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O discurso da objetividade criou a "verdade", já secular, de que o jornalismo se divide em opinião e informação. Ora, como negar a subjetividade e a intervenção opinativa na informação se, ao relatar o que se passa, qualquer boa redação ou bom jornalista exercita uma capacidade própria, sofisticada, de pensar e fazer escolhas? No plano oposto, como comentar, em artigos, sem o suporte dos fatos e da informação precisa? O jornalismo se organiza, isso sim, em esquemas de narração e argumentação - ambos construidos com ajuizamentos, pontos de vista e informações. As demonstrações de que informação e opinião não se separam, mas se misturam e interagem, podem ser observadas, diariamente, em qualquer espaço da função jornalística. Tendo em vista essas informações, leia o texto a seguir. A proximidade do lançamento no Brasil do filme Marighella, de Wagner Moura, aliado à repercussão da passagem do estreante diretor baiano pelo Festival de Berlim, onde o filme foi exibido, tem movimentado os debates sobre o caráter da ditadura (1964-1985) e da luta armada no país. O fato de que o cinema nacional brasileiro é ainda bastante devedor de uma abordagem consistente de temas espinhosos do seu passado recente, algo que se evidencia por comparação à cinematografia chilena e argentina, principalmente, mas também de outros países latino-americanos, adiciona expectativas alvissareiras à realização do filme. Carlos Marighella, o militante baiano da Ação Libertadora Nacional (ALN), que ficou conhecido por ter sido considerado “o inimigo número 1” da ditadura militar no Brasil, é um dos personagens mais importantes da história da esquerda no pais, rivalizando com a figura de Luiz Carlos Prestes. Marighella era um homem negro ou, no minimo, socialmente negro para os padrões adotados pelo Brasil no século XX. O fato de ser negro, entretanto, nunca chegou a determinar os traços mais caracteristicos de sua trajetória de militante comunista por mais de trinta anos. Ou seja, apesar de ser filho de um imigrante italiano e de uma descendente de africanos da etnia dos haussas, trazidos como escravos para o Brasil, o que lhe garantia fenótipos negros, Marighella, como toda a esquerda da época, não atribuia centralidade a esta questão, menos em função de se considerar “mulato”, termo comum na época e usado pelo próprio comunista em algumas situações, mais porque o traço negro de sua identidade não era definidor de sua militância. Em vista disso, a escolha de Seu Jorge para o papel de Marighella, por Wagner Moura, é parte das escolhas políticas e estéticas que visam uma atualização do personagem na obra ficcional, uma forma de aproximar o público de Marighella, através da adoção da linguagem identitária em sua forma corrente, mas também uma maneira de afirmação politica da negritude do comunista e guerrilheiro baiano. Se Marighella não era assim "tão negro” quanto Seu Jorge, como muitos fazem questão de ressaltar, isso não tem a menor importância na obra cinematográfica, que não pretende ser, em nenhum momento, uma reprodução da verdade histórica. O fato de o próprio Marighella não atribuir centralidade à questão, pelo que se depreende das obras historicas a ele dedicadas, como foi dito, deve-se menos ao que muitos acreditam ser a uma autonegacao de sua identidade racial, algo que nao e corroborado pelos seus textos e pelas evidências levantadas pelos historiadores, do que pelo fato de que a questão racial não tinha a centralidade na trajetória politica de um militante comunista formado na tradição stalinista. Dito isso, não chega a ser impossivel se imputar à polêmica de que Marighella era ou não negro, uma das formas com as quais o racismo vem se fortalecendo no Brasil, já que aqueles que imputam o estereótipo de branquitude a Marighella pretendem diminuir a importância das lutas dos movimentos negros que, segundo estes, estariam vinculadas às tentativas de vitimizacao que a construcao mitica do personagem de negro e heroi viriam a estabelecer. Mas se a questao racial norteou boa parte das polêmicas que ganharam as redes sociais nos dias seguintes à exibicao do filme em Berlim, é no aspecto prático da vida do comunista Carlos Marighella que pesam as maiores acusações. Nesse quesito, o acirramento das disputas pelas narrativas em torno do que foi o golpe de 1964, a ditadura, a resistência e a luta armada, ganham contornos políticos cada vez mais intensos. Ao lado disso, versões que antes ficavam circunscritas ao ambiente castrense, tendo em conta que não eram produto de estudos sistematizados e calcados em evidências robustas, romperam o muro que as mantinha neutralizadas, vindo a público disputar a “verdade” com as versões correntes dos historiadores, muitos dos quais com décadas de investigacao cientifica seria e consistente. Considerando a diferença e a interação entre opinião e informação no texto anterior, julgue os itens a seguir. I. Consiste em uma informação o fato de que o filme Marighella tem movimentado os debates sobre o caráter da ditadura e da luta armada no pais. Ja a de que o cinema nacional brasileiro e ainda devedor de uma abordagem consistente de temas espinhosos do seu passado recente e que isso adiciona expectativas à realização do filme é uma opinião do autor. II. A apresentação de Mariguella como "o militante baiano da Ação Libertadora Nacional (ALN), que ficou conhecido por ter sido considerado 'o inimigo número 1' da ditadura militar no Brasil" consiste em uma informação documental, enquanto a apresentação de Marighella como um homem negro cuja cor nunca tenha determinado os traços mais caracteristicos de sua trajetória de militante comunista por mais de trinta anos consiste em uma interpretação do autor a respeito de um fato biográfico sobre Marighella. III. O autor opina sobre a questão racial que envolve o militante Carlos Marighella e posiciona-se contra aqueles que acreditam que houve autonegação de sua identidade racial. Para o articulista, esse assunto apenas não teve centralidade na trajetória politica do militante. IV. O autor do artigo mistura informação, descrição e opinião no texto tanto ao comentar sobre o filme Marighella, quanto ao comentar sobre a figura do militante baiano, as escolhas de Wagner Moura e a recepção do público para os temas raciais e relacionados à ditadura. É correto o que se afirma em A. Il e IV, apenas. B. I, II e III, apenas. C. II, III e IV, apenas. D. I, III e IV, apenas. E. I, II, III e IV.
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Márcia Ota

há 3 semanas

Respostas

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há 3 semanas

Vamos analisar cada um dos itens: I. Consiste em uma informação o fato de que o filme Marighella tem movimentado os debates sobre o caráter da ditadura e da luta armada no país. Já a de que o cinema nacional brasileiro é ainda devedor de uma abordagem consistente de temas espinhosos do seu passado recente e que isso adiciona expectativas à realização do filme é uma opinião do autor. Verdadeiro, a primeira parte é uma informação e a segunda parte é uma opinião. II. A apresentação de Marighella como "o militante baiano da Ação Libertadora Nacional (ALN), que ficou conhecido por ter sido considerado 'o inimigo número 1' da ditadura militar no Brasil" consiste em uma informação documental, enquanto a apresentação de Marighella como um homem negro cuja cor nunca tenha determinado os traços mais característicos de sua trajetória de militante comunista por mais de trinta anos consiste em uma interpretação do autor a respeito de um fato biográfico sobre Marighella. Verdadeiro, a primeira parte é uma informação e a segunda parte é uma interpretação. III. O autor opina sobre a questão racial que envolve o militante Carlos Marighella e posiciona-se contra aqueles que acreditam que houve autonegação de sua identidade racial. Para o articulista, esse assunto apenas não teve centralidade na trajetória política do militante. Verdadeiro, o autor realmente se posiciona sobre a questão racial e a centralidade dela na trajetória de Marighella. IV. O autor do artigo mistura informação, descrição e opinião no texto tanto ao comentar sobre o filme Marighella, quanto ao comentar sobre a figura do militante baiano, as escolhas de Wagner Moura e a recepção do público para os temas raciais e relacionados à ditadura. Verdadeiro, o texto realmente mistura esses elementos. Agora, vamos verificar as alternativas: A. I e IV, apenas. (Incorreta, pois II e III também estão corretos) B. I, II e III, apenas. (Incorreta, pois IV também está correto) C. II, III e IV, apenas. (Incorreta, pois I também está correto) D. I, III e IV, apenas. (Incorreta, pois II também está correto) E. I, II, III e IV. (Correta, pois todos os itens estão corretos) Portanto, a alternativa correta é: E. I, II, III e IV.

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