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4 1. DIREITO CONSTITUCIONAL: CONCEITO, OBJETO, ORIGEM, FORMAÇÃO, CONTEÚDO, FONTES E MÉTODOS DE TRABALHO. A FORÇA NORMATIVA DA CONSTITUIÇÃO. DO SISTEMA CONSTITUCIONAL: A CONSTITUIÇÃO COMO UM SISTEMA DE NORMAS. OS VALORES NA CONSTITUIÇÃO. OS PRECEITOS FUNDAMENTAIS. FINS E FUNÇÕES DO ESTADO. OS OBJETIVOS FUNDAMENTAIS DE REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. OS PRINCÍPIOS QUE REGEM AS RELAÇÕES INTERNACIONAIS DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. OS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS. AUTORA: GABRIELA BAZANELLA DE OLIVEIRA MATERIAL DE CONSULTA: DIRLEY DA CUNHA JR. CURSO DE DIREITO CONSTITUCIONAL, JUSPODVIM (2012). KILDARE GONÇALVES CARVALHO. DIREITO CONSTITUCIONAL (2008). CADERNO LFG - MARCELO NOVELINO (2011). 1.1. Acerca do Direito Constitucional, responda: 1.1.1. Qual é seu conceito? Ramo fundamental do Direito que investiga, estuda e sistematiza as normas e instituições que dispõem sobre as bases e elementos fundamentais do Estado, determinando sua estrutura, organização e seus fins, a composição e o funcionamento de seus órgãos superiores, disciplinando o modo de aquisição e ascensão ao poder e os limites de sua atuação, assim como os direitos e as garantias fundamentais do indivíduo e da coletividade. Direito Constitucional: Superdireito, não só porque provém, como direito positivo, do Poder Constituinte, mas também porque domina todos os ramos do Direito submetendo-os a seus princípios, estabelecendo os seus fundamentos e condicionando a sua interpretação, aplicação e validade. Pedra angular de toda a ordem jurídica. 1.1.2. Qual seu objeto? Conhecimento científico e sistematizado da organização fundamental do Estado. 1.1.3. Qual sua origem e formação? Ligado ao triunfo político das revoluções liberais do séc. XVIII (americana e francesa), cujo propósito maior que as animou era a limitação do poder mediante a consagração de um sistema de separação das funções estatais. 1.1.4. Qual é o seu conteúdo? A doutrina costuma distinguir ou dividir o Direito Constitucional, relativamente ao conteúdo científico, em três partes: 5 1. Direito Constitucional Especial, Positivo ou Particular: Direito Constitucional de um determinado Estado, que tem por objetivo o estudo e conhecimento de sua constituição em vigor. 2. Direito Constitucional Comparado: Estudo teórico das normas constitucionais positivas, mas não obrigatoriamente vigentes, de vários estados, ou do mesmo Estado em épocas diferentes, objetivando realçar as peculiaridades, os contrastes e as semelhanças entre elas. ² Comparação no TEMPO das Constituições de um mesmo Estado. ² Comparação no ESPAÇO das Constituições de diferentes Estados. è É possível afirmar que um dos objetos do Direito Constitucional Comparado é o estudo das normas jurídicas positivadas nos textos das Constituições de um mesmo Estado, em diferentes momentos histórico-temporais? SIM. 3 – Direito Constitucional Geral: Teoria geral do Direito Constitucional, que tem por objeto a identificação e sistematização, numa perspectiva unitária, dos princípios, conceitos e instituições comuns a diversos ordenamentos constitucionais e que se acham presentes em várias constituições de Estados diferentes, que revelam características equivalentes ou similares. 1.1.5. Quais são suas fontes e métodos de trabalho? Métodos de trabalho (Kildare Carvalho): Metódica tridimensional. A. Teoria da norma Constitucional: Saber como se estruturam as regras e princípios da constituição positivamente vigente. B. Captar todo o ciclo de realização das normas constitucionais desde o estabelecimento do texto da norma (teoria do poder constituinte) até sua concretização pelo legislador ordinários e pelos órgãos de aplicação do direito – administração e juízes – o que pressupõe uma teoria da legislação, uma teoria da decisão administrativa e uma teoria da decisão judicial. C. Teoria da interpretação, teoria da argumentação, hermenêutica: oferecer princípios hermenêuticos e de argumentação de forma a possibilitar um procedimento concretizador racional e objetivamente controlável. A metódica constitucional, diferentemente da metodologia tradicional, não se concentra na realização judicial do direito. Assume-se como metódica estruturante. Essa metódica assenta, desde logo, a na ideia de que o trabalho de aplicação das normas constitucionais implica, simultaneamente, o manejo de uma teoria da norma, teoria da Constituição e de uma Dogmática Jurídica. Fontes do Direito Constitucional: Modos de formação e revelação das normas jurídicas. Fontes Formais: São os modos de manifestação do direito mediante os quais os juristas conhecem e descrevem o fenômeno jurídico. Fontes Materiais: São os elementos que emergem da própria realidade social e dos valores que inspiram o ordenamento jurídico, como fatores naturais, demográficos, políticos, econômicos, morais e outros. 6 Lei à Triunfou. Costume à Somente Inglaterra. Os costumes podem vir a completar, integrar ou desenvolver as normas escritas da Constituição. Na Constituição formal, o exame dos costumes não se situa no momento de sua elaboração originária, mas quando da criação superveniente das normas constitucionais, como o processo de revisão, emenda ou reforma da Constituição. ² Costumes secundum legem: É fonte. Respeita as práticas anteriores à CRFB. ² Praeter legem: Caráter supletivo. Possui papel interpretativo e integrativo. ² Contra legem: Seria inconstitucional essa modalidade de costume. Jurisprudência 1.2. O que é “Supremacia da norma Constitucional”? É possível afirmar que a Supremacia advém da ideia de rigidez constitucional? É possível falar em Supremacia em Constituições não escritas? Todas as normas constitucionais das Constituições Rígidas, independentemente de seu conteúdo, têm estrutura e natureza de normas jurídicas, ou seja, são normas providas de juridicidade, que encerram um imperativo [=obrigatoriedade de comportamento]. TODAS as normas constitucionais, SEM EXCEÇÃO, mesmo as permissivas, são dotadas de imperatividade, por determinarem uma conduta positiva ou uma omissão, de cuja realização são obrigadas todas as pessoas e órgãos às quais elas se dirigem. NÃO EXISTE NORMA CONSTITUCIONAL DESTITUÍDA DE EFICÁCIA. Todas as normas jurídicas são imperativas, mas as normas constitucionais têm a particularidade de serem superiores às demais normas do ordenamento jurídico. Demais normas devem se conformar: è Material [Conteúdo] è Formalmente [Maneira de elaboração] Supremacia Constitucional advém da soberania da fonte que a produziu: PODER CONSTITUINTE ORIGINÁRIO. Lembrar da teoria clássica do escalonamento de Kelsen. A Constituição é a base da ordem jurídica e o fundamento de sua validade. Lei Suprema [Canotilho]: Fonte de produção normativa [norma normarum]; à Superlegalidade formal justifica a tendencial rigidez das normas constitucionais, pois as leis de revisão há exigências reforçadas. Reconhecimento de valor normativo hierarquicamente superior à Superlegalidade material 7 A Superioridade da Constituição conduz à sua superioridade hierárquico-normativa relativamente às outras normas do ordenamento jurídico. Isso ainda implica em que: a) As normas constitucionais constituem uma lex superior que lhe recolhe o fundamento de validade em si própria (autoprimazia normativa);atender a TODAS as necessidades básicas. 3.3. Quais são os métodos específicos da interpretação constitucional? A) método científico espiritual - leva em conta a realidade social e os valores subjacentes ao texto da constituição. Referido na obra de Smend busca potencializar a concretização de soluções hermenêuticas conciliatórias, sugere, incentiva a busca de soluções que possam promover a coesão político-social. Mas às vezes esses métodos podem ser utilizados para promover soluções conciliatórias na sociedade, para impedir “convulsões” entre grupos de nossa sociedade, ex: a delimitação contínua das reservas indígenas, com a permissão para as forças armadas adentrarem a reserva para fins de segurança nacional; B) método normativo-estruturante - conjuga o elemento literal com os demais elementos dos métodos clássicos de interpretação. Criado por Müller, a ideia aqui é que o conceito de norma constitucional é um conceito muito mais amplo, podendo ser visualizada sobre uma dúplice perspectiva: i) norma constitucional como texto normativo (ou programa normativo – concretizando a Carta Magna como um produto da interpretação, que é uma atividade mediadora e concretizadora de finalidades – pensamento de Hesse = o texto da norma constitucional é a apenas a ponta do iceberg) e ii) norma constitucional com âmbito normativo. Conceber a ideia de que o cidadão tem o direito de não aceitar atos abusivos do poder público. C) método hermenêutico conretizador - Parte da constituição para chegar até o problema, valendo- se de pré-compreensões sobre o tema subjacente. Nos foi legado por Hesse o papel do intérprete da Constituição seria um papel construtivo, ativo no desenvolvimento do processo hermenêutico. Para HESSE, a norma é um produto da interpretação constitucional. Esse processo hermenêutico seria conduzido pelo que ele denomina de pré-compreensão – conjunto de valores, visões de mundo, crenças que o intérprete incorpora na sua própria consciência dentro de seu espaço interpretador, mergulhado numa cultura, num conjunto de valores num dado contexto histórico- cultural. Exemplo: o tema sobre O DIREITO À MORTE DIGNA – a doutrina e a jurisprudência mesmo diante da proibição da eutanásia, estão diante de uma realidade histórico-social, que talvez permita a realização da morte digna, reconhecendo que um paciente em estado terminal retire sua própria vida em nome da dignidade, e como argumento a favor, poderia se utilizar da ideia de que assim estaria realizando um direito mais justo; 32 D) método tópico-problemático - Percorre o caminho inverso, ou seja, parte do problema, do caso concreto, para chegar até a norma constitucional aplicável. nos foi legado pelo autor Viehweg (século XX). A Tópica é um estilo de pensamento voltado para a busca priorizada do exame do caso concreto, para a partir daí, escolher uma das opções interpretativas, e posteriormente buscar fundamentar a sua decisão. Visão totalmente contrária ao positivismo, pois segundo este método a conclusão seria lógico-dedutiva, sendo que primeiro devemos observamos o caso concreto e depois buscar a norma que se adequasse a ele; E) Método concretista da Constituição aberta de Peter Haberle: prega uma interpretação da Constituição não apenas por juristas, mas por todos e em qualquer lugar. A interpretação constitucional não pode ser atribuída apenas a um círculo fechado de intérpretes. Todos que vivem na realidade constitucional podem interpretar. A interpretação deve, portanto, ser democrática, aberta. 3.4. Quais são os princípios específicos da interpretação constitucional? A) Supremacia da constituição - O Estado de Direito é criado e regulado por uma constituição. Assim, a constituição rígida está no topo do ordenamento jurídico, de modo que serve de fundamento de validade, direta ou indiretamente, a todas as normas do sistema; B) Presunção de constitucionalidade das leis - decorre do processo legislativo formalmente concluído a presunção de que o legislador observou os mandamentos constitucionais na feitura da lei. Tal presunção persiste até a declaração de inconstitucionalidade da lei pelo Judiciário. Este princípio atribui um ônus argumentativo àquele que sustenta a inconstitucionalidade da lei perante o Judiciário; C) Máxima efetividade das normas constitucionais (força normativa da constituição) - a constituição é vista, na contemporaneidade, como dotada de eficácia normativa, não se trata de mero conselho ao legislador; D) Unidade da constituição - a constituição deve ser compreendida como um todo uno, não se deve interpretar as suas normas ou capítulos como se fossem estanques, de maneira isolada ou desconectada das demais partes; E) Proporcionalidade - para solucionar casos que envolvam restrição a direitos fundamentais, deve- se sopesar os princípios constitucionais envolvidos no conflito por meio de uma análise que parte da necessidade, verifica a adequação e pondera a proporcionalidade estrita da restrição; F) Princípio da concordância prática/ harmonização - coordenação e combinação dos bens jurídicos em conflito para evitar o sacrifício total de uns em relação a outros. É um pressuposto da proporcionalidade e trabalha com a ideia de que inexiste hierarquia entre os princípios constitucionais; G) Princípio da correção funcional/ justeza - fiel observância à repartição constitucional de competências e funções entre os Poderes; 33 H) Princípio do efeito integrador - primazia dos critérios que favoreçam a integração política e social e o reforcem a unidade política; I) Princípio da interpretação conforme - diante de uma norma infraconstitucional que seja plurissignificativa, deve-se privilegiar o sentido que mais se aproxima da constituição. 3.5. O que é a sociedade aberta dos intérpretes da constituição? Há institutos relacionados no ordenamento jurídico brasileiro? É a ideia, formulada por Peter Haberle, segundo a qual a interpretação constitucional não deve ser monopólio do Poder Judiciário ou, ao menos, não deve ser monopólio de um único órgão público. Pode-se admitir que o Judiciário (ou o tribunal constitucional) tenha a última palavra, mas não que monopolize a discussão. Os cidadãos devem participar, órgãos públicos diversos também. São institutos de direito positivo que exprimem tal abertura: o controle difuso, a ampliação da legitimidade ativa para o controle concentrado, o amicus curiae, as audiências públicas. 3.6. O que se entende por criação judicial do Direito? É o fenômeno do Direito contemporâneo, bastante aprofundado pela jurisdição constitucional, que se manifesta pela transformação do papel atribuído aos juízes e tribunais na sociedade, de modo que estes deixam de ser meros aplicadores das leis e assumem postura mais ativa com a função de criar Direito, seja preenchendo os espaços deixados pela omissão legislativa, seja delimitando a amplitude de direitos fundamentais. 3.7. Quais são as formas mais adotadas pela doutrina para classificar as constituições? Quanto ao conteúdo – divide as constituições em (i) materiais e (ii) formais: A constituição material é concebida em sentido amplo e em sentido estrito. No primeiro, identifica- se com a organização total do Estado, com regime político. No segundo, designa as normas constitucionais escritas e costumeiras que regulam a estrutura do Estado, a organização de seus órgãos e os direitos fundamentais. A constituição formal é o documento solenemente estabelecido pelo poder constituinte e somente modificado por processos e formalidades previamente estabelecidos. Quantoà forma – (i) constituição escrita, quando codificada e sistematizada num texto único, elaborado por um órgão constituinte, encerrando todas as normas tidas como fundamentais sobre a estrutura do Estado; (ii) não escrita, quando as normas não constam em um documento único e solene, mas que se baseia essencialmente nos costumes, na jurisprudência e em convenções e em textos constitucionais esparsos. Quanto ao modo de elaboração – (i) constituição dogmática, escrita, é a elaborada por um órgão constituinte, e sistematiza os dogmas ou ideias fundamentais da teoria política e do Direito dominantes no momento. (ii) constituição histórica ou costumeira, não escrita, é resultante de lenta transformação histórica, do lento evoluir das tradições, dos fatos sócio-políticos, que se cristalizam como normas fundamentais de organização de determinado Estado. 34 Quanto à origem: (i) constituições populares, ou democráticas, são aquelas que se originam de um órgão constituinte composto por representantes do povo, eleitos para o fim de elaborar a constituição. (ii) outorgadas, são aquelas elaboradas e estabelecidas sem a participação do povo, ou seja, impostas unilateralmente pelo governante. (iii) constituição cesarista é aquela formada por plebiscito popular sobre um projeto elaborado pelo governador ou por um ditador. A participação popular, nesses casos, não é democrática, pois visa apenas ratificar a vontade daquele de detém o poder. Quanto à estabilidade: (i) constituições rígidas somente são alteradas por processos formais especiais e mais difíceis que os de formação das leis ordinárias e complementares. (ii) a constituição flexível permite ser livremente modificada pelo legislador pelo mesmo processo de criação das leis ordinárias. (iii) semi-rígida é a constituição que contém uma parte rígida e outra flexível. Quanto à extensão: (i) sintética, aquele que veicula apenas os princípios fundamentais e estruturais do Estado; (ii) analítica é aquela que aborda todos os assuntos que os constituintes entenderem por fundamentais. 3.8. As constituições contemporâneas são compostas por quais elementos? As constituições contemporâneas reúnem matérias diversas, entendidas como fundamentais para coletividades. José Afonso da Silva divide tais elementos em cinco categorias: (i) elemento orgânico: normas que regulam a estrutura e funcionamento do Estado; (ii) elemento limitativo: normas que preveem os direitos e garantis fundamentais: direitos individuais e suas garantias, direitos de nacionalidade e direitos políticos e democráticos. São limitativos porque limitam a ação dos poderes estatais. (iii) elementos sócio-ideológicos: revelam o caráter de compromisso das constituições modernas entre o Estado individualista e o Estado social. (iv) elementos de estabilização constitucional: destinados a assegurar a solução de conflitos constitucionais, a defesa da constituição e das instituições democráticas. (v) elementos formais de aplicabilidade: são as regras de aplicação da constituição, como o preâmbulo e as disposições constitucionais transitórias. 3.9. Como as normas constitucionais podem ser classificadas em relação à sua eficácia e aplicabilidade? Segundo José Afonso da Silva, as normas constitucionais podem ser divididas, quanto a sua capacidade de produzir efeitos jurídicos, em três categorias: Normas constitucionais de eficácia plena são aquelas cuja aplicabilidade é direta, imediata e integral, não dependendo de norma infraconstitucional. Normas de eficácia contida possuem aplicabilidade direta e imediata, podendo, todavia, ter sua abrangência restringida por norma infraconstitucional. Enquanto não editada a lei restritiva, a norma constitucional de eficácia contida produzirá todos os seus efeitos. 35 Normas de eficácia limitada têm aplicação mediata e diferida. Necessitam de norma integrativa infraconstitucional para produzir efeitos. As normas de eficácia limitada ainda se dividem em: (i) normas de princípio institutivo ou organizativo: traçam esquemas de estruturação de órgãos, instituições ou entidades; (ii) normas de princípios programáticos: estabelecem princípios e metas a serem cumpridos pelo Estado. 3.10. Como se classifica a nossa atual Constituição? A Constituição brasileira de 1988 pode ser classificada como sendo promulgada, pois é fruto de debates políticos entre os representantes do povo. É escrita, devendo ser alterada por meio de emendas constitucionais. É analítica, pois aborda todos os temas considerados fundamentais pelos representantes do povo. Trata-se de uma Constituição formal quanto ao conteúdo, elegendo como critério o processo de formação e não o conteúdo das normas para defini-las como constitucional ou não. É dogmática e também super-rígida, já que além de um processo de modificação mais dificultoso e solene do que o processo de formação das leis possui cláusulas pétreas que são imutáveis. É reduzida, já que se materializa em um único documento legislativo, apesar de alguns a intitularem de variada, vez que também fazem parte da Constituição as Emendas Constitucionais que não integraram o texto da Constituição e os tratados internacionais de direitos humanos aprovados com quorum de 3/5, em dois turnos, pelas duas casas do Congresso Nacional. É também eclética, pois é formada por diversas ideologias e pretende ser normativa. 3.11. O que se entende por “Constituição Plástica”? Pinto Ferreira versa que o termo “Constituição Plástica” é sinônimo de Constituição flexível, que pode, portanto, ser alterada pelo mesmo processo de formação das leis, ou até mesmo por um processo ainda mais facilitado. Já Raul Machado Horta entende que Constituição Plástica é aquela que tem capacidade de se adaptar ao futuro sem a necessidade de emenda constitucional. Nesse sentido, a constituição deve ser principiológica, não podendo ser muito detalhista. Um exemplo de Constituição Plástica nesse sentido seria a Constituição dos EUA. 3.12. Qual a origem filosófica do direito ao mínimo existencial? Na antiguidade, o mínimo existencial relacionava-se, especialmente nas sociedades grega e romana, à ideia de vida própria, corpo, alimentação, roupas e ferramentas básicas de trabalho. Quanto às sociedades de cunho escravocrata, houve um retrocesso, pois o mínimo existencial era relacionado à propriedade privada( corpo do escravo pertencia ao seu dono). 36 O movimento jusnaturalista trouxe a primeira geração de direitos humanos, as liberdades públicas alavancavam o direito ao mínimo existencial. Com a constituição mexicana de 1917 e a alemã de 1919 houve um avanço do caráter do mínimo existencial aos direitos sociais. 3.13. Qual a origem jurídica do direito ao mínimo existencial? Seria o mínimo necessário que o indivíduo precisa para não morrer. Porém, a defensoria sustenta que na verdade seria o mínimo necessário para se viver com dignidade. Haveria assim, uma diferença fundamental entre o mínimo vital e o mínimo existencial. O primeiro reconhecimento jurídico do que seria o mínimo existencial veio da Alemanha, em seu Tribunal Federal Administrativo, em 24 de junho de 1954. Ainda na Alemanha, o tribunal constitucional federal reconheceu status constitucional ao mínimo existencial. 3.14. Qual a natureza jurídica e o conceito do mínimo existencial? O mínimo existencial é o núcleo duro do princípioda dignidade da pessoa humana. Tudo o que é mínimo existencial é dignidade, mas nem tudo que é dignidade é mínimo existencial. O mínimo existencial é norma-regra (os outros efeitos que se irradiam da dignidade seriam normas- princípio). Assim, por ser consenso (regra), o mínimo existencial está amplamente sujeito à fiscalização judicial, enquanto que as questões periféricas da dignidade humana (princípio) estariam sujeitas à deliberação de políticas públicas. A norma, como sabemos, ou é regra (submete-se aos critérios de validade/aplicação) ou é princípio (admite-se a colisão e a aplicação de um não exclui a aplicação de outro). Destarte, podemos dizer quero mínimo existencial está para a regra assim como a dignidade está para princípio. Não há nenhuma hipótese de ponderação do mínimo existencial, podendo o judiciário tutela-lo. 3.15. Qual o objeto do mínimo existencial? O mínimo existencial tem caráter universal (universalíssimo de confluência ou de chegada) e é absoluto (não admite relativizações, até porque tem a natureza de regra). Há uma concepção absoluto-dinâmica (embora o mínimo existencial não admita restrições –absoluto - o seu conteúdo pode variar no tempo espaço-dinâmico). Abrange direitos de primeira e segunda geração. Como não admite relativizações, só permite que as condições mínimas sejam aumentas, nuca reduzidas (proibição do retrocesso). 3.16. Quem são os titulares do mínimo existencial? As pessoas físicas, mas também se pode falar de mínimo existencial para a pessoa jurídica (ex: acesso a justiça, direito fundamental baseado na dignidade, por se tratar de um elemento instrumental do mínimo existencial, as pessoas jurídicas podem se valer da justiça gratuita, em alguns casos). 37 3.17. Quem são os destinatários do mínimo existencial? O destinatário principal é o Estado, como destinatários secundários, estão as pessoas físicas e as jurídicas (ex: alimentos, crédito consignado). 3.18. O que é “Reserva do Possível”? Alegada a partir da década de 1970 e criada pelo Tribunal Constitucional Federal Alemão – não obsta, de maneira genérica, a concretização do direito fundamental. De acordo com teoria alemã, a efetivação dos direitos sociais estaria limitada às possibilidades orçamentárias do Estado, na medida em que os direitos prestacionais representam custos aos cofres públicos. O STF em decisões reiteradas afirmou que a reserva do possível não pdoe ser oposta ao mínimo existencial. 3.19. No que consiste o grau mínimo de eficácia de direitos sociais? Com base no neoconstitucionalismo e no ativismo judicial, alguns tribunais pátrios, incluindo o STF, vêm relativizando a teoria da aplicabilidade das normas constitucionais, defendendo a aplicabilidade imediata (eficácia plena) de normas programáticas que digam respeito ao mínimo existencial (grau mínimo de eficácia de direitos sociais) atrelado à dignidade da pessoa humana com base no princípio da proporcionalidade. Com isso, direitos como educação e saúde estão sendo aplicados de forma imediata com base no mínimo existencial e o judiciário, nesses casos, vem relativizando a reserva do possível (limitações orçamentárias) e suprindo omissões dos poderes públicos no que tange a direitos sociais. 3.20. (MPF CONCURSO 26) Fale sobre jurisdição constitucional e instância contramajoritária. Nossa democracia é substantiva, não vale a mera regra por maioria. A democracia (decisão tomada pela maioria) e o constitucionalismo (proteção de direitos e limitação de poder) convivem. Vontade da maioria cede em razão do constitucionalismo, a vontade da maioria não pode ferir direito fundamental. No Estado Democrático de Direito deve ser preservado o direito das minorias: a vontade da maioria não pode ferir direitos da minoria constitucionalmente assegurados. Assim, Judiciário (imparcial) vai proteger o direito das minorias. Democracia exige o governo do povo (maioria), mas com respeito aos direitos fundamentais. A função contramajoritária que o STF desempenha no Estado Democrático de Direito, de modo a conferir efetiva proteção às minorias, é exemplificado com a política de quotas e o reconhecimento de união homoafetiva, por constituírem proteção ao direito das minorias. 38 3.21. (MPF CONCURSO 26): Falar sobre ativismo judicial. É uma postura mais ativa do Judiciário na implementação de direitos. O PJ deve ter uma postura mais ativa quando os demais Poderes se omitem. Exemplo: direito de greve dos servidores públicos. Em regra, quando a CF determina a implementação de políticas públicas, isso é dirigido ao Legislativo e ao Executivo, poderes de natureza política, pois são eles que têm o controle do orçamento e farão isso na medida do possível (reserva do possível). Porém, diante da inércia deles, surge o ativismo judicial (possibilidade de concretização destes direito pelo Judiciário). Ativismo judicial: ocorre quando Judiciário pode interpretar com mais liberdade, e não com apego exacerbado ao texto. Por isso, o Judiciário atua em áreas que seriam ocupadas por órgãos políticos. Ex: políticas públicas. O oposto de ativismo judicial é o Self restraint (ou auto-contenção). 3.22. Qual a diferença entre ativismo judicial e self restraint (auto-contenção)? Ativismo judicial: Judiciário faz aplicação direta da CF (exceto normas de eficácia limitada), independente de intermediação de lei. É a filtragem constitucional: é a lei que deve estar em conformidade com a CF e não o contrário. Judiciário atua nos campos tradicionalmente reservados aos órgãos políticos. Ex: políticas públicas. Controle de constitucionalidade com critérios menos rígidos: Judiciário declara quando inconstitucionalidade for aparente. Ex: violou razoabilidade, proporcionalidade. Self restraint: Não aplica CF em situações que não estejam expressamente em seu âmbito de incidência. Redução do âmbito de aplicação da CF. O Judiciário se autolimita e não interfere em matérias da competência de órgão político. Isso reduz a aplicação da CF pelo Judiciário. Executivo e Legislativo é que concretizam a CF, são eles que atuam nas políticas públicas. Controle de constitucionalidade mais rígido: Judiciário só declara norma inconstitucional quando tiver clara inconstitucionalidade. É o weak judicial review. 3.23. (Oral AGU 2009) Definir interpretavismo e não-interpretativismo; qual dos dois acima "seria mais útil" para o ativismo judicial. São correntes do direito americano. Interpretativismo: a interpretação tem que seguir legislador constitucional originário, pois isso respeita a vontade popular. Está mais ligado ao positivismo e Constitucionalismo liberal ou clássico. Há um respeito absoluto ao texto da CF. Segue a vontade original de quem elaborou a CF. Não interpretativismo: O Judiciário tem o dever de evoluir o texto constitucional (ativismo judicial), cada geração interpreta a CF de uma forma, não pode ficar preso ao constituinte originário. Vai além do que está expresso no texto. Ativismo judicial: postura mais ativa do Judiciário na concretização dos direitos. Ex: greve dos servidores públicos. 39 3.24. Fale sobre as teorias dialógicas no contexto da interpretação constitucional: As teorias dialógicas são um conjunto de teorias que se baseiam na ideia de que a proteção dos Direitos Fundamentais não é monopólio do Judiciário. A melhor maneira de proteger direitos fundamentaisnão é por decisão judicial, mas por meio de dialogo entre Judiciário, Executivo, Legislativo e sociedade civil. Esta comunicação vai fortalecer proteção dos direitos fundamentais, pois vai propiciar melhor debate. Disso surge o diálogo institucional (acho que esta é uma das teorias dialógicas). O diálogo institucional prega o diálogo entre as diversas instituições do Estado. Provoca a COMUNICAÇÃO entre os Poderes; as decisões SÃO CONSTRUÍDAS por decisão comum e não impostas; não importa quem tem a última palavra, pois sempre será possível uma reação a esta última palavra, desde que nos limites da CF. Ex: decisão em ADI vincula Judiciário e Administração, mas não o Legislativo, que pode reagir e elaborar norma de igual conteúdo. Isso provoca diálogo, pois STF irá reapreciar a lei; audiências públicas. Tudo isso promove o debate entre os Poderes. Críticas a ela: a) CF dá pouca abertura ao diálogo, pois há um rígido sistema de controle de constitucionalidade. As possibilidades são remotas. Ex: decisão em ADI não vincula Legislativo; o Senado pode ampliar efeitos da decisão do STF, suspendendo a norma impugnada (art. 52, X). b) O Legislativo está desacreditado devido à sua omissão. Então, como promover o diálogo? 3.25. O que se entende por eficácia vertical e eficácia horizontal dos direitos fundamentais? A distinção diz respeito aos sujeitos que figuram nas relações jurídicas envolvendo direitos fundamentais. Assim, por eficácia vertical, entende-se o tipo de produção de efeitos da clássica relação entre Estado e pessoas, em geral com o primeiro no pólo passivo. Por eficácia horizontal temos a aplicação dos direitos fundamentais nas relações privadas, entre particulares. Esta, por sua vez, subdivide-se em: (i) eficácia horizontal mediata ou indireta, que abrange as situações em que os direitos fundamentais se aplicam às relações privadas por meio de lei infraconstitucional. (Ex: Código Civil, Código Penal, Consolidação das Leis Trabalhistas); e (ii) eficácia horizontal imediata ou direta, pertinente às relações em que os direitos se aplicam imediatamente nas relações privadas sem a necessidade lei infraconstitucional. Ex: entendimento do STF de que para se excluir um associado de uma associação, deve-se respeitar o contraditório e a ampla defesa (considerando assim princípios tipicamente de relação vertical com o Estado em relações horizontais). 40 3.27. Qual a definição de lacuna constitucional e como estas podem ser sistematizadas? Na definição elementar de Jorge Miranda, uma lacuna constitucional ocorre quando há uma situação constitucionalmente relevante não prevista. A definição requer algumas observações. Conforme Gilmar Mendes e Paulo Branco, primeiro, há que se discernir se não houve omissão proposital, se o constituinte não deixou de disciplinar a matéria intencionalmente para que o fosse em movimento oportuno, sem a rigidez constitucional. Gilmar Mendes denomina tais situações como de “silêncio eloquente” do constituinte. Seria o exemplo da não menção a leis e atos normativos municipais no artigo 102, I, a, da CFB. Na hipótese em que há apenas um lapso do constintuinte, uma omissão não pretendida, tem-se uma lacuna de formulação. Um exemplo seria a omissão do Governador do DF como legitimado a a propor ADIN perante o STF até a EC 45/2004, muito embora o Governador de Estado tivesse essa prerrogativa desde o início. A analogia é um método integrativo de grande valia nessas casos. Pode ocorrer ainda que o constituinte não tenha se atentado à necessidade de disposição transitória, de período de adaptação no plano da realidade, para que a norma que redigiu produza os fins desejados. Assim, o intérprete entende pertinente que sejam incluídos, suprimidos ou modificados alguns elementos estruturais da norma constitucional de modo que o caso concreto seja pertinentemente regulado. Este tipo de lacuna recebe a designação de lacuna axiológica. Note-se, que no caso da lacuna axiológica, há o pressuposto de um legislador racional e um ordenamento ótimo, ambos ideais e coerentes, que servem ao menos de ponto de partida hermenêutico. Desta premissa empodera-se o intérprete para lançar mão de recursos como a descoberta de lacunas axiológicas para manter a integridade e unidade do sistema jurídico. J. J. Gomes Canotilho aborda o assunto partindo da afirmação de que uma lacuna normativo- constitucional só existe quando se verifica uma incompletude contrária à ordenação constitucional. Assim, tem-se uma lacuna constitucional autônoma quando, a despeito da ausência de disciplina jurídica no complexo normativo-constitucional, a solução par ao caso pode ser extraída a partir do plano regulativo da constituição, bem como da teleologia da regulamentação constitucional. Esta espécie de lacuna se diferencia, assim, das lacunas constitucionais heterônomas, que advém do não cumprimento de ordens de legislar e das imposições constitucionais constitucionalmente expressas; e das integrações corretivas, que se fundamentam na ideia de que a normatização constitucional, sob o ponto de vista político, é incompleta, errada ou necessita de aprimoramento (à semelhança na definição de lacuna axiológica de Gilmar Mendes e Paulo Branco).b) As normas da constituição são normas de normas (normae normarum), afirmando-se como uma fonte de produção jurídica de outras normas; c) Superioridade normativa das normas constitucionais gera o princípio da conformidade de todos os atos dos poderes públicos com a Constituição. A Superioridade jurídica da Constituição implica, na prática brasileira, a revogação de todas as normas anteriores com ela materialmente contrastantes e a nulidade de todas as normas editadas posteriormente à sua vigência. A superioridade hierárquico-normativa da Constituição SÓ se coaduna com as CONSTITUIÇÕES RÍGIDAS que se caracterizam por demandar um processo especial para alteração de suas normas, ao contrário das flexíveis (processo igual às normas ordinárias). Nestas, inexistem qualquer diferença formal entre norma constitucional e norma infraconstitucional. Em face da Supremacia das Constituições rígidas, que pressupõe um escalonamento entre as entidades normativas. Uma das principais consequências da rigidez constitucional é a de reforçar, elevando-se ao máximo, a ideia de supremacia constitucional, de modo que ao conteúdo político das Constituições escritas, a rigidez acrescenta conteúdo jurídico. Assim, a Constituição passa a ser fonte primária e parâmetro obrigatório do ordenamento jurídico. Para José Afonso da Silva, o reconhecimento de uma supremacia material nas Constituições Flexíveis e nas costumeiras só tem sentido do ponto de vista sociológico, assim como se pode reconhecer a esta Constituições uma rigidez sócio-política. Porém, do ponto de vista jurídico, só é concebível a supremacia formal, que se apoia na regra da rigidez, de que é o primeiro e principal corolário. A Supremacia Constitucional não só impõe que toda atuação do poder público se conforme, material e formalmente, com os preceitos e diretrizes por ela estabelecidas, como também determina – em face da hodierna categoria jurídico-constitucional da inconstitucionalidade por omissão, o que só reforça mais ainda sua imperatividade – que o poder público obrigatoriamente atue quanto para tanto foi exigido. A supremacia constitucional ficaria comprometida – e, de resto, toda ordem jurídica – se as imposições constitucionais não fossem realizadas. Em consequência disso, todos os órgãos do Poder Político [PL, PE, PJ] acham-se vinculados e obrigados a satisfazer os fins e tarefas impostas pela CF. 8 1.3. O que é força normativa da Constituição? Para explicar o conceito de força normativa da Constituição é necessário discorrer rapidamente sobre as Concepções de Constituição: 1.3.1. Concepção Sociológica (Ferdinand Lassalle) Foi defendida na Prússia em 1862 numa conferência para operários. A Constituição não era vista como um documento jurídico, mas político. Não tinha a força normativa que tem hoje. Para melhor entender essa concepção devemos fazer a seguinte distinção: 1) Constituição Escrita 2) Constituição Efetiva ou Real Ao lado da Constituição Escrita [jurídica], existe a Constituição Real ou Efetiva, que é aquela formada pela soma dos fatores reais de poder que regem uma determinada Nação (detentores do Poder à são aqueles que efetivamente detêm o poder). O documento constitucional é a constituição escrita. Se a Constituição Escrita não corresponder à realidade, prevalecerá a Constituição Efetiva. Se houver conflito entre as duas espécies de Constituição, prevalece a Constituição Efetiva ou real. Se a Constituição Escrita não corresponder à realidade, ela não passará de uma folha de papel, ou seja, ela não terá nenhum significado real para mudar os destinos daquele Estado. Essa concepção hoje está ultrapassada. 1.3.2. Concepção Política (Carl Schmitt - 1928) O fundamento da Constituição se encontra na decisão política fundamental que a antecede. Ele fará a seguinte distinção: A) Constituição Propriamente dita: São as normas que decorrem de uma decisão política fundamental. Exemplo: Direitos Fundamentais, Estrutura do Estado e organização dos Poderes. São as matérias propriamente ditas da Constituição. Jamais podem ser reformadas, uma vez que correspondem à própria substância e essência da Constituição. São imutáveis. Não podem ser suspensas nas situações constitucionais de crises [E. de Sítio.] B) Leis Constitucionais: tudo mais que está na Constituição que não decorre de uma decisão política fundamental. ² Podem ser reformadas. ² Podem ser suspensas. 9 As normas constitucionais propriamente ditas e as leis constitucionais são formalmente iguais (ambas estão na Constituição), mas são materialmente distintas. A Constituição é entendida como modo e forma de ser de uma unidade política, isto é de uma Nação. A Constituição significa, essencialmente, decisão política fundamental, decisão concreta de conjunto sobre o modo e a forma de existência da unidade política. Para Schmitt, não é a Constituição que produz unidade política, mas, inversamente, é a unidade política, ou seja, a Nação que gera a Constituição. A Constituição só existe porque antes dela já existia uma unidade política, e somente a decisão conjunta de um povo sobre o modo e a forma de sua existência é que confere a um conjunto de normas o caráter de Constituição. 1.3.3. Concepção Jurídica (Hans Kelsen) A Constituição é formada por um conjunto de normas e, portanto, é uma lei como todas as demais, cujo fundamento se encontra no plano jurídico. O filósofo do direito não precisa recorrer a sociologia, política para buscar o fundamento da Constituição. A constituição é uma lei e seu fundamento deve ser no plano jurídico. Kelsen faz a seguinte distinção: a) Constituição em Sentido Lógico-Jurídico: Onde está o fundamento da Constituição? Devemos obedecer a Constituição, pois acima dela está a norma fundamental hipotética (que é a Constituição em sentido Lógico-Jurídico). Por isso que ela é fundamental, pois a norma que é fundamento da Constituição. É uma norma hipotética porque não é uma norma posta, mas sim pressuposta. Pressuposta é aquela que a sociedade pressupõe que existe, mas que não está escrita. O conteúdo da norma fundamental hipotética é de que todos devem obedecer a Constituição. Se a sociedade não partir do pressuposto que não existe essa norma, ninguém precisa seguir a Constituição. b) Constituição em Sentido Jurídico-Positivo: É aquela feita pelo Poder Constituinte originário (CF/88). 1.3.4. Concepção Normativa (ou Culturalista ou Jurídica) (Konrad Hesse) Sua obra foi publicada em 1959. A Constituição, após a 2ª Guerra Mundial, deixou de ser vista como um documento político, mas como um documento normativo (conjunto de normas). Um dos marcos para a mudança de concepção foi a obra de Konrad Hesse (Força Normativa da Constituição). Essa concepção foi desenvolvida para combater a tese do Ferdinand Lassalle. 10 A ideia de Konrad Hesse pode ser resumida da seguinte forma: Ainda que seja inegável que muitas vezes uma Constituição Jurídica possa sucumbir a realidade, deve-se atribuir a essa Constituição uma força normativa capaz de modificar esta mesma realidade. Para isso, é necessário que exista uma “vontade de Constituição” e não apenas uma “vontade de Poder”. Se a Constituição não possuir uma força normativa, a Constituição, ao invés de modificar a realidade, apenas descreverá o que acontece na prática. A força normativa pode modificara realidade. 1.4. O que significa dizer que a Constituição é um sistema de normas que possui unidade normativa? Um ordenamento jurídico só pode ser concebido com um conjunto de normas, pois é condição de sua existência. Além disso, o ordenamento constitui uma UNIDADE, quer porque as normas nascem da mesma fonte (ordenamento simples), quer porque suas normas, ainda que nascidas de fontes distintas, têm o mesmo fundamento de validade (ordenamento complexo). Toda Constituição deve ser compreendida como uma unidade e como um sistema que privilegia determinados valores. Essa unidade normativa pressupõe inexistência de hierarquia normativa ou formal entre as normas constitucionais. A Constituição é formada por regras e princípios de diferentes graus de densidade normativa. Postulados Normativos são normas que estabelecem um dever de segundo grau consistente em estabelecer a estrutura de aplicação, prescrever modos de raciocínio em relação a outras normas. Um dever de segundo grau significa que não se aplica o postulado para resolver o caso concreto, mas sim para interpretar outra norma (como um princípio ou uma norma será aplicado). Vou resolver um caso concreto com base na liberdade de expressão do pensamento (norma de 1° grau), mas utilizarei o postulado normativo para explicar/aplicar essa norma. A proporcionalidade é postulado normativo porque utilizaremos para definir como outros princípios serão aplicados (segundo a teoria de Humberto Ávila). ▪ Distinção entre Princípios e Regras Regras são mandamentos de definição, ou seja, normas que ordenam que algo seja cumprido na medida exata de suas prescrições. A regra prevê uma hipótese de incidência; se ocorrer faticamente essa hipótese, a regra deve ser aplicada de forma integral, na medida exata da prescrição. A regra não permite extensão ou restrição. A regra, segundo Dworkin, obedece a lógica do “tudo ou nada”. Se a regra for válida e a hipótese ocorrer, deve aplicar a regra àquela hipótese. Em geral, as regras são aplicadas através da subsunção. H. Ávila diz que é possível ponderar regras, mas na teoria de Alexy isso não é possível. Se A, então B; premissa maior, premissa menor. Segundo Robert Alexy, princípios são mandamentos de otimização, ou seja, normas que ordenam que algo seja cumprido na maior medida possível, de acordo com as possibilidades jurídicas e fáticas existentes. A medida de cumprimento do princípio não é exata, depende das circunstâncias fáticas e jurídicas. 11 1.5. Quais são os fins e as funções do Estado? O Estado, como forma de organização política, existe para satisfazer as necessidades humanas. A investigação dos fins do Estado deve ser tratada não só no domínio dos valores e da realidade, como também no campo da normatividade jurídica. FINS DO ESTADO: Jellinek foi o grande sistematizador das teorias dos fins do Estado, que assim os classificou: a) fins objetivos: nesta teoria, o fim o Estado surge da própria natureza das coisas; não é a vontade política que determina o fim do Estado. A natureza da ordem política é que dá objetivamente o fim do Estado, o qual surge de uma ordem natural, sendo, portanto, transcendente e independente da vontade humana. Investiga-se aqui o fim que cabe ao Estado em geral, abstrato e universal, e não a cada um em particular. Pode-se falar também na existência de fins particulares objetivos. Para os autores que defendem esta teoria, cada Estado tem seus fins particulares, que resultam das circunstâncias em que eles surgiram e se desenvolveram e que são condicionantes de sua história. Confundem-se nesta teoria os fins do Estado com os interesses dos Estados e até de seus governos. b) fins subjetivos: o fim do Estado não é um dado natural de ordem política, mas independe de toda objetividade. Não há, assim, nenhum dado, mas um artifício. Os indivíduos que vivem em comunidade política se propõem a um fim próprio, independente de toda objetividade. c) fins particulares: são os que cabem a um Estado em um momento determinado, para os homens que o constituem. Com os fins particulares, os Estados se vocações históricas a cumprir no mundo. d) fins absolutos: consideram-se absolutos os fins do Estado que são determinados por uma valoração axiológica. O Estado não pode, de nenhum modo, desviar-se do seu fim, que é ideal e válido para todos os tempos e lugares. e) fins relativos: esta teoria considera que o fim do Estado é limitado pela própria natureza. O peculiar e próprio do Estado são as manifestações sistemáticas da vida solidária do homem. As três grandes categorias a que se reduz a vida do Estado são: conservação, ordenação e ajuda. g) fins universais: são os que correspondem ao Estado em abstrato, a qualquer Estado em todos os tempos. f) fins exclusivos e concorrentes: os fins exclusivos são aqueles privativos do Estado (segurança externa e interna) e os concorrentes admitem participação ou colaboração de outras sociedades, com as quais se identificam. SÍNTESE: Pode-se dizer que o Estado, como sociedade política, existe para realizar a segurança, a justiça e o bem-estar econômico e social, os quais constituem os seus fins. A segurança, como fim do Estado, pode ser individual e coletiva. A justiça possibilita que, nas relações entre os homens, seja substituído o arbítrio da violência individual por um complexo de regras capazes de satisfazer o instinto natural da própria justiça. 12 O conceito de justiça compreende: a) justiça comutativa, cuja regra é a igualdade, nas relações entre os indivíduos, da equivalência dos valores permutados (cada um deve receber, nas relações recíprocas, de acordo com a prestação que efetuou aos indivíduos); b) justiça distributiva, cuja regra é a desigualdade para remunerar cada qual segundo os seus méritos, de acordo com o tipo de atividade produtiva que permanentemente presta à coletividade, ou a situação social de carência em que se encontra. Projeta-se, assim, a justiça distributiva nas políticas econômicas e socais do Estado. O bem-estar econômico e social é outra finalidade do Estado. O que se objetiva é a promoção de condições de vida dos indivíduos, garantindo-lhes o acesso aos bens econômicos que permitam a elevação de camadas sociais mais pobres, contemplando-as com educação, habitação, entre outros serviços. No âmbito social, uma das tarefas essenciais do Estado consiste em salvaguardar a liberdade, a possibilidade de desenvolvimento pessoal e a esfera privada do ser humano, apesar da amplidão das intervenções sociais. O bem comum consiste na finalidade legítima do Estado. FUNÇÕES DO ESTADO Pode-se definir a função do Estado como a atividade desenvolvida, no todo ou em parte, por um ou vários órgãos do poder político, de modo duradouro, independentemente de outras atividades, em particular na sua forma, e que visa à prossecução dos fins do Estado. A determinação das funções do Estado resulta de três critérios: material, formal e orgânico. a) Material: parte da análise do conteúdo dos diversos tipos de atos ou dos resultados em se traduz a atividade do Estado, para chegar ao conceito de função. b) Formal: atende às circunstâncias exteriores das atividades do Estado, distinguindo as funções segundo a forma externa revestida para o exercício de cada uma delas. c) Orgânico: relaciona intimamente as funções do Estado com os órgãos que as exercitam, e das diversas características desses órgãos ou da sua posição na estrutura do poder político infere a especialidade de suas atividades. As funções jurídicas são as de criação e execução do Direitoe compreendem a função legislativa, cujo objeto direto e imediato é o de estatuir normas de caráter geral e impessoal inovadoras da ordem jurídica, e a executiva, exercitável por meio do processo jurisdicional, caracterizado pela imparcialidade e passividade, e pelo processo administrativo, com as características de parcialidade e iniciativa. Já as funções não jurídicas compreendem: a) a função política, cuja característica é a liberdade de opção entre várias soluções possíveis, com vistas à conservação da sociedade política e a definição e prossecução do interesse geral, por meio da livre escolha de rumos e soluções consideradas preferíveis; 13 b) a função técnica, cujo objeto direto e imediato consiste na produção de bens ou na prestação de serviços destinados à satisfação das necessidades coletivas de caráter material ou cultural, de harmonia com preceitos práticos tendentes a obter a máxima eficiência dos meios empregados. O fim jurídico do Estado refere-se à criação e execução do Direito. O fim cultural do Estado corresponde ao desenvolvimento das condições materiais para a vida dos cidadãos, consoante a ideologia do Estado considerado. Para atingir tais fins, o Estado atuaria através de dois tipos de meios: a criação de normas jurídicas gerais e abstratas e a realização de atos concretos. No primeiro caso, a função do Estado seria legislativa, e no segundo, a função seria administrativa quando visasse a um fim cultural, ou jurisdicional, quando objetivasse um fim jurídico. O ato jurídico, considerado como manifestação de vontade dirigida a modificação da ordem jurídica, presente ou próxima futura, toma uma das seguintes formas: a) ato-regra, o que é realizado com a intenção de modificar as normas jurídicas abstratas constitutivas do direito objetivo; b) ato-condição, o que torna aplicáveis a um sujeito determinadas regras abstratas, que, antes de sua prática, lhe eram inaplicáveis; c) ato-subjetivo, o que cria para alguém uma obrigação especial, concreta, individual e momentânea, que nenhuma regra abstrata lhe impunha. Definidos os atos jurídicos, as funções do Estado podem ser caracterizadas: a) a função legislativa consiste na prática de atos-regra; b) a função administrativa consiste na prática de atos-condição, dos atos subjetivos e das denominadas operações materiais, sem caráter jurídico, realizadas pelos órgãos da Administração Pública, destinadas a assegurar o funcionamento dos serviços; c) a função jurisdicional conste na prática de atos jurisdicionais, que tanto podem ser atos- condição como atos subjetivos. O que dos define não é o seu conteúdo, mas a circunstância de provirem de um órgão dotado de imparcialidade, independência (Tribunal ou Juiz singular). Para Kelsen, o Estado se reduz à unidade personificada de uma ordem jurídica e se confunde com a própria ordem jurídica. As funções do Estado consistem, desta forma, na criação e na aplicação do Direito. Assinale-se que, embora sejam as funções do Estado abstratamente distintas umas das outras, os atos que manifestam podem ter caráter misto. Desta forma, pode haver atos que, embora tidos como legislativos, simultaneamente são manifestações do Poder Executivo, e mesmo certos atos jurisdicionais que contêm elementos do Poder Legislativo. 14 Às funções clássicas do Estado, quais sejam, legislativa, executiva e jurisdicional, deve-se acrescer outras necessárias para a garantia do processo democrático, e que são: a) função de fiscalização ou de controle, a cargo do Ministério Público e dos Tribunais de Contas; b) função legislativa constitucional de emendar e revisar a Constituição; c) função simbólica, típica do chefe de Estado, voltada para a representação do Estado e dos valores nacionais. 1.6. No que consistiriam os Princípios Fundamentais dispostos no título I de nossa CRFB? Conceitue e discorra rapidamente sobre cada um deles. Conceito: são princípios constitucionais politicamente conformadores do Estado, que explicitam as valorações políticas fundamentais do legislador constituinte, revelando as concepções políticas triunfantes numa Assembleia Constituinte, constituindo-se, assim, no cerne político da constituição política. São princípios fundamentais: 1 - Federação Vem de foedus, foederis que significa aliança, pacto, união, visto que nasce da aliança entre os Estados. Seu cerne está na autonomia das entidades que compõem o Estado Federal, pois somente este detém o poder soberano, que é um poder supremo e independente. As entidades integrantes não tem soberania (União, Estados-membros, Distrito Federal e Municípios). Nasceu com a Constituição norte-americana de 1787, em razão do fracasso do modelo de Confederação anteriormente aplicado. CRFB: Adotou modelo tricotômico ou de segundo grau, pois incluiu os Municípios na organização federal, ao lado da União e dos Estados. 2 - República O Princípio Republicano define a forma de Governo, ou seja, a forma como os governantes ascendem ao Governo e como se dá a relação entre governantes e governados. É uma forma de governo, fundada na igualdade formal entre as pessoas, na qual os detentores do poder político exercem-no em caráter eletivo, de regra representativo, temporário e com responsabilidade. Elementos: a) É uma forma de Governo, que se contrapõe à Monarquia; b) Fundada na igualdade formal entre as partes; c) Em que os detentores do poder político exercem-no em caráter eletivo; d) É Governo em regra representativo; e) É Governo temporário; f) É Governo exercido com responsabilidade; 15 3 - Estado Democrático de Direito Reúne os princípios do Estado de Direito e do Estado Democrático, não como simples reunião formal de seus respectivos elementos, tendo em vista que revela um novo que os supera, mas como providência de transformação do status quo e garantia de uma sociedade pluralista, livre, justa e solidária, em que todo o poder emane do povo e seja exercido em benefício do povo, com o reconhecimento e a afirmação dos direitos humanos fundamentais que possam realizar, na sua plenitude, a dignidade da pessoa humana. 4 - Soberania Popular Art. 1º. Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição. Representantes eleitos = Democracia representativa Povo exerce o poder diretamente = Democracia direta Democracia representativa + direta = Democracia semidireta 5 - Separação de Poderes, com Independência e Harmonia entre eles A separação de poderes, na verdade, é a distribuição e divisão de determinadas funções estatais a diferentes órgãos do Estado. 6 - Princípios definidores dos fundamentos do Estado Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: I - a soberania; II - a cidadania III - a dignidade da pessoa humana; IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V - o pluralismo político. Soberania: Estado supremo (em relação aos indivíduos e grupos que formam a população do Estado) e independente (relativamente ao poder de outros Estados). Aspecto interno: É o poder mais elevado do Estado. Aspecto externo: nas relações recíprocas entre os Estados, não há subordinação nem dependência entre eles, massim igualdade. 16 Cidadania: Não é apenas gozo de direitos políticos. Visa qualificar todas as pessoas como titulares de direitos frente ao Estado, reconhecendo o indivíduo como parte integrante e indissociável da sociedade. Dignidade da pessoa humana: É uma qualidade intrínseca e distintiva de cada ser humano que o faz merecedor do mesmo respeito e consideração por parte do Estado e da comunidade, implicando, neste sentido, um complexo de direitos e deveres fundamentais que assegurem a pessoa tanto contra todo e qualquer ato de cunho degradante e desumano, como venham a lhe garantir as condições existenciais mínimas para uma vida saudável, além de propiciar e promover sua participação ativa e co-responsável nos destinos da própria existência e da vida em comunhão com os demais seres humanos. Os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa: Também é fundamento da ordem econômica. Visa a assegurar a importância do trabalho humano, como valor social, e a liberdade de iniciativa econômica, como valor de produção e desenvolvimento. Pluralismo político: Fundamento que assegura a realização dos postulados democráticos, garantindo a multiplicidade de opiniões, de crenças, de convicções e ideias, que se manifestam normalmente por instituições como as associações, as entidades sindicais e, em especial, os partidos políticos. 7 - Princípios definidores dos objetos fundamentais do Estado e os princípios regentes das relações internacionais. Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios: I - independência nacional; II - prevalência dos direitos humanos; III - autodeterminação dos povos; IV - não-intervenção; V - igualdade entre os Estados; VI - defesa da paz; VII - solução pacífica dos conflitos; VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo; IX - cooperação entre os povos para o progresso da humanidade; X - concessão de asilo político. Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações. Independência nacional = Soberania Prevalência dos direitos humanos: Compromisso do BR com a sua proteção e efetividade. Autodeterminação dos povos: repele a ideia de colonização ou tutela internacional dos povos de uma nação livre. 17 Não intervenção: rejeita qualquer intenção de o Estado brasileiro interferir nos negócios atinentes e particulares de outro Estado, sem a permissão deste. Igualdade entre os Estados: em razão do respeito recíproca que a noção de soberania impõe. Defesa da Paz Solução pacífica dos conflitos: Conexo com o princípio anterior. Destina-se a garantir o prévio exaurimento das vias diplomáticas na tentativa de compor os conflitos internacionais sem o recurso à guerra. Repúdio ao terrorismo e ao racismo Cooperação entre os povos para o progresso da humanidade Concessão de asilo político: Proteção oferecida pelo Estado a estrangeiro perseguido por crime político no país em que se encontra. 18 2. NEOCONSTITUCIONALISMO. JURISDIÇÃO CONSTITUCIONAL. CONSTITUCIONALIZAÇÃO SIMBÓLICA: A CONSTITUCIONALIZAÇÃO, TEXTO CONSTITUCIONAL E REALIDADE CONSTITUCIONAL. EFETIVIDADE DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS. CONCEITO DE CONSTITUIÇÃO. CLASSIFICAÇÃO DAS CONSTITUIÇÕES. ELEMENTOS DAS CONSTITUIÇÕES. HISTÓRICO DAS CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS. AUTORA: RENATA DAPPER SANTOS MATERIAL DE CONSULTA: LUÍS ROBERTO BARROSO, “NEOCONSTITUCIONALISMO: O TRIUNFO TARDIO DO DIREITO CONSTITUCIONAL NO BRASIL”; PEDRO LENZA, “DIREITO CONSTITUCIONAL ESQUEMATIZADO/2014” 2.1. O que é neoconstitucionalismo e quais as suas inovações em relação ao constitucionalismo moderno? Desenvolvido a partir do século XXI, o neoconstitucionalismo – também chamado de constitucionalismo pós-moderno ou de pós-positivismo – é uma perspectiva doutrinária que busca a eficácia da constituição com a concretização dos direitos fundamentais. O neoconstitucionalismo se contrapõe ao constitucionalismo moderno, que atrelava o constitucionalismo apenas à ideia de limitação do poder político. As principais diferenças entre o constitucionalismo moderno e o posterior neoconstitucionalismo podem ser percebidas na seguinte tabela: Constitucionalismo Moderno Neoconstitucionalismo Constituição serve somente para limitar o poder político. Constituição serve para concretizar prestações materiais (direitos fundamentais) e implantar um Estado Democrático Social de Direito. Hierarquia apenas formal entre normas constitucionais e normas infraconstitucionais, pois o modelo normativo é o descritivo (ou deontológico) Hierarquia não apenas formal, mas também axiológica (de valor) entre normas constitucionais e normas infraconstitucionais, pois o modelo normativo é o axiológico (constituição como valor em si). Estado Legislativo de Direito Estado Constitucional de Direito (Constituição adquire o caráter de “norma jurídica”, dotada, portanto, de imperatividade. Constituição é o centro do sistema e tudo deve ser interpretado a partir dela). Desenvolvido a partir do século XXI, o neoconstitucionalismo Desenvolvido a partir do século XXI, o neoconstitucionalismo Desenvolvido a partir do século XXI, o neoconstitucionalismo Desenvolvido a partir do século XXI, o neoconstitucionalismo Desenvolvido a partir do século XXI, o neoconstitucionalismo Desenvolvido a partir do século XXI, o neoconstitucionalismo Desenvolvido a partir do século XXI, o neoconstitucionalismo Desenvolvido a partir do século XXI, o neoconstitucionalismo – também chamado de também chamado de também chamado de constitucionalismo pós-moderno ou de pós-positivismo – é uma perspectiva doutrinária que busca a eficácia da constituição com a concretização dos direitos fundamentais. O neoconstitucionalismo se contrapõe ao constitucionalismo moderno, que atrelava o O neoconstitucionalismo se contrapõe ao constitucionalismo moderno, que atrelava o O neoconstitucionalismo se contrapõe ao constitucionalismo moderno, que atrelava o O neoconstitucionalismo se contrapõe ao constitucionalismo moderno, que atrelava o O neoconstitucionalismo se contrapõe ao constitucionalismo moderno, que atrelava o O neoconstitucionalismo se contrapõe ao constitucionalismo moderno, que atrelava o O neoconstitucionalismo se contrapõe ao constitucionalismo moderno, que atrelava o O neoconstitucionalismo se contrapõe ao constitucionalismo moderno, que atrelava o O neoconstitucionalismo se contrapõe ao constitucionalismo moderno, que atrelava o O neoconstitucionalismo se contrapõe ao constitucionalismo moderno, que atrelava o constitucionalismo apenas à ideia de limitação do poder político. Constituição serve somente para limitar o poder político. Constituição serve para concretizar Constituição serve para concretizar Constituição serve para concretizar prestações materiais (direitos prestações materiais (direitos prestações materiais (direitos fundamentais) e implantar um Estado mentais) e implantar um Estado mentais) e implantar um Estado mentais) e implantar um Estado mentais) e implantar um Estado Democrático Social de Direito. Hierarquia não apenas formal, mas ativo é o descritiativo é o descritiativo é o descritivo vo (ou deontológico) Hierarquia não apenas formal, mas Hierarquia não apenas formal, mas Hierarquia não apenas formal, masHierarquia não apenas formal, mas também axiológica (de valor) entre também axiológica (de valor) entre também axiológica (de valor) entre também axiológica (de valor) entre também axiológica (de valor) entre normas constitucionais e normas normas constitucionais e normas as constitucionais e normas as constitucionais e normas Estado Legislativo de Direito Estado CoEstado Constitucional de Direito nstitucional de Direito nstitucional de Direito (Constituição adquire o caráter de (Constituição adquire o caráter de (Constituição adquire o caráter de (Constituição adquire o caráter de (Constituição adquire o caráter de “norma jurídica”, dotada, portanto, de imperatividade. Constituição é o centro do sistema e tudo deve ser interpretado a partir dela). 19 Por fim, a partir do neoconstitucionalismo ocorre a incorporação explícita de valores (especialmente após a Segunda Guerra Mundial) e de opções política ao texto constitucional, seja de forma geral (ex.: redução das desigualdades sociais – art. 3, III), seja de forma específica (ex.: prestação, por parte do Estado, de serviços de educação – art. 23, V e 205). 2.2. Para Luís Roberto Barroso, quais os marcos que levaram ao “novo direito constitucional” ou “neoconstitucionalismo”? São 3 os marcos: histórico, filosófico e teórico. a) Marco Histórico: foi o pós guerra, em que as constituições enfocam a redemocratização e o surgimento do Estado Democrático de Direito. Ex.: Alemanha de 1949, Itália de 1947, Portugal de 1976, Espanha de 1978 e Brasil de 1988. b) Marco Filosófico: é o pós-positivismo. Veja-se: a partir do século XVI se desenvolve o “jusnaturalismo moderno”, o qual se funda na crença em princípios de justiça universalmente válidos, serve de sustentáculo às revoluções liberais e se consagra nas constituições escritas e codificações. Posteriormente, no final do século XIX, o crescente “positivismo jurídico” equipara o “Direito” à “Lei”, afastando-o da filosofia e de discussões sobre justiça, em busca de objetividade científica. Ocorre que o fascismo da Itália e o Nazismo da Alemanha promoveram barbáries sob a proteção da LEGALIDADE, de modo que a derrocada desses regimes autoritários foi emblematicamente associada à decadência do positivismo jurídico. Assim, ao fim da segunda guerra, a ética e os valores começam a retornar ao Direito e surge o “pós- positivismo”, que busca ir além da legalidade estrita, sem desprezar, contudo, o direito posto. Acontece a reaproximação entre direito e filosofia e o surgimento de uma nova hermenêutica constitucional, pois é atribuída normatividade aos princípios e é desenvolvida uma teoria dos direitos fundamentais, edificada sobre o fundamento da dignidade humana. c) Marco Teórico: é a ideia de força NORMATIVA da constituição. Isso porque, se a constituição tem força NORMATIVA (Konrad Hesse), consequentemente ela tem status de NORMA jurídica, sendo dotada de imperatividade, o que permite o seu cumprimento forçado em caso de descumprimento (assim como acontece com as demais normas jurídicas). Além disso, com a constitucionalização dos direitos fundamentais, estes passaram a ficar imunizados em relação ao processo político majoritário, e a sua proteção passou a caber ao JUDICIÁRIO (o que pôs fim à Supremacia do Legislativo, substituída pela Supremacia da Constituição). Ademais, em razão das novas especificidades das normas constitucionais (dotadas de FORÇA NORMATIVA), a doutrina e a jurisprudência tiveram de desenvolver uma nova dogmática de interpretação constitucional, pois a interpretação jurídica tradicional não se mostrou suficiente para 20 confrontar REGRAS (enunciados descritivos, aplicados com regras de subsunção – enquadramento do fato à norma) e PRINCÍPIOS (normas que consagram valores). De referir que, com a constitucionalização de valores, aumentou a possibilidade de conflitos entre normas constantes do próprio sistema constitucional, de modo que o neoconstitucionalismo trouxe consigo um novo desafio: devem ser resguardadas as condições de dignidade ao menos em patamares mínimos diante do choque dos valores constitucionalizados. Daí que surgem os princípios de interpretação constitucional, que são princípios instrumentais (não materiais) e metodológicos para a aplicação das normas constitucionais, quais sejam: supremacia da constituição; presunção de constitucionalidade das normas e atos do poder público; interpretação conforme a constituição; unidade; razoabilidade; efetividade. 2.3. Quais são as possíveis concepções (ou sentidos) a serem tomadas para conceituar o termo “Constituição”? a) Sentido Sociológico – Ferdinand Lassale: para esta acepção, a constituição somente é legítima se representar o efetivo poder social. Do contrário, a constituição é ilegítima, caracterizando-se como uma simples “folha de papel”. A constituição é, portanto, “a somatória dos fatores reais do poder dentro de uma sociedade”. b) Sentido Político – Carl Schmitt: ele distingue “constituição” de “leis constitucionais”. “Constituição” é a decisão política do titular do poder constituinte, e abarca tão somente a decisão política fundamental (estrutura do Estado, direitos individuais, vida democrática). Os demais dispositivos inseridos na CF, mas que não tenham matéria de decisão política fundamental, não são “constituição”, mas apenas “leis constitucionais”. c) Sentido Material X Sentido Formal: c1) Material: o que define se uma norma é constitucional, ou não, é o seu conteúdo, pouco importando a forma pela qual essa norma ingressou no ordenamento jurídico. Constituição é, portanto, a norma que define as estruturas da sociedade, mesmo que esta norma esteja fora do texto constitucional. Se aproxima, de certa forma, do que Schmitt conceituou de “constituição” c2) Formal: o que define se uma norma é constitucional ou não é a forma (em regra mais dificultosa, pelo poder soberano) que a norma ingressou no ordenamento jurídico, pouco importando seu conteúdo. Se aproxima, de certa forma, do que Schmitt conceituou de “leis constitucionais”. OBS.: no direito brasileiro há uma tendência a se adotar um critério misto, em razão do art. 5º, § 3º, da CF. d) Sentido Jurídico – Hans Kelsen: Kelsen afasta totalmente a constituição do “ser”, alocando-a totalmente no mundo do “dever ser”. Isso porque a constituição é fruto da vontade RACIONAL do homem, e NÃO das leis naturais. uma simples “folha de papel”. A constituição é, portanto, “a somatória dos fatores reais do poder dentro de uma sociedade”. b) Sentido Político 21 Assim, estando fora do mundo do “ser”, a constituição NÃO tem pretensão de fundamentação sociológica, política ou filosófica, pois é fruto da RAZÃO, sendo “puro dever ser”, “norma pura”. A constituição, para Kelsen, tem 2 sentidos: (i) sentido “lógico-jurídico” – a constituição tem o seu fundamento de validade na norma hipotética fundamental, a qual se situa no plano lógico (não no jurídico) e é o fundamento de validade de todo o sistema. A NHF é uma norma “suposta”, pois não é uma norma posta. (ii) sentido “jurídico-positivo” – a constituição é o fundamento de validade de todo o sistema infraconstitucional. Há, portanto, um escalonamento de normas em verticalidade hierárquica. A norma de hierarquia inferior busca sua validade na superior, até chegar na constituição que é o fundamento de validade de todo o sistema infraconstitucional.e) Sentido Culturalista: a constituição é um produto de um fato cultural, produzido pela sociedade e que nela pode influir. A constituição é uma formação objetiva de cultura, que engloba elementos históricos, sociais e racionais. Nela intervêm fatores reais (costume, tradição, etc.), espirituais (sentimentos, moral, etc.), racionais (técnicas jurídicas, formas políticas, etc.) e voluntaristas (vontade humana na adoção de alguma forma de convivência). Assim, as constituições positivas são normas fundamentais condicionadas pela CULTURA TOTAL e, ao mesmo tempo, condicionantes da CULTURA TOTAL. f) Constituição Aberta – J. J. Gomes Canotilho: a ideia da constituição aberta serve para que a constituição possa permanecer dentro de seu tempo, evitando-se o desmoronamento da sua FORÇA NORMATIVA. 2.4. Qual a ideia central do estudo sobre a “legislação simbólica” e a “constitucionalização simbólica”? Este estudo discute a função simbólica de textos constitucionais ou legais que carecem de concretização normativo-jurídica. A “legislação/constitucionalização simbólica” aponta um predomínio (hipertrofia) da função simbólica da atividade legiferante e da lei/constituição em detrimento da sua função jurídico- instrumental. Nota-se que o desenvolvimento doutrinário acerca da “legislação simbólica” também se aplica à “constitucionalização simbólica”, razão pela qual a explanação pode ser conjunta (“legislação/constitucionalização simbólica”). Obs.: a introdução da ideia de “constitucionalização simbólica” se deve a MARCELO NEVES em trabalho apresentado para a obtenção do cargo de Professor Titular da Universidade Federal de Pernambuco, em 1992. 22 2.5. Quais os tipos de conteúdo que a legislação/constituição simbólica pode apresentar? Pode ser de 3 tipos: a) Confirmação de valores sociais: um certo grupo da sociedade procura influenciar a atividade legiferante para obter uma “vitória legislativa”, fazendo prevalecer os seus valores contra os do grupo “adversário”. Serve para caracterizar a prevalência dos valores daquele grupo sobre os demais, sendo secundária a eficácia normativa da lei. Ex.: lei seca, nos EUA, caso em que os defensores da proibição do consumo de álcool não estavam interessados na eficácia instrumental da lei, mas sobretudo em adquirir maior respeito social, de modo que a lei se constitui em símbolo de status. b) Legislação-álibi OU demonstração da capacidade do Estado de solucionar problemas sociais: a lei/constituição simbólica, nesse caso, tem o objetivo de assegurar confiança nos sistemas jurídico e político, pois é uma resposta pronta e rápida do governo e do Estado, que mascara a realidade. A “legislação-álibi” é uma forma de manipulação que imuniza o sistema político contra outras alternativas, desempenhando uma função ideológica que tem o poder de introduzir um sentimento de bem-estar na sociedade, solucionando tensões, servindo à lealdade das massas. Nota-se, contudo, que o uso exagerado da “legislação/constituição-álibi” leva à descrença no sistema jurídico, pois o público se sente enganado e os atores políticos se tornam cínicos. c) Adiamento da solução de conflitos sociais através de compromissos dilatórios: nesse caso, as divergências entre grupos políticos não são resolvidas por meio do ato legislativo, o qual será, contudo, aprovado consensualmente. Isso porque as partes envolvidas já têm a perspectiva de que a lei/emenda constitucional será ineficaz, de modo que o “acordo” não se funda no conteúdo do diploma normativo, mas na transferência da solução do conflito para um futuro indeterminado. A lei/EC é aparentemente progressista e aparentemente satisfaz a ambos os partidos, mas apenas adia a solução do conflito social subjacente. 2.6. Quais são os efeitos indiretos (ou latentes, ou colaterais) da legislação/constituição simbólica? A legislação/constituição simbólica apresenta efeitos latentes que, muitas vezes, são mais relevantes do que seriam os “efeitos manifestos” que lhe faltam. Isso porque, em que pese seu sentido negativo (ineficácia normativa e ausência de efeitos jurídicos), ela apresenta um sentido positivo, que é a produção de efeitos políticos. 2.7. O fenômeno da constitucionalização simbólica acontece igualmente nos países centrais e nos periféricos? Não. Nos países periféricos há uma preponderância do sistema político sobre o jurídico, havendo uma hipertrofia da função político-simbólica. Assim, ante o bloqueio do sistema jurídico e a falta de concretização normativo-jurídica do texto constitucional, a constituição é utilizada de acordo com os interesses políticos. 23 2.8. Quais as possíveis classificações das constituições, quanto: 2.8.1. Quanto à origem: a) Promulgada: fruto de assembleia constituinte eleita diretamente pelo povo; b) Outorgada: imposta (chamada de “Carta”); c) Cesarista/Bonapartista: formulada por meio de plebiscito ou referendo acerca do projeto de um imperador ou ditador. d) Pactuada: poder constituinte originário nas mãos de mais de um titular. Remete ao poder repartido entre monarquia absoluta + nobreza + burguesia, na Idade Média 2.8.2. Quanto à forma: a) Escrita/Instrumental: totalmente escrita e geralmente em um único código. (No Brasil, fala-se em mais de um código em razão do art. 5º, § 3º, da CF, razão pela qual se fala em “constituição legal”). b) Costumeira/consuetudinária: além dos costumes, há textos escritos, mas esparsos, reconhecidos pela sociedade como fundamentais. Ex: Inglaterra. 2.8.3. Quanto à extensão: a) Sintética: veiculam apenas os princípios estruturais do Estado. Ex.: EUA. b) Analítica: abordam todos os assuntos fundamentais. Ex.: Brasil. 2.8.4. Quanto ao conteúdo: a) Material: é constitucional aquele texto que se refere ao fundamento e à estrutura do Estado. b) Formal: é constitucional toda a regra que passar pelo processo de criação constitucional. (A CF do Brasil é “formal”, mas tende a “mista”, pelo art. 5º, § 3º, da CF). 2.8.5. Quanto ao Modo de Elaboração: a) Dogmática: partem de teorias pré-concebidas, de planos e sistemas prévios, de ideologias bem declaradas, de dogmas políticos. São sempre escritas, elaboradas “de um só jato”, por assembleia constituinte. Ex.: Brasil, 1988. b) Histórica: reúnem a história e a tradição de um povo, com lento e contínuo processo de formação. Aproximam-se da costumeira. 24 2.8.6. Quanto à alterabilidade: a) Rígida: para sua alteração, exige processo legislativo mais árduo, solene e dificultoso do que o processo de alteração das normas não constitucionais. (art. 60, CF). b) Flexível: mesma dificuldade para alterar a constituição e as outras leis. Lei posterior altera norma constitucional anterior. c) Semirrígida / Semiflexível: algumas matérias exigem processos legislativos mais dificultosos, enquanto que outras matérias, não. Ex.: Constituição Imperial Brasileira de 1824. d) Fixa: somente podem ser alteradas por um poder de competência igual àquele que as criou. São chamadas de silenciosas, pois não estabelecem procedimento para sua reforma. Ex. Carta Espanhola de 1876. e) Transitoriamente Flexíveis (para Uadi Lammêgo Bulos): são flexíveis por certo tempo. Depois, passam a ser rígidas. O binômio rigidez/flexibilidade não coexiste simultaneamente. f) Imutáveis: permanentes, graníticas, intocáveis. g) Super-rígida: algumas matérias são imutáveis(cláusulas pétreas) e outras matérias exigem processo legislativo diferenciado (rígida). Para Alexandre de Moraes, é a CF/88. 2.8.7. Quanto à sistemática: a) Para Pinto Ferreira: - reduzidas/unitárias: se materializam em um só código. Ex.: CF/88. - variadas: materializam-se por meio de diversos textos. Ex.: Bélgica/1830; França/1875. b) Para Paulo Bonavides: -codificadas: se materializam em um só código. -legais: materializam-se por meio de diversos textos. 2.8.8. Quanto à dogmática: a) Ortodoxa: apresenta uma só ideologia. Ex.: Soviética de 1977. b) Eclética: apresenta ideologias conciliatórias. Ex. CF/88; Índia/1949. Obs.: Canotilho aproxima a eclética da compromissária (CF/88). Para ele, constituição é produto de um pacto político e social. É barganha, argumentação, convergência de diferenças. 25 2.8.9. Quanto à correspondência com a realidade (critério ontológico – essência) – critério de Karl Loewenstein: a) Releitura de Pinto Ferreira: a’) Normativa: o processo de poder disciplinado na CF (limitação ao poder) se efetiva na prática, pois, de fato, os agentes do poder se subordinam a ele. Representa a democracia. a’’) Nominalista: há disposições de limitação de poder na CF, que, entretanto, não se implementam na prática. a’’’) Semântica: não há disposições de limitação de poder na CF, a qual se trata de mero instrumento dos donos do poder. Ou seja, a CF confere legitimidade (formal) aos donos do poder. Representa o autoritarismo. b) Releitura de Guilherme Peña de Moraes: para o autor, a CF/88 “pretende ser normativa”. c) Releitura de Marcelo Neves: para o autor, a CF/88 “é nominalista”. Ele denomina a “semântica” de “instrumentalista”. 2.8.10. Quanto ao Sistema: a) Principiológica: predominam os princípios. Ex. CF/88. b) Preceitual: predominam as regras. 2.8.11. Quanto à Função: a) Provisória: define o regime de elaboração/aprovação da CF futura e define a estruturação do poder neste interregno. Erradica os resquícios do antigo regime. b) Definitiva: é o produto final. 2.8.12. Critério de Manoel Gonçalves Ferreira Filho: a) Constituição Garantia: garante a liberdade limitando o poder (clássica). b) Constituição Balanço: é a soviética. Cada constituição da URSS reflete (faz um balanço) um novo estágio na “marcha para o socialismo”. c) Constituição Dirigente: traça um plano para a evolução política, pois contém normas programáticas. Ex.: Constituição Portuguesa. 2.8.13. Critério de André Ramos Tavares: a) Liberais/Negativas: protege as liberdades e a não intervenção, com absenteísmo estatal. b) Sociais/Dirigentes: garante atuação positiva do Estado. 26 2.8.14. Critério de Raul Machado Horta: Diz que a CF de 1988 é expansiva por três razões: a) em conteúdo anatômico estrutural: títulos, capítulos, seções, subseções, artigos, etc. b) em comparação interna: as constituições brasileiras foram dilatando, se comparadas umas com as outras. c) em comparação externa: relaciona a CF de 1988 com as estrangeiras mais extensas. Obs.: Então, a CF de 1988 é: promulgada; escrita (instrumental); analítica; formal (tende à mista); dogmática; rígida (para Alexandre de Moraes é super-rígida); reduzida (unitária); eclética (compromissária); pretende ser normativa; principiológica; definitiva; garantia e dirigente; social; expansiva. 2.9. Para José Afonso da Silva, quais os elementos das Constituições? a) elementos orgânicos: regulam a estrutura do Estado e do poder. Ex.: “Da Organização do Estado”. b) elementos limitativos: limitam os poderes estatais, manifestando-se nos direitos e garantias fundamentais (a exceção dos direitos sociais que são socioideológicos). c) elementos socioideológicos: revelam o compromisso da Constituição entre o Estado individualista e o Estado social intervencionista. E.: “Dos Direitos Sociais”. d) elementos de estabilização constitucional: asseguram a defesa da Constituição, do Estado, da democracia. Ex.: ADI. e) elementos formais de aplicabilidade: estabelecem regras de aplicação da Constituição. Ex.: ADCT; Preâmbulo; art. 5º, §1º, CF. 2.10. Quais foram as constituições brasileiras, e quais os seus respectivos traços marcantes? a) Constituição de 1824: O “Conselho de Estado” elaborou o projeto desta constituição, que foi outorgada, pois vigorava o absolutismo, que se revelou no quarto poder: o poder moderador. A forma de governo era a monarquia hereditária; o território era unitário, com as províncias subordinadas ao poder central; a religião oficial era a católica apostólica romana (outras religiões eram permitidas, desde que dentro de seus respectivos templos); a capital do Império Brasileiro era o Rio de Janeiro. Poder executivo: exercido pelo imperador; poder legislativo: exercido pela “Assembleia Geral”, (com a sanção do Imperador), composta pela Câmara dos Deputados e pelo Senado, com eleições indiretas e voto censitário; poder judiciário: composto por juízes (aplicavam a lei) e por jurados (apreciavam os fatos), tinha como órgão de cúpula o “Supremo Tribunal de Justiça”; poder 27 moderador: criado por Benjamin Constant, era a chave de toda a organização política, e permitia ao Imperador controlar, de certa forma, os outros 3 poderes. Era semirrígida, continha rol de direitos Civis e Políticos (por influência da americana de 1776 e da Francesa de 1789), mas manteve a escravidão até 1888. Não tinha habeas corpus (que surgiu com o Código Criminal de 1830), mas tutelava, de certa forma, a locomoção. b) Constituição de 1981: Foi a primeira constituição da República do Brasil. Foi promulgada e teve por relator o senador Rui Barbosa. Seus traços marcantes eram: presidencialismo; república (dos Estados Unidos do Brasil); federação, sendo vedada a secessão; 3 poderes (fim do poder moderador); estado laico SEM a invocação de Deus no preâmbulo e SEM religião oficial; prevê a construção da futura Capital Federal no planalto central da república, mas a capital continua sendo o Rio de Janeiro. Era rígida (com cláusulas pétreas); previu expressamente o habeas corpus; aboliu as penas de galés, de banimento e de morte (salvo militar). Obs.: em 1932, Getúlio Vargas decretou o Código Eleitoral, que instituiu a Justiça Eleitoral, e passou a garantir o direito de sufrágio universal, direto e secreto, bem como o direito ao voto feminino. c) Constituição de 1934: Sob a influência da constituição de Weimar, da Alemanha/1919, previu os Direitos Humanos de 2º geração (estado social). Seus traços marcantes eram: república; federação; 3 poderes; presidencialismo; os ministros passaram a ter responsabilidade pessoal e solidária com o presidente; o estado é laico, mas COM a previsão de Deus no preâmbulo, facultado o ensino religioso nas escolas e o casamento religioso passou a gerar efeitos civis. O legislativo deixa de ser bicamerado rígido (ou paritário) e passa a apresentar um “bicameralismo desigual” ou “unicameralismo imperfeito”, pois o senado é colaborador da câmara. Era “rígida” e previu expressamente o Mandado de Segurança e a Ação Popular. d) Constituição de 1937: A constituição “Polaca”, como ficou conhecida pela influência da constituição Polonesa fascista de 1953, foi elaborada por Francisco Campos e deveria ter sido submetida a um plebiscito, mas nunca o foi. O parlamento foi fechado e o legislativo, na prática,nunca chegou a se instalar; o executivo cabia ao presidente da república, que era a “autoridade suprema do Estado”, eleito indiretamente; o judiciário foi “esvaziado”, pois o presidente da república podia exercer seu juízo de valor sobre 28 certas decisões judiciais que, se decidido pelo parlamento, ficariam sem efeito. Além disso, a justiça eleitoral foi extinta, bem como os partidos políticos. Não foi previsto o mandado de segurança, nem a ação popular; foi ampliada a pena de morte, podendo ser aplicada para crimes políticos, bem como em casos de homicídio praticado por motivo fútil com extremos de perversidade. Ademais, foi proibida a greve e o lock-out. Esta foi uma constituição “semântica”, pois não desempenhou papel algum. e) Constituição de 1946: Foi um texto promulgado por Assembleia Constituinte, que representou a redemocratização do Brasil. Foi restabelecido o mandado de segurança, a ação popular e o direito de greve. Além disso, foram vedadas as penas de morte, banimento, confisco e perpétua. Em 1960 foi transferida para Brasília a Capital Federal; em 1961 o congresso aprova o parlamentarismo, após a renúncia de Jânio Quadros; em 1963, volta o presidencialismo, por intermédio de referendo popular; em 1964, a constituição foi suplantada pelo golpe militar. f) Constituição de 1967: Na mesma linha da constituição de 1937, o poder foi concentrado no âmbito federal, esvaziando estados e municípios, o que aproximou o estado do conceito de unitário (golpe no federalismo). Teoricamente, permaneceu a tripartição de poderes, mas, na realidade, o executivo detinha todo o poder. Embora tenha trazido maior eficácia aos direitos dos trabalhadores, previa exageradas possibilidades de suspensão dos direitos políticos por 10 anos, em seu art. 151. Em 1968, com o AI-5, o habeas corpus foi suspenso para crimes políticos OU contra a segurança nacional, ordem econômica e social e economia popular. Além disso, foi excluída da apreciação judicial aquilo que estivesse de acordo com o AI-5, e o Congresso Nacional foi fechado por 10 meses. 1969: uma emenda constitucional constitucionalizou o AI-5. Época de milagre econômico (Médice) que se sucedeu por inflação e crise (Geisel). Após, veio a “Lei Falcão”, que reduziu a propaganda política, prejudicando a oposição, e o “Pacote de Abril de 1977”, quando Geisel dissolveu o Congresso Nacional. Foi flexibilizada a rigidez constitucional para aprovação de Emendas Constitucionais e estabelecida a “avocatória”, que podia suspender os efeitos de decisões de quaisquer tribunais, pela avocação pelo PGR, em causas relativas à ordem, saúde, segurança e finanças públicas. Além disso, um terço dos senadores passou a ser eleito pelas Assembleias Legislativas (“Senadores Biônicos”). “Pacote de Junho de 1978”: revogado o AI-5. Consequentemente, veio a Lei da Anistia (6.683/1979) e o pluripartidarismo. 29 Apesar da pressão popular com as “Diretas já”, a PEC Dante de Oliveira foi rejeitada e a eleição de Tancredo Neves foi indireta. Com a morte de Tancredo, assumiu Sarney que instituiu a “Comissão Afonso Arinos”, que elaborou um anteprojeto de constituição, o qual foi rejeitado, dentre outros motivos, por prever o parlamentarismo (o que diminuiria os poderes do presidente). Por esta razão, foi convocada a Assembleia Nacional Constituinte, presidida por Ulysses Guimarães. g) Constituição de 1988: A “constituição cidadã” criou o STJ (órgão de convergência da justiça comum), o mandado de injunção, a ADI por omissão, o mandado de segurança coletivo e o habeas data. Pela primeira vez aparece um capítulo dedicado ao Meio Ambiente e a Defensoria Pública é alçada à condição de função essencial à justiça. 30 3. HERMENÊUTICA CONSTITUCIONAL. APLICABILIDADE E INTERPRETAÇÃO DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS. MÉTODOS, CONCEITOS E PRINCÍPIOS DE INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL. NATUREZA E CLASSIFICAÇÃO DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS. LACUNAS NA CONSTITUIÇÃO, ESPÉCIES E CARACTERÍSTICAS, PRINCÍPIOS JURÍDICOS E REGRAS DE DIREITO. EFICÁCIA DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS E TUTELA DAS SITUAÇÕES SUBJETIVAS. ORÇAMENTO E RESERVA DO POSSÍVEL. AUTOR: GABRIELA LOPES PINTO MATERIAL DE CONSULTA: DIREITO CONSTITUCIONAL ESQUEMATIZADO-PEDRO LENZA (2014) E ANOTAÇÕES PESSOAIS 3.1. Que razões são apontadas para justificar a tese da especialidade da interpretação constitucional? As razões estão ligadas às seguintes características peculiares da constituição: superioridade no âmbito da hierarquia normativa; fortíssima carga (e relevância) política de seus preceitos; caráter programático (baixa ou baixíssima densidade normativa de muitos dispositivos constitucionais). 3.2. Quais são os métodos tradicionais de interpretação das normas? A) Método gramatical – valoriza o sentido vocabular das palavras, a vontade expressa do legislador. É o início, a primeira etapa da interpretação. O texto é o ponto de partida e o limite colocado ao intérprete. Esse método hoje na hermenêutica jurídica e constitucional deve ser apenas o ponto de partida no momento da interpretação de uma norma, porque muitas vezes interpretando ao pé da letra, podemos chegar a soluções hermenêuticas injustas (dura lex, sed lex); B) Método sistemático – valoriza a coerência, a lógica e visa à harmonização e integração das diversas normas consideradas em conjunto. É aquele método que busca correlacionar todos os dispositivos normativos de uma Constituição, pois só conseguiremos elucidar a interpretação a partir do conhecimento integrado C) Método Histórico – também denominada teleológica subjetiva, tem como meta desvendar qual foi a intenção do legislador em seu contexto histórico. Consiste na busca dos antecedentes remotos e imediatos que interferiram no processo de interpretação constitucional. Para entendermos o sentido atual precisamos entender o “passado” desses institutos, isto é a conjuntura na qual foram pensados e editados. D) Interpretação teleológica objetiva – Busca compreender a finalidade social da norma nas circunstâncias atuais, a vontade abstrata da lei, realizar a finalidade das normas constitucionais, muitas vezes superando a realidade descrita na norma. A interpretação teleológica se desenvolve sobretudo sobre os princípios constitucionais Ex: no sentido da expressão “casa” para a inviolabilidade do domicílio, pode ser estendida a qualquer domicílio, inclusive profissional, ex: escritório de advocacia. 31 E) Método Sociológico – interpreta a Constituição de acordo com a realidade social. Desenvolveu- se no final do século XIX com o surgimento da Sociologia. No campo da interpretação constitucional o método sociológico busca a efetividade, a eficácia social para que não se abra um abismo entre a norma e conjunto dos fatos sociais. O conceito de KELSEN passa a ser revisto, pois as mudanças na sociedade passam a ser observadas. Um exemplo disso é a norma que fala que o salário mínimo deve prover as necessidades básicas; essa norma poderia ser considerada inconstitucional no âmbito da interpretação sociológica, pois não disse quanto é o valor desse salário, e evidentemente que hoje temos normas regulando o valor do salário, o qual não consegue cumprir esse preceito de