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Universidade São Judas Tadeu – Butantã Estado de São Paulo DIR4AN-BUB – Noturno GRUPO DE TRABALHO DA TURMA DIR4AN-BUB Larissa Dicmann Ballo RA 81713559 Matheus Dutine de Melo RA 817115281 Natanael Rodolfo Piauhy de Oliveira RA 817115773 PARECER: s/nº de 11 de maio de 2020. ASSUNTO: XXXXXXXXX INTERESSADO: XXXXXXX EMENTA: Colocar as palavras chaves do parecer quanto a dúvidas/problemática/hipóteses/solução/conclusão Ilmo. Senhor Representante, RELATÓRIO Em resumo e muito sucintamente, José Chaves, ex-funcionário da empresa Intermitentes, possuía uma jornada de trabalho absurda e claramente um contrato de prestação de serviços autônomos fraudado. Foi contratado com apenas 17 (dezessete) anos, e sofreu um acidente de trabalho que o deixou com sequelas, o que levou ele a ter seu contrato encerrado. Receosa de uma possível ação judicial, a empresa Intermitentes procurou José e celebrou um acordo, no qual José abdicou amplamente de seus direitos quanto à quitação do contrato. Esse distrato foi ainda homologado pelo sindicato de Empregados de Agentes Autônomos do Comércio no Estado de São Paulo. Esta, a síntese dos fatos. FUNDAMENTAÇÃO Cuida-se, a presente consulta, de riscos que a empresa poderá correr em face de possível ação judicial por parte do senhor José e possíveis teses defensivas. Sobre os riscos trabalhistas, a empresa poderia sofrer, por exemplo, ação de reconhecimento do vínculo de emprego. A Consolidação das Leis Trabalhistas, em seus artigos 2º e 3º, preceitua sobre a relação de emprego, isto é, quais os requisitos para que uma pessoa venha a ser considerada empregada. Desses artigos extraímos as características do vínculo de emprego, sendo elas a pessoalidade; subordinação; Onerosidade; Não habitualidade; Alteridade (empregado não assume os riscos das atividades desenvolvidas pelo empregador). No caso em epígrafe, nota-se claramente que o contrato de serviços autônomos era fraudado, visto que tudo o que configura vínculo de emprego encontra-se presente. O distrato realizado entre a empresa e José é outro exemplo de irregularidade, visto que o mesmo poderá ser anulado, pois conforme o artigo 171 do código civil é anulável o negócio jurídico, além de outros casos expressamente previstos em lei, por incapacidade do agente e por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra credores. Com isso, fica claro que, devido a José ter sido contratado quanto possuía 17 (dezessete) anos – relativamente incapaz -, estamos diante de uma hipótese de anulação do negócio jurídico. Sobre tais possibilidades, algo que poderia ser usado como tese defensiva é a confirmação, que alguns preferem denominar ratificação, consoante já se anotou, é medida sanatória voluntária, própria dos atos anuláveis, e consistente em uma declaração de vontade que tem por objetivo validar um negócio jurídico defeituoso, retroagindo os efeitos à data do negócio que se pretende confirmar. In verbis: “Artigo 172 – O negócio anulável pode ser confirmado pelas partes, salvo direito de terceiro. ” Na hipótese prevista, se um determinado contrato foi firmado por força de ameaça (coação moral), e posteriormente, verifica-se que a avença acabou favorecendo o coagido, pode este confirmar o negócio, renunciando, por conseguinte, ao direito anulá-lo. A confirmação de qualquer natureza importa a extinção de todas as ações ou defesas de que dispunha a vítima do defeito negocial contra a outra parte (artigo 175, CC). Conforme ensina Washington de Barros Monteiro, “um menor relativamente incapaz aliena prédio de sua propriedade sem a observância das formalidades legais; mais tarde, depois de haver adquirido plena capacidade civil, vende o mesmo imóvel a terceiro. É evidente que, nesse caso não poderá ratificar a primeira alienação, porque tal ratificação afeta os direitos do segundo adquirente. Conseguintemente, a confirmação não é eficaz contra esse segundo comprador, ex vi do disposto no art. 148 (art. 172 do CC/2002) do código. ”. Fixe-se, ainda, que a sentença proferida ao final da ação anulatória de negócio jurídico tem natureza desconstitutiva ou constitutiva negativa, uma vez que determina, em seu comando sentencial, o desfazimento do ato e, por consequência, a extinção da relação jurídica viciada. Ainda no âmbito da convalidação desse negócio jurídico entre a empresa e José, nas palavras de Clóvis Beviláquia, “há negócios que se acham inquinados de vício capaz de lhes determinar a ineficácia, mas que poderá ser eliminado, restabelecendo-se a sua normalidade”. A declaração judicial de sua ineficácia opera ex nunc, de modo que o negócio produz efeitos até esse momento (CC art. 177 e 183). Conforme ensina a Ilustríssima Maria Helena Diniz, a nulidade relativa, respeitada a intenção das partes, não atinge, devido ao princípio utile non vitiatur, a parte válida do ato se esta puder subsistir autonomamente (CC art. 184, 1ª parte). A nulidade relativa pode convalescer, sendo suprida pelo magistrado a requerimento dos interessados ou confirmada, expressa ou tacitamente, pelas partes, salvo direito de terceiro. Todos os argumentos jurídicos e fundamentações levantadas podem servir de alicerce para a questão do negócio jurídico, porém há pontos que devemos nos atentar, como a primazia da realidade (princípio do direito do trabalho), o fato do senhor José ter sofrido um acidente grave com algo que não teve o devido treinamento, sua situação absurdamente desvantajosa em relação à empresa etc. Sendo assim, recomenda-se que o futuro dono da empresa Intermitentes busque a realização de um acordo com o senhor José, a fim de lhe propiciar uma condição digna de acordo com os valores éticos morais, bem como amparo empregatício, visto que em razão do acidente ele terá dificuldades permanentes durante toda sua carreira profissional. CONCLUSÃO Sendo assim, a conclusão é pela realização de acordo com o senhor José Chaves ou uma árdua disputa judicial a fim de buscar a não convalidação do negócio jurídico pactuado. É o Parecer. São Paulo, XX de maio de 2020. Página 2 de 2