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Sistema Nervoso – Tronco Encefálico Yasmin Azevedo Neves Anatomofisiologia do Tronco Encefálico e as Subdivisões e sua Função Fica abaixo do diencéfalo, superior à medula e na frente do cerebelo. É uma localização estratégica pois todas as informações motoras que saem do córtex cerebral em direção à medula, passarão pelo tronco encefálico. E as informações sensoriais que saem do corpo para a medula em direção ao córtex, também passarão pelo tronco encefálico. O tronco encefálico tem bastante relação com o cerebelo e é por isso que as lesões no tronco encefálico causam déficit muito grande. O tronco encefálico é a região mais antiga e mais primitiva do encéfalo e consiste em estruturas que derivam do mesencéfalo e do rombencéfalo embrionários. O tronco encefálico pode ser dividido em substância branca e substância cinzenta, sendo que, em alguns aspectos, a sua anatomia é similar à da medula espinal. Alguns tratos ascendentes da medula espinal cruzam o tronco encefálico, ao passo que outros tratos ascendentes fazem sinapse neste ponto. Os tratos descendentes provenientes de centros superiores do encéfalo também cruzam o tronco encefálico em seu caminho para a medula espinal. Pares de nervos periféricos partem do tronco encefálico, de maneira similar aos nervos espinais ao longo da medula espinal. Onze dos 12 nervos cranianos (números II- XII) originam-se ao longo do tronco encefálico. Os nervos cranianos carregam as informações sensorial e motora relativas à cabeça e ao pescoço. O tronco encefálico contém numerosos grupos distintos de corpos de células nervosas, ou núcleos. Muitos desses núcleos estão associados à formação reticular, uma coleção difusa de neurônios que se estendem por todo o tronco encefálico. O nome reticular significa “rede” e se origina dos entrelaçamentos de axônios que se ramificam profusamente para cima, a divisões superiores do encéfalo, e para baixo, em direção à medula espinal. Os núcleos do tronco encefálico estão envolvidos em muitos processos básicos, incluindo sono e vigília, tônus musculares e reflexos de estiramento, coordenação da respiração, regulação da pressão arterial e modulação da dor. Começando na medula espinal e se deslocando para a parte superior do crânio, o tronco encefálico consiste no bulbo, na ponte e no mesencéfalo. - Bulbo: Estrutura mais inferior que se conecta com a medula espinal. A medula oblonga, muitas vezes chamada apenas de bulbo, representa a transição entre a medula espinal e o próprio encéfalo. A sua substância branca inclui tratos somatossensoriais ascendentes, que levam informação sensorial ao encéfalo, e o trato corticospinal descendente, que conduz informação do cérebro para a medula espinal. Cerca de 90% das fibras dos tratos corticospinais cruzam a linha média para o lado oposto do corpo, na região do bulbo chamada de pirâmides. Como resultado desse cruzamento, cada lado do encéfalo controla o lado oposto do corpo. A substância cinzenta do bulbo inclui os núcleos que controlam muitas funções involuntárias, como pressão arterial, respiração, deglutição e vômito. – Ponte: Entre o mesencéfalo e o bulbo e é por onde a artéria basilar passa. A ponte é uma saliência bulbosa na superfície ventral do tronco encefálico, acima do bulbo e abaixo do mesencéfalo. Por sua função principal de atuar como estação retransmissora de informações entre o cerebelo e o cérebro, a ponte muitas vezes é agrupada com o cerebelo. A ponte também coordena o controle da respiração junto aos centros do bulbo. – Mesencéfalo: A terceira região do tronco encefálico, o mesencéfalo, é uma área relativamente pequena, situada entre a região inferior do diencéfalo e o tronco encefálico. A principal função do mesencéfalo é controlar o movimento dos olhos, mas ele também retransmite sinais para os reflexos auditivos e visuais. Divide-se em uma porção dorsal que é chamado de tecto do mesencéfalo e uma porção ventral que é chamado de pedúnculo cerebral. O que tem no tronco encefálico: Núcleos (corpos de neurônios dentro do SNC) Vias Descendentes e Ascendentes Formação Reticular Circuito Cerebelar Nervos Cranianos O tronco cerebral é diretamente responsável por muitas funções especiais de controle, como as seguintes: 1. Controle da respiração. 2. Controle do sistema cardiovascular. 3. Controle parcial da função gastrointestinal. 4. Controle de muitos movimentos estereotipados do corpo. 5. Controle do equilíbrio. 6. Controle dos movimentos oculares. O tronco cerebral serve como estação de passagem para “sinais de comando” dos centros neurais superiores. O papel do tronco cerebral no controle do movimento corporal total e no equilíbrio: Especialmente importante para essas finalidades são os núcleos reticulares e os núcleos vestibulares do tronco cerebral. Sistema Reticular Pontino: Os núcleos reticulares pontinos transmitem sinais excitatórios descendentes para a medula espinal pelo trato reticuloespinal pontino na coluna anterior da medula. As fibras dessa via terminam nos neurônios motores anteriores mediais, responsáveis pela excitação dos músculos axiais do corpo, que sustentam o corpo contra a gravidade — isto é, os músculos da coluna vertebral (paravertebrais) e os músculos extensores das extremidades. Os núcleos reticulares pontinos têm alto grau de excitabilidade natural. Ademais, recebem fortes sinais excitatórios dos núcleos vestibulares, bem como dos núcleos profundos do cerebelo. Portanto, quando o sistema excitatório pontino fica sem oposição pelo sistema reticular bulbar provoca excitação tão poderosa dos músculos antigravitários em todo o corpo, que animais quadrúpedes, quando colocados na posição em pé, sustentam o corpo contra a gravidade sem qualquersinal dos níveis mais altos do cérebro. Sistema Reticular Bulbar: Os núcleos reticulares bulbares transmitem sinais inibitórios para os mesmos neurônios motores anteriores antigravitários por meio de trato diferente, o trato reticuloespinal bulbar, localizado na coluna lateral da medula. Os núcleos reticulares bulbares recebem fortes colaterais de aferência: (1) do trato corticoespinal; (2) do trato rubroespinal; (3) de outras vias motoras. Esses tratos e vias normalmente ativam o sistema inibitório reticular bulbar para contrabalançar os sinais excitatórios do sistema reticular pontino, assim, sob condições normais, os músculos corporais não ficam anormalmente tensos. Ainda assim, alguns sinais de áreas superiores do encéfalo podem “desinibir” o sistema bulbar, quando se deseja excitar o sistema pontino para que o indivíduo fique em pé. Em outras ocasiões, a excitação do sistema reticular bulbar pode inibir músculos antigravitários em certas partes do corpo para permitir que essas partes realizem atividades motoras especiais. Os núcleos reticulares Reticulares Pontinos e Bulbares: Os núcleos reticulares se dividem em dois grupos principais: (1) núcleos reticulares pontinos, localizados um pouco posterior e lateral à ponte, estendendo-se para o mesencéfalo; (2) núcleos reticulares bulbares, que se estendem por todo o bulbo, situando-se ventral e medialmente perto da linha média. Esses dois grupos de núcleos funcionam, em particular, de maneira antagônica entre si, com os pontinos excitando os músculos antigravitários e os bulbares relaxando os mesmos músculos. excitatórios e inibitórios formam sistema controlável, que é manipulado por sinais motores do córtex cerebral e de outras partes, provocando contrações musculares de fundo, necessárias para ficar em pé contra a gravidade e para inibir os grupos de músculos apropriados, conforme necessário, de modo que outras funções possam ser realizadas. Anatomia e Fisiologia dos Nervos Cranianos que Emergem do Tronco Encefálico: 1, 5, 7, 9, 10, 11 e 12 Os doze pares de nervos cranianos têm esse nome porque se originam no encéfalo, dentro da cavidade craniana, e passam através de vários forames do crânio. Assim como os 31 pares de nervos espinais, eles integram a parte periférica do sistema nervoso (SNP). Cada nervo craniano tem um número – indicado por um numeral romano – e um nome. Os números indicam a ordem, de anterior para posterior, na qual os nervos se originam no encéfalo. Os nomes designam a distribuição ou a função dos nervos. Os nervos cranianos carregam as informações sensorial e motora relativas à cabeça e ao pescoço. Os nervos cranianos são descritos de acordo com a sua constituição, se incluem fibras sensoriais, fibras motoras ou ambas (nervos mistos). Por exemplo, o X nervo craniano, o nervo vago, é um nervo misto que transporta ambas as fibras, sensoriais e motoras, para muitos órgãos internos. Um componente importante do exame clínico neurológico é testar as funções controladas por esses nervos. - Nervo craniano (I): Nervo olfatório, é totalmente sensitivo; Ele contém axônios que conduzem impulsos nervosos relacionados com o olfato. O epitélio olfatório ocupa a parte superior da cavidade nasal, cobrindo a face inferior da lâmina cribriforme e se estendendo inferiormente ao longo da concha nasal superior. Os receptores olfatórios do epitélio olfatório são neurônios bipolares. Cada um apresenta um dendrito sensível a odores que se projeta de um lado do corpo celular e um axônio não mielinizado que se projeta do outro lado. Feixes de axônios de receptores olfatórios passam por cerca de vinte 26. Forames olfatórios na lâmina cribriforme do etmoide, em cada lado do nariz. Estes cerca de quarenta feixes de axônios formam os nervos olfatórios direito e esquerdo. Os nervos olfatórios terminam no encéfalo em massas pares de substância cinzenta conhecidas como bulbos olfatórios, duas projeções do encéfalo que repousam sobre a lâmina cribriforme. Nos bulbos olfatórios, as terminações axônicas fazem sinapse com os dendritos e corpos celulares dos próximos neurônios da via olfatória. Os axônios destes neurônios formam os tratos olfatórios, que se estendem posteriormente a partir dos bulbos olfatórios. Os axônios dos tratos olfatórios terminam na área olfatória primária, localizada no lobo temporal. - Nervo trigêmeo (V): O nervo trigêmeo (V) é um nervo craniano misto e o maior dos nervos cranianos. Ele emerge a partir de duas raízes na face anterolateral da ponte. A grande raiz sensitiva apresenta uma protuberância conhecida como gânglio trigeminal (semilunar), localizado em uma fossa na face interna da parte petrosa do temporal. O gânglio contém corpos celulares da maior parte dos neurônios sensitivos primários. Os neurônios da raiz motora, menor, se originam em um núcleo pontino. Como indica seu nome, o nervo trigêmeo apresenta três ramos: oftálmico, maxilar e mandibular. O nervo oftálmico, o menor dos ramos, passa pela órbita na fissura orbital superior. O nervo maxilar tem um tamanho intermediário entre os ramos oftálmico e mandibular e passa pelo forame redondo. O nervo mandibular, o maior ramo, passa pelo forame oval. Os axônios sensitivos do nervo trigêmeo transmitem impulsos nervosos de tato, dor e sensações térmicas (calor e frio). O nervo oftálmico contém axônios sensitivos da pele da pálpebra superior, da córnea, das glândulas lacrimais, da parte superior da cavidade nasal, da parte lateral do nariz, da fronte e da metade anterior do escalpo. O nervo maxilar contém axônios sensitivos da túnica mucosa do nariz, do palato, de parte da faringe, dos dentes superiores, do lábio superior e da pálpebra inferior. O nervo mandibular contém axônios dos dois terços anteriores da língua (não relacionados com a gustação), da bochecha e sua túnica mucosa, dos dentes inferiores, da pele sobre a mandíbula e anterior à orelha e da túnica mucosa do assoalho da boca. Os axônios sensitivos dos três ramos entram no gânglio trigeminal, onde seus corpos celulares estão localizados, e terminam em núcleos pontinos. O nervo trigêmeo também recebe axônios sensitivos de proprioceptores (receptores que fornecem informações sobre a posição e os movimentos do corpo) localizados nos músculos da mastigação e extrínsecos do bulbo do olho; No entanto, os corpos celulares destes neurônios estão localizados no núcleo mesencefálico. Os neurônios motores branquiais do nervo trigêmeo fazem parte do nervo mandibular e suprem músculos da mastigação (masseter, temporal, pterigoide medial, pterigoide lateral, o ventre anterior do músculo digástrico e o músculo milohióideo, bem como os músculos tensor do véu palatino no palato mole e tensor do tímpano na orelha média). Estes neurônios motores controlam principalmente os movimentos mastigatórios. - Nervo facial (VII): O nervo facial (VII) é um nervo craniano misto. Seus axônios sensitivos se projetam apartir dos calículos gustatórios dos dois terços anteriores da língua, entrando no temporal para se unir ao nervo facial. Deste ponto, os axônios sensitivos passam pelo gânglio geniculado, grupo de corpos celulares de neurônios sensitivos do nervo facial dentro do temporal, e terminam na ponte. A partir da ponte, os axônios de estendem até o tálamo, e dali para áreas gustativas do córtex cerebral. A parte sensitiva do nervo facial também apresenta axônios da pele do meato acústico externo que transmitem sensações táteis, álgicas e térmicas. Além disso, proprioceptores de músculos da face e do escalpo transmitem informações, por meio de seus corpos celulares, para o núcleo mesencefálico. Os axônios dos neurônios motores branquiais se originam de um núcleo pontino e saem pelo forame estilomastóideo para inervar músculos da orelha média, da face, do escalpo e do pescoço. Impulsos nervosos que se propagam por estes axônios causam a contração dos músculos da mímica facial, bem como do músculo estilohióideo, ventre posterior do músculo digástrico e músculo estapédio. O nervo facial inerva mais músculos do que qualquer outro nervo do corpo. Axônios de neurônios motores percorrem ramos do nervo facial e se terminam em dois gânglios: o gânglio pterigopalatino e o gânglio submandibular. Por meio de transmissões sinápticas nos dois gânglios, os axônios motores parassimpáticos se projetam para as glândulas lacrimais (que secretam as lágrimas), as glândulas nasais, as glândulas palatinas, as glândulas sublinguais e as glândulas submandibulares (estas duas últimas produtoras de saliva). - Nervo glossofaríngeo (IX): O nervo glossofaríngeo (IX) é um nervo craniano misto. Os axônios sensitivos deste nervo se originam (1) dos calículos gustatórios do terço posterior da língua; (2) de proprioceptores de alguns músculos de deglutição que são inervados pela parte motora; (3) de barorreceptores (receptores de pressão) do seio carótico que monitoram a pressão sanguínea; (4) de quimiorreceptores (receptores que monitoram os níveis sanguíneos de oxigênio e de gás carbônico) nos glomos caróticos, situados próximo das artérias carótidas, e nos glomos paraórticos, localizados perto do arco da aorta; e (5) da orelha externa para transmitir impulsos táteis, álgicos e térmicos (calor e frio). Os corpos celulares destes neurônios sensitivos estão localizados nos gânglios superior e inferior. A partir destes gânglios, os axônios sensitivos passam pelo forame jugular e terminam no bulbo. Os axônios dos neurônios motores do nervo glossofaríngeo partem de núcleos bulbares e saem do crânio pelo forame jugular. Os neurônios motores branquiais inervam o músculo estilofaríngeo, que auxilia na deglutição, e os axônios dos neurônios motores parassimpáticos estimulam a secreção de saliva pela glândula parótida. Os corpos celulares pós-ganglionares dos neurônios motores parassimpáticos situam-se no gânglio ótico. - Nervo vago (X): O nervo vago (X) é um nervo craniano misto que passa pela cabeça e pelo pescoço até o tórax e o abdome. Ele tem este nome devido a sua ampla distribuição no corpo. No pescoço, ele é medial e posterior à veia jugular interna e à artéria carótida comum. Os axônios sensitivos do nervo vago se originam da pele da orelha externa para enviar informações sensitivas táteis, álgicas e térmicas; De alguns receptores gustativos na epiglote e na faringe; E de proprioceptores em músculos do pescoço e da faringe. Além disso, este nervo apresenta axônios sensitivos derivados de barorreceptores no seio carótico e de quimiorreceptores nos glomos paraórticos. A maior parte dos neurônios sensitivos se origina de receptores da maioria dos órgãos situados nas cavidades torácica e abdominal, transmitindo sensações (como fome, plenitude e desconforto) destes órgãos. Os corpos celulares destes neurônios sensitivos estão localizados nos gânglios superior e inferior; Seus axônios então passam pelo forame jugular e terminam no bulbo e na ponte. Os neurônios motores branquiais, que percorrem uma curta distância junto com o nervo acessório, se originam de núcleos bulbares e suprem músculos da faringe, da laringe e do palato mole que são utilizados na deglutição, na vocalização e na tosse. Historicamente estes neurônios motores foram chamados de nervo acessório craniano, mas, na verdade, estas fibras pertencem ao nervo vago (X). Os axônios de neurônios motores parassimpáticos do nervo vago se originam de núcleos bulbares e inervam os pulmões, o coração, glândulas do trato gastrintestinal (TGI) e músculos lisos das vias respiratórias, do esôfago, do estômago, da vesícula biliar, do intestino delgado e de boa parte do intestino grosso. Os axônios motores parassimpáticos estimulam a contração dos músculos lisos do TGI, para auxiliar na motilidade deste trato, e na secreção das glândulas digestórias; Ativam músculos lisos das vias respiratórias para diminuir seu calibre; e diminuem a frequência cardíaca. - Nervo acessório (XI): O nervo acessório (XI) é um nervo craniano branquial. Historicamente ele foi dividido em duas partes: um nervo acessório craniano e um nervo acessório medular. Atualmente classifica-se o nervo acessório craniano como parte do nervo vago (X). O “antigo” nervo acessório medular é o que discutiremos nesta Expo. Seus neurônios motores se originam dos cornos anteriores dos primeiros cinco segmentos da parte cervical da medula espinal. Seus axônios deixam a medula espinal lateralmente, unindo- se mais adiante; Sobem pelo forame magno, e então saem pelo forame jugular junto com os nervos vago e glossofaríngeo. O nervo acessório transmite impulsos motores para os músculos esternocleidomastóideo e trapézio com o objetivo de coordenar os movimentos da cabeça. Os axônios sensitivos deste nervo, derivados de proprioceptores dos músculos esternocleidomastóideo e trapézio, começam seu curso em direção ao encéfalo no nervo acessório; Entretanto, eles acabam deixando este nervo para se juntar a nervos do plexo cervical. A partir do plexo cervical, estes axônios entram na medula espinal por meio das raízes posteriores dos nervos cervicais; Seus corpos celulares estão localizados nos gânglios sensitivos destes nervos. Na medula espinal, os axônios então ascendem em direção a núcleos bulbares. - Nervo hipoglosso (XII): O nervo hipoglosso (XII) é um nervo craniano motor. Seus axônios motores somáticos se originam de um núcleo bulbar 35. (Núcleo do nervo hipoglosso), saem do bulbo pela sua face anterior, e passam pelo canal do nervo hipoglosso para então inervar os músculos da língua. Estes axônios conduzem impulsos nervosos relacionados com a fala e a deglutição. Os axônios sensitivos não voltam para o encéfalo pelo nervo hipoglosso. Em vez disso, os axônios sensitivos que se originam de proprioceptores de músculos da língua, embora comecem seu curso em direção ao encéfalo no nervo hipoglosso, deixam o nervo para se juntar a nervos espinais cervicais e terminam no bulbo, entrando na parte central do sistema nervoso pelas raízes posteriores dos nervos espinais cervicais. Diagnóstico, Protocolo de Morte Encefálica e os Conceitos de Eutanásia, Distanásia e Ortotanásia O atendimento a pessoas na terminalidade da vida pode representar situação de extrema dificuldade para os médicos, sobretudo, os intensivistas. Os dilemas relacionados à terminalidade da vida ocupam relevante e persistente espaço de discussão no contexto da bioética. A tomada de decisão na terminalidade da vida tem sido objeto de estudo dentro da profissão médica, principalmente nas unidades de terapia intensiva, tendo em vista o rápido desenvolvimento tecnológico que torna possível prolongar a vida às custas da deterioração progressiva de sua qualidade. São várias as definições de morte, ortotanásia, eutanásia e distanásia, termoscriados para descrever as formas de morrer, mas que podem ser confundidos, mal interpretados pela sociedade e pela comunidade médica. Existe ainda confusão entre as definições de morte encefálica e de morte cerebral. A morte encefálica é a abolição da vida de relação e da coordenação da vida vegetativa por lesão irreversível dos hemisférios cerebrais e do tronco cerebral. É diferente da morte cortical ou morte cerebral que apenas compromete a vida de relação, mas o tronco cerebral continua a regular os processos vitais pela integridade dos centros vasomotor, respiratório e termorregulador, sem a ajuda de meios artificiais. A necessidade de identificar o momento exato da morte surgiu com os transplantes, do risco de retirar órgãos de indivíduos ainda vivos e diagnosticados como mortos. A retirada de órgãos em pacientes com morte encefálica para transplantes está regulamentada pela Lei n.° 9.4346 , complementada pela Lei n.° 10.2116 . A morte encefálica, por sua vez, está regulamentada pela Resolução CFM n.º 1.4805 e a de n.º 1.8267 , que dispôs sobre a legalidade e o caráter ético da suspensão dos procedimentos de suportes terapêuticos quando da determinação de morte encefálica de indivíduo não- doador. Na tentativa de regulamentar essa situação, orientar os profissionais e humanizar o processo de morte, o Conselho Federal de Medicina publicou em 2006 a Resolução 1.8057, na qual permite ao médico limitar ou suspender procedimentos e tratamentos que prolonguem à vida do doente em fase terminal, de enfermidade grave e incurável, respeitada a vontade da pessoa ou de seu representante legal. Porém, um ano depois, a resolução foi suspensa por decisão liminar. No ano de 2010 foram definidas as alegações finais com pedido de improcedência da Ação Civil Pública considerando que “em vez de utilizar-se de meios extraordinários para prolongar o estado de morte já instalado no paciente (que seria a distanásia), o médico deixa de intervir no desenvolvimento natural e inevitável da morte. Tal conduta é considerada ética, sempre que a decisão do médico for precedida do consentimento informado do próprio paciente ou de sua família (ou registro no prontuário), quando impossível for a manifestação do doente. Tal decisão deve levar em conta não apenas a segurança no prognóstico de morte iminente e inevitável, mas também o custo- benefício da adoção de procedimentos extraordinários que redundem em intenso sofrimento, em face da impossibilidade de cura ou vida plena.” Essa foi a decisão do Ministério Público Federal. É importante salientar que o Código Penal10 vigente no Brasil foi criado pelo Decreto-lei n.º 2.848, de 7 de dezembro de 1940, muito antes do surgimento da primeira UTI. Ademais, o Código Penal brasileiro não acompanha o Código de Ética Médica, e com isso havia margem para a ortotanásia ser considerada como eutanásia passiva e crime. Todavia, após ampla discussão, concluiu-se que o CFM tem competência para editar a Resolução 1805/2006, que não versa sobre direito penal, mas sobre ética médica e consequências disciplinares. Ademais, a ortotanásia não constitui crime de homicídio, interpretada pelo Código Penal à luz da Constituição Federal. Cabe salientar a Resolução 1805/2006 não determinou modificação significativa no dia-a-dia dos médicos que lidam com pacientes terminais. A Resolução 1805/2006 deve ao contrário, incentivar os médicos a descrever exatamente os procedimentos que adotam e os que deixam de adotar, em relação a pacientes terminais, permitindo maior transparência e possibilitando maior controle da atividade médica. Critérios de morte encefálica Legalmente, os médicos usam o conceito de morte encefálica do Conselho Federal de Medicina, que, de uma forma bem resumida, é a permanente e total perda das funções cerebrais. Os procedimentos para determinar que um paciente está nesse estado irreversível são definidos pela Resolução nº 2173/2017 do Conselho Federal de Medicina e devem ser iniciados em todos pacientes em coma profundo, com falta de reatividade supraespinal e apneia persistente, contanto que obedeçam aos seguintes critérios: 1. Presença de lesão encefálica irreversível e conhecida que seja capaz de causar morte; 2. Ausência de fatores tratáveis e que possam simular morte encefálica; 3. Permanência em hospital por pelo menos 6 horas (ou 24 horas se a causa for encefalopatia hipóxico- isquêmica; 4. Temperatura esofágica, vesical ou retal maior que 35°C; 5. Saturação de oxigênio maior que 94%; 6. Pressão arterial sistólica maior ou igual a 100 mmHg ou média maior ou igual a 65 mmHg em maiores de 16 anos. Os tipos de morte e a legislação brasileira Distanásia A distanásia, também conhecida por obstinação terapêutica, é composta pelos atos e condutas que prolongam o processo de morte de modo artificial sem que haja uma melhora no prognóstico ou na qualidade de vida do paciente. Não há leis federais e muitos médicos inconscientemente a cometem tanto pela esperança de salvar o paciente quanto pelo medo de serem processados judicialmente por mistanásia, como veremos adiante. Entretanto, ela vai de encontro ao juramento de Hipócrates e aos princípios de beneficência e não-maleficência e ao item XXII do capítulo I do Código de Ética Médica. Afinal, apesar das boas intenções do médico, cada nova cirurgia, internação ou exame desnecessários nessa fase da doença estarão causando mais desgaste físico, emocional e monetário ao paciente e sua família. Ortotanásia Também chamada de eutanásia passiva, baseia-se em não prolongar o processo de falecimento, permitindo que ocorra de modo natural. Ela está bastante relacionada aos cuidados paliativos (conjunto de práticas que permitem diminuir o sofrimento do paciente terminal e oferecer uma morte digna). Na lei, além de estar de acordo com os princípios de não-maleficência e beneficência tão comentados na Ética Médica, existe a Resolução n° 1805/06 do CFM que permite ao médico “suspender procedimentos e tratamento que prolonguem a vida do doente, em fase terminal, […]”. (CFM, 2006). Assim, ao decidir por ortotanásia, o médico está legalmente resguardado, devendo anotar no prontuário a decisão, que deve ser tomada junto ao paciente e sua família, e iniciar os cuidados paliativos. No estado de São Paulo, existe ainda uma lei mais antiga, a conhecida como Lei Mário Covas (nº 10.241/1999), que autoriza a escolha de local da morte e a suspensão de tratamentos dolorosos na tentativa de prolongar a vida, se assim for da vontade do paciente. Devido à melhora na qualidade de vida, à chance de o paciente estar com a família e à maior dignidade e conforto dos pacientes em cuidados paliativos, a ortotanásia tem se difundido cada vez mais pelo Brasil e já existem vários hospitais com setores e profissionais qualificados para oferecer o melhor cuidado paliativo possível. Eutanásia A eutanásia é uma forma de tratamento de pacientes portadores de doenças incuráveis, cujo objetivo é garantir a essas pessoas uma morte mais humanizada, com menos sofrimento. Trata-se de uma prática na qual um agente, movido pelo sentimento de compaixão para com a situação clínica em que o paciente se encontra, antecipa sua morte, para que este não tenha que lidar com mais sofrimento. Em suma, é a morte assistida. Cabe ressaltar ainda a diferença que existe entre a eutanásia e o suicídio assistido. O primeiro diz respeito ao caso em que alguém causa a morte do paciente portador de doença incurável, movido por motivos de cunho moral. Já o suicídio assistido é quando uma pessoa fornece meios ao paciente para que ele mesmo possa acabar com o seu sofrimento, ou seja, para que ele mesmo cometa o ato de tirar a sua vida. Ou seja, o paciente possui responsabilidade mais ativa no processo. Não há noordenamento jurídico brasileiro a tipificação da eutanásia como crime, mas ela é enquadrada como um homicídio. Ela pode também ser classificada como auxílio ao suicídio, mas para que isso ocorra, é necessário que o paciente solicite ajuda para morrer (segundo o artigo 122 do Código Penal). O código de medicina considera a prática antiética. Por outro lado, a ortotanásia é aceita pelo Conselho Federal de Medicina, desde 2010. Também cabe observar que o parágrafo primeiro do artigo 121 do Código Penal prevê uma diminuição da pena àqueles que “por motivos de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção” cometerem homicídio a pacientes terminais. A eutanásia é, portanto, um caso de homicídio privilegiado (porque quem o comete recebe perdão de parte da pena). OS ARGUMENTOS CONTRA E A FAVOR DA EUTANÁSIA A eutanásia ainda gera muito debate no Brasil e no mundo inteiro. O principal argumento a favor da prática é que de nada adiantaria a pessoa ter direito à vida se a vida não é mais proveitosa e digna para ela. Se o prolongamento da vida de alguém significa sofrimento prolongado, o indivíduo deve ter o poder de terminá-la, se assim desejar. A eutanásia estaria, portanto, relacionada ao direito de escolha do paciente, com o respeito à sua decisão de terminar com a sua vida, sem a interferência de quem não conhece seu estado de saúde. Por outro lado, um dos principais argumentos contra a eutanásia é que se trata de tirar a vida de alguém, o que não difere muito de um assassinato. Esse argumento se reforça nos casos em que o indivíduo submetido à eutanásia era emocionalmente abalado por conta da sua condição de saúde. Pessoas nesse estado poderiam tomar decisões precipitadas, levando a mortes que poderiam ser evitadas. Outra questão importante nesse debate é a responsabilidade ética dos médicos e profissionais da saúde. Espera-se que eles façam o possível para que o paciente continue vivendo. Portanto, a prática da eutanásia contradiz valores médicos e éticos pregados por diversos profissionais da área. O que o código de ética médica afirma? Esse é o documento que contém as normas de conduta para o exercício da profissão médica. Nele, apesar de em nenhum momento haver uso dos termos propriamente ditos, é clara a recomendação de conduta sobre eutanásia, ortotanásia, suicídio assistido, distanásia e mistanásia em seu artigo 41°, que diz: É vedado ao médico […] Art. 41 Abreviar a vida do paciente (eutanásia, suicídio assistido e mistanásia), ainda que a pedido deste ou de seu representante legal. Parágrafo único. Nos casos de doença incurável e terminal, deve o médico oferecer todos os cuidados paliativos disponíveis (ortotanásia) sem empreender ações diagnósticas ou terapêuticas inúteis ou obstinadas (distanásia), levando sempre em consideração a vontade expressa do paciente ou, na sua impossibilidade, a de seu representante legal. (CFM, 2019, grifos e anotações entre parênteses meus). Testamento vital Por fim, testamento vital ou declaração de vontade antecipada é um documento que qualquer um(a) pode fazer em cartório de notas e indica os procedimentos que ele (a) deseja ou não receber quando estiver doente, dentre eles está a ordem de não ressuscitar em caso de parada. O ideal é que, ao escrevê-lo, se esteja saudável e em pleno uso das capacidades mentais, caso contrário, haverá grande chance de o documento não ser aceito pelo médico encarregado. É importante destacar que não existe lei federal, e é a Resolução nº 1995/2012 do CFM que é usada para guiar as condutas em frente a um testamento vital. Dentre outros pontos abordados, essa resolução coloca a vontade do paciente acima dos pareceres não médicos e desejos da família, mas, no fim, explica que o médico é quem vai escolher se irá acatá-la, devendo sempre anotar todas as decisões em prontuário. No capítulo Princípios Fundamentais, item XXI, o Código de Ética Médica também fala rapidamente sobre a necessidade de o médico aceitar a vontade expressa do paciente contanto que esteja de acordo com sua consciência. Abaixo está um modelo de testamento vital e perceba como termina: “De forma absoluta, eu quero poder morrer com dignidade e paz”.