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2012 Microbiologia Prof.ª Mara Rúbia Lenzi Prof. Júlio Roussenq Neto Copyright © UNIASSELVI 2012 Elaboração: Profª. Mara Rúbia Lenzi Prof. Júlio Roussenq Neto Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. 579 L575m Lenzi, Mara Rúbia Microbiologia / Mara Rúbia Lenzi; Júlio Roussenq Neto. 2. Ed. Indaial : Uniasselvi, 2012. 211 p. : il ISBN 978-85-7830- 628-1 1. Microbiologia. I. Centro Universitário Leonardo da Vinci. III apresentação Prezado acadêmico! Iniciaremos agora o estudo da Microbiologia. Trata-se de um mundo invisível e totalmente desconhecido da maioria das pessoas. Será, sem dúvida, uma grande aventura, pois esse mundo pequeno e tão cheio de mistérios precisa ser explorado para podermos entender a relação que ele tem com o mundo em que vivemos. Vamos entender qual é o papel representado por esses seres tão diminutos. Ao estudá-los em seu mundo, iremos compreender a importância desses seres em nossas vidas. A existência deles está por toda a parte, no ar que respiramos, no alimento que comemos, no interior de nosso próprio corpo, nas montanhas, nos vulcões, no fundo do mar, nos mananciais, enfim, entramos em contato com inúmeros microrganismos diariamente. Vamos aprender também que alguns causam doenças e outros evitam e até curam doenças. Veremos que a maioria apresenta um papel fundamental nos processos que fornecem energia e, com isso, tornar a vida na Terra viável. Com os diversos papéis exercidos pelos microrganismos no mundo, poderemos entender, então, por que a Microbiologia é uma disciplina de desafios e de descobertas importantes, que nos oferece muitas recompensas. Além de ser uma ciência fluente e de grande relevância, ela nos instiga, pois afeta a todos nós. Incontáveis são as áreas de atuação: da medicina à evolução, da agricultura à ecologia. Ela estará contribuindo tanto para o campo do conhecimento científico como para a solução dos inúmeros problemas da humanidade. Vamos iniciar agora a nossa viagem ao mundo microscópico. Bons estudos! Prof.ª Mara Rúbia Lenzi Prof. Júlio Roussenq Neto IV Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA V VI VII UNIDADE 1 – MICROBIOLOGIA – FUNDAMENTOS ................................................................. 1 TÓPICO 1 – HISTÓRIA DA MICROBIOLOGIA ............................................................................. 3 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3 2 MICROBIOLOGIA COMO UMA CIÊNCIA .................................................................................. 3 3 ORIGEM DA VIDA.............................................................................................................................. 5 3.1 MICROSCÓPIO ................................................................................................................................ 9 3.2 A DESCOBERTA DA CÉLULA ..................................................................................................... 12 3.3 CARACTERÍSTICAS DAS CÉLULAS PROCARIÓTICAS E EUCARIÓTICAS ..................... 14 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 24 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 27 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 29 TÓPICO 2 – PRINCIPAIS GRUPOS DE MICRORGANISMOS ................................................... 31 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 31 2 TAXONOMIA ........................................................................................................................................ 31 3 CLASSIFICAÇÃO ................................................................................................................................. 36 3.1 BACTÉRIAS ...................................................................................................................................... 38 3.2 PROTOZOÁRIOS ............................................................................................................................ 40 3.3 ALGAS E FUNGOS ......................................................................................................................... 41 3.4 VÍRUS ................................................................................................................................................ 43 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 45 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 47 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 49 TÓPICO 3 – ESTRUTURA DOS MICRORGANISMOS ................................................................. 51 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 51 2 CARACTERÍSTICAS DA CITOLOGIA BACTERIANA .............................................................. 51 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 68 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 70 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 71 UNIDADE 2 – METABOLISMO E GENÉTICA MICROBIANA ................................................... 83 TÓPICO 1 – CONCEITOS ESSENCIAIS DE METABOLISMO.................................................... 85 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 85 2 METABOLISMO CELULAR E FONTES DE ENERGIA DOS MICRORGANISMOS ........... 85 LEITURA COMPLEMENTAR 1 ............................................................................................................ 99 LEITURA COMPLEMENTAR 2 ..........................................................................................................101 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................102 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................103 suMário VIII TÓPICO 2 – GENÉTICA MICROBIANA E VARIABILIDADE ..................................................105 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................105 2 MATERIAL GENÉTICO DE CÉLULAS PROCARIÓTICAS E EUCARIÓTICAS .................105 3 DUPLICAÇÃO DO DNA OU ADN ................................................................................................107 4 GENE E A TRANSCRIÇÃO GÊNICA – RNA OU ARN .............................................................110 5 MUTAÇÃO ...........................................................................................................................................111 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................112 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................114 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................115 TÓPICO 3 – BIOTECNOLOGIA ........................................................................................................117 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................117 2 ENGENHARIA GENÉTICA – TRANSFERÊNCIA DE GENES ................................................117 3 APLICAÇÃO INDUSTRIAL DA MICROBIOLOGIA ................................................................120 LEITURA COMPLEMENTAR 1 ..........................................................................................................122 LEITURA COMPLEMENTAR 2 ..........................................................................................................125 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................127 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................128 UNIDADE 3 – CONTROLE DOS MICRORGANISMOS E OS PRINCIPAIS GRUPOS .......131 TÓPICO 1 – FUNDAMENTOS DO CONTROLE MICROBIANO .............................................133 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................133 2 AGENTES FÍSICOS E QUÍMICOS .................................................................................................133 LEITURA COMPLEMENTAR 1 ..........................................................................................................142 LEITURA COMPLEMENTAR 2 ..........................................................................................................144 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................147 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................148 TÓPICO 2 – VÍRUS ...............................................................................................................................151 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................151 2 CARACTERÍSTICAS GERAIS ........................................................................................................151 2.1 REPLICAÇÃO ................................................................................................................................155 3 DOENÇAS CAUSADAS POR VÍRUS ...........................................................................................160 LEITURA COMPLEMENTAR 1 ..........................................................................................................163 LEITURA COMPLEMENTAR 2 ..........................................................................................................165 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................166 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................167 TÓPICO 3 – PRINCIPAIS GRUPOS DE MICRORGANISMOS EUCARIONTES E PARASITAS ..................................................................................................................169 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................169 2 FUNGOS ...............................................................................................................................................169 3 ALGAS ..................................................................................................................................................180 4 PROTOZOÁRIOS ...............................................................................................................................184 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................191 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................193 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................194 IX TÓPICO 4 – METODOLOGIAS PARA O ENSINO DE MICROBIOLOGIA ...........................197 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................197 2 AULAS PRÁTICAS ............................................................................................................................198 LEITURA COMPLEMENTAR 1 ..........................................................................................................199 LEITURA COMPLEMENTAR 2 ..........................................................................................................201 LEITURA COMPLEMENTAR 3 ..........................................................................................................203 3 JOGOS DIDÁTICOS .........................................................................................................................205 4 RECURSOS AUDIOVISUAIS ..........................................................................................................206 5 SAÍDAS DE CAMPO .........................................................................................................................208 RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................209 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................210REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................211 X 1 UNIDADE 1 MICROBIOLOGIA – FUNDAMENTOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir desta unidade você será capaz de: • conhecer alguns fatos históricos que contribuíram para o reconhecimento da Microbiologia como ciência; • conhecer os princípios básicos de funcionamento dos microscópios e com- preender como a evolução desses aparelhos está relacionada ao progresso da Microbiologia; • reconhecer os principais grupos de microrganismos; • compreender como os seres microscópicos são classificados. Esta primeira unidade está dividida em três tópicos. Você encontrará, no final de cada um deles, leituras complementares e atividades que irão contribuir para a compreensão dos conteúdos explorados. TÓPICO 1 – HISTÓRIA DA MICROBIOLOGIA TÓPICO 2 – PRINCIPAIS GRUPOS DE MICRORGANISMOS TÓPICO 3 – ESTRUTURA DOS MICRORGANISMOS 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 HISTÓRIA DA MICROBIOLOGIA 1 INTRODUÇÃO Prezado acadêmico! Em sua imaginação, quando você pensa em Microbiologia, com certeza irá pensar em todos aqueles micróbios (microrganismos) que causam doenças ou em seres tão repulsivos que, de tão pequenos, são invisíveis a olho nu. Sua imaginação estará voltada também para aqueles indivíduos de roupas brancas, sentados à frente de microscópios, em seus laboratórios, pesquisando um mundo distante e pouco conhecido por você. É muito difícil para você, quando pensar em Microbiologia, fazer qualquer relação desses seres com a vida na Terra. Olhando ao seu redor, com certa atenção, você irá se deparar com um grande trabalho microbiano. A ação microbiana é intensa e de extrema importância para o ambiente e em todos os aspectos da vida humana. Seria impossível a vida na Terra sem a presença deles. Existem certas bactérias que absorvem o nitrogênio do ar, ajudando, com isso, certos tipos de plantas a crescer. Juntamente com os fungos, degradam plantas mortas, resíduos de esgotos, restos alimentares e óleos de derramamento. Muitas bactérias são utilizadas nas indústrias de alimentos, na produção de drogas úteis ao homem (antibióticos) e ao ambiente. É bom lembrar que nem sempre são nocivas, ou seja, que provocam danos ao homem, apenas uma pequena porcentagem é patogênica (causa doenças). Boa parte delas, na verdade, irá melhorar a qualidade de vida na Terra através da reciclagem da matéria, dando sustentação a muitos processos vitais que todos os organismos realizam. Podemos dizer que a Terra é o que é hoje devido à ação dos microrganismos. É por isso que o estudo da Microbiologia é importante. 2 MICROBIOLOGIA COMO UMA CIÊNCIA A origem do termo microbiologia deriva de três palavras gregas: mikros: pequeno; bios: vida e logos: ciência. Sendo assim, podemos definir Microbiologia como o estudo da vida microscópica, ou seja, há a necessidade de estudá-la com o auxílio de um microscópio. Grandes são os obstáculos que os cientistas enfrentam quando estudam a origem da vida na Terra. As transformações ocorridas na crosta terrestre fizeram com que fossem apagados todos os vestígios dos primeiros seres vivos. Para Pelczar, Chan e Krieg (1997a), as deduções feitas pelos cientistas com relação à origem dos microrganismos datam de quatro bilhões de anos atrás. Segundo os cientistas, eles teriam surgido de um material orgânico complexo em águas oceânicas ou de prováveis nuvens que circundavam nossa Terra primitiva. No mesmo raciocínio, Pelczar, Chan e Krieg (1997a) afirmam que, sendo esses os primeiros indícios de vida na Terra, os microrganismos são considerados os ancestrais de todas as outras formas de vida. UNIDADE 1 | MICROBIOLOGIA – FUNDAMENTOS 4 UNI Uma dúvida que sempre tivemos é se os micróbios são anteriores à fermentação ou resultado dela. Você já parou para pensar nisso? Vejamos, a seguir, o que Pelczar, Chan e Krieg (1997) descobriram. Segundo Pelczar, Chan e Krieg (1997a), em um momento mais adiante, os estudiosos do assunto provam que os micróbios não são o resultado, mas sim a causa dos processos fermentativos da uva para produção do vinho. Outra descoberta muito importante foi a de que apenas um tipo específico de micróbio causaria uma doença específica. Para Pelczar, Chan e Krieg (1997a), todas essas informações trouxeram a compreensão e o reconhecimento da influência crítica dessas novas formas de vida sobre a saúde e o bem-estar do homem. Outro dado importante que os microbiologistas puderam aprender durante o início do século XX foi a de observar a capacidade que os micróbios possuem de realizar uma grande variedade de reações químicas, ou seja, de possuírem a capacidade de quebrar substâncias e a de sintetizar novos compostos. Após todas essas descobertas, cria-se a expressão diversidade bioquímica como uma forma de caracterizar microrganismos. Outra observação valiosa que os microbiologistas fizeram foi quanto às reações químicas realizadas pelos microrganismos. Essas reações assemelham-se àquelas que ocorrem em formas de vida superiores. A partir de agora vamos estudar as principais teorias para explicar a origem da vida em nosso Planeta. ATENCAO Apesar dos microrganismos existirem há tanto tempo, a Microbiologia se apresenta como uma ciência extremamente jovem. Segundo Pelczar, Chan e Krieg (1997a), os pesquisadores observaram os microrganismos pela primeira vez há 300 anos. O detalhe interessante dessa descoberta é que essa informação não foi compreendida no início, pois somente 200 anos após essa descoberta é que a importância dos microrganismos foi reconhecida. As várias tentativas científicas de se conseguir maiores conhecimentos a respeito dos microrganismos contribuíram de forma intensiva para o reconhecimento da Microbiologia como ciência. Na segunda metade do século XIX houve a comprovação, por parte dos cientistas, de que os microrganismos eram originados de pais iguais a eles próprios e não de causas sobrenaturais, como se acreditava na época, e muito menos de plantas e animais em putrefação (Teoria da Abiogênese). TÓPICO 1 | HISTÓRIA DA MICROBIOLOGIA 5 3 ORIGEM DA VIDA Tentar entender de onde surgiram os seres vivos sempre ocupou a mente da maioria das pessoas e, em razão disso, diversas explicações foram construídas ao longo da história da humanidade. Filósofos gregos tentaram explicar o surgimento da vida na Terra. Entre eles está Aristóteles que, há mais de 2000 anos, já se preocupava com o problema e lançou inúmeros postulados que iriam guiar por muito tempo as diversas áreas do conhecimento. Entre as várias ideias sobre a origem da vida, uma delas ganhou destaque: a do “princípio ativo” ou “princípio vital”. IMPORTANT E Segundo Aristóteles, a existência de um “princípio ativo” era capaz de produzir matéria viva a partir de matéria bruta, desde que em condições favoráveis (UZUNIAN; PINSETA; SASSON, 1991). Em uma sequência de eventos, segundo Aristóteles, esse “princípio ativo” tinha o poder de se organizar de tal forma que acabariam por determinar o aparecimento de um ser vivo (“princípio vital”). Essa teoria conhecida por abiogênese ou geração espontânea teve ampla aceitação até há pouco mais de um século. Muitos anos depois de Aristóteles, vários cientistas famosos ainda acreditavam na geração espontânea. Para citar um caso muito interessante, no século XVII, Jean Baptiste Van Helmont, médico belga, escreveu uma receita para produzir camundongos em 21 dias a partir de uma camisa suja colocada em contato com germe de trigo. FONTE: Disponível em: <http://www.biomania.com.br/bio/conteudo.asp?cod=1225>. Acesso em: 27 nov. 2010. Não existia na época o conhecimento sobre métodos científicos. A geração espontânea para o pensamento dominante na épocaera algo tão evidente que não tinha de ser testado. UNI Para você ter uma ideia, muitos daquela época acreditavam que de cascas de árvores à beira de um lago originavam-se gansos ou que algumas árvores davam frutos que continham carneiros completamente formados dentro deles. Sapos e tartarugas surgiam a partir de fontes de água. Folhas de árvores que caíam sobre lagos originavam patos. Insetos em geral surgiam de fezes de animais ou de qualquer outro material em putrefação. UNIDADE 1 | MICROBIOLOGIA – FUNDAMENTOS 6 Com o desenvolvimento do conhecimento, vamos encontrar o início de uma investigação científica moderna sobre o problema da origem da vida nos trabalhos de Francesco Redi (1626-1697), biólogo e médico de Florença (Itália), em meados do século XVII (PELCZAR; CHAN; KRIEG, 1997a). Através de seu trabalho, deu-se início à fase de contestações sobre a abiogênese. Ficou demonstrado, pelas experiências realizadas por Redi, que a vida só podia ser originada de vida pré-existente – a biogênese. UNI Vamos estudar agora como Redi tentou derrubar a Teoria da Abiogênese através de um experimento simples. Em seu experimento, Redi colocou alguns pedaços de animais mortos em frascos de boca larga, vedando alguns deles com uma gaze bem fina e deixando outros abertos (PELCZAR; CHAN; KRIEG, 1997a). Nos frascos não cobertos pela gaze, moscas entravam e saíam livremente onde mais tarde surgiam “vermes”. Nos frascos que estavam cobertos pela gaze, que impedia a entrada das moscas, não surgiu nenhum verme, mesmo depois de alguns dias (Figura 1). IMPORTANT E Prezado acadêmico! Para enriquecer os seus estudos, no Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA), no link material de apoio, estão disponíveis todas as imagens deste Livro Didático na versão colorida. Se acaso você não conseguir visualizar, peça ajuda ao(à) seu(sua) Professor(a)-Tutor(a) Externo(a) para que faça a apresentação dessas imagens em um dos Encontros Presenciais da disciplina. FIGURA 1 – EXPERIMENTO DE REDI FONTE: Disponível em: <: http://slideplayer.com.br/slide/387135/3/ images/6/Abiog%C3%AAnese+X+Biog%C3%AAnese.jpg>. TÓPICO 1 | HISTÓRIA DA MICROBIOLOGIA 7 No experimento de Redi, que contrariava a geração espontânea, pode-se observar nos frascos tampados com gaze que nenhuma larva aparece (PELCZAR; CHAN; KRIEG, 1997a). Nos frascos abertos, onde as moscas podem entrar e colocar seus ovos sobre a carne, aparecem as larvas na carne da qual se alimentam. Poderíamos imaginar que, após esse experimento, a teoria da geração espontânea seria superada, porém ela ainda não estava derrotada. Para Black (2002), de nada adiantava demonstrar que as larvas não surgiam espontaneamente, pois havia muitos cientistas que ainda acreditavam na geração espontânea. Entre eles estava o clérigo inglês John Needhan (1713-1781) que, em 1745, montou alguns experimentos que reforçaram a ideia da origem da vida por abiogênese (PELCZAR; CHAN; KRIEG, 1997a). Nesses experimentos, ele utilizou caldos nutritivos, como caldo de galinha, carne e alguns tipos de sucos de vegetais, bem como alguns outros tipos de líquidos que continham partículas alimentares. Esses caldos foram colocados dentro de frascos e, após terem sido fervidos durante alguns minutos para destruir os microrganismos, eram imediatamente vedados com rolha de cortiça. Passados alguns dias, os caldos apresentaram-se repletos de microrganismos. Needhan argumentou que a fervura eliminaria todos os seres existentes no caldo inicial e como os frascos estavam tampados não haveria como um ser vivo penetrar através das rolhas (PELCZAR; CHAN; KRIEG, 1997a). A única explicação de Needhan para a presença de microrganismos nos frascos era que eles haviam surgido por geração espontânea (PELCZAR; CHAN; KRIEG, 1997a). Um dos maiores opositores a Needhan era o clérigo e cientista italiano Lazzaro Spallanzani (1729-1799), um fervoroso defensor da biogênese (PELCZAR; CHAN; KRIEG, 1997a). Para demonstrar a sua descrença à abiogênese e ao método empregado por Needhan, Spallanzani resolveu refazer os experimentos de Needhan e tentar, com isso, provar a biogênese (PELCZAR; CHAN; KRIEG, 1997a). Em 1769, Spallanzani preparou alguns frascos com caldo nutritivo de carne e vegetal. Esses foram vedados e, após uma hora de fervura, foram postos de lado por alguns dias. Ao analisar o material, pôde constatar a ausência total de vida em todos eles. Com isso, pôde demonstrar que Needhan não tinha aquecido os frascos suficientemente para matar todos os microrganismos neles existentes. Fica evidente que, após os líquidos terem sido aquecidos por pouco tempo, poderia ainda haver certa quantidade de microrganismos vivos que se reproduziriam logo que os frascos esfriassem. Needhan reagiu afirmando que, com a fervura do líquido em temperatura muito alta e por muito tempo, destruiria seu “princípio ativo” ou “princípio vital”, ou seja, o ar era simplesmente essencial à vida, como também para a geração espontânea dos microrganismos, e que teria sido excluído do experimento de Spallanzani (PELCZAR; CHAN; KRIEG, 1997a). Claro que não seriam apenas alguns trabalhos, mesmo tendo sido muito bem planejados, que destruiriam uma ideia sustentada já há alguns séculos. Muitos foram os cientistas que contestaram a abiogênese, porém sem muito sucesso. Em 1860, outro grande cientista, o químico e biólogo francês Louis Pasteur (1822-1895), através de uma análise longa e lógica sobre o problema da origem da vida, rejeita a teoria da geração espontânea, pois concluiu que o ar é uma UNIDADE 1 | MICROBIOLOGIA – FUNDAMENTOS 8 fonte de microrganismos (PELCZAR; CHAN; KRIEG, 1997a). As substâncias não sofreriam alterações se estivessem protegidas do contato com os microrganismos presentes no ar, no solo, nos vidros e nas mãos. Repetiu várias vezes, sob várias circunstâncias, que soluções nutritivas bem como outros tipos de materiais não geravam organismos vivos depois de terem passado por um processo cuidadoso de esterilização. Em uma das mais célebres experiências – frascos de “pescoço de cisne” (Figura 2) –, Pasteur consegue uma vitória sobre a abiogênese. FIGURA 2 – REPRESENTAÇÃO DA SEQUÊNCIA DE ETAPAS DO CÉLEBRE EXPERIMENTO REALIZADO POR PASTEUR Caldo vertido no frasco Pó e micróbios retidos Pescoço do balão curvado com fogo Frasco vertical. Caldo permanece sem micróbios Caldo contaminado com micróbios Frasco inclinado Caldo fervido FONTE: Disponível em:<http://www.sobiologia.com.br/figuras/Corpo/Pasteur. png>. Acesso em: 16 set. 2010. A experiência consistia em diversos caldos nutritivos que eram colocados em frascos de vidro. Em alguns deles, aquecia-se o gargalo até que se tornassem maleáveis a ponto de poderem ser curvados, obtendo frascos com o formato de um pescoço de cisne. Em outras bancadas, ele mantinha os frascos com o gargalo curto e reto. Após esse procedimento, ele fervia durante alguns minutos os caldos nutritivos. Em alguns dias, podia-se notar que nos frascos de pescoço reto havia uma rápida contaminação do caldo nutritivo, porém não constatou a contaminação no caldo nutritivo nos frascos de pescoço de cisne, mesmo depois de alguns meses. Essas experiências refutaram definitivamente a teoria da geração espontânea. Pasteur identificou os microrganismos causadores de doenças e também os que são utilizados na produção de vinho. ATENCAO TÓPICO 1 | HISTÓRIA DA MICROBIOLOGIA 9 3.1 MICROSCÓPIO Para Pelczar, Chan e Krieg (1997a), nem sempre as grandes descobertas são feitas por cientistas profissionais, e sim, por cientistas amadores. A Microbiologia, como qualquer outra ciência, envolve um processo de interação de ideias e instrumentos. Novos instrumentos nos permitem melhores observações, que, por sua vez, servem de base para difundir um maior número de grandesideias. O século XVII foi marcado pelo desenvolvimento de uma atitude diferente perante a pesquisa livre. Com essa nova atitude, inúmeros instrumentos foram aperfeiçoados, entre os quais as lentes, que irão, sem dúvida, contribuir para facilitar as investigações científicas. UNI Prezado acadêmico! Vamos conhecer agora como foi a construção do microscópio para a visualização dos microrganismos, pois na época, sabia-se que existiam, mas nunca tinham sido observados. Passados alguns anos após as experiências de Francesco Redi, Antony van Leeuwenhoek (1632-1723), um dos fundadores da Microbiologia, que viveu em Delft, Holanda, com pouca formação científica, porém muito familiarizado com o uso de lentes de aumento, aperfeiçoa o microscópio (PELCZAR; CHAN; KRIEG, 1997a). Através das lentes desse instrumento, passa a examinar uma grande variedade de microrganismos, cuja existência era, até então, ignorada. É muito provável que tenha sido ele o primeiro a visualizar microrganismos individualmente. Na próxima figura, visualizaremos o microscópio construído por Leeuwenhoek. O interessante é que para cada espécime tinha que construir um novo microscópio, deixando junto ao microscópio o espécime anterior estudado. ATENCAO UNIDADE 1 | MICROBIOLOGIA – FUNDAMENTOS 10 FIGURA 3 – MICROSCÓPIO DE LEEUWENHOEK suporte do material material biológico parafuso de regulagem placa de metal placa de metal lente FONTE: Disponível em: <http://www.feiradeciencias.com.br/sala09/image09/09_ 26_02.gif>. Acesso em: 16 set. 2010. Era o ano de 1674 quando Leeuwenhoek apresentou a sua invenção (PELCZAR; CHAN; KRIEG, 1997a). O microscópio construído era simples e dotado de apenas uma lente de vidro, com capacidade de aumento dos objetos de 100 a 300 vezes. Para Black (2002, p. 46), “apesar de serem constituídos de uma única lente fina cuidadosamente assentada, eles tinham de fato lentes de aumento bastante poderosas”. A maior dificuldade nesses microscópios era a focalização dos espécimes. Ainda hoje pouco se sabe sobre os métodos de iluminação utilizados por Leeuwenhoek. Para Black (2002, p. 46), “[...] é provável que ele tenha usado iluminação indireta, sendo a luz refletida pelo lado de fora dos espécimes, e não passando através deles”. Segundo Pelczar, Chan e Krieg (1997a), entre as várias observações feitas, sendo todas anotadas cuidadosamente por Leeuwenhoek, bem como as várias cartas que eram enviadas à Sociedade Real Inglesa, ele descreveu, numa dessas cartas enviadas, o que chamou de “pequeninos animálculos”, que hoje conhecemos como protozoários de vida livre. Em outra carta muito interessante, ele descreve, pela primeira vez, um grupo de microrganismos conhecidos hoje por nós como bactérias. É bom saber que essa visualização tinha poucos detalhes da estrutura das bactérias. Para uma melhor visualização, havia a necessidade do desenvolvimento de microscópios mais complexos. Na figura a seguir, visualizaremos os desenhos feitos por Leeuwenhoek das suas observações vistas naquele microscópio rudimentar. ATENCAO TÓPICO 1 | HISTÓRIA DA MICROBIOLOGIA 11 FIGURA 4 – DESENHOS DE LEEUWENHOEK. BACTÉRIAS, ALGUMAS COM MOTILIDADE (C PARA D) FONTE: Disponível em:<http://www.scielo.br/img/revistas/hcsm/v5n2/ v5n2a7f3.jpg>. Acesso em: 16 set. 2010. Todas essas descobertas trouxeram grandes estímulos para os cientistas da época. Entre eles está o físico Robert Hooke (1635-1703), encarregado pelos cientistas ingleses de compor um novo aparelho, bem mais poderoso do que o apresentado por Leeuwenhoek (PELCZAR; CHAN; KRIEG, 1997a). O modelo desenvolvido por Hooke era o de um microscópio de duas lentes ajustadas a um tubo de metal, semelhante ao inventado por Zacharias Jansen, que, segundo alguns autores, seria dele a invenção do microscópio por volta de 1590. Para Pelczar, Chan e Krieg (1997a), Leeuewenhoek foi quem primeiro empregou um microscópio na investigação da natureza. O microscópio apresentado por Hooke ficou conhecido como microscópio composto (Figura 5), pelo fato de ser constituído por duas lentes, enquanto que o microscópio de Leeuwenhoek, que era constituído por uma única lente, é considerado um microscópio simples. FIGURA 5 – MICROSCÓPIO COMPOSTO DE HOOKE FONTE: Disponível em: <http://2.bp.blogspot.com/_CXhfB_PPfWY/ SbregBpxGVI/AAAAAAAAADg/xuZIUDC02mE/s320/microscopio. bmp>. Acesso em: 16 set. 2010. UNIDADE 1 | MICROBIOLOGIA – FUNDAMENTOS 12 3.2 A DESCOBERTA DA CÉLULA Robert Hooke fez a apresentação de seu microscópio à comunidade científica londrina em abril de 1663. Escolheu alguns materiais para essa demonstração, sendo que o que traria mais destaque seriam as fatias finas de cortiça. Ao observá-las no microscópio, reparou que eram constituídas por cavidades e as comparou aos quartos de um convento (Figura 6). Esses quartos eram como celas e, mais tarde, denominou-as células (sendo que em inglês seria cells – pequenas celas ou caixinhas). A derivação do termo “célula” vem do latim cellula, que nada mais é que o diminutivo de cella, cujo significado é “um pequeno compartimento”. Hoje temos o conhecimento que esses minúsculos espaços vazios eram ocupados anteriormente por células vivas. Na verdade, o que foi observado por Hooke eram as paredes celulares, cuja função é a de separar as células de uma planta. Com a morte da planta, essas paredes não se decompõem como o resto. NOTA A parede celular só é encontrada em células vegetais. Você estudou na Unidade 2, Tópico 1, do Livro Didático de Citologia, as características e funções da parede celular. Na figura a seguir, você verá apenas a parede celular das células de cortiça. FIGURA 6 – CORTIÇA OBSERVADA POR HOOKE FONTE: Disponível em: <https://img.haikudeck.com/mg/z1nRn6AlZQ _1444878487396.jpg>. TÓPICO 1 | HISTÓRIA DA MICROBIOLOGIA 13 NOTA A cortiça utilizada para a fabricação das rolhas é a camada formada como um envoltório suberoso no tronco da árvore. Esse envoltório, que ganha grossura a cada ano, é retirado após 9-12 ou 15 anos, quando possui uma largura de aproximadamente 30 mm. Essa casca é secada e cortada em pedaços de aproximadamente 40-50 mm, conforme o comprimento da futura rolha. FONTE: Disponível em: <http://www.enologia.org.br/conteudo.asp?id_artigo=186&id_categoria=4&sT] ipo=artigo&sSecao=curiosidades&sSubSecao=&bSubMenu=1&sParamMenu=>. Acesso em: 19 set. 2010. Dando prosseguimento aos seus estudos na área de microscopia, Hooke obteve um vasto material microscópico, a ponto de poder lançar um livro voltado à área. Boa parte dos pesquisadores da época, além, é claro, do próprio Hooke, passaram a observar as partes vivas de plantas e notaram a existência de células muito semelhantes às da cortiça. A única diferença que foi observada pelos cientistas era que o espaço interno das células vivas era preenchido por uma substância gelatinosa. Inúmeras pesquisas foram realizadas e as observações feitas não ficavam somente nas células vegetais, eram observadas também células animais. Com isso, o termo célula passou a denominar o conteúdo dessas caixinhas microscópicas que formam o corpo das plantas e dos animais. Passaram-se dois séculos desde as primeiras observações feitas por Hooke até a descoberta de que todos os seres vivos são constituídos por células, a chamada Teoria celular. IMPORTANT E Caro acadêmico! Você reparou que muitos assuntos tratados neste Caderno já foram estudados na disciplina de Citologia? Pois bem, é importante relembrar alguns tópicos para darmos continuidade aos estudos. Em 1839, dois cientistas alemães, Mathias Shleiden (1804-1881) e Theodor Schwann (1810-1882), após discutirem as suas ideias sobre a organização dos seres vivos, chegaram à conclusão de que “todos os seres vivos são compostos de células” (PELCZAR; CHAN; KRIEG, 1997a). Essa conclusãoaconteceu porque os dois cientistas, que trabalhavam em diferentes campos de pesquisa (Shleiden dedicava-se à fisiologia das plantas e Schwann à anatomia dos animais), compararam as suas observações e não tiveram dúvidas: todas as estruturas minúsculas que apareciam nas folhas, nos caules e nas flores das plantas, bem como no fígado, ossos e na pele dos animais, enfim, em todos os organismos vivos estudados, eram a mesma unidade minúscula que constituía a vida. UNIDADE 1 | MICROBIOLOGIA – FUNDAMENTOS 14 IMPORTANT E Essas células tinham a aparência de minúsculos aglomerados com um material semitransparente, que era delimitado por uma membrana e todas elas com uma estrutura central. Algumas décadas mais tarde, outra hipótese foi apresentada com as observações feitas pelo cientista alemão Rudolpho Virchow (1821-1902). Ele demonstrou que as células do corpo não surgiam da matéria inanimada por geração espontânea, ou seja, cada célula nascia de outra célula que havia se reproduzido. A existência de uma célula só era possível porque já havia existido outra, a célula-mãe, que lhe dera origem. Assim, cada animal é gerado por outro animal ou uma planta por outra planta. Em 1855, Virchow, com uma célebre frase em latim, fez uma síntese de seu pensamento: “Omnis cellula ex cellula”, cujo significado é “toda célula se origina de outra célula”. (FERREIRA, 2003). Através das observações microscópicas das divisões celulares, toda a ideia de que as células podiam ter a sua origem de forma espontânea foi perdendo credibilidade por completo. Várias observações e novas descobertas foram sendo feitas na área celular. Uma delas se deu em 1878, quando o alemão Walther Flemming (1843-1905) colocou um ponto final na ideia do surgimento espontâneo de células. Ele descreveu, de forma detalhada, o processo de divisão de uma célula em duas, processo que ele denominou mitose. NOTA Caro Acadêmico! No Livro Didático de Citologia, Unidade 3, Tópico 1, você estudou os processos de divisão celular conhecidos por mitose e meiose. Vale a pena voltar naqueles estudos e relembrar esses processos. 3.3 CARACTERÍSTICAS DAS CÉLULAS PROCARIÓTICAS E EUCARIÓTICAS Segundo Black (2002, p. 68), “todas as células vivas podem ser classificadas como procarióticas, das palavras gregas pro (antes) e karyon (núcleo), ou eucarióticas, de eu (verdadeiro) e karyon (núcleo)”. Podemos dizer então que células procarióticas (os organismos que as possuem recebem o nome de seres procariontes) (Figura 7) são as que não possuem núcleo e nenhuma estrutura contida em membrana; e as células eucarióticas (os organismos que as possuem TÓPICO 1 | HISTÓRIA DA MICROBIOLOGIA 15 FIGURA 7 – CÉLULA PROCARIÓTICA DE BACTÉRIA FONTE: Disponível em: <http://www.cynara.com.br/citologia/img/ procariotica.jpg>. Acesso em: 16 set. 2010. fímbrias membrana plasmática flagelo DNA em nucleóide camada externa parede celularcamada de peptidoglucano cápsula recebem o nome de seres eucariontes) (Figura 8) são as que possuem núcleo, bem como todas as outras estruturas membranosas, tais como: retículo endoplasmático liso e rugoso, complexo golgiense, lisossomos, mitocôndrias etc. FIGURA 8 – CÉLULA EUCARIÓTICA ANIMAL Cromatina NúcleoMembrana nuclear Retículo Endoplásmatico (RE) RE Rugoso RE Liso Centrossoma Peroxissoma Microvilosidade Citosqueleto Microfilamentos Filamentos intermédios Membrana plasmática Membrana plasmática Ribossoma Complexo de Golgi Mitocôndria LisossomaMicrotúbulos Flagelo Nucléolo FONTE: Disponível em: <http://esmmbg.no.sapo.pt/celulanimal3.jpg>. Acesso em: 16 set. 2010. UNIDADE 1 | MICROBIOLOGIA – FUNDAMENTOS 16 No grupo dos seres procariontes estão as bactérias, que são seres unicelulares e que iremos estudar com mais profundidade. Já o representante dos grupos dos eucariontes são todos os vegetais, animais, fungos e protistas (Amoebas, Paramecium etc.). Podemos dizer que tanto as células procarióticas como as eucarióticas são semelhantes em vários aspectos e que compartilham, assim, de algumas características. Entre elas, está a presença da membrana plasmática, cuja função é a de isolar a célula do ambiente externo, bem como controlar a passagem de substâncias. A outra característica é a presença do citoplasma, que é constituído por um líquido gelatinoso também chamado de citosol, além de outras substâncias altamente necessárias às funções vitais (processos metabólicos) da célula. Por último, as células apresentam material genético (DNA), que codificam informações genéticas, ou seja, essas informações estão inscritas em código que controlam todo o funcionamento das células. No que se refere à organização celular, as células procarióticas são extremamente simples, chegando a ser comparadas aos primeiros organismos vivos que habitaram a Terra há mais de três bilhões de anos. Existem muitas contradições quanto à classificação das bactérias, o que é muito normal na pesquisa científica. São os organismos mais abundantes do planeta, tanto em número como em espécies. Os tamanhos das células procarióticas estão entre os menores organismos, a maioria deles medindo de 0,2 a 2,0 μm de diâmetro, sendo que o seu comprimento vai de 2 a 8 μm. NOTA Um micrômetro ou mícron, cujo símbolo é μm, é uma unidade do Sistema Internacional de Unidades de comprimento. Está definido como um milionésimo de metro (ou 1 × 10-6 m). Equivale à milésima parte do milímetro. A letra μ é a décima segunda letra do alfabeto grego. Para dimensões ainda menores, utiliza-se o nanômetro (nm) que corresponde a um milésimo do micrômetro (10-3cm, ou 10-6mm, ou 10-9m). O ângstrom (A) utilizado por físicos e químicos é 10 vezes menor que o nanômetro. Com relação ao seu tamanho, as células bacterianas apresentam três formas básicas: forma esférica (cocos), bastonete (bacilos) e forma espiralada (espirilos) (Figura 9). FIGURA 9 – FORMAS MAIS COMUNS DE BACTÉRIAS Cocos Bacilos Espirilos FONTE: Disponível em: <http://www.enq.ufsc.br/labs/probio/disc_eng_bioq/ trabalhos_pos2003/const_microorg/bact.gif>. Acesso em: 16 set. 2010. TÓPICO 1 | HISTÓRIA DA MICROBIOLOGIA 17 Entretanto, podem ocorrer muitas variações. Segundo Black (2002, p. 70), “algumas bactérias, chamadas cocobacilos, são pequenos bastonetes com tamanho intermediário entre cocos e bacilos. As bactérias espirais têm uma variedade de formas curvas. Uma bactéria em forma de vírgula é chamada vibrião”. Outras bactérias com um formato em espiral são chamadas de espiroquetas. As formas bacterianas são muito variáveis, mesmo pertencendo à mesma categoria. Essas variações acontecem tanto na forma como no tamanho. Geralmente, quando há abundância de nutrientes no meio, as divisões celulares acontecem de forma muito rápida, fazendo com que o tamanho das bactérias seja maior do que aquelas que estão em meios com pouco nutriente. Existem algumas espécies de bactérias que apresentam flagelos bacterianos, que são filamentos longos da superfície celular, cuja função é gerar movimento à bactéria. Esse movimento acontece graças a uma estrutura semelhante a um “motor” microscópico situado na parede e na membrana plasmática. Ao observarmos por meio de um microscópio as células bacterianas, iremos notá-las agrupadas com certa frequência, ou seja, ligadas umas às outras. Para Pelczar, Chan e Krieg (1997a), as células bacterianas com formatos espiralados aparecem como células únicas, sendo que muitas outras espécies de bactérias têm um arranjo e padrões característicos de crescimento. Isso pode ser utilizado para a identificação, pois cada um desses arranjos é típico para uma espécie particular. Um exemplo citado por Pelczar, Chan e Krieg (1997a) é a divisão do coco (Figura 10) dentro de um plano e que irá formar um diplococo, ou seja, duas célulasligadas. Isso é interessante, pois caracteriza as espécies, bem como o seu agente etiológico (aquele que causa uma determinada moléstia). A divisão em planos pode produzir células aos pares, bem como em cadeias, arranjo chamado de estreptococos. Quando a célula se divide em dois planos, ela produz uma tétrade, que nada mais é do que quatro células dispostas em forma de um quadrado. Outro arranjo é a sarcina, que é produzida através da divisão em três planos, o que resulta em pacotes cúbicos de oito células. Outra forma muito interessante é quando ocorre uma divisão em três planos, porém em um plano irregular. O resultado é um agrupamento em forma de cachos de uva. Pelczar, Chan e Krieg (1997a) lembram que muito raramente todas as células de uma determinada espécie estão arranjadas exatamente no mesmo padrão. Para o estudo das bactérias, o que se deve levar em conta, ainda segundo os autores, o mais importante, sem dúvida, é o arranjo predominante. FIGURA 10 – COCOS Forma esférica: Coco Divisão ao longo do mesmo plano, formando cadeias curtas Divisão ao longo de dois planos diferentes: Tétrades Divisão ao longo de 3 planos 2 cocos: Diplococos 4-20 cocos juntos: Estreptococos Regulamente: Sarcinas Irregularmente: Estafilococos FONTE: Disponível em: <http://html.rincondelvago.com/bacterias_6.html>. Acesso em: 16 set. 2010. UNIDADE 1 | MICROBIOLOGIA – FUNDAMENTOS 18 Bem diferente dos cocos são os bacilos (Figura 11). Eles se dividem em apenas um plano, formando arranjos em uma grande variedade de padrões característicos, porém com algumas exceções. Eles podem produzir células unidas pelas extremidades ou simplesmente lado a lado. FIGURA 11 – BACILOS Forma de bastonete: Bacilos Dois bacilos juntos: Diplobacilos Cadeias de Bacilos: Estreptobacilos Emparelhados, Bacilos todo a lado ou em figuras X, V ou Y FONTE: Disponível em: < http://html.rincondelvago.com/bacterias_6.html>. Acesso em: 16 set. 2010. As células bacterianas em forma de espirais (Figura 12) geralmente não estão agrupadas. FIGURA 12 – ESPIRILOS Formal espiral rígida: Espirilo Se a espiral é flexível e ondulada: Espiroqueta FONTE: Disponível em: <http://html.rincondelvago.com/bacterias_6.html>. Acesso em: 16 set. 2010. Para Pelczar, Chan e Krieg (1997, p. 103), “[...] o tamanho, a forma e o arranjo das bactérias constituem sua morfologia grosseira, sua aparência ‘externa’. Mas uma observação interna das estruturas celulares individuais dá-nos uma ideia de como uma bactéria funciona no seu ambiente”. Técnicas microscópicas revelaram a existência na célula bacteriana de uma diversidade estrutural (interna e externa) que funciona de forma conjunta. Estruturalmente, a célula bacteriana está composta da seguinte forma: Membrana celular (membrana plasmática), geralmente envolvida pela parede celular e por uma camada externa adicional. É bom lembrar que a membrana celular é comum a todas as células e é por isso que a estrutura das membranas celulares bacterianas é a mesma que as de outras células. Tem como principal função regular a entrada e a saída de materiais da célula bacteriana. Pode exercer outras funções como a síntese de alguns componentes da parede celular, secreção de enzimas e possuir áreas com apêndices – os flagelos – cuja ação dessas áreas irá induzir o movimento flagelar. A parede celular bacteriana é composta por um polímero chamado peptidoglicano, sendo que, às vezes, ela está envolvida por uma camada exterior (essa membrana externa está ligada por uma camada contínua lipoproteica – proteína + lipídio). TÓPICO 1 | HISTÓRIA DA MICROBIOLOGIA 19 NOTA Peptidoglicano, conhecido como mureína, é um polímero formado por açúcares e aminoácidos que forma uma camada do lado de fora da membrana plasmática da bactéria. O citosol, um líquido viscoso e semitransparente, é composto por milhares de tipos de proteínas, além de aminoácidos, bases nitrogenadas, vitaminas, glicídios, lipídios e por 80% de água. Boa parte do metabolismo (reações químicas) ocorre no citoplasma. Quanto ao citoplasma dos eucariontes, Black (2002) afirma que existe uma diferença em relação ao citoplasma das células procarióticas. Segundo ele, as células procarióticas não realizam a ciclose – movimento de circulação promovido pelo citoplasma. Vamos encontrar também milhares de ribossomos (menores em relação aos das células eucarióticas), cuja função é a de sintetizar proteínas. Sabemos que uma das principais diferenças entre uma célula procariótica e uma célula eucariótica é a ausência de uma membrana nuclear na célula procariótica. O que as bactérias possuem, na realidade, é uma região nuclear chamada de nucleoide, uma área do citoplasma que corresponde ao núcleo das células eucarióticas, porém desprovida de uma membrana. Essa região é constituída principalmente por DNA e por algum RNA, com proteínas associadas. O DNA está arranjado em um longo cromossomo (cromossomo bacteriano), dando-lhe um formato circular. A célula procariótica pode conter ainda pequenas moléculas de DNA circular – plasmídios (Figura 13), que têm informações genéticas que suplementam as informações no cromossomo. FIGURA 13 – DESENHO ESQUEMÁTICO DE UMA CÉLULA BACTERIANA – PLASMÍDIO FONTE: Disponível em: <http://www.vestibulandoweb.com.br/biologia/monera-q11. jpg>. Acesso em: 18 set. 2010. Flagelo Nucleóide Plasmídeos Parede celular Membrana plasmática Citoplasma MesossomoRibossomos Cápsula Fímbrias DNA associado ao mesossomo Enzimas relacionadas com a respiração, ligadas à face interna da membrana plasmática UNIDADE 1 | MICROBIOLOGIA – FUNDAMENTOS 20 IMPORTANT E Os plasmídios são muito utilizados na biotecnologia como vetores de clonagem. “O sucesso da transgenia depende de que a inserção de um gene clonado em um embrião hospedeiro integre-se e se replique nas sucessivas divisões celulares e passe a ser reconhecido e regulado pelas células hospedeiras”. (GAIESKY, 2001, p. 28). ESTUDOS FU TUROS Caro acadêmico! Biotecnologia e suas aplicações serão detalhadamente estudadas na Unidade 2, Tópico 3, deste Livro Didático. Constituídos de ácido ribonucleico e proteínas, os ribossomos são extremamente abundantes nas células procarióticas. Esses ribossomos são diferentes quando comparamos com os das células eucarióticas. Os ribossomos das células procarióticas são menores e apresentam proteínas diferentes em sua constituição. A função dos ribossomos é a de sintetizar as proteínas necessárias para a célula. Sua forma é quase esférica. Existem outros sistemas de membranas internas que são, muitas vezes, citados como cromatóforos e encontrados nas bactérias fotossintetizantes e nas cianobactérias. Esses sistemas de membranas dos cromatóforos possuem sua origem nas membranas celulares. A função desses cromatóforos, para essas bactérias, é a de capturar energia luminosa, pois esses sistemas possuem, em seu interior, pigmentos para fotossíntese. No citoplasma das bactérias, vamos encontrar ainda uma diversidade de corpúsculos chamados de inclusões. Alguns desses são chamados de grânulos e outros de vesículas. Os grânulos não são limitados por membranas e possuem conteúdos variados. Esses conteúdos são densos e compactados e não se dissolvem no citoplasma. Não são todas as bactérias que apresentam vesículas, que são estruturas especializadas envoltas por membrana. Os microrganismos procarióticos (bactérias) formam, quando o meio não lhes é favorável para a sua sobrevivência, geralmente pelo esgotamento de algum nutriente ou pela alteração de temperatura, perda de água para o meio, esporos ou endósporos (Figura14) e cistos. Essas formas são denominadas latência (latentes), na qual estão metabolicamente inativos, ou seja, não estão crescendo. Quando o meio ambiente estiver em condições propícias,eles se tornam metabolicamente ativos, podendo germinar (crescer e se multiplicar). O endósporo, segundo Black (2002), é formado dentro das células e com uma quantidade muito pequena de água, possui uma resistência grande ao calor, às soluções ácidas e alcalinas, à desidratação, bem como a certos desinfetantes e até mesmo às radiações. TÓPICO 1 | HISTÓRIA DA MICROBIOLOGIA 21 FIGURA 14 – ENDÓSPORO FONTE: Disponível em: <http://curlygirl.no.sapo.pt/imagens/ endosporo.jpg>. Acesso em: 16 set. 2010. O álcool que compramos em supermercados é muito concentrado (92,8%) para realizar desinfecções. Por ele volatilizar muito rápido, não dá tempo para que ele penetre na parede celular dos microrganismos, dando tempo para eles modificarem sua parede celular e se tornarem resistentes. Para isso, recomenda-se diluir o álcool em água para que demore mais a volatilizar, dando tempo para penetrar na parede celular dos microrganismos, matando-os.a ATENCAO DICAS Podemos transformar o álcool comprado em supermercados em um excelente desinfetante. Para produzirmos 1 litro de álcool 70%, que é o ideal para a eliminação dos microrganismos, basta retirar 250 ml de álcool do frasco e completá-lo com água. Pronto, você já pode começar a sua limpeza! Externamente, muitas bactérias (cerca de metade delas) apresentam estruturas móveis, os flagelos. A função principal dos flagelos é a locomoção das bactérias. Essa locomoção, muitas vezes, se dá por um processo não aleatório chamado de quimiotaxia (movimento que as bactérias fazem em direção a favor ou em direção contrária a substâncias em seu meio). Os flagelos são apêndices longos, delgados e helicoidais de composição proteica (subunidades de proteínas chamadas flagelina), que estão ligados à parede e às membranas celulares. Eles são estruturalmente diferentes dos flagelos eucarióticos. As bactérias podem apresentar apenas um, dois ou mais flagelos. De acordo com o número de flagelos, elas recebem denominações diferentes (Figura 15). Bactérias com apenas um flagelo polar em uma extremidade ou polo – monotríquias; com dois flagelos, um em cada extremidade – anfitríquias; com dois ou mais flagelos em uma ou ambas as extremidades – lofotríquias; bactérias com flagelos em toda a superfície são denominadas peritríquias. UNIDADE 1 | MICROBIOLOGIA – FUNDAMENTOS 22 FIGURA 15 – CLASSIFICAÇÃO QUANTO AO NÚMERO DE FLAGELOS. A – MONOTRÍQUIA. B – LOFOTRÍQUIA. C – ANFITRÍQUIA. D – PERITRÍQUIA FONTE: Disponível em: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/ commons/0/08/Flagella.png>. Acesso em: 16 set. 2010. Como vimos anteriormente, as bactérias apresentam apêndices locomotores, porém algumas, em especial as Gram-negativas, possuem outros tipos de apêndices - os pili (pelos) (Figura 16), que não estão relacionados com o movimento. Tais estruturas são prolongamentos ocos, pequenos e bem mais numerosos que os flagelos, cuja função é a de fixar as bactérias às superfícies. É constituído por subunidades (pillus) de uma proteína denominada pilina. Segundo Black (2002, p.82), “as bactérias podem ter dois tipos de pili: (1) pili de conjugação, longos, ou pili F, também chamados pili sexuais e (2) pili de ligação, curtos, ou fímbrias”. FIGURA16 – MICROGRAFIA ELETRÔNICA ONDE APARECE O PILI E O FLAGELO FONTE: Disponível em: <http://recursos.cnice.mec.es/biosfera/alumno/2bachil lerato/micro/imagenes/flagelopili.jpg>. Acesso em: 16 set. 2010. TÓPICO 1 | HISTÓRIA DA MICROBIOLOGIA 23 De uma forma geral, as células eucarióticas são bem maiores e com uma grande complexidade em relação às células procarióticas. Boa parte das células eucarióticas possui um diâmetro maior que 10 μm, sendo que algumas podem atingir diâmetros ainda maiores. Outra particularidade das células eucarióticas é a sua grande variedade de estruturas altamente diferenciadas. Para Carneiro e Junqueira (2000), uma das grandes características das células eucarióticas está na sua riqueza de membranas, que formam compartimentos que separam os diversos processos metabólicos. Tudo isso graças às diferenças enzimáticas entre as membranas dos vários compartimentos, bem como ao direcionamento das moléculas absorvidas. Essas e tantas outras características conferem às células eucarióticas um aumento na eficiência e, além disso, promovem uma separação das atividades, que permite um aumento no seu tamanho, sem qualquer prejuízo de suas funções. Na Unidade 2 do Livro Didático de Citologia, você estudou as organelas que compõem a célula e suas funções. Vale a pena relembrar para darmos continuidade aos nossos estudos. ATENCAO As células eucarióticas são as unidades estruturais básicas de todos os organismos dos reinos Protista (protozoários), Fungi (fungos), Plantae (Vegetais) e Animallia (Animais). Vale lembrar que os protozoários, fungos microscópicos e as algas microscópicas estão incluídos como seres eucariontes e, por isso, são estudados em Microbiologia. Caro acadêmico! Na leitura que segue encontram-se algumas palavras que são usadas na linguagem de Portugal. Procuramos ser fiéis às fontes consultadas. ATENCAO UNIDADE 1 | MICROBIOLOGIA – FUNDAMENTOS 24 EVOLUÇÃO DOS PROCARIONTES EM EUCARIONTES Actualmente, a maioria dos biólogos considera que todos os seres vivos conhecidos na Terra podem ser divididos em dois grandes grupos: os seres procariontes e os seres eucariontes. O principal critério de distinção entre estes grupos é a sua organização celular. Ao longo de vários milhões de anos, os seres procariontes habitaram ambientes aquáticos e foram- se diversificando. Alguns desses seres unicelulares desenvolveram um processo metabólico que conduzia à libertação de oxigênio – a fotossíntese. O surgimento do oxigênio na atmosfera teve um grande impacto na vida dos procariontes. Desta forma, muitos grupos de procariontes foram extintos, envenenados pelo oxigênio. Contudo, alguns conseguiram sobreviver em ambientes que permaneciam anaeróbios. Entre os sobreviventes, houve um grupo, que à semelhança das actuais mitocôndrias, era capaz de aproveitar este gás para oxidar os compostos orgânicos, obtendo assim uma grande quantidade de energia. Alguns grupos de procariontes evoluíram e aumentaram a sua complexidade, tendo, muito provavelmente, estado na origem dos organismos eucariontes. Fundamentalmente, existem duas hipóteses que tentam explicar a origem dos seres eucariontes a partir dos procariontes: Hipótese Autogênica, os seres eucariontes são o resultado de uma evolução gradual dos seres procariontes. Numa fase inicial, as células desenvolveram sistemas endomembranares resultantes de invaginações da membrana plasmática. Algumas dessas invaginações armazenavam o DNA, formando um núcleo. Outras membranas evoluíram no sentido de produzir organelas semelhantes ao retículo endoplasmático. LEITURA COMPLEMENTAR procarionte procarionte fotossintéticos de vida livre procariontes aeróbicos de vida livre procarionte simbiótico procariontes simbióticos núcleo núcleo bactéria torna-se mitocôndria Célula animal Célula vegetal mitocôndria mitocôndria bactéria torna-se cloroplasto cloroplasto TÓPICO 1 | HISTÓRIA DA MICROBIOLOGIA 25 Posteriormente, algumas porções do material genético abandonaram o núcleo e evoluíram sozinhas no interior de estruturas membranares. Desta forma, formaram-se organelas como as mitocôndrias e os cloroplastos. A B C D Hipótese Endossimbiótica: Esta hipótese defende que os seres eucariontes terão resultado da evolução conjunta de vários organismos procariontes, os quais foram estabelecendo associações simbióticas entre si. O termo endossimbiótica resulta do facto de algumas células viverem no interior de outras, numa relação de simbiose. Embora este modelo admita que os sistemas endomembranarese o núcleo tenham resultado de invaginações da membrana plasmática, as mitocôndrias e os cloroplastos seriam organismos autônomos. Nessa altura, algumas células de maiores dimensões (células hospedeiras) terão capturado células menores, como as ancestrais das mitocôndrias e dos cloroplastos. Alguns destes ancestrais conseguiam sobreviver no interior da célula procariótica de maiores dimensões, estabelecendo-se relações de simbiose. A íntima cooperação entre estas células conduziu ao estabelecimento de uma relação simbiótica estável e permanente. A evolução conjunta destes organismos terá levado ao surgimento das células eucarióticas constituídas por várias organelas, algumas das quais foram, em tempos, organismos autônomos. Assim, as primeiras relações endossimbióticas terão sido estabelecidas com os ancestrais das mitocôndrias. Os ancestrais das mitocôndrias seriam organismos que tinham desenvolvido a capacidade de produzir energia, de forma muito rentável, utilizando o oxigênio no processo de degradação de compostos orgânicos. Modelo endossimbiótico Procarionte heterotrófico aeróbico Procarionte fotossintético Mitocôndria Cloroplasto Mitocôndria Célula hospedeira ancestral Célula eucariótica fotossintética FONTE: Disponível em: <https://biomania.com.br/artigo/unicelularidade-e-pluricelularidade> Acesso em: 22 mar. 2018. UNIDADE 1 | MICROBIOLOGIA – FUNDAMENTOS 26 Por outro lado, outro grupo de procariontes, semelhante às actuais cianobactérias, tinha desenvolvido a capacidade de produzir compostos orgânicos utilizando a energia luminosa. A associação das células procarióticas de maiores dimensões com estes seres, ancestrais dos cloroplastos, conferia-lhe vantagens evidentes. Mas nem todas as células eucarióticas possuem cloroplastos. Este facto é explicado, segundo a Hipótese Endossimbiótica, pelo estabelecimento de relações simbióticas de forma sequencial. Isto é, as primeiras relações endossimbióticas terão sido estabelecidas com os ancestrais das mitocôndrias e, só posteriormente, algumas dessas células terão estabelecido relações de simbiose com os ancestrais dos cloroplastos. FONTE: Disponível em:<http://bio-portefolio.blogspot.com/2008/12/evoluo-dos-procariontes- em-eucariontes.html>. Acesso: em 18 set. 2010. 27 Neste tópico você estudou que: • Os microrganismos fazem parte do nosso meio ambiente, sendo então, muito importantes para a saúde e para as nossas atividades. • Estudar os microrganismos nos dá uma visão dos processos vitais em praticamente todas as formas de vida. • Durante as últimas décadas, os microrganismos surgiram como parte principal das ciências biológicas, devido à sua relativa simplicidade na realização de experimentos. • Os microrganismos emergiram como uma nova fonte de produtos e processos para o benefício do homem. • Para que a microbiologia pudesse progredir, várias teorias tiveram que ser refutadas, entre elas a da geração espontânea (abiogênese). • Redi e Spallanzani (biogenistas) demonstraram que os organismos não cresciam da matéria morta. • A derrubada da geração espontânea (abiogênese) se deu por intermédio de Pasteur, com seus frascos com “pescoço de cisne”. • Leeuwenhoek desenvolveu o microscópio, que tornou possível a visualização do mundo microscópico. • Robert Hooke, com o seu microscópio composto, visualiza fatias finas de cortiça, com pequenos compartimentos - celas - que denominou células. • As células procarióticas, bem como as eucarióticas, possuem membranas que definem as fronteiras da célula viva. Ambas com informações genéticas que estão armazenadas no DNA. • Células procarióticas diferenciam-se das eucarióticas por não possuírem núcleo definido e muito menos organelas. • Os seres procariontes (bactérias) são os menores organismos vivos. • As bactérias podem apresentar forma de cocos, bacilos, espirilos, espiroquetas, incluindo arranjos aos pares, tétrades em forma de cacho de uvas e em cadeias longas. RESUMO DO TÓPICO 1 28 • As células bacterianas possuem uma membrana celular, citoplasma, ribossomos, região nuclear, bem como estruturas externas. • Células eucarióticas são bem maiores e muito mais complexas do que as células procarióticas, sendo as unidades básicas tanto de seres microscópicos como dos macroscópicos (Protista, Fungi, Plantae e Animallia). 29 1 Qual pesquisador demonstrou, pela primeira vez, que os seres vermiformes presentes na carne podre se originavam de ovos depositados por moscas? 2 O desfecho da controvérsia relativa à origem dos seres vivos (teoria da biogênese x teoria da abiogênese) deve-se: a) ( ) A Abbey Lazzaro Spallanzani, que realizou experimentos e mostrou que,aquecendo prolongadamente substâncias orgânicas acondicionadas em recipientes fechados e providos de válvula de escape, não ocorria o desenvolvimento de microrganismos. b) ( ) Aos experimentos de Louis Pasteur com os seus balões do tipo “pescoço de cisne”. c) ( ) À descoberta da “força vital”, por John T. Needhan. d) ( ) Aos experimentos de Francesco Redi, que mostraram que, ao se colocar pedaços de carne pura em frascos, deixando alguns abertos e outros fechados com gaze, observa-se a presença de larvas, ovos e moscas após alguns dias, somente nos frascos abertos. e) ( ) À descoberta do microscópio. FONTE: Disponível em: <http://www.cnsg-pi.com.br/simulado/provas/ano1_3_3_07.pdf>. Acesso em: 27 nov. 2010. 3 Relacione os itens, utilizando o seguinte código: I- Antony van Leeuwenhoek. II- Robert Hooke. III- Theodor Schwann. ( ) Quem foi um dos formuladores da Teoria Celular? ( ) Quem introduziu o termo célula na Biologia? ( ) A quem se atribuiu a descoberta do mundo microscópico? 4 A chamada “estrutura procariótica”, apresentada pelas bactérias, indica-nos que esses seres vivos são: a) ( ) Destituídos de membrana plasmática. b) ( ) Formadores de minúsculos esporos. c) ( ) Dotados de organelas membranosas. d) ( ) Constituídos por parasitas obrigatórios. e) ( ) Desprovidos de membrana nuclear. FONTE: Disponível em: <http://www.scribd.com/doc/4034329/Biologia-PPT-Maxi-Reino- Monera>. Acesso em: 27 nov. 2010. AUTOATIVIDADE 30 5 O que são endósporos bacterianos? 6 Pela leitura que você fez do texto “Evolução dos Procariontes em Eucariontes”, pôde-se notar que é uma proposta pela qual as células eucarióticas têm evoluído. Retorne ao texto e procure destacar as diferenças entre as duas hipóteses apresentadas no texto. 7 Microbiologia é: a) ( ) A ciência que estuda os seres vivos e as leis gerais que os governam. b) ( ) A denominação comum a organismos microscópicos. c) ( ) A associação entre raízes de uma planta. d) ( ) O ramo da Biologia que estuda os microrganismos, incluindo eucariontes unicelulares e procariontes, como as bactérias, protozoários, fungos e vírus. 8 A respeito dos microrganismos, classifique as seguintes sentenças em V (verdadeiras) ou F (falsas): ( ) São muito pequenos, visualizados somente com o auxílio de um microscópio. ( ) Muitos são utilizados em benefício da natureza e do homem. ( ) São seres que podem viver isolados ou em colônias. ( ) Todos são inofensivos ao homem. ( ) Eles podem se reproduzir por divisão mitótica. 31 TÓPICO 2 PRINCIPAIS GRUPOS DE MICRORGANISMOS UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Sabemos que há uma enorme diversidade de formas de organismos vivos. Essas formas de vida possuem uma dinâmica muito grande e estão sujeitas a contínuas alterações evolutivas, resultado de sucessivas mutações e seleção natural nos ambientes em constante transformação. De todos os organismos biológicos que conhecemos, os microrganismos estão entre os mais antigos. Consequentemente, eles tiveram muito mais tempo de evolução. Neste tópico, iremos conhecer os principaisgrupos de microrganismos, bem como as suas sistematizações e taxonomia. 2 TAXONOMIA Podemos dizer que a Microbiologia se encarrega de estudar os organismos microscópicos. Esses organismos possuem em comum somente o tamanho, porém muitos são unicelulares, sendo que alguns possuem a capacidade de viverem associados, formando colônias ou estruturas pluricelulares, como as algas e os fungos. Antes de a genética molecular possuir todo o desenvolvimento que possui hoje, os organismos eram classificados segundo os seus caracteres morfológicos, a sua fisiologia e também pelo seu comportamento. Dessa forma, podiam-se obter informações sobre o grau de evolução do organismo que se queria classificar. Com isso, houve classificações do tipo filogenético, que analisavam as relações evolutivas dos organismos vivos. Ocorreram muitas falhas de classificação nos estudos dos seres unicelulares e, com o desenvolvimento de novas técnicas de classificações, as antigas foram sendo substituídas. Para Roitman, Travassos e Azevedo (1991, p. 107), “[...] a ciência que tem como objetivo tentar ordenar o caos aparente da diversidade biológica é a taxonomia”. Segundo os mesmos autores, é muito comum a utilização da palavra sistemática como um sinônimo de taxonomia, porém ela está mais voltada para a parte de classificação e pode também significar a ordenação de outras entidades fora do âmbito da taxonomia. Para Black (2002, p. 208), “[...] a taxonomia é a ciência da classificação. Ela fornece uma base ordenada para a denominação dos organismos em uma categoria, ou táxon”. UNIDADE 1 | MICROBIOLOGIA – FUNDAMENTOS 32 UNI Caro acadêmico! É importante saber a diferença entre Taxonomia e Sistemática. Pois bem, Taxonomia é o ramo da Biologia que se ocupa da classificação dos seres vivos e da nomenclatura dos grupos formados. Sistemática inclui a taxonomia e a biologia evolutiva. É uma ciência que utiliza todos os conhecimentos dos seres vivos para entender as suas relações de parentesco e sua história evolutiva, desenvolvendo, assim, um sistema de classificação. Com a publicação do livro Systema Naturae (Sistema Natural) pelo sueco Karl von Lineu, em 1735, durante muitos anos só se tinha o conhecimento de dois reinos na sistemática: o vegetal e o animal. Em 1866, o evolucionista alemão Ernst Haeckel propôs um terceiro reino: Protistas, constituído por microrganismos. Mais tarde, Haeckel observou que alguns desses microrganismos não possuíam núcleo e acabou denominando-os Monera. Na década de 60, as bactérias foram reconhecidas por Herbert F. Copeland como pertencentes ao reino Monera, independente dos Protistas. Os Fungos foram os últimos organismos a receberem um reino e coube a Robert H. Whittaker o mérito de criá-lo. Em 1969, resolveu-se aceitar a proposta de Copeland e se propôs uma classificação geral dos seres vivos que continha cinco reinos: Monera (bactérias), Protistas (protozoários), Fungi (fungos), Animallia (animais) e Plantae (vegetais). Passados alguns anos, já na década de 80, Lynn Margulis e Karlene Schwartz reconhecem os cinco reinos propostos por Whittaker, mas resolvem estudar mais a fundo o reino Protista, para melhor caracterizá-lo com propostas de fazer algumas modificações. A proposta era a de conservar o número de reinos e incluir as algas dentro do antigo grupo Protista. Este novo reino foi denominado Protoctista. Boa parte da literatura científica ainda utiliza a denominação Protista. Portanto, a nova classificação de cinco reinos consiste em Procariota (Moneras – bactérias), Protoctista ou Protista (algas, protozoários etc.), Fungi (liquens e fungos), Animallia (animais vertebrados e invertebrados) e Plantae (musgos (briófitas), samambaias (pteridófitas), coníferas (gimnospermas) e plantas com flor (angiospermas)). FONTE: Disponível em: <http://www.scrib.com/doc/35499457/A-DIVERSIDADE-BIOLOGICA>. Acesso em: 27 nov. 2010. TÓPICO 2 | PRINCIPAIS GRUPOS DE MICRORGANISMOS 33 FIGURA 17 – CLASSIFICAÇÃO DOS SERES VIVOS EM REINOS PROPOSTA POR LINEU EM 1735 E HAECKEL EM 1866 FONTE: Disponível em: <http://maisbiogeologia.blogspot.com/2009/01/sistemtica-dos-seres- vivos.html>. Acesso em: 25 set. 2010. FIGURA 18 – CLASSIFICAÇÃO DOS SERES VIVOS EM REINOS PROPOSTA POR COPELAND EM 1960 E WHITTAKER EM 1969 Cordados Artrópodes Eq uin od erm es Anelídeos MoluscosPlatelmintes Nematelmintes Ce len ter ad os Esp ong iári os Plantas vasculares Algas Fungos Bactérias FlageladosBolores Ciliados Musgos e liquenos PLANTAE ANIMALIA Dois reinos - Aristóteles a Lineu PLANTAE PROTISTA ANIMALIA Plantas vasculares Musgos Algas Es po ng iár ios Ce len ter ad os Moluscos Anelídeos Artrópodes Cordados Eq uin od erm es Bactérias Fungos Bolores Sarcodinas Três reinos - Haeckel ? Tr ac he op hy ta Br yo ph yt a C ha ro ph yt a Rh od olo ph ya C ho ro ph yt a Ch ry so ph yta Ph ae op hy ta O pi st ho ko nt a Zy go m yc ot a As co m yc ot a Ba sid io m yc ot a Fu ng ili C rid os po rid i M yc om ico ta Pr ot op la st a Zo om as tig in a Ci lip ho ra Po ríf er a C el en te ra ta Ec hi no de rm at a Ch ae to gn at ha C ho rd at a Ar th ro po da M oll us ca Te nt ac ula ta As ch elm int he s Ne m er tea M es oz oa Pl at yh elm int he s An ne lid a Sa rc od in a Ac ra sia e In op hy ta Py rro ph yt a Eu gle no ph yta O om yc ot a Archezoa Tracheophyta Rh od op hy ta Ch lor op hy ta Ph ae op hy ta D om yc ot a C hy tri di om yc ot a Eu gl en op hy ta C hr ys op hy ta Py rro ph yt a As co m yc ot a Ba sid io m yc ot a M yx om yc ot a Ac ra sio m yc ot a La by rin th ulo m yc ot a Hy ph oc hy trid iom yc ot a Pl as m od iop ho ro m yc ot a Cn ido sp or idi a Zo om as tig ina Sp or oz oa Sa rco din a Cil iop ho ra Bacteria Cyanophyta Pl at yh el m in th es Po rife raCo ele nte rat a Ec hin od er m at a Ch ae tog na tha Mo llus ca As ch el im nt he s Ar thr op od a Ch ord ata An ne lida Te nt ac ul at a M es oz oa Zy go m yc ot a Ch ar op hy ta Bryophyta PLANTAE PLANTAEANIMALIA ANIMALIA PROTISTA PROTISTA MONERA MONERA Quatro reinos - Copeland Cinco reinos - Whittaker FONTE: Disponível em: <http://maisbiogeologia.blogspot.com/2009/01/sistemtica-dos-seres- vivos.html>. Acesso em: 25 set. 2010. UNIDADE 1 | MICROBIOLOGIA – FUNDAMENTOS 34 IMPORTANT E Encontramos diferentes modos de escrever o nome desse notável cientista: • Carl von Linné • Karl von Lineu • Carolus Linnaeus Mas, para este Caderno, adotamos a segunda maneira, a mais popular, Karl von Lineu. Atualmente existem duas formas de classificação que seguem propostas diferentes: a classificação de Lynn Margulis (Quadro 1) e a classificação de Woese (Figura 19). QUADRO 1– SISTEMA DE CLASSIFICAÇÃO DE MARGULIS Domínios ou Super-reinos Reinos Sub-reinos Prokarya (Procariontes) Monera (Bactéria) Archea (Arqueobactérias) Eubacteria (Eubactérias) Eukarya (Eucariontes) Protoctista (Protista) Fungi (Fungos) Plantae (Plantas) Animallia (Animais) FONTE: Disponível em:<http://portfbio-chinita.webnode.com/products/sistematica-dos-seres- vivos/>. Acesso em: 25 set. 2010. Portanto, os microrganismos estariam colocados entre os três reinos: Moneras (bactérias), Protoctistas (protozoários e algas microscópicas) e Fungi (os fungos microscópicos). Até fins da década de 70, o Reino era considerado a categoria sistemática que mais incluía. Porém, o sequenciamento de moléculas universais – RNAr – levou Carl Woese e colaboradores à construção de uma árvore filogenética única, na qual há uma diferenciação de três linhagens evolutivas principais (Figura 19). TÓPICO 2 | PRINCIPAIS GRUPOS DE MICRORGANISMOS 35 FIGURA 19 – ESTRUTURA FILOGENÉTICA MAIS PROFUNDA DA DIVERSIDADE BIOLÓGICA OBTIDA POR WOESE A PARTIR DO SEQUENCIAMENTO DO RNAR FONTE: Disponível em: <https://eltamiz.com/elcedazo/wp-content/uploads/2013/05/Arbol- filogenetico.png> Acesso em: 22 mar. 2018. Na Figura 19, podemos observar três grupos monofiléticos bem distintos, que correspondem aos domínios Bacteria, Archaea e Eucarya. A proposta de Woese foi agrupar em uma nova categoria, denominada domínio, cada uma das linhagens ou grupos monofiléticos, denominando-os: Archaea (evolutivamente seriam os microrganismos mais antigos (PELCZAR; CHAN; KRIEG, 1997a). Estão incluídos aqui os organismos Procarióticos com capacidade de sobreviverem em condições muito extremas, tais como, viver em locais de altas temperaturas ou em ambientes altamente salinos), Bacteria (evolutivamente estão incluídas aqui as bactérias mais modernas que do domínio anterior), e Eucarya (aqui estão incluídos todos os seres formados por células eucarióticas). Essa troca ressalta muito bem as diferenças que até então estavam escondidas entre organismos procariontes. Para Pelczar, Chan e Krieg (1997a, p. 59), “Woese propôs que arqueobactérias, eubactérias e eucariotos representam os três reinos primários da vida, um conceito que está ganhando adeptos entre os cientistas”. Não importa qual seja o sistema de classificação adotado, o que importa é ter conhecimento das principais categorias de organismos vivos e das suas características, que levam a sua inserção em um ou outro reino. A classificação nada mais é do que um arranjo ordenado dos organismos com caracteres semelhantes para separar daqueles com caracteres diferentes em grupos chamados de taxa - singular de táxon. Aquifex Thermotoga Bacteroides Cytophaga Planctomyces Cianobacteria Proteobacteria Bacteria Archaea Eukarya Spirochaetes Bacteria verde filamentosa Pyrodicticum Thermoproteus Methanococus Methanobacterium Methanosarcina Halófilos Diplomonadas Microsporidias Tricomonadas Ciliphora Flagelados Plantas Fungi Animales Myxomycota Entamoeba T. celer Gram positiva UNIDADE 1 | MICROBIOLOGIA – FUNDAMENTOS 36 UNI Para entender melhor a importância da classificação dos seres vivos, vamos fazer uma analogia. Imagine você entrando numa biblioteca para fazer uma pesquisa sobre bactérias e se depara com 2 mil livros, de diversas áreas, todos espalhados e misturados. Sua pesquisa irá se tornar bem complicada, não acha? Agora, imagine entrar nessa mesma biblioteca com todos os livros organizados por área de conhecimento. Com certeza sua pesquisa será bem mais fácil. Com os seres vivos acontece o mesmo. São milhares de espécies classificadas para facilitar o estudo. O objetivo central da classificação é agrupar os microrganismos seguindo critérios, cujo objetivo é a obtenção de uma sistemática descritiva ou artificial ou simplesmente agrupar os microrganismos com aplicações de métodos que refletem a sistemática filogenética. Existe um problema para os microrganismos quanto ao sistema natural de classificação. A dificuldade toda está na ausência de fósseis. Por isso, fica muito difícil o estabelecimento de uma classificação natural. Para sanar essa dificuldade, os taxonomistas utilizam técnicas de biologia molecular (estudos de macromoléculas – ácidos nucleicos e proteínas). Por isso, para fazer uma classificação dos organismos, exige-se um conhecimento profundo de suas características. Em uma descrição completa e adequada de um táxon microbiano são aplicados dados morfológicos, bioquímicos, fisiológicos, genéticos e ecológicos. ESTUDOS FU TUROS No próximo tópico, veremos os principais grupos de microrganismos. Fique atento às principais características que cada grupo apresenta. Bons estudos! 3 CLASSIFICAÇÃO A classificação dos organismos macroscópicos pode ser feita, em um primeiro momento, baseando-se nas características estruturais visíveis, porém, é muito complicado fazer uma classificação dessa forma para os organismos microscópicos, em especial para as bactérias, que possuem na sua grande maioria estruturas semelhantes. Não adiantaria em nada tentar fazer uma separação de acordo com a sua forma, tamanho e muito menos pelo arranjo da célula, pois não seria muito útil como forma de classificação sistêmica. Nem mesmo se fosse avaliar a presença de estruturas específicas – flagelos, endósporos ou cápsulas – iria ajudar na identificação de espécies particulares. Por tudo isso, há a necessidade de outros critérios para serem usados em uma classificação. TÓPICO 2 | PRINCIPAIS GRUPOS DE MICRORGANISMOS 37 Sabemos que o sistema de classificação biológica se baseia na hierarquia taxonômica, que permite um melhor ordenamento dos grupos de organismos em categorias. Sendo assim, teremos o Reino, no qual estão reunidos todos os filos. O termo Filo é utilizado para animais e Divisão é aplicado para plantas. Essa categoria reunirá todas as classes semelhantes. A Classe reunirá todas as Ordens. A Ordem inclui todas as Famílias. A Família está constituída de Gêneros relacionados ou semelhantes entre si. O Gênero irá agrupar as espécies similares, ou seja, ele é mais abrangente que a espécie, incluindo diferentes espécies que apresentam grandes semelhanças estruturais. A Espécie é um grupo de indivíduos que estão dotados de algumas características típicas, porém ausentes em outras espécies. IMPORTANT E Caro acadêmico! Observe a classificação a seguir. À medida que vamos avançando uma categoria, a quantidade de animais vai diminuindo, até que cheguemos a uma única espécie. FIGURA 20 – CLASSIFICAÇAO DOS SERES VIVOS NAS CATEGORIAS TAXONÔMICAS Categorias taxonómicas Reino Classe Familia Espécie Gênero Ordem Filo Nú m er o de e sp éc ie s Nú m er o de g ru po s José Salsa - 2005 FONTE: Disponível em: <http://www.cientic.com/imagens/pp/sistematica/sl_12.jpg> Acesso em: 25 set. 2010. UNIDADE 1 | MICROBIOLOGIA – FUNDAMENTOS 38 3.1 BACTÉRIAS Para o estudo das bactérias e sua classificação, utiliza-se uma técnica de colocação para o estudo de sua morfologia. É a técnica da coloração de Gram, que consiste em tratar bactérias com dois corantes, um violeta e outro rosa (PELCZAR; CHAN; KRIEG, 1997a). Certas bactérias retêm os dois corantes, apresentando a coloração violeta ao microscópio, porém outras perdem o corante violeta, exibindo apenas a cor rosa. IMPORTANT E Bactérias coradas com a cor violeta serão chamadas de Gram-positivas e as que se coram de rosa, de Gram-negativas. Essa diferença na capacidade de reter os corantes está na composição da parede bacteriana e já estava entre as primeiras características a serem usadas na classificação das bactérias. Algumas outras características estão em uso, entre elas, aquelas relacionadas com o crescimento, as necessidades nutricionais, bem como sobre as análises moleculares, genéticas, fisiológicas e bioquímicas. Estão incluídas também as características do DNA e proteínas. Através do uso de vários critérios de classificação, podemos identificar um microrganismo como pertencentea um gênero e espécie em particular. Segundo Black (2002, p. 27), “para as bactérias, uma espécie é considerada como uma coleção de cepas que compartilham muitas características em comum e diferem significativamente de outras cepas”. Podemos dizer que uma cepa bacteriana é composta por descendentes de um isolamento único em uma cultura pura. A denominação cepa-tipo é feita por bacteriologistas para indicar uma cepa de uma espécie e por ser também a primeira a ser descrita. Ela será portadora do nome da espécie e será preservada em uma ou mais culturas-tipo. NOTA O termo cepa (no feminino) vem do latim cippus, que deu cepo, “tronco”, população de microrganismos de uma mesma linhagem ou descendência ou uma amostra de germes de uma mesma espécie cultivada em laboratório – uma clonagem de bactérias. TÓPICO 2 | PRINCIPAIS GRUPOS DE MICRORGANISMOS 39 É possível determinar em um grupo de várias cepas bacterianas se elas pertencem a membros de uma espécie particular. Porém, fica muito difícil concluir se a cepa pertence a uma espécie já existente ou difere de forma suficiente para ser considerada como uma espécie nova. Hoje, as análises de semelhanças de DNA e proteínas entre os microrganismos têm sido um meio muito seguro para fazer uma relação de uma cepa com uma espécie já existente ou gerar informações suficientes para uma nova espécie. Para Black (2002, p. 228), “[...] relacionar gêneros de bactérias com níveis taxonômicos superiores – famílias, ordens, classes e divisões (ou filos) – pode ser mais difícil que organizar espécies e cepas dentro dos gêneros”. A classificação de vários organismos macroscópicos é feita levando-se em conta as suas relações evolutivas com outros organismos que possuem registros fósseis. Pela falta de registros fósseis, fica muito difícil fazer esse tipo de classificação em bactérias. Para Pelczar, Chan e Krieg (1997a, p. 231), “[...] as bactérias têm sido descritas em vários livros e artigos, mas uma publicação é considerada única devido à ampla abordagem sobre o assunto – o Bergey’s Manual of Systematic Bacteriology”. O manual citado - Manual de Bacteriologia Determinativa de Bergey – é um grande trabalho publicado em 1923, pela Sociedade Americana de Microbiologia, tendo como presidente do grupo editorial o autor David H. Bergey. Através do esforço de centenas de microbiologistas, esse manual é de referência internacional. Cada um com a sua especialidade em algum grupo de bactérias foi montando o manual no qual não só se descrevem todos os gêneros e as espécies estabelecidas, mas também se fornece uma organização altamente prática, gerando a diferenciação de todos esses organismos. Apresenta também esquemas e tabelas de classificação extremamente apropriadas no processo. Segundo Black (2002, p. 228), “O Manual Bergey tornou-se referência internacionalmente reconhecida para a taxonomia das bactérias. Serviu também como um ponto de referência confiável para os profissionais médicos interessados na identificação dos agentes causadores de infecções”. A forma bacteriana possui certa importância na classificação, bem como as técnicas de coloração e a avaliação bioquímica. Entretanto, o que se leva em conta atualmente nas classificações modernas é a similaridade entre as sequências de DNA, para que se possa estabelecer a existência de relações de parentesco evolutivo entre as espécies de bactérias. Existem algumas classificações que chegam a considerar a criação de diversos reinos que abrigam os seres procariontes e outros que chegam a considerar dezenas de filos de bactérias. Entre os microrganismos, há uma classificação tradicional que divide as bactérias em três grandes grupos: eubactérias Gram-positivas, eubactérias Gram-negativas e micoplasmas. Essa classificação ocorre de acordo com a presença, ausência e o tipo de parede celular se essa estiver presente. UNIDADE 1 | MICROBIOLOGIA – FUNDAMENTOS 40 Devido à sua estrutura microscópica, a classifi cação das bactérias é difícil de ser realizada, por isso, são utilizadas técnicas artifi ciais como a coloração, a forma e o metabolismo. ATENCAO 3.2 PROTOZOÁRIOS São microrganismos eucariontes e unicelulares. São seres que não possuem parede celular rígida e não contêm clorofi la. Alguns protozoários possuem apêndices que facilitam na sua motilidade, como cílios (curtos, fi nos e numerosos) e fl agelos (longos, que fazem movimentos de um chicote) (Figura 21). FIGURA 21 – PROTOZOÁRIO CILIADO E FLAGELADO FONTE: Disponível em: <http://1.bp.blogspot.com/_acXO1Ouge34/ SXTx93YPK0I/AAAAAAAAAA8/ky4GwSzey78/s320/n210a.jpg>. Acesso em: 25 set. 2010. Existem outros protozoários, como as amebas, que não possuem apêndices para sua movimentação, porém se arrastam sobre a superfície por meio de pseudópodes (Figura 22), que são emissões de uma porção da célula para uma direção. Esse tipo de locomoção é chamado de movimento ameboide. TÓPICO 2 | PRINCIPAIS GRUPOS DE MICRORGANISMOS 41 FIGURA 22 – AMEBA FONTE: Disponível em: <http://www.mcwdn.org/Animals/AniAmeba. gif>. Acesso em: 25 set. 2010. Os esporozoários são protozoários imóveis. São parasitas que perfuram a membrana plasmática da futura célula hospedeira. O Plasmodium (Figura 23), causador da malária, é o gênero mais comum. FIGURA 23 – PLASMÓDIO, PONTO MAIS ESCURO, UM ESPOROZOÁRIO FONTE: Disponível em: <http://3.bp.blogspot.com/_Y-RahU_Thp8/S- cpiZnMpgI/AAAAAAAAAMM/yAhPR04igzI/s1600/p-sgue.jpg>. Acesso em: 25 set. 2010. 3.3 ALGAS E FUNGOS As algas são semelhantes às plantas devido à presença de um pigmento verde, a clorofila, que participa do processo da fotossíntese, e assim como as plantas, as algas também apresentam parede celular rígida. São seres eucariontes unicelulares microscópicos (Figura 24) e multicelulares, podendo chegar a vários metros de comprimento. As algas podem causar alguns problemas, pois liberam substâncias tóxicas no leito das águas, crescem em piscinas, obstruem tubulações de caixas d’água. Entretanto, uma espécie específica de alga é muito utilizada na indústria de alimentos como espessante e emulsificante para sorvetes e pudins. Também são utilizadas como anti-inflamatórios, no tratamento de úlceras, e em laboratórios para solidificar meios de cultura sobre os quais os microrganismos crescem. UNIDADE 1 | MICROBIOLOGIA – FUNDAMENTOS 42 FIGURA 24 – ALGAS MICROSCÓPICAS. A – EUGLENÓFITAS. B – DINOFLAGELADOS. C – DIATOMÁCEAS FONTE: Disponível em: <https://fineartamerica.com/featured/pltons-noctiluca-scintillans-x12-d-p- wilson.html> Acesso em: 22 mar. 2018. Os fungos são seres eucariontes com parede celular rígida. Podem ser uni ou multicelulares, microscópicos ou macroscópicos. Não possuem clorofila, portanto, não realizam o processo de fotossíntese. São seres heterotróficos, que absorvem nutrientes dissolvidos no ambiente. Os fungos multicelulares mais conhecidos são os bolores, cogumelos, orelhas-de-pau e mofos, enquanto as leveduras são fungos unicelulares (Figura 25). As leveduras são tanto benéficas quanto prejudiciais. São utilizadas na indústria de pães, na qual produzem gás através da fermentação, fazendo a massa crescer. Também são utilizadas na produção de bebidas alcoólicas fermentadas, como cerveja e vinho. Em contrapartida, as que flutuam no ar causam deterioração dos alimentos e doenças como frieira, sapinho, vaginites. FIGURA 25 – LEVEDURAS FONTE: Disponível em: <http://www.ambientenet.eng.br/FOTOS/ LEVEDURA%202.jpg>. Acesso em: 25 set. 2010. A CB TÓPICO 2 | PRINCIPAIS GRUPOS DE MICRORGANISMOS 43 IMPORTANT E Quando o fermento biológico é misturado à massa, as condições ficam favoráveis para que as leveduras saiam da dormência e se tornem ativas. As leveduras ativas começam a realizar seu metabolismo normal: produzir gás que expande a massa e a torna mais fofa eleve. Isso ocorre devido ao consumo de açúcares da massa, que são transformados em gás carbônico (CO 2 ) e álcool (etanol). ESTUDOS FU TUROS Caro acadêmico! Os vírus são microrganismos, porém não são constituídos por célula. Você estudará esse assunto mais profundamente na Unidade 3. 3.4 VÍRUS Os vírus não são células. São microrganismos muito menores que os até aqui estudados e muito mais simples em relação à estrutura das bactérias. Muitos são parasitas, inserindo-se no material genético de células e causando grandes prejuízos. Causam doenças graves no ser humano, como: AIDS, herpes, gripe, poliomielite, hepatite, dentre outras mais. Alguns vírus também têm participação no crescimento de alguns tumores malignos. Diferente das células, os vírus possuem apenas um tipo de ácido nucleico: DNA ou RNA, que se encontra envolto a uma capa ou envelope proteico. Por não apresentarem organelas necessárias para o metabolismo e reprodução, os vírus só se multiplicam dentro de células vivas. “Após invadir uma célula vegetal ou animal ou um microrganismo, um vírus tem a habilidade de induzir a maquinaria genética da célula hospedeira a fazer muitas cópias do vírus.” (PELCZAR; CHAN; KRIEG, 1997a, p. 65). UNIDADE 1 | MICROBIOLOGIA – FUNDAMENTOS 44 FIGURA 26 – MORFOLOGIA VIRAL FONTE: Disponível em: <http://web.educastur.princast.es/proyectos/biogeo_ov/2bch/B5_ MICRO_INM/T51_MICROBIOLOGIA/diapositivas/Diapositiva42.JPG>. Acesso em: 25 set. 2010. NOTA Os vírus são bem menores que as bactérias. Seu tamanho varia de 20 a 300 nanômetros, enquanto que as bactérias variam de 0,5 a 5 micrômetros de diâmetro. ESTUDOS FU TUROS Falaremos um pouco mais sobre esses microrganismos, vírus, fungos, algas e protozoários, na Unidade 3, Tópico 2, deste Livro Didático. TÓPICO 2 | PRINCIPAIS GRUPOS DE MICRORGANISMOS 45 LEITURA COMPLEMENTAR VÍRUS VIRAM ARMA CONTRA BACTÉRIAS RESISTENTES AOS ANTIBIÓTICOS Vírus contra bactérias Um vírus comedor de bactérias poderá ser a nova arma para tratar infecções causadas por microorganismos que estão se tornando cada vez mais resistentes aos antibióticos. Médicos da Universidade College London, Inglaterra, acabam de completar com sucesso os primeiros testes clínicos com um vírus bacteriófago, chamado Biophage-PA, que se mostrou capaz de destruir a bactéria Pseudomonas aeruginosa, causadora de fortes infecções no ouvido. Resistência aos antibióticos Os antibióticos têm sido eficazes no combate às infecções há décadas. Mas as bactérias têm armas contra eles: elas evoluem para se tornar resistentes aos antibióticos, seja secretando enzimas que os destroem, seja desenvolvendo mecanismos internos que expulsam os compostos químicos do medicamento do interior de suas células. Com o desenvolvimento da resistência aos antibióticos pelas bactérias, doenças tidas como de fácil controle, como pneumonia e tuberculose, estão se tornando cada vez um problema de saúde pública. Vírus destrói biofilmes A Pseudomonas aeruginosa, causadora de infecções no ouvido, é particularmente difícil de combater, porque as bactérias individuais se juntam para formar biofilmes, colônias que desenvolvem uma camada de açúcares e proteínas que as tornam até 1.000 vezes mais resistentes aos antibióticos. Mas, com uma única dose do vírus Biophage-PA, que somente ataca esta bactéria, os médicos conseguiram curar pacientes que sofriam de infecções de ouvido causados por biofilmes de bactérias que não respondiam mais aos antibióticos. UNIDADE 1 | MICROBIOLOGIA – FUNDAMENTOS 46 Os vírus comedores de bactérias destroem os biofilmes de Pseudomonas aeruginosa, mas não atacam nenhuma outra bactéria no organismo. Dose única A maior vantagem do novo medicamento é o fato de ser tomado em dose única, ao contrário dos antibióticos, que exigem uma longa sequência de doses. O esquecimento e o abandono do tratamento por parte dos pacientes estão entre as principais causas do aumento do desenvolvimento de resistência aos antibióticos por parte das bactérias. Agora os médicos iniciarão novos testes de longo prazo, para verificar se as bactérias também conseguem desenvolver resistência aos vírus. FONTE: Disponível em: <http://www.diariodasaude.com.br/news.php?article=virus-viram-arma- contra-bacterias-resistentes-aos-antibioticos&id=4084>. Acesso: em 30 set. 2010. 47 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você estudou que: • Taxonomia é o ramo da Biologia que se ocupa da classificação dos seres vivos e da nomenclatura dos grupos formados. Sistemática inclui a taxonomia e a biologia evolutiva. • Durante muitos anos só se tinha o conhecimento de dois reinos na sistemática: o vegetal e o animal. Em 1866, o evolucionista alemão Ernst Haeckel propôs um terceiro reino: Protistas, constituído por microrganismos. • Hoje temos cinco reinos: Monera (bactérias), Protistas (protozoários), Fungi (fungos), Animallia (animais) e Plantae (vegetais). • O sequenciamento de moléculas – RNAr – levou Woese e colaboradores à construção de uma árvore filogenética com três grupos monofiléticos bem distintos: Bacteria, Archaea e Eucarya. • O objetivo central da classificação é o de agrupar os microrganismos seguindo critérios, com aplicações de métodos que refletem a sistemática filogenética. • Para o estudo das bactérias e sua classificação, utiliza-se uma técnica de coloração para o estudo de sua morfologia. • Certas bactérias retêm os dois corantes, apresentando a coloração violeta ao microscópio, porém outras perdem o corante violeta, exibindo apenas a cor rosa. Essa diferença na capacidade de reter os corantes está na composição da parede bacteriana. • Existem dois principais grupos de bactérias: as eubactérias e as arqueobactérias, que possuem diferenças quanto à composição de sua parede celular. • Há dois subgrupos de eubactérias – Gram-negativas e as Gram-positivas – e aquelas que não possuem parede celular. • As informações sobre todos os gêneros e espécies de bactérias podem ser encontradas de forma detalhada no Bergey’s Manual of Systematic Bacteriology, que é referência internacional. • Protozoários são microrganismos eucariontes e unicelulares. São seres que não possuem parede celular rígida e não contêm clorofila. 48 • As algas são semelhantes às plantas devido à presença de um pigmento verde, a clorofila, que participa do processo da fotossíntese. Apresentam parede celular rígida. São seres eucariontes, unicelulares, microscópicos e multicelulares. • Os fungos são seres eucariontes com parede celular rígida. Não possuem clorofila. São seres heterotróficos, que absorvem nutrientes dissolvidos no ambiente. • Os vírus não são células. São microrganismos muito menores que os até aqui estudados e muito mais simples em relação à estrutura das bactérias. Muitos são parasitas, inserindo-se no material genético de células e causando grandes prejuízos ao hospedeiro. 49 1 Relacione as colunas: 2 Associe os seres com seus respectivos reinos: 3 Com que finalidade se classificam os seres vivos? 4 Considere os seguintes seres vivos: mosca, homem, cavalo, macaco, borboleta e zebra. Adote um critério de classificação e separe-os em grupos. FONTE: Disponível em: <http://educar.sc.usp.br/ciencias/seres_vivos/seresvivos2.html >. Acesso em: 27 nov. 2010. 5 Quais são os cinco reinos da natureza? Cite um ser de cada reino como exemplo. 6 Bactérias são organismos microscópicos, unicelulares, procariotos, encontrados praticamente em todos os ambientes. Analise as afirmativas a seguir referentes às bactérias: I- Bactérias saprófitas são organismos importantes na decomposição de matéria orgânica morta. II- São doenças bacterianas: cólera, difteria, pneumonia, lepra, tuberculose, tétano e disenteria bacilar. III- Diásporos são célulasresistentes, formadas quando as condições de alimento para as bactérias são favoráveis. AUTOATIVIDADE I- Autotrófico II- Fotossíntese III- Heterotrófico IV- Procarionte V- Unicelular VI- Eucarionte VII- Pluricelular I- Roseira II- Protozoário III- Bactéria IV- Cogumelo V- Gato ( ) Possui membrana nuclear. ( ) Possui mais de uma célula. ( ) Seres que possuem só uma célula. ( ) Processo de produção de alimentos. ( ) Alimentam-se de outros seres. ( ) O material genético não está em um núcleo. ( ) Seres capazes de produzir seu alimento. ( ) Animallia ( ) Monera ( ) Plantae ( ) Fungi ( ) Protista 50 Agora, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Apenas a afirmação I está correta. b) ( ) As afirmações I e II estão corretas. c) ( ) As afirmações II e III estão corretas. d) ( ) As afirmações I e III estão corretas. e) ( ) Todas as afirmações estão corretas. 7 De acordo com o sistema binomial de nomenclatura estabelecido por Lineu, o nome científico Felis catus aplica-se a todos os gatos domésticos, como: angorás, siameses, persas, abissínios e malhados. O gato selvagem (Felis silvestrii), o lince (Felis lynx) e o puma ou suçuarana (Felis concolor) são espécies relacionadas ao gato. Responda: a) A que gênero pertencem todos os animais mencionados? b) Por que todos os gatos domésticos são designados por um mesmo nome científico? c) Qual dos nomes a seguir designa corretamente a família a que pertencem esses animais? Felinaceae, Felidae, Felini, Felinus ou Felidaceae? Justifique. FONTE: Disponível em: <http://denisemeg.blogspot.com/2009/09/revisao-de-ciencias- classificacao-dos.html >. Acesso em: 27 nov. 2010. 8 Complete as lacunas da sentença a seguir e assinale a alternativa CORRETA: Considerando a hierarquia das categorias taxonômicas, é correto afirmar que dois animais que fazem parte da mesma ordem, obrigatoriamente, pertencerão __________, e dois animais pertencentes __________ sempre terão maior semelhança entre si. a) ( ) À mesma classe – à mesma espécie. b) ( ) À mesma família – ao mesmo gênero. c) ( ) Ao mesmo gênero – à mesma família. d) ( ) Ao mesmo gênero – à mesma espécie. e) ( ) À mesma espécie – à mesma classe. FONTE: Disponível em: < http://colegio.uirapuru.edu.br/UirapuruColegio/Upload/Fase/ Download/3_serie_ensino_medio_taxonomia.pdf>. Acesso em: 27 nov. 2010. 51 TÓPICO 3 ESTRUTURA DOS MICRORGANISMOS UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Como já vimos no tópico anterior, as bactérias são seres unicelulares procariontes. Apesar de seu tamanho, são seres altamente complexos. Neste tópico, encontraremos uma complexidade fascinante com detalhes estruturais que jamais puderam ser vistos pelos primeiros microbiologistas. É difícil imaginarmos o tamanho de uma bactéria. Para você ter uma ideia, cálculos feitos por cientistas mostram que aproximadamente 1 trilhão (1.000.000.000.000) de células bacterianas pesariam somente um grama. Para observarmos as bactérias no microscópio, são necessárias lentes que aumentem 1.000 vezes o seu tamanho. Por se reproduzirem com muita rapidez, esses microrganismos são utilizados em experimentos, pois fornecem informações em curto prazo. 2 CARACTERÍSTICAS DA CITOLOGIA BACTERIANA Sabemos que o método de coloração Gram separa a maioria dos tipos de bactérias em dois grupos: Gram-positivo e Gram-negativo (Figura 27), baseando- se na estrutura de suas paredes celulares. FIGURA 27 - ESTRUTURA DA PAREDE CELULAR DE BACTÉRIAS GRAM-NEGATIVAS E GRAM- POSITIVAS membrana citoplasmática peptideoglicano Bactérias gram positivas membrana externa membrana citoplasmática peptideoglicano Bactérias gram negativas FONTE: Disponível em: <http://2.bp.blogspot.com/_VMBOsntaNIU/TGknyYDN6II/ AAAAAAAAF4U/uJ_WnKGvdx0/s1600/Gram.gif>.Acesso em: 25 set. 2010. 52 UNIDADE 1 | MICROBIOLOGIA – FUNDAMENTOS As eubactérias Gram-negativas apresentam uma parede celular complexa, que é composta por uma membrana externa que recobre uma camada fina de peptideoglicano. Os gêneros de bactérias mais familiares e mais estudados pertencem a esse grupo. De acordo com as características fisiológicas e morfológicas (mobilidade e exigência de oxigênio), as bactérias Gram-negativas podem ser divididas em subgrupos. Espiroquetas são bactérias Gram-negativas, cujo formato se assemelha a um saca-rolha. Possuem estruturas próprias, caracterizadas por filamentos axiais (Figuras 28 e 29) – fibrilas que correm através de um espaço periplasmático. Também são conhecidas como bactérias helicoidais espiraladas, com alta flexibilidade de se torcer e contorcer. Algumas, por serem muito finas, não são facilmente visualizadas pelo método da coloração Gram. FIGURA 28 – ESTRUTURA E MORFOLOGIA DE UMA ESPIROQUETA AF Fibria Axial PC Protoplasma Cilíndrico OS Bainha Externa IP Inserção do Poro Protoplasma cilíndrico Ribossomos Membrana plasmática Nucleóide Fibria axial Bainha externa Microtúbulos Parede celular IPOSPCAF FONTE: Disponível em: <http://www.ugr.es/~eianez/Microbiologia/images/08flag4.gif>. Acesso em: 25 set. 2010. FIGURA 29 – FOTOMICROGRAFIA DE UMA ESPIROQUETA FONTE: Disponível em: <http://www.ciencia.cl/CienciaAlDia/volumen5/numero2/ articulos/cortez/Figura4.gif>. Acesso em: 18 set. 2010. TÓPICO 3 | ESTRUTURA DOS MICRORGANISMOS 53 As espiroquetas podem viver como saprófitas (vivem em meio orgânico) ou parasitas (obtêm nutrientes de hospedeiros vivos). As espiroquetas pertencentes ao gênero Spirochaeta vivem livres na lama, na água e nos sedimentos marinhos. Muitas outras vivem como parasitas humanos, causando doenças graves (Ex.: Treponema pallidum – causadora da sífilis – Figura 30). FIGURA 30 – Treponema pallidum FONTE: Disponível em: <http://embryology.med.unsw.edu.au/Defect/ images/Treponema-pallidum.jpg>. Acesso em: 18 set. 2010. As bactérias aeróbias em forma de espirilos também possuem semelhanças com as espiroquetas, pois são helicoidais, suas células são rígidas, não flexíveis. A diferença está na presença de flagelos nos espirilos das bactérias aeróbias, ou seja, a mobilidade dos espirilos se dá pelo fato de apresentarem flagelos nas extremidades das células, enquanto que as espiroquetas se movem por meio de um filamento axial. Para Pelczar, Chan e Krieg (1997a), existem alguns gêneros (Azospirillum) que se parecem com uma vírgula torcida e recebem o nome de vibriões. Os representantes desse gênero ajudam na fixação do nitrogênio atmosférico, pois estão no interior das raízes de gramíneas (trigo, milho) e em tantos outros tipos de plantas. Existem representantes, cuja forma de vida é saprofítica, que são comuns em água doce e outros que causam diarreias em humanos. As bactérias podem formar nódulos na raiz de plantas como o feijão. Elas ajudam essas plantas, retirando o nitrogênio do ar atmosférico e tornando-o disponível para a planta. ATENCAO 54 UNIDADE 1 | MICROBIOLOGIA – FUNDAMENTOS É interessante salientar que, mesmo não apresentando patogenias, algumas espécies de Pseudomonas podem causar sérios transtornos ao homem, ou seja, graves infecções quando o seu sistema imunológico estiver em baixa. Um exemplo disso, segundo Pelczar, Chan e Krieg (1997a), é a Pseudomonas aeruginosa (Figura 31), que pode invadir feridas da pele, queimaduras e causar uma grave infecção. Aqui também existem as que possuem a capacidade de fixar nitrogênio atmosférico (gênero Azotobacter – de vida livre, que fixam o nitrogênio no solo, e o gênero Rhizobium, que fixam o nitrogênio no interior das raízes das plantas leguminosas). Outro gênero muito importante na área industrial é o Acetobacter, cuja função está na produção comercial do vinagre. Encontramos aqui também representantes que causam doenças ao homem e a outros animais, comoé o caso de alguns bacilos Gram-negativos aeróbios. Exemplos disso são as espécies de Brucella que, além de infectar o homem, podem gerar aborto em outros animais. Outro fato interessante é que não é só em animais que esses organismos podem causar patogenias. Eles atacam plantas, também causando sérios prejuízos na agricultura de vários países. FIGURA 31 – Pseudomonas aeruginosa FONTE: Disponível em: <http://www.textbookofbacteriology.net/ images/P.aeruginosaSEM.jpg>. Acesso em: 25 set. 2010. O gênero que é altamente patogênico em plantas é o Xanthomonas. O cancro cítrico (Figura 32), causado pela bactéria Xanthomonas axonopodis é uma das doenças mais conhecidas da citricultura brasileira. Na Flórida, em 1984, a variedade Xanthomonas campestris causou um grande prejuízo, disseminando o cancro bacteriano cítrico. Outros gêneros também de interesse agronômico causam tumores em plantas. TÓPICO 3 | ESTRUTURA DOS MICRORGANISMOS 55 FIGURA 32 - Xanthomonas campestres. CANCRO CÍTRICO FONTE: Disponível em: <https://www.apsnet.org/edcenter/intropp/ lessons/prokaryotes/Article%20Images/CitrusCanker10Port.jpg> Acesso em: 22 mar. 2018. Outro gênero de interesse médico muito destacado e que causa sérios danos à saúde humana é o gênero Neisseria. Entre as espécies, existem duas que atacam de formas diferentes, ou seja, uma está associada ao sistema genital – Neisseria gonorrhoeae – que causa a gonorreia; e a outra, ao sistema nervoso – Neisseria meningitidis – que causa a meningite meningocócica. FIGURA 33 – A – Neisseria gonorrhoeae. B – Neisseria meningitidis FONTE: Disponível em: <http://www.textbookofbacteriology.net/neisseria.html>. Acesso em: 25 set. 2010. IMPORTANT E Gênero: é geralmente designado para um substantivo, que deve ser escrito com inicial maiúscula. Espécie: é geralmente designada por um adjetivo, que é escrito com inicial minúscula. Ambos devem ser grifados (quando se usa escrita manual) ou escritos com tipo de letra de imprensa diferente do texto normal. 56 UNIDADE 1 | MICROBIOLOGIA – FUNDAMENTOS Entre os bacilos anaeróbios facultativos estão enquadrados tanto os retos como os encurvados. Eles têm um crescimento em meios com oxigênio (aeróbios) ou em meios sem oxigênio (anaeróbios). Nos meios em que há falta de oxigênio, eles crescem e adquirem energia através da fermentação. Entre todos os bacilos facultativos, o grupo que mais se tem conhecimento é o da família Enterobacteriaceae. O hábitat desses membros é o trato gastrintestinal de humanos e de vários outros animais. Essa família apresenta espécies muito conhecidas, como, por exemplo, a Escherichia coli (Figura 34), bem como espécies que demandam vários testes – bioquímicos, fisiológicos e sorológicos – para poderem ser diferenciadas. FIGURA 34 – Escherichia coli FONTE: Disponível em: <http://farm3.static.flickr.com/2245/212506479 4_22287e74cf.jpg>. Acesso em: 25 set. 2010. Para Pelczar, Chan e Krieg (1997a, p. 237), “muitos patógenos humanos são entéricos; por exemplo, as espécies de Salmonella causam a febre tifoide e a gastroenterite, as espécies Shigella causam a disenteria bacilar e a Yersinia pestis causa a praga”. (Figura 35). FIGURA 35 – BACTÉRIAS PATOGÊNICAS. A – salmonella. B – shigella. C – yersinia FONTE: Disponível em: <http://pathmicro.med.sc.edu/fox/enterobact.htm>. Acesso em: 25 set. 2010. A B C TÓPICO 3 | ESTRUTURA DOS MICRORGANISMOS 57 Existem outros gêneros que só serão patogênicos se houver a transferência do trato intestinal para outras partes do corpo. Exemplo disso são as espécies Enterobacter, Proteus, Serratia, Klebsiella e Escherichia, que muito comumente causam infecções no sistema urinário. Devemos fazer menção aqui também do Vibrio cholerae, causador da cólera, e outro que causa a meningite de origem bacteriana em crianças, que é o Haemophilus influenzae. Pelczar, Chan e Krieg (1997a) chamam a atenção para um detalhe interessante com relação à meningite bacteriana, pois, apesar do nome H. influenza, não causa a gripe influenza, que é uma doença de origem virótica. Há também as bactérias anaeróbias Gram-negativas que dependem do sulfato ou do enxofre (gênero Desulfovibrio). Suas células têm a forma de vibrião e habitam lodos e outros ambientes aquáticos. Esses reagem com o enxofre, exalando um odor forte de ovo podre e tóxico. Entre elas estão os cocos, bacilos retos e os encurvados. Esses anaeróbios Gram-negativos predominam no intestino humano, bem como em compartimentos do estômago (rúmen) do gado e do carneiro. Entre os menores representantes das bactérias, encontram-se as Chlamydia (Clamídias). São parasitas intracelulares obrigatórios, ou seja, elas só podem viver se estiverem parasitando as células de outros organismos. Possuem um complexo ciclo de vida e causam graves infecções oculares ao homem – tracoma (Chlamydia trachomatis) – bem como doenças sexualmente transmissíveis e alguns tipos de pneumonias. Causam também as psitacose (Chlamydia psittaci) em pássaros. Outra espécie de microrganismo parasita intracelular obrigatório são as riquétsias (Rickettsia). Possuem as formas de bastões e crescem dentro ou nas superfícies das células vivas de vertebrados ou artrópodes. Vão provocar sérias doenças ao homem, entre elas a febre das montanhas rochosas e o tifo epidêmico (Rickettsia prowazekii). A grande maioria dessas doenças é transmitida ao homem através de piolhos, pulgas, carrapatos e minúsculos acarídeos, que se infectam após a ingestão de sangue de um indivíduo contaminado. Outro grupo muito interessante para o meio são os fotoautotróficos, aqui representado pelas cianobactérias (algas azuis). Para sobreviverem, elas demandam apenas de água, nitrogênio gasoso, oxigênio, alguns minerais, luz e dióxido de carbono. Nas reações de fotossíntese, elas utilizam clorofila, liberando o gás oxigênio, enquanto que muitas outras espécies, através de outros processos, fixam o nitrogênio. Desde os primórdios da história evolutiva da Terra, as cianobactérias deram ao planeta as condições ideais de vida, quando passaram a produzir, via fotossíntese, o oxigênio, transformando a atmosfera terrestre. A fotossíntese realizada pelas cianobactérias é a mesma que a dos eucarióticos fotossintetizantes e apresentam estruturas internas bem organizadas – os tilacoides. Pela teoria endossimbiótica, os cloroplastos dos seres eucariontes fotossintetizantes possuem derivação de uma cianobactéria. 58 UNIDADE 1 | MICROBIOLOGIA – FUNDAMENTOS Podem viver em associações, formando colônias, ou podem ter vida livre igual a uma única célula. As colônias de cianobactérias dependem da espécie e também das condições de crescimento para que variem o seu formato, ou seja, vão desde formato plano de uma célula até bolas esféricas. Para Purves et al. (2002), colônias filamentosas de cianobactérias diferenciam-se em três tipos de células, ou seja, células vegetativas, em esporos e heterocistos. Para os autores, as células vegetativas fotossintetizam, sendo que os esporos são células num estado de latência, podendo, eventualmente, se desenvolver em novos filamentos. Os heterocistos (Figura 36) são as células cuja especialidade é a fixação do nitrogênio, sendo que todas as cianobactérias conhecidas que apresentam heterocistos fixam nitrogênio. Outro ponto importante em relação aos heterocistos é o de que possuem outra função no processo reprodutivo, ou seja, quando acontece a soltura dos filamentos para a reprodução, o heterocisto serve como um ponto de separação. FIGURA 36 – CIANOBACTÉRIA COM HETEROCISTO FONTE: Disponível em: <http://lh6.ggpht.com/_Aq9d-kFd2wk/RmnaqMMIL7I/ AAAAAAAAAHo/v8j2k0fWR0E/Sctyonemahet.jpg>. Acesso em: 25 set. 2010. As eubactérias Gram-positivas (Firmicutes) possuem uma parede celular mais espessa que aquelas apresentadas pelas Gram-negativase, além disso, não possuem membrana externa. Boa parte da parede da bactéria Gram-positiva peptideoglicano possui uma divisão em grupos, segundo as suas características bioquímicas e morfológicas. Na classificação, os cocos Gram-positivos estão divididos em grupos, devido ao seu metabolismo celular e também pelas diferenças no arranjo celular. Um dos subgrupos que contém cocos aeróbios, sendo um gênero muito comum, é o Micrococcus, cujas células estão dispostas de forma irregular ou grupos de quatro. Outro subgrupo muito importante de cocos Gram-positivos são os que realizam reações metabólicas na presença ou na ausência do oxigênio, ou seja, são facultativos. Os mais conhecidos são do gênero Staphylococcus, que habitam a pele e membranas da mucosa humana e de outros animais vertebrados. A espécie Staphylococcus aureusse destaca-se como grande patogênica, causando infecções graves no pós- operatório, intoxicação alimentar no homem e choques tóxicos (Figura 37). TÓPICO 3 | ESTRUTURA DOS MICRORGANISMOS 59 FIGURA 37 – Staphylococcus aureus FONTE: Disponível em: <http://inst.bact.wisc.edu/inst/images/book_3/ chapter_13/13-1.jpg>. Acesso em: 25 set. 2010. Outro gênero que apresenta uma formação celular arranjada aos pares ou em cadeias e que causa várias patogenias aos seres humanos é o Streptococcus. Entre as espécies patogênicas mais destacadas está o Streptococcus pyogenes (Figura 38), que é causador de uma série de doenças graves, entre elas a angina estreptocócica, febre reumática e a escarlatina. Não podemos nos esquecer de outra espécie altamente patogênica, que causa a pneumonia bacteriana em humanos – Streptococcus pneumoniae. Existem outros não menos importantes, mas que não têm ações patogênicas graves. Entre eles, estão o Streptococcus faecalis, que faz parte da flora normal do trato intestinal humano e de outros animais; e o Streptococcus lactis que contamina o leite e outros derivados lácteos. É empregado na fabricação de fermentados lácteos e na produção de queijos. FIGURA 38 – Streptococcus pyogenes FONTE: Disponível em: <http://www.tjclarkinc.com/bacterial_diseases/ roc1.jpg>. Acesso em: 25 set. 2010. 60 UNIDADE 1 | MICROBIOLOGIA – FUNDAMENTOS Existem certas bactérias que possuem a capacidade de produzir endósporo (bactérias esporuladas), têm a forma de bastonetes, com exceções (células com formas cocoides). A formação de latência se dá quando há escassez de nutrientes no meio ambiente. O endósporo é uma estrutura altamente resistente ao calor. Existem bactérias dos gêneros Bacillus e Sporosarcina, que são aeróbias facultativas, além do gênero Desulfotomaculum e do gênero Clostridium, que são anaeróbios. Os gêneros Bacillus e Clostridium são formadores de endósporos e causadores de doenças altamente graves. Bacillus anthracis (Figura 39) causa o carbúnculo, sendo que o Clostridium perfrigens provoca intoxicação alimentar e também a gangrena gasosa. As toxinas (neurotoxinas) produzidas pelo Clostridium botulinum (Figura 40) é uma das mais letais para os seres humanos e o Clostridium tetani é responsável pelo tétano. FIGURA 39 – Bacillus anthracis FONTE: Disponível em: <http://www.cleanairsystems.biz/COMMONBACTERIA_ files/image005.jpg>. Acesso em: 25 set. 2010. FIGURA 40 – Clostridium botulinum FONTE: Disponível em: <http://student.ccbcmd.edu/courses/bio141/ labmanua/lab7/images/97184dfa.jpg>. Acesso em: 25 set. 2010. TÓPICO 3 | ESTRUTURA DOS MICRORGANISMOS 61 Os bacilos regulares são os bastonetes não formadores de esporos, um grupo com certa aparência uniforme, pois não apresentam saliências, ramificações e nenhuma outra variação na sua forma. Eles podem ser aeróbios, anaeróbios ou facultativos. Vamos encontrar o Lactobacillus (Figura 41), que é um gênero considerado não causador de patogenia. Alguns são utilizados na fabricação de iogurtes e queijos. São também saprofíticos facultativos, que estão presentes nos processos fermentativos de produtos vegetais e animais. Alguns parasitam a cavidade vaginal, bucal, bem como o trato gastrintestinal do homem e de outros animais. Existe, porém, entre os bastonetes Gram-positivos regulares, os que causam patogenia (Listeria monocytogenes) adquirida de leites e queijos pasteurizados de forma inadequada, causando quadros clínicos de aborto espontâneo, podendo ser também a causa de natimortos. UNI O iogurte foi conhecido na Europa por volta de 1542, trazido da Ásia. A palavra iogurte em turco significa “engrossar”. Era conhecido como o elixir da juventude, mas não era muito consumido, pois causava repulsa pelo seu sabor azedo. As proteínas do leite são parcialmente pré-digeridas por ação das bactérias lácticas, o que permite uma melhor digestão. FIGURA 41 – Lactobacillus FONTE: Disponível em: <http://www.futura-sciences.com/uploads/ tx_oxcsfutura/img/lacto.jpg>. Acesso em: 25 set. 2010. 62 UNIDADE 1 | MICROBIOLOGIA – FUNDAMENTOS Na mesma linha, vamos encontrar os bacilos irregulares – bactérias que não apresentam esporos, que constituem um grupo de bastonetes retos com pequena curvatura e que pode ter saliências, ramificações com alguns outros desvios da forma regular. Dentre os bastonetes irregulares mais conhecidos estão os que pertencem ao gênero Corynebacterium, sendo que algumas são saprofíticas (solo e da água), bem como causam patogenias em plantas e animais. No homem, a principal patogenia causada por essa espécie – Corynebacterium diphtheriae (Figura 42) – é a difteria. FIGURA 42 – Corynebacterium diphtheriae FONTE: Disponível em: <https://microbewiki.kenyon.edu/images/7/74/ Corynebacteriumdiphteriae.jpg> Acesso em: 22 mar. 2018. As micobactérias apresentam apenas um gênero – Mycobacterium. Entre as micobactérias, vamos encontrar saprofíticas e outras que provocam patogenias muito graves. Duas espécies se destacam: as que causam patogenias de grande interesse médico, como a tuberculose (Mycobacterium tuberculosis (Figura 43)), e a hanseníase (Mycobacterium leprae (Figura 44)). FIGURA 43 – Mycobacterium tuberculosis FONTE: D i spon í ve l em: <h t tp : / / f a rm1 . s ta t i c . f l i ck r . com/110/283397827_f071de4335_m.jpg>. Acesso em: 25 set. 2007. TÓPICO 3 | ESTRUTURA DOS MICRORGANISMOS 63 FIGURA 44 – Mycobacterium leprae FONTE: Disponível em: <http://rotadeleitura.files.wordpress.com/2010/04/ m-leprae-oms1.jpg>. Acesso em: 25 set. 2010. Um grupo altamente variado de bactérias é o dos Actinomicetos (Figura 45). Esse grupo desenvolve um perfeito e elaborado sistema de ramificação filamentoso. Um dado interessante é que essas bactérias possuem semelhanças muito grandes às estruturas de fungos filamentosos. Certos actinomicetos se reproduzem, formando correntes de esporos em suas extremidades filamentosas. Porém, nas espécies que não formam esporos, a ramificação que está em crescimento, bem como a estrutura filamentosa, cessa e toda a estrutura se quebra em bastonetes e cocos típicos que depois se reproduzem por fissão binária (Figura 46). UNI Fissão binária é o processo de reprodução assexuada, comum nos organismos unicelulares. É um processo simples, de divisão de uma célula em duas, cada célula-filha com o mesmo genoma da célula-mãe. 64 UNIDADE 1 | MICROBIOLOGIA – FUNDAMENTOS FIGURA 45 – Actinomicetos FONTE: Disponível: <http://mmbr.asm.org/content/80/1/1.full.pdf> Acesso em: 22 mar. 2018. FIGURA 46 – DIVISÃO DE UMA BACTÉRIA POR CISSIPARIDADE OU FISSÃO BINÁRIA FONTE: Disponível em: <http://static.infoescola.com/wp-content/ uploads/2009/11/cissiparidade-fissao-binaria.jpg>. Acesso em: 25 set. 2010. Duplicação do DNA DNA Mesossomos Actinoplanes Ampullariella Micromonospora Catellatospora Microbispora Microtetraspora Streptomyces Thermomonospora Saccharomonospora Thermoactinomyces Dactylosporangium PlanomonosporaFrankia Pilimelia Spirilospora Streptosporangium TÓPICO 3 | ESTRUTURA DOS MICRORGANISMOS 65 A espécie Streptomyces acrymicini é, principalmente a saprófi ta, é encontrada no solo. Possui uma importante função, que é a de degradar restos mortais de plantas e animais. Alguns podem provocar patogenias ao homem, plantas e animais. O gênero Streptomyces (Figura 47) é muito famoso, pois produz estreptomicina, tetraciclina, além de uma grande variedade de outros antibióticos, que são utilizados no tratamento de doenças humanas. FIGURA 47 – Streptomyces acrymicini FONTE: Disponível em: <http://qopn.iqsc.usp.br/files/2008/05/ streptomyces.jpg>. Acesso em: 25 set. 2010. Outro grupo muito interessante é o dos micoplasmas (Figura 48). São caracterizados por não apresentarem material de reforço por fora da membrana celular. Por isso, coram-se como Gram-negativos. São os menores microrganismos celulares já descobertos, possuindo menos da metade de DNA que a grande maioria dos organismos procarióticos. Habitam mucosas de animais e do próprio homem, sendo que alguns causam infecções e outros causam patogenias no homem como a Mycoplasma pneumoniae, que provoca a pneumonia atípica primária e a Ureaplasma urealyticum, que causa as uretrites. FIGURA 48 – COLÔNIAS DE Mycoplasma pneumoniae FONTE: Disponível em: <http://www.csdm.qc.ca/iona/LiensEducatifs/telechar gements/images/Maladies/Pneumonie/images/mycoplasmapneumoniae/ img008.jpg>.Acesso em: 25set. 2010. 66 UNIDADE 1 | MICROBIOLOGIA – FUNDAMENTOS Existe outro grupo também muito interessante que são as Arqueobactérias (Archea). Esse grupo apresenta uma fisiologia e morfologia muito variada. Vivem em ambientes de extrema salinidade, em locais onde as concentrações de oxigênio são baixas, a temperatura é alta ou em ambientes onde o valor de pH é muito baixo. Atualmente, são reconhecidos quatro grupos principais de arqueobactérias, sendo que os três primeiros possuem somente uma parede celular: os que produzem metano – metanogênicas; as arqueobactérias dependentes de enxofre; e as halobactérias (halófilas extremas). As bactérias metanogênicas são anaeróbias e compartilham a propriedade de poderem produzir gás metano (CH4). Podemos diferenciar um número muito grande de tipos de bactérias metanogênicas pela sua morfologia e pelo método de Gram. Todas são anaeróbias e são encontradas em ambientes de brejos, açudes e lagos, rúmen de bovinos e sedimentos marinhos. A produção de metano é a etapa principal nas suas reações metabólicas energéticas. Podemos encontrá-las também nas estações de água e esgoto, nos digestores anaeróbios, produzindo uma carga muito grande (milhares de m3) de gás metano por dia, que é usado como combustível para aquecer casas ou simplesmente para gerar energia. Um dado importante é citado por Purves et al. (2002), ao afirmarem que as metanogênicas liberam, por ano, aproximadamente, 2 bilhões de toneladas de gás metano na atmosfera terrestre. Purves et al. (2002) prosseguem, lembrando que elas são responsáveis pela produção de todo o metano do ar na atmosfera, inclusive os que estão associados à eructação (arrotar, expelir pela boca) dos mamíferos. Boa parte desse metano vem dos intestinos dos ruminantes (vacas). Nas estações de tratamento de esgoto, as bactérias desempenham um papel importante: ajudam a transformar os dejetos do esgoto num líquido que pode ser devolvido ao ambiente sem lhe causar problemas. ATENCAO O grupo de bactérias halófilas extremas vive em ambientes de extrema salinidade. Por possuírem pigmentos carotenoides (cor que varia entre o vermelho, o rosa e o laranja), podem ser vistos sob certas circunstâncias. Poucos organismos podem viver nesses ambientes extremos de salinidade. Outros organismos não suportariam esses ambientes, pois perderiam muita água para o ambiente altamente concentrado de sal (hipertônico), levando-os à morte. Essas halobactérias crescem no Mar Morto e em todos os tipos de água salgada. Pontos rosa-avermelhados podem, às vezes, ser vistos em peixes conservados na salmoura, que são colônias de halobactérias. TÓPICO 3 | ESTRUTURA DOS MICRORGANISMOS 67 Em fontes de água quente (termófilas – gostam de calor) e ácidas (acidófilas – gostam de acidez), vamos encontrar as arqueobactérias dependentes de enxofre (Figura 49). Encontramos membros do gênero Sulfolobus, que necessitam de oxigênio (aeróbios) e que extraem energia pela oxidação de enxofre ou de outros compostos orgânicos (açúcares e aminoácidos), em fontes sulfurosas altamente quentes de 70 ºC a 85 ºC. Chegam a “morrer de frio” em ambientes cuja temperatura atinge 55 ºC. Essas fontes quentes sulfurosas possuem também pHs altamente ácidos. O gênero citado anteriormente possui um ótimo crescimento na faixa de pH que varia de 2 a 3, podendo tolerar valores de pH muito mais baixos ainda com 0,7. A sigla pH quer dizer Potencial Hidrogeniônico. Consiste num índice que indica a acidez, a neutralidade ou a alcalinidade de uma substância qualquer. É determinado pela concentração de íons de Hidrogênio (H+). Quanto menor o pH de uma substância, maior a concentração de íons H+ e menor a concentração de íons OH-. Substâncias com valores de pH 0 a 7 são ácidas, valores em torno de 7 são neutras e valores de pH 7 a 14 são denominadas básicas ou alcalinas. Esse assunto você estudou na disciplina de Química Geral e Orgânica. ATENCAO FIGURA 49 – ARQUEOBACTÉRIAS (ARCHAEA): A. HALOGEOMETRICUM. B. HALOBACTERIUM. C. METHANOBACTERIUM FONTE: Disponível em: A. https://alchetron.com/cdn/halogeometricum-0bcb7628- c750-4dcd-bd42-313b0f11bb4-resize-750.jpeg>; B. https://upload.wikimedia.org/ wikipedia/commons/6/65/Halobacteria_with_scale.jpg>; C. <https://www.nite.go.jp/ data/000021887.jpg>. A B C 68 UNIDADE 1 | MICROBIOLOGIA – FUNDAMENTOS LEITURA COMPLEMENTAR USO INDISCRIMINADO DE ANTIBIÓTICOS E INFECÇÃO HOSPITALAR Itamar J. Medeiros Em recente surto de infecção hospitalar que está ocorrendo em hospitais de Porto Alegre/RS provocado por uma bactéria super-resistente a antibióticos, a Acinetobactersp, capaz de agravar o já debilitado estado de saúde de pacientes graves, chama a atenção para um problema muito sério na medicina, que é a infecção hospitalar. Infecção hospitalar é aquela que se adquire dentro de um hospital. Um paciente se interna por uma determinada doença e acaba adquirindo outra através de uma bactéria que habita o ambiente hospitalar. Ao mesmo tempo em que se aprimoram os controles de infecção hospitalar, com a adoção de cuidados e com o uso de material esterilizado e principalmente descartável, surgem novos germes resistentes à ação de medicamentos. As causas desse fenômeno dizem respeito não apenas à biologia, mas ao uso, por vezes, indiscriminado de antibióticos por parte da população. O uso de antibióticos sem a menor indicação médica acaba determinando com o passar do tempo um fenômeno chamado resistência ao antibiótico. Assim, a bactéria adquire resistência àquele antibiótico usado indiscriminadamente, de modo que ele não faz mais nenhum efeito sobre aquela bactéria, não curando, portanto, a doença que está sendo tratada. Isso determina gasto de tempo, dinheiro e piora do estado clínico do paciente. Assim como os seres humanos, os germes seguem as regras da evolução das espécies. Ao longo de décadas, eles foram se modificando para se adaptar às mudanças do ambiente e resistir às investidas de seus agressores. A ação de medicamentos cada vez mais potentes induz alterações na estrutura do DNA dos germes, que resulta em mutações genéticas novas e, portanto, desconhecidas pelos cientistas. Para impedirem a entrada de drogas em seu organismo, os germes reforçam a sua membrana celular ou criam sistema de proteção, além de desenvolverem estratégias de sobrevivência em diferentes ambientes.Com a chegada dos antibióticos, esse mecanismo de adaptação dos germes se sofisticou ainda mais. Cada vez que cresce o uso de antibióticos, há um aumento da resistência dos germes a esse tipo de medicação na mesma proporção. TÓPICO 1 | HISTÓRIA DA MICROBIOLOGIA 69 O problema se agrava quando há mau uso desse tipo de medicamento dentro e fora dos hospitais. É muito comum encontrar pacientes tomando antibióticos sem prescrição médica que foram indicados por uma vizinha, por um balconista de farmácia, por um amigo, pessoas sem nenhuma formação médica e que, desconhecem o modo de ação do medicamento, seu tempo de duração, seu metabolismo, seus efeitos secundários e principalmente as principais indicações. A isso se chama “empurroterapia”. A infecção hospitalar não é sinônimo de erro médico. As bactérias, vírus, fungos e outros microrganismos são inerentes aos hospitais, assim como estão presentes no nosso corpo e por toda à parte. Eles se tornam uma ameaça em locais onde as pessoas estão mais debilitadas, como nos hospitais e quando não há cuidados preventivos. Portanto, cabe a cada um de nós contribuirmos para evitar que a infecção hospitalar e a resistência aos antibióticos ocorram. Para isso, basta simplesmente cuidarmos da nossa saúde e evitarmos o uso indiscriminado de antibióticos. Sempre que for preciso, devemos procurar orientação médica. FONTE: Adaptado de: <http://portalpanorama.com/2008/04/11/uso-indiscriminado-de-antibioticos- e-infeccao-hospitalar/>. Acesso em: 25 set. 2010. 70 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico você estudou que: • Dentro do grupo das eubactérias Gram-negativas existem algumas categorias que são diferenciadas com base nas características de sua morfologia, como a sua motilidade, forma e apêndices, na presença ou não de endósporos ou com a formação de micélio. • Outras possuem características relacionadas ao oxigênio e pela fonte utilizada de energia. • Os micoplasmas são desprovidos de parede celular. • As Archea (arqueobactérias) são divididas segundo o critério de presença ou de ausência de parede celular. • As que terão presença de parede celular incluem as anaeróbias e produtoras de metano; bactérias halófilas extremas e, por último, as dependentes de enxofre. • Um quarto grupo, sem a presença de parede celular, tem o seu melhor desenvolvimento em locais com temperaturas extremas e com pH extremamente baixos. • Fissão binária é um processo simples de divisão de uma célula em duas, cada célula-filha com o mesmo genoma da célula-mãe. 71 1 De acordo com a estrutura de suas paredes celulares, descreva qual é a diferença entre as bactérias Gram-positiva e Gram-negativa. 2 Espiroquetas são bactérias Gram-negativas. Analise as afirmativas a seguir e classifique-as em V verdadeiras ou F falsas: ( ) Possuem estruturas próprias, caracterizadas por filamentos axiais. ( ) São conhecidas como bactérias coloidais espiraladas. ( ) Por serem muito finas, não são facilmente visualizadas pelo método da coloração Gram. ( ) São saprófitas e vivem livres na lama, na água e nos sedimentos marinhos. Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) A sequência correta é: V – F – V – V. b) ( ) A sequência correta é: F – F – V – V. c) ( ) A sequência correta é: V – V – F – F. d) ( ) A sequência correta é: V – F – F – V. 3 Cite 3 espécies de bactérias e sua respectiva doença que acomete o ser humano. 4 Associe as colunas a seguir de acordo com o nome da bactéria e a doença que ela causa: 5 Para que servem os heterocistos? 6 Considere os seguintes processos: I- Produção de iogurtes e queijos. II- Produção de açúcar a partir da cana. III- Fixação de nitrogênio no solo pelo cultivo de leguminosas. IV- Extração do amido do milho. AUTOATIVIDADE I- Neisseria gonorrhoeae II- Neisseria meningitidis III- Salmonela IV- Vibrio cholerae V- Rickettsi aprowazekii ( ) Cólera ( ) Tifo ( ) Gonorreia ( ) Febre tifoide ( ) Meningite 72 Quais dos processos acima mencionados dependem da participação de microrganismos? a) ( ) Os processos I e II dependem da participação de microrganismos. b) ( ) Os processos II e III dependem da participação de microrganismos. c) ( ) Os processos I e III dependem da participação de microrganismos. d) ( ) Os processos II e IV dependem da participação de microrganismos. e) ( ) Os processos III e IV dependem da participação de microrganismos. 7 A seguir estão listadas características de três diferentes grupos de arqueobactérias ou arqueas: termófilas extremas (ou termoacidófilas), halófitas extremas e metanogênicas: I- São anaeróbicas estritas e importantes decompositoras de matéria orgânica, sendo comuns em áreas pantanosas desprovidas de oxigênio. II- São encontradas em estações de tratamento de lixo e no aparelho digestório de cupins e herbívoros. III- Ocorrem em lagoas rasas de evaporação, formadas por água do mar, nas quais se obtém o sal de cozinha. IV- Obtêm energia da oxidação do enxofre, sendo quimiossintetizantes e ocorrem em fontes termais ou fendas vulcânicas, localizadas nas profundezas oceânicas. A correspondência entre as características descritas e os três grupos de arqueobactérias está corretamente apresentada em: a) ( ) Termófilas extremas - IV; Halófitas extremas - II; Metanogênicas - I e III. b) ( ) Termófilas extremas - I e II; Halófitas extremas - III; Metanogênicas - IV. c) ( ) Termófilas extremas - IV; Halófitas extremas - III; Metanogênicas - I e II. d) ( ) Termófilas extremas - IV; Halófitas extremas - II e III; Metanogênicas - I. e) ( ) Termófilas extremas - II e III; Halófitas extremas - IV; Metanogênicas - I. FONTE: Adaptado de: <http://www.vestibulandoweb.com.br/biologia/monera.asp>. Acesso em: 27 nov. 2010. Agora você desenvolverá duas atividades laboratoriais da disciplina de Microbiologia, retiradas do Manual de Atividades Laboratoriais e didático-pedagógicas de Ciências Biológicas. ATENCAO 73 PRÁTICA - MICROBIOTA E HIGIENIZAÇÃO DE MÃOS 1 INTRODUÇÃO Essa prática requer que você, professor-tutor externo, prepare o material com 24 horas de antecedência da realização da aula. ATENCAO A higienização das mãos é a medida individual mais simples e menos dispendiosa para prevenir a propagação das infecções. As mãos constituem a principal via de transmissão de micro-organismos, pois a pele é um possível reservatório de diversos micro-organismos, que podem se transferir de uma superfície para outra, por meio de contato direto (pele com pele), ou indireto, ou através do contato com objetos e superfícies contaminados (BRASIL, 2007). A pele das mãos contém, principalmente, duas populações de micro- organismos: a microbiota residente e a transitória. A microbiota residente é constituída por micro-organismos de baixa virulência, como Staphylococcus, Corynebacterium e Micrococcus, pouco associados às infecções veiculadas pelas mãos. É mais difícil de ser removida pela higienização das mãos com água e sabão, uma vez que coloniza as camadas mais internas da pele. A microbiota transitória coloniza a camada mais superficial da pele, o que permite sua remoção mecânica pela higienização das mãos com água e sabão, sendo eliminada com mais facilidade quando se utiliza uma solução antisséptica. É representada, tipicamente, pelas bactérias Gram-negativas, como enterobactérias (BRASIL, 2007). Entre os principais agentes antissépticos, substâncias aplicadas à pele para reduzir o número de agentes da microbiota transitória e residente, destacam-se: álcoois, clorexidina, compostos de iodo, iodóforos e triclosan (BRASIL, 2007). Esta atividade prática envolve as áreas de microbiologia e higiene pessoal buscando a promoção da saúde através da educação, da adoção de estilosde vida saudáveis e a responsabilidade no controle da disseminação de doenças infecciosas. Lembre-se de que, além do seu Professor-Tutor Externo, Coordenador, Articulador do Polo de Apoio Presencial, você também pode contar com o Apoio dos Supervisores de Disciplina e dos Professores-Tutores Internos. 74 2 OBJETIVOS Os objetivos desta prática são: - conhecer a microbiota residente e transitória da pele; - visualizar as diferenças morfológicas das colônias bacterianas; - observar a alteração de cor no meio de cultura devido à utilização do sal manitol; - testar diferentes sabonetes ou antissépticos para realização da higienização das mãos; - conhecer o procedimento de higienização de mãos recomendado pela Anvisa. 3 MATERIAIS - água destilada ou fervida; - algodão para fazer tampão para o Erlenmeyer; - autoclave (substituição – bico de Bunsen); - balança; - bico de Bunsen; - caneta esferográfica (para escrever em vidro); - Erlenmeyer para pesar e esterilizar o meio de cultura (ágar sal manitol); - espátula; - estufa (substituição – incubar em temperatura ambiente); - meio de cultura – Agar Sal Manitol; - placas de Petri descartáveis; - sabonete líquido; - tela de amianto; - tripé universal. 4 PROCEDIMENTO 4.1 MEIO DE CULTURA - Pese a quantidade necessária do meio de cultura, Ágar Sal Manitol, de acordo com as instruções do fabricante. - Adicione a água destilada ou fervida e leve o meio de cultura a fervura até a completa homogeneização do meio. Se possível, esterilize em autoclave a 121º C por 15 minutos. - Distribua o meio de cultura, em condições assépticas, (próximo ao Bico de Bunsen) ainda quente (temperatura de aproximada de 50o C). A quantidade de meio de cultura colocado em cada placa de Petri varia de acordo com o tamanho da placa (12 a 20 mL de meio por placa). - Deixe o meio de cultura esfriar para que ocorra a solidificação do meio. - Faça o teste de esterilidade do meio de cultura, incubando em estufa por 24 horas em temperatura de 35 a 37º C, ou deixe em temperatura ambiente por 24 horas antes de continuar o experimento. 75 4.2 COLETA DE AMOSTRAS - Divida com um risco, utilizando uma canetinha, a parte inferior da placa de Petri em duas áreas iguais. - Identifique as áreas da placa como “mão sem higienizar” e “mão higienizada”. Identifique também o grupo através de número ou nome. - Realize a coleta, através da impressão digital dos dedos da mão direita, na superfície do meio de cultura Ágar Sal Manitol identificada como mão sem higienizar. - Higienize as mãos e repita o procedimento de coleta das digitais com a mão direita na superfície do meio de cultura Ágar Sal Manitol identificada como mão higienizada. - Incube as placas de 35 a 37º C, por 24 a 48 horas. - Realize a caracterização macroscópica das colônias. - Realize a comparação do crescimento microbiano entre as amostras de mãos sem higienizar e higienizadas. 5 INTERPRETAÇAO DOS RESULTADOS Espera-se que você observe, após a incubação, diferenças na morfologia colonial das culturas bacterianas. Staphylococcus aureus cresce no Agar Sal Manitol e fermenta o manitol para produzir colônias amarelas com zonas amarelas (Figura 1). FIGURA 1 – ÁGAR SAL MANITOL COM CRESCIMENTO DE COLÔNIAS AMARELAS, SUSPEITAS DE STAPHYLOCOCCUS AUREUS FONTE: Disponível em: <https://www.biomedicinapadrao.com.br/2011/11/guia- meios-de-cultura-para-bacterias.html> Acesso em: 22 mar. 2018. Após a realização da prática descreva os resultados obtidos e discuta-os a partir dos questionamentos a seguir: 1 Explique a alteração na cor das colônias e no meio de cultura, Ágar sal manitol, quando ocorre o crescimento de Staphylococcus aureus. 2 Apresente o resultado da contagem das colônias em Unidade Formadora de Colônia - UFC, nos meios de cultura do seu grupo, antes e após a higienização das mãos e verifique se o processo de controle microbiano foi eficiente. 76 UNI Cuidados com DESCARTE e SEGURANÇA: • As placas de Petri, com crescimento microbiano, devem ser esterilizadas em autoclaves para somente depois fazer o descarte como resíduos sólidos comuns (domiciliares). • Caso não seja possível fazer a esterilização, descartá-las como resíduos sólidos contaminados, ou potencialmente contaminados. REFERÊNCIAS BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Higienização das mãos em serviço de saúde. Brasília: ANVISA, 2007. Disponível em: <http://www.anvisa.gov. br/hotsite/higienizacao_maos/manual_integra.pdf>. Acesso em: 5 mar. 2012. OPLUSTIL, C. P.; ZOCCOLI, C. M.; TOBOUTI, N. R.; SINTO, S. I. Procedimentos básicos em microbiologia clínica. 3° ed. São Paulo: Sarvier, 2010. Esta prática foi retirada da obra: PELISSER, M. R.; WALTER, J. M. Prática - Microbiota e higienização de mãos. IN: GIRARDI, Carla Giovana et al. Manual de atividades laboratoriais e didático-pedagógicas de ciências biológicas. Indaial: Grupo UNIASSELVI, 2012. p. 87-91. ATENCAO 3 Compare os resultados dos diferentes sabonetes e antissépticos utilizados para realização da higienização das mãos. 77 PRÁTICA - COLORAÇÃO DE GRAM 1 INTRODUÇÃO A coloração de Gram é utilizada para classificar as bactérias com base na morfologia e na reação aos corantes de Gram. Adicionalmente, esse teste auxilia na identificação rápida e presuntiva de micro-organismos. As bactérias são gram- positivas ou gram-negativas de acordo com as diferenças na composição química da parede celular e presença ou ausência de membrana externa. É importante destacar que o conteúdo desta prática relaciona-se com outras disciplinas do curso, especialmente, a citologia. Desejamos bons estudos ao longo desta disciplina. Que você perceba a cada leitura e/ou atividade realizada, a satisfação de consolidar a formação do seu conhecimento, tanto profissional como pessoal. Lembre-se que além do seu Professor-Tutor Externo, Coordenador, Articulador do Polo de Apoio Presencial, você também pode contar com o Apoio dos Supervisores de Disciplina e os Professores -Tutores Internos. Boa prática! DICAS Leia mais sobre morfologia celular bacteriana na Unidade 1 do Livro Didático de Microbiologia. 2 OBJETIVOS Os objetivos desta prática são: - preparar o esfregaço bacteriano para realização da coloração de Gram; - realizar a coloração de Gram; - conhecer as principais formas e arranjos celulares bacterianas. 3 MATERIAIS - água destilada; - alça bacteriológica ou de Henle ou de semeadura; - bico de Bunsen; - corantes: cristal-violeta, solução de Lugol, mistura de álcool-acetona (1:1) ou álcool etílico a 95%, solução de safranina ou Fucsina básica 0,1% a 0,2%; 78 - cultura de bactéria em meio sólido ou líquido, ou amostra de urina; - lâminas; - suporte para realizar a coloração. 4 PROCEDIMENTO 4.1 PREPARAÇÃO DO ESFREGAÇO - Coloque na bancada todo o material necessário para realização do esfregaço (Figura 1A). - Realize a flambagem da alça bacteriológica (Figura 1B). - Utilize uma gota de salina estéril em uma lâmina limpa, caso a origem da amostra seja a partir de meio sólido (Figura 1C). Ou coloque diretamente sobre a lâmina uma gota da amostra que será analisada como, por exemplo, uma gota de urina. - Transfira uma pequena porção da colônia com alça bacteriológica (Figura 1D). - Misture suavemente para obter um esfregaço levemente turvo e homogêneo (Figura 1E). - Observação: para evitar a formação de aerossóis, nunca misture o material vigorosamente. FIGURA 1 – ETAPAS DA PREPARAÇÃO DO ESFREGAÇO PARA COLORAÇÃO DE GRAM FONTE: Disponivel em: <http://www.kasvi.com.br/wp-content/uploads/2017/03/ coloracao-de-Gram.jpg> Acesso em: 22 mar. 2018 (adaptado). Gram-positiva Gram-negativa LAVAR COM ÁGUA LAVAR COM ÁGUA LAVAR COM ÁGUA Violeta de Genciana (1 minuto) Lugol (Iodo) (1 minuto)Álcool Absoluto (15 segundos) Fuscina (30 segundos) 4.2 FIXAÇÃO DO ESFREGAÇO PELO CALOR Todo o esfregaço, antes de ser submetido à coloração, deverá estar seco (exposto ao ar), sendo fixado com calor brando, 50ºC (Figura 2A). A fixação excessiva e o superaquecimento irão distorcer a morfologia celular e a fixação insuficiente permitirá a saída do material durante o processo de coloração. Deixe a lâmina esfriar antes de iniciar a coloração. 79 FIGURA 2 – FIXAÇÃO DO ESFREGAÇO ATRAVÉS DO CALOR FONTE: Os autores 4.3 COLORAÇÃO DE GRAM a) Bateria de corantes para coloração de Gram (Figura 3A). b) Core o esfregaço com a solução de cristal violeta durante 1 minuto (Figura 3B). c) Descarte o cristal-violeta e lave a lâmina em água, durante alguns segundos (Figura 3C). d) Cubra com a solução de lugol (iodo + iodeto de potássio) durante 1 minuto (Figura 3D). e) Lave a lâmina em água destilada, rapidamente. f) Descore em solução de álcool-acetona ou álcool etílico a 95%, mediante lavagens sucessivas até que cesse a liberação do corante; usualmente, 3 aplicações são suficientes, com um tempo total de 30 segundos a 1 minuto (Figura 3E). g) Lave a lâmina em água destilada. h) Cubra o esfregaço com safranina ou fucsina diluída (1/10). Deixar durante 30 segundos (Figura 3F). i) Lave em água durante 5 segundos, seque a lâmina e examine o esfregaço ao microscópio. FIGURA 3 – ETAPAS DA PREPARAÇÃO DO ESFREGAÇO PARA COLORAÇÃO DE GRAM FONTE: Os autores 80 4.4 LEITURA DO GRAM Utilizando a objetiva de menor aumento (10X), fazer uma análise do esfregaço como um todo, avaliando: - A qualidade da coloração e a espessura do esfregaço. - Adicione o óleo e passe para a objetiva de imersão (100X) e examine várias áreas para melhor avaliação da coloração e dos diferentes tipos de micro-organismos presentes, formas celulares e tipo de coloração. 5 INTERPRETAÇÃO DE RESULTADOS Depois da realização da prática, descreva os resultados obtidos e discuta- os a partir dos questionamentos a seguir: 1 Explique por que algumas bactérias ficam coradas em azuis e outras em vermelho após a aplicação dos corantes de Gram. 2 Faça um quadro para registrar as formas, arranjos e Gram das lâminas visualizadas. 3 De acordo com as características morfológicas e tinturais das células microbianas visualizadas em aula, quais são os possíveis micro-organismos detectados? FIGURA 4 – COCOS GRAM POSITIVOS (A) E BASTONETES GRAM NEGATIVOS EM B FONTE: Disponível em: http://www.foa.unesp.br/home/extensao/praticandociencia/1- bacterias-cocos.pdf Acesso em: 22 mar. 2018. UNI DESCARTE/SEGURANÇA - As placas de Petri, com crescimento microbiano, devem ser esterilizadas em autoclaves para somente depois fazer o descarte como resíduos sólidos comuns (domiciliares). Citoplasma Células epiteliais da Mucosa Bucal NúcleoBactérias Bactéria (cocos Gram-positivos) (bastonete Gram-negativo) 81 REFERÊNCIAS SILVEIRA, P. Coloração de Gram. 2011. Disponível em: <http://magicnumbers- parussolo.blogspot.com/2011/06/coloracao-de-gram.htmL.pdf>. Acesso em: 8 fev. 2012. OPLUSTIL, C. P.; ZOCCOLI, C. M.; TOBOUTI, N. R.; SINTO, S. I. Procedimentos básicos em microbiologia clínica. 3. ed. São Paulo: Sarvier, 2010. Esta prática foi retirada da obra: PELISSER, M. R.; WALTER, J. M. Coloração de Gram. IN: TORRES,F. S.; PELISSER, M. R. ; BIANCO, R. J. F. (Org.). Manual de atividades laboratoriais e didático-pedagógicas de Ciências Biológicas. Centro Universitário Leonardo da Vinci – Indaial: Grupo UNIASSELVI, 2012. p. 105-109. ATENCAO - Caso não seja possível fazer a esterilização, descartá-las como resíduos sólidos contaminados, ou potencialmente contaminados. - Os corantes utilizados para coloração de Gram deverão ser armazenados em recipiente adequado para posterior encaminhamento para empresa de tratamento de resíduos sólidos. - As lâminas coradas com Gram podem ser reutilizadas após serem limpas com álcool 70%. 82 83 UNIDADE 2 METABOLISMO E GENÉTICA MICROBIANA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS Nessa unidade vamos: • distinguir reações exotérmicas de reações endotérmicas; • mencionar a importância da transferência de energia em uma célula, bem como o composto que promove; • poder diferenciar respiração e fermentação; • explicar o processo de replicação do material genético de uma célula e o que é expresso pelo código genético; • compreender as aplicações que os microrganismos têm no campo industrial; • diferenciar microbiologia industrial tradicional da biotecnologia atual. Esta segunda unidade está dividida em três tópicos. Você encontrará, no fi- nal de cada um deles, leituras complementares e atividades que contribuirão para a compreensão dos conteúdos explorados. TÓPICO 1 – CONCEITOS ESSENCIAIS DE METABOLISMO TÓPICO 2 – GENÉTICA MICROBIANA E VARIABILIDADE TÓPICO 3 – BIOTECNOLOGIA 84 85 TÓPICO 1 CONCEITOS ESSENCIAIS DE METABOLISMO UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Há uma necessidade dos organismos vivos em retirar energia utilizável biologicamente dos alimentos ingeridos, o que constitui uma função primária dos animais de todas as espécies. Esses organismos são, de certa forma, verdadeiras máquinas químicas, pois essa função só é obtida através da atividade de uma série de catalisadores biológicos (enzimas) e outras estruturas que levam diretamente ou indiretamente a uma sequência de reações químicas. Uma atividade libera energia e a outra se utiliza dessa energia disponível. A energia que está disponível é utilizada para a realização de trabalho pela célula, ou seja, a célula viva realiza vários tipos de trabalho, como o de reparar danos na própria célula, produção de substâncias químicas (enzimas), síntese da parede celular, bem como da membrana plasmática. Para que ela possa realizar tudo isso, é necessária uma grande quantidade de energia que será retirada pela célula das moléculas químicas (alimentos – nutrientes). Com a quebra dessas moléculas químicas, veremos que a energia é liberada sob a forma de energia química e que é armazenada pela célula, para que mais tarde ela possa utilizá-la para a realização de trabalho. Alguns organismos utilizam como fonte de energia a luz – processam e convertem-na em energia química, utilizada no metabolismo. Esse tópico trata de alguns princípios que norteiam o metabolismo (reações químicas) com produção de energia e, assim, podemos entender como os microrganismos armazenam a energia liberada durante essas reações. 2 METABOLISMO CELULAR E FONTES DE ENERGIA DOS MICRORGANISMOS Para que possamos entender o metabolismo celular, precisamos saber das necessidades nutricionais das células. Os elementos químicos necessários para o crescimento celular são: carbono, nitrogênio, oxigênio, enxofre e fósforo. Sabemos que todos os organismos requerem carbono na sua dieta alimentar e, em geral, compostos orgânicos são todos aqueles que possuem carbono. O carbono forma um tripé alimentar, que são os carboidratos, lipídeos e as proteínas, sendo que essas últimas fornecem uma parte de energia, que serve como unidade básica do material celular utilizado pela célula para o seu crescimento. Vamos ver mais adiante que os seres heterotróficos retiram o carbono dos compostos orgânicos a UNIDADE 2 | METABOLISMO E GENÉTICA MICROBIANA 86 partir do meio e o utilizam como sua fonte principal de energia, ou simplesmente capturam organismos autotróficos ou mesmo heterotróficos. Já os organismos autotróficos valem-se do carbono, capturando o CO2 do meio. Outro elemento de importância na dieta alimentar dos organismos é o nitrogênio, que é o elemento essencial para formação dos aminoácidos, ou seja, as unidades que formam as proteínas. Os organismos eucariontes não possuem a versatilidadedas bactérias no uso do N (nitrogênio), pois algumas delas podem se valer da fixação do nitrogênio atmosférico (N2) como meio de utilização ou se valem de outros compostos nitrogenados, tais como: sais de amônia, nitritos, nitratos. Existem aqueles que utilizam compostos orgânicos (aminoácidos e peptídeos). Os outros elementos (hidrogênio, oxigênio, enxofre e fósforo) também são essenciais para todos os organismos. O hidrogênio e o oxigênio compõem muitos outros compostos orgânicos e fazem parte de uma molécula que é essencial para a vida – a água (H2O). Temos no fósforo a importância de fazer parte da síntese de ácidos nucleicos, além de compor a principal molécula energética, o ATP. IMPORTANT E Caro acadêmico! Trifosfato de adenosina, adenosina trifosfato ou simplesmente ATP, é um nucleotídeo responsável pelo armazenamento de energia em suas ligações químicas. Você estudará este assunto na disciplina de Bioquímica. Vamos adiante! Para a biossíntese de aminoácidos (metionina, cistina, cisteína), os organismos utilizam-se do enxofre (S). Encontramos alguns desses elementos tanto no ar como na água. Há íons inorgânicos, tais como fosfatos e sulfatos que, de certa forma, podem suprir alguns dos principais elementos que fazem parte dos nutrientes necessários aos microrganismos. NOTA Os microrganismos requerem outros elementos que são essenciais para o metabolismo celular (zinco, manganês, sódio, ferro, molibdênio etc.), só que em quantidades bem menores. Como vimos anteriormente, todo organismo vivo gasta energia de forma contínua para poder manter as diversas atividades celulares, cujas moléculas são modificadas, rompidas ou ligadas entre si, para que mais tarde TÓPICO 1 | CONCEITOS ESSENCIAIS DE METABOLISMO 87 FIGURA 50 – CATABOLISMO E ANABOLISMO Energia ATP ADP Sintese de ATP a partir de ADP e Pi requer energia. Hidrólise de ATP para ADP e Pi libera energia. Reação endergônica (requer energia) • Transporte activo • Movimento • Anabolismo Reação exergônica (libera energia) • Respiração celular • Catabolismo Pi+ Energia FONTE: Disponível em: <http://biogilde.wordpress.com/2009/05/page/2/>. Acesso em: 23 out. 2010. Um exemplo de reação de síntese muito interessante é quando os organismos, para formar proteínas, precisam da união de vários aminoácidos. Quando quebram o glicogênio em moléculas menores de glicose, temos um exemplo de uma reação de degradação. Portanto, todas as reações que necessitam de energia para sintetizar moléculas mais complexas a partir de moléculas simples são denominadas anabolismo (reações de síntese) (PELCZA; CHAN; KRIEG, 1997a). Em contrapartida, reações que liberam energia através da quebra de moléculas altamente complexas em moléculas mais simples são denominadas catabolismo (PELCZA; CHAN; KRIEG, 1997a). Essa quebra é necessária para que as moléculas produzidas possam ser reutilizadas como unidades básicas de construção. As reações catabólicas fornecem ao organismo vivo toda a energia necessária para que ele possa realizar todos os seus processos vitais, incluindo, aqui, o movimento, o transporte de substâncias e a síntese de moléculas complexas para o anabolismo. O que não se deve esquecer é que, por meio das reações catabólicas, os organismos vivos obtêm a matéria-prima e a energia suficiente à vida. As reações de degradação e síntese são processos opostos, porém, nos microrganismos, esses processos vão interagir e vão acontecer simultaneamente (Figura 51). sejam transformadas em outras. Podemos entender então que o metabolismo é essa intensa e contínua atividade de transformações químicas que é realizada pelos organismos vivos (Figura 50). Os processos metabólicos são comumente classificados em dois tipos fundamentais. Num primeiro momento, as moléculas altamente complexas são quebradas e convertidas em outras mais simples – chamadas de reações de degradação. Em um segundo tipo de reação, o que se percebe é que as moléculas mais simples unem-se para formar moléculas maiores e bem mais complexas – chamadas de reações de síntese. UNIDADE 2 | METABOLISMO E GENÉTICA MICROBIANA 88 FIGURA 51 – CONEXÃO ENTRE OS PROCESSOS DE DEGRADAÇÃO E SÍNTESE EM CÉLULAS MICROBIANAS Produtos da degradação servem como unidades básicas para a produção dos compostos celulares Sistema de armazenamento e trasnferência de energia (acoplamento) Componentes celulares tais como proteínas (enzimas), DNA, RNA, carboidratos, lípideos e estruturas celulares complexas SÍNTESE Síntese de compostos e estrutura celulares Quebra de substratos ou nutrientes DEGRADAÇÃO Crescimento celular, reprodução, manutenção e movimento Energia requerida Energia liberada FONTE: Adaptado de: Pelczar, Chan e Krieg (1997a, p. 291) Segundo Black (2002), todas as reações catabólicas envolvem a transferência de elétrons, que permite a captura de energia em ligações altamente energéticas no ATP e em moléculas similares. O ATP (adenosina trifosfato) é, sem dúvida, o mais importante composto que transfere energia e o mais utilizado pelas células, apesar de existirem vários compostos de transferência. Pode-se dizer que, em relação a todos os seres vivos, os microrganismos possuem uma grande versatilidade na obtenção de energia. Os diferentes microrganismos (Quadro 2) possuem duas formas de obterem energia (alimento). Os autotróficos são aqueles que sintetizam o seu próprio alimento – autoalimentação – e os heterotróficos são os que não possuem essa capacidade de produção, ou seja, vivem na dependência dos primeiros – alimentação externa. TÓPICO 1 | CONCEITOS ESSENCIAIS DE METABOLISMO 89 QUADRO 2 – FORMAS PELAS QUAIS OS DIFERENTES MICRORGANISMOS TRABALHAM PELA CAPTAÇÃO DE ENERGIA Bactéria Características Autotróficas Aquelas que obtêm seus átomos de carbono diretamente do gás CO2. Heterotróficas Aquelas que obtêm seus átomos de carbono a partir de moléculas orgânicas capturadas no ambiente. Fototróficas Aquelas que utilizam luz como fonte primária de energia. Quimiotróficas Aquelas que dependem de reações de oxirredução de compostos inorgânicos ou de compostos orgânicos para obtenção de energia. Fotoautotróficas São capazes de produzir elas mesmas as substâncias orgânicas que lhes servem de alimento, tendo como fonte de carbono o CO2 e como fonte de energia, a luz. Foto-heterotróficas Utilizam luz como fonte de energia, mas não conseguem converter o CO2 em moléculas orgânicas. Assim utilizando compostos orgânicos que absorvem do meio externo como fonte de carbono para a produção dos componentes orgânicos de sua célula. Essas bactérias são anaeróbias. Quimioautotróficas Utilizam oxidações de compostos inorgânicos como fonte de energia para a síntese de substâncias orgânicas a partir do CO2 e de átomos de H provenientes de substâncias diversas. Químio-heterotróficas Utilizam moléculas orgânicas como fonte de energia e de átomos de carbono que ingerem como alimento. FONTE: Disponível em: <http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:547iihhNb2 EJ:dorareviewschool.pbworks.com/f/Biology%2520Review%2520of%25202009%25201%2520an o%2520do%2520Ensino%2520M%C3%A9dio.doc+MICRORGANISMOS+CAPTACAO+ENERGIA+ AUTOTROFICO+HETEROTROFICO+QUIMIO+FOTO&cd=5&hl=pt-br&ct=clnk&gl=br>. Acesso em: 7 out. 2010. A fotossíntese é um processo promovido pelos seres autotróficos e utiliza como forma de captação energética por muitos microrganismos de vida livre (ou seja, todos os microrganismos não causadores de doença). Todos os organismos infecciosos estão no grupo dos químio-heterotróficos. Mesmo que a energia exista em diversas formas, um tipo de energia é utilizado universalmente pelos organismos vivos: a energia química. Em todas as ligações químicas que compõem os nutrientes especiais, vamos encontrararmazenada energia química. Para que os organismos possam utilizar essa energia, é necessário que essas ligações sejam quebradas durante o processo de degradação, ou seja, a quebra será realizada no nutriente ou em substratos químicos (tanto pode ser um substrato orgânico (glicose) como um inorgânico (amônia)). Quando acontece a quebra, a energia química é liberada. Pelczar, Chan e Krieg (1997a) comentam que, em condições extremamente ótimas, poderá haver, por parte das células bacterianas, a degradação de uma quantidade de nutrientes que equivaleria ao seu próprio peso em poucos segundos. UNIDADE 2 | METABOLISMO E GENÉTICA MICROBIANA 90 NOTA A energia luminosa, também chamada de energia radiante, é utilizada por alguns microrganismos que convertem essa energia em energia química, utilizando-a em funções da própria célula. Todo movimento realizado ao acaso pelas moléculas ou pelos átomos gera a chamada energia térmica. Essa energia não pode ser utilizada pelos organismos vivos. Um detalhe relevante é que certa quantidade de energia térmica se faz necessária para que se possa ter uma reação química, ou seja, a maioria das reações químicas que ocorrem nos seres vivos é realizada dentro de estreitos limites de temperatura e, mesmo na presença de um catalisador (enzima), vai ocorrer em uma velocidade rápida para que a vida possa ser mantida. Já sabemos que as enzimas são proteínas especiais encontradas em todos os organismos vivos. As enzimas agem como catalisadores – substâncias que, em quantidades pequenas, aceleram uma reação, sem que os produtos finais da reação química sofram qualquer modificação. Os catalisadores são recuperados quimicamente intactos entre os produtos finais da reação. É bom lembrar que aumentar a temperatura para acelerar uma reação química não seria viável para os organismos vivos, pois a maioria das células morre quando há um aumento excessivo na temperatura. Como já foi dito anteriormente, as reações químicas nos seres vivos acontecem dentro de um limite muito estreito de temperatura, o que vai exigir uma energia de ativação muito alta. Entende-se aqui por energia de ativação a energia necessária para produzir uma reação química, porém, sob a ação de um catalisador (enzima), haverá uma redução no valor da energia inicial, fazendo com que aumente a velocidade da reação química. Para Black (2002, p. 104), “[...], portanto, as enzimas são necessárias para a sobrevivência das células em temperaturas que elas possam suportar”. IMPORTANT E Tanto a síntese de estruturas celulares como a degradação de nutrientes não acontecem em uma só etapa. São várias as reações químicas envolvidas, sendo que cada reação é catalisada por enzimas diferentes, ou seja, por enzimas específicas. Podemos afirmar que os sistemas biológicos, bem como tudo o que existe no universo, seguem as leis gerais da termodinâmica (1ª e 2ª Leis Físicas da Termodinâmica) (PURVES et al., 2002). TÓPICO 1 | CONCEITOS ESSENCIAIS DE METABOLISMO 91 A primeira lei diz que a energia não é criada e nem destruída, ou seja, nos processos físicos e químicos, a energia pode ser perdida ou ganha, sendo transferida de um sistema para outro. Jamais poderá ser criada, muito menos destruída. Para Purves et al. (2002, p. 97), entende-se por sistema “qualquer parte do universo que contenha matéria e energia próprias. Um sistema fechado é aquele que não troca energia ao seu entorno. Uma garrafa térmica, por exemplo, não ganha e nem perde calor e, desse modo, o material em seu interior é um sistema fechado”. Já a segunda lei nos diz que nem toda a energia pode ser usada e a desordem tende a aumentar, o que ocorre é uma dissipação da energia, ou seja, nenhum processo, quer físico ou químico (reação), tem uma eficiência de 100% e boa parte da energia liberada pelo processo não pode ser convertida em trabalho. Essa energia é perdida para uma forma associada com a desorganização estrutural. A energia dissipada, bem como a desorganização de estruturas organizadas, passa a ser uma tendência natural e recebe o nome de entropia. Purves et al. (2002) comentam que essa energia é perdida para uma forma associada com a desordem. Os trabalhos mecânicos e químicos são realizados pelas atividades celulares e demandam uma quantidade de energia. Temos como exemplo dois tipos de trabalho: mecânico, a movimentação de cílios e flagelos; e químico, a sintetização de macromoléculas, bem como todas as demais reações químicas que requerem energia para acontecer. Numa reação química, temos de um lado os reagentes e do outro lado o produto final dessa reação química. Os átomos, através das ligações químicas, formam moléculas que constituem a matéria. É através das energias de ligações que teremos a energia necessária a ser utilizada pelas células para as atividades vitais, ou seja, em todas as reações químicas ocorrerão quebras de ligações entre os átomos das moléculas reagentes, liberando os átomos para um rearranjo em combinações diferentes, gerando, com isso, as moléculas dos produtos. Em alguns tipos de reação química, observamos que o total de energia que está presente nas ligações químicas dos produtos é bem maior que aquela que existia nas ligações químicas entre os átomos dos reagentes. Logo, para que essa reação possa ocorrer, deverá acontecer a adição de energia ao sistema vindo de alguma fonte externa, ou seja, essa reação irá absorver energia do ambiente – reação endotérmica ou endergônica (PELCZAR; CHAN; KRIEG, 1997a). O que vamos observar em outros tipos de reações químicas é justamente o contrário, em que o total de energia encontrada nas ligações químicas dos produtos é muito menor do que aquelas que existiam nas ligações entre os átomos dos reagentes. Esses tipos de ligações são denominados exotérmicos ou exergônicos (PELCZAR; CHAN; KRIEG, 1997a). Trocas de energia acontecem entre as células nos sistemas biológicos através de transferências de elétrons ou pelas alterações no nível energético dos elétrons que participam das ligações químicas. Observe a figura a seguir. UNIDADE 2 | METABOLISMO E GENÉTICA MICROBIANA 92 FIGURA 52 – A(I) – REAÇÃO ENDERGÔNICA. B(I) – REVAÇÃO EXERGÔNICA. (II) – HIDRÓLISE DO ATP FONTE: Disponível em: <http://biogilde.wordpress.com/tag/atp/>. Acesso em: 10 out. 2010. IMPORTANT E Podemos dizer, então, que as reações exergônicas estão diretamente ligadas à degradação de substratos químicos ou de nutrientes. Em contrapartida, as reações endergônicas estão ligadas a toda síntese dos constituintes celulares. Segundo Pelczar, Chan e Krieg (1997a), os organismos desenvolveram um processo interessante chamado de acoplamento energético (Quadro 3), que promove a ligação dessas reações. Energia transferida Energia Energia Energia transferida Reagentes Reagentes Decurso de reação Decurso de reação En er gi a co nt id a na s m ol éc ul as En er gi a co nt id a na s m ol éc ul as A B Produtos Catabolismo Anabolismo ADP+ Produtos P ATP H2O+ TÓPICO 1 | CONCEITOS ESSENCIAIS DE METABOLISMO 93 QUADRO 3 – ACOPLAMENTO ENERGÉTICO Reação exergônica libera energia Parte da energia é armazenada em um composto de trasnferência de energia Os compostos de trasnferência de energia doam a energia armazenada para uma reação endergônica. FONTE: Pelczar, Chan e Krieg (1997a, p. 292). A energia necessária para que a vida se mantenha é fornecida pela degradação das moléculas orgânicas que os organismos utilizam como alimento. A molécula de ATP (Figura 53) foi mencionada anteriormente, bem como o papel que exerce para as células. Para Purves et al. (2002), todas as células vivas precisam de ATP para poder captar, transferir e armazenar a energia livre altamente necessária parapoderem realizar o trabalho químico e também para manterem as células. O ATP age como uma moeda de energia que circula dentro da célula e custeia os gastos metabólicos. FIGURA 53 – MOLÉCULA DE ATP O P P P CH2 O O O O O O Ribose Adenina Grupo fosfato O O O FONTE: Adaptado de: <http://ubezpieczenia-rybnik.pl/images/22.jpg>.Acesso em: 10 out. 2010. Os organismos heterotróficos obtêm a energia livre dos seus processos metabólicos ao desdobrarem as moléculas orgânicas complexas do meio ambiente. É justamente nesses processos que a molécula de ATP desempenha um grande papel central na transferência de energia livre dos processos exergônicos (catabolismo) para os endergônicos (anabolismo). Durante o processo de catabolismo, as moléculas dos nutrientes liberam energia, sendo depois armazenada de forma temporária em um sistema de armazenamento de energia até o momento da sua utilização. Quando houver necessidade da síntese de constituintes celulares, esse sistema servirá também como um sistema de transferência de energia. UNIDADE 2 | METABOLISMO E GENÉTICA MICROBIANA 94 A produção de ATP pelos microrganismos se dá pela fosforilação, que é a adição de um grupo fosfato a um composto. Para a formação de ATP, é necessário acontecer a fosforilação do ADP (ADP + P = ATP), ou seja, teremos a adição de um grupo fosfato (P) à molécula. A energia fornecida para essa reação virá das reações exergônicas. Essa adição (fosforilação) de um grupo fosfato ao ADP se dará por três vias (PELCZAR; CHAN; KRIEG, 1997a): a) Fosforilação em nível de substrato (nas fermentações): nesse tipo de processo acontece a remoção de um grupo fosfato de um determinado composto químico, sendo adicionado de forma direta à molécula de ADP. b) Fosforilação oxidativa (na respiração): é um processo no qual a energia que é liberada pela oxidação (Quadro 4) de nutrientes (compostos químicos) é utilizada para a sintetização de ATP a partir da molécula de ADP. É bom lembrar que no processo de oxidação acontece a liberação de energia, que é tomada pelos microrganismos para a síntese de ATP. c) Fotofosforilação (durante a fotossíntese): nesse processo, vamos ter a utilização da energia da luz para a formação de ATP a partir da molécula de ADP. QUADRO 4 – COMPARAÇÃO ENTRE OXIDAÇÃO E REDUÇÃO OXIDAÇÃO REDUÇÃO a) Perda de elétrons. b) Ganho de oxigênio. c) Perda de hidrogênio. d) Perda de energia (libera energia). e) Exotérmica = Exergônica (desprende energia em forma de calor). a) Ganho de elétrons. b) Perda de oxigênio. c) Ganho de hidrogênio. d) Ganho de energia (armazena energia em compostos reduzidos). e) Endotérmica = Endergônica (necessita de energia, como a do calor). FONTE: Black (2002, p. 102) Quando acontecem rearranjos de átomos dentro dos compostos químicos, em alguns casos, temos como resultado um novo produto, que contém ligações de fosfato com alto teor energético. Os rearranjos acontecem quando as células degradam os nutrientes em compostos químicos e o grupamento fosfato, que está envolvido na ligação, será transferido de forma direta para a molécula de ADP, formando o ATP, que contém uma ligação fosfato com elevada porção energética. Um exemplo desse processo é o da glicose, utilizada pela célula como nutriente, que através de quebras e rearranjos moleculares dá origem a alguns compostos. Esse processo é chamado de fosforilação em nível de substrato. As fermentações acontecem em determinados microrganismos, que podem ser anaeróbios obrigatórios ou anaeróbios facultativos (crescem na ausência ou na presença de oxigênio). Esses organismos fermentadores, de uma forma geral, estão presentes em ambientes onde as fontes de nutrientes fermentativos são contínuas, como, por exemplo, os intestinos de animais e de TÓPICO 1 | CONCEITOS ESSENCIAIS DE METABOLISMO 95 humanos. Mesmo sabendo que a fermentação é um processo de pouca eficiência energética, a presença de bactérias nos compartimentos citados é muito grande. Isso acontece porque, mesmo sendo um processo de pouca eficiência, ele produz uma quantidade muito grande de ATP, se a disponibilidade de nutrientes fermentativos que estão disponíveis é ilimitada. Em locais onde a quantidade de nutrientes é muito baixa (superfícies de lagos sem poluição), os microrganismos (heterotróficos) optam por um processo bem mais eficiente, que é a respiração para poderem obter energia. DICAS Caro acadêmico! Para descontrair um pouco e relaxar, vamos mudar nossa metodologia. Acesse o site: <http://biogilde.wordpress.com/tag/atp/>. Você encontrará uma explicação mais aprofundada sobre este assunto, com figuras e um vídeo. Vale a pena conferir! A respiração é a obtenção de energia por oxidação de substratos reduzidos. Nas reações de oxidação ocorre a liberação de energia e vários organismos conseguem desenvolver vias que permitem a sua utilização na síntese do ATP. Essa síntese se dá através das reações de oxidação para a produção do ATP a partir do ADP. Essas reações são chamadas de fosforilação oxidativa. Através de uma série integrada de reações oxidativas em sequência, a energia é liberada (Quadro 5). QUADRO 5 – ESQUEMA DE REAÇÕES DE OXIDAÇÃO SEQUENCIAL Sistema de trasnporte de elétrons A energia é armazenada temporariamente em forma de força promotiva A força promotiva fornece energia para a síntese do ATP a partir do ADP. FONTE: Pelczar, Chan e Krieg (1997a, p. 295) UNIDADE 2 | METABOLISMO E GENÉTICA MICROBIANA 96 Entendemos por oxidação a perda de um ou vários elétrons de uma molécula ou de um átomo, bem como a imediata transferência dos elétrons para as moléculas e para os átomos receptores. Para Pelczar, Chan e Krieg (1997a), boa parte das reações oxidativas que envolvem o meio biológico envolvem também a perda de um átomo de hidrogênio de alguma molécula (Figura 54A). Segundo os mesmos autores, esse átomo perdido possui um elétron adicionado ao seu próton, ou seja, a molécula que perde um átomo de hidrogênio perde automaticamente um elétron. A redução é o oposto da oxidação, ou seja, há ganho de elétrons – ganho de átomos de hidrogênio (Figura 54B). Vale lembrar que, nas reações de redução, não há liberação de energia, porém, essas requerem energia para que possam ser elaboradas. FIGURA 54 – TRANSPORTE DE ELÉTRONS. A – PERDA DE UM ÁTOMO DE HIDROGÊNIO. B – GANHO DE ÁTOMOS DE HIDROGÊNIO FONTE: Disponível em: <http://hyperphysics.phy-astr.gsu.edu/hbase/Biology/etrans. html> Acesso em 22 mar. 2018 (adaptado). Existe a utilização, por parte das células, da energia das reações oxidativas para a sintetização de ATP, porém, não é apenas em uma única reação que ocorre a liberação de grande quantidade de energia. Nesse processo, temos uma via transportadora de elétrons em uma série integrada de reações oxidativas sequenciais. Nessa série, há a liberação de energia de forma gradativa, em muitas etapas, que a célula utiliza. Temos, então, um doador de elétrons ou, simplesmente, um composto reduzido, que é um nutriente absorvido pela célula ou um nutriente resultante da quebra, que foi absorvido pela célula. Além disso, um aceptor fi nal de elétrons (composto oxidado) é adquirido do meio em que a célula está presente. Nas bactérias, o sistema de transporte de elétrons fi ca junto à membrana citoplasmática, sendo que nas células eucarióticas, encontra-se na membrana interna das mitocôndrias. TÓPICO 1 | CONCEITOS ESSENCIAIS DE METABOLISMO 97 IMPORTANT E Vamos observar, então, que a energia é liberada a cada passo em uma série sequencial de oxidação. Acontece que, apenas em algumas etapas, essa quantidade de energia é liberada, porém, suficiente para a produção de ATP. Um detalhe interessante é que, antes que aconteça a produção de ATP, a energia é primeiramente armazenada na forma de forçaprotomotiva. Esse sistema de transporte de elétrons libera energia, que é utilizada para o bombeamento de prótons para o exterior da célula, dessa maneira, o lado externo da membrana fica com carga positiva e altamente ácida e o lado interno, com cargas negativas (essa grande quantidade de prótons pode chegar a 100 vezes mais em um lado da membrana). Podemos notar que através das membranas há uma distribuição desigual de prótons, bem como de cargas elétricas. Isso representa um armazenamento energético (energia potencial) – força protomotiva – que é utilizada na síntese de ATP. Para que aconteça a liberação dessa energia, os prótons deverão fluir para o lado onde estão menos concentrados. A membrana trabalha como uma barragem, impedindo essa passagem, ou seja, está separando grande concentração de prótons de um lado e uma pequena do outro. A existência de canais específicos intermembranosos pode liberar o fluxo de prótons do lado mais concentrado para o menos concentrado, que é tomado pela célula para realização de trabalho. É uma grande estratégia da célula, pois, assim, realiza o trabalho de fosforilação oxidativa do ADP para formação do ATP. Prezado acadêmico! As discussões aqui realizadas são apenas uma introdução ao estudo de obtenção de energia. Você estudará detalhadamente esse conteúdo na disciplina de Bioquímica. ATENCAO Temos ainda outra forma de fonte de energia para a síntese de ATP. Esse processo utiliza a luz como fonte energética e é denominado fotofosforilação. A luz é a fonte principal para produzir a força protomotiva. É a partir da força que ocorre a síntese do ATP. Como exemplo de organismos que realizam a fotofosforilação, temos as cianobactérias, as algas e as plantas verdes. O processo acontece no interior da célula desses organismos em estruturas celulares membranosas especiais: os tilacoides (Figura 55), que, de acordo com o tipo de organismo, podem ser encontrados em locais diferentes dentro da célula. Nas cianobactérias, os encontramos soltos no citoplasma. Já nas algas e nas plantas verdes estão contidos numa estrutura denominada granum, presente nos cloroplastos. UNIDADE 2 | METABOLISMO E GENÉTICA MICROBIANA 98 FIGURA 55 – TILACOIDES PRESENTES EM CLOROPLASTOS DE CIANOBACTÉRIAS Estroma Tilacoide Granum Espaço intermembranal Membrana exterior Membrana interior Estroma lamela FONTE: Disponível em: <http://www.bioapuntes.cl/apuntes/cloroplastos. JPG>. Acesso em: 10 out. 2010. Aqui também ocorre um sistema de transporte de elétrons para a síntese de ATP, que é similar ao sistema transportador de elétrons descrito para a fosforilação oxidativa. UNI Estamos chegando ao fim do primeiro tópico, no qual nos propomos a compreender a obtenção de energia pelos microrganismos. E então, você conseguiu apreender esses novos conhecimentos? Na sequência, há duas leituras complementares e as autoatividades para revisão de conteúdo. TÓPICO 1 | CONCEITOS ESSENCIAIS DE METABOLISMO 99 LEITURA COMPLEMENTAR 1 AGENTES MALÉFICOS NA FERMENTAÇÃO ALCOÓLICA: AS BACTÉRIAS Junior Miranda Scheuer A cultura da cana-de-açúcar pode abrigar várias estirpes de microorganismos, e dentre estes, estão incluídos os maléficos, que prejudicam a obtenção do álcool, como, também, do açúcar. São muitos os fatores que contribuem para as infestações microbiológicas, tais como: variedades suscetíveis, formas de colheita (manual, por queimada ou crua, mecanizada), condições climáticas, tipos de transporte e armazenamento, tempo ocorrido entre o corte e a industrialização, entre outros. A matéria-prima, quando presente na unidade fabril, vem carregada de uma infinidade de microorganismos, que fazem parte de sua flora ou podem estar presentes no solo, aderidos ao colmo, raízes e folhas e, caso a cana estiver suja, velha, perfurada, pode favorecer o desenvolvimento dos micróbios ainda mais. Na fase de extração, ou seja, obtenção do caldo, permite o desenvolvimento de uma série de microorganismos, pois tem concentrações de açúcares, pH e temperaturas favoráveis. Os impactos sentidos dessa infestação é a floculação, consumo de açúcares por bactérias, principalmente da espécie L. fermentum, provocando um aumento do tempo de fermentação e redução de 15% no rendimento fermentativo. As bactérias gram-positivas dos gêneros Lactobacillus, Bacillus e Leuconostoc consomem a sacarose, que deixará de ser transformada em álcool ou açúcar, provocando perdas no ART (Açúcar Redutor Total), consequentemente, prejuízos na obtenção do produto. O resultado desse processo de consumo pelas bactérias gera ácidos orgânicos e dextrana, além de outros compostos. Cabe salientar que as rachaduras contidas no colmo da cana, oriundos do crescimento da planta, são locais propícios para o desenvolvimento dos microorganismos, que, posteriormente, vão minimizar o desenvolvimento das leveduras, provocando uma produtividade inferior tanto do álcool quanto do açúcar. O que fazer, então, com a infestação bacteriana? Monitoramento microbiológico, que consiste em obter produtividade máxima de etanol a partir dos açúcares fermentescíveis. Na prática, a adoção de análises microscópicas e o uso adequado de antibióticos, aliados ao controle de qualidade da cana, da água, tratamento térmico do mosto, limpeza das moendas ou difusor e das tubulações, podem contribuir para o máximo rendimento na produção do álcool e do açúcar. UNIDADE 2 | METABOLISMO E GENÉTICA MICROBIANA 100 Tendências futuras mostram que se trabalhar com o mosto esterilizado, pode inibir o desenvolvimento microbiológico, isolando as bactérias e, por este motivo, as leveduras conseguem desenvolver melhor seu papel. Esta técnica ainda não está implantada pelo seu elevado custo, mas a questão da viabilidade, ou seja, maximização da produtividade pode acelerar a adoção desta nova prática. Tudo em prol do desenvolvimento do setor sucroalcooleiro! FONTE: Disponível em: <http://www.webartigos.com/articles/11528/1/Agentes-Maleficos-na- Fermentacao-Alcoolica--As-Bacterias/pagina1.html>. Acesso em: 10 out. 2010. TÓPICO 1 | CONCEITOS ESSENCIAIS DE METABOLISMO 101 LEITURA COMPLEMENTAR 2 AULA PRÁTICA FERMENTAÇÃO Material: açúcar, garrafa plástica pequena vazia, fermento biológico (fresco ou seco), balão (bexiga) de borracha e água. Como fazer: Dissolver 2 colheres de sopa de açúcar em 1 copo de água (volume aproximado para encher meia garrafa, enchendo- se a garrafa toda pode haver extravasamento de espuma e líquido). Adicionar 1 colher de chá rasa de fermento em pó. Transferir para a garrafa plástica. Colocar a bexiga bem ajustada na boca da garrafa (se necessário reforce com um elástico de escritório). Deixar repousar, ao abrigo da luz direta. Resultado Esperado: Após algum tempo (horas ou minutos, dependendo das condições), você notará que a bexiga, antes vazia, encontra-se agora inflada. Racional: O fermento biológico (não usar o químico, composto de bicarbonato de sódio, que também libera CO2, mas por um processo não biológico) é composto, na verdade, por microrganismos vivos (a levedura Saccharomyces cerevisiae), armazenados secos ou prensados. Havendo disponibilidade de carboidratos no meio (açúcar) e condições de multiplicação do microrganismo (água), as leveduras realizam a fermentação do açúcar, a fim de produzir energia para a sua própria sobrevivência e multiplicação. Durante o processo, elas produzem álcool (etanol) e gás carbônico (CO2), que é liberado para o meio, fazendo com que o balão se infle. Esse mesmo processo ocorre quando fazemos um bolo, fazendo que a massa cresça. A granulosidade da massa (aqueles pequenos furinhos ou espaços que encontramos na massa de bolos ou pães) é resultado da infiltração do CO2 pela massa. Nos bolos que ficam “solados”, ocorre uma perda desse CO2antes do cozimento da massa (que depois de cozida fica “armada”, como uma estrutura de concreto). O etanol, produzido em pequena quantidade, é perdido durante o processo de cozimento (e por isso nós não ficamos bêbados quando comemos bolo!). Na indústria de fabricação de bebidas o processo é o mesmo, mas nesse caso dá-se preferência a microrganismos que produzam mais álcool, e manipulam-se as condições (nutrientes, temperatura etc.), a fim de que este seja obtido em maior quantidade. A bebida sofre então processos de filtragem e purificação antes de ser consumida (cerveja, vinho) ou é destilada para aumentar o teor de álcool na preparação (cachaça, uísque etc.). Existem evidências que os antigos egípcios já produziam cerveja há cerca de 5.000 anos! FONTE: Disponível em: <http://www.scribd.com/doc/23341083/Aula-Pratica-Fermentacao>. Acesso em: 10 out. 2010. 102 RESUMO DO TÓPICO 1 Neste tópico, você estudou que: • As várias reações químicas dos organismos vivos resultam na liberação de energia, porém, outras requerem energia. • Existem alguns microrganismos que utilizam a energia da luz, que é convertida em energia química, nas suas funções celulares. • Metabolismo é uma intensa e contínua atividade de transformações químicas, que é realizada pelos organismos vivos. • Reação de síntese ou anabolismo é quando moléculas mais simples se unem para formar moléculas maiores e bem mais complexas. • Reação de degradação ou catabolismo é quando moléculas altamente complexas são quebradas e convertidas em outras mais simples. • A energia requerida e utilizada de forma universal pelos organismos é a energia química. • Todos os organismos infecciosos estão no grupo dos químio-heterotróficos. • As reações químicas que produzem energia são exergônicas. • Aquelas reações químicas que requerem energia são endergônicas. • Todo organismo necessita, para a sua sobrevivência, de energia. Além disso, ele deverá ter a capacidade de utilizar a energia das reações exergônicas para poder realizar reações endergônicas. • O composto de transferência de energia da célula de maior importância é o ATP. • O ATP é produzido por três mecanismos: pela fosforilação em nível de substrato; fosforilação oxidativa e a fotofosforilação. • Fosforilação em nível de substrato (nas fermentações) – acontece a remoção de um grupo fosfato de um determinado composto químico, sendo adicionado de forma direta à molécula de ADP. • Fosforilação oxidativa (na respiração) – é um processo no qual a energia que é liberada pela oxidação de nutrientes (compostos químicos) é utilizada para a sintetização de ATP a partir da molécula de ADP. • Fotofosforilação (durante a fotossíntese) – é a utilização da energia da luz para a formação de ATP a partir da molécula de ADP. 103 AUTOATIVIDADE 1 Complete as lacunas das sentenças a seguir. a) Catabolismo é a _______________ de nutrientes. Durante esse processo é liberada _______________ das moléculas nutrientes. b) A adição de um grupo fosfato a um composto é denominado _______________. c) Durante o funcionamento do sistema de transporte de elétrons, os íons _______________ são bombeados através da membrana e se acumulam em um dos lados. A distribuição desigual resultante desses íons representa uma forma de armazenamento de energia denominada força _______________, que pode ser utilizada para sintetizar o _______________. d) Comparando a eficiência da fermentação com a respiração quanto à produção de ATP, a _______________ é um processo mais eficiente. 2 “Pesquisador brasileiro desenvolve uma bactéria que permite produzir álcool a partir do soro do leite e do bagaço da cana.” (Revista “Ecologia”, dezembro/92). A produção do álcool pela bactéria ocorrerá graças a um processo de: a) ( ) Fermentação. b) ( ) Combustão. c) ( ) Fotólise. d) ( ) Oxidação eletrônica. e) ( ) Respiração aeróbia. FONTE: Disponível em: <http://www.professor.bio.br/provas_topicos.asp?topico=Carboidratos>. Acesso em: 26 nov. 2010. 3 Considerando-se os principais processos energéticos que ocorrem nos seres vivos, podemos afirmar corretamente que: a) ( ) O autotrofismo é uma característica dos seres clorofilados. b) ( ) O heterotrofismo impossibilita a sobrevivência dos seres aclorofilados. c) ( ) A fotossíntese e a respiração aeróbica são processos que produzem sempre as mesmas substâncias químicas. d) ( ) A fermentação é um processo bioquímico que não produz qualquer forma de energia. FONTE: Disponível em: <http://www.sabedoria.ebrasil.net/db/biologia/estudos/biologia/ biologiag/bot1.htm>. Acesso em: 26 nov. 2010. 104 4 Em relação aos tipos de reações, classifique as seguintes sentenças em A (endergônica) e B (exergônica): ( ) O total de energia encontrado nas ligações químicas nos produtos é menor do que aquelas que existiam nas ligações entre os átomos dos reagentes. ( ) Ocorre a adição de energia ao sistema vindo de alguma fonte externa, ou seja, essa reação irá absorver energia do ambiente. ( ) O total de energia que está presente nas ligações químicas dos produtos é bem maior que aquela que existia nas ligações químicas entre os átomos dos reagentes. ( ) Estão diretamente ligadas à degradação de substratos químicos ou de nutrientes. 5 A produção de ATP pelos microrganismos se dá pela fosforilação, que é a adição de um grupo fosfato a um composto. Essa adição (fosforilação) de um grupo fosfato ao ADP se dará por três vias. Associe as colunas: I- Fosforilação em nível de substrato. II- Fosforilação oxidativa. III- Fotofosforilação. ( ) É um processo no qual a energia que é liberada pela oxidação de nutrientes é utilizada para a sintetização de ATP a partir da molécula de ADP. ( ) É o processo no qual se utiliza da energia da luz para a formação de ATP a partir da molécula de ADP. ( ) É o processo de remoção de um grupo fosfato de um determinado composto químico, sendo adicionado de forma direta à molécula de ADP. 105 TÓPICO 2 GENÉTICA MICROBIANA E VARIABILIDADE UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Podemos dizer que um dos mais estimulantes campos das ciências biológicas, por que não dizer de toda a ciência, é a genética, que estuda os mecanismos de hereditariedade, ou seja, as características que são passadas de uma geração para a outra. Nesse tópico, vamos estudar como as bactérias fazem a síntese do ácido nucleico (DNA e RNA) e entender como estão envolvidas na síntese de proteínas, visto que essas moléculas são a base da genética. Estudaremos também como agem os genes (uma porção específica do DNA), que quando introduzidos em bactérias, as transformam em fábricas proteicas, que são utilizadas na composição de medicamentos, na produção de hormônios humanos, como do crescimento, a insulina etc. Entender como os genes são regulados e/ou alterados quando sofrem mutações. Vamos aprender que a informação hereditária em uma célula microbiana é similar às encontradas nas células animais e vegetais, que estão arranjadas em moléculas específicas, formando um código próprio de DNA e, com isso, podem fazer cópias exatas e transmitir as informações para as próximas gerações. 2 MATERIAL GENÉTICO DE CÉLULAS PROCARIÓTICAS E EUCARIÓTICAS Todas as informações genético-hereditárias dos organismos vivos estão armazenadas na molécula de DNA, entretanto, o material genético de alguns vírus é o RNA. Para que possamos entender a transmissão das informações genéticas de um organismo para os seus descendentes, temos que estudar a natureza dos cromossomos e dos genes. Fundamentalmente, o cromossomo é constituído por uma longa molécula de DNA. O DNA é constituído por duas cadeias de nucleotídeos complementares que estão emparelhados por meio de pontes de hidrogênio entre suas basesnitrogenadas. Podemos dizer que os genes são constituídos por DNA e que vão controlar todo o funcionamento da célula. Nas células bacterianas (células procarióticas), encontramos os genes contidos em uma só molécula de DNA circular, ou seja, a célula contém apenas um só cromossomo – é apenas uma única molécula de DNA de fita dupla circular (as extremidades estão unidas). Outro ponto interessante é que o cromossomo de uma célula procariótica não apresenta membrana nuclear e está enrolado, espiralado e altamente compactado. As células bacterianas, além de apresentarem um só cromossomo, possuem uma ou mais estruturas moleculares de DNA, que são denominadas DNA plasmidial ou plasmídios (Figura 56) – moléculas de DNA de fita dupla bem menor que os cromossomos, podendo replicar de forma independente do cromossomo. UNIDADE 2 | METABOLISMO E GENÉTICA MICROBIANA 106 FIGURA 56 – CÉLULA PROCARIÓTICA – CROMOSSOMO COM DNA CIRCULAR E PLASMÍDIO bacterium bacterial chromosome plasmid FONTE: Disponível em: <http://www.sobiologia.com.br/figuras/ Biotecnologia/plasmideo.jpg>. Acesso em: 10 out. 2010. Uma das importâncias que os plasmídios possuem é a sua utilização na engenharia genética. Já as células de microrganismos eucarióticos (protozoários, algas e fungos) são compostas de vários cromossomos por núcleo (Figura 57), sendo que cada um deles é um filamento longo constituído por uma única molécula de DNA que está associada a histonas (proteínas). FIGURA 57 – CROMOSSOMO DE CÉLULA EUCARIÓTICA FONTE: Disponível em: <http://recursos.cnice.mec.es/biosfera/alumno/2bachillerato/ genetica/contenido6.htm>. Acesso em: 10 out. 2010. NúcleoCromática Histonas Pares de bases Gen ADN (doble hélice) Telômero Telômero Célula Centrômero TÓPICO 2 | GENÉTICA MICROBIANA E VARIABILIDADE 107 Podemos dizer, então, que os cromossomos das células eucarióticas são lineares, enquanto os das células procarióticas são circulares e que as moléculas de DNA eucariótico são bem mais longas do que os das células bacterianas. Por fim, vamos encontrar nas células eucarióticas mais do que um cromossomo por célula. Quanto ao número de cromossomos na célula, denominamos organismo haploide (bactérias) aquele que possui um cromossomo de cada tipo e diploide (maioria das células eucarióticas) o que possui dois cromossomos de cada tipo. UNI Caro acadêmico! No Livro Didático de Citologia estudamos divisão e diferenciação celular, na qual pudemos observar a formação das células haploides e diploides. Vale a pena relembrar! 3 DUPLICAÇÃO DO DNA OU ADN Para que aconteça a transmissão da informação genética, é necessário, em um primeiro momento, o processo de duplicação, ou seja, deverá acontecer a realização de uma cópia que possa ser transportada pelos gametas até a fecundação, para depois ser utilizada por um novo indivíduo. Podemos dizer, então, que a duplicação (também chamada de replicação) é o processo pelo qual o DNA se copia para poder ser transmitido aos novos indivíduos. A função desse processo todo é fazer a cópia das sequências de nucleotídeos da molécula de DNA parental (dupla fita) em duas moléculas de DNA-filhas (dupla fita). Todo esse processo é chamado de duplicação semiconservativa (Figura 58) – pelo simples fato de que cada molécula de DNA-filha conterá uma fita de molécula parental (original – fita velha ou conservada) e uma fita de DNA nova sintetizada. Traduzindo todo o processo, podemos dizer que cada uma das duas moléculas formadas conserva uma das cadeias da molécula original (molécula-mãe) e, com isso, forma uma nova cadeia, complementar àquela que lhe tinha servido de molde. UNIDADE 2 | METABOLISMO E GENÉTICA MICROBIANA 108 FIGURA 58 – ESQUEMA DA DUPLICAÇÃO SEMICONSERVATIVA FONTE: Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/ bookres.fcgi/hmg/ch1f8.gif>. Acesso em: 10 out. 2010. Em células procariotas, a duplicação do DNA se inicia em um local específico, no cromossomo circular, prosseguindo de forma simultânea nas duas direções, formando duas forquilhas de duplicação, que são os locais em que as duas fitas de DNA se separam para que haja a duplicação. Nesse ponto, pode-se observar a movimentação em direções opostas das forquilhas em torno da molécula circular até um eventual encontro das moléculas. As fitas parentais estão separadas, na qual cada fita serve de modelo para a sintetização de outra fita complementar. Em todo o processo, à medida que as bases de cada cadeia vão desemparelhando das bases complementares, os nucleotídeos, que estão livres pela célula, unem-se às bases, seguindo uma regra de pareamento (emparelhamento), que é a seguinte: adenina emparelha-se com a timina (A - T) e a citosina emparelha-se com a guanina (C - G). Os arranjos são mantidos por meio das novas sínteses das fitas de DNA. Observe a figura a seguir: 5' 5' 5' 5' 3' 3' 3' 3' TÓPICO 2 | GENÉTICA MICROBIANA E VARIABILIDADE 109 FIGURA 59 – CADEIA DE DNA Guanina Adenina Citosina Timina Açúcar Fosfato A molécula do DNA é composta por milhares de blocos. Estes são ligados em forma de uma escada em helicoide. As bases são a Citosina, a Guanina; a Timina e a Adenina. As bases estão reunidas aos pares. A Timina só se liga à Adenina, e a Citosina à Guanina. Qualquer base pode ocupar qualquer lugar na cadeia, porém acompanhada de seu par. FONTE: Disponível em: <http://www.saberweb.com.br/wp-content/uploads/imagens/genetica/ codigo-genetico/01g.jpg>. Acesso em: 10 out. 2010. Prezado acadêmico! Você estudará estrutura e composição química do DNA, entre outros assuntos relacionados ao material genético, em outras disciplinas específicas do curso, como Genética e Bioquímica. ATENCAO Existem inúmeras enzimas que participam desse processo de duplicação. Enzimas que têm a função de desemparelhar as duas cadeias de DNA, promovendo a abertura da molécula que é duplicada, bem como a enzima que tem a função de desenrolar a dupla-hélice, e outra que, através da catalisação, une todos os nucleotídeos que estão emparelhados à cadeia-modelo, para promover a formação de uma nova cadeia. Essa enzima, que promove a ligação dos nucleotídeos, é denominada de DNA polimerase, pelo fato de formar polímeros (muitos) de nucleotídeos. UNIDADE 2 | METABOLISMO E GENÉTICA MICROBIANA 110 4 GENE E A TRANSCRIÇÃO GÊNICA – RNA OU ARN As mensagens genéticas estão num ordenamento sequencial de nucleotídeos específicos na molécula de DNA, orientando a produção de RNA e proteínas componentes, essenciais para todas as células vivas. Podemos definir gene como um pequeno fragmento da molécula de DNA, que contém a sequência de nucleotídeos com a função de produzir uma determinada proteína. O gene pode também corresponder a uma região especial de uma molécula de DNA, podendo ser formado por dezenas de pares de nucleotídeos ou por milhares deles. Para Pelczar, Chan e Krieg (1997a), as células produzem milhares de proteínas, logo uma molécula de DNA contém milhares de genes que são um para cada proteína. As células usam a informação contida no gene para produzir uma determinada proteína (Figura 60). A forma como fazem isso é a seguinte (PELCZAR; CHAN; KRIEG, 1997a): a) A informação contida no DNA (gene) é copiada (“transcreve” seu código molecular para ela) para uma de RNAm – ácido ribonucleico mensageiro. Esse processo é denominado de transcrição. b) O RNAm carrega a mensagem transcrita pelo DNA (gene) da região nuclear para os ribossomos presentes no citoplasma. c) São os ribossomos que traduzem a mensagem num processo em que a informação que estava em código no RNAm passa a ser utilizada para produzir uma determinada proteína a partir de aminoácidos. FIGURA 60 – GENE E PRODUÇÃO DE PROTEÍNA Replicação Proteína ProteínaARNmADN Tradução (Sínteseproteica) Transcrição (Síntese de ARNm) Ribossomo ARNm DNA FONTE: Disponível em: <http://recursos.cnice.mec.es/biosfera/alumno/2bachillerato/ genetica/contenido6.htm>. Acesso em: 10 out. 2010. TÓPICO 2 | GENÉTICA MICROBIANA E VARIABILIDADE 111 5 MUTAÇÃO A palavra mutação significa mudança, ou seja, toda alteração que a molécula de DNA possa sofrer. Essas alterações ocorrem nas sequências de nucleotídeos da molécula de DNA e são responsáveis pelas mudanças nos padrões evolutivos, tanto dos microrganismos como dos organismos superiores. Essas mudanças (mutações) ocorridas nos microrganismos produzem diferentes linhagens (cepas) dentro das espécies. Essas mudanças ocorridas no DNA durante as mutações afetam os organismos como um todo, causando sérios problemas funcionais. FIGURA 61 – MUTAÇÃO GÊNICA Mutação Erro na síntese Replicação do DNA Replicação do DNA 2a. geração 1a. geração DNA 3' 5' FONTE: Disponível em: <http://www.sobiologia.com.br/conteudos/figuras/Citologia2/mutacao. jpg>. Acesso em: 10 out. 2010. As alterações podem ocorrer tanto em nível de genótipo como em nível de fenótipo. Entende-se por genótipo tudo aquilo que se refere ao conjunto de genes do organismo, ou seja, refere-se a toda informação genética que estará contida no DNA do organismo. Já o fenótipo são todas as características que podem ser observadas ou exibidas pelos organismos vivos. A mutação age diretamente na mudança do genótipo e, dependendo da sua natureza, ela pode ou não ser expressa no fenótipo. Entre os tipos de mutações, há dois tipos muito importantes (PELCZAR; CHAN; KRIEG, 1997a): as mutações pontuais, que afetam uma única base no DNA – substituição de bases em locais específicos ao longo do gene –, e as mutações que afetam mais do que uma base na molécula de DNAm, denominada mutação por deslocamento do quadro de leitura –essa mutação promove uma deleção ou acontece uma inserção de uma ou várias bases na molécula de DNA. Esse tipo de mutação impede a síntese de proteínas específicas, fazendo com que ocorra a mudança tanto do genótipo quanto do fenótipo. As mudanças que ocorrem frequentemente nos organismos fazem com que eles percam a capacidade de realizarem a síntese de algumas proteínas. É importante saber que, na falta de uma só proteína, pode ocorrer mudanças estruturais dos organismos, bem como a alteração da sua capacidade de metabolizar uma determinada substância. UNIDADE 2 | METABOLISMO E GENÉTICA MICROBIANA 112 LEITURA COMPLEMENTAR TÉCNICAS DE MANIPULAÇÃO GENÉTICA A engenharia genética permite manipular diretamente genes de determinados organismos, possibilitando isolar e transferir genes responsáveis pela produção de certas substâncias, para outros seres vivos que não produzam essas substâncias, de modo a serem funcionais nesses seres. DNA Recombinante A técnica de DNA recombinante permite juntar na mesma molécula de DNA genes provenientes de organismos diferentes, ou seja, possibilita retirar genes de uma espécie e introduzir num microrganismo, que, posteriormente, vai se multiplicar e assim produzir inúmeras cópias desse gene e, consequentemente, o produto desse gene. É possível, por exemplo, introduzir um gene humano numa bactéria, para que elas produzam uma determinada proteína humana. O processo é simples e se baseia em dois tipos de enzimas, as enzimas de restrição e a enzima DNA ligase. Utiliza-se uma enzima de restrição, que tem a capacidade de selecionar zonas específicas do DNA e cortar a sequência nucleotídica nesses locais específicos, para obter o gene de interesse de uma espécie. Esse gene de interesse é posteriormente colocado num vector, ou seja, uma molécula capaz de transportar um fragmento de DNA de um organismo para outro, como o DNA dos vírus e os Plasmídios (fragmentos de DNA de forma circular existentes nas bactérias). Para que o fragmento de DNA seja incorporado no vector, é necessário que a mesma enzima de restrição que atua sobre o DNA atue sobre o vector, de modo a criar uma sequência nucleotídica complementar. Finalmente, através da enzima DNA ligase, os dois segmentos de DNA são ligados, produzindo uma nova molécula estável – o DNA recombinante. Com a nova molécula de DNA recombinante formada, o vector é introduzido num organismo receptor, que vai passar a possuir aquele gene de interesse e a proteína formada por esse gene. DNA complementar A técnica do DNA complementar tem como objetivo facilitar a produção de proteínas de seres eucariontes em microrganismos. Os microrganismos não têm mecanismos de maturação do RNAm, portanto, quando se introduzem genes de eucariontes nestes organismos, estes vão fazer a sua transcrição de forma ininterrupta, ou seja, vão ler tanto os íntrons (zonas não codificadas de proteínas) como éxons (zonas codificadas de proteínas), originando uma proteína diferente da pretendida. O DNA complementar baseia-se então em produzir uma molécula de DNA constituída apenas por éxons, de modo a que quando for transcrita pelo microrganismo pretendido, origine a proteína pretendida. TÓPICO 2 | GENÉTICA MICROBIANA E VARIABILIDADE 113 Este processo é possível devido à ação da enzima transcriptase reversa, que permite produzir DNA a partir de uma molécula de RNAm, e da enzima DNA polimerase, que permite fazer uma cadeia complementar de uma cadeia de DNA. Utiliza-se então a transcriptase reversa para fazer uma cópia de uma cadeia de RNAm maturado e originar uma cadeia de DNA composta apenas por éxons. Posteriormente usa-se o DNA polimerase para formar uma cadeia complementar dessa cadeia de DNA, originando uma molécula estável. Com isto, ao ser introduzida num microrganismo, vai produzir uma proteína de interesse. PCR (Reação em Cadeia Polimerase) A técnica de reação em cadeia da polimerase (PCR) veio possibilitar novas estratégias de análises de genes no âmbito da tecnologia do DNA recombinante. De um modo geral, a técnica PCR pode ser considerada como um meio de clonagem e baseia-se na ampliação do DNA, replicando-o. O processo resume-se em três fases. A fase de desnaturação, onde o DNA é exposto a elevadas temperaturas, na ordem dos 95º, originado a separação das duas cadeias. De seguida vem a fase Hibridização, na qual as temperaturas descem até aos 55º e são colocados os primers (iniciadores), que são fragmentos de DNA ligados (hibridizados) no início de cada sequência alvo, nas cadeias originadas na primeira fase por complementação de bases, para na terceira fase a enzima utilizada reconhecer uma cadeia dupla. Numa terceira fase é utilizado o DNA polimerase que identifica a zona onde se localiza o primer e reconhece essa zona como dupla cadeia, e assim pode atuar, replicando o resto da cadeia de DNA, ou seja, fazendo a elongação dos primers. Bombardeamento de partículas Segundo o método de bombardeamento, micropartículas de um metal (tungstênio ou ouro) são revestidas por fragmentos de DNA contendo os genes selecionados. Através de um aparelho (“canhão de genes”), as partículas são aceleradas a altas velocidades e bombardeiam o tecido vegetal que vai sofrer a transformação. As partículas penetram nas células e libertam os fragmentos de DNA. As células da planta assimilam os genes e alguns passam a integrar o genoma. FONTE: Adaptado de: <http://ogmespan.blogspot.com/2009/05/tecnicas-de-manipulacao- genetica.html>. Acesso em: 10 out. 2010. 114 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico você estudou que: • Uma célula bacteriana (procariótica) apresenta um cromossomo na forma de uma molécula de DNA circular única, diferentemente da célula eucariótica, que possui mais de um cromossomo linear. • Toda a informação genética de uma célula é representada por uma sequência de nucleotídeos do DNA e que é passada de geração para geração durante o processo deduplicação (replicação) semiconservativa do DNA. • As informações genéticas orientam a síntese de proteínas e algumas são enzimas muito importantes para o metabolismo celular. • O gene é um segmento de molécula de DNA que contém sequências de nucleotídeos para a produção de proteínas específicas. • A síntese proteica tem dois momentos em seu processo: a transcrição e a tradução. • Transcrição – transcreve a informação de um gene para o RNAm. • Tradução – com a sequência determinada pelas bases do DNA que serviu de modelo ao RNAm, vai acontecer a tradução gênica com a síntese de proteínas. • Os microrganismos também exibem variabilidade em seus genótipos (conjunto de genes) e em seus fenótipos – o que pode ser expresso pela célula. • As alterações que ocorrem no patrimônio genético são denominadas de mutações. • Há dois tipos importantes de mutações: a pontual e mutações por deslocamento do quadro de leitura. 115 AUTOATIVIDADE 1 Leia e complete a lacuna da seguinte sentença: Um cromossomo de células eucarióticas, diferentemente do cromossomo bacteriano, apresenta forma _______________. 2 Por que se diz que a duplicação do DNA é um processo semiconservativo? 3 Explique por que a síntese das proteínas em uma célula é chamada de tradução gênica. 4 O que são plasmídios? 5 Qual das alternativas a seguir apresenta a informação que nos permite dizer que a replicação do DNA é semiconservativa? a) ( ) Durante a divisão da molécula original somente uma das fitas é copiada, a outra permanece inativa. b) ( ) No início do processo replicativo, forma-se um total de seis fitas de DNA. c) ( ) As duas fitas de DNA parental são copiadas, originando moléculas filhas com somente uma das fitas. d) ( ) As enzimas que participam dos processos de replicação são somente de origem materna. e) ( ) No fim da replicação, cada uma das moléculas resultantes apresenta a metade do número de pontes de hidrogênio. FONTE: Disponível em: <http://www.vestibular1.com.br/simulados/biologia/dna.htm>. Acesso em: 27 nov. 2010. 6 A mutação gênica, nos organismos eucariontes: a) ( ) Constitui a principal fonte de variabilidade genética. b) ( ) Ocorre exclusivamente pela ação de agentes mutagênicos. c) ( ) Ocorre devido a alterações na molécula de DNA. d) ( ) Origina somente combinações gênicas adaptativas. 7 Assinale a alternativa que indica o fator que conduz ao surgimento de variabilidade gênica nova em uma população: a) ( ) Mutação. b) ( ) Fluxo gênico. c) ( ) Seleção natural. d) ( ) Recombinação gênica. FONTE: Disponível em: <http://professor.bio.br/provas_questoes.asp?section=Evolucao&curpage =13>. Acesso em: 27 nov. 2010. 116 117 TÓPICO 3 BIOTECNOLOGIA UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Através da manipulação do material genético de alguns organismos, pode-se, hoje, fazer qualquer transferência desse material de um organismo para outro com consequências incríveis. Podemos utilizar as informações obtidas, decorrentes das transferências do material genético entre os microrganismos, e aplicá-las na indústria farmacêutica, alimentícia, na agricultura, na medicina e nas áreas que apresentam problemas específicos de prevenção e tratamento de doenças específicas. Essas técnicas são utilizadas por engenheiros genéticos através do avanço do conhecimento da genética molecular, inaugurando uma nova área da Biologia, que é a Biotecnologia. Vamos estudar, nesse tópico, quais são esses mecanismos, através dos quais ocorrem as transferências e suas consequências para a humanidade. 2 ENGENHARIA GENÉTICA – TRANSFERÊNCIA DE GENES Desde os tempos mais remotos, o homem vem tentando melhorar a produção de alimentos, visando aprimorar a qualidade, como também a sua quantidade, através da seleção de inúmeras variedades de distintas espécies. A forma como faziam, muitas vezes, não apresentava os resultados esperados. Há alguns anos pouco se sabia sobre a seleção e combinação de informações genéticas. Com o passar do tempo, vimos acontecer grandes avanços nos processos de seleção. Boa parte desse progresso deve-se à capacidade tecnológica desenvolvida pelo homem para modificar o DNA dos seres vivos. Uma das áreas que mais contribuiu para que isso pudesse acontecer foi a Biologia Molecular, com ajuda, é claro, de dois grandes cientistas, James Watson e Francis Crick, que elucidaram estruturalmente a molécula de DNA (PELCZAR; CHAN; KRIEG, 1997a). A partir da década de 70, várias técnicas criadas para manipular o DNA oportunizaram o surgimento de novos campos na área das ciências biológicas, entre elas, a Engenharia Genética. Podemos dizer que a Engenharia Genética é a tecnologia do DNA recombinante, através da qual os cientistas, a partir de técnicas especiais, podem fazer a identificação, o isolamento e a multiplicação de genes dos mais diferentes organismos. Criou-se a possibilidade de extrair genes de um organismo qualquer e introduzi-los em bactérias, instruindo-as a produzir substâncias que nunca 118 UNIDADE 2 | METABOLISMO E GENÉTICA MICROBIANA haviam produzido antes. A transferência de genes provoca a movimentação das informações genéticas entre os organismos. Essa transferência de genes acontece como forma essencial do ciclo vital dos organismos e ocorre através da reprodução sexuada, na grande maioria dos seres eucariontes. Não é o mesmo que acontece com as bactérias, pois a transferência de genes não é uma parte essencial ao seu ciclo de vida. Quando a transferência acontece, apenas parte dos genes cedidos pela célula (doadora) é transferida para a outra célula (receptora) que participa do processo. Para Black (2002), esse processo é denominado de recombinação, pois é uma combinação de genes (DNA) a partir de duas células diferentes, sendo que a célula resultante é tida como recombinante. Nas bactérias, foi descoberta a ocorrência de três formas de transferências de genes, porém nenhuma delas está associada ao processo reprodutivo. São os seguintes mecanismos: transformação, transdução e a conjugação. A importância da transferência de genes está no fato de que aumenta de forma significativa a variabilidade genética dos organismos. Quando a bactéria absorver moléculas de DNA que estão livres no ambiente, conferindo-lhe características diferentes, estamos diante do mecanismo de transformação (Figura 62). FIGURA 62 – TRANSFORMAÇÃO BACTERIANA Célula bacteriana Molécula de DNA absorvida Molécula de DNA incorporada Molécular de DNA livres Cromossomo FONTE: Adaptado de: <http://www.nehmi-ip.com.br/services.php?serv=10&faq=23#25>. Acesso em: 10 out. 2010. No mecanismo de transdução (Figura 63), ocorre a transferência de genes de uma bactéria para outra através de um vetor – os vírus. Quando algumas partículas virais se formam no interior de uma bactéria infectada, pode acontecer a incorporação de pedaços cromossomiais bacterianos. Acontecendo a infecção de outras bactérias, esses vírus irão transmitir os genes bacterianos. Caso aconteça que algumas dessas bactérias venham sobreviver a essa infecção virulenta, poderá acontecer a recombinação de seus genes que foram trazidos pelo vírus e, com isso, adquirir características genéticas novas. TÓPICO 3 | BIOTECNOLOGIA 119 FIGURA 63 – TRANSDUÇÃO BACTERIANA Bacteriófago Fago DNA Célula hospedeira Cromossomo Descendência viral da infecção Partícula transdutora A nova célula hospedeira recebe DNA da hospedeira original; não há infecção viral. Nova célula FONTE: Disponível em: <http://www.nehmi-ip.com.br/services.php?serv=10&faq=23#25>. Acesso em: 10 out. 2010. Já no mecanismo da conjugação (Figura 64), as bactérias se unem através de um canal tubular proteico ou pili, por onde ocorre a transferência de genes.FIGURA 64 – CONJUGAÇÃO BACTERIANA F+ doador F- receptor Fator F (plasmídio) Cromossomo 1) Células F+ e F- são aproximadas pelo pili da célula fértil (F+). 2) Uma cópia do fator de fertilidade é transferida para a célula receptora. 3) Ambas as células são agora F+. Pili FONTE: Disponível em: <http://www.nehmi-ip.com.br/services.php?serv=10&faq=23#25>. Acesso em: 10 out. 2010. Um dos primeiros plasmídios a serem descobertos foi o plasmídio F. Muitos outros já foram descritos desde a sua descoberta e a grande maioria é constituída por DNA circular, em dupla fita, sendo que nas bactérias é apenas um cromossomo extra. Uma das características muito interessante é a sua capacidade de autoduplicação, utilizando o mesmo processo que qualquer outro DNA. Eles possuem funções distintas nas bactérias, o que acelerou o processo de identificação. Essas funções incluem o controle da síntese de proteínas pelos plasmídios F (fatores de fertilidade) que se autoarranjaram em pili de conjugação. Vamos ter, assim, os plasmídios, que carregam genes e que fornecem resistência (plasmídios de resistência (R)) a vários antibióticos e alguns metais pesados. Existem aqueles que têm o controle da síntese de proteínas que destroem bactérias – bactericidas. Outra forma de plasmídios são aqueles que induzem tumores em plantas. Existem certos plasmídios que carregam genes que codificam certas funções não essenciais ao processo de crescimento celular, sendo que o cromossomo contém genes para funções essenciais. 120 UNIDADE 2 | METABOLISMO E GENÉTICA MICROBIANA 3 APLICAÇÃO INDUSTRIAL DA MICROBIOLOGIA A Biotecnologia é uma área da Biologia que engloba conhecimentos de Microbiologia, Bioquímica, Genética Molecular e outras áreas que dão suporte para o seu desenvolvimento. Todos os conhecimentos adquiridos são aplicados para transformar substâncias em produtos de interesse de mercado. Essa transformação é realizada pela ação de um organismo vivo. Segundo Pelczar, Chan e Krieg (1997b, p. 398), “[...] qualquer técnica que utilize um organismo vivo para sintetizar um produto útil ou uma reação química desejável é um exemplo de biotecnologia”. A Biotecnologia deu um grande salto devido aos estudos e ao desenvolvimento da tecnologia do DNA recombinante, que puderam “criar” microrganismos que passaram a sintetizar produtos de extrema valia. Hoje se trabalha com células vivas ou com alguns componentes de sua maquinaria bioquímica para fazer o que sempre fizeram, o de sintetizar os produtos necessários, fazer a degradação de substâncias e, por último, trabalhar na produção energética. Entre as células vivas mais utilizadas estão, sem dúvida, as dos microrganismos unicelulares, figurando entre eles as bactérias e leveduras. São milhares os produtos comerciais que são sintetizados pela manipulação de microrganismos, que vão desde alimentos até vacinas. Os processos industriais utilizados para a síntese desses produtos microbianos são muitos, e entre eles destacamos: produção de substâncias farmacêuticas; produção de substâncias químicas (solventes enzimas); suplementos alimentares (leveduras, bactérias e algas); bebidas alcoólicas (vinho, cerveja); biocidas e vacinas. Outra tecnologia muito desenvolvida atualmente é aquela que utiliza alguns microrganismos para remoção de poluentes tóxicos do ambiente, tanto do solo como da água (quando ocorre, por exemplo, algum acidente com navios petroleiros). Esses poluentes são decompostos em substâncias mais simples e menos tóxicas pela ação metabólica microbiana. Essa tecnologia utilizada é denominada de biorremediação. Observe o quadro a seguir: QUADRO 6 – DIVERSIDADE DE PRODUTOS E OS ORGANISMOS UTILIZADOS EM SUA PRODUÇÃO Produtos Organismos Solvente orgânico Acetona/butanol Clostridium acetobutylicum Biomassa Iniciadores de cultura e fermento para alimentos e agricultura Bactérias produtoras de ácido lático ou leveduras de pão Proteínas de organismo unicelular Candida utilis Ácidos orgânicos Ácido cítrico Aspergillus niger Ácido lático Lactobacillus delbrueckii Aminoácidos Ácido glutâmico Corynebacterium glutamicum Lisina Brevibacterium flavum TÓPICO 3 | BIOTECNOLOGIA 121 FONTE: Adaptado de: <http://www.nehmi-ip.com.br/services.php?serv=10&faq=23#2>. Acesso em: 10 out. 2010. Transformações por microrganismos Sorbitol para sorbose (vitamina C) Acetobacter suboxydans Esteroides Rhizopus arrhizu Antibióticos Penicilinas Penicillium chrysogenum Cefalosporinas Cephalosporium acremonium Tetraciclinas Streptomyces aureofaciens Polissacarídeos extracelulares Goma xantana Xanthomonas campestres Dextran Leuconostoc mesenteroides Enzimas α-arnilase Bacillus amyloliquefaciens Pectinases Aspergillus niger Vitaminas B12 Propionibacterium shermanii Riboflavina Eremothecium ashbyii Pigmentos β-caroteno Blakeslea trispora Vacinas Difteria Corynebacterium diphtheriae Poliometile Célula do rim de macaco ou célula humana Rubéola Célula do rim de hamsters Hepatite B Leveduras recombinantes Insulina Escherichia coli recombinante Proteínas terapêuticas Hormônio do crescimento Escherichia coli recombinante Eritropoietina Célula recombinante de mamíferos Fator VIII-C Célula recombinante de mamíferos Anticorpos monoclonais Hibridomas DICAS Você encontrará mais informações sobre as proteínas especiais que são úteis inclusive na indústria, não apenas na área de alimentos, mas em muitos outros setores no site <http://www1.univap.br/drauzio/index_arquivos/MBIIIL002.pdf>. Boa leitura! 122 UNIDADE 2 | METABOLISMO E GENÉTICA MICROBIANA LEITURA COMPLEMENTAR 1 APLICAÇÕES DA TECNOLOGIA DOS ORGANISMOS GENETICAMENTE MODIFICADOS TERAPIA GÊNICA Uma das aplicações mais importantes dos organismos geneticamente modificados é a terapia gênica, ou Geneterapia, que se baseia na introdução de genes nas células e tecidos de indivíduos que possuam uma doença causada pela deficiência desse gene, técnica comum em tratamento de doenças hereditárias. Embora seja uma terapia em estado primitivo, tem revelado bons resultados. Existem vários tipos de vírus, que são seres dependentes, ou seja, precisam de outro ser para executarem o seu ciclo de reprodução, introduzindo o seu material genético dentro das células do ser hospedeiro. Sinteticamente, os vírus lançam o seu DNA para dentro das células hospedeiras, que, por sua vez, vão beneficiar os mecanismos de transcrição e tradução dessas células hospedeiras para produzir mais cópias do seu DNA e, por conseqüência, do vírus, infectando assim célula após célula. Facilmente se percebeu que um vírus seria um bom meio de levar genes ao interior das células humanas, e assim surgiu a terapia gênica utilizando os vírus como vetores. Para isso, utiliza-se a técnica do DNA recombinante, retirando o vírus que causa a doença viral e introduz-se o gene de interesse a levar as células humanas. Com isto é possível introduzir um gene de interesse nas células somáticas (já que de momento é ilegal aplicar a terapia gênica a células germinativas) para corrigir uma doença provocada pela ausência ou defeito desse gene, possibilitando, deste modo, a produção da substância correspondente a esse gene, e tratar o distúrbio provado pela ausência dessa substância. Como todos os Organismos Geneticamente Modificados (OGM) surgem sempre umas possíveis desvantagens. Neste caso, da terapia genética, os distúrbios provocados por mutações em apenas um gene têm grandes possibilidades de se verificar eficiência na terapia genética, mas infelizmente, aqueles que são mais frequentes (como doença cardíaca, Alzheimer e diabetes) são causados pela combinação de vários genes, fator que se revela altamente problemático usando a terapia genética. O maior problema que surge do uso daterapia genética é, certamente, o fato de poder ativar oncogenes, ou seja, se o gene é introduzido num local errado do genoma, como, por exemplo, no lugar de um proto-oncogene ou de um gene supressor de tumores, poderia induzir a um tumor. TÓPICO 3 | BIOTECNOLOGIA 123 De qualquer forma, as expectativas atuais indicam que a terapia genética não se limitará apenas a substituir ou corrigir defeitos nos genes, surgindo assim possibilidades terapêuticas que estão a ser desenvolvidas para permitir a libertação de proteínas que controlem níveis hormonais ou estimulem o sistema imunitário. Com isto, a terapia genética é a esperança de tratamento para um grande número de doenças até hoje consideradas incuráveis. Vacinas O plano de vacinação a que estamos sujeitos baseia-se no princípio de funcionamento do sistema imunitário. Quando somos infectados por um agente patogênico, este memoriza a infecção causada, para que numa segunda infecção possa responder de uma forma mais rápida, mais intensa e mais prolongada ao antígeno, não deixando assim este voltar a propagar. O objetivo das vacinas é introduzir no nosso organismo o agente patogênico a que queremos ter imunidade, para que numa possível infecção, o nosso sistema imunitário já conheça esse agente patogênico e efetue uma resposta rápida, eliminando-o. Para isso usamos a mesma técnica usada na terapia genética, a do DNA recombinante, para modificar o DNA desse agente patogênico, retirando o gene prejudicial e introduzindo-o no nosso organismo sem esse gene, com isto, este agente patogênico vai chegar ao nosso sistema inativo (ou morto), mas ativando a memória do sistema para uma possível infecção patogênica. Sendo assim, nosso sistema imunitário vai identificar o organismo estranho (apesar de inativo) e desenvolver anticorpos para esse organismo, para que numa possível infecção por parte deste, criarmos uma resposta rápida e eficaz na eliminação do agente patogênico. Este método não é eficaz em todo o tipo de doenças, principalmente causada por vírus, porque possui uma taxa de mutação muito elevada, como o HIV. Ao ocorrer uma mutação, é como se surgisse um novo ser, e assim sendo, para o nosso sistema imunitário, é outro agente patogênico. De qualquer forma, as vacinas são vistas como o avanço médico de maior sucesso na história da saúde pública e sem elas, muitas doenças, que no passado matavam milhares de pessoas, continuariam a matar milhares de pessoas anualmente. Produção de Proteínas A tecnologia do DNA recombinante permite, hoje em dia, criar proteínas a partir de bactérias. O melhor exemplo é o da insulina. Os diabéticos precisam de insulina para manter os seus níveis de açúcar no sangue em equilíbrio, insulina essa que há uns anos atrás era extraída do pâncreas de porcos para poder fornecer à população diabética. Essa tinha várias desvantagens, como a óbvia necessidade de se ter de matar um elevadíssimo número de porcos para obter uma quantidade significativa de insulina, juntando o fato de esta ainda poder originar alergias 124 UNIDADE 2 | METABOLISMO E GENÉTICA MICROBIANA no receptor. O primeiro organismo geneticamente modificado foi uma bactéria chamada Escherichia coli. Esta foi modificada de modo a integrar o gene human, o responsável pela produção de insulina. Posto isto, a bactéria passaria a produzir a insulina humana em doses industriais, uma vez que o processo de reprodução das bactérias é muito reduzido. Assim, passaríamos a dispor das quantidades de insulina suficientes para satisfazer a população mundial sem ter de sacrificar milhares de porcos para esse efeito. Para isto é introduzido o gene da insulina humano numa bactéria pela tecnologia do DNA recombinante e assim esta bactéria passa a produzir esse hormônio como se estivesse a “trabalhar para nós”. FONTE: Adaptado de: <http://ogmespan.blogspot.com/2009/05/aplicacoes-da-tecnologia-dos- organismos.html>. Acesso em: 10 out. 2010. TÓPICO 3 | BIOTECNOLOGIA 125 LEITURA COMPLEMENTAR 2 TRANSGÊNICOS A parte dos organismos geneticamente modificados mais conhecida é os transgênicos. Desde que surgiram, os transgênicos têm sido alvo de grande polêmica e debate, por um lado são apresentados como solução para a fome no mundo, alterações climáticas, doenças e subnutrição… por outro lado, defende- se que esta realidade pode ser bem diferente e ter consequências graves para a saúde, sendo proibido em vários países. A produção dos alimentos e plantas transgênicos é baseada na técnica de DNA recombinante, ou seja, utiliza-se um vetor que transporte um gene de interesse de um organismo para dentro das células de outro, e assim consegue- se produzir um organismo que fique com as características daquele gene transferido, sendo assim, somos capazes de produzir alimentos e plantas com as características desejadas. As principais e mais importantes culturas transgênicas existentes no mundo encontram-se indicadas a seguir. A soja é provavelmente o alimento transgênico que existe em maiores quantidades pelo mundo (como o trigo). Existem vários tipos de soja transgênica, dependendo do gene que se insere nesta, mas a mais conhecida e plantada é aquela que recebeu um gene que lhe confere resistência a herbicidas. Esse gene é transferido de uma bactéria existente no solo chamada de Agrobacterium tumefaciens. O milho geneticamente modificado é também conhecido por milho BT, pois o gene inserido na planta provém de uma bactéria chamada “Bacillus thuringiensis”. Esta bactéria produz uma espécie de “veneno” que mata os insetos após estes se alimentarem do milho. Esta técnica permite que deixe de haver destruição dos campos por parte dos insetos, e assim deixa de ser necessário percorrer os campos com um pulverizador tóxico. O algodão é também um produto transgênico comercializado, em que as enzimas introduzidas, (tais como a CrylA da bactéria Bacillus thuringiensis, e a Nitrilase da bactéria Klebsiella pneumonize) oferecem uma maior resistência contra larvas e contra herbicidas. O objetivo desta produção é reduzir as perdas de algodão devido a ataques de insetos, e redução na utilização de herbicidas. A canola é outro transgênico dos mais conhecidos e é uma planta de onde é extraído o azeite de canola, que é utilizado na produção de biodiesel. O gene inserido na canola adiciona a capacidade de resistência a vários tipos de pesticidas. O gene é retirado de uma bactéria que possui resistência a vários produtos tóxicos, o Bacillus amyloliquefaciens. Assim, quando a plantação for pulverizada, ocorre a destruição da maior parte de pestes e não há modificação na canola. 126 UNIDADE 2 | METABOLISMO E GENÉTICA MICROBIANA Um dos transgênicos mais falados é o arroz dourado, que possui dois genes retirados de narcisos (plantas de inverno) e um gene retirado de uma bactéria, estes codificam uma substância chamada betacaroteno, que é precursor da vitamina A. Assim, o arroz é fortalecido com vitamina A, sendo considerado como uma vantagem específica para os países subdesenvolvidos, que têm uma alimentação com carência de vitaminas como esta. FONTE: Adaptado de: <http://ogmespan.blogspot.com/2009/05/transgenicos.html>. Acesso em: 10 out. 2010. 127 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você estudou que: • A Engenharia Genética, através da manipulação genética, altera determinadas características de um organismo. • A transferência de genes envolve o movimento de informação genética entre os organismos e ocorre nas bactérias através da conjugação, transdução e transformação. • Quando a bactéria absorver moléculas de DNA que estão livres no ambiente, conferindo-lhe características diferentes, chamamos de transformação. • Quando ocorre a transferência de genes de uma bactéria para outra através de um vetor – os vírus – é a transdução.• Quando as bactérias se unem através de um canal tubular proteico, por onde ocorre a transferência de genes, chamamos de conjugação. • Os plasmídios são DNA extra, de fita dupla, circulares, que se autoduplicam, carregando informações não essenciais ao crescimento celular. • Os plasmídios R (resistência) carregam informações genéticas, conferindo-lhes resistência a inúmeros antibióticos. • Os microrganismos possuem a capacidade de produzir uma grande variedade de substâncias, com alto valor comercial. • A biotecnologia é a aplicação da tecnologia em microrganismos, produzindo inúmeros produtos de grande utilidade ao homem. • A biorremediação é uma tecnologia que visa a remoção de poluentes tóxicos do ambiente. 128 1 O que é Engenharia Genética? 2 De acordo com os conhecimentos adquiridos através da leitura deste caderno, qual foi a tecnologia utilizada para limpar o litoral contaminado com o derramamento de óleo do petroleiro EXXON Valdez, no Alasca? 3 Através da engenharia genética, os cientistas podem fazer a identificação, o isolamento e a multiplicação de genes de diferentes organismos. De acordo com o que foi estudado, analise as afirmativas a seguir e classifique-as em V (verdadeiras) ou F (falsas): ( ) Possibilita-se a introdução de genes de outro organismo em bactérias, a fim de produzir substâncias que antes nunca haviam produzido. ( ) A transferência de genes acontece como forma essencial do ciclo vital dos organismos, pois ocorre através da reprodução sexuada, na grande maioria dos seres procariontes e eucariontes. ( ) Quando a transferência de genes acontece, apenas parte dos genes cedidos pela célula (doadora) é transferida para a outra célula que participa do processo (receptora). ( ) A importância da transferência de genes está no fato de que aumenta de forma significativa a variabilidade genética dos organismos. Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) A sequência correta é: V – F – V – V. b) ( ) A sequência correta é: F – F – V – V. c) ( ) A sequência correta é: V – V – F – F. d) ( ) A sequência correta é: V – F – F – V. 4 Nas bactérias, foi descoberta a ocorrência de três formas de transferências de genes, porém nenhuma delas está associada ao processo reprodutivo. São os seguintes mecanismos: a) ( ) Reprodução, replicação e recombinação. b) ( ) Transferência, recombinação e transformação. c) ( ) Conjugação, transformação e transdução. d) ( ) Replicação, conjugação e transformação. AUTOATIVIDADE 129 5 Com relação aos mecanismos de transferência de genes, associe as colunas: Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) A sequência correta é: I – II – III. b) ( ) A sequência correta é: II – III – I. c) ( ) A sequência correta é: II – I – III. d) ( ) A sequência correta é: III – I – II. 6 Com relação aos produtos transgênicos, é correto afirmar que: a) ( ) São organismos que possuem parte de sua informação genética proveniente de outro ser vivo. b) ( ) Encontram-se representados por seres vivos que durante o processo de alimentação incorporam material genético dos organismos ingeridos. c) ( ) São produtos indicados para pessoas com excesso de peso, pois apresentam número reduzido de calorias. d) ( ) Devem ser evitados, uma vez que, por apresentarem composição química modificada, não são produtos biodegradáveis. 7 Um novo método para produzir insulina artificial utiliza tecnologia de DNA recombinante. Os pesquisadores modificaram geneticamente a bactéria Escherichia coli para torná-la capaz de sintetizar o hormônio. A produção de insulina pela técnica do DNA recombinante tem como consequência: ( ) O aperfeiçoamento do processo de extração de insulina a partir do pâncreas suíno. ( ) A seleção de microrganismos resistentes a antibióticos. ( ) O progresso na técnica da síntese química de hormônios. ( ) Um impacto favorável na saúde de indivíduos diabéticos. ( ) A criação de animais transgênicos. FONTE: Adaptado de: <http://www.souvestibulando.com.br/Quiz/vestibular/enem2009_parte1. php>. Acesso em: 27 nov. 2010. ( ) Quando a bactéria absorver moléculas de DNA que estão livres no ambiente, conferindo-lhe características diferentes. ( ) Quando as bactérias se unem através de um canal tubular proteico, por onde ocorre a transferência de genes. ( ) Quando ocorre a transferência de genes de uma bactéria para outra através de um vetor – os vírus. I– Conjugação. II– Transdução. III– Transformação. 130 131 UNIDADE 3 CONTROLE DOS MICRORGANISMOS E OS PRINCIPAIS GRUPOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir desta unidade você será capaz de: • diferenciar esterilização de desinfecção, bem como os termos usados para descrever esses processos; • entender os princípios importantes aplicados aos processos de esteriliza- ção e desinfecção; • conhecer os principais fatores que afetam a potência dos agentes antimi- crobianos químicos e identificar as condições que podem limitar a eficiên- cia de um agente microbiano; • descrever, de uma maneira geral, como um agente antimicrobiano pode matar ou provocar a inibição do crescimento dos microrganismos; • caracterizar e listar cada grupo de microrganismos eucarióticos – fungos, algas e os protozoários; • definir vírus e discutir se é um ser vivo ou não; • relacionar as características gerais dos vírus, bem como citar a composição química das diferentes estruturas de uma partícula viral; • descrever e caracterizar um bacteriófago; • aplicar algumas metodologias para o ensino de Microbiologia para o Ensi- no Fundamental e Médio. Esta terceira unidade está dividida em quatro tópicos. Você encontrará, no fi- nal de cada um deles, leituras complementares e atividades que contribuirão para a compreensão dos conteúdos explorados. TÓPICO 1 – FUNDAMENTOS DO CONTROLE MICROBIANO TÓPICO 2 – VÍRUS TÓPICO 3 – PRINCIPAIS GRUPOS DE MICRORGANISMOS EUCARION- TES E PARASITAS TÓPICO 4 – METODOLOGIAS PARA O ENSINO DE MICROBIOLOGIA 132 133 TÓPICO 1 FUNDAMENTOS DO CONTROLE MICROBIANO UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO A probabilidade em épocas passadas de adoecer e chegar à morte era muito grande. A falta de higiene, ou melhor, o total desconhecimento da boa higiene provocava sérios danos à saúde. A inexistência de bons antissépticos e antibióticos podia fazer com que as infecções ficassem fora do controle. Um pequeno ferimento poderia ser uma sentença de morte para a pessoa. A ação microbiana nesses tempos era devastadora. Os alimentos eram preservados de forma incorreta, sem qualquer técnica de armazenamento. Em pouco tempo, a ação bacteriana provocava sua desintegração, tornando-se impróprios para o consumo. No campo médico era ainda mais complicado, pois qualquer procedimento cirúrgico não era cercado pelos cuidados que temos hoje. As salas de cirurgia não possuíam qualquer tipo de assepsia, sendo um risco constante. Sabemos, hoje, que uma higiene cuidadosa e a utilização de substâncias químicas são necessárias para alcançar um eficiente controle das ações de vários microrganismos infecciosos. Vamos abordar nessa Unidade as propriedades de inúmeros agentes químicos e físicos muito utilizados para o controle de microrganismos em laboratórios, bem como em hospitais e em nossos lares. No final desta Unidade você encontrará uma breve introdução a algumas metodologias que poderão ser empregadas na prática docente da disciplina de Microbiologia para o Ensino Fundamental e Médio. 2 AGENTES FÍSICOS E QUÍMICOS Há muito tempo, nossos antepassados utilizavam diferentes métodos de armazenamento de alimentos. A secagem e a salinização, bem como o cozimento dos alimentos eram técnicas utilizadaspara controlar as ações de deterioração bacteriana. Alguns desses métodos ainda hoje são utilizados, mas alguns deles evoluíram, resultando em uma enorme variedade de métodos atualmente disponíveis. Tanto os que manipulam os alimentos como os microbiologistas possuem hoje várias técnicas de controle, optando sempre por aquela que melhor se adapte à sua situação particular, seguindo sempre os princípios da fisiologia microbiana descobertas pela pesquisa científica moderna. UNIDADE 3 | CONTROLE DOS MICRORGANISMOS E OS PRINCIPAIS GRUPOS 134 Vimos, em momentos anteriores (Unidade 1 – Tópico 1 – Teoria da geração espontânea – abiogênese), que a comunidade científica havia descoberto a existência de pequenos organismos (“animais”) capazes de provocar a deterioração alimentar e também o fato de crescerem em ambientes naturais. Constatou-se, naquele momento, que a fervura tinha o poder de matar grande parte desses pequenos organismos, tendo como exceção as bactérias formadoras de esporos, que apresentavam uma fantástica resistência ao calor. Outras descobertas aconteceram e, entre elas, está a de que os pequenos organismos (microrganismos) poderiam morrer pela ação de várias substâncias químicas ou serem simplesmente removidos, tanto do ar como dos líquidos, através de aparelhos filtrantes especiais. Todas essas descobertas foram utilizadas pelas indústrias alimentícias, de vinho e de cerveja. Os filtros utilizados eram à base de algodão, sendo que as altas temperaturas eram utilizadas nos processos de fermentação. Um dos produtos químicos muito utilizado para a destruição de microrganismos do ar foi o fenol. Foi graças à sensibilidade da classe médica em defender as técnicas de limpeza (a lavagem das mãos e prática de esterilização dos equipamentos cirúrgicos) que esses procedimentos foram também incorporados pelos hospitais durante o século XIX. Vamos encontrar agentes químicos que são aplicados em objetos, que denominaremos desinfetantes; e aqueles que são aplicados em tecidos vivos, antissépticos. Todo procedimento em que ocorrer a morte ou a remoção total dos microrganismos em um material qualquer, bem como de um objeto, denominamos esterilização. Para Black (2002), todos os procedimentos de esterilização bem executados asseguram até mesmo a morte dos endósporos bacterianos, que são altamente resistentes, bem como a morte de esporos de fungos. Na contramão do processo de esterilização na qual ocorre a morte do agente patogênico, encontramos um processo que visa somente a redução do número desses organismos patogênicos tanto em objetos como em materiais, sem que represente qualquer tipo de ameaça de doença. A esse processo denominaremos desinfecção. QUADRO 7 – TERMOS RELACIONADOS À ESTERILIZAÇÃO E À DESINFECÇÃO Termo Definição Esterilização A destruição ou remoção de todos os microrganismos num material ou objeto. Desinfecção A redução dos microrganismos patogênicos a um número que eles não apresentem nenhum risco de causar doença. Antisséptico Um agente químico que pode seguramente ser usado externamente em tecidos vivos para destruir microrganismos ou para inibir seu crescimento. Desinfetante Um agente químico usado em objetos para destruir microrganismos. A maioria dos desinfetantes não mata os esporos. Sanitizador Um agente químico tipicamente usado em equipamentos de manipulação de alimentos e utensílios culinários para reduzir o número de bactérias de modo a satisfazer os padrões da saúde pública. Agente A sanitização pode ser realizada através de uma simples lavagem com sabão e detergente. Bacteriostático Um agente que inibe o crescimento de bactérias. Germicida Um agente capaz de matar rapidamente os micróbios; alguns desses agentes matam efetivamente certos microrganismos, mas somente inibem o crescimento de outros. TÓPICO 1 | FUNDAMENTOS DO CONTROLE MICROBIANO 135 Bactericida Um agente que mata bactérias. A maioria destes agentes não mata os esporos. Viricida Um agente que mata vírus. Fungicida Um agente que mata fungos. Esporicida Um agente que mata os endósporos bacterianos ou os esporos fúngicos. FONTE: Black (2002, p. 296) Não confunda esterilização com desinfecção. Muito embora ambos os processos levem à morte de microrganismos, eles são diferentes. ATENCAO De uma forma geral, podemos dizer que agentes antimicrobianos podem ser tanto agentes físicos quanro agentes químicos. Para Pelczar, Chan e Krieg (1997a), os aspectos fundamentais que existem e são aplicados às duas classes de agentes incluem o padrão de morte da população microbiana após ser exposta a um agente microbicida; as condições que influenciam a eficiência de um agente antimicrobiano; e, por último, a forma pela qual um agente antimicrobiano provoca lesões nas células microbianas. A atuação de um agente antimicrobiano para provocar a inibição, bem como a morte de um microrganismo, ocorre de várias maneiras. O conhecimento de todo o mecanismo de ação de um determinado composto possibilita que se predetermine mais efetivamente em que condições esse composto atuará. Uma consequência positiva para esse fato é que assim se pode saber que espécies de microrganismos são mais sensíveis ao composto. Sabemos que uma célula em equilíbrio é aquela que se mantém fisiológica e estruturalmente íntegra, ou seja, ela deve manter todas as suas funções metabólicas. Qualquer alteração na sua estrutura ou na sua fisiologia, como, por exemplo, rompimento da membrana celular ou da parede celular, alteração do estado físico do citoplasma ou a inativação das enzimas, causará a morte celular. Entre os agentes físicos muito utilizados e que possuem a maior eficiência na destruição de microrganismos é o aquecimento. É o meio de esterilização de maior preferência para todos os materiais que não sofrem qualquer dano pela ação do calor. A temperatura possui uma maior penetração nos materiais densos, bem diferente dos agentes químicos, que não possuem essa facilidade de penetração. As formas de aplicações do calor variam e pode-se utilizá-lo em condições úmidas – na forma de vapor ou água ou na forma de calor seco. A incineração (reduzir a cinzas pela ação do fogo) é uma forma extrema de utilização do calor para matar os microrganismos. UNIDADE 3 | CONTROLE DOS MICRORGANISMOS E OS PRINCIPAIS GRUPOS 136 Quando falamos de destruir microrganismos que provocam problemas aos alimentos e sérias doenças no homem e a outros grupos de organismos, temos que analisar quais os métodos que se tornam mais eficientes. Vamos encontrar no calor úmido uma maior eficiência (utiliza-se para eliminar os microrganismos as formas de vapor, água aquecida com temperaturas abaixo do ponto de ebulição ou água fervente) em relação ao calor seco, isso tudo porque o calor úmido atua na desnaturação proteica, bem como na sua coagulação, afetando proteínas (enzimas) extremamente importantes para os microrganismos. Já o calor seco age diretamente nos constituintes orgânicos celulares, oxidando-os e provocando, com isso, uma queima lenta das células. Disso tudo, o que podemos concluir é que o processo de desnaturação proteica das células acontece num tempo de exposição e de temperatura bem menores daqueles exigidos pelo método da oxidação. Segundo Pelczar, Chan e Kreig (1997a, p. 194), “[...] os endósporos de Bacillus anthracis são destruídos entre 2 e 15 min pelo calor úmido a 100 ºC, mas com o calor seco leva mais de 180 min a 140 ºC para conseguir o mesmo resultado”. Caro acadêmico! Para entender melhor, observe o quadro a seguir, no qual foi feita uma comparação dos dois métodos de destruição de esporos bacterianos: calor úmido e calor seco. ATENCAO QUADRO 8 – TEMPOS DE DESTRUIÇÃO DE ALGUNS ESPOROS BACTERIANOS – CALOR ÚMIDO E SECO ESPÉCIE DE BACTÉRIAS CALOR ÚMIDO CALOR SECO Temperatura (oC) Tempo de morte(min) Temperatura (oC) Tempo de morte (min) Bacillus anthracis 100 105 2 – 15 5 – 10 140 160 180 Acima de 180 180 9 – 90 Clostridium botulinum 100 110 115 300 – 500 32 – 92 10 – 40 120 130 140 50 15 – 35 5 Clostridium perfringens 100 110 115 120 5 – 45 5 – 27 4 1 120 130 140 50 15 – 35 5 Clostridium tetani 100 105 160 5 – 90 5 – 25 12 130 140 20 – 40 5 – 15 FONTE: Adaptado de: Pelczar, Chan e Krieg (1997a, p.194) TÓPICO 1 | FUNDAMENTOS DO CONTROLE MICROBIANO 137 Em um sistema fechado, que apresente um volume constante e um aumento de pressão, podemos ter um aumento na temperatura. Esse sistema descrito é utilizado dentro dos métodos de altas temperaturas – calor úmido – quando utilizamos o vapor d”água sob pressão para eliminar microrganismos, sendo o mais usado e de fácil aplicação. Fica muito evidente que, na prática, esse método é o que fornecerá altas temperaturas em relação aos demais que não utilizam os vapores com pressão ou simplesmente usam a água fervida. IMPORTANT E A autoclave é um aparelho muito utilizado em laboratórios de Microbiologia, em que a água é aquecida sob pressão, alcançando altas temperaturas (atingindo temperaturas superiores a 100 ºC em poucos minutos), suficientes para matar esporos, organismos vegetativos e também para provocar o rompimento estrutural dos ácidos nucleicos virais. FIGURA 65 – FUNCIONAMENTO DE UMA AUTOCLAVE Saída de resíduos Válvula automática é controlada por termostato e se fecha em contato com o vapor quando o ar se esgota Válvula de escape (para remover o vapor após a esterilização) Válvula que controla a entrada de vapor na câmara Vapor entrando na câmara Válvula de segurança Manômetro Prateleira perfurada Câmara de vapor Vapor Ar Regulador de pressão para fornecimento de vapor Tela de sedimentos Porta Termômetro Fornecimento de vapor FONTE: Adaptado de: <http://diverge.hunter.cuny.edu/~weigang/Images/07-02_autoclave_1.jpg>. Acesso em: 10 out. 2010. UNIDADE 3 | CONTROLE DOS MICRORGANISMOS E OS PRINCIPAIS GRUPOS 138 Black (2002) nos lembra de que nesse procedimento não é o aumento da pressão e sim a elevação da temperatura que mata os microrganismos. A simples fervura tem pouca eficácia na destruição de todos os tipos de esporos, porém destrói a maioria das células vegetativas de bactérias e fungos, podendo até paralisar vírus. A esterilização feita pelo método de calor seco (ex.: forno) é utilizada em objetos de metal e vidrarias, sendo muito satisfatória (talvez o único) na esterilização de substâncias à base de óleos e também pós. Vale lembrar que o calor seco possui uma penetração muito lenta nas substâncias do que o calor úmido. ATENCAO No século XIX, o cientista francês Louis Pasteur realizou alguns experimentos sobre os microrganismos que redundaram num processo que foi denominado de pasteurização - é um tratamento que controla o calor que é inserido no sistema. Ele se utilizou do aquecimento lento em temperaturas baixas na intenção de destruir os microrganismos que deterioravam os vinhos franceses (PELCZAR; CHAN; KRIEG, 1997a). Pelo processo da pasteurização, ocorria a destruição dos organismos que provocavam acidificação do vinho (deterioração do vinho – Acabava por azedar o vinho), sem alcançar a esterilização. Para Pelczar, Chan e Krieg (1997a, p. 195), “temperaturas de esterilização têm efeitos adversos em muitos alimentos, e tratamentos alternativos devem ser utilizados para reduzir a contaminação microbiana nestes materiais”. O método da pasteurização provoca a morte das células vegetativas de vários microrganismos, porém ele não esteriliza. Esse método mata alguns patógenos (Mycobacterium e a Salmonella) que podem estar presentes no leite e em seus derivados e na cerveja. O que ocorre na pasteurização é, como já foi comentado, a eliminação das células de microrganismos patogênicos vegetativas, fazendo com que se possa prolongar e manter a qualidade de um determinado produto. Porém, as indústrias alimentícias procuram evitar altas temperaturas, uma vez que pode haver alterações no valor nutritivo, no sabor e no aspecto dos produtos (derivados do leite, sucos em geral (vegetais e de frutas). TÓPICO 1 | FUNDAMENTOS DO CONTROLE MICROBIANO 139 FIGURA 66 – PROCESSO DE PASTEURIZAÇÃO Leite Água quente Aquecimento Resfriamento Água fria FONTE: Disponível em: <http://static.infoescola.com/wp-content/uploads/2010/02/ pasteurizacao.jpg>. Acesso em: 10 out. 2010. IMPORTANT E Você já deve ter comprado leite de vaca em saquinho ou leite diretamente ordenhado. Sabemos da importância da fervura desse leite, pois a possibilidade de contaminação por microrganismos é muito alta. É necessário, portanto, ferver o leite de vaca para eliminar possíveis bactérias. É aí que acontece um grande erro. Quando o leite atinge a temperatura próxima dos 80 oC forma uma película que impede a saída do vapor, fazendo com que o leite transborde. Muitas vezes, desligamos o fogo para que isso não ocorra. Nessa temperatura, o leite ainda não ferveu, consequentemente, os microrganismos ainda não morreram. O que se deve fazer então? Quando essa película se formar, deve-se retirá-la com uma colher ou espátula para sair o vapor. Logo o leite começará a ferver e borbulhar, atingindo a temperatura ideal para a eliminação dos microrganismos. Outro processo utilizado é o congelamento, que inibe, geralmente, o metabolismo dos microrganismos. Ele é utilizado na preservação de alimentos, em espécimes laboratoriais (age como bloqueador de forma efetiva no crescimento microbiano) e em drogas. O fato é que em baixas temperaturas não ocorre a morte dos microrganismos e sim a dormência por um período muito grande nos materiais congelados. A fervura elimina os microrganismos e o congelamento apenas os mantêm inativos. ATENCAO UNIDADE 3 | CONTROLE DOS MICRORGANISMOS E OS PRINCIPAIS GRUPOS 140 Existem outros tipos de controle microbiano na preservação de alimentos. Através da emissão de radiações na forma de ondas eletromagnéticas, a saber: radiação ionizante, luz ultravioleta, radiação de micro-ondas e pela intensidade da luz visível. FIGURA 67 – AÇÃO DA LUZ ULTRAVIOLETA C NO MICRORGANISMO Citoplasma Mesosomas Plásmidos Membrana Plasmática Parede Celular Material GenéticoAÇÃO DO ULTRAVIOLETA Ribosomas FONTE: Disponível em: <http://www.akarilampadas.com.br/aplicacoes/introducao-a-luz- ultravioleta-uvc.php>. Acesso em: 10 out. 2010. FIGURA 68 – DANO FOTOQUÍMICO NO DNA DO MICRORGANISMO CAUSANDO O EFEITO DESINFETANTE FONTE: Disponível em: <http://www.rafaelgontijo.com.br/radiacao.html>. Acesso em: 22 mar. 2018. Temos também um processo utilizado desde o século. XIX, nos tempos de Pasteur, que é a filtração. Para que aconteça a esterilização pelo processo de filtragem, deverá haver filtros com poros microscópicos. Os filtros que eram utilizados no passado para remoção de bactérias da água potável eram feitos de porcelana. Hoje, estão sendo substituídos por filtros de membrana de celulose, também denominados membranas filtrantes. Esses filtros possuem poros TÓPICO 1 | FUNDAMENTOS DO CONTROLE MICROBIANO 141 microscópicos que impedem a passagem de microrganismos. São utilizados para coletar amostras microbianas através da separação de diferentes tipos de microrganismos e também, em larga escala, na análise microbiológica da água. Entendemos como agentes antimicrobianos as substâncias químicas que são utilizadas para a inibição do crescimento de microrganismos, causando a sua morte. Segundo Black (2002), a potência, ou eficácia de um agente antimicrobiano químico é influenciada pelo tempo, pela temperatura, pelo pH e concentração. São os sabõese detergentes que possuem a propriedade de removerem os micróbios, as substâncias oleosas e a sujeira. O hábito de lavar as mãos é muito importante, porque o simples atrito mecânico aumenta sua ação e, com isso, previne a disseminação de doenças entre pacientes em hospitais, clínicas, em estabelecimentos de alimentação e também no círculo familiar. Uma atitude simples é, após o enxágue das nossas mãos ou de qualquer objeto, lavarmos também com uma solução de álcool a 70%. Porém, é bom lembrar que não vamos nos livrar por completo de todos os organismos patogênicos. Outros compostos químicos são usados em pequeníssimas quantidades para inibirem o crescimento bacteriano, entre eles, destacamos os metais pesados: mercúrio (mertiolate), cobre (sulfato de cobre) e prata (nitrato de prata). A utilização de halogênios como o cloro (ácido hipocloroso), adicionado à água, irá controlar de forma efetiva a proliferação de microrganismos na água potável. Outros agentes químicos muito importantes são os álcoois que, ao serem misturados com água, provocam a desnaturação proteica e eliminam agentes microbianos vegetativos na superfície da pele, porém, não são capazes de eliminar os endósporos. Existem muitos outros agentes químicos que possuem propriedades antimicrobianas específicas, entre eles estão: agentes alquilantes, fenóis, agentes oxidantes e corantes. UNIDADE 3 | CONTROLE DOS MICRORGANISMOS E OS PRINCIPAIS GRUPOS 142 LEITURA COMPLEMENTAR 1 CONSERVAÇÃO PELO CALOR Adriano Costa Camargo O uso de calor para conservar alimentos tem por objetivo a redução da carga microbiana e a desnaturação de enzimas. Vários tipos de tratamento térmico podem ser aplicados, a depender da termossensibilidade do alimento e da sua suscetibilidade à deterioração, bem como da estabilidade requerida do produto final. Um tratamento térmico seguro deve ser selecionado com base no binômio tempo-temperatura requerido para inativar os microrganismos patogênicos e deterioradores mais termorresistentes em um dado alimento e da embalagem (AZEREDO, 2004). Existem diferentes tipos de tratamento pelo calor, desde os mais conhecidos, como a pasteurização e a esterilização, até os menos conhecidos da grande população, como o branqueamento. Pasteurização O método da pasteurização leva este nome em homenagem a Louis Pasteur, o primeiro a perceber que havia a possibilidade de inativação de microrganismos deterioradores em vinho por meio da aplicação de calor. A pasteurização tem como objetivo principal a destruição de microrganismos patogênicos associados ao alimento em questão. Um objetivo secundário é aumentar a vida de prateleira do alimento, reduzindo as taxas de alterações microbiológicas e enzimáticas. Os produtos pasteurizados podem conter, ainda, muitos organismos vivos capazes de crescer, o que limita sua vida de prateleira. Assim, a pasteurização é, muitas vezes, combinada com outros métodos de conservação e muitos produtos pasteurizados são estocados sob refrigeração (POTTER; HOTCHKISS, 1995). Microrganismos patogênicos são os que causam doenças a quem ingere o alimento, por meio da ingestão de alimento contendo carga microbiana ou toxinas produzidas pelos microrganismos. Existem três tipos de pasteurização: • pasteurização lenta, na qual utilizamos temperaturas menores durante maior intervalo de tempo. Este tipo é melhor para pequenas quantidades de leite, por exemplo, o leite de cabra. A temperatura utilizada é de 65 ºC durante trinta minutos; • pasteurização rápida, na qual utilizamos altas temperaturas durante curtos intervalos de tempo. É mais utilizada para leite de saquinho, do tipo A, B e C. A temperatura utilizada é de 75 ºC durante 15 a 20 segundos; na literatura, frequentemente, encontramos este tipo de pasteurização com a denominação HTST (High Temperature and Short Time), alta temperatura e curto tempo; • pasteurização muito rápida, na qual as temperaturas utilizadas vão de 130 ºC a 150 ºC, durante três a cinco segundos, este tipo é mais conhecido como UHT (Ultra High Temperature) ou longa vida. TÓPICO 1 | FUNDAMENTOS DO CONTROLE MICROBIANO 143 Esterilização Comercial Para alimentos, quando dizemos esterilização, estamos nos referindo, na verdade, à esterilização comercial, ou seja, não atingimos a temperatura que tornaria o alimento completamente estéril. Se isso ocorresse, o alimento tratado não se tornaria interessante para o consumo do ponto de vista nutricional e sensorial. Segundo Potter & Hotckiss (1995), a esterilização comercial refere-se a um tratamento térmico que inativa todos os microrganismos patogênicos e deterioradores que possam crescer sob condições normais de estocagem. Os alimentos comercialmente estéreis podem conter um pequeno número de esporos bacterianos termorresistentes, que não se multiplicam no alimento. A maior parte dos alimentos enlatados é comercialmente estéril, tendo uma vida de prateleira de pelo menos dois anos. Mesmo após períodos mais longos de estocagem, sua deterioração, geralmente, ocorre devido a alterações não microbiológicas. Para reduzirmos os danos sensoriais e nutricionais aos alimentos tratados pelo calor, o melhor é submetermos os alimentos ao menor tempo de exposição ao calor que for possível e utilizarmos temperaturas mais altas. Isso minimiza as possíveis perdas nutricionais e sensoriais e atinge bons resultados no que se refere à segurança microbiológica. Branqueamento Na parte de frutas e hortaliças o branqueamento é frequentemente utilizado. Este tratamento térmico tem a finalidade de inativar enzimas que poderiam causar reações de deterioração, como o escurecimento. As reações enzimáticas são responsáveis por alterações sensoriais e nutricionais, principalmente no período de estocagem. Algumas das razões que justificam a necessidade de inativação enzimática previamente a diferentes tipos de processamento são as seguintes (FELLOWS, 1998): • No caso de produtos a serem congelados, a temperatura de congelamento geralmente utilizada durante a estocagem (-18 ºC) não inibe totalmente a atividade enzimática. • Os processos de desidratação, geralmente, não utilizam temperaturas suficientes para inativar enzimas, requerendo um branqueamento prévio para inativá-las. • Nos processos de esterilização, o tempo necessário para que a temperatura de processo seja atingida, especialmente quando se utilizam recipientes de grandes dimensões, pode ser suficiente para permitir que ocorra atividade enzimática. O branqueamento tem outros efeitos como o de reduzir a carga microbiana inicial do produto. Além disso, o branqueamento promove amaciamento de tecidos vegetais, facilitando envase e remove ar dos espaços intercelulares, auxiliando, assim, a etapa de exaustão (retirada do ar do produto e do espaço livre das embalagens, antes do fechamento). A remoção de ar pode, ainda, alterar o comprimento da onda da luz refletida no produto, como ocorre em ervilhas, que adquirem uma cor verde mais brilhante (AZEREDO, 2004). FONTE: CAMARGO, Adriano Costa. Laboratório de Irradiação de Alimentos e Radioentomologia. Disponível em: <http://www.cena.usp.br/irradiacao/cons_calor.html>. Acesso em: 17 out. 2010. UNIDADE 3 | CONTROLE DOS MICRORGANISMOS E OS PRINCIPAIS GRUPOS 144 LEITURA COMPLEMENTAR 2 ALIMENTOS: OS TOP 5 DA CONTAMINAÇÃO Yara Achôa Quem nunca teve um mal-estar, acompanhado de dor de barriga e vômitos depois de comer alguma coisa na rua? Só no ano passado, o Centro de Vigilância Epidemiológica (CVE), do governo do Estado de São Paulo, notificou 7.253 casos de doenças transmitidas por água e alimentos (DTA) – tendo como agentes bactérias como a Salmonella e a Escherichia coli, entre outras. Desse total, foram 384 surtos e seis óbitos. O perigo que pode estar no carrinho de cachorro-quente e no restaurante próximoao trabalho também pode ser encontrado na geladeira de casa. “Todos os alimentos são de risco se preparados sem higiene e/ou mantidos sem refrigeração ou aquecimento adequado”, alerta Maria Bernadete de Paula Eduardo, diretora da Divisão de Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar do Centro de Vigilância Epidemiológica/SES-SP. Na rua, alguns alimentos exigem cuidado dobrado antes de serem colocados no prato, ainda mais quando não se conhece a sua procedência. Confira os cinco alimentos mais relacionados a riscos de contaminação nas ruas: Ovo: pode abrigar a bactéria Salmonella, que causa diarreia, febre e vômitos, e até óbito em crianças, gestantes e pessoas com o sistema imunológico debilitado. “O maior risco é ingerir o ovo mal cozido (com a gema mole) ou cru (usado em alguns preparos como a maionese)”, alerta a nutricionista Patrícia Ramos, coordenadora do Serviço de Nutrição do Hospital Bandeirantes, de São Paulo. Segundo o biomédico Roberto Figueiredo, o Dr. Bactéria, um em cada 200 ovos em uma granja pode conter a Salmonella. A dica é optar pelo produto pasteurizado. “O processo de pasteurização elimina a bactéria”, diz o especialista. Acontece que na rua nem sempre é possível confiar na procedência do alimento. “Se o ovo estiver contaminado, a alta temperatura do cozimento será capaz de eliminar o microrganismo”, completa a nutricionista Jaqueline Bernardini, da Clínica Medicina Integrada, de São Paulo. Folhas: larvas e bactérias podem estar escondidas entre as folhas verdinhas expostas nas travessas dos restaurantes a quilo. “Só lavar com água não basta. É preciso realizar uma desinfecção química para eliminar os microrganismos”, explica a nutricionista Patrícia Ramos. Isso significa que antes de serem oferecidas ao consumo, as verduras devem ficar mergulhadas por pelo menos 15 minutos em uma mistura de água e água sanitária (hipoclorito de sódio) – para cada litro de água, uma colher de sopa de água sanitária de boa procedência e não odorizada. TÓPICO 1 | FUNDAMENTOS DO CONTROLE MICROBIANO 145 Não é o caso de eliminar a salada do prato, claro. “Mas fique atento à higiene do local e às condições de preparo e armazenamento dos alimentos”, reforça Maria Bernadete de Paula Eduardo, do CVE. Carnes: espetinhos, churrasquinhos, sanduíches de carne assada podem conter a bactéria Clostridium perfringens, causadora de cólicas e diarreia. Esse microrganismo é resistente muitas vezes até ao cozimento. “A carne deve ser armazenada sempre em temperatura inferior a cinco graus. Na hora de consumir, opte pela preparada na hora e bem passada, sendo mantida acima de 60 graus”, ensina Dr. Bactéria. Cachorro-quente: o problema principal está na salsicha, que pode conter a bactéria Listeria monocytogenes. Após sua ingestão, costumam aparecer diarreia e fortes cólicas abdominais, por 24 horas. Não é indicado consumir a salsicha que esteja fora de refrigeração, crua ou aquela mergulhada há horas na panela do carrinho de cachorro-quente, a não ser que a água emane vapores, isto é, esteja acima de 60 graus. “Ela deve ser cozida na hora e por cinco minutos após levantar fervura”, aconselha Dr. Bactéria. Cuidado ainda com o purê que acompanha o sanduíche: por ser preparado com leite e muitas vezes ficar exposto inadequadamente – o que também pode causar problemas. Maionese: para passar a ideia de saborosa e sem aditivos químicos, muitos comerciantes oferecem a “maionese caseira”. Além do risco da contaminação pelo uso de ovos crus no preparo, a falta de higiene da embalagem (bisnagas) e a refrigeração inadequada transformam o alimento em uma bomba de contaminação. “Nunca coma maionese feita com ovos crus ou em embalagens que ficam fora da geladeira. Prefira os sachês industrializados para maionese, mostarda e catchup”, diz Maria Bernadete. Em casa, nem a segurança do lar está imune aos microrganismos. Aliás, pesquisas apontam que a maior parte dos casos de contaminação acontece dentro de casa. Conheça os top 5 da contaminação residencial. Sobras do almoço: aquele arroz com feijão que sobrou do almoço podem ficar para o jantar e até para o dia seguinte, desde que manipulados de maneira adequada. “Tire das panelas, acondicione-os em outro recipiente e leve-os à geladeira”, ensina Jaqueline Bernardini. “Pode guardá-los até mesmo quentes. Isso não estraga a geladeira, nem a comida”, diz Dr. Bactéria. Mas até que esfriem, mantenha o recipiente aberto. “Aquelas gotículas de água que se formam na tampa (umidade) podem facilitar a proliferação de bactérias”, completa a nutricionista. UNIDADE 3 | CONTROLE DOS MICRORGANISMOS E OS PRINCIPAIS GRUPOS 146 A geladeira doméstica geralmente trabalha a 10 graus: nessa temperatura é capaz de conservar a comida por 24 horas. Se estiver a cinco graus, o prazo se estende até três dias. Agora, se a sobra foi grande e não será consumida rapidamente, melhor congelar. Frios: retire-os da embalagem original e coloque-os em recipientes com tampas. Na hora de se servir de uma fatia, utilize um garfo, evitando manipular o alimento com as mãos. “Consuma-os em até dois dias”, sugere a nutricionista da Clínica Medicina Integrada. Ranço e gosma na superfície dos frios significam microrganismos em ação – e problemas de contaminação na certa se forem ingeridos. Bolo de aniversário: geralmente recheados e preparados com leite e ovos, eles costumam ficar expostos, enfeitando a mesa do aniversariante. “Esse tipo de alimento não pode ficar mais de duas horas em temperatura ambiente, sob o risco de favorecer a proliferação de bactérias e toxinas”, alerta Dr. Bactéria. Mas o risco maior está na hora de apagar as velinhas. “O aniversariante assopra e espalha gotículas de saliva cheias de Staphylococus aureus, que podem produzir toxinas que provocam intoxicações com náuseas e vômitos. Palmito: ao comprar o produto, verifique as informações da embalagem: o rótulo deve conter a data de validade, o número do lote e os dados do fabricante. Um alimento de má procedência pode conter a toxina botulínica, bactéria transmissora do botulismo, doença que pode levar à morte. “Palmito em conserva só deve ser adquirido de marca e estabelecimentos confiáveis. Por ser um vegetal mole, ele não resiste a altas temperaturas e para que não venha desenvolver a toxina botulínica deve ser preparado industrialmente com quantidades de ácido e sal adequadas. As conservas clandestinas, caseiras ou adquiridas em beira de estrada são de extremo risco”, avisa Maria Bernadete, do CVE. E antes de consumi-lo em casa, a recomendação é fervê-lo durante 10 minutos. Enlatados: o cuidado aqui é com a embalagem. “As latas têm um verniz interno, que preserva seu conteúdo. Pequenas batidas podem romper essa proteção e comprometer o alimento”, diz a nutricionista Patrícia Ramos. É importante também higienizá-las (lavar com água e detergente) antes de abri-las. “Ao abrir, verifique se não contém bolhas, como se estivesse fermentado. Drene a água e consuma ou prepare imediatamente. Se não for utilizar todo conteúdo da lata, retire da embalagem, coloque em outro recipiente com tampa, marque a data e consuma em até três dias”. FONTE: Adaptado de: <http://delas.ig.com.br/bemestar/alimentos+os+top+5+da+contaminacao/ n1237772907747.html>. Acesso em: 17 out. 2010. 147 Neste tópico, você estudou que: • Podemos matar, inibir ou remover microrganismos utilizando agentes físicos ou um agente químico. • Agentes microbicidas matam os microrganismos, sendo que os agentes microbiostáticos apenas inibem o seu crescimento. • As condições do ambiente determinam a eficiência do agente antimicrobiano, tais como: a temperatura, o pH, o tempo e a concentração. • Um dos mais eficientes agentes antimicrobianos é a temperatura, que pode ser utilizada na forma de calor úmido – vapor sob pressão,água fervente ou a pasteurização. Utilizamos também o calor seco, para a esterilização pelo ar quente ou incineração. • Utilizam-se baixas temperaturas para o armazenamento de amostras laboratoriais de microrganismos. • As radiações também são utilizadas como microbicidas. • As membranas filtrantes removem os microrganismos e, por isso, são utilizadas para esterilizar substâncias fluidas. • Os agentes químicos antimicrobianos possuem uma denominação terminológica específica, que indica se esses agentes matam ou simplesmente inibem o crescimento dos microrganismos. RESUMO DO TÓPICO 1 148 1 Os métodos mais utilizados para a esterilização, geralmente, são obtidos por: I- Calor seco (estufa). II- Calor úmido (vapor sob pressão em autoclave). III- Pasteurização. IV- Congelamento. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As afirmativas I e III estão corretas. b) ( ) As afirmativas II e IV estão corretas. c) ( ) As afirmativas I e II estão corretas. d) ( ) As afirmativas III e IV estão corretas. 2 Qual a diferença entre esterilização e desinfecção? 3 Quais microrganismos são destruídos no processo de esterilização? a) ( ) Somente fungos e bactérias. b) ( ) Somente vírus e bactérias. c) ( ) Somente esporos, bactérias e fungos. d) ( ) Fungos, bactérias, esporos e vírus. 4 Com base no quadro 8 do Livro Didático, para esterilizar instrumentos contaminados pela bactéria Clostridium perfringens, pelo calor seco, a estufa deverá manter uma temperatura de: a) ( ) 120 °C, durante 2 horas. b) ( ) 140 °C, durante 1 hora. c) ( ) 130 °C, durante 1 hora. d) ( ) 120 °C, durante 50 minutos. 5 “Processo de eliminação de vírus, fungos e formas vegetativas de bactérias, porém não seus esporos” é o conceito de: a) ( ) Esterilização. b) ( ) Desinfecção. c) ( ) Viricida. d) ( ) Esporicida. AUTOATIVIDADE 149 6 Explique como ocorre o processo da pasteurização e quais são seus principais objetivos. 7 Associe as colunas de acordo com os tipos de pasteurização: I- Pasteurização lenta II- Pasteurização rápida III- Pasteurização muito rápida ( ) Temperaturas utilizadas de 130 ºC a 150 ºC, durante três a cinco segundos. ( ) Altas temperaturas durante curtos intervalos de tempo. ( ) Temperaturas menores durante maior intervalo de tempo. 150 151 TÓPICO 2 VÍRUS UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Convivemos com os vírus desde o nosso nascimento. Em boa parte da nossa vida, o nosso corpo é invadido por diferentes tipos de vírus, que utilizam as nossas células para se multiplicar, levando-as, muitas vezes, à morte. Na história da humanidade, conhecemos grandes epidemias de microrganismos e, entre elas, os vírus possuem um lugar de destaque pelos danos causados (gripe espanhola, pólio, HIV, Ebola, dengue, varíola, febre amarela etc.). Muitos dos vírus que imaginávamos estarem eliminados são hoje uma preocupação para os cientistas, pois começam a reaparecer e causar sérios problemas à saúde pública, denominando-os de vírus reemergentes. Pouco se sabe o motivo do reaparecimento, mas já se podem prever as consequências. Hoje, a pesquisa científica nos dá um melhor entendimento das doenças provocadas pelos vírus, bem como da sua estrutura e todo o seu processo de replicação. As consequências de todo esse conhecimento é o aumento da habilidade dos cientistas para desenvolver metodologias para aprimorar o controle e a erradicação de todas as infecções virais. Neste tópico, abordaremos as características morfológicas, as estruturas, a forma de replicação, o comportamento dos vírus e algumas doenças causadas por eles. 2 CARACTERÍSTICAS GERAIS Como já mencionamos anteriormente, nosso convívio com os vírus vem desde o nosso nascimento. Durante toda a nossa vida, tipos diferentes de vírus invadem o nosso corpo, causando-nos sérios problemas de saúde. Algumas células do nosso corpo vão possuir alguns vírus em estado de latência (inativo – período de incubação de uma doença), que podem ficar em estado de repouso absoluto durante toda a vida ou podem se multiplicar, provocando infecção viral. Estão amplamente distribuídos no meio ambiente, causando infecções em animais, vegetais, fungos e em alguns microrganismos (bactérias). 152 UNIDADE 3 | CONTROLE DOS MICRORGANISMOS E OS PRINCIPAIS GRUPOS Os vírus são agentes infecciosos extremamente pequenos e impossíveis de serem observados na microscopia óptica (PELCZAR; CHAN; KRIEG, 1997a). Não são considerados células, pois, ao contrário de todos os outros seres vivos, não apresentam organização celular. Por isso, não possuem citoplasma, organelas ou núcleo. As atividades metabólicas não serão realizadas, tampouco a sua multiplicação, quando estiverem fora das células hospedeiras. Devido ao fato de não terem a capacidade de replicação fora de uma célula hospedeira, existem muitas controvérsias em relação aos vírus. Por isso, uma parte da comunidade científica aponta os vírus como sistemas moleculares autorreplicativos não vivos. Em contrapartida, outras correntes de cientistas consideram os vírus como uma forma de vida extremamente simples. Temos uma certeza: eles possuem ácidos nucleicos e o mesmo processo de codificação genética que as outras espécies de vida possuem. Mesmo possuindo todo esse aparato genético, os vírus são desprovidos de toda a maquinaria bioquímica, altamente necessária para poderem traduzir as informações nele codificadas. A falta desses componentes químicos provoca a dependência dos vírus por células que lhes sirvam de hospedeiras, para que possam comandar a maquinaria celular para a sua multiplicação, ou seja, os vírus tornam-se parasitas intracelulares obrigatórios, atuando como “piratas celulares”. Quando a célula é invadida por um vírus, passa a funcionar exclusivamente na produção de novos vírus. Essa invasão feita pelos vírus em células (infecção celular) causa sérias alterações nos processos metabólicos da célula, podendo causar a sua morte. FIGURA 69 – EXEMPLOS DE VÍRUS FONTE: Disponível em: <https://image.freepik.com/vetores-gratis/seis-tipos-de- virus-no-fundo-branco_1308-3293.jpg>. Acesso em: 22 mar. 2018. TÓPICO 2 | VÍRUS 153 Os vírus apresentam, em relação às células procarióticas e eucarióticas, algumas diferenças importantes. Os dois tipos de células possuem tanto DNA quanto RNA, porém, os vírus contêm somente um tipo de ácidos nucleicos – RNA ou DNA, jamais os dois tipos ao mesmo tempo. Os vírus que possuem RNA são chamados de retrovírus. Outro ponto interessante que iremos observar é que as células crescem e se dividem, já os vírus não possuem essa característica. Os vírus são constituídos por um cerne de ácido nucleico e por um revestimento proteico denominado capsídeo (Figura 70). No capsídeo encontramos proteínas virais (protômeros), que, em grupos, formam os capsômeros. Podemos encontrar capsídeos com várias dezenas de capsômeros, sendo que o número total de capsômeros que forma o capsídeo é uma característica de grupo de vírus. FIGURA 70 – CAPSÍDEO Ácido nucleico Proteína viral Protômero Capsômero Ácido nucleico Capsídeo Envoltura Envelope lipídico FONTE: Adaptado de: <http://www.biologia.edu.ar/viruslocal/images/estruc1.gif>. Acesso em: 17 out. 2010. Um dado interessante é que a maioria das proteínas virais se agrupa de forma espontânea, gerando um capsídeo simétrico – assumindo a forma icosaédrica – ou também a forma helicoidal. Para Pelczar, Chan e Krieg (1997a, p. 380), “[...] há vírus com simetria complexa ou indefinida. Por exemplo, os arenavírus e os poxvírus possuem capsídeo com simetria irreconhecível”. FIGURA 71 – MORFOLOGIA DOS VÍRUS. A – SIMÉTRICO. B – HELICOIDAL. C – COMPLEXO FONTE: Adaptado de: <http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/virus/ imagens/virus81.jpg>.Acesso em: 17 out. 2010. 154 UNIDADE 3 | CONTROLE DOS MICRORGANISMOS E OS PRINCIPAIS GRUPOS Certos vírus apresentam uma membrana que é formada por uma bicamada lipídica, denominada envelope. Quando o vírus apresentar uma estrutura completa, incluindo seu envelope, caso tenha um, denomina-se vírion. FIGURA 72–VÍRION – VÍRUS ENVELOPADO FONTE: Adaptado de: <http://www.healthcare.uiowa.edu/labs/grose/images/ VIRION.GIF>. Acesso em: 17 out. 2010. Como já foi comentado anteriormente, há uma grande diferença em relação às formas de vida celular que possui os dois ácidos nucleicos em cada célula. Outra diferença é que o genoma das células de organismos superiores (animais e vegetais) apresenta um DNA de dupla-fita, enquanto que o genoma viral é constituído por DNA ou RNA, sendo de dupla-fita ou de uma só fita. Os grupos virais apresentam uma variação na quantidade de ácidos nucleicos. Além do ácido nucleico, encontramos outros componentes químicos nos vírus e o principal deles é a proteína. Os vírus possuem uma capa proteica, porém muitos outros possuem dentro do capsídeo algumas enzimas (com exceção de alguns vírus, as mais comuns são as polimerases), que são liberadas no interior da célula após os vírus efetuarem o seu desnudamento. A função dessas enzimas é atuar no processo de replicação do ácido nucleico dos vírus. Segundo Pelczar, Chan e Krieg (1997a, p. 383), “[...] sem uma polimerase viral, o RNA viral não poderia ser transcrito e o vírus não seria replicado. Os retrovírus possuem uma enzima [...] que sintetiza a fita de DNA, utilizando um genoma de RNA viral como molde”. Encontramos no vírus uma enorme variedade de compostos lipídicos, incluindo aqui os fosfolipídios, glicolipídios etc. Na grande totalidade dos vírus, há carboidratos, já que a molécula de ácido nucleico é constituída por ribose ou desoxirribose. Nos vírus com envelope (Figura 73) verificamos espículas que são constituídas por glicoproteínas. Glycoproteins ds DNA Capsid Tegument Envelope TÓPICO 2 | VÍRUS 155 FIGURA 73 – ESPÍCULAS Espículas FONTE: Adaptado de: <http://blogdodito.com.br/wp-content/ uploads/2009/11/blog-virus.jpg>. Acesso em: 17 out. 2010. As formas de classificação dos vírus adotadas antes do conhecimento da estrutura e das suas propriedades químicas eram bem diferentes das que são usadas hoje. Boa parte dos cientistas fazia a classificação dos vírus baseando-se no tipo de hospedeiro que eles infectavam ou simplesmente pelo tipo de estruturas atingidas no hospedeiro. Assim, tínhamos os vírus bacterianos (vírus que infectam bactérias – bacteriófagos (Figura 71C)) e os vírus que infectavam plantas e animais. Os vírus animais foram agrupados de acordo com o tipo de tecido que atacavam – os vírus que infectavam a pele eram classificados dermotrópicos; os que infectavam os tecidos nervosos eram os neurotrópicos; os que atacavam as vísceras (órgãos digestórios) eram classificados de viscerotrópicos; e os que provocavam infecções dos pulmões (sistema respiratório) eram os pneumotrópicos. 2.1 REPLICAÇÃO O processo de replicação viral é muito variado. Sabemos que estando fora da célula hospedeira, os vírus não apresentam qualquer atividade metabólica e, com isso, não têm a capacidade de reprodução pelos processos característicos de outros microrganismos. O processo de replicação viral acontece quando os componentes proteicos e o seu ácido nucleico são reproduzidos no interior dos hospedeiros mais sensíveis. O vírus coordena todo o processo metabólico da célula hospedeira, redirecionando-a, para que ela produza novos vírions em vez de deixá-la trabalhar normalmente na produção de um novo material celular. O vírus, de uma maneira geral, percorre algumas etapas em que ele possa acelerar o processo de produção de mais vírions. Essas etapas, denominadas ciclos de replicação, começam pela adsorção, que é o momento em que ele se fixa às células hospedeiras. Numa próxima etapa, temos a penetração, ou seja, é a entrada de seu genoma nas células hospedeiras. Dentro das células hospedeiras, o próximo passo é fazer a síntese dos novos materiais de ácidos nucleicos, bem como a síntese das proteínas do capsídeo e todos os outros componentes. O vírus promove tudo isso, utilizando-se da maquinaria bioquímica (metabólica) das células. Com a 156 UNIDADE 3 | CONTROLE DOS MICRORGANISMOS E OS PRINCIPAIS GRUPOS UNI Caro acadêmico! Observe a figura a seguir para entender melhor o processo de replicação viral. FIGURA 74 – REPLICAÇÃO VIRAL Absorção Entrada Replicação Montagem Liberação FONTE: Disponível em: <http://www.brasilescola.com/upload/e/ lisogenico.jpg>. Acesso em: 17 out. 2010. Numa comparação entre a replicação dos vírus animal e vegetal com a replicação nos fagos de bactérias (bacteriófagos), existem muitas diferenças. Os fagos dos vírus animal e vegetal divergem quanto ao seu mecanismo de penetrar na célula hospedeira. Estando no interior das células animais e vegetais, os vírus divergem também dos fagos na hora da síntese e na reunião dos novos componentes virais pelo síntese, os vírus organizam novos componentes, que são sintetizados em vírions completos. Esse processo é denominado de maturação. Com a maturação feita, vamos para o último ciclo em que ocorre a saída dos novos vírions das células parasitadas (hospedeiras). Essa fase do ciclo, de forma geral, provoca morte (lise) das células hospedeiras, porém isso nem sempre acontece. Segundo Pelczar, Chan e Krieg (1997a, p. 384), “[...] o local específico para a montagem e maturação do vírus dentro da célula é característico para cada grupo de vírus. Uma vez montado e maduro, os vírions são liberados da célula hospedeira”. TÓPICO 2 | VÍRUS 157 NOTA Em dois países da Europa, no século passado, deu-se a descoberta dos bacteriófagos. A primeira observação feita foi em 1915, na Inglaterra, pelo cientista Frederic Twort. Dois anos mais tarde (1917), Felix d’Herelle, na França, deu o nome de bacteriófagos (“comedores de bactérias”) a esses organismos que infectavam bactérias. FONTE: SOUZA, Jeanette Beber de. Avaliação de métodos para desinfecção de água empregando cloro, ácido peracético, ozônio e o processo de desinfecção combinado ozônio/cloro. 2006. 176 p. Tese (Doutorado em Hidráulica e Saneamento) - Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2006 FIGURA 75 – BACTERIÓFAGO Cabeça Capsideo proteico Bainha da cauda Fibras da cauda Núcleo Colar DNA Cauda FONTE: Adaptado de:<http://2.bp.blogspot.com/_vRkjCuX1CA0/SomzYqq4pQI/A AAAAAAAAYQ/5hAmSVv6m74/s400/27-27f.jpg>. Acesso em: 17 out. 2010. fato da existência das diferenças entre as células procarióticas de uma bactéria com as células eucarióticas dos animais e dos vegetais. Outros pontos de divergências são quanto ao processo de maturação e liberação, bem como o efeito nas células hospedeiras de animais e vegetais, que são totalmente diferentes dos fagos. Como a grande maioria dos vírus, os bacteriófagos possuem a parte interna (cerne) de ácido nucléico, que está envolvido por um capsídeo proteico com a função de proteger o genoma das ações prejudiciais das nucleases e de outras substâncias. Com relação ao genoma dos bacteriófagos, encontramos uma só molécula de ácido nucleico, podendo ser DNA – uma só fita ou dupla fita. O DNA pode ser linear ou circular, sendo que o RNA será linear de uma só fita (fita única). Estruturalmente, os bacteriófagos podem ser simples ou complexos. Os 158 UNIDADE 3 | CONTROLE DOS MICRORGANISMOS E OS PRINCIPAIS GRUPOS FIGURA 76 – REPRODUÇÃO VIRAL DO FAGO T4 ADESÃO O vírus reconhece proteinas da cápsula ou da parede bacteriana e se liga a ela. PENETRAÇÃO Depois de fixado o virus inicia a perfuração da parede celular da célula hospedeira e injeta o seuDNA no citoplasma da célula bacteriana. BIOSSÍNTESE DE PROTEÍNAS VIRAIS O DNA virai comanda a síntese dos componentes virais (proteinas que formarão novos virus). MATURAÇÃO DOS VÍRUS DENTRO DA CÉLULA Com a síntese proteica e com a duplicação do DNA do vírus, novos vírus são montados (como um lego) dentro da célula bacteriana. LISE BACTERIANA E LIBERAÇÃO DOS VÍRIONS A célula hospedeira rompe-se, ou seja é lisada, e os novos virions são liberados no meio ambiente, indo então atacar outras bactérias. DNA do fago Fibras proteicas da cauda do fago Parede bacteriana Membrana plasmática da célula bacteriana Citoplasma bacteriano Parede bacteriana Cromossomo bacteriano Célula hospedeira Fago T4 REPRODUÇÃO VIRAL - CICLO LÍTICO DO FAGO T4 FONTE: Adaptado de: <http://1.bp.blogspot.com/_dQyn47khNo4/S7DLjAD28lI/ AAAAAAAAAOc/Uz1uHZTKI6s/s1600/03_30_01.jpg>. Acesso em: 17 out. 2010. bacteriófagos designados por T2, T4 e T6 são os fagos T (T = tipo). Esses fagos não apresentam envelopes e são complexos, além de possuir como material genético o DNA de fita dupla. Dentre todos os fagos, o mais estudado é o T4, que apresenta, na sua estrutura morfológica, um capsídeo em forma de cabeça, colar e cauda. O DNA está empacotado na sua cabeça poliédrica, ligada a uma cauda espiralada. Esse fago é considerado parasita intracelular obrigatório da Escherichia coli. TÓPICO 2 | VÍRUS 159 A classificação dos bacteriófagos não segue uma regra em particular. Os cientistas determinam apenas códigos ou designações, sendo que essa forma serve a algumas necessidades práticas dos laboratórios para nomearem grupos de entidades infecciosas. Quanto ao ciclo de vida dos bacteriófagos, podemos dizer que existem dois tipos principais, que são: lítico (Figura 76) – também chamado de virulento – e temperado ou avirulento. Os bacteriófagos com ciclo lítico provocam a destruição das células bacterianas, ou seja, o vírion se replica e a célula hospedeira bacteriana se rompe. Com o rompimento, ocorre a liberação dos novos fagos para infectar outras células hospedeiras bacterianas. Esse fato não acontece com os bacteriófagos temperados, pois não destroem as células hospedeiras bacterianas. O que ocorre nessa infecção é que o ácido nucleico do vírus é incorporado ao genoma da célula hospedeira, replicando-se na célula hospedeira bacteriana de geração em geração, sem provocar o rompimento (lise) da célula. Todo esse processo é chamado de ciclo lisogênico, que ocorre somente nos bacteriófagos de DNA de fita dupla. Em certas situações e em gerações adiante, o bacteriófago pode provocar o ciclo lítico de forma espontânea e romper as células hospedeiras bacterianas. Após vários estudos sobre as doenças de animais e de plantas, os cientistas acabaram por descobrir alguns outros agentes infecciosos não tanto comuns, que foram denominados de viroides e príons. Esses agentes infecciosos chamaram a atenção porque possuem algumas características dos vírus, porém as suas estruturas são totalmente diferentes das estruturas virais. Os viroides são agentes infecciosos que possuem os menores tamanhos conhecidos até hoje. São encontrados somente em vegetais e causam várias doenças, gerando sérios prejuízos à agricultura. Eles diferem dos vírus por não possuírem uma capa proteica. Há viroides com RNA de fita dupla e RNA circular de fita única. Já os príons são causadores de doenças com curso lento e progressivo, que acaba sempre sendo fatal. Boa parte dessas doenças é caracterizada como crônica, pois atacam o sistema nervoso central e seus períodos de incubação podem ser horas, dias ou até anos. Esses quadros sugerem um agente infeccioso do tipo viral não convencional, pois o lado incomum é a sua alta resistência à ação da radiação ultravioleta e também ao calor. Nos príons, é detectado apenas um componente que é a proteína e eles não apresentam ácidos nucleicos. A única coisa que os assemelha aos vírus é a sua reprodução, que também é feita dentro de uma célula hospedeira. Talvez a codificação das proteínas dos príons seja feita por um gene do DNA normal de um hospedeiro. Os príons não são vírus nem bactérias. São proteínas modificadas do corpo. A maioria das doenças causadas pelos príons aparece na fase adulta e, infelizmente, até o momento, são incuráveis. A infecção pelas proteínas patogênicas pode se dar, mais comumente, de cinco formas: hereditariedade; uso de material cirúrgico contaminado; consumo de carne de animais infectados; mutação eventual; uso de hormônios. Algumas doenças detectadas no homem: Kuru, síndrome de Gerstmann-Straussler-Scheinker (GSS), insônia familiar fatal (IFF), doença de Creutzfeldt-Jakob (DCJ) e nova variante da doença de Creutzfeldt-Jakob (NVDCJ). 160 UNIDADE 3 | CONTROLE DOS MICRORGANISMOS E OS PRINCIPAIS GRUPOS FIGURA 77– PRÍON NORMAL E PRÍON INFECCIOSO Normal Conformer Rogue Conformer(speculative) FONTE: Adaptado de:<http://bioquest.org/bedrock/problem_spaces/prion/ assets/prion_structure.jpg>. Acesso em: 17 out. 2010. 3 DOENÇAS CAUSADAS POR VÍRUS Os vírus parasitas provocam muitas doenças nos seres vivos. Quando invadem as células de um indivíduo, prejudicam todo o funcionamento normal dessas células e, consequentemente, provocam doenças. A seguir, apresentaremos um quadro com as principais doenças, transmissão, controle e seus sintomas. QUADRO 9 – PRINCIPAIS DOENÇAS CAUSADAS POR VÍRUS NO HOMEM Doença Transmissão Controle Sintomas Hidrofobia (Raiva) Saliva introduzida pela mordida de animais infectados. O vírus penetra pelo ferimento e instala- se no sistema nervoso. Vacinação de animais domésticos e aplicação de soro e vacina em pessoas mordidas. Febre, mal-estar, delírios, convulsões, paralisia dos músculos respiratórios. Hepatite Infecciosa Gotículas de muco e saliva; contaminação fecal de água e objetos. Injeção de gamaglobulina em pessoas que entram em contato com o doente; saneamento, cuidados com alimentos ingeridos. Febre, anorexia, náuseas, mal-estar, icterícia. Caxumba Contato direto; objetos contaminados; gotículas de saliva. O vírus multiplica-se nas glândulas parótidas; eventualmente localiza- se em outros órgãos, como ovários e testículos. Vacinação. Parotidite (infecção das parótidas), com inchaço abaixo e em frente das orelhas (pode tornar a pessoa estéril se atingir os testículos ou os ovários). TÓPICO 2 | VÍRUS 161 Gripe Gotículas de secreção expelidas pelas vias respiratórias. O vírus penetra pela boca ou pelo nariz, localizando-se nas vias respiratórias superiores. Nenhum. Febre, prostração, dores de cabeça e musculares, obstrução nasal e tosse. Rubéola Gotículas de muco e saliva; contato direto. O vírus penetra pelas vias respiratórias e se dissemina através do sangue. Aplicação de imunoglobulina. Febre, prostração, erupções cutâneas (em embriões provoca a morte ou deficiências congênitas). Varíola Gotículas de saliva; objetos contaminados e contato direto. O vírus penetra pelas mucosas das vias respiratórias e dissemina-se através do sangue; finalmente, atinge a pele e as mucosas, causando lesões. Vacinação. Febre alta e erupções cutâneas. Sarampo Contato direto e indireto com secreções nasofaríngeas da pessoa doente. O vírus penetra pelas mucosas das vias respiratórias e dissemina-se através do sangue. Vacinação Febre alta, tosse, vermelhidão por todo o corpo. Febre Amarela Picada de mosquitos, entre os quais se destaca o Aedes aegypti. O vírus penetra através da pele, dissemina-se pelo sangue e localiza-se no fígado, na medula óssea, no baço e em outros órgãos. Vacinação e combate aos mosquitos transmissores. Febre alta, náuseas, vômitos, calafrios, prostraçãoe pele amarelada. Poliomielite Alimento e objetos contaminados; secreções respiratórias. O vírus penetra pela boca, multiplica-se no intestino, dissemina-se pelo sangue e instala-se no sistema nervoso central, onde destrói os neurônios Vacinação. Paralisia dos membros; em muitos casos ocorrem apenas febres baixas e indisposição, que logo desaparecem sem causar problemas. AIDS Sangue, esperma e muco vaginal contaminados. O vírus penetra no organismo através de relações sexuais, uso de agulhas de injeção contaminadas ou transfusões de sangue infectado; ataca o sistema imunológico. Uso de preservativos nas relações sexuais e de agulhas descartáveis ou esterilizadas; controle rigoroso, por parte dos bancos de sangue da qualidade do sangue doado; ainda não existem remédios ou vacinas eficazes contra a doença. Febre intermitente, diarreia, emagrecimento rápido, inflamação dos gânglios linfáticos, doenças do aparelho respiratório, infecções variadas, câncer de pele. FONTE: Adaptado de: <http://eveh.tripod.com/virus.html>. Acesso em: 17 out. de 2010. 162 UNIDADE 3 | CONTROLE DOS MICRORGANISMOS E OS PRINCIPAIS GRUPOS IMPORTANT E A febre aftosa é uma doença contagiosa causada por vírus. Essa doença atinge animais que são utilizados na nossa alimentação, como: bois, cabras, porcos e ovelhas. Nós não desenvolvemos essa doença, porém podemos servir de veículo para a contaminação desses animais. TÓPICO 2 | VÍRUS 163 LEITURA COMPLEMENTAR 1 PRÍONS: PROTEÍNAS ANORMAIS PROVOCAM DOENÇAS Alice Dantas Brites As proteínas são os componentes fundamentais dos seres vivos e são responsáveis pela maioria de suas funções vitais. O nome “proteína” deriva do grego protos, que significa “o primeiro” ou “o mais importante”. Só para citar alguns exemplos, são proteínas as fibras que compõem nossos músculos, nossos fios de cabelo e as enzimas que digerem o alimento que comemos. As proteínas também catalisam as reações metabólicas e permitem a construção de outras moléculas essenciais para a vida. As proteínas são codificadas pelos genes presentes no DNA e são compostas por uma série de aminoácidos. Os aminoácidos se unem através de ligações chamadas de ligações peptídicas e formam uma longa cadeia denominada polipeptídio. Uma das proteínas produzidas normalmente pelos genes de todos os animais é a proteína príon celular (ou PrPc). Esta proteína atua nas células nervosas e, em condições normais, não provoca nenhum dano ao organismo. Porém, devido a algumas doenças, chamadas de doenças priônicas, a PrPc pode ter sua estrutura alterada, formando uma proteína modificada, chamada príon. Os príons são capazes de provocar a alteração da conformação de PrPcs normais, transformando-as em outros príons. Este processo gera uma reação em cadeia que produz mais e mais príons. A forma como isso ocorre ainda não está clara para os cientistas. As primeiras menções aos príons surgiram na década de 1960, quando cientistas formularam a hipótese de que algumas doenças poderiam ser causadas por fragmentos de proteínas. Em meados dos anos 80, outro cientista conseguiu isolar essa proteína. Foi então que a forma alterada da proteína passou a ser chamada de príon, e a proteína a partir do qual o príon se forma de proteína príon celular (PrPc). As doenças priônicas podem atingir tanto humanos quanto animais. Elas atacam o sistema nervoso, prejudicando suas funções normais e matando as células nervosas. Doença da vaca louca Acredita-se que um mal que acomete bovinos, a doença da vaca louca, seja uma doença provocada por príons. A doença da vaca louca é também conhecida como encefalopatia espongiforme bovina (ou EEB). 164 UNIDADE 3 | CONTROLE DOS MICRORGANISMOS E OS PRINCIPAIS GRUPOS A EEB ataca o gado provocando a morte de células de seu sistema nervoso central. Devido à degeneração celular, formam-se buracos no tecido cerebral e este fica com um aspecto esponjoso, vindo daí o nome encefalopatia espongiforme. O gado passa a apresentar comportamentos estranhos e acaba morrendo. Um dos primeiros casos de EEB ocorreu na década de 1980. Acredita-se que o gado tenha contraído a doença através da ingestão de ração contendo carne de ovelhas contaminadas, ou seja, contendo o príon. O Reino Unido foi a região mais afetada pela doença, que, na década de 90, atingiu o status de epidemia, provocando a morte de milhares de animais. A doença provocou grande queda na importação e no consumo de carne bovina provenientes do Reino Unido. Como forma de conter a doença, em 1988, no Reino Unido e, alguns anos depois, na Europa toda, foi proibido o uso de ração bovina contendo carne de outros ruminantes. Atualmente, as criações de gado do Reino Unido são constantemente monitoradas para averiguar a presença de animais contaminados. Através desses programas, verificou-se que a incidência da doença vem caindo a cada ano. Acredita-se que a EEB esteja ligada a uma variação de uma doença degenerativa do sistema nervoso humano, chamada de doença de Creutzeldt- Jakob (ou vCDJ). Segundo a teoria mais aceita, o homem contrai a doença principalmente através da ingestão de carne de animais infectados pela vaca louca. Outra hipótese que já foi levantada é a de que a doença seja adquirida devido a uma infecção viral. Essa infecção provocaria a produção de proteínas anormais, ou seja, de príons. Os principais sintomas desta variação da doença de Creutzeldt-Jakob são alterações comportamentais, alucinações, perda de memória, convulsões, dificuldades locomotoras e outros distúrbios neurológicos. O diagnóstico, geralmente, é feito através de exames do líquido cefalorraquidiano, ressonâncias eletromagnéticas do cérebro e biópsias de tecidos do sistema nervoso central. Segundo a Organização Mundial de Saúde, o primeiro caso foi registrado em 1996 e, até 2002, ocorreram cerca de 138 casos, sendo a maioria no Reino Unido. Embora rara, a doença é fatal e ainda não existem tratamentos com eficácia comprovada. FONTE: Disponível em: <http://educacao.uol.com.br/biologia/prions.jhtm>. Acesso em: 17 out. 2010. TÓPICO 2 | VÍRUS 165 LEITURA COMPLEMENTAR 2 TRANSMITIR O VÍRUS PODE VIRAR CRIME TRÊS PROJETOS QUE TRAMITAM NA CÂMARA TRATAM DE SEXO SEM O USO DA CAMISINHA Carolina Khodr O Código Penal prevê cadeia para quem transmite doença por ato sexual. Na Câmara, três projetos a respeito do assunto abordam os portadores de HIV. A comunidade médica se divide sobre o tema, mas o Ministério da Saúde e ONGs têm posição contrária. Entre os crimes previstos no Código Penal, este certamente não é um dos mais conhecidos, mas está lá, com todas as letras: pena de três meses a um ano de prisão para quem transmitir doença por ato sexual. Apesar de constar na lei, a criminalização de pessoas com HIV que fazem sexo sem proteção e disseminam a doença ainda é um tema polêmico. Pesquisa divulgada pela Universidade de São Paulo (USP), realizada com cerca de dois mil médicos, mostra que 61% deles defendem que transmitir o vírus da AIDS em relações sexuais sabendo da condição de portador é crime. Posição não partilhada pelo Ministério da Saúde e por organizações não governamentais que lutam contra a discriminação de portadores de HIV. O presidente da Federação Nacional de Médicos, Cid Carvalhaes, explica que, se a pessoa tem conhecimento de sua condição soropositiva e recebe orientação sobre as precauções, mas, ainda assim, assume o risco e expõe outras pessoas, deve ser punida por isso. “Não tem como defender a inocência nesse caso”, afirma. O especialista esclarece que não se trata de preconceito, mas de responsabilidade. “A AIDS é uma doença altamente transmissível, grave e que não tem cura, apenas controle. Por isso, os dois lados têm que se prevenir”.FONTE: Disponível em: <http://www.clicrbs.com.br/anoticia/jsp/default2 jsp?uf=2&local=18&source=a 3077271.xml&template=4187.dwt&edition=15711§ion=2002>. Acesso em: 17 out. 2010. 166 Neste tópico você estudou que: • Os vírus são agentes infecciosos não celulares, com genomas que podem ser de DNA ou RNA. • Os vírus que possuem RNA são chamados de retrovírus. • A replicação só acontece em células vivas, utilizando o metabolismo da célula hospedeira para poderem produzir mais vírus, que infectam outras células. • Os vírus possuem, na sua constituição central, o ácido nucleico, que é envolvido por uma capa proteica, também chamada de capsídeo. • A replicação viral acontece pela adsorção, penetração, síntese, maturação e liberação. • No início do século passado – 1915 e 1917 – descobrem-se os bacteriófagos “comedores de bactérias”. • Há dois tipos de fagos: lítico e lisogênico (temperado), sendo que no ciclo lítico ocorre o rompimento da célula hospedeira bacteriana e no lisogênico pode acontecer ou não o rompimento. • Os viroides são considerados os menores agentes infecciosos até então conhecidos e sua composição é só RNA, não possuindo proteínas ou qualquer outro composto encontrado nos vírus. • Os agentes infecciosos denominados príons são constituídos somente por partículas de proteínas. RESUMO DO TÓPICO 2 167 AUTOATIVIDADE 1 Conforme o que estudamos sobre vírus, classifique as seguintes sentenças em V (verdadeiras) ou F (falsas): ( ) O vírus é o único ser vivo acelular. ( ) Seu material genético é exclusivamente o RNA. ( ) AIDS, raiva, tétano, coqueluche e sífilis são todas doenças causadas por vírus. ( ) Os vírus também causam várias doenças aos animais e às plantas. ( ) Os vírus não manifestam atividade vital fora da célula hospedeira. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) A sequência correta é: V – V – F – F – V. b) ( ) A sequência correta é: F – V – V – V – V. c) ( ) A sequência correta é: F – F – V – F – F. d) ( ) A sequência correta é: V – F – F – V – V. 2 Um dos métodos mais eficientes para o combate de doenças infecciosas disponibilizado pelos órgãos de saúde é a vacinação. Dentre as doenças ocasionadas por vírus, podemos relacionar as seguintes: a) ( ) Gonorreia e raiva ou hidrofobia. b) ( ) Cólera e meningite meningocócica. c) ( ) Raiva ou hidrofobia e poliomielite. d) ( ) Poliomielite e gonorreia. 3 Indique em qual dos seres vivos, citados a seguir, o ácido desoxirribonucleico (DNA) e o ácido ribonucleico (RNA) não ocorrem em um mesmo indivíduo: a) ( ) Bactéria. b) ( ) Protozoário. c) ( ) Vírus. d) ( ) Fungos. e) ( ) Algas. FONTE: Disponível em: <http://www.professor.bio.br/provas_topicos.asp?topico=V%EDrus>. Acesso em: 27 nov. 2010. 4 Impressionados com a notícia do poder arrasador de como o vírus Ebola vem dizimando uma certa população na África, alguns alunos de um colégio sugeriram medidas radicais para combater o vírus desta terrível doença. Considerando-se que este agente infeccioso apresenta características típicas dos demais vírus, assinale a alternativa que contenha a sugestão mais razoável: a) ( ) Descobrir urgentemente um potente antibiótico que possa destruir a sua membrana nuclear. 168 b) ( ) Alterar o mecanismo enzimático mitocondrial para impedir o seu processo respiratório. c) ( ) Injetar nas pessoas contaminadas uma dose maciça de bacteriófagos para fagocitar o vírus. d) ( ) Cultivar o vírus “in vitro”, semelhante à cultura de bactérias, para tentar descobrir uma vacina. e) ( ) Impedir, de alguma maneira, a replicação da molécula de ácido nucleico do vírus. FONTE: Disponível em: <http://www.questoesdevestibular.com/biologia/bioquimica/ bioquimica-_-questao-28-(ufv).html>. Acesso em: 27 nov. 2010. 5 O texto a seguir se refere a etapas do ciclo reprodutivo dos vírus A. O vírion A adere à célula hospedeira e injeta nessa célula o seu DNA. Os genes virais são transcritos em moléculas de RNA posteriormente traduzidas em proteínas virais. Essas proteínas induzirão a multiplicação do DNA viral. Em seguida, já com a célula hospedeira totalmente controlada pelo vírus, são produzidas proteínas para a construção de cabeças e caudas virais, que se agregarão ao DNA formando vírus completos. Cerca de 30 minutos após a adesão do vírion à célula, ocorre a lise celular, com a liberação de centenas de vírions maduros, aptos a reiniciar novo ciclo. De acordo com o texto, é correto afirmar que: a) ( ) A é um retrovírus. b) ( ) A pode causar gripe. c) ( ) A é um vírus envelopado. d) ( ) A é um bacteriófago. FONTE: Adaptado de: <http://www.portalimpacto.com.br/docs/Vest2010BioRinaldoAula04. pdf>. Acesso em: 27 nov. 2010. 6 DNA pode facilitar a transformação de proteínas envolvidas em doenças degenerativas. Estudos recentes podem ajudar a entender como a proteína normal se transforma em príon, o agente infeccioso responsável pela transmissão de doenças espongiformes que atacam animais, inclusive o homem.(Ciência Hoje, v. 30, n 179, p. 12-13). Um exemplo de doença provocada pelo príon é: a) ( ) A vaca louca. b) ( ) A dengue. c) ( ) A cólera. d) ( ) O carbúnculo. e) ( ) A influenza. FONTE: Disponível em: <http://www.ucs.br/ucs/tplEventos/vestibular/vestibularverao2011/ concursosanteriores/2002inverno/provas/provainverno2002/biologia.pdf>. Acesso em: 27 nov. 2010. 7 Qual é a diferença entre vírus e viroide? 169 TÓPICO 3 PRINCIPAIS GRUPOS DE MICRORGANISMOS EUCARIONTES E PARASITAS UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Até agora nossas atenções estavam voltadas somente aos microrganismos procarióticos, ou seja, às bactérias do Reino Monera, bem como aos organismos acelulares, os vírus. Neste tópico, estudaremos os microrganismos eucariontes, que também despertam interesse junto à comunidade científica pelo fato de existirem milhares de espécies. Os processos celulares e as formas dos microrganismos eucariontes são muito variáveis, podendo ser divididos nos seguintes grupos: fungos, algas e protozoários. Nesses grupos (Reinos), há um grande número de organismos microscópicos, sendo que alguns fornecem alimentos, antibióticos e outros causam sérias doenças. Esquemas de classificações específicos foram criados para que pudessem auxiliar na compreensão das inúmeras formas de microrganismos eucarióticos. Vamos notar que, muitas vezes, a classificação de um determinado organismo num nível taxonômico não significa que ele está nesse nível para sempre e que os microrganismos eucarióticos possuem complexos ciclos de vida, processos reprodutivos alternativos, morfologia variável, são causadores de doenças e importantes nos processos ambientais e econômicos. 2 FUNGOS Num passado distante, os fungos foram considerados plantas que haviam perdido as suas características funcionais, ou seja, perderam a clorofila e sem ela não tinham a capacidade de realizar a fotossíntese. Por esse motivo, eles foram incluídos no Reino Plantae. Em décadas mais recentes, as classificações admitem que os fungos são diferentes dos outros grupos de seres vivos e passam a integrar um reino próprio – o Reino Fungi (PELCZAR; CHAN; KRIEG, 1997a). Todos os fungos são eucarióticos heterotróficos, isto é, não possuem capacidade de sintetizar matéria orgânica, pois, ao contrário das plantas, são desprovidos de clorofila. Alguns são saprofíticos – fungos que vivem sobre matéria orgânica em decomposição. UNIDADE 3 | CONTROLE DOS MICRORGANISMOS E OS PRINCIPAIS GRUPOS 170 Os fungos são muito importantes para o funcionamento dos ecossistemas, já que fazem a reciclagem, digerindo matéria orgânica morta e resíduos orgânicos, transformando-os em matéria inorgânica, que é reutilizada pelas plantas. Diferente dascélulas animais, os fungos possuem uma parede celular composta de quitina, que é um polissacarídeo encontrado no exoesqueleto dos artrópodes. Os fungos obtêm os alimentos por absorção, secretam enzimas digestórias sobre o substrato que colonizam e depois absorvem as moléculas simples resultantes da degradação enzimática do substrato, ao contrário dos animais, que os obtêm por ingestão. Existem também os fungos parasitas que, para obterem os nutrientes necessários, os absorvem de tecidos (tanto animais como vegetais) dos hospedeiros vivos. Há os que vivem em mutualismo, que é uma espécie de relação benéfica com outros organismos. Esses fungos que vivem associados a outros organismos podem estar juntos às raízes de árvores, onde ajudam na absorção de sais e água. Esta associação recebe o nome de micorrizas. FIGURA 78 – MICORRIZAS – ASSOCIAÇÃO HARMÔNICA DE FUNGOS COM PLANTAS FONTE: Disponível em: <http://cdcc.usp.br/ciencia/artigos/art_20/colombiaimagem/ micorriza.jpg>. Acesso em: 17 out. 2010. Outra forma de associação é entre o fungo (os mais comuns são os ascomicetos) e as algas (clorofíceas unicelulares), originando os liquens. Nesse caso, o fungo consegue água e umidade captada do ar, obtendo a matéria orgânica (substâncias nutritivas) das algas. Hifas del hongo Raízes do pinheiro (Pinus)Hifas Raízes MICORRIZAS Fungo (Boletus) TÓPICO 3 | PRINCIPAIS GRUPOS DE MICRORGANISMOS EUCARIONTES E PARASITAS 171 FIGURA 79 – LÍQUEN – ASSOCIAÇÃO DE ALGA E FUNGO FONTE: Disponível em: <http://www.cameraviajante.com.br/l%C3%ADquen%20 c%C3%B3pia.jpg>. Acesso em: 17 out. 2010. A grande parte dos fungos como, por exemplo, os bolores e os cogumelos, são multicelulares, sendo que as leveduras são unicelulares. Os fungos produzem esporos que são dispersos pela ação dos ventos. Os fungos mais primitivos possuem as formas ameboides e outros apresentam movimentos através de flagelos. Outra característica muito importante de boa parte dos fungos é a de que eles promovem a síntese e o armazenamento de glicogênio (polissacarídeo de reserva energética). Os fungos multicelulares apresentam em sua constituição corporal estruturas filamentosas microscópicas ramificadas denominadas hifas. A formação de um conjunto de hifas forma o micélio (Figura 80), que constitui o corpo do fungo. O formato de uma hifa é a de um tubo microscópico, que contém o material celular do fungo. UNIDADE 3 | CONTROLE DOS MICRORGANISMOS E OS PRINCIPAIS GRUPOS 172 FIGURA 80 – CONJUNTO DE HIFAS - MICÉLIO Estrutura reprodutora Micélio Estruturas produtoras de esporasHifas FONTE: Disponível em: <http://www.cientic.com/imagens/img_fungo2. jpg>. Acesso em: 17 out. 2010. Temos dois tipos de hifas: septadas e cenocíticas (Figura 81). As hifas podem ser septadas devido à existência de septos transversais incompletos, com delimitação dos compartimentos celulares. Dependendo do estágio do ciclo sexual, esses compartimentos apresentam um ou dois núcleos. Quando não existem septos (sem divisões transversais), ou seja, os tubos são contínuos e estão preenchidos por substâncias citoplasmáticas com centenas de núcleos, denominam-se hifas cenocíticas. Encontramos nas hifas uma parede celular, a mesma das células das plantas, sendo que o seu principal constituinte é a quitina. FIGURA 81 – TIPOS DE HIFAS. A – HIFAS SEPTADAS. B – HIFAS CENOCÍTICAS FONTE: Disponível em: <http://mjbcienciasnaturales.blogspot.com/2009/10/reino- fungi.html>. Acesso em: 17 out. 2010. TÓPICO 3 | PRINCIPAIS GRUPOS DE MICRORGANISMOS EUCARIONTES E PARASITAS 173 O processo de reprodução dos fungos é assexuado por esporos. Os esporos são formados por mitoses no interior de esporângios, que se diferenciam nas extremidades das hifas. Todos os esporos assexuais, como os bolores, que não são produzidos na parte interna dos esporângios, são denominados de conídios e a sua formação se dá de duas formas: por fragmentação das hifas ou gemulação. FIGURA 82 – CONIDIÓSPOROS – CONÍDIOS FONTE: Disponível em: <http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/fungos/imagens/ fungos-78.gif>. Acesso em: 17 out. 2010. A reprodução sexuada ocorre quando há a fusão das hifas de tipos sexuais compatíveis ou somente entre células móveis. Após ter ocorrida a fusão nuclear e a meiose é que são produzidos os esporos sexuais. Os fungos apresentam a fase haploide (n) e a fase diploide (2n), porém exibem outra condição nuclear, que é a fase dicariótica (n + n), na qual as hifas possuem dois núcleos haploides geneticamente distintos. Os cogumelos (hifas especiais que crescem em agrupamentos compactos, constituindo os corpos de frutificação) são estruturas macroscópicas produzidas por muitos fungos, tudo por causa da sua reprodução sexuada. Quanto à classificação, há grupos de fungos inferiores flagelados e grupos de fungos terrestres. Os fungos inferiores flagelados estão divididos em quatro grupos: Chytridiomycetes, Hyphochytridiomycetes, Plasmodiophoromycetes e Oomycetes. • Chytridiomycetes: os quitrídios são fungos que vivem no solo ou em água doce, unicelulares, possuem hifas cenocíticas, podem ser parasitas ou saprófitas e possuem um único flagelo posterior em seus esporos, tornando-os móveis. As paredes celulares desses fungos são constituídas de quitina, sendo que algumas também possuem celulose. Muitos possuem um ciclo de vida bastante complexo com vários meios de desenvolvimento alternativo. Ex.: Chytridium olla. UNIDADE 3 | CONTROLE DOS MICRORGANISMOS E OS PRINCIPAIS GRUPOS 174 FIGURA 83 – Chytridium olla FONTE: Disponível em: <http://thm-a02.yimg.com/nimage/ d26b2d15db1a4828>. Acesso em: 21 out. 2010. • Hyphochytridiomycetes: os hifoquitrídios, assim como os quitrídios, são fungos que vivem na água doce e também no solo, são saprófitas ou parasitas, também possuem um flagelo falso localizado na extremidade anterior. Produzem zoósporos que nadam em direção ao novo hospedeiro ou substrato. Esse grupo só se reproduz de forma assexuada. Ex.: Rhizidiomyces apophysatus. FIGURA 84 – Rhizidiomyces apophysatus FONTE: Disponível em: <http://folk.uio.no/klaush/hyph.gif>. Acesso em: 21 out. 2010. TÓPICO 3 | PRINCIPAIS GRUPOS DE MICRORGANISMOS EUCARIONTES E PARASITAS 175 • Plasmodiophoromycetes: os plasmodioforomicetos são fungos parasitas obrigatórios e heterotróficos. Atacam plantas, algas e outros fungos, causando- lhes o aumento (hipertrofia) e a multiplicação (hiperplasia) anormal da célula hospedeira, porém, muitos não causam prejuízos. Na reprodução, formam zoósporos com dois flagelos anteriores. Ex.: Plasmodiophora brassicae, causador das hérnias, principalmente nos repolhos. FIGURA 85 – HÉRNIAS NAS RAÍZES DE REPOLHO CAUSADAS POR Plasmodiophora brassicae FONTE: Disponível em: <http://www.bitkisagligi.net/Crucifer/cruciferresim/ Plasmodiophora_brassicae.jpg>. Acesso em: 21 out. 2010. • Oomycetes: os oomicetos são fungos filamentosos com micélio cenocítico. Também são saprófitas ou parasitas aquáticos de algas e parasitas terrestres de plantas. Para se alimentar, introduzem suas hifas no interior das células hospedeiras. Os zoósporos possuem dois flagelos para locomoção. Ex.: Phytophthora infestans, que causa doenças em batatas. FIGURA 86 – ESPORÂNGIO DE Phytophthora infestans. FONTE: Disponível em: <http://top-10-list.org/wp-content/uploads/2009/09/ Phytophthora-Infestans.jpg>. Acesso em: 21 out. 2010. UNIDADE 3 | CONTROLE DOS MICRORGANISMOS E OS PRINCIPAIS GRUPOS 176 De modo geral, o ciclo de vida dos fungos inferiores flagelados consiste em duas etapas: sexuada, com formação de gametas, e assexuada, com formação de esporos. A seguir, podemos observar o ciclo de vida dos Chytridiomycetes, que tem duas etapas: a sexuada e a assexuada. Na fase sexuada, o gametângio, produtor de gametas masculino e feminino,libera seus gametas haplóides, que se fundem e formam um zigoto diploide biflagelado. Em condições adequadas, o zigoto germina e dá origem a um esporófito, produtor de zoósporos. Os zoósporos sofrem meiose, originando zoósporos haploides. Esses se desenvolvem, dando origem a um gametófito. Na fase assexuada, o esporófito produz zoosporângios que contém zoósporos diploides flagelados. Em condições adequadas, germinam e dão origem a um novo esporófito. FIGURA 87 – CICLO DE VIDA DE CHYTRIDIOMYCETES Gametângio Gameta Gameta Gametófito Fusão celular e nuclear Zoósporo haplóide Zoósporo diplóide Esporófito Micélio Zoosporângio Zoosporângio Meiose Zigoto móvel Cisto Cisto Cisto Micélio FONTE: Adaptado de: <http://microbewiki.kenyon.edu/images/thumb/1/13/ Carl34ChytridCycle3.jpg/300px-Carl34ChytridCycle3.jpg>. Acesso em: 21 out. 2010. TÓPICO 3 | PRINCIPAIS GRUPOS DE MICRORGANISMOS EUCARIONTES E PARASITAS 177 Existem também os fungos terrestres que estão divididos em quatro grupos: Zygomycetes, Ascomycetes, Basidiomycetese Deuteromycetes. • Zygomycetes: os zigomicetos são fungos que possuem hifas cenocíticas, são saprófitas, alguns são parasitas e se reproduzem sexuadamente, com a formação do zigósporo. Também se reproduzem assexuadamente, com formação de esporangiósporos, que se desenvolvem no interior dos esporângios. Não possuem corpo de frutificação. Alguns zigomicetos são utilizados na fabricação de molho de soja, ácidos orgânicos, drogas anti-inflamatórias e contraceptivas. Ex.: Rhizopus stolonifer, o bolor preto do pão. FIGURA 88 – CICLO DE VIDA DE ZYGOMYCETES Zigoto (zigosporângio) (2n) Detalhe da fusão de micélios sexualmente compatíveis (plasmogamia) Desenvolvimento de um esporo (n) Gametângios de sexos diferentes Reprodução assexuada MEIOSE Micélio Esporos (n) Esporos (n) Esporângio Esporângio Fecundação (fusão de hifas) FONTE: Disponível em: <http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/fungos/imagens/fungos-92. jpg>. Acesso em: 21 out. 2010. • Ascomycetes: os ascomicetos incluem fungos com hifas septadas com um ou mais núcleos. Seus esporos asse xuais são normalmente conídios. Alguns produzem corpo de frutificação denominado ascocarpo. Ascósporos são esporos sexuados que se originam da fusão do núcleo de duas células contidos numa estrutura em forma de saco, o asco. Dentro de cada asco há quatro ascósporos (produto de duas células diploides), que sofrem mitose, formando oito células, que se dispõem enfileiradas na ordem em que foram formadas. Ex.: leveduras (Saccharomyces cerevisiae – fermenta pães e produz álcool em cervejas e vinhos). UNIDADE 3 | CONTROLE DOS MICRORGANISMOS E OS PRINCIPAIS GRUPOS 178 FIGURA 89 – CICLO DE VIDA DE ASCOMYCETES Ascocarpo Conídeos Dispersão Hifa dicariótica Micélio Conídeos (Esporos) Oito ascóporos Ascogônio Anterídeo Linhagem + Linhagem Mitose Germinação Dispersão PLASMOGAMIA MEIOSE CARIOGAMIA Ascogônio Asco (dicariótico) Hifa dicariótica Ascóporos Núcleo diplóide (zigoto) Quatro núcleos haplóides Anterídeo Reprodução Assexuada Reprodução Sexuada Germinação Micélio FONTE: Adaptado de: <http://www.thaigoodview.com/files/u19289/Ascomycota.jpg>. Acesso em: 21 out. 2010. IMPORTANT E Cariogamia é a fusão dos núcleos dos gametas masculino e feminino, que são haploides, dando origem ao núcleo diploide zigoto ou ovo. • Basidiomycetes: os basidiomicetos são fungos de hifas septadas. Esses fungos possuem basídios que são estruturas reprodutivas onde ocorre a cariogamia. Cada basídio produz quatro basidiósporos haploides por meio da meiose. Esses basidiósporos haploides germinam e originam hifas. Hifas haploides se unem e formam micélio dicariótico, que se diferencia em basidiocarpo ou em um micélio produtor de basídios. Ex.: Cogumelos, orelhas-de-pau, bufa-de- lobo, carvão, ferrugem. TÓPICO 3 | PRINCIPAIS GRUPOS DE MICRORGANISMOS EUCARIONTES E PARASITAS 179 FIGURA 90 – CICLO DE VIDA DE BASIDIOMYCETES FONTE: Disponível em: <https://estudandoabiologia.files.wordpress.com/2012/10/ basiodcarpo-1.jpg> Acesso em: 22 mar. 2018. • Deuteromycetes: os deuteromicetos só se reproduzem assexuadamente, com produção de esporos assexuais ou conídios que se desenvolvem em micélios septados. Algumas espécies são conhecidas na indústria e na medicina. Para Purves et al. (2002, p. 530), “os deuteromicetos não são considerados um filo, mas sim um “grupo de espera” para espécies cuja posição ainda está por ser resolvida”. Ex.: Aspergillus sp, decompositores de alimentos; Penicillium notatum, antibiótico penicilina; Candida albicans, doença da mucosa da boca, vagina e trato alimentar. MEIOSE ZIGÓTICA Basidiósporos (n) Liberação dos basidiósporos Germinação dos basidiósporos R! Lamela (ampliação) Fusão de núcleos (fecundação) Corpo de frutificação (basidiocarpo) Micélio dicariótico Hifas dicarióticas Fusão nuclear (fecundação) Formação dos basidiósporos Basídio Basidiósporos (n) MEIOSE R! Hifa dicariótica Núcelos haplóides (n) Zigoto (2n) Fusão de micélios compatíveis Hifas haplóides (n) Zigotos (2n) FIGURA 91 – DEUTEROMYCETES FONTE: Disponível em: <http://www.emlab.com/s/sampling/env-report-09-2006. html>. Acesso em: 21 out. 2010. UNIDADE 3 | CONTROLE DOS MICRORGANISMOS E OS PRINCIPAIS GRUPOS 180 A ação parasitária dos fungos nos vegetais causa inúmeros prejuízos econômicos no campo, com a destruição de lavouras inteiras. As doenças causadas pelos fungos aos seres humanos são denominadas de micoses. Geralmente as micoses são causadas por mais de um organismo, sendo classificadas como: superficiais, subcutâneas ou sistêmicas. As que atingem somente os tecidos queratinizados da pele, cabelos e as unhas são denominadas superficiais. Toda aquela que afetar as camadas da pele abaixo do tecido queratinizado e que pode haver uma disseminação para vasos linfáticos é denominada subcutânea e, por último, temos aquela que afeta órgãos internos, causando sérios danos, é denominada sistêmica. Existem os chamados fungos oportunistas, que numa primeira impressão não causam doenças, porém os indivíduos com o sistema imunológico abalado podem adquiri-las, causando sérios problemas. Um exemplo são os pacientes com AIDS. 3 ALGAS Os sistemas de classificação foram sofrendo modificações ao longo dos tempos, causando alguns problemas para a classificação correta das algas. Alguns críticos do sistema de classificação em cinco reinos dizem que elas não seguem a diretriz básica de uma sistemática moderna, ou seja, não refletem os parentescos evolutivos. A diretriz aponta que uma categoria taxonômica deve ser monofilética, ou seja, em algum momento do passado, todos os seus representantes devem ter tido um ancestral comum, de quem herdaram as características típicas da qual compartilham e que faz com que possam ser distinguidos dos outros grupos. FONTE: Disponível em: <http://www.moderna.com.br/pnlem2009/fazendo/manuais/manual_ biologia2.pdf>. Acesso em: 29 nov. 2010. Recentemente, várias pesquisas apontam que o Reino Protoctista (protista) é polifilético e seus representantes, de forma genérica denominados protozoários e algas, possuem ancestralidades distintas. Para Purves et al. (2002), os protistas não são um grupo monofilético, pois vários têm um vínculo mais íntimo com os animais do que com outros protistas. Alguns apresentam mobilidade, enquanto outros são sésseis; alguns são fotossintetizantes, enquanto outros são heterotróficos; e a maioria é unicelular. Apesar de alguns biólogos considerarem o termo incorreto, alguns protistas são classificados como animais e são denominados protozoários, pois apresentamnutrição heterotrófica por ingestão de alimentos. Outros protistas são do tipo fotossintetizante, sendo denominados pelos biólogos como algas. As algas vivem em ambientes marinhos, em água doce e também em terra firme, ocupando superfícies úmidas. Algumas espécies são unicelulares (microscópicas) e outras são multicelulares, que formam filamentos de grande porte, que lembram plantas. Essas estruturas laminares ou compactadas fazem lembrar os caules e folhas das plantas superiores. Denomina-se talo o corpo das algas multicelulares. Nesse grupo, também existe muita discordância quanto aos detalhes da classificação. Para Pelczar, TÓPICO 3 | PRINCIPAIS GRUPOS DE MICRORGANISMOS EUCARIONTES E PARASITAS 181 Chan e Krieg (1997a), alguns esquemas de classificação enumeram os principais grupos das algas entre 4 a 13, entretanto, o que fica claro é que elas são classificadas baseando-se no conjunto e na propriedade dos pigmentos apresentados; no conjunto dos produtos de reserva e de armazenamento; no ponto de fixação e na morfologia dos seus flagelos, bem como no seu tipo e número; na composição da parede celular, na análise de sua composição química e características físicas; na análise morfológica e nas características das células e talos. De acordo com a classificação mais aceita, as algas estão divididas em seis grupos: • Chlorophyta: as clorófitas são algas verdes que vivem em ambientes de água doce e algumas em ambientes marinhos. São uni ou multicelulares, com dois ou mais flagelos iguais. Possuem clorofila e carotenoides. A parede celular é composta por celulose e pectina. FIGURA 92 – ALGAS VERDES FONTE: Disponível em: <http://4.bp.blogspot.com/_PX_pdD_ qIS0/SdU4_-IFHPI/AAAAAAAAABo/ODBEbVp9N44/s1600-h/ Cosmarium+spp..jpg>. Acesso em: 21 out. 2010. • Phaeophyta: as feófitas são algas marrons, que vivem em ambientes marinhos. São multicelulares e macroscópicas. Produzem zoósporos com dois flagelos laterais. Possuem clorofila e sua parede celular é composta de celulose com ácidos algínicos. FIGURA 93 – ALGAS MARRONS FONTE: Disponível em: <http://3.bp.blogspot.com/_PX_pdD_qIS0/ SdU6hEGzKhI/AAAAAAAAACQ/X9uQO24vd_o/s1600-h/feofita.jpg>. Acesso em: 21 out. 2010. UNIDADE 3 | CONTROLE DOS MICRORGANISMOS E OS PRINCIPAIS GRUPOS 182 • Rodophyta: as rodófitas são algas vermelhas que vivem no mar, porém, algumas em água doce. São multicelulares e macroscópicas sem flagelo. Possuem clorofila, carotenoides e ficoeritrina. Possuem parede celular composta de celulose e pectina. FIGURA 94 – ALGAS VERMELHAS FONTE: Disponível em: <http://www.unav.es/botanica/bpnvasc/ imagenes/ab/Gelidium%20pulchellum.jpg>. Acesso em: 21 out. 2010. NOTA A alga Gelidium (Figura 94) é produtora de uma substância gelatinosa conhecida como ágar-ágar, muito utilizada pela indústria farmacêutica na fabricação de laxantes e também empregada no preparo de meio de cultura para bactérias. Na fabricação de sorvetes é utilizada a carragenina, substância retirada dessa alga. • Chrysophyta: as crisófitas são algas douradas que vivem em ambiente marinho. São unicelulares, com um ou dois flagelos. Possuem clorofila e carotenoides. Sua parede celular apresenta compostos pécticos com material silicoso. FIGURA 95 – ALGAS DOURADAS FONTE: Disponível em: <http://2.bp.blogspot.com/_PX_pdD_qIS0/ SdU7js_gRgI/AAAAAAAAACg/qFwnu7aj-jI/s1600-h/Diatomea.jpg>. Acesso em: 21 out. 2010. TÓPICO 3 | PRINCIPAIS GRUPOS DE MICRORGANISMOS EUCARIONTES E PARASITAS 183 • Pyrrophyta: as pirrófitas são dinoflagelados que vivem em ambiente marinho e de água doce. São unicelulares, com dois flagelos laterais. Possuem clorofila e carotenoides e não possuem parede celular. FIGURA 96 – DINOFLAGELADOS FONTE: Disponível em: <http://1.bp.blogspot.com/_Y-RahU_ Thp8/S-coHyfMHKI/AAAAAAAAALU/uJfl6e-caVk/s1600/ceratium_ hirundinella+pirr%C3%B3fita.jpg>. Acesso em: 21 out. 2010. NOTA Caro acadêmico! Você já ouviu falar das marés vermelhas? Pois bem, quando há um aumento da população de pirrófitas, acontece o fenômeno chamado maré vermelha. Essas algas se multiplicam de forma exagerada no litoral, tornando a água do mar avermelhada. Elas produzem uma grande quantidade de toxinas, que são eliminadas na água e provocam a morte de tartarugas, peixes, focas, aves litorâneas e outros, podendo provocar intoxicações nas pessoas que utilizarem esses animais como fonte alimentar. • Euglenophyta: as euglenófitas são euglenoides unicelulares com um a três flagelos e vivem em água doce. Possuem clorofila e carotenoides e também não possuem parede celular. FIGURA 97 – EUGLENOIDES FONTE: Disponível em: <http://4.bp.blogspot.com/_PX_pdD_qIS0/ SdU7bWH_NYI/AAAAAAAAACY/mk30VO6f3RY/s1600-h/Euglena. jpg>. Acesso em: 21 out. 2010. UNIDADE 3 | CONTROLE DOS MICRORGANISMOS E OS PRINCIPAIS GRUPOS 184 Nas algas unicelulares, a forma básica de reprodução assexuada é a divisão binária. Nas várias algas filamentosas, a reprodução se dá pelo processo de fragmentação do talo. Pelo isolamento dos fragmentos, ocorre a multiplicação e o crescimento das células que os constituem, regenerando-se em talos completos. Ocorre também a zoosporia, que é a formação de células flageladas denominadas zoósporos, que são liberados pela alga que os formou e nadam até se fixarem a um substrato favorável, originando um novo talo. 4 PROTOZOÁRIOS Os protozoários, na sua grande maioria, são aquáticos, ocupando ambientes marinhos, água doce, ambientes lodosos e também terra úmida. Podemos encontrar espécies parasitando o interior do corpo de animais invertebrados e vertebrados, provocando, em muitos casos, sérias doenças. Possuem características que se assemelham aos animais, que incluem a ausência de parede celular, ingestão de alimentos e locomoção. Muitos deles obtêm alimentos pela absorção de substâncias nutritivas dissolvidas, sendo que alguns promovem a predação de bactérias e protozoários como fonte alimentar. Existem protozoários de vida livre (ambiente marinho, água doce e solo), em simbiose interna ou sobre hospedeiros vivos. Pelo antigo sistema de classificação, os protozoários eram classificados pela presença ou ausência de uma organela de locomoção. Mais uma vez, não existe unanimidade em aceitar os sistemas de classificação propostos por ficologistas e protozoologistas, pois o mais novo esquema de classificação inclui alguns grupos que ainda são reinvidicados por micologistas e ficologistas como pertencentes aos fungos e algas. Neste tópico, vamos estudar os principais grupos de protozoários que são de interesse da Microbiologia, por serem parasitas causadores de doenças. Eles estão separados pelos filos Rhizopoda, Zoomastigophora, Ciliophora e Apicomplexa. • Rhizopoda: são protozoários de vida livre com presença ou ausência de esqueleto externo ou interno. Realizam o movimento amebóide, que consiste na emissão de uma porção da célula para uma direção. Reprodução assexuada por fissão binária e sexuada com produção de gametas flagelados. Ex.: Amebas. A amebíase é uma doença causada pela Entamoeba histolytica, que infecta o homem e alguns primatas através da ingestão de água e alimentos contaminados, mas também através de contato direto com objetos sujos e pessoas contaminadas. Saneamento básico, tratamento de água e esgoto e higiene pessoal devem ser considerados para se evitar a contaminação. Após a ingestão do alimento contaminado, os cistos da ameba ingeridos se transformam em trofozoítos, que invadem o intestino grosso, se reproduzem por meio de sucessivas divisões e se alimentam de detritos e bactérias presentes, causando a diarreia. Além do intestino grosso, podem invadir órgãos como fígado, pulmões e cérebro. O diagnóstico é feito por exame de fezes nos casos mais brandos. TÓPICO 3 | PRINCIPAIS GRUPOS DE MICRORGANISMOS EUCARIONTES E PARASITAS185 FIGURA 98 – CICLO DE VIDA DA Entamoebahistolytica Ingestão de comida e água contaminada Infecção não invasiva Cistos que saíram através das fezes Cistos quadrinucleados Infecção invasiva através da corrente sanguínea para o fígado, cérebro e pulmões Trofozoítos invadem a mucosa do intestino Trofozoítos migram para o intestino grosso Cistos maduros Um trofozoíto com quatro núcleos emerge, se divide três vezes e cada núcleo se divide uma vez para produzir oito trofozoítos para cada cisto Encistamento Tropozoítos multiplicam-se por fissão binária Encistamento Cistos imaturos FONTE: Adaptado de: <http://downloads.passeiweb.com/imagens/newsite/saladeaula/biologia/ protozoose_1_2.jpg>.Acesso em: 21 out. 2010. • Zoomastigophora: são protozoários comensais, simbiontes e parasitas de forma ameboide, com ou sem flagelos. A reprodução é assexuada por fissão binária e sexuada em alguns grupos apenas. Ex.: Leishmania, Trypanosoma, Giardia, Trichomonas. A leishmaniose é uma doença transmitida por um mosquito do gênero Lutzomyia, conhecido popularmente como mosquito-palha, que se alimenta de sangue. O parasita invade as células do sistema imunológico e se reproduz, causando a morte das células e, em consequência, alguns sintomas como: aparecimento de lesões na pele, nariz, boca e garganta, anemia, indisposição, febre, perda de peso. Pode afetar vários órgãos, como: fígado, baço e medula óssea. UNIDADE 3 | CONTROLE DOS MICRORGANISMOS E OS PRINCIPAIS GRUPOS 186 FIGURA 99 – FISSÃO BINÁRIA DE LEISHMANIA TROPICA FONTE: Disponível em: <https://www.msu.edu/course/zol/316/ltroppro. jpg>. Acesso em: 21 out. 2010. Outra enfermidade é a doença de Chagas causada peloTripanosoma cruzi, um protozoário que é transmitido através das fezes de insetos conhecidos como barbeiro, por transfusão de sangue e transplante de órgão. Principais sintomas são: febre ou inchaço ao redor do local da picada. Em casos mais graves, ocorre infecção aguda no músculo cardíaco, dilatando o coração, prejudicando o bombeamento do sangue, esôfago e cólon dilatados, dificultando a passagem dos alimentos e das fezes. Observe a figura a seguir para entender melhor o ciclo de vida desse protozoário: FIGURA 100 – CICLO DE VIDA DO Trypanosoma cruzi O insecto pica e defeca ao mesmo tempo. O tripomastigota passa à ferida nas fezes. Transforma-se em tripomastigotas Estágio infeccioso Estágio idiagnóstico Multiplicam-se os tripomastigotas invadem células onde se transformam em amastigotas. No Ser Humano No insecto Barbeiro Transformam-se em epimastigotas no intestino do insecto Os amastigotas multiplicam-se dentro das; células assexualmente. Os amastigotas transformam-se em tripomastigotas e destroem a célula saindo para o sangue Os tripanossomas então invadem novas células em regiões diferentes do corpo que invadem e onde se multiplicam como amastigotas. Tripanomastigotas sanguineos são absorvidos por novo insecto em nova picada FONTE: Disponível em: <http://1.bp.blogspot.com/_j-OvtimvuT0/SwmKdx2qUVI/AAAAAAAAACg/ H6YwUAGqaD4/s1600/DOEN%C3%87A+DE+CHAGAS.JPG>. Acesso em: 21 out. 2010. TÓPICO 3 | PRINCIPAIS GRUPOS DE MICRORGANISMOS EUCARIONTES E PARASITAS 187 A giardíase é uma infecção intestinal causada pelo protozoário Giardia lamblia, que causa diarreia com forte cheiro em gatos, roedores, gado, homem, entre outros. Além da diarreia, a pessoa contaminada sente fraqueza e cólicas abdominais. A falta de saneamento básico e higiene contribuem para a contaminação, que ocorre através da ingestão de água e alimentos contaminados com cistos. Baratas e moscas podem transportá-los também. Já no estômago, os cistos se transformam em trofozoítos e no intestino delgado se reproduzem. Quando sofrem encistamento, são liberados pelas fezes do hospedeiro. FIGURA 101 – Giardia lamblia FONTE: Adaptado de: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/ commons/c/cd/Giardia_lamblia.png>. Acesso em: 21 out. 2010. A tricomoníase é uma moléstia causada por um protozoário com quatro flagelos, o Trichomonas vaginalis, apenas encontrado na forma trofozoítica. A contaminação ocorre por meio do uso de roupas íntimas e toalhas da pessoa contaminada e pelo ato sexual sem proteção. Provoca inflamação na vagina, com fluxo e corrimento com ardência e coceira na vulva. FIGURA 102 – Trichomonas vaginalis FONTE: Adaptado de: <http://4.bp.blogspot.com/_N7j17XyIjFw/ S4zxZQuMFUI/AAAAAAAABFE/H_PG3tN8xi0/s320/trichom.gif>. Acesso em: 21 out. 2010. UNIDADE 3 | CONTROLE DOS MICRORGANISMOS E OS PRINCIPAIS GRUPOS 188 • Ciliophora: são protozoários que possuem cílios ou estruturas ciliares para sua locomoção e obtenção de alimento. Muitos possuem boca. Em seu interior, apresentam dois núcleos: um maior, responsável pelo metabolismo, e o menor, pela reprodução. A reprodução é assexuada por fissão binária e sexuada sem formação de gametas livres. Vivem em água doce, salgada e no solo. A maioria é parasita ou de vida livre. Ex.: Paramecium – vida livre, Balantidium coli – único parasita humano que causa disenteria. FIGURA 103 – CICLO DE VIDA DO Paramecium Dois paramécios se unem e seus micronúcleos sofrem meiose. Degeneração do macronúcleo e de três micronúcleos. micronúcleo restante divide-se por mitose. Separação dos parceiros. Ocorrem três divisões mitótocas consecutivas, resultando em oito núcleos. Divisão dos paramécios e nova divisão mitótica dos micronúcleos. Nova divisão dos paramécios. Cada conjugante originou quatro descendentes. Três núcleos degeneram, quatro originam macronúcleos e um se divide mitoticamente. Transferência recíproca do núcleo menor e fusão com micronúcleo original. Micronúcleo Micronúcleos FONTE: Disponível em: <http://3.bp.blogspot.com/_tedu3t1ygvA/S-rlAfgBSEI/ AAAAAAAAAJE/JJlicyK03Es/s1600/repro+paramecio.gif>. Acesso em: 21 out. 2010. • Apicomplexa: são protozoários que não possuem organelas de locomoção, porém conseguem se locomover por flexão do corpo, deslizamento ou ondulações. Todas as espécies são parasitas. A reprodução é assexuada por fissão múltipla e sexuada pela união dos gametas. Ex.: Toxoplasma, Plasmodium. A toxoplasmose, conhecida como a doença do gato, é causada pelo protozoário Toxoplasma gondii. A contaminação ocorre por ingestão de cistos presentes em carnes de animais infectados (crua ou malpassada) e transmissão intrauterina. Os principais sintomas são o surgimento de ínguas, febre, cansaço, TÓPICO 3 | PRINCIPAIS GRUPOS DE MICRORGANISMOS EUCARIONTES E PARASITAS 189 dores nos músculos, dor na garganta, dores de cabeça, alterações visuais, manchas vermelhas pelo corpo, urticária e aumento do baço e fígado. Evolui para uma diminuição da lucidez e, em consequência, o coma. FIGURA 104 – CICLO DE VIDA DO Toxoplasma gondii Hospedeiro Definitivo (gato) Indivíduos Imunocompatentes Oocistos nas fezes (cerca de 2 semanas) Oocistos esporilam (1-5 dias) Contaminação ambiental Hospedeiros Intermediários (pequenos mamíferos, aves e répteis) Solo Água Vegetação AlimentosCistos nos tecidos Contato e ingestão de carne contaminada com cistos Hospedeiros Intermediários (animais de produção) Contato direito com a terra contaminada Aborto ou danos fetais Caixa de areia Predação Imunidade FONTE: Disponível em: <http://sites.google.com/site/parasitovet/ciclotoxoplasma. jpg>. Acesso em: 21 out. 2010. O plasmódio é transmitido pela picada da fêmea do mosquito Anopheles, que está presente na saliva e causa a doença malária. Os protozoários inoculados são transportados pela corrente sanguínea até o fígado, onde começam a reprodução assexuada, formando merozoítos. Em seguida, ocorre o rompimento da célula e os merozoítos invadem as hemácias, transformando-se em trofozoítos,que consomem a hemoglobina e se multiplicam, rompendo a hemácia e invadindo outras. Após a reprodução assexuada, alguns parasitas desenvolvem a forma sexuada, responsáveis pela transmissão da malária. Os mosquitos se contaminam no momento da picada, ingerindo o sangue contaminado do hospedeiro humano. Os principais sintomas são: febre, dor de cabeça, hemorragias, náuseas e fadiga. UNIDADE 3 | CONTROLE DOS MICRORGANISMOS E OS PRINCIPAIS GRUPOS 190 FIGURA 105 – HEMÁCIAS INFECTADAS PELO Plasmodium vivax FONTE: Disponível em: <http://webdoc.nyumc.org/nyumc/files/ communications/u3/Carlton_1.jpg>. Acesso em: 21 out. 2010. NOTA Caro acadêmico! Há muitas outras doenças causadas por protozoários. Se você quiser conhecer, visite o site <http://www.brasilescola.com/doencas/doencas-causadas- protozoarios.htm>. Nesse site, você encontrará todas as informações, além de imagens. TÓPICO 3 | PRINCIPAIS GRUPOS DE MICRORGANISMOS EUCARIONTES E PARASITAS 191 LEITURA COMPLEMENTAR A INFLUÊNCIA DOS MICRORGANISMOS NA ELEVAÇÃO DAS TAXAS DE MORBIDADE E MORTALIDADE NOS DIAS DE HOJE Os microrganismos, sejam os protozoários, fungos, bactérias, e ainda os vírus, estão envolvidos em diferentes tipos de doenças. Por exemplo, há alguns anos atrás jamais poderíamos imaginar que certos tipos de cânceres estariam associados a tais seres microscópicos. No entanto, um dos ganhadores do Prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina 2008, Dr. Harald zur Hausen, foi agraciado com esta honraria, justamente, por ter relacionado o câncer de colo de útero, o segundo mais frequente em mulheres, com o papiloma vírus humano (HPV). Mas não pensem que a associação entre microrganismos e câncer se encerra aí. Uma bactéria conhecida como Helicobacter pylori, a qual é encontrada no estômago de cerca de 2/3 da população mundial, é o principal fator de risco de úlcera péptica e duodenal, aumenta, segundo estudos, o risco de câncer gástrico, linfoma de tecido linfoide associado à mucosa, conhecido como linfoma de MALT, e ainda, de câncer pancreático. Além disso, em certas circunstâncias, o câncer por si só pode predispor o paciente a severas e recorrentes infecções. Por outro lado, a neutropenia (que reflete um comprometimento do sistema imunológico) é reconhecida há décadas como importante fator de risco para o desenvolvimento de infecções em pacientes submetidos a certas quimioterapias. Portanto, é fato amplamente conhecido, pela comunidade médica, que as doenças infecciosas são importantes causas de mortalidade entre pacientes com diversos tipos de neoplasias malignas. As infecções de natureza respiratórias estavam, em 2005, na 5ª ou 6ª posição entre as 10 principais causas de morte em nosso país, segundo dados do Saúde Brasil 2007. Cabe acrescentar que através de um estudo recente da UNICEF/ OMS intitulado: “Pneumonia: the forgoten killer of children, 2006”, ficou constatado que esta doença mata mais crianças do que qualquer outra, e estima-se que seja responsável pela morte de cerca de 2 milhões de crianças a cada ano, em todo o mundo, sendo as espécies bacterianas Streptococcus pneumoniae e Haemophilus influenzae as principais responsáveis. Neste mesmo estudo foi estimado que 150 milhões de episódios de pneumonia devam ocorrer a cada ano, sendo que o Brasil estaria em 5º lugar, junto com a Etiópia, com 4 milhões de casos. É preciso salientar que não somente as crianças estão mais susceptíveis às pneumonias; os indivíduos idosos também estão entre a população susceptível e, portanto, com elevado risco para a doença e consequente mortalidade. Vale lembrar, aqui também, outras importantes causas de morbidade e mortalidade, as doenças hoje conhecidas como “infecções associadas a serviços de saúde” (IASS), na qual se incluem as infecções hospitalares. Essas doenças acometem pacientes, durante o curso de um tratamento que receberam para debelar outra doença, em um estabelecimento que presta serviço de saúde. Segundo os Centers for Diseases Control (CDC), nos Estados Unidos, as IASS UNIDADE 3 | CONTROLE DOS MICRORGANISMOS E OS PRINCIPAIS GRUPOS 192 estão entre as 10 principais causas de mortalidade. Não devemos, em hipótese alguma, sob pena de estarmos causando um erro grave, subestimar o impacto de tais doenças em nosso meio. Estudos têm demonstrado que os índices dessas infecções são maiores em países da América Latina e África. Acrescenta-se a esta triste estatística o fato de que muitas dessas infecções, como as que ocorrem nos hospitais, são causadas por bactérias resistentes a múltiplos antibióticos. Tal fato dificulta, significantemente, a pronta prescrição pelos médicos de uma terapia antibiótica eficaz, contribuindo assim para o aumento do número de óbitos e desafia a humanidade para a descoberta de soluções urgentes e efetivas. FONTE: Adaptado de: <http://www.microbiologia.ufrj.br/index.asp#destaque2>. Acesso em: 23 out. 2010. 193 Neste tópico, você estudou que: • Os fungos são organismos saprófitos ou parasitas e, geralmente, possuem micélio, que é uma massa organizada de hifas. • A maioria dos fungos se reproduz tanto sexuada quanto assexuadamente e os estágios sexuados servem para classificá-los. • Os fungos possuem uma grande importância para os ecossistemas, pois agem como decompositores e também são de interesse da saúde e da economia, por serem parasitas. Causam doenças em plantas e animais. • Quanto à classificação, os fungos inferiores flagelados estão divididos em quatro grupos: Chytridiomycetes, Hyphochytridiomycetes, Plasmodiophoromycetes e Oomycetes. Os fungos terrestres também estão divididos em quatro grupos: Zygomycetes, Ascomycetes, Basidiomycetese Deuteromycetes. • Algas são organismos unicelulares microscópicos fotossintéticos, sendo que todos eles apresentam cloroplastos com pigmento clorofila e carotenoides. • Algas microscópicas são divididas em clorófitas, feófitas, rodófitas, crisófitas, pirrófitas e euglenófitas. • Os protozoários são organismos microscópicos que apresentam características semelhantes a dos animais. O critério utilizado para classificá-los é baseado nas estruturas de locomoção e são divididos em Rhizopoda, Zoomastigophora, Ciliophora e Apicomplexa. Alguns grupos são parasitas, causando danos à saúde humana. RESUMO DO TÓPICO 3 194 AUTOATIVIDADE 1 Dentre as doenças infecciosas, algumas são há muito conhecidas, como a leptospirose e a malária. Outras, como a doença da vaca louca e a síndrome respiratória aguda grave, só há pouco tempo foram identificadas. Os agentes causadores das quatro doenças citadas são, respectivamente: a) ( ) Protozoário, vírus, vírus e príon. b) ( ) Protozoário, bactéria, vírus e príon. c) ( ) Bactéria, protozoário, príon e vírus. d) ( ) Bactéria, bactéria, protozoário e príon. FONTE: Disponível em: <http://professor.bio.br/provas_vestibular.asp?origem=Uerj&curpage=16>. Acesso em: 27 nov. 2010. 2 Na década de 1920, o bacteriologista Alexander Fleming, cultivando linhagens de estafilococos, notou que uma das placas de cultura, contendo colônias de bactérias, apareceu contaminada por um tipo de fungo. Ao transferir o fungo para um caldo nutritivo, Fleming verificou que nesse meio não se desenvolviam vários tipos de bactérias, devido à ação de substâncias produzidas pelo fungo. Esse trabalho foi um dos mais significativos deste século, pois permitiu aos cientistas, posteriormente, a produção de: a) ( ) Hormônios, utilizados no tratamento de doenças hereditárias. b) ( ) Corticoides, utilizados no tratamento de doenças alérgicas. c) ( ) Antibióticos utilizados no tratamento de doenças infecciosas. d) ( ) Vacinas, utilizadas na imunização de doenças causadas por fungos e bactérias. e) ( ) Soros, utilizados na imunização de doenças causadas por fungos e bactérias. FONTE: Disponívelem: <http://www.professor.bio.br/provas_vestibular_detalhe.asp?universidade =Pucsp>. Acesso em: 27 nov. 2010. 3 Os fungos que conhecemos por champignons, vendidos no comércio em embalagens de plástico ou vidro, pertencem ao grupo dos: a) ( ) Ascomicetos. b) ( ) Deuteromicetos. c) ( ) Zigomicetos. d) ( ) Oomicetos. e) ( ) Basidiomicetos. FONTE: Disponível em: <http://bioatuante.blogspot.com/2010/04/classificacao-e-caracteristicas -dos.html>. Acesso em: 27 nov. 2010. 195 4 O mofo que ataca os alimentos, os cogumelos comestíveis e o fermento de fazer o pão são formados por organismos que pertencem ao Reino Fungi. Com relação a esse grupo, classifique as seguintes sentenças em V verdadeiras ou F falsas: ( ) São organismos eucariontes, unicelulares ou pluricelulares, autotróficos facultativos. ( ) O material nutritivo de reserva é o glicogênio. ( ) Em função da nutrição heterótrofa, esses seres podem viver em mutualismo, em saprobiose ou em parasitismo. ( ) Alguns fungos são utilizados na obtenção de medicamentos. ( ) Nutrem-se por digestão extracorpórea, isto é, liberam enzimas digestivas no ambiente, que fragmentam macromoléculas em moléculas menores, permitindo sua absorção pelo organismo. ( ) Na alimentação humana são utilizados, por exemplo, na fabricação de queijos, como o roquefort e o gorgonzola. ( ) Reproduzem-se, apenas, assexuadamente por meio de esporos, formados em estruturas denominadas esporângios, ascos e basídios. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) A sequência correta é: F – V – V – V – V – V – F. b) ( ) A sequência correta é: F – V – V – F – F – V – V. c) ( ) A sequência correta é: V – F – F – V – V – F – F. d) ( ) A sequência correta é: V – F – V – F – F – V – V. FONTE: Adaptado de: <http://professor.bio.br/provas_topicos.asp?topico=Micologia%20ou%20 Micetologia&curpage=4>. Acesso em: 27 nov. 2010. 5 As marés vermelhas, fenômenos que podem trazer sérios problemas para os organismos marinhos e mesmo para o homem, são devidas: a) ( ) À grande concentração de rodofíceas bentônicas na zona das marés. b) ( ) Ao vazamento de petróleo, o qual estimula a proliferação de diatomáceas marinhas. c) ( ) À presença de poluentes químicos provenientes de esgotos industriais. d) ( ) À reação de certos poluentes com o oxigênio produzido pelas algas marinhas. e) ( ) À proliferação excessiva de certas algas planctônicas – que liberam toxinas na água. FONTE: Disponível em: <http://www.vestibular1.com.br/exercicios/biologia_vegetal_seres_vivos. htm>. Acesso em: 27 nov. 2010. 196 6 As afirmativas a seguir correspondem aos meios de transmissão de algumas doenças causadas por protozoários: I- Transmissão do protozoário através de relações sexuais. II- Infecção através de fezes do inseto barbeiro, contaminadas com protozoário, em lesões na pele. III- Ingestão de cistos, eliminados com as fezes humanas contaminadas. IV- Picada do mosquito do gênero Lutzomyia (mosquito palha), infectado com protozoário. Assinale a alternativa que indica, respectivamente, o nome das doenças relacionadas a esses meios de transmissão: a) ( ) Tricomoníase, doença de Chagas, giardíase e leishmaniose. b) ( ) Doença de Chagas, leishmaniose, triconomíase e giardíase. c) ( ) Leishmaniose, doença de Chagas, toxoplasmose e malária. d) ( ) Toxoplasmose, doença de Chagas, malária e giardíase. e) ( ) Tricomoníase, leishmaniose, giardíase e doença de Chagas. FONTE: Disponível em: <http://www.scribd.com/doc/35797400/SIMULADO >. Acesso em: 27 nov. 2010. 197 TÓPICO 4 METODOLOGIAS PARA O ENSINO DE MICROBIOLOGIA UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Caro acadêmico, neste tópico apresentaremos algumas metodologias que poderão ser utilizadas no ensino de Ciências e Biologia, que envolvam a Microbiologia, no Ensino Fundamental e Médio. Você deve ter notado que o estudo da Microbiologia é bastante complexo, visto que os seres que compõem esse grupo são microscópicos, requerendo, muitas vezes, o uso da imaginação. Porém, isso não deve se tornar um obstáculo para a prática docente. Hoje, temos acesso a vários recursos, sejam por meio de livros, internet, vídeos, sons, projetores, laboratórios, entre outros. Sabemos que a realidade de algumas escolas não é essa. Portanto, você encontrará, aqui, alternativas que não necessitam dessas tecnologias para a realização de uma aula ilustrativa, dinâmica, despertando, assim, o interesse do aluno para esse mundo microscópico. É importante trabalhar a multidisciplinaridade. Você deve ter notado que, além da Microbiologia, utilizamos conhecimentos da Genética, da Bioquímica, da Zoologia, da Citologia e da Botânica. Por se tratar de microrganismos, é interessante salientar a importância desses seres microscópicos na nossa vida e no equilíbrio do ambiente, destacando os benefícios de sua existência, sem se esquecer dos cuidados que devemos ter para nos mantermos afastados de certas espécies patogênicas. Uma das práticas que você poderá realizar em sala de aula está na Leitura Complementar 2, da Unidade 2, Tópico 1, na qual você trabalhará com os fungos presentes no fermento biológico: formação de gás carbônico através do processo da fermentação e metabolismo. Neste tópico, você encontrará ideias de como trabalhar aulas práticas em sala de aula, utilizando materiais de fácil acesso, jogos didáticos para a fixação dos conteúdos e saídas de campo. Você contará com alguns exemplos de cada atividade para ser desenvolvida no ensino da Microbiologia. UNIDADE 3 | CONTROLE DOS MICRORGANISMOS E OS PRINCIPAIS GRUPOS 198 2 AULAS PRÁTICAS Poderíamos pensar que, para fazermos uma aula prática, necessitaríamos de um laboratório, de um microscópio, certo? Não, exatamente. Podemos realizar aulas práticas maravilhosas e instrutivas em sala de aula mesmo. Além de chamar a atenção do aluno, ela proporciona um momento diferente, porque se coloca a “mão na massa”; ou, como observador da prática, também resultará num aprendizado eficaz, que será levado para casa, porque o aluno, muitas vezes, realiza o experimento em casa e compartilha seus conhecimentos com a família. Acompanhem as leituras complementares a seguir! TÓPICO 4 | METODOLOGIAS PARA O ENSINO DE MICROBIOLOGIA 199 LEITURA COMPLEMENTAR 1 AULA PRÁTICA 1 CULTIVO DE MICRORGANISMOS Materiais • copos plásticos descartáveis; • filme plástico de embalagem; • açúcar; • caldo de galinha; • gelatina incolor em pó; • água; • cotonete. Procedimentos Dissolver 1 tablete de caldo de galinha em meio litro de água fervente (2 copos e meio), de acordo com as instruções do fabricante. Depois de tirar do fogo, adicionar a gelatina incolor, pré-dissolvida em água fria, de acordo com instruções do fabricante (use o dobro do recomendado, dois envelopes de gelatina em pó ou o equivalente de gelatina em folha, para ficar mais consistente). Coloque mais quatro colheres de sopa de açúcar e dissolva bem, mexendo com uma colher. Assim que possível (ainda quente), transfira uma pequena quantidade para os copos plásticos, tampando imediatamente (com tampa de plástico ou filme plástico de embalagem, se você preferir). Coloque na geladeira para endurecer. Depois de duro, use o cotonete para coletar amostras de onde você quiser (do chão, da sua pele, dos dentes, do sapato, da superfície de plantas ou objetos), esfregue rapidamente na gelatina e deixe repousar tampado, fora da geladeira e protegido da luz direta. Resultados esperados Diferentes microrganismos (geralmente fungos filamentosos, bactérias e leveduras) deverão crescer no meio de cultura. Você provavelmente poderá constatar a degradação do meio e o aparecimento de colônias de microrganismos de diferentes formas, texturas e cores. Às vezes é tambémnotável o aparecimento de odores, alguns bastante desagradáveis, produzidos pelos produtos excretados pelos microrganismos. Este meio de cultura barato e fácil de fazer pode permitir o crescimento de uma infinidade de microrganismos, por conter elementos essenciais, como: sais, carboidratos (açúcares), lipídios (gorduras), aminoácidos, proteína (gelatina) etc. Você pode tentar comparar o crescimento de microrganismos em diferentes meios, tirando o açúcar, por exemplo, ou o caldo de galinha. Os alunos podem ser estimulados a coletarem amostras de diferentes locais. UNIDADE 3 | CONTROLE DOS MICRORGANISMOS E OS PRINCIPAIS GRUPOS 200 FIGURA 106 – FUNGOS E BACTÉRIAS EM PLACAS DE PETRI FONTE: Disponível em: <http://revistapesquisa.fapesp.br/2014/01/13/memoria- natalina/#>. Acesso em: 22 mar. 2018 (adaptado). Para descartar o material, o ideal seria queimar as amostras ou, caso não seja possível, colocar álcool 70% dentro dos recipientes e deixar por alguns minutos, pelo menos. Depois dos microrganismos crescerem, a manipulação também deve ser cuidadosa, pois você pode ter o crescimento concentrado de algum organismo potencialmente patogênico. Esse tipo de procedimento é basicamente o mesmo utilizado no isolamento de cepas específicas de microrganismos, seja para investigação científica, médica ou seleção de microrganismos para utilização industrial. Na década de 30, Alexander Fleming descobriu a penicilina ao notar que um fungo que cresceu sobre um meio de cultura com bactérias inibia o crescimento destas, secretando uma substância desconhecida no meio, a penicilina. Temas que podem ser explorados Comprovação da existência de microrganismos no ambiente e no nosso organismo, observação de microrganismos sem microscópio, noções de higiene, transmissão de doenças, metabolismo, seleção de microrganismos. FONTE: Adaptado de: <http://www.scribd.com/doc/23341079/Aula-Pratica-Cultivo-de- Microorganismos>. Acesso em: 24 out. 2010. A B TÓPICO 4 | METODOLOGIAS PARA O ENSINO DE MICROBIOLOGIA 201 LEITURA COMPLEMENTAR 2 AULA PRÁTICA 2 DETECTANDO MICRORGANISMOS POR INDICADOR ÁCIDO-BASE Materiais • açúcar; • água; • algodão; • canudinhos plásticos; • funil; • repolho roxo; • panela; • frasco de boca pequena com tampa; • vasilha plástica. Procedimentos • Obtenção do extrato de repolho roxo (utilizado como indicador ácido-base). Corte um repolho em pedaços pequenos. Coloque esses pedaços em uma panela com água até cobri-los totalmente. Ferva em fogo brando até que a água seja reduzida até, aproximadamente, metade do volume inicial. Coe a solução e espere até que ela esteja totalmente resfriada. O ideal é armazená-la em geladeira. Experiência O aluno participante da experiência deverá lavar bem as mãos. Este aluno tocará em vários objetos, como dinheiro, sola de sapato, maçaneta de banheiro etc. Após essa etapa, em uma tigela com água e açúcar, o aluno deverá lavar bem suas mãos e essa água deverá ser despejada dentro de três frascos de boca pequena (ou tubos de ensaio) com a ajuda do funil. Para finalizar, deverão molhar um pedaço de algodão no extrato de repolho roxo e o colocar dentro do frasco, sem encostar o algodão no líquido existente no fundo do frasco. Esses frascos devem ser fechados com a tampa (ou rolha). Deve-se esperar cerca de 48h para observar o resultado. O mesmo procedimento deve ser adotado para um grupo controle, no entanto, o voluntário deve lavar as mãos diretamente em uma tigela com água e açúcar, sem tocar nos objetos potencialmente contaminados. Resultados esperados O resultado esperado é que a cor do algodão mude de roxo escuro para avermelhado; com a mudança de cor, evidencia-se a existência de microrganismos nas mãos aparentemente limpas. Visando tornar a experiência mais estimulante e menos abstrata, sugerimos pedir para que um voluntário sopre, com o auxílio de canudinho, dentro de um frasco com extrato de repolho roxo. Ele perceberá que seu próprio metabolismo também modifica a coloração da substância. UNIDADE 3 | CONTROLE DOS MICRORGANISMOS E OS PRINCIPAIS GRUPOS 202 FIGURA 107 – COLORAÇÃO DO ALGODÃO COM O EXTRATO DE REPOLHO ROXO FONTE: Disponível em: < https://manualdaquimica.uol.com.br/upload/ conteudo/images/o-indicador-acido-base-repolho-roxo-produzido- apenas-pela-maceracao-vegetal-com-agua-5488cc5a7770a.jpg> Acesso em: 22 mar. 2018. Observações • Essa experiência é tradicionalmente realizada utilizando-se o azul de bromotimol como indicador ácido-base no lugar do extrato de repolho roxo. Nesse caso, o resultado esperado é que a cor do algodão mude de azul para amarelo. • Dentro do frasco, a água com açúcar fornece o alimento necessário para os microrganismos se desenvolverem. Seu metabolismo libera gás carbônico, tornando o ambiente do frasco ácido. Com isso, o extrato de repolho roxo ou o azul de bromotimol, sensíveis à alteração de pH, mudam sua cor. Não é necessário abordar o conceito de pH com os estudantes. Sugerimos apenas ressaltar que os microrganismos modificam o ambiente do frasco, o que promove uma transformação química que leva à mudança de cor. • A utilização de repetições de um mesmo tratamento, bem como de um grupo controle garantem maior confiabilidade aos experimentos. Temas que podem ser explorados Comprovação da existência de microrganismos no ambiente e no nosso organismo, observação de microrganismos sem microscópio, transmissão de doenças, metabolismo, introdução aos temas relacionados à saúde e higiene, métodos de investigação científica, abordando os aspectos éticos. FONTE: Adaptado de: <http://www.conhecer.org.br/enciclop/2008/microbiologia1.pdf>. Acesso em: 24 out. 2010. TÓPICO 4 | METODOLOGIAS PARA O ENSINO DE MICROBIOLOGIA 203 LEITURA COMPLEMENTAR 3 AULA PRÁTICA 3 COMO CONSERVAR OS ALIMENTOS Materiais • açúcar; • amido de milho; • copos de água plásticos; • filme plástico; • leite; • óleo de cozinha; • vinagre. Procedimentos Deve-se preparar o mingau. Para isso, coloque sob o fogo uma colher de sopa de açúcar, três colheres de sopa de amido de milho e um copo de leite. Deve- se dividir a quantidade de mingau feita em 15 copos plásticos. Três dos copos serão o controle, ou seja, eles ficarão à temperatura ambiente. Os outros serão submetidos a diferentes tratamentos: geladeira, com adição de óleo, com adição de vinagre e tampado com filme plástico. A observação dos resultados deve ser feita após aproximadamente uma semana. Resultados esperados Espera-se que em todos os copos, com exceção do que foi guardado na geladeira, ocorra a grande proliferação de microrganismos. Poderemos observar principalmente os fungos. A menor temperatura causa uma diminuição no metabolismo dos microrganismos. Dessa forma, o processo de decomposição é retardado na geladeira. FIGURA 108 – COPOS COM PROLIFERAÇÃO DE MICRORGANISMOS 1 2 3 4 5 FONTE: Disponível em: <http://revistaescola.abril.com.br/ciencias/pratica-pedagogica/como- ensinar-microbiologia-426117.shtml>. Acesso em: 29 out. 2010. UNIDADE 3 | CONTROLE DOS MICRORGANISMOS E OS PRINCIPAIS GRUPOS 204 Temas que podem ser explorados Comprovação da existência de microrganismos no ambiente, observação de microrganismos sem microscópio, transmissão de doenças, metabolismo, introdução aos temas relacionados à saúde e higiene, métodos de investigação científica, abordando os aspectos éticos, problemas relacionados às perdas de alimentos, o papel benéfico e fundamental do processo de decomposição realizado por fungos. FONTE: Adaptado de: <http://www.conhecer.org.br/enciclop/2008/microbiologia1.pdf>. Acesso em: 24 out. 2010. UNI Observe, caro acadêmico, que as práticas citadas anteriormente são realizadas sem o auxílio do microscópio, porém, se sua escola dispõe desse equipamento, existem outras ideiaspara a visualização e classificação dos microrganismos. Em sites, você encontra uma infinidade de ideias de aulas práticas para serem aplicadas em sala de aula. Com seus alunos, por exemplo, você poderá fazer iogurtes e queijos. É só pesquisar e obter a receita. São superfáceis de fazer. DICAS Alguns sites de apoio: • <http://www.scribd.com/doc/23341090/Aula-Pratica-Observacao-de-Microorganismos>. • <http://alunoca.io.usp.br/~coelho/disciplinas/microbio_marinha/relatorio_microbio.pdf>. Nesses dois sites, você encontrará algumas práticas relacionadas a fungos, bactérias e vírus. E No site da Revista Escola, você terá acesso a vários planos de aula. Visite-o e aproveite: • <http://revistaescola.abril.com.br/template-busca.shtml?qu=microscopio>. TÓPICO 4 | METODOLOGIAS PARA O ENSINO DE MICROBIOLOGIA 205 3 JOGOS DIDÁTICOS A partir de agora, você conhecerá mais uma metodologia de ensino aplicada em uma turma de 6ª série, com jogos didáticos elaborados pelos próprios alunos. Essa metodologia também poderá ser aplicada com alunos do Ensino Médio. Com o tema proposto, os alunos tiveram a tarefa de criar jogos para melhorar a fixação e a aprendizagem referente aos seres microscópicos, estimulando a leitura, o conhecimento e a criatividade das equipes. Aproveite para refletir sobre o uso desse tipo de recurso na prática docente e também para desenvolver seus próprios jogos didáticos. Você perceberá um interesse maior do aluno em querer saber e conhecer mais sobre a Microbiologia. Ao final do artigo, você encontrará sugestões de jogos em sites. O artigo a seguir relata exatamente o que encontramos nas escolas: alunos sem interesse, desmotivados, sem vontade de aprender. PRÁTICA LÚDICA EM MICROBIOLOGIA PARA ALUNOS DO ENSINO FUNDAMENTAL Maria Elizabethe da Silva Ferreira Hellen Kempfer Philippsen Carlos Alberto Machado da Rocha (Centro Federal de Educação Tecnológica do Pará – CEFET/PA) INTRODUÇÃO Alguns dos grandes problemas constatados entre os estudantes da escola básica brasileira são: a indisciplina, a falta de interesse ou empenho e, em consequência, a repetência ou mesmo a evasão, resultantes acima de tudo do modelo sociopolítico. O rompimento desse modelo requer uma escola mais atrativa, contextualizada e integrada no seio da comunidade através das diversas áreas do conhecimento. Nesse contexto, o lúdico, através da criação e prática de jogos, aparece como alternativa no desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem. O conteúdo de Microbiologia aparece pela primeira vez no currículo para os alunos da 6ª série do Ensino Fundamental e, juntamente com este, as dificuldades atribuídas principalmente aos nomes específicos de alguns seres microbiológicos. Por isso a ideia da confecção e prática de jogos surgiu a partir das necessidades e desejo de tornar facilitado o aprendizado, respeitando, contudo, o objetivo do conteúdo. METODOLOGIA O trabalho foi desenvolvido na Escola Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, com uma turma de 28 alunos da 6ª série do Ensino Fundamental. A turma foi dividida em quatro equipes de sete alunos, com o intuito de facilitar o estudo dos quatro grupos de microrganismos (moneras, protistas, fungos UNIDADE 3 | CONTROLE DOS MICRORGANISMOS E OS PRINCIPAIS GRUPOS 206 e vírus). Após a divisão das equipes, os alunos foram orientados a realizar pesquisas e confeccionar jogos envolvendo as principais características, a classificação, as funções vitais, as doenças causadas e a utilização desses microrganismos pelo homem. As equipes tiveram o período de 28 de abril a 19 de maio de 2005 para realizar as pesquisas, confeccionar e apresentar os jogos. RESULTADOS No dia 19 de maio de 2005 as equipes apresentaram apenas em sala de aula os seguintes jogos: dois ludos, sendo um confeccionado em isopor, no formato de um fungo (cogumelo), e o outro confeccionado em papelão recoberto por cartolina, com o formato do protozoário paramécio; um dominó, no qual uma parte de cada pedra continha uma figura e a outra continha alguma informação sobre microrganismos, sendo que a pedra seguinte trazia uma figura ou uma informação referente à pedra anterior; um jogo de dados com perguntas e respostas sobre os microrganismos. CONCLUSÕES Durante a apresentação dos jogos, foi possível perceber que o uso do lúdico facilitou o processo de ensino-aprendizagem, à medida que abriu perspectivas para a construção do próprio conhecimento; a partir de questões simples e reais, possibilitou a abordagem do conteúdo de uma forma diferenciada e propiciou a cooperação, a solidariedade e a participação de todos os alunos. Palavras-chave: Jogos; Ciências; Microrganismos. FONTE: Disponível em: <http://www.sbpcnet.org.br/livro/58ra/SENIOR/RESUMOS/resumo_3347. html>. Acesso em: 24 out. 2010. DICAS Nesses sites, você encontrará vários jogos para ser aplicados em sala de aula. Acesse: • <http://silcordeirobio.blogspot.com/2010/01/projeto-microbiologia-para-todos.html>. • <http://genoma.ib.usp.br/educacao/materiais_didaticos_jogos_Ponto_Critico.html>. Aproveite! 4 RECURSOS AUDIOVISUAIS Caro acadêmico, os filmes podem ser ótimos recursos audiovisuais para serem utilizados na fixação do conteúdo, além de ser um recurso de fácil acesso. TÓPICO 4 | METODOLOGIAS PARA O ENSINO DE MICROBIOLOGIA 207 FIGURA 109 – FILME “OSMOSE JONES” - UMA AVENTURA PELO CORPO HUMANO FONTE: Disponível em: <http://www.sebodomessias.com.br/ loja/imagens/produtos/produtos/261609_998.jpg>. Acesso em: 29 out. 2010. Esse filme trata de um construtor chamado Frank Pepperidge (Bill Murray), que, repentinamente, pega um resfriado. Esse fato desencadeia uma guerra dentro do seu corpo, que é conhecido por “Cidade de Frank”, e faz com que uma célula branca (glóbulo branco), o policial Osmosis Jones (Chris Rock) e uma pílula Drixorial (David Hyde Pierce) juntem suas forças a fim de eliminar os vírus que estão dentro do corpo de Frank e ameaçam toda a “cidade” onde vivem. O filme também oferece uma ilustração sobre o sistema imunológico e células sanguíneas, assim como sistema respiratório e digestório. Da mesma forma que as aulas práticas, o recurso audiovisual deve ser utilizado para ilustrar algumas questões de difícil compreensão. Alguns filmes como Resident Evil, Epidemia, Osmose Jones e muitos outros vídeos encontrados em sites como you tube podem ser utilizados para o melhor entendimento dos conteúdos trabalhados. O importante é sempre relacionar o filme ou o vídeo com o conteúdo proposto. Filmes em sala de aula não devem ser utilizados como passatempo, mas sim como um recurso que permite uma compreensão mais ampla acerca dos assuntos trabalhados. Se for necessário, interrompa o filme para uma breve conversa com o objetivo de esclarecer dúvidas ou para registrar alguma informação. Como exemplo para essa metodologia, utilizaremos o filme “Osmose Jones” (Figura 109), um filme de fácil entendimento para ser utilizado no Ensino Fundamental. FONTE: Disponível em: <http://www.filmesdecinema.com.br/filme-osmose-jones-3767/>. Acesso em: 29 nov. 2010. UNIDADE 3 | CONTROLE DOS MICRORGANISMOS E OS PRINCIPAIS GRUPOS 208 5 SAÍDAS DE CAMPO Caro acadêmico, essa metodologia necessita de um planejamento, pois envolve custos, visto que essa nossa proposta se localiza na cidade de São Paulo. Nossa proposta é uma visita ao Museu de Microbiologia do Butantã, para que o aluno tenha a oportunidade de conhecer e estimular sua curiosidade científica, além de promover um melhor entendimento das ciências e também a divulgação das atividades desenvolvidas pelo Instituto. Encontraremos três ambientes no Museu: exposições com equipamentos, painéis, modelos gigantes tridimensionais de microrganismos; auditório com apresentação de palestras, filmes, vídeos que complementam as informações; e laboratóriocom aparelhos e materiais, que possibilitam aos alunos ampla interatividade através de experiências sob a orientação de monitores do Museu, com utilização de microscópios. Essa é uma dica muito interessante de saída de campo, principalmente para alunos do Ensino Médio, mas nada impede que os do Ensino Fundamental possam desfrutar dessa atividade. O Museu de Microbiologia do Butantã fica localizado na Av. Vital Brasil, 1500, no bairro Butantã, na cidade de São Paulo – SP. Caso você tenha interesse, o telefone para o agendamento de visitas é (11) 3726-7222 – ramal 2155. ATENCAO A saída de campo exige tempo, pois deve ser planejada e organizada para que os objetivos sejam alcançados e não pode ser apenas um passeio, e sim, que acrescente conhecimentos além dos que foram vistos em sala de aula. 209 Neste tópico, você estudou que: • São muitos os recursos que você poderá utilizar na sua atividade didática. • É muito importante trabalhar a multidisciplinaridade no ensino de qualquer conteúdo ou disciplina. • Tornar conteúdos mais didáticos, estimulantes e divertidos facilita o aprendizado e fixa os conhecimentos mais facilmente, de uma forma mais prazerosa e menos maçante para o aluno. • Jogos, saídas de campo, aulas práticas e recursos audiovisuais são ótimas ferramentas de ensino. • É possível realizar aulas práticas sem um laboratório e sem microscópio. • As atividades práticas são importantes e necessárias para preencher lacunas deixadas durante a explanação do conteúdo, despertando, assim, a curiosidade do aluno. • Propiciar prazer ao aprendizado traz muitos benefícios, porém, muitas vezes são desconhecidos ou ignorados pelos professores. • É preciso utilizar outras ideias, inventar outras metodologias para tornar o momento da aprendizagem mais eficaz. RESUMO DO TÓPICO 4 210 AUTOATIVIDADE 1 Caro acadêmico! Agora é a sua vez de pôr em prática os conhecimentos adquiridos no Caderno de Microbiologia. Escolha um assunto dentro da Microbiologia e faça um plano de aula dinâmico e atrativo para seus alunos de Ensino Fundamental ou Médio. Bom trabalho! 211 REFERÊNCIAS BARBOSA, H. R.; TORRES, B. B. Microbiologia básica. Rio de Janeiro: Atheneu, 1999. BLACK, J. G. Microbiologia: fundamentos e perspectivas. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002. BURNS. G. W. Genética: uma introdução à hereditariedade. 5. ed. Rio de Janeiro: Interamericana, 1984. CARNEIRO, J; JUNQUEIRA, L. C. V. Biologia celular e molecular. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000. FERREIRA, J. C. T. Vultos da medicina: anatomia patológica. Ver. Fac. Ciênc. Méd. Sorocaba, São Paulo, v. 5, n. 1, p. 72-74, 2003. GAIESKY, V. L. da S. V. Ferramentas metodológicas para o estudo de problemas de biologia do desenvolvimento. In: GARCIA, S. M. L.; FERNÁNDEZ, C. G. 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