Prévia do material em texto
2015 Políticas sociais da assistência social Prof.ª Silvana Braz Wegrzynovski Copyright © UNIASSELVI 2015 Elaboração: Prof.ª Silvana Braz Wegrzynovski Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. 362.50981 W411p Wegrzynovski , Silvana Braz Políticas sociais da assistência social / Silvana Braz Wegrzynovski. Indaial : UNIASSELVI, 2015. 269 p. : il. ISBN 978-85-7830-923-7 1. Assistência social. I. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. III aPresentação A disciplina que ora iniciamos no curso de Serviço Social, Políticas Sociais da Assistência Social no Brasil tem como objetivos: conhecer através do exercício teórico-prático as realidades históricas, organizacionais, promovendo entre os gestores as prioridades que apresentam impacto sobre a situação social da população brasileira, além de capacitar para a compreensão da Política de Assistência Social como instrumento de garantia dos direitos sociais e redução das desigualdades. Na primeira unidade serão abordadas a assistência social e as políticas sociais brasileiras, através da construção histórica das políticas sociais no Brasil, do legado elitista e autoritário na representação das políticas sociais, das reformas neoliberais: contrassensos e retrocessos e do Estado Brasileiro perante as novas políticas sociais. A segunda unidade apresentará as novas perspectivas da política de assistência social, descrevendo o percurso histórico da Assistência Social como política social, a Assistência Social: uma Política Social Garantida em Lei (LOAS), a Assistência Social como um novo modelo das Políticas Sociais (PNAS) e a atuação do Assistente Social na Política de Assistência Social. Na última unidade, será estudado o sistema único de assistência social –SUAS, através dos conceitos e bases teóricas do SUAS e dos eixos estruturantes, dos tipos e níveis de gestão, do reordenamento (tipificação) dos serviços, programas, projetos e benefícios socioassistenciais, instrumentos de Gestão do SUAS: Plano de Assistência Social e Plano de Ação e as Políticas de Recursos Humanos - NOB/RH - e os desafios para implementação do SUAS. Então chegou a hora de iniciarmos nossos estudos, vamos lá .... Prof.ª Silvana Braz Wegrzynovski IV Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! UNI Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais que possuem o código QR Code, que é um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar mais essa facilidade para aprimorar seus estudos! UNI V VI VII UNIDADE 1 – A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS ......... 1 TÓPICO 1 – A CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DAS POLÍTICAS SOCIAIS NO BRASIL ....... 3 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 3 2 COMPREENDENDO AS POLÍTICAS SOCIAIS .......................................................................... 5 LEITURA COMPLEMENTAR 1 ........................................................................................................... 9 LEITURA COMPLEMENTAR 2 ........................................................................................................... 19 RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................................... 22 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 24 TÓPICO 2 – O LEGADO ELITISTA E AUTORITÁRIO NA REPRESENTAÇÃO DAS POLÍTICAS SOCIAIS ..................................................................................................... 25 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 25 2 A REPRESENTAÇÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS E O AUTORITARISMO DAS CLASSES SOCIAIS ............................................................................................................................. 26 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 35 RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................................... 39 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 41 TÓPICO 3 – AS REFORMAS NEOLIBERAIS: CONTRASSENSOS E RETROCESSOS ......... 43 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 43 2 AS POLÍTICAS PÚBLICAS DIANTE DAS REFORMAS NEOLIBERAIS .............................. 44 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 56 RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................................................... 59 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 61 TÓPICO 4 – O ESTADO BRASILEIRO PERANTE AS NOVAS POLÍTICAS SOCIAIS ......... 63 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 63 2 AS NOVAS PERSPECTIVAS DAS POLÍTICAS SOCIAIS ......................................................... 64 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 69 RESUMO DO TÓPICO 4 ....................................................................................................................... 73 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 75 UNIDADE 2 – AS NOVAS PERSPECTIVAS DA POLÍTICADE ASSISTÊNCIA SOCIAL .... 77 TÓPICO 1 – O PERCURSO HISTÓRICO DA ASSISTÊNCIA SOCIAL COMO POLÍTICA SOCIAL ......................................................................................................... 79 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 79 2 A ASSISTÊNCIA SOCIAL E SUA TRAJETÓRIA HISTÓRICA, A SUA INSTITUCIONALIZAÇÃO E A INFLUÊNCIA DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 ................................................................................................................................................... 80 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 87 RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................................... 93 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 95 sumário VIII TÓPICO 2 – A ASSISTÊNCIA SOCIAL: UMA POLÍTICA SOCIAL GARANTIDA EM LEI (LOAS) ........................................................................................................................ 97 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 97 2 A LEI ORGÂNICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL E SUA LEGITIMIDADE ............................. 98 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 118 RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................................... 122 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 124 TÓPICO 3 – A ASSISTÊNCIA SOCIAL COMO UM NOVO MODELO DAS POLÍTICAS SOCIAIS (PNAS) ............................................................................................................. 127 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 127 2 A POLÍTICA NACIONAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL COMO AFIANÇADORA DE DIREITOS SOCIAIS ........................................................................................................................... 128 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 134 RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................................................... 137 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 138 TÓPICO 4 – NORMA OPERACIONAL BÁSICA DO SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL (NOB/SUAS) ..................................................................................................... 139 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 139 2 DA POLÍTICA NACIONAL, ASSISTÊNCIA SOCIAL À NORMA OPERACIONAL BÁSICA DO SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL ................................................... 140 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 148 RESUMO DO TÓPICO 4 ....................................................................................................................... 155 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 157 UNIDADE 3 – SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL - SUAS, UMA HISTÓRIA EM MOVIMENTO NO BRASIL ............................................................................... 159 TÓPICO 1 CONCEITOS E BASES TEÓRICAS DO SUAS (EIXOS ESTRUTURANTES) ...... 161 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 161 2 OS EIXOS ESTRUTURANTES DO SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL – SUAS, ATRAVÉS DA PONDERAÇÃO TEÓRICO-PRÁTICA ............................... 162 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 179 RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................................... 183 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 184 TÓPICO 2 – SUAS: NÍVEIS DE GESTÃO E PROTEÇÃO SOCIAL ............................................. 185 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 185 2 SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL: NÍVEIS DE GESTÃO E DE PROTEÇÃO SOCIAL .......................................................................................................................... 186 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 203 RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................................... 207 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 208 TÓPICO 3 – A CONCRETIZAÇÃO DA PROTEÇÃO SOCIAL NO BRASIL ............................ 209 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 209 2 A PRÁXIS PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL NO SUAS ........................................ 210 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 240 RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................................................... 244 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 246 IX TÓPICO 4 – A LINHA DO TEMPO DA ASSISTÊNCIA SOCIAL ............................................... 147 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 147 2 A LINHA DO TEMPO DA ASSISTÊNCIA SOCIAL: UMA DESAFIANTE E DEMORADA CONSTRUÇÃO NO CAMPO DOS DIREITOS SOCIAIS ............................... 248 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 253 RESUMO DO TÓPICO 4 ....................................................................................................................... 258 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 259 REFERÊNCIAS ........................................................................................................................................ 261 X 1 UNIDADE 1 A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS Esta unidade tem por objetivos: • entender a construção histórica das políticas sociais no Brasil; • analisar o legado elitista e o autoritarismo na representação das políticas sociais; • compreender as reformasneoliberais e seus contrassensos e retrocessos nas políticas sociais; • conhecer qual é o papel do Estado Brasileiro perante as novas políticas sociais. A Unidade 1 está dividida em quatro tópicos. Para um melhor aprofundamento do conteúdo e fixar melhor seus conhecimentos, no final de cada tópico você terá oportunidade de realizar as atividades propostas. TÓPICO 1 – A CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DAS POLÍTICAS SOCIAIS NO BRASIL TÓPICO 2 – O LEGADO ELITISTA E AUTORITARISMO NA REPRESENTAÇÃO DAS POLÍTICAS SOCIAIS TÓPICO 3 – AS REFORMAS NEOLIBERAIS: CONTRASSENSOS E RETROCESSOS TÓPICO 4 – O ESTADO BRASILEIRO PERANTE AS NOVAS POLÍTICAS SOCIAIS 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 A CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DAS POLÍTICAS SOCIAIS NO BRASIL 1 INTRODUÇÃO Esta primeira unidade deste Caderno de Estudos, tem como objetivo avaliar os principais processos econômicos e sociais, mediante os quais são determinadas e produzidas as políticas sociais públicas em todo território brasileiro. No desenvolver dos tópicos pretende-se apresentar e materializar conhecimentos sobre as configurações específicas de cada esfera sociopolítica de ações estratégicas desenvolvidas no que se refere à proteção social, através de percepções históricas e críticas da formação econômica e social do Brasil, enfatizando também questões culturais e políticas. A contribuição teórica-metodológica enfatiza um enfoque para a problematização dos conceitos em estudo, e que sejam voltados para a compreensão histórica das políticas públicas sociais no país, com destaque às que estão ligadas em um contexto socioassistencial, através da atuação profissional dos trabalhadores das áreas sociais, que se esforçam na complexidade das instituições, tradicionais ou não. Este resgate histórico tem sua concretude para a obrigação de um conhecimento sobre a formação econômica e política brasileira, oportunizando um melhor pensar e avaliar o descobrimento do Brasil em sua dinâmica histórica. Segundo Motta (1994, p. 19), “[...] tentando não cair na velha tradição historicista de “contar a história tal qual ela se passou”. Diante da reflexão teórica-histórica que esta unidade de ensino se apresentará, buscando o resgate de contradições e de perspectivas da política de assistência social, como política pública no Brasil. Caro(a) acadêmico(a), então, buscando o resgate histórico da assistência social, vamos aos estudos! Bons estudos! UNIDADE 1 | A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS 4 FIGURA 1 – POLÍTICAS SOCIAIS NO BRASIL FONTE: Disponível em: <http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/Revista-mostra- situacao-das-politicas-sociais-de-Norte-a-Sul-do-pais/4/32727>. Acesso em: 9 jun. 2015. A abrangência histórica das políticas sociais no Brasil, enfatizando a política de Assistência Social, gera algumas provações, que são importantes devido às dimensões das análises e reflexões que envolvem o Serviço Social como profissão. Neste sentido, Iamamoto (1998, p. 20) apresenta: Para garantir uma sintonia do Serviço Social com os tempos atuais, é necessário romper com uma visão endógena, focalista, uma visão ‘de dentro’ do Serviço Social, prisioneira em seus muros internos. Alargar os horizontes, olhar para mais longe, para o movimento das classes sociais e do Estado, em suas relações com a sociedade; não para perder ou diluir as particularidades profissionais, mas ao contrário, para iluminá-las com maior nitidez. O questionamento crítico, que existe em torno da assistência social e da construção do desenvolvimento histórico brasileiro, define importantes bases teóricas no que diz respeito aos entendimentos contraditórios da assistência social como uma política social pública específica. Com isso foi possível elaborar procedimentos ao exame de certos traços construtivos da elaboração da assistência social como política pública no país. Desse modo, a assistência social conseguiu introduzir o modelo constitutivo, voltado à evolução, para que se possa apreender algumas de suas características singulares na formação histórica social brasileira. Para Teixeira (1987, p. 48), esta compreensão está explícita através do contexto teórico-metodológico, pois: A emergência e desenvolvimento de uma política social é, por um lado, a expressão contraditória da relação apontada [capital e trabalho], sendo, ao mesmo tempo, fator determinante no curso posterior desta mesma relação entre as forças sociais fundamentais. Assim sendo, para o campo das políticas sociais confluem interesses de natureza contraditória, TÓPICO 1 | A CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DAS POLÍTICAS SOCIAIS NO BRASIL 5 advindos da presença de cada um destes atores na cena política, de sorte que a problemática da emergência da intervenção estatal sobre as questões sociais encontra-se quase sempre multideterminada. 2 COMPREENDENDO AS POLÍTICAS SOCIAIS Diante da multiplicidade de interesses e determinações visíveis que foram eleitas como expressões sintéticas que podem concentrar-se como questão específica, pela qual a assistência social, através da Constituição Federal de 88 – CF/88, passou a ser parte integrante de proteção social. DICAS Conforme a CF/88: Seção IV DA ASSISTÊNCIA SOCIAL Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social, e tem por objetivos: I - a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice; II - o amparo às crianças e adolescentes carentes; III - a promoção da integração ao mercado de trabalho; IV - a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária; V - a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei. Cabe ressaltar que a assistência social, perante a CF/88 teve um novo desenho e papel nas políticas sociais e se institui como escudo dos princípios da seguridade social. Se analisarmos na íntegra, podemos verificar que o conceito de seguridade social, na legislação atual, tem uma melhor compreensão, se for comparada as outras versões. A CF de 88 representou um marco importante na inclusão da população no sistema público de seguridade social, através do chamado tripé da seguridade social. Conforme Wegrzynovski (2015, p. 212): “Um novo conceito de seguridade social foi a partir da Constituição Federal, que se constituiria em uma sociedade mais justa e solidária com as pessoas em situações de vulnerabilidade social”. UNIDADE 1 | A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS 6 Os conceitos e as informações sobre a seguridade social começaram a ser evidenciadas no sistema capitalista, início do século XX, onde houve a constituição dos Estados de Bem-Estar Social, pois o governo britânico, no decorrer da guerra de 1941, solicitou a constituição de uma comissão interministerial, para realizar um estudo, que objetivasse futuras reformas do sistema de seguros do país. O estudo realizado ficou conhecido como Plano Beveridge, pois a comissão foi presidida por Sir William Beveridge, sociólogo inglês, e originou uma nova forma na seguridade social inglesa, sendo colocada em prática somente após a Segunda Guerra Mundial. O plano tinha como objetivo a proteção social de todas as pessoas que residiam na Grã-Bretanha, com fundamento no princípio da “necessidade”. O mesmo se desenvolveria através do auxílio de benefícios igualitários, que tinham como variante o estado civil ou sexo, sem ser considerado o rendimento anterior. Com este plano, houve a unificação das instituições de seguro social, através de apenas um serviço público, e centralizadas no Ministério da Seguridade Social. Este modelo teve influência no Brasil nas primeiras décadas do século XX, sendo identificadonas reproduções e discursos dos técnicos e dos dirigentes dos institutos de previdências e do Ministério do Trabalho. Os autores Oliveira e Teixeira, realizam uma avaliação através do documento do Serviço Atuarial do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, de 1950. Essa avaliação compreende: [...] a tendência moderna nesta questão é ampliar o âmbito dos antigos seguros sociais, para compreender nas finalidades do Estado, neste setor, não somente a Previdência stricto sensu, como também a assistência, a garantia do emprego etc., [...], a seguridade social do trabalhador [...]; da Previdência Social propriamente dita (seguro de pensões), desenvolver um amplo sistema de assistência social (prestações em natureza ou em serviços) [...]. Para que possa o segurado gozar dos benefícios da Previdência, [...] para que possa ser aposentado por velhice, precisa antes de mais nada sobreviver; a condição primordial é a saúde, a qual depende em grande parte de uma boa assistência médica, cirúrgica e hospitalar. Por outro lado, essa assistência, prevenindo os riscos de invalidez e morte prematuras, alivia o encargo de seguros de pensões. (OLIVEIRA; TEIXEIRA, 1989, p. 175, grifos da autora). Novamente citando Oliveira e Teixeira, o ideário da seguridade social, diante dos modelos que foram inicialmente idealizados pela comissão de Lord Beveridge, e que foi logo depois implementado na grande maioria dos países da Europa Ocidental, na ótica dos governos socialdemocratas e trabalhista, e que são originados no meio de uma articulação política, que era composta pelos países capitalistas que estavam aliados à Segunda Guerra, e que tinham como objetivo a reconstrução de hegemonia, com a elaboração de novas estratégias. TÓPICO 1 | A CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DAS POLÍTICAS SOCIAIS NO BRASIL 7 Esse movimento corresponde, na verdade, a parte de um amplo processo de enfrentamento, no plano ideológico, simultaneamente aos projetos fascista e socialista de organização da sociedade, o primeiro dos quais, apesar de derrotado militarmente, demonstrara ter encontrado significativa aceitação em amplos setores de diversos países, enquanto o segundo estava em plena ascensão ao final do conflito [...]. A democracia liberal procurava demonstrar, em síntese que, como seus interlocutores, também tinha uma proposta avançada para a satisfação das ‘necessidades sociais’ (OLIVEIRA; TEIXEIRA, 1989, p. 176). É importante relembrar alguns dos princípios norteadores de concepção que moldam o padrão de Seguridade Social, e serviram de bases estruturais dos Estados do Bem-Estar (Welfare States), e que foram utilizados como as principais referências os princípios teóricos e políticos para pensar, elaborar e implementar as legislações sociais na sua totalidade, mesmo sendo alvo de críticas durante todo processo. Como principais princípios, podem-se destacar: • A contribuição será adequada à capacidade do segurado e, também, não obrigatória; • O direito a uma renda mínima será para todo cidadão, involuntariamente de contribuição, garantindo um padrão mínimo de bem-estar, apontado de acordo com a situação histórica concreta; • A concessão do benefício não estará acondicionada a critério de mérito, instituído pelos agentes causadores da precisão. Citando novamente Oliveira e Teixeira (1989, p. 178): A Seguridade Social seria, nesta perspectiva, algo além de um mero sistema de concessão de benefícios. Consistiria, também, numa Política de Seguridade Social, na sua acepção mais abrangente, contemplando, além dos benefícios pecuniários tradicionais, ações de saúde, saneamento básico, educação, habitação, medidas de garantia do pleno emprego, redistribuição de renda, e outros. O modelo de proteção social que estava no auge na década de 50, baseado nos atributos acima citados, não foram materializados no Brasil. Pois o oposto aos modelos históricos que estavam se configurando nas políticas sociais, o país se caracterizou pelo domínio de um perfil limitativo e discriminatório, no que se refere aos direitos sociais. Analisando as primeiras medidas no campo da legislação trabalhista e social, pode-se perceber que existe uma lógica da acumulação elevada aos interesses e anseios coletivos da classe trabalhadora, resultado da correlação de forças antidemocráticas instituídas entre o Estado e a Sociedade. UNIDADE 1 | A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS 8 FIGURA 2 - RELAÇÃO DE PODER FONTE: Disponível em: <http://blogdaboitempo.com.br/2013/02/page/2/>. Acesso em: 12 jun. 2015. Apesar de forças antagônicas que as políticas sociais no Brasil sofreram, em especial a de Assistência Social, desde a CF de 88 começou a ser compreendida com mais clareza e nitidez como já citado, no que diz respeito aos direitos do cidadão e o dever do Estado, para a proteção social e de suas potencialidades de aprimoramento. Resgatando a história política do país, a década de 1930 foi o momento histórico inicial mais representativo de intervenção estatal nas esferas das políticas sociais e econômicas, decorrente do período da modernização industrial, e das relações sociais que foram constituídas como a nova ordem capitalista, o que ocasionou para o Estado uma nova maneira para explorar novas formas de gerenciamento institucional, buscando uma regulação social, através de novas iniciativas governamentais. Durante este período o Brasil estava saindo de uma grande crise econômica e política, que foi originada devido ao colapso monocultor da oligarquia cafeeira. TÓPICO 1 | A CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DAS POLÍTICAS SOCIAIS NO BRASIL 9 A CRISE DE 1930, A QUEIMA DO CAFÉ, A 2ª GUERRA E A ERA DOURADA Samuel Sérgio Salinas Examinada deste ponto de vista, a Grande Depressão dos anos 1930 do século passado e suas consequências foi um fenômeno tipicamente econômico financeiro. A nossa proposta é acrescer a descrição dos acontecimentos econômicos com a visibilidade de intensa atividade política desses anos que precederam a mais devastadora das guerras, onde a decisão política inaugurou a barbárie da era atômica. No Brasil, a queda nas exportações de café caiu mais da metade entre 1929 e 1932. O preço do produto despencou um terço em 1931. A entrada de capital estrangeiro cessou quase por completo em 1932, informa Werner Baer, que acrescenta que o Brasil foi o primeiro país latino-americano a introduzir o controle do câmbio e outras medidas diretas da mesma natureza, combinados com a desvalorização da moeda, reduzindo as importações em cerca de dois terços. Muito café, porém, foi queimado. O valor da produção destruída era muito inferior ao montante da renda criada, informa Celso Furtado. Essa providência antecipa as recomendações de Keynes, ou seja, a construção de pirâmides para sustentar o emprego, a renda e o consumo. No caso brasileiro permitiu manter a produção e o emprego de cerca de 200.000 trabalhadores. A produção prosseguiu, graças aos subsídios à agricultura, patrocinado pelo Conselho Nacional do Café, conhecidos como “socialização dos prejuízos”. Um tanto paradoxalmente, a queda nas importações de produtos industrializados favoreceu a indústria nacional: foi a nossa segunda substituição de importações, lembrando que a primeira ocorreu durante a conflagração de 1914-1918. Parte da dívida brasileira foi suspensa: a crise da dívida dos anos 1930, que se estendeu célere e feroz aos países subdesenvolvidos, ofereceu aspectos semelhantes às mais recentes crises ocorridas durante o predomínio neoliberal dos anos antecedentes ao governo Lula da Silva. A interação cidade-campo nos anos de crise em todo o mundo produziu o círculo vicioso que debilitou o conjunto. Forçados pela queda dos produtos primários de exportação, os países da periferia foram obrigados a desvalorizar as suas moedas para continuar no mercado. A situação não era exclusiva dessas economias, caracterizadas na época de subdesenvolvidas. FONTE: Disponível em: <http://www.vermelho.org.br/noticia/170692-297>.Acesso em: 13 jun. 2015. A oligarquia dominante naquele período defendia e possuía os interesses diferenciados de outros setores, principalmente em relação às oligarquias gaúchas e mineiras, que eram responsáveis pela produção do algodão, açúcar, carne e laticínio, que abasteciam o mercado interno. Desde o início do século, com o surgimento de novos grupos econômicos, outros sujeitos históricos se fortalecem, LEITURA COMPLEMENTAR 1 UNIDADE 1 | A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS 10 como a classe burguesa industrial, os operários e a denominada classe média, que era composta pela burocracia civil e militar. Neste período, necessitava-se de uma nova política de exportação, que fosse articulada com as pressões da classe operária urbana, para melhoria das condições de trabalho e vida. Para Coutinho (1989, p. 123): Naquele período, o movimento operário lutava pela conquista de direitos civis e sociais, enquanto as camadas urbanas emergentes exigiam uma maior participação política. Essas pressões ‘de baixo’ (que não raramente assumiam a forma de um ‘submersíssimo, esporádico, elementar, desorganizado’) fizeram com que um setor da oligarquia agrária dominante, o setor mais ligado à produção para o mercado interno, se colocasse à frente da chamada Revolução de 30. O triunfo dessa Revolução levou à formação de um novo bloco de poder, no qual a fração oligárquica ligada à agricultura de exportação foi colocada numa posição subalterna, ao mesmo tempo em que se buscava cooptar a ala moderada da liderança político militar das camadas médias (os tenentes). A caracterização deste movimento revolucionário se deu pelo caráter elitista, através da nova classe econômica, ou seja, um novo bloco de poder, que constituiu reordenamento e rearticulação interna dos setores econômicos e oligárquicos. Esse movimento entre as oligarquias, pela sua natureza, foi um movimento antipopular e conservador, através da incorporação dos setores mais conservadores e que ainda não obtinham o controle da máquina estatal, como por exemplo, o setor cafeeiro de São Paulo. IMPORTANT E Com a criação de um bloco de poder elitista, os setores populares foram excluídos de política, economia e outras. Esses indícios são importantes para entender os caminhos constitutivos da formação histórica social do Brasil. Para Coutinho (1993), esta manutenção da classe dominante, revela o perfil antidemocrático e de exclusão da classe trabalhadora, dos processos de transformações sociais, sendo caracterizado como uma “revolução passiva”, caracterizado no pensamento de Gramsci. [...] uma constelação histórica na qual se dá uma conciliação entre frações das classes dominantes, com a explícita tentativa de excluir o povo de uma participação mais ampla nos processos de transformação. TÓPICO 1 | A CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DAS POLÍTICAS SOCIAIS NO BRASIL 11 Gramsci diz que as revoluções passivas provocam mudanças na ordem social, mas mudanças que também conservam elementos da velha ordem. (COUTINHO,1993, p. 79). Mesmo sem nenhuma representação política, algumas reivindicações e demandas apresentadas pelas classes subalternas deveriam ser aceitas pela classe dominante e que estava no poder, para que fosse possível a implementação de um projeto político e econômico, como possibilidades de negociação. Os setores dominantes, que estavam sob o comando de Getúlio Vargas, quase que radicalizaram o autoritarismo, inserindo um regime de exceção mais correspondente, para um projeto de sociedade capitalista. Coutinho (1989, p. 123- 124) reflete que: Reprimido com extrema facilidade putsch [conhecido como Intentona Comunista] será o principal pretexto para a instauração da ditadura Vargas. Contudo, apesar de seu caráter repressivo e de sua cobertura ideológica de tipo fascista, o ‘Estado Novo’ varguista promoveu uma acelerada industrialização do País, com o apoio da fração industrial da burguesia e da camada militar; além disso, promulgou um conjunto de leis de proteção ao trabalho, há muito reivindicadas pelo proletariado (salário mínimo, férias pagas, direito à aposentadoria etc.), ainda que ao preço de impor uma legislação sindical corporativista, copiada diretamente da Carta del Lavoro de Mussolini, que vinculava os sindicatos ao aparelho estatal e anulava sua autonomia. FIGURA 3 – CRISE DE 1930 FONTE: Disponível em :<http://www.grupoescolar.com/pesquisa/caracteristicas-da- industria-moderna.html>. Acesso em: 14 jun. 2015. Sendo assim, a ditadura do Estado Novo foi responsável pela implementação de uma política econômica que estimulasse a industrialização, UNIDADE 1 | A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS 12 através de mecanismos que gerassem a acumulação através da intervenção estatal e que garantisse o mercado interno. O desenvolvimento da ordem econômica capitalista, depende de uma organização, influência e reprodução de um mercado força de trabalho, que tenha condição de promover a mão de obra assalariada, no que se refere às qualidades político-ideológicas e culturais para seu uso. Wegrzynovski (2015, p. 201-208) afirma: O Brasil desencadeou uma das maiores transformações do país, que foi chamada Revolução de 1930, foi liderada por Getúlio Vargas e ficou conhecida como a Era Vargas, a qual durou até 1945. Nesses 15 anos o Brasil se industrializou, provocando mudanças importantes na estrutura ocupacional da sociedade e a sua alocação nos setores econômicos, refletindo no aumento do número de trabalhadores nas empresas privadas, provocando o êxodo rural, um aumento nas populações das cidades e nas demandas de problemas sociais, como, por exemplo: falta de escolas, de habitação, de saneamento básico, de saúde, de assistência, entre outros. Perante as novas configurações econômicas, sociais, políticas e culturais que se instauraram no país, Vargas implementou uma legislação social e trabalhista, que além de sua amplitude, detinha o controle direto sobre a classe trabalhadora e na regulamentação das organizações sindicais, sendo ligadas ao Ministério do Trabalho, que foi criado neste período. O que antes se chamava de discurso da “colaboração de classe”, foi estabelecido em um reconhecimento legal das vulnerabilidades dos trabalhadores, objetivando o abandono da chamada “destrutiva ideologia de luta de classe”, e a classe trabalhadora limitasse a sua organização em uma representação, de caráter corporativo ao próprio Estado. Consequentemente, aos objetivos acima foram promulgados diversos decretos que afetaram diretamente as organizações sindicais, onde estabeleceram o sindicalismo único, unidade sindical, criava-se a possibilidade da intervenção do Ministério do Trabalho, onde teria autonomia suficiente para intervir na direção sindical, podendo até destituir uma direção eleita, se não fosse de acordo com as ideias do governo. Faleiros (1992, p. 100) analisa essas diretrizes, afirmando: Como os sindicatos se transformaram em ordens de colaboração com o Estado, as reivindicações dos trabalhadores são canalizadas pelos novos aparelhos semioficiais. A função principal das organizações sindicais não é mais a reivindicação e a pressão, mas a assistência médica, jurídica e cultural de seus membros. Despolitiza-se a ação sindical e, ao mesmo tempo, retira- se dela o seu potencial de mobilização reivindicativa e política. O perfil elitista das políticas sociais e trabalhistas, através da institucionalização das mesmas, acerou diretamente no campo da assistência TÓPICO 1 | A CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DAS POLÍTICAS SOCIAIS NO BRASIL 13 FIGURA 4 – CLIENTELISMO POLÍTICO FONTE: Disponível em: <https://gastao30.wordpress.com/tag/politica/>. Acesso em: 14 jun. 2015. social, que foram caracterizadas pelas ações de caridade e filantropia, através do imediatismo e interesses clientelistas. O Serviço Social surge no Brasil durante o século XX, sendo um instrumento para atender imediatamente as demandas sociais, que se estruturavamneste novo período da história do modelo capitalista. O Estado começa a ser obrigado a responder aos problemas sociais que estão surgindo no contexto da sociedade. Foi durante esse período que começam a ser criadas as primeiras políticas públicas sociais para atender às necessidades da população e instrumentalizar o Serviço Social, como profissão. Para Iamamoto (2007, p. 171): “A profissionalização do Serviço Social pressupõe a expansão de produção e de relações sociais capitalistas, impulsionadas pela industrialização e urbanização, que trazem, no seu verso, a questão social”. Sobre as ações que estavam sendo desenvolvidas na área da assistência social, foram observadas por Sposati et al. (1987, p. 45): A assistência Social [...] se reveste de maior racionalidade, introduzindo serviços sociais de maior alcance, sem perda, no entanto, de sua característica básica; o sentido do benefício ou da benevolência, só que, agora, do Estado. [...] é em 1938 que o Decreto-lei nº 525 estatui a organização nacional de Serviço Social enquanto modalidade de serviço público, através do Conselho Nacional de Serviço Social, junto ao Ministério de Educação e Saúde. O Conselho Nacional de Serviço Social, criado por decreto, teve sua atuação em diversos dividendos objetivos e na área da assistência social, sendo apontado por suspeitas de uso manipulado das verbas e também de indevidas subvenções sociais, que são próprias do modelo clientelismo político. UNIDADE 1 | A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS 14 A história da assistência social, como política social, foi marcada por mais de meio século de corrupção e desvio de recursos financeiros destinados a essa área, sendo evidenciados para a sociedade, através dos escândalos que envolviam parlamentares que faziam parte da Comissão de Orçamento do Congresso Nacional, no período do governo do Presidente da República Fernando Collor de Melo. Na época, o Conselho Nacional de Serviço Social (CNSS), era ineficaz no que se referia ao combate às práticas de corrupção, com recursos públicos, ou até cúmplice das irregularidades na utilização das verbas que eram destinadas à implementação de políticas sociais, e que acabaram sendo desviadas para a utilização clientelista dos diversos setores governamentais, como por exemplo: deputados, senadores e até por membros do Executivo. Analisando o que representa o uso indevido, o mau uso dos recursos públicos, está longe de ser reprimido no Brasil, pois infelizmente a prática que está fundamentada nessa natureza, nutre várias estruturas de poder e de desenvolvimento ilícitos que se fazem presentes na atual conjuntura política e econômica. FIGURA 5 – ANTICORRUPÇÃO FONTE: Disponível em: <http://www.adjorisc.com.br/politica/movimento- anticorrupc-o-volta-as-ruas-em-35-cidades-nesta-terca-feira-1.986627#. VX5E3flViko>. Acesso em: 15 jun. 2015. Neste sentido, consegue-se perceber que a trajetória da formação da classe burguesa no Brasil é contraditória, e evidencia um reconhecimento parcial aos princípios de cidadania pela classe dominante pelo Estado, através das transformações institucionais e políticas a partir da Revolução de 1930. O autor Marshall (1967), em seu escrito “Cidadania e Classe Social”, afirma que o Brasil possui uma característica peculiar na formação no seu processo histórico, que contradiz com sequências cronológicas das aquisições e conquistas dos direitos sociais, tendo como referência a Grã-Bretanha, para consolidar a lógica de implementação desses direitos, que se estruturam incialmente pelos direitos civis, seguidos dos direitos políticos e finalizando com os direitos sociais. TÓPICO 1 | A CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DAS POLÍTICAS SOCIAIS NO BRASIL 15 Com o reconhecimento dos direitos sociais, que beneficiaram em especial a burguesia e as classes dominantes, como os direitos trabalhistas e sociais, impostos na Era Vargas, que foi considerado um governo repressor para os segmentos de oposição política, mas cauteloso com as necessidades de legitimação da classe de trabalhadores, desprovidas de qualquer forma de politização, sendo um governo vigilante nas demandas dos trabalhadores, mas receptivo à reivindicação de organização, representação e reprodução da força de trabalho, solicitada pelo modelo capitalista. Sendo assim, assume-se uma coerência excludente e ineficaz do sistema de seguridade social no Brasil, que reflete de forma antidemocrática a relação que o Estado estabeleceu com cidadãos brasileiros, a partir do momento que leva o desconhecimento dos direitos e interesses fundamentais e legítimos da classe operária, gerando assim um aumento do empobrecimento dos trabalhadores, tanto por bens materiais e de formação política no resgate à cidadania. Para entender melhor as políticas sociais pós-30, Santos (1979, p. 132) traz o conceito sobre a conquista da cidadania e o papel do Estado, como “cidadania regulada”, sendo assim, “Por cidadania regulada, entendo o conceito de cidadania cujas raízes encontram-se não em um código de valores políticos, mas em um sistema de estratificação ocupacional [...]”. Este conceito apresentado pelo autor, se tornou um referencial característico da formação social de toda a população brasileira, devido à inclusão parcial e seletiva de alguns setores e segmentos sociais, principalmente os que envolvem as classes trabalhadoras, no que diz respeito à participação dos trabalhadores no processo decisório sobre as políticas sociais e econômicas do país. O Estado brasileiro, através da cidadania reguladora dos processos históricos, passou a ter atitude centralizadora e autoritária pós-30, mostrando que sempre esteve a serviço de interesse da inciativa privada, sendo que este princípio de privatização se perpetua até os dias atuais. Coutinho (1993, p. 87) apresenta que: O fato de ter sido esse Estado sempre muito forte e de ter aparentemente se superposto à ordem privada não anula, de modo algum, a realidade fundamental: a de que toda essa força foi sempre, em primeira ou em última instância, mais em primeira do que em última, um poderoso e eficiente instrumento a serviço de interesses estritamente privados. UNIDADE 1 | A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS 16 FIGURA 6 - INTERVENÇÃO DO ESTADO FONTE: Coutinho (1993) No transcorrer da história do Estado brasileiro, consegue-se analisar que o mesmo foi se moldando na década de 1930, e cada vez mais aperfeiçoando durante o período pós-1964 e no decorrer da ditadura militar, como patrimonialistas, pois os diferentes governos que se sucederam nestes anos eram eleitos e representados pelas elites dominantes e seus dirigentes. Essas características estavam centradas em ações tradicionalistas, paternalistas e clientelistas, que vigoraram até o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, mesmo com promessa de desmontar o modelo patrimonialista, teve seu mandato como todas as evidências dos anteriores, principalmente no que se refere à privatização das empresas estatais. A privatização de vários segmentos públicos se expressam através da intervenção estatal, do Estado, na inovação das condições favoráveis para a ampliação do capital privado, que desde o golpe de 64, passou a consentir prioritariamente aos interesses do capital financeiro multinacional, sendo este um caminho que se efetua em grandes dimensões na chamada política de globalização, a partir de 1995, com o governo de FHC. Este período da história brasileira, não veio de encontro com a equidade social e efetivação da cidadania, como se almejava, e sim, ocorreu um redirecionamento do Estado em relação ao seu papel econômico, através de seu desempenho protagonista no modelo de inserção de sistema capitalista monopolista mundial, gerando um regime antidemocrático dos direitos sociais e políticos da classe trabalhadora. Mediante esta função de acumulação desenvolvida do capital monopolista por parte do Estado, desde 1964, o autorCoutinho, baseado nas reflexões de Gramsci, descreve o conceito de “revolução passiva”: As forças produtivas da indústria, através de uma intervenção maciça do Estado, desenvolveram-se intensamente, com o objetivo de favorecer a consolidação e a expansão do capitalismo monopolista. A estrutura agrária, por seu turno, mesmo conservando o latifúndio TÓPICO 1 | A CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DAS POLÍTICAS SOCIAIS NO BRASIL 17 como eixo central, foi profundamente transformada, sendo hoje predominantemente capitalista. A camada tecnocrático-militar, que se apoderou do aparelho estatal, certamente controlou e limitou a ação do capital privado, na medida em que submeteu os interesses dos múltiplos capitais ao capital em seu conjunto, mas adotou essa posição ‘cesarista’ precisamente para manter e reforçar o princípio do lucro privado e para conservar o poder das classes dominantes tradicionais, quer da burguesia industrial e financeira (nacional e internacional), quer do setor latifundiário que ia se tornando cada vez mais capitalista. (COUTINHO, 1989, p. 124). Esta categoria chamada de “revolução passiva”, também foi empregada pelo pensador marxista, que serviu para esclarecer a mudança do capitalismo italiano, que estava na fase concorrencial, para a fase monopolista. A ditadura brasileira adotou alguns procedimentos, que fortaleceu o projeto de dominação imposto pelo sistema que estava em vigor. Segundo Faleiros (1992, p. 179): O capital multinacional, que tende a oligopolista, se implanta através dos setores mais modernos e mais rentáveis, isto é, na indústria de bens duráveis. Ocupa, ao mesmo tempo e gradativamente, os espaços de financiamento para compra desses produtos, sua comercialização, e alcança os investimentos agrícolas. Formam-se conglomerados cada vez maiores em todos os setores da economia. Nesse processo, entram na órbita do capital multinacional várias empresas nacionais, por compra ou simples associação [...] O Estado propicia tal concentração através dos seus mecanismos de união do bloco dominante e de controle do conjunto das medidas econômicas. Existem outros fatores importantes que precisam ser destacados e avaliados no modelo econômico, durante o período da ditadura, que está relacionado nas categorias fundamentais para a implementação de um padrão antipopular e concentrador de poder e de riquezas, que é o recurso à violência (diversas formas), à repressão e coerção direta e à plena restrição da liberdade. É importante recordar que, naquele período, a repressão política e militar foi contra os movimentos sociais organizados, como sindical, estudantil e social, que lutavam por uma política salarial, que objetivava o achatamento e perdas salariais, impostas à força pelo regime militar. UNIDADE 1 | A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS 18 FIGURA 7 – REPRESSÃO MILITAR 1964 FONTE: Disponível em: <http://militanciapolitica.webnode.com.br/a%20 resist%C3%AAncia%20aos%20anos%20de%20chumbo/>. Acesso em: 17 jun. 2015. O autoritarismo foi um dos procedimentos mais utilizados, para a negociação das políticas públicas sociais, tendo sempre relevância os interesses das classes dominantes. Neste sentido, não somente os canais de participação popular, como partidos políticos, sindicatos, organizações sociais sofreram retaliações em relação à formação política das massas trabalhadoras. Para Viana (1989, p. 26): Agências formuladoras ou reguladoras de políticas econômicas (aquelas que têm a ver com o processo produtivo), responsáveis por traduzir demandas setoriais em decisões generalizantes, estabelecem vínculos diretos com ‘clientelas’ selecionadas, garantindo no interior do aparelho estatal o lócus para a articulação técnica de seus interesses. A neutralidade no reconhecimento dos reais interlocutores dos diversos setores internos da burguesia, não vem de encontro com os verdadeiros interesses sociais. Sendo assim, conservaram-se as chamadas classes “clientelas” ou “pelegas” no movimento sindical, pois não possuíam nenhuma representatividade ou comprometimento na defesa dos trabalhadores. Diante da anulação dos direitos políticos e sociais em todos os setores da sociedade que visavam combater democraticamente os direitos da sociedade civil, as opções de ampliação dos recursos na área social estão limitadas. Porém, o mito das opções técnicas e racionais se tornam automatizadas, pela abrangência, mediante os discursos que foram propagados equivocadamente aos interesses políticos individualistas e particularistas. Mediante esta questão, Viana (1989, p. 26) observa que: Mantida a aparência constitucional, com a realização de eleições periódicas e câmaras legislativas em funcionamento, a política social, TÓPICO 1 | A CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DAS POLÍTICAS SOCIAIS NO BRASIL 19 através das imensas máquinas burocráticas de suas agências, cargos disponíveis e serviços prestáveis, transformou-se em esfera ideal para o fazer política uma política estreita e eleitoreira, alternativa ao tipo de competição política em que se reconhecem pressões conflitantes e se negociam interesses divergentes em arenas abertas. Em todo o período do regime autoritário acontece a materialização institucional fundamentalmente conservadora no sistema de proteção social, sendo que os princípios de financiamento são edificados através de critérios contrários ao da equidade social, acontecendo um bloqueio em todas as formas de transferências de rendas, através de setores e fontes de recursos de financiamento e de transferência de renda. Essas medidas afetaram diretamente os trabalhadores e operários assalariados, pois contribuíram de forma decisiva para a eliminação dos meios de acesso da população nas políticas públicas sociais, em especial as de assistência social. DICAS Caro(a) acadêmico(a), a leitura do livro a seguir é fundamental para que você consiga aprofundar melhor seus conhecimentos. Ensaio fundamental para a compreensão da formação social e política brasileira. Partindo das origens portuguesas de nosso patronato político, o autor demonstra como o Brasil foi governado, desde a colônia, por uma comunidade burocrática que acabou por frustrar o desenvolvimento de uma nação independente. Sua análise abarca o longo período que vai da Revolução Portuguesa do século XIV até a Revolução de 1930 no Brasil. Esta edição foi revista e acrescida de um índice remissivo. FAORO, Raymundo. Os donos do poder, formação do patronato político brasileiro. 5. ed. Rio de Janeiro: Ed. Globo, 2012. LEITURA COMPLEMENTAR 2 A RESISTÊNCIA AOS ANOS DE CHUMBO Ramati “Ex-Militante Político” Um dos períodos de maior terror e crueldade em toda a história do Brasil foi o da repressão implantada pela ditadura que sobreveio ao golpe militar de março de 1964, que destituiu um presidente eleito e praticou prisões ilegais, torturas, assassinatos, perseguições, censura, proibições, extinguiu as liberdades políticas e fechou o Congresso Nacional por várias vezes. UNIDADE 1 | A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS 20 A ação do estado autoritário que assaltou o poder, deixou marcas profundas em toda uma geração que carrega em sua memória, as lembranças do horror e da tensão dos “anos de chumbo”, mas também o orgulho de ter impetrado uma resistência firme, trazendo à tona para a sociedade brasileira, toda a podridão abrigada no interior do regime militar. No início da década de 60, o Brasil vivia um processo político muito intenso, com as mais diversas forças sociais atuando no cenário nacional, onde os movimentos populares se expressavam de forma aberta e davam passos na sua livre organização. Estudantes, trabalhadores, artistas e intelectuais se empenhavam na democratização da educação e da cultura. O Presidente João Goulart aproxima-se destes setores mais à esquerda com medidas nacionalistas como a Lei de Remessa de Lucro e discute-se amplamente a reforma agrária, tendo como referência importante as LigasCamponesas, organizadas por Francisco Julião. Setores conservadores, aliados ao capital estrangeiro, inflam o velho fantasma do “perigo comunista” e precipitam um golpe que depõe Jango, implantam uma ditadura militar, que logo nas primeiras semanas, demite 10 mil funcionários públicos, prende 40 mil pessoas, destrói 25 mil livros de autores diferentes e cassa os direitos políticos de 2.700 cidadãos, dando início a um terrível período de cerceamento de direitos e desrespeito à condição humana. Para se consolidar no poder, a ditadura busca neutralizar o movimento de oposição, e extingue 13 partidos políticos, cancela as eleições presidenciais previstas para 1966, cria a Lei de Imprensa e a Lei de Segurança Nacional, intervém na estrutura sindical e joga a CGT na ilegalidade, além de continuar cassando, prendendo e exilando inúmeras lideranças populares. Mesmo estabelecendo um permanente estado de sítio, com o AI-5 institucionalizando o terror e centros de tortura e morte espalhados pelo país, a ditadura não consegue neutralizar a resistência que de imediato manifesta sua insatisfação promovendo passeatas, greves e manifestações as mais variadas, com os estudantes dirigidos pela UNE, assumindo a vanguarda do protesto. No Calabouço, morria Edson Luiz e nas ruas a célebre passeata dos 100 mil protestava: “Vem vamos embora que esperar não é saber quem sabe faz a hora não espera acontecer” (Geraldo Vandré) A esquerda aprofundava o debate interno sobre táticas e estratégias políticas, e com isso novas ramificações surgiam da matriz do Partido Comunista (MR-8, POL0P, COLINA, VPR, VAR-PALMARES, POC, ALN, PCBR, AP etc.). Contra a ditadura qualquer maneira de luta vale a pena. As ações armadas surgem e se ampliam: invasões e tomadas de rádios para divulgação de manifestos, sequestros de diplomatas para serem trocados por presos políticos e assaltos a bancos para financiamento da luta revolucionária. Na virada da década, o país do “ame-o ou deixe-o”, cantava “prá frente Brasil, salve a seleção”. Era o tempo da Transamazônica, milagre econômico, 200 milhas, e cartazes espalhavam em todos os cantos o rosto de centenas de jovens idealistas sob o rótulo de terroristas, e haja assassinatos: Marighella, Mário Alves, TÓPICO 1 | A CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DAS POLÍTICAS SOCIAIS NO BRASIL 21 Joaquim Câmara, Lamarca, Stuart Angel, Honestino Guimarães, José Porfírio, Paulo Wright, Pedro Pomar, e muitos outros. Apesar de você Amanhã há de ser Outro dia ........ (Chico Buarque) Mais uma vez os estudantes nas ruas, pelas Liberdades Democráticas e Anistia Ampla Geral e Irrestrita, e junto com as donas de casa e os trabalhadores contra a carestia, greves econômicas, passeatas etc. Novamente o movimento popular se organizava contra a Ditadura. O MDB ganha as eleições para governador em 1974, instituições como CNBB, ABI, OAB, UNE, sindicatos e setores progressistas da Igreja manifestavam-se seguidamente “contra a fome e a farsa”. Denúncias de prisões arbitrárias, torturas e mortes, como a do jornalista Vladimir Herzog, e o operário Manoel Fiel Filho, eram cada vez mais contundentes, o que desestabilizava o governo militar. A luta pela anistia ganha corpo, mas a promessa de abertura “lenta e gradual” não extinguiu a violência. A extrema-direita tenta se articular e lança ofensiva com ameaças e atentados a bombas contra jornais de oposição, personalidades e entidades democráticas. Mas o “outro dia” já vinha raiando, fechando 20 anos (1964/84) de Ditadura Militar no Brasil, nos quais 500 mil pessoas foram processadas, indiciadas, ou presas por motivos políticos. Até hoje restam fatos a esclarecer, paradeiros a desvendar, mortos a enterrar. Uma mancha forte de sangue brasileiro ainda é viva, apesar das tentativas de se instalar um pacto velado de silêncio e de não se apurar tais incógnitas. A resistência impetrada pelo povo brasileiro nos “anos de chumbo” contra a intolerância, o desrespeito e a violência desumanas impostos por um governo tirano demonstravam mais uma vez que, onde quer que se levante contra ele a opressão, ele não se renderá, pelo contrário, responderá com luta, da forma que for possível e necessária para derrubar tudo aquilo que lhe ousar oprimir. FONTE: Disponível em: <http://militanciapolitica.webnode.com.br/a%20resist%C3%AAncia%20 aos%20anos%20de%20chumbo/>. Acesso em: 18 jun. 2015. 22 Neste tópico você viu que: • A abrangência histórica das políticas sociais no Brasil, enfatizando a política de Assistência Social, gera algumas provações, que são importantes devido à dimensão das análises e reflexões que envolvem o Serviço Social como profissão. • O questionamento crítico que existe em torno da assistência social e da construção do desenvolvimento histórico brasileiro, definem importantes bases teóricas no que diz respeito aos entendimentos contraditórios da assistência social como uma política social pública específica. • A multiplicidade de interesses e determinações visíveis que foram eleitas como expressões sintéticas que podem concentrar-se como questão específica, pela qual a assistência social, através da Constituição Federal de 88, passou a ser parte integrante de proteção social. • A CF de 88 representou um marco importante na inclusão da população no sistema público de seguridade social, através do chamado tripé da seguridade social. • Os conceitos e as informações sobre a seguridade social começaram a ser evidenciados no sistema capitalista, início do século XX, onde houve a constituição dos Estados de Bem-Estar Social. • Alguns dos princípios norteadores de concepção que moldam o padrão de Seguridade Social, e serviram de bases estruturais dos Estados do Bem-Estar. • O modelo de proteção social que estava no auge na década de 50, que estava baseado nos atributos acima citados, não foi materializado no Brasil. Pois o oposto aos modelos históricos que estavam se configurando nas políticas sociais, o país se caracterizou pelo domínio de um perfil limitativo e discriminatório, no que se refere aos direitos sociais. • Resgatando a história política do país, a década de 1930 foi o momento histórico inicial mais representativo de intervenção estatal nas esferas das políticas sociais e econômicas. • Durante este período o Brasil estava saindo de uma grande crise econômica e política, que foi originada devido ao colapso monocultor da oligarquia cafeeira. • A oligarquia dominante naquele período defendia e possuía os interesses diferenciados de outros setores, principalmente em relação às oligarquias gaúchas e mineiras, que eram responsáveis pela produção do algodão, açúcar, carne e laticínio, que eram abastecidos o mercado interno. RESUMO DO TÓPICO 1 23 • Mesmo sem nenhuma representação política, algumas reivindicações e demandas apresentadas pelas classes subalternas deveriam ser aceitas pela classe dominante e que estava no poder. • A ditadura do Estado Novo foi responsável pela implementação de uma política econômica que estimulasse a industrialização, através de mecanismos que gerasse a acumulação através da intervenção estatal e que garantisse o mercado interno. • Vargas implementou uma legislação social e trabalhista, que além de sua amplitude, detinha o controle direto sobre a classe trabalhadora e na regulamentação das organizações sindicais, sendo ligadas ao Ministério do Trabalho, que foi criado neste período. • O perfil elitista das políticas sociais e trabalhistas, através da institucionalização das mesmas, acerou diretamente no campo da assistência social, que foram caracterizados pelas ações de caridade e filantropia, através do imediatismo e interesses clientelistas. • O Conselho Nacional de Serviço Social, criado por decreto, teve sua atuação em diversos dividendos objetivos e na área da assistência social, sendo apontado por suspeitas de uso manipulados das verbas e também de indevidas subvenções sociais, que são próprias do modelo clientelismo político.• A trajetória da formação da classe burguesa no Brasil é contraditória, e evidencia um reconhecimento parcial aos princípios de cidadania pela classe dominante pelo Estado, através das transformações institucionais e políticas a partir da Revolução de 1930. • Com o reconhecimento dos direitos sociais, que beneficiaram em especial a burguesia e as classes dominantes, como os direitos trabalhistas e sociais, impostos na Era Vargas, que foi considerado um governo repressor para os segmentos de oposição política. • O Estado brasileiro, através da cidadania reguladora dos processos históricos, passou a ter atitude centralizadora e autoritária pós-30, mostrando que sempre esteve a serviço de interesse da inciativa privada, sendo que este princípio de privatização se perpetua até os dias atuais. • A privatização de vários segmentos públicos se expressam através da intervenção estatal, do Estado, na inovação das condições favoráveis para a ampliação do capital privado, que desde o golpe de 64, passou a consentir prioritariamente aos interesses do capital financeiro multinacional, sendo este um caminho que se efetua em grandes dimensões na chamada política de globalização, a partir de 1995. 24 1 Com a Constituição Federal de 88, a proteção social passou a ser obrigatória aos cidadãos brasileiros, devido à multiplicidade de interesses e determinações visíveis que foram eleitas como expressões sintéticas que podem concentrar- se como questão específica. Diante disso, cite na íntegra o artigo da CF de 88 que apresenta a assistência social como direito garantido. 2 Descreva o que você entendeu sobre cidadania regulada. AUTOATIVIDADE 25 TÓPICO 2 O LEGADO ELITISTA E AUTORITÁRIO NA REPRESENTAÇÃO DAS POLÍTICAS SOCIAIS UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO FIGURA 8 – REPRESENTAÇÃO DAS POLÍTICAS SOCIAIS FONTE: Disponível em: <http://arquivo.geledes.org.br/areas-de- atuacao?start=7786>. Acesso em: 19 jun. 2015. Focalizando o contexto histórico das políticas públicas, em seus pequenos elementos distributivos, como por exemplo, a previdência social, onde se sabe que o seu modelo de financiamento admite diminuídas transferências de ativos para inativos, enfatizando um padrão simplesmente horizontal na distribuição do benefício. Contextualizando a política de previdência social, no período da década de 90, consegue-se verificar que ela relevava várias propostas de mudanças na regulamentação da previdência, mediante a revisão constitucional que estava em curso. As proposições convergiam contrárias às reformas neoliberais que recém estavam implementadas no Brasil. UNIDADE 1 | A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS 26 2 A REPRESENTAÇÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS E O AUTORITARISMO DAS CLASSES SOCIAIS Uma outra característica que se pode apontar sobre o sistema nacional de arrecadação, mencionado naquela época, é referente ao repasse integral dos custos das contribuições sociais aos valores das mercadorias por parte das empresas, assim os assalariados e os consumidores são os financiadores dos programas sociais. Para Camargo (1991), o regime militar, no que se refere ao financiamento das políticas sociais, apresentou através de um perfil mais limitado e restrito, ou seja, autoritário e antipopular, para ampliar a arrecadação por meio da captação compulsória de poupança, usando as contribuições sociais, ao invés de ampliar a arrecadação das cargas tributárias, caracteristicamente fiscal, preservando o capital de realizar maiores gastos nas políticas sociais. Sendo assim, a quantia de recursos que foram recolhidos com as contribuições sociais computou, naquele momento, mais de 50% da receita tributária de toda a União, que são recursos procedentes de um orçamento paralelo coberto pelo consumo compulsório das contribuições sociais. Estas contribuições foram impostas com a justificativa de subsidiar as aplicações, projetos, programas e benefícios de instância social, consequentemente o Estado, União, estaria em última instância comprometido com as despesas sociais, pois ficaram acopladas diretamente aos fundos públicos exclusivos de cada área, e que já estavam discriminadas cada fonte de financiamento. A característica desse modelo do sistema de arrecadação e financiamento, por mais injusto e induzido, pois o comprometimento com as políticas sociais, incidem somente para uma parte da sociedade, e nesses moldes, a classe trabalhadora, e o Estado, sempre descomprometido com os interesses sociais, sem disponibilidade de orçamento, mesmo através das arrecadações fiscais. UNI O Estado se tornou um mecanismo completamente insuficiente para responder de maneira democrática às necessidades primordiais e básicas da população brasileira. No Brasil [...], dadas as condições de distribuição de renda e de salários, o baixo piso salarial e o limitado alcance do segmento formal do mercado de trabalho tornam o aporte de recursos fiscais simultaneamente mais necessário e mais difícil. Mais necessário, para fazer face aos gastos de cobertura de proteção social à população como um todo, não financiados com receita de contribuição. Mais difícil porque a esfera tributária revela-se TÓPICO 2 | O LEGADO ELITISTA E AUTORITARISMO NA REPRESENTAÇÃO DAS POLÍTICAS SOCIAIS 27 incapaz, face às limitações estruturais à expansão da receita impositiva, de acomodar uma crise fiscal originária de transferências para o setor privado e para o setor externo. (DAIN, apud VIANA,1989, p. 8). Todas essas características que formam o conjunto da formação social brasileira, está fundamentada por origens profundas nas representações sociais e políticas que foram herdadas da redemocratização da economia. Até poucos anos atrás o Brasil era considerado país com maior número de desigualdade na distribuição de renda. Os números que foram apresentados, no período militar, mostram que o PIB – Produto Interno Bruto – existia um percentual pequeno, relacionado à população, sendo 1% das famílias mais ricas, e que possuíam aproximadamente 20% de toda a renda nacional, contrapondo essa realidade, 50% dos mais pobres centralizavam apenas 10% de toda a riqueza produzida, o remanescente estava apropriado pelos extratos da proletarização da política recessiva. Esses dados foram ratificados através de relatório do Banco Mundial, e apresentam dados inquestionáveis. Com efeito, os conhecidos relatórios anuais do Banco Mundial fornecem algumas estatísticas básicas sobre 129 países-membros, afora aqueles com população inferior a um milhão de habitantes. Na sua última versão, o relatório apresenta informações de distribuição de renda para 46 países e entre estes o Brasil é o que aparece com o perfil mais iníquo. (ROMÃO apud CAMARGO, 1991, p. 104). Mesmo diante desse quadro de concentração de riqueza, o Brasil passava por uma crise econômica que há décadas vinha se alastrando no país e sem prévia de duração. As escolhas e alternativas habituais tinham sido esgotadas, as mudanças de importações e financiamentos externos e contratos para a expansão da produção e a rolagem da dívida, esses eram chamados de “draconianos”, devido a acordos firmados que não traziam nada de benefícios aos trabalhadores. DICAS Caro(a) acadêmico(a): assista ao curta-metragem: O dia em que Dorival encarou a guarda: Sinopse: Todo homem tem seu limite, e Dorival resolve enfrentar a tudo e a todos para conseguir o que quer. A história da luta desigual de um homem contra um sistema sem lógica e sem humanidade. FONTE: Disponível em: <https://www.youtube.com/ watch?v=zRO1HIVkFT>. Acesso em: 25 jun. 2015. UNIDADE 1 | A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS 28 Com as dificuldades encontradas para superar a crise econômica, outros caminhos foram trilhados, sendo esses mais atrozes e ineficientes, causando a recessão, fundamentados no ideário neoliberal. O legado para combater de qualquer forma a inflação durante aquele período, houve um arrocho ainda maior dos salários, demissãoem massa dos trabalhadores, e um enorme sucateamento dos patrimônios públicos, e efetivando os cortes nos recursos das políticas sociais, aumentando consequentemente as desigualdades sociais, fome, pobreza, desemprego. Outros segmentos com muito mais estrutura econômica se preveniam de qualquer forma de perdas. Essa chamada “herança indesejada”, foi apresentada por Benjamim (1991, p. 50): O atual sistema de poder que começa na hiperconcentração da riqueza e da terra, passa pelo predomínio dos oligopólios na economia, se reproduz no controle dos meios de comunicação de massa, apresenta poder de corrupção virtualmente ilimitado, garante sobre representação de oligarquias no Congresso Nacional e tem como reserva um judiciário conservador –, esse sistema de poder, aprisiona um grande país [...]. O poder das elites brasileiras no sistema em discussão, tenha se perpetuado, e deixado em seu caminho a marca da exclusão na história da sociedade brasileira, deve- se destacar uma importante modificação nas estruturas obsoletas e distribuídas, que foi o processo de ampliação e materialização do processo das liberdades democráticas, mesmo que limitadas na dimensão política. Assim, o Estado brasileiro, que era o retentor de extensos e ilimitados poderes, que mediava em torno de si, os setores politizados da sociedade, através de uma disputa corporativa de interesses, que se construiu durante este processo de resistência ao regime militar e nas lutas pela cidadania, uma combativa sociedade civil, que estava reconstruída através da participação e mobilização popular. FIGURA 9 – MOBILIZAÇÃO POPULAR FONTE: Disponível em: <http://jornalggn.com.br/noticia/as-mulheres-que- lutaram-contra-a-ditadura-militar>. Acesso em: 21 jun. 2015. TÓPICO 2 | O LEGADO ELITISTA E AUTORITARISMO NA REPRESENTAÇÃO DAS POLÍTICAS SOCIAIS 29 Nos anos 90, a sociedade civil esteve submersa em um período de instabilidade política, onde as classes trabalhadoras tiveram que outra vez reconquistar e buscar a capacidade de organização e de luta, mediante a degradação dos modelos de proteção social e de trabalho que foram implementados para a sociedade através das políticas sociais de interesses dos partidos social democratas e liberal que estavam no poder. Este período é descrito por Paiva (1999, p. 11): Como se sabe a ditadura investiu de diferentes maneiras no controle coercitivo da sociedade civil que, apesar da repressão e da desigualdade econômica, cresceu e se fortaleceu simultaneamente ao amadurecimento e à ampliação das forças produtivas sob o regime militar, potencializando-se pela multiplicação de interesses diversificados surgidos com a modernização econômica. A luta pela anistia, o multipartidarismo (que deu oportunidade de expressão a novas forças políticas, como o Partido dos Trabalhadores – PT, por exemplo), as manifestações de rua pelas eleições diretas para a presidência da República, a retomada dos sindicatos como espaço de luta política e não apenas de prestação de serviços, a mobilização em torno da Constituição de 1988 e as campanhas eleitorais, bem como, o movimento pela ética na política que detonou o impeachment de Fernando Collor de Melo, são apenas alguns exemplos emblemáticos dessa capacidade de mobilização e de ação da sociedade civil. Esse processo pôde ser constatado através das últimas eleições majoritárias e proporcionais ocorridas com o fim da ditadura. Com o aumento crescente dos coeficientes eleitorais, embora ainda aquém do necessário para alçar o poder, as esquerdas passaram a expressar e a reunir as aspirações políticas e éticas de vastos setores democráticos no País, ativadas, principalmente, através da militância contra a ditadura e na luta pelos direitos dos trabalhadores. O Partido dos Trabalhadores, de maior expressão política, e os demais partidos realmente progressistas, vêm indubitavelmente demonstrando, tanto em suas atuações no interior dos parlamentos quanto no desafio das administrações de muitas cidades e governos estaduais e também na luta do dia a dia dos movimentos populares, que é perfeitamente viável a construção de uma sociedade mais justa, mais ética e democrática, na recriação da história presente e futura deste país. As políticas neoliberais já foram devidamente implementadas e nem por isso a inflação, combatida a qualquer preço, cedeu. Há que se propor e levar à frente novas alternativas de solução para a crise econômica e social que vem solapando o cotidiano do trabalhador brasileiro. Assim sendo, essa conjuntura contraditória precisa ser reavaliada nos seus desdobramentos e condicionantes, pois coexistem num mesmo país uma sociedade civil representativa e organizada e uma população faminta em torno de 35 milhões de habitantes: são mais de três Somálias dentro do Brasil, já que naquele infeliz país africano a população gira em torno de 10,5 milhões. Com efeito, se for perpetuado esse desolador quadro econômico e social, incompatível com os princípios da democracia, pode-se gerar a impressão de que a transição UNIDADE 1 | A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS 30 democrática processada na luta contra a ditadura não teve o fôlego necessário para possibilitar a superação dos principais elementos de atraso e da exclusão gestados ao longo da história brasileira. Em função do pacto que levou a uma transição “sem traumas”, todos os ônus recaíram pesadamente sobre a população trabalhadora, que tem – às custas de muito trabalho mal pago – sustentado um modelo econômico irracionalmente concentrador de riquezas, modelo sustentado e aprofundado pelos governos civis que subiram ao poder depois da ditadura, os de José Sarney, Fernando Collor de Melo, Itamar Franco, a primeira e a corrente versão do governo Fernando Henrique Cardoso. Resgatando aquele traço recorrente da dinâmica política, pode-se repensar essa transição à luz da já aludida noção de “revolução passiva”: dado o aspecto conciliatório característico da transição democrática, tornou-se possível desconsiderar a legítima participação das massas populares na derrocada da ditadura, com a aceitação da eleição para presidente no Colégio Eleitoral criado pela ditadura, através da composição Tancredo Neves/José Sarney, e não pela via direta, como foi amplamente reivindicado naquele momento. Porém, essa não foi a única medida conciliatória e “pelo alto” imposta contra os apelos de participação democrática; pode-se recordar também o processo de convocação da Assembleia Constituinte, duramente golpeado pela manobra do Governo Sarney, que preferiu a solução de atribuir poderes constituintes a um Congresso instituído segundo as regras eleitorais e institucionais herdadas da ditadura. Portanto, os que redigiram a nova Constituição não o fizeram legitimamente, já que não foram eleitos para elaborar a primeira Carta democrática do país, e sim para legislar dentro da rotina normal do Parlamento. Essa manobra, muito combatida pelos setores progressistas, garantiu uma composição ideológica no Congresso Constituinte bastante favorável e adequada aos interesses das elites dirigentes; basta recordar o famoso “centrão”, que articulou uma firme resistência às mudanças pretendidas pelos segmentos democráticos. Para Coutinho (1994, p. 53), esse período de transição significa: [...] se praticamente todos os sujeitos políticos oposicionistas se empenharam na ‘guerra de posição’ que pôs fim à ditadura, nem todos levaram em conta, na época, o risco contido nessa forma de transição relativamente ‘negociada’. Nela se verifica [...]e, como tentamos indicar, a combinação de processos ‘pelo alto’ e de processos provenientes ‘de baixo’; e, decerto, é o predomínio de uns ou de outros o que determina o resultado final, a natureza do terminus ad quem da transição. A partir do momento em que, com a ida da oposição ao Colégio Eleitoral criado pela ditadura, preponderou uma solução ‘pelo alto’, concretizou-se o risco a que aludimos: o de que atransição terminasse por reproduzir, ainda que ‘atenuados’ e ‘modernizados’, alguns dos traços mais característicos do tradicional modo ‘prussiano’ e ‘passivo’ de promover as transformações sociais no Brasil. Uma transição desse tipo – que poderíamos chamar de ‘fraca’ – implicava certamente uma ruptura com a ditadura implantada em 1964, mas não com os traços autoritários e excludentes que caracterizam aquele modo tradicional de se fazer política no Brasil. (Grifo da autora). TÓPICO 2 | O LEGADO ELITISTA E AUTORITARISMO NA REPRESENTAÇÃO DAS POLÍTICAS SOCIAIS 31 Mediante este conjunto de restrições objetivas ao direito de exercer a cidadania, refletem diretamente nas políticas sociais de maneira cada vez mais decisiva, pois passou a ser alvo preferencial nos cortes dos recursos e despesas públicas. Este corte de recursos financeiros nas políticas públicas sociais acompanhou paralelamente o arrocho salarial, constando uma dificuldade na reversão desta representação, principalmente no que se refere ao sistema tributário do Brasil, pois representa uma fonte de recursos para a redistribuição de recursos pelas políticas públicas. FIGURA 10 – SISTEMA TRIBUTÁRIO FONTE: Disponível em: <http://oimpostoderenda.com/wp-content/ uploads/ID_22_impostos.jpg>. Acesso em: 22 jun. 2015. A questão da composição fiscal envia possíveis alternativas para a universalização e remanejamento na importância de estrutura fiscal remetente, portanto, que são produzidas coletivamente de maneira que as políticas sociais se constituem, sendo um elemento determinante para a estratégica e tática na luta pela democracia, através da socialização de bens de consumo e produção. O sistema tributário desde sempre, esteve fundamentado em critérios mais contraditórios e injustos possíveis, sendo um determinante na diferenciação da concentração de rendas, afligindo diretamente os assalariados, principalmente os que recebem uma menor renda e os consumidores, que são afetados através dos impostos que indiretamente são introduzidos nos preços das mercadorias. UNI O trabalhador é sempre penalizado duplamente, pois quando recebe seu salário tem o seu imposto recolhido mensalmente pela fonte pagadora, e a parcela mais bem- sucedida da sociedade tem recursos estratégicos para sonegar impostos, e em muitas vezes envia clandestinamente dinheiro para contas bancárias no exterior, as chamadas caixa-dois. UNIDADE 1 | A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS 32 Diante da conjuntura acima apresentada, é que o porcentual tributário do PIB, é um dos mais baixos se comparado com todos os outros países, um dos mais baixos mundialmente, isso devido à sonegação de impostos que atinge quase a metade que poderia ser arrecadado. O sistema financeiro, juntamente como os setores industriais nacionais e multinacionais, como os produtores agrários e os latifundiários, e os trabalhadores ativos e inativos de todo o sistema privado e público, como também cargos eletivos executivo e legislativo de todas as esferas, e ministros, além de partidos políticos e o Fundo Monetário Internacional, maior financiador das políticas, através de ações desordenada, discutem o fim das contribuições sociais, e com elas os investimentos das políticas sociais, e continuando a estrutura regressiva, sendo esta de interesse dos empresários, propondo um aumento de alíquotas, afetando o assalariado, que estarão relacionados aos impostos estaduais, municipais, ICMS e ISS, e transforma contribuições em impostos e com um Contribuição Provisória sobre a Movimentação Financeira – CPMF. Neste período de implementação das políticas neoliberais, algumas das propostas elaboradas por segmentos de esquerdas foram debatidas, como o início da progressividade na pertinência das taxas e alíquotas, em conjunto com a melhora na Receita Federal, que objetivasse o combate à sonegação de impostos. Sendo essas, medidas econômicas e políticas de uma maior precisão, que sem as mesmas os compromissos com uma redistribuição perdem o sentido, onde as políticas públicas seriam apenas um instrumento ratificador e reprodutor das desigualdades sociais. Em sociedades capitalistas, nunca houve, nem haverá, transição de modelos se os agentes transformadores não puderem exercer controle sobre a taxa de investimento [...]. Para controlar as variáveis macroeconômicas fundamentais, prover bens e serviços coletivos, induzir distribuição de renda, estabelecer a forma de exploração dos recursos não renováveis, promover o progresso científico e tecnológico e regular o intercâmbio com exterior, o Estado não precisa deter muito mais do que 25% ou 30% do PIB. (BENJAMIM, 1991, p. 49). O autor defende ainda a suposição clássica, que o processo distributivo deveria ser entregue somente para as políticas governamentais, de transferir o excedente, que era irrealizável no país, pelos índices de pobreza e desigualdade impostos na sociedade brasileira. O acúmulo dos impostos são grandes, comparados ao excedente que é mínimo, sendo necessária a realização de transformações qualitativas no setor econômico, pois só assim o modelo de exclusão social poderá ser superado. A política de Assistência Social, neste contexto, precisa estar atrelada a uma eficaz política de redistribuição de renda igualitária. Sendo assim, desenha- se o início da construção efetiva da cidadania, através da elaboração, estruturação e implementação de benefícios, programas, projetos e serviços, que deveriam ser TÓPICO 2 | O LEGADO ELITISTA E AUTORITARISMO NA REPRESENTAÇÃO DAS POLÍTICAS SOCIAIS 33 universalmente custeados através das contribuições tributárias do capital vigente, por meio de captação e alocação dos recursos públicos, por meio de um claro e criterioso planejamento das ações que utilizem os recursos públicos. Apesar das estratégicas conservadoras que foram utilizadas no processo constituinte, e das forças contrárias da sociedade civil, que muitas conquistas foram afirmadas na Constituição Federal de 1988, no que diz respeito aos direitos de cidadania da população brasileira, sendo o que resultou na chamada “Constituição Cidadã”. Foi na CF de 88, que foram contemplados os direitos sociais, a educação, a saúde, o trabalho, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados (cf. Título II, “Dos Direitos e Garantias Fundamentais”, Capítulo II, “Dos Direitos Sociais”, artigo 6º). FIGURA 11 – DIREITOS SOCIAIS FONTE: Disponível em: <http://sinprogoias.org.br/violencia-contra-as-mulheres/>. Acesso em: 22 jun. 2015. A assistência é uma referência diretamente interligada com o direito de cidadania, através da aproximação e reconhecimento com área da seguridade, ou seja, passou a ser considerada uma política social específica, conforme o artigo 194 (Capítulo II, “Da Seguridade Social”, do Título VIII, “Da Ordem Social”), dispõe que: a seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de inciativa dos poderes públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social. Esses direitos sociais foram reconhecidos juntamente como os novos princípios políticos relacionados a uma estrutura mais racionalizada e democrática na utilização dos recursos e serviços oferecidos pelas políticas públicas, como: UNIDADE 1 | A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS 34 • Universalidade da cobertura e do atendimento para todos os cidadãos; • Igualdade e equivalência dos benefícios e serviços a populações urbanas e rurais; • Seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços; • Irredutibilidade do valor dos benefícios; • Igualdade na forma de participação do custeio, através da participação dos estados e municípios na composição dos fundos sociais; • Diversidade na base de financiamentos; • Caráter democrático e descentralizado da gestão administrativa, através da participação da sociedade civil, em especiala classe trabalhadora, empresário e aposentados. A democratização dos recursos públicos e das políticas sociais, que foram apontadas na CF/88, estão fundamentadas nos princípios acima citados, porém na prática, os cumprimentos das políticas públicas não são efetivados na sua totalidade. Se analisarmos a política de saúde, que está regulamentada pelo Sistema Único de Saúde – SUS, onde é evidente a diferença entre o discurso político, independentemente de partido político, e da ação ética. Pois diariamente nos deparamos através dos meios de comunicação com notícias dos sucateamentos da política de saúde, através da falta de estrutura física, humana e/ou limitação de medicamentos na rede pública. FIGURA 12 - SUS FONTE: Disponível em: <http://www.pmpr.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo. php?conteudo=962>. Acesso em: 23 jun. 2015. Mesmo com o sucateamento das políticas sociais, muitos avanços foram evidenciados no sentido de uma universalização dos direitos sociais averiguados por uma análise centralizada restrita à CF em vigência. Novamente, citando o SUS, aponta para uma atenção hospitalar integral e indiscriminada para todos os cidadãos, ultrapassando o limite de atendimento segmentário, apenas para uma parcela da população, como no caso aos segurados da previdência social. TÓPICO 2 | O LEGADO ELITISTA E AUTORITARISMO NA REPRESENTAÇÃO DAS POLÍTICAS SOCIAIS 35 Sobre a Previdência Social, desde a CF/88, foram obtidas algumas conquistas importantes para os trabalhadores, podendo ser citadas a regularização dos direitos do trabalhador doméstico, a ampliação da licença maternidade e outros. Faz-se necessário ponderar todos esses avanços cautelosamente, apesar de conquistas formais, é importante constar que a falta de correspondência e diálogo entre tais avanços com a promulgação da CF/88 , impedindo assim avanços no âmbito da legislação, sendo assim, em partes foi possível materializar enquanto prestação efetiva de serviços prescritos, exceto os itens legais, que estavam centralizados na época pelo extinto Ministério da Previdência e Assistência Social – MPAS, desde o ano de 1995. Esses obstáculos na efetivação das políticas públicas podem ser apontados diante do processo de revisão Constitucional, que era defendido ardorosamente pelos setores empresarial e pelo governo. Esta revisão apontava alterações muito desfavoráveis aos interesses da classe dos trabalhadores. A sistematização jurídica – formal da seguridade social, realizada para uma análise da assistência social como política social, destina-se a ampliar a discussão desta área com um outro ponto de vista. Isto constitui analisar a questão da política pública de assistência social através de novas condições, através de um processo de regulamentação legal. No ano de 1993 foi aprovada a Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS, que desde então estão sendo efetivados os serviços assistenciais por meio de novas configurações da área de assistência social. UNI Caro(a) acadêmico(a), a Política de Assistência Social será apresentada na sua íntegra nas próximas unidades. Fique atento(a). LEITURA COMPLEMENTAR REPRESENTAÇÕES SOCIAIS, AÇÃO POLÍTICA E CIDADANIA Flavio A. A. Goulart Entre as opiniões, imagens e percepções dos atores sociais, ou seja, suas representações sociais e a tradução destas nos chamados movimentos sociais, em reivindicações e ação política dirigidas ao aparelho estatal, existem mediações UNIDADE 1 | A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS 36 diversas, tais como consciência e visão de mundo, o conjunto de saberes “profanos” envolvidos, o sentido e o conteúdo das carências, necessidades e interesses individuais e coletivos etc. Em trabalho recente (GOULART, 1992), procuramos discutir e aprofundar tais mediações, bem como evidenciar as relações que se estabelecem entre os movimentos sociais e a formulação das políticas públicas, analisando também os fatores determinantes da passagem das concepções de mundo elaboradas e difundidas pelos movimentos, isto é, suas representações cristalizadas nas demandas e reivindicações à ação dotada de finalidades políticas concretas. Em outras palavras, trabalhamos com o objetivo de tornar transparentes os determinantes do projeto (ou do contraprojeto) político dos movimentos sociais, além de tentar evidenciar como estes dão conta de perceber e enunciar uma noção de cidadania no embate com o caráter por vezes inibidor, por vezes estimulador, da ação estatal na área social. No estudo presente, o eixo analítico central é aquele consubstanciado pelas representações sociais elaboradas pelos diversos atores sociais, individuais e coletivos. Do ponto de vista teórico, cabe ressaltar, preliminarmente, que as representações sociais constituem um sistema de valores, noções e práticas ligado a um conjunto de relações sociais e processos simbólicos que instaura a possibilidade de orientação dos indivíduos no mundo social e material, além de possibilitar a tomada de posição e a comunicação intergrupal, bem como a decodificação deste mundo e da história individual e coletiva do grupo. Sua apreensão, através de estudos específicos, deve levar em conta um contexto sempre em mudança, marcado pelo caráter contraditório das relações sociais, dentro do qual a representação não deve ser buscada como única explicação correta de um fenômeno, mas sim como fator facilitador da comunicação (HERZLICH, 1975; MINAYO, 1989; MOSCOVICI, 1975). Quando o tema é a ação política dos movimentos sociais, cabe também, preliminarmente, estabelecer uma visão mais abrangente de uma questão central: a dimensão cultural de tais movimentos. Faz-se necessário, portanto, tentar discriminar e aclarar os valores aí referidos, como, por exemplo, a consciência política, ou ainda, os aparentes apolitiquíssimo e apartidarismo dos movimentos. Neste aspecto, uma afirmativa que carece de maior aprofundamento é aquela, por vezes registrada por determinados autores, de que a sociedade brasileira não possui representações firmadas de suas instituições (SILVA, 1990). Bem ao contrário, tais representações certamente devem estar presentes, inclusive possuindo um grande grau de elaboração. A questão é sua revelação não imediata, uma vez que elas se encontram revestidas de elementos que escamoteiam a realidade, os quais faz-se necessário des(en)cobrir. Insere-se aqui, ainda, o deslindamento da “identidade” dos movimentos sociais, referida amplamente na literatura. Pode-se vislumbrar, nesta direção, pelo menos três dimensões analíticas, a saber: a cultural, a política e a econômica, incluindo-se nesta última a “identidade de consumidores”, aspecto bastante enfatizado, aliás, em muitos trabalhos realizados na última década. O Estado, suas características, seu papel, suas responsabilidades — melhor dizendo, a percepção e a representação de tais aspectos por parte da população — é um tópico que não pode deixar de ser considerado dentro da temática ora TÓPICO 2 | O LEGADO ELITISTA E AUTORITARISMO NA REPRESENTAÇÃO DAS POLÍTICAS SOCIAIS 37 percorrida. Se a literatura sociológica se divide e se confronta, ao “representá-lo” dentro de uma visão mais “estrutural” ou mais “autonomista”, seria lícito supor que também as representações da sociedade enveredassem por caminhos divergentes. Tomando a saúde como exemplo, o papel do Estado assume especial relevo, tendo em vista as definições da Constituição Federal de 1988, o que acarreta, certamente, a necessidade de estudos que apreendam de maneira mais abrangente a percepção deste Estado por parte dos atores que se articulam em torno dele. Assume especial relevo a questão, já levantada por Cohn et al. (1991), de que a representação de poder público de que dispõe a população basicamente se refere ao executivo, na esfera municipal, fato que, se, de um lado, reconhece a importância de um ator destacado no cenário, de outro nega outras mediações institucionais entre a sociedade civil e a sociedade política.A questão do Estado suscita, ainda, pelo menos dois outros temas correlatos: primeiro, os “outros discursos”, ditos competentes, na verdade representações sociais de um determinado polo da sociedade — as quais influenciam e praticamente definem alguns dos conteúdos e valores que compõem a noção social de cidadania, cumprindo-nos apreendê-las e esmiuçá-las dentro da linha inaugurada no Brasil por Luz (1979); segundo, a noção de legalidade, dentro do referencial de Castoriadis (1983), que pode ser considerada uma forma de representação destacada pelos mecanismos de sociabilidade dos movimentos sociais, a qual não segue diretamente os ditames jurídicos oficiais. Os temas Estado e dimensão cultural permitem uma aproximação ao outro componente do objeto central deste trabalho: a ação política dos movimentos sociais, ou seja, os modos de inserção dos atores individuais, sua percepção de “necessidades” e seus projetos de ação. Coloca-se, assim, em evidência a questão das pautas reivindicativas dos movimentos, seus conteúdos e sistemas de referência, bem como seus aspectos locais/gerais, mais ou menos politizados ou fragmentados. Deve-se tentar verificar as relações entre o grau de politização de um grupo e a autopercepção de seus membros, enquanto clientes/sujeitos, suplicantes/demandantes em relação ao Estado. Da mesma forma, podem ser apreendidas, tentativamente, a percepção que os grupos e indivíduos têm a respeito de categorias que escapam ao paradigma do trabalho e da produção — como, por exemplo, família, relações vicinais, identidade comunitária, vinculação a outras formas de organização que não sindicatos e partidos — e sua influência na ação política de tais atores. O tema dos projetos de ação política dos movimentos sociais encontra grande desenvolvimento na literatura sociológica desde os estudos clássicos de Marx. Dentro do referencial marxista, aliás, destacam-se as contribuições de Goldmann (1980), segundo o qual o comportamento político dos atores sociais é revelado de maneira peculiar, não bastando, para tanto, a mera indagação aos indivíduos para que exponham “o que pensam”. Isto simplesmente significaria a omissão do fato de o que as pessoas dizem não corresponder necessariamente ao que elas fazem, ou seja, confundir-se-ia a consciência individual com a “funcionalidade global”, bem como os fatos com o comportamento. A solução para o problema é realizar a apreensão dos fatos através de sua transformação social, isto é, buscar a “funcionalidade” de que fala o autor, a qual implica justamente o sujeito coletivo, “único sujeito, a nível histórico, que pode dar conta do conjunto UNIDADE 1 | A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS 38 dos fenômenos” (GOLDMANN, 1980). Ainda conforme Goldmann, o problema da consciência coletiva não se resume em determinar o que pensam conjuntamente os membros de um grupo, mas sim em verificar que mudanças podem ser produzidas na consciência grupal. A intervenção (ação política) na vida social deve levar em conta as informações passíveis de serem transmitidas, aquelas que podem ser recebidas pelos membros do grupo, bem como aquelas cuja aceitação no grupo é vedada. Ao comparar a ação dos homens sobre outros homens e com a ação sobre o mundo exterior, o autor esclarece que, na verdade, ambas as formas de ação se interferem mutuamente e que toda transformação social comporta uma transformação a nível dos sujeitos individuais ou coletivos. [...] O conceito e a prática de uma cidadania “regulada” podem, na verdade, ser incorporados tanto pelo Estado como pela sociedade. Alcançar um estágio de cidadania “plena” resulta de um processo histórico de conquista social, no qual se reveste de especial importância a maneira como a sociedade organiza e representa suas noções acerca do tema. O conhecimento aprofundado das contradições entre as demandas da sociedade e a formulação política pelas instituições pode resolver o paradoxo apresentado pelo polimorfismo das políticas públicas, a um só tempo compensadoras e reprodutoras de desigualdades, controladoras e estimuladoras da ação política da sociedade. Em conclusão, torna-se necessário conhecer as representações sociais de cidadania em sua dinâmica e variabilidade, o que pode significar um caminho para a definição de novos direitos e novas áreas de ação política para o polo dominado da sociedade. FONTE: Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/csp/v9n4/08.pdf>. Acesso em: 24 jun. 2015. 39 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico foi apresentado para você, acadêmico(a): • O contexto histórico das políticas públicas, em seus pequenos elementos distributivos, como por exemplo, a previdência social, no seu modelo de financiamento admite diminuídas transferências de ativos para inativos. • A política de previdência social, no período da década de 90, consegue verificar que a mesma relevava várias propostas de mudanças na regulamentação da previdência, mediante a revisão constitucional que estava em curso. • Outra característica que se pode apontar sobre o sistema nacional de arrecadação, mencionado naquela época, é referente ao repasse integral dos custos das contribuições sociais aos valores das mercadorias por parte das empresas, assim os assalariados e os consumidores são os financiadores dos programas sociais. • O modelo do sistema de arrecadação e financiamento, por mais injusto e induzido, pois o comprometimento com as políticas sociais incide somente para uma parte da sociedade, e nesses moldes, a classe trabalhadora, e o Estado, sempre descomprometido com os interesses sociais, sem disponibilidade de orçamento, mesmo através das arrecadações fiscais. • Até poucos anos atrás o Brasil era considerado país com maior número de desigualdade na distribuição de renda, e enfrentava uma das maiores crises econômicas. • Com as dificuldades encontradas para superar a crise econômica, outros caminhos foram trilhados, sendo esses mais atrozes e ineficientes, causando a recessão, fundamentados no ideário neoliberal. • Para combater de qualquer forma a inflação durante aquele período, houve um arrocho ainda maior dos salários, demissão em massa dos trabalhadores, e um enorme sucateamento dos patrimônios públicos, e efetivando os cortes nos recursos das políticas sociais, aumentando consequentemente as desigualdades sociais, fome, pobreza, desemprego. • O poder das elites brasileiras no sistema em discussão, tenha se perpetuado, e deixado em seu caminho a marca da exclusão na história da sociedade brasileira. • O Estado brasileiro era o retentor de extensos e ilimitados poderes, que mediava em torno de si. 40 • Nos anos de 90, a sociedade civil, esteve submersa em um período de instabilidade política, onde as classes trabalhadoras tiveram que outra vez reconquistar e buscar a capacidade de organização e de luta. • O sistema tributário desde sempre, esteve fundamentado em critérios mais contraditórios e injustos possíveis. • Neste período de implementação das políticas neoliberais, algumas das propostas elaboradas por segmentos de esquerdas foram debatidos. • As medidas econômicas e políticas de uma maior precisão, que sem as mesmas os compromissos com uma redistribuição perdem o sentido, onde as políticas públicas seriam apenas um instrumento ratificador. • A política de Assistência Social, neste contexto, precisa estar atrelada a uma eficaz política de redistribuição de renda igualitária a e reprodutor das desigualdades sociais. • Foi na CF de 88, que foram contemplados os direitos sociais. • A democratização dos recursos públicos e das políticas sociais, que foram apontadas na CF/88, estão fundamentadas nos princípios acima citados, porém na prática, os cumprimentos das políticas públicas não são efetivados na sua totalidade. • No ano de 1993 foi aprovada a Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS, que desde então estão sendo efetivados os serviços assistenciais por meio de novas configurações da áreade assistência social. 41 1 Durante os anos 90, a sociedade civil esteve submersa em um período de instabilidade política, onde as classes trabalhadoras tiveram que outra vez reconquistar e buscar a capacidade de organização e de luta. Descreva como foi esse período de degradação da proteção social. 2 Após a CF/88, a assistência se tornou uma referência diretamente interligada com o direito de cidadania permeando pelos direitos sociais e que foram reconhecidos através dos novos princípios políticos. Cite-os. AUTOATIVIDADE 42 43 TÓPICO 3 AS REFORMAS NEOLIBERAIS: CONTRASSENSOS E RETROCESSOS UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO FIGURA 13 – REFORMAS NEOLIBERAIS FONTE: Disponível em: <http://www.jornalggn.com.br/comment/627207>. Acesso em: 24 jun. 2015. Analisando o percurso histórico da política de assistência social no Brasil, averiguamos a recorrência de particularidade típica e que se manteve nenhuma mudança na sua formulação político-assistencial, até o final dos anos 90 e início dos anos de 2000. A assistência era mencionada na prática como política para completar as diferenças das áreas de que a atuação do estado não conseguia suprir, correndo o risco de se reproduzir no seu original projeto, ou seja, a suplementação das demais políticas sociais, como a educação, saúde, habitação. UNIDADE 1 | A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS 44 UNI A assistência social estava reconhecida como um instrumento transversal que permeia as ações efetivadas pelas demais políticas sociais, mediante a estratégia da universalização dos direitos sociais previstos na CF/88. Os exemplos de presença dos componentes assistenciais nas outras políticas são evidentes na educação básica, através de liberação de recursos para uniformes e merendas escolares, a viabilidade do material didático, oportunizando a continuidade de crianças e adolescentes nas escolas. Na saúde, os serviços assistenciais estão configurados no cerne da política, pois qualquer ação de planejamento estratégico no que se refere ao SUS, implica recursos para o abastecimento e fornecimento de medicamentos, de aparelhos específicos para cada especialidade, de condução de pacientes, entre outros. 2 AS POLÍTICAS PÚBLICAS DIANTE DAS REFORMAS NEOLIBERAIS Na Constituição que está em vigor, consegue-se verificar que a assistência mantém conexões com todas as políticas sociais dos mais diversos setores e também com as políticas de fundo econômico. Para Pereira (1991, p. 6-7): [...] além de estarem presentes nas seções específicas, ‘Ordem Social’ e ‘Seguridade Social’, formas de assistência se insinuam também nos capítulos da Educação, da Cultura e do Desporto, da Família, da Criança, do adolescente e do Idoso e, até mesmo, nos capítulos da Política Urbana e da Política Agrícola e Fundiária e da Reforma Agrária, que compõem o Título da Ordem Econômica e Financeira. A compreensão da análise acima, pode ser verificada diante da conjuntura de pauperização da sociedade, na época de implementação da CF/88, significando reconhecer que a maior parte da população se encontrava excluída aos acessos mínimos para uma condição digna de vida. Diante da qualidade de demissão e as insuficiências de toda a ordem, característicos da pobreza e da miséria, são reproduzidos através de um ciclo de gerações, que se tornam herdeiros de uma sociedade escravista e autoritária, resultando em uma população suprimida por uma luta cotidiana em prol da própria sobrevivência. TÓPICO 3 | AS REFORMAS NEOLIBERAIS: CONTRASSENSOS E RETROCESSOS 45 Para Abranches (1985, p. 17): [...] consomem mais horas trabalhando ou em busca de qualquer trabalho, horas que são subtraídas à educação e à busca de exercício da criatividade, à ação política e ao lazer. Forçados a tal sobrecarga, de tantos modos desgastante, para a qual mobilizam toda a família, adultos íntegros, os inválidos, os velhos e as crianças, são impotentes diante das imposições da necessidade, que lhes retiram toda liberdade: não deixam escolhas. Das categorias mais complexas e diversas, estes são os usuários da política de assistência social, ou seja, os excluídos no sistema capitalista. Na visão de seguridade social que estava assegurada na legislação vigente, a assistência social, conduz aos setores e segmentos na condição de vulnerabilidade social, ou seja, sem condições de prover o sustento, são os excluídos do mercado de trabalho formal e informal. O período de implementação de discussão da Constituição Federal e da implementação das políticas neoliberais, a realidade estava concretizada, segundo Menezes, da seguinte forma: Em 1981, a soma de trabalhadores sem rendimento (10%), com rendimento até um salário mínimo (23%) e entre um e dois salários mínimos chega a 58,8% de toda PEA (população economicamente ativa). Se levarmos em conta que esse padrão de remuneração caracteriza o chamado “estado de pobreza”, quase 60% da PEA trabalham com assalariamento abaixo da remuneração mínima; portanto, são potencialmente usuários das políticas sociais de assistência. Em 1989, a faixa de até um salário mínimo sobe para 8,1% e aquela entre um e dois salários mínimos também decresce para 21,4%. O ‘estado de pobreza’ atinge um percentual de 56,7% no final dos anos 80. (MENEZES, 1993, p. 103). Analisando o início dos anos 90, o Brasil estava com aproximadamente 60,2% da população em vulnerabilidade social, de acordo com pesquisas do Banco Mundial, sendo uma realidade gravíssima e alarmante que ultrapassa as probabilidades de utilização dos recursos estatais destinados às políticas sociais. Desta maneira, a análise dos dados econômicos, sociais e políticos dos anos de 1990, pela complexa dinâmica da sociedade brasileira, multiplica os riscos próprios de uma aproximação que se pretende histórica, sobretudo quando voltada para a dinâmica peculiar das políticas sociais, pois esta encontra-se ainda sob o peso de processos conjunturais correntes, com suas imprecisas mudanças ainda em definição, mesmo após uma década de desenvolvimento. Nesta visão se faz necessário recuperar a lógica, muitas vezes escondida, que preside os acontecimentos mais acentuados, para, finalmente, poder se conseguir elaborar algumas proposições em torno dos cenários viáveis a curto prazo, nestes anos de embate com o pensamento neoliberal. 46 UNIDADE 1 | A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS A realidade brasileira é una e diversa, e, se ela comporta características comuns, derivadas dos seus traços históricos particulares, compõe-se simultaneamente de um mosaico diferenciado de elementos – fatos, atores sociais, acontecimentos singulares – derivados também dos modos como as populações dos diferentes estados e regiões construíram e estão construindo suas trajetórias de vida. Wanderley et al. afirmam que: “A questão social fundante, nesses 500 anos de descobrimento, centra-se nas extremas dificuldades e injustiças que reinam nas estruturas sociais, resultantes do modo de produção e reprodução social, dos modos de desenvolvimento”. (WANDERLEY et al., 1998, p. 17). Ainda Wanderley et al. afirmam que a questão social se determina através: [...] então, nos conteúdos e formas assimétricas assumidos pelas relações sociais, em suas múltiplas dimensões econômicas, políticas, culturais, religiosas, com acento na concentração de poder e de riqueza das classes e setores sociais dominantes e na pobreza generalizada de outras classes e setores sociais que se constituem as maiorias populacionais, cujos impactos alcançam todas as dimensões da vida social, do cotidiano das determinações sociais. (WANDERLEY et al., 1998, p. 17). Sendo assim, o caráter das questões sociais brasileiras, em seu contexto substrato histórico e político, se tornou a matéria-prima da adaptação pública por meio das políticas sociais, e que durante o período de implementação do neoliberalismo mantiveram-se nas mesmas proporções, em todos os sentidos, ampliando a suacircunscrição, ao se confrontar com os dados econômicos e sociais do Brasil. DICAS Caro(a) acadêmico(a), aprofunde seus conhecimentos, através da leitura deste livro: GIOVANNI, Geraldo di; SILVA, Maria Ozanira da Silva e; YAZBEK, Maria Carmelita. A Política Social Brasileira no Século XXI: a prevalência dos programas de transferência de renda. 7. ed. São Paulo: Cortez Editora, 2014. TÓPICO 3 | AS REFORMAS NEOLIBERAIS: CONTRASSENSOS E RETROCESSOS 47 Neste livro, os autores analisam as contradições que permeiam o sistema de proteção social brasileiro, apesar dos avanços conseguidos na Constituição Federal de 1988, no que se refere à seguridade social. Têm como objeto de estudo os programas de transferência de renda no contexto histórico, social e político na conjuntura nacional. Nesta fase é importante considerar o nível de estatísticas que foram indicados no campo das políticas sociais, mediante os indicadores que mais afetam o campo das políticas sociais, entre outros incisivos que reafirmam as expectativas para este período econômico, o crescimento do desemprego e o fechamento de alguns postos tradicionais de trabalho, foi assustador, pois não se apontava nenhuma opção de desenvolvimento social, através de um curto prazo, e que permitisse mais emprego e trabalho para a população economicamente ativa e produtiva. FIGURA 14 – QUESTÕES SOCIAIS NO NEOLIBERALISMO FONTE: Disponível em: <http://altamiroborges.blogspot.com/2013/03/ demissoes-e-juros-receita-neoliberal.html>. Acesso em: 27 jun. 2015. Além de um desequilíbrio da economia, outras demandas sociais começaram a ter evidência no país, como na área da saúde, através da propagação de epidemias que estavam controladas, como a dengue e tuberculose, e outras que além de exigirem medidas de prevenção também exigem tratamentos concretos, como no caso da AIDS. Há outras demandas que são de conhecimento do governo, mas ignoradas por ele. Como, por exemplo, a dependência química, através do consumo abusivo de drogas lícitas e ilícitas. Estas questões sociais tiveram como reflexos 48 UNIDADE 1 | A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS o adoecimento mental de diversos setores da população, e consequentemente a violência urbana e familiar. Uma outra política pública que estava em desequilíbrio no que abrangia o financiamento para as atividades designadas como prioritárias, como ensino básico e fundamental, pois neste período era nítida a omissão do Governo Federal em todas as esferas do ensino, desde educação para jovens e adultos, como cursos profissionalizantes, além de um amplo sucateamento das universidades públicas, e pouco investimentos nos outros setores da educação, através de programas que garantissem o acesso a um ensino de terceiro grau, ou seja, faculdade. Na área da assistência social, as ações de financiamento pelo Governo Federal, não representavam nem 1% do orçamento geral da Seguridade Social, e que tinha como compromisso com o fundo público o mínimo de 5%, conforme deliberações das duas Conferências Nacionais, que foram realizadas pelo movimento social, edificado para defender a Lei Orgânica de Assistência Social – LOAS. No início da implementação da LOAS, foi marcada por vários equívocos, através dos cortes nos orçamentos sociais, ao processo de municipalização da mesma, refletindo inteiramente na redução dos programas, serviços e de benefícios que estavam destinados à população em condição de vulnerabilidade social. Os autores abaixo afirmam que: [...] no caso da assistência social, os programas foram vítimas das sucessivas mudanças na institucionalidade do setor, num processo de desmonte da estrutura federal sem precedentes, a partir do governo Collor, sendo descentralizados, sem nenhuma gradual idade ou respeito às definições e mecanismos de controle constantes da Lei Orgânica da Assistência Social. Ao cair no vazio de recursos e literalmente desaparecer, o sistema vigente arrastou consigo a maior parte dos programas de alimentação e nutrição, e os programas assistenciais de creches, assistência aos deficientes e documentação gratuita dentre outros. (LESSA et al., 1997, p. 69). Diante disso, o cenário político, econômico e social era negativo, pois o empenho de esclarecimentos destas informações não é o mesmo que se busca destacar com as conquistas do governo, pois defender e proteger o projeto governamental na implantação de suas ações estratégicas, sejam elas com objetivo de sanear ou de reformar, atribui reflexões que problematizem as medidas que são desenvolvidas pelo Governo Federal e dirigentes do Estado brasileiro, durante uma nova proposta de ideias centradas no neoliberalismo. Com isso, é importante resgatar as linhas fundamentais de ações que foram implementadas pelos dois governos de Fernando Henrique Cardoso – FHC, onde a coerência política era seguida pelo projeto neoliberal hegemônico no país, além do protótipo duplo ao ajuste fiscal e controle da inflação. TÓPICO 3 | AS REFORMAS NEOLIBERAIS: CONTRASSENSOS E RETROCESSOS 49 Singer (1999, p. 30) diz que: Apesar de todas as provas em contrário, a tese de que a inflação sempre é causada por excessos de gasto público é sustentada por evidentes motivos ideológicos. Como os liberais acreditam que os mercados deixados livres, sempre se equilibram eles não podem admitir que a incessante elevação do índice de preços possa ser provocada por disputas entre setores da própria sociedade civil. De modo que evitar para eles sustentar que qualquer inflação se origina no setor público e só pode ser debelada mediante um ajuste fiscal acompanhado por políticas monetárias restritivas. Boa parte das ações estratégicas do Governo Federal, estava em garantir a inserção da economia do Brasil no ritmo e no espaço necessitado ao ciclo da internacionalização dos mercados de capitais, como no modelo de produção e comercialização mundial dos bens de consumo. Sendo assim, o Brasil passou a ter uma inserção à globalização e/ ou modernização da economia, gerando uma suspensão maior nas barreiras alfandegárias para os produtos importados, como também a condução dos capitais estrangeiros pela alienação do patrimônio público, ou seja, a privatização de empresas estatais, o domínio superficial da inflação, na base da manutenção dos juros altos e do arrocho salarial. UNI A conjuntura econômica, social e política colocou as classes trabalhadoras em desgastes e desmobilização política, e também a perda dos direitos sociais. Para Fiori (1997, p. 52): O que os conservadores chamam de ‘custo social’ da reestruturação ou ajuste das economias nacionais às condições de competitividade global, não seriam apenas efeitos transitórios, seriam permanentes e crescentes e resultariam da armadilha circular imposta pelas políticas deflacionistas quando propõem, simultaneamente, a estabilidade e a paridade das moedas, a manutenção do equilíbrio fiscal e o aumento da competitividade. E não parece difícil perceber que, na medida em que aqueles dois primeiros objetivos levam a um crescimento econômico medíocre, a responsabilidade pelos equilíbrios macroeconômicos se transfere, de maneira crônica e impotente, para o campo do corte dos gastos fiscais que já estão a esta altura no seu limite pressionados pelos altos juros que a dívida pública enfrentou nestes últimos quinze anos. Com a abertura da economia, com a entrada e saída estimulada do capital especulativo, fragilizou todo o processo produtivo agrícola e industrial, pois não tinha como objetivo gerar empregos, além da dívida interna e externa que aumentou durante este período. 50 UNIDADE 1 | A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS Netto (1999, p. 79) expõe: A inviabilização da alternativa constitucional de construção de um Estado com amplas responsabilidades sociais, garantidor de direitos sociais universalizados, foi conduzida por FHC simultaneamente à implementação do projeto político do grande capital.[...] tratava-se de implementar uma orientação política macroscópica que, sem ferir grosseiramente os aspectos formais da democracia representativa, assegurasse ao Executivo federal a margem de ação necessária para promover uma integração mais vigorosa ao sistema econômico conforme as exigências do grande capital e, portanto, sumamente subalterna. Porém, para alguns grupos sociais as estratégias utilizadas de controle fiscal, da abertura de mercado e economia, revelaram-se prejudiciais em diversas proporções. O Estado realizava um ciclo desordenado de compatibilização dos conflitos gerados pelo sistema capitalista. Algumas empresas brasileiras, principalmente as menos competitivas no mercado financeiro, tiveram dificuldade em manter a produção dos produtos, mediante o encarecimento externo do valor financeiro dos empréstimos para dar continuidade ao empreendimento. Muitas delas decretaram falência e outras foram vendidas para grandes investidores multinacionais. Os estados e municípios foram afetados pela diminuição das arrecadações tributárias e também pelos financiamentos dos seus programas. Os trabalhadores destruídos pelo achatamento salarial, pelo desemprego, pela completa e total precarização das condições de trabalho e também de vida, gerando uma instabilidade dos sujeitos e um alastramento da violência social, urbana e doméstica. Citando novamente Fiori, onde o autor afirma que os trabalhadores e familiares: [...] “já abriram mão de muitos de seus direitos e o desemprego segue aumentando”. (FIORI, 1997, p. 51). TÓPICO 3 | AS REFORMAS NEOLIBERAIS: CONTRASSENSOS E RETROCESSOS 51 FIGURA 15 – VIOLÊNCIA SOCIAL FONTE: Disponível em: <http://kiaunoticias.com/2014/07/a-elevacao-da-violencia-e-a- diminuicao-da-procura-por-mao-de-obra-no-nordeste-de-minas/>. Acesso em: 27 jun. 2015. O acesso da população brasileira aos direitos sociais garantidos na CF/88 e condições dignas de vida, no final do século passado, foram registrados em uma conjuntura de crise estrutural do sistema econômico, em determinação das medidas sobre o ajuste fiscal e de reorganização produtiva e financeira, que se desenvolveram através de medidas neoconservadoras das instituições internacionais e por representação do Governo Federal. O que acontecia era um contraponto nos termos incontestável da agenda social para o Brasil, pois o processo de globalização, da maneira que se instalou no país, gerou consequências que refletiram no aumento da exclusão social, muito mais que na reversão da recessão da economia. UNI Contrariamente, a análise mais crítica de todo esse processo, recomenda uma articulação diante dos efeitos e das causas da crise econômica. 52 UNIDADE 1 | A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS Onde o sistema capitalista prevalece, só se pode diminuir as taxas de empregos e de crescimento econômico, determinando um grande exército de pessoas, submetidas a viver na miséria ou abaixo da linha de pobreza. São trabalhadores forçados a viver, sobreviver, com uma renda per capita de ¼ de salário mínimo, sendo fruto de precarização desumanos dos trabalhos, e sem qualquer tipo de proteção social vinculados ao setor público. Lessa et al. (1997) dizem que: O desmonte do projeto da seguridade social data do início dos anos 90, quando o repasse de recursos de contribuições sociais arrecadadas pela União em nome da seguridade começou a ser de gestão orçamentária em termos de alta inflação, que consistia em cortar gastos, em termos reais, pela corrosão de seu valor provocada por atrasos deliberados de repasses. Como pobre não tem lobby, os ministérios sociais, ditos do ‘gasto’, e suas clientelas têm sido as maiores vítimas desse procedimento. (LESSA et al., 1997, p. 68). Estes setores não obtiveram nenhuma proposta do Governo Federal, como também as ações e projetos concretos ficaram à mercê do compromisso e comprometimento ético, pautados no combate à exclusão social da população brasileira. Sendo assim, uma subjuntiva maioria da população perde os direitos sociais, com exceção dos grupos que estão no poder governamental, que estimulados pelos grandiosos lucros, e que foram obtidos através da sonegação fiscal, como já mencionado anteriormente. O Congresso Nacional foi um ator importante neste período, pois através do seu apoio maioritário para o governo e para as elites, conseguiu manter a hegemonia diante dos projetos propostos. Analisando as eleições presidenciais de 1989, onde Fernando Collor de Melo foi eleito pela promessa de “caçar marajás”, já Fernando Henrique Cardoso, quando eleito no ano de 1994, foi mais sofisticado e talentoso nos seus programas de governo, através da promessa da Reforma do Estado Brasileiro, ou seja, a desmantelar o Estado varguista. Mas não foi uma proposta fácil de ser implementada, uma vez que o Estado não deixou de ser o instrumento difusor das regulações sociais, mesmo com a conjuntura de um mercado livre, expressada pelo neoliberalismo, ou seja, o Estado mínimo para os trabalhadores e máximo para capital. É visível um movimento de ampliação da centralização do poder político e econômico, mediante a revelia da democratização das instituições e da sociedade, que são determinadas como as lutas de classes do final do século passado. Para Coutinho, este processo estava classificado sendo: [...] sobre isso, o atual governo adotou um caminho cada vez mais claro. Longe de propor medidas que desmontassem os traços mais perversos do ‘Estado varguista’ limitou-se em reiterar a ação econômica estatal voltada para a defesa dos interesses da acumulação capitalista privada e TÓPICO 3 | AS REFORMAS NEOLIBERAIS: CONTRASSENSOS E RETROCESSOS 53 em tentar remover (sempre em função dos interesses dessa acumulação) significativos direitos sociais, garantidos sobretudo – para além dos marcos do ‘Estado varguista’ – pelas lutas populares cristalizadas na Constituição de 1988. (COUTINHO, 1997, p. 138). Com as disputas eleitorais que estavam em jogo durante o período pós- CF/88, a sociedade civil foi alvo de um ciclo de reformas estruturais inacabadas, e que concluem a chamada programática neossocialista, ou seja, a ascensão do poder antipopular com as alianças partidárias do Partido da Frente Liberal – PFL e do Partido da Social Democracia Brasileira - PSDB, com a eleição do Presidente FHC, no ano de 1994, e no ano de 1998, com a mesma aliança foi reeleito, e agregou outros partidos como o Partido Progressista Brasileiro – PPB, Partido Trabalhista Brasileiro –PTB, Partido Liberal – PL, e outros. Mediante a aceitação da anulação e quebras dos monopólios públicos, e que estavam legalmente amparados constitucionalmente como, por exemplo: os monopólios do Petróleo, os monopólios das Telecomunicações e os monopólios dos Portos, e logo após as privatizações das empresas estatais como a Companhia Siderúrgicas Nacional – CSN, Usiminas, a Vale do Rio Doce, a Rede Ferroviária Federal, além de algumas empresas estaduais do setor elétrico e de abastecimento de água, e em último lugar o sistema Telebrás/Embratel. FIGURA 16 – PRIVATIZAÇÃO FONTE: Disponível em: <http://www.bancariosbh.org.br/pagina/119/90.aspx>. Acesso em: 29 jun. 2015. Os partidos de oposição e os movimentos sociais e políticos tentaram combater e resistir a esta nova perspectiva, principalmente na conservação de alguns direitos sociais, principalmente da Previdência Social Pública, mas sem muito sucesso. Das poucas conquistas, não foram efetivadas como Emenda à Constituição, e sim como Medidas Provisórias e Decretos Normativos, Portarias 54 UNIDADE 1 | A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS e/ou Ordens de Serviços que reduziram os benefícios que eram antes oferecidos pela Previdência Social e Assistência Social, conforme a Constituição Federal de 1988, com a Lei Infraconstitucional Regulamentadora, no 8.213, de 1992 e com a Lei Orgânica da Assistência – LOAS, no 8.742 de 1993. Para Viana esta análiseé fundamentada da seguinte maneira: [...] a destruição da seguridade social – destruição ‘subjetiva’ porque a discussão girou em torno da previdência, jogando ao limbo a seguridade e ‘objetiva’ porque sedimentou-se a fórmula da vinculação de receitas específicas (e separadas) para a previdência, saúde e assistência social – propiciou ao governo (a todos, desde 1990) uma situação confortável para lidar com suas verdadeiras urgências. A saber: apresentar às agências multilaterais de crédito (em especial ao FMI) uma prova de bom comportamento; oferecer à indústria de previdência (e aos planos privados de saúde) mais incentivos; e desmantelar boa parte do aparato administrativo público, atribuindo aos funcionários a culpa pelos males do Estado. (VIANA, 1989, p. 111). Houve neste período uma questão duvidosa no que se referia ao financiamento da Seguridade Social, que não teve sua implementação conforme as exigências constitucionais, cujos recursos oriundos das contribuições sociais, careceriam serem destinados para a Saúde, Assistência Social e Previdência Social, sendo que esses recursos teriam sido utilizados para o pagamento da dívida externa. Neste contexto, o Estado estava implementando as reformas administrativas, onde estavam sendo formuladas sem nenhum debate ou participação democrática da sociedade organizada, através de uma série de medidas que acabavam com a responsabilização do governo federal e estaduais na prestação de serviços do sistema de proteção social. Muitas políticas que eram consideradas importantes foram passadas para responsabilidade sem nenhum respaldo técnico e político e sem a carecida de suplementação financeira necessária. Pode-se citar como exemplos as políticas de Saúde, Educação e Assistência Social, de Geração de Emprego Renda, além de outras. A descentralização das políticas sociais estava em risco mediante a dinâmica que foi imposta pelo Governo Federal. Os ciclos das reformas neste período permaneceram, onde a reforma político-partidária estava reduzida à emenda de reeleição do Governo Federal, que consequentemente paralisou as ações governamentais e o Congresso Nacional. A reforma tributária que estava fundamentada em diversos projetos e concepções, foi extraída estrategicamente do cenário político e da mídia, em virtude da discrição necessária para a negociação pouco transparente nos acordos e consensos que estavam sendo implementados. De todas as reformas, os elementos mais controversos que poderiam afetar de forma geral todos os contribuintes, até os setores vinculados ao capital, e que davam sustentabilidade política ao poder. TÓPICO 3 | AS REFORMAS NEOLIBERAIS: CONTRASSENSOS E RETROCESSOS 55 As reformas da previdência abordam em especial os trabalhadores e refletem em benefícios especiais para o capital, e a reforma administrativa afeta diretamente os funcionários públicos, pois com a quebra dos monopólios estatais, o capital é diretamente beneficiado, e a reforma tributária inevitavelmente exporá o sistema de arrecadação e contribuição de impostos ao sistema capitalista, mais incoerentes que já houve. Em resumo, os grandes latifundiários pagavam menos impostos do que uma residência de classe média. Sendo assim, o Brasil passou a ser um país onde o valor e o peso dos impostos recaem sobre as classes médias e dos consumidores em geral. UNI A concentração de arrecadação tributária do governo federal, em relação aos estados e municípios, foi a maior sobrecarga de gastos sociais. Após a vitoriosa eleição de 1994, o debate sobre a reforma fiscal já estava em pauta. Os segmentos mais progressistas, que deslumbravam com o novo governo eleito, cobravam a agilidade para a reforma tributária. Alguns partidos progressistas trabalharam incansavelmente, para que houvesse uma inversão na pauta, através da seguinte argumentação: mais do que tudo se fazia necessário diminuir a estrutura do Estado, desfazendo-se das empresas estatais, universidades, previdências, para conseguir ter uma dimensão da quantidade necessária para financiamento das despesas públicas, que reduziriam o conflito da reforma fiscal e cortariam gastos “desnecessários” com a proteção social para a população brasileira. Com essa ideologia de privatização, praticamente o Brasil não precisava de uma reforma fiscal, pois tudo ficaria sob responsabilidade da iniciativa privada, tanto os direitos chamados de mercadorizáveis, como os serviços na área da Saúde e da Previdência e da Assistência Social, ficando sob a responsabilidade da sociedade organizada voluntária e solidária. Neste sentido, os privilégios da classe dominante continuarão mantidos, e os supostos impactos contrários foram distanciados, pois o Brasil teve uma das maiores arrecadações fiscais de sua história. Isso ocasionou uma importante discussão para o governo federal, onde foi definido o percentual máximo de despesas com a categoria do funcionalismo perante as três esferas governamentais, orientados pelo Fundo Monetário Internacional – FMI. Com esse direcionamento, o Brasil apresenta as suas potencialidades, porém, desenvolvê-los e implementá-los é uma missão difícil, pois o país estava aprendendo a viver em um sistema democrático. 56 UNIDADE 1 | A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS No campo político-legal, alcançou-se a tão sonhada e almejada sociedade igualitária. DICAS Caro(a) acadêmico(a), a leitura desde livro é de fundamental importância para os seus conhecimentos. Os futuros historiadores poderão considerar os anos 1978-1980 um ponto de ruptura revolucionário na história social e econômica do mundo: Deng Xiaoping deu os primeiros passos que iriam transformar a China de um remoto país fechado num centro aberto de dinamismo capitalista. HARVEY, David. O Neoliberalismo - História e implicações. Editora: Loyola, 2008. LEITURA COMPLEMENTAR DEMOCRACIA E SOCIEDADE AUTORITÁRIA Marilena Chaui Estamos acostumados a aceitar a definição liberal da democracia como regime da lei e da ordem para a garantia das liberdades individuais. Visto que o pensamento e a prática liberais identificam liberdade e competição, essa definição da democracia significa, em primeiro lugar, que a liberdade se reduz à competição econômica da chamada “livre iniciativa” e à competição política entre partidos que disputam eleições; em segundo, que a noção de regime da lei e da ordem indica que há uma redução da lei à potência judiciária para limitar o poder político, defendendo a sociedade contra a tirania, pois a lei garante os governos escolhidos pela vontade da maioria; em terceiro, significa que há uma identificação entre a ordem e a potência dos poderes executivo e judiciário para conter os conflitos sociais, impedindo, por meio da repressão e da censura, sua explicitação e desenvolvimento; e, em quarto lugar, que, embora a democracia apareça justificada como “valor” ou como “bem”, é encarada, de fato, pelo critério da eficácia, medida, no plano legislativo, pela ação dos representantes, entendidos como políticos profissionais, e, no plano do poder executivo, pela atividade de uma elite de técnicos competentes aos quais cabe a direção do Estado, ou a afirmação de que a democracia é o governo de muitos por poucos. TÓPICO 3 | AS REFORMAS NEOLIBERAIS: CONTRASSENSOS E RETROCESSOS 57 A democracia é, assim, reduzida a um regime político eficaz, baseado na ideia de cidadania organizada em partidos políticos, e se manifesta no processo eleitoral de escolha dos representantes, na rotatividade dos governantes e nas soluções técnicas para os problemas econômicos e sociais. Ora, há, na prática democrática e nas ideias democráticas, uma profundidade e uma verdade muito maiores do que liberalismo percebe e deixa perceber. Que significam as eleições? Muito mais do que a mera rotatividade de governos ou a alternância no poder, elas simbolizam o essencial da democracia, ou seja, que o poder não se identifica com os ocupantes do governo,não lhes pertence, mas é sempre um lugar vazio que, periodicamente, os cidadãos preenchem com representantes, podendo revogar seus mandatos se não cumprirem o que lhes foi delegado para representar. Em outras palavras, a soberania é popular, como a própria palavra significa, pois, em grego, demos é o povo politicamente organizado e kratós, o poder; portanto, poder do povo. Por isso mesmo é também característica da democracia que somente nela se torne claro o princípio republicano da separação entre o público e o privado. De fato, com a ideia e a prática de soberania popular, nela se distinguem o poder e o governo – o primeiro pertence aos cidadãos, que o exercem instituindo as leis e as instituições políticas ou o Estado; o segundo é uma delegação de poder, por meio de eleições, para que alguns (legislativo, executivo, judiciário) assumam a direção da coisa pública. Isso significa, como indica a expressão latina res publica, que nenhum governante pode identificar-se com o poder e apropriar-se privadamente dele. Que significam as ideias de situação e oposição, maioria e minoria, cujas vontades devem ser respeitadas e garantidas pela lei? Elas vão muito além dessa aparência. Significam que a sociedade não é uma comunidade una e indivisa voltada para o bem comum obtido por consenso, mas, ao contrário, que está internamente dividida, que as divisões são legítimas e devem expressar-se publicamente. Da mesma maneira, as ideias de igualdade e liberdade como direitos civis dos cidadãos vão muito além de sua regulamentação jurídica formal. Significam que os cidadãos são sujeitos de direitos e que, onde tais direitos não existam nem estejam garantidos, tem-se o direito de lutar por eles e exigi-los. É esse o cerne da democracia: a criação de direitos. E por isso mesmo, como criação de direitos, está necessariamente aberta aos conflitos e às disputas. Em outras palavras, a democracia é única forma política na qual o conflito é considerado legítimo. O que é um direito? Um direito difere de uma necessidade ou carência e de um interesse. De fato, uma necessidade ou carência é algo particular e específico. Alguém pode ter necessidade de água, outro, de comida. Um grupo social pode ter carência de transportes, outro, de hospitais. Há tantas necessidades quanto indivíduos, tantas carências quanto grupos sociais. Um interesse também é algo particular e específico, dependendo do grupo ou da classe social. Necessidades ou carências, assim como interesses tendem a ser conflitantes porque exprimem as especificidades de diferentes grupos e classes sociais. Um direito, porém, ao contrário de necessidades, carências e interesses, não é particular e 58 UNIDADE 1 | A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS específico, mas geral e universal, seja porque é válido para todos os indivíduos, grupos e classes sociais, seja porque é universalmente reconhecido como válido para um grupo social (como é caso das chamadas “minorias”). Ora, isso significa que sob carências, necessidades e interesses encontra-se algo que as explica e determina, isto é, o direito. Assim, por exemplo, a carência de água e de comida manifesta algo mais profundo: o direito à vida. A carência de moradia ou de transporte também manifesta algo mais profundo: o direito a condições de vida dignas. Da mesma maneira, o interesse, por exemplo, dos estudantes exprime algo mais profundo: o direito à educação e à informação. Em outras palavras, se tomarmos as diferentes carências e os diferentes interesses veremos que sob eles estão pressupostos direitos pelos quais se luta. Justamente porque opera com o conflito e com a criação de direitos, a democracia não se confina a um setor específico da sociedade no qual a política se realizaria – o Estado –, mas determina a forma das relações sociais e de todas as instituições, ou seja, é o único regime político que é também a forma social da existência coletiva. Ela institui a sociedade democrática. Dizemos, então, que uma sociedade — e não um simples regime de governo — é democrática quando, além de eleições, partidos políticos, divisão dos três poderes da república, distinção entre o público e o privado, respeito à vontade da maioria e das minorias, institui algo mais profundo, que é condição do próprio regime político, ou seja, quando institui direitos e que essa instituição é uma criação social, de tal maneira que a atividade democrática social realiza-se como um poder social que determina, dirige, controla e modifica a ação estatal e o poder dos governantes . Essa dimensão criadora torna-se visível quando consideramos os três grandes direitos que definiram a democracia desde sua origem, isto é, a igualdade, a liberdade e a participação nas decisões. A igualdade declara que, perante as leis e os costumes da sociedade política, todos os cidadãos possuem os mesmos direitos e devem ser tratados da mesma maneira. Ora, a evidência história nos ensina que a mera declaração do direito à igualdade não faz existir os iguais. Seu sentido e importância encontram-se no fato de que ela abre o campo para a criação da igualdade por meio das exigências, reivindicações e demandas dos sujeitos sociais. Por sua vez, a liberdade declara que todo cidadão tem o direito de expor em público seus interesses e suas opiniões, vê-los debatidos pelos demais e aprovados ou rejeitados pela maioria, devendo acatar a decisão tomada publicamente. Ora, aqui também, a simples declaração do direito à liberdade não a institui concretamente, mas abre o campo histórico para a criação desse direito pela prática política. Tanto é assim que a modernidade agiu de maneira a ampliar a ideia de liberdade: além de significar liberdade de pensamento e de expressão, também passou a significar o direito à independência para escolher o ofício, o local de moradia, o tipo de educação, o cônjuge etc. As lutas políticas fizeram com que, na Revolução Francesa de 1789, um novo sentido de liberdade viesse acrescentar-se aos anteriores quando se determinou que todo indivíduo é inocente até prova em contrário, que a prova deve ser estabelecida perante um tribunal e que a liberação ou punição devem ser dadas segundo a lei. FONTE: Disponível em: <http://www.revistas.ufg.br/index.php/ci/article/viewFile/24574/14151>. Acesso em: 30 jun. 2015. 59 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico você viu que: • Analisando o percurso histórico da política de assistência social no Brasil, averiguamos a recorrência de particularidade típica e que se manteve sem nenhuma mudança na sua formulação político-assistencial, até o final dos anos 90 e início dos anos 2000. • A assistência social estava reconhecida como um instrumento transversal que permeia as ações efetivadas pelas demais políticas sociais, mediante a estratégia da universalização dos direitos sociais previstos na CF/88. • Na Constituição que está em vigor, consegue-se verificar que a assistência mantém conexões com todas as políticas sociais dos mais diversos setores e também com as políticas de fundo econômico. • Das categorias mais complexas e diversas, estes são os usuários da política de assistência social, ou seja, os excluídos no sistema capitalista. • Analisando o início dos anos 90, o Brasil estava com aproximadamente 60,2% da população em vulnerabilidade social. • O caráter das questões sociais brasileiras, em seu contexto substrato histórico e político, se tornou a matéria-prima da adaptação pública por meio das políticas sociais, e que durante o período de implementação do neoliberalismo mantiveram-se nas mesmas proporções, em todos os sentidos, ampliando a sua circunscrição, ao se confortar com os dados econômicos e sociais do Brasil. • Além de um desequilíbrio da economia, outras demandas sociais começaram a ter evidência no país, como na área da saúde, através da propagação de epidemias que estavam controladas, como a dengue e tuberculose, e outras que além de exigirem medidas de prevenção também há exigênciasde tratamentos concretos, como no caso da AIDS. • Uma outra política pública que estava em desequilíbrio era a que abrangia o financiamento para as atividades designadas como prioritárias, como ensino básico e fundamental. • Na área da Assistência Social, as ações de financiamento pelo Governo Federal, não representavam nem 1% do orçamento geral da Seguridade Social. • No início da implementação da LOAS, foi marcada por vários equívocos, através dos cortes nos orçamentos sociais, ao processo de municipalização da mesma, refletindo inteiramente na redução dos programas, serviços e de benefícios que estavam destinados à população em condição de vulnerabilidade social. 60 • Boa parte das ações estratégicas do Governo Federal estava em garantir a inserção da economia do Brasil no ritmo e no espaço necessitado ao ciclo da internacionalização dos mercados de capitais. • Os estados e municípios foram afetados pela diminuição das arrecadações tributárias e também pelos financiamentos dos seus programas. • Os trabalhadores destruídos pelo achatamento salarial, pelo desemprego, pela completa e total precarização das condições de trabalho e também de vida, gerando uma instabilidade dos sujeitos e um alastramento da violência social, urbana e doméstica. • O acesso da população brasileira aos direitos sociais garantidos na CF/88 e condições dignas de vida, no final do século passado, foram registrados em uma conjuntura de crise estrutural do sistema econômico. • Com as disputas eleitorais que estavam em jogo durante o período pós-CF/88, a sociedade civil foi alvo de um ciclo de reformas estruturais inacabadas, e que concluem a chamada programática neossocial, ou seja, a ascensão do poder antipopular com as alianças partidárias. • Os partidos de oposição e os movimentos sociais e políticos, tentaram combater e resistir a esta nova perspectiva, principalmente na conservação de alguns direitos sociais, principalmente da Previdência Social Pública, mas sem muito sucesso. • Muitas políticas, que eram consideradas importantes, foram passadas para responsabilidade sem nenhum respaldo técnico e político e sem a carecida de suplementação financeira necessária. • Após a vitoriosa eleição de 1994, o debate sobre a reforma fiscal já estava em pauta e a ideologia de privatização, praticamente o Brasil não precisava de uma reforma fiscal, pois tudo ficaria sobre responsabilidade da iniciativa privada, tanto os direitos chamados de mercadorizáveis, como os serviços na área da Saúde e da Previdência e da Assistência Social, ficando sobre a responsabilidade da sociedade organizada voluntária e solidária. • No campo político-legal, foi onde houve a concentração vitoriosa, que constituem as referências imprescindíveis para a promoção da tão sonhada e almejada sociedade igualitária. 61 1 Cite uma das consequências da ideologia de privatização no Brasil. 2 Pesquise e descreva quais as diferenças do governo de Fernando Collor de Melo e do governo de Fernando Henrique Cardoso. AUTOATIVIDADE 62 63 TÓPICO 4 O ESTADO BRASILEIRO PERANTE AS NOVAS POLÍTICAS SOCIAIS UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO FIGURA 17 – ESTADO X POLÍTICAS SOCIAIS FONTE: Disponível em: <http://images.comunidades.net/pro/profemarli/reforma3. jpg>. Acesso em: 30 jun. 2015. A Seguridade Social como um novo conceito de direito à proteção social, foi constituído a partir da Constituição Federal, sendo composto pela Saúde, pela Previdência e pela Assistência Social. Juntamente com esse novo reconhecimento, veio a proteção especial para crianças e adolescentes, pessoas com necessidades especiais, pessoas idosas, índios, mulheres, populações carcerárias, que promulgaram um conjunto de políticas fundamentais e essenciais para reverter o quadro crítico social do Brasil. Com a promulgação da Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS, foram situados novos e importantes níveis do direito social, através de agendas intensas e permanentes, com a estruturação dos serviços a serem proporcionados e oferecidos para a população. 64 UNIDADE 1 | A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS Esses serviços passariam a ser efetuados prioritariamente pelo poder público, através de benefícios de uma renda mínima para o idoso e pessoas com necessidades especiais, crianças e famílias, ampliados por meio de programas e serviços de enfrentamento à pobreza. 2 AS NOVAS PERSPECTIVAS DAS POLÍTICAS SOCIAIS Nas legislações vigentes até o período de desenvolvimento e implementação do neoliberalismo, como o Estatuto da Criança e do Adolescente, a Política Nacional do Idoso, o Programa Nacional para Pessoa Portadora de Deficiência, entre outras de extrema importância, que estavam em sintonia com a LOAS, formavam um vasto quadro de direitos sociais e de serviços que referenciavam as diversas atividades e ações desenvolvidas pelos órgãos responsáveis da área da Assistência Social. Essas ações foram se fortalecendo através do debate ético político da profissão, por meio das parcerias dos municípios, organizações não governamentais, e governos estaduais, conforme as diretrizes de descentralização político-administrativa da LOAS. Conforme as diretrizes da LOAS, no art. 5º: A organização da assistência social tem como base as seguintes diretrizes: I - descentralização político-administrativa para os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, e comando único das ações em cada esfera de governo; II - participação da população, por meio de organizações representativas, na formulação das políticas e no controle das ações em todos os níveis; III - primazia da responsabilidade do Estado na condução da política de assistência social em cada esfera de governo. (Disponível em: <http:// www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/leis/L8742.htm>. Acesso em: 30 jun. 2015). A avaliação das problemáticas que fazem parte da composição das demandas inseridas na área da Assistência Social, apresentou no período um grande índice de complexidade, proveniente não só pela população que submetida encontrava-se em condições de miséria e vulnerabilidade social, mas também pelo grande número de condições concretas características de cada segmento social da população excluída do sistema capitalista. TÓPICO 4 | O ESTADO BRASILEIRO PERANTE AS NOVAS POLÍTICAS SOCIAIS 65 DICAS Caro(a) acadêmico(a), provavelmente você já assistiu a este vídeo, mas vale a pena assistir sempre, para refletirmos as mazelas da nossa sociedade capitalista. Acesse o link abaixo: Disponível em: <https://www.youtube. com/watch?v=e7sD6mdXUyg> Acesso em: 1 jul. 2015. Diante da heterogeneidade das situações sociais estabeleceu-se a exigência das abordagens teóricas, de técnicas através de instrumentos de trabalho do profissional, assistente social, da prestação de serviços especializados, que precisariam suprir as carências materiais imediatas, que fossem voltadas para a garantia de sobrevivência física, como também para suprir as necessidades do contexto familiar e comunitário no que se refere ao convívio e o fortalecimento de vínculos comunitário e familiares. Estes programas e serviços deveriam buscar o comando na superação determinante das trajetórias históricas de exclusão social, violência, e subalternidade social, por meio da elaboração e implementação de atividades socioculturais, fazendo com que os usuários tenham a vivência concreta e real da cidadania ativa, sendo gestores de suas próprias vidas e cidadãos influentes e atuantes como trabalhadores emancipados, com seus direitos sociais. DICAS Este é outro filme indicado para aprofundar e refletir sobre seus conhecimentos adquiridos. No Harlem, a jovem Claireece “Precious” Jones (Gabourey Sidibe) sofre as mais diversas privações. Abusada pela mãe, violentada pelo pai e grávida de seu segundo filho, é convidada a frequentar uma escola alternativa, na qual vê a esperança de conseguir dar um novo rumo à sua vida. 66 UNIDADE 1 | A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRASNa LOAS, as ações designadas como programas e projetos de enfrentamento à pobreza, ao serem formuladas dentro dos métodos e de conteúdos teóricos e práticos eram então reorientadas para efetivar estratégias contra a alienação e a favor de emancipação da população com mais vulnerabilidade social. Por meio de alguns instrumentos políticos e técnicos que fossem produtores de novos espaços de reconhecimento do indivíduo como cidadão de direitos, resgatando a autoestima e maior convivência comunitária e coletiva. Os serviços, programas e projetos básicos de orientação, reflexão e atuação sobre os principais temas centrais diante dos mecanismos de fortalecimento de uma nova cultura cidadã, através do conhecimento de solidariedade, e de constituição de valores e de lutas, que objetivavam uma concreta mudança nas condições de vida da sociedade, sendo essas reveladoras das diferentes formas de expressões sociais e comunitárias. Nesta perspectiva, robustecem as organizações populares com a base de procedimentos de formação e organização através de autoatividades econômicas, que eram voltadas para o incentivo das instituições e organizações de produção, que estavam interligadas com o sistema de distribuição do comércio, através de maneiras organizativas, que promoviam a emancipação, a participação, cooperação, a gestão popular e comunitária. Com isso, destaca-se a necessidade de uma forte articulação da política de Assistência Social e as outras dos setores socioeconômicos, objetivando um maior fortalecimento e eficiência de todas as políticas públicas sociais, como por exemplo: saúde, educação, geração de renda e emprego, e na busca da superação de qualquer tipo de exclusão social. No artigo 4º da LOAS, no seu inciso II, rege sobre os princípios da mesma: Art. 4º A assistência social rege-se pelos seguintes princípios: I - supremacia do atendimento às necessidades sociais sobre as exigências de rentabilidade econômica; II - universalização dos direitos sociais, a fim de tornar o destinatário da ação assistencial alcançável pelas demais políticas públicas; III - respeito à dignidade do cidadão, à sua autonomia e ao seu direito a benefícios e serviços de qualidade, bem como à convivência familiar e comunitária, vedando- se qualquer comprovação vexatória de necessidade; IV - igualdade de direitos no acesso ao atendimento, sem discriminação de qualquer natureza, garantindo-se equivalência às populações urbanas e rurais; V - divulgação ampla dos benefícios, serviços, programas e projetos assistenciais, bem como dos recursos oferecidos pelo Poder Público e dos critérios para sua concessão. (Disponível em: <http://www.planalto. gov.br/CCIVIL_03/leis/L8742.htm>. Acesso em: 30 jun. 2015). A política de Assistência Social, desde o início de sua implementação, requer a valorização, qualificação e formação continuada de todos os profissionais envolvidos através de suas ações, pois são condições fundamentais e essenciais para que esta política seja implementada com eficácia, oferecendo à população um serviço integrado entre a rede de atendimento de qualidade. TÓPICO 4 | O ESTADO BRASILEIRO PERANTE AS NOVAS POLÍTICAS SOCIAIS 67 A formação continuada se tornou elemento de apreensão, em certos momentos, no que se refere à seleção e recrutamento do voluntariado, que desejava atuar nas entidades, instituições, programas, projetos e serviços sociais, pois em muitos casos não se tinha a qualificação técnica necessária e exigida para a prestação de serviços nas referidas áreas. A prática dessas políticas sociais, desde a sua implementação, diante das diretrizes impostas de descentralização administrativa, a garantia da participação da população, sem o clientelismo, e o controle social diante das deliberações e gastos públicos, se tornaram marcos de exemplo de novas formas de atuação práticas e inovadoras, já vivenciada pela classe trabalhadora no país. Diferente do que se realizava antes da CF/88, os recursos sociais que são gastos não podem mais estar relacionados e subordinados à dialética mercantilista da lucratividade, conforme as regras da internacionalização da economia mundial. Através da reordenação das prioridades dos gastos públicos, revelou- se qual a forma que os investimentos públicos deverão ser gastos, mediante as possibilidades de democratização do poder e da riqueza, favorecendo uma sociedade mais justa, igualitária e humana. Neste conjunto complexo e conflitante, que a política de Assistência Social, que até então era desvirtuada e incompleta pelos governos que antecederam este período, consegue se expor como uma opção em potencial, na conjuntura dos recursos institucionais e políticos do Brasil, sendo a alternativa para o enfrentamento e superação da pobreza. DICAS Acadêmico(a), a leitura desde livro é fundamental para seus estudos. Esta publicação trata da trajetória da Assistência Social brasileira nesta última década sob a iluminação da LOAS. A beleza deste texto pode ser encontrada a partir de dois aspectos que permeiam sua leitura: em primeiro lugar, pela linguagem emocionada e coloquial da autora ao estabelecer a analogia entre ‘menina LOAS’, com seus 10 anos de vida, e uma ‘criança’ brasileira, ambas portadoras de direitos e cidadania potenciais e enfrentando inúmeros desafios; sob outro ângulo, o texto oferece cuidadosa reconstrução histórica da trajetória da Assistência Social no Brasil, antes mesmo do nascimento da menina LOAS. Leitura imperdível e que constituiu a Conferência Magna de abertura da IV Conferência Nacional de Assistência Social realizada em Brasília, em dezembro de 2003. SPOSATI, Aldaíza. A Menina LOAS, um processo de construção da Assistência Social. São Paulo: Cortez, 2011. 68 UNIDADE 1 | A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS Percebe-se que foi imposto um ríspido exame sobre o processo de implementação da LOAS, e que foi aliado aos detalhamentos de todas as estratégias de implantação da política de assistência social, no que se referia ao modelo de uma gestão descentralizada e participativa e intragovernamental de também de sua composição de financiamento, que se fundamentaram em uma expectativa total, para arrumar as determinações prioritárias que historicamente banalizaram a política pública de assistência social no país. Uma apreensão se destaca ao campo de investigação na configuração de um desafio na maneira de organização da classe trabalhadora e das lutas de classes sociais, perante uma perspectiva de sedimentar um diagnóstico sobre os setores populares em dar continuidade ao processo de construção contra a hegemonia dos setores econômicos e políticos, onde estão efetivados os acordos e pactos de dominação da elite brasileira. Existiu uma perturbação da sociedade como um todo, manifestada na representação dos movimentos sociais e sindicais. Outros segmentos organizados da sociedade, como o Movimento dos Sem Terra, que agiram organizadamente. Em relação às organizações políticas da classe trabalhadora e dos usuários que batalham pela implantação das políticas públicas e da universalização de todos os direitos sociais, vivenciaram uma situação dramática através das instituições e organizações sociais e municípios que apostaram em se estruturar para atender à população em situação de vulnerabilidade social. Nesse sentido, calculava-se a importância da realização de um trabalho político com a sociedade civil e organizada, com objetivo de fortalecer os mecanismos de mobilização em defesa de uma sociedade justa e igualitária. Diante desses novos instrumentos para resgatar as lutas pelos direitos sociais, Coutinho afirma: [...] longe de ter se esgotado (como afirmam os pós-modernos) ou de se identificar com o capitalismo (como dizem os neoliberais) a modernidade continua a ser para nós uma tarefa: a de prosseguir no processo de universalização efetiva da cidadania e, em consequência, na luta pela construção de uma sociedade radicalmente democráticae socialista, na qual – como disseram Marx e Engels no Manifesto Comunista – ‘o livre desenvolvimento de cada um é a condição necessária para o livre desenvolvimento de todos’. (COUTINHO,1997, p.165). TÓPICO 4 | O ESTADO BRASILEIRO PERANTE AS NOVAS POLÍTICAS SOCIAIS 69 LEITURA COMPLEMENTAR POLÍTICAS SOCIAIS NO CONTEXTO NEOLIBERAL: FOCALIZAÇÃO E DESMONTE DOS DIREITOS Jordeana Davi Pereira Sheyla Suely de Sousa Silva Lucia Maria Patriota A discussão em torno das políticas sociais tem sido objeto de intenso debate. Vários autores têm discutido o conceito de políticas sociais. Para introduzir este debate conceitual acerca das políticas sociais, tomamos como referência a definição da professora Pereira (1994), qual seja: Representações institucionais de interesses, demandas e necessidades (do trabalho e do capital) sociais diferenciadas, determinadas em última instância por conflitos estruturais relacionados à questão da socialização do trabalho assalariado, dos quais resultam linhas de conduta coletiva (política) ou decisões, visando o desmonte do conflito, sem destruição das partes envolvidas. Esta mesma autora chama a atenção para a demarcação histórica da política social que para ela, ao falar em Política Social, está se referindo: Àquelas modernas funções do Estado capitalista – imbricado à sociedade – de produzir, instituir e distribuir bens e serviços sociais categorizados como direitos de cidadania [...] a qual foi depois da II Guerra Mundial distanciando-se dos parâmetros do laissez-faire e do legado das velhas leis contra a pobreza (PEREIRA, 1998, p. 60). DICAS Complemente seus estudos através da leitura do livro. A pergunta que está aberta é se o neoliberalismo encontrará mais ou menos resistência à implementação duradoura de seus projetos aqui na América Latina do que na Europa ocidental ou no ex- mundo soviético. Tudo que podemos dizer é que esse movimento ideológico, acontece em escala verdadeiramente mundial. BORON Atílio Fernandes Luís; MACHADO, Cesar Luiz Antônio. Pós- Neoliberalismo: as políticas sociais e o Estado democrático 7. ed. São Paulo: Paz e Terra,2010. 70 UNIDADE 1 | A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS Nesta ótica, a Política Social integra um complexo político-institucional, denominado Seguridade Social (inaugurado na Inglaterra, na década de 40), que, por sua vez, constituiu a base conceitual e política do Estado de Bem-Estar Social ou do Welfare State. Pastorini (1997), ao analisar o conceito de Política Social, contrapõe duas concepções. Na primeira, denominada por ela de “perspectiva tradicional”, a Política Social é “concebida como um conjunto de ações por parte do aparelho estatal, que tende a diminuir as desigualdades sociais” (PASTORINI, 1997, p. 81). Sua função principal é a “correção” dos efeitos negativos produzidos pela acumulação capitalista. Nesta concepção, a Política Social é entendida como concessão por parte do Estado para melhorar o bem-estar da população, cuja solução para os problemas seria uma melhor redistribuição de renda ou uma distribuição “menos desigual” dos recursos sociais. A Política Social nesta ótica teria o papel de restabelecer o equilíbrio social, via redistribuição de renda. Na segunda concepção, denominada por Pastorini (Op. Cit.) de “perspectiva marxista”, a Política Social é vista como uma unidade contraditória, em que tanto pode ser concessões, como conquistas, pois a análise da Política Social parte de três elementos ou sujeitos protagônicos: “classe hegemônica, o Estado intermediador e as classes trabalhadoras” (PASTORINI, 1997, p. 86). Nessa mesma perspectiva, Mota (2000) enfatiza que os determinantes históricos para a construção do Sistema de Proteção Social foram: desenvolvimento das forças produtivas, estratégias da dinâmica do desenvolvimento capitalista e o nível de socialização política. Como determinantes históricos decisivos do desenvolvimento do Sistema de Proteção Social, Pereira (1998) aponta a “questão social” e a “crise econômica”. Para a autora, surge uma nova classe de assalariados industriais, cuja consciência de classe determinou, em grande parte, o estabelecimento da legislação social e de um conjunto de medidas, tais como: política de pleno emprego; serviços sociais universais e, consequentemente, a extensão da cidadania aos direitos sociais, além dos civis e políticos. O sistema de proteção social como direito de Cidadania apoia-se em valores, concepções e convicções que foram gestadas no fim do século XIX e que foram consolidadas no século XX, sobretudo depois da II Guerra Mundial, quando o Estado de Bem-Estar Social passou a administrar as Políticas Sociais que se transformaram em direitos de Cidadania. Antes deste contexto, a Política Social tinha uma conotação de repressão e controle, da qual os pobres eram vistos como vagabundos e eram tratados com punição (ex.: Lei dos Pobres). Além da organização da classe trabalhadora, o fator econômico como a crise catastrófica do sistema econômico liberal, com o aumento do desemprego, produziu significativas mudanças no ideal e na prática prevalecente do laissez- faire, abrindo espaços para uma efetiva intervenção do Estado na economia e na TÓPICO 4 | O ESTADO BRASILEIRO PERANTE AS NOVAS POLÍTICAS SOCIAIS 71 sociedade. Neste contexto – anos 30 -, com a crise do modelo liberal, o Estado passa a ser a solução para o enfrentamento da crise, através das políticas keynesianas. No plano econômico, a intervenção do Estado, através dos investimentos públicos, asseguraria o alto nível de atividade econômica – Keynesianismo, pois os serviços constituem meios de socializar os custos da reprodução da força de trabalho. No plano social, asseguraria a existência em níveis elevados. No plano político, obtém-se uma maior integração dos setores subalternos à vida política e social e, portanto, à ordem socioeconômica. É importante salientar que, como em qualquer tema vinculado a aspectos sociais, no aspecto das concepções teórico-metodológicas acerca da Política Social, do Estado de Bem-Estar Social e das demais categorias analíticas que norteiam este estudo, destaca-se o fato de existirem diferentes formas de interpretar e analisar tais fenômenos. Partindo da ideia dessa relação conflituosa, as Políticas Sociais não poderiam ser pensadas como meras concessões do capital (abordagem economicista, considerada fatalista e reducionista) ou como mera vitória dos trabalhadores (abordagem “simplista”, considerada ingênua), mas sim, devem ser compreendidas como produtos dessas relações contraditórias entre estas diferentes esferas da produção e reprodução social Convém, portanto, analisar as Políticas Sociais como uma unidade contraditória que expressa uma coalizão instável entre acumulação e equidade, buscando, assim, uma proximidade de uma análise teórica que dê conta da complexidade do processo. Assim, a nosso ver, a tradição teórica que nos oferece uma visão mais ampla de interpretação dos fenômenos sociais, tais como a da política social e a democracia é a tradição crítico-dialética. Nesta linha de análise a Política Social é interpretada como fenômeno contraditório, pois ao mesmo tempo em que responde positivamente aos interesses dos representantes do trabalho, proporcionando- lhes ganhos reivindicativos na sua luta constante contra o capital, também atende positivamente aos interesses da acumulação capitalista, preservando o potencial produtivo da mão de obra e, em alguns casos, até desmobilizando a classe trabalhadora. O debate da cidadania e sua relação com a Política Social é bastante polêmico, pois muitas vezes nos deparamos com análises reducionistas ou politicistas a respeito desta temática, na qual a Política Social e a Cidadania são vistas ora como engodo, ora como conquista. Na primeira apreensão, vista como engodo, a Política Social e a Cidadania são reiteradas apenas como requisitos do capitalismo, com vistas a ganhos econômicose amortização das lutas dos trabalhadores. Por outro lado, apreendidas como conquistas, estas são consideradas como troféu dos trabalhadores. Esta análise bipolar parece não dar conta da contradição e complexidade em que se encerram estas categorias, pois não apreendem a Política Social e a Cidadania como síntese de múltiplas determinações, o que exige romper com as monocausalidades, buscando compreender o processo histórico de forma abrangente. 72 UNIDADE 1 | A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS Tomando como referência a literatura especializada, podemos afirmar que foi somente no século XX, sobretudo a partir dos anos 40, que a Política Social passou a ser considerada direito. A partir daí, as demandas e necessidades dos cidadãos são reconhecidas como legítimas transformadas em direitos, processo que está vinculado diretamente ao contexto econômico, geográfico e político da época. [...] FONTE: Disponível em: <http://revista.uepb.edu.br/index.php/qualitas/article/view/64/56>. Acesso em: 2 jun. 2015. 73 RESUMO DO TÓPICO 4 Neste tópico você, acadêmico(a), foi capaz de aprender: • A Seguridade Social como um novo conceito de direito à proteção social, foi constituída a partir da Constituição Federal, sendo composta pela Saúde, pela Previdência e pela Assistência Social. • Com a promulgação da Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS, foram situados novos e importantes níveis do direito social, através de agendas intensas e permanentes, com a estruturação dos serviços a serem proporcionados e oferecidos para a população. • Os serviços passariam a ser efetuados prioritariamente pelo poder público, através de benefícios de uma renda mínima para o idoso e pessoas com necessidades especiais, crianças e famílias, ampliados por meio de programas e serviços de enfrentamento à pobreza. • Essas ações foram se fortalecendo através do debate ético-político da profissão, por meio das parcerias dos municípios, organizações não governamentais, e governos estaduais, conforme as diretrizes de descentralização político- administrativa da LOAS. • Diante da heterogeneidade das situações sociais estabeleceu-se a exigência das abordagens teóricas, de técnicas através de instrumentos de trabalho do profissional, assistente social. • Na LOAS, as ações designadas como programas e projetos de enfrentamento à pobreza, ao serem formuladas dentro dos métodos e de conteúdos teóricos e práticos eram então reorientadas para efetivar estratégias contra a alienação e a favor de emancipação da população com mais vulnerabilidade social. • Os serviços, programas e projetos básicos de orientação, reflexão e atuação sobre os principais temas centrais diante dos mecanismos de fortalecimento de uma nova cultura cidadã, através do conhecimento de solidariedade, e de constituição de valores e de lutas, que objetivavam uma concreta mudança nas condições de vida da sociedade, sendo essas reveladoras das diferentes formas de expressões sociais e comunitárias. • A política de Assistência Social, desde o início de sua implementação, requer a valorização, qualificação e formação continuada de todos os profissionais envolvidos através de suas ações, pois são condições fundamentais e essenciais para que esta política seja implementada com eficácia, oferecendo à população um serviço integrado entre a rede de atendimento de qualidade. 74 • Diferente do que se realizava antes da CF/88, os recursos sociais, que são gastos não podem mais estar relacionados e subordinados à dialética mercantilista da lucratividade, conforme as regras da internacionalização da economia mundial. • Em relação às organizações políticas da classe trabalhadora e dos usuários que batalham pela implantação das políticas públicas e da universalização de todos os direitos sociais, vivenciaram uma situação dramática através das instituições e organizações sociais e municípios que apostaram em se estruturar para atender à população em situação de vulnerabilidade social. 75 AUTOATIVIDADE 1 Descreva as diretrizes da LOAS. 2 A assistência social é regida por quais princípios? 76 77 UNIDADE 2 AS NOVAS PERSPECTIVAS DA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir desta unidade você será capaz de: • entender o percurso histórico da Assistência Social como uma política pú- blica no Brasil; • compreender que a Assistência Social é uma Política Social garantida em lei; • analisar de que forma a Assistência Social se tornou um novo modelo das Políticas Sociais; • apreender o que é a Norma Operacional Básica do Sistema Único de Assis- tência Social. A Unidade 2 está dividida em quatro tópicos. Para um melhor aprofunda- mento do conteúdo e fixar melhor seus conhecimentos, no final de cada tópi- co você terá oportunidade de realizar as atividades propostas. TÓPICO 1 – O PERCURSO HISTÓRICO DA ASSISTÊNCIA SOCIAL COMO POLÍTICA SOCIAL TÓPICO 2 – A ASSISTÊNCIA SOCIAL: UMA POLÍTICA SOCIAL GARANTIDA EM LEI (LOAS) TÓPICO 3 – A ASSISTÊNCIA SOCIAL COMO UM NOVO MODELO DAS POLÍTICAS SOCIAIS (PNAS) TÓPICO 4 – NORMA OPERACIONAL BÁSICA DO SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL (NOB/SUAS) 78 79 TÓPICO 1 O PERCURSO HISTÓRICO DA ASSISTÊNCIA SOCIAL COMO POLÍTICA SOCIAL UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO No Brasil, desde o período colonial, a assistência aos pobres e necessitados foi caracterizada pela filantropia e pela caridade, sob o comando da Igreja, através do recolhimento e repartição de esmolas. A assistência era associada pela tutela e o controle do grupo de indivíduos assistidos, primeiramente por uma perspectiva direcionada para as questões de saúde e higiene da população e que consequentemente foi confundida com a assistência médica. Esse grupo de assistidos, conhecido por classe subalterna, no decorrer da história idealizou o conceito de cidadania, sendo que: “[...] ser cidadão significa, sobretudo cumprir seu dever [...]” (HEIN, 2007, p. 113). O conceito objetivou a aceitação das relações de desigualdades sociais como também naturais. O conceito de subalternos refere-se a “[...] tutelados e excluídos diretamente da participação social, têm se relacionado com o Estado e elites reiterando sua subalternidade, por meio da submissão às ‘leis naturais’ da sociedade” (HEIN, 2007, p. 113). Por meio da Constituição Federal de 1988, emergiu um processo de revitalização e democratização da sociedade brasileira, onde foi regulamentado o direito à assistência social, constituindo a Lei Orgânica de Assistência Social - LOAS/1993. Nesta segunda unidade, serão abordadas questões que dizem respeito às perspectivas da política de assistência social, desde a sua implementação. UNIDADE 2 | AS NOVAS PERSPECTIVAS DA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL 80 FIGURA 18 – O CAMINHO DA ASSISTÊNCIA SOCIAL COMO DIREITO ADQUIRIDO FONTE: Disponível em: <http://www.segurancamonitoramento.org/wp- content/uploads/2013/06/logo_campeweb_0.jpg>. Acesso em: 11 jul. 2015. 2 A ASSISTÊNCIA SOCIAL E SUA TRAJETÓRIA HISTÓRICA, A SUA INSTITUCIONALIZAÇÃO E A INFLUÊNCIA DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 As políticas sociais, entre elas a assistência social, foram marcadas na história do Brasil, pelas suas propriedades na dependência da economia e do mercado mundial. A escravidão e a colonização, entre os séculos XVI e XIX tiveram uma influência nos procedimentos de trabalho e nas relações sociais que estavam concretizadas na sociedade brasileira. A assistência social e outras políticas, nos períodos da história brasileira, colonização, Impérios e República, foram configuradas pela coesa troca de favores do clientelismo e apadrinhamento, através das elites dominantes. Esse modelo mostrava o interesse econômico da classe dominante e não contemplava, em nenhum momento, as conjunturas de desigualdade e pobreza. Essas ações de assistência, que estavam sendo colocadas em prática,deixavam a atuação do Estado como segundo plano, sendo que o mesmo sempre negligenciou e negou a assistência social como política pública e direito de cada cidadão. A assistência social, como política pública, demorou a se concretizar e materializar, devido às características acima descritas, pois a superação dos traços históricos foi um processo lento na regulamentação do direito social adquirido. O Estado, no começo do século XX, para dar respostas ao fortalecimento das lutas e organizações sociais e trabalhistas, se obrigou a desenvolver e aumentar a sua ação nas esferas sociais, iniciando na relação de trabalho. TÓPICO 1 | O PERCURSO HISTÓRICO DA ASSISTÊNCIA SOCIAL COMO POLÍTICA SOCIAL 81 A ampliação dos direitos e das políticas sociais aconteceu durante o governo de Getúlio Vargas (1937-1945) e do Governo Militar (1964-1984), através dos movimentos e das manifestações dos trabalhadores que reivindicavam tais direitos. A Revolução de 1930 foi a responsável por conduzir a questão social para o interior das agendas públicas. Nesse período alguns fatos históricos se tornaram importantes, como: • A criação do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio. • A publicação da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). • A criação dos Institutos de Aposentadoria e Pensões (IAPs), como parte de um sistema de Previdência Social, onde o acesso aos benefícios está condicionado ao pagamento de contribuição. Na época, muitos dos direitos que estavam garantidos em lei, não se efetivaram, pois as políticas sociais que existiam naquele período estavam limitadas às leis de cunho trabalhista, e que em muitos casos também não eram efetivadas por completo. Diante da conjuntura atual, iniciou-se a construção de um sistema público de proteção social, mesmo que a base fosse de caráter contributivo, que significa, apenas os trabalhadores formais, com carteira de trabalho assinada e que contribuíam para a Previdência Social, estavam assegurados pela proteção social do Estado. As pessoas que não estavam incluídas no mercado de trabalho legalmente eram desclassificadas para conseguir o benefício, ou seja, não tinham acesso a esse sistema. O cidadão que não conseguia garantir a sobrevivência por meio do trabalho, ou pelo apoio familiar, ficavam à mercê do provimento de amparo social, que se efetivava através das entidades e organizações da sociedade civil. A população atendida pelas entidades sociais era rotulada como sendo pobre, carente, e muitas vezes incapaz para o trabalho, sendo responsabilizada pela condição de vulnerabilidade que se encontrava e discriminada pela incapacidade de lutar por uma melhor condição de vida. A assistência social, neste período, era fragmentada e não conseguia identificar e especificar a sua área de atuação, tinha um caráter fragmentado, desorganizado, indefinido e instável de suas configurações (COUTO, 2008). No ano de 1938, foi criado o Conselho Nacional de Serviço Social (CNSS), que passou a representar a primeira tentativa para regulação e fomento público no âmbito da assistência social no Brasil. A relevância deve-se pela importância e a preocupação do Estado com a centralidade e organicidade das obras assistenciais públicas e privadas, e passou a assumir a fiscalização a partir de 1943. UNIDADE 2 | AS NOVAS PERSPECTIVAS DA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL 82 No ano de 1942 aconteceu a primeira ação de centralização das políticas sociais, através do surgimento da Legião Brasileira de Assistência - LBA, que se tornou o órgão responsável por ordenar as atividades da assistência em todo do território nacional. A responsabilidade da coordenação institucional ficou ao encargo da primeira dama, Darcy Vargas, que institucionalizou o primeiro damismo, dando prosseguimento à política de favorecimento e bondade às pessoas mais necessitadas. Com a institucionalização do primeiro damismo, em decorrência da coordenação da LBA, e também pela real bondade da esposa do governante o Estado repassou a função para as organizações filantrópicas. A LBA era vista como uma política estratégica que legitima o governo Vargas. Segundo Sposati (2004, p. 20) “Em outubro de 1942 a LBA se torna uma sociedade civil de finalidades não econômicas, voltadas para ‘congregar as organizações de boa vontade’. Aqui a assistência social como ação social é ato de vontade e não direito de cidadania”. Após o Governo de Fernando Collor de Mello, a LBA foi extinta, por indiciamento de corrupção por parte da primeira-dama Rosane Collor de Mello. UNI Uma das principais heranças da LBA para a assistência social foi a consolidação do “primeiro-damismo”. A assistência aos pobres era delegada às primeiras-damas e não era vista como responsabilidade estatal, reiterando a caridade, a relação de ajuda, o clientelismo e o personalismo, marcas registradas da assistência social brasileira por um longo período. No ano de 1974, decorrente das condições sociais e ao crescimento da pobreza, da estagnação econômica e da crise do petróleo enfrentadas naquela década, o Governo Federal designou, paralelamente às outras instituições, o Ministério da Previdência e Assistência Social (MPAS). Este Ministério estava estruturado com uma Secretaria de Assistência Social, que foi proposta a ela a missão de formular, por meio de caráter consultivo, a política de combate à pobreza. Os mais diferentes movimentos sociais brasileiros se constituíram, restabeleceram e tomaram força neste período, tornando-se sujeitos de um amplo processo de luta das classes populares pela tão esperada democracia e melhores condições de vida. É importante conhecer o que quer se dizer quando se fala em movimentos sociais: TÓPICO 1 | O PERCURSO HISTÓRICO DA ASSISTÊNCIA SOCIAL COMO POLÍTICA SOCIAL 83 • Os movimentos sociais são grupos de pessoas que se unem em volta da defesa de necessidades, reivindicações e interesses sociais, bem como valores culturais e políticos comuns, ganhando visibilidade social para sua causa. • O que constituem os movimentos sociais: movimento de mulheres, movimento negro, movimento ambientalista, movimento de luta pela terra, movimento de defesa dos direitos da criança e do adolescente, movimentos contra a xenofobia, entre outros. • Os atores sociais foram os responsáveis por inscrever na Constituição Federal de 1988 a marca dos direitos sociais, da democracia participativa, da descentralização e da cidadania. FIGURA 19 - MOVIMENTOS SOCIAIS FONTE: Disponível em: <http://mnlmsm.blogspot.com.br/>. Acesso em: 12 jul. 2015. A modificação desse contexto teve início em 1988, através da Constituição Federal (BRASIL, 1988; Capítulo II, artigos 194 a 204), sendo assim a assistência social passou a ser reconhecida como política pú blica no Brasil e, em conjunto com a política da saúde e a previdência social, compôs a seguridade social brasileira. A Constituição Federal de 1988 registrou a assistência social como uma política pública no âmbito da seguridade social, oferecendo proteção para a população brasileira através de uma série de medidas públicas contra as privações econômicas e sociais, mas voltadas à garantia de direitos e de condições de vida. UNIDADE 2 | AS NOVAS PERSPECTIVAS DA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL 84 IMPORTANT E A assistência social contorna-se, portanto, uma política de proteção social articulada e vinculada a outras políticas sociais destinadas à promoção da cidadania, afirmando- se como direito reclamável pelos cidadãos. Conforme a CF de 1988, sobre a Assistência Social: Seção IV DA ASSISTÊNCIA SOCIAL Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social, e tem por objetivos: I - a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice; II - o amparo às crianças e adolescentes carentes; III - a promoção da integração ao mercado de trabalho; IV - a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoçãode sua integração à vida comunitária; V - a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei. Art. 204. As ações governamentais na área da assistência social serão realizadas com recursos do orçamento da seguridade social, previstos no art. 195, além de outras fontes, e organizadas com base nas seguintes diretrizes: I - descentralização político-administrativa, cabendo a coordenação e as normas gerais à esfera federal e a coordenação e a execução dos respectivos programas às esferas estadual e municipal, bem como a entidades beneficentes e de assistência social; II - participação da população, por meio de organizações representativas, na formulação das políticas e no controle das ações em todos os níveis. Parágrafo único. É facultado aos Estados e ao Distrito Federal vincular a programa de apoio à inclusão e promoção social até cinco décimos por cento de sua receita tributária líquida, vedada a aplicação desses recursos no pagamento de: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003) I - despesas com pessoal e encargos sociais; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003) TÓPICO 1 | O PERCURSO HISTÓRICO DA ASSISTÊNCIA SOCIAL COMO POLÍTICA SOCIAL 85 II - serviço da dívida; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003) III - qualquer outra despesa corrente não vinculada diretamente aos investimentos ou ações apoiados. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003) FONTE: Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 12 jul. 2015. A assistência social, nesse contexto, recebeu uma concepção, que objetivando a garantir a proteção social “a quem dela necessitar”, tirando esse encargo da esfera individual e colocando-a na esfera pública e social. UNI A política de assistência social passou a ter a seguinte concepção: A proteção social passou a ser devida pelo Estado e a quem dela precisar, ultrapassando o nível de responsabilidade individual, familiar e comunitária; além de provisões materiais, proporciona meios para reforço da autoestima, autonomia, inserção social, ampliação da resistência aos conflitos, estímulo à participação. Reafirmando que somete após a Constituição Federal de 1988 a assistência social passou a ser garantida como política pública no âmbito da seguridade social, envolvida para a garantia de direitos e de condições dignas de vida, fazendo com que a assistência social se tornasse uma política de proteção social articulada a outras políticas públicas, e que estivessem propostas à promoção da cidadania, garantindo- se enquanto direito a ser rezingado pelos cidadãos. Foi através desta Constituição que aconteceu a reformulação formal do sistema de proteção social que agrupou valores e critérios que fundaram um novo padrão da política social. “[...] passaram, de fato, a constituir categorias-chaves norteadoras da constituição de um novo padrão de política social a ser adotado no país” (PEREIRA, 2000, p. 192). Preconiza-se, a partir da Constituição de 1988, as políticas públicas como de responsabilidade do Estado. Porém, isso não representa determinações autoritárias de governo para a sociedade civil, embora as desigualdades sejam produzidas no contexto das relações sociais e adiantadas nos processos de produção. As autoras Iamamoto e Carvalho (2011, p. 30) destacam que: [...] as relações sociais de produção alteram-se, transformam-se com a modificação e o desenvolvimento dos meios materiais de produção, das UNIDADE 2 | AS NOVAS PERSPECTIVAS DA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL 86 forças produtivas. Em sua totalidade as relações de produção formam o que se chama relações sociais: a sociedade e, particularmente, uma sociedade num determinado estágio de desenvolvimento histórico, uma sociedade com um caráter distintivo particular [...]. O capital também é uma relação social de produção. É uma relação burguesa de produção, relação de produção da sociedade burguesa. No ano de 1993 a política de assistência social foi regulamentada como direito, através da aprovação da Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS) (BRASIL, 1993). A ASSISTÊNCIA SOCIAL passou a ser uma política pública regulamentada pela Lei Orgânica da Assistência Social - LOAS, prevista na Constituição Federal de 1988, constituindo o tripé da Seguridade Social, estabelecida como dever do Estado e direito do cidadão. Essa política passou a ser um campo de atuação dos assistentes sociais e outros trabalhadores, psicólogos, pedagogos, advogados, cientistas, administradores, nas esferas Federais, Estadual e Municipal. ATENCAO Para Behring e Boschetti (2007, p. 79): [...] a criação dos direitos sociais no Brasil resulta da luta de classes e expressa a correlação de forças predominantes. Por um lado, os direitos sociais, sobretudo trabalhistas e previdenciários, são pauta de reivindicação dos movimentos e manifestações da classe trabalhadora. Por outro, representam a busca de legitimidade das classes dominantes em ambiente de restrição de direitos políticos e civis [...]. No ano de 2004, foi organizada e elaborada a Política Nacional de Assistência Social (PNAS), e aprovada pelo Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) nas deliberações da IV Conferência Nacional da Assistência Social. Para Couto (2008), as regulamentações tinham a intenção de romper com a concepção de benevolência aos pobres e da troca de favores entre a elite e a população. Como sendo uma política social pública, a assistência social iniciou seu caminho para um campo novo: da garantia dos direitos, da universalização dos acessos e da responsabilidade estatal. A LOAS inovou ao proporcionar em sua representação institucional o caráter de direito não contributivo, ou seja, não vinculado em qualquer tipo de contribuição prévia, inovando também ao apontar a necessária integração entre as esferas econômica e social. TÓPICO 1 | O PERCURSO HISTÓRICO DA ASSISTÊNCIA SOCIAL COMO POLÍTICA SOCIAL 87 LEITURA COMPLEMENTAR O PROCESSO DE AFIRMAÇÃO DA ASSISTÊNCIA SOCIAL COMO POLÍTICA SOCIAL Eliana Lonardoni Junia Garcia Gimenes Maria Lucia dos Santos 1 A ASSISTÊNCIA SOCIAL ANTES DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 Para analisar a Política de Assistência Social é fundamental investigar a sua trajetória. A Constituição Federal é um marco fundamental desse processo porque reconhece a assistência social como política social que, junto com as políticas de saúde e de previdência social, compõem o sistema de seguridade social brasileiro. Portanto, pensar esta área como política social é uma possibilidade recente. Mas, há um legado de concepções, ações e práticas de assistência social que precisa ser capturado para análise do movimento de construção dessa política social. A prática da assistência ao outro é antiga na humanidade. Em diferentes sociedades, a solidariedade dirigida aos pobres, aos viajantes, aos doentes e aos O Estado assumiu a centralidade na universalização e na garantia de direitos, e o acesso a serviços sociais, sendo instrumento fundamental na prática dessa nova concepção de assistência social. A participação da sociedade civil na formulação, gestão e execução das políticas assistenciais, tornou-se uma proposta original, que indicou caminhos novos e alternativos para acionar, em sua preparação, os interesses e os direitos de seus usuários e de todos os cidadãos que dela necessitarem. A diretriz da descentralização e da participação fica assim garantida na LOAS: Art. 16. As instâncias deliberativas do sistema descentralizado e participativo de assistência social, de caráter permanente e composição paritária entre governo e sociedade civil, são: I – o Conselho Nacional de Assistência Social; II – os Conselhos Estaduais de Assistência Social; III – o Conselho de AssistênciaSocial do Distrito Federal; IV – os Conselhos Municipais de Assistência Social. Pode-se verificar que Política Pública de Assistência Social incide, a partir de 1988, na Proteção Social do Estado a quem dela precisar, que ultrapassa o nível de responsabilidade individual, familiar e comunitária, proporcionando, além de providências materiais, meios para fortificar a autoestima, a autonomia, a inserção social, a ampliação da resistência aos conflitos e o estímulo à participação social. UNIDADE 2 | AS NOVAS PERSPECTIVAS DA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL 88 incapazes sempre esteve presente. Esta ajuda pautava-se na compreensão de que na humanidade sempre existirão os mais frágeis, que serão eternos dependentes e precisam de ajuda e apoio. A civilização judaico-cristã transforma a ajuda em caridade e benemerência e, dessa forma, compreende-se que o direito à assistência foi historicamente sendo substituído pelo apelo à benevolência das almas caridosas. Com a expansão do capital e a pauperização da força de trabalho, as práticas assistenciais de benemerência foram apropriadas pelo Estado direcionando dessa forma a solidariedade social da sociedade civil. No Brasil, até 1930, não havia uma compreensão da pobreza enquanto expressão da questão social e quando esta emergia para a sociedade, era tratada como “caso de polícia” e problematizada por intermédio de seus aparelhos repressivos. Dessa forma a pobreza era tratada como disfunção individual. A primeira grande regulação da assistência social no país foi a instalação do Conselho Nacional de Serviço Social – CNSS, criado em 1938. Segundo Mestriner (2001, p. 57-58): O Conselho é criado como um dos órgãos de cooperação do Ministério da Educação e Saúde, passando a funcionar em uma de suas dependências, sendo formado por figuras ilustres da sociedade cultural e filantrópica e substituindo o governante na decisão quanto a quais organizações auxiliar. Transita, pois, nessa decisão, o gesto benemérito do governante por uma racionalidade nova, que não chega a ser tipicamente estatal, visto que atribui ao Conselho certa autonomia. Dessa forma, é nesse momento que se selam as relações entre o Estado e segmentos da elite, que vão avaliar o mérito do Estado em conceder auxílios e subvenções (auxílio financeiro) a organizações da sociedade civil destinadas ao amparo social. O conceito de amparo social neste momento é tido como uma concepção de assistência social, porém identificado com benemerência. Portanto, o CNSS foi a primeira forma de presença da assistência social na burocracia do Estado brasileiro, ainda que na função subsidiária de subvenção às organizações que prestavam amparo social. A primeira grande instituição de assistência social será a Legião Brasileira de Assistência – LBA, que tem sua gênese marcada pela presença das mulheres e pelo patriotismo. Segundo Sposati (2004, p.19): A relação da assistência social com o sentimento patriótico foi exponenciada quando Darcy Vargas, a esposa do presidente, reúne as senhoras da sociedade para acarinhar pracinhas brasileiros da FEB – Força Expedicionária Brasileira – combatentes da II Guerra Mundial, com cigarros e chocolates e instala a Legião Brasileira de Assistência – LBA. A ideia de legião era a de um corpo de luta em campo, ação. TÓPICO 1 | O PERCURSO HISTÓRICO DA ASSISTÊNCIA SOCIAL COMO POLÍTICA SOCIAL 89 Dessa forma, compreende-se que o intuito inicial da LBA era atuar como uma legião, como um corpo em ação numa luta em campo. Em outubro de 1942 a LBA se torna uma sociedade civil de finalidades não econômicas, voltadas para “congregar as organizações de boa vontade”. Aqui, a assistência social como ação social é ato de vontade e não direito de cidadania. (SPOSATI, 2004, p. 20). A LBA assegura estatutariamente sua presidência às primeiras damas da República, imprimindo dessa forma a marca do primeiro-damismo junto à assistência social e estende sua ação às famílias da grande massa não previdenciária, atendendo na ocorrência de calamidades com ações pontuais, urgentes e fragmentadas. Segundo Sposati (2004), essa ação da LBA traz para a assistência social o vínculo emergencial e assistencial, marco que predomina na trajetória da assistência social. Após as campanhas de impacto realizadas junto aos “convocados” de guerra, a Legião Brasileira de Assistência será a instituição a se firmar na área social, e sua ação assistencial será implementada no sentido de dar apoio político ao governo (MESTRINER, 2001). Para desenvolver essas novas funções, a LBA busca auxílio junto às escolas de serviço social especializadas. Dessa forma, há uma aproximação de interesse mútuo entre a LBA e o serviço social, pois a LBA precisava de serviço técnico, de pesquisas e trabalhos técnicos na área social e o serviço social estava se firmando e precisava se legitimar enquanto profissão. Em 1969, a LBA é transformada em fundação e vinculada ao Ministério do Trabalho e Previdência Social, tendo sua estrutura ampliada e passando a contar com novos projetos e programas. A ditadura militar cria, sob o comando de Geisel, em 1º de Maio de 1974, o Ministério da Previdência e Assistência Social – MPAS, que contém na sua estrutura uma Secretaria de Assistência Social, a qual, em caráter consultivo, vai ser o órgão- chave na formulação de política de ataque à pobreza. Segundo Mestriner (2001, p. 168): [...] tal política mobilizará especialistas, profissionais e organizações da área. O Centro Brasileiro de Cooperação e Intercâmbio de Serviços Sociais – CBCISS realiza, então, seminário em Petrópolis (de 18 a 22 de maio de 1974), com 33 especialistas, visando subsidiar a iniciativa governamental. Documento resultante deste seminário destaca a valorização da assistência social pelo MPAS e enfatiza a necessidade de tratamento inovador nessa área, fugindo ao caráter assistencialista e de simples complementação da previdência. UNIDADE 2 | AS NOVAS PERSPECTIVAS DA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL 90 O processo de pauperização se acirra ainda mais no final desse período exigindo do Estado maior atenção em todos os níveis. A política social direciona-se ao exército de reserva de mão de obra usando essa demanda como uma justificativa para o crescimento do Estado. Há uma expansão de programas sociais, como de Alfabetização, pelo Mobral, casas populares - BNH, complementação alimentar - Pronam e outros. A assistência social deixa de ser simplesmente filantrópica fazendo parte cada vez mais da relação social de produção, mas: A criação de novos organismos segue a lógica do retalhamento social, criando-se serviços, projetos e programas para cada necessidade, problema ou faixa etária, compondo uma prática setorizada, fragmentada e descontínua, que perdura até hoje (MESTRINER, 2001). Assim, pelo binômio repressão versus assistência, o Estado mantém apoio às instituições sociais. A questão social toma maior visibilidade com o fim da repressão, proporcionando um campo fértil para o desenvolvimento dos movimentos sociais, que com poder de pressão almejam legitimar suas demandas proporcionando visibilidade à assistência social ao lado das demais políticas públicas como estratégia privilegiada de enfrentamento da questão social, objetivando a diminuição das desigualdades sociais. 2 OS MOVIMENTOS SOCIAIS NA LUTA POR POLÍTICAS SOCIAIS Historicamente, as mobilizações da sociedade civil receberam diferentes tratamentos. No período anterior a 1930, os movimentos sociais eram tratados como “caso de polícia”, com forte repressão. As manifestações ocorridas no período de 1930 a 1964 ficaram conhecidas como populismo e elas reivindicavam a reforma de base e melhores condições de vida para a classe trabalhadora do campo e da cidade. Antes de 1964, com alguns setores sindicais e a esquerda tradicional, o Estado passou a intervir na relação capital e trabalho, de maneira fragmentada e seletiva, deixando de fora os trabalhadores rurais e osdo setor informal. Posteriormente a 1964, no período ditatorial, a atuação das camadas populares no âmbito econômico, político e cultural sofreu restrições redefinindo, portanto, o Estado e sua relação com a sociedade. A partir de 1964, ocorreu uma significativa mudança na relação das forças presentes no cenário político. Com o golpe de Estado, os governantes eleitos e reconhecidos, são sumariamente retirados do cenário político pela força militar, rompendo-se as regras do jogo político na escolha dos dirigentes. Os TÓPICO 1 | O PERCURSO HISTÓRICO DA ASSISTÊNCIA SOCIAL COMO POLÍTICA SOCIAL 91 militares passam a controlar as decisões econômicas, ocupando postos-chave da administração (SERVIÇO SOCIAL E REALIDADE, 1996, p. 32). Neste momento o Brasil para, proibindo-se expressamente as manifestações populares. Em 1968, os movimentos sociais voltam a se articular, com objetivos diferentes, mas com o único propósito de pôr fim ao sistema ditatorial. Destacam- se os movimentos estudantis, religiosos, operários e camponeses. Os movimentos sociais não podem ser pensados apenas como meros resultados de lutas por melhores condições de vida, produzidos pela necessidade de aumentar o consumo coletivo de bens e serviços. Os movimentos sociais devem ser vistos, também (neles, é claro, os seus agentes), como produtores da história, como forças instituintes que, além de questionar o estado autoritário e capitalista, questionam suas práticas, a própria centralização/burocratização tão presente nos partidos políticos (RESENDE, 1985, p. 38). Com toda a repressão, a sociedade civil busca maneira de pôr fim ao sistema ditatorial, surgindo vários focos de manifestações, como por exemplo, a guerrilha armada na zona urbana e rural, greves e movimentos contra a carestia. Em 1975, surgem os novos movimentos sociais e, dentro da Igreja Católica, o movimento da Teologia da Libertação, que buscava romper com a dominação a que a população pauperizada e os setores excluídos sofriam. Há, ainda, de forma progressiva, a presença de movimentos sociais na área da Saúde, Educação, e outros, para que seja garantida a sua inserção na Constituição Federal de 1988. O serviço social põe sua força em campo, para fortalecer o nascimento dessa política no campo democrático dos direitos sociais desenvolvendo múltiplas articulações e debates. As Associações Nacionais dos Servidores da LBA – ASSELBAS e ANASSELBAS se articulam gerando debates, documentos, posicionamentos e proposições para a efetiva inserção da Assistência Social na Constituição Federal como política social, direito do cidadão e dever do Estado. Em meio a essa efervescência e poder de pressão dos movimentos sociais, as políticas sociais encontram campo fértil para desenvolverem-se e auxiliarem a efetivação dos direitos sociais na Constituição de 1988. Dessa forma, os movimentos sociais exerceram grande influência, emergindo com todo poder de pressão, conformando e norteando a configuração das políticas públicas e da Política de Assistência Social. Assim, os movimentos UNIDADE 2 | AS NOVAS PERSPECTIVAS DA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL 92 sociais com suas lutas contribuíram para trabalhar o rosto do Brasil e a configuração das políticas sociais. FONTE: Disponível em: <http://www.uel.br/revistas/ssrevista/c-v8n2_sonia.htm>. Acesso em: 15 ago. 2015. 93 RESUMO DO TÓPICO 1 Neste tópico você viu que: • Desde o período colonial, no Brasil, a assistência aos pobres e necessitados foi caracterizada pela filantropia e pela caridade, sobre o comando da Igreja, através do recolhimento e repartição de esmolas. • As políticas sociais, entre elas a assistência social, foram marcadas na história do Brasil, pelas suas propriedades na dependência da economia e do mercado mundial. A escravidão e a colonização, entre os séculos XVI e XIX tiveram uma influência nos procedimentos de trabalho e nas relações sociais que estavam concretizadas na sociedade brasileira. • Os interesses econômicos da classe dominante não contemplavam em nenhum momento as conjunturas de desigualdades e pobreza. • O Estado, no começo do século XX, para dar respostas ao fortalecimento das lutas e organizações sociais e trabalhistas, se obrigou a desenvolver e aumentar a sua ação nas esferas sociais, iniciando na relação de trabalho. • A ampliação dos direitos e das políticas sociais aconteceu durante o governo de Getúlio Vargas (1937-1945) e do Governo Militar (1964-1984), através dos movimentos e das manifestações dos trabalhadores que reivindicavam tais direitos. • A Revolução de 1930 foi a responsável por conduzir a questão social para o interior das agendas públicas. • Diante da conjuntura atual, iniciou-se a construção de um sistema público de proteção social, mesmo que a base fosse de caráter contributivo, que significa, apenas os trabalhadores formais, com carteira de trabalho assinada e que contribuíam para a Previdência Social estavam assegurados pela proteção social do Estado. • As pessoas que não estavam incluídas no mercado de trabalho legalmente estavam fora de conseguir o benefício, ou seja, não tinham acesso a esse sistema. • As pessoas atendidas pelas entidades sociais eram rotuladas como sendo pobres, carentes e, muitas vezes, incapazes para o trabalho. • No ano de 1938 foi criado o Conselho Nacional de Serviço Social (CNSS), que passou a representar a primeira tentativa para regulação e fomento público no âmbito da assistência social no Brasil. 94 • No ano de 1942 aconteceu a primeira ação de centralização das políticas sociais, através do surgimento da Legião Brasileira de Assistência - LBA, que se tornou o órgão responsável por ordenar as atividades da assistência em todo o território nacional. • Uma de suas principais heranças da LBA para a assistência social foi a consolidação do “primeiro-damismo”. • No ano de 1974, decorrente das condições sociais e ao crescimento da pobreza, da estagnação econômica e da crise do petróleo enfrentadas naquela década, o Governo Federal designou, paralelamente às outras instituições, o Ministério da Previdência e Assistência Social (MPAS). • Os mais diferentes movimentos sociais brasileiros se constituíram, restabeleceram e tomaram força neste período, tornando-se sujeitos de um amplo processo de luta das classes populares, pela tão esperada democracia e melhores condições de vida. • A Constituição Federal de 1988 registrou a assistência social como uma política pública no âmbito da seguridade social oferecendo proteção para a população brasileira através de uma série de medidas públicas contra as privações econômicas e sociais, mas voltadas à garantia de direitos e de condições de vida. • No ano de 1993 a política de assistência social foi regulamentada como direito, através da aprovação da Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS). • No ano de 2004 foi organizada e elaborada a Política Nacional de Assistência Social (PNAS) e aprovada pelo Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) nas deliberações da IV Conferência Nacional da Assistência Social. • A LOAS inovou ao proporcionar em sua representação institucional o caráter de direito não contributivo, ou seja, não vinculado em qualquer tipo de contribuição prévia, inovando também ao apontar a necessária integração entre as esferas econômica e social. • O Estado assumiu a centralidade na universalização, na garantia de direitos e no acesso a serviços sociais, sendo instrumento fundamental na prática dessa nova concepção de assistência social. 95 AUTOATIVIDADE 1 Pesquise e compartilhe em sala de aula, com seus colegas e tutor(a), qual foi o primeiro objetivo de criação da Legião Brasileira de Assistência. 2 A Revolução de 1930 foi considerada como um mecanismo responsável por conduzir a questão social para o interior das agendas públicas. Nesse período alguns fatos históricos se tornaram importantes, cite-os. 96 97 TÓPICO 2 A ASSISTÊNCIA SOCIAL: UMA POLÍTICA SOCIAL GARANTIDAEM LEI (LOAS) UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Perante um contexto conjuntural decorrente das mobilizações democráticas e que exigem ações vinculadas a práticas inovadoras nas políticas sociais, iniciou-se um forte e intenso debate teórico-metodológico e político na elaboração da política pública de Assistência Social, que estava constitucionalmente assegurada em lei. O Estado, incialmente, promoveu a realização de diagnósticos de estudos e propostas, elencando as categorias profissionais e as organizações da sociedade civil, conseguindo compreender o real significado teórico e político de determinadas áreas com os setores mais populares. FIGURA 20 - A POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL GARANTIDA EM LEI FONTE: Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101- 66282011000200009&script=sci_arttext>. Acesso em: 13 jun. 2015. UNIDADE 2 | AS NOVAS PERSPECTIVAS DA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL 98 2 A LEI ORGÂNICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL E SUA LEGITIMIDADE Durante o governo Sarney foi executado um conjunto de reformas institucionais, que tinha como objetivo o desenvolvimento econômico e social, por meio da esquematização de planos de realinhamento de posições. Antes da Constituição Federal de 88, destacou-se entre os planos o de 1985, o I Plano Nacional de Desenvolvimento da Nova República, que tinha como objetivo propor um desenvolvimentismo baseado em critérios sociais. Neste período quem estava à frente da pasta de Previdência e Assistência Social, era Waldir Pires, e que tinha uma forte oposição ao regime autoritário, o que impulsionou as reformas nesse campo, porém, com a sua saída, não foi dado continuidade nesse processo. Neste contexto, surge um mecanismo de debates e articulações, com a possiblidade do surgimento da Política de Assistência Social, e que estaria vinculada com o campo democrático e social de todos os direitos. O processo que gerou a Constituição Federal é fundamentado pela crescente articulação, participação e pressão da sociedade, através dos diversos setores organizados, paralelo a decrescente condição de tomada de decisões de todo o poder político instalado no sistema vigente. A Assistência Social passou a ter uma nova percepção, após a promulgação da Constituição Federal de 5 de outubro de 1988, abrangendo-a na esfera da Seguridade Social: Conforme o art.194: “A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social”. DICAS Na Constituição Federal, conforme o tópico anterior, a Assistência Social está inserida nos artigos 203 e 204. Sposati (2004, p. 42) afirma que a Assistência Social, através da Carta Magna, contrapõe o conceito de: TÓPICO 2 | A ASSISTÊNCIA SOCIAL: UMA POLÍTICA SOCIAL GARANTIDA EM LEI (LOAS) 99 [...] população beneficiária como marginal ou carente, o que seria vitimá-la, pois suas necessidades advêm da estrutura social e não do caráter pessoal tendo, portanto, como público-alvo os segmentos em situação de risco social e vulnerabilidade, não sendo destinada somente à população pobre. Com a Constituição Federal de 1988, surgiu espaço para debate, reflexão e mudanças no modelo e práticas de proteção dos direitos sociais, ultrapassando as velhas práticas clientelistas e assistencialistas. Houve também o surgimento e a efetivação de novos movimentos sociais. A institucionalização e a regulamentação dos avanços obtidos com a Constituição Federal de 88 só sucederam pela aprovação de leis orgânicas para cada política pública, porém, para aprovação dessas leis foi necessária muita organização, debate político e organização dos princípios recomendados na Constituição para que se tornassem leis e fossem aprovadas, em virtude das forças políticas conservadoras, que dificultaram todo o processo de operacionalização das mesmas. Primeiramente, a política pública que se destacou e avançou na sua discussão foi a da Saúde, que se fundamentou na VII Conferência Nacional de Saúde, que emergiu na aprovação da Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990. Na data de 24/07/1991 foi aprovada a Lei Orgânica da Previdência Social, Lei nº 8.212, mesmo como os problemas na elaboração de seus planos de custeio e planos de benefícios. Em relação à Assistência Social, é importante destacar que, no ano de 1989, através da Câmara Federal foi realizado o I Simpósio Nacional de Assistência Social, que proporciona aos legisladores federais sugestão de lei com avanço institucional, sendo apresentado o Projeto-Lei n° 3.099/89, que foi vetado no ano seguinte, em 17 de setembro, pelo Presidente da República Fernando Collor. Segundo, o então presidente da República veta o projeto de lei apresentado, se fez necessário, pois o país não possuía recursos financeiros para o pagamento dos benefícios que estavam previstos. A matéria voltou como pauta no legislativo federal no dia 11 de abril de 1991, onde começou a ser debatida e aprimorada, através de uma comissão que foi eleita no I Seminário Nacional de Assistência Social, realizado em junho de 1991, que procedeu no documento Ponto de Vista que Defendemos, apresentado subsídio para um novo Projeto-Lei com o n° 3.154/91. Mesmo assim, o Projeto-Lei teve o seu percurso no Congresso adiado por motivos econômicos, sociais e políticos, como houve também, por parte da Procuradoria da República, manifestações contrárias, afirmando que este projeto necessitaria ter origem no Executivo, visto que o primeiro tinha sido vetado. UNIDADE 2 | AS NOVAS PERSPECTIVAS DA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL 100 Com o intuito de aprofundar o debate sobre a LOAS, o Ministério do Bem- Estar Social realizou encontros em todas as regiões nacionais, realizado em junho de 1993, na capital federal, Brasília. Um novo Projeto-Lei foi apresentado no mesmo ano pelo Executivo, porém ele era antagônico ao que se estava discutindo. Através da influência de organização, entidades e técnicos da área, a plenária dispôs a elaboração de cada artigo, o que gerou um documento chamado Conferência Zero da Assistência Social. Sendo assim, a Política de Assistência Social foi aprovada em 1993, devido ao imenso debate teórico e político durante a elaboração das propostas, fomentado pelas entidades e organizações da categoria profissional de Serviço Social, pelas universidades, o que gerou um aumento gradual das discussões sobre o campo social, visando maiores subsídios para a preparação da futura lei orgânica, sendo considerado um momento rico na produção intelectual dos assistentes sociais. Diante deste período de intenso debate, alguns pontos foram questionados, como: • O processo de burocratização e seletividade, que impediam o acesso nas políticas sociais. • A centralidade do poder estatal que não conduz as diversidades da do país. • A falta de instrumentos de incentivo à participação popular. • As ações pontuais, fragmentadas e emergenciais. Desenvolveram-se, assim, mecanismos fundamentados na democracia participativa e ações descentralizadas, com mudanças nas relações político e institucional. Disponível em: <http://www.uel.br/revistas/ ssrevista/c-v8n2_sonia.htm>. Acesso em: 15 ago. 2015. Para Mestriner (2004, p. 206), a LOAS traz uma nova definição para Assistência Social: “Política pública de seguridade, direito do cidadão e dever do Estado, provendo-lhe um sistema de gestão descentralizado e participativo, cujo eixo é posto na criação do Conselho Nacional de Assistência Social – CNAS”. Com a promulgação da LOAS, extingue-se imediatamente o Conselho Nacional de Serviço Social, que foi criado em 1938, sendo avaliado como um órgão de caráter clientelista. Em seguida, institui-se o Conselho Nacional de Assistência Social – CNASS. O Conselho Nacional de Assistência Social – CNAS foi instituído pela Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS (Lei no 8.742, de 7 de dezembro de 1993), como órgão superior de deliberação colegiada, vinculadoà estrutura do órgão da Administração Pública Federal responsável pela coordenação da Política Nacional de Assistência Social (atualmente, o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome), cujos membros, nomeados pelo Presidente da República, têm mandato de 2 (dois) anos, permitida uma única recondução por igual período. O CNAS é composto por 18 (dezoito) membros e respectivos suplentes, TÓPICO 2 | A ASSISTÊNCIA SOCIAL: UMA POLÍTICA SOCIAL GARANTIDA EM LEI (LOAS) 101 cujos nomes são indicados ao órgão da Administração Pública Federal responsável pela coordenação da Política Nacional de Assistência Social, de acordo com os critérios seguintes: I - 9 (nove) representantes governamentais, incluindo 1 (um) representante dos estados e 1 (um) dos municípios. II - 9 (nove) representantes da sociedade civil, dentre representantes dos usuários ou de organizações de usuários, das entidades e organizações de assistência social e dos trabalhadores do setor, escolhidos em foro próprio sob fiscalização do Ministério Público Federal. O CNAS é presidido por um de seus integrantes, eleito dentre seus membros, para mandato de 1 (um) ano, permitida uma única recondução por igual período, e conta também com uma Secretaria Executiva, com sua estrutura disciplinada em ato do Poder Executivo (vide organograma). As principais competências do Conselho Nacional de Assistência Social são: aprovar a Política Nacional de Assistência Social; normatizar as ações e regular a prestação de serviços de natureza pública e privada no campo da assistência social; zelar pela efetivação do sistema descentralizado e participativo de assistência social; convocar ordinariamente a Conferência Nacional de Assistência Social; apreciar e aprovar a proposta orçamentária da Assistência Social a ser encaminhada pelo órgão da Administração Pública Federal responsável pela coordenação da Política Nacional de Assistência Social; divulgar, no Diário Oficial da União, todas as suas decisões, bem como as contas do Fundo Nacional de Assistência Social (FNAS) e os respectivos pareceres emitidos. FONTE: Disponível em: <http://www.mds.gov.br/cnas>. Acesso em: 17 jul. 2015. O CNAS é um órgão paritário, deliberativo e controlador da Política de Assistência Social. Sendo assim, é importante entender que a Constituição Federal de 1988, juntamente com a LOAS, não são as responsáveis pelo nascimento da Assistência Social, e que, existiu antes de promulgação desses dois marcos legais, mas só se tornou uma política social, após defender os campos dos direitos sociais, por meio da universalização ao acesso e também da responsabilidade do Estado. UNIDADE 2 | AS NOVAS PERSPECTIVAS DA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL 102 FIGURA 21 - LOAS FONTE: Disponível em: <ttp://www.mds.gov.br/assistenciasocial/secretaria-nacional-de- assistencia-social-snas/livros/20-anos-da-lei-organica-de-assistencia-social/artigos_20anos_loas_ v05.pdf>. Acesso em: 28 jul. 2015. NOTA Por política social, compreendem-se as diversas maneiras de influência e regulamentação do Estado, no que diz respeito às questões sociais, sendo possível o envolvimento dos movimentos sociais, através de sua mobilização e pressão. A Política de Assistência Social não se finda com a LOAS. Foi por meio dela que se propuseram novas mudanças institucionais, estruturais e conceituais, através de novas estratégicas e ações práticas, que se constroem com novos atores e novas relações interinstitucionais e intergovernamentais. Para Yasbek (2004, p. 13), a Assistência Social “passa a configurar-se como possibilidade de reconhecimento público da legitimidade das demandas dos usuários e espaço de ampliação de seu protagonismo”. Para assegurar o direito não contributivo e garantia de cidadania, implica um novo modelo de gestão, através de: • Gestão compartilhada • Planejamento e controle • Co-financiamento das três esferas de governo • Descentralização político-administrativa • Prioridade de responsabilidade estatal. TÓPICO 2 | A ASSISTÊNCIA SOCIAL: UMA POLÍTICA SOCIAL GARANTIDA EM LEI (LOAS) 103 Como política social, a Assistência Social passa a fundamentar-se na defesa dos direitos de cidadania, e não mais no assistencialismo, começando a questionar antigas práticas da assistência, sendo grande trampolim a ser superado. Logo após a promulgação da Constituição Federal de 1988, surgiram grandes influências neoliberais do Estado na área social, neste período houve também o processo de Reforma do Estado. Para Nogueira (2004, p. 41), a Reforma do Estado, do início da década de 90, tinha como objetivo: “Trabalharia em prol de uma redução do tamanho do Estado mediante políticas de privatização, terceirização e parceria público-privado, tendo como objetivo alcançar um Estado mais ágil, menor e mais barato”. Perante está conjuntura, as políticas sociais começaram a desenvolver atividades de caráter seletivas e compensatórias, originando um processo de desresponsabilização na gestão das demandas sociais pelo Estado, passando suas responsabilidades para a sociedade, através de organizações sem fins lucrativos e para o setor privado. A inserção neoliberalista no país dificulta a implantação da LOAS, onde a mesma esbarra em questões políticas e econômicas, o que danifica a sua efetivação na área social. Em síntese, dificulta o acesso efetivo da inclusão social para todos os cidadãos. Por direito o Estado precisa suprir as demandas sociais. Os problemas e dificuldades da inclusão social, mediante as probabilidades, fragmentam e classificam a Assistência Social, focando na classe com maiores vulnerabilidades social, não contribuindo para uma maior abrangência da proteção social. Yasbek (2004, p. 24) faz a seguinte avalição Política de Assistência Social, após a LOAS: [...] plena de ambiguidades e de profundos paradoxos. Pois se, por um lado, os avanços constitucionais apontam para o reconhecimento de direitos e permitem trazer para a esfera pública a questão da pobreza e da exclusão, transformando constitucionalmente essa política social em campo de exercício de participação política, por outro, a inserção do Estado brasileiro na contraditória dinâmica e impacto das políticas econômicas neoliberais, coloca em andamento processos articuladores, de desmontagem e retração de direitos e investimentos públicos no campo social, sob a forte pressão dos interesses financeiros internacionais. Em consonância com a efetivação e garantia dos direitos elencados na Constituição Federal e na LOAS, no ano de 1997, foi aprovada a primeira Norma Operacional Básica - NOB, que apresentou e conceituou o modelo do sistema descentralizado da política de Assistência Social, e foi constituída a Comissão Intergestores Tripartite – CIT, um espaço para a articulação e apresentação das demandas dos gestores federais, estaduais e municipais. UNIDADE 2 | AS NOVAS PERSPECTIVAS DA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL 104 IMPORTANT E A primeira NOB, aprovada pela Resolução CNAS nº 204, de 04/12/1997, agrupou em um documento a “Norma Operacional Básica que disciplinava o processo de Descentralização Político-Administrativo em todas as esferas governamentais Federal, Estadual e Municipal na área da Assistência Social. O documento elencou as competências dos entes, os níveis de gestão, de operacionalização e a sistemática de financiamento, seus discernimentos e critérios na divisão e prestação de contas dos programas, projetos, serviços e benefícios da Assistência Social. O primeiro texto da Política Nacional de Assistência Social foi determinado e definido em dezembro de 1998, sendo no mesmo ano editada a NOB, de acordo com a Política Nacional de Assistência Social. IMPORTANT E A segunda NOB, que foi aprovada em 1998, através da Resolução CNAS nº 207, 16/12/1998, chamada de “Norma Operacional Básica da Assistência Social: Avançando para a construção do Sistema Descentralizado e Participativo de Assistência Social”, apresentou maiores detalhessobre os financiamentos e critérios de partilha dos recursos da Política, as responsabilidades dos entes federados, modelos de gestão, e os métodos para a habilitação, aptidões e competências dos Conselhos de Assistência Social e das Comissões Intergestores Bi e Tripartites. Essas ferramentas normativas constituem as categorias de gestão, financiamento, controle social, capacidade dos níveis de governo com a gestão de todos os níveis governamentais e da política, das comissões de pactuação, negociação e avaliação. Por meio desses instrumentos, são criados os conselhos que deliberam e controlam a Política de Assistência Social, os Fundos específicos para destinação de recursos financeiros que são específicos da Assistência Social e dos órgãos gestores, em todos os níveis de governo, da Política de Assistência Social, como também das Comissões Intergestoras Bipartites e Tripartites. Através de um amplo movimento de discussão em todo o Brasil, uma nova Política Nacional de Assistência Social – PNAS, foi aprovada, no ano de 2004, objetivando a implantação do Sistema Único de Assistência Social – SUAS. Sendo assim, o SUAS nasce com o objetivo de garantir a prevenção a situações de risco, através da ampliação de potencialidades e do fortalecimento de vínculos familiares e comunitários. TÓPICO 2 | A ASSISTÊNCIA SOCIAL: UMA POLÍTICA SOCIAL GARANTIDA EM LEI (LOAS) 105 FIGURA 22 - POLÍTICA NACIONAL DE ASSITÊNCIA SOCIAL FONTE: Disponível em: <http://www.mds.gov.br/assistenciasocial/ secretaria-nacional-de-assistencia-social-snas/cadernos/politica-nacional- de-assistencia-social-pnas-2004/politica-nacional-de-assistencia-social- pnas-2004>. Acesso em: 24 jul. 2015. Em consequência a nova PNAS, no ano de 2005, houve uma nova edição de mais uma NOB, que definiu os alicerces para a implantação do SUAS. Esta NOB congrega e aperfeiçoa as conquistas obtidas com as outras NOBs precedentes. DICAS A NOB de 2005, que foi aprovada pela Resolução CNAS nº 130, de 15/07/2005, e que se destaca por ser a primeira NOB sobre o Sistema Único de Assistência Social que foi estabelecido pela Política Nacional de Assistência Social de 2004, em decorrência à Deliberação da IV Conferência Nacional de Assistência Social. Para saber mais sobre a NOB/SUAS de 2005, acesse: <http://www.mds.gov.br/acesso-a- informacao/legislacao/assistenciasocial/resolucoes/2005/Resolucao%20CNAS%20no%20 130-%20de%2015%20de%20julho%20de%202005.pdf/download>. Em 2006 foi publicada a NOB de Recursos Humanos do SUAS, por meio da Resolução CNAS nº 269, de 13 de dezembro, que dispõe sobre a gestão do trabalho no SUAS e as diretrizes para a Política Nacional de Capacitação e as responsabilidades dos entes federados nesta área. UNIDADE 2 | AS NOVAS PERSPECTIVAS DA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL 106 Os instrumentos de regulação da Política de Assistência Social são: • a Constituição Federal de 1988; • a Lei Orgânica de Assistência Social de 1993; • a Política Nacional de Assistência Social de 2004; e • a Norma Operacional Básica/ SUAS/2005. UNI No ano de 2011, a LOAS sofreu várias alterações em seus artigos, através da Lei nº 12.435, de 6 de julho de 2011, que dispõe sobre a organização da Assistência Social. Conforme o art. 1º da referida lei, os artigos da LOAS que foram alterados são: Os art. 1º, 2o, 3o, 6o, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 20, 21, 22, 23, 24, 28 e 36. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011- 2014/2011/Lei/L12435.htm>. Acesso em: 30 jul. 2015. QUADRO 1 - ALTERAÇÕES NA LOAS LOAS Lei nº 12.435/11 que altera alguns artigos da LOAS Art. 2º A assistência social tem por objetivos: I - a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice; II- o amparo às crianças e adolescentes carentes; III- a promoção da integração ao mercado de trabalho; IV- a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária; V- a garantia de 1 (um) salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção ou de tê-la provida por sua família. Parágrafo único. A assistência social realiza- se de forma integrada às políticas setoriais, visando ao enfrentamento da pobreza, à garantia dos mínimos sociais, ao provimento de condições para atender contingências sociais e à universalização dos direitos sociais. Art. 2o A assistência social tem por objetivos: I- a proteção social, que visa à garantia da vida, à redução de danos e à prevenção da incidência de riscos, especialmente: a) a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice; b) o amparo às crianças e aos adolescentes carentes; c) a promoção da integração ao mercado de trabalho; d) a habilitação e reabilitação das pessoas com deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária; e e) a garantia de 1 (um) salário-mínimo de benefício mensal à pessoa com deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção ou de tê-la provida por sua família; II- a vigilância socioassistencial, que visa a analisar territorialmente a capacidade protetiva das famílias e nela a ocorrência de vulnerabilidades, de ameaças, de vitimizações e danos; III- a defesa de direitos, que visa a garantir o pleno acesso aos direitos no conjunto das provisões socioassistenciais. Parágrafo único. Para o enfrentamento da pobreza, a assistência social realiza-se de forma integrada às políticas setoriais, garantindo mínimos sociais e provimento de condições para atender contingências sociais e promovendo a universalização dos direitos sociais. (NR) TÓPICO 2 | A ASSISTÊNCIA SOCIAL: UMA POLÍTICA SOCIAL GARANTIDA EM LEI (LOAS) 107 Art. 3º Consideram-se entidades e organizações de assistência social aquelas que prestam, sem fins lucrativos, atendimento e assessoramento aos beneficiários abrangidos por esta lei, bem como as que atuam na defesa e garantia de seus direitos. Art. 3o Consideram-se entidades e organizações de assistência social aquelas sem fins lucrativos que, isolada ou cumulativamente, prestam atendimento e assessoramento aos beneficiários abrangidos por esta Lei, bem como as que atuam na defesa e garantia de direitos. § 1o São de atendimento aquelas entidades que, de forma continuada, permanente e planejada, prestam serviços, executam programas ou projetos e concedem benefícios de prestação social básica ou especial, dirigidos às famílias e indivíduos em situações de vulnerabilidade ou risco social e pessoal, nos termos desta Lei, e respeitadas as deliberações do Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS), de que tratam os incisos I e II do art. 18. § 2o São de assessoramento aquelas que, de forma continuada, permanente e planejada, prestam serviços e executam programas ou projetos voltados prioritariamente para o fortalecimento dos movimentos sociais e das organizações de usuários, formação e capacitação de lideranças, dirigidos ao público da política de assistência social, nos termos desta Lei, e respeitadas as deliberações do CNAS, de que tratam os incisos I e II do art. 18. § 3o São de defesa e garantia de direitos aquelas que, de forma continuada, permanente e planejada, prestam serviços e executam programas e projetos voltados prioritariamente para a defesa e efetivação dos direitos socioassistenciais, construção de novos direitos, promoção da cidadania, enfrentamento das desigualdades sociais, articulação com órgãos públicos de defesa de direitos, dirigidos ao público da política de assistência social, nos termos desta Lei, e respeitadas as deliberações do CNAS, de que tratam os incisos I e II do art. 18. (NR) Art. 6º As ações na área de assistência social são organizadas em sistema descentralizado e participativo, constituído pelas entidades e organizações de assistência social abrangidas por esta lei, que articule meios, esforços e recursos, e por um conjuntode instâncias deliberativas compostas pelos diversos setores envolvidos na área. Parágrafo único. A instância coordenadora da Política Nacional de Assistência Social é o Ministério do Bem-Estar Social. Art. 6o A gestão das ações na área de assistência social fica organizada sob a forma de sistema descentralizado e participativo, denominado Sistema Único de Assistência Social (Suas), com os seguintes objetivos: I- consolidar a gestão compartilhada, o cofinanciamento e a cooperação técnica entre os entes federativos que, de modo articulado, operam a proteção social não contributiva; II- integrar a rede pública e privada de serviços, programas, projetos e benefícios de assistência social, na forma do art. 6o-C; III- estabelecer as responsabilidades dos entes federativos na organização, regulação, manutenção e expansão das ações de assistência social; IV- definir os níveis de gestão, respeitadas as diversidades regionais e municipais; V- implementar a gestão do trabalho e a educação permanente na assistência social; VI- estabelecer a gestão integrada de serviços e benefícios; e VII- afiançar a vigilância socioassistencial e a garantia de direitos. § 1o As ações ofertadas no âmbito do Suas têm por objetivo a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice e, como base de organização, o território. § 2o O Suas é integrado pelos entes federativos, pelos respectivos conselhos de assistência social e pelas entidades e organizações de assistência social abrangidas por esta Lei. § 3o A instância coordenadora da Política Nacional de Assistência Social é o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. (NR) UNIDADE 2 | AS NOVAS PERSPECTIVAS DA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL 108 Art. 12. Compete à União: I- responder pela concessão e manutenção dos benefícios de prestação continuada definidos no art. 203 da Constituição Federal; II- apoiar técnica e financeiramente os serviços, os programas e os projetos de enfrentamento da pobreza em âmbito nacional; III- atender, em conjunto com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, às ações assistenciais de caráter de emergência. Art. 12. Compete à União: II- cofinanciar, por meio de transferência automática, o aprimoramento da gestão, os serviços, os programas e os projetos de assistência social em âmbito nacional; [...] IV- realizar o monitoramento e a avaliação da política de assistência social e assessorar Estados, Distrito Federal e Municípios para seu desenvolvimento. (NR) Art. 13. Compete aos Estados: I- destinar recursos financeiros aos Municípios, a título de participação no custeio do pagamento dos auxílios natalidade e funeral, mediante critérios estabelecidos pelos Conselhos Estaduais de Assistência Social; II- apoiar técnica e financeiramente os serviços, os programas e os projetos de enfrentamento da pobreza em âmbito regional ou local; III- atender, em conjunto com os Municípios, às ações assistenciais de caráter de emergência; IV- estimular e apoiar técnica e financeiramente as associações e consórcios municipais na prestação de serviços de assistência social; V- prestar os serviços assistenciais cujos custos ou ausência de demanda municipal justifiquem uma rede regional de serviços, desconcentrada, no âmbito do respectivo Estado. Art. 13. Compete aos Estados: I- destinar recursos financeiros aos Municípios, a título de participação no custeio do pagamento dos benefícios eventuais de que trata o art. 22, mediante critérios estabelecidos pelos Conselhos Estaduais de Assistência Social; II- cofinanciar, por meio de transferência automática, o aprimoramento da gestão, os serviços, os programas e os projetos de assistência social em âmbito regional ou local; [...] VI- realizar o monitoramento e a avaliação da política de assistência social e assessorar os Municípios para seu desenvolvimento.” (NR) Art. 14. Compete ao Distrito Federal: I- destinar recursos financeiros para o custeio do pagamento dos auxílios natalidade e funeral, mediante critérios estabelecidos pelo Conselho de Assistência Social do Distrito Federal; II- efetuar o pagamento dos auxílios natalidade e funeral; III- executar os projetos de enfrentamento da pobreza, incluindo a parceria com organizações da sociedade civil; IV- atender às ações assistenciais de caráter de emergência; V- prestar os serviços assistenciais de que trata o art. 23 desta lei. Art. 14. Compete ao Distrito Federal: I- destinar recursos financeiros para custeio do pagamento dos benefícios eventuais de que trata o art. 22, mediante critérios estabelecidos pelos Conselhos de Assistência Social do Distrito Federal; [...] VI- cofinanciar o aprimoramento da gestão, os serviços, os programas e os projetos de assistência social em âmbito local; VII- realizar o monitoramento e a avaliação da política de assistência social em seu âmbito. (NR) Art. 15. Compete aos Municípios: I- destinar recursos financeiros para custeio do pagamento dos auxílios natalidade e funeral, mediante critérios estabelecidos pelos Conselhos Municipais de Assistência Social; II- efetuar o pagamento dos auxílios natalidade e funeral; III- executar os projetos de enfrentamento da pobreza, incluindo a parceria com organizações da sociedade civil; IV- atender às ações assistenciais de caráter de emergência; V- prestar os serviços assistenciais de que trata o art. 23 desta lei. Art. 15. Compete aos Municípios: I- destinar recursos financeiros para custeio do pagamento dos benefícios eventuais de que trata o art. 22, mediante critérios estabelecidos pelos Conselhos Municipais de Assistência Social; [...] VI- cofinanciar o aprimoramento da gestão, os serviços, os programas e os projetos de assistência social em âmbito local; VII- realizar o monitoramento e a avaliação da política de assistência social em seu âmbito. (NR) TÓPICO 2 | A ASSISTÊNCIA SOCIAL: UMA POLÍTICA SOCIAL GARANTIDA EM LEI (LOAS) 109 Art. 16. As instâncias deliberativas do sistema descentralizado e participativo de assistência social, de caráter permanente e composição paritária entre governo e sociedade civil, são: I- o Conselho Nacional de Assistência Social; II- os Conselhos Estaduais de Assistência Social; III- o Conselho de Assistência Social do Distrito Federal; IV- os Conselhos Municipais de Assistência Social. Art. 16. As instâncias deliberativas do Suas, de caráter permanente e composição paritária entre governo e sociedade civil, são: Parágrafo único. Os Conselhos de Assistência Social estão vinculados ao órgão gestor de assistência social, que deve prover a infraestrutura necessária ao seu funcionamento, garantindo recursos materiais, humanos e financeiros, inclusive com despesas referentes a passagens e diárias de conselheiros representantes do governo ou da sociedade civil, quando estiverem no exercício de suas atribuições. (NR) Art. 17. Fica instituído o Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS), órgão superior de deliberação colegiada, vinculado à estrutura do órgão da Administração Pública Federal responsável pela coordenação da Política Nacional de Assistência Social, cujos membros, nomeados pelo Presidente da República, têm mandato de 2 (dois) anos, permitida uma única recondução por igual período. § 1º O Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) é composto por 18 (dezoito) membros e respectivos suplentes, cujos nomes são indicados ao órgão da Administração Pública Federal responsável pela coordenação da Política Nacional de Assistência Social, de acordo com os critérios seguintes: I- 9 (nove) representantes governamentais, incluindo 1 (um) representante dos Estados e 1 (um) dos Municípios; II- 9 (nove) representantes da sociedade civil, dentre representantes dos usuários ou de organizações de usuários, das entidades e organizações de assistência social e dos trabalhadores do setor, escolhidos em foro próprio sob fiscalização do Ministério Público Federal. § 2º O ConselhoNacional de Assistência Social (CNAS) é presidido por um de seus integrantes, eleito dentre seus membros, para mandato de 1 (um) ano, permitida uma única recondução por igual período. § 3º O Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) contará com uma Secretaria Executiva, a qual terá sua estrutura disciplinada em ato do Poder Executivo. § 4º Os Conselhos de que tratam os incisos II, III e IV do art. 16 deverão ser instituídos, respectivamente, pelos Estados, pelo Distrito Federal e pelos Municípios, mediante lei específica. Art. 17. Fica instituído o Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS), órgão superior de deliberação colegiada, vinculado à estrutura do órgão da Administração Pública Federal responsável pela coordenação da Política Nacional de Assistência Social, cujos membros, nomeados pelo Presidente da República, têm mandato de 2 (dois) anos, permitida uma única recondução por igual período. § 4o Os Conselhos de que tratam os incisos II, III e IV do art. 16, com competência para acompanhar a execução da política de assistência social, apreciar e aprovar a proposta orçamentária, em consonância com as diretrizes das conferências nacionais, estaduais, distrital e municipais, de acordo com seu âmbito de atuação, deverão ser instituídos, respectivamente, pelos Estados, pelo Distrito Federal e pelos Municípios, mediante lei específica. (NR) UNIDADE 2 | AS NOVAS PERSPECTIVAS DA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL 110 Art. 20. O benefício de prestação continuada é a garantia de 1 (um) salário-mínimo mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso com 70 (setenta) anos ou mais e que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção e nem de tê-la provida por sua família. § 1o Para os efeitos do disposto no caput, entende-se como família o conjunto de pessoas elencadas no art. 16, da Lei no 8.213, de 24 de julho de 1991, desde que vivam sob o mesmo teto. (Redação dada pela Lei nº 9.720, de 30.11.1998). § 2º Para efeito de concessão deste benefício, a pessoa portadora de deficiência é aquela incapacitada para a vida independente e para o trabalho. § 3º Considera-se incapaz de prover a manutenção da pessoa portadora de deficiência ou idosa a família cuja renda mensal per capita seja inferior a 1/4 (um quarto) do salário-mínimo. § 4º O benefício de que trata este artigo não pode ser acumulado pelo beneficiário com qualquer outro no âmbito da seguridade social ou de outro regime, salvo o da assistência médica. § 5º A situação de internado não prejudica o direito do idoso ou do portador de deficiência ao benefício. § 6º A concessão do benefício ficará sujeita a exame médico pericial e laudo realizados pelos serviços de perícia médica do Instituto Nacional do Seguro Social - INSS. (Redação dada pela Lei nº 9.720, de 30.11.1998). § 7º Na hipótese de não existirem serviços no município de residência do beneficiário, fica assegurado, na forma prevista em regulamento, o seu encaminhamento ao município mais próximo que contar com tal estrutura. (Redação dada pela Lei nº 9.720, de 30.11.1998). § 8º A renda familiar mensal a que se refere o § 3º deverá ser declarada pelo requerente ou seu representante legal, sujeitando- se aos demais procedimentos previstos no regulamento para o deferimento do pedido. (Redação dada pela Lei nº 9.720, de 30.11.1998). Art. 20. O benefício de prestação continuada é a garantia de um salário-mínimo mensal à pessoa com deficiência e ao idoso com 65 (sessenta e cinco) anos ou mais que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção nem de tê-la provida por sua família. § 1o Para os efeitos do disposto no caput, a família é composta pelo requerente, o cônjuge ou companheiro, os pais e, na ausência de um deles, a madrasta ou o padrasto, os irmãos solteiros, os filhos e enteados solteiros e os menores tutelados, desde que vivam sob o mesmo teto. § 2º Para efeito de concessão deste benefício, considera-se: I- pessoa com deficiência: aquela que tem impedimentos de longo prazo de natureza física, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade com as demais pessoas; II- impedimentos de longo prazo: aqueles que incapacitam a pessoa com deficiência para a vida independente e para o trabalho pelo prazo mínimo de 2 (dois) anos. § 3º Considera-se incapaz de prover a manutenção da pessoa com deficiência ou idosa a família cuja renda mensal per capita seja inferior a 1/4 (um quarto) do salário-mínimo. § 4º O benefício de que trata este artigo não pode ser acumulado pelo beneficiário com qualquer outro no âmbito da seguridade social ou de outro regime, salvo os da assistência médica e da pensão especial de natureza indenizatória. § 5º A condição de acolhimento em instituições de longa permanência não prejudica o direito do idoso ou da pessoa com deficiência ao benefício de prestação continuada. § 6º A concessão do benefício ficará sujeita à avaliação da deficiência e do grau de incapacidade, composta por avaliação médica e avaliação social realizadas por médicos peritos e por assistentes sociais do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Art. 21. O benefício de prestação continuada deve ser revisto a cada 2 (dois) anos para avaliação da continuidade das condições que lhe deram origem. § 1º O pagamento do benefício cessa no momento em que forem superadas as condições referidas no caput, ou em caso de morte do beneficiário. § 2º O benefício será cancelado quando se constatar irregularidade na sua concessão ou utilização. Art. 21. O benefício de prestação continuada deve ser revisto a cada 2 (dois) anos para avaliação da continuidade das condições que lhe deram origem. § 3o O desenvolvimento das capacidades cognitivas, motoras ou educacionais e a realização de atividades não remuneradas de habilitação e reabilitação, entre outras, não constituem motivo de suspensão ou cessação do benefício da pessoa com deficiência. § 4º A cessação do benefício de prestação continuada concedido à pessoa com deficiência, inclusive em razão do seu ingresso no mercado de trabalho, não impede nova concessão do benefício, desde que atendidos os requisitos definidos em regulamento. (NR) TÓPICO 2 | A ASSISTÊNCIA SOCIAL: UMA POLÍTICA SOCIAL GARANTIDA EM LEI (LOAS) 111 Art. 22. Entendem-se por benefícios eventuais aqueles que visam ao pagamento de auxílio por natalidade ou morte às famílias cuja renda mensal per capita seja inferior a 1/4 (um quarto) do salário-mínimo. § 1º A concessão e o valor dos benefícios de que trata este artigo serão regulamentados pelos Conselhos de Assistência Social dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, mediante critérios e prazos definidos pelo Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS). § 2º Poderão ser estabelecidos outros benefícios eventuais para atender necessidades advindas de situações de vulnerabilidade temporária, com prioridade para a criança, a família, o idoso, a pessoa portadora de deficiência, a gestante, a nutriz e nos casos de calamidade pública. § 3º O Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS), ouvidas as respectivas representações de Estados e Municípios dele participantes, poderá propor, na medida das disponibilidades orçamentárias das três esferas de governo, a instituição de benefícios subsidiários no valor de até 25% (vinte e cinco por cento) do salário-mínimo para cada criança de até 6 (seis) anos de idade, nos termos da renda mensal familiar estabelecida no caput. Art. 22. Entendem-se por benefícios eventuais as provisões suplementares e provisórias que integram organicamente as garantias do Suas e são prestadas aos cidadãos e às famílias em virtude de nascimento, morte, situações de vulnerabilidade temporária e de calamidade pública. § 1o A concessão e o valor dos benefícios de que trata este artigo serão definidos pelos Estados, Distrito Federal e Municípios e previstosnas respectivas leis orçamentárias anuais, com base em critérios e prazos definidos pelos respectivos Conselhos de Assistência Social. § 2o O CNAS, ouvidas as respectivas representações de Estados e Municípios dele participantes, poderá propor, na medida das disponibilidades orçamentárias das 3 (três) esferas de governo, a instituição de benefícios subsidiários no valor de até 25% (vinte e cinco por cento) do salário-mínimo para cada criança de até 6 (seis) anos de idade. § 3o Os benefícios eventuais subsidiários não poderão ser cumulados com aqueles instituídos pelas Leis no 10.954, de 29 de setembro de 2004, e no 10.458, de 14 de maio de 2002. (NR) Art. 23. Entendem-se por serviços assistenciais as atividades continuadas que visem à melhoria de vida da população e cujas ações, voltadas para as necessidades básicas, observem os objetivos, princípios e diretrizes estabelecidas nesta lei. Parágrafo único. Na organização dos serviços da Assistência Social serão criados programas de amparo: (Redação dada pela Lei nº 11.258, de 2005). I- às crianças e adolescentes em situação de risco pessoal e social, em cumprimento ao disposto no art. 227 da Constituição Federal e na Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990; (Incluído pela Lei nº 11.258, de 2005) II- às pessoas que vivem em situação de rua. (Incluído pela Lei nº 11.258, de 2005). Art. 23. Entendem-se por serviços socioassistenciais as atividades continuadas que visem à melhoria de vida da população e cujas ações, voltadas para as necessidades básicas, observem os objetivos, princípios e diretrizes estabelecidos nesta Lei. § 1o O regulamento instituirá os serviços socioassistenciais. § 2o Na organização dos serviços da assistência social serão criados programas de amparo, entre outros: I- às crianças e adolescentes em situação de risco pessoal e social, em cumprimento ao disposto no art. 227 da Constituição Federal e na Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente); II- às pessoas que vivem em situação de rua. (NR) Art. 24. Os programas de assistência social compreendem ações integradas e complementares com objetivos, tempo e área de abrangência definidos para qualificar, incentivar e melhorar os benefícios e os serviços assistenciais. § 1º Os programas de que trata este artigo serão definidos pelos respectivos Conselhos de Assistência Social, obedecidos os objetivos e princípios que regem esta lei, com prioridade para a inserção profissional e social. § 2º Os programas voltados ao idoso e à integração da pessoa portadora de deficiência serão devidamente articulados com o benefício de prestação continuada estabelecido no art. 20 desta lei. Art. 24. Os programas de assistência social compreendem ações integradas e complementares com objetivos, tempo e área de abrangência definidos para qualificar, incentivar e melhorar os benefícios e os serviços assistenciais. § 2o Os programas voltados para o idoso e a integração da pessoa com deficiência serão devidamente articulados com o benefício de prestação continuada estabelecido no art. 20 desta Lei. (NR) UNIDADE 2 | AS NOVAS PERSPECTIVAS DA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL 112 Art. 28. O financiamento dos benefícios, serviços, programas e projetos estabelecidos nesta lei far-se-á com os recursos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, das demais contribuições sociais previstas no art. 195 da Constituição Federal, além daqueles que compõem o Fundo Nacional de Assistência Social (FNAS). § 1º Cabe ao órgão da Administração Pública Federal responsável pela coordenação da Política Nacional de Assistência Social gerir o Fundo Nacional de Assistência Social (FNAS) sob a orientação e controle do Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS). § 2º O Poder Executivo disporá, no prazo de 180 (cento e oitenta) dias a contar da data de publicação desta lei, sobre o regulamento e funcionamento do Fundo Nacional de Assistência Social (FNAS). Art. 28. O financiamento dos benefícios, serviços, programas e projetos estabelecidos nesta lei far- se-á com os recursos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, das demais contribuições sociais previstas no art. 195 da Constituição Federal, além daqueles que compõem o Fundo Nacional de Assistência Social (FNAS). § 1o Cabe ao órgão da Administração Pública responsável pela coordenação da Política de Assistência Social nas 3 (três) esferas de governo gerir o Fundo de Assistência Social, sob orientação e controle dos respectivos Conselhos de Assistência Social. § 3o O financiamento da assistência social no Suas deve ser efetuado mediante cofinanciamento dos 3 (três) entes federados, devendo os recursos alocados nos fundos de assistência social ser voltados à operacionalização, prestação, aprimoramento e viabilização dos serviços, programas, projetos e benefícios desta política. (NR) Art. 36. As entidades e organizações de assistência social que incorrerem em irregularidades na aplicação dos recursos que lhes forem repassados pelos poderes públicos terão cancelado seu registro no Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS), sem prejuízo de ações cíveis e penais. Art. 36. As entidades e organizações de assistência social que incorrerem em irregularidades na aplicação dos recursos que lhes foram repassados pelos poderes públicos terão a sua vinculação ao Suas cancelada, sem prejuízo de responsabilidade civil e penal. (NR) FONTE: Adaptado de <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato20112014/2011/Lei/L12435. htm>. Acesso em: 4 ago. 2015. A Lei nº 12.435/11 passou a vigorar da seguinte forma alterando a Lei no 8.742, de 1993, acrescida dos seguintes artigos: Art. 6o-A. A assistência social organiza-se pelos seguintes tipos de proteção: I- proteção social básica: conjunto de serviços, programas, projetos e benefícios da assistência social que visa a prevenir situações de vulnerabilidade e risco social por meio do desenvolvimento de potencialidades e aquisições e do fortalecimento de vínculos familiares e comunitários; II- proteção social especial: conjunto de serviços, programas e projetos que tem por objetivo contribuir para a reconstrução de vínculos familiares e comunitários, a defesa de direito, o fortalecimento das potencialidades e aquisições e a proteção de famílias e indivíduos para o enfrentamento das situações de violação de direitos. Parágrafo único. A vigilância socioassistencial é um dos instrumentos das proteções da assistência social que identifica e previne as situações de risco e vulnerabilidade social e seus agravos no território. Art. 6º-B. As proteções sociais básica e especial serão ofertadas pela rede socioassistencial, de forma integrada, diretamente pelos entes públicos e/ou pelas entidades e organizações de assistência social vinculadas ao Suas, respeitadas as especificidades de cada ação. TÓPICO 2 | A ASSISTÊNCIA SOCIAL: UMA POLÍTICA SOCIAL GARANTIDA EM LEI (LOAS) 113 § 1o A vinculação ao Suas é o reconhecimento pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome de que a entidade de assistência social integra a rede socioassistencial. § 2o Para o reconhecimento referido no § 1o, a entidade deverá cumprir os seguintes requisitos: I- constituir-se em conformidade com o disposto no art. 3o; II- inscrever-se em Conselho Municipal ou do Distrito Federal, na forma do art. 9o; III- integrar o sistema de cadastro de entidades de que trata o inciso XI do art. 19. § 3o As entidades e organizações de assistência social vinculadas ao Suas celebrarão convênios, contratos, acordos ou ajustes com o poder público para a execução, garantido financiamento integral, pelo Estado, de serviços, programas, projetos e ações de assistência social, nos limites da capacidade instalada, aos beneficiários abrangidos por esta Lei, observando-se as disponibilidades orçamentárias. § 4o O cumprimento do disposto no § 3o será informado ao Ministério do DesenvolvimentoSocial e Combate à Fome pelo órgão gestor local da assistência social. Art. 6º-C. As proteções sociais, básica e especial, serão ofertadas precipuamente no Centro de Referência de Assistência Social (Cras) e no Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas), respectivamente, e pelas entidades sem fins lucrativos de assistência social de que trata o art. 3o desta Lei. § 1o O Cras é a unidade pública municipal, de base territorial, localizada em áreas com maiores índices de vulnerabilidade e risco social, destinada à articulação dos serviços socioassistenciais no seu território de abrangência e à prestação de serviços, programas e projetos socioassistenciais de proteção social básica às famílias. § 2o O Creas é a unidade pública de abrangência e gestão municipal, estadual ou regional, destinada à prestação de serviços a indivíduos e famílias que se encontram em situação de risco pessoal ou social, por violação de direitos ou contingência, que demandam intervenções especializadas da proteção social especial. § 3o Os Cras e os Creas são unidades públicas estatais instituídas no âmbito do Suas, que possuem interface com as demais políticas públicas e articulam, coordenam e ofertam os serviços, programas, projetos e benefícios da assistência social. UNIDADE 2 | AS NOVAS PERSPECTIVAS DA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL 114 Art. 6º-D. As instalações dos Cras e dos Creas devem ser compatíveis com os serviços neles ofertados, com espaços para trabalhos em grupo e ambientes específicos para recepção e atendimento reservado das famílias e indivíduos, assegurada a acessibilidade às pessoas idosas e com deficiência. Art. 6º-E. Os recursos do cofinanciamento do Suas, destinados à execução das ações continuadas de assistência social, poderão ser aplicados no pagamento dos profissionais que integrarem as equipes de referência, responsáveis pela organização e oferta daquelas ações, conforme percentual apresentado pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome e aprovado pelo CNAS. Parágrafo único. A formação das equipes de referência deverá considerar o número de famílias e indivíduos referenciados, os tipos e modalidades de atendimento e as aquisições que devem ser garantidas aos usuários, conforme deliberações do CNAS. Art. 12-A. A União apoiará financeiramente o aprimoramento à gestão descentralizada dos serviços, programas, projetos e benefícios de assistência social, por meio do Índice de Gestão Descentralizada (IGD) do Sistema Único de Assistência Social (Suas), para a utilização no âmbito dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal, destinado, sem prejuízo de outras ações a serem definidas em regulamento, a: I- medir os resultados da gestão descentralizada do Suas, com base na atuação do gestor estadual, municipal e do Distrito Federal na implementação, execução e monitoramento dos serviços, programas, projetos e benefícios de assistência social, bem como na articulação intersetorial; II- incentivar a obtenção de resultados qualitativos na gestão estadual, municipal e do Distrito Federal do Suas; e III- calcular o montante de recursos a serem repassados aos entes federados a título de apoio financeiro à gestão do Suas. § 1o Os resultados alcançados pelo ente federado na gestão do Suas, aferidos na forma de regulamento, serão considerados como prestação de contas dos recursos a serem transferidos a título de apoio financeiro. § 2o As transferências para apoio à gestão descentralizada do Suas adotarão a sistemática do Índice de Gestão Descentralizada do Programa Bolsa Família, previsto no art. 8o da Lei no 10.836, de 9 de janeiro de 2004, e serão efetivadas por meio de procedimento integrado àquele índice. § 3o (VETADO). § 4o Para fins de fortalecimento dos Conselhos de Assistência Social dos Estados, Municípios e Distrito Federal, percentual dos recursos transferidos deverá ser gasto com atividades de apoio técnico e operacional àqueles colegiados, na forma fixada pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, TÓPICO 2 | A ASSISTÊNCIA SOCIAL: UMA POLÍTICA SOCIAL GARANTIDA EM LEI (LOAS) 115 sendo vedada a utilização dos recursos para pagamento de pessoal efetivo e de gratificações de qualquer natureza a servidor público estadual, municipal ou do Distrito Federal. Art. 24-A. Fica instituído o Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família (Paif), que integra a proteção social básica e consiste na oferta de ações e serviços socioassistenciais de prestação continuada, nos Cras, por meio do trabalho social com famílias em situação de vulnerabilidade social, com o objetivo de prevenir o rompimento dos vínculos familiares e a violência no âmbito de suas relações, garantindo o direito à convivência familiar e comunitária. Parágrafo único. Regulamento definirá as diretrizes e os procedimentos do Paif. Art. 24-B. Fica instituído o Serviço de Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos (Paefi), que integra a proteção social especial e consiste no apoio, orientação e acompanhamento a famílias e indivíduos em situação de ameaça ou violação de direitos, articulando os serviços socioassistenciais com as diversas políticas públicas e com órgãos do sistema de garantia de direitos. Parágrafo único. Regulamento definirá as diretrizes e os procedimentos do Paefi. Art. 24-C. Fica instituído o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti), de caráter intersetorial, integrante da Política Nacional de Assistência Social, que, no âmbito do Suas, compreende transferências de renda, trabalho social com famílias e oferta de serviços socioeducativos para crianças e adolescentes que se encontrem em situação de trabalho. § 1o O Peti tem abrangência nacional e será desenvolvido de forma articulada pelos entes federados, com a participação da sociedade civil, e tem como objetivo contribuir para a retirada de crianças e adolescentes com idade inferior a 16 (dezesseis) anos em situação de trabalho, ressalvada a condição de aprendiz, a partir de 14 (quatorze) anos. § 2o As crianças e os adolescentes em situação de trabalho deverão ser identificados e ter os seus dados inseridos no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal (CadÚnico), com a devida identificação das situações de trabalho infantil. Art. 30-A. O cofinanciamento dos serviços, programas, projetos e benefícios eventuais, no que couber, e o aprimoramento da gestão da política de assistência social no Suas se efetuam por meio de transferências automáticas entre os fundos de assistência social e mediante alocação de recursos próprios nesses fundos nas 3 (três) esferas de governo. Parágrafo único. As transferências automáticas de recursos entre os UNIDADE 2 | AS NOVAS PERSPECTIVAS DA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL 116 fundos de assistência social efetuadas à conta do orçamento da seguridade social, conforme o art. 204 da Constituição Federal, caracterizam-se como despesa pública com a seguridade social, na forma do art. 24 da Lei Complementar no 101, de 4 de maio de 2000. Art. 30-B. Caberá ao ente federado responsável pela utilização dos recursos do respectivo Fundo de Assistência Social o controle e o acompanhamento dos serviços, programas, projetos e benefícios, por meio dos respectivos órgãos de controle, independentemente de ações do órgão repassador dos recursos. Art. 30-C. A utilização dos recursos federais descentralizados para os fundos de assistência social dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal será declarada pelos entes recebedores ao ente transferidor, anualmente, mediante relatório de gestão submetido à apreciação do respectivo Conselho de Assistência Social, que comprove a execução das ações na forma de regulamento. Parágrafo único. Os entes transferidores poderão requisitar informações referentes à aplicação dos recursos oriundos do seu fundo de assistência social, para fins de análise e acompanhamento de sua boa e regular utilização. FONTE:Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12435. htm>. Acesso em: 4 ago. 2015. A implantação do SUAS no país é assumida em conjunto por todos os entes federados, por meio do Plano de Estratégicas e Metas Decenais, deliberado na Conferência Nacional de Assistência Social, que ocorreu em 2005. Nesta mesma conferência, aprovou-se o Decálogo de Direitos Socioassistenciais. Os municípios e os estados brasileiros foram os responsáveis na elaboração dos relatórios das Conferências Municipais e Estaduais, através de registros da condição atual de gestão da Política de Assistência a implantação do SUAS. O caminho de afirmação da Política da Assistência Social como política social comprova que as inovações legais e estabelecidas na Constituição Federal, na LOAS, na Política Nacional de Assistência Social e na Norma Operacional Básica/ SUAS tornando-os incapazes de modificarem imediatamente o espólio das práticas de assistência social fundamentadas na ajuda, na filantropia e no clientelismo. As novas propostas de mudanças necessitam estarem compreendidas, controvertidas, incorporadas e assumidas por todas as etapas e processos de gestão Política de Assistência Social. A gestão da Política de Assistência Social, em todos os níveis de governo, necessita compreender, incorporar e assumir as transformações propostas, e que estão envolvidas no contexto econômico e político, e dos movimentos de influência, pressão e negociação constantes dos segmentos da área. Ao mesmo tempo, torna-se um processo contrário, vagaroso e gradativo, com a organização da União e Estados. Os fundamentos estabelecem uma regulação que está instituída sobre a TÓPICO 2 | A ASSISTÊNCIA SOCIAL: UMA POLÍTICA SOCIAL GARANTIDA EM LEI (LOAS) 117 possibilidade de reversão da coerência para a condição do direito à proteção de todos os direitos sociais dos cidadãos. Ao analisar a conjuntura de implementação da LOAS, se faz necessário considerar a conjuntura política, social e econômica da atualidade, onde os seus limites de ordem estrutural estão inseridos e que podem comprometer a sua efetivação. Mesmo com todos os avanços, ainda existe um distanciamento dos direitos adquiridos constitucionalmente e sua efetividade. Segundo Yasbek (2004, p. 26): na árdua e lenta trajetória rumo à sua efetivação como política de direitos, permanece na Assistência Social brasileira uma imensa fratura entre o anúncio do direito e sua efetiva possibilidade de reverter o caráter cumulativo dos riscos e possibilidades que permeiam a vida de seus usuários. O processo de investigação na execução da Política de Assistência Social é um fator importante, perante a implementação do SUAS, com condições de avaliar, analisar e construir informações e conhecimentos sobre a área. Outro aspecto importante é a avaliação dos impactos que a Política de Assistência Social teve na vida dos cidadãos que dela necessitam para atender suas vulnerabilidades sociais, que foram socialmente produzidas no decorrer da história, sendo que “trata-se de uma população destituída de poder, trabalho, informação, direitos, oportunidades e esperanças” (YASBEK, 2004, p. 22). DICAS Para aprofundar seus conhecimentos, é obrigatória a leitura citada no link a seguir: <http://www.mds.gov.br/assistenciasocial/secretaria-nacional-de-assistencia-social-snas/ cadernos/lei-organica-de-assistencia-social-loas-anotada2009/Lei%20Organica%20de%20 Assistencia%20Social%20%20LOAS%20Anotada%202009.pdf/download>. UNIDADE 2 | AS NOVAS PERSPECTIVAS DA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL 118 LEITURA COMPLEMENTAR A ASSISTÊNCIA SOCIAL COMO GARANTIA DE DIREITOS HUMANOS Leoni Terezinha Wammes Inês Terezinha Pastório Marli Renate Von Borstel Roesler A origem dos direitos humanos é muito antiga, mas a discussão acerca da necessidade de proteção a alguns direitos específicos se fortaleceram a partir da Revolução Francesa no século XVIII. A Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão também é datada desta época trazendo consigo uma nova perspectiva para os cidadãos e configura como sendo a origem formal materializando os direitos civis e políticos baseados na condição natural do homem (LUSTOSA e FERREIRA, 2013). No século XX, nascem os direitos sociais, econômicos e culturais, com um forte apelo dos excluídos a participarem do bem-estar social. Neste cenário, é o Estado que passa a ser o responsável de promover e garantir os direitos sociais. Outro período relevante para a consolidação dos direitos humanos foi a criação da Organização das Nações Unidas – ONU (1945) que ocorreu após a Segunda Guerra Mundial, a qual tinha por objetivo restabelecer os direitos, garantir e preservar a vida humana. Em seguida (1948) foi concluída, pela comissão de direitos Humanos da ONU, a Declaração Universal dos Direitos Humanos (GORENDER, 2004). De acordo com Carbonari (2007), no momento em que as Nações Unidas (ONU) balizam a sua carta, o Brasil passava por uma ditadura militar vivendo anos de endurecimento com o cerceamento político e social. No entanto, a luta pelos direitos humanos ocorreu como resposta à arbitrariedade da ditadura. No processo de redemocratização ocorreram diversos debates bem como a consolidação de movimentos e organizações sociais com a finalidade de criar uma nova cultura política que resguardasse a defesa de direitos humanos e a construção da cidadania (MATOS, 2006). Diante disso, a Constituição Federal de 1988 significou um grande avanço e incorpora normas de proteção social e com ela se inicia a construção de bases para a concretização dos direitos humanos. Neste contexto, a CF 88 se compromete com valores éticos de proteção e dignidade humana, a qual assegura: O exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias (BRASIL, 1988). TÓPICO 2 | A ASSISTÊNCIA SOCIAL: UMA POLÍTICA SOCIAL GARANTIDA EM LEI (LOAS) 119 Além desta afirmativa, o artigo 5° da CF 88 garante a igualdade perante a lei, a inviolabilidade de direito à vida, à liberdade, à segurança e à propriedade sem nenhuma distinção. Por sua vez, esta garantia posta, constitui uma obrigação do Estado em proporcionar proteção integral a todos. Para se atingir essa segurança social são definidos os direitos sociais: a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados (BRASIL, 1988). Nesta perspectiva, a CF 88 também define um sistema de seguridade social destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social. A saúde passa a ser um direito de todos independente da condição econômica, a previdência social é garantida mediante previa contribuição e a assistência social a quem dela necessitar. Ao incluir a assistência social no sistema de seguridade brasileiro com o status de política pública de direito ocorre um grande avanço, pois transforma em direito o que sempre fora tratado como um favor e reconhece desamparados em sujeitos de direitos (LUSTOSA e FERRERIA, 2013). Historicamente, a assistência social é vinculada à caridade, a práticas religiosas bem como uma manobra clientelista da cultura da benesse e do favor. A pobreza até por volta da década de 80, embora que atualmente este discurso ainda se evidencie, era vista como algo pessoal, como uma anomalia e estava vinculada à má vontade para o trabalho, “ressurgem argumentos de ordem moral contrapondo- se aos sistemas de “excessiva” proteção social, que gerariam dependência e não resolveriam os problemas dos “inadaptados” à vida social” (YASBECK, s/d, p. 9). O direito social na perspectiva neoliberal estava vinculado conforme Schons,(1995 apud YASBECK, s/d, p. 9) a: Situações extremas, portanto, com alto grau de seletividade e direcionadas aos estritamente pobres através de uma ação humanitária coletiva, e não como uma política dirigida à justiça e à igualdade. Ou seja: é uma política social que passa a ser pensada apenas para complementar o que não se conseguiu via mercado ou ainda através de recursos familiares e/ou da comunidade. Para que a proteção social passe da esfera “do favor” para a esfera do direito se faz necessária a mudança da perspectiva da política social, conforme explicita Sposati (2009, p. 27), “O trânsito do âmbito individual para o social é a raiz fundante da política pública que exige seu distanciamento da mediação da benemerência ou da caridade”. O desafio de ampliar os direitos sociais universais, conforme Colin e Jactou (2013, p. 38) impôs novas perspectivas: Garantir acesso à renda e serviços sociais não apenas quanto à cobertura de riscos sociais, mas efetivando proteção por via contributiva e não contributiva a toda a população; atuar uniformemente de forma a reconhecer os direitos a todos os segmentos; realizar ofertas sob UNIDADE 2 | AS NOVAS PERSPECTIVAS DA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL 120 responsabilidade pública que substituam as proteções tradicionais, personalizadas, associadas à carência, baseadas na ajuda; enfrentar as situações de destituição e pobreza, sem abdicar dos objetivos de redução da desigualdade, equalização de oportunidades e melhoria das condições sociais de vida do conjunto da população. No entanto, eram necessárias a consolidação e implementação de legislações capazes de garantir o exercício desses direitos e que fossem amplamente reconhecidos como mecanismos para avançar na efetividade dos direitos constitucionais. Com este intuito nasceram várias leis entre elas a Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS (1993) e a Política Nacional de Assistência Social – PNAS (2004) que se constituem importantes mecanismos para efetivação dos direitos humanos na conjuntura brasileira e com foco no atendimento aos cidadãos em situação de vulnerabilidade e pobreza. A LOAS traz em seu bojo a garantia da dignidade humana através da proteção social para as famílias, a maternidade, a infância, a adolescência e a velhice “garantindo os mínimos sociais e provimentos de condições para atender contingências sociais e promovendo a universalização dos direitos sociais” (LOAS, 1993). A PNAS vem reafirmar o conteúdo da LOAS, além disso, torna uniforme os atendimentos e o reconhecimento dos direitos a todos os segmentos sociais. Bem como em substituir as proteções baseadas na ajuda e no favor por responsabilidades do Estado, sendo estas responsabilidades pautadas no direito buscando a equidade de oportunidades e avanço nas condições de qualidade de vida da população (COLIN e JACCOUD, 2013). Ainda segundo Colin e Jactou (2013, p. 37) “Foi com a implementação do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), ancorado nas normativas de 2004 e 2005, que efetivamente ampliaram-se as bases operativas da política, fortalecendo- se seu fundamento federativo e suas responsabilidades protetivas”. O SUAS ainda foi inovador na disposição dos equipamentos públicos, equipes e serviços, assim como na continuidade dos atendimentos, aumentando a “capacidade de ofertas com relação a populações e territórios e de maior vulnerabilidade e/ou violação de direitos”. Inovou ainda por prever os serviços de proteção social básica e especial, que garantem a prevenção da ruptura dos vínculos sociais, assim como possibilitam resgatar e reestabelecer as situações em que os vínculos familiares e sociais já foram rompidos, desta forma, reprimindo e protegendo situações em que os direitos humanos se encontram violados. Esse novo modelo de proteção social brasileiro pautado na justiça e no exercício dos direitos humanos permitiu que famílias vulneráveis fossem retiradas da condição de pobreza tendo a possibilidade de acessar bens e serviços até então lhes negado, estando assim inseridos na esfera dos direitos sociais e consequentemente nos direitos humanos (MDS, 2009). TÓPICO 2 | A ASSISTÊNCIA SOCIAL: UMA POLÍTICA SOCIAL GARANTIDA EM LEI (LOAS) 121 A assistência social pode ser entendida como uma política de defesa dos direitos no sentido social e ético. Segundo Sposati (2009, p. 25), “a assistência social se coloca no campo da defesa da vida relacional. As principais agressões à vida relacional estão nos campos: Do isolamento, da resistência à subordinação, da resistência à exclusão social”. Piovesan (2003, p.146 apud SPOSATI, 2009, p. 27) considera o “direito à inclusão social como um direito humano inalienável, constituindo a pobreza uma violação aos direitos humanos”. Sendo assim: Como possibilidade das diferenças a serem manifestadas e respeitadas, sem discriminação, condição que favorece o combate das práticas de subordinação ou de preconceito em relação às diferenças de gênero, políticas, etnias, religião, cultura etc. (SPOSATI, 2009). Conforme a autora supracitada, a equidade “é um princípio da justiça social que supõe o respeito às diferenças como condição para se atingir a igualdade”. Além do que para a autora “Obter igualdade exige a disposição de reconhecer o direito de cada um em ter reconhecidas suas necessidades” (SPOSATI, 2009). Neste sentido, é possível verificar um grande avanço na garantia de direitos através do acesso aos benefícios e serviços prestados aos usuários da política de assistência social, que proporcionam melhores condições de vida e minimizam situações de desigualdades sociais, com isso afiançando a efetivação dos direitos humanos. Assim, ao garantir o acesso aos direitos sociais, a assistência social está em consonância com a DUDHE a qual preconiza no seu art.1º que “Todos os seres humanos e comunidades têm o direito de viver em condições de dignidade”, quando esta garante os benefícios assistenciais que oportunizam através do repasse de uma renda mínima. Contudo, a política de assistência social precisa atrelar os benefícios e os serviços para que: A sinergia gerada pela oferta simultânea de renda e de serviços socioassistenciais potencializa a capacidade de recuperação, preservação e desenvolvimento da função protetiva das famílias, contribuindo para sua autonomia e emancipação, assim como para a eliminação ou diminuição dos riscos e vulnerabilidades que sobre elas incidem (MDS, 2012, p. 4). Desta forma, esta política não somente garante os direitos humanos como também oportuniza a estas famílias a emancipação necessária para sair da condição de extrema pobreza em que se encontram conquistando a dignidade humana. FONTE: Disponível em: <http://itecne.com.br/social/Anais/A%20ASSISTENCIA%20SOCIAL%20 COMO%20GARANTIA%20DE%20DIREITOS.pdf>. Acesso em: 26 jul. 2015. 122 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico você viu que: • Durante o governo Sarney, foi executado um conjunto de reformas institucionais, que tinha como objetivo o desenvolvimento econômico e social. • Antes da Constituição Federal de 88, destacou-se entre os planos o de 1985, o I Plano Nacional de Desenvolvimento da Nova República, que tinha como objetivo propor um desenvolvimentismo baseado em critérios sociais. • O processo de constituinte que gerou a Constituição Federal é fundamentado pela crescente articulação, participação e pressão da sociedade. • A Assistência Social passou a ter uma nova percepção após a promulgação da Constituição Federal de 5 de outubro de 1988, abrangendo-a na esfera da Seguridade Social. • A institucionalização e a regulamentação dos avanços obtidos com a Constituição Federal de 88 só se sucedeu pela aprovação de leis orgânicas para cada política pública. • Primeiramente, a política pública que se destacou e avançou na sua discussão foi a Saúde, que se fundamentou na VII Conferência Nacional de Saúde, que emergiu na aprovação da Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990. • No dia 27/09/1991, foiaprovada a Lei Orgânica da Previdência Social, mesmo com os problemas na elaboração de seus planos de custeio e planos de benefícios. • Em relação à Assistência Social, é importante destacar, que, no ano de 1989, através da Câmara Federal foi realizado o I Simpósio Nacional de Assistência Social. • Foi apresentado o Projeto-Lei n° 3.099/89, que foi vetado no ano seguinte, em 17 de setembro, pelo Presidente da República Fernando Collor. • A matéria voltou como pauta no legislativo federal no dia 11 de abril de 1991, onde começou a ser debatida e aprimorada, através de uma comissão que foi eleita no I Seminário Nacional de Assistência Social, realizado em junho de 1991, que procedeu no documento Ponto de Vista que Defendemos, apresentado subsídio para um novo Projeto-Lei, com o n° 3.154/91. • Para aprofundar o debate sobre a LOAS, o Ministério do Bem-Estar Social, realizou encontros em todas as regiões nacionais, realizado em junho de 1993, na capital federal, Brasília. 123 • Através da influência de organização, entidades e técnicos da área, a plenária dispôs a elaboração de cada artigo, o que gerou um documento chamado Conferência Zero da Assistência Social. • Sendo assim, a Política de Assistência Social foi aprovada em 1993, devido ao imenso debate teórico e político durante a elaboração das propostas, fomentado pelas entidades e organizações da categoria profissional de Serviço Social, pelas universidades. • Com a promulgação da LOAS, se extingue imediatamente o Conselho Nacional de Serviço Social, que foi criado em 1938. • Passou a ser constituído o Conselho Nacional de Assistência Social – CNAS pela Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS (Lei no 8.742, de 7 de dezembro de 1993), como órgão superior de deliberação colegiada, vinculado à estrutura do órgão da Administração Pública Federal responsável pela coordenação da Política Nacional de Assistência Social. • O CNAS é um órgão paritário, deliberativo e controlador da Política de Assistência Social. • Como política social, a Assistência Social passa a fundamentar-se na defesa dos direitos de cidadania, e não mais no assistencialismo, começando a questionar antigas práticas da assistência, sendo grande trampolim a ser superado. • A inserção neoliberalista no país dificulta a implantação da LOAS, onde a mesma esbarra em questões políticas e econômicas, o que danifica a sua efetivação na área social, em síntese, dificulta o acesso efetivo da inclusão social para todos os cidadãos, por direito o Estado precisa suprir as demandas sociais. • Os problemas e dificuldades eficazes na inclusão social, mediantes as probabilidades fragmentas e seletas da Assistência Social, focam a classe com maiores vulnerabilidades sociais, não contribuindo para uma maior abrangência da proteção social. • Em consequência a nova PNAS, no ano de 2005, houve uma nova edição de mais uma NOB, que definiu os alicerces para a implantação do SUAS. Esta NOB congrega e aperfeiçoa as conquistas obtidas com as outras NOBs precedentes. • A NOB de 2005, que foi aprovada pela Resolução CNAS nº 130, de 15/07/2005, e que se destaca por ser a primeira NOB sobre o Sistema Único de Assistência Social que foi estabelecido pela Política Nacional de Assistência Social de 2004, em decorrência à Deliberação da IV Conferência Nacional de Assistência Social. • Em 2006 foi publicada a NOB de Recursos Humanos do SUAS, por meio da Resolução CNAS nº 269, de 13 de dezembro, que dispõe sobre a gestão do trabalho no SUAS e as diretrizes para a Política Nacional de Capacitação e as responsabilidades dos entes federados nesta área. 124 • A implantação do SUAS no país é assumida em conjunto por todos os entes federados, por meio do Plano de Estratégicas e Metas Decenais, deliberado na Conferência Nacional de Assistência Social, que ocorreu em 2005. • A gestão da Política de Assistência Social, em todos os níveis do governo, necessita compreender, incorporar e assumir as transformações propostas que estão envolvidas no contexto econômico e político e dos movimentos de influência, pressão e negociação constantes dos segmentos da área. • O processo de investigação na execução da Política de Assistência Social é um fator importante perante a implementação do SUAS, com condições de avaliar, analisar e construir informações e conhecimentos sobre a área. 125 AUTOATIVIDADE 1 Descreva como acontece o novo modelo de gestão, que visa assegurar o direito não contributivo e garantia de cidadania. 2 Após a promulgação da Constituição Federal de 1988, surgiram grandes influências neoliberais do Estado na área social, neste período houve também o processo de Reforma do Estado. Descreva como as influências neoliberais afetaram a implementação da LOAS. 126 127 TÓPICO 3 A ASSISTÊNCIA SOCIAL COMO UM NOVO MODELO DAS POLÍTICAS SOCIAIS (PNAS) UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Como foi apresentado nos tópicos anteriores, a Política Nacional de Assistência Social – PNAS é o resultado concreto de vários atores sociais, que estiveram comprometidos para transformá-la em uma política pública de Estado, conforme as diretrizes da Lei Orgânica de Assistência Social – LOAS. Desde a Constituição Federal de 1988, a assistência social no Brasil fundamentou-se através de um novo paradigma, baseado no direito social e, a partir do momento em que passa a ser considerada como uma Política Pública fica independente da vontade política dos gestores federais, estaduais e/ou municipais. A assistência social, como política pública, passa a ser regulamentada por legislações específicas, como a LOAS de 1993, que foi apresentada anteriormente, da PNAS de 2004 e da NOB/SUAS de 2005, que consolidaram uma nova dimensão e geraram o chamado reordenamento institucional, definiram responsabilidades por meio da hierarquização e territorializaram os níveis de proteção social disponíveis, definiram as formas de financiamento como também as formas de pactuação e do controle social. Este tópico se propõe a apresentar a efetivação da PNAS na atualidade. FIGURA 23 - PNAS FONTE: Disponível em: <http://www.portaleducacao.com.br/direito/ artigos/46820/a-pnas-e-sua-diretriz-relativa-a-familia>. Acesso em: 28 jul. 2015. 128 UNIDADE 2 | AS NOVAS PERSPECTIVAS DA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL 2 A POLÍTICA NACIONAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL COMO AFIANÇADORA DE DIREITOS SOCIAIS A assistência social adquiriu um novo significado após a Constituição Federal de 1998, na esfera da Seguridade Social, sendo reconhecida com uma política pública, através de um sistema de proteção social integrado com as políticas de previdência e saúde. Nesse sentindo houve uma expansão na área da proteção social e dos direitos sociais no Brasil, por meio da responsabilidade do setor público no enfrentamento das demandas sobre a responsabilidade do setor privado. O Conselho Nacional de Assistência Social - CNAS, através da Resolução no 145, de 15 de outubro de 2004, aprova a Política Nacional de Assistência Social - PNAS, cumprindo assim as deliberações da IV Conferência de Assistência Social, que foi realizada em 2003. A determinação do Ministério do Desenvolvimento Social e Controle à Fome – MDS, com suporte da Secretaria Nacional de Assistência Social – SNAS e do Conselho Nacional de Assistência Social, de criar, elaborar e aprovar, como também apresentar publicamente a PNAS, evidencia a vontade da construção democrática e coletiva de uma nova política pública, visando à implementação do Sistema Único de Assistência Social – SUAS. ESTUDOS FU TUROS O SUAS será estudado na próxima unidade deste Caderno de Estudos. Este processo de discussão da PNAS foi um momento de estudos teóricos com a contribuição dos Conselhos de Assistência Social, da representatividade do Fórum Nacional dos Secretários de Assistência Social, dos Colegiados formados por gestores nacionais, estaduais e municipais de Assistência Social, dos fóruns governamentais e não governamentais, das Instituiçõesde Ensino, das Associações de municípios e outros. A PNAS propõe congregar as demandas sociais que existem no Brasil, no que diz respeito às reponsabilidades governamentais, através de uma modelo de gestão descentralizado com estratégias para a concretização da assistência social como uma política pública que garanta os direitos sociais previstos na Constituição Federal de 88, de forma integrada como as outras políticas públicas setoriais. TÓPICO 3 | A ASSISTÊNCIA SOCIAL COMO UM NOVO MODELO DAS POLÍTICAS SOCIAIS (PNAS) 129 A Assistência Social passou a configurar-se como uma política pública de proteção social para o país. Passou a garantir com direitos à proteção social para todos os cidadãos que dela necessitarem, sem uma contribuição antecipada desta proteção, apontando assim quais, quem e quantos são os cidadãos brasileiros que demandam dos serviços, programas e projetos da assistência social. A nova política não apresenta de imediato a resolutividade das análises realizadas. Através de alternativas estabeleceu para analisar a política de assistência social diante da conjuntura da realidade da população brasileira. Segundo a PNAS (2004), estas alternativas se efetivam através de: • Uma visão social inovadora, dando continuidade ao inaugurado pela Constituição Federal de 1988 e pela Lei Orgânica da Assistência Social de 1993, pautada na dimensão ética de incluir ‘os invisíveis’, os transformados em casos individuais, enquanto de fato são parte de uma situação social coletiva; as diferenças e os diferentes, as disparidades e as desigualdades. • Uma visão social de proteção, o que supõe conhecer os riscos, as vulnerabilidades sociais a que estão sujeitos, bem como os recursos com que conta para enfrentar tais situações com menor dano pessoal e social possível. Isto supõe conhecer os riscos e as possibilidades de enfrentá- los. • Uma visão social capaz de captar as diferenças sociais, entendendo que as circunstâncias e os requisitos sociais circundantes do indivíduo e dele em sua família são determinantes para sua proteção e autonomia. Isto exige confrontar a leitura macrossocial com a leitura microssocial. • Uma visão social capaz de entender que a população tem necessidades, mas também possibilidades ou capacidades que devem e podem ser desenvolvidas. Assim, uma análise de situação não pode ser só das ausências, mas também das presenças até mesmo como desejos em superar a situação atual. • Uma visão social capaz de identificar forças e não fragilidades que as diversas situações de vida possua. A efetivação da política pública de assistência social se constitui por meio da proteção social que foram edificadas através de algumas linhas de atuação, as pessoas, as situações em que se encontram, em seu primeiro núcleo, ou seja, a família. Na PNAS (2004) a família é compreendida como sendo um conjunto de pessoas que se acham unidas por laços consanguíneos, afetivos e/ou de solidariedade. Na NOB/SUAS (2005, p. 90) o conceito de família é entendido como sendo além de uma unidade econômica, entendendo-a “como núcleo afetivo, vinculado por laços consanguíneos, de aliança ou afinidade, que circunscrevem obrigações recíprocas e mútuas, organizadas em torno de relações de geração e gênero”. A proteção social estabelece uma aproximação mais elevada no dia a dia dos cidadãos, onde os riscos e as vulnerabilidade sociais se edificam. Segundo os autores Viana e Levcovitz (2005, p. 17) “na ação coletiva de proteger indivíduos contra os riscos inerentes à vida humana e/ou assistir necessidades geradas em diferentes momentos históricos e relacionadas com múltiplas situações de dependência”. 130 UNIDADE 2 | AS NOVAS PERSPECTIVAS DA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL Diante do princípio da proteção social, se faz eminente incluir cada indivíduo em seus territórios, ou seja, a territorialização interurbanas, por meio dos municípios, que são menores nas estruturas administrativas governamentais. Sobre a ótica da territorialização, a PNAS (2004) apresenta: A Política Nacional de Assistência Social se configura necessariamente na perspectiva socioterritorial, tendo os mais de 5.500 municípios brasileiros como suas referências privilegiadas de análise, pois se trata de uma política pública, cujas intervenções se dão essencialmente nas capilaridades dos territórios. Essa característica peculiar da política tem exigido cada vez mais um reconhecimento da dinâmica que se processa no cotidiano das populações. Por intervir diretamente nos territórios e se deparar com a realidade local, a política de assistência social resgata setores da sociedade que estavam invisíveis ou excluídos, tradicionalmente, das informações estatísticas, como por exemplo: mulheres vítimas de violência doméstica, população em situação de rua, idosos, pessoas com deficiência, comunidades indígenas e quilombolas, adolescentes em conflitos com a lei, entre outros. Através do Censo Demográfico de 2000 e da Síntese de Indicadores Sociais de 2003, e de informação da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - PNAD de 2003, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, bem como o Atlas de Desenvolvimento Humano 2002, a atuação da Política de Assistência Social, passou a ter como foco central das suas ações a centralidade sociofamiliar, reconhecendo a sua diferença demográfica, social, econômica, política, religiosa, entre outras nos diversos e diferentes territórios nacional. As diferenças e desigualdades socioterritoriais refletem nas dinâmicas de cada cidade brasileira. Diante disso, os dados gerais que são analisados permitem uma análise da realidade, para que a Política Nacional de Assistência Social consiga atender as demandas apresentadas a PNAS (2004) apresenta a seguinte divisão territorial: Municípios pequenos 1: com população até 20.000 habitantes. Municípios pequenos 2: com população entre 20.001 a 50.000 habitantes. Municípios médios: com população entre 50.001 a 100.000 habitantes. Municípios grandes: com população entre 100.001 a 900.000 habitantes. Metrópoles: com população superior a 900.000 habitantes. Os princípios democráticos que fundamentam a PNAS estão em consonância com a LOAS, através do Capítulo II, Seção I, artigo 4º, sendo esses: I- supremacia do atendimento às necessidades sociais sobre as exigências de rentabilidade econômica; II- universalização dos direitos sociais, a fim de tornar o destinatário da ação assistencial alcançável pelas demais políticas públicas; III- respeito à dignidade do cidadão, à sua autonomia e ao seu direito a benefícios e serviços de qualidade, bem como à convivência familiar TÓPICO 3 | A ASSISTÊNCIA SOCIAL COMO UM NOVO MODELO DAS POLÍTICAS SOCIAIS (PNAS) 131 e comunitária, vedando-se qualquer comprovação vexatória de necessidade; IV- igualdade de direitos no acesso ao atendimento, sem discriminação de qualquer natureza; garantindo-se equivalência às populações urbanas e rurais; V- divulgação ampla dos benefícios, serviços, programas e projetos assistenciais, bem como dos recursos oferecidos pelo Poder Público e dos critérios para sua concessão. Mediante os princípios acima citados e baseada na Constituição Federal de 1998 e na LOAS, a Assistência Social passa a ser organizar, conforme: I- descentralização político-administrativa, cabendo a coordenação e as normas gerais à esfera federal e a coordenação e execução dos respectivos programas às esferas estadual e municipal, bem como a entidades beneficentes e de assistência social, garantindo o comando único das ações em cada esfera de governo, respeitando-se as diferenças e as características socioterritoriais locais; II- participação da população, por meio de organizações representativas, na formulação das políticas e no controle das ações em todos os níveis; III- primazia da responsabilidade do Estado na condução da política de assistência social; IV- em cada esfera de governo; V- centralidade na família para concepção eimplementação dos benefícios, serviços; VI- programas e projetos. As desigualdades socioterritoriais passaram a ser consideradas a partir do novo modelo de assistência social, objetivando a garantia dos direitos sociais através da universalização dos mesmos. Através desta perspectiva a PNAS (2004) objetiva: • Prover serviços, programas, projetos e benefícios de proteção social básica e/ou especial para famílias, indivíduos e grupos que deles necessitarem. • Contribuir com a inclusão e a equidade dos usuários e grupos específicos, ampliando o acesso aos bens e serviços socioassistenciais básicos e especiais, em áreas urbana e rural. • Assegurar que as ações no âmbito da assistência social tenham centralidade na família, e que garantam a convivência familiar e comunitária. A PNAS define que os usuários da Política de Assistência Social são todos os cidadãos e grupos que estão em situação de vulnerabilidades e riscos sociais. Constituem o público usuário da política de Assistência Social cidadãos e grupos que se encontram em situações de vulnerabilidade e riscos, tais como: famílias e indivíduos com perda ou fragilidade de vínculos de afetividade, pertencimento e sociabilidade; ciclos de vida; identidades estigmatizadas em termos étnico, cultural e sexual; desvantagem pessoal resultante de deficiências; exclusão pela pobreza e/ou no acesso às demais políticas públicas; uso de substâncias psicoativas; diferentes 132 UNIDADE 2 | AS NOVAS PERSPECTIVAS DA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL formas de violência advinda do núcleo familiar, grupos e indivíduos; inserção precária ou não inserção no mercado de trabalho formal e informal; estratégias e alternativas diferenciadas de sobrevivência que podem representar risco pessoal e social. Disponível em: <http://www. mds.gov.br/assistenciasocial/arquivo/Politica%20Nacional%20de%20 Assistencia%20Social%202013%20PNAS%202004%20e%202013%20 NOBSUAS-sem%20marca.pdf.>. Acesso em: 4 ago. 2015. FIGURA 24 - VULNERABILIDADE E RISCOS SOCIAIS FONTE: Disponível em: <http://www.smabc.org.br/smabc/materia.asp?id_ CON=17405&id_SEC=12&busca=projeto>. Acesso em: 4 ago. 2015. DICAS Caro(a) acadêmico(a), para compreender melhor a realidade dos usuários da Política Nacional de Assistência Social, leia este livro. SILVA, Marta Borba. Assistência social e seus usuários, entre a rebeldia e o conformismo. São Paulo: Cortez, 2014. Estamos diante de um livro instigante e mobilizador, escrito com paixão pela justiça, que nos coloca frente ao usuário da Assistência Social e nos leva a levantar novas questões, tratando-se de leitura obrigatória para todos que buscam conhecer um pouco melhor a realidade das classes subalternas em relação com a Assistência Social. Como livro, interessa a todos que defendem que cabe ao Estado garantir a vida com dignidade à população, cujo direito mais universal é o da sobrevivência. TÓPICO 3 | A ASSISTÊNCIA SOCIAL COMO UM NOVO MODELO DAS POLÍTICAS SOCIAIS (PNAS) 133 Conforme a PNAS (2004), a proteção social deve garantir as seguintes seguranças: de sobrevivência (de rendimento e de autonomia); de acolhida; e de convívio ou vivência familiar. A segurança de rendimentos não é uma compensação do valor do salário-mínimo inadequado, mas a garantia de que todos tenham uma forma monetária de garantir sua sobrevivência, independentemente de suas limitações para o trabalho ou de desemprego. É o caso de pessoas com deficiência, idosos, desempregados, famílias numerosas e de famílias desprovidas das condições básicas para sua reprodução social em padrão digno e cidadão. Foi por meio da PNAS de 2004 que se estabeleceram as funções básicas da Assistência Social: a proteção social, a vigilância socioassistencial e a defesa social e institucional. Objetivando atender a demanda descrita acima, a PNAS (2004) apresenta os tipos de proteção social, que estão estruturados nos seguintes níveis: Proteção Social Básica tem como objetivo prevenir situações de risco por meio do desenvolvimento de potencialidades e aquisições, e o fortalecimento de vínculos familiares e comunitários. Destina-se à população que vive em situação de vulnerabilidade social decorrente da pobreza, privação (ausência de renda, precário ou nulo acesso aos serviços públicos, dentre outros) e/ou fragilização de vínculos afetivos – relacionais e de pertencimento social (discriminações etárias, étnicas, de gênero ou por deficiências, dentre outras). Proteção Social Especial é a modalidade de atendimento assistencial destinada a famílias e indivíduos que se encontram em situação de risco pessoal e social, por ocorrência de abandono, maus-tratos físicos e/ou psíquicos, abuso sexual, uso de substâncias psicoativas, cumprimento de medidas socioeducativas, situação de rua, situação de trabalho infantil, entre outras. São destinados, por exemplo, às crianças, aos adolescentes, aos jovens, aos idosos, às pessoas com deficiência e às pessoas em situação de rua que tiverem seus direitos violados e/ou ameaçados e cuja convivência com a família de origem seja considerada prejudicial à sua proteção e ao seu desenvolvimento, mediante a: Proteção Social Especial de Média Complexidade: são considerados serviços de média complexidade aqueles que oferecem atendimentos às famílias e indivíduos com seus direitos violados, mas cujos vínculos familiar e comunitário não foram rompidos. Proteção Social Especial de Alta Complexidade: os serviços de proteção social especial de alta complexidade são aqueles que garantem proteção integral – moradia, alimentação, higienização e trabalho protegido para famílias e indivíduos que se encontram sem referência e/ou em situação de ameaça, necessitando ser retirados de seu núcleo familiar e/ou comunitário. Outra questão na implementação de uma política pública, inclusive da PNAS, é a maneira que consiste no financiamento, de que maneira os recursos financeiros serão providos, divididos e aplicados para o seu desempenho. A Constituição Federal de 88 prevê que as políticas públicas do chamado tripé da seguridade social, sendo: previdência, saúde e assistência social, deverão ser financiadas através da participação da sociedade em sua totalidade, por meio dos recursos oriundos dos orçamentos da União, do Distrito Federal, dos estados e municípios, e outros. 134 UNIDADE 2 | AS NOVAS PERSPECTIVAS DA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NOTA Os recursos de cada ente federado para a execução da Política Nacional de Assistência Social (PNAS) são alocados em seus orçamentos, pelos quais se efetiva a gestão financeira da política. Os recursos federais do cofinanciamento da assistência social são alocados no Fundo Nacional de Assistência Social (FNAS). Por sua vez, os recursos do Distrito Federal e dos estados e municípios para o cofinanciamento são alocados, respectivamente, no Fundo de Assistência Social do Distrito Federal (FAZ/DF) e nos Fundos Estaduais e Municipais de Assistência Social, constituídos como unidades orçamentárias. FONTE: Disponível em: <http://www.mds.gov.br/assistenciasocial/financiamento>. Acesso em: 6 ago. 2015. Esta metodologia deve ser realizada de forma mais clara, ou seja, transparente, possível, por meio da prestação de contas para a sociedade, pois os recursos financeiros, destinados para a execução dos serviços socioassistenciais previstos na PNAS são transferidos regularmente do Fundo Nacional de Assistência Social - FNAS, para os fundos regionais e municipais. A Norma Operacional Básica - NOB, que foi aprovada em 2005 pelo Conselho Nacional de Assistência Social - CNAS, institui os eixos estruturantes para a efetivação do pacto a ser realizado entre os Munícipios, Estados, Distrito Federal e União, além de apresentar as instâncias de articulação, pactuação e deliberação para a implementação do Sistema Único de Assistência Social - SUAS, que será estudado na próxima unidade. LEITURA COMPLEMENTAR POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL: QUE MODELO DE PROTEÇÃO SOCIAL PRECONIZA?Apesar do avanço das reformas neoliberais no Brasil, na década de 1990, podemos também ressaltar os avanços nos direitos sociais, como destacam Battini e Costa (2007), se o contexto neoliberal colocou desafios, também é verdade que fez surgir novas formas de resistências e de articulação da sociedade civil em defesa de padrões de seguridade social, dos quais são exemplares as lutas e conquistas da LOAS, PNAS e SUAS. Nessa mesma perspectiva, Bering (2008) afirma ser perceptível que várias medidas, criadas pela PNAS e SUAS, geram tensão com a política econômica e a desestruturação do Estado preconizado pelo neoliberalismo, posto que supõe Investimentos, ampliação de recursos, contratação de pessoal, capacitação, aquisição de espaço físico, investimentos tecnológicos e de monitoramento como TÓPICO 3 | A ASSISTÊNCIA SOCIAL COMO UM NOVO MODELO DAS POLÍTICAS SOCIAIS (PNAS) 135 a rede SUAS, além de equipamentos permanentes, oferta de serviços diretos nos CRAS e CREAS, dentre outros, aspectos que colocam a nova institucionalidade criada pelo SUAS como nichos de resistência, embora não exclua contradições. Assim, ao inscrever as atenções de assistência social no campo público, de responsabilidade do Estado, e no campo dos direitos, a atual PNAS e suas regulamentações propõem “a construção de um Estado responsável, dirigente e democrático nas instâncias central e subnacionais, em contraponto ao Estado Mínimo” (BRASIL, 2008, p. 22), ou ainda como ressalta Sposati (2006, p.114) “não é a tese liberal ou neoliberal que o sustenta [...] supõe efetivar, na assistência social e no processo de gestão, os princípios republicanos e democráticos”. Contudo, em que pese esse consenso, também a política e seu desenho não conformam o modelo de proteção do pós-guerra que se difundiu amplamente como ideal, ainda que não na prática, com base na intervenção do Estado como gestor, administrador, financiador e executor de política social. Antes, constitui um novo modelo que envolve o mix público/privado na prestação de serviços, que desde os anos 90, se institui como um novo métier de fazer política social, não apenas no Brasil, mas em diversos países, que envolve a divisão de responsabilidades com a sociedade civil, com o mercado e setor informal (dentre esses a família, vizinhos, comunidade), trata-se do Welfare Society, complementar e não substituto do Estado. Portanto, o Estado demandado é aquele que seja “executor e ao mesmo tempo propulsor e indutor de parcerias capazes de integrar e complementar efetivamente a equidade e a justiça social” (BRASIL, 2008, p. 23), incluindo as parcerias com a família e com as organizações não governamentais, ou seja, “sem esvaziar [...] o compartilhamento das decisões e ações com a sociedade civil e com a rede socioassistencial” (Idem). Logo, o que se apresenta como moderno é o que há de mais tradicional na política social brasileira, que se reatualiza sob novas determinações e configurações, ou seja, o fortalecimento das redes de solidariedade emanadas da própria sociedade civil como espaços de proteção social. Como ressalta Carvalho (1997) sobre as tendências no comportamento da política social contemporânea, ao invés de considerar a política social como competência exclusiva do Estado, é possível articular iniciativas privadas da sociedade civil sem fins lucrativos e das microssociabilidades originárias na família, com as do Estado, comum ao que denomina de Welfare Mix. Na política de assistência social podemos verificar a prevalência desse modelo de divisão de responsabilidades com o enfrentamento da pobreza e exclusões sociais, tanto na sua versão de prestação de serviços diretos por organizações não governamentais, denominadas de organizações de assistência social, quanto com a família, no reforço de suas funções protetivas, apesar do Estado não estar ausente do processo, pois também oferece serviços e coordena a rede socioassistencial, regula e financia os serviços, bem como institui outras formas de participação, como as do controle social e das comissões intergestoras bi e tripartites. Mas, compartilha-se e propaga-se uma outra “modalidade de ação 136 UNIDADE 2 | AS NOVAS PERSPECTIVAS DA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL social, nem estatal, nem privada, mas pública, porque operada por um setor social comunitário considerado sem fins lucrativos e, portanto, paralelo ao mercado e parceiro do Estado” (MESTRINER, 2001, p. 23). Ainda de acordo com a autora, a assistência social, que já era a parte frágil, vive situação inédita ao ter que se afirmar como política pública num Estado em que o público passa a significar parceria com o privado. Assim, o reconhecimento da assistência social como direito não significou uma opção pela estatização e nem pela laicização do campo assistencial. A lei, na verdade, estabelece que deve haver uma “colaboração vigiada” entre os poderes públicos e o mundo da filantropia (BOSCHETTI, 2003, p.136), com indicações legais que este deve se submeter para garantir o estatuto de direito, se é que isso é possível, condutas diferentes para garantir direitos, quando o agente da proteção social é privado. Nesse aspecto se encontra o maior desafio da PNAS, garantir direito no campo privado, considerando a cultura que embasa o trabalho social dessas organizações, historicamente fundado no dever moral, na filantropia e benemerência, sem qualificação técnica, com trabalho voluntário, sem planejamentos sistemáticos das ações, sem publicidade dos atos administrativos, fundados na lógica do favor e não do direito, mesmo com financiamento público. [...] FONTE: Disponível em: <http://www.funorte.com.br/files/servico-social/27.pdf.>. Acesso em: 6 ago. 2015. 137 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico você viu que: • A assistência social adquiriu um novo significado após a Constituição Federal de 1988, sendo reconhecida com uma política pública, através de um sistema de proteção social integrado com as políticas de previdência e saúde. • O Conselho Nacional de Assistência Social - CNAS, através da Resolução no 145, de 15 de outubro de 2004, aprova a Política Nacional de Assistência Social - PNAS. • A PNAS propõe congregar as demandas sociais que existem no Brasil no que diz respeito às reponsabilidades governamentais, através de uma modelo gestão descentralizado. • A efetivação da política pública de assistência social se constitui por meio da proteção social. • Na PNAS/2004 a família é compreendida como sendo “um conjunto de pessoas que se acham unidas por laços consanguíneos, afetivos e/ou de solidariedade”. • Por intervir diretamente nos territórios, e se deparar com a realidade local, a política de assistência social resgata setores da sociedade que estavam invisíveis ou excluídos, tradicionalmente, das informações estatísticas. • As diferenças e desigualdades socioterritoriais refletem nas dinâmicas de cada cidade brasileira. Diante disso, os dados gerais que são analisados permitem uma análise da realidade, para que a Política Nacional de Assistência Social consiga atender às demandas apresentadas. • A PNAS define que os usuários da Política de Assistência Social são todos os cidadãos e grupos que estão em situação de vulnerabilidades e riscos sociais. • Foi por meio da PNAS de 2004 que se estabeleceram as funções básicas da Assistência Social: a proteção social, a vigilância socioassistencial e a defesa social e institucional. 138 1 Descreva, com suas próprias palavras, o que você entende por Proteção Social. 2 O que a PNAS propõe? AUTOATIVIDADE 139 TÓPICO 4 NORMA OPERACIONAL BÁSICA DO SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL (NOB/SUAS) UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO A Norma Operacional Básica do Sistema Único de Assistência Social (NOB/ SUAS) estabelece para todo o Brasil os princípios e as diretrizes que norteiam a descentralização da gestão e execução dos serviços, programas, projetos e benefícios referentes à PNAS. O seu conteúdo norteia o desempenho dosdiversos atores envolvidos no contexto de normalização de um Sistema Único de Assistência Social, determinando a função e a responsabilidade dos entes federados, mediante as instâncias de pactuação e deliberação das ações da assistência social. Para compreender a próxima unidade de estudo deste caderno, é importante conhecer qual é a função da NOB/SUAS. FIGURA 25 - NOB/SUAS FONTE: Disponível em: <http://www.mds.gov.br/assistenciasocial/ secretaria-nacional-de-assistencia-social-snas/cadernos/norma- operacional-basica-suas/norma-operacional-basica-suas>. Acesso em: 15 ago. 2015. 140 UNIDADE 2 | AS NOVAS PERSPECTIVAS DA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL 2 DA POLÍTICA NACIONAL, ASSISTÊNCIA SOCIAL À NORMA OPERACIONAL BÁSICA DO SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL A Norma Operacional Básica do Sistema Único de Assistência Social - NOB/ SUAS organiza a forma e o modelo da proteção social, regularizando, normatizando e operacionalizando os princípios e diretrizes que sustentam a descentralização do modelo de gestão e execução dos serviços, programas, projetos e benefícios sociais. O seu teor aponta um novo modelo de ações de assistência social, como: • Definição de estratégias que norteiem a sua operacionalidade. • Planejamento da gestão. • Determinação das responsabilidades, e das maneiras de adesão dos entes federados. • Especificação do financiamento e cofinanciamento. • Fixação das funções das instâncias de pactuações e deliberações. (NOB/SUAS, 2010). Através do Conselho Nacional de Assistência Social - CNAS, foi aprovada a primeira NOB, no domínio da assistência social, através da Resolução nº 204, de 04/12/1997, conseguindo agregar em um único documento o procedimento de descentralização Político-administrativo nas esferas governamentais e também a Sistemática Operacional para financiamento das ações na assistência social. Esta NOB abordava as competências dos entes federados, os níveis de gestão, a forma de operacionalização e sistemática de financiamento, critérios para a partilha e prestação de contas, além dos benefícios, programa e projetos desenvolvidos na assistência social. A primeira NOB constituía a Comissão Intergestores Tripartite - CIT, que é um espaço importante de articulação e expressão das demandas governamentais em todas as esferas, viabilizando assim a implementação da PNAS. No dia 16 de dezembro de 1998, através da Resolução do CNAS nº 207, foi aprovada a segunda NOB, progredindo na construção do Sistema Descentralizado e Participativo de Assistência Social, contendo mais pormenores sobre o financiamento e critérios para a divisão dos recursos destinados à assistência social, enfatizando as responsabilidades dos entes federados nos modelos de gestão, mecanismos e procedimentos para a habilitação, as competências dos Conselhos de Assistência Social, bem como das Comissões Bi e Tripartites sendo instâncias de negociação e pactuação das ações desenvolvidas. A Resolução do CNAS nº 130, de 15 de julho de 2005, aprovou a terceira NOB, congregou e aperfeiçoou as conquistas que foram gradualmente adquiridas com as NOBs precedentes, dispondo sobre os níveis de gestão das responsabilidades dos entes federados, instrumentalizando a gestão, enfatizando as competências das instâncias de pactuação e deliberação, como também atualização e aprimoramento TÓPICO 4 | NORMA OPERACIONAL BÁSICA DO SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL (NOB/SUAS) 141 do capítulo sobre o cofinanciamento e critério da divisão na lógica do SUAS. Um dos principais diferenciais desta é por ser a primeira NOB que dispõe sobre o Sistema Único de Assistência Social, que foi instituído pela Política Nacional de Assistência Social de 2004, em observância à Deliberação da IV Conferência Nacional de Assistência Social. Caro(a) acadêmico(a), veja a seguir, na íntegra, a Resolução nº 130/2005 do CNAS: RESOLUÇÃO nº 130, DE 15 DE JULHO DE 2005. O Conselho Nacional de Assistência Social – CNAS, em reunião ordinária realizada nos dias 11, 12, 13, 14 e 15 de julho de 2005, no uso da competência que lhe conferem os incisos II, V, IX e XIV do art. 18 da Lei n º 8.742, de 7 de dezembro de 1993 – Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS, Resolve: Art. 1º - Aprovar a Norma Operacional Básica da Assistência Social – NOB/SUAS, anexá-la, e encaminhá-la ao Senhor Ministro de Estado do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, titular do órgão da Administração Pública Federal responsável pela coordenação da Política Nacional de Assistência Social, para sua publicação por meio de Portaria. Art. 2º - Apresentar as seguintes recomendações referentes à NOB/SUAS: I- que o texto seja enviado à Presidência da República, Congresso Nacional e demais entes federados para conhecimento e observância; II- que seu conteúdo seja amplamente divulgado nos meios de comunicação; III- que os órgãos Gestores e Conselhos de Assistência Social publicitem as informações contidas no referido documento; IV- que o Plano Nacional de Capacitação de Gestores e Conselheiros de Assistência Social priorize em sua qualificação o conteúdo da NOB/SUAS; V- que o texto da NOB/SUAS seja impresso e distribuído, inclusive em braile. Art. 3º - Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação. FONTE: Disponível em: <http://www.mds.gov.br/cnas/legislacao/legislacao/resolucoes/ legislacao/resolucoes/2005>. Acesso em: 10 ago. 2015. IMPORTANT E A NOB de 2005 constitui o Sistema Único de Assistência Social – SUAS e a política de assistência social obtém expressivos avanços que apontaram a sua implementação. Definiu e normatizou conteúdos fundamentais do pacto federativo, restituindo de forma unitária, hierarquizada e complementar as competências de todos os níveis de governo na gestão do financiamento e no desempenho de ações de Assistência Social. 142 UNIDADE 2 | AS NOVAS PERSPECTIVAS DA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL No que se refere aos princípios da NOB/SUAS de 2005, estes estão explanados como sendo, “organizativos”, significando a implementação e operacionalização da assistência social como política pública de direito social. Alguns dos princípios fundamentados nessa NOB expõem uma correlação com as diretrizes da LOAS, porém, não propriamente como os mesmos princípios, mas matricial idade sociofamiliar na NOB/SUAS – 2005 foi reafirmado como sendo o princípio da Proteção Social. Outra NOB foi aprovada pelo CNAS, através da Resolução nº 269, de 13 de dezembro de 2006, que aprova a Norma Operacional Básica de Recursos Humanos do Sistema Único de Assistência Social – NOB/RH SUAS. A NOB/RH traz como principais eixos a serem acatados para a gestão do trabalho na Política de Assistência Social, visando assim a consolidação do SUAS, os seguintes pontos: • Princípios e Diretrizes Nacionais para a gestão do trabalho no âmbito do SUAS. • Princípios Éticos para os Trabalhadores da Assistência Social. • Equipes de Referência. • Diretrizes para a Política Nacional de Capacitação. • Diretrizes Nacionais para os Planos de Carreira, Cargos e Salários. • Diretrizes para Entidades e Organizações de Assistência Social. • Diretrizes para o cofinanciamento da Gestão do trabalho. • Responsabilidades e Atribuições do Gestor Federal, dos Gestores Estaduais, do Gestor do Distrito Federal dos Gestores Municipais para a Gestão do Trabalho no âmbito do SUAS. • Organização do Cadastro Nacional de Trabalhadores do SUAS – Módulo CADSUAS. • Controle Social da Gestão do Trabalho no âmbito do SUAS. • Regras de Transição. A condição dos serviços ofertados aos usuários da política de assistência social está atrelada diretamente com o desempenho dos profissionais sendo intermediários dos direitos sociais da população. Após sete anos de aprovação na NOB/SUAS de 2005, aconteceu o reconhecimento que esta NOB já não propagava e expressava os avanços adquiridos desde a sua implementação, devido ao esgotamento da forma de adesão ao sistema, como sendo um mecanismo de aprimoramento do SUAS. Foiimprescindível adotar metodologias que já estavam sendo desenvolvidas, como também os progressos e avanços normativos dos últimos anos, podendo ser citada a Lei nº 2.435/11, que dispõe sobre a organização da Assistência Social, através de um sistema descentralizado e participativo, denominado SUAS, já citada no tópico anterior, porém reforçando a sua importância, destaca-se: • Abrange entre os objetivos da Assistência Social a Proteção Social, a Vigilância Socioassistencial e a Defesa dos Direitos. • Institui os níveis de proteção social básica e especial. TÓPICO 4 | NORMA OPERACIONAL BÁSICA DO SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL (NOB/SUAS) 143 • Dispões sobre o Centro de Referências de Assistência Social - CRAS e o Centro de Referência Especializado de Assistência Social, como equipamentos de referência da Assistência Social. • Permite o pagamento de profissionais com recursos de cofinanciamento federal. • Cria o Índice de Gestão Descentralizada, IGDSUAS, e a sua obrigatoriedade para o fortalecimento dos Conselhos. • Institui que os Conselhos de Assistência Social deverão ser vinculados ao órgão gestor da política de assistência social. • Em consequência ao Benefício de Prestação Continuada, BPC, referência a família e a pessoa com deficiência. • Constitui o Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família, PAIF, o Serviço de Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos, PAEFI e o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil, PETI. • Determina que cabe ao órgão gestor da Assistência Social gerir o Fundo de Assistência Social, nas esferas de governo. • Institui que o cofinanciamento da política no SUAS, em todas as esferas de governo, através de transferência automáticas entre os Fundos de Assistência Social. Disponível em: <http://www.planalto. gov.br/Ccivil_03/Leis/L8742compilado.htm>. Acesso em: 15 ago. 2015. O SUAS, que será o assunto da próxima unidade, obteve nesses últimos anos muitas conquistas no campo normativo, através de Leis, Portarias, Decretos, Resoluções da CIT e também do CNAS, aperfeiçoando o modelo de gestão do SUAS e a operacionalização do Sistema e que necessitam ser incorporados em uma nova Norma Operacional. Sendo: • Decreto nº 7.788/2012, que regulamenta o Fundo Nacional de Assistência Social e estabelece o cofinancimento por meio dos blocos de Financiamento do SUAS. • Decreto nº 7.636/2012, que regulamenta o repasse do IGDSUAS. • Decreto nº 5.209/2004, que cria o Programa Bolsa Família e regulamenta o IGDPBF. • Decreto nº 7.334/2010, que institui o Censo SUAS. • Resolução CNAS nº 109/2009, que aprova a Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais. • Resolução CIT nº 07/2009, que institui o Protocolo de Gestão Integrada dos serviços, benefícios socioassistenciais e transferências de renda para o atendimento de indivíduos e de famílias beneficiárias do PBF, PETI, BPC e benefícios eventuais, no âmbito do SUAS. • Resolução CIT nº 08/2010, que estabelece fluxos, procedimentos e responsabilidades para o acompanhamento da gestão e dos serviços do SUAS. • Resolução CIT nº 05/2010, que institui, de forma pactuada, as metas de desenvolvimento dos CRAS por períodos anuais, visando sua gradativa adaptação aos padrões normativos estabelecidos pelo SUAS, com início em 2008 e término em 2013. • Resolução CIT nº 17/2010, que estabelece as prioridades nacionais para o Pacto de Aprimoramento da Gestão Estadual e do DF para o quadriênio 2011-2014. 144 UNIDADE 2 | AS NOVAS PERSPECTIVAS DA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL • Resolução CNAS nº 32/2011, que estabelece percentual dos recursos do SUAS, cofinanciados pelo governo federal, que poderão ser gastos no pagamento dos profissionais que integrarem as equipes de referência, conforme o art. 6º-E da Lei nº 8.742/1993. Após um amplo movimento de discussão entre gestores, trabalhadores e conselheiros, foi elaborada a nova NOB/SUAS 2012. FIGURA 26 - LINHA DO TEMPO DA METODOLOGIA DE DISCUSSÃO DA NOB/SUAS FONTE: A autora O Conselho Nacional de Assistência Social - CNAS, no ano de 2012 aprova a NOB, por meio da Resolução nº 33, de 12 de dezembro de 2012, sendo resultado de diferentes atores que têm sua atuação profissional no SUAS, e envolveu um amplo processo de consulta pública, como também a pactuação e negociação na CIT. Além de reafirmar os objetivos, diretrizes e os princípios éticos e organizativos e outras normativas da assistência social, Capítulo I, que estão previstos na Lei no 12.435/11, a NOB 2012, constitui o formato da gestão e as responsabilidades dos entes federados, disposto no Capítulo II, estabelece o Plano de Assistência Social, Capítulo III, situa o Pacto de Aprimoramento, Capítulo IV, como o processo de acompanhamento do processo, Capítulo V, determina a gestão financeira e orçamentária, Capítulo VI, e os instrumentos da vigilância socioassistencial, a gestão do trabalho, Capítulo VII, e o controle social, Capítulo VIII, como as instâncias de pactuação e negociação, Capítulo IX, além das regras de transição a serem observadas por todos os entes federados, Capítulo X. O parágrafo acima descrito, justifica resumidamente a aprovação de uma nova NOB, e da importância de pensar sobre as competências institucionais TÓPICO 4 | NORMA OPERACIONAL BÁSICA DO SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL (NOB/SUAS) 145 necessárias para os entes federados inserirem e implementarem um modelo de proteção social, com ampla cobertura, além da oferta de serviços e benefícios com qualidade para a população. Conforme: o cenário de ampliação da cobertura dos serviços, associado à necessidade de aprimoramento da gestão do Sistema, exige que o desenho da gestão do SUAS seja aperfeiçoado, pois a complexificação do Sistema produziu novas demandas para a gestão da política. O estágio em que o SUAS está requer instrumentos que aprimorem a gestão e qualifiquem os serviços (BRASIL, 2010, p. 9). Nesse sentindo a NOB 2012 passa a agregar a intensa regulação organizada e instituída por meio de leis, decretos, resoluções que tinham como finalidade propor condições dentro da legalidade, propondo o implante de estruturas, instrumentos e mecanismos para a implementação e consolidação do SUAS. A NOB 2012 apresentou algumas inovações, dentre elas pode-se destacar as que são indicativas ao planejamento e ao acompanhamento da Política de Assistência Social, em todos os níveis de governo, visando aperfeiçoar e qualificar a gestão, os serviços e benefícios, sendo assim a NOB proporciona instrumentos articulados e integrados, e que estejam em consonância às estruturas e mecanismos de planejamento que já existem, contribuindo na construção de um ciclo ininterrupto da gestão da Política de Assistência Social que já existe. Como previsto na LOAS, o Plano de Assistência Social - PAS, se torna o eixo estruturador e estratégico do planejamento das ações, objetivando centralizar, organizar, regulamentar e nortear a efetivação desta política de assistência social, tendo como mecanismo por meio da concretização do diagnóstico socioterritorial. Este deve ser realizado em todas as esferas governamentais, em um período de quatro anos, sendo o mesmo período de Plano Plurianual de Ação Governamental - PPAG, assegurando a contemplação das ações previstas para assistência social no ciclo orçamentário. Este ciclo orçamentário foi definido pela Constituição Federal de 1988, sendo composto pelas seguintes leis: • Plano Plurianual de Ação Governamental (PPAG) • Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) • Lei Orçamentária Anual (LOA). O PPAG compõe um mecanismo de planejamento das ações governamentais fixadas a médio prazo e que possuem diretrizes, objetivos, ações, metas físicas e financeiras das administrações públicas durante o período de quatro anos seguintes da sua aprovação, tornando-se alicerce para a construção da LOA, e essa traz uma nova compreensão para o planejamento público das ações do Estado. 146 UNIDADE 2 | AS NOVAS PERSPECTIVAS DA POLÍTICADE ASSISTÊNCIA SOCIAL A vinculação do período de construção do Plano de Assistência Social em concordância com o PPAG objetiva a integração das propostas de cada setor ao planejamento universal da administração pública, para permitir condições de garantir os recursos orçamentários e financeiros para a Política de Assistência Social. A NOB tem a competência de afirmar que o PAS contempla todas as questões necessárias para o desenvolvimento do planejamento governamental, considerando todas as deliberações aprovadas nas Conferências e do aprimoramento do SUAS através da execução das metas nacionais e estaduais. NOTA A NOB aprimora o Pacto de Aprimoramento organizado entre a União e os Estados, objetivando consolidar nacionalmente as metas e prioridades de cada esfera governamental, e aperfeiçoar a gestão da Política de Assistência Social, definindo indicadores, acompanhamento e avalição dos entes federados, para obter os resultados planejados. As inovações que estruturam a NOB 2012 estão ligadas ao aprimoramento dos níveis de gestão, através da apresentação de resultados efetivados da política, e que são verificados anualmente, pelo Índice de Desenvolvimento do SUAS – IDSUAS, elaborado através de indicadores originários dos sistemas nacionais de informação do Ministério do Desenvolvimento Social de Combate à Fome - MDS, e dos sistemas de estatística já existente. UNI IGD SUAS é o instrumento de aferição da qualidade da gestão descentralizada dos serviços, programas, projetos e benefícios socioassistenciais, bem como da articulação intersetorial, no âmbito dos municípios, DF e estados. Conforme os resultados alcançados, a União apoiará financeiramente o aprimoramento da gestão como forma de incentivo. FONTE: Disponível em: <http://www.mds.gov.br/assistenciasocial/orientacoes-igdsuas-para- site/201crepasse-de-recursos-do-igd-suas201d>. Acesso em: 12 ago. 2015. O acompanhamento do sistema pelos entes federados será realizado através do alcance das metas pactuadas, dos indicadores e da observância das normas indicadas no SUAS, onde: • Os municípios serão acompanhados pelos seus respectivos estados. • O Distrito Federal e os estados pertencerão à União. TÓPICO 4 | NORMA OPERACIONAL BÁSICA DO SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL (NOB/SUAS) 147 Na NOB 2012, está prevista a ajuda e apoio técnico, onde precisará seguir procedimentos com objetivo de obter os resultados almejados através de atuações de acompanhamento proativa e preventivas. Isto significa que, para ultrapassar as dificuldades deparadas na gestão pelos entes federados serão realizados planos de providência e que obrigatoriamente deverão ser aprovados e acompanhados pelos referentes Conselhos, e também serão disponibilizados planos de apoio elaborados pela União para os estados e Distrito Federal, e dos estados para os municípios. Se acontecer de algum ente federado descumprir o que estabelece os planos de providências e de apoio, poderá a União suspender ou bloquear os recursos financeiros, tanto na exclusão como na expansão do cofinanciamento, além do descredenciamento dos equipamentos da Política Nacional de Assistência Social, com comunicação ao Ministério Público. É importante destacar que a NOB 2012 prevê de forma igualitária mecanismos de monitoramento, consecutivo e sistêmico, acompanhando a implementação e o desenvolvimento dos serviços, dos programas, dos projetos e dos benefícios socioassistenciais sobre os objetivos e metas indicadas. Este monitoramento deverá valer-se de insumos, procedimentos e resultados que foram pactuados com os entes federados, com a finalidade de acompanhar a demanda das ações socioassistenciais, como também a atuação e desempenho da gestão, das Comissões Intergestoras e dos Conselhos. Com bases nas inovações da NOB/SUAS 2012, é possível realizar a seguinte comparação: QUADRO 2 - GESTÃO DA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL FONTE: A autora 148 UNIDADE 2 | AS NOVAS PERSPECTIVAS DA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL Perante o quadro acima pode-se destacar algumas responsabilidades comuns entre a União, estados, Distrito Federal e municípios, mediante a NOB/ SUAS 2012, sendo: • Instituir, ordenar e coordenar o SUAS em sua esfera. • Constituir prioridades e metas apontando a prevenção e o combate da pobreza, da desigualdade e das vulnerabilidades e riscos sociais. • Regularizar e normatizar a política de assistência social em cada nível de governo. • Ordenar e elaborar o Pacto de Aprimoramento do SUAS. • Articular a participação da sociedade civil, principalmente dos usuários da política de assistência social na sua elaboração. • Organizar o planejamento consecutivo e participativo no que se refere à política de assistência social. • Garantir a que a dotação orçamentária contemple os Planos de Assistência Social e dos acordos realizados no Pacto de Aprimoramento do SUAS. • Avalizar de forma integral a proteção socioassistencial à população, através da qualificação dos serviços. • Implantar, estruturar e implementar a Vigilância socioassistencial. • Administrar de maneira associada e integral, os serviços, programa, benefícios e programas de transferência de renda. • Implementar o sistema de informação, acompanhamento, monitoramento e avaliação. • Organizar, elaborar, implantar e executar a NOB/RH – SUAS, que determina a política de recursos humanos. • Constituir a ouvidoria do SUAS. • Acatar e atender as ações socioassistenciais emergenciais. LEITURA COMPLEMENTAR ASSISTÊNCIA SOCIAL [...] 2 FATOS RELEVANTES 2.1 A nova NOB do Suas A NOB é um instrumento normativo que disciplina a gestão da Política Nacional de Assistência Social, considerando seus princípios estruturantes de descentralização política-administrativa e de participação e controle social. Trata-se, portanto, de documento com as principais orientações para a operacionalização do SUAS, que especifica, entre outros pontos, as responsabilidades dos entes federados, a sistemática de financiamento e o papel das instâncias de deliberação e pactuação e de controle social. TÓPICO 4 | NORMA OPERACIONAL BÁSICA DO SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL (NOB/SUAS) 149 O advento da NOB/Suas 2012 cumpriu um duplo papel. De um lado, consolidou mudanças realizadas nos anos anteriores, tais como a criação dos incentivos financeiros à gestão (IGD-PBF e IGD-Suas), do Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico), do Censo Suas, da Norma Operacional Básica de Recursos Humanos (NOB/RH), do Protocolo de Gestão Integrada dos Serviços, Benefícios e Transferência de Renda, entre outras novidades surgidas nos anos recentes. De outro, trouxe algumas inovações, principalmente com relação ao modelo de gestão descentralizada e seu financiamento, mas também no que concerne ao controle social do Suas. A nova norma traz ainda novas referências visando à implantação da vigilância socioassistencial. O formato da gestão federativa do Suas foi a principal questão modificada pela NOB 2012, dado o diagnóstico quanto aos resultados da gestão descentralizada do sistema. Algumas preocupações motivaram a revisão da norma, como o caráter essencialmente municipalizante da descentralização, com fraca participação dos estados e o funcionamento não adequado dos instrumentos previstos na NOB 2005 para o financiamento regular, para o planejamento da gestão do sistema e para a atuação plena das instâncias do controle social. Este contexto motivou a revisão da NOB e a consequente elaboração de um novo modelo de gestão, que vincula pactuação de prioridades entre os entes com a ênfase no planejamento, segundo uma nova lógica de gestão financeira, visando ao aprimoramento do SUAS. Antes de conferir detalhes do novo modelo de gestão proposto pela NOB, é válido relembrar como estava estruturado o modelo então vigente, criado em 2005. Este se baseava na adesão dos entes ao sistema, mediante a habilitação dos municípios a um dos níveis de gestão do Suas (inicial, básica ou plena), e na celebraçãodo pacto de aprimoramento da gestão com os estados. A adesão subnacional ocorria mediante cumprimento de alguns requisitos, sendo os principais a instituição, em nível local, do conselho de assistência social, do fundo de assistência social e a elaboração do plano de assistência social. Uma das críticas mais frequentes a esse modelo era seu caráter estático, pois a criação de instrumentos e instituições por parte dos entes subnacionais não assegurava que tais instrumentos efetivamente desempenhassem as funções para as quais foram pensados. Além disso, avaliações mostravam que a descentralização da Política Nacional de Assistência Social apresentava caráter essencialmente municipalizante. Para alguns, o modelo conferia um papel residual aos estados; para outros, havia um papel claramente definido para esta instância, mas faltava mais comprometimento por parte dos estados no desenvolvimento do sistema. De fato, a NOB 2005 fixava atribuições à instância estadual e previa a obrigação de fornecer apoio técnico e financeiro aos municípios. Ademais, o pacto de aprimoramento da gestão, celebrado com os estados e o Distrito Federal (DF), estipulava tarefas prioritárias para estes entes. O reconhecimento do esgotamento e das ineficiências do modelo em vigor estimulou a elaboração de uma nova proposta de gestão descentralizada, cujo 150 UNIDADE 2 | AS NOVAS PERSPECTIVAS DA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL cerne reside na substituição da adesão, por meio do processo de habilitação, por mais pactuação entre os entes. O pacto pretende estabelecer um compromisso dos entes federados com o aprimoramento da gestão, dos serviços e dos benefícios da política por meio da fixação de metas e prioridades nas instâncias intergestoras (Comissão Intergestora Tripartite – CIT e Comissão Intergestora Bipartite – CIB), estabelecidas a cada quatro anos, com revisão anual. A norma prevê a classificação dos entes em níveis de gestão que procuram expressar o estágio de organização do Suas nas distintas esferas de governo, por meio de escala de aprimoramento na implantação e/ou gestão do sistema. Os níveis de gestão serão avaliados a partir do Índice de Desenvolvimento (ID) do SUAS; um indicador sintético composto pelo conjunto de indicadores de gestão, serviços, programas, projetos e benefícios socioassistenciais, que são apurados a partir das informações coletadas pelo Censo Suas e de outros sistemas do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS). O novo modelo busca ainda instituir uma cultura de planejamento e acompanhamento no SUAS. As prioridades e as metas estabelecidas no pacto deverão refletir-se nos processos de planejamento, visando ao alcance delas. Assim elas devem influenciar a elaboração dos planos municipais e estaduais de assistência. Ou seja, o pacto de aprimoramento e o plano de assistência social devem guardar forte relação entre si. Com este arranjo, busca-se resgatar o papel do plano de assistência social, que, embora presente no modelo anterior como requisito para habilitação dos entes ao SUAS, não figurava como instrumento efetivo de planejamento e gestão. Dados do Censo Suas 2012 revelaram que, apesar de 92,8% dos municípios terem afirmado possuir plano municipal de assistência social aprovado pelo conselho municipal, em 35% dos casos o plano leva quatro anos para ser atualizado (BRASIL, 2013a). O pacto de aprimoramento prevê ainda processos de acompanhamento e avaliação, não apenas com relação ao alcance das metas pactuadas, mas também quanto à observância das normativas gerais do Suas. A cargo da União, fica o acompanhamento dos estados e do DF, enquanto os estados são encarregados de acompanhar o andamento das metas nos seus municípios. É interessante observar que o processo de acompanhamento prevê, além da aferição de resultados vis- à-vis as metas fixadas no pacto, o desencadeamento de ações com o objetivo de resolver dificuldades encontradas para o alcance das metas. Este processo de acompanhamento deve ser anual e orientar ações de apoio técnico e financeiro à gestão descentralizada. Tal como previsto na NOB, o processo de acompanhamento não tem objetivo meramente punitivo, mas, antes disso, propõe auxiliar na resolução de dificuldades. Para tanto, a norma prevê a elaboração do Plano de Providências, um instrumento de planejamento das ações para a superação de dificuldades, dos entes federados na gestão e na execução de serviços, programas, projetos e benefícios socioassistenciais (BRASIL, 2012a, p. 29). TÓPICO 4 | NORMA OPERACIONAL BÁSICA DO SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL (NOB/SUAS) 151 Estes devem ser elaborados pelos entes, aprovados pelo conselho na respectiva instância e pactuados na comissão de intergestores. O descumprimento do plano de providências pode desencadear a aplicação de medidas administrativas. Um desenho fortemente baseado na pactuação entre os entes não poderia vir desacompanhado de iniciativas de reformulação das instâncias de negociação e pactuação do Suas. Por esta razão, a NOB/Suas 2012 conceitua a pactuação no âmbito da gestão da Política Nacional de Assistência Social e detalha as competências da CIT e da CIB. Na definição da composição destas instâncias, percebe-se a preocupação em assegurar a paridade na representação entre estados e municípios e entre regiões e portes dos municípios; questões fundamentais para a legitimidade dos acordos efetuados. Ainda neste sentido, a norma reconhece as entidades que representam os secretários estaduais e municipais de Assistência Social – Fórum Nacional de Secretários de Assistência Social (Fonseas), Colegiado Nacional de Gestores Municipais de Assistência Social (Congemas) e Colegiado Estadual de Gestores Municipais de Assistência Social (Coegemas) – e lhes concede o direito de indicar seus representantes nas respectivas comissões. Em suma, o novo modelo de gestão apresentado na NOB/Suas 2012 está principalmente fundado na pactuação federativa de metas e prioridades, considerando o estágio de desenvolvimento do Suas nos diversos entes. Ademais, visando garantir efetividade aos compromissos assumidos, se aposta na forte relação entre pactuação e planejamento, com estreitamento entre o pacto e os planos de assistência social, e na previsão de apoio técnico e financeiro entre os entes para o alcance das metas e a definição de mecanismos de acompanhamento e avaliação do desempenho de estados e municípios. O Pacto de Aprimoramento do Suas, previsto pela NOB 2005, trazia o objetivo de fomentar a adesão dos estados e do DF ao Suas. Dessa forma, a reconfiguração da gestão descentralizada não é estratégia inteiramente nova, mas sim um aprofundamento da pactuação. Para aprimorar o sistema, o novo modelo, presente na norma de 2012, estende o pacto aos municípios – antes submetidos ao processo de habilitação. O pacto de aprimoramento da gestão dos estados introduziu nova lógica de gestão descentralizada, pautada na adesão e na pactuação de metas entre os entes, com o respectivo acompanhamento e revisão. Diante disso, cabe analisar se o aprofundamento da estratégia de pactuação na nova NOB considera as lições aprendidas em torno do desempenho alcançado pelo Pacto de Aprimoramento da Gestão Estadual de 2005. A despeito da ausência de um documento oficial de avaliação do pacto estadual, a realização de comparação entre os pactos e os dados do Censo Suas traz algumas indicações importantes. A permanência de prioridades apontadas, ainda em 2007, quando foi assinado o primeiro pacto com os estados (com vigência bianual), sugere, por exemplo, a presença de dificuldades de avançar em alguns pontos relacionados às responsabilidades estaduais na gestão do SUAS. 152 UNIDADE 2 | AS NOVAS PERSPECTIVAS DA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL Ainda em 2007, o primeiro pacto trazia entre as prioridades para a gestão estadual a prestação de apoio técnico aos municípios na estruturação e na implantação de seus sistemas municipais de assistênciasocial. [...] Pouco mais de um quarto dos municípios afirmaram que seus técnicos não participaram ou participaram somente uma vez de atividades de orientação e apoio técnico promovidas pelo Estado nos últimos doze meses. [...]. A estruturação da rede regionalizada de serviços da proteção social especial é outra atribuição conferida aos estados prevista na NOB/Suas 2005 e que foi reafirmada na celebração do primeiro pacto estadual em 2007. Naquela ocasião, uma das metas atribuídas aos estados, visando promover a regionalização da rede de atendimento, era a descrição da organização do território em regiões e microrregiões, com identificação da implantação dos serviços de caráter regional e indicação dos municípios-sede (ou polo) e respectivos municípios de abrangência, bem como o levantamento da demanda pela estruturação de novos serviços. Contudo, dados do Censo Suas 2012 revelam que quase a metade dos estados (42,3%) ainda não possuía plano ou proposta de regionalização dos serviços de proteção social especial. Em doze estados não havia serviço ou unidade de caráter regional de proteção social especial. Dezessete secretarias estaduais sequer possuíam um diagnóstico da incidência das situações de risco e violações de direito existentes no estado – informação fundamental para a organização da rede de assistência no território. A falta de engajamento na estruturação da rede transparece ainda quando se constata que dez secretarias estaduais de assistência social não possuíam um diagnóstico sobre o volume e a localização da oferta dos serviços de proteção social especial no estado (BRASIL, 2013a). Por fim, outra prioridade acordada no Pacto de Aprimoramento da Gestão Estadual, celebrado em 2007, era o reordenamento institucional e programático do órgão gestor de assistência social para adequação ao Suas. Com este intento, o pacto estabelecia a adequação da estrutura organizacional das secretarias de assistência social dos Estados e do DF, e a adequação do quadro de pessoal às necessidades da nova estrutura e às funções da Secretaria de Assistência Social. Os dados do Censo Suas 2012 mostram, entretanto, que permanece como desafio relevante neste campo a consolidação na estrutura do órgão gestor estadual de todas as áreas essenciais, notadamente as de vigilância social, de gestão do trabalho e de monitoramento e avaliação. Apenas em cinco secretarias estaduais existiam áreas de gestão do trabalho estruturadas, e apenas seis identificam, formalmente, áreas de vigilância social. Concomitantemente, os dados sinalizam que os esforços para a adequação do quadro de pessoal são reduzidos, visto que 70% dos órgãos gestores estaduais e do DF não realizaram concurso público para a contratação de trabalhadores de nível superior ou de nível médio no período 2008-2010 (BRASIL, 2013a). Observa-se, portanto, o desempenho pouco satisfatório do pacto de aprimoramento da gestão estadual desde sua instituição, em 2007. Corroborando este diagnóstico, tem-se a repetição de algumas prioridades acordadas em 2007 TÓPICO 4 | NORMA OPERACIONAL BÁSICA DO SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL (NOB/SUAS) 153 nos pactos posteriores, inclusive o pacto celebrado em 2010, com vigência no quadriênio seguinte. Apesar disto, a NOB 2012 continua apostando no reforço da pactuação federativa como estratégia para aprimoramento do Suas. O novo modelo se baseia no fortalecimento da colaboração e da cooperação entre os entes para o alcance de metas nacionalmente pactuadas. Em um contexto de autonomia dos entes federados, a cooperação intergovernamental é um desafio para a gestão de políticas públicas. A Política Nacional de Assistência Social, assim como as políticas de saúde e educação, logrou construir alguns mecanismos cooperativos baseados em recompensas e sanções, ainda que a participação dos estados seja bastante questionável. A despeito disso, a efetividade do modelo ora proposto na assistência está condicionada ao desafio maior de conseguir cooperação dos entes que convivem em ambiente federativo com alta desigualdade regional e social. Somam-se a esse contexto, ainda, as diferenças quanto às capacidades de gestão e a acirrada competição regional, na qual estão ausentes regras cooperativas claras e há reduzidos mecanismos de cooperação formal e informal (SOUZA, 2009). A efetividade do modelo proposto na NOB/Suas 2012 dependerá, sobretudo, da força política das comissões intergestoras e da capacidade de suas decisões serem acolhidas pelos secretários estaduais e municipais de assistência. A norma operacional de 2012 consolidou também uma inovação importante no âmbito da gestão financeira: o cofinanciamento por meio dos blocos de financiamento. Estes blocos agregam os pisos que operam o financiamento de programas e serviços em cada nível de proteção, de acordo com a Tipificação Nacional dos Serviços Socioassistenciais (BRASIL, 2009a). Os pisos foram criados na norma anterior como mecanismo de repasse para o cofinanciamento dos serviços. No período inicial de construção do Suas, a estratégia de cofinanciamento por meio dos pisos buscava assegurar a implantação dos serviços em conformidade com as normatizações existentes. Contudo, este modelo se revelou rígido, dado que os recursos de cada piso deveriam ser aplicados estritamente no serviço respectivo. Assim, a substituição dos pisos pelos blocos na operacionalização do cofinanciamento possibilita aos gestores mais flexibilidade na gestão orçamentária, ao permitir a realocação de recursos em um mesmo bloco. [...] A NOB 2012 estabeleceu estratégias para ampliar a participação da sociedade civil nos conselhos e nas conferências de assistência social, notadamente dos usuários dos serviços, grupo que era considerado sub-representado nas instâncias do controle social, comprometendo a representação da sociedade civil. Diante disto, a norma propõe o reforço na articulação com movimentos sociais e a organização de novos espaços coletivos de participação dos usuários nos serviços socioassistenciais. Ademais, a norma busca aperfeiçoar as condições para a realização das conferências e a atuação dos conselhos. Para tanto, fixou responsabilidades da União, dos estados, do DF e dos municípios com o controle social. Estes entes 154 UNIDADE 2 | AS NOVAS PERSPECTIVAS DA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL devem prover aos conselhos infraestrutura e recursos materiais, humanos e financeiros, arcando com as despesas inerentes ao seu funcionamento. Apesar de a previsão de apoio financeiro aos conselhos estar presente desde a NOB 2005, o Censo Suas revelou a dificuldade destes foros de contar com financiamento dos órgãos gestores aos quais se vinculam [...]. Por fim, resta comentar a atenção especial dada na nova norma à vigilância socioassistencial, uma das funções atribuídas à Política Nacional de Assistência Social. A vigilância refere-se à produção, à sistematização, à análise e à disseminação de informações territorializadas a respeito das situações de vulnerabilidade e risco social e também da oferta de serviços socioassistenciais. A partir do trabalho da vigilância, espera-se contribuir para o planejamento e a organização da oferta de serviços no território. [...] FONTE: Disponível em: <http://www.ipea.gov.br/agencia/images/stories/PDFs/politicas_ sociais/140930_bps22_cap2.pdf>. Acesso em: 17 ago. 2015. 155 RESUMO DO TÓPICO 4 Neste tópico você viu que: • O Conselho Nacional de Assistência Social - CNAS, através da Resolução no 145, de 15 de outubro de 2004, aprova a Política Nacional de Assistência Social - PNAS. • A Norma Operacional Básica do Sistema Único de Assistência Social - NOB/SUAS organiza a forma e o modelo da proteção social, regularizando, normatizando e operacionalizando os princípios e diretrizes que sustentam a descentralização do modelo de gestão e execução dos serviços, programas, projetos e benefícios sociais. • Através do Conselho Nacional de Assistência Social - CNAS, foiaprovada a primeira NOB, no domínio da assistência social, através da Resolução nº 204, de 04/12/1997. • No dia 16 de dezembro de 1998, através da Resolução do CNAS nº 207, foi aprovada a segunda NOB. • A Resolução do CNAS nº 130, de 15 de julho de 2005, aprovou a terceira NOB, congregou e aperfeiçoou as conquistas que foram gradualmente adquiridas com as NOBs precedentes, dispondo sobre os níveis de gestão, das responsabilidades dos entes federados, instrumentalizando a gestão, enfatizando as competências das instâncias de pactuação e deliberação, como também atualização e aprimoramento do capítulo sobre o cofinanciamento e critério da divisão na lógica do SUAS. • No que se refere aos princípios da NOB/SUAS de 2005, estes estão explanados como sendo, “organizativos”, significando a implementação e operacionalização da assistência social como política pública de direito social. • A Resolução nº 269, de 13 de dezembro de 2006, do CNAS, aprova a Norma Operacional Básica de Recursos Humanos do Sistema Único de Assistência Social – NOB/RH SUAS. • O Conselho Nacional de Assistência Social - CNAS, no ano de 2012 aprova a NOB, por meio da Resolução nº 33, de 12 de dezembro de 2012, sendo resultado de diferentes atores que têm sua atuação profissional no SUAS, e envolveu um amplo processo de consulta pública, como também a pactuação e negociação na CIT. 156 • A NOB 2012 apresentou algumas inovações, dentre elas pode-se destacar as que são indicativas ao planejamento e ao acompanhamento da Política de Assistência Social. • Como previsto na LOAS, o Plano de Assistência Social - PAS, se torna o eixo estruturador e estratégico do planejamento das ações, objetivando centralizar, organizar, regulamentar e nortear a efetivação desta política de assistência social, tendo como mecanismo a concretização do diagnóstico socioterritorial. • O PPAG compõe um mecanismo de planejamento das ações governamentais fixadas a médio prazo e que possuem diretrizes, objetivos, ações, metas físicas e financeira das administrações públicas durante o período de quatro anos seguintes da sua aprovação. • A NOB tem a competência de afirmar que o PAS contempla todas as questões necessárias para o desenvolvimento do planejamento governamental, considerando todas as deliberações aprovadas nas Conferências, e do aprimoramento do SUAS através da execução das metas nacionais e estaduais. • Na NOB 2012 está prevista a ajuda e apoio técnico, onde precisará seguir procedimentos com objetivo de obter os resultados almejados através de atuações de acompanhamento proativa e preventivas. • A NOB 2012 prevê de forma igualitária mecanismos de monitoramento, consecutivo e sistêmico, acompanhando a implementação e o desenvolvimento dos serviços, dos programas, dos projetos e dos benefícios socioassistenciais sobre os objetivos e metas indicadas. 157 1 A NOB/SUAS de 2012 apontou algumas inovações estratégicas para a Política de Assistência Social. Cite duas delas. 2 Na nova NOB/SUAS, uma das questões fundamentais é que a habilitação dos municípios deixa de ser cartorial. O nível de gestão vai depender da apuração do IDSUAS fazendo uma relação da organização do SUAS local, estadual e distrital. Descreva o que é IDSUAS. AUTOATIVIDADE 158 159 UNIDADE 3 SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL - SUAS, UMA HISTÓRIA EM MOVIMENTO NO BRASIL OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir desta unidade você será capaz de: • compreender quais são os conceitos e as bases teóricas do SUAS; • aprender quais são os níveis de gestão do SUAS; • conhecer o reordenamento dos serviços, programas, projetos e benefícios socioassistenciais, instrumentos de Gestão do SUAS; • analisar quais são os desafios de implementação do SUAS. A Unidade 3 está dividida em quatro tópicos. Para um melhor aprofunda- mento do conteúdo e fixar melhor seus conhecimentos, no final de cada tópi- co você terá oportunidade de realizar as atividades propostas. TÓPICO 1 – CONCEITOS E BASES TEÓRICAS DO SUAS (EIXOS ESTRUTURANTES) TÓPICO 2 – SUAS: NÍVEIS DE GESTÃO E DE PROTEÇÃO SOCIAL TÓPICO 3 – A CONCRETIZAÇÃO DA PROTEÇÃO SOCIAL NO BRASIL TÓPICO 4 – A LINHA DO TEMPO DA ASSISTÊNCIA SOCIAL 160 161 TÓPICO 1 CONCEITOS E BASES TEÓRICAS DO SUAS (EIXOS ESTRUTURANTES) UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Como vimos até o presente momento, a Assistência Social passou a ser considerada como uma Política Pública garantida como direito do cidadão e dever do Estado, por meio da Constituição Federal de 88 e consolidada pela Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS, Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993, passando a integrar a Política de Seguridade Social, juntamente como a Saúde, Previdência Social. Através da efetivação da LOAS, consolidou-se o Sistema Único de Assistência Social, SUAS, através da aprovação de uma nova Política Nacional de Assistência Social – PNAS, em setembro de 2004, atendendo como já citado as deliberações da IV Conferência Nacional de Assistência Social, que foi realizada na cidade de Brasília em dezembro de 2003. Conforme a NOB/SUAS (2005): O SUAS é um sistema público não contributivo, descentralizado e participativo que tem por função a gestão do conteúdo específico da Assistência Social no campo da Proteção Social, sendo requisito essencial para efetivação da Assistência Social como política pública (BRASIL, 2005). A regulação das ações da Política de Assistência Social, bem como a consolidação da LOAS, estão materializas no SUAS, pois determina e constitui mecanismos fundamentais e indispensáveis para o desempenho de ações desta política pública. Esta última unidade do caderno de estudos da disciplina, tem como centralidade apresentar os eixos estruturantes do SUAS, como os desafios práticos no dia a dia de gestão pública, por meio dos tipos e níveis de gestão, do Reordenamento (Tipificação) dos serviços, programas, projetos e benefícios socioassistenciais, instrumentos de Gestão do SUAS. UNIDADE 3 | SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL - SUAS, UMA HISTÓRIA EM MOVIMENTO NO BRASIL 162 FIGURA 27 – EIXOS ESTRUTURANTES FONTE: Disponível em: <http://ufogenesis.com.br/lancado-novo-plano- estrategico-de-ciencia-e-tecnologia.html>. Acesso em: 24 ago. 2015. Este primeiro tópico da Unidade 3 tem como objetivo apresentar e refletir sobre os eixos estruturantes do SUAS, como também, elencar quais são os desafios impostos para que ocorra a sua implementação no dia a dia, com uma visão crítica. Conforme citado, o SUAS, surgiu e foi organizado para consolidar a LOAS no país, objetivando fazer da Assistência Social, uma política pública com a garantia de direitos. Para uma melhor compreensão sobres os eixos estruturantes do SUAS, os mesmos foram divididos em subtemas, sendo eles: a descentralização político- administrativa, a família como foco central das ações, a política de financiamento e de recursos humanos, a informação, o monitoramento e a avaliação (dos programas, projetos, serviços e benefícios), os conselhos de assistência social em todas as suas três esferas governamentais e o desafio da participação popular no controle social, oportunizando assim uma discussão entre sociedade civil e poder público. 2 OS EIXOS ESTRUTURANTES DO SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL – SUAS, ATRAVÉS DA PONDERAÇÃO TEÓRICO-PRÁTICA A metodologia de implementação da Política Nacional de Assistência Social - PNAS, teve em seu desenvolvimento um importante instrumento na sua consolidação, que foi por meio do Sistema Único de Assistência Social – SUAS, organizado com a finalidade de materializar o processo de andamento da PNAS como uma Política Pública de direito para todos os cidadãos que dela necessitarem. TÓPICO 1 | CONCEITOS E BASES TEÓRICAS DO SUAS (EIXOS ESTRUTURANTES) 163 Com a IV Conferência Nacional de Assistência Social, no ano de 2003, a efetivação dos direitos socioassistenciais se fortaleceram através de uma nova agenda política, por meio do SUAS, quese concretiza como sendo modelo de gestão para todo o Brasil, por meio de todas as esferas governamentais, consolidando um princípio de descentralização conforme a LOAS. O Projeto-Lei nº 3.077/08 foi considerado o marco legal, para legalizar o SUAS, tornando uma lei nacional, durante tramitação no Congresso Nacional para a aprovação deste Projeto-Lei houve manifestação de apoio do Conselho Nacional de Assistência Social - CNAS, do Conselho Federal de Assistência Social - CFESS, Conselhos Regionais de Serviço Social - CRESS, a Executiva Nacional de Estudantes de Serviço Social - ENESSO, e outras organizações estudantis e de classe. No dia 6 de julho de 2011, a Lei nº 12.435 foi sancionada pela Presidente do Brasil, Dilma Rousseff, que altera a Lei no 8.742, de 7 de dezembro de 1993, que dispõe sobre a organização da Assistência Social. Tendo como objetivo: Art. 2o A assistência social tem por objetivos: I - a proteção social, que visa à garantia da vida, à redução de danos e à prevenção da incidência de riscos, especialmente: a) a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice; b) o amparo às crianças e aos adolescentes carentes; c) a promoção da integração ao mercado de trabalho; d) a habilitação e reabilitação das pessoas com deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária; e e) a garantia de 1 (um) salário-mínimo de benefício mensal à pessoa com deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção ou de tê-la provida por sua família; II - a vigilância socioassistencial, que visa a analisar territorialmente a capacidade protetiva das famílias e nela a ocorrência de vulnerabilidades, de ameaças, de vitimizações e danos; III - a defesa de direitos, que visa a garantir o pleno acesso aos direitos no conjunto das provisões socioassistenciais. Parágrafo único. Para o enfrentamento da pobreza, a assistência social realiza-se de forma integrada às políticas setoriais, garantindo mínimos sociais e provimento de condições para atender contingências sociais e promovendo a universalização dos direitos sociais. (NR) Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12435. htm>. Acesso em: 24 ago. 2015. Sendo assim, o SUAS se estabelece como um mecanismo para a concretização da LOAS, enfatizando a descentralização da gestão nas três esferas governamentais com a participação da Sociedade Civil e Estado. Através deste novo sistema é priorizada a responsabilidade do Estado na garantia aos direitos de todos os usuários da Política de Assistência Social, sendo esta a única que tem condições de suprir as necessidades básicas do cidadão. UNIDADE 3 | SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL - SUAS, UMA HISTÓRIA EM MOVIMENTO NO BRASIL 164 Os eixos estruturantes que serão apresentados neste tópico são as bases organizativas, NOB/SUAS/2005, para a gestão do SUAS, definindo, organizando e fortalecendo a efetivação da Política de Assistência Social em todo território nacional. Os eixos principais que norteiam a implementação deste novo sistema são: a) Precedência da gestão pública da política de assistência social. b) Alcance dos direitos socioassistenciais por todos os cidadãos que precisarem. c) Matricialidade familiar. d) Territorialização. e) Descentralização político-administrativa e reordenamento institucional da gestão. f) Financiamento partilhado com todos e entre os entes federados. g) Fortalecimento da relação de democracia entre Estado e sociedade civil. h) Articulação com toda a rede de atendimento socioassistencial. i) Valorização do Controle Social. j) Participação da comunidade/usuário. k) Qualificação dos recursos humanos que atuam na política. l) Implementação do sistema de informação, monitoramentos, avaliação e sistematização de resultados. Estes eixos contribuem na personificação, unificação e qualidade dos serviços ofertados, como também da avaliação dos indicadores através de consulta aos indicadores sociais, além da definição terminologia das ações socioassistenciais. O SUAS, através de sua implementação, passou a ser considerado como uma revolução na assistência social do Brasil. Este sistema é fruto de aproximadamente duas décadas de discussão, colocando em prática os princípios da Constituição Federal – 88, que integra a Assistência Social, juntamente com Saúde e Seguridade Social à Previdência Social. UNI A Assistência Social, que antes estava fundamentada na prática clientelista, assistencialista e tutelada, passa a ter seus benefícios como direitos de cidadania. Outro eixo do SUAS é a matricialidade sociofamiliar, sendo este a centralidade das ações do sistema. TÓPICO 1 | CONCEITOS E BASES TEÓRICAS DO SUAS (EIXOS ESTRUTURANTES) 165 Para Pereira (2009, p. 26), desde o início da década de 70, “[...] a família vem sendo redescoberta como um importante agente privado de proteção social”. Essa é a justificativa que faz com que a família seja hoje o foco de atenções em todas as políticas públicas, decorrente da falta de uma política exclusiva no Brasil, como também é inexistente em outros países, a família passou a ser um objetivo de discussão no meio acadêmico e científico, perante a relação que se constitui entre família e Estado, visto que este é o encarregado e o responsável para suprir as demandas sociais das famílias por meio da promoção de políticas sociais. Entre as décadas de 70 e 80, em especial na década de 90, onde o neoliberalismo exalta as diferenças e desigualdades sociais, e ao mesmo tempo, existe uma discussão de um Estado como um instrumento mais forte, que se faz presente e interveniente, mas o neoliberalismo objetiva um Estado que esteja longe das demandas sociais, passando a responsabilidade para a sociedade civil. Segundo Pereira (2009, p. 32): “[...] o Estado, com o recurso do poder e, portanto, da autoridade coativa, que só ele possui; o mercado, com o recurso do capital; e a sociedade, da qual a família faz parte, com o recurso da solidariedade”. A autora define que essas instituições constituem, uma organização que necessitaria prover o bem-estar dos usuários, por ser: “[...] considerada a célula- mater da sociedade ou a base sobre a qual outras atividades de bem-estar se apoiam, a família ganhou relevância atual justamente pelo caráter informal, livre de constrangimentos burocráticos e de controles externos” (PEREIRA, 2009, p. 36). O Estado não consegue suprir todas as demandas sociais e acaba passando a responsabilidade de proteção para a família, desviando assim o foco do responsável pelas disparidades sociais. No artigo 226 da Constituição familiar, expressa que é de responsabilidade do Estado a proteção à família, reconhecendo como alicerce da sociedade, como sujeito de direitos, como outras legislações. A concepção do conceito que a família é a referência é importante para os gestores, para os trabalhadores do SUAS, como para os conselheiros da assistência social, para que sejam organizados e elaborados serviços conforme as demandas das famílias. O profissional que atua em determinado território deve organizar um trabalho comunitário, visando o fortalecimento das organizações sociais que já existem, através da inclusão dos usuários, buscando assim o fortalecimento e autonomia, com reflexões críticas que consequentemente buscam novos horizontes, onde estes usuários consigam perceber que fazem parte de uma conjuntura muito maior, a que pensam que estão incluídas, ou seja, fazem parte de um sistema capitalista, que exclui as pessoas, que a vulnerabilidade social em que vivem não acontece por falta de capacidade ou de capacitação, mas pelo processo de exclusão próprio deste sistema. UNIDADE 3 | SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL - SUAS, UMA HISTÓRIA EM MOVIMENTO NO BRASIL 166 A unidade de avaliação de referência para os técnicos se denomina “família referenciada”. Conforme a NOB/SUAS (2005), considera-se “família referenciada” aquela que vive em áreas caracterizadascomo de vulnerabilidade, definidas a partir de indicadores estabelecidos por órgão federal, pactuados e deliberados. Diante disso, consegue perceber que nem toda família se torna uma instituição que tem condição de fornecer todas a necessidades básicas para os seus membros, apesar que ainda existe por parte do Estado e também do mercado, afirmação que isso é possível. Pereira (2009, p. 36-37) defende que: Forte, porque ela é de fato uns lócus privilegiados de solidariedades, no qual os indivíduos podem encontrar refúgio contra o desamparo e a insegurança da existência. Forte, ainda, porque é nela que se dá, de regra, a reprodução humana, a socialização das crianças e a transmissão de ensinamentos que perduram pela vida inteira das pessoas. Mas ela também é frágil, ‘pelo fato de não estar livre de despotismos, violências, confinamentos, desencontros e rupturas’ [...]. Se analisarmos a história da constituição de um núcleo familiar, é visível que aconteceram modificações na família, através de um conjunto de arranjos, e que não são apenas considerados nuclear, para o poder público um desafio é elaborar políticas públicas, considerando os novos padrões de família que surgem na contemporaneidade. A autora Sarti (2008, p. 29) afirma que “[...] as dificuldades enfrentadas para a realização dos papéis familiares no núcleo conjugal, diante de uniões instáveis e empregos incertos, desencadeiam arranjos que envolvem a rede de parentesco como um todo, a fim de viabilizar a existência da família”. A autora acima citada se refere, ainda, às famílias que em situação de vulnerabilidade social, e diante da fragilidade estão sob a responsabilidade de famílias extensas ou de outras pessoas com maior vínculo familiar, fortalecendo assim uma rede de proteção e sociabilidade familiar, portanto é necessário que as políticas públicas e os profissionais tenham a clareza que: [...] trabalhar com família requer a abertura para uma escuta, a fim de localizar os pontos de vulnerabilidade, mas também os recursos disponíveis [...] cada família constrói sua própria história, ou o seu próprio mito, entendido como uma formulação discursiva em que se expressam o significado e a explicação da realidade vivida [...] (SARTI, 2008, p. 26-27). O reconhecimento da importância da família, como sendo uma unidade de referência na Política de Assistência Social, baseia-se no conceito de que este ambiente deve ser considerado o primeiro de proteção aos usuários. TÓPICO 1 | CONCEITOS E BASES TEÓRICAS DO SUAS (EIXOS ESTRUTURANTES) 167 UNI O modelo de família inserido na Política de Assistência Social, entende-se nas afinidades constituídas pelos laços consanguíneos, afetivos e de solidariedade. Para o SUAS, a matricialidade familiar e sua conjuntura sociofamiliar são consideradas como um dos eixos principais que formam os pilares desse sistema. A Política de Assistência Social considera a família como sendo um “[...] espaço privilegiado e insubstituível de proteção e socialização primária, provedora de cuidados aos seus membros, mas que precisa também ser cuidada e protegida” (PNAS, 2004, p. 42). Todas as mudanças que ocorreram nas últimas décadas, em relação ao mundo do trabalho e o acirramento das expressões das questões sociais, afetaram diretamente o núcleo familiar, o profissional deve ter um olhar que consiga compreender a família, como sendo: [...] é mediadora das relações entre sujeitos e a coletividade, delimitando, continuadamente os deslocamentos entre o público e o privado, bem como geradora de modalidades comunitárias de vida [...] um espaço contraditório, cuja dinâmica cotidiana é marcada por conflitos e geralmente, também, por desigualdades [...] (PNAS, 2004, p. 41). As novas configurações familiares devem ser compreendidas através das alterações e das mudanças no antigo modelo implementado na sociedade, que era constituída por pai, mãe e filhos, e com as transformações que ocorreram com a modernização da sociedade, a família também fez parte deste processo. Um novo conceito de família foi aceito pelas políticas públicas, ampliando os serviços ofertados, a partir do momento que se entende a família como: “[...] um conjunto de pessoas que se acham unidas por laços consanguíneos, afetivos e/ou de solidariedade” (PNAS, 2004, p. 41). Sendo assim, as famílias passam a ser acolhidas independente da sua configuração familiar, podendo ser formadas por mãe e filhos, pai e filhos, ou avós e netos, casais homossexuais, ou até mesmo pessoas que moram em repúblicas, resumindo, todas as pessoas ou grupos que residem em um mesmo domicílio são considerados como sendo uma família, tendo o acesso garantido de seus direitos. Dentre essas mudanças pode-se observar um enxugamento dos grupos familiares (famílias menores), uma variedade de arranjos familiares (monoparentais, reconstruídas), além dos processos de empobrecimento acelerado e da desterritorialização das famílias geradas pelos movimentos migratórios (PNAS, 2004, p. 42). UNIDADE 3 | SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL - SUAS, UMA HISTÓRIA EM MOVIMENTO NO BRASIL 168 O trabalho sendo centralizado na família se tornou um instrumento para superar as ações de caráter emergencial, e passou a realizar serviços de prevenção, proteção e promoção de todos os seus membros. Conforme a PNAS (2004, p. 41): “[...] prevenir, proteger, promover e incluir seus membros é necessário, em primeiro lugar, garantir condições de sustentabilidade para tal”. O Estado Democrático e de Direitos tem como comprometimento a obrigação de proteger a população, através das necessidades básicas para a sobrevivência. UNI Mais uma dica de leitura para expandir seus conhecimentos. Não deixe de ler. Cruz, L. R. & Guareschi, N. (Orgs.). Políticas Públicas e Assistência Social. Diálogos com as práticas psicológicas. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009. O novo modelo de gestão da política da Assistência Social prioriza a família como foco de atenção e território como base da organização de ações e serviços em dois níveis de atenção: a Proteção Social Básica, que é desenvolvida nos CRAS, pautando-se no fortalecimento dos vínculos familiares e na convivência comunitária; e a Proteção Social Especial, desenvolvida nos CREAS, com o objetivo de promover o acesso aos serviços de apoio e a inclusão em redes de pertencimento. Em ambos os Centros está previsto o profissional de psicologia na composição da equipe mínima. Quais as práticas da psicologia nestes locais? No sentido de contribuir com este debate, esta obra reúne trabalhos teóricos e práticos de pesquisadores e profissionais da psicologia, da assistência social e da antropologia, caracterizando a transdisciplinaridade da temática das políticas sociais públicas. A descentralização político-administrativa passou a ser estabelecida, sendo que para a Política de Assistência Social, operar de maneira descentralizada permite alcançar com uma maior eficácia todos os territórios nacionais e suas demandas individualizadas. Dessa forma, uma maior descentralização, [...] costuma ser pré- requisito para ações integradas na perspectiva da intersetorialidade. Descentralização efetiva com transferência de poder e decisão, de competências e de recursos, e com autonomia das administrações dos micros espaços na elaboração de diagnósticos sociais, diretrizes, metodologias, formulação, implementação, execução, monitoramento, avaliação e sistema de informação das ações definidas, com garantias de canais de participação local (PNAS, 2004, p. 44). TÓPICO 1 | CONCEITOS E BASES TEÓRICAS DO SUAS (EIXOS ESTRUTURANTES) 169 Essas mudanças no processo de gestão da política de assistência social vêm de encontro com os princípios da Constituição Federal de 88, descentralização política administrativa das atividades e ações governamentais. Esta diretriz está fundamentada no artigo 204 da Constituição Federal de 88: Art. 204. As ações governamentais na área da assistência social serão realizadascom recursos do orçamento da seguridade social, previstos no art. 195, além de outras fontes, e organizadas com base nas seguintes diretrizes: I - descentralização político-administrativa, cabendo a coordenação e as normas gerais à esfera federal e a coordenação e a execução dos respectivos programas às esferas estadual e municipal, bem como a entidades beneficentes e de assistência social; II - participação da população, por meio de organizações representativas, na formulação das políticas e no controle das ações em todos os níveis. Parágrafo único. É facultado aos Estados e ao Distrito Federal vincular a programa de apoio a inclusão e promoção social até cinco décimos por cento de sua receita tributária líquida, vedada a aplicação desses recursos no pagamento de: I - despesas com pessoal e encargos sociais; II - serviço da dívida; III - qualquer outra despesa corrente não vinculada diretamente aos investimentos ou ações apoiadas. E sendo reafirmada no artigo 6 da LOAS: Art. 6º As ações na área de assistência social são organizadas em sistema descentralizado e participativo, constituído pelas entidades e organizações de assistência social abrangidas por esta lei, que articule meios, esforços e recursos, e por um conjunto de instâncias deliberativas compostas pelos diversos setores envolvidos na área. Estes princípios, mediante a política de assistência social, estão manifestados pela definição de corresponsabilidade em cada esfera governamental que concretiza a política, incumbindo: • para a coordenadoria e edição das regras de caráter geral à esfera federal; • para os estados, ao Distrito Federal e aos municípios a coordenação e implemento dos serviços socioassistenciais em suas esferas governamentais; • para todas as esferas governamentais a responsabilidade pelo cofinanciamento; o monitoramento e a avaliação das ações, programas, projetos e serviços; • o fornecimento da capacitação permanente dos profissionais é de corresponsabilidade dos estados e do Governo Federal; e • a sistemática das informações na área é de corresponsabilidade para todas as esferas. É importante ressaltar que o SUAS é composto por entidade e organizações de assistência social, ou seja, do terceiro setor, e também pela efetivação dos conselhos, planos e fundos da assistência social, sendo estes requisitos básicos para a adesão da gestão inicial do SUAS em todas as esferas governamentais. UNIDADE 3 | SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL - SUAS, UMA HISTÓRIA EM MOVIMENTO NO BRASIL 170 A descentralização da política está relacionada com características socioterritorial de cada local, ou seja, com cada território, onde é necessário identificar as características sociais, culturais, políticas, econômicas da população do seu entorno, e que acabam revelando a complexidade da diversidade, das desigualdades que existem em todas as regiões do Brasil. Neste sentido a “territorialização é o reconhecimento da presença de múltiplos fatores sociais e econômicos que levam o indivíduo e a família a uma situação de vulnerabilidade ou risco social. É nos territórios que é operado o princípio da prevenção na Política de Assistência Social” (NOB/SUAS, 2005, p.18). É a partir desta diversidade que os serviços socioassistenciais de proteção básica foram organizados através de um novo modelo socioassistencial, tendo como referência o número de famílias/habitantes que estão referenciados em um determinado território. A quantidade de família referenciada acontece através dos indicadores socioterritoriais que estão disponíveis pelos dados censitários do IBGE. Toda Política Pública independe da área de atuação, para ser efetivada necessita de investimentos, e acontece prioritariamente através de financiamento, para compreender este procedimento referente ao orçamento da gestão pública, em todas as suas instâncias, Assumpção (2007, p. 43) explica que é “um instrumento de planejamento da ação governamental composto das despesas fixadas pelo Poder Legislativo e que autoriza o Poder Executivo a realizá-las durante o exercício financeiro, mediante a arrecadação de receitas suficientes e previamente estimadas”. Alguns instrumentos que colaboram com a gestão do orçamento público foram apresentados na Constituição Federal de 1988, que são: • Plano Diretor. • Plano Plurianual - PPA. • Lei de Diretrizes Orçamentárias - LDO. • Lei Orçamentária Anual – LOA. O Plano Diretor é o início de planejamento municipal que deve ser realizado por todos os municípios com mais de 20 mil habitantes, o qual deve estar em harmonia com a Lei Orgânica do Município e com a Lei de Responsabilidade Fiscal. Suas atualizações devem ser feitas pelo menos a cada dez anos. Os demais instrumentos devem ser norteados pelas diretrizes contidas no Plano Diretor. É importante lembrar que o Plano Diretor constitui-se no principal instrumento de planejamento sustentável desses municípios, contribuindo na formação de diretrizes para expansão urbana e desenvolvimento nas mais diversas áreas, visando sempre ao interesse da coletividade (BERNARDONI, 2010, p. 51). A LDO se torna um planejamento de gestão a curto prazo, e objetiva buscar a estabilização entre as receitas e despesas anuais de cada gestão pública, sendo TÓPICO 1 | CONCEITOS E BASES TEÓRICAS DO SUAS (EIXOS ESTRUTURANTES) 171 considerada um elo de ligação entre o PPA e a LOA, pois ao ser elaborada deve-se levar em consideração, pelo gestor, as metas elencadas no PPA. Outro planejamento, considerado de curto prazo é a LOA, e que deve estar fundamentada na LDO. Assumpção (2007, p. 58) afirma: O PPA e a LDO são documentos de planejamento, enquanto que a LOA é a indicação do como esse planejamento irá ser executado. Para a elaboração da LOA o administrador precisa pensar em várias questões da realidade, sendo que uma delas é [...] sua capacidade de arrecadação e expressa essa estimativa em números na LOA. Já as receitas são fixadas, isto é, a LOA expressa, em termos numéricos, o valor máximo da despesa para cada item do orçamento. Portanto, enquanto a RECEITA é PREVISTA, a DESPESA é FIXADA. IMPORTANT E Estes instrumentos, PPA, LDO e LOA, precisam estar interligados para se efetivarem e devem conter uma justificativa, objetivos, público-alvo, metodologia de execução e os recursos financeiros a serem gastos. Citando novamente Bernardoni (2010, p. 39): [...] por parte do planejador, o processo de planejamento pressupõe uma visão holística de todo o cenário que envolve as políticas públicas, como também uma capacidade de gestão para integrar toda a estrutura da administração (organização, pessoas, equipamentos e recursos financeiros) [...]. Todas as políticas públicas nos municípios são planejadas e administradas desta forma, inclusive a Política de Assistência Social. A Constituição Federal de 88 garante que o financiamento da Seguridade Social se torna a base de financiamento da assistência social, saúde e previdência. Os Fundos de Assistência Social - FAS, são as instâncias que representam o financiamento da Política de Assistência Social em todas as esferas governamentais. É por meio do FAS, que todo e qualquer recurso que precise ser destinado aos municípios é obrigatório ser repassado através do fundo, garantindo assim que os Conselhos, nas três esferas, consigam controlar os gastos do poder público com a Política de Assistência Social, pois este promove e facilita a prestação de contas para a toda a população. UNIDADE 3 | SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL - SUAS, UMA HISTÓRIA EM MOVIMENTO NO BRASIL 172 Segundo a PNAS (2004, p. 49): “o financiamento dos benefícios se dá de forma direta aos seus destinatários, e o financiamento da rede socioassistencial se dá mediante aporte próprio e repasse de recursos fundo a fundo [...]”. Sendo assim, nenhum recurso destinado para a Assistência Social poderá ser gasto sem a aprovação dos Conselhos de Assistência Social, bem como a prestação de contas dos recursos dependeda aprovação destes. O que passa a ser chamado de Controle Social dos Gastos Públicos. Para que os municípios possam receber repasses financeiros via fundo, é obrigatório que os Conselhos de Assistência Social e o Fundo Municipal de Assistência Social estejam implementados e em pleno funcionamento, além da obrigatoriedade da elaboração do Plano de Assistência Social. E ainda, é fundamental que exista: [...] a comprovação orçamentária dos recursos próprios do município destinados à assistência social, alocados em seus respectivos Fundos de Assistência Social; o cumprimento, pelo município, das obrigações assumidas; que haja regularidade na aplicação dos recursos e que as contas do exercício anterior sejam aprovadas pelo respectivo Conselho (TCU, 2007, p. 26). Neste sentido, os municípios precisam estar em um processo constante de planejamento de suas ações, programas, serviços e projetos, só assim terão pleno funcionamento da Política de Assistência Social. O Plano de Assistência é considerado um instrumento que objetiva o planejamento estratégico, organizando e norteando as ações para sua implementação e execução perante a Política de Assistência Social. O órgão gestor é responsável pela elaboração deste Plano, sendo que só poderá ser executado depois que for aprovado pelo Conselho de Assistência Social, tendo a autonomia de pedir reformulações, acompanhar, fiscalizar, aprovar ou não. A Política de Assistência Social, bem como todas as outras políticas públicas, para serem executadas, necessitam de uma equipe de trabalhadores, sendo esses técnicos ou não, porém para dar suporte são orientados através de uma Política de Recursos Humanos. O objetivo da elaboração de uma Política de Recursos Humanos é para conseguir afrontar a precarização do trabalho ofertado, influenciando na qualidade dos serviços continuados. Quando se refere à precarização do trabalho, logo pensamos na exploração do trabalhador que está inserido em uma empresa privada, porém o Estado não fica muito fora de precariedade do trabalho, podendo ser citado nos processos seletivos, contratos temporários, licitações, desvio de função, e que resultam em uma instabilidade para este trabalhador, e com baixa remuneração. TÓPICO 1 | CONCEITOS E BASES TEÓRICAS DO SUAS (EIXOS ESTRUTURANTES) 173 A PNAS (2004) preocupada com a troca de gestores e prefeitos, a cada quatro anos, onde na maioria das vezes altera-se quase sempre por completo a equipe de funcionários, pois cada gestão tem seus determinados, chamados “cabos eleitorais, e/ou militantes” para ocuparem os cargos de confiança, apontava algumas demandas que foram congregadas na Norma Operacional de Recursos Humanos do SUAS (NOB/RH - SUAS) de 2006, mas não se discutia como sendo uma política de recursos humanos. Através da aprovação da NOB/RH - SUAS, o contexto da Política de Assistência Social inicia seu processo de mudanças, prevendo mudanças essenciais para o enfrentamento no que diz respeito à precarização do trabalho na área da assistência social. A NOB/RH - SUAS (2006, p. 8) afirma que: “O SUAS vem se consolidando, e a gestão do trabalho na Assistência Social carece de uma atenção maior devido à sua importância para a consolidação do sistema”. A Secretaria Nacional de Assistência Social considera a NOB/RH - SUAS, sendo um documento primordial na conciliação da Política de Assistência Social, no que conduz a área da gestão do trabalho. Os princípios que estão elencados nesta norma se referem à gestão do trabalho das políticas sociais públicas, e foram congregados pela Política de Assistência Social e pela Política de Recursos Humanos para que as relações de trabalho sejam estáveis e dignas entre todos os trabalhadores, e que reflita no usuário destes serviços. Por meio desta Política é que a gestão do trabalho no SUAS avança na garantia de direitos dos trabalhadores, por meio dos Planos de Carreira, Cargos e Salários, PCCS, que constitui um estímulo para a formação e capacitação continuada, e que as definições dos valores de salário sejam realizadas através do nível de formação. O correto seria que todos os trabalhadores que possuem nível superior, ou seja, um profissional como assistente social e psicólogos, tivessem salário igual, e não definido por profissão. Para o CFESS (2007, p. 43), isto é principal e fundamental, sendo que: As possibilidades de atuação profissional não podem ser desvinculadas das condições e processos em que se realiza o trabalho. É nesse sentido que as competências e atribuições profissionais devem se inserir na perspectiva da gestão do trabalho em seu sentido mais amplo, que contemple ao menos três dimensões indissociáveis: as atividades exercidas pelos(as) trabalhadores(as), as condições materiais, institucionais, físicas e financeiras, e os meios e instrumentos necessários ao seu exercício. A garantia e articulação dessas dimensões são fundamentais para que os(as) trabalhadores(as) possam atuar na perspectiva de efetivar a política de Assistência Social e materializar o acesso da população aos direitos sociais. A NOB/RH-SUAS destaca outra questão importante, que está relacionada com a maneira e a forma de contratar um trabalhador para desenvolver os UNIDADE 3 | SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL - SUAS, UMA HISTÓRIA EM MOVIMENTO NO BRASIL 174 serviços, programas, projetos previstos na Política de Assistência Social, onde essa contratação só será realizada mediante concurso público, possibilitando assim uma estabilidade na relação entre trabalhador e usuários dos serviços. Para o CFESS (2007, p. 43-44), isto significa que “o estabelecimento de relações de trabalho estáveis, a garantia institucional e condições e meios necessários à realização das atividades são indispensáveis para o exercício profissional”. Diante disto, a gestão do trabalho no SUAS possibilita um avanço na qualidade dos serviços prestados, contribui para enfrentar as relações precárias de trabalho, e consequentemente agiliza a garantia dos direitos trabalhistas e sociais de todos os profissionais. DICAS Caro(a) acadêmico(a), a leitura da NOB-RH/SUAS será fundamental para que você consiga aprimorar seus conhecimentos Estabelece parâmetros gerais para a gestão do trabalho a ser implementada na área da Assistência Social, englobando todos os trabalhadores do SUAS, órgãos gestores e executores de ações, serviços, programas, projetos e benefícios da Assistência Social. BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Secretaria Nacional de Assistência Social. Norma operacional básica de recursos humanos do SUAS NOB-RH/SUAS Anotada e Comentada. Brasília: [2006]. 71p. (Reimpresso em 2011) O SUAS conta também com outros eixos estruturantes, sendo eles, a informação e o monitoramento, ambos de fundamental importância para avaliação de todas as políticas públicas, inclusive na Política de Assistência Social. Para que ocorra uma avaliação correta das ações desenvolvidas é necessário que este processo se desenvolva antes e após o seu desempenho e execução. Carvalho (2001) teoriza esses momentos de avaliação como sendo ex-ante e post-facto. Na avaliação do ex-ante é imprescindível que se averiguem “as alternativas possíveis e os impactos projetados sobre cada uma das alternativas quanto a custos, nível de adesão da organização e dos beneficiários, padrões de intervenção, estratégias, processos e resultados. É uma avaliação do diagnóstico e da proposta” (CARVALHO, 2001, p. 63). TÓPICO 1 | CONCEITOS E BASES TEÓRICAS DO SUAS (EIXOS ESTRUTURANTES) 175 Sendo assim, é de grande importância que exista um acompanhamento nas ações propostas e desenvolvidas, o que se chama de monitoramento das políticas públicas. Falando especificamente da Política de Assistência Social, através deste processo se consegue acompanhar toda a execução das ações, podendo reavaliar o planejamento e as estratégias como também outras demandas que surgem perante este processo, sendo assim,“[...] objetivando corrigir distorções durante o próprio desenvolvimento do projeto [...]” (CARVALHO, 2001, p. 64). A mesma autora citada acima (p. 64), afirma que para finalizar o ciclo avaliativo, é necessário que aconteça o que chama de post-facto, ou seja, depois do fato ocorrido, sendo que “[...] os projetos podem ter resultados e impactos esperados e não esperados, tangíveis e intangíveis, imediatos ou de médio prazo. Por isso, a avaliação de resultados e impactos deve ocorrer não só ao término dos projetos, mas também depois de algum tempo”. As políticas públicas em sua totalidade, inclusive a Assistência Social, não devem resistir a esse processo de avaliação, visto que seus princípios estão inseridos na prestação dos serviços como qualidade, visando também resultados almejados a curto, médio e longo prazo. Para que isto seja viável, a PNAS (2004) apresentou um sistema de informação, monitoramento e avaliação, que tende a garantir o acompanhamento dos serviços socioassistenciais que são oferecidos para a população em condição de vulnerabilidade social. “[...] a mensuração da eficiência e da eficácia das ações previstas nos Planos de Assistência Social; a transparência; o acompanhamento; a avaliação do sistema e a realização de estudos, pesquisas e diagnósticos a fim de contribuir para a formulação da política pelas três esferas de governo” (PNAS, 2004, p. 55). Sendo assim, o SUAS passa a defender a participação e controle social de toda ação desenvolvida na Política de Assistência Social, onde qualquer cidadão tem o direito de seguir e acompanhar o fluxo e o controle dos serviços prestados, por meio dos dados que estão inseridos. Este controle não cabe somente à comunidade, mas também aos gestores, que para atingir os objetivos dos serviços oferecidos com qualidade, é indispensável que aconteçam com regularidade o monitoramento e avaliação. O SUAS possui uma rede de informações, através de sistemas interligados e são constantemente aperfeiçoados, onde a tecnologia consiga contribuir com o monitoramento, objetivando uma melhoria na qualidade dos serviços prestados. Este sistema precisa se manter através do que chamamos Instrumento de Gestão, que: [...] não se caracterizam como documentos meramente burocráticos, mas que têm como objetivo propiciar o planejamento, execução, monitoramento e avaliação dos serviços, programas e projetos, e benefícios socioassistenciais além de municiar as instâncias do sistema descentralizado e participativo de assistência social (CADERNO SUAS II, 2007, p. 27). UNIDADE 3 | SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL - SUAS, UMA HISTÓRIA EM MOVIMENTO NO BRASIL 176 DICAS Vamos lá, para mais uma dica importante de leitura. Esta publicação, fruto de uma pesquisa de fôlego, é uma grande contribuição para todos os profissionais que se defrontam com os desafios postos pelas políticas sociais na atualidade. A autora realiza uma análise crítica dos processos e dos resultados de avaliação da Política de Assistência Social, buscando identificar as requisições necessárias para sua utilização como parte do conjunto dos instrumentos de viabilização da democracia e do exercício do controle social dessa política de proteção social. Esta reflexão chega ao leitor numa hora muito oportuna, uma vez que poderá contribuir com o debate crítico sobre os rumos e tendências da atual Política de Assistência Social que desde 2004, com a aprovação da PNAS/SUAS, coloca-se o desafio de estruturar sistemas de gerenciamento das informações, monitoramento e avaliação dos resultados. ALVES, Adriana Amaral Ferreira. Assistência social: história, análise crítica e avaliação. Curitiba: Juára, 2011. O eixo, sobre a concepção de participação, refere-se à importância da democracia participava que começou a se destacar desde a década de 70, no Brasil, através dos Movimentos Sociais, que enfatizavam uma reforma democrática no modelo de fazer política. “No debate quanto à ativa reforma da democracia, a ideia de participação de grupos e camadas da população tidas como pouco representadas, constituiria incentivo para estimular o melhor funcionamento das instituições políticas” (MOURA, 2009, p. 47). Sabe-se que os Movimentos Sociais são protagonistas na luta coletiva pela transformação da conjuntura econômica, social e política do país. “A busca pelo reconhecimento do direito de se ter direitos foi o imperativo desses movimentos. Busca-se ainda o direito de participar e de decidir sobre as ações estatais, influenciando as políticas e fiscalizando a operacionalização dos serviços sociais” (SIQUEIRA, 2006, p. 48). Alguns autores defendem que atualmente existem três percepções básicas no que tange à participação, sendo elas: • Participação comunitária: que surgiu no século XX, e tinha uma base conservadora, ressaltando o desempenho de atividades sem a preocupação de pensar, elaborar e eleger prioridades. • Participação popular: surge nos anos 70, durante o auge dos Movimentos Sociais, que tinham atitudes reivindicatórias, e de controle das ações das empresas estatais. • Participação social: que surge com a metodologia da democratização do Brasil. FONTE: Disponível em: <file:///C:/Users/09302417972/Downloads/1258- elias_construcao_do_SUS.pdf>. TÓPICO 1 | CONCEITOS E BASES TEÓRICAS DO SUAS (EIXOS ESTRUTURANTES) 177 O fortalecimento das reivindicações dos Movimentos Sociais teve início através da Constituição Federal de 88, com a institucionalização da participação popular, conforme artigo primeiro, parágrafo único, que afirma: “Todo poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos diretamente [...]” (BRASIL, 1988, Art. 1º). No que se refere à Assistência Social, a Constituição Federal de 88, esclareceu algumas diretrizes, que são: “[...] II – participação da população, por meio de organizações representativas, na formulação das políticas e no controle das ações em todos os níveis [...]” (BRASIL, 1988, Art. 204). A participação é um componente importante na constituição da democracia, onde os cidadãos são capacitados para avaliarem o desempenho do poder público, como também do privado. Sendo assim, a participação popular poderá ser executada por diversas formas e interesses, objetivo e metas, entre outras, que mudam diante da situação histórica, cultural de cada sociedade. Para Souza (2009, p. 170): “[...] pode ser entendida como processo social, no qual o homem se descobre enquanto sujeito político, capaz de estabelecer uma relação direta com os desafios sociais [...]”. A gestão da Política de Assistência Social precisa ser flexível e participativa, oferecendo espaços para o treinamento pleno do controle social, e que possibilitem a participação contínua dos usuários e outros interessados, como trabalhadores do SUAS, ou governamentais, ou ainda da sociedade civil organizada. Conforme Nogueira (2005, p. 142): A participação que se dedica a compartilhar decisões governamentais, a garantir direitos, a interferir na elaboração orçamentária ou a favorecer sustentabilidade para certas diretrizes concentra-se muito mais na obtenção de vantagens e de resultados do que na modificação de correlações de forças ou de padrões estruturais. Uma forma de participação popular continuada acontece por meio do controle social, sendo um instrumento para a efetivação da gestão político- administrativa, financeira e também técnico-operativa por meio do caráter democrático e descentralizado. No SUAS, esses espaços são privilegiados, de controle social, e se consolidam pelas conferências e conselhos de Assistência Social. As conferências são espaços para avaliar a situação da Política de Assistência Social, e propor novas diretrizes para essa política. Outro espaço de discussão e diálogo contínuo entre sociedade civil e governo é o Conselho de Assistência Social. Os Conselhos são considerados organização pública e constituída por representantes governamentais, dos trabalhadores e usuários do SUAS e