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Caro aluno Você está recebendo o primeiro livro da Unidade Técnica de Imersão (U.T.I.) do Hexag Vestibulares. Este material tem o objetivo de retomar os conteúdos estudados nos livros 1 e 2, oferecendo um resumo estruturado da teoria e uma seleção de questões dissertativas que preparam o candidato para as provas de segunda fase dos principais vestibulares. Além disso, as questões dissertativas per- mitem avaliar a capacidade de análise, organização, síntese e aplicação do conhecimento adquirido. É também uma oportunidade de o estudante demonstrar que está apto a expressar suas ideias de maneira sistematizada e com linguagem adequada. Aproveite este caderno para aprofundar o que foi visto em sala de aula, compreender assuntos que tenham deixado dúvidas e relembrar os pontos que foram esquecidos. Bons estudos! Herlan Fellini ENTRE LETRAS GRAMÁTICA 3 INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS 19 LITERATURA 27 ENTRE FRASES REDAÇÃO 45 BETWEEN ENGLISH AND PORTUGUESE INGLÊS 63 SUMÁRIO © Hexag Sistema de Ensino, 2018 Direitos desta edição: Hexag Sistema de Ensino, São Paulo, 2021 Todos os direitos reservados. Autores Lucas Limberti Murilo Almeida Gonçalves Pércio Luis Ferreira Rodrigo Martins Diretor-geral Herlan Fellini Diretor editorial Pedro Tadeu Vader Batista Coordenador-geral Raphael de Souza Motta Responsabilidade editorial, programação visual, revisão e pesquisa iconográfica Hexag Sistema de Ensino Editoração eletrônica Felipe Lopes Santos Leticia de Brito Ferreira Matheus Franco da Silveira Projeto gráfico e capa Raphael de Souza Motta Imagens Freepik (https://www.freepik.com) Shutterstock (https://www.shutterstock.com) Todas as citações de textos contidas neste livro didático estão de acordo com a le- gislação, tendo por fim único e exclusivo o ensino. 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Formação por derivação No processo de formação por derivação, a palavra primiti- va (primeiro radical) sofre acréscimo de afixos. São seis os tipos de formação por derivação. § Derivação prefixal: acréscimo de prefixo à pala- vra primitiva. Exemplo: in-capaz. § Derivação sufixal: acréscimo de sufixo à pala- vra primitiva. Exemplo: papel-aria. § Derivação prefixal + sufixal: acrescenta-se um pre- fixo e um sufixo a um mesmo radical de modo sequen- cial, ou seja, os afixos não são encaixados ao mesmo tempo. Percebe-se facilmente, ao remover um dos afi- xos, a presença de uma palavra com sentido completo. Exemplo: in-feliz-mente. § Derivação parassintética: acréscimo simultâneo de um prefixo e de um sufixo a um mesmo radical ou à palavra primitiva. Em geral, as formações parassintéticas originam- -se de substantivos ou adjetivos para formarem verbos. Exemplo: en-triste-cer. § Derivação regressiva: ocorre redução da palavra pri- mitiva. Nesse processo, formam-se substantivos abstratos por derivação regressiva de formas verbais. Exemplo: ajuda (substantivo abstrato da deriva- ção regressiva do verbo ajudar). § Derivação imprópria: ocorre a alteração da classe gramatical da palavra primitiva. Exemplos: (o) jantar – de verbo para substantivo; (um) Judas – de substantivo próprio para comum. Formação por composição Nos processos de formação de palavras por composição, ocorre a junção de dois ou mais radicais. Palavras com significados distintos formam uma nova palavra com um novo significado. Exemplo: guarda (flexão do verbo guardar; sentinela) + roupa (vestuário) = guarda-rou- pa (mobiliário). São dois os processos de formação por composição: § Composição por justaposição: quando não ocorre a alteração fonética das palavras. A justaposição tam- bém pode ocorrer por hifenização. Exemplos: girassol (gira + sol); guarda-chuva (guarda + chuva). § Composição por aglutinação: quando ocorre alte- ração fonética, em decorrência da perda de elementos das palavras. Exemplos: aguardente (água + ardente); embora (em + boa + hora). Outros processos Neologismo Neologismo é o nome dado ao processo de criação de novas palavras. São três tipos: Semântico (a palavra já existe no dicionário, mas adquire um novo significado); Le- xical (criação de uma palavra nova, sem necessariamente seguir regras formais); Sintático (construção sintática que passa a ter um significado específico). Exemplo: Originalmente, a palavra bonde significava certo veículo utilizado como meio de transporte. Hoje, na variedade linguística utilizada por falantes inse- ridos no estilo do funk carioca, foi dado um novo significado para a palavra bonde: turma, galera. FORMAÇÃO DE PALAVRAS 5 artigo Artigo é a palavra que se antepõe a um substantivo (é um marcador pré-nominal), com a função inicial de determiná- -lo ou indeterminá-lo. Subdivide-se em dois grupos: defini- dos e indefinidos. § Artigos definidos: determinam o substantivo de ma- neira precisa. São eles: o(s), a(s). Exemplo: Preciso que você me traga a cadeira branca. (O artigo definido marca a necessidade de se pegar uma cadeira determinada.) § Artigos indefinidos: determinam o substantivo de maneira vaga/imprecisa. São eles: um(uns), uma(s). Exemplo: Preciso que você me traga uma cadeira branca. (O artigo indefinido marca a necessidade de se pegar uma cadeira qualquer, indeterminada.) Artigo combinado com preposições A contração de artigos com preposições é um movimento essencial para a demarcação de sentido em construções textuais. Muitas vezes, fazer ou não fazer a contração do artigo com a preposição pode alterar significativamente o entendimento que se tem de um texto. Esses eventos tex- tuais serão discutidos no próximo tópico (o artigo aplicado ao texto). Ficaremos aqui com as possibilidades de contra- ção do artigo com a preposição. Preposições Artigos o, os a, as um, uns uma, umas a ao, aos à, às — — de do, dos da, das dum, duns duma, dumas em no, nos na, nas num, nuns numa, numas por pelo, pelos pela, pelas — — substantivo Classe de palavras variável que dá nome aos seres, obje- tos e coisas em geral. Os substantivos são classificados em próprios, comuns, concretos, e abstratos. Eles se fle- xionam em número, gênero e grau. adjetivo Palavra que acompanha e modifica o substantivo, podendo caracterizá-lo ou qualificá-lo. Nomes substantivos e nomes adjetivos No contexto de uma frase, é possível identificar palavras de outras classes, entre elas os adjetivos, que se transformam em nomes (substantivos) desde que precedidas de um artigo. verbo Formas nominais do verbo O infinitivo, o particípio (regular e irregular) e o gerúndio são chamados formas nominais do verbo porque podem funcionar como nomes – substantivo, adjetivo, advérbio. § Infinitivo O comer demais faz mal. (substantivo) O viver é bom. (substantivo) § Gerúndio Ela bebeu chá fervendo. (advérbio) Fervendo, desligue. (advérbio) § Particípio A feira foi inaugurada. (adjetivo) O parque foi inaugurado. (adjetivo) ARTIGOS, SUBSTANTIVOS E ADJETIVOS VERBOS: NOÇÕES PRELIMINARES E MODOS INDICATIVO E SUBJUNTIVO 6 Modos e tempos verbais Os modos verbais traduzem a intencionalidade com que se emprega a formaverbal. São classificados em indi- cativo (fato), subjuntivo (desejo, hipótese) e imperativo (ordem, apelo). Quando lemos, falamos ou escrevemos, posicionamo-nos em um determinado tempo. No momento do enunciado, os verbos ocorrem (presente), ocorreram (passado) ou ocorrerão (futuro), dependendo do modo verbal. Tempos do modo indicativo Presente § Indica processo no momento da fala. Faço minhas escolhas. (atualmente, agora) § Indica processo habitual, constante, fato real, verdade. Ela cumpre seus acordos. (ação habitual) § Indica processo ocorrido até o momento da declaração. Moro com meus colegas. § Em narrativas históricas (presente histórico), em lugar do pretérito perfeito. Colombo chega à América e, em 1492, conquis- ta o Novo Mundo. § Em acontecimento próximo, em lugar do futuro. Não posso almoçar contigo amanhã. § Em expressões condicionais (se...), em lugar do subjuntivo. Se tudo corre bem, podemos viajar. Pretérito perfeito § Indica um processo, algo já realizado, concluído, termina- do, sem necessidade de referência à outra ação anterior ou contemporânea. João saiu ontem. Fiz as compras. Cheguei. § Indica processo ocorrido antes da declaração expressa pelo verbo. Em 1939, Hitler invadiu a Polônia. § É frequente o emprego do pretérito perfeito compos- to – presente do indicativo do verbo auxiliar “ter“ ou “haver“ e particípio do verbo principal. Pode indicar ato habitual: Eu tenho lido bastante. Os alunos têm estudado muito. § Também pode indicar fato ocorrido até o momento da declaração: Tenho comprado muitos carros iguais a este. Pretérito imperfeito § Indica um processo ocorrido anteriormente ao mo- mento da declaração, mas contemporâneo a outro fato passado. Eu ouvia samba quando se deu o estouro. Ele comia quando da sua chegada. § É empregado para indicar processo em desenvolvimento. Eu dançava quando ele entrou. § Indica processo em continuidade, habitual, constan- te, frequente. Eu residia nesta casa. § Indica processo idealizado, não realizado. Pretendíamos ir à Bahia, mas o frio repentino não permitiu. § Como manifestação de cortesia, de polidez, em lugar do presente do indicativo ou do imperativo. Queria só um abraço. § Em lugar do futuro do pretérito do indicativo. Se ele pagasse, já estávamos (em vez de “estaríamos“) na França. Pretérito mais-que-perfeito § Indica uma ação passada, um fato concluído que acon- teceu antes de outro fato (ambos no passado). O trem partira quando ele enfim chegou. Ela estivera presente a toda reunião. Ele dançara muito. § Em construções exclamativas. Quem lhe dera tê-la nos braços naquela tarde! § Em lugar do pretérito imperfeito do subjuntivo. Nadou como se estivera (estivesse) à beira da morte. § É bastante frequente o emprego do mais-que-perfeito composto – imperfeito do verbo auxiliar “ter“ ou “ha- ver“ e particípio do verbo principal. Eu tinha falado bastante. Já havia ocorrido o pior. 7 Futuro do pretérito § Exprime ação futura em relação ao passado, ação que te- ria ocorrido em relação a um fato já ocorrido no passado. Eu iria se você chegasse a tempo. § Designa ações posteriores à época em que se fala. Ainda ficaria. Esperaria a noite. (Marques Rabelo) § Designa incerteza, probabilidade, dúvida, suposição so- bre fatos passados. Seriam mais ou menos dez horas quando che- garam. (Monteiro Lobato) § Forma polida do presente para denotar um desejo. Eu precisaria namorar aquela moça. § O futuro do pretérito composto expresso – verbo auxi- liar “ter“ ou “haver“ no futuro do pretérito e particípio do verbo principal. Eu teria dito (diria) umas verdades a você. § Indica fato que teria acontecido no passado mediante certa condição. Teria sido diferente, se eu a amasse. (Ciro dos Anjos) § Indica possibilidade de um fato passado. Teria sido melhor não escrever nada. (Ruben Braga) § Indica incerteza sobre fatos passados em certas frases interrogativas. Ele só teria falado ou também...? Futuro (do presente) § Indica a ação ainda não ocorrida, mas já declarada pelo verbo. Ora (direis) ouvir estrelas! / (...) E eu vos direi: amai para entendê-las! (Olavo Bilac) § Empregado para indicar um fato aproximado ou para enfatizar uma expressão. Na África, quantos não estarão mortos de fome! § Indica incerteza, probabilidade, dúvida, suposição. Há uma várzea em meu sonho, mas não sei onde será. (Augusto Meyer) § Indica fatos de realização provável. Vem, dizia ele na última carta; se não vieres depres- sa, acharás tua mãe morta. (Machado de Assis) § Como forma polida, em vez do presente. Mas como foi que aconteceram? E eu lhe direi: sei lá, aconteceram: eis tudo. (Drummond) § É frequente o emprego do futuro do presente compos- to – futuro do presente do verbo auxiliar “ter“ ou “ha- ver“ e particípio do verbo principal. Quando você chegar, eu já terei ido. § Indica ação futura a ser consumada antes de outra. Quando o guarda chegar, já teremos fugido. § Indica possibilidade de um fato passado. Terá passado o furacão dentro de oito dias? § Indica certeza de uma ação futura. Se não voltarmos em algumas horas, teremos perdido a oportunidade. Tempos do modo subjuntivo Presente § Expressa hipótese, desejo, suposição, dúvida. Tomara que você tenha boas festas! Bons ventos o levem! Pretérito imperfeito § É empregado nas orações subordinadas da oração principal em que o verbo esteja no pretérito imper- feito, no pretérito perfeito ou no futuro do pretérito do indicativo. Ela desejava que todos morressem. Esperei que eles fizessem os trabalhos direito. Apreciaria que você me beijasse. Futuro simples § Designa fato provável, eventualidade futura. Quando ela vier, encontrará uma bagunça. 8 modo imperativo O modo imperativo manifesta ordem, conselho, súplica ou exortação do emissor e pode ser imperativo afirmativo ou imperativo negativo. § Se beber, não dirija! § Dorme, que já está na hora! TABELA PARA CONJUGAÇÃO DO MODO IMPERATIVO presente do indicativo imperativo afirmativo imperativo negativo presente do subjuntivo eu compro x x (ainda que) eu compre tu compras compra tu* compres tu (ainda que) tu compres ele compra compre você compre você (ainda que) ele compre nós compramos compremos nós compremos nós (ainda que) compremos nós vós comprais comprai vós compreis vós (ainda que) vós compreis eles compram comprem vocês comprem vocês (ainda que) eles comprem *As duAs pAssAgens do presente do IndIcAtIvo pArA o ImperAtIvo AfIrmAtIvo ImplIcAm nA perdA do “s” fInAl que compõe A construção verbAl. vozes verbais O fato expresso pelo verbo pode ser representado em três vozes. § João cortou árvores. O fato (cortou) é praticado pelo sujeito (João). Por- tanto, o verbo está na voz ativa. § Árvores foram cortadas por João. O sujeito (árvores) é alvo, ou seja, sofre a ação de João. Portanto, o verbo está na voz passiva. § João cortou-se com o machado. O sujeito (João) é alvo (cortou-se) do machado. Portanto, o verbo está na voz reflexiva. Voz passiva analítica § A voz passiva dos verbos é formada pelo verbo auxiliar ser, conjugado no tempo e na pessoa desejados, segui- do do particípio do verbo principal: A árvore foi cortada pelo lenhador./ Muitas mansões foram alugadas em Bra- sília./ Muita gente ainda vai ser julgada inocente. § A voz passiva analítica sempre é formada por tempos compostos – ser + verbo principal transitivo direto –, bem como pelos verbos auxiliares ter e haver. Têm sido (foram) alugadas muitas mansões em Brasília. Voz passiva sintética § Formada com o verbo principal transitivo direto na voz ativa, na terceira pessoa do singular ou do plural, acom- panhado da partícula apassivadora “se“. Aluga-se casa. Alugam-se casas. Compra-se apartamento. Compram-se apartamentos. Voz reflexiva § Necessariamente formada pelos verbos pronominais – acompanhados de “me“, “te“, “se“, “nos“, “vos“, “se“ –, cuja ação designada parte do sujeito e volta-separa ele mesmo. Eu me feri. (O ato e o efeito do ferimento par- tem e voltam para o “eu”, que é o sujeito.) Tu te feriste. Ele se machucou. Nós nos prejudicamos. Eles se feriram com faca. advérbios Os advérbios formam uma classe de palavras invariá- veis que se associam a verbos, a adjetivos ou a outros advérbios, cada qual com intenções bastante específicas. § Associam-se a verbos para indicar com maior precisão as circunstâncias da ação verbal. VERBOS: MODO IMPERATIVO E VOZES VERBAIS ADVÉRBIOS 9 Exemplo: Paula viajou ontem. (O advérbio “ontem” indica com maior precisão quando Paula viajou.) § Associam-se a adjetivos para intensificar o adjetivo já apresentado. Exemplo: Roberto ficou bastante preocupado. (O advérbio “bastante” intensifica o adjetivo pre- ocupado.) § Associam-se a advérbios para intensificar outro advér- bio já apresentado. Exemplo: O jogador do Corinthians está se recuperando muito bem. (O advérbio “muito” intensifica o outro advérbio “bem”.) Classificação dos advérbios Os advérbios e as locuções adverbiais estabelecem diferen- tes relações semânticas, que são as seguintes: § De lugar: aqui; antes; dentro; ali; adiante; fora; acolá; atrás; além; lá; detrás; aquém; cá; acima; onde; perto; aí; abaixo; aonde; longe; debaixo; algures; defronte; ne- nhures; adentro; afora; alhures; aquém; embaixo; exter- namente; a distância; a distância de; de longe; de perto; em cima; à direita; à esquerda; ao lado; em volta, etc. § De tempo: hoje; logo; primeiro; ontem; tarde; outro- ra; amanhã; cedo; depois; ainda; antigamente; antes; doravante; nunca; então; ora; jamais; agora; sempre; já; enfim; afinal; amiúde; breve; constantemente; imediata- mente; primeiramente; provisoriamente; sucessivamente; às vezes; à tarde; à noite; de manhã; de repente; de vez em quando; de quando em quando; a qualquer momen- to; de tempos em tempos; em breve; hoje em dia, etc. § De modo: bem; mal; assim; melhor; pior; depressa; de- balde; devagar; às pressas; às claras; às cegas; à toa; à vontade; às escondidas; aos poucos; desse jeito; desse modo; dessa maneira; em geral; frente a frente; lado a lado; a pé; de cor; em vão; e a maior parte dos que termi- nam em ”–mente”: calmamente; tristemente; proposi- tadamente; pacientemente; amorosamente; docemente; escandalosamente; bondosamente; generosamente, etc. § De afirmação: sim; certamente; realmente; decerto; efetivamente; certo; decididamente; deveras; indubita- velmente, etc. § De negação: não; nem; nunca; jamais; de modo algum; de forma alguma; tampouco; de jeito nenhum, etc. § De dúvida: acaso; porventura; possivelmente; provavel- mente; talvez; casualmente; por certo; quem sabe, etc. § De intensidade: muito; demais; pouco; tão; em exces- so; bastante; mais; menos; demasiado; quanto; quão; tanto; que (quão); tudo; nada; todo; quase; de todo; de muito; por completo; extremamente; intensamente; grandemente; bem (aplicado a propriedades graduá- veis), etc. § Interrogativos: onde; aonde; donde; quando; como; por que; empregados em interrogações diretas ou indi- retas – entende-se por interrogações diretas aquelas em que as palavras em destaque iniciam uma frase interro- gativa. As interrogações indiretas, por sua vez, são aque- las em que os termos destacados não iniciam a frase. Interrogação direta Interrogação indireta Como isso aconteceu? Queria saber como isso aconteceu. Onde ela mora? Precisava saber onde ela mora. Por que ela não veio? Quero entender por que ela não veio. Aonde você vai? Quero saber aonde você vai. Donde vem esse rapaz? Necessito entender donde vem esse rapaz. Quando que chega a carta? Quero saber quando chega a carta. Locuções adverbiais Locuções adverbiais são expressões formadas a partir de duas ou mais palavras que exercem função adverbial. Em geral, são constituídas por uma preposição seguida de ou- tra palavra, como substantivo, advérbio ou verbo, que seja capaz de indicar a circunstância. § De lugar: à esquerda; à direita; de longe; de perto; para dentro; por aqui, etc. § De afirmação: por certo; sem dúvida, etc. § De modo: às pressas; passo a passo; de cor; em vão; em geral; frente a frente, etc. § De tempo: à noite; de dia; de vez em quando; à tarde; hoje em dia; nunca mais, etc. Amanhã precisarei acordar cedinho. Ela mora pertinho daqui. O advérbio aplicado ao texto Em relação aos advérbios aplicados ao texto, existe uma gradação semântica entre os advérbios frásicos e advérbios extrafrásicos, além da distribuição de advérbios modais (terminados em –mente). § Advérbios frásicos: são aqueles que se relacionam com um elemento específico da frase. Não apresentam mar- cas de deslocamento (vírgulas). Exemplo: O veículo corre muito. § Advérbios extrafrásicos: são aqueles exteriores à frase, que estão no âmbito da enunciação e, geralmente, des- locados por vírgula. 10 Exemplo: Ele, infelizmente, não jogou bem hoje. Observação: os advérbios extrafrásicos atuam como elementos de avaliação do enunciador acerca do conteúdo enunciado. § Distribuição textual de advérbios modais (mais de um advérbio terminado em “–mente”) Quando ocorre uma frase que congrega mais de um advérbio terminado em “–mente”, deve-se fazer a con- tração dos advérbios centrais (retirar o termo “– men- te”) e preservar apenas o último advérbio flexionado. Errado: Ele saiu calmamente, sorrateiramen- te e rapidamente. Certo: Ele saiu calma, sorrateira e rapidamente. pronome Pronome é a palavra variável que identifica os participantes da interlocução (pessoas do discurso), os seres e objetos no mundo, além de eventos ou situações aos quais o dis- curso faça referência. Em geral, os pronomes, operam em conjunto com os subs- tantivos (nomes), podendo substituí-los, referenciá-los ou, ainda, acompanhá-los em um processo qualificativo. Pronomes pessoais Os pronomes pessoais são aqueles que substituem os substantivos. Eles se caracterizam por evidenciar as três pessoas do discurso. Para designar a pessoa que fala (1ª pessoa), são usados os pronomes eu (singular) e nós (plu- ral). Para marcar a pessoa com quem se fala (2ª pessoa), são utilizados os pronomes tu (singular) e vós (plural). Por fim, para apontar a pessoa de quem se fala (3ª pessoa), são utilizados ele(s) e ela(s). De acordo com o posicionamento nos processos sintáticos, os pronomes pessoais podem funcionar como: § Caso reto: são pronomes pessoais que, em uma cons- trução sintática, ocupam a posição de sujeito ou de predicativo do sujeito. Exemplos: Eu fiquei bastante chateado. (sujeito) O encarregado do projeto sou eu. (predicativo do sujeito) § Caso oblíquo: são pronomes pessoais que, em uma construção sintática, ocupam a posição de comple- mento verbal (objeto direto ou indireto) ou complemento nominal. Exemplo: Compraram-nos alguns presentes. (O pronome é complemento do verbo comprar.) pronomes possessivos São pronomes que acrescentam à pessoa gramatical a ideia de posse sobre algo. Exemplo: Este dinheiro é meu. pronomes demonstrativos Os demonstrativos são utilizados para situar, no espaço e no tempo, a pessoa ou a coisa designada. O aspecto funda- mental dos pronomes demonstrativos é sua capacidade de indicar um objeto sem nomeá-lo. Também evidenciam o po- sicionamento de uma palavra em relação a outras palavras ou em relação a um contexto. Esses processos ocorrem em relações espaciais, temporais e sintáticas. § Os pronomes demonstrativos dividem-se em dois gru- pos: os variáveis e os invariáveis. § Variáveis: este(s), esta(s), esse(s), essa(s), aquele(s), aquela(s). § Invariáveis: isto, isso, aquilo. Relações espaciais § Os pronomes este, esta e isto indicam que o item/ objeto está perto de quem fala. PRONOMES PESSOAIS PRONOMES DEMONSTRATIVOS E POSSESSIVOS 11 Exemplo: Usarei este lápis (aqui) mesmo. § Os pronomes esse, essa e isso indicam que o item/ objeto está perto da pessoa a quem se fala. Exemplo: Usarei esse lápis (aí) mesmo. §Os pronomes aquele, aquela e aquilo indicam que o item/objeto está afastado tanto de quem fala como da pessoa a quem se fala. Exemplo: Usarei aquele lápis (ali) mesmo. Relações temporais § O pronome este e suas variantes são utilizados para indicar tempo presente em relação ao momento em que se fala. Exemplo: Esta noite eu vou ao shopping / Neste mês chove bastante. § O pronome esse e suas variantes são utilizados para indicar tempo futuro ou passado recente em relação ao momento em que se fala. Exemplo (futuro): Nessa reunião definiremos os parâmetros de venda. Exemplo (passado): Esse aumento da crise ocorreu em todos os países da América do Sul. § O pronome aquele e suas variantes são utilizados para indicar tempo passado distante em relação ao momento em que se fala. Exemplo: Naquela época ainda havia telefones de rua, chamados de orelhões. / Aquelas praças costumavam ser seguras. Relações Sintáticas § O pronome este e suas variantes são utilizados para anunciar/adiantar o que será dito na sequência frasal ou para remeter a um termo imediatamente anterior (recém-mencionado). Exemplo (anunciando informação): O maior problema está neste relatório: ele não dá conta de explicar todos os problemas. Exemplo (retomando termo recente): Não sei se eu adquiro uma moto ou um carro. Acho que este (último = carro) é um pouco mais seguro. § O pronome esse e suas variantes são utilizados para retomar um termo, uma ideia ou uma oração já mencionados. Exemplo: Duas vezes por ano, o Sol atinge sua maior declinação em latitude. Esse fenômeno é conhecido como solstício. § O pronome aquele e suas variantes são utilizados para retomar um termo mais distante entre dois apresenta- dos em uma sentença (em geral, ele é trabalhado em conjunto com o pronome este, que retomará o item mais próximo). Exemplo: Na empresa há dois funcionários que se destacam: Pedro e Rogério. Este pela sua or- ganização, e aquele pela sua eficiência. pronomes indefinidos Os pronomes indefinidos fazem referência à 3a pessoa do dis- curso, dando-lhe caráter indeterminado, vago ou impreciso. Exemplo: Alguém quebrou os copos da cristaleira. Nota-se que o termo alguém refere-se a uma terceira pes- soa (de quem se fala), mas não é possível atribuir identi- dade a essa pessoa, pois a informação é vaga e imprecisa. pronomes relativos Pronomes relativos são aqueles que se referem a nomes anteriormente mencionados (antecedentes), estabelecen- do com eles relação. Exemplo: A escola tem um calendário que pos- sui muitos feriados. No exemplo apresentado, o pronome “que” recupera o subs- tantivo calendário (o antecedente). Observação 1: Os pronomes que, o qual, os quais, a qual e as quais são equivalentes; no entanto, o pronome que é invariável, cabendo em qualquer circunstância, enquanto os demais necessitam de um substantivo já determinado. Exemplo: Esta é a garota com a qual conversei. Observação 2: Para evitar ambiguidades e outros pro- blemas de sentido, o pronome relativo onde deve ser uti- lizado para recuperar lugares físicos/localidades (regiões, cidades, ambientes, etc.). PRONOMES RELATIVOS, INTERROGATIVOS E INDEFINIDOS 12 Exemplo: Este é o armazém onde estocamos os produtos. Observação 3: O pronome relativo cujo não realiza a re- cuperação de um antecedente, mas aponta para uma rela- ção de posse com o consequente. Exemplo: A mulher cuja casa foi invadida já está em segurança. Observação 4: O pronome quem faz referência a pesso- as e ocorre sempre precedido de preposição. Exemplo: Aquele é o sujeito a quem devo mui- to dinheiro. pronomes interrogativos Os pronomes interrogativos são utilizados nas formulações de perguntas diretas ou indiretas. Fazem referência direta aos pronomes de 3ª pessoa. Os principais pronomes in- terrogativos são que, quem, qual e quanto (e suas va- riações). Entende-se como pergunta direta aquela em que o pronome interrogativo aparece no início do questiona- mento (há sinal de interrogação no fim da pergunta). A pergunta indireta, por sua vez, é aquela em que o pronome interrogativo aparece em outra posição na frase, e não no início (não há sinal de interrogação). Pergunta direta Pergunta indireta Quanto custou a reforma da casa? Gostaria de saber quanto custou a reforma da casa. 13 U.T.I. - Sala 1. (Fuvest 2018) Leia o texto. Um tema frequente em culturas variadas é o do desafio à ordem divina, a apropriação do fogo pelos mortais. Nos mitos gregos, Pro- meteu é quem rouba o fogo dos deuses. Diz Vernant que Prome- teu representa no Olimpo uma vozinha de contestação, espécie de movimento estudantil de maio de 1968. Zeus decide esconder dos homens o fogo, antes disponível para todos, mortais e imortais, na copa de certas árvores – os freixos – porque Prometeu tentara tape- á-lo numa repartição da carne de um touro entre deuses e homens. Na mitologia dos Yanomami, o dono do fogo era o jacaré, que cui- dadosamente o escondia dos outros, comendo taturanas assadas com sua mulher sapo, sem que ninguém soubesse. Ao resto do povo – animais que naquela época eram gente – eles só davam as taturanas cruas. O jacaré costumava esconder o fogo na boca. Os outros decidem fazer uma festa para fazê-lo rir e soltar as chamas. Todos fazem coisas engraçadas, mas o jacaré fica firme, no máxi- mo dá um sorrisinho. betty mIndlIn. o fogo e As chAmAs dos mItos. revIstA Estudos AvAnçAdos. AdAptAdo. a) O emprego do diminutivo nas palavras “vozinha” e “sorrisinho”, consideradas no contexto, produz o mes- mo efeito de sentido nos dois casos? Justifique. b) Reescreva o trecho “Os outros decidem fazer uma festa para fazê-lo rir (...). Todos fazem coisas engraça- das”, substituindo o verbo “fazer” por sinônimos ade- quados ao contexto em duas de suas três ocorrências. 2. (Unicamp 2018) Enquanto viveu em Portugal, o es- critor Mário Prata reuniu centenas de vocábulos e ex- pressões usados no português falado na Europa que são diferentes dos termos correspondentes usados no português do Brasil. Reproduzimos abaixo um dos ver- betes de seu dicionário. Descapotável É outra palavra que em português faz muito mais sentido do que em brasileiro. Não é mais claro dizer que um carro é descapotável, do que conversível? márIo prAtA. dicionário dE português: schifAizfAvoirE. são pAulo: globo, 1993, p. 48. a) Identifique os dois afixos que formam a palavra “des- capotável” a partir do substantivo “capota” (cobertura de um automóvel) e explique a função de cada um. b) Explique por que o autor considera, com certo humor, que a palavra “descapotável“ do português europeu faz mais sentido de que o termo “conversível”, usado no português brasileiro. 3. (Uerj 2018) MORTE E VIDA SEVERINA (AUTO DE NATAL PERNAMBUCANO) O retirante explica ao leitor quem é e a que vai — O meu nome é Severino, não tenho outro de pia. Como há muitos Severinos, que é santo de romaria, deram então de me chamar Severino de Maria; como há muitos Severinos com mães chamadas Maria, fiquei sendo o da Maria do finado Zacarias. Mas isso ainda diz pouco: há muitos na freguesia, por causa de um coronel que se chamou Zacarias e que foi o mais antigo senhor desta sesmaria. Como então dizer quem fala ora a Vossas Senhorias? Vejamos: é o Severino da Maria do Zacarias, lá da serra da Costela, limites da Paraíba. Mas isso ainda diz pouco: se ao menos mais cinco havia com nome de Severino filhos de tantas Marias mulheres de outros tantos, já finados, Zacarias, vivendo na mesma serra magra e ossuda em que eu vivia. Somos muitos Severinos iguais em tudo na vida: na mesma cabeça grande que a custo é que se equilibra, no mesmo ventre crescido sobre as mesmas pernas finas, e iguais também porque o sangue que usamos tem pouca tinta. E se somos Severinos iguais em tudo na vida, morremos de morte igual, mesma morte severina: que é a morte de que se morre de velhice antes dos trinta, de emboscada antes dos vinte, de fome um pouco por dia (de fraqueza e de doença é que a morte severina atacaem qualquer idade, e até gente não nascida). neto, João cAbrAl de melo. MortE E vidA sEvErinA E outros poEMAs EM voz AltA. rIo de JAneIro: José olympIo, 1980. O meu nome é Severino, não tenho outro de pia. (l. 2-3) E se somos SEVERINOS iguais em tudo na vida, morremos de morte igual, mesma morte SEVERINA: (l. 40-43) No poema, o autor lança mão da mudança de classe de palavras como recurso expressivo da criação poética. a) Com base nisso, indique a classe gramatical das pala- vras sublinhadas, na ordem em que aparecem. 14 b) Em seguida, explique o sentido que o termo severina assume na expressão “morte severina”, tendo em vista a representação que se faz do retirante. 4. (Uerj 2018) Ao oferecer-se para ajudar o cego, o homem que depois roubou o carro não tinha em mira, nesse momento preciso, qualquer inten- ção malévola, muito pelo contrário, o que ele fez não foi mais que obedecer àqueles sentimentos de generosidade e altruísmo que são, como toda a gente sabe, duas das melhores características do gênero humano, podendo ser encontradas até em criminosos bem mais empedernidos do que este, simples 1ladrãozeco de au- tomóveis sem esperança de avanço na carreira, explorado pelos verdadeiros donos do negócio, que esses é que se vão aprovei- tando das necessidades de quem é pobre. (...) Foi só quando já estava perto da casa do cego que a ideia se lhe apresentou com toda a naturalidade (...). Os cépticos acerca da natureza humana, que são muitos e teimosos, vêm sustentando que se é certo que a ocasião nem sempre faz o ladrão, também é certo que o ajuda muito. 2Quanto a nós, permitir-nos-emos pensar que se o cego tivesse aceitado o segundo oferecimento do afinal falso samarita- no, naquele derradeiro instante em que a bondade ainda poderia ter prevalecido, referimo-nos o oferecimento de lhe ficar a fazer companhia enquanto a mulher não chegasse, quem sabe se o efeito da responsabilidade moral resultante da confiança assim outorgada não teria inibido a tentação criminosa e feito vir ao de cima o que de luminoso e nobre sempre será possível encontrar mesmo nas almas mais perdidas. sArAmAgo, José. EnsAio sobrE A cEguEirA. são pAulo: compAnhIA dAs letrAs, 1995. O narrador de Ensaio sobre a cegueira emite uma opi- nião sobre o homem que roubou o carro ao chamá-lo de ladrãozeco (ref. 1). a) Considerando os diferentes tipos de narrador, clas- sifique o do romance de José Saramago. b) Em seguida, indique o processo de formação da pala- vra ladrãozeco e aponte o morfema responsável pela avaliação depreciativa que se faz do ladrão. 5. (Unesp 2018) Leia o poema de Murilo Mendes (1901- 1975). O pastor pianista Soltaram os pianos na planície deserta Onde as sombras dos pássaros vêm beber. Eu sou o pastor pianista, Vejo ao longe com alegria meus pianos Recortarem os vultos monumentais Contra a lua. Acompanhado pelas rosas migradoras 1Apascento os pianos: gritam E transmitem o antigo clamor do homem Que reclamando a contemplação, Sonha e provoca a harmonia, Trabalha mesmo à força, E pelo vento nas folhagens, Pelos planetas, pelo andar das mulheres, Pelo amor e seus contrastes, Comunica-se com os deuses. (As metAmorfoses, 2015) 1apascentar: vigiar no pasto; pastorear. a) Explique por que se pode afirmar que o verso inicial desse poema opera uma perturbação ou quebra do discurso lógico. b) Sem prejuízo para o sentido dos versos, que expressões poderiam substituir os termos “onde” (2º verso da 1ª es- trofe) e “pelo” (4º verso da 3ª estrofe), respectivamente? u.t.i. - e.o. 1. (Unesp) A questão a seguir toma por base um poema de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987). Fuga De repente você resolve: fugir. Não sabe para onde nem como nem por quê (no fundo você sabe a razão de fugir; nasce com a gente). É preciso FUGIR. Sem dinheiro sem roupa sem destino. Esta noite mesmo. Quando os outros estiverem dormindo. Ir a pé, de pés nus. Calçar botina era acordar os gritos que dormem na textura do soalho1. Levar pão e rosca; para o dia. Comida sobra em árvores infinitas, do outro lado do projeto: um verdor eterno, frutescente (deve ser). Tem à beira da estrada, numa venda. O dono viu passar muitos meninos que tinham necessidade de fugir e compreende. Toda estrada, uma venda para a fuga. Fugir rumo da fuga que não se sabe onde acaba mas começa em você, ponta dos dedos. Cabe pouco em duas algibeiras2 e você não tem mais do que duas. Canivete, lenço, figurinhas de que não vai se separar (custou tanto a juntar). As mãos devem ser livres para pesos, trabalhos, onças que virão. Fugir agora ou nunca. Vão chorar, vão esquecer você? ou vão lembrar-se? (Lembrar é que é preciso, compensa toda fuga.) Ou vão amaldiçoá-lo, pais da Bíblia? 15 Você não vai saber. Você não volta nunca. (Essa palavra nunca, deliciosa.) Se irão sofrer, tanto melhor. Você não volta nunca nunca nunca. E será esta noite, meia-noite. em ponto. Você dormindo à meia-noite. (menIno AntIgo, 1973) 1soalho: o mesmo que “assoalho”. 2algibeira: bolso de roupa. a) Identifique uma forma verbal e um substantivo que, bas- tante retomados ao longo do poema, ilustram seu tema. b) Em seguida, valendo-se dessa informação, explique a oposição entre o último verso e o restante do poema. 2. (Uerj) Inocência Depois das explicações dadas ao seu hóspede, sentiu-se o mineiro mais despreocupado. — Então, disse ele, se quiser, vamos já ver a nossa doentinha. — Com muito gosto, concordou Cirino. E, saindo da sala, acompanhou Pereira, que o fez passar por duas cercas e rodear a casa toda, antes de tomar a porta do fundo, fron- teira a magnífico laranjal, naquela ocasião todo pontuado das bran- cas e olorosas flores. 1— Neste lugar, disse o mineiro apontando para o pomar, todos os dias se juntam tamanhos bandos de graúnas, que é um barulho dos meus pecados. Nocência gosta muito disso e vem sempre coser debaixo do arvoredo. É uma menina esquisita... Parando no limiar da porta, continuou com expansão: 2— Nem o Sr. imagina... Às vezes, aquela criança tem lembranças e perguntas que me fazem embatucar... Aqui, havia um livro de horas da minha defunta avó... Pois não é que 3um belo dia ela me pediu que lhe ensinasse a ler? ... Que ideia! Ainda há pouco tempo me disse que quisera ter nascido princesa... Eu lhe retruquei: E sabe você o que é ser princesa? Sei, me secundou ela com toda a clareza, é uma moça muito boa, muito bonita, que tem uma coroa de diamantes na cabeça, muitos lavrados no pescoço e que manda nos homens... Fiquei meio tonto. 4E se o Sr. visse os modos que tem com os bichinhos?! ... Parece que está falando com eles e que os entende... (...) Quando Cirino pe- netrou no quarto da filha do mineiro, era quase noite, de maneira que, no primeiro olhar que atirou ao redor de si, só pôde lobrigar, além de diversos trastes de formas antiquadas, uma dessas camas, muito em uso no interior; altas e largas, feitas de tiras de couro engradadas. (...) Mandara Pereira acender uma vela de sebo. Vinda a luz, aproxima- ram-se ambos do leito da enferma que, achegando ao corpo e pu- xando para debaixo do queixo uma coberta de algodão de Minas, se encolheu toda, e voltou-se para os que entravam. — Está aqui o doutor, disse-lhe Pereira, que vem curar-te de vez. — Boas noites, dona, saudou Cirino. Tímida voz murmurou uma resposta, ao passo que o jovem, no seu papel de médico, se sentava num escabelo junto à cama e tomava o pulso à doente. Caía então luz de chapa sobre ela, iluminando-lhe o rosto, parte do colo e da cabeça, coberta por um lenço vermelho atado por trás da nuca. Apesar de bastante descorada e um tanto magra, era Inocência de beleza deslumbrante. Do seu rosto, irradiava singela expressão de encantadora ingenuida- de, realçada pela meiguice do olhar sereno que, a custo, parecia coar por entre os cílios sedosos a franjar-lhe as pálpebras, e compridos a ponto de projetarem sombras nas mimosas faces. Era o nariz fino, um bocadinho arqueado; a boca pequena, e o quei- xo admiravelmente torneado.Ao erguer a cabeça para tirar o braço de sob o lençol, descera um nada a camisinha de crivo que vestia, deixando nu um colo de fas- cinadora alvura, em que ressaltava um ou outro sinal de nascença. Razões de sobra tinha, pois, o pretenso facultativo para sentir a mão fria e um tanto incerta, e não poder atinar com o pulso de tão gentil cliente. vIsconde de tAunAy. inocênciA. são pAulo: átIcA, 2011. graúna – pássaro de plumagem negra, canto me- lodioso e hábitos eminentemente sociais livro de horas – livro de preces secundou – respondeu lavrados – na província de Mato Grosso, cola- res de contas de ouro e adornos de ouro e prata lobrigar – enxergar escabelo – assento facultativo – médico — Neste lugar, disse o mineiro apontando para o pomar, todos os dias se juntam tamanhos bandos de graúnas, que é um barulho dos meus pecados. Nocência gosta muito disso e vem sempre coser de- baixo do arvoredo. (ref. 1) Nesta passagem, há duas palavras, de mesma classifica- ção gramatical, empregadas pelo locutor para indicar a proximidade ou distância do elemento a que se referem. a) Cite essas palavras e identifique sua classificação gramatical. b) Transcreva o trecho em que uma dessas palavras se refere a uma informação presente no próprio texto. 3. (G1 CP2) ANTIGUIDADES (fragmento) Quando eu era menina bem pequena, em nossa casa, certos dias da semana se fazia um bolo, assado na panela com um 1testo de 2borralho em cima. Era um bolo econômico, como tudo, antigamente. Pesado, grosso, pastoso. (Por sinal que muito ruim.) Eu era menina em crescimento. Gulosa, abria os olhos para aquele bolo que me parecia tão bom e tão gostoso. A gente mandona lá de casa cortava aquele bolo com importância. Com atenção. 16 Seriamente. Com vontade de comer o bolo todo. Era só olhos e boca e desejo daquele bolo inteiro. Minha irmã mais velha governava. 3Regrava. Me dava uma fatia, tão fina, tão delgada... E fatias iguais às outras 4manas. E que ninguém pedisse mais! E o bolo inteiro, quase intangível, se guardava bem guardado, com cuidado, num armário, alto, fechado, impossível. corA corAlInA. melhores poemAs. 2. ed. são pAulo: globAl, 2004. 1testo: camada; 2borralho: brasido coberto de cinzas; cinzas quentes, rescaldo; 3regrar: traçar linhas ou regras sobre; 4mana: irmã; Na terceira estrofe, o eu lírico caracteriza a si mesmo, quando criança, por meio de um adjetivo. a) Transcreva esse adjetivo. b) Copie o verso por meio do qual o eu lírico justifica essa sua característica. 4. (G1 CP2) A POLÊMICA DA USINA DE BELO MONTE (fragmento) A polêmica em torno da construção da usina de Belo Monte na Ba- cia do Rio Xingu, em sua parte paraense, já dura mais de 20 anos. Entre muitas idas e vindas, a hidrelétrica de Belo Monte, hoje con- siderada a maior obra do Programa de Aceleração do Crescimen- to (PAC), do governo federal, vem sendo alvo de intensos debates na região, desde 2009, quando foi apresentado o novo Estudo de Impacto Ambiental (EIA) intensificando-se a partir de fevereiro de 2010, quando o MMA [Ministério do Meio Ambiente] concedeu a licença ambiental prévia para sua construção. Os movimentos sociais e lideranças indígenas da região são con- trários à obra porque consideram que os impactos socioambientais não estão suficientemente dimensionados. Em outubro de 2009, por exemplo, um painel de especialistas debruçou-se sobre o EIA e questionou os estudos e a viabilidade do empreendimento. Um mês antes, em setembro, diversas audiências públicas haviam sido realizadas sob uma saraivada de críticas, especialmente do Mi- nistério Público Estadual, seguido pelos movimentos sociais, que apontava problemas em sua forma de realização. Ainda em outubro, a Funai [Fundação Nacional do Índio] liberou a obra sem saber exatamente que impactos causaria sobre os índios e lideranças indígenas kayapó enviaram carta ao Presidente Lula na qual diziam que, caso a obra fosse iniciada, haveria guerra. Para culminar, em fevereiro de 2010, o Ministério do Meio Ambiente con- cedeu a licença ambiental, também sem esclarecer questões centrais em relação aos impactos socioambientais. (...) Exemplos infelizes como a construção das usinas hidrelétricas de Tu- curuí (PA) e Balbina (AM), as últimas construídas na Amazônia, nas décadas de 1970 e 1980, estão aí de prova. Desalojaram comunidades, inundaram enormes extensões de terra e destruíram a fauna e flora daquelas regiões. Balbina, a 146 quilômetros de Manaus, significou a inundação da reserva indígena Waimiri-Atroari, mortandade de peixes, escassez de alimentos e fome para as populações locais. A contrapar- tida, que era o abastecimento de energia elétrica da população local, não foi cumprida. O desastre foi tal que, em 1989, o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), depois de analisar a situação do Rio Uatumã, onde a hidrelétrica fora construída, concluiu por sua morte biológica. Em Tucuruí não foi muito diferente. Quase dez mil famílias ficaram sem suas terras, entre indígenas e ribeirinhos. Diante desse quadro, em relação à Belo Monte, é preciso questionar a forma antide- mocrática como o projeto vinha sendo conduzido, a relação custo-be- nefício da obra, o destino da energia a ser produzida e a inexistência de uma política energética para o país, que privilegie energias alternativas. (...) A persistência governamental em construir Belo Monte está baseada numa sólida estratégia de argumentos dentro da lógica e vantagens comparativas da matriz energética brasileira. Os rios da margem direi- ta do Amazonas têm declividades propícias à geração de energia, e o Xingu se destaca, também, pela sua posição em relação às frentes de expansão econômica (predatória) da região central do país. O dese- nho de Belo Monte foi revisto e os impactos reduzidos em relação à proposta da década de 80. O lago, por exemplo, inicialmente previsto para ter foi reduzido, depois do encontro, para Os socioambientalistas, entretanto, estão convencidos de que além dos impactos diretos e in- diretos, Belo Monte é um cavalo de 1troia, porque outras barragens virão depois, modificando totalmente e para pior a vida na região. fonte: <www.socIoAmbIentAl.org/esp/bm/Indez. Asp>. Acesso em: 24 out. 2011. 1Cavalo de Troia – A lenda do Cavalo de Troia diz que os gregos deram de presente aos troianos um grande cavalo de madeira como sinal de que estavam desistindo da guerra. O cavalo, porém, escondia, em seu interior, soldados gregos, que, durante a noite, saíram e abriram os portões de Troia para o exército grego. Este invadiu e dominou a cidade. Para expressar seu pessimismo com as mudanças pro- postas, o autor propõe uma equivalência entre o adjetivo econômica e um outro adjetivo. Que adjetivo é esse e de que maneira ele produz tal efeito? Textos para a próxima questão Texto I – ETNIA (fragmento) Somos todos juntos uma miscigenação E não podemos fugir da nossa etnia Todos juntos uma miscigenação E não podemos fugir da nossa etnia Índios, brancos, negros e mestiços Nada de errado em seus princípios O seu e o meu são iguais Corre nas veias sem parar Costumes, é folclore, é tradição Capoeira que rasga o chão Samba que sai da favela acabada É hip hop na minha embolada [...] 1Maracatu 2psicodélico Capoeira da pesada Bumba meu rádio 3Berimbau elétrico 17 Frevo, samba e cores Cores unidas e alegria Nada de errado em nossa etnia. lucIo mAIA e chIco scIence. In: <http://vAgAlume. com.br/ chIcoscIence-nAção-zumbI/etnIAhtml>. 1 Maracatu: dança e música de origem africana, em que se executam pas- sos e sapateados ao som de violas, flautas, cuícas, chocalhos, pandeiros etc. 2 Psicodélico: que remete a coisas muito coloridas. 3 Berimbau: instrumento musical usado na capoeira. Texto II – Na Bélgica, presidenta destaca diversidade cultural brasileira Na abertura do Festival 1Europalia, em Bruxelas, a presidenta Dilma Rousseff fez uma homenagem à diversidade cultural do Brasil, que es- tará presente em manifestaçõesartísticas e culturais na capital da Bél- gica. Segundo ela, são exposições desde a pré-colonização até a “van- guarda mais experimental em mais de 400 atividades envolvendo as mais variadas linguagens artísticas e manifestações regionais do país”. Para a presidenta Dilma, a cultura é a expressão maior da alma de uma sociedade e, no momento em que o mundo precisa reaprender a importância do diálogo, o Brasil e a América do Sul têm a oferecer a capacidade de conviver em paz nessa diversidade. “A diversidade cultural do Brasil integra nossas raízes históricas. 2Somos um país mestiço, no qual migrantes de todas as regiões do mundo somam-se às três matrizes onde surgiram o povo brasileiro: a indígena, a europeia e a africana. Eis uma mistura que nos orgulha e define. 3Os brasileiros orgulham-se muito de seu patrimônio cultural e de suas tradições populares, mas também ousam reinventá-los e reinterpretá-los. Mostraremos aqui, na Europalia, 4um pouco dessa cultura viva em movimento permanente.” 5A presidenta avaliou ainda que o Festival Europalia poderá contri- buir para que a Europa supere “os percalços do momento”. Além disso, acrescentou, “é mais um passo no aprofundamento do co- nhecimento mútuo, fundamental para a construção do mundo mais democrático, aberto e plural que todos queremos”. dIsponível em: <blog.plAnAlto.gov.br>. Acesso em: 4 out. 2011. 1 Europalia: Festival Internacional de Cultura da Eu- ropa, que homenageia, este ano, o Brasil. “SOMOS UM PAÍS MESTIÇO (...)” (TEXTO II, REF. 2) 5. Que substantivo do texto I tem sentido semelhante ao do adjetivo do trecho acima? 6. (Uerj) AUTORRETRATO FALADO Venho de um Cuiabá garimpo e de ruelas entortadas. Meu pai teve uma venda de bananas no Beco da Marinha, onde nasci. Me criei no Pantanal de Corumbá, entre bichos do chão, pessoas humildes, aves, árvores e rios. Aprecio viver em lugares decadentes por gosto de estar entre pedras e lagartos. Fazer o desprezível ser prezado é coisa que me apraz. Já publiquei 10 livros de poesia; ao publicá-los me sinto como que desonrado e fujo para o Pantanal onde sou abençoado a garças. Me procurei a vida inteira e não me achei – pelo que fui salvo. Descobri que todos os caminhos levam à ignorância. Não fui para a sarjeta porque herdei uma [fazenda de gado. Os bois me recriam. Agora eu sou tão ocaso! Estou na categoria de sofrer do moral, porque só faço coisas inúteis. No meu morrer tem uma dor de árvore. mAnoel de bArros. poEsiA coMplEtA. são pAulo: leyA, 2010. Já publiquei 10 livros de poesia; ao publicá--los me sinto como que desonrado e fujo para o Pantanal ONDE sou abençoado a garças. a) A palavra “onde”, destacada acima, remete a um ter- mo anteriormente expresso. Transcreva esse termo. b) Nomeie também a classe gramatical de “onde”, sub- stitua-a por uma expressão equivalente e indique seu valor semântico. 7. (G1 CP2) A DEVASTAÇÃO, UMA HERANÇA PARA AS FUTURAS GERAÇÕES Quando fecho os olhos à noite, onde quer que esteja, minha mente volta com frequência ao passado, à época em que o recém-constru- ído Calypso flutuava sob o céu do Mediterrâneo. O barco foi meu lar durante a infância, embora nunca tivesse nele um local só para mim. Eu dormia num beliche diferente todas as noites, às vezes com mi- nha mãe, às vezes com meu pai, e algumas vezes dentro da gaveta da cômoda. O Calypso foi minha identidade infantil. Tive sorte: o barco de meu pai foi minha base, o começo de meu futuro. À medida que o Calypso percorria os mares do mundo, ele passou a abarcar a filosofia de que a vida em nosso planeta é frágil, e sua beleza, embora aclamada, é perecível. Meu pai imbuiu em mim a convicção de que não somos donos dos recursos do mundo, apenas seus administradores. Somos responsá- veis pela proteção daquilo que legaremos a nossos sucessores. Hoje, tento viver por essa cartilha, mas em minhas viagens me dou conta de quão raramente os adultos pensam nas gerações futuras. No mundo inteiro, vemos pais que parecem pouco se importar com a condição do planeta que seus filhos herdarão. Poluímos os rios e mananciais que serão a fonte de água potável de nossos filhos, interferimos com a camada de ozônio, que pro- tege nossos filhos contra os perigosos raios solares. Pusemos em andamento o que parece ser um perigoso aquecimento da Terra, ameaçando nossos filhos com a seca e a calamidade. As crianças por nascer não podem se pronunciar, mas nem por isso somos menos responsáveis por gerações que não conhecemos. [...] Atentem para o caso, agora clássico, de Wezip Alolum, que tem que ver simplesmente com a lama. Alolum, habitante da aldeia Jobto, na província papua de Madang, era dono de terras com matas nas quais havia um poço de lama. Durante gerações sua família ganhou a vida trocando bolas de lama e potes de lodo barrento por alimentos. O poço, sua herança, lhe fora confiado intacto por seus ancestrais. Um dia chegaram estrangeiros, que lhe pediam permissão para abater árvores nas terras de sua família. “Você não precisa mais de lama, agora que tem dinheiro”, disseram. Alolum hesitou, mas finalmente concordou. 18 Contudo, ele não percebera que a companhia pretendia abater ou quei- mar todas as árvores, não deixando nenhuma para o replantio. Nunca lhe passara pela cabeça que a companhia trataria a terra sem o menor respeito por seu futuro. Não demorou para que todas as árvores desa- parecessem e, com a resultante erosão, o poço de lama fosse afetado. Seu barro ficou arruinado, seco demais para ser utilizado. Pouco de- pois, o dinheiro de Alolum acabou. Sem lama, pela primeira vez na história de sua família ele estava pobre. Alolum procurou a companhia florestal, exigindo que o reembolsas- se pela perda do poço, mas quem paga compensação por lama? No entanto para Wezip Alolum o poço de lama representava o capital herdado de seus antepassados. Ele fora dono e administrador, mas agora não tinha nada para deixar para seus filhos, e o ciclo de sua família fora rompido. Alolum foi vítima da falta de visão ao trocar recursos por dinheiro. Mas o que dizer de nós? Ao desperdiçarmos recursos naturais não estamos nos comportando irresponsavelmente em relação a nossos filhos? Quando perceberem que lhes legamos um sem-número de perigos ambientais, um inventário de recursos completamente exau- rido, o que pensarão de nós, a despeito de nossa tendência a lhes comprar o que há de melhor ao nosso alcance? O Calypso foi mais que um presente da infância. Ele continua sen- do uma herança para mim, um lembrete de continuidade e o ideal de herança combinada com responsabilidade. Ele é um documento vivo, minha Constituição do amanhã. Talvez, se modificarmos nossos modos, uma Constituição global pro- teja um dia o ar, a água, as florestas e a vida selvagem – nossa heran- ça natural – para futuras gerações. Nossos filhos talvez a escrevam. JeAn-mIchel cousteAu, em reportAgem publIcAdA no JornAl dA tArdE Releia o seguinte trecho do texto: “Meu pai imbuiu em mim a convicção de que não somos donos dos recursos naturais do mundo, APENAS seus administradores.” Reescreva-o, substituindo o termo sublinhado por outro que mantenha o mesmo sentido. 8. (Fuvest) Leia a seguinte fala, extraída de uma peça teatral, e responda ao que se pede. Odorico – Povo sucupirano! Agoramente já investido no cargo de Pre- feito, aqui estou para receber a confirmação, ratificação, a autentica- ção e, por que não dizer, a sagração do povo que me elegeu. dIAs gomes. o bEM-AMAdo: fArsA sócio-político-pAtológicA EM 9 quAdros. a) A linguagem utilizada por Odorico produz efeitos humorísticos. Aponte um exemplo que comprove essa afirmação. Justifique sua escolha. b) O que leva Odorico a empregar a expressão ”por que não dizer”, para introduzir o substantivo ”sagração”? 9. (Uerj) INFÂNCIA Meu pai montava a cavalo, ia para o campo. Minha mãe ficava sentada cosendo. Meu irmão pequeno dormia. Eu sozinho menino entre mangueiras lia a história de Robinson Crusoé, compridahistória que não acaba mais. 1No meio-dia branco de luz uma voz que aprendeu a ninar nos longes da senzala – e nunca se esqueceu chamava para o café. Café preto que nem a preta velha café gostoso café bom. Minha mãe ficava sentada cosendo olhando para mim: — Psiu... Não acorde o menino. Para o berço onde pousou um mosquito. E dava um suspiro... que fundo! 2Lá longe meu pai campeava no mato sem fim da fazenda. E eu não sabia que minha história era mais bonita que a de Robinson Crusoé. cArlos drummond de AndrAde. poEsiA coMplEtA. rIo de JAneIro: novA AguIlAr, 2002. No meio-dia branco de luz uma voz que aprendeu a ninar nos LONGES da senzala – e nunca se esqueceu (ref. 1) Lá LONGE meu pai campeava no mato sem fim da fazenda. (ref. 2) Classifique gramaticalmente as palavras sublinhadas e aponte a diferença de sentido entre elas. 10. (Unicamp) UM CHAMADO JOÃO João era fabulista? fabuloso? fábula? Sertão místico disparando no exílio da linguagem comum? Projetava na gravatinha a quinta face das coisas inenarrável narrada? Um estranho chamado João para disfarçar, para farçar o que não ousamos compreender? (...) Mágico sem apetrechos, civilmente mágico, apelador de precípites prodígios acudindo a chamado geral? (...) Ficamos sem saber o que era João e se João existiu deve pegar. cArlos drummond de AndrAde, em corrEio dA MAnhã, 22/11/1967, publIcAdo em rosA, J.g. sAgArAnA. rIo de JAneIro: novA fronteIrA, 2001. a) No título, ”chamado” sintetiza dois sentidos com que a palavra aparece no poema. Explique esses dois senti- dos, indicando como estão presentes nas passagens em que ”chamado” se encontra. b) Na primeira estrofe do poema, ”fábula” é derivada em ”fabulista” e ”fabuloso”. Mostre de que modo a forma- ção morfológica e a função sintática das três palavras con- tribuem para a formação da imagem de Guimarães Rosa. 19 INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS 20 A teoria das funções da linguagem afirma que a lingua- gem apresenta funções mais amplas do que simplesmen- te as de caráter informativo. Nesse sentido, os sistemas comunicativos seriam pautados por seis funções da lin- guagem, que seriam determinadas a partir de um “foco” (ou uma ênfase) que recai em pontos específicos da men- sagem observada. As funções seriam as seguintes: § Emotiva ou expressiva: foco no emissor, locutor ou enunciador (a pessoa que fala ou escreve); § Apelativa ou conativa: foco no receptor ou interlo- cutor (a pessoa para quem se fala ou escreve, ou, em algumas abordagens, aquele com quem se conversa); § Referencial ou denotativa: foco no contexto ou na referência de mundo (o assunto, situação ou objeto so- bre o qual se fala); § Fática ou de contato: foco no canal de comunicação ou a partir da abertura de contato (físico ou psicológi- co) com terceiros; § Poética: foco nos modos de elaboração da mensagem e do texto que a compõe; § Metaliguística: foco no código comunicativo (nas bases prévias de comunicação, sejam elas verbais ou não verbais). A variação linguística é a diversificação dos sistemas de uma língua em relação às possibilidades de mudança de seus ele- mentos (vocabulário, fonologia, morfologia, sintaxe). Linguagem formal versus linguagem informal a. Norma culta/padrão: é a denominação dada à varieda- de linguística dos membros da classe social de maior prestí- gio dentro da classe literária. Observação: não se trata da única forma correta. b. Linguagem informal/popular: é a denominação dada à variedade linguística utilizada no cotidiano e que não exige a observância total da gramática. Língua falada versus língua escrita a. Língua falada/oral: dispõe de um número incontável de recursos rítmicos e melódicos – entonação, pausas, ritmo, flu- ência, gestos – porque, claro, o emissor (pessoa que fala ou transmite uma mensagem numa dada linguagem) está pre- sente fisicamente. Algumas das características principais são: § frequência da ocorrência de repetições, hesitações e bordões de fala (“Pois, eu aaa... eu acho que... pronto, não sei...“, “Cara, o que é isso, cara?“); § frases curtas; § frases inacabadas, porque foram cortadas ou inter- rompidas; § uso frequente da omissão de palavras; Exemplo: Eu vou com minha mãe e com meu pai; em- presta o seu caderno? § formas contraídas; Exemplo: prof, med, refri, facul § afastamento das regras gramaticais; Exemplo: Eu vi ele. § possibilidade de adequar o discurso de acordo com as reações dos ouvintes. b. Língua escrita: recorre a sinais de pontuação e de acentuação para exprimir os recursos rítmicos e melódicos da oralidade: § uso de descrições ricas; § obedece às regras gramaticais com maior rigor; § sinais de pontuação e acentuação para transmitir a ex- pressividade oral; § frases longas, apesar de também poder usar frases curtas; § uso de vocabulário mais amplo e cuidadoso; § conectivos e estruturas sintáticas para garantir a coe- são textual. FUNÇÕES DA LINGUAGEM VARIAÇÃO LINGUÍSTICA 21 Variação diatópica Também conhecida como variação regional ou variação geográfica, ocorre quando a linguagem apresenta va- riações de acordo com o espaço em que ela é operada. É por meio dessa variação que são estudados os so- taques ou dialetos interioranos (como o dialeto caipira). Variação diacrônica Também conhecida como variação histórica, ocorre quan- do a linguagem apresenta variações de acordo com o tem- po em que ela é operada. Parte-se do pressuposto que a linguagem é um sistema vivo e constantemente mutável. Variação diastrática Também conhecida como variação social, ocorre quando a linguagem apresenta variações por causa de dois fatores mais gerais: fatores socioeconômicos e uso de socioleto (na linguística, um socioleto é a variante de uma língua falada por um grupo social, uma classe social ou subcultura). Variação diafásica Também conhecida como variação situacional, ocorre quan- do a linguagem apresenta variações de acordo com o con- texto/situação em que ela é usada. É verificável quando um indivíduo, adaptado a um tipo de uso linguístico, é obrigado a fazer uma alteração momentânea em seu registro por cau- sa de uma situação de mundo específica. Variação diamésica Ocorre quando a linguagem apresenta variações de acordo com os diferentes “meios” em que ela é usada, entenden- do esses “meios” como espaços de uso oral da linguagem (fala) e uso escrito. Preconceito linguístico Denomina-se preconceito linguístico aquele gerado pelas diferenças linguísticas existentes dentro de um mes- mo idioma. Ele está associado a diferenças de base lin- guística, especialmente as regionais (envolvendo dialetos, socioletos, regionalismos, gírias e sotaques). Também é ge- rado em menor grau pelos outros tipos de variação. O preconceito linguístico tem sido muito praticado na atu- alidade (de modo voluntário e involuntário), sendo forte marcador de exclusão social. Não existe uma forma “certa“ ou “errada“ dos usos da língua e que o preconceito linguístico, gerado pela ideia de que existe uma única língua correta (baseada na gra- mática normativa), colabora com a prática da exclusão social. No entanto, é necessário lembrar que a língua é mutável e vai se adaptando ao longo do tempo de acordo com as ações dos falantes. Além disso, as regras da língua, determinada pela gramá- tica normativa, não incluem expressões populares e varia- ções linguísticas, como gírias, regionalismos, dialetos, etc. Figuras de palavra Também conhecidas como tropos (figuras em que ocorrem mudanças internas ou externas de significado), as figuras de palavra funcionam a partir da “realização de um em- préstimo“ de uma determinada palavra ou expressão que, por uma aproximação de sentidos, funciona de maneira específica dentro de um contexto determinado. Observe a seguir as principais figuras de palavra do português: 1. Metáfora 2. Comparação ou símile 3. Catacrese 4. Metonímia 5. Antonomásia ou perífrase 6. Sinestesia Figuras de sintaxe O objetivo das figuras sintáticas é dar maior expressivida-de ao significado geral de uma frase. As principais figuras sintáticas do português são as seguintes: 1. Hipérbato 2. Anáfora 3. Pleonasmo 4. Catáfora 5. Elipse 6. Zeugma 7. Silepse 8. Anacoluto 9. Polissíndeto FIGURAS DE LINGUAGEM 22 10. Assíndeto 11. Hipálage Figuras de som ou de harmonia As figuras de som ou de harmonia são aquelas formadas a partir de parâmetros sonoros da língua. São divididas da seguinte forma: 1. Aliteração 2. Assonância 3. Paronomásia 4. Onomatopeia Figuras de pensamento As figuras de pensamento são formadas a partir do empre- go de termos conotativos, contrariando a expectativa do ouvinte. As principais figuras de pensamento são: 1. Antítese 2. Paradoxo ou oximoro 3. Eufemismo 4. Ironia 5. Hipérbole 6. Prosopopeia ou personificação 7. Apóstrofe 8. Gradação 9. Quiasmo 10. Preterição U.T.I. - Sala 1. (Ufjf) Observe a charge abaixo: Agora, responda: a) Qual é a temática principal da charge acima? b) Quais são os elementos verbais e não verbais utilizados na charge para construir o seu significado? Justifique sua resposta por menção direta a esses elementos. 2. (G1 CP2) O SAL DA TERRA Anda! Quero te dizer nenhum segredo Falo nesse chão da nossa casa Vem que tá na hora de arrumar... Tempo! Quero viver mais duzentos anos Quero não ferir meu semelhante Nem por isso quero me ferir Vamos precisar de todo mundo Pra banir do mundo a opressão Para construir a vida nova Vamos precisar de muito amor A felicidade mora ao lado E quem não é tolo pode ver... A paz na Terra, amor O pé na terra A paz na Terra, amor O sal da... 23 Terra! És o mais bonito dos planetas Tão te maltratando por dinheiro Tu és a nave nossa irmã Canta! Leva tua vida em harmonia E nos alimenta com seus frutos Tu que és do homem, a maçã... Vamos precisar de todo o mundo Um mais um é sempre mais que dois Pra melhor juntar as nossas forças É só repartir melhor o pão Recriar o paraíso agora Para merecer quem vem depois... Deixa nascer o amor Deixa fluir o amor Deixa crescer o amor Deixa viver o amor beto guedes e ronAldo bAstos. dIsponível em: <http:// letrAs.terrA.com.br>. Acesso em: 05 dez. 2009. Na quinta estrofe do texto, o uso da linguagem colo- quial é evidente. Reescreva o verso que exemplifica a afirmação, empregando o registro formal. 3. (PUC-RJ) No começo de seu “Mercury; Ou: O Mensa- geiro Secreto e Rápido“ (1641), John Wilkins conta a seguinte história: O quanto 1essa Arte de escrever pareceu estranha quando da sua Invenção primeira é algo que podemos imaginar pelos Americanos recém-descobertos, que ficaram espantados ao ver Homens con- versarem com Livros, e não conseguiam acreditar que um Papel pudesse falar... Há um relato excelente a esse Propósito, referente a um Escravo Índio; que, ao ser mandado por seu Senhor com uma Cesta de Fi- gos e uma Carta, comeu durante o Percurso uma grande Parte de seu Carregamento, entregando o Restante à Pessoa a quem se destinava; que, ao ler a Carta e não encontrando a Quantidade de Figos correspondente ao que se tinha dito, acusa o Escravo de comê-los, dizendo que a Carta afirmava aquilo contra ele. Mas o Índio (apesar dessa Prova) negou o Fato, acusando o Papel de ser uma Testemunha falsa e mentirosa. Depois disso, sendo mandado de novo com um Carregamento se- melhante e uma Carta expressando o Número exato de Figos que deviam ser entregues, ele, mais uma vez, de acordo com sua Prática anterior, devorou uma grande Parte deles durante o Percurso; mas, antes de comer o primeiro (para evitar as Acusações que se segui- riam), pegou a Carta e a escondeu sob uma grande Pedra, assegu- rando-se de que, se ela não o visse comer os Figos, nunca poderia acusá-lo; mas, sendo agora acusado com muito mais rigor do que antes, confessou a Falta, admirando a Divindade do Papel e, para o futuro, promete realmente toda a sua Fidelidade em cada Tarefa. Poder-se-ia dizer que um texto, depois de separado de seu autor (as- sim como da intenção do autor) e das circunstâncias concretas de sua criação (e, consequentemente de seu referente intencionado), flutua (por assim dizer) no vácuo de um leque potencialmente infinito de interpretações possíveis. Wilkins poderia ter objetado que, no seu re- lato, o senhor tinha certeza de que a cesta mencionada na carta era a mesma levada pelo escravo, que o escravo que a levara era exatamen- te o mesmo a quem seu amigo dera a cesta, e que havia uma relação entre a expressão “30” escrita na carta e o número de figos contidos na cesta. Naturalmente, bastaria imaginar que, ao longo do caminho, o escravo original fora assassinado e outra pessoa o substituíra, que os trinta figos originais tinham sido substituídos por outros figos, que a cesta foi levada a um destinatário diferente, que o novo destinatário não sabia de nenhum amigo ansioso por lhe mandar figos. Mesmo assim seria possível concluir o que a carta estava dizendo? Entretanto, temos o direito de supor que a reação do novo destinatário seria algo do tipo: “Alguém, e Deus sabe quem, mandou-me uma quantidade de figos menor do que o número mencionado na carta que os acompa- nha.” Vamos supor agora que não apenas o mensageiro tivesse sido morto, como também que seus assassinos tivessem comido todos os figos, destruído a cesta, colocado a carta numa garrafa e a tivessem jogado no oceano, de modo que fosse encontrada setenta anos depois por Robinson Crusoé. Não havia cesta, nem escravo, nem figos, só uma carta. Apesar disso, aposto que a primeira reação de Robinson Crusoé teria sido: “Onde estão os figos?” AdAptAdo de: eco, umberto. intErprEtAção E supErintErprEtAção. são pAulo: mArtIns fontes, 2001, p. 47-49. a) Explique como se ilustra no Texto a relação entre a in- terpretação de um texto e as circunstâncias de sua leitura. b) Umberto Eco imagina contextos alternativos para a circulação da carta mencionada por John Wilkins. Ex- plicite o conteúdo que se mantém inalterado nos difer- entes contextos imaginados. 4. (UFSC) Leia as citações a seguir e responda à questão proposta. “Mas muito lhe será perdoado, à TV, pela sua ajuda aos doentes, aos velhos, aos solitários.“ brAgA, rubem. 200 crônicAs EscolhidAs. rIo de JAneIro/são pAulo: record, 2004, p. 486. “Sinhô e Sinhá num mêis ou dois mêis se há de casá!“ lImA, Jorge de. novos poEMAs. rIo de JAneIro: lAcerdA edItores, 1997, p. 3. “... eu osvi falá que os bugre ero uns bicho brabo...“ cAscAes, frAnklIn. o fAntástico nA ilhA dE sAntA cAtArinA. florIAnópolIs: edItorA dA ufsc, 2004, p. 27. “... morreu segunda que passou de uma anemia nos rim...“ mAchAdo de AssIs. brás, bExigA E bArrA fundA. são pAulo: mArtIn clAret, 2004, p. 55. Levando em conta as diferentes formas linguísticas utilizadas pelos autores na composição de suas obras, comente sobre a linguagem usada como recurso na construção dos textos. Para tanto, considere as duas pro- posições a seguir: a) variação linguística versus erro linguístico; b) funções da linguagem na literatura. 5. (Uerj) COPLAS1 I O GERENTE - Este hotel está na berra2! Coisa é muito natural! 24 Jamais houve nesta terra Um hotel assim mais tal! Toda a gente, meus senhores, Toda a gente ao vê-lo diz: Que os não há superiores Na cidade de Paris! Que belo hotel excepcional O Grande Hotel da Capital Federal! CORO – Que belo hotel excepcional etc... II O GERENTE – Nesta casa não é raro Protestar algum freguês: Acha bom, mas acha caro Quando chega o fim do mês. Por ser bom precisamente, Se o freguês é do bom-tom Vai dizendo a toda a gente Que isto é caro mas é bom. Que belo hotel excepcional! O Grande Hotel da Capital Federal! CORO – Que belo hotel excepcional etc... O GERENTE (Aos criados) – Vamos! Vamos! Aviem-se! Tomem as malas e encaminhem estes senhores! Mexam-se! Mexam-se!... (Vozerio. Os hóspedes pedem quarto, banhos etc... Os criados res- pondem. Tomam as malas, saem todos, uns pela escadaria, outros pela direita.) CENA II O GERENTE, depois, FIGUEIREDO O GERENTE (Só.) – Não há mãos amedir! Pudera! Se nunca houve no Rio de Janeiro um Hotel assim! Serviço elétrico de primeira or- dem! Cozinha esplêndida, música de câmara durante as refeições da mesa redonda! Um relógio pneumático em cada aposento! Banhos frios e quentes, duchas, sala de natação, ginástica e massagem! Grande salão com um plafond3 pintado pelos nossos primeiros artis- tas! Enfim, uma verdadeira novidade! – Antes de nos estabelecer- mos aqui, era uma vergonha! Havia hotéis em S. Paulo superiores aos melhores do Rio de Janeiro! Mas em boa hora foi organizada a Companhia do Grande Hotel da Capital Federal, que dotou esta cidade com um melhoramento tão reclamado! E o caso é que a empresa está dando ótimos dividendos e as ações andam por empe- nhos! (Figueiredo aparece no topo da escada e começa a descer.) Ali vem o Figueiredo. Aquele é o verdadeiro tipo do carioca: nunca está satisfeito. Aposto que vem fazer alguma reclamação. Azevedo, Arthur. A cApitAl fEdErAl. rIo de JAneIro: servIço nAcIonAl de teAtro, 1972. 1espécie de estrofe 2estar na moda 3teto O texto faz parte de uma peça de teatro, forma de ex- pressão que se destacou na captação das imagens de um Rio de Janeiro que se modernizava no início do século XX. a) Aponte o gênero de composição em que se enquadra esse texto e um aspecto característico desse gênero. b) A fala do gerente revela atitudes distintas, quando se dirige aos criados e quando está só. Identifique o modo verbal e a função da linguagem predominantes na fala dirigida aos criados. U.T.I. - E.O. 1. (Unesp 2018) Para responder à questão, leia o soneto de Raimundo Correia (1859-1911). Esbraseia o Ocidente na agonia O sol... Aves em bandos destacados, Por céus de ouro e de púrpura raiados, Fogem... Fecha-se a pálpebra do dia... Delineiam-se, além, da serrania Os vértices de chama aureolados, E em tudo, em torno, esbatem derramados Uns tons suaves de melancolia... Um mundo de vapores no ar flutua... Como uma informe nódoa, avulta e cresce A sombra à proporção que a luz recua... A natureza apática esmaece... Pouco a pouco, entre as árvores, a lua Surge trêmula, trêmula... Anoitece. a) Transcreva da primeira estrofe um exemplo de perso- nificação. Justifique sua resposta. b) Cite duas características que permitem filiar esse soneto à estética parnasiana. 2. (Uerj 2018) MORTE E VIDA SEVERINA (AUTO DE NATAL PERNAMBUCANO) 01 O retirante explica ao leitor quem é e a que vai. 02 — O meu nome é Severino, 03 não tenho outro de pia. 04 Como há muitos Severinos, 05 que é santo de romaria, 06 deram então de me chamar 07 Severino de Maria; 08 como há muitos Severinos 09 com mães chamadas Maria, 10 fiquei sendo o da Maria 11 do finado Zacarias. 12 Mas isso ainda diz pouco: 13 há muitos na freguesia, 14 por causa de um coronel 15 que se chamou Zacarias 16 e que foi o mais antigo 17 senhor desta sesmaria. 18 Como então dizer quem fala 20 ora a Vossas Senhorias? 21 Vejamos: é o Severino 22 da Maria do Zacarias, 22 lá da serra da Costela, 23 limites da Paraíba. 24 Mas isso ainda diz pouco: 25 se ao menos mais cinco havia 26 com nome de Severino 27 filhos de tantas Marias 28 mulheres de outros tantos, 25 29 já finados, Zacarias, 30 vivendo na mesma serra 31 magra e ossuda em que eu vivia. 32 Somos muitos Severinos 33 iguais em tudo na vida: 34 na mesma cabeça grande 35 que a custo é que se equilibra, 36 no mesmo ventre crescido 37 sobre as mesmas pernas finas, 38 e iguais também porque o sangue 39 que usamos tem pouca tinta. 40 E se somos Severinos 41 iguais em tudo na vida, 42 morremos de morte igual, 43 mesma morte severina: 44 que é a morte de que se morre 45 de velhice antes dos trinta, 46 de emboscada antes dos vinte, 47 de fome um pouco por dia 48 (de fraqueza e de doença 49 é que a morte severina 50 ataca em qualquer idade, 51 e até gente não nascida). João cAbrAl de melo neto. MortE E vidA sEvErinA E outros poEMAs EM voz AltA. rIo de JAneIro: José olympIo, 1980. vivendo na mesma serra magra e ossuda em que eu vivia. (l. 30-31) a) Na descrição da serra, observa-se o emprego de uma figura de linguagem. Nomeie essa figura. b) Indique, ainda, a relação estabelecida entre a per- sonagem e o ambiente, a partir do efeito produzido por essa descrição. 3. (UFJF-Pism 1) SOMBRAS MIÚDAS A história de Ivanildo é que ele simplesmente não tem história. Mora- dor de rua, virou notícia porque teve corpo queimado por gasolina e faleceu na última terça-feira (27), e é só, mais nada. O assassino, conforme as investigações policiais, era outro mo- rador de rua, e o crime, vejam vocês a ironia da miséria humana, foi motivado por conquista de território. Dizem que precisavam de mais espaço para viverem na rua. Pois é, as calçadas! Há pessoas em guerra pelas calçadas frias da cidade de São Paulo. Não conheci Ivanildo nem o seu algoz piro- maníaco, mas tenho uma vaga ideia de quem sejam os infelizes. Já os vi queimando na retina dos meus olhos, numa dessas noi- tes geladas e indignas, em suas casas de papelão que se movem como fantasmas pela nossa imaginação. Ivanildo não devia ter documentos, tampouco identidade. Indigen- te, deve ter sido enterrado com seus trapos numa vala qualquer, de um cemitério qualquer, que é o lugar certo para qualquer um de nós, miserável ou não. Outro dia vi um Ivanildo fuçando uma lata de lixo à procura de comida que sobra dos nossos pratos, mas o dono da lanchonete apareceu para expulsá-lo com um cabo de vassoura. Fiquei com a impressão de que mendigos trazem má sorte para o comércio, e que restos de comida não são para restos de pessoas. “Nós, os filhos de Deus, privatizamos até as migalhas”. Tenho a impressão que os únicos que gostam dos moradores de rua são os cachorros. Aliás, de raça ou não, não conheço nenhum cachorro que não tenha um mendigo pra cuidar. Moradores de rua são uma espécie rara de seres humanos: Eles não têm dentes, eles não cortam os cabelos, eles não tomam banho, pedem-nos esmolas, dormem no nosso caminho de casa, e nós, a não ser que peguem fogo, simplesmente não os vemos. É difícil vê-los. Somos cristãos demais para enxergá-los. E tem mais, dizem que são invisíveis a olho nu. Mas não são, suas sombras miúdas se arrastam em nossas orações, para o deleite da nossa hipocrisia. Fingir que gostamos de deus é a melhor forma de agradar o diabo. Um ser humano pegando fogo na calçada e os nossos joelhos doen- do de tanto rezar pela nossa felicidade material... Deus sabe o que faz, a gente não. Devia ser o contrário. Se dependesse de mim, a humanidade (?) já tinha pegado fogo há muito tempo. Um por um. vAz, sérgIo. litErAturA, pão E poEsiA: históriAs dE uM povo lindo E intEligEntE. são pAulo: globAl, 2011. p. 67-68. Segundo o Dicionário Houaiss, ironia é “figura por meio da qual se diz o contrário do que se quer dar a entender“ (2001, p. 1651). Localize no texto de Sérgio Vaz dois casos em que se emprega a ironia e explique a utilização delas. 4. (Unesp 2018) Leia o poema de Murilo Mendes (1901- 1975) para responder à questão. O PASTOR PIANISTA Soltaram os pianos na planície deserta Onde as sombras dos pássaros vêm beber. Eu sou o pastor pianista, Vejo ao longe com alegria meus pianos Recortarem os vultos monumentais Contra a lua. Acompanhado pelas rosas migradoras Apascento1 os pianos: gritam E transmitem o antigo clamor do homem Que reclamando a contemplação, Sonha e provoca a harmonia, Trabalha mesmo à força, E pelo vento nas folhagens, Pelos planetas, pelo andar das mulheres, Pelo amor e seus contrastes, Comunica-se com os deuses. (As metAmorfoses, 2015.) 1apascentar: vigiar no pasto; pastorear. a) Na segunda estrofe, verifica-se a personificação dos pianos. Que outro elemento também é personificado nessa estrofe? Justifique sua resposta. b) Quem é o sujeito do verbo “comunica-se” (3ª estro- fe)? Justifique sua resposta. 5. (Unesp) A questão focaliza um trecho de um poema de 1869 do poeta romântico português Guilherme Bra- ga (1845-1874) e uma marcha de carnaval de Wilson 26 Batista(1913-1968) e Roberto Martins (1909-1992), gravada em 1948. EM DEZEMBRO Olhai: naquele operário Tudo é força, ânimo e vida; Se o trabalho é o seu calvário Sobe-o de cabeça erguida. Deus deu-lhe um anjo na esposa, E as filhas são tão pequenas Que delas a mais idosa Conta dez anos apenas. Tem cinco, e todas tão belas Que, ao ver-lhes a alegre infância, Julga estar vendo as estrelas E o céu a menos distância; Por isso, quando o trabalho Lhe fatiga as mãos calosas, Tem no suor o fresco orvalho Que dá seiva àquelas rosas, [...] Depois, da ceia ao convite, Toda a família o rodeia À mesa, aonde o apetite Faz soberba a humilde ceia. [...] No entanto, como a existência Não tem em si nada estável, Num dia de decadência Este obreiro infatigável, Por ter gasto a noite inteira Na luta, cede ao cansaço, E cai da máquina à beira, E a roda esmaga-lhe um braço... Ai! o infortúnio é severo! Bastou por tanto um só dia Para entrar o desespero Donde fugiu a alegria! Empenha em vão tudo, a esmo, Pouco dinheiro lhe fica, E não lhe cobre esse mesmo As despesas da botica. Pobre mãe, pobres crianças! Já, de momento em momento, Vão minguando as esperanças, Vai crescendo o sofrimento; (herAs e vIoletAs, 1869) PEDREIRO WALDEMAR Você conhece O pedreiro Waldemar? Não conhece? Mas eu vou lhe apresentar De madrugada Toma o trem da Circular Faz tanta casa E não tem casa pra morar Leva a marmita Embrulhada no jornal Se tem almoço, Nem sempre tem jantar O Waldemar, Que é mestre no ofício Constrói um edifício E depois não pode entrar. (roberto lApIccIrellA (org.). “AntologIA musIcAl populAr brAsIleIrA”, 1996.) Explique o caráter metafórico do emprego da palavra rosas na quarta estrofe do trecho reproduzido do poe- ma de Guilherme Braga. 27 LITERATURA 28 Prosa e poesia Prosa e poesia são formas diferentes de comunicação lite- rária. A prosa é mais referencial e se vale do uso do texto corrido organizado da esquerda para a direita no papel ocidental sem preocupação com a forma, apenas com o conteúdo e as linhas cheias. Já o poema está primordialmente preocupado com a for- ma e adquire, no decorrer da história, várias estruturas a partir da lógica do verso, que é a linha do poema, e de um conjunto deles, denominado estrofe. Estão imersos num trabalho de ritmo e rimas que podem ou não seguir padrões de tamanho e convenção. Os termos “poesia”, “poética” e “poeta” derivam dos termos gregos poíesis, poiêtikê, poiêtês, que significam criar. O que é gênerO literáriO? Gênero é o modo como se veicula a mensagem literária, o padrão a ser utilizado na composição artística. Há gran- des diferenças entre o conteúdo e a forma dos textos. Um poema não se confunde com um conto, e um romance segue padrões bastante próprios em relação a uma peça de teatro, por exemplo. Na Antiguidade Clássica, Aristóteles conceituou o con- teúdo como elemento constitutivo da representação das paixões, das ações e do comportamento humano. A for- ma desse conteúdo, a princípio aplicada apenas à poesia, compreende três gêneros: épico, lírico e dramático. O gênero épico Épico é derivado do grego épos que, entre outras coisas, significa palavra, verso, discurso. Esse gênero, também chamado de epopeia, nasceu com a Ilíada e a Odisseia, de Homero. Oriundas das tradições orais, as epopeias contam histórias que auxiliam os homens a entender a trajetória de seus povos. Narrados de maneira elevada e com vocabulário grandilo- quente e solene, os assuntos históricos sofrem influência do imaginário e não se privam de recorrer à imaginação, bem como à mitologia. As epopeias são divididas em “clás- sicas ou primárias” ou de “imitação ou secundárias”. O gênero lírico Esse gênero nasceu na Grécia antiga, cujos poemas eram acompanhados musicalmente pela lira. É o gênero centrado na expressão do “eu poético” ou “eu poemático” – voz que fala no poema, não necessariamente correspondente à voz do autor. Menos grandiosos que os da epopeia, seus temas dizem respeito ao mundo interior do eu lírico, aos sentimentos, ao individualismo, às relações consigo mesmo. Pronomes e verbos vêm normalmente na primeira pessoa do singu- lar e predominam emoções, rimas, ritmo, sonoridade das palavras, metáforas, repetições, entre outras figuras de lin- guagem que trazem aos versos musicalidade e suavidade. O gênero lírico é subdividido em: soneto, elegia, ode, ma- drigal, écloga etc. São formas poéticas mais afeitas ao gênero lírico. Natureza das rimas § Ricas – entre palavras de classes gramaticais diferentes: Cristina e ensina § Pobres – entre palavras de mesma classe gramatical: Precisava esconder sua afeição... Na Idade Média, uma imortal paixão § Toantes – entre sons vocálicos repetidos: hora e bola; saltava e mata § Aliterantes – entre sons consonantais idênticos ou semelhantes: vozes, veladas, veludosas, vozes vagam nos velhos vórtices velozes § Consoantes – entre sons e letras repetidos: terra e serra; amoníaco e zodíaco; rutilância e infância § Esdrúxulas – entre palavras proparoxítonas: É um flamejador, dardânico uma explosão de rápidas ideias, que com um mar de estranhas odisseias saem-lhe do crânio escultural, titânico!... (Cruz e SouSa) § Agudas – entre palavras oxítonas: dó e só; fez e vez; ti e vi § Preciosas – entre palavras combinadas: FUNDAMENTOS PARA ESTUDO LITERÁRIO: ARTE E TÉCNICA 29 múmia e resume-a; réstea e veste-a; águia e alague-a; estrela e vê-la § Versos brancos – verso sem rimas. Classificação das rimas § Monossílabos: uma sílaba. § Dissílabos: duas sílabas. § Trissílabos: três sílabas. § Tetrassílabos: quatro sílabas. § Pentassílabos: cinco sílabas ou redondilha menor. § Hexassílabos: seis sílabas. § Heptassílabos: sete sílabas ou redondilha maior. § Octossílabos: oito sílabas. § Eneassílabos: nove sílabas. § Decassílabos: dez sílabas. § Hendecassílabos: onze sílabas. § Dodecassílabos: doze sílabas ou alexandrino. § Verso bárbaro: mais de doze sílabas. Classificação dos versos § Monossílabos – uma única sílaba. § Dissílabos – duas sílabas. § Trissílabos – três sílabas. § Tetrassílabos – quatro sílabas. § Pentassílabos ou redondilha menor – cinco sílabas § Hexassílabos – seis sílabas. § Heptassílabos ou redondilha maior – sete sílabas. § Octossílabos – oito sílabas. § Eneassílabos – nove sílabas. § Decassílabos ou Medida Nova – dez sílabas. § Hendecassílabos – onze sílabas. § Dodecassílabos ou Alexandrinos – doze sílabas. § Bárbaros – mais de doze sílabas. O gênero dramático A característica e a finalidade primordiais do gênero dramático (do grego drân: agir) é ser levado à representação, à “ação”. Compreende o gênero teatral, cuja encenação, no entanto, escapa à alçada da literatura propriamente. O eu poético relaciona-se com um tu/vós, segunda pessoa do discurso, a plateia. O texto dramático pressupõe essa plateia, que o vivencia e tem probabilidade de fruir emoções mediante a representação do texto. Caracterizam o gênero dramático a ausência de narrador, o discurso direto – estrutura dialogada – e as rubricas – instruções que sinalizam ao diretor e aos atores a postura no palco, o tom de voz etc. Em vez do narrador, o texto dramático conta a história pre- tendida por meio do diálogo entre os personagens, que estabelecem com o público uma relação direta, a fim de comprometê-lo emocionalmente com a história contada e com os personagens dela. O termo teatro deriva do grego théatron, que significa “ver”, “contemplar”. Esse gênero subdivide-se em tragédia, comédia, drama, auto e farsa. O gênero narrativo Oriunda do gênero épico, a narrativa organiza uma história levando em consideração aspectos primordiais de sua es- trutura: apresentação, desenvolvimento, clímax e desfecho. Os gêneros narrativos apresentam-se como: § Conto Narrativa curta centrada em um único acontecimento. Apre- senta uma ação que se encaminha para uma tensão (clí- max) entre personagens, delimitados num tempo e espaço reduzidos.Exemplos: Amor, de Clarice Lispector; O menino do boné cinzento, de Murilo Rubião; e A causa secreta, de Machado de Assis. § Novela Narrativa situada entre a brevidade do conto e a longevi- dade do romance. Exemplos: A hora e a vez de Augusto Matraga, de Guimarães Rosa; e Os crimes da rua Morgue, de Edgar Allan Poe. § Crônica Narrativa breve baseada na vida cotidiana, delimitada por tempo cronológico curto, em linguagem coloquial e leve to- que de humor e crítica. Exemplos: Comédias da vida priva- da – 101 crônicas escolhidas, de Luís Fernando Veríssimo. § Romance Narrativa longa que discorre sobre um grande conflito cen- tral que dá origem a outros secundários, compreendendo vários personagens em constante conflito psicológico, envol- vidos pela trama que caminha para um clímax. Exemplos: Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa; São Bernardo, de Graciliano Ramos; e O senhor dos anéis, de J.R.R. Tolkien. § Anedota Relato de um acontecimento curioso ou engraçado. Como o provérbio, a anedota, além da tradição oral, vem inserida em textos literários. Exemplos: O asno de ouro, do escritor latino Apuleio, é uma constelação de pequenas aventuras picantes. 30 § Apólogo Historinha entre objetos inanimados com moral implícita ou explícita. Um apólogo, de Machado de Assis, trata da conversa entre uma agulha e uma linha que discutem so- bre a importância delas. Observe o último parágrafo em que está implícita a moral: “Parece que a agulha não disse nada; mas um alfinete, de cabeça grande e não menor experiência, murmurou à pobre agulha: – Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrir caminho para ela e ela é que vai gozar da vida, enquanto aí ficas na caixinha de costura. Faze como eu, que não abro cami- nho para ninguém. Onde me espetam, fico. Contei esta história a um professor de melancolia, que me disse, abanando a cabeça: – Também eu tenho servido de agulha a muita linha ordinária!” § Fábula Difere do apólogo, uma vez que seus personagens são ani- mais. Esse gênero teve ilustres cultores na literatura ociden- tal, como Esopo, Fedro e La Fontaine, cujas fábulas estão reunidas em doze livros. COntextO § Idade Média (século XII–XIV). § Formação dos países europeus e de suas línguas. § Reconhecimento do reino de Portugal, no ano de 1179. § Feudalismo. § Teocentrismo (Deus como centro do Universo / motivo de tudo). § Sociedade com estamentos estáticos: o clero (os padres = homens de oração), a nobreza e a cavalaria (poder mundano e defesa militar) e os servos (o povo = tra- balhadores). O código do amor cortês Os termos que definiam as relações feudais foram trans- postos para as cantigas, caracterizando a linguagem do Trovadorismo: a mulher era a senhora, o homem era o seu servidor. Eram muito prezadas a generosidade, a lealdade e, acima de tudo, a cortesia. As cantigas de amor do Trovadorismo desenvolvem um mes- mo tema: o sofrimento provocado pelo amor não correspon- dido – a “coita de amor”. Como o princípio do amor cortês é a idealização da dama pelo trovador, os textos não manifes- tam a expectativa de correspondência amorosa. As cantigas satíricas passeiam por muitos temas, sempre expressando um olhar crítico sobre a conduta de nobres, homens e mulheres, nas esferas individual e social. É bas- tante comum os trovadores ridicularizarem um nobre que se envolve com uma serviçal ou que não percebe a trai- ção da esposa. tipOs de Cantiga As cantigas trovadorescas são divididas em dois grupos: as líricas, que falam de sentimento e são subdivididas em cantigas de amor e cantigas de amigo; e as cantigas satíricas, intencionalmente críticas e cômicas, também subdivididas em cantigas de escárnio e de cantigas de maldizer. Líricas A poesia lírica diz respeito à lira, instrumento musical da Antiguidade clássica que acompanhava as canções expres- sando sentimentos. cantigas de amor cantigas de amigo eu-lírico masculino, pobre eu-lírico feminino, pobre amor impossível saudade poucos refrãos muitos refrãos ausência de paralelismo paralelismo linguagem refinada (amor cortês) linguagem popular submissão à dama “mulher idealizada” (vassalagem amorosa) grau de igualdade “mulher atrevida” coita d’amor amor correspondido origem em Provença, sul da França península Ibérica (galega) Satíricas As cantigas satíricas fazem críticas ao comportamento das pessoas em suas ações sociais e usam o humor e o vocabu- lário chulo para denunciar alguns nobres e damas. Além disso, a sátira se estende a instituições sociais, censu- rando os males da sociedade ou dos indivíduos, quase tudo com tom sarcástico, irônico e obsceno. TROVADORISMO E HUMANISMO 31 Cantigas de escárnio Cantigas de maldizer Crítica sutil Crítica direta Linguagem ambígua e velada Linguagem direta e clara Vocabulário comedido Vocabulário agressivo três CanCiOneirOs Os cancioneiros são manuscritos, coletâneas de cantigas com características variadas e escritas por diversos autores. Os mais importantes são os três cancioneiros que concen- tram boa parte da produção conhecida dos séculos XII, XIII e XIV: Cancioneiro da Ajuda, Cancioneiro da Biblioteca Nacio- nal e Cancioneiro da Vaticana. as nOvelas de Cavalaria As novelas de cavalaria são os primeiros romances, ou seja, longas narrativas em verso, surgidas no século XII. Elas contam as aventuras vividas pelos cavaleiros an- dantes e tiveram origem com o declínio do prestígio da poesia dos trovadores. Estão organizadas em três ciclos, de acordo com o tema que desenvolvem e com o tipo de herói que apresentam: § Ciclo clássico: novelas que narram a guerra de Troia e as aventuras de Alexandre, o Grande. O ciclo recebe essa denominação porque seus heróis vêm do mundo clássico mediterrâneo. § Ciclo arturiano ou bretão: histórias envolvendo o rei Arthur e os cavaleiros da Távola Redonda. Nessas nove- las, podem ser identificados vários núcleos temáticos: a história de Percival, a história de Tristão e Isolda, as aven- turas dos cavaleiros da corte do rei Arthur e a demanda do Santo Graal. § Ciclo carolíngio ou francês: histórias sobre o rei Carlos Magno e os Doze Pares de França. HumanismO. Contexto § Século XV – fim da Idade Média. § Grandes navegações. § Desenvolvimento das cidades e do comércio. § Burguesia. § Período de transição dos valores medievais para os va- lores do Renascimento, ou seja, do teocentrismo para o antropocentrismo. § Valorização da cultura. Produção literária § Crônicas – histórias curtas sobre o cotidiano dos no- bres que queriam registrar seus grandes feitos. O mais famoso cronista de Portugal foi Fernão Lopes, nome- ado cronista-mor da Torre do Tombo, por D. Duarte. § Poesia palaciana – poemas compostos em redondi- lhas, sem o acompanhamento musical, e impressos, feitos para declamação dentro dos palácios; além de tra- tar da vida da corte, retomavam os temas das cantigas trovadorescas, porém com preocupação técnica e novas formas poemáticas, como é o caso do Vilancete, da Trova e da Esparsa. Toda a produção de poesia palaciana foi reunida num volume chamado Cancioneiro geral, or- ganizado por Garcia de Resende. § Teatro – voltado para temas religiosos e didáticos, ou seja, feito para ensinar religião. Representava ce- nas bíblicas, vidas dos santos e mártires da Igreja. O teatro propriamente dito, com texto elaborado, inau- gurou-se em Portugal com a obra de Gil Vicente, que mostrou peças cheias de sátira à sociedade, com te- mas tanto profanos, nas farsas, como religiosos, nos autos. Seu teatro desenvolveu essencialmente “tipos sociais”, isto é, personagens que representavam figu- ras que desenvolviam papéis específicos na sociedade e apontavam os defeitos da personalidade humana. A sua crítica alcançou desde os mais pobres aos mais ricos ou mais graduados clérigos. Sua obra aponta o equilíbrio entre a razão e a emoção, que norteou a arte do século XV, considerando que ele alcançou o século XVI e viveu o início e o auge do Renascimento.Por isso, notam-se em sua obra valores teocêntricos e antropocêntricos. 32 ClassiCismO Contexto § Renascimento – século XVI – resgate da Antiguida- de clássica. § Crescimento do comércio e fortalecimento da burguesia. § Descobrimentos. § Antropocentrismo (homem como centro das preocu- pações). Produção artística O classicismo seguiu os modelos da cultura greco-latina, uma vez que representavam o equilíbrio e a perfeição. Nesse sentido, as características gerais do período fo- ram o racionalismo, o universalismo, a perfeição formal, o resgate da mitologia clássica e o humanismo. A Itália foi onde essa tendência renascentista apareceu com mais intensidade, sendo o palco desse retorno ao mundo da Antiguidade, ou seja, fez renascer, desde me- ados do século XIII, os ideais de valorização dos gregos e latinos, dos esforços individuais, da perfeição, da superio- ridade humana e da razão como parâmetro de observação e interpretação da realidade. Pintura, escultura e arquitetura Na pintura, alguns dos principais traços do Renascimento foram a noção de perspectiva e a tematização de elemen- tos da Antiguidade, bem como a humanização do tema sacro. A técnica era levada em conta acima de tudo, e o sombreado realçava a ideia de volume dos corpos. Também teve início a utilização da tela e da tinta a óleo. Na escultura, o que mais chama a atenção é a busca pela representação ideal do homem, normalmente retratado nu a fim de exaltar as formas humanas. A arquitetura também se inspirou nos traços clássicos, retra- tando a figura humana e o conceito de beleza dos templos construídos de maneira harmônica, normalmente cobertos por uma cúpula. Entre os artistas mais importantes da arte renascentista es- tão Leonardo da Vinci (1452-1519), Michelangelo (1475- 1564) e Rafael Sanzio (1483-1520). Literatura O poeta Dante Alighieri, autor da Divina comédia, intro- duziu o verso decassílabo, chamado de “medida nova”, o dolce stil nuovo (doce estilo novo), em contraponto à re- dondilha, considerada como “medida velha”. O poeta Fran- cesco Petrarca, criador do soneto, influenciou vários poetas europeus, entre o quais o inglês William Shakespeare e os portugueses Luís Vaz de Camões e Sá de Miranda. Em 1527, Sá de Miranda, retornando da Itália, introduziu em Portugal a “medida nova”. Contudo, foi Luís Vaz de Camões quem se destacou na literatura portuguesa des- se período. luis vaz de Camões Luís Vaz de Camões teria nascido em 1524 ou 1525, pro- vavelmente na cidade de Lisboa (talvez Coimbra ou San- tarém). Morreu em 10 de junho de 1580. Curiosamente, o herói da poesia portuguesa expirou quando se iniciou o declínio do poderio imperial de Portugal, no mesmo ano da União da Península Ibérica, em que o país ficou sob o domínio da coroa espanhola. Em 1572, publicou Os Lusíadas, sua obra-prima. Em 1595, foi publicada a obra Rimas, com uma compilação de sua obra lírica, de versos redondilhos elaborados à maneira medieval, e também de seus sonetos decassílabos de in- fluência petrarquiana. Camões épiCO Engenho e arte A obra épica Os Lusíadas é a mais importante epopeia em língua portuguesa. Teve como modelos estruturais as epopeias da Antiguidade: a Ilíada e a Odisseia. Entretan- to, Camões introduziu uma novidade, pois, em Os Lusía- das, o herói é coletivo, ou seja, é o povo português; ao contrário do que ocorre nas epopeias modelares. Essa modalidade de escrita passou a ser chamada de epo- peia secundária. Os Lusíadas conseguiu conciliar a mitologia pagã (fruto do gosto renascentista pelo estudo da cultura pagã) e a mito- logia cristã (ideologia pessoal do autor). RENASCIMENTO: CLASSICISMO E LUIS VAZ DE CAMÕES 33 Contexto histórico § Século XVI. § Início da colonização do Brasil. Literatura de informação Textos criados para enviar a Portugal notícias sobre as terras descobertas. Esses relatórios, denominados “crôni- cas de viagem”, possuem caráter mais histórico do que literário, e a linguagem é predominantemente referencial ou denotativa. Considerada o primeiro documento da literatura no Brasil, A carta, de Pero Vaz de Caminha, inaugurou, em 1500, a chamada literatura informativa. Literatura de formação ou jesuítica Ao lado da prosa informativa, ocorreram manifestações em poesia e teatro escritas por jesuítas com a finalidade Estrutura da obra A obra de Camões apresenta 8.816 versos decassílabos, di- vididos em 1.102 estrofes, todas em oitava-rima, organizada em dez cantos. Além disso, existem outras cinco partes: § Proposição (canto I, estrofes 1 a 3) O poeta apresenta o que vai cantar, ou seja, o tema dos fei- tos heroicos dos ilustres barões de Portugal, o herói, Vasco da Gama, e o destino da viagem. § Invocação (canto I, estrofes 4 e 5) O poeta invoca as Tágides, ninfas do rio Tejo, pedindo a elas para inspirá-lo na composição da obra. § Dedicatória ou oferecimento (canto I, estrofes 6 a 18) O poeta dedica seu poema a D. Sebastião, rei de Portu- gal na época em que o poema foi publicado, visto como a esperança de propagação da fé cristã e continuação dos grandes feitos de Portugal. § Narração (canto I, estrofe 19 até canto X, es- trofe 144) O poeta relata a viagem propriamente dita dos portugueses ao Oriente. O desenrolar dos fatos começa In Media Res, ou seja, no meio da ação, quando Vasco da Gama e sua esqua- dra se dirigem ao Cabo da Boa Esperança. § Epílogo É a conclusão do poema (estrofes 145 a 156 do canto X), em que o poeta demonstra cansaço e, em tom melancólico e pessimista, aconselha ao rei e ao povo português que sejam fiéis à pátria e ao cristianismo. Camões líriCO “Tu, só tu, puro amor” A obra lírica de Camões compreende poemas feitos na me- dida velha e na medida nova. A medida velha obedece à poesia de tradição popular, na forma e no conteúdo. São exploradas as redondilhas, de cinco ou de sete sílabas (me- nor ou maior, respectivamente). Os poemas em medida nova são relacionados à tradição clássica: sonetos, éclogas, elegias, oitavas, sextinas. Quan- to ao conteúdo, a poesia lírica clássica se relaciona com o petrarquismo. Francesco Petrarca foi o responsável por fixar a forma do soneto, no século XIV; o conteúdo de sua poesia delineia um lirismo amoroso platônico, relacionado indissoluvelmente a uma mulher inacessível, Laura, a que dedicou perto de 360 sonetos, no seu Cancioneiro. A lírica amorosa O tema amoroso é explorado na lírica camoniana sob du- pla perspectiva. Com frequência, aparece o amor sensual, próprio da sensualidade renascentista, inspirada no paga- nismo da cultura greco-latina. Predomina, porém, o amor neoplatônico, espécie de extensão e aprofundamento da tradição da poesia medieval portuguesa ou da poesia hu- manista italiana, em que o amor e a mulher se configuram como idealizados e inacessíveis. Em Camões, percebe-se o conflito entre o sentimento espi- ritual, idealizado, e o sentimento de manifestação carnal. O amor é, dessa forma, complexo, contraditório. Esses sentimentos contraditórios, bem como certo pessimis- mo existencial que marca a poesia lírica de Camões, fogem ao espírito harmonioso e racional do Renascimento e pre- nunciam o movimento literário do século XVII: o Barroco. LITERATURA EM TERRAS TUPINIQUINS: LITERATURA DE FORMAÇÃO E LITERATURA DE INFORMAÇÃO 34 de catequizar os índios. Essa produção é denominada literatura de formação, em decorrência do aspecto didático que apresenta. Seus principais expoentes são os padres José de Anchieta e Manuel da Nóbrega. gregóriO de matOs Gregório de Matos (1633-1696) é o maior poeta barroco brasileiro e um dos fundadores da poesia lírica e satírica no Brasil. Em sua obra, Gregório acolheu a poesia religiosa, os costumes e a reflexão moral. Em relação aos temas, convi- vem em seus poemas um desenfreado sentimento de sen- sualismo, erotismo e paixão idealizada. Seus poemas são dados ao gosto pelo jogo de palavras e das brincadeiras. O “língua de trapo” Irreverente como poeta lírico, Gregório seguiu eao mes- mo tempo implodiu os modelos barrocos europeus. Foi apelidado de Boca do Inferno, graças à sua poesia satírica, dirigida aos governantes corruptos, a religiosos licenciosos e às hipocrisias da sociedade. Poesia satírica Não poupa aspecto algum do sistema e do poder, o que faz dele um poeta maldito. Provoca os políticos e ridiculariza os que viviam para bajular e louvar os poderosos, traços que contribuíram para o “abrasileiramento” do Barroco importado da Europa. Poesia lírica: sacra e amorosa A poesia lírica de Gregório de Matos é idealista, às vezes emocional, às vezes conceitual, mas frequente- mente preocupada em entender contradições. A lírica sacra ressalta o senso do pecado ao lado do desejo do perdão. O lirismo amoroso é contraditório, marcado pela ambiguidade da mulher, vista como uma dualidade entre matéria e espírito. Poesia lírica filosófica A lírica filosófica de Gregório de Matos revela um poeta que, tal qual os clássicos, transmite um forte senso do “descon- certo do mundo”, ocupando-se com a transitoriedade da vida, o escoamento do tempo e a fragilidade do homem. antôniO vieira Antônio Vieira (1608-1697) é a principal expressão do Barroco em Portugal. Sua obra pertence tanto à literatu- ra portuguesa quanto à brasileira. Sua característica mais marcante é a de orador e pregador da fé cristã. As qualidades de Vieira como orador são incomparáveis. Dotado de boa formação jesuítica, pronunciou sermões que se tornaram ao mesmo tempo a expressão máxima do Barroco em prosa sacra e uma das principais expressões ideológicas e literárias da Contrarreforma. Pregou no Brasil, em Portugal e na Itália, sempre com grande repercussão. Entre sua vasta produção de mais de duzentos sermões e quinhentas cartas, destacam-se: § Sermão da sexagésima, proferido na Capela Real de Lisboa, em 1655, cujo tema é a arte de pregar. § Sermão pelo bom sucesso das armas de Portugal con- tra as de Holanda, proferido na Bahia, em 1640, posi- ciona-se contra à invasão holandesa. § Sermão de Santo Antônio (aos peixes), proferido no Maranhão, em 1654, ataca a escravização de índios. § Sermão do mandato, proferido na Capela Real de Lis- boa, em 1645, desenvolve o tema do amor místico. arCadismO Contexto histórico Europa § Iluminismo – século XVIII (o século das Luzes). ESTÉTICA NEOCLÁSSICA: O ARCADISMO ESTÉTICA BARROCA: A DUALIDADE § Retomada da cultura clássica. § Linguagem simples. Brasil § Inconfidência Mineira. 35 Características A partir da segunda metade do século XVIII, junto às profundas transformações sociais e econômicas que anunciavam revoluções intelectuais nas sociedades euro- peias, desenvolve-se um novo estilo literário, o Arcadismo. O Arcadismo foi chamado também de Neoclassicismo, um novo Classicismo, em decorrência da retomada dos modelos clássicos. As principais características do estilo são: § Busca pela perfeição. § Referências mitológicas. § Racionalismo. § Pastoralismo. § Bucolismo: proposta de uma vida no campo como alternativa à agitação das cidades e contraponto às normas sociais e religiosas. § Valorização da cultura greco-latina. § Eu lírico = pastor. § Uso de psudônimos. Autores de destaque Em Portugal, Manuel Maria Barbosa Du Bocage, que já prenuncia o Romantismo. No Brasil, Tomás Antônio Gonzaga, Cláudio Manoel da Costa, Alvarenga Peixoto, Santa Rita Durão e Basílio da Gama. Os poetas brasileiros, na verdade, refletiam a maneira de pensar dos europeus, porque estudaram na Europa, apesar de o país ainda ser colônia. Para recuperar a perfeição e o equilíbrio dos clássicos e do Renascimento, era comum entre os autores o uso de cli- chês árcades ditos sempre em latim: § Carpe diem (aproveitar o dia). § Fugere urbem (fugir da cidade). § Locus amoenus (lugar tranquilo). § Aurea mediocritas (equilíbrio de ouro, desprezo aos bens materiais). § Inutilia truncat (cortar o inútil). Arcádias As Arcádias eram academias literárias. Em Portugal existi- ram duas importantes academias árcades: a Arcádia Lu- sitana, que efetivamente deu início ao movimento árcade em Portugal, e a Nova Arcádia (1790), da qual participou o maior poeta português do século XVIII: Bocage. manuel maria BarBOsa du BOCage Bocage entrou para a história da literatura portuguesa como um poeta erótico, embora sua poesia lírica árcade seja considerada superior. A obra Rimas, de 1791, valeu-lhe o convite para a Nova Arcádia, onde usava o pseudônimo Elmano Sadino. A fase inicial da poesia de Bocage é marcada por formas e temas próprios do Arcadismo: o ambiente bucólico (fugere urbem), o ideal de vida simples e alegre (aurea mediocritas), a simplicidade e a clareza das ideias e da linguagem, etc. Idílios marítimos, Rimas (três volumes) e Parnaso bocagia- no reúnem a produção literária de Bocage. Os sonetos de Rimas são o ponto alto de sua produção. e alguns estudio- sos chegam a compará-lo a Camões. A solidão, a desilu- são amorosa, o sentimento de desamparo e a dor de viver impactaram de tal maneira sua poesia que ela acabou se afastando da estética árcade para se enveredar pelo cam- po dramático e confessional, fato que inseriu Bocage num contexto pré-romântico. A produção satírica de Bocage foi uma das que mais se po- pularizou, embora seja considerada inferior à poesia lírica. Foi por meio dessa poesia que o poeta recebeu a alcunha de “poeta maldito”, uma vez que tratava de temas de na- tureza grosseira, vulgar e obscena. arCadismO nO Brasil Os escritores brasileiros do século XVIII assumiram uma postura peculiar em relação ao Arcadismo importado de Portugal. Por um lado, procuravam seguir os princípios estabelecidos pelas academias literárias portuguesas e se inspiravam em escritores clássicos consagrados, como Camões, Petrarca e Horácio. Ao mesmo tempo, com o intuito de tornar a literatura da Colônia mais universal e equipará-la às literaturas europeias, tentavam eliminar vestígios pessoais ou locais. Dessa maneira, apresentaram em suas obras aspectos di- ferentes dos prescritos pelo modelo importado. Na poesia de Cláudio Manuel da Costa, por exemplo, a natureza aparece mais bruta e selvagem do que na poesia euro- peia; o mito do “homem natural” culminou na figura do índio, personagem das obras de Basílio da Gama e San- ta Rita Durão; a expressão dos sentimentos, em Tomás Antônio Gonzaga e Silva Alvarenga, é mais espontânea e menos convencional. Esses aspectos da poesia árcade brasileira foram mais tarde recuperados e aprofundados pelo Romantismo, movimento que buscou definir uma identidade nacional à literatura. 36 Além dessa espécie de adaptação do modelo europeu, não se pode esquecer da forte influência barroca ainda durante o século XVIII. As igrejas de Ouro Preto só tiveram sua constru- ção concluída quando o Arcadismo já vigorava na literatura. Destacam-se entre os autores árcades brasileiros: § Líricos: Cláudio Manuel da Costa, Tomás Antônio Gon- zaga e Silva Alvarenga. § Épicos: Basílio da Gama, Santa Rita Durão e Cláudio Manuel da Costa. § Satíricos: Tomás Antônio Gonzaga. § Encomiásticos: Silva Alvarenga e Alvarenga Peixoto. Os pOetas árCades e a inCOnfidênCia mineira Os escritores árcades mineiros Tomás Antonio Gonzaga, Alvarenga Peixoto e Cláudio Manuel da Costa participa- ram diretamente do movimento da Inconfidência Minei- ra. Ao voltarem de Coimbra com ideias enciclopedistas e influenciados pela independência dos EUA, eles não apenas se somaram aos revoltosos contra a exploração pelo erário régio, que confiscava a maior parte do ouro extraído da Colônia, mas ajudaram a divulgar o ideal de um Brasil independente, contribuindo para a organização do grupo inconfidente. ESTÉTICA ROMÂNTICA: PROSA rOmantismO em pOrtugal Partidários do liberalismo de D. Pedro e antimiguelistas, os jovens escritores Almeida Garrett e Alexandre Herculano ti- veram de exilar-se na Inglaterra e na França, onde tomaram contato com as obras de Lord Byron, WalterScott e William Shakespeare. De volta, em 1825, Garrett publicou uma biografia roman- ceada concebida em versos brancos chamada Camões. Com esse poema, introduziu-se o Romantismo em Portugal. Suas características viriam a firmar-se no espírito romântico: ver- sos decassílabos brancos, subjetivismo, nostalgia, melancolia e a grande combinação dos gêneros literários. O Romantismo português durou aproximadamente 40 anos, como nos demais países europeus, o Romantismo português atrelou-se ao liberalismo e à ideologia burguesa e assumiu compromissos com o novo público leitor. gerações dO rOmantismO pOrtuguês Nos anos caóticos de lutas entre liberais e conservadores, os românticos foram, pouco a pouco, implementando as reformas literárias que modificariam o quadro estético ne- oclássico português. O Romantismo português conheceu três momentos distintos. A Primeira Geração (Almeida Garrett e Alexandre Hercula- no), entre os anos de 1825 e 1840, muito contribuiu para a consolidação do liberalismo no país. A Segunda Geração (Camilo Castelo Branco), ultrarromân- tica, levou o movimento ao exagero, e prevaleceu entre os anos 1840 e 1860. A Terceira Geração (Júlio Dinis), de transição para o Re- alismo, marcou presença nos anos de 1860. Nesses três momentos, a poesia, o romance, o teatro, a historiogra- fia e o jornalismo se desenvolveram de forma inédita em Portugal. 1.ª Geração Almeida Garrett § É um dos principais escritores do romantismo português. § Em 1832, participou do cerco à cidade do Porto, empre- endido pelos liberais. § Escreveu romances, poesia e teatro. § Viagens na minha terra é um relato-personagem que registra o pitoresco da terra natal. Trata-se de um misto de diário, literatura de viagens, reporta- gens e ficção, cujo fio narrativo é uma viagem de Lisboa e Santarém. É organizada em capítulos que relatam os acontecimentos e as reflexões do narra- dor sobre vários assuntos, entre os quais amor, polí- tica, curiosidades. Alexandre Herculano § Assim como Garrett, engajou-se na luta ao lado dos pedristas (liberais). 37 § A obra literária de Herculano obedece ao princípio ro- mântico de busca da realidade ideal para o país me- diante a reconstituição das formas sociais mais signifi- cativas de sua história. Esse historicismo tem sua origem no romantismo histórico e social do escritor inglês Wal- ter Scott e do francês Victor Hugo. § A ficção histórica é constituída por 3 obras: O bobo, que trata da formação de Portugal em meio a uma intriga romântica; Eurico, o presbítero, que registra a situação histórica portuguesa sob o domínio mouro e discute criticamente a questão do celibato clerical; e O monge de Cister, romance que marca o momento his- tórico da centralização política monárquica. 2.ª Geração Camilo Castelo Branco § Camilo concentrou seus esforços profissionais na car- reira de escritor, fonte de seu sustento. Sua vasta obra compreende as temáticas com foco no mistério, nas questões históricas e na crítica aos costumes. § A novela camiliana atende ao gosto popular, com predomínio do ultrarromantismo e do passiona- lismo, traço distintivo e força artística. O mundo é frustrado sob o ângulo das grandes paixões: Carlota Ângela (1858), Amor de perdição (1863), Amor de salvação (1864), A doida do Candal (1867), O retra- to de Ricardina (1868). § A obra que rompe com as características típicas do romantismo é Coração, cabeça e estômago, livro que realiza uma crítica aos costumes como numa antecipa- ção ao realismo. 3.ª Geração Júlio Dinis § Criava seus personagens sob a lógica dos tipos so- ciais e substituiu o ultrarromantismo pelas anteci- pações realistas, em que a oralidade e os compor- tamentos observáveis passaram a figurar em suas narrativas. No entanto, é estudado ainda no Roman- tismo, por conta do processo de redenção nas con- clusões de suas tramas. § Suas principais obras são: As pupilas do senhor rei- tor (1867), A morgadinha dos canaviais (1868), Uma família inglesa (1868), Serões da província (1870), Os fidalgos da casa mourisca (1871), Poesias (1873), Inéditos e esparsos (1910) e Teatro inédito (1946-47). O rOmanCe BrasileirO e a BusCa dO naCiOnal Nas décadas que sucederam a Independência do Brasil, os romancistas se empenharam no projeto de construir uma cultura brasileira autônoma, que exigia dos escritores o re- conhecimento da identidade de nossa gente, da nossa lín- gua, das nossas tradições e diferenças regionais e culturais. Nessa busca, o romance se voltou para os espaços nacio- nais, identificados como a selva, o campo e a cidade, que deram origem, respectivamente, ao romance indianista e histórico (a vida primitiva), ao romance regional (a vida ru- ral) e ao romance urbano (a vida citadina). O mais fértil ficcionista romântico brasileiro foi o cearense José Martiniano de Alencar (1829-1877), cuja meta era formar uma literatura nacional autêntica, que rompesse os vínculos com a lusitana e retratasse a realidade brasileira. Esse objetivo foi alcançado. José de Alencar José de Alencar (1829-1877) foi o principal romancista brasileiro da fase romântica. Sua vasta produção literária compreende vinte romances, oito peças de teatro (como Mãe e O jesuíta, encenadas à época), crônicas, escritos políticos e crítica literária. Em razão da abrangência de seus romances, eles foram clas- sificados de acordo com o tema. § Romances indianistas: O guarani (1857); Iracema (1865); e Ubirajara (1874). § Romances regionalistas: O gaúcho (1870); O tron- co do ipê (1871); Til (1871); e O sertanejo (1875). § Romances históricos: As minas de prata (dois vo- lumes: 1865 e 1866); Guerra dos mascates (dois vo- lumes: 1871 e 1873); Alfarrábios (1873, composto de O garatuja, O ermitão da Glória e A alma de Lázaro). § Romances urbanos (ou “perfis de mulheres”): Cinco minutos (1856); A viuvinha (1857); Lucíola (1862); Diva (1864); A pata da gazela (1870); Sonhos d’ouro; Senhora (1872); e Encarnação (1877). Principais obras O guarani, 1857, romance histórico-indianista que mostra a convivência entre portugueses e as tribos in- dígenas da época. A obra se articula a partir de alguns fatos essenciais: a devoção e fidelidade do índio goitacá Peri a Cecília; o amor de Isabel por Álvaro e o amor deste por Cecília. A morte acidental de uma índia aimoré, pro- 38 vocada por D. Diogo, e a consequente revolta e ataque dos Aimorés, ocorre simultaneamente a uma rebelião dos homens de D. Antônio, liderados pelo ex-frei Loredano, homem ambicioso e devasso que queria saquear a casa e raptar Cecília. Iracema, 1865, romance histórico-indianista que desen- volve a lenda da fundação do Ceará e a história de amor entre a índia Iracema e o português Martim. Guardadora dos segredos da Jurema, Iracema faz um voto de castida- de, que rompe ao tornar-se esposa de Martim. Abandona sua tribo e segue com ele. Dá à luz um filho – Moacir –, símbolo do homem brasileiro miscigenado. Martim tem de partir para Portugal por um longo tempo. Quando regressa, encontra Iracema à morte. Enterra-a ao pé de uma palmeira e retorna a Portugal, levando consigo o filho. Til, 1871, romance regionalista em que o narrador uti- liza descrições pormenorizadas da região e de cenários em torno do rio Piracicaba. A história do romance gira em torno do misterioso nascimento de Berta, uma jovem muito bondosa e bonita que mesmo sendo uma típica heroína romântica, abnega de seus desejos para cuidar daqueles a quem quer bem. Por trás de tudo isso, o ro- mance mostra uma visão patriarcal e senhorial presentes no Brasil escravista e patriarcal. Os preconceitos de classe e as relações de poder são enfocadas na obra. Senhora, 1875, romance urbano, é uma das últimas obras escritas por Alencar. Ao tematizar o casamen- to como forma de ascensão social, o autor deu início à discussão sobre certos valores e comportamentos da so- ciedade carioca da segunda metade do século XIX. Au- rélia Camargo é uma moça pobre e órfãde pai, noiva de Fernando Seixas, bom rapaz, que ambiciona ascender socialmente. Em razão disso, troca Aurélia por outra moça de dote mais valioso. Aurélia passa a desprezar todos os homens. Eis que, com a morte de uma avó, torna-se mi- lionária, e consequentemente, uma das mulheres mais cortejadas do Rio de Janeiro. Como vingança, manda ofe- recer a Seixas um dote de cem contos de réis, sem revelar seu nome, que seria conhecido só no dia do casamento. Seixas aceita e se casa. Na noite de núpcias, Aurélia reve- la-lhe seu desprezo. Seixas cai em si e percebe o quanto fora vil em sua ganância. Outros autores da prosa romântica brasileira § Bernardo Guimarães – criou o romance regiona- lista. Tornou artísticos os “casos” da literatura oral, valendo-se das técnicas narrativas dos folhetins. Suas obras mais lidas são O seminarista (1872) e A escrava Isaura (1875), construídas com temas básicos dos ro- mances de ênfase social de sua época, respectivamente o celibato clerical e a escravidão. § Visconde de Taunay – É também autor do roman- ce regionalista. Por conta de suas andanças no Mato Grosso, soube reproduzir com precisão aspectos visuais da paisagem sertaneja, especialmente da fauna e da flora da região. Foi autor do romance Inocência (1872), sua obra-prima, e de livros sobre a guerra e o sertão, como Retirada da Laguna (1871). § Franklin Távora – Nasceu no Ceará e estudou Di- reito no Rio de Janeiro. Foi um dos mais polêmicos e radicais escritores regionalistas. Rebelou-se contra a “literatura do Sul”, especialmente a de Alencar, seu conterrâneo, alegando que ele se deixava levar pelos modelos estrangeiros – nos romances urbanos – e que, ao dedicar-se a romances regionalistas, nem sequer conhecia a região retratada – em O gaúcho. Com O cabeleira, inaugurou um dos veios mais férteis de nos- sa ficção regional. Trouxe à tona problemas até então pouco conhecidos em outras regiões do país, como o banditismo, o cangaço, a seca, a miséria, as migrações, mais tarde retomados e aprofundados por Graciliano Ramos, José Lins do Rego, Jorge Amado. § Joaquim Manuel de Macedo – Foi autor do primei- ro romance brasileiro propriamente dito, A moreninha (1844), depois de algumas tentativas malsucedidas no gênero. Embora formado em Medicina, Macedo se dedicou ao jornalismo e à política. A moreninha confe- riu-lhe ampla popularidade, mantida com a publicação de outros romances. § Manuel Antônio de Almeida – Como escritor, produziu uma única obra. O descompromisso com o sucesso e um grande senso de humor lhe permitiram criar uma das obras originais do Romantismo brasileiro: Memórias de um sargento de milícias. 39 ESTÉTICA ROMÂNTICA: POESIA as gerações dO rOmantismO Tradicionalmente, são apontadas três gerações de escrito- res românticos. Essa divisão, contudo, compreende, principalmente, os au- tores de poesia. Os romancistas não se enquadram muito bem nessa divi- são, uma vez que suas obras apresentam traços caracterís- ticos de mais de uma geração. § Primeira geração: nacionalista, indianista e religio- sa, com destaque para Gonçalves Dias e Gonçalves de Magalhães. § Segunda geração: marcada pelo “mal do século”, apresenta egocentrismo exacerbado, pessimismo, sa- tanismo e atração pela morte. Foi bem representada por Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu, Fagundes Varela e Junqueira Freire. § Terceira geração: formada pelo grupo condoreiro, desenvolve uma poesia de cunho político e social. A maior expressão desse grupo é Castro Alves. Duran- te o Segundo Reinado, os românticos foram firman- do o projeto de uma literatura autenticamente na- cional, liberta da portuguesa. Houve três momentos no desenvolvimento da poesia romântica brasileira, cujos poetas reúnem distintas gerações com carac- terísticas em comum. 1.ª Geração Gonçalves de Magalhães O médico, diplomata, poeta e dramaturgo Domingos José Gonçalves de Magalhães (1811-1882) foi o iniciador do Romantismo na literatura brasileira. Sua meta foi imple- mentar a nova corrente literária no País, com o apoio do imperador D. Pedro II. Gonçalves Dias Gonçalves Dias criou o indianismo romântico, impondo-se como uma das maiores figuras da nossa literatura. Seus versos carregavam eloquência, lirismo, grandiosidade e harmonia. Sua obras poéticas são: Primeiros cantos, Se- gundos cantos, Últimos cantos, Sextilhas de Frei Antão, Di- cionário da língua tupi, Os timbiras; as teatrais são: Beatriz Cenei, Leonor de Mendonça, Boabdil e Patkul. Canção do exílio é um dos mais conhecidos poemas de Gonçalves Dias, escrito em Coimbra, em julho de 1843. Além dele, há também o poema indianista I - Juca Pirama, a história do último descendente da tribo tupi feito prisio- neiro dos timbiras. O guerreiro seria sacrificado e devorado numa festa canibal. Pelo amor ao pai, já velho e cego, o prisioneiro implora ao chefe dos timbiras que o liberte para cuidar do pai. Julgando-o um covarde, o chefe timbira de- siste do sacrifício e solta o prisioneiro. 2.ª Geração Álvares de Azevedo Álvares de Azevedo (1831-1852) é o principal nome da geração ultrarromântica de nossa poesia. Paulista, fez os estudos básicos no Rio de Janeiro e cursava o quinto ano de Direito, em São Paulo, quando sofreu um acidente (que- da de cavalo), cujas complicações o levaram à morte, antes de completar 21 anos. O escritor cultivou a poesia, a prosa e o teatro. Os sete livros, discursos e cartas que produziu foram escritos em apenas quatro anos, período em que era estudante universitário. Além disso, o autor também se utilizou constantemente da ironia, empregada pelo poeta como recurso para quebrar a noção de ordem e abalar as convenções do mundo burguês. Enquanto o lado Caliban do poeta se situa em uma das linhas que compõem o Romantismo – a linha orgíaca e satânica –, a ironia levada às últimas consequências dos poemas de Álvares de Azevedo acessa um veio novo: o antirromântico, o que constitui outro paradoxo. O mais ro- mântico dos nossos românticos lançou o germe da própria superação do Romantismo, ao ironizar algumas das atitu- des mais caras à sua geração, como a pieguice amorosa e a idealização do amor e da mulher. Casimiro de Abreu Casimiro de Abreu (1839-1860) é um dos poetas român- ticos mais populares. Natural de Barra de São João, no Rio de Janeiro, escreveu a maior parte de sua obra poética, Pri- maveras, em Portugal. Apesar de ligado à segunda geração da poesia romântica, Casimiro contribuiu para desanuviar o ambiente noturno que Álvares de Azevedo deixara ao morrer, sete anos antes. 40 3.ª Geração Castro Alves Castro Alves (1847-1871), o “poeta dos escravos”, é consi- derado a principal expressão condoreira da poesia brasilei- ra. Nascido em Curralinho, hoje Castro Alves (BA), estudou Direito em Recife e em São Paulo. Na evolução da poesia romântica brasileira, sua obra representa um momento de maturidade e de transição. Maturidade em relação a certas atitudes ingênuas das gerações anteriores, como a idealiza- ção amorosa e o nacionalismo ufanista, substituída por pos- turas mais críticas e realistas. Transição porque a perspectiva mais objetiva e crítica com que trata a realidade aponta para o movimento literário subsequente, o Realismo. Castro Alves cultivou a poesia lírica e social, de que são exemplos Espumas flutuantes e A cachoeira de Paulo Afon- so; a poesia épica: Os escravos; e o teatro: Gonzaga ou Revolução de Minas. Seus poemas tratavam das questões sociais, da arte engajada e também da temática lírica. u.t.i. - sala Leia o texto a seguir para responder às questões 1 e 2. À SUA MULHER ANTES DE CASAR Discreta, e formosíssima Maria, Enquanto estamos vendo a qualquer hora Em tuas faces a rosada Aurora, Em teus olhos, e boca o Sol, e o dia: Enquanto com gentil descortesia O ar, que fresco Adônis te namora, Te espalha a rica trança voadora, Quando vem passear-te pela fria: “Goza, goza da flor da mocidade, Que o tempo trata a toda ligeireza, E imprime em todaa flor sua pisada, Oh não aguardes, que a madura idade, Te converta essa flor, essa beleza, Em terra, em cinza, em pó, em sombra, em nada”. (GreGório de MatoS) 1. Explique quais aspectos do tema da efemeridade da vida revelam aspectos do contexto histórico da estética barroca. Além disso, determine a estrutura formal do poema em seus vários aspectos. 2. Leia o trecho a seguir de Luiz Vaz de Camões e deter- mine de qual obra ele foi retirado. Em seguida, justifi- que do ponto de vista temático e formal sua resposta. As armas e os Barões assinalados Que da Ocidental praia lusitana, Por mares nunca dantes navegados, Passaram ainda além da Taprobana, Em perigos e guerras esforçados, Mais do que prometia a força humana, E entre gente remota edificaram Novo reino, que tanto sublimaram; (...) Não mais, Musa, não mais, que a lira tenho Destemperada e a voz enrouquecida, E não do canto, mas de ver que venho Cantar a gente surda e endurecida. O favor com que mais se acende o engenho Não no dá a pátria, não, que está metida No gosto da cobiça e na rudeza Duma austera, apagada e vil tristeza 3. Durante o século XIV, a poesia trovadoresca entra em decadência, surgindo uma nova forma de poesia, total- mente distanciada da música, apresentando amadureci- mento técnico, com novos recursos estilísticos e novas formas poemáticas. Qual é o nome deste momento literá- rio e qual a determinação dada para a poesia da época? 4. (UFG) Leia os textos que seguem: Sub Tegmini Fagi [...] Vem comigo cismar risonho e grave... A poesia - é uma luz... e a alma - uma ave... Querem - trevas e ar. A andorinha, que é a alma - pede o campo. A poesia quer sombra - é o pirilampo... P’ra voar... p’ra brilhar. [...] aLVeS, CaStro. “eSpuMaS fLutuanteS”. São pauLo: ateLiê editoriaL, 1998. p. 105 poiesis II luz lapidada de ourives segredo incorruptível brilho faz da sua chama meu ideograma MaGaLHãeS, CarLoS f. f. de. “perau”. Goiânia: Vieira, 2004. p. 203. A estrofe de Castro Alves e o poema de Carlos Fernan- do F. de Magalhães apresentam aspectos que os aproxi- mam e os distinguem. Tendo em vista esse fato, indique a) um aspecto comum aos dois textos; b) dois aspectos que os diferenciam. 5. (UFBA) AVES DE ARRIBAÇÃO IV É noite! Treme a lâmpada medrosa Velando a longa noite do poeta... Além, sob as cortinas transparentes Ela dorme... formosa Julieta! Entram pela janela quase aberta Da meia-noite os preguiçosos ventos E a lua beija o seio alvinitente - Flor que abrira das noites aos relentos. O Poeta trabalha!... A fronte pálida 41 Guarda talvez fatídica tristeza... Que importa? A inspiração lhe acende o verso Tendo por musa - o amor e a natureza! E como o cáctus desabrocha o medo Das noites tropicais na mansa calma, A estrofe entreabre a pétala mimosa Perfumada da essência de sua alma. No entanto Ela desperta... num sorriso Ensaia um beijo que perfuma a brisa ... ... A Casta-diva apaga-se nos montes ... Luar de amor! acorda-te, Adalgisa! (aLVeS, CaStro. oS MeLHoreS poeMaS de CaStro aLVeS. SeLeção de Lêdo LVo. 4 ed. São pauLo: GLobaL ed., 1988. p. 78.) Quais as características da lírica romântica - conteúdo e linguagem - presentes na poesia de Castro Alves? Escreva um texto sobre essas características, ilustran- do-as com exemplos retirados do poema anterior. 6. (PUC-RJ) Texto 1 Beijei na areia os sinais de teus passos, beijei os meus braços que tu havias apertado, beijei a mão que te ultrajara num momento de loucura, e os meus próprios lábios que roçaram tua face num beijo de perdão. Que suprema delícia, meu Deus, foi para mim a dor que me causa- vam os meus pulsos magoados pelas tuas mãos! Como abençoei este sofrimento!... Era alguma cousa de ti, um ímpeto de tua alma, a tua cólera e indignação, que tinham ficado em minha pessoa e entravam em mim para tomar posse do que te pertencia. Pedi a Deus que tornasse indelével esse vestígio de tua ira, que me santificara como uma cousa tua! .................................................................. Quero guardar-me toda só para ti. Vem, Augusto: eu te espero. A minha vida terminou; começo agora a viver em ti. (JoSé de aLenCar. “diVa”. rio de Janeiro: ediouro, 1996. p.121.) O texto acima é um trecho do último capítulo de “Diva”, romance de Alencar que, ao lado de “Senhora” e “Lucí- ola”, forma a trilogia de “perfis femininos”. Trata-se de uma carta escrita por Emília, protagonista da estória, ao jovem médico Augusto. A partir da leitura do texto, indique as características românticas presentes no frag- mento, justificando com exemplos. U.T.I. - E.O. Leia o texto a seguir para responder às questões 1 a 3. Ondas do mar de Vigo, se vistes meu amigo! E ai Deus, se verrá1 cedo! Ondas do mar levado2, se vistes meu amado! E ai Deus, se verrá cedo! MartiM Codax 1. verrá = Virá\ 2. levado = aGitado 1. Segundo a tradição da poesia medieval, como pode- -se classificar a cantiga de Martim Codax? 2. Determine as características que justificam sua clas- sificação. 3. A estrutura paralelística é, neste poema, particularmen- te expressiva, pois revela uma relação importante com o aspecto da temática. Determine qual é esta relação. Leia o texto a seguir para responder às questões 4 e 5. Mote: Perdigão perdeu a pena, Não há mal que lhe não venha. Volta: Perdigão que o pensamento Subiu a um alto lugar, Perde a pena do voar, Ganha a pena do tormento. Não tem no ar nem no vento Asas com que se sustenha: Não há mal que lhe não venha. (CaMõeS) 4. De que fase da poesia de camões este poema se en- quadra? 5. Do ponto de vista formal, como pode se classificar o poema classicista de Luís Vaz de Camões? Leia o texto a seguir para responder às questões 6 a 8. Passada esta tão próspera vitória, Tornado Afonso à Lusitana terra, A se lograr da paz com tanta glória Quanta soube ganhar na dura guerra, O caso triste, e dino da memória Que do sepulcro os homens desenterra, Aconteceu da mísera e mesquinha Que despois de ser morta foi Rainha. (LuiS Vaz de CaMõeS) 6. De que obra de Luis Vaz de Camões o trecho apresen- tado foi retirado? 7. Qual o ano da publicação da obra em que o trecho se enquadra? 8. O texto faz menção a uma passagem importante da obra que se enquadra. Qual é esta passagem e qual o seu significado no todo da obra? Leia o texto a seguir para responder às questões 9 a 11. Eu cantarei de amor tão Docemente, Por uns termos em si tão concertados, Que dois mil acidentes namorados Faça sentir ao peito que não sente. Farei que amor a todos avivente, Pintando mil segredos delicados, Brandas iras, suspiros magoados, Temerosa ousadia e pena ausente. 42 Também, Senhora, do desprezo honesto De vossa vista branda e rigorosa Contentar-me-ei dizendo a menor parte. Porém, para cantar de vosso gesto A composição alta a milagrosa, Aqui fala saber, engenho e arte. 9. De que fase da obra de Luis Vaz de Camões o trecho a cima foi retirado? 10. Camões possui temas fundamentais em sua poesia. Determine qual a temática predominante no texto “Eu cantarei de amor tão docemente”? 11. Do ponto de vista formal, como se pode classificar o poema acima? Justifique com pelo menos um aspecto. Leia o texto a seguir para responder à próxima questão. Não só são ladrões, diz o santo, os que cortam bolsas, ou espreitam os que se vão banhar para lhes colher a roupa; os ladrões que mais própria e dignamente merecem este título são aqueles a quem os reis encomendam os exércitos e legiões ou o governo das provín- cias, ou a administração das cidades, os quais já com manha, já com força roubam e despojam os povos. Os outros ladrões roubam um homem, estes roubam cidades e reinos; os outros furtam debaixo do seu risco, estes sem temor nem perigo; os outros se furtam, são enforcados, estes furtam e enforcam. padre antônio Vieira – “SerMão do boM Ladrão” 12. O jesuíta padre Antônio Vieira ficou famoso por seu poder de argumentação em função do projeto de coloni- zação catequética de Portugal. Um de seus instrumentos era o “silogismo aristotélico”.Determine suas premissas e conclusão no trecho do “Sermão do bom ladrão”. 13. Qual é o documento que na história da Literatura pode ser considerado a “Certidão de nascimento da Literatura Brasileira”? Determine também quem foi o responsável por sua autoria e a data de sua publicação. 14. (UFLavras) Leia os seguintes fragmentos de “Marília de Dirceu”, de Tomás Antônio Gonzaga. Texto 1 Verás em cima de espaçosa mesa Altos volumes de enredados feitos; Ver-me-ás folhear os grandes livros, E decidir os pleitos. Texto 2 Os Pastores, que habitam este monte, Respeitam o poder do meu cajado; Com tal destreza toco a sanfoninha, Que inveja me tem o próprio Alceste. Responda: Em qual dos fragmentos o sujeito lírico é caracterizado de acordo com a convenção arcádica? Explique. 15. (UFJF-Pism) TEXTO I SONETO DO EPITÁFIO Lá quando em mim perder a humanidade Mais um daqueles, que não fazem falta, Verbi-gratia – o teólogo, o peralta, Algum duque, ou marquês, ou conde, ou frade: Não quero funeral comunidade, Que engrole “sub-venites” em voz alta; Pingados gatarrões, gente de malta, Eu também vos dispenso a caridade: Mas quando ferrugenta enxada edosa Sepulcro me cavar em ermo outeiro, Lavre-me este epitáfio mão piedosa: “Aqui dorme Bocage, o putanheiro; Passou vida folgada, e milagrosa; Comeu, bebeu, fodeu sem ter dinheiro”. (boCaGe, ManueL Maria barboSa du. in: LaJoLo, MariSa. (orG.) Literatura CoMentada: boCaGe. São pauLo: abriL CuLturaL, 1980. p. 91. ortoGrafia atuaLizada.) TEXTO II LEMBRANÇA DE MORRER Quando em meu peito rebentar-se a fibra, Que o espírito enlaça à dor vivente, Não derramem por mim nem uma lágrima Em pálpebra demente. E nem desfolhem na matéria impura A flor do vale que adormece ao vento: Não quero que uma nota de alegria Se cale por meu triste passamento. Eu deixo a vida como deixa o tédio Do deserto, o poento caminheiro – Como as horas de um longo pesadelo Que se desfaz ao dobre de um sineiro; Como o desterro de minh’alma errante, Onde o fogo insensato a consumia: Só levo uma saudade – é desses tempos Que amorosa ilusão embelecia. [...] Descansem o meu leito solitário Na floresta dos homens esquecida, À sombra de uma cruz, e escrevam nela: Foi poeta – sonhou – e amou na vida. Sombras do vale, noites da montanha Que minha alma cantou e amava tanto, Protegei o meu corpo abandonado, E no silêncio derramai-lhe canto! Mas quando preludia ave d’aurora E quando à meia-noite o céu repousa, 43 Arvoredos do bosque, abri os ramos. Deixai a lua pratear-me a lousa! (azeVedo, áLVareS de.Lira doS Vinte anoS. in: obra CoMpLeta. rio de Janeiro: noVa aGuiLar, 2000. p. 188-189.) Com base nos textos I e II, responda: a) Quais são as características do soneto de Bocage (texto I) que nos permitem identificá-lo como satírico? b) Os poemas de Bocage (texto I) e Álvares de Azevedo (texto II) tratam diferentemente do mesmo tema. Iden- tifique esse tema e explicite as maneiras como cada au- tor o trata, relacionando-as com o contexto de época. 45 REDAÇÃO 46 DISSERTAÇÃO ARGUMENTATIVA: é o gênero textual em que se discute um tema, a partir da defesa de um posicionamento sustentado por argumentos. Trata-se de um tipo de texto frequentemente exigido nos exames vestibulares do país. 1. Estrutura da dissErtação argumEntativa INTRODUÇÃO Trata-se do parágrafo inicial do texto. Ele tem função de situar o leitor a respeito do assunto e da problemática a serem tratados e de anunciar o direcionamento a ser desenvolvido ao longo do texto, isto é, a tese. DESENVOLVIMENTO O desenvolvimento da redação ocorre nos parágrafos intermediários do texto. Eles apresentam os argumentos selecionados para a defesa da tese. CONCLUSÃO Trata-se do parágrafo de encerramento da redação. A depender do vestibular, pode apresentar uma reiteração da tese e dos argumentos desenvolvidos ou apresentar uma intervenção para o problema discutido. (ENEM) 2. ElEmEntos básicos da dissErtação argumEntativa TESE: É o posicionamento a respeito do tema. Trata-se de um período dentro do texto que resume ao leitor qual será o ponto de vista defendido ao longo da redação. Geralmente, a tese aparece ao final do 01º parágrafo, isto é, da introdução. ARGUMENTO: É uma ideia que sustenta a tese. Deve ser apresentada e discutida por meio de dados, fatos, citações, exemplos ou analogias artísticas. 3. rEflExão crítica A elaboração da redação exige um momento de reflexão especial do candidato. Na maior parte dos casos, é mais produtivo dedicar um tempo maior para a análise do tema e para a seleção dos argumentos que para a própria escrita, uma vez que a construção de um ponto de vista claro e objetivo é a principal finalidade do texto. Uma das maneiras de refletir criticamente sobre um assunto é separar o “joio do trigo”. No caso das dissertações xargu- mentativas, a reflexão pode ser iniciada separando o senso comum do senso crítico. O SENSO CRÍTICO se encarrega de analisar a fundo as problemáticas discutidas observando seu surgimento, suas causas e seus principais agentes; o SENSO COMUM, por sua vez, apenas reflete uma opinião superficial ou limitada, usualmente baseada em hábitos, crenças e preconceitos ou numa visão menos esclarecida sobre determinada situação. OBJETIVIDADE E CLAREZA A linguagem utilizada na redação deve respeitar a norma padrão da língua portuguesa e prezar pela clareza e pela objetividade. Os termos que atribuem incerteza e imprecisão às afirmações devem ser deixados de lado. IMPESSOALIDADE Predomínio da 03º pessoa do singular § Nota-se que... § Observa-se que... § É possível perceber... § Pode-se afirmar... § Vale mencionar que... § Convém ressaltar... § É importante abordar... § Não se pode esquecer... § Torna-se fundamental reavaliar ... § É necessário rever... § Passa-se a discutir... § É notável que... DISSERTAÇÃO ARGUMENTATIVA A LINGUAGEM NA DISSERTAÇÃO ARGUMENTATIVA 47 APRESENTAÇÃO DA OPINIÃO Alguns verbos no presente Vale dizer também que veículos de mídia distorcem as informações fornecidas pelos entrevistados. A elite brasileira ignora a noção de cidadania e, assim, submete os outros a uma relação de hierarquia. No entanto, tal discurso deturpa a visão da sociedade a respeito de política. Adjetivos A sociedade civil é conivente com as ações... As ações vinculadas à cultura são inexpressivas... A adoção de uma postura crítica é essencial aos sujeitos... Substantivos abstratos Há uma hipocrisia no discurso de parte da classe média brasileira. Logo, nota-se o desprezo da opinião pública em uma questão que deveria ser de interesse coletivo. Assim, esse cenário apenas fortalece o desconhecimento sobre o assunto. Verbos de ligação Diante disso, nota-se que o racismo continua presente no cotidiano brasileiro, ainda que parte da sociedade civil negue sua existência. Tornou-se comum negar o próprio discurso. Além disso, vale dizer que o corpo docente permanece distante do interesse de seus alunos. Características principais da redação ENEM: § Elaborar um texto em prosa, do tipo dissertativo-argumentativo, com tema de ordem social, científica, cultural ou política. (Geralmente, discute-se problemas da sociedade). § Compor o texto a partir de uma tese que seja comprovada por argumentos. § Sugerir uma intervenção para o problema abordado. (A sugestão deve respeitar os direitos humanos). 1. compEtências COMPETÊNCIA 01: Demonstrar domínio da modalidade escrita formal da língua portuguesa. Dicas: § Esteja muito atento à construção sintática das orações e aos problemas de acentuação, pontuação, concordância e ortografia; § Dê preferência ao emprego de períodos menores, em que as subordinações e orações intercaladas possam ficar mais claras e organizadas aos olhos do leitor; § RELEIA o seu rascunho antes de passar a limpo procurando eliminar quaisquer desvios da norma padrão e usos lexicais da informalidade. COMPETÊNCIA 02: Compreender a proposta de redação e aplicar conceitos das várias áreas de conhecimento paradesenvolver o tema, dentro dos limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo em prosa. Dicas: § Leia com MUITA ATENÇÃO o recorte temático proposto, buscando elaborar uma redação que atende integralmente ao que se pede; § Construa seus parágrafos de modo a deixar claro que seu texto possui uma introdução com uma tese, desenvol- vimento conclusão; § Utilize ao menos dois repertórios externos na redação que estejam vinculado ao tema e que sejam provenientes de outras áreas do conhecimento: literatura, história, sociologia, filosofia, direito, cinematografia, música, etc. ESPECIFICIDADES DO ENEM 48 COMPETÊNCIA 03: Selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista. Dicas: § Construa uma tese que já anuncie ao leitor quais serão seus argumentos: § Elabore seus parágrafos de desenvolvimento com sua opinião (introduzida pelo tópico frasal) e com explicações, infor- mações e fatos que a comprovem. Para isso, utilize a estrutura do parágrafo-padrão. COMPETÊNCIA 04: Demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para a construção da argumentação. Dicas: § Capriche na coesão entre os períodos e parágrafos de seu texto. Lembre-se que as ideias devem estar sempre muito bem amarradas; § Use a coesão referencial para retomar temos apresentados anteriormente, evitando ao máximo a repetição de palavras. § Use os conectivos para ligar seus períodos e parágrafos. Evite repetir conectivos: a pontuação máxima também depende de um repertório amplo de operadores argumentativos. COMPETÊNCIA 05: Elaborar proposta de intervenção para o problema abordado, respeitando os direi- tos humanos. Dicas: § Faça uma proposta concreta. Pense em ações possíveis e evite clichês. § Não se esqueça de nenhum dos elementos: AGENTE, AÇÃO, MEIO, FINALIDADE. Lembre-se também de que ao menos 1 desses elementos precisa estar DETALHADO. EXEMPLO: REDAÇÃO ENEM 2019 – Nota 1000 Na obra “A Invenção de Hugo Cabret”, é narrada a relação entre um dos pais do cinema, Georges Mélies, e um menino órfão, Hugo Cabret. A ficção, inspirada na realidade do começo do século XX, tem como um de seus pontos centrais o lazer propor- cionado pelo cinema, que encanta o garoto. No contexto brasileiro atual, o acesso a essa forma de arte não é democratizado, o que prejudica a disponibilidade de formas de lazer à população. Esse problema advém da centralização das salas exibidoras em zonas metropolitanas e do alto custo das sessões para as classes de menor renda. Primeiramente, o direito ao lazer está assegurado na Constituição de 1988, mas o cinema, como meio de garantir isso, não tem penetração em todo território brasileiro. O crescimento urbano no século XX atraiu as salas de cinema para as grandes cidades, centralizando progressivamente a exibição de filmes. Como indicativo desse processo, há menos salas hoje do que em 1975, de acordo com a Agência Nacional de Cinema (Ancine). Tal fato se deve à falta de incentivo governamental – seja no âmbito fiscal ou de investimento – à disseminação do cinema, o que ocasionou a redução do parque exibidor interiorano. Sendo assim, a democratização do acessoao cinema é prejudicada em zonas periféricas ou rurais. Ademais, o problema existe também em locais onde há salas de cinema, uma vez que o custo das sessões é inacessível às classes de renda baixa. Isso se deve ao fato de o mercado ser dominado por poucas empresas exibidoras. Conforme teorizou inicialmente o pensador inglês Adam Smith, o preço decorre da concorrência: a competitividade força a redução dos preços, en- quanto os oligopólios favorecem seu aumento. Nesse sentido, a baixa concorrência dificulta o amplo acesso ao cinema no Brasil. Portanto, a democratização do cinema depende da disseminação e do jogo de mercado. A fim de levar os filmes a zonas periféri- cas, as prefeituras dessas regiões devem promover a interiorização dos cinemas, por meio de investimentos no lazer e incentivos fiscais. Além disso, visando reduzir o custo das sessões, cabe ao Ministério da Fazenda ampliar a concorrência entre as empresas exibidoras, o que pode ser feito pela regulamentação e fiscalização das relações entre elas, atraindo novas empresas para o Brasil. Isso impediria a formação de oligopólios, consequentemente aumentando a concorrência. Com essas medidas, o cinema será democratizado, possibilitando a toda a população brasileira o mesmo encanto que tinha Hugo Cabret com os filmes. Trecho extraído de redação nota 1000 publicada na Cartilha do participante – Redação ENEM 2020 49 COMENTÁRIO DO INEP C1: O participante demonstra excelente domínio da modalidade escrita formal da língua portuguesa, uma vez que a estrutura sintática é excelente e não há presença de desvios em seu texto. C2: Em relação aos princípios da estruturação do texto dissertativo-argumentativo, percebe-se que o participante apre- senta introdução em que expõe seu ponto de vista, desenvolvimento de justificativas que comprovam esse ponto de vista e conclusão que encerra a discussão, demonstrando excelente domínio do texto dissertati- vo-argumentativo. O tema é abordado de forma completa, revelando uma leitura cuidadosa da proposta de redação: ainda no primeiro parágrafo, o participante anuncia a problemática ao abordar a centralização das salas de cinema e o preço elevado dos ingressos que impedem a democratização efetiva do cinema. Observa-se também o uso produtivo de repertório sociocultural pertinente à discussão proposta pelo participante em mais de um momento do texto: no primeiro parágrafo, o filme “A Invenção de Hugo Cabret” foi utilizado com o objetivo de contextualizar o tema, apresentando o cinema como um lugar de lazer; no segundo parágrafo, o participante compara o que é assegurado pela Constituição Federal com a situação atual do país; e, no terceiro parágrafo, ele se vale de um argumento de autoridade, encontrado no pensamento de Adam Smith, para fundamentar a justificativa de que o preço dos ingressos é alto porque há poucas empresas atuando no Brasil. C3: Percebe-se, também, ao longo da redação, a presença de um projeto de texto estratégico, com informações, fatos e opiniões relacionados ao tema proposto, desenvolvidos de forma consistente e bem organizados em defesa do ponto de vista. No primeiro parágrafo, o participante destaca a importância do cinema como fonte de lazer e apresenta a situação dessa arte no Brasil: de acordo com ele, o acesso ao cinema é prejudicado porque as salas estão centralizadas emg randes cidades e o preço dos ingressos é alto. Esses dois aspectos serão aprofundados de forma orga- nizada, cada um em um parágrafo próprio. No segundo parágrafo, discutem-se as causas da centralização das salas do cinema nas grandes cidades, o que fez com que as áreas rurais ou periféricas ficassem sem acesso a ele. Já no terceiro parágrafo, as causas do alto custo das sessões de cinema são apresentadas e detalhadas. No último parágrafo, são apre- sentadas propostas de solução para os dois problemas discutidos no texto, reforçando a importância de se proporcionar esse tipo lazer à população brasileira. C4: Em relação à coesão, encontra-se, nessa redação, um repertório diversificado de recursos coesivos, sem inade- quações. Há articulação tanto entre os parágrafos (“Ademais”, “Portanto”) quanto entre as ideias dentro de um mesmo parágrafo (1º parágrafo: “seus pontos centrais”, “essa forma de arte”, “o que”; 2º parágrafo: “mas”, “desse processo”, “Sendo assim”; 3º parágrafo: “também””, “uma vez que”, “enquanto”; 4º parágrafo: “dessas regiões”, “Além disso”, “Com essas medidas”, entre outros). C5: Por fim, o participante elabora proposta de intervenção muito boa: concreta, articulada à discussão desen- volvida no texto, detalhada e que respeita os direitos humanos ao propor investimentos em salas de cinemas em lugares afastados e aumento da competitividade entre as empresas exibidoras. 50 Siga as orientações abaixopara produzir um projeto de texto produtivo no vestibular: PASSO 01. Análise do tema Dedique alguns minutos a refletir sobre o recorte temático. Analise as palavras chaves que aparecem na proposta. Use-as na hora de introduzir o tema na sua redação. Caso tenha dificuldades, procure transformar esse recorte em perguntas para ajudar seu planejamento. TEMA PERGUNTAS POSSÍVEIS A democratização do acesso ao cinema no Brasil Por que o acesso ao cinema não é democratizado no Brasil? Essa democratização ocorre efetivamente? Desafios para a formação educacional de surdos no Brasil Quais são os desafios dessa formação? Quais problemas a formação desse indivíduos precisa enfrentar? Eutanásia: entre a preservação à vida e a liberdade de escolha A eutanásia representa mais uma liberdade de escolha ou um atentado à vida? Por quê? PASSO 02. Leitura da coletânea § Destaque as informações principais; § Analise a fonte de cada um dos excertos; § Relacione as informações dadas pela coletânea. Você deve avaliar os posicionamentos dos autores, analisar criticamente os dados de infográficos, e verificar como todas essas informações aparecem no meio social abordado, podendo criar orações que ilustrem a reflexão gerada a partir dessas análises. PASSO 03. Brainstorm § Faça uma tempestade de ideias acerca do tema. Anote tudo aquilo que vier na cabeça: exemplos, analogias, compara- ções, citações, definições, ilustrações, etc.; § Defina sua tese: a partir daqui você já sabe qual posicionamento defender. PASSO 04. Aplicação de critérios de seleção § Selecione os argumentos que apresentem uma relação mais direta com a tese a ser desenvolvida e com a temática abordada na coletânea; § Selecione os argumentos que tenham uma melhor sustentação: exemplo, argumento de autoridade, dado histó- rico, comparação, etc; § Selecione o argumento que possa ser embasado por alguma teoria (sociológica, filosófica). § Após selecionar os argumentos e seus respetivos repertórios para comprovação, aproveite e selecione também o repertório a ser utilizado na introdução para apresentar o tema. PLANEJAMENTO DE TEXTO 51 PASSO 05. Crie uma lista organizada ou um mapa mental com as ideias que você vai defender em cada parágrafo § Organize a ordem se aparecimento das informações em seu texto, inserido frases, orações das ideias que serão apresen- tadas em cada um dos parágrafos. LISTA ORGANIZADA POR PARÁGRAFOS 01.º § Repertório: A Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) – todo ser humano tem o direito de ser reconhecido como pessoa perante a lei. § Problema: No entanto, essa situação não se concretiza de modo efetivo no Brasil/ muitas pessoas ainda se tornam vítimas do tráfico humano no país/ tratadas como mercadoria. § Tese: O problema ocorre em função do desconhecimento civil sobre o assunto e é reforçado pela ação ineficaz do Estado. 02.º § Falta de informação entre a população. § Explicação: Baixa escolaridade + más condições econômicas § Exemplo: Caso “Fada madrinha” – Franca SP 03.º § Ações do Estado são pouco eficazes. § Explicação: falta de controle sobre os dados/b estratégias de fiscalização § Legislação: Isso contraria o Código civil brasileiro que prevê aperfeiçoamento. 04.º § Intervenção 01: MDH – informar a população sobre os riscos – campanhas em massa (tv/redes/transportes públicos) – diminuir o número de vítimas § Intervenção 02: Gov. Federal – aperfeiçoar o sistema de segurança – criação secretaria tecnologicamente especializada no recolhimento das informações – a fim de desmontar as organizações criminosas com mais facilidade § Assim, o Brasil poderá garantir maior proteção, como determina a DUDH. MAPA MENTAL 1º) PARÁGRAFO Repertório: A Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) – todo ser humano tem o direito de ser reconhecido como pessoa perante a lei. Problema: No entando, essa situação não se concretiza de modo efetivo no Brasil / muitas pessoas ainda se tornam vítimas do tráfico humano no país / tratadas como mercadoria. Tese: O problema ocorre em função do desconhecimento civil sobre o assunto e é reforçado pela ação ineficaz do Estado. 2º) PARÁGRAFO Falta de informação entre a população. Explicação: Baixa escolaridade + más condições econômicas = Exemplo: Caso “Fada madrinha” – Franca SP. 4º) PARÁGRAFO Intervenção I: MDH/informar a população sobre os riscos/campanhas em massa (tv/redes/transportes públicos)/ diminuir o número de vítimas 4º) PARÁGRAFO Intervenção: Gov. Federal – aperfeiçoar o sistema de segurança – criação secretaria tecnologicamente especializada no recolhimento das informações – a fim de desmontar as organizações criminosas com mais facilidade. Assim o Brasil poderá garantir maior proteção, como determina a DUDH. 3º) PARÁGRAFO Ações do Estado são pouco eficazes. Explicação: Falta de controle sobre os dados/estratégias de fiscalização Exemplo: Isso contraria o que o Código civil brasileiro que prevê aperfeiçoamento. A Declaração Universal dos Direitos Humanos – documento do qual o Brasil é signatário – prevê que todo ser humano tem o direito de ser reconhecido como pessoa perante a lei. Todavia, essa situação não se concretiza de modo efetivo no Brasil, já que muitas pessoas ainda se tornam vítimas do tráfico humano no país, e passam a ser tratadas como mer- cadoria por diferentes organizações criminosas. Nesse contexto, pode-se afirmar que a dificuldade em se combater tal questão ocorre em função do desconhecimento civil sobre o assunto e é reforçada em virtude da ação ineficaz do Estado no controle das ocorrências. Inicialmente, a falta de informação da população mostra-se como um dos principais entraves no enfrentamento ao problema. Isso porque pessoas com baixa escolaridade e más condições econômicas são enganadas pelas quadri- lhas ao buscarem melhor qualidade de vida e, assim, aceitarem falsas promessas de emprego. Um exemplo dessa articulação foi descoberto no município paulistano de Franca, onde uma quadrilha foi denunciada por traficar jovens transexuais para fora do país. Na ocasião, os criminosos ofereciam o pagamento da cirurgia de mudança de sexo como remuneração pelo trabalho, o que sugere a facilidade de tais organizações em se aproveitarem de grupos mais vulneráveis da sociedade. Cabe salientar, ainda, que a ineficácia do Estado em coibir a ação dessas quadrilhas acentua a gravidade do proble- ma. Isso se deve ao fato de, mesmo diante das denúncias, não haver um sistema que organize os dados coletados por diferentes entidades – como a polícia Federal e delegacias regionais – e, com eles, produza ações estratégicas de combate às quadrilhas. Esse cenário contraria o Código Civil Brasileiro, que determina a ampliação e aperfeiçoamento das políticas de repressão ao tráfico humano no país. Nesse sentido, nota-se que o problema também carece de ações na esfera da administração pública. Diante desse contexto, é fundamental aprimorar o combate ao tráfico humano no Brasil. Portanto, cabe ao Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos informar a sociedade a respeito da ação das quadrilhas, por meio da ampliação em massa de campanhas que alertem sobre os riscos de propostas atraentes, com o objetivo de diminuir o número de vítimas. Além disso, o Governo Federal deve implantar um sistema de controle das ocorrências desse crime, mediante a criação de secretarias tecnologicamente preparadas para reunir as informações e repassá-las aos órgãos competentes, a fim de que estes ajam de modo mais efetivo. Desse modo, o Brasil se aproximará da proteção ao indivíduo prevista pela Declaração Universal dos Direitos Humanos. Redação Modelo - Hexag Vestibulares 53 EspEcificidadEs da FuvEst Proposta com viés mais abstrato/reflexivo Os recortes temáticos costumam trazer discussões mais amplas que abordem questões referentes ao indivíduo ou à sociedade como: os limites da arte, a menoridade do homem, a interferência do passado na compreensãodo presente, o papel da ciência do mundo contemporâneo, entre outros. Desenvolvimento do tema e leitura da coletânea A FUVEST avalia a capacidade do aluno de desenvolver o tema apresentado. De modo geral, o tema não é avaliado apenas pela sua pertinência à proposta, mas sim pela sua profundidade e articulação com as ideias sugeridas nos textos motivadores. Nesse sentido, ela exige que o aluno desenvolva o tema de modo profundo, a partir de um ponto de vista crítico, que transcenda os elementos da coletânea e analise as relações tensivas entre todos os elementos enfocados na proposta. Autoria Evite fórmulas prontas: procure fugir de estruturas pré-fabricadas e mostre ao leitor que possui competência para elaborar um texto argumentativo a partir de suas próprias reflexões. Autoria dentro da estrutura dissertativa argumentativa: busque a construção de um texto que único que atenda ao gênero e ao tema proposto. Repertório pessoal Fundamente seus argumentos e crie sua introdução a partir de um repertório sociocultural diferente e criativo: procure selecionar autores, teorias, livros, filmes, etc. que efetivamente tenham uma relação próxima com o tema e que acrescentem à discussão realizada. Evite usar “citações-coringa” muito divulgadas na internet como base de seus argumentos. Reflexão crítica Analise o tema de modo aprofundado: Na Fuvest, é fundamental fugir do senso comum sobre o tema abordado. Sempre procure ler os textos da coletânea e encontrar uma abordagem mais profunda para a temática discutida, valendo-se, sobretudo, de teorias que possam fundamentar seus argumentos. Valorização do vocabulário expressivo Atente à escolha do léxico: A Fuvest valoriza não apenas o uso da norma culta do português, mas também uma seleção vocabular expressiva que contribua para a construção das ideias dentro de um determinado tema. Portanto, procure empregar um vocabulário preciso, conciso e adequado ao tema discutido, evitando clichês e frases feitas. Lembre-se das especificidades da FUVEST § Proposta que discute temas abstratos, amplos ou atemporais; § Coletânea composta por textos de diferentes gêneros: pinturas, poemas, textos da filosofia, sociologia ou história; DICAS: § Evite fórmulas prontas ou muito engessadas: Você não precisa estruturar seu texto com mecanismos de coesão tão comuns como “Em primeira análise..” etc. § Fundamente seus argumentos e crie sua introdução a partir de um repertório sociocultural diferente: Evite citações “coringas”. Nesses casos, prefira referir-se ao conceito do autor. § Analise o recorte temático e a coletânea de modo profundo: Na FUVEST, o aluno é avaliado pela capacidade de desenvolver aquele tema. Ou seja, mais do que compreendê-lo, é fundamental estabelecer uma análise profunda da discussão proposta. § Atente à escolha do léxico. ESPECIFICIDADES DA FUVEST E DA VUNESP 54 EspEcificidadEs da vunEsp Proposta com viés mais polêmico As provas frequentemente abordam temas sociais, políticos, culturais, econômicos ou científicos que estão em discussão na mídia, nas esferas legislativas, nas redes sociais, etc. (Uberização/aborto/descriminalização da maco- nha/eutanásia/educação domiciliar/DST entre jovens, etc). Polarização de ideias Os excertos escolhidos pela VUNESP costumam apresentar pontos de vista divergentes sobre o assunto em questão. Essa escolha não é aleatória: ela induz o candidato a criar argumentos que sejam capazes de corro- borar ou contestar os posicionamentos apresentados na coletânea, fazendo – sobretudo – o uso de ressalvas. Sendo assim, é importante observar se os argumentos escolhidos para sustentar a tese já não estão “invalida- dos” por um desses excertos da coletânea. Atenção ao recorte temático É preciso muita atenção ao ler o recorte temático proposto pela VUNESP. Isso porque ele costuma abordar um mesmo assunto a partir de recortes diferentes. Exemplo: O voto nulo é um ato político eficaz? (UNIFESP 2017)/ O voto deveria ser facultativo no Brasil? (UNESP 2018). Ambos os temas falam sobre votos e eleição, mas possuem recortes diferentes. Além disso vale considerar que esse recorte pode ser apresentado em forma de perguntas ou de afirmações. Padrão de coletânea Diferentemente da FUVEST, a VUNESP possui um modelo padronizado de apresentação da proposta. Ele consiste na seleção de 2 a 5 textos que servem de auxílio para a compreensão do tema e para a elaboração dos argumentos pelo candidato. Como a maior parte desses excertos é proveniente do meio jornalístico, entende-se que as propostas da VUNESP dialogam com temas em constante debate na mídia, o que facilita a construção dos argumentos. No entanto, é importante saber interpretar todos os gêneros textuais: quadri- nhos, charges, textos filosóficos, poemas, etc, pois – eventualmente – algumas coletâneas são compostas de diferentes tipos de texto. Adoção de um posicionamento claro Adote um posicionamento claro. É fundamental que o ao ler o recorte temático e a coletânea, você já saiba ao menos qual das ideias quer defender. Evite “ficar em cima do muro”, pois corre-se um risco muito alto de cair em contradição. Assuma seu posicionamento, e escolha ao menos dois argumentos para provar que você está correto em sua argumentação. Lembre-se das especificidades da VUNESP § Proposta que discute temas contemporâneos diante dos quais o aluno precisa se posicionar; § Coletânea composta por visões e posicionamentos polarizados; § Recortes temáticos com assuntos polêmicos; DICAS: § Atente do recorte temático proposto: cuidado com a fuga ao tema. § Adote um posicionamento claro: evite cair em contradição ao longo do texto § Valorize seu repertório pessoal: procure legitimar suas ideias com repertórios exteriores à coletânea. § Capriche no desenvolvimento de seu parágrafo: § Apresente a polêmica ao leitor: Faça contra-argumentos ou mencione, em ao menos um momento do texto, a invalidade dos argumentos contrários ao seu. 55 1. composição da introdução: Uso de um repertório para a contextualização do tema, apresentação do recorte temático proposto e apresentação da tese. CONTEXTUALIZAÇÃO 1. Repertório: Inicie o texto com algum repertório sociocultural para poder criar uma analogia com o tema a ser discutido. (Literatura; História; Sociologia; Filosofia; Legislação). DIRECIONAMENTO 2. Apresentação do tema: A partir da analogia estabelecida, apresente o tema da redação. Use palavras próximas ao recorte temático para garantir a compreensão do tema. 3. Tese: Apresente o seu posicionamento a respeito do tema proposto. 2. Estratégias dE introdução Apresentação da questão Esse modelo de introdução, usado por muitos alunos, é um dos mais seguros para os que possuem mais dificuldade de iniciar a redação. Ele pode ser iniciado por afirmações, declarações gerais e até mesmo exemplos a respeito do assunto, seguidos de exposição da problemática que envolve o tema e, finalmente, a tese do autor. Uso de imagens Esse modelo consiste em apropriar-se de uma imagem/metáfora que, de alguma forma, relacione-se com o as- sunto em questão. Trata-se selecionar uma imagem (dentro de um universo simbólico) que conduzirá o raciocínio a ser construído. Essa imagem pode ser uma história, uma anedota, um dito-popular, isto é: algo que aparentemente não se relaciona com o tema, mas que é usado como forma de construir uma analogia. Dados históricos O uso de dados históricos é um dos modelos mais usados na redação, justamente por ser uma forma segura de iniciar o período. No entanto, é preciso ter cuidado: a informação deve estar diretamente relacionada com o tema e deve ser usada apenas para introduzir a questão. Muitas vezes, alguns alunos exageram nos detalhes históricos e esquecem o objetivo principal, deixando a introdução longa e tediosa. Referências ficcionais Outra forma produtiva de se iniciar uma redação é a partir do uso de referências da ficção, isto é, menções a filmes, livros, séries, poemas e até mesmopinturas. Para empregar essa técnica, é preciso criar uma relação entre um aspecto da obra e a realidade do tema abordado, estabelecendo semelhanças, diferenças e outras analogias possíveis. No entanto, a recomendação é a mesma do uso de dados históricos:a referência ficcional só deve entrar se ela efetivamente puder criar uma analogia com o tema discutido. Uso de Leis Também é possível introduzir a redação apresentando dados de leis que se relacionem com o tema abor- dado. É comum encontrar redações que se referem à Constituição Federal Brasileira, ao Estatuto da Criança e do Adolescente e a outras determinações legais, estabelecendo uma relação entre tais leis e os recortes temáticos propostos. Uso de teorias filosóficas/sociológicas e de outras áreas científicas Usar recortes teóricos da filosofia e da sociologia na introdução da redação pode ser uma boa alternativa para o seu texto, pois essas áreas dialogam, direta ou indiretamente, com questões sociais, políticas, científicas, culturais e comportamentais que estão presentes em muitas propostas de redação. A dica é tentar selecionar um repertório bem adequado à temática discutida e caprichar na conexão entre esse repertório e a apresentação do tema. Além disso, é fundamental conhecer bem o conceito e saber escrever o nome do autor da obra, pois isso trará legitimidade e veracidade às analogias estabelecidas. INTRODUÇÃO I - ESTRUTURA 56 3. ExEmplos dE introdução EXEMPLO ENEM: A BANALIZAÇÃO DA VIOLÊNCIA NO BRASIL 1. REPERTÓRIO O dramaturgo alemão Bertold Brecht, na peça “A exceção e a regra”, afirma que as pessoas devem desconfiar daquilo que se apresenta como aparentemente natural, já que o cotidiano da sociedade da época estava repleto de confusões e conflitos capazes de produzir enganos e injustiças no convívio entre os cidadãos. 2. APRESENTAÇÃO DO TEMA/PROBLEMA: Embora a concepção do autor esteja presente em uma obra ficcional do início do século XX, é possível dizer que essa recomendação seria providencial para o momento contemporâneo brasileiro, uma vez que boa parte da população do país naturaliza a violência contra determinados grupos sem refletir atentamente sobre tal hábito. 3. TESE: Nesse sentido, pode-se afirmar que a ausência de uma consciência histórica entre a sociedade civil e a legi- timação da violência por parte do Estado são umas das principais razões para a persistência desse processo de banalização. EXEMPLO VUNESP: A ESPETACULARIZAÇÃO DA NOTÍCIA NA TELEVISÃO: ENTRE O COMPROMISSO COM A INFORMAÇÃO E AUSÊNCIA DE POSTURA ÉTICA 1. REPERTÓRIO Noticiar fatos, eventos ou testemunhos a partir de um relato jornalístico mais apelativo ou emocional não é algo recente na história da comunicação brasileira. Na passagem do século XIX para o XX, era comum encontrar no- tícias de violência, suicídio ou atropelamentos sendo apresentadas de modo dramático e até mesmo cômico em veículos de grande projeção, como no jornal o Estado de São Paulo. 2. APRESENTAÇÃO DO TEMA/POLÊMICA: Atualmente, essa mesma lógica baseada no espetáculo ainda pode ser vista na mídia nacional, seja ela impres- sa ou televisiva, pois muitos jornais, revistas, programas policialescos e até mesmo atrações vespertinas voltadas a temas variados se valem dessa narrativa chamativa para apresentar os fatos do dia a dia. Nesse contexto, muitas emissoras de televisão defendem que essa espetacularização se trata apenas de um modo diferente de informar a opinião pública, marcado, sobretudo, por uma forte ligação com os telespectadores e pelo uso constante da linguagem popular. 3. TESE: No entanto, convém ressaltar que tais atrações não se mostram tão comprometidas com a informação e, ain- da, rompem com a ética ao explorarem as dores e os traumas dos indivíduos e ao banalizarem discussões importantes para a vida em sociedade. EXEMPLO FUVEST: DE QUE MANEIRA A SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA LIDA COM AS EMOÇÕES? 1. REPERTÓRIO + APRESENTAÇÃO DO TEMA O cientista Charles Darwin, em 1872, escreveu o livro “A expressão das emoções nos homens e nos animais” buscando evidenciar o modo como as espécies reagiam emocionalmente em diferentes situações. No século XX, Sigmund Freud também procurou estudar o funcionamento da mente humana e sua relação com as ações e emoções dos indivíduos. 2. TESE: No entanto, apesar dos avanços e esforços históricos da ciência em compreender o funcionamento das emoções humanas, pode-se afirmar que o sujeito contemporâneo não apresenta uma relação positiva com tal ques- tão: em vez reconhecer a naturalidade das emoções, a sociedade de hoje recusa tais afetos e assim passa a sofrer graves consequências com essa escolha. 57 1. caractErísticas De modo geral, a escrita da tese não costuma ser muito extensa. Em geral, ela é redigida em um ou dois períodos de modo sucinto a fim de que o leitor consigo identificar facilmente qual será o ponto de vista adotado naquela dissertação. Além disso, também tem a função de mostrar ao leitor qual será o projeto de texto adotado ao longo da redação, fazendo possíveis referências aos argumentos a serem discutidos nos parágrafos de desenvolvimento. Essa apresenta- ção permite ao corretor identificar um planejamento prévio por parte do aluno e também a existência de uma possível progres- são textual ao longo da dissertação. Há também um outro detalhe importante, por se tratar de um posicionamento do autor, é fundamental que a tese seja com- posta por enunciados argumentativos, que possam ser questionados, contestados e que, obrigatoriamente, pressuponham explicações. Lembre-se das sugestões oferecidas na AULA 02 para redigir suas teses. Tema: Democratização do acesso ao cinema no Brasil – Enem 2019 – 1ª aplicação Exemplo: “O cinema, considerado a sétima arte, é um importante meio de difusão do conhecimento, entretenimento e cultura. Por oferecer tamanha carga intelectual, ele deveria ser de fácil acesso a todos. No Brasil, entretanto, percebe-se que, no decorrer dos anos, o acesso a essa arte tornou-se pouco democrático devido a fatores históricos e à reduzida a atuação estatal para resolver essa problemática. Trecho exTraído de redação noTa 1000 do eneM 2019, publicada na carTilha “redação a Mil 2.0” Comentário: A tese do candidato descreve que o cinema se tornou pouco democrático devido a fatores históricos e devido à baixa atuação do Estado para promover essa democratização. Da mesma forma, o autor se vale de substantivos abstratos e adjetivos “fatores históricos” e “atuação reduzida” para declarar seu posicionamento e determinar seu desenvolvimento. Tema: O PAPEL DA CIÊNCIA NO MUNDO CONTEMPORÂNEO – Fuvest 2020 Exemplo: A produção de conhecimento acompanha o ser humano desde as origens da espécie, paulatinamente, foi pos- sível transformar a roda em carro e este em avião. No entanto, algumas épocas históricas elucidam mais clara- mente a valorização da razão e da ciência, fazendo uma ruptura com o passado, como o Renascimento. Inscrito em um quadrado e em um círculo, o “Homem-Vitruviano” de Leonardo da Vinci sintetiza essa exaltação do saber e da potencialidade humana, opondo-se, assim, aos saberes dogmáticos da “Idade das Trevas”. Contudo, a sociedade contemporânea caminha ao contrário da história da humanidade: vem desvalorizando a luz da ciência, retornando às sombras do passado. (Trecho exTraído de redação noTa 48 da FuvesT 2020 – esTaTísTicas e deseMpenho dos alunos da 108ª TurMa da Faculdade de Medicina da universidade de são paulo.) Comentário: O posicionamento adotado pelo autor da redação defende que ciência tem sido desvalorizada, o que tem levado a sociedade de volta às sombras do passado. É possível perceber que essa tese mostra um ponto de vista claro e direto sobre o tema abordado, ao empregar os verbos no gerúndio “desvalorizando a luz da ciência” e “retor- nando às sombras do passado”. Tema: VESTIMENTAS RELIGIOSAS NO ESPORTE: LEGITIMAÇÃO DA OPRESSÃO OU LIBERDADE DE MANI-FESTAÇÃO RELIGIOSA? – Unifesp 2020 Exemplo:Recentemente, uma marca de materiais de esporte optou por suspender as vendas de seu hijab esportivo, um traje demandado por algumas praticantes de corrida islâmica, o que gerou controvérsias entre segmentos da co- munidade global. Por um lado, políticos nacionalistas ocidentais, como Aurore Bergé, defendem que a existência do hijab esportivo é uma legitimação da opressão às mulheres e afronta os valores ocidentais; por outro lado, há quem enxergue na vestimenta um modo de tornar o esporte acessível às mulheres islâmicas. De qualquer forma, a presença de vestimentas religiosas no esporte configura-se em uma liberdade de manifestação religiosa, uma vez que a opção pelo seu uso é uma escolha individual de cada mulher e permite que sua integração ao esporte seja acompanhada da preservação de sua cultura. (Trecho exTraído de redação noTa 47,727 do vesTibular uniFesp 2020 – disponível eM: esTaTísTicas dos esTudanTes aprovados eM Medicina na escola paulisTa de Medicina/universidade Federal de são paulo.) Comentário: A tese em destaque no trecho acima mostra uma resposta direta à pergunta elaborada pela banca, bem como traça o desenvolvimento dos argumentos que comprovam essa tese: o fato de se tratar de uma escolha individual e o fato de tal ação permitir a integração ao esporte acompanhada da preservação da cultura. INTRODUÇÃO II - ELABORAÇÃO DA TESE 58 1.1. Exemplos A) ENEM § A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira A adoção sistemática dessas ações bárbaras é fruto da grande dificuldade do país em combater, no discurso e na prática, as ações que inferiorizam as mulheres. E tal ineficiência apenas reforça os ciclos violentos, pois transformam a omissão de todos em uma regra a ser seguida. § O Histórico desafio de se valorizar o professor Nesse contexto, torna-se ainda mais difícil valorizar a profissão docente, pois, apesar de sua importância, ela ainda enfrenta uma forte estigmatização diante da opinião pública que é reforçada pela ausência de incentivos salariais por parte das instituições de ensino. B) VUNESP § O fracasso da lei de cotas para deficientes: negligência das empresas ou falha do estado? No entanto, pode-se afirmar que a ineficácia da lei reside, sobretudo, na falta de interesse das empresas em contratar os defi- cientes, ao subjugar a capacidade destes em atuar profissionalmente e ao burlar a legislação com a finalidade de não ser punida. § Uberização: entre a autonomia do trabalhador e a perda de direitos trabalhistas Nesse contexto, pode-se afirmar que o processo de uberização, de fato, representa uma perda grave dos direitos trabalhistas, afetando tanto a saúde quanto a qualidade dos trabalhadores. E a pretensa autonomia conquistada por tais indivíduos nesse processo apenas legitima a precarização de sua função. C) FUVEST Como os temas abordados pela FUVEST trazem sempre abordagens mais amplas, reflexivas e atemporais, é importante que o aluno treine diferentes formas de elaborar sua tese, seja utilizando alguns verbos no presente, verbos de ligação, adjetivos ou substantivos abstratos. A melhor solução é trabalhar bem com todos os recursos argumentativos disponíveis para que sua tese tenha autoria e possa ser clara e objetiva em relação ao tema abordado. Tema: Participação política: indispensável ou superada? É muito comum ouvir da boca de jovens hoje em dia que são apolíticos ou que a política não os diz respeito. Ainda assim, o Brasil possui um gigante movimento estudantil que participa das mais variadas discussões e lutas. É possível não ser engajado – seja por preguiça ou acomodação – mas apolítico, nunca. A política está presente em toda e qualquer detalhe da vida econômica e social, ela é indispen- sável e ser apolítico é uma ilusão. (Trecho exTraído de redação Modelo do exaMe FuvesT 2012 - disponível www.FuvesT.br (acesso eM 17.07.2017) O surgimento da ciência política remonta à época da Antiguidade, ainda quando os gregos se organizavam em torno da pólis e começavam a definir os primeiros conceitos de cidadania que, posteriormente, difundir-se-iam pelo mundo. É indiscutível a importância da política para a, então, formação da sociedade tal como ela é conheci- da na contemporaneidade. A partir dela, foram definidos direitos e deveres e, ainda mais relevante, tornou-se possível a participação do povo nas decisões que dizem respeito à vida em comunidade. (Trecho exTraído de redação Modelo do exaMe FuvesT 2012 - disponível www.FuvesT.br (acesso eM 17.07.2017) 59 discussão tEmática: o sanEamEnto básico no brasil É IMPORTANTE SABER I. DADO ESTATÍSTICO RELEVANTE De acordo com estudo realizado pelo Instituto Trata Brasil, os estados que menos receberam investimentos em saneamento básico entre 2015 e 2017 foram Amazonas, Acre, Amapá, Alagoas e Rondônia, totalizando 1,7%. Todos esses Estados são da Região Norte do país, onde se encontra a maior concentração de pobreza, portanto, onde há menos acesso a in- fraestrutura, está também a maior concentração de pobreza – junto com a Região Nordeste. “a desigualdade de acesso ao saneaMenTo básico” hTTps://doMToTal.coM/ / (04.12.2019) II. DADO HISTÓRICO RELEVANTE A primeira obra de saneamento básico no Brasil é datada de 1561. Estácio de Sá, militar português responsável por expulsar os franceses da região da baia de Guanabara e fundar a cidade do Rio de Janeiro, mandou cons- truir um poço para abastecer a cidade. Outra obra importante do período foi o primeiro aqueduto do país, hoje conhecido como Arcos da Lapa, também no Rio de Janeiro. Con- siderada a obra arquitetônica de maior importância do período colo- nial do Brasil, os Arcos da Lapa transportavam água do Rio Carioca para o Chafariz. A obra começou a ser construída em 1673 e só foi concluída em 1723. “hisTória do saneaMenTo básico no brasil” hTTp://eTes- susTenTaveis.org (acessado eM 08.12.2019) III. ARGUMENTO DE AUTORIDADE Consultor do Painel Saneamento Brasil, o professor Fernando Garcia de Freitas, da consultoria EXANTE, comenta em nota: “Geralmente, jovens que moram em residências sem acesso à água e ao serviço de coleta de esgotos sofrem com doenças e se afastam de suas atividades escolares. Isso afeta o tempo livre em que eles poderiam estar estudando e os indicadores mostram que acabam tendo baixo ren- dimento em provas como o ENEM”. “FalTa de acesso a saneaMenTo básico resulTa eM baixa renda e gasTo coM inTernações, diz esTudo” hTTps://g1.globo.coM (23.04.2019) IV. ATORES OU SITUAÇÕES QUE PODEM SER MOBILIZADOS NA DISCUSSÃO DO TEMA (PROPOSTA ENEM) (COBRANÇA POR PARTE DA POPULAÇÃO) Portanto, a existência de uma política pública, institucionalizada por meio da legislação, não significa a efetiva solução do problema. É necessário que a população se mobilize para fiscalizar e cobrar dos governos a solução do problema. Protestos públicos organizados pela população são consideradas formas de avaliar o mérito da po- lítica pública, podendo influenciar o governo a pensar em soluções mais efetivas ou a reformular a política vigente. Maria Luísa Brasil Gonçalves Ferreira - Bacharel em Direito pela Es- cola Superior Dom Helder Câmara. Pós-graduanda pela Escola Supe- rior de Advocacia da OAB. Assistente jurídica no Tribunal de Justiça de Minas Gerais. “a desigualdade de acesso ao saneaMenTo básico” hTTp:// ecossocioaMbienTal.org.br/ (acesso eM 20.02.2020) V. ANALOGIA LITERÁRIA Monteiro Lobato era muito envolvido com os problemas do Brasil. Prova disso é que ele criou um personagem que nos ajuda a discutir a questão da saúde do nosso País: o Jeca Tatu (o qual virou símbolo dos matutos que vivem no interior do Brasil). Por meio dele, Lobato denunciou as péssimas condições de saúde e de saneamento das populações que vivem no campo e falou sobre doenças típicas das áreas rurais, como o amarelão. “MonTeiro lobaTo e Jeca TaTu” hTTps://siTeanTigo. porTaleducacao.coM.br/ (acesso eM 20.02.2020) VI. LEGISLAÇÃO Art. 2o Os serviçospúblicos de saneamento básico serão prestados com base nos seguintes princípios fundamentais: I - universalização do acesso; II - integralidade, compreendida como o conjunto de todas as atividades e componentes de cada um dos diversos serviços de saneamento básico, propiciando à população o acesso na conformidade de suas necessidades e maximizando a eficácia das ações e resultados; III - abastecimento de água, esgotamento sanitário, limpeza urbana e ma- nejo dos resíduos sólidos realizados de formas adequadas à saúde pública e à proteção do meio ambiente; IV - disponibilidade, em todas as áreas urbanas, de serviços de drenagem e manejo das águas pluviais, limpeza e fiscalização preventiva das res- pectivas redes, adequados à saúde pública e à segurança da vida e do patrimônio público e privado; (Redação dada pela Lei nº 13.308, de 2016) V - adoção de métodos, técnicas e processos que considerem as pecu- liaridades locais e regionais; VI - articulação com as políticas de desenvolvimento urbano e regional, de habitação, de combate à pobreza e de sua erradicação, de proteção ambiental, de promoção da saúde e outras de relevante interesse social voltadas para a melhoria da qualidade de vida, para as quais o sanea- mento básico seja fator determinante; hTTps://www2.caMara.leg.br/legin/Fed/lei/2007/lei-11445- 5-Janeiro-2007-549031-norMaaTualizada-pl.hTMl 60 proposta EnEm TEXTO 1 A situação do saneamento é dramática no Brasil. Hoje, apenas um em cada dois brasileiros têm acesso à coleta e tratamento de esgoto. Mas da mesma forma que em áreas como educação e saúde, o número médio esconde grandes desigualdades regionais. Dados oficiais levantados por EXAME mostram o tamanho da variação nos dados de população com coleta de esgoto de 2018. Nenhum estado nordestino passa da faixa dos 40%, por exemplo, embora a Bahia chegue perto. Santa Catarina, um dos estados mais ricos do país, não chega sequer a 30% neste quesito enquanto o vizinho Paraná passa dos 70%, número próximo de Minas Gerais e Paraná. A mesma situação se repete na questão do acesso à água tratada. Ainda que a média nacional seja bem mais alta, de 83%, há estados como São Paulo e Distrito Federal próximos da universalização enquanto três estados da região Norte (Acre, Pará e Rondônia) não chegam sequer à faixa de 50%. A importância do saneamento também ficou ainda mais escancarada diante da pandemia do novo coronavírus. Em maio de 2020, uma pesquisa da Universidade Federal de Pelotas (UFP) nos maiores municípios de cada região do país foi feita para identificar quais tinham maior incidência de casos per capita de coronavírus. Nos municípios que ocupam o topo do ranking, o abastecimento de água é precário. Essa carência impossibilita a higiene frequente das mãos, uma das medidas mais recomendadas pelos médicos. Uma coisa é certa: investir em saneamento básico é um ganho também para a economia - tanto no sentido de produtividade quanto de equi- líbrio fiscal. Segundo a Organização Mundial de Saúde, cada dólar investido em saneamento significa uma economia de 4,3 dólares na saúde. “FalTa de saneaMenTo básico reFleTe desigualdades do brasil e aFeTa saúde” hTTps://exaMe.coM/ (30.06.2020) FonTe: Jornalusp JORNAL DA USP: Momento Sociedade #44: Falta de avanço no saneamento é resultado do excesso de burocracia multimídia: podcast FonTe: Jornalusp JORNAL DA USP: Momento Sociedade #41: Conheça os desafios da implementação do novo marco de saneamento básico multimídia: podcast FonTe: Tv câMara Privatizar o saneamento básico é a solução? multimídia: vídeo FonTe: YouTube Saneamento básico no Brasil - Sala Debate multimídia: vídeo 61 TEXTO 2 hTTp://g1.globo.coM/Ma/Maranhao/noTicia/2017/02/Maranhao-ocupa-23-posicao-eM-saneaMenTo-basico-diz-pesquisa.hTMl (21.02.2017) TEXTO 3 Moradores de locais sem saneamento básico ganham salários menores do que a população com acesso a água, coleta e tratamento de esgotos. Também estão mais vulneráveis a doenças comuns em áreas em que essa infraestrutura inexiste ou é precária – e o efeito disso é uma elevação nas despesas com saúde pública. Doenças como diarreias, verminoses, hepatite A, leptospirose e esquistossomose, dentre outras, estão entre as mais comuns que afetam moradores de áreas sem saneamento ou com serviço precário de água e esgoto. “FalTa de acesso a saneaMenTo básico resulTa eM baixa renda e gasTo coM inTernações, diz esTudo” hTTps://g1.globo.coM (23.04.2019) TEXTO 04 Cinco meses após a sanção do novo Marco Legal do Saneamento Básico, o presidente Jair Bolsonaro editou hoje (24) decreto para regulamentar os repasses a governos locais para apoiar licitações. O decreto define as regras para que a União envie recursos e ofereça apoio técnico para que estados e municípios se adaptem às novas regras do setor de saneamento. O texto também estabelece uma série de atividades a serem executadas pelo governo federal para facilitar a transição dos governos locais ao novo modelo. O novo Marco Legal do Saneamento Básico torna regra a realização de licitações para contratação de companhias de água e esgoto. Pelo novo modelo, a iniciativa privada passará a disputar as concorrências em igualdade de condições com as estatais locais. Como no Brasil, a responsabilidade pelo saneamento cabe aos municípios ou a consórcios de municípios, o novo modelo prevê que a União forneça apoio técnico e financeiro aos governos locais para a formulação dos processos de licitação. Segundo o decreto, os governos locais precisam cumprir critérios para receber a ajuda técnica e os repasses da União, como a obediência a normas da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) e o comprometimento com a regionalização do serviço de saneamento. “decreTo regulaMenTa novo Marco legal do saneaMenTo básico” A partir da leitura dos textos motivadores seguintes e com base nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija um texto dissertativo-argumentativo em modalidade escrita formal da língua portuguesa sobre o tema A PRECARIEDADE NO SANEAMENTO BÁSICO BRASILEIRO, apresentando proposta de intervenção que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista. 62 proposta vEstibular TEXTO 01 Atualmente, na maior parte dos municípios, é o Estado quem cuida da rede de água e esgoto, mas o acesso a esses serviços ainda é bastante limita- do no país e o nível de investimentos no setor é muito baixo. Metade da população (mais de 100 milhões de pessoas) não tem acesso a um sistema de esgoto, enquanto 16% (quase 35 milhões) não tem acesso a água tratada, segundo dados de 2018 do SNIS (Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento). Só 6% das cidades são atendidas pela iniciativa privada. Nas outras 94%, o serviço é feito por companhias estaduais ou muni- cipais, com ajuda do governo federal. Apesar dessa diferença, as empresas privadas respondem por 20% de todo investimento. “o que Muda coM a lei do saneaMenTo? água e esgoTo podeM Ficar Mais caros” hTTps://econoMia.uol.coM.br (24/06/2020) TEXTO 02 Os governos federais, estaduais e municipais, em geral, pouco se dedicaram a questão do saneamento básico. Pra se ter ideia da dimensão do descaso, o Ranking do Saneamento 2019 do Instituto Trata Brasil indica que, em 2017, o país lançou aproximadamente 5.622 piscinas olímpicas de esgoto não tratado na natureza. O cenário é vergonhoso e abriu uma brecha enorme para quem defende a privatização. Na verdade, sem grandes exemplos que confirmem que este é o melhor caminho. Em 94% das cidades, o serviço é feito por companhias estaduais ou municipais, com suporte do governo federal. Nas restantes, o serviço é realizado pela iniciativa privada, que responde por 20% do investimento no setor, o que não significa que tudo vai bem. Faz vinte anos que algumas cidades privatizaram o sistema de esgoto e a gestão da água e faltam boas notícias: centenas de milhões de reais emconcessões passaram por quatro concessionárias, que tiveram prorrogação de contrato e alívio de metas. O tema é complexo e alguns exemplos colocam em xeque a eficácia da privatização, como em Manaus, a maior capital da floresta amazônica, ba- nhada pela maior bacia hidrográfica do mundo, como destaca o projeto Água, sua linda. Faz 19 anos que o serviço de esgoto é gerido por empresas, mas somente 10,18% do esgoto é coletado na cidade, ou seja, praticamente 90% é jogado em córregos, igarapés, lagos e no rio Negro. Na periferia, a população não tem acesso à água potável. Monica nunes. “privaTização do saneaMenTo básico: o que Muda coM a aprovação da nova lei” hTTps://conexaoplaneTa.coM.br/ (25.06.2020) TEXTO 03 É vergonhoso o desempenho do Brasil no saneamento básico, e não há nenhum argumento favorável à sua manutenção nas mãos de empresas públicas estaduais que consiga explicar o fato de que, entra governo e sai governo (independente do partido), não conseguimos entregar um serviço digno (menos de 50% de esgoto coletado). Como contra fatos não há argumentos, precisamos, sim privatizar. Porém, as lições, não só domésticas, mas de todo o mundo (que, na década de 1990, embarcou na “onda” das privatizações) são valiosas demais para serem deixadas de lado! O ideal é sempre aprender com o erro dos outros, e também, no mínimo, aprendermos com os próprios erros. diogo de Faria. “privaTização no saneaMenTo: precisaMos Fazer cerTo” hTTps://saneaMenTobasico.coM.br/ (acessado eM 25.02.2021) TEXTO 04 Para Christian Borja-Vega, economista sênior do Banco Mundial, especialista em água e saneamento, o marco legal traz inovações positivas para a resolução do que é um dos maiores e mais antigos problemas brasileiros. No entanto, Borja-Vega entende que apenas a abertura ao setor privado não será suficiente para preencher os gargalos do setor no Brasil, país em que 35 milhões de pessoas não têm acesso à água tratada e mais de 100 milhões de cidadãos não têm esgoto canalizado. A meta é chegar a 99% da cobertura até 2033. “É um erro considerar que apenas a abertura para o setor privado vá resolver os problemas do saneamento. O que mais vai importar é a qualidade da sua implementação. É uma boa lei. A qualidade é uma condição necessária, mas não suficiente”, diz Borja-Vega à CNN. O economista lista algumas coisas que devem ocorrer para que o país tenha sucesso. Um dos principais é a necessidade de fortalecimento da atuação da Agência Nacional de Águas (ANA) como órgão regulador, que garanta que estados e municípios sigam as regras gerais de governança, independentemente se quem foi contratado para gerir o serviço for uma empresa privada ou uma estatal.”É preciso que a lei faça cumprir os con- tratos de concessão, dando também seburança ao setor privado. O importante dessa lei é a mistura entre o recurso público e o recurso privado e a possibilidade de revisão dos contratos com desempenho a melhorar”, explica o economista. “só privaTizar não resolve saneaMenTo, avalia econoMisTa do banco Mundial” hTTps://www.cnnbrasil.coM.br/ (24.06.2020) Com base nos textos apresentados e em seus próprios conhecimentos, escreva um texto dissertativo-argumentativo, empregando a norma-padrão da língua portuguesa, sobre o tema A PRIVATIZAÇÃO DO SANEAMENTO BÁSICO COLABORA PARA A UNIVERSALIZAÇÃO DESSE DIREITO? 63 INGLÊS 64 Tipos de provas No Brasil, existem dois tipos de provas de vestibular que são comuns: as provas compostas por questões de múltipla escolha e as provas compostas por questões dissertativas com respostas em português. Além desses dois casos, é comum encontrar provas de somatória e provas com ques- tões do tipo certo/errado. Provas de múltipla escolha Os vestibulares brasileiros, em sua maior parte apresen- tam questões de múltipla escolha, sendo que elas podem demandar habilidades de leitura e compreensão de texto, vocabulário ou gramática. Além disso, os enunciados e alternativas dessas questões podem ser apresentados em português ou inglês. Provas Dissertativas A principal característica das provas de Inglês dos princi- pais vestibulares é a prevalência de questões que deman- dem domínio de vocabulário e leitura de texto. Questões objetivas sobre gramática são cada vez mais raras. No entanto, três tópicos ainda são muito comuns: Pronomes, Conectores e Modal Verbs. Estes temas são pedidos exa- tamente porque sem esse domínio não se faz uma leitura de texto correta neste idioma. alguns falsos cognaTos imporTanTes § actual (real, verdadeiro) § actually (na verdade, na realidade, o fato é que) § admiral (almirante) § alias (pseudônimo, nome falso) § amass (acumular, juntar) § animus (rivalidade) § anthem (hino) § appoint (nomear, indicar) § argument (discussão, debate) § beef (carne bovina) § braces (aparelho dental) § collar (gola) § college (faculdade) § commodity (mercadoria) § comprehensive (abrangente, extenso, amplo) § compromise (entrar em acordo, fazer concessão, acordo) § condom (preservativo) § convict (condenado) § corporate (cabo na hierarquia militar) § costume (fantasia) § deception (fraude, falsificação) § devolve (transferir) § diversion (desvio) § durex (preservativo) § eventually (finalmente, por fim) § exit (saída, sair) § fabric (tecido) § grip (agarrar algo firmemente) § hospice (albergue) § idiom (expressão idiomática) § ingenious (engenhoso) § inhabitable (habitável) § injury (ferimento) § interest (juros) § lecture (palestra, aula) OVERVIEW AND ANALYSIS DO YOU UNDERSTAND? (TEXT INTERPRETATION) 65 § library (biblioteca) § lunch (almoço) § mayor (prefeito) § novel (romance escrito) § office (escritório) § parents (pais) § phony (trapaceiro , mau caráter) § prejudice (preconceito) § preservative (conservante) § private (recruta) § push (empurrar) § realize (perceber) § requirement (requisito) § retired (aposentado) § retribution (represália, punição) § scholar (erudito) § sensible (sensato) § service (atendimento) § support (appoiar, apoio) § tax (imposto) § tenant (inquilino) personal pronouns Subject Pronouns Object Pronouns I ME YOU YOU HE HIM SHE HER IT IT WE US YOU YOU THEY THEM Os personal pronouns da língua inglesa podem, com al- gumas variacões, ser relacionados aos pronomes pesso- ais da língua portuguesa. O que o português chama de pronomes pessoais do caso reto, a língua inglesa chama de subject pronouns, e os pronomes oblíquos são análo- gos aos object pronouns. Observe alguns usos dos subject pronouns: I am Brazilian – Eu sou brasileiro You are Brazilian – Você(s) é(são) brasileiro(s) He is Brazilian – Ele é brasileiro She is Brazilian – Ela é brasileira It is Brazilian – Isto/Esta coisa é brasileira We are Brazilian – Nós somos brasileiros They are Brazilian – Elas/Eles são brasileiros(as) Em linhas gerais, a função desSa classe de pronomes nas duas linguagens é similar: pronomes substituem nomes. Não é comum repetirmos o mesmo nome muitas vezes, mas sim usar um pronome, uma vez que sabemos a quem tal pronome se refere. Exemplos: Kate loves Brian. She loves Brian. O exemplo acima faz a substituição do nome Kate pelo pronome She. Observe o exemplo a seguir Brian loves Kate. Brian loves her. A diferença entre eles é que no exemplo 1 o nome Kate tem função de sujeito e foi substituído por um pronome de sujeito (She). Já no exemplo 2, o nome Kate tem função de objeto e foi substituído por um pronome de objeto (her). Veja mais exemplos: Brazilians agree with you. We agree with you. They agree with other Brazilians. They agree with them. The police officer will adress the issue She/He will adress the issue. WHO IS WHO? 66 possessive pronouns Possessive Adjective Pronouns Possessive Substantive Pronouns MY MINE YOUR YOURS HIS HIS HER HERS ITS ------- OUR OURS YOUR YOURS THEIR THEIRS Os pronomes desse tópico, como o próprio nome supõe, introduzem uma relação de possecom um substantivo e são bastante semelhantes ao que encontramos na língua portuguesa. Mas aqui podemos enfrentar alguns problemas. Se por um lado o português apresenta mar- cação quádrupla de pronomes (Eu – meu, minha, meus, minhas) e o inglês apresente marcação simples para eles, este tem dois tipos de pronomes possessivos (Adjective e Substantive), enquanto aquele tem apenas um, o que pode gerar algumas dificuldades. Possessive Adjective ou Possessive Substantive? Em alguns casos, pode ser pedido que o vestibulando opte entre os dois tipos de pronomes acima mencionados. Além de ser um ponto que gera uma dúvida razoável, ele tam- bém é muito solicitado em questões gramaticais. Tenha em mente que os pronomes Possessive Adjectives (my, your, his, her, its, our, their) são aqueles que são normalmente usados. Você só os substituirá pelos Possessive Substantives (mine, yours, his, hers, ours, theirs) em situações específicas. São elas: 1. Quando o substantivo a que se referir o pronome estiver omitido/subentendido. Exemplo: I can’t find my pen. Can I use yours? (Eu não consigo encontrar minha caneta. Pos- so usar a sua (caneta)? 2. Quando o substantivo a que se refere o pronome estiver antes do próprio pronome. Exemplo: It belongs to a friend of mine. (Isto pertence a um amigo meu). 3. Após preposições. Exemplo: They will come with their parents, and we’ll come with ours. (Eles virão com os pais deles e nós, com os nossos). reflexive pronouns Reflexive Pronouns Myself Yourself Himself Herself Itself Ourselves Yourselves Themselves O uso dos pronomes reflexivos é de certa forma simples. Uti- lizado como uma autorreferencia do sujeito. Ao contrário do que ocorre na Língua Portuguesa, a autorreferência não faz uso do mesmo pronome do objeto e sim de um específico. É uma referência a si mesmo e que não possui tradução direta. Exemplo: Farei isso por mim mesmo. I will do it by myself (jamais me, como uma tradução direta poderia sugerir) simple presenT (regra geral) Ao contrário do português, que apresenta múltiplas desinên- cias, o inglês tem como regra geral (exceções serão vistas no final deste item) a adição da letra “s” às terceiras pessoas do singular (he, she, it). Observe os exemplos a seguir: To need = precisar, necessitar I need to work better. (Eu preciso trabalhar melhor) You need to work better. (Você precisa traba- lhar melhor) He needs to work better. (Ele precisa trabalhar melhor) THE HERE AND NOW 67 She needs to work better. (Ela precisa trablhar melhor) It needs improvements. (Isto precisa de melhorias) We need to work better. (Nós precisamos trab- lhar melhor) You need to work better. (Vocês precisam trab- lhar melhor) They need to work better. (Eles/elas precisam tra- blhar melhor) Percebe-se que, enquanto a língua inglesa acrescenta ao bare infinitive dos verbos (infinitivo sem a partícula ‘to’) a letra ‘s’ aos pronomes de terceira pessoa do singular (he, she, it), a língua portuguesa acrescenta várias desinências ao verbo (preciso, precisa, precisamos, etc). Formas negativas do simple present A forma negativa dos verbos no simple present segue uma norma bem simples: acrescente do not (don’t) quando o sujeito for I, you, we, they; acrescente does not (doesn’t) quando o sujeito for he, she, it. Importante: Após o uso dos auxiliares do ou does, utilize o base form (infinitivo sem o to). Formas interrogativas Para que se obtenham as formas interrogativas dos ver- bos no simple present, deve-se fazer uso dos verbos au- xiliares do (para os pronomes I, you, we, they) e does (he, she, it), colocados antes dos respectivos sujeitos. To be O verbo to be não segue as mesmas regras que orientam a maioria dos verbos em inglês. Ele é o único que apresenta três formas de presente. São elas: § I am Brazilian. (Eu sou brasileiro) § He, she it is from the Netherlands. (Ele/ela/isto é da Holanda.) § You, we, they are thirsty. (Você(s), nós, eles(as) estão com sede) Talvez a maior dificuldade ao se lidar com o verbo to be resida no fato de que, ao ser vertido para o português, ele possa ter tanto estar quanto ser como significado, depen- dendo do contexto em que o verbo está inserido. Formas negativas Para se conseguir as formas negativas do verbo to be, deve-se apenas acrescentar a partícula not à forma afirmativa. Formas interrogativas Para que se obtenham as formas interrogativas do verbo to be, deve-se apenas inverter a posição do verbo e do sujeito. There To be A estrutura there to be é usualmente entendida como o verbo haver, existir, ocorrer. Ele apresenta duas formas no presente there is (para o singular) e there are (para o plural). Deve-se acrescentar a partícula not às formas afirmativas do there to be para que se obtenham suas respectivas for- mas negativas. Formas interrogativas Para que se obtenham as formas interrogativas do verbo there to be, deve-se apenas inverter a posição do verbo e do sujeito. presenT conTinuous (presenT progressive) O Present Continuous apresenta enorme semelhança com o tempo verbal Presente Contínuo da língua portuguesa. Ele é um tempo verbal que serve para expressar ações que estão acontecendo simultâneas à fala. O Present Conti- nuous (ou Progressive) é formado pelo presente do verbo to be (concordando com cada sujeito) mais um outro verbo no gerund (sufixo ING). Veja os exemplos: § I am composing a song right now. (Eu estou compon- do uma música neste exato momento.) § You are listening my music. (Você está ouvindo minha música.) § He is composing a song on his acoustic guitar. (Ele está compondo uma música em sua guitarra.) § She is singing in her room. (Ela está cantando no quar- to dela.) § It is working very well. (Isto está funcionando mui- to bem.) § We are watching a very interesting movie. § (Nós estamos assistindo um filme muito interessante.) § You are wasting money. (Vocês estão desperdiçando dinheiro.) § They are surfing the web on their computers. (Elas(es) estão navegando na internet em computadores.) 68 As formas interrogativas do Present Continuous são dadas pela inversão do sujeito com o to be. Exemplos: § Are you paying attention to the instructions? (Você está prestando atenção às instruções?) § Is it working properly? (Isto está funcionando cor- retamente?) As formas negativas do Present Continuous são dadas pela adição de not às formas do to be. § She is not (isn’t) composing a music. (Ela não está compondo uma música.) § I am not thinking about it. (Eu não estou pensando sobre isso.) simple pasT Regular verbs (verbos regulares) Os verbos regulares são os “queridinhos”dos alunos bra- sileiros por se configurarem de forma mais simples. Para obter o passado dos verbos regulares, basta acrescentar o sufixo ED a sua base form (infinitivo sem a partícula to), independente de quem seja o sujeito. Observe os exem- plos a seguir: to need (precisar, necessitar) I needed to be smarter (Eu precisei ser mais in- teligente.) You needed to be smarter (Você precisou ser mais inteligente.) He needed to be smater. (Ele precisou ser mais inteligente) She needed to be more careful. (Ela precisou ser mais cuidadosa.) It needed to be practical(Isto precisava ser mais prático.) We needed to be more practical. (Nós precisa- mos ser mais práticos(as).) You needed to be more practical (Vocês precisa- ram ser mais práticos) They needed to be more practical. (Elas(es) preci- saram ser mais práticos(as).) Irregular verbs (verbos irregulares) Encarar os verbos irregulares talvez seja a maior dificul- dade para o estudante brasileiro quando esse se depara com o simple past da língua inglesa. Nesse aspecto na língua inglesa se parece com a portuguesa, apresentan- do formas verbais variadas (daí o termo irregular), e as- sim como para aprender o português, também se torna necessário memorizar tais formas. Entretanto, tenha em mente que há apenas uma forma de passado para cada verbo,independente do sujeito. Seguem-se apenas al- guns exemplos. § to take – took (past) I took the subway to work. (Eu peguei o metro para trabalhar) She took the subway to work. (Ela pegou o me- tro para o trabalho) We took the subway to work. (Nós tomamos o metro para o trabalho) § to go – went (past) You went to school. (Você foi para a escola) He went too far. (Ele foi longe demais.) They went home together. (Eles foram juntos para casa) § to eat – ate (past) I ate the whole pizza (Eu comi a pizza inteiro) The dog ate our food (O cachorro comeu a nos- sa comida) We ate pasta toguether (Nós comemos ma- carrão juntos) Formas Negativas Para chegar as formas negativas dos verbos no simple past, é preciso acrescentar, após o sujeito e antes do verbo principal, o verbo auxiliar did mais a partícula not, independentemente do verbo ser regular ou irregular. FOCUS ON THE PAST 69 Formas interrogativas Para se verter uma frase para a forma interrogativa quando um verbo está no simple past é preciso acrescentar o verbo auxiliar did antes do sujeito da oração. O verbo principal deve permanecer no base form (infinitivo sem to). To be O verbo to be tem duas formas de passado: was (I, he, she, it) e were (you, we, they). Observe os exemplos: I was at work yesterday. (Eu estava no trabalho ontem). You were at home yesterday. (Você estava em casa ontem.) He was an French singer. (Ele era um cantor francês.) She was an Spanish doctor. (Ela era uma médica espanhola) The bike (it) was here four hours ago. (A bicicleta estava aqui há quatro horas atrás.) We were busy yesterday. (Nós estávamos ocupados(as) ontem.) They were bought in Russia in 2019. (Eles foram comprados na Rússia em 2019.) Formas interrogativas Para chegar as formas interrogativas de passado do verbo to be, deve-se trocar a posição do verbo com o sujeito da oração. Formas negativas Para chegar as formas negativas do verbo to be no passa- do, deve-se inserir a palavra not após o verbo. There To be Assim como no presente, duas formas de passado para o verbo there to be se apresentam: there was (para passa- do singular) e there were (para passado plural). Veja os exemplos a seguir. There was a restaurant near here. (Havia/existia um restaurante perto daqui.) There were many restaurants here. (Havia/existiam muitas restaurantes perto daqui.) Formas negativas Para chegar as formas negativas de passado do there to be, é preciso acrescentar a palavra not às formas afirmativas. Formas interrogativas Ao trocar a posição da forma verbal was ou were com o pronome there, obtém-se a forma interrogativa do verbo there to be. can O verbo can tem todas as suas formas de passado (incluí- das as de subjuntivo) concentradas na palavra could com qualquer que seja o sujeito envolvido. Sophia could play sing very well when she was a child. (Sophia podia cantar muito bem quando ela era criança.) Two years ago we could buy a car, but today this is impossible. (Há dois anos nós podíamos com- prar um carro, mas hoje isto é impossível.) I would go home if I could. (Eu iria para casa se eu pudesse.) used To Ao se deparar com textos em língua inglesa, o aluno sem- pre lida com um problema comum de quem tem português como língua materna: as formas de passado do inglês são correspondentes aos nossos verbos do pretérito perfeito ou do pretérito imperfeito? Como devo entender uma frase como ‘I played very well’? ‘Eu joguei muito bem’ ou ‘Eu jogava muito bem’? As frases grafadas em simple past em inglês usualmente correspondem ao que nós nomeamos como pretérito per- feito (ex: joguei, comi, bebi). Para se obter o mesmo sig- nificado das nossas sentenças no pretérito imperfeito (ex: jogava, comia, bebia), a língua inglesa faz uso da estrutura used to. Em linhas gerais, ela é utilizada para expressar uma ação que era verdadeira no passado, mas que não é mais. Observe os exemplos: I used to play basketball very well. (Eu costuma- va jogar/jogava basquete muito bem) She used to be a great singer. (Ela era/costu- mava ser uma grande cantora) Did you use to travel to the country when you lived abroad? (Você costumava viajar/viajava para o interior quando você morou no exterior?) 70 I didn’t use to like it, but now I do. (Eu não costumava gostar disso, mas agora eu gosto) pasT conTinuous Muito parecido com o caso previamente apresentado do present continuous, o past continuous da língua inglesa é um tempo verbal utilizado para expressar uma ação que estava acontecendo simultaneamente à outra, no passado e é formado por uma forma de passado do verbo to be (was ou were) mais um outro verbo de ação acrescido do sufixo ING (gerund). Estude os exemplos: When you called, I was taking a shower. (Quan- do você ligou eu estava tomando banho) Were you sleeping when I called you yester- day? (Você estava dormindo quando eu te liguei ontem? She wasn’t paying attention when the teacher as- signed her homework. (Ela não estava prestando atenção quando o professor passou a lição de casa.) Apêndice #1: formas interrogativa-negativas As diversar formas verbais abordadas nesta unidade (sim- ple past, to be, there to be e can) mostram, além das for- mas apresentadas (afirmativa, negativa e interrogativa) uma quarta forma: a interrogativa-negativa. As formas interrogativa-negativas são obtidas a partir das formas ne- gativas, cada um dos verbos seguindo suas próprias regras. Estude os exemplos abaixo: Didn’t they like their new clothes? (Eles(as) não gostaram de suas novas roupas?) Didn’t you talk to him? (Você não conversou com eles?) Weren’t you at home yesterday? (Você não es- tava em casa ontem?) Wasn’t there a person waiting here? (Não havia uma pessoa esperando aqui?) Couldn’t you ride bicycles when you were 6? (Você não conseguia andar de bicicleta quando você tinha 6 anos de idade?) Apêndice #2: Uso enfático do auxiliar did Além das formas interrogativas e negativas,há outro uso para o auxiliar did: o enfático. Veja os exemplos a seguir. I liked the show (Eu gostei do show) – I did like the show (Eu gostei muito do show) She told you not to be mad (Ela te pediu que não se chateasse) – She did tell you not to be mas (Ela realmente te pediu/foi muito clara ao te pedir que não se chateasse.) Apêndice #3: Tabela dos 150 verbos mais comuns da língua inglesa (regulares e Irregulares). A segunda coluna apresenta as formas de passado desses verbos, e a terceira coluna as formas de particípio passado (past participle). Existem duas estruturas verbais básicas para se apresentar ações futuras em língua inglesa: will e going to. Will É a forma mais comum. Serve para expressar um futuro mais incerto, sem data definida ou que acontecerá em um futuro mais distante. Afirmativa: Sujeito + WILL + verbo (base form) Exemplos: I will buy a house (Eu vou comprar uma casa.) She will forgive me someday. (Ela um dia vai me perdoar.) Those two countries will face a war. (Aqueles dois países vão encarar uma guerra.) Negativa: Sujeito + WILL NOT (WON”T) + verbo (base form) Exemplos: I will not (won’t) marry to her. (Eu não vou ca- sar com ela) She will never forgive me. (Ela nunca me perdoará) Those two countries will not (won’t) face a war. (Aqueles dois países não vão enfrentar uma guerra) LOOKING FORWARD 71 Interrogativa: WILL + Sujeito + verbo (base form) Exemplos: Will you marry her? (Você vai casar com ela?) Will she ever forgive you? (Ela algum dia irá te perdoar?) Will those two countries face a war? (Aqueles dois países enfrentarão uma guerra) WILL: expressa também decisão pessoal súbita, sem programação. Exemplo: “Look that dog! It is very cute. I will buy it!” Observações: NUNCA utilize to antes ou depois do verbo au- xiliar WILL. I will to help you. (incorrect) I will help you. (correct) NUNCA acrescente ‘s’ no verbo auxiliar WILL para as terceiras pessoas do singular she, he, it. She wills help you. (incorrect) She will helpyou. (correct) going To A estrutura verbal going to é utilizada para expressar um futuro mais próximo, com data ou preparação já definidos. Afirmativa: Sujeito + to be (present) + going to + verbo Exemplos: I am going to marry her. (Eu vou casar com ela.) George is going to take your credibility into ac- count. (George vai levar em conta sua credibilidade.) Japan is going to host the 2020 Olympic Games. (O Japão vai sediar os jogos olímpicos de 2020) Those two countries are certainly going to face a war (Aqueles dois países certamente vão entrar em guerra.) Negativa: Sujeito + to be (present) + NOT + going to + verb Exemplos: You are not going to buy it! (Você não vai comprar isso!) People are going to accept any changes. (As pessoas vão aceitar quaisquer mudanças) This is going to be designed in China. (Isto vai ser projetado na China) Interrogativa: to be (present) + sujeito + going to + verb Exemplos: Are we going to accept his apologies? (Nós vamos aceitar suas desculpas?) Am I going to obey you? (Eu vou obedecer vocês?) Is Laura going to live abroad? (Laura vai viver no exterior?) Going to: expressa também ideia de futuro a partir de evidências notáveis. Exemplo: “The sky is cloudy. It is going to rain soon.” Apêndice #1 Embora muito menos comuns, existem duas outras estru- turas verbais que também apresentam ações futuras. Estu- de os exemplos abaixo: Present Continuous Exemplos: I can’t go to the club with you because I am seeing my dentist tomorrow. (Eu não posso ir para balada com você porque eu vou no meu dentista amanhã) They are answering the e-mail very soon. (Eles estarão respondendo ao e-mail muito em breve) Simple Present Exemplos: Governments are likey to face challenges in a near future. (Governos estão propensos a ter de- safios em um futuro próximo) 72 mais comumente encontrado associado aos sujeitos I e WE. Estude os exemplos a seguir: I shall/will talk to the principal about that. (Eu conversarei o diretor sobre isso) We shall/will not pass beyond this point. (Nós não iremos além desse ponto) His schoolmates play basketball every Friday sin- ce 1993. (Os colegas de escola dele jogam bas- quete toda sexta-feira desde 1993) Apêndice #2 O verbo auxiliar SHALL tem a mesma função de WILL, embora seja muito mais formal e raro. SHALL é muito Os verbos modais são: can, could, may, might, should, must, ought to, will, shall e would. Veja as regras gramaticais dos verbos modais: § Não adicione ‘s’ à terceira pessoa do singular. § Não são usados verbos auxiliares para frases negativas ou interrogativas. § Nunca acrescente a partícula to nem antes nem depois de um verbo modal (com exceção de have to e ought to). can/could, may/mighT Expressam capacidade, habilidade, possibilidade, probabi- lidade, para pedir e dar permissão e pedir auxílio. Todas as leituras possíveis incluem, no português, o verbo poder, sendo que o verbo can está sempre no presente. Could, além de ser a forma de passado de can, também pode ser compreendido como futuro do pretérito do verbo can (po- deria, poderíamos). May e might também são usualmente compreendidos como poderia, poderíamos, etc. should, musT, oughT To, have To Normalmente expressam sugestões, conselhos, ordens, proibições e obrigações. Eles são normalmente entendi- dos em português como os verbos dever (ria) ou ter que. Todos os verbos desse grupo são verbos auxiliares, ou seja, não têm sentido sozinhos, mas somente associados ou re- ferindo-se a outros verbos. Formas negativas As formas negativas dos modal verbs são obtidas através da adição da palavra not. Formas interrogativas As formas interrogativas dos modal verbs são obtidas atra- vés da inversão do sujeito da oração e do verbo modal. 1. presenT perfecT HAVE/HAS + PAST PARTICIPLE O Present Perfect é um tempo verbal utilizado para expres- sar uma ação que começou no passado e cujas consequên- cias se estendem (e são relevantes) até o momento da fala. Exemplos: I have lost my bag (Eu perdi minha bolsa). Neste caso, meu passaporte continua perdido. She has left the house(Ela saiu da casa). Ela saiu da casa e ainda não retornou. Be quiet, please! I haven’t finished it yet. (Fi- que quieto, por favor! Eu ainda não terminei.) Ou seja, eu comecei algo e ainda estou executan- do esta tarefa. § Ele é utilizado para expressar ações que têm se repeti- do nos últimos tempos. Exemplos: She has worked a lot recently. (Ela tem traba- lhado muito recentemente) SHOULD WE CONTINUE PERFECTION 73 I have slept very well since I changed room with my sister. (Eu tenho dormido muito bem desde que eu troquei de quarto com a minha irmã.) We have been responsible for her for 5 years. (Nós somos/temos sido os responsáveis por ela nos últimos 5 anos.) Nós começamos e ainda somos responsáveis por ele. § Ele é utilizado por ações que acabaram de acontecer ou estão quase acontecendo. Exemplos: I have just sent you my report. (Eu acabei de te mandar meu relatório) Rush! The plane has arrived. (Apresse-se! O avião está chegando) § Com as palavras ever (ou never) normalmente expres- sam-se experiências de uma vida inteira. Exemplos: Have you ever seen a lion? (Você já viu um leão?) Ou seja, desde o nascimento até o mo- mento da fala. No, I have never seen a lion. (Não, eu nunca vi um leão) Ou seja, desde o nascimento até o momento da fala. She has never been abroad (Ela nunca esteve no exterior) Present Perfect Continuous HAVE/HAS + BEEN + VERB(ING) É uma variação do Present Perfect. Ele é utilizado quando se quer enfatizar a continuidade de uma ação que come- çou no passado e continua no presente. Exemplos: She has been washing the dishes since she arrived. (Ela está lavando louça desde que ela chegou) Ou seja, ela não interrompeu a lavagem em nenhum momento. They have been married for 35 years. (Eles es- tão casados há 35 anos.) Ou seja, há 35 anos, eles estão casados. pasT perfecT HAD + PAST PARTICIPLE O Past Perfect corresponde ao tempo verbal que a lín- gua portuguesa chama de Pretérito mais-que-perfeito. A definição e o uso são quase os mesmos. Eles servem para expressar uma ação que está no passado do pas- sado. Ou seja,caso se faça necessário expressar duas ações não simultâneas no passado, a ação mais antiga (que aconteceu primeiro) deve ser estar no Past Perfect, enquanto a mais recente (que aconteceu depois), deve estar no Simple Past. Estude os exemplos a seguir. Exemplos: Don’t be mad! When you arrived work, we had already finished the meeting (Não fique bravo! Quando você chegou ao trabalho, nós já tínha- mos terminado a reunião.) Portugal and Spain had already signed the Tordesilhas treat when Pedro Àlvares Cabral ar- rived in the Brazilian Coast in 1500. (Portugal e Espanha já tinham/haviam assinado o trata- do de Tordesilhas quando Pedro Álvares Cabral chegou na costa brasileira em 1500) Past Perfect Continuous HAD + BEEN + VERB (ING) O Past Perfect também pode ser utilizado em sua forma contínua, e, assim como o Present Perfect Continuous, a ênfase está na duração e continuidade da ação. Exemplos: I was short of breath on the phone because I had been running in the park. (Eu estava ofegante ao telefone porque eu tinha corrido/ estava correndo no parque.) She had been waiting for a long time when you arrived. (Ela havia esperado/ esteve esperan- do por um longo tempo quando você chegou.) fuTure perfecT conTinuous Mesmo que sejam muito mais raros, é possível que você encontre os dois tempos acima em textos mais sofisticados, portanto, vamos aprender um pouco sobre eles. Ambos são usados para expressar ações no futuro que se iniciaram em algum ponto do passado. Estude os exemplos a seguir: In a near future, Brazil will have hosted the two greatest events in the world. (Em um futuro próximo, o Brazil terá se- diado os dois maiores eventos do mundo.) – Future Perfect. By 2030, I will have been living for 59 years. (Quando 74 2030 chegar, euterei vivido por 59 anos.) – Future Per- fect Continuous. Formas interrogativas As formas negativas dos tempos perfeitos são conseguidas por meio da inversão do verbo auxiliar to have com o su- jeito da oração. Formas Negativas As formas negativas dos tempos perfeitos são consegui- das através da adição do advérbio not junto ao verbo auxiliar to have, ou em alguns casos por meio da adição do advérbio never. U.T.I. - Sala Leia ambos os textos para a resolução das questões 1 a 4 TEXTO I HE’S HAPPIER, SHE’S LESS SO Researchers added a twist to something known as a time-use survey. Instead of simply asking people what they had done over the course of their day, the researchers also asked how people felt during each activity. Not surprisingly, men and women often gave similar answers about what they liked to do (hanging out with friends) and didn’t like (paying bills). But there were also a number of activities that produced different reactions from the two sexes: Men apparently enjoy being with (__1__) parents, while women find time with their parents to be slightly less pleasant than doing laundry. Alan Kruger, a Princeton economist who studies happiness, figures that there is an explanation for the difference. For a woman, time with (__2__) parents often resembles work, whether it’s helping them pay bills or plan a family gathering. “For men, (__3__) tends to be sitting on the sofa and watching football with their dad,” said Mr. Krueger, who is analyzing time-use studies over the last four decades. He has found a pattern. Since the 1960s, men have gradually cut back on activities they find unpleasant. They now work less and relax more .Women, on their turn, have replaced housework with paid work – and, as a result, are spending much time doing things they don’t enjoy as in the past. But women are not actually working more than they were 30 or 40 years ago. They are instead doing different kinds of work. They’re spending more time on paid work and less on cleaning and cooking. What has changed – and what seems to be the most likely explanation for the happiness trends – is that women now have a much longer to-do list than they once did (including helping their aging parents). They can’t possibly get it all done, and many end up feeling as if they are somehow falling short. The New York Times, sepTember, 26Th, 2007 (adapTado). TEXTO II EXPERIENCE, NOT THINGS Alan Krueger devoted part of his career as an economist to studying happiness. Alan died last March 16, at 58, from suicide. News of his death sent shock and sadness through the world of economics – including his fellow economists at Princeton and elsewhere; his former colleagues in the Obama and Clinton administrations; and journalists whom Alan had informally tutored over the years. “To some economists, investigating happiness probably seemed silly,” Catherine Rampell, the Washington Post columnist, wrote. “But Alan saw it as a central mission of his discipline. The whole point of economics is to figure out how, in a world of scarce resources, we can make people’s lives better.” The first lesson that Alan gave us comes from a finding that sounds a bit like a letdown: people waste a lot of money on gifts. Surveys show that gift recipients don’t have much use for many objects that they receive. They usually appreciate the thought behind the gift, but the actual item isn’t of much value to them. In economic terms, they place a lower value on the gift than it cost.But experiences are different. When someone receives an experience – say, a nice meal out – they often both appreciate the thought and enjoy the actual gift. The second lesson involves spending time with friends. It’s one of the best ways to increase happiness, according to the survey data.Alan said this finding had stayed with him. At the end of a long day or long week, he said his instinct was sometimes to skip a social gathering. In the moment, he felt too tired. But the data had persuaded him to push through his fatigue more often. Sure enough, he was almost always glad he had, he said. Alan pushed for economics to become less theoretical and more empirical. He did pathbreaking work on the minimum wage, occupational licensing and other subjects. He threw himself into messy policy debates. He wrote not just for other economists but for the rest of us too. He relished debate: three different times, he stepped out of academia to serve in the federal government, including to help the Treasury Department fight the financial crisis in 2009. The New York Times, march, 19Th, 2019 (adapTado). 1. According to the text I, Women are sadder than men because. 2. The best alternative that fill the blanks 1, 2 and 3 in the text I is: 3. Descreva as lições deixadas pelo economista Alan Krueger segundo o jornalista autor do texto II. 4. Os textos I e II têm tempos verbais predominantes bem definidos. Identifique que tempos verbais predo- minantes são estes e por que são utilizados. 75 U.T.I. - E.O. 1. ECONOMICS is “not a ‘gay science’,” wrote Thomas Carlyle in 1849. No, it is “a dreary, desolate, and indeed quite abject and distressing one; what we might call, by way of eminence, the dismal science.” Carlyle was a fine one to talk. He was a brooding curmudgeon who thundered against industry, progress and the young science that sought to explain them. He found economists dismal not for the obvious reasons, such as their1 dry arithmetic or their gloomy preoccupation with scarcity and subsistence. Instead, he took against them2 because they were so wedded to the idea of happiness. The economists of his3 day took their cue from Jeremy Bentham and his “utilitarian” philosophy. They calculated happiness, or utility, as the sum of good feelings minus bad, and argued that the pursuit of pleasure and the avoidance of pain were the sole springs of human action. One even looked forward to the invention of a hedonimeter, a “psychophysical machine” that would record the ups and downs of a man’s feelings just as a thermometer might plot his temperature. Such people, Carlyle complained, fancied that man was a “dead Iron-Balance for weighing Pains and Pleasures on”. FoNTe: <www.ecoNomisT.com> (adapTado). Pronomes substituem nomes e substantivos e são usados para retomá-los ou evitar a repetição dos mesmos. Indique o que os pronomes marcados com 1, 2 e 3 retomam ou substituem. 2. A quem ou o que o pronome THEM, no quarto quadro, se refere? Qual o efeito cômico da tira? 3. Qual o tempo verbal na fala do personagem do cartum? Como isto explica o efeito cômico da tirinha? 4. No último quadrinho, o garoto faz uso de qual tempo verbal? Qual o efeito cômico obtido? 76 5. Campanhas publicitárias de sucesso são reconhecidas pela forma engenhosa com que trabalham a língua, criando efeitos inusitados ou inesperados. Esta campanha da Leo Burnett foi amplamente premiada pela forma como veicu- lou a ideia do impacto dos fatos inesperados na vida das pessoas de forma muito adequada ao principal de seu clien- te, a seguradora SwissLife. Descreva a ideia presente e o efeito obtido para cada um dos três cartazes da campanha indicados acima. 6. Com base na leitura da charge, explique, em português, qual é o ponto de humor apresentado. 7. Indique o tempo verbal mais usado na história escrita por Calvin. Em seguida, retire, em inglês, dois verbos regu- lares conjugados nesse tempo. 77 8. a) A figura 1 refere-se a uma campanha. Qual é o objetivo dessa campanha? b) Por que o cachorro que aparece na figura 2 não consegue abrir a porta? Justifique sua resposta. 9. a) Cite os conselhos irônicos que o primeiro pôster dá aos adolescentes que se sentem incomodados pelos pais. b) Explique as duas leituras possíveis do segundo pôster. 78 10. a) O texto acima corresponde ao modelo de um documento. De que documento se trata? Qual seria a cor dos olhos da sua pretensa portadora? b) Em que mês a pretensa portadorado documento teria nascido e a que se refere a data expressa pela sequência numérica ”09-30-08”? 11. Lolita bY Vladmir NabokoV First published in France by a pornographic press, this 1955 novel explores the mind of a self-loathing and highly intelligent pedophile named Humbert Humbert, who narrates his life and the obsession that consumes it: his lust for “nymphets” like 12-year-old Dolores Haze. French officials banned it for being “obscene,” as 1did England, Argentina, New Zealand and South Africa. Today, the term “lolita” has come to imply an oversexed teenage siren, although Nabokov, for his part, never intended to create such associations. In fact, he nearly burned the manuscript in disgust, and fought with his publishers over whether an image of a girl should be included on the book’s cover. Transcreva do trecho sobre o livro “Lolita” o que é solicitado: a) o vocábulo substituído por DID (ref. 1); b) um conectivo que estabelece uma relação de oposição de ideias; c) um conectivo que introduz uma exemplificação; d) as palavras que expressam o mesmo sentido de BECAUSE IT WAS. 12. Global Handwashing Day ocTober 15, 2009 Although people around the world wash their hands with water, very few wash their hands with soap at critical moments. Global Handwashing Day will be the centerpiece of a week of activities that will mobilize millions of people across five continents to turn handwashing with soap before eating and after using the toilet into an ingrained habit. This could save more lives than any single vaccine or medical intervention, cutting deaths from diarrhea by almost half and deaths from acute respiratory infections by about a quart. adapTado de: <www.globalhaNdwashiNgdaY.org/global_haNdwashiNg_daY_2Nd_ediTioN.pdF>. acesso em: 16 jul. 2009. a) Que hábito a campanha descrita no texto pretende incentivar? b) Segundo o texto, em quanto esse hábito pode reduzir as taxas de mortalidade? Caro aluno Você está recebendo o primeiro livro da Unidade Técnica de Imersão (U.T.I.) do Hexag Vestibulares. Este material tem o objetivo de retomar os conteúdos estudados nos livros 1 e 2, oferecendo um resumo estruturado da teoria e uma seleção de questões dissertativas que preparam o candidato para as provas de segunda fase dos principais vestibulares. Além disso, as questões dissertativas per- mitem avaliar a capacidade de análise, organização, síntese e aplicação do conhecimento adquirido. É também uma oportunidade de o estudante demonstrar que está apto a expressar suas ideias de maneira sistematizada e com linguagem adequada. Aproveite este caderno para aprofundar o que foi visto em sala de aula, compreender assuntos que tenham deixado dúvidas e relembrar os pontos que foram esquecidos. Bons estudos! Herlan Fellini HISTÓRIA HISTÓRIA GERAL 81 HISTÓRIA DO BRASIL 107 ENTRE PENSAMENTOS e ENTRE SOCIEDADES FILOSOFIA 131 SOCIOLOGIA 145 GEOGRAFIA GEOGRAFIA 1 157 GEOGRAFIA 2 197 SUMÁRIO © Hexag Sistema de Ensino, 2018 Direitos desta edição: Hexag Sistema de Ensino, São Paulo, 2021 Todos os direitos reservados. Autores Eduardo Antôno Dimas Tiago Rozante Alessandra Alves Vinicius Gruppo Hilário Márcio Cavalcanti de Andrade Diretor-geral Herlan Fellini Diretor editorial Pedro Tadeu Vader Batista Coordenador-geral Raphael de Souza Motta Responsabilidade editorial, programação visual, revisão e pesquisa iconográfica Hexag Sistema de Ensino Editoração eletrônica Felipe Lopes Santos Leticia de Brito Ferreira Matheus Franco da Silveira Projeto gráfico e capa Raphael de Souza Motta Imagens Freepik (https://www.freepik.com) Shutterstock (https://www.shutterstock.com) Todas as citações de textos contidas neste livro didático estão de acordo com a le- gislação, tendo por fim único e exclusivo o ensino. Caso exista algum texto a respeito do qual seja necessária a inclusão de informação adicional, ficamos à disposição para o contato pertinente. Do mesmo modo, fizemos todos os esforços para identificar e localizar os titulares dos direitos sobre as imagens publicadas e estamos à disposição para suprir eventual omissão de crédito em futuras edições. O material de publicidade e propaganda reproduzido nesta obra é usado apenas para fins didáticos, não representando qualquer tipo de recomendação de produtos ou empresas por parte do(s) autor(es) e da editora. 2021 Todos os direitos reservados para Hexag Sistema de Ensino. Rua Luís Góis, 853 – Mirandópolis – São Paulo – SP CEP: 04043-300 Telefone: (11) 3259-5005 www.hexag.com.br contato@hexag.com.br 81 HISTÓRIA GERAL 82 Historiador e Historiografia A História é uma ciência humana. Como uma ciência, a História possui métodos para investigar o passado. His- toriografia é o termo utilizado para designar o campo de estudo, as reflexões e os exames de discursos, narrativas e pesquisas sobre o passado. O historiador é o profissional apto para pesquisar e construir o saber histórico, definindo linhas de pesquisa, objetivos e, sobretudo, utilizando docu- mentação para a análise do passado. Para iniciar um trabalho de pesquisa histográfica, o histo- riador precisa utilizar documentação, ou seja, algum ele- mento humano que seja um vestígio do período que ele estuda. Por exemplo, a utilização de fontes textuais, ev- idências arqueológicas, fontes de cultura material, representações pictóricas (gênero da pintura, com o objetivo de representar a aparência visual do sujeito, em geral um ser humano, embora também possam ser repre- sentados animais) e registros orais. É a partir destes vestígios que o historiador elabora a sua ideia, monta a sua pesquisa com o objetivo de compreender o que ocorreu. Periodização da História Ao longo do tempo, os historiadores convencionaram-se a organizar os eventos em períodos. Essa periodização, naturalmente, seguia uma organização cronológica e utilizava acontecimentos marcantes para determinar o fim de um período e o começo de outro. O fim de um período, no entanto, não significava o registro de mudan- ças profundas e imediatas, mas indicava a partir daquele marco o acontecimento de mudanças significativas com o passar do tempo. Apesar de muitos historiadores ques- tionarem a datação dos marcos de cada período, ela per- manece em vigência e é utilizada como mecanismo para organizar o estudo da História e facilitar o ensino. Através de uma concepção eurocêntrica do mundo, difundiu-se uma linha do tempo baseada em eventos ligados ao contexto do continente europeu. Esta linha do tempo, considerada “oficial”, divide-se tradicional- mente em: § Pré-História: Surgimento dos primeiros hominídeos até cerca de 4 mil anos a.C., com o surgimento dos primeiros tipos de escrita. § Idade Antiga: até 476 d.C. (Queda do Império Romano) § Idade Medieval: até 1453 (Tomada de Constantinopla) § Idade Moderna: até 1789 (Revolução Francesa) § Idade Contemporânea: Dias atuais. Esta linha do tempo é um recorte eurocêntrico e, portanto, limitada à não oferecer dados para a compreensão históri- ca e temporal de diversas outras sociedades humanas. A periodização tradicional divide a História em duas gran- des partes: “Pré-História” e “História”. Ou seja, o critério utilizado por essa visão histórica para dividir os dois perí- odos é o surgimento da escrita. Vale destacar, porém, que essa visão é amplamente criticada. Colocar a escrita como um critério de divisão se mostra arbitrário e até mesmo preconceituoso, reduzindo sociedades ágrafas como “infe- riores”. Aliás, como a própria denominação “Pré-História” explicita, é como se esses povos, por não terem uma cultu- ra literária, nem ao menos teriam, portanto, História. De qualquer forma, estudar esse antigo e importante perío- do da História humana é uma tarefa bastante complexa. O estudo desse período advém, sobretudo, de metodologias interdisciplinares. Portanto, o conhecimento desse período advém, por exem- plo, dos vestígios e dos estudos arqueológicos e paleon- tológicos, como pinturas rupestres,instrumentos antigos, restos de fósseis, etc. Com ajuda desses vestígios é possível elaborar teorias sobre esses povos. Os historiadores, durante suas pesquisas, fizeram uma divisão em dois períodos da pré-história, esses perío- dos foram denominados como: Período Paleolítico e Período Neolítico. INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE HISTÓRIA “PRÉ-HISTÓRIA” 83 Período Paleolítico O período Paleolítico ou também conhecido como Idade da Pedra Lascada, ocorreu aproximadamente por volta de 2,7 milhões de anos atrás até 10 mil a.C. O Paleolítico foi o maior período da pré-história, esse pe- ríodo é chamado de Idade da Pedra Lascada porque uma das características principais desse período é o começo do desenvolvimento de ferramentas e de instrumentos de tra- balho provenientes da pedra. O período Paleolítico foi marcado pelo domínio do fogo, o nomadismo (mobilização de grupos humanos sem local fi- xos), caça em grupo, divisão de tarefas, coletas de recursos na natureza (frutos e raízes), as primeiras manifestações artísticas (pinturas rupestres), uso da pele de animais, uso de cavernas como abrigos naturais e o domínio do fogo. Período Neolítico O período Neolítico ou também conhecido como Idade da Pedra Polida ocorre aproximadamente 10 mil a.c. até 3 mil a.c., ou seja, ele ocorre desde a Revolução Neolítica até a criação da escrita. O Neolítico começa pela Revolução Neolítica, processo mar- cado pelo momento em que alguns agrupamentos humanos começaram a desenvolver a agricultura e a domesticação dos animais. A partir desse contexto, o processo de sedentarização se intensificou e os agrupamentos humanos passaram por um grande aumento demográfico, transformações que deram ori- gem as primeiras civilizações da humanidade. Ao longo desse processo, por volta de 6000 a.C, o desenvolvimento da meta- lurgia e o surgimento de instrumentos de metal acabaram por aperfeiçoar ainda mais os utensílios humanos, dando origem ao período denominado “Idade dos Metais”. Ainda nessa conjuntura de grandes transformações, vale ressaltar que, por volta de 4000 a.C. teria surgido a cultura letrada, a escrita. egito A civilização egípcia desenvolveu-se no nordeste da África. A vida girava em torno do ciclo de cheias e vazantes do rio Nilo. O rio Nilo dividia o Egito em duas partes bem distintas: o Alto e o Baixo Egito. O Alto Egito é a região do interior do território, com cerca de 10 quilômetros de largura e que chega até a primeira catarata. O Baixo Egito é a região do delta, cheia de alagadiços e que se alarga à medida que se aproxima do Mediterrâneo. Império Antigo (3200-2200 a.C.) A história do Egito começa quando as populações que vi- viam às margens do Nilo tornam-se comunidades dedica- das mais à agricultura do que à caça ou à pesca. No quarto milênio antes de Cristo, evoluem para pequenas unidades políticas, chamadas nomos. Formaram-se dois reinos, um ao norte e outro ao sul. Por volta de 3200 a.C., o faraó Menés (ou Narmer) unificou os reinos, com capital em Tínis, daí o período até 2800 a.C. chamar-se Tinita. Os sucessores de Menés organizaram uma monarquia poderosa e de maior prosperidade do Antigo Império. En- tre 2700 e 2600 a.C., foram construídas as célebres pirâ- mides de Gizé, atribuídas aos faraós Quéops, Quéfren e Miquerinos, da terceira dinastia, fundada por Djoser em cerca de 2850 a.C. , com a nova capital era Mênfis. Império Médio (2000-1750 a.C.) Entre 1800 e 1700 a.C., chegam os hebreus, mas são os hicsos, vindos da Ásia, que criam as maiores dificulda- des. Trazem cavalos e carros de combate, que os egípcios desconhecem. Dominaram a região e instalaram-se no delta de 1750 a 1580 a.C. Império Novo (1580-1085 a.C.) Depois da expulsão dos hicsos, a nova fase, de enorme desen- volvimento militar, transformou o Egito em potência imperia- lista. O Novo Império marca o apogeu da civilização egípcia. No reinado de Tutmés III (1480-1448 a.C.), o império atingiu sua maior expansão territorial, ampliando-se até o rio Eufrates, na Mesopotâmia. Marido da rainha Nefertiti, Amenófis IV empreendeu uma revolução religiosa, provavelmente para anular o poder e a autoridade da camada sacerdotal, instituindo o culto monoteísta ao deus Áton, simbolizado pelo dis- co solar, chegando a mudar seu nome para Akhenaton (“aquele que agrada a Aton”). ANTIGUIDADE ORIENTAL 84 Tutancáton, seu sucessor, restaurou o deus Amon e pôs fim à revolução. Mudou o próprio nome para Tutancâmon. Os faraós da dinastia de Ramsés II (1320-1232 a.C.) en- frentaram novos obstáculos, como a invasão dos hititas, vindos da Ásia Menor. O Império entrava em declínio. Em 525 a.C., o rei persa Cambises derrota o faraó Psamético III. A independência acabou. Nos séculos seguintes, os po- vos do Nilo seriam dominados pelos gregos e, finalmente, cairiam nas mãos do imperialismo romano, em 30 a.C. Sociedade e Economia A agricultura de regadio era a principal atividade econô- mica no Egito Antigo. Estava diretamente ligada às obras hi- dráulicas que tornavam possível o controle das águas do Nilo. A economia egípcia pode ser enquadradada no modo de produção asiático, em que coexistiam comunida- des caracterizadas pela propriedade coletiva do solo e organizadas sobre as relações de parentesco, com um poder estatal que representava a unidade verdadeira ou aparente de tais comunidades. O Estado organizava as atividades produtivas por meio de uma rígida estrutura repressiva. A população campone- sa pagava impostos em produto ou em trabalho, numa estrutura denominada servidão coletiva. O governo do Egito antigo era teocrático. O faraó era con- siderado filho de Amon-Rá, o deus Sol, e encarnação de Hórus, simbolizado pelo falcão. A nobreza era formada pelos parentes do faraó, altos funcionários do palácio, oficiais do exército, chefes administrativos e sacerdotes. Camponeses e artesãos eram a camada inferior da socieda- de, mas deles dependia a prosperidade do país. Recebiam míseros pagamentos em forma de produtos, moravam em cabanas, vestiam-se pobremente e comiam pouco. Aquilo que poupavam, guardavam para o funeral, para garantir uma vida melhor após a morte. Cultura e religião Os egípcios eram politeístas, ou seja, adoravam vários deu- ses. Antropozoomórficos esse deuses apresentavam forma de homem e animal. As principais divindades eram: Osíris, Amon-Rá, Isis, Hórus, Ápis e Anúbis. Para os egípcios, a morte apenas separava o corpo da alma. Por isso, era preciso conservar o corpo. Com essa finalidade, os egípcios desenvolveram técnicas de mumificação. Ciência e arte A arquitetura egípcia é reconhecida pelos seus templos, as pirâmides, as mastabas e os hipogeus. Pirâmides de QuéoPs, Quefren e miQuerinos Seus escritores se inspiravam em temas morais, poéticos ou religiosos, como o Texto das Pirâmides e o Livro dos Mortos. Tinham três tipos de escrita. Uma sagrada, em túmulos e templos, a hieroglífica; uma versão mais simplificada, a hierática, em documentos administrativos; e a demócri- ta, mais popular. MesoPotâMia Mesopotâmia (atual Iraque), é uma palavra de origem grega que significa “terra entre rios”. Localizava-se numa exten- sa faixa de terra conhecida como Crescente Fértil, entre os rios Tigre e Eufrates A Mesopotâmia era formada por cidades-Estado com au- tonomia religiosa, política e econômica e governadas por um sacerdote. Sua cidade mais famosa foi Acad, que deu origem ao termo acádios. Estes estabeleceram uma organização centralizada em seu Império, afastando a influência dos sacerdotes. Por volta de 2330 a.C., o rei semita Sargão unificou as cidades sumérias, criando o Primeiro Império Mesopotâmico. Sociedade e economia Marcadas pela agricultura de regadio e pela servidão coletiva, várias civilizações mesopotâmicas inseriram-se no chamado modo de produção asiático. A estrutura social mesopotâmica assemelhava-se à egípcia Primeiro Império Babilônico (1800-1600 a.C.) Hamurábi foi um dos primeiros reis babilônicos (1728-1686 a.C.). Ampliou o Império e foi sobretudo um legisla- dor, responsável pelo primeiro código de leis que se conhe- ce: o Código de Hamurábi. Império Assírio (1875-612 a.C.) Com origem por volta de 1800 a.C., o Império Assírio teve seu período de maior expansão entre 883 e 612 a.C., 85 conquistando a Síria e o Egito. O Império Assírio chegou ao fim com a invasão e o domínio dos medos. Novo Império ou Segundo Império Babilônico (612-539 a.C.) Nabucodonosor (605 a 563 a.C.) tomou Jerusalém em 587 a.C., levou numerosos israelitas cativos para a Babilônia), conquistou a Síria, a Fenícia e construiu grandiosas obras, como os Jardins Suspensos da Babilônia e a Torre de Babel. O Segundo Império Babilônico foi tomado por Ciro em 539 a.C. Cultura e religião Estado teocrático, a religião mesopotâmica tinha cará- ter politeísta. A escrita era em forma de cunha (cuneiforme). Na literatura, as principais obras foram o Poema da Criação e a Epopeia de Gilgamesh. Também avançaram em Matemática, criando tábuas de multiplicação e divisão. Na astronomia, desenvol- veram um calendário baseado nos ciclos da Lua. A arquite- tura se destacou pela construção de palácios e zigurates. Hebreus A Palestina, localizada no Oriente Próximo, era formada pelo vale do rio Jordão, as áridas terras da Judeia e a planí- cie costeira. Inicialmente habitada por cananeus, filisteus e arameus, foi povoada por volta de 2000 a.C. pelos hebreus, povo de origem semita. Segundo a Bíblia, Abraão foi o primeiro patriarca, tendo conduzido seu povo à terra prometida por Deus, Canaã, ou Palestina. De seu neto, Jacó, originaram-se as 12 tri- bos de Israel. Por volta de 1800 a.C., as secas obrigaram os hebreus a emigrarem para o Egito. Os hebreus deixaram o Egito rumo à Palestina por volta de 1250 a.C. A luta pela reconquista da Palestina desencadeou um pro- cesso de unificação das tribos hebraicas e centralização política, cujo desfecho foi a fundação do reino de Israel. As relações comerciais com a Fenícia foram intensificadas. A morte do rei Salomão, em 933 a.C., desencadeou uma crise política conhecida como o cisma hebraico, resul- tando na divisão do reino em duas partes: o Reino de Judá (duas tribos), situado ao sul, e o Reino de Israel (dez tri- bos), localizado no norte. Em 722 a.C., o Reino de Israel foi conquistado por Sargão II e transformado em província do Império Assírio. O Reino de Judá foi conquistado por Nabucodonosor em 587 a.C. O Templo de Jerusalém foi destruído e os hebreus foram levados como escravos para a Babilônia (Cativeiro da Babilônia). Em 539 a.C. termina o Cativeiro da Babilônia. Os hebreus retornam à Palestina, reconstroem o Templo de Jerusalém e se tornam parte do Império Persa. Situados nos territórios da antiga tribo de Judá, os habitantes dessa região passa- ram a ser chamados de judeus. Os judeus foram dominados por vários povos. Em 63 a.C., a Palestina foi conquistada por Pompeu e transformada em província do Império Romano. Em 70 d.C., os judeus se rebelaram contra o domínio dos romanos, que destruíram Jerusalém, inclusive o Templo, e expulsaram os judeus da Palestina. A dispersão dos judeus pelo mundo ficou conhe- cida como Diáspora. Sociedade e economia A economia era predominantemente agropastoril. Durante o Período dos Reis, a terra ficou concentrada nas mãos da aristocracia ligada ao Estado. Camponeses, pastores e uma pequena parcela de escravos estavam subordinados a essa aristocracia. Cultura e religião No Direito, os hebreus produziram o Código Deuteronô- mio, e sua literatura está contida no Antigo Testamento. Constituíram a única civilização monoteísta da antigui- dade oriental. Vale dizer que o monoteísmo judaico exerceu grande influência sobre o cristianismo e o islamismo. feNícios Os fenícios A estreita faixa de terra entre as montanhas e o mar Medi- terrâneo, atualmente região do Líbano, começou a ser ocu- pada por povos de origem semita por volta de 3000 a.C. Sociedade e economia Na Fenícia, a agricultura cedeu lugar ao comércio, à pesca e a um rico artesanato. As vastas florestas de cedros e os bons portos naturais favoreceram a atividade marítimo- -comercial. Isso fez dos fenícios os principais navegantes e comerciantes da antiguidade. Era uma sociedade de castas constituída por sacerdotes, aristocratas, comerciantes, homens livres e escravos. A Fenícia não constituiu um Estado unificado com um go- verno centralizado. Agrupavam-se em cidades-Estado, de governo autônomo e soberano. 86 geografia O território grego era composto por duas regiões distintas: a parte continental, ao sul da península dos Balcãs, e a Grécia insular, que ocupava as ilhas do mar Egeu e a costa da Ásia Menor. Com a expansão colonial, ela ocupou também a cos- ta egeia da Ásia Menor e o sul da península Itálica. Período Pré-homérico (2000-1200 a.C.) De origem indo-europeias, os gregos ou helenos chegaram à Grécia em cerca de 2000 a.C. Antes deles, os aqueus já ocupavam as melhores terras. Os aqueus formaram os núcleos urbanos de Micenas, Tirinto e Argos. Os habitantes de Micenas integraram sua cultura à dos cretenses, cuja civilização era bastante avançada, o que deu origem à civilização creto-micênica. Com a chegada de novos grupos indo-europeus, os jônios e os eólios, por volta de 1700 a.C., os núcleos arianos ins- talados na Grécia foram fortalecidos. Os troianos, outra im- portante civilização pré-helênica, desenvolveram-se ao norte da Anatólia. Troia tinha uma população aparentada com os primeiros gregos, e foi erguida por volta de 1900 a.C. No início do século XII a.C., os gregos destruíram Troia. Os dórios, último grupo de povos arianos a penetrar na Grécia, chegaram enquanto a civilização micênica se ex- pandia em direção à Ásia. Aguerridos, nômades e conhe- cedores de armas de ferro, os dórios arrasaram as cidades gregas, causando fugas para o interior e para o exterior. Numerosas colônias gregas formaram-se na costa da Ásia Menor e nas ilhas do mar Egeu. Essa foi a Primeira Diáspora Grega. Período Homérico (séc. XII-VIII a.C.) O nome “homérico” é baseado em dois poemas épicos atri- buídos a Homero: a Ilíada e a Odisseia. Depois do século XII a.C., a célula básica da sociedade grega era o genos (comunidade gentílica), uma grande Cultura e religião A religião era politeísta, de divindades associadas às forças da natureza. A principal contribuição dos fenícios foi a in- venção do alfabeto fonético. Criaram 22 sinais dos sons das palavras. Com as vogais, tornou-se o alfabeto grego. iMPério Persa Dois grupos arianos ocuparam o Irã a partir de 2000 a.C., os medos e os persas. Tornaram-se pequenos reinos rivais no século VIII a.C.. No século VI a.C., Ciro I, rei dos persas, conquistou o Reino da Média, provocando a unificação po- lítica dos povos do Planalto Iraniano em 550 a.C. Sociedade e Economia Ocorreu um rápido expansionismo territorial durante o go- verno de Ciro I (559-529 a.C.). O dárico, moeda-padrão cunhada em ouro e prata, facilitou a integração econômica das regiões e dos povos do império. A rede de estradas reais, o dárico e a padronização dos pesos e medidas possibilitaram o desenvolvimento das ati- vidades comerciais. A elite persa era composta pelo imperador e sua família e por altos burocratas, comandantes militares e sacerdotes. A massa da população era sujeita ao trabalho compulsório nos sistemas de regadio e/ou nas obras públicas, e ainda tinha que pagar uma pesada tributação. Cultura e religião OIs persas desenvolveram uma arquitetura monumental. Ti- nham uma religião dualista, em que o deus do bem, Ahura- -Mazda (ou Ormuz), opunha-se ao deus do mal, Arimã. E fun- damentava-se na crença do Juízo Final, onde o bem triunfaria sobre o mal, descritos no livro sagrado Zend Avesta, escrito pelo lendário Zoroastro ou Zaratustra. CIVILIZAÇÃO GREGA 87 família. Os descendentes de um mesmo antepassado vi- viam no mesmo lar. Cada membro (gens) dependia da unidade dafamília, cujo chefe era o páter-famílias. Seu poder era passado para o filho mais velho. A sociedade era igualitária e sem classes sociais. Os meios de produção e o resultado da produção pertenciam à co- munidade. A falta de terras férteis e o crescimento demo- gráfico levou as comunidades gentílicas a lutas internas e desagregação. Era o fim do Período Homérico. Os gregos passaram do sistema de propriedade coletiva para o de propriedade privada. Os parentes mais próximos do pa- ter, os eupátridas, ficaram com as áreas mais férteis; aos seus parentes mais distantes, os georgóis (agricultores) destirna- ram as restantes. Os denominados thetas (marginais) fica- ram sem terra. Uma parte deles se dedicou ao comércio e ao artesanato. Os demais deixaram a Grécia e fundaram colô- nias nos mares Negro e Mediterrâneo, processo conhecido como Segunda Diáspora Grega (século VIII a.C.). Foram os eupátridas que originaram a aristocracia grega, cujo poder resultava da posse de terra. Eles uniam-se em ir- mandades, as frantrias, que se uniam em tribos. Da reunião de seus vilarejos surgiu a organização política da antiga Grécia: a cidade-Estado (pólis). Período Arcaico (séc. VIII-VI a.C.) A evolução e consolidação das cidades-Estado foi o que marcou o Período Arcaico grego. Isoladas geograficamente, evoluíram de modos distintos, gerando modelos por vezes antagônicos e rivais. Esparta, a cidade-estado militarista. Esparta foi uma das primeiras cidades-Estado gregas, fun- dada pelos invasores dórios no século IX a.C. Sem saída para o mar e isolada pelas montanhas, Esparta era uma cidade-estado avessa a influências externas. A sociedade espartana se dividida em: espartanos ou esparciatas, a camada dominante; periecos, agriculto- res livres, dedicavam-se também ao artesanato e ao co- mércio; hilotas, a camada mais baixa da sociedade es- partana, servos pertencentes ao Estado e à disposição dos esparciatas para o cultivo da terra. Política A economia e sociedade imobilistas explicam o governo espartano menos progressista e mais conservador. Apenas uma minoria de cidadãos, os esparciatas, par- ticipava do governo oligárquico, os homoioi (iguais). Seu objetivo fundamental era conservar o status quo, a situação vigente de privilégios da aristocracia e de do- minação sobre os escravos. Esparta regrediu culturalmente com as mudanças estru- turais do século VII a.C. O governo passou a estimular o laconismo: falar tudo em poucas palavras, o que limitava a capacidade de raciocínio e o espírito crítico dos falantes. Rigidamente militarista, a educação dos esparciatas con- tribuía significativamente para a manutenção dessa estru- tura política e social fechada. Aos sete anos de idade, os meninos eram entregues aos cuidados do Estado para que tivessem uma rígida educação militar. Dos dezoito aos ses- senta anos, serviam no exército. Só depois dos trinta anos, quando então recebiam seu lote de terra e passavam a ser cidadãos, poderiam casar. A fim de evitar mudanças radicais e de garantir o domínio da minoria dória sobre a maioria escrava, Esparta perma- neceu nesse sistema até o século IV a.C. A cidade-estado democrática, Atenas. Atenas foi fundada numa planície, a Ática, uma península do mar Egeu. Os atenienses se consideravam originários dos povos aqueus, eólios e jônios. A economia de Atenas, no século VIII a.C., era ainda essen- cialmente rural. Mas atividades artesanais e comerciais já ultrapassavam os limites da Ática. A proximidade de Ate- nas do mar Egeu abriu-a a influências externas, facilitou sua participação no movimento de colonização e transfor- mou-a numa pólis de navegadores e comerciantes. Os eupátridas, grandes proprietários de terras, eram a camada social dominante. Os georgois eram agriculto- res donos de terras pouco férteis perto das montanhas. Os thetas eram os marginalizados (recebiam menos de 200 medimnos por ano). Na região litorânea, concentravam-se os artesãos (demiur- gos), trabalhadores livres. Cerca de 100 mil estrangeiros residiam em Atenas, os metecos, dedicados ao artesanato e ao comércio. A maioria da população de Atenas era de es- cravos, que desempenhavam todas as atividades manuais. A primeira forma de governo de Atenas foi a monarquia ou realeza. No século VII a. C. ocorreu a substituição da realeza pelo arcontado, órgão de caráter executivo. Assim o regime de governo passou de monárquico para oligárquico. Em 507 a.C., ocorreu uma insurreição do partido popular (demos) e a ascensão de Clístenes ao governo de Atenas. A democracia ateniense Clístenes, apesar de sua origem aristocrática, traçou um governo baseado na isonomia, a igualdade dos cidadãos 88 perante a lei. A primeira medida foi a divisão da população da Ática em três zonas: o litoral (parália), o interior (me- sógia) e a cidade (ásty). Cada uma dessas zonas foi divi- dida em dez unidades. Da reunião das unidades de cada zona formou-se uma tribo, totalizando dez tribos. A menor unidade de divisão eram as demos, base desse sistema de governo, razão pela qual a reforma de Clístenes ficou co- nhecida pelo nome de democracia. Período Clássico (séc. V e IV a.C.) Período de hegemonias e imperialismo no mundo grego. Atenas foi a primeira potência dominante, seguida por Es- parta e Tebas. A vitória dos gregos nas guerras médicas ou pérsicas projetaram a hegemonia ateniense até a Guer- ra do Peloponeso. Filipe II anexou o mundo grego ao Reino da Macedônia e, na fase seguinte, ao Império Helênico de Alexandre Magno. A hegemonia de Atenas (443-429 a.C.) Atenas alcançou seu apogeu sob o governo de Péricles. O con- trole do mar Egeu, o comando da Confederação de Delos e a prosperidade econômica contribuíram para o fortalecimento do partido democrático formado pelos ricos comerciantes e armadores. Sob a direção desse partido, Atenas desenvolveu, ao mesmo tempo, uma política democrática e imperialista. Partenon A Guerra do Peloponeso (431-404 a.C.) A Grécia foi assolada por uma terrível guerra, envolvendo todas as cidades-Estado gregas. A disputa era entre a Liga do Peloponeso, liderada por Esparta, e a Confederação de Delos, por Atenas. Essa disputa entre as duas pólis foi se tornando tão acir- rada que desembocou em um conflito de grandes propor- ções. No final do conflito, do qual Esparta saiu vencedora, a Grécia se encontrava materialmente arrasada, com grande diminuição de sua população masculina mais jovem e en- fraquecida militarmente. Esparta, assim como Atenas, ado- tou uma política imperialista. Período Helenístico (séc. IV-I a.C.) No século IV a.C., Filipe apoderou-se da Grécia. Conhe- cedor do individualismo das cidades-Estado e de muita astúcia política, respeitou-lhes a autonomia. Assim, foi pro- clamado hegemon (líder), com o direito de chefiar uma liga contra os persas, a Liga de Corinto. Filho de Filipe II, Alexandre Magno assumiu o trono com uma Macedônia organizada e bem armada pelo exército, usou de violência e arrasou as cidades gregas, exceto Ate- nas. Como líder supremo do helenismo, deveria libertar as cidades da Ásia e levar os gregos à vingança contra os persas. Alexandre rumou para a Ásia com 40 mil homens, 12 mil dos quais na infantaria, o forte de seu exército. Recusou o acordo de paz oferecido por Dario III, derrotou-o em pleno centro do Império Persa em 331 a.C. Já impera- dor persa, avançou para a Índia, percorreu a região do rio Indo e só não chegou ao Ganges porque os soldados recu- saram-se ir com ele. Aos 33 anos, morreu na Babilônia em 323 a.C., deixando um dos mais vastos impérios já criados. cultura e religião Os gregos eram politeísta: cultuavam grandes deuses, que habitavam o Olimpo, e os heróis, homens que praticaram ações extraordinárias e se igualavam aos deuses. Mito- logia é o conjunto dos mitos, as lendas que contam as aventuras de deuses e heróis. estátua de Poseidon - o deus dos mares - em Hua Hin, tailândia. Atenas abrigou alguns dos maiores pensadores e artistas que a humanidadeconheceu. A filosofia grega divide-se em antes e depois de Sócrates. Foram pré-socráticos: Tales de Mileto (fim do século VII-iní- cio do século VI a.C.); Pitágoras (582-497 a.C.); Demócrito (460-370 a.C.); Heráclito (535-475 a.C.); e Parmênides (540-? a.C.). No tempo de Sócrates, predominava a escola 89 dos sofistas, que se serviam da reflexão para atingir fins imediatos, ainda que por falsos argumentos. O maior dos sofistas foi Protágoras. Sócrates (470-399 a.C.) – fundou a filosofia humanista. Platão (427-347 a.C.) – principal discípulo de Sócrates, fundou a Academia de Atenas. Aristóteles (384-322 a.C) – considerado por muitos o maior filósofo de todos os tempos, compreendeu todos os conhecimentos de seu tempo: Lógica, Física, Metafísica, Moral, Política, Retórica e Poética. Marcada pela harmonia, a simplicidade, o equilíbrio e uma decoração perfeitamente adaptada ao conjunto, a arte grega era religiosa e manifestada em templos e esculturas representando deuses e passagens mitológicas. A arquitetura grega desenvolveu três estilos: o dórico, mais antigo, era simples e despojado; o jônico, leve e flexível; o coríntio, mais recente, era complexo e rebuscado. A Acrópole é um de seus monumentos mais belos. O es- plendor da arte grega ainda pode ser admirado nas ruínas do Partenon e na Acrópole de Atenas. A Matemática de Euclides e os teoremas de Tales e Arqui- medes foram incorporados ao patrimônio cultural da hu- manidade. Hipócrates, o mais ilustre médico da Antiguida- de, impulsionou o conhecimento do corpo humano. Atenas e seu regime democrático serviu de exemplo para todos os povos. origeNs Acredita-se que Roma tenha sido fundada por latinos em fuga das invasões etruscas. Roma era um pequeno povo- ado na península Itálica influenciado por diversos povos. O poeta Virgílio, em sua obra Eneida, leva a crer na mítica fundação de Roma por Rômulo e Remo, descendentes do guerreiro troiano Enéas. a loba caPitolina rePresenta a loba das narrativas romanas sobre a fundação de roma. sociedade e ecoNoMia Em razão de sua terra de melhor riqueza e graças ao caráter aristocrático de sua sociedade, Roma baseou sua economia em atividades agropastoris. Grandes proprietários rurais, os patrícios, formavam a camada social dominante. Os não proprietários, clientes, prestavam serviços e beneficiavam- -se da proteção de famílias patrícias. Estrangeiros, artesãos, pastores, comerciantes e donos de pequenos lotes pouco férteis eram os plebeus e não pertenciam a um clã. Os escravos não possuíam grande peso na sociedade e na economia romanas, pois ainda eram pouco numerosos. Isso mudaria em consequência das guerras de expansão, quando as conquistas externas transformaram a economia romana num sistema de produção escravista. MoNarquia (séc. Viii-Vi a.c.) Da fundação de Roma até a implantação da República, exis- tiu um governo monárquico, em que o rei (rex) tinha função de chefe supremo, sumo sacerdote e juiz, poderes esses de origem divina. A realeza apoiava-se no Imperium (comando CIVILIZAÇÃO ROMANA 90 supremo) e no Auspicium (conhecimento da vontade divina). Os chefes das principais famílias patrícias assessoravam o rei e compunham o Conselho de Anciãos e o Senado. Roma teve sete reis, dos quais os quatro primeiros fo- ram latinos, e os três últimos, etruscos, de acordo com a tradição lendária. Durante o período de reinado etrusco, houve uma série de tentativas dos reis de limitarem o po- der patrício ao se aliarem a setores populares. Tarquínio, o Antigo (616-578 a.C.), iniciou a construção de grandes obras públicas. Sérvio Túlio (578-534 a.C.) edificou a pri- meira muralha de Roma e estabeleceu um regime censi- tário, dividindo a população em cinco categorias sociais de acordo com sua renda. Por fim, o terceiro rei etrusco, Tarquínio, o Soberbo, edi- ficou o Templo de Júpiter e construiu a Cloaca Máxima (sistema de esgoto de Roma). Governou com o apoio dos plebeus e latinos inimigos dos patrícios. Dessa forma, manteve os patrícios praticamente fora do poder político decisório das cidades. Em razão disso, os patrícios cons- piraram e o derrubaram por meio de um golpe de Estado, no ano 509 a.C. rePública (séc. Vi-i a.c.) A queda da monarquia foi um ato reacionário dos patrícios, que afastaram a realeza comprometida com as camadas populares. O monopólio do poder passou ao patriciado, e a plebe ficou à margem. cícero acusando catilina no senado (afresco de cesare maccari, século XiX) O Senado era, sem dúvida, uma das mais importantes instituições da República, pois praticamente detinha o poder, apesar das demais instituições. Era composto por 300 senadores de origem patrícia. Entre outras tarefas, cabia-lhes eleger os magistrados, autorizar ou não a concessão das honras do triunfo aos generais vencedo- res, conduzir a política externa, administrar as provín- cias, dar seu parecer sobre a escolha de um ditador e zelar pela tradição e pela religião, além de supervisionar as finanças públicas. Os mais altos magistrados eram os cônsules, responsá- veis pelo comando do exército e pelo controle da adminis- tração, além de exercer o Poder Executivo. Participavam das reuniões do Senado e propunham leis. Seriamente discriminados, os plebeus recebiam sempre a menor parte dos espólios de guerra; se precisassem contrair empréstimos, não conseguiam pagar os juros; julgados por magistrados patrícios e com base em leis orais, os devedores acabavam escravizados por dívida. Há indícios de cinco revoltas levadas a cabo pelos plebeus, entre 494 e 287 a.C. § Primeira revolta (494 a.C.) – a primeira greve de caráter social da História, em razão da qual os patrí- cios tiveram de conceder a criação dos tribunos da plebe, magistrados que atuavam em defesa dos direitos e interesses da plebe no Sena- do. Em 471 a.C., os plebeus constituíram a Assem- bleia da Plebe para eleger seus tribunos, o que aumentou seu poder de veto e de ação. § Segunda revolta (450 a.C.) – os patrícios enviaram representantes a Atenas para estudar as leis com a promessa de resolver os problemas da plebe. O re- sultado foi a criação do primeiro código de direito escrito em Roma, a Lei das Doze Tábuas. A plebe conseguiu que as leis votadas em sua Assembleia ti- vessem validade, mesmo dependendo da aprovação do cônsul ou do Senado. § Terceira revolta (445 a.C.) – a Lei das Doze Tábuas manteve a proibição de casamento entre patrícios e plebeus, o que levou os plebeus a se revoltarem pelo fim da proibição, conscientes de que os casamentos mistos quebrariam a tradição patrícia de exercer o poder com exclusividade. A reivindicação foi atendida com a Lei Canuleia, mas apenas para os plebeus que tinham mais posses. § Quarta revolta (367-366 a.C.) – a pressão da plebe resultou na Lei Licínia Sextia, promulgada pelo senado romano, obrigando que, a cada ano, um dos dois cônsules fosse um plebeu. Mais tarde, em 326 a.C., foi abolida a escravidão por dívidas por meio da Lei Papiria Poetelia. § Quinta revolta (287-286 a.C.) – os plebeus conse- guiram impor aos patrícios a validade das leis vota- das na Assembleia da Plebe para todo o Estado: era a decisão da plebe ou plebiscito. A preocupação com as leis levou os romanos a desenvolver minuciosamente o seu direito. Sendo adotado por vários 91 outros povos europeus, o Direito Romano mantém e conserva sua importância até os dias atuais. Conquistas, a expansão romana A dominação da península Itálica constitui a primeira fase das conquistas romanas. Inicialmente, dominaram as tribos latinas próximas de Roma. A conquista da Campâ- nia, em 290 a.C., região ameaçada pelos samnitas, abriu as portas para a conquista das cidades gregas do sul da Itália. Posteriormente, Roma subjugou o norte (Etrúria), cujos domínios compreendiam a Itália central e parte da Itália setentrional. Os romanos demonstraram um talen- to notável para converter antigos inimigos em aliados e finalmentecidadãos romanos, ao estender seu domínio sobre a península Itálica. As guerras púnicas disPonível em: <HttPs://Pt.wikiPedia.org/wiki/ guerras_Púnicas>. acesso em: 22 dez. 2015. Roma travou longa guerra contra Cartago, outra grande potência do Mediterrâneo ocidental, assim que consoli- dou sua supremacia na Itália. Fundada em 800 a.C. pelos fenícios, a cidade norte-africana tornara-se um próspero entreposto comercial. Um império que abrangia a África do Norte, as regiões do litoral meridional da Espanha, a Sardenha, a Córsega e a Sicília ocidental. O confronto romano-cartaginês acabou se transformando numa disputa pela hegemonia marítimo-comercial no Me- diterrâneo ocidental e desdobrou-se em três guerras púnicas. Em seguida, os romanos ocuparam a Espanha e a Gália do sul, constituindo a província da Gália. A conquista da região do Mediterrâneo Oriental foi completada por uma rápida sucessão de campanhas militares. No fim do sé- culo I a.C., o Mediterrâneo havia se transformado num “lago romano” (mare nostrum = nosso mar). Foram tam- bém conquistados os reinos do Ponto, Bitínia, Síria, Egito, Macedônia e Grécia. A expansão romana e suas consequências Com a expansão, o vasto comércio que se desenvolvia ocupava o lugar antes pertencente à atividade agrícola. A concorrência com gêneros advindos das províncias e do la- tifúndio patrício, cujo crescimento dependia da mão de obra escrava, levou ao desaparecimento da ampla camada de pequenos proprietários. Efeito direto da expansão, o crescimento da escravidão esteve ligado à miséria da plebe, visto que grande parte dos escravos era prisioneira de guerra. Mesmo abolida a escra- vidão por dívida, denominada “nexo” na Roma Antiga, ao plebeu endividado só restava entregar a terra ao patrício em troca da dívida. Paulatinamente, Roma entrou em um proces- so de concentração fundiária, com as grandes propriedades patrícias transformadas em latifúndios voltados para a pro- dução extensiva de exportação, ideal para o trabalho escravo. Um processo de êxodo rural, devido à miséria da plebe sem terra e sem trabalho no campo, acabou concentrando em Roma uma massa miserável, aumentando a tensão social e política. Com a finalidade de alienar essa multidão, cuja potencialidade revolucionária era evidente, o Estado forne- cia pão, vinho e espetáculos (política do pão e circo). Expansão romana Com a conquista do Mediterrâneo, foram criadas condi- ções para um grande desenvolvimento da manufatura e do comércio. A consequência dessa prosperidade econômica foi a formação de uma nova classe de comerciantes e mi- litares que enriqueceram com as guerras: os homens no- vos ou cavaleiros. Ao mesmo tempo em que sua condi- ção plebeia impunha-lhes uma situação de marginalização política, sua riqueza tornava-os naturalmente adversários da oligarquia patrícia, fato que também representou um elemento a mais a conspirar contra a ordem republicana. No rastro das conquistas romanas e da necessidade de uma força militar mais eficiente, o exército romano passou por um processo de profissionalização, uma força permanente cujos guerreiros recebiam o soldo para combater (origem do ter- mo soldado). Uma força à margem da estrutura republicana, que alimentou as ambições políticas dos generais. Novas lutas sociais assinalaram a crise da República, desencadeadas por essas transformações em Roma. crise Na rePública (133-27 a.c.) Alguns senadores, depois das transformações resultantes da conquista do Mediterrâneo, concluíram que a estrutura 92 do Estado precisava de reformas. Uma das primeiras medi- das, a votação secreta nas assembleias, permitiu a eleição de magistrados bem-intencionados, os irmãos Tibério e Caio Graco. Tibério Graco foi eleito tribuno da plebe e conseguiu a aprovação de uma lei agrária que limitava a extensão dos latifúndios da aristocracia patrícia e autorizava a distribui- ção de terras para os desempregados. Tibério Graco e mais de 300 partidários seus foram assassinados e lançados ao rio Tibre por proprietários rurais que se opuseram-se à apli- cação da lei agrária em 132 a.C. Caio Graco, irmão mais novo de Tibério, eleito tribuno da plebe em 123 a.C, retomou e aplicou a lei de reforma agrá- ria em Cápua e Tarento; permitiu aos cavaleiros o acesso aos tribunais que julgavam as finanças provinciais; prome- teu a cidadania romana aos aliados itálicos e decretou a Lei Frumentária, que determinava a venda de trigo a preços baixos aos plebeus. Reeleito em 122 a.C., mas derrotado no ano seguinte, Caio tentou um golpe de Estado, que re- sultou no massacre de seus seguidores. Foi morto por um escravo, seguindo suas próprias ordens. Mario e Sila, duas ditaduras militares (107-79 a.C.) A crise da República, agravada pelo fracasso das reformas propostas pelos irmãos Graco, mergulhou Roma numa sangrenta guerra civil, abrindo caminho para as ditadu- ras militares dos generais Mario e Sila. De origem plebeia, Mario era o homem mais rico de Roma, um homem novo que, graças à sua riqueza, foi galgando postos dentro do exército romano, no qual chegou a general. Mario foi eleito para o cargo de cônsul, já que dispunha de grande prestí- gio entre as camadas populares. Com o apoio do exército, Mario implantou uma ditadura em Roma e, violando as leis, reelegeu-se seis vezes para o consulado. Aumentou o poder dos cavaleiros e reduziu a autoridade do Senado. Em 86 a.C, após a morte de Mario, o general Sila, aristocra- ta apoiado pelos patrícios e pelo Senado, assumiu o poder e proclamou-se ditador perpétuo de Roma. Líder da reação do partido aristocrático, Sila realizou uma violenta repres- são contra os cavaleiros e as camadas populares, restabe- lecendo os privilégios da aristocracia patrícia e restaurando a autoridade do Senado. A crise da República piorou com a ditadura de Sila, que morreu em 79 a.C. O primeiro triunvirato (60-48 a.C.) A República estava ainda ameaçada por comandantes milita- res que se serviam das tropas em seu próprio interesse políti- co. O Senado não conseguiu impor efetivamente a autoridade que lhe fora restituída. Em 60 a.C., Julio César, um político, Pompeu, um general, e Crasso, um abastado banqueiro, compuseram um triunvirato para tomar o poder em Roma. Primeiro triunvirato: (da esQuerda Para a direita) PomPeu, Julio césar e crasso Pontífice Máximo, questor eleito pela assembleia do povo e cônsul, Júlio César subiu depressa. Pompeu havia voltado do Oriente, e o Senado desaprovara seu trabalho de reor- ganizar as províncias orientais. O ambicioso Crasso fez uma aliança secreta com César e Pompeu a fim de tomar o poder do Senado: nascia o primeiro triunvirato. Em 55 a.C., Pompeu ficou com a Espanha; Crasso, com as províncias no Oriente; e César, com a Gália (França atual). Em 53 a.C., Crasso morreu combatendo os partas na Síria, povo que reconstruiu o Império Persa. Sobreveio uma crise agravada pela ação de bandos armados que espalhavam o terror em Roma. Contra as ambições políticas de César, em 49 a.C., o Senado confiou a Pompeu a defesa da República. Julio César entrou em Roma à frente de seus exércitos, pronunciando a famosa frase Alea jacta est, (A sorte está lançada), configurando um inegável golpe de Estado. Aba- lado com o prestígio popular de César, Pompeu fugiu para a Grécia, onde foi derrotado em 48 a.C. A ditadura de César (48-44 a.C.) O Senado concedia cada vez mais títulos a César. Tais po- deres permitiram numerosas reformas. César acabou com a guerra civil, começou a construção de obras públicas e pôs as finanças em ordem. Tentou unificar o mundo romano, chegou a elevar gaule- ses ao Senado. Nomeava pessoalmente os governadores e mantinha-os sob controle, para evitar que espoliassem as províncias. César instigou a plebe contra o Senado a fim de se tornar rei, título que era sinônimo de traição depois que o Senado abolira a monarquia. Sofrendo forte oposição do Senado, que via nele uma clara ameaça graças a sua ambição de instauraruma monarquia hereditária, em 44 a.C., Julio Cé- sar foi assassinado por um grupo de aristocratas liderados por Cássio e Bruto. O segundo triunvirato (43-30 a.C.) Marco Antônio sublevou o povo contra os assassinos de César, que não tomaram o poder. Cícero aconselhou o 93 Senado, que entregou o poder ao sobrinho e herdeiro de César, Caio Otávio, que parecia não ter ambições políticas. Os senadores tinham-no como um instrumento em suas mãos. Otávio atacou Antônio em Módena para, em segui- da, aliar-se a ele e a Lépido, banqueiro que havia fornecido dinheiro para a guerra contra os assassinos de César. O Segundo Triunvirato estava formado. Em 40 a.C., os triúnviros dividiram novamente o Império pelo Acordo de Brindisi. A Itália foi considerada neutra. An- tônio ficou com o Oriente; Lépido, com a África; e Otávio, com o Ocidente. Otávio aumenta suas posses na África ao conseguir elimi- nar Lépido do triunvirato, no ano 36 a.C. segundo triunvirato: (da esQuerda Para a direita) marco emílio léPido, marco antônio e octavio august Para garantir a fidelidade de Antônio, Otávio tinha arran- jado o casamento dele com sua irmã, Otávia. Porém, An- tônio separou-se de Otávia em 36 a.C. para se casar com Cleópatra. Deixou sua herança para ela, nomeada também regente do filho que tivera com César, a quem Antônio con- siderava igualmente herdeiro, Cesarion. Revoltado, Otávio partiu para combater Antônio. Em Ácio, perto da Grécia, Antônio foi derrotado e fugiu com Cleópa- tra para o Egito. Antônio e Cleópatra se suicidaram. O Egito era considerado por Otávio sua conquista pessoal. Apoderou-se do tesouro dos faraós, acumulado durante milê- nios, e, com essa fortuna, organizou 70 legiões, o que o tornou indestrutível. Otávio voltou à Roma triunfante, recebido como um deus. Otávio ganhou o controle das duas maiores fontes de poder: o exército e a plebe romana. Surgia o imperator, uma nova forma de governo exercido pelo comandante do exército. Em 27 a.C., Otávio recebeu o título de Augusto (escolhi- do dos deuses), fato que marcou o fim da República e o início do principado, inaugurando o culto ao imperador. o iMPério roMaNo (27 a.c.-476 d.c.) O Alto Império (27 a.C.-235 d.C.) O Império Romano se dividiu em duas fases: o Alto Impé- rio e o Baixo Império. A primeira fase assinalou o apogeu do Império Romano. A segunda marcou o declínio do Im- pério Romano e sua destruição pelas invasões germâni- cas. A cidade de Roma chegou a possuir uma população de 1,2 milhão de habitantes, e o império abrangia uma área de 5 milhões de km2 em seu auge. O governo de Augusto (27-14 a.C.) Otávio Augusto, durante seu governo, assumiu o controle das principais magistraturas, concentrando mais poderes ainda em suas mãos. Foi reconhecido como Princeps Sena- tus, ou seja, o líder do Senado (razão pela qual seu governo também ficou conhecido como principado). Como impera- dor, assumiu o comando supremo do exército. A política do pão e circo foi a forma que Augusto encon- trou de apaziguar a plebe romana, distribuindo alimentos gra- tuitamente e realizando monumentais espetáculos públicos. Otávio Augusto inaugurou o que os romanos chamavam de pax romana, período esse em que as províncias romanas foram pacificadas, estradas foram construídas, portos foram reformados e pântanos foram drenados. Os aquedutos le- vavam água fresca para grandes parcelas da população ro- mana e o sistema de esgoto eficaz melhorou a qualidade de vida. Na política externa, as guerras de conquista foram substituídas pela política de consolidação das fronteiras. Em14 d.C., Otávio morreu, e recebeu a apoteose, isto é, o direito de ter um lugar entre os deuses. Dinastias que governaram Roma durante o Alto Império: a Dinastia Julio-Claudiana (Tibério, Calígula, Cláudio e Nero) estava ligada à aristocracia patrícia romana; a Dinastia Flávia (Vespasiano, Tito e Domiciano) ascendeu ao poder pelo exército e estava associada aos grandes comercian- tes da Itália central; a Dinastia Antonina (Nerva, Trajano, Adriano, Antonino Pio, Marco Aurélio e Cômodo) ligava-se às famílias italianas estabelecidas na Espanha e na Gália (o governo dessa dinastia marcou o apogeu do Império Romano); a Dinastia Severa (Sétimo Severo, Caracala, He- liogábalo e Severo Alexandre) assinalou a transição do Alto para o Baixo Império. O cristianismo Sob controle romano desde 64 a.C., a região da Palestina foi o local do surgimento do cristianismo, uma dissidên- cia do judaísmo. O cristianismo se fundamenta nas pregações de Jesus, que se dizia o Messias, isto é, o Filho de Deus. A crença na exis- tência de um só Deus, que enviou à Terra seu filho para redimir os homens, era o princípio fundamental do cristia- nismo. Foram os discípulos de Jesus, os apóstolos, que difundiram a nova religião pelo mundo romano. 94 No século I da Era Cristã, durante a Dinastia Júlio-Claudia- na, começou a perseguição aos cristãos, que, crentes na existência de um único Deus, recusavam-se a reconhecer os deuses oficiais do politeísmo romano e negavam-se a prestar culto ao imperador. Além disso, graças a sua men- sagem redentora, o cristianismo obteve enorme sucesso entre os excluídos da sociedade romana, o que lhe rendeu um caráter subversivo. O Baixo Império (284-476) Em 313, Constantino (313-337) promulgou o Édito de Milão, concedendo liberdade religiosa aos cristãos. Em 330, fundou uma nova capital, Constantinopla, no local da antiga colônia grega de Bizâncio. Em 391, Teodósio (379-395) transformou o Cristianismo em religião oficial do Império Romano pelo Édito de Tessalônica. Em 395, dividiu o império em duas unidades político-administrativas: o Império Romano do Ocidente e o Império Romano do Oriente. Os bárbaros esfacelaram o Império do Ocidente ao lon- go do século V. Os visigodos saquearam Roma em 410, os vândalos, em 455, e, em 476, os hérulos depuseram Rômu- lo Augústulo, o último imperador. O Império Romano e a crise O Império Romano começou a declinar a partir do século III. Entre inúmeras razões, destaca-se a crise do escra- vismo. Desde o final do século II, as guerras de conquista praticamente cessaram, fato que diminuiu muito o nú- mero de escravos à venda. Com isso, o preço deles foi ficando cada vez mais alto. Os proprietários começaram a arrendar partes das suas terras a trabalhadores livres denominados colonos. A partir do momento em que os colonos ganhavam o direito de cultivar a terra, eram obrigados a ceder parte de sua colheita para o senhor e a trabalhar, gratuitamente, alguns dias da semana nas plantações do senhorio. Esse novo sistema de trabalho foi denominado colonato. A diminuição da produção e o declínio do comércio foram resultantes da crise do es- cravismo e do advento do colonato. O desequilíbrio entre a arrecadação fiscal do Estado e sua despesa com a manutenção do aparelho administrativo e militar foram a origem da crise financeira. A falta de gêneros alimentícios e a inflação provocaram o êxodo urbano e o despovoamento das cidades. De 235 a 285, grassaram os motins militares e guerras civis, e muitos imperadores foram assassinados. Ao mesmo tempo em que desmoronavam os pilares internos do império, nas fronteiras do Reno, do Danúbio e do Eufrates, as contínuas pressões externas abriam novas brechas no dispositivo de defesa militar provocadas pelas invasões bárbaras. Descendentes dos indo-europeus ou arianos, os povos bárbaros germânicos habitavam os territórios da Europa Centro-Oriental. Enfraquecido por uma crise mais agu- da, o Império Romano do Ocidente foi destruído pelas invasões germânicas. Sob o impacto delas, o Império fragmentou-se e seus territórios foram ocupados por dife- rentes povos germânicos, que neles fundaram os Reinos Bárbaros da Idade Média. a cultura ViNda de roMa A cultura grega influenciou a cultura desenvolvida pelos romanos. Na religião politeísta, os deuses romanos tinham por modelo os deuses gregos. A literatura romana teve grandesnomes: Cícero, Virgílio (Eneida), Horácio, Ovídio, Tito Lívio e Plutarco. As grandes obras da arquitetura roma- na foram o Panteon e o Coliseu. Na filosofia, o epicurismo de Lucrécio e o estoicismo de Sêneca, Epiteto e Marco Aurélio deixaram legado. Gaio, Ulpiano e Paulo foram os maiores jurisconsultos romanos. Os etruscos deixaram muitos legados para os romanos, mas o maior foi o uso do arco e da abóbada nas cons- truções. Esses elementos arquitetônicos permitiram aos ro- manos criar amplos espaços internos. Assim, nos edifícios destinados à apresentação de espetáculos – os anfitea- tros – os construtores romanos, usando filas sobrepostas de arcos, obtiveram apoio para construir o local destinado ao público. Isso pode ser observado no mais belo dos anfi- teatros romanos: o Coliseu. coliseu 95 iMPério bizaNtiNo A morte do imperador Teodósio, em 395 d.C., determinou o fim da unidade do Império Romano, que foi dividido en- tre os seus filhos em duas partes: o Império Romano do Ocidente e o Império Romano do Oriente, com sede em Constantinopla, antiga Bizâncio. Dessa forma, o Império Romano do Oriente se consolidou como Império Bizantino. Economia e sociedade A região oriental, dotada de estruturas econômica, políti- ca e administrativas mais sólidas, teve mais capacidade de absorver a crise do Império Romano. Sua agricultura so- freu um pequeno declínio, mas a manufatura e o comércio mantiveram-se articulados. As levas bárbaras do Oriente chegaram a ocupar algumas províncias, mas Constantino- pla conseguiu manter sua autoridade. O comércio proporcionou o enriquecimento de Bizâncio, que se tornou a maior metrópole do Oriente. Centro de importantes rotas comerciais, a cidade passou a controlar o intercâmbio de produtos entre o mar Mediterrâneo e o mar Negro. No setor agrícola, predominavam os latifúndios. A Igreja concentrava em suas mãos uma ampla porcentagem da riqueza agrária, tornando os mosteiros as entidades mais ricas do império. A sociedade era urbanizada. Banqueiros, mercadores, ma- nufatureiros e grandes proprietários de terras constituíam uma elite extremamente enriquecida. Nas camadas inter- mediárias estavam os trabalhadores urbanos do comércio e das manufaturas. No campo, predominavam os servos, proibidos de saírem das terras onde nasceram. Os escravos realizavam trabalhos domésticos. O Estado beneficiou-se do enriquecimento proporciona- do pelo comércio, possibilitando seu fortalecimento como uma monarquia centralizada, despótica, teocrática e here- ditária. O imperador tinha grandes poderes políticos, além de ser o chefe do Exército e da Igreja, com direito de intervir nos assuntos eclesiásticos (cesaropapismo). O auge do império: Justiniano (527-565 d.C.) O principal imperador bizantino foi Justiniano (527-565). Durante seu governo, o poder imperial atingiu seu auge. Os gastos militares forçaram a elevação dos impostos a níveis insuportáveis. As pressões da arrecadação desencadearam, em 532, um violento levante conhecido por Revolta de Nika, que foi duramente reprimida por Justiniano. A publicação do Corpus Juris Civilis ou Código de Justiniano, que serviu de referência para códigos civis de diversas nações, foi a grande realização de Justiniano no campo jurídico. O código resultou de uma compilação do Direito Romano. A Igreja bizantina No Oriente, o cristianismo foi integrado à cultura local, incorporando aspectos da realidade bizantina, inteiramen- te diversos da realidade ocidental. Assim, o cristianismo oriental passou a ter características próprias, diferencian- do-se cada vez mais do ocidental, com grande ênfase na valorização da espiritualidade. Os cristãos orientais denominavam de ícones quaisquer ima- gens tridimensionais de Cristo ou santos incorporadas às ce- rimônias religiosas. Dentre os principais produtores de ícones encontravam-se os monges, que auferiam grandes lucros nesse ramo comercial. Isentos de tributação, proprietários de grandes propriedades, exercendo grande influência na socie- dade, representavam uma ameaça ao poder central. A corriqueira utilização de ícones nos templos e mesmo nas casas era vista por muitos como uma prática idólatra, ou seja, de adoração de ídolos. Com o intuito de enfraquecer o poder dos monges, o im- perador Leão III, em 725, proibiu o uso de imagens tridi- mensionais nos templos, determinando sua destruição ou iconoclastia. O papa manifestou-se declarando herética a proibição de imagens, aprofundando os desentendimen- tos entre o imperador e a Igreja. O Cisma do Oriente (1054) O patriarca de Constantinopla era a figura eclesiástica de maior poder no Oriente. Ele recusava a supremacia do papa sobre sua Igreja, considerando-se o supremo man- datário do povo cristão. As inúmeras divergências levaram à separação entre as igrejas orientais e ocidentais em 1054. O chamado Cisma do Oriente levou à formação de duas igrejas distintas: a Igreja Católica Apostólica Romana, dirigida pelo Papa, e a Igreja Cristã Ortodoxa, liderada pelo Patriarca de Constantinopla. IMPÉRIO BIZANTINO 96 a entrada de maomé ii em constantinoPla, de Jean-JosePH-benJamin constant Decadência do Império Bizantino Além do fortalecimento do poder dos grandes proprietários rurais, do enfraquecimento do poder do imperador e das disputas religiosas, contribuíram para o declínio do Império Bizantino os constantes ataques que Bizâncio passou a so- frer, especialmente das cidades italianas, a partir do século XIII, e das investidas de bárbaros e árabes. Depois de um longo cerco, em 1453, os turcos otoma- nos, comandados pelo sultão Maomé II, conquistaram a cidade de Constantinopla, ou Bizâncio, destruindo o Império Bizantino. Constantinopla tornou-se a capital de outro Estado poderoso, o Império Otomano, pas- sando a se chamar Istambul e permanecendo, até os dias atuais, como a maior e mais importante cidade da República da Turquia. A tomada de Constantinopla marcou a transição da Idade Média para a Idade Moderna. A Arábia é uma península árida localizada no Oriente Médio. Os diversos povos da Arábia estavam divididos em várias tribos; portanto, não formavam um Estado com unidade política. Mas tinham elementos culturais comuns, como o idioma árabe e certas crenças religio- sas. A principal cidade árabe era Meca, onde havia um santuário religioso, Caaba (casa de Deus), que reunia as principais divindades de toda a Arábia (mais de 300 ído- los pertencentes às tribos do deserto). Ali estava a Pedra Negra, provavelmente um pedaço de meteorito protegi- do por uma tenda de seda preta, na forma de um cubo, que era bastante venerada, pois se acreditava ter sido trazida do céu pelo anjo Gabriel. O santuário ajudou a transformar Meca no centro religioso e comercial dos árabes, já que a cidade era o ponto de encontro de pessoas e de mercadorias de diversas regiões. O responsável pela unidade política e religiosa da península Arábica foi Maomé, criador e divulgador da religião muçul- mana. Nas suas viagens, Maomé entrou em contato com povos e religiões diferentes. Esteve várias vezes no Egito, Palestina, Pérsia, regiões onde fervilhava o espírito religioso. Conheceu principalmente o cristianismo e o judaísmo, so- frendo profunda influência dessas crenças religiosas. Por volta de 610, já com quase 40 anos, Maomé teve sua primeira visão do anjo Gabriel, que lhe teria ordenado “re- citar o nome do Senhor” e que “havia um só deus, Alá, e um só profeta, Maomé”. No ano de 622, Maomé teria realizado um milagre para provar que era profeta de Alá: “quebrou” a Lua. Provavelmente tratava-se de um eclipse e talvez Maomé tivesse informações sobre o acontecimen- to, porque tinha muito contato com o Oriente, onde a as- tronomia era altamente desenvolvida. Perseguido pelos coraixitas, que mandaram assassiná-lo, Maomé fugiu para Iatreb (Yathrib), cidade rival de Meca, onde já possuía seguidores. Esse evento ficou conhecido como Hégira, e é utilizado como marco inicial do calen-dário muçulmano. Em latreb, Maomé conquistou rapida- mente prestígio e poder, controlando a cidade que passou a ser chamada de Medina al Nabi – a Cidade do Profeta. Depois da conquista de Iatreb, o alvo principal passou a ser a cidade de Meca. O crescente número de seguidores possibilitou a formação de um exército numeroso, que cercou a cidade, preservando apenas a Caaba. Em segui- da, Maomé fez um acordo com os coraixitas, estabelecen- do a peregrinação a Meca como uma das obrigações da religião muçulmana. CIVILIZAÇÃO MUÇULMANA 97 Em 632, Maomé morreu, deixando difundida sua doutrina religiosa. Ao mesmo tempo, a península Arábica, que era um aglomerado de tribos e clãs dispersos, teve sua unifi- cação política realizada por meio da unificação religiosa. Expansão islâmica A partir do século VII, os árabes muçulmanos expandiram- -se, dominando vasta extensão territorial que se estendia da Ásia à Europa, passando pelo Norte da África. Essa expansão teve origem na unidade política e religiosa implantada por Maomé, no início do século VII, quando foi criado um estado teocrático islâmico. Fases da expansão Depois da morte de Maomé, os membros mais influentes dos conselhos municipais das cidades de Meca e Medina decidiram apontar um califa, isto é, um sucessor de Mao- mé, que deveria concentrar em suas mãos o poder político, militar e religioso. O primeiro califa foi Abu Bekr, sogro de Maomé, e os outros três que o sucederam foram também apontados entre seus familiares. As conquistas tiveram início com esses califas de Meca. Sucessivamente, a partir de 634, a Síria, a Palestina, a Ásia Menor, a Mesopotâmia, a Pérsia, o Egito e a Tunísia caíram sob o domínio muçulmano. Alguns anos depois dessas conquistas, o novo império foi abalado por lutas internas, e o controle do califado passou para as mãos de outra família, os Omíadas, que transferi- ram a capital para Damasco, na Síria. Sob a liderança dos Omíadas (660-750), os árabes retomaram o processo de expansão conquistando territórios na Ásia central (Índia), Norte da África e península Ibérica. Os muçulmanos só fo- ram contidos na Europa pelos francos, liderados por Carlos Martel, da dinastia carolíngia, em 732, na Batalha de Poi- tiers. O domínio árabe sobre a costa do Mediterrâneo con- tribuiu para a crise do comércio e a feudalização europeia. Em 750, a dinastia Omíada chegou ao fim, sendo derrota- da por uma conspiração interna que inaugurou a dinastia Abássida (750-1258). A capital passou de Damasco para Bagdá, mudança essa que provocou a primeira divisão do mundo islâmico. A divisão do Império Islâmico foi uma con- sequência de sua enorme expansão, obtida em um período muito curto de tempo. As seitas religiosas sunita e xiita contribuíram para esse fenômeno. A religião muçulmana A doutrina islâmica, muçulmana ou maometana é mar- cada pelo sincretismo religioso. Possui elementos do cristianismo e do judaísmo, de onde provêm suas bases fundamentais. O principal fundamento da religião é o monoteísmo, a crença no Deus único Alá e em seu profeta Maomé. caaba, grande mesQuista em meca Os fundamentos da religião estão no livro sagrado – Alco- rão ou Corão –, que determina a total submissão do homem à vontade de Alá (Islão). Um aspecto importante da religião islâmica são as inter- pretações e os significados que foram sendo agregados à jihad, que passou cada vez mais a ser interpretada como Guerra Santa e vinculada ao expansionismo. Foi graças à concepção do jihadismo como “esforço” de difusão da fé no islamismo que a expansão territorial foi estimulada e as conquistas de vários territórios pelos árabes muçulmanos foram consumadas. Outra característica importante do islamismo é o secta- rismo, com a formação de seitas rivais desde a morte de Maomé, quando ocorreram sérias divergências em rela- ção à liderança religiosa e política dos muçulmanos. As principais seitas são xiitas e sunitas. Os primeiros acei- tam somente o Corão como fonte de verdade, bem como um chefe político religioso descendente de Maomé. Os sunitas admitem, além do Alcorão, os ensinamentos con- tidos no Suna, livro de relatos de seguidores próximos de Maomé, bem como admitem que o chefe possa ser esco- lhido entre os fiéis que reúnam as virtudes necessárias. A cultura árabe Os árabes foram os responsáveis pela difusão, no Oci- dente, dos conhecimentos adquiridos pelos impérios bi- zantino e persa. Na Astronomia, os muçulmanos traduziram a obra de Pto- lomeu, que passou a ser conhecida pelo nome de Alma- gesto. Na Matemática, desenvolveram a álgebra e a trigo- nometria, além dos conhecimentos deixados pelos gregos. Propagaram o sistema numérico arábico, cuja invenção 98 provém dos hindus. Na Química, descobriram substâncias como o álcool, o ácido sulfúrico e o salitre. Foram os pri- meiros a descrever os processos químicos de destilação, filtração e sublimação. Na Medicina, fizeram importantes descobertas, como o contá- gio proveniente da água e do solo e o diagnóstico de doenças como a varíola e o sarampo. O mais famoso médico muçul- mano foi Avicena, cuja obra Canon foi o manual médico na Europa até o século XVII. Na Literatura, destacam-se os poemas épicos e de amor e contos de aventura, como a co- letânea As mil e uma noites e Rubaiat. Nome célebre é o de Averróis, filósofo de Córdova, que traduziu as obras de Aristóteles para a língua árabe e introduziu-as no Ocidente. Merece destaque a arquitetura de palácios e mesquitas. Gra- ças à dominação da península Ibérica, o árabe influenciou a formação da língua portuguesa. reiNo fraNco Rômulo Augusto, o último imperador romano, foi deposto, em 476, por Odoacro, líder hérulo que decretou o fim do Império Romano do Ocidente, marco utilizado pelos his- toriadores para determinar o fim da Idade Antiga e o início da Idade Média. Os reinos bárbaros O encontro entre romanos e bárbaros reuniu características culturais de ambos os povos e deu início à estrutura do sistema feudal. À medida que os bárbaros entravam no Império Romano do Ocidente, formavam reinos que, de maneira geral, não tinham longa duração. Por esse motivo, os povos germâni- cos não resistiram às pressões externas e foram dominados ou destruídos. Entretanto, os francos conseguiram organi- zar uma estrutura política na Gália. A centralização do po- der foi fundamental para manter a conquista do território, atualmente a França. A formação desse reino teve início no período da Alta Idade Média europeia, a expansão ter- ritorial ocorreu entre as dinastias Merovíngia e Carolíngia. Dinastia Merovíngia (481-751) Chefiados por Meroveu, os francos venceram os hunos no final do século V, na Batalha dos Campos Catalúnicos. Mas a dinastia Merovíngia foi consolidada, efetivamente, por seu neto, Clóvis, a partir da unificação das tribos francas. Clovis reinou durante os anos de 482 a 511. Nesse período, aliou-se à Igreja Católica, oferecendo-lhe proteção militar; em troca, obteve o apoio do papado, o que contribuiu para o fortalecimento da sua autoridade real. Com a morte de Clóvis, em 511, o Reino Franco foi dividido em quatro par- tes, entre seus filhos, de acordo com o costume germânico de divisão do poder. Mais tarde, uma nova divisão ocorreu entre os netos de Clóvis. Nesse período, um novo sistema econômico se estrutu- rou – o feudalismo –, com a ruralização da economia e o fortalecimento das relações pessoais entre o rei a seus vassalos. A fidelidade ao rei, suserano de um feudo, era es- tabelecida mediante o juramento da vassalagem,composta pelos senhores feudais e pelos cavaleiros, que assumiam o compromisso de servir ao soberano. Em troca, o rei oferecia proteção, terras e outros bens, mantendo o sistema de ser- vidão e enfraquecendo o poder dos monarcas merovíngios. O poder nobiliárquico também se baseava no contato direto dos majordomus (mordomos ou prefeitos do palácio) com os reis. Oriundos de famílias nobres, os majordomus passaram a exercer o poder no reino,a partir do comando do exército, da administração e divisão das terras e, por fim, da coleta de impostos. Aos reis eram atribuídas funções cerimoniais. Pepino de Heristal, majordomus do Reino da Austrásia, conseguiu submeter os outros majordomus, promovendo a centralização do Reino Franco. Mas foi somente com seu sucessor, Carlos Martel, que os majordomus passaram a ser considerados reis. Carlos Martel conquistou prestígio e poder ao liderar os francos na vitória contra os muçulmanos na Batalha de Poitiers, na França, no ano de 732, contendo o avanço islâmico sobre a Europa ocidental. carlos martel na batalHa de Poitiers. cHarles steubem (1788-1856) REINO FRANCO 99 Ao ser considerado pela Santa Sé como o “salvador do cristianismo ocidental”, Carlos Martel fortaleceu sua au- toridade pessoal, fato aproveitado por seu filho Pepino, o Breve, que, com o apoio do papa Zacarias, destronou o último rei merovíngio Childerico III, no ano de 751, e proclamou-se rei dos francos, iniciando a Dinastia Car- olíngia, que perdurou até 987. Dinastia Carolíngia (751-987) Pepino iniciou a administração de seu reinado lutando con- tra os lombardos na Itália. Os territórios conquistados, no centro da península Itálica, foram cedidos à Igreja, que pela primeira foi dona de suas terras, concedendo maior poder ao Papa e fortalecendo ainda mais a aliança entre a Igreja e o reino fanco. Os territórios da Igreja ficaram conhecidos como Patrimônio de São Pedro. Pepino foi sucedido por seu filho Carlos Magno, em 768, que governou até 814, tornando-se o mais importante rei franco, concedendo seu nome à dinastia Carolíngia. Carlos Magno ampliou as fronteiras do reino franco, anexando a Itália lombarda, a Saxônia, a Frísia e a Catalunha, tornan- do-se o único rei da Europa cristã. A expansão foi favorecida pelo apoio da Igreja e da nobre- za guerreira. O reino de Carlos Magno tornou-se o maior Império Ocidenta, durante o período medieval. No Natal do ano 800, Carlos Magno foi coroado pelo Papa Leão III im- perador romano do Ocidente. O imperio de Carlos Magno também foi marcado pelo estímu- lo imperial ao desenvolvimento cultural. Ocorreu um grande incentivo à cultura e às artes, quando houve um florescimento cultural e intelectual, o Renascimento Carolíngio. Em 806, Carlos Magno fez seu testamento dividindo o império entre seus filhos, conforme o costume sucessório germânico, mas acabou sendo sucedido por seu filho mais novo, Luís I, o Piedoso, que governou de 814 a 841, mantendo o império e a estrutura político-administrativa herdados de seu pai. A decadência do Império Carolíngio teve início após a mor- te de Luís I, em 841, quando se iniciou um conflito entre seus filhos pelo trono. Lotário, Carlos e Luís travaram várias batalhas, arruinando as finanças e enfraquecendo militar- mente o império. Em 843, a disputa foi solucionada com a assinatura do Tra- tado de Verdun, que estabeleceu a divisão do império en- tre os netos de Carlos Magno: Lotário recebeu a Lotaríngia, que correspondia aos Países Baixos, Suíça e Norte da Itália; a Luis, o Germânico, coube a parte oriental do Império (Ger- mânia); e a Carlos, O Calvo, coube o território da França. O Tratado de Verdun marcou, segundo as divisões dos períodos da História, o final da Alta Idade Média. A quebra da unidade política e o enfraquecimento militar favoreceram as invasões externas – magiares, árabes e vi- kings –, levando o império franco ao declínio. origeNs do feudalisMo Na Europa, a Idade Média caracterizou-se pelo surgi- mento de um sistema econômico, político e social de- nominado feudalismo. Esse sistema foi fruto de uma lenta integração entre algumas características de duas estruturas sociais: a romana e a germânica. Esse pro- cesso de integração, que resultou na formação do feu- dalismo, ocorreu no período histórico compreendido entre os séculos V e IX. Próximo ao fim do Império Romano do Ocidente, os gran- des senhores romanos começaram a abandonar as cida- des, fugindo da crise econômica e das invasões germâni- cas. Os senhores rumaram para latifúndios no campo, onde passaram a desenvolver uma economia agrária voltada para a subsistência. A nova onda de invasões dos séculos VIII ao X Fonte: 28navegadores.blogspot.com.br/2013_04_01_achive.htmlfonte: <28navegadores.blogsPot.com.br/2013_04_01_acHive.Html>. SISTEMA FEUDAL 100 Um grande contingente de romanos de menos posses pas- sou a buscar proteção e trabalho nas terras desses grandes senhores. Para utilizar as terras, eram obrigados a ceder ao proprietário parte do que produziam. Dessa forma, nesses centros rurais conhecidos por vilas romanas, começaram a ser criados os feudos medievais. Com algumas alterações fu- turas, esse sistema de trabalho resultou nas relações servis de produção, um dos traços fundamentais do feudalismo. Com a contínua ruralização do Império Romano, o poder central foi perdendo controle sobre os grandes senhores agrários. Gradativamente, as vilas romanas tornaram-se cada vez mais autônomas, à medida que o poder político descentralizava-se, permitindo ao proprietário de terras ad- ministrar de forma independente sua vila. O contato dos romanos com os povos de origem germâni- ca promoveu a troca de hábitos e costumes entre eles, prin- cipalmente num momento de ruralização e de organização de uma economia baseada nas atividades agropastoris. As várias tribos germânicas viviam de maneira autônoma, es- tabelecendo relações apenas quando se defrontavam com um inimigo comum, unindo-se, nessas ocasiões, sob o co- mando de um só chefe. As relações entre o suserano e o vassalo, fundamentadas na honra, lealdade e liberdade, tiveram suas origens no comitatus germânico. O comitato era um grupo forma- do pelos guerreiros e seu chefe com obrigações mútuas de serviço e lealdade. Os guerreiros juravam defender seu chefe, que se comprometia a equipá-los com cavalos e armas. Mais tarde, essas relações de honra e lealdade de- ram origem às relações de suserania e vassalagem. A formação do Direito no feudalismo também teve influên- cia germânica. Baseando-se nos costumes orais, e não nas leis escritas, o direito era considerado uma propriedade do indivíduo, um direito inerente a ele em qualquer local em que estivesse. Essa forma do Direito, produto dos costumes e da sua prática reiterada e constante, sem ser resultado de um processo formal de criação das leis escritas, é denomi- nada direito consuetudinário. As invasões dos séculos VIII e IX aceleraram a lenta integra- ção entre aspectos da sociedade romana e da sociedade ger- mânica. Em 711, os muçulmanos, vindos do Norte da África, conquistaram a península Ibérica, a Sicília, a Córsega e a Sardenha, fechando o mar Mediterrâneo à navegação e ao comércio dos europeus. Ao norte, no século IX, os norman- dos também se lançaram à conquista da Europa. Penetraram no continente europeu pelos rios, saqueando suas cidades. A leste, os magiares (húngaros), cavaleiros nômades originá- rios das estepes euroasiáticas, invadiram a Europa oriental. O comércio, com o desaparecimento quase total da moe- da, regrediu ao patamar da troca direta. Com a agrarização da economia, as cidades foram despovoadas, completando o processo de ruralização da sociedade. O poder político descentralizou-se em uma multiplicidade de poderes loca- lizados e particularistas. O feudalismo se estabeleceu em sua plenitude. características gerais A sociedade feudal era estamental, ou seja, os indiví- duos nasciam num determinado estamento (grupo social) e dificilmente poderiam ascender a outro; tendiam a per- manecer sob a própria condição de nascimento. Segundo a divisão clássica, a sociedade medieval era formada pelos seguintes estamentos: clero, nobreza e servos. Os senhores feudais eram os proprietários ou os pos- suidores do feudo. Originários da nobreza e do clero, for- mavam uma aristocracia dominante. A nobreza se subdivi- dia em duques, condes, barões e marqueses. Os senhoresfeudais eclesiásticos, vinculados à Igreja Romana, também pertenciam à alta hierarquia do clero. Em geral, eram bispos, arcebispos e abades. O estamento dos dependentes, que compreendia a maioria da população medieval, compunha-se de servos e vilões. Os servos não tinham a propriedade da terra, embora, na maioria dos casos, tivessem posse parcial dela, o que justificava o fato de estarem adstritos a ela. É importante observar que, embora fossem trabalhadores semilivres – donos de seus instrumentos de trabalhos, sementes, etc. –, apenas uma pequena parcela do que produziam era desti- nada ao próprio sustento. Em número reduzido, havia outro tipo de trabalhador me- dieval: o vilão. Os vilões não estavam presos à terra e des- cendiam de antigos pequenos proprietários romanos. Não podendo defender suas propriedades, entregavam suas terras em troca de proteção de um grande senhor feudal. Economia feudal As terras eram divididas em domínio senhorial, cuja pro- dução destinava-se ao senhor feudal, manso servil, cujo produto do trabalho pertencia aos servos, e terras comu- nais, isto é, pastos e florestas utilizadas tanto pelos senhores como pelos camponeses. O feudo, cujas terras eram des- contínuas, constituía-se como a unidade geral de produção. A terra arável era dividida em três partes: o terreno de plantio da primavera, o de plantio do outono e outro que ficava em pousio (descanso). Esse sistema surgiu na Europa, no século VIII, e ficou conhecido como sistema dos três campos. Nessa sociedade rural, de economia essencialmente agrária, a propriedade e a posse da 101 terra determinavam a posição do indivíduo na hierarquia social. A terra era a expressão da riqueza, da influência, da autoridade e do poder. Além da obediência e fidelidade por juramento que os ser- vos deviam ao seu senhor, as obrigações nas formas de trabalho e produtos eram as seguintes: § corveia: obrigação de trabalhar nas terras do senhor feudal sem direito ao que era produzido; § talha: obrigação de entregar parte da produção no manso servil ao seu senhor; § banalidades: pagamento de impostos com produtos ou trabalho pelo uso de instrumentos do senhor: ferra- mentas, moinhos, armazéns; § capitação: pagamento de imposto per capita dos fa- miliares dos servos; e § mão-morta: pagamento de imposto pelos filhos do servo morto para que continuassem ocupando as terras fornecidas a seu pai pelo senhor. O feudo produzia tudo o que necessitava e consumia tudo que produzia. Era uma economia autossuficiente, organizada para suprir as necessidades do próprio feudo. O comércio não desapareceu da Europa, mas era retraído e sem relevância econômica. A troca de mercadorias realizava-se semanalmen- te dentro do próprio feudo, em um mercado junto de uma Igreja, de um castelo ou na própria aldeia. As trocas ocorriam de bens por bens. O uso de moedas não era frequente. O senhorio medieval Manso comum Os produtos retirados dessas terras eram de uso tanto dos servos quanto dos senhores. As terras comunais eram constituídas de pastos para criar animais e de florestas e baldios, onde os camponeses colhiam frutos e raízes, extraíam a madeira e o mel. A caça nas florestas era exclusiva dos senhores. No senhorio, em geral, também havia coleiros para armazenar a colheita; um moinho para triturar os grãos; e fornos para assar os pães. Domínio Senhorial Os produtos dessas terras perteciam exclusivamente ao senhor. Nelas trabalhavam servos e outros camponeses. Ali se produzia tudo o que o senhor necessitava para manter sua família e outros dependentes. Manso servil Terras destinadas aos servos. Nelas os servos produziam o que era necessário para a sua sobrevivência, devendo em troca cumprir uma série de obrigações para com o senhor. Ilustração atual de como poderia ter sido um senhorio medieval. Fonte: historiademestre.blogspot.com.br/2014/10/a-idade-media-e-o-feudalismo.htmlfonte: <Historiademestre.blogsPot.com.br/2014/10/a-idade-media-e-o-feudalismo.Html>. Política feudal Notadamente durante os séculos de IX ao XII, havia um rei, cujo poder era meramente formal. No feudo, cada senhor feudal era o soberano supremo e detinha o monopólio da força como chefe do exército. Esse monopólio, porém, não ultrapassava seu pequeno exérci- to mantido dentro de seus domínios feudais. Quando em estado de guerra, havia uma centralização político-militar desses exércitos sob as ordens e comando do rei. Os laços de suserania e vassalagem estabeleciam os vínculos e a hierarquia entre a nobreza feudal. Um senhor feudal, proprietário de grandes porções de ter- ra, doava uma parcela dela a outro nobre. O doador passava a ser o suserano, e o recebedor, o vassalo. Es- sas relações eram estabelecidas por contrato de direi- tos e deveres. Entre outras obrigações, o vassalo obri- gava-se a pôr seu exército à disposição do suserano, a dar-lhe hospedagem quando necessário, a contribuir para o dote e o armamento de seus filhos. Ao suserano, 102 por seu vez, cabia proteger militarmente o vassalo, ga- rantir a posse do feudo doado, tutelar os herdeiros e a viúva do vassalo depois de sua morte. Para oficializar a vassalagem, havia uma série de cerimônias conhecida como homenagem. O vassalo ajoelhava-se diante do senhor, com a cabeça descoberta e sem espada, pu- nha as mãos entre as mãos do suserano e pronunciava as palavras sacramentais do juramento. Em seguida, o senhor permitia que ele se levantasse, beijava-o e realizava a investidura com a entrega de um objeto simbólico – um punhado de terra, um ramo, uma lança ou uma chave – que representava a terra enfeudada. Os laços de suserania e vassalagem vinculavam toda a nobreza feudal. Nos últimos anos do século XI, no início das Cruzadas, o feudalismo entrou em gradativa decadência. O Renascimento comercial fez com que as estruturas feudais fossem progressivamente modifica- das: as cidades ressurgiram, a figura do rei voltou a ga- nhar progressiva centralização e a cultura teocêntrica foi gradualmente substituída pela antropocêntrica – o homem como centro do Universo. Cultura feudal A cultura feudal era fundamentalmente teocêntrica, ou seja, caracterizou-se pela visão do homem voltado para Deus e para a vida após a morte. A moral religiosa condenava o comércio, o lucro e a usura (empréstimo a juros). As artes, as letras, as ciências e a filosofia eram determinadas pela visão religiosa imposta pela Igreja, sempre com predominância de temas e inspi- ração religiosos. A Igreja católica foi a grande catalisadora dos aconteci- mentos e da vida medieval; nesse período, sua trajetória foi marcada pelo crescimento e desenvolvimento em virtude do grande poder conquistado. O crescente poder da Igreja católica na Europa ocidental durante a Idade Média pode ser explicado pelo acúmulo dos poderes espiritual e temporal. O poder espiritual cor- responde ao controle sobre a religião e o monopólio da interpretação das Escrituras Sagradas, permitindo o con- trole ideológico e a interpretação da realidade vigente. O poder temporal era exercido politicamente como resulta- do do controle da Igreja sobre um número crescente de populações que a alimentavam mediante pagamento dos dízimos, doações, além de outras ações realizadas por fiéis crentes da salvação em troca de seus recursos materiais. A Igreja concentrava uma grande quantidade de terras, re- sultado da acumulação de um montante significativo de riquezas materiais. A Igreja era responsável pela educação, mantendo uma série de escolas nos mosteiros, conventos e, mais tarde, nas paróquias. No século XIII, começou a organizar as universidades. Com isso, o poder da Igreja sobre os fiéis era incontestável. Os pecadores deviam cumprir penitên- cias, que variavam de orações e jejuns a peregrinações e participação nas Cruzadas. Um importante instrumento de manutenção do domínio da Igreja Católica Medieval foi a criação do Tribunal da Santa Inquisição, em 1231, pelo papa Gregório IX.A principal função do Tribunal era julgar e punir as heresias. As penas variavam de simples penitências ao confisco de bens, além da excomunhão, torturas e mor- te na fogueira. A Igreja contava com uma rígida organização hierárquica. Havia o alto clero e o baixo clero; este era composto de elementos vindos das camadas mais pobres da sociedade; aquele, ligado à aristocracia, detinha os cargos de direção: dele faziam parte o Papa, os bispos, os abades, etc. Os mosteiros eram os responsáveis pela preservação da cultura, além de serem importantes centros econômicos. O clero regular era constituído por todos os clérigos consa- grados da Igreja católica, que seguiam as regras de uma determinada ordem religiosa, dona de sua própria hierar- quia e de títulos específicos. IGREJA CATÓLICA MEDIEVAL 103 U.T.I. - Sala 1. O filósofo Aristóteles (384-322 a.C.) definiu a cidada- nia em Atenas da seguinte forma: A cidadania não resulta do fato de alguém ter o domi- cílio em certo lugar, pois os estrangeiros residentes e os escravos também são domiciliados nesse lugar e não são cidadãos. Nem são cidadãos todos aqueles que par- ticipam de um mesmo sistema judiciário. Um cidadão integral pode ser definido pelo direito de administrar justiça e exercer funções públicas. adaPtado de aristóteles, Política. brasília: editora unb, 1985, P. 77-78. Relacionando aquilo que você aprendeu sobre o tema com o texto acima, quais as duas principais condições para que um ateniense fosse considerado cidadão na Grécia clássica? 2. Num antigo documento egípcio, um pai dá o seguinte conselho ao filho: Decide-te pela escrita, e estarás protegido do trabalho árduo de qualquer tipo; poderás ser um magistrado de elevada reputação. O escriba está livre dos trabalhos manuais [...] é ele quem dá ordens [...]. Não tens na mão a palheta do escriba? É ela que estabelece a diferença entre o que és e o homem que segura o remo. aPud luiz kosHiba. História – origens, estrutura e Processos. Lendo o texto e lembrando o que você aprendeu sobre o tema, argumente sobre a seguinte afirmação: Nas Civilizações do Antigo Oriente, a Escrita é um dos fundamentos da própria ideia de “Civilização”. 3. Alguns povos da Antiguidade foram mercadores e praticavam intensamente o comércio marítimo. a) Qual a relação entre a localização geográfica da Fenícia e as características econômicas de seu povo? b) Cite o nome de suas três principais cidades. c) Cite e comente um legado importante que os fení- cios deixaram na História. 4. Vivemos numa forma de governo que não se baseia nas instituições de nossos vizinhos; ao contrário, servi- mos de modelo a alguns, ao invés de imitar outros. [...] Nela, enquanto no tocante às leis todos são iguais para a solução de suas divergências privadas, quando se tra- ta de escolher (se é preciso distinguir em algum setor), não é o fato de pertencer a uma classe, mas o mérito, que dá acesso aos postos mais honrosos; inversamente, a pobreza não é razão para que alguém, sendo capaz de prestar serviços à cidade, seja impedido de fazê-lo pela obscuridade de sua condição. Conduzimo-nos liberal- mente em nossa vida pública, e não observamos com uma curiosidade suspicaz [desconfiada] a vida privada de nossos concidadãos, pois não nos ressentimos com nosso vizinho se ele age como lhe apraz, nem o olhamos com ares de reprovação que, embora inócuos, lhe causariam desgosto. Ao mesmo tempo que evitamos ofender os ou- tros em nosso convívio privado, em nossa vida pública nos afastamos da ilegalidade principalmente por causa de um temor reverente, pois somos submissos às autori- dades e às leis, especialmente àquelas promulgadas para socorrer os oprimidos e às que, embora não escritas, tra- zem aos agressores uma desonra visível a todos. oração fúnebre de Péricles, 430 a.c. in: tucídides. História da guerra do PeloPoneso. brasília: editora unb, 2001, P. 109. adaPtado. a) Quais as principais características do regime polí- tico de Atenas? b) Qual a cidade que foi a principal adversária de Ate- nas na Guerra do Peloponeso? c) Cite e comente as principais diferenças entre elas. 5. Cite o nome e a principal característica de cada um dos três Períodos da História de Roma. 6. O historiador grego Heródoto (484-420 a.C.) viajou muito e deixou vivas descrições com reflexões sobre os povos e as terras que conheceu. Deve-se a ele a seguin- te afirmação: “o Egito, para onde se dirigem os navios gregos, é uma dádiva do rio Nilo“. “No Antigo Egito, existia uma profunda ligação entre o meio natural e a vida daquele povo.” Explique a afirmação acima, relacionando seus conhe- cimentos sobre o tema com o texto. 7. “Com relação ao ornamento, Roma não correspon- dia, absolutamente, à majestade do Império e, além disso, estava exposta às inundações, como também aos incêndios. Porém, Augusto fez dela uma cidade tão bela que pode se envaidecer, principalmente por ter deixado uma cidade de mármore no lugar onde en- contrara uma de tijolos”. adaPtado de: suetônio. a vida dos doze césares. são Paulo: martin claret, 2006, P. 91. Considerando o texto e o período de Otávio Augusto no governo de Roma, responda: a) Qual a relação da reurbanização de Roma durante o Governo de Otávio Augusto, com aquilo que simbo- lizava a PAX ROMANA? b) Identifique uma medida social e uma medida polí- tica estabelecidas por Augusto para adaptar as tradi- ções romanas àquele momento histórico. 8. Grande parte da presença humana na Terra é explica- da pelos historiadores tendo como referência o termo "pré-história". Sobre esse período, discorra sobre os seguintes tópicos: a) o significado da revolução neolítica; b) as limitações conceituais do termo "pré-história". U.T.I. - E.O. 1. A palavra árabe iman significa ‘ter certeza’ e desig- na fé, no sentido da certeza. A fé, por conseguinte, não 104 contradiz o conhecimento nem a compreensão. Pelo contrário, o desejo de saber é uma obrigação religiosa, e os tempos pré-islâmicos (século VI) na Arábia são cha- mados pelos islâmicos de jahiliya, ignorância. adaPtado de: burkHard scHerer (org.). as grandes religiões: temas centrais comParados. PetróPolis: vozes, 2005, P. 77. Como a fé e o conhecimento científico estavam relacio- nados entre si no mundo islâmico na Alta Idade Média? 2. “O desenvolvimento da arte bizantina da produção de ícones em mosaicos não contradiz as razões que ori- ginaram o Cisma do Oriente, em 1054.” Explique essa afirmação justificando-a. 3. A famosa “Batalha de Poitiers”, ocorrida no ano de 732, teve em Carlos Martel, líder dos francos e avô de Carlos Magno uma figura central. a) Do ponto de vista religioso e cultural, qual o sig- nificado dessa batalha para as regiões ocidentais do continente europeu? b) Qual a nova força militar que desempenhou um papel fundamental nessa batalha e que depois se tornaria durante todo o período medieval uma das instituições de sustento ao feudalismo? 4. Qual o significado simultaneamente político e reli- gioso da coroação de Carlos Magno, ocorrida no Natal do ano 800? 5. Observe a ilustração e leia a citação a seguir. Em se- guida, responda ao que se pede. Nascida nos quadros do Império Romano, a Igreja ia aos poucos preenchendo os vazios deixados por ele até, em fins do século IV, identificar-se com o Estado, quando o cristianismo foi reconhecido como religião oficial. (...) Estreitavam-se, portanto, as relações Estado-Igreja. (...) No Império Carolíngio, a aliança entre os reis e a Igreja foi fundamental para a consolidação de ambos os po- deres e, por vezes, a Igreja assumia funções que hoje consideramos ser do Estado e este por sua vez interfe- ria nos assuntos religiosos. franco Júnior, Hilário. a idade média. nascimento do ocidente. são Paulo: brasiliense, 2001. P. 67 e 71. Sobre as relações entre Estado e Igreja, no período me- dieval, responda: a) Qual o papel administrativo desempenhado pela Igreja católica durante o Período Medieval? b) Como o Poder Real dos francos– merovíngios e carolíngios – contribuiu para a expansão do cristia- nismo na Europa ocidental? 6. Qual a importância do ponto de vista geopolítico da- quele período, o surgimento, estabelecimento e expan- são do Islão a partir do século VII? 7. O Imperador Justiniano (527-565) entre outras reali- zações, consolidou o conceito e as práticas do Cesaro- papismo, que iriam ter muitas consequências ao longo do tempo naquela região, particularmente no Leste eu- ropeu e na Rússia. O que é Cesaropapismo? 8. “O aparecimento da polis constitui, na história do pensamento grego, um acontecimento decisivo (...). O que implica o sistema da polis é primeiramente uma extraordinária preeminência da palavra sobre todos os outros instrumentos do poder. Torna-se o instrumento político por excelência, a chave de toda a autoridade no Estado, o meio de comando e de domínio sobre outrem (...). Uma segunda característica da polis é o cunho de plena publicidade dada às manifestações mais impor- tantes da vida social. Pode-se mesmo dizer que a polis existe apenas na medida em que se distinguiu um domí- nio público, nos dois sentidos diferentes mas solidários do termo: um setor de interesse comum, opondo-se aos assuntos privados; práticas abertas, estabelecidas em pleno dia, opondo-se a processos secretos. Essa exigên- cia de publicidade leva a apreender progressivamente em proveito do grupo e a colocar sob o olhar de todos o conjunto de condutas, dos processos, dos conhecimen- tos que constituíam na origem o privilégio exclusivo.” (Jean-Pierre vernant. as origens do Pensamento grego. 1984.) a) O que era a polis? b) Por que a PALAVRA é tão importante nesse contex- to ao qual o autor se refere? 9. O que significa o termo “Mesopotâmia” e qual a rela- ção entre esse significado e as civilizações que surgiram nas várias cidades-Estado daquela região? 10. As perseguições aos cristãos no Império Romano estavam ligadas especialmente a uma atitude dos cris- tãos com relação à figura do Imperador e que era ao mesmo tempo política e religiosa. a) Qual era essa questão? b) Por que ela era simultaneamente política e religiosa? 11. O documentário O Ateliê de Luzia – Arte Rupestre no Brasil, dirigido por Marcos Jorge, apresenta as des- cobertas atuais da arqueologia através dos vestígios visuais do homem brasileiro. No decorrer do filme, o di- retor mostra diferentes sítios arqueológicos, como eles 105 foram descobertos e vestígios que datam dos períodos paleolítico e neolítico. Segundo a antropóloga Maria Beltrão, uma das entrevistadas, A pintura rupestre pode se revestir de intenções no de- correr dos tempos pré-históricos. Ela pode ser apenas uma manifestação artística em algum tempo, ela pode estar escondendo alguma prescrição ecológica, ela pode demonstrar um autoconhecimento astronômico, pode estar ligada ao mundo mágico-religioso etc. Ao final do documentário, o antropólogo Andrei Isnar- dis faz um paralelo entre as inscrições realizadas pelo homem pré-histórico e as pichações e grafites nas gran- des cidades. Com base nos conhecimentos sobre pré-histórica e man- ifestações culturais urbanas na contemporaneidade, cite seis similaridades entre os grafismos rupestres pré-históri- cos e os grafites/pichações realizados na atualidade. 107 HISTÓRIA DO BRASIL 108 Portugal e sua forMação Guerra de reconquista Da guerra dos cristãos contra os mouros (muçulmanos do norte da África) nasceram os reinos de Aragão, Leão, Castela e Navarra. Com a união desses reinos cristãos, iniciou-se a Guerra de Reconquista, com o objetivo de expulsar os mouros da pe- nínsula Ibérica. Henrique de Borgonha (nobre francês), em virtude da sua atuação na Guerra de Reconquista, recebeu do rei Afonso VI, de Leão, em 1094, o condado Portucalense e a mão de sua filha Tereza. Afonso Henriques foi fruto deste casamento. Ele lutaria contra a submissão do condado Portucalense a Leão, no ano de 1139, proclamando sua independência e tornando-se o primeiro rei da dinastia de Borgonha. A Borgonha (1139-1383) Foi a primeira dinastia e configurou plenamente as ca- racterísticas do feudalismo português. Sem se mostrar capaz de acompanhar as transformações so- ciais e econômicas ocorridas em Portugal, a dinastia de Bor- gonha se indispôs com a classe dos mercadores, que cresce- ra bastante nesse período; assim a dinastia de Avis, mais ligada aos interesses comerciais e urbanos, tomou seu lugar. Portugal era predominantemente agrário, e nos fins do sé- culo XIV, passou a desenvolver uma economia mais voltada para a navegação e o comércio. Revolução de Avis (1383-1385) A morte de D. Fernando desencadeou uma luta pela su- cessão do trono português, em 1383, e serviu de estopim para a Revolução de Avis. O rei não havia deixado um filho varão, e sua filha, D. Beatriz, era casada com D. João I, de Castela. Se ela herdasse a coroa, o reino se tornaria domí- nio de Castela e perderia a independência política. A nobreza portuguesa era partidária da união com Cas- tela, que era feudal. A burguesia, que considerava a per- da da independência uma ameaça aos seus interesses, apoiava as pretensões de D. João, mestre de Avis, irmão bastardo do rei. Quando D. João foi proclamado rei, Cas- tela invadiu Portugal. batalHa de alJubarrota (1385) A burguesia, a pequena nobreza e a população pobre derrotaram os castelhanos na Batalha de Aljubarrota (Pa- deira), consolidando a independência portuguesa em 1385. A aliança entre a dinastia de Avis e a burguesia for- taleceu a centralização monárquica e abriu caminho para as grandes navegações. as graNdes NaVegações Durante os séculos XV e XVI, os europeus, principalmente portugueses e espanhóis, lançaram-se aos oceanos com dois objetivos principais: descobrir uma nova rota marítima para as Índias e encontrar novas terras. As navegações ajudaram a marcar a passagem da Idade Média para a Idade Moderna e impulsionaram o aumento do comércio da Europa com a Ásia e a África. Além disso, resultaram na descoberta, em 1492, de um novo continen- te a ser explorado pelos europeus: a América. O “Novo Mundo” dividido Os reis da Espanha e de Portugal passaram a disputar en- tre si a posse das terras descobertas e das terras a serem descobertas, assim que a notícia do descobrimento da América chegou à Europa. Em 1493, os reis da Espanha obtinham o apoio do papa Alexandre VI, espanhol de nascimento, na edição da Bula Inter Coetera. A Bula determinava uma divisão do mun- do ultramarino, tomando-se por base um limite a 100 lé- guas a oeste de Cabo Verde. Portugal ficaria com as terras a leste dessa linha. As terras situadas a oeste dessa linha imaginária caberiam à Espanha. FORMAÇÃO DE PORTUGAL E NAVEGAÇÕES ULTRAMARINAS 109 Tratado de Tordesilhas Equador ilhas Ilhas Canárias Cabo Verde Linhas de demarcação coloniais entre Espanha e Portugal nos séculos XV e XVI. Linha do Papa Alexandre VI (Bula Inter Caetera, 1493) Tratado de Tordesilhas (1494) Tratado de Zaragoza (1529) disPonível em: <HttPs://Pt.wikiPedia.org/wiki/era_dos_ descobrimentos>. acesso em 23 dez. 2015. Devido à insignificância dos territórios lusos, Portugal se opôs a essa Bula,o que levou a sua revogação e assinatura, em 1494, do Tratado de Tordesilhas. Pelos termos do novo Tratado, deslocava-se para 370 léguas a oeste de Cabo Verde o limite entre os domínios portugueses e espanhóis. Algumas nações europeias não iriam respeitar O Tratado de Tordesilhas, pois julgavam injusta a partilha do mundo en- tre as nações ibéricas. Os países mais contrariados foram: a Grã-Bretanha, o Reino dos Países Baixos e a França. A expansão ultramarina e suas consequências § implantação do trabalho compulsório indígena na Amé- rica espanhola; expansão do comércio europeu; § afluxo de metais preciosos para o continente europeu, que gerou uma enorme inflação na Europa, processo conhecido como a Revolução dos Preços, em razão da desvalorização da moeda e do aumento geral dos preços; diversificaçãodos artigos de consumo: batata, tabaco, cacau e o milho oriundos da América; § destruição das civilizações pré-colombianas astecas e incas; § enriquecimento da burguesia mercantil europeia; § fortalecimento dos Estados absolutistas; § europeização do mundo, ou seja, a difusão da cultura europeia (vestimentas, língua, hábitos alimentares). § mudança do eixo econômico europeu do mar Mediterrâneo para o oceano Atlântico; § expansão do mercantilismo; § implantação do sistema colonial na América; § adoção do trabalho escravo e consequente intensifica- ção do tráfico negreiro; § expansão da fé cristã. aMérica Pré-coloMbiaNa . Olmecas Originada na costa sul do golfo do México, a cultura olmeca é considerada a primeira cultura elaborada da Mesoaméri- ca e matriz de todas as culturas posteriores dessa área. As características marcantes do Império olmeca, que se esten- deu do México ocidental à Costa Rica, foram a presença de centros cívicos religiosos a que se subordinavam áreas periféricas e a escultura monumental. A população olmeca era bastante desenvolvida. Espalhada pelo império, dividia-se entre uma minoria (sacerdotes, artífices de elite), que habitava os centros cerimoniais, e a maioria do povo (camponeses), que vivia nas aldeias. A arte olmeca se caracterizou pela valor religioso. A escultura era bastante desenvolvida: monumentais cabeças de pedra com rosto redondo, lábios grossos e nariz achatado; estatue- tas com formas humanas; e outras apresentando uma mistu- ra de traços humanos e felinos. Conheciam a astronomia, uma vez que foram encontrados registros de datas muito antigas. Também conheciam a es- crita e sistemas matemáticos. Muitos traços e tradições dos olmecas sobreviveram entre as diversas culturas que os su- cederam, como é o caso das culturas dos astecas e maias. Maias Ocupando as planícies da península do Iucatã, os maias elaboraram uma das mais complexas e influentes culturas da América. A economia agrícola considerava o milho um alimen- to sagrado do qual teria se originado o homem. A terra era cultivada coletivamente e os camponeses eram obrigados a pagar o imposto coletivo. A pecuária ainda era des- conhecida, e a caça e a pesca atividades complementares. Os maias formavam uma sociedade rigidamente hie- rarquizada, em que a posição social era determinada pelo nascimento. Uma elite (militares e sacerdotes) constituía o grupo dominante, de caráter hereditário, que habitava os AMÉRICA PRÉ-COLOMBIANA, MERCANTILISMO E ADMINISTRAÇÃO ESPANHOLA NA AMÉRICA 110 numerosos centros cerimoniais circundados pelas aldeias onde vivia a numerosa mão de obra de camponeses sub- metidos ao regime de servidão coletiva. Responsável pela política interna e externa e pelo recolhi- mento do imposto coletivo das aldeias, acredita-se que o go- verno maia fosse uma teocracia de caráter hereditário Pirâmide de kukulcán, em cHicHén itzá Os maias construíram templos de forma retangular sobre pirâmides truncadas com escadarias que se estendiam ao redor de praças. Também edificaram palácios, que prova- velmente serviam de residências dos sacerdotes. Ao preverem os eclipses solares, o movimento dos planetas e elaborarem um calendário cíclico, bem como ao desen- volverem noções avançadas, como um símbolo para o zero e o princípio do valor relativo, os maias fizeram notáveis progressos na astronomia e na matemática. Por volta do ano 900, a civilização maia sofreu declínio de população. Há estudiosos que atribuem o abandono dos centros maias à guerra, à insurreição, à revolta social, a invasões bárbaras, etc. A exploração intensiva de meios de subsistência inadequados, que provocaram a exaustão do solo, ao lado dos intensos conflitos entre as cidades-Esta- do, são as hipóteses mais prováveis. Até a conquista defi- nitiva pelos espanhóis, a cultura maia posterior se fundiu com a dos toltecas. Astecas Os astecas ocuparam originalmente a região noroeste do atual México. Guerreiros e expansionistas, domi- naram os toltecas e outros povos da região. Construíram pa- lácios, templos, mercados e canais de irrigação e, em 1325, fundaram a cidade de Tenochtitlán, capital do império. Com destaque para o cultivo do milho, do algodão, do fei- jão e do cacau, cuja semente era utilizada como moeda, a economia era essencialmente agrária. A sociedade era rigidamente hierarquizada: o imperador e sua família ocupavam a posição mais elevada da pirâmi- de social; em posição intermediária estavam os artesãos e comerciantes; os camponeses e os escravos ocupavam a base da pirâmide social. A maior parte de terra pertencia aos sacerdotes e elites locais (líderes dos clãs), enquanto as comunidades camponesas conservavam pequena parcela para uso familiar. Pirâmide do sol O imperador possuía representação religiosa, militar e políti- ca, seja por suas conquistas, seja pelo domínio sobre vários povos, o que tornou o Império Asteca um Estado milita- rista e teocrático. Construíram obras arquitetônicas colossais: templos e pa- lácios com terraços em forma piramidal, objetos decorati- vos, obras de ourivesaria em prata, ouro e pedras preciosas utilizadas na decoração de palácios e templos. Os astecas também se destacaram na astronomia, ao elaborarem um calendário solar que lhes possibilitava planejar as épocas de plantio e colheita. A religião asteca era politeísta, com prática de sacrifícios humanos. Na crença asteca, para que o mundo fosse pre- servado, os deuses exigiam oferendas do bem mais precio- so que os homens possuíam: a vida. Incas A região ocupada pelos incas ainda se estendia ao lon- go da cordilheira dos Andes, ocupando parte dos atuais territórios de Colômbia, Equador, Peru, Bolívia, Chile e Ar- gentina. Originariamente nômades, os incas faziam parte do grupo quéchua. Entre os séculos XII e XIII, realizaram várias conquistas na região andina (civilizações de Tiahua- naco, Huari e Chimu), alcançando seu apogeu na época da conquista espanhola no século XVI. A propriedade era divida em terras do Estado, terras dos sacerdotes e terras comunitárias. Rigidamente estratifica- das, essa sociedade experimentou a formação de classes sociais, tornando-se estamental. Abaixo do imperador, havia uma elite de sacerdotes e militares (nobreza); artífices do Estado, médicos e contabilistas com- punham o grupo intermediário; a base da pirâmide so- cial era constituída por escravos e uma grande massa de camponeses. 111 macHu PiccHu foi, ao lado de cuzco, um dos dois mais imPortantes centros urbanos da civilização inca. O imperador era considerado um deus (Sapa Inca), descen- dente direto do Sol. Os incas acreditavam em vários deuses vinculados a elementos da natureza. Construíram grandes templos e faziam sacrifícios animais e humanos. Sem escrita, a cultura era transmitida oralmente. O idio- ma quéchua serviu de instrumento unificador do Império Inca. Um conjunto de nós e barbantes coloridos, denomi- nados quipus, permitiu aos Incas desenvolverem um en- genhoso sistema de contabilidade. Na astronomia, foram autores de um calendário. Na matemática, utilizavam o sistema numérico decimal. a coNquista esPaNHola e o cHoque de ciVilizações Os impérios existentes na América foram vistos pelos coloni- zadores espanhóis como as principais ameaças ao projeto de exploração do novo território. Os astecas e os incas foram os que mais sofreram com o contato com os europeus. Uma grande vantagem dos espanhóis sobre os ameríndios foi o fato de possuírem armas de fogo, canhões e cavalos, todos elementos desconhecidos na América. Outro fator que contribuiu para uma rápida conquista por parte dos europeus foi a disseminação de doenças até então inexis- tentes na América (ex.: gripe). Sob a administração da Espanha No início, a Coroa espanhola não desejava gastar muitos recursos com a exploração das colônias americanas. Assim, indivíduos que investiam seus recursos particulares para explorar as novas terras eram chamados de adelanta-dos. Eles ganhavam uma série de prerrogativas jurídicas e militares, como o direito de fundar núcleos de ocupação, explorar o solo e erguer fortalezas. Em troca, entregavam um quinto de tudo o que fosse explorado na América e promoviam a cristianização dos ameríndios. Em 1503, a Coroa espanhola criou as Casas de Con- tratação, órgão responsável por fiscalizar a cobrança do quinto. Com o passar do século XVI, a Espanha foi aprimorando seu sistema de administração colonial e foram criadas as Audiências, instituições com compe- tência jurídica instaladas nas mais importantes regiões da América hispânica. Para centralizar a administração da colônia espanhola, foi criado o Conselho das Ín- dias em 1524. O passo final para a melhor administração das terras ame- ricanas foi sua divisão em Capitanias (terras de menor representatividade econômica) e Vice-Reinos (terras de maior valor econômico). Mercantilismo A estruturação do capitalismo comercial coincidiu com a formação dos Estados nacionais, organizando e impondo uma série de práticas econômicas visando a proporcionar o acúmulo de metais preciosos como forma de dinami- zar as relações comerciais e fortalecer as moedas nacionais. Essa política econômica dos Estados modernos ficou conhe- cida como mercantilismo. A intervenção do Estado na economia e o me- talismo (acúmulo de metais preciosos) foram as princi- pais bases do mercantilismo. A principal forma de obtenção e acúmulo de metais era o comércio, o que levou os gover- nos a estimularem as exportações e a inibirem, mediante protecionismo marcado por altas taxas alfandegárias, as importações de artigos estrangeiros, caracterizando, assim, uma balança comercial favorável. Eram muito fortes os estímulos governamentais à produção de artigos manufatu- rados cujos preços eram bastante elevados no exterior e nas áreas coloniais. Chamado também de sistema colonial, o colonialismo figura como parte integrante da política mercantilista. Ele correspondia ao conjunto de relações entre metrópoles e colônias, quando aquelas impuseram uma série de re- strições à economia colonial. As determinações metropoli- tanas às colônias baseavam-se no monopólio e na comple- mentaridade, conhecidas por Pacto Colonial. Colônia Pacto colonial Metrópole Matérias-primas – gêneros tropicais Manufaturas – escravos 112 brasil: Período Pré-coloNial (1500-1530) Logo depois do Descobrimento, o Brasil permaneceu ligado à sua Metrópole por umas poucas expedições ocasionais que aqui chegavam com o objetivo de reconhecer mais amplamente o litoral ou de explorar o pau-brasil, ma- deira com possibilidade de comercialização, ou, ainda, de afugentar os franceses, atraídos pela mesma mercadoria. As primeiras expedições de reconhecimento e explo- ração foram comandadas respectivamente por Gaspar Le- mos, em 1501, e Gonçalo Coelho, em 1503. A crescente presença de franceses exigiu mais esforços para garantir a segurança das novas terras. A mão de obra livre dos índios mediante escambo, que consistia na tro- ca de objetos de pouco valor – espelhos, miçangas, objetos de ferro – pelo corte e transporte do pau-brasil até locais na costa, era favorável aos contrabandistas franceses, que não tinham compromisso com o Tratado de Tordesilhas. Esses fatores forçaram a colonização do litoral, que mu- dou radicalmente a política oficial do Estado português e o montante de investimentos por parte da burguesia. Os portugueses criaram as feitorias – estabelecimentos fundados no litoral da Colônia para armazenar o pau-brasil e assegurar a posse do território contra os invasores. A exploração do pau-brasil era monopólio do rei (Estan- co Régio), como toda atividade ultramarina. Só poderia se dedicar a ela quem tivesse uma concessão da Coroa, que cobrava por isso o quinto (20% do lucro adquirido com o produto). iNício da coloNização brasileira (1530-1580) obra de benedito caliXto, “fundação de são vicente”, mostra a visão do artista sobre a cHegada dos Portugueses no litoral Paulista. A partir de 1530, a posição de Portugal em relação ao Brasil mudou. As necessidades portuguesas de garantir a posse do território e obter uma nova fonte de lucros que substitu- ísse o decadente comércio oriental levaram a Coroa a dar início à colonização da nova terra. Para dar início ao empreendimento, foi organizada a expedi- ção comandada por Martim Afonso de Souza, em 1530, com o objetivo de percorrer o litoral e, quando necessário, explorar o interior em busca de ouro e prata, expulsar os franceses, criar núcleos de povoamento e aumentar o domí- nio português até o Rio da Prata. Em 1532, ao voltar do Rio da Prata, Martin Afonso fundou São Vicente, no litoral do atual estado de São Paulo. São Vicente foi dotado de um engenho para produzir açúcar, além de ser o primeiro núcleo de colonização no Brasil. Capitanias hereditárias (1534) O Estado português adotou o sistema de capitanias he- reditárias. Assim, a iniciativa privada arcaria com os gas- tos da colonização. Em 1534, a costa brasileira foi dividida em quinze faixas de terra. Chamavam-se capitanias hereditárias, pois pas- sariam dos donatários a seus herdeiros. Os donatários dispunham de grandes poderes sobre as terras, inclusive o de distribuir sesmarias (porções de terra que permane- ceriam em poder do sesmeiro e seus descendentes desde que eles as cultivassem) àqueles que as requeressem para estimular a colonização. Martim Afonso de Sousa, em São Vicente, e Duarte Co- elho, em Pernambuco, foram os únicos donatários que tiveram sucesso (em parte porque receberam muita ajuda do rei de Portugal e de banqueiros flamengos). Ataques constantes de índios, falta de recursos, a longa distância até a Metrópole, as dificuldades de comunicação entre as capitanias e a descentralização político-administrativa fo- ram os principais motivos do fracasso do sistema de capi- tanias hereditárias. Governo-Geral (1548) Depois do fracasso do sistema de capitanias, Portugal criou o Governo-Geral, que deveria corrigir as falhas das capitanias hereditárias e não extingui-las. O novo órgão deveria centralizar a administração colonial, sendo o Governador-Geral a maior autoridade da Colônia PERIODO PRÉ-COLONIAL, ADMINISTRAÇÃO COLONIAL E INVASÕES FRANCESAS 113 e representante direto do rei. O sistema de Governo-Geral foi criado por D. João III (o colonizador), que, por meio do Regimento de 1548, determinou as principais funções do Governo: ajudar os donatários no que fosse necessário; combater índios e piratas; fundar núcleos de povoamento; estimular a catequese e defender a fé cristã e organizar expedições em busca de metais preciosos. Câmaras municipais As vilas e cidades coloniais eram administradas pelas câ- maras municipais, que representavam os interesses de ricos proprietários chamados de homens bons. Por vezes, as câmaras municipais gozavam de enorme au- tonomia, ignorando leis impostas pela capital e apostando na ausência de qualquer punição, considerando a precarie- dade dos meios de comunicação e transporte. Governadores-Gerais § Tomé de Souza (1549 – 1553) Primeiro Governador-geral do Brasil. Chegou acompa- nhado de aproximadamente mil homens (soldados, pro- fissionais, funcionários públicos, etc.) a fim de construir a primeira cidade do Brasil, Salvador, que se tornou a capital, sendo originalmente denominada Salvador da Bahia de Todos os Santos. § Duarte da Costa (1553-1558) Um novo grupo de jesuítas, dentre os quais o padre José de Anchieta, desembarcou no Brasil acompanhado do se- gundo Governo-Geral, que, juntamente com Manuel da Nóbrega, fundou, em 1554, o colégio de São Paulo de Piratininga, origem do povoado que se transforma- ria na cidade de São Paulo. A invasão francesa no Rio de Janeiro, em 1555, foi também um fato marcante desse governo. Ela estava vinculada aos problemas enfrentados pelos franceses na extração do pau-brasil por causa do maior policiamento. Além disso, problemas internos naFrança colaboraram para a formação de um núcleo colonial no Brasil: a Fran- ça Antártica. § Mem de Sá (1558-1572) O terceiro Governador-Geral iniciou a luta contra os franceses. O Forte de São Sebastião do Rio de Janeiro, que seria o núcleo inicial da cidade do Rio de Janeiro, foi fundado, em 1565, pelo sobrinho do governador, Estácio de Sá, para auxiliar na luta contra os franceses. Dois anos depois, os franceses foram expulsos da região e a França Antártica foi destruída. D. Luís de Vasconcelos, nomeado como quarto Go- vernador-Geral, não chegou ao Brasil, pois sua es- quadra foi destroçada por corsários franceses. Também morreram nessa ocasião quarenta jesuítas que acompa- nhavam o governador. Ficaram conhecidos na história como os Quarenta Mártires do Brasil. O Brasil foi dividido em dois governos: o do norte, com capital em Salvador e governado por Luís de Brito Almeida, e o do sul, com capital no Rio de Janeiro e governado por Antônio Salema. Luís de Brito Almeida ficou apenas quatro anos no poder. Ele foi substituído por Lourenço da Veiga, que governava quando, em 1580, Portugal e sua Colônia passaram para o domínio espanhol, na chamada União Ibérica. Conselho Ultramarino D. João IV se tornou rei, pondo fim à União Ibérica depois da restauração do trono português, em 1640, quando foi criado o Conselho Ultramarino, regulamentado em 1642. O novo órgão nasceu subordinado à Secretaria de Estado dos Negócios da Marinha e Domínios Ultramarinos e esta- va encarregado exclusivamente da administração colonial, concluindo o processo iniciado em 1548 com a instalação do Governo-Geral, sendo um passo decisivo para a centra- lização administrativa colonial. a caNa-de-açúcar (séculos XVi e XVii) A cana-de-açúcar foi o produto escolhido para dar início à ocupação econômica do Brasil por uma série de razões: § A experiência portuguesa na produção de cana na cos- ta africana (Cabo Verde, Madeira, São Tomé). § A possibilidade de atrair investimentos externos. § Solo e clima favoráveis, especialmente o solo de massa- pé e o clima quente e úmido do Nordeste. § O açúcar era um produto altamente lucrativo. § A aceitação do produto no mercado europeu. No Brasil, a atividade açucareira funcionava da seguinte ma- neira: os portugueses ficavam responsáveis pela produção, e ECONOMIA COLONIAL, SOCIEDADE E INVASÕES HOLANDESAS 114 os holandeses financiavam a montagem dos engenhos, bem como controlavam o transporte, o refino e a comercialização do açúcar, obtendo a maior porcentagem de lucros. A primeira grande divisão de terras foi fundamental para determinar o modelo de colonização. Esse modelo ficou co- nhecido como plantation e baseava-se em três elementos: grande propriedade (latifúndio), monocultura e tra- balho escravo (escravismo). O rei simplesmente legalizava a escravidão do índio sob pre- texto de defendê-lo. Para aprisionar índios, foram organiza- dos as chamadas bandeiras, expedições que se tornaram um dos principais fatores da atual extensão do território brasileiro, principalmente na região mais ao sul do Brasil Colônia (atual Sudeste). A organização da produção do engenho A grande produção só começa oficialmente com Martim Afonso de Souza, em 1533, em São Vicente. As construções principais são a casa-grande, a senzala, as estrebarias e as oficinas. As principais instalações do engenho são: moen- da, caldeira e casa de purgar. A unidade produtora da agromanufatura açucareira era o engenho, que se constituía basicamente de: § Casa do engenho: formada pelas instalações desti- nadas à produção de açúcar. § Casa-grande: residência, geralmente assobradada, onde viviam o senhor e sua família. Nela também mo- ravam os empregados de confiança (capatazes) que cuidavam de sua segurança. Era a central administra- tiva das atividades econômicas do engenho. § Capela: local das cerimônias religiosas. § Senzala: habitação de um único compartimento, rústi- ca e pobre, onde viviam os escravos. engenHo de açúcar movido a água Escravidão negreira A escravidão dos negros permitia a obtenção de grandes lucros por parte dos traficantes portugueses, que domina- vam áreas fornecedoras de escravos na África, como Ango- la, Goa, São Tomé e, posteriormente, Moçambique. A substituição da escravidão indígena pela escravidão dos negros foi favorecida pela questão da obtenção de escra- vos. Os índios brasileiros eram nômades e seminômades e, portanto, migravam constantemente. Além disso, a exten- são do território era outro fator que dificultava a captura de índios. Já os negros eram obtidos na África por meio de escambos entre os traficantes e os próprios africanos, que capturavam negros de tribos rivais e trocavam-nos por aguardente, rapadura e fumo trazido do Brasil. negros no Porão de um navio negreiro Havia a prática de aborto, infanticídio, suicídio e o banzo”(- caracterizando por greve de fome e depressão por conta da privação da liberdade). Menos comum, mas ocorrente, era o ataque à casa do senhor e a sua família. A resistência negra podia se dar por meio de fugas indivíduais, fugas coletivas e a formação de quilombos. Engenhos e a sociedade Essencialmente a sociedade colonial era: § Inculta – pois mesmo os membros da elite só recebiam o ensino das “letras básicas”, que não passavam do aprender a ler, escrever e contar de modo primário. § Aristocrática – porque dominada pelos ricos propri- etários de terras e de escravos. § Rural – porque a vida econômica baseava-se na agri- cultura. A vida urbana ainda era muito incipiente, com a quase totalidade da população habitando o campo. § Escravista – porque a força de trabalho baseava-se na escravidão do índio ou do negro. § Sem mobilidade social – porque não havia opor- tunidade para trabalhadores e escravos saírem de sua condição e ascenderem socialmente. § Patriarcal – porque o proprietário rural e pai de família, ao considerar-se responsável pelo provimento material do lar, impôs a obrigação de ser respeitado e obedeci- do no âmbito familiar. Esse poder sobre a família era estendido à sociedade, já que, como dono das riquezas materiais, o senhor considerava toda a população não proprietária dependente dele. 115 iNVasões HolaNdesas (século XVii) União Ibérica (1580-1640) Em 1578, ocupava o trono português D. Sebastião, que viria a ser o último monarca da Dinastia de Avis. As dificul- dades socioeconômicas e o espírito cruzadista levaram-no a lutar contra os mouros no norte da África. D. Sebastião desapareceu, não deixando herdeiros, durante a batalha de Alcácer-Quibir. O velho cardeal D. Henri- que, único sobrevivente masculino da linhagem de Avis, as- sumiu a regência enquanto não se solucionava o problema da sucessão. Em 1580, o cardeal-regente morreu. Felipe II, rei da Espanha, neto de D. Manuel, o Venturoso (o mes- mo que organizara a esquadra de Pedro Álvares Cabral), achou-se no direito de ocupar o trono português. Portugal ficou submetido à Espanha durante 60 anos. Con- sequentemente, o Brasil também passou para o domínio espanhol, sofrendo alterações em sua estrutura interna e no seu relacionamento internacional. Em 1580, quando da união das Coroas Ibéricas, Portu- gal viu-se envolvido pelas rivalidades espanholas, so- bretudo com relação à Holanda. Rebelados desde 1567 contra os altos impostos e a repressão religiosa do cató- lico Felipe II contra o calvinismo, os holandeses tiveram de sustentar longos anos de lutas para preservar sua liberdade diante do poderio espanhol. Visando preju- dicá-los, Felipe II decretou o fechamento dos portos do Brasil, de Portugal e de qualquer domínio espanhol aos navios e comerciantes flamengos. A Holanda não teve outra alternativa senão lançar-se em busca de mercadorias nas áreas produtoras. Paulatinamen- te, a hegemonia holandesa se firmou no Oriente, à custa do recuo dos portugueses que, sem autonomia, dependiam de ações espanholas na região. Assim, já nos últimos anos do séculoXVI, os holandeses ti- nham atingindo o Oriente pela rota do Cabo, e, em 1602, fundaram a Companhia das Índias Orientais, que con- quistou o monopólio do comércio oriental, compreendido entre o Cabo da Boa Esperança e o Estreito de Magalhães por todo o Índico e o Pacífico. Os holandeses fundaram, então, a Companhia das Ín- dias Ocidentais, também conhecida pela sigla em inglês WIC (West Indian Company), monopolizando o comércio no Atlântico. A luta entre Espanha e Holanda impediu que os holandeses se abastecessem de produtos americanos como o açúcar e o tabaco. Bahia e a invasão holandesa (1624-1625) A Companhia das Índias Ocidentais planejou a conquista da Bahia. Para os holandeses, conquistar o Nordeste bra- sileiro significava assegurar o controle da produção açuca- reira, manter o funcionamento da economia metropolitana e opor-se com eficácia ao embargo espanhol. Atacadas de surpresa, as forças luso-brasileiras, coman- dadas pelo bispo D. Marcos Teixeira e pelo governador Mendonça Furtado, foram forçadas a uma rápida rendi- ção em maio de 1624. O bispo escapou e refugiou-se no Arraial do Espírito Santo, nos arredores de Salvador, de onde iniciou a resistência, apoiado pelo governador de Pernambuco, Matias de Albuquerque. Embora tivessem obtido com certa facilidade a rendição luso-brasileira, Jacob Willekens e Johan van Dorth, os co- mandantes das forças holandesas, não conseguiram con- solidar a conquista. Faltou-lhes maior apoio da Holanda que, envolvida na Guerra dos Trinta Anos contra a Espa- nha, não enviou reforços, suprimentos, armas e munições. A ocupação holandesa ficou ameaçada e não resistiu aos frequentes ataques de grupos de guerrilheiros sediados no Arraial do Espírito Santo. Em maio de 1625, os holandeses foram expulsos da Bahia. Invasão holandesa em Pernambuco (1630-1654) Em 1630, os holandeses decidiram atacar a Capitania de Pernambuco, a maior produtora de cana-de-açúcar, que tinha uma defesa menos eficiente que a da Bahia, além de ser mais próxima da Europa. A resistência foi organizada pelo Governador-Geral Matias de Albuquerque, mas os flamengos não encontraram difi- culdades para ocupar Olinda. Os holandeses contaram com o apoio de Domingos Fer- nandes Calabar, profundo conhecedor da região que os au- xiliou em várias batalhas, inclusive na conquista do Arraial do Bom Jesus. Apesar da resistência, os holandeses conquistaram novas posições, consolidando sua ocupação de uma área que ia do Rio Grande do Norte ao Sergipe. A Companhia das Índias Ocidentais passou a organizar a administração da região conquistada. Tanto os senhores de engenho como os holandeses queriam um ambiente de ordem e paz para que pudessem obter lu- cros com a atividade açucareira. A Companhia enviou ao Bra- sil o conde João Maurício de Nassau Siegen, nomeado Governador-Geral do Brasil holandês (Nova Holanda). 116 Nassau, um governo habilidoso (1637-1644) Maurício de Nassau chegou ao Brasil em 1637 e desen- volveu uma habilidosa política administrativa: § Obras urbanas – a cidade do Recife foi remodelada e foram construídas pontes e obras sanitárias. § Concessão de crédito – a Companhia concedeu créditos aos senhores de engenho, destinados ao rea- parelhamento dos engenhos, à recuperação dos cana- viais e à compra de escravos. § Vida cultural – o governo de Nassau promoveu a vinda para o Brasil de artistas, médicos, astrônomos, naturalistas, etc. § Tolerância religiosa – as diversas religiões da po- pulação (catolicismo, protestantismo, judaísmo, etc.) foram toleradas pelo governo de Nassau. Deve-se notar, entretanto, que a religião oficial era o protestantis- mo calvinista,. Insurreição Pernambucana (1645-1654) O trono português foi restaurado com a ascensão de D. João IV, dando início à Dinastia de Bragança. Portugal as- sinou, em 1641, uma trégua de dez anos com a Holanda. A Holanda se beneficiaria com essa trégua por estar en- volvida na Guerra dos Trinta Anos (1618-1648) contra a Espanha, enfrentando dificuldades econômicas. Essas dificuldades provocaram mudanças na atitude da Com- panhia das Índias Ocidentais em relação ao Brasil, ele- vando impostos e cobrando dívidas dos senhores de en- genho. Os colonos passaram a lutar pela expulsão dos holandeses, movimento iniciado em 1645 e conhecido como Insurreição Pernambucana. Essa mudança de atitude levou ao desentendimento entre Nassau e a Companhia. Com o fim da trégua dos dez anos assinada em 1641, Por- tugal passou a lutar abertamente contra os holandeses, que se renderam em 1654. As invasões holandesas e suas consequências A decadência da lavoura de cana-de-açúcar pode ser apontada como a principal consequência da expulsão dos holandeses do Brasil. Os flamengos dominaram as técnicas de produção de ca- na-de-açúcar (plantation) e e se estabeleceram na região das Antilhas. Assim, dominaram completamente o merca- do, mas sem depender de Portugal e da produção brasilei- ra, que não tinha como vencer a concorrência. Restou a Portugal se aproximar da Inglaterra, que viria a se aproveitar da crise da lavoura açucareira para colocar Por- tugal sob sua esfera de influência, gerando uma tutela eco- nômica e política que penduraria por quase dois séculos. baNdeirisMo e eXPaNsão territorial Em janeiro de 1554, os jesuítas fundaram o colégio que deu origem à vila de São Paulo de Piratininga. Se, por um lado, a localização geográfica de São Paulo dificulta- va o contato com a região litorânea, por outro facilitava o acesso ao interior. Em São Paulo foi organizada a maior parte das bandei- ras em direção ao interior. A prática comum na região acabou por dar a São Paulo a futura alcunha de “Terra dos Bandeirantes”. Bandeirismo de apresamento A atividade de apresamento de indígenas, com o obje- tivo de escravizá-lo, remonta ao início da colonização, em meados do século XVI. Ela faz parte da lógica de exploração colonial numa região sem condições econô- micas de utilizar o escravo africano em virtude do seu alto custos. Essa empreitada de captura dos índios pode ser dividida em duas fases. A primeira vai de meados do século XVI ao início do século XVII. Nesse período, os grupos de apresamento, os sertanistas, pouco preparados e inex- perientes, saíam de São Vicente, alcançavam o povoado de São Paulo e partiam para capturar os índios no inte- rior da mata inexplorada e desconhecida. No final do século XVII, essas expedições, denominadas ban- deiras, tornaram-se grandes negócios, verdadeiras empresas que envolviam centenas de homens e muitos recursos. O tráfico negreiro e os centros de abastecimento de es- cravos na África haviam sido dominados pelos holandeses. BANDEIRISMO, MINERAÇÃO E TRATADOS DE LIMITES 117 Com isso, o apresamento dos indígenas tornou-se muito cobiçado em razão dos grandes lucros que rendia. Nesse período, os jesuítas de São Paulo tentaram impedir a saída das expedições, despertando uma reação imediata dos colonos paulistas. Em 1641, tentaram expulsar os je- suítas de São Paulo, fato conhecido como a botada dos padres para fora. Percorrendo extensas regiões à procura de índios para es- cravizar, os bandeirantes, simultaneamente, abriram cami- nho para a integração e ocupação do interior. A rivalidade entre jesuítas e bandeirantes se estendeu pe- los séculos XVII e XVIII, ficando muito violenta em várias situações, levando os dois lados a recorrer à Coroa Por- tuguesa. A contenda entre eles só foi resolvida durante o governo do Marquês de Pombal, o qual, por não concordar com as práticas dos jesuítas, expulsou-os do Brasil, mas também proibiu a escravização de indígenas. Sertanismo de contrato O bandeirismo, ou sertanismo de contrato, era formado por expedições de caráter militar, contratadas por governantes, donatários e proprietários rurais para capturar escravos fu- gidos das lavouras, arrasar quilombos e submeter popula- ções indígenas hostis. O sertanismo de contrato assegurou aos grandes proprie- táriosde engenhos e plantações do litoral e aos criadores de gado do sertão a posse de largas extensões de terras. Ataque a Palmares Os quilombos eram agrupamentos de escravizados fugi- dos que resistiam em várias partes do sertão, desde o século XVI, tornando-se uma das mais relevantes formas de rebe- lião dos cativos. Palmares, liderado por Zumbi, foi um dos quilombos mais importantes, situado ao sul de Pernambuco, no atual estado de Alagoas.. A Coroa contratou um grupo de sertanistas já fixados em fazendas de gados no sertão da Bahia. Formavam um bando de quase mil homens, liderados por Domingos Jorge Velho. Depois de uma primeira tentativa fracassada, os sertanistas organizaram uma nova expedição com a ajuda governa- mental, e um novo ataque iniciou-se em janeiro de 1694. Comandados por Zumbi e entricheirados na serra da Bar- riga, os palmarinos resistiram até a morte. Zumbi e alguns companheiros ainda conseguiram romper o cerco e fugir, mas foram capturados e mortos algum tempo depois. Bandeirismo de caça ao ouro ou sertanismo de prospecção A perda do grande mercado comprador de mão de obra indí- gena em decorrência da crise da economia agrícola obrigou o bandeirismo a transferir seus esforços para outro objetivo: a procura de metais preciosos. Formação de missões jesuíticas O Governador-Geral Tomé de Sousa trouxe para o Brasil, em 1549, o primeiro grupo de jesuítas, liderados por Manuel da Nóbrega. O principal motivo de sua presença na América era promover a catequese dos nativos. Com esse intuito, funda- ram vários aldeamentos conhecidos como missões ou redu- ções, onde educavam e catequisavam os nativos. Os jesuítas entravam com frequência em atrito com os colo- nos, pois não aceitavam a escravidão indígena. Eram cons- tantes os ataques de colonos, especialmente bandeirantes, aos aldeados, com o objetivo de capturar índios para utilizá- -los como escravos. Os jesuítas foram os principais responsáveis pela educação colonial até sua expulsão, em 1759, de Portugal e do Brasil, por ordem do Marquês de Pombal, primeiro-ministro do rei D. José I. MiNeração As primeiras jazidas de metais preciosos foram descobertas na última década do século XVII, por volta de 1693, por bandeirantes paulistas, no território do atual estado de Mi- nas Gerais. As expedições para a região das Gerais se mul- tiplicaram, e a região se povoou rapidamente, tornando-se o mais importante centro econômico da Colônia no século XVIII. Depois do ouro de Minas Gerais, foram realizadas descobertas menos importantes no Mato Grosso (1718) e em Goiás (1725). Dessa forma, a atividade mineradora deu impulso à ocupação do interior do Brasil. 2.5. Consequências da mineração As minas esgotaram-se no final do século XVIII, e a ati- vidade mineradora entrou em declínio, bem como toda a região, uma vez que não existia outra atividade que pu- desse substituí-la. A mineração provocou profundas trans- formações e consequências econômicas, sociais, políticas e culturais na Colônia. § Aumento populacional, em razão da descober- ta das minas. § Urbanização, com a fundação de vilas e cidades, como Mariana, Vila Rica, São João del-Rei, Sabará e 118 Congonhas do Campo, onde se desenvolveram ativi- dades tipicamente urbanas de comércio, artesanato, marcenaria, etc. § Crescimento e diversificação de um segmento médio na sociedade e ampliação da camada dos ho- mens livres. § Mais mobilidade social, pois a mineração possibilitou o enriquecimento e a melhoria na vida de muitas pessoas. § Surgimento do mercado interno para abastecer a região mineradora e desenvolvimento de rotas comerciais. § Melhoria das estradas, com o intuito de favorecer o abastecimento das minas e controlar o fluxo do ouro. § Mudança do eixo econômico do Nordeste para o Centro-Sul. § Transferência da capital da Colônia de Salvador para o Rio de Janeiro (1763). § Incentivo às artes, bem como desenvolvimento cultu- ral da Colônia. § Conflitos, como a Guerra dos Emboabas, entre paulis- tas e forasteiros, pelo direito de explorar as minas, sobre as quais os paulistas queriam exclusividade. § Aumento da opressão fiscal, em razão da minera- ção, que fez aumentar os impostos e acirrar a fiscalização administrativa, burocrática e militar por parte da Coroa. § Revoltas, em razão da forte opressão e dos altos impos- tos, como a Revolta de Vila Rica e a Inconfidência Mineira. tratados de liMites Posteriormente ao Tratado de Tordesilhas, de 7 de junho de 1494, Portugal celebrou uma série de outros tratados com países europeus, visando solucionar problemas de frontei- ras do Brasil Colonial. O Tratado de Tordesilhas foi deixado de lado, uma vez que os bandeirantes, as missões jesuíticas e os criadores de gado não o respeitavam mais. As desavenças entre portugueses e espanhóis no Sul giravam em torno da Colônia de Sacramento, surgida em 1680, na margem esquerda do rio da Prata. Os portugueses fundaram essa colônia comprometendo a segurança de Buenos Aires, prestes a se tornar vice-reino espanhol. Os espanhóis ataca- ram Sacramento e aprisionaram todos os seus ocupantes. Colônia de Sacramento A Colônia do Santíssimo Sacramento foi fundada em 1680, na margem esquerda do rio da Prata, próxima a Buenos Ai- res, pelo governador e capitão-mor da capitania do Rio de Janeiro, D. Manuel Lobo. O avanço português em direção ao Sul, especialmente na região da Bacia do Prata, visava garantir acesso às minas de prata de Potosí, bem como ao comércio no estuário platino. § Tratado de Lisboa (1681): a Espanha reconheceu a Colônia de Sacramento como legítima possessão portuguesa. § Tratado de Utrecht (1713): estabelecia que o rio Oiapoque, ou Vicente Pinzón, seria considerado como limite entre o Brasil e a Guiana Francesa. § Tratado de Utrecht (1715): assinado entre Portugal e Espanha, na cidade de Ultrech, na Holanda, restabe- lecia a posse da Colônia de Sacramento a Portugal, que havia sido tomada pelos espanhóis. § Tratado de Madrid (1750): em relação à Colônia de Sacramento, vigoraria o velho princípio de direito ro- mano do “uti possidetis, ita possideatis”, ou seja, as- sim “como possuis, assim possuais”. Quem possui de fato deve possuir de direito. A propriedade da terra foi atribuída a Portugal, seu ocupante de fato. Portugal, no entanto, aceitaria negociar a Colônia de Sacramento recebendo em troca as terras de colonização portugue- sa além de Tordesilhas e uma região denominada Sete Povos das Missões, localizada a noroeste do Rio Grande do Sul, onde existiam aldeamentos guaranis di- rigidos por jesuítas espanhóis. Portugal aceitou de ime- diato. Ficou estabelecido também que, se porventura as duas nações entrassem em guerra na Europa, a paz deveria continuar reinando nas colônias da América. § Tratado de El-Pardo (1761): assinado entre Es- panha e Portugal, revogou o Tratado de Madrid. Em face da vigorosa resistência dos jesuítas espanhóis dos Sete Povos das Missões, Portugal teve muitas dificul- dades para ocupar aquela região, recebida em troca da Colônia de Sacramento. De 1754 a 1756, as tropas portuguesas e espanholas atacaram e venceram um grande número de índios na região. Todavia, terminada a luta, o comandante português, Gomes Freire, julgou seguro apoderar-se da área que ain- da contava com muitos índios rebelados. Todo o Tratado de Madrid perdera sua validade, sendo anulado pelo Tratado de El Pardo. § Tratado de Santo Ildefonso (1777): no reinado de D. Maria I, os portugueses cederam os Sete Povos das Missões à soberania espanhola, celebrando o acordo que transferia à Espanha o controle exclusivo sobre o rio da Prata. § Tratado de Badajós (1801): os conflitos travados em solo europeu entre Portugal e Espanha surtiram efeitos sobre os seus territórios na América e resul- taram na assinatura do Tratado de Badajós. Embora ele tenha determinado que a Colônia de Sacramento passaria para a Espanha e tenha se omitido em relação aos Sete Povos das Missões,passado algum tempo, os gaúchos recuperaram a região de Sete Povos e incor- poraram-na definitivamente ao Brasil, em 1804, com o reconhecimento da Espanha. 119 sisteMa coloNial eM crise A crise do sistema colonial brasileiro resultou, além do co- lapso do mercantilismo português, das próprias contradi- ções internas da colonização. A partir da segunda metade do século XVIII, exatamente por ocasião do apogeu da eco- nomia mineradora, as relações e interesses entre a Colônia e a Metrópole começaram a apresentar suas contradições. rebeliões NatiVistas As primeiras rebeliões não ocorreram em defesa da inde- pendência do Brasil. Na verdade, eram a expressão dos conflitos de interesses entre os habitantes da Colônia e os portugueses ou reinóis. Essas manifestações, denomi- nadas rebeliões nativistas, por serem comandadas pela população “nativa”, a princípio contestavam aspectos específicos do pacto colonial e não a dominação da Me- trópole. Elas eram regionalistas e não expressavam uma consciência nacional, uma vez que a ideia de nação foi construída posteriormente. Aclamação de Amador Bueno (1641) Em 1641, os paulistas, incitados pelos espanhóis que mo- ravam na região, tentaram se desligar de Portugal e acla- maram rei Amador Bueno de Ribeira, membro de uma rica família de origem hispânica. O que incomodava os espanhóis era o fato de Portugal ter restaurado seu trono e coroado D. João IV, rei que os hispâ- nicos não reconheciam. A notícia da coroação do novo rei foi recebida festivamen- te. Os motivos para isso foram a atitude dos espanhóis de insuflar a população contra Portugal e o desejo dos pau- listas em manter o comércio com a região do rio da Prata. Um grande número de pessoas se dirigiu à casa de Ama- dor Bueno, aclamando-o rei de São Paulo. Contudo, gra- ças à insistente recusa do aclamado, o ânimo da popu- lação esfriou e o movimento não chegou a passar de um episódio histórico que deixou um legado significativo: a noção de que era possível unir pessoas contra Portugal. Revolta de Beckman (1684) No Maranhão, a falta de escravos para as plantações tor- nou-se um grave problema. A solução encontrada pelos pro- prietários de terras foi a escravização de indígenas. Contudo, logo se defrontaram com a resistência dos jesuítas, que se opunham à escravização dos índios. Em busca de uma solução para a questão da escassez de mão de obra escrava, a coroa portuguesa criou, em 1682, a Com- panhia Geral de Comércio do Maranhão, que seria responsável pelo monopólio do comércio de escravos na região pelo perí- odo de 20 anos. Ela deveria garantir a entrega, na capitania, de 500 escravos negros por ano. Entretanto, a Companhia Geral de Comércio não cumpriu suas funções de modo satisfatório: trazia poucos e caros escravos. A companhia também não oferecia valores sa- tisfatórios pelos produtos produzidos pelos colonos. Esses fatos causaram grande descontentamento e provocaram uma revolta contra a Companhia e contra os jesuítas. Comandados por Jorge Sampaio e pelos irmãos Manoel e Tomás Beckman, grandes proprietários de terras, auxi- liados por outros fazendeiros, expulsaram os jesuítas do Maranhão, fecharam os armazéns da Companhia Geral de Comércio e tomaram o poder na capitania. A revolta levou à abolição do monopólio da Companhia e à nomeação de Gomes Freire de Andrade como novo gover- nador do Maranhão. Contudo, ao chegar de Portugal em 1685, o governador determinou a prisão e o enforcamento de Manoel Beckman, líder da rebelião, e a condenação dos demais envolvidos à prisão perpétua ou ao degredo. Guerra dos Emboabas (1708-1709) Os paulistas ficaram profundamente incomodados com esse grande fluxo de forasteiros em Minas Gerais, uma vez que atribuíam a si a façanha de descobridores das minas. Os portugueses, por sua vez, como representantes da coroa na Colônia, acharam-se no legítimo direito des- se privilégio e assumiram a exclusividade da exploração das minas. Uma série de conflitos armados ocorreu na região. Derrotados, muitos paulistas saíram da região em direção ao oeste de Minas Gerais. Ali, descobriram novas minas e iniciaram a ocupação dos territórios dos atuais estados de Mato Grosso e Goiás. Guerra dos Mascates (1710-1711) O conflito denominado Guerra dos Mascastes ocorreu em função das diferenças de interesses entre os senhores CRISE DO SISTEMA COLONIAL, REVOLTAS NATIVISTAS E MOVIMENTOS EMANCIPACIONISTAS 120 de engenho, cuja maioria morava em Olinda, então sede do poder público da capitania de Pernambuco, e os co- merciantes do Recife, de maioria portuguesa, chamados pejorativamente de mascates. Em 1709, Recife ganhou autonomia em relação à Olinda, uma vez que foi elevada à categoria de vila. Inconformados, os senhores de engenho, moradores de Olinda, invadiram Recife e destruíram o pelourinho, símbolo da autonomia da vila. Os mascates revidaram o ataque, desencadeando uma série de conflitos entre as duas vilas. Os combates só terminaram em 1711, mediante a firme intervenção das autoridades coloniais. No mesmo ano chegaram à Colônia as novas autoridades enviadas pela Coroa portuguesa. Embora conciliador, o novo governa- dor vindo de Portugal confirmou a autonomia de Recife, que foi transformada em capital de Pernambuco. Revolta de Filipe dos Santos ou de Vila Rica (1720) Em 1719, devido à criação das casas de fundição em Mi- nas Gerais, a circulação de ouro em pó foi proibida, fa- tor que criou diversos inconvenientes para a população da cidade, que estava acostumada a usá-lo como moeda corrente. Além disso, as casas de fundição tornavam mais efetivo o controle da Coroa portuguesa sobre o imposto do quinto, ou 20% do ouro encontrado no Brasil. Ao fundir as barras de ouro, já era realizada a cobrança do imposto. As punições sobre quem fosse pego sonegando o pagamento do imposto aumentaram e se tornaram mais severas. Essas medidas causaram forte impacto sobre os minera- dores, provocando uma revolta, que eclodiu em 1720, sob a liderança de Filipe dos Santos. As principais reivindica- ções do movimento eram: redução de impostos sobre a atividade mineradora, diminuição dos preços dos produtos cujo comércio era monopolizado pelos por- tugueses e fechamento das casas de fundição. Os revoltosos procuraram o governador das minas – o conde de Assumar – e apresentaram suas reivindicações. O governador prometeu atendê-los. Na verdade, ganhou tempo para organizar tropas e, em seguida, ordenou que suas tropas invadissem Vila Rica, prendessem os insurretos e reprimissem violentamente qualquer tipo de manifestação. Alguns mineradores foram punidos com o degredo e Filipe dos Santos foi enforcado e esquartejado. MoViMeNtos eMaNciPacioNistas O aumento do número de profissionais liberais e de ho- mens livres, o desenvolvimento das classes proprietárias, a influência das ideias liberais da Europa e da independência dos Estados Unidos ajudaram a desenvolver na Colônia a consciência da opressão colonial. Gradativamente, foi amadurecendo uma incipiente ideia da necessidade de defesa da liberdade política, econômica e cultural da Colônia. As lutas não mais se restringiam à simples resistência aos monopólios ou aos impostos, mas se voltavam contra o pacto colonial e a favor do rompimen- to político de dependência da Metrópole. Inconfidência Mineira (1789) A Inconfidência Mineira foi o primeiro movimento a pregar a separação política da capitania de Minas Gerais em rela- ção a Portugal, uma vez que a ideia de Brasil ainda não era consistente. A Inconfidência Mineira ocorreu em 1789, em Vila Rica, hoje cidade de Ouro Preto. Entre as causas que determinaram o movimento, é possível destacar: § os excessos cometidos pelas autoridades portuguesas para administrar a região das Minas; § a decadência da produção de ouro e o sistema de co- brança dos quintos. Caso a arrecadação do ouro não chegasse a 100 arrobas (cerca de 1,5 mil quilos), era decretada a derrama: a diferença que faltava para com-pletar a quantia determinada era cobrada de toda a população pela força das armas; § as ideias liberais trazidas por brasileiros que estudavam nas universidades europeias; e § a independência dos Estados Unidos, cujos colonos, também revoltados contra o sistema fiscal de sua me- trópole, tinham conseguido se libertar da Inglaterra. Os objetivos dos inconfidentes eram os seguintes: § estabelecer um governo independente de Portugal, abolindo todos os vínculos coloniais; § adotar o regime republicano; § instituir o serviço militar obrigatório; § adotar uma bandeira com o lema Libertas quae sera tamen (Liberdade ainda que tardia); § criar indústrias, particularmente a têxtil e a bélica; § transformar São João del-Rei na sede do governo; e § criar uma universidade em Vila Rica. Os inconfidentes foram traídos e denunciados por três partici- pantes da conspiração. Eles procuraram o então governador, Visconde de Barbacena, e delataram o movimento. Barbacena expediu ordens de prisão contra os inconfidentes e deu início ao processo de devassa, que durou até 1792. Feita a triagem, 30 conjurados, acorrentados e algemados, ouvi- ram a sentença pelos seus “hediondos crimes e infâmias” praticados contra Portugal: nove foram condenados à morte na forca, e os outros, ao degredo perpétuo. Sobre Joaquim 121 José da Silva Xavier, o Tiradentes, considerado líder, recaiu a violência maior da devassa: foi condenado à morte na forca e ao esquartejamento. bandeira dos inconfidentes Que insPirou a atual bandeira do estado de minas gerais. Conjuração Baiana ou Revolta dos Alfaiates (1798) Em 1798, ocorreu em Salvador a Conjuração Baiana, resulta- do da insatisfação das camadas médias urbanas e da popula- ção pobre com o agravamento da crise econômica da região. Foi um movimento de caráter popular, também denominado Revolta dos Alfaiates (ou Revolta dos Búzios), graças ao consi- derável número de participantes que exerciam essa profissão. A situação econômica provocou desemprego, fome e mi- séria, além de deixar a região fora do interesse dos comer- ciantes, que preferiam enviar seus produtos para o Sudeste e o Sul, onde encontravam melhores preços. A insatisfação popular foi impulsionada pelos ideais da Revolução Francesa, pelo sucesso da independência das Treze Colônias Inglesas, pelas ideias iluministas divulga- das por lojas maçônicas, como a dos Cavaleiros da Luz, e pelo propagandista dessas ideias, o cirurgião e filósofo Cipriano Barata. A rebelião baiana propunha mudanças verdadeiramente re- volucionárias na estrutura da Colônia. Pregava a igualdade de raça e cor, o fim da escravidão (inspirados nos processo de independência do Haiti) e a abolição de todos os privi- légios, o que permite considerá-la a primeira tentativa de revolução social no Brasil. No dia 12 de agosto de 1798, a cidade de Salvador amanheceu com os muros cheios de panfletos. Os rebeldes desejavam conclamar o povo por meio dos informes espalhados pela cidade. Entretanto, a pouca organização e preparação dos rebeldes e o grande número de analfabetos facilitaram a rápida ação do governo. No dia 25 de agosto, a prisão da maioria dos envolvidos destruiu qualquer possibilidade de levante. Os líderes negros e mestiços foram presos. Os únicos brancos detidos foram Cipriano Barata e Aguilar Pantoja. Depois do julgamento, quatro envolvidos foram condenados à forca: os mestiços João de Deus Nascimento, Manuel Faustino dos Santos, Lucas Dantas e Luís Gonzaga das Virgens. Como sempre acontecia nesses casos, foram executados e esquar- tejados para servir de exemplo. as reforMas PoMbaliNas (1750-1777) Sebastião José de Carvalho e Melo, o Marquês de Pom- bal, foi primeiro-ministro do Rei D. José I entre os anos de 1750 a 1777. Influenciado pelas ideias iluministas, procu- rou realizar em Portugal um governo nos moldes do des- potismo esclarecido. Os objetivos de Pombal eram: modernizar a administra- ção pública portuguesa; implementar uma série de medi- das com o intuito de ampliar e maximizar os lucros pro- venientes da exploração colonial; e tornar a Metrópole menos dependente das importações de produtos indus- trializados, incentivando a instalação de manufaturas em Portugal e na colônias (principalmente o Brasil). Outro objetivo da política pombalina foi perseguir im- placavelmente os jesuítas, expulsá-los da Metrópole e das colônias e confiscar-lhes os bens. Entre as alterações na divisão administrativa da Colônia, foi extinto o sistema de capitanias hereditárias, e o Estado do Brasil foi elevado à categoria de vice-reino, com o objetivo de possibilitar maior controle dos exce- dentes coloniais. Quando morreu D. José I, Em 1777, o governo de Pom- bal apresentava fortes sinais de desgaste. Havia acu- mulado vários fracassos e assistia ao crescimento da oposição de seus velhos inimigos: clero e nobreza, que tiveram um momento de triunfo com a ascensão de D. Maria I, adversária das “ideias francesas”, como eram conhecidas as ideias Iluministas. Pombal foi demitido e o novo governo revogou boa parte de sua obra, num processo denominado sugestivamente de Viradeira. Período JoaNiNo (1808-1821) A transferência da Corte portuguesa para o Brasil PERÍODOS POMBALINO E JOANINO 122 No início do século XIX, a Europa estava quase inteira- mente sob o domínio de Napoleão Bonaparte, impe- rador da França. Em 1806, em mais uma investida contra a Inglaterra, Napoleão decretou o Bloqueio Continental, obrigando todas as nações da Europa a fecharem seus por- tos ao comércio inglês. Portugal era governado pelo Príncipe Regente D. João, pois sua mãe, a rainha D. Maria I, encontrava-se impedida de exercer suas funções por sofrer das faculdades mentais. Portugal não queria aderir ao Bloqueio Continental por- que a economia portuguesa dependia basicamente da Inglaterra. A Inglaterra, por sua vez, também não queria perder seu velho aliado, principalmente porque o Brasil representava um excelente mercado consumidor de seus produtos. Além disso, Portugal tinha uma grande dívida financeira com a Inglaterra. Pressionado pelo embaixador inglês Lorde Strangford, D. João assinou uma convenção secreta com a Inglaterra, mediante a qual a Família Real Portuguesa seria transfe- rida para o Brasil escoltada por uma esquadra britânica. O acordo estabelecia ainda que a Inglaterra teria direito a um porto livre na Ilha da Madeira e outro em Santa Catarina, bem como poderia comercializar livremente com o Brasil. d. João vi. Partida do PrínciPe regente de Portugal Para o brasil, 27 de novembro de 1807. litogravura, de f. bartolozzi (gravador) e H.l.e. vêQue (desenHista). Ao tomar conhecimento do acordo anglo-português, Na- poleão Bonaparte assinou com a Espanha o Tratado de Fontainebleau, estabelecendo a invasão de Portugal por tropas franco-espanholas, a deposição da dinastia de Bra- gança e a divisão das colônias portuguesas entre os dois países. Entretanto, Napoleão rompeu o acordo com a Es- panha e, durante a marcha francesa em direção a Portugal, ocupou o território espanhol com suas tropas, depondo o rei da Espanha. Ao mesmo tempo, era iniciada a invasão francesa no território português. O embarque e fuga da Corte portuguesa para o Brasil foi re- alizado às pressas, com cerca de 15 mil pessoas fugindo ape- nas um dia antes das tropas napoleônicas ocuparem Lisboa. Na manhã do dia 29 de novembro de 1807, partia a es- quadra britânica, transportando o Estado luso para o Rio de Janeiro. A população portuguesa assistiu atônita a toda essa movi- mentação. Não podia acreditar que estava sendo abando- nada pela Coroa e demais membros do Estado, ficando to- talmente desamparada para enfrentar as tropas francesas. Junot, general francês responsável pela tomada de Lisboa, apesar de estar com sua tropa muito desfalcada, não en- controu dificuldade para tomar a cidade. A abertura dos portos às nações amigas (1808) Ao desembarcar em Salvador, o Príncipe RegenteD. João as- sinou a Carta Régia de 28 janeiro de 1808, determinando a abertura dos portos brasileiros às nações amigas de Portugal. Essa medida marcou o fim do Pacto Colonial, uma vez que extinguiu o monopólio português sobre o co- mércio brasileiro. No entanto, tal medida tinha caráter tran- sitório; deveria vigorar apenas no período em que a Corte portuguesa permanecesse no Brasil. Com a Família Real instalada no Rio de Janeiro, iniciou-se um período de desenvolvimento econômico e político no Brasil, criando bases fundamentais para sua independên- cia política. A liberdade industrial e outras medidas econômicas D. João assinou o Alvará de Liberdade Industrial, permitindo a instalação de manufaturas e fábricas no Brasil e anulando as proibições impostas pelo Alvará de 1785, assinado por sua mãe, D Maria I. Com a criação de algumas manufaturas têxteis e siderúrgi- cas, ocorreu um relativo surto industrial, mas a medida não foi suficiente para promover a industrialização no Brasil. Não havia capital suficiente para ser aplicado em fábricas, o mer- cado consumidor era pequeno, a concorrência inglesa era in- superável, e, principalmente, o investimento do capital estava voltado quase exclusivamente para o mercado de escravos. O Príncipe Regente determinou a criação da Casa da Moe- da, responsável pela emissão monetária, e do Banco do Brasil, que serviria para atender às necessidades bancá- rias das elites portuguesas e brasileiras e regulamentar a arrecadação tributária, extremamente necessária para cus- tear o aparelho burocrático montado no Brasil. 123 Tratados de 1810 Em 1810, Lorde Strangford, representante inglês, e Sousa Coutinho, ministro de D. João, firmaram os seguintes acor- dos: o Tratado de Aliança e Amizade e o Tratado de Comércio e Navegação, que estabeleciam: § nomeação de juízes ingleses para julgar os súditos bri- tânicos que viviam no Brasil; § liberdade religiosa para os ingleses (na sua maioria pro- testantes anglicanos); § cobrança de taxa de 15% na importação de mercadorias inglesas, mais baixa que os 16% cobrados das mercado- rias portuguesas e que os 24% cobrados de mercadorias de outras nacionalidades; § um porto livre: o de Santa Catarina; § proibição da atuação da Santa Inquisição no Brasil, que julgava quaisquer desvios da fé católica; § gradual extinção do tráfico negreiro para a Colônia. O resultado direto desses acordos foi a total abertura do mer- cado consumidor brasileiro aos produtos ingleses. Nos 13 anos em que permaneceu no Brasil, D. João tomou uma série de medidas que contribuíram para o desenvolvi- mento e a autonomia do Brasil: § instalação da imprensa e da Biblioteca Régia; § criação do Horto Real (Jardim Botânico); § criação das Escolas de Medicina de Salvador e do Rio de Janeiro; § criação da Escola de Comércio e da Escola Real de Ar- tes, Ciências e Ofícios; § financiamento de uma Missão Artística Francesa, lide- rada por Joachim Lebreton, que trouxe para o Brasil pintores como Nicolas Taubay e Jean-Baptiste Debret, o escultor Auguste Taunay, o arquiteto Grandjean de Montigny e o gravador Marc Ferrez; a Missão lançou as bases para a Real Academia de Belas Artes; § fundação da Academia Real Militar e Academia da Marinha; § criação da Fábrica de Pólvora; § criação das fábricas de ferro Ipanema (Sorocaba-SP) e Patriótica (Congonhas-MG); § inauguração do Real Teatro São João, no Rio de Janeiro; § instalação de novos bairros, sistema de esgoto, drena- gem dos pântanos e calçamentos das ruas principais do Rio de Janeiro. A Revolução Pernambucana de 1817 A presença da Corte portuguesa no Rio de Janeiro deman- dava altos gastos para o Estado e, para sustentá-la, D. João promovia constantes aumentos de tributos, elevando ainda mais o custo de vida e a expropriação dos brasileiros. Esse cenário levou alguns segmentos sociais pernambuca- nos, influenciados pelas ideias iluministas, pela Revolução Francesa e pelo liberalismo político do movimento de Inde- pendência dos EUA, a organizarem um movimento revolu- cionário cujo objetivo era a independência de Pernambuco. Os revolucionários pernambucanos queriam a adoção de uma República Federalista, o fim dos monopólios comerciais e dos tributos excessivos, a adesão de outras províncias do norte e nordeste contrárias à presença da Corte portuguesa no Brasil e o fim das políticas imple- mentadas pelos portugueses. Os revoltosos anteciparam o levante, tomando o poder e instituindo um governo provisório. Enquanto não era con- vocada uma Assembleia Constituinte, foi instituída uma Lei Orgânica, que determinava a adoção do regime re- publicano e a liberdade de comércio e de imprensa. A reação do governo português foi imediata. Enviou tropas da Bahia e do Rio de Janeiro, que bloquearam o porto de Recife e atacaram os revoltosos por terra e mar. Despreparado, o exército revolucionário foi derrotado fa- cilmente pelas tropas leais ao governo Joanino. A política externa O Período Joanino foi marcado por intensos combates visando à defesa do território ou à anexação de alguma região, sempre usando como pretexto a ameaça francesa ou espanhola. Em 1809, com o apoio militar britânico, D. João VI orde- nou a invasão da Guiana Francesa. Embora tenha sido anexado pelo Brasil, o território foi devolvido para a Fran- ça em 1817, por determinação do Congresso de Viena. Em 1816, o velho sonho português de estender as frontei- ras brasileiras até o rio da Prata se tornou realidade com a invasão do Uruguai. Liderados pelo general Lecor, as tropas luso-brasileiras dominaram Montevidéu em 1821. A região foi anexada ao Brasil com o nome de Província Cispla- tina. Em 1828, ao conquistar sua Independência, ganhou o nome de Estado Oriental do Uruguai. Revolução Liberal do Porto (1820) Depois da queda de Napoleão Bonaparte, o seu Império esfacelou-se. Os governos europeus trataram de se unir 124 para planejar a reordenação política da Europa. Organi- zou-se, então, de 2 de maio de 1814 a 9 de julho de 1815, o Congresso de Viena, que, de fato, foi uma conferência entre os embaixadores das principais potências europeias com o objetivos de reordenar o mapa político da Europa, restabelecer a colonização e tentar reviver o mundo colo- nial, além de reconduzir ao trono as famílias reais subjuga- das por Napoleão, resgatando o Absolutismo. No Brasil, com a morte da rainha-mãe, D. Maria I (1816), D. João foi, em 1818, aclamado rei com o título de D. João VI. Em Portugal, por sua vez, o rei era representado pela Regência do governo militar britânico de William Carr Beresford, o que provocava o descontentamento da população e o acirramento da oposição ao governo do marechal inglês. Dessa forma, os burgueses que defendiam uma Monarquia Constitucional começaram a se sentir fortalecidos. Entre 1817 e 1818, ocorreu o primeiro levante burguês de cunho liberal; e, em 1820, teve início a Revolução Liberal do Porto, que reivindicava a volta de D. João VI para Portugal e a assinatura e o juramento de fidelidade à Constituição que seria elaborada, transformando o país numa Monar- quia Constitucional. Quanto ao Brasil, os liberais portugueses resolveram que todas as concessões feitas aos colonos deviam ser anuladas, uma vez que defendiam a recolonização do Bra- sil. Sob a ameaça de perder o trono, D. João VI voltou para Lisboa no dia 25 de abril de 1821. Um de seus filhos, D. Pedro, ficou como príncipe regente do Brasil. Processo de iNdePeNdêNcia do brasil Em 1820 a burguesia de Portugal conseguiu se desven- cilhar da ocupação inglesa, processo que deu início à re- volução liberal e à convocação extraordinária das Cortes Constituintes de Lisboa para a elaboração da primeira Constituição portuguesa. Depois de algumas hesitações, D. João VI partiu no dia 25 de abril de 1821, deixando D. Pedro como regente no go- verno do Brasil. O caráter recolonizador das Cortes gerou a reação anticolonialista dos brasileiros.