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Módulo de Sociologia das Organizações Educativas Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação Ensino à Distância Universidade Pedagógica Departamento de Matemática Direitos do autor (copyright) Este módulo não pode ser reproduzido para fins comerciais. Caso haja necessidade de reprodução, deverá ser mantida a referência à Universidade Pedagógica e aos seus Autores. Universidade Pedagógica Rua Comandante Augusto Cardoso, nº 135 Telefone: 21-320860/2 Telefone: 21 – 306720 Fax: +258 21-322113 Site: www.up.ac.mz Agradecimentos À COMMONWEALTH of LEARNING (COL) pela disponibilização do Template usado na produção dos Módulos. Ao Instituto Nacional de Educação a Distância (INED) pela orientação e apoio prestados. Ao Magnífico Reitor, Directores de Faculdade e Chefes de Departamento pelo apoio prestado em todo o processo. Ficha Técnica Autor: Arcanjo Tinara Nharucué Desenho instrucional: Rasmi Laxmane Revisão Linguística: Alice Sengo Maquetização : Valdinácio Florêncio Paulo Ilustração: Valdinácio Florêncio Paulo Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação i Índice Visão geral 1 Bem-vindo ao módulo da Sociologia das Organizações Educativas ............................... 1 Objectivos do Módulo ................................................................................................... 2 Quem deve estudar este Módulo .................................................................................... 2 Como está estruturado este Módulo ............................................................................... 3 Ícones de actividade ...................................................................................................... 4 Acerca dos ícones ........................................................................................ 4 Habilidades de estudo .................................................................................................... 5 Precisa de apoio? ........................................................................................................... 5 Avaliação ...................................................................................................................... 6 Unidade 1 7 Génese e evolução do pensamento social ....................................................................... 7 Introdução ............................................................................................................ 7 Lição no 1 9 Evolução do pensamento social ..................................................................................... 9 Introdução ............................................................................................................ 9 Resumo ....................................................................................................................... 10 Auto-avaliação ............................................................................................................ 11 Lição no 2 13 A idade antiga ............................................................................................................. 13 Introdução .......................................................................................................... 13 Aristóteles Nicômaco ................................................................................ 13 Platão De Aristão ...................................................................................... 14 Sumario ....................................................................................................................... 15 Auto-avaliação ............................................................................................................ 16 Lição no 3 17 Idade Média (Idade das Trevas): Santo Agostinho e São Thomas de Aquino ............... 17 Introdução .......................................................................................................... 17 Santo Agostinho ........................................................................................ 17 Thomas de Aquino .................................................................................... 18 Resumo ....................................................................................................................... 19 Auto-avaliação ............................................................................................................ 19 Lição no 4 22 Idade Moderna: Maquiavel, e Jean Jacques Rousseau .................................................. 22 Introdução .......................................................................................................... 22 ii Índice Nicolau Maquiavel .................................................................................... 22 Jean-Jacques Rosseau ................................................................................ 23 Resumo ....................................................................................................................... 24 Auto-avaliação ............................................................................................................ 24 Actividade final da unidade ......................................................................................... 25 Unidade 2 27 História da teoria atómica, Fundadores e representantes da Sociologia (Objecto e Método)....................................................................................................................... 27 Introdução .......................................................................................................... 27 Lição no 1 29 Os fundadores da sociologia ........................................................................................ 29 Introdução .......................................................................................................... 29 Auguste Comte (1798-1857) ..................................................................... 30 Charles de Montesquieu ............................................................................ 31 Herbert Spencer......................................................................................... 32 Resumo ....................................................................................................................... 33 Auto-avaliação ............................................................................................................ 34 Lição no 2 36 Representantes da Sociologia ...................................................................................... 36 Introdução .......................................................................................................... 36 Karl Marx ................................................................................................. 37 Émile Durkheim ........................................................................................ 37 Max Weber ............................................................................................... 38 Resumo ....................................................................................................................... 39 Auto-avaliação ............................................................................................................ 40 Lição no 3 42 Objecto de estudo da sociologia e o método sociológico .............................................. 42 Introdução .......................................................................................................... 42 O método sociológico ................................................................................ 44 Resumo ....................................................................................................................... 46 Auto-avaliação ............................................................................................................47 Lição no 4 48 O problema do método sociológico.............................................................................. 48 Introdução .......................................................................................................... 48 Resumo ....................................................................................................................... 49 Auto-avaliação ............................................................................................................ 49 Actividade final da unidade ......................................................................................... 50 Unidade 3 51 A educação como objecto de estudo da sociologia ....................................................... 51 Introdução .......................................................................................................... 51 Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação iii Lição no 1 53 A educação como objecto sociológico ......................................................................... 53 Introdução .......................................................................................................... 53 Resumo ....................................................................................................................... 55 Auto-avaliação ............................................................................................................ 56 Lição no 2 58 O objecto de pesquisa da Sociologia das Organizações Educativas .............................. 58 Introdução .......................................................................................................... 58 Resumo ....................................................................................................................... 60 Auto-avaliação ............................................................................................................ 60 Actividade final da unidade ......................................................................................... 62 Unidade 4 64 Formas de Educação .................................................................................................... 64 Introdução .......................................................................................................... 64 Lição no 1 66 Educação e moral: a Sociologia das Organizações Educativas de Émile Durkheim ...... 66 Introdução .......................................................................................................... 66 Resumo ....................................................................................................................... 67 Auto-avaliação ............................................................................................................ 68 Lição no 2 69 Educação e capitalismo: a Sociologia das Organizações Educativas de Karl Marx ....... 69 Introdução .......................................................................................................... 69 Auto-avaliação ............................................................................................................ 71 Lição no 3 73 Reprodução e Desigualdade: A Sociologia das Organizações Educativas de Pierre Bourdieu ..................................................................................................................... 73 Introdução .......................................................................................................... 73 Resumo ....................................................................................................................... 77 Auto-avaliação ............................................................................................................ 77 Lição no 4 79 Educação Como Socialização ...................................................................................... 79 Introdução .......................................................................................................... 79 iv Índice Resumo ....................................................................................................................... 82 Auto-avaliação ............................................................................................................ 83 Actividade final da unidade ......................................................................................... 84 Unidade 5 87 As instituições escolares .............................................................................................. 87 Introdução .......................................................................................................... 87 Lição no 1 89 Características organizacionais da cultura de escola ..................................................... 89 Introdução .......................................................................................................... 89 Aspectos do clima escolar ......................................................................... 92 Resumo ....................................................................................................................... 94 Auto-avaliação ............................................................................................................ 95 Lição no 2 97 A cultura organizacional da escola ............................................................................... 97 Introdução .......................................................................................................... 97 Resumo ..................................................................................................................... 102 Auto-avaliação .......................................................................................................... 103 Lição no 3 105 Funções sociais da educação ...................................................................................... 105 Introdução ........................................................................................................ 105 A educação e sua função social ............................................................... 108 Resumo ..................................................................................................................... 110 Auto-avaliação .......................................................................................................... 111 Actividade Final da Unidade ..................................................................................... 113 Unidade 6 114 A educação e estrutura social nas sociedades tradicionais e modernas........................ 114 Introdução ........................................................................................................ 114 Lição no 1 116 As sociedades tradicionais e modernas ...................................................................... 116 Introdução ........................................................................................................ 116 Resumo ..................................................................................................................... 119 Auto-avaliação .......................................................................................................... 120 Lição no 2 123 Os paradigmas das reformas de educação em África pós - independente .................... 123 Introdução ........................................................................................................ 123 Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação v Resumo ..................................................................................................................... 127 Auto-avaliação .......................................................................................................... 127 Actividade Final da Unidade ..................................................................................... 130 Respostas das Actividades Finais............................................................................... 131 Notas Finais .............................................................................................................. 134 Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 1 Visão geral Bem-vindo ao módulo da Sociologia das Organizações Educativas Caro estudante, você vai iniciar o estudo do módulo da Sociologia das Organizações Educativas A Sociologia das Organizações Educativas que é o ramo aplicado da Sociologia, que se ocupa de analisar os aspectos sociológicos de organizações educativas, isto é, escolas, centros de educação, órgãos públicos ligados a educação. O objectivo da Sociologia das Organizações Educativas, é tanto o estudo dos aspectos de uma sociedade que influem na organização e no desenvolvimento das organizações educativas, para melhor compreensão dos fenómenos que ocorrem dentro de uma organização sob um ponto de vista sociológico. Com este módulo, você vai aprender a olhar para a Educação do ponto de vista sociológico das organizações educativas e, compreender que a Pedagogia é o fundamento das práticas educacionais (as crenças, os valores e as normas sociais) constituem os fundamentos da Sociologia. Assim você vai aprender reconstruir sistematicamente as relações, que existem na prática quotidiana, entre as acções que objectivam educar e as estruturas da vida social. O presente módulo está dividido em 6 unidades e 19 lições. 2 Sociologia das Organizações Educativas Objectivos do Módulo Quando terminar o estudo deste modulo, você será capaz de: Objectivos • Explicar o que é Sociologia das Organizações Educativas; • Conhecer os pressupostos da emergência da Sociologia das Organizações Educativas e Sociologia no geral e seus fundadores; • Explicar o fenómeno educação como objecto de estudo da sociologia; • Explicar o papel da escola como instituição sociológica; • Conhecer a função da educação e estrutura social nas sociedades tradicionais e modernas; • Identificar o papel dos paradigmas das reformas de educação em África pós – independente. Quem deve estudar este Módulo Este módulo destina-se aos estudantes do curso de Administração e Gestão de Educação em exercício e inscritos no Curso a Distancia, fornecido pela Universidade Pedagógica. Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 3 Como está estruturado este Módulo Todos os módulos dos cursos à Distância produzidos pela Universidade Pedagógica, encontram-se estruturados da seguinte maneira: Páginas introdutórias Um índice completo. Uma visão geral detalhada do módulo, resumindo os aspectos chave que precisa conhecer para completar o estudo. Recomendamos vivamente que leia esta secção com atenção antes de começar o seu estudo. Conteúdo módulo O módulo está estruturado em unidades. Cada unidade incluirá uma introdução, objectivos da unidade, conteúdo da unidade incluindo actividades de aprendizagem, um sumário da unidade e uma ou mais actividades para auto-avaliação. Outros recursos Para quem esteja interessado em aprender mais, apresentamos uma lista de recursos adicionais para explorar. Estes recursos podem incluir livros, artigos ou sites na internet. Tarefas de avaliação e/ou Auto-avaliação Tarefas de avaliação para este Módulo encontram-se no final de cada unidade. Sempre que necessário, dão-se folhas individuais para desenvolver as tarefas, assim como instruções para as completar. Estes elementos encontram-se no final do Módulo. 4 Sociologia das Organizações Educativas Comentários e sugestões Esta é a sua oportunidade para nos dar sugestões e fazer comentários sobre a estrutura e o conteúdo do curso Módulo. Os seus comentários serão úteis para nos ajudar a avaliar e melhorar este Módulo. Ícones de actividade Ao longo deste manual irá encontrar uma série de ícones nas margens das folhas. Estes ícones servem para identificar diferentes partes do processo de aprendizagem. Podem indicar uma parcela específica de texto, uma nova actividade ou tarefa, uma mudança de actividade, etc. Acerca dos ícones Neste Módulo encontrará ícones que identificam as actividades, dicas, sumárias e actividades de auto-avaliação. Pode ver o conjunto completo de ícones deste manual já a seguir. Cada um com uma descrição do seu significado e da forma como nós interpretámos esse significado para representar as várias actividades ao longo deste Módulo. Comprometimento/ perseverança Actividade Resistência, perseverança Auto-avaliação “Qualidade do trabalho” (excelência/ autenticidade) Avaliação / Teste “Aprender através da experiência” Exemplo / Estudo de caso Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 5 Confirmação / Correcção Resultados Horas / programação Tempo Vigilância / preocupação Tome Nota! “Eu mudo ou transformo a minha vida” Objectivos “[Ajuda-me] deixa- me ajudar-te” Leitura “Pronto a enfrentar as vicissitudes da vida” (fortitude / preparação) Resumo “Nó da sabedoria” Terminologia Apoio / encorajamento Dica Habilidades de estudo Este Módulo foi concebido tendo em consideração que você vai estudar sozinho. É por isso que no fim de cada unidade/lição apresentamos actividades que o auxiliarão a verificar tudo o que nela aprendeu. Fazem parte deste conjunto de actividades, consulta e interpretação de tabelas, desenho e interpretação de gráficos e diagramas, etc., pois eles são preciosos para você conhecer o nível da sua aprendizagem. Precisa de apoio? Se tiver dificuldades, tem o Centro de Recursos à sua espera, perto do local da sua residência. Não hesite em recorrer a esse centro, pois ele foi criado para si. Lá encontrará literatura e outros materiais de consulta. Também poderá consultar ao seu tutor, usando vários meios que serão definidos no início do curso. 6 Sociologia das Organizações Educativas Avaliação O módulo da Sociologia das Organizações Educativas terá dois testes e um exame que deverá ser feito no centro dos recursos da Universidade Pedagógica, ou em local a ser indicado pela administração do curso. O calendário das avaliações será também apresentado oportunamente. A avaliação visa não só informar-nos sobre o seu desempenho nas lições, mas também estimular-lhe a rever alguns aspectos e a seguir em frente. Durante o estudo deste módulo o estudante será avaliado com base na realização de actividades e tarefas de auto-avaliação previstas em cada unidade, dois testes escritos e um exame. Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 7 Unidade 1 Génese e evolução do pensamento social Introdução Bem-vindo a esta unidade de estudo, onde terá as noções fundamentais da Sociologia das Organizações Educativas. Estas noções vão ajudá-lo a compreender a peculiaridade do seu objecto de estudo, os seus métodos fundamentais e a relação com as outras ciências (interdisciplinaridade). Tempo Estrutura O estudo que você inicia agora tem 4 lições. Devem ser dispensadas duas (2) horas de tempo para cada lição. Eis as matérias a serem estudadas nesta unidade: Tópicos da unidade Lição 1. Evolução do pensamento social Lição 2. A idade Antiga Lição 3. A idade Media Lição 4. A idade Moderna Meios Para alem das referências bibliográficas presentes no fim da unidades, poderá usar textos de apoio, filmes dos séculos passados sempre que existirem, bem como as fontes orais da sua 8 Sociologia das Organizações Educativas comunidade, ao faze-lo, estará em contacto directo com o seu objecto de estudo. Ao completar esta unidade, você será capaz de: Objectivos da unidade Geral: • Conhecer as origens e os propósitos da sociologiano geral. Específicos: • Caracterizar o processo da evolução da sociologia; • Identificar as etapas da evolução do pensamento social; • Indicar os aspectos importantes da evolução do pensamento social. Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 9 Lição no 1 Evolução do pensamento social Introdução Nesta lição, terá a ocasião de conhecer as etapas evolutivas do pensamento social, são pressupostos básicos da origem e evolução desta ciência do social, desde a idade antiga, média e contemporânea. Para este estudo, você deve dispensar duas (2) horas. Ao completar esta lição, você será capaz de: Objectivos da lição • Indicar as origens e os propósitos da sociologia no geral; • Caracterizar o processo da evolução do pensamento Social; • Enumerar as etapas da evolução do pensamento social. As primeiras tentativas de compreender como as forças sociais funcionam baseavam-se na imaginação, na fantasia, na especulação. Assim, certos fenómenos sociais eram explicados a partir da acção de seres mitológicos, como deuses e heróis (Foracchi, 1985:11). Entretanto, politólogos, moralistas, filósofos e juristas, foram descrevendo a sociedade através do pensamento então em vigor, da maneira como eles pensaram que deveria ser a sociedade e não a partir de uma observação metódica da mesma. Aproximações sucessivas para a situar no espaço e no tempo levaram à construção de um objecto teórico para uma nova ciência e à invenção das metodologias e técnicas convenientes, o que levou à definição inicial da sociologia como sendo a ciência de 10 Sociologia das Organizações Educativas observação das relações entre os fenómenos sociais, isto é, ciência de observação, por oposição à ciência especulativa; ciência objectiva, por oposição à subjectiva; ciência positiva, por oposição à normativa. Entende-se por Ciência um conjunto ordenado e sistematizado de conhecimentos metodologicamente adquiridos. Segundo Fernandes (1987:24) esta ciência (sociologia) das relações entre os fenómenos sociais, não se interessa pelo indivíduo como tal, isto é, pelo que ele partilha com os outros. Ou seja, quem estuda a sociedade interessa-se pelo modo como as pessoas estão em relação umas às outras, às colectividades que formam, aos comportamentos por estes adoptados no seu quotidiano. A sociologia aparece onde há ideias, comportamentos, atitudes, crenças, valores partilhados pela colectividade. Resumo O homem é um ser que está em constante transformação. Nas sociedades primitivas, o pensamento mítico representou a oportunidade de acesso ao conhecimento e revelação da verdade. Para tudo aquilo que o homem não conseguia explicar, era criado um mito. Assim, certos fenómenos sociais eram explicados a partir da acção de seres mitológicos. Chegado ao fim dessa lição pense naquilo que já aprendeu e responda as questões seguintes: Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 11 Auto-avaliação Exercícios 1. Indique as origens e propósitos da Sociologia? 2. Caracterize o processo da evolução do pensamento social? 3. Enumere as etapas da evolução do pensamento social? Confronte as suas respostas com a chave que lhe apresentamos 1. As origens e pressupostos da sociologia surgem após as revoluções burguesas (Inglesa/ industrial e Francesa) por volta de 1930. O século XVII constitui um marco importante para a história do pensamento ocidental e para o surgimento da Sociologia. As profundas transformações políticas, económicas e culturais levam ao surgimento da Sociologia (ciência social ou ciência da sociedade). 2. O homem sempre indagou sobre dois tipos de fenómenos: o físico e o social. O físico, primeiramente, daí o surgimento inicial das ciências da natureza (ciência = comprovação da investigação; antes desta havia o senso comum). Depois, a ciência dos fenómenos sociais, do comportamento, dá-se então o surgimento das ciências sociais; é neste contexto que surge a Sociologia que é fruto de várias formas de conhecer e pensar sobre a natureza humana. O pensamento social interessa-se das relações entre os fenómenos sociais estabelecidos pelos indivíduos no dia-a- dia; não se interessa pelo indivíduo como tal, isto é, pelo que ele partilha com os outros; ou seja, quem estuda a sociedade interessa-se pelo modo como as pessoas estão em 12 Sociologia das Organizações Educativas relação umas às outras, às colectividades que formam, aos comportamentos por estes adoptados no seu quotidiano. 3. A sociologia aparece de facto como a ciência da luta de classes, mas os psicólogos sociais, sobretudo franceses (como Gustave Le Bon), procuram corrigir essa visão pela análise dos comportamentos humanos e das formas de sociabilidade. A fusão desses diferentes ramos das ciências sociais, inclusive o da história e o da economia, iria resultar numa das mais importantes obras já efectuada sobre o pensamento e o método da sociologia: a do pensador alemão Max Weber. Vindo da tradição da escola histórica alemã, mas também influenciado pelo marxismo (que ele procurará contestar), Weber deixa um importante legado que será recuperado por praticamente todos os sociólogos do século XX, a começar pelos funcionalistas e pelos comparatistas. Com Weber, a sociologia emerge, realmente, como disciplina completa e dotada de métodos rigorosos para servir, não mais uma causa política – reformista ou revolucionária, como tinha sido o caso até então – mas um objectivo de análise científica da sociedade. ÿ De certeza que conseguiu responder as perguntas colocadas. Se teve dificuldades, não desista, volte a ler o texto. Se a dificuldade persistir consulte o seu tutor. Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 13 Lição no 2 A idade antiga Introdução O estudo que começa agora vai proporcionar-lhe conhecimentos sobre as etapas da evolução do pensamento social. É fundamental esse conhecimento, para situar-se na complexidade que esta disciplina encerra em perceber as razões do estudo da Sociologia das Organizações Educativas. Esta lição tem a duração de duas (2) horas de estudo. Ao completar esta lição, você será capaz de: Objectivos da lição • Identificar a base do pensamento sociológico na idade antiga; • Identificar os pensadores da idade antiga. Esta temporada é caracterizada por dois pensadores nomeadamente: Aristóteles Nicômaco Aristóteles fundamenta a tese que “o homem é um animal social”. A união entre os homens é natural, porque o homem é um ser naturalmente carente, que necessita de coisas e de outras pessoas para alcançar a sua plenitude. Aristóteles afirma: “As primeiras uniões entre pessoas, oriundas de uma necessidade natural, são aquelas entre seres incapazes de existir um sem o outro, ou 14 Sociologia das Organizações Educativas seja, a união da mulher e do homem para perpetuação da espécie (isto não é resultado de uma escolha, mas nas criaturas humanas, tal como no outros animais e nas plantas, há um impulso natural no sentido de querer deixar depois de individuo um outro ser da mesma espécie).” (Fernandes, 1985:12). Para Cândido (1994) Aristóteles faz a diferenciação entre dois tipos de espécies, as gregárias (koinonia), e as solitárias (monadika), sendo que o homem faz parte das duas espécies. Pois, as duas são propensas há uma vida sociável, na qual o homem vive de maneira esparsa, ou seja, a sociabilidade faz parte da natureza humana. Assim, “a natureza social do homem se manifesta na linguagem, no dizer ou no logos [...] O homem é o único animal que fala, e o falar é função social” (Marías, 2004: 91). Assim em sociedade, o homem poderá realizar a sua potência mais elevada – vida política (politikon). Platão De Aristão Para os gregos, era impossível concebero homem em estado de isolamento. Eles consideravam a sociedade como algo que brota necessariamente da mesma condição da natureza humana. Para Platão não poderia ser diferente. Platão afirma que para o ser humano viver humanamente e de forma digna, necessita da ajuda e da cooperação de seus semelhantes. Platão conceitua o ser humano como "um animal essencialmente social". Platão assinala como principal factor que origina a sociabilidade do indivíduo e, consequentemente, a organização da sociedade, o factor económico (facto que posteriormente foi combatido pelo seu discípulo Aristóteles). Segundo Platão, o agrupamento de pessoas Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 15 dá-se em razão de necessidades económicas. É assim que as cidades vão sendo constituídas (Fernandes, 1985). A sociedade, ou melhor, a organização social, brota de maneira espontânea. As diversas necessidades materiais, como por exemplo, alimentação, vestuário e moradia dão origem a várias outras necessidades. Nesse contexto, cada ofício criado para suprir uma necessidade específica produz a necessidade de outro ofício, e assim sucessivamente. Para Platão, a divisão do trabalho origina a divisão das classes sociais. A cada uma dessas classes deve corresponder uma função distinta, de acordo com sua a aptidão. Tudo isso deve contribuir para o bem comum (Giddens, 2005). Sumario Na Idade Antiga, como vimos, surgiram explicações mitológicas para alguns fenómenos sociais. Insatisfeitos com essas explicações, os filósofos gregos foram os primeiros a empreender o estudo sistemático da sociedade humana. De entre eles destacam-se Platão (427-347 a.C), autor de A República, e Aristóteles (384-322 a.C), que escreveu Política. É de Aristóteles a afirmação segundo a qual “o homem nasce para viver em sociedade”. Depois desta leitura procure as respostas aconselháveis para as actividades seguintes: 16 Sociologia das Organizações Educativas Auto-avaliação Exercícios 1. Identifique a base do pensamento sociológico na idade antiga? 2. Identifique os pensadores da idade antiga? Confronte as suas respostas com a chave que lhe apresentamos Respostas 1. A base do pensamento na idade antiga, rompia-se com as explicações mitológicas dos fenómenos sociais, empreendendo o estudo sistemático dos mesmos. 2. Os pensadores da idade antiga foram: Platão e Aristóteles De certeza que conseguiu responder as perguntas colocadas. Se teve dificuldades, não desista, volte a ler o texto. Se a dificuldade persistir consulte o seu tutor. Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 17 Lição no 3 Idade Média (Idade das Trevas): Santo Agostinho e São Thomas de Aquino Introdução O estudo que começa agora vai proporcionar-lhe conhecimentos sobre as etapas da evolução do pensamento social na Idade Média ou idade das trevas. Esse conhecimento é fundamental para se situar na complexidade que esta disciplina encerra em perceber as razões do estudo da Sociologia das Organizações Educativas. Esta lição tem a duração de duas (2) horas de estudo. Ao completar esta lição, você será capaz de: Objectivos da lição • Descrever as características do pensamento social na Idade Média; • Caracterizar os pensadores da Idade Média; • Indicar as diferenças da construção do pensamento entre a idade Média e Antiga. A Idade Média também conhecida como idade das trevas, está associada a dois (2) pensadores Santo Agostinho e São Thomas de Aquino. Santo Agostinho Concebe o homem como um ser único, dotado de uma personalidade exclusiva, que necessita de afecto, compreensão, aceitação, auto-estima e auto-respeito. Além de nutrir diferentes sentimentos pelos demais indivíduos e pelas coisas que fazem parte 18 Sociologia das Organizações Educativas do seu “estar no mundo”. E, na medida em que procura ultrapassar os limites impostos pelo meio físico e cultural em que vive e, em certo sentido, ultrapassar-se e lançar-se em busca de outras realidades a que aspira, é movido por uma gama imensa e variada de desejos e necessidades sensíveis, morais, racionais e espirituais que o impulsionam na direcção de sua plenitude. O homem, ser social e político, não vive sozinho. Ele necessita de um meio social onde possa compartilhar a sua existência com os demais, movido pela necessidade de encontrar um bem comum. Pereira (1985) afirma que a sociabilidade é inerente ao ser humano e garante a perpetuação de sua história. A convivência social permite-lhe compartilhar experiências e vivências passadas e presentes, bem como projectar realizações futuras mediadas pelo uso contínuo da linguagem. E para possibilitar uma convivência harmoniosa, resultado da associação permanente entre indivíduos diferentes, o homem estabelece normas e padrões de conduta, promulga leis que regulam a vida em sociedade. E a partir deste ponto de vista, percebemos que o homem além de ser um ser social, é um ser político. Thomas de Aquino Segundo Thomas de Aquino, por ser racional, o homem conhece a lei natural, ou seja, está plenamente capacitado para saber que “deve fazer o bem e evitar o mal”. Trata-se da participação da lei eterna pelo homem dotado de inteligência. A lei eterna é o plano racional de Deus, isto é, a ordem existente em todo o universo. Esta lei dirige tudo para o seu fim específico. Além desta lei eterna e da lei natural, Aquino fala da lei humana, ou seja, jurídica. São normas feitas pelos homens para impedir que se pratique o mal. É a ordem promulgada por quem tem a responsabilidade pela comunidade. Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 19 Aquino considera o Estado como uma necessidade natural. É que o homem é um ser social e precisa de orientações para viver em sociedade. Entretanto, Aquino deixa claro que as leis humanas não podem contradizer a lei natural (Giddens, 2005). Aliás, no pensamento de Aquino as normas do direito positivo existem para que os que são propensos aos vícios e neles se obstinam sejam persuadidos, a bem da ordem pública, a evitar tais desvios. Insiste Aquino na função pedagógica das leis humanas e nas sanções que podem e devem incluir. O objectivo é a convivência pacífica entre os homens. Resumo Na Idade Média, os pensadores estavam preocupados com a sociabilidade do homem, daí que o pensamento central consistia em arranjar soluções de vivência do memo no contexto em que se encontra. Depois desta leitura procure as respostas aconselháveis para as actividades seguintes: Auto-avaliação Exercícios Descreva as características do pensamento social na idade média; Caracterize os pensadores da idade média; Indique as diferenças da construção do pensamento social na idade média e na idade antiga. Confronte as suas respostas com a chave que lhe apresentamos 20 Sociologia das Organizações Educativas Respostas 1. É o período da história do Ocidente, situado entre a História Antiga e a História Moderna. Representa uma quebra nos padrões existentes em seu período anterior, a História Antiga. Esta fase chegou ao fim através de variações em factores políticos. É preciso lembrar que as mudanças nos períodos históricos não são variações que ocorrem em datas estabelecidas, as pessoas em suas épocas não tinham consciência de que passaram a viver um período diferente da história da humanidade. Essas divisões e determinações dos períodos são elaboradas pelos historiadores, depois que tudo já ocorreu, para estabelecer recortes cronológicos que favorecem didacticamente nas pesquisas. 2. Santo Agostinho preocupava-se no homem como um ser único, dotado de uma personalidade exclusiva, que necessita de afecto, compreensão, aceitação, auto-estima e auto-respeito. Segundo Santo Agostinhoo homem é um ser social, porque este não vive sozinho, necessita de um meio social, na busca de poder compartilhar sua existência com os demais, movido pela necessidade de buscar o bem comum. É político porque estabelece normas e padrões de conduta, promulga leis que regulam a vida em sociedade. Por sua vez, Aquino concebe o homem como sendo um ser racional que conhece a lei natural, ou seja, está plenamente capacitado para saber o que se deve fazer para o bem e evitar o mal. O Estado apresenta-se como uma necessidade natural e o homem, como um ser social, precisa de orientações para viver em sociedade. 3. Idade Antiga: na periodização das épocas históricas da humanidade, Idade Antiga, ou Antiguidade é o período que se estende desde a invenção da escrita (de 4000 a.C. a 3500 a.C.) Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 21 até à queda do Império Romano do Ocidente (476 d.C.). Embora o critério da invenção da escrita como balizador entre o fim da Pré-História e o começo da História propriamente dita seja o mais comum, os estudiosos que dão mais ênfase à importância da cultura material das sociedades recentemente têm procurado repensar essa divisão. A Idade Média, a Idade Medieval, a Era Medieval ou o Medievo foi o período intermédio numa divisão esquemática da História da Europa, convencionada pelos historiadores, em quatro "eras", a saber: a Idade Antiga, a Idade Média, a Idade Moderna e a Idade Contemporânea. Este período caracteriza-se pela influência da Igreja sobre toda a sociedade. Esta encontra-se dividida em três classes: clero, nobreza e povo. Ao clero pertence a função religiosa, é a classe culta e possui propriedades, muitas recebidas por doações de reis ou nobres a conventos. Os elementos do clero são oriundos da nobreza e do povo. A nobreza é a classe guerreira, proprietária de terras, cujos títulos e propriedades são hereditários. O povo é a maioria da população que trabalha para as outras classes e esta é constituída em grande parte por servos. De certeza que conseguiu responder as perguntas colocadas. Se teve dificuldades, não desista, volte a ler o texto. Se a dificuldade persistir consulte o seu tutor. 22 Sociologia das Organizações Educativas Lição no 4 Idade Moderna: Maquiavel, e Jean Jacques Rousseau Introdução O estudo que começa agora vai proporcionar-lhe conhecimentos sobre as etapas da evolução do pensamento social na Idade Moderna. É fundamental esse conhecimento, para se situar na complexidade que esta disciplina encerra em perceber as razões do estudo da Sociologia das Organizações Educativas. Esta lição tem a duração de duas (2) horas de estudo. Ao completar esta lição, você será capaz de: Objectivos da lição • Caracterizar a base do pensamento social na idade moderna; • Identificar os pensadores da idade moderna. A idade moderna é marcada por dois nomes sonantes Maquiavel e Rousseau. Nicolau Maquiavel Segundo Fernandes (1986) Maquiavel é o precursor da ciência política. Ele elaborou a primeira teoria de surgimento do Estado moderno, mostrando que a política também era uma disciplina autónoma e que o Estado possuía seus próprios caracteres, fazendo política e seguindo sua técnica e suas próprias leis. Consoante o nobre autor italiano, a política deveria preocupar-se com a vida Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 23 concreta de como as coisas estão e não como as coisas deveriam estar, pois esta é a ocupação da moral. Nicolau Maquiavel forma uma nova moral, que é a do cidadão que edifica o Estado e que vive no relacionamento entre os homens. Ele afirma ainda que o poder do Estado moderno deve ter como sustentáculo o terror porque os homens são maus e só obedecem por medo de alguma sanção ou castigo. Assegura que os seres humanos são maus por natureza, vivendo constantemente em guerra e destruição mútua, tornando-se famosa a sua frase de que "o homem é o lobo do próprio homem". Jean-Jacques Rosseau Este pensador e filósofo francês, foi capaz de exibir uma percepção democrático-burguesa. Para Rousseau, os seres humanos acabam vivendo em "fortuna" pelo facto de serem bons e virtuosos. Uma vez que, a sua mentalidade é altamente comercial aliando ao alto grau de individualismo tipicamente burguês. Rousseau diz ainda que os homens constituem a sociedade (e não o Estado) através de um contrato social também, que deve servir à plena expansão da personalidade do indivíduo. O povo não pode perder sua soberania e por causa disso não deve gerar um Estado deslocado de si próprio (Foracchi, 1985). Foracchi (1985) menciona também a igualdade jurídica e chega a perceber que existe um problema de igualdade sócio-económica. Para Rousseau, o homem só poderia ser livre se fosse igual si mesmo, ou seja, sem o estabelecimento do contracto social. Caso surgisse alguma desigualdade entre os homens, findar-se-ia a liberdade. 24 Sociologia das Organizações Educativas Resumo Na Idade Moderna, a concepção de uma imaginação da evolução do pensamento social, ganha uma outra dinâmica. De um lado Maquiavel ao trazer o poder do Estado moderno como aquele que deveria ter como sustentáculo o terror, porque os homens são maus e só obedecem por medo de alguma sanção ou castigo, e por outro Rousseau salienta os seres humanos acabam vivendo em "fortuna" pelo facto de serem bons, virtuosos e que os mesmos constituem a sociedade e não o Estado através de um contrato Social que, deve servir à plena expansão da personalidade do indivíduo. Depois desta leitura procure as respostas aconselháveis para as actividades seguintes: Auto-avaliação Exercícios 1. Caracterize a base de pensamento social na Idade Moderna; 2. Identifique e diferencie os pensadores da Idade Moderna. Confronte a sua resposta com a chave que lhe apresentamos. 1. A idade moderna é caracterizada pelas concepções de Nicolau Maquiavel, que elaborou a primeira teoria de surgimento do Estado moderno, mostrando que a política também era uma disciplina autónoma e que o Estado possuía seus próprios caracteres, fazendo política e seguindo sua técnica e suas próprias leis. E pela concepção de Jean-Jacques Rosseau, que mostrou uma percepção democrático-burguesa do homem. Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 25 2. Os pensadores da idade moderna são: Nicolau de Maquiavel e Jean-Jacques Rosseau. Mas onde reside a diferença entre eles? Maquiavel é o precursor da ciência política. Ele elaborou a primeira teoria de surgimento do Estado moderno, mostrando que a política também era uma disciplina autónoma e que o Estado possuía seus próprios caracteres, fazendo política e seguindo sua técnica e suas próprias leis, Maquiavel forma uma nova moral, que é a do cidadão que edifica o Estado e que vive no relacionamento entre os homens. Ele afirma ainda que o poder do Estado moderno deve ter como sustentáculo o terror porque os homens são maus e só obedecem por medo de alguma sanção ou castigo. Por sua vez, Jean-Jacques Rosseau, exibiu uma percepção democrático-burguesa. Para Rousseau, os seres humanos acabam vivendo em "fortuna" pelo facto de serem bons, virtuosos, salienta ainda que, os homens é que constituem a sociedade (e não o Estado) através de um contrato social que deve servir à plena expansão da personalidade do indivíduo. ÿ De certeza que conseguiu responder a pergunta colocada. Se teve dificuldades, não desista, volte a ler o texto. Se a dificuldade persistir consulte o seu tutor. Actividade final da unidade Actividade Depois de fazer uma reflexão à volta da génese e evolução do pensamento social, procure esboçar a utilidade da construção do pensamento social no homem nas três idades de pensamento (Antiga, Média e Moderna).26 Sociologia das Organizações Educativas Leitura Leituras aconselhadas para unidade 1 CÂNDIDO, António. Tendências no desenvolvimento da sociologia da educação. In: PEREIRA, Luiz e FORACCHI, Marialice M. Educação e Sociedade: leituras de sociologia da educação. 12 Ed. São Paulo: Ed. Nacional, 1985, p. 07-18. FERNANDES, Florestan. Sociologia da Educação como Sociologia Especial. In: PEREIRA, Luiz e FORACCHI, Marialice M. Educação e Sociedade: leituras de sociologia da educação. 12 Ed. São Paulo: Ed. Nacional, 1985, p. 06. GIDDENS, Anthony. Sociologia. 6 Ed. Porto Alegre: Artmed, 2005. PEREIRA, Luiz e FORACCHI, Marialice M. Introdução: a educação como objecto de estudo sociológico. Educação e Sociedade: leituras de sociologia da educação. 12 Ed. São Paulo: Ed. Nacional, 1985, p. 03-05. Pesquisas na Internet www.scielo.org.br www.usp.org.br www.ufrgs.br/ensinosociologia www.espacoacademico.com.br www.unifesp.br Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 27 Unidade 2 História da teoria atómica, Fundadores e representantes da Sociologia (Objecto e Método) Introdução Bem-vindo a esta unidade de estudo, onde terá as bases fundamentais da Sociologia geral. Bem-vindo a esta unidade de estudo, onde terá a ocasião de estudar a historia da sociologia e as suas teorias, bem como, o método e objecto de estudo da sociologia. Estrutura O estudo que você inicia agora tem 4 lições. Devem ser dispensadas duas (2) horas de tempo para cada lição. Eis as matérias a serem estudadas nesta unidade: Lição 1. Os fundadores da sociologia Lição 2. Os representantes da sociologia Lição 3. Objecto e métodos de estudo da sociologia Lição 4. O problema do método sociológico 28 Sociologia das Organizações Educativas Ao completar esta unidade, você será capaz de: Objectivos da unidade Geral: • Conhecer os fundadores, representantes e as bases fundamentais (objecto e método) da sociologia. Específicos: • Identificar os fundadores e representantes da sociologia; • Indicar as abordagens dos fundadores e representantes da sociologia; • Caracterizar o objecto e método de estudo da sociologia. Meios Para o estudo dessa unidade você terá como material de apoio as referências bibliográficas nela presentes e textos de apoio. Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 29 Lição no 1 Os fundadores da sociologia Introdução Trazemos nesta lição a história do surgimento da Sociologia. A discussão vai centrar-se nas diferentes contribuições dos pensadores desta ciência do social. Para este estudo, você deve dispensar duas (2) horas Ao completar esta lição, você será capaz de: Objectivos da lição • Identificar os fundadores da sociologia; • Descrever as concepções de cada precursor sobre a sociologia. De acordo com Pereira (1985) a emergência da Sociologia coincide com as primeiras reflexões do homem sobre si e sobre a natureza. Assim, a Sociologia e as demais ciências sociais têm sido consideradas produtos da Revolução Industrial e da Revolução Intelectual. O progresso industrial capitalista demandou um notável desenvolvimento da ciência e da técnica. Inúmeras pessoas dedicaram longos anos a estudar a vida em sociedade, procurando descobrir seus segredos e tornar mais claras as relações que existem entre os homens. São fundadores da sociologia os seguintes: 30 Sociologia das Organizações Educativas Auguste Comte (1798-1857) Comte, desenvolveu o Positivismo, corrente que acredita a evolução das sociedades em etapas de progressão (teológico, metafísico e positivo), é um dos fundadores da sociologia. Comte, é considerado como o pai da sociologia por ter se dedicado ao estudo científico das sociedades, deu suporte ao homem a trilhar o caminho para o encontro da organização social e política. Comte divide a Sociologia em duas grandes partes: estática social ou estudo fundamental das condições de existência da sociedade; e a dinâmica social, ou o estudo das leis do seu movimento contínuo. A primeira constitui uma “teoria de ordem”; a segunda uma “teoria do progresso”, sendo este tomado no sentido de desenvolvimento “sem nenhuma apreciação moral”. (GIddens, 2005:81). Ao criar a Sociologia, Augusto Comte cria uma ciência fundamental, mais concreta complexa cujo alvo foi à humanidade. Segundo Augusto Comte, as ciências classificam-se de acordo com a maior ou menor simplicidade de seus objectos respectivos. Foi de grande louvor a contribuição desse francês para o mundo da ciência para a evolução da humanidade, como consta em algumas obras em sua homenagem (Aron, 2005). Comte é considerado o pai da Sociologia pelo facto de: • Procurou determinar o lugar preciso da Sociologia entre as outras ciências; • Não confinou à Sociologia á simples descrição dos factos ou a seu agrupamento, mas atribui-lhe o papel de explicar e elucidar as relações entre esses factos; • Afirmou que a Sociologia se deve enriquecer com todos os conhecimentos abordados pelos historiadores e etnógrafos; Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 31 • Sublinhou que, tanto as actividades políticas como as instituições devem ser estudadas no contexto social mais vasto (sociedade global). Charles de Montesquieu É por vezes chamado pai da Sociologia. Distingue claramente a observação e especulação. Afirma: dizemos o que é, e não o que deveria ser, distanciando-se assim de todo o ponto de vista normativo. Para Raymond Aron (2006) sociólogo francês autor do Ópio dos Intelectuais, se a sociologia se define pela intenção de conhecer cientificamente o social enquanto tal, então Montesquieu é tão sociólogo como Augusto Comte, o criador do termo. Para este sociólogo, Montesquieu no seu Espírito das Leis, chega a ser mais «moderno» do que Comte, o que serve para provar que Montesquieu não deve ser considerado somente como precursor, mas sim como um dos doutrinadores da sociologia. Principais questões a serem respondidas pela obra “O Espírito das Leis”: -Por que em tal país e em um dado momento, sobre um determinado assunto, uma lei e não outra? -Por que, em igualdade das demais condições, é eficaz determinada lei e não outra? Existe precisamente um espírito das leis, pois o legislador obedece a princípios, a motivos, a tendências examináveis pela razão: “primeiro examinei os homens, e acreditei que, na infinita diversidade de leis e de costumes, não se deixaram levar exclusivamente pelas suas fantasias” (Montesquieu, 1963:62). Toda lei é relativa a um elemento da realidade física, moral ou social; toda lei pressupõe uma relação. O Espírito das Leis consiste nas diversas relações que podem ter as leis com diversos objectos. 32 Sociologia das Organizações Educativas Diferentemente de Maquiavel, que sustenta a ideia segundo a qual a vida política é conduzida pelo interesse e pela ideia que o homem faz do seu interesse a fortuna, Montesquieu o recusa esse interesse que o homem tem sobre a fortuna, pois verifica que, historicamente, os romanos foram constantemente felizes ao se governarem de acordo com determinado plano, e constantemente infelizes ao seguirem outro. Ou seja, existem causas gerais que agem em cada Monarquia, elevando-a, conservando-a ou precipitando-a, as quais devem explicar racionalmente a história. Diferente de Hobbes ou Locke, não busca encontrar um sistema político armado dos pés à cabeça, uma doutrina rigorosamente dedutiva: busca suas ideias na investigação científica e análise dos governos de diversos países, à medida que vai desenvolvendo sua obra. Herbert Spencer Foi dos primeiros investigadores a defender a teoria evolucionista. Tentou aplicar o conceito de evolução não só à biologia mas também à psicologia, à sociologia, à ética e à política.Defendeu que o processo de selecção natural se aplicava à sociedade - o chamado darwinismo social, levando à eliminação dos socialmente mais fracos. A sua obra mais conceituada é de synthetic Philosophy (1896). A obra do filósofo inglês Herbert Spencer é inseparável da ideologia do progresso da ideia de um desenvolvimento progressivo da Humanidade e do evolucionismo cultural e social que marcou o século XIX. Spencer introduz as hipóteses evolucionistas em 1854, em Social statics, que serão igualmente defendidas por Darwin, em 1859, na sua obra A origem das espécies. Com uma importância decisiva nos Estados Unidos, Spencer não marcará de igual modo a Sociologia francesa, graças aos ataques que lhe foram dirigidos por Durkheim. Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 33 Spencer, nos Primeiros Princípios (que introduzem o Tratado do qual os Princípios de Sociologia são uma parte), procurou explicar mecanicamente o Universo, concebido como um conjunto de relações dinâmicas, como um organismo vivo, no seio do qual se verifica uma crescente diferenciação e especialização (dos organismos e das sociedades). O seu evolucionismo defende que, por diferenciação e por agregação (integração), as sociedades evoluem de formas simples para formas complexas. As noções de função social, de regulação social, de analogia orgânica, assim como as teorias da diferenciação e da divisão do trabalho, que reaparecem em Durkheim, são empregues por Spencer. Ele admite que a Lei da evolução respeita também o domínio orgânico ou biológico, donde as analogias entre os fenómenos biológicos e os fenómenos sociológicos, e a utilização das noções de função, de estrutura, de equilíbrio, de diferenciação, de órgão, que se aplicam aos dois domínios. É assim que os seus Princípios de Sociologia são precedidos dos Princípios de Biologia (Foracchi, 1985). Resumo A emergência da sociologia contou com as importantes contribuições dos cientistas sociais do século XVII (Comte, Montesquieu e Spencer), marcadas por reflexões e condições da existência da Sociologia baseadas no tempo em que viveram. Chegado ao fim desta lição pense naquilo que já aprendeu e responda às questões seguintes: 34 Sociologia das Organizações Educativas Auto-avaliação Exercícios 1. Identifique os principais fundadores da Sociologia; 2. Indique as concepções de cada fundador da Sociologia. Confronte a sua resposta com a chave que lhe apresentamos. Respostas 1. Os principais fundadores da Sociologia são: August Comte, Herbert Spencer e Montesquieu. 2. Para August Comte, a Sociologia está relacionada com o desenvolvimento do Positivismo, corrente que acredita na evolução das sociedades em etapas de progressão teológico, metafísico e positivo. Comte caracterizou as sociedades como constantes evoluções sociais e que só a física social, então Sociologia, é que estaria ao alcance do estudo dessa evolução. Por sua vez, a contribuição de Herbert Spencer centra-se na explicação mecânica do Universo, concebido como um conjunto de relações dinâmicas, como um organismo vivo no seio do qual se verifica uma crescente diferenciação e especialização dos organismos e das sociedades. E, finalmente, em Montesquieu vamos encontrar a sua contribuição para a Sociologia no seu tratado sobre o ′Espírito das Leis′ onde advoga que, toda a lei é relativa a um elemento da realidade física, moral ou social; toda a lei pressupõe uma relação. O ′Espírito das Leis′ consiste nas diversas relações que as leis podem ter com diversos objectos. Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 35 De certeza que conseguiu responder as perguntas colocadas. Se teve dificuldades, não desista, volte a ler o texto. Se a dificuldade persistir consulte as obras indicadas abaixo ou ao seu tutor. 36 Sociologia das Organizações Educativas Lição no 2 Representantes da Sociologia Introdução Depois da fundação da Sociologia enquanto ciência, várias discussões apareceram quanto à sua natureza, no âmbito das demais ciências sociais. Contudo, um primeiro momento foi caracterizado por um pensamento clássico (representantes) que então dominava no século XIX. É esse período de representantes clássicos da Sociologia que vai conhecer na presente lição. Como sempre, no fim desta lição, você tem um exercício que vai aferir o grau de compreensão desta matéria. Para este estudo, você deve dispensar duas (2) horas. Ao completar esta lição, você será capaz de: Objectivos da lição • Identificar os representantes (clássicos) da Sociologia; • Mencionar os aspectos ligados ao conceito de Sociologia de cada autor; • Indicar as causas do surgimento da Sociologia no Século XIX. Os três principais pensadores clássicos da Sociologia são Karl Marx, Émile Durkheim e Max Weber. Embora a Sociologia, tenha surgido a partir da tentativa intelectual de Comte, foi só no século XIX com o aparecimento dos problemas sociais decorrentes da Revolução Industrial, que a sociologia tomou proporção, surgindo como a ciência dedicada a compreensão desses problemas. Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 37 Karl Marx Karl Marx foi um intelectual e revolucionário alemão, fundador da doutrina comunista moderna, actuou como economista, filósofo, historiador, teórico político e jornalista - foi o mais revolucionário pensador sociológico. Marx concebe a sociedade dividida em duas classes: a dos capitalistas, que detêm a posse dos meios de produção; e o proletariado (ou operariado), cuja única posse é sua força de trabalho a qual vendem ao capital. Para Marx, os interesses entre o capital e o trabalho são irreconciliáveis, sendo este debate a essência do seu pensamento, resultando na concepção de uma sociedade dividida em classes. Assim, os meios de produção resultam nas relações de produção, nas formas como os homens se organizam para executar a actividade produtiva. Tudo isso acarreta desigualdades, dando origem à luta de classes. Marx foi um defensor do comunismo, pois para ele essa seria a fase final da sociedade humana, alcançada somente a partir de uma revolução proletária, acreditando assim na ideia utópica de uma sociedade igualitária ou socialista (Giddens, 2005). Émile Durkheim Émile Durkheim foi o fundador da escola francesa de Sociologia, ao combinar a pesquisa empírica com a teoria sociológica. Ainda sob influência positivista, lutou para fazer das Ciências Sociais uma disciplina rigorosamente científica. Durkheim entendia que a sociedade era um organismo que funcionava como um corpo, onde cada órgão tem uma função e depende dos outros para sobreviver. Ao seu olhar, o que importa é o indivíduo se sentir parte do todo, pois caso contrário ocorrerão anomalias sociais, deteriorando o tecido social. 38 Sociologia das Organizações Educativas A diferença entre Comte e Durkheim é que o primeiro crê que se tudo estiver em ordem, isto é, organizado, a sociedade viverá bem; enquanto Durkheim entende que não se pode receitar os mesmos “remédios” que servem a uma sociedade para resolver os “males” sociais de outras sociedades. Para Durkheim (1990) a Sociologia deve estudar os factos sociais, os quais possuem três características: 1) coerção social; 2) exterioridade; 3) poder de generalização. Os factos sociais apresentam vida própria, sendo exteriores aos indivíduos e introjectados neles a ponto de virarem hábitos. Pela sua perspectiva, o cientista social deve estudar a sociedade a partir de um distanciamento dela, sendo neutro, não se deixando influenciar por seus próprios preconceitos, valores, sentimentos etc. A diferença básica entre Marx, Comte e Durkheim consiste basicamente em que os dois últimos entendem a sociedade como um organismo em funcionamento e cujaspartes se complementam. Marx, por seu turno, afirma que a ordem constituída só é possível porque a classe dos trabalhadores é dominada pela classe dos capitalistas e propõe que a classe proletária (trabalhadores) deve se organizar, unir-se e inverter a ordem, ou seja, passar de dominada a dominante, e assim superar a exploração e as desigualdades sociais. Max Weber Intelectual alemão, jurista, economista e considerado um dos fundadores da Sociologia, Max Weber é o pensador mais recente de entre os três, conhecedor tanto do pensamento de Comte e Durkheim quanto de Marx. Assim, ele entende que a sociedade não funciona de forma tão simples e nem pode ser harmoniosa como pensam Comte e Durkheim, mas também não propõe uma revolução como faz Marx, mas afirma que o papel da Sociologia é observar e analisar os fenómenos que ocorrem na sociedade, Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 39 buscando extrair desses fenómenos os ensinamentos e sistematizá- los para uma melhor compreensão. É por isso que sua Sociologia é considerada Sociologia Compreensiva (Martins, 2003). Weber valorizava as particularidades, ou seja, a formação específica da sociedade; entende a sociedade sob uma perspectiva histórica, diferente dos positivistas. Segundo Martins (2003) um dos conceitos chaves da obra e da teoria sociológica de Weber é a acção social. A acção é um comportamento humano no qual os indivíduos se relacionam de maneira subjectiva, cujo sentido é determinado pelo comportamento alheio. Esse comportamento só é acção social quando o actor atribui à sua conduta um significado ou sentido próprio, e esse sentido se relaciona com o comportamento de outras pessoas. Weber também se preocupou com certos instrumentos metodológicos que possibilitassem ao cientista uma investigação dos fenómenos particulares sem se perder na infinidade disforme dos seus aspectos concretos, sendo que o principal instrumento é o tipo ideal, o qual cumpre duas funções principais: primeiro a de seleccionar explicitamente a dimensão do objecto a ser analisado e, posteriormente, apresentar essa dimensão de uma maneira pura, sem suas subtilezas concretas. Resumo À medida que os clássicos da Sociologia, independentemente de suas preferências ideológicas, procuravam explicar as grandes transformações vivenciadas pelas nações europeias em decorrência da formação e do desenvolvimento do capitalismo, eles contribuíram para uma melhor compreensão da própria humanidade. A multiplicidade de visões sociológicas sobre a 40 Sociologia das Organizações Educativas sociedade persiste até hoje. Acima disso, deve-se priorizar sempre a tentativa da Sociologia em compreender o homem e o seu mundo social. Afinal os tempos mudam, mas a Sociologia acompanha o homem ao longo do tempo. Em suma: a Sociologia de Durkheim é positivista; a de Marx é revolucionária e a de Max Weber é compreensiva. E nisto talvez esteja a principal diferença entre esses três grandes pensadores da Sociologia. Chegado ao fim desta lição pense naquilo que já aprendeu e responda às questões seguintes: Auto-avaliação Exercícios 1. Identifique os representantes da Sociologia; 2. Descreva as causas do surgimento da Sociologia no Século XIX; 3. Indique os aspectos ligados ao conceito de Sociologia de cada representante da Sociologia. Confronte a sua resposta com a chave que lhe apresentamos Resposta 1. Os representantes da Sociologia: Karl Marx, Emile Durkheim e Max Weber. 2. Na lição passada, referenciamos que a Sociologia surgiu a partir da tentativa intelectual de Comte. Entretanto, foi só no século XIX, com o aparecimento dos problemas sociais decorrentes da Revolução Industrial, que a sociologia tomou Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 41 proporção, surgindo como a ciência responsável para compreensão desses problemas. 3. A Sociologia de Karl Marx assenta-se nos meios de produção resultam nas relações de produção, formas como os homens se organizam para executar a actividade produtiva. Tudo isso acarreta desigualdades, dando origem à luta de classes. Para Durkheim a Sociologia deve estudar os fatos sociais, os quais possuem três características: 1) coerção social; 2) exterioridade; 3) poder de generalização. Os fatos sociais apresentam vida própria, sendo exteriores aos indivíduos e incutidos neles a ponto de virarem hábitos. Finalmente para Max Weber, a Sociologia é o estudo da acção social. A acção é um comportamento humano no qual os indivíduos se relacionam de maneira subjectiva, cujo sentido é determinado pelo comportamento alheio. Esse comportamento só é acção social quando o actor atribui à sua conduta um significado ou sentido próprio, e esse sentido se relaciona com o comportamento de outras pessoas. ÿ Se teve dificuldades, não desista, volte a ler o texto. Se o dificuldade persistir consulte as obras indicadas abaixo. Leitura Leituras aconselhadas DURKHEIM, Émile. De la division du travail social. Paris : Librairie Felix Alcan, 1926. MARTINS, Carlos Benedito. O que é sociologia. 38. ed. São Paulo : Brasiliense, 1994. 42 Sociologia das Organizações Educativas Lição no 3 Objecto de estudo da sociologia e o método sociológico Introdução A sociologia é o estudo, que pretende ser científico, do social enquanto social, seja no nível elementar das relações interpessoais, seja no nível macroscópico de vastos conjuntos, como as classes, as nações, as civilizações ou, para empregar a expressão corrente, as sociedades globais. Esta definição permite mesmo compreender como é difícil escrever uma história da sociologia, saber onde ela começa e termina (Aron, 2000). Nesta lição terá a ocasião de conhecer o objecto e método da sociologia. Para este estudo, você deve dispensar duas (2) horas. Ao completar esta lição, você será capaz de: Objectivos da lição • Caracterizar o objecto de estudo da Sociologia; • Descrever o método sociológico. A Sociologia estuda a vida social humana, os grupos sociais, as sociedades, abrangendo uma vasta área de pesquisa que inclui desde aspectos simples do quotidiano até processos sociais globais. Para Durkheim (1999), os factos sociais constituem o objecto da Sociologia. Os factos sociais são maneiras de agir, pensar e sentir exteriores ao indivíduo, e dotadas de poder coercivo, e que exercem influências sobre o indivíduo. Os factos sociais possuem três características: Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 43 A exterioridade: os factos sociais existem antes do nascimento do indivíduo e actuam sobre ele independente de sua vontade. A coercividade: os factos sociais exercem força social e força sobe os indivíduos, levando-os a agirem de acordo com as regras estabelecidas pela sociedade. Ex: a língua. A generalidade: os factos sociais são tomados colectivamente, pelo conjunto da sociedade. As crenças, os costumes, os valores. Os factos sociais existem fora dos indivíduos, mas são interiorizados e passam a existir em suas consciências. São externos porque foram transmitidos socialmente aos indivíduos. A educação é um facto social, imposto aos indivíduos e pressiona- os a girem de acordo com leis, normas, valores, costumes e tradições de uma sociedade. O comportamento dos indivíduos é socialmente determinado e a educação é uma força essencial na conformação do indivíduo aos padrões morais e sociais de uma sociedade. São factos sociais: o direito (as regras jurídicas e morais), os dogmas religiosos, os sistemas financeiros, a educação, entre outros. A sociedade e os grupos sociais exercem coerção sobre os indivíduos, fazendo-os assumirem papéis relacionados com um fenómeno em particular. Por seu turno, Max Weber (2006), afirma que o objecto de estudoda Sociologia é a Acção Social. Para este teórico, acção é social quando um determinado comportamento implica uma relação de sentido para quem age. Nem todo comportamento humano é social. É preciso que tenha sentido para o indivíduo que age. A acção social orienta-se pelo comportamento de outros. Os “outros” podem ser indivíduos e conhecidos ou uma multiplicidade de desconhecidos. 44 Sociologia das Organizações Educativas Weber definiu quatro tipos de acção social: a) Acção tradicional: tradições, costume. Ex: dar presente de Natal b) Acção afectiva: baseada em sentimentos e afectividade, não racional. Ex: Adepto de uma equipa de futebol. c) Acção racional orientada para valores: racional, a acção é importante e não os fins. Ex: trabalho voluntário ou de um capitão de navio vendo a inevitabilidade do navio afundar não o abandona, onde o retorno não é o dinheiro ou prestígio final, mas a missão. d) Acção racional orientada para fins: racional, o importante é o resultado. Ex: empresa capitalista. Esses tipos de acção existem de formas diferentes nas sociedades humanas. Nas sociedades antigas e feudais, prevaleciam os tipos tradicionais e afectivos, daí a família e a igreja terem papel fundamental nessas sociedades. Na sociedade capitalista, predomina a acção racional, com uma planificação eficiente e com metas orientadas para fins. A empresa do século XVIII para a actual sofreu várias modificações, mas seus fins e objectivos continuam os mesmos: lucro, acumulação económica e optimização produtiva. O método sociológico Podemos dizer que o método sociológico de Durkheim apresenta algumas ideias centrais, que percorrem toda a extensão de sua visão sociológica. São elas: 1) Contraposição ao conhecimento filosófico da sociedade: A filosofia possui um método dedutivo de conhecimento, que parte da tentativa de explicar a sociedade a partir do conhecimento da natureza humana. Ou seja, para os filósofos o conhecimento da Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 45 sociedade pode ser feito a partir de dentro, do conhecimento da natureza do indivíduo. Como a sociedade é formada pelos indivíduos, a filosofia tem a prática de explicar a sociedade (e os fatos sociais) como uma expressão comum destes indivíduos. De outro lado, se existe uma natureza individual que se expressa colectivamente na organização social, então pode-se dizer que a história da humanidade tem um sentido, que deve ser a contínua busca de expressão desta natureza humana. Para Adam Smith, por exemplo, dado que o homem é, por natureza, egoísta, motivado por factores económicos e propenso às trocas, a sociedade de livre mercado seria a plena realização desta natureza. Para Hegel, a história da humanidade tendia a crescentemente afirmar o espírito humano da individuação e da liberdade. Para Marx, a história da sociedade era a história da dominação e da luta de classes, e a tendência seria a afirmação histórica, por meio de sucessivas revoluções, da liberdade humana e da igualdade, por meio do socialismo. Para Durkheim, estas concepções eram insuportáveis, pois eram deduções e não tinham validade científica, eram crenças fundamentadas em concepções a respeito da natureza humana. Durkheim acreditava que o conhecimento dos factos sociológicos deve vir de fora, da observação empírica dos mesmos. 2) Os fenómenos sociais são exteriores aos indivíduos: a sociedade não seria simplesmente a realização da natureza humana, mas, ao contrário, aquilo que é considerado natureza humana é, na verdade, produto da própria sociedade. Os fenómenos sociais são considerados por Durkheim como exteriores aos indivíduos, e devem ser conhecidos não por meio psicológico, pela busca das razões internas aos indivíduos, mas sim externamente a ele na própria sociedade e na interacção dos factos sociais. Fazendo uma analogia com a biologia, a vida, para Durkheim, seria uma síntese, um todo maior do que a soma das partes, da mesma forma que a sociedade é uma síntese de indivíduos que produz fenómenos 46 Sociologia das Organizações Educativas diferentes dos que ocorrem nas consciências individuais (isto justificaria a diferença entre a sociologia e a psicologia). 3) Os factos sociais são uma realidade objectiva: ou seja, para Durkheim, os factos sociais possuem uma realidade objectiva e, portanto, são passíveis de observação externa. Devem, desta forma, ser tratados como "coisas". 4) O grupo (e a consciência do grupo) exerce pressão (coerção) sobre o indivíduo: Durkheim inverte a visão filosófica de que a sociedade é a realização de consciências individuais. Para ele, as consciências individuais são formadas pela sociedade por meio da coerção. A formação do ser social, feita em boa parte pela educação, é a assimilação pelo indivíduo de uma série de normas, princípios morais, religiosos, éticos, de comportamento, etc. que balizam a conduta do indivíduo na sociedade. Portanto, o homem, mais do que formador da sociedade, é um produto dela. Resumo O objecto de estudo da sociologia é ainda uma linha sem fim, pois, não existe consenso único sobre o seu objecto. Por exemplo para Durkheim, o objecto da Sociologia são os factos sociais e para Weber, o objecto da Sociologia é a acção Social. Por sua vez, o método sociológico vai consistir na análise dos fenómenos sociais como exteriores aos indivíduos, e devem ser conhecidos não por meio psicológico, pela busca das razões internas aos indivíduos, mas sim externamente a ele na própria sociedade e na interacção dos factos sociais. Chegado ao fim desta lição pense naquilo que já aprendeu e responda às questões seguintes: Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 47 Auto-avaliação Exercícios 1. Caracterize o objecto de estudo da Sociologia; 2. Descreve o método sociológico. Confronte as suas respostas com a chave que lhe apresentamos Respostas 1. Segundo Durkheim, o objecto de estudo da sociologia são os factos sociais. Os factos sociais são maneiras de agir, pensar e sentir exteriores ao indivíduo, e dotadas de poder coercivo, e que exercem influências sobre o indivíduo. Por sua vez, Weber olha para a acção social como sendo o objecto de estudo da Sociologia. Por acção Social entende-se a um determinando comportamento que implica uma relação de sentido para quem age. Nem todo comportamento humano é social. É preciso que tenha sentido para o indivíduo que age. A acção social orienta- se pelo comportamento de outros. 2. O método sociológico consiste em analisar os fenómenos sociais como exteriores aos indivíduos, e devem ser conhecidos não apenas por meio psicológico, pela busca das razões internas aos indivíduos, mas sim externamente a ele na própria sociedade e na interacção dos factos sociais. Os factos sociais possuem uma realidade objectiva e, portanto, são passíveis de observação externa. Dai que Devem, desta forma, ser tratados como "coisas". ÿ Se teve dificuldades, não desista, volte a realizar a actividade. Se a dificuldade persistir consulte as obras indicadas abaixo, caso a dificuldade persistir consulte o seu tutor. 48 Sociologia das Organizações Educativas Lição no 4 O problema do método sociológico Introdução Nesta lição você vai poder conhecer o problema do Método Sociológico. No fim, têm uma actividade de auto-avaliação que servirá para testar o seu grau de aprendizagem. Procure resolver, antes de consultar as possíveis respostas. Para este estudo, você deve dispensar duas (2) horas. Ao completar esta lição, você será capaz de: Objectivos da lição • Identificar o problema do método sociológico. No pensamento Durkheimiano, a sociedade prevalece sobre o indivíduo, pois quando este nasce tem de se adaptar às normas já criadas como leis, costumes, línguas, etc.O indivíduo, por exemplo, obedece a uma série de leis impostas pela sociedade e não tem o direito de modificá-las. Para Durkheim (2006), o objecto de estudo da Sociologia são os factos sociais. Esses factos sociais são as regras impostas pela sociedade (as leis, os costumes, etc. que são passados de geração a geração). É a sociedade, como colectividade, que organiza, condiciona e controla as acções individuais. O indivíduo aprende a seguir normas e regras que não foram criadas por ele, essas regras limitam Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 49 a sua acção e prescrevem punições para quem não obedecer aos limites sociais. Durkheim (2006) propôs um método para a Sociologia que consiste no conjunto de regras que o pesquisador deve seguir para realizar, de maneira correcta, as suas pesquisas. Este método enfatiza a posição de neutralidade e objectividade que o pesquisador deve ter em relação à sociedade: ele deve descrever a realidade social, sem deixar que as suas ideias e opiniões interfiram na observação dos fatos sociais. Resumo Para Durkheim, o método da Sociologia é a neutralidade e objectividade do pesquisador. O problema desse método reside na relação que o pesquisador estabelece com a sociedade, em que este deve descrever a realidade social, sem deixar que as suas ideias e opiniões interfiram na análise ou estudo. Chegado ao fim desta lição pense naquilo que já aprendeu e responda às questões seguintes: Auto-avaliação Exercícios 1. Identifique o problema do método sociológico. Confronte a sua resposta com a chave que lhe apresentamos 50 Sociologia das Organizações Educativas Respostas 1. O problema do método sociológico reside na relação que o pesquisador estabelece com a sociedade, em que este deve descrever a realidade social, sem deixar que as suas ideias e opiniões interfiram na análise ou estudo. Actividade final da unidade Actividade Depois de você reavaliar as noções preliminares dos fundadores e representantes da Sociologia (Objecto e Método) procure fazer um resumo onde deverá constar os passos dados pelos representantes e fundadores da Sociologia para o alcance do método e objecto dessa ciência da sociedade, sem deixar do lado a questão biográfica dos mesmos. Leitura Leituras aconselhadas da unidade DURKHEIM, Émile. De la division du travail social. Paris : Librairie Felix Alcan, 1926. MARTINS, Carlos Benedito. O que é sociologia. 38. ed. São Paulo : Brasiliense, 1994. Pesquisas na Internet www.scielo.org.br www.usp.org.br www.forumpaulofreire.com.br www.ufrgs.br/ensinosociologia www.filosofiavirtual.pro.br www.cas.sc.edu/socy/faculty/defl/Durkheim www.espacoacademico.com.br www.unifesp.br Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 51 Unidade 3 A educação como objecto de estudo da sociologia Introdução Bem-vindo à unidade III de estudo, na sua disciplina da Sociologia das Organizações Educativas. Nesta unidade você vai aprender aspectos relacionados com a educação como objecto de estudo da Sociologia. Alias, esta unidade é de capital importância em virtude de ser aqui onde pode ser entendida toda a natureza da educação como objecto de estudo da Sociologia, a ser estudada nos capítulos subsequentes. Estrutura Esta unidade temática comporta duas (2) lições. Para cada uma delas, você vai disponibilizar duas (2) horas para o estudo. Tópicos da lição Lição 1. A Educação como Objecto Sociológico Lição 2. O que trata a Sociologia das organizações Educativas Ao completar esta unidadevocê será capaz de: Objectivos da unidade Geral: • Explicar o que é Sociologia das Organizações Educativas. Específicos: • Caracterizar o objecto de estudo da Sociologia das Organizações Educativas; • Identificar as áreas de pesquisa em Sociologia das Organizações Educativas. 52 Sociologia das Organizações Educativas Meios Para além das referências bibliográficas presentes no fim da unidade, poderá usar textos de apoio. No contacto com a realidade local na sua comunidade, melhorará a sua compreensão. Procure explorar o máximo essa situação, saiba aproveitar as informações que a comunidade lhe oferece. Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 53 Lição no 1 A educação como objecto sociológico Introdução Nesta lição você vai poder conhecer o conceito de educação na vertente sociológica de modo a compreender que a educação é objecto de estudo da Sociologia das Organizações Educativas. No fim, você tem umas actividades de auto-avaliação, que servem para testar o grau de aprendizagem. Procure resolver, antes de consultar as possíveis respostas. Para este estudo, você deve dispensar duas (2) horas. Ao completar esta lição, você será capaz de: Objectivos da lição • Caracterizar a Sociologia das Organizações Educativas; • Mencionar o objecto de estudo da Sociologia das Organizações Educativas. O sociólogo é uma pessoa que se ocupa em compreender a sociedade de uma maneira disciplinada. Essa actividade tem uma natureza científica. Isto significa que aquilo que o sociólogo descobre e afirma a respeito dos fenómenos sociais que estuda, ocorre dentro de certo quadro de referência de limites rigorosos. O sociólogo não pretende que o seu quadro de referência seja o único dentro do qual a sociedade pode ser examinada (Berger, 1977). Partindo desta afirmação de Berger (1977), podemos dizer que a Sociologia das Organizações Educativas é um ramo da Sociologia 54 Sociologia das Organizações Educativas que adopta tais princípios ao estudo do fenómeno educacional. Iniciada a partir da obra de Émile Durkheim e seus continuadores, expandindo-se como especialidade autónoma nos EUA e na Europa após a I Guerra Mundial, tornou-se, ao lado da psicologia educacional e da pedagogia, indispensável à formação do educador. Mais precisamente, a Sociologia das Organizações Educativas apresenta-se como análise científica dos processos e regularidades sociais inerentes ao sistema educacional. Isto significa que a educação consiste numa combinação de acções sociais e que a Sociologia consiste na análise da interacção humana. Tal análise da interacção, na área da educação, pode abranger tanto a formal que se realiza em grupos sociais como a escola, assim como a multiplicidade de processos de comunicação informal que desempenhem funções educativas, como a apreensão da linguagem (Brookover, 1985). Classicamente existem três visões da Sociologia das Organizações Educativas em seus significados educacionais: concepção da sociedade como vínculo moral entre os homens; concepção da sociedade como espaço de exploração e da educação como possibilidade de emancipação; concepção da educação como veículo da racionalização da vida (Rodrigues, 2002). Para António Cândido (1974) existem três tendências no desenvolvimento da Sociologia das Organizações Educativas. Primeiramente a linha filosófico-sociológica, que se centra numa reflexão do carácter social do processo educativo, seu significado como sistema de valores sociais, sua relação com as concepções e teorias do homem. É o ponto de partida da sociologia educacional, na obra de educadores e sociólogos preocupados com uma teoria Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 55 geral da educação, como pode ser constatado em autores como Emilé Durkheim e Jonh Dewey. Tal modelo não esgota a temática específica da Sociologia das Organizações Educativas e, considerado como exclusividade dos outros, transforma-a numa filosofia sociológica dos fatos educacionais. A segunda é a linha pedagógico-sociológica, que se desenvolveu principalmente nos Estados Unidos, onde se procurou efectuar os estudos dos aspectos sociais da Educação a fim deobter bom funcionamento da escola. Sua principal contribuição é a análise das relações entre escola e sociedade com que mantém contacto directo, tomando como ponto de partida os princípios gerais formulados segundo a primeira tendência indicada. Aqui a Sociologia transformou-se numa espécie de componente da pedagogia e da administração escolar, daí a relativa debilidade teórica dos seus produtos, a ausência da pesquisa realmente científica. Por fim, a terceira tendência, formada por sociólogos ou educadores de orientação sociológica mais definida, que vêem na Sociologia das Organizações Educativas um ramo da Sociologia, não da ciência da Educação. Essa linha procurou definir um sistema coerente de teorias elaboradas segundo as exigências do espírito sociológico. Resumo Sociologia das Organizações Educativas rompe com a teoria educacional. Seus estudos centram-se nos aspectos sociais do processo educacional, nas conexões entre escola e sociedade, além das situações pedagógicas (grupos de ensino, papéis definidos em função do ensino, sociabilidade específica decorrente do processo pedagógico). Chegado ao fim dessa lição pense naquilo que já aprendeu e responda as questões seguintes: 56 Sociologia das Organizações Educativas Auto-avaliação Exercícios 1. Caracterize a Sociologia das Organizações Educativas; 2. Identifique o objecto de estudo da Sociologia das Organizações Educativas. Confronte as suas respostas com a chave que lhe apresentamos 1. A Sociologia das Organizações Educativas é o ramo da Sociologia que se ocupa da compreensão do fenómeno educacional. Segundo Rodrigues (2002) são três visões da Sociologia das Organizações Educativas em seus significados educacionais, a saber: concepção da sociedade como vínculo moral entre os homens; concepção da sociedade como espaço de exploração e da educação como possibilidade de emancipação; concepção da educação como veículo da racionalização da vida. 2. O objecto de estudo da Sociologia das Organizações Educativas é a organização e gestão educacional. Segundo António Cândido (2004) existem três tendências no desenvolvimento da Sociologia das Organizações Educativas que consistem em: v Primeiramente, a linha filosófico-sociológica, que se centra numa reflexão do carácter social do processo educativo; v A segunda é a linha pedagógico-sociológica, que se desenvolveu principalmente nos Estados Unidos, onde se procurou efectuar os estudos dos aspectos sociais da Educação a fim de obter bom funcionamento da escola e; v A terceira tendência, formada por sociólogos ou educadores de orientação sociológica mais definida, que vêem na Sociologia Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 57 das Organizações Educativas um ramo da Sociologia, não da ciência da Educação. ÿ De certeza que conseguiu responder as perguntas colocadas. Se teve dificuldades, não desista, volte a ler o texto. Se a dificuldade persistir consulte o seu tutor. 58 Sociologia das Organizações Educativas Lição no 2 O objecto de pesquisa da Sociologia das Organizações Educativas Introdução O estudo que começa agora vai proporcionar-lhe conhecimentos sobre o objecto de pesquisa da Sociologia das Organizações Educativas. Esse conhecimento é fundamental para melhor se situar na complexidade que esta disciplina encerra em perceber as razões do seu estudo. Esta lição tem a duração de duas (2) horas de estudo. Ao completar esta lição, você será capaz de: Objectivos da lição • Identificar as áreas de pesquisa em Sociologia das Organizações Educativas. A disciplina de Sociologia das Organizações Educativas preocupa- se em reconstruir sistematicamente as relações que existem na prática quotidiana entre as acções que objectivam educar e as estruturas da vida social, quer dizer: a economia, a cultura, o arcabouço jurídico, as concepções do mundo, os conflitos políticos etc. (Rodrigues, 2002). Mas, quais seriam os temas predominantes? Podemos classificar as análises sociológicas da educação a partir de quatro matrizes temáticas. Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 59 Primeiramente, a relação do sistema educacional com outros aspectos da sociedade. Nesta relação algumas questões desafiam os pesquisadores: 1) a função da Educação na cultura; 2) a relação do sistema educacional com o processo de controle social e com o sistema de poder; 3) a função do sistema educacional do processo de mudança social e cultural ou manutenção do status quo; 4) a relação entre educação e classe social ou sistema de status; 5) o funcionamento do sistema de Educação formal em suas vinculações com os grupos raciais, culturais e outros. A segunda área trata das relações humanas na escola a partir da compreensão da estrutura interna. Neste sentido as análises sociológicas abordam a natureza da cultura da escola, particularmente como cultura diversa da cultura externa à escola, dos padrões de interacção social ou da estrutura do grupo social escolar. A terceira área se constitui na pesquisa sobre a influência da escola no comportamento e na personalidade dos seus membros. A partir da psicologia social do processo educacional os pesquisadores abordam a personalidade ou o comportamento que resulta da participação de professores, alunos e outros membros no sistema educacional total. Aqui os enfoques abrangem: 1) os papéis sociais do professor; 2) a natureza ou características da personalidade do docente; 3) influências da sua personalidade no comportamento dos alunos; 4) a função da escola na socialização das crianças. Por fim, a Sociologia das Organizações Educativas investiga a escola na comunidade, analisando os padrões de interacção entre a mesma e outros grupos sociais. Nesta temática faz-se: 1) caracterização da comunidade, naquilo que repercute na organização escolar; 2) análise do processo 60 Sociologia das Organizações Educativas educacional que se desenvolve em sistemas sociais não escolares da comunidade; 3) relação entre escola e comunidade no desempenho da função educacional; 4) investigação dos factores demográficos e ecológicos, em suas relações com a organização escolar. Resumo A Sociologia é uma actividade que compreende a sociedade de forma disciplinada, adoptando regras científicas. Especificamente em relação à Educação, esta ciência social analisa seus processos a partir de perspectiva macro e micro-sociais. A Sociologia das Organizações Educativas ambiciona descortinar os processos inerentes aos fenómenos educacionais. Esta disciplina possibilitará aos seus iniciados uma nova perspectiva educacional, que não se contenta com respostas prontas e superficiais. Chegado ao fim dessa lição pense naquilo que já aprendeu e responda as questões seguintes: Auto-avaliação Exercícios 1. Identifique as áreas de pesquisa em Sociologia das Organizações Educativas. Confronte as suas respostas com a chave que lhe apresentamos Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 61 1. A Sociologia das organizações Educativas preocupa-se em investigar as relações, que existem na prática quotidiana, entre as acções que objectivam educar e as estruturas da vida social. São várias as áreas de investigação da Sociologia das organizações Educativas, mas podemos destacar as seguintes: v Investiga a relação do sistema educacional com outros aspectos da sociedade; v Investiga as relações humanas na escola a partir da compreensão da estrutura interna; v Investiga a influência da escola no comportamento e na personalidade dos seus membros; v Investiga a escola na comunidade, analisando os padrões de interacção entre a mesma e outros grupos sociais. ÿ De certeza que conseguiu responder as perguntas colocadas.Se teve dificuldades, não desista, volte a ler o texto. Se a dificuldade persistir consulte o seu tutor. 62 Sociologia das Organizações Educativas Actividade final da unidade Actividade Para terminar a unidade, faça um trabalho de pesquisa com o seguinte tema: “A influência da escola no comportamento dos alunos”. Escolha 5 alunos na sua comunidade e questione-os sobre as mudanças comportamentais operadas por estes desde o dia do seu ingresso na escola. Não se esquecendo de argumentar os dados das entrevistas com base nos pensadores ou representantes da sociologia, isto é, deverá fazer uma discussão teórica usando os conceitos, objectos e métodos sociológicos. Com o máximo de 10 páginas, este trabalho deve ser apresentado a tutória no centro de recursos. Leitura Leituras aconselhadas da unidade ALMEIDA, Ana Maria F. MARTINS, Heloísa Helena T. de Souza. Sociologia da Educação. Tempo Social: revista de Sociologia da USP, v. 20, n. 1, p. 09-12. BERGER, Peter Berger. Perspectivas Sociológicas. Petrópolis: Vozes, 1977. BROOKOVER, Wilbur B. “Áreas da Sociologia da Educação”. In: PEREIRA, Luiz e FORACCHI, Marialice M. Educação e Sociedade: leituras de sociologia da educação. 12 ed. São Paulo: 1985, p. 19-21. CÂNDIDO, António. Tendências no desenvolvimento da sociologia da educação. In: PEREIRA, Luiz e FORACCHI, Marialice M. Educação e Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 63 Sociedade: leituras de sociologia da educação. 12 ed. São Paulo: Ed. Nacional, 1985, p. 07-18. FERNANDES, Florestan. “Sociologia da Educação como ‘Sociologia Especial”. In: PEREIRA, Luiz e FORACCHI, Marialice M. Educação e Sociedade: leituras de sociologia da educação. 12 ed. São Paulo: Ed. Nacional, 1985, p. 06. PEREIRA, Luiz e FORACCHI, Marialice M. Educação e Sociedade: leituras de sociologia da educação. 12 ed. São Paulo: Ed. Nacional, 1985, p. 06. FORACCHI, Marialice M. Educação e Sociedade: leituras de sociologia da educação. 12 ed. São Paulo: 1985, p. 19-21. Pesquisas na Internet www.scielo.org.br www.usp.org.br www.forumpaulofreire.com.br www.ufrgs.br/ensinosociologia www.filosofiavirtual.pro.br www.cas.sc.edu/socy/faculty/defl/Durkheim www.espacoacademico.com.br www.unifesp.br 64 Sociologia das Organizações Educativas Unidade 4 Formas de Educação Introdução Bem-vindo a esta unidade de estudo, onde terá as noções fundamentais das diferentes formas de educação. Para uma óptima concretização, você não precisa de ir longe. A sua comunidade dá exemplos concretos de tudo o que vai estudar nesta unidade. Tenha óptimas lições. Estrutura O estudo que você inicia hoje tem 4 lições. Para cada lição devem ser dispensadas 2 horas de tempo. Tópicos da Unidade Lição n°1. Educação e moral: a Sociologia das Organizações Educativas de Émile Durkheim Lição n° 2. Educação e capitalismo: a Sociologia das Organizações Educativas de Karl Marx Lição n°3. Reprodução e desigualdade: a Sociologia das Organizações Educativas de Pierre Bourdieu Lição n°4. Educação como socialização Meios Para além das referências bibliográficas presentes nesta unidade, você poderá usar textos de apoio, visitas as escolas e eventos educativos ou, se tiver possibilidade para o efeito, outro “meio” Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 65 importante que faz parte do “arsenal” material da sua própria comunidade. Ao completar esta unidade, você será capaz de: Objectivos da lição Geral ß Conhecer as diferentes formas de educação Específicos ß Caracterizar as diferentes formas de educação; ß Identificar as formas eficazes de educação para uma dada comunidade; ß Nomear as características de cada forma de educação. 66 Sociologia das Organizações Educativas Lição no 1 Educação e moral: a Sociologia das Organizações Educativas de Émile Durkheim Introdução Na perspectiva de Émile Durkheim, a educação tem por objectivo suscitar e desenvolver no indivíduo certo número de estados físicos, intelectuais e morais, reclamados pela sociedade política, no seu conjunto, e pelo meio especial no qual ele está inserido. Nesta lição terá a ocasião de conhecer a educação como moral. O estudo que começa terá a duração de 2 horas. Ao completar esta lição, você será capaz de: Objectivos da lição • Indicar as principais contribuições de Durkheim ao entendimento da educação como valor moral; Na perspectiva durkheiminiana a educação é a acção exercida pelas gerações adultas sobre as gerações que não se encontram ainda preparadas para a vida social e tem por objecto suscitar e desenvolver, na criança, certo número de estados físicos, intelectuais e morais, reclamados pela sociedade política no seu conjunto e pelo meio especial a que a criança, particularmente, se destine (Durkheim, 1975: 41). Para Durkheim (1975) educação é o processo pelo qual aprendemos a ser membros da sociedade. Não existe uma única para que todos aprendam a ser membros da sociedade. Você Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 67 aprende a ser um membro da sua classe, de seu grupo, de sua casta, de sua profissão, enfim, de seu meio moral. Socializar-se é aprender a ser membro da sociedade, e aprender a ser membro da sociedade é aprender o seu devido lugar nela. Existem certos costumes, certas regras, que devem ser obrigatoriamente transmitidos no processo educacional, gostemos deles ou não. Se não fizermos isso, a sociedade se vingará nos nossos filhos, pois não estarão em condições de viver em meio aos outros quando adultos. Ideias educacionais muito ultrapassadas ou muito à frente de seu tempo, não são boas porque não permitem que o indivíduo educado tenha uma boa vida normal, harmónica com seus contemporâneos. A educação adequada é aquela própria ao meio moral que cada um compartilha. Os sistemas educacionais contemporâneos não são homogéneos. Aliás, estes seriam só se voltássemos à pré-história, em sociedades sem diferenciação. É fundamental, porém, que haja certa homogeneidade e a educação deve perpetuá-la e reforçá-la na alma da criança que é educada. Sermos iguais e diferentes ao mesmo tempo. Só a Educação pela qual passamos é capaz de nos fazer assim. E é por isso que a ela é um processo social. Resumo Na Sociologia das Organizações Educativas de Durkheim, a educação assume uma função moralizadora, a partir do entendimento da sociedade como uma grande entidade moral. Ela possui doze papéis: 1) suscita e desenvolve nos indivíduos estados físicos, intelectuais e morais reclamados pela sociedade; 2) soluciona o problema da fragilidade moral contemporânea; 3) organiza e constitui o ser social em cada um de nós; 4) integra cada nova geração à sociedade; 5) agrega o ser egoísta e anti-social; 6) reforça a cooperação entre indivíduos; 7) institui valores morais aos 68 Sociologia das Organizações Educativas indivíduos; 8) socializa a jovem geração pela geração adulta; 9) assimila no indivíduo normas e princípios morais (bem social); 10) está ligada as causas históricas; 11) funciona de forma normativa; 12) a sociedade e cada meio social particular determinam o ideal que a educação realiza. Chegado ao fim desta lição pense naquilo que já aprendeu e responda às questões seguintes: Auto-avaliação Exercícios 1. Mencione as principais contribuições de Durkheim no entendimento da educação como valor moral. Confronte as suas respostas com a chave que lhe apresentamos 1. Segundo Durkheim (1975), educação é o processo pelo qual aprendemos a ser membros da sociedade, é a acção exercida pelas gerações adultas sobre as gerações que não se encontram ainda preparadas para a vida social e tem por objecto suscitar e desenvolver, na criança, certo número de estados físicos,intelectuais e morais, reclamados pela sociedade política no seu conjunto e pelo meio especial a que a criança, particularmente, se destine (Durkheim, 1975: 41). O sentido da moral que Durkheim atribui a educação reside em certos costumes, regras, que devem ser obrigatoriamente transmitidos no processo educacional, gostemos deles ou não. Para Durkheim, a educação adequada é aquela própria ao meio moral que cada um compartilha. Os sistemas educacionais contemporâneos não são homogéneos. De certeza que conseguiu responder as perguntas colocadas. Se teve dificuldades, não desista, volte a ler o texto. Se a dificuldade persistir consulte o seu tutor. Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 69 Lição no 2 Educação e capitalismo: a Sociologia das Organizações Educativas de Karl Marx Introdução Vale ressaltar que a educação não foi o tema central de Marx e Engels. Eles dedicaram-se pouco à questão educacional em seus escritos filosóficos, sociais e económicos. Entretanto, as suas denúncias ao carácter classista da educação representaram um marco, um ponto de partida para a reformulação de teorias educacionais baseadas no princípio democrático de igualdade. A educação aparece nas suas preocupações sobre a construção do homem plenamente desenvolvido em suas potencialidades físicas e espirituais, não subjugado ao domínio do capital. Nesta lição terá a ocasião de conhecer a educação e capitalismo na Sociologia das Organizações Educativas de Karl Marx. O estudo que começa terá a duração de 2 horas. Ao completar esta lição, você será capaz de: Objectivos da lição • Identificar o papel da educação na sociedade segundo Marx; • Caracterizar a Educação ideal para Marx. Karl Marx via a educação da mesma forma que via o capitalismo. Como componente da super estrutura, ela pode ser para alienação ou para a emancipação. A partir da análise da situação educacional dos filhos dos operários do nascente sistema fabril, este sociólogo identificou na educação como uma das mais importantes formas de perpetuação da exploração de uma classe sobre a outra, utilizada 70 Sociologia das Organizações Educativas pela classe dominante para disseminar sua ideologia, inculcando no trabalhador o modo burguês de ver o mundo. Nas suas investigações Marx conclui que o tipo de Educação dado às crianças operárias era tão precário que só poderia servir para perpetuar as relações de opressão às quais essas crianças e seus pais operários estavam sujeitos. Marx e Engels observaram alguns aspectos relativos à educação formal, ou à sua ausência, que merecem destaque. Uma de suas primeiras e principais críticas dirige-se ao embrutecimento e à deformação na manufactura, onde a divisão do trabalho reprime um mundo de instintos e capacidades produtivas. O indivíduo é mutilado e transformado no aparelho automático de um trabalho parcial. Diante deste quadro, a partir de uma perspectiva revolucionária, Marx identificava na Educação uma arma valiosa a ser empregada a favor da emancipação do ser humano, da sua libertação da exploração e do jugo do capital. Através de uma conjugação entre o trabalho e a escola seria possível romper na formação das futuras gerações com a separação entre trabalho manual e intelectual, assim como com a parcialização das tarefas impostas pela divisão do trabalho na fábrica moderna. Como um homem do século XIX, Marx considerava o trabalho infantil desejável, desde que o Estado garantisse aos filhos dos operários uma escola de meio período que não fosse um mero depósito de crianças e desde que a super exploração do trabalho infantil fosse controlada pela legislação. Este sociólogo considera o trabalho como educativo. É através dele que o homem produz para viver, colocando a natureza a seu serviço e relacionando-se com seu semelhante. O “homem novo” não pode ser forjado apenas com uma Educação escolar formal, mais também com o trabalho exercido no chão da fábrica. Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 71 Em suma, Marx considera que não se deve permitir o emprego do trabalho das crianças e jovens se este emprego não estiver conjugado com a educação. Ainda sobre o recrutamento de crianças e adolescentes para o trabalho na indústria, Marx é taxativo: “qualquer que seja a forma em que se realize sob o reino do capital é simplesmente abominável”. A sociedade não pode permitir que crianças e adolescentes sejam empregados na produção, a menos que se combine este trabalho produtivo com a educação. Propõe que a jornada de trabalho de crianças de 9 a 12 anos seja reduzida para duas horas diárias; dos 13 aos 15 anos, para quatro horas; e dos 16 a 17 anos, para seis, com uma hora para comida e descanso. As escolas elementares deverão iniciar a instrução das crianças antes dos 9 anos. Caberá à sociedade a responsabilidade de defender os interesses das crianças proletárias, pois os pais são impossibilitados de fazê-lo pelo sistema social de acumulação capitalista que os transforma em “mercadores de escravos de seus próprios filhos”. Para livrar estes dos efeitos nocivos do sistema, é necessário transformar a “razão social” em “força social”, por meio de leis gerais. Auto-avaliação Exercícios 1. Identifique o papel da educação para a sociedade segundo Marx; 2. Caracterize a Educação ideal de Marx. 72 Sociologia das Organizações Educativas Confronte as suas respostas com a chave que lhe apresentamos Respostas 1. Na perspectiva de Marx, o papel da educação consiste numa das formas ideológicas de domínio de uma classe com domínio de capital sobre a outra proletária. 2. A educação ideal para Marx, é aquela virada a favor da emancipação do ser humano, da sua libertação da exploração e do jugo do capital. ÿ De certeza que conseguiu responder as perguntas colocadas. Se teve dificuldades, não desista, volte a ler o texto. Se a dificuldade persistir consulte o seu tutor. Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 73 Lição no 3 Reprodução e Desigualdade: A Sociologia das Organizações Educativas de Pierre Bourdieu Introdução Nesta lição terá a ocasião de conhecer a reprodução e desigualdades no acesso a educação. Para este estudo, você vai precisar de duas horas. No fim tem uma actividade individual (exercício de auto-avaliação) que deve ser resolvida com vista a testar o que você percebeu desta lição. Procure resolver, antes de consultar as respostas que constam no fim. Ao completar esta lição, você será capaz de: Objectivos da lição • Identificar o papel da educação segundo Bordieu; • Indicar as principais contribuições de Bourdieu à compreensão das desigualdades escolares. Ao longo das últimas quatro décadas Pierre Bourdieu construiu, de forma consistente, paciente e acumulativa, um dos corpos de teoria e de pesquisa sociológica mais férteis do pós-guerra. Obras como Les héretiers, Le métier du sociologie, La reproduction, Le sens pratique, Homo academicus e La noblesse d’Etat, produzidas entre as décadas de 1960 e 80, marcaram as etapas de um sólido projecto de conhecimento científico do mundo social. 74 Sociologia das Organizações Educativas Nessa trajectória, Bourdieu sempre concebeu a sociologia como um projecto científico rigoroso, uma construção intelectual em constante oposição ao saber espontâneo, dando continuidade à tradição durkeiminiana de erigir uma ciência do mundo social e também incorporando o princípio elaborado por Bachelard de um corte epistemológico entre as representações do senso comum e a elaboração do discurso científico (Martins, 2002: 164-165). Ao longo de sua obra, Bourdieu procurou superar determinadas oposições canónicas que na sua óptica minam a ciência social por dentro, dualismos que comprometem uma adequadacompreensão da prática humana, tais como: separação entre análise do simbólico e do material, indivíduo e sociedade, métodos quantitativos e qualitativos. Na sua concepção, tais oposições não derivam de operações lógicas ou epistemológicas constitutivas da prática científica, mas de dois factores: disputas entre escolas e tradições de pensamento no interior da sociologia, que buscam erigir suas concepções particulares como verdade científica total, ou seja, constituem a expressão sociológica de espaços sociais estruturados em torno de divisões dualistas que acabam por produzir profissões de fé e emblemas totémicos, dilacerando as explicações fornecidas pelas ciências sociais; as lutas de concorrência entre seus adeptos, visando à conquista de posições de legitimação no campo científico. Como Pierre Bourdieu nos auxiliaria na abordagem dos fenómenos educacionais? Este sociólogo teve o mérito de formular, a partir da década de 1960, uma resposta original e abrangente para o problema das desigualdades escolares. Até meados do século passado predominava nas Ciências Sociais e no senso comum uma visão extremamente optimista que atribuía à escolarização um papel central no duplo processo de superação do atraso económico, Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 75 do autoritarismo e dos privilégios. Havia uma crença de que por meio da escola pública e gratuita seria resolvido o problema do acesso à Educação, o que garantiria a igualdade de oportunidades entre todos os cidadãos. Nesta perspectiva, ainda vigente em alguns espaços sociais, acredita-se que os indivíduos competem dentro do sistema de ensino em condições iguais e aqueles que se destacam conseguem êxito por seus dons individuais. Deste modo, por uma questão de justiça, os vencedores nas disputas educacionais deveriam, naturalmente, ocupar as posições sociais superiores na hierarquia social. Num artigo intitulado “A Escola conservadora: as desigualdades frente à escola e à cultura”, Bourdieu questiona o mito da “escola libertadora”. Demonstra que, ao contrário do que se propaga, se observa no sistema escolar francês, um dos factores mais eficazes de conservação social, pois este fornece a aparência de legitimidade às desigualdades sociais e sanciona a herança cultural e o dom social tratando como natural (Bourdieu, 1998). É perceptível que na leitura de Bourdieu a educação perde o papel que lhe fora atribuído de instância transformadora e democratizadora da sociedade e passa a ser vista como uma das principais instituições por meio da qual se mantêm e se legitimam os privilégios sociais. Na perspectiva educacional bourdieusiana podemos identificar algumas teses. Como é constatado, os alunos não são indivíduos abstractos que competem em condições relativamente igualitárias na escola. Ao contrário, estes se constituem em atores socialmente constituídos que trazem uma bagagem social e cultural 76 Sociologia das Organizações Educativas diferenciada. Os gostos mais íntimos, as preferências, as aptidões, as posturas corporais, a entonação de voz, as aspirações relativas ao futuro profissional, tudo seria socialmente constituído. Constata-se que o agente da Educação é caracterizado por uma bagagem socialmente herdada. Podemos constatar a partir desta óptica que a escola não seria uma instituição neutra na transmissão da cultura e na avaliação dos alunos. Pelo contrário, ela reproduz e legitima a dominação exercida pelas classes dominantes. Ela ignora, no âmbito dos conteúdos de ensino que transmite, dos métodos e técnicas de transmissão e dos critérios de avaliação, as desigualdades culturais entre as crianças das diferentes classes sociais. Ao tratar formalmente de modo igual em direitos e deveres quem é diferente, a escola privilegiaria quem, por sua bagagem familiar, já é privilegiado. As críticas de Bourdieu apontam que se a igualdade educativa alardeada pelas decisões oficiais não progride porque os discursos são mistificadores e tanto a sociedade como o Estado não querem realmente a democratização. A Sociologia das Organizações Educativas faz um esforço para demonstrar que o desempenho escolar também está associado à origem social dos alunos. É perceptível que na sua leitura a Educação perde o papel que lhe fora atribuído de instância transformadora e democratizadora da sociedade e passa a ser vista como uma das principais instituições por meio da qual se mantêm e se legitimam os privilégios sociais (Bourdieu, 1998). Podemos apontar quatro contribuições à análise da educação de Bourdieu (1998). Primeiramente, sua sociologia permite a compreensão do problema das desigualdades escolares. Em segundo lugar, fornece um novo modo de interpretação da escola e da educação que relaciona desempenho escolar e origem social. Em terceiro, onde se via igualdade de oportunidades, meritocracia, justiça social, passa-se a ver reprodução e legitimação das Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 77 desigualdades sociais. Por fim, a Educação é vista como uma das principais instituições por meio da qual se mantêm e se legitimavam os privilégios sociais. Resumo Bourdieu, faz um esforço para demonstrar que o desempenho escolar também está associado à origem social dos alunos. É perceptível que na sua leitura, a educação perde o papel que lhe fora atribuído de instância transformadora e democratizadora da sociedade e passa a ser vista como uma das principais instituições por meio da qual se mantêm e se legitimam os privilégios sociais. Chegado ao fim desta lição pense naquilo que já aprendeu e responda as questões seguintes: Auto-avaliação Exercícios 1. Identifique o papel da educação segundo Bordieu; 2. Indique as principais contribuições de Bourdieu à compreensão das desigualdades escolares. Confronte as suas respostas com a chave que lhe apresentamos. 78 Sociologia das Organizações Educativas Respostas 1. Para Bourdieu, educação é processo de superação do atraso económico, do autoritarismo e dos privilégios. 2. Bourdieu traz quatro contribuições à análise da educação. Primeiramente, sua sociologia permite a compreensão do problema das desigualdades escolares. Em segundo lugar, fornece um novo modo de interpretação da escola e da educação que relaciona desempenho escolar e origem social. Em terceiro, onde se via igualdade de oportunidades, meritocracia, justiça social, passa-se a ver reprodução e legitimação das desigualdades sociais. Por fim, a Educação é vista como uma das principais instituições por meio da qual se mantêm e se legitimavam os privilégios sociais. De certeza que conseguiu responder as perguntas colocadas. Se teve dificuldades, não desista, volte a ler o texto. Se a dificuldade persistir consulte as obras indicadas abaixo e tente resolver de novo. Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 79 Lição no 4 Educação Como Socialização Introdução Os indivíduos, em vida, estabelecem relações sociais diversificadas e fortificadas com a coesão social dos mesmos. Relações que emergem desde a nascença do indivíduo e como pertencente a um grupo social de inteiração passando pela socialização primária (a família) e a socialização secundária (a escola). É partindo dessas socializações que os indivíduos se formam na vida. Nesta lição, vai poder familiarizar-se com a complexidade que este termo “socialização” carrega. Para o efeito tem duas horas para o seu estudo, no fim das quais tem actividades para testar o grau da apreensão da matéria. Ao completar esta lição, você será capaz de: Objectivos da lição • Identificar a relação entre educação e socialização; • Caracterizar a socialização como transmissor de valores culturais dos indivíduos. Socializaçãoé o processo por meio do qual o indivíduo aprende a ser membro da sociedade. Consiste na imposição de padrões sociais à conduta individual. Através dela o organismo individual é moldado pela sociedade. O mundo exterior passa a ser visto como seu mundo. É o processo pelo qual as pessoas aprendem a sua cultura. Elas o fazem (1) adoptando e abandonando uma série de papéis e (2) tornando-se conscientes de si próprias enquanto interagem com 80 Sociologia das Organizações Educativas outros. Um papel é o comportamento esperado de uma pessoa que ocupa uma determinada posição na sociedade. Nossa capacidade de aprender cultura e de nos tornarmos humanos é apenas potencial. Para que ocorra, a socialização deve liberar esse potencial humano. A parte socializada da individualidade costuma ser designada como a identidade. A identidade é atribuída e confirmada pelos outros: são os outros que nos dizem quem somos, confirmam nossa identidade. Do processo de socialização decorre a identidade cultural de um povo, de uma sociedade. Este processo não ocorre de forma linear. Entretanto, psicólogos e sociólogos dividem a socialização em duas fases: 1) Socialização primária: processo por meio do qual a criança se transforma num membro participante da sociedade. 2) Socialização secundária: processos posteriores por meio dos quais o indivíduo é introduzido num mundo específico. Pela socialização se estabelece uma ligação entre o microcosmo individual e o macrocosmo social. A família é o mais importante agente de socialização primária. Ela é adequada para fornecer o tipo de atenção íntima e cuidadosa necessária para a socialização primária; é um grupo pequeno e seus membros estão em contacto face a face. Negligência e maus-tratos de crianças existem, mas a maioria dos pais ama os filhos e são, portanto, motivados a cuidar deles. Essas características fazem da maioria das famílias agentes da socialização ideais para ensinar às crianças pequenas coisas que vão desde a linguagem até seus lugares no mundo. A família em que a pessoa nasce também exerce uma influência relativamente duradoura ao longo da vida. Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 81 A função socializadora da família era mais pronunciada há um século, em parte porque os membros adultos da família estavam mais disponíveis para cuidar das crianças de hoje. Os demais agentes fazem parte da socialização secundária. Por exemplo, os grupos de colegas têm um papel considerável na socialização secundária. Esses consistem em indivíduos que não são necessariamente amigos, mas têm mais ou menos idade e um status semelhante. Esses ajudam crianças e adolescentes a desligar-se de suas famílias e a desenvolver fontes independentes de identidade. São influentes em relação a questões de estilo de vida como aparência, actividades sociais e namoros. Por meio destes grupos os jovens começam a desenvolver sua própria identidade, rejeitando os valores dos pais, experimentando novos elementos da cultura e envolvendo-se com várias formas de comportamentos rebeldes. A socialização do adulto acontece ao longo da vida. Por que isso ocorre? Quatro razões podem ser apontadas. Primeiramente, os papéis adultos são frequentemente descontínuos. Isto é, expectativas contraditórias estão associadas aos primeiros papéis que assumimos em nossas vidas e aos que assumimos mais tarde. Em segundo lugar, muitos papéis adultos são, em grande medida, invisíveis. Papéis adultos são muitas vezes invisíveis para as pessoas que são muito jovens para desempenhá-los. Em terceiro, alguns papéis adultos são imprevisíveis. As pessoas sabem das mudanças dos papéis previamente mencionadas antes que elas ocorram. Por fim, estes papéis mudam à medida que amadurecemos. Forças externas ao indivíduo moldam os três tipos de mudança de papel mencionados. 82 Sociologia das Organizações Educativas Esta última mudança de papel resulta principalmente de processos de desenvolvimentos interiores. É a partir da educação e socialização que adquirimos um capital cultural que compreende o conhecimento, as habilidades, as informações sociais. Através dos processos socializadores vivenciados na Educação adquirimos o que Pierre Bourdieu conceitua como hábitos, que, em linhas gerais, seria a internalização ou incorporação da estrutura social. É um produto da história produzido por práticas individuais e colectivas acordadas com esquemas criados. O hábito é tão forte que é capaz de “naturalizar” as práticas sociais. A partir da socialização vivenciada desde os primeiros anos na escola incorporamos os valores sociais como “naturais”. Deste modo, consideramos que o mundo só pode ser compreendido a partir de valores enraizados como óbvios. Resumo A socialização é o processo por meio do qual o indivíduo aprende a ser membro da sociedade. Consiste na imposição de padrões sociais à conduta individual. Através da socialização o organismo individual é moldado pela sociedade. O mundo exterior passa a ser visto como seu mundo pelo indivíduo. É o processo pelo qual as pessoas aprendem a sua cultura. Elas o fazem (1) adoptando e abandonando uma série de papéis e (2) tornando-se conscientes de si próprias enquanto interagem com outros. Um papel é o comportamento esperado de uma pessoa que ocupa uma determinada posição na sociedade. Nossa capacidade de aprender cultura e de nos tornarmos humanos é apenas potencial. Para que ocorra, a socialização deve liberar esse potencial humano. Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 83 Chegado ao fim desta lição pense naquilo que já aprendeu e responda as questões seguintes: Auto-avaliação Exercícios 1. Identifique a relação entre educação e socialização; 2. Caracterize a socialização como elemento transmissor de valores culturais dos indivíduos. Confronte as suas respostas com a chave que lhe apresentamos. Respostas 1. É através do processo de socialização que os indivíduos são preparados para participar dos sistemas sociais a partir da compreensão dos símbolos, dos sistemas de ideias, da linguagem e das relações que constituem os referidos sistemas. Esses elementos são aceitos pelos indivíduos como sendo naturais (Johnson, 1997). A socialização é um processo permanente na vida dos indivíduos tanto no momento em que esses adquirem novos papéis na vida social como quando eles se ajustam à perda de papéis sociais antigos. É por meio do processo de socialização que os sistemas sociais se perpetuam e funcionam eficazmente, na medida em que os indivíduos desempenham os seus papéis sociais mediante a incorporação de valores e padrões sociais vigentes numa determinada sociedade. 2. Émile Durkheim (1975) define a socialização como o conjunto de processos de integração do indivíduo aos grupos 84 Sociologia das Organizações Educativas sociais. Originalmente parte da concepção dual do indivíduo como um ser individual e um ser social Segundo Durkheim a vida em sociedade supõe uma consciência colectiva, que os enquadra compulsoriamente na forma de regras e normas. O indivíduo seria um executor das estruturas de reprodução e manutenção da ordem social. A educação é um dos vastos campos dos processos de socialização, mas, na teoria sociológica de Weber, há uma confluência dos dois termos, porque o autor não a restringe à instrução, à instituição escolar. Com essa abordagem, Weber conseguiu compreender a especificidade dos diferentes sistemas educacionais. Contribuiu, também, para incrementar as abordagens dos sociólogos da educação ao focalizar os diferentes sistemas que desenvolvem a socialização dos indivíduos. ÿ De certeza que conseguiu responder as perguntas colocadas. Se as dificuldades persistirem, consulte o seu tutor. Actividade finalda unidade Actividade Depois de fazer uma reflexão a volta das Formas de Educação, procure esboçar a utilidade das formas de educação na sua área residencial. Onde, deverás caracterizar as formas de educação e Identificar formas eficazes de educação para a sua comunidade. Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 85 Leitura Leituras aconselhadas da unidade ARON, Raymond. Émile Durkheim. As Etapas do Pensamento Sociológico. São Paulo: Martins Fontes, 1997. p. 295-376. DURKHEIM, Émile. Educação e Sociologia. 4 ed. São Paulo: Melhoramentos, 1975. DURKHEIM, Émile. As Regras do Método Sociológico. São Paulo: Martins Fontes, 1999. DURKHEIM, Émile. O Suicídio. São Paulo: Martins Fontes, 1999. IANNI, Octávio. “Introdução”. MARX. Sociologia. São Paulo: Editora Ática, 1979, p. 07-42. (Colecção Grandes Cientistas Sociais) MARX, Karl. “Prefácio”. Para a Crítica da Economia Política. In: Manuscritos Económico-Filosóficos. São Paulo: Abril Cultural, 1978. MARX, Karl. ENGELS, Friedrich. Crítica da Educação e do Ensino. Lisboa: Morais, BOURDIEU, Pierre. A Escola conservadora: as desigualdades frente à escola e à cultura. In: NOGUEIRA, Maria Alice; CATANI, Afrânio. Escritos de Educação: Pierre Bourdieu. 3 ed. Petrópolis: Vozes, 2001. ORTIZ, Renato (org.) “Introdução”. Pierre Bourdieu. São Paulo: Ática, 1994. PINTO, Louis. Pierre Bourdieu e a teoria do mundo social. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2000. BERGER, Peter Berger. Perspectivas Sociológicas. Petrópolis: Vozes, 1977. 86 Sociologia das Organizações Educativas BERGER, Brigitte. “O que é uma instituição social?”. In: PEREIRA, Luiz e FORACCHI, Marialice M. Educação e Sociedade: leituras de sociologia da educação. 12 Ed. São Paulo: 1985, p. 19-21. MARTINS, José de Souza. Sociologia e Sociedade: leitura de introdução à Sociologia. Rio de Janeiro: Editora LTC, 1980, pp. 193-199. Pesquisas na Internet www.scielo.org.br www.usp.org.br www.forumpaulofreire.com.br www.ufrgs.br/ensinosociologia www.filosofiavirtual.pro.br www.cas.sc.edu/socy/faculty/defl/Durkheim www.espacoacademico.com.br www.unifesp.br Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 87 Unidade 5 As instituições escolares Introdução Bem-vindo a esta unidade de estudo, onde terá as noções fundamentais das instituições escolares na abordagem da Sociologia das Organizações Educativas. Estas vão ajuda-lo a compreender a acção e função das instituições escolares. Estrutura O estudo que você inicia tem 3 lições. Devem ser dispensadas duas (2) horas de tempo para cada lição. Eis as matérias a serem estudadas nesta unidade. Tópicos da unidade Lição 1. Características organizacionais e cultura de escola. Lição 2. A cultura organizacional da escola. Lição 3. Funções sociais da educação Meios Para além das referências bibliográficas presentes no fim da unidade, você poderá usar textos de apoio, efectuar visitas nas diferentes escolas da sua comunidade e arredores. Com está ultima prática, estará a iniciar o método do Sociólogo, cuja especificidade na sua intervenção é sempre estar em contacto com o grupo alvo. 88 Sociologia das Organizações Educativas Ao completar esta unidade, você será capaz de: Objectivos da lição Objectivos Geral ÿ Conhecer a origem e os propósitos das instituições escolares Específicos ÿ Indicar os princípios organizacionais de cultura da escola; ÿ Identificar os elementos da cultura organizacional; ÿ Indicar as funções sociais da educação. Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 89 Lição no 1 Características organizacionais da cultura de escola Introdução As instituições escolares são marcadas pelas características organizações das escolas, que ajudam o funcionamento pleno das mesmas bem como, a articulação eficaz com o meio em que estão inseridas. E nestes moldes, encontra-se também associado os modelos políticos e simbólicos da gestão das instituições escolares. Nesta lição, você terá a ocasião de conhecer as características organizacionais da cultura de escola. Para este estudo, você deve dispensar duas (2) horas. Ao completar esta lição, você será capaz de: Objectivos da lição • Nomear os modelos políticos e simbólicos das escolas; • Indicar as características organizacionais das escolas; • Identificar os principais aspectos que retratam uma escola eficaz. A sociologia das organizações educativas tem-se aberto crescentemente aos modelos políticos e simbólicos, onde: os estudos que durante os anos 60 usavam o modelo input-output (entrada e saída), investigavam em que medida as características dos alunos, os recursos humanos, materiais e financeiros (os inputs) poderiam determinar modificações no seu desempenho (os outputs). Bressoux (2003), esclarece que estas pesquisas integravam as correntes sobre o efeito-escola, com seus métodos próprios de investigação e desenvolveram-se separadamente das pesquisas sobre o efeito-professor. Iniciaram-se nos Estados 90 Sociologia das Organizações Educativas Unidos e são caracterizadas pelos estudos quantitativos em grande escala. O autor aponta ainda que o conjunto dos factores controlados explicava, frequentemente, menos que 20% da variância de sucesso dos alunos; a escola como lugar de aprendizagem e de destinação de recursos não teria potência para modificar as condições académicas dos estudantes que eram delimitadas pela herança familiar. Novos estudos contestarão as variáveis utilizadas nas pesquisas anteriores que estudavam a instituição escolar como unidade de produção. Intentando examinar o que se passava no interior das escolas e que podia gerar diferença de eficácia entre elas, as pesquisas sobre os processos vão investigá-las como organizações sociais, recorrendo a tabelas de observação, questionários, entrevistas, etc. Nóvoa (1995) demarca a emergência recente de uma sociologia das organizações educativas, posicionada entre uma perspectiva focada na sala de aula e as perspectivas sócio-institucionais centradas no sistema educativo. Destacam-se assim, as instituições escolares, como espaços organizacionais que devem ser compreendidos na sua complexidade técnica, científica e humana, considerando-se a organização escolar como um nível essencial para a abordagem dos fenómenos educativos. O surgimento da sociologia das Organizações Educativas como campo de estudo se deveu a necessidade de se aprofundar a compreensão das relações entre as desigualdades na sociedade e os processos de ensino-aprendizagem que ocorriam dentro das escolas (Mafra, 2003). Com sua argumentação, Nóvoa (1995) nos insta a não reduzir o pensamento e a acção educativa a perspectivas técnicas, de gestão ou de eficácia. Nossa análise deve arregimentar todas as dimensões Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 91 pessoais, simbólicas e políticas da vida, porque as escolas representam uma territorialidade espacial e cultural, onde se revela o jogo dos atores educativos internos e externos. Deste modo, ao empenhar-se em compreender o papel dos estabelecimentos de ensino como organizações, a sociologia das organizações educativas reporta-se, agora, ao modelo político (recorrendo a conceitos como poder, interesses, controle...) e simbólico (significado que os atores dão aos acontecimentos, carácter contingente dos processos educacionais...). Restitui aos actores educativos o papel de protagonistas e modifica a descrição das características organizacionais e da cultura de escola. O funcionamento das escolas enquanto organização social define a diferença fundamental entre elas, para pôr em evidência esta diferença apresentou-se o termo ethos escolar – “um conjunto de valores, atitudes e comportamentosque dão identidade particular à escola” (Mafra, 2003). A noção de estabelecimento foi introduzida para se compreender os factores que agem nas escolas, parte-se da premissa de que a política dos estabelecimentos - a natureza das relações sociais entre os atores e o projecto pedagógico e educativo, é responsável em parte pelo desempenho dos estudantes (Cousin, 1993). Segundo Canário (1996) esta articulação entre os conceitos de actor e de sistema possibilita o acesso a um entendimento novo destes sistemas de acção colectiva que são as escolas; estas surgem então, não como um “dado natural”, mas “como um “construído” social, marcado por uma intrínseca contingência” (id: 132) que as torna refractárias a previsões deterministas. São marcadas pela relação entre os constrangimentos sistémicos (o funcionamento colectivo e global do sistema humano) e os comportamentos estratégicos dos atores (efeitos de imprevisibilidade); não se transformam, porém, 92 Sociologia das Organizações Educativas em realidades incompreensíveis, são realidades inteligíveis, a partir de uma inteligibilidade construída a posterior. Canário (1996) identifica no conjunto das investigações que fazem da escola um objecto de estudo, uma outra perspectiva que se contrapõe a perspectiva da inteligibilidade a posterior. Seria uma perspectiva do funcionamento da escola inspirada na tradição positivista, que pressupõe ser possível aplicar princípios de previsibilidade às escolas a partir de um acúmulo de muita informação (um conhecimento exaustivo das condições iniciais). Canário (1996) avalia que esta divisão de perspectivas pode ser posta em relação com duas grandes correntes que demarcam o campo das pesquisas que têm a escola como objecto de estudo: (a) Uma se refere aos estudos que exploram o conceito de eficácia dos estabelecimentos de ensino; (b) outra se reporta ao conjunto de estudos que apontam para a elucidação dos processos de construção da identidade dos estabelecimentos de ensino. Aspectos do clima escolar A segunda corrente citada no item anterior é identificada por Mafra (2003), como os estudos mais actuais voltados para o que se nomeia cultura organizacional; estes estudos reúnem a perspectiva de sistema e a perspectiva de actor, que eram examinadas separadamente. Agora, são estudadas de forma articulada de modo a se perceberem as escolas como um sistema de acção colectiva. Segundo a autora, pesquisadores como Vala, Monteiro e Lima (“Culturas organizacionais: uma metáfora à procura de teorias”. Análise Social realizada em 1988, entendem que o clima escolar é um elemento integrante da cultura organizacional. Mafra (2003) esclarece que os estudos mais actuais sobre cultura organizacional e cultura organizacional da escola têm tendência a se confundir Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 93 com as investigações tradicionalmente balizadas como “clima da escola”. Estes estudos visavam os aspectos interpessoais e subjectivos das experiências escolares vividas numa organização, onde o “clima da escola” caracteriza-se por um “sentimento geral afinado” com o estabelecimento, proporcionando o bom relacionamento e a identificação institucional oportuna ao funcionamento adequado das instituições. Bressoux (2003) privilegiou a noção de clima em relação a outros factores de desempenho (vistos como mais ou menos decorrentes deste) ao abordar as pesquisas empíricas sobre as variações de aquisição dos alunos em função da escola ou da classe em que eles são escolarizados. O autor considera que a noção de clima permitiria dar conta da escola concebida como uma organização social que desenvolve um sistema particular de relações entre os atores. O “clima” da escola é destacado como “um conceito que permite juntar as características isoladas para integrá-las num conjunto que lhes confere sentido” (Bressoux, 2003: 51). Reconhecia que se tratava, no entanto, de um conceito problemático porque necessitava de uma definição operatória que o objectivasse e designasse os elementos que o constituíam. Assinala ainda com a possibilidade de existir não um único clima na escola, mas vários. Duru-Bellat e Van Zanten (1999) afirmam que o clima escolar advém de uma configuração particular de factores que podem variar e que muitas estratégias metodológicas são utilizadas para elaborar variáveis indicadoras do clima escolar, mas a complexidade desta configuração ultrapassa a agregação de factores. De qualquer forma a facultação de uma maior importância à escola como organização, representa na análise de Nóvoa (1995) uma das evoluções mais significativas dos sistemas educativos nos anos 80 94 Sociologia das Organizações Educativas do século passado. Dentro dos estudos que tomam como referência as escolas e seu funcionamento, Brunet (1995) contribui com uma exposição geral das reflexões originadas no âmbito do clima; discorre sobre suas causas, dimensões, características, categorias e efeitos, relacionando estas reflexões com a problemática da eficácia da escola. Demarca que este conceito popularizou-se após ter sido utilizado por Gellerman, em 1964, na área da psicologia do trabalho e que a sua definição tem sido imprecisa. Todavia, defende que para se especificar as causas do comportamento de indivíduos em situação de trabalho não se pode recorrer a uma análise apoiada exclusivamente em aspectos pessoais. Há que se ampliar a pesquisa porque “são os atores no interior de um sistema que fazem da organização aquilo que ela é” (p. 125). A compreensão da percepção que eles possuem da sua atmosfera de trabalho possibilita conhecer os aspectos que influenciam o seu rendimento. Onde, os modelos políticos introduziram novos conceitos (poder, disputa ideológica, conflito, interesses, controlo, regulação) que enriqueceram a análise das organizações escolares e; os modelos simbólicos colocaram a tónica no significado que os diversos actores dão aos acontecimentos e no carácter incerto e imprevisível dos processos organizacionais mais decisivos. De modos diversos, estes dois tipos de modelos devolveram aos actores educativos o papel de protagonistas que os modelos anteriores (racionais, recursos humanos, sistémicos, etc.) lhes tinham procurado retirar. Resumo A sociologia das Organizações Educativas emergiu recentemente posicionada entre duas perspectivas: a primeira perspectiva focada Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 95 na sala de aula e a segunda perspectiva de carácter sócio- institucional centrada no sistema educativo, destacam-se as instituições escolares, como espaços organizacionais que devem ser compreendidos na sua complexidade técnica, científica e humana (Nóvoa, 1995). Sendo assim, ao empenhar-se em compreender os estabelecimentos de ensino como organizações, a sociologia das organizações educativas restitui aos actores educativos o papel de protagonistas e modifica a descrição das características organizacionais e da cultura de escola. Bressoux (2003) considera que a noção de clima permitiria dar conta da escola concebida como uma organização social que desenvolve um sistema particular de relações entre os actores. Chegado ao fim desta lição, pense naquilo que já aprendeu e responda às questões seguintes. Auto-avaliação Exercícios 1. Nomeie os modelos políticos e simbólicos das escolas? 2. Descreva as características organizacionais das escolas? 3. Identifique os principais aspectos que retratam uma escola eficaz? 96 Sociologia das Organizações Educativas Confronte as suas respostas com a chave que lhe apresentamos 1. Os modelos políticos e simbólicos, na Sociologia das Organizações Educativas, devolveram aos actores educativos o papel de protagonistas que os modelos anteriores(racionais, recursos humanos, sistémicos, etc.) lhes tinham procurado retirar. 2. As características organizacionais são: I. A estrutura física da escola, que compreende a dimensão da escola, recursos materiais, número de turmas, edifício escolar e a organização dos espaços; II. A estrutura administrativa da escola onde encontramos a gestão, direcção, controlo, inspecção, tomada de decisão, pessoal docente, pessoal auxiliar, participação das comunidades, relação com as autoridades centrais e locais e; III. A estrutura social da escola que é a relação entre alunos, professores e funcionários, responsabilização e participação dos pais, democracia interna, cultura organizacional da escola, clima social, etc. 3. Os principais aspectos que retratam uma escola eficaz consistem em: autonomia da escola, liderança organizacional, articulação curricular. Optimização do tempo, estabilidade profissional, formação do pessoal, participação dos pais, reconhecimento público e apoio das autoridades. ÿ De certeza que conseguiu responder as perguntas colocadas. Se teve dificuldades, não desista, volte a ler o texto. Se a dificuldade persistir consulte o seu tutor. Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 97 Lição no 2 A cultura organizacional da escola Introdução Trazemos nesta lição a cultura organizacional da escola. A discussão vai centrar-se nas diferentes formas de organização da escola. Devera dispensar duas horas para o seu estudo. Como sempre, no fim desta lição você tem um exercício que vai aferir o grau de compreensão desta matéria. Ao completar esta lição, você será capaz de: Objectivos da lição • Caracterizar a natureza das organizações escolares; • Indicar o papel dos actores educativos na avaliação institucional; • Descrever as características da cultura escolar. O conceito de cultura organizacional foi transposto para a área da educação na década de 70. A Cultura é um sistema de integração, de diferenciação e de referência que organiza e dá um sentido à actividade dos seus membros (Burke, 1987). As organizações escolares, ainda que estejam integradas num contexto cultural mais amplo, produzem uma cultura interna que lhes é própria e que exprime os valores e as crenças que os membros da organização partilham (Brunet, 1988). A consideração da noção de “experiência social” como construção histórica, ou como “tipos históricos” que resultam da combinação 98 Sociologia das Organizações Educativas de “tipos puros” utilizando a conceptualização weberiana, parece- nos cientificamente relevante, na medida em que propicia uma compreensão das diferentes lógicas coexistentes na organização escolar, “[...] mediante a forma como os actores as sintetizam e as catalizam tanto no plano individual como no plano colectivo” (DUBET, 1996:112). Apesar de o actor social se encontrar “[...] numa espécie de intervalo, num espaço misto, intermediário a várias lógicas”, é possível identificar, na perspectiva deste autor três registos de acção necessariamente adoptados pelos actores individuais ou colectivos: a lógica da “integração”, a lógica da “estratégia” e a lógica da “subjectivação”. De acordo com a lógica da “integração”, o actor tende a manter e a fortalecer a sua pertença à organização, interagindo de uma forma convergente e confirmativa, isto é, pautando as suas condutas com vista à manutenção de uma identidade integradora. Num registo mais “estratégico”, o actor procura agir em função dos seus interesses para que o que pertença ao grupo passe a constituir uma condição necessária à prossecução dos seus objectivos ou fins “concorrenciais”. A estrutura normativa e os valores que esta incorpora adquirem assim um sentido utilitário, transformado em recurso a mobilizar na acção, sobretudo se for favorável aos interesses do grupo e se reforçar as suas relações de poder no ‘mercado escolar’, onde as leis da concorrência e da rivalidade imperam. Por último, à luz de uma lógica de subjectivação, o actor representado como um sujeito crítico, age em função da sua identidade subjectiva, construída culturalmente a partir da tensão constante entre a acção integradora e a acção estratégica. Deste ponto de vista, o sujeito encontra-se sempre numa relação de distanciação e de reserva que impede uma adesão total ao ego (identidade subjectiva), ao nós (identidade integradora) e aos Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 99 interesses (identidade recurso). Consequentemente, a cultura deixa de representar somente o conjunto de valores e normas historicamente sedimentadas na organização, tampouco apenas uma reserva de meios simbólicos da acção grupal; ela resulta igualmente da definição subjectiva do sujeito. De acordo com esta proposta, igualmente inspirada na obra de Touraine (1978) qualquer formação social é definida pela co- presença de uma lógica de integração comunitária, por um sistema de concorrência regulada e pela lógica da capacidade crítica e voluntária do sujeito. Se do ponto de vista analítico, é possível acentuar a autonomia de cada uma daquelas lógicas a partir de um ponto central, na óptica do funcionamento da organização, convém esclarecer que a circulação alternada das diferentes lógicas assemelha-se mais a ‘arranjos’, a produtos das experiências sociais. E as experiências sociais, ao se construírem a partir de diversas lógicas de acção que lhes não pertencem (e que são dadas pelas diversas dimensões da organização), resultam de combinações subjectivas de elementos objectivos. A pertinência analítica destas três lógicas de acção, no que concerne à compreensão da cultura organizacional em contexto escolar, reside na capacidade de aprofundamento do conhecimento das condições de produção das manifestações culturais. Quase que poderíamos traçar um paralelismo, ainda que grosseiro, entre a prevalência de determinadas lógicas de acção e o tipo de manifestação cultural a ela associada: à lógica da “integração” corresponderia uma manifestação “integradora” da cultura; a lógica da “estratégia” suscitaria uma cultura predominantemente “diferenciadora”; e a lógica da subjectivação estaria por detrás de manifestações tendencialmente “fragmentadoras” da cultura. 100 Sociologia das Organizações Educativas Despojada do pendor determinista e funcionalista que, aparentemente, apenas, parece sustentar, esta associação faz sentido quando perspectivada a partir de um enfoque que privilegie o seu carácter dialéctico e interdependente, ou nas palavras de Friedberg (1995b), que explore o “jogo social” da cooperação e do conflito. E, como já o afirmámos repetidas vezes, as “regras organizacionais” (exógenas e endógenas) constituem uma ferramenta insubstituível ao desenrolar do “jogo”. Seguindo este raciocínio, importa perceber, no contexto da escola como organização, em que se manifesta a cultura, tendo como antecâmara teórica a pressuposição de que para além das estruturas e regulações englobantes, que impõem uma ordem cultural hegemónica, se processa todo um trabalho de bricolage organizacional, que combina, numa disposição original, elementos reproduzidos dessa ordem estrutural e elementos resultantes do jogo inerentes às lógicas de acção. Do ajustamento e da articulação entre a ordem estrutural hegemónica e a ordem local podem resultar, pelo menos, dois cenários culturais teoricamente diferenciados: o cenário da “cultura escolar” e o cenário da “cultura organizacional escolar”, cujas balizas foram já sinalizadas num nosso anterior trabalho (Torres, 1997). A “cultura escolar” pretende recobrir um cenário marcado pela hegemonia de uma lógica da “integração” e, como tal, desencadeadora de configurações culturais “integradoras”, directamente redutíveis às grandes estruturaçõesenglobantes. Sobressaem, desta imagem, comportamentos convergentes e reprodutivos da ordem prescritiva, condutas fiéis às estruturas e “regras formais”, enfim, um quadro de valores, de crenças, de ideologias estabilizadas e colectivamente partilhadas pelos actores escolares. Tal cenário, tem o condão de fazer sobressair as Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 101 dimensões culturais historicamente institucionalizadas nas organizações escolares, sob a forma de ritos, rituais, cerimónias legitimadoras da acção educativa, e, por isso, relativamente comuns, generalizáveis ou ainda observáveis na regulação do funcionamento de todas as escolas. Esta relação de isomorfismo entre a “estrutura formal” ou “oficial” e as dimensões simbólicas que incorpora e a “estrutura informal” reproduzida nas escolas concretas, sustenta a ideia de uma “cultura escolar” institucionalmente imposta e localmente reproduzida nas periferias escolares, sem que dê lugar ao conflito ou à emergência de ordens (de acção) contraditórias. Actores educativos e avaliação institucional Num certo sentido, o aparelho escolar edificou-se contra as famílias e as comunidades, que foram marginalizadas, ora com o argumento político (a legitimidade do Estado para decidir em matéria educativa), ora com o argumento profissional (a competência especializada dos professores em matéria educativa). A intervenção dos pais e das comunidades na esfera educativa sempre foi encarada como uma espécie de intromissão. Ora é fundamental que as famílias tenham capacidade de decisão (e poder) no seio das escolas. Devido ao funcionamento burocrático e centralizado do sistema educativo nunca se sentiu, de facto, a necessidade de criar dispositivos de avaliação das escolas. A acção das autoridades limitava-se a um controlo administrativo, baseado no cumprimento das directivas estatais. Os projectos educativos, sem esquecer os interesses e valores de que os diversos grupos são portadores, são uma forma de “obrigar” a um esforço de produção de consensos dinâmicos em torno de objectivos partilhados. 102 Sociologia das Organizações Educativas A escola tem de ser encarada como uma comunidade educativa, permitindo mobilizar o conjunto dos actores sociais e dos grupos profissionais em torno de um projecto comum. Para tal é preciso realizar um esforço de demarcação dos espaços próprios de acção, pois só na clarificação destes limites se pode alicerçar uma colaboração efectiva. Na verdade, se é inadmissível defender a exclusão das comunidades da vida escolar, é igualmente inadmissível sustentar ambiguidades que ponham em causa a autonomia científica e a dignidade profissional do corpo docente. A participação dos pais e das comunidades na vida escolar encontra toda a sua legitimidade numa dimensão social e política. A actividade dos professores e dos outros profissionais deve basear-se numa legitimidade técnica e científica. Os professores são crescentemente chamados a desempenhar um conjunto alargado de papéis, numa dinâmica de re-invenção da profissão de professor. Resumo As discussões feitas no decorrer do texto giraram em torno da administração/gestão escolar. A gestão aqui foi entendida no sentido amplo, não apenas como gestão de processos administrativos, mas como gestão de processos político- pedagógicos, envolvendo os diversos momentos de participação e de estruturação da unidade escolar. Nessa concepção de gestão, a função do dirigente escolar não se restringe ao desenvolvimento das actividades burocráticas e à organização do trabalho na escola. Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 103 Chegado ao fim desta lição pense naquilo que já aprendeu e responda às questões seguintes: Auto-avaliação Exercícios 1. Caracterize a natureza das organizações escolares. 2. Indique o papel dos actores educativos na avaliação institucional. 3. Descreva as características da cultura escolar. Confronte a sua resposta com a chave que lhe apresentamos Respostas 1. A natureza das organizações escolares elevam-se na integração dum contexto cultural mais amplo, produzem uma cultura interna que lhes é própria e que exprime os valores e as crenças que os membros da organização partilham entre si. 2. O papel dos actores educativos na avaliação institucional consiste na intervenção destes na esfera educativa pois, é fundamental que actores educativos tenham capacidade de decisão (e poder) no seio das escolas. Devido ao funcionamento burocrático e centralizado do sistema educativo nunca se sentiu, de facto, a necessidade de criar dispositivos de avaliação das escolas. A acção das autoridades limitava-se a um controlo administrativo, baseado no cumprimento das directivas estatais. Cultura escolar segundo Burke (1987) é um sistema de integração, de diferenciação e de referência que organiza e dá um sentido à actividade dos seus membros. A “cultura escolar” pretende recobrir um cenário marcado pela hegemonia de uma 104 Sociologia das Organizações Educativas lógica da “integração” e, como tal, desencadeadora de configurações culturais “integradoras”, directamente redutíveis às grandes estruturações englobantes. Sobre saem, desta imagem, comportamentos convergentes e reprodutivos da ordem prescritiva, condutas fiéis às estruturas e “regras formais”, enfim, um quadro de valores, de crenças, de ideologias estabilizadas e colectivamente partilhadas pelos actores escolares. ÿ Se teve dificuldades, não desista, volte a ler o texto. Se a dificuldade persistir consulte as obras indicadas abaixo. Leitura Leituras aconselhadas da unidade BERGER, Peter Berger. Perspectivas Sociológicas. Petrópolis:Vozes, 1977. BERGER, Brigitte. “O que é uma instituição social?”. In: FORACCHI, Marialice Mencarini e MARTINS, José de Souza. Sociologia e Sociedade: leitura de introdução à Sociologia. Rio de Janeiro: Editora LTC, 1980, pp. 193-199. Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 105 Lição no 3 Funções sociais da educação Introdução Nos tópicos anteriores, discutimos as concepções de gestão escolar, destacando a especificidade da instituição escolar, a administração como mediação, o conceito de trabalho e a organização do trabalho escolar. Nesta lição, você vai conhecer e discutir a função social da educação e da escola no processo de formação dos homens como sujeitos históricos, enfatizando o papel da organização escolar como instituição criada por esses sujeitos e seus desdobramentos na organização da sociedade. Para isso, você dispõe de duas horas para este estudo. Ao completar esta lição, você será capaz de: Objectivos da lição • Indicar as funções sociais da educação; • Identificar as abordagens modernas da funcionalidade da educação; Nas comunidades primitivas, os fins da educação derivam da estrutura homogénea do ambiente social, identificam-se como os interesses comuns do grupo, e se realizam igualitariamente em todos os seus membros, de modo espontâneo e integral: espontâneo na medida em que não existe nenhuma instituição destinada a inculcá-los; integral no sentido que cada membro da tribo incorporava mais ou menos bem tudo o que na referida comunidade era possível receber e elaborar (Ponce, 1994:21). 106 Sociologia das Organizações Educativas Com as mudanças da vida em sociedade, do próprio homem e com a transição da comunidade primitiva para a antiguidade, novas formas de organização vão surgindo, sobretudo com a substituição da propriedade comum pela propriedade privada. A relação entre os homens, que na sociedade primitiva se fundamentava na propriedade colectiva, passa a ser privada e o que rege as relações é o poder do homem, que se impõe aos demais. Assim, com o desaparecimentodos interesses comuns a todos os membros iguais de um grupo e a sua substituição por interesses distintos, pouco a pouco antagónicos, o processo educativo, que até então era único, sofreu uma partição: a desigualdade económica entre os organizadores e os executores trouxe, necessariamente, a desigualdade das educações respectivas (Ponce, 1994:27). Nesse sentido, os ideais educacionais nessa nova forma de organização da sociedade não são mais os mesmos para todos, tendo em vista que não só a classe dominante tem ideais substancialmente distintos dos da classe dominada, como também tenta fazer com que a classe trabalhadora aceite essa desigualdade educacional como desigualdade natural, sendo, assim, inútil lutar contra ela. Com o advento da sociedade capitalista e com o aperfeiçoamento da maquinaria, muda não só a forma de organização da sociedade, mas também as relações sociais de produção, a concepção de homem, de trabalho e de educação. Na sociedade organizada sob o modo de produção capitalista, o homem não é aquele ser histórico que se humaniza nas relações que estabelece com outros homens, mas resume-se ao indivíduo que vende a sua força de trabalho e, ao vendê-la, transforma-se em factor de produção. Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 107 A educação, segundo a óptica dominante, tem como finalidade habilitar técnica, social e ideologicamente os diversos grupos de trabalhadores, para servir ao mundo do trabalho. Segundo Frigotto (1999:26), “trata-se de subordinar a função social da educação de forma controlada para responder às demandas do capital”. Diferentemente da perspectiva dominante, para a classe trabalhadora a "educação é, antes de mais nada, desenvolvimento de potencialidades e apropriação de ‘saber social’ (conjunto de conhecimentos e habilidades, atitudes e valores que são produzidos pelas classes, em uma situação histórica dada de relações, para dar conta de seus interesses e necessidades) " (GryzybowskI apud Frigotto, 1998:26), objectivando a formação integral do homem, ou seja, o desenvolvimento físico, político, social, cultural, filosófico, profissional, afectivo, entre outros. Nessa óptica, a concepção de educação que estamos preconizando fundamenta-se numa perspectiva crítica que conceba o homem na sua totalidade, enquanto ser constituído pelo biológico, material, afectivo, estético e lúdico. Portanto, no desenvolvimento das práticas educacionais, precisamos ter em mente que os sujeitos dos processos educativos são os homens e suas múltiplas e históricas necessidades. Considerando os sujeitos históricos, o projecto de educação a ser desenvolvido nas nossas escolas tem que estar pautado na realidade, visando a sua transformação, pois se compreende que a realidade não é algo pronto e acabado. Não se trata, no entanto, de atribuir à escola nenhuma função salvacionista, mas reconhecer seu incontestável papel social no desenvolvimento de processos 108 Sociologia das Organizações Educativas educativos, na sistematização e socialização da cultura historicamente produzida pelos homens. A educação e sua função social Ao discutirmos a função social da educação e da escola, estamos entendendo a educação no seu sentido ampliado, ou seja, enquanto prática social que se dá nas relações sociais que os homens estabelecem entre si, nas diversas instituições e movimentos sociais, sendo, portanto, constituinte e constitutiva dessas relações. O homem, no processo de transformação da natureza, instaura leis que regem a sua convivência com os demais grupos, cria estruturas sociais básicas que se estabelecem e se solidificam à medida que se vai constituindo em locus de formação humana. Nesse sentido, a escola, enquanto criação do homem, só se justifica e se legitima diante da sociedade, ao cumprir a finalidade para a qual foi criada. Assim, a escola, no desempenho de sua função social de formadora de sujeitos históricos, precisa ser um espaço de sociabilidade que possibilite a construção e a socialização do conhecimento produzido, tendo em vista que esse conhecimento não é dado a priori. Trata-se de conhecimento vivo e que se caracteriza como processo em construção. A educação, como prática social que se desenvolve nas relações estabelecidas entre os grupos, seja na escola ou em outras esferas da vida social, se caracteriza como campo social de disputa hegemónica, disputa essa que se dá "na perspectiva de articular as concepções, a organização dos processos e dos conteúdos educativos na escola e, mais amplamente, nas diferentes esferas da vida social, aos interesses de classes" (Frigotto, 1999:25). Assim, a Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 109 educação se constitui numa actividade humana e histórica que se define na totalidade das relações sociais. Nessa óptica, as relações sociais desenvolvidas nas diferentes esferas da vida social, inclusive no trabalho, constituem-se em processos educativos, assim como os processos educativos desenvolvidos na escola consistem em processos de trabalho, desde que este seja entendido como acção e criação humanas. Contudo, na forma como se opera o modo de produção capitalista, a sociedade não se apresenta enquanto totalidade, mas é compreendida a partir de diversos factores que interagem entre si e se sobrepõem de forma isolada. Nessa perspectiva, "a educação e a formação humana terão como sujeito definidor as necessidades, as demandas do processo de acumulação de capital sob as diferentes formas históricas de sociabilidade que assumem" (Frigotto, 1999:30), e não o desenvolvimento de potencialidades e a apropriação dos conhecimentos culturais, políticos, filosóficos, historicamente produzidos pelos homens. Frigotto (1999) afirma ainda que a escola é uma instituição social que, mediante sua prática no campo do conhecimento, dos valores, atitudes e, mesmo por sua desqualificação, articula determinados interesses e desarticula outros. Nessa contradição existente no seu interior, está a possibilidade da mudança, haja vista as lutas que aí são travadas. Portanto, pensar a função social da escola implica repensar o seu próprio papel, sua organização e os atores que a compõem. Para Petitat (1994) a escola contribui para a reprodução da ordem social. No entanto, ela também participa da sua transformação, às 110 Sociologia das Organizações Educativas vezes intencionalmente; outras vezes, as mudanças dão-se apesar da escola. Nesse contexto, o dirigente escolar, o professor, os pais de alunos e a comunidade em geral precisam de entender que a escola é um espaço contraditório e, portanto, torna-se fundamental que ela construa o seu Projecto Político-Pedagógico. Cabe ressaltar, nessa direcção, que qualquer acto pedagógico é um ato dotado de sentido e se vincula a determinadas concepções (autoritárias ou democráticas) que podem estar explícitas ou não. Assim, pensar a função social da educação e da escola implica problematizar a escola que temos na tentativa de construirmos a escola que queremos. Nesse processo, a articulação entre os diversos segmentos que compõem a escola e a criação de espaços e mecanismos de participação são prerrogativas fundamentais para o exercício do jogo democrático, na construção de um processo de gestão democrática. Resumo A escola, no desempenho da sua função social de formadora de sujeitos históricos, precisa de ser um espaço de sociabilidade que possibilita a construção e a socialização do conhecimento produzido, tendo em vista que esse conhecimento não é dado à priori. Trata-se de conhecimento vivo e que se caracteriza como processo em construção. Pensar a função social da educação e da escola implica problematizar a escola que temos na tentativa de construirmos a escola quequeremos. Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 111 Chegado ao fim desta lição pense naquilo que já aprendeu e responda às questões seguintes: Auto-avaliação Exercícios 1. Indique as funções sociais da educação? 2. Identifique as abordagens modernas da funcionalidade da educação? Confronte as suas respostas com a chave que lhe apresentamos Respostas 1. A educação na perspectiva da Sociologia das Organizações Educativas, é concebida em diversas abordagens, segundo a óptica dominante, tem como finalidade habilitar técnica, social e ideologicamente os diversos grupos de trabalhadores, para servir ao mundo do trabalho. Segundo Frigotto (1999:26), “trata-se de subordinar a função social da educação de forma controlada para responder às demandas do capital”. Diferentemente da perspectiva dominante, para a classe trabalhadora a "educação é, antes de mais nada, desenvolvimento de potencialidades e apropriação de ‘saber social’ (conjunto de conhecimentos e habilidades, atitudes e valores que são produzidos pelas classes, em uma situação histórica dada de relações, para dar conta de seus interesses e necessidades) " (Gryzybowski apud Frigotto, 1998:26), objectivando a formação integral do homem, ou seja, o desenvolvimento físico, político, social, cultural, filosófico, profissional, afectivo, entre outros. 112 Sociologia das Organizações Educativas 2. A educação é a acção exercida pelas gerações adultas sobre aquelas que ainda não se encontram preparadas para a vida social; tem por objecto suscitar e desenvolver na criança um certo número de estados físicos, intelectuais e morais reclamados pela sociedade política, no seu conjunto, e pelo meio especial a que a criança, particularmente, se destina. (...) No homem [diferentemente do que acontece entre os animais], as aptidões de todo o género que a vida social pressupõe são muito complexas para (...) materializarem-se sob a forma de predisposições orgânicas. Disso se depreende que elas não podem ser transmitidas de uma geração a outra por meio da hereditariedade. É pela educação que se faz a transmissão. (Durkheim [1922], 1978, p. 41) Falar da função social da educação, é falar da educação enquanto prática social que se dá nas relações sociais que os homens estabelecem entre si, nas diversas instituições e movimentos sociais, sendo, portanto, constituinte e constitutiva dessas relações. O homem, no processo de transformação da natureza, instaura leis que regem a sua convivência com os demais grupos, cria estruturas sociais básicas que se estabelecem e se solidificam à medida que se vai constituindo em locus de formação humana. ÿ Se teve dificuldades, não desista, volte a realizar a actividade. Se a dificuldade persistir consulte as obras indicadas abaixo ou o seu tutor. Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 113 Leitura Leituras aconselhadas da lição FREIRE, P. Educação e mudança. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979. FRIGOTTO, G. Educação e a crise do capitalismo real. São Paulo: Cortez, 2003. MEKSENAS, P. O ensino de sociologia na escola secundária. Revista Leituras e Imagens, Grupo de Pesquisa em Sociologia da Educação, Florianópolis, UDESC, 1995. ZITKOSKI, J. J. Educação e Emancipação Social: um olhar a partir da cidade educadora. Revista Espaço Pedagógico, Passo Fundo, v. 13, n. 1, jan/jun 2006. Pesquisas na Internet www.scielo.org.br www.usp.org.br www.forumpaulofreire.com.br www.ufrgs.br/ensinosociologia www.filosofiavirtual.pro.br www.cas.sc.edu/socy/faculty/defl/Durkheim www.espacoacademico.com.br www.unifesp.br Actividade Final da Unidade Actividade Partindo da noção das instituições sociais, trace as relações sociais possíveis que podem existir numa unidade educacional existente na sua comunidade. Por exemplo, procure uma escola dentro da sua comunidade e olhe como a mesma tem estabelecido as relações sociais com a comunidade no geral. 114 Sociologia das Organizações Educativas Unidade 6 A educação e estrutura social nas sociedades tradicionais e modernas Introdução Bem-vindo à última unidade do presente módulo de Sociologia das Organizações Educativas. Depois de ter tido contacto com aspectos relacionados com os pressupostos da emergência da Sociologia e das teorias subsequentes, com as características das organizações educativas, é chegada a vez de ver a educação e a estrutura social que reside nas sociedades africanas tradicionais. Nesta unidade, você vai apreender o que existe do lado estruturante nas sociedades tradicionais africanas e como estas estruturam socialmente a educação, ou seja, todo o conjunto de pensamentos, ideias, símbolos, crenças, etc. Este módulo procura discutir as características de sociedades tradicionais e modernas, procurando apresentar e contrastar as peculiaridades de cada uma delas. Estrutura O estudo que você inicia agora tem 2 lições. Devem ser dispensadas duas (2) horas de tempo para cada lição. Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 115 Tópicos da Unidade Lição 1. As sociedades tradicionais e modernas Lição 2. Os paradigmas das reformas de educação em África pós - independente Meios Para além das referências bibliográficas presentes no fim de cada lição, você poderá usar textos de apoio, visitas aos museus, sempre que eles existirem, mas também a sua própria comunidade. Os aspectos ligados com o sagrado e o profano, os tipos de cultos, crenças, hábitos e costumes, só podem ser cedidos pelo meio envolvente. Ao completar esta unidade, você será capaz de: Objectivos da lição Objectivos Geral • Conhecer a natureza da educação na estrutura social das sociedades tradicionais africanas Específicos • Indicar as principais diferenças entre sociedade tradicional e moderna; • Indicar os paradigmas das reformas de educação em África; 116 Sociologia das Organizações Educativas Lição no 1 As sociedades tradicionais e modernas Introdução Certamente que você já ouviu falar das sociedades tradicionais e modernas africanas. Terá também presenciado alguma cerimónia religiosa ou comunitária da sua residência. Tais aspectos fazem parte de um universo imaginário dos ritos, crenças e dos mitos. Nesta lição poderá aprofundar melhor sobre essas duas sociedades. Para o estudo destas matérias, você dispõe de duas horas. No fim desta lição, você deve ser capaz de: Objectivos da lição • Caracterizar as sociedades tradicionais e modernas; • Indicar as finalidades de cada sociedade. Segundo Shapin (2008) modernidade é o predomínio da objectividade sobre a subjectividade, do individual sobre o institucional, da regra sobre o espontâneo. Numa visão weberiana, o conceito envolveria a predominância do espírito calculista, a ideia de desencantamento do mundo (isto é, a perda do poder da magia e da religião como fontes explicativas da realidade), a racionalidade instrumental, a dominação burocrática, elementos frequentemente associados ao desenvolvimento do capitalismo. Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 117 O aparecimento da modernidade, ou das chamadas “sociedades modernas”, iniciou-se no século XVI na Europa, intensificando-se nos séculos XVII e XVIII e consolidando-se no final dos séculos XVIII e XIX. Trata-se de uma época de muitas mudanças nas esferas política, económica, social e cultural, com impacto expressivo sobre a forma como as pessoas viviam, trabalhavam e se relacionavam. Estamos falando da época do Renascimento, da Reforma Protestante, da Revolução Industrial e da Revolução Francesa. Essas mudanças intensificaram-se e espalharam-se pelo mundo, mantendo-se em diferentes países, em graus diferenciados. O Renascimentodiz respeito à revalorização dos ideais humanistas e naturalistas, que provocaram grandes efeitos nos campos da arte, dos valores e, principalmente, da ciência. Como um dos valores centrais do Renascimento, o humanismo atribuía importância crucial à capacidade do ser humano, em especial ao poder da razão. Ele estava ligado à introdução de um método de compreensão da natureza a partir da razão e da imaginação criativa dos seres humanos, buscando evidências empíricas e experiências concretas. Com a expansão do humanismo, a matemática tornou-se um instrumento importante para o tratamento dos problemas naturais e para a solução de questões tecnológicas práticas. Ela permitiu o avanço da astronomia que, por sua vez, contribuiu para o desenvolvimento da navegação. Colaborou também para o desenvolvimento da artilharia, da balística e da mecânica, que foram aproveitadas pelos artesãos nos seus ofícios (Randall Jr., 1976). A reforma protestante foi importante para o fortalecimento da priorização do indivíduo na sociedade moderna, por questionar a autoridade suprema dos representantes da Igreja na interpretação dos textos sagrados e na absolvição dos pecados. A reforma passou 118 Sociologia das Organizações Educativas essas responsabilidades aos fiéis, dando-lhes autoridade e autonomia. Desde então, o indivíduo passou a não precisar mais de intermediários, tais como o padre ou o pastor, para ler e entender o livro sagrado (a Bíblia) e para obter perdão dos seus pecados. As Revoluções Industrial e Francesa foram dois eventos de longa duração e de grande amplitude nos âmbitos político, económico e sociocultural das sociedades que as vivenciaram. No campo da política, elas representaram a crise do sistema absolutista/monárquico, fundamentado na origem divina da autoridade dos reis. A partir delas, ampliou-se o sistema representativo de governo, fundamentado numa maior participação política dos cidadãos e na separação entre a Igreja e o Estado. No âmbito económico, representaram a superação do sistema feudal de produção e o desenvolvimento do sistema capitalista. O modo de produção passou de agrário e artesanal para industrial e em larga escala. As relações de produção passaram de uma dicotomia senhor-servo para outra do tipo patrão-empregado, isto é, foram transferidas de uma situação servil/escravista, para uma situação de trabalho livre assalariado. Com isso, os vínculos do processo produtivo passaram a ser feitas através de uma relação contratual, isto é, por meio do contrato de trabalho. Nesse período, ocorreram também transformações expressivas na área sócio-cultural, a saber: a) as autoridades eclesiásticas perderam seu status de fonte de verdade, dado o desenvolvimento da ciência; b) cresceram as reivindicações dos cidadãos por igualdade e liberdade; c) as alterações na instituição familiar foram significativas, tanto no que se refere aos direitos de cada um de seus membros, quanto nas relações pessoais entre eles; d) o desenvolvimento da tecnologia possibilitou que os meios de comunicação, os meios de transportes e os instrumentos de Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 119 produção fossem melhorados; e) houve um significativo crescimento das cidades, em função da urbanização e do êxodo rural. Essa nova sociedade, dita “moderna”, apresentava características muito diferentes da que predominava até então: a “sociedade tradicional”. Quadro1: Principais diferenças entre as sociedade modernas e tradicionais Sociedade moderna Sociedade Tradicional Estado Liberal Estado absolutista Predomínio do individualismo e da “destradicionalização” Predomínio do colectivismo e da tradição Sociedade predominantemente urbana Sociedade predominantemente rural Predomínio da indústria Predomínio da agricultura Predomínio da razão (racionalização e secularização – separação entre estado Igreja e Estado) Predomínio do sagrado, da magia e do mito (sacralização) nas esferas social e política Resumo A sociedade moderna em muito se difere daquela de outrora, isso ocorre tão simplesmente pela decorrência do tempo. Valores antes arraigados à consciência colectiva passam a ser considerados arcaicos e são substituídos por novas ideologias. Vale lembrar, porém, que indivíduos pertencentes a gerações distintas vivem num 120 Sociologia das Organizações Educativas mesmo espaço temporal, o que torna imprescindível a capacidade de convivência. O contexto histórico e o espaço físico nos quais uma pessoa está inserida, influenciará directamente na formação do carácter e dos valores da mesma, ou seja, sua identidade é produto do meio cultural o qual pertence. Chegado ao fim desta lição pense naquilo que já aprendeu e responda às questões seguintes: Auto-avaliação Exercícios 1. Caracterize as sociedades tradicionais e modernas? 2. A partir da sua área de residência mencionar os hábitos costumeiros praticados pela respectiva comunidade e os grupos praticantes. Confronte as suas respostas com a chave que lhe apresentamos. Respostas 1. A sociedade moderna possui um estado liberal, predomínio do individualismo e da “destradicionalização”, Sociedade predominantemente urbana, Predomínio da indústria, Predomínio da razão (racionalização e secularização – separação entre estado Igreja e Estado). Por seu turno, na sociedade tradicional encontramos um estado absolutista, onde predomina o colectivismo e a tradição; trata-se de uma sociedade predominantemente rural, onde predomina a agricultura, o sagrado, a magia e o mito (sacralização) nas esferas social e política. Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 121 2. A partir da sua zona de residência, você deve procurar os vários ritos praticados, hábitos costumeiros. Deve procurar descreve-los em função dos aspectos que constam no texto. De certeza que conseguiu responder as perguntas colocadas. Se teve dificuldades, não desista, volte a ler o texto. Se a dificuldade persistir consulte as obras abaixo e tente resolver de novo. Leitura Leituras aconselhadas da lição BOBBIO, N. Liberalismo. Dicionário de política. 7 ed. Brasília: Editora da UnB, 1995. BONELLI, R. Nível de actividade e mudança estrutural, em estatísticas do século XX, Rio de Janeiro, 2003. DAMATTA, R. O que faz o Brasil? Rio de Janeiro, Editora Rocco, 1986. DAMATTA, R. A Casa e a rua, São Paulo, Editora Brasiliense, 1997. DURKHEIM, E. Da divisão do trabalho social, São Paulo, Editora Abril, 1973. ENGELS, F. & MARX, K. Manifesto do partido comunista, Petrópolis, Editora Vozes, 1990. FAORO, R. Os Donos do poder: Formação do patronato político brasileiro, São Paulo, Editora Globo, 2001. GIDDENS, A. Sociologia, Porto Alegre, Artmed, 2008. SIMMEL, G. A metrópole e a vida mental. O fenómeno urbano. Rio de Janeiro: Zahar, 1973. SOUZA, J. A Sociologia dual de Roberto da Matta: Descobrindo nossos mistérios ou sistematizando nossos auto-enganos? Revista Brasiliera de Ciências Sociais, 2001.16, 47-67. 122 Sociologia das Organizações Educativas WEBER, M. Economia e sociedade: Fundamentos da sociologia compreensiva, Brasília, UnB, 1999. WEBER, M. A ética protestante e o espírito do capitalismo, São Paulo, Martin Claret, 2001. Pesquisas na Internet www.scielo.org.br www.usp.org.br www.forumpaulofreire.com.br www.ufrgs.br/ensinosociologia www.filosofiavirtual.pro.br www.cas.sc.edu/socy/faculty/defl/Durkheim www.espacoacademico.com.br www.unifesp.br Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 123 Lição no 2 Os paradigmas das reformas de educação em África pós - independente Introdução Depois da sistematização das sociedades tradicionais e modernas africanas, é chegada a vez de conhecer os paradigmas das reformasda educação em África pós-independência. Você dispõe de duas horas de trabalho para absorver o que a seguir lhe é proposto. Ao completar esta lição, você será capaz de: Objectivos da lição • Identificar os paradigmas das reformas de educação em África pós-independente; • Descrever as acções desenvolvidas desde a independência nacional na área da educação Paradigma, em grego, significa exemplo, ou melhor, modelo ou padrão. Quando falamos em paradigma, via de regra, referimo-nos a um modelo, a um padrão, a uma descrição que nos oriente e nos faça compreender algum facto explícito. Entende-se por paradigma de qualidade um padrão a ser seguido com o intuito de melhoria de nível, da qualidade em si do produto e do processo para a sua obtenção. Discutir e entender o paradigma da qualidade de ensino em Moçambique, inexoravelmente, passa pelo resgate das acções desenvolvidas no sector da educação desde a independência nacional até hoje. No encalço da qualidade da educação, várias 124 Sociologia das Organizações Educativas estratégias sucederam-se a nível nacional, com realce para as etapas que a seguir descrevemos de forma resumida, numa ordem cronológica. Com a independência nacional de Moçambique em 1975, inaugura- se um processo de rápidas e profundas transformações sócio- económicas, políticas e culturais. Um dos efeitos principais dessas transformações consistiu no alargar da oferta educacional aos moçambicanos. As transformações no sector da educação revestiram-se também de aspectos qualitativos. Em 1981, a taxa bruta de admissão no ensino primário de primeiro grau alcançou os 110%. Nos anos seguintes, a crise económica e a guerra reduziram drasticamente a taxa de admissão, tendo atingido 54% em 1994. No âmbito da implementação do plano de desenvolvimento nacio- nal, é introduzido no ano de 1983, o Sistema Nacional de Educação (SNE) que se estrutura em ensino pré-escolar (Creches e Jardins de infância para crianças com idade inferior a 6 anos); ensino escolar (ensino geral, ensino técnico profissional, ensino superior para além do ensino especial, ensino vocacional, ensino de adultos, ensino à distância, formação de professores) e ensino extra-escolar (actividades de alfabetização e de aperfeiçoamento, a actualização cultural e científica), que preconizava a introdução, de forma gradual, da escolaridade obrigatória e universal para as crianças em idades escolares. Na definição dos objectivos e principais linhas de acção do sector de educação, após as eleições multipartidárias de 1994, o governo moçambicano aprovou em 1995 a Política Nacional de Educação que estabeleceu a visão do sector da educação assente em três pilares: (a) aumento do acesso e equidade; (b) melhoria da qualidade e relevância do ensino; (c) reforço da capacidade institucional do Ministério da Educação nos diferentes níveis de administração. No período de 1999 a 2005, foi implementado o Plano Estratégico de Educação que enfatizou a sua prioridade no ensino básico, sendo substituído pelo Plano Estratégico de Educação e Cultura (2006 – Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 125 2010/2011), que versa essencialmente os mesmos objectivos-chave, embora com maior ênfase na melhoria da qualidade da educação e na retenção dos estudantes ate à sétima classe, para além de se propor a aumentar os esforços para desenvolver a educação técnico profissional e vocacional, e ensino secundário com características profissionalizantes e ensino superior. Das acções desenvolvidas desde a independência nacional em 1975, destaca-se um factor comum e consensual: a qualidade do ensino. No entanto, subjacente a essa opinião comum e consensual, permanecem algumas questões ainda poucos exploradas pelos diversos intervenientes do sector da educação em Moçambique, a começar pela própria concepção de qualidade de ensino no contexto das principais políticas nacionais de educação. A qualidade da educação esta sempre presente no centro do debate e é uma aspiração constante dos sistemas educacionais de todos os países (Damatta, 1997). Segundo Souza (2001) a qualidade de ensino pressupõe um julgamento de mérito que se atribui tanto para o processo quanto aos produtos decorrentes das acções desenvolvidas que, de certa maneira, implica, pois, um juízo de valor. A qualidade de ensino tem que ser entendida como satisfazendo critérios bem definidos que expressam: (1) definição de critérios pedagógicos e sociais; (2) explicitação de indicadores; (3) planificação e execução de estratégias de avaliação mais amplas para validação (ou não) da qualidade de ensino desejada. Actualmente, estudos mostram que a qualidade de ensino em Moçambique está em decadência em razão de diversos factores. Desse modo, a discussão da educação, hoje, encontra-se centrada na qualidade, o que é um importante avanço. A discussão sobre a qualidade de ensino em Moçambique poderá perder sentido se não abordarmos a questão do acesso tendo como referência as expectativas e direitos de todos os potenciais beneficiários directos e indirectos. Julgamos que ao abordar a questão da qualidade de ensino, devemos analisar as relações e determinantes entre as 126 Sociologia das Organizações Educativas políticas públicas do sector da educação e qualidade de ensino, para além de outros factores que poderão ser agregados para melhor elucidar as razões e as relações entre as variáveis e factores analisados. Na impossibilidade de abarcar, na sua totalidade, todos os determinantes entre as políticas públicas do sector da educação e qualidade de ensino, somente vamos abarcar questões cujos contextos se tornam actuais quando se pretende efectuar o debate da qualidade de ensino, de acordo com António Figueiredo da Universidade de Coimbra, citado por Bobbio (1995): 1. Debate da estratégia institucional (missão, visão, objectivos, factores críticos de sucesso, forças, fraquezas, oportunidades, ameaças, competências-chave, recursos); 2. Debate da qualidade pedagógica dos professores (formação para docência, papel da actividade pedagógica no progresso na carreira, critérios de avaliação – objectivos, preparação, métodos, resultados, apresentação, auto - critica); 3. Debate dos conteúdos (fundamentação, profundidade, relevância – para o saber fazer, para o saber ser e para o saber viver, actualidade, coerência, operacionalidade); 4. Debate dos contextos (cultura institucional, actividades extra-curriculares, adequação ao exterior, imagem); 5. Debate da mobilização dos estudantes (para a intencionalidade estratégica, gosto de aprender e de intervir, capacidade de luta, independência, iniciativa, criatividade, sentido comunitário, cultura); 6. Debate da auto-avaliação (conteúdos: como se estruturam, revêem e aperfeiçoam? Estratégias: como se estabelecem as estratégias e os métodos de ensino e de aprendizagem? Acção pedagógica: como se avalia o seu desempenho e se Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 127 incentiva a excelência pedagógica? Resultados: como é avaliada a qualidade dos alunos?). Resumo Os paradigmas introduzidos no sistema educacional em África, mais concretamente em Moçambique, trouxeram um impacto significativo. Contudo, ainda há necessidade de mais reflexões no sentido de garantir uma melhor educação às gerações vindouras. Chegado ao fim desta lição pense naquilo que já aprendeu e responde às questões seguintes: Auto-avaliação Exercícios 1. Identifique os paradigmas das reformas de educação em África pós-independente? 2. Descreva as acções desenvolvidas desde a independência nacional na área da educação. Confronte as suas respostas com a chave que lhe apresentamos Respostas 1. Paradigma, em grego, significa exemplo ou, melhor, modelo ou padrão.Quando falamos em paradigma, regra geral, referimo-nos a um modelo, a um padrão, a uma descrição que nos oriente e nos faça compreender algum facto explícito. Entende-se por paradigma de qualidade um padrão a ser 128 Sociologia das Organizações Educativas seguido, com o intuito de melhoria de nível, da qualidade em si do produto e do processo para a sua obtenção. É o caso das mudanças curriculares, alteração da organização das instituições escolares etc,. Na definição dos objectivos e principais linhas de acção do sector da educação, após as eleições multipartidárias de 1994, o governo moçambicano aprovou em 1995 a Política Nacional de Educação que estabeleceu a visão do sector da educação assente em três pilares: (a) aumento do acesso e equidade; (b) melhoria da qualidade e relevância do ensino; (c) reforço da capacidade institucional do Ministério da Educação nos diferentes níveis de administração. No período de 1999 a 2005, foi implementado o Plano Estratégico da Educação que enfatizou a sua prioridade no ensino básico, sendo substituído pelo Plano Estratégico de Educação e Cultura (2006 – 2010/2011), que versa essencialmente os mesmos objectivos- chave, embora com maior ênfase na melhoria da qualidade da educação e na retenção dos estudantes até à sétima classe, para além de se propor a aumentar os esforços para desenvolver a educação técnico profissional e vocacional, o ensino secundário (com características profissionalizantes) e ensino superior. 2. O Sistema Nacional de Educação (SNE) estava estruturado em ensino pré-escolar (Creches e Jardins de infância para crianças com idade inferior a 6 anos), ensino escolar (ensino geral, ensino técnico profissional, e ensino superior para além do ensino especial, ensino vocacional, ensino de adultos, ensino à distância, formação de professores) e ensino extra-escolar (actividades de alfabetização e de aperfeiçoamento, a actualização cultural e científica), que preconizava a introdução, de forma gradual, da escolaridade obrigatória e universal para as crianças em idades escolares. Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 129 ÿ De certeza que conseguiu responder às perguntas colocadas. Se teve dificuldades, não desista, volte a ler o texto e consulte as obras recomendadas. Se as dificuldades persistirem, consulte o seu tutor. Leitura Leituras aconselhadas BOBBIO, N. Liberalismo. Dicionário de política. 7 Ed. Brasília: Editora da UnB, 1995. BONELLI, R. Nível de actividade e mudança estrutural, em estatísticas do século XX, Rio de Janeiro, Editora Globo, 2003. CHIRRIME, Eugénio Francisco. Relações escola/comunidade nos aspectos de organização curricular e do sistema educativo em Moçambique do PEBIMO. Folha, 1995. DAMATTA, R. A Casa e a rua, São Paulo, Editora Brasiliense, 1997. DAMATTA, R. O que faz o Brasil? Rio de Janeiro, Editora Rocco, 1986. DIAS, Hildizina Norberto. As desigualdades sociolinguísticas e o fracasso escolar em direcção a uma prática linguístico-escolar libertadora, Maputo: Promédia, 2002. DURKHEIM, E. Da divisão do trabalho social, São Paulo, Editora Abril, 1973. ENGELS, F. & MARX, K. Manifesto do partido comunista, Petrópolis, Editora Vozes, 1990. FAORO, R. Os Donos do poder: Formação do patronato político brasileiro, São Paulo, Editora Globo, 2001. GIDDENS, A. Sociologia, Porto Alegre, Artmed, 2008. INDE. Avaliação do ensino primário em Moçambique: Analisando o passado, perspectivando o futuro: Maputo, 2002. 130 Sociologia das Organizações Educativas JUNOD, Henrique A. Usos e Costumes dos Bantos (2ª edição ed. Vol. Tomo I). Lourenço Marques: Imprensa Nacional de Moçambique, 1974. LAFON, Michel. Relatório da visita às escolas do ensino bilingue nas províncias de Cabo Delgado e Niassa: Associação Progresso, 2003. MINED/UNICEF. Educação para todos em Moçambique - uma estratégia que nasce. Maputo, MINED, 1992. SIMMEL, G. A metrópole e a vida mental. O fenómeno urbano. Rio de Janeiro: Zahar, 1973. SOUZA, J. A Sociologia dual de Roberto da Matta: Descobrindo nossos mistérios ou sistematizando nossos auto-enganos? Revista Brasiliera de Ciências Sociais, 2001.16, 47-67. STROUD, Christopher. e António TUZINE (Coord.). Uso das línguas africanas no ensino: Problemas e perspectivas (Vol. Cadernos de Pesquisa 26), Maputo, Moçambique: INDE, 1998. WEBER, M. A ética protestante e o espírito do capitalismo, São Paulo, Martin Claret, 2001. WEBER, M. Economia e sociedade: Fundamentos da sociologia compreensiva, Brasília, UnB, 1999. Actividade Final da Unidade Actualmente, tem se observado mudanças curriculares em África e Moçambique em particular. Procure fazer uma abordagem deste assunto, identificando os avanços, vantagens e desvantagens dessas mudanças curriculares operadas no nosso Pais. Os resultados devem ser discutidos nos centros de Recursos. Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 131 Respostas das Actividades Finais Unidade 1 Depois de fazer uma reflexão à volta da génese e evolução do pensamento social, procure esboçar a utilidade da construção do pensamento social no homem. As primeiras tentativas de compreender como as forças sociais funcionam baseavam-se na imaginação, na fantasia, na especulação. Assim, certos fenómenos sociais eram explicados a partir da acção de seres mitológicos, como deuses e heróis. Unidade 2 Depois de você reavaliar as noções preliminares dos fundadores e representantes da Sociologia (Objecto e Método) procure fazer um resumo onde deverão constar os passos dados pelos representantes e fundadores da Sociologia para o alcance do método e objecto dessa ciência da sociedade, sem deixar de lado a questão biográfica dos mesmos. Os representantes e fundadores da Sociologia trouxeram as bases do surgimento, método e objecto da Sociologia. Embora não uniformes na sua análise sobre esta ciência, havia consenso de que a Sociologia é ciência da Sociedade, isto é, usa métodos e objectos próprios para o estudo/ análise da sociedade. Unidade 3 Para a actividade desta unidade, faça um trabalho de pesquisa com o seguinte tema: “A influência da escola no comportamento dos alunos”. Escolha 5 alunos na sua comunidade e questione-os sobre 132 Sociologia das Organizações Educativas as mudanças comportamentais operadas por estes desde o dia do seu ingresso na escola. Não se esqueça de argumentar os dados das entrevistas com base nos pensadores ou representantes da Sociologia, isto é, deverá fazer uma discussão teórica, usando conceitos, objectos e métodos sociológicos (Número de páginas: máximo 10 ). Unidade 4 Depois de fazer uma reflexão à volta das Formas de Educação, procure esboçar a utilidade das formas de educação na sua área residencial. Deverá caracterizar as formas de educação e identificar formas eficazes de educação para a sua comunidade. A sociedade é toda ela, uma situação educativa, dado que a vivência entre os homens é condição de educação. Mas esse processo educativo significa tirar o que há de humano dentro do humano, em outras palavras, a educação ou processo educativo traz ao homem a capacidade de actuar entre outros homens, aprendendo e ensinando, pois não nascemos com nossas capacidades desenvolvidas. Assim, a educação leva o homem a um processo permanente de socialização que progressivamente passa a fazer parte do conjunto de experiências, carácter social e as relações que ele terá com a sociedade. Unidade 5 Partindo da noção de instituições sociais, trace as relações sociais possíveis que podem existir numa unidade educacional existente na sua comunidade. As possíveis relações sociais passam pelo envolvimento das comunidades nos planos de gestão das instituições escolares. Estas comunidades devem acompanhar um exercício plenodas unidades escolares, um trabalho conjunto com os formadores e formandos. Curso de Licenciatura em Admistração e Gestão de Educação 133 Unidade 6 Actualmente, têm se observado mudanças/reformas curriculares em África e em Moçambique em particular. Procure fazer uma abordagem deste assunto, identificando os avanços, vantagens e desvantagens. As mudanças/reformas curriculares acontecem numa época em que há necessidade de reajustar a educação ao encontro da modernidade vivida. À semelhança do que acontece em muitos países do mundo, Moçambique tem se preocupado, e muito, com a educação do seu povo e das novas gerações em particular, como ilustram as várias reformas educacionais que ocorreram e ocorrem desde o nível primário até o universitário. Tais reformas educacionais começaram logo após a independência política do país em 1975 e privilegiam aspectos que vão desde o conteúdo até à estrutura. Muitos especialistas em educação, sociólogos e não só, defendem que uma das principais razões da reforma curricular, em qualquer parte do mundo, é de adoptar o cidadão, em especial as novas gerações, de um saber científico e tecnológico que o permite coabitar em harmonia com o mundo que o rodeia. 134 Sociologia das Organizações Educativas Notas Finais Após esta longa caminhada, você acaba de ter alguns subsídios da organização educacional, estudados no âmbito da Sociologia das Organizações Educativas. Você está de parabéns por ter chegado até aqui e esperamos que as lições tenham sido do seu agrado. Importa realçar que este constitui o início do estudo da Sociologia, em virtude de existir uma multiplicidade de aspectos a aprofundar e a aprender. Este trabalho pode/deve ser continuado através leituras de livros das instituições educativas da sua comunidade e discussões com outros colegas, tarefas que achamos ter vindo a desenvolver sempre que estudava as diferentes lições. Para nós, resta-nos agradecer-lhe por todo o esforço empreendido ao longo de todo este processo. Bem-haja.