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ESCOLAS PENAIS Escola Clássica: A Escola Clássica dividiu-se em dois grandes períodos: · Filosófico/teórico: No qual a figura de maior destaque foi Beccaria. Ele desenvolveu sua tese com base nas ideias de Rousseau e de Montesquieu, construindo um sistema baseado na legalidade, onde o Estado deveria punir os delinquentes, mas tinha de se submeter às limitações da lei. O pacto social define que o individuo se comprometa a viver conforme as leis estipuladas pela sociedade e deverá ser punido pelo Estado quando transgredi-las, para que a ordem social seja restabelecida. · Jurídico ou prático: Em que o grande nome foi Francesco Carrara, sumo mestre de Pisa. Ele estudou o crime em si mesmo, sem se preocupar com a figura do criminoso. Defendia que o crime era uma infração da lei do Estado (promulgada pra proteger os cidadãos); é impelido por duas forças: a física, movimento corpóreo que produzirá o resultado, e a moral, a vontade consciente e livre de praticar um delito. Basicamente, suas notas fundamentais eram: 1) Entendiam o crime como um conceito meramente jurídico, tendo como sustentáculo o direito natural. Para Francesco Carrara, crime é “a infração da lei do Estado promulgada para proteger a segurança dos cidadãos, resultante de um ato externo do homem, positivo ou negativo, moralmente imputável e politicamente danoso”; 2) Predominava a concepção do livre-arbítrio, isto é, o homem age segundo a sua própria vontade, tem a liberdade de escolha independentemente de motivos alheios (autodeterminação). Logo, por ser possuidor da faculdade de agir, o homem é moralmente responsável pelos seus atos; e 3) Por ser responsável, àquele que infringiu a norma penal deve ser imposta uma pena, como forma de retribuição pelo crime cometido. Se, ao contrário, o agente não estava em suas perfeitas condições psíquicas (ausência da faculdade de agir, inimputabilidade), não pode ser punido. Para a Escola Clássica a pena é um mal imposto ao indivíduo merecedor de um castigo por motivo de uma falta considerada crime, cometida voluntária e conscientemente. A finalidade da pena é o restabelecimento da ordem externa na sociedade. Esta doutrina possui princípios básicos e comuns, de linha filosófica, de cunho humanitário e liberal (defende os direitos individuais e o princípio da reserva legal, sendo contra o absolutismo, a tortura e o processo inquisitório). Foi uma escola importantíssima para a evolução do Direito Penal na medida em que defendeu o indivíduo contra o arbítrio do Estado. A pena é, pois, meio de tutela jurídica. Desta forma, se o crime é uma violação do direito, a defesa contra este crime deverá se encontrar no seu próprio seio. A pena não pode ser arbitrária, desproporcional; deverá ser do tamanho exato do dano sofrido. Deve ser também retributiva, porém a figura do delinquente não é importante. Este é talvez um dos pontos fracos desta escola. Dessa forma, as principais características da Escola Clássica são as seguintes: 1. Considera que o crime é um ente jurídico, ou seja, é a infração do direito; 2. Reconhece o “livre arbítrio”, ou seja, que o homem nasce livre e pode tomar qualquer caminho (escolhendo pelo caminho do crime, responderá pela sua opção); 3. Considera que a pena é uma retribuição ao crime (pena retributiva); e 4. Aplica o método dedutivo, uma vez que o Direito é ciência (jurídica). ESCOLA POSITIVISTA: O crime começou a ser examinado sob o ângulo sociológico, e o criminoso passou também a ser estudado, se tornando o centro das investigações biopsicológicas. Cesare Lombroso, médico, representou a fase antropológica da Escola Positiva. Autor das obras “O cretinismo na Lombardia (1859) e “O homem delinquente” (1876), a ele se imputa o ensinamento de que o homem não é livre em sua vontade. Ao contrário, sua conduta é determinada por forças inatas. Lombroso estudou o cadáver de diversos criminosos procurando encontrar elementos que os distinguissem dos homens normais. Após anos de pesquisa declarou que os criminosos já nasciam delinquentes e que apresentam deformações e anomalias anatômicas. Ele listou uma série de características que, segundo defendia, eram próprias de criminosos: 1) Aspectos físicos: Assimetria craniada, orelhas de abano, zigomas salientes, arcada superior predominante, face ampla e larga, cabelos abundantes, além de aspectos como a estatura, peso, braçada, insensibilidade física, manicinismo e distúrbio dos sentidos. 2) Aspectos psicológicos: Insensibilidade moral, impulsividade, vaidade, preguiça e imprevidência. Contudo esta concepção ainda não explicava a etiologia do delito, então Lombroso tentou achar a causa desta degeneração na epilepsia. As ideias deste médico não se sustentaram: eram inconsistentes perante qualquer análise científica. Outra corrente dessa linha foi a chamada Sociologia Criminal. Sua fundação é atribuída a Enrico Ferri (1856-1929), um brilhante advogado criminalista. Nesta nova concepção o crime era determinado por fatores antropológicos, físicos e sociais. Ficou bastante conhecida uma proposta de classificação dos criminosos em: 1) Natos: São aqueles indivíduos com atrofia do senso moral; 2) Loucos: Também se incluíam os matóides, que são aqueles indivíduos que estão na linha entre a sanidade e a insanidade (atualmente a psicologia utiliza o termo “borderline” para classificar esse tipo de disfunção); 3) Habitual: É aquele indivíduo que sofreu a influência de aspectos externos, de um meio social inadequado, e com isso acabou corrompido; 4) Ocasional: É aquele ser fraco de espírito, sem nenhuma firmeza de caráter. 5) Passional (sob o efeito da paixão): Ser de bom caráter, mas de temperamento nervoso e com sensibilidade exagerada. Normalmente o crime acontece na juventude, vindo o indivíduo a confessar e arrepender-se depois. Frequentemente ocorrem suicídios. Verifica-se então que esta escola nega o livre-arbítrio, abomina a ideia da Escola Clássica que afirmava que o crime era o resultado da vontade livre do homem. Defende que a responsabilidade criminal é social por fatores endógenos – do interior do indivíduo- e a pena não poderia ser retributiva, uma vez que o indivíduo age sem liberdade, o que leva ao desaparecimento da culpa voluntária. Propõem-se então a medida de segurança, uma sanção criminal que defende o grupo e ao mesmo tempo recupera o delinquente, e que viria em substituição à pena criminal. Esta medida deveria ser indeterminada até a periculosidade do indivíduo desaparecer por completo. Podemos então dizer que as principais características da Escola Positivista são as seguintes: 1. Considera que o crime é um fenômeno social e natural oriundo de causas biológicas, físicas e sociais; 2. Defende a responsabilidade social em decorrência do determinismo e da periculosidade; 3. Considera que a pena tem como fim a defesa social e a tutela jurídica; e 4. Aplica o método indutivo. ESCOLA CORRECIONALISTA: Os correcionalistas entendem que os delinquentes são anormais, e, portanto, são incapazes de uma vida comum em sociedade. São considerados como um perigo para o convívio social. Nessa escola não se dá relevância alguma ao livre-arbítrio. A principal característica dessa escola está relacionada ao fim único da pena. Destarte, tem-se o seguinte: a) A pena idônea é a privação da liberdade; b) A pena deve ser indeterminada – sem prévia fixação do tempo de sua duração; c) O arbítrio judicial deve ser ampliado no que se refere à individualização da pena; d) A função penal deve ser vista como preventiva e de tutela social; e e) A responsabilidade penal deve ser entendida como responsabilidade coletiva, solidária e difusa. ESCOLA TÉCNICO- JURÍDICA: O seu primeiro expoente é Arturo Rocco que afirma que o maior objetivo é desenvolver a ideia que a ciência penal é autônoma, com objeto e métodos próprios, ou seja, que ela é única, não se misturando com outras ciências (antropologia, sociologia, filosofia, estatística, psicologia e política. Rocco propõe uma reorganização onde o estudo do Direito Criminal se restringiria apenas ao DireitoPositivo vigente. O Direito penal seria aquele expresso na lei, e o jurista deve-se ater apenas a ela. O Direito Penal é o que está na lei. O seu estudo compõe-se de três partes: 1) Exegese: dá sentido as disposições do ordenamento jurídico; 2) Dogmática: investigação dos princípios que irão nortear o direito penal fixando assim os seus elementos; e 3) Crítica: que irá orientar na consideração do direito vigente demonstrando assim o seu acerto ou a sua conveniência de reforma. ESCOLA DA NOVA DEFESA SOCIAL: Surge com a Revolução Positivista, sendo uma forte reação humanista e humanitária, visando acabar com os abusos praticados pelos regimes totalitários do nazismo e fascismo. Os doutrinadores filiados à corrente do Movimento de Defesa Social defendem que a finalidade da pena é proteger a sociedade das ações delituosas, mas também ressocialização do criminoso. O crime é um mal que desestabiliza o aprimoramento social. O delinquente é a pessoa que precisa ser adaptada à ordem social. A pena é uma reação da sociedade com objetivo de proteção do cidadão.