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Trauma Raquimedular Conceitos Básicos de Neuroanatomia - Substância cinzenta: Tecido nervoso constituído de neuroglia, corpos de neurônios e fibras predominantemente amielínicas - Substância branca: tecido nervoso formado de neuroglia e fibras predominantemente mielínicas - Núcleo: mesma coisa que gânglio só que está no SNC - Lemnisco, tracto, fascículo: conjunto de fibras nervosas no SNC. - Conjunto de axônios -> fascículos -> conjunto de fascículos -> nervo Nervos Espinhais São aqueles que fazem conexão com a medula espinhal e são responsáveis pela inervação do tronco, dos membros superiores e partes da cabeça. São ao todo 31 pares, sendo eles: - 8 pares de nervos cranianos - 12 pares de nervos torácicos - 5 pares de nervos lombares - 5 pares de nervos sacrais - 1 par de nervos coccígeo Cada nervo espinhal é formado pela união dasformado pela união dasformado pela união das raízes dorsal (sensitiva) e ventral (motora)raízes dorsal (sensitiva) e ventral (motora)raízes dorsal (sensitiva) e ventral (motora), as quais se ligam, respectivamente, aos sulcos lateral posterior e lateral anterior da medula através de filamentos radiculares. A Raiz VentralA Raiz VentralA Raiz Ventral emerge da superfície ventral da medula espinhal como diversas radículas ou filamentos que em geral se combinam para formar dois feixes próximo ao forame intervertebral. A Raiz DorsalA Raiz DorsalA Raiz Dorsal é maior que a raiz ventral em tamanho e número de radículas; estas prendem- se ao longo do sulco lateral posterior da medula espinhal e unem-se para formar dois feixes que penetram no gânglio espinhal. As raízes ventral e dorsal unem-se imediatamente além do gânglio espinhal para formar o nervo espinhal, que então emerge através do forame interespinhal. O gânglio espinhal é um conjunto de células nervosas na raiz dorsal do nervo espinhal (núcleos celulares fora do SNC – faz uma interpretação de emergência – inconsciente). Tem forma oval e tamanho proporcional à raiz dorsal na qual se situa. Está próximo ao forame intervertebral. O nervo espinhal separa-se em duas divisões primárias, dorsal e ventral, imediatamente após a junção das duas raízes. Os ramos dorsais dos nervos espinhais, geralmente menores do que os ventrais e direcionados posteriormente, se dividem (exceto para o primeiro cervical, quarto e quinto sacrais e o coccígeo) em ramos medial e lateral paraparapara inervarem os músculos e a pele das regiõesinervarem os músculos e a pele das regiõesinervarem os músculos e a pele das regiões posteriores do pescoço e do tronco. posteriores do pescoço e do tronco. posteriores do pescoço e do tronco. Os ramos ventrais dos nervos espinhais inervam os membros e as faces ântero-laterais do tronco. O cervical, lombar e sacral unem-se perto de suas origens para formar plexos. Tato Discriminativo (ou Epicrítico) Permite localizar e descrever as características táteis de um objeto. Testa-se tocando a pele simultaneamente com as duas pontas de um compasso e verificando-se a maior distância dos dois pontos tocados, que é percebida como se fosse um ponto só (discriminação de dois pontos). *O sistema somestésico divide-se em um subsistema epicríticoepicríticoepicrítico e um protopáticoprotopáticoprotopático: Sistema epicríticoepicríticoepicrítico➢ É preciso, rápido, discriminativo e apresenta uma representação espacial detalhada. Sistema protopáticoprotopáticoprotopático➢ É grosseiro, lento e impreciso* N1: N1: N1: localizam-se nos gânglios espinhais. O prolongamento periférico destes neurônios liga- se ao receptor, o prolongamento central, penetra na medula pela divisão medial da raiz posterior e divide-se em um ramo descendente, curto, e um ramo ascendente, longo, ambos situados nos fascículos grácil e cuneiforme; os ramos ascendentes longos terminam no bulbo, fazendo sinapse com os neurônios II N2: N2: N2: localizam-se nos núcleos grácil e cuneiforme do bulbo. Os axônios destes neurônios mergulham ventralmente, constituindo as fibras arqueadas internas, cruzam o plano mediano e a seguir inflectem-se cranialmente para formar o lemnisco medial. Este terminando tálamo, fazendo sinapse com os neurônios III N3: N3: N3: estão situados no núcleo ventral posterolateral do tálamo, originando axônios que constituem radiações talâmicas que chegam à área somestésica passando pela cápsula interna e coroaradiada. Por esta via, chegam ao córtex impulsos nervosos responsáveis pelo tato epicrítico, a propriocepção consciente (ou cinestesia) e a sensibilidade vibratória. O tato epicrítico e a propriocepção consciente permitem ao indivíduo a discriminação de dois pontos e o reconhecimento da forma e tamanho dos objetos colocados na mão (estereognosia). Os impulsos que seguem por esta via se tornam conscientes exclusivamente em nível cortical. Dermátomos Traumatismo Raquimedular O traumatismo raquimedular continua sendo aO traumatismo raquimedular continua sendo aO traumatismo raquimedular continua sendo a lesão mais devastadora para o paciente e seulesão mais devastadora para o paciente e seulesão mais devastadora para o paciente e seu médico; apesar de tantos avanços nos estudosmédico; apesar de tantos avanços nos estudosmédico; apesar de tantos avanços nos estudos clínicos e laboratoriais, continua sendoclínicos e laboratoriais, continua sendoclínicos e laboratoriais, continua sendo irreversível e irreparável.irreversível e irreparável.irreversível e irreparável. A complexidade extrema do processo, que se inicia no momento do trauma e se estende por semanas e até meses, acontece de maneira contraditória, uma vez que a maioria das respostas bioquímicas celulares parece afetar negativamente a lesão ao invés de atenuá-la. A maioria dos pacientes é do sexo masculino e a idade média atingida é em torno de 40 anos. Acidentes automobilísticos são responsáveis por 42,1% dos casos, seguidos de quedas (26,7%), atos de violência (15,1%) e atividades esportivas (7,6%). A consequência mais comum do TRM com lesão espinhal é a tetraplegia incompleta (30,1%), seguido de paraplegia completa (25,6%), tetraplegia completa (20.4%) e paraplegia incompleta (18,5%). Os mecanismos pelos quais ocorre a lesão são divididos em primáriosprimáriosprimários e secundáriossecundáriossecundários. PrimáriaPrimáriaPrimária é a lesão mecânica ocorrida no momento do trauma, e a lesão secundáriasecundáriasecundária é decorrente de uma série de mecanismos bioquímicos e celulares disparados pela lesão primária. Na ocasião do traumatismo ocorre a ruptura estrutural e fisiológica dos axônios, assim como dos vasos sanguíneos. A partir desse momento tem início uma série de reações em cascata, o que leva à lesão secundária. As lesões secundárias iniciam com o colapsoAs lesões secundárias iniciam com o colapsoAs lesões secundárias iniciam com o colapso microcirculatório, lesão dos capilares,microcirculatório, lesão dos capilares,microcirculatório, lesão dos capilares, hipoperfusão vascular, eshipoperfusão vascular, eshipoperfusão vascular, espasmo e trombose dospasmo e trombose dospasmo e trombose dos capilares, hipotensão sistêmica e interrupção dacapilares, hipotensão sistêmica e interrupção dacapilares, hipotensão sistêmica e interrupção da regulação autonômica que levam à isquemia noregulação autonômica que levam à isquemia noregulação autonômica que levam à isquemia no epicentro da lesão e subsequentes necrose eepicentro da lesão e subsequentes necrose eepicentro da lesão e subsequentes necrose e hemorragia na matéria cinzenta, seguidas porhemorragia na matéria cinzenta, seguidas porhemorragia na matéria cinzenta, seguidas por edema ainda nas 7 primeiras horas do trauma.edema ainda nas 7 primeiras horas do trauma.edema ainda nas 7 primeiras horas do trauma. A lesão resulta em isquemia, que causa umaA lesão resulta em isquemia, que causa umaA lesão resulta em isquemia, que causa uma cascata bioquímica e celular autodestrutiva.cascata bioquímica e celular autodestrutiva.cascata bioquímica e celular autodestrutiva. Depois do período de isquemiaocorre umaDepois do período de isquemia ocorre umaDepois do período de isquemia ocorre uma súbita reperfusão do centro da lesão, levandosúbita reperfusão do centro da lesão, levandosúbita reperfusão do centro da lesão, levando oxigênio às membranas celulares destruídas,oxigênio às membranas celulares destruídas,oxigênio às membranas celulares destruídas, produzindo um ambiente tóxico pela oxidaçãoproduzindo um ambiente tóxico pela oxidaçãoproduzindo um ambiente tóxico pela oxidação de ácidos graxos, ocasionando liberação dede ácidos graxos, ocasionando liberação dede ácidos graxos, ocasionando liberação de radicais livres que degradam DNA e proteínasradicais livres que degradam DNA e proteínasradicais livres que degradam DNA e proteínas mitocondriais, instabilizando as membranasmitocondriais, instabilizando as membranasmitocondriais, instabilizando as membranas celulares e perpetuando a lesão. Por sua vez, acelulares e perpetuando a lesão. Por sua vez, acelulares e perpetuando a lesão. Por sua vez, a ruptura das membranas celulares libera umaruptura das membranas celulares libera umaruptura das membranas celulares libera uma grande quantidade do neuroransmissorgrande quantidade do neuroransmissorgrande quantidade do neuroransmissor glutamato, o que glutamato, o que glutamato, o que causa uma hiperatividade dascausa uma hiperatividade dascausa uma hiperatividade das células ao redor, levando a uma sobrecarga fatalcélulas ao redor, levando a uma sobrecarga fatalcélulas ao redor, levando a uma sobrecarga fatal dessas células e resultando em apoptose celular.dessas células e resultando em apoptose celular.dessas células e resultando em apoptose celular. Outro mecanismo que contribui para essaOutro mecanismo que contribui para essaOutro mecanismo que contribui para essa cascata destrutiva é a resposta inflamatóriacascata destrutiva é a resposta inflamatóriacascata destrutiva é a resposta inflamatória celular, com liberação de citocinas,celular, com liberação de citocinas,celular, com liberação de citocinas, prostaglandinas, fator de necrose tumoral eprostaglandinas, fator de necrose tumoral eprostaglandinas, fator de necrose tumoral e tromboxano, resultando em maistromboxano, resultando em maistromboxano, resultando em mais neurotoxicidade e mais apoptose celular. Osneurotoxicidade e mais apoptose celular. Osneurotoxicidade e mais apoptose celular. Os debris celulares irão se liquefazer nas semanasdebris celulares irão se liquefazer nas semanasdebris celulares irão se liquefazer nas semanas subsequentes formando um cisto pós-subsequentes formando um cisto pós-subsequentes formando um cisto pós- traumático, que mais tarde irá se organizar emtraumático, que mais tarde irá se organizar emtraumático, que mais tarde irá se organizar em uma cicatriz uma cicatriz uma cicatriz astroglialastroglialastroglial, inibindo ainda mais a, inibindo ainda mais a, inibindo ainda mais a regeneração axonal.regeneração axonal.regeneração axonal. Classificação das Lesões (quanto ao tipoClassificação das Lesões (quanto ao tipoClassificação das Lesões (quanto ao tipo funcional)funcional)funcional) ParaplegiaParaplegiaParaplegia - perda total das funções motoras dos membros inferiores; ParaparesiaParaparesiaParaparesia - perda parcial das funções motoras dos membros inferiores; MonoplegiaMonoplegiaMonoplegia - perda total das funções motoras de um só membro (inferior ou superior); MonoparesiaMonoparesiaMonoparesia - perda parcial das funções motoras de um só membro (inferior ou superior); TetraplegiaTetraplegiaTetraplegia - perda total das funções motoras dos membros inferiores e superiores; TetraparesiaTetraparesiaTetraparesia - perda parcial das funções motoras dos membros inferiores e superiores; TriplegiaTriplegiaTriplegia - perda total das funções motoras em três membros; TriparesiaTriparesiaTriparesia - perda parcial das funções motoras em três membros; HemiplegiaHemiplegiaHemiplegia - perda total das funções motoras de um hemisfério do corpo (direito ou esquerdo); HemiparesiaHemiparesiaHemiparesia - perda parcial das funções motoras de um hemisfério do corpo (direito ou esquerdo); Nível neurológico da lesãoNível neurológico da lesãoNível neurológico da lesão É o nível mais caudal, no qual a sensibilidade encontra-se normal e os músculos-chave têm força para vencer a gravidade, ou seja, força maior que 3, sendo os níveis abaixo com os componentes motores e sensitivos normais. Componente SensitivoComponente SensitivoComponente Sensitivo É avaliado pelos testes de toque suave eÉ avaliado pelos testes de toque suave eÉ avaliado pelos testes de toque suave e pontiagudo. pontiagudo. pontiagudo. Primeiro com um pincel ou algodão devem ser testados os dermátomos correspondentes aos níveis neurológicos. O mesmo teste deve ser realizado com um objeto pontiagudo exercendo uma leve pressão sobre a pele, e o resultado será colocado em uma escala de pontuação, onde 0 corresponde a sensibilidade ausente para os dois testes, atribuindo 1 ponto se apenas um for positivo ou se a sensibilidade estiver alterada, por exemplo, hiperestesia e 2 pontos para sensibilidade normal. Com isso é possível determinar o nível neurológico sensitivo, que é o nível mais caudal em que ambos os testes são normais, e todos os níveis abaixo também são normais. Componente MotorComponente MotorComponente Motor Cada miótomo deve ser testado no sentido craniocaudal quanto à força do músculo-chave correspondente ao nível neurológico e pontuado de 0 a 5: • 0: contração ausente • 1: contração palpável ou visível • 2: movimento completo se força da gravidade eliminada • 3: movimento ativo vence a força da gravidade • 4: movimento ativo contra resistência, porém abaixo do normal • 5: força normal Com isso definimos o nível motor, que é aquele mais caudal em que a força pode ser classificada com mínimo de 3. *Os músculos principais são escolhidos porque eles são inervados por dois miótomos. Por convenção, se a força de um músculo-chave testado é pelo menos grau três, o músculo que está localizado acima é considerado normal. Eles serão demonstrados a seguir: • C5: flexores do cotovelo (bíceps, braquial • C6: extensores do punho (extensor radial longo do carpo, extensor radial curto do carpo) • C7: extensor do cotovelo (tríceps) • C8: flexores dos dedos (flexor profundo dos dedos) para o dedo médio • T1: abdutor do dedo mínimo • L2: flexão do quadril (iliopsoas) • L3: extensão do joelho (quadríceps) • L4: dorsiflexão do tornozelo (tibial anterior) • L5: extensão do hálux (extensor longo do hálux) • S1: flexão plantar do tornozelo (gastrocnêmio, sóleo) Componente AutonômicoComponente AutonômicoComponente Autonômico Alguns pacientes podem cursar com perda do controle autonômico simpático da vasoconstrição, apresentando choque neurogênico, marcado por hipotensão e bradicardia, que pode ser diferenciado do choque hipovolêmico com sinais clínicos sistêmicos. ∘ Choque Neurogênico: O choque neurogênico choque neurogênico choque neurogênico culmina na má perfusão tecidual pela perda súbita do tônus vascular. Tônus vascular é um estado de ligeira contração mantido nos vasos sanguíneos pelo sistema nervoso autônomo, e é crucial para a manutenção da PA e da PEC (pressão de enchimento vascular). A perda desse tônus deA perda desse tônus deA perda desse tônus de forma sistêmica causa dilatação das arteríolas -forma sistêmica causa dilatação das arteríolas -forma sistêmica causa dilatação das arteríolas - diminuição da RVP (resistência vasculardiminuição da RVP (resistência vasculardiminuição da RVP (resistência vascular periférica) -, e das vênulas - diminuindo operiférica) -, e das vênulas - diminuindo operiférica) -, e das vênulas - diminuindo o retorno venoso. retorno venoso. retorno venoso. Esse desequilíbrio hemodinâmico causa o choque, semelhante ao anafilático e ao séptico. O choque neurogênico ocorre devido à injúria noO choque neurogênico ocorre devido à injúria noO choque neurogênico ocorre devido à injúria no centro vasomotorno sistema nervoso central.centro vasomotor no sistema nervoso central.centro vasomotor no sistema nervoso central. Tal injúria pode ser proveniente de anestesia geral profunda (por excessiva depressão do centro vasomotor), uso de drogas ou fármacos que deprimem o sistema nervoso central, anestesia espinhal (por bloqueio da descarga simpática acima da medula espinhal) ou por lesão cerebral difusa que cause paralisia vasomotora. ->->-> O choque neurogênico é raro nas lesões medulares abaixo de T6; se houver choque nesses doentes, deve-se suspeitar de outra causa. (Geralmente pensamos acima de T6) ∘ Choque Medular: O choque medular é definido como um estadoestadoestado de completa arreflexia da medula espinhal, quede completa arreflexia da medula espinhal, quede completa arreflexia da medula espinhal, que ocorre após traumatismo grave na medula.ocorre após traumatismo grave na medula.ocorre após traumatismo grave na medula. Durante o choque medular, que pode ocorrer imediatamente após o traumatismo da medula espinhal, mesmo que a lesão medular não seja completa e permanente, o paciente apresenta ausência total da sensibilidade, dos movimentos e do reflexo bulbo cavernoso, que está presente em condições normais. O retorno do reflexo bulbo cavernoso indica o término do choque medular, permitindo então a determinação da lesão neurológica causada pelo trauma. Classificação das Lesões MedularesClassificação das Lesões MedularesClassificação das Lesões Medulares A classificação mais adotada para descrever descrever descrever rapidamente a gravidade da lesão medular é arapidamente a gravidade da lesão medular é arapidamente a gravidade da lesão medular é a escala AISescala AISescala AIS (ASIA Impairment Scale), com base na classificação de Frankel: • A – Lesão completa A – Lesão completa A – Lesão completa; não há preservação sensitiva ou motora abaixo do nível da lesão. Inclui S4-S5 (Frankel: sensitivo ausente, motor ausente). • B – Lesão incompleta:B – Lesão incompleta:B – Lesão incompleta: sensitivo preservado abaixo do nível lesionado, motor não preservado. Inclui S4-S5 (Frankel: sensitivo presente, motor ausente). • C – Lesão incompleta: C – Lesão incompleta: C – Lesão incompleta: sensitivo preservado abaixo da lesão e motor preservado, e pelo menos metade dos músculos-chaves tem força menor que 3 (Frankel: sensitivo presente, motor não útil). • D – Lesão incompleta:D – Lesão incompleta:D – Lesão incompleta: sensitivo preservado abaixo da lesão e motor preservado, e pelo menos metade dos músculos-chave tem força maior ou igual a 3 (Frankel: sensitivo presente, motor útil, porém abaixo do normal). • E – Normal: sensitivo e motor normais.E – Normal: sensitivo e motor normais.E – Normal: sensitivo e motor normais. Síndromes MedularesSíndromes MedularesSíndromes Medulares ∘ Lesão Medular Completa É a ausência de função motora ou sensitiva abaixo do nível da lesão, determinada após o término do choque medular. O fim do choque ocorre entre 24 e 48 horas após a lesão e pode ser detectado com o retorno do reflexo bulboca- vernoso. O reflexo é testado pela palpação da contração do esfíncter anal ao pressionar-se a glande ou tracionar-se a sonda vesical. ∘ Lesão Medular Incompleta Padrões de lesões medulares incompletas podem ser observados, de acordo com a região anatômica afetada e com o mecanismo do trauma. 1. Paralisia Cruzada –Paralisia Cruzada –Paralisia Cruzada – Dano na parte anterior da medula espinal no nível da decussação do trato corticoespinal (nível C2). Nesse caso o paciente apresenta déficit motor dos membros superiores maior que o dos membros inferiores, com déficit sensitivo variável e déficit variável de pares cranianos. Muito rara.Muito rara.Muito rara. 2. Síndrome Medular Central –Síndrome Medular Central –Síndrome Medular Central – É a síndrome medular mais comum.mais comum.mais comum. Suas causas principais são acidentes automobilísticos, quedas de altura e acidentes esportivos, sobretudo em pessoas que já possuem algum grau de estenose congênita ou degenerativa da medula espinhal. Nesse caso, o dano ocorre na parte central da medula abaixo de C2 e o paciente apresenta déficit motor também mais acentuado nos membros superiores que nos inferiores, sobretudo nas mãos, déficit sensitivo, alterações esfincterianas variáveis e poupança sacral presente. Essa síndrome é exclusiva da coluna cervical e está relacionada à presença de edema na matéria cinzenta central da medula espinhal cervical. Em geral o prognóstico de recuperação é bom; os pacientes tratados cirurgicamente e os mais jovens são aqueles que apresentam o melhor prognóstico. 3. Síndrome Medular Anterior – Síndrome Medular Anterior – Síndrome Medular Anterior – É relativamenterelativamenterelativamente rararararara, geralmente associada a fragmentos ósseos ou disco no interior do canal após acidentes traumáticos, podendo em alguns casos cursar com a oclusão da artéria espinhal anterior. Essa síndrome pode ser identificada pela perda motora significativa, associada à perda sensitiva da dor e temperatura, devido ao comprometimento do trato espinotalâmico, com a preservação da propriocepção, discriminação entre dois pontos e tato profundo. 4. Síndrome Medular Posterior – ExtremamenteSíndrome Medular Posterior – ExtremamenteSíndrome Medular Posterior – Extremamente rararararara. Esses pacientes apresentam lesões dos tratos posteriores, grácil e cuneiforme, sem quase déficit motor, podem apresentar disestesias extremamente dolorosas e lesões em outras áreas da medula espinhal. 5. Síndrome de Brown Síndrome de Brown Síndrome de Brown SéquardSéquardSéquard – – – Descrita em 1826 por Dundas e relatada por Brown-Séquard em 1846 como hemiplegia medular ipsilateral, com hemianalgesia contralateral. Geralmente não é encontrada em sua forma pura, mas sim em sua forma plus, com paresia assimétrica em que a hipoanalgesia é encontrada no lado em que o déficit motor é menor. Em geral, apresenta bom prognóstico. Comumente ocorre devido a traumas penetrantes, fragmentos de discos herniados e fraturas com fragmentos laterais no interior do canal. Tratamento das Lesões da Medula EspinhalTratamento das Lesões da Medula EspinhalTratamento das Lesões da Medula Espinhal ∘ Tratamento Cirúrgico A abordagem mais utilizada é a descompressãoA abordagem mais utilizada é a descompressãoA abordagem mais utilizada é a descompressão cirúrgica com ou sem artrodesecirúrgica com ou sem artrodesecirúrgica com ou sem artrodese (ArtrodeseArtrodeseArtrodese é termo ortopédico que significa fusão de articulação, podendo ser realizada em qualquer parte do corpo, como mão, pé, tornozelo ou joelho). Estudos experimentais mostram que as chances de alguma melhora ocorrem com a descompressão precoce em até 8 horas da lesão. Em seres humanos existe forte evidência de que a descompressão precocedescompressão precocedescompressão precoce oferece benefícios clínicos e neurológicos ao paciente, portanto deve ser oferecida em todos os casos de compressão medular aguda. A cirurgia tem o A cirurgia tem o A cirurgia tem o importante papel de restaurar o alinhamentoimportante papel de restaurar o alinhamentoimportante papel de restaurar o alinhamento fisiológico da coluna cervical, descomprimir asfisiológico da coluna cervical, descomprimir asfisiológico da coluna cervical, descomprimir as estruturas nervosas, estabilizar a coluna,estruturas nervosas, estabilizar a coluna,estruturas nervosas, estabilizar a coluna, prevenindo danos adicionais, e facilitar osprevenindo danos adicionais, e facilitar osprevenindo danos adicionais, e facilitar os cuidados e a reabilitação precoce do doente.cuidados e a reabilitação precoce do doente.cuidados e a reabilitação precoce do doente. Nas últimas décadas houve uma melhora significativa dos materiais de implante e das técnicas cirúrgicas, o que permitiu uma melhor estabilização de fraturas instáveis e a reconstrução das deformidades causadas pela lesão, na maioria das vezes dispensando o uso de colar cervical ou halo cranianoapós o procedimento. A descompressão precoce pode ser obtida também pela colocação de tração halocraniana que, por meio do princípio da ligamentotaxia, é capaz de reduzir e descomprimir indiretamente algumas fraturas cervicais em casos em que não é possível realizar a cirurgia precoce, ou facilitar uma fixação cirúrgica subsequente principalmente nos casos em que a redução satisfatória é obtida através deste meio. ∘ Instalação do Halo Craniano O halo craniano é a forma de imobilização mais rígida da coluna cervical. É capaz de imobilizar fraturas instáveis da coluna cervical ou da junção craniovertebral, diminuindo a mobilidade cervical em até 96%. Além de estabilizar, permite a redução indireta de diversos tipos de fraturas dessas regiões na forma de tração halocraniana seguindo os princípios da ligamento taxia, facilitando a fixação cirúrgica ou permitindo o tratamento definitivo por meio de halovest ou halogesso. O paciente deve estar acordado, consciente e orientado, cooperativo, devendo a instalação do halo craniano ser realizada no centro cirúrgico. O profissional mais experiente posiciona a cabeça do paciente na posição desejada. Após a colocação do halo, radiografias devem ser realizadas se houver necessidade de tração para redução, e um peso estimado de 5 a 5,5 quilogramas (kg) deve ser colocado para iniciar a progressão, devendo-se colocar 1 kg a cada 30 minutos, calculando-se 2,3 kg para cada nível, examinando o doente a cada progressão por meio de radiografias seriadas. Após a redução retorna-se o peso inicial, e se ocorrerem quaisquer alterações respiratórias, cardiológicas ou neurológicas a progressão deverá ser imediatamente interrompida, retornando-se ao peso inicial. ComplicaçõesComplicaçõesComplicações As principais alterações fisiológicas que ocorrem com esse paciente são: choque medular, choque neurogênico, trombose venosa profunda, disrreflexia autônoma, bexiga neurogênica, intestino neurogênico, espasticidade, úlceras por pressão, pneumonias, alterações psicossociais e infecções. Atendimento pré-hospitalar Atendimento pré-hospitalar Atendimento pré-hospitalar O atendimento pré-hospitalar é fundamentalatendimento pré-hospitalar é fundamentalatendimento pré-hospitalar é fundamental para evitar que uma lesão se agravepara evitar que uma lesão se agravepara evitar que uma lesão se agrave, para aumentar a chance de que o paciente se recupere de uma lesão neurológica e, ainda, para reduzir as inúmeras complicações decorrentes da falta de atenção a um lesado medular. Sabidamente, três fatores relacionados aoSabidamente, três fatores relacionados aoSabidamente, três fatores relacionados ao atendimento pré-hospitalar reduzem asatendimento pré-hospitalar reduzem asatendimento pré-hospitalar reduzem as complicações do trauma raqui-medularcomplicações do trauma raqui-medularcomplicações do trauma raqui-medular::: 1. Retirar o paciente da tábua de transporte o quanto antes, evitando escaras. 2. Transferir o paciente ao centro de tratamento definitivo dentro de 24 horas. 3. Prover treinamento específico para a equipe de emergencistas a fim de liberar pacientes sem fatores de risco e imobilizar adequadamente os suspeitos. A avaliação de todo paciente vítima de trauma segue os princípios do Advanced Trauma Life Support (ATLS), entretanto cada uma das etapas permite que uma etapa da avaliação da coluna seja realizada. As precauções de imobilização só devem serAs precauções de imobilização só devem serAs precauções de imobilização só devem ser removidas no paciente alerta e consciente. removidas no paciente alerta e consciente. removidas no paciente alerta e consciente. Em pacientes graves, com nível de consciência rebaixado, a perda de tônus esfincteriano e o priapismo podem ser os únicos sinais de uma lesão medular torácica. *Priapismo:*Priapismo:*Priapismo: Ereção prolongada do pênis, geralmente sem excitação sexual. O exame neurológico minucioso e padronizado permite controlar a evolução de lesões neurológicas, assim como sua progressão ou recuperação em decorrência dos tratamentos realizados. Exames de ImagemExames de ImagemExames de Imagem A avaliação radiográficaavaliação radiográficaavaliação radiográfica permite, em grande parte das vezes, identificar lesões na coluna TL. A tomografia computadorizada (TC)tomografia computadorizada (TC)tomografia computadorizada (TC) de tórax e abdome, que geralmente é realizada em pacientes politraumatizados, também possibilita uma taxa elevada de diagnóstico dessas lesões, sendo fundamental quando há discrepância entre os achados do exame físico e radiográficos e em casos em que haja trauma torácico grave, com hemotórax ou contusão torácica extensos que prejudiquem a visão da coluna torácica. Cada vez mais a TC substitui a radiografia naCada vez mais a TC substitui a radiografia naCada vez mais a TC substitui a radiografia na avaliação inicial do politrauma, reduzindoavaliação inicial do politrauma, reduzindoavaliação inicial do politrauma, reduzindo significativamente a taxa de lesões nãosignificativamente a taxa de lesões nãosignificativamente a taxa de lesões não diagnosticadas, assim como em lesões contíguasdiagnosticadas, assim como em lesões contíguasdiagnosticadas, assim como em lesões contíguas que podem passar desapercebidas.que podem passar desapercebidas.que podem passar desapercebidas. A combinação de dados fornecidos pela radiografia e TC permite fazer várias mensurações, que por vezes não têm uma utilidade prática. Em 2006, um consenso internacional definiu asdefiniu asdefiniu as principais medidas radiográficas a seremprincipais medidas radiográficas a seremprincipais medidas radiográficas a serem utilizadas no trauma:utilizadas no trauma:utilizadas no trauma: 1. Ângulo de Cobb:Ângulo de Cobb:Ângulo de Cobb: ângulo formado entre uma linha desenhada entre a placa vertebral superior da vértebra cranial à fratura e uma linha desenhada entre a placa vertebral inferior da vértebra inferior à fratura. Permite compreender o grau de cifose gerado pelo trauma. 1. Translação do corpo vertebral:Translação do corpo vertebral:Translação do corpo vertebral: é a relação da distância perpendicular entre a parede posterior de duas vértebras do segmento deslocado (T) e o diâmetro sagital do corpo vertebral deslocado, calculado como porcentagem. 1. Compressão anterior do corpo vertebral:Compressão anterior do corpo vertebral:Compressão anterior do corpo vertebral: é a relação entre a altura anterior e a posterior do corpo vertebral, utilizada para avaliar a integridade do corpo vertebral fraturado. 1. Oclusão do canal vertebral:Oclusão do canal vertebral:Oclusão do canal vertebral: pode ser mensurada através da área total do canal, ou porcentagem de oclusão do canal. Uma oclusão do canal acima de 35% do canal (T11 e T12), 45% (L1) e 55% (L2 e demais lombares) traz um risco significativo de dano neurológico. O uso da ressonância magnética (RM)ressonância magnética (RM)ressonância magnética (RM) na fase aguda do trauma é ainda controverso em virtude das restrições de espaço, necessidade de equipamentos não metálicos e duração do exame. Suas vantagens são a qualidade de imagem, identificação de lesões de partes moles e compressão do canal medular não relacionada a fragmentos ósseos, como em hérnias discais e hematomas epidurais. Suas principais indicações são a discrepância entre achados de exame físico e de imagem, e na suspeita de lesão ligamentar. Alguns autores recomendam que a RM para o trauma seja feita com sequências em fast spin echo (FSE), e sequências de imagem em T1, T2, proton density (PD) e gradiente-eco (GRE). Em nosso meio, não é raro que pacientes retornem do exame de RM com sequências em T1 e T2 apenas, o que gera dificuldade na identificação de edema e hematomas. A avaliação de lesões ligamentares pela RM requer sequências específicas, e se não solicitadas podem gerar mais confusão do que auxílio diagnóstico. Lesões por compressãoLesões por compressãoLesões por compressão causam impacto entreprocessos espinhosos, ecausam impacto entre processos espinhosos, ecausam impacto entre processos espinhosos, e geralmente há aumento de sinal nos ligamentosgeralmente há aumento de sinal nos ligamentosgeralmente há aumento de sinal nos ligamentos interespinhososinterespinhososinterespinhosos, sem representar lesão, sem representar lesão, sem representar lesão ligamentar especificamente. Recomendam queligamentar especificamente. Recomendam queligamentar especificamente. Recomendam que a RM não seja utilizada isoladamente comoa RM não seja utilizada isoladamente comoa RM não seja utilizada isoladamente como determinante do tratamento de lesões da colunadeterminante do tratamento de lesões da colunadeterminante do tratamento de lesões da coluna TL.TL.TL. ClassificaçãoClassificaçãoClassificação Nos anos 1990, Magerl et al. retomaram o conceito de duas colunas de Holdsworth e dividiram as lesões da coluna TL em três tipos principais. Avaliaram 1.445 fraturas, todas com radiografias e TC, dividindo-as em: tipos (pelo mecanismo de lesão); grupos (pela morfologia da lesão); subgrupos (contendo detalhes com finalidades comparativas e epidemiológicas). Através desse estudo, Magerl et al. tentaram tentaram tentaram correlacionar o tipo de lesão com o grau decorrelacionar o tipo de lesão com o grau decorrelacionar o tipo de lesão com o grau de instabilidade e risco de déficit neurológico,instabilidade e risco de déficit neurológico,instabilidade e risco de déficit neurológico, sugerir detalhes do tratamento cirúrgico pelasugerir detalhes do tratamento cirúrgico pelasugerir detalhes do tratamento cirúrgico pela compreensão da morfologia e permitir melhorcompreensão da morfologia e permitir melhorcompreensão da morfologia e permitir melhor documentação das fraturas.documentação das fraturas.documentação das fraturas. Essa classificação foi adotada como oficial pela fundação AO e recentemente foi revisada com o objetivo de torná-la mais simples e confiável, sendo denominada AOSpine Thoracolumbar Spine Injury Classification System (AOSpine TLSICS). As fraturas são divididas em três tipos, de acordo com o mecanismo de lesão, em: Tipo A: fraturas por compressão.Tipo A: fraturas por compressão.Tipo A: fraturas por compressão. O mecanismo de trauma é de compressão axial, com ou sem flexão, havendo redução da altura do corpo vertebral. A característica fundamental é a integridade dos ligamentos posteriores, que confere estabilidade à fratura. Tipo B: lesão por distração, seja em flexão ouTipo B: lesão por distração, seja em flexão ouTipo B: lesão por distração, seja em flexão ou extensão, podendo haver ou não fratura doextensão, podendo haver ou não fratura doextensão, podendo haver ou não fratura do corpo vertebral.corpo vertebral.corpo vertebral. Há ruptura da estrutura ligamentar posterior, que pode ocorrer através dos ligamentos ou dos elementos ósseos posteriores. Não há translação evidente entre os segmentos lesionados Tipo C:Tipo C:Tipo C: toda lesão em que haja algum tipo de deslocamento de uma vértebra sobre a outra em qualquer plano, configurando instabilidade e alto risco de lesão neurológica. Na revisão atual os subtipos foram reduzidos e os subgrupos removidos: Subtipo A0:Subtipo A0:Subtipo A0: determina lesões clinicamente insignificantes como lesões dos processos transversos, não havendo qualquer preocupação com déficit neurológico ou instabilidade. Subtipo A1: Subtipo A1: Subtipo A1: fraturas por compressão em cunha ou impacção de um platô vertebral, sem acometimento da parede posterior do corpo vertebral Subtipo A2: Subtipo A2: Subtipo A2: fraturas com separação ou pinçamento central do corpo vertebral (pincer-type), sem acometimento da parede posterior do corpo vertebral. Subtipo A3: Subtipo A3: Subtipo A3: fratura que acomete um platô vertebral, com qualquer tipo de acometimento da parede posterior do corpo vertebral. As forças compressivas também geralmente causam aumento da distância interpedicular e fraturas verticais do arco posterior (onde muitas vezes uma cortical está íntegra, conhecida como fratura em galho verde). A estrutura ligamentar posterior está intacta e não há translação vertebral. Lesões do tipo A3 que contenham ruptura ligamentar ou fratura horizontal do arco posterior devem ser classificadas primariamente como tipo B. Subtipo A4:Subtipo A4:Subtipo A4: fratura que acomete os dois platôs vertebrais, com qualquer tipo de acometimento da parede posterior do corpo vertebral. As demais características são similares às das fraturas A3. Subtipo B1:Subtipo B1:Subtipo B1: lesões com falha do mecanismo estabilizador posterior através do arco posterior e que se estende ao corpo vertebral, conhecidas como fratura de Chance. Essa fratura dos elementos posteriores pode se estender através do pedículo, saindo no aspecto posterior do pars interarticularis, ou atravessar o processo espinhoso antes de atingir tecidos moles posteriormente. Subtipo B2: Subtipo B2: Subtipo B2: lesões com falha do mecanismo estabilizador posterior sem acometimento ósseo (lesão ligamentar pura). Qualquer fratura associada do corpo vertebral deve ser especificada separadamente com o subtipo A correspondente. Subtipo B3:Subtipo B3:Subtipo B3: lesões com ruptura do ligamento longitudinal anterior, secundária a um mecanismo de hiperextensão. Pode ocorrer através do disco ou do corpo vertebral, mas há preservação dos elementos posteriores, evitando deslocamento posterior. A ruptura completa dos elementos posteriores faz que a fratura seja classificada como tipo C, com um descritor B, mesmo que não haja luxação evidente do corpo vertebral. As lesões do tipo C não têm subtipos, sendo subdivididas de acordo com a fratura do corpo vertebral (A1, A2, A3 ou A4) e lesão ligamentar (B1, B2 ou B3). Essa nova versão da classificação incluiu dois subitens, um para déficit neurológico e outro para casos especiais. A graduação do déficit neurológico foi feita emA graduação do déficit neurológico foi feita emA graduação do déficit neurológico foi feita em cinco partes:cinco partes:cinco partes: • N0: exame neurológico normal; • N1: déficit neurológico transitório, que não está mais presente; • N2: sinais ou sintomas de radiculopatia; • N3: lesão medular incompleta ou lesão de cauda equina; • N4: lesão medular completa (equivalente à lesão grau A da American Spinal Cord Injury Association). • Nx: estado neurológico indeterminado por qual-quer condição que inviabilize um exame neurológico adequado. Em casos especiais, em que alguma alguma alguma comorbidade possa influenciar na decisão docomorbidade possa influenciar na decisão docomorbidade possa influenciar na decisão do tratamento, dois modificadores foram criados:tratamento, dois modificadores foram criados:tratamento, dois modificadores foram criados: • M1: fraturas em que a lesão ligamentar posterior não pode ser determinada durante a avaliação do paciente. Este modificador chama a atenção para fraturas que parecem estáveis do ponto de vista ósseo, mas nas quais uma insuficiência ligamentar pode determinar a necessidade de cirurgia durante o acompanhamento do paciente. • M2: indica comorbidade específica do paciente, que pode direcionar o tratamento a favor ou contra uma intervenção cirúrgica. Exemplos deste modificador incluem pacientes com doenças reumatológicas, osteoporose e lesões de pele na região da cirurgia. Outros dois sistemas de graduação das lesões da coluna TL são frequentemente utilizados e merecem menção: o o o ThoracolumbarThoracolumbarThoracolumbar InjuryInjuryInjury ClassificationClassificationClassification System (TLICS) System (TLICS) System (TLICS) e a LoadLoadLoad SharingSharingSharing ClassificationClassificationClassification (LSC). (LSC). (LSC). O TLICSTLICSTLICS foi desenvolvido por Vaccaro et al. em 2005, utilizando os principais fatores determinantes do tratamento para determinar a gravidade da lesão e sugerir não apenas a realização de cirurgia, mas também auxiliar na decisão da abordagema ser utilizada. Com base na morfologia da lesão (de modo similar à classificação AO), na presença de lesão ligamentar posterior e no estado neurológico, desenvolveram uma pontuação de gravidade da lesão que é apresentada na Tabela. De acordo com essa pontuação, foram definidos os tipos de tratamento: • 0-3 pontos: tratamento incruento; • 4 pontos: incruento ou cirúrgico; • 5 ou mais pontos: tratamento cirúrgico. A abordagem sugerida, uma vez indicada a cirurgia, foi delineada de acordo com uma combinação entre o estado neurológico do paciente e a integridade dos elementos posteriores, conforme a Tabela 2.29.3. *O tratamento incruentotratamento incruentotratamento incruento consiste geralmente em reduzir as fraturas através de manipulações e imobilização com aparelhos gessados ou órteses manufaturadas. Críticas a essa classificação incluem o fato de ter sido elaborada a partir de opiniões de especialistas, sem estudo de casos prévios à sua publicação, a redundância de algumas pontuações, como translação e lesão ligamentar, e a subjetividade da definição entre o tratamento incruento e o cirúrgico. A LSCLSCLSC foi desenvolvida por McCormack et al., em 1994, objetivando antecipar o prognóstico de fixações curtas para fraturas TL e definir a necessidade de uma via anterior complementar ou uma fixação posterior longa. Através da avaliação da cominuição do corpo vertebral, da https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788595156487/epub/OEBPS/Text/cap-2-29.xhtml?favre=brett#tab-2-29-3 diástase entre os fragmentos e da correção necessária para que se obtenha realinhamento do corpo, criou-se uma pontuação na qual um score superior a seis pontos indicaria a necessidade de cirurgia complementar. As limitações desse método são a ausência de avaliação de lesões ligamentares e do estado neurológico do paciente. Recentemente, Radcliff et al. questionaram sua utilidade, demonstrando a baixa correlação desse sistema com a presença de lesão ligamentar, estado neurológico e decisão clínica empírica sobre o tratamento. Os autores preferem utilizar a nova versão daOs autores preferem utilizar a nova versão daOs autores preferem utilizar a nova versão da classificação AO, seguindo um algoritmo queclassificação AO, seguindo um algoritmo queclassificação AO, seguindo um algoritmo que visa excluir as lesões da mais grave à menosvisa excluir as lesões da mais grave à menosvisa excluir as lesões da mais grave à menos grave, apresentado na figura.grave, apresentado na figura.grave, apresentado na figura. Neuropraxia É a forma mais branda de uma lesão nervosa, na qual existe bloqueio localizado na condução dos estímulos nervosos, que, no entanto, está preservada nos segmentos proximal e distal a lesão. Nessa lesão, o axônio não perde sua continuidade, portanto ocorre uma recuperação rápida e completa em poucas semanas. Há uma lesão na bainha de mielina levando a uma diminuição da velocidade de condução. Há apenas um dano discreto do nervo com perda transitória da condução. Axoniotmese É uma lesão mais grave, na qual os danos são suficientes para promover uma ruptura da continuidade axonal, provocando uma degeneração walleriana. O prognóstico de recuperação funcional é bom, desde que seja mantida a continuidade do tecido conjuntivo de suporte e a integridade das células de Schawnn e da membrana basal. A lesão danifica os axônios, mas não há danos da armação estrutural do nervo em si. Neurotmese É o tipo mais grave de lesão nervosa periférica. Nela há uma completa ruptura do nervo periférico e o prognóstico de recuperação não é favorável. Há o comprometimento total do endoneuro. Neste tipo de lesão, a armação estrutural interna e os axônios são seccionados rompidos e destruídos. O axônio é recoberto pelo endoneuro, o fascículo perineuro e o nervo pelo epineuro. Fraturas Expostas O prognóstico das fraturas expostas é determinado principalmente pela extensão/quantidade de tecidos desvitalizados provocada pelo trauma e pelo tipo e grau de contaminação bacteriana e não apenas pela caracterização da fratura isoladamente. A partir desse conceito, enfatizamos que as decisões sobre o manuseio das fraturas expostas em geral se iniciam com uma análise minuciosa do binômio fratura x partes moles, com as partes moles determinando o prognóstico da fratura e a fratura determinando o prognóstico das partes moles. Inicialmente, devemos reconhecer as duas categorias básicas dessas lesões - aquelas com alto grau de energia e aquelas com baixo grau de energia absorvidas pelo osso e partes moles, sendo este o principal fator determinante da desvitalização tecidual. As fraturas de baixa energia provocam, de maneira geral, menor grau de destruição óssea/partes moles, comportando-se de maneira semelhante às fraturas fechadas. As fraturas de alta energia causam maior desvitalização do tecido ósseo e seu invólucro protetor, que pode comprometer a capacidade de obter imediata redução e fixação da fratura de maneira definitiva, assim como o fechamento das feridas. Nesses casos, um planejamento adequado e cuidadoso se faz necessário em relação ao desbridamento, estabilização inicial, estabilização definitiva e cobertura cutânea. Classificação das fraturas expostasClassificação das fraturas expostasClassificação das fraturas expostas A classificação das fraturas expostas é importante, porque permite a comparação dos resultados, mas muito mais importante é dar ao cirurgião orientação quanto ao prognóstico e ao tratamento. A mais utilizada em todo o mundo é a de Gustillo & Anderson (1976)(11), posteriormente modificada por Gustillo et al. Os fatores críticos/fundamentais para essa classificação são: 1) grau de lesão de partes moles; 2) grau de contaminação; e 3) padrão da fratura. Uma lesão devastadora da perna com indicação para amputação pode estar associada a uma pequena lesão de pele. Assim, devemos afirmar que o tamanho da lesão de pele isolada é um parâmetro insuficiente para a classificação dessa fratura. Por outro lado, uma lesão extensa causada por um objeto cortante, como uma lâmina de aço, pode estar associada com pequena lesão de partes moles/periósteo - vascularização óssea - e assim apresentar um bom prognóstico. A configuração das fraturas, principalmente pelo desvio e cominuição apresentados, reflete o grau de energia absorvido pelo osso e é útil na classificação, porém sempre deve estar em associação com a lesão de partes moles. *Cominuição*Cominuição*Cominuição::: ato ou efeito de cominuir; fragmentação, espedaçamento. ∘ Classificação de gustillo & anderson para fraturas expostas Tipo I: Tipo I: Tipo I: ferida de 1cm (ou menor) da pele com descolamento mínimo de periósteo/partes moles. Cominuição mínima. De dentro para fora: inside out. Tipo II: Tipo II: Tipo II: ferida maior que 1cm na pele com descolamento periósteo/partes moles moderado e cominuição da fratura. Tipo III:Tipo III:Tipo III: ferida maior que 10cm, com alta energia associada e extensa lesão de partes moles e descolamento periosteal e/ou esmagamento. IIIA: IIIA: IIIA: contaminação significativa. Cobertura de partes moles adequada, apesar de lacerações e retalhos presentes. IIIB: IIIB: IIIB: contaminação significativa. Lesão extensa com grande descolamento periosteal, porém com perda externa de partes moles, não permitindo cobertura cutânea, normalmente necessitando procedimentos de reconstrução tardia. IIIC: IIIC: IIIC: fratura com lesão arterial que necessita reparo. Nota: As fraturas expostas segmentares, lesões ocorridas no campo, em ambientes altamente contaminados, lesões por projétil de arma de fogo, de alta energia, são automaticamente classificadas como de grau III. ∘ Manuseio inicial das fraturas expostas FERIMENTOFERIMENTOFERIMENTO - CulturaCulturaCultura Existe muita controvérsia quanto à validade da cultura pré-operatória, principalmente após os trabalhos de Lee et al, que mostraram que os organismos vistos nas culturas iniciais raramente são os mesmos obtidos nas demais culturas, quando há infecção subsequente.Estes organismos isolados representam predominantemente a flora normal da pele (S. epidermidis, P. acnes, Corynebacterium species e Micrococcus) ou contaminantes ambientais, os quais raramente causam infecção. Segundo os Segundo os Segundo os autores, este procedimento de rotina aumentaautores, este procedimento de rotina aumentaautores, este procedimento de rotina aumenta os custos do tratamento e só deve ser utilizadoos custos do tratamento e só deve ser utilizadoos custos do tratamento e só deve ser utilizado nas situações nas quais clinicamente o risco denas situações nas quais clinicamente o risco denas situações nas quais clinicamente o risco de infecção é muito alto, como lesões de campo,infecção é muito alto, como lesões de campo,infecção é muito alto, como lesões de campo, por exemplo.por exemplo.por exemplo. Nas série de Patzakis et al, o germe mais comumente encontrado nas fraturas infectadas foi o Staphylococcus aureus, sendo a maioria resistente à penicilina. Atualmente, a experiência clínica tem-nos mostrado importantes mudanças nas últimas décadas, com alterações na incidência e espectro dos agentes causadores de infecção. Atualmente, embora o Staphylococcus aureus permaneça como o germe causal mais frequente de infecção, há um aumento dos casos de infecção por gram-negativos e principalmente de infecções mistas nos tipos IIIA, IIIB e IIIC. Como recomendação, gostaríamos de salientar a importância de realizarmos uma monitorização constante da ferida e a realização de culturas sucessivas, se assim for necessário. - Antibióticos- Antibióticos- Antibióticos O uso de antibióticos pode ser consideradoO uso de antibióticos pode ser consideradoO uso de antibióticos pode ser considerado como importante método complementar nocomo importante método complementar nocomo importante método complementar no tratamento da contaminação existente nastratamento da contaminação existente nastratamento da contaminação existente nas fraturas expostas, já que estas feridas estãofraturas expostas, já que estas feridas estãofraturas expostas, já que estas feridas estão contaminadas com bactérias.contaminadas com bactérias.contaminadas com bactérias. Filosoficamente, pode-se argumentar que em lesões agudas existe contaminação, mas ainda não desenvolveram infecção e, assim sendo, o uso de antibióticos é profilático. Por outro lado, a presença dos microorganismos no foco de fratura reforça o caráter terapêutico dos antibióticos. Atualmente, as cefalosporinascefalosporinascefalosporinas ainda continuam como escolha ideal no manuseio inicial das fraturas expostas. Atualmente utilizamos a terapêutica intravenosa até 48 e 72 horas, na maioria dos casos, exceto naqueles com infecção precoce, quando o esquema inicial deve ser mantido até que se tenha o resultado das culturas, quando o esquema adequado deve ser iniciado, monitorizado por subsequentes culturas da ferida e antibiograma. O quadro abaixo mostra o esquema proposto por Chapman & Olson, Gustillo et al., Gustillo e Whittle et para o uso de antibióticos em fraturas expostas. Osteomielite Aguda As osteomielites têm sido classificadas de várias formas levando-se em consideração alguns critérios, como a localização do processo, extensão do acometimento ósseo, estado imunológico do hospedeiro, comorbidades e tipo de agente etiológico causador. As osteomielites são classificadas em As osteomielites são classificadas em As osteomielites são classificadas em pós- traumáticas, de disseminação hematogênica ou por contiguidade, a depender do mecanismo de infecção óssea, e como agudas ou crônicas de acordo com o tempo de evolução dos sintomas. Para definir o tipo de tratamento ortopédico de uma osteomielite, o sistema de classificação maisclassificação maisclassificação mais utilizado é o de utilizado é o de utilizado é o de CiernyCiernyCierny-Mader-Mader-Mader, que definedefinedefine estágios através da correlação entre o local daestágios através da correlação entre o local daestágios através da correlação entre o local da infecção, a capacidade fisiológica do paciente einfecção, a capacidade fisiológica do paciente einfecção, a capacidade fisiológica do paciente e a melhor opção de tratamento cirúrgico.a melhor opção de tratamento cirúrgico.a melhor opção de tratamento cirúrgico. O O O statusstatusstatus fisiológico do paciente é avaliado em: fisiológico do paciente é avaliado em: fisiológico do paciente é avaliado em: A (normal), B (comprometimento local ou sistêmico) C (quando o tratamento necessário é pior que a doença). Quanto à extensão anatômica, a infecção ósseaQuanto à extensão anatômica, a infecção ósseaQuanto à extensão anatômica, a infecção óssea pode ser:pode ser:pode ser: I (medular) II (superficial) III (localizada) IV (difusa). A combinação desses fatores pode designar 12A combinação desses fatores pode designar 12A combinação desses fatores pode designar 12 estágios de osteomielite no paciente adulto.estágios de osteomielite no paciente adulto.estágios de osteomielite no paciente adulto. Do ponto de vista microbiológico, Staphylococcus aureus, Staphylococcus coagulase-negativo e bacilos Gram-negativos aeróbios são, nesta ordem, os agentes mais frequentemente isolados, mas com percentual relativo variando de acordo com o estudo analisado. Nas osteomielites de disseminação hematogênica, é comum o achado de um único agente como causador da infecção, enquanto nas infecções por contiguidade é comum o achado de infecção polimicrobiana. O O Osteomielites Pós-traumáticassteomielites Pós-traumáticassteomielites Pós-traumáticas A implantação de microrganismos no tecido ósseo pode ocorrer por via hematogênica, por via direta no momento de um trauma espontâneo ou cirúrgico, como nas fraturas expostas, ou por contiguidade a partir de infecções das partes moles adjacentes. As osteomielites pós-traumáticas são devidas,As osteomielites pós-traumáticas são devidas,As osteomielites pós-traumáticas são devidas, na maioria das vezes, à implantação de bactérias por via direta no osso e classicamente representadas pela infecção na evolução das infecção na evolução das infecção na evolução das fraturas expostas ou pelas osteomielites pós-fraturas expostas ou pelas osteomielites pós-fraturas expostas ou pelas osteomielites pós- operatórias.operatórias.operatórias. Quanto às fraturas expostas fraturas expostas fraturas expostas, observamos muitas vezes a contaminação pela microbiota intra- hospitalar resultante da manipulação peri ou pós-operatória. A classificação de Gustillo hierarquiza as fraturas expostas levando em consideração a gravidade do ferimento, sugerindo o potencial de infecção para cada um dos graus de fratura, conforme demonstrado na tabela. Um estudo multicêntrico americano demonstrou a importância de fatores predisponentes de infecção nas fraturas expostas. Os três principais Os três principais Os três principais fatores relacionados a infecção pós-fraturasfatores relacionados a infecção pós-fraturasfatores relacionados a infecção pós-fraturas expostas foram fraturas dos tipos expostas foram fraturas dos tipos expostas foram fraturas dos tipos IIIbIIIbIIIb e e e IIIcIIIcIIIc,,, fraturas abaixo do joelho e o volume de sanguefraturas abaixo do joelho e o volume de sanguefraturas abaixo do joelho e o volume de sangue transfundido no atendimento inicial dostransfundido no atendimento inicial dostransfundido no atendimento inicial dos pacientes. pacientes. pacientes. Com menor importância, foram observados fatores anteriormente consagrados, como idade, tempo entre o ferimento e o início da antibioticoterapia e/ou cirurgia. Na maioria das vezes os pacientes apresentamos pacientes apresentamos pacientes apresentam febre, sinais inflamatórios locais e drenagem de secreção purulenta pela ferida cirúrgica ou ferimento ainda exposto. A exemplo das outras apresentações clínicas das osteomielites, é necessário o isolamento dos agentes etiológicos para a elaboração de antibioticoterapiaantibioticoterapiaantibioticoterapia adequada. Sempreao lado da antibioticoterapia correta, o desbridamentodesbridamentodesbridamento cirúrgico de todo o tecido mole e ósseo desvitalizado, bem como a avaliação da retirada de materiais de síntese, é de fundamental importância para o controle da infecção. Também, quanto mais rapidamente for restabelecida a cobertura cutânea desses ferimentos através de retalhos convencionais ou microcirúrgicos, melhor o prognóstico em relação às infecções ósseas crônicas. As osteomielites agudas pós-operatóriasosteomielites agudas pós-operatóriasosteomielites agudas pós-operatórias não são citadas claramente na literatura mundial, mas devem ser abordadas de maneira diferenciada do ponto de vista clínico e ortopédico. Geralmente, essas infecções são complicações de cirurgias ortopédicas eletivas ou de urgência em que houve a utilização de materiais de síntese. A apresentação clínicaapresentação clínicaapresentação clínica dessa entidade é, por via de regra, aguda, precoce e toxêmica, com sinais locais evidentes. Em relação à etiologiaetiologiaetiologia, observamos ainda uma predominância discreta do S. aureusS. aureusS. aureus, porém o crescente número de cirurgias ortopédicas com o uso de implantes e o aumento nos casos de traumas de alta energia associados a fraturas expostas fazem que as infecções por agentesagentesagentes anaeróbios e bacilos Gram-negativos ganhemanaeróbios e bacilos Gram-negativos ganhemanaeróbios e bacilos Gram-negativos ganhem importância cada vez maiorimportância cada vez maiorimportância cada vez maior. Embora representem uma parcela menor no total de osteomielites, sua importância clínica é grande pelas particularidades dos padrões de resistência antimicrobiana de tais agentes, pelo risco do surgimento de resistência durante o longo tratamento demandado e pelas comorbidades geralmente apresentadas pelos pacientes. Ainda mais recentemente, passou a ser descrita a importância de bacilos Gram- negativos multirresistentes, especialmente Acinetobacter baumannii, como agentes causadores de osteomielite aguda pós- traumática em fraturas expostas dos membros inferiores. A escolha da antibioticoterapia empírica imediata a ser instituída até que o desbridamento cirúrgico seja realizado com obtenção de fragmento ósseo para cultura e antibiograma baseia-se no perfil dos agentes mais comumente relacionados a esse tipo de infecção. Até o resultado da cultura, é indicada Até o resultado da cultura, é indicada Até o resultado da cultura, é indicada a associação de antibioticoterapia com açãoa associação de antibioticoterapia com açãoa associação de antibioticoterapia com ação sobre sobre sobre S. aureusS. aureusS. aureus meticilinometicilinometicilino-resistente, anaeróbios-resistente, anaeróbios-resistente, anaeróbios e bacilos Gram-negativos.e bacilos Gram-negativos.e bacilos Gram-negativos. Deve-se, também, seguir princípios clássicos baseados no uso de drogas bactericidas e que tenham concentração óssea conhecida, em dose máxima para o peso do paciente, com espectro de ação adequado para a bactéria isolada no fragmento ósseo e manutenção por tempo adequado. O tratamentoO tratamentoO tratamento antimicrobiano deve ser mantido por 4 a 6antimicrobiano deve ser mantido por 4 a 6antimicrobiano deve ser mantido por 4 a 6 semanas.semanas.semanas. A tabela mostra sugestões de esquemasA tabela mostra sugestões de esquemasA tabela mostra sugestões de esquemas empíricos para início de tratamento dasempíricos para início de tratamento dasempíricos para início de tratamento das osteomielites agudas.osteomielites agudas.osteomielites agudas. Além desse posicionamento, vale lembrar que a antibioticoterapia não substitui nem exclui aantibioticoterapia não substitui nem exclui aantibioticoterapia não substitui nem exclui a necessidade dos desbridamentos cirúrgicosnecessidade dos desbridamentos cirúrgicosnecessidade dos desbridamentos cirúrgicos extensos, retirada dos materiais de sínteses emextensos, retirada dos materiais de sínteses emextensos, retirada dos materiais de sínteses em algumas situações, das reparações ósseas e doalgumas situações, das reparações ósseas e doalgumas situações, das reparações ósseas e do revestimento cutâneo, para a obtenção dorevestimento cutâneo, para a obtenção dorevestimento cutâneo, para a obtenção do controle da infecção.controle da infecção.controle da infecção. O tratamento da osteomielite aguda é cirúrgico, principalmente na vigência de um implante metálico, e o fator mais crítico do sucesso do tratamento é a qualidade do desbridamento. Em um estudo prospectivo, randomizado, todos os pacientes que foram submetidos a um desbridamento agressivo com uma ampla margem de ressecção, com pelo menos 5 mm, apresentaram completa erradicação da infecção em pelo menos 1 ano, enquanto no grupo de curetagem e biópsia intralesional os resultados foram inferiores, apresentando recidivas no primeiro ano. O objetivo do desbridamento é obter uma ferida limpa e viável através de uma exposição atraumática. O sítio de infecção deve ser limpo, com retirada de todo componente com potencial para perpetuar o processo, incluindo corpo estranho, osso necrótico, tecidos desvascularizados e implantes não estáveis. Qualquer material residual contaminado pode conter microrganismos dentro de biofilmes e acarretar a falência do tratamento. No caso de uma infecção aguda, a incisão e a drenagem, seguidas de uma lavagem copiosa e retirada dos tecidos não viáveis, reduzem significativamente a carga bacteriana local, propiciando a ação dos antibióticos e das defesas do paciente. Nessa situação, os implantes estáveis podem ser mantidos, pois o tecido ósseo necessita de estabilidade para que o processo de cura possa ocorrer com consolidação da fratura e erradicação da infecção. A lavagem deve ser realizada com solução salina com um volume total de 3 a 9 litros, existindo uma relação direta entre a quantidade de soro empregada e a redução da carga bacteriana. Em algumas situações em que existe espaço morto após o desbridamento dos tecidos desvitalizados ou em casos de infecção óssea com maior tempo de evolução, a utilização de cimento ósseo (polimetilmetacrilato), impregnado com um antibiótico para liberação local, está indicada.