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CULPABILIDADE 3a EDIÇÃO/2023 1. INTRODUÇÃO 2 1.1. CONCEITO 2 1.2. FUNDAMENTO DA CULPABILIDADE 2 2. TEORIAS DA CULPABILIDADE 3 2.1. TEORIA PSICOLÓGICA 3 2.2. TEORIA PSICOLÓGICA-NORMATIVA 4 2.3. TEORIA NORMATIVA PURA ou EXTREMADA ou ESTRITA 4 2.4. TEORIA DA COCULPABILIDADE 6 2.4.1. COCULPABILIDADE À AVESSAS 7 2.5. CULPABILIDADE FORMAL E CULPABILIDADE MATERIAL 7 3. VULNERABILIDADE 7 3.1. CRIMINALIZAÇÃO PRIMÁRIA E SECUNDÁRIA 7 3.2. SELETIVIDADE E VULNERABILIDADE 8 3.1. CULPABILIDADE PELA VULNERABILIDADE (Zaffaroni) 8 4. CAUSAS DE EXCLUSÃO DA CULPABILIDADE 8 4.1. IMPUTABILIDADE PENAL 9 4.1.1. CONCEITO 9 4.1.2. CRITÉRIOS PARA IDENTIFICAÇÃO DA INIMPUTABILIDADE 10 4.1.3. MENORIDADE - Arts. 228, CF e 27, CP 11 4.1.4. INIMPUTABILIDADE POR DOENÇA MENTAL 12 4.1.5. INIMPUTABILIDADE POR DESENVOLVIMENTO MENTAL INCOMPLETO 12 4.1.6. IMPUTABILIDADE POR DESENVOLVIMENTO MENTAL RETARDADO 12 4.1.7. IMPUTABILIDADE DIMINUÍDA OU RESTRITA 13 4.1.7. EMBRIAGUEZ 13 4.1.7.1. PROVA DA EMBRIAGUEZ 15 4.2. POTENCIAL CONSCIÊNCIA DA ILICITUDE 15 4.2.1. CONCEITO 15 4.2.2. CRITÉRIOS PARA DETERMINAÇÃO DO OBJETO DA CONSCIÊNCIA DA ILICITUDE 16 4.3. EXIGIBILIDADE DE CONDUTA DIVERSA 18 4.3.1. CONCEITO 18 4.3.2. CAUSAS DE EXCLUSÃO DA EXIGIBILIDADE DE CONDUTA DIVERSA 19 4.3.2.1. COAÇÃO MORAL IRRESISTÍVEL 19 4.3.2.1.1. REQUISITOS E EFEITOS DA COAÇÃO MORAL IRRESISTÍVEL 19 4.3.2.2. OBEDIÊNCIA HIERÁRQUICA 20 4.3.2.2.1 REQUISITOS 21 4.4. CAUSAS LEGAIS DE EXCLUSÃO DA CULPABILIDADE 21 4.5. CAUSAS SUPRALEGAIS DE EXCLUSÃO DA CULPABILIDADE 22 4.5.1. FATO DE CONSCIÊNCIA 22 4.5.2. PROVOCAÇÃO DE LEGÍTIMA DEFESA 22 4.5.3. CONFLITO DE DEVERES 22 5. CULPABILIDADE: TIPO POSITIVO VS. TIPO NEGATIVO (JAKOBS) 22 1 1. INTRODUÇÃO1 Na concepção clássica, causalista, causal ou mecanicista, dolo e culpa se alojam no interior da culpabilidade. Possui a finalidade de evitar a responsabilidade penal objetiva, a culpabilidade é elemento do crime Ou seja, em um sistema causalista, o conceito de crime é necessariamente tripartido: crime é um fato típico e ilícito, praticado por um agente culpável. Já na ótica finalista, o dolo e a culpa foram retirados da culpabilidade (culpa vazia) e transferidos para o interior da conduta. Esse fenômeno possibilitou analisar o crime, no campo analítico, por dois critérios distintos: tripartido e bipartido. No conceito tripartido, crime é também o fato típico e ilícito, praticado por um agente culpável. A culpabilidade continua a constituir-se em elemento de crime. Difere-se, todavia, da visão clássica, porque agora o dolo e a culpa, vale repetir, encontram-se na conduta e não mais na culpabilidade. No conceito bipartido, crime é o fato típico e ilícito. A culpabilidade deixa de funcionar como elemento constitutivo do crime, e passa a ser compreendida como pressuposto da aplicação da pena. No sistema finalista o crime pode ser definido como: a) CONCEITO TRIPARTIDO: Fato típico e ilícito, praticado por um agente culpável, sendo a culpabilidade elemento do crime; ou b) CONCEITO BIPARTIDO: Fato típico e ilícito, a culpabilidade não integra o crime, mas funciona como pressuposto para aplicação da pena. Para os seguidores do sistema clássico ou causal, o crime deve ser analisado, obrigatoriamente, em um conceito tripartido, sob pena de configuração da responsabilidade penal objetiva. 1.1. CONCEITO Segundo Rogério Sanches , a culpabilidade é um juízo de reprovação pessoal que recai sobre o autor2 do fato típico e ilícito, que podendo se comportar conforme ao direito, opta livremente por comportar de forma contrária a ele. 1.2. FUNDAMENTO DA CULPABILIDADE3 É a culpabilidade que diferencia a conduta do ser humano normal e apto ao convívio social, dotado de conhecimento do caráter ilícito do fato típico livremente cometido, do comportamento realizado por portadores de doenças mentais, bem como de pessoas com desenvolvimento mental incompleto ou retardado, e também dos atos de seres irracionais ou de pessoas que não possuem consciência do caráter ilícito do fato típico praticado ou não têm como agir de forma diversa. Aqueles devem ser punidos, pois tinham a possibilidade de respeitar o sistema jurídico e evitar os resultados ilícitos; estes não. A análise da presença ou não da culpabilidade leva em conta o perfil subjetivo do agente, e não a figura do homem médio, reservado ao fato típico e à ilicitude. 3 MASSON, Cleber. Direito Penal: Parte Geral - Vol. 01. 14. ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2020. p. 376. 2 SANCHES (2020), pag. 353. 1 MASSON, Cleber. Direito Penal: Parte Geral - Vol. 01. 14. ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2020. p. 375. 2 2. TEORIAS DA CULPABILIDADE 2.1. TEORIA PSICOLÓGICA Essa teoria foi idealizada por Franz Von Liszt e Ernst Von Beling e tem sua base na teoria clássica da conduta. Para essa teoria a culpabilidade é a relação psíquica entre o autor e o resultado. O pressuposto fundamental da culpabilidade é a imputabilidade, compreendida como a capacidade de o ser humano entender o caráter ilícito do fato de determinar-se de acordo com esse entendimento. Segundo Cleber Masson (2020, p. 377), para essa teoria, a culpabilidade é definida como o vínculo psicológico entre o sujeito e o fato típico e ilícito por ele praticado. Esse vínculo pode ser representado tanto pelo dolo como pela culpa. Em resumo, pode-se dizer que a culpabilidade para essa teoria: ✓ Tem base causalista ✓ Afirma que a culpabilidade é a relação psíquica entre o autor e o resultado. ✓ São espécies da culpabilidade o dolo e a culpa. ✓ A imputabilidade não é elemento da culpabilidade, sendo um pressuposto para sua análise. ✓ O dolo é normativo (consciência da ilicitude). TEORIA PSICOLÓGICA FATO TÍPICO ILICITUDE CULPABILIDADE ▸ Conduta (ação/omissão) ▸ Resultado Naturalístico ▸ Nexo causal ▸ Tipicidade Excludentes ▸ Estado de necessidade ▸ Legítima defesa ▸ Exercício regular de direito ▸ Estrito cumprimento de dever legal. Causa supralegal ▸ Consentimento do ofendido ▸ Dolo/culpa ▸ Imputabilidade não é elemento constitutivo, mas pressuposto para análise da culpabilidade. Fruto do causalismo (teoria mecanicista) – a culpabilidade era puramente psicológica. 🚨JÁ CAIU Nesse sentido, na prova para o cargo de Promotor de Justiça Substituto - MPE-TO (Ano: 2022, CESPE/CEBRASPE) foi considerado o gabarito da questão: Para determinada teoria, criticada por não conseguir explicar a culpa inconsciente, a culpabilidade deve abordar os elementos subjetivos dolo e culpa, sendo a imputabilidade pressuposto para sua análise. Nessa perspectiva, a culpabilidade retira o seu fundamento do aspecto psicológico do agente. Nesse sentido, é a relação subjetiva entre o fato e o seu autor que toma relevância, pois 3 a culpabilidade reside nela. O texto precedente refere-se à teoria causal naturalista ou psicológica. 2.2. TEORIA PSICOLÓGICA-NORMATIVA Essa teoria foi idealizada por Edmund Mezger, Bertold Freudenthal, Goldschimitd e Reinhart Frank, e relaciona a culpabilidade com a exigibilidade de conduta diversa. Ou seja, a culpabilidade seria constituída pelos elementos psicológicos/subjetivos (dolo e culpa), além dos elementos normativos: IMPUTABILIDADE e EXIGIBILIDADE DE CONDUTA DIVERSA. A consciência da ilicitude estava embutida no dolo. A culpabilidade deixa de ser um fenômeno puramente natural, de cunho psicológico, pois a ela se atribui um novo elemento, estritamente normativo, inicialmente chamado de normalidade das circunstâncias concomitantes, e, posteriormente, de motivação normal, atualmente definido como exigibilidade de conduta diversa. O conceito de culpabilidade assume um perfil complexo, constituído por elementos naturalísticos (vínculo psicológico, representado pelo dolo ou pela culpa) e normativos (normalidade das circunstâncias concomitantes ou motivação normal). A imputabilidade deixa de ser pressuposto da culpabilidade, para funcionar como seu elemento. TEORIA PSICOLÓGICO-NORMATIVO FATO TÍPICO ILICITUDE CULPABILIDADE ▸Conduta (ação/omissão) ▸ Resultado ▸ Nexo causal ▸ Tipicidade Excludentes ▸ Estado de necessidade ▸ Legítima defesa ▸ Exercício regular de direito ▸Estrito cumprimento de dever legal. Causa supralegal ▸ Consentimento do ofendido Elemento psicológico/volitivo ▸Dolo / culpa (dolo normativo, ou seja, com consciência atual da ilicitude); Elemento normativo ▸Imputabilidade (deixa de ser mero pressuposto da culpabilidade e passa a ser elemento constitutivo). ▸Exigibilidade de conduta diversa. Não rompe com o causalismo, mas é influenciada pelo neokantismo. 2.3. TEORIA NORMATIVA PURA ou EXTREMADA ou ESTRITA Essa teoria foi idealizada por Hans Welzel e possui base finalista. A culpabilidade é JUÍZO DE REPROVAÇÃO de um determinado comportamento, que foi tomado voluntariamente e que é contrário ao direito como um todo. 4 Welzel retirou o dolo e a culpa da culpabilidade e os colocou na conduta humana, elemento do fato típico. Ao fazer isso, Welzel retira a consciência da ilicitude do dolo (aspecto normativo), por entender que culpabilidade é imputabilidade, exigibilidade de conduta diversa e a potencial consciência da ilicitude. Atual estágio da culpabilidade – culpabilidade normativa. Dolo deixa de ser normativo e passa a ser natural. Segundo Cleber Masson (2020, p. 379), a teoria normativa pura da culpabilidade subdivide-se em outras duas, a saber: (1) extremada, extrema ou estrita; e (2) limitada. Ambas as vertentes, a estrutura da culpabilidade é idêntica, ou seja, seus elementos são a imputabilidade, a potencial consciência da ilicitude e a exigibilidade da conduta diversa. A diferença de ambas se dá unicamente no tratamento dispensado às descriminantes putativas. Nas descriminantes putativas, o agente incidindo em erro, supõe situação fática ou jurídica que , se existisse, tornaria a ação legítima. Para a teoria normativa em sua vertente extremada, as descriminantes putativas sempre caracterizam erro de proibição. Já para a teoria normativa em sua vertente limitada, às descriminantes putativas podem caracterizar erro de proibição ou erro de tipo, a depender das peculiaridades do caso concreto. TEORIA NORMATIVA PURA FATO TÍPICO ILICITUDE CULPABILIDADE ▸Conduta (ação/omissão): destinada a uma finalidade (dolo/culpa) ▸Resultado ▸Nexo causal ▸Tipicidade Excludentes: ▸Estado de necessidade ▸Legítima defesa ▸Exercício regular de direito ▸Estrito cumprimento de dever legal. Causa supralegal ▸Consentimento do ofendido ▸Imputabilidade ▸Exigibilidade de conduta diversa ▸Potencial consciência da ilicitude Rompe com o causalismo. É a teoria da culpabilidade para o finalismo. Retira dolo/culpa da culpabilidade, alocando-os no fato típico. CRÍTICA: não é possível aferir na prática o poder de agir de outro modo Qual teoria adotada pelo Código Penal? É possível afirmar que o Código Penal em vigor escolheu a teoria normativa pura, em sua vertente limitada. É o que se extrai do tratamento do erro (arts. 20 e 21, CP) .4 Vejamos como a culpabilidade é tratada em cada teoria: 4 MASSON, Cleber. Direito Penal: Parte Geral - Vol. 01. 14. ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2020. p. 376. 5 CULPABILIDADE TEORIA PSICOLÓGICA TEORIA PSICOLÓGICO-NORMATIVA TEORIA NORMATIVA OU NORMATIVA PURA Franz Von Liszt/Beling Mezger Welzel ▸Dolo/culpa ▸Dolo/culpa ▸Imputabilidade ▸Exigibilidade de conduta diversa ▸Imputabilidade ▸Exigibilidade de conduta diversa ▸Potencial consciência da ilicitude 2.4. TEORIA DA COCULPABILIDADE “A teoria da coculpabilidade (co-culpabilidade) preconiza que ao Estado deve ser imputada a corresponsabilidade pelo cometimento de determinadas infrações penais praticadas pelo indivíduo que possui autodeterminação de menor alcance, diante das circunstâncias do caso concreto, principalmente no que se refere a condições sociais e econômicas, o que enseja menor reprovação social” .5 Apesar de não ter previsão no Código Penal, entende-se que é possível aplicá-la por meio do art. 66 do CP (a pena poderá ser ainda atenuada em razão de circunstância relevante, anterior ou posterior ao crime, embora não prevista expressamente em lei) como uma atenuante genérica. Todo sujeito age numa circunstância determinada e com um âmbito de autodeterminação também determinado. Em sua própria personalidade há uma contribuição para esse âmbito de autodeterminação, posto que a sociedade - por melhor organizada que seja - nunca tem a possibilidade de brindar a todos os homens com as mesmas oportunidades. Em consequência, há sujeitos que têm um menor âmbito de autodeterminação, condicionado desta maneira por causas sociais. Não será possível atribuir estas causas sociais ao sujeito e sobrecarregá-lo com elas no momento de reprovação de culpabilidade. Costuma-se dizer que há, aqui, uma “coculpabilidade”, com a qual a própria sociedade deve arcar (ZAFFARONI, Eugênio Raúl; PIERANGELI, José Henrique. Manual de direito penal brasileiro. Parte geral. 7. ed. São Paulo: RT, 2007. v. 1, p. 525) O STJ já se posicionou no seguinte sentido: A teoria da coculpabilidade não pode ser erigida à condição de verdadeiro prêmio para agentes que não assumem a sua responsabilidade social e fazem da criminalidade um meio de vida (STJ, AgRg no REsp 1770619 / PE AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL 2018/0260741-6, 06/06/2019) Quanto à tese de concorrência de culpa, vale registrar que esta Corte Superior não tem admitido a aplicação da teoria da coculpabilidade do Estado como justificativa para a prática de delitos. HC 187.132/MG, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, Sexta Turma, DJe 18/02/2013. 5Biffe Junior, João Concursos públicos : terminologias e teorias inusitadas / João Biffe Junior, Joaquim Leitão Junior. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2017, pág. 127 6 🚨JÁ CAIU Nesse sentido, na prova para o cargo de Defensor Público - DPE-SC (Ano: 2021, FCC) foi considerado como gabarito: A ideia de coculpabilidade pode ser exemplificada na legislação brasileira pela circunstância atenuante de pena de baixo grau de instrução ou escolaridade do agente nos crimes ambientais. 2.4.1. COCULPABILIDADE À AVESSAS Eduardo Bernardini Gonçallo divide em duas perspectivas: É o abrandamento da aplicação da pena nos crimes praticados por pessoas de alto poder socioeconômico, como é o caso da extinção da punibilidade pelo pagamento da dívida nos crimes contra a ordem tributária, previstos na Lei 8.137/1990, quando na verdade, essas mesmas pessoas deveriam sofrer um maior rigor na aplicação da pena, porquanto tiveram maiores oportunidades perante a sociedade. É a criação pelo Estado de leis que incriminem as condutas passíveis de estarem sujeitas somente as pessoas de menor capacidade socioeconômica, como é caso da vadiagem e mendicância, já mencionadas acima (GONÇALLO, 2015, p. 1). 2.5. CULPABILIDADE FORMAL E CULPABILIDADE MATERIAL CULPABILIDADE FORMAL É a definida em abstrato, ou seja, o juízo de reprovabilidade realizado em relação ao provável autor de um fato típico e ilícito, se presentes os elementos da culpabilidade, no momento em que o legislador incrimina uma conduta. Serve, pois, para o legislador cominar os limites (mínimo e máximo) da pena atribuída a determinada infração penal. Assim, quando criados dois tipos incriminadores (ex: um crime contra a honra e um crime doloso contra a vida), o legislador considera formalmente duas culpabilidades: uma maior, para o crime mais grave (doloso contra a vida) e outra mais branda (crime contra a honra). CULPABILIDADE MATERIAL É estabelecida em concreto, dirigida a um agente culpável que cometeu um fato típico e ilícito. Destina-se, portanto, ao magistrado, colaborando com a aplicação concreta da pena. 3. VULNERABILIDADE 3.1. CRIMINALIZAÇÃO PRIMÁRIA E SECUNDÁRIA Denomina-se criminalização o processo de seleção realizado pelo Estado (detentor de poder) de quem será submetido a punição. A criminalização primária é a elaboração das leis penais, ao passo queo programa 7 deve ser cumprido pelas agências de criminalização secundária (Polícia, MP, Judiciário e agentes penitenciários). Para Zaffaroni, criminalização primária “é o ato e o efeito de sancionar uma lei penal material que incrimina ou permite a punição de certas pessoas” e a criminalização secundária “é a ação punitiva exercida sobre pessoas concretas, que acontece quando as agências policiais detectam uma pessoa que supõe-se tenha praticado certo ato criminalizado primariamente”.6 3.2. SELETIVIDADE E VULNERABILIDADE Como as agências de criminalização não possuem estrutura para realizar o programa (criminalização primária), acaba realizando apenas uma pequena parcela, de sorte que surge a chamada cifra oculta ou negra da criminalidade (diferença dos crimes efetivamente ocorridos com a parcela que chega ao conhecimento das instâncias penais ou que são efetivamente punidas). Nos crimes de colarinho branco utiliza-se a expressão cifra dourada. Em razão da falta de condições operacionais das agências, ocorre uma seleção do criminoso, a qual é condicionada por outras agências. 3.1. CULPABILIDADE PELA VULNERABILIDADE (Zaffaroni) Propõe a redução da culpabilidade (da responsabilidade) para aquelas pessoas que têm as maiores chances de sofrer punições do direito penal. É uma contraproposta à teoria da coculpabilidade, que atribui à sociedade, quando excludente e segregante, a colaboração para a prática de delitos7 No momento da aferição da culpabilidade e da resposta estatal, deverá ser observado o estado de vulnerabilidade (aferido pelo estereótipo) e a situação de vulnerabilidade (posição concreta criminalizante). A pessoa que se amoldar ao estereótipo ou pertencer a uma classe social, não precisa fazer um esforço considerável para posicionar-se em uma situação de risco criminalizante (situação de vulnerabilidade), já que provém de um estado de vulnerabilidade relativamente alto, de sorte que a reprovabilidade será menor. Concepção limitadora ou redutora do poder punitivo, eis que protege o indivíduo que se encontra em estado de vulnerabilidade, resultando na fórmula: maior o estado de vulnerabilidade menor será a pena. 4. CAUSAS DE EXCLUSÃO DA CULPABILIDADE Cleber Masson (2020, p. 384), para melhor exemplificar as causas da exclusão da culpabilidade, criou o seguinte gráfico: 7 https://professorlfg.jusbrasil.com.br/artigos/121923492/o-que-se-entende-por-teoria-da-vulnerabilidade 6 https://meusitejuridico.editorajuspodivm.com.br/2017/07/04/o-que-se-entende-por-criminalizacao-primaria-e-secundaria/ 8 4.1. IMPUTABILIDADE PENAL 4.1.1. CONCEITO O Código Penal optou por não definir a imputabilidade penal, limitando-se apenas a apontar as hipóteses em que a imputabilidade está ausente, ou seja, os casos de inimputabilidade penal, que estão presentes nos arts. 26 a 28. Pode-se conceituar então que a imputabilidade penal é a possibilidade de se atribuir a alguém a responsabilidade pela prática de uma infração. 🚨JÁ CAIU Nesse sentido, na prova para o cargo de Delegado de Polícia Federal (Ano: 2021, CESPE/CEBRASPE) foi considerada correta a assertiva que dizia: A imputabilidade é a possibilidade de se atribuir a alguém a responsabilidade pela prática de uma infração penal. Segundo Cleber Masson (2020, p. 385), a imputabilidade penal depende de dois elementos, que devem estar simultaneamente presentes: a) INTELECTIVO: É a integridade biopsíquica, consistente na perfeita saúde mental que permite ao indivíduo o entendimento do caráter ilícito do fato; e b) VOLITIVO: É o domínio da vontade, é dizer, o agente controla e comanda seus impulsos relativos à compreensão do caráter ilícito do fato, determinando-se de acordo com esse entendimento. Na falta de um desses elementos o sujeito será tratado como inimputável. O Brasil adotou um critério cronológico, sendo toda pessoa com 18 anos completos considerada imputável. O momento da constatação da imputabilidade, de acordo com o art. 26, caput, do CP é no momento da prática da conduta (tempo da ação ou omissão), sendo este um desdobramento lógico da teoria da atividade presente no art. 4.º do Código Penal no tocante ao tempo do crime. O Código Penal apresenta como causas de inimputabilidade: ✓ Menoridade (art. 27); ✓ Doença Mental (art. 26, caput); 9 ✓ Desenvolvimento mental incompleto (arts. 26, caput, e 27); ✓ Desenvolvimento mental retardado (art. 26, caput); e ✓ Embriaguez completa proveniente de caso fortuito ou força maior (art. 28, §1.º). 4.1.2. CRITÉRIOS PARA IDENTIFICAÇÃO DA INIMPUTABILIDADE O sujeito ao completar 18 anos é considerado imputável. Ocorre que essa imputabilidade é relativa (iuris tantum), e para a aferição da inimputabilidade existem 3 critérios, vejamos: a) CRITÉRIO BIOLÓGICO Leva-se em conta unicamente o desenvolvimento mental do agente (não importando sua capacidade de entendimento e autodeterminação no momento da conduta); Segundo Cleber Masson (2020, p. 286), esse critério atribui demasiado valor ao laudo pericial, pois se o auxiliar da Justiça apontar um problema mental, o magistrado nada poderá fazer. Seria presumida a inimputabilidade, de forma absoluta (iuris et de iure). b) PSICOLÓGICO Leva-se em consideração a capacidade de entendimento e autodeterminação do agente no momento da conduta (não importando o seu desenvolvimento mental). c) BIOPSICOLÓGICO Leva-se em conta não apenas o desenvolvimento mental do agente, mas também a sua capacidade de entendimento e autodeterminação no momento da conduta. Cleber Masson (2020, p. 286) afirma que esse critério é a fusão dos dois anteriores: é inimputável quem, ao tempo da conduta, apresenta um problema mental, e, em razão disso, não possui capacidade para entender o caráter ilícito do fato ou determinar-se de acordo com esse entendimento. O Código Penal adotou o critério biopsicossocial, vejamos: Art. 26 – [CRITÉRIO BIOPSICOLÓGICO] É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. (Causa de exclusão da culpabilidade) 🚨JÁ CAIU Nesse sentido, na prova para o cargo de Auditor Conselheiro Substituto - TC-DF (Ano: 2021, CESPE/CEBRASPE) foi considerada correta a assertiva que dizia: No tocante às pessoas doentes mentais, o Código Penal adota o sistema biopsicológico como critério para identificação da inimputabilidade. De forma excepcional, foi adotado o critério biológico no tocante aos menores de 18 anos (art. 228 da CF e art. 27 do CP), bem como o critério psicológico, em relação à embriaguez completa proveniente de caso fortuito ou força maior (art. 28, §1.º, CP). 10 Art. 228, CF. São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às normas da legislação especial. Art. 27 - Os menores de 18 anos são penalmente inimputáveis, ficando sujeitos às normas estabelecidas na legislação especial. Art. 28. (...) § 1º - É isento de pena o agente que, por embriaguez completa, proveniente de caso fortuito ou força maior, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. 🚨JÁ CAIU Nesse sentido, na prova para o cargo de Investigador de Polícia Civil - PC/BA (Ano: 2022, IBFC) foi considerado o gabarito da questão a assertiva prevista na letra “d”: No que concerne ao tema da imputabilidade penal, assinale a alternativa incorreta. a. Os menores de 18 (dezoito) anos são penalmente inimputáveis, ficando sujeitos às normas estabelecidas na legislação especial b. Não excluem a imputabilidade penal a paixão e a emoção c. Não exclui a imputabilidade penal a embriaguez voluntária pelo álcool ] d. A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimentoe. Não exclui a imputabilidade penal a embriaguez culposa por substância de efeitos análogos ao álcool 4.1.3. MENORIDADE - Arts. 228, CF e 27, CP Em relação aos menores de 18 anos de idade, foi adotado o sistema biológico para a constatação da inimputabilidade. Para os menores de 18 anos de idade a presunção de inimputabilidade é absoluta (iuris et de iure), pouco importando a inteligência, perspicácia e o desenvolvimento mental. É o que se pode extrair dos arts. 228 da CF e 27 do CP. A prova da da menoridade deve ser feita por documento hábil, conforme estabelece a súmula 74 do STJ. Súmula 74-STJ: Para efeitos penais, o reconhecimento da menoridade do réu requer prova por documento hábil. A certidão de nascimento ou a cédula de identidade não são os únicos documentos válidos para fins de comprovação da menoridade, podendo esta ser demonstrada por meio de outro documento firmado por agente público - dotado, portanto, de fé pública - atestando a idade do menor (STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 574.536/SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 02/06/2020). Para ensejar a aplicação de causa de aumento de pena prevista no art. 40, VI, da Lei n. 11.343/2006 ou a condenação pela prática do crime previsto no art. 244-B da Lei n. 8.069/1990, 11 a qualificação do menor, constante do boletim de ocorrência, deve trazer dados indicativos de consulta a documento hábil - como o número do documento de identidade, do CPF ou de outro registro formal, tal como a certidão de nascimento (STJ. 3ª Seção. ProAfR no REsp 1619265/MG, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 07/04/2020). 4.1.4. INIMPUTABILIDADE POR DOENÇA MENTAL O termo “doença mental” deve ser entendido de forma ampla e abrangente, compreendendo qualquer enfermidade que venha a debilitar as funções psíquicas do agente. A doença mental pode ser transitória ou permanente, devendo existir ao tempo da prática da conduta para acarretar o afastamento da imputabilidade. Para aferição da inimputabilidade penal por doença mental, é adotado o critério biopsicológico, não bastando a existência de uma doença mental, mas que em razão dele o sujeito seja incapaz, ao tempo da conduta, de entender que o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. Logo, se ao tempo da conduta o indivíduo apresentar lucidez, será tratado como imputável (nada obstante seja portador de problema mental) .8 4.1.5. INIMPUTABILIDADE POR DESENVOLVIMENTO MENTAL INCOMPLETO9 O desenvolvimento mental incompleto abrange os menores de 18 anos e os indígenas. Para os menores de 18 anos, o tema é tratado nos arts. 227, CF e 27, CP. No tocante aos indígenas, esses nem sempre serão inimputáveis, dependendo do grau de assimilação dos valores sociais, a ser revelado pelo exame pericial (exame antropológico). A depender da conclusão da perícia, o indígena pode ser: a) IMPUTÁVEL: Se integrado à vida em sociedade; b) SEMI-IMPUTÁVEL: No caso de estar dividido entre o convívio na tribo e na sociedade; e c) INIMPUTÁVEL: Quando completamente incapaz de viver em sociedade, desconhecendo as regras que lhe são inerentes. 4.1.6. IMPUTABILIDADE POR DESENVOLVIMENTO MENTAL RETARDADO10 Desenvolvimento mental retardado é o que não se compatibiliza com a fase da vida em que se enconrra determinado indivíduo, resultante de alguma condição que lhe seja peculiar. A pessoa não mostra sintonia com os demais indivíduos que possuem a mesma idade. O retardo mental é uma condição de desenvolvimento interrompido ou incompleto da mente. A expressão “desenvolvimento mental retardado” compreende as oligofrenias em suas variadas manifestações (idiotice, imbecilidade e debilidade mental propriamente dita), bem como as pessoas que, por ausência ou deficiência dos sentidos, possuem deficiência psiquíca. 10MASSON, Cleber. Direito Penal: Parte Geral - Vol. 01. 14. ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2020. p. 389-390. 9MASSON, Cleber. Direito Penal: Parte Geral - Vol. 01. 14. ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2020. p. 389. 8MASSON, Cleber. Direito Penal: Parte Geral - Vol. 01. 14. ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2020. p. 389. 12 4.1.7. IMPUTABILIDADE DIMINUÍDA OU RESTRITA11 Nos termos do art. 26, parágrafo único, CP: Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de 1/3 a 2/3, se o agente, em virtude de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado não era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. O Código Penal fala em "perturbação da saúde mental”, que também é uma doença mental, porém mais suave. Não elimina totalmente, mas reduz, por parte do agente, a capacidade de entender o caráter ilícito do fato e de determinar-se de acordo com esse entendimento, o que igualmente ocorre em relação ao desenvolvimento mental incompleto e ao desenvolvimento mental retardado. A diferença em relação a inimputabilidade é de grau. O agente tem diminuída a sua capacidade de entendimento e autodeterminação, a qual permanece presente, embora em grau menor. Por esse motivo subsiste a imputabilidade, e, por corolário, a culpabilidade. Entretanto, o sujeito está em uma posição psicológica e biológica inferior a um imputável, a reprovabilidade da conduta é menor, determinando a lei a redução da pena. 4.1.7. EMBRIAGUEZ A embriaguez é a intoxicação aguda produzida no corpo humano pelo álcool ou por subsistência de efeitos análogos, apta a provocar a exclusão da capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou determinar-se de acordo com esse entendimento .12 Rogério Sanches apresenta o seguinte cenário que pode ser extraído do CP: EMBRIAGUEZ ACIDENTAL Pode ser por caso fortuito ou por força maior. O agente não quer ingerir a substância, seja porque não sabia o que estava ingerindo, seja porque foi obrigado a ingeri-la. COMPLETA: exclui a capacidade de entendimento e autodeterminação (exclui a imputabilidade, nos termos do art. 28, §1º). INCOMPLETA: reduz a capacidade (diminuição de pena, nos termos do art. 28, §2º). EMBRIAGUEZ NÃO ACIDENTAL VOLUNTÁRIA / DOLOSA: o agente quer se embriagar. INVOLUNTÁRIA / CULPOSA: fruto de negligência. Completa ou incompleta: não exclui a imputabilidade (art. 28, II, CP). 12MASSON, Cleber. Direito Penal: Parte Geral - Vol. 01. 14. ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2020. p. 397-398. 11MASSON, Cleber. Direito Penal: Parte Geral - Vol. 01. 14. ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2020. p. 392-393. 13 EMBRIAGUEZ PATOLÓGICA “É a embriaguez doentia, que, conforme o caso concreto, pode ser tratada como anomalia psíquica, gerando a inimputabilidade do agente ou redução de sua pena, nos moldes do art. 26 do CP” .13 EMBRIAGUEZ PREORDENADA É aquela em que o sujeito quer ingerir, quer se embriagar e quer praticar o crime. Não há exclusão da culpabilidade do agente. Constitui circunstância agravante, prevista no art. 61, inciso II, l do CP 🚨JÁ CAIU Nesse sentido, na prova para o cargo de Defensor Público Substituto - DPE-TO (Ano: 2022, CESPE/CEBRASPE) foi considerada correta a seguinte assertiva: Durante uma confraternização familiar, Lucas, de 56 anos de idade, após comer uma sobremesa, começou, inesperadamente, a ficar impaciente e a ameaçar de morte sua irmã, Lívia. Com medo, esta acionou a polícia, que prendeu Lucas e o conduziu à delegacia de polícia, onde a vítima o representou pelo crime de ameaça, com incidência da Lei n.º 11.340/2006. Devidamente processado, constatou-se que o réu, no momento dos fatos, pela primeira vez na vida, tivera hiperglicemia, que lhe causara confusão mental e lhe diminuíra a capacidade de entendimento. Devido a esse episódio, Lucas descobriu ser diabético. Todas essas circunstâncias restaram devidamente provadas no bojo dos autos. Nessa situação hipotética, de acordo com o Código Penal, na sentença penal de Lucas, o juiz deve condenar o réu, aplicando-lhe pena diminuída, em razão dos efeitos análogosà embriaguez acidental. Fundamento para se punir a embriaguez não acidental e a preordenada, mesmo quando completas conforme Sanches, adota-se a teoria da “ACTIO LIBERA IN CAUSA” (ação livre na causa), para a qual o ato transitório revestido de inconsciência (momento do crime, em que o agente se encontra embriagado) decorre de ato antecedente que foi livre na vontade (momento de ingestão da bebida ou substância análoga), transferindo-se para esse momento anterior a constatação da imputabilidade e da voluntariedade (CUNHA, 2020, p. 368). Assim, o livre-arbítrio não é aferido no momento da prática da conduta, mas sim se ação foi livre no momento da ingestão da substância. 1. Nos termos da orientação jurisprudencial desta Corte, "a embriaguez voluntária ou culposa do agente não exclui a culpabilidade, sendo ele responsável pelos seus atos mesmo que, ao tempo da ação ou da omissão, era inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. Aplica-se a teoria da actio libera in causa, ou seja, considera-se imputável quem se coloca em estado de inconsciência ou de incapacidade de autocontrole, de forma dolosa ou culposa, e, nessa situação, comete delito" (AgInt no REsp 1548520/MG, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 07/06/2016, DJe 22/06/2016). (STJ, AgRg no AREsp n. 1.871.481/TO, relator Ministro Olindo Menezes (Desembargador Convocado do TRF 1ª Região), Sexta Turma, julgado em 9/11/2021, DJe de 16/11/2021.) 13SANCHES (2020), pág. 367 14 3. Dada a adoção da teoria da actio libera in causa pelo Código Penal, somente a embriaguez completa, decorrente de caso fortuito ou força maior que reduza ou anule a capacidade de discernimento do agente quanto ao caráter ilícito de sua conduta, é causa de redução ou exclusão da responsabilidade penal nos termos dos §§ 1º e 2º do art. 28 do Diploma Repressor. (STJ, AgRg no AREsp n. 1.247.201/DF, relator Ministro Jorge Mussi, Quinta Turma, julgado em 17/5/2018, DJe de 1/6/2018.) 🚨JÁ CAIU Nesse sentido, na prova para o cargo de Estagiário de Direito - MPE/BA (Ano: 2022, FGV) foi considerada correta a seguinte assertiva: Esteban, jovem graduando em Direito, viaja com a associação atlética de sua universidade para festividades em cidade do interior do Estado. Em meio às confraternizações, substância entorpecente é oferecida a Esteban por seus colegas. A fim de superar sua timidez, o agente aceita consumir as referidas drogas, atingindo embriaguez completa. Ao recobrar os sentidos, Esteban tinha em sua posse um relógio que furtou naquela noite, tendo os colegas lhe contado que havia também agredido alunos da universidade rival, invadido domicílio e praticado crime de dano aos pertences dos citados alunos. Acerca da culpabilidade e da teoria da actio libera in causa, é correto afirmar que tratando-se de embriaguez voluntária, culposa ou preordenada, o agente poderá ser responsabilizado pelas ações praticadas no contexto de embriaguez, fixando-se como parâmetro para aferição da culpabilidade o momento de consumo da substância. 4.1.7.1. PROVA DA EMBRIAGUEZ De acordo com o art. 155, caput, do CPP, o sistema adotado acerca das provas é o da livre apreciação da prova, persuasão racional ou do livre convencimento motivado. Desta forma, a embriaguez admite qualquer meio probatório. Contudo, destacam-se 3 formas probatórias para a comparação da embriaguez: a) EXAME LABORATORIAL: É o que revela a quantidade de álcool no sangue de alguém; b) EXAME CLÍNICO: É a análise pessoal do indivíduo, evidenciando-se dados característicos da embriaguez, tais como hálito, controle emocional, equilíbrio físico, fala etc. c) PROVA TESTEMUNHAL: Pessoas que relatam, deponham acerca da alteração de comportamento de quem se submeteu ao álcool ou substância de efeitos análogos. 4.2. POTENCIAL CONSCIÊNCIA DA ILICITUDE 4.2.1. CONCEITO Segundo Sanches, é a possibilidade que tem o agente imputável de compreender a reprovabilidade de sua conduta. Não se exige uma compreensão técnica, um conhecimento jurídico, mas apenas a percepção leiga de que o comportamento contraria o que certo. 🚨JÁ CAIU Nesse sentido, na prova para o cargo de Escrivão de Polícia Civil - PC-CE (Ano: 2021, IDECAN) foi considerada correta a seguinte assertiva: 15 Turista estrangeiro que chega ao Brasil portando munição, sem saber que sua conduta é proibida pelo ordenamento jurídico brasileiro, poderá alegar ausência de culpabilidade pela falta de potencial consciência da ilicitude da conduta. 4.2.2. CRITÉRIOS PARA DETERMINAÇÃO DO OBJETO DA CONSCIÊNCIA DA ILICITUDE Cleber Masson (apud Juan Córdoba Roda, 2020, p. 410), aponta 3 critérios para determinação do objeto da consciência da ilicitude, vejamos: a) CRITÉRIO FORMAL: Desenvolvido por Binding, Beling e Von Liszt, proclama ser necessário o conhecimento do agente sobre a violação de alguma norma penal; b) CRITÉRIO MATERIAL: Defendido por Max Ernst Mayer e Kaufmann, baseia-se em uma concepção material do injusto, a qual exige o conhecimento da antissocialidade, da injustiça e imoralidade de uma conduta ou da violação de um interesse; e c) CRITÉRIO INTERMEDIÁRIO: Originário dos estudos de Hans Welzel, sustenta que o conhecimento da ilicitude não importa em conhecimento da punibilidade da conduta, nem em conhecimento do dispositivo legal que contém a proibição do seu comportamento. O sujeito, embora não seja obrigado a proceder a uma valoração de ordem técnico-jurídica, deve conhecer, ou poder conhecer, com o esforço devido de sua consciência, com um juízo geral de sua própria esfera de pensamentos, o caráter ilícito do seu modo de agir. Basta, portanto, a valoração paralela da esfera do profano. O critério de maior aceitação é o intermediário. É suficiente um juízo geral acerca do caráter ilícito do fato, e também a possibilidade de se atingir esse juízo, mediante um simples e exigível esforço da consciência. Em suma, basta o esforço normal da inteligência do agente para a aferição da potencial consciência da ilicitude. Segundo o STJ, no REsp 1846189, “Não se exige do agente o conhecimento técnico da ilicitude, basta que tenha a ciência da proibição na esfera do profano, um juízo comum na comunidade e no meio social em que vive.” A causa excludente (dirimente) da potencial consciência da ilicitude é o erro de proibição. Art. 21 - O desconhecimento da lei é inescusável. O erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável, isenta de pena; se evitável, poderá diminuí-la de 1/6 a 1/3. Parágrafo único - Considera-se evitável o erro se o agente atua ou se omite sem a consciência da ilicitude do fato, quando lhe era possível, nas circunstâncias, ter ou atingir essa consciência. Rogério Sanches apresenta 3 situações possíveis :14 ◾ O agente, apesar de ignorar a lei, conhece a reprovabilidade de sua conduta: Neste caso, não temos a configuração de erro de proibição. ◾ O agente conhece a lei, mas ignora a reprovabilidade: Pode-se alegar erro de proibição; ◾ O agente ignora a lei e a reprovabilidade: Poderá alegar o erro de proibição. O erro de proibição pode ser: 14 SANCHES (2020), pág. 372. 16 ERRO DE PROIBIÇÃO DIRETO ERRO DE PROIBIÇÃO INDIRETO15 O agente aqui se equivoca quanto ao conteúdo de uma norma proibitiva, ignorando a sua existência ou o seu conteúdo ou ainda o seu âmbito de incidência. No erro de proibição indireto (descriminante putativa por erro de proibição) o agente sabe que a sua conduta é típica, mas supõe presente uma causa permissiva, ora supondo existir uma causa excludente da ilicitude, ora supondo estar agindo nos limites da descriminante. 🚨JÁ CAIU Nesse sentido, na prova para o cargo de Promotor de Justiça - DPE-RS (Ano: 2021, MPE-RS) foi considerada correta a seguinte assertiva: Sebastião, contratado por Horácio, arrancou mudas de árvores nativas que haviam sido plantadas por servidores do Município em logradouro público próximo à residência do segundo. Flagrados por policiais militares econduzidos à Delegacia de Polícia, foi lavrado termo circunstanciado da ocorrência. Posteriormente, não aceitas as propostas de aplicação de medidas de justiça consensual pelos agentes, ambos foram denunciados pelo Ministério Público por infração ao artigo 49, caput, da Lei nº 9.605/1998 (Art. 49 - Destruir, danificar, lesar ou maltratar, por qualquer modo ou meio, plantas de ornamentação de logradouros públicos ou em propriedade privada alheia: Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa, ou ambas as penas cumulativamente). Durante a instrução processual, porém, restou comprovado que Sebastião, pessoa simples e analfabeta, desconhecia que sua conduta fosse contrária à ordem jurídica, tendo inclusive afirmado, em seu interrogatório, que, se soubesse, jamais teria destruído as plantas. Em sendo assim, Sebastião incorreu em erro de proibição direto. Na prova para o cargo de Delegado de Polícia Civil - PC-PA (Ano: 2021, INSTITUTO AOCP) foi considerada correta a seguinte assertiva: Mário, comerciante, emprestou determinada quantia para Eliseu. Um dia após a data ajustada para o pagamento, após ser informado por telefone de que Eliseu não teria o montante para quitar o empréstimo, Mário se dirige à casa do devedor e, clandestinamente, subtrai um notebook no valor da dívida, acreditando estar amparado por uma causa de justificação que tornaria a sua conduta lícita, qual seja, a dívida vencida. Considerando os fatos hipotéticos narrados, pode-se afirmar que Mário incorreu em erro de proibição indireto que, se escusável, exclui a culpabilidade do agente. ⚠ ATENÇÃO Sanches pontua que a teoria psicológica normativa exigia consciência ATUAL da ilicitude e, portanto, qualquer erro de proibição excluiria o crime (evitável ou inevitável), pois o simples fato de ter o erro demonstra que o agente não tinha consciência atual. Já na teoria normativa pura, exige-se a POTENCIAL consciência e, por isso, somente o erro INEVITÁVEL exclui o crime. 15 Disponível em https://www.tjdft.jus.br/consultas/jurisprudencia/jurisprudencia-em-temas/a-doutrina-na-pratica/erro-de-proibicao#:~:text=(B)%20Erro%20de%20proibi %C3%A7%C3%A3o%20indireto,agindo%20nos%20limites%20da%20descriminante. 17 TEORIA PSICOLÓGICA NORMATIVA16 TEORIA NORMATIVA PURA ERRO DE PROIBIÇÃO INEVITÁVEL Isenta o agente de pena, eliminando a atual consciência da ilicitude. Isenta o agente de pena, eliminando a atual consciência da ilicitude. ERRO DE PROIBIÇÃO EVITÁVEL Isenta o agente de pena, eliminando a atual consciência da ilicitude. Não isenta o agente de pena, pois, apesar de eliminar a atual, existe a potencial consciência da ilicitude, suficiente para a punição. 🚩 NÃO CONFUNDA: AUSÊNCIA DE CONSCIÊNCIA DA ILICITUDE ≠ AUSÊNCIA DE POTENCIAL CONSCIÊNCIA DA ILICITUDE CONSCIÊNCIA DA ILICITUDE POTENCIAL CONSCIÊNCIA DA ILICITUDE Circunstância atenuante Erro de proibição (exclui culpabilidade) ERRO DE TIPO ERRO DE PROIBIÇÃO O agente desconhece a situação fática que lhe impede o conhecimento de um ou mais elementos do tipo penal. Não sabe o que faz. ESCUSÁVEL: Exclui o dolo e a culpa. INESCUSÁVEL: Exclui o dolo, mas permite a punição por crime culposo, se previsto em lei. O agente conhece a realidade fática, mas não compreende o caráter ilícito da sua conduta. Sabe o que faz, mas não sabe que viola a lei penal. ESCUSÁVEL: Exclui a culpabilidade. INESCUSÁVEL: Não afasta a culpabilidade, mas permite a diminuição da pena de 1/6 a 1/3. 🚨JÁ CAIU Na prova para o cargo de Defensor Público - DPE-RS (Ano: 2022, CESPE/CEBRASPE) foi considerada certa a assertiva que dizia: O erro de proibição em crime culposo só é admissível nos crimes praticados com culpa consciente, pois deriva da valoração equivocada da ação negligente quando o agente, em razão de circunstâncias especiais, acredita ser lícita a sua ação descuidada. 4.3. EXIGIBILIDADE DE CONDUTA DIVERSA 4.3.1. CONCEITO Possibilidade de se exigir do homem médio uma conduta diferente, ou seja, conduta conforme o direito no caso concreto. Avalia-se a normalidade das circunstâncias ao caso concreto. Circunstâncias concretas normais fundamentam uma exigibilidade de conduta diversa e a culpabilidade. Se a situação é anormal pode não ser possível fazer o juízo de reprovação sobre a conduta do agente (inexigibilidade de conduta diversa). 16 SANCHES (2020), pág. 373. 18 4.3.2. CAUSAS DE EXCLUSÃO DA EXIGIBILIDADE DE CONDUTA DIVERSA 4.3.2.1. COAÇÃO MORAL IRRESISTÍVEL Ocorre quando o coator, visando a prática de um crime, ameaça o coagido. Este, por medo da concretização da ameaça, pratica o crime esperado .17 🚩 NÃO CONFUNDA COAÇÃO MORAL Incide na psique/vontade/liberdade de escolha, que, por estar com a vontade viciada, acaba praticando o que lhe é determinado. Teoria do Domínio do fato: quem praticou a conduta (conduta porque é voluntária), não tem domínio do fato, foi mero executor. A pessoa que obrigou é o autor mediato. COAÇÃO MORAL POR MEIO FÍSICO (VIS COMPULSIVA) Com violência, no momento que a vítima age, embora que por movimentos próprios e com dolo, a vontade está viciada por medo da violência. Também pode se falar em autoria mediata. Ex. Torturar para conseguir que a vítima realize algo ⚠ ATENÇÃO: Coação moral resistível é circunstância atenuante (art. 65, III, c, CP) COAÇÃO FÍSICA IRRESISTÍVEL Não há conduta por parte do coagido em virtude de ausência de voluntariedade. Assim, o coagido sequer praticou um crime. O coator responde pelo seu próprio crime. É a chamada de vis absoluta ou vis corporalis. 🚨JÁ CAIU Nesse sentido, na prova para o cargo de Analista Judiciário - TJ-RJ (Ano: 2021, CESPE/CEBRASPE) foi considerada correta: Coação moral irresistível é causa de exclusão da culpabilidade. 4.3.2.1.1. REQUISITOS E EFEITOS DA COAÇÃO MORAL IRRESISTÍVEL18 Os requisitos da coação moral irresistível são: a) AMEAÇA GRAVE E IRRESISTÍVEL: Para que seja excluída a culpabilidade, exige-se uma promessa de mal grave e iminente. A ameaça deve se voltar à pessoa do coagido ou aos seus íntimos e familiares. A ameaça deve ser possível de realizar-se e deve ser irresistível, deve colocar o coagido em situação de não poder suportá-la. b) PERIGO INEVITÁVEL: A dirimente só existe quando o perigo não puder ser evitado por outro meio. c) PRESENÇA DE PELO MENOS 3 PESSOAS: Deve haver pelo menos um coator, um coagido e uma vítima. Admite-se apenas coautor e coagido quando o próprio coagido for a vítima. Quanto aos efeitos, caso de autoria mediata, o coator utiliza uma pessoa sem culpabilidade para praticar um crime. Não há concurso de pessoas porque não há vínculo subjetivo entre coator e coagido. 18 CORREIA, Martina. Direito Penal em tabelas. Salvador: Juspodivm, 2017. p. 190-191. 17 CORREIA, Martina. Direito Penal em tabelas. Salvador: Juspodivm, 2017. p. 190. 19 O coator responde pelo crime praticado pelo coagido e pelo crime de tortura (art. 1.º, inc. I, “b”, da Lei nº 9.455/97). Já o coagido é isento de pena (inexigibilidade de conduta diversa). Se a coação moral for resistível, não haverá exclusão da culpabilidade. Há concurso de agentes. O coator responde pelo crime praticado pelo coagido e tem a pena agravada (art. 62, inc. II, CP). Já o coagido responde pelo crime praticado e tem a pena atenuada (art. 65, inc. III, “c”, CP). O fato de o empregador obrigar seu empregado a portar arma de fogo durante o exercício das atribuições de vigia não caracteriza coação moral irresistível (art. 22 do CP) capaz de excluir a culpabilidade do crime de "porte ilegal de arma de fogo de uso permitido" (art. 14 da Lei nº 10.826/2003) atribuído ao empregado que tenha sido flagrado portando, em via pública, arma de fogo, após o término do expediente laboral, no percurso entre o trabalho e a sua residência. STJ. 5ª Turma REsp 1456633-RS, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 5/4/2016 (Info 581). 🚨JÁ CAIU Na prova para o cargo de Titular de Serviços de Notas e de Registros - TJ-SC (Ano: 2021, FGV) foi considerada corretaa seguinte assertiva: Flávia, pessoa humilde, presta serviços de faxineira em serventia extrajudicial localizada na cidade de Florianópolis. Em determinada data, Flávia foi abordada na saída de sua residência por pessoas ligadas ao tráfico dominante na localidade, que determinaram que ela transportasse e guardasse arma de fogo em seu trabalho, pois terceiro iria no dia seguinte ao local para buscar o material bélico. Os traficantes afirmaram que se Flávia não atendesse àquela determinação, seria expulsa de sua casa, não tendo mais onde morar, bem como que sua mãe também sofreria as consequências. Em razão disso, Flávia transportou um revólver, de calibre de uso permitido, mas com numeração de série suprimida, para o trabalho, escondendo o material em uma lixeira. Após receber denúncia, a autoridade policial determinou a realização de diligência no local. Com autorização dos responsáveis, os policiais civis apreenderam a arma guardada por Flávia, que esclareceu o ocorrido. Considerando apenas as informações expostas, é correto afirmar que Flávia agiu sob coação moral irresistível, afastando-se a culpabilidade de sua conduta; 4.3.2.2. OBEDIÊNCIA HIERÁRQUICA Ocorre quando um subordinado pratica um crime em cumprimento a uma ordem não manifestamente ilegal emanada do seu superior hierárquico .19 Segundo Cleber Masson (2020, p. 422) a obediência hierárquica possui dois fundamentos: ✓ Impossibilidade, no caso concreto, de conhecer a ilegalidade da ordem; e ✓ Inexigibilidade de conduta diversa. 🚨JÁ CAIU Na prova para o cargo de Procurador - TC-DF (Ano: 2021, CESPE/CEBRASPE) foi considerada errada a assertiva 19 CORREIA, Martina. Direito Penal em tabelas. Salvador: Juspodivm, 2017. p. 190. 20 que dizia: A obediência hierárquica afasta a potencial consciência da ilicitude. 4.3.2.2.1 REQUISITOS a) ORDEM NÃO MANIFESTAMENTE ILEGAL A ordem deve aparentar ser legal. Se for manifestamente ilegal, o subordinado não é obrigado a cumpri-la. b) ORDEM ORIGINÁRIA DE AUTORIDADE COMPETENTE Só existe nas relações de direito público. A dirimente não se aplica aos casos de relações particulares ou temor reverencial. O superior hierárquico que emite a ordem deve ser competente. Segundo Cleber Masson (2020, p. 422) o cumprimento de ordem advinda de autoridade incompetente pode, no caso concreto, resultar no conhecimento de erro de proibição invencível ou escusável. c) CUMPRIMENTO ESTRITO DA ORDEM O executor não pode ultrapassar, por contra própria, os limites da ordem que lhe foi endereçada, sob pena de afastamento da excludente. d) PRESENÇA DE PELO MENOS 3 PESSOAS Envolve o mandante da ordem (superior hierárquico), seu executor (subalterno) e a vítima do crime por este praticado. 4.4. CAUSAS LEGAIS DE EXCLUSÃO DA CULPABILIDADE20 IMPUTABILIDADE ▸ Anomalia psíquica (art. 26, caput, CP) ▸ Menoridade (art. 27, CP) ▸ Embriaguez acidental (art. 28, §1º, CP) O rol de dirimentes da imputabilidade é taxativo. O índio não é considerado inimputável, salvo se portador de anomalia psíquica, for menor de 18 anos ou apresentar embriaguez completa acidental. POTENCIAL CONSCIÊNCIA DA ILICITUDE ▸ Erro de proibição inevitável (art. 21, CP) Rol taxativo EXIGIBILIDADE DE CONDUTA DIVERSA ▸ Coação moral irresistível ▸ Obediência hierárquica Prevalece que as dirimentes da exigibilidade de conduta diversa estão dispostas num rol exemplificativo, admitindo-se causas supralegais (STJ) 20 SANCHES (2020), pág. 382. 21 4.5. CAUSAS SUPRALEGAIS DE EXCLUSÃO DA CULPABILIDADE 4.5.1. FATO DE CONSCIÊNCIA Segundo Sanches, “estará isento de pena aquele que, por motivo de consciência ou crença, praticar algum fato previsto como crime, desde que não viole direitos fundamentais individuais.” (SANCHES, 2020, pág. 380). Decisão moral do autor, fundamentada no direito constitucional de liberdade de crença e consciência art. 5, inc VI CF, desde que não atinja bem jurídico de 3º. Ex: transfusão de sangue de testemunha de Jeová. Não exime o autor de culpa se decorre resultado danoso à bem jurídico alheio. Ex. não deixa o filho receber sangue e ele morre, responde por homicídio por ser garantidor. 📌 OBSERVAÇÃO O profissional de saúde que realiza transfusão sanguínea sem autorização do pai é acobertado por estado de necessidade, excluindo a ilicitude. 4.5.2. PROVOCAÇÃO DE LEGÍTIMA DEFESA Não se pode alegar legítima defesa quando o autor provoca dolosamente a situação de agressão. Se não há outra saída para repelir a agressão à vida, é possível afastar a culpabilidade do agente. (não é exigível a renúncia do direito à vida). 4.5.3. CONFLITO DE DEVERES A escolha do mal menor evitando o mal maior, sendo, portanto, uma conduta que merece reprovação. Não havendo outra saída não se pode exigir conduta diferente (escolhe o mal menor). Ex. desviar um trem de passageiros para evitar a colisão com outro tem, causando a morte de alguns operários na outra ferrovia, mas evitando a morte de muitos passageiros. 5. CULPABILIDADE: TIPO POSITIVO VS. TIPO NEGATIVO (JAKOBS)21 Desenvolvidos pelo penalista alemão Jakobs, os conceitos de TIPO POSITIVO E NEGATIVO DE CULPABILIDADE compõem a formatação da culpabilidade no âmbito de seu funcionalismo penal, que substitui a culpabilidade concebida como juízo de reprovabilidade por necessidades reais ou supostas de prevenção. Para Jakobs, a culpabilidade pressupõe o injusto sendo que o autor deste só será responsável pelo "déficit de motivação jurídica se ao tempo do fato era imputável", caracterizando o TIPO POSITIVO DE CULPABILIDADE. Por outro lado, o TIPO NEGATIVO DE CULPABILIDADE, associado à inexigibilidade de comportamento, a culpabilidade apenas será atribuída ao agente quando ele não tiver atuado com ânimo ou em um contexto exculpante. 21https://www.buscadordizerodireito.com.br/dodpedia/detalhes/0070d23b06b1486a538c0eaa45dd167a?palavra-chave=culpabilidade&criterio-pesquisa =e e BAUMFELD, Laura Minc. Coleção Roteiros de Prova Oral: Ministério Público Estadual. Salvador: JusPodivm, 2018, p. 530. 22