamente, em um EEG de base normal. Períodos de descargas em ponta-onda lenta com duração de mais de alguns segundos em geral correlacionam-se com sinais clínicos, mas o EEG muitas vezes demonstra um número muito maior de períodos de atividade cortical anormal do que se poderia suspeitar clinicamente. A hiperventilação tende a desencadear essas descargas eletrográficas e até mesmo as próprias convulsões, e é uma manobra rotineira durante o registro do EEG. * Crises de ausência atípicas As crises de ausência atípicas exibem características que as distinguem das manifestações clínicas e eletrofisiológicas das crises de ausência típicas. Por exemplo, a perda de consciência tem duração maior e início e fim menos abruptos, e a convulsão acompanha-se de sinais motores mais evidentes que podem incluir características focais ou de lateralização. O EEG mostra um padrão lento e generalizado de ponta-onda lenta, com frequência ≤ 2,5 por segundo, além de outros tipos de atividade anormal. As crises de ausência atípicas costumam associar- se a anormalidades estruturais difusas ou multifocais do cérebro e, portanto, podem acompanhar outros sinais de disfunção neurológica, como deficiência intelectual. Além disso, em comparação com as crises de ausência típicas, apresentam pior resposta ao tratamento com anticonvulsivantes. * Convulsões tônico-clônicas generalizadas As convulsões tônico-clônicas de início generalizado são o principal tipo de convulsão em cerca de 10% de todas as pessoas com epilepsia. Também são o tipo mais comum de convulsão nos distúrbios metabólicos e, portanto, são frequentes em muitas situações clínicas diferentes. A convulsão costuma iniciar-se bruscamente, sem aviso prévio, porém alguns pacientes descrevem sintomas premonitórios vagos nas horas que a antecedem. Esse pródromo é distinto das auras estereotípicas associadas a convulsões focais com generalização. A fase inicial da convulsão costuma ser de contração tônica dos músculos de todo o corpo, fato responsável por diversas características clássicas do evento. A contração tônica dos músculos da expiração e da laringe no início da convulsão produz um gemido alto, ou "grito ictal". A respiração é prejudicada, as secreções acumulam-se na orofaringe e surge cianose. A contração dos músculos da mandíbula pode levar o paciente a morder a língua. Um aumento acentuado do tônus simpático gera aumentos da frequência cardíaca, da pressão arterial e do tamanho das pupilas. Após 10 a 20 segundos, a fase tônica da convulsão evolui para a fase clônica, produzida pela sobreposição de períodos de relaxamento muscular e a contração musculartônica. Os períodos de relaxamento aumentam progressivamente até o final da fase ictal, a qual costuma durar não mais que 1 minuto. A fase pós-ictal se caracteriza por ausência de responsividade, flacidez muscular e salivação excessiva que pode causar respiração ruidosa e obstrução parcial das vias aéreas. Nesse momento, pode ocorrer incontinência urinária ou fecal. Os pacientes gradualmente recuperam a consciência em alguns minutos ou horas e, durante essa transição, há um período de confusão pós-ictal. Mais tarde, os pacientes queixam-se de cefaleia, fadiga e mialgia, que podem durar muitas horas. A duração da alteração de consciência na fase pós-ictal pode ser extremamente longa (i.e., muitas horas) nos pacientes com convulsões prolongadas ou doenças subjacentes do sistema nervoso central (SNC), como atrofia cerebral alcoólica. O EEG durante a fase tônica da convulsão exibe um aumento progressivo da atividade rápida e generalizada de baixa voltagem, seguido por descargas polipontas generalizadas de alta amplitude. Na fase clônica, a atividade de alta amplitude é interrompida por ondas lentas, criando um padrão de ponta-onda lenta. O EEG pós-ictal revela supressão difusa de toda atividade cerebral e, em seguida, lentidão que gradualmente se recupera à medida que o paciente acorda. Existem diversas variantes de convulsões motoras generalizadas, incluindo convulsões tônicas puras e clônicas puras. Vale a pena mencionar as crises tônicas breves, com apenas alguns segundos de duração, pois costumam associar-se a síndromes epilépticas específicas que apresentam fenótipos convulsivos mistos, como a síndrome de Lennox-Gastaut. * Convulsões atônicas As convulsões atônicas se caracterizam por perda súbita de tônus muscular postural com duração de 1 a 2 segundos. A consciência é brevemente prejudicada, mas não costuma haver confusão pós-ictal. Uma convulsão muito breve pode gerar apenas queda rápida da cabeça ou movimento de inclinação da cabeça, enquanto uma convulsão mais longa faz o paciente cair. Isso pode ser extremamente perigoso, pois existe um risco substancial de traumatismo craniano na queda. O EEG evidencia descargas em ponta-onda breves e generalizadas, seguidas imediatamente por ondas lentas difusas que se correlacionam com a perda do tônus muscular. À semelhança das convulsões tônicas puras, as convulsões atônicas em geral são vistas associadas a síndromes epilépticas conhecidas. * Convulsões mioclônicas A mioclonia é uma contração muscular súbita e breve que pode comprometer uma parte ou todo o corpo. Uma forma fisiológica comum e normal de mioclonia é o movimento de abalo súbito observado ao adormecer. Mioclonia patológica é vista com mais frequência associada a distúrbios metabólicos, doenças degenerativas do SNC, ou lesão cerebral anóxica. Embora a distinção de outras formas de mioclonia seja imprecisa, as convulsões mioclônicas são consideradas eventos epilépticos verdadeiros, pois são causadas por disfunção cortical (vs. subcortical ou espinal). O EEG revela descargas sincrônicas bilaterais em ponta-onda lenta imediatamente antes do artefato de movimento e muscular associado à mioclonia. As convulsões mioclônicas costumam coexistir com outras formas de convulsões generalizadas, mas são a característica predominante da epilepsia mioclônica juvenil (EMJ). * Espasmos epilépticos Os espasmos epilépticos caracterizam-se por flexão ou extensão brevemente sustentadas dos músculos predominantemente proximais, incluindo músculos do tronco. Em geral, o EEG revela hipsarritmia, que consiste em ondas lentas gigantes e difusas, com fundo caótico de pontas multifocais irregulares e ondas agudas. Durante o espasmo clínico, observa-se uma supressão acentuada do EEG de fundo (a "resposta eletrodecremental"). A eletromiografia (EMG) também revela um padrão romboide característico, que pode ajudar a distinguir os espasmos das convulsões tônicas e mioclônicas breves. Os espasmos epilépticos ocorrem predominantemente em lactentes e resultam provavelmente de diferenças da função neuronal e da conectividade no SNC imaturo versus maduro. Caracterização das crises generalizadas Crises tônico clônicas (grande mal) são caracterizadas pela perda súbita da consciência, com contração tônica e posteriormente clônica dos quatro membros, ocorrendo apneia, liberação dos esfíncteres e sialorreia. Nas ausências típicas (pequeno mal), o paciente apresenta breves episódios de comprometimento da consciência com manifestações motoras discretas, automatismos orais e manuais, piscamento, aumento ou diminuição do tono muscular e sinais autonômicos de início e término abrupto. As ausências atípicas apresentam um menor comprometimento da consciência, o início e o término são menos abruptos e o tono muscular fica frequentemente alterado. Mioclonias palpebrais consistem em contrações rápidas das pálpebras ao fechamento dos olhos, o que ocasiona piscamento rápido, acompanhado de desvio dos globos oculares para cima. Esse fenômeno pode aparecer de forma isolada ou ser acompanhado de crises de ausências muito breves com duração de apenas alguns poucos segundos. Nas crises mioclônicas ocorrem contrações musculares súbitas e breves, que se parece com choques, podendo acometer músculos faciais, tronco, extremidade, músculo ou grupo muscular de forma isolada ou repetitiva. A crise mioclônica tônica é seguida de uma crise tônica. Às vezes, uma série de espasmos mioclônicos ocorre antes do aumento do tônus. As crises mioclono-atônicas são encontradas principalmente em epilepsias da infância, essas crises são caracterizadas por abalos mioclônicos nos membros superiores, geralmente em flexão, seguidos de perda do tônus muscular com queda da cabeça e flexão dos joelhos. Nas crises clônicas, tônicas e atônicas pode ocorrer perda da consciência com componente clônico (mioclonias), tônicas (contração muscular) e atônicas caracterizadas por queda brusca ao solo. Nos espasmos epilépticos pode ocorrer flexão repentina, extensão ou flexoextensão de músculos proximais e tronculares com duração de 1-2 segundos, porém não mais que 2 segundos. Os espasmos ocorrem geralmente em uma série, normalmente ao acordar. Formas sutis poderão ocorrer com somente movimento do queixo, caretas ou acenos de cabeça. Os espasmos podem ser bilateralmente simétricos, assimétricos ou unilaterais. TIPOS DE EPILEPSIA Após o diagnóstico do tipo de crise, o passo seguinte é definir o tipo de epilepsia, que inclui epilepsia focal, epilepsia generalizada, epilepsia focal e generalizada em conjunto, e também um grupo de epilepsias de tipo desconhecido. Essa classificação tem como objetivos principais identificar os tipos de crises que são mais prováveis de ocorrer num determinado paciente, o que desencadeia as crises, o prognóstico, incluindo dificuldades de aprendizagem, défice cognitivo, distúrbios psiquiátricos, assim como o risco de mortalidade e a definição de tratamento. As epilepsias focais foram definidas como crises que inicialmente envolvem apenas um hemisfério cerebral de forma mais localizada ou difusa nesse hemisfério, podendo iniciar-se em estruturas subcorticais. Cada tipo de crise teria um início ictal consistente, com padrão de propagação preferencial, podendo ou não envolver o hemisfério contralateral. Podem evoluir para crises generalizadas, as quais ocorrem em redes neuronais bilateralmente distribuídas que rapidamente se difundem, que pela nova classificação da ILAE de 2017 teve sua terminologia substituída por crise focal evoluindo para tônico clônica bilateral. Podem ocorrer vários tipos de crises, incluindo crises focais com preservação da consciência, crises focais sem preservação da consciência, crises focais motoras, crises focais não motoras e crises focais com evolução para tônico-clônicas bilaterais. SÍNDROMES EPILÉPTICAS As síndromes epiléticas classificadas atualmente pela ILAE de 2017 são as seguintes: • Epilepsias generalizadas idiopáticas:englobam 4 síndromes epiléticas, as quais. são a epilepsia de ausências da infância, epilepsia de ausências juvenil, epilepsia mioclônica juvenil e epilepsia somente com crises tónico- clônicas generalizadas (previamente conhecida por crises tônico-clônicas generalizadas ao acordar, sendo retirado o termo “ao acordar” pois essas crises podem ocorrer a qualquer hora do dia). A terminologia “idiopática” é mantida para as quatro síndromes epiléticas supracitadas, porém é preciso estar atento, pois na grande maioria das vezes, essas síndromes têm etiologia genética, devendo atender ao conhecimento crescente e descoberta de genes envolvidos em muitas epilepsias. Em casos individuais, o termo Epilepsia Generalizada Genética pode ser usado sempre que o médico se sentir confortável em evocar a etiologia genética; • Epilepsias focais autolimitadas: São várias as epilepsias focais autolimitadas, com ocorrência típica na infância. A mais comum é a epilepsia autolimitada com pontas centrotemporais, previamente denominada “epilepsia benigna com pontas centrotemporais”. Incluem- se também neste grupo as epilepsias autolimitadas occipitais da infância. Têm também sido descritas outras epilepsias autolimitadas dos lobos frontal, temporal, e parietal, com início na adolescência ou até na idade adulta. As síndromes epilépticas que apresentavam a terminologia “benigna”, como por exemplo, a epilepsia benigna com pontas centrotemporais, pode estar associada a efeitos cognitivos transitórios ou duradouros. Houve a substituição do termo anterior por “autolimitado” e “farmacossensível”, por entender que “benigna” subestima as consequências da doença. “Autolimitado” refere- se à resolução espontânea provável de uma síndrome. “Farmacossensível” relaciona-se ao esperado controle farmacológico para síndrome epiléptica. FISIOPATOLOGIA A atividade convulsiva focal pode começar em uma região bem definida do córtex e, depois, lentamente invadir as regiões vizinhas. A característica fundamental de uma convulsão bem definida é uma “ponta” eletrográfica devido a disparos intensos quase simultâneos de um grande número de neurônios excitatórios locais, resultando em uma hipersincronização aparente dos disparos excitatórios em uma região cortical relativamente grande. A atividade paroxística em neurônios individuais (o “desvio paroxístico da despolarização”) é causada por despolarização de duração relativamente longa da membrana neuronal decorrente do influxo de cálcio extracelular (Ca 2+), o qual leva a abertura dos canais de sódio (Na +) dependentes de voltagem, influxo de Na + e geração de potenciais de ação repetitivos. Isso é seguido de um pós-potencial hiperpolarizante mediado pelos receptores do ácido γ-aminobutírico (GABA) ou canais de potássio (K+), de acordo com o tipo celular. A onda de disseminação da convulsão é alentecida e, por fim, interrompida pela hiperpolarização intacta e uma inibição “circundante” criada pela ativação progressiva de neurônios inibitórios. Com ativação suficiente, há recrutamento dos neurônios circundantes por diversos mecanismos sinápticos e não sinápticos, incluindo: (1) aumento do K+ extracelular, que amortece a hiperpolarização e despolariza neurônios vizinhos; (2) acúmulo de Ca 2+ nos terminais pré-sinápticos, levando a maior liberação de neurotransmissores; e (3) ativação induzida pela despolarização do subtipo N-metil- D- aspartato (NMDA) do receptor de aminoácidos excitatórios, que causa influxo adicional de Ca 2+ e ativação neuronal; e (4) interações efáticas relacionadas a alterações da osmolaridade tecidual e edema celular. O recrutamento de uma quantidade suficiente de neurônios leva à propagação de correntes excitatórias para áreas contíguas por meio de conexões corticais locais, e para áreas mais distantes por meio de vias comissurais longas como o corpo caloso. Fatores que controlam a excitabilidade normal dos neurônios: intrínsecos (tamponamento citoplasmático, sistemas de segundos mensageiros, alterações na condutância de canais iônicos, etc), e extrínsecos (quantidade e tipos de neurotransmissores, modulação de receptores por componentes extracelulares, etc). Os mecanismos básicos de outros fatores desencadeantes de convulsões, como privação do sono, febre, abstinência alcoólica, hipoxia e infecção, são menos bem compreendidos, mas presume-se que envolvam perturbações análogas da excitabilidade neuronal. Do mesmo modo, os fatores endógenos que determinam o limiar convulsivo do indivíduo também podem estar relacionados com tais propriedades. • FISIOPATOLOGIA DA FOTOSSENSIBILIDADE Segundo Engel, a classificação base das crises convulsivas são as de início focal, de início generalizado ou de início desconhecido, contudo, também existem especificações apresentadas como manifestações motora ou não motora. Dentre os tipos de crises epilépticas, existem as crises reflexas que são crises desencadeadas por estímulos sensoriais externos específicos ou por processos cognitivos internos. Nesse sentido, o termo epilepsia reflexa é usado para crises desencadeadas mediante estímulos ou eventos específicos, podendo ser desencadeada por barulhos, luz ou movimentos voluntários provocando crises miocloniais comprovadas no Eletroencefalograma. Entre os estímulos sensitivos que podem provocar crises epilépticas reflexas há um predomínio pelo sistema visual. Dentre eles, a fotossensibilidade. A fotossensibilidade é descrita por Covanis como uma sensibilidade anormal do cérebro em resposta à estimulação luminosa intermitente ou a padrões, precipitando crises epilépticas ou paroxismos epileptiformes no EEG. As epilepsias fotossensíveis compreendem um amplo grupo de epilepsias nas quais as convulsões são provocadas por estimulação luminosa ou padrão, à fotossensibilidade e definida como a presença de resposta fotoparoxística (PPR) à estimulação fótica intermitente (IPS), variando de espículas occipitais ou descargas de espícula -onda (Grau - I) a descargas generalizadas de espícula ou onda poliespícula (Grau - IV). A PPR grau IV é considerada a mais significativa e tem a maior associação com a epilepsia clínica. A PPR é prevalente na epilepsia mioclônica juvenil tanto a tratada como não tratada, tendo como uma das principais razões para a maior prevalência de PPR em adolescentes é que a maioria dos pacientes tem epilepsia iniciada durante a segunda década de vida e é provável que seja submetida a EEG nessa época. Epilepsia fotossensível: gatilhos mais comuns ◦ Observar padrões geométricos em movimento: olhar para a escada rolante que sobe, observar listras em preto e branco se movendo ou mesmo contemplar a sombra de folhas ao vento são atividades que podem desencadear crises. ◦ Jogar vídeo game por longos períodos: devido ao alto estímulo visual, jogar videogame por longos períodos pode facilitar o desencadeamento de crises. Fique atento às recomendações dos fabricantes. ◦ Assistir a cenas de filmes com luzes e cores intermitentes: muitos filmes apostam em cenas com cores e luzes intermitentes com o objetivo de estimular ou desorientar o espectador. A dica é se preparar antes de ir ao cinema: procure saber se há recomendações específicas para pessoas com fotossensibilidade ou peça que outra pessoa assista ao filme com atenção a esses detalhes antes de você. ◦ Olhar diretamente para o reflexo do Sol: o reflexo que “dá ar” em vidros ou objetos de metal devem ser evitados. ◦ Estar em um ambiente com luz intermitente: lâmpadas estroboscópicas de casas noturnas, lâmpadas de LED falhando (acende e apaga) ou mesmo a luz de uma ambulância podem ser fatores desencadeantes. ◦ Assistir à TV em algumas situações específicas: assistir à TV muito de perto, em um ambiente totalmente escuro ou deixá-la com a exibição embaralhada, como ficavam as TVs antigas fora do ar, pode desencadear crises. Uma medida que ajuda é sempre assistirà TV com as luzes acesas e, assim, diminuir o contraste visual de possíveis cenas desencadeantes. ENTENDER O DIAGNÓSTICO CLÍNICO, LABORATORIAL E DE IMAGEM NA EPILEPSIA ANAMNESE E EXAME FÍSICO O primeiro objetivo é determinar se o evento de fato foi uma convulsão. Uma anamnese minuciosa é essencial, pois em muitos casos, o diagnóstico de uma convulsão se baseia unicamente em critérios clínicos - o exame físico e os testes laboratoriais costumam ser normais. As perguntas devem concentrar-se nos sintomas que ocorreram antes, durante e após o episódio a fim de discriminar entre convulsão e outros eventos paroxísticos. As convulsões com frequência ocorrem fora do ambiente hospitalar, e o paciente pode não ter consciência das fases ictal e pós- ictal imediata; portanto, as testemunhas do evento devem ser questionadas cuidadosamente. A anamnese deve concentrar-se nos fatores de risco e eventos predisponentes. Os indícios de predisposição a convulsões incluem história de convulsões febris, história familiar de convulsões e, de importância particular, auras ou convulsões breves anteriores não reconhecidas como tais. Fatores epileptogênicos, como traumatismo craniano anterior, AVC, tumor ou infecção do SNC, devem ser identificados. Nas crianças, uma avaliação cuidadosa dos marcos do desenvolvimento pode proporcionar evidências de uma doença subjacente do SNC. Também é necessário identificar fatores desencadeantes como privação do sono, doenças sistêmicas, desequilíbrios eletrolíticos ou metabólicos, infecção aguda, fármacos que reduzem o limiar convulsivo ou uso de álcool ou substâncias ilícitas. O exame físico geral inclui uma pesquisa de sinais de infecção ou enfermidade sistêmica. Um exame cuidadoso da pele pode revelar sinais de distúrbios neurocutâneos, como esclerose tuberosa ou neurofibromatose, ou de uma doença renal ou hepática crônica. A detecção de organomegalia pode indicar uma doença metabólica de depósito, e a assimetria dos membros fornece um indício de lesão cerebral no início do desenvolvimento. Devem-se procurar por sinais de traumatismo craniano e uso de álcool e substâncias ilícitas. A ausculta cardíaca e das artérias carótidas pode evidenciar uma anormalidade que predisponha a doença cerebrovascular. Todos os pacientes necessitam de exame neurológico completo, com ênfase especial na pesquisa de sinais de doença hemisférica cerebral. Uma avaliação cuidadosa do estado mental (incluindo a memória, a linguagem e o pensamento abstrato) pode sugerir lesões nos lobos frontal anterior, parietal ou temporal. O teste dos campos visuais ajuda no rastreamento de lesões das vias ópticas e dos lobos occipitais. Os testes de rastreamento da função motora, como queda em pronação, reflexos tendíneos profundos, marcha e coordenação, podem sugerir lesões do córtex motor (frontal), e os testes de sensibilidade cortical (p. ex., estimulação simultânea dupla) podem detectar lesões no córtex parietal. EXAMES LABORATORIAIS Exames de sangue de rotina estão indicados para identificar as causas metabólicas mais comuns das convulsões, como anormalidades nos eletrólitos, glicose, cálcio ou magnésio e doenças hepática ou renal. Também se deve solicitar rastreamento para toxinas no sangue e na urina de todos os pacientes que pertençam aos grupos de risco apropriados, principalmente se não for identificado um fator precipitante claro. A punção lombar é indicada se houver qualquer suspeita de meningite ou encefalite, e é obrigatória em todos os pacientes infectados pelo HIV, mesmo na ausência de sinais ou sintomas sugestivos de infecção. O teste para autoanticorpos no soro e no líquido cerebrospinal (LCS) deve ser considerado em pacientes com uma forma muito agressiva de epilepsia associada a outras anormalidades, como sintomas psiquiátricos e distúrbios cognitivos. EXAMES ELETROFISIOLÓGICOS A atividade elétrica do cérebro (EEG) é facilmente registrada por meio de eletrodos aplicados no couro cabeludo. A diferença de potencial entre os pares de eletrodos posicionados no couro cabeludo (derivação bipolar) ou entre eletrodos específicos e um ponto de referência comum relativamente inativo (derivação referencial) é amplificada e exibida na tela de um computador, no osciloscópio ou no papel. Sistemas digitais permitem que o EEG seja reconstruído e visualizado em qualquer formato desejado, sendo manipulado para uma análise mais detalhada, possibilitando também que técnicas computadorizadas sejam usadas para detectar certas anormalidades. As características do EEG normal dependem da idade e do nível de vigília do paciente. Em geral, a atividade rítmica registrada representa os potenciais pós-sinápticos das células piramidais orientadas verticalmente no córtex cerebral e é classificada com base em sua frequência. Nos adultos normais despertos e deitados tranquilamente com os olhos fechados, o EEG mostra, nas regiões posteriores, um ritmo alfa de 8 a 13 Hz, entremeado com quantidade variável de atividade (beta) mais rápida (> 13 Hz) generalizada; o ritmo alfa é atenuado quando os olhos são abertos. No estado de sonolência, o ritmo alfa também diminui; no sono superficial, as atividades mais lentas nas faixas teta (4- 7 Hz) e delta (< 4 Hz) tornam-se mais evidentes. Todos os pacientes com suspeita de um distúrbio convulsivo devem ser avaliados com EEG assim que possível. Na avaliação de um paciente com suspeita de epilepsia, a presença de atividade convulsiva eletrográfica durante o evento clinicamente evidente - isto é, atividade rítmica repetitiva anormal com início e fim distintos - estabelece o diagnóstico claramente. Contudo, a ausência de atividade convulsiva eletrográfica não exclui um distúrbio convulsivo porque convulsões focais podem originar-se de uma região do córtex que não pode ser detectada por eletrodos no couro cabeludo. O EEG sempre é anormal durante convulsões tônico-clônicas generalizadas. Como as convulsões são, em geral, infrequentes e imprevisíveis, muitas vezes é impossível realizar o EEG durante um evento clínico. Nessas situações, procedimentos ativadores são geralmente realizados, enquanto o EEG é registrado na tentativa de provocar anormalidades. Esses procedimentos costumam incluir hiperventilação (por 3-4 min), estimulação fótica, sono e privação de sono durante a noite que antecede o exame. O monitoramento contínuo por longos períodos em unidades de telemetria com vídeo- EEG de pacientes hospitalizados ou o uso de equipamento portátil para registrar o EEG continuamente por ≥ 24 horas em pacientes ambulatoriais facilita a captura dos achados eletrofisiológicos associados aos eventos clínicos. Em particular, a telemetria com vídeo-EEG é hoje um exame rotineiro para o diagnóstico preciso de epilepsia em pacientes com eventos mal caracterizados ou convulsões de difícil controle. O EEG também pode ser útil no período interictal ao mostrar certas anormalidades que são altamente sugestivas do diagnóstico de epilepsia. Essa atividade epileptiforme consiste em disparos de descargas anormais que contêm pontas ou ondas agudas. A presença de atividade epileptiforme não é específica de epilepsia, mas tem uma prevalência bem maior em pacientes com epilepsia do que em indivíduos normais. Contudo, mesmo no paciente com epilepsia confirmada, o EEG interictal inicial rotineiro pode ser normal em até 60% dos casos. Por essa razão, o EEG não estabelece o diagnóstico da epilepsia em muitos casos. Estima-se que 23% dos exames de EEG feitos após primeira crise são anormais e, se realizados nas primeiras 24 a 48 h após o evento, até 70% serão anormais. Um resultado normal de EEG não exclui que o paciente tenha apresentado ou venha a apresentar novas crises, bem como não exclui um diagnóstico de epilepsia se houver essa suspeita clínica. Dentre as alterações possíveis no EEG, existem anormalidades não epileptiformes (como alentecimento da atividade de base, descrito como surtos de ondas lentas ou desorganizaçãoda atividade elétrica cerebral) e as que são epileptiformes. Essas são descritas como paroxismos epileptiformes (ondas agudas, espículas, ondas lentas agudizadas, complexos de espícula-onda, ritmo rápido etc.). No contexto da primeira crise, o EEG pode contribuir para: Classificar as crises (focal vs. generalizada), quando a história clínica não foi suficientemente esclarecedora; Identificação de síndromes epilépticas específicas (principalmente as epilepsias generalizadas idiopáticas da infância e adolescência, que têm achados típicos de EEG); Estimar o risco de recorrência, já que um EEG alterado confere maior risco de recorrência após uma primeira crise (útil para decisão terapêutica). Também se pode usar o EEG rotineiro registrado no couro cabeludo para avaliar o prognóstico dos distúrbios convulsivos; em geral, um EEG normal significa prognóstico melhor, enquanto um ritmo de base anormal ou atividade epileptiforme profusa sugere prognóstico reservado. Infelizmente, o EEG não se mostrou útil na predição de quais pacientes com distúrbios predisponentes, como traumatismo craniano ou tumor cerebral, terão epilepsia, porque nessas circunstâncias a atividade epileptiforme é comumente encontrada, independentemente da ocorrência de convulsões. A magnetoencefalografia (MEG) oferece outro modo não invasivo de avaliar a atividade cortical. Em vez de medir a atividade elétrica do cérebro, ela mede os pequenos campos magnéticos que são gerados por essa atividade. Pode-se analisar a fonte da atividade epileptiforme vista na MEG e estimar sua origem no cérebro por intermédio de uma variedade de técnicas matemáticas. Essas estimativas da origem podem então ser transferidas para uma imagem anatômica do cérebro, como uma RM, para gerar uma imagem de fonte magnética (MSI, de magnetic source image). A MSI pode ser útil para localizar focos convulsivos em potencial. EXAMES DE IMAGEM CEREBRAL Quase todos os pacientes com convulsões de início recente devem ser submetidos a exames de imagem cerebral para determinar se existe uma anormalidade estrutural. A única exceção em potencial a essa regra são crianças que apresentam uma história inequívoca e um exame físico sugestivo de distúrbio convulsivo generalizado benigno, como epilepsia de ausência. Demonstrou-se que a RM é superior à tomografia computadorizada (TC) na detecção de lesões cerebrais associadas à epilepsia. Em alguns casos, a RM identifica lesões como tumores, malformações vasculares e outras patologias que exigem tratamento urgente. A disponibilidade de métodos mais modernos de RM, como scanner de 3-Tesla, imagens paralelas com bobinas multicanais, imagem estrutural tridimensional em resolução submilimétrica e uso disseminado das sequências de pulso, como FLAIR (fluid-attenuated inversion recovery), aumentou a sensibilidade para a detecção de anormalidades da arquitetura cortical, incluindo atrofia hipocampal associada a esclerose temporal mesial, e anormalidades da migração neuronal cortical. Nesses casos, os achados podem não levar a terapia imediata, mas proporcionam uma explicação para as convulsões do paciente e apontam para a necessidade de terapia farmacológica antiepiléptica crônica ou possível ressecção cirúrgica. No paciente com suspeita de infecção do SNC ou lesão expansiva, deve-se obter uma TC em regime de emergência caso não se disponha imediatamente de RM. Do contrário, é satisfatório obter uma RM alguns dias após a avaliação inicial. Procedimentos de imagens funcionais, como a tomografia computadorizada por emissão de pósitrons (PET) e a tomografia computadorizada por emissão de fóton único (SPECT), também são usados para avaliar determinados pacientes com convulsões refratárias ao tratamento clínico. COMPREENDER O MANEJO DA CRISE EPILÉPTICA (PROTOCOLO ATENÇÃO BÁSICA ) (MEDICINA DE EMERGÊNCIA) ANAMNESE A história clínica é, de fato, a principal etapa para o manejo do paciente. Ela deve ser bastante minuciosa, visando caracterizar adequadamente o evento paroxístico. Os principais objetivos durante a anamnese são: Sempre que possível, uma testemunha do evento deve ser também entrevistada. Quando o paciente tem o evento na presença de terceiros que são os mesmos que o acompanham durante o atendimento, essa tarefa é fácil. Entretanto, se o paciente estava sozinho durante a crise ou foi resgatado de ambiente público sem acompanhantes, uma descrição completa do episódio não será possível. Quaisquer manifestações que tenham ocorrido durante o período em que o paciente teve comprometimento da consciência (clonias, automatismos, fala) não poderão ser informadas pelo próprio. Também é importante questionar ativamente sobre a presença de crises prévias, mesmo que sutis. Para isso, pode-se oferecer opções aos pacientes, descrevendo paradas comportamentais, automatismos, que muitas vezes podem ter passado desapercebidos, pois não são reconhecidos como “crises” ou “convulsões” por grande parte dos pacientes. Além disso, antecedentes patológicos pessoais, como crises febris na infância, complicações perinatais, trauma craniano ou AVC prévios e doenças sistêmicas associadas (neoplasias, imunodeficiências, doenças autoimunes etc.) são importantes para ajudar a estabelecer um possível diagnóstico etiológico. História familiar de crises e/ou de epilepsia também deve ser questionada quando possível. EXAME FÍSICO O exame inicial é semelhante ao de qualquer paciente em avaliação de urgência, devendo estar voltado para a identificação de sinais de instabilidade clínica (sinais vitais, avaliação de vias aéreas, glicemia capilar). Pesquisa de sinais de hipotensão postural pode ser adequada conforme a suspeita clínica de síncopes como diagnóstico diferencial dos eventos referidos. Estigmas de trauma podem ser úteis na ausência de informante ou testemunha do evento. O exame neurológico deve enfatizar: • Nível e conteúdo de consciência; • Linguagem (capacidade de nomear objetos, manter discurso, compreensão de comandos e perguntas); • Presença de sinais focais - déficits motores, sensitivos e a tencionais (heminegligência). Tais déficits podem corresponder a paralisia de Todd (déficit pós- ictal, reversível e transitório), a sinais de patologias neurológicas agudas ou sequelas prévias; • Fundo de olho; • Rigidez de nuca. ABORDAGEM INICIAL Frequentemente, o paciente chega após o término da crise, podendo estar ainda confuso ou totalmente recuperado. Se o paciente chega ainda em crise, medidas de suporte de vida, com monitorização de sinais vitais, aferição da glicemia capilar, avaliação de vias aéreas e estabelecimento de acesso periférico estão indicados. Além disso, durante o atendimento inicial, a coleta de sangue para iniciar investigação laboratorial já será realizada. Quando o paciente chega ainda em crise, deve ser instituído tratamento de urgência. A medicação indicada para abortar uma crise em curso será um benzodiazepínico. As recomendações para uso no Brasil são: • Diazepam intravenoso (IV): dose inicial de 10mg para adultos, 0,15 a 0,2 mg/kg/ dose para crianças ou pacientes com menor peso; podendo ser repetida dose adicional se necessário (até duas vezes); • Midazolam intramuscular (IM): dose inicial de 10 mg se > 40 Kg; reduzir para 5 mg se peso entre 13 e 40 Kg; não há recomendação para repetição. Preferencialmente, a administração do benzodiazepínico deve ser feita já pela equipe de resgate em ambiente pré hospitalar, o que reduz a chance de complicações. COMPREENDER OS PRINCIPAIS ASPECTOS FARMACOLÓGICOS DA CARBAMAZEPINA A carbamazepina, que está estreitamente relacionada com a imipramina e com outros antidepressivos, é um composto tricíclico efetivo para tratar a depressão bipolar. Inicialmente, foi comercializada para o tratamento da neuralgia do trigêmeo, porém provou também ser útil para a epilepsia. MECANISMO DE AÇÃO O mecanismo de ação da carbamazepina parece ser semelhante ao da fenitoína. À semelhança da fenitoína,a carbamazepina exibe atividade contra convulsões por eletrochoque máximo. A carbamazepina, à semelhança da fenitoína, bloqueia os ca- nais de Na+ em concentrações terapêuticas e inibe o disparo repetitivo de alta frequência de neurônios em cultura. Atua também em nível pré-sináptico, reduzindo a transmissão sináptica. Também foi descrita a potencialização de uma corrente de K+ regulada por voltagem. Esses efeitos provavelmente são responsáveis pela ação anticonvulsivante da carbamazepina. Estudos de ligação mostram que a carbamazepina interage com os receptores de adenosina, porém a importância funcional dessa observação não é conhecida. USOS CLÍNICOS Embora a carbamazepina tenha sido considerada por muito tempo um fármaco de escolha para as crises tanto parciais como nas crises tônico-clônicas generalizadas, alguns dos fármacos anticonvulsivantes mais recentes estão começando a destituí-la de sua função. A carbamazepina não é sedativa em sua faixa terapêutica habitual. O fármaco também é muito efetivo em alguns pacientes com neuralgia do trigêmeo, embora pacientes mais idosos possam tolerar precariamente doses mais altas, com ataxia e instabilidade. A carbamazepina também é útil para o controle da mania em alguns pacientes com transtorno bipolar. FARMACOCINÉTICA A taxa de absorção da carbamazepina varia muito entre pacientes, embora aparentemente ocorra absorção quase completa em todos. Em geral, os níveis máximos são alcançados em 6 a 8 horas após sua administração. Retardar a absorção com a administração do fármaco após as refeições ajuda o paciente a tolerar doses diárias totais mais altas. A distribuição é lenta, e o volume de distribuição é de aproximadamente 1 L/kg. Cerca de 70% do fármaco liga-se às proteínas plasmáticas, e não foi observado nenhum deslocamento de outros fármacos de seus sítios de ligação às proteínas. A carbamazepina apresenta uma depuração sistêmica muito baixa, de cerca de 1 L/ kg/dia no início da terapia. O fármaco tem uma notável capacidade de induzir as enzimas microssômicas. Geralmente, a meia-vida de 36 horas, que é observada em indivíduos após uma dose única inicial, diminui para 8 a 12 horas em pacientes submetidos à terapia contínua. Por conseguinte, espera-se um ajuste considerável da dosagem durante as primeiras semanas de terapia. A carbamazepina também altera a depuração de outros fármacos. A carbamazepina sofre metabolismo completo em vários derivados nos seres humanos. Um deles, a carbamazepina-10,11-epóxido, demonstrou ter atividade anticonvulsivante. A contribuição desse metabólito e de outros metabólitos na ativi- dade clínica da carbamazepina não é conhecida. NÍVEIS TERAPÊUTICOS E DOSAGEM A carbamazepina só está disponível na forma oral. O fármaco é efetivo em crianças, nas quais é apropriada uma dose de 15 a 25 mg/kg/dia. Nos adultos, doses diárias de 1 g ou até mesmo de 2 g são toleradas. Obtém-se uma dosagem mais alta com a administração diária de múltiplas doses fracionadas. As preparações de liberação prolongada possibilitam a administração do fármaco duas vezes ao dia na maioria dos pacientes. Nos casos em que se efetua uma coleta de sangue imediatamente antes da dose matinal (nível mínimo), o nível terapêutico costuma ser de 4 a 8 mcg/ mL. Embora muitos pacientes se queixem de diplopia com níveis do fármaco acima de 7 mcg/mL, outros conseguem tolerar níveis superiores a 10 mcg/mL, particularmente com monoterapia. Na atualidade, dispõe-se de formulações de liberação prolongada que superam alguns desses problemas. INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS As interações medicamentosas que envolvem a carbamazepina estão quase exclusivamente relacionadas com as propriedades do fármaco de indução das enzimas. Conforme assinalado anteriormente, o aumento da capacidade metabólica das enzimas hepáticas pode causar uma redução nas concentrações de carbamaze- pina no estado de equilíbrio dinâmico, bem como um aumento na taxa de metabolismo de outros fármacos, como primidona, fenitoína, etossuximida, ácido valpróico e clonazepam. REAÇÕES ADVERSAS Os efeitos colaterais mais comuns da carbamazepina relacionados com a dose consistem em diplopia e ataxia. Com frequência, a diplopia é o primeiro efeito colateral a ocorrer e pode durar menos de uma hora durante um determinado momento do dia. A redistribuição da dose fracionada diária frequentemente pode resolver essa queixa. Outras queixas relacionadas com a dose incluem desconforto gastrintestinal discreto, instabilidade e, com doses muito mais altas, sonolência. Em certas ocasiões, ocorrem hiponatremia e intoxicação hídrica, as quais podem estar relacionadas com a dose. Existe uma considerável preocupação no que diz respeito à ocorrência de discrasias sanguíneas idiossincrásicas com a carbamazepina, incluindo casos fatais de anemia aplásica e agranulocitose. A maior parte tem sido observada em pacientes idosos com neuralgia do trigêmeo, e a maioria ocorreu nos primeiros quatro meses de tratamento. A leucopenia leve e persistente, observada em alguns pacientes, não constitui necessariamente uma indicação para suspender o tratamento, mas requer monitoração cuidadosa. A reação idiossincrásica mais comum consiste em exantema cutâneo eritematoso; outras respostas, como disfunção hepática, são incomuns. COMPREENDER AS ORIENTAÇÕES NO TRATAMENTO DA EPILEPSIA O conhecimento sobre epilepsia e o reconhecimento das crises são essenciais para o profissional que destina o cuidado para pacientes epiléticos. Além dessa noção é preciso ter habilidade, posicionamento frente à situação para que sejam evitados agravos neurológicos e cuidados para não haver maiores riscos como quedas, aspiração de secreções broncopulmonares e ferimentos. Cuidados como administração de anticonvulsivantes, manter vias aéreas permeáveis, lateralização da cabeça, administração de oxigênio se necessário, medidas de manutenção e prevenção de danos. O paciente e os familiares devem ser informados sobre a doença, a importância da adesão ao tratamento com horários de medicação definidos e regulares, efeitos adversos medicamentosos e sobre os riscos que a epilepsia não tratada pode causar. Deve-se verificar se o tratamento está sendo realizado de forma correta e orientar quanto aos cuidados durante e após crises. O diário de crises é um importante meio de auxílio na conduta médica, possui informações coletadas sobre duração, frequência, horário, caracterização da crise, membros do corpo envolvidos, fatores desencadeantes, estado de consciência, ações farmacológicas e efeitos colaterais. Os familiares que convivem com o paciente devem ser orientados a realizar essas anotações, pois o diário de crises possibilita um tratamento qualificado e singular, levando a melhoria na qualidade de vida do paciente. REFERÊNCIAS OBJETIVO 1: • JAMESON, J. L. et al. Medicina interna de Harrison. 20. ed. Porto Alegre: AMGH, 2020. • LAWAL, Muili; OMOBAYO, Hameedat; LAWAL , Kudirat. Epilepsy: pathophysiology, clinical manifestations and treatment options. British journal of Neuroscience Nursing, [s. l.], v. 14, n. 2, p. 58-72, 23 abr. 2018. DOI https://doi.org/10.12968/bjnn.2018.14.2.58. Disponível em: https://www.magonlinelibrary.com/doi/abs/10.12968/bjnn.2018.14.2.58. Acesso em: 30 set. 2023. OBJETIVO 2 e 6: • MAIA SANTOS, I. M.; NUNES MADEIRA REIS, M. C.; MAIA SANTOS, A. C.; ROCHA NÓBREGA NETO, A. de P.; AGUIAR FENELON JUNIOR, M.; MACHADO BEZERRA, D. Influência da fotossensibilidade no desenvolvimento de crises epilépticas mioclônicas juvenil. Recima 21 - Revista Científica Multidisciplinar - ISSN 2675-6218, [S. l.], v. 4, n. 6, p. e463393, 2023. DOI: 10.47820/recima21.v4i6.3393. Disponível em: https://recima21.com.br/ index.php/recima21/article/view/3393. Acesso em: 30 set. 2023. • LAWAL, Muili; OMOBAYO, Hameedat; LAWAL , Kudirat. Epilepsy: pathophysiology, clinical manifestations and treatment options. British journal of Neuroscience Nursing, [s. l.], v. 14, n. 2, p. 58-72,23 abr. 2018. DOI https://doi.org/10.12968/bjnn.2018.14.2.58. Disponível em: https://www.magonlinelibrary.com/doi/abs/10.12968/bjnn.2018.14.2.58. Acesso em: 30 set. 2023. • FALCO - WALTER, Jessica. Epilepsy-Definition, Classification, Pathophysiology, and Epidemiology. Seminars in neurology, [s. l.], v. 40, n. 6, p. 617-623, 5 nov. 2020. DOI 10.1055/ s-0040-1718719. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/33155183/. Acesso em: 30 set. 2023. OBJETIVO 3 • JAMESON, J. L. et al. Medicina interna de Harrison. 20. ed. Porto Alegre: AMGH, 2020. • FALCO - WALTER, Jessica. Epilepsy-Definition, Classification, Pathophysiology, and Epidemiology. Seminars in neurology, [s. l.], v. 40, n. 6, p. 617-623, 5 nov. 2020. DOI 10.1055/ s-0040-1718719. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/33155183/. Acesso em: 30 set. 2023. OBJETIVO 4 • NETO, Adalberto Studart et al. Medicina de emergência: Abordagem prática. 16. ed. rev. e aum. Santana de Paraíba - SP: Manole, 2022. • MINISTÉRIO DA SAÚDE (Brasil). Departamento de atenção especializada e temática. Avaliação e conduta da epilepsia na atenção básica e na urgência e emergência. 1. ed. Brasília - DF: Ministério da Saúde, 2018. 17 p. OBJETIVO 5 • KATZUNG, Bertram G.; TREVOR, Anthony J. Farmacologia básica e clínica. 13. ed. Porto Alegre: McGraw-Hill, 2017.