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UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA 
FACULDADE DE DIREITO 
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA DO DIREITO 
PROF. JOSEMAR ARAÚJO – josemar@josemararaujo.com 
FOLHA DE APOIO 03 
O Direito enquanto Ciência 
Marilena Chaui assinala que Ciência significa Conhecimento sistematizado, e advertida 
e intencionalmente elaborado, não se distinguindo senão por essa sistematização em 
nível elevado e elaboração intencional do Conhecimento comum ou vulgar, aquele de 
que todo ser humano é titular, por mais rudimentar que seja seu nível de cultura. O 
Conhecimento é essencialmente de uma só natureza, e por mais elementar e grosseiro 
que seja, tem fundamentalmente o mesmo caráter do mais complexo e refinado 
conhecimento científico. Não há, aliás, nenhuma fronteira marcada, ou possível de 
marcar, nessa complexidade, nem mesmo separação possível, pois o conhecimento 
científico de hoje será o vulgar de amanhã. 
Classificação das Ciências 
 
Quanto ao objeto, as ciências podem ser assim divididas: as denominadas ciências da 
natureza (cujo foco de observação são fenômenos naturais) e as chamadas ciências da 
sociedade (cujo foco de observação cinge-se a fenômenos sociais e culturais). 
 
As ciências naturais, por sua vez, costumam ser subdivididas em ciências do 
macrocosmos (em que o foco de observação são fenômenos naturais externos aos 
seres vivos) e em ciências do microcosmos (em que o foco de observação são 
fenômenos naturais internos aos seres vivos). Já as ciências sociais podem ser 
divididas em ciências sociais puras e Ciências sociais aplicadas. No primeiro grupo 
(ciências naturais do macrocosmos), estão a Física, a Química, a Astronomia etc.; no 
segundo grupo (ciências naturais do microcosmos), estão a Medicina, a Biologia, etc. 
Entre as ciências sociais puras estão a Sociologia, a Antropologia e a Ciência Política. 
Entre as ciências sociais aplicadas estão a Economia e o Direito. 
 
Discussão sobre a Cientificidade do Direito 
 
Segundo Paulo Nader, o Direito já se acha inscrito no quadro geral das ciências. 
Poucos são os autores que contestam o seu caráter científico. O ponto fundamental em 
que se apoia a corrente negativa da Ciência do Direito é a variação constante que se 
processa no âmbito do Direito Positivo e o caráter heterogêneo que predomina no 
Direito Comparado. Com tal característica o Direito não poderia ser considerado ciência 
e se reduziria apenas a uma técnica. Essa corrente alimentava o seu argumento na 
ideia, levantada inicialmente por Aristóteles e divulgada amplamente no período da 
Renascença, de que as ciências consistiam em princípios e noções de natureza 
absolutamente universal e necessária. 
 
Conceito de Ciência do Direito 
 
Nas palavras de Paulo Dourado de Gusmão, a ciência do Direito significa 
“conhecimentos, metodicamente coordenados, resultantes do estudo ordenado das 
normas jurídicas com o propósito de apreender o significado objetivo das mesmas e de 
construir o sistema jurídico, bem como de descobrir as suas raízes sociais e históricas. 
Cabe-lhe, principalmente, construir o sistema jurídico, também denominado 
ordenamento jurídico, ou seja, a ordenação das normas do direito de um país 
(brasileiro, francês etc.), Bem como formular conceitos e teorias jurídicas. As ideias dos 
juristas que a construíram, isto é, dos jurisperitos, ou, como são entre nós conhecidos, 
jurisconsultos, como, por exemplo, as de Clóvis Beviláqua ou de Pontes de Miranda, 
muitas vezes tornaram-se fontes de decisões judiciais.” 
 
Natureza da Ciência do Direito 
 
Discute-se a natureza da ciência jurídica, bem como a sua própria possibilida¬de. 
Compreensível essa dúvida por se tratar de problema cultural que não comporta 
resposta definitiva. Divergência há quanto ao seu objeto, porém, em um ponto há 
acordo: são as normas jurídicas, dado concreto que faz parte da realidade histórico-
social, ou, se quisermos, da realidade cultural, em que se acham também as obras de 
arte, a literatura, a filosofia, a ciência etc. Por isso, a ciência jurídica é ciência que trata 
de realidades, desde que se faça a distinção da realidade físico-natural (natureza), 
independente da ação humana, da realidade criada ou modificada pelo homem, contida 
em suas obras (cultura). Por isso, nela não é empregável o método das ciências dos 
fenômenos naturais, pois, sendo conhecimento de normas, depende de interpretação, e 
não de descrição, salvo quando versar sobre o direito como fenômeno social ou fato 
histórico-social. 
 
Métodos 
 
Serve-se de vários métodos, inclusive da intuição.. Utiliza-se do método sociológico 
quando indaga as raízes sociais do direito ou quando o estuda como fenômeno social; 
do método histórico, ao tratar de suas origens históricas; do método comparativo 
sempre, além dos métodos lógicos, dentre os quais o analógico, e da compreensão 
(interpretação), para descobrir o sentido objetivo da norma jurídica. Sentido não 
alcançado com métodos das ciências físico-naturais e nem com o sociológico ou o 
histórico, que, no entanto, podem facilitar apreendê-lo. Dito isto, é de se perguntar pela 
sua natureza. Se situarmos o direito no mundo da cultura, constituída por obras 
humanas (arte, ciência, literatura, filosofia, religião, etc.) materializadas no mármore, na 
madeira, no papel, no CD, na fita gravada, em textos, resultantes da atividade 
intelectual de legisladores, juízes, advogados, juristas, etc., que necessitam de 
interpretação. Nesse sentido a ciência do direito é ciência cultural. Mas, se focalizarmos 
o direito por outro ângulo, como fenômeno social (político: como revoluções, guerra, 
golpe de Estado •e suas consequências; social: criminalidade, miséria; econômico: 
inflação, deflação; moral: família, divórcio, adultério, etc.) que é, acabaremos definindo-
a como uma das ciências sociais. 
 
Oposição à natureza Científica do Estudo do Direito 
 
Quanto à natureza científica do estudo do direito, reconhecida pela maioria dos 
estudiosos, há alguns opositores. Desde 1848, foi-lhe negado o caráter científico, 
quando Kirchmann, em conferência célebre, disse: "A ciência do direito, tendo por 
objeto o contingente, é também contingente: três palavras retificadoras do legislador 
tornam inúteis uma inteira biblioteca jurídica". Assim, segundo Kirchmann, uma simples 
lei derrogadora de um sistema jurídico inutilizaria a ciência jurídica. Mas tal 
contingência, comum ao histórico, só tornaria anacrônica uma forma de saber jurídico, 
que seria substituída por outra tendo por objeto o novo direito. Anacrônico, mas não 
sem validade, por ter valor histórico. 
 
Ciência Jurídica Teórica 
 
O estudo do direito pode apresentar-se como ciência jurídica teórica, formuladora de 
conceitos e princípios gerais do direito, denominada Teoria Geral do Direito, síntese do 
conhecimento jurídico de uma época, e ciência jurídica particularizada, ou ciência do 
direito positivo (leis, códigos, jurisprudência, costumes, etc.), também denominada 
dogmática jurídica, que versando sobre o conteúdo das normas jurídicas, interpretando-
as e sistematizando-as, se subdivide em tantas ciências quantos forem os ramos do 
direito (ciência do direito penal, ciência do direito constitucional etc.). Dogmática", por 
ser o seu objeto (lei, precedente judicial) de antemão estabelecido, e não por ser 
dogma para o jurista. 
 
História do Direito 
 
Por outro lado, quando o jurista indaga as origens históricas dessas normas ou de todo 
o sistema jurídico, verificando os seus efeitos históricos, ou seja, considerando-os como 
fato histórico, fato que não é mais atual, mas que já produziu os seus efeitos, faz 
História do Direito. 
 
Direito Comparado 
 
Se usar os resultados desse estudo histórico para, com o método comparativo, 
compará-lo com direito atual ou confrontar direitos de países diferentes, perquirindo 
semelhanças, para propor unificações de legislações ou para abrir o horizonte jurídico 
graças à doutrina e à experiência jurídica de outros povos, estará fazendo Direito 
Comparado. 
 
SociologiaJurídica e Política Jurídica 
 
Finalmente, se encarar o direito como fato social, fará Sociologia Jurídica. Mas, se, com 
os resultados e auxílio do Direito Comparado, da História do Direito e da Sociologia 
Jurídica, entregar-se à crítica construtiva do direito vigente, com o objetivo de propor 
reformas jurídicas, dedicar-se-á à Política Jurídica ou Crítica do Direito. Nesse caso o 
jurista toma posição em relação ao direito vigente, fundado em valores ou na realidade 
social, com o objetivo de indicar reforma da legislação. 
 
Perenidade e Universalidade 
 
Segundo Paulo Nader A contestação à jurisprudência científica, no passado, possuía 
como centro de gravidade a visão distorcida, que supunha o Direito como algo 
inteiramente condicionado pelos tempos e lugares, sem conservar nada de perene e 
universal. O equívoco da corrente negativista deriva de um erro inicial, ao pensar em 
Ciência do Direito em termos de Direito Positivo. A verdadeira Ciência do Direito reúne 
princípios universais e necessários. O que é contingente é o desdobramento dos 
princípios, a sua aplicação no tempo e no espaço. A liberdade, por exemplo, é um 
princípio fundamental de Direito Natural, universal e necessário, possuindo de mutável 
apenas a sua forma de regulamentação prática. A variação se faz no acidental e nunca 
no essencial, 
que é o princípio componente do Direito Natural. 
 
Ciência do Direito 
 
A Ciência do Direito, durante muito tempo teve o no me de Jurisprudência, que era 
a designação dada pelos jurisconsultos romanos. Atu almente, a palavra possui 
uma acepção estrita, para indicar a doutrina que se vai firmando através de uma 
sucessão convergente e coincidente de decisões judi ciais ou de resoluções 
administrativas (jurisprudências judicial e adminis trativa). Ao expor sua visão 
tridimensional do direito, Miguel Reale afirma que: 
a) onde quer que haja um fenômeno jurídico, há, sem pre e necessariamente, um 
fato subjacente (fato econômico, geográfico, demogr áfico, de ordem técnica etc.); 
um valor, que confere determinada significação a es se fato, inclinando ou 
determinando a ação dos homens no sentido de atingi r ou preservar certa 
finalidade ou objetivo; e, finalmente, uma regra ou norma, que representa a 
relação ou medida que integra um daqueles elementos ao outro, o fato ao valor; 
b) tais elementos ou fatores (fato, valor e norma) não existem separados um dos 
outros, mas coexistem numa unidade concreta; 
c) mais ainda, esses elementos ou fatores não só se exigem reciprocamente, mas 
atuam como elos de um processo (já vimos que o Dire ito é uma realidade 
histórico-cultural) de tal modo que a vida do Direi to resulta da interação dinâmica 
e dialética dos três elementos que a integram. 
Desse modo, fatos, valores e normas se implicam e s e exigem reciprocamente, o 
que se reflete também no momento em que o jurisperi to (advogado, juiz ou 
administrador) interpreta uma norma ou regra de dir eito (são expressões 
sinônimas) para dar-lhe aplicação. 
 
Dialética de Implicação Polaridade 
 
Desde a sua origem, isto é, desde o aparecimento da norma jurídica, - que é 
síntese integrante de fatos ordenados segundo disti ntos valores, - até o momento 
final de sua aplicação, o Direito se caracteriza po r sua estrutura tridimensional, 
na qual fatos e valores se dialetizam, isto é, obed ecem a um processo dinâmico. 
Reale afirma que esse processo do Direito obedece a uma forma especial de 
dialética que denomina "dialética de implicação-pol aridade". Segundo a dialética 
de implicação-polaridade, aplicada à experiência ju rídica, o fato e o valor nesta se 
correlacionam de tal modo que cada um deles se mant ém irredutível ao outro 
(polaridade) mas se exigindo mutuamente (implicação ) o que dá origem à 
estrutura normativa como momento de realização do D ireito. Por isso é 
denominada também "dialética de complementaridade. 
 
Fontes 
 
CHAUI, Marilena. Introdução à História da Filosofia. Rio de Janeiro: Ática, 2000. 
GUSMÃO, Paulo Dourado de. Introdução ao estudo do Direito. Rio de Janeiro: Forense, 
2008 
: NADER, Paulo. Introdução ao Estudo do Direito. 26. ed. Rio de Janeiro: Forense, 
2012. 
REALE, Miguel. Lições preliminares de direito. São Paulo: Saraiva, 2002.

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