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PSICOLOGIA DOS GRUPOS E SUBJETIVIDADE
Unidade II
Teorias sobre grupos
Nesta unidade, são apresentados alguns dos principais conceitos associados à Psicologia, numa 
perspectiva crítica que tem instrumentalizado as práticas de pesquisa e intervenção no que diz respeito 
ao trabalho com grupos: a Teoria das Representações Sociais, a Identidade, o Processo Grupal e novos 
campos para o embate ideológico: Linguagem e Imaginário.
5 GRUPOS E SUBJETIVIDADE
5.1 Conceituação
Só no século XVIII, a palavra grupo vai designar ajuntamento de pessoas. A origem dessa palavra 
remonta a um termo técnico italiano das Artes Plásticas (groppo, gruppo), que designa vários indivíduos, 
pintados ou esculpidos, compondo um tema (ANZIEU; MARTIN, 1975). Além da “novidade” do conceito, 
Anzieu e Martin (1975), ao apresentarem diferentes concepções sobre grupos, indicam também que, até 
há pouco tempo, nas Ciências Sociais, havia um preconceito bem‑estabelecido contra a ideia do grupo, 
do pequeno grupo. Para alguns, esse mal‑estar em relação ao conceito estaria presente porque seria 
entendido como categoria para o entendimento do social, e esta supostamente comportaria a negação 
do indivíduo. Para outros, esse incômodo se estenderia ao próprio fenômeno grupo, como perturbador 
da personalidade – os grupos de jovens e os grupos partidários, por exemplo.
Contemporaneamente, podemos reconhecer grupos definidos a partir de uma metáfora biológica (o 
grupo‑organismo) ou mecânica (o grupo‑máquina), ou simplesmente pelo ajuntamento de pessoas, nas 
multidões, nos bandos, nas aglomerações. A ideia de grupo também está presente em grupos nos quais 
os indivíduos se encontram face a face, os pequenos grupos sociais, ou nas organizações das quais todos 
participamos e por meio das quais temos um papel no jogo social.
Para discutir qual ou quais os sentidos de um grupo social e tentar traçar uma dinâmica dos grupos, 
isto é, o movimento de uns em relação a outros, é necessário descrever algo da história dos estudos 
sobre grupos a partir das maneiras como eles têm sido definidos. Algumas das referências para essas 
definições têm sido a quantidade de membros (se são pequenos grupos, categorias sociais, a “massa”), 
a medida da sua organização (aglomerados, categorias sociais, grupos estruturados, organizações, 
instituições) ou a medida do relacionamento entre seus membros (face a face ou não).
Geralmente, quando falamos em grupos, pensamos nos pequenos, aqueles dentro dos quais seus 
membros têm contato face a face, grupos que são estruturados, organizados por regras e com objetivos 
definidos, cuja ação está delimitada no espaço – por uma sala, um campo, uma instituição. Menos comum 
é chamarmos de grupos os agregados mais ou menos numerosos de indivíduos que não têm propriamente 
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Unidade II
nenhum contato entre si, os amontoados percebidos por Sartre numa fila à espera do ônibus (uma série) 
que não estão sujeitos a normas claras de comportamento comum, conjuntos que compreendem meros 
aglomerados ou categorias sociais que indicam um relacionamento de ordem simplesmente distributiva. 
Estes últimos são aqueles das nacionalidades, da cor da pele, dos matizes ideológicos, do sexo ou da opção 
sexual. Contudo, mesmo nessa outra ordem de agrupamentos que se constitui a partir de sua simples 
nomeação, por um critério burocrático, filosófico, político e mesmo biológico ou étnico, tendemos a dizer 
dos indivíduos a eles pertencentes que se “comportam como um grupo”.
Figura 10 – As mulheres são uma categoria social
Tratamos a semelhança entre os membros dessas categorias com a mesma naturalidade com 
que compreendemos a semelhança entre os que pertencem a uma organização. Em alguns casos, 
todavia, a escolha da filiação e daquilo que ela implica está também no âmbito do indivíduo, que 
pode apresentar‑se como jogador do time tal ou como pertencendo a certa instituição religiosa, 
profissional ou acadêmica, por exemplo, ou filiado a uma determinada ONG. Em outros casos, não 
há escolha, mas a suposição de que, entre os nomeados de uma determinada maneira, há certa 
identidade de comportamento, incluídas aí visões de mundo, expectativas, disposições para a ação. 
Sobre essas pessoas socialmente nomeadas não se questiona sua pertença a uma categoria, embora 
elas sejam reconhecidas por essa identificação e esse reconhecimento implique a forma como os 
“outros” se comportam em relação a elas (ainda que esse reconhecimento possa fazer diferença entre 
tratá‑las ou não como seres humanos, entre segurança e assassinato, estupro, genocídio, exclusão 
social; enfim, violência).
Essas maneiras de entender um grupo como uma unidade estruturada ou como uma categoria 
são bastante conhecidas e utilizadas pelos cientistas sociais (HARRÉ, 1984). Contudo, as pessoas de 
modo geral – e, mesmo em muitas ocasiões, esses mesmos cientistas sociais – tendem a tratá‑los como 
se fossem a mesma “coisa”. Espera‑se de indivíduos que pertencem a um grupo que se define pela 
nomeação, muitas vezes circunstancial, a mesma homogeneidade de comportamento dos indivíduos 
que fazem parte de grupos estruturados, mais permanentes, com normas e objetivos bem‑definidos. 
Esperar que um jogador de futebol tente marcar um gol nas redes do adversário pode ter o mesmo 
valor preditivo que a expectativa em relação ao comportamento de um simpatizante de um partido de 
esquerda quando em oposição a um certo governo (ser “contra”, por exemplo).
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Essa concepção de que nos grupos estruturados determinadas regras dirigem a disposição dos 
indivíduos (como num jogo) é extrapolada para uma situação em que tais regras não existem senão 
implicitamente na imagem que acompanha aquela categoria. A garantia que se tem ao se afirmar a 
repetição de um comportamento (ser de esquerda para ser “contra”) para um grupo apenas categorizado 
baseia‑se na experiência social do sujeito que afirma isso e que apreendeu uma identidade para aquele 
grupo, reificada pela insistência em identificar grupos como sendo “assim”; afirmação que confirma 
uma tendência cada vez mais enraizada nos relacionamentos sociais contemporâneos: sua objetivação, 
coisificação (CARVALHO, 2002).
Nesse sentido, basta ter um nome e o grupo se transforma em coisa. O grupo ou a categoria a que 
esse nome está associado passa a ser vinculado a uma imagem estereotipada, cristalizada, a algo mais 
do que a apenas uma palavra, o nome, desde que essa imagem implique também comportamentos 
estereotipados. Assim, o grupo tende a ser visto como algo que não se modifica, ou melhor, sua “inércia”, 
porque ele se tornou “coisa”, passa a ser muito grande – é difícil de mover‑se, de mudar de posição. Os 
movimentos em direção a qualquer mudança são difíceis, e ele vai se encontrar instalado efetivamente 
fora do tempo, que, de fato, parece não existir. Ele não se apresenta como referência para a identidade 
do grupo. Aqueles indivíduos que indicamos como parte de um grupo teriam sempre as mesmas 
características, independentemente do contexto no qual estivessem envolvidos.
Essa imagem,que a partir do olhar do outro configura um grupo inerte, contamina o próprio grupo 
nomeado, de tal forma que o esforço de manutenção, espécie de trava que pretende garantir a paralisia 
e a identidade do grupo, não é algo exterior, mas se verifica entre os próprios nomeados, eles mesmos 
guardiães da estereotipia. Desse modo, uma mulher tende a comportar‑se como “uma mulher” de 
acordo com um modelo que está apoiado numa história do que devem ser as mulheres e que não tem 
mais suporte nesse momento da sociedade. Aproveitando o exemplo, o mesmo se pode considerar sobre 
as pessoas de “esquerda”, alienadas numa expectativa sobre o que isso significa, num mundo em que a 
crítica ao status quo é mais indefinida.
Seja o grupo estruturado ou a categoria social, desde que tenham um nome, sua imagem estática, 
congelada, será a figura que o identifica; um “nome” cuja presença‑imagem participará da mediação 
entre os grupos, naquilo que regula e orienta seus movimentos uns em relação aos outros. O nome do 
grupo é sua bandeira, e é como algo cujo único movimento possível é o proporcionado pelo vento – por 
mais arrasador, não pode redesenhar o brasão. Tem‑se quase sempre procurado qualificar os grupos e 
seus movimentos no ambiente social (CARVALHO, 2002).
5.2 Uma história das ideias sobre grupos
A representação que se tem de um grupo social compreende aquilo que se “vê” e o que se espera 
dele numa determinada circunstância. Assim, é preciso estar atento não apenas ao que está sendo 
representado e em qual contexto, mas também a quem representa, para se poder compreender, na 
história das ideias sobre grupo, as explicações que se oferecem a como e por que os indivíduos se 
associam, classificam e categorizam uns aos outros, assim como os efeitos dessas associações nos 
relacionamentos que ocorrem dentro dos grupos e entre eles. A discussão das ideias sobre grupos 
passa pelas histórias de constituição e da manutenção dos próprios grupos de pesquisadores, 
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tanto nos seus aspectos simbólicos (a instituição de uma figura significativa, um líder, o fundador) 
quanto nos seus aspectos imaginários – imaginário entendido aqui a partir das considerações de 
Castoriadis (2007).
Um dos principais organizadores da história das ideias sobre grupos pode ser identificado no 
entendimento sobre presença e importância do imaginário. As teorias sobre grupos tratam, com maior ou 
menor intensidade, da presença do imaginário nos grupos como um problema, um resto que precisa ser 
excluído: ora ele é privilegiado, deixando de lado tudo o que seria contextual, ora ele é descartado, quer 
pela sua pouca importância (na Psicologia Social americana), quer pela impossibilidade de manipulá‑lo 
(como na Psicologia Institucional francesa). Neste último caso, o imaginário é muitas vezes confundido 
com a ideologia, e os indivíduos e grupos que a ele se submetessem estariam alienados da “realidade” – 
como se fosse possível evitar sua presença cada vez mais “visível”.
Na mesma perspectiva que garante o descarte do imaginário e de seu caráter perturbador, as teorias 
sobre grupo nessas diferentes correntes negligenciam a questão da linguagem no âmbito dos grupos. 
De um lado, pela simples ausência de importância oferecida à linguagem como marca e continente 
dos grupos sociais; de outro, mesmo quando a linguagem é reconhecida como elemento configurador 
do grupo, na ausência de discussão sobre quais entendimentos sobre a linguagem estariam presentes 
nessas correntes: se a linguagem é entendida como propiciadora de sentidos e de possibilidades (“meio 
universal”), ou como simples ferramenta (“cálculo”), tendo uma função meramente representacional 
(KUSCH, 1989). Em outras palavras, vários autores têm entrado nessa discussão sobre se as palavras 
instituem, constroem a realidade, ou se servem apenas para representar uma realidade que existe para 
“além” da linguagem.
Uma pista para entender o debate sobre o imaginário e a linguagem nas Ciências Sociais e, assim, 
nos trabalhos sobre grupos está na compreensão de que imaginário e linguagem comportam, de fato, 
a “desordem” que não poderia ser equacionada no âmbito da ciência e que o próprio senso comum 
procura excluir, na tentativa de preservar o social como permanente (Lembra‑se da discussão sobre 
a identidade?). Na ciência, esses elementos não encontrariam lugar, seja em razão dos princípios 
que sustentariam uma abordagem científica na perspectiva do positivismo, e que se oferecem como 
paradigma científico, seja pela tradição dos grupos de pesquisadores no trato com tais elementos. Sua 
(quase) exclusão é tentativa de encobrir aquilo que não faz sentido, que implica a própria presença do 
pesquisador, de sua identidade, de sua história e de suas escolhas, de presenças que resistem à razão e à 
ordem mais imediata: a das leis e normas que regem os objetos naturais. É também tentativa de resistir 
à inclusão de elementos que se encontram em profunda e contínua transformação e que teimam em 
não se submeter à permanência que um olhar organizador solicita.
 Lembrete
Positivismo é a doutrina que Augusto Comte (século XIX) propõe 
como fórmula para constituir as Ciências Sociais nos mesmos princípios 
das Ciências Naturais, fundada na separação entre sujeito e objeto do 
conhecimento.
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Dentre os diferentes entendimentos sobre os grupos e as tradições históricas e filosóficas às quais 
estão vinculados, uma chave para sua apresentação é percorrer a incidência do imaginário nesses 
universos. Destacamos, inicialmente, a Psicologia dos Grupos voltada para as questões individuais, 
marcadamente ideológica, de ordem funcionalista, uma Psicologia Social dos pequenos grupos naturais. 
Esta se verifica mais intensamente no âmbito da Psicologia Social americana, com autores como Lewin, 
Newcomb, Asch, Stoessel e Maisonnave, e é voltada para os problemas de produção e de eficiência, seja 
num grupo de soldados ou de operários, seja num grupo terapêutico, estudando os relacionamentos 
intragrupo, a liderança e a motivação.
Na outra ponta, na Psicologia Social das categorias sociais, estão os estudos sobre grupos que 
colocam em jogo os elementos da história e da cultura nas quais os grupos estão inseridos. Alinhados 
à Psicologia Social “sociológica”, que veio se desenvolvendo principalmente na Europa do Pós‑Guerra, 
esses estudos que privilegiam os fatores históricos, ideológicos e políticos identificam a Psicologia Social 
europeia e os trabalhos de autores como Tajfel, Doise e Moscovici.
Numa posição intermediária em relação a essas duas vertentes, no que diz respeito aos estudos 
sobre grupos, estariam os trabalhos sobre Psicoterapia de Grupo, sejam ou não de inspiração 
freudiana, mais ou menos próximos da vertente americana, como Moreno, ou da vertente europeia, 
como Guattari, e os desenvolvidos por psicólogos sociais sul‑americanos, como Baremblitt, Bauleo, 
Bleger e Pichon‑Rivière.
Em qualquer das vertentes da Psicologia Social – a Psicologia Social dos pequenos grupos naturais, 
a Psicoterapia de Grupo ou a Psicologia Social das categorias sociais –, a presença do imaginário como 
elemento para identificação e mediação entre os grupos traz, de maneira indiscutível, a tensão entre a 
ordem e a desordem no âmbito dos grupos.
5.2.1 A Psicologia Social dos pequenos grupos
A PsicologiaSocial americana tem sua fundação filosófica no funcionalismo de William James 
e no pragmatismo de John Dewey. Aquilo que é social nessa Psicologia diz respeito a sua função 
e utilidade, bem como sua localização fora do contexto e do tempo, no limite do tempo do 
“eu‑grupo”, isto é, o social entendido como coisa, naturalizado. Num contexto cultural e social, o 
norte‑americano, no qual se dará a valorização e o engrandecimento do “eu” com a apropriação 
dos princípios humanistas para mitificação de uma cultura narcisista, a Psicologia Social oferecerá 
recursos para o estudo e a implementação do que seja o melhor funcionamento dos grupos. As 
pesquisas sobre a dinâmica de grupos, em especial, irão exigir uma concepção de grupo na qual 
este possa ser compreendido a partir de sua estrutura “física”, com os participantes organizados 
a fim de definir objetivos e estratégias para alcançá‑los, desempenhando tarefas e obedecendo às 
normas de funcionamento do grupo (LEWIN, 1973).
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Figura 11 – Grupo face a face
Esse pequeno grupo, face a face, necessariamente estruturado, é o grupo típico dos setores 
administrativos dos empreendimentos capitalistas, alvo dos profissionais de Recursos Humanos. 
Caracteriza um entendimento de grupo cuja história recente, reforçada pela importância dada aos 
aspectos gerenciais – e de controle – das relações humanas, seja numa empresa, seja numa organização 
como o exército, remonta à Segunda Grande Guerra, quando se dará importância especial ao estudo 
dos pequenos grupos. Traçando a história desses estudos, o autor definirá esses pequenos grupos 
como compostos de duas ou mais pessoas que entram em contato para determinado objetivo (MILLS, 
1970). Estão implícitas aqui as ideias de proximidade, de frequência e de intensidade no contato 
entre os membros do grupo. O estudo dos pequenos grupos justifica‑se pela sua importância como 
microcosmo social, pelo atravessamento das pressões sociais, pela densidade afetiva e, portanto, pela 
influência que exerce sobre o indivíduo. De maneira geral, no pequeno grupo o sujeito é, ou procura 
ser, sujeito.
Figura 12 – Grupo de soldados
Essa concepção, apoiada no estudo dos pequenos grupos, aponta a ênfase na sua importância 
funcional, isto é, sabendo que os grupos influem no comportamento e, mais ainda, no desempenho 
do indivíduo, é preciso entender seu funcionamento e sua dinâmica, conhecer suas variáveis e, 
assim, poder operar sobre ele. Dessa forma, os cientistas sociais (sociólogos e psicólogos sociais) 
não investiram apenas em pesquisas que oferecessem informações sobre a dinâmica dos grupos, 
mas também em instrumentos de intervenção grupal, inclusive clínicos. Assim, os modelos para o 
estudo dos pequenos grupos têm como referência a sua funcionalidade, o quanto são operacionais 
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para o pesquisador e para os próprios membros do grupo. Para tais pesquisadores (Bales, Festinger, 
Heider, Deutch), os grupos apresentam‑se como unidades nas quais seus membros buscam a 
satisfação de suas necessidades individuais. Essas visões sobre grupos encontram‑se num contexto 
em que a associação presta‑se de uma forma ou de outra à otimização de seu funcionamento 
em direção a um determinado objetivo (MILLS, 1970). Os critérios para esses entendimentos não 
relacionam sequer o contexto no qual esses grupos estariam inseridos, excluindo aqui toda e 
qualquer referência à dimensão imaginária nos pequenos grupos. Nessa mesma tradição, incluem‑se 
as pesquisas desenvolvidas por Kurt Lewin.
5.2.2 A dinâmica de grupo de Kurt Lewin
Criador da expressão dinâmica de grupo, Kurt Lewin tem como uma das principais contribuições 
de sua Psicologia Social as investigações sobre a solução de conflitos nos pequenos grupos. 
Lewin propôs‑se a estabelecer os conceitos e a metodologia que, dando conta das dinâmicas 
nos pequenos grupos, fossem também abrangentes o suficiente quanto ao entendimento e à 
intervenção nos grupos sociais. Nas pesquisas com grupos de crianças em que se variava o clima 
das relações com um monitor (autoritário, democrático, laissez‑faire), ele procurou identificar o 
efeito do ambiente político e de suas mudanças sobre a capacidade dos indivíduos de realizarem 
tarefas, assim como suas repercussões sobre a satisfação e a agressividade. A “descoberta” do clima 
democrático como o mais adequado à produção teve enorme repercussão durante a Segunda 
Grande Guerra (ANZIEU; MARTIN, 1975).
Figura 13 – Memorial da Segunda Guerra Mundial (Washington, EUA)
Os estudos sobre a dinâmica dos pequenos grupos realizados por Lewin buscariam responder a 
duas perguntas relativas ao funcionamento dos grupos sociais nesse contexto tão decisivo da nossa 
história: como se pode produzir o nazismo como fenômeno psicológico? Qual a prevenção psicológica 
contra ele? Temas de seu grande interesse – ele próprio judeu e egresso da Europa durante a guerra. 
A importância alcançada por Lewin na Psicologia Social americana pode também ser encontrada no 
seu linguajar físico, ao tratar do confronto de forças intragrupos e intergrupos, o que conferiria um 
maior reconhecimento científico às suas teorias. Com seu interesse aumentado pelo fascínio que o 
desenvolvimento de tecnologia, inclusive para a manipulação de seres humanos, produziu a partir das 
Grandes Guerras, como “arma” contra literalmente quaisquer problemas, inclusive os sociais, as teorias 
de Lewin viriam a reafirmar as concepções sobre pequenos grupos, que, desenvolvidos em ambiente de 
guerra, serviriam para a otimização de seus comportamentos.
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 Observação
O nazismo foi a doutrina política conduzida na Alemanha por Adolf 
Hitler que, entre outros fatores, levou o mundo à Segunda Guerra Mundial. 
Movimento nacionalista, racista e fascista, o nazismo buscava uma 
supremacia de raça.
É importante reconhecer que Lewin foi inovador ao abordar aspectos da personalidade como referidos 
ao contexto cultural e, mais do que isso, político, ao tratar da presença da democracia, dando status 
científico a essas considerações. Também é importante considerar o contexto em que são feitas suas 
pesquisas: em meio às Grandes Guerras, num ambiente em que parecia ser preciso marcar a diferença 
entre o “povo alemão” e o “povo americano” – de sua nova pátria. Ainda assim, mesmo reconhecendo os 
aspectos históricos dos fenômenos grupais, herança notável de sua formação científica europeia, Lewin 
elabora nessa mesma tradição um entendimento sobre grupos tratando daquilo que é “visível”, ainda 
que seja seu efeito, como as forças de atração e de repulsão interindividuais. Nas suas considerações, 
em que pese a importância da valoração dos grupos e de suas diferenças, elementos essencialmente 
simbólicos, o grupo continua mantendo uma existência natural. Portanto, não são consideradas as 
dimensões imaginárias (isto é, afetivas, sócio‑históricas) nos fenômenos grupais, as quais poderiam 
auxiliar na explicação do que produz e sustenta essas valorações e diferenças.
5.2.3 As psicoterapias de grupo
Os pequenos grupos, face a face,são exemplares de relações que parecem dar‑se in natura, nas quais 
o que importa é o aqui e agora. Eles são típicos das organizações sociais, que parecem mais simples, nas 
quais a quantidade de pessoas envolvidas, a proximidade do contato e a caracterização mais insistente 
desses conjuntos de pessoas como uma unidade conferem a impressão de que suas determinações, sua 
dinâmica, aquilo que explica o funcionamento dentro do grupo (intragrupo) pode prescindir do que é 
“exterior” a ele e que o atravessa: o social e a história nos quais ele está imerso, elementos supostamente 
perturbadores de sua ordem.
Assim como os estudados por Kurt Lewin (operários, estudantes, soldados), outros exemplos de 
pequenos grupos podem ser encontrados no âmbito das psicoterapias de grupo, consideradas aqui como 
modalidade da Psicologia Clínica que vem sendo desenvolvida concomitantemente com os avanços das 
psicoterapias individuais desde o início do século XX e como prática que se encontra no âmbito da 
Psicologia Social.
Nessas práticas terapêuticas, será possível apreender uma ideia de grupo que ocupa uma posição 
central no conjunto dos conceitos que as definem e que lhes oferecem sentido. As soluções oferecidas aos 
indivíduos que se submetem à terapia grupal, seja ela estritamente clínica, tenha ela um viés político ou 
instrumental, dependem da concepção do que seja um grupo. A quantidade e diversidade de orientações, 
princípios e objetivos que sustentam as práticas de terapeutas fundamentadas em Bion e Moreno, entre 
outros, respondem às diferentes histórias que congregam os vários grupos de teóricos e profissionais que se 
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associaram a um ou a outro desses nomes. Quando, porém, escolhemos o imaginário como fazendo fundo 
para as diferenças, isto é, quando percorremos no contexto das psicoterapias de grupo, bem como as ideias 
sobre grupos que elas comportam, e discutimos a presença do elemento “perturbador” – o imaginário –, 
deparamo‑nos com um cenário no qual há mais semelhanças do que diferenças.
O imaginário será visto, muitas vezes, como componente causador de perturbação, justamente 
quando é mais visível, sensual, perceptível, banhado do afeto envolvido nos relacionamentos face a face. 
O momento em que quase se pode tocá‑lo é quando sua presença mais será negada ou demonizada. O 
posicionamento em relação ao imaginário nas psicoterapias de grupo não está marcado necessariamente 
pela disposição científica ou ideológica do pesquisador, pela sua ânsia por verdade ou justiça social. 
Parece depender, antes, do preconceito ontológico contra tudo o que não possa ser perfeitamente 
equacionado, o que não significa que não possa ser compreendido – herança do cientificismo nas 
Ciências Sociais.
As considerações de autores como Lancetti (1994), Pontalis (1972) e Guattari (2005) discutidas a 
seguir são exemplares de alguns dos principais posicionamentos sobre os pequenos grupos terapêuticos: 
a vertente mais politizada e engajada da psicoterapia institucional francesa e a mais histórica e 
filosófica da Psicanálise também francesa. Todas elas revelam a presença/ausência do imaginário e da 
linguagem nos grupos a partir de diferentes perspectivas teóricas, como o psicodrama, a Psicanálise ou 
a grupoterapia engajada politicamente. Esses autores discutirão a presença das disposições afetivas e 
não racionalizáveis na Psicoterapia de Grupos.
Para Lancetti (1994), a atenção metodológica que se tem dado aos grupos nas mais diferentes circunstâncias 
e modalidades em psicoterapia tem servido, entre outras coisas, a uma proposta ideológica: melhorar as 
relações entre os indivíduos, nas famílias, nas instituições, na produção. Nesse sentido, a Psicoterapia de Grupo 
tem como modelo as práticas que orientaram o estudo dos conjuntos de pessoas no Pós‑Guerra, quando se 
verificou, como já foi visto no contexto da Psicologia Social americana, a importância das circunstâncias 
grupais para a produção. Lancetti (1994) defende a tese de que os estudos sobre grupos, paradoxalmente, 
comportam uma ideologia individualista. Os movimentos que se verificam nos grupos seriam similares aos 
dos indivíduos, solicitando entendimentos e intervenções que deixam à mostra a intenção de promover, antes 
de tudo, a modificação do comportamento do outro por meio de técnicas de grupo, que poderiam, no limite, 
ser responsáveis por “uma forte promoção narcísica” (LANCETTI, 1994, p. 87).
A instituição de grupos, nos quais se produz a individualização do grupo e a grupalização do sujeito, 
teria como função “obturar a função desejante do indivíduo e oferecer um dos melhores exemplos do 
que Guattari chamou de grupos submetidos” (LANCETTI, 1994, p. 87). Neles, a ideia de grupo, segundo 
a crítica de Lancetti, está contaminada com o que seria o funcionalismo da Psicologia americana: ele 
encontra nas psicoterapias de grupo a mesma preocupação com a “produção”, que pode ser verificada 
nos trabalhos de Kurt Lewin, por exemplo. Todavia, também a Psicoterapia de Grupo via Psicanálise 
estaria contaminada, segundo ele, por uma presença que viria a distorcer o real e a iludir o grupo quanto 
à sua cura: a presença do engano (o imaginário) claramente identificado ao falso, à invenção, em franca 
oposição à razão e, portanto, sem valor, senão como perturbador da realidade. Para Lancetti (1994), a 
ilusão (o imaginário) é compreendida como um problema que precisa, de alguma forma, ser controlado 
e extraído.
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Unidade II
Figura 14 – Terapias de grupo/terapia comunitária (Tenda Che Guevara FSM)
5.2.4 Dos grupos diagnósticos à Psicanálise: as críticas de Pontalis e Guattari
Produzidas durante a década de 1950 e o início dos anos 1960, as considerações de Pontalis (1972) 
sobre a Psicoterapia de Grupo comportam referências importantes sobre a questão do contexto e da 
história no entendimento dos grupos sociais. Percebendo nas práticas clínicas em grupo distorções 
tanto de ordem ideológica quanto técnica, ele discute o que entende ser uma leitura equivocada dos 
textos freudianos sobre grupos. Para Pontalis, o que assegura a existência de um grupo humano é sua 
função institucional, isto é, o seu lugar num universo simbólico. O pequeno grupo deve ser pensado 
não como absolutamente independente, mas sempre como inserido no contexto social. As práticas 
de intervenção sobre os grupos, dentre as quais ele destaca o psicodrama de Moreno, pretenderiam, 
equivocadamente, reduzir as barreiras imaginárias que bloqueiam, retardam e perturbam um processo 
natural, resolvendo, assim, problemas de comunicação entre os indivíduos. Nesse caso estariam todas 
as práticas em Psicoterapia de Grupo que compreenderiam sua não contextualização, tomando o grupo 
como unidade completa e independente do social, sem referência exterior. Estão aqui também a corrente 
psicossociológica, que pretenderia o ajuste dos comportamentos por meio de práticas grupais, e também 
as práticas inspiradas numa visão biologizante de grupo, que faz dele, em qualquer circunstância, uma 
unidade em desenvolvimento, em que não cabem o caos e o imponderável associados ao imaginário.
Segundo Pontalis (1972), desde o grupo diagnóstico ou terapêutico (T‑group), inventado em 1947 
nos EUA por discípulos de Kurt Lewin, os grupos são necessariamente artificiais. O T‑group seria um 
grupo sem passado e sem futuro, quecomporta uma realidade falseada, em que se amplificam situações 
que, na realidade, não teriam a mesma intensidade. A partir daí, a história das intenções e práticas 
comportadas nos trabalhos com grupos inicia‑se pelo interesse numa Pedagogia comunicativa (é 
preciso que haja comunicação no grupo), passando pela ênfase no autoconhecimento do próprio grupo, 
de como ele “funciona”, até bastar‑se como espaço para a experiência, sem nenhuma outra finalidade. 
Nessa história, os grupos não têm mais modelos normativos, nos quais se trate do seu desenvolvimento. 
Quando essa concepção ainda pode ser percebida, isto é, quando o grupo é entendido como em 
desenvolvimento, tal qual um organismo, isso se dá como tentativa de isolar os significados possíveis 
da experiência grupal, e a Psicoterapia de Grupo continua descaracterizada quanto à sua possibilidade 
de intervenção social – e clínica. Portanto, a técnica, qualquer que seja (lewiniana, psicodramática, 
psicossociológica, sociométrica), seria, para Pontalis (1972), comandada pela ideologia e, assim, as 
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supostas diferenças entre as várias tendências quanto a seu aparato “técnico” seriam, de fato, mínimas, 
acentuadas apenas pelos diferentes vocabulários que adeptos de umas e outras utilizam. Por meio 
dessas técnicas, o indivíduo na Psicoterapia de Grupo será tratado, de uma forma ou de outra, como 
subgrupo que precisa ser integrado à sociedade e à realidade, uma forma de adaptação ao contexto e 
de negação das dimensões imaginárias nas quais está inserido.
Num texto posterior, Pontalis (1972) encontrará no início da década de 1960 a Psicoterapia de 
Grupo sendo exercida mais frequentemente como Psicanálise Aplicada. As práticas com grupos, assim 
como a Psicanálise, estão na moda e são apresentadas ora como instrumento de formação, ora como 
ferramenta terapêutica. Assinalando sua dúvida quanto à pertinência da separação entre terapia e 
formação na prática de grupos, Pontalis identifica, nessa mesma linha, a precariedade, muitas vezes, em 
definir os objetivos de um trabalho de grupo, descritos sem parcimônia como a tentativa de sensibilizar 
os participantes para os “fenômenos de grupo” (PONTALIS, 1972). O autor reconhece, em relação aos 
estudos de grupo, que continuaria havendo uma diversidade quanto às influências (Lewin, Moreno), 
quanto às técnicas (experimentalista, observação clínica) e quanto aos modelos (matemático, organicista, 
psicanalítico), mas indica que essas práticas teriam sofrido um “banho” de Psicanálise que, ao mesmo 
tempo que as teria habilitado como transformadoras e retirado seu ranço ideológico, diluiu ainda mais 
os conteúdos teóricos que as caracterizariam, tornando‑as menos rigorosas e ainda mais semelhantes. 
Nesse cenário, aqueles que antes eram críticos dos trabalhos de grupo como “engenharia humana” 
teriam reconhecido, depois, possibilidades de intervenções grupais transformadoras, revolucionárias. 
As técnicas de grupo deixariam de ser necessariamente ideológicas, podendo ter outro “uso”. Seja 
como for, a ideia de grupo nessas práticas psicoterapêuticas, tanto antes quanto nesse ponto, continua 
sendo, fundamentalmente, subsidiária de uma prática, de uma ferramenta, ainda que alcançando uma 
dimensão social que inicialmente parecia desnecessária. A contribuição da Psicanálise para a Teoria dos 
Grupos, segundo Pontalis (1972), está inicialmente nas tentativas de encontrar, nos grupos, similares das 
instâncias da personalidade da segunda tópica freudiana (ego, superego, ideal do ego).
Será com Bion, entretanto, que a Psicanálise virá a oferecer uma nova dimensão para a Psicoterapia 
de Grupo, com as diferenças entre os grupos de base e os grupos de trabalho, bem como o conceito de 
hipótese de base. Enquanto os grupos de trabalho são aqueles organizados para uma tarefa, os grupos de 
base caracterizam‑se por não estarem presos a normas de funcionamento, mas a circunstâncias, como o 
horário da sessão de psicoterapia. Esses grupos não têm tarefa, ou ela é (re)definida permanentemente pela 
sua história. Já as hipóteses de base seriam responsáveis por organizar o grupo, orientando, por exemplo, a 
escolha de um líder, por meio de critérios de dependência (de um líder), de duplicação (esperança messiânica 
no fim das dificuldades do grupo) ou de ataque e fuga (como estratégia de manutenção), e fundamentam‑se 
nas teorias de Melanie Klein sobre os mecanismos de defesa infantis. De acordo com Bion, citado por Pontalis 
(1972), o grupo seria um agregado de indivíduos, e mais, possuiria um fantasma, isto é:
[...] uma realidade estruturada, que age, capaz de informar não apenas imagens e sonhos, mas todo 
o campo do comportamento humano (p. 218).
É isso que o grupo provoca nos indivíduos, o efeito desse fantasma. Quando o indivíduo se vê face 
a face com um grupo, isso lhe provoca efeitos fantasmáticos, quanto a se o grupo é um “bom” objeto – 
com o qual pode aliar‑se, sumir nele como indivíduo – ou um “mau” objeto –, um grupo persecutório, 
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que o ameaça de destruição. Nos dois casos, está em jogo a morte do indivíduo, prevalecendo o grupo. 
Nessa perspectiva bioniana, Pontalis reconhece, se não efetivamente uma novidade nos estudos sobre 
grupos, ao menos um retorno a questões já formuladas pela Psicanálise a respeito disso e que resgatam 
a importância, inclusive clínica, do imaginário no entendimento dos grupos:
Não basta mostrar os processos inconscientes que operam no seio do grupo, 
por mais sabedoria que se possa provar: enquanto se colocar fora do campo 
da análise a própria imagem do grupo, com as fantasias e os valores que 
ela carrega em si, na realidade se evitará qualquer pergunta sobre a função 
inconsciente do grupo (PONTALIS, 1972, p. 222).
 Observação
Melanie Klein, psicanalista inglesa do século XX, seguidora de Freud, é 
responsável por uma leitura muito original e provocadora da obra freudiana.
Apesar da importância dada a Bion por Pontalis (1972) no que diz respeito às ideias sobre grupos 
contidas no âmbito das psicoterapias grupais, é com Guattari (2005) que vem tomar corpo aqui, mais 
efetivamente, também por meio da Psicanálise, uma dimensão crítica e transformadora. Tratando de um 
determinado tipo de grupo, o “grupo‑sujeito”, Guattari afirma que eles:
[...] se definem por coeficientes de transversalidade que conjuram as 
totalidades e hierarquias; são agentes de enunciação, suportes do desejo, 
elementos de criação institucional; por meio de sua prática não deixam de 
se confrontar com o limite de seu próprio sentido, de sua própria morte ou 
ruptura (GUATTARI, 2005, p. 14).
Assim, o grupo‑sujeito deveria atuar como uma “máquina de guerra”, uma “máquina de desejo”, 
sem pretensão de ser vanguarda ou de hegemonia, “senão como simples suporte que permita a 
transferência e a desaparição das inibições” (GUATTARI, 2005, p. 17). Desse modo, Gilles Deleuze faz a 
apresentação de uma das ideias ou funções de grupo que Guattari (2005) conceitua para tratar de um 
grande problema, como já o havia definido Pontalis (1972): a oposição – ou composição – do grupo 
como realidade social e do grupo como “subjetividade”, tendo a Psicanálise como pano de fundo. Nessa 
tentativa, Guattari (2005) visa dar sustentação a um projeto político e revolucionário de intervenção 
social, que toma os grupos como capazesde movimentos de transformação, desde que se leve em 
conta não só seus aspectos históricos, como pretenderia uma concepção marxista, mas também os 
aspectos imaginários dos grupos (o “fantasma” do grupo), razão pela qual foi violentamente criticado 
pelas instituições de esquerda francesas na década de 1960.
Nas duas modalidades de grupo propostas por esse autor (o grupo‑sujeito e o grupo‑objeto), 
localiza‑se um quantum de imaginário, que está ora “sob controle”, como nos grupos‑sujeito, ora 
inundando o grupo, como nos grupos‑objeto. O imaginário, antes de ser uma marca permanente do 
grupo, apresenta‑se para ele como uma função que não pode ser excluída da experiência grupal, e assim 
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deve ser interpretado. Se não o for, mesmo os grupos ditos revolucionários tenderão a grupos‑objeto, isto 
é, completamente “imaginarizados”. Esses grupos “dominados” pelo imaginário ficariam, assim, distantes 
de seu objetivo transformador, e se verificaria neles o crescimento da burocracia em detrimento da 
sua criatividade social. Somente os grupos‑sujeito, ou a atuação dessa função no grupo, escapando à 
burocracia, seriam capazes de induzir movimento.
Discutindo seu próprio histórico de relacionamentos e suas implicações com uma grande variedade de 
grupos, como estudantes, políticos, universitários, acadêmicos e, especialmente, grupos revolucionários, 
Guattari (2005) procura definir mais precisamente as duas funções que explicariam os movimentos gerais 
dos grupos. Citando Freud, ele afirma que existe uma série contínua entre o estado amoroso, a hipnose e 
a formação coletiva – lá onde estaria a alienação – e que o neurótico acaba por substituir suas formações 
sintomáticas pelas grandes formações coletivas (as instituições da humanidade), criando seu próprio 
mundo imaginário. Da mesma forma, Guattari (2005) acabaria por encontrar algo equivalente também 
nos indivíduos que pertencem a grupos sociais, mesmo os tidos como revolucionários, como partidos 
de esquerda ou grupos de jovens, e que poria por terra a distinção fácil entre grupos “revolucionários” e 
“não revolucionários” quanto sua potência de transformação social.
Figura 15 – Estamos preparados para a revolução?
Os grupos submetidos ou grupos‑objeto são aqueles que recebem dos outros suas determinações 
e que não podem recuperar sua função desejante, porque passam a “desejar” a sobrevivência grupal, 
operando não contraditoriamente. Por outro lado, os grupos‑sujeito propõem‑se a recuperar sua lei 
interna, seu projeto, sua influência sobre os outros grupos, que encontrariam similar, em princípio, 
nos grupos revolucionários (GUATTARI, 2005). Mesmo caracterizado assim, um grupo não seria, 
definitivamente, grupo‑sujeito ou grupo‑objeto, e Guattari (2005, p. 192) acaba por indicar essas duas 
maneiras de ser do grupo como funções:
Dizemos que o grupo‑sujeito se articula como uma linguagem e se articula 
no conjunto do discurso histórico, enquanto o grupo‑objeto se estrutura 
de um modo espacial, com uma forma de representação especificamente 
imaginária que é o suporte do fantasma do grupo; mas, na realidade, se 
trata mesmo de duas funções que inclusive podem aparecer conjuntamente.
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Haveria, portanto, grupos‑sujeito, que se deixam embalar por seus fantasmas, e grupos‑objeto, nos 
quais se apresentam momentos de subjetividade do grupo. Para que um grupo se confirme ou se mantenha 
como grupo‑sujeito, é necessário que haja uma articulação entre a criatividade do grupo, sua expressão 
organizativa e sua elaboração teórica. Além disso, com o grupo‑sujeito definido como não produtor de 
burocracia, mas de movimento, a proposta desse conceito viria a opor‑se ao entendimento do que seriam 
as instituições sociais, como organizações detentoras de formações imaginárias que comprometeriam 
inapelavelmente esse movimento. Tais formações seriam comuns a todo e qualquer grupo social, desde 
que os grupos não estão sujeitos apenas a injunções contratuais (racionais), mas responderiam também 
a “forças” subjetivas, caóticas, imponderáveis, irracionais, inconscientes, que estariam a serviço da 
manutenção da permanência reificada dos grupos e dos indivíduos (GUATTARI, 2005).
Desde que grupo‑objeto e grupo‑sujeito possam ser pensados como funções, Guattari (2005) sugere 
que o imaginário nos grupos poderia ser suplantado por meio da instituição de um analisador, o que 
faria surgir o grupo‑sujeito como “campo de leitura dos fenômenos inconscientes”, provocando uma 
mudança no fantasma do grupo. Tal mudança pode ser efetivada, já que, para para o autor, o fantasma 
não seria único, definitivo, nem se apresentaria como marca da essência de um grupo. Pode ocorrer que 
o fantasma originado em um indivíduo ou em um grupo particular venha a servir circunstancialmente 
de suporte à “fantasmatização” do grupo, da mesma forma que os individuais também serão função 
de certo fantasma coletivo. É justamente o caráter circunstancial do fantasma de grupo, diferente do 
fantasma individual, que pode abrir caminho para a transformação do grupo, catalisada pela função 
“grupo‑sujeito”.
Os grupos oscilariam, dessa forma, entre dois tipos de fantasmas, de acordo com a quantidade 
de imaginário que eles comportem: de um lado, os fantasmas de base, dos grupos submetidos, mais 
fundamentais, institucionais, que dependem do caráter de submissão do grupo (os aspectos imaginários 
na igreja, no casamento, no partido político, por exemplo); de outro, os fantasmas transicionais, 
associados aos grupos‑sujeito, capazes de mudanças, ligados ao processo interno de subjetivação que 
corresponde às diferentes transformações do grupo, como a teoria num partido revolucionário.
Para Guattari (2005), as intervenções institucionais devem levar em conta estes aspectos dos grupos: 
funções e fantasmas. Um grupo que tenha as funções imaginárias “funcionando bem” é aquele no qual as 
pessoas sentem‑se “em casa”. Ali, o fantasma do grupo é transicional. Nos grupos que não estão “lutando” 
por sua permanência, há possibilidade de avanço. Nos outros, o sujeito paga com a paralisia a oferta 
de manter‑se “vivo”. O autor oferece como exemplo destes últimos um grupo político‑revolucionário no 
qual a burocracia supera seu objetivo transformador: ainda que buscando a transformação, esse grupo 
revolucionário não se apresenta como parte do jogo, isto é, como inserido num espaço de mudança 
permanente de seus lugares e funções sociais, de sua identidade. A função imaginária nos grupos‑objeto, 
presente num certo fantasma de grupo, compele os indivíduos a procurar esconjurar a morte. Associados 
num “sentimento de eternidade” (2005, p. 198), isso implicaria, no entanto, e paradoxalmente, certo tipo de 
morte no grupo, desde que permanece, mas nele não há movimento. O “efeito morte”, para Guattari, não 
está alicerçado apenas na presença do imaginário no grupo: pelo contrário, se o imaginário “funcionasse 
bem”, os indivíduos não se perceberiam num movimento em direção à fusão com o absoluto; ao contrário, 
eles estariam abertos para o desejo, isto é, livres para ser. O “efeito morte” será, assim, determinado não 
pelo imaginário, mas pela função que ele desempenha.
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 Lembrete
O conceito de imaginário, em Guattari (2005), guarda semelhanças 
com aquele utilizado por Castoriadis (2007) proposto na confluência dos 
estudos marxistas e da Psicanálise.
5.2.5 A Psicologia Social das categorias sociais
Depois da apresentação das concepções de grupo presentes em diferentes práticas na psicoterapia 
e nas práticas institucionais fundamentadas na Psicanálise, tratamos aqui da discussão sobre grupos no 
âmbito da Psicologia Social europeia. Nesse caso, o debate sobre o imaginário e a linguagem nas ideias 
sobre grupos tem uma história bastante recente.
Reconhecida como tradição e campo de pesquisa científica a partir do final da Segunda Grande 
Guerra, a Psicologia Social europeia constitui‑se influenciada pela Sociologia de Durkheim e em 
oposição à hegemonia da Psicologia Social americana, situando suas preocupações nos grandes grupos 
sociais e em sua dinâmica (FARR, 2006). Nesse sentido, ao lado dos esforços para sistematizar métodos 
e procedimentos de pesquisa, os psicólogos sociais europeus irão dar especial importância à história e 
ao contexto, isto é, ao tempo, no desenvolvimento de seus trabalhos. Estarão marcados pela presença 
de discussões ideológicas, por teorias que garantem a prevalência do social, como o marxismo, e pelos 
processos que explicam os relacionamentos intergrupos, como a categorização social, base para se 
pensar a instituição e o pertencimento a grupos.
Os pesquisadores alinhados a essa tradição europeia serão profundamente influenciados por questões 
sobre o comportamento e a dinâmica dos grupos sociais deixadas na esteira da Segunda Grande Guerra. A 
importância oferecida aos contextos social e político no Pós‑Guerra é um indicativo dos parâmetros que 
viriam a orientar os pesquisadores na tentativa de explicar, entre outros, o comportamento intergrupos, 
seja na preparação para a guerra, seja durante o seu desenrolar. Os grupos‑alvo dessas pesquisas serão 
predominantemente aqueles das categorias sociais, isto é, grupos caracterizados como sem estrutura 
e sem leis de funcionamento predefinidas, com objetivos circunstanciais, que têm membros cuja 
relação não será necessariamente face a face. Nessa tradição, encontram‑se os estudos sobre grupos 
desenvolvidos pelas escolas de Bristol e de Genebra, assim como os trabalhos realizados a partir da 
Teoria das Representações Sociais de Serge Moscovici.
Nas considerações de Amâncio (2004) sobre a Escola de Bristol, situada na tradição de uma Psicologia 
Social de orientação sociológica, encontramos uma apresentação crítica dos trabalhos de Tajfel e 
Turner, seus principais representantes. Esses autores, ainda que vinculados a uma tradição sociológica 
de pesquisa, apresentariam os grupos sociais como estando a serviço de determinantes psicológicos, 
mais especificamente, da constituição e da manutenção de uma identidade controlada por processos 
cognitivos individuais, como motivações, reforçando a ideia do grupo como coadjuvante do self positivo 
e esvaziando sua dimensão solidária.
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Estudando o que determina a discriminação intergrupos, Tajfel e Turner opõem‑se às explicações 
que extrapolam o nível do individual e do interindividual para o das relações intergrupos, mais 
especificamente à atribuição do conflito como determinante da discriminação entre grupos sociais. O 
ponto de partida em Tajfel é o de que a percepção do que está à nossa volta não é uma ação puramente 
mecânica, mas comporta uma dimensão valorativa, na qual a categorização se apresenta como processo 
cognitivo fundamental e universal (apud AMÂNCIO, 2004).
Nas experiências com grupos mínimos, paradigma experimental dessa concepção, verifica‑se, numa 
situação socialmente vazia, o favorecimento do grupo ao qual se pertence, em detrimento do grupo dos 
outros, com a categorização como condição mínima para a emergência da discriminação intergrupos. 
Nessa perspectiva, em que o autofavorecimento dos grupos orienta‑se pela busca dos indivíduos por 
uma identidade social positiva, Amâncio (2004) indica que:
[...] os processos intergrupais de categorização e comparação sociais passam 
a ser regulados por uma motivação e o próprio grupo de pertença torna‑se 
uma entidade temporária e arbitrária, que serve de mero substituto funcional 
à satisfação de um self positivamente distintivo (AMÂNCIO, 2004, p. 296).
Para a autora, se Tajfel situa a identidade num continuum entre o interpessoal e o interindividual, e 
Turner transforma o conflito interpessoal‑intergupo numa oposição entre o self e o grupo, entre uma 
identidade pessoal e uma identidade social, isso leva a uma ideia de grupo “como um simples meio de 
satisfação da necessidade psicológica de uma distintividade social positiva” (AMÂNCIO, 2004, p. 298).
Apresentando os trabalhos desenvolvidos por pesquisadores vinculados à Escola de Genebra, 
representados por Doise, e que também fazem parte da tradição europeia de Psicologia Social, Amâncio 
(2004) afirma que eles preservarão conceitos como a ideia de categorização social e o paradigma do 
grupo mínimo, mas que os resultados dessa abordagem, ainda que integrando elementos da Escola de 
Bristol, afrontam princípios defendidos por Tajfel e Turner, como o da causalidade psicológica universal. 
Segundo a autora, para os pesquisadores de Genebra:
[...] a dicotomia entre identidade pessoal diferenciada e identidade social 
homogeneizante torna‑se inaceitável, tanto teórica como empiricamente, 
visto que o comportamento do indivíduo, no interior do grupo e em relação 
ao grupo comparativamente relevante, não é universalmente orientado por 
uma motivação, mas sim por referências a normas e valores coletivos que 
a categorização intergrupos torna significantes (AMÂNCIO, 2004, p. 303).
O processo de discriminação intergrupos que vai constituir as identidades sociais seria, assim, função 
dos elementos simbólicos que se situam na trama social, afastando essa concepção de grupos das 
explicações psicológicas e a localizando como francamente social.
Propondo a ideia de uma diferenciação categorial, os autores da Escola de Genebra defendem 
que, no processo psicológico de estruturação do meio, os conteúdos das categorias não podem ser 
desligados dos seus critérios classificatórios e que tais critérios dependem fundamentalmente das 
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relações intergrupos. Aqui, o ponto de partida está em estudos sobre conflitos nas décadas de 1950 e 
1960, cuja evolução entre os grupos é acompanhada por uma evolução nas imagens que cada grupo 
tem de si e do outro (AMÂNCIO, 2004). Doise irá complementar essas constatações incluindo a discussão 
sobre a dinâmica das representações dos grupos e afirmando que tais representações operam funções 
sociocognitivas que orientariam as interações entre os grupos: pela função seletiva, a diferenciação 
categorial dar‑se‑ia tendo o contexto como mediador; a partir da função justificativa, os conteúdos 
das representações que veiculariam uma imagem do outro grupo seriam justificados pelas posições 
de cada grupo no contexto da interação; a função antecipatória orientaria o desenvolvimento da 
relação entre os grupos. Assim, os trabalhos de Doise, em especial,observam uma maior interação 
entre o grupo e os indivíduos que o constituem, assim como entre as realidades simbólicas dos grupos 
e suas representações, num processo de constituição de identidades e diferenças sociais no qual os 
grupos se constroem, afetam os comportamentos dos indivíduos, e estes, por sua vez, interagem e 
corroboram a realidade dos grupos.
5.3 A Teoria das Representações Sociais (TRS) de Serge Moscovici
5.3.1 O pensamento do senso comum: os grupos pensam?
Na tradição da Psicologia Social europeia e buscando caracterizar o que seria efetivamente uma 
dimensão sociocognitiva (os grupos pensam?), o francês Serge Moscovici irá propor, a partir da década 
de 1960, a Teoria das Representações Sociais (TRS). Para iniciar a apresentação dessa teoria, vale aqui 
uma pergunta: quais as relações entre o pensamento científico e o senso comum?
Na tentativa de buscar uma resposta para essa questão num contexto de grande debate sobre 
a relevância do pensamento científico no Pós‑Guerra e de como esse pensamento era assimilado e 
transformado pelas “pessoas comuns”, Moscovici (1986) propõe o conceito de representações sociais, 
apresentado pela primeira vez no trabalho As Representações Sociais da Psicanálise, em 1961.
Moscovici tem como ponto de partida a ideia de representações coletivas, antes proposta pelo 
sociólogo francês Émile Durkheim. É um dos fundadores da Sociologia como ciência, para quem as 
representações coletivas são instituídas na origem da sociedade humana e têm status ontológico, isto é, 
não se constituem como uma média das representações individuais, mas são formadas por um caráter 
universal e necessário, apoiadas na natureza (social).
Na tradição de uma ciência sustentada pela razão e que busca na sociedade seu caráter positivo, 
verificável, concreto, Durkheim trata das representações coletivas como uma forma de conhecimento, 
próprio da sociedade, que é concebida como um “ser” que pensa: as representações coletivas 
“correspondem à maneira pela qual esse ser especial, que é a sociedade, pensa as coisas de sua própria 
experiência” (DURKHEIM, 1989, p. 513).
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Figura 16 – Émile Durkheim (1858‑1917)
O conceito de representação coletiva procurava dar conta de determinados conhecimentos inerentes 
à sociedade, como a religião, os mitos ou a ciência. Entre eles, Durkheim destacou a religião como 
origem de todas as formas de conhecimento. No estudo da religião de povos “primitivos”, ele identificou 
formas elementares que estariam presentes também em religiões mais elaboradas (SÁ, 1994).
A ideia original de Durkheim, que irá sustentar a proposta de um objeto próprio para a Sociologia, 
“um pensamento social”, contraria o senso comum e a concepção do pensamento como atributo 
do indivíduo e abre a porta para considerar‑se sociedade (e grupos) como entes para os quais cabe 
reconhecer e, então, estudar os processos que sustentam as representações.
Moscovici, apoiado nesse debate, subverte, no entanto, a concepção durkheimiana e indica que 
a representação dos objetos e das teorias sobre os quais as sociedades humanas têm interesse são 
reconstruídos por essas sociedades num processo contínuo apoiado, fundamentalmente, nas relações 
entre as pessoas e os grupos sociais.
Essa concepção de Moscovici pode ser contemporaneamente associada a outras preocupações e 
movimentos do pensamento nas Ciências Sociais, como sugere Arruda (2002, p. 10), ao falar das relações 
da Psicologia com outras áreas do saber:
Estamos numa era de reforma do pensamento que desvela a complexidade 
do objeto da Psicologia e a ingênua veleidade de acreditar que podemos, a 
partir de uma única área de saber, dar conta dele. Isso projeta a Psicologia 
no território da interdisciplinaridade.
Para a autora, seguindo o pensamento desenhado por Boaventura de Souza Santos (2010), vivemos 
um cenário em que se apresentam diferentes rupturas epistemológicas, isto é, movimentos que desafiam 
a hegemonia do valor dos conhecimentos já estabelecidos. A primeira dessas rupturas seria a do senso 
comum para a ciência, quando esta se constitui como campo hegemônico do saber. A segunda, da qual 
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estamos mais próximos no tempo, subverte e transforma esse entendimento, quando da passagem da 
ciência para o senso comum; mas um senso comum já transformado pela presença do pensamento 
científico e capaz de desafiar a hegemonia daquele pensamento.
Os interesses de Moscovici (2003) na construção da Teoria das Representações Sociais apresentam‑se 
nessa convergência; mas, indo além, ele pretende constituir teórica e metodologicamente um campo 
de trabalho em que se possa recuperar não apenas a importância do senso comum, mas a do grupo (e 
do humano). Sinteticamente, a TRS apresenta uma concepção que pretende atender a um problema 
crônico nas Ciências Sociais: a relação entre o pensamento científico e aquele que se refere ao senso 
comum, o pensamento do grupo, propondo, nesse sentido, outro problema: os grupos pensam?
A resposta a essa pergunta não é simples, porque propõe a superação de um entendimento 
bem‑estabelecido: o pensamento, para todos os efeitos, é um fenômeno individual. Como falar de um 
grupo que pensa? Como entender algo como uma cognição social? Moscovici (2003) vai, assim, construir 
uma teoria que pretende instituir uma maneira diferenciada de conceber a realidade dos grupos, o seu 
pensamento e, como decorrência, o comportamento e o devir dos grupos humanos.
Deparando‑se com o que ele entendia ser um fenômeno, antes de ser um conceito, a representação social, 
Moscovici evita sistematicamente definir, na sua obra, as representações sociais, sucumbindo a esse esforço 
em poucos momentos. Numa das poucas vezes em que sugere uma definição, ele se refere às representações 
sociais como “uma rede de conceitos e imagens arranjados juntos de diferentes maneiras de acordo com as 
interconexões entre as pessoas e os meios que servem para estabelecer comunicação, cujos conteúdos se 
diferenciam continuamente através do tempo e do espaço” (MOSCOVICI, 1988, p. 222).
Já Denise Jodelet (2001), psicóloga francesa do mesmo grupo de Moscovici, tentou materializar 
minimamente esse conceito e compreende uma representação social como:
[...] uma forma de conhecimento, socialmente elaborada e partilhada com um 
objetivo prático, e que contribui para a construção de uma realidade comum a 
um conjunto social. Igualmente designada como saber de senso comum ou ainda 
saber ingênuo, natural, esta forma de conhecimento é diferenciada, entre outras, 
do conhecimento científico (p. 22).
Na passagem das teorias científicas para o senso comum, num processo mediado pelo diálogo entre 
os indivíduos, a Teoria das Representações Sociais redescobre nos grupos sociais uma explicação para o 
mundo que orienta o comportamento dos indivíduos no grupo.
Considerando as representações sociais uma teoria do senso comum, e não uma teoria científica, 
como uma versão do senso comum, isso não lhes confere, no entanto, o status de pensamento 
primitivo ou menor. Ao contrário, a representação social apresenta‑se como uma categoria especial de 
conhecimento, variando de acordo com onde, quando e quem se serve dela. Sua presença e função podem 
ser verificadas no cotidiano de todos nós e não implicam uma apreensão “deficiente” da realidade,mas 
um entendimento socialmente determinado pelas relações humanas e que organiza nossa compreensão 
e ação no mundo.
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5.3.2 Objetivação e ancoragem
Moscovici irá considerar que o processo de elaboração de uma representação social, que ele caracteriza como 
do âmbito da cognição social, pode ser compreendido em razão de dois momentos: a objetivação e a ancoragem.
A objetivação é o processo pelo qual se tenta reabsorver um excesso de significações, materializando‑as. 
A quantidade de significantes e indícios que um determinado grupo utiliza pode tornar‑se de tal maneira 
abundante que os sujeitos, diante dessa situação, procuram combatê‑la tentando ligar palavras a coisas. 
Aqui, Moscovici entende estar a dimensão imagética da representação social, que tem importância 
direta no seu processo de disseminação.
É possível reconhecer esse movimento, por exemplo, ao se falar da representação social da Psicanálise. 
Ainda que se trate de campo complexo e suponha uma difícil assimilação, não podemos deixar de 
lembrar a figura de Freud, das práticas psicoterapêuticas e do sofrimento mental, cada vez que nos 
depararmos com um simples divã.
Figura 17 – Um divã pode compor a representação social da Psicanálise
A ancoragem é o outro lado da moeda em relação à objetivação. Ajusta o objeto representado à realidade 
da qual este foi sacado, promovendo a constituição de uma rede de significações em torno dele e orientando 
as conexões entre ele e o meio social. Assim, o objeto, via representação social, passa a ser um instrumento 
auxiliar para a interpretação da realidade. Nesse contexto, pode‑se verificar a dimensão conceitual e 
linguageira da representação social. Para não irmos muito longe, podemos recorrer novamente à Psicanálise 
como exemplo. É possível verificar o processo de ancoragem na associação que podemos fazer entre a prática 
religiosa católica da confissão e a Psicanálise: ambas ocorrendo num espaço reservado, com garantia de 
sigilo, possibilidade de se tratar de questões íntimas que o sujeito não traria para o espaço público. A prática 
psicanalítica como conceito viria ancorar‑se, assim, no conceito já conhecido de confissão.
Exemplo de aplicação
Considere outro exemplo do processo de disseminação das representações sociais na sua dimensão 
imagética: qual famosa marca de refrigerantes pode ser reconhecida pelo formato inconfundível de 
suas garrafas?
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5.3.3 Teoria das Representações Sociais e grupos
De acordo com Moscovici, as representações sociais são função dos grupos, de sua experiência 
e daquilo que os identifica, sua identidade. Assim, pode‑se considerar que variam de acordo com 
determinado grupo. Isso é de tal forma importante que seria possível reconhecer a pertença (a relação 
com o grupo) por meio do estudo das representações sociais. Universitários versus operários, mulheres 
versus homens, cada categoria social apresentaria singularidades em relação às suas representações 
sociais de um determinado objeto/teoria.
Apesar dessa associação, Moscovici e outros estudiosos da TRS têm recolhido exemplos de como, 
em um mesmo grupo, podem conviver diferentes representações sociais, o que foi chamado de polifasia 
cognitiva (MOSCOVICI, 1986).
Nos estudos sobre a representação social da Psicanálise, Moscovici entendeu que havia evidências 
quanto a diferentes representações que coexistiam tanto em um mesmo indivíduo quanto em um mesmo 
grupo social, dependendo do contexto em que são produzidas e dos objetivos a que estão subordinadas. 
Conforme as condições nas quais as representações são evocadas, elas podem diferir e deixar transparecer 
diferentes racionalidades e sistemas para explicar a realidade. Dessa forma, as pessoas lançam mão de 
um ou outro desses saberes, dependendo das circunstâncias e dos interesses particulares que sustentam 
em um dado lugar e tempo. De acordo com Jodelet (2001), Moscovici propõe esse entendimento no 
contexto de debates ligados à diversidade do saber e da sua sobreposição, exigindo uma explicação que 
desse conta da convivência, no cotidiano, de diferentes abordagens do conhecimento, que vão da ciência 
a outras formas embebidas em outras racionalidades, como as crenças, as representações sociais etc.
Alguns exemplos sobre as representações sociais podem ajudar a entender a valoração das experiências 
sociais e étnicas, de como o conhecimento é função da história e das circunstâncias concretas que 
levam os diferentes grupos sociais a instituírem representações sociais e a elas recorrerem.
O primeiro, apresentado pelo próprio Moscovici (1986), afirma que a população de origem espanhola 
do sudoeste dos Estados Unidos possui quatro registros diferentes para classificar e interpretar as 
doenças: a sabedoria popular medieval do sofrimento físico, a cultura das tribos ameríndias, a medicina 
popular inglesa nas zonas urbanas e rurais, e, finalmente, a ciência médica. Tendo em vista a gravidade 
da doença e a situação econômica do grupo, eles recorrem a um ou outro desses registros para procurar 
a cura.
Outro exemplo pode ser encontrado no estudo sobre populações de origem chinesa na Inglaterra 
e suas diferentes formas de cuidar da saúde, especialmente entre os adultos jovens. De acordo com 
Gervais e Jovchelovitch (1998), pode‑se constatar o uso de duas representações diferentes: a da 
medicina tradicional chinesa (MTC) e a da medicina ocidental. De acordo com o tipo de problema e a 
sua gravidade, os indivíduos buscam uma ou outra. Não fossem apenas as grandes diferenças entre 
os princípios e os métodos de cada uma dessas práticas, o que chamou a atenção da pesquisadora 
aqui foi a aparente contradição (o reconhecimento de uma prática deveria invalidar a outra), que é 
tomada pelo grupo com “naturalidade”: afinal, trata‑se de um uso que pretende ser, sempre, o melhor 
para resolver a questão de saúde.
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No que diz respeito à relação com os grupos, vale reiterar ainda outros aspectos das representações 
sociais,l um deles a linguagem. As representações sociais são definidas no contexto das relações, são 
entidades dinâmicas, mudando de acordo com o contexto social em que se apresentam. São relativas, 
assim, ao grupo que delas se apropria e, mais ainda, são função também da linguagem desse grupo, e, 
ainda, de como esse grupo usa a linguagem.
Outro aspecto diz respeito às relações entre as representações sociais e o comportamento do grupo. 
Segundo Moscovici (1986), a representação social é compreendida também como comportando a 
preparação para a ação, isto é, não tem apenas status de constructo, mas é um “instrumento” nas 
inter‑relações cotidianas. O comportamento de um indivíduo ou grupo poderá ser assim entendido 
como referente ao universo de representações sociais que os caracteriza, e o estudo de uma certa 
representação social refere esse universo em relação ao qual o grupo se orienta. Assim, para investigar 
as condições grupais das representações sociais, é necessário observar as questões da história e do 
jogo dessas representações. Seguindo o sugeridopor Jodelet (1989) e Spink (1993), é especialmente 
importante o entendimento não apenas dos conteúdos, mas também dos processos sociais envolvidos 
nas representações, integrando essas duas dimensões e apelando para a história de sua produção como 
fonte de conhecimento. Uma chave para dar conta dessa preocupação é tomar como referência, para 
organização e categorização do contexto, conceitos como tempo longo (o imaginário social), tempo 
curto (a situação interacional) e tempo vivido (as disposições adquiridas em virtude da filiação a 
determinados grupos sociais), indicados por Spink (1993) e que se prestam a localizar o lugar ocupado 
por uma determinada representação social.
Dinâmica, organizadora, integradora, histórica, a representação social apresenta‑se e reproduz‑se 
nas conversas do dia a dia, nas esquinas, nas praças e nos bares, instalando‑se de maneira que subverta 
as normas e a rigidez habituais de aprendizagem. Integrando o que é desconhecido, a representação 
social possibilita apontar a importância do senso comum nas ações dos indivíduos em suas realidades.
Ao terminar este tópico, vale destacar uma dimensão menos explorada nas discussões teóricas 
sobre a TRS, mas muito importante quando se trata das práticas de investigação numa dimensão 
crítica. Como modelos compartilhados nas relações cotidianas, as representações sociais participam 
na definição das identidades pessoais e sociais. Sob esse viés crítico, compreende‑se que identidades 
e representações sociais estão sujeitas às condições de dominação e controle social, à influência da 
ideologia, e não podem ser entendidas como construídas em ambientes neutros e alheias a esses 
determinantes. Dessa forma, as representações sociais podem ser consideradas como ideológicas e 
potentes para cristalizar relações concretas de dominação (OLIVEIRA; WERBA, 2002), especialmente 
quando se trata da identidade.
Para tomar aqui um exemplo, Mattos e Ferreira (2004), ao tratarem das representações sociais que um 
determinado grupo pode possuir sobre moradores de rua, discutem como essas representações podem 
estar a serviço de instituir uma condição permanente, naturalizada. As representações sociais sobre as 
pessoas em situação de rua podem estar a serviço de reforçar identidades que possuem intrinsecamente 
um valor negativo; nesse caso, seriam consideradas ideológicas, pois materializam relações concretas 
de dominação.
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5.3.4 Teoria das Representações Sociais, imaginário e grupos
Discutindo as ideias sobre grupos presentes na Teoria das Representações Sociais, autores importantes 
como Jorge Vala e Rom Harré irão afirmar que estas classificam os grupos como categoriais. A partir daí, os 
autores apontam as consequências dessa caracterização para o estabelecimento da TRS como uma genuína 
teoria dos grupos sociais e, mais ainda, para sua filiação à corrente sociológica de Psicologia Social. Em tais 
considerações, abrem caminho para a introdução do imaginário nessa concepção de grupo social.
Numa apresentação crítica da TRS, Vala (2004) faz um levantamento das concepções de grupo que 
perpassam pela Psicologia Social. Segundo o autor, fundamentados no processo de categorização, os 
psicólogos sociais teriam produzido, como vimos antes, pelo menos duas maneiras relativamente distintas 
de considerar um grupo. Na perspectiva cognitiva, como a de Tajfel e Turner, “um grupo só existe quando 
os indivíduos integram na sua autodefinição a inclusão numa categoria de pessoas produzida pelo 
processo de categorização” (VALA, 2004, p. 381). Já na perspectiva sociocognitiva de Doise, “um grupo 
existe quando os indivíduos integram na sua autodefinição a pertença a uma categoria social, sendo que 
esse processo é regulado pela interdependência dos grupos sociais” (VALA, 2004, p. 381). Para o autor, no 
entanto, o processo de categorização social implicaria utilizar não só o que ele chama de categorias “reais”, 
mas também aquelas decorrentes de certa história e contextos simbólicos, resultado do entrecruzamento 
das linguagens cotidiana, econômica, religiosa, administrativa e jornalística. Desse modo, a construção de 
representações sociais no âmbito do grupo seria um passo fundamental para o processo de categorização.
Os indivíduos constroem representações sobre as estruturas sociais; estas, por sua vez, organizam a 
instituição dessas representações sociais de forma que, no esforço para o estabelecimento dos limites 
dos grupos, a pergunta “quem sou eu” englobe“o que significa ser membro desse grupo”. Isso quer dizer 
que a constituição de uma identidade grupal é função do universo simbólico (e imaginário) no qual os 
membros desse grupo estão imersos.
Em oposição a esse entendimento do grupo como uma categoria, autores que representam uma 
Psicologia Social psicológica, como Horowitz, Rabbie, Deutsch e Sherif, indicariam, segundo Vala (2004, 
p. 382), que “um grupo social deve ser considerado como uma totalidade dinâmica, caracterizada pela 
interdependência entre os seus membros, enquanto uma categoria social corresponde apenas a uma 
simples coleção de indivíduos que compartilham, pelo menos, um atributo comum”. Assim, só haveria 
grupo quando houvesse interdependência e objetivos comuns, diferentemente do que se encontra numa 
categoria social. Vala (2004), mediando essa disputa, sugere que, em vez de se pensar uma diferença 
absoluta entre grupos e categorias, deve‑se considerar a organização social como um continuum, com 
grupos pré‑estruturados (categorias) e grupos estruturados (os “grupos” propriamente ditos), sem 
prejuízo de sua relevância teórica e metodológica.
Nas considerações desse autor, encontram‑se argumentos para preservar o grupo categorial e a 
própria TRS no contexto de uma Psicologia Social sociológica; já Rom Harré irá colocar em xeque esse 
entendimento. As críticas de Harré (1984) às noções de cognição e de social que perpassam pela TRS 
estabelecem‑se a partir da distinção entre os grupos estruturados, aqueles cujas relações entre membros 
implicam direitos, obrigações e cumprimento de certos papéis, e os grupos categoriais, chamados por ele 
de taxonômicos, constituídos basicamente pelas similaridades entre seus componentes.
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Esses grupos taxonômicos seriam entidades ideais, agregados, resultados de uma atitude classificatória 
arbitrária, feita de acordo com interesses que podem ou não ser justificados cientificamente (HARRÉ, 
1984). Entendendo que no âmbito das representações sociais predomina a noção de grupo taxonômico, 
isso implicará, de acordo com Harré, uma compreensão do social como equivalente a um conjunto de 
indivíduos similares, uma pluralidade distributiva, fazendo da representação social uma “representação 
social distributiva”. Em última análise, a TRS, em vez de constituir‑se como produção exemplar de uma 
Psicologia Social sociológica, viria a ser apenas mais uma versão “psicológica” de Psicologia Social, 
reafirmando a ênfase no individualismo.
Quanto a um exemplo de como essa ênfase implica diferenças significativas, ele diz, apontando para 
a diferença entre a importância dada aos problemas que tratam de regras e papéis sociais e aqueles 
que tratam de cognição – em relação, por exemplo, à prerrogativa da racionalidade do cientista –, 
que “comparando cientistas e pessoas comuns, nós não devemos perguntarcomo suas mentes são 
individualmente diferentes, mas como as convenções sociais que orientam seus discursos explanatórios 
e justificatórios diferem” (HARRÉ, 1984, p. 930).
Dessa forma, para Harré (1984), o caráter sociocognitivo das representações sociais 
estaria prejudicado pelo recurso a conceitos que sobrevalorizariam os aspectos cognitivos 
individuais. Concentrada na caracterização do grupo categorial, sua crítica aponta que esse 
grupo seria apenas um conjunto de indivíduos semelhantes, em que o todo é virtualmente 
igual à soma das partes, o que justificaria seu entendimento de uma ênfase “psicológica” 
(os indivíduos semelhantes) e da importância menor dada ao contexto, desde que fosse 
privilegiado o processamento individual de informações. Reforçando sua posição contra esse 
modelo de mente concebida como um “processador”, Harré (1984) afirma a importância do 
uso e do contexto em que se encontram as representações sociais, sugerindo que elas podem 
ser inferidas nas práticas sociais sem serem formuladas em teorias, que elas podem estar 
implícitas nos comportamentos das pessoas, que poderiam ser entendidos não como funções 
individuais, mas sim como funções coletivas.
A crítica de Harré (1984) aponta para um descompasso entre a importância dada à dimensão 
cognitiva nos grupos – afinal, estamos falando em representações – e aquela dada ao próprio grupo 
como uma unidade que é mais do que a soma de suas partes. A dimensão categorial do grupo, desde 
essas críticas, serviria de suporte para a ideia de a representação social poder ser tomada como função 
no indivíduo, desbancando a história e a dinâmica da representação no interior do próprio grupo como 
as principais determinantes de seu sentido.
A questão é que o grupo não é apenas a moldura de um cenário no qual a representação 
social pode ser verificada; é o suporte vivo das representações que estão ali entranhadas. 
Essa discussão sobre a dimensão categorial dos grupos pode nos auxiliar a compreender a 
presença do imaginário na Teoria das Representações Sociais, mas não dá conta da questão da 
linguagem aqui. Não se pode negar o reconhecimento do papel desempenhado pela linguagem 
no campo das representações sociais. Apesar de Moscovici admitir que não tem sido dada 
atenção suficiente à linguagem nesse campo, sua opinião em relação a ela é inequívoca, 
quando se tem em conta as afirmações de que a linguagem é o método por meio do qual 
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entendemos e trocamos nossas maneiras de ver as coisas (MOSCOVICI, 1984) ou de que as 
palavras fazem mais do que representar coisas: elas criam coisas (MOSCOVICI, 1986).
Ainda assim, essa linguagem em representação tem sido objeto de crítica constante (EDWARDS; 
POTTER, 1992), porque aqui ela quase sempre é tomada como ferramenta representacional, isto é, 
invariável, de sentido único, podendo este ser apreendido diretamente. Mesmo ocupando um lugar 
de destaque na TRS – afinal, esta se constitui, também, por meio de relações entre falantes –, a 
linguagem acaba por ser reduzida à sua dimensão positiva, na maioria das vezes não se observando 
que a linguagem em ação não apenas representa, mas também institui sentidos.
Algumas das sugestões para tentar escapar dessa armadilha no âmbito dos estudos de grupos sociais 
consistem na análise linguística do discurso por meio do estudo de repertórios interpretativos. Nesse 
caso, críticos propõem que se abra mão da TRS, descartando, assim, problemas como o do consenso e o 
da necessidade de uma teoria cognitiva. Para eles, estar‑se‑ia levando em conta não uma representação 
como conceito “puro”, mas sim uma representação referenciada ao uso específico que dela se faz numa 
determinada situação. O sentido dessa representação estaria ligado ao lugar ocupado por ela em relação 
à função desempenhada por uma fala, de forma que se procurasse buscar na linguagem uma função 
que não é a de apenas representar, mas, e principalmente, a de propiciar um campo em que o significado 
se apresente como fruto de um jogo do qual os indivíduos participam usando a linguagem segundo as 
possibilidades que ela oferece.
Essas propostas que apostam na análise de discurso como solução e que procuram discutir a 
função da linguagem num determinado contexto não dão conta, no entanto, de questões importantes 
ligadas à dimensão linguageira dos grupos sociais. Assim, a representação social, fundada na palavra, 
requer que se identifique o jogo, a rede que sustenta certo discurso. Entretanto, em vez de sustentar 
a representação social quase exclusivamente na linguagem e em seu uso, é necessário reconhecer 
a presença do grupo ao qual se refere essa representação social, perceber em que jogo aquele 
determinado grupo, que tem uma história, está implicado, e desvelar, enfim, onde se localizam os 
jogadores e se desenvolve sua história.
Assim, apesar de encontrando fundamento em teorias não representacionais da linguagem 
e apontando para a importância de se estudar a função da linguagem na representação social, as 
propostas encabeçadas por Potter ainda não dão conta de uma dimensão dos estudos sobre grupos 
que está atrelada ao tempo. Para comportar o sentido do contexto nos estudos sobre grupos, não basta 
tratar da linguagem como jogo: é preciso localizar no grupo a presença do imaginário.
Exemplo de aplicação
O estudo de Moscovici sobre as representações sociais da Psicanálise foi o ponto de partida para o 
desenvolvimento da teoria.
Tente identificar o uso “senso comum” que você faz dos conceitos psicanalíticos.
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5.4 Identidade
5.4.1 Identidade‑metamorfose
Tendo apresentado a Teoria das Representações Sociais e sua ligação com a caracterização dos 
grupos, podemos introduzir aqui o conceito de identidade social. A discussão sobre esse conceito 
especialmente importante para a Psicologia Social vai requerer que você tente, antes tudo, responder a 
algumas perguntas. Tente fazer isso espontaneamente, sem consultar nenhum texto. Primeira pergunta: 
o que significa “ter” uma identidade? Pronto? Agora vamos à segunda pergunta: o que “é” sua identidade? 
Consegue responder?
Não há dúvida de que, sem muito esforço, todos nós somos capazes de responder a essas perguntas, 
e, mais ainda, ficaremos bastante satisfeitos com esses entendimentos. Afinal, todos sabemos o que é a 
identidade. Ela está naquele documento que carregamos na carteira (associada a um número, inclusive), 
confunde‑se/mistura‑se com outros conceitos psicológicos, como “personalidade”; enfim, conta para os 
outros quem somos “de fato”.
Essa ideia de identidade, que provém do senso comum, contém o princípio da permanência, da 
essência, de algo que pretendemos cultivar como próprio de quem somos: sempre os mesmos. Nesse caso, 
a identidade é um objeto que podemos “ter”, que pode ser “nosso”. Ora, sob o entendimento proposto por 
uma Psicologia Social crítica, essa concepção de permanência associada à existência de um sujeito será 
duramente desafiada (CIAMPA, 1983). Numa perspectiva histórico‑social, como vimos, os sujeitos não 
só são resultado daquilo que os antecedeu, das condições concretas, simbólico‑imaginárias, que vieram 
se constituindo socialmente, mas são também, eles mesmos, sujeitos às mudanças e transformações que 
se realizam a cada momento. Dessa forma, embora pareça assustador, pode‑se dizerque em vez de você 
e eu sermos “alguém”, de fato, nós estamos sendo, isto é, estamos em constante transformação, numa 
contínua metamorfose.
Vamos dar uma olhada na música de Raul Seixas, Metamorfose ambulante:
Metamorfose ambulante
Prefiro ser
Essa metamorfose ambulante
Eu prefiro ser
Essa metamorfose ambulante
Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo
Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo
Eu quero dizer
Agora, o oposto do que eu disse antes
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PSICOLOGIA DOS GRUPOS E SUBJETIVIDADE
Eu prefiro ser
Essa metamorfose ambulante
Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo
Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo
Sobre o que é o amor
Sobre o que eu nem sei quem sou
Se hoje eu sou estrela
Amanhã já se apagou
Se hoje eu te odeio
Amanhã lhe tenho amor
Lhe tenho amor
Lhe tenho horror
Lhe faço amor
Eu sou um ator
É chato chegar
A um objetivo num instante
Eu quero viver
Nessa metamorfose ambulante
Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo
Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo
Sobre o que é o amor
Sobre o que eu nem sei quem sou
Se hoje eu sou estrela
Amanhã já se apagou
Se hoje eu te odeio
Amanhã lhe tenho amor
Lhe tenho amor
Lhe tenho horror
Lhe faço amor
Eu sou um ator
Eu vou lhe desdizer
Aquilo tudo que eu lhe disse antes
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Unidade II
Eu prefiro ser
Essa metamorfose ambulante
Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo
Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo
Fonte: Seixas (1973).
A letra da canção, que você muito provavelmente já tenha escutado, refere de maneira poética esse 
mesmo processo de transformação pelo qual passamos continuamente e revela, ainda, o preço que isso 
nos cobra: mudamos de opinião, pensamos diferentememte sobre a vida e sobre as pessoas, mudamos 
de amor. Se nossa identidade se caracteriza pela “metamorfose ambulante”, pela mudança permanente, 
é preciso reconhecer que a própria palavra “identidade” não dá conta do que ela representa quando 
significa “aquilo que é idêntico a si mesmo”.
 Saiba mais
Ouça essa música em:
SEIXAS, R. Metamorfose ambulante. Intérprete: Raul Seixas. In: Krig‑ha, 
Bandolo! Rio de Janeiro: Philips Records, 1973. LP. Faixa 3.
5.4.2 Identidade e ideologia
De acordo com Ciampa (1983), a ideia de identidade diz respeito a uma certa existência que 
caracteriza cada um de nós e refere também um lugar social pela nossa vinculação a um determinado 
grupo. Se dizemos que temos um nome, que somos de tal lugar ou filhos de alguém, isso nos oferece 
uma identidade. Entretanto, também nos apresentamos, por exemplo, como profissionais, o que nos 
confere certa posição no jogo social: compartilhamos (para o bem e para o mal) a identidade de nossos 
colegas de profissão. O mesmo entendimento pode ser ligado à classe social (pobres e ricos), à raça 
(brancos e negros) ou ao gênero (homem, mulher, homossexual, lésbica, transgênero).
Nessa perspectiva, a identidade corresponde a uma construção social e é, portanto, histórica. 
Forjada nas relações entre os indivíduos e nos grupos, dependente dos outros, ela se faz e se refaz nas 
relações, de tal modo que podemos dizer que somos nas relações e, assim, como sugere Ciampa (1983), 
metamorfoses ambulantes.
5.4.3 Identidade e grupos
Buscando uma identidade, marcas que indiquem para os outros e para nós mesmos quem ou o que 
somos, somos apropriados por referências sociais disponíveis no universo simbólico em que estamos 
imersos e no qual estão os grupos, assim como nos apropriamos dessas referências. Na composição de 
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PSICOLOGIA DOS GRUPOS E SUBJETIVIDADE
uma identidade que pede para ser permanente, esses grupos, referenciais identitários, parecem‑nos 
estáveis, fora do tempo. Essa permanência é, de fato, aparente, desde que o grupo é produzido e 
instituído nos relacionamentos entre indivíduos e entre grupos. A identidade que se presta a marcar 
uma existência particular tem para nós a dimensão de uma coisa, de um bem, quando os grupos deixam 
de carregar sua dimensão imaginária.
Resultado de circunstâncias históricas, econômicas, políticas e, em última instância, sociais, essa 
identidade tende a ser algo que possuímos, por herança ou por esforço próprio, mas esforço de empresário, 
não de autor. Como um bem, ela não mais se transforma, mas está sujeita à acumulação, como um capital. 
Fora do tempo, ela se “moderniza”. Os grupos, nesse cenário em que vai se estabelecer a identidade, 
são coisas, objetos que virão se associar, colar‑se a essa identidade morta, sem vida. Assim, podemos 
compreender os grupos como objetos naturais, materializados no conjunto de indivíduos que se chamam 
ou são chamados por certo nome, ou entendê‑los como sujeitos a uma transformação permanente, por 
força da presença viva do imaginário. Podemos também considerar, na sua dimensão apenas virtual, os 
grupos entendidos radicalmente como nomes, imateriais, signos e marcadores de uma identidade morta.
Exemplo de aplicação
Você não está convencido de que a identidade é metamorfose? Procure ler o texto a seguir:
CIAMPA, A. C. A estória do Severino, a história da Severina: um ensaio de Psicologia Social. São 
Paulo: Brasiliense, 1983.
6 PROCESSOS GRUPAIS
Todos nós pertencemos a grupos. Determinadas concepções da Psicologia Social chegam a afirmar 
que só “somos”, efetivamente, em grupo. E você? Consegue se ver “sendo” a partir dos grupos, ou 
seria suficiente dizer que “somos” singulares, únicos, autônomos e, então, podemos pertencer a grupos 
humanos, especialmente àqueles dos quais escolhemos participar?
A identidade historicamente construída tem como um de seus elementos mais importantes a 
ligação a grupos sociais. Vale aqui indicar o entendimento de Lane (2006) sobre os grupos, para os 
quais ela reivindica a mesma preocupação quanto à importância da história na sua instituição. As 
concepções tradicionais sobre os grupos usualmente os caracterizam como um conjunto de pessoas que 
compartilham um objetivo comum. Entretanto, numa perspectiva social crítica, seria melhor definir o 
processo grupal conforme sua inevitável sujeição à passagem do tempo e à inserção social.
Lane (2006) insiste em tratar o grupo como processo ao caracterizá‑lo como uma unidade que 
não se faz como permanente, que se constitui fundamentalmente de pessoas e relações e que está 
inserida num determinado contexto histórico e social. Ora, tudo isso que irá compor a concepção e a 
materialidade dos grupos é sujeito à passagem do tempo, isto é, muda, transforma‑se, por conta dessa 
passagem. É por isso que se poderá, assim, falar em processo, porque o grupo só existe sendo; não é 
coisa que possa ser abstraída de sua condição histórica.
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Unidade II
No debate sobre a Psicologia dos Grupos, a literatura psicológica e sociológicatrata dos grandes 
conjuntos humanos nas sociedades contemporâneas como “massa”, isto é, um agregado informe de 
indivíduos que não se conhecem pessoalmente, sem vínculos, sem objetivos comuns, entre os quais não 
se pode reconhecer autonomia, mas apenas a sujeição a ideias e opiniões produzidas em outros lugares 
e impostas a esses conjuntos, usualmente, pela mídia. De fato, quando falamos “massa”, normalmente 
tratamos dela com desdém – afinal, nesse caso, as pessoas não têm nomes nem ligações e, ainda mais, 
são necessariamente dominadas, controladas.
Seu comportamento, segundo cientistas sociais como Le Bon (2008), pode ser entendido como 
o de uma “manada”, sujeita a interferências sem a mediação da razão. A multidão reunida em 
grandes eventos ou em situações cotidianas nas ruas, nos terminais de transporte público ou nos 
estádios de futebol, por exemplo, teria comportamento imprevisível, que se caracterizaria pela 
possibilidade de os indivíduos realizarem atos de que, em outras situações, sem a presença da 
multidão, não seriam capazes. A violência dos quebra‑quebras e de um linchamento seria a marca 
desse comportamento coletivo marcado pela diminuição do funcionamento intelectual, a razão, 
e pela ampliação da afetividade.
Figura 18 – Os grupos sociais estão situados no tempo e no espaço
Freud, em Psicologia das massas e análise do ego (2011), entra nesse debate a partir da discussão 
sobre a obra de Le Bon. Para ele, a Psicologia individual não poderia ser separada da social, e 
toda psicologia é, num certo sentido, social, na medida em que se verificam nos indivíduos os 
traços recolhidos das suas relações sociais. Freud também considera entre os seres humanos um 
instinto gregário, chave para algo como uma mente grupal, cujo estudo da razão que sustenta 
o funcionamento dos grupos é parte desse trabalho. Reconhece também como as massas são 
influenciadas pela presença “fascinante”, hipnotizante, de um líder. As dimensões inconscientes 
envolvidas na constituição do grupo e sua incidência no indivíduo ajudam a compreender fenômenos 
já descritos por Le Bon, como a potência do indivíduo quando se vê pertencente ao grupo, ou 
mesmo a submissão, no grupo, a entendimentos até mesmo contrários às crenças individuais. 
A suposição fundamental de Freud formulada nesse texto é de que as relações amorosas (laços 
emocionais) constituem a essência da mente grupal, e é nesse suporte que está, por exemplo, a 
importância do líder.
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PSICOLOGIA DOS GRUPOS E SUBJETIVIDADE
Figura 19 – Manifestações populares contra a corrupção (2013)
Veja como a música a seguir, de Zé Ramalho, ilustra essa condição de massa, associando‑a à realidade 
brasileira, numa condição de controle social e de submissão do povo aos interesses alheios.
Admirável gado novo
Vocês que fazem parte dessa massa
Que passa nos projetos do futuro
É duro tanto ter que caminhar
E dar muito mais do que receber
E ter que demonstrar sua coragem
À margem do que possa parecer
E ver que toda essa engrenagem
Já sente a ferrugem lhe comer
Êh, oô, vida de gado
Povo marcado
Êh, povo feliz!
Lá fora faz um tempo confortável
A vigilância cuida do normal
Os automóveis ouvem a notícia
Os homens a publicam no jornal
E correm através da madrugada
A única velhice que chegou
Demoram‑se na beira da estrada
E passam a contar o que sobrou!
Êh, oô, vida de gado
Povo marcado
Êh, povo feliz!
Fonte: Ramalho (1980).
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Unidade II
 Saiba mais
Ouça essa música em:
RAMALHO, Z. Admirável gado novo. Intérprete: Zé Ramalho. In: A peleja 
do diabo com o dono do céu. Epic, 1980. LP. Faixa 2.
Exemplo de aplicação
Embora o comportamento da massa esteja associado à violência, procure lembrar‑se das grandes 
tragédias coletivas (terremotos, deslizamentos, inundações).
Depois, reflita: o comportamento solidário também não pode ser associado às massas?
6.1 Classificando os grupos sociais
Como já foi visto neste livro‑texto, é importante considerar que a ideia de grupo dá conta de uma 
variedade importante de conjuntos de indivíduos. Se ela se presta à caracterização de uma categoria 
social que compreende determinada identidade profissional (o grupo de psicólogos, por exemplo), a 
ideia de grupo também estará presente quando falamos de pequenos grupos, quando os indivíduos 
estão face a face, envolvidos em uma prática social determinada, como numa empresa (os funcionários 
da empresa X), na escola (os alunos ou os professores) ou em uma ação de assistência social (educadores, 
técnicos, gestores).
Uma classificação possível é aquela identificada por Adorno e Horkheimer (1973), diferenciando 
microgrupos de macrogrupos. Os microgrupos, ou grupos primários, como a família, são importantes 
para a produção da subjetividade e para a manutenção de ideias e ideais sociais. Sua presença é 
praticamente universal, porque estes se encontram ao longo de toda a história civilizatória. Esses 
grupos estão vinculados à aprendizagem de uma “natureza humana”, mais propriamente – o que 
significa que os microgrupos estão associados à socialização dos indivíduos desde a infância. A 
ênfase nesses microgrupos justifica‑se pela sua função psicossocial: o contato direto entre aqueles 
que pertencem a tais grupos permite a identificação entre seus membros e com o próprio grupo. 
Nos microgrupos, os indivíduos têm experiências de si simultaneamente vinculadas às presenças 
de outras pessoas.
Macrogrupos ou grupos secundários são grupos de outra ordem e não se diferenciam 
dos microgrupos necessariamente pelo tamanho. Neles, a privacidade dos membros é mais 
preservada. Do ponto de vista dinâmico, os macrogrupos substituem progressivamente os 
grupos primários, contribuindo para que a socialização se faça com mais intensidade a partir 
dos macrogrupos.
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PSICOLOGIA DOS GRUPOS E SUBJETIVIDADE
Outra fórmula para tentar classificar os grupos é tomá‑los a partir de alguns elementos básicos. 
Um grupo pode ser considerado de acordo com a maneira como está organizado, os seus objetivos 
compartilhados, a quantidade de pessoas que o compõem e o contato e vínculo entre seus participantes, 
assim como quanto à sua duração. Mais ainda, aqui, o quinto elemento estará no seu reconhecimento 
social. Vejamos alguns exemplos de grupos conforme essa classificação.
Numa extremidade, encontramos nas sociedades contemporâneas grandes conjuntos humanos, 
formados por milhares ou mesmo milhões de pessoas, que podem ser caracterizados como grupos. 
Pouco organizados, neles, as pessoas não se conhecem pessoalmente e mal compartilham objetivos 
comuns; mas, ainda assim, são reconhecidas como possuidoras de uma mesma identidade. Não nos 
recusamos a prever seus comportamentos, as maneiras pelas quais podem e irão resolver as situações 
cotidianas. São as categorias sociais, como “as mulheres”, “os psicólogos”, “os playboys”, ou “os 
moradores da zona leste”.
No outro extremo, estão os pequenos grupos, os grupos de interação face a face, em que todos se 
conhecem e se relacionam a partir de alguma organização, pelo exercício de determinadas funções 
dentro do grupo. Umavariável importante no que diz respeito ao seu funcionamento é o vínculo, isto é, 
as relações simbólicas e afetivas que se constroem ao longo da existência do grupo. O vínculo também 
é dependente da história e do contexto, atualizado nas posições exercidas dentro do grupo. O psicólogo 
social Pichon‑Rivière (2009) propõe que se deva entender a interação dos membros de um grupo como 
um vaivém de determinações que ele representa como uma espiral dialética, em que tanto sujeito 
quanto objeto realimentam‑se mutuamente, num processo que pode ser compreendido, por exemplo, 
nas relações entre profissional e cliente.
 Saiba mais
Assista ao filme O quinto elemento. Nele, a salvação da Terra depende 
da construção de uma “arma” composta de quatro elementos (água, ar, 
fogo e terra), que só poderia ser acionada a partir do 5º elemento: uma 
pessoa.
O QUINTO Elemento. Dir. Luc Besson. EUA, 1997. 126 minutos.
6.2 Os grupos operativos
Pensada como teoria e técnica que se presta à formação de equipes (grupos), por meio da Teoria 
dos Grupos Operativos, Enrique Pichon‑Rivière procurava responder basicamente a algumas questões: 
o que é preciso para trabalhar em grupo? Como contribuir para a elaboração de uma tarefa em grupo?
Para tentar respondê‑las, o psicanalista franco‑argentino Pichon‑Rivière propôs a prática dos grupos 
operativos, instituída inicialmente no horizonte do seu trabalho como professor e educador.
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Unidade II
Tendo como ponto de partida uma definição mínima do que é um grupo social, ou seja, conjunto de 
pessoas com um objetivo comum que procura trabalhar em equipe (BLEGER, 2007), o grupo operativo 
pode ser assim compreendido como um treinamento para trabalhar como equipe, incluída aqui a 
retificação das posições estereotipadas que sustentam esse grupo, isto é, nesse “treino”, os participantes 
do grupo podem superar os lugares estereotipados que compõem qualquer conjunto humano, tanto no 
que diz respeito às funções presentes ali (quem é o líder, quem faz as vezes de bode expiatório) quanto 
em relação às suposições sobre o que se deve esperar de cada um (por exemplo, o entendimento de que 
os mais velhos são mais sábios, ou de que as mulheres são mais sensíveis, ou de que é preciso ter um 
curso superior para defender um argumento lógico ou uma posição política).
Na formação de todo grupo, passa‑se continuamente da serialidade ao grupo. Para dar conta disso, 
o grupo deve lidar, em meio à presença de subjetividades e intersubjetividades, assim como dos afetos 
que as atravessam, com as diferentes histórias, experiências e os diversos objetivos presentes entre os 
seus componentes, com os problemas e conflitos provenientes das relações grupais e com os recursos 
que o grupo possui, ou virá a construir, para esses enfrentamentos. Nos termos de Pichon‑Rivière, o 
grupo vai ser tomado como o lugar para uma teoria da ação, compreendido num processo em que se 
trabalha para poder trabalhar.
Uma ideia importante para a compreensão do trabalho grupal é o Esquema Conceitual, Referencial 
e Operativo (Ecro) grupal. Os participantes do grupo trazem para o encontro um esquema, uma série de 
saberes, de conhecimentos e entendimentos do mundo que, no grupo, irão se atualizar, confrontando 
os esquemas uns dos outros. Na prática do grupo, acompanhada por um coordenador, coloca‑se 
no horizonte a possibilidade de construir um esquema comum, o Ecro grupal, que, sem suprimir as 
diferenças, encontra espaço para a expressão desses conflitos. Em meio à heterogeneidade dos grupos, 
trata‑se de conduzir, nesse encontro, à homogeneidade da tarefa.
Outro aspecto importante nas relações construídas no grupo operativo é a subversão dos 
papéis estereotipados e das relações entre esses papéis, como professor‑aluno, profissional‑cliente, 
autoridade‑sujeito. A “aprendizagem” do grupo deve ser compreendida como um processo contínuo 
e com oscilações – momentos de ensinar e de aprender. Nesse sentido, em vez do uso das expressões 
“ensino” e “aprendizagem”, vai‑se construir um neologismo, isto é, inventar uma palavra que contemple 
uma relação horizontal entre esses dois polos sem suprimir diferentes funções; a palavra “ensinagem” 
irá apontar essa novidade.
As funções exercidas num grupo, de acordo com Pichon‑Rivière, contam das maneiras de, no grupo, 
lidar com os temores envolvidos na sua instituição e manutenção. Essas funções, que não são fixas e podem 
circular no grupo, entre os participantes e de um encontro para outro, têm diferentes formulações, mas 
podem ser resumidas nas seguintes: porta‑voz, bode expiatório, líder, líder da resistência, detentor do 
silêncio. Dentro do grupo, os participantes eventualmente ocupam esses lugares durante o embate para 
a elaboração das ansiedades básicas que acompanham a instituição do grupo e seu direcionamento para 
um projeto comum: a ansiedade paranoide e a ansiedade depressiva, apoiadas na Teoria Psicanalítica 
de Melanie Klein. A primeira conta do temor de, no contato com o grupo, o indivíduo ver‑se alvo de 
ataques destrutivos. Já na segunda, a ansiedade depressiva, o temor está associado ao desaparecimento 
do sujeito dentro do grupo, que passaria a ser a unidade de entendimento e de ação daqueles indivíduos.
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Em relação ao caminho que deve ser percorrido na construção de um projeto comum, este pode ser 
descrito como possuindo três momentos: a pré‑tarefa, a tarefa e o projeto. A pré‑tarefa é a situação 
que paralisa o prosseguimento do grupo, apoiada em defesas que estruturam a resistência à mudança 
(protelar, gastar o tempo, movimentos que aparentam a ação, mas que na verdade não o são). Já o 
momento da tarefa consiste na abordagem e na elaboração das ansiedades do grupo (perda da estrutura 
e ataque à nova situação estruturada) e na emergência da posição depressiva básica (consciência dos 
próprios limites), o que possibilitaria estruturar a tarefa possível no tempo e no espaço. Nesse sentido, 
o grupo percebe os elementos em jogo e pode instrumentalizá‑los. Finalmente, o projeto constitui‑se 
de estratégias e táticas para produzir mudanças que modificam o(s) sujeito(s) que voltam a produzir 
mudanças, e assim sucessivamente.
Figura 20 – O grupo, para Pichon‑Rivière (2009), é uma equipe
A trilha de Pichon‑Rivière (2009) passa, como foi visto, pela Psicanálise. A ação que esse profissional 
“movido” pela Psicanálise desempenha não é caracterizada, no entanto, como “da Psicanálise” ou 
estritamente clínica, ainda que se recorra a métodos que têm presença no campo psicanalítico. De fato, 
nas práticas com grupos, o profissional, psicólogo ou não, ocupa um lugar que não é estranho ou exterior 
à cena; mas, nas relações atravessadas por dimensões visíveis (simbólicas) e invisíveis, não menos efetivas 
no grupo, seu imaginário atua com seu próprio corpo – história e subjetividade – como mediador. A 
insistência na palavra corpo reforça a concepção de que o mediador (palavra preferível a profissional) 
ocupa uma função e não faz jus ao entendimento de que essa função só é possível pela presença de 
alguém que a suporte. Tal entendimento é seguido por autores como o próprio Pichon‑Rivière ou o 
psicanalista francês Guattari (2005), do qual já tratamos aqui.
De acordo com esses autores, as concepções de grupo que, a partir da Psicanálise, tentam explicar 
as dinâmicas grupaisestão alicerçadas na suposição do inconsciente e nos seus correlatos, como a 
dimensão pulsional e afetiva. Mudanças que possam interferir no funcionamento dos grupos implicam 
tratar não só dos relacionamentos propriamente ditos, mas também dessas outras dimensões.
Sobre isso, as considerações de Lancetti (1994) vão se dar no contexto dos trabalhos desenvolvidos 
pioneiramente por Pichón‑Rivière (2009) e José Bleger (2007). Em oposição às escolas ortodoxas de 
Psicanálise, esses autores irão reconhecer a presença política do psicanalista e ampliarão a importância 
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dada ao reconhecimento das conexões possíveis entre a Psicanálise e a Psicologia Social. Em sua 
tentativa de levar a Psicanálise a uma presença mais efetiva no cotidiano, eles irão defender que a 
prática do psicólogo social e suas consequências políticas, econômicas e ideológicas sobrepõem‑se às 
discussões epistemológicas, vistas muitas vezes como ideologizadas e, portanto, paralisantes. Nessa 
mesma tradição, situam‑se os trabalhos de Gregório Baremblitt (1994) e Armando Bauleo (1983). 
Fazendo parte do Grupo Plataforma na Argentina, eles procurarão promover a conexão entre marxismo 
e Psicanálise, situando a Psicologia Social, entendida aqui como Psicologia dos Grupos, como a ciência 
responsável pelo fornecimento do que possibilitará a transformação dos sistemas sociais vigentes.
Para eles, estaria em jogo a possibilidade de a prática grupal converter‑se numa contraideologia, 
na medida em que se definiria por um sistema de relações que se estrutura exteriormente aos sujeitos 
que o compõem. Os grupos, encontrando‑se na mediação indivíduo‑sociedade, seriam lugar de ação 
e onde se aprende a pensar. No grupo é que se daria a passagem do isolamento proporcionado pelo 
narcisismo para a intersubjetividade, mediada pelo social. A partir dessa perspectiva, eles discutem como 
os aspectos imaginários são reconhecidos e identificados em várias das tradições em Psicoterapia de 
Grupo, até mesmo dentro da Psicologia Institucional de origem argentina. Essa dimensão está presente 
em conceitos como o Ecro de Pichon‑Rivière ou no coinconsciente de Moreno, e está de acordo com os 
princípios que norteariam essas práticas grupais como transformadoras da sociedade, isto é, práticas 
que limitem os aspectos ideológicos do imaginário e o coloquem a serviço da transformação social.
As críticas de Lancetti (1994) a determinadas modalidades de Psicoterapia de Grupo, em especial 
à americana, são exemplares dessa posição na qual se reconhece a importância das implicações do 
entendimento dos pequenos grupos como unidades produtivas – seja de mercadorias, seja de felicidade 
– e que também identifica neles a presença de imaginário.
7 PSICOLOGIA SOCIAL E MUDANÇA
7.1 Grupos e transformação social
O enfrentamento de questões típicas dos indivíduos envolvidos em grupos e instituições sociais 
tem sido alvo constante da Psicologia, encampando áreas como o trabalho, a educação, a saúde e a 
assistência social. Tais áreas têm se valido dos conhecimentos vindos de uma psicologia atenta aos 
fenômenos grupais e institucionais e que, numa de suas vertentes, reconhece os determinantes sociais, 
políticos e éticos dessas esferas, assim como o envolvimento e o compromisso dos profissionais com tais 
questões como suportes necessários para o enfrentamento. As famílias e as comunidades estão entre 
esses grupos. Para as vertentes críticas da Psicologia dos Grupos, estão no centro do embate as relações 
entre os atores presentes em tais cenas e as dimensões simbólicas e imaginárias que as demarcam, 
acessíveis pelo discurso, pelo comportamento e pelos afetos envolvidos numa situação grupal (LANE; 
SAWAIA, 1994).
Experiências de ação com grupos sociais, como têm sido descritas na literatura (CAMPOS, 2002), 
indicam que as ações que promovem mudanças se dão tanto nos espaços macro, do formato e da 
organização do grupo, quanto nos micro, da dinâmica dos relacionamentos e afetos nos grupos. Em tais 
circunstâncias, os mediadores são colocados com os atores institucionais como sujeitos e protagonistas 
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desse processo. Assume‑se, aqui, que a discussão sobre a neutralidade do mediador tem dois obstáculos. 
O primeiro vai ser superado pelo entendimento de que sua ação está fundada em um compromisso 
crítico em que, respeitada a alteridade, o reconhecimento da diferença do outro, o mediador se apresente 
não apenas como detentor de conhecimento e técnica, mas também como sujeito da mediação. Na 
constatação de que a ação implica uma relação intersubjetiva que derruba a separação necessária entre 
sujeito e objeto (MINAYO, 2010) recai a primeira crítica à neutralidade.
O segundo obstáculo, mais delicado, diz respeito à outra neutralidade, aquela que coloca o mediador 
fora da cena como figura inerte cuja presença, como já foi dito, é mera função. As práticas psicológicas 
têm, a duras penas, sustentado a separação da corporeidade do profissional/mediador, que garantiria a 
efetividade de sua ação. No entanto, na experiência concreta do trabalho com grupos, essa separação é 
dificilmente efetivada. Como atuar num campo de maneira inerte quando se ocupa também a posição 
de “jogador”? Como isolar no papel de “conselheiro”, “assessor” ou “consultor” uma ação que não é 
apenas técnica, mas também ética e política, na qual o mediador também é protagonista? Dessa forma, 
na instalação de relações que, guardadas as diferenças de saberes e posições, suportem a construção 
de projetos comuns é que decai essa neutralidade. O mediador não é aquele que oferece conhecimento 
e disposição para o trabalho, mas o que faz do projeto do grupo – ou da comunidade – também seu 
próprio projeto de mudanças para um grupo do qual ele também faz parte.
A literatura sobre as ações com grupos sociais preconiza diferentes momentos (BAREMBLITT, 1994). 
O primeiro deles diz respeito à caracterização, o que vai acontecer, de fato, durante todo o processo da 
intervenção. Consiste em localizar quais são seus membros e os lugares por eles ocupados, o mapeamento 
das posições relativas empregadas pelos atores institucionais, a localização das forças de coesão e 
afastamento envolvidas nesses relacionamentos e a identificação das fantasias associadas a esses lugares.
Figura 21 – O trabalho com grupos implica caracterizar e conhecer
Tal reconhecimento implica conhecer e analisar a própria história do grupo como parte daquilo que 
determina sua dinâmica de lugares e afetos. Isso deve levar também a uma análise crítica das demandas 
do grupo, em função não apenas das especificidades locais, mas também em vista das condições sociais, 
econômicas e políticas nas quais ele se encontra (o que pode apontar instâncias como globalização ou 
políticas públicas).
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A ação do profissional/mediador vai ser localizada quanto à sua dimensão política, situando‑o 
como responsável, também, pelo combate à discriminação e à exclusão social, instrumentalizando‑o 
para colocar à vista os discursos de grupos marginalizados e fora do “jogo” social. Nessesentido, 
“transformação e mudança” significam que ele irá realizar intervenções que levem à instrumentalização 
do grupo para que ele mesmo trate de sua dimensão imaginária, o que significa intervenções que 
produzam nele os meios ou as condições necessárias para que este possa alcançar sua “consciência de 
grupo”, isto é, a posição de grupo‑sujeito (GUATTARI, 2005), recuperando ou instituindo sua cidadania.
Essas ações não visam às coletividades como unidades totais, mas concebem que o coletivo e o social 
estão indissociavelmente ligados. Assim, o reconhecimento dessa perspectiva faz que as ações possam 
ser nomeadas como “psicossociais”. No Brasil, ações psicossociais têm alcançado famílias e comunidades 
e são conduzidas como instrumentos para a realização e a disseminação de diversas políticas públicas, 
especialmente nos campos da saúde e da assistência social.
De acordo com Neiva (2010), as intervenções psicossociais como práticas de transformação e de 
pesquisa têm uma presença recente no âmbito da Psicologia, embora a preocupação com o bem‑estar 
de indivíduos e grupos tenha estado sempre no horizonte dos interesses dos psicólogos. Segundo a 
autora, esse seria um campo recente de ação profissional, surgindo da interface de práticas clínicas 
com a Psicologia Social. Se na perspectiva clínica a Psicanálise destaca‑se como referencial teórico 
para essas ações, do lado da Psicologia Social dos Grupos, vários dos autores que têm sido referidos 
neste livro‑texto são reconhecidos como estudiosos que trouxeram contribuições importantes para a 
caracterização das práticas psicossociais: Kurt Lewin e sua dinâmica de grupo; Moreno, fundador da 
Sociometria e do Psicodrama; além de Bion e de Pichon‑Rivière, autores decisivos na elaboração de 
conhecimento sobre os processos grupais e sobre as formas de atuação e desenvolvimento dos grupos.
Na perspectiva de Sarriera (2004), a intervenção psicossocial pode ser compreendida como uma 
ação que se dirige à realidade de outro, produzindo interferência e modificação, buscando melhores 
condições humanas e qualidade de vida. Para Neiva (2010, p. 16): “Considera‑se, portanto, que a 
intervenção psicossocial tem um caráter de pesquisa‑ação que visa facilitar o bem‑estar psicossocial de 
indivíduos, grupos, instituições, organizações e/ou comunidades”.
As características básicas das intervenções psicossociais são: seu caráter científico, unindo a pesquisa 
à ação; preocupação em gerar mudança e desenvolvimento; foco em grupos, instituições e comunidades; 
ação sobre os problemas atuais da sociedade e as necessidades psicossociais de grupos, instituições e/ou 
comunidades; intervenção focada; caráter predominantemente preventivo; levar em conta o contexto 
social e cultural; e incluir a diversidade do grupo, da instituição e/ou da comunidade (NEIVA, 2010).
É importante fazer a distinção entre processos psicossociais e ações psicossociais. Esse constructo, o 
processo psicossocial, tem sido utilizado na literatura psicológica nem sempre com a devida acuidade, 
muitas vezes indicando um campo impreciso entre o individual e o social, ou apenas referindo certa 
prática (“intervenção psicossocial”). Segundo Maritza Montero (2011), psicóloga venezuelana fundadora 
da Psicologia Social latino‑americana, numa perspectiva crítica, junto com a psicóloga social brasileira 
Silvia Lane, os processos psicossociais propriamente comunitários são a habituação, a familiarização, a 
problematização (Paulo Freire), a desideologização, a naturalização e a desnaturalização, a conscientização 
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e a conversão. Alguns desses processos, como a habituação, a naturalização e a ideologização, configuram 
estruturas estáveis de comportamento, alienadas do pensamento crítico, e, assim, contribuem para 
manter o status quo. Outros processos, como a problematização, a desnaturalização, a desideologização 
e a conscientização, oferecem recursos para a superação, e, assim, para a transformação comunitária. A 
distinção entre prática e constructo justifica‑se na medida em que, para Montero (2011, p. 255):
Tais processos [psicossociais], ainda que tenham sido amplamente discutidos 
nas Ciências Sociais e na Educação, necessitam ser estudados em sua vertente 
psicossocial, já que afetam não apenas os indivíduos, mas também as 
relações segundo as quais estas pessoas constroem a si mesmas e constroem 
as condições nas quais vivem. Mais ainda, eles têm uma função fundamental 
tanto no que diz respeito à manutenção como quanto à transformação das 
condições de vida e constituem eixo do trabalho comunitário.
A preocupação com os grupos sociais face a face, como numa família, vai constituir o primeiro 
objeto daqueles interessados em tratar da dinâmica dos (pequenos) grupos no caminho da mudança e 
do combate à exclusão. No caso da família, ela é reconhecida como o lugar, por excelência, dos encontros 
afetivos e dos seus desdobramentos simbólicos e imaginários, sendo determinante na constituição e na 
socialização dos sujeitos (BERGER; LUCKMAN, 2006).
As ações com as famílias, como nos casos da saúde (Estratégia Saúde da Família) e da Assistência 
Social (Programa de Assistência Integral à Família – Paif), como políticas públicas, aproveitam‑se dessa 
circunstância para construir uma porta de entrada aos serviços públicos que se apoiem nas especificidades 
de estrutura, relacionamento e cultura de famílias de certa região. Tais singularidades serão decisivas 
para que se possa intervir nas relações dos indivíduos com a cultura da saúde (o cuidado com o corpo, 
o saber sobre o processo saúde‑doença, as modalidades de cura e tratamento) e na busca de bem‑estar 
e no combate à exclusão, à vulnerabilidade e ao sofrimento social. É nesse cenário que os indivíduos e 
as comunidades – tendo a família como lugar de mediação – poderão se associar aos profissionais para 
a construção de um projeto comum no qual todos são protagonistas.
7.2 A comunidade
De acordo com Sawaia (2002), a ideia de comunidade entra para o campo da ciência como apropriação 
de um conceito tão antigo quanto a humanidade. O uso dessa palavra nas práticas profissional e científica 
refere‑se com muita frequência àquilo que está fora do consultório (na área de saúde, por exemplo) e a um 
“compromisso com o povo”, o que deve ser tomado com cuidado, pois pode dar‑se em termos ingênuos 
(no mínimo) ou ideológicos, e não necessariamente críticos. Nesse sentido, a comunidade é apresentada 
como lugar em que se conservam a pureza étnica e cultural, onde está a origem da sociedade.
Associada à vida comum e solidária, a comunidade está em oposição à vida típica do mundo globalizado, 
individualista e competitiva, entendimento que guarda um saudosismo de volta às origens. Em contrapartida, 
deve‑se considerar que, na história desse entendimento, a ideia de comunidade também foi combatida 
quando, desde o iluminismo, a comunidade e a tradição foram tomadas como inimigas das mudanças sociais 
e do progresso. Tais utopias comunitárias seriam reativas ao individualismo e à modernidade.
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Um uso perverso desse termo pode ser localizado também quando se fala da conjunção pobreza e 
criminalidade, numa alusão mais elegante aos moradores dos bairros pobres, cortiços e favelas localizados 
em nossas cidades. Essa concepção muito comum de comunidade a aproximade um gueto, isto é, um 
espaço separado dentro das cidades ocupado por grupos minoritários que ali se isolam – ou são isolados. 
No trecho da música Resumo da matéria, do rapper Gog, esse sentido está muito bem‑ilustrado.
Resumo da matéria
Cenas fortes periferia
Mas nem mesmo a mão na morte nos tira alegria
A vida dura difícil é o ofício
A fronteira entre o descaso e a cidadania: um precipício
Um barraco uma tela uma geladeira velha
Um amontoado de madeira favela
Uma casa uma cela
Um local que só se vem à noite
Pra dormir e mal
Cidadão de bem na condicional
Meio‑dia o coração gela
Pouco quase nada na panela
E o sistema determina
O crime é o clima
Qual a diferença entre esse e você
Vou dizer é a força
A força de vontade
Onde há amor não tem grade
O sentimento a felicidade
Pode estar em qualquer lugar
Vem pra cá a sinuca
As biras nos botecos
O samba de morro
A união acima dos tecos
Legal bem legal
Futebol nos campinhos de terra
Refrão chegando mandei ideia
Eu e você juntos: resumo da matéria
Fonte: Gog (1998).
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 Saiba mais
Ouça essa música em:
GOG. Resumo de matéria. Intérprete: Gog. In: Das trevas à luz. São 
Paulo: Zâmbia Fonográfica, 1998. CD. Faixa 5.
Em meados do século XX, especialmente na Psicologia, o termo “comunidade” foi associado com 
grande ênfase em um modelo de intervenção social de origem americana, cujo mote era a melhora das 
condições de vida por meio da “modernização” cultural e econômica. A fragilidade desse entendimento 
estava tanto na sua definição espacial – comunidade associada a bairros pobres e proletários – quanto 
na ideia de normatização como forma de integração.
Nesse contexto, Guareschi (1996) afirma que é preciso buscar a presença da comunidade 
nos grupos. Para ele, a comunidade não é uma decorrência necessária do fenômeno grupal, 
nem sempre havendo grupo há comunidade. Essa presença depende, assim, de um tipo especial 
de relação entre os participantes daquele grupo, uma relação na qual, como sugere o autor 
seguindo um mote marxista, todos os indivíduos daquele grupo possam ser reconhecidos pelo 
nome, todos possam falar e ser ouvidos, um grupo – uma relação – em que as pessoas se 
conhecem e se estimam.
Esse processo de construção da comunidade não ocorre, evidentemente, somente no âmbito da 
miséria e do abandono social – embora nesses grupos a “função” comunidade possa ser especialmente 
importante para potencializar ações reivindicatórias e de transformação social. Acontecendo com 
todos os grupos humanos que confrontam o paradigma da individualidade e se defrontam com 
seus limites e com a finitude dos grupos, conforme Guattari (2005), a construção de um espaço 
comunitário vai exigir a elaboração de um “nós” pela interiorização de valores comunitários como 
projetos de cada indivíduo – o que significa tanto uma tomada de consciência (da exclusão e da 
desapropriação) quanto de inconsciência, isto é, daquilo que é próprio de cada indivíduo, que é da 
ordem do desejo.
A relação comunitária, para Guareschi (1996, 1998), mostra‑se como oposto a outro tipo de relação, 
típico das sociedades contemporâneas modernas que vivem sob o jugo do individualismo e da exclusão: 
a de dominação. Esta, muito mais presente em nosso dia a dia, é cultivada pela competição desenhada 
pelo capitalismo, pelo desejo que mantemos entranhados de sermos mais do que os outros como 
garantia para o ser. A alternativa à submissão é, perversamente, a dominação. As relações comunitárias, 
portanto, estão para confrontar essa outra modalidade de relações e não conviver com ela, exigindo a 
supressão ou a ultrapassagem da dominação.
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7.3 Psicologia Social Comunitária
7.3.1 Introdução
Neste tópico, será apresentado um breve histórico da constituição da Psicologia Social Comunitária, 
a partir dos trabalhos que surgiram na década de 1940, em comunidades da zona rural, até serviços 
que vêm sendo criados pelas universidades para a realização de trabalhos comunitários como forma de 
crítica à função social da universidade e de inserir o trabalho comunitário como parte necessária da 
formação dos profissionais na atualidade.
Apresenta‑se, aqui, uma série de contribuições‑chave escritas ao longo dos anos, em que a 
Psicologia Comunitária foi se constituindo, bem como e a importância na tarefa constante de reflexão, 
questionamento e construção que sua prática impõe aos que dela se ocupam nos níveis teórico, 
metodológico, político e ideológico. A partir desses trabalhos, serão discutidos os aspectos teóricos e 
metodológicos dessa área.
A discussão busca aprofundar o conhecimento dos trabalhos da Psicologia Comunitária, instrumentos 
importantes na luta pela cidadania, por melhores condições de vida para as camadas populares, por 
sustentabilidade e formas alternativas de organização popular. Dessa forma, visa promover uma 
maior compreensão acerca do trabalho da Psicologia, de suas principais contribuições para as lutas 
comunitárias, bem como as possibilidades inúmeras de diálogo da Psicologia Comunitária com a prática 
do Serviço Social.
7.3.2 Histórico da Psicologia Social Comunitária
Sob a ótica da crítica e do compromisso social, a Psicologia Comunitária é a ciência que tem por 
objeto a exclusão, numa perspectiva que nega a neutralidade científica e que pretende não apenas 
interpretar o mundo teoricamente, mas transformá‑lo (SAWAIA, 1999).
Segundo Lane e Sawaia (2002), a história da Psicologia Social Comunitária na América Latina está 
associada ao interesse em instituir comunidades autônomas, capazes de reivindicar ações de governo 
que pudessem satisfazer suas necessidades básicas. Logo de início, o termo “conscientização” aparece 
no vocabulário de pensadores que almejavam o desenvolvimento de consciências individuais e grupais.
Paulo Freire, no Brasil, e Orlando Fals Borda, na Colômbia, são os autores que irão dar forma conceitual 
e prática aos interesses que sustentavam a formulação da Educação Popular como intervenção que será 
associada à “nova” Psicologia Comunitária nascente. Nova porque, antes disso, a expressão Psicologia 
Comunitária, importada da psicologia americana, dizia respeito a práticas de caráter assistencialista, 
muito distantes de trabalhos que buscassem a efetiva constituição de comunidades.
Na pré‑história da Psicologia Comunitária, Freitas (2002) levanta a questão da importância do processo 
de transição atravessado pelo Brasil entre as décadas de 1940 e 1950. Nesse momento, o país passava por um 
processo de mudança em seu sistema de produção, quando começou a funcionar um modelo agroindustrial, 
em contraposição ao antigo modelo agropecuário. Houve, a partir disso, a necessidade de preparação das 
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camadas populares para essa transição, bem como de qualificação de mão de obra para tal empreendimento. 
Os trabalhos comunitários realizados na época estavam inteiramente ligados aos interesses econômicos das 
elites. Os profissionais que compunham as equipes desses trabalhos eram, essencialmente, prestadores de 
serviçosbásicos à comunidade, numa perspectiva assistencialista e paternalista.
No mesmo período, surgem trabalhos direcionados às populações carentes nos Estados Unidos e na 
América Latina. De cunho assistencial e manipulativo, foram as primeiras ações realizadas por profissionais 
da área chamadas de Psicologia Comunitária. Os principais problemas dessas atuações, segundo Lane 
(2002, p. 18), estavam ligados à maneira pela qual o trabalho era concretizado, “utilizando técnicas e 
procedimentos sem a necessária análise crítica – a intenção era boa, porém não os resultados obtidos”.
Os primeiros trabalhos que lidaram com as práticas comunitárias no Brasil foram realizados no 
meio rural, e seus propositores eram, na sua maioria, cientistas sociais preocupados com a organização 
de grupos que pudessem gestar práticas assistenciais, especialmente na educação (LANE, 2002). 
Contando com o apoio da Igreja Católica, essas iniciativas da década de 1940 originaram os primeiros 
centros comunitários. Logo após, no contexto do Pós‑Guerra, com o apoio do governo americano, são 
instituídos, com o mesmo nome de centros comunitários, grupos voltados para o “desenvolvimento” das 
comunidades, numa perspectiva que abolia a crítica e, fora das discussões ideológicas, localizava nos 
próprios sujeitos pobres e excluídos as condições de sua exclusão.
O modelo assistencialista continua existindo em várias localidades brasileiras, com base na “doação” 
de bens e serviços para comunidades carentes, com o apoio dos governos e da sociedade civil, e é, de certa 
forma, hegemônico. Essas ações caracterizam‑se pelo apelo ao trabalho voluntário, à ação localizada, 
pontual, descontextualizada e acrítica. A ação do psicólogo restringe‑se à clínica e está distanciada de uma 
posição profissional engajada e comprometida com o combate efetivo à exclusão (SAWAIA, 2002).
O avanço em direção à participação política e ao surgimento de movimentos sociais organizados 
associados a ela promoveu uma integração das práticas psicológicas em torno da emancipação social. 
Segundo Freitas (2002), nos primeiros anos da década de 1960 ocorrem, no Brasil, significativas tentativas 
de transformação, projetos que buscam o desenvolvimento de uma consciência crítica na população. 
Profissionais da Psicologia e das Ciências Humanas em geral participaram do movimento da educação 
popular. Há uma grande mobilização em direção a ações voltadas para a alfabetização de adultos, 
vista como instrumento fundamental de libertação e conscientização. Tais trabalhos, amplamente 
baseados na metodologia de Paulo Freire, levaram os psicólogos a iniciar, na década de 1970, atividades 
de educação popular em comunidades carentes, “tendo como meta a conscientização da população” 
(LANE, 2002, p. 18). Entretanto, como aponta Freitas (2002), esses trabalhos tiveram vida curta, em razão 
do crescimento de mecanismos de controle repressivo do Estado que buscavam conter as manifestações 
populares, minando a crença da população em seu potencial como agente social e político.
Em março de 1964, instaura‑se o Regime Militar no país, que contribui para um recrudescimento 
dessas condições, assim como para instalar um regime de terror na sociedade. O Brasil é obrigado a 
conviver com um sistema de governo que põe fim a vários direitos civis, enquanto as contradições 
existentes na realidade social vão criando situações concretas na vida das pessoas, sobre as quais vários 
profissionais passam a atuar (IGLESIAS apud FREITAS, 2002, p. 58‑9).
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Figura 22 – Os trabalhos de Paulo Freire inspiraram os psicólogos no trabalho com comunidades carentes
Não por coincidência, essas condições sociais e políticas vão ser o combustível para a instituição 
e promoção de novas práticas da psicologia como profissão. De acordo com Lane (2002), a Psicologia 
Comunitária no Brasil é uma prática que se iniciou por volta da década de 1960, a partir de uma 
aproximação dos profissionais e das populações carentes. Essa prática se desenvolveu num movimento 
de questionamento de diversos aspectos da Psicologia, tal como era praticada nos primeiros anos 
de seu reconhecimento científico e profissional, com base em modelos importados e feita dentro de 
consultórios e clínicas privadas, atendendo apenas a elite. A proposta original dessa vertente crítica 
estava na aproximação da Psicologia, como instrumento de compreensão, análise e intervenção, da 
realidade social e política do país, com vistas a auxiliar na promoção de transformações mediante 
conscientização e organização populares.
Assim, a Psicologia Social Comunitária precisa ser pensada, segundo Lane (2002), como uma prática 
inserida na conjuntura econômico‑política da América Latina e do Brasil daquela época. Durante as 
décadas de 1960 e 1970, o país particularmente passou por um momento político bastante conturbado, 
no qual, sob o domínio dos militares, a violência e a repressão eram praticadas de forma institucionalizada, 
“quando uma reunião de cinco pessoas já era considerada subversão” (LANE, 2002, p. 17).
Segundo Freitas (2002, p. 55), se partirmos da premissa de que toda produção de conhecimento está 
inserida num conjunto de determinantes históricos, políticos, econômicos e culturais, é inevitável dizer que 
“falar da Psicologia Comunitária é falar, também, da história política recente do Brasil e da América Latina”.
Por volta da década de 1970, vemos tomar forma a iniciativa de profissionais da saúde, principalmente 
médicos e psiquiatras, no sentido da busca por uma reformulação nos modelos de atenção à saúde 
mental. Esses profissionais passam a se debruçar sobre novas formas de oferecer atenção à saúde mental, 
preocupando‑se em desenvolver ações preventivas em saúde pública.
Na esteira desse movimento, são criados centros comunitários de saúde mental, que eram como espaços 
alternativos aos hospitais psiquiátricos. Entretanto, como observa Freitas (2002), as mudanças implantadas com 
a criação dos centros comunitários não alcançaram os aspectos estruturais envolvidos no trato com a doença 
mental, promovendo modificações apenas nas aparências. Dessa forma, os centros, embora apresentassem 
uma “nova cara”, ainda funcionavam sob o mesmo modelo hospitalar que buscavam combater.
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Segundo Lane (2002), os trabalhos que podem ser considerados precursores da Psicologia Social 
Comunitária no Brasil, desenvolvidos também durante a década de 1970, buscavam as populações 
dos bairros populares para atendimentos em saúde mental (Projeto de Saúde Comunitária do Jardim 
Santo Antônio), saúde e educação (Centro de Educação Popular do Instituto Sedes Sapientiae), gênero 
e autonomia (psicodrama pedagógico).
Esses trabalhos, caracterizados pela ação interdisciplinar, eram marcados pela importância dada à 
auto‑organização das populações envolvidas, ao aspecto conscientizador das ações empreendidas, e, 
principalmente, pela localização desse profissional como um animador, mediador ou educador popular, 
e nunca como uma liderança (LANE, 2002).
Historicamente, surgida em meio à crise da Psicologia Social em meados dos anos 1970, a Psicologia 
Social Comunitária apresentou‑se como uma abordagem diferenciada dos modelos assistencialistas e 
voltada para outra inserção profissional e política do psicólogo. Andery (1986), em um dos primeiros 
trabalhos sobrea instalação e o impacto da Psicologia Social Comunitária, indicava sua vocação para 
estabelecer um compromisso com os grupos dominados e excluídos da sociedade, desafiando modelos 
de ação profissional do psicólogo que cumpriam o papel de atender a elite e estar a serviço do controle 
social. Essa nova inserção profissional apontava também para uma nova prática do psicólogo e eliminava 
a possibilidade de uma ação fundada na neutralidade.
Figura 23 – A Psicologia Social Comunitária privilegia o trabalho com grupos em situação de exclusão
As práticas em Psicologia Comunitária sofreram duramente em suas primeiras investidas. Isso ocorria, 
de um lado, pelas dificuldades metodológicas e teóricas que as ações de campo representavam – o 
psicólogo sai do conforto do consultório, da sala de aula e dos gabinetes acadêmicos, literalmente, para 
a rua, solicitando um grande desafio em sua nova inserção – mas, de outro lado, numa perspectiva nem 
sempre discutida nos livros‑textos, o trabalho do psicólogo comunitário sofreu com a desconfiança da 
elite, no período da Ditadura (1964‑1985), com a repressão, que não via com bons olhos a realização de 
ações que estimulassem o pensamento livre e a crítica enquanto promoviam a busca da transformação 
da sociedade.
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Seus resultados, ainda assim, mostraram‑se muitas vezes efetivos quando capazes de despertar a 
crítica ao status quo e de mobilizar as populações sujeitas à exclusão e ao sofrimento para a mudança 
de suas realidades. Nesse trabalho, buscava‑se heroicamente a participação direta das populações no 
processo de investigação e transformação. Dito de outra maneira, os próprios participantes estavam 
envolvidos no diagnóstico e nas intervenções psicossociais, o que exigia, necessariamente, presença 
efetiva das populações atendidas no estabelecimento de objetivos comuns. Com isso, a prática da 
Psicologia Social Comunitária levava a uma intervenção importante também sobre a disposição do 
psicólogo, que era solicitado a realizar uma ação não de exercício de autoridade, daquele que possui 
um saber, mas de, sem destituir‑se de sua função profissional, constituir parcerias, com a composição e 
o compartilhamento de responsabilidades, levando a incertezas e desafiando a identidade profissional.
7.3.3 O papel da formação profissional para a ação comunitária
Para que possamos ter uma compreensão do processo de formação e caracterização das práticas em 
comunidades, é preciso resgatar dois elementos fundamentais: o processo histórico que diz respeito a 
essa prática, atentando para as condições que levaram aos trabalhos em comunidade, como indicado 
anteriormente, e um segundo aspecto, mais próximo do processo de constituição da profissão de 
psicólogo: o reconhecimento das temáticas/problemáticas que estiveram na base da estruturação da 
sua prática profissional (FREITAS, 2002).
O contexto histórico pode ser caracterizado, ao longo da década de 1960, por confrontos entre o Estado e 
as forças capitalistas, de um lado, e a sociedade civil e suas reivindicações em prol de suas necessidades básicas, 
de outro. Havia também uma crescente participação da sociedade civil nas discussões políticas e societárias. 
Assim, os movimentos populares urbanos tornam‑se mais frequentes e, no meio rural, as ligas camponesas 
vão aglutinando um número maior de trabalhos em torno de reivindicações de necessidades básicas. As greves 
espalham‑se por vários setores da produção e dos serviços, o desemprego atinge números assustadores e a 
inflação e o custo de vida são insuportáveis para as classes trabalhadoras e para a população em geral.
No período, a profissão de psicólogo encontrava‑se em seu processo de regulamentação, e sua 
atuação na sociedade vinha crescendo em diversos segmentos do mercado de trabalho. A Psicologia como 
prática profissional vinha se estabelecendo conjuntamente com o desenvolvimento industrial do Brasil, 
caminhando lado a lado com a ideologia liberal do capitalismo industrial. Dessa forma, suas atividades 
estavam ligadas, em larga medida, às atuações destinadas à manutenção do status quo, tendo pouco 
ou nenhum espaço para o tratamento de questões ligadas à conjuntura econômica e política daquele 
momento e seu impacto sobre a formação da subjetividade e da consciência política da população.
Como apontam Scarparo e Guareschi (2007), é inegável que a regulamentação da profissão no Brasil, 
em 1962, manteve estreitas relações com os objetivos e ideais ligados à ideologia da Ditadura Militar. 
Naquele momento,
[...] as práticas psicológicas se consolidaram sob influência de ideologias 
desenvolvimentistas, pautadas pela repressão política e pelo patrulhamento 
ideológico, que caracterizaram o Brasil ao longo de quase três décadas de 
ditadura explícita (SCARPARO; GUARESCHI, 2007, p. 100).
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Podemos observar a vigência desses parâmetros na forma pela qual foi definido o conjunto de ações 
do psicólogo, quando foram descritas quais seriam suas funções profissionais. Conforme definidas no 
Decreto nº 53.464/1964, as funções do psicólogo eram: utilização de “métodos e técnicas psicológicas”, 
a fim de produzir diagnósticos psicológicos; “orientação e seleção profissional”; e “orientação 
psicopedagógica”; além de se debruçar sobre “problemas de ajustamento”, em busca de soluções para 
estes (apud PEREIRA; PEREIRA NETO, 2003).
Como apontam os autores, o psicólogo tinha diante de si a possibilidade de desenvolver suas 
atividades em diversos campos de trabalho, como clínicas, escolas, organizações etc. Vemos, assim, o 
surgimento de um profissional que se caracteriza por atividades ligadas à educação, ao trabalho e à 
saúde de maneira geral.
Todo o processo de constituição da Psicologia no Brasil como profissão esteve muito ligado a duas 
principais áreas, quando de sua chegada e instalação no país: a educação e a saúde, na figura da 
Pedagogia e da Medicina. Ambas tiveram papel fundamental na institucionalização da profissão de 
psicólogo, por meio da criação de cursos de graduação, laboratórios e centros de pesquisa. No entanto, 
quando buscamos trazer novamente o olhar para a questão da inserção da profissão no contexto 
político e social do país, é indispensável considerarmos o delineamento que foi se estabelecendo 
na caracterização da atuação dos psicólogos, em que encontramos “o predomínio de abordagens 
individualistas, descontextualizadas e apoiadas em modelos abstratos de seres humanos” (SCARPARO; 
GUARESCHI, 2007, p. 100).
Esses modelos serviram amplamente aos ideais de normatização e controle social, além de auxiliarem 
no processo de aceitação da violência e da repressão. Segundo as autoras, a Psicologia foi chamada 
a contribuir para que houvesse uma “articulação de espaços de exclusão social e de adaptação dos 
‘desviantes’, transformando práticas em instrumentos de controle ideológico” (SCARPARO; GUARESCHI, 
2007, p. 100). O controle e a repressão dos movimentos sociais organizados, por meio do regime ditatorial, 
protelaram a adoção de posicionamentos críticos de grande parte dos cidadãos em relação à realidade 
brasileira, seja pelos processos de alienação patrocinados pela Ditadura, seja pelo medo de ser alvo das 
perseguições políticas.
Por conta da própria forma pela qual foi inserida no Brasil, a Psicologia teve papel fundamental no processode formação da subjetividade da classe média naquele momento. A ideologia à qual as práticas psicológicas 
estavam submetidas trabalhou na construção de um conformismo político, bem como na formação de 
valores ligados ao consumismo, o que era necessário para o desenvolvimento político e econômico do país. 
Essas práticas estiveram amplamente ligadas a valores individualistas e presentes de forma bastante clara, 
inclusive, na produção de conhecimentos em Psicologia (SCARPARO; GUARESCHI, 2007).
Ao mesmo tempo que ocorriam esses desenvolvimentos da profissão, muitos indivíduos ligados 
a práticas tanto do ramo da Psicologia quanto das Ciências Humanas de forma geral enveredaram 
pelo caminho do questionamento da sua forma de atuação. Esses indivíduos estavam preocupados 
em direcionar o foco de seu trabalho para as demandas apresentadas pelas populações mais carentes, 
que claramente passavam por um período bastante difícil, encontrando‑se desamparadas pelo Estado. 
Assim, começam os primeiros trabalhos em Psicologia Comunitária:
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[...] em alguns locais dá‑se a inserção do psicólogo, com o objetivo de somar 
esforços e de colaborar para tornar a Psicologia mais próxima à população, 
em geral, e mais comprometida com a vida dos setores menos privilegiados; 
buscando com isso uma deselitização da profissão, e as práticas vão 
ganhando uma significação política de mobilização e de transformação 
sociais. [...] Ao mesmo tempo, nos contextos nacional e internacional, 
acompanhava‑se o surgimento de uma série de conflitos sociais decorrentes 
da insatisfação popular frente ao descaso e desrespeito das autoridades e à 
repressão oriunda das ações do Estado. A intensidade e recorrência desses 
acontecimentos começam a imprimir um novo rumo para as relações sociais 
forjadas macro e microestruturalmente. É neste contexto que se vê o início 
do emprego do termo Psicologia na comunidade (FREITAS, 2002, p. 60).
Nesse movimento, foi significativa a participação dos intelectuais brasileiros na busca pelo processo 
de emancipação política. A caminhada em direção à emancipação foi ganhando adeptos e, com eles, 
solidez. Houve o surgimento de produções e debates dentro da Psicologia que buscavam desmistificar os 
valores e as bases ideológicas das teorias individualizantes que amparavam as práticas dos profissionais 
em clínicas e consultórios, organizações, escolas etc. Era um momento no qual uma importante 
parcela da categoria questionava o papel e a responsabilidade social da Psicologia, associando‑os aos 
preocupantes aspectos sociais e políticos da realidade brasileira de então (FREITAS, 2002).
Dentro das universidades, o movimento ganha força, abrindo espaço para o desenvolvimento de 
uma reflexão crítica sobre a função social dessas instituições. Nesse contexto, os professores dos cursos 
de formação profissional questionam sua prática, ao mesmo tempo que a crise da Psicologia como 
ciência está patente. A antipsiquiatria abala os conceitos de doença mental, deslocando o problema 
para a questão da saúde mental e para a possível atuação preventiva na maioria da população – pobre, 
oprimida e desatendida pelo Estado (LANE, 2002).
Segundo Scarparo e Guareschi (2007, p. 101), nos cursos de graduação em Psicologia, particularmente 
nas disciplinas de Psicologia Social, imperavam textos que apresentavam teorias positivistas de 
compreensão dos fenômenos, ligadas diretamente à experimentação:
[...] que privilegiavam a descrição de pesquisa, que utilizavam escalas, grupos 
de controle e experimentais, visando adaptação de indivíduos à sociedade 
[...]. Desse modo, exacerbavam‑se as crenças na legitimação do controle da 
sociedade, através de práticas psicológicas.
Em conjunto com essas referências utilizadas nos cursos de graduação, havia também uma série 
de outros autores que tinham seus trabalhos censurados nos cursos durante as décadas de 1960 
e 1970. Seus textos, lidos clandestinamente por grupos organizados de estudantes, geralmente 
traziam uma compreensão pautada pela importância de práticas emancipatórias, criticando as 
práticas individualistas e indo além da mera compreensão do indivíduo conceituado apenas pelas 
referências advindas de sua criação na família nuclear. Além disso, os textos continham propostas 
que produziam questionamentos quanto aos limites e aos efeitos das práticas psicológicas e 
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pedagógicas. Desse modo, emergiram possibilidades de reflexões críticas sobre os trabalhos 
efetivados e proposições de outros modos de abordagem, dentre os quais se destacavam as práticas 
participativas e a consideração dos espaços coletivos, o que gerou propostas de trabalhos em 
comunidade (SCARPARO; GUARESCHI, 2007).
O movimento pelas eleições diretas, nos anos 1980, e a mobilização popular pelo impeachment 
presidencial, no início da década de 1990, tornaram mais intensos o sentimento e a importância do 
pertencimento ao coletivo. O movimento constituinte e a promulgação da Constituição Cidadã, em 
1988, fizeram que os termos “inclusão”, “igualdade” e “cidadania” fossem mais frequentes na produção 
de conhecimentos e nas práticas de psicólogos. Além disso, conforme Scarparo e Guareschi (2007), 
na esfera da saúde coletiva, foram fundamentais a Reforma Sanitária, as Conferências de Saúde e a 
implantação do Sistema Único de Saúde (SUS).
Juntamente com essas ações, valores como universalidade, equidade e integralidade, mencionados 
na Constituição, passaram a ser a tônica no direcionamento das práticas em saúde, direito de todo 
cidadão assegurado constitucionalmente. Até mesmo o processo de regionalização da assistência foi 
fundamental, já que, a partir dessa perspectiva, as características sociais das regiões puderam ser levadas 
em conta na elaboração das estratégias de trabalho.
A história e a cultura das populações assistidas ganham relevância na organização das intervenções 
que visam a seu universo. A comunidade passa a fazer parte do processo de planejamento, gestão e 
avaliação das intervenções, o que vai acontecer não só na área da saúde, mas também, recentemente, 
na área da assistência social, num exercício de incentivo à autonomia e à organização popular em torno 
dos objetivos do grupo (SCARPARO; GUARESCHI, 2007).
Nesse sentido, podemos observar aqui o surgimento e a consolidação de uma psicologia que se 
afasta da imagem “glamourizada” do psicólogo clínico, profissional liberal que atende em consultórios. 
A Psicologia Social Comunitária vem sendo praticada no Brasil há mais de quarenta anos, porém, ainda 
é bem menos conhecida e prestigiada do que as práticas clínicas, psicoterapêuticas, psicopedagógicas e 
de recrutamento e seleção. Segundo Scarparo e Guareschi (2007), essa perspectiva é visível nos cursos 
universitários, nas escolhas dos estudantes.
Para as autoras, parece que o imaginário que fundamenta grande parte da formação e dos projetos 
profissionais refere‑se à lógica do profissional autônomo, bem‑sucedido, respaldado por um amplo 
cadastro de “pacientes particulares”. Tais “pacientes” são consumidores contumazes das “verdades” 
que a Psicologia pode lhes fornecer para garantir o lugar de “pessoa normal”. Tal opção sustenta a 
Psicologia como um instrumento de manutenção de lógicas naturalizantes dos fenômenos de controle 
e aniquilação das possibilidades de compreendere articular espaços alternativos de produção de vida.
No contexto da história da Psicologia Social Comunitária, dois momentos foram particularmente 
importantes em seu processo de desenvolvimento. Durante a década de 1970, muitos trabalhos estavam 
sendo realizados em comunidades, mas várias questões de ordem teórica e metodológica foram 
surgindo ao longo da experiência com essas práticas, umas mais bem‑sucedidas que outras. A partir 
dessa perspectiva, houve um primeiro marco que instituiu o processo de busca de mais reflexão acerca 
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das práticas que estavam sendo desenvolvidas. Essa reflexão se desenvolveu ao longo de dois encontros, 
realizados, respectivamente, em 1981, em São Paulo, e em 1988, em Minas Gerais, em que foram levadas 
a cabo discussões sobre o fundamento das práticas da Psicologia em comunidades.
7.3.4 As práticas da Psicologia em comunidades
Serão apresentados neste tópico alguns trabalhos realizados na área da Psicologia Comunitária, na 
tentativa de expor um panorama sobre as práticas desenvolvidas sob essa denominação. Assim, será 
possível observar, nos relatos das ações, os fundamentos já discutidos, bem como possíveis relações com 
a prática do Serviço Social.
Os primeiros trabalhos que podem ser chamados de comunitários foram realizados por cientistas 
sociais em comunidades da zona rural, por volta da década de 1940, na América Latina. Foram criados, 
na época, os chamados “centros sociais” (LANE, 2002, p. 26), precursores dos centros comunitários atuais, 
mas que duravam pouco tempo e:
[...] contavam com o apoio da Igreja Católica, de assistentes sociais e órgãos 
governamentais, criando equipes itinerantes interdisciplinares (médicos, 
agrônomos, assistentes sociais e outros) que procuravam organizar grupos 
locais que dessem continuidade aos trabalhos propostos – basicamente 
educativos.
Essencialmente, as atividades desenvolvidas nesses centros apresentavam pouco ou nenhum 
engajamento crítico ou político. Visavam desenvolver as potencialidades dos indivíduos por meio da 
ação comunitária e, de forma indireta, também a sociedade. Seu primeiro foco de trabalho foi a busca 
pela erradicação do analfabetismo, seguido “do ensino de tecnologias agrícolas” (LANE, 2002, p. 27). 
Num segundo momento, o trabalho era voltado para a criação de instituições que promovessem maior 
integração social na região.
Como afirma Lane (2002), em um seminário realizado em 1960, foram estabelecidos princípios 
básicos para o desenvolvimento comunitário que implicavam a ajuda de cientistas sociais orientados 
pela perspectiva positivista de sociedade. Esta levava a uma postura essencialmente paternalista, mas 
com um discurso desenvolvimentista; tratava‑se, conforme Lane (2002, p. 27), de harmonizar, por meio 
da participação de todos, os conflitos existentes, acreditando “que a igualdade social poderia brotar 
automaticamente das estruturas econômicas sociais e políticas do capitalismo monopolista”.
Em 1969, na cidade de Amparo, interior do Estado de São Paulo, foi criado um centro comunitário 
que buscava “atuar na saúde preventiva e curativa e na educação formal e informal, tendo por 
finalidade promover o homem, integrando‑o no meio em que vive” (LANE, 2002, p. 27‑8). As atividades 
desenvolvidas no centro comunitário iam desde o atendimento a grupos de mães e jovens, passando 
por atividades educativas com crianças da pré‑escola e pela integração escola‑comunidade, até serviços 
especialmente na área de saúde (ambulatoriais médicos e dentários, atendimento psicológico), cursos 
profissionalizantes e recreação.
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Segundo Lane (2002), o trabalho do psicólogo dentro daquele centro poderia ser caracterizado pelo 
de um profissional de abordagem essencialmente clínica, que dá suporte aos pacientes encaminhados, 
sem muito envolvimento com as relações comunitárias, seja a partir da reflexão ou da participação. Nesse 
ponto, vemos a crítica feita pela autora a esse tipo de trabalho, em que fica clara a natureza paternalista 
e assistencialista da atuação, levando os indivíduos a se manterem fragmentados e distantes das reais 
condições envolvidas na manutenção de sua situação social e afastando as reais possibilidades de ação 
transformadora por parte deles.
No entanto, existem exceções. Há uma série de trabalhos que procuram fazer uma Psicologia Social 
Comunitária, “visando à organização da população para ações com autonomia que levem à solução de 
problemas concretos oriundos da contradição fundamental entre capital e trabalho” (LANE, 2002, p. 29).
Freitas (2002, p. 61‑2) também aponta outros trabalhos desenvolvidos durante a década de 1960 
na Paraíba, contando com psicólogos formados em São Paulo. Ele destaca o trabalho realizado em 
comunidade por profissionais da Psicologia em Belo Horizonte, que atuam até hoje na área, em Porto 
Alegre, na PUC‑RS e na UFRGS, e em São Paulo, “onde trabalhos junto a diferentes comunidades 
vão sendo realizados tendo a participação de psicólogos que, em sua grande maioria, pertenciam a 
quadros de carreira docente; e em outros locais, de modo relativamente disperso e pouco divulgado 
naquela época”.
Os trabalhos eram realizados pelos psicólogos de maneira voluntária, ligados à consciência de 
seu papel de agentes políticos transformadores junto a essas populações. Os referenciais teóricos 
e metodológicos da Sociologia, da Antropologia e do Serviço Social tornaram‑se conhecidos dos 
psicólogos, que passam a empregá‑los, com certa prioridade, nos trabalhos desenvolvidos nas 
comunidades (FREITAS, 2002).
As características fundamentais dos trabalhos realizados na década de 1960 estavam ligadas à 
necessidade de aproximação da Psicologia e das camadas populares. Havia uma preocupação intensa em 
mudar a imagem elitista da profissão, levando o instrumental da área para objetivos mais próximos das 
necessidades das populações carentes, principalmente no sentido de favorecer a organização popular, 
em função de reivindicações de atendimento a suas necessidades básicas e melhoria das condições de 
existência. As ações dos profissionais iam desde a assistência psicológica às populações até o auxílio na 
organização política.
Ao longo dessa década, pouco se fez para promover reflexões críticas sobre atuações ou 
questionamentos a respeito de suas referências teóricas e metodológicas. O momento em que se 
encontravam exigia a criação de novas formas de atuação. A necessidade dessa reflexão vai se delineando 
ao longo do tempo, principalmente na década seguinte, com o aumento de profissionais envolvidos em 
trabalhos ligados às camadas populares.
Nos anos 1970, o processo de mobilização e organização popular em direção a uma maior 
participação política foi crescendo. As populações foram desenvolvendo diversos meios para que fossem 
ouvidas em suas reivindicações, principalmente, na forma de associações de bairros, de entidades que 
buscavam defender o cidadão, de grupos de educação popular etc. Com isso, muitos profissionais liberais 
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passaram a atuar de forma mais intensanos setores populares, de forma que pudessem contribuir com 
o movimento em direção à emancipação política. Tal participação colaborou para o surgimento de 
trabalhos e de publicações que analisavam as formas de organização dos setores populares e estudavam 
processos de formação de consciência e de participação política da população (FREITAS, 2002).
Nesse contexto, e na dinâmica em que os acontecimentos sociais foram sendo construídos, pode‑se 
dizer, de um lado, que foram o envolvimento e o compromisso do profissional de Psicologia com os 
movimentos populares que deram início a essa prática, com características de voltar‑se para problemáticas 
diferentes daquelas com que tradicionalmente trabalhavam, ocorrendo em situações e ambientes também 
diversos. Os resultados de tal participação geraram a divulgação, por meio de livros, revistas com números 
especiais, artigos e apresentação de trabalhos em eventos científicos, das problemáticas sociais vividas pela 
população e de possíveis encaminhamentos decorrentes de análises feitas.
Tais trabalhos, segundo Freitas (2002), caracterizavam diversas formas de ação, como reuniões e 
discussões acerca das necessidades da vida cotidiana da população, descrições e levantamentos das 
condições de vida, das deficiências educacionais e culturais e da saúde da comunidade. Era oferecida 
atenção psicológica gratuita para a população, além de participação em eventos como passeatas, 
mobilizações populares e abaixo‑assinados dirigidos às autoridades. Estes representavam formas de 
protesto contra as condições precárias em que viviam os membros da comunidade e serviam como 
instrumentos de reivindicação.
Com a chegada da década de 1980, surgiram novas preocupações em relação às reflexões e 
práticas da Psicologia Comunitária. As publicações sobre o assunto começaram a chamar a atenção 
dos profissionais, principalmente no intuito de questionar seu caráter “clandestino”, representado 
pelo fato de que muitos praticantes da Psicologia Comunitária realizavam trabalhos voluntários, não 
havendo um reconhecimento desta como um ramo de atuação profissional. A partir disso, as discussões 
puderam cobrir assuntos como a remuneração do trabalho dos psicólogos sociais que trabalhavam 
em comunidades, bem como os aspectos ligados às metodologias utilizadas. Assim, o termo Psicologia 
Comunitária passa a ser empregado por um número cada vez maior de profissionais, assinalando sua 
consagração como uma prática.
Figura 24 – Moradores tentam recuperar pertences depois de incêndio em favela da zona oeste de São Paulo
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Um dos primeiros momentos em que se noticia, no Brasil, a expressão Psicologia Comunitária, sob 
a forma de publicação, é no trabalho A Psicologia Comunitária: Considerações Teóricas e Práticas, 
de autoria de D’Amorim (1980). A expressão aparece publicada também em setembro de 1981, na 
conferência “Psicologia Comunitária na América Latina”, proferida por Sílvia Lane, durante o I Encontro 
Regional de Psicologia na Comunidade, na PUC‑SP. No mesmo encontro, Derdick e seus colaboradores 
apresentam o trabalho Psicologia Comunitária em Bairros Periféricos de Osasco, descrevendo a 
experiência desenvolvida naquela região (FREITAS, 2002).
No Ceará, em 1980, surgem os primeiros “animadores populares” envolvidos com a alfabetização de 
adultos. O movimento tinha como objetivo criar dezenas de círculos de cultura nos bairros da periferia 
de Fortaleza, no sentido de fomentar tanto a alfabetização como a organização e a luta comunitária, 
conforme Ximenez e Góis (2004). Na época, aqueles que estavam envolvidos nesse processo denominavam 
essa prática de “psicologia popular”, baseada muito mais na prática do que na teoria. Com o passar 
do tempo e o contato com diversos profissionais também envolvidos nesse tipo de trabalho, houve 
maior sistematização das práticas e a necessária articulação teórico‑metodológica que impulsionou os 
trabalhos comunitários na região.
Pouco a pouco, essa “psicologia popular” transformou‑se em psicopedagogia popular, uma 
integração entre psicologia popular e educação popular; somente em 1987 passou a denominar‑se 
propriamente Psicologia Comunitária, integrando os autores já citados às ideias de Góis e Cavalcante 
com a articulação de teoria, prática e compromisso social. Em 1992, a fundação do Núcleo de Psicologia 
Comunitária (Nucom), como núcleo da Pró‑Reitoria de Extensão da UFC, possibilitou a definição física e 
estrutural dos estudos e práticas da Psicologia Comunitária (XIMENEZ; GÓIS, 2004).
Os trabalhos realizados no Ceará contribuíram, de forma fundamental, para a definição da Psicologia 
Comunitária como marco dentro na Psicologia Social da América Latina, levando em consideração as 
referências histórico‑culturais de formação da mente e de modelos de mudança social e desenvolvimento 
do homem.
Em 1980, ocorre um marco na história da Psicologia Social no Brasil: a partir da crescente necessidade 
de reflexão crítica sobre as práticas desenvolvidas na Psicologia e da importância da concretização 
de um compromisso com uma Psicologia Social que estivesse em condições de refletir criticamente 
sobre os aspectos históricos envolvidos nas problemáticas encontradas na prática, é criada a Associação 
Brasileira de Psicologia Social (Abrapso), fato ocorrido oficialmente em julho de 1980, na Uerj‑RJ, 
durante a 32ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). A Abrapso será 
de extrema importância para a Psicologia brasileira, pois, ao longo de tempo, desenvolveu encontros e 
possibilidades de diálogo e reflexão crítica acerca dos temas que faziam parte dos principais trabalhos 
relizados nas diversas regiões do país. Muitas delas passaram a contar com núcleos e regionais da 
Abrapso, responsáveis pela promoção de encontros regulares para o debate e a troca de experiências 
(FREITAS, 2002).
A partir dos anos 1990, há uma nova transformação delineando‑se nos trabalhos comunitários. 
A diversidade de elementos filosóficos, teóricos e metodológicos que vinha surgindo nas décadas 
anteriores continua se desenvolvendo, ampliando a gama de práticas realizadas no contexto 
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comunitário. Passa‑se a ouvir, mais frequentemente, a denominação de Psicologia da Comunidade. 
São práticas desenvolvidas quando o psicólogo está no posto de saúde, na Secretaria do Bem‑Estar 
Social, em algum órgão ligado à família e aos menores, ou quando está em algum setor vinculado 
às instituições penais. Ele, enfim, ocupa um espaço profissional em alguma instituição, normalmente 
pública, que tem como objetivo ampliar e democratizar o fornecimento dos serviços, de diversas 
áreas, para a população em geral.
Dessa maneira, trata‑se de uma atuação que passa a ser desenvolvida como uma demanda solicitada 
por uma instituição. É uma atividade que surge associada ao contexto do trabalho social na área da 
saúde, havendo o surgimento de questões ligadas à saúde coletiva, nas quais é esperado do psicólogo 
que ele tenha um papel social nos movimentos de saúde. Isso contribui para que a Psicologia passe a ser 
vista, fundamentalmente, como uma profissão da saúde (FREITAS, 2002).
Os trabalhos desenvolvidos nessa época passam a apresentar grande influência dos movimentos 
ligados à Psicossociologia, bem como à análise institucional, trabalhando com diversasformas de 
intervenção psicossocial.
Ao longo desses mais de quarenta anos, houve grandes transformações no cenário das práticas 
da Psicologia em comunidade. Com as eleições diretas, após o fim da Ditadura Militar, ampliaram‑se 
as possibilidades de trabalho para os profissionais das Ciências Humanas e Sociais, principalmente no 
setor de prestação de serviços à população. Com isso, o espaço para o reconhecimento da profissão do 
psicólogo também foi sendo conquistado junto aos setores populares.
 Observação
No âmbito das ações de assistência social, é importante diferenciar 
assistência de assistencialismo, este último uma prática que visa à 
manutenção do status quo. A Psicologia Comunitária contraria o 
assistencialismo.
7.3.5 Os fundamentos da Psicologia Social Comunitária
Uma das características de destaque referida por diversos autores pesquisados (LANE, 2002; 
SCARPARO; GUARESCHI, 2007; RAMOS; CARVALHO, 2008) aponta para a questão dos fundamentos 
teóricos, metodológicos, filosóficos e políticos da Psicologia Social Comunitária. Em todos os trabalhos, 
verificamos a ênfase dos autores em apresentar a necessidade de um rompimento com o que caracteriza 
em grande parte as práticas realizadas pelos profissionais liberais em consultórios e clínicas privadas. 
Tais concepções quase sempre se utilizam de pressupostos que minimizam, quando não desprezam, o 
papel da realidade social circundante na formação da subjetividade dos sujeitos.
A Psicologia Comunitária dedica‑se a estudar e compreender o cenário de questões psicossociais que 
caracterizam uma comunidade, bem como intervir nele. Salienta‑se por sua praticidade e pela diversidade 
das opções teóricas e intencionalidades que estruturam seus fazeres (SCARPARO; GUARESCHI, 2007).
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Na definição apresentada pelos profissionais do Nucom (XIMENZES; GÓIS, 2004), observamos 
aspectos semelhantes quando se propõe que a Psicologia Comunitária debruça‑se sobre o significado 
e o sentido, bem como sobre os sentimentos pessoais e coletivos que fazem parte do modo de vida de 
uma comunidade. Trata também, como objeto de estudo, da forma pela qual o sistema de significados, 
sentidos e sentimentos que compõem o universo subjetivo dos indivíduos encontra‑se presente nas 
atividades comunitárias e nas condições gerais de vida.
Pode‑se dizer que a Psicologia Comunitária estuda o modo de vida da comunidade e como este se 
reflete no pensamento de seus moradores para, de novo, surgir transformado nas atividades concretas 
no dia a dia. Significa, também, compreender as necessidades dos moradores e a importância do 
compromisso que o psicólogo comunitário tem com a coletividade que estuda e/ou onde atua 
(XIMENEZ; GÓIS, 2004).
Quando pensamos na tarefa de construção do “sujeito comunitário”, deve servir como norte a noção 
de indivíduo como responsável pela realidade histórico‑social na qual vive, capaz também de realizar 
transformações nessa mesma realidade. Suas ações devem ser pautadas pela promoção da consciência 
de que o sujeito é capaz de influir na história de sua comunidade e da sociedade de modo geral.
Aqui, pode‑se entender o sujeito surgindo da superação das contradições sociais em que vive o 
morador, como consequência do desenvolvimento de sua prática social local. Nessa perspectiva, o 
indivíduo, ao transformar a realidade, apropria‑se cada vez mais dela e passa a conhecê‑la; torna‑se, 
assim, sujeito de sua história, de sua realidade, e percebe‑se responsável por seus desdobramentos, junto 
com os demais indivíduos e, também, mediatizado por eles em sua relação com o mundo. O sujeito da 
realidade tem uma consciência aprofundada no mundo histórico‑cultural e adota uma atitude crítica 
diante da sua realidade físico‑social (XIMENEZ; GÓIS, 2004).
Nesse sentido, Lane (2002), Freitas (2002) e Ramos e Carvalho (2008), dentre outros, enfatizam 
a necessária interdisciplinaridade, abrindo vias de comunicação entre diversas disciplinas como uma 
ferramenta que visa ampliar as possibilidades de compreensão e de intervenção nos fenômenos sociais 
– em diversos casos, fonte de produção de sofrimento, principalmente em populações que não têm 
garantidas condições mínimas de existência. Para esse propósito, a discussão dos fundamentos da 
prática da Psicologia em comunidades é fundamental.
Quando do início da consolidação dos primeiros trabalhos em Psicologia Comunitária, começa a 
surgir a necessidade de caracterização dessa prática. Nesse contexto, é realizado, em 1981, o 1º Encontro 
Regional de Psicologia Social na Comunidade, organizado pela Regional São Paulo da Abrapso, que 
visava pôr em pauta essas problematizações e definir as características da atuação do psicólogo na 
comunidade. Ela se caracterizaria por visar ações preventivas em saúde mental, ou poderia ser definida 
a partir de práticas educativas e de conscientização? Foram essas as principais questões deixadas pelo 
resultado desse encontro.
O que se vê nesse momento é ainda uma visão do psicólogo que se define pelas técnicas que utiliza, 
e não pelo conhecimento que tem do psiquismo humano, do indivíduo como pessoa que se constrói na 
relação com os outros, no desenvolvimento de suas atividades, no movimento de sua consciência e na 
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produção de sua identidade. É ainda uma visão fragmentada do indivíduo: aprendizagem e educação 
são um processo, terapia é outro, conscientização é outro ainda. Parece que o único ponto constante 
é a relação grupal: é nos encontros com outros que descobrimos a realidade, a individualidade e a 
sociedade. Diferentes ideias são discutidas em torno de técnicas e não consideraram nem a natureza do 
psiquismo humano, nem aquela do indivíduo que interage com outros.
Nesse primeiro encontro, são discutidas as bases da Psicologia Social Comunitária, do ponto de 
vista de suas ações e das técnicas utilizadas, com certa ausência dos conhecimentos próprios da ciência 
psicológica. Ainda assim, a troca de experiências e o conhecimento sobre quais são as ações realizadas 
nas diferentes regiões e comunidades foram de extrema importância para o desenvolvimento dessa 
prática, auxiliando no processo de delineamento das características da Psicologia Social Comunitária. 
De qualquer forma, o trabalho ainda estava apenas em seu início.
Em 1988, no Encontro Mineiro de Psicologia Comunitária, também organizado pela Abrapso, a 
tarefa que fora apenas esboçada na reunião anterior passou a ser o foco do trabalho: a definição das 
especificidades da Psicologia em comunidade.
Os resultados do encontro apresentaram avanços na definição da atuação do psicólogo em 
comunidades, identificada sua ação com o desenvolvimento de grupos conscientes e instrumentalizados 
para, cooperativamente, constituir sua autonomia. Nesse sentido, a reflexão sobre as relações intragrupais, 
intracomunitárias e intercomunitárias ganhou espaço no debate sobre a comunidade e o cotidiano, 
tanto de uma perspectiva que buscava compreender as formas de violência quanto daquela que via 
nessas relações possibilidades de cooperação e transformações.
A pertinência dessas práticas veio apresentando resultados importantes, além de novas aberturas para 
a reflexão crítica acerca das contribuições da Psicologia Social para as transformações cotidianas, já que, 
passados mais de vinte anos da apresentaçãodos trabalhos nos encontros citados, ainda estão sendo 
criados programas que buscam aumentar o escopo da Psicologia Comunitária e de suas possibilidades 
de intervenção como prática profissional.
Além dos trabalhos apresentados nos encontros, várias universidades têm criado o que chamam de 
“serviço de extensão”, visando integrar alunos e professores de diferentes áreas na prestação de serviços 
à sociedade em geral. Nessa linha, a participação de psicólogos em trabalhos comunitários tem sido 
bastante significativa.
Lane (2002, p. 26) apresenta como exemplo os trabalhos realizados na Universidade Metodista de 
Piracicaba‑SP (Unimep),
[...] onde o serviço de extensão se origina pela atuação da equipe de 
psicólogos sociais [...], junto à população favelada da cidade, levando‑a a se 
constituir em associação, a reivindicar seus direitos, a melhorar sua condição 
de vida, chegando a um projeto de autoconstruções, com a participação de 
vários setores da universidade.
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Mais recentemente, podemos citar o trabalho de Ramos e Carvalho (2008), que descreve uma 
pesquisa etnográfica realizada em conjunto por professores e alunos da Universidade Paulista (UNIP) 
com a população do conjunto de favelas da zona norte de São Paulo, conhecido como Complexo da 
Funerária. Sobre os resultados do trabalho, os autores destacam seu potencial:
[...] enquanto críticos do status quo e mobilizadores das populações mais 
pobres para a mudança de suas realidades, na medida da participação 
destas populações em todo o processo de investigação e transformação: 
do diagnóstico à intervenção, passando pelo estabelecimento de objetivos 
comuns (RAMOS; CARVALHO, 2008, p. 174).
Todas essas formas de ação trazem desafios importantes para os profissionais que se envolvem 
com esse tipo de trabalho. É necessária a disposição para o questionamento crítico das referências 
teóricas e metodológicas importadas de outros contextos, pois estas, em grande parte, acabam por não 
servir como parâmetro satisfatório na compreensão e reflexão crítica dos fenômenos observados na 
realidade social das comunidades. A Psicologia Social Comunitária, como afirmam Ramos e Carvalho 
(2008), acaba por solicitar uma disposição para o compartilhamento de responsabilidades em meio a 
estranhezas e incertezas.
Scarparo e Guareschi (2007) citam um estudo comparativo fundamental realizado por 
Serrano‑Garcia e Collazzo (1992) sobre as principais diferenças entre as práticas desenvolvidas 
em Psicologia Comunitária nos Estados Unidos e na América Latina. Foi analisada uma série de 
experiências realizadas em comunidades nesses contextos, buscando delinear quais referenciais 
caracterizavam suas práticas. De acordo com a pesquisa, as práticas realizadas nos Estados Unidos 
tinham como base a Psiquiatria Clínica comunitária e a Psicologia condutista, em que o profissional 
dá o direcionamento do trajeto, guiando o paciente em direção aos objetivos estabelecidos, a partir 
de uma perspectiva ecológico‑contextual e do olhar da Psicologia Organizacional. Quando se refere 
aos trabalhos realizados na América Latina, a análise revela que os trabalhos aqui desenvolvidos 
são marcados:
[...] por uma ampla diversidade de marcos conceituais, que revelaram a busca 
de apoio numa dialética marxista, em estudos transculturais, na preocupação 
com o desenvolvimento social e econômico, com a tecnologia, com a ação 
e mudança social e com a interdependência entre fatores estruturais, 
psicológicos e condutuais (SCARPARO; GUARESCHI, 2007, p. 104).
Pode‑se observar nessas diferenças que, no contexto da América Latina, há uma maior mobilização de 
reflexões que levam em conta os diversos aspectos envolvidos na produção dos fenômenos observados 
nas comunidades, rompendo com perspectivas que fecham diagnósticos pautados por referências únicas 
de compreensão da realidade. De acordo com as autoras, a Psicologia Social Comunitária no Brasil, 
com sua perspectiva pautada por uma compreensão sócio‑histórica, que busca “a interlocução com os 
movimentos sociais e com outros saberes pode inspirar práticas atentas à complexidade do cotidiano” 
(SCARPARO; GUARESCHI, 2007, p. 104).
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Lane (2002, p. 24) aponta que, nos resultados dos trabalhos apresentados e dos debates realizados 
na tentativa de sistematização das práticas em Psicologia Comunitária no Encontro Mineiro de 1988, 
a peça‑chave para se pensar a especificidade da atuação do psicólogo estaria ligada às técnicas de 
dinâmica de grupo. Segundo a autora, é
[...] a partir do conhecimento dos grupos e das instituições que se chega à 
organização popular [...]. As atividades desenvolvidas, além de propiciar o 
treinamento de estudantes de Psicologia, treinam os moradores em técnicas 
de auto‑organização, através de recursos que vão desde um vídeo sobre a 
favela [por exemplo], de informações sobre direitos que a comunidade tem 
para ir em busca de soluções, até uma prática grupal – espaço de palavra 
livre – visando à auto‑organização e à criação de cooperativas.
Dessa forma, podemos observar que a pedra de toque dos trabalhos e das experiências comunitárias 
são os grupos. Estes são a condição para que se possa ter acesso à realidade vivida pela comunidade, 
para que esta possa se fazer objeto de reflexão, mas também são o ponto de partida necessário para a 
realização de ações conjuntas e organizadas. Segundo Lane (2002), fala‑se de consciência e de atividade, 
categorias fundamentais do psiquismo humano, que organizam uma grande parcela daquilo que se 
sabe sobre comportamentos, sobre o processo de aprendizagem e sobre nosso funcionamento cognitivo.
A partir das considerações aqui tecidas, pode‑se caracterizar o trabalho do psicólogo em comunidades 
como estando ligado diretamente ao trato com a linguagem e com o pensamento no âmbito dos grupos. 
A partir desses campos, o profissional pode compreender e analisar as categorias fundamentais da vida 
cotidiana, definidas como atividade, consciência e identidade, bem como intervir nelas. É nas relações 
com os outros e com as instituições que regulam essas relações, seja no nível comunitário, seja no mais 
amplo do Estado ou do país, que irão se desenvolver as relações sociais fundamentais na constituição 
dessas categorias.
As atividades desenvolvidas e as relações sociais ligadas a elas vão fazendo parte dos elementos 
constitutivos da vida social do indivíduo, em que, além da construção de sua identidade, permeada 
pelos elementos presentes nessas relações e nesses contextos, há a possibilidade sempre presente de 
transformação da realidade.
Em resumo, o psicólogo na comunidade trabalha fundamentalmente com linguagem e representações, 
com relações grupais – vínculo essencial entre o indivíduo e a sociedade – e com emoções e afetos 
próprios da subjetividade, para exercer sua ação na perspectiva de instituir grupos em que indivíduos 
irão, algum dia, viver em verdadeira comunidade (LANE, 2002).
Segundo Lane (2002), a Psicologia Comunitária caracteriza‑se por um fazer que procura conhecer as 
condições tanto internas quanto externas ao homem, que atuam como obstáculos ao exercício de sua 
condição de sujeito dentro da comunidade. Ao mesmo tempo, essas mesmas condições são o ponto de 
partida para a construção de sua personalidade, de sua consciência de si e de sua capacidadecrítica e 
transformadora, instrumentos fundamentais para uma participação efetiva na construção de uma nova 
realidade social.
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Contemporaneamente, a Psicologia Social Comunitária também veio sendo alvo de reflexões 
que procuram incluir mais ativamente na teoria e na prática as dimensões subjetivas presentes nas 
comunidades e a presença do afeto como categoria de análise (SAWAIA, 1999). Embora a reação aos 
modelos assistencialistas nos cenários latino‑americano e brasileiro implicasse ações que deveriam levar 
à tomada de consciência das populações mais pobres em relação à exploração social, a instalação de 
uma necessária posição crítica junto a essas populações expandiu muito os interesses pelos fenômenos 
coletivos, sem buscar solucionar as dimensões subjetivas dessas populações.
Assim, a atualização da preocupação ética e política e de compromisso com a busca de uma sociedade 
justa e não excludente solicita compreender uma comunidade como lugar de integração e autonomia 
tanto para o desenvolvimento da individualidade quanto para o reconhecimento das relações intrínsecas 
entre o coletivo e os indivíduos. Com isso, as ações nas comunidades passam a ter uma dimensão 
ético‑política que defende a libertação de cada um e a liberdade de todos, o que pode ser conseguido 
a partir de um discurso compartilhado e construído coletivamente, mas que não deixa de considerar os 
componentes subjetivo‑afetivos presentes em tais grupos (SAWAIA, 1999).
As intervenções possíveis nos grupos sociais que se pretende instituir como comunidades, dentro 
dos princípios de uma nova relação, devem ser compreendidas num âmbito, que é o psicossocial, como 
descrito anteriormente, o que faz menção às esferas individual e social como possuindo uma relação 
dialética, e não instituídas como polaridades. Tais intervenções se dão no âmbito das relações e, dentro 
de uma perspectiva crítica, devem produzir transformações sobre as relações que, além de comportar 
assimetrias e diferenças, são também relações de dominação econômica, política ou cultural, para que as 
próprias comunidades possam se constituir como autônomas e responsáveis pela sua gestão (autogestão).
As ações sobre os grupos humanos, no âmbito das comunidades, exigem a disponibilidade para dar 
conta das características históricas, políticas, sociais e culturais de um determinado grupo. O trabalho 
com esses grupos ocorre no intercruzamento de diferentes campos: o do contexto político e social 
e o do imaginário do grupo no qual se realiza a intervenção – isso tudo em meio a um contexto 
do qual participa ativamente o profissional/mediador envolvido na intervenção. Não se trata de ação 
neutra ou distante dos sujeitos, mas profundamente marcada por relações que se dão também entre 
os responsáveis pela intervenção, um conjunto que pode conter alunos, professores e profissionais de 
diferentes especialidades, além daqueles que são alvo daquela ação: a comunidade.
7.3.6 A Psicologia Social Comunitária e o Serviço Social no mundo globalizado
Vemos que, de certa forma, pela amplitude das mudanças produzidas pelo processo de globalização, 
é fundamental que haja um olhar sistêmico sobre as questões problemáticas enfrentadas na área das 
Ciências Humanas. A Psicologia Comunitária, em seu trabalho de compreensão e valorização dos recursos 
públicos, da autonomia política, da importância atribuída aos valores comunitários, como ponto de 
partida da organização popular e da luta por transformações, tem muito a contribuir e a crescer com 
uma prática desenvolvida em parceria com o Serviço Social.
As mudanças de ordem global têm consequências muito importantes também no âmbito cultural, 
porque são capazes de promover transformações intensas na vivência mais direta das pessoas. Diversas 
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marcas e diversos serviços circulam por todo o mundo, objetos são trocados e retirados de seus contextos e 
carregados com novos sentidos, grandes possibilidades de mudanças de rumos e de sentidos são postas em 
perspectiva num ritmo impensável em outro momento da história recente, e as identidades e os projetos 
de vida duram apenas enquanto mantêm a sensação da novidade, da surpresa e de algum benefício.
O processo de globalização vem fazendo que, em muitos casos, as formas de organização das 
camadas populares tenham de ser repensadas, a fim de que possam ter formas eficazes de luta política 
por seus direitos e também produzir uma estrutura de subsistência capaz de fazê‑los produzir renda, 
trabalho e, com isso, a movimentação da economia local.
Ainda nos dias de hoje, mesmo com o aumento da diversidade e da complexidade das questões 
colocadas para a prática na área das Ciências Humanas e Sociais, a tensão integração versus revolução não 
se deixa calar. Afinal de contas, observando as consequências do processo de globalização, sua progressiva 
produção de aumento na questão da divisão social – e também na desigualdade social, em conjunto com 
uma progressiva integração da economia mundial – coloca todos os trabalhadores à mercê dos interesses 
das grandes corporações, e o Estado perde cada vez mais seu poder (ou capacidade?) de atender os cidadãos 
e fazer cumprir os direitos sociais destes, principalmente os das camadas mais populares.
Figura 25 – Debate sobre mídia e globalização (Fórum Social Mundial, 2003)
Esse fato coloca a questão radical da impossibilidade do trabalho social sem posicionamento político, 
questão essa que tem promovido debates importantes na Psicologia, em busca de uma atuação mais 
comprometida com as questões econômicas e sociais que estão na base da estrutura da sociedade e 
que produzem parte considerável dos problemas das diversas áreas de trabalho nas quais os psicólogos 
realizam suas práticas, dos consultórios e escolas até as organizações.
Assim, é fundamental que o assistente social conheça com maior profundidade os trabalhos da Psicologia 
Comunitária, como forma de auxiliar na diluição dos preconceitos e fantasias do senso comum acerca do 
trabalho do psicólogo e dos métodos que utiliza em sua prática, para que, a partir disso, possa aproveitar 
e assimilar contribuições que ele é capaz de oferecer. Desse modo, será possível uma prática profissional 
engajada na luta política por melhorias, pela conscientização e emancipação das camadas populares, por 
um processo que busque a organização e a prática da autonomia dos indivíduos e da comunidade. Enfim, 
que essa prática possa se tornar um espaço de diálogo e de produção de modos de existência.
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Essa perspectiva é fundamental na medida em que, para muitas pessoas, a comunidade é o espaço 
em que os indivíduos vão aprender e apreender o mundo. O incentivo para que as pessoas se apropriem 
de seus recursos e das informações necessárias acerca de seus direitos, que se organizem na elaboração 
de um projeto coletivo comum, que se envolvam nas discussões políticas e nas lutas por seus direitos, 
tudo isso é de extrema importância. É nesse solo que podem ser plantadas as sementes da mudança eda busca por uma sociedade que valorize o indivíduo como membro inalienável da coletividade. Nele 
também é considerada condição inalienável dos indivíduos a vida em coletividade.
Montaño (2006) indica que a profissão do assistente social vem vivendo de forma intensa os efeitos 
das transformações globais e a necessidade urgente da construção coletiva de um projeto profissional 
ético‑político que possa se empenhar de forma crítica na articulação de suas funções. É assim que a 
situação atual desafia a profissão a enfrentar essas inflexões e a construir respostas coletivamente. As 
possibilidades de concretização desses desafios profissionais não são alheias às tendências sociais e às 
correlações de forças existentes na sociedade.
Segundo o autor, as ações que pretendem contribuir para a transformação do quadro atual de nossa 
sociedade, do ponto de vista do projeto profissional ético‑político do assistente social, devem pautar‑se 
pela busca de um projeto profissional hegemônico, ou seja, que transcenda as ações individuais. Nesse 
sentido, acaba se configurando muito mais como um “processo” do que como um projeto – um processo 
em constante construção, em diálogo com as questões e os desafios postos em prática pelas articulações 
da economia e da política na contemporaneidade.
Um projeto profissional não é algo isolado, mas necessariamente inspirado em e articulado com 
projetos societários. Portanto, importa, redimensiona e se insere em determinados valores, ideologias e 
projetos, sendo articulado com atores sociais que representam valores, ideologias e projetos profissionais 
hegemônicos. Além disso, os projetos profissionais não só se inserem em projetos e valores sociais, mas 
estão, de alguma maneira, condicionados pelo lugar que ocupam na correlação de forças na sociedade 
(MONTAÑO, 2006).
Na Psicologia Comunitária vemos um direcionamento e uma abertura das reflexões sobre as práticas 
em comunidades que indicam uma série de possibilidades de diálogo, com a perspectiva apresentada 
por Montaño (2006). Isso porque a Psicologia Comunitária entende as comunidades como espaços 
de produção de sentido, como espaços relacionais em que são construídas as representações que irão 
permear as identidades e as visões de mundo de seus moradores.
Essa área explicita o objetivo de colaborar com a criação de espaços relacionais que vinculam os 
indivíduos a territórios físicos ou simbólicos e a temporalidades partilhadas num mundo assolado 
pela ética do “levar vantagem em tudo” e do “é dando que se recebe”. Esses espaços comunitários 
alimentam‑se de fontes que lançam a outras comunidades e buscam na interlocução da fronteira o 
sentido mais profundo da dignidade humana. Enfim, a Psicologia Social Comunitária delimita seu campo 
de competência na luta contra a exclusão de qualquer espécie (SAWAIA, 2002).
Campos (2002, p. 10) a conceitua como composta por trabalhos que
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[...] partem de um levantamento das necessidades e carências 
vividas pelo grupo‑cliente, sobretudo no que se refere às condições 
de saúde, educação e saneamento básico. A seguir, utilizando‑se 
métodos e processos de conscientização, procura‑se trabalhar com 
grupos populares para que eles assumam progressivamente seu papel 
de sujeitos de sua própria história, conscientes dos determinantes 
sociopolíticos de sua situação e ativos na busca de soluções para os 
problemas enfrentados. A busca do desenvolvimento da consciência 
crítica, da ética da solidariedade e de práticas cooperativas ou mesmo 
autogestionárias, a partir da análise dos problemas cotidianos da 
comunidade, marca a produção teórica e prática da Psicologia Social 
Comunitária.
O desafio atual é encontrar formas de atuação profissional que sejam menos alienantes e menos 
opressoras, respondendo aos desafios colocados pelo processo de globalização e pela nova ordem 
dos fenômenos sociais, para os quais a opressão e o controle social são muito mais insidiosos, difíceis 
de localizar e de contrapor. É o desafio de encontrar formas de luta mesmo contra essas formas de 
alienação e opressão que se beneficiam das condições de isolamento que temos construído, cada 
um de nós, em torno da noção de indivíduo e da prevenção em relação a grupos e coletivos. Esse é o 
nosso desafio.
 Saiba mais
Há muita vida, iniciativa e superação dentro das comunidades. Para 
uma visão panorâmica dessas realidades, especialmente no Rio de Janeiro, 
visite os sites a seguir:
<www.vivafavela.com.br>.
<www.observatoriodefavelas.org.br>.
8 PSICOLOGIA NAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE E DESENVOLVIMENTO 
SOCIAL
8.1 Psicologia e políticas públicas
No início da sua história como atividade profissional, a Psicologia esteve associada muito 
intensamente aos interesses da elite, nas práticas de controle social e estigmatização da diferença. 
Os serviços oferecidos pelos profissionais de Psicologia – as práticas de intervenção clínica – estavam 
restritos, até pelo menos a década de 1980, a uma pequena parte da população que era capaz de arcar 
com os seus honorários (YAMAMOTO, 2003).
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A crise econômica iniciada na década de 1970 foi corresponsável por uma mudança no perfil profissional 
do psicólogo, que, graças à falência do modelo profissional liberal, de consultório, passa a se inserir no 
mercado de trabalho (muitas vezes, deve‑se considerar, a contragosto) como empregado. Outros campos 
se abriram, especialmente no setor de bem‑estar, alavancado pela recondução democrática do país. Ainda 
assim, o desejo de ser um “psicólogo profissional liberal”, a despeito da falta crônica de psicólogos na 
assistência social e na saúde pública, continua dramaticamente alimentando a procura pela formação.
Com tal cenário, revigorado a partir da reinvenção do estado democrático brasileiro com a condução 
de Fernando Henrique Cardoso e com a eleição de Luís Inácio da Silva, seria possível dizer que os 
psicólogos estão efetivamente comprometidos com as políticas públicas de atendimento às camadas 
mais amplas da população?
Um dos elementos decisivos para discutir esse tema é a questão social, que Yamamoto (2003, p. 43), 
a partir de uma perspectiva crítica, define como o conjunto de problemas políticos, sociais e econômicos 
postos pela emergência da classe operária no processo de constituição da sociedade capitalista, ou “a 
manifestação, no cotidiano da vida social, da contradição entre o proletariado e a burguesia”. A “questão 
social” que irá alimentar o setor de bem‑estar seria, assim, um efeito da legitimação política do Estado 
a partir da institucionalização de direitos e garantias sociais.
A questão social, como acabamos de definir, é tratada por meio de políticas sociais setorizadas (saúde, 
educação, desenvolvimento social, segurança etc.) que procuram tratar das suas sequelas, cenário no 
qual virão atuar as profissões do setor de bem‑estar, como a Psicologia, para lidar com a importância e 
os limites dessa atuação.
Entre as décadas de 1980 e 1990, as políticas públicas no Brasil, como em outros países 
latino‑americanos, sofreram um importante revés da agenda neoliberal, que, entre outros princípios, 
sustentava a instituição de um Estado mínimo, com a desmontagem dos serviços de bem‑estar social. 
Seja pela própria precariedade dos serviços, seja pela barragem oferecida mais recentementepelo 
Governo Federal, isso não se concretizou, embora ainda revele um grande conflito vivido na sociedade. 
Atualmente, esse debate encontra‑se na pauta do dia, por exemplo, em relação à saúde, quanto à 
importância ou não de se possuir um serviço público e universal que não seja subfinanciado.
 Saiba mais
Em relação ao subfinanciamento da saúde, veja a discussão sobre a 
Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 29, atualmente em análise no 
congresso:
BRASIL. Ministério da Saúde. EC‑29 – o caminho para o financiamento 
do SUS. Brasília, 2001. Disponível em: <http://conselho.saude.gov.br/
apresentacao/emenda29.htm>. Acesso em: 30 set. 2013.
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Em contrapartida, Yamamoto (2003) indicava como havia um espaço aberto – e promissor – para 
a ação do profissional de Psicologia no campo das ações de bem‑estar, como nos movimentos sociais, 
no campo e na cidade, na atenção à criança e ao adolescente etc. O autor sugeria a importância do 
alinhamento da categoria aos setores progressistas como caminho para a sustentação de políticas 
sociais consequentes no trato da questão social.
O lugar e a contribuição da Psicologia para as políticas públicas e a questão social devem ser 
considerados a partir da sua inserção profissional, da produção de conhecimento e das escolhas 
envolvidas nessa produção. No que diz respeito especialmente à Psicologia Social, uma das suas 
principais contribuições para esse debate situa‑se no âmbito da organização popular, na atenção aos 
grupos que demandam as políticas de bem‑estar, sendo o campo da Psicologia Social Comunitária o 
que lida teórica e metodologicamente com tais condições. Aqui, por exemplo, a ação que a busca de 
construção de espaços de encontro nas relações intersubjetivas desafia é a ideia de uma subjetividade 
isolada (solipsista) ou universal na construção de projetos coletivos.
De acordo com Gonçalves (2002), as contribuições da Psicologia Sócio‑Histórica para as políticas 
públicas dizem respeito ao reconhecimento da historicidade das subjetividades e como estas são 
diferenciadas em razão da desigualdade que marca a sociedade. Desse modo, as diretrizes de tais 
políticas não podem ser universais e devem considerar essas diferenças.
Considerar as subjetividades não é vê‑las como fenômenos “em si”, mas, dentro desse enquadramento 
das intersubjetividades e dos projetos coletivos, buscar localizar o indivíduo como sujeito histórico, 
reconhecendo, portanto, seu vínculo com a coletividade e seu compromisso com a transformação social 
(GONÇALVES, 2002).
Em resumo, é preciso elaborar políticas públicas que levem em conta a historicidade das experiências 
subjetivas e que não podem ser construídas para sujeitos universais – ou únicos –, sob o perigo de essas 
contribuírem para a manutenção da desigualdade.
Por conta desse cenário de valorização da ação profissional como resultado das políticas públicas, 
houve, desde a primeira década de 2000, um movimento importante da classe dos psicólogos, no sentido 
de situar e sustentar a Psicologia no âmbito das políticas de proteção social, inclusive no que diz respeito 
à própria capacitação e adequação profissional (técnica e política), o que pode ser visto nas discussões 
anuais do CFP sobre saúde pública e educação ou mesmo na instituição do Centro de Referência Técnica 
em Psicologia e Políticas Públicas (Crepop).
O Crepop surge em 2006 com o objetivo de “consolidar a produção de referências para atuação dos 
psicólogos em políticas públicas, por meio de pesquisas multicêntricas coordenadas nacionalmente” 
(CREPOP, 2007). Dessa forma, a ação dos profissionais de Psicologia passou a ser apoiada por um 
grande conjunto de informações coletadas entre os próprios profissionais atuantes em diferentes 
setores atendidos por políticas públicas. Constituído como centro de pesquisa e com presença em 
todo o país, ele reúne e disponibiliza informações que possam colaborar para a ação do psicólogo em 
diferentes campos.
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Atualmente, esse centro possui dados referentes a pesquisas relacionadas à atuação de psicólogos 
em políticas públicas nos seguintes campos:
•	 álcool e outras drogas;
•	 atenção à mulher em situação de violência;
•	 centros de atenção psicossocial – Caps;
•	 Cras‑Suas;
•	 diversidade sexual e promoção da cidadania LGBTT;
•	 DST/HIV/aids;
•	 educação básica;
•	 enfrentamento a violência, abuso e exploração sexual contra crianças e adolescentes;
•	 esporte;
•	 medidas socioeducativas em meio aberto/liberdade assistida;
•	 medidas socioeducativas em unidades de internação;
•	 mobilidade urbana, transporte e trânsito;
•	 programas de educação inclusiva;
•	 proteção social especial;
•	 serviços de atenção básica à saúde;
•	 serviços hospitalares do SUS;
•	 Sistema Prisional Brasileiro;
•	 Vara de Família no Poder Judiciário.
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 Saiba mais
É possível acessar os documentos de referência publicados, os resultados 
das pesquisas realizadas, as legislações e os documentos a respeito de 
diversas políticas públicas, a agenda de eventos nacionais e regionais sobre 
Psicologia e políticas públicas, e ainda as notícias sobre seleções e concursos 
para contratação de psicólogos no site a seguir:
<http://crepop.pol.org.br/novo/>.
8.2 Subjetividade e práticas de prevenção em saúde coletiva
As ações de saúde desenvolvidas sob o espírito pioneiro e transformador do SUS, presentes nos 
programas de atenção à saúde, como o Programa de Atenção Integral à Saúde da Mulher (Paism) ou na 
Estratégia Saúde da Família (PSF), são exemplos de como o profissional de Psicologia pode ser solicitado 
a sair de seu invólucro teórico‑técnico para assumir o protagonismo da ação de saúde. O HumanizaSUS, 
outro projeto de atenção que visa à humanização dos serviços públicos de saúde, também se refere a 
esses princípios.
A saúde pública no Brasil tem como momento marcante as deliberações da Assembleia Nacional 
Constituinte de 1988, que, entre outras decisões, fundou o Sistema Único de Saúde. Este é um sistema de 
atendimento a todos os brasileiros, regido pelos princípios de universalidade, equidade e integralidade, 
tendo a participação da sociedade na sua gestão. Os psicólogos vêm ingressando no campo por meio de 
sua participação nas Unidades Básicas de Saúde e nos Centros de Atenção Psicossocial (Caps), modelo 
alternativo ao tratamento manicomial.
Figura 26 – Brasília – Reunião comemorativa dos vinte anos do SUS
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Se a entrada não parece ser uma dificuldade, o modo pelo qual esse trabalho veio sendo desenvolvido 
ainda é alvo de muita controvérsia. Como exemplo para esse debate, ainda vigora como prática 
hegemônica nesses serviços a reprodução dos modelos clínicos tradicionais e da psicoterapiaoferecidos 
pelos profissionais. A problematização da ação de saúde, o engajamento em movimentos como a Reforma 
Sanitária, que foi o berço do SUS, assim como a efetiva prática interdisciplinar, parecem distantes da 
prática da maioria desses profissionais. O resultado é que, apesar do aumento da oferta dos serviços a 
uma parcela maior da população, tal serviço nem sempre pode ser compreendido no sentido crítico e 
comprometido, o que acaba por desqualificá‑lo como ação transformadora.
Do ponto de vista da inserção técnica e da especificidade do trabalho do psicólogo no contexto 
da saúde, as ideias de intersubjetividade, identidade, processo grupal e vínculo poderão se 
materializar nas relações que se dão entre os diferentes atores que participam dessas cenas. Nas 
práticas de saúde, tais elementos vão transparecer e determinar como estes podem ser exercidas, 
suas perspectivas e seus limites.
O campo da Psicologia Social da saúde tem se mostrado uma área que organiza e se presta ao 
desenvolvimento de ações de saúde que envolvem as relações entre profissionais e entre estes e a 
população‑alvo desses serviços. É visto como integrado aos mesmos princípios que têm orientado a 
implantação de serviços públicos de saúde para o atendimento das necessidades sociais.
Spink (2003) afirma que a Psicologia Social da Saúde tem como referenciais para a atuação duas 
questões. A primeira é a condição do contexto da intervenção, na qual é destacada a importância de 
se compreender a história e o âmbito da instituição para a implantação de uma ação de saúde, assim 
com as pessoas que a compõem – profissionais e clientela. Devem ser consideradas nessas práticas 
a realidade local, a cultura de relações e as histórias das pessoas que recorrem a esses serviços. 
A segunda condição diz respeito à alteridade. De acordo com a autora, as intervenções devem 
levar em conta os processos de construção da identidade mediados pelas circunstâncias sociais e 
culturais, o que irá possibilitar reconhecer a alteridade e lidar com o diverso. Nesses termos, a ação 
de saúde reconhece o outro, mesmo que diferente, como uma pessoa com direitos iguais aos meus 
e valorizada como sujeito.
Rompendo com enfoques mais tradicionais centrados no indivíduo, a Psicologia Social da 
Saúde dá suporte a atuações de saúde engajadas, centradas em uma perspectiva coletiva e de 
comprometimento com os direitos sociais e com a cidadania, principalmente nos serviços de 
atenção primária à saúde. Aqui se focalizam a prevenção da doença e a promoção da saúde e 
se incentiva uma relação de parceria entre todos os envolvidos, integrados num processo de 
transformação crítica e democrática que potencializa e fortalece a qualidade de vida para toda 
a comunidade, como estratégia permanente de ação. Foca‑se assim a construção de projetos 
institucionais coletivos (comunitários) que serão encampados pela equipe inteira, numa abertura 
para a diversidade, com alternativas que possam traduzir‑se na corresponsabilidade tão almejada 
no sistema de saúde (CAMARGO‑BORGES; CARDOSO, 2005).
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Figura 27 – O trabalho com gestantes é um dos focos dos psicólogos na saúde pública
Um exemplo que materializa essas preocupações é a proposição de alguns dos trabalhos com grupos 
conduzidos no âmbito da saúde (SOUZA; CARVALHO, 2003). Essas práticas podem levar ao estabelecimento 
de vínculos em um ambiente acolhedor de troca e aprendizagem mútua entre profissionais e a população 
e se apresenta como espaço privilegiado para o compartilhamento de informações e de experiências que 
incentivariam a parceria entre todos (inclusive os “não doentes”) no trato com a saúde da comunidade.
Os resultados do trabalho de Souza e Carvalho (2003) mostram que o atendimento em “grupo de 
doentes” pode promover um espaço para a ampliação de perspectivas individuais sobre a etiologia e 
o tratamento e, ainda, o que parece mais expressivo, a possibilidade de criação de uma rede de apoio 
social mútuo cujos efeitos extrapolam a relação com a doença.
Isso poderia ser multiplicado nas ações de atenção básica voltadas à saúde da mulher que as equipes 
do PSF estão capacitadas para oferecer, como a atenção à saúde da adolescente e da mulher na terceira 
idade; nas ações de atendimento a diabetes, hipertensão e saúde do trabalhador, que também atingem 
as mulheres; e especialmente nas ações específicas de saúde da mulher, com atenção ao pré‑natal e à 
prevenção de câncer ginecológico e do HIV‑Aids.
8.3 A contribuição da Psicologia para as ações no Sistema Cras/Suas
O objetivo das políticas públicas, compreendido como ir ao encontro do sujeito e acompanhar o 
movimento não apenas da satisfação das necessidades, mas também do desejo (coletivo), é especialmente 
importante quando se fala das políticas públicas de assistência e desenvolvimento social.
A desigualdade pode ser compreendida como questão estrutural – isto é, sob condições “normais” de 
funcionamento político, social, econômico, a própria sociedade gera desigualdade, e desigualdade e pobreza 
estão intrinsecamente ligadas. As políticas do Estado para a pobreza só recentemente têm sido voltadas 
para dar conta dessa situação, e ainda assim há muitas dúvidas sobre se a mera distribuição de renda via 
programas sociais, como Bolsa Família ou BPC‑Loas, é capaz de retirar grandes contingentes da miséria.
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Nesse cenário, surge o Serviço Único de Assistência Social (Suas), cuja proposição também se origina 
nas deliberações da Constituinte de 1988. Instituído em 2005 como política pública, o Suas deveria 
garantir ações de assistência social à população. Sua aplicação se dá por meio de duas grandes estruturas 
– a Proteção Social Básica (PSB) e a Proteção Social Especial.
De acordo com Brasil (2004), a PSB tem caráter preventivo. Seu objetivo é atender a população 
considerada de alta vulnerabilidade, prevenindo situações de risco a partir de práticas que promovam 
o desenvolvimento de potencialidades e o fortalecimento das relações, especialmente no âmbito da 
família e da comunidade. Suas ações de vigilância social promovem o desenvolvimento de serviços 
e programas de acolhimento, convivência e socialização, e incluem a oferta de Benefícios Eventuais 
e de Prestação Continuada (BPC). Os equipamentos que viabilizam essas ações de prevenção são o 
Centro de Referência de Assistência Social (Cras) e a rede de serviços socioeducativos, com ação local, 
territorializada e voltada para clientelas específicas.
Em São Paulo, a PSB pode ser reconhecida no trabalho realizado até 2011 pelo Programa Ação 
Família, um tipo de atuação que privilegia a lógica do trabalho em rede, que é permanente e não 
ocasional e depende do reconhecimento das condições concretas nas quais o trabalho será realizado – a 
realidade local – e na percepção daquilo que pode ser modificado.
Já a Proteção Social Especial (PSE), de natureza “protetiva”, destina‑se a famílias e indivíduos 
em condição de alta vulnerabilidade que tiveram seus direitos violados ou ameaçados, por violência 
física ou psicológica, o que inclui abuso, abandono ou afastamento do convívio familiar. Suas ações 
compreendem acompanhamentos, encaminhamentos e apoios que garantam a efetividade da proteção. 
De acordo com o Pnas, a unidade responsável pela PSE é o Centro de Referência Especializada em 
AssistênciaSocial (Creas), que oferece esses serviços continuada e gratuitamente, além de promover a 
articulação entre o serviço, a rede de assistência social e as políticas públicas (BRASIL, [s.d.]).
Figura 28 – Psicólogos do Suas trabalham em ações preventivas com crianças e adolescentes
A participação dos psicólogos nessa política pública, indicados como os profissionais que atuariam 
com os assistentes sociais, reflete o reconhecimento das contribuições técnicas e políticas que esses 
profissionais poderiam trazer para a associação na consolidação da Pnas. A ação do psicólogo viria na 
direção de provocar a participação, o protagonismo e o fortalecimento das populações em condição 
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de vulnerabilidade. Sua integração ainda é, no entanto, um desafio, pois não se trata apenas de 
demandar recursos já disponíveis no arsenal teórico‑prático do psicólogo, mas de provocar também 
nesses profissionais a busca de novos conhecimentos, novas práticas, ou, ainda, a resolução de novos 
problemas que viriam da sua inserção compromissada nesse campo (POLÍTICA..., 2010).
De acordo com Porto (2010), os saberes e as práticas da Psicologia poderiam participar do processo 
instituído previsto pela Pnas e instituído pelo Suas, que pretende levar à superação das condições de 
vulnerabilidade e risco social de grandes contingentes da nossa população. Elenca a visita domiciliar, 
o trabalho com pequenos grupos comunitários, a entrevista e o acolhimento como estratégias já 
disponíveis no campo da Psicologia, para dar conta dos objetivos desses programas que integram o 
trabalho com os sujeitos no desenvolvimento comunitário.
Figura 29 – A Psicologia também pode participar do planejamento e de ações de campo com 
indivíduos em situação de alta vulnerabilidade. Na foto, Favela da Mandela, Rio de Janeiro
8.4 Formação profissional do psicólogo social
O lugar e a contribuição da Psicologia para as políticas públicas e a questão social devem ser 
considerados a partir tanto da sua inserção profissional como da produção de conhecimento – e das 
escolhas envolvidas nessa produção. A formação de profissionais é elemento fundante desse embate, 
ensejando a discussão sobre a partir de que referenciais os futuros profissionais devem ser capacitados 
e inseridos, isso tanto na Psicologia como nas outras carreiras que fazem interface com as políticas de 
bem‑estar – na saúde, na educação e na assistência social.
No entanto, apesar dos esforços em contrário, as práticas psicológicas junto às políticas públicas 
não têm ainda conseguido superar nem a hegemonia da identidade profissional do psicólogo como 
clínico e provedor de atendimentos individuais, distante das políticas públicas na educação, na 
saúde e na assistência social, por exemplo, nem o domínio dos modelos assistencialistas nas práticas 
comunitárias.
O surgimento do SUS na esteira do processo de redemocratização brasileiro, assim como a proposta 
de criação de um Sistema Único de Assistência Social (Suas), junto às ações concretas de sindicatos de 
psicólogos, do Conselho Federal e dos Conselhos Estaduais de Psicologia, tem indicado que esse é um 
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PSICOLOGIA DOS GRUPOS E SUBJETIVIDADE
cenário que tende a se reverter. Nessas condições, a ação profissional do psicólogo nas comunidades 
com os saberes e práticas da Psicologia Social Comunitária abre uma perspectiva importante de 
materialização desses princípios em um contexto que oferece aos psicólogos não apenas a possibilidade 
de exercitar a veia crítica cultivada na graduação e na pós‑graduação, mas também emprego e renda.
A formação de profissionais sensibilizados para tais práticas e preparados teórica e tecnicamente 
para exercê‑las também tem se mostrado um grande desafio para as instituições de Ensino Superior 
que reconhecem a importância dessa preparação. Quando, ao longo da graduação, alunos são 
colocados em contato com demandas diferentes daquelas que são mais facilmente identificadas 
com a rotina do psicólogo, como a de uma clínica particular e isolada das questões sociais, esses 
sujeitos confrontam não apenas a diferença da prática, mas também a incerteza do sucesso de tais 
intervenções. Como vimos anteriormente, no entanto, os resultados dessas ações, em que pesem 
suas dificuldades, revelam as enormes potencialidades de ações de investigação e transformação 
(RAMOS; CARVALHO, 2008).
Para Ramos e Carvalho (2008), essas práticas de formação exigem muito mais do que empreendimento 
teórico e discussão acadêmica. É necessário o contato com as situações de exclusão, a experiência de 
conhecer e estranhar vai exigir o deslocamento físico, mas também simbólico, para as “comunidades” 
e os guetos que cercam as grandes cidades ou se insinuam em suas entranhas. Finalmente, trata‑se 
de buscar produzir, pelo desafio e pela impossibilidade, o compromisso necessário para seu próprio 
mergulho nessa realidade e no desejo de transformá‑la.
 Saiba mais
No site do Ministério do Desenvolvimento Social estão disponíveis 
informações sobre princípios, programas e serviços relacionados à política 
pública de assistência social. Acesse:
<www.mds.gov.br>.
 Resumo
Nesta unidade, foram apresentados os principais temas conceituais da 
Psicologia Social crítica no Brasil e na América Latina.
A partir da Teoria das Representações Sociais (TRS), verificamos como 
o comportamento dos grupos pode ser associado a uma dimensão não 
muito evidente, a do “pensamento grupal”. Esse pensamento de grupo, 
que Moscovici busca no senso comum como uma forma importante de 
conhecimento, vai interferir nas ações e também nas perspectivas dos 
grupos humanos.
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Unidade II
A ideia de identidade como metamorfose permite reavaliar uma 
concepção muito difundida na Psicologia que atribui unidade e permanência 
aos sujeitos. No outro entendimento desenvolvido por Ciampa, a identidade 
é construída e reconstruída continuamente a partir das inserções e relações 
sociais – e nos grupos.
Entre as diferentes concepções de grupo propostas nas 
Ciências Sociais e na Psicologia, o reconhecimento do grupo como 
acontecimento histórico, isto é, o processo grupal, recupera as mesmas 
ênfases nas condições sociais concretas já verificadas na TRS, sob as 
quais indivíduos e grupos constituem‑se, comportam‑se e projetam‑se 
para o futuro.
Para todos esses conceitos, não são deixadas de lado as determinações 
ideológicas e, consequentemente, a necessidade da crítica da naturalização 
das relações humanas e da sociedade.
Vimos também que os conceitos de linguagem e imaginário trazem, da 
Filosofia e da Antropologia, novas perspectivas para a crítica à ideologia, 
abrindo campos em meio ao imponderável para o embate que leva à 
transformação social.
Na sequência, foram apresentados a história, os princípios e as práticas 
da Psicologia Social Comunitária. Seu desenvolvimento na América Latina 
e no Brasil responde à proposta de trabalhar com a pobreza e a exclusão, 
numa perspectiva teórico‑prática que posiciona o psicólogo como agente 
de transformação e desloca sua prática profissional da ação individualizadae distante das questões sociais, para um empreendimento engajado e 
militante.
As possibilidades apontadas pela Psicologia Social Comunitária 
demonstram a potencialidade das práticas de intervenção construídas a 
partir de ações que buscam a parceria com os participantes para a instituição 
de relações comunitárias. Comunidade, aqui, não significa o gueto que a 
palavra designa no senso comum, mas um espaço de encontro, respeito e 
possibilidade de elaboração de projetos coletivos. As relações da Psicologia 
com as políticas públicas têm ganhado espaço e aberto áreas de atuação 
profissional para psicólogos que ainda identificam o seu fazer profissional 
com as atividades clínicas.
Apesar dessas novas inserções, a melhor integração do psicólogo a tais 
políticas é ainda um grande desafio. Na saúde, na esteira da implementação 
do SUS, o psicólogo ainda busca encontrar um lugar que não seja a mera 
repetição do “modelo de consultório” nos equipamentos de saúde, apesar 
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dos instrumentos provenientes da Psicologia Social e comunitária que tem 
à sua disposição. Esses mesmos instrumentos – o trabalho com pequenos 
grupos, a visita domiciliar, o acolhimento – também são extremamente 
úteis no âmbito das políticas de assistência social. Nesse caso, porém, o 
lugar do psicólogo já está institucionalmente garantido como parceiro 
dos assistentes sociais. Finalmente, é importante destacar o cuidado com 
a formação, que deve ser capaz de preparar o profissional para atuar num 
campo carente de técnicos e sensibilizá‑lo para o compromisso e seu 
próprio desejo de mudança.
 Exercícios
Questão 1. Leia atentamente as afirmativas apresentadas, que estão incompletas e devem ser 
complementadas com as frases ou com as orações listadas a seguir:
I – Nossa identidade pessoal é estável: somos, permanecemos e permaneceremos sempre os mesmos, 
sempre idênticos ao que sempre fomos. Essa afirmativa apresenta (...)
II – Nossa identidade pessoal é mutável: cada sujeito resulta de fatos que o antecederam e de 
condições vividas. Cada sujeito acha‑se exposto, pois, a contínuas transformações. Essa afirmativa 
apresenta (...)
III – Psicologia Social: o Homem em Movimento é uma obra importante por apresentar os fundamentos 
da Psicologia Crítica, seus principais temas e seus principais campos de aplicação: a escola, o trabalho e 
a comunidade. Trata‑se de uma obra (...)
Leia agora o apresentado a seguir e associe, de modo correto, cada uma das afirmativas feitas 
anteriormente à oração (ou frase) que a complementa:
1 – (...) uma compreensão de identidade advinda do senso comum.
2 – (...) uma compreensão de identidade segundo a perspectiva adotada por uma Psicologia Social 
Crítica, como a defendida por Ciampa (1983).
3 – (...) que enfatiza a importância da ação individual humana em detrimento das ações de cunho 
coletivo.
4 – (...) que delineia as principais preocupações teóricas e temáticas do grupo dirigido por Silvia Lane 
(CODO; LANE, 2006).
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Unidade II
Assinale a alternativa correta:
A) I‑1; II‑2; III‑4.
B) I‑1; II‑2; III‑3.
C) I‑2; II‑1; III‑4.
D) I‑2; II‑2; III‑3.
E) I‑2; II‑1; III‑3.
Resposta correta: alternativa A.
Análise das alternativas
I‑1) Afirmativa correta.
Justificativa: há coerência entre as duas orações aqui associadas, e a segunda completa a primeira. 
É correto afirmar que, segundo o senso comum, permanecemos sempre idênticos ao que sempre fomos. 
Logo, a afirmativa está correta.
I‑2) Afirmativa incorreta.
Justificativa: há coerência entre as duas orações aqui associadas, e a segunda completa a primeira. 
No entanto, é incorreto afirmar que, do ponto de vista de uma Psicologia Social Crítica, permanecemos 
e permaneceremos sempre idênticos ao que sempre fomos. Logo, a afirmativa está incorreta.
I‑3) Afirmativa incorreta.
Justificativa: não há coerência entre as duas orações aqui associadas, pois a segunda não completa 
logicamente a primeira. Logo, a afirmativa está incorreta.
I‑4) Afirmativa incorreta.
Justificativa: não há coerência entre as duas orações aqui associadas, pois a segunda não completa 
logicamente a primeira. Logo, a afirmativa está incorreta.
II‑1) Afirmativa incorreta.
Justificativa: há coerência entre as duas orações aqui associadas, e a segunda completa a primeira. 
No entanto, é incorreto afirmar que, segundo o senso comum, cada sujeito acha‑se exposto a contínuas 
transformações. Logo, a afirmativa está incorreta.
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II‑2) Afirmativa correta.
Justificativa: há coerência entre as duas orações aqui associadas, e a segunda completa a primeira. 
É correto afirmar que, do ponto de vista de uma Psicologia Social Crítica, nossa identidade pessoal é 
mutável. Logo, a afirmativa está correta.
II‑3) Afirmativa incorreta.
Justificativa: não há coerência entre as duas orações aqui associadas, pois a segunda não completa 
logicamente a primeira. Logo, a afirmativa está incorreta.
II‑4) Afirmativa incorreta.
Justificativa: não há coerência entre as duas orações aqui associadas, pois a segunda não completa 
logicamente a primeira. Logo, a afirmativa está incorreta.
III‑1) Afirmativa incorreta.
Justificativa: não há coerência entre as duas orações aqui associadas, pois a segunda não completa 
logicamente a primeira. Logo, a afirmativa está incorreta.
III‑2) Afirmativa incorreta.
Justificativa: não há coerência entre as duas orações aqui associadas, pois a segunda não completa 
logicamente a primeira. Logo, a afirmativa está incorreta.
III‑3) Afirmativa incorreta.
Justificativa: há coerência entre as duas orações aqui associadas, e a segunda completa a primeira. 
No entanto, é incorreto afirmar que a obra mencionada enfatiza a importância da ação individual 
humana em detrimento das ações de cunho coletivo. Logo, a afirmativa está incorreta.
III‑4) Afirmativa correta.
Justificativa: há coerência entre as duas orações aqui associadas, e a segunda completa a primeira. 
É correto afirmar que a obra mencionada delineia as principais preocupações teóricas e temáticas do 
grupo dirigido por Silvia Lane. Logo, a afirmativa está correta.
Questão 2. Considere as afirmativas a seguir:
I – Para desenvolver bons trabalhos em grupo é preciso considerar tanto os fundamentos teóricos 
quanto as modalidades de intervenção possíveis. Havendo domínio de teorias e de técnicas de grupo, 
torna‑se absolutamente dispensável toda e qualquer consideração relativa a possíveis determinações 
ideológicas nas relações humanas.
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Unidade II
II – Conceitos de linguagem e de imaginário advindos da Filosofia e da Antropologia favorecem o 
desenvolvimento de um pensamento crítico relativo à ideologia, criando, assim, novas possibilidades de 
transformação social.
III– O desenvolvimento da Psicologia Social Comunitária na América Latina e no Brasil ocorreu 
como resposta à demanda de trabalho junto a populações de todas as classes socioeconômicas, sem que 
tenha sido priorizado o segmento populacional de pobres e de excluídos do sistema.
IV – A perspectiva teórico‑prática da Psicologia Social Comunitária na América Latina e no Brasil 
posiciona o psicólogo como agente de transformação e desloca a ênfase de sua prática profissional da 
ação individualizada para um empreendimento engajado e militante.
V – O trabalho com pequenos grupos é extremamente útil no âmbito das políticas de assistência 
social. Como esse trabalho pode ser desenvolvido tanto por psicólogos quanto por assistentes sociais, é 
preciso que os assistentes sociais recusem a parceria com psicólogos, para garantir mais oportunidades 
de trabalho à sua própria classe profissional.
Está correto somente o afirmado em:
A) I, II e III.
B) III e IV.
C) I, II e V.
D) II e IV.
E) V.
Resolução desta questão na plataforma.
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FIGURAS E ILUSTRAÇÕES
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Figura 3
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Figura 4
4221C0CDD53C1.JPG. Disponível em: <http://agenciabrasil.ebc.com.br/sites/_agenciabrasil/files/
gallery_assist/3/gallery_assist639864/prev/4221c0cdd53c1.jpg>. Acesso em: 26 set. 2013.
Figura 6
ABR290413MCSP00.JPG. Disponível em: <http://agenciabrasil.ebc.com.br/sites/_agenciabrasil/files/
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Figura 7
02042011ARQUIVONACIONAL.JPG. Disponível em: <http://agenciabrasil.ebc.com.br/sites/_
agenciabrasil/files/gallery_assist/25/gallery_assist667357/prev/02042011ARQUIVONACIONAL.jpg>. 
Acesso em: 26 set. 2013.
Figura 8
WDO_4908A.JPG. Disponível em: <http://agenciabrasil.ebc.com.br/sites/_agenciabrasil/files/gallery_
assist/23/gallery_assist723839/WDO_4908A.JPG>. Acesso em: 27 out. 2013.
Figura 9
1659FP114.JPG. Disponível em: <http://agenciabrasil.ebc.com.br/sites/_agenciabrasil/files/gallery_
assist/3/gallery_assist638569/1659FP114.jpg>. Acesso em: 3 jul. 2011.
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Figura 11
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Figura 12
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Figura 13
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Figura 14
41FABA91402AF.JPG. Disponível em: <http://agenciabrasil.ebc.com.br/sites/_agenciabrasil/files/gallery_
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41FBBC6189122.JPG. Disponível em: <http://agenciabrasil.ebc.com.br/sites/_agenciabrasil/files/gallery_
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Figura 28
101 THREE FRIENDS 7131.JPG. Disponível em: <http://mrg.bz/aHctng>. Acesso em: 15 set. 2011.
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