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TECNOLOGIAS PARA INDÚSTRIA 4.0 Rafael Bruno Bertoncini , 2 SUMÁRIO 1 HISTÓRICO E CONTEXTUALIZAÇÃO ......................................................... 3 2 RECURSOS PARA A INDÚSTRIA 4.0 ........................................................ 15 3 INFRAESTRUTURA INTELIGENTE ............................................................ 26 4 INDÚSTRIA 4.0 NA PRODUÇÃO .............................................................. 41 5 INDÚSTRIA 4.0 NAS CIDADES ................................................................. 56 6 EFEITOS E TENDÊNCIAS ......................................................................... 74 REFERÊNCIAS ............................................................................................ 91 , 3 1 HISTÓRICO E CONTEXTUALIZAÇÃO Apresentação O termo “Indústria 4.0” refere-se à quarta revolução industrial e a todas as tecnologias aportadas por ela, a Indústria 4.0, seja para a automação de sistemas, seja para a intensa troca de dados necessária para este fim. O objetivo é claro, melhorar a produtividade e a eficiência dos processos e de seus sistemas. Serão apresentados neste bloco o conceito da Indústria 4.0, entenderemos a sua história e as revoluções industriais que a precederam. Na sequência, serão apresentados os elementos estruturais da Indústria 4.0, os seus pilares de apoio. O objetivo deste bloco é de contextualizar a quarta revolução industrial de modo que possamos, a seguir, apresentar as tecnologias e recursos disponíveis para a implementação dela. 1.1 Introdução à Indústria 4.0 A origem do termo “Indústria 4.0” está alocada na estratégia de alta tecnologia definida pelo governo federal alemão, e foi apresentada pela primeira vez em 2011, na Feira de Hannover, na Alemanha. Este termo se referia a um novo conceito que compreendia uma série de recomendações estratégicas e tecnológicas que deveriam ser seguidas pelo governo federal alemão, visando a preservação, a longo prazo, da competitividade internacional da indústria alemã. No entanto, embora o termo alemão tenha se consagrado globalmente, outros países também discutiam estratégias para fomentar a sua produtividade e competitividade, como os EUA e a estratégia de Smart Manufacturing (Fabricação Inteligente), também de 2011, que deu origem ao Executive Office of the President National Science and Technology Council (Plano Estratégico Nacional para a Indústria Avançada) em 2012. Vários outros países da União Europeia, Austrália, Canadá, China, Coréia do Sul e o , 4 próprio Brasil, discutiam, na mesma época, iniciativas estratégicas nacionais para revolucionar a sua manufatura local. É certo que cada país trabalhava em uma estratégia própria, como a de aumento da participação da manufatura no Produto Interno Bruto (PIB) do país, como no caso dos países da União Europeia e dos EUA, ou visando aumentar a produtividade e a eficiência, aumentando assim a cadeia de valor de suas indústrias, como no caso da China, da Coréia do Sul e do Japão. Entretanto, um dos objetivos da Indústria 4.0 é aumentar a flexibilidade da produção. Para isso, é necessário coletar e refinar dados brutos, originando enormes quantidades de informação sobre processos e produtos (Big Data), permitindo novas ideias para o aumento da qualidade, para a redução dos prazos de entrega, para o desenvolvimento de novos produtos com ciclos de vida mais curtos. Desta forma, toda a cadeia de valor agregado das empresas da Indústria 4.0, notadamente os seus fornecedores, clientes e parceiros de negócio, se tornará uma rede para alcançar a melhor produtividade flexível possível. Algumas tecnologias da Indústria 4.0 já são aplicadas atualmente nas empresas, porém ainda faltam padrões que permitam maximizar a integração de sistemas e os resultados dela. 1.2 Contexto histórico Já sabemos que a Indústria 4.0 refere-se à quarta revolução industrial, mas como é que chegamos até aqui? A seguir, será apresentado o histórico das revoluções industriais de modo que possamos compreender as evoluções aportadas por cada uma, e como estas evoluções impactaram a vida humana e a sua produtividade. , 5 Fonte: CGEE, 2021. Figura 1.1 – Histórico das revoluções industriais. 1.2.1 Primeira revolução industrial Esta revolução industrial marca a transição do poder do músculo para o poder da máquina, ou seja, da produção puramente manual à produção mecanizada, que utilizava motores a água e a vapor como fonte de energia. Ocorrida na Grã-Bretanha de 1760 a 1840, ela foi responsável por introduzir as primeiras máquinas nas linhas de produção, popularizando o termo "fábrica". O tear mecânico foi introduzido nesta época, as carroças e carruagens foram substituídas pela locomotiva e o barco a vapor, proporcionando um enorme aumento de produtividade para a indústria e a economia britânica na época. , 6 Fonte: PÉREZ, N., 2004. Figura 1.2 – Máquina a vapor tipo Watt, 1832. 1.2.2 Segunda revolução industrial A segunda revolução industrial, ocorrida entre 1870 e 1945, introduziu o método de produção em massa através da implementação da linha de montagem, acelerando assim a produção, uma vez que cada trabalhador passou a se ocupar de apenas uma operação do processo. Em 1870, esteiras transportadoras foram utilizadas pela primeira em um abatedouro de Cincinnati, EUA, para o processamento de carne. Este princípio foi adaptado em 1913 por Henry Ford na fabricação de automóveis, popularizando assim a produção em massa. Ademais, o advento da eletricidade desempenhou outro papel determinante na segunda revolução industrial ao permitir a eletrificação das fábricas. A integração de tecnologias preexistentes promoveu uma maior comunicação, e a logística na cadeia de suprimentos foi impulsionada pelo uso massivo da ferrovia como meio de transporte, que, por sua vez, se beneficiou da produção em massa do aço. Nesta época, a química começou a ser desenvolvida, mas todas estas evoluções foram pausadas pela Primeira e Segunda Guerra Mundial, que puseram um fim à segunda revolução industrial. , 7 Fonte: Wikipedia, 1913. Figura 1.3 – Linha de montagem da Ford, 1913. 1.2.3 Terceira revolução industrial A terceira revolução industrial, também conhecida por revolução digital, ocorrida entre 1950 e 1970, foi iniciada pela automação industrial e o uso da computação digital. O desenvolvimento da eletrônica, dos semicondutores, dos microchips e dos equipamentos automatizados de comando numérico (Numerical Control, NC), mudaram muitos aspetos fundamentais das nossas vidas, especialmente nos processos de fabricação e nas telecomunicações. Fonte: JYOTI, 2021. Figura 1.4 – Máquina de comando numérico em torno de 1950. , 8 1.2.4 Quarta revolução industrial Também conhecida por Indústria 4.0, a quarta revolução industrial representa a era da digitalização. Novas tecnologias e modelos de negócios estão se tornando cada vez mais importantes, transformando as empresas e os seus negócios, alterando as estruturas do mercado, enquanto a globalização está tornando comuns os laços comerciais internacionais. Isso requer uma mudança na produção atual, uma rede de alto desempenho ponta-a-ponta que pode ser alcançada por meio do uso da internet como parte da Indústria 4.0. A união dos recentes avanços tecnológicos aplicados às máquinas inteligentes e autônomas dão corpo à Indústria 4.0. Atualmente, máquinas e equipamentos comunicam-se entre si, aprendendo com os seus próprios erros e acertos, fruto do desenvolvimento das redes neurais e, finalmente, da inteligência artificial. Fonte: Gorodenkoff via Shutterstock. Figura 1.5 – Fábrica moderna da indústria 4.0. 1.3 Pilares da Indústria 4.0 O princípio básico da Indústria 4.0 é a ampla rede globalde pessoas, fábricas e produtos. Assim, espera-se que, no futuro, os produtos e os meios de produção possam se auto-organizar e se autocontrolar de forma independente e local. Contudo, para chegarmos a este nível de autonomia, necessitaremos evoluir algumas tecnologias e integrá-las sistematicamente. , 9 São apresentados a seguir os pilares da Indústria 4.0: 1.3.1 Interdisciplinaridade A interdisciplinaridade define a conexão e a combinação de diversas disciplinas científicas e suas abordagens, métodos ou escolas de pensamento. Nela, várias estratégias de solução são concebidas e aplicadas para o melhor resultado possível, permitindo novas formas de pensar e solucionar problemas. Um exemplo da interdisciplinaridade foi o surgimento do profissional mecatrônico, a partir da união da mecânica e da elétrica, complementado pela tecnologia de controle, de automação e de informação. 1.3.2 Mídias sociais Diferentemente das mídias tradicionais, como jornal, rádio e televisão, as mídias sociais possuem uma comunicação realizada através de um percurso digital, tornando a comunicação imediata e interativa. Nelas, as informações são trocadas entre os usuários com rapidez e facilidade. Inicialmente utilizadas pelos indivíduos, elas passaram a ser utilizadas também nas corporações, promovendo uma comunicação corporativa global de alta acessibilidade e imediata. 1.3.3 Realidade virtual e aumentada A virtualização é um termo oriundo da ciência da computação e refere-se à adoção do gêmeo digital (digital twin), uma evolução da simulação. Um ambiente virtual é criado por meio de sensores inteligentes espalhados pela fábrica, permitindo o monitoramento e a rastreabilidade dos processos de maneira remota. , 10 Fonte: Zapp2Photo via Shutterstock. Figura 1.6 – Realidade aumentada na indústria 4.0 1.3.4 Big data (curadoria digital) A partir do desenvolvimento e democratização da internet, está cada vez mais fácil coletar, armazenar e analisar grandes quantidades de informações. O termo “big data” refere-se a este volume de informações disponíveis globalmente, em crescimento exponencial. O “big data” pode ser utilizado na indústria para automatizar, visualizar e analisar os processos, inclusive remotamente. Após a era da informação, vivemos atualmente na era da curadoria digital, ou seja, grandes quantidades de informações estão disponíveis e necessitamos organizá-las e concatená-las para acessar somente as informações relevantes para o nosso processo, negócio ou cliente. 1.3.5 Análise e otimização O trabalho para quantificar e analisar a grande quantidade de informações disponíveis é complexo. Podemos utilizar métodos estatísticos para extrair as informações relevantes do “big data”, e por meio de heurísticas e reconhecimento de padrões, novos conhecimentos são adquiridos, para a otimização de processos. , 11 1.3.6 Computação móvel e em nuvem A computação móvel é cada vez mais relevante, abrangendo hardware e software em dispositivos móveis. Todos os dispositivos de computação móvel podem ser usados, como smartphones, tablets, PCs e laptops, permitindo acesso simples e intuitivo às informações e aplicativos corporativos de qualquer lugar e a qualquer momento. Entretanto, este desenvolvimento é ainda um pouco limitado devido às baixas taxas de transmissão da internet móvel nacional, falta de padrões de segurança e legislação pertinente, e baixa duração da bateria dos dispositivos. 1.3.7 Objetos inteligentes Objetos são considerados inteligentes quando são equipados com uma memória digital na forma de uma provisão de armazenamento de dados. Desta forma, o mundo digital pode se conectar ao mundo físico. Um requisito dessa conexão é a forma única de identificar esses objetos, podendo ser realizada através de códigos de barras, QR codes, identificação por radiofrequência (radio-frequency identification - RFID), comunicação de campo próximo (near-field communication - NFC) ou iBeacon que são detectados por scanners e computadores. Fonte: Talkin' Things via Shutterstock. Figura 1.7 – Etiqueta RFID / NFC em rolo. , 12 1.3.8 Internet das Coisas (IoT) A internet evoluiu de um meio de troca de informações para uma conexão interativa entre pessoas e máquinas, a Internet das Coisas (Internet of Things - IoT). Ela é a solução para a conexão de objetos a uma rede digital, permitindo uma comunicação universal, tanto entre objetos, quanto com seu ambiente. Assim, o mundo físico das coisas se une ao mundo virtual das informações. É possível que, em breve, cada objeto consumidor tenha seu próprio IP e esteja conectado à internet. Assim, quando em uso, cada objeto se conectará ao seu provedor de serviços por meio da internet. No entanto, o maior desafio para a IoT é um padrão de comunicação unificado entre os sistemas. 1.3.9 Internet dos Serviços (IoS) Este termo refere-se à parte da internet que oferece serviços e funções através de provedores, mediante solicitação. Tecnologias de serviço de internet permitem a integração entre softwares e serviços individuais, possibilitando que empresas possam criar soluções complexas e flexíveis, criando assim modelos de negócios que atuam como catalisadores para a IoT e a IoS. 1.3.10 Sistemas Ciberfísicos (CPS) Os sistemas ciberfísicos (cyber-physical systems - CPS) são aqueles nos quais os computadores se comunicam e controlam dispositivos reais. Também conhecidos como sistemas embarcados, eles permitem novos planejamentos de produção, utilizando a internet ou a intranet como meios de comunicação. Segundo o Instituto Fraunhofer para Circuitos Integrados (Institute for Integrated Circuits - IIS), o CPS é definido como “Sistemas Ciberfísicos são sistemas embarcados que estão espalhados, interconectados, comunicando-se em tempo real usando sensores para monitorar processos no mundo físico real e agem sobre eles através de atuadores. Eles também são frequentemente caracterizados por alta adaptabilidade e capacidade de lidar com estruturas de dados complexas.” , 13 É possível que, no futuro, um componente inteligente avance por conta própria e controle o processo de fabricação ou um container inteligente de cavacos que, por meio de câmeras e sensores, monitora seu nível de abastecimento e organiza a troca por um container vazio. 1.3.11 Fábricas inteligentes O termo fábrica inteligente refere-se ao uso da internet para a produção e para a comunicação de máquinas e componentes, de modo que possa ser produzido somente o necessário. Os produtos a serem produzidos irão controlar o processo produtivo (CPS), uma vez que ele é descentralizado. Os produtos brutos, semiacabados e acabados são dotados de inteligência, sendo portadores de informações relevantes à produção e que se comunicam em rede com as pessoas, o ambiente e os equipamentos. A fábrica inteligente é mais eficiente em termos de energia e recursos, graças ao controle em tempo real por meio da IoT. Conclusão A partir desse bloco passamos a conhecer um pouco mais sobre a quarta revolução industrial e como ela está moldando o futuro da humanidade. Este é um momento único, pois estamos vivendo esta revolução, conhecida por Indústria 4.0. Novas tecnologias surgem a cada dia, permitindo uma melhor e maior comunicação, promovendo a integração de sistemas que, finalmente permitem maior automação e autonomia, aportando maior produtividade e eficiência aos processos produtivos e aos serviços prestados. REFERÊNCIAS CENTRO DE GESTÃO E ESTUDOS ESTRATÉGICOS - CGEE. Indústria 4.0; Arcabouço normativo para a implementação da Indústria 4.0 no Brasil. Brasília, DF: Centro de Gestão e Estudos Estratégicos, 2021. 214 p. (Série Documentos Técnicos, 29). JYOTI. The History of CNC Machine. JYOTI, 2021. Disponível em: https://jyoti.co.in/2021/07/24/the-history-of-cnc-machine/. Acessoem: 19 maio 2023. , 14 KIEF, H. B.; ROSCHIWAL, H.; SCHWARZ, K. The CNC Handbook: Digital Manufacturing and Automation from Cnc to Industry 4.0. 1. ed. EUA: Industrial Press, 2021. PÉREZ, N.; Una máquina de vapor de tipo Watt, construida por la compañía D. Napier & Son (Londres) en 1832. Wikipedia, 2004. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Maquina_vapor_Watt_ETSIIM.jpg. Acesso em: 19 maio 2023. Wikipedia. Linha de montagem de Ford, em 1913. Wikipedia, 1913. Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Ford_assembly_line_-_1913.jpg. Acesso em: 19 maio 2023. , 15 2 RECURSOS PARA A INDÚSTRIA 4.0 Apresentação A Indústria 4.0 é o avanço mais recente da humanidade, baseado nos avanços tecnológicos disponíveis até o momento. Em geral, ela está majoritariamente apoiada na digitalização e a automação, por meio do uso da Internet das Coisas (IoT), e emparelhada com Sistemas Ciberfísicos (CPS). Esses sistemas estão se tornando autônomos, com capacidade de tomar suas próprias decisões e utilizar o aprendizado de máquina (Machine Learning), coletando dados em tempo real que serão analisados e armazenados na nuvem. A quarta revolução industrial permitirá explorar pilares como a IoT, o Big Data e a análise de dados, a realidade aumentada, os robôs colaborativos, a manufatura aditiva, a computação em nuvem, a inteligência artificial e, por fim, as redes 5G, que irão promover todas estas tecnologias. Estima-se que a aplicação das tecnologias- chave da Indústria 4.0 podem reduzir os custos de produção e de logística entre 10 e 30% cada, e os custos da qualidade entre 10 e 20%. 2.1 Simulação de sistemas A modelagem por simulação é um método que utiliza modelos reais ou de sistemas projetados para realizar experimentos e validar projetos, processos ou sistemas. É considerada um pilar da Indústria 4.0, sendo especialmente indicada para a redução de custos. Essa abordagem permite conhecer os sistemas por meio do desenvolvimento de produtos complexos e versáteis, possibilitando o teste de novos conceitos, sistemas, e novas operações antes da implementação real. Dessa forma, é possível coletar informações e conhecimentos sem interferir ou impactar no sistema operacional. , 16 Fonte: Gorodenkoff via Shutterstock. Figura 2.1 – Modelagem e simulação de sistemas. A modelagem do sistema permite a redução custos, além de reduzir o tempo de desenvolvimento e aumentar a qualidade do produto. Ao simular todo o ambiente fabril, é possível realizar uma análise para identificar os possíveis problemas que possam causar atrasos na produção. Uma Fábrica Inteligente não se limita apenas à digitalização dos seus processos, mas também inclui o uso eficiente da energia, a otimização dos processos e a redução dos impactos ao meio ambiente. Atualmente, a simulação de sistemas é a melhor maneira de conseguir isso de forma imediata. Os processos de simulação são realizados com o uso de softwares avançados, com grande impacto econômico nas fábricas. A visualização desses processos favorece a economia fabril, pois possibilita antecipar situações que podem gerar perdas, detectar pontos fracos e melhorar fases da produção antes de colocá-las em operação. 2.2 Realidade aumentada A realidade aumentada é uma tecnologia relativamente recente, porém já desperta bastante interesse no ambiente da Internet das Coisas (IoT). Por décadas, a realidade aumentada foi estudada e desenvolvida como uma tecnologia futurista, porém o seu desenvolvimento ficou esquecido por anos, apesar do claro potencial, devido à falta de tecnologias complementares. No entanto, nos últimos anos, o interesse por esta https://www.shutterstock.com/g/gorodenkoff , 17 tecnologia foi reavivado, uma vez que as tecnologias complementares necessárias estão agora disponíveis. Dispositivos como óculos, viseiras e fones de ouvido de realidade aumentada já estão agora em produção e, embora ainda sejam caras para o consumidor final, são viáveis para a indústria, dependendo do retorno sobre o investimento (ROI). Fonte: Gorodenkoff via Shutterstock. Figura 2.2 – Aplicação industrial da realidade aumentada. Contudo, a realidade aumentada vai além dos óculos ou da exibição visual, ela também pode ser aproveitada em smartphones, pois se trata de dados. Afinal, ela é tão útil quanto a sombra de informações que acompanha o objeto que você está olhando. Uma sombra de informação é o conjunto de dados relacionados ao objeto em questão. Por exemplo, ao olhar as paredes de sua casa, você não consegue ver os canos e as fiações. Para que a realidade aumentada funcione, é necessário que o objeto em estudo tenha possua um modelo 3D (CAD) relacionado, armazenado localmente, caso o dispositivo em uso, como um tablet ou headset, suportar arquivos grandes, ou armazenado remotamente na nuvem, no caso dos modelos atuais de óculos e viseiras. Dessa forma, através da projeção do modelo 3D, seja através dos óculos e viseiras, ou no próprio dispositivo, você verá canos e fiações, e tudo o que deve estar atrás da parede. As versões mais recentes da realidade aumentada não dependem apenas de modelos 3D projetados, que infelizmente podem ser imprecisos e de qualidade inferior. Em vez , 18 disso, elas contam com sensores inteligentes embutidos para transmitir sua localização, de modo a construir um modelo 3D interativo na hora, apresentando exatamente o que está localizado atrás da parede. Essa capacidade torna a realidade aumentada extremamente útil na indústria da construção civil para planejar o trabalho com o mínimo de danos colaterais. Fonte: Sorn340 Studio Images via Shutterstock. Figura 2.3 – Aplicação da realidade aumentada na construção civil. Existem diversas aplicações adicionais para a realidade aumentada, como no treinamento interativo de manutenção de máquinas. Anteriormente, os técnicos precisavam passar por treinamentos extensos, obter certificações e desenvolver habilidades ao longo de anos de experiência para serem capazes de realizar a manutenção de máquinas, redes ou sistemas. Atualmente, é possível acelerar o treinamento utilizando manuais detalhados e guias de serviço armazenados na nuvem, juntamente com esquemas e modelos 3D. Ao projetar essa sombra de informações em conjunto com a visualização da máquina física, o técnico pode acessar um passo-a- passo detalhado para a solução de problemas, enquanto o modelo 3D projetado sobre a máquina física mostrará exatamente onde as peças estão localizadas e como acessá- las. A realidade aumentada desempenha um papel enorme na manutenção industrial atualmente, eliminando a maioria dos requisitos anteriores de conhecimento especializado, que costumavam ter um custo elevado. , 19 Fonte: Zapp2Photo via Shutterstock. Figura 2.4 – Aplicação da realidade aumentada na manutenção industrial. Outra aplicação da realidade aumentada está no controle e gerenciamento de centros de operações industriais. Nos centros tradicionais, painéis físicos apresentam informações simples e individuais, como temperatura, pressão, rotação e outras informações captadas pelos sensores. Esses painéis físicos eram conectados fisicamente ou mostravam representações gráficas de painéis pré-configurados e programados. Com o advento da realidade aumentada, os dados captados pelos diversos sensores podem ser visualizados de qualquer lugar e projetados em qualquer superfície, possibilitando a combinação de dados em painéis móveis improvisados. , 20 Fonte: MONOPOLY919 via Shutterstock. Figura 2.5 – Análise da operação em tempo real. O varejo, e as indústrias de alimentos e entretenimento, também estão se beneficiando da realidade aumentada, tornando-se os primeiros a adotar a sua própria sombra de informações. Porexemplo, se um restaurante publicar na nuvem os preços, o cardápio e os assentos disponíveis em tempo real, um cliente, ao passar pela frente do estabelecimento, poderá visualizar tais informações sobrepostas por meio de seus óculos ou dispositivos. Mesmo que os próprios proprietários dos restaurantes não tomem tal iniciativa, as mídias sociais podem fazê-lo, e um cliente em potencial não verá os dados em tempo real, como a disponibilidade de assentos, mas poderá ver as avaliações de outros clientes. Já deu para perceber que o potencial da realidade aumentada e da IoT é enorme, porém ela pode ser ainda mais impressionante. Por exemplo, os bombeiros, usando viseiras ou capacetes de realidade aumentada, podem receber informações sensoriais, como sinais vitais, temperatura, saturação do ar e proximidade. Estes dados captados podem ser comunicados, alimentados e exibidos em tempo real para o display do bombeiro, permitindo a ele ter uma visão completa de todo o edifício, andar por andar, e saber instantaneamente se alguém está no edifício e, em caso afirmativo, em qual ambiente, bem como as condições ambientais circundantes. , 21 Em suma, a aplicação da realidade aumentada, quando conectada à internet industrial, é apenas limitada pela imaginação e inovação dos desenvolvedores dos sistemas. 2.3 Integração de sistemas Do ponto de vista dos desenvolvimentos industriais, a primeira metade do século 20 foi dominada pelo maquinário industrial (hardware), ou seja, as melhorias na produtividade e na qualidade do produto foram devidas, majoritariamente, às melhorias no hardware. A precisão do maquinário industrial e a velocidade operacional aumentaram constantemente devido às melhorias na precisão das partes mecânicas. Analogamente, é possível verificar que a segunda metade do século 20 foi dominada pelo software. Os Softwares aplicados aos sistemas de controle baseados em microprocessadores permitiram a operação de uma linha de produção com maior rapidez e precisão. Ainda que, neste período, o hardware continuou a evoluir, isso só foi possível graças ao uso de softwares, como os de Projeto e Manufatura Assistidos por Computador (CAD e CAM, respectivamente). Foi nesse mesmo período que teve início a era da eletrônica industrial. A automação industrial, na forma de controles mecânicos e interruptores, foi dando lugar lentamente aos controles eletrônicos e aos processamentos de sinais. No entanto, nas últimas décadas deste século, ocorreu a fusão de diferentes tecnologias, começando pela eletromecânica, seguida pela optoeletrônica, mecatrônica, telemática, bioinformática e assim por diante. Desta forma, as fronteiras entre os setores industriais e as disciplinas acadêmicas, anteriormente bem definidas, erodiram-se muito rapidamente. Atualmente é difícil estabelecer limites claros entre setores industriais; entre produtos e serviços; entre produtores e usuários; entre a tecnologia da informação (TI), comunicações, mídia e eletrônicos de consumo. A área de automação e controle industrial também teve sua parcela de mudanças: é fácil ver como a TI se tornou dominante na eletrônica industrial. , 22 A quarta revolução industrial emerge a partir da terceira revolução industrial, integrando processos de produção industrial novos e clássicos. À medida que as organizações superam o modismo em torno da transformação digital na Indústria 4.0, elas enfrentam as complexas realidades da implementação destas tecnologias, desde a introdução de novos Sistemas Ciberfísicos, tecnologias e aplicativos de fábricas inteligentes, até a adaptação ou substituição de arquiteturas corporativas centrais, infraestruturas, e processos de informação e comunicação. A transição dos sistemas industriais tradicionais para a Indústria 4.0 exigirá não apenas novas tecnologias de informação e comunicação, mas também novos modelos de negócios a serem desenvolvidos intra- e interorganizacionalmente. Na Indústria 4.0, os diversos tipos de integração (horizontal, vertical e de ponta-a-ponta) exigem mudanças na arquitetura corporativa, integração dos processos e das tecnologias de informação e comunicação. Neste processo de integração industrial, os Sistemas Ciberfísicos representam uma mudança de paradigma em relação aos modelos de negócios e de mercado existentes, pois novas aplicações, serviços e cadeias de valor revolucionárias estarão disponíveis. Os setores industriais, como manufatura, automotivo, energia e outros, serão transformados por esses novos modelos de cadeia de valor no processo de integração industrial. A Indústria 4.0 representará um novo nível de organização, remodelando as arquiteturas empresariais das organizações industriais, alavancando as infraestruturas de TI existentes e os processos de negócios, conforme a necessidade. Devido à chegada da Indústria 4.0 e às profundas mudanças nos ambientes industriais complexos, há a necessidade de adotar novas arquiteturas e novos processos de negócios que ajudarão uma organização industrial com a adaptação da arquitetura empresarial existente, infraestruturas de TI, processos e relacionamentos para apoiar a transformação. Uma arquitetura corporativa consiste nos principais componentes corporativos, como os objetivos da empresa, estruturas organizacionais, infraestrutura de informações e processos de negócios. O desempenho de uma empresa, como as inovações geradas dentro dela, a reengenharia dos processos de negócios, a qualidade e a pontualidade , 23 do fluxo de informações, podem ser melhorados se o sistema de arquitetura corporativa representar fielmente as características e a natureza da organização. Integração, consolidação e aplicações coordenadas foram identificadas como questões críticas no ambiente da Indústria 4.0. Os limites das fábricas individuais provavelmente desaparecerão com o tempo. Desta forma, fábricas em diferentes setores industriais e diferentes regiões geográficas serão interligadas ou integradas, permitindo a elas manter algum sistema existente enquanto adicionam um novo conjunto de aplicativos às suas operações. Para isso, uma nova solução de tecnologias de informação e comunicação, conhecida como Integração de Aplicativos Corporativos, pode ser aplicada. Para integrar os novos recursos digitais baseados em Sistemas Ciberfísicos com arquiteturas, sistemas e processos existentes, a coordenação de vários sistemas e aplicativos depende muito da arquitetura corporativa. No entanto, os equipamentos existentes atualmente não são capazes de se comunicar com a tecnologia recém-implantada. Este obstáculo pode ser superado pelo sistema de Integração de Aplicativos Corporativos, que foi criado com diferentes métodos e em diferentes plataformas, visando conectar os processos atuais e novos do sistema, fornecendo um mecanismo de integração de processos flexível e conveniente. A integração de aplicativos corporativos inclui a integração de fontes de dados, processos, aplicativos, plataformas e padrões heterogêneos. Assim, por meio da criação de uma estrutura integradora, a Integração de Aplicativos Corporativos conecta diferentes sistemas e aplicativos, tanto intra-, quanto interorganizacionalmente. Ao combinar software, hardware e padrões, a Integração de Aplicativos Corporativos possibilita o compartilhamento e a troca de dados e informações de forma contínua, o que é exigido pela Indústria 4.0. Na Indústria 4.0, a integração de sistemas pode ser: 1. Integração horizontal: nela, parceiros de negócios e clientes passam a ser integrados, assim como novos modelos de negócios entre países e até continentes são integrados, criando uma rede global. Esta integração facilitará , 24 o estabelecimento e a manutenção de redes que criam e agregam valor para toda a cadeia; 2. Integração vertical: as fábricas inteligentes não podem funcionarde maneira autônoma, havendo a necessidade de uma rede de fábricas, produtos e sistemas de produção inteligentes. A essência da integração vertical deriva do uso de Sistemas Ciberfísicos, que permitem que reajam rápido e adequadamente às variáveis, como os níveis de demanda e de estoque, defeitos de máquinas e atrasos imprevistos. Da mesma forma, a rede e a integração de sistemas também envolvem os serviços inteligentes de logística e marketing de uma empresa, assim como seus serviços inteligentes, permitindo uma produção customizada, de modo a atender os seus clientes de forma individualizada e direcionada; 3. Integração de ponta-a-ponta: toda a cadeia de valor industrial é submetida à chamada integração de ponta-a-ponta, onde o ciclo de vida completo do produto é rastreado, desde a matéria-prima, passando pela produção até o seu fim de vida (reciclagem). Portanto, deve haver foco na qualidade e na satisfação do cliente, para que o produtor manufature produtos que atendam às expectativas do cliente. Conclusão Os recursos disponíveis para a implementação da Indústria 4.0 são diversos, não se restringindo apenas aos três recursos apresentados anteriormente. Neste bloco, vimos que a tecnologia possui um papel fundamental na nossa sociedade, e como a sua evolução acelerada pode mudar a maneira como vivemos e trabalhamos. Assim, a partir da segunda metade do século 20, experienciamos uma rápida e consistente evolução de desempenho, com o aumento do poder de processamento, a redução de custos e a miniaturização de componentes, dados os avanços da microeletrônica que ocorrem a uma velocidade exponencial, promovendo o surgimento de outras tecnologias e aplicações que estamos, atualmente, utilizando na Indústria 4.0. , 25 REFERÊNCIAS ARIAS, J. A. C. et al. Supply chain integration in the industry 4.0 era: a systematic literature review. Brazilian Journal of Development, 2022. Disponível em: https://ojs.brazilianjournals.com.br/ojs/index.php/BRJD/article/view/53188/39573. Acesso em: 19 maio 2023. GILCHRIST, A. Industry 4.0: The Industrial Internet of Things. 1. ed. EUA: Apress, 2016. KIEF, H. B.; ROSCHIWAL, H.; SCHWARZ, K. The CNC Handbook: Digital Manufacturing and Automation from Cnc to Industry 4.0. 1. ed. EUA: Industrial Press, 2021. SACOMANO, J. B. et al. Indústria 4.0: conceitos e fundamentos. 1. ed. Brasil: Editora Blucher, 2018. SCHWAB, K. The Fourth Industrial Revolution. 1. ed. Suíça: World Economic Forum, 2016. , 26 3 INFRAESTRUTURA INTELIGENTE Apresentação Olá, estudante! A indústria 4.0 engloba um extenso conjunto de tecnologias com amplo potencial inovador devido à sua integração. Tais tecnologias são denominadas por ferramentas, pilares ou princípios da indústria 4.0, dependendo da publicação ou do autor. Neste bloco, serão apresentadas algumas tecnologias estruturantes da Indústria 4.0, porém a lista de tecnologias é muito extensa e em constante evolução. 3.1 Sistemas Ciberfísicos (CPS) A internet industrial surgiu devido aos rápidos avanços nos computadores digitais e nas comunicações digitais. Estas disciplinas são consideradas domínios de conhecimento e especialização separados, resultando na necessidade de conhecimento interdisciplinar para projetar e construir produtos que requerem processamento de informações e rede. No entanto, quando começamos a interagir com o mundo físico, temos um domínio físico para enfrentar e isso requer um conhecimento especial desse domínio, como o de um engenheiro mecânico ou mecatrônico. Portanto, é necessário identificar, no início do processo de desenvolvimento, se o produto será um sistema de TI, rede ou físico, ou um sistema que tenha todos os três recursos de processamento físico, de rede e digital. Em caso afirmativo, diz-se que é um sistema ciberfísico. Os sistemas de informação, aplicados em dispositivos físicos, são chamados de sistemas embarcados. Estes sistemas são encontrados em sistemas de telecomunicações, automação e transporte, dentre outros. Atualmente, um novo termo para designar tais sistemas surgiu, os Sistemas Ciberfísicos (CPS). Assim, podemos distinguir os sistemas embarcados, baseados em microprocessadores, e os sistemas de processamento de informações mais complexos, que realmente se integram ao seu ambiente. Podemos, então, definir os Sistemas Ciberfísicos como , 27 integrações de computação, rede e processos físicos, nos quais computadores e redes integrados monitoram e controlam tais processos, com loops de feedback onde os processos físicos afetam os cálculos e vice-versa. Portanto, um sistema ciberfísico pode ser praticamente qualquer coisa que tenha computação, rede e processos físicos integrados. Por exemplo, um operador humano possui componentes físicos e cibernéticos, ou seja, ele tem uma facilidade computacional, o seu cérebro, se comunica com outros seres humanos e o sistema por meio da Interface Homem-Máquina, e interage por meio de interfaces mecânicas, as suas expressões, suas mãos, para influenciar o seu ambiente. Os Sistemas Ciberfísicos permitem que o mundo digital virtual dos computadores e softwares se integrem por meio do gerenciamento de processos e controle de feedback com o mundo analógico físico, levando assim à Internet das Coisas (IoT), dados e serviços. Um exemplo de CPS é uma linha de produção inteligente, onde uma máquina pode executar muitas operações, comunicando-se com os componentes e, às vezes, até com os produtos que estão em processo de produção. Fonte: elenabsl via Shutterstock. Figura 3.1 – Sistemas Ciberfísicos aplicados à uma fábrica inteligente , 28 Um sistema embarcado é, basicamente, um sistema computacional incorporado em um sistema físico, com ênfase no componente computacional. Desta forma, podemos pensar em todos os CPS como contendo sistemas embarcados, mas a ênfase do CPS está nas comunicações e nos domínios físico e computacional. Os Sistemas Ciberfísicos são amplamente aplicados, pois usam sensores e outros sistemas embarcados para monitorar e coletar dados de processos físicos, como monitorar a direção de um veículo, o consumo de energia ou o controle de temperatura e/ou umidade. Os CPS, ao contrário dos sistemas embarcados, são conectados em rede, possibilitando a disponibilidade de dados remotamente, e até globalmente. Em suma, os CPS possibilitam que aplicativos de software interajam com eventos no mundo físico. Ao contrário dos sistemas embarcados tradicionais, que geralmente são dispositivos autônomos com alguma capacidade de comunicação incorporada, os CPS são projetados para serem conectados em rede com dispositivos complementares e, portanto, possuem portas E/S físicas. O CPS está intimamente relacionado à robótica e um robô é um bom exemplo de CPS, pois possui componentes físicos capazes de manipular o seu ambiente. Os robôs são bons em detectar, agarrar e transportar objetos e posicioná-los onde necessário. Nas fábricas, os robôs são usados para fazer trabalhos repetitivos que muitas vezes exigem levantamento pesado ou o posicionamento de grandes itens em uma linha de montagem (robótica industrial). Os robôs têm computação, rede e componentes físicos para permitir que executem o software para realizar suas tarefas, como ler dados de sensores, aplicar algoritmos e enviar informações de controle para servomotores e atuadores que controlam os membros, as juntas e os mecanismos dos robôs. Os robôs também se comunicam com servidores back-end no domínio de operações e gerenciamento, e com dispositivos de segurança na linha de montagem. Desta forma, eles podem se mover em altas velocidades e não se cansam, então eles superam os humanos em todos os aspectos. No entanto, robôs e humanos nem sempre trabalham juntos com segurança, e é necessário que o robô reduza a velocidadee execute suas ações a uma velocidade compatível em caso de proximidade com humanos. Consequentemente, os robôs , 29 industriais funcionam melhor e com muito mais eficiência em ambientes livres de humanos. Fonte: asharkyu via Shutterstock. Figura 3.2 – Aplicação de um robô industrial em uma fábrica inteligente A robótica é um exemplo óbvio de um CPS, mas eles também são adaptados para funcionar em diversas aplicações com a Internet das Coisas (IoT), como trabalhar em ambientes perigosos, como o combate a incêndios ou mineração; ou fazer trabalhos perigosos, como a eliminação de bombas; ou a execução de tarefas pesadas, como levantar chassis de carros em uma linha de produção. Entretanto, não faltam aplicações para outros tipos de CPS, como em situações que exigem precisão, como em cirurgias automatizadas; e em coordenação, no caso de sistemas de controle de tráfego aéreo. As aplicações da Internet Industrial para os CPS são principalmente baseadas em sensores onde os dispositivos CPS habilitados para rede, monitoram seu ambiente e repassam essas informações para um aplicativo em outro nó de rede, onde a , 30 computação e a análise serão executadas, e o feedback fornecido se, e quando necessário. Um exemplo disso é a detecção e proteção de colisão em carros, que também utilizam sistemas de alerta de mudança de faixa, também acionados por CPS. 3.2 Internet das Coisas (IoT) Atualmente, a Internet das Coisas (IoT) é amplamente aplicada e, por isso, recebe diversas denominações, como Internet Industrial ou Internet Industrial da Coisas (IIoT), como Internet de Tudo, ou ainda como Internet 4.0. No entanto, é importante diferenciar as estratégias verticais da IoT, como as formas de consumo, comercial e industrial da Internet, do conceito horizontal mais amplo da IoT, pois as estratégias verticais têm diferentes públicos-alvo e requisitos técnicos. Por exemplo, o mercado consumidor aplica muito a IoT em casas inteligentes e na conectividade pessoal. Da mesma forma, o mercado comercial tem alta negociabilidade, pois possui serviços que englobam produtos financeiros e de investimento, como bancos, seguros, serviços financeiros e comércio eletrônico, com foco no histórico, desempenho e valor do consumidor. A Internet Empresarial das Coisas (EIoT), por outro lado, é uma vertical que inclui empresas de pequeno, médio e grande porte. Focaremos, neste momento, na Internet Industrial (IIoT) e a aplicação da IoT no nosso dia a dia, será explicado no Bloco 5. Espera-se que a Internet Industrial proporcione níveis sem precedentes de crescimento e produtividade já nesta década. Líderes empresariais, governos, acadêmicos e fornecedores de tecnologia estão trabalhando arduamente em conjunto para aproveitar e realizar este enorme potencial. Tal potencial tem ainda a capacidade de promover a reindustrialização de países que, por uma questão de competitividade, expatriavam as suas linhas de produção para países de baixo custo. Ao encorajar a reindustrialização, os governos esperam aumentar o valor agregado da manufatura para impulsionar seus PIBs. Nos últimos 20 anos, o setor de negócios para o consumidor (Business-to-Consumer - B2C), através do uso comercial da Internet em varejo, mídia e serviços financeiros, testemunhou um crescimento estelar. O sucesso do B2C é evidente pelo domínio de , 31 gigantes da web nascidos na Internet, como Amazon, Netflix, eBay e PayPal. A esperança é que esta década traga o mesmo crescimento e sucesso para a indústria, que nesse contexto abrange manufatura, agricultura, energia, aviação, transporte e logística. A importância disso é inegável, já que a indústria produz dois terços do PIB global, portanto as apostas são altas. Fonte: Zapp2Photo via Shutterstock. Figura 3.3 – Aplicação da Internet Industrial na logística fabril Entretanto, a Internet Industrial ainda está em sua infância. Apesar da internet estar disponível nos últimos 20 anos, os líderes industriais hesitam em se comprometer, pois eles não têm certeza de como a IIoT afetaria as indústrias existentes, cadeias de valor, modelos de negócios, força de trabalho e, finalmente, produtividade e produtos. Além disso, a maior parte dos líderes industriais ainda não têm um entendimento claro dos modelos de negócios ou das tecnologias envolvidas. Diversas indústrias possuem sensores e dispositivos que produzem dados para controlar as operações há décadas. Da mesma forma, elas possuem comunicações e colaboração máquina a máquina (Machine-to-Machine - M2M) há pelo menos uma década, portanto, as principais tecnologias da IIoT não são novidade. Por exemplo, a , 32 indústria também não demorou a coletar, analisar e acumular grandes quantidades de dados para informações históricas, preditivas e prescritivas. Portanto, a pergunta que os líderes industriais costumam fazer é: “por que conectar a minha arquitetura M2M à internet me proporcionaria maior valor?” Para explicar por que as indústrias devem adotar a IIoT, precisamos entendê-la melhor. A Internet Industrial possibilita uma maior visibilidade e percepção das operações e ativos da indústria, por meio da integração de sensores e instrumentos, middleware, software, sistemas de armazenamento e computação em nuvem. Portanto, ela fornece um método de transformação dos processos operacionais, usando os resultados obtidos ao interrogar grandes conjuntos de dados por meio de análises avançadas, como feedback. Os ganhos para a empresa são alcançados por meio dos ganhos de eficiência e produtividade, o que resulta em um menor tempo de parada não planejada e em uma eficiência otimizada, gerando, assim, lucros maiores. Embora as tecnologias e técnicas usadas nas tecnologias M2M existentes nos ambientes industriais atuais possam parecer semelhantes à IIoT, a escala de operação é muito diferente. Por exemplo, com a aplicação do Big Data em sistemas IIoT, enormes fluxos de dados podem ser analisados online, usando análise avançada hospedada em nuvem. Adicionalmente, grandes quantidades de dados podem ser armazenadas em sistemas de armazenamento em nuvem, distribuídos para futuras análises realizadas em formatos de lote. Estas análises massivas de trabalhos em lote podem reunir informações e estatísticas, a partir de dados que nunca seriam possíveis anteriormente, devido às amostragens relativamente pequenas, ou simplesmente devido aos algoritmos mais poderosos ou refinados. Os engenheiros de processo podem então usar os resultados da análise para otimizar as operações e fornecer as informações que os executivos podem transformar em conhecimento, a fim de aumentar a produtividade e a eficiência, e reduzir os custos operacionais. A IIoT é uma junção de várias tecnologias-chave para produzir um sistema maior que a soma de suas partes. Os recentes avanços nas tecnologias de sensores, por exemplo, produzem não apenas mais dados gerados por um componente, mas um tipo diferente de dados, em vez de serem apenas precisos, eles podem ter autoconsciência e até , 33 prever sua vida útil restante. Portanto, o sensor pode produzir dados que não são apenas precisos, mas preditivos. Da mesma forma, os sensores de uma máquina, por meio de seus controladores, podem ser autoconscientes, auto previsíveis e auto comparáveis, isto é, eles podem comparar sua configuração atual e definições de ambiente com dados e limites ideais pré configurados, fornecendo um autodiagnóstico. Os sensores são hoje menores e mais baratos, sendo assim, mais acessíveis e tecnicamente viáveis à instrumentação de máquinas, processos e até pessoas. Fonte: Papamoon via Shutterstock. Figura 3.4 – Sensores inteligentes, conectados à IIoT, aplicados no agronegócio. O Big Data e as análises avançadas, como vimos, são outros impulsionadores e facilitadores da IIoT, pois fornecem análiseshistóricas, preditivas e prescritivas, que podem fornecer informações sobre o que realmente está acontecendo dentro de uma máquina ou processo. Combinado com essa nova geração de componentes autoconscientes e auto previsíveis, a análise pode fornecer cronogramas precisos de manutenção preditiva para máquinas, mantendo-as em serviço por mais tempo, reduzindo as ineficiências e custos de manutenção desnecessária. Isso foi acelerado pelo advento da computação em nuvem nos últimos 15 anos, em que provedores de serviços fornecem vastos recursos de computação, rede e armazenamento necessários , 34 para um Big Data eficaz a baixo custo e com base no pagamento por uso. No entanto, algumas empresas avessas ao risco, podem preferir manter uma nuvem privada, seja em seus próprios centros de dados ou em uma nuvem privada. Por que a Internet Industrial só está sendo aplicada agora se as suas tecnologias já existem há algum tempo? É possível que os sistemas industriais tenham se tornado de tal forma complexos que o operador não seja mais capaz de reconhecer e tratar a eficiência produtiva, dificultando então a melhoria dos processos pelos meios tradicionais, resultando em máquinas e equipamentos operando abaixo de suas capacidades, gerando, assim, incentivos operacionais para a aplicação de novas soluções. Ademais, os sistemas de TI agora podem suportar instrumentação, monitoramento e análise generalizados, devido a uma queda nos custos de computação, tamanho de banda, armazenamento e sensores, possibilitando o monitoramento de máquinas industriais em maior escala. A computação em nuvem aborda os problemas com armazenamento remoto de dados. Além disso, os provedores de nuvem estão implantando e disponibilizando ferramentas analíticas que podem processar grandes quantidades de informações, proporcionando o amadurecimento destas tecnologias e sua maior disponibilidade. As tecnologias já existem há algum tempo e foram adotadas pela TI, mas apenas recentemente os líderes industriais testemunharam a estabilidade e a maturidade de soluções, ferramentas e aplicativos nesses setores de TI, atingindo um nível de confiança e diminuindo as preocupações. Da mesma forma, a maturidade e o crescimento subsequente de redes, e a evolução da rede de longa distância sem fio ou rede de banda larga móvel (Wireless Wide Area Network - WWAN) permitiram o monitoramento remoto e o controle de ativos, que anteriormente simplesmente não eram econômicos ou confiáveis o suficiente. Atualmente, essas redes de rádio sem fio atingiram um preço e um nível de maturidade e confiabilidade que permitem o funcionamento em um ambiente industrial. Juntas, essas mudanças estão criando oportunidades quando aplicadas a negócios industriais, máquinas, frotas e redes. , 35 A queda no custo da computação, da rede e do armazenamento é resultado do modelo de computação em nuvem, que permite que empresas coletem e analisem quantidades de dados muito maiores, tornando a Internet Industrial uma alternativa atraente ao paradigma M2M exclusivo. Assistimos à inovação com o desenvolvimento de dispositivos inteligentes, que podem ser novos produtos ou máquinas reformadas e atualizadas. Atualmente, a inovação está voltada para a habilitação de dispositivos inteligentes, ou seja, qualquer coisa que conectamos com a instrumentação, por exemplo, sensores, atuadores, motores, máquinas, componentes, até mesmo o corpo humano, entre uma infinidade de outros itens possíveis. Isso ocorre, porque é fácil e econômico adicionar instrumentação a praticamente qualquer objeto sobre o qual desejamos coletar informações. O objetivo dos dispositivos inteligentes é coletar os dados brutos e, em seguida, gerenciar o fluxo de dados, do dispositivo ao armazenamento de dados, aos sistemas analíticos, aos cientistas de dados, ao processo e, finalmente, de volta ao dispositivo. Este é o ciclo do fluxo de dados, onde os dados fluem de dispositivos inteligentes, através do aparato de coleta e análise, antes de retornar como feedback de controle para o dispositivo. É dentro desse ciclo que os cientistas de dados podem extrair o valor principal das informações. Os líderes industriais, quando questionados sobre quais benefícios desejam obter na adoção da Internet Industrial, listam o aumento dos lucros e dos fluxos de receita, e a redução dos gastos operacionais, nesta ordem. Felizmente, o uso do Big Data para colher os benefícios da análise, de modo a melhorar os processos operacionais, parece ser semelhante a colher os frutos mais fáceis. Normalmente, a maioria das empresas industriais segue direto para a tática da manutenção preditiva, pois essa estratégia produz resultados e retorno sobre o investimento mais rápido. Desta forma, algumas empresas estão aplicando a IIoT para o gerenciamento remoto de ativos e manutenção preditiva, usando uma estratégia de sensores, comunicação remota e análise de Big Data, antecipando assim falhas de equipamentos, de modo a responder mais rapidamente a qualquer situação crítica que possa surgir. No entanto, , 36 outras indústrias têm outras prioridades estratégicas ao implantar a IIoT, como saúde e segurança. Assim, podemos observar alguns projetos inovadores, desde o uso de drones e veículos autônomos para inspecionar linhas de petróleo e gás em áreas inóspitas, até o uso de equipamentos autônomos de mineração. Não é apenas a indústria tradicional que pode se beneficiar da Internet Industrial, a área da saúde é outra área que tem a sua própria perspectiva e objetivos únicos. Na área da saúde, o desejo é melhorar o atendimento ao cliente e o serviço de qualidade. A melhor métrica para uma empresa de assistência médica ser julgada é quanto tempo seus pacientes sobrevivem sob seus cuidados, portanto, esse é o foco deles, melhorar o atendimento ao paciente. Isso é necessário, pois os erros hospitalares ainda são uma das principais causas de morte evitável. Os hospitais podem utilizar sensores miniaturizados para monitorar o nível de glicose de pacientes através de uma pulseira descartável, conectada à nuvem. Eles podem ainda melhorar o atendimento ao paciente por meio de coleta de dados não intrusiva, análise de Big Data e sistemas inteligentes. Fonte: metamorworks via Shutterstock. Figura 3.5 – A IIoT aplicada na área da saúde. As melhorias nos cuidados de saúde vêm não apenas da equipe de atendimento médico, mas também das iniciativas dos fabricantes de equipamentos médicos para miniaturizar e integrar seus equipamentos com o objetivo de obter equipamentos de , 37 monitoramento e análise mais adequados ao corpo humano, confiáveis, integrados e eficazes. Ao tornar um equipamento médico menor, multifuncional e utilizável, a eficiência é alcançada por meio da conexão de dispositivos inteligentes ao plano de tratamento de um paciente, a fim de fornecer medicamentos por meio de sistemas inteligentes de administração destes medicamentos, que são mais precisos e confiáveis. Da mesma forma, a distribuição de dispositivos inteligentes em uma rede permite que as informações sejam compartilhadas entre os dispositivos, permitindo que os dados do sensor do paciente sejam analisados de forma mais inteligente, bem como monitorados e processados mais rapidamente, para que os dispositivos disparem um alarme apenas se houver dados colaborativos de outros sensores de monitoramento que demonstrem que a saúde do paciente está em perigo. 3.3 Internet de Serviços (IoS) Vimos no bloco 1 que as três revoluções industriais precedentes foram resultado da mecanização da produção, da produção em massa e da computação digital, respectivamente, e podemos dizer que a quarta revolução industrial é o resultado da aplicação da Internet das Coisas e da Internet dos Serviços no ambiente fabril. A IoS traz consigo uma certa intangibilidade inerenteaos serviços, ou seja, enquanto a IoT ocupa-se dos objetos tangíveis, como sensores e máquinas, a IoS incorpora um conjunto abstrato de funcionalidades, como o conceito da Arquitetura Orientada aos Serviços (Service-Oriented Architecture – SOA). Tal arquitetura é um modelo lógico que organiza softwares e hardwares em um conjunto de serviços interativos. O conjunto das tecnologias e dos conceitos que organizam a cadeia de valor definem a Indústria 4.0. Dentre as diversas tecnologias aplicadas, a Indústria 4.0 está, majoritariamente, apoiada sobre os Sistemas Ciberfísicos, a Internet das Coisas e a Internet de Serviços. Os CPS são, basicamente, sensores e atuadores responsáveis por monitorar os processos físicos, criando uma cópia digital virtual do mundo físico. Os CPS utilizam a IoT para se comunicar e cooperar entre si e com os usuários em tempo real. Assim, serviços intra- e interorganizacionais são disponibilizados e utilizados pelos , 38 membros da cadeia de valor, através da IoS. Segundo o governo federal alemão, a Indústria 4.0 abrange a integração técnica da IoT e da IoS como habilitadores para a criação de redes que incorporam todo o processo produtivo, convertendo as fábricas em um ambiente inteligente e integrado. A IoS surgiu da união de dois conceitos: a Web 2.0 e a SOA. O conceito da Web 2.0 é caracterizado por quatro aspectos funcionais: interatividade, redes sociais, marcação (tagging) e serviços na rede (Web Services). Já a SOA é uma forma de projetar e construir um conjunto de aplicações de TI onde componentes de aplicação e serviços na rede disponibilizam suas funções em um mesmo canal de acesso para uso mútuo. A SOA, do ponto de vista comercial, representa um conjunto de serviços que melhoram a capacidade da empresa em realizar negócios com clientes e fornecedores. Do ponto de vista tecnológico, é uma filosofia de projeto caracterizada pela modularidade, separação de interesses, reutilização de serviços e composição. A tecnologia de serviços na rede compõe o principal veículo para arquiteturas orientadas a serviços, sendo definido como um sistema de software projetado para oferecer suporte à interação máquina-a-máquina (M2M) interoperável em uma rede. Ela possui uma interface descrita em formato máquina-processo que informa o que o serviço realiza e como chamar as suas funções. Basicamente, as funcionalidades de entrega dos serviços online na rede oferecem interfaces simples de entrada e saída, ocultando sua estrutura interna e sua linguagem de programação que podem ser utilizadas por outro serviço na rede, aplicativo ou máquina, bem como usuários. Através do conceito da SOA, novas aplicações podem ser montadas a partir dos componentes e serviços disponíveis, como blocos de montagem. Na SOA, todas as aplicações de uma organização podem oferecer e utilizar serviços em um canal de comunicação único e integrado, como uma forma simples de facilitar a integração. O paradigma orientado a serviços, segundo a Informática, define os princípios para a concepção de arquiteturas de controle descentralizadas que decompõem os processos computacionais em subprocessos, denominados serviços. O foco da SOA é impulsionar , 39 a criação de blocos funcionais reutilizáveis e interoperáveis, de modo a reduzir a quantidade de programações. Em um sistema de manufatura em nuvem, vários recursos e habilidades da manufatura podem ser detectados de forma inteligente e conectados à internet por meio da SOA. Desta forma, surgem os Sistemas de Manufatura Orientada aos Serviços (Service-Oriented Manufacturing Systems – SOMS), que podem ser desenvolvidos através da integração do Sistema Multiagente (Multi-Agent System – MAS) com a SOA. Os SOMS funcionam como um barramento de serviços na Indústria 4.0, onde diferentes robôs, máquinas, equipamentos e aplicações estão disponíveis para o processo produtivo. Os diferentes serviços podem ser acessados, combinados e integrados por aplicativos de descoberta e composição, criando uma Arquitetura de Manufatura Orientada aos Serviços (Service-Oriented Manufacturing Architecture – SOMA), uma abordagem desenvolvida para um ambiente de manufatura inteligente. Com a SOMA, ao invés de termos um ambiente tradicional orientado para o produto, há uma manufatura orientada para o serviço. Assim, tanto o processo quanto os produtos solicitam os serviços necessários, que são compartilhados através do Barramento de Serviço (Service Bus) seguindo uma cadeia produtiva inteligente flexível e modular. Ao tomar decisões usando seus próprios sensores e atuadores, o próprio produto pode traçar a melhor linha configurável ao longo da produção. Além disso, ao utilizar esta arquitetura, as empresas podem gerar seus próprios serviços de manufatura para participação em uma cadeia de suprimentos externa, além do gerenciamento da cadeia de suprimentos interna, gerando assim a Internet dos Serviços. Conclusão Estudante, a lista de tecnologias estruturantes que compõem a quarta revolução industrial é grande, porém focamos nos pilares tecnológicos aplicados à Indústria 4.0: os Sistemas Ciberfísicos, que monitora os processos físicos para criar uma cópia digital virtual do mundo físico, a Internet Industrial ou Internet das Coisas, que permite a comunicação e a cooperação entre os CPS, e a Internet dos Serviços, que organiza , 40 softwares e hardwares em um conjunto de serviços interativos. A aplicação destas tecnologias permite a integração da cadeia de valor na indústria, dando forma assim à Indústria 4.0 e permitindo um ambiente produtivo e de negócios flexível, customizado, produtivo e eficiente. Bons estudos e até a próxima! REFERÊNCIAS GILCHRIST, A. Industry 4.0: The Industrial Internet of Things. 1. ed. EUA: Apress, 2016. GROOVER, M. P. Automação industrial e sistemas de manufatura. 3. ed. EUA: Editora Pearson, 2010. KIEF, H. B.; ROSCHIWAL, H.; SCHWARZ, K. The CNC Handbook: Digital Manufacturing and Automation from Cnc to Industry 4.0. 1. ed. EUA: Industrial Press, 2021. SACOMANO, J. B. et al. Indústria 4.0: conceitos e fundamentos. 1. ed. Brasil: Editora Blucher, 2018. SCHWAB, K. The Fourth Industrial Revolution. 1. ed. Suíça: World Economic Forum, 2016. , 41 4 INDÚSTRIA 4.0 NA PRODUÇÃO Apresentação O uso da Internet Industrial (IIoT) na produção permite o estabelecimento de uma fábrica inteligente que permite a comunicação entre pessoas, máquinas, componentes e produtos de tal sorte a produzir rigorosamente o necessário. Veremos neste bloco como os produtos podem ser dotados de inteligência, se tornando portadores de informação em rede, permitindo a ampla comunicação do seu estado produtivo, tornando a manufatura mais produtiva e eficiente em tempo real, através da IIoT. Adicionalmente, compreenderemos o Sistema de Execução da Manufatura (MES), além dos benefícios, desafios e riscos da aplicação da Indústria 4.0 na produção. 4.1 Fábricas inteligentes Do ponto de vista conceitual, o coração da Indústria 4.0 é a fábrica inteligente, e o modelo de negócio gira em torno dela. Em teoria, podemos ver que tudo o que orbita em torno da fábrica inteligente está lá para fornecer a ela, desde a cadeia de suprimentos, aos modelos de negócios e processos. Da mesma forma, todas as interfaces externas dos parceiros da cadeia de suprimentos, redes inteligentes e até mídias sociais têm, conceitualmente, a fábrica inteligente no centro: , 42 Fonte: autor, 2023. Figura 4.1 – Fábrica inteligente. Uma fábrica inteligente hospeda processos de fabricação inteligentes, ela é futurística porque pode produzir e entregar produtividade muito além das expectativas. Isso é possível, pois as fábricas inteligentes unificam tecnologias que fornecem os melhores métodos e técnicas de fabricação. Além disso, podemos verificarque as fábricas inteligentes não são apenas máquinas e robôs inteligentes que se comunicam por meio de um software avançado. É verdade que essas máquinas avançaram além do M2M (Machine-to-Machine) e não estão apenas colaborando entre si, mas também se comunicando por meio de software, algoritmos e processos industriais avançados. No entanto, é importante perceber que as fábricas inteligentes, assim como as casas inteligentes, não são uma visão futurista, elas já estão presentes no nosso dia a dia há pelo menos uma década. Portanto, como funciona uma fábrica inteligente? Para efeito de exemplo, vamos analisar uma linha de produção de xampus de modo a verificar os possíveis benefícios e melhorias em eficiência e produtividade que podem ser alcançados. Neste cenário, uma máquina inteligente enche cada frasco com os mesmos ingredientes básicos, porém cada variante da marca pode ter diferentes aditivos de cor ou perfume adicionados para se alinhar com o mercado de produtos pretendido. , 43 Na fabricação tradicional, tal demanda exigiria uma linha de produção para cada produto individual. O processo de produção especificaria que cada frasco fosse enviado por uma linha de produção para uma máquina dispensadora, que encheria o frasco com a mistura necessária de ingredientes conforme especificação. Entretanto, se tivermos muitas variedades da marca de xampu, isso será extremamente ineficiente, pois muitas máquinas estão fazendo o mesmo trabalho ao mesmo tempo. Assim, por que não podemos identificar cada variante do produto que vem ao longo da linha e preenchê-lo conforme necessário? Esse é justamente o fundamento da manufatura inteligente, porque podemos reduzir o desperdício e a ineficiência identificando produtos na linha de produção, determinando sua situação e, além disso, sua história e qual estágio específico da produção eles devem passar. Logo, para pôr a manufatura inteligente em prática, podemos usar etiquetas RFID (Radio-Frequency IDentification, ou Identificação por Rádio Frequência) ou usar NFC (Near-Field Communication, ou Comunicação por Campo de Proximidade – CCP), como nos sistemas de pagamento com cartão. Enquanto o NFC possui uma certa fragilidade, pois requer proximidade com o leitor, o RFID é surpreendentemente capaz. Desta forma, um carro de corrida com uma etiqueta RFID, por exemplo, pode ter as suas voltas contadas de forma confiável, mesmo em altas velocidades. Portanto, as etiquetas RFID são perfeitas para aplicações nas fábricas inteligentes, onde a velocidade do processo de produção não deve ser comprometida. Voltando ao cenário da fábrica de xampus, vamos considerar a produção de diversas variantes de xampu e como podemos desenvolver uma linha de produção capaz de produzir todas estas variantes, mesmo que sejam diferentes em rótulo, cor e perfume. O problema é que o maquinário deve ser capaz de identificar e classificar cada produto que passa pela linha de produção, podendo assim decidir sobre a ação adequada para cada variante. A forma de fazer isso é por meio da identificação individual e do armazenamento dos dados por meio de etiquetas RFID nos próprios produtos. Desta forma, cada produto possui a informação do que é, de quanto tempo tem e qual deve ser a próxima etapa de fabricação. Também pode conter muito mais informações, , 44 como condições de armazenamento de ideias ou métodos de manuseio, o que é vantajoso não apenas para o processo de fabricação, mas para todo o ciclo de vida do produto. Isto posto, vejamos como a manufatura inteligente funciona na prática. Para começar, considere como esses diferentes frascos de xampu teriam sido produzidos em uma linha de produção tradicional da Indústria 3.0. Isso exigiria três recursos, um controlador e um sistema de supervisão. A Figura 4.2 apresenta os três níveis da linha de produção: na camada física mais baixa estão os recursos de produção, acima deles está o MES (Manufacturing Execution System, ou Sistema de Execução de Manufatura) e no nível superior está o sistema ERP (Enterprise Resource Planning, ou Planejamento de Recursos Empresariais). Fonte: autor, 2023. Figura 4.2 – Diagrama da linha de produção Na Figura 4.2, podemos identificar os três recursos de produção necessários para fabricar os xampus. O primeiro recurso R1 produz e armazena os ingredientes básicos, o segundo recurso R2 recebe uma quantidade controlada do líquido base, que é misturado com aditivos de cores específicas, perfume e produtos químicos/nutrientes, e o recurso R3 recebe a mistura de R2 e enche o frasco apropriado. , 45 O sistema ERP controla o nível de produção, monitorando os pedidos de vendas gerados pelos clientes e envia instruções ao MES para fabricar as quantidades adequadas para atender os pedidos. O MES inicia a produção para atender os pedidos e fornece feedback do status da produção para o sistema ERP. A produção funciona dessa maneira em uma fábrica moderna padrão, porém não sem falhas. Assim, devemos considerar alguns pontos fracos. A primeira fraqueza está na linha de produção em série, pois se um recurso falhar, toda a linha de produção falha. Em segundo lugar, qualquer falha no ERP ou MES também bloqueará a produção. A expansão ou reconfiguração da linha de produção é difícil devido às dificuldades de interface entre o MES e os recursos, pois pode haver centenas de opções de interface. Da mesma forma, a interface com o sistema ERP pode ser complexa devido à sua arquitetura monolítica. Em terceiro lugar, embora seja altamente desejável, nem sempre é viável ter o sistema ERP atualizado em tempo real pelo MES sobre o status da produção: por exemplo, o número de frascos produzidos e o número ainda a ser processado para atender a um pedido. A Indústria 4.0 pode mitigar algumas, senão todas essas fraquezas. A maneira como a Indústria 4.0 funciona é que os recursos do exemplo anterior são substituídos por CPS, conforme mostrado na Figura 4.3: Fonte: autor, 2023. Figura 4.3 – Linha de produção revisada com o CPS , 46 Ao substituir os recursos por CPS, a linha serial estrita não é mais fixa, torna-se flexível, pois os CPS são inteligentes e responsivos. Os sistemas ciberfísicos possuem sensores embutidos e podem se comunicar uns com os outros por meio de links de rádio sem fio, o que permite que um CPS assuma as tarefas de um CPS com falha. Essa capacidade do CPS de autodiagnosticar e verificar o status da linha de produção e, em seguida, tomar a ação colaborativa apropriada fornece maior disponibilidade e resiliência. Além disso, como os CPS interagem diretamente entre si, eles não requerem um sistema MES para remover outro ponto potencial de falha. Mais importante ainda, remover o MES reduz os problemas com incompatibilidade de interface e reconfiguração, que era um grande problema com a topologia anterior. Os sistemas ciberfísicos autossuficientes não são as únicas entidades inteligentes na linha de produção, o produto também é inteligente. Por exemplo, os frascos de xampu serão equipados com etiquetas RFID, que identificam qual marca e variante é, e o estado de sua produção, ou seja, seu próprio histórico de produção até o momento, bem como a próxima etapa que deve seguir para completar sua produção. Além disso, a inteligência do produto se estende além da linha de produção, para o depósito e posteriormente para a rede de revendedores, permanecendo ativa mesmo no atendimento ao cliente. Considere um produto muito mais inteligente do que o humilde frasco de xampu, como um motor de trator por exemplo: o motor inteligente poderia, durante sua vida útil produtiva, autodiagnosticar e alertar o cliente ou o departamento de serviço sobre seu status de manutenção e até mesmo prever a falha de um componente. Essa é uma mudança importante de reparo rápido (manutenção corretiva) parareparo antes do intervalo (manutenção preditiva) e pode melhorar muito a disponibilidade do serviço e a redução do tempo de inatividade. Com o MES se tornando redundante para a manufatura inteligente, o sistema ERP agora se torna um ERP inteligente (SERP) e se comunica diretamente com os CPS para controlar a produção de produtos para atender aos pedidos. Por estar conectado diretamente, o sistema SERP agora aprende em tempo real o estado da produção, a integridade do CPS e outros dados do sensor em tempo real. A SERP faz isso usando , 47 bancos de dados na memória para análise da transmissão em tempo real, permitindo que os processos de negócios sejam executados com mais rapidez e melhor. Assim nasceu o conceito de fábrica inteligente, um sistema flexível, ágil e inteligente que vai além dos CPS e das paredes da fábrica, atingindo os produtos e, portanto, toda a cadeia de valor. Com a adoção da Indústria 4.0 ou da Internet Industrial, e a consequente mudança para a manufatura inteligente, as cadeias de suprimentos otimizadas e as fábricas inteligentes, haverá vencedores e perdedores. Normalmente, os países desenvolvidos, como os Estados Unidos da América e os países membros da União Europeia, se beneficiarão mais da manufatura inteligente e das iniciativas de fábricas inteligentes. Isso se dará predominantemente por meio de reduções nos custos operacionais, maior eficiência e maior produtividade. Da mesma forma, as empresas que fazem parte dos ecossistemas inteligentes que cercam esses fabricantes também se beneficiarão como parte de uma relação simbiótica. Além disso, os fabricantes em países de altos salários que por muitos anos acharam rentável terceirizar a fabricação para a China, Índia, Brasil, Rússia ou para países do Leste Europeu agora poderão adotar uma abordagem diferente. A Indústria 4.0 tornará a manufatura nos países desenvolvidos muito mais econômica e atenuará a vantagem dos baixos salários dos concorrentes. Com os salários tendo uma importância relativa reduzida para as despesas operacionais gerais, haverá uma reversão das tendências de terceirização das últimas décadas. Países como os EUA, Reino Unido e França podem começar a reindustrializar e trazer para casa grande parte da manufatura que terceirizam no exterior. Na contramão deste movimento, está justamente a oportunidade dos países em desenvolvimento de investir na Indústria 4.0 e na Internet Industrial para poderem se beneficiar também dos ganhos de produtividade e eficiência em curso nos países mais desenvolvidos. , 48 4.2 Sistema de Execução de Manufatura (MES) O Sistema de Execução de Manufatura (Manufacturing Execution System – MES) atua como a interface da estrutura de TI da empresa, entre o sistema ERP e a manufatura. Assim, o MES combina a integração vertical e horizontal de uma fábrica, que por sua vez é uma pré-condição para a fábrica inteligente. Fonte: autor, 2023. Figura 4.4 – Conexão do sistema ERP à manufatura através do MES No âmbito da integração vertical, o sistema ERP gera uma ordem de produção e a transfere para o MES, que executará e concluirá o pedido na linha produtiva. Ele gera um fluxo de dados abrangente à medida que esse processo se desenrola e reporta ao ERP depois que o trabalho é concluído ou parcialmente concluído. Nesse tipo de rede, o sistema ERP tem acesso a todos os dados de produção e pode alocar pedidos com base em consultas atualizadas, não calculando as capacidades existentes com base em dados planejados que são propensos a erros. O plano horizontal é realizado conectando as máquinas da linha de produção. O MES, como ponto central de comunicação, está conectado a todas as máquinas e equipamentos, e permite sua comunicação em tempo real. A ligação horizontal e vertical completa de todas as máquinas e equipamentos em um processo de fabricação, por meio do MES, permite otimizar a eficiência e a transparência da produção. , 49 Como vimos no item anterior, embora a representação da estrutura de produção como uma pirâmide ainda seja válida, ela será modificada no futuro, pois a Indústria 4.0 está mudando tal estrutura através de unidades extremamente diversas e autônomas. O MES pode gerar valor adicional para os usuários se for capaz de realizar enriquecimento de dados. Esses dados gerarão novos conjuntos de dados relevantes para um fluxo de trabalho eficiente por meio de processamento e vinculação inteligentes. Como uma solução de sistema integrado para tarefas complexas, o MES também permite uma visão geral de toda a linha de produção e seus processos. Além disso, um fluxo de trabalho eletrônico contínuo com controle de produção inviolável é garantido através do monitoramento da eficácia geral do equipamento (Overall Equipment Effectiveness – OEE). A visão geral da linha produtiva garante uma eficiência de produção sustentável porque os tempos sem valor agregado das máquinas são imediatamente detectados e minimizados. Assim, o MES garante a disseminação do conhecimento pertinente entre funcionários e máquinas em qualquer momento e local. Este é um conhecimento que no passado se acumulou de forma não sistemática entre vários indivíduos e bancos de dados. A complexidade da produção aumenta constantemente e o MES moderno, compatível com a Indústria 4.0, oferece ao usuário vários sistemas de assistência e ferramentas de enriquecimento de dados para reduzir tal complexidade. Outras vantagens do MES são evidentes, por exemplo, na programação numérica de máquinas e equipamentos: listas de ferramentas são fornecidas automática e digitalmente, e gráficos de montagem precisos tornam desnecessárias outras consultas. A documentação do comando numérico é padronizada e registrada eletronicamente, tornando supérfluas as cópias impressas. A conhecida pasta de trabalho, com cópias impressas do programa do comando numérico, lista de ferramentas, esboços de fixação e assim por diante, será substituída por uma pasta de trabalho digital e, portanto, sem papel. Além disso, o MES registra a vida de todos os programas de forma digital e contínua. Isso permite o rastreamento definitivo de todas as alterações nos programas e a diferenciação entre as responsabilidades dos funcionários e das máquinas envolvidas. , 50 Graças a esta documentação abrangente sem papel, pode ser alcançado um design eficiente e transparente de todo o processo de produção. Ao distribuir os pedidos entre as máquinas, as decisões podem ser tomadas com base em dados atualizados e fornecidos universalmente. O estabelecimento de padrões adequados de comunicação e interface é mais um passo dado na direção da Indústria 4.0. A troca de informações entre máquinas e fábricas muitas vezes ainda ocorre usando formatos de dados proprietários, podendo resultar em interrupções de transmissão e perda de dados. Este problema é resolvido pelo MES, que regula centralmente a comunicação como um multiinterpretador, realizando enriquecimentos automáticos de dados e tornando compreensíveis os caminhos da informação e as linhas de dados. A escalabilidade do sistema geral pode ser realizada com o uso de padrões abertos baseados em XML na implementação da integração horizontal e vertical. 4.3 Benefícios, desafios e riscos Um dos equívocos comuns em relação à Indústria 4.0 é que ela beneficiará apenas as indústrias manufatureiras, porém isso não é verdade. É claro que o foco está sobre a manufatura, mas o impacto da Indústria 4.0 é mais abrangente do que os limites dela própria. A Indústria 4.0 afeta não apenas os sistemas ciberfísicos locais e os processos industriais locais, mas toda a cadeia de valor, incluindo os trabalhadores. Uma das preocupações iniciais levantadas pelos primeiros usuários da Indústria 4.0 é a falta de trabalhadores qualificados. Logo, o setor educacional deverá intensificar odesenvolvimento de profissionais dotados das habilidades e competências exigidas pela Indústria 4.0. Os desenvolvedores de software e tecnologia, por sua vez, deverão ajustar as suas habilidades para tornarem-se mais conscientes das complexidades dos sistemas de controle industrial. Os governos, por outro lado, também estão fazendo a sua parte, principalmente por serem os principais fomentadores do aumento da produtividade industrial. No entanto, isso custa dinheiro e demanda grandes investimentos, então os governos , 51 terão que ajudar a indústria a financiar as iniciativas da Indústria 4.0 se esperam colher os primeiros benefícios, como o aumento do PIB, por exemplo. Além disso, um grande financiamento pode ser necessário para formar uma infraestrutura capaz de operar sistemas com sucesso e sem problemas, por exemplo, na integração de comunicações e interfaces entre empresas. Contudo, não devemos cair na armadilha de imaginar que a Indústria 4.0 é composta apenas por robôs e CPS, a maioria dos benefícios é obtida a partir de pequenas infraestruturas inteligentes, como as apresentadas anteriormente. Desta forma, podemos elencar os seguintes benefícios esperados com a implementação das tecnologias que compõem a Indústria 4.0: • Aumento da competitividade: tais tecnologias podem fornecer condições equitativas por meio da cooperação e de uma confederação de empresas. Espera-se que a Indústria 4.0 melhore a competitividade global e apresente condições equitativas no que diz respeito aos custos trabalhistas, mas também permite que pequenas e médias empresas trabalhem juntas para desafiar as grandes empresas. Por exemplo, se pudermos reduzir a massa salarial, provavelmente não será mais rentável terceirizar a manufatura e o processamento para mercados estrangeiros. De fato, os especialistas acreditam que em dez anos nossos produtos não serão mais construídos por um trabalhador chinês ou indiano, mas sim por um programador local, americano ou europeu; • Aumento da produtividade: o aumento das eficiências e a redução dos custos operacionais promoverá o aumento dos lucros, impulsionando a produtividade. Isso é particularmente importante para nações desindustrializadas, como o Brasil; • Aumento da receita: o aumento da produtividade e da eficiência irá naturalmente promover o aumento da receita na indústria. Sabemos que a Indústria 4.0 é um dos principais impulsionadores do crescimento dos níveis de receita e do PIB de um país, embora a sua implementação também exija altos , 52 investimentos. No entanto, prevê-se que o retorno sobre o investimento (ROI) seja igualmente alto; • Aumento das oportunidades de trabalho: é esperado o aumento das taxas de emprego ao passo que a demanda por trabalhadores melhor formados aumentar, porém este aumento não deve ser grande, pois os trabalhadores atuais serão treinados novamente ou dispensados, e nem todo trabalhador manual será capaz de se tornar um cientista de dados experimentado da noite para o dia. As perdas de empregos não serão restritas apenas aos trabalhadores manuais, mas a todos os trabalhadores cujo trabalho possa ser tratado com maior eficiência por um serviço de TI, por exemplo, engenheiros de rede e sistemas altamente pagos, provavelmente serão substituídos por sistemas de solução de problemas e manutenção de realidade aumentada. O ponto positivo é que sempre haverá trabalho para analistas de processos industriais e para supervisores gerirem a manufatura; • Otimização de processos: a fusão de sistemas integrados aproveitará ao máximo os recursos disponíveis no processo produtivo. Os gestores da empresa poderão controlar e agilizar os processos, permitindo a colaboração entre produtores, fornecedores e outras partes integrantes da cadeia de valor. Desta forma, o tempo normal de produção diminuirá, tornando o processo mais eficiente, pois as etapas necessárias serão simplificadas, sem comprometer a qualidade do produto, possibilitando a tomada de decisão em tempo real, o que é imperativo na indústria. Cada CPS técnico no contexto de um sistema em vez de uma única máquina, tem seu próprio ponto de vista do processo como um todo, mas pode entender as necessidades de seus clientes ou parceiros com quem colabora; • Desenvolvimento de novas tecnologias: a Indústria 4.0 cria a base para a aplicação de novas tecnologias em desenvolvimento, como vimos com os aplicativos para celulares, onde desenvolvedores estão usando APIs abertas para misturar aplicativos. Está em curso o desenvolvimento de tecnologias para , 53 aprimorar os atuais sensores de GPS, RFID, NFC e até acelerômetros embutidos no smartphone padrão; • Melhor atendimento ao cliente: os mecanismos de monitoramento e feedback em tempo real, aplicados à logística e aos relatórios industriais, são muito importantes. Assim, painéis automatizados com os indicadores-chave do negócio estão disponíveis aos gestores, permitindo uma tomada de decisão inteligente e rápida, atendendo melhor às necessidades do cliente. O caminho para a Indústria 4.0 exige que as empresas façam enormes esforços em pesquisa e desenvolvimento, sendo necessário pesquisar a integração horizontal e vertical dos sistemas de produção. Além disso, uma nova infraestrutura social de trabalho deve ser levada em consideração e as tecnologias CPS devem ser desenvolvidas. Além da pesquisa e desenvolvimento, a política industrial e as decisões industriais da empresa devem ser levadas em consideração para a correta implementação da Indústria 4.0. Desta forma, as seguintes áreas importantes devem ser trabalhadas: • Padronização e software: a aplicação da Indústria 4.0 significa ter uma rede e integração abrangentes em toda a cadeia de valor. Atualmente, essa comunicação entre empresas carece de uma arquitetura de software unificada, portanto, muitas formas de comunicação devem ser personalizadas ou precisam de adaptações caras e programação personalizada. As extensões projetadas para extensões internacionais ou entre empresas são, portanto, bastante restritas; • Domínio da complexidade: produtos e sistemas de produção estão se tornando cada vez mais complexos. Desta forma, modelos de planejamento adequados são a base para dominar a complexidade, mas existem poucas ferramentas para criar tais modelos atualmente; • Infraestrutura de banda larga abrangente: um pré-requisito básico para a Indústria 4.0 são as redes de comunicação nacionais e internacionais altamente , 54 confiáveis e de alta qualidade. A infraestrutura global de internet de banda larga deve ser amplamente expandida, em especial o 5G; • Proteção e segurança operacional: a proteção contra ataques cibernéticos são fatores críticos de sucesso em sistemas de produção inteligentes. Por um lado, as instalações de produção e os produtos não devem prejudicar as pessoas e o meio ambiente, e por outro lado, as instalações e produtos também precisam de proteção contra abusos e acessos não autorizados, principalmente proteção de dados e informações (Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais – LGPD). Para isso, arquiteturas de segurança integradas e provas definitivas de identidade devem ser aplicadas e realizadas; • Educação: as descrições de trabalho e perfis de competência dos trabalhadores mudarão consideravelmente na Indústria 4.0. Atualmente, faltam estratégias de qualificação no âmbito educacional; • Legal: novos processos e redes de produção na Indústria 4.0 devem estar em conformidade com a legislação vigente, e as leis atuais devem ser adequadamente adaptadas. Os desafios incluem proteção de informações corporativas, responsabilidade, manipulação de dados pessoais e restrições comerciais. Os legisladores e líderes empresariais devem tomar medidas como a emissão de diretrizes, modelos de contratos, acordos empresariais e autorregulações,como auditorias e assim por diante; • Recursos: o alto consumo de energia revela-se um fator limitante, pois muitos objetos estão conectados em termos de comunicação, mas precisam operar independentemente do fornecimento de energia. Sensores, atuadores e protocolos de comunicação raramente foram desenvolvidos sob a perspectiva do uso racional de recursos. Conclusão Vimos como os produtos inteligentes transmitem informações pertinentes em rede, desde a manufatura até o descarte do produto pelo consumidor final, tornando a , 55 manufatura mais produtiva e eficiente em tempo real. Além disso, compreendemos como funciona a gestão produtiva de uma fábrica inteligente, com ou sem a aplicação do Sistema de Execução da Manufatura (MES), uma vez que o seu uso depende da estratégia industrial de cada empresa, além dos desenvolvimentos tecnológicos em curso. Finalmente foram apresentados os benefícios, desafios e riscos da aplicação da Indústria 4.0 na produção, tema atualmente em curso em diversas empresas em todo o mundo. REFERÊNCIAS GILCHRIST, A. Industry 4.0: The Industrial Internet of Things. 1. ed. EUA: Apress, 2016. KIEF, H. B.; ROSCHIWAL, H.; SCHWARZ, K. The CNC Handbook: Digital Manufacturing and Automation from Cnc to Industry 4.0. 1. ed. EUA: Industrial Press, 2021. SCHWAB, K. The Fourth Industrial Revolution. 1. ed. Suíça: World Economic Forum, 2016. , 56 5 INDÚSTRIA 4.0 NAS CIDADES Apresentação A revolução tecnológica em curso possui tamanha escala e amplitude, conduzindo mudanças econômicas, sociais e culturais de proporções tão fenomenais que são quase impossíveis de prever. Neste bloco, iremos estudar o impacto potencial da Indústria 4.0 na economia, negócios, sociedade e indivíduos, através da automação e conectividade das casas, dos negócios e, finalmente, das cidades. 5.1 Casas conectadas Aprendemos no bloco anterior como a Indústria 4.0 e as suas tecnologias-chave podem impactar a produção, aumentando a eficiência e a produtividade, e, consequentemente, a receita e o lucro de uma empresa, através da automação e da conectividade de sistemas, máquinas e equipamentos. O mesmo pode ocorrer em uma casa, justamente ao automatizá-la e conectá-la à internet. Podemos então afirmar que o termo casa conectada ou casa inteligente refere-se aos dispositivos de automação residencial com acesso à internet. Entretanto, de uma maneira mais ampla, a automação residencial inclui dispositivos monitorados ou controlados por meio de sinais de rádio sem fio, além daqueles com acesso à internet. Logo, os dispositivos e sistemas de automação residencial conectados à internet passam a fazer parte da Internet das Coisas (IoT). Tradicionalmente, as casas possuem dispositivos e sistemas elétricos, requerendo um manuseio separado e funcionando independentemente um do outro. Normalmente, em nossas casas, não podemos ligar a TV ou mudar a estação de rádio pelos interruptores de parede, porque cada sistema funciona por conta própria e não se comunica com os outros. , 57 Uma casa inteligente é, na verdade, uma habitação onde um sistema de automação residencial organizado conecta todos os dispositivos elétricos para gerenciar iluminação, aquecimento, ar-condicionado, ventilação, sistema de alarme de segurança, sistema de áudio e vídeo, dispositivos de chamada, equipamentos de controle de energia, presença, automatismos (portas, janelas, persianas, portões), alarmes técnicos (por exemplo em caso de incêndio), entre outros. Assim, para montar uma casa inteligente, é necessário conectar partes separadas de instalações domésticas, como iluminação, aquecimento, resfriamento, persianas e sensores, entre outros, em um sistema comum. Esta forma de automatização resulta numa menor necessidade de interação humana e em um aumento do conforto e da segurança, na disponibilização de benefícios adicionais e na melhoria da eficiência energética. Porém, antes de tudo, devemos estar cientes de que nem o sistema elétrico e nem a casa em si são espertos ou inteligentes, pois não se programaram, não aprendem sozinhos com seus erros e não os corrigem. No entanto, o termo casa conectada ou inteligente é amplamente aplicado, sendo reconhecido em diversos lugares do mundo. Em segundo lugar, ao aumentar a eficiência energética, ou seja, ao reduzir o consumo de eletricidade, reduzimos o nosso impacto carbônico, estando em linha com as atuais legislações locais e mundiais. Fonte: aslysun via Shutterstock. Figura 5.1 – Casa inteligente acionada pelo smartphone. , 58 Quando pensamos em automação residencial, pensamos em termostatos inteligentes, iluminação controlada por sensor de movimento e sistemas automatizados de aquecimento e ventilação. Pode ser definido como o uso de um conjunto de dispositivos que controlam funções e recursos domésticos básicos automaticamente e, às vezes, remotamente. Os sistemas de casa inteligente e os sistemas de automação predial são muito parecidos, partilhando as mesmas tecnologias e a mesma aptidão para o controle, com um ponto de vista ligeiramente diferente relativamente às funções implementadas e ao número de dispositivos controlados. Vejamos a seguir os principais sistemas controlados nas casa inteligentes: • Iluminação: esse é o elemento elétrico mais importante e mais utilizado em uma casa. Em alguns cômodos da casa, recomenda-se o uso de iluminação com possibilidade de escurecimento (dimming) ou mesmo alteração da temperatura de iluminação (cor da luz). Esses cômodos não são apenas salas de estar e quartos onde você gostaria de obter diferentes cenas de luz, mas também podem ser um corredor entre o quarto e o banheiro ou o quarto das crianças. Pense em ter que ir ao banheiro à noite, por exemplo: para não se machucar ou quebrar alguma coisa, é uma boa ideia iluminar seu caminho. Porém, para não ser ofuscado por muita luz, é mais agradável se a luz do corredor brilhar com intensidade reduzida à noite, além de não acordar os outros moradores. Por outro lado, muitas crianças acham difícil adormecer no escuro. A luz fraca no quarto dele pode ajudá-lo a colocá-lo para dormir lentamente em intensidades de luz cada vez mais baixas. Casas inteligentes geralmente têm iluminação externa também e, com lâmpadas diferentes, você pode criar diferentes cenas e ambientes na frente de sua casa. Na sua ausência, é aconselhável usar a opção de acendimento remoto dessas lâmpadas, permitindo que você acione as lâmpadas externas com um controle remoto (ou smartphone) no bolso conforme necessário, sem ter que entrar em casa todas as vezes. Com um sistema de casa inteligente pode controlar todo o tipo de lâmpadas, em modo de ligar/desligar ou dimming, escolhendo a melhor interface adequada para si. , 59 Você pode decidir qual lâmpada ou grupo de lâmpadas acender ou apagar, pode definir um determinado horário do dia em que deseja que a lâmpada acenda, pode decidir algumas cenas de luz ou também alguns perfis de iluminação. Você também pode usar outro recurso para a mesma coisa, pois sua rede sem fio doméstica sempre sabe onde você está, porque você sempre tem seu smartphone com você. Dessa forma, a entrada da casa acenderá assim que você chegar perto o suficiente de sua casa, sem precisar ligá-la por telefone. À noite, defina a iluminação externa para desligar automaticamente para que não acenda a noite toda. Ele será ativado novamente se alguém convidado ou não convidado vier visitá-lo. Sua casa inteligente irá informá-lo sobre sua chegada por meio de iluminação externa; • Aquecimento: esse é um dos subsistemas presentes nas habitações localizadas em regiões frias. Alguns usuários podem morar em um prédio e ter aquecimento central com radiadores. Neste caso, eles podem instalar válvulas termostáticas, ligadas ao sistemada casa inteligente, e controlá-las cômodo a cômodo, definindo diferentes temperaturas. Outros talvez morem em uma casa e podem ter um piso com aquecimento, e podem instalar mais válvulas de zona com atuadores conectados ao sistema de casa inteligente. Com esses aparelhos você controla o aquecimento da sua casa até mesmo pelo smartphone. Um valor agregado é que ele ainda pode economizar em sua conta de aquecimento, aquecendo apenas quando e onde você precisar; • Cenários: um “cenário” é utilizado para configurar um grupo de comandos que atuam em seus atuadores com valores diferentes. Exemplos típicos são cenas de iluminação para diferentes ocasiões. Se você tem uma casa de dois ou três andares, a tarefa de fechar ou abrir todas as janelas pode levar um certo tempo, mas se você tiver um sistema de casa inteligente, na porta da frente você pode instalar um interruptor na parede, com o qual você pode desligar todas as luzes do apartamento no momento em que você sair de casa com apenas um toque de um botão. Um cenário não precisa lidar apenas com a iluminação: um cenário de cinema poderia, por exemplo, envolver um , 60 gerenciamento específico de luzes, as persianas da sala todas abaixadas, o projetor de vídeo ligado e a tela automatizada ativada; Fonte: pozitivo via Shutterstock. Figura 5.2 – Cenário de iluminação de uma casa inteligente • Sistema anti-roubo: a maioria dos fabricantes de sistemas domésticos inteligentes vende dispositivos que fornecem funções antifurto, desde o nível mais baixo (apenas sensores de presença e uma sirene) até o mais alto (conexão com a polícia ou com um serviço de segurança no caso de acionamento). Se um ladrão invadir sua casa, o sistema de casa inteligente também pode acionar o piscar rápido de todas as luzes do apartamento para confundir o ladrão o máximo possível. Esperançosamente, um alarme alto e luzes piscando de maneira maluca serão suficientes para fazer o ladrão fugir; • Simulação de presença: mesmo o melhor sistema anti-roubo do mundo não irá distrair um ladrão determinado, mas há algo que o sistema doméstico inteligente pode fazer. Assim como demonstrado no filme Esqueceram de Mim, um sistema doméstico inteligente pode fornecer um recurso de simulação de presença muito mais avançado do que a história do filme mencionada anteriormente. Ele registra seus comandos durante qualquer dia, como quando as luzes individuais da casa eram ligadas e desligadas, subiam e baixavam persianas em cada cômodo, mudavam a luz luminosa nos cômodos, mudavam , 61 a cor das lâmpadas LED RGB etc. Quando você sai de casa por muito tempo, por exemplo, você pode ativar a função de simulação de presença pressionando uma única tecla antes de sair de casa. Este reproduzirá todos os comandos salvos para que, por fora, pareça que você ainda está fisicamente em casa. Dessa forma, você pode gravar o que está acontecendo por um dia, uma semana ou até um mês apenas para tornar a reprodução da gravação o mais real possível. A operação descrita representa uma grande vantagem em termos de segurança em relação aos simples temporizadores que ligam e desligam a iluminação todos os dias à mesma hora. Um ladrão em potencial pode observar sua casa antes do roubo e descobrir que as persianas sobem e descem, as luzes acendem e apagam em horários completamente diferentes durante o dia ou a semana. Isso já pode fazer diferença se ele vai invadir sua casa ou não; • Despertador: se você quer ter a certeza de acordar na hora certa, com certeza usará um despertador. Um sistema de casa inteligente pode lhe possibilitar não só definir mais despertadores, mas também de estar ligado ao quarto das crianças através de um tablet ou smartphone, por exemplo, e de uma só vez acender as luzes da sala e acionar a abertura das persianas. Claro, um adolescente pode se levantar e simplesmente desligar as luzes e abaixar as persianas, mas com o simples apertar de um botão é possível bloquear o funcionamento dos interruptores que acionam as luzes e persianas do quarto da criança, impedindo-o; • Controle do clima: seu sistema doméstico inteligente pode ser equipado com um módulo climático, capaz de medir dados como intensidade da chuva, umidade, velocidade do vento e assim por diante. Caso você não esteja em casa e de repente comece a chover, o sistema pode fechar as janelas, para não molhar o chão, por exemplo. Ou em caso de vento forte, pode levantar o toldo, para não danificá-lo; • Automação: ao chegar em casa, você pode usar o controle remoto ou o smartphone para ativar a abertura da porta antes da entrada da casa e a abertura da porta da garagem. Utilizando motores elétricos, gerenciados por , 62 atuadores inteligentes conectados ao sistema da casa inteligente, é possível automatizar quase tudo: portas, janelas, persianas, portões, biombos, até poltronas e sofá. Da mesma forma, você também pode controlar dispositivos de terceiros, que podem ser integrados no controle do sistema de casa inteligente, como elevadores de escada, equipamentos para deficientes e assim por diante; • Segurança: sem dúvida, a segurança das pessoas próximas é mais importante para todos do que dinheiro e bens materiais. Portanto, proteger a sua casa é absolutamente necessário hoje em dia. No entanto, devemos fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para evitar tais acidentes: vários eventos detectados por sensores na casa inteligente, bem como dados sobre aquecimento, temperatura ambiente, status de iluminação, ventilação e assim por diante, são processados em tempo real. Isso significa que o sistema notificará o usuário sobre o evento assim que ele ocorrer e não mais tarde. Ao mesmo tempo, todos esses eventos podem ser armazenados automaticamente no banco de dados de eventos, para as necessidades de uma possível análise posterior. Ao chegar em casa, você pode assistir a esses eventos ou não, e pode receber as coisas mais importantes em seu smartphone mesmo quando não estiver em casa. O sistema de casa inteligente fornece uma conexão entre várias funções importantes sobre segurança e, com o sistema de alarme, pode ligar a instalação elétrica assim como sensores de movimento, fumaça, derrame de água, janelas e portas abertas, e medições de consumo de energia. Com a ajuda deles, você pode proteger sua casa contra danos e reduzir os efeitos colaterais devido a eventos acidentais; • Eficiência energética: os agregados familiares utilizam a energia para vários fins, como o aquecimento de ambientes e água, arrefecimento de ambientes, cozinha, iluminação, aparelhos elétricos e outras utilizações finais. Na maioria das vezes, o usuário não está ciente do consumo de energia exigido pelo equipamento usado e, neste caso, apenas a oportunidade de monitorá-lo pode reduzir os desperdícios de energia. Um sistema de casa inteligente pode medir , 63 e exibir o consumo de energia de todos os dispositivos conectados ao sistema elétrico, pode definir um limite de energia que não deve ser excedido para evitar o disparo do disjuntor geral, pode ativar um aparelho quando a tarifa de energia é mais conveniente, pode desligar a luz e o aquecimento quando ninguém estiver na sala. Além disso, pode ser interligado com todo tipo de sistema de produção de energia renovável. Os sistemas domésticos inteligentes, com seus termostatos inteligentes, sensores de presença e dispositivos de monitoramento de energia, estão abrindo caminho para um futuro mais sustentável, economizando algum dinheiro ao longo do percurso; • Controle remoto de sua casa: dentro de sua casa, para controlar todos os dispositivos e funções, você pode usar interruptores, botões de pressão, telas sensíveis ao toque e até uma interface de controle de voz, mas se você está realmente com pressa e só se lembra mais tarde que não pressionou o botão “desligartodas as luzes” quando saiu, basta fazer o login no seu sistema doméstico inteligente com o seu smartphone, tablet ou computador e fazê-lo. A maioria dos fabricantes de sistemas de casa inteligente oferecem atualmente a possibilidade de ter uma interface de controle remoto, e na maioria das vezes consiste em uma página da web onde você pode fazer login e verificar o estado de cada equipamento e cada subsistema. Deu para notar a quantidade de funções que podem ser automatizadas e controladas por uma casa inteligente, entretanto, há outras infinitas possibilidades de uso. Esse mesmo sistema permite o controle de um sistema de irrigação, a integração de aparelhos inteligentes, dispositivos de telemedicina e todo tipo de equipamento elétrico que vocês queiram usar. Tal revolução ocorre neste momento e muitas outras aplicações e usos deste sistema podem ainda ser desenvolvidos. , 64 5.2 Negócios conectados Podemos imaginar que os negócios conectados, ou negócios inteligentes, utilizam as mesmas tecnologias apresentadas nas casas inteligentes, porém para os negócios. De fato, isso ocorre, mas não é isso que define um negócio inteligente: eles utilizam esta mesma infraestrutura para ter operações eficientes, mas utilizam as outras tecnologias da Indústria 4.0 para fazer negócios e atender às expectativas dos clientes. Os negócios inteligentes estão fundamentados no uso de tecnologias de machine learning e Big Data, ou seja, na coleta de dados da operação e do comportamento dos clientes consumidores para poder prover atendimento eficaz e personalizado. Tais negócios, são ainda capazes de reconfigurar a cadeia de valor, de modo a diminuir o tempo de atendimento, e alcançar volume e customização a partir da aplicação da inteligência de dados em rede. Os negócios conectados se dão a partir da coordenação em rede de todos os participantes envolvidos no negócio, e por meio do uso do machine learning para aproveitar os dados com eficiência em tempo real. Esse modelo, no qual a maioria das decisões operacionais é feita por inteligência artificial, permite que as empresas se adaptem dinâmica e rapidamente às mudanças nas condições do mercado e nas preferências dos clientes, de modo a obter uma enorme vantagem competitiva sobre os negócios tradicionais. O machine learning é movido por um grande poder computacional e dados digitais, afinal de contas, quanto mais dados e iterações o mecanismo algorítmico tiver, melhor será o seu resultado. Os cientistas de dados criam modelos para previsão probabilística e, na sequência, os algoritmos processam grandes cargas de dados (Big Data) para produzir melhores decisões em tempo real a cada iteração. Tais modelos preditivos se tornam a base para as decisões de negócios. Os cientistas de dados são indispensáveis para identificar e testar quais conjuntos de dados fornecem as informações que eles buscam para, em seguida, criar algoritmos de mineração de dados. Tal atribuição demanda um conhecimento profundo do negócio e experiência em algoritmos de machine learning, pois os algoritmos podem necessitar , 65 de ajustes com o tempo. Desta forma, os cientistas de dados verificam os algoritmos quanto aos parâmetros que devem ser modificados, e quanto ao comportamento dos clientes, que variam rapidamente. Logo, à medida que tais algoritmos são recalibrados, eles produzem prognósticos mais precisos e assertivos, melhorando assim os resultados do negócio. Enfim, para transformar um negócio tradicional em inteligente, a empresa deverá permitir que a maior quantidade possível de decisões operacionais seja feita pela inteligência artificial alimentada por dados em tempo real, em vez de humanos apoiados pela sua própria análise de dados. Para tal transformação, listamos 4 etapas: 1) Gerar dados em cada iteração com o cliente: quanto maior for a iteração entre uma empresa e seus clientes, maior será a possibilidade dela aquisitar dados em tempo real, que são fundamentais para o processo de controle e feedback, base para o machine learning, de modo a melhorar a experiência do cliente. Portanto, o objetivo é de aquisitar todas as informações geradas durante as iterações com os clientes para que os algoritmos determinem quais dados são relevantes para o negócio; 2) Digitalizar as atividades: todas as atividades de um negócio inteligente devem ser configuradas para que as decisões que afetam o negócio possam ser automatizadas. No entanto, isso só é possível caso haja reatividade em tempo real. Assim, é necessário criar um modelo de como os clientes tomam decisões visando incorporá-lo ao algoritmo do software. Atualmente, a maioria dos softwares é executada como um serviço online, sendo que os dados ativos são coletados espontaneamente durante o processo do negócio, permitindo a aplicação do machine learning; 3) Fomentar o fluxo de dados: em sistemas com muitos participantes conectados, as decisões de negócio demandam uma coordenação complexa. Os padrões de comunicação e as interfaces de programação de aplicativos são fundamentais para garantir o fluxo de dados entre os vários participantes, além de garantir o controle estrito de acesso e edição dos dados. As interfaces de programação de , 66 aplicativos (Application Programming Interface – APIs) permitem que diferentes softwares online se comuniquem e se coordenem entre si. Logo, a definição da infraestrutura técnica é crucial para o desenvolvimento do negócio, uma vez que, quanto maior for o fluxo de dados pela rede, mais inteligente será negócio, criando maior valor à cadeia; 4) Introduzir os algoritmos: empresas que conduzem negócios online vivenciam um enorme fluxo de dados. Desta forma, elas devem criar modelos e algoritmos para apreender, interpretar e utilizar os dados a seu favor, de modo que eles tornem explícita a lógica implícita do produto ou do mercado a ser otimizado. Tal desenvolvimento demanda uma grande quantidade de cientistas de dados e economistas, cujo desafio é especificar o trabalho a ser efetuado pela inteligência artificial, determinando claramente o que constitui um trabalho bem-feito naquele ambiente de negócio. Assim surgiram os chatbots, robôs baseados em inteligência artificial para responder às perguntas online dos clientes. Os chatbots podem ser “treinados” por funcionários experientes de atendimento ao cliente. Logo, ao aplicar as tecnologias de machine learning, os chatbots aperfeiçoam rapidamente a sua capacidade de diagnóstico e correção de problemas automaticamente, podendo confirmar com o cliente se a solução aplicada é aceitável para então executá-la, sem qualquer intervenção humana. , 67 Fonte: TippaPatt via Shutterstock. Figura 5.3 – Chatbot: robô de atendimento ao cliente baseado em inteligência artificial. Estas quatro etapas são fundamentais para transformar um negócio tradicional em um negócio inteligente. Tais etapas demandam a aplicação de novas tecnologias e softwares, comunicação em rede, inteligência artificial, Big Data, cientistas de dados, economistas, programadores e uma nova estrutura gerencial para liderar a transformação digital da empresa. 5.3 Cidades conectadas As cidades conectadas, ou cidades inteligentes, se aproveitam das tecnologias aportadas pela quarta revolução industrial e aplicadas às casas e aos negócios inteligentes. As cidades inteligentes vêm para tratar os problemas atuais dos grandes centros urbanos como a poluição ambiental e o seu crescimento excessivo: segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), 70% da população mundial habitará nos grandes centros urbanos até 2050. Para isso, elas se apoiam em diversos pilares, como a qualidade de vida dos seus cidadãos, eficiência energética, sustentabilidade ambiental, econômica e social. , 68 As cidades inteligentes são eficientes, conectadase sustentáveis, proporcionando o desenvolvimento urbano, o fomento da economia local e o uso dos recursos naturais de maneira sustentável, através de inovações tecnológicas. A IESE Business School da Universidade de Navarra, Espanha, publicou o relatório Cities in Motion Index 2020, que lista 9 indicadores que determinam a inteligência de uma cidade, como segue: • Capital humano: atua sobre o aperfeiçoamento pessoal e profissional dos habitantes, focando na educação de qualidade e no crescimento científico e cultural; • Coesão social: trata o desenvolvimento da comunidade, a diversidade, a acessibilidade e os direitos humanos; • Economia: incentiva a economia local, a criação de novos empregos e fontes de renda, desenvolve planos industriais estratégicos e estimula o empreendedorismo; • Governança: verifica a eficácia da intervenção municipal na cidade, a gestão dos recursos, a ética e a transparência; • Meio ambiente: trata a responsabilidade ambiental e a garantia da sustentabilidade no uso dos recursos; • Mobilidade urbana: incentiva o planejamento e a eficiência de modo a melhorar a qualidade de vida dos habitantes e os impactos ao meio ambiente; • Planejamento urbano: atua sobre a conectividade urbana e autossuficiência dos bairros, o desenvolvimento da infraestrutura, a gestão de resíduos, a distribuição de energia etc.; • Reconhecimento internacional: mede a infraestrutura e o plano estratégico de desenvolvimento do turismo de modo a promover o reconhecimento internacional; , 69 • Tecnologia: atua sobre os desenvolvimentos tecnológicos que geram soluções para o desenvolvimento humano, a sustentabilidade, a gestão e a segurança pública etc. As cidades inteligentes promovem uma revolução ao uso e à ocupação do espaço urbano, permitindo o planejamento deste espaço de modo a beneficiar a sociedade nos diversos níveis. As tecnologias e inovações da Indústria 4.0 aplicadas ao planejamento urbano promovem maior desenvolvimento humano e qualidade de vida para as pessoas, potencializando o bem-estar, a segurança, a educação, a oferta de serviços, entre outros. Fonte: BezierMagic via Shutterstock. Figura 5.4 – Cidade inteligente. , 70 A IoT permite, por exemplo, a conexão de pessoas e negócios entre si, possibilitando o acesso a diferentes sistemas, produtos, prestadores de serviços e profissionais liberais, trabalhando local- ou remotamente, de maneira fácil, sem complicações e em tempo real, permitindo maior produtividade e, consequentemente, eficiência. Em suma, tais tecnologias e inovações dão suporte ao desenvolvimento sustentável, seja ele ambiental, econômico ou social. As tecnologias inteligentes conectadas em rede facilitam o dia a dia das pessoas em uma cidade inteligente, permitindo a economia de tempo com o uso de novos meios de mobilidade urbana, por exemplo, reduzindo assim os engarrafamentos e a poluição atmosférica. Casas e edifícios inteligentes, com uso eficiente de energia, trazem benefícios adicionais às pessoas, promovendo mais qualidade de vida aos seus habitantes e menor consumo de recursos. Tais tecnologias possuem ampla aplicação em nossas cidades, possibilitando vários benefícios tangíveis, como seguem: • Eficiência energética: esse é um dos principais focos da Indústria 4.0. A geração, o controle e a distribuição de energia a partir de fontes regenerativas é um dos pilares da eficiência energéticas nas cidades inteligentes, permitindo assim a redução da emissão dos gases de efeito estufa próximo aos grandes centros urbanos; • Mobilidade urbana: as cidades atualmente já estão cheias de pessoas e essa situação irá se agravar cada vez mais. Assim, a mobilidade urbana também passa a ser inteligente, com estacionamentos conectados, aluguel dos mais variados meios de transporte por tempo de utilização, carros autônomos, carros elétricos e transporte multimodal; • Qualidade do ar: sabemos que a poluição atmosférica é um sério problema nas cidades. Portanto, sistemas inteligentes de monitoramento do clima ajudam a combater a poluição do ar através da coleta e análise de dados em tempo real, permitindo ações de redução das emissões, como a alteração do fluxo de veículos pela cidade, por exemplo; , 71 • Segurança e proteção: câmeras de vigilância inteligentes, conectadas à rede, ajudam a mitigar os crimes, além de informar onde a ajuda é necessária. Tais câmeras, assim como sensores inteligentes, como os de movimento e de presença, combinam inteligência artificial com a IoT, permitindo o cruzamento de informações e o fluxo de dados em tempo real, de tal sorte que as autoridades possam receber informações completas e valiosas para o combate ao crime, através do reconhecimento de comportamentos suspeitos ou da posse de armas. Assim, as autoridades podem rastrear tais pessoas em alta resolução, com o reconhecimento facial ou com leitores biométricos e conexão ao banco de dados de diversas instituições de combate ao crime locais e internacionais, sem falar, é claro, na proteção contra ataques cibernéticos, cada vez mais comuns no mundo conectado. Já existem diversas cidades inteligentes no mundo e elas estão cada vez mais inteligentes, conforme novas tecnologias estão sendo desenvolvidas e barateadas com a sua popularização. A maioria das cidades vêm sendo modernizadas e revitalizadas, mas existem casos de cidades inteligentes planejadas a partir do zero, como é o caso da cidade Songdo, localizada na Coreia do Sul: ela foi completamente planejada para ser sustentável e tecnológica, contando, por exemplo, com estações de recarga para veículos elétricos, além de um moderno sistema de gestão de resíduos. Infelizmente, no Brasil, nossas cidades são ainda pouco inteligentes em relação às outras do mundo. A nossa cidade inteligente mais bem posicionada no relatório Cities in Motion de 2020 foi São Paulo, na 123ª posição de 174 cidades avaliadas. Entretanto, existe no Brasil um projeto para criar a primeira “cidade inteligente inclusiva do mundo”, a cidade de Laguna, no Ceará. Fazem parte do projeto um sistema evoluído de reutilização de águas pluviais, ampla rede de ciclovias, rede inteligente de energia, entre outras soluções. É evidente que as cidades inteligentes, compostas por negócios e casas igualmente inteligentes, são o futuro da nossa sociedade, e as tecnologias apresentadas até aqui serão fundamentais para dar corpo a esta revolução em curso. , 72 Conclusão É fácil notar quão extensos são os impactos das tecnologias ligadas à Indústria 4.0 na nossa sociedade atualmente. Com elas, podemos criar casas, negócios e, finalmente, cidades inteligentes. Tecnologias como a IoT e a IIoT, CPS, conexões a redes de alta velocidade, disponíveis em todos os lugares, grande fluxo de dados e a inteligência artificial, entre várias outras tecnologias, estão permitindo uma evolução sem precedentes a cada dia, e essa evolução é exponencial: estamos vivendo esta revolução hoje. REFERÊNCIAS BERRONE, P.; RICART, J. E. IESE Cities in Motion Index 2020. 1. ed. Espanha: IESE Business School, 2020. COHEN, B. The 3 Generations Of Smart Cities: inside the development of the technology driven city. Fast Company, 2015. Disponível em: https://www.fastcompany.com/3047795/the-3-generations-of-smart-cities. Acesso em: 12 jul. 2023. DVORŠAK, B. et al. Smart Home Systems. Eslovênia: Comissão Européia, SHVET project, 2020. ELSENPETER, R. C.; VELT, T. J. Build Your Own Smart Home. 1. ed. EUA: McGraw-Hill, 2003. LEMOS, A. Cidades inteligentes. GV Executivo, 2013. Disponível em: https://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/gvexecutivo/article/view/20720. Acesso em: 12 jul. 2023. MUSA, S. Smart Cities - A Roadmap for Development. Academia, 2016. Disponível em: https://www.academia.edu/73030973/Smart_Cities_A_Roadmap_for_Development. Acessoem: 12 jul. 2023. , 73 PERIS-ORTIZ, M.; BENNETT, D. R.; YÁBAR, D. P. Sustainable Smart Cities: Creating Spaces for Technological, Social and Business Development. 1. ed. Suíça: Springer, 2017. SCHWAB, K. The Fourth Industrial Revolution. 1. ed. Suíça: World Economic Forum, 2016. VELIVELA, G. et al. Smart Homes: Steps, Components, Utilities and Challenges. ResearchGate, 2018. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/325117496_Smart_Homes_Steps_Compon ents_Utilities_and_Challenges. Acesso em: 12 jul. 2023. ZENG, M. Alibaba and the Future of Business: lessons from China’s innovative digital giant. Harvard Business Review, 2018. Disponível em: https://hbr.org/2018/09/alibaba-and-the-future-of-business. Acesso em: 12 jul. 2023. , 74 6 EFEITOS E TENDÊNCIAS Apresentação Chegamos ao final do curso e vimos quão revolucionária é a Indústria 4.0, uma revolução em curso ainda nos dias de hoje. Esse fato, naturalmente, nos impõe uma série de incertezas quanto à evolução das tecnologias aportadas, o desuso de algumas tecnologias por conta do desenvolvimento de novas tecnologias que podemos não imaginar neste momento. Ainda assim, podemos já verificar os efeitos apresentados pelas tecnologias em curso e podemos, em um exercício de futurologia, imaginar quais serão as tendências para o futuro próximo, extrapolando um pouco do que aprendemos e vimos até agora. 6.1 Efeitos na economia A quarta revolução industrial está gerando um enorme impacto à economia global e, por ser tão ampla e plurifacetada, fica difícil separar os impactos de um efeito particular do outro. Todas as grandes variáveis macroeconômicas estão sendo afetadas, como a inflação, investimento, PIB, emprego, consumo, comércio e assim por diante. O crescimento econômico promovido pela Indústria 4.0 é uma questão que divide os economistas. De um lado, os tecno-pessimistas argumentam que as principais contribuições desta revolução já foram feitas e que seu impacto na produtividade está se esgotando. Do outro lado, os tecno-otimistas afirmam que a tecnologia e a inovação aportados por ela estão em um ponto de inflexão e logo promoverão um aumento na produtividade e eficiência, gerando maior crescimento econômico. De fato, ambos os lados possuem argumentos importantes que devem ser levados em consideração. A tecnologia pode apresentar um impacto deflacionário e, como efeito, o capital pode ser favorecido ante ao trabalho, achatando os salários e, portanto, o consumo. Entretanto, esta revolução permite um consumo maior por um preço menor, tornando o consumo mais sustentável e, portanto, responsável. , 75 No entanto, temos que contextualizar os impactos potenciais da Indústria 4.0 no crescimento em relação às tendências econômicas recentes e outros fatores que podem impactar o crescimento. Antes da crise econômica e financeira desencadeada pela bolha imobiliária nos EUA em 2008, o crescimento da economia global girava em torno de 5% ao ano e, com essa taxa de crescimento, o PIB global dobraria a cada 15 anos, tirando bilhões de pessoas da pobreza. Contudo, após tal crise, a economia global permaneceu estagnada a uma taxa de crescimento em torno de 3% ao ano. Alguns economistas passaram a considerar a possibilidade de uma “estagnação secular”, explicada por uma situação persistente de escassez de demanda que não pode ser superada mesmo com taxas de juros próximas de zero. Entretanto, se isso for verdade, o crescimento do PIB global pode cair ainda mais, em torno de 2% ao ano, fazendo com que o PIB global dobre a cada 36 anos. Existem muitas explicações para o crescimento global mais lento atualmente, porém iremos focar em dois parâmetros particularmente entrelaçados com o progresso tecnológico, o envelhecimento e a produtividade. 6.1.1 Envelhecimento da população global A população mundial está prevista para crescer dos atuais 8 bilhões para 8,5 bilhões em 2030 e mais de 9,5 bilhões em 2050, proporcionando o aumento na demanda agregada. Sabemos que o envelhecimento afeta principalmente os países ricos ocidentais, porém as taxas de natalidade estão caindo abaixo dos níveis de reposição em todo o mundo. O envelhecimento representa um desafio à economia porque, a menos que a idade de aposentadoria seja drasticamente aumentada para que os mais velhos possam continuar a contribuir à força de trabalho, a população em idade ativa cai ao passo que a porcentagem de idosos dependentes aumenta. Logo, à medida que a população envelhece, as compras de itens caros, como imóveis, carros e eletrodomésticos, consequentemente diminuem. , 76 É claro que esses hábitos e padrões podem mudar à medida que os países envelhecidos se adaptam, mas a tendência é que um mundo envelhecido cresça mais lentamente, a menos que a revolução tecnológica desencadeie um grande crescimento de produtividade, permitindo um trabalho mais inteligente e não mais difícil. A Indústria 4.0 nos dá a capacidade de viver vidas mais longas, saudáveis e ativas. Estima-se que mais de um quarto das crianças nascidas atualmente em economias desenvolvidas vivam, pelo menos, até os 100 anos, obrigando os países a repensarem questões como a população em idade ativa, aposentadoria e planejamento de vida. A dificuldade demonstrada por muitos países que tentam discutir tais questões é mais um sinal de como não estamos preparados para reconhecer de forma adequada e proativa as mudanças em curso. 6.1.2 Produtividade global Nas últimas duas décadas, a produtividade global evoluiu lentamente apesar do crescimento exponencial da tecnologia e dos investimentos em inovação. Tal paradoxo da produtividade, ou seja, a percepção de fracasso da inovação tecnológica em resultar em uma maior produtividade, é um dos grandes enigmas econômicos atualmente. A produtividade é o parâmetro mais importante para o crescimento de longo prazo e para a elevação dos padrões de vida, logo, sua ausência, se mantida durante esta revolução industrial, significará um menor crescimento e elevação dos padrões de vida. Entretanto, como podemos conciliar os dados que indicam a queda da produtividade com as expectativas de maior produtividade associadas ao progresso exponencial da tecnologia e da inovação? Um ponto a verificar é o desafio em medir entradas e saídas e, portanto, discernir a produtividade. Bens e serviços inovadores, desenvolvidos a partir da Indústria 4.0, apresentam funcionalidade e qualidade significativamente superiores, porém são entregues em mercados diferentes daqueles que tradicionalmente medimos. Vários bens e serviços novos não são rivais aos atuais, possuem custo marginal zero e/ou aproveitam mercados altamente competitivos por meio de plataformas digitais, , 77 resultando em preços mais baixos. Nessas condições, as estatísticas tradicionais tendem a falhar ao capturar aumentos reais de valor, pois o excedente consumidor ainda não está refletido nas vendas totais ou nos lucros mais altos. Existem muitos serviços cuja utilização tende a aumentar a eficiência e, consequentemente, a produtividade, como o aumento da eficiência ao chamar um táxi através de um aplicativo. No entanto, por serem fundamentalmente gratuitos, eles fornecem um valor imensurável, criando uma discrepância entre o valor entregue por um determinado serviço e o crescimento medido pelas estatísticas oficiais. Este fato sugere que estamos realmente produzindo e consumindo com maior eficiência do que apontam os nossos indicadores econômicos. Outro ponto a verificar é que, embora os ganhos de produtividade da terceira revolução industrial possam estar diminuindo, o mundo ainda não experimentou o acréscimo de produtividade proporcionada pelas novas tecnologias desenvolvidas a partir da quarta revolução industrial. Possivelmente estamos apenascomeçando a sentir o impacto positivo que tal revolução pode ter, por três principais motivos. Primeiro, a Indústria 4.0 oferece a oportunidade de integrar as necessidades não atendidas de dois bilhões de pessoas, criando demandas adicionais para produtos e serviços disponíveis ao capacitar e conectar pessoas em todo o mundo. Em segundo lugar, a Indústria 4.0 melhorará a nossa capacidade de lidar com fatores externos negativos e, neste processo, irá estimular o crescimento econômico potencial. Um fator externo negativo, por exemplo, são as emissões de carbono. Os investimentos em sustentabilidade só eram atraentes, até recentemente, quando fortemente subsidiados pelos governos. Atualmente, as rápidas evoluções tecnológicas em energia renovável, eficiência energética e armazenamento de energia, além de tornar os investimentos nesses campos cada vez mais rentáveis, fomentando o crescimento do PIB, também contribuem para abrandar as mudanças climáticas, um dos principais desafios globais. Por fim, empresas, governos e líderes da sociedade civil estão trabalhando para transformar suas organizações ou países de modo a botar em prática as eficiências que , 78 os recursos digitais proporcionam, o que demandará estruturas organizacionais e econômicas completamente novas para abranger todo o valor da quarta revolução industrial. Parece evidente que as regras de competitividade da economia ligadas à Indústria 4.0 são diferentes das revoluções industriais anteriores, portanto, tanto empresas quanto países, para se manterem competitivos, devem estender a fronteira da inovação, focando em estratégias para ofertar, de maneiras cada vez mais inovadoras, produtos e serviços, sendo assim mais efetivas do que as simples estratégias de redução de custos. Assim, é natural que empresas já estabelecidas estejam sob grande pressão de outras empresas e indústrias mais disruptivas e inovadoras, assim como ocorre com países que não são capazes de reconhecer a necessidade em focar no estabelecimento de um ecossistema de inovação para poderem crescer e se desenvolver. Em síntese, os atuais livros de economia deverão ser reescritos devido à combinação de fatores estruturais, como o alto endividamento e o envelhecimento das sociedades, e sistêmicos, como a implantação de plataformas e economias sob demanda, os custos marginais decrescentes cada vez mais relevantes, entre outros. A Indústria 4.0 pode aumentar o crescimento econômico além de aliviar alguns dos grandes desafios enfrentados globalmente. Entretanto, teremos que identificar e gerenciar os possíveis impactos negativos que podem surgir, em especial a desigualdade social, a manutenção do emprego e os mercados de trabalho. 6.2 Efeitos no mercado de trabalho Vimos no item anterior o potencial impacto positivo da Indústria 4.0 no crescimento econômico, mas devemos também notar o possível impacto negativo no mercado de trabalho, ao menos no curto prazo. O receio sobre o emprego relacionado ao desenvolvimento de novas tecnologias é antigo, documentado a partir da Grande Depressão de 1929. Na época, em 1931, o economista John Maynard Keynes alertou sobre os riscos de novas tecnologias reduzirem a demanda por mão-de-obra mais rapidamente do que o tempo necessário para adequar a mão-de-obra existente à , 79 novas atividades. No entanto, o tempo provou que tal temor estava equivocado, mas e se agora fosse verdade? A quarta revolução industrial claramente produz maior agitação do que as revoluções anteriores, pois a velocidade dos acontecimentos está mais rápida do que nunca, a amplitude e a profundidade das mudanças são elevadas, com mudanças radicais ocorrendo simultaneamente, além da completa transformação de diversos sistemas. De fato, novas tecnologias mudarão radicalmente a natureza do trabalho em todas as áreas, porém até que ponto a automação de sistemas substituirá o trabalho, e quanto tempo isso vai levar? Logo, para entender as questões levantadas, devemos entender os efeitos concorrentes exercidos pela tecnologia sobre o emprego: a disrupção e a automação, alimentadas pelas novas tecnologias, podem levar alguns trabalhadores ao desemprego ou a se realocarem em novas atividades; a perda de postos de trabalhos gerados pelas novas tecnologias é acompanhado por um aumento de demanda por bens e serviços, levando à criação de novos empregos, negócios e indústrias. Nós, os seres humanos, somos altamente adaptáveis e engenhosos, porém, agora, estamos correndo contra o tempo, pois esta revolução possui uma rapidez jamais vista anteriormente. Assim, quanto ao impacto das novas tecnologias no mercado de trabalho, podemos separar os estudiosos em dois campos: os que acreditam em um final feliz, no qual os trabalhadores deslocados encontrarão novas ocupações graças às novas tecnologias, desencadeando uma nova era de prosperidade; e os que acreditam em uma catástrofe social e política progressiva, criando um desemprego em larga escala. A história já mostrou que, provavelmente, o resultado estará em algum lugar no meio, mas o que devemos fazer para possibilitar resultados mais positivos de modo a ajudar os trabalhadores que estão presos na transição? Na história humana, a inovação tecnológica sempre destruiu alguns empregos que, por sua vez, foram substituídos por novos em atividades diferentes, possivelmente, em outros lugares. A agricultura em várias partes do mundo, por exemplo, chegou a representar, no início do século 19, algo em torno de 90% da força de trabalho, mas , 80 hoje representa menos de 10%. Essa redução ocorreu tranquilamente com o passar das décadas, sem perturbar o mercado de trabalho e sem gerar grande desemprego. Os tecno-otimistas argumentam que, se extrapolarmos as experiências do passado, não deveríamos ver diferenças no mercado de trabalho atualmente, mesmo reconhecendo que a tecnologia é muitas vezes disruptiva. Entretanto, eles afirmam que a tecnologia sempre melhora a produtividade, promovendo o aumento da riqueza, levando a uma maior demanda por bens e serviços e, finalmente, a novos empregos para satisfazê-la. Conceitualmente, eles afirmam que as necessidades e aspirações humanas são infinitas, assim como o processo para supri-las, e que sempre haverá trabalho suficiente para todos, salvo em casos de recessão, que podem ocorrer ocasionalmente. Podemos já notar os primeiros sinais de uma onda de inovação substitutiva do trabalho em várias áreas, setores e categorias de trabalho, que poderá se estender pelas próximas décadas. 6.2.1 Substituição da mão-de-obra Muitas ocupações profissionais já foram automatizadas anteriormente, em especial aquelas que envolvem trabalho manual, assim como muitas outras ainda serão, uma vez que o poder computacional continua a crescer exponencialmente. Logo, talvez mais cedo do que o esperado, outras ocupações poderão ser parcial ou totalmente automatizadas, como o trabalho de médicos, jornalistas, advogados, contadores, analistas financeiros, entre outros. Entretanto, aparentemente, menos empregos vêm sendo criados em novas indústrias pela quarta revolução industrial do que nas revoluções anteriores. De acordo com um recente censo econômico realizado nos EUA, as tecnologias disruptivas e as inovações em informação têm o efeito de aumentar a produtividade que, por sua vez, acabam por substituir os trabalhadores existentes ao invés de criar produtos que demandem de mais mão-de-obra para produzi-los. , 81 Uma recente pesquisa da Oxford Martin School do Reino Unido quantificou o desemprego potencial devido ao efeito da inovação tecnológica, ao classificar 702 profissões de acordo com a probabilidade de serem automatizadas, desde as menos suscetíveis até as mais suscetíveis ao risco. Ela concluiu que algo em torno de 45% dos empregos nos EUA estariam em risco nas próximas duasdécadas, devido a uma perda de empregos mais rápida do que as modificações no mercado de trabalho ocorridas nas revoluções anteriores. Adicionalmente, existe uma tendência de maior polarização no mercado de trabalho, onde empregos cognitivos e criativos de alta renda, e empregos manuais de baixa renda crescerão, ao passo que os empregos rotineiros e repetitivos de renda média diminuirão. Vale notar que tal substituição de mão-de-obra não se restringe apenas às crescentes capacidades dos algoritmos, das automações e dos robôs, mas também ao fato das empresas estarem trabalhando arduamente nos últimos anos para definir melhor e simplificar os trabalhos, de modo a permitir a terceirização de tarefas, também conhecidas como “trabalho digital”, onde se pode contratar profissionais em qualquer lugar do mundo para executarem trabalhos de maneira remota. Logo, trabalhos mais bem definidos e simplificados proporcionam um monitoramento mais aprimorado e a aquisição de dados de alta qualidade, permitindo que algoritmos mais capazes possam substituir os humanos. Devemos evitar os pensamentos polarizados acerca da automação e da substituição da mão-de-obra, ou do impacto da tecnologia sobre o emprego e o futuro do trabalho. É evidente que a quarta revolução industrial aportará um grande impacto aos mercados de trabalho no mundo todo, porém isso não quer dizer estamos defronte a um dilema “homem versus máquina”. A combinação de tecnologias digitais, biológicas e físicas que atualmente impulsionam as mudanças permitirá o aprimoramento do trabalho humano e da cognição, criando assim a necessidade por uma melhor formação da força de trabalho para trabalhar ao lado de máquinas cada vez mais capazes, inteligentes e conectadas. , 82 6.2.2 Impacto nas habilidades pessoais Já é de se esperar que, no futuro, os trabalhos que exijam habilidades sociais, criativas e, em particular, a tomada de decisões e o desenvolvimento de ideias, apresentarão menor risco de substituição em relação à automação. Contudo, isso pode não durar: a escrita, por exemplo, uma das profissões mais criativas, pode ser facilmente substituída por sofisticados algoritmos capazes de criar narrativas de acordo com o estilo escolhido e o público de interesse, como já podemos comprovar com o ChatGPT e outros similares. Em pouco tempo, é possível que boa parte das notícias sejam geradas por um algoritmo e, a maioria delas, sem qualquer intervenção humana. O ambiente de trabalho está em rápida evolução e a capacidade de antecipar necessidades e tendências futuras de emprego, levando em consideração os conhecimentos e as habilidades necessárias para adaptação, está se tornando crítica. Essas tendências tendem a variar de acordo com o setor da economia e a localização geográfica, sendo importante compreender os resultados específicos promovidos pela quarta revolução industrial. Em recente pesquisa com diretores de recursos humanos de grandes empresas de diversos setores e economias, foi avaliado o impacto nos empregos e nas habilidades (soft skills) até o ano 2020. Os entrevistados disseram que a solução de problemas complexos, habilidades sociais e de sistemas são mais procuradas pelas empresas do que as habilidades físicas ou de conteúdo. Segundo o relatório desta pesquisa, estamos em um período crítico de transição, pois a perspectiva de emprego é estável, mas existe uma grande rotatividade de empregos e de habilidades em diversas indústrias e ocupações. Embora seja esperado que o nível salarial e o equilíbrio entre a vida profissional e a pessoal possam melhorar para a maioria dos empregos, a segurança empregatícia pode piorar em boa parte dos setores pesquisados. Outro ponto interessante é que homens e mulheres serão afetados diferentemente, podendo aumentar a atual desigualdade de gênero. No futuro próximo, novos cargos e profissões surgirão, promovidos não somente pela quarta revolução industrial, mas por fatores não tecnológicos, como mudanças , 83 geopolíticas, pressões demográficas e novas tendências sociais e culturais. O talento é, atualmente, mais importante do que o capital, sendo um fator crítico para a produção e, a escassez de uma mão-de-obra qualificada pode ser um fator que impossibilite a inovação, a competitividade e o crescimento, mesmo que haja capital plenamente disponível para investimento. Infelizmente, esse fato pode gerar uma maior segregação do mercado de trabalho, separado em segmentos de baixa qualificação e remuneração, e alta qualificação e remuneração, podendo ocorrer um completo esvaziamento da base da pirâmide de competências profissionais, promovendo o aumento da desigualdade e das tensões sociais. Uma mão-de-obra qualificada depende de uma educação avançada e/ou especializada, além de um conjunto de capacidades e habilidades definidas por uma profissão ou especialização. As crescentes mudanças tecnológicas promovidas pela Indústria 4.0 demandam uma maior adaptação dos trabalhadores para aprender novas habilidades e especializações. A pesquisa também mostrou que menos da metade dos entrevistados se sentem razoavelmente confiantes na sua estratégia organizacional para preparar a sua força de trabalho para tais mudanças. As empresas vêm enfrentando problemas para poderem definir estratégias preparatórias mais decisivas, como a falta de compreensão sobre as mudanças disruptivas desta revolução, pouco alinhamento entre as estratégias de recursos humanos e de inovação, contenções de recursos e pressão por rentabilidade de curto prazo. Assim, há uma arritmia entre a amplitude das mudanças e as ações insuficientes em curso nas empresas para enfrentar tais desafios. Em suma, as empresas devem desenvolver uma nova mentalidade visando atender às suas próprias necessidades por talentos e para reduzir resultados sociais indesejáveis. 6.2.3 Impacto nas economias em desenvolvimento Vimos até agora os possíveis impactos sobre o emprego e o mercado de trabalho, mas devemos refletir sobre o significado de tais impactos para os países em , 84 desenvolvimento, até porque vivemos em um. As revoluções industriais anteriores não atingiram todas as pessoas ao mesmo tempo, uma vez que a sociedade não era conectada como hoje e muitos países não tinham acesso a tais evoluções de pronto. Contudo, a presente revolução se caracteriza por transformações em economias desenvolvidas e de renda média, mas isso não significa necessariamente que a Indústria 4.0 impactará as economias em desenvolvimento. Não pudemos até agora mensurar os impactos da quarta revolução industrial, no entanto, nas últimas décadas, embora tenhamos experienciado um aumento da desigualdade em alguns países, a desproporção entre os países diminuiu consideravelmente. A quarta revolução industrial tem a possibilidade de reverter as diferenças entre as economias em termos de renda, competitividade, infraestrutura, finanças, entre outros. De fato, as economias mais desenvolvidas estão preocupadas com seus próprios problemas, porém não podemos deixar as economias em desenvolvimento para trás, não só por uma questão moral, mas também por ser estratégico do ponto de vista da estabilidade global. Um risco para os países em desenvolvimento é se a Indústria 4.0 relocalizar a manufatura de volta para as economias desenvolvidas, um cenário possível caso a mão-de-obra de baixo custo não seja capaz de impulsionar mais a competitividade dos países em desenvolvimento. Um meio de desenvolvimento muito utilizado por alguns países é de criar uma manufatura forte, capaz de atender a demanda global, baseada em custos competitivos, permitindo o acúmulo de capital, a transferência de tecnologia e o aumento de renda. Entretanto, caso esse caminho se feche, os países deverão repensar suas estratégias de industrialização. A Indústria 4.0 pode criar uma dinâmicaperigosa onde o(s) país(es) vencedor(es) leva(m) tudo, aumentando cada vez mais as tensões e conflitos sociais, criando um mundo menos coeso e, portanto, mais volátil. Atualmente, as pessoas estão mais sensíveis e conscientes às injustiças sociais e às diferenças nas condições de vida entre os países. Desta forma, os líderes globais devem demonstrar que estão executando , 85 estratégias confiáveis visando melhorar a vida dos cidadãos, de modo que eles tenham certeza de poder desenvolver um trabalho significativo a fim de sustentar a si mesmos e suas famílias. 6.3 Tendências futuras A Indústria 4.0 está gerando uma disrupção tecnológica, porém cabe a nós resolver os problemas apresentados por ela e colocar em prática as mudanças e as políticas necessárias para que haja a correta adaptação de todos a este novo ambiente. Contudo, esses desafios só poderão ser enfrentados de forma significativa caso haja uma mobilização da sabedoria coletiva, de modo que possamos nos adaptar e aproveitar o completo potencial desta disrupção, nutrindo e aplicando os seguintes tipos inteligência: • Inteligência contextual: é como entendemos e aplicamos o nosso conhecimento; • Inteligência emocional: é como processamos e integramos os nossos sentimentos e pensamentos, e como nos relacionamos conosco e com os outros; • Inteligência inspirada: é como usamos o senso de propósito individual e compartilhado, convicções e outras habilidades para executar mudanças e agir em favor do bem comum; • Inteligência física: é como dedicamos e mantemos a nossa saúde e o bem-estar pessoal, e o dos nossos próximos, para podermos aplicar a energia necessária à transformação individual e sistêmica. 6.3.1 Inteligência contextual (a mente) O senso de contexto é a capacidade de antecipar tendências e ligar os pontos, sendo características comuns da liderança eficaz ao longo das gerações e, com a Indústria 4.0, tornam-se pré-requisitos para adaptação e sobrevivência. , 86 Logo, os tomadores de decisão devem entender o valor das redes e suas conexões, de modo a desenvolver a inteligência contextual. Eles devem possuir agilidade e capacidade para se engajar com todos os envolvidos na questão, ambicionando ser mais conectados e inclusivos. Desta forma, para obter uma perspectiva abrangente do que está acontecendo, os tomadores de decisão devem trabalhar em colaboração com líderes governamentais, empresariais, da sociedade civil, acadêmicos, religiosos e da geração jovem, fato fundamental para desenvolver e executar ideias e soluções integradas que trarão mudanças sustentáveis. As fronteiras entre as profissões e os setores são artificiais, se mostrando cada vez mais negativas. Assim, mais do que nunca, é fundamental dissolver tais barreiras, trabalhando em rede de modo a formar parcerias efetivas. As organizações e empresas que não fizerem isso e que não construírem equipes diversificadas terão problemas em se adaptar às disrupções da era digital. Os líderes também devem ser capazes de alterar as suas estruturas mentais e conceituais, além de seus princípios de organização. Agir em um ambiente progressivamente mais complexo e desestabilizado requer agilidade intelectual e social, ao invés de um foco fixo e estreito. Os líderes devem abordar problemas, questões e desafios de maneira abrangente, flexível e adaptável, visando integrar de modo contínuo diversos interesses e opiniões. 6.3.2 Inteligência emocional (o coração) A inteligência emocional não é o oposto da inteligência racional, muito menos o triunfo do coração sobre a cabeça, mas sim a interseção única de ambos. Ela é creditada, na literatura acadêmica, por propiciar que líderes se tornem mais inovadores, capacitando-os a serem agentes de mudança. A inteligência emocional é fundamental às habilidades críticas para o sucesso na Indústria 4.0, ou seja, autorregulação, autoconsciência, empatia, motivação e habilidades sociais. Acadêmicos especializados na inteligência emocional afirmam que , 87 grandes tomadores de decisão se distinguem dos medianos pelo seu nível de inteligência emocional e pela capacidade de aperfeiçoar tal qualidade continuamente. Instituições gerenciadas por líderes com alta inteligência emocional são mais criativas, ágeis e resilientes, características essenciais para tratar as disrupções. A mentalidade digital, capaz de nivelar hierarquias, institucionalizar a colaboração multifuncional e construir ambientes que estimulam a geração de ideias, depende altamente da inteligência emocional. 6.3.3 Inteligência inspirada (a alma) A inteligência inspirada está relacionada com a busca constante por significado e propósito, se concentrando na nutrição do impulso criativo e na elevação da humanidade para uma nova consciência moral e coletiva fundamentada em um senso de destino compartilhado. Compartilhar é o ponto chave: caso a tecnologia seja um dos possíveis motivos pelos quais nos movemos sem desvios a uma sociedade focada no “eu”, é absolutamente necessário reequilibrar tal tendência em direção ao “eu” com um senso coletivo de propósito comum. Devemos trabalhar juntos sobre esse tema, pois corremos o risco de não podermos enfrentar os desafios impostos pela Indústria 4.0 e colher todos os seus benefícios, a não ser que desenvolvamos um senso coletivo de propósito compartilhado. Para tanto, a confiança é essencial: um elevado nível de confiança possibilita o engajamento e o trabalho em equipe, tornando-se ainda mais profundo na Indústria 4.0, onde a inovação colaborativa é o ponto central. Tal processo só pode ocorrer se ele for nutrido em um ambiente de confiança, pois há muitos participantes e questões diferentes envolvidas. Finalmente, as partes interessadas têm a função de assegurar que a inovação seja orientada ao bem comum: caso algum grupo de participantes considerar que esse não é o caso, a confiança será corrompida. Em um mundo cada vez mais inconstante, a confiança transforma-se em uma das características mais valiosas. Logo, só ela pode ser alcançada e mantida caso os , 88 tomadores de decisão façam parte de uma comunidade, sempre tomando decisões no melhor interesse comum e não à procura de objetivos individuais. 6.3.4 Inteligência física (o corpo) A inteligência física abrange o apoio e a nutrição da saúde e do bem-estar pessoal, sendo um ponto fundamental, pois ao passo que o ritmo das mudanças acelera, a complexidade aumenta e a quantidade de participantes envolvidos nos processos de tomada de decisão também aumenta, tornando-se ainda mais importante manter a forma e a calma sob pressão. Um domínio da biologia que se desenvolveu nos últimos anos, a epigenética, descreve o processo no qual o ambiente transforma a expressão dos nossos genes. Ela demonstra de forma incontestável a importância do sono, da nutrição e do exercício em nossas vidas. Exercícios regulares, por exemplo, têm um impacto positivo no modo como pensamos e sentimos, afetando diretamente no nosso desempenho no trabalho e, por fim, na nossa capacidade de sucesso. Portanto, é incrivelmente importante compreender novos meios para manter a harmonia entre o nosso corpo físico e a nossa mente, nossas emoções e o mundo. Estamos aprendendo a cada dia mais através dos incríveis avanços feitos em diversas áreas, como ciências médicas, tecnologias implantáveis, pesquisas cerebrais e dispositivos vestíveis. Além disso, um líder necessita ter “bons nervos” para confrontar com eficácia os diversos desafios simultâneos e complexos que vivemos, sendo isso cada vez mais crítico para percorrer e aproveitar as oportunidades da Indústria 4.0. 6.3.5 Rumo a um novo futuro A era em que vivemos atualmente, a Era Humana ou Antropoceno, é a primeira na história em que as atividades humanas agem de forma primária na formação dos sistemas de sustentação davida na Terra, ou seja, dependem exclusivamente de nós. Agora, no início da quarta revolução industrial, estamos olhando para frente e podemos influenciar o nosso caminho: saber o que é indispensável para prosperar é , 89 uma coisa, agir sobre ela é outra. No entanto, para onde estamos sendo levados e como podemos nos preparar melhor? Seria ingênuo afirmar que nós sabemos exatamente onde a Indústria 4.0 nos levará, mas seria igualmente ingênuo ficar bloqueado pela incerteza e pelo medo sobre qual seria a direção. O curso final da Indústria 4.0 será determinado, por fim, por nossa capacidade em formá-la de modo a liberar todo o seu potencial. De fato, tão assustadores são os desafios quanto atraentes são as oportunidades. Devemos trabalhar em conjunto para transformar tais desafios em oportunidades, visando preparar-nos de modo adequado e proativo para os seus efeitos e impactos. O mundo está hiper conectado, cada vez mais fragmentado e complexo, porém podemos ainda moldar o nosso futuro de forma a beneficiar a todos. Em primeiro lugar, devemos aumentar a conscientização e o entendimento em todos os campos da sociedade, devemos parar de pensar de forma compartimentada nas tomadas de decisões, especialmente porque os desafios enfrentados estão cada vez mais interconectados. Apenas uma abordagem inclusiva poderá gerar a compreensão necessária para tratar as diversas questões levantadas pela Indústria 4.0, demandando estruturas flexíveis e colaborativas que reflitam a integração de diversos sistemas, levando em consideração todos os participantes interessados, agrupando os setores público e privado, assim como as mentes mais brilhantes e influentes. Segundo, de acordo com o entendimento compartilhado, necessitamos desenvolver discursos comuns, abrangentes e positivos sobre como podemos moldar a Indústria 4.0 às gerações atuais e futuras. Talvez não sejamos capazes de conhecer o conteúdo preciso desses discursos no momento, mas sabemos quais são as características críticas que eles devem conter, por exemplo, os discursos devem tornar claros os valores e princípios éticos que devem ser incorporados aos futuros sistemas. Sabemos que os mercados são propulsores eficazes da criação de riqueza, porém devemos assegurar que a ética e os valores estejam no centro dos nossos comportamentos individuais e coletivos, além dos sistemas que eles nutrem. Esses discursos também devem, cada vez mais, promover elevados graus de tomada de perspectiva, de , 90 tolerância, de respeito e compaixão, devendo ser, ainda, inclusivos e empoderadores, movidos por valores compartilhados. Por último, com base na conscientização e nos discursos compartilhados, devemos reestruturar os sistemas econômicos, sociais e políticos visando aproveitar ao máximo as oportunidades disponíveis. De fato, os atuais sistemas para a tomada de decisão e os modelos dominantes para a criação de riqueza foram criados e desenvolvidos ao longo das três revoluções industriais precedentes. Tais sistemas, entretanto, não estão mais adequados para atender às necessidades imediatas das futuras gerações no contexto da Indústria 4.0, demandando uma inovação sistêmica e não apenas ajustes ou pequenas reformas. De acordo com os três pontos apresentados, não podemos ser exitosos sem a cooperação e o diálogo contínuos em todos os níveis, local, nacional e supranacional, com todos os participantes interessados. Devemos nos concentrar em alcançar as condições implícitas além dos aspectos técnicos: com a cooperação efetiva de todos, a Indústria 4.0 tem o potencial de tratar e, quem sabe, resolver os principais desafios enfrentados atualmente. Em suma, tudo se resume às pessoas, culturas e valores: necessitamos trabalhar muito para assegurar que todos os cidadãos de todas as nações, culturas e grupos de renda compreendam a necessidade de dominar a Indústria 4.0 e seus desafios. Devemos, em conjunto, moldar um futuro que atenda aos anseios de todos, com as pessoas em primeiro lugar, lembrando que todas essas tecnologias são ferramentas criadas por pessoas para pessoas. Portanto, temos que assumir a responsabilidade coletiva por um futuro no qual a tecnologia e a inovação estejam centradas no ser humano e na necessidade de atender ao interesse público, rumo a um desenvolvimento mais sustentável. Ademais, podemos ir mais longe: a nova era da tecnologia, se ajustada de forma responsável e responsiva, pode promover um renascimento cultural, nos permitindo sentir parte de algo maior, uma autêntica civilização global. A Indústria 4.0 pode robotizar a humanidade e, portanto, afetar a nossa identidade, família, comunidade e , 91 trabalho, ou podemos utilizá-la para alçar a humanidade a uma consciência coletiva e moral renovada, baseada no senso comum de destino: cabe a nós garantir que a última opção seja a escolhida. Conclusão Ao final deste bloco, vimos quão revolucionária é a Indústria 4.0 e como ela impacta as economias mundiais, quer sejam desenvolvidas ou em desenvolvimento, além do mercado de trabalho, na destruição de ocupações atuais e na substituição da mão-de- obra, passando pelas novas habilidades (soft skills) necessárias para o desenvolvimento profissional na quarta revolução industrial. Por fim, vimos como as novas inteligências podem nos ajudar a formar líderes mais bem preparados para este momento de disrupção tecnológica, abrindo o caminho para um novo futuro, mais produtivo, eficiente, acessível e integrado. REFERÊNCIAS MORAES, Rodrigo Bombonati de S. Indústria 4.0: impactos sociais e profissionais. Editora Blucher, 2020. E-book. ISBN 9786555060508. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555060508/. Acesso em: 01 ago. 2023. SACOMANO, José B.; GONÇALVES, Rodrigo F.; BONILLA, Sílvia H. Indústria 4.0: conceitos e fundamentos. Editora Blucher, 2018. E-book. ISBN 9788521213710. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788521213710/. Acesso em: 01 ago. 2023. SCHWAB, K. The Fourth Industrial Revolution. 1. ed. Suíça: World Economic Forum, 2016.