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DIREITO CONSTITUCIONAL META 01 DIREITO CONSTITUCIONAL META 01 3 SUMÁRIO SUMÁRIO .......................................................................................................................................................... 3 META 01 ............................................................................................................................................................ 5 QUAL É O FOCO? ......................................................................................................................................................5 1. CONSTITUCIONALISMO ....................................................................................................................................5 1.1. Supremacia da Constituição: Constitucionalismo e Neoconstitucionalismo ..............................5 2. CONSTITUIÇÃO .................................................................................................................................................. 13 2.1. Conceito ......................................................................................................................................................... 13 2.2. Concepções do Conceito de Constituição ........................................................................................... 14 2.3. Classificação das Constituições ............................................................................................................. 22 2.4. Elementos da Constituição ...................................................................................................................... 27 2.5. Histórico Das Constituições Brasileiras ............................................................................................... 27 2.6. Interpretação das normas Constitucionais ......................................................................................... 38 2.7. Teoria dos Poderes Implícitos ................................................................................................................ 51 2.8. Estrutura Da Constituição ........................................................................................................................ 51 QUESTÕES PROPOSTAS .................................................................................................................................... 53 DIREITO CONSTITUCIONAL META 01 5 META 01 TEMA DO DIA DIREITO CONSTITUCIONAL CONSTITUCIONALISMO CONSTITUIÇÃO QUAL É O FOCO? ✓ Supremacia da Constituição e força normativa. ✓ Classificação das Constituições. Outorgada x Promulgada. Dogmática x Histórica. Constituição garantia x dirigente x balanço. Quanto à alterabilidade. 1. CONSTITUCIONALISMO 1.1. Supremacia da Constituição: Constitucionalismo e Neoconstitucionalismo 1.1.1 Constitucionalismo O constitucionalismo é o movimento a partir do qual emergem as Constituições. Parte da noção de que todo Estado deve possuir uma Constituição. A ideia é GARANTIR DIREITOS para LIMITAR O PODER ESTATAL. Contrapõe-se ao absolutismo. FASES DO CONSTITUCIONALISMO a) ANTIGO É o da Antiguidade Clássica, com a ideia de garantir direitos para limitar o poder, evitar o arbítrio. Hebreus: estabelecimento no estado teocrático de limitações ao poder político através da legitimidade dos profetas para fiscalizar os atos governamentais que extrapolassem os limites bíblicos. DIREITO CONSTITUCIONAL META 01 6 Idade Média: Carta Magna de 1215 – estabelece a proteção a direito individuais. b) CLÁSSICO (LIBERAL): século XVIII A) Surge a 1ª geração de direito fundamentais (liberdade): direitos civis e políticos. Exigem abstenção do Estado. B) Separação de Poderes. C) CF rígida e supremacia da CF D) O Poder Judiciário é o principal encarregado de garantir a supremacia da CF. Surgem as primeiras Constituições escritas. Quadro europeu: o reconhecimento do valor jurídico das Constituições tardou na Europa. Os movimentos liberais (século XVIII) enfatizam o princípio da supremacia da lei e do parlamento. A Constituição NÃO era norma vinculante, embora esse entendimento já começasse a ser desenvolvido nos EUA. Nessa fase, há uma diferença entre o quadro europeu e o americano: QUADRO EUROPEU QUADRO AMERICANO - Supremacia da lei e do parlamento - Supremacia da Constituição - O Judiciário NÃO pode controlar a legitimidade constitucional das leis, limitando-se a ser a “boca da lei” (Supremacia do parlamento) - Para garantir a efetiva supremacia da Constituição, cresceu o papel do controle judicial: ao Judiciário cabe fazer a interpretação final e aplicar a Constituição (judicial review). - A primazia da Constituição só ocorreu a partir do fim da 2ª guerra mundial (redemocratização). Supremacia do Poder Constituinte. - Para acentuar a supremacia do Poder Constituinte, adotou-se procedimento mais dificultoso e solene de mudança da Constituição. DIREITO CONSTITUCIONAL META 01 7 c) MODERNO (SOCIAL): após fim da 1ª Guerra Mundial até o início da segunda. • Exigem atuação positiva do Estado (Estado Social, intervencionista, prestador de serviço público). • Crise do liberalismo diante das demandas sociais que abalaram o século XIX. O abstencionismo estatal não garantia a igualdade essencial para a existência de igualdade de competições. • Consagração dos direitos fundamentais de 2ª dimensão: gravitam em torno do valor IGUALDADE, mas não meramente formal e sim a IGUALDADE MATERIAL (direitos sociais, econômicos e culturais). Possuem um caráter positivo: exigem uma prestação do Estado. Surgem garantias institucionais. • Adoção do Estado Social: o Estado transforma-se em prestador de serviços, intervindo no âmbito social, econômico e laboral. d) CONTEMPORÂNEO: após fim da 2ª Guerra Mundial. • Surgem os direitos fundamentais de 3ª geração (fraternidade): direitos transindividuais, como meio ambiente, comunicação, consumidor. • Alguns o chamam de neoconstitucionalismo. Outros diferenciam: a) No constitucionalismo contemporâneo, a hierarquia entre Constituição e lei é apenas formal: o foco é a limitação do poder estatal. b) No neoconstitucionalismo, a hierarquia é de grau e também axiológica (tem que observar espírito e valores da CF): o foco é a concretização dos direitos fundamentais. Caracteriza-se pelas Constituições garantistas, que tem como pilar a defesa dos direitos fundamentais. Período marcado pelas CONSTITUIÇÕES DIRIGENTES, que prescrevem programas a serem implementados pelos Estados, normalmente por meio de normas programáticas. DIREITO CONSTITUCIONAL META 01 8 1.1.2. Neoconstitucionalismo A doutrina passa a desenvolver, a partir do pós-2ª Guerra Mundial, uma nova perspectiva em relação ao constitucionalismo, denominada neoconstitucionalismo, ou, segundo alguns, constitucionalismo pós-moderno, ou, ainda, pós-positivismo. Busca-se, dentro dessa nova realidade, não mais apenas atrelar o constitucionalismo à ideia de limitação do poder político, mas, buscar a eficácia da Constituição. CARACTERÍSTICAS DO NEOCONSTITUCIONALISMO: • BUSCA EFICÁCIA DA CF E CONCRETIZAÇÃO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS; • PÓS-POSITIVISMO: O positivismo tinha permitido barbáries com base na lei. Veio, então, o pós-positivismo (o direito deve ter um conteúdo moral, vai além da legalidade estrita. Não basta apenas respeitar a lei, tem que observar os princípios da moralidade e da finalidade pública). • NORMATIVIDADE DA CONSTITUIÇÃO: A Constituição Federal era documento político. Com o neoconstitucionalismo, passa a ser documento JURÍDICO, com força vinculante. • FORÇA NORMATIVA DA CONSTITUIÇÃO: As normas constitucionais têm aplicabilidade direta (conforme sua densidade jurídica), os direitos irradiamda CF. • CENTRALIDADE DA CONSTITUIÇÃO: A CF é o epicentro do ordenamento jurídico. Tem supremacia formal e material. Consequências: o Constitucionalização do direito: normas de outros ramos do direito estão na Constituição Federal e há releitura dos institutos previstos na legislação infraconstitucional à luz da Constituição. o Filtragem constitucional: há interpretação da lei à luz da Constituição Federal. Segundo a interpretação conforme a CF, passa a lei no filtro da CF para extrair seu sentido constitucional. Para Luiz Roberto Barroso, toda interpretação jurídica é uma interpretação constitucional. DIREITO CONSTITUCIONAL META 01 9 • REMATERIALIZAÇÃO DAS CONSTITUIÇÕES: Surgem Constituições prolixas, com extenso rol de direitos fundamentais. • MAIOR ABERTURA NA INTERPRETAÇÃO: Os princípios deixam de ser meras diretrizes e passam a ser espécies de norma; • FORTALECIMENTO DO JUDICIÁRIO: O Judiciário irá garantir a supremacia da Constituição Federal. É o ativismo judicial, postura mais ativa do Judiciário na implementação dos direitos. O Judiciário passa a atuar como legislador positivo. Marcos do Neoconstitucionalismo (Luís Roberto Barroso): (i) Marco histórico: A formação do Estado constitucional de direito, cuja consolidação se deu ao longo das décadas finais do século XX; (ii) Marco filosófico: O pós-positivismo, com a centralidade dos direitos fundamentais e a reaproximação entre Direito e ética; e (iii) Marco teórico: o conjunto de mudanças que incluem a força normativa da Constituição, a expansão da jurisdição constitucional e o desenvolvimento de uma nova dogmática da interpretação constitucional. Para o professor Rafael Carvalho, indicado para a banca de direito administrativo, em suas palavras, o novo constitucionalismo (“neoconstitucionalismo”, “constitucionalismo contemporâneo” ou “constitucionalismo avançado”) é caracterizado pela crescente aproximação entre o Direito e a moral, especialmente a partir do reconhecimento da normatividade dos princípios constitucionais e da crescente valorização dos direitos fundamentais. A constitucionalização do Direito não pressupõe apenas colocação do texto constitucional no topo da hierarquia do ordenamento jurídico. Trata-se, em verdade, de processo dinâmico- interpretativo de releitura (transformação) do ordenamento jurídico que passa a ser impregnado pelas normas constitucionais. Em consequência, a aplicação e a interpretação de todo o ordenamento jurídico devem passar necessariamente pelo filtro axiológico da Constituição (“filtragem constitucional”). Os princípios constitucionais e os direitos fundamentais, nesse DIREITO CONSTITUCIONAL META 01 10 contexto, passam a ter posição de destaque na ordem constitucional, pois as Constituições procuram valer-se cada vez mais dos princípios como forma de amoldar, nos seus textos, interesses conflitantes existentes em uma sociedade pluralista – 6ª edição do Curso de Direito Administrativo, pgs. 14/15. 1.1.3. O papel da Constituição em um Estado Democrático de Direito Frequentemente se cogita qual seria o papel da Constituição em um Estado de Direito. Para a teoria procedimentalista, que tem como expoente o alemão Jürgen Habermas, a Constituição deve se limitar à regulação formal do processo democrático, sem estabelecer de antemão quais as metas ou valores substantivos a serem perseguidos por aquela sociedade. Para esta concepção, uma vez assegurado um procedimento democrático, caberá à própria sociedade compreender seus problemas e encontrar soluções, por meio de processos comunicacionais. De fato, para a “teoria do agir comunicativo” de Habermas, o direito deve ser construído a partir desta interação intersubjetiva entre os cidadãos na esfera pública, de modo que a legitimidade das normas repousaria no “princípio do discurso”, isto é, na possibilidade de que todos seus destinatários com elas consintam. Discordando desta visão, a teoria substancialista defende que a Constituição deve consagrar metas e valores a serem perseguidos por aquela sociedade, traduzindo-se em uma Constituição dirigente, na expressão de Canotilho. Tal vertente critica, ainda, a concepção liberal do Estado de Direito pregada pelo constitucionalismo clássico, que defendia que a Constituição deveria se restringir à previsão de normas limitadoras do poder político. Tais normas correspondem aos chamados “direitos fundamentais de primeira geração ou dimensão”, tais como os direitos civis e políticos, que tinham como fundamento impor ao Estado um dever negativo, de abstenção e não intervenção na esfera particular. O mencionado viés liberal guarda estreita relação com a filosofia juspositivista, que encontrou seu auge nos pensamentos de Hans Kelsen e a sua obra “Teoria Pura do Direito”. Para ele, a ciência do Direito deve ser pura, isto é, abdicar de reflexões metajurídicas, tais como as relativas à ética, à moral e à justiça, de modo que o objeto de estudo deve se limitar às normas estatais. A análise da validade de uma norma não passaria, portanto, pela aferição de sua justiça DIREITO CONSTITUCIONAL META 01 11 ou aderência social, mas pela constatação da legitimidade de seu processo criador e da sua conformidade com as normas hierarquicamente superiores. Isto porque o ordenamento seguiria um escalonamento na forma de uma pirâmide, no topo da qual estariam as normas constitucionais e, acima delas, uma norma fundamental hipotética, pressuposta. Seria um sistema fechado de normas, portanto, e com pretensão à completude. Nesta configuração reducionista do fenômeno jurídico, o juiz deveria se limitar a realizar um procedimento de formal de subsunção do fato à norma, colocando-se em posição de neutralidade axiológica. Ou seja, exerceria o papel de “boca da lei”, conforme expressão de Montesquieu. A História cuidou de mostrar as falhas conceituais do juspositivismo. Fenômenos como o nazismo e o apartheid, desenrolados sob o manto da estrita legalidade, evidenciaram que a pretensa neutralidade do discurso jurídico e seu divórcio de reflexões éticas criaram ambiente fértil para a barbárie, a injustiça e a intolerância. O fracasso do juspositivismo, tal como concebido originalmente, suscitou reflexões sobre a necessidade de trazer as discussões sobre ética, moral e justiça para o interior da ciência jurídica. A este ideário difuso se convencionou chamar de pós-positivismo. Os seus reflexos no campo constitucional formam o assim denominado neoconstitucionalismo. Para esta concepção, a Constituição, longe de apenas limitar o poder político, deve ter como foco a concretização de direitos fundamentais (efeito expansivo dos direitos fundamentais). Não basta prevê-los, como meras aspirações. Deve-se ultrapassar a retórica, pois a Constituição tem força normativa e deve ser implementada. Portanto, para esta concepção, as normas se dividem entre regras e princípios, pois estes não são meras aspirações sem caráter vinculativo. As regras são, então, as normas com conteúdo menos abstrato, que já estabelecem, de antemão, soluções pré-definidas para cada situação. Sua aplicação se dá, portanto, pelo juízo de “tudo ou nada” (expressão de Ronald Dworkin): em um caso concreto, ou serão satisfeitas ou não serão. Por isso, Robert Alexy as reputa “mandados de definição”. Sua aplicação se dá por subsunção. Os princípios, por outro lado, são os vetores axiológicos que fundamentam o ordenamento jurídico, tendo, por isso, caráter nomogenético. Têm certa abstração e alta carga axiológica, não precisando estar positivados para terem força normativa, vinculativa. É por meio deles que a ética e a moral ingressam no ordenamento. Alexy os reputa “mandados de otimização”, porque, em caso DIREITO CONSTITUCIONAL META 01 12 de conflito entre eles, cada um deverá ser satisfeito no maior grau possível, pelatécnica da ponderação/sopesamento, fundada na proporcionalidade. Superando a antiga visão do discurso jurídico como uma racionalidade neutra, objetiva, imparcial, asséptica, visão esta que apenas se prestação à conformação ao “status quo” e à manutenção das desigualdades, cabe ao juiz promover uma interpretação prospectiva da norma, que olhe para o futuro, e dela extrair seu potencial transformador. Uma interpretação, portanto, que concretize os valores consagrados pelo texto constitucional, para que não sejam “promessas constitucionais inconsequentes” (feliz expressão do Ministro do STF Celso de Mello), normas meramente programáticas, retóricas. Faz-se necessário, portanto, desenvolver uma compreensão crítica do direito e da realidade, desconstruindo a pretensa neutralidade do discurso jurídico, para reconstruí-lo como ferramenta de emancipação. Dessa forma, o Judiciário atenderá à sua missão constitucional de concretização de seus vetores axiológicos e exercerá papel ativo na construção de uma sociedade tal qual prometida pelo Texto Maior: fraterna, justa, igualitária. Enfim, uma sociedade que realize a finalidade por excelência de um Estado de Direito: a dignidade da pessoa humana. Nesse contexto, em que o Poder Judiciário passa a ser coparticipante do processo constitucional, questiona-se acerca da legitimidade do chamado “ativismo judicial” na consecução de políticas públicas, já que os membros do Poder Judiciário não são eleitos pela vontade da maioria. Para ser legítimo, o ativismo judicial deve ser excepcional (observar a separação de poderes) e condicionado (observar o dever de argumentação). A partir dos requisitos para legitimidade do ativismo judicial, é possível que o advogado público erija tese em sentido contrário, defendendo que a atuação judicial, na espécie, é ilegítima, por: 1) violar o postulado da Separação dos Poderes; 2) não se sustentar em norma constitucional ou legal; 3) ser casuística; ou 4) descambar em problema ainda maior do que o veiculado na lide Consignadas tais limitações, vê-se, portanto, que o ativismo judicial não pode descambar para o arbítrio judicial, que, a pretexto de imprimir juridicidade às normas constitucionais, DIREITO CONSTITUCIONAL META 01 13 especialmente os princípios, finda por relegar a um segundo plano a segurança jurídica e a democracia. Segundo Daniel Sarmento, “no Brasil, uma crítica que tem sido feita à recepção do neoconstitucionalismo – eu mesmo a fiz em vários textos, bem como outros autores, como Humberto Ávila e Marcelo Neves – é a de que ele tem dado ensejo ao excessivo arbítrio judicial, através do que chamo de “carnavalização dos princípios constitucionais” (guarde essas expressões). 2. CONSTITUIÇÃO 2.1. Conceito Embora existam várias acepções, basicamente, os doutrinadores conceituam constituição como “a lei fundamental e suprema de um Estado, que contém normas referentes: à estruturação do Estado; à formação dos poderes públicos; forma de governo e aquisição do poder de governar; distribuição de competências e; direitos, garantias e deveres do cidadão”. (MORAES. Alexandre de. Direito Constitucional. 8ª Ed. Editora Atlas, 2000, p. 34) e (HOLTHER. Leo Van. Direito Constitucional. 4ª Ed. Jus Podivm. 2008, p. 34). DICA: para não esquecer o conceito, lembrem-se dos objetivos das constituições, começando pela limitação de poderes e estruturação do Estado). J. J. Canotilho formulou o chamado conceito ideal de constituição, verbis: ―.Este conceito ideal identifica-se fundamentalmente com os postulados político liberais, considerando-se como elementos materiais caracterizadores e distintivos os seguintes: (a) a constituição deve consagrar um sistema de garantias da liberdade (esta essencialmente concebida no sentido do reconhecimento de direitos individuais e da participação dos cidadãos nos actos do poder legislativo através dos parlamentos); (b) a constituição contém o princípio da divisão de poderes, no sentido de garantia orgânica contra os abusos dos poderes estaduais; DIREITO CONSTITUCIONAL META 01 14 (c) a constituição deve ser escrita (documento escrito). (CANOTILHO. José Joaquim Gomes. Direito Constitucional. 6ª Edição Revista. Livraria Almedina. Coimbra, 1993, páginas 62 e 63). 2.2. Concepções do Conceito de Constituição Não há conceito único que defina o que é a Constituição. Por isso, cada doutrinador toma por base um sentido com o fim de definir o termo “Constituição”. a) Concepção SocioLógica (Ferdinand Lassale): uma Constituição só seria legítima se representasse o efetivo poder social, refletindo as forças sociais que constituem o poder, do contrário seria uma simples “folha de papel”. Portanto, a Constituição, segundo Lassale, seria a somatória dos fatores reais do poder dentro de uma sociedade. b) Concepção PolíTica (Carl SchimiTt): A Constituição seria a decisão política fundamental, emanada do titular do poder constituinte, enquanto a lei constitucional representaria os demais dispositivos que estão inseridos no texto constitucional e que não contém matéria de decisão política fundamental. Faz a distinção entre Constituição (decisão política fundamental) e lei constitucional (lei formalmente Constitucional). c) Concepção Jurídica (Hans Kelsen): A Constituição é norma pura, dever-ser, dissociada de qualquer fundamento sociológico, político ou filosófico. Kelsen dá dois sentidos à palavra Constituição: • SENTIDO LÓGICO-JURÍDICO – a Constituição é a NORMA HIPOTÉTICA FUNDAMENTAL, responsável por dar sustentação ao sistema posto, e é o fundamento de validade de todas as outras leis. • SENTIDO JURÍDICO-POSITIVO - é a Constituição positiva, conjunto de normas que regulam a criação de outras normas, da qual todas as outras normas infraconstitucionais extraem seu fundamento de validade. Logo, a Constituição é a lei máxima do direito positivo e encontra-se no topo da pirâmide normativa. DIREITO CONSTITUCIONAL META 01 15 d) Concepção Culturalista (Meirelles Teixeira e José Afonso da Silva): A Constituição é produto de um FATO CULTURAL, produzido pela sociedade e que sobre ela pode influir. OUTROS SENTIDOS DE CONSTITUIÇÃO (BULOS, 2014, p. 104): a) Constituição Jusnaturalista: Constituição concebida à luz dos princípios do direito natural, principalmente no que concerne aos direitos humanos fundamentais. b) Constituição Positivista: Constituição é o conjunto de normas emanadas do poder do Estado. Para os seus defensores, basta recorrer ao Direito Constitucional posto pela ação do homem para sabermos o conceito de constituição. Assim, para a compreensão da constituição, não seriam necessários critérios metanormativos (fatores sociais, políticos, econômicos, culturais, religiosos. c) Constituição Marxista: Constituição é o produto da supraestrutura ideológica, condicionada pela infraestrutura econômica. É o caso da constituição-balanço, que, conforme a doutrina soviética, prescreve e registra a organização política estabelecida, ou seja, os estágios das relações de poder. A cada passo da evolução socialista, existiria uma nova constituição para auscultar as necessidades sociais. OBSERVAÇÃO: Constituição-balanço é o inverso da constituição-garantia ou constituição-quadro. Esta última é aquela que almeja garantir a liberdade limitando o poder. d) Constituição Institucionalista: Constituição é a expressão das ideias fortes e duradouras, dos fins políticos, com vistas a cumprir programas de ordem social. e) Constituição Estruturalista: Constituição é o resultado das estruturas sociais, servindo para DIREITO CONSTITUCIONAL META 01 16 equilibrar as relações políticas e o processo de transformação da sociedade. Assim, a constituição não seria apenas certo número de preceitos cristalizados em artigos e parágrafos,e sim uma unidade estrutural, um conjunto orgânico e sistemático de caráter normativo sob inspiração de um pensamento diretor. f) Constituição Biomédica/biológica (bioconstituição): É a constituição que consagra normas assecuratórias da identidade genética do ser humano, visando reger o processo de criação, desenvolvimento e utilização de novas tecnologias científicas. Visa assegurar a dignidade humana, salvaguardando biodireitos e biobens. OBSERVAÇÃO: A quarta revisão constitucional da Carta portuguesa de 1976, realizada em 1997, consagrou o sentido biomédico de constituição. g) Constituição Compromissória: É a constituição que reflete a pluralidade das forças políticas e sociais. Típica da sociedade plural e complexa em que vivemos, ela é fruto de conflitos profundos. O procedimento constituinte de elaboração das constituições compromissórias é tumultuado pelas correntes convergentes e divergentes de pensamento, mas que ao fim encontram o consenso (compromisso constitucional). OBSERVAÇÃO: A Constituição brasileira de 1988 e a portuguesa de 1976 são constituições compromissórias. h) Constituição Suave: É aquela que não contém exageros. Ao exprimir o pluralismo social, político e econômico da sociedade, não consagra preceitos impossíveis de realização prática. A constituição suave não faz promessas baseadas na demagogia política. DIREITO CONSTITUCIONAL META 01 17 OBSERVAÇÃO: A Carta dos Estados Unidos de 1787 é exemplo de constituição suave. i) Constituição em Branco: É a constituição que não consagra limitações explícitas ao poder de reforma constitucional. O processo de sua mudança subordina-se à discricionariedade dos órgãos revisores, que, por si próprios, ficam encarregados de estabelecer as regras para a propositura de emendas ou revisões constitucionais. j) Constituição Plástica (Raul Machado Horta): É aquela que apresenta uma mobilidade, projetando a sua forçam normativa na realidade social, política, econômica e cultural do Estado. Qualifica-se de plástica porquanto revela uma maleabilidade. Maleabilidade porque permite a adequação de suas normas às situações concretas do cotidiano. Tanto as cartas rígidas como as flexíveis podem ser plásticas. O que caracteriza a plasticidade é a adaptação das normas constitucionais às oscilações da opinião pública. Normalmente, as constituições plásticas consagram preceitos de eficácia limitada, porque deixam a cargo do legislador ordinário a complexa tarefa de preenchimento das normas constitucionais. - As constituições plásticas pretendem fazer coincidir o “dever ser” de seus preceitos com a realidade social. Nesse particular, interligam-se ao fenômeno da mutação constitucional. OBSERVAÇÃO: A Constituição brasileira de 1988 é rígida e plástica. Já a Carta da Inglaterra é flexível e também plástica. k) Constituição Empresarial: É o conjunto de normas cujo conteúdo estabelece a organização jurídica de uma dada comunidade, num período histórico determinado. É uma espécie de constituição programática. Quando os franceses, holandeses e portugueses estiveram no Brasil-colônia, chegaram a vigorar constituições empresariais, elaboradas por empresas exploradoras da atividade comercial da época. DIREITO CONSTITUCIONAL META 01 18 l) Constituição Oral: É aquela em que o chefe supremo de um povo proclama, de viva voz, o conjunto de normas que deverão reger a vida em sociedade. Exemplifica-a a Carta da Islândia do século IX, quando os vikings instituíram, solene e oralmente, o primeiro parlamento livre da Europa. m) Constituição Instrumental: É aquela em que suas normas equivalem a leis processuais. Seu objetivo é definir competências, para limitar a ação dos Poderes Públicos. OBSERVAÇÃO: Grande parte dos constitucionalistas contemporâneos não aceitam essa ideia de constituição. n) Constituição como Estatuto do Poder: Constituição que equivale a um mecanismo para legitimar o poder soberano, segundo certa ideia de direito, prevalecente no seio da sociedade. O texto constitucional, enquanto estatuto do poder, seria o pressuposto lógico do próprio Estado de Direito, servindo para balizar a conduta de governantes, verdadeiros prepostos da sociedade política, e a conduta dos governados, os quais devem se submeter ao poder de direito, juridicizado e racionalizado por meio de normas constitucionais. SENTIDOS CONTEMPORÂNEOS DE CONSTITUIÇÃO (BULOS, 2014, p. 109): a) Constituição Dirigente (J. J. Gomes Canotilho): Constituição que pretende dirigir a ação governamental do Estado. Propõe que se adote um programa de conformação da sociedade, no sentido de estabelecer uma direção política permanente. Significa que o texto constitucional seria uma lei material, para preordenar programas a serem realizados, objetivos e princípios de transformação econômica e social. A ideia de constituição dirigente diverge daquela visão tradicional de constituição, que a concebe como lei processual ou instrumento de governo, definidora de competências e reguladora de processos. DIREITO CONSTITUCIONAL META 01 19 - No sentido dirigente, a constituição é o “estatuto jurídico do político”, o plano global normativo de todo o Estado e de toda a sociedade, que estabelece programas, definindo fins de ação futura. OBSERVAÇÃO: A constituição brasileira de 1988 e a portuguesa de 1976 são exemplos de constituições dirigentes. b) Constituição como instrumento de realização da atividade estatal: O texto maior é uma ordenação global do Estado e da sociedade, ao mesmo tempo que é um projeto de determinação de sua identidade. As constituições são ordens fundamentais que contêm, no âmbito da historicidade que as subjaz, programas de ação que as identificam com ordenamentos político-sociais tendentes a um processo de realização concreto. Esse pensamento nutre forte semelhança com a tese da constituição dirigente, pois propõe o estabelecimento de metas para dirigir a atividade estatal. c) Constituições subconstitucionais (subconstituições): Conjunto de normas que, mesmo elevadas formalmente ao patamar constitucional, não o são materialmente, pois que limitadas nos seus objetivos. Demonstram preocupações momentâneas, interesses esporádicos, próprios do tempo em que foram elaboradas. Em geral, as subconstituições não servem para o futuro, pois já nascem divorciadas do sentido de estabilidade e perpetuidade que deve encampar o ato de feitura dos documentos supremos que pretendem ser duradouros. Revelam uma espécie de constituição de necessidade, algo contrário àqueles documentos normativos que consagram um poder geral em branco, responsável pela adaptação dos problemas concretos ao “dever ser” das prescrições supremas do Estado, sem a necessidade de se explicitarem as autorizações constitucionais. - As subconstituições decorrem da praxe de incluir uma gama infindável de matérias nas constituições (totalitarismo constitucional), a ponto de se falar em constituição econômica, DIREITO CONSTITUCIONAL META 01 20 constituição social etc. d) Constituição como documento regulador do sistema político (Niklas Luhmann): A carta magna é um instrumento funcional que serve para reduzir a complexidade do sistema político. Nesse contexto, propicia a reflexão da funcionalidade do Direito, abandonando o exame isolado da relação de hierarquia das normas constitucionais. Conforme Luhmann, urge banir a mera visão negativa da análise dos problemas constitucionais. Não basta perquirir o vínculo de conformidade ou desconformidade das leis e atos normativos com a constituição. É imperioso que se busque a lógica do sistema político. As constituições não servem, somente, para emitir juízos de constitucionalidade ou de inconstitucionalidade. Constituem algo maior, visto que estão inseridasno campo da contingência de autofixação do sistema político. e) Constituição como processo público (Peter Haberle): Compreende o texto constitucional como documento de uma sociedade pluralista e aberta, como obra de vários partícipes, como uma ordem jurídica fundamental do Estado e da sociedade. Para essa corrente, as constituições não são atos voluntarísticos do poder constituinte, porque dizem respeito à evolução social da comunidade. Assim, o texto constitucional é o reflexo de um processo interpretativo aberto e conduzido à luz da força normativa da publicidade. f) Constituição como meio de resolução de conflitos: É uma constituição processual. Essa constituição não é um meio de resolver problemas, e sim um simples instrumento pelo qual podemos eliminar conflitos. Isso porque as constituições consagram processos de decisão que não podem ser impostos, pois servem de parâmetro de resolução de casos concretos perante circunstâncias particulares, a fim de possibilitar soluções ótimas. g) Constituição como garantia do status econômico e social: É um sistema de artifícios técnico-jurídicos, com vistas à racionalização e garantia do status quo, consistindo num pecanismo formal de garantia, despojado de qualquer conteúdo social, material ou econômico. Objetiva, apenas, manter o coeficiente de juridicidade e de estadualidade do ordenamento jurídico. DIREITO CONSTITUCIONAL META 01 21 h) Constituição.com (crowdsourcing): É aquela cujo projeto conta com a opinião maciça dos usuários da internet, que, por meio de sites de relacionamento, externam seus pensamentos a respeito dos temas a serem constitucionalizados. OBSERVAÇÃO: Foi a Islândia que, pioneiramente, fez, no ano de 2011, uma “constituição.com”. CONSTITUIÇÃO SIMBÓLICA (Marcelo Neves) O doutrinador Marcelo Neves entende que a ideia de legislação ou de constituição simbólicas advém da hipertrofia da função simbólica da atividade legiferante e do seu produto, a lei, em detrimento da função jurídico-instrumental, ou seja, é valorizar mais uma construção legislativa sem efetividade do que dar possibilidade de a legislação se tornar efetiva. O simbolismo se verifica por três mecanismos: • A Constituição serve tão-somente para confirmar valores sociais: legislador assume uma posição em relação a determinado conflito social. Se posiciona de um lado, dando uma vitória legislativa para um determinado grupo social, em detrimento da eficácia normativa da lei; • A Constituição apenas demonstra a capacidade de ação do Estado (legislação álibi): busca-se aparente solução para problemas da sociedade, ainda que mascare a realidade. Só cria a imagem de um Estado que responde rapidamente aos anseios sociais. Introduz um sentimento de bem-estar na sociedade. Adiamento da solução de conflitos sociais através de compromissos dilatórios: transfere a solução de conflitos para um futuro indeterminado. DIREITO CONSTITUCIONAL META 01 22 2.3. Classificação das Constituições 2.3.1 Quanto à origem ou positivação: 1. Outorgada, não democrática ou imposta: Impostas pelo detentor do poder de forma unilateral; 2. Promulgada, democrática ou popular: nascem de debates políticos; 3. Cesarista ou plebiscitárias: É Constituição imposta, mas que se pretende legitimar por meio da aprovação popular via plesbicito; 4. Pactuada: É a Constituição elaborada em decorrência de pacto realizado entre os vários titulares do Poder Constituinte que, em conjunto, elaboram a Constituição. 2.3.2. Quanto à forma • Escritas ou instrumental: É a Constituição sistematizada por procedimento formal; • Não escritas ou consuetudinária: Resultante das práticas costumeiras. 2.3.3 Quanto à mutabilidade • Rígidas: O processo de alteração da Constituição mais difícil e solene do que o processo de formação das leis; • Flexíveis ou Plásticas: A Constituição é alterada pelo mesmo processo utilizado para as leis ou até mais simples; Atenção: NÃO necessariamente as Constituições costumeiras serão plásticas; • Semirrígida: É a Constituição que exige que apenas uma parte do seu texto seja alterado por processo legislativo diferenciado e mais dificultoso. Quanto ao restante do texto, é possível a alteração pelo procedimento ordinário; No concurso da PGE-MS (CESPE - 2021), o tema foi cobrado da seguinte forma: DIREITO CONSTITUCIONAL META 01 23 O art. 178 da Constituição brasileira de 1824, a Carta Imperial do Brasil, dispunha o seguinte: “É só Constitucional o que diz respeito aos limites, e atribuições respectivas dos Poderes Políticos, e aos Direitos Políticos, e individuais dos Cidadãos (...)”. Considerando- se essa disposição e os modos de classificar as constituições, é correto afirmar que a Constituição brasileira de 1824 era A) flexível. B) rígida. C) super-rígida. D) sintética. E) semirrígida. A alternativa considerada correta foi a letra E. • Super-rígidas (Maria Helena Diniz): O processo de alteração da Constituição é mais dificultoso e solene do que o processo de formação das leis, possuindo pontos imutáveis; • Imutáveis: A Constituição não admite alteração do seu texto; • Fixa: Somente o Poder Constituinte Originário pode alterar o texto constitucional. 2.3.4. Quanto ao conteúdo 1. Formais: Constituição é tudo aquilo que está inserido no texto elaborado pelo Poder Constituinte, por meio de um processo legislativo mais dificultoso, diferenciado e mais solene do que o processo de formação das demais leis que compõem o ordenamento jurídico. Dessa forma, como não importa o conteúdo da norma, será constitucional tudo que constar do texto da Constituição, mesmo que não se trate de assunto relevante para o Estado e a sociedade; 2. Materiais: leva em consideração o conteúdo da norma para defini-la como constitucional, que será toda aquela que defina e trate das regras estruturais da sociedade e de seus alicerces fundamentais. Assim, podem existir normas constitucionais em textos esparsos, fora da Constituição. Toda constituição escrita é formal? NÃO, porque a constituição formal vai muito além de ser escrita, exigindo supralegalidade/supremacia e procedimentos especiais para modificação. DIREITO CONSTITUCIONAL META 01 24 Logo, é possível uma constituição escrita (textos constitucionais) que não seja formal (não goza de processo legislativo especial para sua alteração). 2.3.5. Quanto à sistemática (Pinto Ferreira) 1. Reduzidas: Materializam-se em um único documento sistemático; 2. Variadas: É a Constituição que está espalhada por vários documentos legislativos. 2.3.6. Quanto à ideologia: A- Ortodoxas: Elaboradas em uma única linha ideológica; B- Ecléticas: Elaboradas com várias linhas ideológicas, a exemplo da CF/88. 2.3.7. Quanto à eficácia (Karl Lowenstein) Classificação ontológica, pois analisa o MODO DE SER das Constituições, conforme adequação à realidade social e política: a) Normativas (máxima eficácia, regulando todos os aspectos da vida social): São aquelas em que o poder estatal está de tal forma disciplinado que as relações políticas e os agentes do poder subordinam-se as determinações do seu conteúdo e do seu controle procedimental. Se adequa à realidade, eis que pretende e consegue guiar o processo político. O texto se alinha com a realidade política; b) Nominalistas (nominal): Visa limitar a atuação dos detentores do poder econômico, político e social, mas essa limitação NÃO se efetiva. Não corresponde à realidade, já que, apesar de pretender regular o processo político, NÃO consegue fazê-lo. Não conseguem ser implementadas pois em descompasso com a realidade política; c) Semânticas (existe só no papel, não sendo adequada à realidade social): A Constituição serve de manutenção do poder pela classe dominante, mas NÃO objetiva alterarcoisa alguma. Não tem por fim regular a vida política do Estado, busca somente formalizar e manter o poder político vigente. DIREITO CONSTITUCIONAL META 01 25 No concurso da PGE-AL (CESPE - 2021), o tema foi cobrado da seguinte forma: Karl Loewenstein, filósofo alemão, promoveu importantes estudos em direito constitucional, que influenciaram e ainda influenciam importantes correntes de pensamento. Loewenstein aduziu uma classificação própria das Constituições. A seguir é apresentado trecho adaptado da doutrina, acerca de uma das espécies de Constituição propostas pelo filósofo. São formalmente válidas, mas alguns dos seus preceitos ainda não foram ativados na prática real. Na visão de Loewenstein, nesses casos, a situação real não permite a transformação das normas constitucionais em realidade política, mas ainda se pode esperar que, com o tempo, elas sejam implementadas concretamente. (Gilmar F. Mendes e Paulo G. Gonet Branco. Curso de Direito Constitucional. Série IDP, 16.ª ed., 2021) Esse trecho da doutrina se refere, na classificação de Loewenstein, à Constituição A) garantia. B) normativa. C) semântica. D) programática. E) nominal. A alternativa considerada correta foi a letra E. 2.3.8. Quanto à extensão a) Constituição Sintética: É Constituição reduzida, sucinta, a exemplo da norteamericana; b) Constituição Analítica: É Constituição extensa e prolixa, a exemplo da CF/88. 2.3.9. Quanto às opções políticas Outra classificação opõe as constituições-garantia (estatutárias ou liberais) às constituições programáticas (ou dirigentes), conforme a margem de opções políticas que deixam ao alvedrio dos Poderes Públicos que instituem. DIREITO CONSTITUCIONAL META 01 26 As constituições-garantia, tendem a concentrar a sua atenção normativa nos aspectos de estrutura do poder, cercando as atividades políticas das condições necessárias para o seu correto desempenho. Aparentemente, não fazem opções de política social ou econômica. As constituições dirigentes, não se bastam com dispor sobre o estatuto do poder. Elas também traçam metas, programas de ação e objetivos para as atividades do Estado nos domínios social, cultural e econômico. De toda sorte, associa-se a constituição-garantia a uma concepção liberal da política, enquanto a constituição programática remete-se ao ideário do Estado social de direito. A Constituição brasileira de 1988 tem induvidosa propensão dirigente. CLASSIFICAÇÃO DA CF/88 Origem Promulgada (Popular) Forma Escrita Extensão Analítica (Prolixa) Conteúdo Formal Modo de elaboração Dogmática (Codificada) Alterabilidade Rígida 2.3.10. Outras terminologias Constituição moldura -> para Marcelo Novelino tal concepção é “utilizada metaforicamente para designar a constituição que serve apenas como limite à atuação legislativa. A lei fundamental atua como uma espécie de moldura dentro da qual o legislador pode atuar, preenchendo-a conforme a oportunidade política. À jurisdição constitucional caberia apenas controlar ‘se’ (não ‘como’) o legislador atuou dentro da moldura estabelecida”. As Constituições fixas foram exemplos de constituições em branco. Constituições fixas são aquelas que não estabelecem, expressamente, o procedimento para sua reforma. Logo, somente podem ser alteradas por um poder de competência igual àquele que as criou, isto é, poder constituinte originário. Ex.: Estatuto do Reino da Sardenha de 1848. DIREITO CONSTITUCIONAL META 01 27 2.4. Elementos da Constituição Conforme classificação elaborada por José Afonso da Silva, as normas constitucionais podem ser diferenciadas em elementos, considerando-se estrutura normativa e conteúdo: c) Elementos orgânicos: regulamentam a estrutura do Estado e do Poder; d) Elementos limitativos: limitam a atuação do poder estatal, a exemplo dos direitos e garantias fundamentais; e) Elementos sócio ideológicos: Identificam a ideologia adotada pelo constituinte; f) Elementos de estabilização constitucional: asseguram a vigência das normas constitucionais em situação de conflito, garantem a defesa da Constituição, do Estado e das instituições democráticas; g) Elementos formais de aplicabilidade: Estabelecem regras de aplicação da Constituição. Ex: Preâmbulo, ADCT. 2.5. Histórico Das Constituições Brasileiras 2.5.1. Constituição de 1824 A Constituição Política do Império do Brasil foi outorgada em 25 de março de 1824 e foi, dentre todas, a que durou mais tempo, tendo sofrido considerável influência da francesa de 1814. Foi marcada por forte centralismo administrativo e político, tendo em vista a figura do Poder Moderador, constitucionalizado, e também por unitarismo e absolutismo. Características: • Governo: monárquico, hereditário, constitucional e representativo. Tratava-se de forma unitária de Estado, com nítida centralização político-administrativa. • Organização dos “Poderes”: não se adotou a separação tripartida de Montesquieu, porque além as funções legislativa, executiva e judiciária, estabeleceu-se a função moderadora. DIREITO CONSTITUCIONAL META 01 28 • Poder Legislativo: exercido pela Assembleia Geral, com a sanção do Imperador, que era composta de duas Câmaras: Câmara dos Deputados e Câmara dos Senadores, ou Senado. A Câmara dos Deputados era eletiva e temporária; a de Senadores, vitalícia, sendo os seus membros nomeados pelo Imperador dentre uma lista tríplice enviada pela Província. Ou seja, as eleições para o Legislativo eram indiretas. • Sufrágio: censitário (baseava-se em determinadas condições econômico-financeiras). • Poder Executivo: a função executiva era exercida pela Imperador, chefe do Poder Executivo, por intermédio de seus Ministros de Estado. Houve uma época de parlamentarismo monárquico no Brasil durante o Segundo Reinado. • Poder Judiciário: era independente e composto de juízes e jurados. Os juízes aplicam a lei e os jurados se pronunciavam sobre os fatos. Aos juízes era assegurada a vitaliciedade, mas não a inamovibilidade. O órgão de cúpula do Judiciário era o Supremo Tribunal de Justiça. • Poder Moderador: servia para assegurar a estabilidade do trono no Imperador durante o reinado no Brasil. O Imperador, que exercia o Poder Moderador, no âmbito do Legislativo, nomeava os Senadores, convocada a Assembleia Geral extraordinariamente, sancionava e vetava proposições do Legislativo, dissolvia a Câmara dos Deputados, convocando imediatamente outra. No âmbito do Executivo, nomeava e demitia livremente os Ministros. E, por fim, no âmbito do Judiciário, suspendia os Magistrados. • Constituição semirrígida. 2.5.2. Constituição de 1891 A Assembleia Constituinte foi eleita em 1890. Em 24 de fevereiro de 1891, a primeira Constituição da República do Brasil (a segunda do constitucionalismo pátrio) é promulgada, sofrendo pequena reforma em 1926. Sofreu forte influência da Constituição norte-americana de 1787, consagrando o sistema de governo presidencialista, a forma de Estado federal, abandonando o unitarismo e a forma de governo republicana em substituição à monárquica. Características: DIREITO CONSTITUCIONAL META 01 29 • Forma de Governo e regime representativo: adotou, como forma de governo, sob o regime representativo, a República Federativa. Declarou a união perpétua e indissolúvel das antigas províncias, vedando, assim, a possibilidade de secessão. • O Brasil tornou-se um país laico ou não confessional. • Organização dos “Poderes”: o Poder Moderador foi extinto, adotando-se a teoria clássica de Montesquieu da tripartição dos Poderes. • Poder Legislativo: era exercido pelo Congresso Nacional, com a sanção do Presidente da República, composto por duas Casas: Câmara dos Deputados e o Senado Federal. Fixava- se, assim, o “bicameralismo federativo”.A Câmara dos Deputados era composta de representantes do povo eleitos pelos Estados e pelo Distrito Federal, mediante sufrágio direto, garantida a representação da minoria. Cada Deputado exercia mandato de 3 anos. Já o Senado Federal representava os Estados e o Distrito Federal, sendo eleitos 3 Senadores por Estado e 3 pelo Distrito Federal, eleitos do mesmo modo que os Deputados, para mandato de 9 anos, renovando-se o Senado pelo terço trienalmente (ou seja, 1 a cada 3 anos, já que o mandato era de 9 anos e junto com as eleições para Deputados, que tinham mandato de 3 anos). O Poder Legislativo também foi estabelecido em âmbito estadual. Alguns Estados, curiosamente, possuíam duas Casas, caracterizando-se, assim, a ideia de bicameralismo estadual. • Poder Executivo: exercido pelo Presidente da República dos Estados Unidos do Brasil, como chefe eletivo da Nação, era eleito junto com o Vice-Presidente por sufrágio direto, para mandato de 4 anos, não podendo ser reeleito para um período subsequente. • Poder Judiciário: o órgão máximo do Judiciário passou a chamar-se Supremo Tribunal Federal, composto por 15 “juízes. Estabeleceu-se a hipótese dos crimes de responsabilidade. • Constituição rígida. • Expressa previsão, pela primeira vez, do remédio constitucional do HABEAS CORPUS. • Reforma de 1926: houve centralização do poder, restringindo a autonomia dos Estados. 2.5.3. Constituição de 1934 DIREITO CONSTITUCIONAL META 01 30 A crise econômica de 1929, bem como os diversos movimentos sociais por melhores condições de trabalho influenciaram a promulgação do texto de 1934, abalando, assim, os ideais do liberalismo econômico e da democracia liberal da Constituição de 1891. Por isso é que a doutrina afirma, com tranquilidade, que o texto de 1934 sofreu forte influência da Constituição de Weimar da Alemanha de 1919, evidenciando, portanto, os direitos humanos de 2.ª geração ou dimensão e a perspectiva de um Estado social de direito (democracia social). Há influência, também, do fascismo, já que o texto estabeleceu, o que se verá abaixo, além do voto direto para a escolha dos Deputados, a modalidade indireta, por intermédio da chamada “representação classista” do Parlamento. Características: • Forma de Governo e regime representativo: mantém a República Federativa, sob o regime representativo. Os poderes da União foram aumentados. • Poder Legislativo: Bicameralismo desigual ou unicameralismo imperfeito – era exercido pela Câmara dos Deputados com a colaboração do Senado Federal, ou seja, o Senado era mero colaborador da Câmara. O mandato dos Deputados era de 4 anos. A Câmara dos Deputados compunha-se de representantes do povo, eleitos mediante sistema proporcional e sufrágio universal, igual e direto, e de representantes eleitos pelas organizações profissionais na forma que a lei indicasse (representação corporativa de influência fascista). Já em relação ao Senado Federal, nos termos do art. 41, § 3.º, a competência legislativa se reduzia às matérias relacionadas à Federação, como a iniciativa das leis sobre a intervenção federal e, em geral, das que interessassem determinadamente a um ou mais Estados. Conforme o art. 89, o Senado Federal era composto de dois representantes de cada Estado e o do Distrito Federal, eleitos mediante sufrágio universal, igual e direto, por 8 anos, dentre brasileiros natos, alistados eleitores e maiores de 35 anos, sendo que a representação de cada Estado e do Distrito Federal, no Senado, renovava-se pela metade, conjuntamente com a eleição da Câmara dos Deputados. • Poder Judiciário: foram estabelecidos como órgãos do Poder Judiciário: a) a Corte Suprema; b) os Juízes e Tribunais federais; c) os Juízes e Tribunais militares; d) os Juízes e Tribunais DIREITO CONSTITUCIONAL META 01 31 eleitorais, estabelecendo-se aos juízes as garantias da vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade de “vencimentos”. • Constituição rígida. • Houve a constitucionalização do voto feminino e do voto secreto. • Previsão, pela primeira vez, do MANDADO DE SEGURANÇA e da AÇÃO POPULAR. 2.5.4. Constituição de 1937 Apelidada de “Polaca” em razão da influência sofrida pela Constituição polonesa fascista de 1935. Além de fechar o Parlamento, o Governo manteve amplo domínio do Judiciário. Buscando atrair o apoio popular, a política desenvolvida foi denominada “populista”, consolidando as Leis do Trabalho (CLT) e importantes direitos sociais, como o salário mínimo. Características: • Forma de Governo: República. • Forma de Estado: Federação. As autonomias estaduais foram reduzidas. • Organização dos “Poderes”: a tripartição foi “formalmente” mantida. • Poder Legislativo: exercido pelo Parlamento Nacional com a colaboração do Conselho da Economia Nacional e do Presidente da República. O Parlamento Nacional era composto pela Câmara dos Deputados e pelo Conselho Federal (o Senado Federal deixou de existir durante o chamado Estado Novo). A Câmara dos Deputados seria composta por representantes do povo eleitos mediante sufrágio indireto para mandato de 4 anos, e o Conselho Federal seria composto de representantes dos Estados e 10 membros nomeados pelo Presidente da República, com duração do mandato de 6 anos. • Poder Executivo: o Presidente da República era autoridade suprema do Estado. A eleição INDIRETA foi estabelecida para a escolha do Presidente, que cumpriria mandato de 6 anos. • Poder Judiciário: eram órgãos do Poder Judiciário (art. 90): a) o Supremo Tribunal Federal; b) os Juízes e Tribunais dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios; c) os Juízes e Tribunais militares. A Justiça Eleitoral foi extinta e, conforme já visto, também os partidos DIREITO CONSTITUCIONAL META 01 32 políticos. • Não houve previsão de MS ou ação popular. • O direito de manifestação do pensamento foi restringido – havia previsão de censura prévia da imprensa, do teatro etc. • A pena de morte poderia ser aplicada para crimes políticos e nas hipóteses de homicídio por motivo fútil e com extremos de perversidade. • A greve e o lock-out foram proibidos. 2.5.5. Constituição de 1946 Tratava-se da redemocratização do país, repudiando-se o Estado totalitário que vigia desde 1930. O texto inspirou-se nas ideias liberais da CF de 1891 e nas ideias sociais da de 1934. Características: • Forma de Governo Republicana e Forma de Estado Federativa: prestigiam o municipalismo. • Organização dos “Poderes”: a teoria clássica da tripartição foi restabelecida. • Poder Legislativo: exercido pelo Congresso Nacional, composto pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal, reaparecendo o bicameralismo igual. A Câmara dos Deputados compunha-se de representantes do povo, eleitos, segundo o sistema de representação proporcional, pelos Estados, pelo Distrito Federal e pelos Territórios, para mandato de 4 anos. O Senado Federal, por sua vez, compunha-se de representantes dos Estados e do Distrito Federal, eleitos segundo o princípio majoritário e para mandato de 8 anos. Cada Estado, e bem assim o Distrito Federal, elegia 3 Senadores, renovando-se a representação de cada Estado e a do Distrito Federal de 4 em 4 anos, alternadamente, por 1 e por 2/3. As funções de Presidente do Senado eram exercidas pelo Vice- Presidente da República. • Poder Executivo: retomando a normalidade democrática, o Presidente da República deveria ser eleito de forma direta para mandato de 5 anos, junto com o vice. • Poder Judiciário: a situação de normalidade foi retomada. O Poder Judiciário era exercido DIREITO CONSTITUCIONAL META 01 33 pelos seguintes órgãos: a) Supremo Tribunal Federal; b) Tribunal Federal de Recursos; c) Juízes e Tribunais militares; d) Juízes e Tribunais eleitorais; e) Juízes e Tribunais do trabalho. • O MS e a Ação Popularforam restabelecidos. • Vedou-se a pena de morte, salvo em tempos de guerra; a de banimento; a de confisco; e da caráter perpétuo. • Foi reconhecido o direito de greve. • Instituição do Parlamentarismo: dualidade do Executivo, exercido pelo Presidente da República e pelo Conselho de Ministros. Feito o referendo, em 1963, o povo determinou o retorno imediato ao presidencialismo. 2.5.6. Constituição de 1967 Após o Golpe de 1964. Na mesma linha da Carta de 1937, a de 1967 concentrou, bruscamente, o poder no âmbito federal, esvaziando os Estados e Municípios e conferindo amplos poderes ao Presidente da República. Houve forte preocupação com a segurança nacional. Características: • Forma de Governo: República. • Forma de Estado: República Federativa (na prática se aproximava de um Estado unitário centralizado). • Poder Legislativo: era exercido pelo Congresso Nacional, composto pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal. Sistemática mantida, porém competência diminuída. • Poder Executivo: fortalecido, era eleito para mandato de 4 anos, de maneira indireta por sufrágio do Colégio Eleitoral, composto pelos membros do Congresso Nacional e de Delegados indicados pelas Assembleias Legislativas dos Estados, em sessão pública e mediante votação nominal. O Presidente da República legislava por decretos-leis. • Poder Judiciário: o Poder Judiciário da União era exercido pelos seguintes órgãos: Supremo Tribunal Federal; Tribunal Federal de Recursos e Juízes Federais; Tribunais e Juízes Militares; Tribunais e Juízes Eleitorais; Tribunais e Juízes do Trabalho. Havia previsão DIREITO CONSTITUCIONAL META 01 34 da Justiça Estadual. Em razão do centralismo, o Judiciário também teve a sua competência diminuída. • Possibilidade de suspensão de direitos políticos por 10 anos. • Sistema tributário: ampliação da técnica do federalismo cooperativo. • AI-5, de 13.12.1968: a) formalmente, foram mantidas a Constituição de 24.01.1967 e a Constituições Estaduais, com as modificações constantes do AI-5; b) o Presidente da República poderia decretar o recesso do Congresso Nacional, das Assembleias Legislativas e das Câmaras de Vereadores, por ato complementar em estado de sítio ou fora dele, só voltando a funcionar quando convocados seus membros pelo Presidente da República; c) o Presidente da República, no interesse nacional, poderia decretar a intervenção nos Estados e Municípios, sem as limitações previstas na Constituição; d) os direitos políticos de quaisquer cidadãos poderiam ser suspensos pelo prazo de 10 anos e cassados os mandatos eletivos federais, estaduais e municipais; e) ficaram suspensas as garantias constitucionais ou legais de vitaliciedade, inamovibilidade e estabilidade, bem como a de exercício em funções por prazo certo; f) o Presidente da República, em quaisquer dos casos previstos na Constituição, poderia decretar o estado de sítio e prorrogá-lo, fixando o respectivo prazo; g) o Presidente da República poderia, após investigação, decretar o confisco de bens de todos quantos tivessem enriquecido ilicitamente, no exercício do cargo ou função; h) suspendeu-se a garantia de habeas corpus, nos casos de crimes políticos, contra a segurança nacional, a ordem econômica e social e a economia popular (art. 10 do AI-5); i) finalmente, a triste previsão do art. 11 do AI-5: “excluem-se de qualquer apreciação judicial todos os atos praticados de acordo com este Ato Institucional e seus Atos Complementares, bem como os respectivos efeitos”. 2.5.7. “Constituição” de 1969 DIREITO CONSTITUCIONAL META 01 35 Com base no AI 12, de 31.08.1969, consagrou-se no Brasil um governo de “Juntas Militares”, uma vez que referido ato permitia que, enquanto Costa e Silva estivesse afastado por motivos de saúde, governassem os Ministros da Marinha de Guerra, do Exército e da Aeronáutica Militar. Nesse sentido, e com “suposto” fundamento, é que a EC n. 1/69 foi baixada pelos Militares, já que o Congresso Nacional estava fechado. Dado o seu caráter revolucionário, pode-se considerar a EC 1/69 como manifestação de um novo poder constituinte originário, outorgando uma nova Carta, que “constitucionalizava a utilização dos Atos Institucionais. O mandato do Presidente foi aumentado para 5 anos, continuando a eleição a ser indireta. Características: • “Milagre econômico”. • Pacote de Abril de 1977: dissolveu o Congresso Nacional. • Pacote de Junho de 1978: revogação total da AI-5. • Lei da Anistia: concedida anistia para todos que, no período compreendido entre 02.09.1961 a 15.08.1979 cometerem crimes políticos ou conexos, crimes eleitorais, aos que tiveram seus direitos políticos suspensos e aos servidores da Administração, do Legislativo e Judiciário, aos Militares e aos dirigentes e representantes sindicais. • Reforma Partidária: pluripartidarismo partidário. • EC 15/80: eleições diretas em âmbito estadual. • “Diretas Já”: proposta de eleição direta para Presidente e Vice. 2.5.8. Constituição de 1988 O pluripartidarismo foi ampliado. Foi erradicada a censura à imprensa. O sindicalismo e as centrais sindicais consolidaram-se. Solidificação da transição entre o antigo regime a “Nova República”. Características: DIREITO CONSTITUCIONAL META 01 36 • Plebiscito: 07.09.93 – manutenção da república constitucional e do sistema presidencialista de governo. • Poder constituinte derivado revisor – 5 anos contados da promulgação. • Constituição DEMOCRÁTICA e LIBERAL. • Forma de governo: República. • Sistema de Governo: presidencialista. • Forma de Estado: Federação. • Capital Federal: Brasília. • Organização dos “Poderes”: foi retomada a teoria clássica da tripartição. • Poder Legislativo: bicameral, exercido pelo Congresso Nacional, composto da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, a primeira composta de representantes do povo, eleitos pelo voto direto, secreto e universal e pelo sistema proporcional para mandato de 4 anos, e a segunda composta de representantes dos Estados-Membros e do Distrito Federal, para mandato de 8 anos (duas legislaturas), eleitos pelo sistema majoritário, sendo que a representação de cada Estado e do Distrito Federal será renovada de 4 em 4 anos, alternadamente, por 1 e 2/3. • Poder Executivo: exercido pelo Presidente da República, eleito junto com o Vice e auxiliado pelos Ministros de Estado. Atualmente, após a EC n. 16/97, como visto, o mandato é de 4 anos, permitindo-se uma única reeleição subsequente. O decreto-lei foi substituído pela medida provisória. • Poder Judiciário: são órgãos do Poder Judiciário: o Supremo Tribunal Federal; o Conselho Nacional de Justiça (EC n. 45/2004); o Superior Tribunal de Justiça; o Tribunal Superior do Trabalho (EC n. 92/2016); os Tribunais Regionais Federais e Juízes Federais; os Tribunais e Juízes do Trabalho; os Tribunais e Juízes Eleitorais; os Tribunais e Juízes Militares; os Tribunais e Juízes dos Estados e do Distrito Federal e Territórios. Em relação ao controle de constitucionalidade das leis, tema que será estudado, houve ampliação dos legitimados para a propositura da ADI. A CF/88 criou o Superior Tribunal de Justiça (STJ), Corte responsável pela uniformização da interpretação da lei federal em todo o Brasil, sendo órgão de convergência da Justiça comum. • Constituição rígida. • Direitos dos trabalhadores foram ampliados. DIREITO CONSTITUCIONAL META 01 37 • Surgimento do Mandado de Injunção e ADI por omissão. • Previsão da ADPF. • Previsão pela primeira vez do Mandado de segurança coletivo e HABEAS DATA. • Separação da Ordem Econômica e da Ordem Social. No concurso da PGE-AL (CESPE - 2021), o tema foi cobrado da seguinte forma: A respeito da teoria da constituição, julgue os itens seguintes. I A Constituição Federal de 1988 é oriunda deprocedimento de poder constituinte indireto. II A recepção das normas pré-constitucionais pela Constituição Federal de 1988 foi realizada de maneira expressa pelo Ato das Disposições Constitucionais Transitórias. III A Constituição Federal de 1937 ficou conhecida como Constituição Polaca. Assinale a opção correta. A) Apenas o item I está certo. B) Apenas o item II está certo. C) Apenas o item III está certo. D) Apenas os itens I e II estão certos. E) Apenas os itens I e III estão certos. A alternativa considerada correta foi a letra E. No concurso da PGE-RS (FUNDATEC - 2021), o tema foi cobrado da seguinte forma: Analise as assertivas abaixo: I. O federalismo brasileiro, dada a sua formação histórica, pode ser considerado um federalismo por desmembramento, com a criação de entes federados a partir de um estado unitário e a repartição de competências entre eles. II. A Constituição Federal de 1988 estabeleceu instrumentos de cooperação federativa, de forma que as transferências – financeiras e técnicas, por exemplo – entre os entes federados auxiliam na consecução das finalidades e objetivos constitucionais. III. O Art. 60 da Constituição de 1988, ao prever os procedimentos de emenda e alteração constitucional, com a fixação de cláusulas pétreas, demonstra que a atual Constituição brasileira pode ser caracterizada como semirrígida. IV. Tanto o Supremo Tribunal Federal, em jurisprudência pacificada, quanto a doutrina, com poucas exceções, não admitem função normativa ou argumentativa para o Preâmbulo da Constituição de 1988. DIREITO CONSTITUCIONAL META 01 38 Quais estão corretas? A) Apenas I e II. B) Apenas I e IV. C) Apenas I, II e III. D) Apenas I, III e IV. E) Apenas II, III e IV. A alternativa considerada correta foi a letra A. 2.6. Interpretação das normas Constitucionais 2.6.1. Hermenêutica x Interpretação Jurídica • Hermenêutica: É o domínio da ciência jurídica que se ocupa em formular e sistematizar os princípios que subsidiarão a interpretação; • Interpretação: Atividade prática que se dispõe a determinar o sentido e alcance dos enunciados normativos. Cumpre à interpretação construir a norma. Envolve duas atividades: o Desvendar/ construir o sentido do enunciado normativo; o Concretizar o enunciado. 2.6.2. Interpretação Jurídica x Interpretação Constitucional • A interpretação jurídica é gênero do qual a interpretação constitucional é espécie. • A interpretação constitucional tem por objeto a compreensão e aplicação das normas constitucionais, razão pela qual se serve de princípios próprios que lhe conferem especificidade e autonomia, sendo informada por métodos e princípios específicos e adequados ao seu objeto. • Enquanto as normas legais possuem um conteúdo material fechado, as normas constitucionais apresentam um conteúdo material aberto e fragmentado, circunstância que justifica e reivindica a existência de uma interpretação especificamente constitucional. • Além de superiores, as normas constitucionais normalmente veiculam conceitos abertos, vagos e indeterminados, que conferem ao intérprete um amplo espaço de conformação, DIREITO CONSTITUCIONAL META 01 39 não verificável entre as normas legais. • As normas constitucionais são ainda: o Normas de organização e estrutura; o Dotadas de forte carga política. 2.6.3. Correntes Norte-americanas: a) Corrente interpretativista: Nega qualquer possibilidade de o juiz, na interpretação constitucional, criar Direito, indo além do que o texto lhe permitir. O juiz deve apenas captar e declarar o sentido dos preceitos expressos no texto constitucional, sem se valer de valores substantivos, sob pena de se substituir as decisões políticas pelas judiciais. b) Corrente não-interpretativista: Defende um ativismo judicial na interpretação da Constituição, proclamando a possibilidade, e até a necessidade, de os juízes invocarem e aplicarem valores substantivos, como justiça, igualdade e liberdade. Assim, o juiz torna-se coparticipante do processo de criação do Direito, completando o trabalho do legislador, ao fazer valorações para conceitos jurídicos indeterminados e realizar escolhas entre as soluções possíveis e adequadas. 2.6.4. Métodos de interpretação Canotilho leciona que a questão do “método justo” em direito constitucional é um dos problemas mais controvertidos. Por isso, para ele, NÃO há apenas um método de interpretação constitucional, podendo-se afirmar que, atualmente, a interpretação das normas constitucionais obtém-se a partir de um conjunto de métodos distintos, porém complementares. a) Método jurídico ou hermenêutico cláSsico [SAVIGNY] Parte da consideração de que a Constituição é uma lei, de modo que a interpretação da Constituição não deixa de ser uma interpretação da lei. => TESE DA IDENTIDADE DA INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL E INTERPRETAÇÃO LEGAL. DIREITO CONSTITUCIONAL META 01 40 Com isso, para a interpretação da Constituição, deve o intérprete utilizar os elementos tradicionais ou clássicos da hermenêutica, que remontam à Escola Histórica do Direito de Savigny: • Elemento gramatical ou filológico: também chamado de literal ou semântico, a análise se realiza de modo textual e literal; • Elemento histórico: analise o projeto de lei, a sua justificativa, exposição de motivos, pareceres, discussões, as condições culturais e psicológicas que resultaram na elaboração da norma; • Elemento sistemático ou lógico: busca a análise do todo; • Elemento teleológico ou racional: busca a finalidade da norma; • Elementos genético: busca investigar as origens dos conceitos utilizados pelo legislador. • Elemento popular: a análise se implementa partindo da participação da massa, dos “corpos intermediários”, dos partidos políticos, sindicatos, valendo-se de instrumentos como o plebiscito, o referendo, o recall, o veto popular etc.; • Elemento doutrinário: parte da interpretação feita pela doutrina; • Elemento evolutivo: segue a linha da mutação constitucional. A doutrina, de modo geral, NÃO repele a interpretação de tal método jurídico. No entanto, por outro lado, a CF traz situações mais complexas cuja interpretação não se realiza com o emprego do método tradicional. O método jurídico, portanto, é insuficiente e não satisfaz, por si só, a interpretação constitucional. b) Método Tópico-problemático [THEODOR VIEHWEG] Theodor Viehweg – “Tópica e Jurisprudência”: Para o autor, a tópica seria uma técnica de pensar o problema, ou seja, uma técnica mental que se orienta para a solução do problema. O método segue as seguintes premissas: • Caráter Prático da interpretação: Toda a interpretação se destina a solucionar problemas práticos e concretos; • Caráter Aberto, Fragmentário ou indeterminado das normas constitucionais, em razão de DIREITO CONSTITUCIONAL META 01 41 sua estrutura normativo-material; • Preferência pela discussão do problema em razão da abertura das normas constitucionais que não permitem qualquer subsunção a partir delas próprias. Conclusão: A interpretação constitucional leva a um processo aberto de argumentação entre os vários partícipes ou intérpretes, para se adaptar a norma constitucional ao problema concreto para, só ao final, se identificar a norma adequada. Parte-se do problema para a norma. Para este método, deve a interpretação partir da discussão do problema concreto que se pretende resolver para, só ao final, se identificar a norma adequada. Parte-se do problema (caso concreto) para a norma, fazendo caminho inverso dos métodos tradicionais, que buscam a solução do caso a partir da norma. Canotilho critica esse método, ao fundamento de que a interpretação NÃO deve partir do problema para a norma, mas desta para os problemas. DICA: Para não esquecer o nome do criador dométodo na hora da prova, relacionar as iniciais: Theodor – Tópico. c) Método Hermenêutico-concretizador (Concretista) [HESSE] Parte da ideia de que a leitura de todo o texto e da Constituição deve se iniciar pela pré- compreensão do seu sentido através de uma atividade criativa do intérprete. Admite o primado da norma constitucional sobre o problema. O método considera a interpretação constitucional como uma atividade de concretização da Constituição, circunstância que permite ao intérprete determinar o próprio conteúdo material da norma. DIREITO CONSTITUCIONAL META 01 42 Afasta-se do método tópico-problemático porque a interpretação, para ele, está limitada e se inicia pelo texto, superando o problema da abertura e indeterminação dos enunciados normativos através da pré-compreensão do intérprete. Parte da ideia de que a leitura do texto, em geral, e da Constituição, deve se iniciar pela pré- compreensão do seu sentido através de uma atividade criativa do intérprete. Ao contrário do método tópico-problemático, que pressupõe o primado do problema sobre a norma, o método concretista admite o primado da norma constitucional sobre o problema. Essa pré-compreensão faz com que o intérprete, na primeira leitura do texto, extraia dele um determinado conteúdo, que deve ser comparado com a realidade existente. Desse confronto, resulta a reformulação, pelo intérprete, de sua própria pré-compreensão, no intuito de harmonizar os conceitos por ele preconcebidos àquilo que deflui do texto constitucional, com base na observação da realidade social Essa reformulação e consequente releitura do texto, cotejando cada novo conteúdo obtido com a realidade, deve repetir-se sucessivamente, até que se chegue à solução mais harmoniosa para o problema. Impõe-se, assim, um "movimento de ir e vir", do subjetivo para o objetivo e, deste, de volta para aquele -, denominado "círculo hermenêutico” (Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino). DICA: É possível, igualmente, relacionar as iniciais para não esquecer: Hesse – Hermenêutico. d) Método científico-eSpiritual [Rudolf Smend] A interpretação constitucional deve levar em consideração a compreensão da Constituição como uma ordem de valores e como elemento do processo de integração. Deve o intérprete levar em consideração o sistema de valores que é subjacente ao texto constitucional e à realidade da vida. Idealizado por Rudolf Smend, este método dispõe que a interpretação constitucional deve DIREITO CONSTITUCIONAL META 01 43 levar em consideração a compreensão da Constituição como uma ordem de valores e como elemento do processo de integração. Assim, a interpretação deve aprofundar-se na pesquisa do conteúdo axiológico subjacente ao texto, pois só o recurso à ordem de valores obriga a uma captação espiritual desse conteúdo axiológico último da Constituição. e) Método normativo-estruturante [FRIEDERICH MULLER] Parte da premissa de que existe uma relação necessária entre o texto e a realidade. Foi idealizado por Friederich Müller, que afirma que o texto é apenas a ponta do iceberg, não compreendendo a norma apenas o texto, mas também um pedaço da realidade social. É um método também concretista, diferenciando-se dele, porém, na medida em que a norma a ser concretizada não está inteiramente no texto, sendo o resultado entre este e a realidade. Diz-se método normativo estruturante ou concretista aquele em que o intérprete parte do direito positivo para chegar à estruturação da norma, muito mais complexa que o texto legal. Há influência da jurisprudência, doutrina, história, cultura e das decisões políticas. 2.6.5. Regras, princípios e postulados normativos As normas podem revelar-se sob a forma de princípios, regras ou postulados normativos. Normas e princípios NÃO guardam hierarquia entre si, especialmente diante do princípio da unidade da Constituição. Segundo Canotilho, os princípios são fundamento das regras, ou seja, são normas que estão na base ou constituem a ratio de regras jurídicas, desempenhando, por isso, uma função normogenética fundamentante. REGRAS PRINCÍPIOS Grau de abstração reduzido Grau de abstração elevado Suscetíveis de aplicação direta Carecem de mediações concretizadoras DIREITO CONSTITUCIONAL META 01 44 Podem ser normas vinculativas com conteúdo meramente funcional São standards juridicamente vinculantes radicados nas exigências de justiça ou na ideia de direito Relatos descritivos de condutas a partir dos quais, mediante subsunção, chega-se à conclusão. A previsão dos relatos dá-se de maneira mais abstrata, sem se determinar a conduta correta, já que cada caso concreto deverá ser analisado para que o intérprete dê o exato peso entre os princípios em choque São mandamentos ou mandados de definição: são sempre ou satisfeitas ou não satisfeitas (tudo ou nada) São mandados de otimização (Alexy): devem ser realizados na maior medida do possível. Podem ser satisfeitos em graus variados, a depender das possibilidades jurídicas. Uma das regras em conflito OU será afastada pelo princípio da especialidade, OU será declarada inválida. A colisão resolve-se pela ponderação ou balanceamento de princípios. Postulados normativos ou metanormas (normas de segundo grau): são normas sobre a aplicação de normas, ou seja, instituem critério de aplicação de outras normas situadas no plano do objeto da aplicação. Com o reconhecimento da força normativa da Constituição, a expansão da jurisdição constitucional e o pós-positivismo, houve o deslocamento da Constituição para todos os demais ramos do direito, dando origem a uma FILTRAGEM CONSTITUCIONAL. Os postulados são denominados pela maioria da doutrina, como princípios, mas não têm a mesma função dos princípios. São normas de segundo grau utilizadas para se interpretar os princípios e regras constitucionais (normas de primeiro grau). Podem ser: • Inespecíficos: ponderação, concordância prática e proibição de excesso; ou • Específicos: igualdade, razoabilidade e proporcionalidade. DIREITO CONSTITUCIONAL META 01 45 OBSERVAÇÃO: DERROTABILIDADE (Superabilidade das regras/Defeasibility) – Humberto Ávila propõe algumas condições necessárias: • requisitos materiais (ou de conteúdo): a superação da regra pelo caso individual não pode prejudicar a concretização dos valores inerentes à regra. E explica o autor: “... há casos em que a decisão individualizada, ainda que incompatível com a hipótese da regra geral, não prejudica nem a promoção da finalidade subjacente à regra, nem a segurança jurídica que suporta as regras, em virtude da pouca probabilidade de reaparecimento frequente de situação similar, por dificuldade de ocorrência ou comprovação”; • requisitos procedimentais (ou de forma): a superação de uma regra deve ter a) justificativa condizente — devendo haver a “... demonstração de incompatibilidade entre a hipótese da regra e sua finalidade subjacente. 2.6.6. Princípios de interpretação Constitucional a) UNIDADE DA CONSTITUIÇÃO A Constituição é una e indivisível. Por isso, deve ser interpretada como um todo, de modo a evitar conflitos, contradições e antagonismos entre suas normas. Em decorrência, não há hierarquia entre normas constitucionais e não há normas constitucionais originárias inconstitucionais. É usado no conflito ABSTRATO de normas constitucionais. b) CONCORDÂNCIA PRÁTICA OU HARMONIZAÇÃO No caso de aparente conflito entre normas constitucionais, devem ser harmonizadas ao caso concreto, respeitando ambas. Não pode haver sacrifício total de um em relação ao outro, faz uma redução proporcional (sem supressão), para harmonizá-los. Há uma ponderação de interesses, já que não há diferença de hierarquia ou de valor entre os bens constitucionais. E sóNO CASO DIREITO CONSTITUCIONAL META 01 46 CONCRETO é que podemos dizer qual prevalece, já que não há hierarquia entre normas constitucionais (unidade da Constituição). c) EFEITO INTEGRADOR O intérprete deve preferir a interpretação que gera mais paz social, reforço da unidade política, integração da sociedade (soluções pluralisticamente integradoras). d) MÁXIMA EFETIVIDADE Deve preferir a interpretação que dê mais eficácia e aplicabilidade aos direitos fundamentais, no sentido de ter a mais ampla efetividade social. e) FORÇA NORMATIVA Na aplicação da Constituição, deve ser dada preferência às soluções concretizadoras de suas normas, que as tornem mais eficazes e permanentes. A principal função desse princípio tem sido para afastar interpretações divergentes. Segundo o STF, quando se tem interpretações divergentes sobre a Constituição, estas enfraquecem a sua força normativa. OBSERVAÇÃO: O Princípio da Força Normativa serve para todas as normas constitucionais; já o da Máxima Efetividade, serve especificamente para os direitos fundamentais. f) JUSTEZA OU CONFORMIDADE FUNCIONAL (exatidão ou correção funcional): Tem por finalidade impedir que os órgãos encarregados da interpretação constitucional cheguem a um resultado que subverta ou pertube o esquema organizatório-funcional estabelecido pela Constituição. É um princípio de competência constitucional. DIREITO CONSTITUCIONAL META 01 47 No concurso da PGM São José do Rio Preto - SP (FUNDATEC - 2019), o tema foi cobrado da seguinte forma: “O intérprete não pode chegar a um resultado que subverta ou perturbe o esquema organizatório-funcional estabelecido pelo constituinte. Assim, a aplicação das normas constitucionais propostas pelo intérprete não pode implicar alteração na estrutura de repartição de poderes e exercício das competências constitucionais estabelecidas pelo constituinte originário”. Esse aspecto de interpretação das normas constitucionais diz respeito ao princípio A) da harmonização. B) da justeza. C) da força normativa da Constituição. D) do efeito integrador. E) do normativo-estruturante. A alternativa considerada correta foi a letra B. g) PRINCÍPIO DA RELATIVIDADE OU CONVENIÊNCIA DAS LIBERDADES PÚBLICAS Não existem direitos absolutos, pois todos encontram limites em outros direitos ou em interesses coletivos também consagrados na Constituição. De acordo com Bobbio, teriam caráter absoluto o direito a não ser torturado e o direito a não ser escravizado. h) INTERPRETAÇÃO CONFORME A CF No caso de normas plurissignificativas (vários significados) ou polissêmicas, deve-se preferir aquela que mais se aproxime da Constituição. A interpretação conforme encontra limites no sentido inequívoco do dispositivo legal, não sendo permitido ao intérprete contrariá-lo, assim como no fim supostamente contemplado pelo legislador, cuja vontade não poderia ser substituída pela do juiz. No entanto, Marcelo Novelino (2017, p. 216) afirma que esses parâmetros não têm sido observados pelo STF, como ficou evidenciado na decisão que estendeu às uniões homoafetivas contínuas, públicas e duradouras os direitos e deveres referentes às uniões estáveis entre homens e mulheres (ADPF 132/RJ). DIREITO CONSTITUCIONAL META 01 48 Segundo Marcelo Novelino (2017, p. 216), a interpretação conforme a constituição tem sido empregada com dois sentidos distintos: I- Como princípio interpretativo: “O princípio da interpretação conforme a constituição é corolário da supremacia constitucional e da presunção de constitucionalidade. O reconhecimento definitivo de sua força normativa e o seu deslocamento para o centro do sistema jurídico, conferiram à constituição uma posição de destaque na interpretação dos demais ramos do direito, cujos dispositivos devem ser compreendidos à luz da constituição, de modo a realizar, através da chamada 'filtragem constitucional', os valores nela consagrados. Por outro lado, se as leis e atos normativos têm como fundamento de validade a constituição e se os poderes competentes para elaborá-los retiram sua competência desta, deve-se presumir que agiram em conformidade com os preceitos constitucionais. Esta presunção, indispensável para segurar a imperatividade das normas jurídicas, é reforçada pelo controle preventivo de constitucionalidade realizado pelo Legislativo e Executivo, poderes cujos membros foram democraticamente eleitos para concretizar os comandos constitucionais. Considerando que a dúvida milita a favor da manutenção da lei, quando da interpretação de dispositivos infraconstitucionais polissêmicos ou plurissignificativos, deve-se optar pelo sentido compatível, e não conflitante com a constituição” (NOVELINO, 2017, p. 216); II- Como técnica de decisão judicial: “A interpretação conforme, como técnica de decisão judicial, costuma ser utilizada em três sentidos diversos. No primeiro, o ato impugnado é considerado constitucional, desde que interpretado no sentido fixado pelo órgão jurisdicional. No segundo, exclui- se uma das possíveis interpretações do dispositivo, por ser incompatível com a constituição. Nesse sentido, a interpretação conforme equivale à declaração parcial de nulidade sem redução de texto. Por fim, a DIREITO CONSTITUCIONAL META 01 49 interpretação conforme pode ser utilizada para afastar a aplicação de uma norma válida a determinada hipótese de incidência possível. Em vez de uma da da interpretação ser considerada inconstitucional, ocorre a declaração de não incidência da norma em relação a uma específica situação de fato. Nesse caso, embora a norma seja considerada constitucional, sua aplicação ao caso concreto é afastada (inconstitucionalidade em concreto) ante as circunstâncias fáticas específicas” (NOVELINO, 2017, p. 217). i) PROPORCIONALIDADE OU RAZOABILIDADE Significa justiça, bom senso, moderação. É para evitar interpretações absurdas, podendo ser dividida em três subprincípios: • Adequação: os meios usados têm que ser aptos a atingir os fins. Aptidão entre meio e fim. • Necessidade: o meio deve ser o menos gravoso possível. Jellinek: não se pode abater pardais com canhões. • Proporcionalidade em sentido estrito: ponderação entre o custo e o benefício da medida. Para ser proporcional, a medida tem que trazer mais benefícios do que custos. 2.6.7. Técnicas de interpretação Constitucional O movimento doutrinário chamado de moderna hermenêutica constitucional diz que toda a tarefa de interpretação da CF deve estar voltada para um único objetivo: concretizar os direitos fundamentais. Dentre essas modernas técnicas, estão previstas: a) Declaração de inconstitucionalidade sem pronúncia de nulidade O Tribunal reconhece a inconstitucionalidade da norma, porém NÃO a tira do ordenamento jurídico, com a justificativa de que a sua ausência geraria mais danos do que a presença da lei inconstitucional. É possível, também, que se opere a suspensão de aplicação da lei e dos processos em curso até que o legislador, dentro de prazo razoável, venha a se manifestar sobre a situação DIREITO CONSTITUCIONAL META 01 50 inconstitucional; b) Declaração de inconstitucionalidade com apelo ao legislador Nessa técnica de interpretação, "busca-se não declarar a inconstitucionalidade da norma sem antes fazer um apelo vinculado a "diretivas" para obter do legislador uma atividade subsequente que torne a regra inconstitucional harmônica com a Carta Maior. Incumbe-se ao legislador a difícil tarefa de regular determinada matéria, de acordo com o que preceitua a própria Constituição." A técnica possui relevância no caso da ação de inconstitucionalidade por omissão, em que o Tribunal limita-se a constatar a inconstitucionalidade da omissão, exortando o legislador a abandonaro seu estado de inércia, possuindo a decisão um cunho mandamental. c) Interpretação conforme a Constituição O órgão jurisdicional declara qual das possíveis interpretações se mostra compatível com a Lei Maior. É princípio que se situa no âmbito do controle de constitucionalidade, e não simples regra de interpretação. INTERPRETAÇÃO CONFORME A CONSTITUIÇÃO DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE PARCIAL SEM REDUÇÃO DE TEXTO ADI é julgada parcialmente procedente ADI é julgada parcialmente procedente Técnica de interpretação Técnica de aplicação (Lei “i” NÃO se aplica à hipótese “H”) É imprescindível que haja mais de uma interpretação possível (André Ramos Tavares: “O Tribunal NÃO declara que todas as demais Expressa exclusão, por inconstitucionalidade, de determinada hipótese de aplicação sem alteração do texto legal. É mais incisiva do que a DIREITO CONSTITUCIONAL META 01 51 interpretações são inconstitucionais”) interpretação conforme. 2.7. Teoria dos Poderes Implícitos Conforme anotou o Ministro Celso de Mello, em interessante julgado, a teoria dos poderes implícitos decorre de doutrina que, tendo como precedente o célebre caso McCULLOCH v. MARYLAND (1819), da Suprema Corte dos Estados Unidos, estabelece: “... a outorga de competência expressa a determinado órgão estatal importa em deferimento implícito, a esse mesmo órgão, dos meios necessários à integral realização dos fins que lhe foram atribuídos” (MS 26.547-MC/DF, Rel. Min. Celso de Mello, j. 23.05.2007, DJ de 29.05.2007). Em um primeiro caso, o STF reconhece o poder implícito de concessão de medidas cautelares pelo TCU no exercício de suas atribuições explicitamente fixadas no art. 71 da CF/88 (MS 26.547- MC/DF). Em outro precedente, o STF admite a possibilidade de o TJ estadual conhecer e julgar reclamação para a preservação de sua competência e a autoridade de suas decisões. (ADI 2.212) 2.8. Estrutura Da Constituição Estruturalmente, a CF/88 contém um preâmbulo, nove títulos (corpo) e o Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT). 2.8.1. Preâmbulo Natureza jurídica: Tese da irrelevância jurídica prevalece - o Ministro Carlos Velloso, Relator da ADI 2.076, após interessante estudo, conclui que “o preâmbulo ... não se situa no âmbito do Direito, mas no domínio da política, refletindo posição ideológica do constituinte (...). Não contém o preâmbulo, portanto, relevância jurídica. O preâmbulo não constitui norma central da Constituição, de reprodução obrigatória na Constituição do Estado-membro. O que acontece é DIREITO CONSTITUCIONAL META 01 52 que o preâmbulo contém, de regra, proclamação ou exortação no sentido dos princípios inscritos na Carta (...). Esses princípios sim, inscritos na Constituição, constituem normas centrais de reprodução obrigatória, ou que não pode a Constituição do Estado-membro dispor de forma contrária, dado que, reproduzidos, ou não, na Constituição estadual, incidirão na ordem local...”. Assim, NÃO é norma de reprodução obrigatória nos Estados, nem pode servir como parâmetro para o controle de constitucionalidade. A invocação de Deus no preâmbulo não é norma de reprodução obrigatória nas Constituições Estaduais e leis orgânicas do DF e Municípios. Referida previsão não enfraquece a laicidade do Estado Brasileiro (STF) - Estado laico não significa Estado ateu. O preâmbulo NÃO tem relevância jurídica, NÃO tem força normativa, NÃO cria direitos ou obrigações, NÃO tem força obrigatória, servindo apenas como norte interpretativo das normas constitucionais. 2.8.2. Ato das Disposições Constitucionais Transitórias Finalidade: estabelecer regras de transição entre o antigo ordenamento jurídico e o novo, instituído pela manifestação do poder constituinte originário, providenciando a acomodação e a transição do antigo e do novo direito edificado. O ADCT possui normas exauridas (arts. 1º, 4º, §4º, 15), normas dependentes de legislação e de execução (arts. 10, § 1º, 12, § 1º etc.), normas dotadas de duração temporária expressa (art. 40, por ex.), dentre outras. Natureza jurídica das disposições do ADCT: natureza jurídica de norma constitucional – a alteração das normas do ADCT ou o acréscimo de novas regras dependerão da manifestação do poder constituinte derivado reformador, ou seja, necessariamente por meio de emendas constitucionais. Em razão de sua natureza, servirão de parâmetro ou paradigma de confronto para a análise da constitucionalidade dos demais atos normativos. Referências Bibliográficas: Pedro Lenza. Direito Constitucional Esquematizado. Marcelo Novelino. Curso de Direito Constitucional. DIREITO CONSTITUCIONAL META 01 53 Dirley da Cunha Junior. Curso de Direito Constitucional. QUESTÕES PROPOSTAS 01 – 2017 – FCC - DPE-SC - Defensor Público No âmbito da interpretação constitucional, considere: I. Os postulados normativos não se confundem com os princípios e as regras, sendo qualificados como metanormas ou normas de segundo grau voltadas a estabelecer critérios para a aplicação de outras normas. II. A mutação constitucional caracteriza-se, entre outros aspectos, pela alteração do significado de determinada norma da Constituição sem que tenha ocorrido qualquer modificação do seu texto. III. O princípio da concordância prática objetiva, diante da hipótese de colisão entre direitos fundamentais, impedir o sacrifício total de um em relação ao outro, estabelecendo limites à restrição imposta ao direito fundamental subjugado, por meio, por exemplo, da proteção do núcleo essencial. IV. O princípio da unidade da Constituição determina que a norma constitucional deva ser interpretada à luz de todo o sistema constitucional vigente, ou seja, na sua globalidade e de forma sistemática. Está correto o que se afirma em a) III e IV, apenas. b) I, II, III e IV. c) I, II e III, apenas. d) II, III e IV, apenas. e) II e IV, apenas. COMENTÁRIOS I – Segundo Ávila, a interpretação e a aplicação de princípios e regras dar-se-ão com base nos postulados normativos inespecíficos, quais sejam, a ponderação (atribuindo-se pesos), a concordância prática e a proibição de excesso (garantindo a manutenção de um mínimo de eficácia dos direitos fundamentais), e específicos, destacando-se o postulado da igualdade, o da razoabilidade e o da proporcionalidade. II – Barroso, por sua vez, afirma que “... a mutação constitucional consiste em uma alteração do significado de determinada norma da Constituição, sem observância do mecanismo constitucionalmente previsto para as emendas e, além disso, sem que tenha havido qualquer modificação de seu texto. Esse novo sentido ou alcance do mandamento constitucional pode DIREITO CONSTITUCIONAL META 01 54 decorrer de uma mudança na realidade fática ou de uma nova percepção do Direito, uma releitura do que deve ser considerado ético ou justo. Para que seja legítima, a mutação precisa ter lastro democrático, isto é, deve corresponder a uma demanda social efetiva por parte da coletividade, estando respaldada, portanto, pela soberania popular”. III – Princípio da concordância prática ou harmonização - Partindo da ideia de unidade da Constituição, os bens jurídicos constitucionalizados deverão coexistir de forma harmônica na hipótese de eventual conflito ou concorrência entre eles, buscando, assim, evitar o sacrifício (total) de um princípio em relação a outro em choque. O fundamento da ideia de concordância decorre da inexistência de hierarquia entre os princípios. IV – Princípio da unidade da Constituição - A Constituição deve ser sempre interpretada em sua globalidade, como um todo, e, assim, as aparentes antinomias deverão ser afastadas. As normas deverão ser vistas como preceitos integrados em um sistema unitário de regras e princípios. Fonte: Pedro Lenza LETRA B 02 – 2017 – FCC- DPE-SC - Defensor Público No julgamento histórico da ADI 4.277 e da ADPF 132, o Supremo Tribunal Federal reconheceu como constitucional a união está- vel entre pessoas do mesmo sexo. A respeito do tema, considere: I. O Supremo Tribunal Federal conferiu interpretação conforme à Constituição para excluir qualquer significado do artigo 1.723 do Código Civil que impossibilite o reconhecimento da união entre pessoas do mesmo sexo como entidade familiar. II. O Supremo Tribunal Federal reconheceu, na decisão em questão, a eficácia contramajoritária inerente aos direitos fundamentais. III. O fundamento jurídico central que conduziu o julgamento diz respeito à adoção de ações estatais de natureza afirmativa. IV. Além do princípio da dignidade da pessoa humana, também serviram de fundamento jurídico para a decisão adotada o direito à intimidade, o direito à igualdade e o direito a não discriminação. Está correto o que se afirma APENAS em a) III e IV. b) IV. c) I, II e III. d) I, II e IV. e) II e IV. DIREITO CONSTITUCIONAL META 01 55 COMENTÁRIOS I – No mérito, prevaleceu o voto proferido pelo Min. Ayres Britto, relator, que dava interpretação conforme a Constituição ao art. 1.723 do CC para dele excluir qualquer significado que impeça o reconhecimento da união contínua, pública e duradoura entre pessoas do mesmo sexo como entidade familiar, entendida esta como sinônimo perfeito de família. Asseverou que esse reconhecimento deveria ser feito segundo as mesmas regras e com idênticas consequências da união estável heteroafetiva. De início, enfatizou que a Constituição proibiria, de modo expresso, o preconceito em razão do sexo ou da natural diferença entre a mulher e o homem. II – No mais, ressalto o caráter tipicamente contramajoritário dos direitos fundamentais. De nada serviria a positivação de direitos na Constituição, se eles fossem lidos em conformidade com a opinião pública dominante. (...) A função contramajoritária do Supremo Tribunal Federal no Estado democrático de direito: a proteção das minorias analisada na perspectiva de uma concepção material de democracia constitucional (...) pôs-se em relevo a função contramajoritária do Poder Judiciário no Estado Democrático de Direito, considerada a circunstância de que as pessoas que mantêm relações homoafetivas representam “parcela minoritária (...) da população”, como esclarecem dados que a Fundação IBGE coligiu no Censo/2010 e que registram a existência declarada, em nosso país, de 60.000 casais homossexuais. III – “...O desrespeito à Constituição tanto pode ocorrer mediante ação estatal quanto mediante inércia governamental. A situação de inconstitucionalidade pode derivar de um comportamento ativo do Poder Público, que age ou edita normas em desacordo com o que dispõe a Constituição, ofendendo-lhe, assim, os preceitos e os princípios que nela se acham consignados. Essa conduta estatal, que importa em um ‘facere’ (atuação positiva), gera a inconstitucionalidade por ação. Se o Estado deixar de adotar as medidas necessárias à realização concreta dos preceitos da Constituição, em ordem a torná-los efetivos, operantes e exequíveis, abstendo-se, em consequência, de cumprir o dever de prestação que a Constituição lhe impôs, incidirá em violação negativa do texto constitucional. Desse ‘non facere’ ou ‘non praestare’, resultará a inconstitucionalidade por omissão, que pode ser total, quando é nenhuma a providência adotada, ou parcial, quando é insuficiente a medida efetivada pelo Poder Público. (...)” IV – “…tomando em consideração outros princípios da Constituição, como o princípio da dignidade, o princípio da igualdade, o princípio específico da não discriminação e outros, é lícito conceber, na interpretação de todas essas normas constitucionais, que, além daquelas explicitamente catalogadas na Constituição, haja outras entidades que podem ser tidas DIREITO CONSTITUCIONAL META 01 56 normativamente como familiares, tal como se dá no caso…” Fonte: ADI 4.277 e ADPF 132 LETRA D 03 – 2017 – VUNESP - TJ-SP - Juiz de Direito Leia o texto a seguir. “(…) arranca da ideia de que a leitura de um texto normativo se inicia pela pré-compreensão do seu sentido através do intérprete. A interpretação da constituição também não foge a esse processo: é uma compreensão de sentido, um preenchimento de sentido juridicamente criador, em que o intérprete efectua uma atividade prático normativa, concretizando a norma a partir de uma situação histórica concreta. No fundo esse método vem realçar e iluminar vários pressupostos da atividade interpretativa: (1) os pressupostos subjetivos, dado que o intérprete desempenha um papel criador (pré-compreensão) na tarefa de obtenção de sentido do texto constitucional: (2) os pressupostos objectivos, isto é, o contexto, actuando o intérprete como operador de mediações entre o texto e a situação a que se aplica: (3) relação entre o texto e o contexto com a mediação criadora do intérprete, transformando a interpretação em ‘movimento de ir e vir’ (círculo hermenêutico). (…) se orienta não por um pensamento axiomático mas para um pensamento problematicamente orientado.” Da leitura do texto do constitucionalista J.J. Gomes Canotilho, conclui-se que o autor se refere a que método de interpretação constitucional? a) Método tópico-problemático-concretizador. b) Método científico-espiritual. c) Método tópico-problemático. d) Método hermenêutico-concretizador. COMENTÁRIOS Método científico-espiritual - A análise da norma constitucional não se fixa na literalidade da norma, mas parte da realidade social e dos valores subjacentes do texto da Constituição. Assim, a Constituição deve ser interpretada como algo dinâmico e que se renova constantemente, no compasso das modificações da vida em sociedade. Sustenta Inocêncio Mártires Coelho que, segundo o método científico-espiritual, “... tanto o direito quanto o Estado e a Constituição são vistos como fenômenos culturais ou fatos referidos a valores, a cuja realização eles servem de instrumento”. Método tópico-problemático (ou método da tópica) - Por meio desse método, parte-se de um problema concreto para a norma, atribuindo-se à interpretação um caráter prático na busca da solução dos problemas concretizados. DIREITO CONSTITUCIONAL META 01 57 A Constituição é, assim, um sistema aberto de regras e princípios. Método hermenêutico-concretizador - Diferentemente do método tópico-problemático, que parte do caso concreto para a norma, o método hermenêutico-concretizador parte da Constituição para o problema, destacando-se os seguintes pressupostos interpretativos: ■ pressupostos subjetivos: o intérprete vale-se de suas pré-compreensões sobre o tema para obter o sentido da norma; ■ pressupostos objetivos: o intérprete atua como mediador entre a norma e a situação concreta, tendo como “pano de fundo” a realidade social; ■ círculo hermenêutico: é o “movimento de ir e vir” do subjetivo para o objetivo, até que o intérprete chegue a uma compreensão da norma. Fonte: Pedro Lenza LETRA D 04 – 2017 – CESPE - Prefeitura de Belo Horizonte – MG - Procurador Municipal O STF declarou a inconstitucionalidade da interpretação da norma que proíbe a realização de aborto na hipótese de gravidez de feto anencefálico, diante da omissão de dispositivos penais quanto àquela situação. Essa decisão visou garantir a compatibilidade da lei com os princípios e direitos fundamentais previstos na CF. De acordo com a doutrina pertinente, nesse caso, o julgamento do STF constituiu sentença ou decisão a) interpretativa de aceitação. b) aditiva. c) substitutiva. d) interpretativa de rechaço. COMENTÁRIOS A – Por sua vez, nas sentenças interpretativas de aceitação, a Corte Constitucional anula decisão tomada pela magistratura comum (instâncias ordinárias), que adotou interpretações ofensivas à Constituição. Não se “... anula o dispositivo malinterpretado, mas apenas uma das suas interpretações, dizendo que esse preceito é inconstitucional se interpretado de modo contrário à Constituição ou na parte em que expressa uma norma inconstitucional. Também nesse caso, prossegue Guastini, o preceito questionado continua válido, mas a norma extraída da sua interpretação inconstitucional é anulada em caráter definitivo e com eficácia erga omnes”. DIREITO CONSTITUCIONAL META 01 58 B – Sentenças aditivas (ou sentenças manipulativas de efeito aditivo). Declaração de inconstitucionalidade com efeito acumulativo ou aditivo - No entendimento de Mendes, pela sentença aditiva (ou “manipulativa de efeito aditivo”), “... a Corte Constitucional declara inconstitucional certo dispositivo legal não pelo que expressa, mas pelo que omite, alargando o texto da lei ou seu âmbito de incidência”. A sentença aditiva pode ser justificada, por exemplo, em razão da não observância do princípio da isonomia, notadamente nas situações em que a lei concede certo benefício ou tratamento a determinadas pessoas, mas exclui outras que se enquadrariam na mesma situação. Nessas hipóteses, o Tribunal Constitucional declara inconstitucional a norma na parte em que trata desigualmente os iguais, sem qualquer razoabilidade e/ou nexo de causalidade. Assim, a decisão se mostra aditiva, já que a Corte, ao decidir, “cria uma norma autônoma”, estendendo aos excluídos o benefício. Estamos em face daquilo que Canotilho denominou declaração de inconstitucionalidade com efeito acumulativo (aditivo), na medida em que a sentença do Tribunal “alarga o âmbito normativo de um preceito, declarando inconstitucional a disposição na ‘parte em que não prevê’, contempla uma ‘exceção’ ou impõe uma ‘condição’ a certas situações que deveria prever (sentenças aditivas)”. As sentenças aditivas já são realidades na Suprema Corte brasileira, destacando-se os seguintes julgados, conforme anotou Mendes: ■ ADPF 54 — antecipação terapêutica do parto em casos de gravidez de feto anencefálico: como destacamos no item 14.10.1.3, o STF, em 12.04.2012, por maioria, ao julgar a ação ajuizada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Saúde — CNTS, produziu decisão manipulativa com eficácia aditiva, atuando como legislador positivo, já que, ao dar interpretação conforme a Constituição aos arts. 124 a 128 do CP, acrescentou mais uma excludente de punibilidade ao crime de aborto. C – Sentenças substitutivas (declaração de inconstitucionalidade com efeito substitutivo) - Na lição de Branco, ao editar sentenças substitutivas, “... a Corte declara a inconstitucionalidade de um preceito na parte em que expressa certa norma em lugar de outras, substancialmente distinta, que dele deveria constar para que fosse compatível com a Constituição. Atuando dessa forma, a Corte não apenas anula a norma impugnada, como também a substitui por outra, essencialmente diferente, criada pelo próprio tribunal, o que implica a produção heterônoma de atos legislativos ou de um direito judicial, como o denomina Prieto Sanchís, para quem tais normas já nascem enfermas porque desprovidas de fundamento democrático. Apesar dessa ressalva, esse mesmo jurista pondera que, embora os juízes não ostentem uma legitimidade de origem, de que desfruta o Parlamento por força de eleições periódicas, é de se reconhecer à magistratura uma legitimidade de exercício, de DIREITO CONSTITUCIONAL META 01 59 resto passível de controle pela crítica do seu comportamento”. D – Sentença interpretativa de rechaço - Diante de duas possíveis interpretações que determinado ato normativo possa ter, por meio das sentenças interpretativas de rechaço, a Corte Constitucional adota aquela que se conforma à Constituição, repudiando qualquer outra que contrarie o texto constitucional. Assim, o enunciado “permanece válido, mas só poderá ser interpretado de maneira conforme à Constituição, o que significa dizer que, implicitamente, e sob pena de vir a considerá-la nula, a Corte proíbe que se dê ao citado dispositivo interpretação contrária à Constituição”. Fonte: Pedro Lenza LETRA D 05 - 2014 - CESPE - TJ-DFT - Juiz de direito No que se refere à aplicabilidade e à interpretação das normas constitucionais, assinale a opção correta. a) Conforme o método de interpretação denominado científico- espiritual, a análise da norma constitucional deve-se fixar na literalidade da norma, de modo a extrair seu sentido sem que se leve em consideração a realidade social. b) As denominadas normas constitucionais de eficácia plena não necessitam de providência ulterior para sua aplicação, a exemplo do disposto no art. 37, I, da CF, que prevê o acesso a cargos, empregos e funções públicas a brasileiros e estrangeiros. c) O dispositivo constitucional que assegura a gratuidade nos transportes coletivos urbanos aos maiores de sessenta e cinco anos não configura norma de eficácia plena e aplicabilidade imediata, pois demanda uma lei integrativa infraconstitucional para produzir efeitos. d) A norma constitucional de eficácia contida é aquela que, embora tenha aplicabilidade direta e imediata, pode ter sua abrangência reduzida pela norma infraconstitucional, como ocorre com o artigo da CF que confere aos estados a competência para a instituição de regiões metropolitanas. e) Conforme o método jurídico ou hermenêutico clássico, a Constituição deve ser considerada como uma lei e, em decorrência, todos os métodos tradicionais de hermenêutica devem ser utilizados na atividade interpretativa, mediante a utilização de vários elementos de exegese, tais como o filológico, o histórico, o lógico e o teleológico. COMENTÁRIOS A – O método científico-espiritual Este método baseia-se na premissa de que o intérprete deve levar em conta os valores subjacentes ao texto constitucional, integrando o sentido de suas normas a partir da "captação espiritual" da realidade da comunidade. Adota-se a ideia de que a interpretação visa não tanto a DIREITO CONSTITUCIONAL META 01 60 dar resposta ao sentido dos conceitos do texto constitucional, mas fundamentalmente a compreender o sentido e a realidade da Constituição, em sua articulação com a integração espiritual real da comunidade. Direito Constitucional descomplicado I Vicente Paulo, Marcelo Alexandrino. - 16. ed. rev., atual. e ampl. - Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2017. B – CF/88 - Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) I - os cargos, empregos e funções públicas são acessíveis aos brasileiros que preencham os requisitos estabelecidos em lei, assim como aos estrangeiros, na forma da lei; Estabelece a Constituição Federal que "os cargos, empregos e funções públicas são acessíveis aos brasileiros que preencham os requisitos estabelecidos em lei, assim como aos estrangeiros, na forma da lei" (art. 37, 1). Portanto, para os brasileiros, natos ou naturalizados, poderem ter acesso aos cargos, empregos e funções públicas, basta atenderem os requisitos previstos em lei. Se for um cargo efetivo ou um emprego público, será ainda necessária a prévia aprovação em concurso público. Não há essa exigência para o preenchimento de cargos em comissão e de funções de confiança. Na contratação temporária, prevista no inciso IX do art. 37 da Constituição, há, em regra, um processo seletivo simplificado entre os interessados que satisfaçam as condições legais. A situação dos estrangeiros é diferente. O acesso deles aos cargos, em- pregos e funções públicas deve ocorrer "na forma da lei'', significa dizer, os estrangeiros somente poderão ter acesso aos cargos, empregos e funções públicas se houver prévia lei que autorize e estabeleça a forma de ingresso.Temos, portanto, uma norma constitucional de eficácia limitada (na tradicional classificação do Prof. José Afonso da Silva). Direito Constitucional descomplicado I Vicente Paulo, Marcelo Alexandrino. - 16. ed. rev., atual. e ampl. - Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2017. C - Art. 230. A família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida. § 1º - Os programas de amparo aos idosos serão executados preferencialmente em seus lares. § 2º - Aos maiores de sessenta e cinco anos é garantida a gratuidade dos transportes coletivos urbanos. Normas de eficácia plena: são as que não necessitam de complementação para que possam produzir efeitos, tais normas possuem aplicabilidade imediata e integral. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc19.htm#art3 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc19.htm#art3 DIREITO CONSTITUCIONAL META 01 61 ADI 3768/DF EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ART. 39 DA LEI N. 10.741, DE 1º DE OUTUBRO DE 2003 (ESTATUTO DO IDOSO), QUE ASSEGURA GRATUIDADE DOS TRANSPORTES PÚBLICOS URBANOS E SEMI-URBANOS AOS QUE TÊM MAIS DE 65 (SESSENTA E CINCO) ANOS. DIREITO CONSTITUCIONAL. NORMA CONSTITUCIONAL DE EFICÁCIA PLENA E APLICABILIDADE IMEDIATO. NORMA LEGAL QUE REPETE A NORMA CONSTITUCIONAL GARANTIDORA DO DIREITO. IMPROCEDÊNCIA DA AÇÃO. 1. O art. 39 da Lei n. 10.741/2003 (Estatuto do Idoso) apenas repete o que dispõe o § 2º do art. 230 da Constituição do Brasil. A norma constitucional é de eficácia plena e aplicabilidade imediata, pelo que não há eiva de invalidade jurídica na norma legal que repete os seus termos e determina que se concretize o quanto constitucionalmente disposto. 2. Ação direta de inconstitucionalidade julgada improcedente. D – CF/88 - Art.25, § 3º Os Estados poderão, mediante lei complementar, instituir regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões, constituídas por agrupamentos de municípios limítrofes, para integrar a organização, o planejamento e a execução de funções públicas de interesse comum. O Professor José Afonso da Silva ainda classifica as normas de eficácia limitada em dois grupos distintos: a) as definidoras de princípio institutivo ou organizativo; b) as definidoras de princípio programático. Por sua vez, essas normas constitucionais definidoras de princípio institutivo ou organizativo podem ser impositivas ou facultativas. São impositivas aquelas que determinam ao legislador, em termos peremptórios, a emissão de uma legislação integrativa (e.g., art. 20, § 2.º; art. 32, § 4.º; art. 33; art. 88; art. 91, § 2º). São facultativas ou permissivas quando não impõem uma obrigação, mas se limitam a dar ao legislador ordinário a possibilidade de instituir ou regular a situação nelas delineada (e.g., art. 22, parágrafo único; art. 125, § 3.º; art. 195, § 4.º; art. 25, § 3.º; art. 154, I). Direito Constitucional descomplicado I Vicente Paulo, Marcelo Alexandrino. - 16. ed. rev., atual. e ampl. - Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2017. E - Método jurídico ou hermenêutico clássico [SAVIGNY] Parte da consideração de que a Constituição é uma lei, de modo que a interpretação da Constituição não deixa de ser uma interpretação da lei. => TESE DA IDENTIDADE DA INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL E INTERPRETAÇÃO LEGAL. Com isso, para a interpretação da Constituição, deve o intérprete utilizar os elementos tradicionais ou clássicos da hermenêutica, que remontam à Escola Histórica do Direito de Savigny: DIREITO CONSTITUCIONAL META 01 62 • Elemento gramatical: também chamado de literal ou semântico, a análise se realiza de modo textual e literal; • Elemento histórico: analise o projeto de lei, a sua justificativa, exposição de motivos, pareceres, discussões, as condições culturais e psicológicas que resultaram na elaboração da norma; • Elemento sistemático ou lógico: busca a análise do todo; • Elemento teleológico ou racional: busca a finalidade da norma; • Elementos genético: busca investigar as origens dos conceitos utilizados pelo legislador. A doutrina, de modo geral, NÃO repele a interpretação de tal método jurídico. No entanto, por outro lado, a CF traz situações mais complexas cuja interpretação não se realiza com o emprego do método tradicional. O método jurídico, portanto, é insuficiente e não satisfaz, por si só, a interpretação constitucional. LETRA E 06 - 2013 - CESPE - TJ-RN - Juiz de direito Com relação ao conceito, à classificação e ao conteúdo das constituições e às disposições transitórias da CF, assinale a opção correta. a) Fruto do neoconstitucionalismo, a constitucionalização do direito consiste na irradiação dos valores abrigados nos princípios e regras da constituição para todo o ordenamento jurídico, notadamente por via da jurisdição constitucional, em seus diferentes níveis. b) As normas constitucionais, caracterizadas por especificidades no que se refere aos meios de tutela e às sanções jurídicas, denominam-se normas perfeitas, já que, em caso de violação, há sanção jurídica suficiente para repor sua força normativa. c) As disposições transitórias da CF preveem a possibilidade de concessão de anistia aos que, no período da ditadura militar, foram atingidos, em decorrência de motivação de caráter político ou discricionário, por atos de exceção, institucionais ou complementares. d) Define-se constituição, no sentido jurídico, como decisão política fundamental. e) Adotando-se o critério da observância realista das normas constitucionais por governantes e governados, as constituições normativas são definidas como aquelas que logram ser lealmente cumpridas por todos os interessados, limitando, efetivamente, o poder, e as constituições semânticas como aquelas formalmente válidas, mas que contêm preceitos ainda não ativados na prática real. COMENTÁRIOS A - NEOCONSTITUCIONALISMO: A doutrina passa a desenvolver, a partir do pós-2ª Guerra Mundial, uma nova perspectiva em relação ao constitucionalismo, denominada neoconstitucionalismo, ou, segundo alguns, constitucionalismo pós-moderno, ou, ainda, pós- positivismo. Busca-se, dentro dessa nova realidade, não mais apenas atrelar o constitucionalismo à DIREITO CONSTITUCIONAL META 01 63 ideia de limitação do poder político, mas, buscar a eficácia da Constituição. CARACTERÍSTICAS DO NEOCONSTITUCIONALISMO: BUSCA EFICÁCIA DA CF E CONCRETIZAÇÃO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS; PÓS-POSITIVISMO: O positivismo tinha permitido barbáries com base na lei. Veio, então, o pós- positivismo (o direito deve ter um conteúdo moral, vai além da legalidade estrita. Não basta apenas respeitar a lei, tem que observar os princípios da moralidade e da finalidade pública). NORMATIVIDADE DA CONSTITUIÇÃO: A Constituição Federal era documento político. Com o neoconstitucionalismo, passa a ser documento JURÍDICO, com força vinculante FORÇA NORMATIVA DA CONSTITUIÇÃO: as normas constitucionais têm aplicabilidade direta (conforme sua densidade jurídica), os direitos irradiam da CF. CENTRALIDADE DA CONSTITUIÇÃO: A CF é o epicentro do ordenamento jurídico. Tem supremacia formal e material. Consequências: Constitucionalização do direito: normas de outros ramos do direito estão na Constituição Federal e há releitura dos institutos previstos na legislação infraconstitucional à luz da Constituição. Filtragem constitucional: há interpretação da lei à luz da Constituição Federal. Segundo a interpretação conforme a CF, passa a lei no filtro da CF para extrair seu sentido constitucional. Para Luiz Roberto Barroso, toda interpretação jurídica é uma interpretação constitucional. REMATERIALIZAÇÃO DAS CONSTITUIÇÕES: Surgem Constituições prolixas, com extenso rol de direitos fundamentais. MAIOR ABERTURA NA INTERPRETAÇÃO: Os princípios deixam de ser meras diretrizese passam a ser espécies de norma; FORTALECIMENTO DO JUDICIÁRIO: O Judiciário irá garantir a supremacia da Constituição Federal. É o ativismo judicial, postura mais ativa do Judiciário na implementação dos direitos. O Judiciário passa a atuar como legislador positivo. B – Quanto à sanção: podem ser: - Perfeitas quando a sanção para o descumprimento da norma é a nulidade do ato, ou seja, age como se o ato nunca tivesse existido. - Mais que perfeita: além de considerar nulo o ato na hipótese de descumprimento, a norma prevê sanção para aquele que violou a norma. - Menos do que perfeita: quando o descumprimento da norma é combatido apenas com a sanção (penalidade). - Imperfeita: quando não prevê nem a possibilidade de sanção ou nulidade do ato como conseqüência do descumprimento da norma. https://www.jurisway.org.br/v2/pergunta.asp?idmodelo=6343 C –ADCT, Art. 8º. É concedida anistia aos que, no período de 18 de setembro de 1946 até a data da promulgação da Constituição, foram atingidos, em decorrência de motivação exclusivamente https://www.jurisway.org.br/v2/pergunta.asp?idmodelo=6343 DIREITO CONSTITUCIONAL META 01 64 política, por atos de exceção, institucionais ou complementares, aos que foram abrangidos pelo Decreto Legislativo nº 18, de 15 de dezembro de 1961, e aos atingidos pelo Decreto-Lei nº 864, de 12 de setembro de 1969, asseguradas as promoções, na inatividade, ao cargo, emprego, posto ou graduação a que teriam direito se estivessem em serviço ativo, obedecidos os prazos de permanência em atividade previstos nas leis e regulamentos vigentes, respeitadas as características e peculiaridades das carreiras dos servidores públicos civis e militares e observados os respectivos regimes jurídicos. D – A concepção política de Constituição foi desenvolvida por Carl Schmitt, para o qual a Constituição é uma decisão política fundamental, qual seja, a decisão política do titular do poder constituinte. Em sentido jurídico, a Constituição é compreendida de uma perspectiva estritamente formal, apresentando-se como pura norma jurídica, como norma fundamental do Estado e da vida jurídica de um país, paradigma de validade de todo o ordenamento jurídico e instituidora da estrutura primacial desse Estado. A Constituição consiste, pois, num sistema de normas jurídicas. O pensador mais associado à visão jurídica de Constituição é o austríaco Hans Kelsen, que desenvolveu a denominada Teoria Pura do Direito. Direito Constitucional descomplicado I Vicente Paulo, Marcelo Alexandrino. - 16. ed. rev., atual. e ampl. - Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2017. E - As Constituições normativas são as que efetivamente conseguem, por estarem em plena consonância com a realidade social, regular a vida política do Estado. Em um regime de Constituição normativa, os agentes do poder e as relações políticas obedecem ao conteúdo, às diretrizes e às limitações impostos pelo texto constitucional. São como uma roupa que assenta bem e realmente veste bem. As Constituições nominativas (nominalistas ou nominais) são aquelas que, embora tenham sido elaboradas com o intuito de regular a vida política do Estado, ainda não conseguem efetivamente cumprir esse papel, por estarem em descompasso com o processo real de poder e com insuficiente concretização constitucional. São prospectivas, isto é, voltadas para um dia serem realizadas na prática, como uma roupa guardada no armário que será vestida futuramente, quando o corpo nacional tiver crescido. As Constituições semânticas, desde sua elaboração, não têm o fim de regular a vida política do Estado, de orientar e limitar o exercício do poder, mas sim o de beneficiar os detentores do poder de fato, que dispõem de meios para coagir os governados. Nas palavras de Karl Loewenstein, seria "uma constituição que não é mais que uma formalização da situação existente do poder político, em beneficio único de seus detentores". São como uma roupa que não veste bem, mas dissimula, esconde, disfarça os seus defeitos. Em síntese, enquanto as constituições normativas limitam efetivamente o poder e asseguram http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del0864.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del0864.htm DIREITO CONSTITUCIONAL META 01 65 direitos e as nominativas, embora não o façam, hoje, ainda têm esse propósito, para concretização futura, as constituições ditas semânticas são submetidas ao poder político prevalecente, servindo apenas para estabilizar e eternizar a intervenção dos dominadores de fato. Direito Constitucional descomplicado I Vicente Paulo, Marcelo Alexandrino. - 16. ed. rev., atual. e ampl. - Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2017. LETRA A 07 - 2013 - CESPE - BACEN – Procurador A respeito do conceito, dos elementos e das classificações das constituições, assinale a opção correta. a) No que se refere ao modo de elaboração, a constituição dogmática espelha os dogmas e princípios fundamentais adotados pelo Estado e não será escrita. b) Quanto à estabilidade, a constituição flexível não se compatibiliza com a forma escrita, ainda que seu eventual texto admitisse livre alteração do conteúdo por meio de processo legislativo ordinário. c) Os direitos e garantias fundamentais previstos na CF são considerados elementos socioideológicos d) No sentido político, segundo Carl Schmitt, a constituição é a soma dos fatores reais do poder que formam e regem determinado Estado. e) Quanto aos elementos, o ADCT configura exemplo de elemento formal de aplicabilidade da CF. COMENTÁRIOS A – Quanto ao modo de elaboração, as Constituições podem ser dogmáticas ou históricas. As Constituições dogmáticas, sempre escritas, são elaboradas em um dado momento, por um órgão constituinte, segundo os dogmas ou ideias fundamentais da teoria política e do Direito então imperantes. Poderão ser ortodoxas ou simples (fundadas em uma só ideologia) ou ecléticas ou compromissórias (formadas pela síntese de diferentes ideologias, que se conciliam no texto constitucional). Direito Constitucional descomplicado I Vicente Paulo, Marcelo Alexandrino. - 16. ed. rev., atual. e ampl. - Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2017. B – A Constituição flexível é aquela que permite sua modificação pelo mesmo processo legislativo de elaboração e alteração das demais leis do ordenamento, como ocorre na Inglaterra, em que as partes escritas de sua Constituição podem ser juridicamente alteradas pelo Parlamento com a mesma facilidade com que se altera a lei ordinária. Direito Constitucional descomplicado I Vicente Paulo, Marcelo Alexandrino. - 16. ed. rev., atual. e ampl. - Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2017. DIREITO CONSTITUCIONAL META 01 66 C e E– Apresentaremos, a seguir, sinteticamente, a classificação elaborada pelo Professor José Afonso da Silva, que divide os elementos da Constituição Federal de 1988 em cinco categorias, a saber: a) elementos orgânicos - que se contêm nas normas que regulam a estrutura do Estado e do poder, que se concentram, predominantemente, nos Títulos III (Da Organização do Estado), IV (Da Organização dos Poderes e do Sistema de Governo), Capítulos II e III do Título V (Das Forças Armadas e da Segurança Pública) e VI (Da Tributação e do Orçamento); b) elementos limitativos - que se manifestam nas normas que consagram o elenco dos direitos e garantias fundamentais (Título II da Constituição - Dos Direitos e Garantias Fundamentais, excetuando-se os Direitos Sociais, que entram na categoria seguinte); c) elementos socioideológicos - consubstanciados nas normas que revelam o caráter de compromisso das Constituições modernas entre o Estado individualista e o Estado social, intervencionista, como as do Capítulo II do Título II (Direitos Sociais) e as dos Títulos VII (Da Ordem Econômica e Financeira) e VIII (Da Ordem Social); d) elementos de estabilização constitucional - consagradosnas normas destinadas a assegurar a solução de conflitos constitucionais, a defesa da Constituição, do Estado e das instituições democráticas, como os encontrados nos_ arts. 34 a 36 (Da Intervenção), 59, I, 60 (processo de emendas à Constituição), 102, I, "a" (ação direta de inconstitucionalidade e ação declaratória de constitucionalidade), 102 e 103 (jurisdição constitucional) e no Título V (Da Defesa do Estado e das Instituições Democráticas, especialmente o Capítulo I, pois os Capítulos II e III, conforme vimos, integram os elementos orgânicos); e) elementos formais de aplicabilidade - são os que se acham consubstanciados nas normas que estabelecem regras de aplicação das normas constitucionais, assim, o preâmbulo, o dispositivo que contém as cláusulas de promulgação, as disposições constitucionais transitórias e o § 1.º do art. 5.º, que determina que as normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata. Direito Constitucional descomplicado I Vicente Paulo, Marcelo Alexandrino. - 16. ed. rev., atual. e ampl. - Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2017. D – Representante típico da visão sociológica de Constituição foi Ferdinand Lassalle, segundo o qual a Constituição de um país é, em essência, a soma dos fatores reais de poder que nele atuam, vale dizer, as forças reais que mandam no país. Para Lassalle, constituem os fatores reais do poder as forças que atuam, política e legitimamente, para conservar as instituições jurídicas vigentes. Dentre essas forças, ele destacava a monarquia, a aristocracia, a grande burguesia, os banqueiros e, com específicas conotações, a pequena burguesia e a classe operária. A concepção política de Constituição foi desenvolvida por Carl Schmitt, para o qual a Constituição é uma decisão política fundamental, qual seja, a decisão política do titular do poder constituinte. DIREITO CONSTITUCIONAL META 01 67 Direito Constitucional descomplicado I Vicente Paulo, Marcelo Alexandrino. - 16. ed. rev., atual. e ampl. - Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2017. LETRA E 08 - 2013 - CESPE - TRF - 5ª REGIÃO - Juiz federal Acerca do conceito, dos elementos e da classificação das Constituições, assinale a opção correta. a) As Constituições classificadas, quanto ao modo de elaboração, como Constituições históricas, apesar de serem juridicamente flexíveis, são, normalmente, politicamente rígidas. b) De acordo com a concepção que a define como um processo público, a Constituição consiste em uma ordem jurídica fundamental do Estado e da sociedade, não se caracterizando, portanto, como Constituição aberta, ou seja, como obra de um processo de interpretação. c) Entendida como um programa de integração e representação nacionais, a Constituição deve conter apenas matérias referentes a grupos particularizados e temas passíveis de alterações frequentes, de modo a propiciar a durabilidade e a estabilidade do próprio texto constitucional. d) Conforme a concepção política, a Constituição é a soma dos fatores reais de poder que regem o país. e) São denominados elementos limitativos das Constituições aqueles que visam assegurar a defesa da Constituição e do estado democrático de direito. COMENTÁRIOS A - Rígidas: O processo de alteração da Constituição mais difícil e solene do que o processo de formação das leis. Escritas ou instrumental: É a Constituição sistematizada por procedimento formal. Segundo José Afonso da Silva: “Cumpre, finalmente, não confundir o conceito de constituição rígida com o de constituição escrita, nem o de constituição flexível com o de constituição histórica. Tem havido exemplos de constituições escritas flexíveis, embora o mais comum é que sejam rígidas. As constituições históricas são juridicamente flexíveis, pois podem ser modificadas pelo legislador ordinário, mas, normalmente, são política e socialmente rígidas. Raramente são modificadas”. B – Nesse sentido, Canotilho afirma que “ poder constituinte significa, assim, poder constituinte do povo”, e que deve ser concebido “como uma ‘grandeza pluralística’ (Peter Häberle), ou seja, como uma pluralidade de forças culturais, sociais e políticas tais como partidos, grupos, igrejas, associações, personalidades, decisivamente influenciadoras da formação de ‘opiniões’, ‘vontades’, ‘correntes’ou ‘sensibilidades’ políticas nos momentos preconstituintes e nos procedimentos constituintes” (op. ci t., p. 75). Lenza, Pedro. Direito constitucional esquematizado® /Pedro Lenza. – 20. ed. rev . , atual. e ampl. – São Paulo: Saraiva, 2016. (Coleção esquematizado®) DIREITO CONSTITUCIONAL META 01 68 Conceito de constituição de Peter Häberle: "a lei constitucional e a interpretação constitucional republicana aconteceriam numa sociedade pluralista e aberta, como obra de todos os participantes, em momentos de diálogo e de conflito, de continuidade e descontinuidade, de tese e antítese." (Gilmar Mendes, Curso de Direito Constitucional). C - Conceito de constituição de Krüger: "Vista como programa de integração e de representação nacionais, a Constituição é entendida, aqui, apenas como Constituição do Estado (...) só deve conter a chamada matéria constitucional (...). Essa opção, é evidente, advém da compreensão de que a Constituição, para ter estabilidade e duração, não pode constitucionalizar matérias sujeitas a oscilações quotidianas, nem cristalizar interesses, relevantes embora, que digam respeito apenas a grupos particularizados e não à nação como um todo." (Gilmar Mendes, Curso de Direito Constitucional) D – A concepção política de Constituição foi desenvolvida por Carl Schmitt, para o qual a Constituição é uma decisão política fundamental, qual seja, a decisão política do titular do poder constituinte. Representante típico da visão sociológica de Constituição foi Ferdinand Lassalle, segundo o qual a Constituição de um país é, em essência, a soma dos fatores reais de poder que nele atuam, vale dizer, as forças reais que mandam no país. Para Lassalle, constituem os fatores reais do poder as forças que atuam, política e legitimamente, para conservar as instituições jurídicas vigentes. Dentre essas forças, ele destacava a monarquia, a aristocracia, a grande burguesia, os banqueiros e, com específicas conotações, a pequena burguesia e a classe operária. Direito Constitucional descomplicado I Vicente Paulo, Marcelo Alexandrino. - 16. ed. rev., atual. e ampl. - Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2017. E – Apresentaremos, a seguir, sinteticamente, a classificação elaborada pelo Professor José Afonso da Silva, que divide os elementos da Constituição Federal de 1988 em cinco categorias, a saber: a) elementos orgânicos - que se contêm nas normas que regulam a estrutura do Estado e do poder, que se concentram, predominantemente, nos Títulos III (Da Organização do Estado), IV (Da Organização dos Poderes e do Sistema de Governo), Capítulos II e III do Título V (Das Forças Armadas e da Segurança Pública) e VI (Da Tributação e do Orçamento); b) elementos limitativos - que se manifestam nas normas que consagram o elenco dos direitos e garantias fundamentais (Título II da Constituição - Dos Direitos e Garantias Fundamentais, excetuando-se os Direitos Sociais, que entram na categoria seguinte); c) elementos socioideológicos - consubstanciados nas normas que revelam o caráter de compromisso das Constituições modernas entre o Estado individualista e o Estado social, DIREITO CONSTITUCIONAL META 01 69 intervencionista, como as do Capítulo II do Título II (Direitos Sociais) e as dos Títulos VII (Da Ordem Econômica e Financeira) e VIII (Da Ordem Social); d) elementos de estabilização constitucional - consagrados nas normas destinadas a assegurar a solução de conflitos constitucionais, a defesa da Constituição, do Estado e das instituições democráticas, como os encontrados nos_ arts. 34 a 36 (Da Intervenção),59, I, 60 (processo de emendas à Constituição), 102, I, "a" (ação direta de inconstitucionalidade e ação declaratória de constitucionalidade), 102 e 103 (jurisdição constitucional) e no Título V (Da Defesa do Estado e das Instituições Democráticas, especialmente o Capítulo I, pois os Capítulos II e III, conforme vimos, integram os elementos orgânicos); e) elementos formais de aplicabilidade - são os que se acham consubstanciados nas normas que estabelecem regras de aplicação das normas constitucionais, assim, o preâmbulo, o dispositivo que contém as cláusulas de promulgação, as disposições constitucionais transitórias e o § 1.º do art. 5.º, que determina que as normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata. Direito Constitucional descomplicado I Vicente Paulo, Marcelo Alexandrino. - 16. ed. rev., atual. e ampl. - Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2017. LETRA A 09 – 2013 – FCC – MPC-MS – Analista As Constituições codificadas ou orgânicas caracterizam-se por a) não contemplarem em seu texto normas de eficácia limitada, de forma que todo o corpo normativo-constitucional seja dotado de aplicabilidade imediata. b) disporem minudentemente sobre toda a atividade política, de modo a oferecer disciplina casuística e exauriente a todos os casos de natureza constitucional. c) tornarem dispensável a disciplina legislativa da ordem política, econômica e social. d) estarem contidas num único texto normativo, contemplando ordenação sistemática de suas disposições mediante articulação em títulos, capítulos e seções. e) guardarem identidade com a noção de bloco de constitucionalidade. COMENTÁRIOS A, C e E – Não há classificação doutrinária nesse sentido. B – “No tocante à extensão, as Constituições são classificadas em analíticas e sintéticas. Constituição analítica (longa, larga, prolixa, extensa, ampla ou desenvolvida) é aquela de conteúdo extenso, que versa sobre matérias outras que não a organização básica do Estado, isto é, sobre assuntos alheios ao Direito Constitucional propriamente dito. Ora cuida de minúcias de regulamentação, que melhor caberiam na legislação infraconstitucional, ora de regras ou preceitos pertencentes ao campo da legislação ordinária, e não do Direito Constitucional. (Direito DIREITO CONSTITUCIONAL META 01 70 Constitucional descomplicado / Vicente Paulo, Marcelo Alexandrino. - 16. ed. rev.,atual. e ampl. - Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2017.) D – As Constituições escritas podem se apresentar sob duas formas: Constituições codificadas (quando se acham contidas e sistematizadas em um só texto formando um único documento) e Constituições legais (quando se apresentam esparsas ou fragmentadas, porque integradas por documentos diversos, fisicamente distintos, como foi o caso da Terceira República Francesa, de 1875, formada por inúmeras leis constitucionais, redigidas em momentos distintos). (Direito Constitucional descomplicado / Vicente Paulo, Marcelo Alexandrino. - 16. ed. rev.,atual. e ampl. - Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2017.) LETRA D 10 – 2016 – CESPE - TCE-PR - Analista de Controle Assinale a opção correta acerca da interpretação constitucional. a) Como as Constituições regulam direitos e garantias fundamentais e o exercício do poder, deve- se priorizar o emprego de linguagem técnica em seu texto, restringindo-se a sofisticada atividade interpretativa às instâncias oficiais. b) A interpretação constitucional deve priorizar o espírito da norma interpretada em detrimento de expressões supérfluas ou vazias; por isso, a atividade do intérprete consiste em extrair o núcleo essencial do comando constitucional, ainda que isso implique desconsiderar palavras, dispositivos ou expressões literais. c) Sendo a Constituição impregnada de valores, sua interpretação é norteada essencialmente por diretrizes políticas, em detrimento de cânones jurídicos. d) Na interpretação da Constituição, prepondera a teleologia, de modo que a atividade do hermeneuta deve priorizar a finalidade ambicionada pela norma; o texto da lei, nesse caso, não limita a interpretação nem lhe serve de parâmetro. e) O caráter aberto e vago de muitas das disposições constitucionais favorece uma interpretação atualizadora e evolutiva, capaz de produzir, por vezes, uma mutação constitucional informal ou não textual. COMENTÁRIOS A – “Dado o possível déficit de legitimidade democrática inerente a esse monopólio judiciatista de interpretação autêntica da Constituição — uma carência congênita que, evidentemente, não é suprida nem pelas melhores criações judiciais do direito—, diante de tudo isso ganham relevo esforços compensadores, como os de Peter Haberle, de quem já falamos, a propugnar por uma visão republicaria e democrática da interpretação constitucional, por uma fórmula jurídico- política centrada na tese de que uma sociedade aberta exige uma interpretação igualmente aberta da sua Lei Fundamental, até porque — ele acentua —, no processo de interpretação DIREITO CONSTITUCIONAL META 01 71 constitucional estão potencialmente vinculados todos os órgãos estatais, todas as potências públicas, todos os grupos e cidadãos, sem que se possa estabelecei em numerus clausus o elenco de intérpretes da Constituição.” (Curso de direito constitucional / Gilmar Ferreira Mendes, Inocêncio Mártires Coelho, Paulo Gustavo Gonet Branco. - 4. ed. rev. e atual. - São Paulo: Saraiva, 2009.) B – “Igualmente é típico das constituições atuais a incorporação de valores morais ao domínio jurídico, não se limitando as Cartas a simplesmente discriminar competências e limitar a ação do Estado – indo -se além, para injetar índole jurídica a aspirações filosóficas e princípios ético- doutrinários. As constituições contemporâneas absorvem noções de conteúdo axiológico e, com isso, trazem para a realidade do aplicador do direito debates políticos e morais. As pré- compreensões dos intérpretes sobre esses temas, tantas vezes melindrosos, não têm como ser descartadas, mas devem ser reconhecidas como tais pelos próprios aplicadores, a fim de serem medidas com o juízo mais amplo, surgido da detida apreciação dos vários ângulos do problema proposto, descobertos a partir da abertura da interpretação da Constituição a toda a comunidade por ela afetada. Decerto, porém, que esse exercício não pode conduzir à dissolução da Constituição no voluntarismo do juiz ou das opiniões das maiorias de cada instante. A força da Constituição acha -se também na segurança que ela gera – segurança inclusive quanto ao seu significado e ao seu poder de conformação de comportamentos futuros. A interpretação casuística da Constituição é esterilizante, como é também insensata a interpretação que queira compelir o novo, submetendo a sociedade a algo que ela própria, por seus processos democráticos, não decidiu. (...) Para a compreensão do texto normativo, faz -se uso da interpretação gramatical, buscando -se o sentido das palavras; da interpretação sistemática, visando à sua com preensão no contexto amplo do ordenamento constitucional; e da interpretação teleológica, com que se intenta desvendar o sentido do preceito, tomando em conta a sua finalidade determinante e os seus princípios de valor.” (Curso de direito constitucional / Gilmar Ferreira Mendes, Paulo Gustavo Gonet Branco. – 12. ed. rev. e atual. – São Paulo: Saraiva, 2017.) C – “Os Tribunais devem proferir suas decisões respeitando a integridade a partir de argumentos de principio e não de argumentos de política. Um princípio prescreve um direito, já uma diretriz politica estabelece um objetivo ou meta a ser alcançada em termos econômicos, políticos ou sociais. Para Dworkin os princípios são trunfos frente as diretrizes políticas e devem prevalecer (perspectiva antiutilitarista). Assim: “os tribunais devem decidir sobre que direitos as pessoas têm em nosso sistema constitucional e não como faz o legislador, sobrecomo se promove melhor o bem-estar geral.” BAHIA, Alexandre. Recursos Extraordinários no STF e STJ, p.274, 2009. PEDRON, Flávio. Mutação Constitucional na crise do positivismo jurídico. 2012.” (Curso de Direito Constitucional/ Bernardo Gonçalves Fernandes - 9. ed. rev. ampl. e atual. - Salvador. JusPODIVM, 2017.) DIREITO CONSTITUCIONAL META 01 72 D – “A interpretação conforme a Constituição possui, evidentemente, limites. Não pode forçar o significado aceitável das palavras dispostasno texto nem pode desnaturar o sentido objetivo que inequivocamente o legislador quis adotar.”(Curso de direito constitucional / Gilmar Ferreira Mendes, Paulo Gustavo Gonet Branco. – 12. ed. rev. e atual. – São Paulo : Saraiva, 2017.) E – “A "interpretação", como forma mais simples de "mutação informal" da Constituição, opera sob as bases da abertura textual e da polissemia da Constituição, revelando o que Bonavides chamou de paradoxo: se, por um lado, contribui para a evolução do Direito, supostamente impedindo eventos revolucionários, por outro, revelou-se uma abertura para insegurança jurídica, correndo o risco de diluir a Constituição em uma total fluidez.” (Curso de Direito Constitucional/ Bernardo Gonçalves Fernandes - 9. ed. rev. ampl. e atual. - Salvador. JusPODIVM, 2017.) LETRA E 11 – 2016 – CESPE - TCE-PR - Analista de Controle Assinale a opção correta no que concerne às classificações das constituições. a) As Constituições cesaristas são elaboradas com base em determinados princípios e ideais dominantes em período determinado da história. b) Constituição escrita é aquela cujas normas estão efetivamente positivadas pelo legislador em documento solene, sejam leis esparsas contendo normas materialmente constitucionais, seja uma compilação que consolide, em um só diploma, os dispositivos alusivos à separação de poderes e aos direitos e garantias fundamentais. c) A classificação ontológica das Constituições põe em confronto as pretensões normativas da Carta e a realidade do processo de poder, sendo classificada como nominativa, nesse contexto, a Constituição que, embora pretenda dirigir o processo político, não o faça efetivamente. d) As Constituições classificadas como populares ou democráticas são materializadas com o tempo, com o arranjo e a harmonização de ideais e teorias outrora contrastantes. e) As Constituições semânticas possuem força normativa efetiva, regendo os processos políticos e limitando o exercício do poder. COMENTÁRIOS A – “As Constituições cesaristas (bonapartistas) são unilateralmente elaboradas pelo detentor do poder, mas dependem de ratificação popular por meio de referendo. Essa participação popular não é democrática, pois cabe ao povo somente referendar a vontade do agente revolucionário, detentor do poder. Por isso, não são, propriamente, nem outorgadas, nem democráticas.” (Direito Constitucional descomplicado / Vicente Paulo, Marcelo Alexandrino. - 16. ed. rev., atual. e ampl. - Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2017.) DIREITO CONSTITUCIONAL META 01 73 B – “Constituição escrita é o conjunto de regras codificado e sistematizado em um único documento, para fixar-se a organização fundamental. Canotilho denomina-a de constituição instrumental, apontando seu efeito racionalizador, estabilizante, de segurança jurídica e de calculabilidade e publicidade” (Direito constitucional / Alexandre de Moraes. – 33. ed. rev. e atual. até a EC nº 95, de 15 de dezembro de 2016 – São Paulo: Atlas, 2017.) C e E – “O constitucionalista alemão Karl Loewenstein desenvolveu uma classificação para as Constituições que leva em conta a correspondência existente entre o texto constitucional e a realidade política do respectivo Estado (critério ontológico). As Constituições normativas são as que efetivamente conseguem, por estarem em plena consonância com a realidade social, regular a vida política do Estado. Em um regime de Constituição normativa, os agentes do poder e as relações políticas obedecem ao conteúdo, às diretrizes e às limitações impostos pelo texto constitucional. São como uma roupa que assenta bem e realmente veste bem. As Constituições nominativas (nominalistas ou nominais) são aquelas que, embora tenham sido elaboradas com o intuito de regular a vida política do Estado, ainda não conseguem efetivamente cumprir esse papel, por estarem em descompasso com o processo real de poder e com insuficiente concretização constitucional. São prospectivas, isto é, voltadas para um dia serem realizadas na prática, como uma roupa guardada no armário que será vestida futuramente, quando o corpo nacional tiver crescido. As Constituições semânticas, desde sua elaboração, não têm o fim de regular a vida política do Estado, de orientar e limitar o exercício do poder, mas sim o de beneficiar os detentores do poder de fato, que dispõem de meios para coagir os governados. Nas palavras de Karl Loewenstein, seria "uma constituição que não é mais que uma formalização da situação existente do poder político, em beneficio único de seus detentores". São como uma roupa que não veste bem, mas dissimula, esconde, disfarça os seus defeitos.” (Direito Constitucional descomplicado / Vicente Paulo, Marcelo Alexandrino. - 16. ed. rev., atual. e ampl. - Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2017.) D – “As Constituições democráticas (populares, votadas ou promulgadas) são produzidas com a participação popular, em regime de democracia direta (plebiscito ou referendo), ou de democracia representativa, neste caso, mediante a escolha, pelo povo, de representantes que integrarão uma "assembleia constituinte" incumbida de elaborar a Constituição. (Direito Constitucional descomplicado / Vicente Paulo, Marcelo Alexandrino. - 16. ed. rev., atual. e ampl. - Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2017.) LETRA C 12 – 2016 – CESPE - TRE-PI - Analista Judiciário Acerca do direito constitucional, assinale a opção correta. DIREITO CONSTITUCIONAL META 01 74 a) As várias reformas já sofridas pela CF, por meio de emendas constitucionais, são expressão do poder constituinte derivado decorrente. b) De acordo com a doutrina dominante, a CF, ao se materializar em um só código básico, afasta os usos e costumes como fonte do direito constitucional. c) O neoconstitucionalismo, ao promover a força normativa da Constituição, acarretou a diminuição da atividade judicial, dado o alto grau de vinculação das decisões judiciais aos dispositivos constitucionais. d) A derrotabilidade de uma norma constitucional ocorrerá caso uma norma jurídica deixe de ser aplicada em determinado caso concreto, permanecendo, contudo, no ordenamento jurídico para regular outras relações jurídicas. e) A interpretação da Constituição sob o método teleológico busca investigar as origens dos conceitos e institutos pelo próprio legislador constituinte. COMENTÁRIOS A – “O poder constituinte derivado decorrente é o poder que a Constituição Federal de 1988 atribui aos estados-membros para se auto-organizarem, por meio da elaboração de suas próprias Constituições (CF, art. 25 c/c ADCT, art. 11 ). (Direito Constitucional descomplicado / Vicente Paulo, Marcelo Alexandrino. - 16. ed. rev., atual. e ampl. - Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2017.) B – “1.7. Fontes do direito constitucional. A luz desse conceito, quatro são as fontes do direito, porque quatro são as formas de poder: o processo legislativo, expressão do Poder Legislativo; a jurisdição, que corresponde ao Poder Judiciário; os usos e costumes jurídicos, que exprimem o poder social, ou seja, o poder decisório anônimo do povo; e, finalmente, a fonte negocial, expressão do poder negocial ou da autonomia da vontade.” (Curso de direito constitucional / Gilmar Ferreira Mendes, Paulo Gustavo Gonet Branco. – 12. ed. rev. e atual. – São Paulo : Saraiva, 2017.) C – “3. NEOCONSTITUCIONALISMO. O atual estádio do constitucionalismo se peculiarizatambém pela mais aguda tensão entre constitucionalismo e democracia. É intuitivo que o giro de materialização da Constituição limita o âmbito de deliberação política aberto às maiorias democráticas. Como cabe à jurisdição constitucional a última palavra na interpretação da Constituição, que se apresenta agora repleta de valores impositivos para todos os órgãos estatais, não surpreende que o juiz constitucional assuma parcela de mais considerável poder sobre as deliberações políticas de órgãos de cunho representativo. Com a materialização da Constituição, postulados ético -morais ganham vinculatividade jurídica e passam a ser objeto de definição pelos juízes constitucionais, que nem sempre dispõem, para essa tarefa, de critérios de fundamentação objetivos, preestabelecidos no próprio sistema jurídico.” (Curso de direito constitucional / Gilmar Ferreira Mendes, Paulo Gustavo Gonet Branco. – 12. ed. rev. e atual. – DIREITO CONSTITUCIONAL META 01 75 São Paulo : Saraiva, 2017.) D – “Nos casos de conflito entre princípios e regras situados em planos distintos, o afastamento da regra legal somente deve ocorrer nos casos de inconstitucionalidade, de manifesta injustiça ou em situações excepcionalíssimas que, por escaparem da normalidade, não poderiam ter sido ordinariamente previstas pelo legislador. O afastamento da aplicação de regras válidas ante as circunstâncias específicas do caso concreto é conhecido como derrotabilidade (ou superabilidade). Em tais hipóteses, o intérprete confere ao princípio da justiça e aos princípios que justificam o afastamento da regra um peso maior do que ao princípio da segurança jurídica e àqueles subjacentes à regra. A ponderação, portanto, não é feita entre a regra e o princípio, mas entre princípios que fornecem razões favoráveis e contrárias à aplicação da regra naquele caso específico. Não há nisso, qualquer desobediência ao direito, pois a decisão é pautada por normas estabelecidas pelo próprio ordenamento jurídico.” (Curso de direito constitucional/ Marcelo Novelino. - 11. ed. rev., ampl. e atual. - Salvador: Ed. JusPodivm, 2016.) E – “elemento teleológico ou sociológico: busca a finalidade da norma”. (Direito constitucional esquematizado* / Pedro Lenza. - 21 ed. - São Paulo. Saraiva, 2017.) LETRA D 13 – 2016 – CESPE - TCE-PR - Auditor Acerca da interpretação e da aplicação das normas constitucionais, assinale a opção correta. a) Dado o princípio da interpretação adequadora, o ato normativo impugnado declarado inconstitucional é sempre nulo. b) De acordo com a norma que rege o controle concentrado de constitucionalidade, uma vez declarada a inconstitucionalidade da norma, esta será nula ab initio, não sendo possível, por exemplo, decidir que ela só tenha eficácia a partir de outro momento. c) Em decorrência do princípio interpretativo da unidade da Constituição, existindo duas normas constitucionais incompatíveis entre si, deverá o intérprete escolher entre uma e outra, não sendo possível uma interpretação que as integre. d) Dado o princípio da máxima efetividade ou da eficiência, o intérprete deve coordenar a combinação dos bens jurídicos em conflito de forma a evitar o sacrifício total de uns em relação aos outros. e) A norma constitucional que assegura o livre exercício de qualquer atividade, ofício ou profissão é exemplo de norma de eficácia contida. COMENTÁRIOS A – “III — O princípio da interpretação adequadora. Estritamente conexionado com o princípio da interpretação conforme a Constituição, mas com DIREITO CONSTITUCIONAL META 01 76 um sentido mais conformador, o princípio da interpretação adequadora é hoje invocado para justificar soluções como as seguintes: — simples declaração de inconstitucionalidade sem fixação de nulidade 'ipso jure' (ex.: casos em que o Tribunal considera uma nova norma constitucional por violação do princípio da igualdade sem pôr em causa a bondade das soluções legais). (...) — acolhimento parcial da inconstitucionalidade, ou seja, a sentença do Tribunal opta pela declaração da nulidade parcial das leis, evitando a destruição do acto legislativo in totó. (JOSÉ JOAQUIM GOMES CANOTILHO, DIREITO CONSTITUCIONAL. 6ª edição revista. LIVRARIA ALMEDINA COIMBRA, 1993)” B – Lei 9.868/99. Art. 27. Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, e tendo em vista razões de segurança jurídica ou de excepcional interesse social, poderá o Supremo Tribunal Federal, por maioria de dois terços de seus membros, restringir os efeitos daquela declaração ou decidir que ela só tenha eficácia a partir de seu trânsito em julgado ou de outro momento que venha a ser fixado. C – “Segundo este princípio, o texto de uma Constituição deve ser interpretado de forma a evitar contradições (antinomias) entre suas normas e, sobretudo, entre os princípios constitucionalmente estabelecidos. O princípio da unidade obriga o intérprete a considerar a Constituição na sua globalidade e a procurar harmonizar os espaços de tensão existentes entre as normas constitucionais a concretizar. Enfim, o intérprete, os juízes e as demais autoridades encarregadas de aplicar os comandos constitucionais devem considerar a Constituição na sua globalidade, procurando harmonizar suas aparentes contradições. Deverão sempre tratar as normas constitucionais não como normas isoladas e dispersas, mas como preceitos integrados num sistema interno unitário de normas e princípios, compreendendo-os, na medida do possível, como se fossem obra de um só autor, expressão de uma unidade harmônica e sem contradições.” (Direito Constitucional descomplicado / Vicente Paulo, Marcelo Alexandrino. - 16. ed. rev., atual. e ampl. - Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2017.) D – “O princípio da máxima efetividade (ou princípio da eficiência, ou princípio da interpretação efetiva) reza que o intérprete deve atribuir à norma constitucional o sentido que lhe dê_ maior eficácia, mais ampla efetividade social. Embora sua origem esteja ligada à eficácia das normas programáticas, é hoje princípio operativo em relação a todas e quaisquer normas constitucionais, sendo, sobretudo, invocado no âmbito dos direitos fundamentais (em caso de dúvida, deve-se preferir a interpretação que lhes reconheça maior eficácia).” (Direito Constitucional descomplicado / Vicente Paulo, Marcelo Alexandrino. - 16. ed. rev., atual. e ampl. - Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2017.) E – “Em regra, as normas de eficácia contida exigem a atuação do legislador ordinário, fazendo expressa remissão a uma legislação futura. Entretanto, a atuação do legislador ordinário não DIREITO CONSTITUCIONAL META 01 77 será para tornar exercitável o direito nelas previsto (este já é exercitável desde a promulgação do texto constitucional), tampouco para ampliar o âmbito de sua eficácia (que já é plena, desde sua entrada em vigor), mas sim para restringir, para impor limitações ao exercício desse direito. Um bom exemplo de norma constitucional de eficácia contida é o art. 5.º, XIII: XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, oficio ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer;” (Direito Constitucional descomplicado / Vicente Paulo, Marcelo Alexandrino. - 16. ed. rev., atual. e ampl. - Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2017.) LETRA E 14 – 2009 - CESPE - TRF - 1ª REGIÃO - Juiz Federal Assinale a opção correta acerca do conceito, da classificação e dos elementos da constituição. a) Segundo a doutrina, os elementos orgânicos da constituição são aqueles que limitam a ação dos poderes estatais, estabelecem as balizas do estado de direito e consubstanciam o rol dos direitos fundamentais. b) No sentido sociológico, a constituição seria distinta da lei constitucional, pois refletiria a decisão política fundamental do titular do poder constituinte, quanto à estrutura e aos órgãos do Estado, aos direitos individuais e à atuação democrática,enquanto leis constitucionais seriam todos os demais preceitos inseridos no documento, destituídos de decisão política fundamental. c) Na acepção formal, terá natureza constitucional a norma que tenha sido introduzida na lei maior por meio de procedimento mais dificultoso do que o estabelecido para as normas infraconstitucionais, desde que seu conteúdo se refira a regras estruturais do Estado e seus fundamentos. d) Considerando o conteúdo ideológico das constituições, a vigente Constituição brasileira é classificada como liberal ou negativa. e) Quanto à correspondência com a realidade, ou critério ontológico, o processo de poder, nas constituições normativas, encontra-se de tal modo disciplinado que as relações políticas e os agentes do poder se subordinam às determinações de seu conteúdo e do seu controle procedimental. COMENTÁRIOS A – “a) elementos orgânicos - que se contêm nas normas que regulam a estrutura do Estado e do poder, que se concentram, predominantemente, nos Títulos III (Da Organização do Estado), IV (Da Organização dos Poderes e do Sistema de Governo), Capítulos II e III do Título V (Das Forças Armadas e da Segurança Pública) e VI (Da Tributação e do Orçamento); b) elementos limitativos - que se manifestam nas normas que consagram o elenco dos direitos e garantias fundamentais (Título II da Constituição - Dos Direitos e Garantias Fundamentais, excetuando-se os Direitos Sociais, que entram na categoria seguinte).” (Direito Constitucional descomplicado / Vicente Paulo, Marcelo Alexandrino. - 16. ed. rev., atual. e ampl. - Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: DIREITO CONSTITUCIONAL META 01 78 MÉTODO, 2017.) B – “Na visão sociológica, a Constituição é concebida como fato social, e não propriamente como norma. O texto positivo da Constituição seria resultado da realidade social do País, das forças sociais que imperam na sociedade, em determinada conjuntura histórica. Caberia à Constituição escrita, tão somente, reunir e sistematizar esses valores sociais num documento formal, documento este que· só teria eficácia se correspondesse aos valores presentes na sociedade. (...) A concepção política de Constituição foi desenvolvida por Carl Schmitt, para o qual a Constituição é uma decisão política fundamental, qual seja, a decisão política do titular do poder constituinte.” (Direito Constitucional descomplicado / Vicente Paulo, Marcelo Alexandrino. - 16. ed. rev., atual. e ampl. - Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2017.) C – “O conceito formal de Constituição diz respeito à existência, em um determinado Estado, de um documento único, escrito por um órgão soberano instituído com essa específica: finalidade, que contém, entre outras, as normas de organização política da comunidade e, sobretudo, que só pode ser alterado mediante um procedimento legislativo mais árduo, e com muito maiores restrições, do que o necessário à aprovação das normas não constitucionais pelos órgãos legislativos constituídos. Na acepção formal, portanto, o que define urna norma como constitucional é a forma pela qual ela foi introduzida no ordenamento jurídico, e não o seu conteúdo. Por isso - diferentemente da concepção material, pela qual todo Estado possui Constituição -, somente faz sentido falar em Constituição formal nos Estados dotados de Constituição escrita e rígida.” (Direito Constitucional descomplicado / Vicente Paulo, Marcelo Alexandrino. - 16. ed. rev., atual. e ampl. - Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2017.) D – “As constituições sociais correspondem a um momento posterior na evolução do constitucionalismo. Em seu texto estão consagrados não apenas direitos ligados à Liberdade, mas também direitos sociais, econômicos e culturais, ligados à igualdade material, cuja implementação exige uma atuação positiva do Estado (Estado do Bem Comum). Parte-se da premissa de que a liberdade tem como pressuposto a existência de uma igualdade real entre os cidadãos. De um modo geral, como esses direitos vêm muitas vezes consagrados em normas que estabelecem objetivos a serem alcançados, essa espécie corresponde às constituições dirigentes. (...) A partir de algumas das classificações supramencionadas, a atual Constituição brasileira se caracteriza por ser: dirigente; (Curso de direito constitucional/ Marcelo Novelino. - 11. ed. rev., ampl. e atual. - Salvador: Ed. JusPodivm, 2016.) E – “As Constituições normativas são as que efetivamente conseguem, por estarem em plena consonância com a realidade social, regular a vida política do Estado. Em um regime de Constituição normativa, os agentes do poder e as relações políticas obedecem ao conteúdo, às DIREITO CONSTITUCIONAL META 01 79 diretrizes e às limitações impostos pelo texto constitucional. São como uma roupa que assenta bem e realmente veste bem.” (Direito Constitucional descomplicado / Vicente Paulo, Marcelo Alexandrino. - 16. ed. rev., atual. e ampl. - Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2017.) LETRA E 15 – 2011 – CESPE - TJ-PB - Juiz Com relação ao objeto, aos elementos e aos tipos de constituição, assinale a opção correta. a) Quanto ao modo de elaboração, a vigente CF pode ser classificada como uma constituição histórica, em oposição à dita dogmática. b) O objeto da CF é a estrutura fundamental do Estado e da sociedade, razão por que somente as normas relativas aos limites e às atribuições dos poderes estatais, aos direitos políticos e individuais dos cidadãos compõem a Constituição em sentido formal. c) Por limitarem a atuação dos poderes estatais, as normas que regulam a ação direta de inconstitucionalidade e o processo de intervenção nos estados e municípios integram os elementos ditos limitativos. d) Os elementos formais de aplicabilidade são exteriorizados nas normas constitucionais que prescrevem as técnicas de aplicação delas próprias, como, por exemplo, as normas inseridas no Ato das Disposições Constitucionais Transitórias. e) Distintamente da constituição analítica, a constituição dirigente tem caráter sintético e negativo, pois impõe a omissão ou negativa de ação ao Estado e preserva, assim, as liberdades públicas. COMENTÁRIOS A – “As Constituições dogmáticas, sempre escritas, são elaboradas em um dado momento, por um órgão constituinte, segundo os dogmas ou ideias fundamentais da teoria política e do Direito então imperantes. Poderão ser ortodoxas ou simples (fundadas em uma só ideologia) ou ecléticas ou compromissórias (formadas pela síntese de diferentes ideologias, que se conciliam no texto constitucional). As Constituições históricas (ou costumeiras), não escritas, resultam da lenta formação histórica, do lento evoluir das tradições, dos fatos sociopolíticos, representando uma síntese histórica dos valores consolidados pela própria sociedade, como é o caso da Constituição inglesa. A Constituição brasileira de 1988 é tipicamente dogmática, porquanto foi elaborada por um órgão constituinte em um instante determinado, segundo as ideias então reinantes. “ B – “Na concepção formal de Constituição, são constitucionais todas as normas que integram uma Constituição escrita, elaborada por um processo especial (rígida), independentemente do seu conteúdo. Nessa visão, leva-se em conta, exclusivamente, o processo de elaboração da norma: todas as normas integrantes de uma Constituição escrita, solenemente elaborada, serão constitucionais. Não importa, em absoluto, o conteúdo da norma. (...) As normas apenas DIREITO CONSTITUCIONAL META 01 80 formalmente constitucionais são aquelas que integram o texto da Constituição escrita, mas tratam de matérias sem relevância para o estabelecimento da organização básica do Estado. É o caso, por exemplo, do art. 242, § 2º , da Constituição Federal, que estabelece que o Colégio Pedro II, localizado na cidade do Rio de Janeiro, será mantido na órbita federal. A Constituição Federal de 1988 é do tipo formal, porque foi solenemente elaborada,por um órgão especialmente incumbido desse mister, e somente pode ser modificada por um processo especial, distinto daquele exigido para a elaboração ou alteração das demais leis (rígida).” C – “elementos limitativos - que se manifestam nas normas que consagram o elenco dos direitos e garantias fundamentais (Título II da Constituição - Dos Direitos e Garantias Fundamentais, excetuando-se os Direitos Sociais, que entram na categoria seguinte).” D – “elementos formais de aplicabilidade - são os que se acham consubstanciados nas normas que estabelecem regras de aplicação das normas constitucionais, assim, o preâmbulo, o dispositivo que contém as cláusulas de promulgação, as disposições constitucionais transitórias e o § 1.º do art. 5.º, que determina que as normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata.” E – “Constituição dirigente, de texto extenso (analítica), é aquela que define fins, programas, planos e diretrizes para a atuação futura dos órgãos estatais. É a Constituição que estabelece, ela própria, um programa para dirigir a evolução política do Estado, um ideal social a ser futuramente concretizado pelos órgãos estatais. O termo "dirigente" significa que o legislador constituinte "dirige" a atuação futura dos órgãos governamentais, por meio do estabelecimento de programas e metas a serem perseguidos por estes.” Todas as citações contidas nos comentários desta questão foram extraídas da obra “Direito Constitucional descomplicado / Vicente Paulo, Marcelo Alexandrino. - 16. ed. rev., atual. e ampl. - Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2017.” LETRA D 16- FGV - 2022 - PC-AM - Delegado de Polícia - Edital nº 01 Em um período no qual a região norte do País estava sendo atingida por uma calamidade de grandes proporções da natureza, um grupo de vinte Senadores subscreveu uma proposta de emenda constitucional, visando a alterar a sistemática afeta à estruturação dos órgãos de segurança pública. Acresça-se que proposta idêntica fora apresentada e rejeitada pelo Senado Federal na mesma legislatura, mais especificamente no ano anterior. À luz da sistemática constitucional, é correto afirmar que essa proposta afronta DIREITO CONSTITUCIONAL META 01 81 A) os limites formais, materiais, circunstanciais e temporais de reforma constitucional. B) apenas os limites formais, circunstanciais e temporais de reforma constitucional. C) apenas os limites circunstancias e temporais de reforma constitucional. D) apenas os limites formais e materiais de reforma constitucional. E) apenas os limites formais de reforma constitucional. COMENTÁRIOS Limites Formais: A proposta deveria ser apresentada por 27 senadores e não 20. 1/3 de 81. (Art. 60, I, CF) Limites Materiais: Estruturação dos órgãos da Segurança pública não é cláusula pétrea (Art. 60, §4, CF) Limites Circunstanciais: Trata da vedação de alteração da CF em algumas circunstâncias (Estado de Sítio, Estado de Defesa e Intervenção Federal). Art. 60, §1, CF Limites Temporais: Não existe limitações temporais na atual CF sobre as emendas. LETRA E 17- FGV - 2022 - PC-AM - Delegado de Polícia - Edital nº 01 Após uma revolução que culminou com a derrubada do regime anterior, o grupo político dominante do País Alfa resolveu solicitar que uma comissão de notáveis elaborasse um projeto de Constituição, submetendo-o, ato contínuo, a referendo popular. A Constituição assim elaborada buscou conciliar inúmeras correntes políticas aparentemente opostas entre si e direcionar as políticas públicas a serem adotadas para a implementação dos direitos sociais, além de ter exigido um procedimento qualificado para a reforma de parte de seus comandos, considerados materialmente constitucionais, enquanto a outra parte poderia ser alterada com observância do mesmo procedimento afeto à lei ordinária. Por fim, observa-se que essa Constituição era demasiado extensa. A Constituição assim descrita é classificada como A) bonapartista, compromissória, de garantia, rígida e sintética. B) cesarista, compromissória, dirigente, semirrígida e analítica. C) bonapartista, ortodoxa, dirigente, semirrígida e analítica. D) cesarista, pragmática, dirigente, semirrígida e sintética. DIREITO CONSTITUCIONAL META 01 82 E) outorgada, eclética, de garantia, flexível e analítica. COMENTÁRIOS Cesarista ou Bonapartista: Embora seja outorgada, nela há participação popular por meio de referendo. Compromissória: aquelas que possuem normas inspiradas em ideologias diversas. Diferente da Ortodoxa que reflete apenas um pensamento ideológico, como, por exemplo, a Constituição Chinesa. Social/Dirigente: Incorpora também os direitos de 2 dimensão, direciona as ações governamentais. Semirrígida: Para algumas matérias se exige processo legislativo mais complexo; para outras, não. Analítica: É extensa, prolixa. LETRA B