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ATIVIDADE ENADE ESTUDO DE CASO “ Fabiana, 45 anos de idade, casada, 2 filhos, procura um psicólogo em razão de sintomas que a acometem há cerca de 10 anos. No contato inicial, descreve sua situação familiar atual como de muito sofrimento, pois ninguém a entende nem a ajuda a resolver seus problemas, inclusive seu marido, que, segundo ela, já não lhe dá muita atenção. Recusa-se a alimentar-se normalmente “por não sentir fome” e revela que os familiares tentam motivá-la, sem muito sucesso[1]. Reporta a perda do pai precocemente, aos 12 anos de idade, e da mãe, há dois anos, e o fato de ter sofrido tentativa de abuso sexual na adolescência. Sempre foi tratada com muito mimo pela família nuclear (pai, mãe e irmãos), pois era a única filha. Culpa-se por não ter podido cuidar da mãe doente, já que também se sentia enferma. Na juventude, era muito alegre, gostava de sair, de dançar e de beber com os amigos. Após o nascimento do segundo filho, cuja gravidez, inicialmente, não aceitou, tendo, inclusive, fantasias de aborto; começou a sentir tonturas, que pioraram com o tempo. Passou, então, a apresentar taquicardia, dores no peito, respiração ofegante, tremores, transpiração excessiva e medo de morrer e de ficar louca. Começou a ficar mais em casa e a não sair sozinha, com medo de ter alguma crise na rua. Descuidou-se dos seus afazeres e se distanciou-se das pessoas. É excessivamente apegada ao segundo filho e não admite a hipótese de que ele, algum dia, fique longe dela. ” Com base na situação descrita acima, elabore, a partir de uma abordagem psicoterápica escolhida e justificada, um texto dissertativo, contemplando os seguintes aspectos: a) DIAGNÓSTICO DO CASO APRESENTADO: Com base no relato acima, através de alguns sintomas que a paciente apresenta, pode-se afirmar que a mesma apresenta transtorno do pânico. O transtorno do pânico, de acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), se configura como ataques de pânico inesperados recorrentes, apresentando alguns sintomas específicos, como descritos no Critério A: 1. Palpitações, coração acelerado, taquicardia. 2. Sudorese. 3. Tremores ou abalos. 4. Sensações de falta de ar ou sufocamento. 5. Sensações de asfixia. 6. Dor ou desconforto torácico. 7. Náusea ou desconforto abdominal. 8. Sensação de tontura, instabilidade, vertigem ou desmaio. 9. Calafrios ou ondas de calor. 10. Parestesias (anestesia ou sensações de formigamento). 11. Desrealização (sensações de irrealidade) ou despersonalização (sensação de estar distanciado de si mesmo). 12. Medo de perder o controle ou “enlouquecer”. 13. Medo de morrer. Segundo o DSM-5, caracteriza-se ataque de pânico como um surto abrupto de medo ou desconforto intenso que alcança um pico em minutos e durante o qual ocorrem quatro ou mais de uma lista de 13 sintomas físicos e cognitivos. E é com base nessa afirmação e nos sintomas apresentados pela paciente, que se pode concluir que a ela apresenta um quadro clínico de transtorno do pânico. O diagnóstico de transtorno de pânico, dá se através da presença de no mínimo quatro sintomas, a paciente em questão apresentou oito sintomas, todos dentro de Critério A. Sendo tais como tontura, taquicardia, dores no peito, respiração ofegante, tremores, transpiração excessiva, medo de morrer e medo de enlouquecer. Já o critério B do DSM-5, estabelece duas características que tem que apresentar, ou ao menos uma delas nos ataques seguidos de um mês ou mais para que seja feito o diagnóstico de transtorno do pânico, sendo elas: 1. Apreensão ou preocupação persistente acerca de ataques de pânico adicionais ou sobre suas consequências (p. ex., perder o controle, ter um ataque cardíaco, “enlouquecer”). 2. Uma mudança desadaptativa significativa no comportamento relacionada aos ataques (p.ex., comportamentos que têm por finalidade evitar ter ataques de pânico, como a esquiva de exercícios ou situações desconhecidas). Através do estabelecido no critério B, a paciente apresenta as duas características. Pois a mesma afirmou que começou a ficar mais em casa e a não sair sozinha para evitar ter os ataques de pânico, o motivo dessa evitação é por medo de ter alguma crise na rua, medo esse de enlouquecer ou de perder o controle, evidenciando ainda mais as evidências de que a mesma é portadora do transtorno do pânico. Esse transtorno, segundo o DSM-5, afeta mais indivíduos do sexo feminino do que masculino e a idade média do transtorno do pânico é de 20 a 24, mas também ocorre em outras fases da vida, como infância, idade adulta tardia e velhice; mesmo que seja incomum. Os fatores ambientais também influenciam ou podem ser desencadeantes do transtorno do pânico. No DSM-5 são apresentados no quadro de Fatores de Riscos e Prognóstico e são compreendidos como relatos de experiências infantis de abuso sexuais e físicos. Portanto, pode-se considerar que de acordo com o relato da paciente, a tentativa de abuso sexual na adolescência é um dos fatores desencadeantes da patologia na paciente. b) HIPÓTESES SOBRE O DESENVOLVIMENTO DO TRANSTORNO: Segundo o DSM-5, o desenvolvimento do transtorno de pânico pode se dar pelos transtornos mentais ou eventos estressores simultaneamente. Os ataques de pânico são incomuns e os ataques de pânico inesperados são raros em pré-adolescentes. A prevalência mais baixa de ataques de pânico em indivíduos mais velhos pode estar relacionada a uma resposta autonômica mais tênue aos estados emocionais em comparação com indivíduos mais jovens. A presença do transtorno de pânico pode apresentar um mesclado de ataques com sintomas limitados e ansiedade generalizada. No caso de indivíduos mais velhos, como no caso de nossa paciente, atribui-se os ataques de pânico a determinadas situações estressantes (exemplo: procedimentos médicos ou ambientes sociais) e podem dar explicações para ele mesmo que tenham sido inesperados no momento.Nos transtorno de pânico também há existente a probabilidade do aparecimento de vários transtornos mentais, incluindo transtorno de ansiedade, transtornos depressivos, transtornos bipolares, transtorno do controle de impulsos e transtornos por uso de substâncias. Segundo Salum, Blaya e Manfro (2009) O transtorno de pânico pode ter sua causa por múltiplos fatores - biopsicossocial, sendo os aspectos psicológicos de extrema importância no seu aparecimento, e tem sua predisposição somática, podendo ser: ansiedade de separação na infância, eventos vitais, perda de suportes sociais e interpretações cognitivas. Pode se fazer presente através também da perda de alguém importante, ou seja, perda de suporte social, geralmente precede o transtorno, assim apresentando o primeiro episódio de pânico. Três fatores devem ser levados em consideração para identificar a presença do transtorno de pânico, sendo eles: disposição genética, episódios vitais e precedentes de desenvolvimento. Evidenciam que a causa do transtorno deve ser investigada a longo prazo e não somente nos últimos dias, semanas e meses, deve ser buscado fatos de um a nove meses atrás, como por exemplo, mortes de familiares, ruptura de um casamento, um grave acidente de carro, uma cirurgia, entre outros fatos importantes ou traumáticos. Quando o pânico ocorre, a pessoa não o relaciona com as causas subjacentes, mas as rejeita diante de outras causas: ataque cardíaco, colapso nervoso, tumor cerebral. Neste sentido, uma vez que a vítima começa a ter medo das sensações ocasionadas do pânico, este pode manter a reação de pânico ativada constantemente por anos. Evidencia-se que paraBaker (2000) há duas causas para o pânico, que são importantes no direcionamento da terapia, sendo elas: a causa subjacente original para os primeiros ataques de pânico; e depois dos primeiros pânicos, o medo de mais ataques de pânico. c) TÉCNICAS DE INTERVENÇÃO: O tratamento precoce do Transtorno de Pânico é essencial no sentido de reduzir o sofrimento e prejuízo associado ao transtorno e no intuito de prevenir o surgimento de complicações e comorbidades, além dos custos sociais do transtorno. A prevenção de novas crises e a diminuição das complicações associadas a elas, como a ansiedade antecipatória e a evitação fóbica, são os pontos chaves no tratamento do Transtorno de Pânico. Deve-se dar especial atenção para as comorbidades como os transtornos de humor e o uso de substâncias. De maneira geral, existem três formas de tratamento deste transtorno: o tratamento psicofarmacológico, o psicoterapêutico e o combinado. Evidenciaremos aqui duas técnicas de intervenção para o tratamento do Transtorno de Pânico, sendo: enfoque psicanalítico e enfoque cognitivo comportamental. Através da intervenção psicanalítica e a psicoterapia de orientação psicanalítica são muito utilizados o formato de longa duração, o foco em outros desfechos que não somente relacionados aos sintomas do Transtornodo Pânico e nos diagnósticos estruturados do DSM-IV-TR. Esse tipo de psicoterapia parece oferecer resultados duradouros, com menores taxas de recaídas e vantagens em desfechos não convencionais, como o uso de estilos defensivos mais maduros, melhora nas relações interpessoais e nos conflitos intrapsíquicos e, consequentemente, uma melhor qualidade de vida em termos gerais de funcionamento psicossocial. Já através da intervenção com a Terapia Cognitiva Comportamental, é realizado uma psicoeducação sobre o Transtorno do Pânico, no intuito de corrigir interpretações errôneas acerca do transtorno em evidencia, treinamento de técnicas para diminuir a ansiedade, como respiração diafragmática e relaxamento muscular, reestruturação cognitiva, para identificar e corrigir distorções no pensamento, exposição interoceptiva, no intuito de que o paciente aprenda a lidar com os sintomas físicos do ataque de pânico, e exposição in vivo, a fim de estimula- ló a enfrentar as principais situações que teme por medo de passar mal e não encontrar saída ou ajuda.(SALUM, BLAYA E MANFRO 2009). REFERÊNCIAS AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION et al. DSM-5: Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. SALUM, Giovanni Abrahão; BLAYA, Carolina; MANFRO, Gisele Gus. Transtorno do pânico. Revista de Psiquiatria do Rio Grande do Sul. v. 31, n. (2), p. 86-94, 2009.