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ÁCIDO FÓLICO 19 Denise Mafra Silvia M. Franciscato Cozzolino INTRODUÇÃO Folato é um termo genérico para compostos que têm atividade similar ao ácido pteroilglutâmico; é uma vitamina hidrossolúvel cuja forma biologica- mente ativa é o ácido tetra-hidrofólico (THF), que participa em várias reações de transferência de carbono para a biossíntese de nucleotídios essenciais para a síntese de DNA e RNA. Esta vitamina está metabolicamente relacionada com a vitamina B 12 , que também tem ação na transferência de carbonos. A deficiência em ambas as vitaminas tem efeitos clínicos semelhantes. Embo- ra o folato esteja amplamente distribuído nos alimentos, sua deficiência é comum, acrescentando-se ainda o fato de que muitos medicamentos como fenitoína, primidona, barbitúricos, metotrexato, nitrofurantoína ou sulfas- salazina poderem causar depleção dessa vitamina. O ácido fólico consiste em uma pterina reduzida ligada ao ácido p-aminobenzoico, formando o ácido pteroico (Figura 19.1). O grupo carbo- xila da porção do ácido p-aminobenzoico é ligado por uma ligação peptídica a um α-amino grupo de glutamato, formando pteroilglutamato (PteGlu). As coenzimas podem ter até sete resíduos glutamatos adicionais ligados por ligações peptídicas, conhecidos como folato ou pteroil poliglutamato BIODISPONIBILIDADE DE NUTRIENTES512 conjugados (PteGlu n ). Folato é o nome trivial preferido para pteroilgluta- mato, embora tanto folato quanto ácido fólico possam ser utilizados como termos genéricos para incluir vários poliglutamatos. O PteGlu2 é algumas vezes referido como ácido fólico diglutamato e o PteGlu3, como ácido fólico triglutamato, e assim por diante. Em 1992, o grupo do professor Kamen et al.46 descobriu que o ácido fólico poderia entrar nas células por endocitose via receptor, existindo três isoformas de receptores (FR): FR-a, FR-b e FR-g, já identificados em tecidos humanos. No entanto, os receptores FR-g são encontrados somente em células hematopoié ticas e os FR-a e FR-b são largamente encontrados em células neoplásicas humanas. Com essa descoberta, o ácido fólico tem sido popularmente empregado em conjunto com drogas anticâncer para promover a entrada do medicamento na célula1. FONTES ALIMENTARES O tetraidrofolato é adquirido da dieta ou por síntese microbiana no intestino. Boas fontes de ácido fólico são: brócolis, espinafre, ervilhas, grãos, feijão, lentilha, laranja. Fígado bovino e gema de ovos também contêm fo- lato3,18 (Quadro 19.1). Koebnick et al.24 verificaram que dietas ricas em vegetais aumentavam as concentrações plasmáticas e eritrocitárias de folato. Figura 19.1. Ácido fólico. ÁCIDO FÓLICO 513 Quadro 19.1. Conteúdo de folato em alimentos Alimento Peso (g) Folato (µg) Fígado de galinha cozido 100 770 Fígado de peru cozido 100 666 Levedo de cerveja 16 626 Fígado de boi cozido 100 220 Lentilha 99 179 Quiabo cozido 92 134 Feijão-preto cozido 86 128 Espinafre cozido 95 103 Soja verde cozida 90 100 Macarrão branco cozido 140 98 Rim de boi cozido 100 98 Amendoim 72 90 Folhas de couve cozidas congeladas 90 88 Aspargos (hastes) 60 84 Semente de girassol 56 77 Alface-romana 248 76 Suco de laranja fresco 85 75 Beterraba cozida 85 68 Couve-de-bruxelas cozida 78 67 Ervilhas secas 98 64 Abacate 100 62 Espinafre picado 30 58 Tofu 124 55 Mamão papaia 140 53 Brócolis picado cozido 85 52 Caranguejo cozido 100 51 Folhas de mostarda cozida 70 51 (continua) BIODISPONIBILIDADE DE NUTRIENTES514 Quadro 19.1. Conteúdo de folato em alimentos (continuação) Alimento Peso (g) Folato (µg) Suco de tomate 242 51 Amêndoa 78 50 Castanha assada 72 50 Gérmen de trigo 14 50 Arroz branco cozido 79 48 Ervilha-verde cozida 80 47 Suco de laranja refrigerado 249 45 Feijão cozido 127 45 Caju 65 44 Coração de alcachofra cozido 84 43 Nozes cortadas 60 40 Pistache 64 37 Banana 118 35 Salmão cozido 100 34 Semente de abóbora 57 33 Folhas de brócolis picadas 44 31 Laranja pequena 96 29 Manga média 207 29 Kiwi 76 29 Marisco no vapor 100 30 Pão branco 30 29 Couve-flor crua (50g) ou cozida 62 28 Iogurte com baixo teor de gordura 245 28 Melão-cantalupo 160 27 Morango fresco 152 27 Ostras cozidas 100 27 Vagem de ervilha cozida 80 26 (continua) ÁCIDO FÓLICO 515 Quadro 19.1. Conteúdo de folato em alimentos (continuação) Alimento Peso (g) Folato (µg) Flores de brócolis cru 36 25 Milho cozido 75 25 Amora preta 72 25 Truta cozida 100 24 Noz-pecã cortada 60 23 Ovo cozido 48-50 20 Ostras cruas 100 16 Framboesa vermelha 60 16 Repolho verde cru ou cozido 75 15 Batata-doce assada 128 14 Batata assada com casca 122 13 Suco de abacaxi 125 13 Queijo cheddar 28,4 12 Leite 245 12 Chá-verde 237 12 Chá-preto 237 12 Cenoura crua 72 10 Purê de batata 105 8 DIGESTÃO, ABSORÇÃO E BIODISPONIBILIDADE DE FOLATO Cerca de 80% do folato da dieta está presente como poliglutamatos. A biodisponibilidade e, portanto, o valor nutricional dos vários poliglutamatos conjugados e dos derivados de folato não são conhecidos; valores variando de 40 a 70% de disponibilidade de pteroilmonoglutamato são relatados para diferentes alimentos2. Os conjugados de folato são hidrolisados no intestino delgado pela hidrolase pteroilpoliglutamato [conjugase (EC 3.4.22.12)], uma peptidase BIODISPONIBILIDADE DE NUTRIENTES516 dependente de zinco do suco pancreático, da bile e da mucosa da borda em escova8. Como a conjugase é uma metaloenzima dependente de zinco, a deficiência deste mineral pode prejudicar a absorção do folato. Canton e Cremin8 sugeriram que a absorção de uma dose-teste de folato poliglutamato pode ser um índice sensível do estado nutricional relativo ao zinco. Já a absorção de folato monoglutamato (de preparações farmacêuticas ou de alimentos) não é afetada pelo estado nutricional relativo ao zinco. O folato livre, liberado por ação da conjugase, é absorvido por transporte ativo no duodeno e no jejuno. O folato presente no leite está especialmente ligado à proteína ligadora específica, e esse complexo proteína-folato é absorvido intacto, sobretudo no íleo, por um mecanismo distinto do sistema de trans- porte ativo para a absorção do folato livre. A biodisponibilidade do folato do leite ou de dietas nas quais o leite está presente é consideravelmente maior que aquela do folato livre. A maioria do folato alimentar sofre metilação e redução dentro da célula da mucosa intestinal, portanto o folato que entra na circulação portal é principalmente 5-metiltetra-hidrofolato. Outros folatos nas formas monoglutamatos e deidrofolatos são também absorvidos; estes são reduzidos e metilados no fígado e secretados na bile. O fígado também capta vários folatos liberados pelos tecidos; novamente eles são reduzidos, metilados e secretados na bile. O metiltetra-hidrofolato na circulação encontra-se ligado à albumina, e é disponível para captação pelos tecidos extra-hepáticos. Pequenas quantidades de outras formas de folato também podem circular no plasma (cerca de 10 a 15% do folato no plasma estão na forma de 10-formil-tetra-hidrofolato). A captação ocorre por processo mediado por carreador, formando poliglu- tamatos que não atravessam as membranas celulares. O principal folato circulante é o metiltetra-hidrofolato, um substrato fraco para a formação de poliglutamatos. É necessária a dimetilação, pela ação da metionina sintetase, para a tomada efetiva do folato. Na deficiência em B 12 , quando a atividade da metionina sintetase é prejudicada, há uma diminuição na retenção do folato nos tecidos. Sob condições normais, os folatos predominantes no fígado são pentaglutamatos, com pequenas quanti- dades de tetra e hexaglutamatos. A formação de poliglutamatos é controlada ÁCIDO FÓLICO 517 pela disponibilidade de folato; em animais deficientes, as formas hexa a octaglutamatos predominam, ao passo que em animais suplementados são as formas tri a pentaglutamatosque se sobressaem no fígado. Os eritrócitos contêm maiores concentrações de folato (poliglutamatos ligados à hemoglobina) que o plasma. A função desta ligação não é conhe- cida, mas acredita-se ser uma forma de armazenamento da vitamina em vez de representar um mecanismo de regulação da função da hemoglobina. O tetra-hidrofolato monoglutamato dimetilado é liberado pelos tecidos extra- -hepáticos, e é transportado ao fígado ligado à proteína ligadora de folato no plasma. Os tecidos extra-hepáticos podem captar o tetra-hidrofolato livre, porém não podem captar o tetra-hidrofolato ligado a proteínas. No fígado, o tetra-hidrofolato é conjugado para ser armazenado ou remetilado e secretado na bile, da mesma forma que o folato absorvido recentemente. A biodisponibilidade do folato é, em grande parte, controlada pela absorção intestinal; o poliglutamil folato (forma predominante nos alimentos) deve ser desconjugado no intestino delgado, dependendo, portanto, de uma ação enzimática. A absorção deve ocorrer em pH ótimo e é saturável. A estabi- lidade de um dos principais folatos alimentares (5-metiltetra-hidrofolato) é influenciada pelo pH gástrico, e a presença de ácido ascórbico tem um maior efeito protetor, que ajuda a manter o folato no seu estado molecular funcional32. Além disso, outros fatores, como drogas (medicamentos) e suplementos com diferentes formas de folato, podem influenciar a biodis- ponibilidade desse nutriente15. Há pouca perda de folato pela urina, pois o folato plasmático está li- gado à proteína (tanto proteína ligadora de folato quanto albumina para metiltetra-hidrofolato), o que reduz sua filtração glomerular. Além disso, a borda em escova da célula renal também possui grande concentração de proteína ligadora de folato que pode reabsorver qualquer filtrado na urina. Entre os metabólitos do folato, o p-acetamidobenzoato e p-acetamidoben- zoil-glutamato são excretados na urina; pterina é excretada sem mudanças, como isoxantopterina e outros compostos biologicamente não ativos. O total diário de circulação êntero-hepática do folato é equivalente a um terço da ingestão diária. A perda fecal de folato é pequena, uma vez que a absorção de BIODISPONIBILIDADE DE NUTRIENTES518 metiltetra-hidrofolato no jejuno é um processo muito eficiente. A excreção fecal de cerca de 450 nmol (200 µg) de folato por dia representa a síntese pela flora intestinal e não reflete a ingestão. RECOMENDAÇÃO, INGESTÃO E FONTES ALIMENTARES Estudos mais antigos de depleção/repleção para determinar a recomen- dação de folato, usando metiltetra-hidrofolato, sugeriam uma recomendação de 80 a 100 µg/dia. As reservas corporais totais de folato em adultos são de 17 µmol (7,5 mg), com meia-vida biológica de 101 dias. Estudos de excreção urinária de acetamido-p-aminobenzoil glutamato em indivíduos mantidos em dietas livres de folato sugerem que há catabolismo de cerca de 170 nmol (80 µg) de folato por dia. Durante a década de 1980, evidências acumuladas demonstraram que espinha bífida e outros defeitos do tubo neural estavam associados com a baixa ingestão de folato, e que o aumento da ingestão du- rante a gestação poderia ter papel protetor. Atualmente, a suplementação de folato no início da gestação está estabelecida, e tem resultado em diminuição significativa da incidência de defeitos no tubo neural. Entretanto, como o fechamento do tubo neural ocorre no 28º dia de gestação, antes de a mulher ter conhecimento da gestação, recomenda-se que toda mulher na idade fértil receba suplementos de folato. O defeito do tubo neural ocorre em cerca de 0,75 a 1% das gestações. Trabalho realizado por Nogueira et al.33, com suplementação com ferro, folato e zinco para adolescentes grávidas, verificou mudanças significativas nos parâmetros nutricionais de folato, indicando sua necessidade para esse grupo populacional. No Quadro 19.2, encontram-se as recomendações de ingestão para o folato. ÁCIDO FÓLICO 519 Quadro 19.2. Ingestão de referência de folato20,21 Idade EAR (µg/dia) RDA (µg/dia) 0 – 6 meses — 65 (AI) 7 – 12 meses — 80 (AI) 1 – 3 anos 120 150 4 – 8 anos 160 200 9 – 13 anos 250 300 14 – 18 anos 330 400 >19 anos 320 400 Gestantes 520 600 Lactantes 450 500 EAR = necessidade média estimada; RDA = ingestão dietética recomendada. AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL DO INDIVÍDUO COM RELAÇÃO AO FOLATO A avaliação bioquímica mais comum é feita por medidas de concentração no soro e nos eritrócitos. O folato sérico reflete essencialmente a ingestão recente, e o eritrocitário representa os estoques teciduais em um período mais longo. Valores plasmáticos acima de 14 nmol/L ou eritrocitários acima de 360 nmol/L são considerados normais. Geralmente são feitas análises de vitamina B 12 e folato ao mesmo tempo, pois a deficiência nas duas vitaminas pode provocar aumento nas concentrações de homocisteína; além disso, a diminuição de folato leva à redução nas concentrações de vitamina B 12 , em virtude do bloqueio metabólico20. No Quadro 19.3, pode-se observar alguns índices utilizados para avaliação do estado nutricional. BIODISPONIBILIDADE DE NUTRIENTES520 DEFICIÊNCIA EM FOLATO A deficiência em ácido fólico pode aumentar em situações como baixa ingestão, aumento da demanda durante crescimento, gravidez e lactação, má absorção, hemólises e doenças como leucemias. O etilismo crônico também está associado com a deficiência de folato. Algumas drogas induzem essa deficiência, como as quimioterápicas (p. ex., metotrexato), as antibacteria- nas (trimetoprima) e as antimaláricas (pirimetamina). Estas agem como inibidores da di-hidrofolato redutase, enzima necessária para a síntese de nucleotídeos e aminoácidos. Um número de drogas antiepilépticas, incluin- do difenilidantoína (fenitoína) e, algumas vezes, fenobarbital e primidona, também podem causar deficiência em folato. A deficiência em ácido fólico é relativamente comum; cerca de 8 a 10% da população de povos desenvolvidos tem reservas reduzidas. A anemia perniciosa afeta cerca de 0,13% da população, com ligeiro aumento nas mulhe res. Essa deficiência produz anemia megaloblástica ou macrocítica com características semelhantes às da deficiência em vitamina B 12 . Entretan- Quadro 19.3. Índices para avaliação do estado nutricional em relação ao folato e à vitamina B12 20 Variação de referência Deficiência nmol/L mg/L nmol/L mg/L Folato soro Folato eritrócito Vitamina B12 sangue total Vitamina B12 soro Volume celular médio Ácido metilmalônico soro Homocisteína soro FIGLU urina após 8 horas sobrecarga histidina Excreção de vitamina B12 marcada (teste de Schilling) 9,8 – 16,2 420 – 620 0,22 – 0,65 0,14 – 0,52 – – – – 16 – 45% 4,4 – 7,2 185 – 270 0,29 – 0,87 0,19 – 0,69 – – – – 16 – 45% <6,8 <320 – <0,075 >100 fL >1 mmol/L >20 mmol/L >50 mg/L <5% <3 <140 – <0,10 >100 fL >1 mmol/L >20 mmol/L >50 mg/L <5% ÁCIDO FÓLICO 521 to, lesões de mucosa e outras manifestações clínicas, como defeitos no tubo neural ou hiperomocisteinemia com danos vasculares, são bem conhecidas como consequência da deficiência em folato25. A deficiência em folato pode também estar associada com complicações durante a gravidez, como abortos espontâneos, sangramentos e pré-eclâmpsia. As deficiências em vitamina B 12 e em folato associam-se com a doença psiquiátrica, embora os mecanismos subjacentes não sejam claros. Insônia, esquecimentos e irritabilidade que foram desenvolvidos durante o desenvolvimento da deficiência em folato respondem bem à administração da vitamina. Outros trabalhos têm observado correlação entre deficiência em ácido fólico e câncer colorretal11,39. Como o folato tem papel na síntese, no reparo e na metilação do DNA, isso seria a base da explicação do papel dessa vitamina na redução do risco do câncer, pois a hipometilação do DNA está envolvida na carcinogênese35. Hiper-homocisteinemiaO ácido fólico é essencial à metilação da homocisteína (Hcy) para for- mar metionina e para a biossíntese dos deoxinucleotídeos necessários para replicação do DNA. Assim, a deficiência em folato influencia nos níveis de Hcy. Por outro lado, o aumento dos níveis de Hcy é associado com doença vascular precoce6,16, metilação diminuída do DNA dos linfócitos em mulhe- res22, retardo mental em crianças, problemas de desenvolvimento, alterações oclusivas e osteoporose. A hiper-homocisteinemia promove aterosclerose, por meio do aumento do estresse oxidativo, danos na função endotelial e indução de trombose15. A suplementação de 400 µg de ácido fólico parece ajudar a reduzir a mor- talidade cardiovascular37. De fato, Lee et al.26 mostraram que a hiper-homocisteinemia induz dis- função endotelial em cérebros de ratos e que isso pode ser amenizado pela suplementação de ácido fólico. Entretanto, alguns estudos também mostram que a suplementação não parece melhorar a progressão da aterosclerose45. BIODISPONIBILIDADE DE NUTRIENTES522 A suplementação com 5 mg de ácido fólico por dia durante quatro se- manas em diabéticos tipo II reduziu os níveis de Hcy e essa redução se deve provavelmente ao aumento do pool intracelular de 5-metiltetra-hidrofolato, que pode servir como doador de metionina na reação da metionina sintase43. Li et al.27 mostraram que, além de reduzir os níveis de Hcy, a suplemen- tação de ácido fólico diminuiu a expressão da proteína quimioatraente de monócitos 1 (MCP-1), quimiocina que estimula a migração de monócitos para a camada íntima das artérias, na aorta de ratos com hiper-homocistei- nemia. Algumas metanálises publicadas mostram que a suplementação com ácido fólico reduz o risco de infarto41,47. No entanto, atenção deve ser dada à interpretação desses estudos. Defeitos no tubo neural Encefalia e espinha bífida são defeitos de nascença de etiologia multi- fatorial, relacionadas ao fechamento do tubo neural, e o ácido fólico reduz a prevalência de casos de defeitos no tubo neural, sendo a administração preconcepção (até 12 semanas antes) indicada para gestantes – 600 µg por dia14. No entanto, o mecanismo pelo qual o ácido fólico reduz o risco durante essa fase crucial do desenvolvimento do tubo neural embriônico ainda é desconhecido. Uma possível explicação é que, com a deficiência em ácido fólico, não haja metilação pós-traducional da arginina e histidina no citoesqueleto, sendo isso necessário para a diferenciação do tecido neural5. Estudos mostram que mulheres que tiveram complicações durante a gestação apresentaram autoanticorpos contra receptores de folato, que bloqueiam a entrada desta vitamina na célula38. A causa do defeito no tubo neural é considerada multifatorial, porém os trabalhos mostram que o ácido fólico pode prevenir 70% desse defeito30. Estimativas recentes mostram que, nos Estados Unidos e Canadá, o con- sumo adicional de 100 a 150 µg/dia de ácido fólico pela fortificação alimentar tem sido efetivo na redução da prevalência de defeitos no tubo neural4. ÁCIDO FÓLICO 523 Anemia megaloblástica A deficiência tanto em folato quanto em vitamina B 12 resulta na anemia megaloblástica – liberação na circulação de eritrócitos imaturos em virtude de falha no processo normal de maturação na medula óssea. Pode também haver baixa contagem de leucócitos e plaquetas, bem como aumento do número de neutrófilos hipersegmentados. A deficiência em ferro pode mascarar a anemia megaloblástica por causa da deficiência em folato e em vitamina B 12 . Em razão do dano neurológico que acompanha a deficiência em B 12 , a condição é geralmente conhecida como anemia perniciosa. A causa da megaloblastose é uma depressão da síntese de DNA como resultado da diminuição da atividade da timidilato sintetase, enzima dependente de folato, com uma síntese de RNA normal. Depressão e demência O ácido fólico também tem importante papel na síntese do tetra- -hidrobiopterina, um cofator essencial para hidroxilação da fenilalanina e triptofano, que estão envolvidos com a síntese de dopamina e noradrenalina. Vários estudos clínicos mostram associação entre alterações depressivas e reduzidos níveis de ácido fólico. Alguns trabalhos observaram que a terapia com antidepressivos e ácido fólico aumenta o efeito terapêutico7. Também observou-se que altos níveis de Hcy eram associados com danos cognitivos e demência, e que o ácido fólico aumenta a síntese de ácidos graxos poli- -insaturados que são importantes na prevenção da demência e da doença de Alzheimer12. Alzheimer Elevados níveis de homocisteína, além de serem relacionados ao risco cardiovascular, podem também estar relacionados a um risco aumentado de desenvolvimento de doença de Alzheimer. Autores sugerem que a deficiência BIODISPONIBILIDADE DE NUTRIENTES524 de folato pode ter importante papel no aumento do dano no DNA mitocon- drial e nuclear, o que pode causar envelhecimento acelerado do cérebro13. Assim, alguns estudos sugerem que a suplementação com folato pode diminuir o risco de demência pela redução dos níveis de homocisteína29. Em contraste, uma revisão sistemática recente mostrou que a suplementação pa- rece não lentificar o declínio na cognição, nem modificar o comportamento dos pacientes com doença de Alzheimer28. DOENÇA RENAL CRÔNICA (DRC) Pacientes com DRC frequentemente apresentam deficiência de ácido fólico e elevadas concentrações plasmáticas de homocisteína. Vários estudos clínicos com suplementação de ácido fólico para esses pacientes já foram realizados; no entanto, a grande maioria mostrou resultados contraditórios sobre a redução dos níveis de Hcy. Pesquisadores recentemente observaram em 55.636 pacientes em hemodiálise que a suplementação com ácido fólico reduz a mortalidade cardiovascular10. Toxicidade O ácido fólico não é tóxico, mas deve haver certa preocupação pelo fato de que altas doses podem mascarar a anemia perniciosa. Entretanto, esse efeito é estabelecido apenas com ingestão superior a 5 mg. As evidências relacionadas com doses de 1 mg ou menores ocorrem quase inteiramente em casos de administração de ácido fólico injetável. Evidências científicas emergentes sugerem que o ácido fólico também pode reduzir o risco de aterosclerose e doenças do coração. A maioria dos estudiosos concorda que uma ingestão de 1.000 µg de ácido fólico total incluindo o folato dos alimen- tos não apresenta riscos identificáveis de efeitos adversos conhecidos19. Há alguma evidência de que a suplementação com folato acima de 350 µg/dia pode prejudicar a absorção de zinco, e ingestão acima de 5 mg/dia tem sido associada com o aumento da frequência de crises em indivíduos epilépticos. ÁCIDO FÓLICO 525 Em níveis de ingestão moderadamente altos, os suplementos de folato podem mascarar a anemia por deficiência em vitamina B 12 . Portanto, suplementos ricos em folato não são recomendados para vegetarianos estritos ou para idosos que estão em risco de deficiência em vitamina B 12 . Alta ingestão de folato pode prevenir o desenvolvimento da anemia megaloblástica em in- divíduos idosos com deficiência em vitamina B 12 devida à atrofia gástrica, entretanto não evita a degeneração irreversível da medula espinhal. Como já mencionado, o folato em altas doses também poderia antagonizar a ação de anticonvulsivantes utilizados no controle da epilepsia (condição que afeta cerca de 2% da população), aumentando a frequência das crises. O valor de UL recomendado para o ácido fólico é 1.000 µg/dia para adultos. Perspectivas de saúde Mais estudos são necessários sobre a ingestão de folato na dieta brasilei- ra, embora já esteja aprovada a normativa de obrigatoriedade de adição de ácido fólico nas farinhas de trigo e de milho comercializadas no país. Essa medida poderá ter impactos positivos na saúde da população, contribuindo para a redução do risco de defeitosdo tubo neural e com a possibilidade de auxiliar na redução dos níveis de Hcy. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. assaraf, Y.G.; leamon, C.P.; reddy, J.A. The folate receptor as a rational thera- peutic target for personalized cancer treatment. Drug Resist Updat, v. 17, n. 4-6, p. 89-95, 2014. 2. bates, C. J.; heseker, H. 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A vitamina B 12 é um cofator essencial para duas enzimas, a metilmalonil- -CoA mutase (EC 5.4.99.2), que está envolvida na conversão dos ácidos propiônicos em succínico, necessária para o metabolismo dos lipídios, e a metionina sintetase, que controla dois processos importantes: síntese dos ácidos nucleicos e reações de metilação do organismo. A deficiência leva a duas grandes complicações: anemia megaloblástica e neuropatia. Outro evento relacionado à deficiência em B 12 é o aumento BIODISPONIBILIDADE DE NUTRIENTES530 dos níveis de homocisteína, o que pode contribuir para o desenvolvimento de aterosclerose. As reservas corporais totais da vitamina B 12 são de 2,5 a 3,9 mg, com as reservas mínimas desejáveis de cerca de 1 mg (0,3 mol), sendo o fígado o principal local de armazenamento2. A cianocobalamina foi a primeira forma na qual a vitamina foi isolada, não sendo um importante vitâmero de ocorrência natural. No entanto, a estrutura da vitamina B 12 (http://www.nutrinfo.com.ar) é mais estável à luz que outros vitâmeros e, portanto, comumente utilizada em preparações farmacêuticas (Figura 20.1). A fotólise de cianocobalamina em solução leva à formação de aquocobalamina e hidroxicobalamina, dependendo do pH. A hidroxicobalamina também é utilizada em preparações farmacêuticas, e sua retenção é melhor depois da administração parenteral que a da ciano- cobalamina. Pequenas quantidades de cianocobalamina são encontradas na circu- lação (cerca de 2% do total de B 12 no plasma), aparentemente como parte do metabolismo de cianeto derivado de alimentos e tabaco, não sendo encontrada nos eritrócitos ou tecidos. Se não for convertida para aquo ou hidroxicobalamina, a cianocobalamina pode ter ação antivitamínica, sendo envolvida nos danos neurológicos associados com a intoxicação crônica por cianeto, observados em partes do oeste da África, onde a base alimentar é a mandioca, rica em glicosídios cianogênicos. FONTES E FUNÇÕES DA VITAMINA B12 Alimentos de origem animal são as únicas fontes naturais de vitamina B 12 , como produtos lácteos, carne, fígado, peixes e ovos, que adquirem a vitamina indiretamente das bactérias25 (Quadro 20.1). A biodisponibilidade da vitamina B 12 de carne de peixe, carneiro e frango é, em média, 42%, 56 a 89% e 61 a 66%, respectivamente. A vitamina B 12 de ovos parece ser pouco absorvida (< 9%) comparada a outros produtos de origem animal. Em torno de 50% da vitamina B 12 alimentar são absorvidos por indivíduos com função VITAMINA B12 (COBALAMINA) 531 gastrintestinal normal. Cereais matinais fortificados parecem ser boas opções para vegetarianos e idosos26. Como já mencionado, a vitamina B 12 funciona como cofator para duas enzimas, a metilmalonil-CoA mutase e a metionina sintetase2. A metilmalonil-CoA mutase surge diretamente como uma in- termediária no catabolismo da valina e é formada pela carboxilação de propionil-CoA originária do catabolismo de isoleucina, de colesterol e, raramente, de ácidos graxos com número ímpar de átomos de carbono. Figura 20.1. Estrutura da vitamina B12. Fonte: http://www.nutrinfo.com.ar BIODISPONIBILIDADE DE NUTRIENTES532 A metilmalonil-CoA mutase necessita de adenosilcobalamina para conver- ter L-metilmalonil-CoA à succinil-CoA, em uma reação de isomerização. Na deficiência em B 12 , a atividade dessa enzima é muito reduzida, embora haja indução da apoenzima cerca de 1,5 a 5 vezes acima da observada em animais controle. Como resultado dessa diminuição na mutase, há acúmulo de metilmalonil-CoA. Esta será hidrolisada para gerar o ácido metilmalô- nico, que será excretado pela urina. O excesso de metilmalonil-CoA inibe a síntese de ácidos graxos a partir de acetil-CoA em concentrações da ordem das encontradas em tecidos de animais deficientes em B 12 . Quando em excesso, a metilmalonil-CoA mutase passa a ser substrato para a síntese de ácidos graxos de cadeia ímpar ramificados. Isso ocorre porque pode haver Quadro 20.1. Conteúdo de vitamina B12 em 100g dos alimentos 7 Alimento (100g) Peso (g) Bife de fígado cozido 112 Mariscos no vapor 99 Ostras cozidas 27 Fígado de frango cozido 19 Ostras cruas 16 Coração cozido 14 Arenque cozido 10 Caranguejo cozido 9 Truta cozida 5 Salmão cozido 2,8 Carne bovina cozida 2,5 Carneiro cozido 2,4 Atum cozido 1,8 Camarão cozido 1,5 Iogurte com pouca gordura 0,57 Leite desnatado 0,38 Leite integral 0,33 Queijo cottage 2,81 Carne de porco cozida 0,60 Ovo cozido 1,0 Frango cozido (carne clara) 0,36 Frango cozido (carne escura) 0,32 Queijo cheddar 0,84 VITAMINA B12 (COBALAMINA) 533 a reversão da reação mediada pela propionil-CoA carboxilase, que passa a catalisar a formação de propionil-CoA a partir de metilmalonil-CoA. Quando ocorre acúmulo de propionil-CoA, o ácido graxo sintetase passa a utilizá-la no lugar da acetil-CoA e isto leva à formação de pequenas quantidades de ácidos graxos com número ímpar de carbonos. A propionil-CoA inibe a glutamato N-acetiltransferase (EC 2.3.1.1) com- petitivamente com respeito à acetil-CoA, formando N-propionilglutamato. Diferentemente do N-acetilglutamato, este não é um ativador da carbamil fosfato sintetase e resultado da diminuição da síntese de ureia, a vitamina B 12 pode estar associada com intolerância à proteína, com concentração elevada de amônia no sangue. A acidúria metilmalônica também pode ocorrer sem qualquer evidência de deficiência em B 12 , como resultado de defeito genético, tanto na metilmalonil-CoA mutase quanto na síntese de adenosilcobalamina. Em alguns casos, a condição é uma síndrome de dependência da vitamina e responde a ingestão muito alta da vitamina B 12 . Embora os pacientes apre- sentem retardo mental, falha no desenvolvimento, hipo ou hiperglicemia intermitente e intolerância à proteína, não desenvolvem anemia megalo- blástica nem degeneração neurológica associada com a deficiência em B 12 . A metionina sintetase necessita da metilcobalamina para a transferência do grupo metil do metiltetraidrofolato à homocisteína para formar metionina tetraidrofolato. O metabolismo da metionina e homocisteína está represen- tado na Figura 20.2. As deficiências em ácido fólico e/ou vitamina B 12 são reconhecidas como causa não genética de homocistinúria e/ou hiper-homocisteinemia14. ABSORÇÃO, BIODISPONIBILIDADE E METABOLISMO DE B12 Há duas vias de absorção da vitamina B 12 , uma associada ao fator intrín- seco e outra por difusão passiva, sendo a primeira um processo de absorção ativa, que necessita de condições normais do estômago, do fator intrínseco, de enzimas pancreáticas e do íleo terminal funcionando adequadamente. A vitamina deve ser liberada da proteína da dieta no estômago, pela ação do BIODISPONIBILIDADE DE NUTRIENTES534 ácido gástrico e da pepsina. A vitamina livre se liga à proteína R no estômago, ou seja, uma cobalofilina, proteína secretada na saliva, nos sucos gástrico e intestinal e no soro. Essa proteína é degradada pelas enzimas pancreáticasque agem em meio alcalino no intestino delgado; assim, a vitamina B 12 (fator extrínseco) se liga ao fator intrínseco (FI), uma glicoproteína de 60-kDa, que é secretada pelas células gástricas parietais, as quais também secretam ácido clorídrico. O estímulo para essa secreção ocorre a partir do nervo vago, histamina, gastrina e insulina. Assim, o complexo vitamina B 12 -FI é mais estável porque essa proteína sofre uma mudança na sua conformação, aumentando a resistência à proteólise, liga-se aos receptores no íleo distal Metionina sintetase - Figura 20.2. Metabolismo da metionina e da homocisteína. VITAMINA B12 (COBALAMINA) 535 e é absorvida por fagocitose14. Normalmente, o fator intrínseco é secretado em quantidades bem maiores que o necessário para a ligação e a absorção da vitamina B 12 da dieta, que necessita apenas de cerca de 1% do total de fator intrínseco disponível. Não é certo se o complexo vitamina B 12 -FI é absorvido intacto nas cé- lulas da mucosa ou se a vitamina é transferida do complexo para a ligação intracelular, deixando o apofator intrínseco na superfície da mucosa. Embora haja boa evidência para a endocitose mediada por receptor do complexo vitamina B 12 -FI para dentro do enterócito, parece não haver envolvimento do lisossomo na liberação da B 12 livre, diferentemente de outras endocitoses mediadas por receptores. Estudos histoquímicos mostram o fator intrínseco apenas na superfície da mucosa. A absorção da vitamina B 12 é limitada pelo número de sítios ligadores de vitamina B 12 -FI na mucosa do íleo, portanto não mais que 1 a 1,5 μg (0,7-1,1 nmol) de uma dose oral única da vitamina podem ser absorvidos. A absorção também é lenta; o pico de concentração no sangue não é alcançado antes de seis a oito horas depois de uma dose oral4. A vitamina circula no plasma ligada à transcobalamina (TC) I, II e III; a TC I se liga a aproximadamente 80% da vitamina B 12 e a TC II (sintetizada no fígado), a menos de 20%. Entretanto, é sob esta última forma que ocorre a entrada nas células. A excreção de vitamina B 12 se dá pelas fezes, sendo proveniente da síntese bacteriana, da bile e da vitamina que não foi absorvida da dieta. Excesso de vitamina no plasma (após dose administrada pela via parenteral) é eliminado pela via urinária. A quantidade de vitamina excretada diariamente é de aproximadamente 0,1 a 0,2% do estoque total corporal21. RECOMENDAÇÕES DE VITAMINA B12 A maioria das recomendações de vitamina B 12 foi baseada em quantidades fornecidas por via parenteral para manter a saúde de pacientes com anemia perniciosa decorrente de problemas de absorção dessa vitamina. Tal fato su- perestima as recomendações normais, uma vez que não considera a circulação enteroepática da vitamina. Em populações com problemas de absorção, ela é excretada na bile com perda nas fezes, ao passo que em indivíduos saudáveis BIODISPONIBILIDADE DE NUTRIENTES536 a B 12 é reabsorvida quase completamente. A perda diária é de cerca de 0,1% das reservas corporais em indivíduos com circulação enteroepática normal da vitamina; nessa base, a recomendação é de cerca de 1 a 2,5 μg/dia. Os valores de Noael (No Observed Adverse Effect Level) foram fixados em 3.000 μg e o Loael (Lowest Observed Adverse Effect Level) não foi estabeleci- do8. Ainda não há dados científicos suficientes para estimar o valor de UL11. As recomendações propostas para os Estados Unidos e Canadá11 estabe- lecem os valores constantes no Quadro 20.2. Quadro 20.2. Ingestão de referência de vitamina B12 11 Idade EAR (µg/dia) RDA (µg/dia) 0 – 6 meses – 0,4 AI 7 – 12 meses – 0,5 AI 1 – 3 anos 0,7 0,9 4 – 8 anos 1,0 1,2 9 – 13 anos 1,5 1,8 >14 anos 2,0 2,4 Gestantes 2,2 2,6 Lactantes 2,4 2,8 EAR = necessidade média estimada; RDA = ingestão dietética recomendada. DEFICIÊNCIA EM VITAMINA B12 Diferentemente do folato, a deficiência alimentar em B 12 é rara, apesar de a vitamina ser encontrada apenas em alimentos de origem animal e em algumas bactérias. Entretanto, a anemia perniciosa devido à falta de B 12 ocorre normalmente como resultado de um defeito no mecanismo de absorção intestinal da vitamina. As alterações no transporte ou erros inatos do metabolismo da cobalamina podem ser outros fatores desencadeantes ou promotores da deficiência. A gastrite atrófica é um problema relativamente comum com o avanço da idade; nos primeiros estágios da deficiência, há dificuldade na secreção ácida, mas a secreção do fator intrínseco ainda é normal. Entretanto, por VITAMINA B12 (COBALAMINA) 537 causa da falha na liberação da vitamina das proteínas alimentares, pode ocorrer depleção de vitamina B 12 2. A insuficiência pancreática pode, portanto, ser um fator para o desen- volvimento da deficiência em vitamina B 12 , desde que a falha para hidrolisar a cobalofilina resulte na excreção de cobalofilina ligada à vitamina B 12 , ao invés de transferência para o fator intrínseco17. Pacientes HIV-positivos desenvolvem a deficiência, que pode ser decor- rente de alterações no organismo que prejudiquem a absorção do complexo vitamina B 12 -FI. O único grupo da população realmente em risco de deficiên- cia alimentar é o dos vegetarianos estritos, e devem ser suplementados19. No entanto, a raridade da deficiência em B 12 entre indivíduos que não têm na alimentação fontes aparentes dessa vitamina sugere que quantidades sig- nificativas poderiam ser obtidas da flora intestinal. A vitamina desta fonte poderia ser absorvida por difusão passiva no intestino grosso. A deficiência em TC II resulta em doenças graves, como anemia megalo- blástica, anormalidades imunológicas e problemas intestinais nos primeiros meses de vida21. Além disso, parece que a deficiência em B 12 também está relacionada ao retardo do crescimento intrauterino16. Atualmente, a deficiência em B 12 tem sido relatada também no paciente submetido à cirurgia bariátrica, na qual os pacientes são suplementados por via oral (350 a 500 μg/dia), intramuscular (1.000 μg/mês ou 3.000 μg a cada 6 meses), nasal (500 μg/semana) ou sublingual (500 μg/dia)13. O Quadro 20.3 demonstra as etapas que podem estar envolvidas com a deficiência em B 12 . Quadro 20.3. Metabolismo da cobalamina e etiologias da deficiência1 Etapas Alterações do metabolismo Etiologias Ingestão Alimentos Vegetariano estrito Digestão Secreções gástricas (HCI e pepsina); Gastrectomias; síndrome da não fator intrínseco; secreções dissociação da vitamina B12 pancreáticas e biliares (ou má-digestão das cobalaminas alimentares) (continua) BIODISPONIBILIDADE DE NUTRIENTES538 Quadro 20.3. Metabolismo da cobalamina e etiologias da deficiência1 (con- tinuação) Etapas Alterações do metabolismo Etiologias Absorção Fator intrínseco Ressecções ileais; má-absorção Transporte Transcobalaminas Déficits congenitais de transcobalamina II Metabolismo Déficits de enzimas intracelulares Déficits congenitais intracelular A hiper-homocisteinemia (HHcy) é muito comum em pacientes com doença de Parkinson, particularmente aqueles que recebem tratamento com L-dopa. Além disso, existem trabalhos mostrando que há uma associação positiva entre HHcy e deficiência em vitaminas do grupo B com esclerose múltipla, depressão e epilepsia. Assim, é recomendado ingestão adequada de vitaminas para pacientes com doenças neuropsiquiátricas. Pessoas idosas são um grupo de alto risco, no qual a deficiência em vitamina B 12 e HHcy são relacionadas com doenças neurodegenerativas e o tratamento com vitaminas do complexo B pode melhorar a função cerebral9. Vale ressaltar que, como a anemia é o sintoma precoce comum levando ao diagnóstico da deficiência em vitamina B 12 , os sintomas neurológicos são considerados manifestações tardias e ocorrem depois da anemia14. AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL DOS INDIVÍDUOS EM RELAÇÃO À VITAMINA B12 A determinação da cobalaminasérica é ainda o método padrão para diag- nóstico de deficiência em cobalamina, definida como <150 pg/mL. Porém, a análise de substratos das duas enzimas dependentes de cobalamina (ácido metilmalônico e homocisteína) é, atualmente, a técnica mais acurada para avaliar a deficiência em cobalamina intracelular7. O ácido metilmalônico aumenta na deficiência em B 12 , mas não na deficiência em folato, na qual os valores ficam acima dos normais (0,1 a 0,4 μmol/L), alcançando de 50 a 100 VITAMINA B12 (COBALAMINA) 539 μmol/L. A homocisteína é elevada tanto na deficiência em cobalamina quanto em folato e piridoxina, e em pacientes com erros inatos do metabolismo de enzimas associadas à homocisteína. Os valores normais de homocisteína dependem de vários fatores, entre eles sexo e idade. Mulheres têm de 6 a 12 μmol/L e homens, de 8 a 14 μmol/L (com idade inferior a 60 anos). NOVAS HIPÓTESES SOBRE A VITAMINA B12 Existem várias hipóteses recentes sobre as funções da vitamina B 12 e sua relação com algumas doenças, mas ainda há muitas questões sem respostas, como qual a explicação para níveis elevados de cobalamina em pacientes on- cológicos? Isso seria um fator de risco ou de desenvolvimento de neoplasias? Existem também algumas questões sobre vitamina B 12 e danos hepáticos24. Geissbuhler et al.5 observaram que níveis elevados de vitamina B 12 foram preditores de mortalidade em pacientes com câncer. No entanto, existem controvérsias sobre a vitamina B 12 e câncer24. Estudos recentes mostram que a vitamina B 12 pode ser usada como veículo para drogas anticancerígenas, sendo uma esperança para novos tratamentos4. Além disso, um trabalho mostrou que a deficiência em B 12 causa disfunção autonômica e que a suplementação dessa vitamina parece reverter esse quadro22. Estudos tam- bém demonstram que pessoas que inalam óxido nitroso como droga ilícita podem apresentar a inativação da vitamina B 12 pela oxidação do cobalto e desenvolver deficiência dessa vitamina17. Recentes estudos têm observado relação entre excesso ou deficiência de cobalamina e doenças dermatológicas como vitiligo, estomatite aftosa e dermatite atópica3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. andrès, E. et al. Carences en vitamine B12 chez l’adulte: étiologies, manifestations cliniques et traitement. Rev. Med. Interne, v. 26, n. 12, p. 938-46, 2005. 2. baik, H. W.; russell, R. M. Vitamin B12 deficiency in the elderly. Annu. Rev. Nutr., Palo Alto, v. 19, p. 357-7, 1999. BIODISPONIBILIDADE DE NUTRIENTES540 3. brescoll, J.; daveluy, S. A Review of Vitamin B12 in Dermatology. Am. J. Clin. Dermatol. 6 jan. 2015. 4. chanarin, I. The megaloblastic anaemias. 3. ed. Oxford: Blackwell Scientific Pu- blications, 1990. 5. chandra, T. et al. Vitamin B12 and a-ribonucleosides. 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