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POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA 
UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA 
JORGE LUIZ DONATTI 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ANÁLISE DO PROCEDIMENTO POLICIAL MILITAR ADOTADO NO CASO DO 
SEQÜESTRO DOS PASSAGEIROS DO ÔNIBUS 174 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Florianópolis 
2008 
 
 1
JORGE LUIZ DONATTI 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ANÁLISE DO PROCEDIMENTO POLICIAL MILITAR ADOTADO NO CASO DO 
SEQÜESTRO DOS PASSAGEIROS DO ÔNIBUS 174 
 
 
 
Monografia apresentada ao Curso de 
Aperfeiçoamento de Oficiais da Polícia Militar de 
Santa Catarina com especialização lato sensu em 
Administração de Segurança Pública, como 
requisito parcial para obtenção do título de 
Especialista em Administração de Segurança 
Pública pela Universidade do Sul de Santa 
Catarina. 
 
 
 
Orientador: Prof. Giovani de Paula, Msc. 
 
 
 
 
Florianópolis 
2008 
 2
JORGE LUIZ DONATTI 
 
 
 
 
ANÁLISE DO PROCEDIMENTO POLICIAL MILITAR ADOTADO NO CASO DO 
SEQÜESTRO DOS PASSAGEIROS DO ÔNIBUS 174 
 
 
 
Esta Monografia foi julgada adequada à obtenção 
do título de Especialista em Administração de 
Segurança Pública e aprovada em sua forma final 
pelo Curso de Especialização em Administração 
de Segurança Pública, da Universidade do Sul de 
Santa Catarina. 
 
 
Florianópolis, 27 de setembro de 2008. 
 
 
 
 
 
 
Prof. e orientador Giovani de Paula, Msc. 
Universidade do Sul de Santa Catarina 
 
 
Major PM Marcelo Cardoso. 
Universidade do Sul de Santa Catarina 
 
 
Capitão PM Aurélio Pelozato da Rosa 
Universidade do Sul de Santa Catarina 
 3
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico esta Monografia aos profissionais que 
doam suas vidas para realizar os sonhos de 
todos que se propõem a aprender. Sem estes 
professores não haveria conhecimento e sem o 
conhecimento os profissionais não chegariam à 
sabedoria e sem a sabedoria não haveriam as 
grandes descobertas da humanidade. Dedico 
ainda à minha esposa e colegas de trabalho. 
 4
AGRADECIMENTOS 
 
 Quero agradecer primeiramente a Deus, por me dar forças suficientes 
para superar os vários obstáculos no qual deparamo-nos todos os dias de nossas 
vidas. Agradeço também ao Professor Orientador Giovani de Paula, pela paciência e 
interesse, e principalmente pelo seu conhecimento, fatores que me ajudaram a 
enriquecer ainda mais esta monografia. 
 Finalizando, agradeço a minha esposa Dra. Teresinha e minha amada 
filha Lana Priscila Donatti e todas as pessoas que, direta ou indiretamente, tiveram 
participação comigo na elaboração deste trabalho. 
 
 5
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Respeita a ti mesmo e terás um caráter 
nobre” (Pitágoras). 
 6
RESUMO 
 
Este trabalho analisa o procedimento policial adotado no caso do seqüestro do 
ônibus linha 174 no Rio de Janeiro, apresentando seu contexto histórico e 
apontando as falhas por parte das forças de segurança que cuidaram desta 
operação. Serão desenvolvidos os conceitos referentes à sociedade brasileira, 
urbanização, desigualdade, ordem, ordem social, sociologia da favela, trabalho, 
poder de polícia (na atualidade, fundamentação, administrativa e judiciária), conflitos 
urbanos e o papel de polícia, preservação da ordem pública, situações de 
gerenciamento de crise, conceitos de crise, negociação, “Ônibus 174” (estudo de 
caso, contexto histórico, avaliação policial) e reflexões para uma nova práxis policial. 
Palavras-chave: Ônibus 174. Procedimento Policial. Gerenciamento de Crise. 
 
 
 7
ABSTRACT 
 
This work analyzes the procedure policeman adopted in the case of the kidnapping 
of the bus line 174 in Rio de Janeiro, presenting his historical context and pointing 
the flaws on the part of safety's forces that took care of this operation. The concepts 
will be developed regarding Brazilian society, urbanization, inequality, order, social 
order, sociology of the slum, work, police power (at the present time, recital, 
administrative and judiciary), urban conflicts, police paper, preservation of the public 
order, situations of crisis administration, crisis concepts, negotiation, "Bus 174" (I 
study of case, historical context, evaluation policeman) and reflections for a new 
práxis policeman. 
Word-key: Bus 174. Procedure Policeman. Administration of Crisis. 
 
 8
SUMÁRIO 
 
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 09 
 
2 DESENVOLVIMENTO – SOCIEDADE BRASILEIRA, URBANIZAÇÃO, 
DESIGUALDADE, ORDEM E CONTROLE SOCIAL. ............................................ 12 
2.1 Sociologia da favela: aspectos históricos............................................................ 12 
2.2 O trabalho e a ordem social............................................................................... 15 
2.3 Poder de polícia ................................................................................................. 18 
2.3.1 Contexto histórico ............................................................................................. 18 
2.3.2 O poder polícia na atualidade ........................................................................... 19 
2.3.3 Fundamentação do poder de polícia ................................................................ 21 
2.3.4 Poder de polícia administrativa ........................................................................ 22 
2.3.5 Poder de polícia judiciária ................................................................................ 23 
 
3 CONFLITOS URBANOS E O PAPEL DE POLÍCIA . ........................................... 25 
3.1 Preservação da ordem pública ............................................................................ 25 
3.2 Situações de gerenciamento de crise ................................................................ 26 
3.2.1 Crise ................................................................................................................. 27 
3.2.2 Gerenciamento de crise ................................................................................... 29 
3.2.3 Negociação ...................................................................................................... 30 
 
4 ESTUDO DE CASO “ÔNIBUS 174”...................................................................... 33 
4.1 Contexto histórico do Caso do Ônibus 174 ......................................................... 33 
4.2 Avaliação da Atuação Policial no Caso do Ônibus 174 ....................................... 37 
4.3 Reflexões para uma nova práxis policial..............................................................43 
 
5 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 52 
 
6 REFERÊNCIAS ...................................................................................................... 55 
 
 
 9
INTRODUÇÃO 
 
 
Temos observado a partir dos anos 80 o constante aumento dos índices 
de criminalidade em nosso país, em que o respeito ao preceito constitucional em seu 
artigo 5°, inc. XV, da Constituição Federal de 05 de Outubro de 1988, que rege 
sobre o direito de locomoção de todos no território brasileiro em tempo de paz, não 
está podendo ser exercido pelos cidadãos, pelo medo instalado nos centros urbanos 
em conseqüência da falta de segurança e das mais variadas formas de violência.Em uma pesquisa realizada pela revista Veja, em 22 de Agosto de 2001, 
foram analisadas as chances de você ou alguém de sua família serem vítimas de um 
assalto, um estupro, atentado violento ao pudor ou um seqüestro relâmpago em 
nosso país, é de aproximadamente 97% no decorrer de toda sua vida. Tal fato é 
preocupante. 
Diante desse cenário, optamos por pesquisar o documentário sobre o 
seqüestro dos passageiros do ônibus 174 na visão da sociedade carioca e a nível 
nacional durante o seu desenrolar até o término, o que nos leva a buscar respostas 
para as circunstâncias e as motivações que levaram o jovem Sandro do Nascimento 
a praticar aquela ação e a forma de resposta do Estado. 
A atuação policial demonstra, em alguns momentos, que os agentes de 
segurança pública tiveram como necessidade de resolução da situação o emprego 
da força tática diante da gravidade do quadro apresentado. 
Ao longo desse trabalho, iremos analisar os efeitos positivos e negativos 
da interferência política e de órgãos alheios no transcorrer de uma atividade técnica 
e de competência da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, de alguém que não 
fazia parte do teatro de operações, mas influenciava nas decisões a serem tomadas, 
com a única preocupação da presença da imprensa e a repercussão que o desfecho 
do caso poderia tomar. 
Esta monografia também tem por objetivo analisar o procedimento policial-
militar adotado no caso do seqüestro do ônibus linha 174 no Jardim Botânico, no Rio 
de Janeiro, em 12 de junho de 2000, por meio da observação do documentário sob a 
ótica da segurança pública, no atendimento a eventos críticos de natureza policial, 
denotando as falhas ocorridas sob a esfera policial e buscar conteúdos que possam 
 10 
promover maior efetividade e êxito na resolução de situações similares, observando, 
contudo, a aplicação da lei e a preservação de vidas. 
Dada a sua repercussão, o caso do “Ônibus 174” tem sido considerado um 
marco na história da violência no Brasil. O que era para ser um simples assalto, 
como tantos outros que ocorrem no cotidiano de uma grande metrópole, que 
mediante o contato com a polícia se transformou em seqüestro que perdurou por 
horas, e como desfecho final teve a morte de uma das reféns, Geísa Firmo 
Gonçalves e do seqüestrador Sandro Rosa do Nascimento, preso e possivelmente 
assassinado no interior da viatura da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro. 
Ocorre que o fato obteve uma cobertura ao vivo de diversas emissoras de 
televisão e posteriormente virou capa de vários jornais e revistas, transformando-se 
em filme de grande reconhecimento dentro e fora do país, além de um documentário 
respectivo. 
Na observação do documentário nos instigam muitas questões sobre a 
forma de atuação da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro e, mormente, a 
adequação das táticas para o caso em questão, bem como o treinamento dos 
policiais na gerência de situações de crise e os efeitos da interferência de órgãos 
externos alheios na busca da solução daquele episódio. 
Assim, este trabalho procura identificar os procedimentos para o 
atendimento de eventos críticos de natureza policial que envolva reféns, 
descrevendo os procedimentos e a importância de um plano de contingência, bem 
como as estratégias de atuação durante uma situação de crise 
Procura ainda ressaltar a importância da atuação dos órgãos públicos 
nestes episódios violentos, por meio da elaboração de planos de ação para emprego 
operacional utilizando-se um comando unificado e capacitado. 
Para isso, num primeiro momento, serão explicitados alguns conceitos 
sobre sociologia, buscando entender como a realidade social colaborou para a 
ocorrência do caso em estudo, afetando a ordem pública que exigiu o poder da 
polícia impondo limites, visando a sua preservação. 
Posteriormente serão abordadas questões específicas sobre a 
preservação da ordem e definições sobre a segurança pública, além de referências 
em torno da definição de crise, a qual solicita respostas da segurança pública, 
enfocando a ação dos policiais que fazem parte das Operações Especiais, 
discutindo sobre seus equipamentos e capacitação para atuarem em ocorrências de 
 11 
altíssimo risco. 
Na metodologia a ser utilizada nesta pesquisa, utilizaremos o método 
dedutivo, com técnicas de análise de conteúdo, estudo de caso, consulta 
bibliográfica, na qual serão pesquisadas a legislação, normas e diversas doutrinas, 
livros, monografias, artigos de jornais, revistas e consultas em sites e outros. 
No presente estudo serão apontadas algumas considerações sobre o 
gerenciamento de crise, focando os objetivos nessa situação e a importância da 
capacitação dos envolvidos, principalmente no que se refere à negociação em crise; 
para finalmente apresentar um contexto histórico do caso do “Ônibus 174” e uma 
avaliação da atuação policial com base no referencial teórico previamente levantado. 
Por fim, a Conclusão apresentará as principais inferências do estudo e algumas 
sugestões sobre a atuação policial em situação de crise. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 12 
 
CAPITULO II 
 
DESENVOLVIMENTO – SOCIEDADE BRASILEIRA, URBANIZAÇÃO, 
DESIGUALDADE, ORDEM E CONTROLE SOCIAL. 
 
2.1 Sociologia da favela: aspectos históricos 
Falar a respeito de favelas significa falar da história do Brasil a partir da 
virada do século passado. Apesar da favela ser encontrada em diversas partes do 
país, falar em favela é falar em particular da cidade do Rio de Janeiro na República, 
com interesses e conflitos regionais profundos (ALVITO e ZALUAR, 1998). 
Segundo Oliveira e Cunha (2008, p.1): 
 
[...] A palavra “favela” foi originada de arbusto com sementes oleaginosas 
freqüentes no sertão brasileiro do Nordeste. No final do século XIX, 
soldados que retornavam da Guerra dos Canudos e que não tinham onde 
morar, passando a ocupar os morros da providência e Santo Antonio no Rio 
de Janeiro, morros estes situados nos fundos dos quartéis. Os mais críticos 
diziam que as barracas ou habitações precárias apareciam de uma forma 
tão rápida como as favelas, arbustos encontrados com tanta intensidade no 
Nordeste, originando daí o nome. 
 
Cita ainda Oliveira e Cunha (2008) que as primeiras favelas foram notadas 
no final do século XIX no do Rio de Janeiro, capital da recém proclamada República, 
sendo que tinha no princípio do século XX uma população menor que um milhão de 
habitantes e a maioria era composta por ex-escravos. 
Para Alvito e Zaluar (1998) a favela ficou registrada oficialmente como área 
de habitações irregulares, construídas sem planejamento e traçados definidos, 
devido a pobreza dos habitantes, mas também devido ao descaso do governo que 
promoveu uma imagem deste local como um lugar carente e pobre, onde habitavam 
marginais e como sendo um perigo a ser eliminado, não tendo portanto interesse 
social pelo problema. 
Valladares (2000) coloca a favela no debate social, mostrando seu lugar e 
importância nas discussões entre homens de poder e de ação e confirma sua 
importância crescente no imaginário social, afirmando que a construção social da 
favela aconteceu num momento em que as preocupações estavam centradas no 
futuro, na saúde da sociedade, no embelezamento e saneamento do Rio de Janeiro. 
 13 
Numa sociedade com forte tradição de relações hierárquicas, o princípio de 
igualdade – seja como igualdade perante a lei, seja como responsabilidade 
coletiva pela exclusão de classe – não chegou propriamente a se consolidar, 
nem como ideário, nem como prática do Estado de Bem-estar social (MAIA, 
2008, p.10). 
 
Assim, nasdiscussões a respeito do Rio de Janeiro no princípio do século 
XX, o interesse pela favela ocupa um segundo lugar. Fala-se sobre a pobreza, mas 
o olhar está voltado para o sanitarismo e são priorizadas as questões da raça e da 
classe trabalhadora, mas reduzida ao trabalho fabril. Fala-se de lutas e diversidades 
de correntes, mas cabe ao movimento sindical a maior relevância (VALLADARES, 
2000). 
Assim, Agache define: 
 
Construídas contra todos os preceitos da higiene, sem canalizações d’água, 
sem esgotos, sem serviço de limpeza publica, sem ordem, com material 
heteroclito, as favelas constituem um perigo permanente de incêndio e 
infecções epidêmicas para todos os bairros através dos quais se infiltram. A 
sua lepra suja a vizinhança das praias e os bairros mais graciosamente 
dotados pela natureza, despe os morros do seu enfeite verdejante e corrói 
até as margens da mata na encosta das serras (AGACHE, 1930, p.190). 
 
Desta forma esquece-se por outro lado que a fonte ou os agentes de todos 
estes processos está focado nas pessoas, que por vezes estabelecem-se nestes 
grupamentos humanos chamados favelas. 
 
As camadas populares, que nas primeiras décadas do século XX são 
analisadas, sobretudo sob o ângulo dos laços entre cultura e política, 
quando aparecem, são sob o rótulo de “povo”, no cortiço ou nas ruas do 
centro do Rio de Janeiro, driblando sua exclusão política por meio de 
movimentos de revolta dos tipos mais variados (VALLADARES, 2000, p.1). 
 
 
Em face da constatação do autor, considero se não foi também este descaso 
que a transformou nesta problemática complexa que se impõe nos dias atuais nos 
grandes centros urbanos. 
Ressalta-se que o descobrimento da pobreza não se deve aos cientistas 
sociais, mas, quando se transforma em preocupação das elites, são os profissionais 
ligados à imprensa, literatura, engenharia, medicina, ao direito e à filantropia que 
passam a descrever, propondo soluções ao problema e visando conhecer para 
denunciar e intervir buscando administrar e gerir os moradores (VALLADARES, 
2000). 
 14 
Assim, denota-se o abandono e discriminação histórica desta parcela da 
população e, segundo Valladares (2000), é o morro da Favela que entra para a 
história, onde em 1900 o Jornal do Brasil denunciava estar o morro infestado de 
criminosos e desocupados. 
Esta também é a visão de um Delegado de Polícia, onde segundo Bretãs 
(1997 apud VALLADARES 2000, p.8), afirma que “Se bem que não haja famílias no 
local designado, é ali impossível ser feito o policiamento porquanto nesse local, foco 
de desertores, ladrões e praças do exército, não há ruas, os casebres são 
construídos de madeira e cobertos de zinco”. 
Destaca-se que os dois primeiros estudos a respeito das favelas do Rio de 
Janeiro foram o relatório do médico Victor Tavares de Moura1, publicado em 1943 e 
o TCC da assistente social Maria Hortência do Nascimento e Silva, publicado em 
livro em 1942, sendo que ambos sinalizavam os novos tempos, quando já se 
reconhecia a necessidade de informações concretas visando gerir a pobreza 
(VALLADARES, 2000) ou seja, as favelas. 
 Também Monet relata: 
 
Toda a reflexão sobre problemas policiais atuais deve levar em conta que: 
fatores como desemprego e a pobreza, engendram conflitos, divisões e 
violências. As aspirações frustradas, desilusões repetidas e ressentimentos 
crescentes solapam naqueles que deles são vítima, a confiança que 
poderiam ter nos mecanismos de regulação política, na legislação e nas 
instituições policiais, enfraquecendo, igualmente, a legitimidade destas 
últimas. Eles minam as regras do jogo social, corroem o consenso sobre os 
valores: os excluídos são levados a rejeitar a autoridade política, seja por se 
refugiarem na indiferença e na abstenção, seja por se recusarem a 
submeter-se à lei e ao regulamento, seja ainda, por mergulharem na 
violência aberta (MONET, 2002, p.11). 
 
 
Diante de tais comentários, como conceituar favelas? 
Valladares (2002) afirma que foram incluídos no conceito de favelas os 
aglomerados humanos que tivessem, total ou parcialmente, as características abaixo: 
- Tipo de habitação: predominância de casebres ou barracões de aspecto 
rústico construídos principalmente de chapas zincadas ou tábuas; 
- Condição jurídica: construções sem licenciamento e fiscalização, em 
espaços de terceiros ou de propriedade desconhecida; 
 
1 Victor Tavares de Moura foi membro da Comissão para Higienização das Favelas entre 1941 e 
1944 e diretor do Departamento de Assistência Social entre 1944 e 1947. Segundo entrevista 
realizada com sua filha, Maria Coeli Tavares de Moura, o médico pernambucano era concunhado 
de Agamenon Magalhães, que em 1939 montara em Recife a Liga Social contra o Mocambo, 
campanha anterior à política dos Parques Proletários do Rio de Janeiro (VALLADARES, 2000). 
 15 
- Melhoramentos públicos: ausência, no todo ou em parte, de rede de 
saneamento, luz e telefone; 
- Urbanização: área não urbanizada, faltando arruamento e numeração. 
Assim, pode-se afirmar que tal situação não poderia deixar de trazer 
conseqüências para as populações que vivem nos bairros e centros mais abastados, 
para onde crianças abandonadas e jovens sem perspectiva de vida partem em 
busca de sobrevivência, que por vezes, em suas mentes moldadas no meio em que 
vivem, se reflete em pequenos furtos, assaltos e o tráfico de drogas como meio de 
subsistência, tendo como vítimas os moradores destes centros urbanos. 
Destaca-se que estas pessoas, quando negras, trazem sobre os ombros 
uma herança mórbida e pesada para que se aliviem sem ajuda. Vivendo em um 
ambiente de miséria hoje, não são culpadas se seus ancestrais padeceram na 
senzala. 
Assim, para que possam trabalhar, se faz necessário curá-las, educá-las, e, 
sobretudo, dar-lhes casas com um mínimo de conforto indispensável à sua auto-
realização (VALLADARES, 2000) sendo este um papel do Estado. 
Deste modo, podemos observar na citação abaixo: 
 
[...] promover o bem-estar social, isto é, propiciar à população de um Estado 
a ordem interna e externa, a paz, o respeito às leis, promovendo a justiça; 
dispor de meios suficientes para atender às necessidades humanas em 
seus diferentes aspectos: físico, moral, espiritual, psicológico e cultural; 
manter a ordem social através de leis existentes ou redigindo novas, que 
reajustem a própria ordem, quando as condições de mudanças o exigirem 
(LAKATOS e MARCONI, 1999, p. 191). 
 
Desta forma é papel do Estado prover os meios necessários para que a 
população possa atender suas necessidades humanas e isso provém do trabalho. 
Portanto, cabe ao Estado manter a ordem social com ações que gerem emprego e 
renda, tema este que será estudado no próximo item do presente trabalho. 
 
2.2 O trabalho e a ordem social 
 
Sobre este tema, a Constituição da Republica Federativa do Brasil, 
promulgada em 05 de outubro do ano de 1988, na parte que trata dos Princípios 
Fundamentais, em seu art. 3º cita que são objetivos fundamentais da Republica 
Federativa do Brasil, entre outros, construir uma sociedade livre, justa e solidária, 
 16 
erradicar a pobreza e a marginalização, buscando assim reduzir as desigualdades 
sociais e regionais. 
 Preconiza também nesta mesma lei, em seu art. 193, que a ordem social tem 
como base o primado do trabalho, e como objetivo a justiça e o bem estar social 
(Constituição da República do Brasil, 1990). 
Podemos denotar que foi no século XIX que surge um intervencionismo 
estatal na esfera social, o que impulsiona a transferência de competências públicas 
ao setor privado. Tal esfera social limita a abstração entre público e privado,pois o 
Estado assume funções antes restritas à sociedade civil (HABERMAS, 1984 apud 
MARTINS, 2008). 
Assim, a grande massa de trabalhadores assalariados consegue entrar na 
cena política, o que simboliza a concretização das cobranças perante as promessas 
da burguesia. Dessa forma, o Estado amplia sua atuação sobre a sociedade civil, 
confiando tarefas públicas à pessoas privadas, definindo os direitos dos 
trabalhadores (MARTINS, 2008). 
Contudo Valladares (2000, p.7) afirma que: 
 
No Rio de Janeiro, assim como na Europa, os primeiros interessados em 
esmiuçar a cena urbana e seus personagens populares voltaram sua 
atenção para o cortiço, considerado no século XIX como o locus da pobreza, 
espaço onde residiam alguns trabalhadores e se concentravam, em grande 
número, vadios e malandros, a chamada “classe perigosa”. Caracterizado 
como verdadeiro “inferno social”, o cortiço era tido como antro não apenas 
da vagabundagem e do crime, mas também das epidemias, constituindo 
uma ameaça às ordens moral e social. 
 
 
Ressalta-se que neste período ocorrem alterações na forma jurídica do 
Estado e na estrutura da administração pública. Pode-se observar bem tal mudança 
na aplicação dos Direitos Fundamentais e a inclusão dos Direitos Sociais, que visam, 
em tese, facultar aos cidadãos a participação nas riquezas e no poder político 
(MARTINS, 2008). 
Num contexto histórico pode-se afirmar que o burguês embrionário, sob 
domínio do absolutismo feudal, conseguiu tornar-se burguês. O operário moderno, 
ao contrário, ao invés de se elevar com o progresso da indústria, desce cada vez 
mais, caindo inclusive abaixo das condições de existência de sua própria classe 
(MARTINS, 2008). 
Segundo Bobbio (1982) o Estado não mais pode ser visto como a superação 
 17 
de uma sociedade civil, mas como algo que a reflete. 
Assim, atualmente as empresas privadas apelam para uma estratégia que 
tenta amenizar as diferenças entre a classe patronal e a classe proletária. Essas 
organizações assumem a responsabilidade estatal de prover um “bem estar” aos 
seus empregados e assistir as comunidades (MARTINS, 2008). 
Assim, pode-se afirmar que as empresas e o Estado estão unidos, visando 
atingir o controle social. 
Esta atividade de controle social é exercida num primeiro momento pelas 
polícias, conforme podemos verificar abaixo. 
Segundo Alvarenga (2008, p.4): 
 
As organizações policiais não se confundem com as demais instâncias da 
administração pública, pois apresentam particularidades que as distinguem 
de modo definitivo e visível diante da sociedade. A autoridade demonstrada 
pelo uso de uniforme, nas organizações militares, e de armamentos, 
destaca essa diferença de universo no que se refere às relações entre 
administrados e outras instâncias públicas. 
 
 
Ainda segundo Ross, o ser humano herda alguns instintos: 
 
Na concepção de Ross, o ser humano herda quatro instintos: "simpatia, 
sociabilidade, senso de justiça e ressentimento ao mau trato". Estes 
instintos permitem o desenvolvimento de relações sociais harmoniosas 
entre os componentes de grupos e comunidades pequenas e homogêneas. 
À medida que a sociedade se torna mais complexa, as relações sociais 
tendem a tornarem-se impessoais e contratuais. Nesse período de transição, 
com o enfraquecimento dos instintos sociais do homem, o grupo tem de 
lançar mão de determinados mecanismos sociais a fim de controlar as 
relações entre seus membros. Esses mecanismos constituem o controle 
social, que visa regular o comportamento dos indivíduos e propiciar à 
sociedade ordem e segurança (LAKATOS e MARCONI, 1999, p.237). 
 
 
Desta forma, quando as sociedades artificiais civilizadas ficam distantes das 
comunidades naturais, os controles instintivos do homem são substituídos pelos 
recursos artificiais, sendo, entre outros, a opinião pública, a crença, a religião e a lei 
(LAKATOS e MARCONI, 1999). 
 Não obstante, a lei continua a ser o imperativo do controle social, o qual é 
manifestado pelo Poder de Polícia que segundo Silva (2006) destina-se a assegurar 
o bem estar geral, impedindo, através de ordens, proibições e apreensões, o 
exercício anti-social dos direitos individuais, o uso abusivo da propriedade, ou a 
prática de atividades que prejudicam a sociedade. 
 18 
2.3 Poder de Polícia 
 
2.3.1 Contexto histórico 
Quando o homem passou a viver em sociedade, foi necessário criar normas 
e regulamentos para o bem-estar da coletividade, onde foram criadas as leis, dando 
aos cidadãos vários direitos, mas com seu exercício compatível com o bem-estar da 
sociedade, sendo que um dos órgãos criados, responsável pela adequação do 
direito individual ao interesse da coletividade, é o poder de polícia (SILVA, 2006). 
Segundo Tácito (2001, p.17): 
 
Em seu conceito clássico o poder de polícia é simples processo de 
contenção de excessos do individualismo. Consiste, em suma, na ação da 
autoridade pública para fazer cumprir por todos os indivíduos o dever de 
não perturbar. Um dos mestres do direito administrativo alemão assim 
definia o papel da administração: “O resultado de cada aplicação do poder 
de polícia não será mais outro: que este homem não perturbe”. 
 
 
O vocábulo polícia origina-se do latim “politia” e do grego “politea”, ligada 
como o termo política, ao vocábulo “polis”. O termo Poder de Polícia na Idade Média 
foi usado nesse sentido amplo e detectou-se o exercício do poder de polícia tal 
como é hoje considerado (SILVA, 2006), onde objetiva defender os interesses da 
sociedade. 
Complementando, Tácito cita a abrangência deste Poder: 
 
Praticamente, os interesses em que consiste o bem público, bem geral, ou 
bem comum, public welfare, cometido à discrição do poder de polícia, 
abrangem duas grandes classes: os interesses econômicos, menos diretos, 
menos urgentes, menos imperiosos, mais complexos, e os interesses 
concernentes à segurança, aos bons costumes, à ordem, interesses mais 
simples, mais elementares, mais preciosos, mais instantes em qualquer 
grau (TÁCITO, 2001, p.17). 
 
 
 
Na legislação brasileira, a Constituição Federal de 1824, em seu artigo 169, 
atribuiu a uma lei a disciplina das funções municipais das câmaras e a formação de 
suas posturas policiais. A partir deste instante, firma-se no nosso ordenamento 
jurídico o uso da locução poder de polícia para definir o poder da Administração de 
limitar o interesse de particulares (SILVA, 2006). 
 
 19 
2.3.2 O poder de polícia na atualidade 
 
O Estado possui poderes que se efetivam de acordo com as exigências do 
serviço público e com os interesses da coletividade, não deixando que o interesse 
particular se sobreponha. Enquanto os poderes só são exercidos pelos respectivos 
órgãos, os poderes administrativos se difundem. O poder de polícia busca impedir o 
exercício anti-social dos direitos individuais (SILVA, 2006). 
Assim conceitua Silva (2006), 
 
O Poder de Policia, em seu sentido amplo, compreende um sistema total de 
regulamentação interna, pelo qual o Estado busca não só preservar a 
ordem pública senão também estabelecer para a vida de relações do 
cidadão àquelas regras de boa conduta e de boa vizinhança que se supõem 
necessárias para evitar conflito de direitos e para garantir a cada um o gozo 
ininterrupto de seu próprio direito, até onde for razoavelmente compatível 
com o direito dos demais (SILVA, 2006, p.1). 
 
 
Estudos contemporâneos não esperam mais explicar a violência urbana 
numa visão linear de causa e efeito, e sim busca entendê-la como um conjunto de 
fatores que desencadeiam um conjunto de dispositivos, com uma cadeia de efeitos 
que cruzam entre si (ZALUAR,1996, p.53). 
Ressalta-se que os fatores sócio-econômicos dãoforça aos processos de 
exclusão social, negando à maior parte da população os recursos básicos para auto-
realização. A impossibilidade da construção de processos de reciprocidade entre os 
cidadãos faz com que surjam impasses socioculturais e a irrupção da violência entre 
os grupos que formam a sociedade (VELHO, 1996 apud MAIA, 2008). 
Situação esta confirmada pela citação abaixo: 
 
A trajetória do Mancha no Rio evidencia a violência da exclusão dos direitos 
mais básicos. Como não ter um “registro civil de nascimento”, que é 
“gratuito para os reconhecidamente mais pobres”, quando, como criança e 
adolescente, passou-se por várias instituições estatais, seja como criança 
em situação de risco ou adolescente infrator (CALDEIRA, 2003, p.283). 
 
É no conjunto de órgãos e serviços públicos incumbidos de fiscalizar, 
controlar e deter as atividades individuais que se revelem contrárias à higiene, à 
saúde, à moralidade, ao sossego, ao conforto público e até mesmo à ética urbana 
que se expressa o poder de polícia. Tal poder visa propiciar uma convivência social 
mais harmoniosa (SILVA, 2006). 
 20 
Assim também conceitua Rosa (2008), 
 
Para um melhor entendimento da matéria se faz necessário conceituar o 
que é ordem pública e segurança pública, que são os campos de atuação 
dos policiais, que devem, antes de tudo, respeitar o cidadão. A ordem 
pública é a situação de tranqüilidade e normalidade que o Estado assegura, 
ou deve assegurar, às instituições e aos membros da sociedade, consoante 
as normas jurídicas legalmente estabelecidas. A Segurança pública é a 
garantia relativa da manutenção da ordem pública, mediante a aplicação do 
poder de polícia, encargo do Estado (ROSA, 2008, p.1). 
 
O poder de polícia ainda é imbuído do compromisso de zelar pela boa 
conduta em face das leis e regulamentos administrativos em relação ao exercício do 
direito de propriedade e de liberdade. A função do Estado é restringir o direito dos 
particulares, devendo organizar a convivência em sociedade (SILVA, 2006). 
Vejamos então a citação de Martins (2008), 
 
O Estado, na filosofia marxista, é a preservação dos interesses da classe 
dominante, que utiliza os mecanismos de repressão e coerção estatais para 
exercer o poder sobre toda a sociedade – principalmente através das leis. 
Essa esfera estatal organizou o poder público de forma que ele estivesse 
subordinado às exigências de uma esfera pública (MARTINS, 2008, p.5). 
 
 
O direito administrativo trata de temas que colocam em confronto a 
autoridade da administração pública, que tem a incumbência de condicionar o 
exercício dos direitos individuais ao bem estar coletivo e a liberdade individual, no 
qual o cidadão quer exercer plenamente seus direitos (SILVA, 2006). 
Assim também Cadenas (2008) conceitua: 
 
 
São muitos os conceitos do que vem a ser o Direito Administrativo. Em 
resumo, pode-se dizer que é o conjunto dos princípios jurídicos que tratam 
da Administração Pública, suas entidades, órgãos, agentes públicos, enfim, 
tudo o que diz respeito à maneira como se atingir as finalidades do Estado. 
Ou seja, tudo que se refere à Administração Pública e à relação entre ela e 
os administrados e seus servidores é regrado e estudado pelo Direito 
Administrativo (CADENAS, 2008, p.1). 
 
 
Visando administrar tal conflito aplicou-se ao poder de polícia um sentido 
amplo e um sentido estrito, sendo que o estrito é responsável pelo poder de polícia 
administrativo. Assim o poder de polícia administrativo tem intervenções genéricas 
ou especificas do Poder Executivo, destinadas a interferir nas atividades de 
 21 
particulares visando os interesses da sociedade (SILVA, 2006). 
Cita Martins (2008) o Poder de Polícia no setor público e privado: 
 
A esfera pública [...] situa-se entre o setor privado (Sociedade Civil) e o 
poder público (Estado). Essa esfera pública política defende os anseios da 
sociedade privada diante dos interesses do Estado: é aí que surge a esfera 
do social - elaborada sob a proposta de uma legislação baseada na “razão” 
- em que o poder público está em constante disputa com a opinião pública; 
uma opinião oriunda dos debates entre intelectuais [...] e herdeiros da 
aristocracia humanista na esfera pública [...] (MARTINS, 2008, p.6). 
 
 
De um lado, o cidadão tenta expandir-se ao máximo, e, por outro lado, a 
Administração analisa cada um dos atos do cidadão, verificando até que ponto as 
atividades desenvolvidas se harmonizam entre si e com o poder do Estado. A 
utilização destes direitos deve ser compatível com o bem-estar social ou com o 
próprio interesse do poder público (SILVA, 2006). 
Segundo Júnior (2000) poder de polícia é a faculdade discricionária do 
Estado de limitar a liberdade individual, ou coletiva, em prol do interesse da 
sociedade. 
Segundo o Código Tributário Nacional: 
 
Art. 78. Considera-se poder de policia a Atividade da Administração Pública 
que, limitando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a 
pratica de ato ou abstenção de fato, em razão de interesse público 
concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, a disciplina da 
produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas 
dependentes de concessão ou autorização do Poder Publico, à 
tranqüilidade pública ou ao respeito à propriedade e os direitos individuais 
ou coletivos. 
 
 
Ressalta-se que o Poder Legislativo edita as leis decorrentes do poder de 
polícia, condicionando a conduta dos indivíduos no exercício do direito de 
propriedade e de liberdade e a Administração, em virtude de sua supremacia geral, 
fiscaliza a conduta dos indivíduos em face das normas vigentes (SILVA, 2006). 
 
2.3.3 Fundamentação do poder de polícia 
 
É no princípio da predominância do interesse público sobre o do particular, 
dando à Administração Pública uma posição de supremacia sobre os particulares, 
que se fundamenta o poder de polícia na Constituição Federal. A polícia 
 22 
administrativa expressa um poder que é o resultado da sua qualidade de executora 
das leis administrativas (SILVA, 2006). 
Vamos verificar abaixo mais um conceito: 
 
[...] a ordem jurídica não é um sistema de normas jurídicas ordenadas no 
mesmo plano, situadas umas ao lado das outras, mas é uma construção 
escalonada de diferentes camadas ou níveis de normas jurídicas. A sua 
unidade é produto da conexão de dependência que resulta do fato de a 
validade de uma norma, que foi produzida de acordo com outra norma, se 
apoiar sobre essa outra norma, cuja produção, por seu turno, é determinada 
por outra, e assim por diante, até abicar finalmente na norma fundamental 
pressuposta. A norma fundamental [...] nestes termos é, portanto, o 
fundamento de validade última que constitui a unidade desta interconexão 
criadora (NETTO, 2008, p.7). 
 
 
 
É papel da polícia administrativa a manutenção da ordem, vigilância e 
proteção da sociedade, assegurando os direitos individuais e auxiliando na 
execução dos atos e decisões da justiça. A polícia administrativa necessita intervir 
sem restrições no momento oportuno, motivo pelo qual certa flexibilidade ou a livre 
escolha dos meios é inseparável da polícia administrativa (SILVA, 2006). 
 
2.3.4 Poder de polícia administrativa 
 
Define-se polícia administrativa como as ações preventivas para evitar 
futuros danos que poderiam ser causados pela persistência de um comportamento 
irregular do indivíduo. Tal polícia visa impedir que o interesse particular se 
sobreponha ao interesse público. Este poder atinge bens, direitos e atividades, que 
se difunde por toda a administração de todos os Poderes e entidades públicas 
(SILVA, 2006). 
Ressalta-se que a moderna organização da sociedade promoveuuma 
estrutura de autoridade do tipo legal-racional, através da qual as leis e prerrogativas 
da autoridade estão completamente separadas da pessoa e da personalidade de 
quem usa a autoridade (WEBER, 1944). 
À polícia administrativa cabe fazer tudo quanto torne útil a sua missão, 
desde que com isso não viole direito de quem quer que seja, direitos esses, que 
estão declarados na Constituição. Inexiste limitação a direito, mas sua conformação 
de acordo com os contornos que as normas constitucionais e legislativas, e as 
administrativas como manifestação do poder de polícia conferem a um determinado 
 23 
direito (SILVA, 2006). 
Vejamos então a abrangência deste poder: 
 
Uma esfera pública, da qual certos grupos fossem [...] excluídos, não é 
apenas, digamos, incompleta: muito mais, ela nem sequer é uma esfera 
pública. Aquele público, que pode ser sujeito do Estado de Direito burguês, 
entende então também a sua esfera como sendo pública neste sentido 
estrito: antecipa, em suas considerações, a pertença, por princípio, de todos 
os homens a ela (HABERMAS, 1984, p.105). 
 
 
A polícia administrativa tem a preocupação com o comportamento anti-social 
e cabe a ela zelar para que cada cidadão viva o mais intensamente possível, sem 
prejudicar e sem ocasionar lesões a outras pessoas. Tal polícia age preventivamente 
e repressivamente. Nas duas hipóteses a sua função é impedir que o 
comportamento do indivíduo cause prejuízos para a sociedade (SILVA, 2006). 
 
 
2.3.5 A polícia judiciária 
 
Em tese, a polícia judiciária é a atividade desenvolvida por organismos - o da 
polícia de segurança, com a função de reprimir a atividade de delinqüentes através 
da instrução policial criminal e captura dos infratores da lei penal, tendo como traço 
característico o cunho repressivo e ostensivo. Incide sobre as pessoas, e é exercido 
por órgãos especializados como a polícia militar e civil (SILVA, 2006). 
Segundo Monet (2001) a definição mais geral aplicada ao conceito de polícia diz 
respeito à forma particular de ação coletiva organizada, acrescentando-se seu caráter 
organizativo em torno de administrações públicas, para uma maior delimitação 
conceitual. 
Tal polícia visa auxiliar o Poder Judiciário no seu cometimento de aplicar a 
lei ao caso concreto, em cumprimento de sua função jurisdicional. Seu objetivo 
principal é a investigação de delitos ocorridos, agindo como auxiliar do Poder 
Judiciário (SILVA, 2006). 
Vamos a mais um conceito de polícia, segundo Monet: 
 
[...] o termo “polícia” remete a um tipo particular de organização burocrática, 
que se inspira ao mesmo tempo na pirâmide das organizações militares e 
no recorte funcional das administrações públicas. Hierarquia e disciplina 
parecem palavras-chave deste universo [...] (MONET, 2001, p.6). 
 24 
A atuação da polícia judiciária, em regra, é repressiva na perseguição de 
marginais ou efetuando prisões de pessoas que praticam delitos penais. Mas essa 
não é a função única da polícia judiciária, ela atua também na esfera preventiva, 
quando faz policiamento de rotina em regiões que apresentam riscos. 
Até mesmo em caso de prisões, entende-se que se trata de medida 
preventiva, considerando que ela evita a prática de outros crimes (SILVA, 2006) 
coibindo assim as ameaças à convivência pacífica em sociedade, ou seja, 
preservando a ordem pública, a definição de gerenciamento de crise, crise, que 
serão os temas do próximo item do presente estudo, onde a seguir veremos a 
abrangência dos Conflitos Urbanos e o papel da Polícia no contexto social. 
 25 
CAPITULO III 
 
CONFLITOS URBANOS E PAPEL DA POLÍCIA 
 
3.1 Preservação da ordem pública 
 
O Estado deve promover ao cidadão residente no país o respeito a sua 
integridade física e patrimonial. Para cumprir essa função, o Estado tem a sua 
disposição os órgãos policiais, que se denominam Forças de Segurança. É na 
preservação da ordem pública, em seus diversos aspectos, que atuam os agentes 
policiais, garantindo aos administrados os direitos assegurados pela Constituição 
(ROSA, 2008). 
A Constituição Federal de 1988, em seu art. 144, preconiza que: 
Art. 144 – A segurança pública, dever do Estado, direito e 
responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da 
ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, 
através dos seguintes órgãos: 
I – polícia federal; 
II – polícia rodoviária federal; 
III – polícia ferroviária federal; 
IV – polícias civis; 
V – polícias militares e corpos de bombeiros militares. 
 
As Forças Policiais têm como missão garantir ao cidadão o exercício dos 
direitos e garantias fundamentais, previstos na Constituição Federal e nos 
instrumentos internacionais subscritos pelo Brasil (art. 5º, § 2º, da CF). 
Para suas atividades, as forças policias precisam de preparo dos integrantes 
das Corporações Policiais, que devem se afastar do arbítrio, da prepotência, do 
abuso ou excesso de poder, em respeito à lei, que deve ser observada por todos 
em respeito ao Estado democrático de Direito (ROSA, 2008). 
Ressalta-se que o policial, devido a sua autoridade moral que carrega, tem o 
potencial de ser o mais marcante promotor dos Direitos Humanos, revertendo o 
quadro de descrédito social e qualificando-se como um agente central da 
democracia. As Forças Policiais são a efetiva garantia do cumprimento das normas e 
respeito ao Estado democrático estabelecido com base na Constituição Federal 
(BALESTRERI, 2000). 
 
 26 
Pela importância das atividades desenvolvidas pelas Forças Policiais, estas 
foram delimitadas pela Constituição Federal de 1988, onde sua competência está 
prevista. O art. 272, ao tratar da atividade policial, preceitua que a polícia tem por 
funções defender a legalidade democrática e garantir a segurança interna e os 
direitos dos cidadãos. As medidas de polícia são as previstas na lei, não devendo 
ser utilizadas para além do necessário (ROSA, 2008). 
Assim Monet descreve: 
 
[...] um elo imediato associa polícia e soberania do Estado sobre seu 
território: a existência de uma polícia pública é o sinal indiscutível da 
presença de um Estado soberano e de sua capacidade de fazer prevalecer 
sua razão sobre as razões de seus súditos (MONET, 2001, p.16). 
 
 
Nota-se que a criminalidade tem aumentado muito e crimes como furto, 
roubo, roubo seguido de morte e homicídios assustam a população que sente medo 
e insegurança. O Estado tem se esforçado para dar uma resposta eficaz a essas 
questões, mas por motivos de ordem econômica e um melhor relacionamento entre 
os diversos órgãos policiais, a sociedade não está satisfeita (ROSA, 2008). 
Alvarenga define atividade fim da polícia: 
 
Idéias como gestão participativa, foco em resultado, visão de futuro, 
agilidade, inovação, valorização das pessoas, aprendizado organizacional, 
entre outras, que representam necessariamente os conceitos [...] expostos 
de gestão da Qualidade, e que anteriormente não eram vistos como 
alternativas possíveis de serem aplicados no serviço público, hoje são 
diretrizes para um serviço público moderno, e em relação a Policia [...] e sua 
atividade fim [...] são plenamente aplicáveis, e imperativos para a eficiência 
de suas ações (ALVARENGA, 2008, p.5). 
 
Destaca-se que a não existência de uma norma a nível nacional que possa 
ser aplicada de forma uniforme aos órgãos policiais tem levado a conflitos de 
competência entre estas instituições. A luta contra os crimes que assustam a 
coletividade necessita de uma maior integração das Forças Policiais, que são 
responsáveis pela preservação dos direitos assegurados pela Constituição Federal 
(ROSA, 2008). 
 
3.2 Situações e gerenciamento de crise27 
3.2.1 Crise 
Crise refere-se a toda situação atípica, indesejada e imprevista, que exige 
uma resposta imediata dos órgãos de segurança pública. 
Segundo Gomes (1996, p. 94): 
 
Uma crise pode surgir de uma emergência grave e pode manifestar-se de 
diferentes formas: incêndios, inundações, terremotos, acidentes comerciais 
ou industriais (desastres de avião, desabamento de minas e derrames de 
petróleo), epidemias, violência trabalhista, extorsão criminosa, levantes 
políticos, insurreições, motins em presídios, ocupação ilegal de terras, etc., 
bem como terrorismo. 
 
Ressalta-se que o Federal Bureau of Investigation (FBI) define crise como 
um evento ou situação crucial, que exige uma resposta especial da polícia, a fim de 
assegurar uma solução aceitável (SOUZA, 1995). 
O vocábulo “evento” ou “situação crucial” no Brasil, refere-se às ocorrências 
de alto risco ou de alta complexidade como: 
• Seqüestros; 
• Rebeliões em presídios com ou sem reféns; 
• Crimes com tomada de reféns; 
• Crimes com artefatos explosivos; 
• Movimentos sociais; 
• Atos de terrorismo. 
Bassett (1983) fala que as características essenciais das crises, conforme 
preconiza a doutrina do FBI, são: 
a) Imprevisibilidade, onde as crises são imprevisíveis e não se pode prever 
quando e onde irão acontecer. 
b) Compressão de tempo, sendo que a crise exige urgência em sua 
resolução, uma vez que envolve vidas e o risco pode aumentar e toda ação deverá 
sempre ser analisada visando evitar erros que não possam ser reparados. 
c) Ameaça de vida e não somente se refere ao refém, mas a terceiros e ao 
próprio causador da crise. 
d) Postura organizacional não rotineira, sendo que a importância e 
necessidade da normatização e treinamento prévio do órgão policial para enfrentar e 
solucionar as crises é de extrema importância. 
e) Planejamento analítico especial e capacidade de implementação, visando 
 28 
o êxito da missão, devendo-se proceder a uma análise criteriosa da crise e 
planejamento de estratégias a empregar, prestando-se a atenção para a coleta de 
informações e o levantamento dos problemas onde está ocorrendo a crise. 
f) Considerações legais especiais, pois para aplicar a doutrina de 
gerenciamento de crises nos atendimentos a eventos críticos de natureza policial, é 
necessário normatizar procedimentos, disciplinar condutas operacionais, dividir e 
especificar as tarefas dos órgãos envolvidos, principalmente entre as equipes que 
irão compor o Teatro de Operações, com a finalidade de gerenciar de acordo com o 
que estabelece a doutrina e buscar soluções legais às crises, dando sempre ênfase 
à aplicação da lei e à preservação de vidas. 
A doutrina de gerenciamento de crises do FBI dita três critérios de ação: a 
necessidade, a validade do risco e a aceitabilidade (BASSET, 1983) sendo que o 
FBI divide as crises em quatro graus: 
1. 1º grau: Alto risco – eventos críticos sem reféns, como rebeliões em 
estabelecimentos penais, tráfico de entorpecentes, tumultos. 
2. 2º grau: Altíssimo risco – eventos críticos com reféns, como seqüestros, 
assalto, rebeliões. 
3. 3º grau: Ameaça extraordinária – eventos críticos com vários reféns, 
como terroristas num avião ou escola, mantendo reféns. 
4. 4º grau: Ameaça exótica – eventos críticos com ameaça direta a reféns 
com sangue contaminado ou veneno. 
Segundo a Diretriz Permanente nº 34/2001 (2006), ocorrências de altíssimo 
risco são ações criminosas classificadas como crise fora da normalidade do serviço 
policial, com a presença de refém, onde exija a intervenção imediata da tropa 
especializada e os infratores estejam com acentuado potencial ofensivo, armados 
com armas de porte, portátil e de alto poder de fogo. 
Com relação a ocorrências de alto risco, a Diretriz Permanente nº 34/2001 
(2006) cita como exemplo: 
a) Intervenção e operações de resgate de reféns em áreas urbanas ou rurais; 
b) Rebeliões em estabelecimentos prisionais com e sem a tomada de reféns; 
c) Atendimento de ocorrências de roubo com tomada de refém em áreas 
urbanas e rurais; 
d) Operação de busca, resgate e salvamento de pessoas em cativeiro, 
desaparecidas ou em local de difícil acesso; 
 29 
e) Negociações em ocorrências com tomada de reféns. 
Para Bassett (1983), os níveis correspondem a cada grau de risco, de forma 
gradativa na escala hierárquica do órgão policial, sendo: 
- Nível 1: a crise pode ser controlada com recursos locais. 
- Nível 2: a crise exige recursos locais especializados, como por exemplo, o 
emprego da equipe tática. 
- Nível 3: a crise exige recursos locais especializados e do Comando Geral 
do órgão policial. 
- Nível 4: a crise exige o emprego de recursos do nível três e de recursos 
exógenos ou especializados. 
 
3.2.2 Gerenciamento de crise 
 
Bassett (1983) fala que o FBI define gerenciamento de crises como o 
processo de identificar, obter e aplicar os recursos necessários à prevenção, 
resolução e até mesmo antecipação de uma crise. 
Monteiro (1990, p.6) afirma que: 
 
O gerenciamento de crises pode ser descrito como um processo racional e 
analítico de resolver problemas baseados em probabilidades. Trata-se de 
uma ciência que deve lidar, sob uma tremenda compressão de tempo, com 
os mais complexos problemas sociais, econômicos, políticos, ideológicos e 
psicológicos da humanidade, nos momentos mais perigosos de sua 
evolução, isto é, quando eles se manifestam em termos destrutivos. 
 
O gerenciamento de crise objetiva preservar a vida e aplicar a lei. Contudo, a 
preservação de vidas deve estar, para os responsáveis pelo gerenciamento de um 
evento crítico, acima da aplicação da lei (MONTEIRO, 1990). 
Segue comentário de Monteiro, com relação ao assunto: 
 
A crônica policial tem demonstrado que, em muitos casos, optando por 
preservar vidas inocentes, mesmo quando isso contribua para uma 
momentânea fuga ou vitória dos elementos causadores da crise, os 
responsáveis pelo gerenciamento de crise adotaram a conduta mais 
adequada, em virtude de uma ulterior captura dos meliantes (MONTEIRO, 
1990, p.6). 
 
Para Thomé e Salignac (2001) a crise exige um gerenciamento. Por 
conseguinte, tal gerenciamento será uma resposta que assegure medidas políticas 
 30 
para a atuação dos órgãos responsáveis por sua solução. A idéia de gerenciamento 
de crise surge pela associação de sentimentos, organizações e opiniões que 
complicam e causam embaraço para o final desta. 
Dalle Lucca (2002) afirma que em alternativas táticas na resolução de 
ocorrências com reféns, pode-se dizer com certeza que a utilização de negociadores 
não-policiais é uma opção de alto risco. 
Enfatiza-se que o negociador deverá negociar sempre, pois é o que a 
sociedade quer, sendo que diversas pessoas são contra a força letal, sendo a favor 
da negociação a fim de preservar a vida da vítima ou do refém, onde é preferível 
negociar uma fuga e posteriormente prender o infrator, evitando a perda da vidas de 
pessoas (MONTEIRO, 1990) tema que será melhor tratado no próximo item do 
presente trabalho. 
 
 
3.2.3 Negociação 
 
Dolan e Fuselier (1987, p.2) falam sobre a atuação de um negociador junto a 
um seqüestrador, afirmando que: 
 
[...] dependendo da avaliação que você fizer do sujeito, é dizer a ele 
claramente o que você quer fazer, é fazê-lo concordar em permitir que as 
pessoas deixem o local. [...] Todo esforço deve ser feito para evacuar estas 
pessoas e levá-las para uma única área a fim de ser possível cuidar de 
todos os inocentes e tê-los à mão para depoimentos/entrevistas de vítimas. 
[...] Tranqüilize-o de que as coisas estão sob controle do lado de fora e que 
você não querque ninguém, inclusive ele, seja ferido. Evite trazer a 
tona/despertar exigências. As primeiras frases entre vocês dois pode 
determinar o tom para as próximas horas. Portanto, a primeira coisa que 
você deve fazer é dar seu nome e informar que você é um oficial de polícia. 
 
 
Segundo Souza (2000) não se pode prescindir de profissionais, quer sejam 
policiais civis ou militares para atuarem como negociadores. Costuma-se dizer que 
gerenciar crises é negociar, negociar e negociar. E quando ocorre o esgotamento de 
todas as chances de negociação, deve-se tentar negociar mais um pouquinho. 
Assim, o objetivo de um negociador é a solução de crises, principalmente 
quando existem reféns envolvidos, sendo que a crise deve ser solucionada com 
inteligência e com o menor risco aos reféns. 
Ressalta-se que nos primeiros minutos de uma situação com reféns o 
seqüestrador se sente ansioso e perde o pensamento racional, agindo por impulso; 
 31 
a primeira ação do negociador é garantir sua própria segurança (DOLAN e 
FUSELIER, 1987) sendo que posteriormente o negociador deve: 
 
[...] ter como meta reduzir a possibilidade de mais violência. Se você puder 
fazer isso com segurança, sem expor-se ou aos outros a perigo, comece por 
afastar os pedestres da área. Se eles puderem ser evacuados ao longo das 
rotas, fora das vistas do sujeito, tente fazer isso, não verbalmente, mas com 
sinais de mão. Se pessoas inocentes estiverem encurraladas/presas em 
locais que requeiram que elas cruzem um campo de fogo, demore essa 
evacuação até que recursos adicionais cheguem (DOLAN e FUSELIER, 
1987, p.3). 
 
 
Dolan e Fuselier (1987) listam algumas orientações ao negociador para 
serem seguidas posteriormente à acomodação inicial da crise, sendo as seguintes: 
1. Manter um diário: visa obter informações para repassar à equipe tática, 
visando desenvolver a estratégia geral, não importando que estas sejam 
vagas. 
2. Permitir que o sujeito fale: a tendência pela ansiedade pode ser falar 
demais; um bom negociador deve ser um bom ouvinte, deixar o sujeito 
falar reduz a ansiedade e obtêm-se informações importantes. 
3. Evitar dar ordens que piorem o confronto: os esforços devem ser 
direcionados para diminuir a ansiedade e a tensão. O sujeito não deve 
dominar a situação, mas deve-se adotar uma postura de reciprocidade. 
4. Diminuir a importância de eventos passados: minimizar a seriedade do 
crime. Se o sujeito perguntar sobre a condição dos outros, não informe 
nenhuma morte. 
5. Não oferecer nada ao sujeito: oferecer algo não solicitado, como comida, 
será de pouca utilidade e pode causar dificuldade para o time de 
negociação mais tarde. 
6. Evitar atrair atenção para as vítimas: atrair atenção freqüente para as 
vítimas pode levar o sujeito a acreditar que ele tem mais poder do que ele 
realmente tem. 
7. Ser tão honesto quanto possível: a vasta maioria de situações com reféns 
é resolvida através de diálogo franco, honesto, entre sujeito e negociador. 
Uma das primeiras tarefas para você e o time de negociação é estabelecer 
uma harmonia e ganhar a confiança do sujeito. 
8. Nunca despreze nenhum pedido considerando-o sem importância: se o 
 32 
sujeito fizer um pedido é porque é importante para ele. 
9. Nunca dizer não: entretanto, isto não significa dizer sim. Geralmente, nos 
estágios iniciais de uma situação com reféns, simplesmente dê indicações 
de que entende a exigência do sujeito e que vai passá-la para o time de 
negociação. 
10. Amenizar as exigências: se você tiver que atender uma exigência 
específica acompanhada por uma ameaça, é melhor amenizar a exigência. 
11. Nunca dar um prazo e tentar não aceitar um: nunca diga ao sujeito que 
alguma coisa vai ser feita dentro de um tempo específico. 
12. Não sugerir alternativas: se aquilo que atenderia a um pedido não for 
obtível, não sugira uma alternativa, a não ser que seja vantagem para 
você e que você tenha discutido e tenha obtido a concordância de quem 
estiver no comando no local. 
13. Não introduzir estranhos: permitir que uma pessoa que não é agente da lei 
entre numa situação em progresso com refém é uma decisão que deve ser 
feita somente após cuidadosa consideração de todos os possíveis 
resultados. 
14. Não permitir nenhuma troca de reféns, e especialmente não ofereça-se em 
troca de refém: amigos, família, não devem ser autorizados a falar com o 
sujeito. 
15. Nunca se expor a fim de negociar cara a cara: se o sujeito ameaçar sua 
vida, outros oficiais podem ter que se expor a fim de ajudar você. 
16. Planeje cuidadosamente a rendição: pode ser que o sujeito decida render-
se antes que um perímetro tenha sido organizado e que um plano 
definitivo de rendição tenha sido delineado. 
Com relação à personalidade do seqüestrador do ônibus 174, ressalta-se 
que em uma pessoa em situação de crise ou desequilibrio emocional, um dos 
sintomas mais significantes pode ser a ausência de sentimentos de consciência ou 
culpa em que a pessoa não incorporou à sua vida os princípios da sociedade. Assim, 
pode ser improvável que se importe com os reféns, da mesma forma com que a 
sociedade não se importa com o mesmo, que passaremos a estudar no próximo 
cápitulo. 
 
 
 33 
CAPÍTULO IV 
 
ESTUDO DE CASO: “ÔNIBUS 174” 
 
4.1 Contexto histórico do Caso do “Ônibus 174” 
 
Em 12 de junho de 2000, segunda-feira, Sandro do Nascimento entra no 
ônibus da linha 174, rota Gávea-Central, no Rio de Janeiro, portando um revólver 
calibre 38, visando fazer um assalto. Contudo, às 14:20 hs, uma patrulha da Polícia 
Militar faz a interceptação do ônibus na rua Jardim Botânico, zona sul do Rio de 
Janeiro, após receber um sinal de um passageiro (ROCHA, 2008). 
O cobrador e motorista saíram do veículo e diversos passageiros também 
escaparam pulando pelas janelas e pela porta traseira. Entretanto dez passageiros 
foram tomados como reféns. O marginal agarrou uma senhora de 63 anos e, 
mantendo-a a sua frente, disparou um tiro contra os policiais e jornalistas. As 
negociações só tiveram início com a chegada do Batalhão de Operações Especiais 
(BOPE), que apareceu no local uma hora após, com o total de dezoito homens, 
consistindo em dois atiradores de elite e dezesseis soldados da tropa de assalto 
(CARNEIRO e FRANÇA, 2000). 
Os autores Persson, Filippi e Coelho (2007) mencionam que se tratava de 10 
passageiros logo após a interceptação, os quais se tornaram reféns. Segundo 
Rocha (2008), o pedreiro Carlos Leite Faria, que foi libertado por Sandro, acabou 
sendo preso pela polícia que o qualificou como cúmplice, sendo posteriormente 
liberado pela polícia. 
Sentença prolatada pela magistratura carioca com relação à prisão do 
pedreiro Carlos Leite Faria: 
 
A juíza Helena Belc Klausner, da 5ª Vara de Fazenda Pública, condenou o 
Estado do Rio de Janeiro a pagar 150 salários regionais, cerca de R$ 33 mil, 
por dano moral, ao pedreiro. Em sua sentença, a juíza entendeu que estaria 
comprovada a responsabilidade objetiva do Estado pelos fatos que levaram 
o autor a sofrer o vexame de ser conduzido a uma delegacia e ser apontado 
como bandido acumpliciado de outro que assaltava um coletivo, “naquele 
que se tornou o mais notório crime do Brasil nos últimos anos”. O autor teria 
se identificado e comprovado ser trabalhador honesto, não havendo nos 
autos qualquer indício de que estivesse envolvido no episódio (CALDEIRA, 
2003, p.280). 
 
 34 
 Assim, após a interceptação, não tendo como fugir e com dez reféns, passa 
a negociar suas vidas. Os policiais do Batalhão de Operações Especiais (BOPE) são 
os encarregados de resolver a situação e a televisão exibe o drama para todo o 
Brasil. Sandro solicitaarmas e um motorista para dirigir o ônibus, ameaçando matar 
os reféns a partir das 18 horas, caso não atendido, e utiliza a estudante Janaína 
Lopes Neves, 23 anos, ao longo da tarde como sua porta-voz e escudo, a qual, com 
um batom, escreve no vidro do veículo “Ele vai matar geral” (ROCHA, 2008). 
Assim também os autores Hemmann, Branco e Vicente (2007) relatam que 
um dos momentos mais tensos foi quando Sandro andou de um lado para outro com 
um lenço na cabeça de um dos reféns, contando de um a cem, denotando contagem 
para execução da vítima, mas, ao chegar ao número cem, fez a vítima se abaixar e 
simulou um tiro na cabeça. 
Esta situação se estende por quase cinco horas, com Sandro desafiando os 
policiais com discursos de ordem e ditando mensagens de terror escritas nas 
vidraças, e diz estar possuído pelo demônio simulando matar a estudante. Perto das 
18:50 hs, decide descer do ônibus e revela sinais de cansaço tendo a professora 
Geisa Firmo Gonçalves, 20 anos, como escudo. Porém a atitude precipitada de um 
policial do BOPE põe em risco a vida da refém (ROCHA, 2008). 
Relata também Carneiro e França, conforme citação abaixo: 
 
Puxando Geisa pelos cabelos e com o revólver apontado contra sua cabeça, 
o bandido desceu do ônibus e aproximou-se de três policiais. Ele avisou que 
era a última chance de negociação e que pretendia matar Geisa e depois se 
suicidar. Agachado perto do ônibus, um dos soldados do Bope avançou 
contra o bandido e tentou matá-lo com um tiro. Errou o alvo (CARNEIRO e 
FRANÇA, 2000, p.1). 
 
 
Assim, no momento em que Sandro começa a demonstrar cansaço e menos 
agitação, saindo do ônibus e empregando a Professora Geisa Firmo Gonçalves 
como escudo humano, um policial do BOPE, com uma submetralhadora, dispara 
contra o seqüestrador, o qual cai no chão com a refém. Sandro é levado para a 
viatura e a professora para uma ambulância (Noceti; Sommer; Santos, 2007) e mais 
tarde os dois estarão mortos. 
A primeira versão é a de que Sandro teria sido morto pelos tiros do policial, 
havendo tempo suficiente para disparar fatalmente contra Geisa. No entanto, fica 
provado que Sandro foi morto por asfixia mecânica, quando cinco policiais militares 
 35 
tentavam imobilizá-lo no camburão e que os tiros disparados pelo policial tinham 
acertaram a professora (ROCHA, 2008). 
Abaixo o relato de Caldeira, com relação a Sandro: 
 
Sandro do Nascimento, conforme foi identificado pela polícia, entrou vivo no 
camburão com cinco policiais. Morreu asfixiado com a ajuda de um objeto 
(asfixia mecânica) no trajeto até o hospital na segunda-feira, 12 de junho, de 
acordo com laudo do Instituto Médico Legal (CALDEIRA, 2003, p.273). 
De acordo com o laudo do Instituto Médico Legal, Geisa foi alvejada quatro 
vezes. A primeira vez, pela arma do soldado. O que deveria ter sido o tiro 
letal no marginal feriu de raspão o queixo da moça. A reação do bandido foi 
se abaixar, usando a jovem como escudo. Ao mesmo tempo, disparava à 
queima-roupa atingindo seu tronco e o meio das costas. A menina, 
moradora da favela da Rocinha, saíra cedo de casa com uma amiga. 
Professora de um projeto de educação de crianças carentes na Rocinha 
complementava a renda do marido, o cavalariço Alexandre Magno de 
Oliveira, com a venda de artesanato para uma loja de shopping. Geisa tinha 
planos de firmar-se como artista plástica e mal iniciara a carreira. Estava no 
174 a caminho do banco, para descontar um cheque de 130 reais 
(CARNEIRO e FRANÇA, 2000, p.1). 
 
Ressalta-se que o policial que atirou no seqüestrador foi para a frente do 
ônibus, pois o comandante determinou que aguardasse ordens. O policial tentou 
espiar pela janela, se comunicando por gestos, por não haver rádios para 
comunicação e posteriormente toma uma iniciativa atirando (ELIAS et al., 2007). 
 
[...] as imagens mostram [...] a precariedade instrumental dos policiais. Eles 
não tinham rádios para se comunicarem entre si. [...] Quando o policial que 
atirou no assaltante foi para a frente do ônibus, o comandante falou com ele. 
Mandou o cabo aguardar ordens. O policial tentou espiar pela janela. Sem 
rádio para receber a ordem, se comunicava com os colegas por mímica 
(ROCHA, 2008, p.68). 
 
 
O caso fez com que o então Governador do Rio de Janeiro, Anthony 
Garotinho, pedisse a exoneração do comandante da Polícia Militar, o Coronel Sérgio 
da Cruz e várias operações são implementadas pela polícia, como blitz em ônibus e 
ruas, acirrando confrontos com traficantes e é divulgada uma lista com nomes de 
policiais corruptos (ROCHA, 2008). 
Coincidência ou não, o Governo Federal elabora o Plano Nacional de 
Segurança Pública uma semana após o episódio do “ônibus 174”, e a sociedade se 
mobiliza em duas passeatas, realizadas por associações de moradores e ONGs 
(ROCHA, 2008). 
 
 36 
O autor Gorita cita a reação do governo carioca após o fato: 
 
O erro de um policial num seqüestro de ônibus é respondido por uma 
intensificação das atividades policiais em áreas consideradas ‘perigosas’ da 
cidade, onde as drogas associadas às armas pesadas comporiam uma 
fórmula ‘perigosa’. O caso de Sandro ajudou a definir uma estratégia de 
combate ao crime, pois sua figura representava todas as imagens das 
minorias urbanas marginalizadas: menor de rua, usuário de drogas, morador 
de favela e armado com armas pesadas (GORITA, 2003, p.97) 
 
 
Sandro do Nascimento é enterrado como indigente mais de um mês depois 
de sua morte (ROCHA, 2008). 
 
Dona Elza reconheceu o seqüestrador como seu filho. Não havia 
documento para comprovar que Dona Elza era a mãe de Alex. Por isso, o 
enterro foi sendo adiado pelos funcionários do Instituto Médico Legal. Afinal, 
ela fez exame de DNA como a prova definitiva da maternidade. Não foi 
comprovado o vínculo. Nenhum outro parente reclamou o corpo do rapaz de 
identidade controvertida durante os 32 dias em que ficou numa geladeira do 
IML (CALDEIRA, 2003, p.237). 
 
 
Três dias depois os cinco policiais que asfixiaram Sandro foram prestar 
depoimento na 15ª DP para a titular, delegada Martha Rocha. Chegaram numa 
viatura do BOPE e estavam fardados, sendo eles o capitão Ricardo de Souza 
Soares e os soldados Luiz Antônio de Lima e Silva, Márcio de Araújo David, Paulo 
Roberto Monteiro e Flávio do Val Dias, não dando declarações à imprensa, e tendo 
presente seus advogados (CALDEIRA, 2003) sendo posteriormente absolvidos por 
júri popular (ROCHA, 2008). 
Destaca-se que o Ministério Público acusou os policiais militares de 
homicídio doloso duplamente qualificado, que resultaria em 15 anos de reclusão no 
mínimo. A acusação foi enérgica e fundamentada nos laudos periciais, que 
evidenciavam que a morte ocorrera devido aos efeitos letais de um golpe de jiu-jitsu 
conhecido como mataleão2 pelos integrantes do BOPE (CALDEIRA, 2003). 
Abaixo, é o relato do policial do BOPE: 
 
Em suas declarações no IV Tribunal de Júri, o policial declarou que não tinha 
intenção de asfixiá-lo e sim de tentar acalmá-lo, “pois o assaltante estava 
 
2 O capitão Soares confirmou em depoimento perante os jurados que deu uma ´gravata‘ no pescoço 
de Sandro com o braço esquerdo para imobilizá-lo. Negou ter apertado o pescoço e disse que não 
teve a intenção de matar. Os soldados afirmaram que seguraram braços e pernas de Sandro 
(CALDEIRA, 2003). 
 37 
muito nervoso”. “Eu estava com o braço esquerdo sobre o pescoço dele e 
com o direito empurrando seu queixo, para que ele não me mordesse” 
(CALDEIRA, 2003, p.285). 
 
Por fim, nunca se negou que Sandro fosse o marginal que era. Apenas há 
um outro valor que devemos proteger, que é o de que a vida das pessoas deve ser 
respeitada pelo poder público,defendeu o promotor Afrânio Jardim após o 
julgamento (MARTINS, 2002). 
 
4. 2. Avaliação da Atuação Policial no Caso do Ônibus 174 
 
Dewey (1954) afirma que é fundamental que as condições de possibilidade, 
as limitações de alguns processos e os obstáculos que lhe são impostos sejam 
identificados e postos em discussão. 
Saphiro (2000) afirma que se faz necessário haver uma busca cooperativa 
por soluções certas em circunstâncias de conflito, devendo haver interatividade entre 
as pessoas. 
Assim se faz necessário o exame de argumentos, buscando alcançar uma 
resposta correta entre os que se encontram envolvidos em uma certa discussão 
(BOHMAN, 2000 apud MAIA, 2008). 
A obrigatoriedade da prestação de contas sobre as ações ou a obrigação de 
dar satisfações é fundamental para a democracia moderna, dizendo respeito ao 
requisito para que representantes da sociedade dêem respostas às críticas a eles 
dirigidas, e por falta de competência, aceitem estas críticas (MAIA, 2008). 
O ato de prestar contas objetiva fazer com que os representantes do público 
tenham ações de acordo com as regras legais, e, também sejam sujeitos a oferecer 
explicações das suas ações, aceitando sanções (MULGAN, 2000). 
As cenas do seqüestro do “ônibus 174” desencadeiam vários sistemas de 
prestação de contas entre as autoridades e os agentes da segurança pública, 
havendo ainda uma avaliação das instituições e do desempenho dos agentes 
policiais. Comentando os procedimentos adotados no caso do Ônibus 174, 
aparecem profissionais em ações de segurança, membros de corporações policiais, 
bem como autoridades políticas (MAIA, 2008). 
Desta forma, considerando-se inicialmente a caracterização da ação dos 
policiais como inadequada e imprudente, são chamados a investigar e a avaliar as 
 38 
ações (GUTMANN & THOMPSON, 1996 apud MAIA, 2008) que resultaram no 
fracasso da atuação policial no caso do ônibus 174. 
O cenário inicia com: 
 
 
Um jovem negro, alto, forte, punhal tatuado no braço, entra no ônibus 174 
(Gávea-Central do Brasil3) perto do Hospital da Lagoa, no bairro do Jardim 
Botânico (zona sul do Rio de Janeiro). Vestido de bermuda e camiseta pula 
a roleta. Vê-se, então, o revólver na cintura. Senta perto de uma janela, 
atrás do motorista. Um passageiro antecipa que ocorreria um assalto, salta 
do ônibus e alerta um policial militar (CALDEIRA, 2003, p.268). 
 
Assim, com a interceptação do ônibus na Rua Jardim Botânico por uma 
patrulha da Polícia Militar que atendeu ao sinal de um passageiro (ROCHA, 2008), a 
primeira atitude deveria ter sido o isolamento da área no momento em que houve a 
tomada de reféns. 
Relato da primeira intervenção policial: 
 
 
Nos primeiros poucos minutos de uma situação com reféns não planejada, a 
ansiedade do sujeito pode dominar os processos de pensamento racional. 
Os piores temores do sujeito estão agora se tornando realidade - ele está 
encurralado pela polícia. É mais provável que ele aja por impulso ou em 
conseqüência de desespero. A sua primeira ação deve ser de garantir a sua 
própria segurança aproximando-se da área de crise cautelosamente. Depois 
tente isolar, controlar, avaliar a situação, faça um relatório inicial, e solicite 
recursos adicionais (DOLAN e FUSELIER, 1987, p.2). 
 
 
Segundo Basset (1983, p.46) ao comentar as características essenciais das 
crises, conforme preconiza a doutrina do FBI, afirma que para o êxito da missão: 
 
[...] deve-se proceder a uma análise criteriosa da crise e planejar as 
estratégias a serem empregadas, tendo a atenção para a coleta de um 
maior número de informações possíveis e o levantamento dos problemas no 
local, tais como: interferência da mídia, populares, se há tumulto ou não, etc. 
 
 
Dolan e Fuselier (1987) afirmam que os primeiros 15 a 45 minutos são os 
mais perigosos em uma situação de crise que envolve reféns. Embora não seja 
recomendado que o primeiro oficial a chegar ao local inicie as negociações, pode ser 
apropriado iniciar o contato com o sujeito, visando fazer uma análise da situação 
 
3 O ônibus 174 liga o alto da Gávea (zona sul), onde se localiza a favela da Rocinha, à Central do 
Brasil, estação ferroviária localizada no centro da cidade do Rio, e conduz passageiros para a zona 
norte e subúrbios do Rio. Passa em frente à Pontifícia Universidade Católica do Rio (PUC-RJ), de 
onde saíram duas estudantes que se tornaram reféns. Curiosamente, o nome comercial da 
empresa do ônibus 174 é a Viação Amigos Unidos (CALDEIRA, 2003). 
 39 
para obter informações. 
Bem, no caso em análise: 
 
O trânsito é paralisado na Rua Jardim Botânico, afetando a circulação numa 
das áreas mais ricas e movimentadas da cidade. O isolamento da área é 
inadequado: não havia nas primeiras horas nem uma corda separando a 
platéia do ônibus. Além dos populares que rapidamente se aglomeram no 
local junto com fotógrafos, repórteres e cinegrafistas, o episódio desperta a 
atenção de jornalistas estrangeiros que estavam no Rio reunidos em um 
Congresso internacional4. A segunda-feira que deveria ser celebrada, de 
acordo com o calendário dos comerciantes, como mais um “Dia dos 
Namorados”, começava a ser pautada como um “dia de terror”, que 
mancharia a imagem da cidade (CALDEIRA, 2003, p. 268). 
 
Ressalta-se que o isolamento da área que não foi realizado, como pode ser 
notado na fala do então governador do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho5: 
 
Como é que o isolamento da área não foi feito de forma adequada? Não 
havia necessidade daquele impulso do policial, que acabou provocando a 
morte da vítima. O bandido foi asfixiado! Ou seja, ele não levou tiro nenhum! 
Foi uma total falta de controle na operação. Eu determinei uma série de 
providências. A primeira delas, o afastamento do comandante da polícia 
militar. A polícia não tinha o direito de fazer o que fez (ROCHA, 2008, p.71). 
 
 
Ao analisar a fala do Governador do Rio de Janeiro, nota-se que este afirma 
que “o bandido foi asfixiado”, referindo-se à morte do seqüestrador. Para Maia 
(2008), foi estabelecida uma polêmica em torno da morte de Sandro já detido no 
interior da viatura policial e afirma que na linguagem dos policiais “neutralizar” é o 
mesmo que matar. 
Desta forma, a suspeita de execução do seqüestrador sem um julgamento 
adequado é visualizada como um sinal de mau funcionamento das instituições 
policiais. Contudo o cumprimento de uma certa norma em cada situação é 
dependente de diferentes pontos de vista. As decisões que orientam a ação policial 
no cotidiano nem sempre são pautadas na lei, como a visão legalista da ação policial 
preconiza (MAIA, 2008). 
 
4 Era uma reunião anual de diretores de jornais que pela primeira vez acontecia num país da 
América Latina, o 53º Congresso Mundial de Jornais. Um dia antes da tragédia do ônibus 174, o 
governador do Estado, Anthony Garotinho, havia declarado, ao comparecer à reunião, que a 
imprensa era culpada por fornecer uma idéia exagerada da violência na cidade (CALDEIRA, 2003). 
5 Garotinho obteve seu nome político ao apoderar-se do nome artístico de um outro radialista de 
futebol famoso. Um dos principais trunfos políticos do Governador, então preparando sua 
candidatura para Presidente da República, é sua capacidade de criar fatos ou acontecimentos que 
proporcionem exposição na mídia. Ficou famoso por ter demitido, ainda no início de 2000, o 
Subsecretário de Segurança Pública Luis Eduardo Soares pela televisão (CALDEIRA, 2003). 
 40 
Manifestação de Órgão dos Direitos Humanos: 
 
A Organização de Direitos Humanos Projeto Legal entrou com uma 
interpelação judicial exigindo explicações do Major Ricardo Soares da 
PM,que já foi do BOPE. O policial teria admitido, recentemente, 
participação na morte de Sandro Nascimento, seqüestrador do ônibus 
174, em 2000. O pedido da entidade será analisado pela 26ª Vara 
Criminal do Tribunal de Justiça. A declaração teria sido feita durante 
uma palestra que o Major ministrou para 130 policiais num seminário. 
Ricardo Soares teria afirmado que asfixiou Sandro até ele desfalecer. 
Rindo, ainda teria dito que realmente não tentara ressuscitá-lo. O 
policial poderá responder por apologia ao crime e omissão de socorro. 
O Major chegou a ser acusado de homicídio, mas foi absolvido pelo 
TJ em segunda instância (ROCHA, 2007, p.1). 
 
Assim, os policiais mostram-se preocupados em salientar que agiram em 
conformidade com uma regra legítima, seja a do código de conduta da corporação, 
seja a do Direito, e neutralizar o seqüestrador é uma atitude correta se houver risco 
de morte para as vítimas (MAIA, 2008), mas não quando o seqüestrador já está 
dominado no interior de uma viatura. 
Para Caldeira (2003, p.282): 
 
As polícias são agências paradigmáticas de controle social formal, seja 
devido a sua natureza pública, seja devido a sua função oficial de processar 
infrações por meio do sistema legal. Porém, as polícias operam também 
como agências de controle social informal, aplicando castigos, como 
espancamentos ou execuções sumárias, à margem do sistema penal oficial. 
A crescente desconfiança no sistema de controle social formal talvez 
contribua para o aumento dessas práticas informais punitivas das polícias. 
Pior ainda, o poder de punir das polícias termina sendo aceito por setores 
da população e normalizado como forma substitutiva e até apropriada de 
controle social. 
 
 
Contudo, ao serem chamados a prestar contas, os oficiais públicos, que 
detêm um conhecimento a respeito dos constrangimentos legais, encaixam suas 
políticas e decisões de modo a se manterem dentro dos limites legais que a eles são 
impostos (MULGAN, 2000). 
Segundo Soares (2000), tal questão apresenta a ineficácia na provisão da 
ordem, a qual envolve a concentração de poder na organização policial e o uso 
arbitrário de poder pelos agentes do Estado no combate ao crime. 
Não se deve esquecer que: 
 
O controle da violência na sociedade democrática precisa, por fim, ser 
eficaz sob dois ângulos. Primeiro, na prevenção e repressão dos infratores 
 41 
das normas legais. Segundo, na punição dos que, em nome da 
manutenção da ordem legal praticam abusos e atos ilegais, com a 
convicção de que as normas legais são inúteis para controlar a 
criminalidade (CALDEIRA, 2003, p. 282) (grifo nosso). 
 
 
Uma das configurações da democracia representativa é a cadeia de 
delegações de competências de decisão, em diferentes níveis, por exemplo, do 
executivo aos diferentes setores ministeriais com suas secretarias e dos chefes de 
diferentes departamentos executivos aos servidores públicos (MAIA 2008). 
Vejamos abaixo estes níveis: 
 
No Poder Executivo estão o Presidente da República e os Ministros de 
Estado, que devem fazer o país funcionar; o Governador e os Secretários 
de Estado, responsáveis pela organização de um estado [...] e o Prefeito e 
os Secretários Municipais, que devem trabalhar para um município [...] 
Essas pessoas devem trabalhar pela segurança, saúde, transporte, 
educação e cultura de toda a população (DOLGA, 2006, p.10). 
 
Assim, na busca da responsabilidade pela falha na operação do ônibus 174, 
é apontado que representantes do Executivo exerceram manipulação política, 
impedindo uma eficiente atuação da polícia, onde um Capitão reformado do Exército 
afirmou no Jornal Folha que a PM não teve liberdade de agir porque o Governador 
ficou dando palpite por telefone (MAIA, 2008) visto ser um caso com grande 
denotação na mídia. 
Sobre a repercussão na mídia, Caldeira é preciso ao afirmar que: 
 
A desordem e a criminalidade urbana são percebidas e registradas de 
maneira seletiva e desigual. Acontecimentos tornam-se verdadeiros dramas 
sociais quando há uma convergência de fatores, circunstâncias e discursos 
construídos para tirá-los da sua existência ordinária. O chamado “seqüestro 
do ônibus 174” foi apresentado como um espetáculo dramático pela mídia. 
As autoridades o trataram como um problema de segurança pública. O caso 
tem ainda dimensões importantes para o estudo sócio-jurídico das 
responsabilidades administrativa, cível e penal (CALDEIRA, 2003, p. 26). 
 
Corroborando com a afirmação do Capitão reformado do Exército, uma nota 
oficial da assessoria do Governador do Rio, reproduzida no Jornal Folha, sugere que 
uma rede de contatos foi estabelecida durante o seqüestro entre o Governador 
Garotinho, o Secretário de Segurança Pública e o Comandante do BOPE que atuava 
na cena do seqüestro (MAIA 2008). 
 
 42 
Sobre a atuação dos policiais e as ingerências no teatro de operações: 
 
Os policiais agem com mais cautela quando estão sendo filmados. Sob a 
tutela política do Governador Anthony Garotinho, que passa a interferir de 
longe nas negociações, não se permite que sejam usados os atiradores de 
elite (snipers) contra o assaltante. A ordem é que assaltante e reféns saiam 
vivos do episódio (CALDEIRA, 2003, p.268). 
O modelo de “ordem sob lei” encontra na subordinação da polícia ao 
judiciário e na conformidade compulsória do trabalho policial as regras do 
“due process” as condições que fazem da atividade policial a garantia da 
liberdade humana. A vigência efetiva dessas condições distingue o estado 
democrático do estado autoritário (PAIXÃO e BEATO, 1997, p.235). 
 
 Segundo a Folha, até mesmo o Presidente da República telefonou para o 
Secretário de Segurança do Rio de Janeiro, solicitando que os policiais lançassem 
gás lacrimogênio ou tomassem medidas cabíveis para finalizar rapidamente aquele 
seqüestro (MAIA, 2008) uma vez que sua prolongação e divulgação ao vivo pela 
televisão poderiam causar um desgaste na imagem dos responsáveis pela 
segurança, não só do Estado do Rio de Janeiro, mas de todo o Brasil. 
Como podemos ver abaixo, assim se manifesta o Presidente da República: 
 
Em função da brutalidade das imagens, o presidente Fernando Henrique 
Cardoso pronunciou-se sobre o caso no mesmo dia. Ele anunciou sua 
repulsa, registrou seu protesto contra a atuação da polícia fluminense e 
apontou para o futuro, na direção da única saída para que o cidadão escape 
da barbárie que invade o país: um plano nacional de segurança pública. [...] 
O programa vinha se arrastando havia meses e foi retomado no mesmo dia 
do assalto ao ônibus, numa reunião de emergência convocada por FHC. O 
plano original engloba 124 medidas e não deverá conter nenhuma de efeito 
imediato (CARNEIRO e FRANÇA, 2000, p. 1). 
 
 
Ressalta-se que a publicidade constrange os representantes das instituições 
públicas a prestarem contas, explicarem e justificarem suas ações diante de certas 
situações (MAIA, 2008). 
Segundo Rocha (2008), há o reconhecimento de erro na ação: 
 
A Polícia Militar do Rio de Janeiro reconheceu hoje que foi um desastre o 
desfecho do assalto onde uma refém e o bandido morreram. O soldado 
mirou no assaltante, mas errou o alvo. A arma do seqüestrador disparou. A 
professora de 20 anos levou quatro tiros e morreu [...] (ROCHA, 2008, p.61). 
 
 
 
 
 43 
4.3 Reflexões para uma nova práxis policial 
 
Em situações problemáticas ou de crise, os meios de comunicação em 
massa permitem confrontos diretos entre os representantes do Estado, a sociedade 
e os especialistas. Por meio da ordem jurídica, os indivíduos são expropriados do 
uso da violência visando atingir seus fins e fica o Estado detendo o monopólio do 
uso legítimo da violência, para que possa prover proteção aoscidadãos (MAIA, 
2008), principalmente quando dos autos índices de violência ocorridos no Brasil. 
Carneiro e França citam a sensação de insegurança no Brasil: 
 
Na lista dos problemas brasileiros, a falta de segurança assumiu o primeiro 
lugar. Em vinte das cinqüenta maiores cidades do Brasil, a criminalidade é 
apontada como o principal problema. [...] De acordo com os especialistas, 
esse será o assunto mais debatido nas eleições municipais, estaduais e 
federais. Mata-se no Brasil a um ritmo inacreditável: um assassinato a cada 
treze minutos. Para se ter uma idéia da gravidade, durante as quatro horas 
do seqüestro do ônibus no Rio, dezenove outras pessoas foram mortas no 
país. As grandes metrópoles brasileiras possuem índices de criminalidade 
só inferiores aos de países dominados pelo narcotráfico ou pela guerrilha 
(CARNEIRO e FRANÇA, 2000, p. 1). 
 
 
Assim a polícia militar, considerada uma das instituições de controle social 
por excelência, encarregada de prevenir ou impedir os delitos contra a pessoa, 
contra a propriedade e contra os costumes (MAIA, 2008), não está conseguindo 
desempenhar seu papel com eficiência junto à sociedade. 
No evento do “ônibus 174” traz a questão da capacidade dos órgãos 
públicos em proteger a segurança pública. Existe um reconhecimento que é 
finalidade mínima do Estado em promover condições que permitam a coexistência 
pacífica entre os diversos grupos sociais (MAIA, 2008). 
Após estas considerações a respeito da influência política na tomada de 
decisões no caso do “ônibus 174”, cabe ressaltar a colocação de Cabral (1996), o 
qual afirma que os diversos assuntos e situações serão discutidos com os demais 
gerentes, entretanto, a última palavra será do Comandante do Teatro de Operações. 
Com a simulação da execução da estudante Janaína Lopes Neves, já 
poderia ter ocorrido uma intervenção policial, dentro do que preceitua legitima 
defesa da própria vitima e ou de terceiros: 
 
O limite da negociação, que é o momento em que ocorre a primeira 
execução de um refém, havia sido transposto. Mesmo assim, os “atiradores 
 44 
de elite” não são autorizados pelo Governador Anthony Garotinho a agir. O 
Comandante do BOPE estava paralisado por ordens superiores para tomar 
as iniciativas que, como profissional, deveria tomar (CALDEIRA, 2003, 
p.269). 
 
Exteriormente, na causa, agindo os policiais militares em legitima defesa da 
vítima ou de terceiros, estes problemas foram apontados na operação. Os discursos 
especializados trazem certo constrangimento aos policiais envolvidos e o debate vai 
mostrando cada vez mais que a ação dos policiais foi desastrada desde o início da 
operação (MAIA 2008). 
O primeiro contato realizado: 
 
Ao estabelecer contato6 com o seqüestrador que havia se encoberto com 
uma toalha e um casaco, além de usar óculos escuros e boné, o capitão PM 
André Luiz de Souza Batista (BOPE) lhe atribui um nome: Sérgio. Daí em 
diante, todas as negociações são realizadas com este protagonista 
nomeado por acaso, cuja verdadeira identidade permanece oculta 
(CALDEIRA, 2003, p. 268). 
 
O Presidente do Sindicato dos Delegados afirmou que o processo de 
negociação foi completamente equivocado, com erros de avaliação, com uso 
inadequado de equipamentos e confusão nas operações táticas (MAIA 2008). 
Caldeira (2003) informa provável identificação do assaltante: 
 
Durante todo o episódio, porém, outra identidade do assaltante é sugerida 
por suas falas confusas: “sobrevivente da Candelária”. Essa informação, 
que apontava para um caso de extermínio de “meninos de rua” em 1993, 
não foi, porém, confirmada durante o desenrolar do episódio. É 
desperdiçada essa pista. Ela seria útil para lidar com o perfil psicológico 
instável do rapaz ou localizar pessoas que tivessem com ele vínculos 
emocionais e pessoais (CALDEIRA, 2003, p.284). 
 
Mas como poderia se dar o processo de avaliação? Esta pergunta remete a 
outra pergunta: o crime de Sandro visava reconhecimento social? 
Moraes (2005) diz que sim, onde afirma que essa ânsia por reconhecimento 
social parece fundamental para entender esse caso, pois Sandro não parecia buscar 
dinheiro para ascensão social. Neste caso melhor seria roubar um banco. Por outro 
lado um seqüestro clássico visa ricos e não a classe trabalhadora em um ônibus. 
 
 
6 O primeiro policial a estabelecer contato foi o coronel Luís Soares de Souza, do 23º BPM 
(CALDEIRA, 2003). 
 45 
Podemos relembrar o caso da Candelária, em que: 
 
Mancha se apresentava como “um sobrevivente da Candelária”. O que pode 
significar se identificar pessoalmente como tal? Levantamento realizado 
(MAGNO, 2000) depois do “seqüestro do ônibus 174” concluiu o seguinte: 
no dia 23 de julho de 1993, quando policiais mataram oito adolescentes na 
Candelária, havia setenta e nove meninos que dormiam por lá. Até 
dezembro de 2000, obtiveram-se informações de setenta e um jovens. 
Desses, vinte e seis foram mortos por AIDS, tiros ou agressões. No 
abandono, na miséria e no vício estavam mais vinte e nove. Na prisão, por 
roubo ou tráfico, foram encontrados mais oito. Um estava sumido; sobre 
sete faltaram informações (CALDEIRA, 2003, p.283). 
 
Assim, a realização desta avaliação seria importante para o processo de 
negociação. Segundo Dolan e Fuselier (1987, p.9) artigos sobre os tipos de pessoas 
que fazem reféns geralmente relacionam quatro tipos principais de fazedores de 
reféns, sendo: 
1. Pessoas mentalmente perturbadas; 
2. Criminosos encurralados/presos durante a execução do crime; 
3. Prisioneiros quando estão se rebelando; 
4. Terroristas políticos tentando produzir mudança social através da ameaça 
ou uso de violência. 
 
Em qual destes perfis se encaixa Sandro Rosa do Nascimento? Segundo 
Rocha (2008), com um revólver calibre 38, ele visava realizar um assalto, mas a 
interceptação do ônibus acabou por transformar seu crime em um seqüestro. 
Dolan e Fuselier (1987, p.12) afirmam que: 
 
Criminosos apanhados no ato de cometer um crime frequentemente fazem 
reféns. Um primeiro passo importante é determinar se esta é uma pessoa 
mentalmente perturbada. Depois de afastar a hipótese de perturbação 
mental, você pode ter bastante certeza de que estará lidando com uma 
pessoa que teve contatos freqüentes com a lei, sabe o que esperar da 
polícia, e sabe o que ele pode precisar para sair desta situação vivo. O 
processo de negociação neste caso deve ser baseado na realidade dos 
fatos, ajudando-o reconhecer os fatos da situação e convencendo-o a 
aceitar sua segurança física em troca da libertação dos reféns. 
 
Segundo Rocha (2008) Sandro nasceu em uma região próxima a Niterói e, 
logo aos seis anos de idade, viu a mãe ser assassinada a facadas em uma birosca 
que ela mantinha na favela do Rato Molhado. Uma tia ficou responsável por ele, pois 
não se sabia quem era o pai de Sandro. 
Algumas lembranças da infância de Sandro: 
 
 46 
Sandro tinha sete anos quando fugiu de São Gonçalo 7 . Clarice foi 
assassinada na sua frente quando ele tinha seis anos. Esfaqueada nas 
costas, perambulou ensangüentada pela birosca que mantinha, até morrer 
na rua. Só então o menino foi avisar à “tia Ju” o que acontecera. Não há 
notícias que alguém tenha sido preso pela morte de Clarice (CALDEIRA, 
2003, p.273). 
 
Durante a infância e a adolescência, envolveu-se em assaltos e consumo de 
drogas, principalmente cocaína. Passou por internatos de menores infratores, foi 
preso em delegacias, onde conheceu a realidade subumana das celas superlotadas, 
e foi testemunha ocular e sobrevivente do massacre na Praça da Candelária 
(ROCHA, 2008). 
Segundo Caldeira (2003), em 1996, Sandro estava sobcustódia do Estado 
no Instituto Padre Severino e, aos 16 anos, era sua quarta entrada nesta instituição. 
Ele roubava carros em paradas e fazia assaltos a pedestres para sobreviver nas 
ruas e adquirir drogas. Usava cocaína, fumava maconha e cheirava cola. Ficava em 
lugares da zona sul, inclusive o Jardim Botânico. 
Mais algumas lembranças da infância e adolescência de Sandro: 
 
O bandido Sandro marchava para o ocaso de uma vida de desgraças a 
bordo do ônibus da linha 174. Criado com a idéia de que sua mãe fora 
assassinada, viveu desde os 7 anos nas ruas do Rio. Escapou da morte no 
episódio que ficou conhecido como chacina da Candelária, em 1993, 
quando oito meninos de rua foram mortos a tiros por policiais militares, que 
vingavam o roubo de um relógio. Estava condenado a cinco anos e meio de 
prisão por dois crimes. Um furto e um assalto à mão armada a um táxi. Na 
prisão, de onde fugiu com outros detentos, foi considerado inexpressivo. 
"Mancha", apelido que ganhou na Candelária, nem sequer tinha documento 
de identidade (CARNEIRO e FRANÇA, 2000, p.1). 
 
Sandro, 21 anos, havia sido condenado em dois processos: um por furto 
qualificado e outro por tentativa de assalto. Estava foragido desde 1º de 
janeiro de 1999 da carceragem da 26ª DP (Todos os Santos). Segundo o 
carcereiro, ele tinha “bom comportamento” na delegacia. Nenhum parente 
ou amigo o visitou durante o período em que esteve preso. Fugiu, sem 
entusiasmo, “na manada”, como relatou o policial (CALDEIRA, 2003, p.273). 
 
 
Contudo Moraes (2005) afirma que talvez não fosse pelo dinheiro e nem pelo 
seqüestro, mas para ser visto, transformando o ônibus num palco e encenando com 
a intenção de acordar a sociedade adormecida por meio da divulgação que aquele 
evento estava disponibilizando. 
 
7 Mancha dizia para os outros meninos de rua que não tinha família. É uma explicação comum dada 
entre eles para sua situação. De fato, faltam os vínculos efetivos com familiares, apesar de 
existirem, às vezes, parentes. No caso de Mancha, havia a irmã de Clarice. Era a “tia Ju” (Julieta 
Rosa do Nascimento), que morava em Bela Vista, no município São Gonçalo (CALDEIRA, 2003). 
 47 
Citação de que Sandro poderia estar buscando autopromoção: 
 
À luz da tese de Luís Eduardo Soares, que acaba se convertendo num pilar 
ideológico do documentário, Sandro nada mais é que um ser invisível 
tentando alcançar um lugar passível de ser olhado. Munido de um revólver, 
ele procura anunciar que á alguém. [...] Sandro busca a visibilidade como 
quem busca o ar, como quem busca a vida (ROCHA, 2008, p.51). 
 
 
Segundo a Revista Veja, cerca de 35 milhões de brasileiros acompanharam 
ao vivo o drama dos dez passageiros de ônibus feitos reféns por um criminoso no 
Rio de Janeiro. As cenas foram levadas ao ar pelas principais redes de televisão do 
país e pela CNN, que distribui as imagens em todo o mundo (CARNEIRO; FRANÇA, 
2000). 
 Corroborando esta avaliação, pode-se afirmar que Sandro do Nascimento, 
cercado por policiais, fotógrafos, curiosos e linchadores potenciais sabia que não 
poderia fugir e não teria matado ninguém; pois matar seu escudo humano significaria 
ser atingido pelos policiais; se o policial não tivesse atirado (MORAES, 2005). 
Relata Caldeira (2003), a respeito da morte de Geisa: 
 
[...] o ataque que precipitou a morte da refém Geisa. Esse descontrole fatal 
está para sempre registrado na memória social. Se a tarefa dos 
negociadores era estabelecer um vínculo de confiança para resolver 
pacificamente a crise, o ocorrido é uma mancha na credibilidade da polícia 
militar. Principalmente devido à cena final protagonizada pelos 
“estranguladores de elite” no camburão, episódio que exemplifica o poder 
de punir da polícia (CALDEIRA, 2003, p.281). 
 
Aliás, segundo relato de Luanna Belmont, refém no episódio, o que 
precipitou a captura de reféns foi o cerco da polícia. Luanna acredita que 
Nascimento não ia assaltar o 174 e o seqüestro se deu porque a polícia cercou o 
ônibus (PENNAFORT, 2002). 
Contudo segundo Caldeira (2003, p.276): 
 
[...] é bom lembrar que, não tendo sido atingido, Sandro caiu, agarrou-se em 
Geisa e desnecessária e dolosamente efetuou pelo menos dois disparos, os 
quais atingiram e mataram a refém. Assim, afirmar que Sandro já não 
agredia e nem ameaçava ninguém é equivocado e dizer que estava 
disposto a se entregar não passa de uma especulação, de uma suposição 
ou conjectura que não encontra qualquer respaldo [...]. 
 
Nota-se assim que a avaliação realmente tratava-se de um processo 
 48 
complexo e de difícil interpretação. Com relação ao uso inadequado de 
equipamentos, ressalta-se que em certos momentos houve oportunidades para a 
utilização de um tiro de sniper. 
Caldeira (2003) informa situações favoráveis de atuação da equipe tática: 
 
Várias oportunidades para a atuação de “atiradores de elite” surgem. Há 
momentos em que Sérgio retira o revólver da cabeça da refém e se expõe 
de frente na janela aberta. Projeta o braço para fora do ônibus com a arma 
na mão, ocasião em que a audiência antecipa que bastaria um tiro certeiro 
no braço para encerrar o impasse. A polícia militar permanece inerte 
(CALDIERA, 2003, p.270). 
 
Houve também um momento em que Sandro estava com a cabeça fora da 
janela do ônibus, um tiro de sniper seria a solução ideal. Contudo, ao vivo, para todo 
o Brasil, iria resultar talvez em meio quilo de massa encefálica sendo projetada nos 
vidros do ônibus (PENKALA, 2008) e é possível que ordens superiores tenham 
impedido o comandante da operação de realizar esta estratégia por seu impacto 
junto aos telespectadores. 
Abaixo, trechos da transmissão do objeto do estudo: 
 
Nos meios de comunicação de massa, [...] os cidadãos “discrimináveis” são 
geralmente apresentados [...] como vilões ou cidadãos de segunda classe 
[...]. A abstração violenta [...] da montagem industrial dos meios de 
comunicação contribui para o reforço de papéis e estereótipos presentes na 
memória coletiva da sociedade tradicional (SODRÉ, 1992, p. 114). 
 
Desta forma, a morte de Sandro, mesmo que de forma impactante junto ao 
público, seria mais aceitável do que a morte da vítima, que não tinha nada a ver com 
aquela situação, onde a sociedade aceita a morte do bandido, mas não da vítima. 
Ressalta-se que após a morte de Sandro do Nascimento foi realizada uma 
pesquisa, onde: 
 
Quarenta e um por cento (41%) dos paulistanos, consultados pela Data 
Folha, aprovaram a morte do seqüestrador por asfixia pelos policiais, sob a 
alegação de legítima defesa (cf. Folha de São Paulo, São Paulo, 18 jun. 
2000, p.A6). Pesquisa realizada pelo Jornal do Brasil, via Internet, revelou 
que 50% dos participantes achavam que o “bandido” deveria morrer 
(CALDEIRA, 2003, p.285). 
 
 
Contudo Lemos (2001, p.89) diz que: 
 
 49 
Sandro continua a ser tratado como “o bandido”. Mas algumas revelações 
confundem o quadro assustador e tornam mais complexa sua apresentação 
e percepção. Descobre-se que os tiros da polícia acertaram a refém, e não 
o bandido. Descobre-se ainda que a polícia executou por asfixia o 
seqüestrador, preso no camburão. Mais: o seqüestrador do ônibus 174 era 
um dos sobreviventes do massacre de garotos na Praça da Candelária. 
 
 
Assim também, Caldeira (2003) se manifesta a respeito do assunto: 
 
 
Em 1993, ficava na área próxima à Igreja da Candelária. Cerca de cinqüenta 
meninos e meninas de rua freqüentavam o lugar. Yvonne Bezerra de Mello, 
artista plástica e educadora, conheceu Sandro, 13 anos, nessa época. Com 
o extermínio de oito adolescentes no dia 23 de julho de 1993, o grupo, que 
vinha principalmente da favela do Rato Molhado, dispersou-se. Daí em 
diante,Sandro se apresentava como um “sobrevivente da Candelária”. Dizia 
que escapou da morte por pouco. Correu ao ver policiais militares atirando 
contra o grupo de garotos (CALDEIRA, 2003, p.273). 
 
Até mesmo a utilização da arma pelo policial que atingiu a refém foi 
considerada um erro, pois a mesma estava um pouco baixada e não havia noção 
precisa da direção do projétil (MAIA, 2008). 
Caldeira (2003, p.269) também fala sobre a falta de equipamentos 
adequados e até sobre a interferência de pessoas que assistiam ao episódio, 
afirmando que: 
 
Nenhum policial porta colete ou qualquer roupa de proteção especial. A 
comunicação entre os policiais é feita por gestos e sinais de mãos ou por 
meio de mensageiros. Não existem celulares ou rádios para facilitar a 
coordenação das ações dos policiais militares. A multidão interfere com 
várias propostas, desde executar o assaltante até trazer um copo com água 
para as vítimas. 
 
 
O então Ministro da Defesa enfatiza que o desfecho do episódio deixou claro 
o despreparo dos policiais envolvidos no caso do “ônibus 174” (MAIA, 2008). 
Corroborando com a afirmação acima, Souza (2000, p.49) fala que: 
 
[...] podemos constatar que os órgãos de Segurança Pública não estão 
preparados para enfrentar estas crises. [...] Esta situação compromete 
verdadeiramente as instituições policiais do Estado, criando um grande 
impacto, posto que há falta de potencialidade principalmente para negociar 
uma crise. Se as polícias sofrem impactos com a instalação dessas crises, 
imaginemos a sociedade que assiste à distância toda esta demonstração de 
insegurança com cenas de crueldade, imposição de bandidos, reféns 
ameaçados e correndo risco de vida várias horas. 
 
 
O Ministro da Justiça também interpreta o episódio como uma demonstração 
 50 
de quanto o Brasil está despreparado, pela ausência de técnica e competência, para 
enfrentar uma situação de crise (MAIA, 2008). 
O Comandante do BOPE faz uma declaração afirmando que a negociação 
em casos como o do “ônibus 174” exige a ação de forças especiais e não do efetivo 
que cuida do policiamento rotineiramente (MAIA, 2008). 
Esta afirmativa é corroborada pelos autores Carneiro e França (2000): 
 
Batalhão de Operações Especiais é a unidade de elite da polícia fluminense, 
considerada a mais bem treinada do país. Dá cursos a policiais de quinze 
Estados e até do exterior. A operação teve erros flagrantes apontados por 
cinco especialistas [...]. A começar pela escolha do negociador. Ao contrário 
do que recomendam as regras, ele era o comandante da operação. Essa 
conduta colocou em risco a própria negociação. Se o bandido percebe que 
o mediador é quem tem o poder de decisão final, qualquer negativa pode 
criar animosidade e levar a um desfecho desfavorável [...] (CARNEIRO e 
FRANÇA, 2000, p.1). 
 
Monteiro (1990) afirma que para certas ocasiões se faz necessário a 
utilização de pessoal com treinamento especial porque: a) as características da crise 
causam stress; b) o stress reduz a capacidade de desempenho em tarefas que 
demandam solução de problemas; c) o gerenciamento de crises é uma complexa 
tarefa de solução de problemas; d) uma crise mal gerenciada, será reflexo da 
incompetência profissional. 
Segundo Caldeira (2003) não ficou esclarecido por que a Divisão Anti-
Seqüestros (DAS) não estava presente. Na formação de um oficial da polícia militar 
do Estado do Rio de Janeiro, são preconizadas 30 horas para se aprender as 
técnicas de negociação de conflitos, sendo apenas 0,61% das horas obrigatórias do 
curso. Os erros constatados foram óbvios demais para supostos profissionais da 
elite da PM. 
Contudo estavam presentes, além dos policiais militares do Batalhão de 
Operações Especiais da Polícia Militar (BOPE) que mantiveram o controle da 
operação, também policiais militares do 23º Batalhão Militar (BPM) do Leblon, 
Grupamento Tático-Móvel (Getam) e 2º BPM (Botafogo), policiais civis e guardas 
municipais (CALDEIRA, 2003). 
Chiavenatto (1991) afirma que a intensidade de treinamento trará melhor 
desempenho ao policial nas suas atividades e consequentemente será menor a 
possibilidade de erros. 
 
 51 
O cansaço era evidente no efetivo policial, conforme relato abaixo: 
 
O policial Santos estava agachado há mais de três horas. Ao partir para a 
aproximação ao bandido, ele teria cambaleado. Não portava a arma mais 
adequada, segundo especialistas, porque sua submetralhadora não teria 
impacto suficiente para paralisar o agressor e encerrar seus movimentos. 
Santos é considerado um soldado experiente e corajoso. Para integrar o 
batalhão, ultrapassou outros 200 candidatos numa prova, cursou três meses 
de academia e praticou cerca de 1200 tiros. O policial é descrito por seu 
superior como um destaque na corporação. (CARNEIRO e FRANÇA, 2000, 
p.1). 
 
Por fim, cabe aqui o comentário de Morais (1981) ao tentar explicar a atitude 
violenta das pessoas excluídas pela sociedade, onde afirma que estas, por máxima 
desproteção, são forçadas à violência como última alternativa. Quando são 
localizadas, presas e punidas. Assim, sempre irão introjetar a violência dos seus 
algozes, das pessoas que as espancam e humilham, ficando cada vez mais 
convictas de que a brandura jamais as protegerá. 
Estes seres humanos, muitas vezes marcados para sempre, usarão seus 
dias de liberdade para uma dupla prática: a de atacar para se defender e, muito pior, 
a de atacar para vingarem-se. 
Citamos ainda que os reféns de Sandro do Nascimento dele obtiveram 
pouca informação, mas o que ele disse enquanto estava no ônibus: “não tenho nada 
a perder mesmo, minha mãe morreu de facada, meu pai de tiro e minha irmã de sete 
anos foi degolada hoje. Eu sei que vou morrer também” (BELMONT, 2000, p.17), 
leva a refletir se realmente não se tratava de uma forma de chamar atenção da 
sociedade ao processo de exclusão a que foi submetido desde a sua infância. 
Por fim, pode-se afirmar que o crime foi uma mancha na imagem do Rio de 
Janeiro e do Brasil. Casos como o “seqüestro do ônibus 174”, não se repetirão, 
prometem políticos e empresários, que preparam a cidade para a realização dos 
Jogos Pan-Americanos de 2007. Certo! Pelo menos, por um detalhe. A linha de 
“ônibus 174” mudou de nome. Agora ela se chama linha 158 (CALDEIRAS, 2003). 
 52 
CONCLUSÃO 
 
Ao finalizar o presente estudo, pode-se concluir que para a urbanização não 
foi dada a importância que merecia no princípio do século XX, em que as 
preocupações estavam centradas mais na saúde e embelezamento da cidade. 
Por conseguinte, as pessoas que lá habitavam foram, de certa forma, 
esquecidas e a favela se tornou o problema que é hoje, e vêm, desde muito tempo, 
sofrendo abandono e discriminação por parte da sociedade. Este abandono, é claro, 
teria que repercutir negativamente na sociedade como um todo. 
Assim, o Estado não cumpre seu papel de prover os meios necessários para 
que a população possa atender suas necessidades humanas, e, por conseqüência, 
manter a ordem social, através de seus órgãos criados com poder de polícia. Tais 
órgãos necessitam investir mais no preparo de seus integrantes e estes devem se 
afastar da prepotência e do abuso de poder, pois a lei deve ser observada por todos, 
em respeito ao Estado democrático de Direito. 
A criminalidade tem aumentado muito. Em contrapartida, o Estado não tem 
se esforçado o suficiente para dar uma resposta eficaz a essas questões. Falta 
vontade política e um melhor entrosamento entre os órgãos policiais. Tais fatores 
acabam por resultar em fracassos, como este envolvendo a crise do “ônibus 174”, 
onde se notam claramente os erros de negociação por parte das forças policiais. 
O negociador devenegociar sempre. É preferível negociar uma fuga e 
posteriormente prender o seqüestrador, evitando perder vidas. Tal fato não ocorreu 
no dia 12 de junho de 2000, quando Sandro do Nascimento seqüestrou o ônibus da 
linha 174, no Rio de Janeiro. 
Este drama, exibido para todo o Brasil e o mundo pela televisão, mostra que 
o Batalhão de Operações Especiais (BOPE), assim como grande parte das forças 
policiais do Brasil, não estão preparadas para enfrentar tal situação. 
 Na formação de um oficial da Polícia Militar do Rio de Janeiro, 30 horas 
apenas são dedicadas para aprender as técnicas de negociação de conflitos, 
perfazendo apenas 0,61% das horas obrigatórias do curso. 
A análise dos fatos ficou circunscrita à esfera criminal e jornalística, contudo, 
verificou-se que ocorreram dificuldades na atuação, pois carecia de meios materiais 
para um isolamento eficiente, falta de unidade de comando e de negociador, equipe 
 53 
tática qualificada, ingerência política para a resolução técnica da situação, além da 
falta de uma exigência tácita do agente principal. 
Entre os principais erros, pode-se citar, entre outros: a não realização do 
isolamento da área no momento em que houve a tomada de reféns; o uso 
inadequado de equipamentos; a iniciativa do policial que atingiu a refém; a não 
avaliação correta do seqüestrador e a interferência política na resolução do caso. 
Este último refere-se à interferência do então Governador do Rio de Janeiro e até 
mesmo a do Presidente da República, que telefonou para o Secretário de Segurança 
do Rio de Janeiro, solicitando uma atitude para o não prolongamento daquela cena. 
Tais personagens talvez estivessem pensando em suas imagens e talvez na 
repercussão de uma atitude mais violenta com relação ao seqüestrador, mas sabe-
se que as situações serão discutidas com os demais gerentes, entretanto, a última 
palavra será a do Comandante do Teatro de Operações, o qual não tomou as 
atitudes que deveria tomar. 
Por quase cinco horas, o Brasil assistiu uma encenação de terror e medo 
que poderia ter sido evitada e ainda presenciou a morte de uma inocente e a 
execução de seu algoz por policiais. Execução comprovada por laudos periciais. Não 
se há de negar que Sandro era um bandido, mas a vida das pessoas deve ser 
respeitada pelo poder público. 
Então a sociedade se mobiliza pela paz e o Estado se prontifica, afirmando 
pôr em prática um Plano Nacional de Segurança Pública. E uma questão ainda 
permanece: a motivação para o crime de Sandro buscava dinheiro ou 
reconhecimento social e vingança? 
O que se pode esperar de alguém que tem sua mãe morta a facadas, seu 
pai por tiros e sua irmã de sete anos degolada? Alguém que passa a infância e a 
adolescência envolvendo-se em crimes e utilizando drogas? Alguém que passa por 
internatos e conhece a realidade das prisões brasileiras e ainda sobrevive a uma 
chacina imposta por policiais? E onde está o papel da sociedade e do Estado? 
Os principais resultados obtidos com esta pesquisa quanto da análise da 
ação policial que ficou comprovado que a operação desenvolvida no caso foi um 
desastre, culminando com a morte da vítima e do seqüestrador, deixando 
transparecer que os Policiais Militares que participaram da operação não estavam 
preparados para conduzi-la e se ali estavam aqueles com melhor preparo de que 
dispunha a Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro. 
 54 
No aspecto da importância do Gerenciamento de Crise, somos da opinião de 
que não foram seguidos os princípios básicos para a montagem do Teatro de 
Operações (inexistência do Posto de Comando, Isolamento de Área, Equipe Tática, 
etc.), além de que a parte psicológica dos policiais militares teria influenciado 
sobremaneira no desfecho final da operação. 
No caso em estudo, a contribuição é de que devido a complexidade da 
ocorrência, a observância de detalhes e o uso da técnica tornam-se primordiais para 
se alcançar resultados satisfatórios de resolução. Observamos nas diversas ações 
policiais de repercussão negativa na mídia nacional falhas técnicas e de 
gerenciamento que induzem a verdadeiros desastres para a imagem das 
corporações policiais, principalmente levados por ingerência externa, seja de ordem 
política ou de grau hierárquico de comando. 
Incumbidas constitucionalmente da Preservação da Ordem Pública, as 
atividades diárias das polícias militares já se revestem de alto grau de complexidade, 
exigindo de seus integrantes um conhecimento técnico cada vez mais apurado na 
resolução das dificuldades encontradas. 
O “Ônibus 174” representa um destes capítulos que, por falta de 
aprimoramento técnico, por ingerência política, falta de comandamento e uma 
infinidade de outras falhas, conduziram para um resultado indesejável e que merece 
ser utilizado apenas como um exemplo negativo de gerenciamento de crises nas 
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