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Introdução O artigo visa analisar o conceito de escola penal, bem como explicar sucintamente as diversas escolas existentes e os seus principais doutrinadores. Conceito de Escola Penal Escola Penal: é o corpo orgânico de concepções contrapostas sobre a legitimidade de punir, sobre a natureza do delito e sobre o fim das sanções. Somente, no período Científico é que surgem as escolas penais. Pré-clássicos Entre esses autores pré-clássicos, encontra-se Beccaria, Bentham, e Howard, entre outros. Gian Domenico Romagnossi Filosoficamente, Romagnossi era um jusnaturalista preso a concepção de um Direito independente de convenções humanas e negava a existência do contrato social. No tocante ao direito penal, o filósofo entendia que este se fundamentava no direito que tem a sociedade de se defender dos criminosos. Em relação à pena, era utilitarista, pois somente admitia a pena se tivesse a função de evitar o cometimento de novos delitos, por impor medo ao futuro criminoso. Paul Johann Anselm Ritter Von Feuerbach Feuerbach conseguiu desvencilhar-se das ideias absolutistas da pena como um imperativo categórico e elaborou sua conhecida teoria da coação psicológica. Feuerbach era um contratualista, a medida que, defende ser a sociedade civil organizada constitucionalmente mediante a submissão das pessoas a uma vontade comum, sendo o seu principal objetivo a criação da condição jurídica. Dessa forma, acreditava que para evitar lesões não era suficiente a coação física, devendo o Estado atuar mediante coação psicológica que fosse eficaz em cada estado individual. Essa coação psicológica seria a ameaça da pena que impediria os cidadãos de cometerem lesões jurídicas pelo medo de serem apenados. Ainda, para Feuerbach esse impulso criminal poderia ser anulado, a partir da ciência do indivíduo de que os seus atos poderiam acarretar em consequência consistente num mal maior que o desgosto da insatisfação de seu impulso, isto é, a pena recebida pelo infrator após cometer um crime consistiria num mal maior e pior que a frustração de não ter obedecido ao seu impulso criminoso. Assim sendo, acredita Feuerbach que a função da pena está em intimidar os indivíduos a não cometer crimes. Ademais, este filósofo foi responsável pela criação da fórmula que até hoje serve de base para todo sistema penal moderno, o Princípio da Legalidade dos Crimes e das Penas. Escola Clássica Pellegrino Rossi Rossi sustentava que havia uma ordem moral obrigatória para todos os seres livres e inteligentes, da qual deriva a ordem social, também obrigatória, fonte de todos os direitos e deveres sociais/morais correspondentes às práticas criminosas. Consequentemente, a pena tem função de restabelecer o equilíbrio da paz social abalada pelo crime. Assim, para Rossi, o crime tem um caráter puramente moral e a pena nada mais é que a retribuição do mal causado pelo infrator, admitindo-se a função intimidatória e de correção apenas de maneira secundária. Giovanni Carmignani Carmignani sustentava de forma contrária, isto é, o direito de castigar não tem fundamento na justiça moral, mas sim na necessidade política de manter-se a paz social. No que se refere à pena, defendeu que esta tem como função evitar delitos futuros e não se vingar dos delitos passados, não adotando, uma concepção retribucionista, mas sim utilitarista. Francisco Carrara Para construção de sua teoria, Carrara partiu de uma concepção puramente jusnaturalista. O crime deve ser entendido como um “ente jurídico”. A materialização de um crime depende simultaneamente de uma lesão ou ameaça de lesão ao direito de outrem e que essa tenha sido praticada por alguém que entende o que faz e é capaz de controlar suas vontades. Assim, para Carrara, somente pode ser responsabilizado por crime aquele que é moralmente imputável, aquele possuidor da “vontade inteligente e livre”. Um dos pensamentos do Carrara é o “livre arbítrio”. O livre arbítrio é para Carrara um dogma, um pressuposto de existência humana e da ciência criminal. No que se refere à pena, mantendo a lógica de seu sistema penal baseado na moral, Carrara adota uma concepção retributiva, afastada do utilitarismo. Pois, considera que a pena deve buscar a justiça e a defesa da humanidade. Escola Positiva De modo geral, a escola positiva tem como núcleo de renovação a consideração do homem a sua realidade naturalista, ou seja, como um ser vivente inserido no seu meio e suscetível a todas as condições antropológicas, biológicas e sociais. O crime é um episódio de desajustamento social ou psicológico, dependente das forças exteriores e interiores que atuam no sujeito e determina a prática da conduta criminosa. Deste pensamento surge o determinismo. Se para os clássicos qualquer pessoa poderia ser um delinquente, desde que assim escolhesse, efetivamente não fazia muito sentido estuda-lo. Em contrapartida, para os positivistas o estudo do criminoso é essencial para diagnosticar quais foram às características pessoais ou fatores que determinaram a prática do crime. A diferença entre as duas escolas está, principalmente, no método, enquanto para a escola clássica é dedutiva de lógica abstrata, para a escola positiva é indutiva e de observação dos fatos. Assim, entendido o crime como algo determinado por fatores internos e externos ao delinquente, a pena não pode ter apenas um caráter moral retribucionista, mas também caráter utilitarista, ou seja, um instrumento de defesa da sociedade perante os criminosos. Ora, se o delinquente é visto como uma patologia social, como algo danoso à sociedade, a pena deve ser remédio contra esse mal e, para funcionar, deve mantê-lo afastado do corpo social enquanto perdurar sua periculosidade. Cesare Lombroso Lombroso foi o primeiro expoente da Escola Positiva e inaugurou a chamada Antropologia Criminal. A finalidade da Antropologia Criminal é o conhecimento da vida social do delinquente na tentativa de descobrir as causas que o levaram à prática do crime. A principal ideia de Lombroso, que lhe rendeu mais fama e polêmica, foi a do “Criminoso Nato”. Conforme a teoria do Criminoso Nato, alguns homens, por herança genérica, nascem criminosos. Esses criminosos congênitos representam uma regressão ao homem selvagem. Ainda em relação ao Criminoso Nato, Lombroso chegou a estabelecer características físicas e psíquicas que permitiriam reconhecê-los. Entretanto, Lombroso não chegava a afirmar que o Criminoso Nato estava fatalmente destinado à vida criminosa, pois além dos fatores internos havia a necessidade de analisar os fatores externos. Segundo o filósofo existia também a “Locura Moral”, segundo a qual uma pessoa apresentava características físicas normais e inteligência integra, mas sofria de uma profunda falta de senso moral. O louco moral seria perigoso por seu egoísmo. Por fim, por conta de um episódio ocorrido em um quartel em que um soldado epilético praticou um atentado contra um oficial, Lombroso passou a admitir que houvesse uma terceira causa para o fenômeno criminoso: a epilepsia. Enrico Ferri A maior contribuição de Ferri à Escola Positiva foi a criação da Sociologia Criminal, que nasceu em 1880. Em sua tese, Ferri defendia a inexistência do livre arbítrio, sustentando que o crime tinha por origem fatores antropológicos, sociais e físicos. Refutou o livre arbítrio característico dos clássicos e pregou a responsabilidade social em substituição à moral, pois entendia que o homem só era responsável porque vivia em sociedade, se estivesse isolado em uma ilha não teria qualquer responsabilidade por seus atos. Em relação à pena, acreditava que teria dupla finalidade: punir e ressocializar. Ferri deu mais importância à prevenção, sugerindo medida que chamou de substitutivos penais, providências estas que foram todas à alçada do Código Penal e consistem em reformas práticas de ordem educativa, familiar,econômica, administrativa, política e também jurídica, destinadas a modificar as condições dos delinquentes. Entretanto, cometido o crime pelo delinquente, entendia Ferri que a pena não deveria ser fixada somente na gravidade objetiva e jurídica do crime, mas principalmente à personalidade perigosa do delinquente. Em relação a tipologia dos delinquentes, Ferri apresentou a mais importante de todas as classificações de criminosos: nato, louco, passional, ocasional e habitual. O criminoso nato é o mesmo da classificação de Lombroso, isto é, pessoa que já nasce com inclinação às práticas criminosas. O criminoso louco também é da mesma classificação lombrosiana, ou seja, aquele que por alienação mental pratica atos nocivos à sociedade. O criminoso habitual, segundo Ferri, é o tipo mais frequente, é um indivíduo que nascido e crescido num ambiente de miséria moral e material, também com taras hereditárias, somáticas e psíquicas, começa com leves faltas depois pela deletéria influência das prisões e das más companhias dos delinquentes e a dificuldade de encontrar um trabalho regular recai no crime, não raro chegando a um número significativo de condenações. O criminoso ocasional se dá pela própria efetiva atividade criminosa, que raramente se repete, pois esta ocorre em decorrência de forte influência do ambiente, tais como injusta provocação, necessidades familiares ou pessoais, facilidade de execução, comoção pública, sem as quais a sua personalidade não teria suficiente iniciativa criminosa. Estes delinquentes apresentam um menor nível de periculosidade e maior a readaptabilidade social. http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1033702/código-penal-decreto-lei-2848-40 O delinquente passional é aquele que antes de tudo é movido por uma paixão social. Esses delinquentes não são reincidentes, pois não é repetível as circunstancias que os levam à prática do ato criminoso e, porque, são homens de integridade moral, sendo, todavia, de temperamento nervoso. Apresentam o menor grau de periculosidade e o maior grau de readaptação. Rafael Garofalo Garofalo buscou conceituar o que chamou de delito natural, que segundo ele, seria condutas que possuem em todos os tempos e lugares e são consideradas puníveis. Em relação aos delinquentes, Garofalo acreditava que não eram pessoas normais, mas sim portadores de anomalias do sentimento moral. No tocante à tipologia dos criminosos, elaborou a seguinte classificação: natos- privados de qualquer sentimento altruísta, violentos e energéticos, isto é, aqueles que não têm qualquer sentimento de piedade, e ladrões, que seriam aqueles que não têm o sentido de probidade. No que tange à pena, o filósofo afasta-se das ideias da Escola Positiva, pois sustenta que a função da pena é a eliminação do delinquente, podendo ser relativa ou absoluta, dependendo da sua adaptabilidade ao convívio social, defendendo expressamente a pena de morte. Principais ideias da Escola Positivista. O delito é um fenômeno natural e social produzido por causas de ordem biológica, física ou social. O delinquente é biológicamente e psiquicamente anormal A crença no livre arbítrio da liberdade humana é uma ilusão, pois a vontade humana é determinada por influxos de ordem física, psíquica e social. Como consequência dessa concepção determinista, a responsabilidade penal deixa de fundamentar- se sobre a imputabilidade moral e passa ter como base a responsabilidade social. A pena tem por finalidade a defesa social. Terza Scuolo Italiana Esta escola critica e nega a existência do livre arbítrio, concordando com a escola positivista, mas sustenta, como a escola clássica, a responsabilidade moral dos indivíduos. Também são características dessa escola a concepção do delito como um fenômeno individual e social, a orientação do estudo científico do delinquente e da criminalidade, mas rechaça e nega a doutrina da natureza patológica do delito, o critério da responsabilidade legal e a absorção do direito penal pela sociologia criminal. Ainda, a escola clássica Terza aceita a distinção entre imputáveis e inimputáveis. A imputabilidade surge da vontade e dos motivos que a determinam e tem sua base na “dirigibilidade” do sujeito, ou seja, na aptidão para sentir a coação psicológica da pena. Assim, só são imputáveis aqueles que são capazes de sentir a ameaça da pena. Escola de Idealismo Atualístico Os autores dessa escola sustentam a existência de uma responsabilidade universal, entendendo que todos os homens são responsáveis por suas ações, sejam eles capazes ou incapazes, normais ou anormais ou enfermos. Muitos filósofos acreditam que o crime pertence a quem praticou e a ele deve ser imputado, de modo que a pena assim como a imputabilidade, atinge um caráter universal. Outros, em contrapartida, acreditam que a pena tem função educativa. Entende-se a pena como um meio de educação moral, surgindo daí a recomendação de que os juízes de criminalista se comportassem como educadores, visando a emenda e a cura do culpado. Escola Penal Humanista Essa escola é proposta em oposição a doutrina anterior. Coloca o homem como poderoso criador de todo pensamento moral e todos os fatos e ideias, sempre movido por seus sentimentos. Para ele, são os sentimentos e não as ideias que guiam os homens em seus comportamentos. O crime é concebido mais como um ilícito moral do que jurídico. Considera-se como delito todo fato que viola os sentimentos morais. O imoral antecede o ilícito penal. A pena, por sua vez, tem como função educadora, tendo como objetivo primordial a emenda do culpado. Escola Moderna Alemã Segundo Liszt, o crime é resultado da cooperação de dois grupos de condições. De um lado a própria natureza individual do delinquente e de outro as condições exteriores, físicas e sociais, sobretudo econômicas. Assim, adota Liszt uma concepção de crime intermediária e conciliadora entre os postulados das escolas positivas e clássica, pois, não admite, unicamente, como causa do crime o livre arbítrio, e tampouco o determinismo, mas sim ambos conjuntamente. Liszt admite que de modo geral a pena pode se prestar de várias funções, tais como prevenção especial, prevenção geral e ressocialização, pois sustenta que a pena deve se adaptar, em sua espécie e medida, à natureza do próprio delinquente. Tem como pressuposto da pena a imputabilidade. Escola Técnico- Jurídica Esta escola vai buscar o direito penal em si com base na lei de Kelsen, vai estudar o direito em base científica, sem análise da ciência e busca o direito positivado. Tem como principal autor, Arturo Rocco, o qual em sua obra sustenta que a ciência penal se encontra em crise, em virtude da desorganização, incertezas e dúvidas. Rocco defende o direito positivado, ou seja, deve ser levado à letra da lei. Advoga ainda, que o conhecimento sistemático das normas jurídicas permite descobrir sua uniformidade, determinar suas causas, fundamentos e princípios, oferecendo um conhecimento científico do direito. Adotando esses critérios, Rocco propõe que o estudo da lei penal deve ser decomposto em uma investigação exegética (interpretação da lei, segundo a ordem por ela definida), uma investigação dogmática e sistemática (análise dos princípios e fundamentos do Direito Positivo e sua coordenação lógica) e uma investigação crítica do Direito. De forma bem sintética, podemos afirmar que para Arturo Rocco, o único objeto da ciência criminal é o ordenamento jurídico vigente, isto é, o estudo das normas jurídicas que proíbem as ações humanas imputáveis, injustas ou nocivas indiretamente geradoras e reveladora de um perigo para a existência da sociedade juridicamente organizada. O tecnicismo jurídico italiano, resultou em um retorno ao Classicismos, ao defender a responsabilidade moral e o livre arbítrio como causas do crime e, consequentemente, ao exigir a retribuição e o castigo como finalidadeda pena. O maior mérito dessa doutrina certamente foi o de ter estabelecido as bases metodológicas para elaboração de um sistema penal de caráter jurídico rígido pela lógica, distinguindo-o de outras ciências causais-explicativas. Escola Correlacionista Surge em 1839, na Alemanha, a escola Correlacionista, a qual concebe que o delinquente e o delito, nada mais é que a manifestação da debilidade, que de uma maneira ou de outra, faz com que os criminosos sejam estimados como seres perigosos para a vida social ordenada. Sendo assim, há duas coisas que devem ser feitas com os criminosos: destruí-los ou esforçar-se para que deixem de ser forças hostis e negativas e se convertam em forças uteis, cooperadoras ao bem-estar social. A primeira opção considera injusta, em virtude do determinismo, pois considera que as causas do crime são externas ao delinquente; e insensata, um vez que, os delinquentes destruídos seriam rapidamente substituídos, pois, enquanto não fosses exterminadas as causas que os levaram à pratica delituosa estes jamais seria regenerados, e porque considera que todo homem tem algo de aproveitável, e seria um erro não tentar aproveitar as energias oferecidas pelos delinquentes. Ao contrário da corrente positivista tradicional, o correlacionalismo não admite a pena como forma de “defesa pessoal”. Para os correlacionalistas, a pena deve ser um “remédio social”, que tem como finalidade a “cura” do delinquente. Essa cura deve ser buscada pela restrição de liberdade, por tempo indeterminado, pois deve durar enquanto não cessar a periculosidade do agente. Escola da Nova Defesa Social O movimento da Nova Defesa Social surge após a fase tecnicista, logo no fim da segunda guerra mundial, como uma forte reação humanista e humanitária contra os abusos praticados pelos regimes totalitários do nazismo e fascismo. O mundo de Defesa Social não tem propriamente uma unidade de pensamento, nem está filiado a qualquer escola filosófica. Ele tem uma concepção crítica do fenômeno criminal e o acompanha e estuda nas suas transformações, nas suas causas, nos seus efeitos, entendendo-o como o resultado e uma diátese social, que deve ser curada racionalmente, através de uma política que respeite a dignidade da pessoa e resguarde os direitos do homem. Esta escola tem uma posição reformista quanto à atividade punitiva do Estado, que deve ser exercida não de forma dogmática, mas dentro de uma visão abrangente do conhecimento humano. O movimento entende que a lei não é a única fonte do direito. Rejeita também o positivismo. A sociedade internacional de defesa social como órgão de movimento busca influir na política criminal, bem como defende e pressupõem aceitas as seguintes ideias: a luta contra a criminalidade deve ser reconhecida como uma das tarefas mais importantes que cabem a sociedade; nessa luta a sociedade deve recorrer a diversos meios de ação, quer pré-criminosos, quer pós-criminosos. O direito criminal deve ser considerado como um dos meios de que a sociedade pode servir-se para fazer diminuir a criminalidade; e os meios de ação empregados para esses fins devem ser considerados não só na ótica da proteção dos membros da sociedade contra o risco de cair no crime. Conclusão As escolas penais foram, de certa forma, essenciais para a formação do nosso Código Penal vigente, bem como para concretização do nosso sistema de aplicação de pena e punibilidade. http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1033702/código-penal-decreto-lei-2848-40