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Química Analítica II Aula 5 Profa. Dra. Katiúcia Mesquita Os métodos gravimétricos de análise baseiam-se em medidas de massa feitas com uma balança analítica, um instrumento que fornece dados altamente exatos e precisos. ...De fato, se você realizar uma determinação gravimétrica de cloreto no laboratório, poderá estar fazendo uma das medidas mais exatas e precisas de sua vida... Skoog et al. Fundamentos de Química Analítica, 8ª Edição. Métodos Gravimétricos 2 A massa de um determinado produto é usada para calcular a quantidade do analito (espécie que está sendo analisada) presente na amostra. O analito é convertido numa substância insolúvel (precipitado), no qual é isolado e pesado. Análise gravimétrica 3 Vantagens da análise gravimétrica: As operações unitárias utilizadas no procedimento gravimétrico são de fácil execução e de boa reprodutibilidade; Usam-se equipamentos simples e de baixo custo, como béquer, funil, balança analítica, cadinhos, etc; Aplicação na determinação de macroconstituintes de uma amostra (na faixa de porcentagem). Desvantagens da análise gravimétrica: Tempo necessário para execução; Erros acumulativos; Determinação do microconstituintes. 4 Tipos de Análise Gravimétrica O composto ou íon sob análise pode ser separado do restante da amostra que está sendo analisada por diversos métodos: Desprendimento ou volatilização; Precipitação; Eletrodeposição; Extração. 5 Métodos de volatilização (ou desprendimento) - Consiste na remoção de constituintes voláteis. No método indireto, determina-se o peso do resíduo que permanece após a volatilização de um ou mais componentes, calculando-se a partir da perda de peso, a proporção do constituinte. Ex. A determinação da água em sólidos pode ser feita por aquecimento da substância à temperatura adequada seguido da pesagem do resíduo. 6 Tipos de água em sólidos Não essencial - Água de adsorção: água retida sobre a superfície dos sólidos quando estão em contato com um ambiente úmido. Determinada aquecimento de 105 a 110°C. - Água de absorção: ocorrem em substâncias coloidais. Quantidade de água absorvida é grande (20% ou mais do peso total do sólido). Fica retida nos interstícios capilares (fase condensada). - Água de oclusão: apresenta-se retida nas cavidades microscópicas distribuídas irregularmente nos sólidos cristalinos. 7 Essencial é o tipo de água existente como parte integral da composição molecular ou estrutura cristalina de um sólido. - Água de constituição: neste caso, a água não está presente como água no sólido, mas se forma quando este se decompõe pela ação do calor. Exemplo: Ca(OH)2 → Ca + H2O (800°C). - Água de hidratação: ocorrem em sólidos, formando hidratos cristalinos (compostos que contém água de cristalização). Cristais hidratados: CuSO4. 5H2O 8 100 )( )( % 2 gstramassadeamo gidadeáguaperdquantidade OH 9 Métodos de Precipitação - O constituinte analisado é separado de uma solução sob a forma de um composto insolúvel (precipitado), o qual se pode lavar, secar ou calcinar e pesar. Ex.: determinação de sulfatos (SO4 2-) na forma de sulfato de bário (BaSO4). 10 GRAVIMETRIA POR PRECIPITAÇÃO Etapas em uma análise gravimétrica 1. Preparo da solução (preparo da amostra) 2. Precipitação 3. Digestão 4. Filtração 5. Lavagem 6. Secagem ou calcinação 7. Pesagem 8. Cálculos 11 Agente precipitante Precipitação amostra Filtração Secagem / Calcinação Pesagem Etapas em uma análise gravimétrica Digestão Lavagem Cálculos 12 13 1ª Etapa - Preparo das soluções - Para se iniciar uma análise gravimétrica, é necessário que o elemento desejado esteja em solução. - O preparo da solução irá depender do tipo de amostra: - Líquida uma simples diluição é eficaz; - Sólida a amostra deve ser digerida; solubilizada para uma fase líquida, resultando em uma solução da amostra 14 Opções de preparo das amostras: - Solubilização com água, HCl, HNO3, HF - Abertura por fusão (geralmente utiliza cadinhos), após dissolução com ácido. A amostra sólida a ser analisada deve estar: -finamente dividida -bem homogênea de modo que a quantidade pesada para ataque seja representativa. 15 2ª etapa – Precipitação *** - O elemento a ser dosado é separado da solução através da formação de um precipitado. - A escolha do reagente precipitante é importante e deve-se levar em conta vários fatores para a sua escolha: solubilidade, características físicas e pureza. *** etapa mais importante! Formação de Precipitados Deve reagir especificamente, ou pelo menos seletivamente com o analito. Ex: AgNO3 (precipita em meio ácido Cl -, Br-, I-, SCN-) Dimetilglioxima (precipita apenas Ni2+ em soluções alcalinas) O reagente precipitante ideal deve provocar uma reação com o analito para formar um produto: Facilmente lavado e filtrado para remoção dos contaminantes; Solubilidade suficientemente baixa para que não haja perda significativa do analito durante a filtração e a lavagem; Não reativo com os constituintes da atmosfera; Composição química conhecida após sua secagem e/ou calcinação. Agente precipitante 16 Alguns Agentes Precipitantes Inorgânicos 17 18 a) Solubilidade: Deve-se usar um reagente precipitante que conduza a obtenção de um precipitado quantitativamente insolúvel. b) Características Físicas: O tipo de precipitado irá determinar a melhor forma de separação do meio de precipitação (filtração, etc) . Precipitado cristalino 19 c) Pureza: Deve-se procurar obter um precipitado mais puro possível. Em alguns casos, as impurezas (contaminantes) já se encontram na própria amostra, sendo necessária eliminá- las: - através de uma precipitação prévia - através de uma reação de complexação Equilíbrio de precipitação 20 Uma solução de um eletrólito pouco solúvel torna-se saturada quando o produto das concentrações dos dois íons atinge um determinado valor constante, a uma certa temperatura. Esta constante é chamada de produto de solubilidade, Ks. .)(.)(2)( 2 442 aqCrOaqAgsCrOAg Ks = [Ag+]2 [CrO4 2-] Efeito salino (influência da força iônica) 21 O Ks somente é valido para soluções muito diluídas, em meios de concentrações mais elevadas é necessário utilizar a atividade. A atividade de um íon é sua concentração aparente eficaz com a qual este íon atua nas reações químicas. Efeito do Íon comum A presença de um íon comum diminui a solubilidade do precipitado, sempre que não tenha formação de complexos. Mecanismos de precipitação A formação dos precipitados é um processo cinético, onde o controle da velocidade de formação dos cristais permite conduzir a precipitação de maneira a separar a fase sólida com as melhores características possíveis. Evidentemente, não é suficiente que apenas dois íons estejam presentes para que haja formação de precipitado. É necessário que os íons estejam presentes em quantidades suficientemente altas e em equilíbrio, em proporções adequadas e que haja uma disposição espacial conveniente. 22 Influência das condições de precipitação O tamanho e o tipo dos cristais, além de depender do precipitado, dependem das condições de formação do precipitado e do envelhecimento ou recristalização do mesmo. 23 24 A formação do precipitado As características físicas de um precipitado são parcialmente determinadas pelas condições que prevalecem no momento de sua formação, destacando-se: a) Temperatura:soluções aquecidas (quando as características do precipitado permitem) apresentam melhor uniformidade do espalhamento dos reagentes, pois ocorre aumento da solubilidade, reduzindo o grau de supersaturação; b) concentração dos reagentes: soluções diluídas devem ser usadas pois reduzem os erros devido a coprecipitação; c) velocidade de adição dos reagentes: a mistura lenta dos reagentes com agitação constante promove a formação de cristais maiores. 25 Tamanho de Partícula Os precipitados constituídos por partículas grandes são geralmente desejáveis nos procedimentos gravimétricos porque essas partículas são fáceis de filtrar e de lavar visando à remoção de impurezas. Além disso, os precipitados desse tipo são geralmente mais puros que aqueles formados por partículas pequenas. 26 Os precipitados coloidais ocorrem como resultado de repulsões elétricas entre partículas que impedem a aglomeração. Estas forças repulsivas surgem da presença de íons adsorvidos na superfície do precipitado, o que irá causar a formação de uma dupla camada elétrica. Precipitados coloidais 27 AgNO 3 NaCl Formação do precipitado de AgCl Cl - (aq ) + Ag + (aq ) AgCl (s) 28 • No início há poucos íons cloreto na solução devido ao excesso de Ag+; • A camada externa do precipitado contém Ag+ e Cl- que tende atrair os íons Ag+ formando a camada de adsorção primária. 29 Um precipitado coloidal consiste em partículas sólidas com dimensões que são menores do que 10-4 cm. Um precipitado cristalino é composto por partículas sólidas com dimensões que são pelo menos de 10-4 cm ou mais. Consequentemente, sólidos cristalinos assentam rapidamente, enquanto que precipitados coloidais continuam suspensos na solução, a menos que sejam induzidos a se aglomerarem. 30 Exemplo 1: O cloreto presente numa amostra impura de MoCl3 pesando 0,3 g, foi precipitado como AgCl o qual, lavado e seco, pesou 0,390 g. Calcule: a) O volume estequiométrico de AgNO3, a 5%p/v, necessária a sua precipitação; b) A pureza, em porcentagem, do MoCl3, da amostra analisada. MoCl3 + 3AgNO3 3AgCl + Mo(NO3)3 202,29g 509,61g 429,96g x y 0,390g 31 32 3ª etapa - Digestão - É o tempo em que o precipitado, após ter sido formado, permanece em contato com o meio de precipitação (água-mãe). “Envelhecimento do precipitado” - Objetivo: obter um precipitado constituído de partículas grandes, facilmente filtráveis e o mais puro possível. Durante o tempo de digestão pode ocorrer: a) Maturação ou amadurecimento de Ostwald: pequenas partículas tendem a dissolver e reprecipitar na superfície de cristais maiores. dissolução Reprecipitação sobre as partículas maiores Partículas menores são mais solúveis 33 34 Amadurecimento interno de Ostwald Alguns precipitados como o sulfato de chumbo e o sulfato de bário, quando recém-precipitados, consistem de partículas imperfeitas e floculosas, mas após o envelhecimento, tornam- se perfeitas e compactas. Ocorre dissolução de material dos vértices e arestas do cristal que se depositam sobre a superfície do mesmo e reduz a área superficial. - Com alguns precipitados não ocorre crescimento das partículas durante a digestão, especialmente aqueles com solubilidade muito baixa tipo o AgCl e Fe(OH)3 que formam partículas coloidais; portanto, para precipitados coloidais não ocorre o amadurecimento interno de Ostwald. - Os precipitados coloidais ou gelatinosos adsorvem impurezas facilmente, devido à grande área superficial. Amadurecimento interno de Ostwald 35 36 b) Contaminação dos precipitados - Os precipitados podem arrastar da solução outros constituintes que são normalmente solúveis e que nem sempre são removidos por uma simples lavagem. - Estas impurezas que acompanham os precipitados podem constituir a maior fonte de erros. Podem se incorporar aos precipitados por: co-precipitação e pós-precipitação Íon contaminante substitui o ânion ou cátion na rede cristalina Difícil de remover! solução Impureza participa do retículo cristalino Co-precipitação: substâncias solúveis se incorporam aos precipitados durante sua formação. Exemplo: precipitado de BaSO4 proveniente da mistura de soluções de BaCl2 e Na2SO4 pode estar contaminado com sulfato de sódio. 1- Co-precipitação por formação de soluções sólidas. 37 38 2- Co-precipitação por Adsorção na Superfície Neste tipo de co-precipitação, a impureza é adsorvida na superfície do precipitado e à medida que as partículas crescem, o íon contaminante fica ocluído. São classificadas como inclusões ou oclusões. Inclusões: são impurezas iônicas que ocupam aleatoriamente sítios no retículo cristalino. Oclusões: são bolsões de impurezas que se encontram retidos no interior de um cristal em crescimento. 39 Oclusão e aprisionamento 40 Aprisionamento mecânico: Crescimento rápido do precipitado aprisiona uma parte da solução dentro do precipitado. Os íons irão permanecer após filtração. c) Pós-precipitação Quando o precipitado é deixado em repouso em contato com a água-mãe, uma segunda substância pode precipitar lentamente por reação com o agente precipitante e depositar-se sobre a superfície das partículas do precipitado de interesse. 41 Ca2+ NaC2O4 Mg2+ CaC2O4 Mg2+ CaC2O4 Mg2+ MgC2O4 tempo Filtrar rápido 42 Formação de Oxalato de Cálcio Formação de Oxalato de Cálcio e Oxalato de Magnésio 43 4ª etapa – Filtração - Processo de separação do precipitado do meio em que se processou a sua formação. A maneira de fazer a filtração dependerá do tipo de precipitado. 5ª etapa- Lavagem - Procedimento para recuperação dos vestígios do precipitado eventualmente preso, aderido nas paredes do recipiente. 44 45 6ª etapa- Secagem e calcinação - Após o precipitado ter sido filtrado, ele deve ser aquecido até se obter uma massa constante. 100-200ºC, 1-2h, estufa: remoção de água e componentes voláteis. m as sa Secagem e decomposição 46 Calcinação - Processo de queima que ajuda na remoção de água adsorvida (presa na superfície), água ocluída (presa nas cavidades), água sorvida (cavidade das partículas) e água essencial (cristalização, hidratação, etc). - Muflas (500-1300ºC) - Converte o precipitado em uma forma mais adequada para a pesagem. 47 Resfriamento A amostra depois de calcinada é transferida com o uso de uma garra, para o dessecador para resfriar, durante ~15-30 minutos. Após o resfriamento, o cadinho com a amostra calcinada é pesado. 7ª etapa: Pesagem A pesagem é a última operação de uma análise gravimétrica, sendo uma medida absoluta que deve ser realizada com uma balança analítica adequada. Exemplo 2: Para determinar a % de Pb em águas residuais de indústrias, coletou-se uma alíquota de 10 mL de água e adicionou-se solução de CrO4 2- até precipitação total. O precipitado formado, PbCrO4, foi dessecado e pesado, obtendo-se 0,50 g. Calcule a % de Pb obtida na amostra. 48 49 CH3 O N C H3C CH3 C N Ni O HH N N OO C C H3C CH3 N N OH HO C C H3C 2 + Ni2+ dimetilglioxima Determinação Gravimétrica de Níquel 50 Reagentes para o procedimento experimental 51 Preparação da solução da amostra 52 Preparação da solução da amostra 53 Adição da Amostra em um béquer 54 Adição dos demais reagentes e verificação do pH 55 O pH deve ser ácido 56 Aquecimento da solução sob constante agitação57 Adição de DMG e em seguida NH4OH: formação do precipitado 58 Aquecimento da solução para haver uma precipitação completa 59 Solução em repouso: Verificação do pH (entre 5 e 9) 60 Filtrar a solução contendo Ni:DMG 61 Filtrar a solução contendo Ni:DMG 62 Lavar o precipitado com H2O 63 Secar o Precipitado e Calcular a % de Ni 64 Determinação de chumbo Formação do precipitado em solução homogênea 65 Filtrar, lavar e secar o precipitado 66 Comparação entre ambos os precipitados Precipitado Cristalino Precipitado Coloidal 67 Exercício: 50 mL de solução de Na2SO4 são tratados por excesso de cloreto de bário; o precipitado assim formado pesa 1,756 g. Qual a molaridade da solução de sulfato de sódio.