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2021
INTRODUÇÃO
A música Cálice, de Chico Buarque, foi escrita nos anos 70. Era uma música de protesto, escrita no auge da censura militar, que contra a violência e contra os abusos da ditadura. 
A composição que estamos analisando hoje, Cálice, do rapper Criolo, é uma releitura da música do Chico, porém, remodelada de modo a contemplar o ambiente e a problemática atual, criticando a desigualdade social vivida nas periferias, a violência que essas pessoas sofrem, a pobreza e também da falta de acesso ao ensino e uso de entorpecentes.
A triste constatação que fizemos durante o nosso trabalho é que, os versos que Chico tentou cantar naquele show de 1973, onde teve os microfones cortados, que lamentavam “tanta mentira, tanta força bruta” que falavam de uma violência imposta pelo estado, e hoje, apesar de vivermos em um estado democrático, essa violência ainda persiste, se mostrando de maneiras diferentes, principalmente quando se trata de pessoas de classe social e menos favorecida.
Nossa análise da letra da música composta por Criolo será feita por tópicos, dentro dos principais “temas da psicologia social” encontrados na música e estudados durante o curso.
LETRA DA MÚSICA
Como ir pro trabalho sem levar um tiro
Voltar pra casa sem levar um tiro
Se as três da matina tem alguém que frita
E é capaz de tudo pra manter sua brisa
Os saraus tiveram que invadir os botecos
Pois biblioteca não era lugar de poesia
Biblioteca tinha que ter silêncio
E uma gente que se acha assim muito sabida
Há preconceito com o nordestino
Há preconceito com o homem negro
Há preconceito com o analfabeto
Mas não há preconceito se um dos três for rico, pai
A ditadura segue meu amigo Milton
A repressão segue meu amigo Chico
Me chamam Criolo e o meu berço é o rap
Mas não existe fronteira pra minha poesia, pai
Afasta de mim a biqueira, pai
Afasta de mim as biate, pai
Afasta de mim a coqueine, pai
Pois na quebrada escorre sangue, pai
Pai
Afasta de mim a biqueira, pai
Afasta de mim as biate, pai
Afasta de mim a coqueine, pai
Pois na quebrada escorre sangue
EXCLUSÃO SOCIAL E COMUNIDADE
“Como ir ao trabalho sem levar um tiro?” 
Para muitos, pode parecer apenas um verso de música, mas para outros é uma realidade enfrentada todos os dias. Dentro das comunidades por todo país, a opressão faz parte da rotina. Ter o direito básico de ir e vir seguramente dentro de um ambiente, muitas vezes, perigoso é cada vez mais difícil. Dentro dessas comunidades, a exclusão social e opressão andam lado a lado. Não se tem educação de qualidade, não se tem segurança e direitos básicos pois na quebrada se “escorre sangue”. 
O RAP surge como um instrumento de voz para essa parcela que grita, mas não tem suas doures ouvidas. Para aqueles que levam os saraus para os becos já que seus habitantes não ocupam socialmente locais como bibliotecas. E não só biblioteca como o espaço físico, mas também como o local de saber, de incentivo ao estudo e de acesso à cultura.
A ditadura segue, mas não mais militar, a ditadura agora é estrutural. E repressão é social. As estruturas sociais não dão espaço para a democratização do conhecimento, do estudo e das oportunidades. A repressão social sofrida pelos habitantes das comunidades é tão forte que afasta muitos jovens do sonho de uma vida digna e melhor do que a realidade vivenciado por eles. Muitas vezes a única saída para a maior parte dessas pessoas é o tráfico, a prostituição e a droga. Como fica claro na visão do autor ao pedir “afaste de mim a biqueira, afaste de mim as biate, afaste de mim as coqueine.”
Ainda assim, no meio de tanta opressão, a música e a poesia levam a esperança já que como a música diz; não se existe fronteira para poesia. Artistas como Criolo levam esperança para milhares de jovens de comunidade, que veem nele e em outros artistas do meio a esperança para mudar de vida e a força para continuarem persistindo em seus sonhos.
IDENTIDADE 
 A busca pela identidade pessoal é a encarnação de todo um complexo sistema de relações sociais presentes antes do sujeito no Mundo. Identidade como um dos elementos formadores da subjetividade aponta para a ideia de contágio.
 A identidade social é o que possibilita o reconhecimento social da pessoa, mas também pode ser motivo de estigma. É a construção individual e coletivamente, permite que o indivíduo se localize em um sistema social e seja localizado socialmente, através de um percurso existencial de permanente mudança.
 A construção da identidade ocorre de forma gradativa no contexto relacional e contínuo. O ser humano depende da interação social com Mundo real para que haja aquisição de sua identidade.
 Em relação a música Criolo mostra a luta de um trabalhador que busca se manter socialmente em um ambiente desafiador aos seus ideais e sobrevive ao caos. 
Como ir pro trabalho sem levar um tiro
Voltar pra casa sem levar um tiro
Se as três da matina tem alguém que frita 
E é capaz de tudo pra manter sua brisa”.
 
 Criolo, como uma linguagem de um sujeito que transita entre as ruínas de uma modernidade brasileira que fracassou como promessa de progresso expostas à violência do Mundo moderno, isso porque é disfarçada a ideia da enorme desigualdade social presente no Brasil.
 A canção fala da violência que o morador na favela sofre, por parte de desconhecidos.
 No sentido ideológico, a temática de mais ênfase tratada na canção Criolo é a falta de acesso.	
 O 3º e 4º versos da primeira estrofe fazem referências ao vício em drogas, através dos termos ‘FRITA” e “brisa”. O contexto da violência gerada pela política e pelo traficante. Os dilemas são os mesmos, que os contratos de liberdade estão apenas nas folhas, pois os negros, nordestinos e o pobre ainda são perseguidos e estão à margem de uma sociedade caótica e incongruente.
 A exclusão produz um sentimento de humilhação, impede o sentimento de pertencimento. A exclusão social integra o campo da pobreza, pela falta de acesso aos elementos mínimos da sociedade, como saúde, educação, saneamento básico, emprego e boas condições de moradia.
IDEOLOGIA
A ideologia definida como positiva é composta por ideias políticas vinculadas aos interesses de classe e este ponto é encontrado em toda a canção, visto que o sujeito dominado clama por um pai, que significa Deus, única divindade considerada capaz de proteger a todas as pessoas que enfrentam as maldades na periferia e pai também dá sentido ao governo, sujeito dominador, que na teoria deve dar instrução para todos, mas na prática, não inclui quem é pobre, pois nunca proporcionou educação pública de qualidade, o que é reparado pelo enunciador ao citar o problema da elitização das bibliotecas do Brasil no trecho: Os saraus tiveram que invadir os botecos/ Pois biblioteca não era lugar de poesia/ Biblioteca tinha que ter silêncio/ E uma gente que se acha assim muito sabida.
No sentido ideológico, a temática de mais ênfase tratada na canção de Criolo é a falta de acesso a um ensino de qualidade igualitário, que pode ter como consequência a ignorância e isso auxilia para que as pessoas escolham caminhos ruins, como o das drogas, por não ter expectativas de melhora. Percebemos a clareza disso no verso Afasta de mim a cocaine, pai, ou seja, a cocaína. O uso de entorpecentes é uma questão muito recorrida na obra e notamos isso em alguns trechos que carregam palavras como frita, brisa e biqueira. que significam respectivamente: estar sobre o efeito de drogas; ter alucinações e ponto de encontro para venda de drogas ilegais. Sobre esse tema, Criolo disse em uma entrevista:
É uma preocupação de todas as pessoas que querem o bem [...] abordar esses temas porque tá aí [...], o crack tá aí, a cocaína tá aí. Em qualquer lugar você tem uma bebida alcoólica e qualquer garoto de qualquer idade consome isso e é lícito e o buraco é mais em baixo, é perceber que dentro de cada um de nós existe uma força que pode passar uma simples mensagem: “olha, isso não é legal pra você” (DE FRENTE COM GABI, 2012)
Na Cálicede Criolo há uma comparação direta sobre a ditadura de antigamente com os tempos atuais no trecho a ditadura segue meu amigo Milton/ a repressão segue meu amigo Chico, isso porque o modelo da ditadura, que antes reprimia alguns, ainda funciona no modelo da democracia, reprimindo e manipulando, implicitamente, pessoas sem poder aquisitivo, que seguem sem acesso à cultura, à educação e ao conhecimento de mundo por serem privadas de reconhecer suas histórias como iguais ou melhores que a dos outros por uma chance de ascensão.
PRECONCEITO
Entre os pontos implícitos da canção, há o argumento de que as drogas e o tráfico causam a violência e isso prejudica quem mora na periferia, que além de ter que enfrentar os problemas na comunidade, também sofre fora dela o preconceito por ser pobre, como vemos na estrofe:
 Há preconceito com o nordestino
 Há preconceito com o homem negro
 Há preconceito com o analfabeto
 Mas não há preconceito se um dos três for rico, pai. 
Com isso, se dissemina uma enorme desigualdade social, estimulada pelo sistema capitalista, formador dos moldes de justiça e mérito que permanece até hoje sendo modelo de vida dos brasileiros.
O preconceito que é tão fortemente vivenciado por negros, nordestinos e analfabetos poderia ser diminuído se esses possuem alta condição financeira. Deixando claro que na visão do autor muitas vezes o dinheiro compra um posto social. 
SUBJETIVIDADE
Podemos entender “subjetividade” como o encontro entre o indivíduo e o mundo com o qual ele se relaciona, sob uma ótica pessoal. Ela é um olhar intimo sob si próprio. É uma construção identitária, um espaço do indivíduo, de como ele “se vê” diante do mundo com o qual ele se relaciona.
A personalidade torna-se para si aquilo que ela é em si, através daquilo que ela antes manifesta como seu em si para os outros. Este é o processo de constituição da personalidade. Daí́ está claro, porque necessariamente tudo o que é interno nas funções superiores ter sido externo: isto é, ter sido para os outros, aquilo que agora é para si. Isto é o centro de todo o problema do interno e do externo (Vigotski, p. 24).
O processo de formação da subjetividade acontece na relação com o outro e é um movimento que passa por vários mediadores. Ele passa pela linguagem e pelo contexto histórico-cultural, mas também se desenvolve pela percepção e absorção de signos e significados construídos nas suas relações e na sociedade a qual está inserido.
Segundo essa perspectiva, vinculamos os impactos causados na formação da subjetividade do indivíduo pelo ambiente de violência e desigualdade social explicitado na música do Criolo, concluindo que haverá um comprometimento psíquico das pessoas que vivem nesses ambientes. Além disso, pensamos que, formas de sofrimento decorrentes do convívio diário com a violência, com o tráfico de drogas, um cenário de opressão que permeiam a formação e a estruturação do psiquismo das pessoas que vivem nesse ambiente, influenciarão negativamente, de incontáveis maneiras, a constituição de sua subjetividade.
Além disso, nos trechos onde o cantor cita o uso de drogas entendemos esse comportamento como uma forma de anestesia, onde ele tenta utilizar os efeitos dos entorpecentes para fugir da sua realidade, afastar-se do sofrimento, criando um falso ambiente de prazer ilusório
REFRÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
· DE FRENTE COM GABI. Direção: Maria Helena Amaral. Produção: Márcia Mello. Entrevista com Criolo. Osasco: SBT, 2012.
· https://www5.pucsp.br/nexin/livros/psicologia-socio-historica.pdf (retirado em 21 de abril de 2021)
· https://pt.wikipedia.org/wiki/Subjetividade (retirado em 21 de abril de 2021)
· BERGER,L. A Construção social da realidade:Tratado de sociologia do conhecimento,2018.
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