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Programa de Educação Continuada a Distância Curso de Fisioterapia em Uroginecologia Aluno: EAD - Educação a Distância Parceria entre Portal Educação e Sites Associados 2 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Curso de Fisioterapia em Uroginecologia MÓDULO I Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização do mesmo. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. 3 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Sumário MÓDULO I I - Anatomia Funcional da Pelve Fisiologia da Micção Fase de enchimento vesical Fase de esvaziamento vesical Arco reflexo miccional Níveis de controle da micção II - Estudo Urodinâmico e Exames Complementares Estudo urodinâmico Cistometria Eletromiografia (EMG) Perfilometria Videourodinâmica Exames Complementares Ultrassonografia Urografia Excretora Uretrocistografia miccional Tomografia Computadorizada Ressonância Magnética Dopplervelocimetria MÓDULO II III - Incontinência Urinária Feminina Fatores de Risco para a Incontinência Urinária Tipos de Incontinência Urinária Incontinência Urinária de Esforço (IUE) Incontinência Urinária de Urgência (IUU) Fisiopatologia Teoria Neurogênica 4 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Teoria Miogênica Incontinência Urinária Mista (IUM) Teoria Integral da Continência Incontinência Urinária e Qualidade de Vida IV- Avaliação Perineal Queixa Principal Sintomas Urinários Métodos de Avaliação do Assoalho pélvico Observação Clínica Palpação Vaginal Cones Vaginais Perineometria Diário Miccional Pad Test Eletromiografia (EMG) Ultrassonografia (US) Ressonância nuclear magnética (RM) MÓDULO III V- Cinesioterapia e Terapia Comportamental Tratamento Conservador Treinamento do Assoalho Pélvico (Exercícios de Kegel) Protocolo de Treinamento dos Músculos do Assoalho Pélvico Exercícios com Cones Vaginais Exercício de Ponte Exercícios de Flexão de Quadril Unilateral Exercícios de Flexão de Quadril Bilateral Exercícios de Gato Caminhada com o Cone Treino Comportamental 5 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores MÓDULO IV VI- Eletroestimulação e Biofeedback Eletroestimulação Conceitos básicos Atributos do Pulso Duração do Pulso e Duração da Fase Ação da eletroestimulação no tratamento da incontinência urinária VII - Disfunção Miccional da Infância Bases Neurofisiológicas Desenvolvimento e Maturação do Sistema Neuro-urológico Hiperatividade do detrusor Hipocontratilidade do Detrusor – Lazy Bladder Bexiga Neurogênica Tratamento Fisioterápico com Biofeedback Tratamento farmacológico Inibição do detrusor Analgesia Precauções gerais quanto à realização da eletroterapia Contraindicações Esquemas terapêuticos Biofeedback 6 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores MÓDULO I I - Anatomia Funcional da Pelve A escolha de um tratamento fisioterapêutico adequado para a mulher com incontinência urinária ou desordens do assoalho pélvico implica no conhecimento das estruturas anatômicas e da correta interpretação fisiopatológica dos mecanismos envolvidos na perda urinária e/ou fecal. A incontinência urinária feminina é atribuída à interação de vários fatores, destacando-se a capacidade de transmissão de pressão abdominal para a uretra e sua integridade anatômica e funcional, bem como das estruturas específicas responsáveis pela suspensão e suporte do colo vesical e assoalho pélvico. A Pelve Feminina A pelve feminina constitui um arcabouço ósseo formado pelo sacro e pelo cóccix, situados entre os dois ossos do quadril, apresentando a função de proteger as estruturas e órgãos situados em seu interior, dentre elas o aparelho reprodutor feminino e o trato urinário inferior. Tem importante papel na contenção das vísceras pélvicas e abdominais, além de permitir a passagem da uretra, vagina e reto. Não há separação anatômica entre as cavidades abdominal e pélvica. Essa divisão se dá ao nível da linha arqueada (STEPHENSON e O’CONNOR, 2004). Músculos do Assoalho Pélvico (MAP) É constituído por agrupamentos musculares identificados como diafragma pélvico e urogenital. O Diafragma Pélvico consiste dos músculos levantadores do ânus e coccígeos e das fáscias que cobrem a sua face superior e inferior. O 7 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Diafragma Urogenital consiste dos músculos ísquio-cavernoso, bulbo-esponjoso, transverso superficial e profundo do períneo (STEPHENSON e O’CONNOR, 2004). Fig. 01. Corte Sagital da Pelve Feminina Fonte: Adaptada de Stephenson e O’Connor Diafragma Urogenital Região Urogenital é constituída dos seguintes componentes da superfície para a profundidade: ? Pele perineal; ? Tela subcutânea; ? Espaço perineal superficial: ramo do clitóris, glândula vestibular, músculos bulbo-esponjoso, ísquio-cavernoso e transverso superficial do períneo, além de tecido conjuntivo, vasos e nervos; ? Espaço perineal profundo: músculo transverso profundo do períneo e fáscia pélvica parietal (GEO E LIMA, 2001). 8 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Fig. 02. Corte transversal da Pelve Menor Feminina. Fonte: Riccetto e Sampaio Diafragma Pélvico Os músculos levantadores do ânus dos dois lados formam um eficiente anel muscular que sustenta e mantém as vísceras pélvicas em sua posição fisiológica retropúbica. Oferecem resistência ao aumento da pressão intra-abdominal durante os esforços de tensão e expulsão dos músculos abdominais. Possuem uma ação esfincteriana importante sobre a junção ano-retal, sobre a uretra em condições de esforço e mantém o tônus vaginal. Sua inervação é derivada dos terceiros e quartos nervos sacrais e nervo pudendo, principalmente ramo perineal deste nervo. (RICCETTO E SAMPAIO, 2005). 9 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Músculos Levantadores do Ânus (MLA) Um à direita e outro à esquerda. Originam-se a partir do dorso do corpo do púbis, da fáscia pélvica e da espinha isquiática. As fibras anterioresconstituem o feixe pubovaginal, circundam a vagina e inserem-se no centro tendíneo do períneo. Esta é a porção do músculo levantador do ânus que está susceptível a ruptura durante o período expulsivo do parto. (CAMARGO, 2002). As fibras intermediárias constituem o feixe puborretal que se inserem na junção do reto e do canal anal, e o feixe pubococcígeo, que passa posteriormente para inserir-se no ligamento ano-coccígeo, ou às vezes diretamente no cóccix. As fibras posteriores compõem o músculo íliococcígeo, que se insere no ligamento ano- coccígeo e no cóccix (RICCETTO E SAMPAIO, 2005). Coccígeos Um de cada lado, o músculo coccígeo é um músculo pequeno que se origina da espinha esquiática e insere-se na extremidade inferior do sacro e na parte superior do cóccix. Sua inervação deriva do quarto nervo sacral ramo perineal e têm papel na sustentação das vísceras pélvicas e na flexão do cóccix. Fig. 03. Músculos Levantadores do Ânus e Coccígeos. Fonte: Riccetto e Sampaio 10 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Uretra Feminina A uretra feminina é constituída de 4 camadas: ? Camada Mucosa ? Camada Submucosa ? Camada Muscular Lisa ? Camada Muscular Esquelética (rabdoesfíncter) A função das camadas mucosa e submucosa é manter o lúmen uretral ocluído devido às suas saliências e depressões. Foi demonstrada a importância dos estrógenos na manutenção do epitélio uretral, aumento do número de vasos e com isso conferindo uma boa coaptação dos bordos uretrais e um eficiente “selo” mucoso uretral. A camada intermediária é formada pelo tecido muscular liso associado a tecido conjuntivo permanece no terço proximal da uretra (GEO E LIMA, 2001). A camada muscular estriada que reveste externamente a uretra é denominada rabdoesfíncter, estendendo-se por 80% do comprimento total da uretra. O rabdoesfíncter é dividido em duas porções: a primeira denominada esfíncter interno ou parauretral, é formada por fibras musculares de contração lenta ou tipo 1, que se encontram em contato direto com a uretra, sendo responsável pela manutenção do tônus basal. A porção mais externa é denominada periuretral ou esfíncter externo. É formada por fibras musculares derivadas do músculo levantador do ânus, que são do tipo 1 e tipo 2. As fibras do tipo 2 são fibras de contração rápida, que tem grande importância na contração reflexa que ocorre em resposta ao aumento da pressão abdominal, como se dá na tosse ou no espirro. O esfíncter externo é inervado por fibras somáticas mielinizadas provenientes do nervo pudendo (S2 a S4). (RICCETTO E SAMPAIO, 2005). 11 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Fig. 04. Musculatura lisa uretral. Fonte: www.geocities.com Fig. 05. Musculatura estriada uretral e bexiga em fase de armazenamento. Fonte: Riccetto e Sampaio 12 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Fáscia Pélvica e Ligamentos Pélvicos A fáscia pélvica pode ser dividia em 2 folhetos: parietal e visceral. O folheto parietal é uma lâmina de tecido conjuntivo que reveste a face interna das paredes abdominais e pélvicas. Ela pode ser denominada de acordo com o músculo que a recobre: levantador do ânus, coccígeo constituindo a fáscia superior do diafragma pélvico. Condensações desta fáscia originam os ligamentos uretropélvicos e pubouretrais, ambos possuem função de prevenir a hipermobilidade uretral, além de estarem envolvidos com o mecanismo esfincteriano intrínseco. a) Ligamentos pubouretrais: sustentam a uretra contra o ramo inferior da sínfise púbica. b) Ligamentos Uretropélvicos: ligam a uretra e o colo vesical lateralmente (3 e 9hs) ao arco tendíneo. Sustenta a uretra, promove aumento da resistência uretral, quando necessária através da contração reflexa os MLA. O folheto visceral localiza-se mais internamente e reveste os órgãos pélvicos como útero, vagina, bexiga, reto e vasos (COTRAN E KRUMAR, 1991). 13 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores O tecido conjuntivo subperitoneal pélvico condensa-se em torno do conjunto visceral e forma verdadeiros ligamentos: a) Ligamentos transversos cervicais (ligamentos cardinais): fixam a cérvix uterina e a extremidade superior da vagina nas paredes laterais da pelve. b) Ligamentos sacrocervicais (sacrouterinos): fixam a cérvix uterina e extremidade superior da vagina na extremidade inferior do sacro. c) Ligamentos pubocervicais (pubovesicais): fixam a cérvix uterina na superfície posterior do púbis. Parte de suas fibras confere sustentação ao colo vesical. No conjunto estes ligamentos têm função de manter as vísceras pélvicas suspensas a certa distância do diafragma pélvico e são denominadas em conjunto de anel pericervical (RICCETTO E SAMPAIO, 2005). A privação hormonal que acompanha a menopausa resulta em atrofia dos elementos conectivos e musculares destes ligamentos, que são críticos para o suporte dos órgãos pélvicos. A laceração deste complexo ligamentar resulta nos defeitos apicais do assoalho pélvico, representados pela cistocele, ou prolapso uterino ou da cúpula vaginal, caso ocorra pós histerectomia total (GEO E LIMA, 2001). 14 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Fig. 06. Cistocele grau I. Fonte: A.D.A.M. Fisiologia da Micção Ao longo da evolução histórica das espécies animais ocorreu o desenvolvimento da micção periódica, consequente às funções vésicouretral de enchimento e esvaziamento vesical. Essas funções são controladas por um complexo neurológico, que envolve os sistemas simpático, parassimpático, motor e nitrinérgico. O controle e a coordenação das funções de enchimento e esvaziamento do trato urinário inferior dependem da integridade do sistema nervoso central e periférico. Os centros medulares simpático e parassimpático estão situados nos segmentos T10-L2 e S2-S4, respectivamente. A bexiga urinária caracteriza-se por ser um órgão muscular liso com disposição homogênea de fibras, sendo composto pelo colo vesical e o corpo. A junção neuromuscular se faz por duas formas diferentes. Em uma, cada célula está 15 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores conectada a uma terminação nervosa e na outra a célula que recebe a terminação transmite o sinal através de canais iônicos, formando verdadeiros sincícios (GEO E LIMA, 2001). Fig. 07. Bexiga urinária. Fonte: A.D.A.M. O sistema simpático, juntamente com o motor, é responsável pela função de enchimento, enquanto o sistema parassimpático pelo esvaziamento. A coordenação desses dois sistemas é realizada pelos centros de facilitação e inibição da micção, localizados principalmente no nível da ponte. A integração dos centros superiores com os medularesé realizada pelo trato retículoespinal. 16 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Fig. 08. Neurofisiologia da micção Fonte: www.uroginecologia.com.br O detrusor está situado neste contexto de transmissão, ou seja, tem relação unitária célula/terminação e também tem relação sincicial de 8:127. A junção é disposta de tal forma que as terminações nervosas não mielinizadas formam vesículas de 1 a 2 μm ao longo dessas terminações, entre as células musculares. A despolarização que ocorre durante estímulo nervoso causa liberação do neurotransmissor armazenado nessas vesículas, ocupando os respectivos receptores e desencadeando a contração da fibra muscular (GIRÃO, BORTOLINI E CASTRO, 2009). T10/L2 SNA Simpático S2/S4 SNA Parassimpático e Somático 17 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores A continência urinária compreende a coordenação entre os eventos do sistema nervoso autônomo e somático em nível central e periférico. Além disso, atuam na manutenção da continência urinária fatores anatômicos e constitucionais dos órgãos pélvicos perineais como esfíncter uretral, a topografia do colo vesical, a coaptação uretral, os ângulos de inclinação da uretra e as fibras de colágeno periuretrais. Fase de enchimento vesical Na fase de enchimento vesical a bexiga funciona como um reservatório, pois acumula urina com baixa pressão, não excedendo 10 cm H20, graças à acomodação de suas estruturas (músculo liso, tecido conjuntivo, urotélio) e pela ativação de mecanismos inibitórios neurais originados em grande parte pelos nervos simpáticos. Para que ocorra este enchimento fisiológico com baixa pressão e sem ocorrência de contrações do músculo detrusor o sistema nervoso autônomo (SNA) parassimpático está inibido sob ação do sistema nervoso simpático, que atua relaxando o músculo liso do detrusor através do estímulo beta-adrenérgico no corpo da bexiga e no colo vesical, sob estímulo alfa-adrenérgico, que age contraindo a musculatura lisa uretral ao mesmo tempo em que ocorre o aumento da atividade muscular estriada ao nível periuretral (rabdoesfíncter). 18 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Fig.09. Musculatura esfincteriana uretral. Fonte: Bortolini e Castro O sistema nervoso autônomo simpático origina-se na medula espinhal, ao nível de T10 a L2 e é representado principalmente pelo nervo hipogástrico. Suas fibras pré-sinápticas são curtas e tem como neurotransmissor a acetilcolina, enquanto as fibras pós-sinápticas são longas e tem como neurotransmissor a noradrenalina. O SNA simpático atua nos receptores alfa e beta. Sendo que os receptores alfa estão localizados na uretra e colo vesical; e os receptores beta- adrenérgicos localizados no corpo da bexiga. 19 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Fase de esvaziamento vesical O sistema nervoso autônomo parassimpático origina-se na medula sacral ao nível de S2-S4 e é representado pelo nervo pélvico. Suas fibras pré-ganglionares são longas e terminam em gânglios situados na parede vesical. O neurotransmissor do SNA parassimpático é a acetilcolina sempre que atua nos receptores nicotínicos localizados nas sinapses pré-ganglionares e nos receptores muscarínicos (M3), nas sinapses pós-ganglionares. Este sistema atua na fase de esvaziamento vesical contraindo o músculo detrusor. Nesta etapa faz-se necessário que o sistema somático entre em ação, pois é ele quem inicia o relaxamento do assoalho pélvico e esfíncter externo da uretra com o término da atividade eferente do nervo pudendo. O sistema nervoso somático (SNS) origina-se na medula sacral em nível de S2-S4 e inerva a musculatura do assoalho pélvico e esfíncter externo da uretra. (GIRÃO, BORTOLINI E CASTRO, 2009). 20 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Fig.10. Inervação somática da musculatura perineal: pudendo. Fonte: Arquivo Pessoal Arco reflexo miccional Na fase de enchimento vesical, aproximadamente aos 150 ml, os mecanorreceptores localizados na parede vesical enviam sinais via aferente para o centro pontino da micção e córtex cerebral sinalizando o primeiro desejo miccional. Este primeiro sinal é inibido pelo córtex via descendente acentuando o relaxamento do detrusor. Outros sinais de enchimento são enviados, uma vez que este reflexo é autorregenerativo, à medida que a bexiga atinge sua repleção que no adulto seria entre 350 a 400 ml. (GALHARDO E KATAYAMAN, 2007). Ao mesmo tempo em que o córtex envia estímulo inibitório sobre o detrusor ocorre também um aumento da atividade da musculatura lisa da uretra. Uma vez que o desejo miccional pode ser satisfeito em lugar apropriado e socialmente aceito o córtex então cessa a atividade inibitória desencadeando a micção, que ocorre pelo 21 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores estímulo parassimpático através do nervo pélvico, que atua contraindo o músculo detrusor e elevando a pressão vesical. Neste tempo também cessa a atividade muscular perineal, ou seja, ocorre o relaxamento voluntário da musculatura esfincteriana e do assoalho pélvico, permitindo a passagem de urina para o exterior. (GALHARDO E KATAYAMA, 2007). Fig. 11. Bexiga urinária. Fig. 12. Arco reflexo miccional. Fonte: www.geocities.com 22 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Níveis de controle da micção Córtex cerebral: representado pelo lobo frontal, é responsável pelo controle voluntário da micção. Possui ação inibitória sobre o detrusor. Substância reticular ponto-mesencéfalo: responsável pela coordenação entre os vários níveis de controle córtex, medula, sistema límbico e cerebelo. Núcleos da base: têm influência no processo de esvaziamento vesical. Sistema límbico: área responsável pelas emoções; atua principalmente em situações de estresse. Cerebelo: atua na coordenação dos músculos do assoalho pélvico e esfíncter externo, inclusive durante a micção. Centro sacral da micção: constitui o arco reflexo simples entre o detrusor e o sistema esfincteriano (GIRÃO, BORTOLINI E CASTRO, 2009). 23 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Sistema Nervoso Nível medular Nervo Neurotransmissor Ação Parassimpático S2-S4 Pélvico Acetilcolina Contrai detrusor Simpático T10-L2 Hipogástrico Norepinefrina Relaxa detrusor e contrai uretra Somático S2-S4 Pudendo Acetilcolina ContraiMAP Tabela 01. Esquematização básica da neurofisiologia da micção. Fig. 13. Neurofisiologia da Micção Fonte: Bortolini e Castro 24 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores II - Estudo Urodinâmico e Exames Complementares Estudo Urodinâmico O estudo urodinâmico (EU) tem grande importância no diagnóstico das disfunções vesicouretrais, tanto pela qualidade de informações obtidas como pelo número crescente de exames realizados. O estudo urodinâmico é definido pela Sociedade Internacional de Continência (SIC), como “o estudo da fisiologia do trato urinário inferior e hidrodinâmica do transporte urinário” (Abrams e cols., 2003). O EU está indicado para pacientes que apresentam incontinência urinária, obstrução infravesical e disfunção vesical de origem neurogênica primária ou adquirida, sendo utilizado como exame de diagnóstico e de seguimento. A disfunção miccional feminina pode estar relacionada a alterações na contratilidade do detrusor e ou da uretra, levando a um quadro de incontinência urinária. Sendo as causas mais comuns de incontinência urinária feminina a hiperatividade do detrusor e a hipermobilidade do colo vesical. Outras causas menos frequentes são a incontinência por transbordamento e a baixa complacência vesical. A incontinência urinária por transbordamento é a perda de urina na capacidade vesical acima do normal quando não ocorre contração do detrusor para o esvaziamento. Isto se deve a uma hipocontratilidade do detrusor, ou seja, o músculo detrusor não está apto a contrair e expelir a urina para o exterior. Geralmente esta afecção é de fundo neurológico, como ocorre em patologias como o diabetes mellitus, promovendo neuropatias, a mielite transversa e esclerose múltipla. Como a incontinência urinária é um sinal e um sintoma, ela deve ser investigada através do exame urodinâmico, pois se o diagnóstico for baseado apenas em aspectos clínicos corre-se o risco de 38% de erro no diagnóstico do tipo de incontinência urinária. Fazem parte do método: a cistometria, o estudo fluxo/pressão, a fluxometria, o perfil pressórico uretral e a eletromiografia. 25 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Cistometria A cistometria é o registro do comportamento pressórico vesical durante o ciclo miccional. Identifica a ação do músculo detrusor (Pdet) e da prensa abdominal (Pabd) no ciclo miccional. Permite a avaliação da complacência, sensibilidade e capacidade da bexiga, além de avaliar parâmetros como fase de enchimento vesical, teste de esforço, pressão de perda sob esforço e a fase de esvaziamento vesical (Oliveira e cols., 1999). O exame é realizado por meio de uma sonda via uretral (ou em casos raros suprapúbica) e de uma sonda retal conectados a transdutores de pressão. O cateter suprapúbico somente é utilizado quando não é possível a utilização da via uretral. As sondas permitem a identificação das pressões vesicais de enchimento e esvaziamento, bem como da pressão abdominal. No enchimento vesical contrações involuntárias do detrusor acima de 15 cm H20 caracterizam sua hiperatividade. No caso de aumento brusco e progressivo da pressão vesical com o enchimento, então é verificada baixa complacência vesical. As manobras de esforço são solicitadas pelo urologista para que possa verificar a presença de perda de urina sob esforço. Geralmente, para isso, há um volume razoável infundido de aproximadamente 200 ml. Pede-se que a paciente realize tosse com grande esforço e após isso com menor esforço para verificar em que pressão a perda ocorre. Este teste é importante para o diagnóstico da perda de urina aos esforços. Sabe-se que mulheres que apresentam pressão de perda sob esforço acima de 80 cm H20 têm maior resposta à fisioterapia e, por isso, melhor prognóstico ao tratamento conservador do que àquelas que apresentam baixa pressão de perda sob esforço. A pesquisa da pressão de perda sob esforço registra a menor pressão vesical que causa a perda urinária na ausência de contração do detrusor. Com isso, classifica-se o tipo de incontinência urinária de esforço em hipermobilidade do colo 26 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores vesical ou uretral (pressão de perda elevada) e deficiência intrínseca esfincteriana (pressão de perda baixa). Na fase de esvaziamento vesical verifica-se a presença de obstrução infravesical, que na mulher pode ser causado por uma cistocele ou prolapso de bexiga. Além disto, verifica-se a pressão em que ocorre a micção. Assim, a cistometria permite que se conheçam isoladamente os componentes pressóricos do ciclo miccional, ou seja, a participação do detrusor, que pode ser expressa pela equação: pressão do detrusor (Pd) = pressão vesical (PV) – pressão abdominal (Pab). Além da capacidade vesical e a pressão de enchimento vesical. A relação entre o volume vesical, medido entre o início do enchimento até o momento da micção e a pressão vesical desenvolvida nesse intervalo, exprime a complacência vesical (Carter, 2002). O cateter uretral, que registra a pressão vesical deve ter calibre fino para que não funcione como fator obstrutivo, uma vez que a obstrução pode alterar a pressão de micção. Abrams e cols. (2003) verificaram, em humanos, que um cateter com calibre inferior a 5 Fr não interfere na pressão do músculo detrusor durante a micção. A cistometria pode ser realizada com infusão de líquido (água, solução salina ou contraste radiopaco) ou gás (ar ou dióxido de carbono). A infusão pode ser realizada através da gravidade ou de uma bomba peristáltica. As sondas são conectadas a transdutores de pressão que convertem pequenas variações de pressão em sinal elétrico, que posteriormente é amplificado e enviado ao aparelho de urodinâmica. Cateteres com microtransdutores de pressão na extremidade têm a vantagem de eliminar artefatos (bolhas de ar, dobra do cateter, tempo de registro), mas o inconveniente do alto custo e da fragilidade (Oliveira, 1999). 27 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Fig. 01. Cateter uretral e balão retal. Fonte: Arquivo Pessoal Fig. 02. Esquema de conexões para exame de urodinâmica. Fonte: Arquivo Pessoal 28 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Eletromiografia (EMG) Em um músculo, as fibras inervadas por células do neurônio motor do corno anterior da medula, é chamado de unidade motora. A atividade elétrica da unidade motora em um músculo é aferida como potencial de ação da unidade motora. O estudo dos potenciais elétricos gerados pela despolarização de um músculo é chamado de Eletromiografia (Mark e Karram, 1999). A eletromiografia pode ser realizada através de um eletrodo de placa ou de agulha, para determinar o comportamento da musculatura estriada esquelética perineal (Abrams, 2003). EMG é utilizada principalmente em músculos estriados, pois o fluxo da corrente elétrica é mediado pelo sódio. Já o músculo liso depende do íon cálcio e gera mínima corrente elétrica. As unidades motoras dos músculosesqueléticos são de tamanhos variáveis, de 2 a 10 mm. A sua atividade elétrica pode ser registrada por eletrodos de superfície facilmente. Estes eletrodos cobrem amplas áreas e podem registrar atividade não apenas de um músculo isoladamente, mas também, de seus sinergistas. Por isso, ao estudar músculos pequenos como é o caso da musculatura do assoalho pélvico, o registro é mais fidedigno quando se utiliza eletrodos por agulha. O potencial EMG é amplificado e filtrado e pode ser visualizado na tela do osciloscópio. Eletrodos de superfície são utilizados em conjunto com o estudo urodinâmico. Dois eletrodos são colocados, sendo o primeiro o ativo no músculo que está sendo estudado e o remoto em um lugar distante do primeiro. A principal função da EMG no estudo urodinâmico é verificar a coordenação entre a atividade da musculatura perineal durante o enchimento, e na fase de esvaziamento, onde fisiologicamente deve ocorrer a diminuição ou cessação desta atividade. Quando isso não ocorre, é sinal de dissinergia vesicoesfincteriana. Ou seja, o detrusor está contraindo ao mesmo tempo em que a musculatura esquelética 29 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores estriada também está. Neste caso, o indivíduo apresentará sinais de dificuldade de esvaziamento vesical, sensação de resíduo pós-miccional e incontinência urinária. A dissinergia vesicoesfincteriana pode ocorrer devido à lesão neurológica geralmente localizada entre a ponte e o nível sacral da medula. É necessário verificar durante o exame que não há contração de outros músculos acessórios como glúteos e adutores das coxas ou mesmo retoabdominais, pois estes podem interferir na leitura da EMG e produzir um falso diagnóstico de dissinergia (Mark e Karram, 1999). Fig. 03 Modelo de estudo urodinâmico demonstrando dissinergia vesicoesfincteriana. 30 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Perfilometria O perfil pressórico uretral (PPU) é a curva topográfica manométrica representativa da pressão uretral e sua distribuição ao longo da uretra. Representa a função uretral passiva, e é um dos testes urodinâmicos que avalia a função da uretra (Mark e Karram, 1999). Há três métodos utilizados: o método de perfusão, o de cateter de membrana (ou balão) e o de microtransdutor na ponta do cateter. Entre os três, o de perfusão é o mais utilizado, foi descrito por Toews (1967) e aperfeiçoado por Brown e Wickham, em 1969. Tornou-se conhecido como a técnica de Brown e Wickham. Alguns aspectos limitam a utilização do método de cateter de membrana como o custo, treinamento adequado para sua colocação, dificuldade na eliminação de bolhas no sistema e a calibração que deve ser refeita a cada exame. Além disso, as medidas são realizadas em toda a extensão do balão, que pode não representar o comprimento da uretra funcional. O método do microtransdutor na extremidade da sonda é o método mais preciso, porém, seu alto custo e a fragilidade do sensor são fatores limitantes ao uso rotineiro. Os parâmetros avaliados no PPU são: a forma da curva, a pressão uretral máxima (PUM), pressão máxima de fechamento uretral (PMFU), o comprimento funcional uretral (CFU) e a área de continência, que é a área da curva que se mantém acima da pressão vesical (Abrams, 2003). Alguns estudos têm utilizado o PPU para avaliação de mulheres com e sem sintomas urinários. Chen e cols., em 2003, avaliaram mulheres com e sem prolapso vaginal anterior. Foi demonstrado que a pressão uretral na parte proximal da uretra, durante o PPU em repouso e durante a contração, foi inferior nestas mulheres comparando-se aos valores achados no grupo controle. Wolters e cols., em 2002, estudaram o PPU de mulheres com e sem incontinência urinária de esforço (IUE) genuína. As mulheres com IUE genuína revelaram valores mais baixos em todos os parâmetros estudados (CFU, PUM, PMFU) em relação às mulheres continentes. 31 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Dietz & Clarke (2001) realizaram PPU e ultrassom do trato urinário inferior em mulheres e encontraram uma tendência em correlacionar valores baixos de pressão uretral com fraqueza da musculatura do assoalho pélvico e a menor espessura da parede uretral. Baessler e col. (2005), em um estudo clínico, demonstraram que os valores do PPU podem ser influenciados pelo relaxamento voluntário e pela contração da musculatura do assoalho pélvico, diminuindo e elevando valores da PMFU respectivamente. O PPU também evidenciou ser influenciado pela posição da paciente. O CFU tende a ser maior na posição em pé quando comparado com a posição deitado ou sentado, independente da presença de incontinência urinária ou não. O PPU tem recebido críticas devido à impossibilidade de comparação, em termos numéricos, entre os diferentes métodos. Além disso, trata-se de um método de avaliação pontual, ou seja, não ocorre o registro da pressão em toda a uretra no mesmo momento. Além disso, há uma variação natural do comportamento da musculatura uretral durante situações de esforço, contração ou relaxamento muscular. Resplande e cols. (2003) estudaram o efeito da eletroestimulação intravaginal sobre o perfil pressórico uretral em mulheres com IUE. Verificaram que a presença do eletrodo por si só pode aumentar o comprimento funcional uretral e também a pressão máxima de fechamento uretral. Videourodinâmica Consiste na associação de métodos radiológicos (fluoroscopia ou ultrassonografia) ao estudo urodinâmico, permitindo avaliar o enchimento e o esvaziamento vesical sob visão direta. Desta forma, fornece o diagnóstico anatômico e funcional dos distúrbios do trato urinário inferior em repouso e sob stress (5). O método mais utilizado é a radioscopia, com infusão de contraste radiopaco (iodado) a médio fluxo. Seus maiores inconvenientes são a alta dose de radiação (800mrad) e o alto custo. 32 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores É padrão ouro para classificação de incontinência urinária de esforço, uma vez que detecta a posição do colo vesical. Está também indicado em pacientes com doença neurológica, refluxo vesicoureteral, dissinergia detrusor-esfincteriana, detecção de divertículos de uretra e ainda para definir o local de obstrução infravesical (Nitti, Tu, Gitlin, 1999). Exames Complementares Exame de Urina Tipo I Os exames de urina tipo I e urocultura são obrigatórios em pacientes que apresentam queixas uroginecológicas, especialmente incontinência urinária (IU), uma vez que infecção do trato urinário (ITU) pode ser uma causa da mesma. Além disso, a ITU pode alterar os resultados de outros exames, inclusive do estudo urodinâmico. Também existe a possibilidade de haver complicação da ITU pela manipulação do trato urinário durante o exame. Para o diagnóstico de ITU são consideradas anormais contagens superiores a 104 leucócitos por ml. Quando o pH é muito alcalino, superior a 8, isto sugere infecção por Proteus. O número de colônias necessário para o diagnóstico de ITU é classicamente considerado com o superior a 105 colônias por ml de urina. No entanto, há questionamentos na literaturaprincipalmente quando se trata de pacientes sintomáticos que apresentam contagens inferiores. Neste caso, é muito difícil excluir a ITU. Cistoscopia Procedimento endoscópico que permite inspeção direta da uretra, bexiga e óstios ureterais por meio de um sistema óptico minimamente invasivo, seguro e que pode ser diagnóstico e/ou terapêutico. O cistoscópio pode ser rígido ou flexível. O rígido permite uma imagem de qualidade superior e facilita a realização de 33 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores procedimentos como cateterização ureteral. O cistoscópio flexível fornece uma visão mais limitada e requer mais treinamento na realização de procedimentos operatórios. Instrumental: - Endoscópio: composto pela ótica - tubo rígido contendo várias lentes em sequência, resultando em diferentes ângulos de visualização; camisa externa – envolve a ótica e permite a passagem de pinças e entrada e saída do meio de distensão e ponte – conecta a ótica à camisa externa e controla a entrada de pinças e dos fluidos; - Fonte de Luz: pode ser halógena, de menor potência (150w) e duração ou, idealmente, xenon que possui maior potência (300w) e duração, mas também custo mais alto. - Cabo de luz: conecta a fonte de luz à ótica e pode ser de cristal líquido ou de fibra ótica, que quebra com maior facilidade, mas quando bem manuseado dura um bom tempo. Deve ser trocado quando mais de 1/3 das fibras estão quebradas ou queimadas. - Sistema de irrigação: equipo comum acoplado ao meio líquido colocado a 50 a 70 cm acima do nível da paciente. Para cistoscopia diagnóstica a solução salina ou água estéril, à temperatura ambiente, são os mais indicados. Quando se usa o eletrocautério, soluções não condutoras como água ou glicina devem ser escolhidas. O CO2 não é um meio adequado por irritar a bexiga e produzir artefatos de imagem. - Câmera: pode ter de 1 a 3 chips, capta a imagem e a envia para o monitor que tem de 480 a 700 linhas horizontais. Ainda pode ser utilizado um vídeo gravador VHS, com sistema NTSC, para arquivo das imagens. Estes últimos equipamentos auxiliam o ensino do método. 34 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Técnica: Paciente com urocultura negativa, em posição de litotomia, procede-se à antissepsia da genitália externa e a seguir o endoscópio é introduzido pela uretra do paciente utilizando-se gel de lidocaína em sua extremidade. Sedação ou analgesia são raramente necessárias para a realização da cistoscopia diagnóstica. Inicia-se pela avaliação da mucosa uretral com ótica de 0°. Em sua porção distal pode-se observar os orifícios das glândulas periuretrais de Skene. Uma vez na bexiga, troca-se a ótica por uma de 70° e inicia-se pela inspeção do trígono, observando-se os meatos ureterais e a ejaculação de urina bilateralmente. A seguir, avalia-se o assoalho, local onde são mais encontrados corpos estranhos, cálculos e coágulos. Observam-se então as paredes laterais e, finalmente, o fundo e a parede anterior. Esta é melhor avaliada com a bexiga parcialmente cheia e com uma mão exercendo pressão suprapúbica para deprimi-la (Carter, 2002). Na retirada da ótica analisa-se a função uretral e do colo vesical. Pacientes com incontinência urinária de esforço (IUE) apresentam descenso e abertura do colo vesical durante aumento da pressão abdominal. Sua sensibilidade é de 60% e especificidade de 79% no diagnóstico de IUE, quando comparada ao EUD (Weinberger, 1992). Profilaxia de infecção do trato urinário pode ser realizada com dose única de quinolona fluorada. Em pacientes com valvopatias cardíacas, procede-se à profilaxia da endocardite infecciosa. 35 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Indicações da Cistometria: - Controle intraoperatório de cirurgias anti-incontinência; - Avaliação de integridade do trato urinário inferior no intraoperatório de cirurgias ginecológicas com dificuldade técnica; - Incontinência urinária recidivada (para excluir fístulas, presença de fios de sutura); - Bexiga hiperativa refratária ao tratamento clínico (excluir cálculos, tumores...); - Dor vesical; - Infecção urinária de repetição; - Avaliação de hematúria macro ou microscópica; - Perda urinária contínua (para diagnóstico de fístulas); - Perda de urina pós-miccional (para diagnóstico de divertículos); - Citologia urinária anormal; - Cateterização dos ureteres; - Estadiamento do câncer de colo de útero. Alguns dos achados anormais da cistoscopia são: - uretrite atrófica - mucosa pálida, friável, com perda da coaptação e aumento da sensibilidade; 36 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores - uretrite crônica - achados inespecíficos, edema, hiperemia e exsudato sobre a mucosa; - divertículo de uretra - sensibilidade diagnóstica de 50 a 70%. Identifica o tamanho, o número e localização; - Insuficiência esfincteriana uretral - detectada com a ótica próxima ao meato e paciente fazendo manobras provocativas de esforço, como tosse e outros. - condiloma, carcinoma e pseudopólipos de uretra - os pseudopólipos são mais comuns na uretra proximal, como projeções císticas; o condiloma geralmente se localiza próximo ao meato e o carcinoma, quando detectado, 62% envolve toda a extensão da uretra e 75% são maiores que 2cm18; - trigonite pseudomembranosa - corresponde à metaplasia escamosa e apresenta-se como um espessamento da mucosa, que fica branco-acinzentada, granular, com bordos irregulares, podendo sangrar à manipulação. Pode estar associada ao hipoestrogenismo ou ITU de repetição. Não requer biópsia; - cistite intersticial clássica (< de 10%) cursa com úlcera cercada por tecido de granulação e hemorragia (úlcera de Hunner, patognomônica) ou não ulcerativa que apresenta petéquias e glomerulações. Quando o diagnóstico não é firmado no ambulatório, requer hidrodistensão sob anestesia. Para o diagnóstico devem ser detectadas pelo menos 10 glomerulações em pelo menos três quadrantes da bexiga ou a clássica úlcera de Hunner. A biópsia serve para diagnóstico diferencial de malignidade; - fístulas - as pós-operatórias são circundadas por tecido hiperemiado e com edema; aquelas relacionadas à malignidade são cercadas por tecido friável e necrótico; - cistite cística e glandular - caracteriza-se por vesículas finas e translúcidas que são maiores e mais irregulares na glandular; 37 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores - carcinoma de células transicionais - lesão intraepitelial, mais diagnosticada por citologia esfoliativa; - trabeculações - hipertrofia da musculatura vesical secundária à dificuldade miccional por obstrução ou dissinergia detrusor-esfincteriana. A causa mais comum é hiperatividade vesical; - divertículo de bexiga - o orifício pode ser pequeno ou proeminente; - ureterocele - dilatação cística congênita da porção submucosa do ureter intravesical. Observa-se um abaulamento próximo ao meato ureteral que se esvazia após o efluxo de urina; -ureter ectópico- mais frequente lateral e superiormente ao trígono. Complicações são incomuns. Pode ocorrer bacteriúria em 2% a 7% dos casos. A perfuração vesical pode ser observada quando o endoscópio não é introduzido sob visualização direta. Trauma uretral e falso trajeto são outras complicações possíveis. Ultrassonografia A ultrassonografia permite ótima visibilidade do trato urinário alto, independentemente da função renal. Entre suas maiores vantagens destacam-se a não exposição à radiação e o baixo custo comparado a outras técnicas radiológicas. A maior desvantagem é o campo de visão limitado, o que impossibilita a visão de todo o trato urinário ao mesmo tempo (Khullar, 1994). O ultrassom é sensível na detecção de dilatações do sistema pielocalicial e dos ureteres, mas não se presta para diagnosticar o grau de obstrução (Khullar, 38 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 1994). É um bom método para medir resíduo pós-miccional, com a vantagem de que não é necessária cateterização uretral (Roehborn e Peters, 1998). O exame da bexiga permite a detecção de divertículos e formações intravesicais. Cálculos produzem sombra acústica e se movem com a mudança de posição da paciente. Os tumores de bexiga, em sua maioria, são exofíticos e de fácil visibilização com a bexiga cheia (Roehborn e Peters, 1998). A via transvaginal é considerada de escolha na detecção dos divertículos de uretra, permitindo avaliar sua localização e conteúdo21. A via translabial é a melhor na avaliação ultrassonográfica do rabdoesfíncter da uretra. A medida da espessura da parede vesical com a bexiga vazia (<50ml) parece ser o método sensível para o “screening” de bexiga hiperativa. Para Khullar et al. (1994), a espessura da parede maior que 5 mm tem valor preditivo positivo de 94% para o diagnóstico de hiperatividade vesical (Abrams, 2001). A avaliação ultrassonográfica do assoalho pélvico é de fácil execução e reprodutível, permitindo inclusive o estudo funcional e dinâmico dos órgãos. Os movimentos das estruturas pélvicas passaram a ser estudados e quantificados de diferentes distâncias e ângulos, com maior entendimento da fisiologia dos mesmos (Gordon, Pearce e Norton, 1989). Mais recentemente, com o advento da ultrassom 3D é possível avaliar o volume dos órgãos e rever imagens sem a necessidade do paciente estar presente. Magnificações e orientações espaciais variadas também se tornaram possíveis, bem como o estudo mais detalhado da anatomia pélvica (Abrams, 2001). Urografia Excretora As principais indicações para a realização da urografia excretora são: ITU de repetição, hematúria microscópica, má-formações congênitas, cálculos, divertículos de bexiga, fístulas, avaliação pré-operatória de grandes massas pélvicas, lesões do trato urinário (iatrogênicas ou não) e estadiamento de tumores ginecológicos. Entre 39 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores as desvantagens enumeram-se a exposição à radiação, possibilidade de reações adversas ao contraste e a nefrotoxicidade do mesmo. Uretrocistografia miccional As principais indicações são: divertículos de bexiga; divertículos de uretra; refluxo vesicoureteral; fístulas vesicoveginais e uretrovaginais; trabeculações intravesicais (podem indicar obstrução, bexiga hiperativa ou cicatrizes); tumores vesicais (falha de enchimento), bexigas flácidas. Permite ainda o estudo da posição do colo vesical no repouso e durante esforço. Tomografia Computadorizada Fornece boas informações a respeito da anatomia do trato geniturinário, podendo ser uma alternativa à ressonância magnética em algumas situações. Ressonância Magnética É uma excelente ferramenta para avaliar a pelve, incluindo-se o estudo da anatomia normal e das diferentes distopias, bem como das má-formações do trato geniturinário. O principal inconveniente é o alto custo (Artibani e Cerruto, 2005). Não é indicada de rotina para avaliar incontinência urinária e/ou distopias. O exame dinâmico é útil para avaliar pacientes que persistem com queixas de após correção cirúrgica de prolapso genital (Artibani e Cerruto, 2005). 40 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Dopplervelocimetria Este exame tem se mostrado útil para melhor compreensão da fisiopatologia da incontinência urinária. Estudos de Dopplervelocimetria dos vasos periuretrais mostraram diminuição da vascularização em mulheres incontinentes na pós- menopausa, o que é revertido com a reposição estrogênica (Jármy-di Bella, Girão e Sartori, 2000). ----------------FIM DO MÓDULO I ----------------