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Prévia do material em texto

2016
Cultura religiosa
Prof. Eduardo Luiz de Medeiros
Copyright © UNIASSELVI 2016
Elaboração:
Prof. Eduardo Luiz de Medeiros
Revisão, Diagramação e Produção:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri 
UNIASSELVI – Indaial.
200.9
M488c Medeiros; Eduardo Luiz de 
 Cultura religiosa /Eduardo Luiz de Medeitros: 
UNIASSELVI, 2016.
 
 166 p. : il.
 
 ISBN 978-85-515-0011-8
 1.Religião - História. 
 I. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. 
III
apresentação
Prezado acadêmico! 
A primeira questão que surgiu, quando do início da redação do 
presente Caderno de Estudos, foi a seguinte: como analisar e discutir as mais 
diversas religiões com o acadêmico, mantendo a imparcialidade científica? 
Posso dizer a você que a resposta para essa questão não foi fácil. Em primeiro 
lugar, porque tenho minhas próprias convicções religiosas e ao escrever a 
respeito de outras vertentes, automaticamente, sinto tentação em cometer 
o pecado da parcialidade. Busquei me retirar deste debate a respeito da 
certeza absoluta para tentar, através da descrição isenta, deixar que você, 
caro acadêmico, possa tirar por si mesmo suas conclusões.
 
Já nos encontramos anteriormente em História da Igreja no Brasil, 
então já nos conhecemos muito bem e será uma honra andar com você nesta 
jornada através do desenvolvimento das religiões ao longo da História.
 A primeira unidade de estudo tem o objetivo de oferecer um debate 
teórico a respeito de como os pesquisadores analisam as religiões, além 
de analisar aquilo que chamamos de “Os Povos do Livro”, ou seja, o que 
estudaremos nesta unidade: o judaísmo, o cristianismo e o islamismo. A 
análise será pautada tendo em vista destacar os principais pontos relativos 
às doutrinas de cada uma e os fatores que as diferenciam. A partir disso o 
acadêmico terá condições de estabelecer um diálogo entre cada uma delas, o 
que o capacita a entender o praticante de cada religião, o que pensa do mundo, 
da eternidade e de seu papel na sociedade. A análise buscará permanecer nos 
mesmos pontos para que os mesmos temas estejam incluídos em cada uma 
das religiões analisadas. 
A segunda unidade tratará das religiões orientais, ou seja: 
hinduísmo, budismo e confucionismo, além de movimentos religiosos 
oriundos do momento histórico atual, o que se convencionou chamar de 
pós-modernidade. Para tanto, precisamos entender o que quer dizer este 
conceito, e verificar como o pós-modernismo traz um novo contexto político 
e social, que favorece um renascimento de cultos e rituais místicos esotéricos, 
a evolução da maçonaria, entre outros movimentos. 
Na terceira unidade falaremos a respeito da religiosidade brasileira, 
sua diversidade e mistura. Algo muito peculiar que não foi comum em outros 
países do período da colonização. Discutiremos o conceito de sincretismo 
religioso e a partir dele entendemos como a religiosidade brasileira é única 
no mundo. 
IV
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para 
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há 
novidades em nosso material.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é 
o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um 
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. 
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova 
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também 
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, 
apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade 
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. 
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para 
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto 
em questão. 
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas 
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa 
continuar seus estudos com um material de qualidade.
Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de 
Desempenho de Estudantes – ENADE. 
 
Bons estudos!
NOTA
Lembramos que cada tópico apresenta uma autoatividade para 
fixar seus conhecimentos e alguns textos de apoio para ilustrar os conceitos 
trabalhados durante a unidade. 
Sobre o professor, Eduardo Luiz de Medeiros, ele é Doutor em História 
pela UFPR, especialista em Teologia Bíblica, pela Mackenzie de São Paulo, 
Pastor da Igreja do Evangelho Quadrangular em Curitiba, esposo da Meiry e 
pai do Joshua.
Desejo a você excelentes estudos! Espero que possa filtrar as religiões 
diferentes da sua e respeitá-las, pois, a partir do conhecimento de cada 
uma delas será possível entender como as pessoas entendem e o que estão 
buscando. Desejo uma ótima jornada e que, após estas semanas, você amplie 
sua visão de mundo!
Prof. Eduardo Luiz de Medeiros
V
VI
VII
UNIDADE 1 – AS RELIGIÕES MONOTEÍSTAS .............................................................................. 1
TÓPICO 1 – INTRODUÇÃO TEÓRICA ............................................................................................. 3
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3
2 JUSTIFICATIVA DA ABORDAGEM TEÓRICA E LINHA DE PESQUISA ADOTADA ...... 6
3 TERRITORIALIDADE DO SAGRADO E ESPAÇOS DO PROFANO ...................................... 7
4 UMA DEFINIÇÃO DE CULTURA RELIGIOSA? .......................................................................... 8
4.1 CONCEITO DE CRENÇA .............................................................................................................. 10
4.2 CERIMÔNIA .................................................................................................................................... 10
4.3 ORGANIZAÇÃO ............................................................................................................................. 11
4.4 EXPERIÊNCIA ................................................................................................................................. 11
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 12
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 14
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 15
TÓPICO 2 – OS POVOS DO LIVRO: O JUDAÍSMO ...................................................................... 17
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 17
2 HISTÓRIA .............................................................................................................................................. 18
3 DOUTRINA ........................................................................................................................................... 21
4 RELAÇÕES ............................................................................................................................................. 30
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................33
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 34
TÓPICO 3 – OS POVOS DO LIVRO: CRISTIANISMO ................................................................. 35
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 35
2 HISTÓRIA .............................................................................................................................................. 35
3 DOUTRINA ........................................................................................................................................... 42
4 RELAÇÕES ............................................................................................................................................. 46
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 49
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 50
 
TÓPICO 4 – OS POVOS DO LIVRO: O ISLAMISMO .................................................................... 51
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 51
2 HISTÓRIA .............................................................................................................................................. 51
3 DOUTRINA ........................................................................................................................................... 53
4 RELAÇÕES ............................................................................................................................................. 61
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 63
RESUMO DO TÓPICO 4........................................................................................................................ 65
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 66
UNIDADE 2– RELIGIÕES DO EXTREMO ORIENTE .................................................................... 67
TÓPICO 1 – HINDUÍSMO .................................................................................................................... 69
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 69
sumário
VIII
2 HISTÓRIA .............................................................................................................................................. 70
3 DOUTRINA ........................................................................................................................................... 72
4 RELAÇÕES ............................................................................................................................................. 75
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 79
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 84
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 85
TÓPICO 2 – BUDISMO ......................................................................................................................... 87
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 87
2 HISTÓRIA .............................................................................................................................................. 88
3 DOUTRINA ........................................................................................................................................... 90
3.1 AS QUATRO NOBRES VERDADES SOBRE O SOFRIMENTO ............................................... 92
3.2 O CAMINHO DAS OITO VIAS ..................................................................................................... 92
3.3 OS CINCO MANDAMENTOS BUDISTAS.................................................................................. 93
4 RELAÇÕES ............................................................................................................................................. 94
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 99
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................101
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................102
TÓPICO 3 – AS RELIGIÕES DO EXTREMO ORIENTE ...............................................................103
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................103
2 CONFUCIONISMO ...........................................................................................................................104
3 TAOÍSMO ............................................................................................................................................106
4 XINTOÍSMO ........................................................................................................................................108
5 HARE KRISHNA ................................................................................................................................109
6 VARIAÇÕES DO BUDISMO TRADICIONAL ............................................................................109
6.1 BUDISMO TIBETANO ..................................................................................................................110
6.2 O ZEN-BUDISMO .........................................................................................................................111
7 SEICHO-NO-IE ...................................................................................................................................111
8 IGREJA MESSIÂNICA MUNDIAL – JOHREI .............................................................................113
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................115
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................116
UNIDADE 3 – RELIGIOSIDADE BRASILEIRA .............................................................................117
TÓPICO 1 – AS PRIMEIRAS RELIGIÕES DO BRASIL. OU SERIA PINDORAMA? ............119
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................119
2 OS CULTOS INDÍGENAS ................................................................................................................120
3 HISTÓRIA ............................................................................................................................................120
4 RELIGIOSIDADE INDÍGENA ........................................................................................................122
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................126
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................127AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................128
TÓPICO 2 – AS RELIGIÕES AFRO-BRASILEIRAS ......................................................................129
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................129
2 HISTÓRIA ............................................................................................................................................130
3 RELIGIÕES AFRICANAS NO BRASIL .........................................................................................131
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................138
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................140
IX
TÓPICO 3 – OUTROS MOVIMENTOS RELIGIOSOS ................................................................ 141
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 141
2 O ESPIRITISMO ................................................................................................................................ 142
3 ESOTERISMO .................................................................................................................................... 145
3.1 ASTROLOGIA ............................................................................................................................... 146
3.2 UFOLOGIA .................................................................................................................................... 147
3.3 NOVA ERA .................................................................................................................................... 148
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 150
RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 152
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 153
TÓPICO 4 – ECUMENISMO .............................................................................................................. 155
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 155
2 ORIGEM DO ECUMENISMO ........................................................................................................ 155
3 O ECUMENISMO CONTEMPORÂNEO ..................................................................................... 156
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 159
RESUMO DO TÓPICO 4..................................................................................................................... 161
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 162
REFERÊNCIAS ...................................................................................................................................... 163
X
1
UNIDADE 1
AS RELIGIÕES MONOTEÍSTAS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir desta unidade você será capaz de:
• oferecer um debate teórico a respeito de como os pesquisadores analisam 
as religiões;
• analisar aquilo que chamamos de “Os Povos do Livro”, ou seja, o judaís-
mo, o cristianismo e o islamismo;
• destacar os principais pontos relativos a cada uma destas doutrinas e os 
fatores que as diferenciam;
• estabelecer um diálogo entre cada uma delas, o que o capacita a entender 
o praticante de cada religião, o que pensa do mundo, da eternidade e de 
seu papel na sociedade.
Esta unidade está dividida em quatro tópicos e em cada um deles, você 
encontrará atividades que o auxiliarão a compreender os conteúdos 
apresentados.
TÓPICO 1 – INTRODUÇÃO TEÓRICA
TÓPICO 2 – OS POVOS DO LIVRO: O JUDAÍSMO
TÓPICO 3 – OS POVOS DO LIVRO: O CRISTIANISMO
TÓPICO 4 – OS POVOS DO LIVRO: O ISLAMISMO
2
3
TÓPICO 1
UNIDADE 1
INTRODUÇÃO TEÓRICA
1 INTRODUÇÃO
Ao iniciarmos o estudo das manifestações, a primeira ideia que precisa 
estar em nossas mentes é a de que não é possível entender o sagrado através da 
visão profana.
UNI
Não entendeu a frase acima? Não se preocupe, caro acadêmico, conversaremos 
com o professor para que ele explique o que é sagrado e o que é profano antes que ele 
continue.
Atendendo a pedidos, antes de continuarmos, gostaríamos de definir 
sagrado e profano dentro do contexto desta disciplina. 
Todos nós temos uma noção a respeito do sagrado. Quando falamos sobre 
o Brasil é ainda mais compreensível, pois aqui temos uma religiosidade peculiar, 
a qual estudaremos de maneira pormenorizada na Unidade 3 deste caderno de 
estudos. O ser humano traz um conceito de religiosidade intrínseco dentro de si. 
Uma tribo indígena em uma floresta tropical, cultuando os elementos da 
natureza, cristãos adorando a Deus em um templo, muçulmanos numa mesquita 
ou judeus em uma sinagoga. Todos eles têm uma perspectiva a respeito do 
sagrado e qual é a sua influência em sua vida cotidiana. 
Mas então, como podemos definir o sagrado? Essa não é uma tarefa 
simples, na medida em que o sagrado se encontra numa realidade “extraordinária”, 
distinta do cotidiano do homem. Nos grupos primitivos não havia distinção 
entre o sagrado e o profano, na medida em que todas as suas atividades do dia 
a dia, como a alimentação, o sexo e o trabalho, por exemplo, eram manifestações 
do sagrado para estes grupos. Através do estabelecimento de sociedades e das 
regras de convívio social que se estabelecem a partir do momento em que a união 
UNIDADE 1 | AS RELIGIÕES MONOTEÍSTAS
4
de vários grupos forma as primeiras aglomerações de grupos humanos, que 
poderíamos chamar também de cidades primitivas, o estabelecimento de ritos e 
regras sociais, que distanciam a experiência do sagrado da vida comum, forma 
esta separação entre o sagrado e profano. Em uma primeira análise, utilizando a 
definição de Rudolf Otto (1991), o sagrado é a oposição ao profano.
UNI
Caro acadêmico! É comum que nós associemos o conceito de profano a 
tudo aquilo que é contrário à nossa fé, aquilo que é pecaminoso, contrário aos dogmas das 
religiões. E é natural que seja assim, na medida em que o Dicionário Michaelis (ANO) define 
profano como:
adj (lat profanu) 1 Que não é sagrado ou devotado a fins 
sagrados. 2 Não consagrado. 3 Estranho à religião; que 
não trata de religião: História profana; literatura profana. 
4 Estranho ou contrário à religião cristã. 5 Contrário ao 
respeito devido à religião. 6 Que não pertence à classe 
eclesiástica; não monástico; secular. 7 Herético. 8 Não 
iniciado nos ritos ou mistérios religiosos. 9 Não iniciado 
em certas ideias ou conhecimentos; leigo. 10 Que não tem 
ilustração; vulgar. Antôn (acepções 1 a 5): sagrado. sm 1 
Oposto a coisas sagradas. 2 Indivíduo sem ordens sacras; 
leigo. 3 O que não faz parte de uma seita, associação, ou 
certa categoria de pessoas. 4 Indivíduo não iniciado em 
certos conhecimentos; leigo. Antôn: sagrado.
Porém, em nossa abordagem, o profano tem a denotação de natural, ou seja, tudo aquilo que 
não faz parte do sagrado, a vida cotidiana, o trabalho, as relações sociais etc. Não é um termo 
pejorativo, apenas utilizado para estabelecer os limites do sagrado em nossos dias.
O sagrado é o produto de uma experiência religiosa, ou, se utilizarmoso conceito do romeno Mircea Eliade (2001), uma hierofania, ou manifestação do 
sagrado. 
UNI
Hierofania é um conceito de Eliade. Segundo ele, significa algo de sagrado que 
nos é revelado.
TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO TEÓRICA
5
Através deste conceito de hierofania é possível entender o que se passa pela 
cabeça de um adorador celta que adora os elementos da natureza como pedras 
e rios, ou como a transposição da fé dos fiéis nas orações diante de imagens de 
esculturas, sejam elas santos ou deuses indianos. Neste sentido, a pedra, embora 
não deixe de ser uma pedra, já não é APENAS uma pedra, é algo mais que recebe, 
através de uma revelação, um novo significado associado à divindade.
UNI
Ficou claro o conceito de hierofania para você, meu amigo acadêmico? Caso 
você tenha dúvidas, acesse o site <http://alvanomutz.blogspot.com.br/2006/08/hierofania.
html>, onde existe um texto complementar extraído do livro Cultura religiosa, de Irineu 
Wilges, da Editora Vozes, para que você aprofunde seus conhecimentos neste importante e 
desconhecido conceito sobre a cultura religiosa.
É complicado para nós, ocidentais do século XXI, aceitarmos este conceito, 
pois não nos é familiar, na medida em que vivemos em uma sociedade cada vez mais 
dessacralizada, onde essas ideias de apropriação do sagrado já não são discutidas. O 
credo é praticado muitas vezes sem que se questione a origem desta fé. 
UNI
Não podemos aprofundar aqui a questão da dessacralização do pensamento 
ocidental, que aconteceu especialmente no século XIX, quando muitos teóricos chegaram a 
propor a morte de Deus! Se você ficou interessado, ou até incomodado com esta afirmação 
dos teóricos pós-modernos (e eu espero que fique mesmo!), saiba que no século seguinte, 
o XX, uma nova geração de teóricos voltou a anexar Deus e o sagrado na concepção da 
sociedade. Estes intelectuais da religião apontam que a separação de Deus da sociedade tem 
trazido resultados nefastos para nosso tempo. Para entender como este pensamento evoluiu 
no século XIX, acesse: <http://educaterra.terra.com.br/voltaire/artigos/nietzsche_deus.htm>. 
Nele você pode saber também quais são estes teóricos que retiraram Deus e a ideia da 
existência do sagrado de seus estudos.
UNIDADE 1 | AS RELIGIÕES MONOTEÍSTAS
6
2 JUSTIFICATIVA DA ABORDAGEM TEÓRICA E LINHA DE 
 PESQUISA ADOTADA
UNI
Você pode se perguntar: O autor deste caderno deve “pegar pesado” falando 
em tantas teorias? Mas não se preocupe, ele vai explicar agora o porquê de tantos nomes 
complicados!
Iniciamos este tópico analisando, de forma abreviada, conceitos 
importantes e recorrentes dentro do estudo das religiões, por exemplo, hierofania, 
dessacralização, sagrado e profano. Neste segundo ponto gostaríamos de explicar 
quais são as razões que nos levaram a enveredar por tal caminho.
Entender que todas as religiões, embora de maneira muito distinta, 
possuem uma raiz comum, no sentido de entenderem que o mundo funciona 
de acordo com a hierofania, ou seja, com a revelação de algo que transcende 
a realidade conhecida e entra no território do sagrado. Essa ideia nos ajuda a 
entender de maneira mais humana todos os credos e religiões, na medida em que, 
por mais diferente e discrepante possa parecer de início, todas elas têm uma raiz 
comum no desejo de explicar como o mundo ao nosso redor funciona.
Outra razão para justificarmos nossa estrutura teórica é explicar nossa 
visão de tolerância religiosa. Este conceito significa respeito pelas pessoas que 
possuem pontos de vista diferentes do nosso e é uma palavra-chave dentro do 
estudo das religiões. Ser tolerante não significa o desaparecimento das diferenças 
e das contradições, ou que não importa naquilo que se crê. Uma atitude tolerante 
pode perfeitamente coexistir com uma sólida fé e com a tentativa de converter 
os outros. A tolerância não limita o direito de fazer propaganda religiosa, mas 
exige que seja feita com respeito pela opinião dos outros. A intolerância é, 
normalmente, fruto da falta de conhecimento de determinado assunto. É bastante 
comum que filhos entrem em conflito de ideias com seus pais, e um ser intolerante 
com o outro devido à falta de compreensão mútua dos universos envolvidos. Da 
mesma forma a intolerância religiosa, que foi a maior causa de guerras e mortes 
na história da humanidade, é causada pela falta de conhecimento profundo das 
religiões divergentes.
O respeito pela vida religiosa dos outros, por suas opiniões e seus pontos 
de vista, é um pré-requisito para a coexistência humana. Isso não significa que 
devemos aceitar tudo como igualmente correto, mas que cada um tem o direito 
de ser respeitado em seus pontos de vista, desde que estes não violem os direitos 
humanos básicos.
TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO TEÓRICA
7
UNI
Através da mídia e da própria história ocidental, temos visto os povos 
muçulmanos como bárbaros, terroristas e intolerantes. Existem perseguições a cristãos, 
existem homens-bomba, porém não é a maioria do povo muçulmano o responsável por 
estes atos. É como se no Brasil disséssemos que todos os cariocas são bandidos e traficantes 
por causa das imagens que vemos na TV todos os dias. A seguir você vê uma imagem datada 
do século VIII, no período da ocupação muçulmana na Península Ibérica. Você pode ver na 
imagem um cristão e um muçulmano jogando tranquilamente uma partida de xadrez! Isso 
há 1200!
FIGURA 1 – CRISTÃO E MUÇULMANO JOGANDO XADREZ – FIGURA 
DO SÉCULO XIII
FONTE: Disponível em: <http://al-qasr-abu-danis.blogspot.
com/2008_0601_archive.html>. Acesso em: 9 set. 2009.
Ao término desta disciplina, esperamos que você tenha ainda mais 
convicção de sua fé, no caso de ser protestante como nós, porém que respeite as 
demais religiões e, além do respeito, que você possa entender como um fiel pensa, 
pois na medida em que alguém se converte para a sua religião, seja ela qual for, 
é preciso entender como estes neófitos pensam e qual é a visão de mundo deles, 
para que você possa ajudá-los em sua jornada em busca da verdade.
3 TERRITORIALIDADE DO SAGRADO E ESPAÇOS DO 
PROFANO
Para o homem religioso das sociedades tradicionais, o encontro com 
o sagrado o torna, de certa forma, participante deste mundo sacralizado. Isso 
acontece através de uma teofania.
UNIDADE 1 | AS RELIGIÕES MONOTEÍSTAS
8
UNI
Lá vem ele de novo! Deixe-nos ajudá-lo: Teofania é um conceito de cunho 
teológico que significa a manifestação de Deus em algum lugar, coisa ou pessoa. Tem sua 
etimologia enraizada na língua grega: “theopháneia” ou “theophanía”. É uma revelação ou 
manifestação sensível da glória de Deus ou de outra divindade, ou através de um anjo, ou 
através de fenômenos impressionantes da natureza. Para maiores informações sobre este 
conceito, acesse: <http://www.universidadedabiblia.com.br/o-que-e-teofania/>.
Esta teofania é uma revelação da divindade que indica, de alguma forma, 
qual espaço do mundo físico deve ser considerado como sagrado, e a partir disto 
este novo local passa a ser aquilo que Mircea Eliade chama de “Ponto Fixo”, ou 
seja, um ponto de ligação entre o Céu e a Terra ou as regiões inferiores. Neste 
espaço sagrado, o acesso acontece nos dois sentidos: a divindade pode acessar o 
fiel, assim como o fiel pode se comunicar com seu objeto de adoração. 
Assim podemos explicar a importância do templo religioso para qualquer 
fiel que procure nele respostas e experiências com a divindade. Para um cristão, 
este lugar é a igreja, para os judeus, a sinagoga, para o muçulmano, a mesquita, 
para os adeptos dos cultos de origem africana, são os terreiros. Independentemente 
do credo, todos têm em comum esta teofania quanto ao local sagrado. Entrar em 
uma igreja é, para o católico, passar do espaço profano para um novo espaço, 
onde ele pode encontrar Deus e relembrar os elementos que fortalecem sua fé 
através de ritos e o preparaassim para retornar ao espaço profano, onde sua vida 
cotidiana acontece, com uma força renovada. Esse relembrar remonta a outro 
importante elemento da teoria da religião: o tempo.
O tempo religioso é um tempo reversível, na medida em que é possível 
voltar ao passado. De que maneira isso se manifesta? Através dos ritos que são 
repetidos nas reuniões, o passado se torna presente mais uma vez, onde os atos 
fundadores da visão religiosa são relembrados, seja através das palavras do 
fundador da fé, lidas e explicadas pelo líder religioso, seja através de ritos cheios 
de significado onde o fiel se sente parte viva do início da fé que ele compartilha 
com outros de mesma visão que ele.
4 UMA DEFINIÇÃO DE CULTURA RELIGIOSA?
Dentro de tudo o que vimos até agora no campo da ciência da religião, 
seria possível definirmos religião? Pensando sobre a perspectiva proposta em 
nosso trabalho, vamos buscar uma definição que possa ser utilizada por todos 
os fenômenos religiosos que iremos estudar nas próximas unidades de nosso 
caderno de estudos.
TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO TEÓRICA
9
Algumas definições de religião propostas por teóricos que se debruçaram 
sobre esse intrigante e complexo assunto podem nos dar algumas pistas para 
uma solução:
De acordo com Friedrich Schleiermarcher (1768-1834) (apud GAARDNER, 
2000, p. 18), “A religião é um sentimento ou uma sensação de absoluta 
dependência”. 
“Religião significa a relação entre o homem e o poder sobre-humano no 
qual ele acredita ou do qual se sente dependente. Essa relação se expressa em 
emoções especiais (confiança, medo), conceitos (crença) e ações (culto e ética)” 
– C. P. Tiele (1830-1902). (TIELE apud GAARDER, 2000, p. 19).
“A religião é a convicção de que existem poderes transcendentes, 
pessoais ou impessoais, que atuam no mundo, e se expressa por insigth, pensamento, 
sentimento, intenção ou ação” – Helmuth von Glasenapp (1891-1963). (GLASENAPP 
apud GAARDER, 2000, p. 20).
As definições acima podem nos auxiliar a entender como é difícil ter 
uma definição universal de religião. Esta tarefa é complexa na medida em que, 
ao compararmos as religiões, podemos correr o risco de qualificá-las, deixando 
uma como a verdadeira, a partir da qual todas as demais são intituladas como 
secundárias ou primitivas. Para entendermos as religiões como expressões 
culturais de determinada sociedade, não podemos colocar parâmetros que as 
qualifiquem, mas sim conceitos, através dos quais podemos analisar cada uma 
delas, sem julgar a fé das pessoas como inferior ou superior à nossa.
UNI
Mais uma vez gostaria de lembrá-lo de que essa visão tolerante das demais 
religiões não faz com que você abra mão das verdades nas quais acredita, nem significa que 
você não deva chamar outros para participar da mesma fé que você. Apenas queremos que 
você possa retirar os pré-conceitos que porventura tenha contra alguma religião, em especial 
para que possa respeitar aqueles que professam algo com o que você discorde. O apóstolo 
Paulo diz que temos que oferecer a Deus um culto racional, ou seja, precisamos conhecer 
nossa fé e em que ela difere das demais crenças, para estabelecermos um diálogo.
Uma abordagem baseada em conceitos pode ser encontrada em outro 
livro de nossa bibliografia básica da disciplina: O livro das religiões, de Jostein 
Gaarder, Victor Hellern e Henry Notakerr, além do livro organizado por Burkhard 
Scherer, intitulado As grandes religiões, temas centrais comparados. Ambos serão 
amplamente utilizados em nossas análises. Os quatro conceitos fundamentais 
que serão analisados são os seguintes: conceito (crença), cerimônia, organização 
e experiência.
UNIDADE 1 | AS RELIGIÕES MONOTEÍSTAS
10
4.1 CONCEITO DE CRENÇA
Cada ser humano tem uma consciência de mundo que lhe atribui um 
sentido à sua vida. Estes conceitos estão ligados a uma cultura religiosa. Mesmo 
que o homem pratique nenhuma religião especificamente, a sociedade recebe 
influências de gerações passadas que montam todo o arcabouço teórico que dá 
um sentido de moral, de certo e errado, do que é lícito ou do que é proibido. Estes 
conceitos surgem através de escrituras sagradas, ritos, doutrinas ou mitos. 
No tocante à divindade, as religiões podem ser monoteístas, monolatristas, 
politeístas, panteístas ou animistas.
UNI
Caro acadêmico! Não se preocupe em entender estas denominações das 
religiões em relação à divindade neste momento. Quando estudarmos cada uma delas em 
separado, você as entenderá, com certeza!
No que concerne ao homem, todas as religiões buscam atribuir uma criação 
do mundo e do próprio homem, bem como dar uma resposta ao que acontece ao ser 
humano quando este morre.
4.2 CERIMÔNIA
Todas as religiões apresentam a cerimônia como um importante elemento 
constitutivo. Reuniões que se repetem periodicamente apresentam um fluxo de 
funcionamento distinto, através de uma série de ritos que formam um culto ou 
liturgia.
UNI
A palavra culto vem do latim “colere”, que significa cultivar. Normalmente 
é utilizada para indicar adoração à divindade, porém nas ciências da religião é um termo 
coletivo que designa todas as formas de rito religioso.
Podem ser considerados ritos: a oração, o sacrifício, a oferenda, sacrifícios 
de alimento, sacrifícios de expiação, ritos de passagem, nascimento e morte, ritos 
de puberdade (circuncisão).
TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO TEÓRICA
11
4.3 ORGANIZAÇÃO
Um aspecto importante em todas as religiões é a irmandade entre seus 
seguidores. Existe um vínculo que é gerado entre os fiéis que, muitas vezes, é 
o elo mais forte de uma nação inteira. Os judeus, por exemplo, passaram quase 
2000 anos espalhados pelo mundo após a conhecida diáspora dos judeus no ano 
70 d.C. Durante séculos, gerações nasceram e morreram em países estrangeiros 
em todos os cantos do mundo, porém eles continuavam a se considerar judeus, 
ou seja, o elo que manteve a nação unida mesmo em países com crenças diferentes 
da sua foi a religião.
 
Grande parte das religiões é organizada através de um corpo de 
funcionários próprio que desenvolve tarefas específicas relacionadas ao serviço 
do culto e o atendimento dos fiéis. Pastores, padres, curandeiros desenvolvem 
atividades bastantes distintas uns dos outros, porém todos eles desfrutam de 
um status superior mediante os fiéis, para os quais são líderes. Essa liderança é 
demonstrada através de aconselhamentos, explicação da maneira correta de viver, 
da ética peculiar de cada grupo. Algumas possuem uma hierarquia internacional, 
tendo um líder único para todo o mundo, como no caso do catolicismo; outras 
religiões apresentam uma independência nacional, como no caso da igreja da 
Noruega, e outras, ainda, possuem uma hierarquia em nível regional, sendo 
algumas denominações pentecostais, um bom exemplo deste tipo de organização.
4.4 EXPERIÊNCIA
O elemento intelectual da religião (crença) não pode ser o único vinculado 
à religião, pois ela envolve, com igual intensidade, as emoções do fiel. Emoções 
essas que são tão importantes quanto os pensamentos e a racionalidade do 
homem. A experiência com o sagrado se manifesta através da música, dança e 
em algumas religiões através de oferendas e utilização de elementos naturais 
alucinógenos que aproximam o fiel da divindade.
UNI
De maneira nenhuma a experiência relacionada às emoções do fiel deve ser 
considerada como algo inferior ou fraqueza mediante manipulação dos líderes religiosos. 
Todos nós ficamos alegres ou tristes, vivemos tempos de tranquilidade e épocas de desespero 
e angústia. Essas emoções não são sinais de fraqueza. A experiência religiosa traz estas 
emoções para o campo do sagrado com resultados muito satisfatórios no auxílio da melhora 
no emocional do fiel.
UNIDADE 1 | AS RELIGIÕES MONOTEÍSTAS
12
SAGRADO E PROFANO NA RELIGIÃO E NO CARNAVAL
Vanderlei Dorneles
Diasantes do carnaval (do ano 2000), as Arquidioceses de São Paulo e do 
Rio entraram com ação na justiça a fim de garantir uma estranha proibição: que 
imagens religiosas não fossem usadas nos carros alegóricos. Algumas escolas já 
tinham preparado imagens como a cruz, um painel com Nossa Senhora da Boa 
Esperança, e uma Virgem Maria.
Do outro lado, o padre Marcelo Rossi faz a sua Folia do Senhor, uma 
celebração religiosa em ritmo de carnaval. O destaque é o ritmo, o corpo e a dança. 
Marcelo e outros padres denominados pop conquistaram a simpatia popular 
especialmente por suas movimentadas missas, onde a dança ou a “aeróbica do 
Senhor” são pontos altos.
Nos últimos tempos, a religião saiu dos domínios da Igreja. Está na 
empresa, na escola, na rua, mas especialmente nas manifestações culturais. São 
centenas de músicas com letras religiosas. O mercado editorial está cheio de livros 
do gênero. A presença de religiosos na TV é coisa comum. Por fim, o carnaval 
também se tornou um espaço para a manifestação do espiritual.
Diante desse rompimento de fronteiras, a Igreja se vê obrigada a recorrer à 
lei para garantir a preservação de suas imagens. Na disputa judicial para garantir 
o monopólio do “sagrado”, cabe uma questão: por que os religiosos quiseram 
proibir os foliões de usar as imagens em meio à dança, se os próprios religiosos 
levaram primeiro a dança e o ritmo para dentro dos templos? Discórdia à parte, 
esses fatos mostram como as distinções entre o sagrado e o profano estão sendo 
pressionadas, nessa era de expansão religiosa e de explosão da cultura pop.
O dicionário define profano como algo “não pertencente à religião”, “não 
sagrado”, “secular”; enquanto que sagrado é algo “concernente às coisas divinas, 
à religião, aos ritos ou ao culto”, “inviolável” ou “santo”.
Entre os povos antigos, a vida religiosa não contemplava essa distinção. 
Sagrado e profano eram categorias inexistentes. A religião era o centro da vida 
e todas as demais coisas eram naturalmente relacionadas a ela. O plantio da 
terra, a procriação e a diversão eram expressões religiosas, na medida em que 
se tornavam oferendas aos deuses. Os rituais misturavam atos sexuais, orgia e 
danças, como no festival de Dionísio, divindade greco-romana. A dança sempre 
foi um acessório cultual, entre os índios, nas religiões afro, no antigo Egito e em 
inúmeros cultos antigos. Mircea Eliade, historiador das religiões, afirma que a 
dança e a música de tambores eram parte indispensável dos cultos antigos.
LEITURA COMPLEMENTAR
TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO TEÓRICA
13
A presença de sexo, dança e bebida nos cultos pagãos se deve ao fato 
de que a diversão era uma forma adequada de cultuar, segundo os padrões 
daquela religião. A união entre sagrado e profano era natural num mundo em 
que os deuses eram espíritos evoluídos ou espíritos de guerreiros humanos, que, 
portanto, apreciavam as coisas próprias do homem.
As religiões que seguem a revelação bíblica – judaísmo e cristianismo – 
criaram a distinção entre sagrado e profano, ao introduzir a ideia do pecado e o 
conceito da santidade de Deus. O profano e o sagrado não têm espaço na religião 
destituída da ideia do pecado. As religiões antigas e as espiritualistas de hoje não 
têm para essas categorias um conceito claro, exatamente porque não estabelecem 
a realidade do pecado e da redenção.
O que está acontecendo, com a acomodação das igrejas cristãs à cultura 
secular, é uma perda gradativa dessas categorias. Com isso, as expressões 
culturais vão sendo aceitas pelos religiosos como ingredientes próprios para o 
culto. E no mundo secular as imagens religiosas vão conquistando espaço nas 
diversas expressões de arte, inclusive no carnaval.
A mistura de sagrado e profano, no cristianismo, reduz a religião a uma 
mera manifestação cultural e simplifica Deus a um personagem do imaginário 
popular. No século XVIII, o filósofo Edmund Burke, em seu livro Uma investigação 
filosófica sobre a origem de nossas ideias do sublime e do belo, chamava a atenção 
para a perda da noção da sublimidade de Deus, na medida em que Deus era visto 
como uma ideia a ser apreendida. O mesmo ocorre quando a religião é reduzida 
a uma simples manifestação cultural.
Para Burke, a sublimidade divina repousa no pensamento de que Deus 
é um Ser majestoso separado do mundo e impossível de se igualar ao mundo, 
mesmo tendo Se feito carne.
A ideia de um Deus igual ao homem, tolerante e bom camarada, própria 
do tempo atual, favorece o amor a Deus, mas enfraquece o temor. O amor se 
fortalece com a encarnação, a acessibilidade, a graça. O temor é o resultado da 
santidade, da grandeza, da ira, da sublimidade. O temor é tão indispensável que 
a Bíblia o chama de “o princípio da sabedoria”.
Na relação com Deus, amor e temor precisam estar juntos. Mas isso só é 
possível quando sagrado e profano permanecem separados.
FONTE: Disponível em: <http://www.musicaeadoracao.com.br/artigos/meio/sagrado_profano.
htm>. Acesso em: 12 set. 2009.
14
Neste tópico, você aprendeu que:
 Antes de estudar as religiões é necessário pensar qual será a abordagem teórica 
a ser adotada pelo pesquisador das religiões.
	Tolerância religiosa não é sinônimo de abrir mão de conceitos próprios e 
nem de concordar com tudo que os outros concordam. A tolerância apenas 
pressupõe o respeito à opinião daqueles que não partilham da mesma fé.
 Hierofania é a manifestação do sagrado no mundo profano, ou seja, uma 
árvore sagrada já não é apenas uma árvore, porém é uma árvore revestida de 
um poder divino que a transforma em sagrada.
 Para que o homem religioso possa ter acesso ao objeto de seu culto, é preciso 
que existam espaços sagrados, que são diferentes de quaisquer dos demais 
espaços onde o homem vive. Pode ser uma igreja, uma mesquita, um terreiro 
ou uma sinagoga.
 Uma definição de religião única é bastante complexa, na medida em que 
colocaria uma religião como a principal ou a verdadeira enquanto todas as 
demais seriam falsas ou inferiores. Uma definição que seja baseada em conceitos 
ao invés de parâmetros é mais adequada para a abordagem proposta.
	Os quatro conceitos-chave que podem ser identificados em todas as religiões 
são conceito, cerimônia, organização e experiência.
RESUMO DO TÓPICO 1
15
Como esta unidade foi muito densa, ou seja, com muitos conceitos nem sempre 
muito fáceis de serem assimilados, revise o tópico e responda às seguintes 
questões:
1 Defina, com suas palavras, o conceito de hierofania. 
2 Após o estudo do tópico, como você encara a questão da tolerância religiosa?
3 Defina espaço sagrado e espaço profano, de acordo com a abordagem de 
Mircea Eliade.
4 Conceito de teofania.
5 É possível definir religião? Explique.
6 Qual é o parâmetro segundo o qual estudaremos as religiões?
AUTOATIVIDADE
16
17
TÓPICO 2
OS POVOS DO LIVRO: O JUDAÍSMO
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
Após a abordagem teórica do tópico anterior, passaremos a analisar 
juntos os chamados Povos do Livro, ou seja, as três grandes religiões monoteístas 
da humanidade: o Judaísmo, o Cristianismo e o Islamismo. Embora o diálogo 
entre elas não seja uma tarefa muito fácil, é importante destacarmos que existem 
semelhanças entre elas, embora as fronteiras entre o que é tolerável, em termos 
teológicos, estejam bastante claras para cada uma delas.
As três religiões têm origem no Oriente Médio, são monoteístas, como já 
dissemos e, portanto, chamadas de “abraâmicas”, devido ao homem chamado 
Abraão ser o primeiro patriarca a realizar um pacto com o Único Deus. A região 
de influência destas religiões foi em primeiro lugar o Mediterrâneo Oriental, 
cristianismo e islamismo tiveram um crescimento muito mais expressivo que o 
judaísmo. Podemos dizer que o cristianismo é a religião do Ocidente e o islamismo 
se tornou uma força praticamente irresistívelno Oriente Médio, enraizado na 
cultura árabe, enquanto o judaísmo continuou praticamente estagnado no tocante 
ao crescimento.
Na ordem cronológica, do antigo para o mais recente, faremos uma 
abordagem individual de cada uma delas, iniciando pelo judaísmo, passando 
pelo cristianismo e concluindo com o islamismo.
UNI
O termo “Povos do Livro” faz referência à utilização de livros considerados 
sagrados por cada uma delas: A Torá para os judeus, a Bíblia para os cristãos e o Corão para 
os muçulmanos.
UNIDADE 1 | AS RELIGIÕES MONOTEÍSTAS
18
2 HISTÓRIA
Uma das principais características do povo judeu é sua íntima ligação com 
a História. Toda a fé judaica está enraizada na crença de um pacto, ou melhor, uma 
aliança especial feita por Deus com um homem chamado Abraão. A descendência 
de Abraão deu origem ao povo judeu. Embora o relato do Antigo Testamento 
inicie sua narrativa com a história de Adão e Eva e a origem da raça humana por 
meio da criação divina, é com Abraão que a ideia de um povo especial, separado 
por Deus como Seu, aparece pela primeira vez.
A trajetória do povo judeu tem sua origem por volta de 3.800 anos atrás, 
através da figura de Abraão, que parte da terra de Ur, na Caldeia, obedecendo a 
uma orientação divina de que deveria sair de sua terra e migrar para a terra de 
Canaã. As ruínas de Ur encontram-se hoje no sul do Iraque e Abraão rumou para 
próximo das margens orientais do Mediterrâneo. O povo ganhou um nome através 
do neto de Abraão, Jacó, que após uma dramática luta com um anjo de Deus, tem 
seu nome mudado para Israel. São os 12 filhos de Israel que dão origem às 12 tribos.
FIGURA 2 – PINTURA DE REMBRANDT RETRATANDO O 
SACRIFÍCIO DE ISAAC
FONTE: Disponível em: <www.bbc.co.uk/.../167_rembrandt/
page5.shtml>. Acesso em: 20 set. 2009.
Após um período extremo de fome em Canaã, o povo migra rumo ao 
Egito, onde desfruta das bênçãos em virtude de José, um dos filhos de Jacó, ser o 
vice-rei do Egito. Após muito tempo, os egípcios escravizam os israelitas por 400 
anos, quando surge a figura de Moisés como um libertador instituído por Deus 
para esta função. Com o chamado Êxodo, os israelitas saem do Egito e passam 
a viver errantes pelo deserto por volta de 40 anos, sob a liderança de Moisés. 
TÓPICO 2 | OS POVOS DO LIVRO: O JUDAÍSMO
19
É neste momento que o povo recebe a chamada Lei do Senhor, ou as Tábuas 
da Lei, mandamentos de conduta moral e espiritual dadas por Deus para Seu 
povo. Sempre que obedecessem a essas leis, receberiam o apoio e o favor divino, e 
quando rejeitassem a Lei seriam repreendidos para que voltassem seus caminhos 
para Deus.
UNI
Caro acadêmico, você já deve ter percebido que o autor está correndo com 
esta história, apontando apenas os fatos que são fundamentais para entender a trajetória do 
povo judeu. Se você quiser aprofundar esta história, leia o Antigo Testamento de sua Bíblia ou 
procure nas referências bibliográficas no livro de História de Israel.
O povo entra na chamada Terra Prometida por volta de 1200 a.C. 
Sob a liderança do sucessor de Moisés, Josué e após ele sob a liderança dos 
chamados Juízes, através de um governo teocrático, onde era o próprio Deus 
quem os governava através dos líderes instituídos divinamente. Após este 
período, os israelitas entram no período monárquico, onde, à semelhança aos 
povos circunvizinhos, um rei deveria governar o povo. O reino unido durou 
aproximadamente 120 anos sob os governos de Saul, Davi e Salomão, sendo este 
último o responsável pela construção do famoso Templo de Jerusalém, símbolo 
máximo do judaísmo até os dias de hoje, embora só tenha restado uma das 
paredes do antigo templo, conhecido hoje como o Muro das Lamentações.
FIGURA 3 – MAQUETE POSSÍVEL DO PRIMEIRO TEMPLO DE JERUSALÉM, 
CONSTRUÍDO POR SALOMÃO 
FONTE: Disponível em: <revisando.wordpress.com/.../>. Acesso em: 20 set. 
2009.
UNIDADE 1 | AS RELIGIÕES MONOTEÍSTAS
20
Após a morte de Salomão, o reino se divide em dois: o Reino de Israel 
e o Reino de Judá, com dinastias distintas. É neste período que surgem os 
chamados profetas, homens que recebiam a missão de transmitir a Palavra de 
Deus, advertindo o povo de que o Juízo divino viria sobre todo o povo caso 
continuassem a seguir o mesmo caminho dos povos ao seu entorno.
UNI
Quais eram estas práticas abomináveis pelo Deus de Israel? A principal delas 
era a prática pagã da idolatria. Ela tem origem nas palavras gregas Eidolon (imagem) + latreia 
(culto). Esta era uma prática muito comum no mundo antigo e consistia na fabricação 
de ídolos ou imagens dos deuses para que fosse prestado culto à divindade através desta 
imagem. No caso específico de Israel, o povo cananeu adorava de maneira especial a quatro 
deuses: Baal, Moloque, Astarote e Mamom. Os rituais a estes deuses englobavam sacrifícios 
de crianças, orgias rituais com sacerdotisas que se prostituíam nos templos.
Você consegue entender agora porque tantas restrições e proibições para o povo de Israel 
não seguir os deuses dos cananeus? 
Você consegue mais informações a respeito de escavações arqueológicas nas ruínas das 
cidades cananeias que explicam cada vez mais como funcionavam os cultos destes povos, 
no link: <http://www.cafetorah.com/Destruicao-dos-Cananeus>.
 O Reino do Norte (Israel) é devastado pelo povo assírio por volta de 722 
a.C. A partir desta data, este reino deixa de ter importância política e religiosa 
para o contexto geral de Israel. Isso se deu principalmente pela maneira como 
os assírios atacavam as cidades e exilavam os povos. Uma parte da população 
conquistada era levada cativa até a Assíria, em especial os soldados, a nobreza 
e os intelectuais. Ao mesmo tempo, assírios eram mandados até as cidades para 
implantar a cultura assíria nos reinos conquistados. O Reino do Norte sofreu o 
processo ao qual chamamos de aculturação, formando depois o povo conhecido 
como os samaritanos.
UNI
Aculturação é o processo segundo o qual existe a troca de experiências culturais 
entre dois ou mais povos. Este conceito, até pouco tempo atrás, era utilizado para explicar 
como culturas inteiras desapareciam após o contato com outra dita “superior”. Isso, porém 
tem sido revisto por antropólogos e sociólogos, na medida em que a troca de cultura é 
recíproca. A resultante deste contato é uma terceira cultura que une elementos de cada um 
dos povos originais. No caso do Reino do Norte, Israel + Assíria = Samaria.
TÓPICO 2 | OS POVOS DO LIVRO: O JUDAÍSMO
21
O Reino do Sul foi conquistado pela Babilônia por volta de 587 a.C., porém 
em 539 a.C. foi permitido que os que assim desejassem retornassem a Judá. Este 
foi um período muito importante para o povo de Israel, por diversas razões. Foi 
a partir do retorno da Babilônia que o termo judeu passou a ser utilizado para 
designar os remanescentes do exílio. Foi durante o exílio na Babilônia que surgiu 
uma grande preocupação em registrar os acontecimentos e fabricar cópias dos 
livros da Torá ou Pentateuco, bem como os livros das crônicas dos reis de Israel e 
Judá. Cópias destes livros foram feitas e guardadas tendo como objetivo principal 
preservar a tradição de Israel para as gerações futuras.
3 DOUTRINA
A vida na Babilônia trouxe a figura da sinagoga para o contexto do culto 
religioso dos judeus. Já que estavam em uma terra estranha sob forte influência 
do sistema politeísta babilônio, os líderes começaram a reunir o povo para ensinar 
e ler os escritos sagrados. A partir de então, o Templo não era mais indispensável 
para a realização das reuniões, mesmo mantendo uma importância considerável 
no tocante à identidade judaica. Após o retorno dos remanescentes a Judá, os 
judeus foram repetidamente perseguidos e dominados por povos estrangeiros, 
culminando com a ocupação romana que sufocou em definitivo as tentativas dos 
revoltosos judeus em recuperar o controlee domínio sobre a Palestina. O ponto 
alto desta derrota final dos judeus frente aos romanos foi a destruição do Segundo 
Templo de Jerusalém no ano 70 d.C. pelo general romano Tito. 
Com esta derrota, os judeus foram espalhados por todo o mundo no 
movimento conhecido como “diáspora judaica”. Em todos os países por onde 
estiveram desde então, os judeus se reúnem em sinagogas para orar, ler e aprender 
a Torá e a respeitar as festas e preceitos éticos ensinados na Lei e no Talmud.
UNI
Diáspora deriva do hebraico tefutzah, “dispersado”, ou גלות galut “exílio” e faz 
referência à dispersão dos judeus após a destruição do templo e o massacre de cerca de um 
milhão de judeus na batalha de resistência contra os romanos. A tradição atribui a destruição 
do templo pelos babilônios à idolatria do povo. A segunda destruição do templo, segundo 
a tradição, é atribuída à falta de caridade e respeito vazio pelas leis sem a contrapartida do 
respeito e auxílio ao próximo. Os judeus acreditam que o terceiro templo será reconstruído 
pelo Messias numa época quando todos os judeus voltarão a se importar uns com os outros 
através do amor incondicional. Para maiores informações, acesse <http://www.morasha.com.
br/conteudo/artigos/artigos_view.asp?a=274&p=2>. Esta é a página de uma revista judaica 
que fala sobre as lições que a destruição do templo deve trazer para os judeus de todo o 
mundo.
UNIDADE 1 | AS RELIGIÕES MONOTEÍSTAS
22
Numa sinagoga não existem imagens nem objetos no altar, pois são 
estritamente proibidas pela Lei de Moisés. O ponto central de uma sinagoga é a 
chamada Arca, um armário que fica na parede oriental, na direção de Jerusalém, 
onde são guardados os rolos da Torá, todos escritos em formato de pergaminhos. 
A principal reunião judaica acontece no sábado, com uma grande cerimônia 
repleta de significados em torno da leitura do Livro Sagrado. Acontecem reuniões 
também às segundas e quintas-feiras com o objetivo de, ao término do ano, todo 
o cânone seja lido em público. 
Além da Torá, são lidos salmos, orações e bênçãos, contidos num livro 
especial chamado Sidur. Os cânticos podem ser efetuados por um membro do 
sexo masculino adulto leigo, porém o sermão e o ensino da Lei devem ser feitos 
por um rabino. Todo o serviço na sinagoga é desempenhado por homens adultos, 
enquanto as mulheres desempenham um papel fundamental no culto familiar, 
que é tão importante quanto a reunião pública, em especial o chamado Shabat.
FIGURA 4 – ENTRADA DA SINAGOGA DE CURITIBA-PARANÁ
FONTE: Disponível em: <http://www.curitiba-parana.net/religiao.htm>. 
Acesso em: 20 set. 2009.
UNI
O shabbat se inicia com o pôr do sol de sexta-feira e dura até o pôr do sol de 
sábado. 
Todas as refeições deste dia possuem profundos significados religiosos e são responsáveis 
pela manutenção dos costumes religiosos e da transmissão destes costumes de geração em 
geração.
TÓPICO 2 | OS POVOS DO LIVRO: O JUDAÍSMO
23
Os judeus aguardam a vinda de um Messias que restaurará o trono de 
Davi e devolverá a glória ao povo de Israel. Este Messias deve reconstruir o 
grande Templo de Jerusalém. Este será um tempo de grande alegria e paz na 
Terra para os judeus.
O judaísmo apresenta basicamente três linhas ou correntes doutrinárias, 
todas elas fundamentadas na interpretação dos livros e ritos considerados 
sagrados por eles. Esta divisão didática é a seguinte: judaísmo ortodoxo, 
reformista e conservador. Outras subdivisões existem, mas não são aceitas pela 
comunidade judaica e serão citadas a título de conhecimento.
Estas correntes têm sua origem na tentativa de adaptar o discurso religioso 
e teológico da tradição judaica para o contexto das sociedades modernas. Os 
ortodoxos são os mais rígidos com o cumprimento das leis e preceitos propostos, 
os reformistas um grupo com tendência mais liberal e os conservadores buscam 
um meio-termo e um tom conciliador entre os dois primeiros grupos.
DICAS
Não se preocupe, caro acadêmico, o professor vai explicar cada uma destas 
linhas do judaísmo contemporâneo a partir de agora!
Os judeus ortodoxos são aqueles que buscam cumprir de maneira cabal 
todos os preceitos da Lei Judaica, conhecida como Halachá.
IMPORTANT
E
A Halachá é composta por 613 preceitos estipulados pela Lei Judaica. E o que 
seriam estes “preceitos”? Eles têm relação com a vida cotidiana do fiel sobre seus hábitos, por 
exemplo, a dieta Kosher. Esta dieta determina alguns alimentos que não podem fazer parte 
da alimentação dos judeus ortodoxos. Outros hábitos presentes na Halachá são o descanso 
sabático e as leis de pureza familiar, entre outras.
Os judeus ortodoxos possuem algumas peculiaridades em seu cotidiano, 
por exemplo, a adoção de roupas simples, separação entre as atividades de 
homens e mulheres dentro do contexto das práticas públicas da religiosidade 
judaica. 
UNIDADE 1 | AS RELIGIÕES MONOTEÍSTAS
24
FIGURA 5 – GRUPO DE JUDEUS ORTODOXOS
FONTE: Disponível me: <http://latitude.blogs.nytimes.com/2012/07/04/
imposing-the-draft-on-ultra-orthodox-jews/?_r=0>. Acesso em: 25 jun. 2016.
Além do terno característico, existem roupas ritualísticas bastante 
interessantes, se analisarmos seu significado para os fiéis. O quipá, o peiot, o 
tsitsit, o tefilin e o talit.
O quipá representa a superioridade de Deus sobre a Sua Criação e que Ele 
sempre nos observa. Por esta razão, acompanha o judeu em todos os lugares. É 
importante salientar que o uso destes elementos é meramente ritual em respeito à 
tradição, não servindo como uma espécie de amuleto ou algo do gênero.
FIGURA 6 – QUIPÁ
FONTE: Disponível em: <http://www.ehow.com.br/judeus-usam-
quipa-fatos_80900/>. Acesso em: 25 jun. 2016.
TÓPICO 2 | OS POVOS DO LIVRO: O JUDAÍSMO
25
DICAS
Sugiro que você se aprofunde um pouco mais na ritualística judaica e em como 
os judeus tratam a questão das vestimentas. O link <http://www.ehow.com.br/judeus-usam-
quipa-fatos_80900/> explica quais são as razões para que os judeus usem o quipá. Ah, sim, 
claro! O professor Eduardo acaba de me pedir para lembrar você de fazer a leitura com um 
olhar de pesquisador, buscando se colocar na posição de um judeu ortodoxo que vive em 
uma realidade que tentamos explicar até este momento.
Peiot significa costeleta no hebraico. O termo consta no livro de Levítico 
capítulo 19:17, que diz: "Não cortem o cabelo dos lados da cabeça, nem aparem 
as pontas da barba”.
O corte desta parte do cabelo é considerado por alguns como uma prática 
pagã, pertencente aos de fora da comunidade judaica. Alguns religiosos deixam 
esta parte do cabelo crescer de maneira permanente para mostrar sua devoção 
aos preceitos do Pentateuco.
FIGURA 7 – JUDEU ORTODOXO COM O PEIOT NA LATERAL DO 
CABELO
FONTE: Disponível em: <http://www.es.chabad.org/library/
article_cdo/aid/3003569/jewish/Por-qu-algunos-judos-jasdicos-
usan-las-peot-largas-tirabuzones.htm Acesso em 26/06/2016>. 
Acesso em: 30 ago. 2016.
Tsitsit são as franjas do Talit. Traduzindo para o bom português, são 
quatro cordões que são fixados nas quatro pontas do Talit, que é quadrado. O 
texto base para seu uso é Números 15:38, que diz: "Diga o seguinte aos israelitas: 
Façam borlas nas extremidades das suas roupas e ponham um cordão azul em 
cada uma delas; façam isso por todas as suas gerações”.
UNIDADE 1 | AS RELIGIÕES MONOTEÍSTAS
26
FIGURA 8 – TSITSIT
FONTE: Disponível em: <http://www.ioffer.com/i/100-cotton-jewish-tzitzit-1-set-of-
4-tsitsit-chassidic-170168339>. Acesso em: 26 jun. 2016.
Talit é o manto utilizado nas orações matinais na sinagoga. Tem a função 
de gerar isonomia entre os participantes do culto.UNI Conversando: Isono... o 
que? Por favor, professor, nos ajude explicando melhor... Não sabemos qual é 
o horário em que nosso caríssimo ou caríssima aluna estão estudando. Então é 
melhor você dizer o que este termoque você usou significa...
 Isonomia quer dizer igualdade de direitos e deveres de diferentes 
elementos desta sociedade. A questão da vestimenta implícita no Talit demonstra 
um desejo de colocar todos os praticantes em um mesmo patamar. Durante as 
práticas religiosas, todos seriam iguais.
FIGURA 9 - TALIT
FONTE: Disponível em: <http://asvespertinas.blogspot.com.
br/2012_04_01_archive.html>. Acesso em: 26 jun. 2016.
TÓPICO 2 | OS POVOS DO LIVRO: O JUDAÍSMO
27
Por fim, o Tefilin são duas pequenas caixas em couro que contêm trechos 
da Torá. São amarradas uma ao braço e outra na testa de todos os homens 
maiores de 13 anos todos os dias, exceto sábados. Indica a adesão do indivíduo 
aos valores judaicos. Seu uso está descrito em Deuteronômio 6:6-8, que diz: “E 
estas palavras, que hoje te ordeno, estarão no teu coração; E as ensinarás a teus 
filhos e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e deitando-
te e levantando-te. Também as atarás por sinal na tua mão, e te serão por frontais 
entre os teus olhos”.
FIGURA 10 – TEFILIN
FONTE: Disponível em: <http://tefilinparatodos.blogspot.
com.br/2009/01/tefilin-la-importancia-de-colocar.html>.Acesso 
em: 25 jun. 2016.
IMPORTANT
E
Achamos interessante trazer para você uma descrição dos paramentos judaicos 
ortodoxos, bem como sua origem na Torá, para que você possa ver como eles efetuaram 
uma interpretação literal da mensagem bíblica em todos os aspectos, compondo uma linha 
bastante rígida na teologia.
Para os ortodoxos, a Torá é um texto revelado por Deus e por esta razão 
não pode ser alterada em nenhum ponto, devendo permanecer intacta através de 
uma manutenção bastante rígida das tradições. 
UNIDADE 1 | AS RELIGIÕES MONOTEÍSTAS
28
Este grupo procura manter sua unidade interna, alheia ao seu entorno. 
Formam comunidades em locais específicos, suas crianças recebem uma educação 
distinta daquela que o sistema educacional apresenta, para que elas aprendam 
desde cedo sobre sua ortodoxia religiosa. E, por fim, não querem que os princípios 
que eles seguem sejam alterados ou modificados, para serem melhor aceitos pela 
comunidade não ortodoxa.
DICAS
Estava aqui pensando agora sobre este último parágrafo que o professor nos 
trouxe e percebo que não é uma prioridade o recebimento de novos membros nestas 
comunidades. Pois se o discurso é tão rígido e não existe o desejo de integrar-se à sociedade, 
então não existe um forte trabalho de trazer outras pessoas para esta religião. Confere, 
professor? Isto faz algum sentido ou eu estou viajando na reflexão?
Como o Brasil possui uma tradição religiosa cristã, nos é comum a ideia de 
Evangelismo onde se procura trazer pessoas para sua fé e o processo de conversão 
é bastante simples, não demandando muito esforço por parte do que ingressa 
na religião, iniciando então um processo de conhecimento e amadurecimento da 
fé que ele acabou de abraçar. No judaísmo este processo é mais complicado e 
demorado, pois o candidato ou candidata a se tornar um judeu precisa passar um 
ano ou mais estudando os fundamentos do judaísmo, além de escolher qual das 
três linhas ele vai participar. Caso procure a linha ortodoxa, por exemplo, precisa 
passar por um teste e ser circuncidado.
DICAS
Será que o senhor poderia explicar, para nosso aluno que não está acostumado 
com o termo, o que significa circuncisão?
Claro que posso! Circuncisão é a retirada cirúrgica do prepúcio, pele que 
recobre o pênis, para fins higiênicos ou religiosos, o que é o nosso caso em nossa 
conversa com vocês sobre o judaísmo.
A ruptura no judaísmo ortodoxo moderno ocorreu em grande medida 
por causa da rigidez das práticas e de seu afastamento do mundo moderno. 
Ela iniciou no século XIX na Alemanha, através de críticas de reformistas que 
criticaram a Torá e de maneira especial sua interpretação, que poderia mudar de 
TÓPICO 2 | OS POVOS DO LIVRO: O JUDAÍSMO
29
acordo com as mudanças na sociedade. Estes reformistas propõem uma adaptação 
do judaísmo às novas realidades sociais. Propõem abrir mão da rigidez na dieta 
alimentar, o descanso sabático e outros itens das práticas rituais. 
IMPORTANT
E
É fundamental entender que estas mudanças no discurso judaico têm o objetivo 
de manter a relevância da religião na sociedade contemporânea. A interpretação literal é 
considerada em conjunto com uma explicação metafísica e atemporal. Por exemplo, o tefilin, 
ao invés de ser entendido literalmente como uma ordenança divina para manter o texto nas 
caixas de couro na testa e no braço, poderia ser entendido como mantê-la guardada na 
mente e nas atitudes. Para os reformistas, portanto, não existem problemas com a obediência 
à Torá, apenas uma nova interpretação de seu conteúdo.
Entre estas mudanças ritualísticas está a adoção de línguas vernáculas 
dos países onde os grupos de judeus estão inseridos, além da equiparação de 
atributos religiosos entre homens e mulheres. Teologicamente, a peregrinação à 
Terra Santa e a criação de um Estado judeu deixam de ser uma prioridade para os 
judeus desta linha reformista. 
Este ponto é fundamental para diferirmos as duas correntes de 
pensamento. O judaísmo, por definição, é uma religião de certa forma política, ou 
seja, é a trajetória de um povo na história conectado através da religião. Por esta 
razão, a manutenção de um Estado judeu para os ortodoxos é o cumprimento de 
uma ordenança e promessas divinas para o Seu povo, adicionando o território 
físico à religião. O conceito de sionismo é proveniente desta teoria e razão de 
discussão com os judeus reformistas que não aceitam a ligação política com a 
questão do Estado de Israel. Para eles o judaísmo deve permanecer restrito ao 
campo religioso, não político.
IMPORTANT
E
É importante que você não confunda sionismo com antissemitismo!
Sionismo é o movimento político que buscou fortalecer a ideia de que Israel precisava de um 
Estado soberano, como maneira de reparar os danos causados por séculos de perseguição 
aos judeus. Este movimento teve início no século XIX e culminou com a criação do Estado 
de Israel em 1948, após a Segunda Guerra Mundial.
Antissemitismo é o movimento que incita o ódio aos judeus. Foi bastante forte na Alemanha, 
onde se pregou, por muito tempo, que eles eram os responsáveis pelos males econômicos e 
políticos pelos quais o país passou no final do século XIX, até a materialização do Holocausto 
nazista.
UNIDADE 1 | AS RELIGIÕES MONOTEÍSTAS
30
Existe ainda uma terceira via para o judaísmo contemporâneo, chamado 
de conservador, que está entre as duas correntes anteriores. Esta vertente surgiu 
nos Estados Unidos com um grupo de rabinos que não aceitaram as práticas 
alimentares consideradas liberais por demais. A partir desta discordância 
teológica e doutrinária, fundou-se o Seminário Teológico Judeu, em Nova York, 
um centro para a formação deste novo grupo de líderes chamados conservadores.
Baseiam sua teologia em três pontos principais, os quais chamam de pilares: 
a Lei Judaica, a libertação nacional e o uso do hebraico como língua litúrgica. 
Entre as diferenças com a linha ortodoxa podemos citar a saída dos guetos para 
fazer parte da sociedade na qual os grupos estão inseridos. As mulheres foram 
igualadas aos homens na corrente conservadora, porém mantêm a peregrinação 
à Terra Santa que eles consideram um preceito divino.
Outras linhas teológicas relacionadas com o judaísmo, mas que não 
são aceitas por nenhuma das correntes apresentadas até aqui e gostaríamos de 
rapidamente citá-las para o seu conhecimento:
• Judaísmo Messiânico: interage com o cristianismo por aceitar que Jesus Cristo é 
o Messias esperado pelos judeus.
• Judaísmo Caraíta: Desconsidera os textos orais utilizados para compor o corpo 
doutrinal judaico, aceitando apenas os textos escritos da Torá. 
• Judaísmo Samaritano: Divisãooriunda dos habitantes da Samaria, antigo Reino 
do Norte de Israel que adotam sua versão da Torá e consideram o monte 
Gerizim como lugar sagrado.
• Judaísmo Ateístico: Não acreditam em Deus, mas consideram-se judeus, pois 
apresentam simpatia não com a teologia, mas com os costumes e a ética judaica.
4 RELAÇÕES
Para os judeus não existe diferença entre ética e religião. A ética é, 
portanto, uma extensão da sua doutrina. Na lei judaica existem 248 afirmações 
e 346 restrições ou proibições, totalizando 613 mandamentos. A tradição diz que 
um costume tem o mesmo peso de uma lei. Esta lei dá muita ênfase às seguintes 
qualidades eticamente aprovadas pela sociedade: generosidade, hospitalidade, 
boa vontade, honestidade e respeito pelos pais.
Segundo este conjunto de regras, a ajuda aos necessitados não deve ser 
encarada como caridade, mas na justiça, pois é uma determinação divina que 
não existam pobres sobre a Terra. (Ver Levítico 19:34). Verificamos no código das 
leis judaicas que o exemplo do descanso sabático faz referência à igualdade entre 
empregadores e empregados, ou seja, todos devem ser iguais perante esta Lei. 
Em última instância, no caso de impor risco à vida humana, as regras poderão ser 
quebradas para preservar a vida de alguém. 
TÓPICO 2 | OS POVOS DO LIVRO: O JUDAÍSMO
31
Dois filósofos judeus resumiram muito bem a ética judaica:
Mas o reino da liberdade é o reino do conhecimento ético. (Hermann Cohen)
Aquilo que não gostas, não o faças a ninguém. Isto é toda a Torah. (Hillel)
Após a imigração em massa de judeus pelo mundo, muitos alcançaram 
posições de destaque nas sociedades onde se fixaram. Mesmo assim, desde 
muito tempo até o presente, os judeus têm sido perseguidos em vários locais, em 
primeiro lugar pelas sociedades cristãs europeias, por atribuírem a eles a morte 
de Jesus Cristo, e mais recentemente, pelos povos de origem muçulmana, que não 
aceitam a ocupação das áreas antes pertencentes aos palestinos, que tiveram que 
sair de suas terras para que o Estado de Israel fosse criado em 1948.
A principal perseguição contra os judeus foi, sem dúvida, o Holocausto 
nazista, ocorrido durante a Segunda Guerra Mundial, entre 1933 e 1945. 
Historiadores estimam que aproximadamente seis milhões de judeus tenham sido 
mortos nos campos de concentração nazistas. Além do elemento étnico presente 
neste conflito, é preciso entender outro importante elemento para explicar a 
perseguição tão acirrada aos judeus por Hitler e Mussolini. Desde a Idade Média, 
os judeus foram proibidos de possuírem terras para cultivo agrícola. Eles ficaram 
restritos aos famigerados guetos e como, ao contrário do cristianismo católico 
e do islamismo, o judaísmo permitia que seus seguidores fizessem transações 
financeiras através da prática dos juros. Através disso, os judeus eram importantes 
comerciantes e muitos importantes banqueiros, obtendo proeminência nas artes 
e na cultura. E, por fim, a Alemanha de Hitler estava em crise, com altas taxas de 
desemprego e descontentamento popular. Este cenário favorece o surgimento de 
ações xenófobas, como foi o caso. Apontar um culpado para todas as agruras do 
povo e do Estado foi o argumento utilizado pela cúpula do regime nazista.
UNI
Para o seu final de semana, caro acadêmico, sugerimos que você possa assistir a 
dois filmes considerados clássicos recentes sobre o tema do Holocausto nazista:
A Lista de Schindler, de Steven Spilberg, e O Pianista, de Roman Polanski. 
Se você já assistiu a estes filmes, encorajo-o a assistir novamente, prestando atenção nos 
itens trabalhados neste tópico. Não se esqueça da pipoca e de uma boa companhia!
UNIDADE 1 | AS RELIGIÕES MONOTEÍSTAS
32
FIGURA 11 – A LISTA DE SCHINDLER E O PIANISTA
FONTE: Disponível em: <cinehaus.wordpress.com/.../06/o-pianista-2002/www.
historianet.com.br/conteudo/default.aspx?...>. Acesso em: 25 jun. 2016.
UNI
Estamos chegando ao término de nosso tópico de estudos, caro aluno. Se você 
se interessou em conhecer mais sobre a história dos judeus e esta relação deles com o 
comércio, vou deixar duas sugestões de leitura para aprofundar seus estudos sobre o tema.
História dos Hebreus, de Flávio Josefo, que conta a trajetória do povo desde Abraão até a 
destruição do Templo de Jerusalém pelos romanos.
Mercadores e banqueiros da Idade Média, de Jacques Le Gof, que conta como os judeus 
desenvolveram o comércio e as atividades relacionadas ao dinheiro desde a Alta Idade Média.
Eis as referências.
JOSEFO, Flávio. A história dos hebreus. Rio de Janeiro: CPAD, 2004.
LE GOFF, Jacques. Mercadores e banqueiros da Idade Média. São Paulo: Martins Fontes, 
1991.
33
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:
• Das religiões de cunho monoteísta, o judaísmo é a mais antiga delas, e tanto 
o cristianismo quanto o islamismo contam com elementos judaicos em suas 
doutrinas.
• A religião judaica é uma religião histórica, ou seja, toda sua doutrina está 
baseada nos relatos de sua história com início há aproximadamente 3.800 anos.
• Após a queda do segundo templo de Jerusalém, o centro do ritual judeu passou 
a ser a sinagoga e os lares das famílias.
• Os homens são os responsáveis pelo serviço na sinagoga, enquanto as mulheres 
são as responsáveis por organizar os ritos domésticos e ensinar aos filhos a 
tradição judaica.
• O livro sagrado dos judeus é a Torá, ou o Pentateuco da Bíblia Cristã, o Talmud, 
que são comentários antigos acerca da Lei, além dos demais textos do Antigo 
Testamento, que são utilizados como complemento do serviço nas sinagogas.
• Para o judeu, a ética e a religião são devem caminhar lado a lado e, portanto, a 
conduta social deve condizer com a prática religiosa.
• Os judeus sempre sofreram perseguições, tanto por parte dos cristãos, como 
por parte dos muçulmanos. A maior de todas foi o Holocausto nazista que 
aconteceu durante a Segunda Guerra Mundial.
• Tanto na Europa como nos Estados Unidos, os judeus exercem grande 
influência no pensamento, economia e cultura, em virtude de, desde a Idade 
Média, buscarem o comércio como atividade, por não poderem trabalhar no 
campo, na agricultura.
34
Apresentamos, neste tópico, algumas divisões do judaísmo que são muito 
importantes para seu entendimento desta importante religião monoteísta. 
Para relembrar o que foi tratado neste tópico, responda às seguintes questões:
1 Quais são as divisões principais do judaísmo? E as secundárias que não são 
aceitas pelas principais correntes teológicas judaicas? Quais são as razões 
para esta divisão de pensamento e doutrina?
2 Defina sionismo e antissemitismo. 
3 Quais são as peças de roupas rituais dos judeus ortodoxos e qual é o 
significado de sua utilização?
AUTOATIVIDADE
35
TÓPICO 3
OS POVOS DO LIVRO: CRISTIANISMO
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
O segundo dos chamados “Povos do Livro” são os cristãos. Até o início do 
século XX, o cristianismo foi a religião predominante em todo o Ocidente. Das três 
religiões estudadas, nesta Unidade, foi a que mais sofreu modificações estruturais 
ao longo de seus dois mil anos de história, seja através do Cisma do Oriente, 
seja pela Reforma Protestante, ou ainda pelos movimentos contemporâneos 
cristãos, como os protestantes neopentecostais, ou pelo movimento carismático 
católico. Portanto, é de suma importância entendermos os traços históricos do 
cristianismo para observarmos a sociedade em que vivemos, pois a cultura cristã 
está enraizada na política, nas leis e nos estatutos de nossas cidades. Também 
iremos entender por que a sociedade ocidental está vivendo um movimento de 
franca secularização e porque o islamismo tem avançado de forma tão expressiva 
sobre países onde anteriormente o cristianismo predominava.
DICAS
Já viu o que lhe aguarda, caro acadêmico? Então recomendo que você aperte os 
cintos e mergulhe nasua própria história!
2 HISTÓRIA
Toda a crença cristã está baseada no cumprimento das profecias judaicas 
com relação ao Messias prometido no Antigo Testamento. Para o cristão, o Messias 
já veio e Ele é Jesus de Nazaré, que viveu na Palestina, no século I da Era Cristã. 
Jesus é o Filho de Deus que veio ao mundo para remir toda a humanidade do 
merecido juízo divino, iniciado com o pecado de Adão desde o chamado Jardim 
do Éden. Para os cristãos, Jesus foi morto pelos pecados da humanidade, porém 
ressuscitou ao terceiro dia como uma prova inconteste de que Deus aceitou seu 
sacrifício vicário. 
36
UNIDADE 1 | AS RELIGIÕES MONOTEÍSTAS
UNI
Se você precisa de mais subsídios a respeito da doutrina cristã, não se preocupe, 
falaremos mais sobre a fé cristã ao longo deste tópico. Relembre agora um pouco da História 
Cristã!
Os 12 discípulos de Jesus deram início à primeira comunidade cristã e 
continuaram participando dos serviços nas sinagogas e se identificaram como 
uma ramificação do judaísmo, assim como os fariseus, saduceus, publicanos e 
essênios. Ficaram conhecidos como judeus nazarenos, nome este em referência 
direta a Nazaré, cidade natal de Jesus. Muitos destes líderes da Igreja restringiram 
a pregação do Evangelho aos judeus. O grande responsável pela universalização 
do cristianismo aos gentios (não judeus) foi o fariseu Paulo, convertido no ano 
32 d.C. Paulo realizou viagens missionárias através do mundo greco-romano, 
levando o cristianismo para regiões distantes do núcleo judaico da Palestina, 
além de organizar a base das doutrinas cristãs em suas cartas às primeiras 
comunidades formadas.
A separação definitiva entre o judaísmo e o cristianismo ocorreu no ano 
70 d.C., no sínodo judeu de Janmia, quando os cristãos foram excomungados 
do judaísmo. Para os romanos, que dominavam a Palestina no século I, o 
cristianismo era visto como uma religião de escravos. Posteriormente, através do 
crescimento exponencial das comunidades cristãs, o império passou a vê-los como 
potencialmente perigosos para a estabilidade do Império Romano. Com a negação 
dos cristãos em adorarem as divindades romanas, entre elas o próprio imperador 
romano, os cristãos foram perseguidos e utilizados como entretenimento do povo 
no famoso Coliseu romano. Esta medida era utilizada pelas autoridades como 
uma distração para o povo, devido a complicações e dificuldades que o império 
sofria neste período. Porém, ao invés de coibir a difusão da nova religião, a 
perseguição espalhou ainda mais os cristãos para além das fronteiras do império 
e a adesão ao cristianismo aumentava cada vez mais. O ápice deste fato foi a 
adesão do próprio imperador Constantino, em 313, e logo em 380, o imperador 
Teodósio declarar o cristianismo como religião oficial do império.
UNI
É importante saber como se encontrava a sociedade e a política romana 
quando o Imperador Constantino aderiu ao cristianismo, para em breve se tornar a religião 
oficial do império. No século III, as condições políticas e econômicas de Roma estavam 
TÓPICO 3 | OS POVOS DO LIVRO: CRISTIANISMO
37
bastante abaladas. As fronteiras já não eram seguras, pois o exército não podia defendê-las 
dos povos chamados por eles de bárbaros. A aristocracia romana ameaçada começou a 
migrar para o campo e a constituir estados independentes. Com cada vez maiores gastos 
para manter o império, o povo passou a sofrer mais e mais privações, iniciando revoltas 
internas e atos de banditismo contra Roma. A partir destes eventos, podemos entender 
que a adoção do cristianismo por Roma foi uma medida política, na medida em que, em 
decorrência da decadência política e econômica romanas, o cristianismo passou a ser uma 
força considerável.
FIGURA 12 – IMAGEM AÉREA DO COLISEU ROMANO
FONTE: Disponível em: <http://www.lmc.ep.usp.br/people/hlinde/
Estruturas/coliseu.htm>. Acesso em: 20 set. 2009.
Este edito imperial dá origem à Igreja Católica Apostólica Romana e 
ela permaneceu única até o ano de 1054, quando ocorreu o primeiro cisma na 
cristandade. Deste cisma surgiu a Igreja Ortodoxa, que passou a ser a dominante 
no Oriente, em especial em Istambul, na Turquia, na Grécia e na Rússia. Antes 
do cisma já existiam contendas entre a igreja latina e a oriental, e o principal 
elemento de separação entre ambas foi a negação da autoridade do papa de Roma 
como o líder supremo da instituição e a veneração das imagens dos santos. Os 
católicos ortodoxos veneram os chamados ícones, pinturas sagradas de Jesus, de 
Maria e dos santos.
38
UNIDADE 1 | AS RELIGIÕES MONOTEÍSTAS
FIGURA 13 – ICONOGRAFIA ORTODOXA
FONTE: Disponível em: <http://www.nsconceicao.com.br/index.php/artigos/
perguntas-e-respostas-catolicas/1368-o-que-e-a-igreja-ortodoxa>. Acesso em: 26 
jun. 2016.
De maneira geral, são 13 as diferenças entre romanos e ortodoxos, algumas 
meramente rituais, outras mais importantes, contestando a autoridade papal, por 
exemplo.
IMPORTANT
E
Professor, que tal numerar algumas diferenças para nossos alunos poderem 
entender melhor do que estamos falando aqui? O que acha?
Para resumir este assunto e não detalharmos os pormenores entre cada 
diferença, pois elas serão vistas a partir de um ponto de vista próprio e precisaríamos 
observar o que a doutrina ortodoxa e a doutrina romana dizem a respeito de cada 
ponto, citaremos o texto de George Mastrantonis, disponível no link: <http://www.
presbiteros.com.br/site/as-diferencas-entre-catolicos-e-orientais-ortodoxos/>. 
São 13 as principais diferenças doutrinárias e disciplinares que 
distanciam católicos e ortodoxos orientais uns dos outros: os ortodoxos não 
aceitam o primado e a infalibilidade do papa, a processão do Espírito Santo a 
partir do Filho, o purgatório póstumo, os dogmas da Imaculada Conceição e 
da Assunção de Maria Ssma., o Batismo por infusão (e não por imersão), a falta 
TÓPICO 3 | OS POVOS DO LIVRO: CRISTIANISMO
39
da epiclese na Liturgia Eucarística, o pão ázimo (sem fermento) na celebração 
eucarística, a Comunhão eucarística sob a espécie do pão apenas, o sacramento 
da Unção dos Enfermos como é ministrado no Ocidente, a indissolubilidade 
do matrimônio, o celibato do clero. Como se pode ver, nem todos esses pontos 
diferenciais são da mesma importância. O mais poderoso é o da fidelidade ao 
papa como Pastor Supremo, assistido pelo Espírito Santo em matéria de fé e de 
moral.
É importante salientar que estes elementos são vistos a partir da visão 
romana do assunto, por isso o ponto mais importante das divergências entre 
ambos está na autoridade papal. Existe um movimento de reaproximação entre 
os dois grupos nos últimos anos, em especial com o Papa Francisco e o patriarca 
Bartolomeu.
FIGURA 14 – PAPA FRANCISCO E PATRIARCA BARTOLOMEU
FONTE: Disponível em: <http://ministeriosaopaulo.com.br/papa-da-mais-um-
passo-para-religiao-unica-mundial/>. Acesso em: 26 jun. 2016.
Nos séculos seguintes, percebemos o aumento exponencial do poder 
da Igreja Católica sobre a Europa, onde por muito tempo os papas lutaram por 
exercer, além do poder espiritual, o poder temporal, onde entraram em conflito 
direto com as diversas monarquias europeias. É deste período o advento das 
Cruzadas cristãs contra os muçulmanos no Oriente Médio e na Península Ibérica, 
principalmente, entre os séculos XI a XIII, e a Santa Inquisição, resultado direto 
das Cruzadas contra hereges em território ocidental, no século XIV.
40
UNIDADE 1 | AS RELIGIÕES MONOTEÍSTAS
UNI
Sobre as Cruzadas, indicamos o filme homônimo de Ridley Scot, que conta 
a trajetória de um filho de um nobre cruzado na defesa da Terra Santa dos sarracenos no 
ínterim histórico entre a segunda e a terceira cruzadas. Sobre a Inquisição, o filme baseado 
na obra de Umberto Eco, O Nome da Rosa, também vai proporcionar momentos agradáveis 
e de conhecimento sobre este tema complexoe intrigante!
O segundo golpe à unidade católica ocorreu no século XVI, através da 
chamada Reforma Protestante desencadeada por Martinho Lutero. Esta nova 
divisão na Igreja Católica é a gênese das igrejas cristãs de cunho evangélico. É 
importante perceber quais foram os fatores que desencadearam este cisma para 
entendermos os desdobramentos do cristianismo que temos hoje em nossa 
sociedade.
Resumidamente, podemos dizer que o contexto histórico em que Lutero 
estava inserido trouxe as condições necessárias para que a divisão acontecesse. O 
apoio dos príncipes alemães foi fundamental para a proteção física de Lutero e 
as condições para a difusão dos novos aspectos da doutrina cristã, em especial a 
justificação pela fé ao invés das obras que eram aceitas até então. Depois de Lutero, 
outras denominações surgiram, cada uma delas reforçando um dos aspectos 
da vida cristã, entre elas o calvinismo, o metodismo, o presbiterianismo, entre 
outros. Isso aconteceu porque a Bíblia não contém princípio claro de organização 
eclesiástica e, portanto, cada comunidade pode escolher qual é a sua ênfase e qual 
é a maneira pela qual desejam ser organizadas e lideradas. 
UNI
Você estudou a trajetória da Igreja Cristã na disciplina de História da Igreja Cristã. 
Se tiver alguma dúvida, pode relembrar em todos os detalhes do Cisma do Oriente e da 
Reforma Protestante.
Apesar de todos os contrastes existentes e claros, existem semelhanças 
entre as denominações cristãs. A principal delas é o centro no ministério de 
Cristo, sua morte e ressurreição. As diferenças da maioria delas estão nas 
questões doutrinárias e exegéticas, ou seja, na maneira como seus fundadores 
interpretaram as Escrituras e criaram uma identidade para seus seguidores.
TÓPICO 3 | OS POVOS DO LIVRO: CRISTIANISMO
41
Um novo movimento na cristandade surgiu na virada do século XIX, 
com o surgimento do Pentecostalismo, oriundo agora do seio das denominações 
protestantes. Estas novas denominações atribuem uma maior ênfase ao trabalho 
do Espírito Santo e às manifestações sobrenaturais, como cura para doenças, 
glossolalia e profecias. Destaca-se entre elas a Igreja Assembleia de Deus, Igreja 
do Evangelho Quadrangular, entre outras. O catolicismo também teve o seu 
reavivamento espiritual através do chamado movimento carismático católico.
Na década de 90 do século XX surge a mudança mais recente dentro 
do cristianismo contemporâneo. Os chamados neopentecostais, que podem ser 
identificados pela ênfase exacerbada na prosperidade, na utilização da mídia 
como forma de se aproximar das pessoas e na utilização das forças das trevas 
como ferramenta para explicar as agruras dos fiéis.
 
Por fim, no século XXI, o que podemos verificar é um avivamento das 
denominações tradicionais (batistas, presbiterianos etc.), além da ênfase no 
louvor e na adoração como instrumentos de evangelismo e capacitação dos fiéis.
UNI
Para uma análise profunda a respeito do pentecostalismo, catolicismo 
carismático, neopentecostalismo e do avivamento das denominações tradicionais, por favor, 
dê uma “olhadinha” em seu caderno de estudos de História da Igreja no Brasil. Na Unidade 3, 
quando analisarmos a cultura religiosa no contexto brasileiro, voltaremos a falar deste assunto.
Sem dúvida, o cristianismo causou profundas mudanças no mundo ao 
longo destes 2000 anos de história. Os historiadores concordam que Jesus de 
Nazaré não é um personagem fictício, ou seja, ele existiu e habitou entre nós. 
O que se discute é a natureza divina de Cristo, o que os cientistas sociais não 
podem comprovar, tampouco refutar. A divindade de Cristo é um campo para a 
área da fé, assim como em todas as demais religiões. A importância de Cristo não 
pode ser negada, tendo em vista que várias religiões tratam e aceitam a figura de 
Cristo como um homem muito sábio que trouxe muitos ensinamentos preciosos 
para os homens. Porém, apenas os cristãos acreditam que Jesus é Deus que se 
tornou homem para morrer pelos pecados da humanidade e trazer a esperança 
da salvação aos homens.
42
UNIDADE 1 | AS RELIGIÕES MONOTEÍSTAS
UNI
Para este tema tão vasto e complexo: como o cristianismo se separou do 
judaísmo e desenvolveu um novo sistema religioso, gostaria de sugerir o livro “À Sombra do 
Templo”, de Oskar Skarsaune, publicado pela Editora Vida. Será um estudo muito interessante!
3 DOUTRINA
Para entendermos o sistema religioso cristão, como fizemos no judaísmo, 
precisamos ter em mente que os mesmos princípios constantes no Antigo 
Testamento são aceitos e validados pelo Cristianismo. A inserção do cânon do 
Novo Testamento traz novos elementos para a formação dos credos cristãos. A 
base para a crença cristã está na pessoa de Jesus Cristo, que, segundo os fiéis, é 
o Filho de Deus, que veio ao mundo para redimir o homem do poder do pecado 
através de seu sacrifício vicário. Este é um resumo do Evangelho, ou das boas 
novas que Jesus veio para contar aos homens. O Reino de Deus foi inaugurado 
com a vinda de Deus ao mundo.
Embora Jesus não tenha especificado uma religião em seu ministério, ele 
solicitou aos seus discípulos que contassem as boas novas aos homens, qual seja, 
a ressurreição de Cristo, primeiro para os judeus, depois para os gentios. Com o 
amadurecimento das primeiras comunidades cristãs, foi necessário criar regras 
para estabelecer o que é certo e o que não era para os cristãos, bem como em que 
cada cristão deve ou não acreditar. Estas regras estão contidas nos credos que a 
Igreja criou ao longo de sua história, sendo o principal deles o de Niceia do século 
IV. Nos credos encontramos os dogmas do cristianismo.
UNI
A palavra dogma significa doutrina. A partir dele o cristão tem condições de 
conhecer os pontos primordiais de sua fé.
O principal dogma cristão é a Encarnação de Jesus. Ele foi tanto homem 
como Deus, convivendo ambos na mesma pessoa. Portanto, Jesus não era apenas 
Filho de Deus, porém Ele era Deus!
A salvação do homem é provida em aceitar a morte e ressurreição de 
Jesus em remissão dos pecados. O homem precisa ser salvo de sua natureza 
TÓPICO 3 | OS POVOS DO LIVRO: CRISTIANISMO
43
pecaminosa. Esta salvação é necessária para libertar o homem de seu apego ao 
mundo e, em última instância, do Juízo Final. 
Os cristãos acreditam que Jesus irá voltar dos céus e trará uma nova era 
para a humanidade, onde Ele irá julgar os homens segundo sua fé em Cristo 
e suas escolhas de vida na Terra. Haverá, portanto, um Juízo Final onde todos 
os seres humanos serão julgados de acordo com as escolhas realizadas em suas 
vidas. Este é o núcleo central do cristianismo.
Outro ponto nevrálgico entre católicos e protestantes é a virgindade 
e assunção de Maria, a mãe de Jesus. Para os católicos, Maria permaneceu 
imaculada mesmo após o nascimento de Jesus, e a tradição católica descreve que 
Maria foi assunta ao céu, recebendo o título de Mãe de Deus. Isto não é aceito 
pelos protestantes, que atribuem um grande respeito a Maria, por ter sido a eleita 
de Deus para que através dela o Messias entrasse no mundo legalmente.
Para o catolicismo, é possível venerar os santos, ou seja, contemplar suas 
imagens e fazer orações para eles, pedindo graças e bênçãos pelos seus intermédios 
junto de Deus. Os santos foram grandes homens e mulheres da cristandade a 
quem são atribuídos milagres que possam ser comprovados cientificamente, 
como curas, por exemplo. A Igreja Católica possui um tribunal específico para 
julgar os processos de beatificação e santificação dos santos no Vaticano. Já para os 
protestantes as imagens estão proibidas e as orações intercessórias tanto a Maria 
quanto aos santos, por apenas Jesus ser o intercessor da humanidade perante Deus.
Para o catolicismo, a figura do purgatório está presente em sua doutrina. 
Este lugar é um local intermediário (assim chamado de Entre Lugar)entre o 
Céu e o Inferno. No Purgatório, as pessoas pagam por seus delitos e, através da 
intercessão dos vivos, suas almas são “purgadas’ e elas podem ascender ao céu. 
Os protestantes não creem no purgatório, por não existirem referências diretas na 
Bíblia ou nos discursos de Jesus ou dos apóstolos sobre este assunto.
UNI
A respeito do purgatório, gostaria de recomendar o livro do historiador francês 
Jaques Le Goff chamado O Nascimento do purgatório. Neste livro, Le Goff verifica que as 
primeiras referências ao purgatório surgem no século XII, antes deste período havia apenas 
a ideia de inferno e paraíso. Segundo ele, o purgatório seria um lugar para medíocres, que 
não mereciam o paraíso, mas seus delitos e pecados não os condenariam ao inferno. Você 
pode imaginar que neste panorama todos poderiam se enquadrar, na medida em que o 
purgatório aumentou a dependência dos fiéis à Igreja e, consequentemente, seu poder na 
Europa Medieval. Caso você não encontre o livro, o ótimo artigo de Nicomedes da Silva 
Rocha Neto, intitulado o Entre-lugar a representação do purgatório na Baixa Idade Média, que 
você pode encontrar no link <http://www.consciencia.org/o-entre-lugar-a-representacao-
do-purgatorio-na-baixa-idade-media>, pode lhe dar uma boa ideia do estudo de Le Goff 
sobre o purgatório.
44
UNIDADE 1 | AS RELIGIÕES MONOTEÍSTAS
Para os católicos, durante a Eucaristia, memorial do sacrifício de Jesus 
por todos, o pão e o vinho não são mais apenas pão e vinho, mas sim o corpo 
e o sangue de Cristo que se transformam na transubstanciação dos elementos. 
Segundo o catecismo da Igreja:
§1392 O que o alimento material produz em nossa vida corporal, a 
comunhão o realiza de maneira admirável em nossa vida espiritual. A comunhão 
da Carne de Cristo ressuscitado, “vivificado pelo Espírito Santo e vivificante”, 
conserva, aumenta e renova a vida da graça recebida no batismo. Este crescimento 
da vida cristã precisa ser alimentado pela comunhão eucarística, pão da nossa 
peregrinação, até o momento da morte, quando nos é dado como viático.
FONTE: Disponível em: <http://catecismo-az.tripod.com/conteudo/a-z/e/euc-efeitos.html>. 
Acesso em: 26 set. 2009.
Para os protestantes em geral, a ceia tem um grande significado espiritual, 
que é o de ser também memorial do sacrifício de Jesus, que deve ser um tempo 
de reflexão e arrependimento e renovação da aliança com Deus. Porém, o pão 
continua sendo pão e o suco da uva continua sendo suco da uva.
O último ponto controverso entre as duas divisões do cristianismo é 
acerca do batismo. Os católicos batizam crianças, assim, quem é o responsável 
pela escolha da mesma são os pais e os padrinhos. A confirmação da fé acontece 
na Eucaristia e mais adiante na Crisma (que é uma representação da descida do 
Espírito Santo sobre os apóstolos no dia de Pentecostes.) Para os protestantes, na 
sua maioria, o batismo deve acontecer a partir de uma decisão pessoal, quando o 
fiel tiver consciência do que está realizando, a partir do que Jesus fez, pois segundo 
o Novo Testamento, Jesus iniciou seu ministério terreno com seu batismo aos 30 
anos de idade.
UNI
Existem outros pontos de divergência entre católicos e protestantes, porém o 
movimento que vemos acontecendo nos dias de hoje é o do fortalecimento das semelhanças. 
Mas isso nós estudaremos mais adiante!
Para concluir esta questão doutrinária, a Igreja Católica Apostólica Romana 
enfrenta um desafio em sua fase contemporânea, que são cismas de pequenos 
grupos que se declaram independentes. Este é um fenômeno bastante novo, que 
ainda precisa de estudos mais aprofundados sobre cada um destes grupos. Após 
as crises das divisões anteriores, a Igreja Católica Apostólica Romana enfrenta 
um novo e desafiador dilema, que é o de conter o avanço de igrejas católicas 
TÓPICO 3 | OS POVOS DO LIVRO: CRISTIANISMO
45
dissidentes. Ainda é preciso conhecer mais a respeito da quantidade destes grupos 
e percentual de fiéis, porém os dados que podemos extrair deste movimento 
é que ele demonstra uma tendência de fragmentação do catolicismo romano. 
A máxima do cristianismo de que o catolicismo é solidamente estruturado 
e que é uma única igreja e que o protestantismo é desfragmentado através de 
suas inúmeras denominações já mostra alguns sinais de que este processo está 
atingindo também os católicos.
Destes grupos dissidentes surgem constantemente associações e igrejas 
lideradas por padres casados que foram proibidos pelo Vaticano de continuar 
exercendo o sacerdócio por discordarem de certos posicionamentos por parte da 
liderança eclesiástica como o celibato obrigatório, posicionamento sobre o aborto 
e eutanásia, o direito da mulher de participar do sacerdócio, a infalibilidade 
papal, entre outros pontos. Outro ponto que tem contribuído para o surgimento 
destes grupos são os escândalos envolvendo parte do clero católico através de 
denúncias de abuso sexual, pedofilia e homossexualismo envolvendo a Igreja e 
a aparente conivência e proteção que tem sido dada aos infratores. Este é outro 
fator que está mudando atualmente, mas o processo é bastante lento, favorecendo 
a dissidência de pequenos grupos.
Entre estes grupos é possível citar Igreja Católica Apostólica Brasileira, 
Rede de Missões Católicas, Igreja Católica Americana, Igreja Católica Breakaway 
e Igreja Mariavete.
FIGURA 15 – LOGOTIPO IGREJA CATÓLICA APOSTÓLICA 
BRASILEIRA
FONTE: Disponível em: <http://grupoapa.org.br/o-que-e-a-igreja-
brasileira-ou-igreja-catolica-brasileira/>. Acesso em: 26 jul. 2016.
46
UNIDADE 1 | AS RELIGIÕES MONOTEÍSTAS
4 RELAÇÕES
Os principais mandamentos do cristianismo têm relação direta com o 
amor: amar a Deus em primeiro lugar e então ao próximo como a mim mesmo. 
Segundo Jesus, se os cristãos realizarem esta tarefa, toda a Lei de Moisés seria 
cumprida. A ética cristã, portanto, prega as boas obras, a ajuda aos necessitados, 
pobres e oprimidos, caridade e o amor entre cristãos e entre cristãos e gentios. 
Jesus realizou muitas obras, como curas e milagres, e deixou este legado para 
seus seguidores. 
O ponto crucial da ética cristã é a análise de que todos os seres humanos 
foram feitos à imagem e semelhança de Deus e, portanto, devem ser tratados 
com respeito e dignidade. A vida de Cristo deve manifestar-se nos atos do dia 
a dia dos fiéis, sendo este um poderoso instrumento de evangelização, ou seja, 
a mudança na vida do fiel através de novos parâmetros e novos conceitos pode 
levar a outros a buscarem uma nova vida com Cristo.
UNI
O livro do sociólogo Max Weber, A ética protestante e o espírito do Capitalismo, 
mostra como as bases da teologia protestante podem ajudar a explicar o nascimento do 
modelo capitalista no Ocidente a partir do século XIX.
A ética cristã possui elementos que a distinguem de outros sistemas 
religiosos. Segundo o teólogo Emil Brunner (2004): a ética cristã é a ciência da 
conduta humana que se determina pela conduta divina. A base para esta ética 
está tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, e precisa ser entendida a partir 
da perspectiva de que as Sagradas Escrituras apresentam a revelação divina para 
a humanidade. Desta forma, a ética é um elemento fundamental para o fiel, pois 
o cristianismo adota a prática da Evangelização para atrair novos adeptos. Desta 
maneira, o estilo de vida do cristão é um elemento-chave para a disseminação e 
propagação da mensagem de Cristo na Terra. Além deste elemento externo, onde 
aqueles que convivem com este cristão gradativamente percebem a mudança 
nas práticas cotidianas deste indivíduo, internamente ele também recebe alento 
ao utilizar um arcabouço de elementos e valores que o auxiliam na tomada de 
decisões em seu dia a dia, a partir de uma perspectiva divina para estes anseios e 
inseguranças de como ele deve se portar eticamente em sociedade.
Porém é possível confundir aética cristã com uma ética puramente 
filosófica e moral, portanto é necessário diferenciar ambas. A figura a seguir pode 
nos ajudar nesta tarefa.
TÓPICO 3 | OS POVOS DO LIVRO: CRISTIANISMO
47
FIGURA 16 – ÉTICA CRISTÃ X ÉTICA FILOSÓFICA
FONTE: Disponível em: <http://pt.slideshare.net/venturaneto/tica-crist-slides>. 
Acesso em: 26 jul. 2016.
A ética cristã precisa necessariamente de um componente sobrenatural 
através da revelação divina através da Palavra de Deus. De maneira distinta, a 
ética filosófica acaba sendo relativa, pois gera uma verdade para cada contexto 
social. 
No contexto brasileiro, a partir do ano de 2014, o país entrou em um 
período bastante peculiar no campo da ética política, através dos desdobramentos 
da Operação Lava Jato, onde escândalos de corrupção estão sendo trazidos à tona 
através de suas diferentes fases. Embora esta operação da Polícia Federal tenha 
como objetivo desmantelar uma quadrilha que atuava em um intrincado esquema 
de propinas, permanecendo no âmbito político, a palavra ética está muito em 
voga em nossos dias. 
Neste sentido, a ética cristã é importante e necessária para nossa nação, 
pois conceitos como honestidade e caráter estão contidos no arcabouço deste 
estilo de vida chamado cristianismo. Em um contexto histórico de uma operação 
cujo objetivo é desmantelar um esquema milionário de enriquecimento ilícito 
através de propinas e corrupção, práticas que apresentem a melhora no caráter 
individual, como é a proposta do cristianismo, são mais que bem-vindas. É 
importante salientar que a conduta ética e moral é também alvo de outras religiões 
que visam à melhora do indivíduo através do aprofundamento do conhecimento 
a respeito dos princípios religiosos.
48
UNIDADE 1 | AS RELIGIÕES MONOTEÍSTAS
FIGURA 17 – OPERAÇÃO LAVA JATO
FONTE: Disponível em: <http://zh.clicrbs.com.br/rs/noticias/noticia/2016/02/
policia-federal-deflagra-23-fase-da-operacao-lava-jato-4980783.html>. Acesso 
em: 26 jul. 2016.
49
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:
• O cristianismo surge com os seguidores de Jesus Cristo, para os quais ele era o 
Messias esperado pelos judeus.
• Ao longo de seus mais de 2000 anos de História, a Igreja cristã sofreu duas 
divisões principais: o Cisma do Oriente em 1054 e a Reforma Protestante no 
século XVI, ambos trazendo reações da Igreja Católica Romana.
• Existem discrepâncias entre as doutrinas cristãs, porém todas elas devem estar 
centradas na figura de Cristo e em sua ressurreição dos mortos, e na Bíblia 
como a Palavra de Deus.
• Embora muitos homens e líderes cristãos não tenham entendido a ética cristã, 
por desencadearem muitas atrocidades em nome de Deus, como as Cruzadas e a 
Santa Inquisição, para o cristianismo o homem foi feito à imagem e semelhança 
de Deus e, portanto, deve ser tratado como tal.
• Podemos encontrar pontos do cristianismo em toda a cultura ocidental, que 
foi moldada de acordo com a fé de suas sociedades, entre elas as bases para o 
sistema capitalista.
50
A partir de sua leitura do texto deste tópico, responda às questões a seguir:
1 Com a grande quantidade de escravos africanos nas minas de ouro, a Igreja 
sofreu um processo de sincretismo religioso. Como podemos entender este 
sincretismo?
2 O Movimento Carismático Católico surge na segunda metade do século XX 
como uma resposta católica a que outro movimento religioso?
3 O que pode explicar o surgimento de movimentos cismáticos dentro da 
Igreja Católica?
4 Sobre as diferenças entre a Igreja Católica Romana e a Ortodoxa, qual é o 
principal entrave para as aproximações que estão acontecendo atualmente?
AUTOATIVIDADE
51
TÓPICO 4
 OS POVOS DO LIVRO: O ISLAMISMO
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
Chegamos ao último tópico de nossa unidade de estudo. Prepare-se 
para conhecer uma religião nas areias do deserto e um homem que conheceu 
o judaísmo e o cristianismo para formar as bases de sua doutrina. Além dos 
interesses econômicos e políticos que resultaram na religião que mais cresce no 
mundo, com dados preocupantes sobre estatísticas a respeito do crescimento do 
Islã no mundo ocidental.
De todas as grandes religiões monoteístas, o islamismo é a mais recente e 
a menos conhecida pelos ocidentais. Isso não quer dizer que não ouçamos todos 
os dias nos noticiários, informes de confrontos no Oriente Médio, com homens-
bomba explodindo e causando verdadeiras chacinas com pessoas inocentes. 
Porém, é esta a verdadeira descrição dos muçulmanos? Homens fundamentalistas 
que se suicidam em nome de Alá? Hoje, mais do que nunca, precisamos conhecer 
esta religião para desmistificar algumas informações que temos através da mídia 
ocidental.
O islamismo é a religião que mais cresce hoje em todo o mundo. A palavra 
“Islã” quer dizer submissão. Segundo esta religião, o homem deve se entregar 
totalmente a Deus e submeter sua vontade em todas as áreas de sua vida.
2 HISTÓRIA
Para entendermos um pouco da História do Islamismo, é preciso 
compreender quem foi e o que fez seu fundador, bem como o contexto político 
que proporcionou a ele as reformas religiosas e políticas. Este homem foi Maomé.
Maomé nasceu na cidade de Meca, na Arábia, por volta de 571 d.C. Desde 
este período esta cidade era muito importante para a economia, no sentido de 
Meca estar no caminho dos mercadores e comerciantes que transitavam pela 
Península Arábica. Maomé era filho de uma proeminente família de comerciantes, 
porém ficou órfão muito cedo e foi criado pelo tio. Mais tarde Maomé conhece 
Khadidja, uma viúva 15 anos mais velha que ele e que se tornou conselheira e a 
primeira seguidora do esposo.
52
UNIDADE 1 | AS RELIGIÕES MONOTEÍSTAS
Além de importante centro comercial, Meca era também um dos centros 
religiosos da Arábia. O sistema religioso do século VI era basicamente tribal e 
politeísta. Cada tribo possuía deuses e os cultuava. A Caaba, ou a pedra negra, já era 
cultuada em Meca antes de Maomé. Conforme os nômades e beduínos passaram a se 
assentar em cidades, abandonando o sistema nômade de subsistência, isto trazia um 
gradativo abandono da religião tradicional. Com isso, a influência de duas religiões 
aumentou a partir deste período: o judaísmo e o cristianismo. Os judeus se espalharam 
pela Arábia após sua expulsão de Jerusalém pelos romanos, e os cristãos da mesma 
forma, também eram presentes na Arábia neste período. Esse era o complexo mundo 
em que Maomé viveu e este mundo influenciou seu pensamento. Não é possível 
dissociar o nascimento do Islamismo de seu contexto histórico.
Uma vez ao ano, Maomé realizava uma prática dos monges cristãos, que 
era a de se retirar para uma caverna para meditar, embora não usasse as escrituras 
para sua meditação. Os muçulmanos acreditam que, quando Maomé atingiu 
a idade de 40 anos, ele teve uma revelação divina: o Arcanjo Gabriel apareceu 
para ele e lhe pediu que lesse os escritos que ele havia trazido do céu, escritos 
pelo próprio Deus. Esta é a origem do Corão ou Alcorão, o livro sagrado dos 
muçulmanos. Ele é dividido em 114 capítulos, chamadas suras. Após sua visão, 
Maomé começou a pregar o que havia visto nas ruas de Meca, se intitulando 
como um emissário de Alá, o único Deus. Estas afirmações levaram a uma forte 
oposição dos líderes da cidade, que viam este discurso como uma forma de 
Maomé buscar usurpar o poder, além de ir contra toda a tradição politeísta de 
seus antepassados. Com o aumento desta oposição, Maomé parte em 622 para a 
cidade de Medina. Sua saída ficou conhecida como Hégira, que significa partida 
ou rompimento. Para os seguidores de Maomé, este movimento seu não foi uma 
fuga e sim a submissão deste para com Deus.
Em Medina, Maomé logo se tornou o líder religioso e político. Para 
difundir a nova religião, Maomé organizou a chamada Jihad ou luta, que consistia 
no assaltoa caravanas de beduínos para poder manter financeiramente a nova 
empreitada. Posteriormente, este nome foi o mesmo atribuído à guerra santa. 
Na década posterior, Maomé tomou a cidade de Meca, além de grande parte da 
Arábia, unificando sob a nova religião grande parte do povo árabe, sendo mais 
forte que toda a tradição ancestral politeísta, gerando uma nova identidade a 
este povo antes dividido pelo politeísmo. Este foi o legado que Maomé deixou 
quando morreu, em 632.
Após sua morte, a liderança dos muçulmanos ficou a cargo dos chamados 
califas. Os três primeiros califas foram parentes de Maomé ou estavam entre 
os primeiros convertidos. O primeiro cisma do Islã aconteceu com o quarto 
califa, chamado Ali, primo de Maomé e casado com sua filha. Ali acabou sendo 
assassinado por adversários e um vazio de poder se instalou no mundo islâmico. 
Diferentemente do cristianismo, que se dividiu por problemas doutrinários 
relacionados com a fé, o islamismo foi dividido por problemas relacionados à 
liderança do Islã. Surgem dois grupos deste cisma: os xiitas e os sunitas. A primeira 
TÓPICO 4 | OS POVOS DO LIVRO: O ISLAMISMO
53
facção acreditava que o líder do islamismo deveria ser um descendente direto do 
profeta Maomé, enquanto a segunda, a maior das duas, acreditava que quem está 
no poder deve ser o mandatário da religião. Após a morte de Ali, a sede do Islã 
passou de Meca para Damasco, depois para Bagdá e, por fim, em Istambul. Após 
1924, a liderança dos muçulmanos não foi mais única e sim regional, acabando 
assim com a era dos califas.
Porém, como o islamismo teve uma grande adesão entre o mundo árabe? 
Ainda no tempo de Maomé, as potências que influenciavam a Arábia eram o 
Império Bizantino e o Império Persa, que se encontravam em declínio. Este vazio 
de poder facilitou a expansão desta nova ideologia e religião. Os muçulmanos 
ocuparam todo o norte da África, cruzaram o Estreito de Gibraltar e ocuparam 
todo o sul da Península Ibérica, onde hoje estão Portugal e Espanha. Avançaram 
também para o Oriente, chegando até à Índia. O conflito entre muçulmanos e 
hindus foi tamanho que dois países foram criados: a Índia de maioria hindu, 
e o Paquistão, de maioria muçulmana. Recentemente, a grande imigração de 
muçulmanos para o Ocidente tem aumentado muita sua presença na Europa e 
América do Norte, especialmente entre os negros norte-americanos, sendo já a 
segunda maior religião nestas localidades.
3 DOUTRINA
Se pudéssemos resumir o islamismo em uma única frase, poderíamos 
utilizar Achhadu An Lá Iláha illa Allah ach hadu anna Muhammadan Rassulullah, que 
quer dizer: “Não há Deus como Alá e Maomé é seu profeta”. As duas características 
principais do Islã são o monoteísmo e a revelação dada a Maomé. 
Sobre o monoteísmo, cabe dizer que Alá não é um nome próprio e sim a 
palavra árabe para Deus, que já havia sido utilizada por judeus e cristãos árabes. A 
raiz é a mesma da palavra El, que indica o nome divino para o judaísmo. Porém, Alá 
também é o nome da divindade da Lua na antiga religião politeísta árabe. Sobre a 
revelação dada por Deus a Maomé, os muçulmanos creem que Deus se revelou ao 
homem em três ocasiões: a primeira para Moisés, a segunda para Jesus Cristo, a quem 
reconhecessem como Profeta, e a terceira e mais perfeita de todas, para Maomé.
No tocante à prática religiosa, o islamismo está firmado nos cinco pilares 
da religião muçulmana: O Testemunho, A Oração, O Jejum no mês do Ramadam, 
o Zakat e a Peregrinação a Meca. Para uma breve explanação sobre estes cinco 
pilares do Islã, serão utilizados alguns trechos relativos do Alcorão, citando a 
shura e o versículo.
54
UNIDADE 1 | AS RELIGIÕES MONOTEÍSTAS
UNI
Esta associação entre o islamismo e o governo pode fazer parecer que o 
elemento religioso não é muito presente na sociedade islâmica. Isso ainda é mais presente 
se levarmos em conta o noticiário da TV, que nos mostra apenas a minoria fundamentalista 
em seus ataques terroristas. Porém, para o muçulmano, a religião está acima de qualquer 
instituição política. É a religião que dita como o governo deve se portar e o que ele deve fazer.
1 Testemunho: "Deus dá testemunho de que não há mais divindade além 
d'Ele; os anjos e os sábios O confirmam Justiceiro; não há mais divindade 
além d'Ele, o Poderoso, o Prudentíssimo” (ALCORÃO SAGRADO 3:18).
O testemunho do muçulmano deve apresentar os dois elementos já citados 
neste tópico: O único Deus verdadeiro é Alá e Maomé é seu profeta. O primeiro 
requisito para alguém se tornar muçulmano é proclamar este texto e entendê-lo 
com seu coração. Além da crença em Alá, o fiel precisa crer que tudo aquilo que 
Maomé disse vem de Deus, e, portanto, não pode ser questionado.
2 Oração: “A oração é uma obrigação prescrita aos crentes, para ser cumprida 
em seu devido tempo” (ALCORÃO SAGRADO 4:103).
A oração é fundamental em todas as religiões monoteístas, porém no 
islamismo ela tem um caráter obrigatório pelo menos cinco vezes ao dia: ao 
amanhecer, ao meio-dia, durante a tarde, ao entardecer e durante a noite. Para 
participar das orações, o fiel deve realizar um banho ritual para se purificar das 
impurezas deste mundo.
FIGURA 18 - MESQUITA DA CIDADE DE CURITIBA, LOCAL ONDE 
OS MUÇULMANOS SE REÚNEM PARA SUAS ORAÇÕES
FONTE: Disponível em: <http://www.curitiba-parana.net/religiao.
htm>. Acesso em: 28 set. 2009.
TÓPICO 4 | OS POVOS DO LIVRO: O ISLAMISMO
55
3 O jejum no mês do Ramadam: "Ó fiéis, está-vos prescrito o jejum, tal como 
foi prescrito a vossos antepassados, para que temais a Deus. Jejuareis 
determinados dias; porém, quem de vós não cumprir o jejum, por achar-se 
enfermo ou em viagem, jejuará, depois o mesmo número de dias. Mas quem, 
só à custa de muito sacrifício, consegue cumpri-lo, vier a quebrá-lo, redimir-
se-á, alimentando um necessitado; porém, quem se empenhar em fazer além 
do que for obrigatório, será melhor. Mas, se jejuardes, será preferível para 
vós, se quereis sabê-lo. O mês de Ramadan foi o mês em que foi revelado 
o Alcorão, orientação para a humanidade e evidência de orientação e 
discernimento. Por conseguinte, quem de vós presenciar o novilúnio deste 
mês deverá jejuar; porém, quem se achar enfermo ou em viagem jejuará, 
depois, o mesmo número de dias. Deus vos deseja a comodidade e não a 
dificuldade, mas cumpri o número (de dias), e glorificai a Deus por Ter-vos 
orientado, a fim de que (Lhe) agradeçais" (ALCORÃO SAGRADO 2:183-185).
O jejum muçulmano acontece durante o mês do Ramadam e inicia com o 
nascer do Sol e termina com o pôr do Sol. Durante todo este período, o fiel deve 
abster-se de qualquer tipo de alimento e bebida, relações sexuais e o tabagismo. 
Tem o objetivo de trazer a disciplina ao povo, além de trabalhar na purificação do 
corpo e da mente do muçulmano.
4 O Zakat (Caridade) "E lhes foi ordenado que adorassem sinceramente a 
Deus, fossem monoteístas, observassem a oração e pagassem o Zakat; esta é 
a verdadeira religião” (ALCORÃO SAGRADO 98:5).
 Zakat é traduzido como caridade, ou esmola, e é utilizado como ofertas 
voluntárias, que têm sua destinação presente no Alcorão. Elas devem ser 
destinadas aos órfãos, às viúvas, aos endividados, aos funcionários responsáveis 
pela arrecadação da Zakat e toda a obra de multiplicação do islamismo ao redor 
do mundo. O valor desta contribuição é de aproximadamente 2,5% da renda e 
deve ser entregue uma vez por ano. São tributados sobre o ouro, e os metais, 
sobre os animais, sobre as colheitas, entre outras categorias.
5 A Peregrinação a Meca: "... A peregrinação à Casa é um dever para com Deus, 
por parte de todos os seres humanos, que estão em condições de empreendê-
la; entretanto, quem se negar a isso saiba que Deus pode prescindir de toda 
a humanidade" (ALCORÃO SAGRADO 3:97).
Todo o muçulmano deve empreender uma viagem até a cidade de Meca 
no mês sagrado,pelo menos uma vez na vida. A tradição de Meca como centro 
religioso é muito antiga e sua história é curiosa. Segundo a tradição, a Caaba foi 
edificada por Abrão e seu filho Ismael há cerca de 4000 anos. Deus teria dado a 
ordem a Abraão, de que os homens deveriam visitar o local. Esta edificação é 
coberta por um tecido negro e os muçulmanos devem participar das cerimônias 
realizadas neste local. As condições para a viagem estão bem claras no Alcorão. 
Aquele que viaja deve deixar suprimentos e dinheiro para sua família o suficiente 
para que possa suportar sua ausência, não deve em hipótese nenhuma ser 
utilizado dinheiro ilícito para a peregrinação, além do peregrino ter condições 
financeiras para tal.
56
UNIDADE 1 | AS RELIGIÕES MONOTEÍSTAS
UNI
Se você se interessou em aprofundar seus estudos sobre o islamismo, 
sugerimos o livro “Os cinco pilares do Islã que pode ser encontrado no site <http://islam.com.
br/biblioteca/pilares/Os%20Cinco%20Pilares%20da%20Religião%20Islâmica.pdf>.
FIGURA 19 – A CIDADE DE MECA DURANTE PEREGRINAÇÃO E A CAABA
FONTE: Disponível em: <www.geocities.com/.../5871/jorney/meca.html>. Acesso em: 26 set. 
2009.
No campo doutrinário existem dois grandes grupos de muçulmanos, já 
tratados no tópico sobre a História do Islã: os xiitas e os sunitas. Já analisamos a 
origem de cada grupo a partir de uma ótica política de sucessão sobre a liderança 
da religião. Gostaria de pontuar que, de maneira doutrinária, as duas correntes 
são muito parecidas, com diferenças irrelevantes, se considerarmos apenas o 
campo religioso.
DICAS
Eu aprendi com o professor que se analisarmos qualquer fato apenas por um 
ponto de vista, nossa compreensão sobre este fato será comprometida. Por isso precisamos 
avaliar as demais diferenças entre sunitas e xiitas.
TÓPICO 4 | OS POVOS DO LIVRO: O ISLAMISMO
57
Você tem razão quando diz que precisamos avaliar outros lados dos 
eventos. No caso que estamos discutindo aqui, se por um lado as diferenças 
religiosas não são tão severas, no campo político as disputas são muito acirradas. 
Os núcleos geográficos dos xiitas estão no Irã e no Iêmen, basicamente. 
Para um melhor entendimento, vamos tentar comparar esta divisão do Islã 
com o cisma cristão que estudamos no tópico anterior. Como no caso da separação 
entre Igreja Romana com Ortodoxa, os xiitas e sunitas questionaram a autoridade 
religiosa. Para os sunitas, a autoridade da liderança precisa estar baseada na tradição, 
nas práticas do profeta e de sua família como foi definido por eles. Para os xiitas, por 
outro lado, as Fontes de Emulação são os líderes hierárquicos da religião, chamados 
aiatolás. Para os sunitas, o imã é o líder da congregação, como uma espécie de 
pastor ou sacerdote cristão. Os xiitas atribuem uma característica mais sobrenatural 
aos imãs, que seriam os sucessores espirituais do profeta Maomé, atribuindo a estes 
líderes um caráter sagrado, fato que para os sunitas é uma heresia.
Sobre o fim dos tempos, os xiitas esperam pela vinda do Mahdi, uma 
espécie de Messias, o que não ocorre com os sunitas. Resumindo, os sunitas 
baseiam sua teologia no passado, enquanto a outra linha pauta sua teoria religiosa 
no futuro redentor.
Além destes dois grandes grupos, existem outras divisões do islamismo 
que apontam para algumas diferenças doutrinárias que levaram às divisões. 
Alguns grupos surgiram próximos ao início do movimento, outros são mais 
recentes, que apresentaremos a seguir.
FIGURA 20 – DIVISÃO DO ISLAMISMO: INFOGRÁFICO
FONTE: Disponível em: <http://guiadoestudante.abril.com.br/aventuras-historia/confira-
como-surgiu-divisao-sunitas-xiitas-696521.shtml>. Acesso em: 26 jul. 2016.
58
UNIDADE 1 | AS RELIGIÕES MONOTEÍSTAS
Além de sunitas e xiitas, o islamismo conta com algumas divisões internas 
que são consideradas seitas por parte da liderança oficial da religião. De maneira 
geral, estes grupos apresentam uma conotação mais mística dos preceitos 
islâmicos. O primeiro deles são os drusos, que formam uma seita à parte do 
islamismo tradicional.
DICAS
É bom não esquecermos que este islamismo tradicional é formado pelos dois 
grupos preponderantes: xiitas e sunitas.
São conhecidos como Filhos da Luz ou Discípulos de Ismael, ismaelitas. 
Possuem uma hierarquia interna composta por corporais, discípulos, adeptos, 
mestres e iniciados. Para os drusos existem cinco seres celestiais: Iman ou Gabriel, 
uma espécie de ministro superior de Deus com quem compartilhou uma parte de 
sua essência divina. Teria aparecido à humanidade sete vezes com o objetivo de 
compartilhar com o homem seu destino. Estas aparições do Iman foram: Chatniel 
na época de Adão, Pythagore no período de vida de Noé, Shwaib na de Moisés, 
Eleazar no tempo de Jesus, Salman El Farzi durante a vida de Maomé, Hamza na 
época de El Kaken e no tempo de Said como Saleh. Acreditam no retorno do Iman 
(Messias) como sendo próxima. Acreditam também na vinda da divindade para 
a Terra onde assume forma humana como um Messias que veio em dez ocasiões 
distintas ao longo da História.
IMPORTANT
E
Estas facções do islamismo apresentam fortes influências do Zoroastrismo, por 
isso é importante conhecer um pouco mais desta religião para ajudá-lo a identificar estas 
influências.
Os drusos acreditam em dois princípios, chamados de Rival e Alta 
Razão. Enquanto o primeiro é o Espírito do Mal, o segundo é o Espírito de Deus. 
Acreditam na reencarnação, negam a predestinação do homem, pois para os 
drusos o homem é livre para escolher entre o Bem ou o Mal. Esta decisão passa 
pelas escolhas morais de cada ser humano, que o levarão para mais perto da Alta 
Razão ou do Rival.
TÓPICO 4 | OS POVOS DO LIVRO: O ISLAMISMO
59
Em termos de quantidade, embora seja difícil saber com exatidão, algumas 
fontes relatam quase um milhão de habitantes espalhados em grupos entre os 
territórios do Líbano, Síria, Jordânia e Israel.
FIGURA 21 – POPULAÇÃO DRUSA
FONTE: Disponível em: <http://www.ilya.it/msur/pages/druso.html>. Acesso 
em: 26 jul. 2016.
Outro grupo dissidente do islamismo tradicional são os sufis, que surgiu 
como uma reação ao processo intelectual do Islã e críticas ao luxo das cortes dos 
califados. Encontrou em outras filosofias e religiões seu anteparo doutrinário, 
possuindo elementos do cristianismo, taoísmo, hinduísmo, neoplatonismo, 
pitagorismo e zoroastrismo. Teve seu ápice durante o século XIII, com lendas que 
colocam importantes personagens deste período como adeptos das práticas sufis.
Entre suas práticas podemos citar o ascetismo através do jejum, oração e 
meditação. Considerado um movimento místico, acredita que o espírito humano 
é uma emanação do divino com o qual se esforça para se integrar. Este retorno 
acontece através de três meios principais: pelo amor, êxtase e pela intuição.
DICAS
Como a história também traz muitas curiosidades interessantes, um grupo 
muçulmano bastante controverso e cheio de lendas e contradições durante a Idade Média 
deu origem a uma adaptação para uma franquia de jogos de videogame de sucesso, intitulada 
Assassins Creed, ou Ordem dos Assassinos.
60
UNIDADE 1 | AS RELIGIÕES MONOTEÍSTAS
FIGURA 22 – ASSASSINS CREED
FONTE:  Disponível em: <http://www.gamevicio.com/i/noticias/230/230445-
assassin-s-creed-1-grid-2-e-dark-void-entram-na-retrocompatibilidade/>. 
Acesso em: 20 ago. 2016.
Este grupo, envolto em muitas lendas e pouco material histórico, teria 
atuado na Pérsia e Síria entre os séculos XI e XII. O seu inimigo era o sistema 
político e religioso sunita, sendo este grupo xiita, portanto. Entre aqueles que 
analisam este grupo poderia sugerir a leitura do livro de Bernard Lewis chamado: 
Os Assassinos, os primórdios do terrorismo no Islã. 
FIGURA 23 – LIVRO OS ASSASSINOS, DE BERNARD LEWIS
FONTE: Disponível em: <http://www.estantevirtual.com.br/
autor/bernard-lewis>.Acesso em: 26 jul. 2016.
Este comentário sobre grupos radicais em plena Idade Média tem o objetivo 
de trazer um pouco da discussão que ainda vemos hoje em nosso dia a dia, e 
não significa, de forma nenhuma, que a maioria dos muçulmanos compartilha 
destas práticas. Neste sentido é importante não generalizar práticas religiosas a 
partir das minorias, mas precisamos entender sempre o contexto macro de cada 
pesquisa que fizermos em nossa carreira acadêmica.
TÓPICO 4 | OS POVOS DO LIVRO: O ISLAMISMO
61
4 RELAÇÕES
No Islã não existe distinção entre política e religião. Todas as obrigações 
éticas, morais e sociais estão baseadas no Alcorão. A ética muçulmana preocupa-
se com a justiça, na medida em que não existe violência aberta e violência sutil, 
apenas justiça e injustiça. É permitido defender-se da injustiça e da tirania. É 
neste ponto que alguns radicais islâmicos encontram legalidade para praticar 
atos terroristas. Vale lembrar que estas facções extremistas são minorias dentro 
do mundo islâmico. O termo fundamentalismo, muito utilizado em nossos dias, é 
um termo perigoso. Esta palavra tem origem no verbete fundamento, no sentido 
de alicerces de uma casa. Portanto, não é correto afirmar que apenas o islamismo 
é fundamentalista. Este conceito foi criado no Ocidente Cristão no século XVII 
como uma forma de resistência ao liberalismo que surgiu na Europa neste 
período. O fundamentalismo não é exclusividade dos muçulmanos, tendo em 
vista que pode ser de cunho religioso, político ou ainda ideológico. 
Os homens que derrubaram os aviões nas torres gêmeas e no Pentágono 
em 2001 o fizerem por terem uma grande convicção de que estavam contribuindo 
na luta do mal contra o bem. Porém, em seu discurso de vingança, George Bush 
usou um termo semelhante, que era o de acabar com este mal. Em última análise, 
todos os fundamentalistas são parecidos, sendo que tanto no campo religioso como 
no campo político, as vidas humanas são desprezadas em nome de uma verdade 
única, seja ela o sistema capitalista ou uma religião. Estes grupos extremistas são 
efeitos colaterais do colonialismo europeu, onde o principal efeito era extrair a 
matéria-prima de que precisavam. Este sistema foi bastante traumático para as 
sociedades oprimidas pelos ocidentais. Este período fez com que o ódio entre 
orientais e ocidentais gerasse os fatos a que assistimos confortavelmente em 
nossos lares todos os dias.
UNI
Sobre o fundamentalismo, sugerimos a leitura do pequeno livro do professor 
Martin N. Dreher: Para entender o fundamentalismo, da Editora Unisinos. Muito esclarecedor 
ao explicar como surgiu esta ideia de que o Ocidente representa o mal para o Oriente e o 
motivo do ódio do mundo muçulmano pelo Ocidente capitalista. Vale a pena ler!
“No campo do diálogo entre as religiões, os muçulmanos aceitam um 
diálogo com as outras duas religiões monoteístas, no sentido de enfatizarem o 
culto monoteísta e, segundo eles, compartilharem do mesmo deus”. (SCHERER, 
1995, p. 139).
 A prática da caridade ou Zakat é uma maneira de diminuir as barreiras 
sociais. O Islã é uma grande nação espalhada por todo o mundo, cujo ponto de 
62
UNIDADE 1 | AS RELIGIÕES MONOTEÍSTAS
união é a fé muçulmana. Todos devem se envolver na missão de diminuir as 
diferenças através da partilha e do pagamento da Zakat. Maomé enfatizou a 
necessidade de auxiliar os pobres. 
O crescimento do islamismo no mundo tem alcançado índices expressivos 
em todos os continentes. No Brasil este crescimento também é bastante importante 
e pode ser visto no infográfico a seguir.
FIGURA 24 – INFOGRÁFICO REGISTRA CRESCIMENTO DO ISLAMISMO NO BRASIL E NO 
MUNDO
FONTE: Disponível em: <http://istoe.com.br/349181_OS+CAMINHOS+DO+ISLA+NO+BRASIL/>. 
Acesso em: 26 jul. 2016.
TÓPICO 4 | OS POVOS DO LIVRO: O ISLAMISMO
63
LEITURA COMPLEMENTAR
Islã cresce na periferia das cidades do Brasil
Jovens negros tornam-se ativistas islâmicos como resposta à desigualdade racial. 
O que pensam e o que querem os muçulmanos do gueto
Eliane Brum
O Islã na Laje
Carlos Soares Correia virou Honerê Al-Amin Oadq. Ele é um dos principais 
divulgadores muçulmanos do ABC paulista. Na foto, na periferia de São 
Bernardo do Campo, onde vive, reza e faz política.
Cinco vezes ao dia, os olhos ultrapassam o concreto de ruas irregulares, 
carentes de esgoto e de cidadania, e buscam Meca, no outro lado do mundo. É 
longe e, para a maioria dos brasileiros, exótico. Para homens como Honerê, Malik 
e Sharif, é o mais perto que conseguiram chegar de si mesmos. Eles já foram 
Carlos, Paulo e Ridson. Converteram-se ao Islã e forjaram uma nova identidade. 
São pobres, são negros e, agora, são muçulmanos. Quando buscam o coração 
islâmico do mundo com a mente, acreditam que o Alcorão é a resposta para o 
que definem como um projeto de extermínio da juventude afro-brasileira: nas 
mãos da polícia, na guerra do tráfico, na falta de acesso à educação e à saúde. 
Homens como eles têm divulgado o Islã nas periferias do país, especialmente em 
São Paulo, como instrumento de transformação política. E preparam-se para levar 
a mensagem do profeta Maomé aos presos nas cadeias. Ao cravar a bandeira do 
Islã no alto da laje, vislumbram um estado muçulmano no horizonte do Brasil. E, 
ao explicar sua escolha, repetem uma frase com o queixo contraído e o orgulho 
no olhar: “Um muçulmano só baixa a cabeça para Alá – e para mais ninguém”. 
Honerê, da periferia de São Bernardo do Campo, converteu Malik, da 
periferia de Francisco Morato, que converteu Sharif, da periferia de Taboão, que 
vem convertendo outros tantos. É assim que o Islã cresce no anel periférico da 
Grande São Paulo. Os novos muçulmanos não são numerosos, mas sua presença é 
forte e cada vez mais constante. Nos eventos culturais ou políticos dos guetos, há 
sempre algumas takiahs cobrindo a cabeça de filhos do Islã cheios de atitude. Há 
brancos, mas a maioria é negra. “O Islã não cresce de baciada, mas com qualidade e 
com pessoas que sabem o que estão fazendo”, diz o rapper Honerê Al-Amin Oadq, 
na carteira de identidade Carlos Soares Correia, de 31 anos. “Em cada quebrada, 
alguém me aborda: ‘Já ouvi falar de você e quero conhecer o Islã’. É nossa postura 
que divulga a religião. O Islã cresce pela consciência e pelo exemplo”.
Em São Paulo, estima-se em centenas o número de brasileiros convertidos 
nas periferias nos últimos anos. No país, chegariam aos milhares. O número total 
de muçulmanos no Brasil é confuso. Pelo Censo de 2000, haveria pouco mais 
de 27 mil adeptos. Pelas entidades islâmicas, o número varia entre 700 mil e 3 
milhões. A diferença é um abismo que torna a presença do Islã no Brasil uma 
64
UNIDADE 1 | AS RELIGIÕES MONOTEÍSTAS
incógnita. A verdade é que, até esta década, não havia interesse em estender uma 
lupa sobre uma religião que despertava mais atenção em novelas como O clone 
que no noticiário. 
O muçulmano Feres Fares, divulgador fervoroso do islamismo, tem 
viajado pelo Brasil para fazer um levantamento das mesquitas e mussalas 
(espécie de capela). Ele apresenta dados impressionantes. Nos últimos oito anos, 
o número de locais de oração teria quase quadruplicado no país: de 32, em 2000, 
para 127, em 2008. Surgiram mesquitas até mesmo em Estados do Norte, como 
Amapá, Amazonas e Roraima. 
Autor do livro Os muçulmanos no Brasil, o xeque iraquiano Ishan 
Mohammad Ali Kalandar afirma que, depois do 11 de setembro, aumentou muito 
o número de conversões. “Os brasileiros tomaram conhecimento da religião”, 
diz. “E o Islã sempre foi acolhido primeiro pelos mais pobres”. 
Na interpretação de Ali Hussein El Zoghbi, diretor da Federação das 
Associações Muçulmanas do Brasil e conselheiro da União Nacional das 
Entidades Islâmicas, três fatores são fundamentais para entender o fenômeno: o 
cruzamento de ícones do islamismo com personalidadesimportantes da história 
do movimento negro, o acesso a informações instantâneas garantido pela internet 
e a melhoria na estrutura das entidades brasileiras. “Os filhos dos árabes que 
chegaram ao Brasil no pós-guerra reuniram mais condições e conhecimento. Isso 
permitiu nos últimos anos o aumento do proselitismo e uma aproximação maior 
com a cultura brasileira”, afirma. 
Eles trazem ao Islã a atitude hip-hop e a formação política do movimento 
negro.
A presença do Islã na mídia desde a derrubada das torres gêmeas, reforçada 
pela invasão americana do Afeganistão e do Iraque, teria causado um duplo efeito. 
Por um lado, fortalecer a identidade muçulmana de descendentes de árabes afastados 
da religião, ao se sentir perseguidos e difamados. Por outro, atrair brasileiros sem 
ligações com o islamismo, mas com forte sentimento de marginalidade. Esse último 
fenômeno despertou a atenção da Embaixada dos Estados Unidos no Brasil, que 
citou no Relatório de Liberdade Religiosa de 2008: “As conversões ao islamismo 
aumentaram recentemente entre os cidadãos não árabes”. 
Os jovens convertidos trazem ao Islã a atitude do hip-hop e uma formação 
política forjada no movimento negro. Ao prostrar-se diante de Alá, acreditam voltar 
para casa depois de um longo exílio, pois as raízes do Islã negro estão fincadas 
no Brasil escravocrata. E para aflorar no Brasil contemporâneo, percorreram um 
caminho intrincado. O novo Islã negro foi influenciado pela luta dos direitos civis 
dos afro-americanos, nos anos 60 e, curiosamente, por Hollywood. Cruzou então 
com o hip-hop do metrô São Bento, em São Paulo, nos anos 80 e 90. E ganhou 
impulso no 11 de setembro de 2001.
 
FONTE: Disponível em: <http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI25342-15228,00-ISLA
+CRESCE+NA+PERIFERIA+DAS+CIDADES+DO+BRASIL.html>. Acesso em: 8 dez. 2009.
65
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico, você aprendeu que:
• O islamismo surgiu no século VII com um homem chamado Maomé.
• As bases do islamismo estão na aceitação do profeta Maomé como o porta-voz 
de Deus e na crença em um único Deus: Alá.
• Dentro do islamismo existem dois grupos principais: os xiitas e os sunitas e 
outros grupos secundários, como os drusos e sufis, de caráter mais místico.
• A prática do islamismo está pautada em cinco pilares fundamentais: a oração, 
o testemunho, a Zakat, o jejum no Ramadam e a peregrinação até Meca.
66
AUTOATIVIDADE
Responda às seguintes questões:
1 Por que a cidade de Meca era fundamental para Maomé e para o islamismo? 
2 Qual é a diferença entre sunitas e xiitas?
3 Cite os cinco pilares do Islã e fale um pouco de cada um deles.
4 Qual é a origem do termo fundamentalismo?
5 O islamismo aceita dialogar com outras religiões? Quais?
67
UNIDADE 2
RELIGIÕES DO EXTREMO ORIENTE
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir desta unidade você será capaz de:
• entender como surgiram as religiões orientais de origem indiana e asiáti-
ca, como o hinduísmo e o budismo;
• conhecer algumas religiões influentes no Extremo Oriente, como confucio-
nismo, taoísmo e xintoísmo;
• entender que as diferenças entre estas religiões são muitas vezes oriundas 
de interpretações diferentes dos ensinamentos de seus fundadores;
• estabelecer o respeito tão necessário para o diálogo intra-religioso;
• perceber que em um contexto de crise, novos movimentos religiosos sur-
gem como uma resposta a esta crise social, econômica, filosófica.
Esta Unidade está dividida em três tópicos e em cada um deles, você encon-
trará atividades que o ajudarão a aplicar os conhecimentos apresentados nos 
tópicos.
TÓPICO 1 – O HINDUÍSMO
TÓPICO 2 – O BUDISMO
TÓPICO 3 – AS RELIGIÕES DO EXTREMO ORIENTE
68
69
TÓPICO 1
 HINDUÍSMO
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
Você conhecerá agora um mundo totalmente novo em conceitos, visão de 
mundo e modo de expressar a religiosidade. Bem-vindo ao mundo do hinduísmo!
Para mantermos a didática da disciplina, adotaremos, nesta unidade, 
os mesmos tópicos que utilizamos na unidade anterior. Desta forma, você 
poderá comparar com maior facilidade cada uma das religiões e como elas estão 
relacionadas.
O hinduísmo tem uma estrutura diferente de tudo aquilo que já vimos 
em nossa jornada religiosa. Das cinco grandes religiões que estudaremos em 
profundidade, é a única que não possui um fundador instituído, bem como um 
sistema religioso centralizado. Não existe uma liderança única, nem sequer um 
sistema de adoração único. Com cerca de três milhões de deuses, e cerca de três 
mil castas cada qual com suas regras e rituais, o hinduísmo é uma religião muito 
complexa de ser analisada de maneira profunda, por possuir muitos pormenores 
e muitas variações. Responder a perguntas como por que muitos hindus preferem 
morrer de fome a comer carne de vaca, por que se banham nas águas turvas e 
sujas do rio Ganges, buscando purificação, e como funciona o sistema de castas, 
será o nosso desafio neste tópico.
Mais uma vez, gostaria de salientar que não usaremos nossas opiniões 
pessoais nas explanações. Apenas buscamos informações de praticantes destas 
religiões, pessoas que realmente acreditam que sua religião é verdadeira e que a 
seguem com fé, independentemente de qual seja. Muitas vezes limitamos nossa 
visão e entendimento no sentido de atribuirmos o conceito de fé apenas ao nosso 
reduto religioso, quando, na verdade, a definição de fé abrange até aqueles que 
dizem não a possuir.
UNIDADE 2 | RELIGIÕES DO EXTREMO ORIENTE
70
UNI
Até mesmo os ateus precisam de fé para NÃO acreditar em algo sagrado. Até 
mesmo a teoria do Big Bang, no sentido prático, é uma questão de fé, na medida em que é 
impossível comprovar que o universo surgiu de uma explosão cósmica. Podemos resgatar 
a etimologia de fé do grego “pistia” e do latim “Fides”, resultando na firme convicção de que 
algo seja verdade, sem prova de que este algo seja verdade, pela absoluta confiança que 
depositamos nele.
2 HISTÓRIA
A principal característica do hinduísmo é sua diversidade extrema. Seu 
número sem fim de deuses nos mostra um grande triunfo do hinduísmo: ter 
permanecido como uma única religião mesmo com tantos elementos distintos. 
Essa é, na verdade, uma característica do politeísmo. 
Não conhecemos seu fundador, portanto, o mais correto é dizermos 
que o hinduísmo surgiu de uma mescla de outras religiões que surgiram da 
migração de povos indo-europeus para o Norte da Índia há cerca de três mil 
anos. O nome hinduísmo significa apenas indiano, portanto, é uma religião que 
surgiu e permanece restrita a este país e por onde seu povo migrou ao redor do 
mundo. Uma grande peculiaridade desta religião é que, diferente do cristianismo, 
judaísmo e islamismo, o hinduísmo primitivo, ou seja, sua gênese, não sofreu 
muitas alterações ao longo de sua história. 
Uma data para o estabelecimento de um início é uma tarefa complexa. 
Estudiosos têm atribuído uma data entre 1500 a.C. e 200 a.C. Este início deve estar 
associado à ocupação dos povos de origem ariana no Vale do Rio Indo. 
UNI
Você sabe quem foram os povos arianos? Achamos importante que você 
entenda isso antes de continuarmos. Estes povos têm sua origem no Mediterrâneo Oriental 
e acredita-se que seus vestígios mais antigos datam de 8000 a.C. Eles migraram por toda a 
Ásia, Índia e Europa. A miscigenação com os povos nativos deu origem aos gregos, romanos, 
celtas e indianos, entre outros.
É interessante notar que o termo ariano foi utilizado por Hitler e pelos intelectuais do nazismo 
para estabelecer uma prática de genocídio, buscando mostrar que a “raça ariana”, ou seja, 
os alemães, eram racialmente superiores que os judeus, ciganos etc. Isso é um tremendo 
contraponto, na medida em que os arianos são, em sua origem, um povo provenienteda 
mistura de vários povos.
TÓPICO 1 | HINDUÍSMO
71
Didaticamente, é possível dividir o hinduísmo em três fases principais: 
Hinduísmo Védico, Brahmânico e Híbrido. Na primeira fase, o que podemos 
chamar de hinduísmo primitivo, o que predominava eram os cultos a deuses 
tribais. O principal deles era o chamado Dyaus, que significa Deus do Céu. É a 
partir deste deus que todos os outros passam a existir. Ele é o grande responsável 
pela agricultura, pelas chuvas e pela fecundidade. Neste período já se tem 
uma distinção entre deuses maiores e menores, porém restritos a elementos da 
natureza, como pedras, árvores, montanhas, raios, tempestades etc.
A segunda fase, conhecida com o fim dos Vedas, a partir da introdução 
do deus Brahma, é a mais longa e duradoura da história do hinduísmo. Com o 
estabelecimento dos arianos e sua influência contínua, o panteão hindu se divide 
de um só deus para uma tríade: Brahma, Vishnu e Shiva. Eles representam, 
respectivamente, a força criadora, a força preservadora e a força destruidora. Os 
demais deuses existem com a permissão destes três. O sistema religioso se torna mais 
elaborado e é deste período o estabelecimento das castas indianas. Os sacerdotes 
ou “brâmanes” são estabelecidos e os templos começam a ser edificados em honra 
aos mais diversos deuses. A ideia de reencarnação é desta fase do hinduísmo.
A terceira e atual fase do hinduísmo moderno é o chamado Hinduísmo 
Híbrido, oriundo da influência do islamismo e cristianismo, principalmente. No 
século XII, a Índia foi invadida por muçulmanos e muitos hindus eram forçados 
à conversão. O ápice deste conflito entre hindus e muçulmanos foi a criação do 
Estado do Paquistão, que foi separado da Índia de modo a separar os dois grupos. 
Já no século XVIII, o cristianismo entra na história da Índia com a chegada de 
missionários cristãos, em especial católicos, que influenciaram a sociedade e também 
a religião. Através das ideias de fraternidade, solidariedade e igualdade de todos 
perante Deus, o sistema de castas passa a ser obsoleto e, em 1947, é abandonado 
pelo governo indiano. Isso não quer dizer que um sistema social milenar acabe de 
uma hora para outra, mas é um grande passo para a inclusão social e uma tentativa 
de diminuir a miséria que reina na Índia. É nesta fase que surgem movimentos de 
não violência, como o liderado por Mahatma Gandhi no século XX.
FIGURA 25 – PRINCIPAIS DEUSES DO HINDUÍSMO
shiva brahma rama ganesa
vishnukaliindrahanuman
UNIDADE 2 | RELIGIÕES DO EXTREMO ORIENTE
72
sita
agni durga kartkeya kama
krishna lakshmi parvati
FONTE: Disponível em: <http://joaobosco.wordpress.com/2008/04/12/outros-deuses-do-
hinduismo-o-om-sagrado/>. Acesso em: 15 out. 2009.
3 DOUTRINA
Um conceito-chave para o hinduísmo é aquele que atribui a imortalidade 
à alma do homem. Segundo os preceitos religiosos, após a morte, o hinduísta 
pode renascer em uma casta mais alta ou mais baixa, num animal ou até mesmo 
em um inseto. O que move este ciclo de renascimentos e o que determina qual 
será a próxima jornada da alma de um homem é o “Karma” desta pessoa. A partir 
disso, é possível entender por que os hinduístas são vegetarianos, o animal é uma 
alma em busca de elevação espiritual e matá-lo representa a interrupção desta 
evolução, fazendo com que ela retorne mais uma vez no mesmo estágio anterior 
ou até mesmo num estágio inferior.
UNI
O que significa “Karma”? O Karma tem origem no sânscrito e quer dizer ato. 
Este ato pode ser físico em pensamento e atitudes. O interessante é que esta ideia cíclica 
da alma rumo a algo maior não é exclusividade do hinduísmo, o elemento inovador neste 
sistema religioso é o fato de que a vida atual do indivíduo não é vista como uma punição 
ou como uma espécie de prêmio pelo Karma da vida anterior, mas sim como uma espécie 
de lei natural, imutável. Para o hinduísta, o que interessa são os atos desta vida. São eles que 
determinam o que ocorrerá com sua alma na próxima jornada.
Através da doutrina do Karma é possível sustentar um sistema social 
muito desigual como o de castas. Na medida em que um homem nasce miserável, 
isso é um efeito natural de como ele (ao ler ele, entenda sua alma) agiu e se 
desenvolveu na vida anterior. Não há nada a fazer, somente buscar a elevação 
espiritual individual para que sua sorte seja melhor na próxima vida. A Lei natural 
TÓPICO 1 | HINDUÍSMO
73
de causa e efeito se aplica aqui da mesma forma que se aplica ao cristianismo e 
ao judaísmo. A diferença é que enquanto para o hinduísmo o final desta história 
pode ser praticamente eterno, para os outros dois exemplos não existe a opção de 
uma segunda chance em outra encarnação.
Como dissemos no início, o hinduísmo não possui uma doutrina religiosa 
estável e aceita por todos os seus membros. A única questão a ser respondida por 
ele é como é possível romper o ciclo de reencarnações? Explicamos os períodos 
históricos do hinduísmo, em cada um deles a visão de como proceder também é 
diferente. O importante é entender que não existe um sistema rígido que obrigue 
ninguém a fazer nada. O caminho que cada um escolhe para se libertar da 
reencarnação é pessoal. Existem apenas algumas orientações gerais que podem 
ajudar, o chamado caminho das três vias. Este caminho pode servir de inspiração 
para o hinduísta.
A primeira via deste caminho hinduísta é o do sacrifício. No período védico, 
o sacrifício era de fundamental importância para manter o sistema universal. 
Através dos sacrifícios era possível manter a fertilidade, as chuvas, a colheita, 
todo o sistema social. Como o hinduísmo evoluiu, o significado do sacrifício é 
outro na religião contemporânea. Os sacrifícios são realizados hoje através de 
boas ações e abnegações pessoais, com o intuito de obter a felicidade, saúde e 
prosperidade. Em última instância, o sacrifício tem o objetivo de interromper o 
ciclo de reencarnações da alma.
 
A segunda via deste caminho é a via do conhecimento. Para os hinduístas, 
a ignorância é o principal elemento para prender uma alma a esta existência. 
Neste sentido, se o indivíduo consegue entender a verdade sobre sua existência, 
ele pode romper com este ciclo. É importante sabermos, então, qual é esta verdade 
suprema que, para os hindus, é fundamental para acabar com o sofrimento da 
vida terrena.
É preciso saber que a palavra “atmã”, em sânscrito, é equivalente à alma 
humana. A principal verdade que o hindu precisa aprender é que seu atmã e 
o princípio espiritual do universo, representado pelo deus Brahma, não são 
elementos distintos, mas um único espírito. Neste sentido, Brahma é um princípio 
universal, uma divindade impessoal. A alma humana é um reflexo de Brahma. 
Poderíamos comparar esta questão ao reflexo da Lua em diversos lagos ao redor 
do mundo ao mesmo tempo. Nenhum reflexo é a Lua de verdade, mas reflete sua 
luz. O ciclo de reencarnações termina quando o homem entende completamente 
sua unidade com Brahma, voltando, assim, a fazer parte do deus supremo.
UNIDADE 2 | RELIGIÕES DO EXTREMO ORIENTE
74
UNI
É deste elemento da doutrina hindu que foi extraída a famosa frase a respeito do 
hinduísmo de que tudo é deus e, portanto, todos os caminhos levam a ele.
O terceiro caminho para a salvação é a via da devoção, que é a proposta 
mais recente para o hinduísmo. É a mais aceita e a mais seguida na Índia moderna 
e é representado pelo seu livro sagrado: o Bhagavad Gitta, um poema catequético 
que aponta para um caminho mais fácil para a salvação. Este livro sagrado mostra 
que o hindu pode se aproximar dos deuses de maneira desinteressada, ou seja, 
sem buscar ganhos ou bênçãos e, com isso, através da misericórdia divina é que o 
indivíduo é salvo. Isso não acaba com as outras duas vias, apenas mostra que se 
tanto o conhecimento como o sacrifício forem feitos buscando algo em troca, nãoexiste benefício para a alma do indivíduo.
UNI
Esta via para a salvação do hindu mostra uma relação mais próxima com o deus 
ao qual ele adora. É importante lembrar que existem duas percepções sobre a divindade 
hindu. No sentido filosófico, o hinduísmo é panteísta, ou seja, o deus é uma força imaterial 
que permeia tudo e todos. No sentido prático, é politeísta, ou seja, existe um panteão de 
deuses que supera a casa dos 30 milhões de deuses.
Existe uma hierarquia bastante presente no contexto divino hindu. Os 
principais deuses são Brahma, que é o criador do mundo; Vishnu, que é aquele 
que sustenta e protege as leis naturais, e Shiva, que é o destruidor e que de tempos 
em tempos dança sobre o mundo até que dele restem apenas pedaços. Quando 
isso acontece, Brahma recria o universo novamente. 
UNI
Esta doutrina trinitária no hinduísmo tem sua relevância no âmbito acadêmico, 
porém com pouco respaldo popular.
TÓPICO 1 | HINDUÍSMO
75
Existem muitas deusas no panteão hindu, bem como uma infinidade de 
deuses menores que são os mais queridos pela população. Os grandes deuses se 
preocupam com o universo, com a manutenção da natureza, enquanto que os 
deuses menores podem ajudar os seres humanos em seus problemas cotidianos. 
Esses deuses podem ser de origem humana, tais como guerreiros, esposas fiéis, 
entre outra infinidade de casos. Guardadas as devidas proporções, nesta relação 
entre os grandes deuses e os deuses menores, pode ser feita uma analogia entre a 
relação que o catolicismo romano faz entre Deus e os santos, por exemplo.
Em nossa atualidade, alguns estudiosos do tema estão atribuindo uma 
espécie de neo-hinduísmo para a chegada desta religião para o Ocidente. Esta 
manifestação religiosa é entendida como uma reinterpretação dos princípios 
e tradições hindus, que desde o início do século XX esteve voltada a enaltecer 
a cultura indiana, diante da cultura globalizada ocidental. Isto só foi possível 
devido a uma mudança significativa no discurso hindu. Esta mudança apresenta 
dois pontos principais: O ensino sobre as castas deixou de ser o elemento central 
do hinduísmo, além da nova disposição em levar as práticas hindus para pessoas 
que não tivessem origem étnica no sul da Ásia. Este trânsito cultural apresenta 
um caminho em ambos os sentidos: ao mesmo tempo em que a Índia inicia o 
processo de abertura cultural para o Ocidente, o Ocidente inicia um processo de 
absorver elementos da cultura oriental. Este neo-hinduísmo apresenta-se como 
uma resposta indiana ao imperialismo europeu do século XIX, além da recepção 
de filosofias e religiões de cunho esotérico nos grandes centros ocidentais.
No Brasil existem algumas iniciativas de prática hindu em solo nacional, mas 
ainda são poucas e descentralizadas. O que existe são iniciativas de adeptos que vão 
buscar conhecimento na Índia e começam a ensinar para outras pessoas as práticas.
DICAS
Em um levantamento pela internet, encontramos locais que ensinam o 
hinduísmo em todas as capitais no Sul e Sudeste do Brasil. Centros que giram em torno 
da figura do líder que, de maneira geral, recebeu treinamento na Índia e reproduz este 
conhecimento ensinando aos interessados.
4 RELAÇÕES
A palavra que mais se aproximaria no sânscrito de ética é a palavra 
dharma. A multiforme consistência do hinduísmo gerou, ao longo dos séculos, 
um sentimento de tolerância religiosa bastante distinta dos povos monoteístas 
estudados na unidade anterior. Para o hindu, cada ser humano deve buscar e 
encontrar o caminho para se achegar até Deus, podendo inclusive buscá-lo por 
outras religiões.
UNIDADE 2 | RELIGIÕES DO EXTREMO ORIENTE
76
Esta aparente harmonia representada na tolerância esconde um sistema 
social onde a justiça social não é possível, tendo em vista que esta vida é resultado 
do Karma de cada indivíduo. No sistema de castas é necessário que cada um passe 
pelas dificuldades impostas pelos deuses para que aprenda a elevar seu Karma. 
Ajudar ao próximo, neste sentido, é impedir que sua alma alcance a libertação 
do ciclo de reencarnações imposta pelo hinduísmo. O governo secular tenta 
implantar o conceito de justiça social abolindo oficialmente o sistema de castas, 
porém um sistema social que existe há quase dois mil anos está profundamente 
arraigado ao próprio conceito de hinduísmo e do cerne da própria nação indiana. 
O resultado desta ausência de ajuda ao próximo causa uma desigualdade social 
muito grande em todos os níveis da sociedade indiana. O sistema de castas 
proporciona também a ausência de contestação do status quo, com uma população 
passiva às desigualdades e cobrança política dos direitos sociais.
UNI
Você deve ter percebido a ausência de figuras neste tópico. Isso foi proposital, 
pois existe uma infinidade de deuses e uma infinidade de maneiras de se retratar cada um 
deles. Por isso deixamos para que você, acadêmico, possa pesquisar a respeito das divindades 
indianas, e é sobre isso que trata sua autoatividade referente ao hinduísmo.
Não poderia encerrar este tópico de estudo sem falar de um personagem 
bastante notório em filmes, em especial os americanos, que mostram em parte a 
presença da cultura indiana na América. Um grupo denominado SIKHs que pode 
ser confundido com os hindus pela vestimenta e aparência, além desta religião ter 
nascido na Índia.
FIGURA 26 – SIKHS
FONTE: Disponível em: <http://sikhismo.blogspot.com.br/2011/11/
musica-sikh.html>. Acesso em: 26 jun. 2016.
TÓPICO 1 | HINDUÍSMO
77
Muitos atribuem ao sikhismo uma junção sincrética entre o hinduísmo 
e o islamismo de corrente Sufi, que estudamos na Unidade 1, esta divisão do 
islamismo tradicional. Mas é bastante complicado reduzirmos qualquer expressão 
religiosa a apenas uma junção sincrética. Por isso vamos conversar rapidamente 
sobre os adeptos do sikhismo.
O fundador do sikhismo é o guru Nanak, no século XV, na região onde 
hoje está Punjabe, entre o Paquistão e a Índia. Sua jornada está descrita em uma 
série de relatos lendários, míticos, denominados Janamsakhi, textos escritos meio 
século após sua morte. 
Toda biografia de líderes religiosos deve ser observada com cuidado, pois 
seus biógrafos avaliam a vida deste líder depois de se tornar alguém sagrado. É 
preciso separar o componente histórico do componente fantástico da narrativa 
hagiográfica. Existe um elemento histórico, pois, como em nosso exemplo, 
guru Nanak existiu de fato, e outro elemento, de cunho mítico, para legitimar o 
discurso que se construiu após sua morte de que ele possuía uma vida singular 
com relação a seus pares. Segundo estes relatos, Nanak teria feito quatro viagens 
chamadas de UDASIS, em locais como Tibete, Ceilão, Bagdá e Meca, mantendo 
contato tanto com hindus como com muçulmanos, tendo feito discípulos destes 
dois grupos. A estes discípulos deu o nome de SIKHS.
 
Para ele, a religião seria um veículo para agregar as pessoas, mas na prática 
acabava separando e gerando contendas, especialmente entre muçulmanos e 
hindus. Neste sentido, a intenção de guru Nanak era fomentar a fraternidade e a 
igualdade entre os seres humanos. Uma de suas frases mais famosas é aquela que 
diz: “Não há hindus, não há muçulmanos”.
 
Ao invés de considerarmos o sikhismo como uma ramificação do 
hinduísmo védico e do islamismo sufi, é melhor observar este grupo como algo 
único, oriundo de um contexto de conflitos entre estes dois grupos religiosos. Os 
próprios líderes Sikhs entendem terem recebido uma revelação direta oriunda de 
um ser supremo que chamam de SAT NAN (Nome Verdadeiro).
FIGURA 27 – REPRESENTAÇÃO DE GURU NANAK
FONTE: Disponível em: <https://www.vahrehvah.com/indianfood/
guru-nanak-jayanti/>. Acesso em: 1 ago. 2016.
UNIDADE 2 | RELIGIÕES DO EXTREMO ORIENTE
78
Para criar um discurso conciliatório entre duas religiões antagônicas, é 
necessário abrir mão daritualística individual de cada uma delas e criar um novo 
corpo de dogmas que atendam a este novo grupo de fiéis. Este é o desafio de 
todo discurso religioso: criar dogmas e práticas que o difiram dos demais grupos 
participantes da mesma realidade cultural.
Atualmente, os adeptos do sikhismo são estimados em cerca de 23 milhões 
de fiéis, o que os colocam na quinta posição entre os adeptos de religiões no 
mundo. Deste total, cerca de 19 milhões vivem na Índia, com uma concentração 
mais expressiva no Estado de Punjab, próximo à fronteira com o Paquistão. 
FIGURA 28 – MAPA DA FRONTEIRA PAQUISTÃO-ÍNDIA COM DESTAQUE PARA 
PUNJAB
FONTE: Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Panjabe>. Acesso em: 1 ago. 
2016.
A tensão política entre estes dois países é concentrada nesta região de 
fronteira, o que gera muitos embates entre os diferentes grupos religiosos, sendo 
uma região geograficamente instável. O ideal de paz e harmonia somado à 
diáspora de indianos fugindo dos conflitos locais levou o sikhismo a outras partes 
do mundo. Existem comunidades significativas sikhs na Inglaterra, Estados 
Unidos e Canadá, também com presença na Malásia e Singapura.
TÓPICO 1 | HINDUÍSMO
79
LEITURA COMPLEMENTAR
Quem são os semideuses?
Por Raja-vidya Dasa
As escrituras védicas representam uma concepção consistentemente 
pessoal do mundo. Em outras palavras, elas assumem que todos os eventos 
dentro do cosmos, todos os fenômenos naturais, todas as obras dos elementos 
e dos planetas, bem como todas as atividades dos seres humanos, estão sendo 
causadas ou supervisionadas por seres super-humanos inteligentes específicos. 
Em sânscrito, esses seres são chamados “devas”, e a tradução mais 
apropriada para o português desse termo seria “semideuses”. O dever dos 
semideuses é encarregar-se de uma porção da administração do universo e 
assegurar que tudo dentro da manifestação cósmica funcione perfeitamente. Eles 
são os responsáveis por manter a lei e a ordem dentro do universo. Outro de seus 
deveres é organizar as reações cármicas individuais e coletivas dos humanos, 
isto é, sua felicidade e sofrimento de acordo com suas próprias ações anteriores. 
(A ciência astrológica estuda essas reações como elas são representadas pelas 
constelações planetárias no momento do nascimento.) 
A esse respeito, a visão de mundo védica corresponde à das culturas 
avançadas dos antigos egípcios, gregos, ou romanos, bem como às das religiões 
naturais dos índios de pele vermelha, os africanos ou os aborígines australianos. A 
maioria das tradições pré-cristãs aceita o conceito de assistentes administrativos 
do Senhor gerenciando os assuntos do universo. 
Alguns exemplos de diferentes semideuses famosos são os seguintes. O 
senhor Brahma é o criador do universo e o primeiro ser criado; o senhor Shiva é o 
destruidor do universo; Rei Indra é o rei dos planetas celestiais e o controlador do 
clima; Vayu é o semideus encarregado do ar e dos ventos; Candra é o controlador 
da Lua e da vegetação; Agni é o deus do fogo; Varuna é o senhor dos oceanos e 
mares; Yamaraja é o deus da morte; e por aí vai. Há milhares de semideuses que 
estão controlando todas as diferentes atividades dos corpos das entidades vivas e 
o funcionamento dos elementos. 
Há apenas um deus
Mas ainda, e aqui está a diferença crucial, ninguém pode sustentar que 
as escrituras védicas contêm uma concepção politeísta ou panteísta no sentido 
usual desses termos. No fim das contas, as escrituras védicas representam uma 
concepção de Deus puramente monoteísta. Elas claramente estabelecem que 
acima de todas as diferentes variedades de semideuses, há apenas um Deus 
supremo que é o criador e mantenedor não apenas dos humanos, mas também 
dos semideuses e do cosmos inteiro. 
UNIDADE 2 | RELIGIÕES DO EXTREMO ORIENTE
80
Este único, supremo Deus, é, certamente, descrito e adorado não apenas 
pela religião védica ou hindu, mas por todos os sistemas religiosos autenticamente 
monoteístas do mundo. Em sânscrito, Ele tem ilimitados nomes que descrevem 
suas incontáveis qualidades e passatempos. Os nomes sânscritos mais populares 
de Deus são Krishna, Rama, Hari, Narayana ou Vishnu. Todos eles referem-se à 
mesma suprema personalidade. 
É importante entender que Deus não é hindu ou cristão, ou muçulmano 
ou judeu. Deus não é limitado e não está preso a nenhuma tradição religiosa. 
Deus é Deus, e os variados sistemas de crença são diferentes formas de entrar 
em contato com esse Deus único. Elas podem diferir em sua abordagem e em 
sua compreensão da realidade; elas podem também diferir em seus métodos 
práticos, rituais, regras e regulações, mas na verdade elas pretendem conectar o 
homem com Deus, e esse Deus é um para todos os sistemas religiosos genuínos. 
Em sânscrito, esse único Deus é chamado Krishna ou Vishnu. 
É um fato que, em diferentes tradições religiosas, Deus é chamado 
por diferentes nomes (como Yahweh, Allah, Jehovah, Adonai etc.), e Ele é 
compreendido e adorado em muitos aspectos diferentes. Mas isso não significa 
que Ele é inconsistente ou que os vários sistemas de crença contradizem ou 
excluem uns aos outros. Na verdade, esses fatos não são nada exceto evidência 
da diversidade e grandiosidade ilimitada de Deus. 
A Trimurti: Brahma, Vishnu e Shiva
Quando falamos sobre a religião védica e seu conceito de Deus, nós, às 
vezes, ouvimos a expressão “trimurti”. Literalmente, o termo “trimurti” significa 
“possuindo três formas”, e refere-se às três principais personalidades dentro da 
manifestação cósmica: Brahma, Vishnu e Shiva. 
Desses três, Brahma é responsável pela criação do mundo, Vishnu por 
sua manutenção, e Shiva por sua destruição no final de cada ciclo cósmico. 
É importante, no entanto, notar que dentre esses três, Brahma e Shiva são 
considerados os principais semideuses, ao passo que Vishnu é considerado como 
o próprio Deus. 
As partes esotéricas das escrituras védicas claramente explicam que a Suprema 
Personalidade de Deus, que reside em sua própria morada no mundo espiritual, 
muito além desta criação material, é chamado Krishna. A forma de Krishna tem dois 
braços, e para o propósito de criar o mundo material, Ele se expande na forma de 
Vishnu, com quatro braços. Esta forma de Deus como Vishnu é responsável pela 
manutenção da ordem cósmica, e é sob sua supervisão que as outras duas principais 
deidades, Brahma e Shiva, realizam suas respectivas obrigações. 
O senhor é descrito como tendo quatro cabeças, e ele é a primeira entidade 
viva criada dentro de cada ciclo universal. Ele é diretamente nascido do senhor 
Vishnu. Sua responsabilidade é criar os vários planetas do universo inteiro, bem 
TÓPICO 1 | HINDUÍSMO
81
como todas as formas de vida específicas nesses planetas. Para esse propósito, 
ele antes de tudo cria os principais semideuses que, por sua vez, criam mais uma 
prole para popular o universo. Brahma é assim considerado o pai e criador de 
todas as criaturas vivas e o chefe de todos os semideuses. 
O senhor Shiva é, além do senhor Vishnu, provavelmente a deidade mais 
popular no hinduísmo. Ele aparece como um filho direto do senhor Brahma, e ele 
tem uma variedade de funções e obrigações, e então também uma variedade de 
nomes. Por exemplo, ele é chamado: Nataraja, “o senhor da dança” (porque, no 
momento da devastação universal, ele executa sua dança cósmica para destruir 
os planetas); Rudra, “o furioso”, ou Bhutanatha, “o senhor dos fantasmas e 
espíritos”. Na Índia, ele é frequentemente adorado em sua forma como Shiva-
linga, o símbolo combinado do agente gerador de Shiva, o pai da natureza 
material, e sua esposa, Parvati, a mãe. 
Como com todas as deidades, Brahma, Vishnu e Shiva têm, cada um, 
sua própria consorte feminina, em sânscrito chamada “shakti”, ou “energia”. 
Eles também têm seu próprio veículo pessoal ou animal de tração (chamado“vahana”), assim como algumas características ou símbolos específicos.
Deidade Consorte (shakti) Veículo (vahana)
Vishnu (mantenedor do 
universo)
 Lakshmi (deusa da fortuna) Garuda (águia)
Brahma (criador do 
universo)
Saraswati (deusa da sabedoria, do 
aprendizado e da música)
Hamsa (cisne)
Shiva (destruidor do 
universo)
Parvati, também chamada Durga ou Kali 
(personificação do mundo material)
Nandi (touro)
Na Índia atual, além de Vishnu e Shiva, são adoradas como as principais 
deidades principalmente Lakshmi e Durga, bem como o filho de Shiva e Parvati 
chamado Ganesha (um auspicioso semideus com a cabeça de um elefante). 
Demais semideuses
Como mencionado previamente, as escrituras védicas descrevem não 
apenas as três deidades da "trimurti" e suas respectivas consortes e veículos 
pessoais, mas também um grande número de várias outras personalidades que 
são responsáveis pela administração universal. Eles são chamados semideuses, e 
vivem em sistemas planetários acima da Terra (os chamados "planetas celestiais"). 
Todos eles se consideram servos de Vishnu que, em Seu nome, executam tarefas 
gerenciais pelo bem-estar dos seres vivos do universo. 
UNIDADE 2 | RELIGIÕES DO EXTREMO ORIENTE
82
Nas escrituras védicas nós encontramos a informação de que há 33 
semideuses principais e milhões de semideuses e subssemideuses subordinados, 
ambos masculinos e femininos. Nós podemos analisar esse panteão védico nas 
seguintes categorias: 
• Senhores dos elementos (p. ex. Varuna, o senhor dos mares e das águas; Agni, 
o deus do fogo; Vayu, o senhor dos ventos e do ar). 
• Senhores dos planetas (p. ex. Bhumi, a deusa da Terra; Surya, o deus Sol; 
Candra, o deus da Lua; Brihaspati, o senhor de Júpiter, que também é o mestre 
espiritual dos semideuses; Shukra, o senhor de Vênus).
• Sábios entre os semideuses (p. ex. Narada, os Kumaras, os Maruts, os Sapta-
rishis; Vyasadeva, o compilador dos Vedas).
• Semideuses com funções específicas nos planetas celestiais (p. ex. Indra, o 
rei dos semideuses, que também é responsável pelas nuvens e pelo clima na 
Terra; Kuvera, o tesoureiro dos semideuses; os Ashvini-kumaras, os deuses 
dos tratamentos médicos; Vishvakarma, o arquiteto dos semideuses).
• Semideuses com funções específicas no relacionamento com os seres humanos 
(p. ex. Yamaraja, o deus da morte e da justiça; Skanda ou Karttikeya, o deus da 
guerra; Kama, o deus da luxúria).
• Semideuses subordinados (como anjos, centauros etc.).
• Deuses e deusas de montanhas e rios e outros fenômenos naturais.
A maioria desses semideuses tem sua respectiva consorte a seu lado e seu 
próprio veículo pessoal. Nós não podemos nomear a todos, já que isso iria muito 
além do escopo deste ensaio. 
Uma palavra final no relacionamento entre semideuses e os seres 
humanos: os semideuses são nutridos pelas oferendas derramadas no fogo de 
sacrifício pelos humanos e, então, quando eles estão satisfeitos, eles irão retribuir 
concedendo todas as coisas desejadas ou necessitadas para a sociedade humana. 
Dessa maneira, os humanos são completamente dependentes dos semideuses 
com relação a sua saúde, bem-estar, prosperidade e paz. 
Claro, todas essas bênçãos também podem ser obtidas diretamente 
por aproximar-se do "Deus dos deuses", a Suprema Personalidade de Deus. 
Se alguém se empenha na adoração de Deus, os semideuses, que são eles 
mesmos totalmente dependentes de Deus, ficam automaticamente satisfeitos e 
bem-dispostos com relação à humanidade. No Bhagavad-gita, Krishna explica 
que aqueles que adoram os semideuses recebem frutos que são temporários e 
limitados. As pessoas na verdade deveriam buscar adorar a Suprema fonte de 
todos os semideuses, Krishna, mas por serem influenciados por desejos luxuriosos 
por ganhos materiais, eles adoram os semideuses sem verdadeiro conhecimento. 
TÓPICO 1 | HINDUÍSMO
83
Portanto, os humanos são geralmente aconselhados por todas as tradições 
religiosas a respeitar essas personalidades poderosas, os semideuses, e a 
satisfazê-los engajando-se no serviço à suprema personalidade de Deus, Vishnu 
ou Krishna. Se alguém satisfaz Krishna, a raiz de toda a criação, então todos os 
semideuses são também automaticamente satisfeitos e fornecem generosamente 
todas as coisas necessárias à humanidade. Quando a raiz de uma árvore está 
satisfeita por água, então as folhas e galhos também estão satisfeitos ao receber 
água da raiz. Similarmente, quando Krishna está satisfeito, então suas partes, os 
semideuses, também estão satisfeitas. Assim, não há necessidade de adorar os 
semideuses. Se alguém adorar apenas Krishna, sua vida será perfeita. 
FONTE: Disponível em: <http://pt.krishna.com/quem-s%C3%A3o-os-semideuses>. Acesso 
em: 20 ago. 2016.
84
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:
• O hinduísmo é uma religião diferente das demais analisadas devido à falta de 
um sistema bastante integrado, além da quantidade exacerbada de deuses e 
semideuses que o hinduísmo abrange.
• Essa falta de um comando centralizado trouxe ao hinduísmo uma tolerância 
religiosa que não existe nas religiões monoteístas.
• Os hindus são panteístas, ou seja, acreditam que um único Deus é a matéria de 
toda a criação, neste sentido tudo é Deus.
• A salvação dos hindus está em romper o ciclo de reencarnações e unir-se a 
Brahma. Para isso, deve se esforçar em seguir o livro dos Vedas para melhorar 
seu Karma.
• Os sistemas de castas derivados da lei do Karma mantêm os indianos numa 
situação de conformismo com a realidade vigente. Ninguém pode questionar 
a posição em que nasceu, pois é resultado direto de suas atitudes na vida 
anterior.
• Na fronteira entre a Índia hindu e do Paquistão muçulmano, uma nova 
manifestação religiosa surgiu e não pode ser confundida com hinduísmo: o 
sikhismo.
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AUTOATIVIDADE
Leia o interessante texto a respeito do hinduísmo e de sua mitologia criadora, 
escrito por Raja-vidya Dasa. Nele, o autor explica quem são os semideuses 
hindus e como, em sua visão, é possível aproximar a visão panteísta indiana 
da visão monoteísta ocidental. O texto integral está disponível no site: <http://
pt.krishna.com/main.php?id=110>. 
Baseando sua leitura no texto, responda às seguintes questões:
1 Quais são as semelhanças no discurso contido no texto com outras religiões 
que já estudamos?
2 Você conhece outras religiões aqui no Brasil que utilizam o sistema de 
oferendas aos semideuses para que possam fazer favores aos homens? 
3 Reflita sobre o texto e responda se, a partir de uma visão geral das principais 
religiões dos seres humanos, é possível chegar próximo a um denominador 
comum que indique pontos em comum entre todas as religiões.
4 A religião pode causar danos ao ser humano? Que tipo de problemas a 
religião pode causar ao homem?
86
87
TÓPICO 2
BUDISMO
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
É fundamental entender o hinduísmo para que seja possível entender o 
budismo. Afinal, o fundador desta religião, Sidarta Gautama, de quem falaremos 
a partir de agora, foi um hinduísta por boa parte de sua vida. O budismo 
contemporâneo tem cerca de 329 milhões de adeptos em todo o mundo, embora 
sua grande área de concentração seja a China, Japão e Tailândia, com contribuições 
de países menores como Birmânia, Nepal e Laos.
O budismo é fruto da tolerância religiosa promovida pelo hinduísmo, sem 
a qual seria impossível que a doutrina de Buda fosse aceita e seguida por muitos 
hindus. A história de seu fundador se divide em dois momentos principais: a vida 
do príncipe Sidarta e a vida do Buda. Ambos são a mesma pessoa, a diferença 
entre os dois momentos é o processo de iluminação de Sidarta que o fez atingir 
o Nirvana e, portanto, romper com a escravidão da alma com o interminável 
ciclo de renascimentos. A doutrina de Buda seresume a seguir seu exemplo e 
ensinamentos para que outros também atinjam tal estado.
UNI
O Budismo é um ótimo exemplo de como o hinduísmo é tolerante em termos 
religiosos. Os fiéis são livres para escolher a maneira como queiram se aproximar dos deuses. 
Porém este estado avançado de cultura religiosa revela uma sociedade pobre e carente de 
organização. Nas sociedades monoteístas a organização da sociedade a desenvolveu através 
desta certa unidade religiosa. A contrapartida negativa nestas religiões tem sido a intolerância 
religiosa, que tem matado mais pessoas que todas as guerras ao longo da História. Isto deve 
nos fazer refletir a respeito do verdadeiro significado da religião, que é o de trazer paz e 
alegria para as pessoas através do sentimento de segurança por ser cuidado por um ser 
superior, e o real fruto que temos colhido em nossas sociedades, sejam elas cristãs, islâmicas 
ou orientais. Nossa sociedade realmente tem melhorado através da religião?
UNIDADE 2 | RELIGIÕES DO EXTREMO ORIENTE
88
2 HISTÓRIA
A história do budismo se confunde com a de seu fundador, Sidarta 
Gautama. É praticamente impossível separar a história do mito, porém o que 
comumente se sabe a respeito de Buda é o que explanaremos a seguir.
Sidarta foi o filho de um rajá que viveu no Nordeste da Índia entre 560-480 
a.C., era, portanto, um príncipe. Sua vida foi rodeada pelo luxo e poder. Seu pai ouviu 
uma profecia que dizia que seu filho poderia trilhar dois caminhos: ou o do governo 
ou do abandono completo do mundo. Para que o primeiro caminho acontecesse, o 
príncipe deveria passar a ser protegido para que não visse as dificuldades, a pobreza, 
o abandono da vida dos menos favorecidos. Para que isso não acontecesse, o pai do 
futuro Buda o impedia de sair do palácio, ao mesmo tempo em que o cercava de 
prazeres e diversões, tendo, ainda jovem, um harém com dançarinas.
A grande mudança na vida de Sidarta aconteceu aos 29 anos de idade, 
quando, mesmo contrariando a proibição de seu pai, o príncipe saiu do palácio 
pela primeira vez, e o que ele viu o transformou de Sidarta no Buda. Ele viu um 
velho, um doente, um cadáver e um monge asceta. Ao ver o velho, descobriu que 
a juventude inevitavelmente dará lugar à velhice; ao ver o doente, entendeu que a 
saúde um dia será sucedida pela doença, e ao ver o cadáver, percebeu que a vida 
dará lugar à morte. Quando Sidarta viu um monge asceta com uma expressão 
de felicidade, decidiu seguir aquela vida para encontrar a razão da existência 
humana. Naquela mesma noite abandonou sua família no palácio e foi viver 
como andarilho, tomado também de pura compaixão pela humanidade, sentiu 
um chamado para libertá-la do sofrimento.
 
Passou a procurar os grandes brâmanes hindus para buscar a sabedoria 
que procurava, porém, a única resposta que ele ouvia era a de que deveria estudar 
os vedas. Ele já havia estudado os livros sagrados do hinduísmo, percebendo 
que então deveria procurar a sabedoria que buscava numa vida de ascetismo, 
através de jejuns e penitências. Diz a lenda que Sidarta conseguiu diminuir sua 
alimentação até que podia comer apenas um único grão de arroz, porém nem 
mesmo assim ele conseguiu dominar o sofrimento. Após uma busca de seis anos, 
quando estava em meditação sob uma figueira, ele atinge a “iluminação” ou bhodi, 
tornando-se assim um Buda, ou seja, um iluminado. O que ele descobriu? Que 
todo o sofrimento do homem é proveniente do desejo. Sendo assim, ao suprimir o 
desejo, o homem consegue romper o ciclo de reencarnações imposto pelos deuses. 
No budismo, isso recebe o nome de Nirvana. 
Para o Buda, o que prende o homem e o faz produzir carma é o desejo 
de viver. Ao dominá-lo, ele já não estava mais sujeito à lei do renascimento. Ele 
conseguiu a autossalvação, ou seja, ele conseguiu por si mesmo alcançar a salvação. 
Porém, o deus hindu Brahma o instigou a contar sua experiência a outros seres 
humanos para que outros pudessem alcançar o Nirvana. A partir deste momento, 
Buda se tornaria uma espécie de guia para aqueles que o quisessem ouvir. Seu 
público foi, basicamente, composto por aqueles hindus que estavam descontentes 
com a proposta hinduísta e passaram a ouvir e seguir os ensinamentos de Buda.
TÓPICO 2 | BUDISMO
89
FIGURA 29 – REPRESENTAÇÃO DE BUDA SOB A FIGUEIRA
FONTE: Disponível em: <caminhodomeio.wordpress.com/2008/02/15/
buda/>. Acesso em: 2 nov. 2009.
Seu primeiro sermão foi proferido em Benares, importante centro religioso 
hindu, onde muitos monges mendigos o seguiram e juntos vagaram por 40 anos 
pelo Nordeste da Índia. Quando tinha a idade de 80 anos, após adoecer por uma 
intoxicação alimentar, Buda proferiu seu último discurso a seus seguidores e sua 
recomendação a eles é que seus ensinamentos fossem seus mestres a partir de sua 
morte. Seus discípulos foram responsáveis pela difusão do budismo até os dias 
de hoje.
UNI
Um interessante filme que trata a respeito do budismo é O pequeno Buda. 
Embora não seja muito fácil de encontrar em locadoras, vale a pena tentar, pois conta a história 
de um menino norte-americano que os budistas tibetanos acreditam ser a reencarnação de 
Buda. Paralelamente, a história de Sidharta é contada neste filme. Vale a pena conferir!
UNIDADE 2 | RELIGIÕES DO EXTREMO ORIENTE
90
FIGURA 30 – O PEQUENO BUDA
FONTE: Disponível em: <cinema.cineclick.uol.com.br/.../id/2603>. 
Acesso em: 2 nov. 2009.
UNI
Se você quiser realizar a leitura do discurso de Buda, por favor, acesse <www.
saindodamatrix.com.br/archives/siddhartha.htm> e poderá ler o texto na íntegra.
3 DOUTRINA
Todo o sistema religioso budista está baseado nos ensinamentos de Buda. 
Não podemos nos esquecer de que Buda cresceu e viveu no meio hinduísta, 
portanto, muitos dos seus ensinamentos encontram ressonância no hinduísmo, 
como a doutrina do carma, da salvação e do renascimento. O primeiro ensinamento 
de Buda, neste sentido, é a escravização do homem pela série interminável de 
renascimentos. A mola propulsora deste ciclo é o carma do homem, ou seja, seus 
atos, pensamentos e desejos.
TÓPICO 2 | BUDISMO
91
UNI
Para que possamos entender este processo, precisamos pensar em nossas vidas. 
Todos nós entendemos que algumas atitudes ou decisões que tomamos refletem em nosso 
futuro, algumas de maneira positiva, outras de maneira negativa. A escolha de montar uma 
família, cursar uma faculdade, seguir uma vida religiosa, cada uma dessas escolhas é tomada 
por nós, esperando que algo aconteça no futuro. Esta é a ideia do carma para os hindus e 
budistas, com a grande diferença de que para eles isto é totalmente regulado e atrelado à 
vida do indivíduo com reflexos na próxima vida. Para eles, as atitudes que tomamos nesta 
existência refletirão na próxima. Os cristãos acreditam na lei da semeadura e da colheita, algo 
similar a este ensinamento de Buda, com a diferença de que para os cristãos as consequências 
acontecem nesta vida e na eternidade, já que a reencarnação é condenada como um falso 
ensinamento pelo Novo Testamento. Espero que tenha lhe ajudado, caro acadêmico, a 
entender um pouco mais sobre a doutrina do carma.
A doutrina do carma pode ser vista por nós, ocidentais, como sendo justa, 
na medida em que os bons terão reencarnações boas, e os maus, más reencarnações, 
porém, para os orientais adeptos destas doutrinas, este ciclo é considerado como 
uma maldição que deve ser rompida. Portanto, os orientais buscam escapar da 
reencarnação, e este ato está profundamente ligado ao conceito de salvação para 
estas religiões. Vimos até agora as semelhanças entre hinduísmo e budismo, é 
necessário, neste segundo momento, entendermos onde os ensinamentos de 
Buda diferem daqueles escritos nos vedas.
Para os hindus, o homem possui uma alma individual atmã e é essa alma 
que sobrevive de uma encarnação para outra. Como roupas que são trocadaspela pessoa, os corpos são trocados pela alma de um renascimento para o outro. 
Esta alma possui uma semelhança ao espírito universal (Brahma). Para Buda, 
entretanto, o ser humano não possui nada imutável como a alma para os hindus. 
Para ele, o homem de hoje não é o mesmo de ontem, portanto, tudo é transitório 
e ilusório: tanto a vida como os sentimentos. Ambas as situações estão fadadas ao 
fracasso. No budismo, existem três grupos de ensinamentos que condensam as 
palavras e ordenanças de Buda: as quatro nobres verdades sobre o sofrimento, o 
caminho das oito vias, e os cinco mandamentos. Embora não seja possível afirmar 
que estes textos sejam do próprio Buda, por datarem de cerca de quinhentos 
anos após a morte do mestre. Mas estes escritos fundamentais apresentam uma 
considerável semelhança entre as diferentes escolas budistas e são, portanto, 
aceitos pelos budistas como escritos do próprio mestre, transmitidos via oral por 
séculos entre seus seguidores. Cada um destes grupos é importante para uma boa 
compreensão das doutrinas budistas.
UNIDADE 2 | RELIGIÕES DO EXTREMO ORIENTE
92
3.1 AS QUATRO NOBRES VERDADES SOBRE O SOFRIMENTO
Estas verdades têm o significado para Buda de que tudo é sofrimento nesta 
existência. A partir delas se chega ao que Buda chama de “o caminho do meio” 
que é o caminho das oito vias, onde ele explica como romper com o sofrimento.
A primeira verdade diz que a vida é cheia de dor: no nascimento existe 
um passado de dor, um presente de dor e um futuro de dor. Nas palavras de 
Buda: “nascer é sofrer, envelhecer é sofrer, morrer é sofrer, estar unido com aquilo 
de que não gostamos é sofrer, separarmo-nos daquilo que amamos é sofrer, não 
conseguir o que queremos é sofrer” (GAARDNER, 2000). Podemos pensar, neste 
sentido, que o budismo é uma religião pessimista, onde não existe o espaço para 
a felicidade nem ao bem-estar. Até certo ponto isso é verdade, porém a alegria 
na família e na vida monástica é reconhecida. O que deve estar na mente do fiel, 
entretanto, é que estas alegrias são transitórias e fadadas ao fim.
A segunda verdade mostra que o sofrimento do homem é fruto de seu 
desejo. O desejo do homem por prazeres o faz acreditar que ele tem uma alma 
e, portanto, está atrelado à existência. O extremo oposto, o da anulação da vida 
ou suicídio, também é condenado, pois pressupõe que o homem tenha uma alma 
que possa ser suprimida. O suicídio não leva em consideração a lei do carma não 
rompendo o ciclo de reencarnações.
A terceira nobre verdade mostra que o sofrimento pode ser levado ao 
fim. Para que isto aconteça é necessário que o desejo cesse. Quando se alcança 
este nível de anulação do desejo, o nirvana começa. O ciclo que origina todos os 
problemas para o ser humano começa na ignorância que leva ao desejo, que leva 
à atividade que leva ao renascimento, levando por sua vez a mais ignorância. 
Rompendo com sua ignorância, o homem está apto a atingir o Nirvana.
A quarta nobre verdade mostra que o homem pode acabar com o 
sofrimento através da observação e realização do caminho das oito vias.
3.2 O CAMINHO DAS OITO VIAS
Esta doutrina budista também é conhecida como o caminho do meio. 
Buda acreditava que os extremos da vida deveriam ser evitados. Tanto uma vida 
de extravagâncias como a negação da vida através do suicídio ou de pesadas 
autopenitências não ajudam a romper o ciclo de sofrimento da existência. Por isso 
Buda optou pelo “caminho do meio”, descrito por ele em oito partes ou etapas.
Os dois primeiros passos neste caminho são a perfeita compreensão e 
perfeita aspiração. O caminho começa pela extinção da ignorância do homem, 
já que é a ignorância que inicia o movimento da roda do renascimento. Esta 
compreensão do homem deve girar em torno de como o mundo funciona, além 
de entender de maneira profunda as quatro nobres verdades e a doutrina budista 
TÓPICO 2 | BUDISMO
93
de que o homem não possui alma. No tocante à aspiração, o homem deve buscar 
a anulação do desejo de si mesmo, pois esta é a raiz de todo o sofrimento. Por 
fim, Buda deve ser o ideal a ser seguido por aqueles que acreditam em seus 
ensinamentos.
Os passos seguintes falam da ética budista e sua relação com o mundo não 
budista, digamos assim. São eles: perfeita fala, perfeita conduta e perfeito meio de 
subsistência. Perfeita fala diz respeito à necessidade do homem em não proferir 
mentiras, falsidades, de maneira arrogante. Para Buda, o homem deve proceder 
de maneira amigável e carinhosa com todos os seres humanos, além do silêncio 
também ser incluído na fala perfeita. Perfeita conduta está relacionado com os 
cinco mandamentos aos quais todos os que se dizem budistas devem seguir.
3.3 OS CINCO MANDAMENTOS BUDISTAS
Perfeito meio de subsistência diz respeito a possuir uma profissão secular 
que seja condizente com o caminho das oito vias. Por exemplo, um dos cinco 
mandamentos conclama ao budista a não matar qualquer ser vivo. Neste sentido, 
um açougueiro que se tornasse adepto ao budismo teria que mudar de profissão.
Os últimos três passos para concluir o caminho do meio são o perfeito 
esforço, a perfeita atenção e a perfeita contemplação. Estes passos representam 
como o homem deve relacionar-se consigo mesmo e purificar-se a si próprio. O 
perfeito esforço ensina que o homem deve evitar que pensamentos impuros, como 
a raiva, a inveja, a luxúria, por exemplo, invadam sua mente. Para tanto ele deve 
esforçar-se para manter sua mente pura destes pensamentos. Perfeita atenção o 
prepara para a meditação. Durante esta preparação, toda a atenção daquele que 
medita deve estar focada em um único ponto, seja ele uma palavra, uma pessoa 
ou um objeto. Perfeita contemplação acontece quando todo o corpo foi relaxado 
e todas as preocupações humanas se foram juntamente com as noções de tempo 
e espaço durante a meditação. É neste momento que os budistas acreditam que 
podem atingir o Nirvana e tornar-se um venerável, ou seja, um budista que não 
pertence mais à lei do carma e, portanto, não renascerá mais. 
A última doutrina budista relevante em nosso estudo é o Nirvana. Vimos 
nas quatro nobres leis que Buda tinha uma visão muito pessimista da vida e do 
papel do homem na Terra. Não há esperança para o homem dentro do ciclo de 
reencarnações. Porém, o alvo da busca de Buda era atingir algo que estivesse fora 
deste sistema terreno. Para ele existe algo além, algo imortal que transcende o 
sofrimento humano. Através do caminho das oito vias, o budista pode alcançar 
o Nirvana, que significa literalmente “apagar” ou na inexistência de carma. Para 
tanto, apenas boas atitudes não bastam. Buda, conforme a tradição oriental, 
renasceu 547 vezes antes de atingir o Nirvana. É interessante que o Nirvana pode 
ser experimentado ainda nesta vida através da meditação como uma experiência 
transcendental. O Nirvana final da vida é também conhecido como parinirvana, 
que quer dizer “extinção absoluta” ou “extinção última”.
UNIDADE 2 | RELIGIÕES DO EXTREMO ORIENTE
94
4 RELAÇÕES
No momento em que Buda sofreu o processo de iluminação, o deus hindu 
Brahma pediu a ele que ensinasse aos homens o caminho que ele havia trilhado. 
Através da compaixão, Buda decidiu ser o guia daqueles que quisessem o ouvir 
para que também pudessem ser salvos através do Nirvana. Neste sentido, o 
modelo de Buda é um modelo que deve ser seguido pelos demais budistas no 
sentido de que ser budista é se comportar eticamente perante a sociedade através 
da piedade e da compaixão. A caridade que fazemos hoje não serve apenas para 
ajudar os outros, mas para elevar nosso próprio caráter.
Um bom exemplo disso são os cinco mandamentos budistas, utilizados 
para a vida diária dos budistas, sejam eles monges ou leigos. 
O primeiro mandamento proíbe fazer mal a qualquer criatura viva. Este 
mandamento mostra que o pacifismo é uma das vertentes do budismo.Vários 
budistas já travaram guerras e acredita-se que algum soldado profissional que 
morra em batalha renasça no inferno ou em algum animal. No tocante a comer 
carne, acredita-se que Buda permitia o consumo de carne, desde que o animal 
não tenha sido morto unicamente para aquela pessoa. Para o budista a intenção 
por trás da ação é o determinante para condenar ou não uma atitude, qualquer 
que seja.
O segundo mandamento fala sobre não tomar aquilo que não lhe foi dado. 
Não diz respeito apenas ao roubo, mas sim todos os tipos de trapaça e cobrança 
de negócios abusivos.
O terceiro mandamento diz que não é possível se comportar de modo 
irresponsável nos prazeres sensuais. Este modo irresponsável é tudo aquilo que 
pode prejudicar outros sexualmente, como o adultério, incesto, estupro, aborto e 
homossexualismo.
O quarto mandamento diz que não se deve falar falsidades. Isso se refere 
a falar a verdade, mas também a fofoca e a ira, por exemplo.
O quinto mandamento mostra que não se deve deixar entorpecer com 
álcool ou drogas. É proibido no sentido de que o álcool ou a droga entorpece 
a mente e impede que o homem, conscientemente, possa obedecer aos demais 
mandamentos.
TÓPICO 2 | BUDISMO
95
FIGURA 31 – DIFERENTES REPRESENTAÇÕES DE BUDA
FONTE: Disponível em: <http://www.tzongkwan.com.br/?page_id=8>. Acesso em: 10 
ago. 2016.
A sociedade budista é dividida em dois grupos principais: os monges e os 
leigos. O almejo de grande parte dos budistas é tornar-se um monge para poder 
dedicar-se exclusivamente a cuidar do caminho das oito vias; esta categoria, 
porém, possui regras muito mais rígidas que os leigos. Seu estilo de vida, como o de 
Buda, foi sempre de simplicidade e abnegação. Os recursos para manutenção dos 
mosteiros budistas e para a sobrevivência dos monges e monjas são provenientes 
de esmolas. Isso não é de maneira nenhuma considerado degradante por parte 
dos budistas, mas sim uma dádiva poder oferecer uma oferta a um monge budista. 
A obrigação dos leigos é a de sustentar financeiramente aqueles que 
os instruem nas práticas e ensinamentos de Buda. Um leigo pode passar uma 
temporada em retiro espiritual para meditar ou receber uma instrução especial, 
por exemplo. Estas duas categorias da sociedade budista são interdependentes, 
ou seja, para que uma delas exista, a outra deve estar em funcionamento.
O culto budista consiste em venerar relíquias de Buda e de outros homens 
santos através da oferenda de flores e incenso. Algumas facções mais tradicionais 
dizem que Buda não deve ser adorado, pois ele já atingiu o Nirvana e, portanto, 
nada mais pode fazer pela humanidade. Deve-se apenas seguir a seu exemplo e 
buscar a autossalvação.
UNI
Relíquias são pedaços de ossos do ente venerado, esta técnica é bastante 
utilizada durante a veneração de relíquias de santos, onde ossos são postos em recipientes de 
ouro para lá ficarem expostos e serem levados de região em região para que devotos possam 
fazer suas orações diante destes fragmentos de ossos.
UNIDADE 2 | RELIGIÕES DO EXTREMO ORIENTE
96
Buda não negou a existência dos deuses hindus, como podemos imaginar 
num primeiro momento ao analisarmos sua doutrina. Ele apenas “rebaixou”, 
digamos assim, a importância destes deuses, pois, para Buda, eles também estão 
vinculados ao ciclo de reencarnações. É muito comum encontrar imagens de 
deuses hindus em templos budistas em posição secundária em relação a Buda. 
Na Ásia existe uma enorme adoração e veneração a espíritos, demônios e 
entidades da natureza em muitos vilarejos. As pessoas procuram obter benefícios 
mundanos através destas entidades, com rituais diversos. Buda, neste sentido, 
apresenta uma semelhança aos três deuses que estudamos no hinduísmo, 
responsáveis pela manutenção do universo e questões cósmicas. Estes demônios 
poderiam ajudar na resolução de problemas cotidianos.
UNI
É comum acharmos que o budismo possa ser único em todos os países 
por onde exerce influência. Isso pode acontecer porque nossa visão ocidental pensa em 
unidade quando pensamos em cristianismo, ou judaísmo, embora existam algumas divisões 
e diferenças doutrinárias, como vimos na unidade anterior. No Oriente, a tolerância religiosa 
é um conceito bastante presente nas religiões existentes. Sendo assim, existem variações do 
budismo, que será nosso último assunto neste tópico de nossa unidade de estudo.
Após a morte de Buda, seus discípulos divergiram em relação aos seus 
ensinamentos e como ensinariam estes princípios. Surge então a primeira divisão 
do budismo, a filosofia Theravada, ou o caminho dos antigos, de linha mais 
tradicional, e a filosofia Mahayana, ou o grande veículo, de linha mais liberal. 
A primeira linha tem respaldo no Sul da Ásia, enquanto que a segunda tem 
influência no Norte da Ásia.
A principal diferença entre as duas linhas doutrinárias do budismo 
está no papel do indivíduo na obtenção de sua salvação. No Theravada, a 
responsabilidade pela salvação é do indivíduo, no sentido de desenvolver suas 
habilidades espirituais e inibir seu carma através da meditação e do caminho das 
oito vias. Esta realidade se aplica tanto aos monges como aos leigos.
UNI
Você percebeu que esta é a linha em que nos baseamos para montar toda a 
explicação sobre o budismo? A próxima linha apresenta diferenças significativas com relação 
a tudo o que discutimos aqui. Preste atenção!
TÓPICO 2 | BUDISMO
97
A segunda linha, Mahayana, prega que todos podem ser salvos, e não 
apenas algumas pessoas, como na Theravada. Para esta linha, Buda não é apenas 
o guia para ensinar o caminho para o Nirvana, mas sim o grande salvador da 
humanidade. No pensamento tradicional, o leigo precisava se dedicar aos 
preceitos budistas com afinco a fim de melhorar seu carma e assim renascer 
como um monge para então poder atingir o Nirvana. Nesta nova linha filosófica, 
todos podem ser salvos pela compaixão e compreensão daqueles que acessam o 
Nirvana e espontaneamente decidem abrir mão da eternidade para ajudar seus 
semelhantes a alcançarem este estado. Estas pessoas são chamadas de bodhisattvas 
ou “pessoas iluminadas”. A única diferença entre elas e Buda é que optaram por 
permanecer na Terra para ajudar as pessoas. Os que seguem a linha Mahayana 
dizem que o próprio Buda fez esta escolha para ajudar ao próximo.
Desta doutrina budista surgiram outras que veremos no próximo tópico 
de estudo, como o Budismo Tibetano, o Zen-Budismo e o Lamaísmo, cada uma 
delas com diferenças do que você estudou até aqui.
No Brasil, a chegada do budismo coincide com a vinda dos imigrantes 
japoneses no início do século XX. Os primeiros monges chegaram aqui visando 
atender às comunidades de imigrantes, passando a interagir com brasileiros em 
uma segunda fase deste budismo tupiniquim.
FIGURA 32 – NÚMERO DE BUDISTAS SEGUNDO DADOS DO IBGE
FONTE: Disponível em: <http://istoe.com.
br/156867A+CRISE+DO+BUDISMO+NO+BRASIL/>. Acesso em: 20 ago. 2016.
O budismo no Brasil esteve vinculado à imigração japonesa e é mais 
expressivo nas regiões onde a presença das comunidades é maior. Um bom 
exemplo desta distribuição geográfica da religião é o bairro da Liberdade, na 
cidade de São Paulo, núcleo da presença japonesa. Não é por acaso que a cidade 
conta com aproximadamente 240 templos budistas, com mais de 100 escolas 
budistas em todo o Estado de São Paulo.
UNIDADE 2 | RELIGIÕES DO EXTREMO ORIENTE
98
Com um crescimento mais intenso ao longo do século XX com a primeira 
geração de imigrantes, o budismo no Brasil vem perdendo adeptos, na medida 
em que as novas gerações vão se desligando da tradição de seus ancestrais. Os 
descendentes mais jovens estão aculturados com o Brasil e por isso não apresentam 
o mesmo vínculo com as tradições budistas de seus pais e avós.
Na leitura complementar deste tópico apresentamos uma matéria de 2016, 
da revistaIstoÉ, que trata da questão da queda de adeptos do budismo no Brasil. 
Leitura bastante pertinente, para que você perceba como o avanço ou recuo de 
determinada religião em uma territorialidade apresenta inúmeras variáveis que 
devem ser levadas em conta por parte do pesquisador das religiões.
TÓPICO 2 | BUDISMO
99
LEITURA COMPLEMENTAR
A CRISE DO BUDISMO NO BRASIL
Foi de forma clandestina que o budismo desembarcou no Brasil, há 103 
anos. Chegou com os primeiros imigrantes japoneses, no Porto de Santos, em São 
Paulo. Naquela época havia aqui um movimento contrário à vinda de religiosos 
não cristãos. Muitos monges entraram no país travestidos de agricultores. 
Praticado de maneira improvisada até a Segunda Guerra, o budismo passou a 
se institucionalizar a partir dos anos 50. Com a invasão de templos de tradição 
tibetana e a propagação da corrente zen, foi a vez de artistas e intelectuais, nos 
anos 70 e 80, principalmente, abraçarem a religião. Adorar Sidarta Gautama 
– peregrino que ficou conhecido como Buda e andou pelo norte da Índia por 
quase meio século ensinando que meditação, sabedoria, compaixão e moralidade 
podiam combater o sofrimento – virou moda entre milhares de brasileiros. Mas, 
o que se apresentava como uma onda de orientalização na religiosidade nacional 
não passou de uma marola (leia quadro). Ínfimo 0,14% da população se diz 
budista. O que tem despertado mais a atenção de estudiosos é o fato de o budismo, 
que chegou ao país como forma de preservação do capital cultural japonês, estar 
minguando justamente entre eles. “A religião está enfraquecendo dentro da 
comunidade por causa da morte dos adeptos mais idosos”, afirma Frank Usarski, 
da pós-graduação em Ciências da Religião da Pontifícia Universidade Católica 
(PUC), de São Paulo.
 
A falta de renovação dos membros é evidente. E há vários motivos 
que contornam o declínio da adesão ao budismo. Primeiramente, as poucas 
lideranças religiosas orientais ainda vivas não demonstram querer se adaptar 
ao Brasil. “Os sacerdotes vêm do Japão e só falam japonês nos templos. Mas os 
jovens descendentes não dominam o idioma e se afastam”, diz a monja Coen, 64 
anos, uma das principais representantes do zen-budismo no Brasil. “O budismo 
chegou aqui como uma tradição para imigrantes e ainda continua assim. Não 
temos um budismo brasileiro. Se não houver uma aculturação, os templos vão se 
transformar em belíssimos museus”.
A barreira do idioma transformou muitos templos em focos de 
manutenção de cultura e etnia apenas. É o que afirma André Muniz, 31 anos, 
arcebispo da Organização Religiosa Budista Tendai Hokke Ichijo Ryu do Brasil. 
“Não são mais centros de expansão da doutrina. Muitos dos que os frequentam 
o fazem para cultuar os ancestrais e aprender ikebana. Estão interessados nos 
cantos e na caligrafia japonesa”, diz ele, que foi discípulo em uma dezena de 
correntes budistas, entre japonesas e tibetanas. Em todas elas, conta, o quadro 
era o mesmo: a formação dos monges não era feita no Brasil, as línguas orientais 
predominavam e a convivência era de subserviência e preconceito. “Ouvi muito 
que a mente ocidental não está preparada para receber os ensinamentos de Buda 
e a língua oriental é inacessível para nós”, diz. Há quatro anos, ele fundou a 
primeira instituição budista brasileira sem nenhum vínculo com denominações 
UNIDADE 2 | RELIGIÕES DO EXTREMO ORIENTE
100
orientais. “Sempre fui tratado como um estranho, mesmo falando a língua deles”. 
A monja Coen confirma a diferença de tratamento. O famoso templo Busshinji, 
na Liberdade, em São Paulo, possui, segundo ela, um porteiro que verifica as 
intenções do visitante. “Se é japonês e fala a língua de lá, entra. Brasileiro só pode 
na hora da meditação para brasileiros”.
É verdade que templos continuam sendo levantados no país. Alguns, 
como o Zu Lai, em Cotia, na Grande São Paulo, recebem visitantes fascinados 
pela suntuosidade do local – são 10 mil m2 de área construída e 150 mil m2 de 
área verde. Muitos, porém, não passam da condição de turista. “Ser budista é se 
comprometer com a comunidade”, diz Usarski, autor de “O Budismo e as outras 
– Encontros e Desencontros entre as Grandes Religiões Mundiais”, da Editora 
Ideias & Letras. A fidelização daqueles que batem à porta do budismo também 
é prejudicada pela falta de lideranças para responder aos questionamentos do 
aspirante à religião. “Vinte comunidades no interior de São Paulo e três no Paraná 
da filial da Honpa Hongwanji não possuem um reverendo permanentemente 
no local”, escreve o professor Usarski, em um de seus artigos. Outro empecilho 
para novas conversões é a ideia equivocada que se tem sobre a doutrina oriental. 
“Quando o brasileiro procura um templo, está atrás de uma transposição 
religiosa e não uma conversão”, diz o sacerdote Muniz. “Ele acha que o budismo 
é uma religião liberal, que poderá fazer, com uma vestimenta budista, tudo o que 
não pode no cristianismo”. Dogmas do budismo, porém, exigem mudanças de 
hábitos, tais como abstenção de bebida alcoólica. Mais: sexo fora de uma relação 
de comprometimento sentimental é tido como ilícito. “Muitos, em dois meses, 
tomam um choque e abandonam”.
 Uma vez que o budismo não é propagado pelas próprias lideranças, 
outras denominações religiosas, cristãs principalmente, tratam de cooptar 
adeptos. É o caso da analista em logística Suzana Yoo, 39 anos. Seus pais fizeram 
parte do primeiro grupo de sul-coreanos que desembarcou no Brasil, no início 
dos anos 70. Em casa, sua mãe acendia incenso para Buda, rezava e cantava. 
Mas a filha jamais foi budista. O budismo, nesse caso, foi vítima de uma prática 
comum dos imigrantes orientais, que tratavam de promover a inserção dos 
filhos à realidade do país acolhedor. Suzana estudou em colégios católicos até a 
adolescência para se adaptar à cultura local. “Foi a escolha de meus pais por ser 
a religião predominante no Brasil”. Hoje se assume uma católica não praticante. 
“Do budismo, o único ritual que lembro é o de quando alguém morre”, diz.
Adeptos dos ensinamentos de Buda defendem que catequizar não é uma 
meta. Nem a conquista de adeptos. Ainda que os seguidores do zen-budismo e 
da tradição tibetana – que têm o Dalai Lama como o grande garoto-propaganda 
– mantenham acesa a aura pop dessa religião oriental, a ponto de causar a falsa 
impressão de que ela tem mais adeptos do que realmente tem, o professor 
Usarski, da PUC, é pessimista em relação ao seu futuro. “Acredito que o potencial 
de crescimento do budismo no Brasil já esgotou”.
Matéria da Revista IstoÉ de 20 de janeiro de 2016. Disponível em: <http://istoe.com.
br/156867A+CRISE+DO+BUDISMO+NO+BRASIL/>. Acesso em:10 ago. 2016.
101
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:
• O budismo surgiu no seio do hinduísmo, com seu fundador sendo um hindu.
• O desenvolvimento do budismo só foi possível devido à grande tolerância 
religiosa dentro do Hinduísmo.
• A história do fundador do budismo é uma história lendária, impossível de se 
verificar o que de fato ocorreu e o que é mito.
• Segundo Buda, tudo é sofrimento transitório e efêmero. A salvação do homem 
está em conseguir romper o ciclo de reencarnações para atingir o Nirvana. 
• No budismo as principais regras são: as quatro nobres verdades do sofrimento, 
o caminho das oito vias e os cinco mandamentos.
• Após a morte de Buda, seus seguidores entraram em conflito quanto aos seus 
ensinamentos e realizaram um cisma budista: o Theravada, mais tradicional, e 
o Mahayana, de filosofia liberal.
102
AUTOATIVIDADE
Sobre o budismo, responda:
1 Quais são as divisões do budismo e como é a doutrina de cada uma delas?
2 Por que podemos considerar o budismo uma religião pessimista?
3 Qual é o objetivo espiritual dos budistas?
4 Como se atinge tal objetivo?
5 Qual é a relação intrínseca entre o budismoe o hinduísmo?
6 Como foi possível o desenvolvimento do budismo em território hindu?
7 Quais são as quatro nobres verdades sobre o sofrimento?
8 Qual é o caminho do meio? Quais são os passos para completar este caminho?
9 Quais são os cinco mandamentos que regem a vida prática dos budistas?
103
TÓPICO 3
AS RELIGIÕES DO EXTREMO ORIENTE
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
Nos tópicos anteriores permanecemos basicamente no território indiano. 
Resta-nos agora voltar nossos olhos para a China e o Japão para entender o que 
acontece nestes locais no campo religioso. O budismo se espalhou tanto para a 
China quanto para o Japão, porém se desenvolveu de maneira mais livre no Japão.
Nestes dois países, o culto aos antepassados (mortos) é notório. As 
religiões nestas localidades serão, portanto, baseadas nesta modalidade de culto. 
Outro ponto primordial nestas religiões é a coexistência entre elas. É possível 
encontrar pessoas que participem de várias seitas e religiões ao mesmo tempo 
sem que isso ofenda qualquer uma delas. 
Os eventos históricos em cada uma destas localidades é que determinaram 
como as religiões se comportariam no século XX. Após a Segunda Grande Guerra, 
várias seitas foram implantadas derivadas do taoísmo, budismo e cristianismo. Já 
na China, a revolução de Mao Tsé-Tung, em 1949, fez com que a religião tivesse 
um papel cada vez menor na realidade social chinesa, tendo em vista que o 
Estado chinês suprimiu o culto religioso destruindo templos e instituindo o culto 
nacional. Após a morte de Mao, uma pequena abertura religiosa tem começado a 
aumentar, porém até os dias de hoje não existe liberdade religiosa na China.
UNI
Neste último tópico de nossa unidade de estudo faremos uma análise 
diferenciada do que fizemos até aqui. Vamos falar um pouco sobre cada uma das religiões 
para que você tenha um panorama destas religiões orientais.
104
UNIDADE 2 | RELIGIÕES DO EXTREMO ORIENTE
2 CONFUCIONISMO
Podemos considerar o confucionismo mais como uma filosofia que uma 
religião. Os adeptos podem participar de outras religiões. A fundação data por 
volta do século VI antes de Cristo, sendo mais ou menos, portanto, contemporâneo 
de Buda. Seu fundador foi K’ung-Fu–Tzé, que em sua versão latina atribuída 
pelos missionários jesuítas do século XVI, ficou conhecido como Confúcio.
A religião chinesa, até o tempo de Confúcio, era um emaranhado complexo 
de rituais e cultos a espíritos e elementos da natureza como a chuva, o vento e 
o trovão, bem como os antepassados e ancestrais familiares. Um dos papéis dos 
imperadores chineses era o de aplacar a ira dos deuses através da criação de templos 
em honra a eles e de instituir músicos e sacerdotes para o serviço nos templos.
Confúcio perdeu o pai aos três anos de idade e casou-se com 19. Com 
uma grande habilidade para negócios, foi escolhido como administrador dos 
celeiros do imperador chinês. Porém, sua inclinação verdadeira era para o campo 
da filosofia, música e artes. Entrou então num dilema, que por sinal é bastante 
comum em nossos dias: queria viver das artes, porém precisava sustentar sua 
família, optou então por uma vida dupla entre o trabalho administrativo e o ensino 
de filosofia. A situação mudou quando aos 23 anos perdeu sua mãe, quando 
abandonou o trabalho nos celeiros e passou a lecionar filosofia. Aos 34 anos tinha 
cerca de três mil alunos, sendo muitos deles filhos da nobreza chinesa. Como 
sua reputação aumentou cada vez mais, foi nomeado magistrado-chefe da cidade 
de Chung-Tu e em seguida ministro do crime, uma analogia ao nosso Ministro 
da Justiça. Foi a partir deste posto que Confúcio experimentou na prática suas 
técnicas filosóficas. Fez um estudo para levantar o histórico dos presos, percebeu 
que os presos eram ignorantes, no sentido de não terem instrução. A partir disso 
passou a fornecer estudo e educação ao público carcerário para que, através do 
conhecimento e do aprendizado de um ofício, pudessem prosperar e abandonar 
a vida de crimes. A lenda nos conta que os presídios ficaram vazios e os policiais 
perderam o emprego. 
Confúcio acreditava que se os governantes fossem bons, a sociedade seria 
boa, caso contrário a sociedade seria corrupta, se os governantes fossem corruptos. 
Através de um estratagema, inimigos da província onde Confúcio trabalhava 
corromperam o governante e a situação voltou ao que era anteriormente. 
O conselheiro Confúcio abandona a província e passa os próximos 15 anos 
caminhando de uma província para outra, procurando um governante que ouça 
seus conselhos. Após a morte de sua mulher, retorna à sua terra natal e lá escreve 
suas memórias e ensinamentos.
Esse foi um breve resumo da história do pensador chinês com o objetivo 
de que todos possamos perceber que a doutrina de Confúcio era muito mais 
teórica e bastante racional, ao contrário de budismo e hinduísmo. Uma doutrina 
bastante prática, sem metafísica, onde todos devem aprender a praticar o bem 
para que todos possam viver bem.
TÓPICO 3 | AS RELIGIÕES DO EXTREMO ORIENTE
105
FIGURA 33 – CONFÚCIO
FONTE: Disponível em: <universohq.com>. Acesso em: 2 nov. 2009.
As ideias de Confúcio influenciaram a elite chinesa, porém, na base da 
sociedade, o culto aos inúmeros deuses continuou em prática. Ele não era contra 
o culto religioso, porém não se envolveu com assuntos sobrenaturais. Podemos 
considerar suas ideias mais como uma filosofia que como uma religião no sentido 
estrito da palavra. Após sua morte, seus seguidores espalharam suas ideias e o 
confucionismo acabou se tornando uma espécie de religião estatal da China, 
onde líderes passaram até a perseguir seguidores do budismo e do taoísmo, por 
exemplo. O único princípio aparentemente metafísico abordado por Confúcio 
era a força criadora Tao, porém ela foi mais utilizada pela próxima religião que 
vamos estudar, o taoísmo.
Após sua morte, muitos templos em honra ao pensador chinês foram 
levantados na China e seu pensamento moldou a maneira como os governantes 
imperiais conduziriam seus governos. Sua influência na China só diminuiu após 
a Revolução Cultural de Mao Tsé-Tung, quando as expressões religiosas foram 
suprimidas. No Ocidente, muitos administradores têm utilizado os pensamentos 
de Confúcio para melhorar a produtividade nas empresas.
Para concluirmos, seguem dez pensamentos de Confúcio para mostrar o 
caráter prático e racional de que falamos no início da argumentação.
• A vida é realmente simples. Nós é que insistimos em torná-la complicada.
• Escolhe um trabalho de que gostes, e não terás que trabalhar nem um dia na 
tua vida. 
• O que você não quer para você mesmo, não faça aos outros. 
• Se você atirar nas estrelas e acertar a Lua, tudo bem. Mas você tem que atirar 
em algo. A maioria das pessoas nem sequer atira. 
• O silêncio é um amigo que nunca trai. 
106
UNIDADE 2 | RELIGIÕES DO EXTREMO ORIENTE
• Exige muito de ti e espera pouco dos outros. Assim, evitarás muitos 
aborrecimentos. 
• De nada vale tentar ajudar aqueles que não se ajudam a si mesmos. 
• Ser ofendido não tem importância, a não ser que nos continuemos a lembrar 
disso. 
• Eu escuto e esqueço. Eu vejo e lembro. Eu faço e entendo. 
• Qual seria a sua idade se você não soubesse quantos anos você tem?
FONTE: Disponível em: <http://fatorw.com/produtividade/top-10-pensamentos-de-confucio-
para-o-dia-a-dia/> Acesso em: 2 nov. 2009
3 TAOÍSMO
O livro sagrado dos taoístas é o Tao Te Ching ou o livro do Tao e do Te: 
Tao significa a ordem do mundo e Te a força vital. Não se sabe quem escreveu 
este pequeno livro de 25 páginas com os ensinamentos taoístas, mas a tradição 
oriental atribui a origem desta religião a Lao Tsé, pensador contemporâneo de 
Confúcio, que, como ele, tem uma história lendária.
Filho de camponeses, Lao Tsé trabalhou como faxineiro do arquivo real de 
sua cidade, oque lhe deu muito conhecimento através da leitura de vários livros. 
Assim permaneceu ele até os 90 anos de idade, quando abandonou o emprego 
por causa da corrupção de seus superiores. Ao tentar abandonar a província, foi 
reconhecido por um guarda, que só o deixou partir após escrever seu livro ali 
mesmo, na estrada. Após sua partida, nunca mais se ouviu falar dele.
FIGURA 34 – LAO TSÉ
FONTE: Disponível em: <http://daysemauller.wordpress.com/
2009 /09/13/um-pouco-de-historia-2/>. Acesso em: 2 nov. 2009.
Assim como Confúcio, Lao Tsé não elaborou uma religião, nem foi essa 
sua intenção. Seus pensamentos são bastante próximos aos de Confúcio, com a 
diferença de que, para ele, o conceito de Tao, como força motriz do universo, tem 
TÓPICO 3 | AS RELIGIÕES DO EXTREMO ORIENTE
107
FIGURA 35 – YIN-YANG
um papel mais divino que no confucionismo. Para Lao Tsé, Tao não pode ser 
descrito pelos homens, pois qualquer descrição do divino será falsa e não terá 
elementos que demonstrem a realidade desta força. 
No tocante à vida social, o taoísmo prega a passividade ao invés de 
atividade. Pode parecer estranho para nós, ocidentais, mas o melhor que um 
taoísta pode realizar é a não atividade, ou seja, não realizar nada. Neste ponto, o 
taoísmo difere muito do confucionismo, pois, como vimos, através da educação 
era possível melhorar a vida das pessoas. Para Lao Tsé, o homem deveria continuar 
na ignorância como uma criança ingênua. Para Confúcio, a administração deveria 
ser rígida, ao passo que para Lao Tsé toda a administração é má. Se o alvo é a não 
ação, então a caridade não faz sentido para o taoísta, embora sejam cordiais e até 
realizem boas obras, independentemente se a pessoa for boa ou má.
Da mesma maneira como vimos no caso de Confúcio, foram os seguidores 
de Lao Tsé que elaboraram uma religião baseada no ensino de seu mestre. Porém 
adicionaram um ingrediente a mais nos pensamentos de Lao Tsé: o misticismo. 
Como o povo asiático estava completamente acostumado com ritos de feitiçaria, 
culto a mortos, demônios e forças da natureza, estes elementos foram inseridos 
no culto taoísta. Um exemplo deste sincretismo asiático era a ideia de Lao Tsé 
de que quanto mais “inativo” alguém ficasse, mais longevidade teria. A partir 
desta ideia, seus seguidores passaram a misturar estes conceitos filosóficos com 
rituais de feitiçaria para encontrar o elixir da vida. Foi neste amálgama religioso 
que surgiu o símbolo máximo do taoísmo, o Yin-Yang, antigo símbolo dualista 
que representa a força positiva (bem) e a força negativa (mal). Com o passar do 
tempo, os pensadores chineses desenvolveram muitas teorias a respeito deste 
símbolo, mas a mais conhecida é a que atribui o lado negro da esfera como o 
mundo material e o lado branco como o mundo espiritual. Os pingos em cada um 
dos lados representam o elo de ligação entre ambos os universos, mostrando que 
estão conectados entre si. Na Idade Média, diversas seitas dualistas surgiram em 
solo europeu com ideias muito próximas às filosofias orientais, sendo todas elas 
subjugadas pela igreja cristã.
FONTE: Disponível em: <lastregga.blogspot.com/2009_03_01_
archive.html>. Acesso em: 2 nov. 2009.
108
UNIDADE 2 | RELIGIÕES DO EXTREMO ORIENTE
4 XINTOÍSMO
O xintoísmo é uma religião sem fundador, pois existe desde a antiguidade 
da nação japonesa sem este nome, ou regras e normas para seus seguidores. 
Passou a se estruturar apenas após o século VI de nossa era devido à concorrência 
com o budismo, muito embora seja possível perceber, como nas outras religiões 
asiáticas, a utilização de elementos de outras religiões pelos japoneses. Este povo 
sempre teve uma visão de mundo onde os mortos habitam em meio aos vivos, 
logo, o xintoísmo é a religião que pode ser definida, de maneira simplificada, 
como o culto aos antepassados. É por essa razão que é tão importante para o povo 
japonês ter filhos homens, pois é responsabilidade deles a de realizar as orações 
em memória aos mortos da família e oferecer as oferendas rituais determinadas. 
Estes espíritos cultuados pelos japoneses recebem o nome de Kami.
Para os japoneses xintoístas, os mortos e os vivos possuem uma relação de 
interdependência: os mortos têm necessidades dos vivos, por isso as oferendas e o 
extremo respeito que eles têm pelos idosos, que possuem uma posição privilegiada 
na sociedade, bem como os vivos dependem dos mortos, que podem realizar 
boas ou más ações aos vivos, dependendo da maneira como forem tratados.
Como o Japão é uma ilha que permaneceu praticamente isolada por muitos 
séculos, os japoneses criaram uma mitologia de sua criação, onde um casal de 
deuses criou o Japão. O elemento mais importante neste contexto era a adoração 
à figura do imperador japonês que perdurou até meados do século XIX. Após 
a Segunda Guerra Mundial, com a avassaladora derrota do Japão pelas forças 
aliadas, o imperador japonês Hiroito declarou esta “divindade” do imperador 
como falsa e aboliu o xintoísmo do governo japonês como religião estatal.
FIGURA 36 – TEMPLO XINTOÍSTA NO JAPÃO
FONTE: Disponível em: <http://www.ceap.g12.br/projetos2002/
Pagina2B/CarolineFrancisRachel/PaginaGeo/japareligio.htm>. 
Acesso em: 2 nov. 2009.
TÓPICO 3 | AS RELIGIÕES DO EXTREMO ORIENTE
109
O templo xintoísta não é um lugar para pregações. É o local onde um kami 
habita e onde ele é cultuado através de certos rituais religiosos. Para um xintoísta, 
existem quatro aspectos fundamentais do culto: purificação, sacrifício, oração e 
refeição sagrada.
UNI
Quando você lê sacrifício, entenda oferenda de alimentos, dinheiro ou bebidas. 
Além das festividades de caráter religioso que acontecem em datas especiais e consideradas 
sagradas, estas atividades podem ser danças, lutas ou teatro, por exemplo.
5 HARE KRISHNA
Esta seita derivada do hinduísmo é de certa forma recente, fundada em 1896. 
Krishna é uma das encarnações do deus Vishnu (avatar), mais especificamente, 
sua figura humana.
UNI
Se você não lembra mais a nossa conversa a respeito da trindade hindu, sugiro 
que volte ao Tópico 1 desta unidade de ensino.
Para os Hare Krishna, que quer dizer “salve Krishna”, este é o verdadeiro 
deus e não Brahma, como no hinduísmo tradicional. Seu livro sagrado é o 
Bhagavad-gita e nos outros conceitos doutrinários são muito semelhantes aos 
hindus quanto ao sistema de castas, a lei universal do Karma e, portanto, creem em 
reencarnações. O ponto interessante nesta seita é que, diferentemente dos hindus, 
os Hare Krishna recrutam adeptos nas ruas das grandes cidades ocidentais, e 
se sustentam da venda de incensos e livros. Este é um elemento novo dentro 
das religiões orientais que não possui apelo à pregação de suas doutrinas, como 
verificamos no cristianismo e no islamismo, por exemplo.
6 VARIAÇÕES DO BUDISMO TRADICIONAL
110
UNIDADE 2 | RELIGIÕES DO EXTREMO ORIENTE
6.1 BUDISMO TIBETANO
O Tibet é uma região geograficamente privilegiada, por ser praticamente 
inacessível. Isso permitiu que o budismo se desenvolvesse de maneira distinta 
do que ocorreu na China como um todo. Esta região tinha uma religião ancestral 
denominada Bon, que prestava culto aos mortos, animais, elementos da natureza, 
através de rituais sangrentos de oferendas e sacrifícios com elementos de feitiçaria. 
Estes rituais foram incorporados pelo budismo tibetano, porém na superfície 
prevalece o budismo. Como é uma religião bastante singular, não é possível ter 
acesso a todos os elementos rituais internos desta variação do budismo.
UNI
Quando se fala em feitiçaria, o que lembramos imediatamente são as bruxas e 
os caldeirões cheios de objetos bizarros, buscando o malefício de alguém. Seria interessante 
explicarmos como essa imagem chegou até nós, mas cremos que isso ficará para um outro 
momento. Etimologicamente, feitiçaria significa, segundo a Wikipédia: O termogrego usado 
para feitiçaria é farmakía, que significa “drogueadores”, no sentido de preparadores de drogas 
com fins terapêuticos a partir de plantas. Para além da intenção de curar, os feiticeiros também 
usavam drogas para induzir estados alterados de consciência para ascender ao mundo dos 
espíritos. Uma visão mais correta do que desejamos passar a vocês seria a de um druida ou 
alquimista que de uma bruxa.
Os elementos que conhecemos são as rodas de oração, os tambores 
característicos e os terços com 108 contas, utilizados para as orações. Foi possível 
conhecer o budismo tibetano, também conhecido como lamaísmo, devido à 
invasão do Tibet pela China em 1959, levando seu líder maior, o dalai-lama, a 
buscar refúgio em outros países. Hoje o líder é considerado o chefe de Estado do 
Tibet e visita diversas nações contando o que ocorre no Tibet e difundindo sua 
doutrina.
O ponto de maior divergência entre o budismo tibetano e o tradicional 
está relacionado à figura do líder. Para o budismo, o Buda atingiu o Nirvana não 
reencarnando mais, como já vimos. Já para os tibetanos, o líder é a reencarnação 
de Buda. Quando um dalai-lama morre, os líderes escolhem uma criança que 
tenha, segundo critérios misteriosos, a alma de Buda reencarnado, e essa criança 
passa a ser o novo líder máximo dos monges tibetanos.
TÓPICO 3 | AS RELIGIÕES DO EXTREMO ORIENTE
111
6.2 O ZEN-BUDISMO
O zen-budismo segue a linha Mahayana do budismo e esperamos 
que você se lembre da diferença entre a linha Theravada e a Mahayana. Caso 
contrário, dê uma olhadinha no Tópico 2 de seu caderno de estudos. Zen 
significa meditação e o elemento que mais o diferencia do budismo tradicional 
é o foco na iluminação de Buda ao invés dos ensinamentos de Buda. Para os 
zen-budistas, “mais importante que o dedo que aponta o caminho, é o caminho 
que ele aponta”. Disponível em: <http://www.nossacasa.net/shunya/default.
asp?menu=1270>. Acesso em: 20 ago. 2016.
Ritualmente, eles atribuem muita importância à meditação e, ao contrário 
das demais linhas de pensamento budista, a experiência do Nirvana não é tão 
complexa e penosa para se atingir. Pode acontecer na meditação ou em uma 
experiência mundana, como no trabalho ou junto à família, por exemplo.
Para eles, a melhor explicação que se pode ter da vida é vivê-la ao invés de 
criar inúmeras teorias e regras a serem seguidas. Neste sentido, os zen-budistas 
têm uma atitude bastante positiva com relação à vida, algo inaceitável ao budismo 
tradicional.
7 SEICHO-NO-IE
A definição no site da Seicho-No-Ie do Brasil é a seguinte:
É um ensinamento de amor que prega que o ser humano é filho 
de Deus, que o mundo da matéria é projeção da mente e, também, 
nos revela qual é a nossa verdadeira natureza. É uma filosofia que 
transcende o sectarismo religioso, pois acredita que todas as religiões 
são luzes de salvação que emanam de um único Deus. (Disponível em: 
<http://www.sni.org.br/>. Acesso em: 2 set. 2016.)
Fundada em 1930, por Masaharu Taniguchi, no Japão, pode ser considerada 
tanto como uma filosofia de vida como uma religião. Com diferentes biografias a 
seu respeito – algumas controversas, apontando para uma vida desregrada e que 
procurou seu caminho na meditação e estudo do budismo no Japão, durante o 
período da Primeira Guerra Mundial –, Masaharu baseou a filosofia Seicho-No-Ie 
em uma sutra budista que diz: “Não existe matéria, como não existem doenças: 
quem criou isso tudo foi o coração... Segue-se disso que a doença pode ser curada 
com o coração...”. (CAMARGO, 2012, p. 10).
112
UNIDADE 2 | RELIGIÕES DO EXTREMO ORIENTE
DICAS
Quer dizer que para Masaharu e seus seguidores a matéria não existe? Assista 
ao filme Matrix, que mostra um pouco deste princípio em seu enredo. É considerado um 
clássico da cultura Pop de 1999, produzido pelos irmãos Wachowski. Eles utilizam elementos 
da cultura ocidental e oriental com referências claras a esta filosofia de que a matéria não 
existe, mas é uma projeção da realidade.
FIGURA 37 – CAPA DE MATRIX (MAIO DE 1999)
FONTE: Disponível em: <https://filmow.com/matrix-t6756/>. Acesso 
em: 10 ago. 2016.
Voltando para o nosso assunto, a partir deste texto budista, o fundador 
da Seicho-No-Ie elabora sua leitura desta realidade com a máxima: “Não existe 
matéria, mas existe a realidade” (jisoô) e “Você é a realidade, você é Buda, você é 
Cristo, você é infinito e inesgotável”. (TANIGUSHI, 2012, p. 95.)
Claro que estas afirmações são muito contrárias àquelas que estudamos na 
Unidade 1 de nosso trabalho com os povos do Livro. Taniguchi utilizou elementos 
de introspecção psicológica com fenômenos psíquicos para promover a cura de 
doentes através da autossugestão, ganhando adeptos e tornando-se bastante 
requisitado para palestras e estudos no mundo ocidental. Esta notoriedade 
favoreceu a presença da filosofia Seicho-No-Ie no Brasil, que contém locais de 
reunião espalhados por todo o país.
TÓPICO 3 | AS RELIGIÕES DO EXTREMO ORIENTE
113
FIGURA 38 – MATAHARU TANIGUCHI
FONTE: Disponível em: <http://sni.org.br/>. Acesso em: 10 ago. 2016.
Para entendermos de que forma a Seicho-No-Ie consegue ter adesão em 
localidades geográficas distintas é necessário verificar o elemento inter-religioso 
presente em sua doutrina. Segundo o site no Brasil com relação aos adeptos que 
possuam uma religião, lemos: “Existem pessoas que, mesmo já sendo adeptas de 
uma religião e frequentando assiduamente suas atividades, sentem-se muito bem 
e felizes ao entrar em contato com os ensinamentos da Seicho-No-Ie, que por sua 
vez recebe, com muito amor e carinho, todas as pessoas, sem nenhuma restrição”. 
FONTE: Disponível em: <http://www.sni.org.br/oque.asp>. Acesso em: 20 ago. 2016.
A doutrina coloca-se como um apoio adicional para o fiel de outra 
realidade religiosa, estratégia utilizada por outros grupos, como a maçonaria, por 
exemplo.
8 IGREJA MESSIÂNICA MUNDIAL – JOHREI
Esta expressão religiosa surgiu no Japão, em 1935, com Mokiti Okada e 
chegou ao Brasil em 1965. Basicamente utiliza a transmissão de energia de um 
indivíduo a outro através da imposição de mãos. A experiência é ensinada e outras 
pessoas podem aprender os preceitos Johrei. Mantém a mesma premissa Seicho-No-
Ie a respeito da permissão para participar de outras religiões.
114
UNIDADE 2 | RELIGIÕES DO EXTREMO ORIENTE
FIGURA 39 – MOKITI OKADA
FONTE: Disponível em: <http://jinsai.org/english/meishu_sama/
images/imagjins19.php>. Acesso em: 10 ago. 2016.
Os sofrimentos humanos podem ser eliminados através desta imposição 
de mãos e meditação.
DICAS
Esta descrição a respeito da metodologia do Johrei lembra outra expressão quase 
contemporânea, chamada Reiki, cuja origem data de 1922, no Japão, que utiliza o princípio 
da transmissão de energia através das mãos. Citei esta outra filosofia oriental porque ela tem 
sido retomada por algumas correntes esotéricas nos dias atuais que retomaram os ensinos de 
Mikao Usui, seu fundador. Não é interessante como estes movimentos religiosos são cíclicos? 
Dependendo do contexto histórico em que a sociedade esteja inserida, movimentos antes 
esquecidos ganham nova força e são adaptados para a linguagem contemporânea!
Existem outras seitas de menor expressão no Oriente, mas que, por 
questão de espaço, não serão tratadas neste caderno de estudos.
UNI
Concluímos a segunda unidade de estudo de nossa jornada religiosa. Espero 
que você esteja descobrindo muitos conceitos novos que o ajudarão a entender os outros e 
no que eles acreditam. Gostaríamos de saber como sua experiência está acontecendo. Você 
poderia compartilhar essa experiência? Mande um e-mail para <edumedctba@yahoo.com.
br> e conte qual é a relevância deste estudo até agora para sua formação acadêmica. É muito 
importante que você apresente um feedback para medir seu aprendizado! Espero você na 
próxima e derradeiraunidade, quando mergulharemos na religiosidade brasileira! Até lá!
115
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:
• Além do budismo e do hinduísmo, várias outras religiões derivadas destas 
duas surgiram ao longo da História.
• Muitos dos fundadores destas religiões, como Confúcio e Lao Tsé, não criaram 
religiões, mas sistemas filosóficos para entender o mundo que os cercava e 
como atingir a eternidade.
• Em contexto de crise, como a Revolução Cultural da China, que aboliu as 
práticas religiosas e a Segunda Guerra Mundial, que acabou com a crença no 
culto ao imperador japonês, as religiões sofrem mudanças e, muitas vezes, 
crescem e se expandem para regiões onde não existem conflitos.
• Após a morte dos fundadores, as religiões sofrem complementos de cultos 
mais antigos e modificam os ensinamentos através de um sincretismo religioso, 
como no budismo tibetano e no taoísmo.
• O elemento mais importante no xintoísmo é o culto aos antepassados.
• Duas expressões religiosas que ganharam força no Brasil ao longo do século 
XX foram a filosofia Seicho-No-Ie e a Igreja Messiânica Mundial Johrei.
• Através das doutrinas religiosas é possível perceber alguns elementos da 
sociedade onde estas religiões possuem influência.
116
Esta unidade de estudos é um desafio à nossa mente ocidental. Muitos conceitos 
tratados aqui nos parecem muito estranhos, por estarem muito distantes de 
nossa cultura, que foi sedimentada sobre o judaísmo e o cristianismo em 
grande medida.
Neste tópico tratamos de diversas expressões religiosas oriundas em grande 
parte do Japão e da China. Releia o texto do tópico, analise o gráfico a seguir, 
que mostra a idade dos praticantes do Budismo no Brasil, e responda às 
questões propostas:
AUTOATIVIDADE
ETÁRIO DOS PRATICANTES DO BUDISMO NO BRASIL
FONTE: Disponível em: <http://istoe.com.br/156867A+CRISE
+DO+BUDISMO+NO+BRAIL/>.Acesso em: 10 ago. 2016.
1 Observando o quadro relativo ao budismo no Brasil, analise o panorama de 
crescimento destas religiões de cunho oriental. Como acontece o crescimento 
destas religiões longe dos centros de origem?
2 Comente a respeito da razão pela qual as filosofias religiosas Johrei e Seicho-
No-Ie conseguiram alcançar presença no Brasil em localidades onde outras 
linhas religiosas semelhantes não conseguiram esta mesma presença.
3 Cite os dois movimentos apresentados como variações do budismo 
tradicional e quais são seus principais elementos.
4 Qual é o elemento central no xintoísmo?
5 Por que o laoísmo e o confucionismo podem ser considerados como sistemas 
filosóficos ao invés de religiões?
117
UNIDADE 3
RELIGIOSIDADE BRASILEIRA
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir desta unidade você será capaz de:
• verificar como a História do Brasil pode ser vista através do prisma das 
religiões que acompanham o brasileiro ao longo de seus mais de 500 anos 
de História;
• conhecer a origem das religiões influentes no Brasil, por exemplo: o espiri-
tismo, a Nova Era, cultos indígenas e afro-brasileiros;
• verificar que mesmo as religiões tradicionais, como o catolicismo e até 
mesmo alguns cultos neopentecostais, apresentam elementos sincréticos 
com outras religiões;
• entender a origem da tolerância religiosa que ocorre no Brasil, o que per-
mite até que exista sincretismo inter-religioso;
• conhecer a origem do discurso ecumênico e seus desdobramentos no Brasil;
• analisar as diferenças e semelhanças entre as religiões, visando a uma 
aproximação livre de preconceitos das religiões por falta de conhecimento.
Esta Unidade está dividida em quatro tópicos e no final de cada um deles, 
você encontrará atividades que o ajudarão a fixar os conhecimentos aborda-
dos.
TÓPICO 1 – AS PRIMEIRAS RELIGIÕES DO BRASIL OU SERIA 
 PINDORAMA?
TÓPICO 2 – AS RELIGIÕES AFRO-BRASILEIRAS
TÓPICO 3 – OUTROS MOVIMENTOS RELIGIOSOS
TÓPICO 4 – ECUMENISMO
118
119
TÓPICO 1
AS PRIMEIRAS RELIGIÕES DO BRASIL OU SERIA 
PINDORAMA?
UNIDADE 3
1 INTRODUÇÃO
Até o momento estudamos as chamadas grandes religiões da humanidade. 
Talvez este seja o momento ideal para explicarmos por que estas religiões são 
denominadas “grandes”. Isso ocorre porque, por motivos diversos, elas passaram 
por um processo de globalização e disseminação muito intenso. Depois da 
chegada em uma nova territorialidade, esta religião precisa ser aceita e conseguir 
um lugar no seio das religiões autóctones.
Um grande veículo de disseminação religiosa ocorreu na Idade Moderna 
através das chamadas Grandes Navegações, que cristianizaram o continente 
americano, incluindo o Brasil. Iniciaremos nosso estudo analisando as religiões 
brasileiras, no contexto de seu surgimento, ou seja: A religião indígena, o 
cristianismo português e, por fim, as religiões africanas, oriundas do sistema 
escravista português no Brasil.
UNI
Vamos perceber ao longo desta unidade que nenhuma religião permanece 
inalterada ao modificar seu espaço geográfico. Portanto, o candomblé africano é diferente 
do brasileiro, até mesmo o catolicismo brasileiro é diferente do romano em alguns aspectos.
Seguindo nossa aventura pelas religiões brasileiras, nossa segunda 
parada será no século XIX, quando, através do processo de imigração em massa, 
que ocorreu no Brasil em virtude da abolição da escravatura negra no país em 
1888, novas expressões religiosas surgiram em terras brasileiras. Neste processo 
dinâmico, não foi apenas a mão de obra que chegou a terras tupiniquins, 
mas também os sistemas religiosos dos imigrantes. Foi neste momento que o 
espiritismo, a maçonaria e cultos esotéricos chegaram e foram modificados de 
acordo com a nossa realidade cultural. Com o advento da globalização, novas 
religiões chegam ao conhecimento dos brasileiros, seja pela TV, seja pela internet, 
UNIDADE 3 | RELIGIOSIDADE BRASILEIRA
120
seja ainda por filmes de Hollywood, que trazem modismos que envolvem e 
aguçam a curiosidade dos jovens a respeito da religião por trás do filme. Por fim, 
faremos uma discussão sobre o movimento ecumênico e como este movimento 
influencia as tentativas de diálogo inter-religioso.
UNI
Se algum dos termos desta introdução não ficou claro para você, caro 
acadêmico, não se preocupe, analisaremos cada um deles em seu contexto.
2 OS CULTOS INDÍGENAS
Às vezes podemos ter a impressão de que o Brasil sempre foi católico, 
porque em nossos livros de história começamos a estudar a partir da chegada 
dos portugueses em 1500. Porém, não podemos nos esquecer de que antes da 
presença europeia esta terra já era povoada por diversas nações indígenas com 
uma história milenar, além de uma diversidade cultural e religiosa muito grande. 
Não podemos ter a mesma impressão de Pedro Álvares Cabral, que acreditava 
que todos os habitantes eram iguais. Não é possível determinar ao certo o número 
exato de nações indígenas, por não existirem registros escritos sobre sua história. 
Eles utilizavam a transmissão oral para sua tradição. Com o extermínio indígena 
a partir de 1500, seja por assassinato, escravização ou por doenças para as quais 
eles não tinham imunidade para se proteger, o conhecimento de muitas nações 
indígenas se perdeu no tempo e no espaço.
UNI
Entre as principais tribos indígenas brasileiras em 1500, podemos citar: os 
tupi-guarani, os jê, os aruak, os karib, os pano, os tukano, os carrua, além de outros grupos 
diversos. O próprio nome “índio” é uma denominação europeia e não como os autóctones 
se conheciam.
3 HISTÓRIA
Com o tempo, os portugueses dividiram os índios em dois grupos: o 
povo tupi e o povo tapuia. O povo tupi era todo indígena que habitava o litoral 
brasileiro, e o povo tapuia, todas as tribos que habitavam o interior do continente. 
TÓPICO 1 | AS PRIMEIRAS RELIGIÕES DO BRASIL OU SERIA PINDORAMA?121
Um detalhe importante neste sentido não deve ser esquecido: a representação 
indígena pelos portugueses. Como os tupis eram amistosos em relação aos 
portugueses, eram representados vestidos com uma feição quase europeia, 
enquanto os tapuia eram representados mais selvagens e nus. Tire suas próprias 
conclusões com as figuras a seguir:
FIGURA 40 – MULHER TUPI E HOMEM TUPI
UNIDADE 3 | RELIGIOSIDADE BRASILEIRA
122
FIGURA 41 – HOMEM E MULHER TAPUIA
FONTE: Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-877520080002000
16&script=sci_arttext>. Acessado em: 10 ago. 2016.
4 RELIGIOSIDADE INDÍGENA
Com relação à religiosidade indígena, precisamos resgatar alguns valores 
que praticamente não existem mais em nossas sociedades, como a vida em 
comunidade e a prioridade na família em detrimento de qualquer outra coisa. 
Diversos rituais que aos nossos olhos podem parecer sem sentido e arcaicos, 
mostram a posição que a família representa no culto indígena. 
Uma figura comum utilizada pelos antropólogos europeus para denominar 
a figura do líder religioso indígena em geral é o xamã. Esta figura é responsável 
por todos os rituais espirituais do grupo, bem como o principal conselheiro dos 
líderes da aldeia. Uma figura de grande autoridade entre toda a tribo. No Brasil, 
a nomenclatura que se atribui ao xamã é a palavra tupi pai’é, que em português 
se escreve pajé.
Para entendermos a função do pajé, precisamos entender como funciona 
a cosmogonia das sociedades tribais, neste sentido, as mesmas atribuições das 
tribos africanas que estudaremos na sequência.
TÓPICO 1 | AS PRIMEIRAS RELIGIÕES DO BRASIL OU SERIA PINDORAMA?
123
Para as sociedades tribais, a família é o elemento fundamental. Mais 
importante que uma estrutura organizada com fronteiras e governos, é uma 
unidade familiar, entre os vivos e entre os mortos. Para os indígenas, os membros 
da família que vêm a falecer continuam a fazer parte do contexto familiar, agora 
como espíritos, e auxiliam a tribo no tocante à comunicação com os deuses e 
na proteção contra as pragas e problemas ambientais. Neste sentido, o culto aos 
antepassados é uma prática comum entre os indígenas. Os espíritos dos mortos 
continuam interferindo nas práticas do dia a dia e, se não forem lembrados e 
recompensados, podem causar doenças e até mesmo a morte de indivíduos.
UNI
As doenças e problemas do dia a dia são atribuídos a espíritos e o papel 
fundamental do pajé é o de promover a cura através do ritual certo para cada tipo de espírito.
Como acontece a cura em um ritual xamânico? O pequeno extrato abaixo 
foi retirado de um estudo antropológico onde pesquisadores, convivendo no 
contexto tribal, presenciaram rituais de cura xamânica no Maranhão:
 Os pajés preferem curar à noite, uma das razões é que assim garantem 
uma audiência, o que seria difícil durante o dia, quando muitos estão para as 
roças. O pajé inicia a cura cantando as canções daquele sobrena tural que o seu 
inquérito leva a considerar como provável. Acompanha a si mesmo, marcando 
o ritmo da canção com uma batida forte de pé chacoalhando o maracá. Dança 
em volta do paciente; em geral, a família deste e alguns dos circunstantes o 
acompanham. A esposa ou um ajudante preparam-lhe os cigarros feitos de 
folhas de fumo enroladas em fibra de tawari. Um ajudante toma o maracá e o 
pajé preocupa-se daí por diante com a cura propriamente dita. Chupa repetidas 
vezes no cigarro para soprar a fumaça em suas mãos ou no corpo do paciente. 
Afasta-se para um lado e chupa no cigarro até que, meio tonto, recua de súbito 
e leva as mãos ao peito, o que indica ter recebido o espírito em seu corpo. Sob 
a influência do espírito o pajé comporta-se de maneira peculiar. Se é es pírito de 
macaco, por exemplo, dança aos saltos, gesticula e grita como esse animal. O 
transe se prolonga enquanto o espírito está forte. Algumas vezes o espírito ‘vem 
forte demais’ e ele cai ao chão inconsciente. É durante o transe, enquanto está 
possuído pelo espírito, que o pajé cura” (cf. Wagley & Galvão, 1961).
FONTE: Revista de Antropologia da USP e encontra-se disponível no site 
< http://www.usp.br/revistausp/67/01-laraia.pdf>.
UNIDADE 3 | RELIGIOSIDADE BRASILEIRA
124
O pajé dentro desta cosmogonia é o elo entre os homens e os deuses 
ou espíritos, por esta razão é o homem mais respeitado dentro das sociedades 
indígenas. Algumas tribos brasileiras adotavam a prática da antropofagia ou 
canibalismo, que tem sido muito mal interpretada pelo senso comum. O objetivo 
principal da antropofagia era o de, através da alimentação do corpo físico de 
alguém, adquirir todas as qualidades e forças do corpo. Os pajés são também 
pessoas com grandes conhecimentos das ervas nativas e conhecem características 
medicinais das plantas autóctones. 
 
Através do conhecimento de ervas são realizados rituais conhecidos como 
pajelança, que consistem em, pela ingestão de bebidas fortes, provocar uma 
espécie de transe espiritual e a partir de então receber a visitação de espíritos e as 
respostas para os anseios pessoais e coletivos. A eficácia e o potencial alucinógeno 
são estudados pelas autoridades sanitárias, porém o consumo destas substâncias 
para fins ritualísticos é permitido pelo governo brasileiro.
UNI
Todo este sistema religioso que o professor explicou até agora se aplica para 
tribos que ainda não sofreram influência do “homem branco”, o que hoje, segundo o site 
Brasil Sustentável, resulta num número de 67 tribos, apenas. Portanto, a maioria das tribos 
indígenas está até certa medida integrada ao contexto brasileiro e por isso sofre o processo 
de aculturação e sincretismo com o cristianismo, principalmente. Movimentos de resgate 
da cultura indígena surgem em nosso tempo buscando remontar traços desta cultura 
praticamente extinta. Uma destas iniciativas é a série de pequenos programas denominados 
ABC da Amazônia, que mostram diversas faces da realidade amazônica, entre elas a cultura 
indígena. Você pode assistir a estes vídeos no site disponível em: <http://www.globoamazonia.
com/amazonia/0,,mul937605-16052,00-abc+da+amazonia+confira+todos+os+programetes
+ja+exibidos+da+serie.html>.
Talvez o exemplo mais famoso deste sincretismo indígena com o 
catolicismo seja a religião do Santo Daime. Surgiu no início do século XX, através 
de um neto de escravos que diz ter recebido a revelação da religião de cunho 
cristão com a utilização da bebida indígena Ayahuasca, que recebeu o nome 
no Brasil de Santo Daime. De acordo com as origens da religião, seu fundador, 
Mestre Irineu, recebeu a revelação de Nossa Senhora da Conceição em uma das 
primeiras vezes que tomou a bebida na década de 30 do século passado. Todo o 
culto daimista é norteado por hinos compostos pelo Mestre Irineu que propôs, 
segundo o site oficial do culto ao Santo Daime <http://www.santodaime.org/
origens/index.htm>, uma nova leitura dos Evangelhos segundo o Santo Daime. O 
próprio termo Daime tem origem nas petições de Mestre Irineu a nossa Senhora, 
como: Dai-me amor, Dai-me luz, Dai-me compreensão etc.
TÓPICO 1 | AS PRIMEIRAS RELIGIÕES DO BRASIL OU SERIA PINDORAMA?
125
FIGURA 42 – MESTRE IRINEU, FUNDADOR DO SANTO DAIME
FONTE: Disponível em: <http://www.casadecuraris.com.br/event-items/
passagem-mestre-irineu-2016/>. Acesso em: 10 ago. 2016.
A religião daimista tem alcançado certa divulgação na mídia através do 
interesse despertado no público estrangeiro, em especial os norte-americanos e 
europeus. Após a morte de Mestre Irineu, outros mestres têm se levantado para 
continuar o trabalho de divulgação do culto. Algumas pessoas ficam na floresta 
fazendo parte de uma comunidade alternativa que tem o objetivo de uma vida 
mais espiritualizada e mais próxima à natureza. Este processo também pode ser 
reconhecido nas comunidades alternativas de cunho esotérico que existem naregião Centro-Oeste brasileiro. 
Na leitura complementar deste tópico, retirado do site oficial do Santo 
Daime, vamos conhecer um pouco mais da ritualística litúrgica deste culto 
sincrético, genuinamente brasileiro.
UNIDADE 3 | RELIGIOSIDADE BRASILEIRA
126
LEITURA COMPLEMENTAR
O QUE É NOSSA RELIGIÃO?
O culto eclético da fluente luz universal é um trabalho espiritual, que tem 
como objetivo alcançar o autoconhecimento e a experiência de Deus ou do Eu 
Superior Interno. Para tanto, se utiliza, dentro de um contexto ritual tido como 
sagrado, da bebida enteógena sacramental, conhecida como ahyausca e que 
foi rebatizada pelo Mestre Irineu como Santo Daime. O uso de uma substância 
enteógena como sacramento parece ter feito parte das principais tradições 
religiosas da antiguidade e fornecido a base visionária de muitas das principais 
grandes religiões hoje existentes no mundo.
Nosso culto litúrgico, que se resume em comungar, nas datas apropriadas, 
a bebida à guisa de sacramento, se denomina Eclético, por que suas raízes estão 
impregnadas de um forte sincretismo entre vários elementos culturais, folclóricos 
e religiosos. O uso do sacramento Santo Daime é realizado nas datas do seu 
calendário festivo, obedecendo às regras rituais que foram estabelecidas pelo 
Mestre Irineu e pelo Padrinho Sebastião.
Um Conselho Espiritual dirige a Igreja e zela pela manutenção da tradição 
e dos princípios, ao mesmo tempo que procura adequá-las aos novos contextos. 
As principais festas do calendário religioso são os Hinários e os Feitios. Hinários 
são 12 horas seguidas de cânticos e bailado em torno de uma estrela de seis pontas, 
ao som de diversos instrumentos e maracás. Feitios são as festas de produção 
do sacramento, quando toda a comunidade se mobiliza para fazer a bebida 
sacramental, que será consumida durante o calendário de trabalhos do ano.
Outro elemento importante da espiritualidade daimista elaborada por 
Padrinho Sebastião foi a comunidade. A comunidade se constitui no ponto de 
referência comum para o trabalho espiritual de todos os membros. É a ela que devem 
retornar todas as boas aquisições que fazemos no nosso aprendizado espiritual.
A Doutrina do Santo Daime ou a Doutrina do Mestre Irineu, como também 
é identificada, nasceu dentro da floresta, brotou no seio do seu povo, uma gente 
muito humilde e digna. A sua mensagem, que se encontra reunida na forma de 
coleções de hinos recebidos pelos mestres e adeptos, prega o amor pela natureza 
e consagra o mundo vegetal e todo o planeta como sendo o cenário sagrado da 
nossa mãe-terra.
Nosso trabalho mantém, portanto, vínculos muito profundos com a floresta 
e pela causa da sua preservação. Isso chega a ser uma questão de fundamento 
espiritual. Para desenvolver essa parte social e ambiental do trabalho da nossa 
Igreja na Amazônia, foi criado o Instituto de Desenvolvimento Ambiental 
Raimundo Irineu Serra, que se empenha hoje em gerir e buscar parcerias para 
projetos de desenvolvimento autossustentável, numa região de quase 200.000 ha 
de florestas, pertencentes à Floresta Nacional do Purus, onde estamos assentados 
há cerca de 16 anos.
FONTE: Disponível em: <http://www.santodaime.org/site-antigo/doutrina/oquee.htm>. Acesso 
em: 16 ago. 2016.
127
Neste tópico, você aprendeu que:
• A cultura indígena no Brasil é muito anterior à presença portuguesa em nossas 
terras.
• A cosmogonia indígena leva em consideração o culto aos espíritos, sejam eles 
antepassados da tribo ou forças da natureza.
• O elemento-chave na religião indígena é o pajé e sua principal função é a de 
trazer a cura para as doenças que, segundo a crença geral, são originadas pelos 
espíritos.
• O pajé é, ainda, o porta-voz entre o mundo dos homens e o mundo dos espíritos.
• Com a expansão do território e da ocupação das terras brasileiras, os indígenas 
passam a se integrar à sociedade brasileira no sentido religioso, inclusive.
• O maior exemplo deste sincretismo e o mais famoso é a religião do Santo 
Daime, que envolve elementos católicos, indígenas e esotéricos.
RESUMO DO TÓPICO 1
128
QUESTÃO ÚNICA: Destaque as principais diferenças do sistema de valores 
indígenas e dos “homens brancos”. Enfocamos algumas características do 
sistema indígena neste tópico, descubra se existe relação entre o sistema 
religioso predominante e a sociedade brasileira: o que é importante para nossa 
sociedade? Com estas informações, procure verificar se o sistema religioso que 
predomina em nossa sociedade permite os elementos que são importantes 
para ela.
AUTOATIVIDADE
129
TÓPICO 2
AS RELIGIÕES AFRO-BRASILEIRAS
UNIDADE 3
1 INTRODUÇÃO
Você deve se perguntar por que não falamos do cristianismo brasileiro 
antes de iniciar nosso tópico sobre as religiões afro-brasileiras? Você deve 
lembrar-se da disciplina de História da Igreja no Brasil, que você já concluiu 
há bastante tempo. Abordamos tudo o que era necessário para o estudo do 
cristianismo brasileiro, tanto católico quanto protestante, naquela ocasião. Neste 
novo trabalho vamos focar no que ainda não conhecemos.
Escrever a respeito de religiões como Umbanda e Candomblé não é uma 
missão muito simples, na medida em que existe todo um preconceito relativo a 
estas religiões, sendo que grande parte deste preconceito é oriundo de algumas 
denominações protestantes, de modo especial as pentecostais e neopentecostais, 
que utilizaram de uma estratégia maniqueísta entre bem e mal para separar os 
trabalhadores de Deus dos trabalhadores das trevas. Uma verdadeira Cruzada 
contra as religiões afro-brasileiras começou a ocorrer na década de 80 do século 
passado, de maneira a estigmatizar os participantes destes grupos religiosos. 
Lembrando mais uma vez que não expresso aqui minha opinião a 
respeito de qualquer religião, para que você possa realizar uma leitura isenta 
de parcialidade. Um dos jargões do protestantismo é que Deus odeia o pecado, 
porém ama o pecador. Por que o homem pode ousar realizar algo diferente, 
decretando o julgamento das religiões afro?
130
UNIDADE 3 | RELIGIOSIDADE BRASILEIRA
UNI
É importante analisarmos se também nós, futuros pensadores e intelectuais da 
religião e da teologia, por vezes não nos tornamos maniqueístas (dividimos o mundo e as 
pessoas em dois grupos distintos: o bem ou o mal ou os de Deus e os do diabo, por exemplo). 
Creio que para os cristãos que porventura estiverem lendo este caderno de estudos, a atitude 
de Jesus em buscar os pecadores sem jamais julgá-los pelo que faziam, porém mostrando 
um caminho alternativo para aqueles que tinham uma vida sem ética ou moral, seria um 
bom exemplo de como devemos nos portar.
2 HISTÓRIA
Não é muito fácil determinar a origem distante das religiões oriundas do 
continente africano, devido à falta de registros escritos sobre sua história. Muito do 
que sabemos hoje dos povos africanos chegou até nós por via oral, ou seja, através 
do relato da geração mais antiga para a subsequente. A análise destas religiões é 
algo recente, portanto. Durante o século XX, antropólogos e sociólogos utilizaram 
métodos científicos modernos para desvendar as origens destes grupos religiosos 
que chegaram até nós com a vinda dos escravos africanos ao Brasil. Este elemento 
de transmissão oral dos conhecimentos facilita o sincretismo religioso, na medida 
em que, de uma geração para outra, os conhecimentos podem ser alterados. 
Na África Moderna, rituais têm sofrido mutações com o islamismo, na mesma 
proporção que aqui no Brasil as religiões afro-brasileiras sofreram mutações com 
o catolicismo romano.
O contexto africano, no período do Descobrimento do Brasil, era tribal. 
Quando dizemos “tribal”, queremos dizer que não existiam países ou nações 
africanas, apenas grandes tribos que tinham afinidade ou animosidade entre si. 
Neste ponto, os africanos modernos(do século XVI) se assemelham à maneira 
como analisamos o sistema indígena brasileiro, onde a tribo envolve as famílias 
e não apenas os membros vivos, os mortos também continuam a fazer parte do 
cotidiano, como um espírito que vive à parte, pairando sobre a sociedade para 
lembrá-los de seguir os preceitos antigos. Os vivos têm a obrigação de preservar 
a organização da tribo e isso é obtido através da observância das regras impostas 
pelos antepassados, e nisto incluem-se os sacrifícios aos mortos e aos espíritos 
familiares. Caso uma família acabe, a conexão que existe com os mortos ancestrais 
é cortada e eles deixam de pairar por sobre a Terra. Neste sentido, é importante 
manter a tradição, mesmo que a situação mude drasticamente, como no caso 
dos escravos deportados da África para o Brasil. O líder da tribo é o chefe ou o 
rei, além de chefe político, ele detém o poder religioso no sentido de interceder 
entre os espíritos e oferecer os sacrifícios. É ele quem faz o papel do pajé, no caso 
indígena brasileiro. Isto é possível, pois a fronteira entre a vida moral, política e 
religiosa é bastante difusa, sendo o rei o porta-voz entre os vivos e os mortos.
TÓPICO 2 | AS RELIGIÕES AFRO-BRASILEIRAS
131
Cada tribo possui um sistema próprio de crenças, mas, de maneira geral, 
todas elas creem num deus supremo, embora cada tribo apresente um nome 
próprio e pessoal para ele. Algumas lendas africanas contam que existia uma 
forte ligação entre este deus supremo e o homem, mas que um dia esta ligação foi 
rompida. Os homens só recorrem ao deus supremo em ocasiões especiais, no dia 
a dia eles preferem acessar os espíritos e deuses menores, que normalmente estão 
associados a fenômenos da natureza, como chuvas, raios, florestas etc.
Na sociedade africana antiga, os “Nganda” são os curandeiros considerados 
doutores ou médicos pela tribo. Eles auxiliam no tratamento homeopático das 
doenças, além de acompanhar o tratamento físico com amuletos e rituais mágicos. 
Para eles, as doenças podem ter sua origem através da chamada magia negra, 
que nada mais é do que utilizar os espíritos ancestrais para prejudicar ou atacar 
algum desafeto. Os Nganda utilizam outros espíritos para anular o poderio 
mágico destes seres sobre os humanos. 
Além dos Nganda, existem os adivinhos, que possuem a habilidade de 
decifrar sinais enviados pelo mundo dos espíritos através de várias maneiras, 
por exemplo, uma bacia com pequenos ossos ou conchas que de acordo com a 
maneira como caem oferece uma leitura que serve de conselho para aquele que 
recebe a consulta espiritual. Mostramos, na sequência, dois exemplos do “jogo de 
búzios” no Brasil em nossos dias.
FIGURA 43 – JOGO DE BÚZIOS
FONTE: Disponível em: <http://irmavaleria.com/consultas.htm>. Acesso em: 27 nov. 2009.
3 RELIGIÕES AFRICANAS NO BRASIL
Como já dissemos anteriormente, os cultos de origem africana chegaram 
ao Brasil no século XVIII, com a vinda dos primeiros escravos, trazidos pelos 
portugueses.
132
UNIDADE 3 | RELIGIOSIDADE BRASILEIRA
UNI
É comum considerarmos todos os africanos como iguais, mas precisamos 
lembrar que aqueles que chegaram ao Brasil eram escravos de guerra na África, nas grandes 
lutas tribais que ocorriam no território africano. Os degradantes navios negreiros, verdadeiros 
porões da morte onde os escravos eram transportados pelos portugueses, traziam membros 
de diversas tribos, cada uma com suas próprias crenças e simpatias. Então não pense que 
todos os escravos tinham as mesmas crenças ou eram todos das mesmas regiões da África. 
Alguns estudiosos dizem que a maioria dos africanos é de origem banta e sudanesa.
FIGURA 44 – PINTURA RETRATANDO O DIA A DIA EM UM NAVIO NEGREIRO
FONTE: <ttp://www.editoradobrasil.com.br/jimboe/galeria/imagens/index.
aspx?d=historia&a=4&u=3&t=imagemA>. Acesso em: 10 ago. 2016.
O que antes os afastava, ou seja, sua origem divergente na África, passa 
agora a uni-los no Brasil, pois todos eram africanos em uma terra estranha. Os 
elementos religiosos que não eram compatíveis, agora são esquecidos para que se 
aproveite o ponto de união entre as diversas tribos africanas. O problema, neste 
sentido, é a rigidez dos senhores de engenho, que os obrigavam ao batismo na 
Igreja Católica e seguirem os santos do catolicismo. Não restando muita opção 
aos negros, eles se adequaram ao catolicismo e transferiram seus orixás ou 
deuses para as imagens dos santos católicos, transformando seu culto num culto 
sincrético com o catolicismo brasileiro.
Neste sentido, todas as 16 divindades do candomblé e da umbanda estão 
associadas a santos católicos, e entre eles, apenas para pontuar como exemplo, as 
cinco maiores são as seguintes: 
TÓPICO 2 | AS RELIGIÕES AFRO-BRASILEIRAS
133
1 – Iemanjá utiliza a imagem de Nossa Senhora da Conceição.
2 – Iansã utiliza a imagem de Santa Bárbara.
3 – Xangô utiliza a imagem de São Jerônimo.
4 – Ogum utiliza a imagem de São Jorge.
5 – Oxalá utiliza a imagem de Jesus.
FIGURA 45 – IEMANJÁ, IANSÃ, XANGÔ, OXALÁ E OGUM 
FONTE: Disponível em: <http://www.xamanismo.com.br/Teia/SubTeia1192578971It001>.
Acesso em: 27 nov. 2009.
No Brasil contemporâneo, embora continuem existindo várias vertentes de 
cultos afro-brasileiros, como a quimbanda e o culto vodu, as linhas que possuem 
mais adeptos são o candomblé e a umbanda. 
134
UNIDADE 3 | RELIGIOSIDADE BRASILEIRA
UNI
Você acha que o candomblé e a umbanda são iguais? Este é um erro comum da 
comunidade leiga de maneira geral. Ambas possuem elementos em comum, porém existem 
algumas diferenças importantes para distinguirmos o culto afro.
O candomblé é o culto aos ancestrais de origem familiar, e a origem da 
religião está voltada à alma da natureza. O desenvolvimento do candomblé 
ocorreu principalmente após a abolição da escravatura, quando o controle 
sobre os negros foi diminuindo de maneira gradual. Embora possa não parecer, 
a teologia do candomblé é monoteísta, ou seja, eles acreditam em apenas um 
deus supremo que muda de nome de acordo com a região da África de onde os 
escravos tenham vindo.
UNI
Aqui no Brasil, as tribos africanas ficaram conhecidas como “nações”. Deste 
modo, para a nação Ketu, por exemplo, o nome do deus supremo é Olorum, já a nação 
Bantu lhe dá o nome de Zambi e a nação Jeje atribui à divindade o nome de Mawi. Porém, 
todas estas nações, ao chegarem ao Brasil, transferiram as atribuições desta entidade ao Deus 
católico.
As homenagens oferecidas aos orixás são o reconhecimento do povo pelas 
qualidades que possuem. Neste sentido, quando os escravos encontraram um 
catolicismo popular no interior do Brasil, onde não havia uma forte presença do 
clero católico, que tendia mais para um politeísmo com os santos que para uma 
doutrina trinitária cristã, este sistema pôde ser muito bem ajustado à teologia do 
candomblé.
Quanto aos rituais, o candomblé não enfatiza a prática das “incorporações” 
dos orixás, podendo ocorrer de maneira ocasional, não é a prioridade do culto, no 
sentido destas entidades serem forças da natureza que não passaram pela vida, 
ou seja, não passaram pela existência humana e, portanto, merecem culto para 
que se receba algo em troca e se realize a permuta entre esta dimensão física e a 
espiritual.
De maneira resumida, o candomblé tem uma origem milenar e tem o seu 
culto ao redor do deus supremo e dos orixás, que são elementos da natureza e, 
portanto, não são espíritos de pessoas que morreram, eles sempre existiram.
TÓPICO 2 | AS RELIGIÕES AFRO-BRASILEIRAS
135
FIGURA 46 – DISPOSIÇÃO E NOMENCLATURA DOS PARTICIPANTES DE UM CULTO DE 
CANDOMBLÉ
Xangõ
Oxumaré
Ossaim
Oxum
Tansã
NanãObalualé
Oxóssi
Ogum Oxalá
Iemanjâ
Participantes Pai-de-santo
Agogô
Xequerê
Rum
Rumpi
Lê
FONTE: Disponível em: <http://www.girafamania.com.br/tudo/religiao_candomble.html>. 
Acessoem: 28 nov. 2009.
A umbanda, ao contrário do que se imagina, não surgiu na África, é 
uma religião recente de origem genuinamente brasileira. Surgiu no início do 
século XX, através de um amálgama religioso que une os elementos católicos, 
do candomblé, e de maneira especial, do espiritismo que havia chegado ao 
Brasil trazido pelos europeus no século anterior. Existem ainda elementos de 
cultos ciganos e esotéricos que fecham este caldeirão religioso. A organização 
do culto umbandista é bastante descentralizada, ou seja, quem determina as 
regras de como a tenda de umbanda deve funcionar é o pai de santo local. O 
primeiro registro em cartório da abertura de uma tenda de umbanda data de 
1908. A figura-chave dentro do universo do culto é a figura do “Preto Velho” 
ou dos guias, que são os responsáveis pelas informações pertinentes aos pais de 
santo de como devem conduzir a tenda. As figuras do “Preto Velho” e dos guias 
são, na verdade, espíritos de antigos escravos africanos que chegaram ao Brasil 
e aqui morreram. São estes espíritos que incorporam nas sessões de umbanda e, 
por esta razão, a multiplicidade do culto dificulta uma padronização do ritual 
devido à sua pluralidade cultural e religiosa. A umbanda não é iniciática, como o 
candomblé, ou seja, para se tornar um médium que recebe um guia, o postulante, 
após algum treinamento, poderá fazer parte da “roda”, caso sejam encontrados 
nele as características necessárias para a função. Já no candomblé, os postulantes 
são separados e preparados através de rituais longos e complexos que visam “abrir 
a visão” para que possam estar mais aptos a receber estes seres e ser instrumentos 
e canais para que os orixás possam se comunicar com os demais participantes.
136
UNIDADE 3 | RELIGIOSIDADE BRASILEIRA
FIGURA 47 – FOTOGRAFIAS DE CULTO UMBANDISTA
UNI
Você deve ter notado a grande presença de brancos nos trabalhos do culto de 
umbanda retratados acima. Podemos dizer que o acesso à umbanda é mais “democrático” 
que o candomblé, que além do elemento religioso, é um foco de resistência à manutenção 
da cultura afro-brasileira, muito em voga em nossos dias, onde percebemos que os negros 
estão buscando retomar seu espaço na sociedade brasileira.
Além da umbanda e do candomblé, existem ainda várias outras linhas de 
culto afro-brasileiro, como a macumba e a quimbanda, e cremos que uma breve 
palavra sobre ambas pode auxiliá-lo a entender estas outras vertentes dos cultos 
africanos no Brasil.
FONTE: Disponível em: <https://tepma.files.word
press.com/2015/11/img_6607.jpg> Acesso em: 17 
mai .2018.
FONTE: Disponível em: <http://3.bp.blogspot.com/-
QxXe04gZo-8/Vo6Gi9pwxRI/AAAAAAAAHm4/
kxIEaQ29IFQ/s1600/umbanda%2Blibras.jpg> 
Acesso em: 17 mai. 2018.
FONTE: Disponível em:<https://i.ytimg.com/vi/9p
_Qg4PSqkA/maxresdefault.jpg> Acesso em: 17
 mai. 2018.
TÓPICO 2 | AS RELIGIÕES AFRO-BRASILEIRAS
137
A palavra macumba é de origem banta (makiumba ou makumba) e 
significa “espíritos da noite”. A razão disso é que os rituais devem ser efetuados 
durante a noite e fora do terreiro, pois estas entidades seriam espíritos menores, 
que não pertencem ao panteão do candomblé e, por esta razão, passaram a ser 
vistos como subprodutos ou de maneira pejorativa pelos seus próprios iguais. 
A Igreja também passou a condenar abertamente os rituais de macumba, no 
sentido de serem efetuados nas ruas e durante a noite, podiam ser vistos por 
transeuntes. As acusações da Igreja giravam em torno das bebidas e cigarros 
que eram fartamente utilizados nos rituais, além das danças altamente eróticas 
que aconteciam nestes rituais, que eram interpretados pelos não iniciados como 
orgias sexuais.
A quimbanda seria a religião onde um dos rituais é a macumba. Assemelha-
se muito à umbanda, com a diferença marcante de que, em seus rituais, sacrifícios 
utilizando elementos como sangue, pólvora, pertences das pessoas a quem se 
quer prejudicar são utilizados, o que já não ocorre na umbanda. A quimbanda 
seria o que conhecemos como magia negra e a umbanda a magia branca. No 
quimbanda, os elementos adorados são os exus, que são espíritos das trevas, ou 
espíritos muito atrasados em relação à evolução natural dos espíritos que, quanto 
mais elevados, mais “benefícios” podem trazer para a humanidade. Os exus, 
porém, podem ser invocados para fazer o mal às pessoas. No mesmo contexto de 
sincretismo que vimos no candomblé com os santos católicos, temos a associação 
dos exus com as entidades demoníacas do cristianismo. Nos escravos brasileiros 
existiam duas vertentes de pensamento principais: a dos escravos que aceitaram 
a evangelização católica de bom grado, misturando os elementos religiosos sem 
maiores problemas, e aqueles que não aceitaram a mistura, buscando manter a 
essência dos rituais africanos. Alguns estudiosos dizem que as entidades que 
incorporam na umbanda são os espíritos da primeira categoria, enquanto que, na 
quimbanda, são os da segunda.
Poderíamos falar ainda de vodu, santeria cubana, por exemplo, mas como 
sua influência está mais relacionada ao Caribe que ao Brasil, extrapolaria o recorte 
deste trabalho de estudo.
138
Neste tópico, você aprendeu que:
• As tradições africanas foram transmitidas oralmente em sua grande maioria.
• A origem das religiões africanas remonta ao período primitivo da organização 
da sociedade em tribos.
• A família é a chave para entender o papel dos espíritos ancestrais e seu culto, 
em especial a participação dos espíritos no cotidiano das pessoas.
• No Brasil, os cultos africanos sofreram mutações as quais chamamos de 
sincretismo religioso, ao se misturar com o catolicismo e formar algo 
genuinamente novo.
• Podemos ainda destacar que do candomblé, a religião mais próxima dos cultos 
africanos, derivaram outras vertentes, como umbanda, quimbanda e macumba.
• A umbanda é uma religião ou vertente genuinamente brasileira e surgiu do 
amálgama entre o candomblé, o catolicismo e o espiritismo.
• A macumba e a quimbanda possuem rituais conhecidos como magia negra, 
pela razão de que as funções dos rituais podem também ser utilizadas para 
prejudicar outras pessoas.:
• As tradições africanas foram transmitidas oralmente em sua grande maioria.
• A origem das religiões africanas remonta ao período primitivo da organização 
da sociedade em tribos.
• A família é a chave para entender o papel dos espíritos ancestrais e seu culto, 
em especial a participação dos espíritos no cotidiano das pessoas.
• No Brasil, os cultos africanos sofreram mutações as quais chamamos de 
sincretismo religioso, ao se misturar com o catolicismo e formar algo 
genuinamente novo.
• Podemos ainda destacar que do candomblé, a religião mais próxima dos cultos 
africanos, derivaram outras vertentes, como umbanda, quimbanda e macumba.
RESUMO DO TÓPICO 2
139
• A umbanda é uma religião ou vertente genuinamente brasileira e surgiu do 
amálgama entre o candomblé, o catolicismo e o espiritismo.
• A macumba e a quimbanda possuem rituais conhecidos como magia negra, 
pela razão de que as funções dos rituais podem também ser utilizadas para 
prejudicar outras pessoas.
140
AUTOATIVIDADE
Este sem dúvida é o tópico mais polêmico de todo o caderno de estudos, 
devido a todo o preconceito que ainda existe em relação aos cultos de origem 
africana, pelas razões que já foram aqui citadas. Gostaria de propor, nesta 
atividade, que você pudesse redigir um texto (mínimo de 15 linhas e máximo 
de 30) sobre como sua visão foi afetada após um estudo científico a respeito 
destas manifestações religiosas. Caso você queira compartilhar conosco sua 
experiência, mande seu texto para <edumedctba@yahoo.com.br> e terei o 
maior prazer em ler e dar uma opinião a respeito de seu posicionamento!
141
TÓPICO 3
OUTROS MOVIMENTOS RELIGIOSOS
UNIDADE 3
1 INTRODUÇÃOAnalisamos, até o presente momento, os três maiores movimentos 
religiosos no país: os cultos indígenas e os cultos de origem africanas nesta 
unidade, bem como o cristianismo brasileiro no caderno de História da Igreja 
no Brasil. Porém, um fenômeno recente importante foi um poderoso veículo 
para a chegada de novos movimentos religiosos no nosso país. Este fenômeno 
foi a grande imigração de europeus e americanos ao Brasil após a abolição da 
escravatura, no final do século XIX. Novas ideias chegaram com eles e marcaram 
novas religiões em solo tupiniquim, sobre as quais conversaremos a partir de 
agora.
UNI
Não é uma tarefa fácil dividir um grande grupo de religiões com suas 
especificidades próprias em um único tópico de ensino.
Iniciaremos nosso estudo com o espiritismo, cujo maior ícone no Brasil é, sem 
dúvida, o médium Chico Xavier. Continuaremos analisando um fenômeno recente 
no Brasil onde podemos perceber a formação de comunidades alternativas de cunho 
esotérico, de maneira especial na região Centro-Oeste do Brasil, além de citar outras 
vertentes com presença no Brasil, porém com um raio de influência menor. 
É preciso deixar claro, porém, que a presença das religiões tratadas 
nas outras unidades de estudo, como o judaísmo, o islamismo, o budismo e o 
hinduísmo, é muito marcante no Brasil e atuam em nossa sociedade, porém 
não houve um sincretismo nacional, como temos visto até aqui. Desta forma, os 
princípios estudados anteriormente ainda valem para o judaísmo brasileiro, por 
exemplo.
UNIDADE 3 | RELIGIOSIDADE BRASILEIRA
142
2 O ESPIRITISMO
O espiritismo surge oficialmente na França no século XIX, através da 
figura de Leon Hippolyte Denizard Rivail, que se autodenominou Allan Kardec 
posteriormente. Oficialmente, porque existem relatos anteriores de acontecimentos 
mediúnicos nos Estados Unidos, em especial o caso curioso da família metodista 
Fox que, ao alugar uma casa para residir com a família, estranhos acontecimentos 
ocorreram a partir de então, em especial com as duas filhas do casal: Margarida 
e Catarina Fox.
FIGURA 48 – PINTURA DE ALLAN KARDEC
FONTE: Disponível em: <http://blogmais.wordpresscom/2008/08/
10/biografia-allan-kardec/>.Acesso em: 28 nov. 2009.
UNI
Ficou curioso para conhecer a história das irmãs Fox? Infelizmente não temos 
espaço para tratar deste caso de protoespiritismo. Caso queira conhecer esta história, acesse 
<http://www.espirito.org.br/portal/publicacoes/abc/cap04.html>.
A doutrina espírita apresenta elementos hinduístas e cristãos, ou seja, mais 
uma vez vemos a palavra sincretismo na baila, mesmo que seus seguidores não 
aceitem isso. O espiritismo está pautado em dois pilares principais: a reencarnação 
da alma e a comunicação com os mortos. A reencarnação da alma e sua 
consequente evolução é uma ideia que já vimos quando estudamos o hinduísmo, 
na Unidade 2, apenas o nome não era alma e sim karma. Cada ser humano possui 
um karma que pode evoluir ou não de acordo com as atitudes nesta vida. No caso 
TÓPICO 3 | OUTROS MOVIMENTOS RELIGIOSOS
143
do espiritismo, todos os seres humanos possuem uma alma que encarna num 
corpo de tempos em tempos. Enquanto a alma está desencarnada, ou seja, sem 
um corpo, pode ser acessada através de sessões mediúnicas e transmitir recados 
ou trazer a solução para vários problemas emocionais ou mesmo físicos, através 
da cura por meio do chamado “passe”, que consiste na imposição das mãos para 
os que recebem a direção dos espíritos. Podemos considerar o passe como uma 
modalidade leve de exorcismo, onde o objetivo é passar boas energias e afastar 
influências espirituais negativas que podem levar a doenças e desequilíbrios 
emocionais.
Allan Kardec deixou vários textos que são a base para a doutrina espírita. 
Os principais são:
1 O livro dos espíritos, de 1857.
2) O que é o espiritismo, de 1859.
3) O livro dos médiuns, 1861.
4) O Evangelho segundo o espiritismo, de 1864.
5) O céu e o inferno, de 1865.
6) A gênese, de 1868.
7) Obras póstumas.
UNI
Em 2004 comemorou-se o bicentenário do nascimento de Allan Kardec e, 
como parte destas comemorações, foi lançado o filme Allan Kardec, o Educador, de Dora 
Incontri Edson Audi. O filme é brasileiro e conta com atores conhecidos. Recomendo que 
você assista ao filme, porém com um olhar crítico, no sentido de ser um filme feito por 
espíritas para espíritas. Mas a dica vale!
UNIDADE 3 | RELIGIOSIDADE BRASILEIRA
144
Na França, Allan Kardec buscou elaborar um complexo sistema filosófico-
religioso adotando elementos científicos oriundos do evolucionismo de Darwin. 
No Brasil, porém, o elemento marcante no espiritismo é o religioso de moralização 
da conduta, sendo que, no início, o que era mais valorizado eram os serviços 
terapêuticos de cura que eram oferecidos. A novidade no discurso kardecista está 
na associação com o cristianismo, em especial à figura de Jesus, que assim como 
em outras religiões, o veem como um modelo ideal de espírito evoluído que tem 
muito a nos ensinar a respeito de como melhorar no transcorrer das encarnações. 
Neste ponto, Jesus não é Deus, na medida em que existe apenas o Deus supremo 
e a salvação é individual e espontânea, ou seja, depende do empenho pessoal de 
cada fiel. É proveniente dos evangelhos também outro ponto alto do espiritismo: 
a caridade. É através dela que a alma pode evoluir para um dia transformar-se 
num espírito sublime, que rompe o ciclo de reencarnações.
O maior ícone no Brasil do espiritismo é, sem a menor sombra de dúvida, 
Chico Xavier. Falecido em 2002, aos 92 anos de idade, com uma história singular e 
um carisma marcante, levantou seguidores por todo o país e, com isso, difundiu a 
doutrina espírita pelo país. Chico era um médium que psicografava informações 
oriundas dos espíritos, sendo que, no final de sua carreira, havia escrito mais de 400 
livros. É claro que foi acusado de charlatanismo por muitos, inclusive membros 
de sua família, porém, como não existiram provas, Chico Xavier continuou sua 
jornada até sua morte em 2002.
FIGURA 49 – CHICO XAVIER
FONTE: Disponível em: <http://www.batuiranet.com.br/
espiritismo/686/biografia-de-chico-xavier-francisco-candido-
xavier-historia-de-chico-xavier/>. Acesso em: 28 nov. 2009.
TÓPICO 3 | OUTROS MOVIMENTOS RELIGIOSOS
145
O espiritismo não pode ser considerado como cristão, na medida em que 
não entende Jesus como Filho de Deus e não aceita o Antigo Testamento como 
parte da revelação divina à humanidade, em especial os trechos que dizem que a 
reencarnação não existe ou é uma doutrina proibida.
3 ESOTERISMO
O esoterismo é uma ampla gama de movimentos de cunho místico e não 
pode identificar uma religião e sim um complexo grupo de movimentos que 
têm em comum a crença em forças místicas e cósmicas. Estas forças podem estar 
contidas em amuletos de tipos específicos de cristais, através do alinhamento de 
planetas e estrelas, podem ser mais intensas em determinadas regiões geográficas. 
Perceba que a ênfase não está muito voltada ao contato com o sobrenatural, e 
sim com a utilização de elementos que concedam energia que possam auxiliar as 
pessoas em seu dia a dia.
 
A influência esotérica tem crescido vertiginosamente nos últimos anos e 
ela cresce proporcionalmente à dessacralização de nossa sociedade. Na medida em 
que nossa sociedade se torna cada vez mais secular, considerando a religião como 
algo ultrapassado na consciência social, o espaço no ser humano que necessita 
deste contato com aquilo que não conseguimos explicar acaba sendo tomado por 
essas filosofias, entre elas a astrologia, a ufologia e movimentos alternativos como 
teosofia, gnose, eubiose, fé bahai, entre muitos outros movimentos.
FIGURA 50 – IMAGEM: OS CHACRAS (PONTOS DE ENERGIA NO SER 
HUMANO)
FONTE: Disponível em: <http://ab-integro.blogspot.com/2009/06/
breve-proposta-de-explicacao-sobre.html>.Acesso em: 28 nov. 2009.
UNIDADE 3 | RELIGIOSIDADE BRASILEIRA
146
3.1 ASTROLOGIA
É com certeza uma das mais antigas manifestações esotéricas da história. 
É de origem persa através da religião Zoroastrista de origem persa e tem pelo 
menos 4.000 anos de existência. Com o tempo sofreu aprimoramentos através das 
culturas greco-romanas e teve sua idade de ouro durante os séculos XIV, XV e 
XVI. O cerne da astrologia está na crença de que existe uma relação muito estreita 
entre a posição dos astros (planetas e estrelas) e a vida individual da pessoa. Os 
que seguem este movimento observam atentamente o horóscopo, na medida em 
que as previsões são feitas a partir dos signos, que são na verdade 12 constelações 
que se encontram na faixa do Zodíaco. Em cada período do ano determinado por 
cada signo, segundo os astrólogos, é possível determinar elementos pertinentes à 
personalidade da pessoa. 
O ponto alto da astrologia é a confecção do chamado mapa astral. Através 
deste mapa, os estudiosos recompõem a constelação que havia no exato momento 
do nascimento do indivíduo. Através deste mapa, eles acreditam poder realizar 
previsões precisas sobre a vida e sobre como ele pode ser bem-sucedido através 
do alinhamento dos astros.
Os estudiosos dizem praticar uma ciência antiga, porém não existe 
comprovação científica dos resultados práticos dos estudos astrológicos.
FIGURA 51 – EXEMPLO DE MAPA ASTRAL
FONTE: Disponível em: <http://bloglog.globo.com/blog/blog.do?act=loadSi
te&id=91&mes=12&ano=2007>. Acesso em: 28 nov. 2009.
TÓPICO 3 | OUTROS MOVIMENTOS RELIGIOSOS
147
3.2 UFOLOGIA
Dentro do esoterismo contemporâneo existe a vertente ufológica, que é 
bastante difundida nos EUA. De acordo com a ufologia, seres de outros planetas 
nos visitam constantemente. Estes seres seriam muito mais evoluídos que nós e 
estariam monitorando a raça humana para evitar que seja destruída por si mesma. 
Algumas pessoas dizem que já tiveram um Encontro Imediato de Terceiro Grau, 
ou seja, encontraram um alienígena pessoalmente, ao passo que outros dizem 
que foram inclusive abduzidos, ou seja, foram sequestrados do planeta Terra e 
levados até os OVNIs (Objetos Voadores não Identificados), onde experiências 
foram feitas por parte dos extraterrestres.
Nos Estados Unidos, a ufologia saiu do campo de pesquisa astronômica 
para o campo religioso, com igrejas que pregam a vinda dos extraterrestres 
ao planeta Terra. Existem inclusive profetas que viajam o mundo pregando o 
fim da raça humana através de uma guerra atômica. Toda a humanidade só 
não será destruída devido à benevolência dos ETs, que levariam um grupo de 
remanescentes para um planeta distante onde o homem poderá começar sua 
história de uma maneira diferente. 
Difícil de acreditar? Até o presente momento não existem indícios 
concretos de que exista vida fora do planeta Terra, embora esta hipótese seja 
possível. O que não podemos fazer aqui, em nosso estudo, é misturar o campo 
das pesquisas astronômicas do campo das crenças ufológicas.
No Brasil, o caso mais intrigante e popular sobre a ufologia é o caso 
ocorrido em Minas Gerais, intitulado o ET de Varginha. Caso queira saber mais 
sobre este caso ufológico, o que dizem as autoridades sobre ele, acesse: <http://
www.maisvarginha.com.br/vga_et.asp>.
FIGURA 52 – SUPOSTO DESENHO DO ET DE VARGINHA
FONTE: Disponível em: <http://blig.ig.com.br/foradecampo/
2009/06/24/saudacoes-eu-venho-em-paz/>. Acesso em: 28 
nov. 2009.
UNIDADE 3 | RELIGIOSIDADE BRASILEIRA
148
3.3 NOVA ERA
Este movimento nasceu na Califórnia e, junto com ele, uma infinidade de 
movimentos alternativos que eclodem em todo o mundo, o que dificulta colocar 
estes movimentos sob a mesma nomenclatura. Porém, algumas características são 
comuns entre os grupos de Nova Era. A primeira delas está ligada a uma profunda 
desconfiança e desesperança com as políticas capitalistas contemporâneas e 
também à ciência, na medida em que foi a ciência que criou as armas atômicas 
e as doenças de laboratório. Desta forma, o materialismo não ajuda o corpo e a 
mente do ser humano, devendo ser rechaçado. 
O segundo ponto convergente diz respeito a uma nova espiritualização, 
com influências orientais e europeias antigas, como as religiões celtas. Cada 
vez mais pessoas, sem abandonar sua religião, começam a adotar práticas de 
Feng Shui para harmonização e equilíbrio das energias internas às residências, 
adotam os elementos da meditação e do yoga, além de terapias alternativas como 
florais, acupuntura. Todas estas práticas têm sua origem nas religiões orientais 
e, progressivamente, ganham espaço na sociedade quando são desvinculadas de 
sua origem religiosa. 
Existe um grande interesse em nossos dias a respeito dos anjos de cristais, 
pêndulos, fadas, gnomos, duendes e outras criaturas mitológicas, existem cursos 
de Teosofia e Gnose espalhados pelas grandes metrópoles, isso sem contar 
a influência da música New Age, que ganha a cada dia mais e mais espaço na 
mídia. O terceiro elemento aglutinador dos vários grupos de Nova Era tem a 
ver com o próprio nome do movimento. Nova Era tem relação com uma nova 
era cósmica, através de elementos astrológicos, que um novo momento histórico 
começa com a predileção da constelação de Aquário para reger os ventos da 
História. Segundo os astrólogos, esta Nova Era será pautada pelo conhecimento. 
Com a chegada da Era de Aquário, os estudiosos acreditam que haverá uma 
mudança de pensamento de toda a humanidade para melhor. O quarto elemento 
destas comunidades é o interesse pela parapsicologia. Eles se interessam em 
treinar telepatia, telecinésia e viagens astrais (onde a alma pode ser transportada 
sem o corpo por alguns momentos). Por fim, o último elemento aglutinador 
destes movimentos é a tentativa de, além de mostrar apenas novas doutrinas e 
elementos religiosos, estes movimentos buscam também impactar a sociedade 
como um todo através de um novo sistema social. Existem muitas comunidades 
alternativas onde todos são vegetarianos, não fazem uso de equipamentos 
eletrônicos nem de produtos manufaturados. Comem o que plantam e utilizam 
elementos de conforto confeccionados de maneira natural, como sabonetes e 
xampus, por exemplo.
TÓPICO 3 | OUTROS MOVIMENTOS RELIGIOSOS
149
FIGURA 53 - ELEMENTOS DA ARQUITETURA E RITUAL DA COMUNIDADE ALTERNATIVA DE 
VALE DO PARAÍSO
FONTE: Disponível em: <http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=600490>. Acesso 
em: 28 nov. 2009.
UNIDADE 3 | RELIGIOSIDADE BRASILEIRA
150
LEITURA COMPLEMENTAR
O espiritismo continua crescendo no Brasil
A revista IstoÉ desta semana destaca o lançamento do livro “Kardec, a 
Biografia” (ed. Record), escrito pelo jornalista Marcel Souto Maior. “Kardec 
precisou ir além da religião para criar uma doutrina inteira em apenas 13 anos”, 
explica.
O material foi compilado para mostrar a “força” do movimento que 
surgiu na França, mas foi no Brasil que alcançou seu maior número de adeptos. 
Embora seja uma prática pagã milenar, o pioneiro do espiritismo moderno foi o 
professor Hippolyte Léon Denizard Rivail. Membro destacado de nove sociedades 
científicas, escreveu 20 livros sobre pedagogia na França do século XIX.
Mas sua vida mudou quando começou sua busca pelo aspecto 
transcendente da vida. Acreditando na revelação feita por um espírito, mudou 
seu nome para Allan Kardec. Redigiu o influente “O livro dos espíritos” (1857). 
Fundou a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas e passou a escrever diferentes 
livros sobre o assunto e uma publicação mensal. É considerado até hoje o “grande 
codificador da doutrina”.
Faleceu em 1869, vítima de aneurisma cerebral. Na época, sua doutrina 
tinha oficialmente sete milhões de seguidores. Desde então continuou crescendo, 
apesar da forte oposição da Igreja Católica da Europa. Seus livros eram queimados 
empraça pública. Médiuns e adeptos do espiritismo eram condenados por suas 
práticas. Souto Maior afirma: “Kardec era político. Depois das brigas, ele media as 
palavras com a Igreja e sabia que isso traria publicidade”. Atualmente, no túmulo 
de Kardec no Cemitério Père-Lachaise, em Paris, existem mais mensagens em 
português do que em francês. Não por acaso.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) afirma que o Brasil 
tem 3,8 milhões de pessoas que se declaram espíritas. Some-se a isso 30 milhões 
de “simpatizantes”, defende a Federação Espírita Brasileira. Oficialmente, entre 
2000 e 2010, o número de seguidores do espiritismo cresceu 65% no Brasil. 
Segundo a Federação, continua crescendo. É um tema recorrente em novelas e 
programas da televisão brasileira.
TÓPICO 3 | OUTROS MOVIMENTOS RELIGIOSOS
151
3,8 milhões de espíritas
100 editoras especializadas
30 milhões de simpatizantes
67% dos espíritas são brancos
Mais de 4 mil títulos publicados
65 % de crescimento entre 2000 e 2010
19,7% dos adeptos ganham mais de cinco salários mínimos
Geraldo Campetti, vice-presidente da Federação Espírita Brasileira, 
assegura: “Nossa população aceita muito bem a ideia de vida após a morte”. 
Para muitos estudiosos do assunto, o kardecismo é uma criação brasileira. Eles 
apontam três fatores que ajudaram na formulação nacional dessa doutrina: o 
sincretismo brasileiro (em especial porque para os católicos a ideia de falar com 
santos mortos era comum), a proximidade entre espiritismo e cristianismo no 
ensino das boas obras e, por fim, a popularização dos ensinamentos através de 
Chico Xavier.
A chegada do espiritismo ao Brasil foi em 1860. O médico e político Bezerra 
de Menezes traduziu os livros de Kardec para o português. Contudo, apenas 100 
anos depois viria a chamada “explosão da doutrina”, em grande parte por causa 
dos escritos do médium Chico Xavier. Falecido em 2002, deixou mais de 450 livros 
publicados. Um deles se chamava justamente “Brasil, Coração do Mundo, Pátria 
do Evangelho”. Entenda-se que é a interpretação espírita do Evangelho.
Marcel Souto Maior escreveu sua biografia, “As Vidas de Chico Xavier”, 
que vendeu mais de um milhão de cópias. O sucesso rendeu uma versão 
cinematográfica, que atraiu 3,4 milhões de espectadores aos cinemas. Agora, o 
autor das duas obras diz que o mesmo ocorrerá com a história de Allan Kardec. 
“O filme deve ficar pronto no ano que vem”, comemora.
FONTE: Disponível em: <https://noticias.gospelprime.com.br/istoe-espiritismo-crescendo-
brasil/>. Acesso em: 10 ago. 2016.
152
Neste tópico, você aprendeu que:
• Existem inúmeros movimentos religiosos de cunho esotérico em funcionamento 
no mundo contemporâneo, entre eles podemos citar a astrologia, a ufologia e o 
movimento Nova Era.
• O espiritismo nasceu na França e chegou ao Brasil no início do século XX.
• O espiritismo recebe elementos sincréticos do hinduísmo e do cristianismo.
• Allan Kardec organizou um complexo sistema de doutrinas baseado na religião 
e na ciência.
• O cerne do kardecismo está na possibilidade de reencarnação e na comunicação 
com os mortos.
• Existem vários elementos que auxiliam na compreensão de que os movimentos 
alternativos tenham surgido de maneira contemporânea em nossas sociedades, 
e muitas destas causas são geradas por uma insatisfação com o sistema religioso 
e material da humanidade.
RESUMO DO TÓPICO 3
153
AUTOATIVIDADE
Responda às questões propostas relativas ao tópico de estudo.
1 Quais são os dois pilares do espiritismo?
2 No Brasil, qual é o maior ícone da doutrina espírita?
3 Explique a afirmação de que o esoterismo não pode ser visto como uma 
religião única.
4 Cite três grupos religiosos que podemos derivar do esoterismo.
5 Quais são os elementos que podemos citar para mostrar o sucesso de adesão 
do espiritismo no Brasil? 
154
155
TÓPICO 4
ECUMENISMO
UNIDADE 3
1 INTRODUÇÃO
Neste último tópico de estudo vamos examinar as raízes das tentativas de 
unificar o discurso cristão em meio ao universo de vertentes cristãs, sejam elas 
católicas ou protestantes. A preocupação com a unidade da Igreja sempre foi uma 
constante ao longo da história cristã, devido ao grande número de heresias que 
sempre se levantou à margem do cristianismo primitivo, quando líderes cristãos 
realizavam suas próprias interpretações do contexto doutrinário e constituíam 
um novo cristianismo, normalmente intitulado de “verdadeiro”.
2 ORIGEM DO ECUMENISMO
Foi durante a Idade Média que a humanidade teve um exemplo prático 
de unidade cristã, naquilo que os historiadores chamam de cristandade, quando 
toda a Europa estava firmemente enraizada nas doutrinas cristãs aliadas ao poder 
secular dos reinos cristãos. Porém, qual foi o resultado desta experiência prática? 
A necessidade de manutenção do status quo a qualquer custo, mesmo que fosse 
necessário o uso da força militar para manter a Europa Cristã. Desta forma, muitos 
grupos considerados hereges por Roma foram dizimados para manter a unidade 
da Igreja. Dentre eles podemos citar os valdenses na Itália e os cátaros e albigenses 
na França.
Com o advento da Reforma Protestante e as sequenciais divisões no seio 
evangélico, os reformadores viram a necessidade de aproximação entre elas. 
Foram, portanto, os reformadores que iniciaram os diálogos neste sentido, no 
século XVI. Podemos citar, por exemplo, os colóquios de Ratisbona (1541), na 
Alemanha, e de Poissy (1561), na França. Houve tentativas de aproximação com 
os católicos neste período, porém os instrumentos da Contrarreforma Católica e as 
contínuas divisões no seio protestante inviabilizaram este projeto por pelo menos 
três séculos.
UNIDADE 3 | RELIGIOSIDADE BRASILEIRA
156
O moderno movimento ecumênico tem entre 100 e 150 anos de existência. 
Foi possível restabelecer os diálogos, devido aos grandes movimentos cristãos de 
reavivamento espiritual que ocorreram neste período. Com este reavivamento, 
a concentração das diferentes denominações cristãs estava voltada para os 
aspectos básicos do cristianismo, e assim foi possível perceber que os elementos 
marcantes das diferentes denominações são os dogmas comuns e não as doutrinas 
denominacionais.
3 O ECUMENISMO CONTEMPORÂNEO
O marco no movimento ecumênico é a criação do Conselho Mundial de 
Igrejas, em 1948, na cidade holandesa de Amsterdã. O objetivo deste conselho 
era o de nortear os rumos das igrejas ditas cristãs e auxiliar nos diálogos 
intereclesiásticos. Na fundação, 147 igrejas de 44 países aderiram ao movimento. 
Hoje, mais de meio século depois de sua fundação, o Conselho Mundial das 
Igrejas realizou sua nona Conferência, na cidade de Porto Alegre, no Brasil, em 
2006. Nesta nona edição pôde-se perceber que os anseios iniciais do movimento, 
que era o de estabelecer o diálogo entre as denominações cristãs, foi ampliado 
para outros segmentos religiosos, como a Legião da Boa Vontade (LBV), algumas 
Igrejas pseudoprotestantes voltadas a grupos homossexuais e até mesmo religiões 
de cunho afro-brasileiro. 
UNI
Se você se interessou pelo Conselho Mundial das Igrejas e quer saber mais a 
respeito deste polêmico encontro, pode acessar o site do congresso, onde todos os vídeos 
dos palestrantes estão disponíveis, bem como os documentos, que as mesas de discussão 
formularam. Alguns documentos estão em português, então você pode aproveitar! O 
endereço eletrônico é <http://www.wcc-assembly.info/po/sobre-a-assembleia.html>.
O lema do Conselho das Igrejas em sua gênese era descrito pela seguinte 
frase de 1954: “O Conselho Mundial de Igrejas é um conjunto de Igrejas que 
reconhecem o Senhor Jesus Cristo, de acordo com as Sagradas Escrituras, como 
Deus e Salvador, e, portanto, desejam realizar o propósito para o qual foram 
conjuntamente comissionadas para a honrade Deus Pai, do Filho e do Espírito 
Santo”.
FONTE: Disponível em: <http://www.oikoumene.org/es/about-us/about> Acesso em: 20 ago. 
2016.
A Igreja Católica, a princípio, recusou fazer parte do Conselho em 1948, 
porém com o tempo e após o Concílio Vaticano II, dá seus passos em direção a 
um diálogo rumo a um consenso cristão.
TÓPICO 4 | ECUMENISMO
157
Este tema complexo merece mais comentário, na medida em que tem 
gerado muita polêmica, principalmente por parte dos protestantes, que não 
veem com bons olhos o movimento ecumênico, no sentido de acreditarem que, 
ao se associar a católicos, por exemplo, em prol de um objetivo específico, os 
protestantes irão perder sua autonomia e especificidade que um dia os levaram a 
se desvincular de Roma.
Alguns protestantes interpretam trechos do livro de Apocalipse ao 
movimento ecumênico ao associarem a imagem do Anticristo a um movimento 
religioso global segundo o qual ele dominaria a humanidade no período do fim 
dos tempos.
UNI
O diálogo intrarreligioso entre as denominações cristãs é bastante válido, quando 
o objetivo é o de efetuar uma força-tarefa que tenha a missão de levar esperança para aqueles 
que não a têm, levando a Palavra de Cristo aos desafortunados. Quando este movimento 
rompe as barreiras do cristianismo para abranger toda e qualquer religião, ficamos receosos 
de que a especificidade e riqueza espiritual e cultural de cada um passe a ser deixada de lado 
em prol de um bem, dito maior, ou seja, uma religião única, que necessariamente utilizará 
elementos de todas as demais, para que seja aceita e praticada. Isto foge um pouco dos 
ensinamentos e da própria liberdade de culto que temos no Brasil. O que você acha? Esta foi 
apenas uma opinião de quem acabou de realizar uma pequena pesquisa a respeito de um 
certo número de religiões e pode dizer que não é preciso aceitar doutrinas contrárias à sua 
própria religião para respeitar o diferente. Creio que o debate é saudável, mas o respeito deve 
estar acima de tudo neste campo.
FIGURA 54 – BANNER PARA RECEPÇÃO DOS PARTICIPANTES DO 9º 
CONGRESSO GERAL DO CONSELHO MUNDIAL DAS IGREJAS
FONTE: Disponível em: <http://www.wcc-assembly.info/po/sobre-a-assembleia.
html>. Acesso em: 28 nov. 2009.
UNIDADE 3 | RELIGIOSIDADE BRASILEIRA
158
Existem diversos outros movimentos religiosos em operação no Brasil 
que mereceriam tópicos exclusivos, porém o espaço presente não nos permite 
continuar com estudos de caso. A título de reconhecimento e, no caso de você se 
interessar pelo estudo de outros movimentos religiosos, é interessante ao menos 
citá-los: 
Religiões de cunho oriental: Igreja Messiânica Mundial (Johrei), Moonismo 
e Seicho-No-Ie
Religiões que se dizem cristãs, porém apresentam elementos que não 
são encontrados no cristianismo: Testemunhas de Jeová e Mormonismo. (Embora 
alguns estudiosos acrescentem os adventistas neste grupo).
Religiões de cunho esotérico ou filosófico: Maçonaria (tratamos deste 
tema em História da Igreja no Brasil), Ordem rosa-cruz, teosofia, círculo esotérico 
da comunhão do pensamento, Ananda marga etc.
Caro aluno! Chegamos ao final de mais um estudo que espero tenha 
edificado muito sua vida e contribuído para que sua visão de mundo tenha se 
alterado para melhor. Com isso, espero que você possa utilizar o que aprendeu 
não apenas na academia, mas também no seu dia a dia.
Sucesso e um abraço a todos!
TÓPICO 4 | ECUMENISMO
159
LEITURA COMPLEMENTAR
As religiões afro-brasileiras e o sincretismo religioso
Durante o processo de colonização do Brasil, notamos que a utilização dos 
africanos como mão de obra escrava estabeleceu um amplo leque de novidades 
em nosso cenário religioso. Ao chegarem aqui, os escravos de várias regiões da 
África trouxeram várias crenças que se modificaram no espaço colonial. De forma 
geral, o contato entre nações africanas diferentes empreendeu a troca e a difusão 
de um grande número de divindades.
Mediante essa situação, a Igreja Católica se colocava em um delicado 
dilema ao representar a religião oficial do espaço colonial. Em algumas situações, 
os clérigos tentavam reprimir as manifestações religiosas dos escravos e lhes 
impor o paradigma cristão. Em outras situações, preferiam fazer vista grossa aos 
cantos, batuques, danças e rezas ocorridas nas senzalas. Diversas vezes, os negros 
organizavam propositalmente suas manifestações em dias santos ou durante 
outras festividades católicas.
Do ponto de vista dos representantes da elite colonial, a liberação das 
crenças religiosas africanas era interpretada positivamente. Ao manterem suas 
tradições religiosas, muitas nações africanas alimentavam as antigas rivalidades 
contra outros grupos de negros atingidos pela escravidão. Com a preservação 
desta hostilidade, a organização de fugas e levantes nas fazendas poderia 
diminuir sensivelmente.
Aparentemente, a participação dos negros nas manifestações de origem 
católica poderia representar a conversão religiosa dessas populações e a perda 
de sua identidade. Contudo, muitos escravos, mesmo se reconhecendo como 
cristãos, não abandonaram a fé nos orixás, voduns e inquices oriundos de sua 
terra natal. Ao longo do tempo, a coexistência das crendices abriu campo para 
que novas experiências religiosas – dotadas de elementos africanos, cristãos e 
indígenas – fossem estruturadas no Brasil.
É a partir dessa situação que podemos compreender porque vários santos 
católicos equivalem a determinadas divindades de origem africana. Além disso, 
podemos compreender como vários dos deuses africanos percorrem religiões 
distintas. Na atualidade, não é muito difícil conhecer alguém que professe uma 
determinada religião, mas que simpatize ou também frequente outras. 
Dessa forma, observamos que o desenvolvimento da cultura religiosa 
brasileira foi evidentemente marcado por uma série de negociações, trocas e 
incorporações. Nesse sentido, ao mesmo tempo em que podemos ver a presença 
de equivalências e proximidades entre os cultos africanos e as outras religiões 
UNIDADE 3 | RELIGIOSIDADE BRASILEIRA
160
estabelecidas no Brasil, também temos uma série de particularidades que 
definem várias diferenças. Por fim, o sincretismo religioso acabou articulando 
uma experiência cultural própria.
Não cabe dizer que o contato entre elas acabou designando um processo de 
aviltamento de religiões que aqui apareceram. Tanto do ponto de vista religioso, 
quanto em outros aspectos da nossa vida cotidiana, é possível observar que o 
diálogo entre os saberes abre espaço para diversas inovações. Por esta razão, é 
impossível acreditar que qualquer religião teria sido injustamente aviltada ou 
corrompida.
FONTE: Disponível em: <http://www.brasilescola.com/religiao/as-religioes-afrobrasileiras-
sincretismo.htm>. Acesso em: 8 dez. 2009.
161
Neste tópico, você aprendeu que:
• A ideia de manter a unidade da Igreja cristã sempre foi uma preocupação dos 
cristãos desde sua gênese.
• Durante a Idade Média, a única experiência prática de um continente cristão 
reforçado pelo poder do Estado mostrou seu lado negro ao utilizar a força para 
manter esta unidade espiritual.
• Com a Reforma Protestante e as sucessivas divisões nas denominações, o 
diálogo ecumênico foi guardado por pelo menos 300 anos ao longo da História.
• O marco do ecumenismo moderno é a fundação do Conselho Mundial de 
Igrejas, em 1948, em Amsterdã, onde, desde então, igrejas ao redor do mundo 
buscam exaltar as semelhanças entre si ao invés das diferenças.
• O acréscimo de outras religiões no debate ecumênico deve ser mantido, 
porém sempre com o cuidado de não abrir mão de elementos próprios e que 
desfigurem a identidade religiosa de cada grupo ecumênico.
RESUMO DO TÓPICO 4
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AUTOATIVIDADE
Sobre o ecumenismo, responda:
1 Quando surgiu o ecumenismo moderno?
2 Qualé o marco fundamental do ecumenismo moderno?
3 Quais são os problemas que o ecumenismo pode trazer para o cristianismo?
4 Qual é a sua opinião sobre o ecumenismo?
163
REFERÊNCIAS
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ANOTAÇÕES
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