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2 1. Introdução teórica sobre o tema, com aspectos referentes à Reforma Psiquiátrica. A Reforma Psiquiátrica é um tema importante e relevante no contexto abordado no documentário "Estamira", dirigido por Marcos Prado. A Reforma Psiquiátrica é um movimento que busca transformar o modelo de assistência em saúde mental, promovendo a desinstitucionalização e a humanização do cuidado psiquiátrico. Antes da Reforma, predominava o modelo asilar, no qual as pessoas com transtornos mentais eram frequentemente internadas em hospitais psiquiátricos, afastadas do convívio social e submetidas a tratamentos desumanos. Esses hospitais geralmente tinham estruturas rígidas, regime disciplinar e muitas vezes negligenciavam os direitos e a dignidade dos pacientes. No contexto brasileiro, a Reforma Psiquiátrica ganhou força a partir da década de 1980, impulsionada pela luta antimanicomial e pelos ideais de desinstitucionalização e reinserção social dos indivíduos com transtornos mentais, defendendo a valorização da autonomia, a garantia dos direitos humanos. (AMARANTE, 2007). Essa transformação busca oferecer atendimento em saúde mental em ambientes menos restritivos, com enfoque sobretudo na integralidade do cuidado e na participação do paciente. No contexto do documentário "Estamira", podemos observar a crítica à institucionalização e à forma como a sociedade lida com a doença mental. Estamira, uma mulher diagnosticada com transtorno bipolar e esquizofrenia, vivia em condições precárias e trabalhava em um aterro sanitário. Sua história revela as condições desumanas de trabalho, bem como as dificuldades enfrentadas por uma pessoa com transtornos mentais em um contexto social marginalizado. Ao abordar a vida de Estamira, o documentário evidencia não apenas sua condição psicopatológica, mas também os desafios enfrentados por ela no acesso ao tratamento e na busca por dignidade e inclusão social. Além disso, expõe a necessidade de repensar as práticas de cuidado em saúde mental, evidenciando a importância da Reforma Psiquiátrica e de uma abordagem mais inclusiva, que respeite os direitos e a dignidade das pessoas com transtornos mentais. A partir desta perspectiva é fundamental considerar a necessidade de um cuidado integral e humanizado, que vá além do enfoque exclusivamente biomédico. Amarante (2007) ressalta a importância de uma abordagem interdisciplinar, com a 3 participação de diferentes profissionais de saúde mental, visando o acolhimento, a escuta ativa e a construção de projetos terapêuticos singulares. Dessa forma, o documentário contribui para o debate sobre a importância de políticas de saúde mental mais humanizadas e contextualizadas, que busquem a valorização da autonomia e a inclusão social das pessoas em sofrimento psíquico, alinhando-se aos princípios da Reforma Psiquiátrica. 2. Descrição do caso e principais estratégias de intervenção adotadas Estamira Gomes de Sousa foi uma mulher brasileira que trabalhou durante muitos anos no aterro sanitário de Jardim Gramacho, próximo ao Rio de Janeiro. Ela ficou conhecida por suas declarações marcantes sobre a sociedade e a condição humana. Sua condição psicopatológica envolveu principalmente sintomas de transtorno bipolar e esquizofrenia, com a presença de crenças delirantes, alterações de humor e percepções alteradas da realidade (DALGALARRONDO, 2008). No contexto da saúde mental, algumas estratégias de intervenção que podem ter sido adotadas em relação a Estamira para promover seu cuidado e bem-estar incluem, além do tratamento medicamentoso que visava controlar os sintomas psicóticos e estabilizar o humor, apoio psicossocial e acompanhamento de uma equipe multiprofissional, incluindo psiquiatras, psicólogos e assistentes sociais (DALGALARRONDO, 2008). Essa abordagem interdisciplinar é fundamental para compreender sua realidade e oferecer suporte adequado. É importante ressaltar que, como Estamira vivia em condições socioeconômicas precárias e marginalizadas, a intervenção terapêutica precisar considerar esses fatores e buscar estratégias que levem em conta sua realidade social e suas necessidades específicas. 3. Análise crítica entre os fundamentos teóricos vistos em aula e as aplicações práticas observadas no estudo. Ao analisar os fundamentos teóricos da psicopatologia em relação ao caso de Estamira, é possível identificar algumas reflexões. A esquizofrenia, por exemplo, é um transtorno psicopatológico complexo e multifacetado, caracterizado por sintomas como delírios, alucinações e alterações cognitivas (DALGALARRONDO, 2008). No 4 caso de Estamira, esses sintomas se manifestaram de forma significativa em sua vida cotidiana, impactando suas relações sociais e seu próprio funcionamento psíquico. No entanto, é importante ressaltar que a aplicação prática dos fundamentos teóricos da psicopatologia nem sempre é linear e sem desafios. As intervenções farmacológicas é uma das estratégias adotadas para ajudar no manejo dos sintomas da esquizofrenia de Estamira, porém o documentário mostra que ela nem sempre aderia ao uso consistente da medicação prescrita. Isso levanta questões sobre a eficácia dessas intervenções e a importância de uma abordagem integrada, que considere não apenas os aspectos biológicos, mas também os sociais e psicológicos da esquizofrenia. Além disso, a abordagem psicodinâmica por destacar fatores psicológicos, como conflitos intrapsíquicos, relações familiares e traumas, como influentes no desenvolvimento e na manifestação da esquizofrenia, pode ser utilizada para entender os sintomas da esquizofrenia como manifestações simbólicas de questões emocionais e inconscientes mais profundas. Nesse sentido, documentário destaca a importância de considerar a história de vida, as experiências traumáticas e os contextos sociais de uma pessoa ao abordar os transtornos mentais. Por fim, a abordagem psicossocial enfatiza a influência do ambiente social, incluindo relações interpessoais, estigma e acesso a recursos, na manifestação e no curso da esquizofrenia. Essa perspectiva defende a importância de intervenções que visem a inclusão social, o suporte familiar, a reabilitação psicossocial e o fortalecimento da rede de apoio. Esta análise crítica nos leva a questionar a eficácia das abordagens unicamente biológicas no tratamento do transtorno mental, ressaltando a importância de uma abordagem integrada que leve em consideração os aspectos biopsicossociais da doença. A realidade social, os determinantes contextuais e as condições de vida dos indivíduos afetam diretamente a manifestação e o curso dos transtornos mentais. A condição psicopatológica de Estamira estava intimamente relacionada às condições de trabalho precárias e ao ambiente insalubre em que vivia. Esses fatores sociais e ambientais dificultavam a efetividade plena das estratégias de intervenção, exigindo uma abordagem interdisciplinar mais ampla e articulada com a Reforma Psiquiátrica. 5 8. Referências Amarante, P. (2007). Loucos pela vida: a trajetória da reforma psiquiátrica no Brasil. Fiocruz. Dalgalarondo, P. (2008). Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. Artmed. Onocko-Campos, R., & Furtado, J. P. (2013). Reforma psiquiátrica brasileira e política de saúde mental: uma revisão bibliográfica. Ciência & Saúde Coletiva, 18(2), 311-319. 1. Introdução teórica sobre o tema, com aspectos referentes à Reforma Psiquiátrica. 2. Descrição do caso e principais estratégias de intervenção adotadas 8. Referências