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História do Brasil Imperial Aula 2: Independência e permanência Apresentação Nesta aula, veremos as mudanças no sistema político ocorridas entre os houve muitas continuidades; compreendeu a manutenção da escravidão; percebeu o escravo como um sujeito ativo dentro da realidade que o cercava. Objetivos Entender as transformações e as continuidades na economia e na política; Conhecer a bibliogra�a sobre escravidão; Compreender a questão da manutenção do sistema escravista. Reconhecimento da independência do Brasil Fonte: Freepik 1824 O primeiro país a reconhecer a independência do Brasil foram os Estados Unidos da América, em 1824. Naquele momento, o país do norte da América apregoava a política “América para os americanos”, ou seja, que os países do continente não poderiam ser colônias de outros países. (Fonte: Freepik) 1637 Portugal só reconheceu a independência em 1825, devido a pressão da Inglaterra, que também reconheceu no mesmo ano. O apoio Inglês à independência fez com que o país consolidasse seus privilégios no Brasil, sendo o país mais favorecido no comércio. Além disso, os súditos ingleses não poderiam ser julgados por leis locais. Na verdade, o Brasil funcionava, na prática, como um “protetorado” inglês. Fonte: Pixabay 1642 Desde os primeiros tratados comerciais que D.João IV assinou em terras brasileiras com a Inglaterra, �cava acordado o �m do trá�co de escravos africanos. A Inglaterra esperava do novo Estado o �m do trá�co, mas este só seria abolido em 1850, já no Segundo Reinado. Daí vem o ditado conhecido até os dias de hoje: “para inglês ver”. A Inglaterra, naquele momento, estava passando por sua Revolução Industrial e o Brasil já era uma área de consumo de mercadorias industrializadas. Dessa forma, quanto mais rápido o Brasil saísse de uma economia escravista para um economia tipicamente capitalista, mais rápido a Inglaterra teria novos consumidores. Interesse inglês Para termos uma ideia de como os produtos ingleses faziam parte do dia a dia do brasileiro, podemos recorrer aos escritos da escocesa Maria Graham: javascript:void(0); javascript:void(0); javascript:void(0); “As rua estão, em geral, repletas de mercadorias inglesas. A cada porta as palavras Super�no de Londres saltam aos olhos: algodão estampado, panos largos, louças de barro, mas acima de tudo ferragens de Birmingham, podem-se obter um pouco mais caro do que em nossa terra nas lojas do Brasil, além de sedas, crepes e outros artigos da China.” GRAHAM, Maria. Diário de uma viagem ao Brasil e de uma estada nesse país durante parte dos anos de 1821, 1822 e 1823. São Paulo: Nacional, 1956. p. 210 O empenho dos ingleses pelo �m do trá�co e consequente �m da escravidão, além do exposto acima, era porque havia uma signi�cativa presença de africanos e afro-brasileiros. Boris Fausto diz que, no �m do período colonial, negros e mulatos representavam, no País: Fonte: Wikipedia Minas Gerais 75% da população Fonte: Wikipedia Pernambuco 68% da população Fonte: Wikipedia Bahia 79% da população Fonte: Wikipedia Rio de Janeiro 64% da população javascript:void(0); javascript:void(0); javascript:void(0); javascript:void(0); A Permanência da Escravidão Lei antitrá�co Como vimos, as primeiras pressões pela supressão do trabalho escravo negro foram feitas a Portugal quando ainda estava na posição de metrópole do Brasil. Nos anos de 1807, 1815 e 1817 tivemos os primeiros tratados que limitavam a escravização. Já com o país independente, havia uma barganha na qual, pela troca do reconhecimento diplomático da independência, o Brasil assumiu o compromisso da abolição. Contudo, é somente em 1831 que uma lei antitrá�co é assinada. A partir daquele momento, o trá�co seria considerado pirataria, porém essa lei também foi apenas “para inglês ver”, pois mostrou-se ine�caz e não houve nenhuma �scalização por parte do governo. Fonte: Pixabay. Fonte: Wikipedia. Manifestações populares As pressões inglesas pela abolição trazem à tona manifestações populares contrárias ao domínio inglês, como exemplo nos é mostrado um caso em Campos, onde a população prendeu um o�cial e feriu um marinheiro inglês. Várias das camadas da população imbuídas em um espirito nacionalista, acreditavam ser a Inglaterra uma nação imperialista que não deveria envolver-se nos problemas internos brasileiros – era o mesmo que dizer que a escravidão “era coisa nossa” –, poucas eram as vozes que ouvia-se em prol dos ingleses. 1 javascript:void(0); javascript:void(0); http://estacio.webaula.com.br/cursos/gon215/aula2.html Movimentos Vejamos, a seguir, alguns movimentos e leis que impulsionaram o movimento para a abolição da escravidão . Lei Eusébio de Queiroz No �nal da década de quarenta do século XIX, navios ingleses chegam ao ponto de invadir portos brasileiros para prender e afundar navios negreiros. É nesse período conturbado que entra no forno das discussões a criação de uma lei natural do Brasil. É lançada, então, em 1850 , a Lei Eusébio de Queiroz, que vai mais rati�car a de 1831 do que ser uma coisa inovadora. No entanto, a ação do governo nesse momento vai ser de repressão aos tra�cantes de escravos. É a partir dessa lei que começa uma disputa entre Brasil e Inglaterra pela ação de ter extinto o trá�co, disputa que vai encontrar seu maior campo nos periódicos. Eusébio de Queirós. (Fonte: RUGENDAS, Navio negreiro, 1830). 2 http://estacio.webaula.com.br/cursos/gon215/aula2.html javascript:void(0); Lei do Ventre Livre Outro importante passo para a abolição da escravidão é a Lei do Ventre Livre, lançada 20 anos depois da que proibia o trá�co. Essa lei atribuída ao governo e posta em prática em um período de relativa paz causou grande incômodo, principalmente na elite agrária, porém ela é apenas parte de uma reforma modernizadora, que, em troca de um desgaste político, desejava evitar um mal maior, que poderia ser desde pressões inglesas até uma revolta de escravos, como acontecida no Haiti, e temida pelos brancos. Fonte: Pixabay. javascript:void(0); 13 de maio A Lei do Ventre Livre, na prática, não resolveu nada, pois o “ingênuo” poderia ser utilizado na lavoura até 21 anos, o que facilitava as coisas para o proprietário. Sem deter-se muito à questão, Saraiva Cotegipe a�rma que o último ato da abolição foi marcado por grande participação popular. O 13 de maio vai romper, de�nitivamente, o acordo entre os barões e o rei, embora diga Cotegipe que a abolição foi muito mais uma ação revolucionária. O desgaste do governo com os barões foi fatal para a caída do império. Contudo, o autor a�rma que “o sistema imperial começou a cair em 1871, após a Lei do Ventre Livre. Foi a primeira clara indicação de divórcio entre o rei e os barões, que viram a Lei como loucura dinástica.” Família Escrava Para analisarmos a questão da família escrava, faz-se imprescindível os escritos do padre jesuíta Jorge Benci, que, embora esteja temporariamente afastado do nosso estudo, dá as bases de como era tratado o escravo – pela política do pão, pau e pano: o alimento, o castigo e a vestimenta. Sendo um investimento, o escravo não poderia sucumbir às mazelas provocadas pelo senhor. Não se esquece, porém, que, para a sobrevivência do cativo e caridade do senhor, é de suma importância o alimento espiritual, que é ministrado por meio dos sacramentos. Nos deteremos no Benci diz respeito do sacramento matrimonial. DEBRET. Uma família brasileira do século XIX sendo servida por escravos. (Fonte: Wikipedia). São elucidativas as palavras do autor para entender como a igreja, desde os tempos coloniais, vê a formação da família escrava: “E não devendo os senhores impedir o matrimónio aos servos, também lhes não devem impedir o uso dele depois de casados apartando o marido da mulher e deixando a um em casa, e mandando vender ou viver o outro em partes tão remotas, que não possam fazer vida conjugal. Porque quando não pequeis contra a justiça, privando o servo do que lhe compete por direito natural, como ensina o padreSanchez; não se pode negar que pecas ao menos contra a caridade: porque apartando os servos casados um do outro, vindes a privá-los do bem do matrimônio, no que lhes causais dano mui grave, que a caridade proíbe se faça ao próximo sem urgentíssima causa.” BENCI, Jorge. Economia cristã dos senhores no governo dos escravos. São Paulo: Grijaubo, 1977. javascript:void(0); Podemos notar que, na formação de laços familiares, buscava-se um meio para a paci�cação dos escravos com a sociedade. Caminhando para análises mais recentes sobre a escravidão, há uma tendência de ver o escravo como “coisa”, negando-lhe dessa maneira o caráter de agente social. Exemplo Essa visão �ca bem clara nos estudos de Chalhoub, os quais dizem que ao cativo seriam negados todos os direitos, os sentimentos, mesmo os de família, e ele terminaria por “quase acreditar” na sua situação de inferioridade e agiria de acordo com as “determinações” da elite dominante. Análise da sociedade escravocrata Quando Fernando Henrique Cardoso analisa a sociedade escravocrata rio- grandense, deixa claro em seu estudo o caráter brando da escravidão nessa parte do país. Devemos já ressaltar que a escravidão tem um caráter único e um sentido de dominação de um pelo outro, não existindo nenhum tipo de escravidão benevolente. Mas para o mito da passividade do escravo, a historiogra�a construiu o mito do escravo rebelde para explicar fugas, rebeliões, quilombos e outras formas de resistência que não passaria pela negociação. O caçador de recompensas procurando por escravos fugitivos", 1823, por Rugendas (Fonte: Wikipedia). javascript:void(0); Fonte: Wikipedia. Uma nova corrente que emerge na historiogra�a valoriza o escravo como agente social que in�ui de maneira incisiva para a formação da identidade nacional. Tais estudos mostram, por exemplo, que a rebeldia – antes encarada como única forma de contestação do cativo – pode ser entendida como uma das cartas que o escravo possuía para negociar sua situação. No que refere-se à família, essa nova visão utiliza-se da demogra�a histórica e faz uma completa mudança no cenário da escravidão brasileira, principalmente através de registros de família, casamento e herança. javascript:void(0); A família Fonte: Wikipedia. Interferência da família escrava no mercado As pesquisas mais novas, tendo seus objetos de estudo mais limitados quanto ao espaço e ao período, permitiram uma investigação massiva dos documentos cartoriais e paroquiais. Considerando variáveis importantes como características relativas à área urbana ou rural, o tamanho do plantel, a nacionalidade dos escravos. Os trabalhos quantitativos têm sido acrescidos de uma análise mais qualitativa. Autores como Manolo Florentino, João Fragoso e José Roberto Góes, em seus estudos, mostram a família escrava estável como algo bastante comum, constatando a existência do que poderia ser chamado de um mercado de famílias. Fonte: Wikipedia. O mercado Logo, devemos admitir a interferência da família escrava no mercado, essa forte in�uência é mais visível ainda após 1850, com o �m do trá�co intercontinental, e o consequente aumento da importância dos escravos. Fonte: Wikipedia. O trá�co de escravos Devemos ressaltar que, embora desde 1831 o trá�co de escravo fosse considerado pirataria ,é só a partir de 1850, com a lei Eusébio de Queiróz, que o governo brasileiro vai �scalizar a prática do comércio ilícito. javascript:void(0); javascript:void(0); javascript:void(0); Fonte: Wikipedia. O �m do trá�co intercontinental No entanto, mesmo que o �m do trá�co intercontinental tenha facilitado a formação das famílias escravas, isto não signi�ca que não existissem condições para sua existência antes; muito pelo contrário, na realidade, o ano de 1850 serviu somente para reforçar uma formação já existente e, com certeza, para aqueles autores que culpavam o sistema pela instabilidade da família, �cou mais fácil entendê-la. Formação dos laços parentescos Podemos dividir a formação dos laços de parentescos em dois grupos, o primeiro são as ligações consanguíneas, que ainda pode ser subdividido em matrifocais e nucleares. Clique nos botões para ver as informações. Notamos que tendo mão de obra disponível a família tende a �car unida, não havendo necessidade do senhor desmembra-la, inclusive em alguns inventários pós–mortem, quando a herança passa para as mãos dos �lhos, é comum a permanência da estrutura nuclear. Porém sendo necessário o afastamento do núcleo familiar, dá-se a separação do pai. A estrutura da família matrifocal vai ser constituída pelas mães solteiras ou viúvas. matrifocais O segundo grupo, e ao nosso ver o mais signi�cativo, é a união familiar pelo batismo (o apadrinhamento), pois é dessa forma que vão estabelecer-se alianças políticas, vínculos de afeição, de identidade e de reciprocidade. Sendo fundamental para a relação entre os escravos e mesmo com o senhor. nucleares javascript:void(0); “Em épocas de estabilidade do desembarque de africanos, os grupos familiares nucleares (pais casados e seus �lhos, ou esposos cujo matrimônio era legalmente sancionado) eram maioria e abrangiam a maior parte dos parentes. Entre 1790 e 1808, seis entre cada dez familiares escravos eram deste tipo. Na medida em que o trá�co se incrementava, porém, os grupos familiares primários de base matrifocal (mães solteiras e seus rebentos), e os parentes a eles adscritos, tendiam a ser majoritários.” BENCI, Jorge. Economia cristã dos senhores no governo dos escravos. São Paulo: Grijaubo, 1977. Pintura do século XVIII, de Dirk Valkenburg, mostrando escravos durante uma dança cerimonial. (Fonte: Wikipedia). Estabelecimento de relações familiares O estabelecimento de relações familiares entre os pares era fundamental para a socialização dos escravos. Relações tão intimamente ligadas à própria condição de ser escravo e que os olhares brancos, por vezes, não davam conta de sua amplitude. A questão da convivência entre os escravos era tensa, pois além da falta de mulheres – isso nos leva a crer que, no trá�co atlântico, o comércio de homens era mais intenso do que o de mulheres – havia a discriminação dos cativos da terra com os “negros novos”. Não podemos deixar de aludir que outro fator para as tensões, e já amplamente estudado, é a relação com o senhor. Os escravos, para que garantissem sua sobrevivência em um “novo mundo”, javascript:void(0); tiveram de transformar antigas rivalidades em formas de solidariedade. Uma das formas de se garantir a sobrevivência do grupo era a constituição da família, mesmo que, em grande parte, os escravos não fossem casados com o consentimento divino, estavam repetindo uma prática da própria sociedade. Para os negros, a formação da família era uma maneira de sobrevivência e, para os senhores, um dos meios para a paci�cação nas senzalas. Atividade Proposta Teste o que você aprendeu! Vamos para os exercícios de �xação. Analise as a�rmativas a seguir e selecione se elas são verdadeiras ou falsas. a) O apoio da Inglaterra à independência favoreceu o comércio inglês no Brasil e os súditos ingleses também não poderiam ser julgados por leis locais, nesse sentido, o Brasil funcionava como um “protetorado” inglês. b) A política do pão, pau e pano estava relacionada ao alimento, castigo e a vestimenta destinados aos escravos. c) Quando Fernando Henrique Cardoso analisou a sociedade escravocrata rio-grandense, a�rmou que na região existe um tipo de escravidão benevolente. Notas Inglaterra 1 Com a aproximação de �ndar os tratados de comércio entre os dois países (tendo a Inglaterra uma considerável abertura no nosso mercado) e a recusa do Brasil em renová-lo o governo inglês ataca mais incisivamente o escravismo e em 1845, um ano depois de ter expirado o acordo, cria-se o Aberdeen Act, e através deste prenderia e julgaria em solo britânico os navios apreendidos com a mercadoria humana. 1850 1 A imoralidade do trá�co, as antigas pressões internacionais, ameaças inglesas são as premissasque vão balizar a lei de 1850 e fazer com que ela seja cumprida. Referências Pendente Próximos passos A estrutura política do Império; A relação entre economia imperial e escravidão; A formação da elite brasileira no século XIX. Explore mais Pesquise na internet, sites, vídeos e artigos relacionados ao conteúdo visto. Em caso de dúvidas, converse com seu professor online por meio dos recursos disponíveis no ambiente de aprendizagem.