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Aula 02 Criminologia p/ PC-MA (Delegado) Pós-edital Professor: Renan Araujo http://www.iceni.com/infix.htm Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 1 de 61 CRIMINOLOGIA – PC-MA (2018) – DELEGADO DE POLÍCIA Teoria e questões Aula 02 – Prof. Renan Araujo AULA 02 CRIMINOLOGIA E POLÍTICA CRIMINAL. MODELOS TEÓRICOS DA CRIMINOLOGIA. TEORIAS SOCIOLÓGICAS. PREVENÇÃO DA INFRAÇÃO PENAL NO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO. PREVENÇÃO PRIMÁRIA. PREVENÇÃO SECUNDÁRIA. PREVENÇÃO TERCIÁRIA. MODELOS DE REAÇÃO AO CRIME. CRIMINOLOGIA AMBIENTAL. SUMÁRIO 1 MODELOS TEÓRICOS ............................................................................................. 3 1.1 Criminologia científica e seus modelos teóricos ............................................. 3 1.2 Teorias bioantropológicas, psicodinâmicas e psicopsicológicas. O homem delinquente ................................................................................................................. 5 1.3 Teorias sociológicas ....................................................................................... 8 1.3.1 Criminologia do consenso ................................................................................ 9 1.3.1.1 Escola de Chicago .................................................................................... 9 1.3.1.2 Teoria da associação diferencial (aprendizagem social ou social learning) ...... 10 1.3.1.3 Teoria das subculturas delinquentes ......................................................... 11 1.3.1.4 Teoria da anomia .................................................................................. 11 1.3.2 Criminologia do conflito ................................................................................ 12 1.3.2.1 Teoria do etiquetamento ou labeling approach ........................................... 12 1.3.2.2 Garantismo, minimalismo e abolicionismo penal ........................................ 14 1.3.3 Criminologia ambiental ................................................................................. 16 1.4 A prevenção penal no Estado Democrático de Direito ................................... 18 1.4.1 Prevenção primária ...................................................................................... 19 1.4.2 Prevenção secundária ................................................................................... 19 1.4.3 Prevenção terciária ....................................................................................... 19 1.4.3.1 Teoria absoluta da pena ......................................................................... 19 1.4.3.2 Teoria relativa e sua finalidade preventiva ................................................ 20 1.4.3.3 Teoria Mista (unificadora ou eclética ou unitária) e sua dupla finalidade ........ 20 1.4.4 Programas de prevenção de infrações penais ................................................... 21 2 CRIMINOLOGIA E POLÍTICA CRIMINAL. CRIMINOLOGIA E CIÊNCIAS CRIMINAIS 23 2.1 MODELOS DE REAÇÃO AO CRIME .................................................................. 24 2.1.1 Clássico ou dissuasório ................................................................................. 24 2.1.2 Ressocializador ............................................................................................ 24 2.1.3 Restaurador ................................................................................................ 24 3 RESUMO .............................................................................................................. 25 4 EXERCÍCIOS DA AULA ......................................................................................... 31 5 EXERCÍCIOS COMENTADOS ................................................................................. 40 6 GABARITO .......................................................................................................... 59 http://www.iceni.com/infix.htm Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 2 de 61 CRIMINOLOGIA – PC-MA (2018) – DELEGADO DE POLÍCIA Teoria e questões Aula 02 – Prof. Renan Araujo Olá, meus amigos! Hoje, finalizando nosso pequeno curso, vamos falar sobre diversos temas importantes da criminologia: Modelos teóricos, teorias sociológicas, prevenção penal, etc. Desejo a todos uma excelente maratona de estudos! Prof. Renan Araujo http://www.iceni.com/infix.htm Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 3 de 61 CRIMINOLOGIA – PC-MA (2018) – DELEGADO DE POLÍCIA Teoria e questões Aula 02 – Prof. Renan Araujo 1! MODELOS TEÓRICOS 1.1!Criminologia científica e seus modelos teóricos A criminologia enquanto ciência só surge no final do século XIX, e apesar de romper com o modelo criminológico pré-científico, se valeu de algumas contribuições destas “pseudociências” para seu desenvolvimento. Pré-cientificamente podemos citar a: DEMONOLOGIA Explica o crime por meio da existência do demônio. Focava muito nos doentes mentais, pois eram confundidos com possuídos e endemoniados FISIONOMIA Foi a pseudociência que mais se aproximou da criminologia positivista (ou positivismo criminológico) do final do século XIX. Busca explicar o crime com base na aparência do indivíduo, na sua fisionomia, fazendo uma ligação entre o físico e o psíquico. Por meio das características físicas seria possível determinar se o indivíduo era “bom” ou “mal” e, portanto, menos ou mais propenso à prática de delitos. Tem em DELLA PORTA o seu maior expoente (embora o precursor mais rudimentar tenha sido SÃO JERÔNIMO). Curiosamente, a repercussão de tal pseudociência foi tão grande que chegou-se até mesmo ao conhecido “ÉDITO DE VALÉRIO”1. FRENOLOGIA Os frenólogos se valem da contribuição da fisionomia para desenvolver sua teoria. Contudo, para esta teoria, o comportamento delitivo poderia ser explicado por meio da análise do crânio, especificamente. Foi fundada e difundida por FRANÇOIS JOSEPH GALL. Para GALL o formato do crânio irá influenciar a atividade cerebral, podendo, pela análise externa da caixa craniana, saber quais faculdades cerebrais são mais ou menos desenvolvidas e, assim, determinar as características psicológicas da pessoa (agressividade, coragem, etc.), o que culmina na possibilidade de afirmar a propensão à prática de delitos. PSIQUIATRIA Surge com o francês PHILIPPE PINEL. Sua grande contribuição foi a diferenciação entre criminoso e enfermo mental. 1 “Quando se tem dúvida entre dois presumidos culpados, condena-se o mais feio” (VIANA, Eduardo. CRIMINOLOGIA, 2º ed. 2014. Ed. Juspodivm. Pág. 24.) http://www.iceni.com/infix.htm Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 4 de 61 CRIMINOLOGIA – PC-MA (2018) – DELEGADO DE POLÍCIA Teoria e questões Aula 02 – Prof. Renan Araujo Tal diferenciação possibilitou o desenvolvimento da ideia de imputabilidade penal e de criação de estabelecimentos distintos para cada um (doente mental e criminoso). Ultrapassada esta fase pré-científica, a criminologia passa a tentar explicar o fenômeno do crime e o comportamento criminal de forma mais científica, utilizando-se do empirismo como ponto de partida. Seus PRINCIPAIS MODELOS TEÓRICOS FORAM: CRIMINOLOGIA CLÁSSICA E NEOCLÁSSICA Tinham como ponto central de seu trabalho o LIVRE ARBÍTRIO. Para este modelo, o homem é LIVRE para fazer suas escolhas, inclusive para cometer delitos. Nega completamente a influência de fatores externos, como a condição econômico-social, etc. CRIMINOLOGIA POSITIVISTA Rompe com a ideia de que o homem “delinque” porque quer delinquir. Para este modelo teórico, compreendero fenômeno criminal é uma tarefa que demanda a análise de fatores causais-explicativos, ou seja, deve-se buscar as causas do delito (o que se pode chamar de “paradigma etiológico”). Contudo, as “causas” do delito poderiam se de diversas ordens (biológicas, psicológicas, sociais, etc.). SOCIOLOGIA CRIMINAL Enquanto a criminologia positivista vê o crime como uma consequência de determinados fatores (diversos), a sociologia criminal rompe com a ideia de “causas do crime” e parte para a ideia da teoria da criminalização. Com uma forte influência marxista, tal modelo entende que não importa tanto a “causa” de determinado comportamento criminoso, e mais o “porquê” de se considerar criminoso determinado comportamento, ou seja, quais os interesses estão por trás da criminalização de determinadas condutas. A teoria da REAÇÃO SOCIAL é o principal marco deste modelo. Também é conhecida como teoria da rotulação social ou do etiquetamento (labelling aproach). LUIZ FLAVIO GOMES e ANTONIO GARCÍA-PABLOS DE MOLINA ainda acrescentam um QUARTO modelo teórico, que seria representado por diversas correntes criminológicas contemporâneas (como a teoria do curso da vida, a teoria das trajetórias criminais, etc.), que tentam explicar o fenômeno delituoso http://www.iceni.com/infix.htm Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 5 de 61 CRIMINOLOGIA – PC-MA (2018) – DELEGADO DE POLÍCIA Teoria e questões Aula 02 – Prof. Renan Araujo por meio de uma análise dinâmica dos padrões de comportamento do indivíduo ao longo da vida (e suas diversas variáveis). 1.2!Teorias bioantropológicas, psicodinâmicas e psicopsicológicas. O homem delinquente Embora na atualidade a classificação dos criminosos em determinados “grupos”, de acordo com suas características biológicas, psicológicas, etc., tenha perdido bastante de sua relevância, ainda gozam de algum prestígio em determinados setores. Vamos estudar as principais classificações do “homem delinquente”: Classificação de HILÁRIO VEIGA DE CARVALHO BIOCRIMINOSOS PUROS (pseudocriminosos) São criminosos apenas por fatores biológicos, de forma que se nega a estes o livre arbítrio (é o caso dos doentes mentais) BIOCRIMINOSOS PREPONDERANTES (criminosos de difícil correção) Possuem uma tendência biológica ao delito, e acabam por delinquir ao ceder a estímulos externos. Aqui há alguma dose de livre arbítrio. BIOMESOCRIMINOSOS (criminosos de correção possível) Sofrem influências de fatores biológicos e externos, não sendo possível definir qual destes fatores prepondera. A reincidência, aqui, é ocasional. MESOCRIMINOSOS (criminosos de correção provável ou esperada) Possuem personalidade fraca, sofrendo grande influência do meio. São os clássicos “Maria vai com as outras”, nas palavras do próprio mestre HILÁRIO. MESOCRIMINOSOS PUROS (criminosos ambientais) São considerados “vítimas” do meio. Agem de forma antissocial apenas em razão de fatores externos. É o caso do holandês que vem ao Brasil e acende um cigarro de maconha. Em seu seio social tal conduta é permitida. No Brasil, trata-se de conduta criminosa (posse de droga para uso próprio). Para esta classificação os “PUROS” (mesocriminosos puros e biocriminosos puros) são considerados “pseudocriminosos”, pois não possuem todos os elementos necessários ao delito. http://www.iceni.com/infix.htm Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 6 de 61 CRIMINOLOGIA – PC-MA (2018) – DELEGADO DE POLÍCIA Teoria e questões Aula 02 – Prof. Renan Araujo Em relação aos últimos faltaria a consciência da ilicitude, não possuindo a intenção de violar a Lei. Em relação aos primeiros faltaria a possibilidade de autodeterminação. Classificação segundo LOMBROSO, FERRI e GAROFALO Classificação de LOMBROSO NATOS Um degenerado, por fatores biológicos (cabeça pequena ou deformada, sobrancelhas salientes, etc.). Um selvagem sem correção. LOUCOS Perverso, louco moral, alienado mental. Deve permanecer fora da sociedade, segregado em manicômio ou similar. DE OCASIÃO Possuem predisposição hereditária e são influenciados pelo meio, ou seja, são criminosos em razão das circunstâncias (“A ocasião faz o ladrão”. POR PAIXÃO São inconsequentes, irrefletidos, impulsivos, exaltados. Classificação de ENRICO FERRI NATO Possui as mesmas características do criminoso nato de LOMBROSO. LOUCO Inclui, além dos alienados completos, os semiloucos (ou fronteiriços). OCASIONAL O indivíduo que não se dedica ao crime habitualmente, mas acaba por cometer delitos de forma ocasional, inclusive em razão das circunstâncias momentâneas. Pode ser associado ao criminoso “de ocasião” de LOMBROSO. HABITUAL Faz do crime seu meio de vida. Poderia começar como ocasional e “se desenvolver” para o criminoso habitual. PASSIONAL Semelhante ao criminoso “por paixão” de LOMBROSO. É impetuoso, inconsequente, etc. Classificação de GARÓFALO ASSASSINOS São instintivos, egoístas, aproximando-se dos seres selvagens e das crianças. http://www.iceni.com/infix.htm Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 7 de 61 CRIMINOLOGIA – PC-MA (2018) – DELEGADO DE POLÍCIA Teoria e questões Aula 02 – Prof. Renan Araujo ENÉRGICOS OU VIOLENTOS Possuem senso moral, mas lhes falta compaixão. LADRÕES OU NEURASTÊNICOS Falta a estes criminosos a ideia de honestidade, de probidade, embora não lhes falte o senso moral. Percebam que as classificações destes três expoentes do POSITIVISMO criminológico são bem semelhantes. As classificações de FERRI e LOMBROSO, então, são praticamente idênticas. Classificação de ODON RAMOS MARANHÃO OCASIONAL Sua personalidade é normal, mas em decorrência de algum fator poderoso (externo ou interno) há um rompimento transitório dos mecanismos de contenção impulsos. SINTOMÁTICO Seus atos estão mais vinculados à predisposição criminosa decorrente de uma doença do que à existência de um fato desencadeante. CARACTEROLÓGICO A delinquência, aqui, deriva de falha na formação do caráter, havendo pouca ou nenhuma influência de um fator desencadeante. Classificação para GUIDO ARTURO PALOMBA IMPETUOSOS Seus atos são frutos de “amnésia momentânea do senso crítico”. São similares aos criminosos passionais de FERRI. OCASIONAIS Não se dedicam à atividade criminosa, cometendo crimes esporadicamente, em razão de fatores internos e externos. HABITUAIS Segundo o professor, são “incapazes de readquirir uma existência honesta”. Fazem do crime seu meio de vida. É o chamado “criminosos contumaz”. FRONTEIRIÇOS Apresentam deformidades permanentes em seu senso moral, com distúrbios de afeto e sensibilidade. Tais alterações psíquicas os conduzem ao crime. LOUCOS CRIMINOSOS Dois tipos: (i) Agem mediante um processo lento e reflexivo; (ii) Agem por impulso. http://www.iceni.com/infix.htm Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 8 de 61 CRIMINOLOGIA – PC-MA (2018) – DELEGADO DE POLÍCIA Teoria e questões Aula 02 – Prof. Renan Araujo Como vocês podem perceber, a bem da verdade, existem diversas classificações que acabam por dizer, se não a mesma coisa, quase a mesma coisa, com pequenas variáveis. Assim, podemos resumir as teorias BIOANTROPOLÓGICAS como aquelas que buscam explicar o criminoso com base em fatores biológicos. Para esta teoria, existe o “criminoso” e “não criminoso”. As teorias PSICODINÂMICAS também entendem haver o “criminoso” e o “não criminoso”, mas ao invés de considerar tal distinção com base em fatores biológicos, enxergam a diferença entre eles como decorrência de falhas no processo de aprendizado e socialização do indivíduo. Por fim, as teorias PSICOSOCIOLÓGICAS verificam a existência de predominânciados fatores sociais sobre o fenômeno do crime, em detrimento de fatores ligados à personalidade do criminoso. 1.3!Teorias sociológicas Sociedade criminógena é, por definição, uma sociedade que PRODUZ CRIME. Essa ideia de que a sociedade produz o criminoso e, por consequência, o crime, possibilitou o surgimento de diversas teorias calcadas na ideia de que o centro da análise do fenômeno delitivo não é o criminoso, e sim a sociedade (embora aquele também mereça atenção). Assim, desloca-se o centro do estudo para o meio (a sociedade), criando-se o que se convencionou chamar de SOCIOLOGIA CRIMINAL. Dentro deste quadro sociológico, dois grandes grupos teóricos se desenvolveram: A TEORIA DO CONSENSO e a TEORIA DO CONFLITO. A teoria do consenso ou “criminologia do consenso” parte da premissa de que a sociedade é formada por uma séria de valores fundamentais consensuais, que devem ser protegidos e promovidos por todos. Assim, o Direito Penal nada mais seria que uma ferramenta para a defesa destes valores comuns a todos os indivíduos. Inserem-se nesta ideia as teorias desenvolvidas pela ESCOLA DE CHICAGO, ANOMIA E ASSOCIAÇÃO DIFERENCIAL. A criminologia do conflito, por sua vez, verifica a sociedade não como um todo coeso e harmônico, fundado em valores comuns a todos os indivíduos, e sim um campo de batalha entre classe dominante e dominada. Partindo deste viés marxista, as teorias decorrentes desta ideia vão estabelecer que o Direito Penal nada mais é que uma ferramenta a serviço da classe dominante, de forma a garantir a manutenção do status quo, coagindo a classe dominada a “andar na linha”. Para tanto, o Direito Penal seria absolutamente seletivo na escolha das condutas que seriam criminalizadas, optando por uma criminalização primária voltada às condutas geralmente praticadas pelos indivíduos pertencentes à classe dominada (furto seria mais grave que condutas lesivas à ordem econômica, por exemplo). ==db697== http://www.iceni.com/infix.htm Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 9 de 61 CRIMINOLOGIA – PC-MA (2018) – DELEGADO DE POLÍCIA Teoria e questões Aula 02 – Prof. Renan Araujo Feita essa distinção, vamos à análise das principais teorias relativas à sociologia criminal. 1.3.1!Criminologia do consenso 1.3.1.1! Escola de Chicago A Escola de CHICAGO e sua explicação ECOLÓGICA do crime talvez seja a principal escola criminológica moderna. PARK foi o principal expoente desta Escola. Este autor analisou o crescimento populacional na cidade de Chicago no começo do século XX e, com suas observações, a Escola de Chicago chegou à conclusão de que o fenômeno delitivo estava relacionado diretamente ao conglomerado urbano e suas características (multiculturais, étnicas, etc.). Assim, a CIDADE (mais especificamente do que a “sociedade” genericamente considerada) seria o foco principal da atenção da criminologia. Para os teóricos desta Escola, a CIDADE, ou seja, o meio urbano produz a criminalidade (crescimento populacional, crescimento desordenado, etc.). A Escola de Chicago também chegou à conclusão de que a delinquência era mais concentrada em determinadas áreas, e tal concentração seria fruto, dentre outras coisas, da desorganização social destas áreas. São oriundas da Escola de Chicago as teorias ECOLÓGICA, ESPACIAL, DAS JANELAS QUEBRADAS e DA TOLERÂNCIA ZERO. Vejamos sinteticamente cada uma delas: ECOLÓGICA (DESORGANIZAÇÃO SOCIAL) Para esta teoria o progresso leva a criminalidade aos grandes centros urbanos. Propõe que a estabilidade e a integração contribuem para a ordem social, enquanto a desordem social e a ausência de integração entre os indivíduos contribuem para índices mais elevados de criminalidade. A deterioração de núcleos primários (família, igreja, etc.), a superficialização das relações sociais, tudo isso cria um meio desorganizado e potencialmente criminógeno2. ESPACIAL Defendia a reestruturação arquitetônica das cidades como forma de prevenção do delito, inclusive como forma de permitir maior controle sobre as pessoas. Teve em OSCAR NEWMAN seu maior expoente. JANELAS QUEBRADAS Tem suas raízes na obra dos estadunidenses JAMES WILSON e GEORGE KELLING. Para esta teoria a 2 GARCÍA –PABLOS DE MOLINA, Antonio. GOMES, Luiz Flavio. Criminologia. Ed. Revista dos Tribunais. 8º ed. P. 344. http://www.iceni.com/infix.htm Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 10 de 61 CRIMINOLOGIA – PC-MA (2018) – DELEGADO DE POLÍCIA Teoria e questões Aula 02 – Prof. Renan Araujo repressão dos menores delitos é ABSOLUTAMENTE INDISPENSÁVEL para inibir a prática dos delitos mais graves. Tem este nome em razão de um experimento de PHILIP ZIMBARDO. O citado psicólogo deixou um carro estacionado na rua em um bairro de classe alta da cidade de Palo Alto, Califórnia. Durante a primeira semana, o carro permaneceu intacto. Após, o pesquisador quebrou uma das janelas do veículo e o deixou mais uma semana parado na rua. Ao final desta segunda semana o veículo foi completamente destruído e furtado por vândalos. Daí a ideia de que um “pequeno” dano à sociedade, se não consertado, gera a sensação de que “tudo é permitido”, estimulando a prática de delitos. TOLERÂNCIA ZERO A teoria da tolerância zero (neorretribucionismo) decorre naturalmente da ideia defendida pela teoria das janelas quebradas. Trata-se de uma política criminal de repressão a toda e qualquer conduta desviante, por menor que seja, como forma de reafirmar o poder do Estado e a necessidade de respeito à Lei. Surgiu em Nova York, no começo dos anos 90. Trata-se de decorrência do como “Movimento Lei e Ordem” (Law and Order), que pugna pela expansão do Direito Penal, um seja, um incremento da resposta formal do Estado. 1.3.1.2! Teoria da associação diferencial (aprendizagem social ou social learning) Difundida por Edwin Sutherland, tendo como base as ideias de Gabriel TARDE (e suas “Leis da Imitação”). SUTHERLAND focou seus estudos sobre os crimes de colarinho Branco, nos Estados Unidos da América, mais especificamente em Chicago. Para Sutherland, as explicações fornecidas pelas diversas teorias criminológicas até então não seriam capazes de responder de forma adequada à questão dos crimes de colarinho branco, já que todas (ou quase todas) viam nas mazelas sociais (desorganização social, pobreza, etc.) a gênese do crime, de forma que se distanciavam da realidade dos crimes de colarinho branco (White colar crimes). Para Sutherland, ninguém nasce criminoso, mas APRENDE a se tornar um, ou seja, o crime é mero resultado de um processo inadequado ou falho de socialização do indivíduo. Segundo esta teoria o indivíduo se tornaria criminoso ao observar outras condutas criminosas e INTERAGIR com outras pessoas, notadamente aquelas que se dedicam ao delito. http://www.iceni.com/infix.htm Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 11 de 61 CRIMINOLOGIA – PC-MA (2018) – DELEGADO DE POLÍCIA Teoria e questões Aula 02 – Prof. Renan Araujo Assim, a pessoa se tornaria delinquente por estar mais submetida a modelos de comportamento delitivo do que a modelos de comportamento não delitivos. A cultura criminosa existe e, a depender do nível de atuação do Estado em determinados grupos sociais, ela predomina em relação à cultura legal. 1.3.1.3! Teoria das subculturas delinquentes Tal teoria acaba defende que a conduta delitiva não seria um reflexo negativo da desorganização social e outras mazelas da sociedade contemporânea. Para esta teoria todo agrupamento humano é dotado de subculturas, com uma filosofia de vida e regras próprias. Assim, a existência de subculturas corresponde, naturalmente, à existência de valores distintos daqueles pregados pela culturadominante. Desta forma, é possível que algumas destas subculturas possuam valores que se contraponham aos valores da cultura dominante e, em razão disso, o delito não derivaria de uma predisposição à violação da Lei, e sim um mero reflexo destas diferenças culturais. 1.3.1.4! Teoria da anomia Denominada por alguns de “estrutural-funcionalista”, teve como principais expoentes ROBERT MERTON e TALCOTT PARSONS, que se valeu das ideias de DURKHEIN, para desenvolver sua teoria. Para esta teoria, o crime é um fenômeno “natural”, inerente à sociedade, de forma que seriam inválidas as ideias de criminoso como anormal, bem como as tentativas de explicar o crime com base em aspectos sociológicos. DURKHEIM, talvez o principal nome desta teoria, entendia que o crime era algo “normal” na sociedade, pois uma sociedade sem crime seria absolutamente inviável, e que patologia social não seria a existência de crime, mas a sua ausência. Para DURKHEIM, o crime era o fenômeno o social que permitia a reafirmação da ordem social, pois toda vez que um crime era praticado surgia a possibilidade de reafirmação e legitimação dos vínculos estruturais e estruturantes da sociedade. Tal Teoria não prega a desvinculação entre crime e ambiente social, apenas entende que o crime é decorrência natural do meio social, e não uma anormalidade. Para esta teoria a sociedade impõe objetivos e metas inalcançáveis para a maioria dos indivíduos (sucesso, poder, status), e como tais metas são inatingíveis, a dissociação entre os objetivos e os instrumentos para seu alcance geraria a ANOMIA, que seria uma situação de renúncia às normas sociais. Esta teoria elenca diversos modelos de adaptação do indivíduo à sociedade. http://www.iceni.com/infix.htm Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 12 de 61 CRIMINOLOGIA – PC-MA (2018) – DELEGADO DE POLÍCIA Teoria e questões Aula 02 – Prof. Renan Araujo Primeiro temos o indivíduo que aceita as metas sociais e os meios à sua disposição. Depois temos o indivíduo que, ao perceber que os meios não são hábeis à obtenção das finalidades, continua aceitando as metas sociais, mas não os meios colocados à sua disposição. Ou seja, aqui ele passa a buscar um “atalho” para alcançar as metas sociais. Outro modelo é o do ritualismo. O indivíduo renuncia às metas sociais, aos objetivos culturais, mas permanece apegado às normas da sociedade. Há, também, o modelo evasivo (retraimento). Neste grupo se incluem os bêbados habituais, mendigos, drogados crônicos, etc. Tais indivíduos se conformam e buscam mecanismos de fuga. Por fim, há o modelo da rebelião. Aqui o indivíduo rejeita completamente as metas culturais e os meios à sua disposição (institucionalmente falando). Este indivíduo passa a se dedicar à luta pela criação de novos paradigmas sociais, de uma nova ordem. 1.3.2!Criminologia do conflito 1.3.2.1! Teoria do etiquetamento ou labeling approach No seio da criminologia crítica, surge a TEORIA DO LABELING APPROACH, ou “Teoria do Etiquetamento”. A teoria do etiquetamento vai dizer, basicamente, que o crime não é um dado ontológico, ou seja, não existem condutas que são, por sua própria natureza, criminosas. O que existem são condutas, simplesmente, condutas. A qualidade de “criminosa” a uma conduta é o que revela o caráter de “etiquetamento” do Direito Penal, ou seja, as condutas, em seu estado natural, não são criminosas, até que surge um dado novo, de cunho normativo, que lhes confere tal “estigma”. Tal teoria tem, em grande parte, fundamento na ideia de “interacionismo simbólico”. A expressão “interação simbólica” se refere aos processos de relacionamento interpessoal entre os indivíduos, de forma que a noção de crime surge da relação entre os indivíduos e da eleição dos valores que devem ser protegidos, ou seja, o rótulo de “crime” a uma conduta é dado pela sociedade, e não pela natureza. Isto posto, temos uma corrente criminológica que sustenta que não se deve buscar entender por que alguém vira criminoso, mas porque a sociedade rotula tal conduta cromo criminosa (ou tal pessoa como criminosa). http://www.iceni.com/infix.htm Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 13 de 61 CRIMINOLOGIA – PC-MA (2018) – DELEGADO DE POLÍCIA Teoria e questões Aula 02 – Prof. Renan Araujo EXEMPLO: A conduta criminosa prevista no art. 169, § único, II do CP, que estabelece o crime de “apropriação de coisa achada”. Vejamos a redação: Art. 169 - Apropriar-se alguém de coisa alheia vinda ao seu poder por erro, caso fortuito ou força da natureza: Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa. Parágrafo único - Na mesma pena incorre: (...) Apropriação de coisa achada II - quem acha coisa alheia perdida e dela se apropria, total ou parcialmente, deixando de restituí-la ao dono ou legítimo possuidor ou de entregá-la à autoridade competente, dentro no prazo de 15 (quinze) dias. Vejam, assim, que a conduta de “apropriar-se de coisa achada” não é, por si só, crime. Ela passa a ser crime quando a norma penal assim estabelece. Qual é a grande sacada desta teoria? Ela desmistifica a ideia de criminoso. Imagine que a ideia de criminoso esteja centrada sobre aquele que furta. Se amanhã surgir nova lei dizendo que furto não é crime, aquela pessoa “deixaria de ser criminoso” e todos os estudos referentes ao crime e suas causas iriam por água abaixo. Além disso, seguindo a linha da teoria do conflito, a teoria do etiquetamento entende que o Direito Penal procede à “rotulação” de condutas não em razão da persecução de um fim legítimo e a defesa de valores comuns aos cidadãos, mas tendo como objetivo supremo a perpetuação da estrutura social dividida em classes. Desta forma, o Estado se vale do Direito Penal para rotular como “criminosas” as condutas praticadas com maior frequência pelos membros das classes mais baixas, bem como impõe a elas penas mais severas. Com relação às condutas praticadas com maior frequência pelas classes altas, ou não são rotuladas como criminosas ou, quando o são, recebem penas brandas. Para esta teoria, portanto, o crime não seria um fenômeno social, mas um fenômeno normativo, ou seja, o Estado rotula como crime as condutas que ele pretende sejam consideradas como criminosas. Assim, não existiria um crime “por natureza”, mas apenas “condutas”, que recebem o rótulo de criminosas de acordo com os interesses do Estado (que nem sempre protegem por igual os interesses dos mais diversos grupos sociais, tendendo a conferir maior proteção aos bens de interesse da classe dominante).3 Além disso, não seriam apenas as condutas (isoladamente consideradas) que influenciariam na resposta do Estado, mas também a pessoa do indivíduo e sua posição social. Portanto, ao desviar o foco do desviante para o processo de criminalização (e suas seletivas escolhas), a teoria da reação social coloca em xeque os 3 HASSEMER, Winfried. MUÑOZ CONDE, Francisco. Introdución a la Criminologia y al Derecho Penal. Ed. Tirant lo blanch. Valência, 1989, p. 18 http://www.iceni.com/infix.htm Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 14 de 61 CRIMINOLOGIA – PC-MA (2018) – DELEGADO DE POLÍCIA Teoria e questões Aula 02 – Prof. Renan Araujo repressores, ao argumento de que o desviante é mero produto das instâncias formais de controle na sociedade punitiva. Teve como principais expoentes GOFFMAN, LEMERT e BECKER. 1.3.2.2! Garantismo, minimalismo e abolicionismo penal O principal papel da criminologia num Estado Democrático de Direito é pugnar pelo desenvolvimento de um sistema jurídico-penal que respeite os direitos e garantias fundamentais. Um modelo, portanto, GARANTISTA. FERRAJOLI4 foi o maior expoente do Garantismo penal,que para ele pode ser definido segundo três prismas: •! Modelo normativo •! Teoria Jurídica •! Filosofia Política Nas palavras de FERRAJOLI: “Segundo um primeiro significado, "garantismo" designa um modelo normativo de direito: precisamente, no que diz respeito ao direito penal, o modelo de "estrita legalidade, próprio do Estado de direito, que sob o plano epistemológico se caracteriza como um sistema cognitivo ou de poder mínimo, sob o plano político se caracteriza como uma técnica de tutela idônea a minimizar a violência e a máxima liberdade e, sob o plano jurídico, como um sistema de vínculos impostos à func ̧ão punitiva do Estado em garantia dos direitos dos cidadãos. É, consequentemente, "garantista" todo sistema penal que se conforma normativamente com tal modelo e que o satisfaz efetivamente. (...) Em um segundo significado, "garantismo" designa uma teoria jurídica da "validade" e da "efetividade" como categorias distintas não só entre si mas, também, pela "existência" ou "vigor" das normas. Neste sentido, a palavra garantismo exprime uma aproximac ̧ão teórica que mantém separados o "ser" e o "dever ser" no direito; e, aliás, põe como questão teórica central, a diverge ̂ncia existente nos ordenamentos complexos entre modelos normativos (tendentemente garantistas) e práticas operacionais (tendentemente antigarantistas), interpretando-a com a antinomia - dentro de certos limites fisiológica e fora destes patológica - que subsiste entre validade (e não efetividade) dos primeiros e efetividade (e invalidade) das segundas. (...) Segundo um terceiro significado, por fim, "garantismo" designa uma filosofia política que requer do direito e do Estado o o ̂nus da justificac ̧ão externa com base nos bens e nos interesses dos quais a tutela ou a garantia constituem a finalidade. Neste último sentido o Garantismo (pressupõe) a doutrina laica da separação entre direito e moral, entre validade e justic ̧a, entre ponto de vista interno e ponto de vista externo na valoração do ordenamento, ou mesmo entre o "ser" e o "dever ser” do direito. E 4 O Garantismo penal foi bem desenvolvido por FERRAJOLI, professor da Universidade de Camerino, na Itália. Para um aprofundamento maior: FERRAJOLI, LUIGI. Direito e razão: teoria do garantismo penal. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2002, p. 683 e seguintes. http://www.iceni.com/infix.htm Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 15 de 61 CRIMINOLOGIA – PC-MA (2018) – DELEGADO DE POLÍCIA Teoria e questões Aula 02 – Prof. Renan Araujo equivale à assunção, para os fins da legitimac ̧ão e da perda da legitimac ̧ão ético- política do direito e do Estado, do ponto de vista exclusivamente externo. Um Estado democrático de Direito deve, portanto, buscar a adoção de um sistema penal garantista, não apenas no que tange às previsões normativas, mas também no que se refere ao efetivo respeito ao modelo normativamente adotado, a fim de que seja respeitado pelas instâncias de controle (Polícia, Judiciário, etc.). Assim, um modelo baseado no “Direito Penal do Inimigo”, por exemplo, não pode, de forma alguma, ser admitido num Estado democrático de Direito. Mas o que seria o “Direito Penal do Inimigo”? Trata-se de um modelo que pressupõe a existência de um Direito Penal que mitigue as garantias constitucionais aos criminosos considerados “contumazes”, ou seja, aqueles que fazem do crime seu meio de vida.5 Assim, haveria um “Direito Penal do Cidadão” (garantista), no qual são observados os direitos e garantias fundamentais do acusado, e um “Direito Penal do Inimigo”, no qual estas garantias poderiam ser flexibilizadas ou afastadas, já que não se estaria diante de alguém que merecesse qualquer consideração por parte do Estado. Este tipo de teoria é inadmissível num Estado Democrático de Direito por, inicialmente, violar o princípio da isonomia. Num segundo plano, não menos importante, violaria, ainda, a ideia de que o Direito Penal pune as pessoas pelo que elas FAZEM e não pelo que elas SÃO. Da mesma forma, num Estado Democrático de Direito o ser humano é o centro, o fim último de toda e qualquer ação do Estado. Desta maneira, a pena deve ter por finalidade não apenas castigar o infrator, tampouco servir apenas a uma esperada “prevenção especial”, mas também, e principalmente, ressocializar o infrator. O MINIMALISMO penal, por sua vez, prega a redução do raio de abrangência do Direito Penal, que deve ser reservado apenas àquelas condutas absolutamente incompatíveis com a vida em sociedade, e apenas para a proteção dos bens jurídicos mais valiosos (Direito Penal mínimo). O minimalismo tem em FERRAJOLI e BARATTA dois de seus maiores expoentes. A lógica do minimalismo é clara: se o Direito Penal é o instrumento mais invasivo de regulação social, só deve ser utilizado em último caso (ultima ratio). Além da redução do raio de abrangência do Direito Penal, o minimalismo prega, ainda a redução da aplicação da pena privativa de liberdade, que deve, sempre que possível, ser substituída por sanções alternativas. 5 Este termo foi desenvolvido de maneira aprofundada pelo professor alemão, da Universidade de Bonn, Günther Jakobs. JAKOBS, Günther. La normativización de la dogmática jurídico-penal. Trad. Manuel Cancio Meliá e Bernardo Feijó Sánchez. 1. ed. Madrid: Ed. Thomson Civitas, 2003, p. 57 e seguintes. http://www.iceni.com/infix.htm Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 16 de 61 CRIMINOLOGIA – PC-MA (2018) – DELEGADO DE POLÍCIA Teoria e questões Aula 02 – Prof. Renan Araujo Por fim, o ABOLICIONISMO PENAL prega a supressão do Sistema Penal, seja porque se nega legitimidade ético-política a essa forma de controle social, desde seu surgimento, seja porque é visto, na prática, como mais danoso que vantajoso. Os fundamentos do abolicionismo são: ⇒! Anomia do sistema penal – Apesar de existir, o Direito Penal não consegue regular a vida em sociedade. ⇒! Seletividade do sistema penal – O Direito penal não tutela de maneira uniforme a vida em sociedade, mas seleciona, cuidadosamente, os destinatários de sua atuação. ⇒!O Direito Penal estigmatiza o condenado – Ao invés de ressocializar o apenado, o Direito Penal funciona como uma marca negativa para aqueles que foram condenados, privando-os, perpetuamente, do retorno à vida social. ⇒!O Direito Penal marginaliza a vítima – O Estado, por meio do Direito Penal, expropria o problema (que, a princípio, se dá entre dois indivíduos), castiga o infrator (quando consegue), mas não se preocupa com a vítima. Há, basicamente, duas grandes vertentes abolicionistas: ⇒! Abolicionismo imediato – Defendido, dentre outros, por LOUCK HULSMAN, prega a imediata supressão do Direito Penal. Isso não significa que esses doutrinadores pregam a ausência total de controle formal do Estado sobre as condutas lesivas à sociedade, mas a substituição imediata do Direito Penal por outros métodos de solução de conflitos (composição civil dos danos, etc.). ⇒! Abolicionismo mediato – Também conhecido como minimalismo radical, prega que o ideal seria a abolição do Direito Penal, mas a realidade impõe a manutenção de tal sistema, já que seria impossível sua supressão sem que houvesse um abalo social considerável, com possível transmutação da violência estatal para a vingança privada sem qualquer regulamentação estatal. Dentre os defensores do Abolicionismo mediato podemos citar THOMAS MATHIESEN como o principal expoente. 1.3.3!Criminologia ambiental Vários são os fatores criminógenos, ou seja, o crime é um fenômeno que deriva de uma série de fatores, como a personalidade do agente, o meio social no qual está inserido, etc. Esta ideia de que a conduta criminosa é influenciada pelo ambiente em que seinsere o criminoso é o principal fundamento da chamada “criminologia ambiental”. Assim, o ambiente que cerca o infrator no momento do crime pode e deve ser considerado um fator criminógeno. http://www.iceni.com/infix.htm Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 17 de 61 CRIMINOLOGIA – PC-MA (2018) – DELEGADO DE POLÍCIA Teoria e questões Aula 02 – Prof. Renan Araujo A criminologia ambiental, portanto, estuda os eventos criminosos não sob a perspectiva do infrator como um ser isolado, mas sob a perspectiva de um indivíduo cercado por um determinado contexto. Garofalo, já em 1914, dizia que o estilo de vida de uma pessoa era um fator capaz de determinar sua maior ou menor propensão a sofrer um delito. Isto parte da ideia de “teoria da oportunidade”. As “teorias da oportunidade” foram melhor desenvolvidas por CLARKE e FELSON, e se fundamentam na ideia de que o comportamento criminoso é produto de da interação de três fatores: um infrator inclinado a praticar o delito, uma vítima propícia e a ausência de controle. Assim, a “oportunidade” para delinquir seria, em determinados casos, um fator determinante para a ocorrência do delito. EXEMPLO: José é uma pessoa comum, trabalhadora, não inclinada, em regra, à prática de delitos. Certo dia, um caminhão-frigorífico tombou próximo à sua casa, espalhando quilos de carne pela estrada. Como não havia policiamento, várias pessoas começaram a saquear a carga. José, percebendo a oportunidade e a ausência de controle, resolveu furtar também 01 quilo de carne. Percebam que José, possivelmente, não furtaria 01 quilo de carne no açougue da esquina, ou no supermercado, em condições normais. Todavia, as circunstâncias relatadas formaram um cenário ideal para a prática do delito. Um outro exemplo pode ajudar a esclarecer: EXEMPLO: Imaginem que torcedores de times rivais frequentam o estádio sem entrar em confronto, já que ambos possuem um número de integrantes semelhante e há bastante policiamento. Todavia, em determinado “clássico”, uma das torcidas organizadas comparece com apenas 20 integrantes, enquanto outra comparece com cerca de 500 integrantes. Neste mesmo dia, a polícia militar enviou efetivo extremamente reduzido para acompanhar a partida. Assim, os integrantes da torcida organizada que estava em maior número, resolveram armar uma emboscada, para agredir os torcedores rivais. Percebam, assim, que no último exemplo a torcida organizada que praticou o delito encontrou um cenário ideal para a prática do delito: uma vítima perfeita (uma torcida em menor número) e a ausência de controle. Tudo isto, aliado à inclinação daqueles indivíduos à prática delitiva, gerou o fato criminoso. Assim, a ideia de que o contexto ajuda a maximizar ou minimizar a ocorrência de um evento criminoso é fundamental para que se possa combater a criminalidade. Através de dados estatísticos é possível determinar quais locais e situações criam “oportunidades delitivas”, de maneira que o aparato estatal possa http://www.iceni.com/infix.htm Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 18 de 61 CRIMINOLOGIA – PC-MA (2018) – DELEGADO DE POLÍCIA Teoria e questões Aula 02 – Prof. Renan Araujo intervir para fazer desaparecer tais oportunidades ou, ao menos, reduzi- las ao mínimo possível. 1.4!A prevenção penal no Estado Democrático de Direito O principal papel da criminologia num Estado Democrático de Direito é pugnar pelo desenvolvimento de um sistema jurídico-penal que respeite os direitos e garantias fundamentais. Assim, um modelo criminológico baseado no “Direito Penal do Inimigo”6, por exemplo, não pode ser admitido, já que pressupõe a existência de um Direito Penal que mitigue as garantias constitucionais aos criminosos considerados “contumazes”, ou seja, aqueles que fazem do crime seu meio de vida. Assim, haveria um “Direito Penal do Cidadão”, no qual são observados os direitos e garantias fundamentais do acusado, e um “Direito Penal do Inimigo”, no qual estas garantias poderiam ser flexibilizadas ou afastadas, já que não se estaria diante de alguém que merecesse qualquer consideração por parte do Estado. Este tipo de teoria é inadmissível num Estado Democrático de Direito por, inicialmente, violar o princípio da isonomia. Num segundo plano, não menos importante, violaria, ainda, a ideia de que o Direito Penal pune as pessoas pelo que elas FAZEM e não pelo que elas SÃO. Da mesma forma, num Estado Democrático de Direito o ser humano é o centro, o fim último de toda e qualquer ação do Estado. Desta maneira, a pena deve ter por finalidade não apenas castigar o infrator, tampouco servir apenas a uma esperada “prevenção especial”, mas também, e principalmente, ressocializar o infrator. Mais especificamente no que tange à prevenção, podemos estabelecer a prevenção do delito, no Estado Democrático de Direito, como: •! MEDIDAS DIRETAS DE PREVENÇÃO – Atuam diretamente sobre o delito, como a pena, a tipificação de condutas, etc. •! MEDIDAS INDIRETAS DE PREVENÇÃO DE DELITOS – Atuam nas causas da criminalidade (melhorias na condição de vida da população, educação, saúde, emprego, moradia, etc.). 6 A teoria do Direito Penal do inimigo foi melhor desenvolvida por Günther Jakobs. Para o autor, o Direito Penal deve separar as pessoas dos inimigos. As pessoas seriam aquelas que, eventualmente, cometeram algum delito, mas que não se dedicam a atividades criminosas. Para estes, o Direito Penal preservaria toda o sistema de garantias processuais. De outro lado, aqueles que praticam crimes de forma reiterada perderiam a condição de “pessoa”, sendo considerados inimigos da sociedade e, portanto, estaria autorizada uma flexibilização no sistema de garantias. (JAKOBS, Günther. La normativización de la dogmática jurídico-penal. Trad. Manuel Cancio Meliá e Bernardo Feijóo Sánchez. Ed. Thomson civitas, primera edición. Madrid, 2003, p. 57-59) http://www.iceni.com/infix.htm Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 19 de 61 CRIMINOLOGIA – PC-MA (2018) – DELEGADO DE POLÍCIA Teoria e questões Aula 02 – Prof. Renan Araujo Por outra classificação, podemos ter a prevenção nos seguintes moldes: •! Prevenção primária •! Prevenção secundária •! Prevenção terciária Vejamos cada uma delas: 1.4.1!Prevenção primária Programas cuja finalidade é atacar a causa da criminalidade, ou seja, a origem do problema (desigualdade social, pobreza, desemprego, etc.). Trata-se, portanto, de uma forma de prevenção que busca atingir as estruturas do sistema. Temos, aqui, os métodos preventivos com resultado de médio a longo prazo. 1.4.2!Prevenção secundária Momento posterior ao delito ou na iminência de sua ocorrência. Aqui o foco da prevenção recai sobre os setores sociais em que a criminalidade mais se manifesta, ou seja, recai sobre os grupos que apresentam determinadas características que os tornam mais propensos a praticar ou sofrer delitos. Apresentam resultados de curto a médio prazo. A prevenção secundária ocorre, por exemplo, por meio da criminalização de condutas, da ação policial, etc. 1.4.3!Prevenção terciária Aqui a prevenção recai sobre o condenado, ou seja, visa a evitar a reincidência. Pode se dar por meio da escolha da pena mais apropriada, pela progressão de regime, que possibilita o reencontro paulatino do preso com a sociedade, etc. A prevenção terciária é materializada por meio da pena, ou seja, a pena é o instrumento utilizado pelo Estado para alcançar prevenção terciária, de forma a evitar a reincidência. Para a melhor compreensão do tema, necessária se faz uma breve síntese das finalidades atribuídas à pena criminal, de acordo com as diversas teorias: 1.4.3.1! Teoria absoluta da pena Paraesta teoria, pune-se o agente simplesmente porque ele cometeu uma transgressão à ordem estabelecida e deve ser castigado por isso. Não há nenhuma finalidade educacional de reinserção do indivíduo à vida social. A pena é mero instrumento para a realização da vingança estatal. Trata-se de um d http://www.iceni.com/infix.htm Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 20 de 61 CRIMINOLOGIA – PC-MA (2018) – DELEGADO DE POLÍCIA Teoria e questões Aula 02 – Prof. Renan Araujo imperativo categórico de Justiça ou de Moral (se delinquiu, deve ser punido, independentemente de qualquer outra finalidade).7 1.4.3.2! Teoria relativa e sua finalidade preventiva Pune-se o agente não para castigá-lo, mas para prevenir a prática de novos crimes. Essa prevenção pode ser: Prevenção Geral – Busca controlar a violência social, de forma a despertar na sociedade o desejo de se manter conforme o Direito. Pode ser negativa8, quando busca criar um sentimento de medo perante a Lei penal, ou positiva, quando simplesmente se busca reafirmar a vigência da Lei penal. Prevenção especial – Não se destina à sociedade, mas ao infrator, de forma a prevenir a prática da reincidência. Também pode ser negativa, quando busca intimidar o condenado, de forma a que ele não cometa novos delitos por medo, ou positiva, quando a preocupação está voltada à ressocialização do condenado (Infelizmente, não há uma preocupação com isto na prática). IMPORTANTE! FRANZ VON LISZT foi um dos mais conceituados expoentes da “Escola Moderna Alemã”. Buscou enxergar a pena como meio de ressocialização do indivídio, muito além da mera punição pelo ato cometido. Para tanto, defendia que a pena deveria ter finalidade preventiva, mas apenas em relação aos criminosos corrigíveis. Para ele, os criminosos poderiam ser divididos em: ⇒!Habituais – Sem chance de ressocialização. A pena não teria, aqui, finalidade preventiva especial. ⇒! Iniciantes – Estes poderiam ser ressocializados, de maneira que a pena teria, em relação a estes, finalidade preventiva especial. ⇒!Ocasionais – Estes não necessitariam de ressocialização, pois apenas cometeram um desvio pontual. Tais pensamentos ficaram conhecidos como “Programa de Marburgo”. 1.4.3.3! Teoria Mista (unificadora ou eclética ou unitária) e sua dupla finalidade Aqui, entende-se que a pena deve servir como castigo (punição) ao infrator, mas também como medida de prevenção, tanto em relação à sociedade quanto 7 BACIGALUPO, Enrique. Manual de Derecho penal. Ed. Temis S.A., tercera reimpressión. Bogotá, 1996, p. 12 8 ROXIN, Claus. Derecho penal, parte general. Madrid: Civitas, 1997. tomo I, p. 91. b http://www.iceni.com/infix.htm Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 21 de 61 CRIMINOLOGIA – PC-MA (2018) – DELEGADO DE POLÍCIA Teoria e questões Aula 02 – Prof. Renan Araujo ao próprio infrator (prevenção geral e especial). Além de consagrada na maioria dos países ocidentais9, foi a adotada pelo art. 59 do CP.10 1.4.4!Programas de prevenção de infrações penais Podemos elencar como principais programas os seguintes: ⇒! PROGRAMAS DE PREVENÇÃO SOBRE DETERMINADAS “ÁREAS GEOGRÁFICAS” – Trata-se da prevenção “dirigida”. Tem como premissa a existência de um determinado espaço, geográfica e socialmente delimitado, em praticamente todos os centros urbanos, que concentra os mais elevados índices de criminalidade. São áreas geralmente muito pobres, deterioradas, esquecidas pelo Poder Público e com alta desorganização social. ⇒! PREVENÇÃO DO DELITO POR MEIO DO DESENHO ARQUITETÔNICO E URBANÍSTICO – Visam a reestruturação urbana e se valem do desenho arquitetônico, de forma a neutralizar o elevado risco de influências que favorecem o comportamento criminoso, existente em certos espaços. Somente desloca o delito para outras áreas menos protegidas, mas não atinge as bases do problema criminal. ⇒! PROGRAMAS DE PREVENÇÃO VITIMAL - Orientada para as vítimas, parte de uma perspectiva de que o risco de se tornar vítima não se distribuir de forma isonômica na população nem é produto do acaso: O risco de se tornar vítima é possível de ser calculado de forma estatística, tendo como base inúmeras variáveis, todas relacionadas com a própria vítima (idade, personalidade, classe social, etc.) ⇒! PROGRAMAS DE PREVENÇÃO POLÍTICO-SOCIAL - São programas de prevenção “primária”, autêntica prevenção. Uma sociedade que assegura a todos os seus membros um acesso efetivo aos mecanismos para o alcance dos fins que lhe são exigidos, reduz, consequentemente, a possibilidade de que o indivíduo recorra a instrumentos paralelos para a obtenção destes fins, o que contribui para a queda nas taxas de criminalidade. 9 DOS SANTOS, Juarez Cirino. Direito Penal, Parte Geral. Curitiba: Ed. Lumen Juris, 2008, p. 470 10 Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e consequências do crime, bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 6 http://www.iceni.com/infix.htm Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 22 de 61 CRIMINOLOGIA – PC-MA (2018) – DELEGADO DE POLÍCIA Teoria e questões Aula 02 – Prof. Renan Araujo ⇒! PROGRAMAS DE PREVENÇÃO DA CRIMINALIDADE DE ORIENTAÇÃO COGNITIVA – Fundamenta-se na premissa de que a aquisição de determinadas habilidades (positivas) é uma técnica reintegradora com alto potencial de sucesso, porque afasta o criminoso de influências negativas, substituindo-as por boas influências, no que se pode conceber como um ataque às “subculturas criminais”. ⇒! PROGRAMAS DE PREVENÇÃO À REINCIDÊNCIA – São programas de prevenção terciária, pois aqui o crime já ocorreu, de forma que se buscará evitar sua nova ocorrência. Na verdade, estes programas estão mais relacionados à intervenção (sobre o delinquente) do que à prevenção (para evitar que haja delinquência). Um dos maiores problemas no que tange à profilaxia criminal é a diferença entre a criminalidade real e a criminalidade registrada pelas agências de controle, a denominada de CIFRA NEGRA. Assim, temos como “cifra negra” o número de delitos que, por qualquer razão, não chegam ao conhecimento das agências formais de controle. PILGRAN assevera que a existência de “cifra negra”, bem como da impunidade, decorre de um processo de filtragem que envolve as vítimas, as testemunhas, o Judiciário, a Polícia, o legislador e o MP. Para ele, o legislador falha ao: •! Não criminalizar •! Criminalizar de forma lacunosa •! Criminalizar excessivamente No mesmo sentido, a vítima também contribui para a impunidade e, neste particular, para a cifra negra, ao não proceder à comunicação da ocorrência do delito (notitia criminis). A Polícia, por sua vez, contribuiria para a impunidade ao não proceder à abertura da investigação (por falta de estrutura, conhecimentos técnicos, corrupção, etc.), bem como ao proceder a uma investigação deficiente, defeituosa. O MP contribuiria quando não procede à abertura dos processos, seja porque oferece denúncia inepta, seja porque requer o arquivamento, etc. O Judiciário também seria um fator determinante, quando: •! Apresenta falhas na comprovação do delito •! Quando não se obtém prova cabal para a condenação, devendo ser aplicado o princípio do in dubio pro reo. •! Quando a morosidade do Judiciário conduz à prescrição. •! Quando falha na efetiva execução da pena Por fim, importante destacar o que se convencionou chamar de cifra dourada, cifra cinza e cifra amarela: 9 http://www.iceni.com/infix.htmProf. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 23 de 61 CRIMINOLOGIA – PC-MA (2018) – DELEGADO DE POLÍCIA Teoria e questões Aula 02 – Prof. Renan Araujo CIFRA DOURADA É um subtipo da cifra negra. Contudo, está atrelada aos crimes praticados pelas consideradas “elites”, como os crimes contra a ordem tributária, sonegação fiscal, crimes contra o sistema financeiro, etc. É a chamada “criminalidade do colarinho branco”. Trata-se, aqui, de uma impunidade “proposital”, ou seja, o Estado é conivente com tais práticas, notadamente em razão da influência do criminoso. CIFRA CINZA Consiste nos delitos que são registrados perante os órgãos públicos, mas cuja solução é encontrada na própria delegacia, não havendo instauração de processo judicial (Ex.: ausência de representação nos crimes de ação penal pública). CIFRA AMARELA A cifra amarela também é uma espécie de cifra negra. Contudo, aqui estamos diante de delitos praticados pela própria polícia contra o indivíduo que, por medo de futuras represálias, acaba por não registrar o fato. 2! CRIMINOLOGIA E POLÍTICA CRIMINAL. CRIMINOLOGIA E CIÊNCIAS CRIMINAIS Inicialmente, devemos entender as diferenças entre criminologia e suas áreas correlatas (política criminal e ciências criminais). A Criminologia é a ciência que empírica, interdisciplinar, que se ocupa do estudo do crime, do criminoso, da vítima e da sociedade, conforme nós já vimos. A Política Criminal, por sua vez, é o ramo que estuda os meios de prevenção e repressão à criminalidade. Ou seja, a política criminal se vale da criminologia para traçar estratégias de controle penal, seja pela ampliação ou restrição de condutas incriminadas, estabelecimento das penas adequadas, etc. As ciências criminais, por seu turno, englobam: •! CRIMINOLOGIA •! POLÍTICA CRIMINAL •! DIREITO PENAL Este último é a materialização dos dois primeiros, por meio da conversão de suas conclusões em termos jurídicos. Com relação ao sistema de Justiça Criminal, ele pode ser conceituado como o aparato desenvolvido pelo Estado para que seja realizado o controle punitivo. 7 http://www.iceni.com/infix.htm Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 24 de 61 CRIMINOLOGIA – PC-MA (2018) – DELEGADO DE POLÍCIA Teoria e questões Aula 02 – Prof. Renan Araujo Voltando ao estudo da Política Criminal, não podemos deixar de atrelar suas proposições ao Sistema de Justiça Criminal, já que este último, ao fim e ao cabo, também atua na prevenção e repressão ao delito. Embora a atuação se dê com muito maior ênfase na repressão ao delito, o caráter preventivo também é encontrado quando entendemos que a pena também possui caráter preventivo. Assim, qualquer atuação do sistema de Justiça Criminal sobre determinada violação à norma penal será, ao mesmo tempo, repressão e prevenção, já que adotada a teoria eclética da pena por nosso sistema jurídico-penal. 2.1!MODELOS DE REAÇÃO AO CRIME A Doutrina elenca os chamados MODELOS DE REAÇÃO AO CRIME, assim definidos: 2.1.1!Clássico ou dissuasório Tem por finalidade INTIMIDAR o delinquente (ou o potencial delinquente), por meio da ameaça da pena, de forma que pratique a conduta delituosa ou, caso tenha praticado, não torne a delinquir Este modelo se vale da finalidade de prevenção negativa da pena, ou seja, a prevenção do delito por meio a ameaça, de maneira que dependerá, naturalmente, de diversos fatores, como a gravidade da sanção prevista, a maior ou menor probabilidade de sua imposição, etc. O problema deste modelo é que ele pressupõe que o potencial criminoso irá refletir seriamente antes de praticar o delito e, após muita discussão interna, adotará a conduta que tenha o melhor custo-benefício, de forma que a pena deve ser severa, a fim de que nesse raciocínio o potencial criminoso chegue à conclusão de que o “crime não compensa”. 2.1.2!Ressocializador De caráter mais “humanizado”, busca interferir na vida do delinquente, promovendo sua reinserção social. Assim, o modelo ressocializar está calcado numa finalidade de prevenção positiva da pena, ou seja, a pena como instrumento de transformação social. 2.1.3!Restaurador É considerado um modelo integrador, pois busca reparar o dano causado à vítima, restabelecendo o status quo ante, bem como reparar o “dano social” causado pelo delito. Não se preocupa tanto com o castigo, nem com a transformação do infrator, mas volta sua visão para a figura da vítima, de forma que o dano a ela provocado http://www.iceni.com/infix.htm Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 25 de 61 CRIMINOLOGIA – PC-MA (2018) – DELEGADO DE POLÍCIA Teoria e questões Aula 02 – Prof. Renan Araujo seja reparado, já que os dois modelos anteriores acabam por negligenciar a figura do ofendido. 3! RESUMO Para finalizar o estudo da matéria, trazemos um resumo dos principais aspectos estudados ao longo da aula. Nossa sugestão é a de que esse resumo seja estudado sempre previamente ao início da aula seguinte, como forma de “refrescar” a memória. Além disso, segundo a organização de estudos de vocês, a cada ciclo de estudos é fundamental retomar esses resumos. Caso encontrem dificuldade em compreender alguma informação, não deixem de retornar à aula. Criminologia científica - A criminologia enquanto ciência só surge no final do século XIX, e apesar de romper com o modelo criminológico pré-científico, se valeu de algumas contribuições destas “pseudociências” para seu desenvolvimento. Pré-cientificamente: ⇒!DEMONOLOGIA ⇒! FISIONOMIA ⇒! FRENOLOGIA ⇒! PSIQUIATRIA Método da criminologia científica - A criminologia passa a tentar explicar o fenômeno do crime e o comportamento criminal utilizando-se do empirismo como ponto de partida. Principais modelos teóricos: CRIMINOLOGIA CLÁSSICA E NEOCLÁSSICA - Tinham como ponto central de seu trabalho o LIVRE ARBÍTRIO. Para este modelo, o homem é LIVRE para fazer suas escolhas, inclusive para cometer delitos. CRIMINOLOGIA POSITIVISTA - Rompe com a ideia de que o homem “delinque” porque quer delinquir. Para este modelo teórico, compreender o fenômeno criminal é uma tarefa que demanda a análise de fatores causais- explicativos, ou seja, deve-se buscar as causas do delito (paradigma etiológico). SOCIOLOGIA CRIMINAL – Abandona a ideia de “causas do crime” e parte para a ideia da teoria da criminalização. Com uma forte influência marxista, tal modelo entende que não importa tanto a “causa” de determinado comportamento criminoso, e mais o “porquê” de se considerar criminoso determinado comportamento, ou seja, quais os interesses estão por trás da criminalização de determinadas condutas http://www.iceni.com/infix.htm Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 26 de 61 CRIMINOLOGIA – PC-MA (2018) – DELEGADO DE POLÍCIA Teoria e questões Aula 02 – Prof. Renan Araujo Teoria sociológicas Sociedade criminógena - Uma sociedade que PRODUZ CRIME. Teoria do consenso ou “criminologia do consenso” - Parte da premissa de que a sociedade é formada por uma séria de valores fundamentais consensuais, que devem ser protegidos e promovidos por todos. Assim, o Direito Penal nada mais seria que uma ferramenta para a defesa destes valores comuns a todos os indivíduos. Teoria do conflito ou “criminologia do conflito” - A criminologia do conflito, por sua vez, verifica a sociedade não como um todo coeso e harmônico, fundado em valores comuns a todos os indivíduos, e sim um campo de batalha entre classe dominante e dominada. Partindo deste viés marxista, as teorias decorrentes desta ideia vão estabelecer que o Direito Penal nada mais é que uma ferramenta a serviço da classe dominante, de forma a garantir a manutenção do status quo, coagindoa classe dominada a “andar na linha”. Denuncia a seletividade do Sistema Penal. CRIMINOLOGIA DO CONSENSO Escola de Chicago - A Escola de CHICAGO e sua explicação ECOLÓGICA do crime talvez seja a principal escola criminológica moderna. PARK foi o principal expoente desta Escola. Este autor analisou o crescimento populacional na cidade de Chicago no começo do século XX e, com suas observações, a Escola de Chicago chegou à conclusão de que o fenômeno delitivo estava relacionado diretamente ao conglomerado urbano e suas características (multiculturais, étnicas, etc.). Também se chegou à conclusão de que a delinquência era mais concentrada em determinadas áreas, e tal concentração seria fruto, dentre outras coisas, da desorganização social destas áreas. Escolas que derivam da Escola de Chicago: ⇒! ECOLÓGICA (DESORGANIZAÇÃO SOCIAL) - Para esta teoria o progresso leva a criminalidade aos grandes centros urbanos. Propõe que a estabilidade e a integração contribuem para a ordem social, enquanto a desordem social e a ausência de integração entre os indivíduos contribuem para índices mais elevados de criminalidade ⇒! ESPACIAL - Defendia a reestruturação arquitetônica das cidades como forma de prevenção do delito, inclusive como forma de permitir maior controle sobre as pessoas. Teve em OSCAR NEWMAN seu maior expoente. ⇒! JANELAS QUEBRADAS - Para esta teoria a repressão dos menores delitos é ABSOLUTAMENTE INDISPENSÁVEL para inibir a prática dos delitos mais graves. ⇒! TOLERÂNCIA ZERO - A teoria da tolerância zero decorre naturalmente da ideia defendida pela teoria das janelas quebradas. Trata-se de uma política criminal de repressão a toda e qualquer conduta desviante, por menor que seja, como forma de reafirmar o poder do Estado e a necessidade de respeito à Lei. http://www.iceni.com/infix.htm Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 27 de 61 CRIMINOLOGIA – PC-MA (2018) – DELEGADO DE POLÍCIA Teoria e questões Aula 02 – Prof. Renan Araujo Teoria da associação diferencial (aprendizagem social ou social learning) - Difundida por Edwin Sutherland, tendo como base as ideias de Gabriel TARDE (e suas “Leis da Imitação”). Para Sutherland, ninguém nasce criminoso, mas APRENDE a se tornar um, ou seja, o crime é mero resultado de um processo inadequado ou falho de socialização do indivíduo. O indivíduo se tornaria criminoso ao observar outras condutas criminosas e INTERAGIR com outras pessoas, notadamente aquelas que se dedicam ao delito. Teoria das subculturas delinquentes - Tal teoria acaba defende que a conduta delitiva não seria um reflexo negativo da desorganização social e outras mazelas da sociedade contemporânea. Para esta teoria todo agrupamento humano é dotado de subculturas, com uma filosofia de vida e regras próprias. Desta forma, é possível que algumas destas subculturas possuam valores que se contraponham aos valores da cultura dominante e, em razão disso, o delito não derivaria de uma predisposição à violação da Lei, e sim um mero reflexo destas diferenças culturais. Teoria da anomia - Teve como principal expoente ROBERT MERTON, que se valeu das ideias de DURKHEIN, para desenvolver sua teoria. Para esta teoria a sociedade impõe objetivos e metas inalcançáveis para a maioria dos indivíduos (sucesso, poder, status), e como tais metas são inatingíveis, a dissociação entre os objetivos e os instrumentos para seu alcance geraria a ANOMIA, que seria uma situação de renúncia às normas sociais. CRIMINOLOGIA DO CONFLITO Teoria do etiquetamento ou labeling approach - Para esta teoria, também chamada de “teoria da reação social”, o crime não seria um fenômeno social, mas um fenômeno normativo, ou seja, o Estado rotula como crime as condutas que ele pretende sejam consideradas como criminosas. Assim, não existiria um crime “por natureza”, mas apenas “condutas”, que recebem o rótulo de criminosas de acordo com os interesses do Estado (que nem sempre protegem por igual os interesses dos mais diversos grupos sociais, tendendo a conferir maior proteção aos bens de interesse da classe dominante). Teve como principais expoentes GOFFMAN, LEMERT e BECKER. GARANTISMO, MINIMALISMO E ABOLICIONISMO PENAL Garantismo - Sistema jurídico-penal que respeite os direitos e garantias fundamentais. Três prismas (Ferrajoli): •! Modelo normativo – Limites formais à atuação punitiva do Estado- legislador. •! Teoria Jurídica – Necessidade de que o garantismo, assim entendido como o respeito aos direitos e garantias fundamentais, não fique http://www.iceni.com/infix.htm Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 28 de 61 CRIMINOLOGIA – PC-MA (2018) – DELEGADO DE POLÍCIA Teoria e questões Aula 02 – Prof. Renan Araujo apenas no plano normativo, mas também seja verificado quando da operacionalização do sistema. •! Filosofia Política – Limites materiais à atuação punitiva do Estado, que deve saber separar direito e moral, criminalizando apenas aquilo que for capaz de atentar seriamente contra a vida em sociedade. Direito Penal do Inimigo - Trata-se de um modelo que pressupõe a existência de um Direito Penal que mitigue as garantias constitucionais aos criminosos considerados “contumazes”, ou seja, aqueles que fazem do crime seu meio de vida. MINIMALISMO PENAL – Prega a redução do raio de abrangência do Direito Penal, que deve ser reservado apenas àquelas condutas absolutamente incompatíveis com a vida em sociedade, e apenas para a proteção dos bens jurídicos mais valiosos (Direito Penal mínimo). Prega, ainda a redução da aplicação da pena privativa de liberdade, que deve, sempre que possível, ser substituída por sanções alternativas. ABOLICIONISMO PENAL - Prega a supressão do Sistema Penal, seja porque se nega legitimidade ético-política a essa forma de controle social, desde seu surgimento, seja porque é visto, na prática, como mais danoso que vantajoso. Fundamentos do abolicionismo: ⇒! Anomia do sistema penal ⇒! Seletividade do sistema penal ⇒!O Direito Penal estigmatiza o condenado ⇒!O Direito Penal marginaliza a vítima Vertentes abolicionistas: ⇒! Abolicionismo imediato – Defendido, dentre outros, por LOUCK HULSMAN, prega a imediata supressão do Direito Penal e sua substituição imediata do Direito Penal por outros métodos de solução de conflitos (composição civil dos danos, etc.). ⇒! Abolicionismo mediato – Também conhecido como minimalismo radical, prega que o ideal seria a abolição do Direito Penal, mas a realidade impõe a manutenção de tal sistema, já que seria impossível sua supressão sem que houvesse um abalo social considerável, com possível transmutação da violência estatal para a vingança privada sem qualquer regulamentação estatal (THOMAS MATHIESEN é um dos principais defensores). Prevenção do delito no Estado Democrático de Direito ⇒! Prevenção primária - Programas cuja finalidade é atacar a causa da criminalidade, ou seja, a origem do problema (desigualdade social, http://www.iceni.com/infix.htm Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 29 de 61 CRIMINOLOGIA – PC-MA (2018) – DELEGADO DE POLÍCIA Teoria e questões Aula 02 – Prof. Renan Araujo pobreza, desemprego, etc.). Trata-se, portanto, de uma forma de prevenção que busca atingir as estruturas do sistema. ⇒! Prevenção secundária - Momento posterior ao delito ou na iminência de sua ocorrência. Aqui o foco da prevenção recai sobre os setores sociais em que a criminalidade mais se manifesta, ou seja, recai sobre os grupos que apresentam determinadas características que os tornam mais propensos a praticar ou sofrer delitos. ⇒! Prevenção terciária - Aqui a prevenção recai sobre o condenado, ou seja, visa a evitar a reincidência. Pode se dar por meio da escolha da pena mais apropriada,pela progressão de regime, que possibilita o reencontro paulatino do preso com a sociedade, etc. Programas de prevenção à infração penal ⇒! PROGRAMAS DE PREVENÇÃO SOBRE DETERMINADAS “ÁREAS GEOGRÁFICAS” – Trata-se da prevenção “dirigida”. Tem como premissa a existência de um determinado espaço, geográfica e socialmente delimitado, em praticamente todos os centros urbanos, que concentra os mais elevados índices de criminalidade. São áreas geralmente muito pobres, deterioradas, esquecidas pelo Poder Público e com alta desorganização social. ⇒! PREVENÇÃO DO DELITO POR MEIO DO DESENHO ARQUITETÔNICO E URBANÍSTICO – Visam a reestruturação urbana e se valem do desenho arquitetônico, de forma a neutralizar o elevado risco de influências que favorecem o comportamento criminoso, existente em certos espaços. Somente desloca o delito para outras áreas menos protegidas, mas não atinge as bases do problema criminal. ⇒! PROGRAMAS DE PREVENÇÃO VITIMAL - Orientada para as vítimas, parte de uma perspectiva de que o risco de se tornar vítima não se distribuir de forma isonômica na população nem é produto do acaso. ⇒! PROGRAMAS DE PREVENÇÃO POLÍTICO-SOCIAL - São programas de prevenção “primária”, autêntica prevenção. Uma sociedade que assegura a todos os seus membros um acesso efetivo aos mecanismos para o alcance dos fins que lhe são exigidos, reduz, consequentemente, a possibilidade de que o indivíduo recorra a instrumentos paralelos para a obtenção destes fins, o que contribui para a queda nas taxas de criminalidade. ⇒! PROGRAMAS DE PREVENÇÃO DA CRIMINALIDADE DE ORIENTAÇÃO COGNITIVA – Fundamenta-se na premissa de que a aquisição de determinadas habilidades (positivas) é uma técnica reintegradora com alto potencial de sucesso, porque afasta o criminoso de influências negativas, substituindo-as por boas influências, no que se pode conceber como um ataque às “subculturas criminais”. ⇒! PROGRAMAS DE PREVENÇÃO À REINCIDÊNCIA – São programas de prevenção terciária, pois aqui o crime já ocorreu, de forma que se buscará evitar sua nova ocorrência. Na verdade, estes programas estão mais relacionados à intervenção (sobre o delinquente) do que à prevenção (para evitar que haja delinquência). http://www.iceni.com/infix.htm Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 30 de 61 CRIMINOLOGIA – PC-MA (2018) – DELEGADO DE POLÍCIA Teoria e questões Aula 02 – Prof. Renan Araujo Desvios estatísticos na prevenção do delito CIFRA NEGRA Número de delitos que, por qualquer razão, não chegam ao conhecimento das agências formais de controle. CIFRA DOURADA É um subtipo da cifra negra. Contudo, está atrelada aos crimes praticados pelas consideradas “elites”, como os crimes contra a ordem tributária, sonegação fiscal, crimes contra o sistema financeiro, etc. (Impunidade proposital) CIFRA CINZA Consiste nos delitos que são registrados perante os órgãos públicos, mas cuja solução é encontrada na própria delegacia, não havendo instauração de processo judicial (Ex.: ausência de representação nos crimes de ação penal pública). CIFRA AMARELA A cifra amarela também é uma espécie de cifra negra. Contudo, aqui estamos diante de delitos praticados pela própria polícia contra o indivíduo que, por medo de futuras represálias, acaba por não registrar o fato. Criminologia e Política criminal. Criminologia e Ciências criminais Criminologia - É a ciência que empírica, interdisciplinar, que se ocupa do estudo do crime, do criminoso, da vítima e da sociedade. Política Criminal - Ramo que estuda os meios de prevenção e repressão à criminalidade. Ou seja, a política criminal se vale da criminologia para traçar estratégias de controle penal, seja pela ampliação ou restrição de condutas incriminadas, estabelecimento das penas adequadas, etc. Ciências criminais – Englobam ⇒! CRIMINOLOGIA ⇒! POLÍTICA CRIMINAL ⇒!DIREITO PENAL Modelos de reação ao delito ⇒! Clássico (dissuasório) - Tem por finalidade INTIMIDAR o delinquente (ou o potencial delinquente), por meio da ameaça da pena, de forma que pratique a conduta delituosa ou, caso tenha praticado, não torne a delinquir ⇒! Ressocializador - De caráter mais “humanizado”, busca interferir na vida do delinquente, promovendo sua reinserção social. ⇒! Restaurador - É considerado um modelo integrador, pois busca reparar o dano causado à vítima, restabelecendo o status quo ante, bem como reparar o “dano social” causado pelo delito. http://www.iceni.com/infix.htm Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 31 de 61 CRIMINOLOGIA – PC-MA (2018) – DELEGADO DE POLÍCIA Teoria e questões Aula 02 – Prof. Renan Araujo ___________ Bons estudos! Prof. Renan Araujo 4! EXERCÍCIOS DA AULA 01.! (CESPE – 2013 – POLÍCIA FEDERAL – DELEGADO) O surgimento das teorias sociológicas em criminologia marca o fim da pesquisa etiológica, própria da escola ou do modelo positivista. 02.! (CESPE – 2013 – POLÍCIA FEDERAL – DELEGADO) De acordo com o interacionismo simbólico, ou simplesmente interacionismo, cuja perspectiva é macrossociológica, deve-se indagar como se define o criminoso, e não quem é o criminoso. 03.! (CESPE – 2013 – POLÍCIA FEDERAL – DELEGADO) O positivismo criminológico caracteriza-se, entre outros aspectos, pela negação do livre arbítrio, pela crença no determinismo e pela adoção do método empírico- indutivo, ou indutivo-experimental, também apresentado como indutivo- quantitativo, embasado na observação dos fatos e dos dados, independentemente do conteúdo antropológico, psicológico ou sociológico, como também a neutralidade axiológica da ciência. 04.! (CESPE – 2013 – POLÍCIA FEDERAL – DELEGADO) As ideias sociológicas que fundamentam as construções teóricas de Merton e Parsons obedecem ao modelo da denominada sociologia do conflito. 05.! (CESPE – 2013 – POLÍCIA FEDERAL – DELEGADO) A teoria funcionalista da anomia e da criminalidade, introduzida por Emile Durkheim no século XIX, contrapunha à ideia da propensão ao crime como patologia a noção da normalidade do desvio como fenômeno social, podendo ser situada no contexto da guinada sociológica da criminologia, em que se origina uma concepção alternativa às teorias de orientação biológica e caracterológica do delinquente. 06.! (CESPE – 2013 – POLÍCIA FEDERAL – DELEGADO) Ações como controle dos meios de comunicação e ordenação urbana, orientadas http://www.iceni.com/infix.htm Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 32 de 61 CRIMINOLOGIA – PC-MA (2018) – DELEGADO DE POLÍCIA Teoria e questões Aula 02 – Prof. Renan Araujo a determinados grupos ou subgrupos sociais, estão inseridas no âmbito da chamada prevenção secundária do delito. ͒ 07.! (CESPE – 2013 – POLÍCIA FEDERAL – DELEGADO) As modalidades preventivas nas quais se inserem os programas de policiamento orientado à solução de problemas e de policiamento comunitário, assim como outros programas de aproximação entre polícia e comunidade, podem ser incluídas na categoria de prevenção primária. 08.! (CESPE – 2013 – POLÍCIA FEDERAL – DELEGADO) Na terminologia criminológica, criminalização primária equivale à chamada prevenção primária. ͒ 09.! (CESPE – 2013 – POLÍCIA FEDERAL – DELEGADO) A prevenção terciária, considerada intervenção tardia e parcial, destina-se exclusivamente à população carcerária, objetivando evitar a reincidência, mas não atua nas condições gerais que favorecem a ocorrência de episódios violentos. 10.! (CESPE – 2016 – PC-PE – DELEGADO DE POLÍCIA - ADAPTADA) Entre os modelos teóricos explicativos da criminologia, o conceito definitorial de delito afirma que, segundo a teoria do labeling approach, o delito carece de consistência material, sendo um processo de reação social, arbitrárioe discriminatório de seleção do comportamento desviado. 11.! (MPE-SC – 2016 – MPE-SC – PROMOTOR DE JUSTIÇA) No âmbito das teorias criminológicas, a teoria da subcultura delinquente, originariamente conhecida como “Escola de Chicago”, assevera que a delinquência surge como resultado da estrutura das classes sociais, que faz com que alguns grupos aceitem a violência como forma de resolver os conflitos sociais. 12.! (MPE-SC – 2016 – MPE-SC – PROMOTOR DE JUSTIÇA) O minimalismo, enquanto movimento crítico ao sistema de justiça penal, foi concebido com a proposta de supressão integral do sistema penal por outras instâncias de controle social. Em sentido oposto, revelou-se o movimento “Lei e Ordem”, que reconhecia no direito penal máximo o instrumento primordial à resolução dos problemas que afligem a sociedade. 13.! (MPE-SC – 2016 – MPE-SC – PROMOTOR DE JUSTIÇA) Em sua obra "O Novo em Direito e Política", José Alcebíades de Oliveira Júnior cita interessante trecho da doutrina de Luigi Ferrajoli: "a sujeição do juiz à lei já não é de fato, como no velho paradigma juspositivista, sujeição à letra da lei, http://www.iceni.com/infix.htm Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 33 de 61 CRIMINOLOGIA – PC-MA (2018) – DELEGADO DE POLÍCIA Teoria e questões Aula 02 – Prof. Renan Araujo qualquer que seja o seu significado, mas sim sujeição à lei somente enquanto válida, ou seja, coerente com a Constituição". A interpretação da frase em destaque nos remete ao conteúdo do modelo garantista. 14.! (CESPE – 2016 – PC-PE – DELEGADO DE POLÍCIA - ADAPTADA) A Escola de Chicago, ao atentar para a mutação social das grandes cidades na análise empírica do delito, interessa-se em conhecer os mecanismos de aprendizagem e transmissão das culturas consideradas desviadas, por reconhecê-las como fatores de criminalidade. 15.! (VUNESP - 2013 - PC-SP - PAPILOSCOPISTA POLICIAL) Uma das mais importantes teorias do conflito; surgiu nos Estados Unidos nos anos de 1960, e seus principais expoentes foram Erving Goffman e Howard Becker. Trata-se da A) Teoria do labelling approach. B) Teoria da subcultura delinquente. C) Teoria da desorganização social. D) Teoria da anomia. E) Teoria das zonas concêntricas. 16.! (VUNESP - 2014 - PC-SP - ESCRIVÃO DE POLÍCIA) A teoria do neorretribucionismo, com origem nos Estados Unidos, também conhecida por “lei e ordem” ou “tolerância zero”, é decorrente da teoria. A) “positiva” B) “janelas quebradas” C) “clássica” D) “cidade limpa” E) “diferencial”. 17.! (VUNESP - 2013 - PC-SP - AUXILIAR DE PAPILOSCOPISTA POLICIAL) Quanto à teoria neorretribucionista, é correto afirmar: A) surgiu na Europa, no século passado, baseada na teoria do consenso, tem como objetivo coibir o crime organizado e os crimes transnacionais, o que inibiria os crimes menos graves. B) surgiu na Itália, na década de sessenta, é uma das mais importantes teorias do conflito, por meio dessa teoria, a criminalidade não é resultante somente da conduta humana, mas a consequência de um processo em que se atribui uma qualidade à pessoa. http://www.iceni.com/infix.htm Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 34 de 61 CRIMINOLOGIA – PC-MA (2018) – DELEGADO DE POLÍCIA Teoria e questões Aula 02 – Prof. Renan Araujo C) surgiu nos Estados Unidos, inspirada na escola de Chicago, com a denominação “lei e ordem” ou “tolerância zero”, decorrente da teoria das janelas quebradas, tem como objetivo coibir os pequenos delitos, o que inibiria os mais graves D) surgiu na Alemanha, no século XIX, defende que o comportamento do criminoso é aprendido, nunca herdado, criado ou desenvolvido pelo sujeito ativo, tem como objetivo identificar e punir rigorosamente o criminoso para servir de exemplo, a chamada prevenção geral. E) surgiu na Inglaterra, está baseada na teoria da sub- cultura delinquente, ou seja, o comportamento criminoso é um sintoma de dissociação entre as aspirações socioculturais e os meios desenvolvidos para alcançar essas aspirações. 18.! (UFPR – 2014 – DPE-PR – DEFENSOR PÚBLICO) Em relação às distintas teorias criminológicas, a ideia de que o “desviante” é, na verdade, alguém a quem o rótulo social de criminoso foi aplicado com sucesso foi desenvolvida pela Teoria a) da anomia. b) da associação diferencial. c) da subcultura delinquente. d) da ecologia criminal. e) da reação social ou Labelling Approach. 19.! (FEPESE – 2014 – MPE-SC – PROMOTOR DE JUSTIÇA) Contrariamente ao classicismo, que não visualizou no criminoso nenhuma anormalidade - e dele não se ocupou - o positivismo reconduziu-o para o centro de suas análises, apreendendo nele estigmas decisivos da criminalidade. 20.! (FEPESE – 2014 – MPE-SC – PROMOTOR DE JUSTIÇA) No paradigma etiológico, modelado segundo uma matriz positivista derivada Das Ciências Naturais, a Criminologia é definida como uma Ciência causal-explicativa da criminalidade, isto é, que investiga as causas da criminalidade (seu objeto) segundo o método experimental. 21.! (VUNESP – 2014 – PC-SP – MÉDICO LEGISTA) O método de estudo da Criminologia reúne as seguintes características: a) silogismo; vedação de interdisciplinariedade; visão indutiva da realidade. b) empirismo; vedação de interdisciplinariedade; visão indutiva da realidade. c) racionalismo; interdisciplinariedade; visão indutiva da realidade. d) empirismo; interdisciplinariedade; visão indutiva da realidade. e) racionalismo; interdisciplinariedade; visão dedutiva da realidade. http://www.iceni.com/infix.htm Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 35 de 61 CRIMINOLOGIA – PC-MA (2018) – DELEGADO DE POLÍCIA Teoria e questões Aula 02 – Prof. Renan Araujo 22.! (VUNESP – 2014 – PC-SP – MÉDICO LEGISTA) Assinale a alternativa que completa as lacunas do texto. Os estudos de Sociologia Criminal de Sutherland (Teoria da Associação Diferencial) estão principalmente ligados aos crimes de ________e tiveram como foco ________ . a) genocídio ... a Alemanha b) organizações criminosas ... a Itália c) jogo ilegal ... a atual Rússia (ex-URSS) d) discriminação de gênero ... países do Oriente Médio e) colarinho branco ... os Estados Unidos da América 23.! (VUNESP – 2014 – PC-SP – DELEGADO DE POLÍCIA) A moderna Sociologia Criminal possui visão bipartida do pensamento criminológico atual, sendo uma de cunho funcionalista e outra de cunho argumentativo. Trata-se das teorias a) indutiva e dedutiva. b) do consenso e do conflito. c) absoluta e relativa. d) moderna e contemporânea. e) abstrata e concreta. 24.! (FEPESE – 2014 – MPE-SC – PROMOTOR DE JUSTIÇA) O movimento de política criminal denominado "lei e ordem" se deve à construção teórica de Gunther Jacobs que, por sua vez, deriva do "labelling approach". 25.! (VUNESP – 2013 – PC-SP – AGENTE) Os “crimes de colarinho branco” são delitos conhecidos na Criminologia por a) crimes contra a dignidade social. b) crimes de menor potencial ofensivo. c) cifras cinza. d) cifras amarelas. e) cifras douradas. 26.! (PC-SP – 2010 – PC-SP – ESCRIVÃO) Dentre as alternativas, assinale a que é apontada como a menos compatível com a dignidade da pessoa humana e o Estado Democrático de Direito. a) O Direito Penal do Inimigo. http://www.iceni.com/infix.htm Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 36 de 61 CRIMINOLOGIA – PC-MA (2018) – DELEGADO DE POLÍCIA Teoria e questões Aula 02 – Prof. Renan Araujo b) O abolicionismo penal. c) O Direito Penal Mínimo. d) A “Terza Scuola”. e) A Lei da Saturação Criminal 27.! (VUNESP – 2013 – PC/SP – PAPILOSCOPISTA) De acordo com a Sociologia Criminal, pode-se citar como exemploda Teoria de Consenso: a) a Teoria crítica. b) a Teoria radical. c) a Teoria das janelas quebradas. d) a Teoria da associação diferencial. e) a Teoria do conflito. 28.! (VUNESP – 2014 – PC-SP – PERITO) A Teoria do labelling approach, a qual explica que a criminalidade não é uma qualidade da conduta humana, mas a consequência de um processo em que se atribui tal estigmatização, também é denominada teoria (A) da desorganização social. (B) da rotulação ou do etiquetamento. (C) da neutralização. (D) da identificação diferencial. (E) da anomia. 29.! (VUNESP - 2014 - PC-SP - ESCRIVÃO DE POLÍCIA) Dentre os modelos sociológicos, as teorias da criminologia crítica, da rotulação e da criminologia radical são exemplos da teoria. A) do consenso B) da aparência C) do descaso D) da falsidade. E) do conflito. 30.! (PC-SP - 2011 - PC-SP - DELEGADO DE POLÍCIA) Assinale a alternativa incorreta. A Teoria do Etiquetamento A) é considerada um dos marcos das teorias de consenso. B) é conhecida como Teoria do Labelling Aproach. http://www.iceni.com/infix.htm Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 37 de 61 CRIMINOLOGIA – PC-MA (2018) – DELEGADO DE POLÍCIA Teoria e questões Aula 02 – Prof. Renan Araujo C) tem como um de seus expoentes Ervinh Goffman. D) tem como um de seus expoentes Howard Becker. E) surgiu nos Estados Unidos. 31.! (VUNESP - 2013 - PC-SP - ESCRIVÃO DE POLÍCIA CIVIL) Assinale a alternativa que apresenta corretamente uma das características da função retributiva da pena, segundo a Teoria Absoluta. A) Analogia: pena independente da gravidade do delito. B) Duração indeterminada: a duração da pena dependerá, dentre outros fatores, do comportamento do apenado. C) Infligibilidade: a pena consistirá em aflição corporal. D) Derrogabilidade: o delito terá, por consequência, uma punição, ainda que injusta. E) Responsabilidade penal individual: a pena não passará da pessoa do condenado. 32.! (VUNESP - 2013 - PC-SP - INVESTIGADOR DE POLÍCIA) O legislador brasileiro, ao dispor sobre as funções da reprimenda pela prática de infração penal no artigo 59 do Código Penal – O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e consequências do crime, bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime... –, adotou a teoria da A) função reeducativa da pena. B) função de prevenção especial da pena. C) função de prevenção geral da pena. D) função retributiva da pena. E) função mista ou unificadora da pena. 33.! (VUNESP – 2013 – PC/SP – PAPILOSCOPISTA) Umas das formas que o Estado Democrático de Direito possui para prevenir o crime é a pena. De acordo com a teoria mista que estuda as penas, estas têm a finalidade de a) punir o delinquente de forma proporcional ao mal praticado. b) trazer mais tranquilidade para a sociedade, uma vez que o criminoso não estará mais nas ruas. c) retomar a tranquilidade e a paz pública. d) prevenção geral e prevenção especial. e) afastar o delinquente da sociedade, para evitar novos crimes. http://www.iceni.com/infix.htm Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 38 de 61 CRIMINOLOGIA – PC-MA (2018) – DELEGADO DE POLÍCIA Teoria e questões Aula 02 – Prof. Renan Araujo 34.! (VUNESP – 2014 – PC-SP – PERITO) No tocante à temática da prevenção da infração à lei penal, é correto afirmar que a prevenção (A) secundária consiste em, dentre outras, políticas criminais voltadas exclusivamente à reintegração do preso na sociedade. (B) terciária consiste em políticas públicas de conscientização de todos os cidadãos quanto à importância de se cumprirem as leis, mediante o fornecimento de serviços públicos de qualidade, tais como saúde, educação e segurança. (C) geral busca, por meio da pena, intimidar os indivíduos propensos a delinquir, inibindo-os de transgredir a lei penal. (D) geral negativa busca, por meio da pena, a reeducação e a ressocialização do criminoso. (E) primária consiste em, dentre outras, ações policiais de repressão às práticas delituosas. 35.! (VUNESP - 2014 - PC-SP - ESCRIVÃO DE POLÍCIA) A criminologia moderna estuda o fenômeno da criminalidade por meio da estatística criminal. Nessa seara, a expressão “cifra dourada” designa. A) o total de delitos registrados e de conhecimento do poder público que são elucidados. B) as infrações penais praticadas pela elite, não reveladas ou apuradas; trata-se de um subtipo da “cifra negra”, a exemplo do crime de sonegação fiscal C) as infrações penais de maior gravidade, como, por exemplo, o homicídio, que, ao ser elucidado, permite ao poder público planejar melhor suas ações e alterar a legislação D) as infrações penais de menor potencial ofensivo, por enquadrar-se na Lei n.º 9.099/95, a exemplo do delito de perturbação do sossego alheio E) o percentual de delitos praticados pela sociedade de baixa renda que não chega ao conhecimento do poder público por falta de registro, e, portanto, não são elucidados 36.! (VUNESP - 2014 - PC-SP - ESCRIVÃO DE POLÍCIA) Uma das formas que o Estado Brasileiro adota como controle e inibição criminal é a pena prevista para cada crime, cuja teoria adotada pelo Código Penal Brasileiro é a mista, de acordo com o artigo 59 do Código Penal, que tem como finalidade a: A) prevenção e a retribuição B) indenização e a repreensão. C) punição e a reparação. D) inibição e a reeducação. E) conciliação e o exemplo. http://www.iceni.com/infix.htm Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 39 de 61 CRIMINOLOGIA – PC-MA (2018) – DELEGADO DE POLÍCIA Teoria e questões Aula 02 – Prof. Renan Araujo 37.! (VUNESP - 2014 - PC-SP - ESCRIVÃO DE POLÍCIA) O conceito de prevenção delitiva, no Estado Democrático de Direito, e as medidas adotadas para alcançá-la são. A) o conjunto de ações que visam evitar a ocorrência do delito, atingindo direta e indiretamente o delito. B) o conjunto de ações que visam estudar o delito, atingindo direta e indiretamente o criminoso C) o conjunto de ações adotadas pela vítima que visam evitar o delito, atingindo o delinquente direta e indiretamente. D) o conjunto de ações que visam estudar o criminoso, atingindo o ato delitivo direta e indiretamente. E) o conjunto de ações que visam estudar o crime, atingindo o criminoso direta e indiretamente. 38.! (UFPR – 2014 – DPE-PR – DEFENSOR PÚBLICO) Na Criminologia, é frequente o debate a respeito das funções da pena. Segundo a ideia de prevenção especial negativa, a pena teria a função de: a) ressocializar o condenado, promovendo sua harmônica integração social. b) retribuir proporcionalmente o mal causado pelo delito. c) neutralizar ou segregar o condenado do meio social, impedindoo de cometer novas infrações penais. d) reforçar a confiança da coletividade na vigência da norma, estimulando a fidelidade ao Direito. e) intimidar e dissuadir a coletividade, de modo que todos se abstenham da prática de infrações penais. 39.! (VUNESP – 2014 – PC-SP – MÉDICO LEGISTA) A expressão “cifra negra”, em Criminologia, corresponde ao número de a) erros judiciais (decisões judiciais incompatíveis com a realidade dos fatos). b) crimes ocorridos e não reportados à autoridade. c) criminosos reincidentes. d) prisões efetuadas injustamente. e) crimes ocorridos em ambientes públicos, mas cuja autoria permanece ignorada. 40.! (VUNESP – 2014 – PC-SP – DELEGADO DE POLÍCIA) A prevenção criminal que está voltada à segurança e qualidade de vida, atuando na área da educação, emprego, saúde e moradia, conhecida universalmente http://www.iceni.com/infix.htm Prof. RenanAraujo www.estrategiaconcursos.com.br 40 de 61 CRIMINOLOGIA – PC-MA (2018) – DELEGADO DE POLÍCIA Teoria e questões Aula 02 – Prof. Renan Araujo como direitos sociais e que se manifesta a médio e longo prazos, é chamada pela Criminologia de prevenção a) primária. b) individual. c) secundária. d) estrutural. e) terciária. 41.! (PC-SP – 2011 – PC-SP – DELEGADO DE POLÍCIA) A prevenção terciária da infração penal, no Estado Democrático de Direito, está relacionada a) ao controle dos meios de comunicação. b) aos programas policiais de prevenção. c) à ordenação urbana. d) à população carcerária. e) ao surgimento de conflito. 42.! (PC-SP – 2010 – PC-SP – ESCRIVÃO) O termo cifra dourada é indicativo a) dos crimes praticados por membros da realeza. b) da violência doméstica ocorrida nas classes altas e não relatadas à polícia. c) dos crimes esclarecidos mediante à oferta de uma recompensa. d) do número de jovens de alto poder aquisitivo envolvidos com o narcotráfico. e) dos crimes denominados de “colarinho branco”. 5! EXERCÍCIOS COMENTADOS 01.! (CESPE – 2013 – POLÍCIA FEDERAL – DELEGADO) O surgimento das teorias sociológicas em criminologia marca o fim da pesquisa etiológica, própria da escola ou do modelo positivista. COMENTÁRIOS: Embora o surgimento das teorias sociológicas tenha sido um avanço considerável, com rompimento de diversos paradigmas até então vigentes, notadamente aqueles relacionados à biocriminologia, tais teorias não marcam o fim da pesquisa etiológica (pesquisa das causas do crime), apenas deslocam o foco do estudo do criminoso para a sociedade, para o meio social. Portanto, a AFIRMATIVA ESTÁ ERRADA. 02.! (CESPE – 2013 – POLÍCIA FEDERAL – DELEGADO) De acordo com o interacionismo simbólico, ou simplesmente http://www.iceni.com/infix.htm Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 41 de 61 CRIMINOLOGIA – PC-MA (2018) – DELEGADO DE POLÍCIA Teoria e questões Aula 02 – Prof. Renan Araujo interacionismo, cuja perspectiva é macrossociológica, deve-se indagar como se define o criminoso, e não quem é o criminoso. COMENTÁRIOS: A expressão “interação simbólica” se refere aos processos de relacionamento interpessoal entre os indivíduos, de forma que a noção de crime surge da relação entre os indivíduos e da eleição dos valores que devem ser protegidos, ou seja, o rótulo de “crime” a uma conduta é dado pela sociedade, e não pela natureza. Isto posto, temos uma corrente criminológica que sustenta que não se deve buscar entender porque alguém vira criminoso, mas porque a sociedade rotula tal conduta cromo criminosa (ou tal pessoa como criminosa). O CESPE, todavia, entendeu a questão como errada, ao afirmar tratar-se de um enfoque macrossociológico, já que se teria um enfoque microssociológico. Portanto, a AFIRMATIVA ESTÁ ERRADA. 03.! (CESPE – 2013 – POLÍCIA FEDERAL – DELEGADO) O positivismo criminológico caracteriza-se, entre outros aspectos, pela negação do livre arbítrio, pela crença no determinismo e pela adoção do método empírico-indutivo, ou indutivo-experimental, também apresentado como indutivo-quantitativo, embasado na observação dos fatos e dos dados, independentemente do conteúdo antropológico, psicológico ou sociológico, como também a neutralidade axiológica da ciência. COMENTÁARIOS: De fato, o positivismo criminológico rompe com a ideia livre- arbítrio, pilar da criminologia clássica, ou seja, rompe com a ideia de que o homem “delinque” porque quer delinquir. Para este modelo teórico, compreender o fenômeno criminal é uma tarefa que demanda a análise de fatores causais- explicativos, ou seja, deve-se buscar as causas do delito (o que se pode chamar de “paradigma etiológico”). Contudo, as “causas” do delito poderiam se de diversas ordens (biológicas, psicológicas, sociais, etc.). Portanto, a AFIRMATIVA ESTÁ CORRETA. 04.! (CESPE – 2013 – POLÍCIA FEDERAL – DELEGADO) As ideias sociológicas que fundamentam as construções teóricas de Merton e Parsons obedecem ao modelo da denominada sociologia do conflito. COMENTÁRIOS: Item errado, pois Robert Merton foi um dos maiores expoentes da teoria da anomia, e Parsons foi um dos grandes expoentes do funcionalismo estrutural. As duas correntes, todavia, situam-se na chamada “criminologia do consenso”, e não na criminologia do conflito. Portanto, a AFIRMATIVA ESTÁ ERRADA. 05.! (CESPE – 2013 – POLÍCIA FEDERAL – DELEGADO) http://www.iceni.com/infix.htm Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 42 de 61 CRIMINOLOGIA – PC-MA (2018) – DELEGADO DE POLÍCIA Teoria e questões Aula 02 – Prof. Renan Araujo A teoria funcionalista da anomia e da criminalidade, introduzida por Emile Durkheim no século XIX, contrapunha à ideia da propensão ao crime como patologia a noção da normalidade do desvio como fenômeno social, podendo ser situada no contexto da guinada sociológica da criminologia, em que se origina uma concepção alternativa às teorias de orientação biológica e caracterológica do delinquente. COMENTÁRIOS: Item correto. A teoria ou concepção estrutural- funcionalista rompe com as teorias clínica e sociológica. Para esta teoria, o crime é um fenômeno “natural”, inerente à sociedade, de forma que seriam inválidas as ideias de criminoso como anormal, bem como as tentativas de explicar o crime com base em aspectos sociológicos. DURKHEIM, talvez o principal nome desta teoria, entendia que o crime era algo “normal” na sociedade, pois uma sociedade sem crime seria absolutamente inviável, e que patologia social não seria a existência de crime, mas a sua ausência. Para DURKHEIM, o crime era o fenômeno o social que permitia a reafirmação da ordem social, pois toda vez que um crime era praticado surgia a possibilidade de reafirmação e legitimação dos vínculos estruturais e estruturantes da sociedade. Tal Teoria não prega a desvinculação entre crime e ambiente social, apenas entende que o crime é decorrência natural do meio social, e não uma anormalidade. Portanto, a AFIRMATIVA ESTÁ CORRETA. 06.! (CESPE – 2013 – POLÍCIA FEDERAL – DELEGADO) Ações como controle dos meios de comunicação e ordenação urbana, orientadas a determinados grupos ou subgrupos sociais, estão inseridas no âmbito da chamada prevenção secundária do delito. ͒ COMENTÁRIOS: Na prevenção secundária o foco da prevenção recai sobre os setores sociais em que a criminalidade mais se manifesta, ou seja, recai sobre os grupos que apresentam determinadas características que os tornam mais propensos a praticar ou sofrer delitos. Apresentam resultados de curto a médio prazo. Portanto, a AFIRMATIVA ESTÁ CORRETA. 07.! (CESPE – 2013 – POLÍCIA FEDERAL – DELEGADO) As modalidades preventivas nas quais se inserem os programas de policiamento orientado à solução de problemas e de policiamento comunitário, assim como outros programas de aproximação entre polícia e comunidade, podem ser incluídas na categoria de prevenção primária. COMENTÁRIOS: Item errado, pois temos aí a prevenção secundária, que é aquela que recai sobre os setores sociais em que a criminalidade mais se manifesta, ou seja, recai sobre os grupos que apresentam determinadas características que os tornam mais propensos a praticar ou sofrer delitos. Apresentam resultados de curto a médio prazo. http://www.iceni.com/infix.htm Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 43 de 61 CRIMINOLOGIA – PC-MA (2018) – DELEGADO DE POLÍCIA Teoria e questões Aula 02 – Prof. Renan Araujo Na prevenção primária a prevenção se dá por meio de programas cuja finalidade é atacar a causa da criminalidade, ou seja, a origem do problema (desigualdade social, pobreza, desemprego, etc.). Trata-se, portanto, de uma forma deprevenção que busca atingir as estruturas do sistema. Temos, aqui, os métodos preventivos com resultado de médio a longo prazo. Portanto, a AFIRMATIVA ESTÁ ERRADA. 08.! (CESPE – 2013 – POLÍCIA FEDERAL – DELEGADO) Na terminologia criminológica, criminalização primária equivale à chamada prevenção primária. ͒ COMENTÁRIOS: Item errado. A prevenção primária é um modelo de prevenção do delito orientado às bases do problema, ou seja, às causas da criminalidade. A criminalização primária, por sua vez, é a realizada pelos legisladores, quando sancionam uma lei penal que criminaliza determinada conduta. Portanto, a AFIRMATIVA ESTÁ ERRADA. 09.! (CESPE – 2013 – POLÍCIA FEDERAL – DELEGADO) A prevenção terciária, considerada intervenção tardia e parcial, destina- se exclusivamente à população carcerária, objetivando evitar a reincidência, mas não atua nas condições gerais que favorecem a ocorrência de episódios violentos. ͒ COMENTÁRIOS: O item está errado, pois a prevenção terciária recai sobre o condenado, ou seja, visa a evitar a reincidência. Pode se dar por meio da escolha da pena mais apropriada, pela progressão de regime, que possibilita o reencontro paulatino do preso com a sociedade, etc. Assim, a população carcerária é APENAS UM dos destinatários da prevenção terciária, já que pode recair sobre os condenados que não estão encarcerados, como, por exemplo, aqueles que cumprem pena restritiva de direitos. A questão foi dada inicialmente como correta. Todavia, como o edital do concurso não admitia alteração de gabarito (para ERRADO), o CESPE teve que anular a questão. Portanto, a questão foi ANULADA. 10.! (CESPE – 2016 – PC-PE – DELEGADO DE POLÍCIA - ADAPTADA) Entre os modelos teóricos explicativos da criminologia, o conceito definitorial de delito afirma que, segundo a teoria do labeling approach, o delito carece de consistência material, sendo um processo de reação social, arbitrário e discriminatório de seleção do comportamento desviado. COMENTÁRIOS: Item correto, pois tal teoria sustenta que o delito não é um dado ôntico, ou seja, não está no mundo do ser, mas um dado normativo, pois é uma realidade criada pelo legislador. O que se encontra no mundo do “ser” são http://www.iceni.com/infix.htm Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 44 de 61 CRIMINOLOGIA – PC-MA (2018) – DELEGADO DE POLÍCIA Teoria e questões Aula 02 – Prof. Renan Araujo condutas. O adjetivo de “criminosa” a uma conduta deriva de um processo seletivo e discriminatório, que visa a criminalizar apenas (ou com mais frequência) as condutas praticadas pelos indivíduos das classes dominadas. Portanto, a AFIRMATIVA ESTÁ CORRETA. 11.! (MPE-SC – 2016 – MPE-SC – PROMOTOR DE JUSTIÇA) No âmbito das teorias criminológicas, a teoria da subcultura delinquente, originariamente conhecida como “Escola de Chicago”, assevera que a delinquência surge como resultado da estrutura das classes sociais, que faz com que alguns grupos aceitem a violência como forma de resolver os conflitos sociais. COMENTÁRIOS: Item errado, pois a teoria das subculturas delinquentes não vê a delinquência como resultado da estrutura das classes sociais, mas defende que a conduta delitiva não seria um reflexo negativo da desorganização social e outras mazelas da sociedade contemporânea. Para esta teoria todo agrupamento humano é dotado de subculturas, com uma filosofia de vida e regras próprias. Desta forma, a existência de subculturas corresponde, naturalmente, à existência de valores distintos daqueles pregados pela cultura dominante. Desta forma, é possível que algumas destas subculturas possuam valores que se contraponham aos valores da cultura dominante e, em razão disso, o delito não derivaria de uma predisposição à violação da Lei, e sim um mero reflexo destas diferenças culturais. Além disso, tal teoria não se confunde com a Escola de Chicago, embora tenha sido considerada decorrência desta. Portanto, a AFIRMATIVA ESTÁ ERRADA. 12.! (MPE-SC – 2016 – MPE-SC – PROMOTOR DE JUSTIÇA) O minimalismo, enquanto movimento crítico ao sistema de justiça penal, foi concebido com a proposta de supressão integral do sistema penal por outras instâncias de controle social. Em sentido oposto, revelou-se o movimento “Lei e Ordem”, que reconhecia no direito penal máximo o instrumento primordial à resolução dos problemas que afligem a sociedade. COMENTÁRIOS: Item errado, pois o minimalismo não prega a supressão integral do sistema penal por outras instâncias de controle (isso é defendido pelo abolicionismo imediato), mas a redução da esfera de abrangência do Direito Penal, que deve regular apenas as condutas que sejam ameaça grave à vida em sociedade, devendo as demais serem reguladas por outros mecanismos de controle. Quanto ao movimento “Lei e Ordem”, de fato, é expressão do Direito Penal Máximo, ou seja, entende que o Direito Penal deve regular toda e qualquer conduta desviante. Portanto, a AFIRMATIVA ESTÁ ERRADA. http://www.iceni.com/infix.htm Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 45 de 61 CRIMINOLOGIA – PC-MA (2018) – DELEGADO DE POLÍCIA Teoria e questões Aula 02 – Prof. Renan Araujo 13.! (MPE-SC – 2016 – MPE-SC – PROMOTOR DE JUSTIÇA) Em sua obra "O Novo em Direito e Política", José Alcebíades de Oliveira Júnior cita interessante trecho da doutrina de Luigi Ferrajoli: "a sujeição do juiz à lei já não é de fato, como no velho paradigma juspositivista, sujeição à letra da lei, qualquer que seja o seu significado, mas sim sujeição à lei somente enquanto válida, ou seja, coerente com a Constituição". A interpretação da frase em destaque nos remete ao conteúdo do modelo garantista. COMENTÁRIOS: O que a questão quer dizer, basicamente, é que o garantismo penal prega não apenas que o Juiz esteja atrelado ao que diz a letra da lei, embora isso importante. O garantismo penal exige do Juiz uma postura crítica frente ao texto da lei, de forma a verificar se o que a lei prevê está de acordo com a Constituição, ou seja, não basta ao Juiz aplicar a lei de forma “cega”, devendo realizar uma análise acerca da legitimidade da lei (sua validade frente ao sistema jurídico-penal garantista previsto na Constituição). Portanto, a AFIRMATIVA ESTÁ CORRETA. 14.! (CESPE – 2016 – PC-PE – DELEGADO DE POLÍCIA - ADAPTADA) A Escola de Chicago, ao atentar para a mutação social das grandes cidades na análise empírica do delito, interessa-se em conhecer os mecanismos de aprendizagem e transmissão das culturas consideradas desviadas, por reconhecê-las como fatores de criminalidade. COMENTÁRIOS: Item correto, pois a Escola de Chicago sustenta que a forma com a qual as cidades estão estruturadas é o grande problema que gera a criminalidade. Para esta Teoria, a CIDADE (mais especificamente do que a “sociedade” genericamente considerada) seria o foco principal da atenção da criminologia. Para os teóricos desta Escola, a CIDADE, ou seja, o meio urbano produz a criminalidade (crescimento populacional, crescimento desordenado, formação de guetos, etc.). Portanto, a AFIRMATIVA ESTÁ CORRETA. 15.! (VUNESP - 2013 - PC-SP - PAPILOSCOPISTA POLICIAL) Uma das mais importantes teorias do conflito; surgiu nos Estados Unidos nos anos de 1960, e seus principais expoentes foram Erving Goffman e Howard Becker. Trata-se da A) Teoria do labelling approach. B) Teoria da subcultura delinquente. C) Teoria da desorganização social. D) Teoria da anomia. E) Teoria das zonas concêntricas. COMENTÁRIOS: As teorias do conflito são as correntes criminológicas que, em contraposição às teorias do consenso, entendem que o Direito Penal não parte de http://www.iceni.com/infix.htm Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 46 de 61 CRIMINOLOGIA – PC-MA (2018)– DELEGADO DE POLÍCIA Teoria e questões Aula 02 – Prof. Renan Araujo um consenso social sobre os bens jurídicos mais relevantes e por isso os tutela (ou pretende tutelar). As teorias do conflito entendem o Direito Penal como um instrumento nas mãos de uma das classes na sociedade, a classe dominante e que, portanto, o Direito Penal não selecionaria bens jurídicos mais importantes para a sociedade a fim de tutelá-los, mas selecionaria os bens jurídicos mais importantes para esta classe dominante, de forma que haveria um conflito entre uma classe e outra. Erving Goffman e Howard Becker foram dois dos maiores expoentes da teoria do Labelling approach, ou teoria do “etiquetamento”, segundo a qual o delito não é um dado natural, mas um dado normativo, ou seja, nada é delito “por sua própria natureza”. É delito aquele fato que foi assim rotulado, e é criminoso, portanto, aquele que foi assim rotulado pela lei, já que o fenômeno “crime” necessita de uma previsão normativa. Podemos citar como expoentes, ainda, o grande Alessandro Baratta. Portanto, a ALTERNATIVA CORRETA É A LETRA A. 16.! (VUNESP - 2014 - PC-SP - ESCRIVÃO DE POLÍCIA) A teoria do neorretribucionismo, com origem nos Estados Unidos, também conhecida por “lei e ordem” ou “tolerância zero”, é decorrente da teoria. A) “positiva” B) “janelas quebradas” C) “clássica” D) “cidade limpa” E) “diferencial”. COMENTÁRIOS: A teoria das janelas quebradas, ou "Broken Windows Theory", foi desenvolvida nos EUA, e tem como fundamento básico o combate severo ao crime, por menor que seja, pois segundo esta teoria a proliferação dos pequenos delitos cria um ambiente propício ao desenvolvimento de grandes delitos, sob a alegação de que a aparente inércia do Estado produziria um efeito estimulante em relação à prática de delitos. Trata-se de uma espécie de política de tolerância zero. A teoria do “neo-retribucionismo” é uma das políticas criminais contemporâneas que pregam uma maior repressão estatal, ou seja, uma aplicação do sistema punitivo do Estado. Trata-se, na verdade, de um movimento de reação aos elevados índices de criminalidade (surgido nos Estados Unidos), e tem como principal fundamento a ideia de que para diminuir a criminalidade é necessário punir mais. Portanto, a ALTERNATIVA CORRETA É A LETRA B. 17.! (VUNESP - 2013 - PC-SP - AUXILIAR DE PAPILOSCOPISTA POLICIAL) http://www.iceni.com/infix.htm Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 47 de 61 CRIMINOLOGIA – PC-MA (2018) – DELEGADO DE POLÍCIA Teoria e questões Aula 02 – Prof. Renan Araujo Quanto à teoria neorretribucionista, é correto afirmar: A) surgiu na Europa, no século passado, baseada na teoria do consenso, tem como objetivo coibir o crime organizado e os crimes transnacionais, o que inibiria os crimes menos graves. B) surgiu na Itália, na década de sessenta, é uma das mais importantes teorias do conflito, por meio dessa teoria, a criminalidade não é resultante somente da conduta humana, mas a consequência de um processo em que se atribui uma qualidade à pessoa. C) surgiu nos Estados Unidos, inspirada na escola de Chicago, com a denominação “lei e ordem” ou “tolerância zero”, decorrente da teoria das janelas quebradas, tem como objetivo coibir os pequenos delitos, o que inibiria os mais graves D) surgiu na Alemanha, no século XIX, defende que o comportamento do criminoso é aprendido, nunca herdado, criado ou desenvolvido pelo sujeito ativo, tem como objetivo identificar e punir rigorosamente o criminoso para servir de exemplo, a chamada prevenção geral. E) surgiu na Inglaterra, está baseada na teoria da sub- cultura delinquente, ou seja, o comportamento criminoso é um sintoma de dissociação entre as aspirações socioculturais e os meios desenvolvidos para alcançar essas aspirações. COMENTÁRIOS: A teoria do “neo-retribucionismo” é uma das políticas criminais contemporâneas que pregam uma maior repressão estatal, ou seja, uma aplicação do sistema punitivo do Estado. Trata-se, na verdade, de um movimento de reação aos elevados índices de criminalidade (surgido nos Estados Unidos), e tem como principal fundamento a ideia de que para diminuir a criminalidade é necessário punir mais. De fato, esta teoria se vale, dentre outras, da conhecida “teoria das janelas quebradas”, segundo a qual a ausência de punição dos delitos pequenos serviria como estímulo à prática dos delitos mais graves, de maneira que o Estado deveria aumentar, ainda mais, seu sistema punitivo. Portanto, a ALTERNATIVA CORRETA É A LETRA C. 18.! (UFPR – 2014 – DPE-PR – DEFENSOR PÚBLICO) Em relação às distintas teorias criminológicas, a ideia de que o “desviante” é, na verdade, alguém a quem o rótulo social de criminoso foi aplicado com sucesso foi desenvolvida pela Teoria a) da anomia. b) da associação diferencial. c) da subcultura delinquente. d) da ecologia criminal. e) da reação social ou Labelling Approach. http://www.iceni.com/infix.htm Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 48 de 61 CRIMINOLOGIA – PC-MA (2018) – DELEGADO DE POLÍCIA Teoria e questões Aula 02 – Prof. Renan Araujo COMENTÁRIOS: A ideia de que o crime é um rótulo imposto a determinadas condutas deriva da teoria da reação social ou rotulamento social (labelling approach). Em consequência disso, “criminoso” também será alguém que foi rotulado como tal, de acordo com a seletividade do sistema penal. Portanto, a ALTERNATIVA CORRETA É A LETRA E. 19.! (FEPESE – 2014 – MPE-SC – PROMOTOR DE JUSTIÇA) Contrariamente ao classicismo, que não visualizou no criminoso nenhuma anormalidade - e dele não se ocupou - o positivismo reconduziu-o para o centro de suas análises, apreendendo nele estigmas decisivos da criminalidade. COMENTÁRIOS: Discordo um pouco do gabarito desta questão. Isto porque os clássicos, de fato, apoiavam suas teses na ideia de que o crime não seria decorrência de uma anormalidade da figura do criminoso. Contudo, dizer que os clássicos não se ocuparam da figura do criminoso parece um pouco forçado. De toda forma, o positivismo realmente conduziu o criminoso para o centro da análise, inclusive verificando nele aspectos biológicos como fatores criminógenos. Portanto, a AFIRMATIVA ESTÁ CORRETA. 20.! (FEPESE – 2014 – MPE-SC – PROMOTOR DE JUSTIÇA) No paradigma etiológico, modelado segundo uma matriz positivista derivada Das Ciências Naturais, a Criminologia é definida como uma Ciência causal-explicativa da criminalidade, isto é, que investiga as causas da criminalidade (seu objeto) segundo o método experimental. COMENTÁRIOS: A etiologia criminal é uma disciplina que visa a explicar as causas da criminalidade. Para tanto, se vale do empirismo, o método científico da experimentação. Portanto, a AFIRMATIVA ESTÁ CORRETA. 21.! (VUNESP – 2014 – PC-SP – MÉDICO LEGISTA) O método de estudo da Criminologia reúne as seguintes características: a) silogismo; vedação de interdisciplinariedade; visão indutiva da realidade. b) empirismo; vedação de interdisciplinariedade; visão indutiva da realidade. c) racionalismo; interdisciplinariedade; visão indutiva da realidade. d) empirismo; interdisciplinariedade; visão indutiva da realidade. e) racionalismo; interdisciplinariedade; visão dedutiva da realidade. COMENTÁRIOS: Ciência do “ser”, a criminologia se vale do empirismo para comprovar suas teses, bem como possui caráter interdisciplinar, já que se utiliza de diversos ramos da ciência que lhe são correlatos, como a psicologia, a psiquiatria, a sociologia, etc. http://www.iceni.com/infix.htm Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 49 de 61 CRIMINOLOGIA – PC-MA (2018) – DELEGADO DE POLÍCIA Teoria e questões Aula 02 – Prof. Renan Araujo Também pode ser considerada indutiva,eis que se vale do conhecimento do objeto de estudo para formar um juízo universal. Portanto, a ALTERNATIVA CORRETA É A LETRA D. 22.! (VUNESP – 2014 – PC-SP – MÉDICO LEGISTA) Assinale a alternativa que completa as lacunas do texto. Os estudos de Sociologia Criminal de Sutherland (Teoria da Associação Diferencial) estão principalmente ligados aos crimes de ________e tiveram como foco ________ . a) genocídio ... a Alemanha b) organizações criminosas ... a Itália c) jogo ilegal ... a atual Rússia (ex-URSS) d) discriminação de gênero ... países do Oriente Médio e) colarinho branco ... os Estados Unidos da América COMENTÁRIOS: Sutherland focou seus estudos sobre os crimes de colarinho Branco, nos Estados Unidos da América, mais especificamente em Chicago. Para Sutherland, as explicações fornecidas pelas diversas teorias criminológicas até então não seriam capazes de responder de forma adequada à questão dos crimes de colarinho branco, já que todas (ou quase todas) viam nas mazelas sociais (desorganização social, pobreza, etc.) a gênese do crime, de forma que se distanciavam da realidade dos crimes de colarinho branco (White colar crimes). Portanto, a ALTERNATIVA CORRETA É A LETRA E. 23.! (VUNESP – 2014 – PC-SP – DELEGADO DE POLÍCIA) A moderna Sociologia Criminal possui visão bipartida do pensamento criminológico atual, sendo uma de cunho funcionalista e outra de cunho argumentativo. Trata-se das teorias a) indutiva e dedutiva. b) do consenso e do conflito. c) absoluta e relativa. d) moderna e contemporânea. e) abstrata e concreta. COMENTÁRIOS: O pensamento da criminologia social ou sociológica é bipartido em teoria do consenso e teoria do conflito. A teoria do consenso ou “criminologia do consenso” parte da premissa de que a sociedade é formada por uma séria de valores fundamentais consensuais, que devem ser protegidos e promovidos por todos. Assim, o Direito Penal nada mais seria que uma ferramenta para a defesa destes valores comuns a todos os indivíduos. Inserem-se nesta ideia as teorias desenvolvidas pela ESCOLA DE CHICAGO, ANOMIA E ASSOCIAÇÃO DIFERENCIAL. http://www.iceni.com/infix.htm Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 50 de 61 CRIMINOLOGIA – PC-MA (2018) – DELEGADO DE POLÍCIA Teoria e questões Aula 02 – Prof. Renan Araujo A criminologia do conflito vê a sociedade não como um todo coeso e harmônico, fundado em valores comuns a todos os indivíduos, e sim um campo de batalha entre classe dominante e dominada. Para ela, o Direito Penal nada mais é que uma ferramenta a serviço da classe dominante, de forma a garantir a manutenção do status quo, coagindo a classe dominada a “andar na linha”. Para tanto, o Direito Penal seria absolutamente seletivo na escolha das condutas que seriam criminalizadas, optando por uma criminalização primária voltada às condutas geralmente praticadas pelos indivíduos pertencentes à classe dominada (furto seria mais grave que condutas lesivas à ordem econômica, por exemplo). Portanto, a ALTERNATIVA CORRETA É A LETRA B. 24.! (FEPESE – 2014 – MPE-SC – PROMOTOR DE JUSTIÇA) O movimento de política criminal denominado "lei e ordem" se deve à construção teórica de Gunther Jacobs que, por sua vez, deriva do "labelling approach". COMENTÁRIOS: Item errado. O movimento “lei e ordem”, assim como o “tolerância zero” decorrem da teoria das janelas quebradas, que entendia que os delitos deveriam ser sempre punidos, por menores que fossem, como forma de reafirmar a autoridade da Lei e inibir a prática dos delitos mais graves. Tal teoria derivou da corrente de pensamento conhecida como ESCOLA DE CHICAGO. Portanto, a AFIRMATIVA ESTÁ ERRADA. 25.! (VUNESP – 2013 – PC-SP – AGENTE) Os “crimes de colarinho branco” são delitos conhecidos na Criminologia por a) crimes contra a dignidade social. b) crimes de menor potencial ofensivo. c) cifras cinza. d) cifras amarelas. e) cifras douradas. COMENTÁRIOS: Na verdade, a cifra dourada corresponde aos crimes de colarinho branco que não são reportados ou apurados pelas agências de controle, normalmente em razão do poder econômico dos infratores. Assim, embora crime de colarinho branco não seja sinônimo de cifra dourada, esta está vinculada aos crimes de colarinho branco. Portanto, a ALTERNATIVA CORRETA É A LETRA E. 26.! (PC-SP – 2010 – PC-SP – ESCRIVÃO) http://www.iceni.com/infix.htm Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 51 de 61 CRIMINOLOGIA – PC-MA (2018) – DELEGADO DE POLÍCIA Teoria e questões Aula 02 – Prof. Renan Araujo Dentre as alternativas, assinale a que é apontada como a menos compatível com a dignidade da pessoa humana e o Estado Democrático de Direito. a) O Direito Penal do Inimigo. b) O abolicionismo penal. c) O Direito Penal Mínimo. d) A “Terza Scuola”. e) A Lei da Saturação Criminal COMENTÁRIOS: Dentre as alternativas, certamente o “Direito Penal do Inimigo” não se coaduna com um Estado Democrático de Direito. O Direito Penal do Inimigo pressupõe a existência de um Direito Penal que mitigue as garantias constitucionais aos criminosos considerados “contumazes”, ou seja, aqueles que fazem do crime seu meio de vida. Assim, haveria um “Direito Penal do Cidadão”, no qual seriam observados os direitos e garantias fundamentais do acusado, e um “Direito Penal do Inimigo”, no qual estas garantias poderiam ser flexibilizadas ou afastadas, já que não se estaria diante de alguém que merecesse qualquer consideração por parte do Estado. Este tipo de teoria é inadmissível num Estado Democrático de Direito por, inicialmente, violar o princípio da isonomia. Num segundo plano, não menos importante, violaria, ainda, a ideia de que o Direito Penal pune as pessoas pelo que elas FAZEM e não pelo que elas SÃO. Portanto, a ALTERNATIVA CORRETA É A LETRA A. 27.! (VUNESP – 2013 – PC/SP – PAPILOSCOPISTA) De acordo com a Sociologia Criminal, pode-se citar como exemplo da Teoria de Consenso: a) a Teoria crítica. b) a Teoria radical. c) a Teoria das janelas quebradas. d) a Teoria da associação diferencial. e) a Teoria do conflito. COMENTÁRIOS: A Teoria do Consenso parte do pressuposto de que o Direito Penal não é instrumento de dominação de classes, mas instrumento em prol do bem comum de uma sociedade cujos interesses são homogêneos. A Teoria do Conflito, por sua vez, entende que a sociedade não possui interesses homogêneos, já que existe um conflito de classes, e que o Direito Penal nada mais é que uma ferramenta para o exercício da dominação de uma classe pela outra. Dentre as alternativas, a teoria da associação diferencial é uma das que representa a teoria do consenso, pois prega que o delito, como qualquer conduta humana, é um aprendizado, uma apreensão de comportamentos desviantes, pela http://www.iceni.com/infix.htm Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 52 de 61 CRIMINOLOGIA – PC-MA (2018) – DELEGADO DE POLÍCIA Teoria e questões Aula 02 – Prof. Renan Araujo Lei da Imitação. Esta teoria não enxerga a existência de um grupo pré- determinado como alvo da Lei Penal, ou seja, uma clientela já pré-estabelecida, como entende a Teoria do Conflito Social. Portanto, a ALTERNATIVA CORRETA É A LETRA D. 28.! (VUNESP – 2014 – PC-SP – PERITO) A Teoria do labelling approach, a qual explica que a criminalidade não é uma qualidade da conduta humana, mas a consequência de um processo em que se atribui tal estigmatização, também é denominada teoria (A) da desorganização social. (B) da rotulação ou do etiquetamento. (C) da neutralização. (D) da identificação diferencial. (E) da anomia. COMENTÁRIOS: A teoria do labelling aproach, ou teoria do “etiquetamento” ou da “rotulação”, tem como um dos principais expoentes o criminólogoAlessandro Baratta. Enquanto o pensamento criminológico até então vigente sustentava que o atributo criminal de uma conduta existia objetivamente, como um ente natural e até era preexistente às normas penais que o definiam num mero exercício de reconhecimento (num alardeado consenso social), a "Teoria do Labelling Approach" virá para desmistificar todas essas equivocadas convicções. O "Labelling Approach" ou "etiquetamento" indica que um fato só é tomado como criminoso após a aquisição desse "status" através da criação de uma lei que seleciona certos comportamentos como irregulares, de acordo com os interesses sociais. Em seguida, a atribuição a alguém da pecha de criminoso depende novamente da atuação seletiva das agências estatais. Portanto, a ALTERNATIVA CORRETA É A LETRA B. 29.! (VUNESP - 2014 - PC-SP - ESCRIVÃO DE POLÍCIA) Dentre os modelos sociológicos, as teorias da criminologia crítica, da rotulação e da criminologia radical são exemplos da teoria. A) do consenso B) da aparência C) do descaso D) da falsidade. E) do conflito. COMENTÁRIOS: Estas teorias são exemplos de teoria do conflito. Para esta teoria a sociedade é uma grande luta de classes, de maneira que a classe dominante necessita manter a classe dominada nesta condição e, para tanto, se vale de diversas ferramentas, dentre elas o Direito Penal. Como decorrência de http://www.iceni.com/infix.htm Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 53 de 61 CRIMINOLOGIA – PC-MA (2018) – DELEGADO DE POLÍCIA Teoria e questões Aula 02 – Prof. Renan Araujo seu viés “parcial”, o Direito Penal não é isonômico, ou seja, não atua de maneira uniforme sobre todas as camadas sociais. Portanto, a ALTERNATIVA CORRETA É A LETRA E. 30.! (PC-SP - 2011 - PC-SP - DELEGADO DE POLÍCIA) Assinale a alternativa incorreta. A Teoria do Etiquetamento A) é considerada um dos marcos das teorias de consenso. B) é conhecida como Teoria do Labelling Aproach. C) tem como um de seus expoentes Ervinh Goffman. D) tem como um de seus expoentes Howard Becker. E) surgiu nos Estados Unidos. COMENTÁRIOS: A teoria do Labelling approach, ou teoria do “etiquetamento”, é a teoria segundo a qual o delito não é um dado natural, mas um dado normativo, ou seja, nada é delito “por sua própria natureza”. É delito aquele fato que foi assim rotulado, e é criminoso, portanto, aquele que foi assim rotulado pela lei, já que o fenômeno “crime” necessita de uma previsão normativa. Esta teoria surgiu nos EUA, em meados dos anos 1960 e tem como expoentes Ervinh Goffman e Howard Becker, além de Alessandro Baratta. Não se trata de uma das teorias do “consenso”, ao contrário, é uma das teorias do conflito social, teorias estas que entendem o Direito Penal como um instrumento nas mãos de uma das classes na sociedade, a classe dominante e que, portanto, o Direito Penal não selecionaria bens jurídicos mais importantes para a sociedade a fim de tutelá-los, mas selecionaria os bens jurídicos mais importantes para esta classe dominante, de forma que haveria um conflito entre uma classe e outra, e não um consenso entre elas contra um “mal comum”. Portanto, a ALTERNATIVA INCORRETA É A LETRA A. 31.! (VUNESP - 2013 - PC-SP - ESCRIVÃO DE POLÍCIA CIVIL) Assinale a alternativa que apresenta corretamente uma das características da função retributiva da pena, segundo a Teoria Absoluta. A) Analogia: pena independente da gravidade do delito. B) Duração indeterminada: a duração da pena dependerá, dentre outros fatores, do comportamento do apenado. C) Infligibilidade: a pena consistirá em aflição corporal. D) Derrogabilidade: o delito terá, por consequência, uma punição, ainda que injusta. E) Responsabilidade penal individual: a pena não passará da pessoa do condenado. http://www.iceni.com/infix.htm Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 54 de 61 CRIMINOLOGIA – PC-MA (2018) – DELEGADO DE POLÍCIA Teoria e questões Aula 02 – Prof. Renan Araujo COMENTÁRIOS: Uma das características da função retributiva da pena (Infligir um mal ao infrator, um mal necessário em razão do rompimento dos laços com a sociedade) é a intranscendência da pena, segundo o qual a pena não passará da pessoa do apenado, já que tendo função retributiva, deverá, necessariamente, ser punido aquele que cometeu o delito, pois o seu sofrimento através da pena é fundamental para que esta alcance sua finalidade. Portanto, a ALTERNATIVA CORRETA É A LETRA E. 32.! (VUNESP - 2013 - PC-SP - INVESTIGADOR DE POLÍCIA) O legislador brasileiro, ao dispor sobre as funções da reprimenda pela prática de infração penal no artigo 59 do Código Penal – O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e consequências do crime, bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime... –, adotou a teoria da A) função reeducativa da pena. B) função de prevenção especial da pena. C) função de prevenção geral da pena. D) função retributiva da pena. E) função mista ou unificadora da pena. COMENTÁRIOS: Podemos perceber que o nosso ordenamento jurídico adotou a teoria mista das funções da pena, já que pela leitura do art. 59 do CP fica claro que se pretende tenha a pena um viés retributivo (castigo ao infrator) e um viés preventivo (prevenção geral e especial). Portanto, a ALTERNATIVA CORRETA É A LETRA E. 33.! (VUNESP – 2013 – PC/SP – PAPILOSCOPISTA) Umas das formas que o Estado Democrático de Direito possui para prevenir o crime é a pena. De acordo com a teoria mista que estuda as penas, estas têm a finalidade de a) punir o delinquente de forma proporcional ao mal praticado. b) trazer mais tranquilidade para a sociedade, uma vez que o criminoso não estará mais nas ruas. c) retomar a tranquilidade e a paz pública. d) prevenção geral e prevenção especial. e) afastar o delinquente da sociedade, para evitar novos crimes. COMENTÁRIOS: A pena pode possui diversas funções, a depender da Teoria que se filie. A teoria utilitarista (ou da prevenção ou, ainda, teoria relativa) entende que a pena tem como finalidade prevenir o crime, seja pela prevenção especial (evitar http://www.iceni.com/infix.htm Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 55 de 61 CRIMINOLOGIA – PC-MA (2018) – DELEGADO DE POLÍCIA Teoria e questões Aula 02 – Prof. Renan Araujo que o infrator volte a delinquir), seja pela prevenção geral (servir de exemplo para que outras pessoas sejam desencorajadas a praticar crimes). A teoria absoluta (ou retributiva) entende que a pena tem por finalidade PUNIR o delinquente, como forma de recompensa pela mal que praticou. Já a teoria mista (ou eclética) entende que a pena conjuga ambas as finalidades: Punir e prevenir. Portanto, a ALTERNATIVA CORRETA É A LETRA D. 34.! (VUNESP – 2014 – PC-SP – PERITO) No tocante à temática da prevenção da infração à lei penal, é correto afirmar que a prevenção (A) secundária consiste em, dentre outras, políticas criminais voltadas exclusivamente à reintegração do preso na sociedade. (B) terciária consiste em políticas públicas de conscientização de todos os cidadãos quanto à importância de se cumprirem as leis, mediante o fornecimento de serviços públicos de qualidade, tais como saúde, educação e segurança. (C) geral busca, por meio da pena, intimidar os indivíduos propensos a delinquir, inibindo-os de transgredir a lei penal. (D) geral negativa busca, por meio da pena, a reeducação e a ressocialização do criminoso. (E) primária consiste em, dentre outras, ações policiais de repressão às práticas delituosas. COMENTÁRIOS: A prevenção, enquanto finalidade da pena, pode ser geral ou especial. Será geralquando tiver por finalidade desestimular os demais membros da sociedade, a fim de que não pratiquem crimes, utilizando-se da ideia de “exemplo”. A prevenção especial, por sua vez, se destina ao próprio infrator, ou seja, a pena tem a finalidade de evitar que aquele infrator volte a delinquir. Outra classificação, menos utilizada é a que divide a prevenção em primária, secundária e terciária: A prevenção primária é a verdadeira prevenção, pois ela ataca a raiz do mal, ou seja, as causas sociais do problema (desemprego, educação, etc.) Ela atua no longo prazo e requer forte investimento estatal. A prevenção secundária, por sua vez, não quer saber onde e quando conflito criminal ocorre ou é gestado, mas onde se manifesta. Opera a curto e médio prazos e se destina seletivamente a determinados grupos sociais, notadamente aqueles grupos e subgrupos que possuem maior risco de serem os protagonistas no cenário criminal, até pela própria seletividade do sistema, que convenientemente escolhe os destinatários da norma penal. Aqui, entram em cena o legislador (para tipificar condutas), o sistema repressivo policial e judiciário, bem como, inclusive, os meios de comunicação. http://www.iceni.com/infix.htm Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 56 de 61 CRIMINOLOGIA – PC-MA (2018) – DELEGADO DE POLÍCIA Teoria e questões Aula 02 – Prof. Renan Araujo A prevenção terciária, por fim, tem como objeto o preso, ou o condenado, melhor dizendo, com o objetivo de evitar a reincidência, possuindo nítido caráter punitivo, utilizando-se da pena como forma de prevenção. Aqui surge a ideia de prevenção especial e prevenção geral. Portanto, a ALTERNATIVA CORRETA É A LETRA C. 35.! (VUNESP - 2014 - PC-SP - ESCRIVÃO DE POLÍCIA) A criminologia moderna estuda o fenômeno da criminalidade por meio da estatística criminal. Nessa seara, a expressão “cifra dourada” designa. A) o total de delitos registrados e de conhecimento do poder público que são elucidados. B) as infrações penais praticadas pela elite, não reveladas ou apuradas; trata-se de um subtipo da “cifra negra”, a exemplo do crime de sonegação fiscal C) as infrações penais de maior gravidade, como, por exemplo, o homicídio, que, ao ser elucidado, permite ao poder público planejar melhor suas ações e alterar a legislação D) as infrações penais de menor potencial ofensivo, por enquadrar-se na Lei n.º 9.099/95, a exemplo do delito de perturbação do sossego alheio E) o percentual de delitos praticados pela sociedade de baixa renda que não chega ao conhecimento do poder público por falta de registro, e, portanto, não são elucidados COMENTÁRIOS: Originalmente desenvolveu-se a ideia de “CIFRAS NEGRAS”, para designar o conjunto de crimes que não entravam nas estatísticas oficiais, ou que não eram solucionados ou punidos (Geralmente a primeira definição). Posteriormente, surgiu a expressão “cifra dourada”, para designar os crimes do “colarinho branco”, e que seriam uma espécie de “cifra negra” dos ricos, ou seja, as “cifras negras” das condutas criminosas praticadas pelas classes mais elevadas. Portanto, a ALTERNATIVA CORRETA É A LETRA B. 36.! (VUNESP - 2014 - PC-SP - ESCRIVÃO DE POLÍCIA) Uma das formas que o Estado Brasileiro adota como controle e inibição criminal é a pena prevista para cada crime, cuja teoria adotada pelo Código Penal Brasileiro é a mista, de acordo com o artigo 59 do Código Penal, que tem como finalidade a: A) prevenção e a retribuição B) indenização e a repreensão. C) punição e a reparação. D) inibição e a reeducação. E) conciliação e o exemplo. http://www.iceni.com/infix.htm Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 57 de 61 CRIMINOLOGIA – PC-MA (2018) – DELEGADO DE POLÍCIA Teoria e questões Aula 02 – Prof. Renan Araujo COMENTÁRIOS: A finalidade da pena, de acordo com o CP, é mista, ou seja, a pena é vista como forma de punição (retribuição) e prevenção do delito (prevenção especial e prevenção geral). Vejamos a redação do art. 59: Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e conseqüências do crime, bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Portanto, a ALTERNATIVA CORRETA É A LETRA A. 37.! (VUNESP - 2014 - PC-SP - ESCRIVÃO DE POLÍCIA) O conceito de prevenção delitiva, no Estado Democrático de Direito, e as medidas adotadas para alcançá-la são. A) o conjunto de ações que visam evitar a ocorrência do delito, atingindo direta e indiretamente o delito. B) o conjunto de ações que visam estudar o delito, atingindo direta e indiretamente o criminoso C) o conjunto de ações adotadas pela vítima que visam evitar o delito, atingindo o delinquente direta e indiretamente. D) o conjunto de ações que visam estudar o criminoso, atingindo o ato delitivo direta e indiretamente. E) o conjunto de ações que visam estudar o crime, atingindo o criminoso direta e indiretamente. COMENTÁRIOS: No estado democrático de Direito, entende-se como prevenção delitiva o conjunto de ações que visam à prevenção da ocorrência do delito. Em decorrência deste conjunto de ações, o delito será, naturalmente, atingido, direta ou indiretamente. Portanto, a ALTERNATIVA CORRETA É A LETRA A. 38.! (UFPR – 2014 – DPE-PR – DEFENSOR PÚBLICO) Na Criminologia, é frequente o debate a respeito das funções da pena. Segundo a ideia de prevenção especial negativa, a pena teria a função de: a) ressocializar o condenado, promovendo sua harmônica integração social. b) retribuir proporcionalmente o mal causado pelo delito. c) neutralizar ou segregar o condenado do meio social, impedindo-o de cometer novas infrações penais. d) reforçar a confiança da coletividade na vigência da norma, estimulando a fidelidade ao Direito. http://www.iceni.com/infix.htm Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 58 de 61 CRIMINOLOGIA – PC-MA (2018) – DELEGADO DE POLÍCIA Teoria e questões Aula 02 – Prof. Renan Araujo e) intimidar e dissuadir a coletividade, de modo que todos se abstenham da prática de infrações penais. COMENTÁRIOS: A prevenção especial não se destina à sociedade, mas ao infrator, de forma a prevenir a prática da reincidência. Pode ser negativa, quando busca intimidar o condenado, de forma a que ele não cometa novos delitos por medo, ou positiva, quando a preocupação está voltada à ressocialização do condenado. Portanto, a ALTERNATIVA CORRETA É A LETRA C. 39.! (VUNESP – 2014 – PC-SP – MÉDICO LEGISTA) A expressão “cifra negra”, em Criminologia, corresponde ao número de a) erros judiciais (decisões judiciais incompatíveis com a realidade dos fatos). b) crimes ocorridos e não reportados à autoridade. c) criminosos reincidentes. d) prisões efetuadas injustamente. e) crimes ocorridos em ambientes públicos, mas cuja autoria permanece ignorada. COMENTÁRIOS: A cifra negra corresponde à diferença entre a criminalidade real e a criminalidade registrada pelas agências de controle, ou seja, ao número de delitos que, por qualquer razão, não chegam ao conhecimento das agências formais de controle. Portanto, a ALTERNATIVA CORRETA É A LETRA B. 40.! (VUNESP – 2014 – PC-SP – DELEGADO DE POLÍCIA) A prevenção criminal que está voltada à segurança e qualidade de vida, atuando na área da educação, emprego, saúde e moradia, conhecida universalmente como direitos sociais e que se manifesta a médio e longo prazos, é chamada pela Criminologia de prevenção a) primária. b) individual. c) secundária. d) estrutural. e) terciária. COMENTÁRIOS: A prevenção criminal que possui tais características é aprevenção primária. A prevenção primária consiste em programas cuja finalidade é atacar a causa da criminalidade, ou seja, a origem do problema (desigualdade social, pobreza, desemprego, etc.), com resultados de médio a longo prazo. Portanto, a ALTERNATIVA CORRETA É A LETRA A. 41.! (PC-SP – 2011 – PC-SP – DELEGADO DE POLÍCIA) http://www.iceni.com/infix.htm Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 59 de 61 CRIMINOLOGIA – PC-MA (2018) – DELEGADO DE POLÍCIA Teoria e questões Aula 02 – Prof. Renan Araujo A prevenção terciária da infração penal, no Estado Democrático de Direito, está relacionada a) ao controle dos meios de comunicação. b) aos programas policiais de prevenção. c) à ordenação urbana. d) à população carcerária. e) ao surgimento de conflito. COMENTÁRIOS: A prevenção terciária recai sobre o condenado, ou seja, visa a evitar a reincidência. Pode se dar por meio da escolha da pena mais apropriada, pela progressão de regime, que possibilita o reencontro paulatino do preso com a sociedade, etc. Assim, a população carcerária é um dos destinatários da prevenção terciária (embora possa recair sobre os condenados que não estão encarcerados). Portanto, a ALTERNATIVA CORRETA É A LETRA D. 42.! (PC-SP – 2010 – PC-SP – ESCRIVÃO) O termo cifra dourada é indicativo a) dos crimes praticados por membros da realeza. b) da violência doméstica ocorrida nas classes altas e não relatadas à polícia. c) dos crimes esclarecidos mediante à oferta de uma recompensa. d) do número de jovens de alto poder aquisitivo envolvidos com o narcotráfico. e) dos crimes denominados de “colarinho branco”. COMENTÁRIOS: Na verdade, a cifra dourada corresponde aos crimes de colarinho branco que não são reportados ou apurados pelas agências de controle, normalmente em razão do poder econômico dos infratores. Assim, embora crime de colarinho branco não seja sinônimo de cifra dourada, esta está vinculada aos crimes de colarinho branco. Portanto, a ALTERNATIVA CORRETA É A LETRA E. 6! GABARITO 1.! ERRADA 2.! ERRADA 3.! CORRETA http://www.iceni.com/infix.htm Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 60 de 61 CRIMINOLOGIA – PC-MA (2018) – DELEGADO DE POLÍCIA Teoria e questões Aula 02 – Prof. Renan Araujo 4.! ERRADA 5.! CORRETA 6.! CORRETA 7.! ERRADA 8.! ERRADA 9.! ANULADA 10.! CORRETA 11.! ERRADA 12.! ERRADA 13.! CORRETA 14.! CORRETA 15.! ALTERNATIVA A 16.! ALTERNATIVA B 17.! ALTERNATIVA C 18.! ALTERNATIVA E 19.! CORRETA 20.! CORRETA 21.! ALTERNATIVA D 22.! ALTERNATIVA E 23.! ALTERNATIVA B 24.! ERRADA 25.! ALTERNATIVA E 26.! ALTERNATIVA A 27.! ALTERNATIVA D 28.! ALTERNATIVA B 29.! ALTERNATIVA E 30.! ALTERNATIVA A 31.! ALTERNATIVA E 32.! ALTERNATIVA E 33.! ALTERNATIVA D 34.! ALTERNATIVA C 35.! ALTERNATIVA B 36.! ALTERNATIVA A 37.! ALTERNATIVA A 38.! ALTERNATIVA C 39.! ALTERNATIVA B 40.! ALTERNATIVA A http://www.iceni.com/infix.htm Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 61 de 61 CRIMINOLOGIA – PC-MA (2018) – DELEGADO DE POLÍCIA Teoria e questões Aula 02 – Prof. Renan Araujo 41.! ALTERNATIVA D 42.! ALTERNATIVA E http://www.iceni.com/infix.htm