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FÍS M AT QU Í BIO LP O HI S FI L FI L FI L FI L FI L FI L FI L FI LSOC RE S GE O Fil os ofi a 281 Capítulo 2 ...............242Módulo 4 .............259 Módulo 5 .............265 Módulo 6 ............ 271 A NA ST AS IO S7 1/ SH UT TE RS TO CK 1. Physis e anthropos 244 2. A proposta socrática 246 3. De Sócrates a Platão 248 4. A filosofia de Aristóteles 253 5. Organizador Gráfico 258 Módulo 4 – Filosofia clássica: Sócrates 259 Módulo 5 – “Mundo das Ideias” e “Mundo dos Sentidos”: Platão 265 Módulo 6 – Aristóteles e a ética 271 • Perceber de que forma ocorre a articulação da argumentação de propostas fi losófi cas específi cas. • Reconhecer relações entre orientações fi losófi cas específi cas e distintas. • Identifi car motivações de ordem pessoal para o desenvolvimento de refl exões fi losófi cas. • Identifi car as produções fi losófi cas da fi losofi a clássica. • Exercitar a capacidade de problematização de temas fi losófi cos. • Elaborar a defesa de determinada ideia fi losófi ca acerca do “ser”, do conhecimento e da ação por meio de exercício argumentativo. • Articular diferentes referências fi losófi cas e discursos, percebendo semelhanças e diferenças entre as estruturas textuais. • Analisar a fi losofi a socrática comparada à fi losofi a dos pré-socráticos. • Desenvolver textos a partir de discussões de temas fi losófi cos em sala de aula. • Analisar a importância dos valores éticos na construção das sociedades. A NA ST AS IO S7 1/ SH UT TE RS TO CK 24 3 Neste capítulo, abordaremos o nascimento e o desenvolvimento da filosofia clássica grega. Filosofia clássica grega 2 Vista atual de Atenas, capital da Grécia. Na Antiguidade Clássica, na condição de cidade-Estado – cujos vestígios arquitetônicos podem observados na Acrópole, no centro da imagem –, Atenas viu nascer as preocupações filosóficas de Sócrates, Platão e Aristóteles. 2 28 1 Fi lo so fi a 24 4 Ci ên ci as H um an as e s ua s Te cn ol og ia s EM I-1 5- 20 1. Physis e anthropos Vale recordar: a filosofia rompeu com a mitologia quan- do renunciou às explicações das coisas e das situações que apelavam para os deuses, buscando na matéria a origem do Universo, o princípio. Ocorria, assim, a passagem da cosmo- gonia para a cosmologia, segundo os estudiosos. Em nossos estudos, conhecemos as propostas dos pen- sadores, chamados de físicos, para a compreensão da origem do cosmos. Observamos que as proposições eram variadas e algumas até mesmo opostas, como as afirmações de He- ráclito e de Parmênides. Isso criava um mal-estar entre os seguidores de proposições tão diversas. O discurso lógico apresentava tais afirmações como verossímeis, mas uma não anulava a outra. Mais: seria possível atestar que uma afirma- ção era verdadeira em detrimento de outra? Foi nesse clima de debate, em que as cidades ganhavam dinamismo e muitas discussões eram realizadas na Ágora (praça pública) por homens considerados cidadãos, que houve uma primeira mudança no pensamento filosófico. As cidades se estruturavam por meio de instituições políticas que deveriam expressar um consenso sobre as normas que deveriam reger a sociedade. Para muitos, a fixação da lei na forma escrita era fator de garantia da ordem, um elemento que impediria a anarquia na pólis. A situação era propícia às discussões em torno dos prin- cípios que deveriam nortear a vida comunitária. Em que o debate dos filósofos físicos contribuía para isto? À primeira vista não parecia haver qualquer contribuição: se os filósofos se desentendiam em relação ao princípio do Universo, como poderiam ajudar a estabelecer princípios para a organização da pólis? Foi nessa aparente incapacidade dos físicos em res- ponder de forma definitiva e unívoca a respeito da origem, da arché do Universo, que muitos pensadores começaram a se preocupar não com o resultado da afirmação, se verdadeira ou falsa, mas com o caminho para o convencimento a respei- to de algo. Vejamos da seguinte forma: Havia lógica no discurso veiculado por este e aquele pen- sador? Se a resposta fosse positiva, o resultado é que o dis- curso seria acreditável, mas não necessariamente verdadei- ro, no sentido de uma verdade estática, fixa, pois, se um outro discurso chegasse a outra conclusão acreditável usando o mesmo expediente lógico e convencesse, também poderia ser considerado verdadeiro. Afinal, o que era a verdade? Para alguns pensadores dessa época grega, era o que ficasse estabelecido por consenso, por meio de um discurso concatenado, lógico. Percebemos, então, que houve, um deslocamento, no interior da filosofia, do obje- to em si afirmado para o discurso que o afirmava, que o elegia como uma verdade. Isso trazia uma questão nova, se o foco está no discurso, quem o emite? O ser humano? E, se assim o faz, a questão do conhecimento se encontra nos enunciados e ar- gumentos – no discurso e em sua retórica –, e não na matéria. Esses pensadores que iniciaram um novo percurso na filo- sofia foram os sofistas. Consideravam que a verdade era relativa, pois dependia de convencimento lógico, de argumentação fun- dada na defesa de uma ideia. Nesse sentido, há um deslocamen- to claro, preciso, da natureza, da physis (matéria), para o nomos (nomeação, convenção), algo fundamentalmente humano. Se a questão do conhecimento passa, de forma necessária, pelo dis- curso que o enuncia e o homem é o verbalizador, então, a filosofia deverá tratar do homem, do anthropos. AKG-IM AGES/NEW SCOM /GLOW IM AGES Protágoras de Abdera viveu na época de Sócrates. É um dos representantes dos sofistas e, entre suas considerações a respeito do justo, teria afirmado: Das coisas belas, umas são belas por natureza e outras por lei, mas as coisas justas não são justas por causa da natureza, os homens estão continuamente disputando pela justiça e a alteram também continuamente. Para os sofistas, bem abastecidos de informações e co- nhecedores da arte de persuasão pela palavra, a justiça não era natural ou divina, fruto de um princípio, de uma physis, porque dependia de leis convencionadas pelos homens por meio da argumentação, da palavra. Isso era muito claro para esses pensadores: se existem leis diferentes em cada cida- de e a justiça é feita com base nelas, a justiça não é natural, não é physis, é convenção. Os próprios deuses existem pela physis ou pela convenção? Respondiam: pela convenção, in- tegram o nomos, pois povos diferentes possuem deuses dife- rentes por convencioná-los de forma distinta. Concluía-se daí que a justiça era relativa e as divindades também. O que era a verdade, então? A verdade era relativa. Relativa ao discurso pronunciado e à sua capacidade de convencimento. Se tudo era por convenção, tudo podia ser ensinado. Os sofistas eram os professores requisitados em várias cidades no mundo grego, para o ensino da arte da persuasão. Ganha- vam para ensinar os cidadãos a usar a palavra para convencer sobre esta ou aquela questão a ser decidida pela pólis. A. A Ágora e a Acrópole de Atenas A cidade em que os pensadores eram mais requisitados era Atenas, pois ali se desenvolveu um modelo político que franqueou aos homens, independentemente do grau de ri- queza, a participação na vida política. Esse modelo político fi- cou conhecido na história como democracia. Havia restrições a estrangeiros, a homens atenienses cujos pais não eram nascidos na pólis, às mulheres e aos escravos, mas a demo- cracia, para a época, representava uma ampla participação dos cidadãos nos assuntos comuns relativos à sua cidade. 2 28 1 Fi lo so fi a 24 5 Ci ên ci as H um an as e s ua s Te cn ol og ia s EM I-1 5- 20 Nas palavras de Péricles, legislador ateniense que con- duziu Atenas em seu esplendor democrático: Nossa constituição nada tem a invejar dos outros: é modelo e não imita. Chama-se demo- cracia porque age para o maior número e não para uma minoria. Todos participam igualmen- te dasleis concernentes aos assuntos públicos […]. Nem a pobreza nem a obscuridade impe- dem um cidadão capaz de servir à cidade […]. Permanecemos submetidos aos magistrados e às leis, sobretudo àquelas que protegem con- tra a injustiça. […] Os mesmos homens podem dedicar-se aos seus negócios particulares e aos do Estado; os simples artesãos podem entender suficientemente de questões políticas. Somente nós consideramos quem delas não participa um inútil, e não um ocioso. É por nós mesmos que decidimos os negócios da cidade e deles temos uma ideia exata: para nós, a palavra não é nociva à ação; o que é nocivo é não informar-se pela palavra antes de se lançar à ação […] Discurso de Péricles. In: MOSSÉ, Claude. As instituições gregas. Lisboa: 70, 1985. p. 157. HARRY GOUVAS A era de Péricles, idealizada por Phillipp von Foltz, em 1853. Para Péricles, era fundamental que todos participassem dos assuntos públicos e o debate era essencial para a ação. Assim, a palavra era eleita como o caminho do entendimento e da justiça. E quem conhecia bem os mecanismos do discur- so, da lógica, da retórica e que podia contribuir para o governo democrático? Muitos em Atenas respondiam: os sofistas. Representação da Ágora e da Acrópole de Atenas no século V a.C. ACRÓPOLE Casa da moeda Casa da Fonte Via da Panateneia Altar dos 12 deuses Pórtico de Zeus Pórtico Real Templo de Hefesto Strategeion Buleutérion ÁGORA Pritaneu Pórtico Sul Cadeia Tribunal Assembleia Parthenon RENATO CALDERARO / PEARSON BRASIL A Ágora era um espaço central da vida na pólis, lugar onde os cidadãos se reuniam para debater e deliberar os assuntos comuns, as questões públicas. Atenas conheceu o esplendor de sua democracia no século V a.C. e a Ágora recebeu milhares de cidadãos interessados em contribuir para a organização da cidade e da vida coletiva. Percebemos, dessa forma, que as questões dos físicos sobre a origem material do Universo ficavam em segundo plano. O importante eram as visões que podiam ser construídas pelo discurso e que legitimavam, por sua lógica interior, algo passível de 2 28 1 Fi lo so fi a 24 6 Ci ên ci as H um an as e s ua s Te cn ol og ia s EM I-1 5- 20 ser considerado verdadeiro. Se havia convencimento, havia uma verdade. Existia um mal-estar, pois alguns pensadores imagina- vam que talvez a busca por uma resposta física à existência do Universo estivesse equivocada, mas que a proposta so- fista também era prejudicial à busca da verdade, pois era um jogo retórico de construção de imagens que mais iludia, que mais enganava o homem, do que contribuía para o conheci- mento. Um homem que se destacou neste campo foi o cida- dão ateniense Sócrates. Górgias de Leontina, outro pensador sofista do século V a.C., também afirmou não existirem verdades morais ab- solutas, pois tudo dependia do que fosse convencionado entre os homens como sendo o certo – e isso poderia va- riar de acordo com o tempo, com as situações de cada mo- mento: “Nada existe que possa ser conhecido; se pudesse ser conhecido não poderia ser comunicado; se pudesse ser comunicado não poderia ser compreendido”. Esse foi o relativismo sofista combatido por Sócrates. 2. A proposta socrática Sócrates não escreveu seus ensinamentos: nada escrito por ele foi encontrado. As informações mais significativas a seu respeito foram deixadas por seu discípulo, Platão. Alguns estudiosos questionam a existência de Sócrates, afirmando que Platão teria criado um personagem para dar vazão às suas ideias. Independentemente de sua existência física ou de sua personificação por Platão, devemos considerar atenta- mente suas colocações. Assista ao vídeo sobre a vida do pensador grego Sócrates, disponível em: <https://www.youtube.com/ watch?v=mQiQqPsQ4Bs>. Acesso em: 3 ago. 2014. Sócrates teria se inconformado com a ação dos sofistas para os quais a verdade dependia de como se falava e se con- vencia. Achava que a prática sofista criava apenas uma apa- rência de conhecimento (doxa) não revelando a verdade (alé- theia). Para Sócrates, o homem que amava o conhecimento não o criava pela palavra, como os sofistas faziam, mas fazia com que ele viesse à luz. O filósofo não cria a verdade, mas ajuda-a a aparecer. É como se fosse o parteiro do conhecimento. Esta me- táfora expressava com clareza sua visão a respeito do assunto: a parteira não havia criado a criança, mas contribuía, ajudava, para que ela viesse à luz. Era assim que o filósofo devia agir. Daí sua proposta ser conhecida por maiêutica (maieutiké), palavra grega referente à parteira, à arte da parturejar, de trazer à luz. Na visão de Sócrates, os sofistas atuavam no universo da opinião e não no da verdade. Para se chegar à verdade, em primeiro lugar, deveríamos partir do pressuposto de que não a temos, de que somos ignorantes. O ponto de partida deveria ser o saber-se ignorante, pois, se o homem achasse que sabia a verdade, continuaria no mundo das aparências e dos precon- ceitos, não atingindo o conhecimento de fato. O homem deveria também perguntar qual era o fundamento racional daquilo que falava e pensava, ou melhor, quais as razões rigorosas para di- zer o que dizia e pensar o que pensava. Para tanto, era funda- mental o diálogo, a conversa. Por meio do diálogo crítico e não do monólogo, prática comum dos sofistas que monopolizavam a palavra, seria possível o questionamento para se atingir o conceito, dando, dessa forma, vazão à verdade. A prática do diálogo envolveria o recurso à ironia (eiróneia), uma espécie de refutação da resposta do interlocutor, mostran- do que aquilo afirmado por este era apenas uma aparência de conhecimento. De acordo com a professora Marilena Chaui: Diferentemente dos sofistas, Sócrates não se apresenta como professor. Pergunta, não respon- de. Indaga, não ensina. Não faz preleções, mas introduz o diálogo como forma da busca da ver- dade. Essa foi a razão de não haver escrito coisa alguma. [...] Na primeira parte, feita a pergunta, Sócrates comenta as várias respostas que a ela são dadas, mostrando que são sempre precon- ceitos recebidos, imagens sensoriais percebidas ou opiniões subjetivas e não a definição buscada. Esta primeira parte chama-se ironia (eiróneia), isto é, refutação com a finalidade de quebrar a solidez aparente dos preconceitos. Na segunda parte, Só- crates, ao perguntar, vai sugerindo caminhos ao interlocutor até que este chegue à definição pro- curada. Esta segunda parte chama-se maiêutica (maieutiké), isto é, a arte de realizar um parto; no caso, parto de uma ideia verdadeira. CHAUI, Marilena. Dos pré-socráticos a Aristóteles. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. p. 189, 190. Sócrates teria, dessa forma, estabelecido uma proposta diferente para o conhecimento. Escapava da filosofia física por buscar a verdade num conceito, em algo além do Mundo Material, utilizando-se das palavras. Por meio delas, procu- rava trazer a verdade à luz, diferentemente dos sofistas que usavam a palavra sem se preocuparem em buscar a essência das coisas. Sócrates, nesse sentido, teria iniciado a metafí- sica, ou seja, o conhecimento além (meta) da física, sendo este conhecimento antropológico, por dizer respeito ao ho- mem. Abria-se, por meio de Sócrates, um espaço novo para a filosofia: esta passava a fazer questionamentos a respeito do “bem”, do “belo”, ou seja, do ético e do estético. A filosofia era uma contribuição genuinamente grega que, no confronto de proposições, alargava o campo do conheci- mento, transferindo o debate da physis para o anthropos. Só- crates, entretanto, por mais que exercesse o diálogo crítico, por mais que encaminhasse a discussão sem a preocupação de ensinar, como os sofistas faziam, cada vez que questiona- va concluía que, quanto mais sabia, mais sabia que menos sabia. E este parecia ser o beco sem saída do conhecimento. Havia como escapar disso? Foi seu discípulo, Platão, que forneceu uma teoria do conhecimento propriamente dita,na tentativa de resolver o desafio socrático do conhecimento. Trataremos dessa impor- tante contribuição de Platão em seguida. Assista ao vídeo que aborda a maiêutica e uma reconstrução do julgamento de Sócrates. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=m8uEPvl- l5M>. Acesso em: 4 ago. 2014. 2 28 1 Fi lo so fi a 24 7 Ci ên ci as H um an as e s ua s Te cn ol og ia s EM I-1 5- 20 O julgamento e a condenação de Sócrates, assim como a defesa feita por ele próprio, foram narrados por Platão no livro Apologia de Sócrates. Vejamos as palavras de Sócrates: De fato, senhores, temer a morte é o mesmo que julgar-se sábio quem não o é, porque é julgar que sabe o que não sabe. Ninguém sabe o que é a morte, nem se, por ventura, será para o homem o maior dos bens; todos a temem, como se soubessem ser ela o maior dos males. A ignorância mais condenável não é essa de julgar saber o que não sabe? É talvez nesse ponto, senhores, que eu me diferencio do comum dos homens; se em alguma coisa me posso considerar mais sábio que alguém é nisto de, não sabendo o bastante sobre o Hades [1], não pensar que o saiba. Sei, contudo, que é mau e vergonhoso praticar o mal, desobedecer a um melhor do que eu, seja deus, seja homem; por isso, na alternativa com males que conheço como tais, jamais fugirei de medo do que não sei se será um bem. Por conseguinte, mesmo que agora me dispensásseis, desatendendo ao parecer de Ânito, segundo o qual, antes do mais, ou eu não devia ter vindo aqui, ou, já que vim, é impossível deixar de condenar-me à morte, asseverando ele que, se eu obtiver absolvição, logo todos os vossos filhos, pondo em prática os ensinamen- tos de Sócrates, estarão completamente corrompidos; mesmo que, apesar disso, me dissésseis: “Sócrates, por ora não atenderemos a Ânito e te deixamos ir, mas com a condição de abandonares essa investigação e a filosofia; se fores apanhado de novo nessa prática, morrerás”; mesmo, repito, que me dispensásseis com essa condição, eu vos responderia: “atenienses, eu vos sou reconhecido e vos quero bem, mas obedecerei antes ao deus que a vós; enquanto tiver alento e puder fazê-lo, jamais deixarei de filosofar, de vos dirigir exortações, de ministrar ensinamentos em toda ocasião àquele de vós que eu deparar, dizendo-lhe o que costumo: ‘meu caro, tu, um ateniense, da cidade mais importante e mais renomada por sua cultura e pode- rio, não te envergonhas de tentares adquirir o máximo de riquezas, fama e honrarias, e de não te importares nem cogitares da razão, da verdade e de melhorar quanto mais a tua alma?’” E se algum de vós retrucar que se importa, não irei embora deixando-o, mas o hei de interrogar, examinar e confundir e, sem me parecer que afirma ter adquirido a virtude e não a adquiriu, hei de repreendê-lo por estimar menos o que vale mais e mais o que vale menos. É o que hei de fazer a quem eu encontrar, jovem ou velho, estrangeiro ou cidadão, principalmente aos cidadãos, porque me estais mais próximos no sangue. Tais são as ordens que o deus me deu, ficai certos. E eu acredito que jamais aconteceu à cidade maior bem que minha obediência ao deus. Nada mais faço a não ser andar por aí convencendo-vos, jovens e velhos, a não cuidar com tanto afin- co do corpo e das riquezas, como de melhorar o mais possível a alma, dizendo-vos que dos haveres não provém a virtude para os homens, mas da virtude provêm os haveres e todos os outros bens particulares e públicos. Se com esses discursos corrompo os jovens, seriam maléficos esses preconceitos; se alguém afir- mar que digo outras coisas e não essas, mente. Por tudo isso, atenienses, diria eu, quer atendais o Ânito, quer não, quer me dispenseis, quer não, não hei de fazer outra coisa, ainda que tenha de morrer muitas vezes. [1] Na mitologia grega, o deus das profundezas subterrâneas; o mesmo nome se dava aos domínios do deus, os Infernos, banhados pelos rios Aqueronte, Cócito, Flegetonte, Lete e Estige. (N. do T.) PLATÃO. Apologia de Sócrates. In: Sócrates. São Paulo: Nova Cultural, 1999. p. 55-57. Os Pensadores. DI M IT RI OS /S HU TT ER ST OC K Sócrates criticou os sofistas, abrindo o caminho para o debate em torno da verdade como algo não convencionado, mas sempre existente e que deveria vir à luz a partir do diálogo e não do monólogo comum aos sofistas. A ruptura com os sofistas aconteceu quando Querofonte, amigo de infância de Sócrates, consultou o Templo de Delfos e perguntou quem era o homem mais sábio de todos os gregos e a sacerdotisa respondeu-lhe: Sócrates. Ao receber a notícia de Querofonte, Sócrates teria entrado em crise, pois sua consciência lhe dizia que, apesar de seu conhecimento, era um ignorante. Contudo, o Oráculo de Delfos informava que ele era o mais sábio e isso lhe causava um problema: como ele poderia ser sábio se desconfiava ser ignorante? Concluiu que sua sabedoria estava em saber-se ignorante. Este seria o ponto de partida para o conhecimento verdadeiro. M USEU M ETROPOLITANO DE ARTE, NOVA IORQUE, EUA A pintura A morte de Sócrates, idealizada por Jacques-Louis David, em 1787, representa um homem preocupado com a verdade que, em sua busca, foi condenado ao exílio – ostracismo – ou à morte, sua opção, pelo envenenamento com cicuta. 2 28 1 Fi lo so fi a 24 8 Ci ên ci as H um an as e s ua s Te cn ol og ia s EM I-1 5- 20 01. UEM-PR Sócrates representa um marco importante da história da filosofia; enquanto a filosofia pré-socrática se preocupava com o conhecimento da natureza (physis), Sócrates procura o conhecimento indagando o homem. Assinale o que for correto. 01. Sócrates, para não ser condenado à morte, negou, diante dos seus juízes, os princípios éticos da sua filosofia. 02. Discípulo de Sócrates, Platão utilizou, como protagonista da maior parte de seus Diálogos, o seu mestre. 04. O método socrático compõe-se de duas partes: a maiêutica e a ironia. 08. Tal como os sofistas, Sócrates costumava cobrar dinheiro pelos seus ensinamentos. 16. Sócrates, ao afirmar que só sabia que nada sabia, queria, com isso, sinalizar a necessidade de adotar uma nova atitu- de diante do conhecimento e apontar um novo caminho para a sabedoria. Resolução 01. Incorreta: em nome de sua ética, Sócrates sujeitou-se à pena imposta pela cidade de Atenas, ingerindo cicuta e colo- cando fim à sua vida. 08. Incorreta: Sócrates abominava a cobrança em troca de conhecimento, oferecendo seus ensinamentos gratuitamente a qualquer um que se dispusesse a acompanhá-lo. Resposta: 22 (02 + 04 + 16) APRENDER SEMPRE 20 3. De Sócrates a Platão Já nos deparamos várias vezes com expressões do tipo: “amor platônico”, “visão idealizada” ou “mundo ideal”. Tais ex- pressões estão umbilicalmente ligadas ao desenvolvimento da filosofia grega pós-socrática, pois os questionamentos de Sócrates a respeito da verdade estimularam reflexões entre seus seguidores. A campanha socrática contra o sofismo, mais particularmente a oposição de Sócrates ao caráter mo- vediço das afirmações dos sofistas e à ideia de que a verdade nada mais era do que uma convenção, fez discípulos. O termo “platônico” diz respeito a um dos seus seguidores, com certe- za o maior deles, Platão. M USEU M ETROPOLITANO DE ARTE, NOVA IORQUE, EUA Platão (427 a.C.-347 a.C.) era cidadão de Atenas, filho de uma das mais tradicionais famílias dessa cidade-Estado. É em razão de seus escritos, como A apologia de Sócrates, O banquete e A república, entre outros, que sabemos do pensamento de Sócrates. Após a morte de seu mestre e por estar desencantado com a política de Atenas, Platão empreendeu uma série de viagens. Retornando posteriormente a Atenas, fundou nos arredores da pólis uma escola chamada Academia, onde escreveu e ensinou até a sua morte. Foi na Academia que Platão recebeu o mais importante dos seus discípulos, Aristóteles de Estagira. A teoria do conhecimento construída por Platão tem por tarefa sair do “beco sem saída” de Sócrates: afinal qual seria a verdadesubjacente do mundo? Se Sócrates, quan- to mais sabia, mais percebia que menos sabia, como dar uma resposta mais sábia que esta afirmando algo no mun- do além da ignorância? Como atingir algo que pudesse ser afirmado constante, eterno, não mutável que garantisse uma confiança ao conhecimento? Platão refletiu sobre isso e imaginou a existência de um mundo à parte, em que houvesse estabilidade, por oposição ao nosso, marcado pela transitoriedade das coisas. De suas reflexões, aos poucos, foi se constituindo uma teoria bem arquitetada, uma composição bem convincente. Ora, se o problema da instabilidade está nas coisas, no Mundo Material, e se, para nos referirmos a este mundo, utilizamos a palavra, por que não considerar que a palavra é o índice da ideia? E, se a ideia existe, ela sempre será igual a si, sempre se encontrará imóvel na sua condição de ideia. Por exemplo, se falamos cadeira, temos a sua ideia de forma estática, mas a cadeira, em termos materiais, pode mudar e até deixar de ser uma cadeira, mas a ideia continuará, imperiosa. Não estaria aí a verdade? Na ideia? Aqui encontramos o pensamento de Platão, a sua teoria das ideias, e poderemos compreender o que é o mundo idealizado que muitos afirmam ainda hoje e qual o conteúdo intrínseco a ele. A. “Mundo das Ideias”: o mundo verdadeiro O filósofo considerou que deveria existir um mundo além deste, um mundo metafísico, em que a verdade se expressava plenamente. Esse mundo seria incorruptível, um Mundo Inteli- gível por oposição ao Mundo Material. A questão colocada por Platão era: como estabelecer a diferença entre a percepção do Mundo Material e a do Mundo das Ideias? 2 28 1 Fi lo so fi a 24 9 Ci ên ci as H um an as e s ua s Te cn ol og ia s EM I-1 5- 20 Sua resposta foi dada da seguinte forma: os sentidos nos informavam a respeito do Mundo Material, enquanto o pensamento nos informava o Mundo Ideal. Assim, o caráter cambiante estava vinculado às sensações que captamos na matéria, na physis, enquanto a verdade estava inserida na capacidade de raciocínio, no pensamento que acessava as ideias das coisas. Platão criou um mundo à parte, em que a perfeição sig- nificava a verdade, expressa em ideia, mas como atingir este mundo? Na Alegoria da Caverna percebemos com nitidez o percurso do filósofo rumo ao conhecimento. B. A Alegoria da Caverna A alegoria nos informa que homens estavam acorrenta- dos em uma caverna, voltados para uma parede ao fundo, de onde conseguiam enxergar algumas sombras projetadas. Tais projeções eram o resultado de movimentos de seres e obje- tos nunca vistos pelos prisioneiros de tal forma que estes homens acorrentados acreditavam ter a verdade à sua frente, naquela parede. Cada vez que o movimento alterava a proje- ção era alterada a visão e, por conseguinte, o que se afirmava da imagem. Assim, o homem vivia sem nunca poder afirmar algo que, de fato, fosse verdadeiro, vivendo em um mundo de engano, de erro. Conforme Platão coloca no livro 7 de A República: E agora, deixa-me mostrar, por meio de uma comparação, até que ponto nossa natureza hu- mana vive banhada em luz ou mergulhada em sombras. Vê! Seres humanos vivendo em um abrigo subterrâneo, uma caverna, cuja boca se abre para a luz, que a atinge em toda a exten- são. Aí sempre viveram, desde crianças, tendo as pernas e o pescoço acorrentados, de modo que não podem mover-se, e apenas veem o que está à sua frente, uma vez que as correntes os impedem de virar a cabeça. Acima e por trás deles, um fogo arde a certa distância e, entre o fogo e os prisioneiros, a uma altura mais elevada, passa um caminho. Se olha- res bem, verás uma parede baixa que se ergue ao longo desse caminho, como se fosse um antepa- ro que os animadores de marionetes usam para esconder-se enquanto exibem os bonecos. [...] Pois esses seres são como nós. Veem ape- nas suas próprias sombras, ou as sombras uns dos outros, que o fogo projeta na parede que lhes fica à frente. RENATO CALDERARO / PEARSON BRASIL O mito da caverna de Platão. Era a partir dessa analogia que o filósofo colocava a questão do conhecimento material ou sensível. Platão mostrava, por meio da Alegoria da Caverna, que aprisionar-se ao Mundo Material, ou sensível, era decididamente o caminho do desconhecimento, da fuga da verdade. 2 28 1 Fi lo so fi a 25 0 Ci ên ci as H um an as e s ua s Te cn ol og ia s EM I-1 5- 20 Para Platão, o ser humano acreditava que o mundo onde vivia era real – mas via apenas uma aparência cambiante das coisas e dos seres. Para o filósofo, tudo o que poderíamos chamar de conhecimento no Mundo Sensível não passava de projeções mutantes que não informavam a verdade: era um falso conhecimento. Assim, os sofistas eram apresentados como aqueles que viviam a tratar dessas projeções, imaginando que aquilo que falavam, se tivesse o consentimento alheio, seria uma verdade. Era fundamental, para o filósofo, quebrar os grilhões que confinavam o ser humano na caverna, sair, obter mais luz para enxergar de fato o mundo verdadeiro. Sair da caverna era atingir o Mundo das Ideias, o Mundo Inteligível, aquele que não se alterava, permanecia em identidade, em não con- tradição. A luz servia para distinguir as coisas, para facilitar a apreensão das ideias. É claro que o filósofo, rompendo os grilhões e atingindo o mundo exterior à caverna, estaria por alguns momentos sem condições de enxergar, dada a intensa luminosidade externa. Contudo, aos poucos se adaptaria à nova condição, podendo diferenciar o que estaria vendo e, com isso, dar conta da ver- dade do Universo. A seguir, imaginemos que, após compreender a verdade, esse filósofo regressasse à caverna e explicasse tudo o que vira para aqueles que continuaram agrilhoados: eles acredita- riam no filósofo? Ou o acusariam de corruptor, de dominador e de atentar contra tudo que existia em sua diversidade? Ora, Platão apontava Sócrates como esse pensador, amante do conhecimento que não foi compreendido, acusa- do de atentar contra as instituições de Atenas e de corromper a juventude. Platão se alinhava com o mestre, mas procurava persuadir os homens de que havia um caminho promissor para se chegar à verdade, o qual permitiria compartilhá-la com todos. Isso seria possível desde que acreditassem no logos que presidia sua teoria do conhecimento. Um logos que estabelecia uma duplicidade de mundos, sendo o Mun- do Sensível uma cópia corrompida do Mundo Inteligível, este acessível apenas pelo pensamento, pela palavra que expres- sava a ideia das coisas e não as coisas em si. C. Platão e um novo arranjo no encontro da física com a metafísica Enquanto Platão indicava que a prática sofista era um mal, pois impedia o homem de atingir a verdade, também re- cuperava as noções dos físicos para solucionar as suas diver- gências em outro plano. Neste último caso, devemos considerar a oposição entre Parmênides e Heráclito como uma divergência basilar do pen- samento pré-socrático (físico). Façamos uma breve digres- são sobre o pensamento dos dois filósofos mencionados. Parmênides afirmava ser a verdade imutável, constante, perene, atrelando-a à ideia de um Ser que não permitia con- tradição, ou seja, o não ser. Assim, a verdade estaria em algo além do tempo e do espaço, em algo eterno e infinito, o Ser, base do universo, uma matéria invisível aos nossos olhos, que viam apenas matérias cambiantes. Já Heráclito afirmava ser a verdade a própria contradição, a inconstância, o fogo que transmutava tudo, um fluxo de mudanças por conflitos, choques, tensões. A verdade era o conflito entre afirmação e negação, gerando movimento, pro- duzindo o devir na não identidade. Como Platão solucionou esta divergência? O filósofo já indicava na divisão que criou o “Mundo das Ideias” e o “Mundo das Sensações”, os espaços abrangidos por Parmênides e Heráclito. Parmênides teria sido o pensador que conseguiu vis- lumbrar o Mundo das Ideias, por tratar danão contradição do Ser, de sua plenitude que não comportava qualquer mu- dança. Contudo, Platão fez uma correção no pensamento par- menidiano ao afirmar que era possível pensar no não-ser no Mundo das Ideias. Por exemplo, a ideia de cadeira é idêntica a esse objeto, não cabendo qualquer contradição em sua con- dição “cadeira”, contudo a ideia de cadeira seria o não-ser da ideia de mesa. Havendo uma pluralidade de ideias que ense- jaram o Mundo Material, era possível pensar no não-ser, algo inconcebível no pensamento de Parmênides. Heráclito teria sido o pensador que percebeu o funda- mento do Mundo Sensível, ou seja, o mundo material que vive em constante mudança. Parecia que toda a filosofia encontra- va sua síntese, seu aprimoramento maior na teoria do conhe- cimento de Platão. Não foi por acaso que pensadores do vasto mundo grego se dirigiram a Atenas curiosos e ansiosos para dialogar com Platão. Não foi à toa que homens que conduziam cidades queriam a presença de Platão para compreender de que forma teriam a melhor organização política. Afinal, o filó- sofo deveria saber a verdade a respeito do melhor governo, das melhores decisões. Assista a um vídeo que problematiza os temas presentes na obra de Platão. Disponível em: <https://www.youtube.com/ watch?v=YlREcUSztSE>. Acesso em: 5 ago. 2014. D. A política na teoria do conhecimento de Platão Platão não se eximiu dessa tarefa em sua teoria do co- nhecimento, pois a ação política deveria atender à ideia de justiça e só sabe o que é justo quem sabe a verdade. Dessa forma, a política entrava em sua teoria como forma elevada de realização humana. Contudo, uma coisa eram os governos que existiam e outra, o governo ideal. Isso aparece na obra A República de forma nítida. Platão levou em conta a existência de um governo ideal em uma cidade ideal. Tal consideração dizia respeito à importância, em sua visão, da condução da vida política pelo filósofo, ou pelo rei-filósofo. Se quisermos, podemos considerar o pensamento de Pla- tão, na política, como a metafísica ensinando como o homem deveria governar melhor o Mundo Material, pois, se era possí- vel chegar à ideia de justiça e à verdade no Mundo Inteligível, isso serviria pedagogicamente, pois daria um sentido à ação política, o sentido da verdade, do Bem, o que nada mais seria que a afirmação do Belo. O que temos aqui é a união entre ética (Bem) e estética (Belo) animando a vida ideal da políti- ca na cidade pensada por Platão. Para tanto, a cidade deveria ser governada por filósofos, homens comprometidos com a busca da verdade. 2 28 1 Fi lo so fi a 25 1 Ci ên ci as H um an as e s ua s Te cn ol og ia s EM I-1 5- 20 Nesse sentido, as formas de governo na época de Platão foram criticadas por existirem de forma corrompida. A monar- quia, o governo de um (mónos), estaria corrompida pela falta de honra do governante; a aristocracia, governo dos melho- res, (áristoi) estaria corrompida pela carência de excelência, de virtude (areté), qualidade guerreira de seus membros; e o governo democrático, do povo (démos), seria corrompido pela anarquia (do grego anarkhos – “sem governantes”) e pe- los desmandos da maioria. Platão, vivendo em um momento de crise do modelo democrático ateniense, era um crítico dos sistemas gover- namentais existentes por achar que nenhum deles era jus- to e, nesse sentido, nenhum agia de acordo com a verdade. Daí sua preocupação em estabelecer, no mundo das ideias, a estruturação de uma cidade ideal, em que o governo era conduzido por sábios ou por um rei filósofo, em que havia o compromisso em decidir tendo como base a beleza e a ordem inerentes ao mundo das verdades. Em certo sentido, podemos compreender a decepção de Platão em relação às formas de governo possíveis no Mundo Material e seu desejo de “sublimar” um mundo justo no pla- no das ideias. Afinal, o mundo grego começava a dar sinais de decadência, principalmente no quadro de conflitos entre cida- des-Estados no final do século V a.C. (Guerras do Peloponeso). As ideias de Bem, de Belo, de Justo e de Verdadeiro são a base da sublimação platônica, dificilmente aplicáveis no mundo terreno (material), mas necessárias como parâmetro para medir os desvios inerentes à vida neste Mundo Sensí- vel. Assim, sua proposta sinalizava também um caminho pe- dagógico, educativo, pois insistia para os indivíduos não se afastarem tanto do mundo ideal. Para tanto, era importante reconhecer os valores verdadeiros. Afinal, Platão entendia que o homem era uma alma que habitava um corpo. A alma do homem era sua verdade e, por assim ser, tinha acesso a todas as outras ideias, verdades, do Mundo Inteligível. O caminho para o conhecimento não era adquirir algo novo, mas recuperar em si a verdade impressa na alma. A isso denominamos teoria da reminiscência de Platão. Conhecer não é propriamente conhecer, mas re-conhecer, recuperar a verdade. Daí o termo verdade, aletheia, ser uma justaposição da partícula “a” (“não”) e a palavra “letheia” (“esquecida”), significando “a não esquecida”. E. Uma hierarquia entre “Mundo Sensível” e “Mundo Inteligível”? Temos em Platão, de forma nítida, uma desvalorização do Mundo Sensível, colocado como secundário, em relação ao Mundo Inteligível, apresentado como a causa de tudo o que é no material. Para o filósofo, as ideias sempre irão existir, mas matérias produzidas a partir delas não, pois as mudanças que afetam as coisas no Mundo Sensível, ou seja, no mundo ma- terial não afetam as ideias, entendidas como matrizes, como concepções puras e incorruptíveis. Esta perspectiva metafísica do filósofo está presente nos diálogos, escritos por Platão, entre Sócrates e Euthyphro, con- forme é possível perceber no fragmento a seguir: Sócrates – Os ódios e as cóleras, meu caro ami- go, não é o dissentimento sobre alguns assuntos que os provoca? Reflitamos um pouco: será que, se tu e eu diferíssemos com opinião diferente so- bre uma questão de número, saber qual das quan- tidades é a maior, este diferendo faria de nós ini- migos? Zangar-nos-íamos um com o outro? Ou, então, não bastaria recorrer ao cálculo para con- cordarmos bem depressa sobre um tal assunto? Euthyphro – Certamente. Sócrates –- E do mesmo modo, a propósito de comprimentos mais ou menos longos, se dife- ríssemos de opinião, bastaria recorrer à medida para pormos fim ao nosso diferendo? Euthyphro – É incontestável. Sócrates – E suponho que recorreríamos à pesagem para desempatarmos a propósito do mais pesado e do mais leve? Euthyphro – Como duvidar? Sócrates – Qual é, então, o gênero de assun- tos que, na falta de um critério de decisão, susci- taria entre nós inimizades e cólera? Talvez não o percebas imediatamente. Mas pensa um pouco: se digo que é o justo e o injusto, o belo e o feio, o bem e o mal, não tenho razão? Não será a propó- sito dos nossos dissentimentos sobre isto e por causa da nossa incapacidade, nestes casos, para conseguirmos desempatar, que nos tornamos inimigos uns dos outros, quando nos tornamos, tu e eu e todos os outros homens? [...] Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ gu001642.pdf>. Traduzido pelo autor. Acesso em: 5 ago. 2014. A pretensão de Platão era atingir, em uma preocupação an- tropológica, o consenso entre os homens, a concórdia por meio do entendimento do justo, do verdadeiro, do belo e do bem. Nesse sentido, seu interesse maior se dirigia para algo fora do Mundo Material, abrindo o caminho para a filosofia discutir a ética e a estética, espaços novos de reflexão, pois eram trans- cendentes em seus fundamentos, mas com implicações con- cretas no Mundo Material, principalmente no que dizia respeito às relações entre os homens. Vamos lembrar que o dissenti- mento entre homens significa sentir diferente, opinar diferente, ou seja, estar no interior da caverna contemplando sombras. O Mundo das Sensações, então, tinha um caráter falacioso, pois era marcado apenas pela opinião oriundado sentimento, en- quanto o Mundo das Ideias, espaço metafísico por excelência, estaria contemplado justamente pela medida dos valores, os quais, atingidos, constituiriam a harmonia entre os homens. Não chegamos a uma conclusão sobre a verdade, por isso afirmamos existirem “filosofias”. Platão sinalizou um ca- minho diferente para a filosofia, mas deixou perguntas sem respostas e estas moveram o pensar filosófico para outros caminhos. Veremos nos próximos módulos outras possibili- dades para o filosofar. Assista ao vídeo que sintetiza a vida e a obra do pensador ateniense Platão, disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v= bK09eEvzpCY&list=PL476ECD1677 BEEC30&index=2>. Acesso em: 5 ago. 2014. 2 28 1 Fi lo so fi a 25 2 Ci ên ci as H um an as e s ua s Te cn ol og ia s EM I-1 5- 20 O Mundo das Ideias Empédocles e Demócrito já tinham nos chamado a atenção para o fato de que, apesar de todos os fenôme- nos da natureza “fluírem”, havia “algo” que nunca se modificava (as “quatro raízes” ou os “átomos”). Platão também se dedicou a este problema, mas de forma completamente diferente. Platão achava que tudo o que podemos tocar e sentir na natureza “flui”. Não existe, portanto, um elemento básico que não se desintegre. Absolutamente tudo o que pertence ao “mundo dos sentidos” é feito de um ma- terial sujeito à corrosão do tempo. Ao mesmo tempo, tudo é formado a partir de uma forma eterna e imutável. Entendeu? Tudo bem, não entendeu... Por que todos os cavalos são iguais, Sofia? Talvez você ache que eles não são iguais. Mas existe algo que é comum a todos os cavalos; algo que garante que nós jamais teremos problemas para reconhecer um cavalo. Naturalmente, o “exemplar” isolado do cavalo, este sim “flui”, “passa”. Ele envelhece e fica manco, depois adoece e morre. Mas a verdadeira “forma do cavalo” é eterna e imutável. Para Platão, este aspecto eterno e imutável não é, portanto, um “elemento básico” físico. Eternos e imutá- veis são os modelos espirituais ou abstratos, a partir dos quais todos os fenômenos são formados. Eu explico melhor: os pré-socráticos tinham oferecido uma explicação muito plausível para as transforma- ções da natureza, sem ter de pressupor que algo efetivamente “se transformava”. Eles achavam que no ciclo da natureza havia partículas mínimas, eternas e constantes, que não se desintegravam. Muito bem, Sofia! Eu disse muito bem! Só que eles não tinham uma explicação aceitável de como estas partículas mínimas, que um dia tinham se juntado para formar um cavalo, se juntavam novamente quatrocentos ou quinhentos anos mais tarde para formar outro cavalo, novinho em folha! Ou um puro elefante, ou um crocodilo. O que Platão quer dizer é que os átomos de Demócrito nunca podem se juntar para formar um “crocofante” ou um “eledilo”. E foi isto, precisamente, que colocou em marcha suas reflexões filosóficas. Se você já entendeu o que estou dizendo, pode pular este parágrafo. Caso não tenha entendido, vou tentar ser mais claro: digamos que você pegue uma caixa cheia de peças de Lego e construa um cavalo. Depois você desmancha o que fez e recoloca as peças de volta na caixa. Você não pode esperar obter outro cavalo apenas chacoalhando a caixa de peças. Afinal, como é que as peças de Lego podem produzir um cavalo por si mesmas? Não... você é que tem que montar o cavalo novamente, Sofia. E, se você conseguir, isto significa que na sua cabeça você tem uma imagem do que seja um cavalo. O cavalo de Lego foi formado, portanto, a partir de uma imagem-padrão que permanece inalterada de cavalo para cavalo. Você não chegou a uma conclusão semelhante sobre os cinquenta bolos iguais? Vamos imaginar agora que você caia do espaço na Terra e nunca tenha visto uma padaria. Então você passa pela vitrine muito convidativa de uma padaria e vê sobre um tabuleiro cinquenta broas exatamente iguais, todas em forma de anõezinhos. Suponho que, nessas condições, você vá coçar a cabeça e se perguntar como todas aquelas broas podem ser iguais. E é bem possível que você perceba que um anãozinho está sem um braço, outro perdeu um pedaço da cabeça e um terceiro tem uma barriga maior que a dos outros. Contudo, depois de pensar bem, você chega à conclusão de que todas as broas em forma de anãozinho têm um denominador comum. Embora nenhum deles seja absolutamente perfeito, você suspeita de que eles devem ter uma origem comum. E chega à conclusão de que todos foram assados na mesma fôrma. E mais ainda, Sofia: isto desperta em você o desejo de ver esta fôrma, pois fica claro que ela deve ser in- descritivelmente mais perfeita e, de certa forma, mais bonita do que uma de suas frágeis e imperfeitas cópias. Se você resolveu esta questão sozinha, então você conseguiu resolver um problema filosófico exatamente da mesma maneira que Platão. Como a maioria dos filósofos, ele também “caiu do espaço na Terra”, por as- sim dizer. (Ele foi lá para a pontinha dos finos pelos do coelho.) Platão ficou admirado com a semelhança entre todos os fenômenos da natureza e chegou, portanto, à conclusão de que “por cima” ou “por trás” de tudo o que vemos à nossa volta há um número limitado de formas. A estas formas Platão deu o nome de ideias. Por trás de todos os cavalos, porcos e homens existe a “ideia cavalo”, a “ideia porco” e a “ideia homem”. (E é por causa disto que a citada padaria pode fazer broas em forma de porquinhos ou de cavalos, além de anõezinhos. Pois uma padaria que se preze geralmente tem mais do que uma fôrma. Só que uma única fôrma é suficiente para todo um tipo de broa). Conclusão: Platão acreditava numa realidade autônoma por trás do “mundo dos sentidos”. A esta realida- de ele deu o nome de mundo das ideias. Nele estão as “imagens-padrão”, as imagens primordiais, eternas e imutáveis, que encontramos na natureza. Esta notável concepção é chamada por nós de a teoria das ideias de Platão. GAARDER, J. O mundo de Sofia. São Paulo: Companhia das Letras, 2005. p. 98-100. 2 28 1 Fi lo so fi a 25 3 Ci ên ci as H um an as e s ua s Te cn ol og ia s EM I-1 5- 20 01. UFU-MG Todo aquele que ama o saber conhece por ex- periência que, quando a filosofia toma conta de uma alma, vai encontrá-la prisioneira do seu corpo, totalmente grudada a ele. Vê que, impelida a ob- servar os seres, não em si e por si, mas por meio desse seu caráter, paira por isso na mais completa ignorância. Mas mais se dá ainda conta do absurdo de tal prisão: é que ela não tem outra razão de ser senão o desejo do próprio prisioneiro, que é assim levado a colaborar da maneira mais segura, no seu próprio encarceramento. PLATÃO. Fédon. Brasília: UnB, 2000. p. 66. Após analisar o texto acima, assinale a alternativa correta. a. A ignorância é fruto da observação do que é em si e por si. b. A filosofia para Platão é inata, não sendo necessá- rio nenhum esforço de quem a ela se dedica para obtê-la. c. A alma encontra-se prisioneira do corpo por desejo do próprio homem. d. A alma do filósofo encontra-se desde o início liberta dos entraves do corpo como demonstram, clara- mente, a Alegoria da Caverna e o texto acima. Resolução Segundo Platão, o desejo de alcançar a luz do conhe- cimento (filosofia) deve ser do próprio homem; é ele quem deve romper a barreira das sombras, da ignorância, a fim de buscar a verdade no Mundo das Ideias. Alternativa correta: C APRENDER SEMPRE 21 4. A filosofia de Aristóteles Se Platão, com seus questionamentos a respeito do que seria justo ou injusto, abriu caminho para discussões em tor- no da ética (Bem) e sua correspondência no âmbito da esté- tica (Belo), foi Aristóteles quem aprofundou o debate e insti- tuiu a ética como um campo do conhecimento, a respeito do homem, que deveria ser estudado. Isso o fez não sem colocar em questão o pensamento platônico, não sem fazer uma críti- ca à teoria do conhecimento de Platão. O início desta crítica residiu no mal-estar de Aristóteles em relação a certas afirmações platônicas. A princípio,como não ti- nha como refutar as afirmações de seu mestre, pois estudava e ensinava na Academia, fundada por Platão, o filósofo aceitava a divisão platônica entre “mundo sensível” e “mundo inteligível”. Porém, algo o incomodava em demasia e remetia às se- guintes questões: existiam dois mundos? Por que haveria a necessidade de um Mundo Material se este era apenas uma cópia imperfeita do Mundo das Ideias? Será que Platão não havia criado um problema ainda maior ao estabelecer a exis- tência do Mundo Inteligível descolado do Mundo Sensível? Seu erro não estaria em considerar que tudo que muda é en- ganoso? Será que a mudança não deveria integrar o universo da verdade? E, se assim o fosse, a verdade poderia ser en- contrada em todo lugar, dissipando-se a divisão entre ideia e matéria afirmada por Platão? M IDOSEM SEM /SHUTTERSTOCK Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.) nasceu em Estagira, atual Macedônia, e foi o mais ilustre discípulo de Platão. Seu pai, Nicômaco, foi médico do rei Felipe da Macedônia que, por sua vez, era o pai de Alexandre, o Grande, ou Magno (realizador de um dos maiores impérios da história da humanidade), de quem Aristóteles foi professor. Em 340 a.C., alguns anos após a morte de seu mestre, Aristóteles fundou em Atenas a sua própria escola, chamada Liceu. Em 323 a.C., ano da morte de Alexandre Magno, Aristóteles foi levado ao tribunal por motivos religiosos. Foi condenado, mas, ao contrário de Sócrates, aceitou o banimento e morreu no ano seguinte. Aristóteles encontrou uma resposta diferente, que concilia- va o conhecimento verdadeiro com o Mundo Material, sem apelar para a divisão estabelecida por Platão. Que resposta foi esta? Assista ao vídeo que sintetiza a vida e obra do grande pensador Aristóteles, disponível em: <https://www.youtube.com/ watch?v=8uru60xR54w>. Acesso em: 6 ago. 2014. A. Ato e potência Se as coisas mudam, deve haver uma razão e esta se en- contra no sentido de cada coisa ou ser. O sentido de cada coisa ou ser estaria definido por uma potência inerente, interioriza- da, que forçava sua aparição na Terra. Para que esta potência surgisse em aparência, ou seja, visualmente, era necessária a alteração de sua forma exterior até que esta fosse igual à potência interior. A cada momento de mudança da coisa ou do ser rumo ao seu sentido, à sua realização, caberia uma forma, a qual Aristóteles denominava Ato. Assim, todas as coisas e seres existiam em Ato e Potência e o destino dos mesmos era um percurso em que Ato e Potência fossem idênticos. 2 28 1 Fi lo so fi a 25 4 Ci ên ci as H um an as e s ua s Te cn ol og ia s EM I-1 5- 20 IV ON NE W IE RI NK /S HU TT ER ST OC K Seguindo o pensamento de Aristóteles, dentro do ovo está uma galinha, em estado de latência-potência que quer aparecer, tornar- -se ato, algo visível. Para tanto, o ovo, eclodindo, traz à luz um pintinho que irá se transformar, mudar, em uma sequência de atos ao longo do tempo, até se tornar uma galinha. Assim, é afirmada a verdade-galinha, quando a potência se transformou em ato, em algo aparente. Platão não teria entendido o sentido da mudança, por isso afirmou que tudo que mudava não era verdadeiro. Dessa forma, a crítica aristotélica ao pensamento platônico se fazia com toda força, reafirmando o Mundo Material como espaço de afirmação da verdade. Para Aristóteles, Platão não soube entender a razão da mudança, por isso considerava que toda alteração era en- gano, erro, uma falácia, fruto da opinião. Dessa forma, Aris- tóteles reconciliou o conhecimento com o Mundo Material, estabelecendo uma filosofia que afirmava a physis como provida de sentido, assinalando a verdade na própria natu- reza. Um exemplo em que fica nítida esta proposta filosófi- ca pode ser encontrado ao estudarmos a semente de uma planta. Para Aristóteles, a semente seria o Ato de algo im- presso no interior “daquela coisa”. Dentro de uma semente havia, em Potência, uma árvore. Assim, para que o “sentido árvore” fosse realizado, a coisa, inicialmente vista como se- mente, deveria mudar em vários Atos sucessivos até que, num dia, tornar-se-ia uma árvore. Para chegar a esse desenvolvimento filosófico, Aristó- teles desenvolveu estudos da linguagem, preocupado em precisar as coisas e os seres no universo das substâncias e das qualidades. Nesse sentido, fez trabalhos com a gramá- tica com a finalidade de visualizar o que seria substantivo e adjetivo. Afinal, falar que uma cadeira tem quatro “pernas”, um assento e um encosto referia-se ao inerente, ao próprio do objeto cadeira, mas falar que uma cadeira era branca ou amarela não alterava a substância da coisa cadeira, sendo apenas um acidente. Assim, em sua teoria do conhecimen- to, definiu na variabilidade dos seres e das coisas elemen- tos substanciais e acidentais, garantindo maior precisão, maior rigor ao debate em torno da possibilidade de conhecer olhando para o Mundo Material. As observações de Aristóteles produziram conheci- mentos importantes a respeito da natureza, o que nos leva a considerá-lo, por exemplo, o primeiro biólogo, o primeiro pensador a estabelecer uma classificação dos seres vivos de acordo com suas proximidades e distanciamentos. Tudo isso com o intuito de precisar a verdade de cada ser. Nesse sentido, acabou por colocar o homem no vértice da escala dos seres, pois, em seus estudos, afirmou a diferença entre plantas e animais. As primeiras não seriam dotadas de sensa- ção, enquanto os segundos sim. No caso dos animais, todos tinham sensação, mas o único que possuía sensação, vonta- de e razão era o homem. Dessa forma, o homem ocupava um lugar especial no mundo, cabendo-lhe fazer o uso da razão, sua característica fundamental. O que isso tudo tem a ver com a ética? De que forma a éti- ca emerge nos estudos aristotélicos como algo fundamental na vida humana? B. Ato, potência e ética Para Aristóteles, o ser humano, por ser dotado de razão, busca a realização da felicidade (em grego, eudaimonia), ou seja, do Bem, e, para tanto, sua racionalidade tem função fun- damental, pois é a partir do entendimento racional, da busca do equilíbrio por meio da medida, da proporção, ou seja, da razão, que o homem pode atingir o Bem. Sê senhor da tua vontade e escravo da tua consciência. (Aristóteles) M IDOSEM SEM /SHUTTERSTOCK O pensamento aristotélico afirma prudência, justiça e temperança como virtudes humanas, constituídas a partir da razão, que conduzem o homem para a felicidade, fim último da existência. A inteligência, associada à vontade, na busca do prazer deveria conferir ao homem o conhecimento ético necessário ao convívio coletivo, pois a felicidade não é o interesse individual, mas comum dos homens. Há, então, pela própria natureza humana um espaço de ação que pretende atingir a vontade de ser feliz (sentido). Contudo, tal ação deve ser movida pelas virtudes intelectual e moral. A virtude intelectual é proveniente do ensino, da educação e se consegue com a experiência; já a virtude mo- ral provém do hábito, em grego éthos, daí surgindo a palavra êthiké (ética). Assim, a ética aparece na vida do homem como a possibilidade de atuar por meio de atitudes, hábitos, que le- vem o homem para um estado de felicidade. Podemos, então, perceber que o pensamento aristotélico que trata do Ato e da Potência comparece no debate em tor- no da condição humana e do seu destino. Como o homem é livre para agir se estabelece um problema fundamental, qual a melhor ação, qual a atitude que pode instaurar a felicidade? Como o homem pode ser feliz se, por natureza, é um ser gre- gário? É possível a felicidade individual sem que haja a felici- dade coletiva? Dessa forma, a ética entra nos estudos aristo- télicos como elemento-chave para a realização do sentido da humanidade. A reflexão ética diz respeito à melhor ação entre os homens para que a felicidade exista. C. Ética e política Quando trata da cidade e do homem, Aristóteles escreve: É evidente,pois, que a cidade faz parte das coi- sas da natureza, que o homem é naturalmente um animal político, destinado a viver em sociedade, e que aquele que, por instinto, e não porque qualquer circunstância o inibe, deixa de fazer parte de uma cidade, é um ser vil ou superior ao homem [...]. ARISTÓTELES. Política. Rio de Janeiro: Ediouro, 1997. p. 13. 2 28 1 Fi lo so fi a 25 5 Ci ên ci as H um an as e s ua s Te cn ol og ia s EM I-1 5- 20 É na obra Ética a Nicômaco que Aristóteles coloca a ques- tão da ética em primeiro plano, relacionando-a à política. A filosofia aristotélica pode ser considerada prática, pois as conclusões extraídas de seu pensamento servem para a vida cotidiana, pois devem pautar as ações humanas em socieda- de. Afinal, a ética pode ser entendida como um conhecimento a respeito da práxis humana. Se há um sentido potencial hu- mano, que é o da felicidade, a busca de realização do sentido envolve necessariamente um conjunto de ações, de atos, atrelados à reflexão sobre o Bem. Assim, a metafísica aristo- télica se enlaça a uma physis, à natureza do próprio homem. Dessa forma, emerge a questão relativa ao comporta- mento em sociedade que possa levar à realização do Bem e este não deve ser considerado apenas em termos individuais, mas no conjunto de homens que integram a pólis, a cidade. De acordo com Aristóteles: Mesmo que haja identidade entre o bem do indivíduo e o da cidade, é manifestamente uma tarefa mais importante e perfeita apreender e preservar o bem da cidade, pois o bem é, certa- mente, amável mesmo para o indivíduo isolado, mas é mais belo e divino aplicado a uma estirpe e a uma cidade. ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo: Abril Cultural, 1984. p. 50. Os pensadores. O pensamento aristotélico está marcado pelo esforço de integração entre o intelecto e a vida material, algo que se en- contra dissociado no pensamento platônico. Dessa postura aristotélica, o resultado é uma filosofia da práxis humana que contempla os valores ditos morais que deveriam permear as relações entre os homens: as virtudes que ensejariam a felici- dade coletiva. Devemos observar que o Bem encontra-se vin- culado à ideia de justiça como em Platão, mas a questão do que seria justo é colocada de outra maneira. O justo deve ser algo no meio do caminho entre carência e excesso, um justo meio, ou o equilibrado, como uma balança de pratos com os pesos iguais. Aristóteles busca nisso, pensando a questão dos senti- mentos humanos, uma forma fundamental que não seja im- posição externa, por exemplo, uma lei do Estado, mas a acei- tação de um lugar (topos) em que o indivíduo entende o que significa a felicidade geral e atua por este parâmetro. Utilizan- do as elaborações do filósofo, temos os sentimentos de medo e confiança. O medo em excesso impede que o homem aja, o que representa a falta de audácia, ou seja, covardia, mas a falta completa do sentimento de medo, ou seja, o excesso de audácia é temerário, por não se medirem as consequências dos atos. O que seria, então, neste exemplo, o justo termo? A coragem que entende os riscos e promove soluções. Observe a seguir o esquema relativo às virtudes huma- nas e suas implicações no que diz respeito ao comportamen- to adequado para o convívio social harmonioso e feliz. Prudência Inteligência Razão teórica Razão prática Vontade Sabedoria Ciência Prudência Técnica (know-how) VIRTUDES INTELECTUAIS VIRTUDES MORAIS Justiça Fortaleza (apetite irascível) Temperança (apetite concupiscível) + > Paixões Sentimentos Gosto PRAZER RENATO CALDERARO / PEARSON BRASIL Aristóteles fez um levantamento das virtudes e de que forma a qualidade de nossos atos, associados à concepção do justo meio, poderia levar os homens à felicidade, definindo, com isso, o espaço da ética. Observe, a seguir, um resumo das virtudes morais explicitadas por Aristóteles na Ética a Nicômaco. 2 28 1 Fi lo so fi a 25 6 Ci ên ci as H um an as e s ua s Te cn ol og ia s EM I-1 5- 20 Sentimento ou paixão (por natureza) Situação em que o sentimento ou paixão são suscitados Vício (excesso) (por deliberação e por escolha) Vício (falta) (por deliberação e por escolha) Virtude (justo meio) (por deliberação e por escolha) Prazeres Tocar, ter, ingerir Libertinagem Insensibilidade Temperança Medo Perigo, dor Covardia Temeridade Coragem Riqueza Dinheiro, bens Prodigalidade Avareza Liberalidade Fama Opinião alheia Vaidade Humildade Magnificência Honra Opinião alheia Vulgaridade Vileza Respeito próprio Cólera Relação com os outros Irascibilidade Indiferença Gentileza Convívio Relação com os outros Zombaria Grosseria Agudeza de espírito Conceder prazer Relação com os outros Condescendência Tédio Amizade Vergonha Relação de si com os outros Sem-vergonhice Timidez Modéstia Sobre a boa sorte de alguém Relação dos outros consigo Inveja Malevolência Justa apreciação Sobre a má sorte de alguém Relação dos outros consigo Malevolência Inveja Justa indignação D. A ética aristotélica e o mundo contemporâneo No nosso mundo contemporâneo, pensar as questões re- lativas à ética é levar em consideração a filosofia aristotélica. Talvez possamos lançar luzes sobre as questões associadas à vida comunitária e ao universo da política, refletindo sobre a filosofia prática, comportamental, de Aristóteles, pois foi ela que gerou todo um debate em torno das ações humanas no conjunto, ou seja, das relações entre os homens, que pode- riam criar uma sociedade mais justa e, por conseguinte, feliz. E isso na Terra, não num “mundo ideal” proposto por Platão. Nesse sentido, Aristóteles confere um espaço impor- tantíssimo para a política, pois a pólis, a cidade-Estado, é o lugar por excelência das relações entre os homens, espaço de deliberações, de ações integradas no conjunto social. Daí a ética ter a função de presidir a política para que se atinja a felicidade comum. Pensar a felicidade comum, para Aristóte- les, é dar um valor especial à amizade que envolve estimar a si e ao outro. E. As limitações históricas da ética aristotélica No pensamento aristotélico, a ética e a política devem andar juntas para o bem coletivo. Contudo, devemos salien- tar que os outros desta coletividade são homens em con- dição de igualdade civil: são cidadãos, o que não abrange toda a população da cidade. Para o filósofo, existem homens que não são iguais por natureza e se destinam à escravidão. Conforme escreveu: Há na espécie humana indivíduos tão inferio- res a outros como o corpo é em relação à alma ou a fera ao homem; são os homens nos quais o emprego da força física é o melhor que dela se obtém. Partindo dos nossos princípios, tais indi- víduos são destinados por natureza à escravidão, porque, para eles, nada é mais fácil de obedecer. ARISTÓTELES. Política. Rio de Janeiro: Ediouro, s.d. p. 26. Assista ao vídeo que problematiza as questões da moderação e das paixões humanas na perspectiva aristotélica. Disponível em: <https://www.youtube.com/ watch?v=7K85Hjigfaw>. Acesso em: 4 ago. 2014. F. A filosofia pós-Aristóteles A proposta ética de Aristóteles desmoronou diante da situação histórica vivida pelos gregos após a conquista ma- cedônica e a expansão do Império de Alexandre Magno para o Oriente, pois não havia mais a vida autônoma da cidade- -Estado, da pólis. O que existia era um centro de poder e uma vontade, a de Alexandre. Aos poucos, as grandes questões relativas à vida coletiva, que contemplavam a cidade e a polí- tica foram perdendo força, surgindo disso filosofias voltadas a outras questões, consideradas menores por alguns. São as filosofias helenísticas que estudaremos no próximo módulo. PATRICIA HOFM EESTER/ISTOCK/GETTY IM AGES Alexandre Magno (356 a.C.-323 a.C.) herdou os domínios de seu pai, o rei da Macedônia, Filipe II, e conduziu macedônios e gregos rumo ao Oriente, tornando-se o imperador incontestável de um vasto território, unindo terras ocidentais e orientais. O colapsodo modelo autônomo das cidades-Estado tornava-se evidente e muitos pensadores abandonaram os debates em torno da política para discutir questões relativas ao indivíduo, ao bem individual. Aristóteles manteve aceso o debate maior sobre a política, contribuindo para discussões importantes, desde então, para a organização política associada à ética. Contudo, as filosofias helenísticas indicavam outro caminho para o pensamento. 2 28 1 Fi lo so fi a 25 7 Ci ên ci as H um an as e s ua s Te cn ol og ia s EM I-1 5- 20 [...] No esforço para definir as formas de conhecer e as diferenças entre o conhecimento verdadeiro e a ilusão, Platão e Aristóteles introduziram na Filosofia a ideia de que existem diferentes maneiras de conhecer ou graus de conhecimento e que esses graus se distinguem pela ausência ou presença do verdadeiro, pela ausência ou presença do falso. Platão distingue quatro formas ou graus de conhecimento, que vão do grau inferior ao superior: crença, opinião, raciocínio e intuição intelectual. Para ele, os dois primeiros graus devem ser afastados da Filosofia – são conhecimentos ilusórios ou das aparências, como os dos prisioneiros da caverna – e somente os dois últimos devem ser considerados válidos. O raciocínio treina e exercita nosso pensamento, preparando-o para uma purificação intelectual que lhe permitirá alcançar uma intuição das ideias ou das essências que formam a realidade ou que constituem o Ser. Para Platão, o primeiro exemplo do conhecimento puramente intelectual e perfeito encontra-se na mate- mática, cujas ideias nada devem aos órgãos dos sentidos e não se reduzem a meras opiniões subjetivas. O conhecimento matemático seria a melhor preparação do pensamento para chegar à intuição intelectual das ideias verdadeiras, que constituem a verdadeira realidade. Platão diferencia e separa radicalmente duas formas de conhecimento: o conhecimento sensível (crença e opinião) e o conhecimento intelectual (raciocínio e intuição) afirmando que somente o segundo alcança o Ser e a verdade. O conhecimento sensível alcança a mera aparência das coisas, o conhecimento intelectual alcança a essência das coisas, as ideias. Aristóteles distingue sete formas ou graus de conhecimento: sensação, percepção, imaginação, memória, raciocínio e intuição. Para ele, ao contrário de Platão, nosso conhecimento vai sendo formado e enriquecido por acumulação das informações trazidas por todos os graus, de modo que, em lugar de uma ruptura entre o conhecimento sensível e o intelectual, Aristóteles estabelece uma continuidade entre eles. A separação se dá entre os seis primeiros graus e o último, ou a intuição, que é puramente intelectual ou um ato do pensamento puro. Essa separação, porém, não significa que os outros graus ofereçam conheci- mentos ilusórios ou falsos, e sim que oferecem tipos de conhecimentos diferentes, que vão de um grau menor a um grau maior de verdade. Em cada um deles temos acesso a um aspecto do Ser ou da realidade e, na intuição intelectual, temos o conhecimento pleno e total da realidade ou dos princípios da realidade plena e total, aquilo que Aristóteles chamava de “o Ser enquanto Ser”. A diferença entre os seis primeiros graus e o último decorre da diferença do objeto do conhecimento, isto é, os seis primeiros graus conhecem objetos que se oferecem a nós na sensação, na imaginação, no raciocínio, enquanto o sétimo lida com um objeto que só pode ser alcançado pelo pensamento puro. [...] Com os filósofos gregos, estabeleceram-se alguns princípios gerais do conhecimento verdadeiro: • as fontes e as formas do conhecimento: sensação, percepção, imaginação, memória, linguagem, racio- cínio e intuição intelectual; • a distinção entre o conhecimento sensível e o conhecimento intelectual; • o papel da linguagem no conhecimento, • a diferença entre opinião e saber, • a diferença entre aparência e essência, • a definição dos princípios do pensamento verdadeiro (identidade, não contradição, terceiro excluído, causalidade), da forma do conhecimento verdadeiro (ideias, conceitos e juízos) e dos procedimentos para alcançar o conhecimento verdadeiro (indução, dedução, intuição); • a distinção dos campos do conhecimento verdadeiro, sistematizados por Aristóteles em três ramos: teorético (referente aos seres que apenas podemos contemplar ou observar, sem agir sobre eles ou neles interferir), prático (referente às ações humanas: ética, política e economia) e técnico (referente à fabricação e ao trabalho humano, que pode interferir no curso da natureza, criar instrumentos ou artefatos: medicina, artesanato, arquitetura, poesia, retórica etc.). Para os gregos, a realidade é a natureza e dela fazem parte os humanos e as instituições humanas. Por sua participação na natureza, os humanos podem conhecê-la, pois são feitos dos mesmos elementos que ela e participam da mesma inteligência que a habita e dirige. O poeta alemão Goethe criou estes versos, que exprimem como os antigos concebiam o conhecimento: Se os olhos não fossem solares Jamais o Sol nós veríamos; Se em nós não estivesse a própria força divina, Como o divino sentiríamos? O intelecto humano conhece a inteligibilidade do mundo, alcança a racionalidade do real e pode pensar a realidade porque nós e ela somos feitos da mesma maneira, com os mesmos elementos e com a mesma inteligência. CHAUI, Marilena. Convite à filosofia. 8. ed. São Paulo: Ática, 1997. p. 112-113. 2 28 1 Fi lo so fi a 25 8 Ci ên ci as H um an as e s ua s Te cn ol og ia s EM I-1 5- 20 01. UFU-MG Considere o trecho a seguir e, de acordo com a filosofia de Aristóteles, marque para as alternativas abaixo (V) verdadeira, (F) falsa ou (SO) sem opção. Diferentemente de seus predecessores, Aristóteles considera que a essência verdadeira das coisas naturais e dos seres humanos e das suas ações não está em um Mundo Inteligível, separado do Mundo Sensível, onde as coisas naturais existem e onde vivemos. As essências, diz Aristóteles, estão nas pró- prias coisas, nos próprios homens e nas suas ações e é a tarefa da filosofia conhecê-las ali mesmo onde existem e acontecem. Como conhecê-las? Partindo das sensações para alcançar a intelecção. CHAUI, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 2002. p. 217. ( ) Segundo Aristóteles, as essências das coisas são meras ficções do pensamento, expressas em palavras, uma vez que no mundo real só existem seres singulares. ( ) Um dos predecessores de Aristóteles de que fala o texto é Platão. ( ) O conhecimento de ideias gerais se faz por abstração: a partir das realidades singulares, o pensamento identifica o que há de universal nelas. ( ) Somente os seres humanos possuem essência, que é a sua alma. Resolução A primeira proposição é falsa, pois, para Aristóteles, como o próprio texto afirma, a essência das coisas e do homem está contida nas próprias coisas e no próprio homem, daí a necessidade de se reconhecer a importância dos sentidos. A quarta proposição também está errada por dois motivos: segundo Aristóteles, tudo no mundo possui sua essência, sua finalidade; além disso, a essência humana não é necessariamente a sua alma, como queria Platão. Resposta: F – V – V – F APRENDER SEMPRE 22 5. Organizador Gráfico Características Apenas texto Aristóteles Platão Sócrates Tema Tópico Subtópico destaqueSubtópico A busca pela verdade – oposição aos so�stas Proposta socrática: a maiêutica A �loso�a transforma a base de suas re�exões: deixa de se centrar na natureza (physis) e passa a se preocupar com o homem (anthropos). De Sócrates a Platão Mundo das Ideias: o mundo verdadeiro Alegoria da Caverna: a metafísica platônica A teoria política de Platão A �loso�a platônica e a busca da verdade A crítica aristotélica ao platonismo Categorias aristotélicas Ato e Potência – Ética Ética e política Díscipulo de Platão, elaborou as bases �losó�cas para a re�exão sobre a ética na vida humana Filoso�a clássica grega Aristóteles RENA TO C AL DE RA RO / PE AR SO N BR AS IL 2 28 1 Fi lo so fi a 25 9 Ci ên ci as H um an as e s ua s Te cn ol og ia s EM I-1 5- 20 Módulo 4 Filosofia clássica: Sócrates Exercícios de Aplicação 01. Unicamp-SP A sabedoria de Sócrates, filósofo ateniense que viveu no século V a.C., encontra o seu ponto de partida na afirmação “sei que nada sei”, registrada na obra Apologia de Sócrates. A frase foi uma resposta aos que afirmavam que ele era o mais sábio dos homens. Após interrogar artesãos, políticos e poe- tas, Sócrates chegou à conclusão de que ele se diferenciava dos demais por reconhecer a sua própria ignorância. O “sei que nada sei” é um ponto de partida para a Filoso- fia, pois: a. aquele que se reconhece como ignorante torna-se mais sábio por querer adquirir conhecimentos. b. é um exercício de humildade diante da cultura dos sá- bios do passado, uma vez que a função da Filosofi a era reproduzir os ensinamentos dos fi lósofos gregos. c. a dúvida é uma condição para o aprendizado e a Filo- sofi a é o saber que estabelece verdades dogmáticas a partir de métodos rigorosos. d. é uma forma de declarar ignorância e permanecer dis- tante dos problemas concretos, preocupando-se ape- nas com causas abstratas. 02. Assinale a alternativa cuja afirmação define de maneira correta a perspectiva socrática a respeito do papel do filósofo. a. O papel do filósofo é auxiliar o indivíduo a chegar à ver- dade oferecendo-lhe conceitos prontos. b. O filósofo deve se ater a explicitar o conteúdo do sen- so comum, uma vez que já se supõe o entendimento profundo dos interlocutores acerca das coisas. c. O papel do filósofo é fazer com que outro indivíduo, atra- vés do diálogo, chegue às suas próprias conclusões. d. O filósofo deve levar o interlocutor, por meio da per- suasão, à verdade consensual. e. O papel do filósofo é fazer com que o interlocutor che- gue ao verdadeiro conhecimento sozinho, pois só as- sim ele chegará à conclusão de que tudo sabe. Resolução Sócrates, filósofo ateniense do Período Clássico da Gré- cia Antiga, defendeu a tese de que a sabedoria era limitada à sua própria ignorância. Segundo ele, a verdade, escondida em cada um de nós, só é visível aos olhos da razão (daí a célebre frase “Só sei que nada sei”!). “Sei que nada sei” é um ponto de partida para a Filosofia, pois aquele que se reconhece como ignorante torna-se mais sábio por querer adquirir conhecimento. Alternativa correta: A Resolução Para Sócrates, o papel do filósofo é fazer com que o in- terlocutor, por meio da discussão, do diálogo, dê à luz suas próprias ideias. Em princípio, ele o interroga, provoca-o a dar respostas, até que caia em contradição, perceba a insuficiên- cia delas, fique perplexo e reconheça sua ignorância. Alternativa correta: C 2 28 1 Fi lo so fi a 26 0 Ci ên ci as H um an as e s ua s Te cn ol og ia s EM I-1 5- 20 03. Leia o trecho a seguir e assinale a alternativa correta. Note-se um pressuposto muito peculiar do método socrático. O corajoso, que é efetivamen- te corajoso, termina confessando que não sabe dizer o que vem a ser coragem, é incapaz de en- contrar sozinho a definição conveniente e, assim, confessa que agiu em estado de ignorância, em- bora sua ação tenha sido boa. Ora, se soubesse a definição, nunca agiria mal, pois pautaria sua ação por um padrão universal. É por ignorância, portanto, que as pessoas transgridem as leis da cidade e da moralidade. GIANNOTTI, J. A. Lições de filosofia primeira. São Paulo: Companhia das Letras, 2011. p. 44, 45. a. Sócrates instaurou uma proposta diferente para se chegar ao conhecimento. O importante era o indivíduo chegar à conclusão de que era conhecedor de deter- minado assunto para provar sua sabedoria. b. Sócrates subverteu a maneira de ensinar, pretenden- do trazer a verdade à luz, quer dizer, ele interpelava o indivíduo até fazê-lo chegar à conclusão de sua pró- pria ignorância, caminho este que faria esse indivíduo se questionar a respeito de determinados assuntos. c. O método socrático pretendia fazer o indivíduo chegar à conclusão de que não era corajoso e de que necessi- tava de ajuda para chegar ao conhecimento. d. Sócrates pregava que o indivíduo deveria transgredir as leis da cidade e da moralidade para não ser chama- do de ignorante. e. Segundo o texto, o indivíduo corajoso não deveria con- fessar que teria agido em estado de ignorância, pois senão não seria corajoso. Exercícios Extras 04. Leia o trecho a seguir e assinale a alternativa correta. Ele, por sua vez, discorria sempre sobre os valores humanos, procurando o que fosse pio, o que fosse ímpio; o que fosse belo, o que fosse feio; o que fosse justo, o que fosse injusto; o que fosse a prudência, o que fosse a loucura, o que a coragem, o que a vileza; o que fosse Estado, o que fosse estadista; o que fosse o governo, o que fosse o governador e as outras coisas cujo conhecimento, segundo ele, tornava os homens excelentes e cuja ignorância, ao contrário, fazia merecer, justamente, o nome de escravos. Xenofonte. Memoráveis. In: REALE, Giovanni. História da filosofia antiga. São Paulo: Loyola, 1993.v. 1. p. 257. a. O trecho faz referência aos sofistas, que tinham claro interesse em revelar a verdade dos valores humanos. b. O trecho faz referência aos sofistas, que tinham o inte- resse em ensinar aos homens. c. O trecho se refere aos físicos, que, diante da impossi- bilidade de responderem de forma definitiva a respei- to da origem do universo, passaram a focar a atenção no homem, no anthropos. d. O trecho faz referência a Sócrates e mostra seu inte- resse em se aprofundar na origem do universo para entender o homem. e. O trecho faz referência a Sócrates e mostra clara- mente o deslocamento de seu interesse da natureza ao homem. 05. UFU-MG O diálogo socrático de Platão é obra baseada em um su- cesso histórico: no fato de Sócrates ministrar os seus ensi- namentos sob a forma de perguntas e respostas. Sócrates considerava o diálogo como a forma por excelência do exer- cício filosófico e o único caminho para chegarmos a alguma verdade legítima. De acordo com a doutrina socrática: a. a busca pela essência do bem está vinculada a uma visão antropocêntrica da filosofia. b. é a natureza, o cosmos, a base firme da especula- ção filosófica. c. o exame antropológico deriva da impossibilidade do autoconhecimento e é, portanto, de natureza sofística. d. a impossibilidade de responder (aporia) aos dile- mas humanos é sanada pelo homem, medida de todas as coisas. Resolução Sócrates revolucionou o modo de ensinamento. Com a pre- tensão de trazer a verdade à luz, ele, ao dialogar com o indivíduo, fazia com que este chegasse ao fim do questionamento perce- bendo que nada sabia a respeito desse questionamento, pois dessa forma ele iria se descobrir ignorante, mas teria a chance de refletir, de atingir tal conceito, dando vazão à verdade. a. Incorreta: Sócrates instaurou sim uma proposta nova, mas ela não dizia que o importante era o indivíduo ser conhecedor de determinado assunto para provar sua sabedoria. c. Incorreta: o método socrático não pretendia fazer com que o indivíduo chegasse à conclusão de que não era corajoso e, por isso, necessitava de ajuda. d. Incorreta: o trecho diz o contrário: é exatamente pelo motivo de o indivíduo ser ignorante em relação às leis da cidade e da moralidade que ele as transgride. e. Incorreta: o trecho diz que o indivíduo que realmente é corajoso é aquele que não sabe o que vem a ser cora- gem e que se reconhece ignorante. Alternativa correta: B Habilidade Perceber de que forma ocorre a articulação de argumen- tos em propostas filosóficas específicas. 2 28 1 Fi lo so fi a 26 1 Ci ên ci as H um an as e s ua s Te cn ol og ia s EM I-1 5- 20 Seu espaço Exercícios Propostos Da teoria, leia os tópicos 1 e 2. Exercícios de tarefa reforço aprofundamento O texto a seguir é referênciapara as questões 6 e 7. No livro VII de A República, Platão apresenta a passagem conhecida por “Alegoria da Caverna”. Platão usa essa alegoria para representar o processo correto de educação do ser huma- no. Leia o seguinte trecho de A República no qual o persona- gem Sócrates fala àqueles que foram educados corretamente: Mas a vós, nós formamos-vos, para vosso bem e do resto da cidade, para serdes como os chefes e os reis nos enxames de abelhas, de- pois de vos termos dado uma educação melhor e mais completa do que a deles, e de vos tor- narmos mais capazes de tomar parte em ambas as atividades. Deve, portanto, cada um por sua vez, descer à habitação comum dos outros e ha- bituar-se a observar as trevas. Com efeito, uma vez habituados, sereis mil vezes melhores do que os que lá estão e reconhecereis cada ima- gem, o que ela é e o que representa, devido a terdes contemplado a verdade relativa ao belo, ao justo e ao bom. E assim teremos uma cidade para nós e para vós, que é uma realidade, e não um sonho, como atualmente sucede na maioria delas, onde combatem por sombras uns com os outros e disputam o poder, como se ele fosse um grande bem. Mas a verdade é esta: na cidade em que os que têm de governar são os menos empenhados em ter o comando, essa mesma é forçoso que seja a melhor e mais pacificamente administrada, e naquela em que os que detêm o poder fazem o inverso, sucederá o contrário. PLATÃO. A República, Livro VII, 520 b-d. Sobre o módulo • Abordar o início da filosofia clássica a partir da vida e obra do pensador grego Sócrates. • Enfatizar a transformação ocorrida na filosofia clássica no que diz respeito à sua perspectiva antropocêntrica (anthropos) em relação à filosofia pré-socrática, cuja abordagem priorizava as questões da physis (natureza). • Discorrer sobre a importância dos filósofos conheci- dos como sofistas no contexto político e pedagógico da época (Período Clássico) e quais foram os motivos que levaram Sócrates a romper com tal grupo de filó- sofos, elucidando as questões referentes aos limites do conhecimento e o uso da filosofia para meros fins políticos. • Priorizar os objetivos da filosofia na visão socrática, isto é, a busca da verdade e como o pensador atenien- se desenvolvia tal perspectiva no método conhecido como maiêutica. • Abordar quais foram as verdadeiras razões que leva- ram Sócrates a ser julgado como um criminoso em Atenas e os motivos que o levaram a aceitar a conde- nação à morte. Cinemateca Sócrates Dirigido pelo cineasta italiano Roberto Rossellini, este longa-metragem é a cinebiografia de Sócrates(469-399 a.C.), um dos maiores filósofos que a humanidade já conheceu. O filme, originalmente produzido para a televisão e lançado em 1970, mostra o final da vida do filósofo grego, incluindo seu julgamento e sua condenação à morte. É composto quase que totalmente por diálogos, baseados nos diálogos escritos por Platão, além de uma breve encenação da comédia As nu- vens, de Aristófanes, que ridiculariza Sócrates. É sempre bom lembrar que Sócrates nada escreveu, pois acreditava que a filosofia devia ser praticada oralmente. Na web Dicionário de Filosofia. Disponível em: <http://www.filosofia. com.br/dicionario.php>. Assuntos da Filosofia por períodos históricos. Disponível em: <http://www. mundodosfilosofos.com.br/>. Biografia de Sócrates. Disponível em: <http://educacao.uol.com.br/ disciplinas/filosofia/socrates-o-metodo-socratico-e- o-parto-das-ideias.htm>. Acesso em: 9 ago. 2014. Estante CHAUI, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 2000. Platão. A apologia de Sócrates. E-book gratuito. Disponí- vel em: <http://portugues.free-ebooks.net/autor/platao>. REALE, Giovanni. O saber dos antigos: terapia para os tempos atuais. São Paulo: Loyola, 1999. 2 28 1 Fi lo so fi a 26 2 Ci ên ci as H um an as e s ua s Te cn ol og ia s EM I-1 5- 20 06. UFPR Por que, de acordo com o personagem Sócrates, aque- les que receberam a educação proposta em A República de- vem governar? 07. UFPR De acordo com o personagem Sócrates, como se davam efetivamente as disputas políticas nas cidades? 08. UEG-GO Um dos pontos altos da filosofia grega é a teoria do co- nhecimento. Entre seus pensadores encontra-se Sócrates. Ao dialogar com seus interlocutores, Sócrates assumia humilde- mente a atitude de quem aprende e, multiplicando as pergun- tas, levava seu adversário à contradição, obrigando-o a reco- nhecer sua ignorância. Esse método socrático denomina-se: a. alegoria, metodologia de conhecimento segundo a qual se desenvolve o conhecimento a partir do sen- so comum. b. maiêutica, metodologia segundo a qual a idéia é gera- da ou acordada. c. ironia, método dialético segundo o qual é demonstrada a necessidade de conhecer profundamente as idéias. d. criticismo, metodologia de conhecimento que parte da crítica da razão. 09. Protágoras disse: “O homem é a medida de todas as coi- sas”.Assinale a alternativa que melhor define a ideia contida na frase. a. Esta frase sintetiza a ideia central de que o conheci- mento é universal para os sofistas. b. A ideia contida nesta frase condiz com o pensamento dos sofistas em articular argumentos com base científica. c. Esta frase é condizente com a ideia sofista sobre o re- lativismo do conhecimento. d. A ideia contida nesta frase dá continuidade à ideia dos primeiros filósofos de que, assim como para alguns pré-socráticos a água ou o fogo eram a origem do uni- verso, o homem era peça-chave que teria dado origem às coisas do universo. e. Esta frase indica que o homem é o centro do pensa- mento sofista e serve como base para a explicação da cosmologia. 10. UFPR Segundo Platão no Livro VII de A República, quem con- templa o bem prefere não retornar aos afazeres humanos quotidianos. Mesmo assim, Platão afirma que na cidade por ele concebida, aqueles que realizaram a ascensão para fora da caverna e contemplaram o bem devem ser obrigados a retornar ao convívio daqueles que não o contemplaram e a dedicar-se à administração da cidade. Após o personagem Sócrates apresentar essa tese, o personagem Glaucon adota uma posição que lhe é contrária. Glaucon afirma que a obriga- ção de fazer com que os que contemplaram o bem dediquem- -se ao governo da cidade é uma injustiça contra eles. Contra a opinião de Glaucon, Sócrates responde: Esqueceste-te, novamente, meu amigo, que à lei não importa que uma classe qualquer da ci- dade passe excepcionalmente bem, mas procura que isso aconteça à totalidade dos cidadãos, har- monizando-os pela persuasão ou pela coação, e fazendo com que partilhem uns com os outros do auxílio que cada um deles possa prestar à co- munidade; ao criar homens destes na cidade, a lei não o faz para deixar que cada um se volte para a atividade que lhe aprouver, mas para tirar partido dele para a união da cidade. PLATÃO, A república, Livro VII, 519 e 520a. Em outras palavras, qual foi a resposta de Sócrates? 11. UEM-PR modificado Sócrates foi um dos mais importantes filósofos da Anti- guidade. Para ele, a filosofia não era um simples conjunto de teorias, mas uma maneira de viver. Sobre o pensamento e a vida de Sócrates, assinale o que for correto. 01. Sócrates acreditava que passar a vida filosofando, isto é, a examinar a si mesmo e a conduta moral das pessoas, era uma missão divina na qual um deus pessoal o auxiliava. 02. Nas conversações que mantinha nos lugares públicos da Atenas do século V a.C., Sócrates repetia que tinha conhecimento de tudo para, assim, não ter o porquê de responder às questões que formulava e motivar seus interlocutores a darem conta de suas opiniões. 04. O exercício da filosofia, para Sócrates, consistia em questionar e em investigar a natureza dos princípios e dos valores que devem governar a vida. Assim se comportando, Sócrates contraiu inimizades de pode- rosos que o executaram sob a acusação de impieda- de e de corromper a juventude. 08. A maiêutica socráticaé a arte de trazer à luz, por meio de perguntas e de respostas, a verdade ou os conhe- cimentos mais importantes à vida que cada pessoa retém em sua alma. 12. De acordo com a frase abaixo, assinale a alternativa que contém o ponto crucial da ética socrática. A principal preocupação de Sócrates é o ho- mem [...]. Sócrates considera o homem de um outro ponto de vista: o da interioridade. [...] O centro da ética socrática é o conceito de areté. É esse o sentido do imperativo socrático. MARÍAS, Julián. História da filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2004. p. 44. a. “Aquilo que é não pode não ser”. b. “Tudo flui”. c. “O homem é a medida de todas as coisas”. d. “Conhece-te a ti mesmo”. e. “Tudo é cheio de deuses”. 13. Leia os trechos a seguir. Essa concepção, que separa a ordem das coi- sas naturais e a dos homens, abre a possibilidade 2 28 1 Fi lo so fi a 26 3 Ci ên ci as H um an as e s ua s Te cn ol og ia s EM I-1 5- 20 da formação de ideias não só sobre o conheci- mento, como também sobre a política e a moral. Uma vez que a medida de todas as coisas é o homem, seu conhecimento está limitado pelos sentidos, que mudam de um para outro (o que é doce para alguns, por exemplo, pode ser amargo para os demais). Assim, se existe algum acordo entre os homens, não resulta do conhecimento de uma suposta verdade absoluta, mas de sim- ples convenção. [...] Conhecê-la (a virtude) torna-se, assim, o prin- cipal objetivo do verdadeiro conhecimento — só pratica o mal quem ignora o que seja a virtude. E quem tem o verdadeiro conhecimento só pode agir bem. Desse modo, conhecimento e virtude tornam-se sinônimos. Com Sócrates, as questões morais deixam de ser tratadas como convenção baseadas nos costumes, as quais se modificam conforme as circunstâncias e os interesses, para se tornar problemas que exigem do pensamento uma elucidação racional. Nesse sentido, ele é o fundador da ética. ABRÃO, Bernadette Siqueira (Org.). História da filosofia. São Paulo: Nova Cultural, 1999. p. 38, 45. Os Pensadores. O primeiro trecho é o desenvolvimento da afirmação do sofista Protágoras “O homem é a medida de todas as coisas”. Já o segundo se refere a Sócrates. De acordo com eles, pode- mos concluir que: a. a visão dos dois se difere totalmente, uma vez que o sofista diz que o mundo é aquilo que o homem faz e desfaz por meio dos sentidos, que convenções são criadas pelos homens de acordo com as conveniên- cias e que não existe uma única verdade; já Sócrates acredita que o que importa são as ações do homem, aquelas tidas como virtuosas, que trazem o verdadei- ro conhecimento, a verdade em si. b. embora a visão dos dois seja diferente, eles se preo- cupam com o homem, o qual deve agir conforme suas conveniências. c. para Protágoras, a partir do momento em que o conhe- cimento está limitado pelos sentidos, para cada um há uma suposta verdade, enquanto, para Sócrates, a es- sência de cada um passa a ser uma verdade absoluta. d. ambos apresentam pensamentos semelhantes, como se fossem uma continuidade, quer dizer, o pensamen- to de Sócrates complementa o de Protágoras. e. a virtude para o sofista na maioria das vezes é alcan- çada pelos sentidos, enquanto para Sócrates a virtude é o principal objetivo do verdadeiro conhecimento. 14. UFU-MG Muito do que se sabe sobre a vida e sobre a filosofia de Sócrates foi transmitido pelos diálogos escritos por seu discí- pulo mais importante, Platão. Em um desses diálogos, lemos a seguinte passagem: SÓCRATES: — E nunca ouviste falar, meu gracejador, que eu sou filho de uma parteira fa- mosa e imponente, Fenarete? TEETETO: — Sim, já ouvi. SÓCRATES: — Então, já te contaram tam- bém que exerço essa mesma arte? TEETETO: — Isso nunca. SÓCRATES: — Pois fica sabendo que é ver- dade (...). A minha arte obstétrica tem atribui- ções iguais às das parteiras, com a diferença de eu não partejar mulher, porém homens, e de acompanhar as almas, não os corpos, em seu trabalho de parto. PLATÃO. Teeteto Tradução de Carlos Alberto Nunes. Belém: UFPA, 1988. Com base na filosofia de Sócrates e no trecho supraci- tado, marque, para as afirmativas abaixo, (V) verdadeira, (F) falsa e (SO) sem opção. ( ) Sócrates exercia a arte das parteiras, isto é, a arte da maiêutica. Essa arte consistia em interrogar os seus interlocutores em busca da verdade, conduzindo a investigação para além de toda aparência de saber que os homens, em geral, trazem consigo. ( ) Sócrates se dizia um parteiro de almas. No entanto, o próprio Sócrates se dizia incapaz de dizer a verdade que tentava encontrar nos interlocutores. ( ) Sócrates interrogava as pessoas em praça pública para humilhá-las, colocando-as diante da própria ignorância. Segundo ele, “o homem é a medida de todas as coisas”, por isso a verdade depende do que se pode extrair de cada homem. ( ) Sócrates se dizia o mais sábio entre todos os ho- mens, porque só ele conhecia as verdades que os outros não eram capazes de encontrar. Com a arte maiêutica, Sócrates demonstrava a superioridade do seu saber diante das falsas opiniões cultivadas pe- los cidadãos de Atenas. 15. UEM-PR SÓCRATES: Imaginemos que existam pes- soas morando numa caverna. Pela entrada dessa caverna entra a luz vinda de uma fogueira situa- da sobre uma pequena elevação que existe na frente dela. Os seus habitantes estão lá dentro desde a infância, algemados por correntes nas pernas e no pescoço, de modo que não conse- guem mover-se nem olhar para trás, e só podem ver o que ocorre à sua frente. (...) Naquela situa- ção, você acha que os habitantes da caverna, a respeito de si mesmos e dos outros, consigam ver outra coisa além das sombras que o fogo projeta na parede ao fundo da caverna? PLATÃO. A República [adaptação de Marcelo Perine]. São Paulo: Scipione, 2002. p. 83. Em relação ao célebre mito da caverna e às doutrinas que ele representa, assinale o que for correto. Dê a soma dos itens corretos. 01. No mito da caverna, Platão pretende descrever os primórdios da existência humana, relatando como eram a vida e a organização social dos homens no princípio de seu processo evolutivo, quando habita- vam em cavernas. 2 28 1 Fi lo so fi a 26 4 Ci ên ci as H um an as e s ua s Te cn ol og ia s EM I-1 5- 20 02. O mito da caverna faz referência ao contraste ser e parecer, isto é, realidade e aparência, que marca o pensamento filosófico desde sua origem e que é as- sumido por Platão em sua famosa Teoria das Ideias. 04. O mito da caverna simboliza o processo de emanci- pação espiritual que o exercício da filosofia é capaz de promover, libertando o indivíduo das sombras da ignorância e dos preconceitos. 08. É uma característica essencial da filosofia de Platão a distinção entre Mundo Inteligível e Mundo Sensível; o primeiro ocupado pelas ideias perfeitas, o segundo pelos objetos físicos, que participam daquelas ideias ou são suas cópias imperfeitas. 16. No mito da caverna, o prisioneiro que se liberta e contempla a realidade fora da caverna, devendo voltar à caverna para libertar seus companheiros, representa o filósofo que, na concepção platônica, conhecedor do “bem” e da “verdade”, é o mais apto a governar a cidade. 16. Unesp Fragmento do diálogo Fedro, de Platão (427-347 a.C.): SÓCRATES: — Vamos então refletir sobre o que há pouco estávamos discutindo; examinare- mos o que seja recitar ou escrever bem um dis- curso, e o que seja recitar ou escrever mal. FEDRO: — Isso mesmo. SÓCRATES: — Pois bem: não é necessário que o orador esteja bem instruído e realmente informado sobre a verdade do assunto de que vai tratar? FEDRO: — A esse respeito, Sócrates, ouvi o seguinte: para quem quer tornar-se orador con- sumado não é indispensável conhecer o que de fato é justo, mas sim o que parece justo para a maioria dos ouvintes, que são os que deci- dem; nem precisa saber tampouco o que é bom ou belo, mas apenas o que parece tal — pois é pela aparênciaque se consegue persuadir, e não pela verdade. SÓCRATES: — Não se deve desdenhar, caro Fedro, da palavra hábil, mas antes refletir no que ela significa. O que acabas de dizer merece toda a nossa atenção. FEDRO: — Tens razão. SÓCRATES: — Examinemos, pois, essa afir- mação. FEDRO: — Sim. SÓCRATES: — Imagina que eu procuro per- suadir-te a comprar um cavalo para defender-te dos inimigos, mas nenhum de nós sabe o que seja um cavalo; eu, porém, descobri por acaso uma coisa: “Para Fedro, o cavalo é o animal do- méstico que tem as orelhas mais compridas”... FEDRO: — Isso seria ridículo, querido Sócrates. SÓCRATES: — Um momento. Ridículo seria se eu tratasse seriamente de persuadir-te a que escrevesses um panegírico do burro, chamando- -o de cavalo e dizendo que é muitíssimo prático comprar esse animal para o uso doméstico, bem como para expedições militares; que ele serve para montaria de batalha, para transportar baga- gens e para vários outros misteres. FEDRO: — Isso seria ainda ridículo. SÓCRATES: — Um amigo que se mostra ri- dículo não é preferível ao que se revela como perigoso e nocivo? FEDRO: — Não há dúvida. SÓCRATES: — Quando um orador, ignoran- do a natureza do bem e do mal, encontra os seus concidadãos na mesma ignorância e os persua- de, não a tomar a sombra de um burro por um cavalo, mas o mal pelo bem; quando, conhece- dor dos preconceitos da multidão, ele a impele para o mau caminho, — nesses casos, a teu ver, que frutos a retórica poderá recolher daquilo que ela semeou? FEDRO: — Não pode ser muito bom fruto. SÓCRATES: — Mas vejamos, meu caro: não nos teremos excedido em nossas censuras con- tra a arte retórica? Pode suceder que ela respon- da: “que estais a tagarelar, homens ridículos? Eu não obrigo ninguém — dirá ela — que ignore a verdade a aprender a falar. Mas quem ouve o meu conselho tratará de adquirir primeiro esses conhecimentos acerca da verdade para, depois, se dedicar a mim. Mas uma coisa posso afirmar com orgulho: sem as minhas lições a posse da verdade de nada servirá para engendrar a per- suasão”. FEDRO: — E não teria ela razão dizendo isso? SÓCRATES: — Reconheço que sim, se os argumentos usuais provarem que de fato a re- tórica é uma arte; mas, se não me engano, te- nho ouvido algumas pessoas atacá-la e provar que ela não é isso, mas sim um negócio que nada tem que ver com a arte. O lacônio decla- ra: “não existe arte retórica propriamente dita sem o conhecimento da verdade, nem haverá jamais tal coisa”. Platão. Diálogos. Porto Alegre: Globo, 1962. Após uma leitura atenta do fragmento do diálogo Fedro, pode-se perceber que Sócrates combate, fundamentalmente, o argumento dos mestres sofistas, segundo o qual, para fazer bons discursos, é preciso: a. evitar a arte retórica. b. conhecer bem o assunto. c. discernir a verdade do assunto. d. ser capaz de criar aparência de verdade. e. unir a arte retórica à expressão da verdade. 2 28 1 Fi lo so fi a 26 5 Ci ên ci as H um an as e s ua s Te cn ol og ia s EM I-1 5- 20 Módulo 5 “Mundo das Ideias” e “Mundo dos Sentidos”: Platão Exercícios de Aplicação 01. UEL-PR Você está acompanhando, Sofia? E agora vem Platão. Ele se interessava tanto pelo que é eterno e imutável na natureza quanto pelo que é eterno e imutável na moral e na sociedade. Sim... para Platão tratava-se, em ambos os casos, de uma mesma coisa. Ele tentava entender uma “realidade” que fosse eterna e imutável. E, para ser franco, é para isto que os filósofos existem. Eles não estão preocupados em eleger a mulher mais bonita do ano, ou os tomates mais baratos da feira. (E exatamente por isso nem sempre são vistos com bons olhos). Os filósofos não se interessam muito por essas coisas efêmeras e cotidianas. Eles tentam mostrar o que é “eter- namente verdadeiro”, “eternamente belo” e “eternamente bom”. GAARDER, Jostein. O mundo de Sofia. Trad. de João Azenha Jr. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p. 98. Com base no texto e nos conhecimentos sobre a teoria das ideias de Platão, assinale a alternativa correta. a. Para Platão, o Mundo das Ideias é o mundo do “eterna- mente verdadeiro”, “eternamente belo” e “eternamente bom” e é distinto do Mu ndo S ensível no qual vivemos. b. Platão considerava que tudo aquilo que pode ser per- cebido diretamente pelos sentidos constitui a própria realidade das coisas. c. Platão considerava impossível que o homem pudesse ter ideias verdadeiras sobre qualquer coisa, seja so- bre a natureza, a moral ou a sociedade, porque tudo é sonho e ilusão. d. Para Platão, as ideias sobre a natureza, a moral e a socieda- de podem ser explicadas a partir das diferentes opiniões das pessoas. e. De acordo com Platão, o filósofo deve preocupar-se com as coisas efêmeras e cotidianas do mundo, tidas por ele como as mais importantes. 02. Cespe-UnB-DF Para Platão, há dois mundos: o Mundo Sensível, dos fenômenos, e o Mundo Inteligível, das ideias. O primeiro, acessível aos sentidos, é o mundo da multiplicidade, do movimento, e é ilusório, pura sombra do verdadeiro mundo. Acima do ilusório mundo sensível, há um mundo das ideias gerais, das essências imutáveis que o homem atinge pela contemplação e pela depuração dos enganos dos sentidos. Essas ideias estão hierarquizadas e, no topo delas, está a ideia do bem. O bem supremo é também a suprema beleza. Maria Lúcia de Arruda Aranha e Maria Helena Pires Martins. Filosofando: introdução à filosofia. São Paulo: Moderna, 1986, p.222. Com base no texto acima, julgue os itens subsequentes: 1. A suprema beleza, reconhecida pelos sentidos, como o da visão, pertence ao mundo sensível, àquilo que pode ser observado. 2. A “pura sombra do verdadeiro” corresponde, no texto, a “mundo sensível”. Resolução O Mundo das Ideias é o mundo da verdade eterna, una e imutável. As ideias são modelos que conferem ordem, estabi- lidade e unidade diante das mudanças de todas as coisas. Já o Mundo Sensível é o mundo material, de mudanças corren- tes, cópia imperfeita do Mundo das Ideias. Alternativa correta: A Resolução O item 1 está incorreto, pois o "belo" pertence ao mundo perfeito, ao Mundo das Ideias. Resposta: item 1 – incorreto; item 2 – correto 2 28 1 Fi lo so fi a 26 6 Ci ên ci as H um an as e s ua s Te cn ol og ia s EM I-1 5- 20 03. Leia o texto a seguir. Assim sendo, aquele que se aproxima do di- vino tem a responsabilidade de voltar ao mundo das aparências e auxiliar seus concidadãos a se liberarem de seus ferros. Se a ascese salvadora se faz pelo diálogo, a salvação também se faz pela via da amizade, da philia, no seio da pólis. GIANNOTTI, J. A. Lições de filosofia primeira. São Paulo: Cia. das Letras, 2011. p. 59. A que mito o trecho faz referência? a. Ao mito dos deuses b. Ao mito da salvação c. Ao mito platônico d. Ao mito da caverna e. Ao mito ideal Exercícios Extras 04. A frase a seguir relata o que é o conhecer para Platão. Leia-a e assinale a alternativa correta. Conhecer, portanto, não é ver o que está fora, mas, ao contrário: recordar o que está dentro de nós. As coisas são apenas um estímulo para nos afastarmos delas e nos elevarmos às ideias. a. O método do conhecimento para Platão significa que o homem parte das coisas, não para ficar nelas, mas para que elas lhe provoquem uma lembrança das ideias outrora contempladas. b. O conhecer para Platão significa procurar pelo ser ver- dadeiro, que está nas ideias, as quais são plenamente acessíveis ao nosso conhecimento direto. c. A alma do homem é sua verdade, por isso é ela a respon- sável pelo conhecimento do homem no mundo sensível. d. O verdadeiro conhecimento para Platão se encontra tan- to no mundo sensível quanto no mundo das ideias, bas- tando compreender as coisas que acontecem ao redor. e. O homem adquire conhecimento durante sua vivên- cia, não sendo possível, portanto, recordar o que está dentro de nós. 05. Sistema COC A teoria do conhecimento defendida por Platão especial-mente na Alegoria da Caverna fundamenta-se na concepção de dois mundos: um mundo sensível e um mundo das ideias. A partir dessa afirmação, pode-se concluir que: I. a concepção filosófica de Platão tem como núcleo a busca do Mundo das Ideias; II. Platão supôs a existência de um conhecimento prévio, podendo assim ser chamado de filósofo inatista; III. na filosofia platônica, o mundo das ideias correspon- de à noção de “realidade” e o Mundo Sensível à noção de “ilusão”; IV. no Mundo Sensível, o homem tem a visão obscurecida das formas, cabendo ao filósofo a tarefa de despertar esse conhecimento “adormecido”; V. não há qualquer tipo de dualismo na teoria do conhe- cimento platônica. Estão corretas as afirmações: a. I e II, apenas. b. I, II e III, apenas. c. I, II, III e IV, apenas. d. III, IV e V, apenas. e. I, II, III, IV e V. Resolução O trecho faz referência ao mito da caverna, alegoria se- gundo a qual era fundamental para o filósofo quebrar os gri- lhões que o aprisionavam na caverna para sair e enxergar o mundo verdadeiro. Essa saída significa atingir o mundo das ideias, o mundo da não contradição. Os outros mitos indica- dos nas alternativas não têm relação com Platão. Alternativa correta: D Habilidade Identificar motivações de ordem pessoal para o desen- volvimento de reflexões filosóficas. 2 28 1 Fi lo so fi a 26 7 Ci ên ci as H um an as e s ua s Te cn ol og ia s EM I-1 5- 20 Seu espaço Sobre o módulo • Problematizar as questões relacionadas à idealização das coisas na perspectiva platônica. • Abordar a teoria platônica do conhecimento enfa- tizando a dualidade na percepção da realidade por meio dos mundos "sensível” (sentidos) e “inteligível” (ideias), ilustrando a problemática por meio do mito da caverna e da teoria da reminiscência. • Abordar a visão política de Platão em sua obra A Re- pública, indagando dos alunos as possibilidades de essa visão ser aplicada nos dias atuais e ressaltando as possíveis virtudes de tal modelo e suas inerentes limitações. Cinemateca Matrix. Estados Unidos, 1999. Dirigido pelos irmãos Andy e Lana Wachowski. 138 min. Com Keanu Reeves, Laurence Fishburne, Carrie-Anne Mos. A história de ficção científica narra uma realidade futu- rista na qual os homens são dominados por máquinas que criaram uma realidade ilusória e perfeita na qual eles imagi- nam viver. A realidade imposta pela Matrix (Mundo Sensível) acoberta a verdadeira realidade (Mundo Inteligível), que se encontra fora do mundo controlado pelas máquinas. Dessa forma, a história dialoga com conceitos filosóficos da obra de Platão, tais como o mundo dos sentidos (aparências) e o mundo das ideias (verdades) e a busca da verdade. O show de Truman. Estados Unidos, 1998. Dirigido por Pe- ter Weir. 102 min. Com Jim Carey, Ed Harris, Laura Linney. Truman tem sua vida transmitida ao vivo a milhões de telespectadores, com sua imagem vinculada à propaganda de produtos diversos. Ele não sabe que é um personagem, acredita que tudo que passa na televisão é seu mundo real – não distingue o mundo das aparências e o mundo da realidade. Uma variação do mito da caverna de Platão. Na web Obras de Platão. 29 livros em PDF para download gratuito como O Banquete, Fedon e A República. Disponível em: <https://pensamentosnomadas. wordpress.com/2012/04/03/26-obras-de- platao-em-portugues-e-espanhol-pdf/>. Informações sobre diversas obras de Platão. Disponível em: <http://mitologia. blogs.sapo.pt/82689.html>. O mito da caverna. Revista Filosofia. Disponível em: <http://filosofia.uol.com.br/ filosofia/ideologia-sabedoria/23/mito-da- caverna-uma-reflexao-atual-178922-1.asp>. Estante LOPES, Daniel R. N. (Org.). Górgias de Platão: Obras II. São Paulo: Perspectiva, 2011. PLATÃO. Timeu. Tradução de Maria José de Figueiredo. São Paulo, Instituto Piaget, 2010. Escrito por volta de 360 a.C. integra os Diálogos. O traba- lho apresenta uma especulação sobre a natureza do mundo físico e os seres humanos. 2 28 1 Fi lo so fi a 26 8 Ci ên ci as H um an as e s ua s Te cn ol og ia s EM I-1 5- 20 Da teoria, leia os tópicos 3, 3.A, 3.A.1, 3.A.2, 3.B e 3.C Exercícios de tarefa reforço aprofundamento 06. UEM-PR Uma das obras de Platão (428-347 a.C.) mais conhecidas é A República, na qual se encontra o mito da caverna. Platão imagina uma caverna onde pessoas estão acorrentadas desde a infância, de tal for- ma que, não podendo ver a entrada dela, apenas enxergam o seu fundo, no qual são projetadas as sombras das coisas que passam às suas costas, onde há uma fogueira. Se um desses indivíduos conseguisse se soltar das correntes para con- templar, à luz do dia, os verdadeiros objetos, ao regressar, relatando o que viu aos seus antigos companheiros, esses o tomariam por louco e não acreditariam em suas palavras. ARANHA, M.L.A.; MARTINS, M.H. Filosofando: introdução à filosofia. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2003. p. 121. Sobre a citação acima e o alcance epistemológico do mito da caverna, assinale o que for correto. Dê a soma dos itens corretos. 01. As imagens produzidas na caverna são sombras que podem ser confundidas com a realidade. 02. A todo aquele que sai da caverna é vetada a possibili- dade de retorno. 04. A imagem da fogueira se contrapõe, fora da caverna, à presença do sol, responsável pela verdadeira luz. 08. Tal qual o mito da Esfinge, decifrado por Édipo, Platão descreve três estados da humanidade: infância, ju- ventude e maturidade. 16. Tal qual o mundo sensível, ilusório e efêmero, as ima- gens da caverna possuem um grau ontológico defici- tário ou duvidoso 07. UEL-PR Para Platão, havia outra forma de conhecer além daquela proveniente da experiência. Em sua Teoria da Reminiscência, a razão é valorizada como meio de acesso ao inteligível. De acordo com a Teoria da Reminiscência de Platão, é correto afirmar que o conhecimento é: a. proveniente da percepção sensível, na qual os sentidos retêm informações evidentes sobre o Mundo Material. b. originado da ação que os objetos exercem sobre os órgãos dos sentidos, produzindo um conhecimento inquestionável do ponto de vista da razão. c. reconhecido mediante intuição intelectual, ao se refe- rir às ideias adquiridas anteriormente e relembradas na vida presente. d. fruto da ação divina que, por meio da iluminação inte- rior, revela ao ser humano verdades eternas. e. estruturado empiricamente como condição para a rea- lização das atividades da razão. 08. UEL-PR – Quando é, pois, que a alma atinge a verda- de? Temos de um lado que, quando ela deseja in- vestigar com a ajuda do corpo qualquer questão que seja, o corpo, é claro, a engana radicalmente. – Dizes uma verdade. – Não é, por conseguinte, no ato de racioci- nar, e não de outro modo, que a alma apreende, em parte, a realidade de um ser? – Sim. [...] – E é este então o pensamento que nos guia: durante todo o tempo em que tivermos o corpo, e nossa alma estiver misturada com essa coisa má, jamais possuiremos completamente o objeto de nossos desejos! Ora, esse objeto é, como dizíamos, a verdade. PLATÃO. Fédon. São Paulo: Nova Cultural, 1987, p. 66-67. Com base no texto e nos conhecimentos sobre a concep- ção de verdade em Platão, é correto afirmar: a. A verdade reside na contemplação das sombras, refle- tidas pela luz exterior e projetadas no Mundo Sensível. b. A verdade consiste na fidelidade, e como Deus é o único verdadeiramente fiel, então a verdade reside em Deus. c. A principal tarefa da filosofia está em aproximar o má- ximo possível a alma do corpo para, dessa forma, ob- ter a verdade. d. A verdade encontra-se na correspondência entre um enunciado e os fatos que ele aponta no mundo sensível. e. O conhecimento inteligível, compreendido como ver- dade, está contido nas ideias que a alma possui. 09. Leia o excerto a seguir e assinale a alternativa que corres- ponde corretamente à ideia central. E agora, meu caro Glauco, é preciso aplicar exa- tamente essaalegoria ao que dissemos anterior- mente. Devemos assimilar o mundo que apreende- mos pela vista à estada na prisão, a luz do fogo que ilumina a caverna à ação do sol. Quanto à subida e à contemplação do que há no alto, considera que se trata da ascensão da alma até o lugar inteligí- vel. [...] nos últimos limites do mundo inteligível, aparece-me a ideia do Bem, que se percebe com dificuldade, mas que não se pode ver sem concluir que ela é a causa de tudo o que há de belo e reto. No mundo visível, ela gera a luz e o senhor da luz, no mundo inteligível ela própria é a soberana que dispensa a verdade e a inteligência. A Alegoria da Caverna. In: MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. Rio de Janeiro: Zahar, 2008. p. 64-65. Fragmento. a. Pelo trecho, é possível perceber que o Bem é gerado no Mundo Sensível. b. Se a luz pode ser gerada no Mundo Sensível, então não é necessária a ascensão da alma ao Inteligível para se obter o verdadeiro conhecimento. Exercícios Propostos 2 28 1 Fi lo so fi a 26 9 Ci ên ci as H um an as e s ua s Te cn ol og ia s EM I-1 5- 20 c. A luz simboliza o grau máximo de realidade, a própria ideia do Bem, do conhecimento e da verdade. d. Tudo o que há de belo não tem relação direta com a ideia de Bem. e. A sabedoria é gerada no mundo sensível pela luz ad- vinda do mundo inteligível. 10. UEL-PR Leia o texto de Platão a seguir. Logo, desde o nascimento, tanto os homens como os animais têm o poder de captar as im- pressões que atingem a alma por intermédio do corpo. Porém, relacioná-las com a essência e considerar a sua utilidade, é o que só com tem- po, trabalho e estudo conseguem os raros a quem é dada semelhante faculdade. Naquelas impres- sões, por conseguinte, não é que reside o conheci- mento, mas no raciocínio a seu respeito; é o único caminho, ao que parece, para atingir a essência e a verdade; de outra forma é impossível. PLATÃO. Teeteto. Belém: Universidade Federal do Pará, 1973. p. 80. Com base no texto e nos conhecimentos sobre a teoria do conhecimento de Platão, considere as afirmativas a seguir: I. Homens e animais podem confiar nas impressões que recebem do Mundo Sensível e, assim, atingir a verdade. II. As impressões são comuns a homens e animais, mas apenas os homens têm a capacidade de formar, a par- tir delas, o conhecimento. III. As impressões não constituem o conhecimento sen- sível, mas são consideradas como núcleo do conheci- mento inteligível. IV. O raciocínio a respeito das impressões constitui a base para se chegar ao conhecimento verdadeiro. Assinale a alternativa correta. a. Somente as afirmativas I e II são corretas. b. Somente as afirmativas II e IV são corretas. c. Somente as afirmativas III e IV são corretas. d. Somente as afirmativas I, II e III são corretas. e. Somente as afirmativas I, III e IV são corretas. 11. Leia o fragmento a seguir. Uma ideia é a causa de algo ser o que é. Como diz Platão, no Fédon: “se algo é belo, não o é por outra razão a não ser porque participa do Belo em si”. PECORARO, Rossano (Org.). Os filósofos clássicos da filosofia – de Sócrates a Rousseau. Rio de Janeiro: Vozes, 2009. v. 1. p. 51. Dos itens a seguir, quais apresentam sua ideia central? I. As coisas sensíveis são ontologicamente primárias, quer dizer, existem por si só, independentemente de coisas externas. II. As Ideias são independentes dos seres sensíveis, pois existem por si e em si. III. As Ideias confirmam inteligibilidade do real. IV. Se uma coisa é o que é, a todos parecerá Belo. a. Somente III e IV são corretos. b. Somente IV é correto. c. Somente I e II são corretos. d. Somente II é correto. e. Somente II e III são corretos. 12. Leia o trecho a seguir e assinale a alternativa que corres- ponde à conclusão que podemos chegar quanto à ideia de política para Platão. (Platão) reconhece que o importante não era fazer política, qualquer política, mas política. [...] Para Platão, a política não se limita à prá- tica, insegura e circunstancial. Deve pressupor a investigação sistemática dos fundamentos da conduta humana — como Sócrates ensinara. [...] a política poderia deixar de ser o jogo fortuito de ações motivadas por interesses [...] Platão. Os pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1999. p. 10, 11 e 13. a. A política, para Platão, está ligada à teoria, sendo, por- tanto, um conceito abstrato que não possibilita ações verdadeiras. b. A ação política deveria se transformar numa ação ilumina- da pela verdade, propiciando harmonia, justiça e beleza. c. Política nada tem a ver com justiça, pois esta está li- gada à verdade. d. A política não deve ser motivada por interesses parti- culares, mas sim ligada a ações circunstanciais. e. Se política está ligada à investigação sistemática, sig- nifica que ela sempre esteve ligada à ética. 13. ENEM Para Platão, o que havia de verdadeiro em Parmênides era que o objeto de conhecimento é um objeto de razão e não de sensação, e era preciso estabelecer uma relação entre objeto racional e objeto sensível ou material que pri- vilegiasse o primeiro em detrimento do segun- do. Lenta, mas irresistivelmente, a Doutrina das Ideias formava-se em sua mente. ZINGANO, M. Platão e Aristóteles: o fascínio da filosofia. São Paulo: Odysseus, 2012. Adaptado. O texto faz referência à relação entre razão e sensação, um aspecto essencial da Doutrina das Ideias de Platão (427 a.C.- 346 a.C.). De acordo com o texto, como Platão se situa diante dessa relação? a. Estabelece um abismo intransponível entre as duas. b. Privilegia os sentidos e subordina o conhecimento a eles. c. Atém-se à posição de Parmênides de que razão e sen- sação são inseparáveis. d. Afi rma que a razão é capaz de gerar conhecimento, mas a sensação não. e. Rejeita a posição de Parmênides de que a sensação é superior à razão. 2 28 1 Fi lo so fi a 27 0 Ci ên ci as H um an as e s ua s Te cn ol og ia s EM I-1 5- 20 14. UEL-PR Leia o texto, que se refere à ideia de cidade justa de Platão. Como a temperança, também a justiça é uma virtude comum a toda a cidade. Quando cada uma das classes exerce a sua função própria, “aquela para a qual a sua natureza é a mais ade- quada”, a cidade é justa. Esta distribuição de ta- refas e competências resulta do fato de que cada um de nós não nasceu igual ao outro e, assim, cada um contribui com a sua parte para a sa- tisfação das necessidades da vida individual e coletiva. (...) Justiça é, portanto, no indivíduo, a harmonia das partes da alma sob o domínio superior da razão; no estado, é a harmonia e a concórdia das classes da cidade. PIRES, Celestino. Convivência política e noção tradicional de justiça. In: BRITO, Adriano N. de; HECK, José N. (Orgs.). Ética e política. Goiânia: Editora da UFG, 1997. p. 23. Sobre a cidade justa na concepção de Platão, é correto afirmar: a. Nela todos satisfazem suas necessidades mínimas e inexistem funções como as de governantes, legisla- dores e juízes. b. É governada pelos filósofos, protegida pelos guerreiros e mantida pelos produtores econômicos, todos cum- prindo sua função própria. c. Seus habitantes desejam a posse ilimitada de rique- zas, como terras e metais preciosos. d. Ela tem como principal objetivo fazer a guerra com seus vizinhos para ampliar suas posses através da conquista. e. Ela ambiciona o luxo desmedido e está cheia de objetos supérfluos, tais como perfumes, incensos, iguarias, gulo- seimas, ouro, marfim etc. 15. Unesp Do lado oposto da caverna, Platão situa uma fogueira – fonte da luz de onde se projetam as sombras – e alguns homens que carregam ob- jetos por cima de um muro, como num teatro de fantoches, e são desses objetos as sombras que se projetam no fundo da caverna e as vozes desses homens que os prisioneiros atribuem às sombras. Temos um efeito como num cinema em que olhamos para a tela e não prestamos atenção ao projetor nem às caixas de som, maspercebemos o som como proveniente das figu- ras na tela. Danilo Marcondes. Iniciação à história da filosofia, 2001. Explique o significado filosófico da Alegoria da Caverna de Platão, comentando sua importância para a distinção entre aparência e essência. 16. UEL-PR Observe a charge a seguir. REPRODUÇÃO Disponível em: <http://jarbas.wordpress.com/2010/10/04/platao- mito-da-caverna-e-ti/>. Acesso em: 30 ago. 2012. Adaptado. Após descrever a alegoria da caverna, na obra A Repúbli- ca, Platão faz a seguinte afirmação: Com efeito, uma vez habituados, sereis mil vezes melhores do que os que lá estão e reco- nhecereis cada imagem, o que ela é e o que re- presenta, devido a terdes contemplado a verda- de relativa ao belo, ao justo e ao bom. E assim teremos uma cidade para nós e para vós, que é uma realidade, e não um sonho, como atualmen- te sucede na maioria delas, onde combatem por sombras uns com os outros e disputam o poder, como se ele fosse um grande bem. PLATÃO. A República. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1994. p. 326. a. Segundo a Alegoria da Caverna de Platão e com base nessa afirmação, explique o modelo político que con- figura a organização da cidade ideal. b. Compare a Alegoria da Caverna e a charge e explicite o que representa, do ponto de vista político, a saída do homem da caverna e a contemplação do bem. 2 28 1 Fi lo so fi a 27 1 Ci ên ci as H um an as e s ua s Te cn ol og ia s EM I-1 5- 20 Módulo 6 Aristóteles e a ética Exercícios de Aplicação 01. UFU-MG Considere as seguintes afirmações de Aristóteles e assi- nale a alternativa correta. I. “... é a ciência dos primeiros princípios e das primeiras causas.” II. “... é a ciência do ser enquanto ser.” Que ciência é essa ou quais ciências são essas? a. A ética ou a política b. A física e a metafísica c. A história e a metafísica d. A filosofia primeira ou a metafísica 02. UFF-RJ REPRODUÇÃO Imagem do detalhe de Platão e Aristóteles na pintura Escola de Atenas Na célebre pintura A Escola de Atenas, o artista renascen- tista italiano Rafael reuniu os principais nomes da filosofia grega, tendo ao centro do quadro as figuras de Platão e de Aristóteles. Na pintura, Platão aponta sua mão para o alto e Aristóteles aponta para baixo. Deste modo, com estes gestos, Rafael estava ilustrando a distinção entre a filosofia de Platão e a filosofia de Aristóteles. Indique e discorra sobre a principal diferença entre a filo- sofia de Platão e a de Aristóteles. Resolução Um dos pontos da filosofia aristotélica versa sobre a aná- lise do ser enquanto ser, na sua essência, ou seja do ponto de vista metafísico. Sendo assim, a metafísica é a ciência dos primeiros princípios e das causas primeiras. Alternativa correta: D Resolução Na pintura de Rafael, o gesto de Platão aponta o Mun- do Ideal e o de Aristóteles o Mundo Real. A interpretação de Rafael é evidentemente esquemática. O aluno poderá expor suas próprias concepções sobre as diferenças entre Platão e Aristóteles. 2 28 1 Fi lo so fi a 27 2 Ci ên ci as H um an as e s ua s Te cn ol og ia s EM I-1 5- 20 03. Sistema COC Leia o texto a seguir. A cada novo escândalo que envolve figuras da política nacional e regional, não faltam vozes a cla- mar, com evidente razão, por mais ética na políti- ca. Gostaríamos, no entanto, de provocativamente, colocar em xeque esta evidência, para, com isso, aprofundarmos um pouco mais o debate acerca da complexa relação que entre si guardam a moral, a ética, a política e o direito modernos. O bordão da “ética na política” aparece como uma palavra de ordem diretamente significativa e comovente por si só, dita por todos nós que nos cansamos dos re- correntes escândalos, que, a um só tempo, causam a indignação expressa no bordão e elevam os índi- ces de audiência da mídia, bem como inflamam os discursos dos adversários políticos dos envolvidos no escândalo da vez. Disponível em: <http://www.fd.unb.br/index.php?option=com_ content&view=article&id=649%3Aa-etica-na-politica-e-os-recentes- casos-de-corrupcao-no-df&catid=180%3Acad-noticias-menor- impacto&Itemid=2829&lang=br/>. Acesso em: 24 mar. 2014. O texto retrata o cenário atual da política brasileira em que cada vez mais a ética é clamada para questionar os valores que orientam a ação política, uma vez que tal realidade política apa- renta uma ruptura entre ambas. O tema em si não é novidade, pois, desde a Grécia Antiga, que nos forneceu as bases da cultura ocidental, com Aristóteles no século IV a.C., a função da ética é estabelecer os valores para a política. Desse modo, segundo Aris- tóteles, é correto afirmar que: a. a ética e a política são campos distintos da ação humana. b. a ética é o fundamento da política. c. a política e a ética não se relacionam. d. a ética se refere aos valores e a política se refere à ação. e. a política não precisa da ética. 04. Analise o trecho a seguir para assinalar a alternativa que contém sua ideia central. Todos os homens têm, por natureza, desejo de conhecer: uma prova disso é o prazer das sensa- ções, pois, fora até da sua utilidade, elas nos agra- dam por si mesmas e, mais que todas as outras, as visuais. [...] A razão é que ela é, de todos os sentidos, o que melhor nos faz conhecer as coisas e mais diferenças nos descobre. Por natureza, se- guramente, os animais são dotados de sensação, mas, nuns, da sensação não se gera a memória, e noutros, gera-se. Por isso, estes são mais inteli- gentes e mais aptos para aprender do que os que são incapazes de recordar. [...] Os outros [animais] vivem portanto de imagens e recordações, e de ex- periência pouco possuem. Mas a espécie humana [vive] também de arte e de raciocínios. Metafísica. In: MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. Rio de Janeiro: Zahar, 2008. p. 78-79. Fragmento. a. De acordo com o trecho, todos os animais são dotados de memória. b. Pelo trecho, sabemos que todos os seres são dotados de sensação e memória, por isso eles têm a faculdade de aprender. c. Por meio do texto, podemos perceber que o processo de conhecimento inicia-se com os sentidos, mas são insuficientes, pois seu contato com o real é instantâ- neo, necessitando também da memória, para a reten- ção desses dados sensoriais. d. Pelo trecho, notamos que para todos os animais a ex- periência pouco importa para o processo de conheci- mento, pois as sensações vão sendo acumuladas ao longo do tempo e vão assim formando a memória. e. De acordo com o trecho, percebemos que as sen- sações fornecem dados sobre o real e a memória é apenas uma etapa do processo de conhecimento que nem sempre necessita estar presente. Exercícios Extras Resolução Para Aristóteles, as relações entre ética e política são fun- damentais, uma vez que ambas buscam a felicidade, objetivo maior da existência humana. Segundo esse filósofo, a política seria um desdobramento natural da ética. Enquanto a ética postula meios para atingir a felicidade para o ser humano no plano individual, a política, por sua vez, teria o mesmo papel no âmbito coletivo. Assim, a ética funciona como um funda- mento da política na busca e na construção do bem comum, isto é, da felicidade dos homens em sociedade. a. Incorreta: para Aristóteles, a ética é a base da política, pois ambas buscam a felicidade, a primeira no âmbito individual e a segunda no plano coletivo. c. Incorreta: segundo Aristóteles, a ética é a base da polí- tica e ambas são indissociáveis. d. Incorreta: a relação entre ética e política, para Aristóte- les, não pode ser definida de forma tão rígida e distinta em suas concepções, uma vez que estão intimamente ligadas tanto nos valores quanto nas ações. e. Incorreta: para Aristóteles, a ética está vinculada à po- lítica de forma intrínseca, correspondendo a uma de suas bases mais importantes. Alternativa correta: B Habilidade Analisar a importância dos valores éticos na construção das sociedades.2 28 1 Fi lo so fi a 27 3 Ci ên ci as H um an as e s ua s Te cn ol og ia s EM I-1 5- 20 05. UEL-PR Toda cidade (polis), portanto, existe natural- mente, da mesma forma que as primeiras co- munidades; aquela é o estágio final destas, pois a natureza de uma coisa é seu estágio final. (...) Estas considerações deixam claro que a cidade é uma criação natural, e que o homem é por na- tureza um animal social, e um homem que por natureza, e não por mero acidente, não fizesse parte de cidade alguma, seria desprezível ou es- taria acima da humanidade. ARISTÓTELES. Política. 3. ed. Brasília: Ed. Universidade de Brasília, 1997. p. 15. De acordo com o texto de Aristóteles, é correto afirmar que a pólis: a. é instituída por uma convenção entre os homens. b. existe por natureza e é da natureza humana buscar a vida em sociedade. c. passa a existir por um ato de vontade dos deuses, alheia à vontade humana. d. é estabelecida pela vontade arbitrária de um déspota. e. é fundada na razão, que estabelece as leis que a or- denam. Seu espaço Sobre o módulo • Abordar a distinção que o pensamento aristotélico estabeleceu com as bases do pensamento de Platão no que tange à teoria do conhecimento, em especial o papel dos sentidos. • Desenvolver as abordagens das categorias aristotéli- cas como ato e potência, enriquecendo a reflexão por meio de intervenções e problematizações de temas do cotidiano dos alunos. • Abordar a formulação aristotélica a respeito da ética: O que é?; Qual sua função?; Qual sua relação inerente com a política? • Ressaltar de que maneira as formulações de Aristóte- les a respeito da intrínseca relação entre ética e po- lítica podem ser utilizadas para a compreensão dos fenômenos políticos e sociais da atualidade. Cinemateca À procura da felicidade. Estados Unidos, 2006. Dirigido por Gabriele Muccino. 1h57min. Sem trabalho, Chris Gardner (Will Smith) enfrenta sérios problemas financeiros. Sua mulher o abandona e ele fica com Christopher (Jaden Smith), seu filho de apenas 5 anos. Ch- ris arruma um estágio, para conseguir um emprego melhor, mas ele não consegue receber salário e é despejado. Com o filho, dorme em abrigos, estações de trem, banheiros e onde quer que consiga um refúgio à noite, sempre mantendo a es- perança de que dias melhores virão e que eles serão felizes. O filme leva à reflexão: podemos ou não ser felizes? Vários filósofos meditaram sobre essa questão, uma vez que o con- ceito de felicidade tem raízes na Grécia Antiga. Para Platão, a felicidade estava na virtude. Para Aristóteles, a felicidade era uma atividade da alma realizada de acordo com a virtude, já estabelecendo uma ligação com a ética. Na web O animal político para Aristóteles. Revista Filosofia. Disponível em: <http://filosofia.uol.com.br/filosofia/ ideologia-sabedoria/23/o-animal-politico-para- aristoteles-o-homem-e-um-178984-1.asp>. Aristóteles: O mundo da experiência, as quatro causas, ética e política. Disponível em: <http://educacao.uol.com.br/ disciplinas/filosofia/aristoteles-o-mundo-da- experiencia-as-quatro-causas-etica-e-politica.htm>. Sobre o pensamento aristotélico (política, filosofia, teologia e psicologia). Filosofia da PUC-SP. Disponível em: <http://www.pucsp.br/pos/cesima/ schenberg/alunos/paulosergio/politica.html>. Estante ARISTÓTELES. A política. São Paulo: Companhia. das Le- tras, 2010. ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Tradução de Leonel Val- landro e Gerd Bornheim. In: Aristóteles. v. 2. Os pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1991. CHAUI, Marilena. Dos pré-socráticos a Aristóteles. São Paulo: Companhia das Letras, 2002 2 28 1 Fi lo so fi a 27 4 Ci ên ci as H um an as e s ua s Te cn ol og ia s EM I-1 5- 20 Da teoria, leia os tópicos 4. 4.A, 4.B, 4.C, 4.D, 4.E e 4.F Exercícios de tarefa reforço aprofundamento 06. UFPA Para Aristóteles o homem é um animal político, um agen- te moral, pois necessita da comunidade para viver feliz. Essa “felicidade pública” é privilégio de cidadãos livres, que vivem sob leis do Estado, e exclui os escravos. De acordo com Aristó- teles, sobre o que há de natural e instituído no modo de viver humano, é correto afirmar que: a. os homens, por instinto, já nascem para viver sob o governo de um Estado. b. a vida política, entendida como vida moral, altera a re- lação do homem com a natureza animal. c. onde existe um Estado organizado o homem há de vi- ver feliz. d. ao instituir a vida política, o homem está realizando uma lei de sua natureza. e. o homem, como qualquer outro animal, nasceu não para buscar a felicidade, mas para ser feliz. 07. Leia o trecho a seguir. Um ente pode ser atualmente ou apenas uma possibilidade. Uma árvore pode ser uma árvore atual ou uma árvore em potência, em possibilidade, por exemplo, uma semente. A semente é uma árvo- re, mas em potência, como a criança é um homem, ou o pequeno, o grande. [...] a semente tem potên- cia para ser carvalho, mas não para ser cavalo. MARÍAS, Julián. História da filosofia. São Paulo: Marins Fontes, 2004. p. 75. Diante dele, podemos concluir que: a. o ato é anterior à potência. b. a potência é anterior ao ato. c. o sentido de cada coisa ou ser está definido por um ato inerente. d. cada mudança de algo ou de um ser é potência. e. a cada mudança de momento de uma coisa ou um ser caberia tanto a potência quanto o ato. 08. UEL-PR Ora, nós chamamos aquilo que deve ser buscado por si mesmo mais absoluto do que aquilo que merece ser buscado com vistas em outra coisa, e aquilo que nunca é desejável no interesse de outra coisa mais absoluto do que as coisas desejáveis tanto em si mesmas como no interesse de uma terceira; por isso chamamos de absoluto e incondicional aquilo que é sempre desejável em si mesmo e nunca no interesse de outra coisa. ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Tradução de Leonel Vallandro e Gerd Bornheim. São Paulo: Nova Cultural, 1987, 1097b, p. 15. De acordo com o texto e os conhecimentos sobre a ética de Aristóteles, assinale a alternativa correta: a. Segundo Aristóteles, para sermos felizes é suficiente sermos virtuosos. b. Para Aristóteles, o prazer não é um bem desejado por si mesmo, tampouco é um bem desejado no interesse de outra coisa. c. Para Aristóteles, as virtudes não contam entre os bens desejados por si mesmos. d. A felicidade é, para Aristóteles, sempre desejável em si mesma e nunca no interesse de outra coisa. e. De acordo com Aristóteles, para sermos felizes não é necessário sermos virtuosos. 09. Sistema COC Leia atentamente o texto abaixo: Aristóteles foi o primeiro filósofo a distin- guir a ética da política, centrada a primeira na ação voluntária e moral do indivíduo enquanto tal, e a segunda, nas vinculações deste com a comunidade. Dotado de logos, “palavra”, isto é, de comunicação, o homem é um animal po- lítico, inclinado a fazer parte de uma pólis, a “cidade” enquanto sociedade política. A cida- de precede assim a família, e até o indivíduo, porque responde a um impulso natural. Dos círculos em que o homem se move, a família, a tribo, a pólis, só esta última constitui uma so- ciedade perfeita. Daí serem políticas, de certo modo, todas as relações humanas. A pólis é o fim (telos) e a causa final da associação huma- na. Uma forma especial de amizade, a concór- dia, constitui seu alicerce. Nova Enciclopédia Barsa, v. 2, 1997. Fragmento. Da leitura do texto, é possível compreender que: a. na visão aristotélica, a ética diz respeito a questões comunitárias, enquanto a política aparece associada ao indivíduo. b. Aristóteles vê na concórdia uma ideia do “bem”, porém adverte para o fato de ser algo inatingível, pois a situa como ideal. c. para Aristóteles, o homem é um animal político devido ao fato de fazer parte de um núcleo familiar: a tribo. d. Aristóteles estabelece uma relação causal entre a sociedade política e a pólis, sendo a segunda a forma mais bem acabada da primeira. e. a política,na visão aristotélica, deve ser a imposição natural dos homens com maior capacidade de comu- nicação sobre os indivíduos menos comunicativos. 10. UEL-PR “Todos os homens, por natureza, desejam conhecer. Sinal disso é o prazer que nos propor- cionam os nossos sentidos; pois, ainda que não levemos em conta a sua utilidade, são estimados Exercícios Propostos 2 28 1 Fi lo so fi a 27 5 Ci ên ci as H um an as e s ua s Te cn ol og ia s EM I-1 5- 20 por si mesmos; e, acima de todos os outros, o sentido da visão”. Mais adiante, Aristóteles afir- ma: “Por outro lado, não identificamos nenhum dos sentidos com a Sabedoria, se bem que eles nos proporcionem o conhecimento mais fide- digno do particular. Não nos dizem, contudo, o porquê de coisa alguma. ARISTÓTELES, Metafísica. Porto Alegre: Globo, 1969, pp. 36 e 38. Adaptado. Com base no texto acima e nos conhecimentos sobre a metafísica de Aristóteles, considere as afirmativas a seguir. I. Para Aristóteles, o desejo de conhecer é inato ao ho- mem. II. O desejo de adquirir sabedoria em sentido pleno re- presenta a busca do conhecimento em mais alto grau. III. O grau mais alto de conhecimento manifesta-se no prazer que sentimos em utilizar nossos sentidos. IV. Para Aristóteles, a sabedoria é a ciência das causas particulares que produzem os eventos. A alternativa que contém todas as afirmativas corretas é: a. I e II. b. II e IV. c. I, II e III. d. I, III e IV. e. II, III e IV. 11. UEL-PR Leia o texto a seguir. No ethos (ética), está presente a razão pro- funda da physis (natureza) que se manifesta no finalismo do bem. Por outro lado, ele rompe a su- cessão do mesmo que caracteriza a physis como domínio da necessidade, com o advento do dife- rente no espaço da liberdade aberto pela práxis. Embora, enquanto autodeterminação da práxis, o ethos se eleve sobre a physis, ele reinstaura, de alguma maneira, a necessidade de a natureza fi- xar-se na constância do hábito. VAZ, Henrique C. Lima. Escritos de filosofia II. Ética e Cultura. 3. ed. São Paulo: Loyola, 2000. p.11-12. Coleção “Filosofia” – 8. Adaptado. Com base no texto, é correto afirmar que a noção de physis, tal como empregada por Aristóteles, compreende: a. a disposição da ação humana, que ordena a natureza. b. a finalidade ordenadora, que é inerente à própria na- tureza. c. a ordem da natureza, que determina o hábito das ações humanas. d. a origem da virtude articulada, segundo a necessida- de da natureza. e. a razão matemática, que assegura ordem à natureza. 12. ENEM A felicidade é, portanto, a melhor, a mais no- bre e a mais aprazível coisa do mundo, e esses atributos não devem estar separados como na inscrição existente em Delfos “das coisas, a mais nobre é a mais justa, e a melhor é a saúde; porém a mais doce é ter o que amamos”. Todos estes atributos estão presentes nas mais excelentes atividades, e entre essas a melhor, nós a identifi- camos como felicidade. ARISTÓTELES. Política. São Paulo: Cia. das Letras, 2010. Ao reconhecer na felicidade a reunião dos mais excelen- tes atributos, Aristóteles a identifica como: a. busca por bens materiais e títulos de nobreza. b. plenitude espiritual e ascese pessoal. c. finalidade das ações e condutas humanas. d. conhecimento de verdades imutáveis e perfeitas. e. expressão do sucesso individual e reconhecimento público. 13. Sistema COC Observe a imagem. PALÁCIO APOSTÓLICO, VATICANO, ITÁLIA. A imagem em questão é parte da obra Escola de Atenas, afresco pintado pelo pintor renascentista Rafael Sanzio, en- tre 1509 e 1510, na sala conhecida atualmente como Palácio Apostólico, no Vaticano. Os dois personagens são Platão (à esquerda) e Aristóteles (à direita). Representado por Rafael com a mão voltada para baixo, o segundo foi discípulo do pri- meiro, o qual, na perspectiva do renascentista, foi represen- tado com a mão apontando para o alto. A diferença no tocante à posição das mãos dos dois filósofos expressa a distinção feita por eles entre o Mundo das Ideias (ou Mundo Inteligível) e o Mundo Sensível. Com base na imagem e nas informações dadas, assinale a alternativa correta. a. A filosofia platônica parte do pressuposto de que o verdadeiro conhecimento reside no Mundo Sensível. b. A filosofia aristotélica discorda da platônica quanto ao fato de o Mundo Inteligível significar o mundo verda- deiro em detrimento do Mundo Sensível. c. Por ter sido discípulo de Platão, Aristóteles se manteve fiel às ideias do mestre, a exemplo do que nos mostra a imagem. d. Na história da filosofia, a distinção entre Mundo Sensí- vel e Mundo Inteligível tem pouca importância, sendo retratada por Rafael por mero acaso. e. A filosofia aristotélica defende o pressuposto de que a origem de todo o conhecimento humano reside no Mundo das Ideias. 2 28 1 Fi lo so fi a 27 6 Ci ên ci as H um an as e s ua s Te cn ol og ia s EM I-1 5- 20 14. UFU-MG Leia atentamente o trecho de Aristóteles, citado abaixo, e assinale a alternativa que o interpreta corretamenente. Como já vimos há duas espécies de excelên- cia: a intelectual e a moral. Em grande parte a ex- celência intelectual deve tanto o seu nascimento quanto o seu crescimento à instrução (por isto ela requer experiência e tempo); quanto à exce- lência moral, ela é o produto do hábito [...]. ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Coleção Os Pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1996. a. A excelência moral é superior à intelectual porque é resultado do nascimento. b. A excelência intelectual é positiva e a moral negativa. c. As excelências intelectual e moral anulam-se respecti- vamente. d. As excelências moral e intelectual possuem, respecti- vamente, origem no hábito e na instrução. 15. UFU-MG Considere o trecho a seguir e, de acordo com a filosofia de Aristóteles, marque para as alternativas abaixo (V) verdadei- ra, (F) falsa ou (SO) sem opção. Diferente de seus predecessores, Aristóteles considera que a essência verdadeira das coisas naturais e dos seres humanos e das suas ações não está em um mundo inteligível, separado do mundo sensível, onde as coisas naturais existem e onde vivemos. As essências, diz Aristóteles, estão nas próprias coisas, nos próprios homens e nas suas ações e é a tarefa da filosofia conhe- cê-las ali mesmo onde existem e acontecem. Como conhecê-las? Partindo das sensações para alcançar a intelecção. CHAUI, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 2002. p. 217. ( ) Segundo Aristóteles, as essências das coisas são meras ficções do pensamento, expressas em palavras, uma vez que no mundo real só existem seres singulares. ( ) Um dos predecessores de Aristóteles de que fala o texto é Platão. ( ) O conhecimento de ideias gerais se faz por abstra- ção: a partir das realidades singulares, o pensamen- to identifica o que há de universal nelas. ( ) Somente os seres humanos possuem essência, que é a sua alma. 16. UEM-PR Pois bem, o que no passado e no presente foi sempre objeto de investigação e sempre objeto de dificuldades, o que é o ser, é isto: o que é a substância (quanto a isto, uns dizem que há uma única, outros que há mais do que uma e uns di- zem que é em número limitado, outros que é em número ilimitado); por esta razão, nós devemos investigar, sobretudo, primeira e, por assim dizer, unicamente o que é o ser concebido deste modo. ARISTÓTELES. Metafísica, VII, 1028b2-7. In: FIGUEIREDO, V. Filósofos na sala de aula. v. 3. São Paulo: Berlendis & Vertecchia, 2008. p. 14. Com base no trecho citado e nos conhecimentos sobre o assunto, assinale o que for correto. 01. A investigação da noção de ser é um problema cen- tral para a reflexão filosófica. 02. A definição de substância de algo é, no limite, a defi- nição do ser desse algo. 04. A substância não é alvo de estudos no presente, mas foi analisada pelos filósofos do passado. 08. O filósofo defende uma investigação da substância ex- clusivamente enquanto o ser de algo, aquilo que algo é. 16.A definição do que é algo, o seu ser, não se altera no tempo nem no espaço. FÍS M AT QU Í BIO LP O HI S GE O FIL SO C SO C SO C SO C SO C SO C SO C SO C SO C SO C SO C RE S So cio log ia 282 Capítulo 2 ...............278Módulo 4 .............293 Módulo 5 ............ 298 Módulo 6 ............ 303 O LE KS IY M AR K/ SH UT TE RS TO CK 1. A concepção sociológica de Karl Marx 280 2. A Sociologia de Max Weber 284 3. A importância da Sociologia: desvios e possibilidades 288 4. Organizador gráfico 292 Módulo 4 – A concepção sociológica de Karl Marx 293 Módulo 5 – A Sociologia de Max Weber 298 Módulo 6 – A importância da Sociologia: desvios e possibilidades 303 • Conhecer o contexto em que o pen- samento de Marx se desenvolveu, a sociedade capitalista como relação de exploração e suas principais ideias na época. • Conhecer o contexto em que se desenvolveu o pensamento de Weber, suas principais ideias, em específi co, a concepção de vínculo entre a sociedade capitalista e a racionalização da vida. • Observar a importância de se estudar Sociologia e suas contribuições científi cas e sociais. • Discutir as principais ideias de Marx, a análise da origem da sociedade capitalista e suas transformações, além do enquadramento social. • Entender as principais ideias de Weber, a racionalização, a signifi cação da ação social. • Explicar o desenvolvimento do pensamento sociológico de acordo com os contextos sociais, políticos e culturais. • Compreender o processo histórico que levou a burguesia à classe dominante e a afi rmação de Marx sobre a luta entre classes sociais. • Entender a ideia de que o social reside na interação entre as partes, por meio da racionalização da vida moderna. • Compreender a Sociologia como forma de conhecimento científi co. O LE KS IY M AR K/ SH UT TE RS TO CK 27 9 Neste capítulo, abordaremos os pensamentos de Karl Marx e de Max Weber, dois clássicos da Sociologia, e a importância dessa área do conhecimento enquanto ciência. Fundamentos da ciência sociológica II 2 Desde seu surgimento, no século XIX, a Sociologia busca apreender as conexões que os seres humanos estabelecem para a vida em sociedade. 2 28 2 So ci o lo gi a 28 0 Ci ên ci as H um an as e s ua s Te cn ol og ia s EM I-1 5- 20 1. A concepção sociológica de Karl Marx O pensador alemão Karl Marx é considerado um dos ex- poentes do pensamento sociológico. Sua contribuição se filia às mudanças processadas no capitalismo ao longo do século XIX. Sua reflexão sobre uma ciência social capaz de dar conta das profundas alterações da vida europeia da época se tornou uma das teorias sociológicas mais estudadas e aplicadas. A teoria da história marxista não apenas ocupou um espa- ço acadêmico nas chamadas ciências humanas, mas também foi instrumento de ação política, pensamento que norteou a ação de grupos sociais organizados, em especial, os trabalha- dores. Refletir sobre as revoluções de cunho social do século XX é, de alguma forma, retomar o pensamento de Karl Marx. GE M /F AC UL DA DE D E LE TR AS /U NI VE RS ID AD E DE L IS BO A O cartaz informa a realização do II Congresso Internacional Marx, ocorrido entre os dias 8 e 10 de maio de 2014, na Universidade de Lisboa. Vários trabalhos acadêmicos ainda são produzidos dentro da perspectiva marxista, o que mostra a importância de suas reflexões a respeito da história e do capitalismo. Em termos de nomenclatura, alguns estudiosos ado- tam o termo “marxiano” para referir-se a tudo que diz res- peito diretamente ao que Marx escreveu, enquanto o termo “marxista” é aplicado às leituras de sua obra e ao que dela se derivou, isto é, o pensamento de outros autores que se desenvolveram a partir das obras de Marx. A. Marx em seu contexto histórico Marx nasceu em 1818, filho de judeus alemães, e viveu em uma Europa agitada por inúmeras revoluções. Aos 12 anos soube das revoluções iniciadas na França que, como um terremoto, atingiram outras regiões e alteraram boa parte das práticas políticas e lógicas sociais. Essas revoluções pas- saram à história como liberais ou burguesas. Elas definiram, em vários países europeus, sistemas representativos de po- der assentados em constituições que, em geral, separavam o poder em Executivo, Legislativo e Judiciário. Nesse sentido, pode-se afirmar que a lógica de poder absoluto que havia marcado o Estado Moderno até então fora enterrada em boa parte do continente europeu. Contudo, a região da Alemanha não era unificada politicamente. A histó- ria de Marx pontua o processo da unificação alemã que só se realizou em 1871, após a vitória da Prússia sobre a França de Napoleão III. HULTON ARCHIVE / STRINGER/GETTY IM AGES A representação acima, realizada em 1878, mostra o encontro de Napoleão III, imperador francês, com Otto von Bismarck, primeiro- -ministro prussiano, após a derrota francesa em Sedan, em 1870. A derrota da França para as forças alemãs é indicativa não apenas do nacionalismo europeu do período, mas do imperialismo das potências industriais na disputa pelo acesso a matérias-primas e a mercados de consumo. Essa conjuntura histórica marcou profundamente as reflexões de Karl Marx e suas considerações acerca do capitalismo. Marx estudou na Universidade de Berlim e integrou o gru- po dos “Jovens Hegelianos”. Até ali, o maior pensador alemão era Hegel, um intelectual que havia recuperado a dialética he- raclitiana para pensar a evolução humana. Hegel afirmava que toda afirmação (tese) gerava o seu “negativo” (antítese), ou seja, contradições, e a superação dessas contradições levava a uma conclusão que era mais evoluída do que aquilo que existia: tal evolução era uma sínte- se. Assim, toda contradição integrava o processo de evolução da humanidade. Hegel havia criado uma filosofia capaz de envolver tudo a partir da lógica do progresso. Foi esta singula- ridade do pensamento de Hegel que inspirou o jovem Marx a refletir sobre a sociedade e a perceber que, mais do que qual- quer noção ou pensamento, o que evoluía, fundamentalmen- te antes, era o próprio homem, de acordo com as contradições que surgiam no interior da sociedade. Deve-se considerar que não apenas existiram revoluções burguesas ou liberais, mas que, na sequência, fruto da difusão do sistema de produção industrial, os trabalhadores também viram a oportunidade de, por meio de agitações, conseguir me- lhorar suas condições de vida. Eram longas as jornadas de tra- balho, os acidentes no ambiente da fábrica eram constantes, havia exploração do trabalho infantil e feminino e os salários 2 28 2 So ci o lo gi a 28 1 Ci ên ci as H um an as e s ua s Te cn ol og ia s EM I-1 5- 20 eram baixíssimos. Tudo isso criava um clima de tensão social que explodia em greves, atentados e assassinatos. DE A PI CT UR E LI BR AR Y/ DE A GO ST IN I/G ET TY IM AG ES O artista Jakob Schlesinger pintou o retrato de um dos maiores pensadores alemães do século XIX, Georg Wilhelm Friedrich Hegel. Hegel foi o filósofo idealista alemão que propôs uma visão evolucionista da história calcada na contradição, no conflito, retomando a dialética heraclitiana antiga em favor da afirmação do Estado e do "Espírito" (razão). Karl Marx teve a sensibilidade de perceber tais agitações e conferir-lhes um sentido dentro de sua filosofia. Esta abrigava a ideia de evolução, mas acrescentava ao debate um valor signi- ficativo por meio da noção de continuidade da revolução para a evolução, algo que intelectuais comprometidos com a ordem burguesa não aceitavam. Para muitos destes intelectuais con- servacionistas, era importante a ordem para o progresso, en- tenda-se a ordem capitalista para a evolução da humanidade. Em 1848, quando levantes populares eclodiram na Eu- ropa continental exigindo melhorias nas condições de vida e participação política, Marx publicou o Manifesto Comunista, indicando um caminhoorgânico, reflexo da ação política dos trabalhadores, para que houvesse um salto qualitativo na vida social, a revolução do proletariado. Vamos conhecer melhor o pensamento marxista e enten- der como ele originou uma teoria sociológica que vem, com certos ajustes, até nossos dias. B. O materialismo no pensamento de Karl Marx De discípulo de Hegel, Marx se tornou seu mais importan- te crítico. Em especial, o pensamento marxista se colocou con- tra o idealismo hegeliano: quando Hegel afirmava haver uma evolução, apontava para o Espírito. Era o Espírito, por meio das contradições materiais, que evoluía. A crítica radical de Marx ao pensamento hegeliano reside exatamente neste ponto, chegando a afirmar que a teoria de Hegel tinha “pés de barro” e que iria dotá-la de pés firmes. A fragilidade da filosofia de Hegel não se encontrava na dialética, algo muito valorizado por Marx, mas nesta solução ideal para as contradições: o Espírito. Para Marx, eram os homens em “carne e osso”, materiais, que evoluíam conforme buscavam a sobrevivência e melho- ravam as condições materiais de existência. Para tanto, era fundamental que estes homens vivessem reunidos, ou seja, em sociedade. Afinal era exatamente esta vida coletiva que lhes garantiriam melhores condições. Contudo, no processo de constituição das sociedades, emergia também a explora- ção econômica. Esta poderia ser visualizada na sociedade por meio do entendimento da existência de classes. A classe trabalhadora era submetida à exploração por meio de expe- dientes político-institucionais de coerção. Mas o fundamen- to primeiro dessa exploração encontrava-se na propriedade privada dos meios de produção. Era nesta materialidade da vida e das contradições inerentes à organização social que se dava a evolução da humanidade. Nesse sentido, pode-se afirmar que, para Marx, o materia- lismo era o elemento de concretude, de cristalização do pro- cesso de evolução. Como compreender esta evolução? Qual era a sua dinâmica? A resposta marxista se deu no âmbito da valorização da história e da luta de classes, como veremos adiante. C. O materialismo histórico dialético na Sociologia de Marx Marx procurou entender a história real do ser humano a partir das condições materiais de sua existência. Para ele, as considerações de ordem cultural, política e social que aparen- temente regiam a vida coletiva eram o resultado do próprio estado de desenvolvimento material de uma determinada sociedade. Nesse sentido, todas as mudanças sociais pos- suíam fundamento material e estavam circunscritas às con- tradições inerentes aos modos de produção e reprodução da vida coletiva. De acordo com o estudioso Wilmar Barbosa: O fundamento básico do materialismo histó- rico está ancorado na perspectiva antropológica marxista, que concebe a natureza humana como sendo intrinsecamente constituída por relações de trabalho e de produção que os homens esta- belecem entre si com vistas à satisfação de suas necessidades. Nesse sentido, a tese, segundo a qual as formas historicamente assumidas pelas sociedades humanas dependem das relações econômicas que prevalecem durante as fases que conformam seu processo de desenvolvi- mento, constitui uma proposição fundamental para o materialismo histórico. REZENDE, Antonio (Org). Curso de filosofia. Rio de Janeiro: Zahar, 2012. p. 173. Como compreender a dinâmica do processo de desenvol- vimento social dentro da perspectiva materialista e histórica? De acordo com Marx, a compreensão desta produção e reprodução da vida coletiva se localiza em uma divisão funda- mental que diz respeito ao trabalho e à propriedade particular dos meios de produção. Haveria aí um conflito resultante da diferenciação entre aquele que trabalha e aquele que contro- la os meios de produção. O primeiro constituindo uma classe, o segundo, outra. O primeiro sendo o explorado, o segundo, o explorador. O primeiro sendo o oprimido, o segundo, o opressor. 2 28 2 So ci o lo gi a 28 2 Ci ên ci as H um an as e s ua s Te cn ol og ia s EM I-1 5- 20 Assim, haveria uma tensão no interior da sociedade em razão de a classe proprietária explorar o trabalho daquele desprovido de propriedade. Essa tensão, para Marx, era reco- nhecível na história da humanidade – que nada mais seria do que a “história da luta de classes”. Marx apresentou esta afir- mação com clareza no Manifesto Comunista, obra panfletária editada em 1848, que defendia a revolução proletária contra a chamada exploração burguesa. RO GE R VI OL LE T/ GE TT Y IM AG ES Karl Marx e Friedrich Engels (à esquerda) fundamentaram o materialismo histórico dialético assumindo uma posição política em defesa de uma sociedade igualitária no futuro, fruto da luta de classes e da abolição da propriedade privada. A este respeito escreveram no Manifesto Comunista: “O que caracteriza o comunismo não é a abolição da propriedade em geral, mas a abolição da propriedade burguesa. Ora, a propriedade privada atual, a propriedade burguesa, é a última e mais perfeita expressão do modo de produção e de apropriação baseado nos antagonismos de classe, na exploração de uns pelos outros. Nesse sentido, os comunistas podem resumir sua teoria nesta fórmula única: abolição da propriedade privada [...]”. Marx situa na produção a dinâmica do desenvolvimen- to, da evolução humana. Afinal, o homem não apenas atua sobre a natureza para conseguir o seu sustento, mas sobre- tudo estabelece vínculos com outros homens, associações e, a partir disso, relações sociais. É, de início, a forma de re- lacionamento social que determina a atuação sobre a natu- reza e, em última instância, a produção. Porém, as relações sociais que os indivíduos produzem mudam na proporção das mudanças nos meios materiais de produção, ou seja, as mudanças no sistema produtivo ensejam também mudan- ças no universo social. A leitura marxista da história procurava abarcar as mu- danças no universo produtivo, a emergência da classe burguesa por oposição à nobreza e, no conjunto das forças produtivas, explicar o surgimento da classe proletária. Nesse sentido, a sociologia de Marx não apenas teria sua compro- vação histórica com as “revoluções burguesas”, como assi- nalaria um sentido da história, uma teleologia que sinalizava o próximo passo da história “a revolução proletária” contra a burguesia. Há, dessa forma, não apenas uma sociologia de compreensão das relações sociais, mas uma sociologia en- gajada, compromissada com o próximo passo de desenvol- vimento da humanidade, qual seja, o do estabelecimento de uma ordem proletária. D. Teoria e prática em Marx Pelo exposto, é possível afirmar que teoria e prática pa- recem ser conciliadas no pensamento de Marx. Em outras palavras, a reflexão encontra a ação. Afinal, a filosofia se presta à mudança nas condições materiais, nas relações sociais, engendrando uma sociedade mais evoluída e, para Marx, que caminhava para uma igualdade nas condições ma- teriais de vida. Para tanto, deveria haver uma luta da classe espoliada contra os exploradores. Só os explorados poderiam agir contra as desigualdades de forma eficaz, combatendo a propriedade privada dos meios de produção, elemento este que conferia poder ao explorador. Para que isso ocorresse, era fundamental a ação política e revolucionária fundada na consciência de classe. Se os explorados tivessem consciên- cia da exploração, poderiam desenvolver um projeto político para transformar a sociedade. Um partido obreiro deveria en- campar o projeto de uma sociedade igualitária e conduzir a luta revolucionária para chegar ao Estado. Uma vez atingida a instituição estatal, a ditadura proletária acabaria com a pro- priedade privada, transformando os meios de produção em propriedade do Estado. Esta seria a transição para a socieda- de igualitária, para a sociedade comunista. Na visão de Marx, a história teria um fim. Qual seria o fim da história? Se a história da humanidade é a históriada luta de clas- ses, ela só se encerraria quando não houvesse mais divisão em classes. O fim da história seria o comunismo. Marx acre- ditava que a sociedade caminharia inexoravelmente para essa organização social, econômica e política. Mas esse caminho seria pontuado por contradições, por embates so- ciais, por revoluções. Aí residia o mecanismo de condução da história, a dialética pensada como confrontação, como luta e mudança. Nesse sentido, pode-se afirmar que Marx não foi apenas um filósofo em termos estritos. Foi economista, historiador, sociólogo, jornalista, ativista político. Foi um revolucionário que, em 1864, contribuiu para a organização da I Internacio- nal dos Trabalhadores, conhecida por I Internacional Comu- nista. UNIVERSAL IM AGES GROUP/GETTY IM AGES A revolução proletária seria a realização do pensamento de Karl Marx. Dessa forma, haveria a união entre pensamento e ação, teoria e prática. A Revolução Russa, ocorrida em 1917, foi influenciada pelo pensamento de Marx. Mas este pensamento foi adaptado por Lênin à realidade russa que em nada se aproximava de uma potência industrial capitalista. Marx havia pensado a revolução proletária nas áreas mais avançadas do capitalismo e não em sua periferia. A Rússia era ainda um país atrasado em termos capitalistas em relação a centros como a Inglaterra e França. 2 28 2 So ci o lo gi a 28 3 Ci ên ci as H um an as e s ua s Te cn ol og ia s EM I-1 5- 20 E. Infraestrutura e superestrutura na Sociologia de Marx De acordo com Marx, era também possível compreender a dinâmica social por meio de um corte entre infraestrutura e superestrutura. A infraestrutura corresponde às condições concretas da vida, às condições materiais. Esta é a base eco- nômica da sociedade e se relaciona com as formas de pro- dução dos bens materiais necessários à sobrevivência do homem. Como o trabalho é intrínseco à condição humana, a infraestrutura diz respeito a este âmbito produtivo do homem, e a ele correspondem determinadas relações de produção. Contudo, essas relações de produção, embora ocorram na esfera material (infraestrutura), aparecem justificadas em termos culturais, institucionais e políticos. A este univer- so social não propriamente produtivo, mas constituído para preservar um determinado ordenamento social, denomina-se superestrutura. São os discursos criados pela superestrutura que justificam um determinado estado de coisas e zelam por sua manutenção. Em outras palavras, pretendem preservar relações assimétricas, relações de poder fundamentais para a exploração econômica. Estes discursos entram no universo social como visões de uma classe dominante que pretende fazer com que os dominados aceitem os valores que justifi- cam a dominação. O nome dado a isso é ideologia. A supe- restrutura, dessa forma, serve para reafirmar a ideologia da classe exploradora. O próprio Estado, as leis, as normas jurídicas de uma de- terminada época correspondem ao exercício do poder político necessário para a espoliação econômica. Nesse sentido, a possibilidade de mudança está, também, na luta contra a alie- nação, resultado da incorporação da ideologia dominante pelos explorados. A consciência de classe é o caminho para a ruptura com a superestrutura que garante e legitima a exploração. Veja, é importante ressaltar que há uma comunicação entre infraestrutura e superestrutura que também é dialética e que produz contradições. A dinâmica produtiva também é dialética. Assim, é possível, pela compreensão da realidade material num conjunto produtivo, que se desenvolva a cons- ciência de classe, apesar dos esforços dos poderes instituí- dos em difundir a ideologia da classe dominante. Conforme o filósofo Danilo Marcondes: O sentido negativo do termo “ideologia” de- riva de fato da obra de Marx e Engels, que o en- tendem como uma “falsa consciência”... Não é porque os homens são crédulos e supersticiosos que se tornam presas fáceis da dominação, mas porque existe a necessidade de manter a domi- nação que surgem as superstições. De acordo com esse sentido crítico, a ideo- logia é uma visão distorcida, é o mascaramento da realidade – de uma realidade opressora, que faz com que seu caráter negativo seja ocultado –, tornando-se assim mais aceitável e vindo a ter uma justificativa aparente. MARCONDES, D. Introdução à história da filosofia: Dos pré- socráticos a Wittgenstein. Rio de Janeiro: Zahar, 2005. p. 230. Nesse sentido, é fundamental a contribuição de Marx para outras vertentes filosóficas e sociológicas que tra- tam da questão ideológica. Ele e seu parceiro intelectual, Friedrich Engels, foram expoentes de uma linha de pensa- mento que colocou em evidência o problema ideológico no universo cultural. Estrutura e superestrutura SUPERESTRUTURA JURÍDICO – ESTADO – POLÍTICOIDEOLOGIA RELIGIÃO CLASSE DOMINANTE CLASSE DOMINADA CA PI TA L E CO NO NÔ MI CO CAPITAL POLÍTICO ESTRUTURA FORÇAS PRODUTIVAS E RELAÇÕES SOCIAIS DE PRODUÇÃO BASE: ECONOMIA RENATO CALDERARO / PEARSON BRASIL 2 28 2 So ci o lo gi a 28 4 Ci ên ci as H um an as e s ua s Te cn ol og ia s EM I-1 5- 20 Karl Heinrich Marx nasceu na Alemanha, em 1818. Es- tudou Direito, Filosofia e História em Berlim, compondo os chamados “Jovens Hegelianos”. Em 1841 defendeu sua tese de doutoramento em Filosofia, a respeito de Epicuro, mas nunca exerceu o magistério. Trabalhou como jornalis- ta e, por suas ideias, precisou exilar-se na França, em Pa- ris, onde publicou a Crítica à filosofia do Direito de Hegel e Questão judaica. Em 1845 foi expulso da França, seguindo para a Bélgica, onde ao lado de Engels redigiu a Ideologia alemã. Em 1848, Marx, antes de ser expulso de Bruxelas, escreveu Miséria da filosofia e o Manifesto Comunista. Depois de idas e vindas, fixou-se definitivamente em Lon- dres e, em 1850, publicou A luta de classes em França. Em 1863, Marx participou da fundação da Associação Interna- cional dos Trabalhadores, dirigindo-a. Em 1867, publicou o primeiro volume da obra O capital. No ano de 1870 o prole- tariado parisiense estabeleceu a Comuna e Marx apoiou o movimento. Contudo, a experiência de um governo operário se encerraria no ano seguinte. Em 1883, ainda em Londres, Marx faleceu. Seu pensamento foi fruto de três grandes teo- rias: a filosofia alemã, mais precisamente a contribuição de Hegel, o socialismo francês e a economia política inglesa. 01. Mackenzie-SP Karl Marx (1818-1883) acreditava que a história hu- mana, assim como as operações da natureza, eram go- vernadas por uma lei científica, rejeitadas todas as inter- pretações religiosas, tanto da natureza como da História. Segundo as suas ideias, a história de todas as sociedades, até nossos dias, tem sido a história da luta de classes. Assinale a alternativa que não apresenta característi- cas das ideias marxistas. a. A emancipação do proletariado, construída pelo próprio proletariado. b. A criação de condições, pela própria sociedade ca- pitalista, para a eliminação das classes sociais por meio de revolução liderada pelos operários. c. A base econômica da sociedade, a infraestrutura, determina a superestrutura que corresponde à or- ganização jurídico-política e à ideologia. d. As relações estabelecidas entre os proprietários dos meios de produção e os trabalhadores são cha- madas de relações sociais de produção. e. A luta de classe entre o proletariado e a classe ope- rária será o motor da história, uma vez que os seus interesses são irreconciliáveis. Resolução Para Marx, “a história da humanidade é a história da luta de classes”. O autor parte do princípio de que as socie- dades são divididas em classes antagônicas, sendo que, no sistema capitalista, essas classes são a do proletariado e a da burguesia. Alternativa correta: E APRENDER SEMPRE 23 [...] Segundo a concepção materialista da história, o fator que, em última instância, de- termina a história é a produção e a reprodução da vida real.Nem Marx nem eu afirmamos, uma vez sequer, algo mais do que isso. Se al- guém o modifica, afirmando que o fato econô- mico é o único determinante, converte aquela tese numa frase vazia, abstrata e absurda. A si- tuação econômica é a base, mas os diferentes fatores da superestrutura que se levanta sobre ela – as formas políticas da luta de classes e seus resultados, as constituições que, uma vez vencida uma batalha, a classe triunfante redige etc., as formas jurídicas, e inclusive os reflexos de todas essas lutas reais no cérebro dos que nelas participam, as teorias políticas, jurídicas, filosóficas, as ideias religiosas e o desenvolvi- mento ulterior que as leva a se converterem em um sistema de dogmas – também exercem sua influência sobre o curso das lutas históri- cas e, em muitos casos, determinam sua for- ma, como fator predominante. [...] Nós mes- mos fazemos nossa história, mas isso se dá, em primeiro lugar, de acordo com premissas e condições muito concretas. Entre elas, as premissas e condições econômicas são as que decidem, em última instância. No entanto, as condições políticas e mesmo a tradição que perambula como um duende no cérebro dos homens também desempenham seu papel, embora não decisivo. ENGELS, F. Carta a Bloch. In: REZENDE, Antonio. (Org.). Curso de filosofia. Rio de Janeiro: Zahar, 2012. p. 151. Assista ao vídeo que mostra os principais aspectos da sociologia de Karl Marx. Disponível em: <http://www.youtube.com/ watch?v=I2AZAbg1rLw>. Acesso em: 10 ago. 2014. 2. A Sociologia de Max Weber Tratar do pensamento weberiano é, antes de tudo, consi- derar as condições históricas em que foi produzido. Deve-se atentar para o quadro de desenvolvimento capitalista intima- mente vinculado às políticas imperialistas dos Estados euro- peus. No caso da experiência de Weber, deve-se considerar o processo de unificação da Alemanha que foi conduzido pela Prússia, tendo à sua frente o político Otto von Bismarck. As questões relativas à racionalidade do processo produtivo capitalista e a dinâmica do lucro permearam as reflexões de Weber e o conduziram na elaboração de uma sociologia crítica em relação às tentativas de estudos da sociedade com a pre- 2 28 2 So ci o lo gi a 28 5 Ci ên ci as H um an as e s ua s Te cn ol og ia s EM I-1 5- 20 tensão de que fossem iguais aos das ciências da natureza, algo muito em voga na época e pertencente a uma perspec- tiva positivista. HU LT ON A RC HI VE /G ET TY IM AG ES Weber relativizou a luta de classes identificada por Marx nas agitações sociais. Dessa forma, mesmo que o contexto histórico fosse comum, a proposta weberiana de entendimento da sociedade foi uma leitura vinculada à sua formação na carreira acadêmica. O pensamento de Weber se diferencia da filosofia marxia- na em vários sentidos, apesar de, tanto Marx quanto Weber, terem como objeto de estudo a sociedade capitalista. Weber desenvolveu uma proposta compreensiva da sociedade que pressupunha que os valores compartilhados socialmente fundamentavam os vínculos antes mesmo da existência de um modo de produção, sendo este expressão material do uni- verso das ideias compartilhadas entre os integrantes de uma dada sociedade. Weber foi um crítico do positivismo na Sociologia, tradição francesa que imaginava poder explicar a organização social com o mesmo rigor que os físicos estudavam a natureza. Para Weber, a ciência da natureza diferia da ciência social, pois esta correspondia às condições históricas determinadas que configuravam visões de mundo datadas às quais não poderia haver um caráter generalizante como o estudo da natureza e de suas leis. Weber adotava um perspectivismo antipositivis- ta, em que era possível estabelecer modelos de explicação, tipos ideais por meio dos quais seria possível pensar uma determinada realidade histórico-social. Contudo, o modelo só serviria como parâmetro para a compreensão da organização social, não tendo valor histórico a não ser na medida em que as situações históricas pudessem se aproximar dele. O pensamento weberiano apresenta os eventos culturais como singularidades que devem ser estudadas enquanto tal, não cabendo a colocação de assertivas abrangentes que ex- trapolem determinados quadros históricos. Assim, o cientista social deve ter o cuidado de não colocar como verdade seus julgamentos a respeito de um determinado objeto de estudo, pois os seus julgamentos são marcados por considerações valorativas de sua época, de uma determinada ideologia. Ao cientista social cabe a compreensão dos eventos sociais, e não o julgamento deles. Daí a importância de, mesmo no es- tudo social, deixar claro o ponto de vista assumido em relação a um objeto de estudo, externalizando a orientação dada. Afi- nal, não é possível a afirmação de leis que regem a sociedade e que sejam atemporais. Nesse sentido, Weber nega que a ciência social possa reduzir a realidade empírica a leis. O que dá um caráter objetivo ao estudo da sociedade é a compreen- são, a partir do entendimento dos valores afirmados e de sua sistematização, um estudo metódico, das singularidades his- tóricas. Conforme as estudiosas Tania Quintaneiro e Maria Lígia de Oliveira Barbosa colocam: Existe uma grande diferença entre conferir significado à realidade histórica por meio de ideias de valor e conhecer suas leis e ordená-la de acordo com conceitos gerais e princípios ló- gicos, genéricos. Mas a explicação do fato signi- ficativo em sua especificidade nunca estará livre de pressupostos porque ele próprio foi escolhido em função de valores. Com isso, Weber rejeita a possibilidade de uma ciência social que redu- za a realidade empírica a leis. Para explicar um acontecimento concreto, o cientista agrupa uma certa constelação de fatores que lhe permitam dar sentido a esta realidade particular. Weber procura demonstrar que conceitos muito genéricos, extensos, abrangentes ou abs- tratos, são menos proveitosos para o cientista social por serem pobres em conteúdo, logo, afas- tados da riqueza da realidade histórica. Portanto, a tentativa de explicar tais fenômenos por meio de “leis” que expressem regularidades quantifi- cáveis que se repetem não passa de um trabalho preliminar, possivelmente útil. Os fenômenos in- dividuais são um conjunto infinito e caótico de elementos cuja ordenação é realizada a partir da significação que representam e por meio da im- putação causal que lhe é feita. QUINTANEIRO, Tânia. Um toque de clássicos: Durkheim, Marx e Weber. Belo Horizonte: UFMG, 2003. p. 100-101. Weber postula a importância da construção de tipos ideais como forma de compreensão de uma determinada rea- lidade, mas que se encontra limitado aos pressupostos que os formaram. Assim, a perspectiva de Marx é considerada por Weber como um tipo ideal, ao qual Marx acrescentou estudos históricos, elegendo determinados aspectos da vida que cor- roboraram o seu modelo. Afirmar que o pensamento marxista seja constituído de uma verdade absoluta de valor universal seria algo teme- rário. Para mostrar um caminho interpretativo da realidade social diferente, Weber construiu um tipo ideal de com- preensão do capitalismo em sua obra A ética protestante e o espírito do capitalismo (1904-1905), mostrando que a questão dos valores teve uma função primordial no desen- volvimento do capitalismo, antes mesmo de sua dinâmica econômica apontada por Marx e assentada na ideia de modo de produção. Para Weber, é a crença na existência da pre- destinação e sua correspondência, em certa medida, com a vida de trabalho e de acúmulo que engendraram o capitalis- mo como conhecemos. Esta não é uma verdade absoluta, mas uma perspectiva entre perspectivas, dotada de significações pertinentes para a compreensão da sociedade capitalista. 2 28 2 So ci o lo gi a 28 6 Ci ên ci as H um an as e s ua s Te cn ol og ia s EM I-1 5- 20 SO ND ER AU SG AB E1 93 4. D IE P RO TE ST AN TI SC HE E TH IKU ND D ER 'G EI ST ' D ES K AP ITA LI SM US Capa da edição de 1934 da obra A ética protestante e o espírito do capitalismo. O livro é uma obra seminal a respeito da relação entre valores, concepções de mundo e atuação concreta que altera as condições históricas, inaugurando uma lógica capitalista. Para Weber, a reforma religiosa não teria sido simples- mente uma ideologia para justificar o ganho capitalista, mas uma perspectiva diferenciada na história que valorizou o trabalho e a acumulação, por seguir determinados preceitos diferenciados daqueles prestigiados no período medieval eu- ropeu. Assim, ao contrastar o valor dado ao ócio na Era Medieval europeia com o valor dado ao trabalho por grupos reformado- res, poder-se-iam compreender a dinâmica capitalista e de- terminadas relações sociais daí surgidas. Nesse sentido, influenciado pelos escritos marxistas, Weber procurou discutir a importância das relações entre su- perestrutura e infraestrutura e, mais precisamente, em que medida a superestrutura afirmada por Marx teria uma função dominante no estabelecimento de níveis ou padrões de so- ciabilidade. Seu estudo da sociedade estabeleceu primeiramente a construção de modelos, tipos ideais de organização social, à qual as pesquisas históricas poderiam conferir valor. Nesse sentido, procurou na história a justificação de certos ordena- mentos sociais. A. A Sociologia weberiana: conceitos elementares O pensamento de Weber está ancorado na ideia de que a Sociologia deve compreender a ação social. Em primeiro lugar, ação pode ser entendida como conduta humana em determi- nadas circunstâncias. Quando a ação envolve outro ou outros, podemos afirmá-la como ação social. Nesse sentido, a ação social não é um simples reflexo, e sim uma atuação de um sujeito histórico movido por determinados interesses. Estes podem ter uma motivação racional com relação a fins prees- tabelecidos ou a valores. Podem, também, vir da influência de tradições ou de questões afetivas. Weber afirma que estes seriam os quatro tipos puros de ação. E quando uma pessoa age, ela não é movida apenas por um tipo. RENATO CALDERARO / PEARSON BRASIL As ações sociais se referem a atos providos de sentido pelo sujeito da ação e que possuem uma compreensão, uma inteligibilidade para aqueles a quem a ação é dirigida. Nesse sentido, é possível afirmar relações sociais que informam o padrão de sociabilidade de uma determinada sociedade. Podemos afirmar a existência de uma rede complexa de ações sociais movidas por conteúdos racionais, afetivos ou tradicionais. Daí a importância do sociólogo em averiguar em que me- dida este ou aquele tipo é mais influente em uma determina- da conduta, em uma determinada ação social. O importante é que o sociólogo capte as conexões de sentido que orientam a ação social. Tais conexões podem variar desde a afetividade até a racionalidade mais pura. Para Weber, entretanto, somen- te as ações dotadas de sentido poderiam ser compreendidas pela Sociologia, as quais se situariam mais no universo dos tipos racionais com relação a fins e a valores. Um exemplo: ações voltadas à subsistência, pensadas como intervenção na natureza para conseguir recursos ne- cessários à vida, podem ser classificadas como racionais, pois possuem um claro sentido e uma nítida finalidade. O universo econômico pode ser compreendido mais facilmen- te. Contudo, existem questões relativas a valores que podem interferir na ação social conectada ao econômico. Se alguém ou um grupo social acredita que trabalhar, investir no trabalho aquilo que conseguir e acumular sejam ações que integrem um processo no qual se evidencia quem irá para o Paraíso, uma crença religiosa, teremos aí outro componente de racio- nalização do mundo econômico, mas com motivação nos va- lores aceitos pelo indivíduo ou pelo grupo. Se existem espaços sociais em que a ação é mais racio- nal, em outros há a possibilidade do império da afetividade. Por exemplo, as relações familiares possuem uma qualida- de afetiva em que o critério da racionalidade por vezes não comparece em uma ação. Quanto mais pessoal for a relação, maior será o espaço para relações engendradas pelo critério afetivo. Normalmente, a conduta irracional é ditada por emo- ções imediatas tais como desespero, medo, ódio, vingança, desejo, entusiasmo etc. Por exemplo, alguém que vai ao es- tádio de futebol todo final de semana para ver seu “time de coração” jogar desenvolve uma ação afetiva, assim torcer por um time de futebol é expressão de uma conduta baseada em ação afetiva. Para além da ação social, temos o que Weber denominou relação social. Esta existe desde que a ação de alguém seja reconhecida por outro participante ou por outros participan- tes. Para tanto, é fundamental que a ação realizada integre um código assimilado pelos integrantes de uma determina- 2 28 2 So ci o lo gi a 28 7 Ci ên ci as H um an as e s ua s Te cn ol og ia s EM I-1 5- 20 da comunidade. Talvez para um grupo indígena no interior da floresta Amazônica receber um cheque com uma deter- minada quantia não tenha significado, mas o canto de uma ave que informa um perigo iminente certamente apresentará sentido. A ação social para constituir relação social deve ser reconhecida pelos outros que a recebem. Há nesse caso uma reciprocidade por reconhecimento de um código partilhado socialmente. Embora as pessoas reconheçam determinados códigos, isso não significa dizer que a aceitação seja constante. Se um assaltante aponta uma arma para alguém, a pessoa que sofre esta violência entende aquela ação, mas não a aceita, apesar de reconhê-la. Uma moça pode compreender a “cantada” de um rapaz, pois faz parte de um código reconhecível, mas nem por isso há um efeito de reciprocidade, de aceitação da ação. Assim, o espaço da relação social pressupõe a existência de códigos reconhecidos, que podem ou não ter reciprocidade daquele que participa não como agente da ação social, mas como o outro a quem a ação é dirigida. CARACTERÍSTICAS DA AÇÃO SOCIAL Conduta humana dotada de sentido. Comportamento planejado, em que há finalidade. Atuação direcionada a outro ou a outros na sociedade. Para ser fundamentada, a ação social pressupõe o reconhecimento daqueles para os quais é dirigida. TIPOS IDEAIS DE AÇÃO SOCIAL RACIONAL COM RELAÇÃO A FINS: procedimentos econômicos e científicos. RACIONAL COM RELAÇÃO A VALORES: realização de princípios em que há exigência de reflexão (princípios éticos, ecológicos, estéticos, políticos). TRADICIONAL: não refletidas, repetidas de forma inercial (com grau de irracionalidade). AFETIVA: motivadas por emoções de momento ou paixões (irracional). B. A modernidade no pensamento de Weber Para Weber, o caminho da modernidade era o da racio- nalização progressiva, caracterizada pelo destaque do co- nhecimento técnico-científico e por estruturas formais de autoridade associadas à profissionalização, ao mérito e à impessoalidade do princípio de cidadania. O processo de mo- dernização está diretamente relacionado e identificado com a racionalização. Haveria, assim, um “desencantamento”, uma desmistificação da realidade. Em termos político-institucio- nais, essa racionalização seria sentida com a burocratização do Estado, entendida por atuação racional em relação a fins e a valores refletidos. A legitimidade do poder do Estado burocrático reside em sua capacidade de realização de princípios racionais. Tal rea- lização se torna possível pela existência de um aparato téc- nico-científico aliado à organização administrativa pautada pelo critério de eficiência na mobilização de recursos para o atendimento de determinados fins. Weber via isso como uma tendência da modernidade, mas que convivia com a tensão de forças não racionais que poderiam colocar em risco a orga- nização burocrática. Para ele, a capacidade de aceitar ordens e regras como le- gítimas se chocava com desejos individuais, afetividades parti-culares. Daí a possibilidade de, em certas circunstâncias, a orga- nização burocrática (racional) ser substituída por organizações estatais carismáticas ou tradicionais. Estas seriam mais próxi- mas da afetividade, mais “naturais”. Weber considerava que a ra- cionalidade do Estado burocrático ainda era frágil, sendo neces- sária uma proteção em relação às pressões externas motivadas por interesses particulares vinculados ao tradicionalismo. Marx, Durkheim e Weber estudaram a sociedade dando atenção especial às mudanças trazidas pelo desenvolvimento capitalista. Contudo, suas considerações acerca do entendi- mento da dinâmica de organização social foram distintas. Se há um componente racional no interior do capitalismo, os autores em questão deram significação e encaminhamentos diversos para a questão. Weber colocou-se contra a tradição positivista pensada em termos de solidariedade mecânica e orgânica de Durkheim como também se opôs à visão marxista que circunscrevia a história à “lei da luta de classes”. Para Weber, as orientações dos tipos ideais garantiriam uma reflexão acerca da sociedade, mas não teriam validade se não houvesse a pesquisa histórica, os estu- dos de casos – e os tipos ideais seriam apenas parâmetros para a compreensão das sociedades. Cada sociedade é particular, mesmo que existam proximidades. Se pensarmos as socieda- des com economia de mercado (capitalistas), poderemos veri- ficar diferenças significativas associadas aos valores instituídos que compõem a teia das relações sociais. Nesse sentido, o es- tudo da cultura tem importância fundamental para a Sociologia. Maximillian Karl Emil Weber nasceu em 21 de abril de 1864, em Erfurt, na Alemanha. Teve sólida criação pro- testante. Seu pai foi jurista e político de um país que pas- sava por um processo de unificação política. Em 1869, às vésperas da conflagração franco-alemã, sua família foi morar em Berlim. Já em 1882, iniciou seus estudos uni- versitários na Faculdade de Direito de Heidelberg. Tam- bém estudou Economia, Administração, Filosofia e Teolo- gia, sendo alguns dos cursos realizados na Universidade de Berlim. Em 1889, apresentou sua tese de doutorado a respeito de empresas comerciais na Idade Média. Em 1891, publicou a História das Instituições Agrárias. A tese A história agrária romana e seu significado para o Direito público e privado lhe garantiu a aprovação para le- cionar Economia Política na Universidade de Freiburg. Em 1904, viajou para os Estados Unidos e publicou a primei- ra parte de A ética protestante e o espírito do capitalismo e o ensaio A objetividade do conhecimento nas Ciências Sociais. Em 1908, ajudou a criar a Associação Alemã de Sociologia. Antes da eclosão da Grande Guerra Mundial (1914-1918), quando passou a trabalhar administrando nove hospitais, Weber redigiu as seguintes obras: Econo- mia e Sociedade, Ensaio acerca de algumas categorias da Sociologia compreensiva e A ética econômica das religiões universais. Por fim, participou do grupo que se comprometeu com a rendição alemã, sendo um dos re- datores da nova Constituição alemã, a da República de Weimar. Faleceu em 1920. 2 28 2 So ci o lo gi a 28 8 Ci ên ci as H um an as e s ua s Te cn ol og ia s EM I-1 5- 20 As desigualdades sociais: Weber e a estratificação social Segundo Weber, a sociedade se assenta sobre três dimensões distintas: a econômica, a social e a política. [...] A dimensão econômica estratifica a sociedade através dos critérios pautados na riqueza, na posse e na renda. [...] A dimensão social funda uma maneira de estratificação baseada no status. O seu elemento definidor é a honra e o prestígio que as pessoas e/ou grupos desfrutam, ou não desfrutam, a posição que ocupam na sua profissão, em seu estilo de vida etc. A dimensão política funda um modo de estratificação baseado no poder. Quanto mais poder os indi- víduos e/ou grupos ostentarem, melhor eles se posicionarão na escala de reconhecimento no interior dessas relações de poder e de dominação. A abordagem multidimensional de Max Weber parte do pressuposto de que os indivíduos podem se situar na escala de estratificação de modo diferente nessas três dimensões. REZENDE, M. J. de. As desigualdades sociais. In: TOMAZI, N. D. Iniciação à Sociologia. São Paulo: Atual, 2000. 01. UESC-BA [Em] Massachusetts, o espírito do capitalismo estava presente antes do desenvolvimento capitalista [...]. Neste caso, a relação causal é, certamente, a inversa daquela sugerida pelo ponto de vista mate- rialista. WEBER Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo. A afirmação: a. valoriza a visão do materialismo sobre o desenvolvimento do capitalismo na Nova Inglaterra. b. sustenta, ao contrário do marxismo, que o espírito capitalista foi o criador do capitalismo moderno. c. coincide com a crítica marxista ao materialismo sobre a existência do capitalismo na Nova Inglaterra. d. diverge do marxismo ao defender a existência de uma fase de acumulação primitiva de capital. e. defende uma concepção consensual entre os historiadores sobre a origem do capitalismo. Resolução A tese de Max Weber é que o protestantismo, sobretudo as vertentes calvinistas, originou o espírito ético que impulsio- nou o capitalismo. Dessa forma, usa-se uma explicação cultural para o desenvolvimento de determinada economia. Alternativa correta: B APRENDER SEMPRE 24 Assista ao vídeo sobre o pensamento sociológico de Max Weber. Disponível em: <www.youtube.com/watch?v=ea-sXQ5rwZ4>. Acesso em: 10 ago. 2014. 3. A importância da Sociologia: desvios e possibilidades A Sociologia pode ser entendida como uma ciência humana que trata de questões da vida cotidiana de forma sistemática, elaborando conceitos e metodologias para o entendimento de determinadas “realidades” sociais. Por ser uma ciência que re- flete o dia a dia das relações sociais, tem forte apelo ao suscitar questões que envolvem conflitos, convergência de interesses, estruturas de poder etc. 2 28 2 So ci o lo gi a 28 9 Ci ên ci as H um an as e s ua s Te cn ol og ia s EM I-1 5- 20 RE NA TO C AL DE RA RO / PE AR SO N BR AS IL A Sociologia procura estudar o homem em sociedade. Nesse sentido, as análises sociológicas envolvem desde questões relativas às condições materiais de vida até o conjunto de valores, de elementos culturais, que produzem as teias de relações humanas na vida coletiva. Assim, surgem estudos sobre sociedades agrárias e sociedades industriais, indicando certas especificidades históricas que delineiam as interações entre os homens em um determinado contexto social. A gama variada de motivações atuantes da vida co- letiva se torna objeto do estudo sociológico. Quando um sociólogo aborda um tema, este logo é reconhecido pelos integrantes de uma dada sociedade analisada. Afinal, o sociólogo pode estar tocando em “feridas” que marcam o conjunto daquele grupo humano. Pode ser a questão ra- cial, por exemplo. O sociólogo inicia um debate sobre o pre- conceito racial ou o conflito étnico no interior de uma so- ciedade, buscando encontrar os elementos que iluminem a questão. É óbvio que muitos dos assuntos tratados além de serem reconhecidos pelo conjunto social podem ser controversos. A importância de tratá-los pela sociologia é, entre outros aspectos, sair do lugar comum do “achismo”, da opinião, para algo mais complexo e dotado de capaci- dade crítica. Um professor de Sociologia dos Estados Unidos pode abordar a questão do “racismo” naquela sociedade, mesmo estando em um estado sulista, por exemplo, a Virgínia. Para muitos dos estudantes, a princípio aquilo não será novida- de. Eles provavelmente conhecem histórias a respeito, pois vivem naquela sociedade marcada pelo preconceito. Talvez o assunto escolhido pelo professor seja até mesmo entediante para muitos naquela sala de aula. Po- rém, o professor, como estratégia de sensibilização, deslo- ca a discussão para a Índia, tratando daquele tema delica- do ao falarda sociedade de castas na terra dos indianos. O professor poderia discutir o que seria este tipo de organização social, quais os problemas dos relacionamen- tos sexuais entre grupos de castas diferentes na visão hin- du, quais as interdições existentes nas relações entre uma casta e outra, além da exploração econômica decorrente desse modelo de organização social. Depois de desenvolver determinados conceitos e tra- balhá-los historicamente na Índia, o professor poderá vol- tar para a questão do racismo nos Estados Unidos. É pos- sível que alunos vejam a sua aula como esclarecedora de uma sociabilidade desenvolvida nos estados sulistas dos Estados Unidos. Ali não existiu uma organização social de castas, mas uma experiência de escravidão africana e de discriminação racial que, em alguns aspectos, pode se as- semelhar ao modelo de sociabilidade indiano. Não se afirma aqui que a sociedade norte-americana é constituída por castas, mas a elaboração de categorias de aná- lise pela Sociologia pode elucidar certas tensões vividas so- cialmente. São feitas análises mais profundas, descortinando determinadas funções e relações sociais que talvez aqueles estudantes não conseguissem realizar em conversas domés- ticas ou pela leitura de jornais. Por isso tudo, já se percebe a importância da Sociologia como uma ciência humana. De acordo com o sociólogo Peter Berger: O fascínio da sociologia está no fato de que sua perspectiva nos leva a ver sob a nova luz o próprio mundo em que vivemos. Isto também constitui uma transformação da consciência. [...] O sociólogo vive no mundo comum dos ho- mens, perto daquilo que a maioria das pessoas chamaria de real. As categorias que ele utiliza em suas análises constituem apenas refinamen- tos das categorias em que os outros homens se baseiam – poder, classe, status, raça, etnia. Em consequência, algumas investigações sociológi- cas parecem – ilusoriamente – simples e óbvias. BERGER, Peter. Perspectivas sociológicas: uma visão humanística. Petrópolis: Vozes, 1973. p. 31. KONSTANTIN CHAGIN/SHUTTESTOCK Questões como a discriminação racial e a xenofobia podem ser tratadas pela Sociologia e, a partir desse tratamento, serem produzidas políticas públicas que visem ao seu combate. Para tanto, é importante que se entendam os mecanismos que produzem tais preconceitos. Esta é uma das razões que faz os estudos sociológicos ganharem relevância na sociedade contemporânea. O sociólogo está próximo do mundo que estuda, por isso os termos que utiliza são familiares ao conjunto da sociedade que, muitas vezes, considera sua investigação simples e óbvia. Entretanto, a profundidade conferida às categorias de análise abre uma perspectiva nova a determinadas situações sociais, garantindo conhecimentos até ali não compreensíveis a mui- tos. O trabalho do sociólogo permite a aquisição de novos co- nhecimentos e a possibilidade de disseminá-los. Isso contribui para o pensar do conjunto social sobre as suas práticas. Pode-se afirmar que a Sociologia é uma forma de conheci- mento científico que possibilita a compreensão de certos fenô- menos sociais, de certa organicidade do coletivo, de suas inte- rações e dinâmicas, saindo do que se denomina senso comum. 2 28 2 So ci o lo gi a 29 0 Ci ên ci as H um an as e s ua s Te cn ol og ia s EM I-1 5- 20 © H EN FI L Questões relativas à questão fundiária e seu relacionamento com a política, mais precisamente com as organizações político- partidárias, exigem um entendimento das relações de poder e da representatividade das instituições políticas. Tratar da legitimidade das demandas sociais, conhecer as estruturas políticas e seu funcionamento são meios de lançar luzes sobre a organização da vida social em determinado momento da história. Esta é uma das possibilidades dos estudos sociológicos. A Sociologia não pode ser vista como uma ciência que afirma a existência de leis da mesma forma que um físico pode fazer afirmações a respeito da natureza. E isso se rela- ciona com a compreensão de que não é possível reduzir rea- lidades sociais múltiplas e repletas de motivações a alguma lei universal e atemporal. As sociedades são dinâmicas, mo- dificam-se não apenas por refletirem linhas de força oriundas do passado, da tradição, mas por estarem sempre em tensão e conjugarem os atritos de formas variadas, cabendo sempre um espaço à criatividade que modifica condições de vida e disposições sociais. Nesse sentido, a construção de categorias de análise e de sistemas interpretativos é fruto da sociedade em que o es- tudioso está inserido, portanto marcada por uma historicida- de. As perspectivas são várias dependendo da adoção deste ou daquele sistema de interpretação considerado válido para análises da sociedade. Pode-se falar, então, em sociologias. A pluralidade de interpretação analítica não reduz o caráter científico do estudo sociológico, mas o coloca como um pro- blema a ser enfrentado pelo sociólogo. A responsabilidade é necessária e a aceitação desta ou daquela teoria sociológica é, também, uma forma de atuação social. Daí certas questões levantadas pela Sociologia terem conteúdo político, pois elas estão sempre associadas a relações de poder. RENATO CALDERARO / PEARSON BRASIL O estudo sociológico envolve necessariamente a adoção de um sistema conceitual, a construção de categorias de análise, teorias que possam conferir inteligibilidade a processos sociais. Nesse sentido, é possível existirem diferenças teóricas que definam visões diferentes sobre o mesmo fenômeno. 2 28 2 So ci o lo gi a 29 1 Ci ên ci as H um an as e s ua s Te cn ol og ia s EM I-1 5- 20 O trabalho do sociólogo opera, em geral, a constituição de consciências sociais, vai além das fachadas das convenções e procura, no edifício social, as estruturas, as funções, as arquiteturas que estabelecem certos padrões de sociabilidade. E isso envolve a compreensão das linhas de força, dos comandos, das instituições, dos valores formados no interior da sociedade. É essa operação cognitiva que possibilita a construção de determinadas consciências a respeito de elementos que existem, mas não são imediatamente vistos e compreendidos pelo conjunto social. 01. UFU-MG O surgimento da Sociologia foi propiciado pela necessidade de: a. manter a interpretação mágica da realidade, como patrimônio de um restrito círculo sacerdotal. b. manter uma estrutura de pensamento mítica para a explicação do mundo. c. condicionar o indivíduo, através dos rituais, a agir e pensar conforme os ensinamentos transmitidos pelos deuses. d. considerar os fenômenos sociais como propriedade exclusiva de forças transcendentais. e. observar, medir e comprovar as regras que tornassem possível, através da razão, prever e controlar os fenômenos sociais. Resolução No século XIX, em meio ao desenvolvimento das sociedades industriais, a Sociologia surgiu com o propósito de analisar e interpretar cientificamente os fenômenos sociais, por meio de métodos e conceitos específicos. Alternativa correta: E APRENDER SEMPRE 25 Alguns aspectos importantes da Sociologia 1. Pode definir-se a Sociologia como sendo o estudo sistemático das sociedades humanas, dando ênfase especial aos sistemas modernos, industrializados. 2. A prática da Sociologia implica a capacidade para pensar de forma imaginativa e nos distanciarmos de ideias preconcebidas acerca da vida social. 3. A Sociologia é uma disciplina com grandes implicações práticas. Pode contribuir de várias formas para a crÍtica social e para a aplicação de reformas sociais. Para começar, uma melhor compreensão de um de- terminado conjunto de circunstâncias sociais oferece-nos muitas vezes a possibilidade de o controlar. Ao mesmo tempo, a Sociologia fornece os meios para melhorarmos a nossa sensibilidade cultural, criando con- dições para que as políticas se baseiem numa consciência de valores culturais diferentes. Em termos práticos, podemos investigar as consequênciasda adoção de determinadas linhas de orientação política. Por último, e talvez o mais importante, a Sociologia permite autoconhecimento, oferecendo aos grupos e aos indivíduos mais oportunidades para alterar as condições em que decorrem as suas próprias vidas. 4. A Sociologia surgiu como uma tentativa para compreender as mudanças radicais que ocorreram nas sociedades humanas durante os últimos dois ou três séculos. As mudanças em causa não foram apenas mu- danças em grande escala, mas também transformações nas características mais pessoais e íntimas da vida das pessoas. 5. Entre os fundadores clássicos da Sociologia, quatro figuras são particularmente importantes: Auguste Comte, Karl Marx, Émile Durkheim e Max Weber. Comte e Marx, que trabalharam em meados do século XIX, estabeleceram algumas das questões essenciais da Sociologia, mais tarde desenvolvidas por Durkheim e Weber. Estas questões dizem respeito à natureza da Sociologia e ao impacto das mudanças resultantes da modernização no mundo social. 6. Há diversas abordagens teóricas em Sociologia. Se as discussões teóricas são difíceis de solucionar mes- mo no caso das ciências naturais, em Sociologia estamos perante dificuldades acrescidas, dados os problemas complexos que estão envolvidos quando se trata de estudar o nosso próprio comportamento. 7. O funcionalismo, a perspectiva do conflito e o interaccionismo simbólico constituem as principais abor- dagens teóricas na Sociologia. Existem algumas diferenças básicas entre elas, diferenças que muito influen- ciaram o desenvolvimento da disciplina durante o período que se seguiu ao pós-guerra. GIDDENS, Anthony. Sociologia. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2008. p. 18-19. 2 28 2 So ci o lo gi a 29 2 Ci ên ci as H um an as e s ua s Te cn ol og ia s EM I-1 5- 20 4. Organizador gráfico Materialismo histórico dialético "Luta de classes" Sociologia assentada na ideia de con�ito Infraestrutura (modo de produção) Superestrutura (cultura/instituições) Sociologia compreensiva "Tipos ideais" Ação social Pluralidade de interpretação analítica não des�gura o caráter cientí�co Características Apenas textoTema Tópico Subtópico destaqueSubtópico Outras contribuições à Sociologia Karl Marx Possibilidades variadas de conhecimento sobre as sociedades humanas Max Weber Racionalização/desencantamento Estudo de caso, exemplo: Ética protestante e o espírito do capitalismo RE NA TO C AL DE RA RO / PE AR SO N BR AS IL 2 28 2 So ci o lo gi a 29 3 Ci ên ci as H um an as e s ua s Te cn ol og ia s EM I-1 5- 20 Módulo 4 A concepção sociológica de Karl Marx Exercícios de Aplicação 01. Unicamp-SP A história de todas as sociedades tem sido a história das lutas de classe. Classe oprimida pelo despotismo feudal, a burguesia conquistou a soberania política no Estado moderno, no qual uma exploração aberta e direta substituiu a ex- ploração velada por ilusões religiosas. A estrutura econômica da sociedade condi- ciona as suas formas jurídicas, políticas, religio- sas, artísticas ou filosóficas. Não é a consciên- cia do homem que determina o seu ser, mas, ao contrário, são as relações de produção que ele contrai que determinam a sua consciência. MARX, K. e ENGELS, F. Obras escolhidas. São Paulo: Alfa- Ômega, s./d., v. 1, p. 21-23, 301-302. Adaptado. A proposição do enunciado acima pode ser associada ao pensamento conhecido como: a. materialismo histórico, que concebe a história a partir da luta de classes e da determinação das formas ideo- lógicas pelas relações de produção. b. materialismo histórico, que compreende as socieda- des humanas a partir de ideias universais indepen- dentes da realidade histórica e social. c. socialismo utópico, que propõe a destruição do capi- talismo por meio de uma revolução e a implantação de uma ditadura do proletariado. d. socialismo utópico, que defende a reforma do capita- lismo, com o fim da exploração econômica e a aboli- ção do Estado por meio da ação direta. 02. Apesar de Marx e Engels não terem se preocupado em fundar a Sociologia como uma disciplina específica, nem es- tabelecerem fronteiras rígidas entre áreas do conhecimento, forneceram uma importante contribuição às Ciências Sociais. Considere as afirmativas a seguir, assinalando V para a(s) ver- dadeira(s) e F para a(s) falsa(s). ( ) O estudo da sociedade deve partir de sua base mate- rial. ( ) A divisão do trabalho acarreta o aumento da solida- riedade e cooperação entre os trabalhadores. ( ) A falta de regras ocasiona os conflitos nas relações de trabalho. ( ) Os fatos econômicos são a base sobre a qual se apoiam outros níveis da realidade, como a política e a religião, por exemplo. ( ) O capitalismo representava a expressão da moderni- zação e racionalização do homem ocidental. Resolução O pensamento de Karl Marx recebeu influência direta da filosofia de Hegel, principalmente no que diz respeito à afir- mação do movimento dialético como a base da progressão da história. Contudo, negou o idealismo helegiano ao propor o materialismo das relações de produção no desenvolvimento da história. Essa dialética materialista era expressa social- mente na divisão de classes e nas confrontações entre elas a partir das condições materiais de vida, em que havia explora- dores e explorados, opressores e oprimidos. Assim, “A história da humanidade é a história de luta de classes”. Esse paradig- ma sustenta as análises marxistas da história e, por muito tempo, serviu como elemento político-ideológico na chamada bipolarização do mundo no século XX. Alternativa correta: B Resolução A propriedade privada sobre os meios de produção é um fundamento dos conflitos entre as classes sociais, pois esta- belece uma clivagem entre exploradores e explorados, opres- sores e oprimidos. O capitalismo, em função de seus efeitos para a classe trabalhadora, não era considerado racional por Marx. Resposta: V – V – F – V – F 2 28 2 So ci o lo gi a 29 4 Ci ên ci as H um an as e s ua s Te cn ol og ia s EM I-1 5- 20 03. Leia o texto a seguir. Na obra Contribuição à crítica da economia po- lítica, Marx escreve: “O conjunto das relações de produção constitui a estrutura econômica da sociedade, a base concreta sobre a qual se eleva uma superestrutura jurídica e política e à qual cor- respondem determinadas formas de consciência social. O modo de reprodução de vida material determina o desenvolvimento da vida social, polí- tica e intelectual em geral. Não é a consciência dos homens que determina o seu ser; é o seu ser social que, inversamente, determina sua consciência”. CHAUI, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 2003. p. 385. Neste texto, Marx revela que não são: a. as condições históricas que produzem as ideias, mas as ideias humanas que movem a história. b. as ideias humanas que movem a história, mas são as condições históricas que produzem as ideias. c. os meios de produção que determinam os aconteci- mentos políticos, mas os acontecimentos políticos que movem as forças produtivas. d. as classes sociais que determinam a liberdade indi- vidual, mas a liberdade do indivíduo que produz as classes sociais. e. os homens os sujeitos da história, pois estão submeti- dos a um ordenamento econômico que determina sua consciência. Exercícios Extras 04. ENEM Na produção social que os homens reali- zam, eles entram em determinadas relações in- dispensáveis e independentes de sua vontade; tais relações de produção correspondem a um estágio definido de desenvolvimento das suas forças materiais de produção. A totalidade des- sas relações constitui a estrutura econômica da sociedade – fundamento real, sobre o qual se erguem as superestruturas política e jurídica, e ao qual correspondem determinadas formas de consciência social. MARX, K. Prefácio à Critica da economia política. In: MARX. K. ENGELS, F. Textos 3. São Paulo: Edições Sociais, 1977. Adaptado. Para o autor, arelação entre economia e política estabele- cida no sistema capitalista faz com que: a. o proletariado seja contemplado pelo processo de mais-valia. b. o trabalho se constitua como o fundamento real da produção material. c. a consolidação das forças produtivas seja compatível com o progresso humano. d. a autonomia da sociedade civil seja proporcional ao desenvolvimento econômico. e. a burguesia revolucione o processo social de forma- ção da consciência de classe 05. UEL-PR O marxismo contribuiu para a discussão da relação entre indivíduo e sociedade. Diferentemente de Émile Durkheim e Max Weber, Marx considerava que não se pode pensar a re- lação “indivíduo-sociedade” separadamente das condições materiais em que essas relações se apoiam. Para ele, as condições materiais de toda a sociedade condicionam as demais relações sociais. Em outras palavras, para viver, os homens têm de, inicialmente, transformar a na- tureza, ou seja, comer, construir abrigos, fabricar utensílios, etc., sem o que não poderiam existir. Para Marx qual é o ponto de partida para o estudo de qual- quer sociedade? a. As condições materiais e espirituais de cada comuni- dade ou grupo social. b. As relações sociais que os homens estabelecem entre si para utilizar os meios de produção e transformar a natureza, ou seja, a produção é a raiz de toda a estru- tura social, que condiciona a política, as classes, a cul- tura e todo o resto da sociedade. c. Identificar as várias fases do sistema social capi- talista e como se estabelecem as relações sociais de produção, bem como a apropriação por parte da burguesia das riquezas produzidas pela classe operária. d. Identificar as classes sociais dentro da produção, passo principal para identificar os vários modos de produção na história, ou seja, do primitivo ao capi- talista e as relações de exploração do homem pelo homem. e. Identificar dentro da estrutura social o papel na pro- dução da classe dominante e a formação do Estado, elemento que cria as classes sociais. Resolução Marx apresenta uma relação entre superestrutura e infraestrutura. A infraestrutura condiciona determinados ordenamentos políticos e culturais. Contudo, o movimento dialético entre infraestrutura e superestrutura permite o de- senvolvimento de ideias, de consciências humanas. a. Incorreta: para Marx, são as condições históricas que produzem as ideias. c. Incorreta: os meios de produção condicionam aconte- cimentos políticos. d. Incorreta: as classes sociais são determinadas pelo modo de produção, havendo uma relação estreita do indivíduo com sua classe social. e. Incorreta: os seres humanos são sujeitos da história. Habilidade Discutir as principais ideias de Marx, a análise da origem da sociedade capitalista e suas transformações, além do en- quadramento social. Alternativa correta: B 2 28 2 So ci o lo gi a 29 5 Ci ên ci as H um an as e s ua s Te cn ol og ia s EM I-1 5- 20 Seu espaço Exercícios Propostos Da teoria, leia os tópicos 1, 1.A, 1.B, 1.C, 1.D e 1.E Exercícios de tarefa reforço aprofundamento 06. UEG-GO modificado “A história das sociedades tem sido, até hoje, a história da luta de classes”. Esta frase expressa uma das teses funda- mentais de Marx. Explique, a partir dessa frase, o pensamento de Karl Marx a respeito da sociedade. 07. Unimontes-MG modificado A questão das classes sociais ocupa um papel funda- mental na teoria de Karl Marx. Para ele, existem condicionan- tes e determinantes na complexa relação entre indivíduo e sociedade e entre consciência e existência social. Conside- rando as reflexões de Karl Marx sobre esse tema, considere as seguintes afirmações, assinalando V para a(s) verdadei- ra(s) e F para a(s) falsa(s). ( ) A luta de classes desenvolve-se no modo de organi- zar o processo de trabalho e no modo de se apropriar do resultado do trabalho humano. ( ) A luta de classes está presente em todas as ações dos trabalhadores quando lutam para diminuir a ex- ploração e a dominação. ( ) Em meio aos antagonismos e lutas sociais, o indiví- duo pode repensar a realidade, reagir e até mesmo transformá-la, unindo-se a outros em movimentos sociais e políticos. ( ) As classes sociais sustentam-se em equilíbrios dinâ- micos e solidários, sendo a produção da solidarieda- de social o resultado necessário à vida em sociedade. 08. O materialismo histórico foi a corrente mais revolucioná- ria do pensamento social, tanto no campo teórico como no da ação política. E o materialismo histórico pode ser conceituado como: a. um período de transição do socialismo para o comu- nismo, durante o qual as condições materiais são cria- das para a construção do socialismo. b. a filosofia formulada por Marx e Engels que se de- senvolve em estreita conexão com os resultados da ciência e com a prática do movimento operário revo- lucionário. c. a doutrina marxista do desenvolvimento da sociedade humana, que vê no desenvolvimento dos bens mate- riais necessários a existência, a força primeira que de- termina toda a vida social, que condiciona a transição de um regime social para outro. d. uma corrente hostil ao marxismo, que defende a natu- reza como fonte de sobrevivência. e. uma etapa que se segue ao socialismo, quando as classes deixam de existir e o Estado se extingue. 09. UEL-PR modifica do Karl Marx exerceu grande influência na teoria sociológica. Segundo o autor: [...] na produção social da sua existência, os homens estabelecem relações determinadas, necessárias, independentes da sua vontade, re- lações de produção... O conjunto destas relações de produção constitui a estrutura econômica da sociedade, a base concreta sobre a qual se eleva • Sobre o módulo Apresentar o contexto em que se desenvolveu o pensa- mento de Karl Marx, não deixando de assinalar a contribuição de Hegel para a formação intelectual do jovem Marx. Assinalar alguns eventos revolucionários que deram o tom daquilo que foi o século XIX, com suas contradições no interior da expansão capitalista. Discutir a obra de Karl Marx, que procurava refletir sobre a dinâmica da História, base sobre a qual estruturou sua análise filosófica, econômica, política e social. Explicitar a ideia do motor da história como sendo a luta de classes e o entendimento do que vem a ser o materialismo his- tórico dialético proposto pelo filósofo. Salientar a perspectiva de Marx como sendo uma teleolo- gia, em especial, a noção de que o final da história seria o co- munismo. • Cinemateca Germinal. França, 1993. Dirigido por Claude Berri. 158 min. Drama, com Gerard Depardieu, baseado no romance homô- nimo de Émile Zola. Tem como cenário uma cidade do norte da França em plena Revolução Industrial, no século XIX. Descreve as condições de trabalho dos mineiros de carvão por causa da redução de salários e também o princípio da organização da classe operária, como as divisões entre marxistas e anarquis- tas no movimento sindical. Tempos modernos. Estados Unidos, 1936. Dirigido por Charles Chaplin. 83 min. Ao satirizar o processo de produção capitalista, Chaplin cri- tica aspectos da teoria de Karl Marx nesta obra que mescla co- média, drama e romance. Para isso, usa como personagem um operário que tenta driblar o mecanismo da linha de montagem para poder almoçar e termina por enlouquecer. • Na web Marx e a sociologia. Artigo de Ricardo Musse, revista Cult. Disponível em: <http://revistacult.uol.com. br/home/2011/01/marx-e-a-sociologia/>. • Estante GIANNOTTI, José Arthur. Marx: vida e o bra. Porto Alegre: L&PM, 2000. Uma introdução ao pensamento de Marx apresentado com os impasses teóricos e práticos enfrentados pelo filóso- fo, com o cuidado de evitar a banalização de seus conceitos. 2 28 2 So ci o lo gi a 29 6 Ci ên ci as H um an as e s ua s Te cn ol og ia s EM I-1 5- 20 uma superestrutura jurídica e política e à qual correspondem determinadas formas de cons- ciência social. MARX, K. Contribuição à críticada economia política. Tradução de Florestan Fernandes. São Paulo: Mandacaru, 1989. p. 28. De acordo com o texto e os conhecimentos sobre o autor, é correto afirmar: a. A superestrutura jurídica e política é o resultado do modo como as pessoas se organizam para produzir a subsistência material em determinada sociedade. b. A superestrutura jurídica e política é o resultado da consciência social dos líderes políticos e independe do modo de produção em dada sociedade. c. A superestrutura política é o resultado do modo como as pessoas se organizam para produzir a subsistência material em determinada sociedade, mas a esfera ju- rídica depende da consciência social. d. A superestrutura jurídica é o resultado do modo como as pessoas se organizam para produzir a subsistência material em determinada sociedade, mas a esfera po- lítica depende da consciência social. e. A superestrutura jurídica e política é o resultado da consciência social dos homens. 10. A respeito das análises que Karl Marx fez sobre o capita- lismo, considere as afirmativas a seguir, assinalando V para verdadeira e F para falsa. ( ) Uma classe social deve ser definida a partir do seu status social e de seu poder de compra na sociedade. ( ) A afirmação “a história da humanidade é a história das lutas de classes” expressa uma ideia de coope- ração entre as diferentes camadas sociais. ( ) Os conflitos existentes na relação entre os operários e os empresários constituem o fato mais importante das sociedades modernas. ( ) As classes sociais definem-se, sobretudo, pelas re- lações de cooperação que se desenvolvem entre os diversos grupos envolvidos socialmente. ( ) Essas análises diferem da dos positivistas, ao consi- derar que apenas as sociedades modernas e indus- triais eram científicas, em contraposição às militares e teológicas. 11. Uncisal A Escola Marxista tem na teoria do conflito um dos seus fundamentos mais importantes em termos sociológicos. Tal teoria, pela óptica marxista, defende que: a. os conflitos sociais são culturais, sendo expressões do embate entre a tradição e a inovação. b. os conflitos nascem das contradições, sendo estas re- sultantes do acesso desigual aos meios de produção. c. as sociedades mais avançadas são aquelas que me- lhor se adaptaram ao longo do processo histórico, sen- do as menos aptas extintas. d. os conflitos sociais são observados apenas nas socie- dades anteriores à Revolução Industrial. e. todas as relações sociais estão desvinculadas da es- fera econômica, sendo os conflitos políticos o alicerce da vida em sociedade. 12. UEL-PR modificado “Cascavel – Uma pequena cidade no interior do Paraná está provando que machismo é coisa do passado. Com 15 mil habitantes, conforme o IBGE, Ampére (a 150 quilômetros de Cascavel), no Sudoeste, tem fartura de emprego para as mu- lheres. Ex-donas de casa partiram para o traba- lho fixo, enquanto os homens, desempregados ou não, passaram a assumir os serviços domésticos. Assim, elas estão garantindo mais uma fonte de renda para a família, além de eliminar antigos pre- conceitos. A situação torna-se ainda mais eviden- te quando os homens estão desempregados e são as mulheres que pagam as contas básicas da fa- mília. Conforme levantamento informal, em Am- pére, o número de homens sem vínculo emprega- tício é maior do que o de mulheres. Para driblar as dificuldades, eles fazem bicos temporários e, quando não há serviço, tornam-se donos de casa. O motivo para essa mudança de comportamento é a [...] Industrial Ltda., uma potência no setor de confecções que dá emprego a 1 200 pessoas, das quais 80% são mulheres. Com a fábrica, famílias migraram do interior para a cidade. As mulheres abandonaram o posto de donas de casa ou de empregadas domésticas, aprendendo a apostar na capacidade de competição”. Ilza Costa. Papéis trocados. Gazeta do Povo, Curitiba, 01 out. 1999. p. 14. O fenômeno da troca de papéis sociais, relatado no texto, ilustra a base da tese usada por Karl Marx (1818-1883) na explicação geral que formula sobre a relação entre a infraes- trutura e a supraestrutura na sociedade capitalista. Com base no texto e nos conhecimentos sobre essa tese de Karl Marx, é correto afirmar: a. Na explicação das mudanças ocorridas no compor- tamento coletivo, deve-se privilegiar o papel ativo do indivíduo na escolha das ações, ou seja, o que importa é a motivação que inspira suas opções. b. É a imitação que constitui a sociedade, enquanto a inven- ção abre o caminho das mudanças e de seu progresso. A invenção, produtora das transformações sociais, é in- dividual, dependendo de poucos; enquanto a imitação, coletiva, necessita sempre de mais de uma pessoa. c. A família é a verdadeira unidade social; é a célula social que, em seu conjunto, compõe a sociedade, portanto a sociedade não pode ser decomposta em indivíduos, mas em famílias. É a família a fonte espontânea da educação moral, bem como a base natural da organização política. d. Há uma relação de determinação entre a maneira como um grupo concreto estrutura suas condições materiais de existência – chamada de modo de pro- dução – e o formato e conteúdo das demais organi- zações, instituições sociais e ideias gerais presentes nas relações sociais. e. A organização social deve fundar-se na separação dos ofícios, inerente à divisão do trabalho social e na combi- nação dos esforços individuais. Sem divisão do trabalho social, não há cooperação e, portanto, a coesão social entre as classes torna-se impossível. 2 28 2 So ci o lo gi a 29 7 Ci ên ci as H um an as e s ua s Te cn ol og ia s EM I-1 5- 20 13. Sistema COC Leia o texto a seguir. Homem livre e escravo, patrício e plebeu, ba- rão e servo, mestre e companheiro, numa palavra, opressores e oprimidos, sempre estiveram em constante oposição uns aos outros, travaram uma batalha ininterrupta, ora aberta, ora dissimulada, uma luta que terminava sempre com uma trans- formação revolucionária de toda a sociedade ou com a destruição das duas classes em luta. MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Manifesto do Partido Comunista. São Paulo: Escala, 2007. p. 47. Fragmento. Coleção Grandes obras do pensamento universal. Com base no texto e nos conhecimentos sobre o tema, assinale a alternativa correta. a. A divisão existente no seio das sociedades, expressa por meio da presença de “opressores” e “oprimidos”, esconde-se sob a máscara da dissimulação, fato que impede os processos revolucionários. b. As palavras de Marx e Engels suscitam uma perspecti- va histórica na qual a dinâmica e a transformação são duas ações pouco realizáveis. c. Ao longo do tempo, a oposição entre “opressores” e “oprimidos” não foi capaz de articular movimentos sociais com vigor suficiente para destruir as classes em luta. d. A perspectiva de Marx e Engels não condiz com uma visão histórica linear, já que os pares sociais em opo- sição por eles apresentados viveram em momentos distintos. e. Na história do capitalismo, a mobilização da burgue- sia visando ao controle da economia garantiu a ela, enquanto classe social, o papel de classe dominante. 14. Unesp Leia os textos. Texto 1 Ora, a propriedade privada atual, a proprieda- de burguesa, é a última e mais perfeita expressão do modo de produção e de apropriação baseado nos antagonismos de classes, na exploração de uns pelos outros. Neste sentido, os comunistas podem resumir sua teoria nesta fórmula única: a abolição da propriedade privada. […] A ação comum do proletariado, pelo menos nos países civilizados, é uma das primeiras condições para sua emancipação. Suprimi a exploração do ho- mem pelo homem e tereis suprimido a explo- ração de uma nação por outra. Quando os an- tagonismos de classes, no interior das nações, tiverem desaparecido, desaparecerá a hostilida- de entre as próprias nações. Marx e Engels. Manifesto comunista, 1848. Texto 2 Os comunistas acreditam ter descoberto o caminho para nos livrar de nossos males.Segun- do eles, o homem é inteiramente bom e bem dis- posto para com seu próximo, mas a instituição da propriedade privada corrompeu-lhe a nature- za. […] Se a propriedade privada fosse abolida, possuída em comum toda a riqueza e permitida a todos a partilha de sua fruição, a má vontade e a hostilidade desapareceriam entre os homens. […] Mas sou capaz de reconhecer que as premis- sas psicológicas em que o sistema se baseia são uma ilusão insustentável. […] A agressividade não foi criada pela propriedade. […] Certamente […] existirá uma objeção muito óbvia a ser feita: a de que a natureza, por dotar os indivíduos com atributos físicos e capacidades mentais extrema- mente desiguais, introduziu injustiças contra as quais não há remédio. Sigmund Freud. Mal-estar na civilização, 1930. Adaptado. Qual diferença os dois textos estabelecem sobre a rela- ção entre a propriedade privada e as tendências de hostilida- de e agressividade entre os homens e as nações? Explicite, também, a diferença entre os métodos ou pontos de vista em- pregados pelos autores dos textos para analisar a realidade. 15. UEM-PR Utilizando seus conhecimentos sobre o conceito de “modo de produção”, assinale o que for correto sobre suas características no capitalismo. 01. Exige que o trabalho humano acompanhe as cons- tantes transformações do mundo do trabalho, sepa- rando as unidades de concepção das de produção. 02. Estruturou a divisão da sociedade entre proprietários dos meios de produção e proprietários da força de trabalho. Essa diferenciação marcou não só as re- lações dentro de ambientes fabris, mas também os locais de moradia e lazer dos trabalhadores. 04. Organizou a produção sob a forma de conhecimen- to científico que propiciou a apropriação intensa da natureza. Contudo os benefícios gerados por tal apro- priação não alcançaram a sociedade como um todo. 08. Ao mesmo tempo em que deixou o indivíduo livre para trocar sua força de trabalho por salário, gerou um processo de alienação do trabalhador. 16. Procurou o aperfeiçoamento técnico constante, junto à produtividade dos operários e à racionalização dos processos produtivos, com o objetivo de expandir os lucros e baixar os custos de produção. 16. UEMA As sociedades modernas são complexas e multiface- tadas. Mas, é com o capitalismo que as divisões sociais se tornam mais desiguais e excludentes. Marx já observara que só o conflito entre as classes pode mover a história. Assim sendo, para o referido autor, em qual das opções se evidencia uma característica de classe social? a. O status social e cultural dos indivíduos b. A função social exercida pelos indivíduos na sociedade c. A ação política dos indivíduos nas sociedades hierar- quizadas d. A identidade social, cultural e coletiva e. A posição que os indivíduos ocupam nas relações de produção 2 28 2 So ci o lo gi a 29 8 Ci ên ci as H um an as e s ua s Te cn ol og ia s EM I-1 5- 20 Módulo 5 A Sociologia de Max Weber Exercícios de Aplicação 01. UFU-MG Analise as situações abaixo referentes a ações típicas do mercado de bens econômicos. A. R. é empresário no ramo de calçados femininos. Sua empresa é bem organizada, possui muitos funcioná- rios especializados e gerência competente. Ele sem- pre define os tipos e as quantidades de calçados a produzir de acordo com pesquisas de mercado. Em função das previsões de lucro, esse empresário toma todas as providências necessárias para que a empre- sa seja bem-sucedida. B. P. é comerciante de calçados. Ele revende os calçados produzidos por R., dando a este preferência por ques- tões de preço, atendimento aos gostos dos consumi- dores, cumprimento de prazos de entrega etc. Embora P. seja um pequeno empresário, também dispõe de recursos para garantir lucros com seu negócio. C. L. é compradora de calçados produzidos por R. e re- vendidos por P. Ela “adora” comprar calçados e o faz, de acordo com os impulsos “do momento”. A rigor, L. não precisa desses calçados para trabalhar ou pas- sear, pois já dispõe de uma grande coleção de sapatos de todos os modelos, gostos e de todas as cores. Na teoria sociológica de Max Weber, tais situações con- figuram ações sociais, definidas, de modo típico-ideal, pela orientação predominante dos atores envolvidos, ou seja, uma orientação racional ou não racional. De acordo com as situações apontadas e a teoria de We- ber, marque para as alternativas abaixo (V) verdadeira ou (F) falsa ( ) A situação A é racional; a situação C é não racional. ( ) As situações A e B são racionais. ( ) A situação A é não racional; a situação C é racional. ( ) Todas as situações são não racionais. 02. Em todas as situações da vida cotidiana, os indivíduos podem se sentir, literalmente, como uma mesma pessoa, mas são, na verdade, diferentemente posicionados em razão das expectativas e restrições sociais de cada uma dessas si- tuações, que os levam a representar-se diante dos outros de forma diferente em cada contexto. O entendimento dos outros da atuação do indivíduo em cada contexto é o resultado de ações estabelecidas para determinados fins. Esse argumento se relaciona a qual conceito sociológico weberiano? a. Identidade b. Cidadania c. Ação social d. Fatos sociais Resolução De acordo com a Sociologia weberiana, a situação C é não racional e as situações A e B são ra cionais. Resposta: V – V – F – F Resolução O pensamento de Weber está ancorado na ideia de que a Sociologia deve compreender a ação social. Ação pode ser entendida como conduta humana em determinadas circuns- tâncias. Quando a ação envolve outro ou outros podemos afir- má-la como ação social. Alternativa correta: C 2 28 2 So ci o lo gi a 29 9 Ci ên ci as H um an as e s ua s Te cn ol og ia s EM I-1 5- 20 03. Vunesp À medida que se foi estendendo a influên- cia da concepção de vida puritana – e isto, na- turalmente, é muito mais importante do que o simples fomento da acumulação de capital – ela favoreceu o desenvolvimento de uma vida econômica racional e burguesa. Era a sua mais importante, e, antes de mais nada, a sua única orientação consistente, nisto tendo sido o berço do moderno “homem econômico”. Max Weber. A ética protestante e o espírito do capitalismo. 1967. De acordo com o texto, Max Weber está apontando para o “desenvolvimento de uma vida econômica racional e burguesa” e o desenvolvimento do capitalismo a partir da influência da: a. economia e sociedade. b. ética protestante. c. liderança carismática. d. ética liberal. e. teoria da ação social. Exercícios Extras 04. Unicentro-PR Leia o texto a seguir. Do ponto de vista do agente, o motivo é o fundamento da ação; para o sociólogo, cuja tare- fa é compreender essa ação, a reconstrução do motivo é fundamental, porque, da sua perspec- tiva, ele figura como a causa da ação. Numero- sas distinções podem ser estabelecidas e Weber realmente o faz. No entanto, apenas interessa assinalar que, quando se fala de sentido na sua acepção mais importante para a análise, não se está cogitando da gênese da ação, mas sim da- quilo para o que ela aponta, para o objetivo visa- do nela; para o seu fim, em suma. COHN, Gabriel (Org.). Max Weber: Sociologia. São Paulo: Ática, 1979. A categoria weberiana que melhor explica o texto em evi- dência está explicitada em: a. A ação social possui um sentido que orienta a conduta dos atores sociais. b. A luta de classes tem sentido porque é o que move a história dos homens. c. Os fatos sociais não são coisas, e sim acontecimentos que precisam ser analisados. d. O tipo ideal é uma construção teórica abstrata que per- mite a análise de casos particulares. e. O sociólogo deve investigar o sentido das ações que não são orientadas pelas ações de outros. 05. Tendo por base o pensamento sociológico de Weber, con- sidere as afirmativas a seguir, assinalando V para a(s) verda- deira(s) e F para a(s) falsa(s). ( ) O historicismo é entendido como uma tarefa do cien-tista como forma de compreensão das sociedades. ( ) A tarefa do cientista é descobrir os possíveis senti- dos das ações humanas presentes na realidade so- cial que lhe interesse estudar. ( ) A ação social gera efeitos sobre a realidade em que ocorre, e tais efeitos escapam ao controle e à previ- são do agente. ( ) Os fatos sociais são coisas que devem ser vistas e analisadas. ( ) O que garante a cientificidade de uma explicação é o método de reflexão e não diretamente o fato social. Resolução Conforme o pensamento de Weber, foram os princípios que nortearam a concepção de vida puritana os responsáveis pelo desenvolvimento do capitalismo. a. Incorreta: a economia e a sociedade se organizam a partir de determinados valores e são estes que corres- pondem a mudanças significativas na vida humana. c. Incorreta: o texto não apresenta a ideia de liderança carismática no desenvolvimento do capitalismo. d. Incorreta: não há menção a uma ética liberal, mas a uma ética protestante. e. Incorreta: a teoria da ação social não está contemplada no texto, sendo uma formulação sociológica de Weber para entender o complexo das relações sociais. Alternativa correta: B Habilidade Conhecer o contexto em que se desenvolveu o pensa- mento de Weber, suas principais ideias, em específico, a con- cepção de vínculo entre a sociedade capitalista e racionaliza- ção da vida. 2 28 2 So ci o lo gi a 30 0 Ci ên ci as H um an as e s ua s Te cn ol og ia s EM I-1 5- 20 Seu espaço Exercícios Propostos Da teoria, leia os tópicos 2, 2.A e 2.B Exercícios de tarefa reforço aprofundamento 06. Unicentro-PR modificado Assinale com V as afirmativas verdadeiras e com F as falsas, sobre a contribuição do sociólogo Max Weber para a Sociologia nas organizações. ( ) A teoria weberiana distingue quatro tipos de ação: a tradicional, a emocional ou afetiva, a racional com rela- ção a um valor e a racional com relação a um objetivo. ( ) A consciência coletiva, de acordo com Weber, é um conjunto de crenças comuns à média dos membros de uma sociedade e que orienta a ação social. ( ) A Sociologia de Weber busca compreender o sentido que cada autor confere à própria conduta. ( ) Os tipos ideais correspondem à verdadeira história das sociedades. 07. Weber estabeleceu uma explicação a respeito das diferenças sociais que não contemplaram o pensamento de Karl Marx. Identi- fique o critério usado por Weber para tratar das diferenças sociais. 08. Unicentro-PR Max Weber, um dos fundadores da Sociologia, tinha am- plo conhecimento em muitas áreas afins a essa ciência, tais como Economia, Direito e Filosofia. Assim, ao analisar o de- senvolvimento do capitalismo moderno, buscou entender a natureza e as causas da mudança social. Em sua obra, exis- tem dois conceitos fundamentais, ou seja: a. cultura e tipo ideal. b. classe e proletariado. c. anomia e solidariedade. d. fato social e burocracia. e. ação social e racionalidade. • Sobre o módulo Assinalar o quadro histórico em que se desenvolveu o pensamento de Weber, suas influências intelectuais e as cir- cunstâncias em que apresentou sua perspectiva sociológica. Evidenciar as diferenças da proposta de Weber daquela desenvolvida por Durkheim, mais precisamente a valorização do indivíduo por oposição à valorização das imposições so- ciais defendida no pensamento de Durkheim. Sinalizar o valor do indivíduo na sociedade, com vistas a desenvolver a proposta de Weber acerca da ação social e de seus fundamentos, tendo como base o estudo histórico as- sentado em contrastes com os tipos ideais. Contemplar a questão do conflito na perspectiva weberia- na e sua distinção da noção de conflito apresentada por Karl Marx. • Cinemateca O Grande Gatsby. Austrália, Estados Unidos, 2013. Dirigi- do por BazMark Luhrmann. 144 min. Uma história de amor, baseada no romance homônimo de F. Scott Fitzgerald, que foi definida como um romance sobre o capitalismo, a mobilidade social, o que o dinheiro pode ou não comprar, a ânsia do protagonista em ser aceito pelos muito ri- cos, enquanto, como afirmou Weber, a posse de bens e proprie- dade de produção não definem a classe, porque a situação que importa para a definição de classe são as trocas e relações de mercado. Uma análise weberiana do filme está disponível em: <http://www.pitacocultural.com/cinema/the-great- gatsby-o-filme-e-um-pouco-de-max-weber/>. • Na web Café filosófico: a sociologia de Weber. O sociólogo Gabriel Cohn levanta questões a respeito de Max Weber, seu pensa- mento a respeito das linhas de força, ações e agentes dessas ações dentro da teia de relações que é a sociedade. Disponível em: <https://www.youtube. com/watch?v=qU_zUBTsILQ>. Clássicos da sociologia: Émile Durkheim. O fato social se impõe aos indivíduos, de acordo com a visão de Durkheim. A concepção de sociedade de Durkheim, baseada na ideia de fato social e solidarie- dade, é apresentada pelo sociólogo Gabriel Cohn e por meio de visita ao menor município do país, Águas de São Pedro, em São Paulo. Disponível em: <https://www.youtube. com/watch?v=D6BY6LtK9xQ>. Modernidade, desencantamento do mundo, mídia e poder. Em seu texto “Ciência como Vocação”, Max Weber afirmou que o homem “tem o destino de viver numa época sem Deus e sem profetas”, fazendo referência ao momento denominado por alguns teóricos como “modernidade”. Para Weber, esse tempo seria caracterizado por uma intensa perda dos sentidos existenciais e essenciais de tempos passados. Artigo disponível em: <http://www.webartigos. com/artigos/modernidade-desencantamento-do- mundo-midia-e-poder/44897/#ixzz3AdrNjn7Y>. A ética protestante e o espírito do capitalismo. Resenha. Disponível em: <http://terminologiaatemporal. wordpress.com/2013/05/02/resenha-a- etica-protestante-e-o-espirito-do-capitalismo- max-weber/>. Acesso em: 16 ago. 2014. • Estante COHN, Gabriel. Sociologia: para ler os clássicos. Rio de Janeiro: Azougue, 2005. WEBER, Max. A ciência como vocação. Ciência e política: duas vocações. São Paulo: Cultrix, 1993. WEBER, MAX. A ética protestante e o espírito do capitalismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2011. 2 28 2 So ci o lo gi a 30 1 Ci ên ci as H um an as e s ua s Te cn ol og ia s EM I-1 5- 20 09. Unioeste-PR modificado Para Max Weber a economia capitalista não é marcada pela irracionalidade e pela “anarquia da produção”. Ao contrá- rio de Karl Marx, que frisava a irracionalidade do capitalismo, para Weber as instituições do capitalismo moderno podem ser consideradas como a própria materialização da racionali- dade. Segundo Weber, uma das características do capitalismo moderno é a estrutura burocrática com instituições adminis- tradas racionalmente com funções combinadas e especiali- zadas. Para o sociólogo alemão, o controle burocrático é mar- cado pela eficiência, precisão e racionalidade. Considerando a importância do tema da burocracia na obra de Weber, é correto afirmar: a. Marx Weber identifica a burocracia com a irracionali- dade, com o processo de despersonalização e com a rotina opressiva. A irracionalidade, nesse contexto, é vista como favorável à liberdade pessoal. b. Segundo Weber, a ocupação de um cargo na estrutura burocrática é considerada uma atividade com finalidade objetiva pessoal. Trata-se de uma ocupação que não exi- ge senso de dever e nenhum treinamento profissional. c. Na burocracia moderna os funcionários são altamen- te qualificados, treinados em suas áreas específicas, enfim, pessoas que têm ou devem ter qualificações consideradas necessárias para serem designadas para tais funções. d. Para Weber, o elemento central da estrutura burocráti- ca é a ausência da hierarquia funcional e a obediência à ordem pessoal e subjetiva. e. A burocratização do capitalismo moderno impede, se- gundo Weber, a possibilidade de se colocar em prática o princípio da especialização das funções administrativas. 10. A dominação baseia-se numa probabilidade de obediên-cia a um certo mandato. Quais são os três tipos de dominação legítima na perspectiva de Weber? a. Legal, tradicional e carismática b. Capitalista, socialista e comunista c. Racional com relação a fins, racional com relação a valores e afetiva d. Patriarcal, política e ideológica 11. Um dos trabalhos mais conhecidos de Weber é A ética pro- testante e o espírito do capitalismo. De que trata esta obra? 12. Ao fazer uso da sociologia de Max Weber, podemos afir- mar que fenômenos sociais, como, por exemplo, a moda, a formação do Estado ou o desenvolvimento da economia ca- pitalista, podem ser compreendidos por meio do conceito de ação social. A ação social não é um simples reflexo, mas uma atuação de um sujeito histórico movido por determinados in- teresses. Tais interesses podem ter uma motivação racional com relação a fins preestabelecidos ou com relação a valo- res. Além disso, os interesses podem vir da influência de tra- dições ou de questões afetivas. Esta afirmação implica considerar que: a. esses fenômenos sociais são determinados pela es- trutura econômica vigente em uma dada sociedade e condicionam as condutas e os interesses dos indiví- duos. b. as estruturas sociais são constituídas a partir das ações dos indivíduos, os quais são livres para realizar escolhas e orientam suas condutas com referência à ação de outros indivíduos. c. os fenômenos sociais são constituídos como siste- mas orgânicos, de modo que os indivíduos agem em cooperação com o todo, tendo em vista o bom funcio- namento da sociedade. d. a conduta individual tem base exclusivamente racio- nal e é orientada para o interesse de transformação social, com vistas ao progresso da sociedade e à au- tonomia do indivíduo. e. a ação social é uma imposição do indivíduo à socie- dade, mesmo que esta não aceite e não reconheça a intenção que moveu a ação. 13. Leia o texto a seguir. A respeito dos estudos comparativos, a resposta de Weber foi a elaboração de “tipos ideais”, que constituem um dispositivo genera- lizante, um modelo heurístico, sobre o qual era possível aplicar a comparação. Nas suas explica- ções históricas comparadas, Weber rejeita sem- pre a hipótese de leis ou de monocausalidade; ele pensa, portanto, que um evento pode ter di- versas causas e que conjuntos diversos de cau- sas podem ter o mesmo efeito. A validade das comparações em Weber provém das suas cons- truções empíricas dos processos de indução e de introspecção mais do que de uma verificação causal de hipóteses. REBUGHINI, Paola. A comparação qualitativa de objetos complexos e o efeito da reflexividade. In: MELLUCI, Alberto (Org.) Por uma sociologia reflexiva: pesquisa qualitativa e cultura. Petrópolis: Vozes, 2005. p. 242. Adaptado. Tendo o fragmento de texto acima como referência inicial, assinale a opção correta a respeito de “tipos ideais”, segundo a formulação proposta por Max Weber. a. Os “tipos ideais” não são construções empíricas. b. A causalidade única é a base dos “tipos ideais”. c. A comparação não é essencial para a construção dos “tipos ideais”. d. Os “tipos ideais” não permitem uma explicação histórica. e. Os “tipos ideais” são construídos essencialmente a partir da verificação causal de hipóteses. 14. UEL-PR De acordo com Max Weber, a Sociologia signi- fica: “uma ciência que pretende compreender in- terpretativamente a ação social e assim explicá-la casualmente em seu curso e em seus efeitos”. Por ação social entende-se as ações que: “quanto ao seu sentido visado pelo agente, se refere ao comportamento dos outros, orientan- do-se por este em seu curso.” WEBER, M. Economia e sociedade. v. 1. Brasília: Editora UnB, 2000. p. 3. Adaptado. 2 28 2 So ci o lo gi a 30 2 Ci ên ci as H um an as e s ua s Te cn ol og ia s EM I-1 5- 20 Com base no texto, assinale a alternativa que condiz com o conceito apresentado. I. Mesmo entre gente humilde, porém, fun- cionava o sistema de obrigações recíprocas. O nonagentário Nhô Samuel lembrava com sauda- de o dia em que o pai, sitiante perto de Tatuí, lhe disse que era tempo de irem buscar a novilha dada pelo padrinho... Diz que era costume, se o pai morria, o padrinho ajudar a comadre até "arranjar a vida". Hoje, diz Nhô Roque, a gente paga o batismo e, quando o afilhado cresce, nem vem dar louvado (pedir a benção). CANDIDO, A. Os parceiros do Rio Bonito. São Paulo: Livraria Duas Cidades, 1982. p. 247. II. O sertanejo é, antes de tudo, um forte. Não tem o raquitismo exaustivo dos mestiços neuras- tênicos do litoral. A sua aparência, entretanto, ao primeiro lance de vista, revela o contrário. Falta- -lhe a plástica impecável, o desempeno, a estru- tura corretíssima das organizações atléticas. CUNHA, E. da. Os sertões. São Paulo: Círculo do Livro, 1989. p. 95. III. Não há assim por que considerar que as formas anacrônicas e remanescentes do escra- vismo, ainda presentes nas relações de trabalho rural brasileiro, [...], dando com isso origem a relações semifeudais que implicariam uma situa- ção de "latifúndios de tipo senhorial a explora- rem camponeses ainda envolvidos em restrições da servidão da gleba". Isso tudo não tem sentido na estrutura social brasileira. PRADO Jr., C. A Revolução Brasileira. São Paulo: Brasiliense, 1987. p. 106. IV. O coronel, antes de ser um líder político, é um líder econômico, não necessariamente, como se diz sempre, o fazendeiro que manda nos seus agregados, empregados ou dependen- tes. O vínculo não obedece a linhas tão simples, que se traduziriam no mero prolongamento do poder privado na ordem pública [...] Ocorre que o coronel não manda porque tem riqueza, mas manda porque se lhe reconhece esse poder, num pacto não escrito. FAORO, R. Os donos do poder. v. 2. Porto Alegre: Editora Globo, 1973. p. 622. Correspondem ao conceito de ação social citado anterior- mente somente as afirmativas: a. I e IV. b. II e III. c. II e IV. d. I, II e III. e. II, III e IV. 15. Numa perspectiva weberiana, a burocracia é vista como: a. uma organização com estrutura hierárquica, que au- menta o atrito entre os trabalhadores. b. um elemento de democratização, já que diante da nor- ma burocrática todos são rigorosamente iguais. c. Um plano de ação para que o administrador não ignore os aspectos irracionais da conduta social. d. um método institucionalizado de organizar a conduta social para superar obstáculos na organização. 16. UEL-PR A questão das classes sociais na Sociologia tem diferentes formas de explicação. Dentre as explicações clássicas, estão as de Marx e Weber. Atualmente encontramos estudiosos que analisam a estrutura social brasileira de diferentes maneiras: I. A classe C é a classe central, abaixo da A e B e acima da D e E. [...] a faixa C central está compreendida entre os R$ 1.064 e os R$ 4.561 a preços de hoje na grande São Paulo. A nos- sa classe C está compreendida entre os imedia- tamente acima dos 50% mais pobres e os 10% mais ricos na virada do século. [...] A nossa clas- se C aufere em média a renda média da socieda- de, ou seja, é classe média no sentido estatístico. A classe C é a imagem mais próxima da média da sociedade brasileira. Dada a desigualdade, a renda média brasileira é alta em relação aos es- tratos inferiores da distribuição. NERI, M. C.; COUTINHO DE MELO, L. C. (Coord.). Miséria e a nova classe média na década da igualdade. Rio de Janeiro: FGV/IBRE, CPS, 2008. p. 34-35. Adaptado. II. A reorganização do processo de acumu- lação no Brasil [após os anos de 1990] acarreta consequências imediatas nas relações sociais, no trabalho, no emprego e nas classes sociais dele resultantes. Assim, podemos concordar que o operariado industrial perdeu o seu peso relativo na nossa sociedade [...]. É certo que a classe trabalhadora [...] se multiplicou em dife- rentes grupos sociais, uns talvez mais atomiza- dos ou desorganizados [...]. Também percebe-se [...] que houve um processo de financeirização da classe hegemônica brasileira,que acabou re- duzindo ainda mais os setores dominantes, so- bretudo entre os banqueiros, as multinacionais e os grupos econômicos, mesclados entre si com o capital financeiro e o capital internacional. OLIVEIRA, F. et al. Classes sociais em mudança e a luta pelo socialismo. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2002. p. 27-28. Adaptado. Considerando as duas teorias e os dois tipos de análise dos estudiosos, é correto afirmar que as análises de: a. I e II concordam com Max Weber simultaneamente. b. I e II concordam com Karl Marx simultaneamente. c. II concorda com Max Weber e as de I com Karl Marx. d. I e II discordam igualmente com Karl Marx e com Max Weber. e. II concorda com Karl Marx e I concorda com Max Weber. 2 28 2 So ci o lo gi a 30 3 Ci ên ci as H um an as e s ua s Te cn ol og ia s EM I-1 5- 20 Módulo 6 A importância da Sociologia: desvios e possibilidades Exercícios de Aplicação 01. A Sociologia surgiu no século XIX, num quadro de profun- das mudanças da sociedade ocidental, tornando-se um cam- po privilegiado de estudo do homem em sociedade. Discorra sobre a importância da Sociologia. 02. Os discursos ou as teorias científicas são desenvolvidos através de um conjunto de técnicas e de experimentos no in- tuito de compreender ou resolver um problema anteriormente apresentado. As Ciências Sociais, por exemplo, possuem en- tre as suas diferentes missões o objetivo de investigar os pro- blemas sociais que vivenciamos durante o nosso cotidiano. Nesse sentido, o senso comum em relação às teorias socioló- gicas pode ser considerado: a. a popularização e a massificação das descobertas científicas após uma ampla divulgação. b. um conhecimento produzido individualmente e que ainda não passou por uma validação científica. c. um sinônimo da ignorância da população e uma justi- ficativa para o atraso econômico. d. um conhecimento não científico utilizado como solu- ção para os problemas cotidianos, geralmente pouco elaborado e sem um conhecimento profundo. e. um conhecimento científico popularizado e indissociável das pesquisas empíricas realizadas pelos sociólogos. Resolução A Sociologia procura estudar o homem em sociedade. Nesse sentido, as análises sociológicas envolvem desde questões relativas às condições materiais de vida até o con- junto de valores, de elementos culturais, que produzem as teias de relações humanas na vida coletiva. Assim, surgem estudos sobre sociedades agrárias e sociedades industriais, indicando certas especificidades históricas que delineiam as interações entre os homens em um determinado contexto social. Resolução O senso comum traz questões importantes que afetam a vida cotidiana, mas nele existem preconceitos e visões su- perficiais a respeito da organização social e dos conteúdos das relações sociais. Alternativa correta: D 2 28 2 So ci o lo gi a 30 4 Ci ên ci as H um an as e s ua s Te cn ol og ia s EM I-1 5- 20 03. Unioeste-PR Segundo Zygmunt Bauman, a Sociologia é constituída por um conjunto considerável de conhecimentos acumulados ao longo da história. Pode-se dizer que a sua identidade se forma na distinção com o chamado senso comum. Considerando que a Sociologia estabelece diferenças com o senso comum e estabelece uma fronteira entre o pensamento formal e o senso comum, é correto afirmar que: a. a Sociologia se distingue do senso comum por fazer afirmações corroboradas por evidências não verificá- veis, baseadas em ideias não previstas e não testadas. b. o pensar sociologicamente caracteriza-se pela des- crença na ciência e pela pouca fidedignidade de seus argumentos. O senso comum, ao contrário, evita expli- cações imediatas ao conservar o rigor científico dos fenômenos sociais. c. pensar sociologicamente é não ultrapassar o nível de nossas preocupações diárias e expressões cotidia- nas, enquanto o senso comum preocupa-se com a historicidade dos fenômenos sociais. d. o pensamento sociológico se distingue do senso co- mum na explicação de alguns eventos e circunstâncias, ou seja, enquanto o senso comum se preocupa em ana- lisar e cruzar diversos conhecimentos, a Sociologia se preocupa apenas com as visões particulares do mundo. e. um dos papéis centrais desempenhados pela Socio- logia é a desnaturalização das concepções ou expli- cações dos fenômenos sociais, conservando o rigor original exigido no campo cientifico. Exercícios Extras 04. UEL-P R No início a ciência quis a morte do mito, como a razão quis a supressão do irracional, visto como obstáculo a uma verdadeira compreensão do mundo, dando início assim a uma guerra intermi- nável contra o pensamento mítico. Valéry glorifi- cou esta luta destruidora contra as ‘coisas vagas’: ‘Aquilo que deixa de ser, por ser pouco preciso, é um mito; basta o rigor do olhar e os golpes múlti- plos e convergentes das questões e interrogações categóricas, armas do espírito ativo, para se ver os mitos morrerem’. O mito por sua vez traba- lha duro para se manter e, por meio de suas me- tamorfoses, está presente em todos os espaços. Do mesmo modo, a ciência atual busca menos sua erradicação que seu confinamento. Quando a ciência traça seus próprios limites, ela reserva ao mito – e ao sonho – o lugar que lhe é próprio. BALANDIER, Georges. A desordem: elogio do movimento. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1997. p.17. Com base no texto, é correto afirmar: a. Pelo fato de ser destituído de significado social, o mito está ausente dos espaços sociais contemporâneos. b. A delimitação da área de atuação do saber científico implica a constituição de um lugar próprio para o mito. c. A morte e o extermínio do mito no Ocidente decorrem da supervalorização e consequente predomínio da razão. d. Na modernidade, o pensamento mítico é crucial para a compreensão científica do mundo. e. O pensamento mítico se disseminou porque se pauta em conceitos e categorias. 05. Assinale a alternativa correta. O surgimento da Sociologia foi propiciado pela necessidade de: a. manter a interpretação mágica da realidade, como pa- trimônio de um restrito círculo sacerdotal. b. manter uma estrutura de pensamento mítica para a aplicação do mundo. c. condicionar o indivíduo, através dos rituais, a agir e pensar conforme os ensinamentos transmitidos pelos deuses. d. considerar os fenômenos sociais como propriedade exclusiva de forças transcendentais. e. observar, medir e comprovar as regras que tornassem possível, através da razão, prever e controlar os fenô- menos sociais. Resolução Dada a proximidade do sociólogo com o mundo que estu- da, os termos que utiliza são familiares ao conjunto da socie- dade que, muitas vezes, considera sua investigação simples e óbvia, mas a profundidade conferida às categorias de aná- lise confere uma perspectiva nova a determinadas situações sociais, garantindo conhecimentos até ali não compreen- síveis a muitos. O trabalho do sociólogo, então, permite não apenas a aquisição de novos conhecimentos, mas a possibi- lidade de disseminá-los, algo que contribui para “o pensar” do conjunto social sobre as suas práticas. Pode-se afirmar que a Sociologia é uma forma de conhe- cimento científico que permite a compreensão de certos fe- nômenos sociais, de certa organicidade do conjunto coletivo, de suas interações e dinâmicas, saindo do que se denomina senso comum. a. Incorreta: as evidências devem ser verificáveis para que se possa declarar que uma afirmação seja conhe- cimento sociológico. b. Incorreta: a Sociologia se constitui como uma ciência humana, uma ciência social e, para tanto, vale-se de metodologias e teorias aplicáveis e mesuráveis nas situações sociais. c. Incorreta: a Sociologia se preocupa com a historicida- de dos fenômenos sociais. d. Incorreta: é a Sociologia que se preocupa em analisar e cruzar diversos conhecimentos. Alternativa correta: E Habilidade Observar a importância de estudar Sociologia, suas con- tribuições científicas e sociais. 2 28 2So ci o lo gi a 30 5 Ci ên ci as H um an as e s ua s Te cn ol og ia s EM I-1 5- 20 Seu espaço Exercícios Propostos Da teoria, leia o tópico 3 Exercícios de tarefa reforço aprofundamento 06. Unicentro-PR Considerando-se as grandes mudanças que ocorreram na história da humanidade, aquelas que aconteceram no século XVIII — e que se estenderam no século XIX — só foram supera- das pelas grandes transformações do final do século XX. As mudanças provocadas pela revo- lução científico-tecnológica, que denominamos Revolução Industrial, marcaram profundamente a organização social, alterando-a por completo, criando novas formas de organização e causan- do modificações culturais duradouras, que per- duram até os dias atuais. DIAS, Reinaldo. Introdução à Sociologia. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2004. Relacione as considerações do texto sobre os séculos XVIII, XIX e XX com o surgimento e desenvolvimento da so- ciologia. 07. UFU-MG modificado Sobre o surgimento da Sociologia, considere as afirma- ções abaixo, assinalando V para a(s) verdadeira(s) e F para a(s) falsa(s), se houver. ( ) A consolidação do sistema capitalista na Europa no século XIX forneceu os elementos que serviram de base para o surgimento da Sociologia enquanto ciên- cia particular. ( ) O homem passou a ser visto, do ponto de vista socio- lógico, a partir de sua inserção na sociedade e nos grupos sociais que a constituem. ( ) Aquilo que a Sociologia estuda constitui-se historica- mente como o conjunto de relacionamentos que os homens estabelecem entre si na vida em sociedade. ( ) Interessa para a Sociologia não indivíduos isolados, mas inter-relacionados com os diferentes grupos so- ciais dos quais fazem parte, como a escola, a família, as classes sociais e etc. • Sobre o módulo Situar a Sociologia no campo das ciências humanas, indi- cando a sua importância no sentido de desenvolver análises mais profundas sobre o funcionamento, organização e dinâ- mica das sociedades, algo que escapa ao senso comum, mas tem seu ponto de partida em certas questões apresentadas por ele. Nesse sentido, é fundamental a diferenciação entre senso comum e análise sociológica. Mostrar que o estudo sociológico é diferente por permitir, dependendo da perspectiva teórica, a construção de explicações diferenciadas, mas que, nem por isso perdem seu valor científico. • Cinemateca O enigma de Kaspar Hauser. Alemanha, 1974. Dirigido por Werner Herzog. 110 min. O filme é baseado em fato real ocorrido na Alemanha de 1820. Kaspar Hauser, um adolescente, aparece em uma ci- dade, após ter vivido desde o nascimento em um porão, sem qualquer contato humano. É acolhido na casa de um profes- sor, que inicia a sua socialização. Laranja mecânica. Reino Unido, Estados Unidos, 1972. Dirigido por Stanley Kubrick. 136 min. O líder de uma gangue é preso e tem a opção de participar de um programa para reduzir sua pena, sendo cobaia de ex- perimentos que pretendem refrear os impulsos violentos do ser humano. Nesse drama, o diretor Kubrick faz uma crítica contundente à burocracia. Junto de 1984, de George Orwell, e Admirável Mundo Novo, de Huxley, Laranja Mecânica é consi- derado um dos ícones da alienação pós-industrial. Os 12 trabalhos de Asterix. França, 1976. Dirigido por René Goscinny, Albert Uderzo e Pierre Watrin. A animação faz um paralelo com os 12 Trabalhos de Hér- cules, durante a ocupação romana na Gália, no governo de Julio César. Traz cenas que satirizam a burocracia. • Na web A sociedade capitalista e a mobilidade social. Apresen- tação em Prezi. Disponível em: <http://prezi.com/aawbcvc99xlr/ hierarquizacao-e-mobilidade/>. Download gratuito de livros de Sociologia. Disponível em: <http://oficinasociologica. blogspot.com.br/2012/03/downloads- de-livros-de-sociologia.html>. Sociologia: Marx, Weber e Durkheim. Disponível em: <https://www.youtube.com/ watch?v=WJ1TMI2Apns>. Acesso em: 15 ago. 2014. • Estante ATHAYDE, Celso; MEIRELLES, Renato. Um país chamado favela. São Paulo: Gente, 2014. QUINTANERO, Tania. Um toque de clássicos: Durkheim, Marx e Weber. Belo Horizonte: UFMG, 2003. WEBER, Max. Economia e sociedade. Brasília: UnB, 2009. V. 2. 2 28 2 So ci o lo gi a 30 6 Ci ên ci as H um an as e s ua s Te cn ol og ia s EM I-1 5- 20 08. Leia o texto a seguir. A Sociologia é uma disciplina com grandes implicações práticas. Pode contribuir de várias formas para a crítica social e para a aplicação de reformas sociais. Para começar, uma melhor compreensão de um determinado conjunto de circunstâncias sociais oferece-nos muitas vezes a possibilidade de o controlar. Ao mesmo tempo, a Sociologia fornece os meios para melhorarmos a nossa sensibilidade cultural, criando condições para que as políticas se baseiem numa consciên- cia de valores culturais diferentes. Em termos práticos, podemos investigar as consequências da adoção de determinadas linhas de orientação política. Por último, e talvez o mais importante, a Sociologia permite autoconhecimento, oferecen- do aos grupos e aos indivíduos mais oportunida- des para alterar as condições em que decorrem as suas próprias vidas. GIDDENS, Anthony. Sociologia. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2008. p. 18. De acordo com o texto, identifique ao menos três implica- ções práticas atribuídas à Sociologia. 09. Unioeste-PR modificado Os discursos ou as teorias científicas são desenvolvi- dos através de um conjunto de técnicas e de experimentos no intuito de compreender ou resolver um problema ante- riormente apresentado. As Ciências Sociais, por exemplo, possuem entre as suas diferentes missões o objetivo de investigar os problemas sociais que vivenciamos durante o nosso cotidiano. Levando o exposto em consideração, qual das respostas abaixo é a correta considerando o senso comum? a. O senso comum corresponde à popularização e à mas- sificação das descobertas científicas após uma ampla divulgação. b. O senso comum corresponde aos conhecimentos pro- duzidos individualmente e que ainda não passaram por uma validação científica. c. O senso comum pode ser considerado um sinônimo da ignorância da população e uma justificativa para o atraso econômico. d. O senso comum corresponde a um conhecimento não científico utilizado como solução para os problemas cotidianos, geralmente ele é pouco elaborado e sem um conhecimento profundo. e. O senso comum e o conhecimento científico corres- pondem a duas formas de entendimento excludentes e possuidoras de fronteiras intransponíveis. 10. UEL-PR modificado A Sociologia é uma ciência moderna que surge e se de- senvolve juntamente com o avanço do capitalismo. Nesse sentido, reflete suas principais transformações e procura desvendar os dilemas sociais por ele produzidos. Sobre a emergência da Sociologia, considere as afirmativas a seguir, assinalando V para a(s) verdadeira(s) e F para a(s) falsa(s): ( ) A Sociologia tem como principal referência a explica- ção teológica sobre os problemas sociais decorren- tes da industrialização, tais como a pobreza, a desi- gualdade social e a concentração populacional nos centros urbanos. ( ) A Sociologia é produto da Revolução Industrial, sen- do chamada de “ciência da crise”, por refletir sobre a transformação de formas tradicionais de existência social e as mudanças decorrentes da urbanização e da industrialização. ( ) A emergência da Sociologia só pode ser compreendi- da se for observada sua correspondência com o cien- tificismo europeu e com a crença no poder da razão e da observação, enquanto recursos de produção do conhecimento. ( ) A Sociologia surge como uma tentativa de romper com as técnicas e métodos das ciências naturais, na análise dos problemas sociais decorrentes das remi- niscências do modo de produção feudal. 11. A partir do século XIX, o ideal científico no campo da So- ciologia consistiu na formulação de teorias sobre o homem e a sociedade. Acerca do pensamento científicosociológico, assinale a alternativa correta. a. Os principais métodos nas ciências sociais em geral e na Sociologia em particular excluem a observação sistemática de ambientes sociais, uma vez que os processos de interação entre os homens e os homens e o meio sociocultural são não observáveis. b. A pesquisa sociológica e a realizada nas demais áreas das Ciências Sociais independem da formulação de generalizações, uma vez que as relações entre os ho- mens e os homens e o meio sociocultural pautam-se pelas particularidades. c. As ideias científicas diferem do senso comum e de ou- tras formas de conhecimento, pois devem ser avalia- das à luz de evidências sistematicamente coletadas e do escrutínio público. d. O pensamento científico na Sociologia deve estar comprometido com a ideia de que as teorias são temporariamente verdadeiras e que as questões nunca estão resolvidas por completo; nesse senti- do, o pensamento científico sociológico se iguala ao senso comum. 12. O trabalho do sociólogo opera principalmente na cons- tituição de consciências sociais, vai além das fachadas das convenções e procura, no edifício social, as estruturas, as funções, as arquiteturas que estabelecem certos padrões de sociabilidade. E isso envolve a compreensão das linhas de força, dos comandos, das instituições, dos valores constituí- dos no interior da sociedade. É essa operação cognitiva que permite a construção de determinadas consciências a respei- to de elementos que existam, mas que não sejam imediata- mente vistos e compreendidos pelo conjunto social. 2 28 2 So ci o lo gi a 30 7 Ci ên ci as H um an as e s ua s Te cn ol og ia s EM I-1 5- 20 No que diz respeito às relações entre Sociologia e mudan- ças sociais, pode-se dizer que: a. a Sociologia é uma ciência que visa apreender cada sociedade em um dado momento, sem poder expli- car suas transformações, que são objeto da Histó- ria. b. a Sociologia só e capaz de explicar as transformações derivadas das lutas entre as classes. c. os estudos aos quais a Sociologia se dedica funda- mentam-se no princípio de que mudanças e trans- formações só podem ocorrer quando os vários seg- mentos ou estratos de uma sociedade se unem para promover ou viabilizar tais mudanças. d. a questão das mudanças sociais é um tema que se tornou objeto de reflexão sociológica a partir do que se convencionou chamar “era pós-industrial” e globa- lização. e. a Sociologia busca captar os fenômenos produzidos pelas ações de atores sociais que visam defender seus interesses e os fatos associados às reações e resistências àquelas ações. 13. UEM-PR modificado Todos nós sabemos da existência de um certo tipo de “organização social” entre animais não humanos, não ape- nas entre mamíferos superiores, tais como os macacos, por exemplo, mas também insetos: formigas, cupins e abelhas, notadamente. [...] Quando comparamos as “sociedades” animais não hu- manas, particularmente a sociedade daqueles insetos, o fazemos porque constatamos que o comportamento de tais animais apresenta certas padronizações parecidas com algu- mas padronizações verificadas entre os seres humanos. VILA NOVA, Sebastião. Introdução à Sociologia. São Paulo: Atlas, 1985. p. 29. Considerando o que diz o texto mostrado, assinale o que for correto. a. Segundo o autor, não há diferença entre o estudo das sociedades humanas feito pela Sociologia e o das so- ciedades de insetos feito pela Entomologia. b. De acordo com o texto, homens e animais são padro- nizados unicamente devido ao peso da herança ge- nética em todos os tipos de sociedades. c. Podemos concluir do texto que são os fatores do meio ambiente exclusivamente que levam à padronização dos comportamentos dos animais e dos seres huma- nos. d. Segundo o autor, se não fosse a descoberta das leis de padronização das sociedades de animais, os so- ciólogos não teriam se interessado pelas leis de pa- dronização existentes nas sociedades humanas. e. Podemos deduzir do texto que tanto os pesquisadores dos animais quanto os sociólogos se preocupam com as ações regulares produzidas pela vida em sociedade. 14. Unicentro-PR A raça é uma realidade natural ou biológi- ca produzida pela diferença dos climas, da ali- mentação, da geografia e da reprodução sexual. Quem duvidará disso, se vemos que os africanos são negros, os asiáticos são amarelos de olhos puxados, os índios são vermelhos e os euro- peus, brancos? Se formos religiosos, saberemos que os negros descendem de Caim, marcado por Deus, e de Cam, o filho desobediente de Noé. Certezas como essas formam nossa vida e o senso comum de nossa sociedade, transmitido de geração a geração, e, muitas vezes, transfor- mando-se em crenças religiosas, em doutrina inquestionável. CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. 6. ed. São Paulo: Ática, 1995. Sobre as relações entre o senso comum e conhecimento sociológico, identifique com V as afirmativas verdadeiras e com F, as falsas. ( ) O saber sociológico possui disciplina, regras de ve- rificação e um quadro de referências com limites rigorosos, que funcionam como uma moldura que o diferencia da compreensão que o senso comum tem do mesmo mundo. ( ) O conhecimento do senso comum é acumulado pelos homens, de forma empírica e teórica por- que se baseia na experiência cotidiana e na ex- periência científica, o que pressupõe uma postu- ra crítica. ( ) O pensar sociológico se assemelha ao senso comum, pois são autoevidentes, isto é, não questionam seus preceitos e não precisam de confirmação prática. ( ) O senso comum ou o conhecimento espontâneo é rico, embora desordenado e não sistemático, geral- mente desarticulado e inefável. A alternativa que contém a sequência correta, de cima para baixo, é a: a. V – V – V – F. b. F – V – V – V. c. F – V – F – V. d. V – F – F – V. e. V – F – F – F. 15. Charles Wright Mills, sociólogo americano, em seu livro A imaginação sociológica (1959), propõe uma ciência crítica frente às questões públicas, uma qualidade intelectual her- dada dos fundadores da Sociologia, que consiste em “sentir o jogo que se processa entre os homens e a sociedade, a bio- grafia e a história, o eu e o mundo”. Com base nessas informações, redija um pequeno texto apresentando a importância da Sociologia para a compreen- são mais profunda da sociedade. 16. Unesp Encontrar explicações convincentes para a origem e a evolução da vida sempre foi uma obsessão para os cientistas. A competição cons- tante, embora muitas vezes silenciosa, entre os indivíduos teria preservado as melhores linha- gens, afirmava Charles Darwin. Assim, um ser 2 28 2 So ci o lo gi a 30 8 Ci ên ci as H um an as e s ua s Te cn ol og ia s EM I-1 5- 20 vivo com uma mutação favorável para a sobrevi- vência da espécie teria mais chances de sobrevi- ver e espalhar essa característica para as futuras gerações. Ao fim, sobreviveriam os mais fortes, como interpretou o filósofo Herbert Spencer. Um século e meio depois, um biólogo americano agita a comunidade científica internacional ao ousar complementar a teoria da seleção darwi- nista. Segundo Edward Wilson, da Universidade de Harvard, o processo evolutivo é mais bem- sucedido em sociedades nas quais os indivíduos colaboram uns com os outros para um objetivo comum. Assim, grupos de pessoas, empresas e até países que agem pensando em benefício dos outros e de forma coletiva alcançam mais suces- so, segundo o americano. Rachel Costa. O poder da generosidade. IstoÉ, 11 maio 2012. Adaptado. Embora divergentes no que se refere aos fatores que ex- plicam a evolução da espécie humana, ambas as teorias, de Darwin e de Wilson, apresentam como ponto comum a con- cepção de que: a. influências religiosas e metafísicas são o principal veí- culo no processo evolutivo humano ao longo do tempo. b. são os condicionamentos psicológicos que influen- ciam de maneira decisiva o progresso na história. c. a sobrevivência da espécie humana ao longo dahis- tória é explicada pela primazia de fatores de natureza evolutiva. d. os fatores econômicos e materiais são os principais responsáveis pelas transformações históricas. e. os fatores intelectuais são os principais responsáveis pelo sucesso dos homens em dominar a natureza.