Konrad Hesse inicia discutindo a famosa tese de Ferdinand Lassalle, que via a Constituição como reflexo das forças reais de poder (militares, econômicas, sociais e intelectuais). Para Lassalle, a Constituição escrita só teria validade se estivesse em sintonia com essa Constituição real, caso contrário seria apenas um pedaço de papel. Essa visão foi reforçada por juristas como Georg Jellinek, que afirmavam que as forças políticas se movem por suas próprias leis, independentes das normas jurídicas. A experiência histórica, como a crise da Constituição de Weimar, parecia confirmar essa ideia. Hesse mostra que, se aceitarmos apenas essa concepção, o Direito Constitucional perde seu caráter de ciência normativa e se reduz a mera sociologia ou ciência política. O autor defende que não se pode separar Constituição jurídica e realidade político-social. Elas se condicionam mutuamente. A norma só tem eficácia se considerar as condições históricas, sociais, econômicas e culturais do seu tempo. Mas, ao mesmo tempo, a Constituição não é apenas reflexo da realidade, ela também busca ordenar e conformar essa realidade. Hesse retoma reflexões de Wilhelm Humboldt, que já afirmava que Constituições não podem ser criadas apenas de forma racional e abstrata, mas precisam nascer de uma situação histórica concreta. A Constituição só se torna eficaz quando se vincula à natureza singular do presente. Se ignorar as condições sociais, culturais e políticas, ela se torna inútil. A força normativa da Constituição depende de sua capacidade de se adaptar e dialogar com a realidade. Para que a Constituição tenha força normativa, não basta estar escrita. Isso significa disposição dos governantes e da sociedade de respeitar e aplicar seus princípios, mesmo quando isso implica abrir mão de vantagens imediatas. Essa vontade nasce da compreensão de que a Constituição protege contra o arbítrio e garante estabilidade ao Estado. Sem essa vontade, a Constituição perde sua autoridade. A Constituição não é apenas reflexo da realidade, nem apenas norma ab