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MEDIDAS E AVALIAÇÃO EM EDUCAÇÃO FÍSICA Suziane Ungari Cayres Santos Avaliação da velocidade Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Descrever os testes utilizados para avaliação da velocidade. Analisar as tabelas de classificação de acordo com os resultados dos testes. Aplicar um teste de avaliação da velocidade. Introdução No meio acadêmico, quando o assunto é a otimização do rendimento físico, logo pensamos em quais seriam os componentes da aptidão física que poderiam alicerçar tal resultado. De fato, a aptidão física tem sido, nas últimas décadas, pensada especificamente para a saúde e para o desempenho motor, sendo preciso avaliar as potencialidades e limitações do atleta/aluno, identificando uma base de dados concretos. É nesses termos que a avaliação da velocidade, uma capacidade física determinante, se assenta. Neste capítulo, vamos conferir alguns dos testes mais utilizados na área da educação física para avaliar a velocidade de deslocamento, de reação e de membros (execução). Além disso, vamos verificar a aplicabilidade dos valores de referências para os testes de velocidade em diferentes setores de atuação do profissional de educação física na atualidade. 1 Testes, protocolos e instrumentos para avaliação da velocidade No âmbito dos testes mais utilizados para avaliar a velocidade em diferentes setores de prática profi ssional na área da educação física, alguns pormenores precisam ser delineados. Primeiro, é preciso reconhecer que a velocidade, uma capacidade física, é um elemento treinável que varia substancialmente conforme o protocolo de intervenção a que o sujeito é submetido. Além disso, é neces- sário ter amplo conhecimento dos procedimentos, protocolos e instrumentos que delinearão sua anamnese inicial. Se executada de maneira errada, muito provavelmente acarretará em planejamento e prescrição equivocados. Assim como o médico observa e avalia seu paciente por intermédio de diferentes instrumentos técnicos, você poderá escolher qual é o teste de velocidade mais adequado para a amostra a ser avaliada. Outro aspecto que precisa ser levado em consideração são os cuidados com a saúde e a prevenção de acidentes antes, durante e até mesmo depois da avaliação, que poderão repercutir na vida do avaliado. Ao trabalhar com esse componente da aptidão física, muitos avaliados se sentem instigados a dar seu máximo, e é aí que mora o perigo, afinal a velocidade máxima num físico não adaptado pode levar a mal súbito. Confira a seguir alguns exemplos de testes para avaliar a velocidade de reação, a velocidade de membros (execução) e a velocidade de deslocamento, bem como os respectivos protocolos e instrumentos necessários para a execução da avaliação motora. Velocidade de reação Conceito: rapidez com que o avaliado responde a um estímulo (sonoro, físico, etc.), mensurando o tempo necessário para ser iniciada uma resposta motora frente ao estímulo percebido. Teste da régua Materiais: uma régua de plástico de 30 cm e uma cadeira. Protocolo: o avaliado deve estar sentado, com o antebraço apoiado e a mão espalmada de modo a formar um ângulo de 90° com o dedo polegar. A marca zero da régua deverá ser colocada no plano imaginário formado pelo dedo polegar e o dedo indicador (Figura 1). Avaliação da velocidade2 Figura 1. Teste da régua para avaliar a velocidade de reação. Fonte: Medidas... (2016, documento on-line). O avaliador dará o comando do teste e soltará a régua. O avaliado, por sua vez, deverá se esforçar para segurá-la o mais rápido que conseguir. Desse modo, será medida a distância que a régua percorreu (com precisão de milímetros), do momento que o avaliador a soltou até o nível do plano horizontal que passa pela parte superior dos dedos polegar e indicador do avaliado. Esse protocolo deverá ser executado por três vezes, considerando-se como resultado a média das três medidas. Velocidade de deslocamento Conceito: capacidade máxima do avaliado em deslocar-se de um ponto a outro. Teste de corrida de 20 metros Materiais: cronômetro, dois cones e um espaço amplo, no qual seja possível efetuar a demarcação de ao menos 22 metros de distância de um ponto a outro (GAYA; GAYA, 2016). Protocolo: riscando com giz ou colando uma fita no chão, o avaliador deve demarcar a linha de partida em que avaliado inicia o teste. A distância da linha de partida até o posicionamento dos cones deve ser de 22 metros, com o avaliador posicionando-se 2 metros antes (Figura 2). 3Avaliação da velocidade Figura 2. Teste de corrida de 20 metros para avaliar a velocidade de deslocamento. Fonte: Gaya e Gaya (2016, p. 14). Ao comando do avaliador, o avaliado deve posicionar um pé de apoio à frente, mas logo atrás da linha de partida. O avaliado iniciará o teste, e somente quanto um pé passar pela linha de partida o cronômetro deve ser disparado. O avaliado deve percorrer o percurso o mais rápido que conseguir a linha dos cones. Quando o avaliado ultrapassar a linha do avaliador, que está a 20 metros de distância, o cronômetro deve ser parado, pois o teste objetiva avaliar a velocidade de deslocamento numa distância pré-fixada de 20 metros. Mas por que colocar os cones a 22 metros de distância da linha de partida? Para o que avaliado não desacelere quando estiver próximo da linha de chegada, fazendo-o ultrapassar a linha do avaliador ainda em máxima velocidade. Velocidade de membros Conceito: resposta motora do sujeito em movimentar membros superiores ou inferiores tão rapidamente quanto possível frente ao estímulo percebido. Avaliação da velocidade4 Teste de batimento em placas Este teste de velocidade de membros é específi co para os membros superiores, no caso braço e mão dominante ou não dominante. Materiais: uma mesa cuja a altura não exceda a linha da sínfise púbica do avaliado, um cronômetro e adesivos (para formar dois círculos de 20 cm de diâmetro e um retângulo de 10 por 20 cm). Protocolo: o avaliado deve se posicionar em pé próximo à mesa, com as pernas afastadas uma da outra. A mão não dominante do avaliado deve ser espalmada e apoiada sobre o retângulo. Já a mão dominante tocará ora um ora outro círculo, alternando de um para o outro durante todo o teste. Após o sinal de início do teste pelo examinador, o avaliado deverá mover a mão dominante o mais rápido possível de um círculo a outro, tocando com toda a mão dentro do local demarcado. A pontuação somente será computada se o avaliado tocar com a mão inteira dentro do círculo. O teste consiste em realizar 25 ciclos completos, ou 50 batidas, no menor tempo possível. Você pode conferir um vídeo ilustrativo desse teste acessando o canal oficial do professor Dartagnan Pinto Guedes (do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Norte do Paraná — Unopar) no YouTube e buscando por “Testes Motores - Batimento em Placas” dentro do canal (GUEDES, 2017). O vídeo mostra os procedimentos básicos, as precauções e a postura que o avaliador deve apresentar durante a avaliação de velocidade de membros superiores de seu aluno. Assim, para cada tipo de avaliação da velocidade há um teste específico. Cabe enfatizar que o examinador deverá explicar previamente cada teste e, se necessário, fazer uma breve demonstração, além de abrir espaço para o avaliado expor suas dúvidas. Esclarecidos os procedimentos, as finalidades e as precauções, pode-se permitir que o avaliado experimente executar o gesto motor apenas se familiarizar com o teste. Em certos casos, é recomendável que o avaliado faça alguns exercícios de aquecimento da musculatura esquelética antes do teste. 5Avaliação da velocidade 2 Parâmetros para classificação de amostras Ainda há muito a ser aperfeiçoado na área da educação física em se tratando de avaliação, seja no contexto escolar, desportivo ou acadêmico. Especifi camente no ambiente escolar, embora seja uma prática recorrente,o processo avaliativo revestiu-se por muito tempo da métrica do rendimento, fato que levou os alunos a temerem o dia de sua aplicação, como se o instrumento fosse de repressão. Nos últimos tempos, porém, roupagem da avaliação nesse contexto passou a ser encarada como um processo (DARIDO, 2010). Conforme previamente mencionado, há três tipos de velocidade: de reação, de deslocamento e de membros. Em contexto escolar, o docente poderá lançar mão, por exemplo, do teste de velocidade de deslocamento de 20 metros. Mas após checar o resultado de cada aluno, como classificá-lo? Em termos práticos, além de conhecer a pluralidade de testes, protocolos e instrumentos, é preciso ter em mãos os pontos de corte para classificação dos resultados dos alunos. Nesse quesito, cabe um alerta: é importante que, sempre que possível, você busque na literatura científica especializada em pontos de corte para um determinado parâmetro que tenha sido especificamente elaborado para a amostra que você vai avaliar (criança, adolescente, adulto ou idoso), e de preferência que sejam parâmetros nacionais. Embora os artigos internacionais apresentem valiosos testes (validados e com elevada reprodutibilidade), as características da amostra de base para a proposição dos pontos de corte se distinguem bastante do brasileiro médio. Um exemplo disso é o teste de coordenação motora para crianças conhecido como Körperkoordinationstest Für Kinder (KTK). Embora avalie tarefas específicas, como equilíbrio dinâmico, força dos membros inferiores, velocidade, lateralidade e estruturação espaço-temporal (RIBEIRO et al., 2012), esse é um teste cujo ponto de corte é baseado em escores alcançados por crianças alemãs. É claro que, quando não há pontos de corte nacionais para uma determinada variável, é consenso utilizar os valores de referência de outros países, mas sempre com cautela na extrapolação dos resultados ou nas inferências de conclusões. Na prática, em contexto escolar você poderá utilizar o teste de velocidade de 20 metros para medir a velocidade de deslocamento de seus alunos (GAYA; GAYA, 2016). Confira no Quadro 1 os pontos de corte específicos para clas- sificação da velocidade de deslocamento para crianças e adolescentes do sexo masculino, e no Quadro 2 para o sexo feminino. Avaliação da velocidade6 Fonte: Adaptado de Gaya e Gaya (2016). Idade Excelente Muito bom Bom Razoável Fraco 6 ≤ 3,72 3,73–4,20 4,21–4,53 4,54–4,80 > 4,80 7 ≤ 3,65 3,66–4,12 4,13–4,42 4,43–4,62 > 4,62 8 ≤ 3,50 3,51–4,00 4,01–4,21 4,22–4,47 > 4,47 9 ≤ 3,15 3,16–3,88 3,89–4,09 4,10–4,31 > 4,31 10 ≤ 3,07 3,08–3,74 3,75–3,98 3,99–4,15 > 4,15 11 ≤ 3,00 3,01–3,62 3,63–3,86 3,87–4,03 > 4,03 12 ≤ 3,00 3,01–3,50 3,51–3,74 3,75–3,96 > 3,96 13 ≤ 3,00 3,01–3,37 3,38–3,60 3,61–3,81 > 3,81 14 ≤ 2,90 2,91–3,23 3,24–3,46 3,47–3.,67 > 3,67 15 ≤ 2,87 2,88–3,16 3,17–3,38 3,39–3,60 > 3,60 16 ≤ 2,78 2,79–3,12 3,13–3,31 3,32–3,50 > 3,50 17 ≤ 2,72 2,73–3,12 3,13–3,30 3,31–3,53 > 3,53 Quadro 1. Pontos de corte para classificação da velocidade de deslocamento de 20 m entre crianças e adolescentes do sexo masculino Idade Excelente Muito bom Bom Razoável Fraco 6 ≤ 4,01 4,02–4,54 4,55–4,83 4,84–5,11 > 5,11 7 ≤ 3,90 3,91–4,47 4,48–4,77 4,78–5,07 > 5,07 8 ≤ 3,87 3,88–4,27 4,28–4,53 4,54–4,75 > 4,75 9 ≤ 3,55 3,56–4,00 4,01–4,28 4,29–4,54 > 4,54 10 ≤ 3,43 3,44–3,97 3,98–4,16 4,17–4,41 > 4,41 11 ≤ 3,29 3,30–3,87 3,88–4,09 4,10–4,31 > 4,31 Quadro 2. Pontos de corte para classificação da velocidade de deslocamento de 20 m entre crianças e adolescentes do sexo feminino (Continua) 7Avaliação da velocidade Como resultado final, embora os conceitos sejam aparentemente subjetivos, classificando a velocidade de deslocamento como fraca, razoável, boa, muito boa ou excelente, você enquanto docente terá dados concretos para observar se determinada velocidade “razoável” de seu aluno é uma velocidade de deslocamento mais próxima do limiar do conceito de fraca ou boa. Além disso, é recomendável ter pontos de corte classificados por idade cronológica, e não por grupamentos etários (como dos 9 aos 11 anos ou dos 13 aos 15 anos), afinal uma menina de 9 anos de idade, por exemplo, que ainda não atingiu a menarca possui uma estrutura biológica e um arcabouço de aprendizagem motora totalmente distintos de outras em pré-puberdade com 11 anos e 11 meses. Desse modo, precisamos ter em mente que a ma- nutenção e o progresso do rendimento físico dependem em grande parte do manejo da prescrição do esforço físico. Assim, a sinergia da busca constante por melhorar as marcas nos testes é o caminho a ser trilhado rumo ao aprimoramento físico. Fonte: Adaptado de Gaya e Gaya (2016). Idade Excelente Muito bom Bom Razoável Fraco 12 ≤ 3,07 3,08–3,78 3,79–4,00 4,01–4,25 > 4,25 13 ≤ 3,00 3,01–3,71 3,72–3,98 3,99–4,19 > 4,19 14 ≤ 3,00 3,01–3,70 3,71–3,97 3,98–4,21 > 4,21 15 ≤ 3,05 3,06–3,72 3,73–4,00 4,01–4,25 > 4,25 16 ≤ 3,24 3,25–3,70 3,71–4,00 4,01–4,23 > 4,23 17 ≤ 3,16 3,17–3,79 3,80–4,07 4,08–4,32 > 4,32 Quadro 2. Pontos de corte para classificação da velocidade de deslocamento de 20 m entre crianças e adolescentes do sexo feminino (Continuação) Avaliação da velocidade8 3 Aplicação de teste de velocidade Vejamos então alguns exemplos de aplicação de testes de avaliação da velocidade na prática. Em linhas gerais, você pode comparar duas situações- -problema a fi m de averiguar a postura do avaliador, a forma como o teste foi explicado e aplicado no avaliado, e como uma avaliação diagnóstica (pré-intervenção) errada poderá infl uenciar sobremaneira numa prescrição equivocada. O teste que tomaremos como base aqui é o teste do quadrado (GAYA; GAYA, 2016), que avalia a interação entre a velocidade máxima de execução de um gesto motor e a agilidade. Confira a seguir uma breve descrição do teste do quadrado, bem como seu protocolo e os materiais necessários para sua aplicação. Teste do quadrado Materiais: quatro cones ou garrafas PET com areia dentro, fita crepe para demarcar os lados do quadrado (4 metros de comprimento) ou giz branco e um cronômetro, Protocolo: primeiro o avaliador deverá dispor os cones formando um quadrado de 4 metros de lado. Além disso, deverá desenhar no chão a linha de partida (linha amarela na Figura 3). Ao sinal do avaliador, o avaliado deverá correr o mais rápido possível da linha de partida em direção ao cone na aresta oposta, tocando-o com uma das mãos. Na sequência, o avaliado deverá se deslocar para o cone ao lado (à sua direita ou esquerda) e tocá-lo com a mão. Por fim, para finalizar o teste, o avaliado deverá correr novamente em direção ao cone na aresta oposta, atravessando o quadrado novamente na diagonal. O avaliador deverá parar o cronômetro quando o avaliado tocar com a mão no terceiro e último no cone. O tempo total deve ser registrado com precisão de centésimos de segundo. 9Avaliação da velocidade Figura 3. Teste do quadrado. Fonte: Gaya e Gaya (2016, p. 13). Para a classificação da velocidade máxima e agilidade do avaliado no teste do quadrado, o Quadro 3 exibe os pontos de corte por faixa etária para o sexo masculino e o Quadro 4, para o feminino. Fonte: Adaptado de Gaya e Gaya (2016). Idade Excelente Muito bom Bom Razoável Fraco 6 ≤ 6,40 6,41–7,30 7,31–7,79 7,80–8,19 > 8,19 7 ≤ 6,07 6,08–7,00 7,01–7,43 7,44–7,76 > 7,76 8 ≤ 5,97 5,98–6,78 6,79–7,20 7,21–7,59 > 7,59 9 ≤ 5,81 5,82–6,50 6,51–6,89 6,90–7,19 > 7,19 10 ≤ 5,58 5,59–6,25 6,26–6,66 6,67–7,00 > 7,00 11 ≤ 5,39 5,40–6,10 6,11–6,50 6,51–6,87 > 6,87 12 ≤ 5,17 5,18–6,00 6,01–6,34 6,35–6,70 > 6,70 13 ≤ 5,00 5,01–5,86 5,87–6,16 6,17–6,53 > 6,53 14 ≤ 5,00 5,01–5,69 5,70–6,00 6,01–6,37 > 6,37 15 ≤ 4,91 4,92–5,59 5,60–5,99 6,00–6,26 > 6,26 16 ≤ 4,90 4,91–5,42 5,43–5,75 5,76–6,10 > 6,10 17 ≤ 4,90 4,91–5,43 5,44–5,75 5,76–6,03 > 6,03 Quadro 3. Pontos de corte para classificação da velocidade máxima e agilidade no teste do quadrado para crianças e adolescentes do sexo masculino Avaliação davelocidade10 Fonte: Adaptado de Gaya e Gaya (2016). Idade Excelente Muito bom Bom Razoável Fraco 6 ≤ 6,58 6,59–7,66 7,67–8,26 8,27–8,68 > 8,68 7 ≤ 6,56 6,57–7,56 7,57–8,00 8,01–8,41 > 8,41 8 ≤ 6,40 6,41–7,22 7,23–7,59 7,60–7,98 > 7,98 9 ≤ 6,03 6,04–6,89 6,90–7,25 7,26–7,63 > 7,63 10 ≤ 5,88 5,89–6,60 6,61–7,00 7,01–7,35 > 7,35 11 ≤ 5,72 5,73–6,49 6,50–6,90 6,91–7,24 > 7,24 12 ≤ 5,63 5,64–6,36 6,37–6,80 6,81–7,17 > 7,17 13 ≤ 5,57 5,58–6,28 6,29–6,70 6,71–7,10 > 7,10 14 ≤ 5,49 5,50–6,22 6,23–6,68 6,69–7,03 > 7,03 15 ≤ 5,33 5,34–6,19 6,20–6,66 6,67–7,00 > 7,00 16 ≤ 5,41 5,42–6,15 6,16–6,55 6,56–6,94 > 6,94 17 ≤ 5,54 5,55–6,22 6,23–6,58 6,59–7,00 > 7,00 Quadro 4. Pontos de corte para classificação da velocidade máxima e agilidade no teste do quadrado para crianças e adolescentes do sexo feminino Agora, vejamos exemplos do desenrolar dessa avaliação em duas situações- -problema. São situações hipotéticas nas quais você poderá notar a importância da postura do avaliador e da qualidade da explicação do teste para o avaliado. Teste do quadrado — exemplo 1 Materiais disponíveis: cronômetro, quatro garrafas PET com areia dentro e um giz branco. Local de avaliação: quadra poliesportiva de uma escola. Faixa etária do avaliado: 11 anos. Explicação do teste: “Murilo, hoje na aula de educação física você será avaliado pelo teste do quadrado. Observei que você não veio preparado para aula, pois está usando jeans e chinelos, mas mesmo assim poderá participar do teste correndo descalço, pois é arriscado correr de chinelos 11Avaliação da velocidade neste teste. O teste funciona assim: você sairá dessa linha de partida aqui e deverá correr a toda velocidade em direção àquela garrafa PET lá, que está a diagonal, e tocar nela. Depois, corra para o lado e toque na outra garrafa PET. Para finalizar o teste, corra em diagonal até alcançar essa última garrafa aqui, tocando-a com a mão. Somente quando você tocar aqui eu vou parar o cronômetro, e daí conto se você vai tirar boa nota na corrida. Vamos lá! Hoje não temos tempo para tirar dúvidas, pois ainda tenho mais 34 alunos para avaliar nessa aula. No 3, 2, 1 e...” (soa o apito do docente). Tempo de execução do teste: 6,80 segundos. Classificação da velocidade máxima e agilidade do avaliado: razoável. Aspectos positivos: ■ condução do teste do quadrado em contexto escolar para que o do- cente saiba antes de intervir no bimestre letivo quais são as potencia- lidades e dificuldades dos seus alunos no que tange os componentes da aptidão física relacionada ao desempenho motor, neste caso a velocidade máxima e a agilidade; ■ utilização de materiais recicláveis para execução do teste, como garrafas PET. Aspectos negativos: ■ vestimenta e calçado inadequados do aluno, o que certamente pre- judica seu resultado final; ■ além de não reservar um tempo para os alunos tirarem suas dúvidas com relação ao teste, o docente não demonstrou sua execução, apenas a explicou verbalmente; além disso, o aluno não teve a oportunidade de se familiarizar com a execução da avaliação. Teste do quadrado — exemplo 2 Materiais disponíveis: cronômetro, quatro cones e um rolo de fita crepe branca. Local de avaliação: quadra poliesportiva de uma escolinha de iniciação esportiva de futsal. Faixa etária do avaliado: 12 anos. Explicação do teste: “Pietro, hoje, dentre os testes de avaliação da velocidade, você vai participar do teste do quadrado. Vejo que você está com roupa adequada e seu tênis parece novo, o que deve prevenir derrapagens, certo? A ideia do teste é a seguinte: velocidade máxima e agilidade, dois pontos essenciais para um jogador de futsal durante uma Avaliação da velocidade12 partida. Então é isso, dê o seu máximo. Você sairá dessa linha de partida aqui (linha branca desenhada com fita crepe) e deverá correr o mais rápido possível até aquele cone ali, que está a diagonal, entendeu? Daí, na sequência você toca com uma das mãos na parte superior do cone e se desloca para a direita ou esquerda e toca a mão no outro cone. No fim, para fechar o teste, você deve correr na diagonal novamente e alcançar esse cone aqui, tocando com uma das mãos na as parte superior. Nesse instante eu pararei o cronômetro, e depois vamos conferir sua classificação no teste, tudo bem? Alguma dúvida? Agora eu vou demonstrar o teste. Observe como você deverá fazer. Tudo certo então? Pelo que vejo você está aparentemente descansado dos testes prévios e já pode realizar este. Vamos lá? À sua marca, preparar...” (soa o apito do técnico). Tempo de execução do teste: 6,05. Classificação da velocidade máxima e agilidade do avaliado: bom. Aspectos positivos: ■ condução da avaliação do teste do quadrado em contexto de iniciação esportiva no futsal previamente à prescrição do treinamento físico; ■ o avaliado está com vestes e calçados adequados para executar o teste; ■ o técnico reservou tempo para o avaliado tirar suas dúvidas com relação ao teste, além de demonstrar a prática da sequência motora. Aspectos negativos: ■ o técnico não permitiu que o avaliado se familiarizasse com o teste; ■ o técnico avaliou subjetivamente o executante com relação ao cansaço, pois mesmo tendo executado outros testes prévios, foi submetido a mais um teste, cujo resultado, dessa forma, pode ter sido submáximo; nesse aspecto, o resultado “bom” talvez não reflita o que aquele aluno poderia de fato executar caso o teste do quadrado tivesse sido o primeiro da lista a ser executado naquela ocasião. Como fica claro, cabe ao profissional de educação física pensar em todos os pormenores de planejamento, execução, avaliação e classificação dos resultados de seus alunos. Uma avaliação da velocidade conduzida de maneira errada poderá levar, na grande maioria dos casos, a uma prescrição equivocada. A velocidade é um componente da aptidão física relacionado ao desempenho motor, que se ramifica em velocidade de reação, de execução e de deslo- camento. Para cada especificidade dessa capacidade física, há testes para avaliá-la, sendo preciso escolher o teste validado e certeiro para a amostra a ser analisada, bem como conhecer os parâmetros (pontos de corte) para classificação dos resultados. 13Avaliação da velocidade DARIDO, S. C. Diferentes concepções sobre o papel da Educação Física na escola. In: UNIVERSI DADE ESTADUAL PAULISTA. Caderno de formação: formação de profes sores didática geral. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2010. p. 34-50. 6 v. GAYA, A.; GAYA, A. Manual de testes e avaliação. Porto Alegre: UFRGS, 2016. (E-book). MEDIDAS e avaliações no esporte. EDUCAÇÃO FÍSICA SME/SM/ES, 2016. Disponível em: http://conteudosef.blogspot.com/2016/03/medidas-e-avaliacoes-no-esporte.htmld RIBEIRO, A. S. et al. Teste de coordenação corporal para crianças (KTK): aplicações e estudos normativos. Motricidade, v. 8, nº. 3, p. 40–51, 2012. Disponível em: http://www. scielo.mec.pt/pdf/mot/v8n3/v8n3a05.pdf. Acesso em: 30 jul. 2020. Leituras recomendadas BARBANTI, V. Aptidão física: conceitos e avaliação. Revista Paulista de Educação Fí- sica, v. 1, nº. 1, p. 24–32, 1986. Disponível em: http://www.revistas.usp.br/rpef/article/ view/138164/133608. Acesso em: 30 jul. 2020. DARTAGNAN PINTO GUEDES. Testes motores: batimento em placas. 1 vídeo (3 min), 2017. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=v9fYOcmUlW4. Acesso em: 30 jul. 2020. 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