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EDUCAÇÃO E ACONSELHAMENTO 
NUTRICIONAL PARA PACIENTES 
COM DOENÇAS RENAIS CRÔNICAS 
 
 
 
 2 
 
APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA 3 
Objetivo da disciplina 3 
Objetivos específicos 3 
Habilidades e competências a serem alcançadas 
 3 
Ementa da disciplina 3 
Bibliografia básica da disciplina 4 
 
1 EDUCAÇÃO E ACONSELHAMENTO NUTRICIONAL 
 7 
Educação e aconselhamento nutricional 8 
Sugestões de técnicas e ferramentas sobre 
educação e aconselhamento nutricional 10 
Estratégias comportamentais para maior adesão à 
conduta nutricional 13 
Modelo transteórico da mudança comportamental 
 19 
 
2 EDUCAÇÃO E ACONSELHAMENTO NUTRICIONAL 
PARA PACIENTES COM DOENÇA RENAL CRÔNICA 
 25 
Estudos sobre educação e aconselhamento para 
pacientes com doença renal crônica 26 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 30 
 
 
 
 
 
EDUCAÇÃO E ACONSELHAMENTO NUTRICIONAL PARA PACIENTES COM DOENÇAS RENAIS CRÔNICAS 
3 
APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA 
 
 
Objetivo da disciplina 
 
Abordar aspectos sobre educação e aconselhamento 
nutricional para pacientes com doença renal crônica. 
 
Objetivos específicos 
 
 Abordar técnicas de educação e aconselhamento nutricional. 
 Apresentar os estudos científicos vinculados ao tema no 
contexto da doença renal crônica. 
 
Habilidades e competências a serem alcançadas 
 
Compreender técnicas e estratégias de educação e 
aconselhamento nutricional com foco em pacientes com doença renal 
crônica. 
 
Ementa da disciplina 
 
Discutir aspectos sobre educação e aconselhamento 
nutricional, bem como apresentar estudos vinculando o tema no 
contexto da doença renal crônica. As informações incluídas na 
 
 
 
EDUCAÇÃO E ACONSELHAMENTO NUTRICIONAL PARA PACIENTES COM DOENÇAS RENAIS CRÔNICAS 
4 
apostila são baseadas em estudos científicos, diretrizes de órgãos 
renomados na área e opiniões de especialistas. 
 
Bibliografia básica da disciplina 
 
Cuppari, L.; Avesani, C.M.; Kamimura, M.A. Nutrição na doença 
renal crônica. Manole, 1° Ed., 2013. 
 
Alvarenga, M., Figueiredo, M., Timerman, F.; Antonaccio, C. 
Nutrição comportamental. 2ª Ed. São Paulo: Manole. 2019. 
 
Cuppari, L. Guias de medicina ambulatorial e hospitalar da 
EPM-UNIFESP: Nutrição clínica no adulto. 4ª ed. Manole: São 
Paulo, 2018. 
 
Cuppari, L. Nutrição nas doenças crônicas não-
transmissíveis. 1ª ed. Manole: São Paulo, 2009. 
 
Cozzolino, SMF; Cominetti, C. Livro: Bases bioquímicas e 
fisiológicas da nutrição, nas diferentes fases da vida, na 
saúde e na doença. Ed. Manole, 2ª edição, 2020. 
 
Zambeli, C.M.S.F. et al. Diretriz BRASPEN de Terapia 
Nutricional no Paciente com Doença Renal. BRASPEN J 
2021; 36 (2o Supl 2): 2-22. 
 
Ikisler, T.A. et al. KDOQI Clinical Practice Guideline for 
Nutrition in CKD: 2020 Update. AJKD, vol 76, iss 3, suppl 1, 
September 2020. 
 
Pereira, R.A. et al. Diet in Chronic Kidney Disease: an 
integrated approach to nutritional therapy. Rev Assoc Med 
Bras 2020; 66(SUPPL 1):S:59-S67. 
 
Kistler, B.M. et al. The International Society of Renal Nutrition 
and Metabolism Commentary on the National Kidney 
Foundation and Academy of Nutrition and Dietetics KDOQI 
 
 
 
EDUCAÇÃO E ACONSELHAMENTO NUTRICIONAL PARA PACIENTES COM DOENÇAS RENAIS CRÔNICAS 
5 
Clinical Practice Guideline for Nutrition in Chronic Kidney 
Disease. J Ren Nutr. 2021. 
 
 
 
 6 
 
 7 
EDUCAÇÃO E ACONSELHAMENTO NUTRICIONAL PARA PACIENTES COM DOENÇAS RENAIS CRÔNICAS 
1 EDUCAÇÃO E ACONSELHAMENTO 
NUTRICIONAL 
 
 
Introdução 
 
A educação e o 
aconselhamento nutricional 
devem ser pilares do 
tratamento nutricional. Isso 
porque há evidências de que a 
adesão à conduta nutricional é 
maior quando o paciente 
compreende o porquê aplicar 
cada estratégia e a importância 
dessas para a sua saúde. 
Inclusive, é aconselhado pelo 
Conselho Federal de 
Nutricionistas (CFN) que as 
estratégias e condutas 
nutricionais sejam 
devidamente explicadas ao 
paciente. 
 
Nesse cenário, percebe-
se que para todo e qualquer 
paciente, é necessário reservar 
momentos do tratamento para 
dedicar à educação e ao 
aconselhamento nutricional. 
 
Essa postura é ainda 
mais importante em casos 
graves, onde a não adesão à 
conduta nutricional pode trazer 
repercussões drásticas, como 
no caso de pacientes com 
doença renal crônica. 
 
 
 8 
EDUCAÇÃO E ACONSELHAMENTO NUTRICIONAL PARA PACIENTES COM DOENÇAS RENAIS CRÔNICAS 
Como abordado em 
outros materiais desse curso, os 
pacientes com doença renal 
crônica necessitam aderir a 
estratégias nutricionais 
rigorosas em determinados 
momentos do tratamento, 
como restrição proteica no 
tratamento conservador, 
restrição de sódio, potássio e 
fósforo no caso de alterações no 
metabolismo desses nutrientes, 
restrição hídrica especialmente 
no tratamento dialítico, dentre 
várias outras. 
 
Nesse contexto, se o 
paciente não compreender a 
importância de aderir a essas 
estratégias e o impacto que a 
não adesão delas pode causar 
na sua saúde (incluindo na 
evolução da doença), 
dificilmente haverá sucesso no 
tratamento, repercutindo em 
um pior prognóstico. 
 
Apesar da relevância do 
tema, estudos indicam que 
alguns pacientes com doença 
renal crônica não 
compreendem a importância de 
aderir a essas estratégias, bem 
como não têm discernimento de 
que a não aplicação dessas 
condutas aumenta o risco de 
morbidade e de mortalidade. 
Alguns pacientes, inclusive, 
desconhecem que a não adesão 
ao tratamento nutricional pode 
causar a evolução precoce da 
doença, levando à necessidade 
de terapia dialítica ou 
transplante renal. 
 
Com base no exposto, 
fica clara a importância de 
estimular a educação e o 
aconselhamento nutricional 
para pacientes com doença 
renal crônica. Discutir sobre 
educação e aconselhamento 
nutricional é justamente o 
objetivo da presente seção. 
 
Educação e 
aconselhamento 
nutricional 
 
A educação e o 
aconselhamento nutricional 
compreendem técnicas e 
estratégias com fins de instruir 
o paciente sobre aspectos 
vinculados à nutrição. 
 
Normalmente, instrui-se 
o paciente acerca da conduta 
nutricional de acordo com a sua 
condição clínica (exemplo: 
explicar a importância da 
restrição proteica para um 
paciente em tratamento 
conservador, da restrição de 
potássio para um paciente com 
hipercalemia, da restrição 
 
 9 
EDUCAÇÃO E ACONSELHAMENTO NUTRICIONAL PARA PACIENTES COM DOENÇAS RENAIS CRÔNICAS 
hídrica e de sódio para um 
paciente com ganho excessivo 
de peso entre as sessões 
dialíticas etc.) 
 
Além disso, pode-se 
trazer informações que 
favoreçam a autonomia do 
paciente, como explicação de 
rótulos alimentares, como 
montar um prato de forma 
equilibrada, dicas para não 
exagerar em eventos festivos 
etc. 
 
Alguns profissionais 
ainda se aprofundam nas 
discussões de educação e 
aconselhamento nutricional, 
abordando temas básicos sobre 
nutrição, como o que são 
macronutrientes e 
micronutrientes, qual a sua 
importância, quais as fontes 
alimentares, dentre outros 
assuntos. 
 
Essas informações 
podem ser transmitidas usando 
ferramentas diferentes, como 
apresentação de Power Point, 
exercício prático (exemplo: 
leitura de rótulos), entrega de 
materiais impressos (exemplo: 
folders) ou de materiais digitais 
(exemplo: e-books), roda de 
conversa com outros pacientes, 
compartilhamento de 
informações oralmente etc. 
 
Há ainda outras formas 
atuais e inovadoras, como 
atividades na consulta ou 
“deveres de casa” e jogos 
(tendência chamada de 
“gameficação”). É importante 
que se entenda que não há um 
único modo de promover 
educação e aconselhamento 
nutricional, podendo variar de 
acordo com a criatividade do 
profissional e a interação com o 
paciente. 
 
Além disso, não se deve 
estabelecer um padrão de 
educação e aconselhamentonutricional, pois os pacientes 
têm perfis diferentes e 
aprendem de formas diversas. É 
importante que o profissional 
analise a sua relação com o 
paciente e escolha um método 
que seja mais assertivo ao caso. 
A seguir serão apresentadas 
algumas estratégias para tal. 
 
Independente do modo 
que a educação e o 
aconselhamento nutricional 
serão estabelecidos, é 
necessário que eles estejam 
presentes no tratamento 
nutricional. É interessante que 
em todas as consultas seja 
 
 10 
EDUCAÇÃO E ACONSELHAMENTO NUTRICIONAL PARA PACIENTES COM DOENÇAS RENAIS CRÔNICAS 
reservado um momento para 
tal. Além da aplicação de 
técnicas, é necessário 
questionar o paciente 
constantemente se há dúvidas, 
de modo que ele não saía da 
consulta com questionamentos 
não respondidos. 
 
Sugestões de técnicas e 
ferramentas sobre 
educação e 
aconselhamento 
nutricional 
 
Uma ferramenta que se 
pode utilizar é uma entrevista 
com o paciente, o questionando 
sobre o que ele sabe acerca de 
determinado assunto, exemplo: 
o que um paciente com doença 
renal crônica sabe sobre as 
estratégias nutricionais 
aplicadas nesse contexto. 
 
É interessante também 
questionar ao próprio paciente 
o que ele gostaria de saber, 
quais assuntos vinculados à 
nutrição o interessam e quais as 
formas ele gostaria de receber 
esses conteúdos (textos, dicas 
práticas, conversas, vídeos etc.) 
 
A partir daí, pode-se 
elaborar materiais para tornar a 
educação e o aconselhamento 
nutricional mais dinâmicos, 
como apresentações simples e 
didáticas no Power Point. 
Nesse caso, sugere-se a inclusão 
de figuras e recursos visuais, 
evitando o excesso de textos, de 
modo a evitar uma 
apresentação monótona. 
 
Caso o profissional não 
queira aplicar essa estratégia, 
pode-se transmitir as 
informações na forma de uma 
conversa, mas é preciso 
organizar de forma lógica os 
assuntos que se quer abordar e 
garantir que o paciente foi 
capaz de assimilar o conteúdo. 
Nesse caso, pode-se fazer 
algumas perguntas no final da 
conversa para verificar se o 
paciente conseguiu 
compreender os pontos chave. 
Caso não queira fazer perguntas 
para não constranger o 
paciente, pode-se elencar 
alguns dos pontos mais 
importantes da conversa e 
reforça-los no final. Além disso, 
é essencial destinar um 
momento para tirar dúvidas, de 
modo que o paciente não saía 
com questionamentos não 
respondidos. 
 
É muito comum a 
entrega de materiais impressos 
ao paciente, como textos, livros, 
revistas etc. Nesse caso, sugere-
 
 11 
EDUCAÇÃO E ACONSELHAMENTO NUTRICIONAL PARA PACIENTES COM DOENÇAS RENAIS CRÔNICAS 
se evitar o excesso de conteúdo 
escrito, para que isso não seja 
um empecilho para pacientes 
que não têm o hábito de ler ou 
que não têm tempo. Outra dica 
importante é evitar o excesso de 
termos técnicos. A linguagem 
deve ser simples e direta, sem a 
inclusão de palavras de difícil 
entendimento ou de textos 
longos sem necessidade. 
 
Mesmo com a entrega de 
materiais impressos, é preciso 
explica-los ao paciente. Isto é, 
não basta apenas entregar os 
materiais ao paciente e inferir 
que ele adquirirá aquele 
conhecimento. É necessário 
explicar ao paciente as 
informações de forma oral, 
ressaltar os pontos principais e 
garantir que houve o 
entendimento deles. Consegue-
se perceber que os materiais 
impressos são um 
complemento da educação e do 
aconselhamento nutricional, 
mas não devem ser aplicados de 
forma isolada, pois há grandes 
chances de o paciente não ler o 
material ou não o compreender. 
 
Uma alternativa é ter 
uma conversa com o paciente 
sobre os pontos mais 
importantes antes ou após a 
entrega do material escrito. Se 
for após a entrega, pode-se 
solicitar que o paciente leia o 
material para discutir com o 
profissional na próxima 
oportunidade. 
 
Evidências indicam que 
uma das principais formas de 
aprendizado é a prática de 
exercícios. Nesse cenário, 
atividades práticas são bastante 
bem-vindas quando o objetivo é 
promover educação e 
aconselhamento nutricional. 
Um exemplo é a leitura de 
rótulos, em que se pode levar 
vários rótulos ao consultório, 
ensinar o paciente a ler um 
deles e depois solicitar que o 
paciente leia os outros sozinho, 
o estimulando com perguntas 
(exemplo: o que significa essa 
porcentagem, qual é o 
ingrediente mais presente na 
formulação etc.) 
 
No que concerne aos 
pacientes com doença renal 
crônica, essa é uma atividade 
interesse quando é preciso 
restringir a oferta de 
determinados nutrientes, como 
sódio e proteínas. Assim, pode-
se ensinar o paciente a avaliar 
quando os alimentos são ricos 
ou pobres nesses nutrientes, 
utilizando-se como base as 
porcentagens dos valores 
 
 12 
EDUCAÇÃO E ACONSELHAMENTO NUTRICIONAL PARA PACIENTES COM DOENÇAS RENAIS CRÔNICAS 
diários (VD) dos rótulos 
alimentares. 
 
Outra ferramenta é a 
roda de conversas com 
pacientes que enfrentam 
desafios semelhantes. No caso 
de pacientes com doença renal 
crônica, pode-se reuni-los e 
discutir sobre temas 
importantes, como mitos e 
verdades sobre a conduta 
nutricional na doença renal 
crônica, bem como assuntos 
importantes para esse público, 
exemplo: perda de massa 
muscular, hipercalemia, 
restrição proteica e hídrica etc. 
 
É importante sempre 
apontar soluções e alternativas, 
caso contrário o paciente 
entenderá que a doença só traz 
impedimentos e pode ficar 
desestimulado. É interessante 
mostrar que, mesmo com as 
limitações, o paciente pode ter 
uma dieta saudável e prazerosa. 
 
As conversas e 
interações em grupo parecem 
ser bastante efetivas, sendo que 
evidências indicam que há mais 
sucesso na abordagem coletiva, 
quando em comparação com a 
individual, pois no grupo os 
pacientes encontram apoio uns 
nos outros. 
Para que se crie uma 
conexão entre os pacientes, é 
preciso deixá-los falar sobre as 
suas experiências, os seus 
entendimentos, as suas 
expectativas etc. Isso tende a 
gerar empatia entre os 
pacientes e fortalecer o elo de 
confiança e respeito entre eles. 
Quanto mais o paciente se 
sentir acolhido e representado, 
mais ele tende a encontrar 
apoio no grupo e mais fácil 
tende a ser a adesão ao 
tratamento proposto. 
 
Uma questão 
importante ao se trabalhar em 
grupo é escolher um público 
que tenha problemas 
semelhantes, por exemplo: 
pacientes com doença renal 
crônica. Quanto mais parecidos 
forem os casos, mais efetivas 
tendem a ser as estratégias 
aplicadas. Imagine que um 
grupo tem características em 
comum – conversar com esse 
grupo torna-se mais fácil, pois 
eles enfrentam os mesmos 
problemas, tendem a ter os 
mesmos interesses e as mesmas 
curiosidades. Contudo, se esse 
grupo for muito diferente, 
exemplo: uma criança com 
diabetes mellitus tipo I, um 
adulto com dislipidemia e um 
idoso com doença renal crônica, 
 
 13 
EDUCAÇÃO E ACONSELHAMENTO NUTRICIONAL PARA PACIENTES COM DOENÇAS RENAIS CRÔNICAS 
mais difícil se torna a 
comunicação entre eles, pois os 
temas de interesse são muito 
variados e as situações muito 
diversas, o que dificulta o 
estabelecimento de um elo de 
empatia e pode levar ao 
desinteresse no grupo. 
 
Outro ponto importante 
quando se trabalha com grupos 
é sempre motivar a ida aos 
encontros, especialmente se 
eles forem presenciais. Há uma 
tendência de os indivíduos 
desistirem do grupo ao longo do 
tratamento. Nesse cenário, é 
relevante que se tenha um 
cronograma interessante ao 
público, com atrações que 
chamem a sua atenção. O 
contato próximo com os 
membros do grupo, atividades 
diferentes e atrativas (evitando 
monotonia de atividades, por 
exemplo: sempre fazer 
palestras) e criar expectativa 
nos participantes podem ser 
estratégias para manter a 
adesão do grupo. 
 
Sempre que possível, 
sugere-se que os membrosdo 
grupo recebam um cronograma 
com as atividades, de modo a 
gerar curiosidade e fazer com 
que os membros sejam atraídos 
a participar. 
Outra sugestão é que se 
tenham datas definidas sobre o 
início e o final das atividades 
em grupo, senão os pacientes 
podem ficar desestimulados 
por não ter um panorama geral 
do tratamento. 
 
Outras atividades que 
podem ser feitas em grupo, 
além das rodas de conversa, 
são: envio de materiais e dicas 
em grupos de WhatsApp ou em 
outros aplicativos de 
comunicação, aulas de 
culinária, palestras sobre 
assuntos importantes, palestras 
com convidados (exemplo: 
médico, enfermeiro, 
farmacêutico), entre outros. 
 
Mais uma vez, é 
importante se ter em mente que 
não há uma única forma de 
estabelecer a educação e o 
aconselhamento nutricional. 
Quanto mais criativo, melhor. A 
ideia é testar as estratégias e 
selecionar quais são as mais 
efetivas, lembrando que nem 
todas as estratégias 
funcionarão com todos os tipos 
de paciente, algumas podem ser 
muito efetivas para uns, mas 
pouco funcionais para outros. 
 
Estratégias 
comportamentais para 
 
 14 
EDUCAÇÃO E ACONSELHAMENTO NUTRICIONAL PARA PACIENTES COM DOENÇAS RENAIS CRÔNICAS 
maior adesão à conduta 
nutricional 
 
Embora a educação e o 
aconselhamento nutricional 
sejam importantes para 
favorecer a adesão ao 
tratamento, há de se admitir 
que eles não são os únicos 
fatores responsáveis para tal. 
Há evidências de que alguns 
pacientes não seguem a 
conduta estabelecida mesmo 
quando há aplicação de 
estratégias educacionais. 
 
Nesse cenário, há 
algumas estratégias 
comportamentais que 
poderiam ser utilizadas para 
favorecer a adesão ao 
tratamento nutricional. Dentre 
elas, destacam-se: 
estabelecimento de metas, 
definição de prós e contras, 
quadro de vitórias e controle de 
hábitos. Cada uma dessas 
ferramentas será explicada e 
exemplificada a seguir. 
 
Metas 
 
Pode-se estabelecer 
metas ao paciente de modo a 
facilitar o alcance do objetivo. 
Contudo, há alguns critérios 
para que as metas sejam bem 
feitas e mais efetivas. 
A primeira sugestão é 
evitar estabelecer um excesso 
de metas de uma vez. Isso 
porque o paciente pode sentir-
se frustrado quando há muitas 
metas a cumprir. Além disso, se 
muitas metas forem 
estabelecidas o paciente pode 
esquecer de algumas delas, 
deixando de cumpri-las. 
 
Sugere-se estabelecer 
cerca de três metas por vez. 
Pode-se propor metas com 
diferentes graus de dificuldade, 
como uma meta fácil, uma meta 
média e uma meta difícil. O 
grau de dificuldade varia de 
acordo com o paciente, sendo 
que uma mesma meta pode ser 
fácil para um paciente, mas 
difícil para outro. É importante 
propor as metas durante ou 
após a consulta, de modo que 
elas sejam individualizadas ao 
caso. 
 
Além disso, as metas 
devem ser hábitos/atividades 
que ainda não foram 
conquistados pelo paciente. Por 
exemplo: imagine um paciente 
que consome 2 L de água por 
dia, mas consome apenas uma 
fruta diariamente – uma meta 
relevante para esse paciente é 
passar a consumir pelo menos 
três frutas por dia (algo que ele 
 
 15 
EDUCAÇÃO E ACONSELHAMENTO NUTRICIONAL PARA PACIENTES COM DOENÇAS RENAIS CRÔNICAS 
não faz), mas não continuar 
ingerindo 2 L de água por dia, 
pois isso ele já faz (não é uma 
meta, é manutenção). 
 
Metas bem estabelecidas 
tendem a ser específicas, 
mensuráveis, atingíveis e 
relevantes ao paciente. A 
primeira característica da meta 
é ser específica, ou seja, é 
preciso que o paciente tenha 
clareza de qual é o desafio. 
Imagine duas metas: 1- beber 
mais água (inespecífica) e 2- 
beber 2 L de água por dia 
(específica). Na primeira 
(inespecífica), se o paciente 
ingerir um gole a mais de água 
ele já estaria cumprindo a meta. 
Já na segunda (específica), a 
meta só é atingida quando a 
ingestão de água é acima de 2 L 
por dia, fazendo com que o 
resultado seja muito mais 
efetivo. 
 
A meta específica já 
tende a ser mensurável, como 
no exemplo anterior. O fato de 
ser mensurável é importante 
para que o paciente saiba se 
conseguiu ou não atingir a meta 
no dia. Nesse sentido, deve-se 
evitar metas que o paciente não 
consiga medir com clareza, 
como: consuma mais frutas ao 
dia (difícil de mensurar), sendo 
preferível algo do gênero: 
consuma pelo menos três 
porções de frutas por dia 
(mensurável). 
 
A meta também precisa 
ser atingível, ou seja, ela 
precisa estar de acordo com as 
possibilidades do paciente no 
momento em que é traçada. Por 
exemplo: imagine um paciente 
que ingere apenas um copo de 
água por dia (200 ml). Não é 
atingível para esse paciente 
começar a ingerir 2 L de água 
diariamente, pois essa meta 
está muito distante da realidade 
do paciente no momento. 
Assim, deve-se propor metas 
condizentes com a situação 
atual do paciente e ir 
progredindo de forma 
gradativa, para que o desafio 
não seja demasiado e frustre o 
paciente quando no insucesso. 
 
Algumas metas podem 
ser temporais. Ou seja, terem 
um prazo. Seguindo o exemplo 
anterior, uma meta para o 
paciente poderia ser: começar a 
ingerir 1 L de água até a 
próxima consulta (por um mês) 
e, então, após esse período, a 
meta seria aumentada. Ou seja, 
houve um prazo para seguir 
uma meta que depois foi 
substituída. Nem sempre as 
 
 16 
EDUCAÇÃO E ACONSELHAMENTO NUTRICIONAL PARA PACIENTES COM DOENÇAS RENAIS CRÔNICAS 
metas na nutrição são 
temporais, pois algumas delas 
devem ser seguidas para o resto 
da vida, exemplo: beber pelo 
menos 2 L de água por dia. 
 
Outro ponto é ser 
relevante. Precisa-se convencer 
o paciente de que aquela meta é 
importante para ele. Imagine 
um paciente que não tem 
constipação intestinal, mas tem 
acne vulgar. Falar para esse 
paciente que ingerir mais água 
é relevante para que ele não 
tenha constipação intestinal 
não é uma boa estratégia, pois 
esse não é um problema do 
paciente, então não há porquê 
ele se sacrifique por algo que ele 
não almeja. No entanto, se esse 
paciente tiver ciência de que a 
ingestão de água pode atenuar a 
presença de acne vulgar, que é 
algo que causa sofrimento a ele, 
a meta passa a ser relevante e o 
paciente começa a ver 
vantagem em segui-la. 
 
Por fim, é preciso propor 
um caminho/método de como o 
paciente pode alcançar a meta 
em questão. Um exemplo é a 
meta de aumento da ingestão 
de água. Quase todos os 
pacientes que ingerem pouca 
água têm ciência de que esse 
não é o melhor hábito e de que 
devem melhora-lo. Contudo, 
poucos sabem o que fazer para 
tal. Nesse sentido, não adianta 
apenas solicitar que o paciente 
ingira mais água, mas sem 
propor métodos para atingir 
esse fim. Assim, acompanhado 
da meta deve vir um método 
para atingi-la. Por exemplo, no 
quesito aumento da ingestão de 
água, pode-se sugerir que o 
paciente leve uma garrafa de 
água consigo diariamente, que 
ele coloque lembretes na sua 
estante de trabalho (exemplo: 
post it), que use despertador no 
celular ou aplicativos, que 
coloque rodela de frutas na 
água para tornar o sabor mais 
agradável etc. 
 
Prós e contras 
 
Outra estratégia é 
pontuar quais são os prós e os 
contras em cada mudança de 
hábito do paciente. 
Normalmente, aplica-se essa 
estratégia nas mudanças de 
comportamento mais difíceis 
ao paciente, aquelas que não 
são facilmente alcançadas por 
ele. 
 
Imagine que uma meta 
do paciente é consumir mais 
frutas, mas ele dificilmente 
consegue atingi-la. Pode-se 
 
 17 
EDUCAÇÃO E ACONSELHAMENTO NUTRICIONAL PARA PACIENTES COM DOENÇAS RENAIS CRÔNICAS 
fazer a atividade de prós e 
contras com o paciente durante 
a consulta. Nessa atividade, 
pontua-se quais as vantagens 
na mudança (exemplo: melhor 
funcionamento do intestino, 
menor risco de doenças, atingir 
as recomendações de vitaminas 
etc.)e quais as desvantagens da 
mudança, se houver (exemplo: 
se organizar para levar frutas 
para o trabalho, se planejar 
para ir à feira uma vez por 
semana). 
 
Antes de aplicar a 
atividade de prós e contras, é 
imprescindível que o 
profissional tenha certeza de 
que há mais vantagens do que 
desvantagens naquela 
mudança, senão o paciente 
pode ficar ainda mais 
desestimulado em aderi-la. 
 
É importante que o 
paciente participe dessa 
ferramenta, que ele contribua 
com as escolhas de prós e 
contras, pois quanto mais o 
paciente interagir e tiver 
consciência dos benefícios da 
mudança, mais fácil será aderi-
la. 
 
Ressalta-se, mais uma 
vez, que não há necessidade de 
aplicar essa estratégia com 
todas as metas propostas ao 
paciente, mas sim aquelas que 
ele tem mais dificuldade em 
seguir. 
 
Quadro de vitórias 
 
O quadro de vitórias é 
uma ferramenta em que o 
paciente preenche diariamente 
uma conquista em relação à 
nutrição. Essas conquistas 
podem ser estabelecidas em 
consulta, de acordo com as 
dificuldades do paciente, 
exemplo: consumir pelo menos 
três frutas por dia, consumir 
pelo menos quatro 
legumes/verduras diariamente, 
consumir alimentos na versão 
integral etc. 
 
É comum entregar uma 
folha ao paciente com o 
calendário do mês e pedir para 
que ele preencha uma vitória 
diária em relação à nutrição. 
Com essa ferramenta, o 
paciente tende a se sentir 
motivado pelas vitórias que já 
conquistou e instigado a se 
empenhar para preencher uma 
conquista diária. 
 
Controle de hábitos 
 
De modo semelhante ao 
quadro de vitórias, o controle 
 
 18 
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de hábitos é uma ferramenta 
em que o paciente assinala 
diariamente se conseguiu 
realizar determinado hábito ou 
não. 
 
Por exemplo: imagine 
que a meta é ingerir 2 L de água 
por dia. Todo dia que o paciente 
alcançar a meta, ele assinala o 
controle de hábitos, mas 
mantém o espaço em branco 
quando a meta não tiver sido 
atingida. 
 
No final do mês, o 
paciente conseguirá avaliar o 
quanto ele cumpriu das metas, 
o que é digno de ser 
parabenizado e o que precisa 
ser melhorado. É comum que os 
pacientes não tenham muito 
discernimento de como foi o 
mês. Exemplificando, as vezes o 
paciente não atinge a meta, pois 
pede fast-food e delivery com 
mais frequência do que 
imagina. Contudo, quando esse 
hábito fica registrado no 
controle de hábitos, o paciente 
consegue ter clareza do que 
pode ser melhorado para 
atingir o seu objetivo. 
 
Percebe-se que não 
necessariamente se precisa 
colocar apenas hábitos que o 
paciente deve fazer, mas 
também aqueles que ele deve 
deixar de fazer ou fazer com 
menor frequência. Sugere-se 
que os hábitos a serem 
estabelecidos e controlados 
sejam definidos em consulta 
junto com o profissional. 
 
A ideia é incluir hábitos 
que sejam mais difíceis de 
serem aderidos pelo paciente. 
Vale salientar que se deve evitar 
incluir uma quantidade 
excessiva de hábitos, pois o 
paciente pode se sentir 
desestimulado se perceber que 
não está cumprindo com o 
proposto. Além disso, o 
paciente pode até se sentir 
desanimado e indisposto a 
preencher a ferramenta se ela 
for muito grande e tomar muito 
tempo do seu dia. Ademais, 
quanto mais metas, mais 
chances de o paciente esquecer 
de cumpri-las ao longo do dia. 
 
Após um mês de 
preenchimento do controle de 
hábitos, o paciente pode levar a 
ferramenta para ser avaliada 
por ele e pelo profissional em 
consulta. Nesse momento, cabe 
ao profissional verificar quais 
hábitos o paciente conseguiu 
aderir, os quais não necessitam 
estar no controle de hábitos do 
próximo mês. 
 
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Não obstante, é preciso 
avaliar quais hábitos não foram 
praticados e compreender o 
porquê. Nesses casos, deve-se 
propor alternativas e sugestões 
de como o paciente pode aderir 
ao hábito no próximo mês. É 
importante ter em mente que 
não basta apenas incluir o 
hábito novamente no controle 
de hábitos, sem ao menos 
propor ideias e soluções de 
como torná-lo mais fácil e 
frequente na vida do paciente. 
 
Um exemplo de controle 
de hábitos é apresentado na 
Figura 1. 
 
Modelo transteórico da 
mudança comportamental 
 
Mesmo aplicando todas 
as estratégias anteriores, alguns 
pacientes não aderirão à 
conduta proposta. Isso porque 
há muitos fatores envolvidos na 
mudança de comportamento, 
incluindo o quanto o paciente 
vê necessidade na mudança e 
sente-se disposto a mudar. 
 
O modelo transteórico 
da mudança comportamental 
traz alguns estágios da 
mudança de comportamento, 
os quais evidenciam o quanto 
uma proposta de mudança pode 
ser bem aceita pelo paciente ou 
o oposto. Os estágios do modelo 
transteórico da mudança 
comportamental são os 
seguintes: pré-contemplação, 
contemplação, preparação, 
ação e manutenção. 
 
O primeiro, pré-
contemplação, é quando o 
paciente não está disposto a 
mudar, pois não vê necessidade 
na mudança em questão. Por 
exemplo: imagine uma pessoa 
que não faz exercício físico, que 
não vê importância na prática e 
que não tem 
interesse/afinidade por tal. 
Pode-se dizer que essa pessoa 
está em estágio de pré-
contemplação, pois ela nem 
sequer planeja, mesmo que em 
um futuro distante, aderir ao 
hábito. 
 
O segundo estágio, 
contemplação, é quando o 
indivíduo passa a perceber 
importância na mudança e a 
cogitar aderi-la, apesar de 
incertezas dos mais diversos 
tipos (exemplo: se conseguiria 
aplica-la, se tem 
tempo/disposição para tal, se 
de fato há necessidade etc.) Por 
exemplo: imagine que o 
indivíduo da hipótese anterior 
começa a perceber importância 
 
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em praticar exercício físico, 
pois se deu conta de que seus 
amigos/familiares que 
praticam exercício são mais 
dispostos e saudáveis do que 
ele. Nesse cenário, o indivíduo 
passa a cogitar a possibilidade 
de iniciar a prática, apesar de 
ter dúvidas sobre o que, como, 
quando e de que modo fazer o 
exercício físico. 
 
 
 
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Figura 1. Sugestão de controle de hábitos. Fonte: autoria própria. 
 
 
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O terceiro estágio, 
preparação, é quando o 
indivíduo decide incluir aquele 
hábito em sua vida, passando a 
se organizar para tal. Por 
exemplo: no caso hipotético, o 
indivíduo se matrícula na 
academia, adquire os produtos 
necessários (exemplo: roupas e 
calçados) e programa os 
horários em que incluirá a 
prática no seu dia. 
 
Esse estágio é bastante 
delicado, pois, como o 
indivíduo não colocou o hábito 
em prática ainda, ele pode não 
ser muito realista quanto a 
inclusão dele em sua rotina. Por 
exemplo: no caso hipotético, o 
indivíduo poderia programar a 
prática de exercício às 7 h da 
manhã, mesmo que seu 
ingresso no trabalho seja às 8 h. 
Como ele nunca praticou 
exercício físico, não 
compreende ao certo quanto 
tempo precisará disponibilizar 
para a sessão de exercícios, para 
se arrumar e para se alimentar 
antes do expediente. Isso pode 
criar problemas e desestimular 
o paciente a continuar a prática, 
fazendo com que ele abandone 
o hábito. 
 
Por isso, é interessante 
que o profissional oriente o 
paciente nessa fase de 
preparação, de modo a ajudá-lo 
em estabelecer a logística para 
iniciar a prática de modo mais 
efetivo. Além disso, é um 
momento importante para que 
o profissional mantenha 
contato próximo com o 
paciente, para que, caso a 
logística/método seja falho, se 
possa propor uma alternativaviável antes que o paciente 
decida desistir do hábito. 
 
O quarto estágio, ação, é 
quando o paciente coloca a 
mudança em prática. Como 
mencionado anteriormente, 
esse é o momento em que 
alguns problemas/dificuldades 
podem ser percebidos, 
aumentando as chances de 
desistência. Em razão disso, 
esse é um momento para 
manter contato próximo com o 
paciente, de modo que ele não 
desista de implementar a 
mudança na sua rotina. 
 
Finalmente, o quinto 
estágio é chamado de 
manutenção, que é quando o 
indivíduo consegue manter a 
mudança por determinado 
período de tempo, conseguindo 
estabelecer o hábito em sua 
rotina. 
 
 
 
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23 
É importante pontuar 
que em todos os estágios, 
inclusive o de manutenção, o 
indivíduo pode ter recaídas e 
abandonar o hábito. É preciso 
que o paciente saiba que essa 
situação pode acontecer 
(exemplo: ficar um mês inteiro 
sem praticar exercício físico), 
mas que ele deve retomar a 
rotina assim que possível. Se 
necessário, devem-se fazer 
ajustes para tornar as 
mudanças mais possíveis de 
serem implementadas. 
 
 
 24 
 
 
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2 EDUCAÇÃO E ACONSELHAMENTO 
NUTRICIONAL PARA PACIENTES COM 
DOENÇA RENAL CRÔNICA 
 
 
Introdução 
 
A doença renal crônica é 
uma das condições mais 
complexas no sentido de 
condutas nutricionais. Além da 
grande quantidade de 
estratégias, a não adesão do 
paciente ao tratamento 
repercute em efeitos drásticos, 
como aumento do risco de 
morbidade e de mortalidade, 
bem como piora da qualidade 
de vida. Ademais, a não adesão 
ao tratamento resulta na 
evolução precoce da doença, 
podendo haver necessidade de 
terapia dialítica ou transplante 
renal antes do planejado. 
No entanto, parece que 
muitos pacientes com doença 
renal crônica não 
compreendem quais estratégias 
nutricionais devem ser 
aplicadas e o porquê delas. 
Além disso, muitos não têm 
discernimento dos riscos de não 
seguir a conduta nutricional. 
 
Estudo observacional 
realizado por Gricio et al. 
(2009) observou que pacientes 
com doença renal crônica em 
tratamento conservador 
possuíam informações 
equivocadas sobre a doença, 
não compreendendo o que 
significava a condição, sua 
severidade, sua possibilidade 
 
 
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26 
de evolução e o seu manejo 
dietético. Dos 20 pacientes com 
doença renal crônica em 
tratamento conservador 
estudados, 2 não souberam ao 
menos explicar o que é a 
doença, enquanto os demais 
apresentavam definições vagas 
(exemplo: falência renal) ou 
expressões negativas (exemplo: 
doença que gera 
limitações/dificuldades e traz 
consequências ruins à saúde). 
Em relação ao tratamento 
conservador em si, 17 pacientes 
sabiam da necessidade de 
alterações dietéticas, 16 
pacientes compreendiam a 
necessidade de medicamentos e 
2 pacientes relataram que o 
repouso e a prática de 
exercícios físicos faziam parte 
do tratamento. Curiosamente, 
poucos pacientes entendiam o 
prognóstico da doença, 
havendo apenas comentários 
breves sobre a possibilidade de 
tratamento dialítico no futuro. 
 
Esse estudo aponta o 
quanto os conhecimentos dos 
pacientes com doença renal 
crônica a respeito da doença e 
de seu tratamento/prognóstico 
é vaga. A repercussão disso é 
que os pacientes compreendem 
pouco sobre o que causou o 
problema e, em razão disso, têm 
dificuldade de entender o que 
precisa ser mudado. Ademais, 
os pacientes desconhecem a 
importância da dietoterapia e 
do tratamento medicamentoso 
na fase conservadora, o que 
contribui com a progressão 
mais rápida da doença renal 
crônica. É ainda mais curioso 
que os pacientes não se dão 
nem ao menos conta da 
gravidade das consequências da 
doença e da futura necessidade 
de tratamento dialítico. 
 
Considerando a 
importância da educação e do 
aconselhamento nutricional 
para pacientes com doença 
renal crônica, o objetivo da 
presente seção é abordar 
estudos científicos que 
avaliaram o conhecimento dos 
pacientes sobre a doença renal 
crônica e aqueles que 
abordaram estratégias 
educacionais e de 
aconselhamento para esse 
público. 
 
Estudos sobre educação e 
aconselhamento para 
pacientes com doença 
renal crônica 
 
As estratégias 
nutricionais para pacientes com 
doença renal crônica são 
 
 
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27 
complexas, especialmente 
quando o público em questão é 
infantil. Em revisão 
bibliográfica, Santana et al. 
(2016) discutem a possibilidade 
de desenvolvimento de um 
aplicativo educacional voltado a 
esse público. Apesar de 
existirem poucos estudos a 
respeito do assunto, os autores 
abordam a ideia como 
promissora. 
 
Vale salientar que 
existem alguns aplicativos, 
como o Renal Health 
(desenvolvido por estudantes 
do Programa de Pós-Graduação 
em Saúde Coletiva da Unifor, 
em parceria com o Núcleo de 
Aplicação em Tecnologia da 
Informação), mas que são 
voltados para o público adulto 
com doença renal crônica, não 
para crianças. 
 
Interessantemente, o 
aplicativo Renal Health e 
outros semelhantes podem ser 
uma estratégia educacional 
interessante para pacientes 
com doença renal crônica. 
Como exemplo, no aplicativo 
Renal Health (disponível para 
download na Play Store), são 
esclarecidas dúvidas comuns de 
pacientes com doença renal 
crônica, como: o que são e para 
que servem os rins, o que é a 
doença renal crônica, quais são 
as principais causas da doença, 
como é o seu tratamento, como 
prevenir etc. 
 
A educação e o 
aconselhamento também 
podem ocorrer de modo 
presencial, como no projeto 
elaborado por Oliveira et al. 
(2020), onde os pacientes eram 
abordados no momento de 
espera do atendimento 
ambulatorial. Os pacientes 
eram orientados sobre o projeto 
educacional e convidados a 
participar. A ideia foi de aplicar 
uma metodologia participativa 
e problematizadora, em que o 
paciente e o seu acompanhante 
eram colocados como atores no 
processo de aprendizagem, de 
modo a discutir sobre suas 
vivências em relação à doença e 
à sua dietoterapia. Embora a 
ideia pareça bastante razoável e 
possa ser utilizada na prática, 
uma importante limitação 
desse estudo é que não foi 
aplicado um método para 
avaliar se a intervenção havia 
sido bem sucedida (exemplo: 
um questionário antes e depois 
do projeto educacional), o que 
torna a eficácia da estratégia 
dúbia e desconhecida. 
 
 
 
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28 
A dissertação de 
mestrado de Barreto (2011) 
também compreendeu a 
implementação de um 
programa educacional com fins 
de orientar pacientes com 
doença real crônica em 
tratamento conservador quanto 
ao consumo de sódio e de 
proteínas. Observou-se que o 
grupo que recebeu a 
intervenção ingeriu menos 
proteínas do que o grupo 
controle, apesar de não ter 
havido diferença no consumo 
de sódio. Esse trabalho enfatiza 
o quanto as estratégias de 
educação e de aconselhamento 
nutricional podem ser efetivas 
em adequar o consumo 
alimentar de pacientes com 
doença renal crônica e mitigar o 
desenvolvimento da doença. 
 
A necessidade de aplicar 
estratégias educacionais de 
maneira adequada e coerente, 
com respaldo em ciência e sem 
“terrorismo nutricional’, é 
latente. Machado et al. (2014) 
observaram que pacientes com 
doença renal crônica em terapia 
dialítica ingerem menos 
energia e proteínas do que o 
recomendado (~ 19 kcal/kg/dia 
e 0,9 g/kg/dia, 
respectivamente), dentre 
outras inadequações dietéticas. 
É preciso compreender que as 
estratégias educacionais devemser aplicadas de forma 
coerente, para que o paciente 
não deixe de seguir as 
recomendações, mas que 
também não tenha medo de se 
alimentar a ponto de ter maior 
risco de desnutrição, de 
sarcopenia, de 
imunocomprometimento, de 
morbidade e de mortalidade. 
 
 
 29 
 
 
EDUCAÇÃO E ACONSELHAMENTO NUTRICIONAL PARA PACIENTES COM DOENÇAS RENAIS CRÔNICAS 
30 
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