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CENTRO UNIVERSITÁRIO AUGUSTO MOTTA AULA 3 – Superelevação e Superlargura INTRODUÇÃO Ao descrever uma curva o motorista depara-se com uma série de dificuldades impostas pelo movimento, pelas características da via e pelos esforços que atuam neste percurso. Nos trechos em curvas incide sobre os veículos a forca centrifuga, ocasionada pela inércia do corpo, fazendo com que o mesmo seja jogado para fora da curva. Além disto, nestes trechos os veículos ocupam fisicamente espaços laterais maiores que as suas próprias larguras, tornando o movimento mais difícil. Devido a efeitos de deformação visual, causados pela percepção da pista em perspectiva, e devido às dificuldades naturais de operação de um veículo pesado em trajetória curva, os trechos em curva horizontal provocam aparência de estreitamentos da pista à frente dos usuários, provocando sensação de confinamento. Com a finalidade de compensar esses fatores, os trechos em curva podem ser alargados e inclinados, de forma a oferecer aos usuários condição de continuidade quanto à sensação de liberdade de manobra ou de condição de fluidez, no que diz respeito à disponibilidade de largura de faixa de trânsito e conforto quanto aos esforços que atuam sobre o veículo. SUPERELEVAÇÃO A superelevação é medida pela inclinação transversal da pista em relação ao plano horizontal, sendo expressa em proporção (m/m) ou em percentagem (%). A formulação do equilíbrio dos esforços atuante no veículo considerando a presença da força centrífuga e a inclinação da pista. Assim, equilibrando os esforços atuantes no veículo teremos: 𝐹𝑐 ∙ cos 𝛼 = 𝑃 ∙ sin 𝛼 + 𝑓𝑎𝑡 Mas: 𝐹𝑐 = 𝑚 ∙ 𝑣2 𝑅 𝑒 𝑓𝑎𝑡 = 𝑓 ∙ 𝑁 = 𝑓 ∙ 𝑚 ∙ 𝑔 Onde: 𝒎 é a massa do veículo em kg; 𝒗 é a velocidade diretriz em m/s; 𝑹 é o raio da curva horizontal; 𝒈 é a aceleração da gravidade Adotando a superelevação (𝑒) como sendo a tangente do ângulo alfa (tan 𝛼) obtemos como resultado na substituição dos valores os seguintes resultados: 𝑒 = 𝑣2 𝑔 ∙ 𝑅 − 𝑓 Adotando a aceleração da gravidade (𝑔 = 9,8 𝑚/𝑠2) e a velocidade em km/k temos: 𝑒 = 𝑉2 127 ∙ 𝑅 − 𝑓 Onde 𝒆 é a superelevação em m/m; 𝑽 é a velocidade diretriz em km/h; 𝑹 é o raio da curva horizontal; 𝒋 é o coeficiente de atrito transversal entre pneu e pavimento, tabelado em função da velocidade (abaixo). V km/h 30 40 50 60 e 70 80 e 90 100 𝑓 0,20 0,18 0,16 0,15 0,14 0,13 Considerando os valores máximos admissíveis de coeficientes de atrito transversal, pode-se calcular os valores dos raios mínimos de curva a serem utilizados nos projetos, referenciados aos diferentes valores de superelevação máxima a adotar. Figura 1 Veículo em curva horizontal CENTRO UNIVERSITÁRIO AUGUSTO MOTTA Assim: 𝑅𝑚𝑖𝑛 = 𝑉2 127 ∙ (𝑒𝑚𝑎𝑥 + 𝑓) A superelevação máxima (𝑒𝑚𝑎𝑥) é 8% para rodovias de classe II, III e IV e 10% para rodovias classe 0 e I. Por fim, segundo o critério adotado pelo DNER, para a determinação dos valores de superelevação adotar para cada concordância horizontal no projeto de rodovias. Desta forma, temos: 𝑒 = 𝑒𝑚𝑎𝑥 ( 2 ∙ 𝑅𝑚𝑖𝑛 𝑅 − 𝑅𝑚𝑖𝑛 2 𝑅2 ) A adoção da equação acima resulta no acréscimo gradativo e simultâneo dos valores de superelevação e de coeficiente de atrito para contrabalançar o aumento da força centrífuga, à medida que diminuem os raios das concordâncias horizontais. SUPERLARGURA Pela metodologia adotada pelo DNER, a superlargura é obtida calculando a largura total da pista necessária no trecho curvo, para o veículo de projeto adotado, deduzindo a largura básica estabelecida para a pista em tangente, segundo a seguinte fórmula: 𝑺𝑳 = 𝑳𝑻 − 𝑳𝑵 onde: 𝑺𝑳 é a superlargura total da pista; 𝑳𝑻 é a largura total em curva; 𝑳𝑵 é a largura da pista em tangente. O valor de 𝐿𝑇 é obtido geometricamente e pode ser calculado pela fórmula: 𝑳𝑻 = 𝑵 ∙ (𝑮𝑪 + 𝑮𝑳) + (𝑵 − 𝟏) ∙ 𝑮𝑫 + 𝑭𝑫 onde: 𝑮𝑪 é o gabarito estático do veículo em curva; 𝑮𝑳 é a folga lateral do veículo em movimento; 𝑮𝑫 é o acréscimo devido ao balanço dianteiro do veículo em curva; 𝑭𝑫 é a folga dinâmica, determinada de forma experimental e empírica. 𝑵 é o número de faixas de rolamento. As características dos veículos são ditadas pelo tipo do mesmo. Para caminhões e ônibus convencionais de dois eixos e seis rodas, não articulados (veículos CO), os valores adotados para projeto são: 𝐿𝑣 = 2,60 m; Largura do veículo; 𝐸𝐸 = 6,10 m; Distância entre eixos; 𝐵𝐷 = 1,20 m. Balanço dianteiro. Para veículos comerciais articulados, compostos de uma unidade tratora simples e um semi-reboque (veículo SR), os valores adotados para projeto são: 𝐿𝑣 = 2,60 m; Largura do veículo; 𝐸𝐸 = 10,00 m; Distância entre eixos; 𝐵𝐷 = 1,20 m. Balanço dianteiro. Quanto às características do movimento, temos abaixo representados os diversos alargamentos vivenciados pela estrada. Figura 2 Trajetória de um veículo numa curva Na Figura 2, ΔL corresponde ao acréscimo devido à diferença na trajetória das rodas dianteiras e traseiras. Assim: ∆𝐿 = 𝑅 − √𝑅2 − 𝐸𝐸 2 Ainda de acordo com a referida figura, pode-se ver que: 𝐺𝑐 = 𝐿𝑣 + ∆𝐿 Assim, substituindo a equação de ∆𝐿 na de 𝐺𝑐 obtém-se: 𝑮𝑪 = 𝑳 + (𝑹 − √𝑹𝟐 − 𝑬𝑬 𝟐) Desenvolvendo a equação teremos: 𝑮𝑫 = √𝑹𝟐 + 𝑩𝑫 ∙ (𝟐 ∙ 𝑬𝑬 + 𝑩𝑫) − 𝑹 EE BD CENTRO UNIVERSITÁRIO AUGUSTO MOTTA Os valores do termo 𝐺𝐿 são adotados em função da largura da pista de rolamento em tangente (𝐿𝑁), de acordo com a tabela abaixo. Largura da faixa (m) 3,00 a 3,20 3,30 a 3,40 3,50 a 3,60 Gabarito Lateral 𝐺𝐿 0,60 m 0,75 m 0,90 m A folga dinâmica 𝑭𝑫 é obtida empiricamente em função da velocidade e do raio de curvatura, dada pela equação seguinte: 𝑭𝑫 = 𝑽 𝟏𝟎√𝑹 Deve ser observado que a folga dinâmica é o fator de correção que era adotado pelo DNER na fórmula de Voshell-Pallazzo para minimizar o desconforto ocasionado pela velocidade do veículo ao descrever a curva. Deve ser observado que a necessidade de superlargura aumenta com o porte do veículo e com a redução da largura básica da pista em tangente. A tabela abaixo apresenta os valores dos raios acima dos quais é dispensável a superlargura.. Em coerência com a ordem de grandeza das larguras de pista usualmente adotadas, os valores teóricos da superlargura devem, na prática, ser arredondados para múltiplos de 0,20 metros. Considera-se apropriado um valor mínimo de 0,40 metros para justificar a adoção da superlargura. Valores menores podem ser desprezados. Para pistas com mais de duas faixas, o critério recomendado pelo DNER consiste em multiplicar os valores da superlargura por 1,25 no caso de pistas com três faixas de tráfego, e por 1,50 no caso de pistas com quatro faixas.