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Amanda Browning 
 
Ele foi feito sob encomenda para ela... 
 
 
A irmã gêmea de Natasha Larsen é um problema com "P" 
maiúsculo! Mas, desta vez, ela foi longe demais ao abandonar o noivo, 
Chase Calder, justamente quando ele se recuperava de um acidente 
quase fatal. O que mais Natasha poderia fazer, senão ficar à cabeceira 
de Chase? 
O problema é que, agora, todos acreditam que Natasha é a noiva 
de Chase... inclusive o próprio Chase! E ele quer levar adiante os planos 
de casamento! 
 
 
 
 
Tasha Larsen atravessou as portas do hospital e se encaminhou 
para a recepção com passos rápidos. 
— Fui informada de que minha irmã foi trazida para cá. O nome 
dela é Natalya Larsen — declarou com voz controlada, embora seu 
coração batesse descompassado. 
A recepcionista pareceu prestes a fazer um comentário, mas depois 
de estudar-lhe a expressão, mudou de idéia. 
— Vai encontrá-la na UTI, no sexto andar — informou. 
UTI? Ora, por que não haviam lhe contado que o problema era tão 
grave? Dizendo a si mesma que não deveria pensar o pior, Tasha pegou 
o elevador, sem se dar conta do olhar fascinado da recepcionista. 
Quando a porta se abriu, no sexto andar, tomou o corredor à direita, 
espiando dentro de cada quarto que passava. Em um deles, avistou 
uma figura familiar e entrou. 
Em vez de estar deitada em uma cama, a irmã andava de um lado 
para outro, na pequena sala de espera. 
— Quando me disseram que você estava na UTI, pensei que fosse 
encontrá-la gravemente ferida — Tasha comentou, nervosa. 
— Decepcionada? — a irmã inquiriu, com um brilho de cinismo 
nos olhos da mesma cor dos de Tasha. 
Na verdade, tudo nelas era igual, uma vez que Natalya e Natasha 
Larsen eram gêmeas idênticas de vinte e sete anos. Eram ambas 
excepcionalmente bonitas, com olhos azuis muito claros e traços 
delicados e perfeitos. A pele parecia porcelana, criando um contraste 
magnífico com os cabelos negros. As duas eram altas, esbeltas, 
repletas de curvas muito femininas. 
A única diferença visível estava nos cabelos, que Tasha, como 
Natasha preferia ser chamada, usava curtos, à altura do pescoço. As 
diferenças realmente importantes não apareciam e fora justamente por 
causa delas que as duas irmãs haviam se separado, anos antes. 
Natalya era uma excelente secretária, mas preferia usar seus 
atrativos físicos para conseguir o que queria. Costumava dizer que os 
homens pensam com uma determinada parte de sua anatomia e que 
era muito fácil controlá-los dessa forma para que lhe proporcionassem 
as melhores coisas na vida. 
Tasha, ao contrário, acreditava que sua beleza atuava como ponto 
negativo em sua carreira de advogada. Assim, tinha de se esforçar em 
dobro, para provar que era mais que um rostinho bonito. 
Apesar de as duas quase nunca se encontrarem, por opção de 
Natalya, Tasha ainda se preocupava com a irmã, pois era a única 
família que possuía. 
— Você me parece muito bem — Tasha comentou. 
— Muito bem?! — Natalya repetiu, irritada. — Veja isso! Ficarei 
com uma cicatriz! — protestou, apontando para um corte minúsculo 
na face esquerda. 
Tasha ignorou o exagero de Natalya. 
— O que aconteceu? O policial só me disse que você havia sofrido 
um acidente. 
Lembrou-se daquele momento aterrorizante, em que pensara ter 
perdido a única irmã. Órfãs desde bebês, haviam sido sempre 
sozinhas. E era justamente por isso que Tasha ainda se apegava àquele 
relacionamento tão frágil e distante. 
Ignorando o aviso de "proibido fumar", Natalya acendeu um 
cigarro. 
— Foi horrível! Pensei que fosse morrer. Estávamos saindo do 
restaurante, quando um carro perdeu a direção e subiu na calçada. 
Veio diretamente na nossa direção. Chase me empurrou, mas foi 
atropelado. Bati contra a parede e consegui isto. — Voltou a apontar 
para o ferimento no rosto. 
Tasha disse a si mesma que não deveria se irritar com o fato de a 
irmã se preocupar somente consigo mesma. Se quisesse saber mais, 
precisaria ter paciência. 
— Chase? — perguntou. 
— Chase Calder — Natalya esclareceu. 
Tasha arregalou os olhos. 
— Chase Calder, o advogado? 
Natalya assentiu, deixando a irmã boquiaberta. Tasha já ouvira 
falar dele. Ora, quem da área de direito não ouvira? O homem possuía 
excelente reputação como advogado criminalista. Já era uma lenda, 
aos trinta e quatro anos de idade. 
— Como o conheceu? 
— Um dia, ele foi à academia que freqüento. Começamos a 
conversar. Ele estava defendendo um caso, mas o julgamento já 
terminou. Ficamos noivos, ontem à noite — Natalya acrescentou em 
tom casual. 
Noivos? Tasha mal podia acreditar. Nem sequer sabia que Chase 
Calder se encontrava em Denver e, agora, descobria que estava noivo 
de sua irmã. Jamais lhe ocorrera que isso pudesse acontecer. Havia se 
habituado ao fato de Natalya usar os homens, de maneira que não 
imaginara que ela fosse, um dia, se apaixonar por um deles. Ainda 
assim, ao que parecia, Natalya havia se apaixonado. O fato de Chase 
Calder ter sido o eleito era um tanto surpreendente, mas a vida é 
repleta de acontecimentos estranhos e inesperados. 
Tal informação proporcionou-lhe uma nova compreensão do 
comportamento da irmã. O choque fazia as pessoas agirem de maneira 
estranha e era evidente que Natalya estava reagindo à situação, 
escondendo-se atrás de uma máscara de indiferença. 
O coração de Tasha amoleceu. 
— Como ele está? — perguntou com voz suave. 
Natalya apagou o cigarro e apanhou o casaco. 
— Venha ver por si mesma. 
Conduziu Tasha ao quarto onde Chase Calder se encontrava 
deitado em uma cama de hospital, quase completamente escondido 
por tubos e monitores aos quais estava ligado. Tudo o que Tasha pôde 
ver foi que ele tinha cabelos escuros e estava mortalmente pálido. Só 
então deu-se conta de que jamais vira sequer uma fotografia dele e, 
portanto, não fazia idéia de como era a sua aparência. 
— A família dele já foi informada? — perguntou, preocupada. 
— Ora, não me pergunte! Tenho mais com o que me preocupar. 
Acabaram de trazê-lo da sala de cirurgia. Ainda corre risco de vida e, 
se sobreviver, provavelmente ficará inválido! 
Chocada, Tasha segurou a mão da irmã. 
— Ah, eu sinto muito! 
Natalya retirou a mão com um gesto brusco. 
— Não sinta, pois não estarei aqui para ver isso! 
Tasha ficou petrificada. A idéia de que a irmã estava sofrendo se 
dissipou. Uma mulher apaixonada jamais agiria com tamanha frieza. 
— O que está querendo dizer? 
— Você acredita em tamanho azar? Quando finalmente consigo 
agarrar um homem bonito e rico, ele quase se mata! — Natalya 
declarou com uma risada amarga. 
— Pensei que você o amasse — Tasha murmurou, chocada. 
— Ora, Tasha, amor é coisa de adolescente! Quero dinheiro e 
posição, além de um homem que possa me levar a todos os lugares que 
eu deseje ir. Prefiro morrer a me amarrar a um aleijado! 
Tasha se viu obrigada a dominar a raiva, antes de dizer: 
— Ele salvou a sua vida! Não pode, simplesmente, abandoná-lo. 
A irmã ergueu uma sobrancelha. 
— Não posso? 
— Ele precisa de você. 
— Acontece que eu não preciso dele — Natalya retrucou, 
arrancando o anel de noivado do dedo e atirando-o sobre a cama. — 
Que perda de tempo! 
Tasha mal podia acreditar que realmente havia algum parentesco 
entre elas. 
— Você é incrível! Todos esses anos, fabriquei desculpas para as 
suas atitudes, mas isso não tem perdão! 
Natalya aproximou-se da irmã e apontou-lhe o dedo em riste. 
— Escute, srta. Boazinha, pouco me importa se você me perdoa ou 
não. Se está tão preocupada, por que não fica com ele? É tão fria por 
dentro, que não fará a menor diferença se ele vai poder satisfazê-la, ou 
não! Quanto a mim, já estou de partida. Existem muitos homens por 
aí. Talvez eu tente jogar minha rede em Los Angeles, onde os peixes 
são apetitosos! 
Tasha observou a irmã desaparecer pela porta e se sentiu 
profundamente envergonhada. Mesmo em seus piores momentos 
jamais teria lhe ocorrido que Natalya pudesse tomar uma atitude 
como aquela. 
Seus olhos pousaram no homem acidentado e elase aproximou da 
cama. Observando a figura imóvel, descobriu-se incapaz de desviar o 
olhar daquele rosto bonito, coberto de arranhões e hematomas. Ele 
parecia indefeso e vulnerável e tal visão provocou um aperto no peito 
de Tasha. 
Tal reação a surpreendeu e ela tratou de racionalizá-la. Disse a si 
mesma que estava apenas reagindo a uma situação estressante. Afinal, 
mesmo que Nat não desse a mínima importância ao que havia 
acontecido, aquele homem salvara a vida dela e Tasha não poderia 
deixar de se sentir grata a ele por isso. E, também, não poderia deixar 
de lamentar o fato de ele ter se ferido com tamanha gravidade. Decidiu 
que era a curiosidade que a impedia de desviar o olhar. 
Ali estava o famoso Chase Calder. Mesmo inconsciente, seu rosto 
emanava poder, um senso de propósito que indicava força de caráter, 
de maneira que sua beleza não apresentasse o menor sinal de 
suavidade, ou fraqueza. Tasha perguntou-se qual seria a cor dos olhos 
dele. Tudo o que podia ver eram os cílios longos e espessos, além da 
boca de linhas extremamente sensuais, que indicava a existência 
contida do fogo da paixão. Paixão que, talvez, nunca mais viesse a 
aquecer uma mulher. 
O motivo pelo qual seu peito voltou a se apertar diante de tal 
pensamento foi um mistério para Tasha, mas ela não pôde ignorar o 
sentimento. Abalada, olhou em volta, à procura de uma cadeira, mas 
seus olhos foram atraídos pelo brilho do anel jogado sobre a cama. 
Apanhou-o, fascinada pela beleza da safira cercada de diamantes. 
Certamente, o anel custara uma fortuna e sua irmã o jogara fora como 
se não valesse nada! Assim como jogara fora o próprio Chase Calder. 
Amaldiçoou Natalya por ser tão interesseira. 
Como, na pressa, saíra sem a bolsa, só lhe restava colocar o anel no 
dedo, uma vez que guardá-lo no bolso seria muito arriscado. 
Uma enfermeira entrou no quarto e Tasha se colocou a um canto, a 
fim de não atrapalhar. Descobriu que detestava se sentir inútil, 
incapaz de fazer qualquer coisa além de observar e esperar. Jamais 
sentira tamanha ansiedade em sua vida. O que era natural, uma vez 
que aquele homem arriscara a própria vida a fim de salvar sua irmã. 
Era muito importante que ele ser recuperasse. 
Inquieta demais para ficar parada, andou de um lado para o outro, 
até a enfermeira encerrar suas tarefas. 
— Sabe me dizer se a família do sr. Calder foi informada do 
acidente? — inquiriu. 
— Ah, sim! Eu mesma entrei em contato com eles. Já devem estar a 
caminho. 
Ao menos, aquela preocupação ela poderia esquecer. 
— Com quem eu poderia conversar sobre o estado do sr. Calder? 
Preciso saber quais são os prognósticos para ele. 
A enfermeira exibiu um sorriso compreensivo. 
— Pedirei à dra. Cooper que venha até aqui. 
Tasha agradeceu e passou os quinze minutos seguintes andando de 
um lado para outro, esperando pela médica. Não se sentia tão nervosa 
desde que aguardara o veredito do júri, ao defender o seu primeiro 
caso. Quando a mulher de meia-idade, vestida de branco, entrou no 
quarto, Tasha respirou fundo, buscando calma. 
A dra. Cooper apertou-lhe a mão. 
— Vai gostar de saber que o estado do sr. Calder é estável. Os 
ferimentos foram muito graves, como lhe dissemos antes, mas a boa 
notícia é que a coluna não foi afetada, como temíamos. 
— Quer dizer que ele vai poder andar? 
— Com certeza. 
— Graças a Deus! 
— Ainda não sabemos quanto tempo o sr. Calder terá de 
permanecer no hospital. Ele parece estar em excelente forma física, o 
que vai ajudar bastante. E, também, é impossível calcular o bem que 
fará a ele saber que você está aqui. 
Tasha teve um sobressalto. Só então deu-se conta de que a médica 
pensava que ela era a noiva de Chase. Abriu a boca para esclarecer a 
situação, mas voltou a fechá-la. Explicar a ele o que havia acontecido 
já seria difícil. Tasha não estava disposta a lavar a roupa suja familiar 
em público. Além do mais, ele tinha o direito de ser o primeiro a saber. 
Assim, a atitude mais sensata a tomar seria deixar as coisas como 
estavam, ao menos, por enquanto. 
— Não sairei daqui, enquanto ele precisar de mim — prometeu. 
Decidiu ficar porque se houvesse qualquer coisa ao seu alcance 
para ajudar na recuperação de Chase, ela o faria. Alguém tinha de 
compensá-lo. Ele merecia mais do que o simples abandono. A total 
falta de egoísmo que havia demonstrado era um traço de 
personalidade difícil de encontrar em uma pessoa qualquer. Natalya 
deveria ter se dado conta disso. 
A dra. Cooper olhou para o homem imóvel na cama. 
— Ele não vai recobrar a consciência por completo durante muitas 
horas, ainda. Por que não vai para casa e descansa um pouco? 
Tasha acompanhou o olhar da médica e sacudiu a cabeça. Estava 
cansada, mas não tinha a menor intenção de sair dali tão cedo. 
— Os pais dele estão a caminho. Vou esperar por eles — insistiu. 
Quando ficou sozinha de novo, Tasha puxou uma cadeira para 
perto da cama e se sentou. Uma das mãos de Chase repousava sobre as 
cobertas. Sem pensar, ela estendeu o braço e tocou-a. Sentiu-lhe a pele 
quente e descobriu que era a coisa mais natural do mundo segurar 
aquela mão entre as suas. O gesto que tentava oferecer conforto 
acabou proporcionando a ela uma sensação mais que reconfortante. 
Surpresa, Tasha sentiu a tensão abandoná-la, ao mesmo tempo em que 
uma sensação de paz a invadia. 
O silêncio no quarto só era quebrado pelo "bip" constante dos 
monitores. O cansaço começou a tomar conta de Tasha. Ela havia tido 
um dia atribulado no escritório, além de uma audiência difícil no 
tribunal e, por fim, sofrera o choque com a notícia do acidente. A 
energia que a mantivera alerta até então começou a se dissipar e Tasha 
se descobriu exausta. Pouco a pouco, seus olhos se fecharam. 
 
— Natasha? 
A voz fraca despertou Tasha. Desorientada, ela olhou em volta. 
Não sabia que horas eram, mas estava no hospital e Chase havia 
retomado a consciência. 
Tasha se levantou da cadeira, dando-se conta de que Natalya 
estivera usando o seu nome, de novo. 
Inclinou-se sobre a cama, determinada a reconfortá-lo, e se 
descobriu a fitar um par olhos da tonalidade cinza-prateada mais 
espetacular que já vira. Foi como se mergulhasse neles, perdendo o 
fôlego e sentindo o coração disparar dentro do peito. 
— Natasha? 
Perturbada pelo que acabara de ocorrer, tentou recuperar a 
compostura. A dor que viu nos olhos dele ajudou-a a cumprir essa 
tarefa. 
— Estou aqui — respondeu, apertando a mão dele. 
Chase respirou fundo e fez uma careta de dor. 
— Você está... bem? 
Não, ela não estava bem. Nem sabia se jamais voltaria a estar, mas 
não era disso que ele estava falando. Chase queria saber se a mulher 
que ele amava havia se ferido. Haveria tempo de sobra, mais tarde, 
para contar a ele que Natasha não era quem ele pensava que fosse... 
que Natalya também não era o que ele havia imaginado ser. Por 
enquanto, tudo o que Chase Calder precisava era de conforto. 
— Estou bem. Não tente falar. Você ficou muito ferido. 
Ele tentou erguer a cabeça, o que lhe provocou um gemido 
doloroso. 
— Foi muito grave? 
— Tiveram se submeter você a uma cirurgia Não sei de todos os 
detalhes, mas os médicos garantem que vai ficar bem. 
Os olhos dele se fecharam e, com um suspiro relutante, Tasha 
começou a se afastar. Porém, Chase apertou-lhe a mão com força. 
— Fique comigo — ele pediu, de olhos fechados. 
— Ficarei. Estarei bem aqui, ao seu lado — Tasha prometeu. A 
medida que o silêncio voltou a envolvê-la, Tasha se viu obrigada a 
encarar o que havia acontecido naqueles últimos e incríveis minutos. 
A simples lembrança a deixava abalada. O que acontecera, afinal? Em 
um momento, pensava apenas em oferecer conforto. No momento 
seguinte... 
Ah, fora a sensação mais incrível que já experimentara na vida! 
Quando fixara os olhos nos de Chase, sentira-se totalmente 
preenchida por ele. Cada um de seus sentidos haviam reconhecido 
aquele homem, de uma maneira estranha, que ela não saberia explicar. 
Fora fascinante, mas... 
Não! Nãoera possível! Não podia estar se apaixonando por ele! Ou 
podia? 
Retirou a mão com um gesto brusco. Ora, ela era uma pessoa 
sensata e racional. Esse tipo de coisa simplesmente não acontecia. 
Mas, então, o que se passara minutos antes? Embora não soubesse a 
resposta, estava certa de que havia uma explicação perfeitamente 
razoável para o fato de ela ter, depois de um único olhar, se sentido 
como se conhecesse aquele homem desde... desde sempre. Respirou 
fundo e decidiu que Chase Calder não era, não poderia ser, a metade 
que lhe faltava. 
Soltou o ar devagar e passou a mão pelos cabelos. Precisava se 
controlar. Tivera um dia traumático e estava apenas reagindo à 
pressão excessiva que sofrera. Uma boa noite de sono certamente lhe 
devolveria a boa forma física e mental. 
Sentindo-se reconfortada por tal perspectiva, afastou-se da cama e 
foi até a janela, onde ficou olhando para a escuridão lá fora. 
Não saberia dizer quanto tempo havia se passado quando ouviu o 
som de passos. Um casal, ambos na casa dos sessenta, entrou no 
quarto. Pareciam cansados e preocupados. 
— Vocês devem ser os pais de Chase — Tasha falou com um 
sorriso, encaminhando-se para os dois. 
A mulher devolveu o sorriso, embora não fosse capaz de esconder a 
tensão. 
— Sou Elaine Calder e este é meu marido, John. Você deve ser 
Natasha. Chase contou a seu respeito. É lamentável que tenhamos de 
nos conhecer nestas circunstâncias. 
As últimas palavras foram pronunciadas com dificuldade, ao 
mesmo tempo em que os olhos da mulher se enchiam de lágrimas, 
depois de pousarem no filho imóvel. 
Tasha sentiu o peito se apertar de compaixão. 
— Por favor, fique calma. Os médicos garantiram que Chase está 
reagindo muito bem — apressou-se em explicar. — Talvez prefiram 
conversar com um médico... 
— Espere um instante — John Calder pediu. — A enfermeira que 
nos telefonou disse apenas que ele sofreu um acidente. Você estava lá? 
Mais uma vez, Tasha se viu diante de uma escolha cruel. Não 
estava particularmente preocupada em defender a reputação da irmã, 
mas também não achava justo contar a ninguém o que Natalya fizera, 
antes que Chase soubesse. Nem mesmo aos pais dele. Por mais 
doloroso que fosse, Chase tinha o direito de ser o primeiro a saber e, 
então, decidir quando e a quem contar a verdade. Tasha estava 
decidida a esperar que ele houvesse se recuperado para, então, expor a 
dura realidade. 
— Sim. Ele me protegeu — declarou e, em poucas palavras, relatou 
os poucos fatos narrados por Natalya. 
— Meu Deus! Você está bem? — Elaine Calder inquiriu, 
profundamente preocupada. 
Tasha amaldiçoou a irmã por colocar a todos eles em uma situação 
tão absurda. 
— Sim, estou. Não sofri nem um arranhão — respondeu, 
constrangida, pois, ao contrário de Natalya, não estava habituada a 
mentir. 
— Graças a Deus! Mesmo assim, deve ter sido um grande choque, 
Natasha — a sra. Calder concluiu. 
— Tasha, por favor. Natasha é um nome bastante longo — Tasha 
falou, tentando fugir a mais perguntas cujas respostas ela não sabia. 
Elaine Calder sorriu. 
— Um apelido muito simpático, querida. Fico feliz por você não 
ter se ferido, pois Chase ficaria arrasado se algo lhe acontecesse. 
Era justamente o que mais preocupava Tasha: a reação de Chase 
diante da verdade cruel. Ele já sofrera demais e a simples idéia de 
magoá-lo a deixava desolada. A única maneira de aliviar o golpe seria 
garantir que ele estivesse em boas condições quando ouvisse o que 
Tasha tinha a dizer. Se ele amava Natalya, como parecia, a notícia da 
atitude dela seria devastadora, de um jeito ou de outro. 
Tasha se surpreendeu ao descobrir quanto detestava sequer pensar 
em infligir qualquer sofrimento a ele. Também descobriu que, pela 
primeira vez, sentia raiva da irmã. O amor de Chase fora usado e, 
então, rejeitado. Tasha jamais perdoaria Natalya por tê-lo abandonado 
quando ele mais precisava dela. 
Tomada por um forte sentimento protetor, virou-se para a mais 
velha e declarou com ardor: 
— Sra. Calder, quero que saiba que eu jamais faria qualquer coisa 
para magoar o seu filho. 
Elaine Calder se aproximou e tomou as mãos de Tasha nas suas. 
— Sei disso, querida. 
Tasha suspirou, confusa com a profundidade de seus sentimentos. 
Provavelmente, pensou, tantos anos de decepções haviam finalmente 
atingido o seu limite. 
— Por que não ficam com Chase enquanto vou chamar a dra. 
Cooper? — sugeriu. 
Os Calder aceitaram a idéia de bom grado. 
A dra. Cooper levou os pais de Chase para sua sala, a fim de colocá-
los a par dos detalhes dos ferimentos e da cirurgia sofrida pelo filho 
deles. Tasha ficou com Chase até eles retornarem e, então, aceitou a 
sugestão dos dois e foi para casa. 
De volta ao seu apartamento, meia hora depois, Tasha mal 
encontrou forças para tomar um banho, vestir a camisola e se atirar na 
cama, totalmente exausta. A medida que o sono foi tomando conta 
dela, seus pensamentos permaneceram fixos no homem cujos olhos 
cinzentos haviam lhe penetrado a alma. Aqueles mesmos olhos 
povoaram seus sonhos, fazendo Tasha mergulhar em um profundo 
sentimento de perda. 
 
O sol brilhava alto no céu quando Tasha acordou, pela manhã. 
Sentia-se descansada, apesar de estranhamente inquieta. 
Depois de tomar um banho e se vestir, preparou café com torradas 
e, então, telefonou para o escritório. Tasha trabalhava em uma grande 
firma de advocacia. Sua amiga, Annie, que trabalhava na recepção, 
prometeu passar aos sócios o recado de que Tasha chegaria mais tarde. 
Em seguida, apanhou a bolsa e a pasta e já estava abrindo a porta 
quando se lembrou do anel de noivado que deixara sobre a mesa de 
cabeceira. Voltou para o quarto para apanhá-lo, pois todos no hospital 
pensavam que era a noiva de Chase. Uma vez certa de que não se 
esquecera de mais nada, saiu para o ponto de ônibus. 
Como sempre, o trânsito estava péssimo. Quando finalmente 
pegou o elevador do hospital, Tasha descobriu que já era bem mais 
tarde do que gostaria. Sentiu um aperto no peito ao ver Elaine Calder 
andando de um lado para o outro, diante da porta do quarto. Assim 
que a mulher a viu, praticamente correu para ela. 
— Tasha, que bom que chegou! Tentei telefonar, mas você já tinha 
saído. 
— O que aconteceu? — Tasha inquiriu alarmada. 
Não, Chase não podia estar morto! A possibilidade fez o sangue 
gelar em suas veias. 
— Venha comigo, querida. Antes que veja Chase, a dra. Cooper 
precisa conversar com você — Elaine falou em tom preocupado. 
— Ele está morto, não está? — Tasha perguntou em um fio de voz. 
A sra. Calder arregalou os olhos, horrorizada. 
— Não! Ah, Tasha, querida, desculpe! Não tive a intenção de 
assustá-la dessa maneira. 
Tasha fechou os olhos, afim de afastar a sensação de vertigem. Ora, 
pensara que... Empalideceu. Por que a idéia era tão devastadora? Mal 
conhecia aquele homem! Era ridículo reagir daquela forma a um 
estranho! Qualquer um teria pensado... 
Não era verdade. Não estava apaixonada por Chase. Apenas... 
sentia-se responsável por ele. Só isso. 
Abriu os olhos e fitou Elaine. 
— Ele está bem? — perguntou e, ao ver Elaine assentir, conseguiu 
sorrir. — Acho que estou um pouco nervosa. 
Elaine tomou-lhe a mão e levou-a até uma sala mais adiante. 
— Todos nós temos a tendência de perder o controle quando a 
pessoa que amamos está sofrendo — falou com um sorriso 
conspiratório. 
A dra. Cooper fez um sinal para que as duas se sentassem diante 
dela. Então, cruzou as mãos e estudou Tasha com olhar intenso. 
— Obrigada por ter vindo, srta. Larsen. Algo aconteceu há pouco e 
achei que deveríamos conversar. O sr. Calder recobrou a consciência 
há mais ou menos meia hora e perguntou por você. Ficou tão agitado 
quando os pais explicaram que não estava aqui, que tivemos de sedá-
lo. Aparentemente, achou que estavam tentando esconder o fato de 
você estar morta. 
Tasha arregalou os olhos. 
— Mas eu falei com ele, ontem à noite — contou. 
A dra. Cooper deu de ombros. 
— É evidente que ele não se lembra disso,o que é perfeitamente 
normal, dadas as circunstâncias. Por outro lado, deve compreender 
que qualquer tipo de agitação pode prejudicar a recuperação do sr. 
Calder. 
— Compreendo. Como posso ajudar? 
— É muito simples. Seu noivo está adormecido no momento, mas 
vai recuperar a consciência por períodos cada vez mais longos. Tudo o 
que lhe peço é que esteja ao lado dele quando ele acordar, a fim de 
convencê-lo de que está mesmo viva. Quanto maior a freqüência com 
que ele a vir, mais fácil será relaxar. Pode fazer isso? 
— Claro. Felizmente, não terei de me apresentar no tribunal, hoje. 
Do contrário, a situação seria complicada. Vou telefonar para o 
escritório e tirar o dia de folga — Tasha declarou sem a menor 
hesitação. 
— Também é advogada? — Elaine indagou com evidente 
satisfação. 
Tasha ofereceu-lhe um sorriso maroto. 
— Sim, mas não do escalão de Chase — admitiu, notando que a 
mais velha franzia o cenho. 
— Por que será que ele não nos contou? Bem, isso não importa. 
Garantir que ele se recupere é a nossa prioridade, agora, não é, 
querida? 
Sorriu para Tasha, que só então se deu conta de que não fazia a 
menor idéia do que Natalya contara sobre si mesma a Chase. Porém, 
de nada adiantaria preocupar-se com isso, no momento. Só lhe restava 
rezar para ser capaz de contornar o que quer que surgisse em seu 
caminho. 
No corredor, a caminho do quarto de Chase, Elaine pousou a mão 
no braço de Tasha. 
— Telefonei para Evan e Alison, ontem à noite, para informá-los de 
que Chase vai ficar bom. 
— Evan e Alison? — Tasha repetiu, sem saber de quem a outra 
estava falando. 
Elaine fitou-a, surpresa. 
— O irmão e a irmã de Chase — explicou. — Ele deve ter 
mencionado os dois. 
— Ah, sim — Tasha murmurou com um risinho nervoso. — Não 
sei onde estou com a cabeça! 
— Tudo bem, querida. É compreensível. Afinal, você passou por 
maus momentos. Além disso, conhece Chase há tão pouco tempo. Foi 
o que eu chamaria de "romance a queima-roupa"! 
Tasha refletiu que a sra. Calder nem imaginava quanto suas 
palavras eram verdadeiras. Tasha nem sequer sabia quando Chase e 
sua noiva haviam se conhecido! Era como se estivesse caminhando na 
escuridão, sobre um solo repleto de armadilhas! 
— Ficou surpresa pela rapidez com que tudo aconteceu? — 
inquiriu, sabendo que essa pergunta era segura. 
Elaine ofereceu-lhe um sorriso maroto. 
— Só um pouquinho. Afinal, Chase havia viajado para cá, há 
menos de um mês, para defender um caso, quando me telefonou, 
dizendo que havia conhecido a mulher com quem pretendia se casar. 
Fiquei um pouco surpresa, claro. Admito que fiquei preocupada, 
também, mas depois de conhecer você, não tenho mais nenhuma 
dúvida. 
Tasha sentiu um nó na garganta. A situação se tornava mais 
complicada a cada minuto, mas ela não via saída, por enquanto. 
Tratou de se concentrar no que acabara de descobrir. Chase conhecia 
Natalya havia menos de um mês. Elaine tinha razão. Fora mesmo um 
romance a queima-roupa, mas embora Chase houvesse se apaixonado 
de verdade, o mesmo não poderia ser dito sobre sua irmã. Certamente, 
Chase acreditava ter encontrado a felicidade, mas, como não 
demoraria muito a descobrir, encontrara apenas decepção e dor. 
 
 
 
Tasha estava na janela do quarto de Chase, observando a rua, horas 
depois de ter telefonado para o escritório, avisando que não iria 
trabalhar. Chase não voltara a acordar. Depois de muita insistência, 
Tasha conseguira convencer os Calder a voltarem para o hotel e 
descansarem. 
— Natasha? 
O chamado de Chase não passou de um sussurro, mas ela ouviu 
assim mesmo e fechou os olhos. Havia esperado por aquele momento 
com temor. A reação que tivera horas antes a perturbara demais, a 
ponto de deixá-la com medo de se aproximar da cama e do homem ali 
deitado. Porém, prometera ajudá-lo e, assim, endireitou os ombros e 
deu as costas para a janela. 
— Estou aqui. 
Ele a observava com aqueles olhos magníficos, capazes de fazer os 
joelhos de Tasha amolecerem. Seria tão fácil deixar-se afogar no brilho 
daquele olhar. 
Isso não pode estar acontecendo, disse a si mesma. Sempre se 
orgulhara por ser uma pessoa lógica e, agora... 
Quando parou ao lado da cama, Chase estendeu-lhe a mão e ela a 
segurou. Imediatamente, algo parecido com uma corrente elétrica 
subiu pelo seu braço, deixando-a sem fôlego. Descobriu que Chase 
aparentava igual surpresa. 
— É incrível o que a proximidade da morte pode fazer — ele 
murmurou. 
— O quê? — Tasha inquiriu, confusa. 
— Tocar você me deu a certeza de que ainda não morri — ele 
explicou com um sorriso maroto. 
Percebendo a malícia do comentário, Tasha corou. 
— Talvez eu devesse pedir às enfermeiras que pusessem algum 
sedativo no seu chá — falou, arrancando dele uma risada que 
terminou em um gemido de dor. — Chase? — chamou, alarmada. 
— Estou bem — ele a tranqüilizou e, então, lançou-lhe um olhar 
de acusação. — A culpa é sua. Foi você quem começou. 
— Minha culpa? — Tasha repetiu, incrédula. 
— Não devia ter olhado para mim como se quisesse... me comer. 
— Não fiz isso! — ela protestou, indignada. 
— Fez, sim, mas não se preocupe. Eu gostei. 
— Não seja ridículo! Estou aqui para ajudá-lo a se recuperar. 
— E conseguiu. 
Embaraçada, Tasha desviou o olhar. Nada estava saindo conforme 
o planejado. O poder que Chase tinha sobre ela era assustador 
impedindo-a de pensar, ou agir como uma mulher sensata. E aquela 
conversa a deixava ainda mais nervosa. 
— Quer fazer o favor de se comportar? — pediu. 
— Não me resta alternativa — ele retrucou com ironia. 
Tasha revirou os olhos. 
— O que vou fazer com você? 
— Tenho algumas sugestões, mas não creio que consiga levá-las 
adiante. 
— Você é incorrigível! 
— Não me encoraje! 
Com um suspiro, Tasha estudou o rosto bonito, enxergando além 
da tentativa de Chase em parecer bem-humorado e reconhecendo a 
dor nos olhos dele. 
— Como está se sentindo? — indagou com seriedade. 
— Como quem foi atropelado por um carro. 
Ora, como ele podia brincar com algo tão sério? 
— O que estava tentando fazer? Queria provar que é tão invencível 
fora do tribunal, quanto dentro dele? — Tasha inquiriu, mas se 
arrependeu no mesmo instante. 
Como fora capaz de dizer tamanha asneira, sabendo que ele só 
tentara salvar a vida de Natalya? 
Mesmo assim, o brilho que iluminou os olhos dele foi de prazer. 
— Nesse caso, o júri ainda não anunciou o veredito. 
— Desculpe. Eu não deveria ter dito isso. 
— Tudo bem. Para ser sincero, gosto quando você fica zangada 
comigo. 
— Meu comentário foi ingrato. 
— Quando eu estiver melhor, vou deixar você se desculpar da 
maneira apropriada. O que acha? 
Tasha observou os olhos que jamais deixavam de fitá-la e teve 
vontade de gemer baixinho. Aquele homem era demais! Ele a deixava 
atordoada e, pior, ela já não se importava com isso. O que estava 
acontecendo? Tinha de recuperar o autocontrole. 
Recorrendo à postura que costumava adotar no tribunal, lançou 
um olhar indiferente para Chase. 
— Vou pensar no assunto. 
— Eu também — Chase prometeu com voz rouca, provocando-lhe 
um arrepio na espinha. 
— Mais um pouco, e serei capaz de esbofeteá-lo! — ela explodiu, 
recuando alguns passos. 
Para sua surpresa, Chase riu. 
— Você não seria capaz de bater em um homem nas minhas 
condições, seria? 
— Não me tente! 
— É bom saber que ainda sou capaz de tentá-la. 
— Chase Calder, se não... — As palavras morreram em um misto 
de confusão e frustração. — O que está fazendo comigo, afinal? 
— O mesmo que você está fazendo comigo. 
A resposta não ajudou em nada e Tasha se pôs a andar de um lado 
para o outro. 
— Eu era uma pessoa razoável e sensata, até você entrar na minha 
vida! — exclamou. 
E, se quisesse manter a sanidade, teria de sair da vida dele o mais 
depressa possível. 
— Certo! — ele falou, mas seu rosto se contorceu de dor, fazendo 
Tasha se esquecer dos próprios problemas. 
— O que foi? — perguntou, aflita. 
— Minha boca está seca. 
— Vou chamar a enfermeira. Não sei se vocêpode beber água. 
Com isso, ela tocou a campainha. 
— Meus pais estiveram aqui? — Chase perguntou, evidentemente 
exausto. 
Com um gesto automático, Tasha afagou-lhe os cabelos. 
— Sim, mas foram descansar um pouco. Não devem demorar a 
voltar. 
A enfermeira chegou naquele momento e, quando terminou de 
cuidar de Chase, ele já estava sonolento de novo. Pouco depois, dormia 
profundamente. 
Tasha sentou-se na cadeira ao lado da cama e observou-lhe o 
semblante. Adormecido, parecia vulnerável, quase infantil e, assim, o 
poder que exercia sobre ela tornava-se bem menor. Tasha descobriu-
se capaz de raciocinar novamente, mas seus pensamentos não foram 
nada agradáveis. 
Na intenção de reconfortá-lo, acabara tendo com Chase uma 
conversa repleta de insinuações embaraçosas. E, pior, ela havia 
adorado! O que levava à conclusão inevitável de que a reação que ela 
tivera na noite anterior não fora mero resultado do cansaço e do 
estresse. 
Sabia o que estava acontecendo, pois não era tão ingênua. Fora 
apanhada nas redes de uma atração irresistível e sabia por quê. Na 
noite anterior, havia se recusado a considerar a possibilidade, mas 
agora, já não poderia negar. Havia se apaixonado por Chase Calder. 
Essa era a única explicação plausível para suas reações. Ouvira falar de 
amor à primeira vista, mas jamais acreditara que isso pudesse 
acontecer. Agora, via-se obrigada a mudar de opinião, pois fora 
exatamente o que havia acontecido com ela. 
Tal pensamento fez o sangue gelar em suas veias. Tasha sentiu 
como se estivesse vivendo um pesadelo. Como pudera ser tola a ponto 
de se apaixonar pelo noivo de sua irmã? Ora, tudo acontecera depressa 
demais, antes mesmo que ela se desse conta do que estava se 
passando. Porém, agora que sabia, não poderia permitir que tal 
situação fosse adiante. E não deveria ser difícil mudar o rumo dos 
acontecimentos. Bastaria não se esquecer de que Chase não a queria. 
Ele estava apenas reagindo à mulher que pensava que ela era. Tal 
lembrança certamente teria o poder de acalmar o fogo que a consumia. 
Teria de manter a cabeça, bem como alguma distância. Dentro de 
poucos dias, contaria a ele sobre Natalya e, com isso, poria um fim 
àquela atração descabida. 
Apanhou uma revista e tentou se concentrar nas palavras 
impressas. 
Quando os Calder chegaram, Tasha contou-lhes de maneira 
objetiva o que acontecera. 
— Se ele não voltou a despertar, provavelmente se convenceu de 
que você está bem — Elaine declarou com um sorriso de alívio. 
Tasha retribuiu o sorriso. Gostava dos Calder e não a agradava o 
fato de estar mentindo para eles. Esperava que compreendessem os 
seus motivos, quando finalmente soubessem a verdade. 
— Mais alguns dias olhando para esse seu rostinho lindo, e Chase 
nem vai se lembrar de que sofreu um acidente — John Calder 
comentou. 
— Infelizmente, a beleza pode atrapalhar mais do que ajudar — 
ela falou com uma pontada de amargura. 
Ele assentiu em compreensão. 
— Elaine me contou que você é advogada. Não duvido que tenha 
sido obrigada a lutar contra o machismo muitas vezes. A maioria dos 
homens se sente intimidada pela combinação de beleza e inteligência 
em uma mulher, e partem para o ataque por não conhecerem outra 
saída. 
— Não o senhor — ela declarou, convicta. 
— Verdade. Tenho profundo respeito pelo intelecto feminino, 
assim como meu filho. 
— Se ele herdou suas características, sr. Calder, não tenho a menor 
dúvida disso — Tasha falou com um sorriso. 
Os Calder caíram na risada. 
— Ele também é suscetível a elogios, querida, assim como Chase 
— Elaine brincou. — Obrigada por ter passado o dia com meu filho. 
Vamos nos ver à noite? 
Eles a estavam tratando como se ela fosse parte da família, o que 
fez a consciência de Tasha pesar. 
— Voltarei mais tarde, mas preciso cuidar de alguns assuntos, 
antes — prometeu. 
O assunto de que Tasha precisava cuidar não era algo que ela 
estivesse ansiosa para fazer, mas ela tinha de visitar a irmã e tentar 
fazê-la mudar de idéia. Não queria que Natalya voltasse para Chase, 
pois queria protegê-lo da dor que sua irmã lhe infligira. Porém, não 
cabia a ela decidir. Se Chase queria Natalya, sua consciência não lhe 
permitiria omitir-se. 
O porteiro do condomínio de luxo onde Natalya morava, era uma 
das poucas pessoas que sabiam que as duas eram gêmeas e logo 
reconheceu Tasha pelo comprimento dos cabelos. 
— Sinto muito, srta. Larsen, mas sua irmã não está. 
— Sabe quando ela vai voltar? 
— A senhorita não entendeu. Sua irmã foi embora. 
— Foi embora? — Tasha repetiu, confusa. 
— Sim. Hoje de manhã, ela pagou o aluguel e deixou o 
apartamento, levando todos os seus pertences. 
— Por acaso, ela disse para onde ia? 
— Só disse que ia para a costa. — Percebendo a surpresa e a 
confusão de Tasha, o porteiro deu de ombros, constrangido. — Quer 
que eu chame um táxi para a senhorita? 
— Sim, obrigada. Vou esperar do lado de fora. 
Tasha não imaginara que a irmã fosse agir com tamanha rapidez, 
nem que partiria sem se despedir. Porém, deveria saber que Natalya só 
pensava em si mesma. Além disso, uma mulher capaz de abandonar 
um homem gravemente ferido seria capaz de qualquer coisa. Bem, a 
atitude de Natalya dera a Tasha a resposta que ela fora buscar. 
Sua irmã não queria Chase Calder. Tal constatação não deveria 
deixá-la tão feliz, mas Tasha não poderia negar seus sentimentos. 
Fizera tudo o que sua consciência exigira, com relação à irmã. O que 
aconteceria dali por diante dependeria exclusivamente dela. E não 
haveria o menor risco de suas decisões partirem o coração de Natalya, 
pois a irmã simplesmente não tinha coração! 
 
Na tarde de sexta-feira, Tasha estava convencida de que adquirira 
o controle total de seus sentimentos. Havia visitado Chase várias 
vezes, todos os dias, e a atração irresistível não voltara a atacá-la. Bem, 
era verdade que seu corpo se arrepiava toda vez que seus olhos se 
encontravam. E, talvez, tal controle se devesse ao fato de que suas 
visitas haviam coincidido com os períodos em que Chase dormia, ou 
com a presença de outras pessoas no quarto. Ainda assim, Tasha 
estava certa de que recuperara seu antigo controle. O trabalho ajudara 
muito, o que, em contrapartida, reforçara a sua convicção. Se estivesse 
mesmo apaixonada, sua capacidade de concentração seria zero. Como 
isso não estava acontecendo, ela se deu por satisfeita. 
Naquela tarde, Tasha deixara o escritório mais cedo, a fim de 
proporcionar aos Calder a oportunidade de sair para fazer algumas 
compras necessárias. Aproveitara para levar flores, na intenção de 
alegrar o ambiente. A maior parte dos monitores havia sido desligada e 
a dra. Cooper os informara de que Chase seria transferido para um 
quarto particular no dia seguinte. 
Estava cantarolando e arrumando as flores no vaso, quando ouviu a 
voz de Chase. 
— O que aconteceu com os seus cabelos? 
— Você quase me matou de susto! — Tasha declarou, levando a 
mão ao peito. 
— Desculpe — Chase murmurou com um sorriso que fez o sangue 
dela ferver. 
Ora, ela havia se preparado para aquele olhar que tinham o poder 
de deixá-la atordoada, mas não esperava o efeito arrasador daquele 
sorriso. 
Sua convicção foi se dissipando, até morrer, pois ela se deu conta 
de que a atração que Chase sentia por ela era interminável. Quando 
ergueu os olhos para os dele, deparou com tamanho ardor, que sentiu 
a própria temperatura subir. 
Um sorriso hesitante curvou-lhe os lábios e, sem perceber o que 
fazia, Tasha passou a ponta da língua por eles. Chase acompanhou o 
movimento com interesse indisfarçado e, de repente, o ar parece 
estalar com a eletricidade emanada pelos dois. Tasha respirou fundo e 
se obrigou a dizer algo, antes que a tensão a arrasasse por completo. 
— Eu estava distraída — explicou. 
— Percebi. E então? 
— Então, o quê? 
— Seus cabelos. 
Seus cabelos? Confusa, ela ergueu a mão para tocá-los e, então, 
deu-se conta do que Chase queria saber. Por um momento, não soube 
o que dizer, pois havia se esquecidopor completo de que Natalya 
sempre usara os cabelos compridos. 
— Ah, eu... Bem... Estavam me irritando e decidi cortá-los. 
— É uma pena, pois eu sonhava em enterrar o rosto neles, quando 
fizéssemos amor. 
Tasha corou. 
— Chase! 
— Diga de novo — ele pediu em tom sensual. 
— Dizer o quê? 
— Meu nome. Sua voz soa mais sexy quando você diz o meu nome. 
De súbito, Tasha perdeu a capacidade de raciocinar com clareza. 
Tudo o que sabia era que sentia-se atraída para Chase como uma 
mariposa para a luz. 
— Está flertando comigo? — perguntou com voz trêmula. 
O brilho nos olhos dele foi como uma labareda. 
— Você não sabe? 
— Acha que devemos? 
— Provavelmente, não, mas preciso ter certeza de que continuo 
em forma. 
— Acredite, você não pode ter estado em melhor forma, em toda a 
sua vida — ela retrucou, mas logo se arrependeu, pois o comentário 
fez Chase rir e, em seguida, gemer de dor. — Você está bem? 
— Eu me sentiria melhor se você estivesse aqui, em vez de ficar do 
outro lado do quarto. 
Com essas palavras, Chase estendeu a mão. Sentindo-se mais uma 
vez como uma mariposa, Tasha se aproximou e segurou-a. No 
momento em que seus dedos se tocaram, a corrente de eletricidade se 
estabeleceu. 
— Incrível, não? — Chase inquiriu com voz suave, enroscando os 
dedos nos dela. — Fico pensando no que teria perdido, se tivesse 
morrido. 
As últimas palavras fizeram Tasha estremecer. 
— Natasha? Algo errado — ele perguntou, preocupado. 
— Você poderia ter morrido — ela falou com um fio de voz. 
Só então Tasha se deu conta de quanto Chase significava para ela e 
de como estivera próxima de perdê-lo, sem sequer tê-lo encontrado. 
Tivera uma visão do mundo sem ele e sabia que a vida era vazia e sem 
sentido. A profundidade de seus sentimentos atingiu-a como um 
golpe. 
A mão de Chase apertou a dela com força. 
— Não pense nisso, querida. Não aconteceu. Estou vivo. 
Tasha fitou-o, admirando-lhe a força. Sim, ele estava vivo e ela 
jamais sentira tamanha gratidão em sua vida. 
— Estou feliz por isso — falou com voz embargada pela emoção e, 
antes que se descontrolasse de vez, mudou de assunto: — Ainda não 
disse se gostou do meu novo corte de cabelo. 
Ele a estudou por um momento, antes de responder. 
— Combina com você. 
Um sorriso genuíno brotou nos lábios de Tasha. 
— Obrigada. É bom ouvir isso. — Então, baixou os olhos para as 
faces de Chase. — Vejo que decidiu deixar a barba crescer. Você fica 
muito... — parou de falar bem a tempo, pois estivera prestes a dizer 
"sexy". 
Porém, era tarde demais. O brilho nos olhos dele mostrava que ele 
sabia exatamente o que ela não dissera. 
— Trata-se de um elogio duvidoso quando estou fraco como um 
gatinho e incapaz de fazer qualquer coisa a respeito! — ele reprovou, 
estudando com interesse o rubor que tomou conta do rosto dela. — 
Não está usando maquiagem? 
Desta vez, Tasha nem piscou antes de responder, embora houvesse 
se esquecido de que Natalya não seria vista nem mesmo no próprio 
velório sem a sua "máscara". 
— Achei que pareceria tola se ficasse andando pelo hospital, 
parecendo uma estrela de cinema — inventou depressa, na esperança 
de que Chase não conhecesse sua irmã o bastante para saber que ela 
faria qualquer coisa para chamar atenção sobre si. 
— Vendo você assim, fico me perguntando por que diabos usa 
maquiagem, seja qual for a situação. Você é linda ao natural. Ah, esses 
olhos! 
— Querido, você está acordado! — A voz animada de Elaine, na 
porta do quarto, quebrou o encanto do momento. Tasha recuou alguns 
passos, para que ela pudesse se aproximar da cama e beijar o filho. — 
Ai! Está precisando de um barbeador! 
— Uma das enfermeiras se ofereceu para me barbear, mas prefiro 
que papai o faça. 
Tasha não resistiu ao impulso de provocá-lo. 
— Vai dizer que se aquela loirinha bonita que se derrete toda vez 
que entra aqui se oferecesse para barbeá-lo, você recusaria? 
— Está com ciúme? — ele perguntou com um sorriso. 
— Deveria? 
— Ah, vocês dois! — Elaine suspirou. — Qualquer um pode ver 
que são loucos um pelo outro. O ar está elétrico, aqui dentro! Agora, se 
me permite interromper só por um instante, Chase, pode me dizer 
como está se sentindo? 
— Como se tivesse lutado doze rounds com Mike Tyson! — ele 
respondeu com humor e todos caíram na risada. 
Mesmo assim, Tasha percebeu que ele começava a se cansar e 
admirou-lhe o espírito. Chase precisaria de muita força nos próximos 
dias, pois a dor era visível em seu semblante e ele ainda estava longe de 
uma recuperação satisfatória. 
John Calder pousou a mão no ombro do filho. 
— Trate de continuar lutando, filho. E não se preocupe. Trarei os 
apetrechos de barbear na minha próxima visita. 
— Obrigado, papai. 
— Tasha cuidou bem de você enquanto estávamos fora? — Elaine 
perguntou, ajeitando as cobertas desnecessariamente. 
Chase segurou-lhe a mão. 
— Pare com isso, mamãe! E por que chama Natasha de Tasha? — 
inquiriu, irritadiço pela dor crescente nos ferimentos. 
Tanto o pai como a mãe ficaram perplexos. 
— Você não a chama assim? — Elaine perguntou, confusa. 
Tasha se perguntou o que mais poderia dar errado. Fora mesmo 
uma grande estupidez contar o apelido aos Calder e não a Chase. Só 
poderia atribuir a falha ao choque provocado pelo acidente e, claro, ao 
fato de ela não conseguir raciocinar quando estava perto de Chase. 
Respirando fundo, apanhou o vaso e levou-o para a mesa de 
cabeceira. 
— Seus pais me chamam de Tasha por que é esse o meu apelido — 
anunciou com naturalidade. 
— Por que não me contou? — Chase desafiou. 
Ela deu de ombros. 
— Achei que você preferia me chamar de Natasha. 
— Eu não sabia que tinha escolha — ele protestou, ligeiramente 
contrariado. 
Admitindo para si mesma que ele tinha toda razão, Tasha sorriu. 
— Faz diferença, querido? — perguntou com voz rouca e sensual, 
sendo recompensada pelo brilho do desejo nos olhos dele. 
— Acho que ainda temos muito a aprender, um sobre o outro. Não, 
não faz diferença. Na verdade, Tasha combina melhor com seus 
cabelos curtos e a ausência de maquiagem. Prefiro assim. 
— Fico contente, pois também prefiro. 
Tasha permaneceu no quarto até Chase voltar a adormecer. A 
caminho de casa, parou no supermercado para fazer algumas compras. 
Estava tão satisfeita pela descoberta recente do poder que exercia 
sobre Chase, que a tarefa costumeira se transformou em verdadeiro 
prazer. Porém, a realidade a atingiu de súbito. 
Como podia flertar com Chase Calder? Ele havia reagido a ela 
somente por pensar que Tasha era, na verdade, Natalya! A felicidade 
que Tasha desfrutara até um momento antes se desfez. Havia se 
apaixonado pelo noivo da irmã e, por isso, não existia futuro naquele 
amor. Em breve, teria de contar a ele a verdade e, quando Chase 
soubesse o que Natalya fizera, certamente passaria a odiá-la. Embora, 
provavelmente, não passasse a odiar Tasha, também não teria 
qualquer razão para amá-la. 
Da nada adiantava amar Chase, quando ele não a amava. O que ele 
sentia era atração e não tinha nada a ver com amor. A verdade teve o 
efeito de uma ducha de água fria sobre Tasha e ela se deu conta de que 
estivera se comportando como uma perfeita idiota. Não usara a cabeça 
e, agora, teria de recolher os cacos de seu coração partido. Por mais 
que sofresse, tinha de zelar pelo seu orgulho. Certamente, não dera na 
vista a profundidade de seus sentimentos e, portanto, não seria difícil 
encobri-los de vez. 
Não poderia esconder a atração que sentia, mas seria capaz de 
garantir que Chase jamais imaginasse que ela sentia qualquer coisa 
além disso. Estava na hora de impor limites a si mesma. Tinha de fazer 
o que havia prometido antes: manter a cabeça e a distância. 
Terminou as compras e voltou para o apartamento. Logo que 
entrou, percebeu a luz da secretária eletrônica piscando na sala. Com 
movimentos automáticos, foi até lá e apertou o botão. 
— Olá, aqui fala Annie. Só liguei para saber se está tudo 
confirmado para esta noite. Até logo. 
Tasha espalmoua mão na testa. Stevie! Havia se esquecido 
completamente do filho de sua melhor amiga e colega de trabalho. 
Prometera levá-lo ao jogo de beisebol, como presente pelo aniversário 
de onze anos do garoto, no dia seguinte. 
Bem, a distração não poderia ter chegado em melhor momento. 
Tasha havia planejado visitar Chase, à noite, mas ali estava a 
oportunidade de começar a colocar sua vida de volta à sua ordem 
natural. Determinada, apanhou o telefone. 
A mãe de Chase atendeu. 
— Tasha? Está tudo bem? 
— Tudo bem, Elaine. Eu me esqueci de que não poderei ver Chase 
esta noite, pois vou assistir a um jogo de beisebol com um amigo. É 
aniversário dele e comprei os ingressos como presente. Não posso 
decepcioná-lo, agora. 
— Claro que não, querida. Chase vai ficar desapontado, quando 
souber, mas tenho certeza de que vai compreender — Elaine replicou 
de pronto, embora seu tom de voz deixasse clara a sua dúvida. 
Tasha recusou-se a se sentir culpada. 
— Diga a ele que irei vê-lo amanhã — acrescentou, antes de 
desligar. 
Em vez de se levantar, ficou ali sentada, pensativa. Sempre 
imaginara que o amor fosse uma experiência maravilhosa, mas parecia 
que havia se enganado, pois o sentimento era um tanto doloroso. 
Foi ao jogo, determinada a se divertir. Não faria sentido ficar de 
cara feia e, além disso, não queria estragar a alegria de Stevie. E, apesar 
de tudo, Tasha se divertiu a valer. Adorava beisebol e era mesmo uma 
delícia assistir a um jogo na companhia de alguém com tamanha 
animação. Por mais de uma hora, Tasha gritou e torceu, esquecendo-se 
por completo de seus problemas. Para completar a noite, o time para o 
qual ela e Stevie torciam venceu a partida. 
— Nossa, foi demais! — Stevie exclamou, fascinado, quando 
deixavam o estádio. 
— Você se divertiu? — Tasha perguntou, já sabendo a resposta. 
O garoto exibiu um sorriso largo. 
— Foi o melhor aniversário que já tive! Espere até eu contar à 
mamãe. 
— Quer entrar e tomar um café? — Annie convidou, quando Tasha 
foi deixar Stevie em casa. 
— Você fez brownies? — Tasha perguntou, seguindo Annie até a 
cozinha. 
— Sinto cheiro de problemas — Annie comentou com um sorriso. 
— Só pode ser um homem — concluiu, enquanto preparava o café. 
— Por que diz isso? 
— Porque somente um homem é capaz de fazer uma mulher ficar 
desse jeito. — Annie colocou o café e os brownies sobre a mesa e se 
sentou. — E então? Acertei? 
— Acertou — Tasha admitiu. 
— Eu o conheço? 
— Não. 
— É bonito? 
— Não, é maravilhoso! 
— E qual é o problema? Ele é casado? 
Tasha suspirou e encarou a amiga. 
— É noivo... de Natalya. 
— Sua irmã? — Annie inquiriu, chocada. 
Depois de ter visto Natalya uma única vez, sua antipatia se tornara 
crônica. 
Sem hesitação, Tasha contou à amiga tudo o que acontecera e o 
que ela fizera. Annie ficou horrorizada e não fez o menor esforço para 
disfarçar seus sentimentos. 
— Desculpe o que vou dizer, mas sua irmã não presta! 
— Está perdoada — Tasha declarou, compartilhando a opinião. 
— Quando vai contar a ele? 
— Logo. Chase está melhorando rapidamente. 
— Você acha que... 
— Não. 
— Mas você é tão diferente de Natalya, que certamente... — Annie 
parou de falar ao ver a amiga se levantar. 
— Não se pode fazer alguém nos amar, quando esse alguém já ama 
outra pessoa, Annie. Vou superar tudo isso. 
— Não tenho tanta certeza. Nunca vi você assim, antes. 
— Preciso ir embora — Tasha declarou, olhando para o relógio. 
Annie acompanhou-a até a porta e a abraçou. 
— Sabe onde me encontrar, sempre que quiser conversar — 
ofereceu e observou com olhar triste a amiga partir. 
Tasha já estava a meio caminho de casa quando avistou a placa do 
hospital. Sabia que não seria sensato ir até lá, mas algumas coisas são 
mais fortes que o bom senso. Assim, quando deu por si, estava 
entrando no estacionamento do hospital. 
 
 
 
O hospital estava mergulhado no silêncio. Tasha aproximou-se da 
cama e se entregou ao prazer de observar Chase, que dormia. Após 
alguns instantes, estendeu a mão para afastar-lhe os cabelos da testa e 
ele abriu os olhos. 
— Eu sabia que você viria — Chase murmurou, confiante. 
— Sabia? — ela inquiriu, hipnotizada por aquele olhar intenso. 
— Sim. Desde o acidente, parece haver uma corrente de 
eletricidade nos unindo, Tasha. Senti isso e sei que você também 
sentiu. 
— Chase... — tentou protestar, mas ele a interrompeu: 
— Não vai me beijar? Sabe que nós dois estamos loucos por um 
beijo. 
Embora Chase estivesse certo, Tasha sabia que beijá-lo seria um 
erro fatal. Até então, havia se limitado a imaginar como seria ser 
beijada por ele. Saber como era poderia ser doloroso demais, uma vez 
que, em breve, teriam de se separar. 
— Tasha... 
Ao ouvir seu nome ser pronunciado em um mero sussurro, Tasha 
viu sua força de vontade se dissipar por completo. De súbito, nada 
mais importava, exceto a necessidade desesperada de experimentar o 
sabor daqueles lábios sensuais. 
Lentamente, sua cabeça foi se inclinando sobre a dele. O toque 
suave de seus lábios nos dele provocou a sensação de uma chama se 
erguendo nas profundezas de seu ser. Chase respirou fundo, 
afastando-se apenas o suficiente para fitá-la nos olhos, a fim de 
verificar se Tasha sentira o mesmo que ele. E foi com os olhos que ela 
confirmou as suspeitas de Chase, antes de voltar a colar os lábios nos 
dele. 
A partir de então, o mundo deixou de existir. Eram apenas eles 
dois, as bocas unidas em um beijo apaixonado, que fez o coração de 
Tasha cantar de alegria, enquanto seu corpo ardia de prazer, 
desfrutando da experiência mais espetacular de sua vida. 
Foi somente quando Chase gemeu de dor que Tasha retornou à 
realidade. 
— O que foi? — perguntou, alarmada. 
— Eu me esqueci de que estou preso a esta maldita cama e tentei 
me mover! 
Tasha foi invadida por um profundo sentimento de culpa. Onde 
estava com a cabeça para agir com tamanho descuido? Chase tinha 
costelas quebradas e, mesmo assim, lá estava ela, praticamente deitada 
sobre ele! 
— Sinto muito. Está doendo? — perguntou, endireitando-se. 
Quando ia se levantar, ele a segurou pela mão. 
— O que você acha? — Chase rosnou. 
Imediatamente, Tasha se empertigou, tomada de indignação. 
— Não fale assim comigo, Chase Calder! Lembre-se de que foi você 
quem me pediu um beijo. 
— Eu jamais me esqueceria disso — ele falou com voz sensual. 
— O que está querendo dizer? — perguntou. 
— Que recebi muito mais do que esperava. 
— Verdade? 
— Sim. 
Tasha respirou fundo. 
— Quanto mais? 
— Eu diria... cem por cento. Esse beijo foi diferente de todos os 
outros, foi muito melhor. 
— Todos? — Tasha repetiu, incrédula diante da possibilidade 
totalmente nova que se erguia à sua frente. 
Chase tomou-lhe as mãos nas dele. 
— Todos — confirmou. — Não sei o motivo, mas desde o acidente, 
há algo mais acontecendo entre nós. Antes, eu gostava de beijar você, 
mas tem de admitir que nunca foi tão bom. 
A confissão fez o coração de Tasha disparar. Era inacreditável! 
— Sim, foi melhor do que nunca — concordou, dando-se conta de 
que teria de ser cuidadosa para não se trair. — Também estou 
surpresa — acrescentou. 
Os lábios de Chase se curvaram em um sorriso e, com o polegar, ele 
começou a acariciar a mão de Tasha. Então, seu dedo tocou o anel de 
noivado. 
— Vejo que decidiu ficar com ele — comentou. 
— Ficar com ele? — Tasha inquiriu, sem fazer a menor idéia do 
que Chase estava falando. 
— Percebi que não gostou muito do anel e pensei que, a esta 
altura, já teria ido à joalheria para trocá-lo por outro. 
Sem sombra de dúvida, Natalya teria preferido algo mais vistoso e 
extravagante. Ao contrário de Tasha, que achava aquele anel 
maravilhoso e, com certeza, o teria escolhido, se lhe dessem a chance. 
— Não foi bem isso o que aconteceu — falou, pensando depressa. 
— Só fiquei desapontada porque ele ficou um pouco grande, mas 
mandei diminuir. 
Agora, só teria de rezar para Chase não lhe pedir o recibo do 
joalheiro. 
Chase franziuo cenho por um momento e, então, perguntou: 
— Gosta mesmo desse anel? 
— Adoro — Tasha declarou com sinceridade. 
Após um breve instante de reflexão, ele acrescentou: 
— Preciso comprar os brincos que combinam com ele. 
— Não é necessário — murmurou. 
— Acho melhor falarmos de algo que não tenha nada a ver 
conosco. Do contrário, não conseguirei dormir — Chase falou com um 
sorriso maroto. — Conte-me sobre o jogo. Eu não sabia que você gosta 
de beisebol. 
— Eu adoro! Tento assistir ao maior número de jogos possível. 
Hoje, nós vencemos, o que deixou Stevie muito feliz. 
— Stevie? 
— É um amigo meu. 
— Foi o que minha mãe disse — ele resmungou. 
Tasha não conteve o riso. 
— Stevie é o filho da minha melhor amiga. Tem dez anos, ou 
melhor, onze, pois já passa de meia-noite. Ele faz aniversário, hoje. 
Meu presente foi levá-lo ao jogo. Satisfeito? — provocou. 
— Vou ensiná-la... — Chase tentou agarrá-la, mas ela escapou. 
— Lembre-se de que é um homem doente! — Tasha advertiu-o. 
— Sim, mas não vou passar o resto da vida nesta cama. Lembre-se 
disso! 
— Tenho memória de elefante. 
— Da próxima vez em que quiser assistir a um jogo, eu mesmo a 
levarei. 
— Sim, senhor. 
— Acho que estou fazendo papel de tolo. 
Tasha sorriu e se inclinou para beijá-lo de leve nos lábios. Desta 
vez, porém, voltou a se endireitar antes que ele pudesse reagir. 
— Está, mas eu gostei. Agora, devo ir embora. Já é tarde. Vejo você 
amanhã — prometeu. 
— Vou esperar, ansioso. Boa noite, querida. Dirija com cuidado. 
— Pode deixar. 
Tasha tratou de partir antes que seu coração encontrasse alguma 
boa desculpa para ficar. 
No final do corredor, Tasha parou e se apoiou na parede, para 
então levar os dedos aos lábios. Trêmula, forçou-se a se acalmar e 
repassar na mente cada palavra pronunciada por Chase. Não havia se 
enganado. Tudo fora exatamente como ela imaginara. E, se houvesse 
levado sua decisão racional adiante, jamais teria sabido! 
O que Chase experimentara ao beijá-la nunca acontecera quando 
ele beijara Natalya. Tasha não teria descoberto que a atração que os 
impelia um para o outro jamais existira, antes do acidente. Isso 
significava que o que quer que Chase sentisse, sentia por ela, Tasha. 
Natalya jamais fora capaz de fazê-lo sentir o que ele sentia agora. 
Tasha possuía algo que Natalya não tinha, algo que provocava uma 
reação intensa em Chase. Era por Tasha que ele se sentia atraído. 
Agora, ela não sabia o que fazer! Havia planejado contar a ele sobre 
Natalya dentro de um ou dois dias, mas já não estava certa de querer 
levar o plano adiante. Um novo elemento entrara em cena: Chase a 
queria tanto quanto ela o queria. 
Agora, Tasha contava com duas opções. Poderia contar a verdade 
e, provavelmente, perdê-lo. Ou, então, perpetuar a mentira e ficar com 
ele. 
Mal pensou nas possibilidades e foi atacada pela própria 
consciência. Não seria moralmente errado deixá-lo acreditar que ela 
era outra pessoa? Com um gemido desesperado, Tasha foi obrigada a 
admitir que sim, seria errado. Tinha de contar a verdade a Chase. 
Talvez os sentimentos dele por ela fossem fortes o bastante para 
superar o choque do conhecimento. 
 
Tasha largou o lápis sobre o bloco de anotações e, ao se 
espreguiçar, teve um choque. Eram quase sete horas! Não vira o tempo 
passar! 
Não planejara se demorar tanto na biblioteca, mas como sempre, 
quando começava a ler, acabava se envolvendo no trabalho. 
Agora, descobria que já estava uma hora e meia atrasada para a 
visita a Chase e ainda teria de atravessar a cidade para chegar ao 
hospital. 
Dez dias haviam se passado desde o acidente. Nesse período, 
Tasha passara a maior parte de seu tempo livre com Chase... sem 
contar a ele sobre Natalya. Não possuía uma boa desculpa para tal 
atitude, exceto pelo fato de amar Chase cada vez mais e, por isso, não 
encontrar coragem para contar a verdade e arriscar-se a perdê-lo. 
Sabia que era covardia, mas não conseguia evitar. Chase era tudo o 
que Tasha desejava na vida. Sonhava com ele todas as noites e pensava 
nele o tempo todo. Nem mesmo o trabalho a distraía. 
Ao chegar no hospital, foi diretamente para o quarto de Chase e 
parou na porta. 
Como se pressentisse a presença dela, Chase ergueu os olhos e a 
viu. 
— Por onde você andou? — inquiriu de mau humor, da poltrona 
que ocupava junta à janela. 
Tasha largou a bolsa e o casaco sobre o sofá, cruzou os braços e 
sustentou o olhar de Chase. 
— Boa noite para você, também — replicou com voz aveludada. 
— Que tipo de resposta é essa? — ele persistiu. 
— O tipo que se recebe quando se cumprimenta alguém como você 
acabou de me cumprimentar! 
Chase também cruzou os braços. 
— Sabe que horas são? — indagou, estreitando os olhos. 
— Sei exatamente que horas são. Tenho relógio. 
— Nesse caso, não faria mal algum chegar na hora marcada. Onde 
você esteve, o dia todo? 
Ora, ele não estava sendo razoável. Tasha sabia que a atitude de 
Chase se devia ao fato de ele estar preso naquele quarto, mas isso não 
o desculpava. Todos os dias, independente do cansaço, ou das 
condições do tempo, ela o visitava depois do trabalho e, agora, ele 
tinha o desplante de tratá-la daquela maneira, só porque ela havia se 
atrasado um pouco? Bem, não fora tão pouco, mas a questão não era 
essa. 
— Estive trabalhando, ganhando algum dinheiro para poder comer 
e ter um teto para me abrigar! 
— Trabalhando? A esta hora? — Chase falou com ironia. 
— O que acha que eu estava fazendo, Chase? — Tasha inquiriu, 
sentindo a paciência chegar ao seu limite. 
— Acho que poderia estar tendo um caso com alguém! — ele 
explodiu. 
— Você só pode estar brincando! 
— Por quê? Qualquer homem normal que olhe para você, vai 
desejar levá-la para a cama! 
— Pois, deixe-me dizer uma coisa, Chase Calder. Não sou uma 
leviana idiota. Não me entrego a qualquer homem que me queira! Nem 
quero outro homem que não seja você, embora só Deus possa explicar 
o motivo, já que você me julga capaz de fazer uma coisa dessas! 
Chase ficou imóvel e Tasha sentiu uma pontada de satisfação ao 
perceber o rubor em suas faces. 
— Está dizendo que estou errado? 
— Mais uma pergunta cretina como essa, e serei capaz de parti-lo 
ao meio! 
Chase abaixou a cabeça e esfregou o pescoço com a mão. Quando 
voltou a fitá-la, seus olhos exibiam um brilho maroto: 
— Está zangada. 
— Tenho o direito de estar, não acha? Tive um dia difícil no 
tribunal e você tem a petulância de insinuar... 
— Tribunal? 
Tasha deu-se conta de que acabara de pisar em campo minado. Por 
mais estranho que pudesse parecer, seu trabalho não fora discutido 
em nenhuma das conversas que os dois haviam travado até então. E, 
aparentemente, os pais dele também não haviam mencionado a sua 
profissão. Bem, não poderia mentir. 
— Sim, sou advogada — anunciou. 
— Pensei que fosse secretária — Chase falou, pensativo. 
Pálida, Tasha decidiu blefar. 
— Não me lembro de ter dito isso. 
Para sua surpresa, Chase ficou sem jeito. 
— E não disse — admitiu. — Quando contou que trabalhava em 
uma firma de advocacia, concluí que era secretária. 
Tasha ficou irritada ao constatar que a irmã não só se apropriara 
de seu nome, mas também de sua profissão. Ou, quase. Certamente, 
acreditara que isso a tornaria mais aceitável para Chase. 
— Pensei que um bom advogado jamais tirasse conclusões — 
arriscou, empinando o queixo com ar de desafio. 
De repente, os olhos de Chase se iluminaram. 
— Eu me declaro culpado, mas alego circunstâncias atenuantes. 
— Que circunstâncias? 
— Quando estou perto de você, não consigo raciocinar com 
clareza — ele respondeu com um sorriso. 
Grande coincidência! Com um suspiro, Tasha sentiu a ira se 
dissipar. 
— Isso me soa familiar. Quanto ao meu atraso, acabei me 
distraindo na pesquisa sobre um caso e não vi o tempo passar. 
Os olhos cinzentos de Chase exibiram um brilho divertido. 
— Disso eu entendo! — falou. — E então? Venceu o julgamento? 
— Claro! — ela respondeu, triunfante. 
— Semfalsa modéstia? 
— Sou muito boa no que faço. 
— Não tenho a menor dúvida. Você defende causas criminais? 
— Não, cíveis. Vou deixar as manchetes para você — acrescentou 
em tom de provocação. 
— Da maneira como fala, parece que vivo correndo atrás de 
publicidade — Chase protestou. 
— Pelo que sei, você não faz nada para evitá-la. Seu ego deve 
adorar ver o seu rosto estampado em capas de revistar e nos 
noticiários de televisão. 
Tasha sabia que isso não era verdade. Se fosse, ela teria visto a foto 
dele nos jornais, antes. Ainda assim, não queria perder a oportunidade 
de alfinetá-lo. 
— Ego! Que tipo de homem pensa que sou? — Chase inquiriu, 
franzindo o cenho. 
Sem mais se conter, Tasha soltou uma risada e só então ele se deu 
conta de que ela estava apenas se vingando do seu comportamento 
anterior. 
— Muito bem. Você venceu — admitiu. — Estou perdoado. 
— Vou pensar no seu caso. 
— Não demore muito — ele ameaçou com um estranho brilho no 
olhar. 
Tasha estreitou os olhos. 
— Por quê? O que você vai fazer? 
— Talvez eu mude de idéia. 
— Sobre o quê? 
— Isso eu não posso dizer. 
— Às vezes, você é mesmo irritante! — Tasha acusou-o, embora 
suas faces já começassem a corar sob aquele olhar intenso e sugestivo. 
— Eu sei, mas você me ama mesmo assim. 
— Vai me contar por que estava tão zangado? — Tasha perguntou, 
tentando mudar de assunto. 
— Porque senti demais a sua falta — confessou. 
— Ah, Chase! 
Tasha sentiu o coração se derreter no peito. 
Chase estendeu-lhe a mão. 
— Por que não vem até aqui e me deixa cumprimentá-la da 
maneira adequada? Você está muito longe — Chase protestou e, sem 
hesitação, ela foi se ajoelhar ao lado da poltrona. — Assim está melhor. 
Pensei que nunca mais fôssemos conseguir ficar sozinhos. Estava 
esperando, ansioso, por este momento. Quero que você me dê um beijo 
de verdade, não esses beijinhos no rosto que tenho recebido, 
ultimamente. 
Tasha suspirou, sabendo exatamente o que ele sentia. Nos últimos 
dias, sempre havia mais alguém no quarto, quando estavam juntos. 
— Eu... 
— Pelo amor de Deus, Tasha, pare de falar e me beije! Vou acabar 
enlouquecendo se não sentir o seu sabor outra vez. 
— Chase... 
O beijo foi ainda mais ardente e apaixonado que o primeiro, 
provocando em ambos reações mais profundas e intensas. 
Nenhum deles saberia dizer o que poderia ter acontecido se o 
ruído metálico no corredor não os houvesse trazido de volta à 
realidade. 
Com o coração aos saltos, Tasha limitou-se a fitá-lo com expressão 
de adoração. 
— Não me olhe assim! — Chase advertiu com um gemido e ela 
obedeceu de pronto, desviando o olhar. — Não! Olhe para mim como 
quiser. Ah, esses seus olhos! Não sabe o que eles fazem comigo. 
Amaldiçoado seja este quarto, onde não podemos ter um momento de 
privacidade! 
— Talvez eu devesse temer esse brilho nos seus olhos — Tasha 
murmurou com uma pontada de malícia. 
Chase acariciou-lhe a face e puxou-a para si. 
— Está com medo? 
— Não. 
— Tem idéia de quanto eu te amo? 
Tasha sentiu-se grata por Chase não poder ver o seu semblante 
naquele momento. Não, ela não fazia idéia do que ele sentia. Chase se 
sentia atraído por ela, mas aquilo não era amor. Ainda assim, tal 
sentimento poderia se transformar em amor e, se fosse honesta 
consigo mesma, Tasha admitiria que era exatamente o que ela 
esperava que acontecesse. Devagar, mas com firmeza, ela estava 
apagando a irmã da memória dele. Chase gostava das diferenças, 
preferia a pessoa que via agora. 
— Acha que me ama mais do que amo você? — replicou em um 
sussurro. 
Com um suspiro relutante, Chase se recostou na cadeira e a 
encarou. 
— Tenho uma confissão a fazer — declarou, deixando Tasha 
alarmada. 
— Por acaso, eu deveria estar preocupada? — ela inquiriu em tom 
de brincadeira, embora encontrasse dificuldade para respirar. 
— Não — ele respondeu com um sorriso. — Se alguém tem de se 
preocupar, esse alguém sou eu. 
— Verdade? Parece interessante. Conte mais. 
— Pare de me provocar! Está se esquecendo de que sou um 
enfermo? 
— Para um enfermo, você beija muito bem! 
— Não faça isso... 
— Desculpe — ela fingiu arrependimento. — Prometo ser 
boazinha. 
— Vai acabar me enlouquecendo! Bem, onde foi que eu parei? 
— Estava prestes a fazer uma confissão. 
— Certo. A verdade é que quando vi você pela primeira vez, eu me 
apaixonei pela sua aparência. Você é tão linda, que quando me dei 
conta, já estava caidinho por você. Mas, agora... 
O coração de Tasha ameaçava saltar para fora do peito. Ela teve de 
se esforçar para não tirar conclusões apressadas, embora não desejasse 
nada além de ouvi-las. 
— Agora? — insistiu. 
Chase estendeu a mão para afagar-lhe os cabelos. 
— Agora, estou me dando conta de que você é ainda mais bonita 
por dentro. A cada momento que passa, eu te amo mais, Tasha. 
Incapaz de conter a felicidade que a invadiu, Tasha atirou-se nos 
braços dele. Não havia esperado por uma declaração como aquela. 
Chase acabara de confirmar que havia se apaixonado pela beleza de 
Natalya, mas era a Tasha que amava. 
— Esse abraço significa que você gostou de ouvir o que eu disse? 
— ele provocou, apertando-a nos braços. 
Tasha riu e se afastou para fitá-lo nos olhos. 
— Você não faz idéia de quanto suas palavras significaram para 
mim. 
— Ah, eu posso imaginar — ele admitiu, depositando um beijo 
terno nos lábios dela. 
Sorriam um para o outro, quando uma leve batida na porta 
chamou-lhes a atenção. Os dois se viraram naquela direção e 
depararam com os pais de Chase. 
— Podemos entrar? Ou seria melhor voltarmos mais tarde? — John 
Calder perguntou de bom humor. 
Tasha se pôs de pé, enquanto Chase fazia um sinal para que os pais 
entrassem. 
— Conseguiu? — ele perguntou ao pai, com ares de mistério. 
John bateu no bolso do paletó. 
— Está tudo aqui, filho. Já contou a ela? 
— Contou o quê? — Tasha inquiriu, notando a expressão excitada 
no rosto de Elaine. — O que está acontecendo? 
— Que bom que você ainda não contou, Chase. Eu queria estar 
aqui quando ela soubesse — Elaine falou, animada, acomodando-se na 
beirada da cama. — Vá em frente. 
— Obrigado — Chase agradeceu e, vendo que Tasha estava 
prestes a explodir, dirigiu-se a ela: — Em primeiro lugar, vão me 
deixar sair desta prisão na segunda-feira. 
— Boa notícia! Agora, você já pode parar de seduzir as enfermeiras 
— Tasha declarou de bom humor. 
Chase lançou-lhe um olhar ameaçador e seus pais caíram na risada. 
— Em casa, posso ao menos trabalhar, mesmo que ainda não possa 
voltar ao escritório — ele anunciou com entusiasmo. 
O peito de Tasha se apertou. 
— Vai retornar a Boston? — ela perguntou, sem esconder a 
decepção. 
— Assim que puder — Chase confirmou e, então, sorriu. — 
Quanto tempo acha que vai precisar para fazer as malas? 
— Malas? Quer que eu vá com você? 
— Ora, você não pensou que eu fosse partir sem você, pensou? 
Você vai comigo no vôo que papai reservou para o final da próxima 
semana. 
A mente de Tasha girava em disparada. Chase queria que ela 
partisse em uma semana? 
— Mas... o meu trabalho... minhas coisas... 
Chase praguejou baixinho. 
— Sou obrigado a admitir que não considerei nenhuma dessas 
coisas. O trabalho pode ser um problema? Precisa avisá-los com 
antecedência? 
— Sim, mas como tenho férias vencidas, talvez eu consiga reduzir 
o prazo para uma semana — ela considerou, pensativa. 
— Ótimo. Quanto às suas coisas, contrataremos uma firma 
especializada para cuidar da mudança. 
Tasha sentiu uma pontada de irritação. 
— Vejo que já pensou em tudo — comentou em tom ácido. 
A expressão de Chase tornou-se séria. 
— Exceto na possibilidade de você não querer ir. Não parece 
muito feliz com a minha decisão. 
— Ora, é claro que quero ir com você. 
Tasha o amava e, naturalmente, queria estar com ele onde quer que 
fosse. O problema era que não esperava ter de tomar aquela decisão 
tão depressa, o que não passava de uma grande tolice. Deveria ter 
sabido que Chase certamente quereria voltarpara casa assim que fosse 
possível. Na verdade, o que a deixava aflita era o fato de se ver frente a 
frente com o que não havia contado a ele. 
Sem sequer imaginar os pensamentos sombrios que cruzavam a 
mente de Tasha, Chase voltou a sorrir. 
— Isso é bom, pois tenho mais a dizer — declarou. 
— O quê? 
— John e eu adiamos a nossa viagem ao Havaí, por causa do 
acidente — Elaine falou. — Todos os anos, vamos para lá, afim de 
comemorar o nosso aniversário de casamento. Como já mudamos a 
data, decidimos que não faria diferença adiarmos mais uma semana. 
— Para que nós possamos nos casar antes da viagem deles — 
Chase completou. 
Casar? Chase queria se casar com ela? Tasha jamais poderia negar 
que era o que ela mais queria, mas pensara nisso como algo a acontecer 
no futuro. Havia se imaginado morando com Chase por algum tempo, 
levada pela noção de que a convivência lhe daria a certeza absoluta de 
que ele amava a ela e mais ninguém. Então, poderia contar sobre 
Natalya, sem correr o risco de perdê-lo. Tasha pensara em tudo, 
considerando que teria meses pela frente, não apenas dias. Agora, 
contava com pouco mais de uma semana! 
Fitou os três pares de olhos ansioso, fixos nos seus. 
— Bem, acho que vou ter de correr para encontrar um vestido que 
me agrade — falou com uma risada. 
Por dentro, porém, ela não ria. Seu tempo havia se esgotado. Que 
Deus a ajudasse, pois teria de contar a verdade a Chase e rezar para 
que os sentimentos dele por ela fossem fortes o bastante para resistir 
ao choque. 
 
 
 
Tasha tinha a intenção de contar a verdade a Chase, mas encontrar 
o momento certo para isso era muito mais difícil do que ela esperava. 
Chase saiu do hospital na segunda-feira e se hospedou em uma 
suíte no mesmo hotel onde estavam seus pais. Como precisava deixar 
os casos que lhe haviam sido designados em ordem, antes de partir, 
Tasha teve de trabalhar até tarde todas as noites. Assim, só pôde ver 
Chase na noite em que haviam combinado jantar com os pais dele. E, 
portanto, só ficaram sozinhos bem tarde, quando os mais velhos se 
retiraram para seu quarto e Tasha e Chase se dirigiram para a suíte 
dele. 
Naturalmente, a única coisa que queriam fazer era conversar. 
Somente bem mais tarde, permitiram que o mundo real invadisse seus 
momentos a sós. 
— Esta suíte deve custar uma fortuna — Tasha comentou. 
Estava reclinada no sofá da saleta, nos braços de Chase, ainda 
atordoada pelos beijos ardentes que haviam trocado. Sentiu o coração 
dele bater com a mesma violência que o dela. 
— Posso pagar — ele falou com objetividade. 
— Está querendo me dizer que é rico? — Tasha indagou com um 
sorriso. 
— Sou muito bom no que faço — ele respondeu, rindo. 
— Você é simplesmente rico, ou podre de rico? 
— Podre de rico — Chase fingiu seriedade. — Está contente por se 
casar comigo? 
— Vou me casar com você porque te amo, não pelo seu dinheiro! 
— Ei! Eu só estava brincando. 
— Não achei graça. 
— Estou vendo. Querida, sei muito bem por que vai se casar 
comigo. 
Tasha fitou-o por um momento. Aquela era sua oportunidade de 
contar a verdade, de limpar o caminho à sua frente, para que pudessem 
seguir adiante, juntos. Porém, quando abriu a boca para falar, foi 
atacada pela dúvida. O que aconteceria se ele não compreendesse a sua 
atitude? E se ele não fosse capaz de perdoar a sua mentira? Pior seria 
se Chase não pudesse perdoá-la! Nesse caso, Tasha o perderia. A 
possibilidade medonha roubou-lhe a coragem. 
— Eu te amo, Chase, muito mais do que pode imaginar — 
declarou em tom de urgência, antes de beijá-lo com paixão. 
Em questão de segundos, estavam ambos perdidos nos prazeres 
daquele beijo. E a oportunidade se fora. 
Mais dois dias se passaram, durante os quais Tasha se reprovou o 
tempo todo por sua covardia. 
Na quarta-feira, almoçaram com os pais de Chase, a fim de discutir 
os detalhes do casamento. 
— Alison e o marido, Matt, virão, além de Evan – Elaine garantiu, 
quando tomavam café. — Tem certeza de que não quer convidar mais 
ninguém para o casamento? — perguntou a Tasha. 
— Apenas Annie e Stevie — ela confirmou. 
— Você não tem família? — Elaine insistiu. 
Mais uma vez, pisavam em terreno minado. 
— Nós ficamos órfãs quando ainda éramos muito pequenas — 
falou sem pensar. 
— Nós? — Chase inquiriu, provocando-lhe um sobressalto. 
— Eu... tenho uma irmã. 
Elaine exibiu um sorriso largo. 
— Bem, então... 
— Nós não nos damos muito bem — Tasha a interrompeu 
depressa. — Na verdade, nem sei por onde ela anda. 
— Sinto muito, querida — Chase falou, apertando-lhe a mão na 
tentativa de reconfortá-la. 
— Não somos muito parecidas... ao menos, não no modo de pensar 
e agir — ela acrescentou. 
— O que aconteceu, quando ficaram órfãs, Tasha? Foram 
adotadas? — John perguntou. 
— Não. As assistentes sociais não queriam nos separar e, na época, 
não encontraram nenhuma família disposta a adotar duas crianças de 
uma só vez. Vivemos em orfanatos, até termos idade suficiente para 
nos sustentarmos sozinhas. 
— Pertencendo a uma família tão unida, tenho dificuldade em 
imaginar como foi a sua infância — Chase confessou. 
— Às vezes, não era tão ruim. 
Era verdade que ela e a irmã haviam sido sempre bem vestidas e 
bem alimentadas, mas suas necessidades emocionais haviam sido 
ignoradas. 
— Mas, às vezes, também não era tão bom — Chase adivinhou. 
Ela deu de ombros. 
— Tudo melhorou quando fui para a universidade. 
— Quando viu a sua irmã pela última vez? — Elaine perguntou 
com inocência. 
Tasha sabia que deveria responder: "No dia do acidente, na UTI", 
mas por algum motivo, as palavras se recusaram a sair de seus lábios. 
— Mamãe, não creio que Tasha queira conversar sobre isso — 
Chase interferiu. 
— Quando nos separamos, não foi exatamente como amigas — 
Tasha murmurou, cedendo à covardia mais uma vez. 
Apertando-lhe a mão, Chase mudou de assunto. Depois de 
conversarem por mais alguns minutos, os Calder se despediram, 
deixando o jovem casal a sós. 
— Espero que desculpe mamãe — Chase falou. — Ela se interessa 
demais pelas pessoas e, às vezes, esquece de detalhes como tato. 
Ainda sentindo nos ombros o peso da culpa, Tasha desviou o olhar. 
— Tudo bem. Seus pais têm sido maravilhosos comigo. 
— Eles gostam de você, o que não é difícil. 
— Gostaria de tê-los como meus próprios pais — Tasha 
murmurou com sinceridade. 
Chase segurou-lhe a mão. 
— Pobre Tasha. 
— Não tenha piedade de mim, Chase! — ela protestou, irritada, 
tentando retirar a mão da dele, sem sucesso. 
Sabia que sua reação era exagerada devido à culpa que sentia, mas 
não pôde se controlar. Às vezes, mal reconhecia a mulher emotiva que 
havia se tornado. 
— Piedade é o último sentimento que você me inspira, Tasha. É 
verdade que me senti triste pela garotinha solitária que você foi, 
apesar de ter uma irmã. Em se tratando da mulher para a qual estou 
olhando agora, piedade é o último sentimento que me ocorre — Chase 
repetiu com voz rouca. 
Bastou olhar para aqueles olhos cinzentos para Tasha saber do que 
ele estava falando. No mesmo instante, o sangue ferveu em suas veias. 
— Acho que está na hora de eu ir para casa... para a cama. 
Chase soltou uma risada. 
— Qualquer menção a cama faz a minha pressão sangüínea 
aumentar — comentou, provocante. 
— Não há nada que eu possa fazer quanto a isso. 
— Pelo menos, não aqui — Chase concordou, lançando um olhar 
para os demais fregueses do restaurante. 
Tasha não pôde conter uma risada. 
— Talvez... 
— Talvez? — ele insistiu, ansioso. 
— Talvez você pudesse me contar sobre a sua infância — ela 
sugeriu. — Comece pelo dia em que nasceu. 
— Está tentando desviar a minha atenção? — ele perguntou. 
— Não, a minha — Tasha respondeu de pronto. 
A chama do desejo iluminou os olhos de Chase e ele os fechou por 
um breve instante, antes de começar: 
— Bem, deixe-me ver... Nasci em uma quinta-feira... 
Tasha se recostou na cadeira e, com um leve sorriso, deixou-se 
hipnotizar por aquela voz profunda. 
Ora,não era de admirar que ela tivesse tanto medo de perdê-lo. 
Chase era o homem mais perfeito do mundo. Como contaria a ele? 
Como poderia deixar de contar? 
 
O dilema a perseguiu durante todo o seu último dia de trabalho, na 
quinta-feira. Tasha não esperava a festa de despedida organizada pelos 
colegas, nem pelo presente que haviam comprado. Lembrou-se de 
quanto fora feliz ali, o que justificava a tristeza que sentia por ter de 
partir. 
Ainda assim, a realidade de seus atos somente a atingiu quando ela 
se preparava para jantar com Chase. Escolhera seu vestido preto de 
renda e estava admirando o próprio reflexo no espelho, quando a 
verdade se impôs em sua mente. 
Ao pedir demissão do emprego, aceitar os parabéns dos colegas e 
concordar em se casar com Chase no dia seguinte, Tasha havia 
determinado que seu futuro seria ao lado dele. Portanto, só lhe restava 
uma atitude a tomar. 
Permaneceu imóvel diante do espelho, como se sua imagem 
conversasse com ela. 
— Não vai contar a ele, vai? — o espelho acusou e Tasha leu a 
resposta nos próprios olhos. 
Não, não contaria. Não podia. Durante toda a sua vida, Tasha fora 
vazia e carente. Agora, quando finalmente encontrara o que sempre 
estivera procurando, mesmo não sabendo que procurava, não poderia 
arriscar-se a perdê-lo. 
O que seria uma forte possibilidade, caso ela lhe contasse sobre 
Natalya. Bem, a alternativa também era arriscada, mas se Tasha não 
mencionasse o fato de serem gêmeas, Chase jamais saberia. Além 
disso, Natalya estava a milhares de quilômetros de distância. 
Tratava-se de um jogo de alto risco, o tipo de coisa que ela jamais 
pensara em fazer, antes. Talvez não fosse honesto, mas era a sua única 
alternativa. Sabia que poderia enfrentar problemas seríssimos, mas 
decidiu que valeria a pena arriscar. 
A campainha tocou, provocando-lhe um sobressalto. Depois de 
alisar a saia, Tasha lançou um último olhar para o espelho. A decisão 
estava tomada. Não havia volta. Apanhou a bolsa e o xale e foi abrir a 
porta. 
Chase estava mais lindo do que nunca, em seu terno preto e camisa 
de seda branca. Examinou-a da cabeça aos pés, sem esconder o prazer 
que a visão lhe proporcionou, antes de dizer: 
— Vejo que tivemos a mesma idéia. 
— Que idéia? 
— Sobre jantarmos na privacidade da minha suíte, a menos que 
você tenha alguma objeção. 
Tasha havia escolhido aquele vestido justamente por querer que 
aquela noite fosse especial. 
— Nenhuma objeção — declarou com voz trêmula. 
Chase ofereceu-lhe o braço. 
— O táxi está à nossa espera — informou. 
Fechando a porta atrás de si, Tasha aceitou o braço de Chase e 
deixou-se conduzir para fora do edifício. A idéia que ele não havia 
mencionado era que, naquela noite, finalmente fariam amor. 
Tasha jamais seria capaz de dizer o que comeu no jantar, enquanto 
a música suave enchia o ambiente. Nem se lembrava das palavras de 
Chase. Sua única lembrança era da figura máscula e viril à sua frente. 
Adorava a maneira como ele sorria com os olhos, não só com os 
lábios. Adorava o som da risada que Chase, que lhe provocava arrepios 
de prazer. 
Só se deu conta de que ele havia parado de falar quando, com um 
sorriso, Chase perguntou: 
— Ouviu alguma palavra do que eu acabei de dizer? 
— O quê? 
— Perguntei se você ouviu o que eu disse — ele repetiu, divertido. 
— Cada palavra — ela confirmou. 
— E o que foi que eu disse? — Chase desafiou. 
— Não faço idéia — Tasha admitiu com uma gargalhada. 
— Foi o que pensei. Gostou do peixe? 
— Peixe? — ela repetiu, confusa, baixando os olhos para o prato 
vazio. — Ah, sim, o peixe! Estava delicioso. 
Chase sacudiu a cabeça com ar benevolente. 
— Você comeu carne — lembrou-a. — Se eu tivesse pedido 
hambúrguer com batatas fritas, você teria adorado, também. 
Tasha não se importou com o fato de Chase estar se divertindo à 
sua custa. Naquela noite, só tinha olhos para ele. Nada mais 
importava. Tal pensamento trouxe consigo uma súbita ansiedade. 
— Chase, prometa jamais se esquecer de que eu te amo — pediu, 
um tanto aflita. 
— Está planejando ir a algum lugar? — ele inquiriu, franzindo o 
cenho. 
— Por que está me perguntando isso? 
— Porque você falou como se estivesse prestes a me deixar. 
Com um gesto apressado, Tasha pousou a mão sobre a dele. 
— Nunca! Eu não seria capaz de deixar você. A única maneira de 
se livrar de mim, seria você me mandar embora. 
Chase apertou a mão dela. 
— Fazer isso seria o mesmo que jogar fora a melhor parte de mim 
mesmo. Sei que me ama, Tasha. Nada vai me fazer esquecer disso. 
— Promete? 
— Prometo — ele respondeu em tom solene. 
— Deve pensar que sou uma idiota — ela murmurou com um 
sorriso maroto. 
— Acho você a mulher mais maravilhosa que já conheci e, quando 
puser a aliança no seu dedo, amanhã, serei o homem mais feliz do 
mundo — Chase declarou com voz emocionada, provocando um 
aperto no peito de Tasha. 
— E eu serei a mulher mais feliz do mundo. 
— Vamos dançar — ele convidou, puxando-a pela mão. 
Foram até o centro da sala e, com um suspiro de prazer, Tasha se 
deixou levar em passos lentos, acompanhando a música suave. Nunca 
em sua vida tivera a sensação de pertencer a alguém. Agora, sentia-se 
completa. 
Fechou os olhos, abandonando-se às carícias de Chase, que não 
tardaram a se tornarem mais ousadas, arrancando de Tasha suspiros e 
gemidos. 
Dançando de corpos colados, nenhum dos dois poderia disfarçar o 
desejo que os invadia. Com uma das mãos, Chase apertou Tasha 
contra si, enquanto com a outra, levava a mão dela aos lábios. 
Sentindo-se em chamas, ela perdeu a noção do tempo e tudo mais. Só 
queria ser tocada por Chase, sentir suas carícias diretamente na pele 
em brasa. Queria livrar-se das roupas que funcionavam como barreiras 
entre seus corpos. 
Chase, porém, parecia não ter pressa. Quando finalmente parou de 
beijar-lhe a mão, segurou-lhe o queixo com ternura, para beijar-lhe a 
boca. O que começou com um leve roçar de lábios, foi se 
transformando em um beijo ardente, um ataque implacável aos 
sentidos de Tasha. 
Quando Chase finalmente interrompeu o beijo, Tasha tremia de 
desejo e suas pernas ameaçavam vergar ao peso de seu corpo. 
Ofegantes, fitaram-se por um momento e, então, com um gemido 
abafado, Chase tomou-a nos braços. 
Tasha recuperou a sanidade por um momento. 
— Chase! Não! Lembre-se de que esteve no hospital... 
— Você vai ter de ser gentil comigo — ele murmurou com um 
sorriso, enquanto a carregava para o quarto. 
Depois de colocá-la no chão, ao lado da cama, ele tirou o paletó e a 
gravata, os sapatos e as meias. Porém, mal começara a desabotoar a 
camisa, quando não resistiu à tentação e, puxando-a para si, voltou a 
cobri-la de beijos. Ao mesmo tempo, seus dedos hábeis encontraram o 
zíper do vestido de Tasha e o abriram. 
Ao sentir a mão dele em sua pele, Tasha foi invadida pela 
necessidade urgente de tocá-lo da mesma forma. Assim, pôs-se a 
desabotoar-lhe a camisa, mas Chase segurou-lhe as mãos, sentou-se na 
beirada da cama e puxou-a, até que ela estivesse de pé, entre suas 
pernas. 
Atordoada, Tasha limitou-se a observar Chase, enquanto ele 
puxava lentamente o seu vestido para baixo. Quando ele enterrou o 
rosto entre as curvas de seus seios, ela pensou que fosse desmaiar de 
prazer. Atirando a cabeça para trás, os olhos fechados, ela enroscou os 
dedos nos cabelos dele, entregando-se a paixão. 
— Você é tão linda — Chase murmurou, ofegante. 
Então, deslizou as mãos até que elas pousassem sobre os seios de 
Tasha, proporcionando-lhe prazer ainda maior. E, quando ela pensava 
que não seria possível sentir nada mais intenso, os lábios de Chase 
substituíram as mãos e ela gritou o nome dele, sentindo-se flutuar em 
um oceano de fogo. 
Quando suas pernas finalmente se recusaram a sustentá-la, Tasha 
deixou-se cair de joelhos, pousando a cabeça no peito de Chase, 
aspirando-lhe o perfume. Então, incapaz de conter por mais tempo o 
desejo de tocá-lo, acabou de desabotoar-lhe a camisa para, então, 
livrá-lo do cintoe da calça. 
Suas mãos deram início a uma exploração detalhada do corpo 
másculo. Quando Chase emitiu um gemido quase doloroso de prazer, 
Tasha deliciou-se com a noção do poder que exercia sobre ele e suas 
carícias se tornaram mais intensas e ousadas. 
A paixão explodiu quando os dois se deixaram cair na cama, nos 
braços um do outro. Suspiros se transformaram em gemidos e, então, 
em súplicas desesperadas. Quando Chase finalmente se posicionou 
sobre ela, Tasha arqueou os quadris para recebê-lo. Ao senti-lo dentro 
de si, passou as pernas em torno de sua cintura, tornando-o seu 
prisioneiro, determinada a prendê-lo ali para sempre. 
A tensão foi aumentando, até se tornar insuportável, levando 
Tasha na direção de um ponto que ela pensou que jamais alcançaria. 
Porém, em uma explosão de paixão, ela se descobriu lá, no topo do 
mundo, um mundo onde só havia Chase, ela mesma, amor, desejo. O 
prazer foi tão intenso, que seus olhos se encheram de lágrimas. Apenas 
segundos depois, Chase também atingiu o clímax, e Tasha foi invadida 
por uma nova onda de satisfação, tão intensa quanto a anterior, por 
saber que estava proporcionando a ele o mesmo que ele havia lhe 
proporcionado. 
Algum tempo depois, quando recuperou o fôlego, Chase rolou para 
o lado e, aconchegando Tasha nos braços, afagou-lhe os cabelos. 
— Valeu a pena esperar — confessou —, embora, se eu soubesse 
que seria tão bom, já a teria levado para a cama muito antes. 
Só então Tasha se deu conta de que Chase jamais dormira com sua 
irmã. Nem sequer pensara nisso, antes, mas ficou contente com a 
descoberta. Não sabia por que Natalya havia esperado, pois não era 
esse o seu estilo. Talvez ela acreditasse que, assim, teria mais chances 
de segurá-lo. Bem, tanto fazia o motivo, pois o resultado fora favorável 
a Tasha. 
— Quem espera sempre alcança — ela brincou, sonolenta. 
— Você é maravilhosa — Chase sussurrou ao seu ouvido. 
— A verdade é que tive excelente fonte de inspiração, mas não vou 
dizer mais nada, para não provocar uma explosão do seu ego! 
— Você também é muito inspiradora. Ainda bem que não estou 
mais no hospital, pois minha pressão arterial teria superado todos os 
limites. 
— Se estivesse no hospital, nada disso teria acontecido. — Ao 
sentir a mão experiente debaixo do lençol, percorrendo caminhos de 
fogo em seu corpo, Tasha protestou: — Pare com isso! 
— Ora, não é o que você quer — ele afirmou com segurança, sem 
interromper as carícias. 
— Não, não é — Tasha admitiu, perdendo o fôlego ao sentir Chase 
mordiscar-lhe a orelha. 
— O que você estava dizendo? — ele provocou, com fingida 
inocência. 
— Já me esqueci — ela respondeu com voz entrecortada. — Tenho 
péssima memória. O que foi que aconteceu? 
— Ah, terei prazer em lembrá-la, com todos os detalhes! 
— Por favor, faça isso — Tasha pediu em um fio de voz. 
 
— Tem certeza de que tomou a decisão certa? — Annie perguntou, 
enquanto observava Tasha dar os toques finais na maquiagem. 
Era sexta-feira à tarde. Estavam no apartamento de Tasha, que se 
preparava para a cerimônia de casamento. 
— Eu o amo, Annie — Tasha respondeu com simplicidade, 
examinando o efeito do batom. 
Fizera uma maquiagem leve e simples, pois havia feito amor com 
Chase a noite inteira e dormido até quase a hora do almoço, quando 
fora despertada por ele para mais uma sessão de amor, antes de voltar 
ao seu apartamento para se arrumar. Assim, sua pele se apresentava 
viçosa e corada, dispensando a necessidade de artifícios. 
— Mas, se ele descobrir... — Annie deixou a frase interminada. 
— Chase não vai descobrir — Tasha declarou com firmeza. 
Parou diante do espelho para uma avaliação final de si mesma. 
Encontrara o vestido de seda em uma das lojas mais caras da cidade, 
mas como só pretendia se casar uma vez, decidira que o gasto valeria a 
pena. 
— Não posso deixar de pensar que você está cometendo um erro 
— Annie persistiu. 
Tasha apanhou a bolsa e verificou se tinha todos os documentos 
necessários consigo. Suas malas já haviam sido levadas para o 
aeroporto e o resto de seus pertences seria transportado depois, por 
uma empresa de mudança. Em menos de uma hora, ela passaria a ser a 
sra. Chase Calder. 
Virou-se para a amiga, que concordara em ser sua madrinha. 
— Talvez você tenha razão e eu esteja mesmo cometendo um erro, 
mas preciso fazer o que estou fazendo. Nunca tive tanta certeza sobre 
alguma coisa em minha vida. Acha que pode se sentir feliz por mim, 
Annie? 
— Ora, é claro que estou feliz por você! — Annie exclamou, 
abraçando a amiga com força. — Vou sentir sua falta. Só isso. 
Uma pesada batida na porta distraiu-as. 
— Ei, vocês duas! Vão demorar muito? Estou cansado de esperar! 
— Stevie berrou do outro lado, fazendo as duas caírem na risada. 
Tasha abriu a porta e girou em torno de si mesma. 
— O que acha Stevie? Estou bonita? 
— Uau! — foi a resposta do garoto, que parecia lindo na roupa 
nova comprada pela mãe, embora um tanto desconfortável. 
— Vamos torcer para Chase pensar o mesmo — Annie falou, 
empurrando o filho para a sala. 
Tasha lançou um último olhar para o lugar que fora seu lar nos 
últimos anos. Ela havia colocado muito amor e trabalho ali, mas sabia 
que não sentiria falta de sua vida. Agora, tudo o que realmente 
importava estava ligado a Chase. 
John Calder providenciara para que uma limusine a levasse para a 
igreja. Chegou cedo e, por pura superstição, pediu ao motorista que 
desse mais uma volta no quarteirão. Quando finalmente entrou na 
igreja e viu Chase no altar, à sua espera, a ansiedade de Tasha se 
dissipou. Amava aquele homem mais do que tudo na vida e jamais 
faria qualquer coisa que pudesse magoá-lo. Seria a melhor esposa com 
que ele pudesse sonhar, pois tinha a mais absoluta certeza de que seria 
capaz de fazê-lo feliz. 
Meia hora depois, estava de volta à luz do sol, e já não era mais 
Tasha Larsen, mas sim sra. Chase Calder. Como prova disso, carregava 
no dedo a aliança de ouro, idêntica à que Chase usava. 
Diante da porta da igreja, Chase fitou-a nos olhos e perguntou: 
— Está feliz, querida? 
— Muito feliz. 
Tasha jamais olharia para trás. Agora, tudo o que existia era o 
futuro. 
 
 
 
Foi com profundo prazer que Tasha observou o marido se 
movimentar pelo quarto. Olhar para Chase sempre fazia o sangue 
ferver em suas veias, estivesse ele nu, ou vestido. Usando um terno 
escuro, Chase parecia em excelente forma, mostrando que havia se 
recuperado por completo do acidente traumático que sofrera meses 
antes. Pronto para sair, ele se sentou na beirada da cama, ao lado de 
Tasha. 
— Se eu não tivesse de ir para o escritório, voltaria para a cama e 
ficaria com você — ele falou com um sorriso sedutor. 
— Posso tentar fazer você mudar de idéia? — Tasha provocou. 
— Você é uma ameaça! Sabe muito bem que vou estar pensando 
em você, quando deveria estar me dedicando ao trabalho. 
— Sei — ela admitiu. 
— Vou embora — ele declarou com firmeza, antes de beijá-la. Já na 
porta, Chase virou-se. — Não fique na cama por muito tempo. 
Ultimamente, você adquiriu o hábito de dormir até mais tarde a cada 
dia que passa. Não se esqueça de que também tem de cuidar dos seus 
negócios. 
Minutos depois, Tasha ouviu a porta da frente se fechar e seus 
lábios se curvaram em um sorriso malicioso. A felicidade ameaçava 
fazê-la explodir. Agora que Chase se fora, ela tinha o dia todo para 
colocar seu plano em prática. Não iria para o pequeno escritório de 
advocacia que abrira na cidadezinha mais próxima, logo depois de sua 
mudança para aquela casa. Tinha coisas muito mais importantes a 
fazer. Sua sócia, mãe de filhos já crescidos, concordara com prazer em 
cuidar dos negócios naquele dia. 
Rolou na cama e afundou o rosto no travesseiro de Chase, 
aspirando-lhe o perfume másculo. Pouco mais de uma hora antes, 
haviam feito amor com paixão. A iniciativa partira dela, mas ele não 
relutara em aceitar a provocação. Tasha dissera que aquele era seu 
presente de aniversário de casamento. Completavamoito meses de 
casados naquele dia. Oito meses da mais absoluta felicidade. 
Acertara em sua suposição de que seria capaz de fazê-lo feliz. 
Jamais se arrependeria do que havia feito porque Chase a amava tanto 
quanto era amado por ela. Naquela noite, quando Tasha desse a ele seu 
verdadeiro presente, a felicidade de ambos estaria completa. 
Excitada demais para continuar na cama, Tasha se levantou e foi 
tomar um banho. Não queria correr o risco de se atrasar para o 
compromisso das dez horas. Quando saiu do banheiro, tirou a toalha 
que envolvia seu corpo e parou diante do espelho. De perfil, pousou a 
mão no ventre, como se pudesse sentir a vida que se desenvolvia ali 
dentro. Uma vida que ainda não fora confirmada, mas que ela tinha a 
mais absoluta certeza de existir. Seus lábios se curvaram em um 
sorriso. Aquele seria o seu presente para Chase. Um bebê. Ele adoraria 
a notícia. 
Despertando de seus devaneios, Tasha olhou para o relógio e 
suspirou. Haviam descoberto aquela casa deliciosa, fora da cidade, 
perfeita para a família que ambos pretendiam formar, mas não muito 
conveniente no que dizia respeito a locomoção. A viagem até Boston 
podia se transformar em pesadelo, quando o trânsito estava mais 
denso. Se não se apressasse, acabaria se atrasando. Sem perder tempo, 
escolheu roupas práticas e se vestiu. 
Horas mais tarde, a gravidez confirmada e as mãos carregadas de 
sacolas de compras, Tasha voltou para casa. Havia dado folga a 
Madge, a empregada, pois pretendia preparar ela mesma o jantar. Não 
era má cozinheira, nem má dona de casa. Contratara Madge apenas 
por ter a tendência de se distrair com o trabalho e esquecer o relógio. 
Deixou as sacolas sobre o balcão da cozinha, o casaco e a bolsa 
sobre uma cadeira e preparou uma xícara de chá e algumas torradas. 
Depois de beber o chá, suspirou satisfeita. Tudo era perfeito. Sua vida 
era maravilhosa, uma prova que coisas boas podiam brotar de eventos 
ruins. Tasha fora aceita pelos amigos de Chase e, mais importante, 
pela família dele. Um sorriso brotou em seus lábios quando ela 
imaginou a reação de Elaine quando recebesse a boa notícia. 
Claro que teria de contar a Chase, em primeiro lugar. O que a fez 
olhar para o relógio e decidir iniciar o preparo do jantar. Decidira fazer 
os pratos prediletos de Chase, a fim de despertar-lhe a curiosidade, 
embora tivesse certeza de que ele não seria capaz de adivinhar a 
surpresa. Quando já estava tudo providenciado, a mesa posta e o vinho 
na geladeira, Tasha subiu para se arrumar. 
Chase costumava chegar em casa por volta das sete horas e ela já 
estava pronta bem antes disso. Decidira usar o vestido favorito de 
Chase, o mesmo que usara na noite anterior ao casamento, quando 
haviam feito amor pela primeira vez. Querendo que a noite fosse 
perfeita, ela se perfumara com todo cuidado. 
Tasha estava retirando o assado do forno, quando ouviu o carro de 
Chase entrar na garagem. Apressada, tirou o avental, apanhou dois 
copos e foi para a sala, a fim de recebê-lo. 
— Olá! Gostaria de um drinque refrescante ou de um beijo 
ardente? — ofereceu com um sorriso, assim que ele entrou. 
— Aceito ambos, mas na ordem inversa — ele respondeu, 
deixando a maleta ao lado da porta. 
Colocando os copos na mesa de centro, Tasha o abraçou e beijou. 
Foi um beijo longo e apaixonado, que deixou os dois ofegantes. 
— Acho que, agora, preciso daquele drinque — Tasha declarou, 
lânguida. 
— Podemos levar os copos para a cama — Chase sugeriu com 
malícia. 
Se já não tivesse outros planos, Tasha não teria hesitado em 
aceitar. 
— Não, não podemos. O jantar está quase pronto. Você só terá 
tempo para um banho rápido. 
Só então Chase reparou no vestido que ela usava e se mostrou 
surpreso. Então, viu a sala de jantar, iluminada apenas por velas. 
— Estamos comemorando alguma coisa? — perguntou, intrigado. 
— Não se preocupe, pois você não se esqueceu do meu aniversário, 
ou qualquer coisa parecida. Como hoje fazemos oito meses de casados, 
achei que seria boa idéia partilharmos um jantar especial. Preparei 
todos os seus pratos prediletos. 
— Oito meses! Parece uma eternidade. 
— Uma eternidade boa ou ruim? 
Ele sorriu. 
— O que você acha? 
— Acho melhor se apressar, ou vai acabar jantando comida fria! 
Ainda sorrindo, Chase subiu a escada. Quando voltou a descer, a 
comida já estava na mesa. Ele abriu o vinho e serviu dois copos. 
— À esposa mais linda do mundo — brindou. 
— Ao marido mais lindo — Tasha replicou, erguendo também o 
seu copo. 
O jantar foi perfeito e quando tomavam café, Tasha finalmente 
trouxe à tona o verdadeiro motivo da noite especial. 
— A propósito, vamos ter de chamar os decoradores novamente — 
comentou em tom casual. 
Chase franziu o cenho. 
— Por quê? Você disse que a casa estava perfeita. 
— Não gosto das cores do quarto menor. 
Chase fitou-a, incrédulo. 
— Está falando do quarto que você demorou um mês inteiro para 
decidir que tom de verde ficaria melhor nas paredes? 
Ela corou. 
— Exatamente. Foi o que fiz, mas agora, não está bom. 
Chase respirou fundo. 
— E que cor gostaria de usar, agora? — perguntou, com paciência 
admirável. 
— Rosa ou azul. 
— Não acha melhor decidir antes de chamar os decoradores? Do 
contrário, vou acabar defendendo um deles por homicídio! — ele 
declarou com sarcasmo. 
Tasha teve de fazer um grande esforço para não rir. 
— Como posso decidir, se ainda não sei o que vai ser? — 
argumentou. 
— Como não sabe o que vai ser? 
— Não se trata do quê, mas de quem. Não sei se será menino ou 
menina. 
A mensagem foi finalmente recebida. A expressão de Chase passou 
de choque para alegria e, então, para emoção profunda. 
— Está tentando me dizer que está esperando um filho? — 
perguntou com um sorriso e, ao mesmo tempo, lágrimas nos olhos. 
Quando Tasha assentiu, ele lhe estendeu a mão. 
— Venha cá — ordenou e foi obedecido de pronto. Com Tasha 
sentada em seu colo, acusou: — Por que não me contou de uma vez? 
— Não sabia se você ia gostar da notícia. Nunca discutimos 
quando pretendíamos ter um bebê. 
— Como eu poderia não gostar? Meu Deus, um filho! Tem certeza? 
— Tive a confirmação hoje. 
— Então, é por isso que tem ficado na cama até mais tarde. Não me 
diga que tem tido enjôos e eu nem percebi! 
Tasha sabia que ele ficaria cheio de remorso se ela houvesse se 
sentido mal e ele não houvesse percebido. 
— Não — garantiu. — Não tive enjôos, somente algumas náuseas 
passageiras. Quanto aos decoradores, foi apenas uma brincadeira. Se 
você não se importar, desta vez, gostaria de cuidar eu mesma da 
decoração. 
— Só se eu puder ajudar. 
— É bom em decoração? 
— Não faço idéia, mas descobriremos logo. Agora, sra. Calder, 
estaria interessada em fazer amor comigo? 
Ela sorriu, já sentindo os efeitos hipnóticos daqueles magníficos 
olhos cinzentos. 
— É bom nisso? 
— Se você está grávida, devo estar fazendo alguma coisa direito. 
Vamos verificar a questão — Chase sugeriu e, tomando-a nos braços, 
levou-a para o quarto. 
Nos dias seguintes, riram muito e fizeram muitos planos para o 
bebê. Chase desenvolveu a tendência de tratar Tasha como se ela fosse 
uma boneca de porcelana, mas ela se irritou com isso e disse que 
acabaria atirando alguma coisa nele, caso a situação continuasse. A 
partir de então, a vida voltou ao normal. O escritório de Tasha 
começava a atrair uma boa clientela. Assim, ela passava seus dias 
ocupada e só chegava em casa pouco antes de Chase. Uma vez 
informada sobre a gravidez da patroa, Madge passou a garantir que 
haveria uma refeição saudável todas as noites. 
Na quinta-feira seguinte, Tasha chegou mais tarde que o normal. 
Deixou a maleta e o casaco no hall de entrada, foi até a cozinha a fim 
de verificar o que Madge deixara pronto para o jantar e, então, pôs-se 
a examinar a correspondência. Quando ouviu a porta da frente se 
abrir, largou tudo para receber Chase. 
— Olá! Como foi o seu dia? — cumprimentou-o, passando os 
braços em torno da cintura dele, como de costume.Porém, 
surpreendeu-se ao senti-lo tenso e concluiu que algo saíra errado no 
trabalho. — Algo errado, querido? — perguntou, pronta para ouvir 
sobre o problema oferecer o apoio necessário. 
Um brilho estranho iluminou os olhos de Chase por um momento, 
antes que ele passasse os braços em torno de Tasha. 
— O que poderia estar errado, querida? — perguntou com voz fria 
e a beijou de maneira rude, confirmando as suspeitas dela. 
Alarmada, Tasha se afastou para fitá-lo. Por que ele a observava 
com aquela expressão desconfiada? 
— Como posso saber, se você não me contar? — retrucou. 
— Como alguém pode saber de qualquer coisa? Meus amigos 
costumam dizer que tenho tudo o que um homem poderia sonhar. 
Uma bela casa e uma esposa lindíssima, que me ama. — Estudou-a 
com aquele olhar frio, que ela nunca vira antes. — Você me ama, não é 
mesmo, Tasha? 
— É claro que eu te amo. Você sabe disso — ela confirmou, 
ficando ainda mais tensa quando ele a libertou com um movimento 
brusco. — Pelo amor de Deus, Chase, o que aconteceu? 
— O que aconteceu? Conheci um cliente em potencial, só isso — 
Chase informou-a com uma risada amarga, antes de se servir de uma 
dose de uísque. 
Ora, não havia nada de anormal em conhecer um novo cliente, 
especialmente para o presidente de uma grande firma de advocacia. 
— Esse cliente tem nome? — Tasha perguntou, tentando 
encontrar alguma pista. 
— Claro. George Terlow. 
— Terlow? Acho que não o conheço. 
— Não, a menos que tenha conhecidos no mundo cinematográfico. 
Ele é dono de uma produtora de filmes. Estava viajando com a esposa, 
visitando nossa região, quando um problema surgiu e ele foi me 
procurar, a fim de esclarecer algumas questões legais. 
— Compreendo — Tasha murmurou, sem entender 
absolutamente nada. 
— Tem certeza? — Chase inquiriu com sarcasmo, mas antes que 
ela pudesse reagir, acrescentou: — A propósito, é melhor você colocar 
mas dois pratos na mesa, pois teremos visitas para o jantar. 
— Visitas? 
Chase sorriu, embora o sorriso não alcançasse seus olhos. 
— George Terlow e a esposa. Achei que você gostaria de conhecê-
los e, por isso, convidei-os para jantar. — Ouviram o som de um carro 
estacionando diante da casa. — Ah! Devem ser eles. 
Simplesmente não havia tempo para forçar Chase a contar o que 
estava se passando. Assim, Tasha correu para a sala de jantar e 
arrumou mais dois lugares na mesa, antes de se dirigir à cozinha. 
Madge deixara apenas bolo de carne e verduras e só restava rezar para 
que os convidados gostassem da comida, que não era muita. 
Amaldiçoou Chase por não ter avisado Madge. Como não poderia 
fazer nada a respeito, voltou para a sala, a fim de conhecer os 
convidados. 
— Ah, aí está você, querida — Chase falou, ao vê-la. — Gostaria de 
apresentá-la a George Terlow — apresentou-a com um sorriso largo. 
Tasha apertou a mão do homem roliço, de baixa estatura, com seus 
sessenta e poucos anos, que a fitava como se estivesse diante de um 
fantasma. 
— E esta é a esposa dele — Chase acrescentou, apontando para o 
sofá —, Natasha. 
Esse foi o único aviso que Tasha recebeu. Esperava se ver diante de 
uma mulher mais velha, mas a que estava confortavelmente sentada 
em seu sofá, usando um vestido colado ao corpo que certamente 
custara algumas centenas de dólares, era a última pessoa que Tasha 
esperava, ou queria ver. A palidez tomou conta de suas faces. O 
mundo que ela julgara perfeito naquela manhã começou a ruir à sua 
volta. 
Natalya mostrou-se tão surpresa quanto ela. 
— Tasha! — exclamou, empertigando-se, antes de lançar um olhar 
de acusação para Chase. — Você não me disse que estava casado com 
Tasha! 
Em meio ao clima tenso, a voz de George Terlow soou fascinada: 
— Gêmeas! Meu Deus, vocês são gêmeas! 
— E, aparentemente, ambas se chamam Natasha — Chase 
comentou em tom divertido, embora Tasha só precisasse de um olhar 
para saber que ele estava furioso. 
Tasha fechou os olhos, jurando não sucumbir ao horror gelado que 
tomara conta de seu coração. Então, aproximou-se da irmã, que pela 
primeira vez na vida parecia incerta sobre como agir, e beijou-a de leve 
no rosto. 
— Eu sou Natasha. Esta é Natalya, minha irmã. Ela sempre gostou 
mais do meu nome — explicou aos dois homens. 
— Ora, mas como é possível distinguir uma da outra? — George 
Terlow perguntou, ainda boquiaberto. 
— Pelo comprimento dos cabelos — Chase respondeu com um 
sorriso gelado. — Não é, querida? 
Aparentemente, Terlow não se deu conta da tensão que pairava no 
ar e, com uma risada divertida, falou: 
— Tem razão! Não fossem os cabelos, seria impossível saber quem 
é quem. Se uma dela disser que é a outra, como seria possível discutir? 
— Ah, não seria — Chase replicou com sarcasmo. 
— Vou providenciar o jantar — Tasha murmurou com voz fraca e 
desapareceu na cozinha. 
Apoiou-se na beirada da pia, pois precisava de suporte para as 
pernas trêmulas. Chase sabia de tudo, pensou, sentindo um doloroso 
aperto no peito. A premeditação com que convidara Natalya para 
jantar deixava claro que sua intenção fora de punir Tasha. 
— Que diabos está acontecendo aqui, afinal? — Natalya inquiriu 
da porta, provocando um sobressalto em Tasha. 
— Pensei que estivesse óbvio — Tasha respondeu, percebendo que 
a irmã havia recuperado a compostura e não gostava nem um pouco do 
que via à sua volta. 
Com as mãos na cintura, Natalya fitou a irmã com olhar acusador. 
— Qual foi o objetivo de tanto mistério? 
— Chase só queria me dizer que sabia que eu não era você. 
— Ora, é claro que você e eu somos duas pessoas e... Espere um 
pouco! Você não contou a ele! Fingiu que era eu! Não é de admirar que 
Chase tenha agido de maneira tão estranha, hoje à tarde. Eu esperava 
que ele fosse ficar furioso. Afinal, eu o abandonei no hospital. Mas ele 
ficou chocado porque não fazia idéia de que somos duas pessoas! — 
Natalya soltou uma risada. — E eu, pensando que ele estava sendo tão 
generoso ao nos convidar para jantar! Sabendo que Chase estava 
casado, concluí que havia me perdoado. E a verdade é que, todo esse 
tempo, ele acreditou estar casado comigo! 
Tasha se forçou a se afastar da pia, para retirar a comida do forno. 
— Se tudo o que você sabe fazer é zombar da situação, por favor, 
volte para a sala — falou. 
Natalya limitou-se a sacudir a cabeça. 
— Quem diria, srta. Boazinha! Duvido que vai conseguir sair dessa 
com um tostão no bolso! 
Levada muito além de seus limites, Tasha bateu a porta do forno 
com força e virou-se para a irmã. 
— Não quero o dinheiro dele! Às vezes, você me dá nojo! 
Apoiando-se no balcão, Natalya sorriu com fingida simpatia. 
— Ah, mas eu acredito que você esteja mesmo apaixonada por ele. 
Por isso mesmo deveria ter contado a verdade, irmãzinha. Sabe que ele 
não vai perdoá-la, não sabe? 
Era só do que Tasha tinha medo. 
— Cale a boca! Pelo amor de Deus, cale a boca! — gritou. 
— Algum problema? — Chase perguntou da porta, fazendo as 
duas virarem para fitá-lo. 
— Não, problema nenhum — Tasha respondeu com voz rouca. 
Queria estar sozinha com ele, para poder explicar, mas Chase 
garantira que nada fosse fácil para ela. — O jantar está pronto. 
As poucas horas seguintes foram as piores da vida de Tasha. 
Simpático, Chase agiu como o melhor dos anfitriões, tratando os 
convidados como se estivesse tudo bem. E, para eles, tudo estava 
mesmo bem, inclusive para Natalya. Tasha sabia que, quando eles 
partissem, a fúria de Chase estaria reservada somente para ela. Por 
mais que tentasse, não conseguiu comer e, pelo bem do bebê, bebeu 
apenas um copo de vinho. 
Desapercebida do desprezo nos olhos de Chase, Natalya se 
mostrava feliz e satisfeita, pois sabia que nada aconteceria a ela. 
Tasha, por outro lado, sabia que o marido a comparava à irmã, algo 
que ela sempre temera. Afinal, era evidente que Natalya não passava 
de uma caçadora de fortuna, pois uma mulher jovem não se casaria 
com um homem como George Terlow por qualquer outra razão. 
Foi um alívio quando George anunciou que precisavamir embora. 
Chase acompanhou-os até o carro, mas Tasha permaneceu na porta. 
Quando se afastaram, ela entrou e ficou parada no meio da sala, sem 
saber ao certo o que fazer. 
— Finalmente a sós! — Chase exclamou com sarcasmo, ao entrar. 
— O que você fez foi horrível — Tasha murmurou, infeliz. 
— Ora, minha doce e amada esposa, acreditou mesmo que eu 
jamais descobriria? 
— Chase, por favor... 
— Fiz uma pergunta, Tasha! Achou que eu jamais descobriria? 
Ela baixou os olhos para o chão e respondeu em um sussurro: 
— Sim. 
Chase respirou fundo, como se precisasse de um esforço enorme 
para se controlar. 
— Como pude pensar que conhecia você? Simplesmente não sei 
quem você é! 
— Não é verdade — ela protestou, desesperada. — Sabe tudo 
sobre mim. 
Ele soltou uma risada amarga. 
— A única coisa que sei com certeza, minha querida esposa, é que 
você é uma grande mentirosa. 
— Só menti uma vez porque achei que não suportaria que você me 
olhasse como está me olhando agora — ela confessou, sentindo as 
lágrimas arderem em seus olhos. 
Chase estudou-a por um longo e doloroso momento. 
— E como estou olhando para você, Tasha? 
Ela sustentou-lhe o olhar. 
— Com desprezo. 
Os lábios dele se curvaram no mais puro cinismo. 
— Vejo que é muito perceptiva. 
Tasha sentiu o corpo gelar. 
— Chase, por favor, não faça isso. Deixe-me explicar — implorou. 
— E o que você tem a explicar, meu amor? Que você e sua irmã são 
duas caçadoras de fortuna? Não sei qual das duas é pior. Ela é tão 
interesseira, que não suportou a idéia de se ver presa a um aleijado. 
Você, ao contrário, decidiu que valia a pena correr o risco. 
— Não foi nada disso! 
— O que foi, então, Tasha? Conte-me. Estou ansioso para ouvir. 
Tasha foi atingida pela frieza de Chase como se ele a houvesse 
golpeado. 
— É verdade que Natalya pretendia se casar com você pelo seu 
dinheiro, mas não foi o mesmo comigo! 
Ele ergueu uma sobrancelha. 
— Não? Imagino que vá me dizer que bastou você olhar para mim 
para ficar perdidamente apaixonada. 
O coração de Tasha se apertou. 
— Foi exatamente o que aconteceu. 
— Espera que eu acredite em você? Se é capaz de mentir sobre a 
própria família, só me resta perguntar que outro tipo de mentira você 
seria capaz de inventar. 
Tasha ficou petrificada. 
— Eu jamais poderia mentir sobre o meu amor por você — 
insistiu. 
— Verdade? Mas mentiu com tanta facilidade sobre sua irmã! 
Disse que vocês não se davam bem, que você não sabia por onde ela 
andava. 
— Não foi mentira! Natalya sabe que não aprovo seu estilo de vida. 
— Diz isso como se casar com um homem, fingindo ser outra 
pessoa fosse um comportamento perfeitamente aceitáVel! 
— Sei que errei, mas tive medo de perder você! 
— Teve medo de perder o seu sustento? 
— Não! Será que não compreende? Eu me apaixonei por você e 
sabia que se contasse a verdade sobre Natalya, você passaria a odiá-
la... e odiaria qualquer pessoa que o fizesse lembrar dela. Quando 
olhasse para mim, não veria a pessoa que realmente sou. 
— Por isso, você decidiu se passar por ela, para poder ficar comigo. 
Ah, ele fazia tudo parecer tão sórdido! 
— Não foi assim que tudo começou. Eu pretendia contar a verdade 
a você quando estivesse em condições de ouvi-la. Não me importava 
que as outras pessoas pensassem que eu era minha irmã. Mas, então, 
descobri que estava apaixonada por você e achei que se esperasse, 
você passaria a me conhecer melhor. — Fitou-o com olhar de súplica. 
— E foi o que aconteceu, Chase. Você percebeu a diferença. A mulher 
que você conheceu antes do acidente não era a mesma que você 
encontrou depois. Você se apaixonou por essa mulher... por mim! 
— E por que não me contou, então? — ele inquiriu, sem negar que 
se apaixonara por ela, mas se recusando a lhe oferecer qualquer tipo de 
conforto. 
— Porque não achei que seria importante. Eu o amava e você me 
amava! 
— Por que correr o risco, quando a situação era tão cômoda e 
conveniente? — Chase completou com desprezo, partindo o coração 
de Tasha. 
Naquele momento, ela se deu conta da dura realidade: ele jamais a 
perdoaria. 
— Magoei você. Nunca tive a intenção de fazer isso. Minha única 
desculpa é que te amo muito — murmurou, sentindo a garganta se 
fechar com as lágrimas contidas. 
Chase aproximou-se e segurou-lhe o queixo, forçando-a a encará-
lo. 
— Você não me ama, Tasha. Nem sequer conhece o significado 
dessa palavra. 
— Não é verdade! Eu te amo! 
— Não. Você me deseja. Não posso negar a paixão que sente por 
mim, mas isso não é amor. Quem ama não faz o que você fez. Você 
tirou de mim a liberdade de escolha. 
O desespero ameaçou cegá-la, à medida que Tasha via o que fizera, 
pela primeira vez, do ponto de vista de Chase. Só então se deu conta 
da gravidade do erro que cometera. Só lhe restava tentar fazê-lo ouvir 
e compreender suas razões. 
— Conheço muito bem o significado da palavra "amor". Amar é me 
sentir só metade viva, quando você não está comigo. É a alegria que 
sinto ao ouvir o som da sua voz, ao ver o calor do seu sorriso. É sofrer 
quando você sofre. Amar é saber que não quero estar em lugar 
nenhum, que não seja ao seu lado — declarou com voz embargada pela 
emoção. 
— Mesmo sabendo que sinto desprezo por você? 
— Mesmo assim, pois sei que você me ama. 
Chase deu-lhe as costas e foi até a janela. 
— Amo? Como pode existir amor onde não há confiança? Não 
confio mais em você, Tasha. Não sei se voltarei a confiar algum dia. 
Aquelas palavras atingiram Tasha como um golpe físico e, com um 
gesto instintivo, ela levou a mão protetora ao ventre. 
— Está querendo me dizer que quer o divórcio? — conseguiu 
perguntar. 
Chase voltou a encará-la, mas foi com expressão amarga. 
— Essa foi a primeira idéia que me ocorreu. Queria me ver o mais 
longe possível de você, mas, então, pensei no bebê. 
A sala pareceu girar e, por um momento, Tasha acreditou que fosse 
desmaiar. 
— Está pensando em tirar o bebê de mim? — inquiriu, incrédula. 
— Meu Deus! Acha mesmo que eu seria capaz de fazer uma coisa 
dessa? — Chase retrucou, chocado. 
— Desculpe, eu... 
— Simplesmente, acredito que uma criança precisa do pai e da 
mãe — ele a interrompeu. 
— Acha que devemos ficar juntos pelo bem do nosso filho? 
— Não tenho a menor intenção de abrir mão do meu filho. Lutarei 
por ele, se for necessário. 
— E quanto a mim? 
Tasha sabia que, se tivessem de recorrer ao tribunal, suas chances 
de ficar com a criança eram muito maiores, mas ela não queria criar 
mais problemas com Chase. 
— Tenho plena consciência de que se quiser ter o meu filho perto 
de mim, terei de ficar com você. Estou preparado para isso, mas será 
um casamento de aparências, nada mais. Você terá tudo o que 
precisar. Pode ter certeza de que seu sustento estará garantido. Dê o 
seu preço e eu pagarei, sem discutir, mas terá de ficar aqui, como o 
bebê. Na minha opinião, trata-se de uma troca justa: um cheque em 
branco pelo meu filho. 
Tasha sabia que deveria atirar o insulto de volta. O que ele estava 
propondo não era uma verdadeira escolha. Se partisse, Tasha mal o 
veria. Se ficasse, estaria se condenando a uma vida infeliz. 
— Não precisa se decidir agora — Chase declarou, voltando a 
olhar pela janela. — Pode me dar a sua resposta amanhã. 
— Vou ficar — Tasha respondeu sem pensar. 
Então, perguntou-se se havia enlouquecido. Ficar seria o mesmo 
que pedir para ser magoada a cada minuto. Porém, não via saída. Não 
queria levar o bebê e perder Chase. Queria os dois. 
— Eu já esperava essa resposta — Chase admitiu. — Levarei 
minhas coisas para o quarto de hóspedes — anunciou, já subindo a 
escada. 
Tasha deixou-se cair em uma poltrona. Todo o seu corpo tremia 
em conseqüência de tantos choques recebidos em uma só noite. Era 
como se estivesse vivendo um terrível pesadelo. A diferença era que ela 
sabia que não ia acordar. Ainda assim, apesar da dor que tomara conta 
de seu coração, ela ainda contava com um fio de esperança. Afinal, em 
momento algum, Chase negaraque ainda a amava. 
Sabia que o magoara demais e, por isso, ele perdera a confiança 
nela. Um casamento se construía sobre a confiança. Tasha não sabia se 
algum dia recuperaria o que perdera, mas tinha de tentar. Amava 
Chase demais para, simplesmente, desistir. Mesmo sem saber o que 
viria a seguir, só lhe restava ficar e lutar. A alternativa era dolorosa 
demais para ser sequer considerada. 
 
 
 
Nos dias que se seguiram, Chase provou que falara sério naquela 
noite fatídica. Tasha mal o via. Ele dormia no quarto de hóspedes e 
saía muito cedo, antes que ela acordasse. 
Em conseqüência, Tasha perdeu o apetite, mas tinha de se forçar a 
comer, pelo bem do bebê. Para piorar suas condições, os enjôos 
atacaram com força total. Nunca antes se sentira tão sozinha. 
Chase chegava tarde todas as noites, tendo jantado fora, e se 
trancava no escritório. Nas raras vezes em que se encontravam pela 
casa, ele era educado, mas muito frio e distante. Tasha não se atrevia a 
reclamar pois sabia que ele tinha o direito de estar furioso com ela. 
Apenas uma vez, Tasha tentou atravessar aquela barreira. Chase 
havia adquirido o hábito de jamais trabalhar aos domingos, quando os 
dois sempre faziam algo juntos. Embora ela não esperasse um 
domingo normal, também não esperava que ele se fechasse no 
escritório o dia todo. Podia compreender por que ele se esforçava 
tanto para evitá-la, mas ficou sinceramente preocupada, pois tal 
atitude poderia deixá-lo doente. Assim, tomou coragem e entrou no 
escritório. 
— Você tem trabalhado demais, Chase. Há um documentário na 
televisão que vai interessá-lo. Por que não vem assistir comigo? — 
sugeriu, esperançosa. 
— Tenho muito o que fazer — ele respondeu, sem tirar os olhos do 
papel sobre a mesa. 
— Será que não pode sequer se sentar ao meu lado? — ela falou, 
sentindo a ameaça das lágrimas que, devido à gravidez, pareciam 
sempre prontas a atacá-la. — Sinto a sua falta. 
— Não me lembro de nenhum voto no nosso casamento, dizendo 
que eu seria obrigado a lhe fazer companhia — ele replicou com frieza. 
— Ao menos, pare de trabalhar. Estou preocupada com você. 
— Não precisa se preocupar. Está isenta de qualquer 
responsabilidade pela minha saúde. 
— Não venha me dizer que não tenho o direito de me preocupar! 
— ela explodiu. 
Chase finalmente ergueu os olhos. 
— Pensei que não quisesse. 
— Pois pensou errado! Por quanto tempo ainda isso vai continuar? 
— Fui bem claro quando expliquei como seria o nosso casamento, 
Tasha. Você aceitou ficar, assim mesmo. Se o meu dinheiro não é 
companhia suficiente para você, o problema é seu, não meu. Agora, se 
me der licença, preciso trabalhar. 
Sentindo-se impotente, ela saiu do escritório e bateu a porta atrás 
de si. 
Depois disso, não voltou a tentar, pois descobriu que ainda lhe 
restava algum orgulho e amor próprio. 
Madge percebeu as refeições solitárias da patroa, bem como o uso 
do quarto de hóspedes, mas não disse nada, até a quinta-feira seguinte, 
quando Tasha chegou mais cedo em casa. 
— Está ficando muito abatida, menina — Madge declarou em tom 
maternal. 
— São as "alegrias" da gravidez — Tasha brincou, tentando 
atribuir a palidez e a perda de peso às náuseas. 
— Chase telefonou, avisando que vai jantar fora — a empregada 
acrescentou. — Na minha opinião, alguém deveria meter um pouco de 
bom senso na cabeça de vocês dois. Esse clima tenso não faz bem ao 
bebê. 
Tasha sabia disso e se preocupava. 
— Diga isso a Chase. Ele não está falando comigo. 
— Eu disse, mas ele me mandou cuidar da minha própria vida — 
Madge informou, ofendida. 
— Sinto muito, Madge. Chase tem trabalhado demais e acho que 
isso está afetando seu humor. 
— Sei muito bem o que está afetando o humor dele — Madge 
retrucou. — Se tiveram uma briga, trate de fazer as pazes. 
— Não é tão simples. 
— Nunca é, mas vocês se amam. Qualquer cego pode enxergar 
isso! Até outro dia, eram o casal mais feliz que já vi. Seria uma grande 
estupidez deixar que uma briguinha qualquer destrua isso! 
As palavras provocaram um nó na garganta de Tasha. 
— Bem, pode-se dizer que estamos atravessando uma fase ruim, 
Madge, mas eu gostaria de não discutir o assunto, agora. 
Naquele momento, o telefone tocou e Tasha foi atender na sala. 
— Tasha? Como vão você e o meu neto? — Elaine perguntou, 
animada. 
O som da voz amigável foi reconfortante. 
— Estamos muito bem — Tasha respondeu com um sorriso 
genuíno. 
— Chase estava preocupado com os enjôos que você tem tido. 
— Verdade? — Tasha inquiriu, surpresa. 
— Ah, sim. Ele me telefonou do trabalho, um dia desses, só para 
me perguntar se havia algo que ele pudesse fazer por você. 
Tasha não sabia o que dizer. Chase vinha agindo com tanta 
distância e frieza que ela mal podia acreditar que ele se preocupava 
com o seu bem-estar. 
— Ele não me disse nada. 
Elaine riu. 
— Ora, você sabe como são os homens! Detestam admitir suas 
fraquezas. 
Sim, Tasha pensou, e ela jamais descobriria se a sogra não houvesse 
revelado o segredo. Bem, ali estava mais um sinal para manter acesa a 
chama da esperança. 
Depois de sugerir várias receitas caseiras para os enjôos, Elaine 
mencionou o verdadeiro motivo do telefonema: 
— Só queria lembrá-los da festa de noivado de Evan e Isobel, no 
próximo sábado. Não se esqueça de que vocês prometeram ficar aqui 
por uns dias. 
Tasha havia se esquecido, mas sabia que seria impossível cancelar 
a viagem. 
— Não se preocupe, Elaine. Estaremos aí — garantiu, sabendo que 
não havia outra resposta a dar. — Provavelmente, iremos amanhã à 
noite. 
— Estaremos esperando, querida. Agora, preciso desligar, pois 
ainda temos muito o que providenciar para sábado. Dê um beijo em 
Chase por mim. Até logo. 
Tasha desligou, calculando que Chase também havia se esquecido. 
Nos últimos dias, nenhum dos dois tivera cabeça para pensar em 
festas. Teria de falar com ele a respeito, só não sabia como. 
Telefonou para o escritório, mas foi informada de que ele passara a 
tarde no tribunal e ainda não regressara. Deixou um recado para que 
ele ligasse para casa, mas o telefone permaneceu em silêncio por toda a 
noite. Cansada de esperar, Tasha foi se deitar. Estava lendo, quando 
ouviu o carro dele na garagem. Saiu da cama, vestiu um robe e desceu a 
escada. 
Ao vê-la, Chase franziu o cenho. 
— O que está fazendo acordada, Tasha? Está se sentindo mal? 
O tom preocupado da voz dele animou o espírito de Tasha. 
— Não, eu estou bem, 
— Então, por que está acordada a esta hora? Ah, deixe-me 
adivinhar. Decidiu me lembrar do que estou perdendo — ele falou com 
ironia. 
— Eu não faria algo que pudesse me condenar ainda mais diante 
dos seus olhos — ela respondeu, lutando para manter a compostura. 
— A necessidade pode superar o bom senso — ele sugeriu com um 
sorriso malicioso. 
Tasha respirou fundo, resistindo ao impulso de esbofeteá-lo. 
— Tenho mais amor próprio do que você imagina. Estou aqui 
porque preciso conversar com você. Deixei um recado no escritório. 
Devia ter me ligado. 
— Não voltei para o escritório e, no que me diz respeito, não temos 
nada a conversar. 
Tasha cruzou os braços, a fim de esconder o tremor em suas mãos. 
— Tenho consciência de que você abomina a minha companhia. 
Acredite, eu não o teria esperado, se não fosse absolutamente 
necessário. Prometo não tomar muito do seu precioso tempo — 
declarou, salvando ao menos parte de seu orgulho. 
Chase não se abalou. 
— Seja o que for que tem a dizer, terá de esperar — anunciou. 
— Esperar até quando? Você sai de casa quando ainda estou 
dormindo e só volta depois que já fui me deitar. 
— Tenho estado ocupado com um julgamento difícil. 
— Tem feito o possível para me evitar. Do que tem medo? O que 
acha que vou fazer? Chase, por favor, as coisas não precisam ser assim, 
entre nós. 
— Não tenho tempo a perder, Tasha. Diga logo o que quer me 
dizer — ele ordenou, implacável. 
— Muito bem. Sua mãe telefonou para nos lembrar que estão à 
nossa espera, neste fim de semana. Prometemospassar alguns dias lá, 
lembra-se? 
Como Tasha adivinhara antes, Chase havia se esquecido do 
compromisso. 
— Não poderei ir. Telefone para mamãe e cancele tudo. 
— Não podemos! — ela protestou. — A festa de noivado do seu 
irmão será no sábado. 
— Droga! — Chase praguejou e passou a mão pelos cabelos. 
Diante do gesto familiar, Tasha foi invadida por um desejo 
profundo de abraçá-lo, mas sabia que seria rejeitada, se tentasse 
sequer se aproximar. 
— Temos de ir — argumentou —, a menos que você esteja 
disposto a explicar a todos o que está acontecendo. 
Chase lançou-lhe um olhar ameaçador e, então, suspirou. 
— Vá com o carro, amanhã. Pegarei o trem, no sábado — decidiu. 
— Não suporta sequer viajar no mesmo carro comigo? — Tasha 
inquiriu, magoada. 
Como sentia as lágrimas encherem seus olhos, deu meia-volta e se 
dirigiu para a escada, pois não pretendia deixar que Chase a visse 
descontrolada. Porém, seu pé enroscou no robe e ela caiu no chão com 
um grito abafado. 
No mesmo instante, Chase estava ajoelhado a seu lado, ajudando-a 
a se levantar. 
— Você está bem? — ele perguntou, preocupado. 
— Acho que sim. 
Por um momento, seus olhos se encontraram e Tasha confirmou, 
com uma pontada de alegria, que Chase ainda a amava. 
Como se lesse os pensamentos dela, ele tratou de se afastar. 
— Antes que você quebre uma perna — falou, tenso —, tenho uma 
testemunha para entrevistar no sábado de manhã. Trata-se de um 
depoimento vital para o caso que estou defendendo e, infelizmente, 
não posso adiar o encontro pois ele é capaz de desaparecer. Foi por 
isso que sugeri que você leve o carro, amanhã e que eu vá de trem, no 
sábado. 
Bastou um olhar para Tasha verificar que ele dizia a verdade. 
— Está bem. Quer que eu arrume sua mala? 
— Ficarei muito grato se puder fazer isso. 
— Não precisa agradecer, pois é o tipo de coisa que uma esposa 
deve fazer, naturalmente, pelo marido. 
— Nós estamos muito longe de ser um casal convencional — 
Chase lembrou-a, readquirindo a frieza. — E, já que estamos falando 
sobre isso, tenho confiança de que você não vai comentar nossos 
problemas com meus pais. 
Embora soubesse ser ela mesma a culpada por aquela situação, 
Tasha não conseguia evitar a mágoa. 
— Vamos brincar de família feliz? — indagou, irônica. — Confia 
em mim, para isso? 
— Confio no seu bom senso para saber o tipo de conseqüências 
que pode enfrentar, depois. 
— Quantas vezes vou ter de lembrá-lo de que não quero o seu 
dinheiro? Eu só quero você! 
Cansada e desolada, Tasha começou a subir a escada. 
— Tasha — Chase chamou. 
— Estou cansada, Chase. 
— Só queria perguntar se você comprou um presente de noivado 
para Evan. 
— Não. Quer que eu providencie algo, amanhã? Ou prefere cuidar 
disso, você mesmo? 
— Pode comprar. Confio no seu julgamento. 
Chase falou com tamanha naturalidade, que Tasha desejou 
ardentemente que ele pudesse confiar com a mesma facilidade no 
amor que ela sentia. 
— Está bem — concordou e foi para o quarto. 
Deitada na cama, foi invadida por uma dor profunda, que nem 
sequer lhe permitia chorar. O futuro parecia negro. Chase jamais 
admitiria que ainda a amava. Tasha concordara em ficar, por acreditar 
que seria capaz de atravessar a barreira imposta por ele e conseguir o 
seu perdão. Agora, porém, já não tinha certeza. 
No dia seguinte, ainda sofrendo com a possibilidade de jamais 
recuperar a sua felicidade, Tasha comprou um presente de noivado 
para Evan e dirigiu até a casa dos Calder, em Maine. 
Desde a aposentadoria de John, ele e Elaine moravam no que fora 
antes a sua casa de campo, fora da cidade. Tasha estivera lá diversas 
vezes, desde que se casara com Chase, mas aquela seria a primeira vez 
em que chegaria sozinha. 
Receberam-na com alegria, mas ficaram perplexos por não verem o 
filho. 
— Chase teve de ficar para entrevistar uma testemunha, amanhã 
— Tasha explicou. 
— Você não deveria dirigir tanto, no seu estado — Elaine 
comentou, indignada. — Onde Chase estava com a cabeça? 
— Ora, não tive nenhum problema — Tasha assegurou. 
— Bem, não gostei nem um pouco da atitude de meu filho e pode 
ter certeza de que direi isso a ele. Você deve estar exausta. Vamos 
entrar. Vou providenciar uma xícara de chá. 
Minutos depois, Tasha estava aquecida e alimentada, além de 
invadida por um forte desejo de confiar seus problemas à sogra. Mas, 
como Chase deixara claro que não queria o envolvimento da família, 
ela tratou de se controlar. 
Quando chegou no quarto que sempre usavam, deu-se conta de 
algo que Chase certamente esquecera: a cama. Desde a visita de 
Natalya, ele dormira no quarto de hóspedes, mas não poderia fazer o 
mesmo na casa dos pais. 
Tasha sentiu um misto de apreensão e esperança. Chase jamais 
fora capaz de esconder seus sentimentos na cama. Teria sido esse o 
motivo de ele ter se mudado para o quarto de hóspedes? Teria ela 
encontrado a chave para derrubar as barreiras que os separavam? Não 
era através do sexo que ela pretendia reconquistar o marido, mas se 
fosse o único meio à sua disposição... 
Naquela noite, Tasha dormiu profundamente e despertou para um 
dia ensolarado e promissor. Manteve-se ocupada a maior parte do 
tempo, mas à medida que a tarde avançava, ela consultava o relógio 
com freqüência cada vez maior. Já começava a se preocupar com a 
possibilidade de um acidente, quando o telefone tocou. 
— A reunião começou bem mais tarde do que eu esperava. Vou me 
atrasar — Chase informou de maneira sucinta e Tasha percebeu que 
havia outras pessoas na sala. 
Sentiu-se decepcionada, por Evan e por si mesma. 
— Mas você vem, não? — indagou. 
— Parece desapontada — Chase comentou com ironia. 
Tasha suspirou. 
— E estou. Sinto a sua falta. 
— Minha mãe está aí perto? 
— Sim. Quer falar com ela? 
— Não. Só achei que a presença dela explicaria a sua 
demonstração de afeto. 
Com Elaine a olhar para ela com expressão curiosa, Tasha não 
podia reagir como gostaria. 
— É sério — limitou-se a dizer. 
— Irei assim que puder. Peça desculpas a mamãe e a Evan por 
mim. 
Com isso, Chase desligou. 
— Algo errado, querida? — Elaine perguntou. 
— Não, não. Chase ligou para avisar que vai demorar mais do que 
planejava. 
— Má notícia, mas depois de uma vida inteira casada com um 
advogado, não posso dizer que estou surpresa. Venha, vamos tomar 
um chá para reanimar! 
Tasha aceitou o convite, mas não conseguiu relaxar. No final da 
tarde, outros parentes começaram a chegar, mas nem mesmo a 
presença deles a distraiu. Ela teve de fazer um grande esforço para 
entrar no clima festivo e, mesmo assim, a certa altura da noite, teve de 
se retirar por algum tempo, em busca de um pouco de paz. 
A biblioteca estava deserta e Tasha postou-se diante da janela. 
Horas haviam se passado desde o telefonema de Chase. A reunião não 
poderia durar tanto. 
Ao ouvir passos atrás de si, Tasha virou-se e deparou com Evan. 
— Nenhum sinal de Chase? — ele perguntou em tom casual, 
embora ela tivesse certeza de que Evan estava desapontado com a 
ausência do irmão. 
— Estou começando a achar que não o veremos, esta noite — 
Tasha respondeu. 
— Ora, esqueça Chase e venha dançar comigo — o cunhado 
convidou-a com um sorriso. 
— Desde que Isobel não se importe... 
— Foi ela quem me mandou procurar por você. Achou que você 
parece muito solitária. 
— Estou prestes a mudar de solitária para furiosa — Tasha 
declarou com fingido bom humor. 
Evan riu. 
— Isso mesmo! Gosto de mulheres decididas! 
— Lamento por Chase não estar aqui, Evan. 
— Não se preocupe com isso. Vou me vingar. Você vai ver. 
Rindo, os dois foram até a pista de dança. Depois de duas músicas, 
juntaram-se a Isobel e ficaram conversando sobre amenidades. 
Poucos minutos depois, Tasha foi invadida por uma sensação 
conhecida. Chase havia chegado. Ela sempre sabia quando ele entrava 
no lugar onde ela estava. Virou-se e viu-o por entre os casais que 
dançavam. 
Quando seus olhos se encontraram, aquela corrente de eletricidade 
voltou a pulsar noar. Tasha não pôde conter a alegria e a esperança 
que se acenderam dentro dela, pois era evidente que Chase estava 
consciente da força superior que os atraía um para o outro. 
Porém, tudo não durou mais que uns poucos segundos, pois os 
casais continuaram a deslizar pela pista de dança, bloqueando a visão 
de Tasha. Ainda assim, ela voltou a acreditar na possibilidade de 
recuperar o que havia perdido. 
— Chase chegou — avisou a Evan, que parou de dançar 
imediatamente. 
— Onde? — ele perguntou e, vendo Tasha atravessar o salão, 
puxou Isobel pela mão, na mesma direção. 
Encontraram-no na sala de jantar, onde o bufê havia sido 
arranjado. Ele conversava com os pais e, assim como acontecia com 
Tasha, sentiu a presença dela e virou-se. Estivera no quarto, pois 
vestia o terno que ela deixara estendido sobre a cama. 
— Chase — Tasha cumprimentou-o. 
Encorajada pelo modo como ele a fitara havia pouco, encaminhou-
se para ele como sempre fazia, pousou as mãos em seu peito e ergueu o 
rosto para receber um beijo nos lábios. Só então reconheceu a frieza 
nos olhos cinzentos e deu-se conta de que Chase lutaria com unhas e 
dentes contra os próprios sentimentos. 
Percebendo que ela reconhecera sua relutância, ele forçou um 
sorriso gelado. 
— Tasha. 
Depois de murmurar-lhe o nome com expressão vazia, pousou os 
lábios nos dela por uma fração de segundo, provocando com o beijo 
forçado uma dor que se alojou no coração de Tasha. 
— Por que demorou tanto, Chase? — Evan perguntou, antes 
mesmo que o irmão o abraçasse. 
— Achou que eu perderia a sua festa de noivado? — Chase 
inquiriu com um sorriso terno, passando um braço em torno dos 
ombros do irmão. 
Tasha foi imediatamente invadida por uma inveja irracional da 
evidente afeição entre os dois irmãos. Embora soubesse que tal 
sentimento fosse absurdo, sua dor a impedia de controlá-lo. 
— Eu havia planejado chegar bem mais cedo — Chase explicou —, 
mas a entrevista demorou mais do que o esperado e, quando saí do 
escritório, um acidente havia ocorrido na avenida principal. Parece 
que perdi uma festa e tanto! 
Prisioneira da necessidade de manter a ilusão de um casamento 
perfeito, Tasha viu uma única maneira de reagir e recuperar o orgulho. 
Sabendo que Chase não poderia rejeitá-la na frente da família, ela 
passou o braço pelo dele e sorriu. 
— E eu já estava imaginando que você estava tentando, 
deliberadamente, me evitar! — provocou. 
Chase sorriu, embora seus olhos não escondessem seu desgosto. 
— E por que eu faria isso, minha querida, quando você sabe o que 
sinto? 
Determinada a lutar até as últimas conseqüências, Tasha 
sustentou-lhe o olhar. 
— Quer dizer que ainda me ama? — inquiriu. 
— Por que não me pergunta isso mais tarde, quando estivermos 
sozinhos, para que eu possa dar a devida atenção à resposta? — ele 
replicou em tom sedutor, provocando risadas de todos os presentes. 
— Está evitando a questão, advogado? — ela persistiu na 
provocação. 
— De jeito nenhum! Você sabe que eu te amo tanto quanto você 
me ama. 
Desta vez, Tasha teve de fazer um esforço enorme para resistir ao 
golpe. Chase não acreditava no amor que ela tinha por ele. Portanto, o 
amor dele por ela de nada valia. 
Porém, sabia que ele estava mentindo e, fitando-o nos olhos, disse: 
— É bom saber que você também seria capaz de morrer por mim, 
mas pode relaxar. Não vou lhe pedir tamanho sacrifício... por 
enquanto. 
Antes que Chase pudesse responder, o pai deu-lhe um tapinha no 
ombro. 
— Algo me diz que somos supérfluos, aqui — comentou de bom 
humor. — Vou levar minha esposa para o jardim e contar as estrelas. 
Vocês podem se divertir como quiserem. 
— Contar estrelas parece uma boa idéia, papai — Evan replicou 
com uma risada. — Isobel e eu vamos ajudar vocês. Chase, Tasha, até 
mais tarde. 
No momento em que se viram sozinhos, a falsa harmonia 
desapareceu. Chase libertou-se de Tasha e pediu um uísque para o 
garçom. 
— Tentando adquirir coragem, querido? — ela perguntou em tom 
ácido. 
— Só quero me livrar do gosto horrível que ficou em minha boca. 
Lutando contra as lágrimas, Tasha inquiriu, desconfiada: 
— Houve mesmo um acidente? 
— Por que não telefona para a polícia? Certamente, a palavra deles 
vale mais do que a minha. 
— Isso é porque você não trocou sequer uma dúzia de palavras 
comigo, na última semana. 
Os olhos cinzentos se estreitaram. 
— Pensei que minha atitude comprovasse um autocontrole 
incomparável. 
— Por não falar comigo? 
— Por não tentar matá-la. Agora, se me der licença, preciso 
cumprimentar meu primo, Alex. 
Com isso, Chase se foi. 
Tentando evitar que o desespero tomasse conta dela, Tasha 
observou-o afastar-se. Definitivamente, Chase não estava disposto a 
ceder um milímetro que fosse. Sentindo-se mais solitária do que 
nunca, Tasha refletiu que se realmente não conseguisse recuperar a 
proximidade que, um dia, partilhara com Chase, não sabia se seria 
capaz de manter a sanidade. 
Antes que ela pudesse pensar no que fazer, um dos primos de 
Chase a tirou para dançar. David era alto, loiro e atraente, 
perdidamente apaixonado por uma mulher que parecia ignorar a sua 
existência. Também era charmoso e divertido, exatamente o que 
Tasha precisava para animá-la. 
— Espero que Chase não se importe por eu lhe roubar a esposa por 
alguns momentos — David brincou, quando começavam a deslizar 
pela pista. 
— Claro que não. Ele confia em você — Tasha respondeu de 
pronto, sabendo que a única pessoa em que Chase não confiava era a 
própria esposa. 
 
 
 
Quando a festa terminou, sabendo que não conseguiria dormir, 
Tasha foi para o jardim dos fundos, que dava para o lago. Apoiando-se 
em uma pilastra da varanda, respirou fundo na tentativa de inspirar 
um pouco da paz que o lago emanava. 
— Esperando por David? 
Sobressaltada, virou-se e descobriu Chase sentado em uma das 
espreguiçadeiras. 
— E então? — ele insistiu. 
— Por que eu estaria à espera de seu primo? 
— Para continuar o flerte que iniciaram na festa. 
Flerte? A primeira reação de Tasha foi de indignação, mas seu 
coração deu um salto quando uma outra idéia lhe ocorreu. Chase 
poderia estar com ciúme! E aí estava uma possibilidade que ela não 
poderia deixar de testar. 
— E se estivesse? — inquiriu, em tom de desafio. 
Com um movimento rápido, Chase se levantou e se aproximou 
dela. 
— Se estivesse, eu seria obrigado a lembrá-la de que ainda está 
casada comigo. 
Ora, ele estava mesmo com ciúme! Tasha se esforçou para se 
manter impassível. 
— Eu sei que sou casada com você, Chase. 
— Sabe? Mas as coisas não saíram exatamente como você 
esperava, não é? Talvez tenha decidido flertar com David a fim de pôr 
um pouquinho de emoção em sua vida. 
Tasha foi invadida por uma onda de fúria. Por mais que houvesse 
errado, não merecia aquele tipo de acusação. 
— Eu não estava flertando com David — negou com veemência. 
A expressão de Chase se manteve fria e controlada. 
— Estou avisando, Tasha, não tente fazer esse tipo de jogo comigo. 
— Não seja ridículo! Por que eu flertaria com David, quando todos 
sabem que ele está perdidamente apaixonado por outra mulher e que 
eu te amo? 
— De nada adianta professar o seu amor, Tasha, pois são só 
palavras. E nós dois sabemos com que facilidade você as manipula. As 
mentiras que você conta soam doces como mel. 
— Meu amor não é uma mentira. Tudo o que fiz foi por amar você 
e por ter medo de te perder. 
— Uma mulher que realmente ama um homem não faria o que 
você fez, Tasha. 
— Ah, você está errado, completamente errado! Uma mulher 
apaixonada é capaz de fazer qualquer coisa. 
Naquele momento, uma lufada de vento despenteou os cabelos de 
Chase. Com um gesto instintivo, Tasha ergueu a mão para afastar uma 
mecha de seu rosto. Chase também ergueu a mão, para fazer o mesmo. 
No instante em que seus dedos se tocaram, ambos foram percorridos 
por um choque. 
— Chase... — Tasha murmurou, esperando que ele se afastasse. 
— Meu Deus! — Chase exclamou em um sussurro, antes de fecharos olhos. 
Quando voltou a abri-los, fixou-os nos dela, ao mesmo tempo em 
que o ar se tornava denso entre eles. 
Esquecendo-se da mágoa, Tasha só pensava em convencê-lo de que 
ele poderia confiar no amor que ela sentia. 
— Você sabe que eu te amo — falou com voz trêmula. 
— Por que veio para o jardim? 
— Você me chamou. Não sabe que não sou nada sem você? — ela 
declarou, tocando de leve os dedos no rosto de Chase. 
— Não! — ele ordenou, empurrando-a. 
O movimento foi tão brusco, que Tasha perdeu o equilíbrio. Teria 
caído se Chase não a tivesse puxado para si. E foi então que o controle 
de ambos se desfez. 
— Tasha... . 
O tempo parou quando os lábios dele se colaram aos dela com 
paixão. Então, nada mais teve importância, exceto a necessidade que 
tinham de dar prazer um ao outro. Por um momento, o mundo deixou 
de existir. Eram apenas eles dois e o amor intenso que os unia, 
impelindo-os um para o outro. 
De súbito, Chase voltou a empurrá-la. Desviou o olhar com 
expressão de desgosto. 
— Meu Deus! O que estou fazendo? 
— Está me amando — Tasha arriscou. 
— O que acaba de acontecer não tem nada a ver com amor — ele 
negou com veemência, além de uma pontada de irritação. 
Embora as palavras a ferissem, Tasha sabia que Chase estava 
zangado consigo mesmo, não com ela. 
— Seja o que for, não pode negar que me quer. 
— Não, não posso — ele confirmou entre dentes. 
— Também quero você, Chase. 
Ele recuou um passo e enfiou as mãos nos bolsos. 
— Acha que essa confissão vai fazer com que eu me despreze 
menos? 
Ah, como doía vê-lo negar um amor tão bonito! 
— Vá para o inferno, Chase! — Tasha explodiu. — Eu gostaria de 
poder odiar você! 
Com essas palavras, ela virou e entrou na casa. Tinha de se afastar 
dele, pois não poderia permitir que Chase atirasse sobre ela toda a sua 
ira. 
Foi com dificuldade que conseguiu chegar no quarto. Chase 
dispunha de mil maneiras para feri-la, simplesmente porque ela o 
amava. Tasha sofreria menos se conseguisse odiá-lo, mas continuava a 
amá-lo, assim mesmo. E, pior, sabia no fundo de seu coração, que o 
amaria sempre, por mais que ele a magoasse. 
 
Quando Tasha acordou, o sol banhava o quarto. Chase não passara 
a noite a seu lado, o que não a surpreendeu, depois do que acontecera 
na noite anterior. 
Não era agradável saber que Chase se desprezava por desejá-la. 
Porém, se ele ainda a queria, também poderia continuar a amá-la. 
Tasha jamais poderia negar a gravidade do erro que havia cometido, 
dando a Chase motivo de sobra para estar furioso com ela. Por outro 
lado, nada seria capaz de apagar a chama da esperança em seu peito, 
que lhe dizia que ele ainda viria a compreender que o sentimento que 
os dois partilhavam era especial demais para ser jogado fora. E, 
quando isso acontecesse, ele se permitiria amá-la, como amara antes. 
Distraída com seus pensamentos, Tasha se levantou sem pensar e, 
no mesmo instante, foi tomada pela náusea violenta. Correu para o 
banheiro e, quando finalmente se sentiu um pouco melhor, tomou um 
banho e se aprontou para encontrar o resto da família. 
A casa parecia deserta, mergulhada no mais absoluto silêncio. 
Sentindo-se sozinha no mundo, Tasha foi à procura de uma xícara de 
chá. O salão ensolarado onde a família costumava tomar o desjejum 
também estava vazio. A mesa posta dava sinais de que alguém já havia 
comido. Ao avistar um bule de chá, Tasha foi se servir, mas sentiu 
aquela vibração familiar tomar conta do ambiente. 
Virou-se lentamente e deparou com Chase, na porta. Sabendo que 
tinha de resistir ao impulso de se atirar nos braços dele, voltou a se 
concentrar no bule de chá. 
— Está servido? — ofereceu, tentando agir com naturalidade. 
Porém, ao sentir que ele se aproximava, não pôde impedir o tremor 
que se apoderou de suas mãos. 
A fim de firmar o bule, Chase pousou a mão sobre a dela. 
— Vai acabar se queimando, se não tiver cuidado — falou com voz 
rouca, tão perturbado quanto ela pelo efeito do leve contato. 
O som de passos se aproximando pelo corredor quebrou o encanto 
do momento. Em seguida, Evan entrou no salão. 
— Chase, por favor, sirva-me uma xícara de chá — ele pediu com 
um sorriso alegre. — Bom dia, Tasha. Você parece cansada. Aliás, os 
dois parecem cansados. O que andaram fazendo? — inquiriu com 
malícia. 
— Não posso responder por Chase, mas quanto a mim, o cansaço 
só pode se conseqüência dos enjôos matinais — Tasha respondeu, não 
resistindo à simpatia do cunhado. 
Chase praguejou baixinho, só então se dando conta da palidez da 
esposa. 
— Sente-se, Tasha — ordenou. — Cuidarei do seu chá. Quer 
comer alguma coisa? 
O tom preocupado aqueceu o coração de Tasha, que sorriu. 
— Torradas costumam ajudar — falou. 
— Pedirei a Maudie que providencie as torradas — Chase 
declarou e, deixando uma xícara de chá diante de Tasha, foi até a 
cozinha. 
— Por que ele está tão mal-humorado? — Evan queixou-se. — Até 
parece que não tem a menor responsabilidade pela sua gravidez! 
Felizmente, em momento algum, Chase tivera dúvidas quanto à 
paternidade da criança. Do contrário, Tasha não fazia idéia do que 
teria sido capaz de fazer. 
— Ele está zangado consigo mesmo por ter se esquecido de que eu 
poderia não estar me sentindo bem — explicou ao cunhado, sabendo 
que estava dizendo a verdade, mesmo que Chase não admitisse, nem 
para si mesmo. 
Depois de estudá-la por um momento, Evan sorriu. 
— Sabe de uma coisa? A gravidez lhe faz bem, descontando os 
enjôos, claro. Você parece estar desabrochando. 
Tasha riu, pousando a mão sobre o ventre ainda liso. 
— Não acha que ainda é um pouco cedo para esse tipo de 
comentário? 
— Que tipo de comentário? — Chase inquiriu, entrando no salão 
com um prato de torradas. 
— Tasha não acha que está desabrochando, mas eu acho — Evan 
esclareceu. — Há um brilho diferente nos olhos dela... como Ali — 
acrescentou, referindo-se à irmã. — O que você acha? 
Tasha prendeu a respiração, olhando fixamente para o marido. O 
que ele diria? Seria honesto, ou mentiria? E ela seria capaz de 
reconhecer a diferença? 
— Acho que ela está mais bonita do que já era — Chase respondeu 
devagar. 
— Está falando sério? — Tasha não pôde deixar de perguntar. 
— Eu jamais mentiria para você, Tasha — ele respondeu com 
crueldade, pondo um fim à felicidade dela. 
Sentindo que as lágrimas enchiam seus olhos, ela se pôs de pé. 
— Com licença — murmurou, antes de deixar o salão apressada. 
Chase a alcançou no corredor e a segurou pelo braço. 
— Quer fazer o favor de esperar! Desculpe, eu não tive a intenção 
de magoar você. 
— Claro! — ela exclamou, tentando se libertar. 
— Eu apenas disse a verdade. Como já disse, não tive a intenção de 
magoá-la. 
— Eu também nunca tive a intenção de magoar você — Tasha 
retrucou. — Mas, se você se recusa a acreditar nisso, por que eu 
deveria acreditar em você? 
Depois de fitá-la, furioso, por um breve instante, Chase voltou para 
o salão. 
Desolada, Tasha esperou que as lágrimas cedessem e, então, foi 
para a varanda dos fundos e se acomodou em uma espreguiçadeira. 
Mal tivera tempo de respirar, quando Chase parou ao seu lado e 
depositou as torradas e o chá na mesa ao lado. 
— Coma — ordenou. 
— Não estou com fome. 
— Precisa comer, Tasha, pelo seu bem e pelo bebê. Não ponha a 
sua saúde em risco só para me contrariar. 
Ele estava certo. Tasha não queria adoecer e, menos ainda, fazer 
mal ao bebê. Assim, apanhou uma torrada e começou a comer. 
Chase se apoiou na parede e desviou o olhar para o lago, parecendo 
um cão de guarda. Dando-se conta de que ele não sairia dali enquanto 
ela não esvaziasse o prato, Tasha comeu com calma. 
— A casa está tão quieta — comentou, ao terminar. — Onde estão 
seus pais? 
— Mamãe recebeu um telefonema ao acordar — Chase respondeu, 
sem esconder a satisfação ao ver o prato vazio. 
— Ali teve o bebê? 
— Sim, um menino. Mamãe e papai saíram há umas duas horas. Já 
devem estar chegando lá. 
Tasha sorriu. 
— Sua mãe estava dizendo coisa com coisa?— Não exatamente — ele admitiu, também divertido. 
— Pobre John! — Tasha exclamou. 
— Papai não estava muito melhor que ela. Só espero que não 
batam o carro! 
— Talvez seja melhor convidarmos os dois para passar algum 
tempo em nossa casa, quando o bebê estiver para chegar. Assim, não 
precisaremos nos preocupar — Tasha sugeriu. 
— Podemos deixar essa preocupação para depois — Chase falou, 
dando-se conta de que, por momentos, esquecera de como estava o 
relacionamento de ambos. 
Tasha sentiu como se o sol houvesse se escondido. Fora tão bom 
conversar com Chase, como se nada houvesse mudado. 
— Tem razão. Também estava certo quanto à comida. Eu estava 
mesmo com fome. 
Chase apanhou o prato e a xícara. 
— A última coisa que você precisa, agora, é ficar doente. 
— Sim, doutor — Tasha replicou em tom de brincadeira. 
— Estou falando sério, Tasha. 
De repente, ela se deu conta do que estava acontecendo. Chase 
estava preocupado com o bebê, pois não confiava nela. 
— Não se preocupe. Não tenho a menor intenção de pôr em risco a 
saúde de meu filho — falou, magoada. 
— O que está querendo dizer? 
— Que sei que você não confia em mim, mas eu jamais faria 
qualquer mal ao bebê. 
O brilho da raiva iluminou os olhos de Chase. 
— Acredite ou não, isso jamais me passou pela cabeça. Eu estava 
mesmo preocupado com você. 
Percebendo que havia tirado conclusões precipitadas, Tasha 
baixou o tom de voz. 
— Desculpe se interpretei mal as suas palavras — murmurou. 
— Esqueça. — Antes de entrar na casa, Chase acrescentou: — Vou 
sair para pescar com Evan. Acha que ficará bem, sozinha? 
Tasha se perguntou se Chase ficaria ali, caso ela pedisse, mas 
decidiu não abusar da sorte. 
— Claro. Divirta-se. 
Após um longo momento de silêncio, ele falou: 
— Se precisar de alguma coisa, peça a Maudie. Estaremos de volta 
antes do jantar. Cuide-se. 
Sozinha, Tasha aproveitou o dia para descansar. Maudie, 
evidentemente instruída por Chase, providenciou que ela almoçasse 
na hora certa e lhe serviu refrescos a tarde inteira. 
No final da tarde, Tasha tomou um longo banho de banheira e, 
quando Evan bateu na porta de seu quarto, ela se sentia tranqüila e 
relaxada. 
— Parece que você teve um dia muito bom — comentou, sorrindo, 
ao ver o cunhado corado e despenteado. 
— Ah, foi ótimo! Paramos em um bar, na cidade, a caminho de 
casa, e Chase encontrou Simeon Harker, um velho amigo. Como sabia 
que eu viria para casa para me arrumar, antes e ir visitar Isobel, ele 
pediu que eu a avisasse que vai jantar com Simeon. Disse que você 
compreenderia. 
Sim, Tasha compreendia. Com os pais visitando o neto recém-
nascido e o irmão jantando na casa da noiva, Chase seria obrigado a 
passar horas sozinho com Tasha. Depois do beijo que haviam trocado 
na noite anterior, ele faria tudo para evitar que a situação se repetisse. 
— Compreendo. Obrigada por me avisar, Evan. Mande um beijo 
para Isobel — falou com calma. 
Assim que Evan se retirou, Tasha fechou a porta atrás de si, com o 
coração aos saltos. Estava certa. Depois de tanto sofrer, sem saber 
exatamente o que Chase sentia por ela, era alívio constatar que, 
finalmente, conseguira atravessar a barreira erguida por ele. E, melhor 
ainda, Chase poderia evitá-la naquela noite, mas não poderia 
continuar a evitá-la para sempre. 
Pela primeira vez, não se importou com o fato de jantar sozinha. 
Em seguida, assistiu a um filme na televisão e, como Chase ainda não 
houvesse chegado, foi se deitar. Porém, não conseguiu dormir e, depois 
de passar muito tempo virando de um lado para o outro, decidiu que 
uma bebida quente a ajudaria. 
Levantou-se, vestiu o robe e foi para a cozinha. Minutos depois, 
estava sentada à mesa, bebericando o chocolate quente que preparara. 
Foi quando a porta dos fundos se abriu. 
Ao vê-la, Chase imobilizou-se. Por um momento, nenhum dos dois 
falou. 
— Pensei que já estivesse dormindo — ele finalmente quebrou o 
silêncio, sem conseguir disfarçar as emoções que o apanharam de 
surpresa. 
Depositando a xícara na mesa, Tasha rezou para estar mesmo certa 
com relação aos sentimentos dele, pois estava prestes a se expor ao 
ataque. 
— Está querendo dizer que esperava que eu estivesse dormindo, 
não é? — arriscou. 
— Exatamente — ele admitiu. — Por que está acordada, a esta 
hora? 
— Não consegui dormir. Na verdade, não gosto mais de dormir 
sozinha. 
— Por que faz isso, Tasha? Por que se abre desse jeito para ser 
magoada? 
— Não vejo como você possa me magoar mais do que tem feito. 
Sua rejeição quase me mata — ela declarou com sinceridade. 
Chase franziu o cenho. 
— O que esperava que eu fizesse? 
— Esperava que me amasse. 
— Será que você não tem nenhum orgulho? — ele inquiriu, 
visivelmente desconsertado. 
Tasha refletiu que o orgulho era importante em determinados 
momentos, mas não naquele. 
— Aparentemente, não — respondeu. — O orgulho não pode me 
aquecer, nem me dar conforto na hora de dormir. 
— Não posso lhe dar o que quer — Chase retrucou, cerrando os 
dentes. 
— Não pode, ou não quer? — Tasha inquiriu, empinando o queixo. 
— Pare com isso, Tasha — ele advertiu. 
— Não posso. 
— Está cometendo uma grande tolice. 
Tasha fitou-o por um momento, antes de lançar mão de sua arma 
mais poderosa. 
— Seja como for, você me quer. Sei disso tanto quanto você. Chase, 
você quer fazer amor comigo. 
Ele soltou uma gargalhada amarga. 
— Sou um homem saudável e o sexo sempre foi muito bom com 
você. 
O comentário feriu o coração apaixonado de Tasha, mas nem assim 
ela se intimidou. 
— Não tente desvalorizar uma coisa tão bonita. O que existia 
entre nós era muito mais que sexo de boa qualidade. Eu te amava e 
você me amava. 
— Isso mesmo, Tasha. "Amava", conjugado no passado. 
— Não está disposto a ceder nem um milímetro, não é, Chase? — 
Tasha inquiriu, lutando contra o impulso de se aproximar dele e tocá-
lo, pois sabia que ele a rejeitaria de pronto. 
— Não consigo esquecer o que você fez, Tasha. 
— Nem vai me perdoar, não é? Quanto tempo viveremos assim? 
— Até que eu tenha certeza — Chase respondeu com firmeza e 
determinação. 
— Certeza de quê? De que pode voltar a confiar em mim? Diga o 
que fazer, e eu farei! Sou capaz de jurar sobre uma pilha de bíblias, ou 
de fazer uma declaração em rede nacional de televisão! Será possível 
que você ainda não sabe que eu faria qualquer coisa para tê-lo de 
volta? 
Com um movimento instintivo, Chase a segurou pelos ombros, 
forçando-a a se levantar. 
— Não quero que faça coisa alguma! Eu... 
As palavras ficaram pairando no ar, pois ele se deu conta da 
proximidade entre os dois. Por um momento, Tasha sentiu-o puxá-la 
para si, mas no mesmo instante, ele fechou os olhos e voltou a afastá-
la. 
— Droga! — Chase praguejou em um gemido doloroso. 
— Chase... — Tasha arriscou, estendendo a mão para tocar-lhe a 
face. 
Ele virou o rosto depressa. 
— Não me toque! — ordenou. 
— Pare de se afastar! — ela implorou. 
— Não posso... não posso — Chase repetiu, como se precisasse 
convencer mais a si mesmo do que a ela. 
— Por quê? Nós dois sabemos que não é isso o que você quer! — 
ela insistiu. 
Para sua surpresa, Chase soltou uma risada. 
— Meus Deus! Você nunca desiste? — inquiriu com amargura. 
— Nunca desistirei de você. Terá de me matar, antes. 
Era a mais pura verdade. 
Chase fitou-a nos olhos por um longo momento, antes de 
perguntar: 
— Faz idéia de quanto desejo beijá-la? 
Seu tom de voz não indicava o menor prazer por tal necessidade. 
— Sim — Tasha respondeu, mais uma vez, com total sinceridade. 
Como se tivessem vontade própria, as mãos de Chase deixaram os 
ombros de Tasha para acariciar-lhe uma das faces e afagar-lhe os 
cabelos. Prendendo a respiração, ela observou a batalha que se travava 
dentro dele e, em uma decisão repentina, pousou as mãos no peito 
largo, a fim de impedir que ele fosse adiante. 
— Vai se odiar, depois — lembrou-o. 
— Eu sei — Chase concordou, embora sua cabeça continuasse 
descendo na direção da dela.— Vai me culpar — ela ainda argumentou, com voz muito fraca. 
— Provavelmente, mas tenho de fazer isso — ele admitiu e colou 
os lábios aos dela. 
Naquele exato momento, Tasha pouco se importava se Chase a 
culparia, ou não. Tudo o que queria era ser beijada por ele. Não foi 
capaz de pensar, apenas de sentir. E, como seria de se esperar, um 
beijo não foi o bastante. O primeiro logo se transformou no segundo, 
terceiro... até que ambos tremiam de desejo, sentindo as batidas 
desesperadas do coração um do outro. 
Então, como se estivesse muito longe, ouviu Chase praguejar 
baixinho, ao mesmo tempo em que a tempestade de beijos cessava. 
Ergueu os olhos e viu a paixão morrer, dando lugar a um profundo 
desprezo por si mesmo. Embora houvesse esperado por esse desfecho, 
Tasha não sofreu menos com a constatação. 
— Você tinha razão — Chase murmurou, derrotado. — Eu não 
deveria ter feito isso. 
— Mesmo que eu diga que não lamento o que acaba de acontecer? 
— Tasha confessou com um leve sorriso. 
— Isso não vai dar certo, Tasha. 
— Do que está falando? 
Chase recuou alguns passos, colocando distância entre eles. 
— Você não vai conseguir me conquistar, usando o seu corpo. Por 
mais delicioso que ele seja, por mais que eu deseje possuí-la. 
— Não foi essa a minha intenção! — Tasha protestou, corando. 
— Não? 
Um nó se formou na garganta de Tasha. Sim, fora exatamente 
aquela a sua intenção. 
— Pode me culpar por tentar? — inquiriu, em uma admissão 
corajosa. 
Chase sacudiu a cabeça. 
— Eu, provavelmente, faria o mesmo — admitiu. 
— A diferença é que você jamais se colocaria nessa situação, não é? 
— ela inquiriu, com um sorriso amargo. 
A expressão de desgosto no rosto de Chase eliminou a necessidade 
de palavras. 
De repente, os olhos de Tasha se encheram de lágrimas. 
— Não existe a menor possibilidade de eu conseguir, existe? 
Sabia que ia perdê-lo e tal certeza pesava como chumbo em seu 
coração. 
Chase estreitou os olhos. 
— Você não deveria ficar tão nervosa — advertiu em tom de 
preocupação. 
— É você quem tem o direito de me transformar na mulher mais 
feliz do mundo. Tudo o que tem de fazer é pronunciar algumas 
palavras! 
Uma lágrima escapou dos olhos dela. 
— Precisa se acalmar, Tasha. 
— Será que não percebe que eu te amo? — Percebendo que as 
defesas de Chase estavam novamente sob controle, Tasha suspirou, 
desolada. — Isso não faz a menor diferença, faz? 
— Não. Apenas torna as coisas piores e mais difíceis. — ele 
admitiu, tenso. — Tente descansar, Tasha — sugeriu e saiu, sem olhar 
para trás. 
Tasha ficou ali, parada, olhando fixamente para a porta fechada. 
Por que estava perdendo o seu tempo? Nada que dissesse ou fizesse a 
levaria a lugar algum. Perdera Chase. Poderiam continuar casados por 
mais cinqüenta anos, mas jamais o teria de volta. O risco enorme que 
decidira enfrentar fora por nada. Acreditara valer a pena, mas 
descobrira tarde demais que estivera enganada. Chase jamais a 
perdoaria. 
 
 
 
Com uma pontada de inveja e ciúme, Tasha observou Chase rir de 
um comentário de Evan. Então, voltou a se concentrar na louça que 
lavava. Como Maudie estava de folga, ela e Isobel haviam preparado o 
almoço e, agora, cuidavam da limpeza da cozinha. 
— Sei que não é da minha conta — Isobel disse, enquanto secava 
os pratos —, mas gostaria de conversar a respeito? 
— Não sei do que você está falando — Tasha mentiu, diante do 
olhar de simpatia da outra. 
— Sei que algo está errado, Tasha. Não que esteja óbvio, mas 
confio na minha intuição. Você está infeliz e eu gostaria de ajudar, se 
for possível. 
Tasha descobriu que estava cansada de fingir. 
— Não há nada que você possa fazer — respondeu. — Só Chase e 
eu poderemos resolver o problema. Só peço que não comente com 
ninguém. 
— Claro — Isobel assegurou. 
Tasha voltou a olhar pela janela, para os dois homens lá fora e teve 
um sobressalto quando o telefone tocou. 
— Eu atendo. — Isobel atendeu a ligação e, um instante depois, 
chamou: — Evan! É para você. Charlie Hamilton. 
Evan se apressou em atender. 
Embora não conhecessem o tal de Hamilton, Tasha percebeu a 
tensão que tomou conta dos três. Suas suspeitas se confirmaram, 
quando Evan desligou o telefone e explicou: 
— Um garotinho desapareceu. A família estava acampada na 
região. Pensaram que ele estivesse dormindo e demoraram algumas 
horas para se darem conta de que ele não se encontrava na barraca. 
Estão organizando grupos de busca e Charlie pediu que procuremos 
no lago. 
— Vou pegar os walkie-talkies — Chase falou, encaminhando-se 
para a porta. — A busca será mais eficiente se nos separarmos. 
— Vou com vocês — Isobel anunciou. — Quanto mais gente, 
melhor. 
Tasha enxaguou as mãos. 
— Vou trocar os sapatos e logo me juntarei a vocês — declarou e, 
imediatamente, se viu diante de três pares de olhos arregalados. 
— Não — Chase replicou com firmeza. — Você fica aqui. 
— Quero ajudar e vou com vocês — ela insistiu. 
— Não estamos saindo para um passeio — Chase argumentou, 
irritado. — Sairemos à procura de uma criança e não poderemos 
cuidar de você. 
— Sou uma mulher grávida, não uma inválida! — Tasha explodiu. 
— Não preciso que cuidem de mim, nem vou retardar vocês. 
— Tasha, não vou perder mais tempo, discutindo com você. Quero 
que fique aqui. Ponto final — Chase insistiu com frieza e só então 
Tasha se deu conta de que ele não estava preocupado, mas queria 
apenas mantê-la longe. 
Sem dizer mais nada, foi para o quarto. Sabia que Chase pensaria 
que a convencera, mas estava prestes a surpreendê-lo. Trocou os 
sapatos e, quando ouviu os três deixarem a casa, voltou a descer. Saiu 
pelos fundos e esperou que o barco deles já estivesse em movimento, 
para então abordar o barco menor. Ninguém a notou, até que ela 
ligasse o motor e pusesse o barco em movimento. 
Sentiu-se triunfante diante da expressão irada de Chase, embora 
soubesse que ele teria algo a dizer, quando chegassem à outra margem. 
E assim foi. 
— Que diabos pensa que está fazendo? — ele inquiriu, furioso, ao 
mesmo tempo em que a ajudava a sair do barco. — Não temos tempo 
para esse tipo de coisa! 
— Então, pare de discutir. Estou aqui para ajudar e é o que vou 
fazer. Quatro pessoas terão mais chances de encontrar o garoto, do 
que três. 
— Ela tem razão, Chase — Isobel se apressou em defendê-la. 
— Muito bem — Chase concedeu, após uma pausa tensa. — 
Venha comigo. 
Evan fitou Tasha com um sorriso confuso que a levou a se 
perguntar se ele também havia percebido o clima tenso entre o irmão e 
a cunhada. 
— Nós vamos para oeste — Chase determinou. — Vocês seguem 
para leste. Se encontrarem algo, entrem em contato. Faremos o 
mesmo. 
Dito isso, ele enveredou por uma trilha estreita, seguido por Tasha. 
— Deve estar pensando que foi muito esperta — Chase comentou, 
após alguns minutos de caminhada. 
— Não. Só queria ajudar e não vi razão para ficar em casa. 
— Claro! — ele replicou com sarcasmo. 
— O fato de você não querer a minha companhia não é uma razão 
válida, dadas as circunstâncias. 
— Tem razão. Eu trabalharia junto do meu pior inimigo para 
salvar uma vida — Chase declarou. 
— Então, por que... 
— Porque você tem tido enjôos todos os dias — ele respondeu 
com um suspiro. — Além disso, não tem conseguido dormir bem. O 
dia poderá ser duro para alguém nas suas condições. Lamento se isso a 
ofende, mas é o que penso. 
Tasha se deu conta de que, mais uma vez, tirara conclusões 
apressadas. E, por isso, poderia se transformar em um problema, em 
vez de ajudar. 
— Voltarei para casa — murmurou com um suspiro. 
— Agora, que está aqui, é melhor ficar. 
— Está bem — ela concordou de pronto, satisfeita pela decisão de 
Chase. 
Uma vez de acordo, continuaram a busca. 
— Você também deve estar cansado — Tasha comentou, após 
algum tempo. — Onde tem dormido? 
— No salão de jogos. 
Como ela imaginara. 
— Aquelas poltronas não são nada confortáveis. 
— Verdade. Precisa ver o estado do meu traseiro! — Chase falou 
em tom debrincadeira. 
Por um momento, seus olhares se cruzaram e, enquanto ambos 
riam, a eletricidade voltou a se fazer sentir no ar. 
— Gostaria de ter essa oportunidade — Tasha replicou com 
ousadia. 
Um brilho de malícia iluminou os olhos de Chase. 
— Acha que seria capaz de melhorar as minhas condições? 
— Ah, não tenho a menor dúvida! — Tasha respondeu, sabendo 
que seria capaz de tornar tudo muito melhor... se ele permitisse. 
Vendo o brilho se dissipar nos olhos dele, dando lugar à dúvida, 
Tasha sugeriu: 
— Não seria melhor continuarmos a busca? 
— Com certeza — ele concordou de pronto. 
Caminharam em silêncio, com Chase na liderança, tomando todo o 
cuidado de não tocá-la, nem sequer por acidente. Quando se 
aproximaram de um dos riachos que alimentavam o lago, ele 
interrompeu a caminhada e falou: 
— Teremos de nos afastar da margem, para podermos atravessar o 
riacho. Nesta época do ano, certamente não haverá dificuldade, pois os 
riachos se tornam muito rasos. 
Tasha aproveitou a pausa para se sentar em um tronco caído. 
— Acha que o menino conseguiria chegar até aqui? 
— Não acho provável, mas garotos nos surpreendem, às vezes. Não 
se preocupe. Tenho quase certeza de que o encontrarão adormecido 
em algum lugar. Charlie só pediu a nossa ajuda, para garantir que toda 
a região fosse varrida. 
— Os pais do menino devem estar desesperados — ela comentou, 
pousando a mão protetora sobre o ventre. 
— Neste exato momento, são capazes de qualquer coisa para ter o 
filho de volta. Quando finalmente o encontrarem, ficarão tão aliviados, 
que nem conseguirão conter as lágrimas, Então, terão vontade de 
matar o pequeno, pela preocupação que causou — Chase previu com 
um sorriso maroto. 
— Está falando por experiência própria? 
Chase riu. 
— Sou obrigado a admitir que deixei meus pais preocupados mais 
de uma vez, quando vínhamos para cá, no verão. 
— Deve conhecer bem a região. 
O sorriso de Chase se tornou nostálgico. 
— Passei todos os verões de minha infância explorando os 
bosques, o lago e os vales. Esta é uma das rotas mais seguras. Algumas 
expedições que fiz teriam deixado minha mãe de cabelos brancos. 
— Nunca contou a ela? 
— Você teria contado? Meus pais teriam me acorrentado em casa, 
se soubessem! 
— E eu pensava que você nunca tinha feito nada errado! 
Chase deu de ombros. 
— Tive os meus momentos. 
— Todos nós já tivemos. 
No mesmo instante, ambos se lembraram de um momento recente 
de Tasha, quando ela decidira se fazer passar pela irmã. Um silêncio 
constrangido pesou no ar. 
Felizmente, o walkie-talkie estalou, pondo um fim ao momento 
desagradável. Chase atendeu e, momentos depois, transmitiu a notícia 
a Tasha: 
— Já o encontraram. O menino caminhou até a fazenda Riley e 
acabou adormecendo no celeiro. Está sendo levado de volta à família. 
Vou dar a notícia a Evan. 
Dando-se conta de que estivera mais tensa do que havia notado, 
Tasha se apoiou em uma árvore e fechou os olhos. 
— Eles já vão voltar para casa — a voz de Chase interrompeu-lhe 
os pensamentos sobre os pais da criança perdida. 
— Vamos voltar, também? — ela perguntou, com uma pontada de 
relutância. 
Após um momento de hesitação, Chase respondeu: 
— Daqui a pouco. Venha comigo. 
O convite não só a surpreendeu, como também lhe proporcionou 
imenso prazer. 
— Aonde vamos? — perguntou, já seguindo os passos de Chase. 
— Logo vai ver — ele informou com um sorriso. 
Dez minutos depois, chegaram a uma pequena cachoeira, cercada 
pelas árvores. 
— É lindo! — Tasha exclamou, olhando em volta. 
— Achei que você ia gostar. 
Ah, sim, ela gostara muito! Mais ainda, gostara da mensagem que 
ele parecia estar tentando lhe enviar. Era evidente que se tratava de 
um lugar especial para Chase. O fato de ele ter decidido partilhá-lo 
com ela tinha de ser um sinal de que ainda existia uma esperança de 
futuro para eles. 
— Obrigada por ter me trazido aqui — Tasha murmurou com um 
sorriso largo. 
— É um prazer — Chase replicou, sem esconder a emoção em sua 
voz. 
Então, desviaram o olhar. 
Tasha se acomodou na grama, observando o perfil de Chase, que 
havia se virado para a cachoeira. Era evidente que ele não estava feliz. 
A perda da confiança que tinha na esposa havia lhe tirado a paz de 
espírito. 
— Um tostão por seus pensamentos! — Tasha falou, sem pensar. 
— Estaria pagando caro demais! — ele replicou com um sorriso, 
voltando a fitá-la. 
— Mera questão de opinião. 
— Quanto estaria disposta apagar? — Chase perguntou, curioso. 
— Uma fortuna. 
— Mesmo que eu garanta que são apenas maus pensamentos? 
Apesar do choque, Tasha riu. 
— Bem, se seus pensamentos são maus, só podem ser sobre mim 
— falou. 
— É o que pensa? 
— Estou enganada? 
— Só em parte. Você é parte dos meus pensamentos. 
— A parte boa ou a ruim? 
— Na verdade, eu estava pensando em como o seu rosto se 
ilumina, quando você ri. Seus olhos brilham como safiras. 
A declaração fez o coração de Tasha saltar dentro no peito. 
— Se vai continuar me dizendo coisas assim, serei forçada a 
confessar que acho o seu sorriso irresistível. 
— É bom ouvir isso — Chase murmurou com voz rouca, dando 
alguns passos na direção dela. 
— Sabe de uma coisa? — Tasha falou com seriedade. — Às vezes, 
tenho a impressão de que o destino está fazendo uma brincadeira 
muito cruel conosco. 
— Também tenho tido dificuldade para encontrar algum humor 
nessa situação, mas ignorar você é como tentar fazer chover para cima. 
Absolutamente impossível! 
Um nó se formou na garganta de Tasha. Finalmente, conseguiam 
se comunicar! Rezou para não dizer nada errado e encerrar 
prematuramente a oportunidade. 
— Sinto como se estivéssemos vivendo um pesadelo — confessou. 
— Sei exatamente o que está sentindo — Chase concordou com 
um toque de ironia. 
Um silêncio pesado caiu entre eles, quebrado apenas pelo sussurro 
das águas e pelo canto dos pássaros. 
— Vamos voltar? — Chase finalmente sugeriu, estendendo as 
mãos para Tasha, a fim de ajudá-la a se levantar. 
Ela aceitou a ajuda e, uma vez de pé, já ia dar a volta, quando Chase 
a puxou. Ela perdeu o equilíbrio e, um segundo depois, estava nos 
braços dele. 
Com o coração aos saltos, Tasha se agarrou na camisa de Chase, ao 
mesmo tempo em que sentia o rosto roçar no pescoço dele. Sob suas 
mãos, o coração dele também batia descompassado. Sabia que deveria 
se afastar, mas suas forças a haviam abandonado, dando lugar ao 
desejo que foi crescendo, até ela pensar que enlouqueceria se Chase 
não a beijasse. 
Sem pensar, colou os lábios ao pescoço dele, provocando-lhe 
reação imediata. Chase a apertou contra si, permitindo-lhe sentir 
quanto o excitava, o que proporcionou a Tasha um incontrolável senso 
de triunfo. 
Então, com um gemido abafado, ele enroscou os dedos nos cabelos 
dela, afastando-se apenas o bastante para fitá-la. 
— Ah, Tasha, como quero você! — admitiu, afinal. 
Quando Chase finalmente a beijou, Tasha rezou para que, desta 
vez, ele não interrompesse o beijo. Rezou para que ele se desse conta, 
de uma vez por todas, de que haviam nascido um para o outro, e nada 
poderia mudar o seu destino. 
 
 
 
Aquele beijo detonou uma verdadeira explosão de desejo. 
Os lábios de Chase só abandonaram os de Tasha para depositarem 
beijos igualmente ardentes em seu pescoço e colo. Ela mal percebeu 
quando, com dedos trêmulos, ele lhe desabotoou a blusa. Ao tirá-la, 
Chase interrompeu suas carícias por um momento, a fim de deleitar os 
olhos com a visão dos seios fartos. Em seguida, pôs-se a acariciá-los 
com as mãos e, depois, com a boca, arrancando de Tasha gemidos de 
prazer. 
Ansiosa para oferecer a ele o mesmo que recebia, ela o imitou e, em 
questão de segundos, livrou-o da camisa, para então acariciá-lo com a 
mesma intensidade e ardor. 
Embriagados pela paixão, deixaram-se cair na grama macia, suas 
carícias se tornando cada vez mais urgentes. Seus gemidos e sussurros 
se misturaram ao canto das águas nas rochas, mas nada se comparava 
à emoção que os unia.Em poucos minutos, estavam ambos nus, conscientes apenas do 
contato entre seus corpos. Quando Chase finalmente a penetrou, a 
certeza de Tasha tornou-se ainda maior: aquele era o seu lugar, de 
onde ele jamais deveria ter se afastado. Assim, foi de maneira quase 
automática que seu corpo acompanhou o ritmo do dele, entregando-se 
ao prazer crescente, até que ambos explodiram em êxtase arrebatador. 
Uma paz imensa tomou conta daquele pedaço de paraíso. 
Aconchegada nos braços de Chase, recuperando aos poucos a 
respiração regular, Tasha se perguntou o que viria a seguir. Teriam 
aqueles momentos de paixão significado que Chase estava disposto a 
deixar o passado para trás e recomeçar sua vida com ela? Ou teria sido 
apenas o resultado do desejo reprimido e, agora, ele se arrependeria 
por ter cedido aos seus instintos? 
Chase se elevou nos cotovelos e fitou-a por um breve momento, 
antes de dizer: 
— Devo estar pesado. 
Com isso, rolou para o lado, deixando Tasha à mercê de uma 
profunda sensação de vazio. 
Embora ele a houvesse fitado por pouco tempo, fora o bastante 
pata Tasha reconhecer o arrependimento nos olhos cinzentos. Foi 
naquele momento que a esperança morreu dentro dela. Se o ato de 
amor não fora capaz de atravessar a couraça que ele construíra em 
torno do coração, nada mais seria. 
Deu-se conta de que estivera se enganando, todo aquele tempo. 
Agora, era forçada a abrir os olhos para a verdade dura e cruel: sua 
mentira matara o amor que Chase tinha por ela. Tudo o que restara 
fora o sexo, que jamais substituiria o sentimento sublime que haviam 
partilhado. Especialmente sabendo que Chase detestava e desprezava 
o desejo que ainda sentia por ela. 
Sentindo-se nauseada, Tasha se sentou, apanhou as roupas e 
começou a se vestir, apressada. 
— Precisamos voltar — murmurou, lutando com os botões da 
blusa. 
— Deixe-me ajudá-la — Chase se ofereceu, notando a dificuldade 
de seus dedos trêmulos. 
Porém, quando as mãos dele a tocaram, Tasha afastou-se de um 
pulo. 
— Não! 
— Por quê? O que houve? — ele inquiriu, confuso. 
— Nada. Simplesmente, não quero que me toque. 
A expressão de Chase endureceu. 
— Não quer que eu a toque, mas diz que não houve nada? Pois, 
para mim, algo está muito errado! — ele protestou, pondo-se de pé. 
Tasha também se levantou. 
— Por que fez amor comigo, Chase? — perguntou a queima-roupa. 
— Por que você acha que fiz amor com você? — ele lhe devolveu a 
pergunta, visivelmente desconsertado. 
— Porque não foi capaz de se controlar. 
Em vez de negar a acusação, como Tasha esperava que ele fizesse, 
Chase se afastou alguns passos, antes de confirmar: 
— Não fui capaz. A verdade é que nunca fui. 
Embora desejasse odiá-lo ou, ao menos, ignorá-lo, Tasha não podia, 
pois seu amor a impedia. 
— E, agora, está arrependido — afirmou. 
— Tenho tanto do que me arrepender, que nem sei por onde 
começar. Tasha, não podemos continuar assim. 
Quando Chase voltou a encará-la, Tasha reconheceu a profunda 
tristeza nos olhos dele. O que trouxe lágrimas aos dela, também. 
— Não se preocupe. Não será preciso — declarou com voz 
trêmula, antes de dar meia-volta e começar acorrer. 
— Tasha, não! 
Ignorando o chamado urgente, Tasha continuou correndo. Não 
queria ouvir mais nada. Só queria voltar para casa, onde poderia 
lamber suas feridas e pensar no que fazer. Enquanto corria, as lágrimas 
a impediam de reconhecer o caminho que haviam percorrido em 
sentido contrário. 
Quando ouviu Chase chamá-la de novo e percebeu que ele a seguia, 
acelerou ainda mais os passos. Não viu a raiz exposta à sua frente e 
tropeçou, voando pelo ar. Ficou deitada por um momento, mas ao 
ouvir os passos apressados de Chase se aproximando, pôs-se de pé e 
prosseguiu com sua fuga. 
— Tasha, pare! Não é esse o caminho! — Chase gritou bem atrás 
dela, assustando-a. 
Tasha girou nos calcanhares e perdeu o equilíbrio. Na tentativa de 
recuperá-lo, recuou dois passos e, no terceiro, descobriu, horrorizada, 
que não havia nada debaixo de seu pé. Seus olhos encontraram os de 
Chase e reconheceram neles o mais puro terror, enquanto ele se 
adiantava para ela. Mas era tarde demais, pois Tasha já caía no vazio. 
— Não! 
Ouviu o grito desesperado de Chase, enquanto seu corpo rolava e 
batia pelo barranco que a vegetação escondera. Só sentiu a dor quando 
seu corpo aterrissou em algo duro e plano. 
Segundos depois, Chase apareceu a seu lado, muito pálido, o peito 
ainda nu coberto de arranhões. Tasha viu a mão trêmula estender-se 
na sua direção e, então, imobilizar-se no ar, como se ele temesse tocá-
la, no caso de ela possuir algum ferimento grave. 
— Meu Deus! — ele exclamou com voz estrangulada. — O que 
você fez? Acha que tem alguma fratura? Onde dói? 
Embora seu corpo inteiro doesse, Tasha não acreditava ter sofrido 
nenhuma fratura. 
— Minha cabeça dói — conseguiu dizer. 
— Vou examiná-la. Diga se sentir dor — Chase anunciou e, com 
gestos cuidadosos, pôs-se a apalpá-la. — Aparentemente, não houve 
fraturas, mas temos de levá-la a um hospital, depressa. Não gostaria de 
deixá-la sozinha, mas o walkie-talkie ficou perto da cachoeira. 
— Tudo bem — Tasha murmurou com esforço. — Prometo não 
fugir — tentou brincar. 
Chase sorriu para encorajá-la. 
— Prometo voltar logo. 
— Confio em você — Tasha declarou e Chase tornou-se ainda 
mais pálido. 
Abriu a boca para dizer algo, mas desistiu. 
— Comece a contar, querida. Estarei de volta antes que chegue ao 
cem — declarou e começou a subir o barranco. 
Tasha chegava ao sessenta, quando uma dor lancinante percorreu 
seu corpo. Com um espasmo, ela bateu a cabeça já ferida e, desta vez, a 
consciência não resistiu e ela mergulhou na escuridão. 
 
Quando despertou, Tasha soube onde estava pelo cheiro 
inconfundível do hospital. Lembrou-se de ter sentido muita dor, mas 
agora, estava livre dela. Sentia-se vazia e sabia por quê. 
Perdera o bebê. 
Sabia disso, embora ninguém houvesse lhe contado. Onde antes 
existira vida, agora não havia nada. E Tasha não sentiu nada além de 
uma vaga noção de fatalidade. O destino não lhe permitira ter seu 
filho, assim como não lhe permitira ter Chase. Agora, tudo havia 
voltado a ser o que era antes. Chase estava livre. 
Olhou em volta. Era noite. Não sabia há quanto tempo estava ali, 
mas não se importava. Nada mais importava. 
Quando seus olhos pousaram em Chase, adormecido em uma 
poltrona, com a barba por fazer e as mesmas roupas que usava quando 
ela sofrera o acidente, Tasha calculou que era terça-feira. 
Chase abriu os olhos e ao vê-la acordada, endireitou-se com um 
gemido. 
— Estas poltronas são verdadeiros instrumentos de tortura! — 
exclamou. 
— Você deveria ter voltado para casa — Tasha falou com voz 
inexpressiva. 
Ele estreitou os olhos. 
— Não podia deixá-la, sem saber como você estava. 
— Estou bem. Só um pouco dolorida. 
— Tasha — Chase começou, hesitante, como se procurasse pelas 
palavras certas. 
— Tudo bem. Não precisa me dizer nada. Sei que perdi o bebê — 
ela continuou usando o mesmo tom desprovido de emoção. 
Notou que os olhos de Chase estavam vermelhos e se perguntou se 
ele havia chorado. Considerando a possibilidade remota demais, 
afastou o pensamento. 
— Os médicos disseram que foi o choque. Sinto muito, Tasha. Eu 
queria muito aquele bebê. 
— Queria? 
— Claro! Como pode duvidar? 
— Desculpe. Não tive a intenção de deixá-lo nervoso. 
— O que há com você? — Chase inquiriu, perturbado. — Está se 
comportando como se não se importasse, mas eu sei que você também 
queira aquele filho. 
— Tudo é menos complicado, agora — Tasha respondeu, olhando 
para a janela. 
— Menos complicado? — ele repetiu, parecendo mais confuso a 
cada segundo. — Você não está bem. Não é possível que você possa 
encarar tudo isso com tamanha frieza! Só pode ser resultado do 
choque. É melhor você conversar com alguém. 
Ela deu de ombros. 
— Você realmente deveria ir para casa, Chase. Se não descansar, 
vai acabar ficando doente. 
Com um movimento súbito, Chasepôs-se de pé e se aproximou da 
cama. 
— Pare de se preocupar comigo! Não fui eu quem despencou de 
um barranco. Pensei que estivesse morta! 
— Acontece que não morri. Só perdi o meu bebê, o que não faz de 
mim a única. Acontece a centenas de mulheres, todos os dias. 
— E todas elas recebem a notícia como você? Sem derramar uma 
lágrima sequer? 
— Por que está tão zangado? Não percebe que foi melhor assim? 
Chase parecia prestes a perder de vez o controle. 
— Melhor? Para quem? 
Tasha franziu o cenho. Por que ele não podia compreender? Era tão 
claro. 
— Para você — respondeu. — Está livre, agora. 
— Livre? — Chase repetiu e fechou os olhos. — Tasha, do que está 
falando? 
— Você está livre para viver a sua vida. 
Em vez de responder, Chase foi até a janela. 
— Acho que estou entendendo. É muita generosidade sua, mas... e 
quanto a você? — perguntou, de costas para ela. 
— Eu? — ela repetiu, confusa. 
— O que vai fazer da sua vida? 
— Ah, pensarei em alguma coisa. Mas isso não é importante. Só 
quero que saiba que está livre, para que não tenha mais nenhum 
arrependimento. 
Chase respirou fundo. 
— Acha que não terei mais nenhum arrependimento, agora, que 
estou livre? 
Tasha suspirou, cansada. 
— Sei que não terá. Portanto, foi melhor assim. 
— Acha que não amo você, Tasha? 
— Sei que você não quer me amar. 
— Foi por isso que fugiu de mim? Por achar que eu estava 
arrependido de tudo, inclusive do bebê? 
— Você é um homem honrado, Chase. Jamais teria coragem de 
abandonar seu filho. 
— Ah, Tasha, não acho que minha atitude foi muito honrada. 
— Não faz diferença, agora. Nada mais faz. Estou cansada e você 
deve ir para casa e dormir um pouco. Tem de estar no tribunal, 
amanhã, e não vai querer desapontar seu cliente. 
Ele soltou uma risada amarga. 
— Mas posso desapontar você. 
— Você não me desapontou. 
— Diabos, mulher! Não diga isso! — ele ordenou, descontrolado. 
Então, recuperando a compostura, falou: — Este não é o momento de 
tentarmos resolver coisa alguma. Tem razão. Preciso estar no tribunal 
amanhã e tudo isso não poderia ter acontecido em pior hora. Preciso 
ir, mas voltarei assim que puder. 
— Tudo bem. Eu compreendo. 
— Não, você não compreende coisa alguma — Chase a corrigiu. — 
E eu não tenho tempo de esclarecer as coisas. Escute, querida. Meus 
pais estão a caminho. Você ficará com eles. Assim, terei a certeza de 
que está sendo bem cuidada. Prometa não tomar nenhuma atitude 
precipitada, Tasha. 
— Tudo bem — ela concordou. 
Ainda não sabia o que ia fazer, mas não tomaria uma atitude 
precipitada... apenas uma atitude lógica. 
Depois de estudá-la por um momento, sem saber se podia confiar 
nela, Chase acrescentou: 
— Precisamos conversar, Tasha. 
— Temos algo a dizer, um para o outro? — ela desafiou, pois 
realmente acreditava que haviam dito tudo o que havia para dizer. 
— Muito mais do que você imagina. Ah, como eu gostaria de poder 
ficar! 
— Sei que precisa ir. Compreendo e vou ficar bem. Não se 
preocupe comigo — Tasha garantiu, desejando que ele fosse logo 
embora. — Estou cansada. Quero dormir — declarou e fechou os 
olhos. 
Chase esperou até que a respiração de Tasha adquirisse ritmo 
regular, para então, sair à procura de um médico. 
 
Quando Tasha voltou a acordar, já era de manhã. Sentiu-se 
dolorida, mas a abençoada sensação de torpor ainda a envolvia como 
um manto. Ficou satisfeita ao se levantar e constatar que não tinha 
tonturas. No banheiro, o espelho mostrou os resultados superficiais de 
sua queda. As cicatrizes desapareceriam em breve, ao contrário das 
que eram invisíveis. 
Tinha de ficar sozinha para pensar. Precisava ir a algum lugar, 
onde pudesse refletir em paz e tomar suas decisões. A mais difícil já 
fora tomada. Deixaria Chase. 
Voltou para o quarto quando o médico entrava. 
— Vejo que já está andando! — ele exclamou. — Como se sente? 
Tem alguma dor, ou tontura? 
Esperou que ela se deitasse, para então examiná-la. 
— Sinto-me bem. Quando posso ir para casa? 
— Com pressa de ir embora? — ele perguntou, cruzando os 
braços. — Seu marido está muito preocupado, sra. Calder. 
— Eu sei. Já disse a ele que não precisa se preocupar. 
O médico ergueu uma sobrancelha. 
— Ele acha que a senhora ainda está sob o choque da perda do 
bebê. Estou inclinado a concordar com ele. 
Tasha fitou-o nos olhos. 
— Só porque não chorei? 
Ele deu de ombros. 
— Seria uma reação normal. 
— Não sinto vontade de chorar. Isso me torna anormal? 
— Não. Cada um reage à sua maneira — ele admitiu. 
— Nesse caso, gostaria de ir para casa. Quando isso pode 
acontecer? 
O médico consultou a prancheta que tinha nas mãos. 
— Bem, a senhora não mostra sinais de concussão. Desde que nada 
aconteça nas próximas vinte e quatro horas, creio que terá alta 
amanhã. 
— Obrigada, doutor. O senhor é muito gentil. 
Percebendo que estava sendo dispensado, embora desconsertado, 
ele saiu com um aceno de cabeça. 
Sozinha de novo, Tasha fechou os olhos. No dia seguinte, sairia 
dali. Só lhe restava decidir para onde iria. 
Quando Elaine chegou no hospital, Tasha já fizera uma reserva em 
um hotel-fazenda, indicado por uma das enfermeiras. Só teria de 
apanhar seu carro e suas roupas, para que seus planos estivessem 
completos. 
Estava repassando tais planos na mente, quando a sogra entrou no 
quarto. Pela primeira vez desde o acidente, Tasha sentiu um nó na 
garganta, quando Elaine a abraçou. 
— Minha pobre Tasha... Que coisa horrível! — a sogra falou com 
tristeza. 
— Eu deveria ter sido mais cuidadosa — Tasha afirmou. 
— Acidentes acontecem. Não se pode culpar ninguém. É muito 
triste, mas outros filhos virão. 
— Talvez — Tasha replicou, desviando os olhos, pois sabia que 
não viriam. 
— Você diz isso agora — Elaine tentou confortá-la —, mas 
quando chegar o momento... Agora, pense apenas em voltar para casa 
conosco e se recuperar. 
Tasha sorriu. 
— Você sempre foi tão boa para mim, Elaine. 
A boa senhora afagou-lhe os cabelos. 
— É muito fácil ser boa com você, minha querida. John e eu 
achamos que Chase é um homem de muita sorte, por ter encontrado 
você. Agora, diga-me, já sabe quando vai ter alta? 
Ficou por mais uma hora, conversando sobre amenidades e, então, 
partiu com a promessa de voltar bem cedo, na manhã seguinte. 
Tasha já estava pronta quando Elaine e John chegaram, pela 
manhã. Assim que chegaram em casa, Tasha foi para o quarto que 
partilhara com Chase, trocou de roupa, fez a mala e voltou a descer. 
Deixando a mala ao lado da porta da frente, foi até a sala, onde 
estavam os sogros. Parou na porta. 
— Vou embora — anunciou em voz baixa, reconhecendo o choque 
dos Calder. 
— Para onde vai? — Elaine inquiriu, incrédula. 
— Não posso dizer. Preciso ficar sozinha e não quero que Chase vá 
à minha procura. 
Os dois se puseram de pé, fitando-a com expressão atônita. 
— Por que não quer que Chase a encontre? — John perguntou. 
— Porque é melhor assim. 
— Fugir nunca é a melhor solução, Tasha. Ficar e tentar resolver o 
problema é sempre o melhor caminho — ele insistiu. 
— Não, desta vez. O melhor a fazer é corrigir o meu erro. — Elaine 
mostrou-se muito ansiosa. 
— Tasha, querida, nada disso faz o menor sentido. 
— Eu menti para todos vocês — Tasha confessou a queima-roupa. 
— Quando nos conhecemos, deixei que pensassem que eu era a noiva 
de Chase, mas não era. Minha irmã e eu somos gêmeas idênticas. Era 
com ela que Chase pretendia se casar. 
— Meu Deus! — Elaine exclamou, voltando a sentar-se. 
— Eu me apaixonei por ele e fingi ser minha irmã — Tasha 
continuou. — Chase se apaixonou por mim, pensando que eu era ela. 
Após um breve momento de silêncio, John perguntou: 
— Quando Chase descobriu a verdade? 
— Há mais ou menos uma semana. 
Elaine parecia prestes a desmaiar. 
— Ah, Tasha, não! — ela murmurou com voz fraca, os olhos se 
enchendo de lágrimas. 
Tasha engoliu seco, tentando livrar-se do nó na garganta. 
— Por isso, tenho de ir embora. É a única maneira de corrigir o 
erroque cometi. — Virou-se, mas antes de alcançar a porta, olhou 
para trás. — Por favor, digam a Chase que ele não deve se arrepender 
de nada. Ele é um homem livre, agora. 
Com isso, apanhou a mala ao lado da porta, saiu da casa, entrou no 
carro e partiu, sem sequer olhar para trás. 
Dentro da casa, John Calder trocou um olhar significativo com a 
esposa e apanhou o telefone. 
 
 
 
Dias depois, com os braços apertados em torno do corpo a fim de 
espantar o frio, Tasha observava a chuva que banhava a noite, da 
varanda do chalé que alugara. Uma semana antes, partir fora uma 
necessidade urgente. Agora, porém, não sabia o que fazer dali por 
diante. Não tinha propósito, nem pressa. Tudo o que realmente 
importava deixara de existir. 
Distraída, pensou que deveria comer, mas não sentia fome. Não 
sentia nada, exceto o frio, que lhe provocou um arrepio. 
— Está com frio, Tasha? — perguntou uma voz familiar. 
Chase estava parado na outra extremidade da varanda. 
— Não deveria estar no tribunal? — ela perguntou, ainda incapaz 
de sentir qualquer coisa. 
— Quando meu pai telefonou, consegui um adiamento do 
julgamento. 
E, depois disso, não fora difícil encontrar a enfermeira que sabia do 
paradeiro de Tasha. Mas, por que ele fora até ali? Não teria sido mais 
fácil deixar que tudo terminasse daquela maneira? 
— Não ouvi você chegar — Tasha perguntou, fitando-o nos olhos. 
Como se examinasse outra pessoa, estudou os próprios 
sentimentos. Ainda o amava e amaria para sempre, mas não poderia 
tê-lo. Depois de tantas horas naquela varanda, olhando a chuva que 
caíra sem parar, desde que ela chegara, a idéia já fora aceita e a dor não 
a perturbava mais. 
— Vim caminhando desde a recepção — Chase explicou. — Não 
queria lhe dar a chance de fugir de novo. 
— Existe uma diferença entre fugir e partir. 
— O resultado é o mesmo. 
Tasha concluiu que era isso mesmo o que ele pensava, pois não 
conseguia ver o que ela via com tanta clareza. 
— Então, decidiu vir atrás de mim. 
— Acreditou, realmente, que eu não viria? 
— Teria sido melhor. Só está tornando as coisas mais difíceis para 
você mesmo. É evidente que está exausto e não estaria, se tivesse feito 
o que eu sugeri. 
— Agradeço a preocupação, mas o que a faz pensar que teria sido 
mais fácil deixá-la partir? — Chase perguntou, aproximando-se 
alguns passos. 
Tasha franziu o cenho. Por que ele se recusava a enxergar a razão? 
— Você precisa se livrar de mim, Chase. Sabe disso tanto quanto 
eu. 
— Se isso fosse verdade, por que eu teria pedido que você 
prometesse não tomar nenhuma atitude precipitada? — ele 
argumentou. 
— Porque você se sentiu responsável por eu ter perdido o bebê — 
ela respondeu com voz totalmente desprovida de emoção e, por ter 
escolhido justamente aquele momento para afastar os cabelos do 
rosto, não viu a expressão dele endurecer diante de sua reação fria. 
— Sou responsável — Chase admitiu. 
Tasha sacudiu a cabeça. 
— Fui eu quem saiu correndo. 
— Mas fui eu quem a fez correr. 
— Nada disso importa, agora. Perdi o bebê e você está livre. 
A indiferença de Tasha despertou a fúria de Chase. Com um 
movimento rápido, ele cobriu a distância que os separava e a segurou 
pelos ombros. 
— Já chega! Nunca vou me livrar de você, Tasha, simplesmente 
porque não quero! — declarou com veemência. 
Em vez de reagir, Tasha manteve a mesma calma impassível. Sabia 
por que Chase estava agindo daquela maneira e estava decidida a fazer 
o que estivesse ao seu alcance para ajudá-lo a se livrar do sentimento 
de culpa. 
— Você não sabe o que está dizendo — falou. 
— Sei, sim. Nunca tive tanta certeza de alguma coisa, em toda a 
minha vida. Diabos, Tasha! Por que é tão difícil acreditar em mim? 
Um sorriso triste curvou os lábios dela. 
— Chase, pare de se preocupar comigo. Eu estou bem. Já não sofro 
por causa de arrependimentos. 
Chase fechou os olhos. 
— Ah, esses malditos arrependimentos! Você não faz idéia de 
quanto eles têm me torturado! 
— Você não tem culpa de sentir o que sente — Tasha murmurou, 
tentando confortá-lo. 
— Não foi isso o que eu quis dizer — Chase corrigiu com 
paciência forçada. — Não é o que está pensando. 
— Não estou pensando nada — ela garantiu, dando de ombros. 
— Pois pode começar a pensar, agora mesmo! — Chase explodiu. 
— Ora, por favor, me desculpe. 
— Tudo bem. 
— Não está tudo bem, Tasha. Preciso encontrar um meio de 
atravessar essa barreira que você construiu em torno de si mesma. 
— Estou ouvindo o que está dizendo, Chase. 
— Está ouvindo com a cabeça, mas não com o coração. Quero 
explicar... 
— Não preciso de explicações, Chase. Elas não vão fazer a menor 
diferença, agora. 
— Mas fazem, para mim! Eu quero, ou melhor, eu preciso explicar. 
Vai me ouvir? 
Tasha não queira ouvir coisa alguma, mas era evidente que Chase 
precisava falar. Quem sabe, depois de desabafar, ele pudesse ver a 
situação como ela via. 
— Está bem. Vamos entrar — convidou e conduziu-o para dentro 
do chalé. — Você está encharcado. Pendure o casado atrás da porta e 
acenda a lareira. Vou preparar um café. 
Quando Tasha voltou, a lareira estava acesa e Chase se acomodara 
no sofá. Após alguns momentos de silêncio constrangedor, enquanto 
os dois bebericavam o café, Tasha falou: 
— Estou ouvindo. — Chase respirou fundo, como se precisasse 
reunir coragem. 
— Naquele dia, na cachoeira, depois que fizemos amor, você me 
perguntou se eu me arrependia de alguma coisa. Eu disse que tinha 
muitos arrependimentos, mas ter feito amor com você não era um 
deles. Eu jamais me arrependeria disso. Quando me dei conta do que 
você estava pensando, tentei explicar, mas você não me ouviu. Saiu 
correndo e, quando vi a direção que tomou, esqueci as explicações. 
Meu sangue gelou. Nunca senti tamanho pavor. Então, você caiu e eu 
pensei que fosse enlouquecer. Mas você estava viva... tão corajosa... Eu 
não queria deixá-la, mas era preciso. E você disse que confiava em 
mim... — Chase ergueu os olhos atormentados para Tasha. — Foi 
então que me dei conta do que tinha feito, de como havia desapontado 
você. 
Tasha desviou o olhar, sabendo que isso não era verdade. Afinal, 
fora ela quem mentira e enganara. 
— Não diga isso, Chase. Você nunca me desapontou — declarou e, 
pela primeira vez, sua voz carregava um toque de emoção. 
Percebendo a mudança, Chase agarrou-se à tênue possibilidade de 
falar ao coração de Tasha. 
— É a mais pura verdade, Tasha. Desapontei você ao dar mais 
importância ao meu orgulho do que ao meu amor. 
Tasha voltou a fitá-lo, sentindo a determinação se abalar. 
— Não estou compreendendo — murmurou. 
— Quando descobri que você havia mentido, fiquei furioso — 
Chase falou e Tasha sentiu uma onda dolorosa percorrer-lhe o corpo. 
— Aquele fora o dia mais terrível de sua vida. 
— Eu sei — ela murmurou, tentando afastar as lembranças, que se 
recusaram a se apagar. 
Notando a dor nos olhos dela, Chase se odiou por ter de pressioná-
la ainda mais, mas sabia que não havia outra maneira de atingi-la. 
— Olhando para você, agora, posso imaginar como se sentiu. Mas, 
na ocasião, tudo o que eu sabia era que a mulher em quem eu confiava 
havia mentido. 
Tasha foi tomada por um violento tremor. 
— Eu queria lhe contar, mas tinha medo — balbuciou. 
— E a minha atitude provou que você tinha todos os motivos para 
ter medo, não foi? 
— Você tinha o direito de reagir daquela maneira. 
— E você tinha o direito de esperar que eu, ao menos, ouvisse a sua 
explicação. Tratava-se de pouco, considerando-se que eu nunca deixei 
de amar você. Eu te amo, Tasha. 
A confissão acabou de vez com o casulo de insensibilidade que a 
envolvera ao longo de todos aqueles dias. Os sentimentos que ela 
conseguira evitar atacaram com força total. 
— Mas você não quer me amar, não é? — perguntou em um fio de 
voz. 
Pálido, Chase deixou a xícara sobre a mesa e se ajoelhou diante 
dela. 
— Olhe para mim, Tasha — pediu com voz estrangulada pelas 
lágrimas. 
— Não minta para mim! 
— Não estou mentindo,querida. Só quero que acredite em mim. 
Pensei que não quisesse amar você, mas a verdade é que sempre te 
amei, em cada segundo. Só não queria que você soubesse disso. 
Tasha fitou-o nos olhos, em busca da confirmação das palavras 
dele. E foi o que encontrou no desprezo que ele sentia por si mesmo 
pelo que havia feito. Uma raiva desmedida explodiu dentro dela. 
— Por quê? — inquiriu, furiosa. 
— Para punir você, mas Deus sabe que só me dei conta do que 
estava fazendo quando me vi diante da possibilidade real de perdê-la. 
Sentado ao seu lado, no hospital, examinei minhas atitudes e não 
gostei nem um pouco do que vi. 
A dor que apertava o peito de Tasha era tão profunda, que ela 
chegou a pensar que não suportaria. 
— E o que você viu, Chase? 
— Vi um homem que se escondia atrás do fato de que sua esposa o 
amava demais para deixá-lo, poupando-o na necessidade de confessar 
que a amava. Todo o tempo, eu a afastei com uma das mãos, enquanto 
a mantive prisioneira com a outra. Recusei-lhe o meu amor, ao mesmo 
tempo em que garantia não perdê-la. 
Tasha sentiu a raiva se dissipar, pois fazia idéia de quanto era 
difícil para ele dizer a verdade. E ela sabia que tudo aquilo era a mais 
pura verdade. Chase lhe contara, não só por acreditar que ela tinha o 
direito de saber, mas por saber que aquela seria a única maneira de 
tirá-la do torpor emocional. 
— É uma história e tanto — murmurou, abalada. 
— Você tinha de saber da verdade. 
— Agora, que me contou, o que espera de mim? — ela perguntou 
com um suspiro cansado. 
— Espero que me perdoe. Sei que não mereço. Acredite, não sinto 
o menor orgulho do que fiz. Preciso que me perdoe, Tasha, como eu 
deveria ter perdoado você. 
— Você me magoou, tanto, Chase. O que fiz foi errado, mas fiz por 
amor. O que você fez... 
— Não precisa me dizer — Chase a interrompeu. — O que fiz 
matou o nosso bebê e nunca vou me perdoar por isso! — Com um 
movimento brusco, levantou-se e foi até a janela. — Já não sei quem 
sou, Tasha. Eu não sabia que podia ser tão egoísta e cruel. Como posso 
pedir que me perdoe, tendo feito o que fiz? Meu Deus, eu matei o 
nosso filho! 
Horrorizada, Tasha observou-o abaixar a cabeça e vergar os 
ombros sob o peso da culpa. Não era justo que ele assumisse toda a 
responsabilidade pelo que acontecera. Os dois haviam cometido erros, 
o que não os tornava imperdoáveis, mas simplesmente, humanos. 
— Chase? — chamou, com a voz embargada pelas lágrimas. — Eu 
te perdôo. 
— Como pode? 
— Eu te amo — Tasha sussurrou e, só então, Chase voltou a erguer 
os olhos. 
Sem a menor hesitação, ela se levantou e atirou-se nos braços dele. 
— Tasha, não... 
— Não vou me afastar, nem vou permitir que se culpe. Nós dois 
erramos. Quanto ao nosso filho... talvez o destino tenha decidido 
assim. 
Emitindo um gemido doloroso, Chase apertou-a nos braços. Então, 
os dois choraram, até todo o pesar se dissipar de seus corações. Muito 
tempo depois, quando o silêncio finalmente voltou a reinar, a paz 
pareceu descer sobre eles. 
Chase suspirou. 
— Eu não sabia que algo poderia doer tanto. Primeiro, pensei que 
fosse perder você. Depois, soube que havíamos perdido o nosso filho. 
Naquela noite, no hospital, chorei como não fazia desde criança. De 
repente, eu me vi perdendo tudo... por causa do meu orgulho. 
— Nenhum de nós dois conseguiu se sair bem disso tudo, Chase. 
Distribuir culpas não vai ajudar em nada. Acho que deveríamos 
assumir o compromisso de perdoarmos a nós mesmos, bem como um 
ao outro, pelos erros que cometemos. 
— Acha mesmo que vai ser tão fácil? — ele duvidou. 
— Não quero brigar com você, Chase. Só quero te amar. 
— É o que eu quero, também. 
— E então? — ela inquiriu com voz rouca. 
Um sorriso curvou de leve os lábios de Chase. 
— Aqui? Agora? — Tasha devolveu-lhe o sorriso. 
— Conhece momento e lugar melhores? 
Haviam sofrido juntos, chorado juntos e, agora, chegara a hora de 
começar a curar as feridas, fazendo amor juntos. 
Chase segurou-lhe o rosto entre as mãos. 
— Tem certeza? Não quero magoá-la mais do que já magoei. 
Tasha virou o rosto, a fim de beijar-lhe uma das mãos. 
— Você me ama, Chase? 
— Mais do que tudo na vida. 
— Então, não vai me magoar. Se eu não acreditasse nisso, não seria 
capaz de amá-lo tanto. Quero voltar a ser feliz ao seu lado, Chase. 
— Seremos felizes novamente. É uma promessa que passarei a vida 
cumprindo. 
Com essas palavras, Chase beijou-a com ternura mesclada de 
paixão. Então, acomodou-a diante da lareira e deitou-se ao seu lado. 
Fizeram amor com calma e ternura. A paixão viria depois. O que 
precisavam agora, era reafirmar os sentimentos que tinham um pelo 
outro. A consciência da vulnerabilidade de ambos tornou-os 
cuidadosos e, em cada carícia, apagaram as velhas lembranças, 
construindo novas. 
Mais tarde, deitados nos braços um do outro, saboreando a paz 
que por pouco não haviam perdido de vez, permitiram-se observar o 
fogo sem pressa. 
— Não usamos nenhum tipo de proteção — Chase comentou em 
tom maroto, deslizando a mão pela pele macia de Tasha. 
— Para ser sincera, nem pensei nisso — ela admitiu, pousando a 
mão sobre a dele. — Não acho que corremos nenhum risco, por 
enquanto. 
— Ficaria contrariada se algo acontecesse? 
— Não. Quero ter filhos. 
— Isso é bom, pois tenho uma coisa para lhe contar. 
— O quê? 
— Existem vários casos de gêmeos, na minha família. 
Tasha ergueu a cabeça, os sentidos em estado de alerta. 
— Verdade? 
— Sim. Meu pai teve um irmão gêmeo, que morreu há alguns anos. 
Também tenho primos gêmeos, que você ainda não conheceu, porque 
estão fazendo uma longa excursão pela Europa. 
— São idênticos? 
— Idênticos e inseparáveis — Chase respondeu com um sorriso. 
Tasha também sorriu. 
— Deve ser tão bom — comentou com uma pontada de inveja. 
— Você não sabe? 
— Eu lhe disse que minha irmã e eu nunca nos demos bem. Nat 
preferiria que eu não existisse. Sempre me viu como uma rival, que 
rouba a atenção que ela gostaria de ter só para si. 
— É uma pena — Chase lamentou, apertando-a contra si. — Fico 
feliz por ter me casado com você em vez de com ela. 
— Mesmo sabendo que o enganei para que isso acontecesse? 
— Para ser sincero, afaga o meu ego saber que você seria capaz de 
qualquer coisa para ficar comigo — Chase admitiu com ar de garoto 
travesso. 
— Está dizendo que você, um advogado respeitável, é conivente 
com a mentira? 
— Só quando a mentira é contada por você, por amor a mim. 
— Isso está me cheirando a um acordo com a promotoria! 
— Nada de acordo! Sua pena será a prisão perpétua... ao meu lado. 
— Acho que não terei escolha, senão me declarar culpada. 
— Qual o crime? 
— Amor em primeiro grau — Tasha murmurou, colando os lábios 
aos dele. 
 
 
 
Tasha bebeu um gole de champanhe e suspirou, feliz. O sol 
brilhava, as pessoas que ela mais amava estavam reunidas no jardim de 
sua casa e a vida não poderia ser melhor. 
Olhou em volta e constatou que Chase desaparecera. Onde ele 
havia se enfiado? 
Deixou o copo de lado e saiu à procura do marido. 
— Foi lindo, querida — Elaine comentou, segurando-a pelo braço. 
Tasha sorriu para a sogra. 
— Graças a Deus! Tive medo de que eles se pusessem a berrar! 
— Bobagem! Os meninos são bem-comportados demais para criar 
uma confusão desse tipo. E Chase estava tão orgulhoso, que fiquei 
com lágrimas nos olhos! 
— Ele ama os dois — Tasha murmurou, também com um nó na 
garganta. — Com licença, Elaine. Preciso entrar por um momento. 
Ao entrar em casa, subiu a escada e se dirigiu para o quarto dos 
bebês, agora decorado com todas as cores do arco-íris. Parou na porta 
e sentiu as lágrimas brotarem nos olhos, diante da cena que viu. 
Chase encontrava-se agachado entre os dois berços iguais, cada 
mão sobre um dos filhos. Nicholas emitia pequenos sons, enquanto 
Mathew dormia profundamente. 
Aquela era a sua família, Tasha pensou, os três tão preciosos: 
Chase e seus filhos gêmeos, que haviam sido batizados poucas horas 
antes. Era difícilacreditar que seu casamento estivera tão perto do 
fim, apenas um ano antes. 
— Tinha certeza de que o encontraria aqui — murmurou, 
aproximando-se de Chase, que passou um braço em torno de seus 
ombros. 
— Não consigo ficar longe deles por muito tempo — Chase 
confessou. — Acha que eles sabem quanto são amados por nós? 
— Se ainda não sabem, logo vão saber. Você vai mimá-los até 
ficarem insuportáveis! 
— E você vai defendê-los como uma leoa! 
— Provavelmente. 
Chase suspirou e, então, soltou uma risada. 
— Eles vão nos deixar loucos, não acha? 
Tasha também riu. 
— Ah, sim! Vão tentar nos confundir, tentando se fazer passar um 
pelo outro — confirmou, sem sentir o menor constrangimento pela 
referência ao passado. 
O amor de Chase apagara todo e qualquer sentimento de culpa. Os 
laços que os uniam agora eram indestrutíveis. 
— Mas nós saberemos distinguir um do outro — Chase declarou. 
— Claro, mas não podemos contar a eles como sabemos! 
— Como você é perversa! 
— Sou, mas você me ama assim mesmo. 
Chase beijou-a nos lábios. 
— Amo tanto, que nem posso imaginar minha vida sem você. 
Obrigado por ter me dado filhos tão maravilhosos. 
— De nada. 
— Acha que eles vão se importar se eu beijar a mãe deles? 
— Não sei, mas eu vou me importar se você não beijar! 
— Nesse caso, venha cá — Chase ordenou e, tomando-a nos 
braços, beijou-a com ardor e paixão. 
Tasha retribuiu o beijo com igual intensidade, sabendo que 
finalmente encontrara seu pedacinho de paraíso na terra.

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