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PICADA DE COBRAS DO GÊNERO BOTHROPS, CROTALUS
- 
Existem alguns critérios básicos para distinguir serpentes peçonhentas de não peçonhentas a uma distância segura. O primeiro deles é a presença de um orifício entre o olho e a narina da serpente, denominado fosseta loreal.
· Toda a serpente brasileira que possui esse orifício é peçonhenta. Ele é utilizado para perceber a presença de calor, o que permite à serpente caçar no escuro presas que tenham corpo quente (homeotérmicas), tais como mamíferos e aves.
· A única exceção para essa regra é a cobra-coral, cujo nome científico é Micrurus. Porém as corais possuem um padrão característico de anéis pretos, vermelhos e brancos ou amarelos, que não permitem nenhuma confusão. Na Amazônia existem corais preta e branca ou marrom. 
· Desse modo, deve-se considerar toda serpente com essa coloração como perigosa, apesar da existência de serpentes que imitam as corais verdadeiras, e que por isso são denominadas corais falsas. As corais verdadeiras não dão bote e normalmente se abrigam debaixo de troncos de árvores, folhas ou outros locais úmidos em todas as regiões do país.
Outra característica importante na distinção das serpentes peçonhentas é o tipo de cauda. Algumas serpentes com fosseta loreal apresentam um chocalho na ponta da cauda, que emite um som característico de alerta quando a serpente é perturbada. Essas são as cascavéis cujo nome científico é Crotalus. As cascavéis são facilmente encontradas em áreas abertas e secas, mesmo áreas agriculturáveis de grande parte do Brasil, excluindo-se áreas de vegetação mais densa. 
· Cascavel (Crotalus durissus): Podem chegar a quase 1,5 metros de comprimento. Habitam as regiões mais abertas e secas. Possuem um guizo na ponta da cauda, que faz barulho de chocalho. Cada anel presente significa uma muda de pele do animal. São vivíparas, comem principalmente roedores e possuem hábito noturno. Encontradas nas regiões do cerrado e caatinga. Veneno neurotóxino, miotóxico e coagulante. A vítima pode ter urina avermelhada ou marrom, insuficiência respiratória e renal, levando à morte. São responsáveis por 8% dos acidentes com serpentes no Brasil. O estudo do seu veneno gerou um analgésico.
As serpentes com fosseta loreal cuja cauda é lisa até a extremidade pertencem à família das jararacas e seu nome científico é Bothrops. As jararacas são encontradas, em sua grande maioria, em áreas mais limitadas, como as áreas de mata, apesar de alguns tipos habitarem também zonas de caatinga e cerrado. 
· Jararaca (Bothrops jararaca): Desenhos em forma de “v” na sua coloração. Encontradas do Rio Grande do Sul a Bahia, são vivíparas, comem principalmente roedores, possuem hábitos noturnos e vivem mais nas matas. Apesar de se encontrarem mais no chão, estudos mostram jararacas em árvores há mais de 3 metros de altura. Medem entre 1 e 2 metros. São responsáveis por 90% dos acidentes com cobras peçonhentas no Brasil. O veneno é proteolítico, coagulante e hemorrágico. Pode levar à necrose do tecido atingido e insuficiência renal. A partir do estudo do seu veneno foram gerados dois medicamentos, um contra hipertensão e outro antiagregante (Captopril e Eptifibatide).
· Jararaca é um nome enganoso porque, tanto se refere a uma espécie, a Bothrops jararaca, como é o nome coletivo do gênero Bothrops. Compreende umas 20 espécies: B. jararaca, que é a jararaca propriamente dita, B. alternatus, que é a urutu ou cruzeira, B. atrox, também chamada de jararaca ou de combóia, B. bilineatus que é verde e vive nas árvores e, por isso, chamada de cobra-papagaio, a B. insularis, uma jararaca singular que só tem na Ilha Queimada, no litoral paulista, na altura da cidade de Santos. O veneno dessa jararaca é muito potente, pelo menos para pássaros dos quais essa cobra se alimenta quase que exclusivamente.
· Se não fosse isto, o animal morreria de fome, pois, após a picada os pássaros voariam muito longe, fora do alcance da serpente. E assim há muitos outros ofídios do gênero Bothrops cujos representantes são encontráveis em todo território nacional.
Algumas serpentes com fosseta loreal apresentam a extremidade da cauda com as escamas eriçadas como uma escova. Essas são as chamadas surucucus ou pico-de-jaca, cujo nome científico é Lachesis. O nome pico-de-jaca foi dado em virtude do aspecto da pele desse animal se parecer muito com a fruta em questão. Elas são encontradas apenas em áreas de floresta tropical densa, tais como na Amazônia ou alguns pontos da Mata Atlântica, a partir do estado do Rio de Janeiro em direção ao norte do Brasil.
· Surucucu (Lachesis muta): Podem ultrapassar os 4 m de comprimento. Ocorrem nas regiões amazônicas e de Mata Atlântica. São ovíparas e comem roedores. São noturnas. O veneno é proteolítico, hemorrágico, coagulante e difere do das Bothrops por ser também neurotóxico. Pode levar à morte por insuficiência renal. Geram 3% dos acidentes
· O maior dos ofídios venenosos do país. A espécie encontrada com maior frequência é a Lachesis muta muta, que pode alcançar 3 metros ou mais de comprimento. Na fronteira da Amazônia brasileira com outros países existem algumas outras subespécies. A particularidade mais chamativa da surucucu é a mudança da posição das escamas na ponta da cauda. Em vez de ficarem deitadas sobre o corpo, nesta região as escamas estão eriçadas. É uma serpente cujo habitat é a floresta tropical e, portanto, são mais comuns no norte do Brasil.
Outro aspecto que distingue as serpentes peçonhentas das não peçonhentas é o tipo de dentição. 
· No grupo das não peçonhentas, dois tipos básicos são observados: 
· A - animal possui muitos dentes fixos, pequenos e maciços que recebe o nome de dentição áglifa;
· B - além desses dentes fixos, pequenos e maciços, observa-se ao fundo da boca um par de dentes mais longos, com sulcos, por onde a saliva da serpente pode escorrer e penetrar na presa quando a morde, a chamada dentição opistóglifa.
· São exemplos de serpentes não peçonhentas a jiboia, a sucuri, a dormideira, a caninana, a cobra-cipó, a boipeva entre outras. 
· Dentre as serpentes peçonhentas também existem dois tipos distintos:
· A - um par de dentes que injeta o veneno é dianteiro, fixo, pequeno e semi-canaliculado e pouco se destaca dos demais dentes maciços e menores. Este tipo é denominado dentição proteróglifa, típico das corais verdadeiras.
· B - dentes fixos são menores e em pequeno número, destacando-se os que injetam o veneno, que são longos, dianteiros, completamente canaliculados, (semelhantes a uma agulha de injeção), curvados para trás quando a serpente está com a boca fechada e capazes de moverem-se para frente no momento em que ela desfere o bote. Esta última é denominada dentição solenóglifa. Possuem esse tipo de dentição as jararacas, cascavéis e surucucus.
O critério da identificação pela dentição não deve ser utilizado em virtude da necessidade de manipulação da serpente, o que implica em sérios riscos de acidentes para o leigo. As características relativas à presença de fosseta loreal, tipo de cauda e distribuição geográfica em conjunto podem definir com elevado grau de precisão o tipo de serpente a uma distância segura.
- TIPOS DE VENENOS
O veneno é uma substância de estrutura complexa formada por água, enzimas, proteínas, carboidratos e outros compostos inorgânicos, como o zinco. Ele pode ser classificado em três categorias principais básicas: citotóxico, hemotóxico (ambos presentes na jararaca) e neurotóxico (presente na coral verdadeira e na cascavel). O tipo de veneno e sua ação têm a ver com os hábitos de vida de cada espécie.
Uma mesma serpente pode produzir mais de um tipo de veneno. Comparando indivíduos de uma mesma espécie pode haver variações entre quantidades totais de veneno e de cada tipo de veneno,pois fatores como área de vida, dieta e idade do indivíduo interferem nessa produção. Abaixo estão listados os venenos das serpentes e seus respectivos efeitos no corpo humano:
· Neurotóxicos: Afetam o sistema nervoso causando inicialmente paralisia dos músculos faciais. Em alguns casos nos músculos responsáveis pela deglutição e respiração, podendo assim, causar asfixia e consequente morte. 
· Coagulantes: Aglutinando o sangue podem causar obstrução de veias e artérias. Casos mais sérios, como os de coágulos cerebrais ou pulmonares, levam à morte. 
· Anticoagulantes: Impedem o sangue de coagular, fazendo o ferimento causado pela serpente sangrar continuamente. 
· Hemorrágicos: Torna os vasos sanguíneos permeáveis ao sangue, causando hemorragias internas e externas, levando ao sangramento das gengivas e narinas. Em quadros mais agravados, as vítimas podem apresentar hemorragias cerebrais e a falência dos rins, levando-as à morte. 
· Hemotóxicos: Também conhecidos como hemolíticos, destroem as hemácias, causando falência renal e uma possível insuficiência respiratória. 
· Miotóxicos: Causam danos aos músculos, especialmente aos relacionados à respiração. Por meio de paralisia da função neuromuscular, similar aos efeitos dos venenos neurotóxicos, causam a morte por falência renal, cardíaca ou respiratória. 
· Proteolíticos: Também conhecidos como citotóxicos ou necrotóxicos, destroem os tecidos levando à necrose, resultado da ação das enzimas digestivas presentes no veneno, que ajudam na digestão da presa. A atividade citotóxica ocorre geralmente no local da ferida e tem como característica iniciar a digestão dos tecidos antes mesmo de a presa ser engolida. Esse tipo de veneno destrói as membranas das células, especialmente as musculares, resultando na morte rápida dos tecidos.
· Nefrotóxicos: Causam dano diretamente aos rins. 
· Sarafotóxicos: Veneno presente apenas em algumas serpentes africanas. Promove a constrição da artéria coronária, dificultando a circulação sanguínea, podendo causar um ataque cardíaco. 
· - EPIDEMIOLOGIA
A incidência anual dos acidentes ofídicos variou de 4,31 a 10,57 casos por cem mil habitantes, com queda ao longo do período, tanto dos acidentes botrópicos (88%) como dos crotálicos (11%). Os acidentes elapídicos foram raros (1%) em São Paulo e ausentes no Paraná.
Escorpiões foram os principais responsáveis por envenenamento por animais peçonhentos no Brasil (60.370,8 casos por ano) e serpentes pela maior mortalidade (119 óbitos por ano) e letalidade (0,41%). Analisando os acidentes ofídicos pelo gênero de serpente causador do envenenamento, a maioria dos casos correspondeu ao acidente botrópico (86,2%), seguido pelo crotálico (9%), laquético (3,9%) e elapídico (0,9%)
Apenas 46,3% dos casos tiveram o gênero de aranha registrado, sendo a maioria dos casos atribuídos a aranha marrom (Loxosceles; 66,3%), seguido pela armadeira (Phoneutria; 32,8%) e flamenguinha (Latrodectus; 0,9%).
- ACIDENTES OFÍDICOS
· ACIDENTE BOTROPICO (Jararaca) – 90% do Brasil.
→Características Físicas: possuem cauda lisa com extremidade escamosa, não tem chocalho e as suas cor geralmente parda. São popularmente conhecidas como jararaca, ouricana, jararacuçu, urutu-cruzeira, jararaca do rabo branco, malha de sapo, patrona, surucucurana, combóia e caiçaca. Habitam zonas rurais e periferias de grandes cidades, preferindo ambientes úmidos como matas e áreas cultivadas e locais onde haja facilidade para proliferação de roedores (paióis, celeiros, depósitos de lenha). Tem hábitos predominantemente noturnos ou crepusculares.
→Ações do veneno:	
Ação proteolítica: As lesões locais como edema, bolhas e necrose, atribuídas inicialmente à “ação proteolítica”, tem patogênese complexa. Possivelmente, decorrem da atividade de proteases, hialuronidases e fosfolipases, da liberação de mediadores da resposta inflamatória, da ação das hemorraginas sobre o endotélio vascular e da ação pró-coagulante do veneno. A dor costuma ser imediata e de intensidade variável no local da inoculação do veneno, estendendo-se para todo o membro nas horas seguintes. O eritema e o edema local, flogístico, endurado, pode tornar-se regional e atingir a raiz do membro. Equimoses, bolhas e necrose podem aparecer em dias sucessivos, dependendo da gravidade do envenenamento.
	Ação coagulante: o veneno ativa o fator X e a protrombina. Possui também ação semelhante a trombina, convertendo o fibrinogênio em fibrina. Ocorre consumo dos seus fatores, plaquetopenia, geração de produtos de degradação de fibrina em fibrinogênio, podendo ocasionar incoagulabilidade sanguínea. Este quadro é semelhante ao da coagulação intravascular disseminada. Nos acidentes causados por filhotes ocorre apenas a ação coagulante.
	Ação hemorrágica: presença de hemorraginas, que provocam lesões na membrana basal dos capilares, associada à plaquetopenia e alterações da coagulação.
→Quadro Clínico
	Manifestações locais: Dor e edema endurado no local da picada, de intensidade variável, geralmente de instalação precoce e caráter progressivo. Equimoses e sangramentos no ponto da picada são frequentes. Infartamento ganglionar e bolhas podem aparecer na evolução, acompanhados ou não de necrose.
	Manifestações Sistêmicas: Além de sangramentos em ferimentos pré-existentes, são observadas hemorragias à distância como gengivorragias, epistaxes, hematêmese e hematúria. Em gestantes, há risco de hemorragia uterina. Podem ocorrer náuseas, vômitos, sudorese, hipotensão arterial, hipotermia e mais raramente, choque. Nos acidentes causados por filhotes de Bothrops predominam as alterações de coagulação; dor e edema locais podem estar ausentes.
Com base nas manifestações clínicas e visando a terapêutica, os acidentes botrópicos são classificados em leve, moderado e grave:
Leve: forma mais comum do envenenamento, caracterizada por dor e edema local pouco intenso ou ausente, manifestações hemorrágicas discretas ou ausentes, com ou sem alteração do Tempo de Coagulação. O Tempo de Coagulação alterado pode ser o único elemento que possibilite o diagnóstico, principalmente em acidentes causados por filhotes de Bothrops (<40cm de comprimento).
Moderado: caracterizado por dor intensa e edema local evidente, que ultrapassa o segmento anatômico picado, acompanhados ou não de alterações hemorrágicas locais ou sistêmicas como gengivorragia, epistaxe e hematúria. 
Grave: caracterizado por edema local endurado, podendo atingir todo o segmento picado, eventualmente com presença de equimoses e bolhas. Em decorrência de edema podem aparecer sinais de isquemia local devido a compressão dos feixes vásculo-nervosos. Manifestações sistêmicas importantes como hipotensão arterial, choque, oligoanúria ou hemorragias intensas definem o caso como grave, independentemente do quadro local. 
→Complicações
	Complicações Locais: Podem ocorrer: Síndrome compartimental (em casos graves, tratado por fasciotomia), abcessos, necrose (em extremidades de dedos pode evoluir para gangrena, devem ser tratados com debridamento). Nos abscessos, no paciente internado, a colheita de material para culturas deve orientar o tratamento adequado para os germes identificados. Quando não existe essa possibilidade, o uso de cloranfenicol endovenoso (500mg/6h/7dias), seguido, se necessário, pelo uso via oral (1g/24h) por mais quatro ou cinco dias, tem se mostrado a melhor opção. 
	Complicações Sistêmicas: Choque (em casos graves) e Insuficiência Renal Aguda (IRA).
→Exames Complementares
	Tempo de Coagulação (TC): De fácil execução, sua determinação é importante para elucidação diagnóstica e para o acompanhamento dos casos. TC normal: até 10 min; TC alterado: de 10 a 30 min; TC incoagulável: acima de 30 minutos.
	Hemograma: Geralmente revela leucocitose com neutrofilia e desvio à esquerda, hemossedimentação elevada nas primeiras horas do acidente e plaquetopenia de intensidade variável. Tempo de Protrombina (TP), Tempo de Protrombina Parcialmente Ativada (TPPA), Tempo de Trombina (TT) e Dosagem de Fibrinogêniopodem ser pesquisados. 
	Exame sumário de urina: Pode haver proteinúria, hematúria e leucocitúria. 
	Outros exames laboratoriais: Depende da evolução clínica do paciente, com atenção aos eletrólitos, ureia e creatinina, visando detecção de insuficiência renal aguda. Métodos de imunodiagnóstico através da técnica de ELISA.
→Tratamento
	Tratamento específico: Consiste no emprego, o mais precocemente possível do Soro Antibotrópico (SAB) ou, na falta deste, das associações antibotrópico-crotálico (SABC). Complementar a soroterapia com mais 4 ampolas, se não houver reversão dos sintomas e normalização do TC, 12 horas após a soroterapia.
Tratamento Geral: Manter o paciente em repouso com o membro elevado; Não garrotear ou fazer incisões no local da picada. Lavar com água e sabão; Hidratação e monitorização dos sinais vitais e volume urinário; Uso de analgésicos; Antibióticos, quando houver infecção (cloranfenicol, se necessário associação de clindamicina com aminoglicosídeo); Fasciotomia precoce, se houver síndrome compartimental; Drenagem de abcessos, debridamento e cirurgia quando necessário; Profilaxia do tétano.
· ACIDENTE CROTALICO (Cascavel)
		Responsáveis por cerca de 7,7 % dos acidentes ofídicos registrados no Brasil, podendo representar até 30% dos acidentes em algumas regiões. Não são encontradas em regiões litorâneas. Apresentam o maior coeficiente de letalidade dentre todos os acidentes ofídicos (1,87%), pela frequência com que evoluem para insuficiência renal aguda (IRA).
Características físicas → marrom-amarelada e corpo robusto, medindo aproximadamente um metro. Possui fosseta loreal ou lacrimal; a extremidade da cauda apresenta guizo ou chocalho de cor amarelada. Encontrada em campos abertos, áreas secas, arenosas ou pedregosas. Encontrada em algumas plantações, como café e cana.
→Ações do veneno
		Ação neurotóxica: Fundamentalmente produzida pela crotoxina, uma neurotoxina de ação pré-sináptica, que atua nas terminações nervosas, inibindo a liberação de acetilcolina. Esta inibição é o principal responsável pelo bloqueio neuromuscular, do qual decorrem as paralisias motoras apresentadas pelos pacientes.
		Ação miotóxica: Produz lesões de fibras musculares esqueléticas (rabdomiólise), com liberação de enzimas e mioglobina para o sangue, que são posteriormente excretadas pela urina. Não está perfeitamente identificada a fração do veneno que produz esse efeito miotóxico sistêmico, mas há referências experimentais de ação miotóxica local da crotoxina e da crotamina. A mioglobina excretada na urina foi erroneamente identificada como hemoglobina, atribuindo-se ao veneno uma atividade hemolítica in vivo. Estudos mais recentes não demonstraram a ocorrência de hemólise nos acidentes humanos.
		Ação Coagulante: Decorre de atividade do tipo trombina que converte o fibrinogênio diretamente em fibrina. O consumo do fibrinogênio pode levar à incoagulabilidade sanguínea. Geralmente não há redução do número de plaquetas. As manifestações hemorrágicas, quando presentes, são discretas.
→Quadro Clínico
· Manifestações Locais: Podem ser encontradas as marcas das presas, edema e eritema discretos. Não há dor, ou se existe, é de pequena intensidade. Há parestesia local ou regional, que pode persistir por tempo variável, podendo ser acompanhada de edema discreto ou eritema no ponto da picada. Procedimentos desaconselhados como garroteamento, sucção ou escarificação locais com finalidade de extrair o veneno, podem provocar edema acentuado e lesões cutâneas variáveis. 
2) Manifestações Sistêmicas
		Gerais: Mal-estar, sudorese, náuseas, vômitos, cefaleia, secura da boca, prostração e sonolência ou inquietação, são de aparecimento precoce e podem estar relacionados a estímulos de origem diversas, nas quais devem atuar o medo e a tensão emocional desencadeada pelo acidente. 
		Neurológicas, decorrentes da ação neurotóxica do veneno: Apresentam-se nas primeiras horas e caracterizam o “fáscies miastênica” (fáscies neurotóxica de Rosenfeld) evidenciadas por ptose palpebral uni ou bilateral (<6h), flacidez da musculatura da face, há oftalmoplegia e dificuldade de acomodação (visão turva) ou visão dupla (diplopia) derivadas da paralisia da musculatura extrínseca e intrínseca do globo ocular (NCIII) e alteração do diâmetro pupilar (midríase). Com menor frequência pode aparecer dificuldade à deglutição, diminuição do reflexo do vômito, modificações no olfato e no paladar. As alterações descritas são sintomas e sinais que regridem após 3 a 5 dias. 
		Musculares, decorrentes da Atividade Miotóxica: Caracterizam-se por dores musculares generalizadas (mialgias), de habitual em 1 ou 2 dias. aparecimento precoce. A urina pode estar clara nas primeiras horas e assim permanecer, ou tornar-se avermelhada (mioglobinúria) e progressivamente marrom nas horas subsequentes, traduzindo a eliminação de quantidades variáveis de mioglobina, pigmento liberado pela necrose do tecido muscular esquelético (rabdomiólise). Não havendo dano renal, a urina readquire a sua coloração
		Distúrbios da Coagulação: Pode haver aumento do Tempo de Coagulação (TC) ou incoagulabilidade sanguínea, com queda do fibrinogênio plasmático, em aproximadamente 40% dos pacientes. Raramente há pequenos sangramentos, geralmente restritos às gengivas (gengivorragia). 
Com base nas manifestações clínicas, os acidentes crotálicos são classificados em leves, moderados e graves. 
		Leves: Sinais e sintomas neurotóxicos discretos, de aparecimento tardio, fáscies miastênica discreta, mialgia discreta ou ausente, sem alteração da cor da urina. 
		Moderado: Sinais e sintomas neurotóxicos: fáscies miastênica evidente, mialgia discreta ou provocada ao exame. A urina pode apresentar coloração alterada. 
		Grave: Sinais e sintoma neurotóxicos evidentes: fáscies miastênica, fraqueza muscular, mialgia intensa e urina escura, podendo haver oligúria ou anúria, insuficiência respiratória. 
→Exames Complementares 
	Sangue: Pode-se observar valores elevados de Creatinoquinase (CK) – mais precoce, desidrogenase lática (LDH) – mais lento e gradual, aspartase-amino-transferase (AST), aspartase-alanino-transferase (ALT) e aldose. TC frequentemente está prolongado. Hemograma pode mostrar leucocitose, com neutrofilia e desvio à esquerda. 
	Na fase oligúria da IRA: elevado: ureia, creatinina, ácido úrico, fósforo, potássio. Diminui: calcemia. 
→Tratamento
	Específico: Soro Anticrotálico (SAC) EV. Dose varia de acordo com gravidade do caso. Poderá ser utilizado o Soro Antibotrópico-crotálico (SABC). Após soroterapia correta, as alterações visuais desaparecem em alguns dias. Se o TC permanecer alterado 24 horas após a soroterapia, está indicada dose adicional de antiveneno. 
	Geral: Hidratação adequada (fundamental para prevenir IRA), será satisfatória se fluxo urinário de 1 a 2 ml/Kg/h na criança e 30 a 40 ml/h no adulto. Diurese osmótica pode ser induzida com manitol a 20% (5m/Kg na criança e 100ml no adulto), persistindo oligúria, pode-se utilizar diuréticos de alça tipo furosemida EV (1ml/Kg/dose na criança e 40 mg/dose no adulto). O pH urinário deve ser mantido acima de 6,5 com bicarbonato de sódio (urina ácida potencializa a precipitação intraglobular de mioglobina), monitorar por controle gasométrico. 
· ACIDENTE ELAPÍDICO (Coral Verdadeira)
Características físicas → anéis corporais em uma combinação de vermelho (ou alaranjado), branco (ou amarelo) e preto. Não possui fosseta loreal (Atenção: ausência de fosseta loreal é característica de não venenosas. As Corais são exceção). Vivem no solo sob folhagens, buracos, entre raízes de árvores e próximo de água.
→Ações do Veneno:
	NTX de ação pós-sináptica: Presentes em todos os venenos elapídicos. São rapidamente absorvidos para a circulação sistêmica e difundidos para os tecidos, devido ao baixo peso molecular, explicando a precocidade dos sintomas do envenenamento. As NTXs competem com a acetilcolina (Ach) pelos receptores colinérgicos da junção neuromuscular, atuando de modo semelhante ao curare. Nos envenenamentos onde predomina essaação (Micrurus altirostris – antigamente M frontalis), o uso de substâncias anticolinesterásicas (edrofônio e neostigmina) pode prolongar a vida média do neurotransmissor (Ach), levando a uma rápida melhora da sintomatologia. 
		NTX de ação pré-sináptica: Estão presentes em algumas corais (M corallinus) e também em alguns Viperídeos, como a cascavel sul-americana. Atuam na junção neuro-muscular, bloqueando a liberação de Ach pelos impulsos nervosos, impedindo a deflagração do potencial de ação. Esse mecanismo não é antagonizado pelas substâncias anticolinesterásicas.
→Quadro Clínico: Os sintomas podem surgir precocemente, em menos de 1 hora (45-75min) após o acidente. Há relatos de aparecimento tardio dos sintomas, por isso recomenda-se a observação clínica por 24 horas. 
Manifestações Locais: Dor local e discreta (muitas vezes ausente) acompanhado de parestesia de progressão proximal.
Manifestações Sistêmicas: Inicialmente vômitos, posteriormente fraqueza muscular progressiva, ptose palpebral, sonolência, perda de equilíbrio, sialorréia, oftalmoplegia e presença de fáscies miastênica. Podem surgir mialgia localizada ou generalizada, dificuldade de deglutir e afonia, devido a paralisia do véu palatino. O quadro de paralisia flácida pode comprometer a musculatura respiratória, evoluindo para apnéia e insuficiência respiratória aguda está considerada uma complicação do acidente). 
→Exames Complementares: Não há específicos para o diagnóstico. 
→Tratamento: 
	Tratamento Específico: Preconiza-se o uso de 10 ampolas (cada ampola neutraliza 1,5mg do veneno) de Soro Antielapídico (SAE), via intravenosa. Todos os casos de acidentes por coral com manifestações clínicas devem ser considerados como potencialmente graves. 
	Tratamento Geral: Nas manifestações de insuficiência respiratória é fundamental ventilação (máscara e AMBU, intubação traqueal e AMBU, ventilação mecânica). Usar anticolinesterásicos nos acidentes cujo veneno tenha ação pós-sináptica para reversão da sintomatologia respiratória (os anticolinesterásicos não antagonizam as NTX de ação pré-sináptica). Utilizar Neostigmina como teste de resposta aos anticolinesterásicos e/ou como terapêutica nas seguintes dosagens: 
	• Teste: 0,05 mg/kg em crianças e 01 ampola em adultos por via I.V. A resposta, com melhora do quadro neurotóxico, ocorre em cerca de 10 minutos. 
	• Terapêutica: a dose de manutenção é de 0,05 a 0,1 mg/kg de 04 em 04 horas por via I.V. Preceder sempre a utilização da Neostigmina por Atropina que exerce antagonismo competitivo aos efeitos muscarínicos da Ach (hipersecreção e bradicardia) de modo que se obtenha um aumento da ordem de 20 batimentos por minuto na frequência do pulso. A mesma dose de neostigmina (0,5mg) deverá ser administrada em intervalos maiores, de acordo com a evolução clínica, até a recuperação completa do paciente.
· ACIDENTE LAQUÉTICO (Surucucu)
As serpentes do gênero Lachesis pertencem à espécie L. muta com duas subespécies. É a maior das serpentes peçonhentas das Américas, atingindo até 3,5 m de comprimento e possuem cauda com escamas eriçadas. São popularmente conhecidas por surucucu, surucucu-pico-de-jaca, surucutinga e malha-de-fogo. Habitam áreas florestais como Amazônia, Mata Atlântica e alguns enclaves de matas úmidas do Nordeste.
O veneno laquético possui as três atividades principais do veneno botrópico, com quadro clínico semelhante, entretanto, rotineiramente mais grave. O veneno laquético possui ação proteolítica, produzindo lesão tecidual; ação coagulante, causando afibrinogenemia e incoagulabilidade sanguínea; ação hemorrágica, pela presença de hemorraginas e ação neurotóxica, com ação do tipo estimulação vagal, alterações de sensibilidade no local da picada, da gustação e da olfação
As manifestações clínicas são semelhantes às descritas no acidente botrópico, predominando a dor e o edema, que podem progredir para todo o membro acometido. Podem surgir equimose, necrose cutânea, vesículas e bolhas de conteúdo seroso ou sero-hemorrágico nas primeiras horas do acidente. As manifestações hemorrágicas limitam-se ao local da picada na maioria dos casos. As manifestações sistêmicas incluem hipotensão arterial, tonturas, escurecimento da visão, bradicardia, cólicas abdominais e diarréia ("síndrome vagal")
As complicações locais descritas no acidente botrópico, como síndrome compartimental, necrose, infecção secundária, abscesso e déficit funcional, também podem estar presentes nesse tipo de acidente
Hemograma, dosagens séricas de ureia, creatinina e eletrólitos são indicados dependendo da evolução do paciente. A determinação do tempo de coagulação (TC) é importante medida auxiliar no diagnóstico e acompanhamento dos casos. O ELISA vem sendo utilizado em caráter experimental, não estando disponível na rotina nesse tipo de envenenamento. Por serem serpentes de grande porte considera-se grande a quantidade de peçonha inoculada em um acidente.
O tratamento específico consiste na infusão endovenosa do soro antilaquético (SAL) ou antibotrópico-laquético (SABL). Na falta dos soros específicos, o tratamento deve ser realizado com soro antibotrópico, apesar deste não neutralizar de maneira eficaz a ação coagulante do veneno laquético. As medidas gerais são as mesmas indicadas para o acidente botrópico.
- PROGNOSTICO E PREVENCAO e CONDUTAS GERAIS
O prognóstico geralmente é bom nos acidentes classificados como leves e moderados e nos pacientes atendidos nas primeiras seis horas após a picada. Observa-se que pacientes vítimas de picada na perna, que utilizam torniquete, atendidos com mais de 6 horas do acidente, com administração incorreta do soro antiofídico, apresentam mau prognóstico, evoluindo com complicações que frequentemente levam à óbito. 
Medidas a serem tomadas em caso de acidentes 
· Não amarre o braço ou perna acidentada. O torniquete ou garrote reduz a perfusão, e aumenta a concentração do veneno em uma região, contribuindo para maior destruição tecidual.
· Não se deve cortar o local do picada. A incisão aumenta a via de acesso dos microrganismos ao tecido, aumentando risco de infecção, destruição tissular e sangramento local.
· Não adianta chupar o local da picada. Pois ele entra imediatamente na corrente sanguínea. A sucção causa a contaminação do local com flora bucal humana e aumentando isquemia.
· Manter o acidentado deitado, em repouso, com a parte atingida em posição mais elevada.
· Limpar o local da picada apenas com água.
· ÁGUA PARA BEBER, se a pessoa não estiver vomitando.
· Leve a COBRA para identificação, se possível.
· Não coloque substância de qualquer natureza (pomadas, fumo, cinza, etc.) sobre o local.
Abordagem inicial dos acidentes ofídicos
- Reconhecer a cobra, se possível, verificando se apresenta características de serpente peçonhenta, principalmente se possui fosseta loreal (nos gêneros botrópico e crotálico).
- Avaliar se existem sintomas e/ou sinais de envenenamento, porque aproximadamente 46% do total de acidentes ofídicos com os que procuram a U.E. são causados por Cobras Não Venenosas.
· Limpar com água e sabão o local da picada, para avaliar se existem lesões cutâneas. Com ÁGUA E SABÃO ou SORO FISIOLÓGICO.
· Administrar ANALGÉSICOS, se necessário. 
· Não romper bolhas, se já existirem.
· Não suturar o ferimento. Se necessário, aproximar as bordas da ferida após a limpeza.
· Elevar passivamente o membro picado, mantendo todas as articulações em extensão. Útil para o alívio da dor e para a prevenção da síndrome de compartimento, permitindo distribuição do edema por áreas mais extensas. É necessária vigilância contínua sobre a perfusão da extremidade, se necessário realizar fasciotomia.
· Puncionar veia periférica nunca utilizando o membro afetado, manter a hidratação.
· Colher sangue para determinação de creatinina, sódio, potássio, fração MB da creatinoquinase (CK-MB) e hemograma completo, além da determinação do tempo de protombina (TP), tempo de tromboplastina parcial ativada (TPPA) e quantificação do fibrinogênio;
· Iniciar gotejamento de 500 ml de soro glicofisiológico5% ou soro fisiológico (se o paciente for diabético), 45 gotas por minuto, com o objetivo de hidratar e manter acesso venoso para as próximas etapas;
· Pré-medicação: simultaneamente à hidratação, iniciar esquema de proteção contra possíveis reações de hipersensibilidade ao SAV, administrando bloqueadores dos receptores H1 e H2 da histamina e corticoesteroides
· Urina – anotar características e o volume. Colher aproximadamente 10 ml para exame de rotina.
Princípios da soroterapia antiveneno (SAV)
O SAV deve ser sempre administrado por via intravenosa. O teste de sensibilidade, intradérmico foi excluído da rotina de tratamento desses acidentes pelos soros heterólogos, anti peçonhentos, por apresentar baixa sensibilidade e baixos valores preditivos quanto ao aparecimento de reações de hipersensibilidade imediatas.
A administração de SAV deve ser precedida de medidas profiláticas, visando impedir ou atenuar as possíveis reações de hipersensibilidade imediata. 15 min antes do SAV, administrar I.V:
· Antagonistas dos receptores H1 da histamina Maleato de dextroclorfeniramina: 0,08 mg/kg na criança e 5mg no adulto, ou Prometazina: 0,5 mg/kg na criança e 25 mg no adulto
· Antagonistas dos receptores H2 da histamina Cimetidina: 10 mg/kg na criança e 300 mg no adulto ou Ranitidina: 2mg/kg na criança e 100 mg no adulto
· Hidrocortisona: 10mg/kg na criança e 500mg no adulto. Após esse preparo, administrar o SAV por via intravenosa, sem diluição, gota a gota, durante 10 a 30 min, sob VIGILÂNCIA CONTÍNUA DA EQUIPE MÉDICA E DE ENFERMAGEM.
· Devem estar preparados para uso imediato, se necessário: solução aquosa milesimal de adrenalina, aminofilina, oxigênio, soluções salinas e material de entubação.
Observação: Apesar de ter sido administrado o esquema de pré-medicação, podem ocorrer reações de hipersensibilidade, que obriguem a diminuição ou mesmo a suspensão temporária do gotejamento do SAV.
· Reações precoces: Ocorrem nas primeiras 24 horas e podem manifestar-se desde a forma leve até extremamente grave. Existem três mecanismos conhecidos na produção destas reações: pirogênico, anafilático e anafilactóide.
· Reação pirogênica é causada pela interação do soro ou de endotoxinas bacterianas existentes no soro, com os macrófagos do doente. Estes liberam a interleucina-1(IL-1) que irá atuar sobre o hipotálamo anterior produzindo febre. Clinicamente, o doente manifesta inicialmente arrepios de frio e posteriormente calafrios, culminando com a febre. Tratamento: dependendo da gravidade da reação diminuir o gotejamento do soro ou parar a infusão; Verificar se o paciente não está recebendo outro tipo de soro concomitante que possa estar contaminado com toxinas bacterianas. Administrar Dipirona 2 a 4 ml pela I.V. (em crianças utilizar 10 a 15 mg por quilo de peso corporal).
· Reação anafilactóide não implica em sensibilização anterior, podendo surgir com a aplicação da primeira dose de antiveneno. Seu mecanismo está relacionado com a ativação do sistema complemento pela via alternada, sem a presença de anticorpos. Nesse caso, ocorre a liberação de C3a e C5a, denominados anafilatoxinas, que são capazes de degranular mastócitos e basófilos, por meio de receptores específicos. A consequência é a liberação dos mesmos mediadores farmacológicos, responsáveis pela instalação de um quadro clínico semelhante ao da reação anafilática. As reações anafilactóides não são detectadas pela prova intradérmica. Não tem participação de IgE (como na anafilaxia).
· Reações Tardias: São, em geral, benignas e ocorrem de 5 a 20 dias após a administração do soro. Caracterizam-se por febre, urticária, dores articulares, aumento de gânglios e, raramente, comprometimento neurológico ou renal. Esta reação, conhecida como “Doença do Soro”, é tratada de acordo com a sua intensidade, através da administração de corticosteróides, analgésicos ou anti-histamínicos.
ESTUDAR PICADAS DE ARANHAS E ESCORPIÕES 
ACIDENTES POR ESCORPIÕES
Os acidentes escorpiônicos (ESCORPIONISMO) ocorrem com frequência e são potencialmente graves em extremos de faixa etária. 50% dos acidentes notificados provêm dos Estados de Minas Gerais e de São Paulo e a maioria em meses quentes e chuvosos. Os escorpiões de importância médica pertencem ao gên. Tityus e são: T.serrulatus, T.trivittatus, T.bahiensis e T.stigmurus. Registra-se grande dispersão do T.serrulatus devida reprodução por partenogênese. A maioria dos casos tem curso benigno. Letalidade é de 0,58%, os óbitos tem sido associados, com maior frequência, a acidentes causados por T.serrulatus, ocorrendo mais comumente em crianças menores de 14 anos. Os escorpiões inoculam o veneno pelo ferrão ou telson, localizado no último segmento da cauda. São animais carnívoros, alimentam-se principalmente de insetos, como baratas e grilos. Com hábitos noturnos, durante o dia estão sob pedras, troncos, entulhos, telhas, tijolos. 
ESCORPIÃO (Tityus) 
	Os escorpiões são pouco agressivos e têm hábitos noturnos. Encontram-se em pilhas de madeira, cercas, sob pedras e nas residências. Duas espécies merecem maior atenção médica: T.serrulatus (amarelo) e T.bahiensis (marrom). 
→Ações do Veneno: Estudos experimentais demonstraram que veneno bruto ou frações purificadas ocasiona dor local e efeitos complexos nos canais de sódio, produzindo despolarização das terminações nervosas pós-ganglionares, com liberação de catecolaminas e acetilcolina. Estes mediadores determinam o aparecimento de manifestações orgânicas decorrentes da predominância dos efeitos simpáticos ou parassimpáticos. 
	-Miotóxica: rabdomiólise
→Quadro Clínico: Acidentes por T.serrulatus são os mais graves. 
	Local: A dor local (ardor, queimação ou agulhada) pode ser acompanhada por parestesias, aumentar de intensidade à palpação e irradiar-se para a raiz do membro acometido. Ponto(s) de inoculação nem sempre são visíveis, na maioria dos casos, há apenas discreto eritema e edema, podendo-se observar também sudorese e piloereção local. 
	Manifestações Sistêmicas: Nos acidentes moderados e graves, principalmente em crianças, após minutos até poucas horas (2-3h), podem surgir manifestações sistêmicas.
	Gerais: hipo ou hipertermia e sudorese profusa. Digestivas: náuseas, vômitos, sialorréia e, mais raramente, dor abdominal e diarréia. 
	Cardiovasculares: arritmias cardíacas, hiper ou hipotensão arterial, insuficiência cardíaca congestiva e choque. 
	Respiratórias: taquipnéia, dispneia e edema pulmonar agudo. 
	Neurológicas: agitação, sonolência, confusão mental, hipertonia e tremores. 
A gravidade do quadro clínico depende de vários fatores como espécie e tamanho do animal agressor, quantidade de veneno inoculado, número de picadas, massa corporal da vítima e sensibilidade ao veneno, tempo decorrido entre o acidente e o tempo de atendimento médico. 
→Exames Complementares 
-Coleta HMG/ bioquímica/ função renal, hepatograma, coagulograma, LDH, CPK → neutrofilia, hiperglicemia e glicosúria, hipopotassemia, hiperamilasemia, aumento da creatinoquinase e de sua fração MB.
-RX tórax nos acidentes moderados, graves e crianças → aumento da área cardíaca e sinais de edema pulmonar agudo.
-ECG → acompanhamento da evolução clínica. Podem ocorrer taquicardia ou bradicardia sinusal, extra-sístoles ventriculares, distúrbios de repolarização ventricular com inversão da onda T.
→Tratamento
	Analgesia Local: Infiltração de lidocaína a 2% sem vasoconstritor (1 ml a 2 ml para crianças; 3 ml a 4 ml para adultos) no local da picada em intervalos de 30 a 60min ou uso de dipirona na dose de 10 mg/kg de peso a cada seis horas.
	Suporte clínico .
ARANEÍSMO
No Brasil, existem três gêneros de aranhas de importância médica: Phoneutria (aranha-armadeira ou aranha-de-bananeira), Loxosceles (aranha marrom) e Latrodectus (viúva negra). Os acidentes causados por Lycosa (aranha-de-grama), bastante frequentes e pelas caranguejeiras, muito temidas, são destituídos de maior importância.
LOXOSCELISMO (acidente por aranha marrom).
Corresponde à forma mais grave de araneísmo no Brasil. A maioria dos acidentesnotificados se concentra no sul do país, particularmente Paraná e Santa Catarina. O acidente atinge mais comumente adultos, com discreto predomínio em mulheres, ocorrendo no intradomicílio. Observa-se uma distribuição centrípeta das picadas, acometendo mais a coxa, tronco ou braço. Encontra-se em pilhas de tijolos, telhas, beira de barrancos; nas residências, atrás de móveis, cortinas e eventualmente nas roupas.
→Ações do veneno: enzima esfingomielinase-D que por ação direta ou indireta, atua sobre os constituintes das membranas das células, principalmente do endotélio e hemácias, ativando as cascatas do sistema complemento, da coagulação e das plaquetas, desencadeando intenso processo inflamatório no local da picada, acompanhado de obstrução de pequenos vasos, edema, hemorragia e necrose focal.
→Quadro clinico: a picada quase sempre é imperceptível.
	Forma cutânea: 98%. Instalação lenta e progressiva. Sintomas: dor, edema endurecido e eritema no local. Acentuam-se nas primeiras 24-72 horas após o acidente, podendo ocorrer:
	-Lesão incaracterística: bolha de conteúdo seroso, edema, calor e rubor, com ou sem dor em queimação.
	-Lesão sugestiva: enduração, bolha, equimose e dor em queimação.
	-Lesão característica: dor em queimação, lesões hemorrágicas focais, mescladas com áreas pálidas de isquemia e necrose (em cerca de 7 a 12 dias), deixando uma ulcera em 3 a 4 semanas, de difícil cicatrização.
	Forma cutâneo-visceral (hemolítica): 1 a 13% dos casos. Além do comprometimento cutâneo, observam-se manifestações clínicas decorrentes da hemólise intravascular como anemia, icterícia e hemoglobinúria, que se instalam geralmente nas primeiras 24 horas. Petéquias e equimoses, relacionadas à coagulação intravascular disseminada (CIVD). Casos graves podem evoluir para insuficiência renal aguda, que é a principal causa de óbito no loxoscelismo.
Com base nas alterações clínico-laboratoriais e identificação do agente causal, o acidente loxoscélico pode ser CLASSIFICADO em: 
	LEVE: Lesão incaracterística sem alterações clínicas ou laboratoriais e com identificação da aranha causadora do acidente. Paciente deve ser acompanhado pelo menos por 72 horas, caso pode ser reclassificado. 
	MODERADO: Lesão sugestiva ou característica, mesmo sem identificação do agente causal, com ou sem alterações sistêmicas do tipo rash cutâneo, cefaléia e mal-estar. 
	GRAVE: Lesão característica e alterações clínico-laboratoriais de hemólise intravascular.
→Complicações
	Locais: infecção secundária, perda tecidual, cicatrizes desfigurantes. 
	Sistêmicas: insuficiência renal aguda. 
→Exames Complementares: Não há específicos. 
	# Forma cutânea: hemograma com leucocitose e neutrofilia. 
	# Forma cutâneo-visceral: anemia aguda, plaquetopenia, reticulocitose, hiperbilirrubinemia indireta, queda dos níveis séricos de haptoglobina, elevação dos níveis séricos de potássio, creatinina e uréia e coagulograma alterado. 
→Tratamento
	Tratamento Específico: Soro antiloxoscélico (SALOx) ou Soro Antiaracnídico (SAAr) – Dados experimentais revelaram que eficácia da soroterapia é reduzida após 36 horas da inoculação do veneno. A utilização do antiveneno depende da classificação de gravidade.
	Tratamento Geral:
· Corticoterapia: prednisona por via oral na dose de 40mg/dia para adultos e 1mg/Kg/dia para crianças, por pelo menos cinco dias. 
· Dapsone (DDS): em teste para redução do quadro local. 50 a 100mg/dia, via oral, por duas semanas. Risco potencial da Dapsone desencadear metemoglobinemia. Paciente deve ser acompanhado clínico-laboratorialmente durante administração da droga.
· Suporte: Para as manifestações locais: Analgésicos (dipirona), compressas frias, antisséptico local e limpeza da ferida (permanganato de potássio), se infecção secundária usar antibiótico sistêmico, remoção da escara só após delimitação da área de necrose, tratamento cirúrgico (manejo de úlceras e correção de cicatrizes). Para as manifestações sistêmicas: Transfusão de sangue ou concentrado de hemácias quando anemia intensa, manejo da insuficiência renal aguda.
Aranhas armadeiras, em razão do fato de, ao assumirem comportamento de defesa, apoiam-se nas pernas traseiras, erguem as dianteiras e os palpos, abrem as quelíceras, tomando bem visíveis os ferrões, e procuram picar. Podem atingir de 3 cm a 4 cm de corpo e até 15 cm de envergadura de pernas. Não constroem teia geométrica, sendo animais errantes que caçam principalmente à noite. Os acidentes ocorrem frequentemente dentro das residências e nas suas proximidades, ao se manusearem material de construção, entulhos, lenha ou calçando sapatos.
· Estudos experimentais demonstram que o veneno bruto e a fração purificada PhTx2 da peçonha de P. nigriventer causam ativação e retardo da inativação dos canais neuronais de sódio. Este efeito pode provocar despolarização das fibras musculares e terminações nervosas sensitivas, motoras e do sistema nervoso autônomo, favorecendo a liberação de neurotransmissores, principalmente acetilcolina e catecolaminas. 
· Recentemente, também foram isolados peptídeos do veneno de P. nigriventer que podem induzir tanto a contração da musculatura lisa vascular quanto o aumento da permeabilidade vascular, por ativação do sistema calicreína-cininas e de óxido nítrico, independentemente da ação dos canais de sódio. 
· O conhecimento destas ações pode auxiliar na compreensão da fisiopatologia do envenenamento, principalmente em relação à presença da dor local, priapismo, choque e edema pulmonar.
· Predominam as manifestações locais. A dor imediata é o sintoma mais frequente, em apenas 1% dos casos os pacientes se apresentam assintomáticos após a picada. Sua intensidade é variável, podendo se irradiar até a raiz do membro acometido. Outras manifestações são: edema, eritema, parestesia e sudorese no local da picada, onde podem ser visualizadas as marcas de dois pontos de inoculação.
· a) Leves: são os mais frequentes, correspondendo a cerca de 91% dos casos. Os pacientes apresentam predominantemente sintomatologia local. A taquicardia e agitação, eventualmente presentes, podem ser secundárias à dor.
· b) Moderados: ocorrem em aproximadamente 7,5% do total de acidentes por Phoneutria. Associadas às manifestações locais, aparecem alterações sistêmicas, como taquicardia, hipertensão arterial, sudorese discreta, agitação psicomotora, visão “turva” e vômitos ocasionais.
· c) Graves: são raros, aparecendo em tomo de 0,5% do total, sendo praticamente restritos às crianças. Além das alterações citadas nas fornias leves e moderadas, há a presença de uma ou mais das seguintes manifestações clínicas: sudorese profusa, sialorréia, vômitos frequentes, diarréia, priapismo, hipertonia muscular, hipotensão arterial, choque e edema pulmonar agudo
· Em acidentes graves envolvendo crianças, verificaram-se leucocitose com neutrofilia, hiperglicemia, acidose metabólica e taquicardia sinusal. Todavia, não existem estudos clínicos controlados visando avaliar o tempo necessário para normalização desses exames. É aconselhável a monitorização das condições cardiorrespiratórias nos acidentes graves.
· Tratamento
· a) Sintomático: a dor local deve ser tratada com infiltração anestésica local ou troncular à base de lidocaína a % sem vasoconstritor (3 ml - 4 ml em adultos e de 1 ml - 2 ml em crianças). Havendo recorrência da dor, pode ser necessário aplicar nova infiltração, em geral em intervalos de 60 a 90 minutos. Caso sejam necessárias mais de duas infiltrações, e desde que não existam sintomas de depressão do sistema nervoso central, recomenda-se o uso cuidadoso da Meperidina (Dolantina), nas seguintes doses: crianças - 1,0 mg/kg via intramuscular e adultos 50 mg -100 mg via intramuscular. A dor local pode também ser tratada com um analgésico sistêmico, tipo dipirona. Outro procedimento auxiliar, útil no controle da dor, é a imersão do local em água morna ou o uso de compressas quentes. 
· b) Específico: a soroterapia tem sido formalmente indicada nos casos com manifestações sistêmicas em crianças eem todos os acidentes graves. Nestas situações, o paciente deve ser internado para melhor controle dos dados vitais, parâmetros hemodinâmicos e tratamento de suporte das complicações associadas.
Viúvas-negras: As fêmeas são pequenas e de abdome globular, apresentando no ventre um desenho característico em forma de ampulheta. Constroem teias irregulares entre vegetações arbustivas e gramíneas, podendo também apresentar hábitos domiciliares e peridomiciliares. Os acidentes ocorrem normalmente quando são comprimidas contra o corpo. As fêmeas apresentam o corpo com aproximadamente 1 cm, de comprimento e 3 cm de envergadura de pernas. Os machos são muito menores, em média 3 mm de comprimento, não sendo causadores de acidentes
· A alpha-latrotoxina é o principal componente tóxico da peçonha da Latrodectus. Atua sobre terminações nervosas sensitivas provocando quadro doloroso no local da picada. Sua ação sobre o sistema nervoso autônomo, leva à liberação de neurotransmissores adrenérgicos e colinérgicos e, na junção neuromuscular pré-sináptica, altera a permeabilidade aos íons sódio e potássio.
· Geralmente, o quadro se inicia com dor local em cerca de 60% dos casos, de pequena intensidade, evoluindo para sensação de queimadura 15 a 60 minutos após a picada. Pápula eritematosa e sudorese localizada são observadas em 20% dos pacientes. Podem ser visualizadas lesões puntiformes, distando de 1 mm a 2 mm entre si. Na área da picada há referência de hiperestesia e pode ser observada a presença de placa urticariforme acompanhada de Infartamento ganglionar regional
· a) Gerais: aparecem nas primeiras horas após o acidente, sendo referidas: tremores (26%), ansiedade (12%), excitabilidade (11%), insônia, cefaléia, prurido, eritema de face e pescoço. Há relatos de distúrbios de comportamento e choque nos casos graves. 
· b) Motoras: dor irradiada para os membros inferiores aparecem em 32%, acompanhada de contraturas musculares periódicas (26%), movimentação incessante, atitude de flexão no leito; hiperreflexia ósteo-músculo-tendinosa constante. É frequente o aparecimento de tremores e contrações espasmódicas dos membros (26%). Dor abdominal intensa (18%), acompanhada de rigidez e desaparecimento do reflexo cutâneo-abdominal, pode simular um quadro de abdome agudo. 
· c) Cardiovasculares: opressão precordial, com sensação de morte iminente, taquicardia inicial e hipertensão seguidas de bradicardia. 
· d) Digestivas: náuseas e vômitos, sialorréia, anorexia e obstipação; 
· e) Geniturinárias: retenção urinária, dor testicular, priapismo e ejaculação; 
· f) Oculares: ptose e edema bipalpebral, hiperemia conjuntival, midríase
· Contratura facial, trismo dos masseteres caracteriza o fácies latrodectísmica observado em 5% dos casos.
· As alterações laboratoriais são inespecíficas, sendo descritas alterações hematológicas (leucocitose, linfopenia, eosinopenia), bioquímicas (hiperglicemia, hiperfosfatemia), do sedimento urinário (albuminúria, hematúria, leucocitúria e cilindrúria) e eletrocardiográficas (arritmias cardíacas como fibrilação atrial e bloqueios, diminuição de amplitude do QRS e da onda T, inversão da onda T, alterações do segmento ST e prolongamento do intervalo QT). Essas alterações podem persistir até por dez dias.
· O soro antilatrodectus (SALatr) é indicado nos casos graves, na dose de uma a duas ampolas por via intramuscular. A melhora do paciente ocorre de 30 minutos a três horas após a soroterapia. Soro antilatrodectus atualmente disponível no Brasil é importado
· Além de analgésicos usam-se também benzodiazepínicos, clorpromazina e gluconato de cálcio
Aranha-de-grama ou aranha-de-jardim: Os acidentes, apesar de frequentes, não constituem problema de saúde pública. São aranhas errantes, não constroem teia e frequentemente são encontradas em gramados e jardins. Podem variar de tamanho, sendo que as maiores atingem até 3 cm de corpo por 5 cm de envergadura de pernas.

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