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1 METODOLOGIA DA NATAÇÃO: ANALISANDO OS MÉTODOS, PRINCÍPIOS E CONTEÚDOS DE ENSINO Marcos André Moura dos Santos Prof. Ms. CENESP- ESEF- UPE /UNIVERSO - PE Juliana Monteiro Mafra Graduando Universidade Salgado de Oliveira - UNIVERSO RESUMO Este estudo é resultado de uma pesquisa descritiva de campo de natureza qualitativa e quantitativa cujo objetivo foi analisar os métodos, princípios e conteúdos no ensino da natação utilizados por professores em diferentes locais de intervenção. Participaram deste estudo 49 professores de educação física. Os dados foram coletados através de um questionário semi-estruturado com 6 perguntas, “abertas” e “fechadas” analisados descritivamente. Os resultados apresentados demonstram uma desapropriação teórica das ações metodológicas dos professores diante dos elementos analisados, entretanto são utilizados de diferentes formas sem que haja um domínio de suas possibilidades pedagógicas. ABSTRACT This study is the result of a descriptive research of a qualitative and quantitativ e nature field whose main aim is to analyses the methods, principles and contents of swimming teaching used by teaches in different intervention places. 49 physical education teachers participated in this study. The data were collected from a 6 “opened” and “closed” questions questionnaire analyzed. Due to the presented results, the teachers seem to know how to use the theary but they are no aware of that. So, the methods, principles and contents are used in different ways without mastering the pedagogical possibilities. RESÚMEN El presente estudio resulta de un trabajo de investigación descriptiva, de naturaleza cuali- cuantitativa ,que se propone a analizar los métodos, principios y contenidos de la enseñanza de la natación, frecuentemente utilizados por profesores en distintos sitios de intervención. Han tomado parte en este estudio 49 profesores. Los datos han sido recolectados a través de un cuestionario semi-estructurado con 06 preguntas “abiertas” y “cerradas”. Los resultados que ahora se presentan demuestran una desapropriación teórica de las acciones metodológicas de los profesores, ante los elementos analizados, que son utilizados de diferentes formas, sin que se domine, ahún, todas sus possibilidades pedagógicas. INTRODUÇÃO A pedagogia mais utilizada, atualmente, nas aulas de natação, lança mão de recursos técnicos específicos, baseados na repetição de movimentos, separação de seqüências, enfim um instrumental que poderia ser classificado como tradicional, com o objetivo de conseguir o domínio do meio liquido, dos movimentos e da aprendizagem, o mais rápido possível (PEREIRA,1999). 2 O processo de aprendizagem da natação, comumente era desenvolvido a partir de um modelo mecanicista e detalhista, que visava mais o plano técnico do que o pedagógico devido principalmente ao fato de a aprendizagem ter sido iniciada e supervisionada por técnicos (LIMA,2006). Elkington (1977), citado por Mansoldo (1986), salienta a importância da natação, dizendo que, “nos dias de hoje, a natação é vista como um elemento de múltiplos desenvolvimentos como: educação, disciplina, segurança própria, destreza, saúde e recreação”. Autores como: Deluca e Fernandes (2002); Correa e Massud (2004), fazem referências a participação humana nas práticas físicas inseridas em meio líquido, como no caso das atividades aquáticas representadas pela natação, o que tem se tornado foco de um número maior de pesquisas e estudos sobre esta temática. Reis (1982), diz: “a arte de nadar significa a técnica de deslocar-se na água por intermédio da coordenação metódica de certos movimentos”. Farias (1983), diferencia natação como disciplina integrante dos currículos nos cursos na área da educação objetivando preparar os alunos a ensinarem ou ministrarem atividades nas aulas para nadar, em diversas faixas etárias e ambos os sexos. E nadar como “ato psicomotor que objetiva a locomoção no meio líquido na horizontal, na vertical ou totalmente imerso”. Burkhard e Escobar (1985), entendem a habilidade de nadar como “manter-se sobre a água e ir por ela sem tocar no fundo; podendo ser esta habilidade de nadar executada sem preencher os requisitos dos 4 nados, mas comprovando a completa ambientação do individuo ao meio aquático.” Deste modo, a natação pode ser observada sobre diferentes pontos de vista, quando consideramos o seu principal objetivo, porém, qualquer que seja o conceito da natação ele sempre estará relacionado diretamente com o meio líquido. Sendo assim, o presente estudo tem como finalidade analisar qual o entendimento entre os profissionais que trabalham com o ensino da natação, no que se referem aos métodos, princípios e conteúdos utilizados no ensino da natação. METODOLOGIA Este estudo foi desenvolvido a partir de uma pesquisa descritiva de campo.Foi realizada uma pesquisa de natureza qualitativa e quantitativa, constando de uma revisão bibliográfica sobre os temas em questão, combinada com uma pesquisa exploratória desenvolvida por meio de uma entrevista semi-estruturada, tendo como instrumento de coleta um questionário aplicado a 49 professores de natação. Gráfico 1 – Caracterização da Amostra 3 CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA 47 2 7 2 10 Academia Condominios Particulares Clinicas Outros lugares A partir das informações coletadas os dados foram tabulados e agrupados de acordo com as respostas encontradas, procurando identificar quais os procedimentos didáticos pedagógicos empregados em suas aulas. A entrevista constou de seis perguntas abertas e fechadas relativas aos métodos, princípios e conteúdos utilizados como estratégia de ensino. Os dados foram analisados descritivamente, por meio da técnica de análise de conteúdo temático, a qual favorece analisar as descrições dos sujeitos, conforme relata BARDIN (1977). RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados serão descritos a partir das freqüências percentuais encontradas para cada questão formulada. TABELA 1 – Resultados referentes aos métodos de ensino da natação METODOS DE ENSINO ACADEMIAS CLINICAS COND. OUTROS PARTIC. Global 10,6 0 0 20 14,2 Alongamento 21,0 0 0 0 0 Tecnicista 2,1 0 0 0 0 Demonstrativo 6,3 0 0 0 0 Parcial 19,1 0 100 0 14,2 Analítico 2,1 0 0 0 0 Misto 2,1 0 0 0 0 Construtivista 2,1 0 0 10 0 Progressista 2,1 0 0 0 0 Relação Professor x Aluno 0 100 0 0 0 Reconstrutivista 0 0 0 10 0 4 Organização do conhecimento 0 0 0 10 0 Não informado 65,9 0 0 70 71,4 TABELA 2 – Resultados referentes aos princípios de ensino da natação PRINCIPIOS DE ENSINO ACADEMIAS CLINICAS COND. OUTROS PARTIC. Adaptação 51,6 100 50 60 100 Coordenação 8,51 0 0 0 0 Imersão 2,1 50 0 0 0 Mergulhos 2,1 0 0 0 0 Desenvolvimento Motor 0 50 0 10 0 Não informados 46,8 0 50 40 0 TABELA 3 – Resultados referentes aos conteúdos de ensino da natação CONTEÚDOS DE ENSINO ACADEMIAS CLINICAS COND. OUTROS PARTIC. Respiração 46,8 50 50 40 57,14 Flutuabilidade 31,91 50 0 20 28,57 Aperfeiçoamento técnico 25,53 0 0 0 28,57 Deslizamento 8,5 0 0 10 14,28 Iniciação dos Nados 31,91 100 0 0 0 Equilíbrio 10,6 0 0 0 0 Propulsão 27,65 50 0 20 57,14 Treinamento 2,1 0 0 0 0 Deslocamento 4,2 50 50 0 0 Educativos 2,1 0 0 0 0 Ludicidade 10,6 50 0 20 14,28 Aquecimento 2,1 0 0 0 0 Imersão 2,1 0 0 10 0 Técnica dos nados 0 0 0 60 0 Domínio do corpo 0 0 0 10 0 Impulsão 0 0 0 10 0 Iniciação as técnicas 0 0 0 0 42,85 Tração 0 0 0 0 0 Saltos 0 0 0 0 14,28 Viradas 0 0 0 0 14,28 Não informados 23,4 0 50 20 14,28 Conceitualmente podemos descrever método de ensino como sendo as ações do professor no sentido de organizar as atividades de ensino, a fim de que os alunos possam atingir os objetivos em relação a um conteúdo específico, tendo como resultado a assimilação dos conhecimentos e o desenvolvimentodas capacidades cognitivas e operativas dos alunos (LIBANEO, 1994). A tabela 1 apresenta as respostas encontradas, sobre a temática, método de ensino onde foram encontradas as seguintes respostas: global, parcial, misto, tecnicista, demonstrativo e analítico, dentro deste mesmo questionamento observou-se também: alongamentos, construtivista, progressista, relação professor aluno, reconstrutivista e organização do conhecimento. Com base nas respostas apresentadas percebe-se a existência de um desconhecimento acerca dos métodos de ensino, uma vez que os mesmos são confundidos com possíveis conteúdos. Diante do seu conceito, método, num sentido etimológico e genérico, vem sendo compreendido como “um caminho ou procedimento consciente, organizado racionalmente, 5 com a finalidade de tornar o trabalho mais fácil e mais produtivo para o alcance de determinada meta” (RAYS,1996). O método traz dentro de si a idéia de uma direção, com a finalidade de alcançar um propósito, não se tratando, porém de uma direção qualquer, mas daquela que leva de forma mais segura a consecução de um propósito estabelecido. O processo ensino-aprendizagem da natação está fundamentado no trinômio:Equilíbrio – Respiração – Propulsão, de acordo com Carvalho (1994), Valdivielso (1978), Raposo (1981), Bordat (1983), Escobar e Taffarel (1987), Catteau e Garoff (1988), citados por ACCIOLY (1991). Portanto, optou-se adotar como princípios da natação o domínio das chamadas habilidades aquáticas básicas, que segundo Mota (1990), podem ser classificadas em adaptação ao meio liquido, equilíbrio, incluindo a flutuação, propulsão, e respiração, que de acordo com este autor são domínios básicos necessários para aprendizagem dos nados. A tabela 2 apresenta as resultados encontrados sobre os princípios da natação: adaptação, coordenação, imersão, mergulhos e desenvolvimento motor. Destaca-se entre as respostas apresentadas pelos avaliados apenas como principio da natação a adaptação, demonstrando o desconhecimento destes princípios, apesar de serem tratados e aplicados sem que os mesmo sejam entendidos. De maneira geral, a maioria dos compêndios de natação sugere que o aprendiz de natação deve passar inicialmente por um processo de aprendizagem das habilidades aquáticas. Esse procedimento pedagógico raramente considera as habilidades básicas já presentes. Em seguida, tem início uma seqüência predeterminada de tarefas, comuns a todos os indivíduos, que, ao final, leva ao aprendizado de um ou mais estilos oficiais de natação, desconsiderando as diferentes etapas de aprendizagem (FREUDENHEIM ,1999). Na maioria das vezes, o que se percebe, é a ânsia do professor em alcançar os objetivos da aula, não aguarda até que a interiorização do saber se converta em base para a aprendizagem, atropelando assim as etapas da fase de iniciação (FREIRE,2004). Na tabela 3 foram respondidas as seguintes questões quanto aos conteúdos de ensino: respiração, flutuabilidade, aperfeiçoamento técnico, deslizamento, iniciação aos nados, equilíbrio, propulsão, treinamento, deslocamento, educativos, ludicidade, aquecimento, imersão, técnicas de nado, domínio do corpo, impulsão, tração, saltos e viradas. Conforme a análise realizada sobre os conteúdos de ensino, parece este estar sendo entendido como princípio e método, uma vez que não se evidencia uma distinção entre estas possibilidades, merece destaque também entre as respostas a “tração” que se caracteriza como um terno biomecânico na execução de um determinado estilo de nado e não um conteúdo de ensino. Mais uma vez, pode-se afirmar que o problema não é a mudança de conteúdos, mas, a forma como os conteúdos são apresentados aos alunos. Os conteúdos (informações e materiais) são irrelevantes: fundamental é a forma como se “opera” os dados da realidade (LIMA, 2006). O professor deve ter clareza dos objetivos da aula e sobre a importância dos novos conhecimentos na seqüência dos estudos, ou para atender a necessidades futuras. A pedagogia mais utilizada, atualmente, nas aulas de natação, lança mão de recursos técnicos específicos, baseados na repetição de movimentos, separação de seqüências, enfim um instrumental que poderia ser classificado como tradicional, com o objetivo de conseguir o domínio do meio liquido, dos movimentos e da aprendizagem, o mais rápido possível (PEREIRA,1999). CONCLUSÃO 6 Com base nos resultados do estudo ficou evidenciado que existe um entendimento por parte dos professores sobre a existência do método, conteúdo e principio, entretanto pode-se perceber um desconhecimento conceitual e procedimental de suas possibilidades de aplicação, o que caracteriza uma desapropriação teórico-pedagógico demonstrada quando dentro das diferentes respostas do estudo, tais conceitos foram confundidos e aplicados de maneira inadequada. REFERENCIAS 1- ACCIOLY, Maria Marta Silva. Habilidades Aquáticas Essenciais ao Futuro Professor de Natação: Proposta de Avaliação. Dissertação apresentada à Escola de Educação Física e Desportos da Universidade Federal do Rio de Janeiro como Requisito Parcial à Obtenção do Título de Mestre. Rio de Janeiro, abril 1991. 2- BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1977. 3- CORREA , C.R.F.; MASSAUD, M.G. Natação na pré escola . Rio de Janeiro: Sprint 2004 4- DELUCA ,A .H; FERNANDES , I,R.C.Brincadeiras e Jogos Aquáticos. 3. ed. Rio Janeiro: Sprint 2002. 5- FREIRE, M. Ti-bum: mergulhando no lúdico. In: SCHWARTZ, G. M. Dinâmica lúdica: novos olhares. Barueri, SP: Manole, 2004, p. 131-146. 6- FREUDENHEIM, A. M.; GAMA, R. I.; MOISES, M. P. La Habilidad Nadar: (Re) Visión. Revista Ciencias de la Actividad Física, 1999, 4 (8):139-55. 7- LIBÂNEO, JOSE CARLOS. Didática. São Paulo: Cortez, 1994. "Os conteúdos escolares e sua dimensão crítico-social". Revista da Ande, (11): 5-13, São Paulo, 1986. 8- LIMA, Willian Urizzi. Ensinado Natação 2. ed. – São Paulo: Phorte, 2006. 9-MANSOLDO, Antonio C. Estudo Comparativo da Eficiência do Aprendizado da Natação (estilo crawl) entre crianças de três a oito anos de idade. Dissertação do Título de Mestre em Educação Física pela USP. São Paulo, 1986. 10-MOTA, J. (1990). Aspectos metodológicos do ensino da natação. Edição da Associação de Estudantes da Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física da Universidade do Porto. Porto. 11- PEREIRA, M. D. Brincando com a água: a aprendizagem da natação. In: Nista- Piccolo, Vilma Lení (Org.).Pedagogia dos esportes. Campinas: Papirus, 1999. 12- PEREIRA, M. D. O mundo da fantasia e o meio líquido: o processo de ensino aprendizagem da natação e sua relação com o faz-de-conta, através de aulas temáticas. Campinas, SP: 2001, Dissertação (Mestrado). Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação Física, 2001. 13- PIAGET, J. Psicologia e pedagogia. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1976. 14- RAYS , O. Pressupostos teóricos para o ensino da Didática. In: Candau Vera María. A Didática em questão. Petrópolis. Vozes. 13a. edição. 1996. p. 33-37. 15- SCHWARTZ, G. M. Homo expressivus: as dimensões estética e lúdica e as interfaces do lazer. In: BRUNS, H. T. (Org.). Temas sobre lazer. Campinas: Autores Associados, 2000. p. 86-99. 7 Endereço para Correspondência: Marcos André Moura dos Santos / Juliana Monteiro Mafra Rua: Visconde de Itaparica – 174 apto. 704 B - Torre Recife-PE Brasil Fone: (081) 3228-3526 Email: marcosemaf@hotmail.com