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eEDUSC 
/\7(,99p Arostegui, Julio. 
A pesquisa hist6riea : teoria e metodo / Julio Arostegui ; tradu<;~o 
Andrea Dorc ; rcvisao tecniea Jose Jobson de i\J:Idrade Arruda. - ­
Bauru, SP : Eduse, 2006. 
592 p. ; 23 em. -- (Cole<;ao Hist6ria) 
Inclui bibliografia. 
Tradu<;ao de: La invcstigacion historica: teo ria y metodo, e 1995. 
ISBN 85-7460-300-7 
I. Historiografia. 2. Historia - Metodologia. 3. Hist6ria - Teoria. 
I. Titulo. II Serie. 
CDD 907.2 
ISBN (original) 84-8434-137 - I 
Copyright© 1995 Y200 I, Julio Ar6stegui 
Copyrighl© 200 I de la presente edicion para Espana y America: 
Editorial Critica, S.L., Proven<;a, 260, 08008 Barcelona 
Copyright© de tradu<;ao - EDUSC, 2006 
Tradll\,ilo realizada a partir da cdi,'ao de 200 I. 
I lireitos ('XdllSivos de' 1'1Iblira,";o "111 lingua portlll',""sa 
par" 0 llr<lsil ,,<lquiri<los pda 
lei IIT( )I{/\ I lA tiN IVI'.HSII lAI) " I In SAl ;llAI)() (X )I{A( ,'AI) 
Ih lll l""ll A' " II,,,I .. , IU ',11 
( .1 P t 11111 11,11 1\,'\11 11 SI' 
h "'I' I II)I.'\ ', 11II hl ~ t l ' l l "", 7 '1'1 
" &lh~j J ,dn '" (1"., lIw., lU ll I ••
I 
SUMARIO 
I) tNDlCE DE QUADROS 
APRESENTA<,:AO 
Hist6ria ou histriografia? Ciencia OU arte? 
II PROLOGO A NOVA EDl<,:AO 
PARTE 1 
Teoria, hist6ria e historiografia 
CAPiTULO 1 
.u IIist6ria e historiografia: os fundamentos 
.)C, A hist6ria, a historiografia e 0 historiador 
'''' ;\ historiografia, a ciencia e a ciencia social 
."Is:, ( ) conlelldo da teoria e os fundamentos do metodo historiogrti!;m 
( :,\1' iTt 11.0 2 
(),/ ( ) nascirilcnln c 0 descnvolvimcnlo d<l hisloriografia: os grandrs pit r; \( ligtlid ', 
/III/ ( ) SIIIXilllt'IIto till "t:ihll·jll do hist()ria" 
I 18 /1 t{/,om tlos .I!,1Wltll'S /llll'lllligll/IIS 
I 
CAPiTULO 8( :Al'iTlJl.O 3 
o processo metodo16gico e a documenta<,:ao hist6rica465 
466 o processo metodol6gico na historiografia 
IPI 1\ crise da historiografia e as perspectivas na virada do seculo 
/1'/ A crise da historiografia 
) ()8 As propostas renovadoras 488 Uma teoria da documentarao hist6rica 
, j / As perspectivas de mudanra 
CAPiTULO 9 
i'AI(,I'E 2 
 513 Metodo e t~cnicas na pesquisa hist6rica 
1\ [coria da historiografia 
 SIS As tecnicas qualitativas 
537 As tecnicas quantitativas 
( :AI'ITI JI.O 4 
t; ;1 So('icdade e tempo. A teo ria da hist6ria. 
')59 REFERJ?NCIAS BlBLlOGRAFICAS • :. ~· I .';"c·il,dl/de e hist6ria 
:71 '/;'///1/0 (' hist6ria I,H:) INDICE ONoMAsTICO 
'.'/0'1 / /i~/e)rio como atribuirao 
( :AI'ITlJI.O 5 
10 I ( ) ohjeto te6rico da historiografia 
I(M A conformarao do objeto da historiografia 
I 
!.!() Sistema, estado social, sujeito e acontecimento 
111) A anrJlise da temporalidade 
CAPiTUl.O 6 
l'l r, 1\ cxplica<,:ao e a representa<,:ao da hist6ria 
ViS A natureza da explicarao hist6rica 
!()'/ A representarao do conhecimento hist6rico 
i'Alm: 3 
()s instrumentos da analise hist6rica 
( :AI'ITIII.O 7 
'I .) I ( ) m{'lodo cil'nLillco-social c a historiografia 
1..:.1 ( ) "'01'(0 til' f'/'{t'rhlc;o: 0 /l//:/odo das (;el"rills sociois 
I:; I ;\ IIII/IIn'?1/ tIo ",dodo 1,;s/o, ;0.\:/"(1/1('(1 
INDICE ·DE QUADROS 
A e1aboracrao da linguagem cientifica ......................... 60 
12 Dados numericos tabulados dos combatentes 
13 Emigrantes das provincias de Castela-Le6n 
2 As ciencias sociais, segundo a classificacrao de Jean Piaget ....... .. 66 
:~ Modelo de explicacrao nomol6gico-dedutiva .................. 365 
4 Estagios 16gicos do metodo da ciencia . . ..................... 445 
5 Metodo, praticas metodol6gicas e tecnicas .... ........ . .... ... 451 
6 Os campos de pesquisa do hist6rico .. ....................... 475 
7 Criterios para a classificacrao das fontes hist6ricas .............. 493 
8 Fontes hist6ricas segundo sua intencionalidade ................ 497 
9 A avaliacrao das fontes ..................................... 510 
10 Natureza das tecnicas ..................................... 518 
11 Perfis de discursos, segundo a regulacrao de "sublimacrao" ....... 531 
de Navarra na guerra civil, 1936-1939 ........................ 548 
em Cuba, 1911-1920 (exemplo de matriz de dados) ...... ..... . 549 
14 Exemplos de representacroes graficas ....... ........ ..... '..... 558 
l 
9 
APRESENTAC;:AO 
HISTORIA OU HISTRIOGRAFIA? 
CIENCIA OU ARTE? 
Ao completar 10 anos de existencia e mais de 600 titulos elencados em 
seu catalogo, a EDUSC tornoll-se referencia na area das humanidades, parti­
cularmente no campo da Historia e, mais especialmente ainda, no setor que 
poderiamos denominar das obras historiograficas. Segue, sem premeditar, urn 
movimento amplo de publicacr6es que exibem 0 vocabulo 'historiografia', 
mesmo que muitas del as nao tratem efetivamente do assunto e, no limite, nem 
mesmo tern conscienci~ do significado que a expressao ganhou em nossos 
elias, mas que, ao ostenta-Io, integram-se acorrente dominante na confraria 
dos historiadores. No fun do, expressa a crise permanente que ronda 0 bivaque 
dos historiadores, crise esta que se apresenta, em sua forma mais agressiva, na 
p6s-modernidade, e que exalta a necessidade da reflexao historiografica. 
Ao reyeS da tendencia entre nos, em que a historiografia confere status 
aos titulos publicados, a obra de Julio Arostegui, em suas mais de 500 paginas 
to\almente devotadas, a reflexao sobre 0 significado denso da hist9riografia, 
porta lim titulo c1assico A pesquisa hist6rica: teoria e metodo, bern ao estilo dos 
lIlesl res fundadores do saber historico na primeira metade do seculo 20, a 
('x(,llIpio de Ilcnri Berr, para quem os historiadores jamais refletiam sobre a 
11 ,1 1\I f'cza de sua ci{~ ncia. 0 resultado e urn notavel tratado sobre ciencia histo~ 
riol',I'.di(" ,I . 11111 diIlO/l que \till no excrcicio crftico permanente uma das mar­
Aprese1ltt1fiio 
~\I~ dos inlelectuais catalaes, onde pontifica Josep Fontana. Publicad{) origi­
lI. dlllcnle em 1995,0 texto ora publicado foi reformulado e atualizado para a 
cclil,- ill) cspanhola em 2001. Demonstra enorme capacidade para reunir leitu­
l'ilS IIOS mais diferentes campos do conhecimento, travando urn cerrado dia­
logo com filosofos, soci610gos, lingiiistas, cujos pensamentos sao mobilizados 
"do alllor para pensar a ciencia historiografica. 
o estilo e £luente, claro, direto, objetivo, sem lugar para meiostons, 
"..I.. C'( lI~lo quando se trata de desancar autores e obras incautas: urn livro mal 
. . 
1l.1I111'1ido, uma ideia indefensavel, um,a interpretac;ao ac;odada. A densidade 
.1. \ I d l,'xao, contudo, turva a transparencia aparente do texto. Nao eobra para 
ill I. !.II I II's. (\ estudo para quem navega nas aguas de Clio com urn certo desem­
11.1I .lI,Il, l'spccialmente para os que se debrw;:am sobre as quest6es metodol6­
H'c,I ', c' 1 ~,t')l'kas, sempre a exigir do leitor urn dhilogo mental acurado com 0 
.llIl t II c' slIa nina, urn' exercicio dial6gico pleno, obrigando-se a acompanhar 
JIIII' ( tth;,11 os argumentos que se renovam na discussao permanentemente 
1''' Ihlllll,ll i'l.a<ia das ideias que, literalmente, borbulham no texto. 
A oilra sc divide em tres partes. A primeira, "Teoria, Hist6ria e historio­
W.i1i,,': rd1cte sobre a natureza mesma da disciplina historiogrMica; a segunda, 
"A I('ori" da historiografia", analisa a trajetoria da elaborayao do conhecimento 
hisloriografico; e, a ultima, "Os instrumentos da analise historica", fala do arse­
lIal disponivcl e adequado ao fazer historiografico. A problematica central do 
livro csla posta na primeira parte, em que 0 autor advoga a instaurac;ao de uma 
dCIKia hisloriognifica como alternativa a uma ciencia hist6rica, ou seja, no 
Illgar do r6tulo Hist6ria, poriamos Historiografia, adensada por conter dosagem 
drvada de reflexao teorica. A segundaparte rastreia intdectualmente a cons­
Inl<,ao da interpretac;ao historiognifica, demonstrando sua carencia reflexiva, 
\ 
dl'hilidade essa que, sc recuperada, devaria 0 status da Historia/Hisloriografia 
110 (,(lIKerlo lias cicncias humanas e socia is. A terceira discorre sobre 0 instru­
II It.' lIla I disponivcl que, a servic;o de um 'caminho', de uma mct.odologia, poria 0 
hi ~loriador IHI sCllda do conhecimenlo. Inevilavclmenle, lanlo a sl'gllnda qllall 
It) a l\'I'I 'l' ira paries lelll uma ceria dosc de repcli~'flO) lima va qllC as leses assll 
lI1 id,l~ 11 .1 prillH'ira I'lIlrallhalll. IIl'l'cssarianWIlII', as tillas, 
Ar(h lt 'gui ( 11111 hislori.ldm, ora;m:.o, ASSllll1l' d t',.;ahl'jdall\ ~' ll ll· SII,IS ( 0 11 
vit\o,". r .I S l''' l'm' M' III 111('(10, Hllli"" pel" Vl' luIIlV,r1 do lIn, IIlC"lc '1I1i "III O, " ~"" 
111 111 0 ' I"C' <111\\/1"'1.111111,1 VI"III ",IIIIC'I,I III' lt i..lnlIO~: I , t1i .I, 111111' "1 ',,1" 1,\\ hU I,1 
Apresentafi'lO 
lista, mais pr6xima da ciencia do que da arte, nada compiacente com 0 rclal i 
vismo ficcional. Privilegia sujeitos corp6reos que formam e modificam ciass('S, 
estruturas e sistemas; por isso, afirma no pr610go: "acreditamos em urn fUluro 
racionalista, e nao pragmatista, da historiografia". Para ele, ha dois patamarc~ ,I 
se.rem percebidos pdo historiador: a experiencia humana em sua vivencia lelll 
poral e a re£lexaosobre essa mesma experiencia. Para 0 primeiro, prescrvou a 
denominac;ao Hist6ria; para 0 segundo, reservou a expressao historiografia . 
que encerra a dimensao propriamente cientifica, iItrelada ao universo do 
conhecimento, concepc;ao essa que se traduz explicitamente nesta formul<\(,:ao• 
lambem inclusa no prologo: "a fundamentac;aoultima da historiografia niio St' 
baseia no que os historiadores fazem, senao, e antes, na critica do que fiIZl'Ill': 
I )istingue a entidade Hist6ria e 0 que podeni vir a ser uma disciplina do con hI.: 
c'imento da Hist6ria. Por isso, diz: "propomos decididamente adotar para t's l,1 
o nome de historiografia", cuja enfase ea re£lexao sobre a natureza do hisl<)ri 
'0, 0 modo pdo qual se conhece a Hist6ria. Ar6stegui nao pensa, porlanlo. 
IlIlm possivel terceiro andar, urn troisieme niveau, aquele em que a hislorioJ,ll ,I 
Iia iden tificaria nao a Hist6ria em si, nem a hist6ria traduzida pclos hislori lu 10 
n's, mas a natureza das obras elas mesmas, vis-a-vis sua i"mersao no amhit' lIk 
,"l1ural e ideol6gico do tempo em que foram produzidas. Nao que esla pOll.. I 
hilidade estivesse ausente de sua analise, gue a desconhec;a, pois retoma (,' d ( '~ 
,.trIa) J. Topolsky, que distingue os fatos passados, as operac;6es empreclldid.l .. 
1'01' Illn pesquisador para recupera-Ios e 0 resultado das mesmas, opt' ra~()I ·'. 
l'l'slIlIado esse que seria propriamente 0 objeto da historiografia. Ani~lq~1I 1 
IIIVI'S[(' contra os historiadores franceses - Carbonell e Le Goff, entre dcs • pIli 
, I ('tiilarctll ao terma 'historiografia' 0 significado de "hist6ria da hishiria", ci t, 
11',0 ('ada vez mais corrente na comunidade dos historiadores muntlo afi,ra . 11,1 
I lI l'~ 1I1,1 limna que recusa a prisao do vocabulo 'historiografia' ao rcsull .lI l11 11,1 
I""'qllisa, pois a reivindica para emblematizar um conhecimenlo l1lais 01111 1'10, 
In 11,,1 lalllb{'m a possibilidadc de adotar a expressflO histor;%g;lI. ~,Ipa:t ch­
I IIli lo".11' os anlllll'cimcnios t' a rcflcxiio sohre os IllCSI1l0S, cOllsidcl'alldo .1 ill.1 
dc'c I' 1. 11 1,1 pOl' ciclIl i lici'J;ar cxccssivamcllie 0 cOllhecillll'lIlo hisl<iriro. 
A ,\SIIIII illdo lti~/(/riogmli(/ (UIlIO si 11(111 imo dc II;s/lir;lI. An)SII'!~ 1I i Il'wl I I ' 
.111', ",/1.', Illlldndorl's, ,'SIWt i.IIIllI'IIh' Luli" 11 PI'lIvre. p .lr'lI qll " I1\ ,I Il i,"(PI 1,111.111 i 
111 11.1 Crc\ IIC j,l, III,I~ 11111 '\':-;1lido lIC'nl ii i, 1111 1('11 h' daholllclo", i ~s(l 1'111'<) I II' '01' 11 1'1 ClC c· 
ill II II 11111 11.1(1 C' .1Ihi ll .IIIC1. I'W\)"C' .I l"h",.1 I,I\III'"d.1 11111 11 IIlC'lnclll 411' llllflC II 'I "c' 
/Ipresellt"{ilo 
{) leva, a partir do empirico, a explicayOes contextualizaveis e plausiveis no con­
ll'rlo das demais ciencias humanas. Urn metodo, 0 percurso de urn caminho 
!'.lrional e sistematico na busca de urn conhecimento inscrito nao no passado, 
lIlas 110 iemporal, que incit,li 0 tempo presente e a possibilidade de 0 historiador 
"" IlIsl rllir" suas fontes, tendo como pano de fundo as realidades que sao sempre 
l\l llhais, posto que todas as atividades humanas sao entrelac,:adas, que as socieda­
.1,,\ s.: rt'alizam historicamente no mundo e que, por desdobramento, a Hist6ria 
I ' '," lIlpr(' global par ser uma ciencia-sintese. E$Sa perspectiva totalizadora da 
I I ;'.IO/' i.1 ddineia 0 paradigma em que 0 autor se aloja. Mesmo reconhecendo que 
11111 lilli, 0 paradigma jamais se impos na pratica historiograiica, 0 marxismo e 
1101 /11/'(,' dc resistence, 0 que nao 0 impede de abardar, com propriedade, os 
til Ilhl I:, II.lr;\( Iigmas que lastreiam as ciencias humanas: 0 funcionalismo; 0 estru­
I i 1\ ,di\lllO; (l p6s-modernismo e suas derivac,:6es n0 campo da Hist6ria; 0 positi­
\'I!.I.I. ' ) 11Ir-loricista; 0 analista (dos Annales); 0 quantitativismo e 0 narrativismo." 
(I ,"arxismo conferiu a historiografia uma dimensao reflexiva ate 
, 111 ,1\) , k~(,ollhecida; por isso mesmo, deixou marcas indeleveis na escola dos 
1/lIIIIIt'" prillleiro movimento historiogr<ifico do seculo 20, 0 que nao impede 
A I II.~I('!\lli, cnlretanto, de reconhecer as limitac,:6es impostas por urn determi­
lIi:,1I10 vlligar, empobrecedor, e a oxigenac,:ao representada por autores como 
F. I'. Thompson, ao reivindicar urn lugar apropriado para a cultura das classes 
~mj,l is, sobrcludo em suas formas de representac,:ao, 0 que levaria aformula­
\.111: "a c1assc nao euma estrutura e sim uma cultura". Arostegui ace ita, incJu­
'.;,,1' . qlll' it concepc,:ao de mentalidades coletivas seja, sem duvida, uma alter­
1I.lllva ao conceito mais abrangente de ideologia, pec,:a-chave do marxismo, 
IlI. I ~ Sl' rccusa a incorporar 0 subjetivismo idealista presente na obra de 
Ikllnkuo (:roce, segundo 0 qual a historia e uma construc,:ao mental do his­
1111i,Hlm, mas n:conhece, com Johann Huizinga, que a "hist6ria e uma cons­
111\\. ,0 (11I1I1ral". Sell <tpego ao marxismo, que transparece em pontos nodais 
.[" \" 1\ livro, tlaO all1eniza suas criticas, tais como a cscassa atcnc,:ao ao sujeilo, 
.I ",linsOl ial (' slIa klldencia a reilicar entidades lOlalizadoras. 
1\ t'xl.ha~" .\O raciollalisla <II' I\r{)steglli alinge slIa IIl;lxima I('nlpe ralura ao 
tll·,!ItI;1 1),\ 1'1l\IIJlados hislnriogr.ificos p()s- lIlodeI'1I0S, IlI clonill1i( ,I/ll l'nll' sill 
1 1'l1,.III[)'1 l lill':\pl{'Slo.I() "I',illlli lll\'lil.l;\Cl", I\ ~ dllas (·pigl. Il ,·s q ll ~' .l b '~·11I fll.1J 11111 
III 1'.11111'11/,1111.1 P4l1.11 "(,1\.111 "" ddl,lli' I )" Ifill I.,dll, Jil 1\'.1 111'111111'1111 ',1'1111'1" 1.\ 
t il l(, ',I 1'1. 11"11.111 1111',1 1111'11111'1 ,f 1 1 1~I IIII, 1. lI.hl~' , .. 1111111' p",I II,1 1.1, ", ' 1111 11 11, ,I 
IIpresetliafiio 
alegoria de Hayden White, "Clio faz tambem poesia", A charmosa abertura nao 
,sublima 0 enfrentamento decidido do tema; assume que a cultura e a amilise 
cultural do pos-modernismo sao essenciais a compreensao das profundas 
Illudanc,:as ocorridas na Historia e sua escrita, Nascida como atitude intelectual 
gcnerica, que se manifestou na arte, na literatura, na filosofia e na critica da cui 
lura, era 0 resultado da crise do paradigma estruturalista e significava "a 16gi" 
ca cultural do capitalismo tardio", formulac,:ao essa colhida em Frederick 
Jameson, 0 pape! da nova conce~ao da analise da linguagem na e1aborac,:ao do 
conhecimento/escrita da Historia teve em Hayden White sua maxima expres 
sao. Suas incurs6es pela linguagem historica do seculo 191evaram-no a afirmar 
"que a escrita da Historia era apenas uma forma a mais deescrita de ficc,:ao, scm 
ncnhum compromisso com a verdade e que, por decorrencia, a diferencicH,:ilu 
mtrc relato hist6rico e de ficc,:ao nao tern qualquer relevancia, sendo a prell'lI ' 
sao Hcientificidade uma i1usao ingenua, 0 que sobreleva a dimensao estetica. 0 
esl ilo, mais do que a propria explicac,:ao, no que foi seguido por filosoli)s do 
peso de Paul Ricoeur, ou historiadores como Ankersmit ou Kellner. 
Tais concepc,:6es, rotuladas de descontrutivistas, foram entendidas COIlIO II 
"cxpressao mais acabada dessa ideologia do pos-modernismo", par I\r6slcj\lIii 
contem uma indistinc,:ao entre realidade e linguagem, a ideia de que 0 texlo n ,IO 
resulta de urn contexto, pois tern vida propria e nao pode, portanto, exprl'ssill 
IIll1a realidade exterior que 0 historiador apreenderia nas fontes, significandll II 
liquefayao do proprio conceito de fonte historica, longamente acalcntado pd.1 
hisloriografia, desde seus inicios. A sensayao de esmigalhamento cla IIiSl6ria C' .1 
lIlaniiCslayao mais pungente da crise, mas ela tern a virtude de renovar as OI l1,(I(" 
hisloriogrMicas, muitas das quais nao passam de trivialidades neonarralivi~I,'~, 
Will flH"1l' ranc,:o ctnogr<lfico, escasseando inovac,:6es que representcm a po!'isihi li 
<I,lIk de avanc,:o$ posteriores na medida em que recuperem a dimens;"lo cxpl i( .II i 
va lIa Ilisl6ria. 0 retorno do "sujeilo': quc nao significa relorno ao indivi<l Il.lli" 
I~IO, 110 t'lltilllO quarlcl do scculo 20, espccialmcnte no campo das Cielll ias SOl hil ', . 
,.l il1\1:lIloll 0 rl'lIasn'r da lima IIisl6ria sociocultural pllllgClIll', em qlll' a I d ,I\111I 
"IHI " ,' ~.IO l' \'sl rill 111'<1 sao ai>sollilalllenle dialclicas, on<le illlnagcl11 .IS Ii II II hi" II\' 
,(llIsll II\,\() ~i lllb{) li ~ ,I, <1(' rcprl'se lllac,oln da rcalidadc illlpik ila ,'III I(lda .,\,10 
IIIt'th,lIl.1 ,wl,IS li llgllilgl'IIS, I Jill ('Xl'llI pln disllllin ( . • 1 Illil ro 1 1I~ 1, 'lIia .I.. (",1\1" 
I 0111/1" II ).t, ' ',I I"dl'l.,d,1 p('lI, .1I .t CII 111 11.1 Ie II 111.1 ~()f I~ I it ,III.. ,I,' 11,111.11 iv., ,1111101'0111 
I~II .1. ,'II' rill<' .•• " ,11'1111.1.' .1 n'lll'l itllli 101 .Ill ",.111<' ,10" 1111 "llIII 1:"lInl, (I ti ll d l"IIII'.1I 
Apresentatao 
1I " t< 'II'ico coletivo, Outro, e a Nova Historia Cultural, na fatura de Roger Chartier 
,'Ill qlle, ao inves de privilegiar 0 social na apreensao das manifestac,:oes mentais, 
,·,I/,l lil.a os individuos eos gruposem sua atribuic,:ao de sentido ao mundo em que 
IV(,III, ou seja, a apropriac,:ao mesma que os individuos fazem de sua cultura, 
AI I(,S<I r de conferir urn lugar de destaque alinguagem, nao reduz a realidade social 
.1" /('or do discurso, apropriando-o, muito mais, como produto da ordem sociaL 
o giro lingiiistico da pos-modernidade sepultou definitivamente a 
Iii I" IlrSc de que 0 objeto da Historia/Historiografia seria a "ressurreic,:ao inte­
HI .,1 do passado': como queria Michelet', Alertou-nos para uma "certa" dimen­
..II' ( ollslruLivista presente na ac,:ao do historiador; asseyerou-nos que a 
111'.11'11 i, I/llisloriografia nao e urn mero "artefato !iterario"; conscientizou-nos 
tI , '1lll' .IS gCllcralizac,:oes abstratas nao sao suficientes para explicar ou COffi­
JI"'IIII I"r .IS i1yoes humanas, mas tambem nos deu a certeza de que suas vir­
/11,"" Lulte. haviam se esgotado no eclipse do scculo 20. Invocando Peter Burke, 
\lfl~II')!,lI i rca/irma que a historiografia pos-moderna nao e urn genero, mas 
III 1111 II I<III' il. de gcneros. Ne!as prevalecem os sujeitos sobre as estruturas. Realc,:a 
11 ' , IlIdividllOS, a cultura como receptckulo social, as identidades, a sociabilida­
dt', CIS problemas de genero, a etnia, a rac,:a, as marginalidades e a memoria 
101110 prdll1bulo da Historia. Em suma, a historiografia deve manter-se aten­
1.1 ,\ s~'lIsihilidade de cada momento, ao tempo presente como portador de 
v,l"l.1 pOlencialidade, uma exigencia da sociedade da informac,:ao, pois a "histo­
".1 vale.: 0 que valem 0 presente e sua linguagem", como diz Arostegui. 
I l lIpli~ilalllcllte, assume-se 0 papel da cultura como sistema de comunicac,:ao 
"III n' os hOlllcns, de COl'sao comunitaria e codigo comportamental, fazendo da 
III /I 'rtt l'! 0 IIOVO numeno, objeto indescartave! de nossa intuic,:ao inte!ectuaL 
No capitulo de abertura da segunda parte, intitulado Sociedade e 
'/ ;'/I/f'o: " /coria da Hist6ria, encontra-se a discussao central da obra e que se 
II'll" C :1 lIal mel.a da Historia/Historiografia: ser social e ser temporal. A 
lil li/Mia/II isloriografia esta plasmada na sociedade. Sao, portanto, entidades 
IIIM'p.mivcis. 'Iem 110 seu cerne as a<;6es humanas em ambienta<;ao social, logo, 
,I Il'll li:. da hisl6ria devc assumir que se ha urn sentido no carater rna is coleli­
I/o d ill> ,II,Ill'S hisl\'lril'as, as pr\'lprias i\<lles somenlc podelll ser aprcelldidas 
.I"" ,," q lll' ,III ihuicl.,s a slIjeilos illdividllais. Os coletivos lalllb"1I1 sao allslra 
\1\,'''_ Jlllj-, " 'lil t' pmit- '1\' 1 o \lj('l iv,u lp pdo illVl'~ti g.Hlor sao os individllos. Nflu 
\ldlvlrlllll~ qu.t i-.ql 11'1 , ,11111'11111.11'•• Illillt ~ lIj , ' iI O'\ (,Ollt I't' lo ~ vl 'l lid"l, 1111 1('11 11'0. 
"/1(1", Ul",jljl 
cujas ac,:6es, "0 fato social", somente pode ser captado como "falo SOCiOll'lIlpO 
ral". Nesses termos, os fatos, os eventos, as mudan<;:as e ale mesmo as dura<;oes 
nao ocorrem no tempo; pelo contr<irio, criam 0 tempo, conferindo a 
Historia/Historiografia 0 carater da ciencia da propria temporalidade huma­
na. 0 tempo astronomico, 0 tempo da natureza, nao e 0 tempo do historia­
dor. Fernand Braude! percebeu 0 problema e!aborando a concepc,:ao tripartite 
do tempo historico, mas nao percebeu sua pluralidade, na critica de Paul 
Ricoeur. Mais densa e a concepc,:ao de Kose\leck que pensa 0 tempo de forma 
cumulativa e definido a partir do futuro, cuja resultante e pensaco tempo 
como a rela<;:ao entre passado e futuro que se cristaliza no presente. Arostegui 
invoca 0 filosofo M. Heidegger em suas reflexoes sobre 0 conceito de tempo, 
conferencia publicada em 1924, em que a percepc,:ao do tempo se faz a partir 
do futuro, uma exclusividade do ser humano, pois e 0 unico que sabe de sua 
morte e, portanto, que pensa 0 tempo a partir do futuro, de sua finitude. A 
Historia/ Historiografia nada mais seria do que 0 produto dessa consciencia 
temporal, mas cuja essencia, para 0 autor, e denotar mudanc,:a, sempre rckri 
da adurac,:ao, apermanencia, Dai a dificil tarefa que se impoe ao hisloriadllf: 
abstrair 0 impacto do tempo presente se pretender a recuperac,:ao cicllt ifil.\ dn 
passado; fingir que desconhece "0 futuro do passado", que eseu prl'>prio P'" 
sente, 0 que significa que a "historia que escrevemos e uma conCep~ll(l '1"1' 
forja 0 homem do presente", finaliza Arostegui. 
Nas palavras do pr6prio autor, a finalidade ultima deste livro l~ 0 dc:-.dll 
de instaurar uma ciencia historiografica que subsumiria e, por fim, subst illlil ill 
a Historia como disciplina. 0 discurso historiognifico seria a rccolIslru<,ilo 1111 
representac,:ao que a historiografia faz da Hist6ria, urn produto clahorado, (.':-'1'" 
cHico, de feitio artistico ou cicntifico. Em suma, Hist{)ria ou hislori()I\I.,IiM 
I Iisloriografia, lato sensu, incorporando a Hist6ria, ou stricto SCIISII, a n'lh 'x ,11I 
sobre as ohras hist6ricas? HistoriografJa como discurso ciclllilico Oil c1abll' ,I~,III 
arlisl ica? 'I(llalidades expressas nas rcla<;6es estruturais OIl mi~:roall:, l i~l':' n'lll l ,I 
das lias persollagclls? Problemas de funtlo ni\o ape1l<IS 110 lcrril\')rio 1'l'~1111 1) ,I" .. 
hisloriador('s, mas d(' lodas as cii"lIcias hllmanas, rl'virados 1'l'lo .IVl'~SO pili ' ...·,1 
h i~l()riador ,11 \\1110, ali\ado, ('rlldito S('I\I pcdailiisillo qll l' (, lulio A r('lIh'I\1I1. 1111" 
IlI'Ilho illl cl~'Ll ual L(lIIv id ll lllOS 0 ki lo!' a purtilhar II l\~1.1 avelliu ril dll l'''l'ill lo, 
/f/\/ l /0//\11/' tit ' /\ //(/",11,' 1\/ ,1/'/" 
VII 
~ 
PRGLOGO A NOVA EDI<::AO 
Ha cinco anos surgiu a primeira ediyao desta obra, cujas intenyoes, op­
<;6es, expectativas e agradecimentos se fizeram constar do Pr610go escrito para 
aquela ocasiao. Surge agora uma segunda em cujo novo Prologo, com a pers­
pectiva que 0 tempo transcorrido e a experiencia adquirida acrescentam, gos­
laria de retomaraqueles e outros temas semelhantes aos que continha 0 ante­
rior. Mas e claro que a este proposito se impoe uma considerayao previa que 
1l~1O posso evitar, e e esta: 0 que eu puder incorporar, retificar ou confirmar do 
que entao dizia esta inevitavelmente condicionado pela receps:ao que teve oli­
vro e pelo eco que dele me tern chegado. 0 fato de que se tome a editar, e que 
o scja com ostensivas reformas - que oxala sejam realmente para melhor -, diz 
por si mesmo algo que nao e preciso repetir. Mas nao diz tudo. E e especial­
flH'fllC isso 0 que gostaria de considerar. 
A recepyao it que me refiro tern muitos perfis dignos de alguns comen­
I.irios, Illas nao e 0 proprio autor do livro a pessoa mais indicada para faze-los. 
t:.flln: 0 que considero prudente dizer se ipclui 0 fato, lisonj~iro, de que aqueles 
,I qUt'lI1 ullla obra como esta foi especialmente dirigida e outros a quem previ­
',iwllll<'lIk scrviria de ajuda nao pareceram decepcionados, peIo que sei. Os 
,IIII 110S qUl' l'lIfsam disciplinas de cuja materia ele trata, os profissionais inte­
1t '1, ~>ld (ls 1I0S aspeclos mais estruturais de sua disciplina, alguns estudiosos de 
qlH'~.IIl~'1> lilllilro/C:s L' rdacionadas s~\o os casos mais significativos que conheyo. 
M .IS 111'111 I lido fUllciollou conformc () csperado. As criticas e con trover­
1,111', '1 11(' \ ' 11 ill1l1 l', in,lv:l c, llalllralll1CIIlt', Icria agradccido, "daqucks profissio­
11 .11 '. , . !.1I11 ·Hi" , til ' qlWlII , S('1I1 duvid,l, vai rcu..,ht·1 IIf1l ;lIlgU lIlclllo lI1ais aquila 
Pr%go a nova ediJyao 
1;1110 c, scguramente, mais severo", como entao diziamos, nao se produziram, 
oil li,ram feitas de forma pouco expressiva. Nao me aventurarei, no entanto, 
1111111 plano como este, adiantando alguma explicac;:ao para urn fato que, cer­
ItIl lll~ lilc, pode ter varias explicac;:oes. Pelo que sei, 0 livro interessou muito 
Illili s <lOS colegas que por motivos profissionais se encontram mais implicados 
nil 11111 trahalho historiografico especulativo, instrumental ou "metahistorico" 
l ill qllc <lOS outros envolvidos na estritapratica empirica. Reconhec;:o que em 
IlIlIa dOlllrina sa 'ou, rnais simplesmente, na doutrina que este livro mesino 
plioilo/Hle inculcar, essa distinc;:ao nao e pertinente. Mas a realidade e teimosa e 
,11 " (lvcilo a ocasiao para lamentar profundamente semelhante teimosia. 
Assiill, aqueles que mais me falaram dele em termos construtivos fo­
1"""1 , pn'(:islllllente, metodologos e professores das areas de historia e das cien'­
I ;'I~ ~1I1.i,l is, 11I6sofos e alguns outros profissionais das ciencias humanas urn 
I'UII'" 11I.lis al~lstados da area a que nos dedicamos con<;retamente. Uma coi­
'"I 'lIIt' I'IIS:;!) acrescentar com satisfac;:ao plena e que aqueles que tern , especial­
1I1t'II11' lor;) da Espanha, uma preocupac;:ao historiografica voltada plenamen­
II (,.W,I .. lIIc\odologia, a filosofia da historia ou a historia da historiografia de 
1111111.1 ,lIguma permaneceram indiferentes ao que 0 livro oferecia. Essas ques­
10l'S, COIllO sabemos, nao tern na universidade espanhola - e, curiosamente, 
IIllIilo III<:nO$ nas faculdad~s de Historia - urn estatuto proprio definido, 
I'assando agora para questoes mais substanciais que acabam sendo, a 
IIH ' lIjUIZO, de comentario obrigatorio entre essas considerac;:oes previas, gos­
1.lria de assinalar meu convencimentode que nos cinco anos transcorridos en­
II'I' as dllns cdic;:oes nao parece que se tenham produzido circunstfmcias, desen­
volvilllenio ou inovac;:oes que levem a pensar que as opc;:oes que este tratado 
1'111;)0 assllmiu devam ser substancialmente retificadas. Nao desejaria, de 
Illodo algum, que esta observac;:ao soasse como urn protesto gratuito ou urn 
prlllHisilo desaforado de nao corrigi-la, ou como qualquer tipo de presunc;:ao, 
1'01''1"(, nao l' essc verdadeiramente 0 espirito com que se faz . 0 que quero di­
l1C' . ~" I; '1 St' em meados dos anos 90 esse pequeno tratado de rellcxao hislo-
I iU)tI'iilil'a, CIII plella voragcm do impacto expansivo do pl)s-modernisll1o, da 
lill gihsi i( O.I I' da anlropologia, no dizcr de Lawrcnce Slonc 1I0S inicios da d{'ca 
d,l , Ilp ioll por lima vis,Io conerela <la hisloriografia, nada cOlllplill"(,1I1<' COlli os 
III(ld i:o. 1I10!' , 11110 p ll r" ..l' Li"I: c inco anns dl'pois haj .. ralOI'S dc 1' ~'S(l I'a rol IlIlIdoll', 
/(M"I "h'w i,l c: IIlc:'IOd(l dll pc.~ qlli ,~iI hilolol'iogf'lHk.t" 01'1011 1'01 1111101 v isilo 
til " 'Iln II Ie III .. 1Ie IlIlId livi.\I, I, III1.ltl.1 , I ,~ C 1(' 111 j,ll! ~,)d,li~ " 11,10 \'11 1 \)fln ,.I~,11l .1 
Pr6/ogo anOI'a edif iio 
elas, formalista no metodo, que se pronunciava por uma integrac;:ao dos sak 
res, flexivel em limites toleraveis e nada complacente com certas ret6ricas an 
uso - tal como 0 vejo hoje. Nao encontro, pelo menos por ora, razoes para 'lilt' 
deva ser substancialmente modificada; porque creio que na historiogra fia dn 
seculo em que entramos muitas coisas deverao mudar mas a formac;:ao do hi.\ 
toriador havera de permanecer 0 mais livre possive! de qualquer forllIa de 
propensao ao iiracionalismo, por mais na moda que esteja. 
Cabe supor que alguns leitores benevolos continuem entendendo quI' 
aqui se apresenta uma versao excessivamente "regulada" do que deveria SCI' ,I 
pratica historiografica, pois assim ocorreu com a primeira versao do lexlo, I ia 
. quem considere algumas dessas propostas demasiado indistintas de Cil:lIlills 
sociais vizinhas. A insistencia sobre 0 valor e a efickia da pratica ao moJo 
cientifico refletida em suas paginas, seu distanciamento das versocs narra l ivis 
tas e retoricas, a visao decididamente reguladora - ainda que, certamclIll', nrll . 
dogmatica - do metodo sao materias que levariam a pensar em uma pn>po~ 
ta talvez excessivamente rigida. Mas me parece que essa nao e uma opilliao WOo' 
neralizada entre aqueles que, sem ter porque aprovar todas as suas posi 'rllt,/o. 
creem na oportunidade e sentido de urn livro como este. 
Esta obra nao se propoe, de modo algum, a reavivar 0 positivislllO, III,I!. 
nao e menos certo que contern uma proposta inequivocamente m(iOlllllt~1 1I 
Desde ja, 0 que este livro press'upoe e que 0 historiador se coloque 1ll1liiO l11aj~ 
proximo do cientista do que do artista. Nao se e corn pIacente, de lilfllla :llglI 
rna, com a historia-literatura, a "interpretativa", a relativista e a IIcciolla!' I k 
fende-se que a Historia esta longe de seruma questao de opini~io Oil de gOSh" 
Mas acredita-se, sem duvida, que tal Historia e feita por "sujeitos" corpc'lI ~'C1~ , t' 
qlle sao estes os que constituem e modificam classes, estruluras l' siSI\·lIl.IS, ( I 
sujeilo s6 se apreende, no entanto, na razao, tanto inslrumental mlllo hi:MII j 
ca, sc prclerir, nao na recreac;:ao impressionista, a-tc{,rica c a, nll ila. 1'01 i \~!1 
acrc<iilamos cm unt futuro racionalista, c nao programalisla, da hislo riogr.1I &.1 
()lIalllo ao seu lalanlc, lalvcz llaO fi)sSt' dClllais recordar (\llil i 11 111 I II 
1I11'lIlilrio, qllc lOllill'c,:o ill<iirclall1clllc, dl' cl'rlo cokga qUl' acrt'dil.lV:I 'IIII' ,I 
I'rill1('ira cdi,';JO dl'sta ohra nao rdlN iil sulici(,lIlcllll'lIl c "0 qlll' os lI i~lu, I.\tlll 
"'S 1.11,('111': h:.,.1 ()pini\io, ;linda qUl' lIao n:llila \'X.,I, IIII \.· lI ll' CI 'II W 11 livl" d ... , 
\1'11 11' "WI' lI l1dt' 11'11" 1'1 ,111 0 1111:1 illil'Il\ .lo 1'(.'. 11 : P IlI"lII i lll, .1 III1 I(I.III1\' III ,I\.lIlld 
11111,1 dol hisl'll (11)\1,11"1 1I,ln ~ (' halo\'i.1 lin qlle II!; II il.!II I i,lIloll" 1,111'111, ',111 ,10 , " 
Pr61ogo rl nova edifflD 
anles, na critica do que fazem. A ideia pragmatica de que a historiografia e "0 
que os historiadores fazem" nao esta precisamente entre as que eu aprecio. 
Nesse terreno ninguem tern direito apropriedade alguma nem tampoHco 0 de 
cobrar pedagio, mas nem tudo 0 que reluz e ouro. 
o tempo transcorrido entre as duas edicroes tambem mostrou que e 
possivcl e necessario incorporar ao nosso tratamento muitas propostas que fo­
ram sendo acrescentadas avisao da disciplina nos finais dos anos 90. E na me­
did .. do possive! procuramos faze-lo aqui. Aqueles que tiveram por bern fazer 
o llll'nlarios sobre a edicrao anterior concordaram, em geral, em que segura­
IIU'lIll' (~lllava no texto urn maior desenvolvimento do que foi a hist6ria da pr6­
pi i,1 ulltliguracrao da disciplina historiografica na epoca contemporfmea, quer 
di~l ' l. deslle 0 comecro da sua construcrao no seculo 19, e era grande a insisten­
l lol "111 mlocar a pr<itica historiografica no interior de urn nicho de disciplinas 
111;,1 idclll ilica~:ao cientifica se buscava com afa. A presente edicrao procurou 
.IPI"' ki~o"r esse enfoque e por isso toda a primeira parte foi remodelada. 
As linhas basicas foram mantidas, ainda que procurando melhorar e 
,II "d lii'.a,. slia exposicrao, as materias essenciais de que se constitui uma teoria 
do hislt'lrico atenta a algo mais do que a meras constatacroes empiricas, sem 
"Ill rill' no terreno da especulacrao filos6fica. Levamos em conta, no que nos 
'OIlCCnle, 0 que de mais significativo tern sido produzido pela bibliografia 
d('sllt' 0 lanc,:amento da edicrao anterior. A proposta essencial ace rca da expli­
,a~ ..o hist6rica nao variou e,quanto ao discurso historiografico, mesmo que 
~l' illsisla na consideracrao de que 0 historicismo narrativista nao representa de 
«mila algllrna uma apreensao convincente da Hist6ria, pondera-se a necessi­
dade de que a explicacrao historico-social flexibilize suas vias, fa~a uso de dife­
I ellll's recursos, lanto forrnalistas como hermeneuticos. Estamos mais conven­
Lidos do que nunca de que as ciencias da sociedade, a historiografia entre eias, 
cslao por cncontrar, contudo, 0 ponto "galileano" de sua imagem do mundo, 
qll(' lIao poden} ser geomctrico mas que tampouco bastara que seja poetico. 
[':111 lIossa Illouesla ·torma de vcr as coisas, a hisloriografia - lima pala­
VI',I, lI' rlalllcllll', {llIl' lambcm nao parece agradar a todos - nao saiu com lim 
111 11 i'/olllc IlHlilo daro do ccrlo maraslllo 110 qllal se "fUlldoll nllll a crisc dos 
Jl, " kll lMl.\ "p;lnldigll1as" qllc IrilllllilVam nos alios (l() (' '/O,I:, l'vid" ll lr qlll' () rl' 
1"1',11. k~M'~ P' II ,ldil'\ l\l . l~ l; iltll'ossfwl I', "III lodo lilMl, illdl'M'jnvd. M,I S I I haI 
lI"ld,1 "villi ,I ,111 11i11l ,11 . \liMII.," IhlO p ,IM.O II tI., 11111 ( 1,1\. II, ' 111 11 lI'qllillk~ d.. 'lIl1d,1 
Prowgo II /lOVa edi,iio 
lIIidiatica, potenciada pela expansao das formas pos-modernistas e tao vazia de 
idcias como de competencia tecnica. A volta do sujeito parece ser entendida il~ 
Vl'zes como 0 regresso do "contar hist6rias". E nem epreciso dizer que a Ilish'l 
ria parece prestar a cada dia melhores servicros a quem sabe utiliza-la ... 
Mas nenhuma experiencia eva. Nenhuma situacrao hist6rica, na ci~1I 
ria normal e na extraordinaria, representa urn passo para tras, Dessa form,l, 
diria que, mesmo que parecra existir uma persistencia na crise da disciplina, I' 
l'vidcnte que dela vaG sendo extraidas as licroes adequad~s. Talvez a mais pro 
veilosa, ainda que nao totalmente gratificante, seja a de que depois de Vill ll' 
anos de incertezas, de buscas, e certo, de ensaios e descobertas parciais, csln 
1lI0S convencidos de que se render aovale tudo (0 anything goes, que se diziil 
1I0S momentos centrais da crise), acomplacencia frente a qualquer ft'Jrmul a 
somente pelo fato de ser nova, aaceitacrao de qualquer proposta em nome tI" 
\111\ lolerante espiri.to de abertura nao leva, no melhor dos casos, a parle all~\l 
ma e, no pior, converte a pnitica historiografica em uma atividade cultu ra l il 
rcit:vante em si mesma mas, isto sim, facilmente manipuhivel. E, infclizllIt'Illc , 
1l ~IO nos faltam bdns exemplos disso, 
Poder-se-ia objetar que a Hist6ria goza de excelente saude, como I n'l'llI 
lIIuilOS pensadores, 0 que nao pode estar mais avista, dado 0 muilo quI' ~l' 
produz, se vende e se difunde... Mas, desafortunadamente, esses argumelll\!' 
1\,10 provam muita coisa. Porque, nesse sentido, estariamos falando da IIIl'SllI ,1 
sallde de qlie gozam as revistas de frivolidades, 0 romance hist6rico, os II\lV\\~ 
programas de "sociologia televisiva" e os esportes-espetaculo. Esse nilO Il;m'v' 
ser urn born instrumento de medida. 
Permitam-nos dizer que 0 problema da historiografia nesle WllI l'l,ll tit' 
st''Culo se rclaciona sobretudo, na nossa modesta opiniao, com a pCrlll <1l1c:lll l ' 
n'dll~:no da exigcncia em uma pratica respeitavel, com a trivializa<,:ao, as (llIbll 
ca~'I)cs sllpcrllu<ls, a hist(lria miJiatica, a "hist6ria oficial", as forillas dl' Il'all,l 
lito can'nles de "oficio", a dificulJade para aSSlImir a mlldan~'a C l'(lllsl'qO"III I' 
n'1I0va~'ao, a till'llla<,:iio tlos jovens hisloriadores, os "falsos" C os "1I0VO~" 1" 11 
II'I,IS l' a "hisl(lria lixo". Junlo a isso, como prova dl' lima ccrla ni:il' d.1 illClV,1 
\,10 hislorillgrMk:l , lIao dcix<l1II dl' SCI' sinllllll,'llicas as <I1111I1dan l( ~s "1'1'111\0( ' 0,. 
1I' 1 1l1 hli~"\IWS Ill' ohm:- I'snilas h,' aliOs Oil dllClll:iS, rl'l'rl'se lll,lliv 'l~ Ik 11111 
III I'll Ins 111111'1 i,ll, '" ih (111'111 1II',I\ (lI'S hisl() ' il.,IS. nl' m,l~i.ld(),:-.4' Illlclt' f,\ 1','1\\,11, 
l'~tOIl d l' ,llIlIdo. I'oi\ h "III, 1\ \1' .lp"'\\lI (' III dill' l 1(111', \ 'linn IlId,1 ,II If 111,1\,111 \1 
Prologo allova edi{:,10 
,'sse rcspeito, admito que esta tambem e disFutfvel, pode clara mente ser me­
Ihorada e esta sujeita a muitas exce<;:oes.. , 
A esperan<;:a pode se situar na decisao daqueles que nao estao - nao es­
lillIIOS - de acordo com a situa<;:ao, A alguns deles me referi, ainda que de for­
Ilia c1iplica, linhas acima, Sei que na profissao dos historiadores ha muitas 
I'l'SSOc\S oprimidas pelo fastio da repeti<;:ao e sempre prontas a reagir contra a 
illlp<fsi<;fio, a banalidade, a hist6ria que pensa em fazer politica, a submissao 
Ill idi il lica - sem ,excluir a editorial- e a mais absoluta rotina, Naturalmente, 
!1m !. I ria que este livro, limitado e pessoal, que entendo nao poder agradar a to­
dll~ . f()sse mais uma voz frentea tudo 0 que denuncio, 
1':1\11111, uma vez mais, a morada mais gratificante em qualquer pream­
I,u lo (' lIa que se entra para expressar 0 reconhecimento e 0 agradecimento 
,II IIU -14-1> 'lilt' consideraram que a empresa valia a pena, De muitos deles ja falei 
til l f· )I)I " Nflo me importo em repetir erne alegro que a lista de nomes possa 
IIII I1H'IILa!'. COITIO sempre, e extremamente reconfortante que muitos alunos, 
,k difi-r('f11es niveis, julguem este texto instrutivo e digno de ser discutido, ain­
dd 'lIlt' 11('1\1 lodas as suas passagens sejam faceis, Assim ocorreu com freqiien~ 
, iel lI c.;slcs cinco anos, dentro e fora da Espanha, Com humildade, agrade<;:o a 
IIlllilos "Iunos que aprenderam alguma coisa aqui, descobriram suas discre­
p.l llcias com 0 que encontraram e expressaram suas opinioes. 
Muitos desses alunos e professores sao de universidadesda America La­
lilla e deveriam ser nomeados, mas nao caberiam todos aqui. Emuito gratifi­
(:tlll(' r('ilerar plenamente as palavras de Josep Fontana no prologo da segun­
d.1 cdi",lo de seu Historia,sobre 0 que ali podemos ler a nosso respeito, Tern­
.\(. s(,llIpre a dcsoladora impressao de que podemos e devemos fazer mais em 
~ OI\1panhia daquelcs que falam e ensinam em nossa lingua do outro lado do 
t\11:1I11iw. ()uerolimitar-me a agradecer a alguns colegas de hi 0 interesse tido 
1,.lra IIwlhmar a obra. Estc e 0 caso de Jorge Saab, urn dos meus mais uteis co­
IIll'1I1arislas, de Jorge Saborido c Cristian Buchruckcr - estes ultimos par­
lilltall l alllallllenle oulras emprcsas comigo - c de outros rnuiLos colcgas 
\ 0111 qU Cl1I tcllito lIIe entcndido em Buenos Aires, La PlaIa, Rosario. Sanla 
I{osn LI,' f ,n Palllpa (' 'i'lIculll,11l e de qllem sCl1Iprc (('!lito rCCl·hido cOlllcn 
f,1 1i ()~ ~olll>lrnl iv()s. 
<J IIl'I O :Il',rmklCI :1 ( \ )I1'1 )rl'('Il~a(1 e 0 apoio lk IlI l1itos <ok-gols /'{'('chi 
dCl \ .llIk!. I ' ,IHOI ,I. I II ' ( ;Iin'ri ll SII IIc.I Il"/ I{"I in. Al1lollio Nillo. (il lll/. II I) l\r;1 
VII, ( ,1]11 /,1111 11" ',,1111 .11 , 10M' J 111.1'1 I'/ rill' , ( ;11111. ' , 1111 . ( ',Isldll, I t llllll i llel" 
Pr%go a/lova edi,iio 
( :lll'sla, Angel Duarte, Luis Enrique Otero, Sergio Riesco, Alberto Luis ~' 
lordi Canal. No casu de Juan A. Blanco, quero ademais agradecer sua C1jll 
dOl lanto na leitura detida do texto como na busca de alguns materia is. 
( :.ISO especial e tambem 0 de Elena Hernandez Sandoica, col ega e compa 
IIheira de empresas historiograficas comuns, de quem recebi desde 0 r ri 
III~ iro momenta lim alento particular, e com quem as discrepill1cias illie 
In . I lIais se convertem sempre em fonte de inspirayao. Equase ocioso acres 
e llLar que tenno escutado e levando em conta muitas opinioes solidas. ill 
lor illadas e atendiveis. Ao final, contudo, nenhum de meus amaveis CO li se 
II H: iros e comentaristas .pode nem deve se sentir co-responsave1 pclo qlle 
,lIl'li sc defende. 
Agrade<;:o novamente 0 impulso inicial que representou para essa 
nbra a boa acolhida que Ihe deu Josep Fontana -e Gonzalo Ponton e a he 
II l'volCllcia e a paciencia de todos os que na Editorial Critica contribuiralll 
!'.Ira quc as ideias ganhassem a forma de urn livro. Quero mencionar \' 
_I~ radeccr explicitamente 0 prazer da colaborayao com Gonzalo Ponlon, 
< :a rt lien Esteban e Silvia Iriso. 
Animo-me a pensar, enfim, que talvez nao seja esta a ultima VCI. quc' 
o livro devera sofrer um rejuvenescimento para adaptar-se as muda ll",I" 
qlle aportes incessantes de novas ideias e novas realiza<;:oes introdllz 1'111 
Ilossa larefa. Aportes que 0 tempo futuro parece nos anunciar em nlallU 
qllantidade e com maior contunde~cia. E assim, 0 destino que mais dl's{· 
jall)()s para a obra e 0 de que, por fim, seu principal significado e slI a lilt' 
Ihor fortuna sejam 0 de sempre dar conta de coisas novas e insistir lias qlll' 
lOlll i Iluarem sendo indispensaveis. ' 
Julio Ar6slC~1I1 
Madri. dezembro dl' J.OOO, 
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Parte I 
Teoria. hist<iria e historiograJia 
A primeira parte deste livro pretende expor a problematica geral do w 
IIlIn il\lcoto da Hist6ria, da forma como e considerada hoje. Para tanio, pal 
II' '.(' da distinc;:ao cuidadosa entre 0 que e a entidade Hist6ria e 0 que podc SI'I 
II Ii 1.1 disciplina do conhecimento da Hist6ria.* Propomos decididamen lc mlo 
1.11 para csta 0 nome de historiografia, por razoes que serao expostas COlli !.II 
I II W ille c1areza, assim 0 cremos, mais adiante e no corpo d~ texto. Como 10d.1 
d",1 iplina que procura elaborar e acrescentar urn corpo de conhecimeillos so 
1111 ck" lerminada materia, que representem algo mais do que urn mem e Xt'n I 
, III ,l l" senso comum, a historiografia precisa dotar-se de algum conteudo Id, 
I h ( I Mas ate hoje esta e uma de suas grandes carcncias. 
A Icoria de que falamos tern, segundo tambem se explicani depois, 11111 
,J 'lIllo sClllidoque convem igualmente distinguir. Em primeiro lugar, loda di .. 
, 'pllllll l10rmatizada constroi, de urn lado, urn corpo de explica<;6es arlinti,l 
.1,1" Ihll a dcfinir 0 objeto ao qual dedica seu estudo. Em nosso caso, a urn II'll 
II.d ll t) desse tipo corresponde adequadamente 0 nome espedfico de Leoria dll 
1/ ,,101ill . f~ a teoria que deve buscar dar uma resposta convincente apt·rH"III .I· 
o 1( 111' {. a I-listoria? Constitui urn saber substantivo e empirico que Irala lI,' d!' 
'Illi l '1l1al C0 campo da realidade que 0 historiador aborda e que dl' Illodl) .r! 
H" III cl(lIivaic ao "desenvolvimento" da Historia Universal, mas silll a rdll'xlllI 
\"h l(' a lIalureza do histOrico. Mas, em segundo lugar, existe outro lipo dt' 1\'11 
11.1 1Il' ~l' ss;iria: a que propoe estabelecer nao a que ea Historia, mas (Otll lI ~I' I" 
'1"1 ' /1' 1/ IlisiOria. A este tipo de trabalho damos 0 nome de (coria till histfll //I 
!.!I"IICI. 1~la Irala de como se conhece a Hist6ria e como os conhecimelll o)' oh 
Ihlm \lodl'm agrupar-se de forma articulada em uma disciplina de (.(lIl II\·11 
IIllll l o , SCIi tipo de saber edisciplinar ouformal. 
I ~xisl('m , portanto, duas formas de teoria as quais 0 hisloriador dl'Vt' dc' 
.III ,II ."".1 all'lI<,:"o c, por conseguinte. nao confundir: a leoria da !l ill l,"1 ;,1 I' ,I 
11 '1111<1 d ol Itisloriografia. Normalmenle, esta segunda conler;! a prillleir,•. N.. 
.. "11111,1 dl'~~;a s lard;ls se con f'1I nde em ailsoillto nem com a (illl.~(//i(/ da I list", h i 
111'111 '"111 .1 "i.~III,.i(/ ti(/ hjsl(/,.i()~mll(/. Cada IIll1a d\.'ssas oiliras dll ilS ,'rc·.I~ dt· III 
I'I " lud.1,I prill l<' j, a pa riI' 0101 ohla li~.l'IIIO' COtll qlll' a patavla I lbtf1li.1 .I(lnll ..... ·.' 
,,1111 II 11I111.l l llI llillsti d.1 !jll.l lldl> Sl' 1111. 11'11'1'('1 1< HI .) '\·"I I("l d~·"• •H' ' 11rjl'1/ . III · I' ~III"" 
l ) I""" lo ,11'.lll·U· "11 1 1II IIIIINU d.I'·I'''I,!I'' · 0' .111'"'' ' ' 01.1 111'111 .11'111/(111.,1110 , 1"'"1.1 111 
•h,MIII hi" I' ell''' 11'1 " 1.1 ""II 1I1"I'.I.IIi,.1 
PaOe J 
Teoria. hist6ria e historiograjia 
teresse tern sua propria essencia, distinta da teoria, e nao e nosso objeiivo aqui, 
Olinda que ahist6ria da historiografia devamos dedicar uma aten<;aovreliminar 
c complementar, pelas raz6es que no devido momenta tambem exporemos. 
Da mesma forma, uma por<;ao importante desta primeira parte se de­
dica a expor, de maneira circunstanciada, como se tern constituido ate a atua­
lidadc todo urn corpl1s de doutrinas, escolas, preceitos e teorias que tern bus­
Iado I"undamentar a disciplina da hi storiografia desde suas origens contempo-
1';IIIl'aS, ja na segunda metade do seculo 19, ate os mais recentes aportes dos ul­
lilllOS anos do seculo 20, quando come<;a urn novo seculo e quando, sem du­
vida, lIilO se superou plenamente uma crise generalizada do conhecimento do 
',(11 ial. I'rocurar-se-a expor quais sao e como tern sido entendidos ate agora os 
hllliiallll'lItos para elaborar uma teoria da natureza do hist6rico, e mais do que 
I~\CI , do mnhecimento da Historia, ainda que sem propor agora urn delinea­
1111'11 10 pn'lprio em profundidade. Podemos, no entanto, adiantar uma conclu­
1.. \(1 provis6ria: no nosso modo de ver, 0 conhecimento historiografico consti­
Illi hOil" lIlais uma especie no campo das ciencias sociais. Mais tarde desenvol­
VC'/'C'II IOS sulicicntcmente esta ideia. 
CapituLo I 
HISTORIA E HISTORIOGRAFIA: 
OS FUNDAMENTOS 
A crise da Histaria [ ...J0 estado inorganico dos estudos histarico, / ... / 
provem do Jato de que um numero excessivo de historiwlon" 
jamais refletiu sobre a natureza de sua CiCllfiIJ. 
HENRI BIHII 
A sintese em Ilisl lll ill 
1'.tI"I'(:c dificil encontrar palavras mais apropriadas e significaliva:> q llt" 
'I"" hgmam no inicio deste capitulo, com as quais 0 historiador I"rallll"1> 
11 , 1\11 Ik l'r ' come<;ava urn livro dedicado apr<itica da historiografial'i\ "tk­
I \II ,HI ,I lorllla<;ao cientifica do historiador, para qualificar urn mal CO111 I1111 dll 
1111',',11 lI /iLio. Em tal afirma<;ao, cuja autoridade repousa no falo de Ll'l' :. ido 
1'1111111111 i,Ida por urn dos primeiros renovadores da historiografia 110 s(\.ulo 
'11 , 1111 11,1 se: lIIais sintom<itica a causa atribuida por Berr para a crise: do qUl' .1 
I'" '\,11,1 , ri sc: . Os historiadores nao refletem sobre os fundamcnlos prolllll d(l~ 
.I, _,I II ' I"halho... Isso continua sendo valido quasc noventa anos dcpob d~'~ 
h 1"II.lv r,ls II'I'CIll sido escritas? Infelizmente, nao parcce quc haja ra'l.rn's p.II ,1 
II llhl'lI ',,'U ~l" lIlido. No nosso modo de vcr, c Icvando-se: cm conla luda:; .1\ I" 
, ,1111' 1II1.1~' II' '; dr "praglllalismo" que s(' tl'm kilo reccnll'lllcnll', apt-sar d.I' d I~ 
1111\'11 " 'l il t' ~(' ria I'rctiso 1;\'1.(' 1' hojc enlre: dikrellll's hisl()riof~r;"ias, () plClhl.· 
111 ' IUl. II I II ,(/1""/\ ,." /""1 1111/ , M(lx i, n: I Itl'l l", 10(d (C :11 11'1 t "'" \.1 ('Villi .. jll ll d,'l.l 
111I11I.III"hld ) l' IIIIII'\I " ,',h"tI' I'1I1" .,p.mh"l, 11.111111,,1.111.1 "'I" lIl1d,1 ,-dl, .IO 11,111/1',.,1 
.It 1'1',',,"11111111 IIIIV,' PI (,IIIK" ,' Apl'lI"I,,· "" .1111'11,1' 'IV 
Parte I 
Teona, hi..... ,u,ia e htitoriogmfia 
lila da reflexao, ao menos, da maio ria dos historiadores "sobre a natureza de 
Slla cicncia" continua em pe.2 
Urn progresso sustentado da disciplina da historiografia e impensavel 
SCIII que sc leve a efeito essa reflexao que Henri Berr, e outros antes e depois 
dele, solicitou. Infelizmente, nos pr6prios cfrculos dos historiadores conside­
n HI sc durante muito tempo que 0 historiador niio eurn te6rico, que sua ocu­
pa~iH> nao e filosofar, que historiar enarrar as coisas como realmente acontece­
111111, e outras coisas semelhantes. A resistencia quase instintiva a uma mera 
.ldl"'1"ill,:ao e renovacrao da linguagem continua sendo muito forte. A formacrao 
do hisloriador continua sofrendo de uma flagrante precariedade. No entanto, 
1\.10 parl'ce necessario reafirmar que posicr6es e realidades desse tipo s6 podem 
dili <.. lIllar de forma determinante todo impulso para 0 aperfeicroamento prati ­
,() ~. '\icllllllco" da historiografia. 
( :om efeito, 0 historiador "escreve" a Hist6ria, mas deve tambem "teo­
ti"" I1'" sobre cia, quer dizer, refletir e descobrir fundamentos gerais a respeito 
tI .. lIalureza do hist6rico e, alem disso, sobre 0 alcance explicativo de seu pr6­
prio Irabalho.Sem teo ria nao ha avancro do conhecimento. E isso afeta essen­
l iallllcnie inclusive a pnitica historiografica, por mais que uma nuvem de teo­
rims litcnirios,criticos e "novos historicistas" tenha recentemente pretendido 
';\zcr da escrita da historia nao mais do que literatura.:l Sem uma certa prepa­
ra~:{\() tcarica e sem uma pr<itica metodologica que nao se limite a rotinas nao 
(' possivcl que surjam bons historiadores. Mas 0 que quer dizer exatamente 
Icorizar sobre a Historia, sobre a historiografia e sobre seu metodo? Neste pri ­
Illciro capitulo pretende-se, justamente, introduzir 0 assunto. E se procurara 
lad' -Io, na medida do possive!, no contexto do que fazem outras ciencias so­
, 	 Quanto asrecomcndac,:oes de pragmatismo, aludimos ao livro de NOlRlEL, G. Sur 
III "crise" de l'llis/oire. Paris: Berlin, 1996. A "perspectiva pragmatista" para a solu­
,'a~ de lotios os problemas da fragmentac,:ao da disciplina e certa renuncia apes<]ui­
sa It'(u'ka vao se concretizando em muitas passagens do livro. Vcr tambcm sua 
H( :()1ll:1usi(JIl" (versao espanhola: Sohre La crisis de la l-Jistoria, Madrid: for(mcsis/Cu 
I('dra, I 'H7). Cr. a crilica desta obra de autoria de Madeleine Rebcrioux, Chrislo 
1,1t" I'ro..hassoll y lordi Canal em /.(, MOUVCr11CIII social, \',Iris, 11 . IX'1, p. 'it) 110, 
;llil./s"l'1. I'!'JX. 
1',".1 \'v i lil l 111 11,11011 1".1 r il il\',1tl III- I'l'Opo,~h l ~ d,l 11 1,Ii " i, I ' '"1111 /',l' III'I O lil t· I M i" . ill 
..J iI ,1 ~" III,Ib .1 1, (· ,11 "" ""ill d,'d " ,HI" ,10 "1"" .,1", 11 ', 111" 1 1I 1l ' ~ 1I~',II I1 II \1 1111 II ', 110111<" , 
,It, UII I " .... ' ((111111 11 WI." " ,!' AII I"·",III1 " I' I I I ,I' ,11'1.1 '1111 " 011 1,"" 
Capitulo I 
His/(jrul e historiografia: as fundam entos 
, I, ri ~ " illiciando-se a partir do problema do nome adequado para a discil'li l1 ,1 
hl~ I' Iri()grafica. 
1\ IIISTORIA, A HISTORIOGRAFIA 
F ( ) H [STORIADOR 
'1<' 111 sido habitual comecrar todos os tratados de "perspectiva" hislorio 
l',Id l l' ,I kmbre-se das obras ciassicas de Droysen, de Langlois e Seignohos, lk 
II, I II lr l'i 111, de Bauer, de nosso Altamira, e de outras obras mais recentcs _., com 
, "" ',l ti l'l'<I<,:oes sobre a propria definicrao de Hist6ria e sobre 0 sentido amhiva 
10 1110 oI t'SSil palavra. Aqui nao se buscara, de forma alguma, uma defini~'a() ik­
Ilhlnll, l, visto que se trata de urn esforcro inteiramente inutil e que nih) t.'scl:. 
I l'" II ',,"damental. Porem, ainda que com terminologia e espirito dislinlo, 
IIi .. 1111'0 parece possive! evitar 0 tratamento preliminar de duas quesliks illl 
! I!!I I 11111':' que convem e!ucidar desde ja. Encarando 0 problema da polissl' III1 .1 
01,1 1"tI ,lv l'a Ilistoria, seria preciso tratar primeiro do nome convenientc ~\ "di ~ 
;l' lllId 'III<' investiga a Historia", questao que foi discutida mais de lima WI 
I lit "II\lI ida, atcndendo a problemas mais estritamente ligados aprbprill dl ~ 
, 11' 11 1'01 d.l his~oriografia e como uma reflexao mais atual, diretamenlc illl l" i 
, il l. , Itll:. problemas de urn tempo como 0 nosso, marcado por proflllHbs 1111 1 
01 ,111 ",1\ 1111 limiar do seculo 21, parece bastante pertinente abordar 0 " p(' r/II " 
11111 \"'1 ',II.lr io da formacrao e preparacrao inte!ectual, profissional e Iccni<:a do 
li i r, r". i.llinr. 'Ihmhem neste aspecto a historiografia joga seu futuro. Vt';alll ll!. 
III II !,. " 01' 'I',('sloes sllcessivamente. 
111h'1'I lll ll I,;HAFIA: 0 TI':RMO EO CONCEITO 
I 1I I,\I' IVCI\\()S prillleiro quc 0 nomc quc sc da ao conhccil\wllio J.. Il j~ , 
., 111.1 11.1 IlI lI il \l ll'llIl'o ofi:rccc problemas c, a nosso vcr, ncccssiia aillda 110;(' ,I" 
1'II II"h l !! '-"lh ld (, I 'a\n~'s. i\ palavra Ilisl6/'ill C ohjelo dt' lISOS allfil>ol<)gi \'(\l1 (~II 
1'1 Ill! .11111'111,· 01,' t"o/"" .-I.." ',C' !. if;II,! 11I11i' l a, eI.' l' llI I H I ~\. I I'; l h~,igl·II' II n~ , .11'1111 10 ', I 
• 	 \ . 01111' II 101 111,1<, .11' .I II d ihl I p hll'l 11I '((II II)Hl. rl j,.1 110', ~r( II I" " 1'1" ' II 
Parte I 
'[coria, histuri" e historiogm[ta 
tre os quais 0 mais comum esua aplicacrao a duas entidades diferentes: uma, 
a realidade do historico, e outra, a disciplina que estuda a Hist6ria. Praticamen­
te, nenhum historiador que tenha dedicado algumas linhas para comentar os 
problemas inerentes it sua pnitica deixou de destacar essa questao. Iniciemos 
ponderando a importfmcia que a precisao do vocabulario tern par~ uma pra­
tica como a pesquisa hist6rica. 
A linguagem espedfica das ciencias 
Como regra geral, as ciencias ao se constituirem VaG criando lingua­
gens particulares, repletas de termos especificos, qqe podem transformar-se 
em complexos sistemas formais. s A ciencia, ja se afirmou algumas vezes, e, em . 
ultima instfmcia, uma linguagem. A terminologia filos6fica pode ser urn born 
exemplo do que significa esse "jargao" especializado no caso de linguagens 
verbais. As ciencias "duras" recorrem hoje it formalizacrao nao verbal, quando 
nao matematica, de suas proposicroes para a elaboracrao e desenvolvimento de 
suas operacroes cognoscitivas.6 
Em urn nivel bern mais modesto, as chamadas ciencias sociais 'usu­
fruem esse instrumento da linguagem pr6pria em menor ou maior grau, se­
guramente com importantes diferencras no seu desenvolvimento de' acordo 
com cada disciplina. Todas e1as, porem, possuem urn corpus mais ou menos 
extenso e precisode termos, conceitos, proposicroes especificas, e tambem de 
IIlcl;ili.mls e analogias distintas do linguajar ordinario. Num nivel basico exis­
Ie, SCIII duvida, uma certa homogeneidade na linguagem dessas ciencias so­
( iais, illlposta a partir do que foi obtido pelas disciplinas mais desenvolvidas. 
:; 	 Falamos de "Iinguagem formal" como a linguagem construida pdo homem de ma­
ncira planejada de acordo com regras estritas e em oposi<;ao a"Iinguagem natural", 
o falar do homem que se insere no pr6prio processo de hominiza<;ao. 
6 A natureza particular da linguagem cientifica c analisada tanto pela pr6pria cpistc­
mologia e metodologia da ciencia, como pela filosofia da linguagem. Cr. () antigo, 
porcm interessante estudo de GRANGER, C. C. J-(nmalismo y (i('f/(im 1111/1/(/1/(15. 
Barcelona: Ariel, 1965. '])11l1bel11 trata do asslIllto 0 peqllcno livro dc 1{( m'l'Y, It i·:1 
giro lillglifslim. Barcelolla: I'ai,k,s IIA B, 1')')0. I'anl as dilll'l'\\lI tes I HI1H'f'\ I)\'~ .Ir 
d (' rl(i.l , d : F( :11 FVA IWI A, I. illl wr/rlffillll " /11 IUI""ltllI /llg!!1 tlr ' III ,;"/11;/1 1,/ fl/II .\I,/III 
tI" 111 ( '11'1/1 !I I "11 ,'I "gil' X\ M.ldl ill , ( IIII·II'H. 1"')" 
Capitulo I 
I-listurin e hisloriografia: os ftmdamentos 
I I,i I<TIIIos especificos da economia e da lingiiistica, por exemplo, que sao bas 
1.1I 1i,· caracteristicos e foram absolutam.ente aceitos. Em todo caso, no enlall 
111, .1 I'spccializacrao da linguagem e hoje uma das questoes mais problemalit.;lt. 
11C1 1.1I1lPO das ciencias sociais. 
() problema terminol6gico na ciencia se manifesta primeiramenll' ,I 
1t '~ II!' i lo do nome que uma disciplina constituida deve adotar. No que conce.. 
III .1 lIossa, esse e 0 primeiro problema que vamos abordar. Tem-se dito Will 
1lIl l!I£l llcia que 0 emprego de uma mesma palavra para designar tanto ' tti lld 
Il. dld.lI\c espedfica como 0 conhecimento de que se tern dela constituiria IIm , l 
/ 
III j III , I 1;1 Il Ie dificuldade para 0 estabelecimento de conceituacroes claras, SCIll <lb 
l i lt Ii .. IlilO sao posslveis avancros fundamentais no metodo e nas descoberlas d.1 
i ~ '11 hi . I )essa forma, sempre que urn certo tipo de estudo da realidade deliJl l' 
1111 ,I dl'vida clareza seu campo, seu ambito, seu objeto, quer dizer, 0 tipo <l l' 
II.,IIII IIOS a que se dedica, e se vai desenhando a forma de neles penel ra r, Oil 
],1 ',1 II metodo, surge a necessidade de estabelecer uma distincrao, pelo 11)(' 
I\n ~ II 1.11 iva, entre esse campo que se pretende conhecer -.a sociedadc, a lonl 
1'.·... 11••111 da materia, a vida, os numeros,. a mente humana, etc. - e 0 COJ1jlllll o 
111 11 111 .1110 de conhecimentos e de doutrinas sobre~tal campo. 
A ( ria<;ao de urn vocabuhirio especifico para uma determinaJa arl'.l <ll' 
11 11 111 ' ( in\( 'lllo comecra ai: na forma de'diferenciar na linguagem urn cell n II/J 
/ ' /,' til ' I Il llhccimento e a disciplina cognoscitiva (cientifica) que delc sc III II 
i ,·j '1'1.11" st', simplesmente, de dotar cada disciplina de urn nome gell('r i~() qlll' 
.I. '.1 I,'VII hl'lII seu objeto e 0 carater do seu conhecimento. Os nomes <las ( it'll 
, \.1 ·...11> IIIVl'lIla(\os; foi isso 0 que ocorreu a partir do seculo JR. Assilll, (. III' 
1111 IIII !J Ill ' () Ilome de muitas ciencias nascidas da expansao do cOllhl'lil1WII 
t... 11 II llld.. desdl' cntao seja composto de uma particula que dcslTCVI' a 1110111 
IIII." '111 ..1 ",' oI( rcscellta um sufixo que Clim neologismo qualificalivo (.Olllllll,' 
/"i' I,1 III I!,."w io do grego logos. Sociologia, filosofia, geologia, ele. ( )II ,:h VI' 
1""(111 , dt's, ri~'ao: gcograli<l, cristalogralla. I hi, pori'lll, {Jrcas de lOld U'11 
III' "I .. IIll1ilo Illais (hissicas, com llomes parlinilal'cs: a hsica I' 11111 11111 11 
. IlIlill' III 11 111,1ail liga dl'1l0Illilla~'ao grega, aplicada jii pOl' Aril;t(ll~·k !>' . 
I Itll .I l1ld .. IlIll olilro kll{\n1 l' IlO Ilada illUlllIlIlll: '1tl<lllllo 0 11011 11 ' !II 
I lin •• .I ii "lp"",1 ,II,. holl 1ri;1I1<1o 11111 dd jclivo nOvo pill,. dl':.i~I1M .1 Il·, tl id.tdl 
' /iit , IIlId.1 .1 i"'plalll .",.,,, d.1 pl' ilfl logi.• 1('SII III II I I'"~ ~ ri, I,.ll l do "·null",, ,.!. II 
'''1'11 ,,': II gl 1I1(l1~ 1. 1. lin 11'1 III" .. 1\1'0 I"l i j, n", II g('nr~l , II I. I, 110 " l\C'(I)~ r.llil"" ( 1 11 111111 
Parle I 
Teori(l, histdria e hisloriografUl 
de uma determinada ciencia, constituido por urn neologismo, da lugar, as ve­
I'.l'S, a urn nome diferenciado para 9 tipo de realidade aqual se dedica. 
Anfibologia do termo "Historia" 
/\s considerayoes sumarias que acabamos de fazer sao uteis para anali­
' .. 11" 11111 problema amHogoe real de nossa disciplina, a saber: 0 da denomina­
\,11) III;lis adequada e distintiva para a pesquisa da Historia e para 0 discurso 
/w,/r)/;m normatizado que da produz. A "historiografia" e uma disciplina afe­
1" .1.1 CIII diversos sentidos pdo problema da linguagem em que sua pesquisa e 
' ,1' \1 "di~(,lII"so" se plasmam. Por isso e preciso dele tratar agora. 
/\ qllestao comeya com 0 fato, comum a outras disciplinas, certamen­
k , el l' <1"(" lima so palavra, Historia, designou tradicionalmente duas coisas 
ili';1 wi ,lS: a II istoria como realidade na qual 0 homem esta inserido e 0 conhe­
dill/'1110 I' rcgistro das situayoes e sucessos que assinalam e manifestam essa 
ill :"'I\ ao. (,: vcrdade que 0 termo istorie, empregado pelo grego Herodoto 
WIlIO lilulo da mitica obra que todos conhecemos, significava justamente 
"pI'squisa". Etimologicamente, portanto, uma "Hist6ria" e uma "pesquisa".' 
Mas logo a palavra Hist6ria passou a ter urn significado muito mais amplo e 
;I idl'lItilicar-se com 0 transcurso temporal das coisas. 
/\ erudiyao tradicional alude sempre a esta incomoda an£1bologia esta­
l)('hl'lIdo a conhecida distinyao entre Hist6ria como res gestae - coisas suce­
didas - e llist6ria como historia rerum gestarum - relayao das coisas sucedidas 
,distinC;ilo para a qual He'gel, pela primeira vez, chamou a atenyao: "a pala­
vra hisloria" - dissc 0 £1losofo - "reune em nossa Ifngua 0 sentido objetivo e 0 
slIhjdivo: significa tanto historia rerum gestarum como as pr6prias res gestae, 
lallto a narraliva historica como os fatos e acontecimentos"." Na atualidade, 
'I tll:,ROI)O),O. llis/llrill. Inlrodllcci6n dc F, Rlldriguez Adratills, Iradlln:i(lIl y Ilolas 
(r.- ( :al"lus Schrader. Madrid : (;rctios, 1977 (e cdi,,()cs sllccssivas), l ,ellllHl' S(' ti(' (1"(' 
II h:xlo dl' 'i krbdolo ('(II S('II livro I cOIlll'"a <Iiz('mlo: "Fssa (- a ('xposi,ao do rl'slil 
I,ltl" (las 1'( ·'\(llI i~w. ell' I kn'" 101 0 dl' Ilali( al'llaso, para ('vilar '111(' COlli 0 " ' 1111'0 os 1.1 
10:,1111 111,1/10,\ , ,Il,ll ll 110 ('~'IlI('( illll'lIl11,..", 
11 II Ji( ,II, (i W I' 11'11111/11" ",/,,1' I" /, /"",/11/ IIr /,,If''/II' ,,/ 1 /1/ / 1'/'1,/1 / M,IIIt III Ali,1I1 
I. 1'111'1 Ii , I'I I "'1',1'1,\1 ","II,IV,I'IIII' ,'"" ,' 1. 1111 ",1111111111 111.11" 01,, '1"1' 1111.,( I ,I~ 'I.I 
1111",1< 
Capitulo I 
Hist6rill e historiograjia: as fill1dmnelllos 
1101),01"11 White assinalou que 0 termo Hist6ria aplica-se "aos acontecimentos 
d" 1',1~" >;I(lo, ao registro desses acontecimentos, a cadeia de acontecimentos qU(' 
j nll',ll llIi 11m processo temporal compreendendo os acontecimentos do passa 
, It t, ti ll prescnte, assim como os do futuro, aos relatos sistematicamente ordc.' 
II " . I"" d()s acontecimentos atestados pela pesquisa, as explicayoes desses rda 
I, '- ' 1',ll' lIlaticamente orden ados, etc": Essa nao e uma miscelanea qualquer. 
h,i 0 pensamento positivista que estabeleceu a necessidade de que as 
• "~ Il( 1,1', livessem urn nome pr6prio diferente daquele de seu campo de cslll ­
dit I,ll IH'ccssidade parece obedecer aideia, tipiGa do positivismo classico, til' 
qm' I '1 lIlIciro se descobrem os Jatos e em seguida se constroi a ciencia, ou, 0 
I" f d,1 /III mesmo, que a ciencia busca, encontrae relaciona entre si "falos". 
I "j ,I , II IIW ciencia de algo se ha urn fato esped£1co que a justi£1que, idelllili 
! I II I dl,;tillga. Toda ciencia deve ter urn nome inconfundivel e dai que nao Sl' 
III ,11,," I II I recorrer a todo tipo de neologismo para atribuir-Ihe esse nome. 
( I I'0sitivismo buscou a de£1niyao da hist6ria na descoberta, e claro, li t., 
WI! ''' IHlslo lato historico. 0 problema terminol6gico vern, assim, de tnllil() 
11 (1'11 01 I'alavra Historia designa, para dize-lo de alguma forma, urn conjllll 
II! Old. 1I,Ido de "fatos hist6ricos", mas designa tambem 0 processo das opera 
, 1<' 111 ificas" que revdam e estudam tais fatos. Que a mesma palavra til' 
",II, " bjl'\O" e "ciencia" pode parecer uma questao menor, mas na realidmk 
II ,II 1,1 1'111 scr embarayosa e abre espayo a di£1culdades reais de ordem episll' 
1I 11 t1'III'('1. I lOll 0 filto de que se tenha tambem ensaiado prontamente a adoc;ao 
III 11111 11' 11110 cspedfico que designasse a pesquisa da Historia. 
1\10 I'oslo, rcsulta que 0 fato de que 0 vocabulo J-list(Jria dcsiglH' .1(1 
111 8 1111' 11'1111'0 lima realidade e seu conhecimento nao eo unico excllll'lo qlll' 
!" .IIII I()\, dizar de uma situac;:ao desse tipo. Na realidadc, uma dificlildad(' 
III;ih'I\,' ,l le'la oulras disciplinas das ciencias sociais c nalurais. Com c/c ilO, () 
011:-11111' III (JI rl' (om a economia, por excmplo, e a linguagclll conllllll fl:~ 1011' 
q !II.~ ' h IIIf 1 '~Sl' lalllh~11l no casu da ' psicologia, da gcologia e da gl'ogra fi,l: 01. 
IHH"v( ,hit, di ~( il'linas passaram a dl'signar rcalitladl's, COIIIO diss(.'llIo~. 1':111 
'J W 111 '1 I' , 11. 1:/, 1IIII"IIido d, ' /11 /orlllll , Nllfflllil"', d i l l llf,," )' fI '/'fni '" II/II,;1 /11 '1011 "" 
11,1111 1111\;1 1' . lId"~,, 1'1') .',1'. I','}. () lillll" ('Sll1l11hol 01" %01 1',,1>1 11 '11\1111 ,,,"1(1«((1, ' (I til 
'''I VI 'I/I,'" "' '1',11), 11. 'I"" ,', '1'1". ( 111 111' 111 "/1/,,. /i ll 1/1 NOl 'tI/11'!' I II', 11111 ,, ' ,111'/ 1/"IIIff 
'l i/ /;"/" .-.I' II/IIII,III 1".1 ,II III)II'\" ,t " \1"("0'",,, "til',. ,,,"I 11 .111 ,Iii",,", 'III" I' 1,,"01.11111'11111 
~1I_'fh I hll 0 ",1,1\ .10 
Parte 1 
Teoria, his/oria e historiograJIa 
nosso caso, a palavra grega istorie (pesquisa) passou a designar 0 processo 
temporal cumulativo da Humanidade. E frequente tambem 0 uso de certas 
palavras com significados multiplos nas ciencias sociais, comoocorre com 
economia ou po/itica, entre outras. De nossa parte, e para 0 momento, e im­
portante assinalar que este problema terminologico nao corresponde a urn ca­
niter espedfico da historiografia. Mas valedestacar, igualmente, gue na situa­
c;:ao referente a Hist6ria nao ha razao para que essa polissemia se mantenha, 
da mesma forma que a tendencia tern sido no senfido de elimimi-Ia no caso 
de outros vocabulos que designam ciencias, como com a poHtica ou a polito­
logia. Ainda que a questao nao seja exclusiva, nem, talvez, crucial para a disci­
plina da Historia, e, sem duvida, de suma importancia. 
Quando falamos de Hist6ria e evidente que nao tratamos de uma rea­
lidade "material': tangivel. A "Historia" nao tern 0 mesmo carater corp6reo 
que tern, por exemplo, a luz e as lentes, as plantas, os animais ou a saude. A 
Hist6ria nao euma "coisa", mas uma "qualidade" das coisas.'o Portanto, e mais 
urgente atribuir a escrita da Historia urn nome inequivoco do que faze-Io com 
as disciplinas que estudam essas outras realidades, que, por outro lado, tern 
nomes bastante precisos: 6ptica, botanica, zoologia ou medicina. E essencial 
deixar claro, desde a palavra que 0 design a, 0 que quer dizer "pesquisar a His­
toria". Nao se po de negar que no caso do estudo da Historia existem razoes su­
ficientes para supor que gran des esclarecimentos podem ser esperados de uma 
primeira elucidac;:ao eficaz dessa questao terminologica - e depois, natural­
mente, de todas as demais. 0 carater nao trivial da questao terminologica ja 
foi destacado ha tempos por correntes historiograficas como ados Annales, ou 
a marxista, e ambas falaram de uma "ciencia da Historia". 
A palavra Hist6ria tern, pois, como ja se disse, urn duplo significado, 
pelo menos. As vezes, porem, tem-se introduzido palavras ou rodeios espe­
ciais para expressar seus diversos conteudos semanticos. Assim ocorre com a 
clara distinc;:ao que faz 0 alemao atual entre "Historie" como realidaJe e "Ges­
chichte" como seu conhecimento, as quais se soma em seguida a palavra "llis­
torik", referindo-se ao tratamento dos problemas metodol6gicos. )crzy 'Ih­
polsky assinalou que a palavra Historia, ainda que scja usaJa apcllas para de 
10 No (:al'll.lllo '1. n;! s")',lIl1da p,lIlr "~'I>~:I Olll", Voll.lI(·ll lI b .11 1;11.11 III' <) 11 1".1.11'1, 'I'll' 
n'lllcs" pr(II'I M " 111 ill.lck 11.1 1 1i ~1('1 hI. 
Capitulo 1 
HisMria e historiograjia: os fundamim/os 
"1',1101 1 a atividade cognoscitiva do hist6rico, encerra ja urn duplo significado: 
!I ' II)I II,I 0 processo de pesquisa, mas tam.bem 0 resultado dessa pesquisa comO 
" 1, , Pllslrllyao na forma de uma serie de afirmac;:oes dos historiadores sobre (I~ 
i ,I , ,~ pussaJos"." Mesmo sendo esta uma sutileza desnecessaria, uma vcz lj lll' 
lill·\ I' ,IIIH'lItc nao ha pesquisa desvinculada de uma construc;:ao de seus rCSIII 
1.1< 1"" , ,I observayao ajuda a compreender as consequencias nada banais dl'ssa 
• ', 111111 \1;\ anfibologia. Em suma, Topolsky acaba distinguindo tres significad(ls 
,I.I !'1I 1.lvra Ilistoria: os "fatos passados': as "operac;:oes de pesquisa realizadas 
I'IIi 111 11 pcsquisador" eo "resultado das ditas operac;:oes de pesquisa". !':m al 
'1111\ l.!iolitaS, acrescenta Topolsky, 0 conhecimento dos fatos do passado [( ' III 
It I" cles ignado por outra palavra, a historiografia. E e justamente ncla qlle 
, 11 11 It ' II HIS IlOS deter aqui com maior enfase. 
'J()polsky afirma igualmente que a palavra em questao tern urn IIS0 (·s 
,'III I.dlllcnlc auxiliar, em expressoes como "Hist6ria da Historiografia", il q..,, ' 
1111, It It.ll lloS acrescentar outras, como "Historiografia do tomate" Oll "l lisln 
11111"" 11.1 dos canarios", por exemplo. Esse sentido auxiliar que assinal.1 '1 11 
l,lt l',I,y 11.10 dimina, a nosso ver, a vantagem de que a palavra Hisloriogt ,I I'I.1 
II III 1111101 sigllificayao univoca: "refere-se apenas ao resultado da pcsqlli s,I': I 
";".11 I. ' ",,(·il ;\ sua ctimologia. No en tanto, continua 0 autor, ao nao i;Hlic;Jr 11( ' 
11/11 1111 l'I 'llu'dimcnlo de pesquisa, 0 termo nao tern encontrado ampl.. lIlt' il ,1 
~,111, "111'1 11 seqller no seu sentido mais estrito': Para ele, "a tendencia tit' CII ljlH' 
,,~. II II Iq 1110 /Iis/e/ria, rnais uniforme, e obvia, apesar de que supik L1ll1a ~n 1,1 
l;ril .1 til' , Lll'cza': I.' 
( ) lOIl(cito de "I-fistoriografia": pesquisa e esuita da I list", 1.1 
( '111m vm,ihllio j,l foi proposlo para clllnprir cssa fUII,;ao: Ilis/oliu/Oglli 
III, )\olvd '1111" do pOlliO dc vista IIlol{lgicn, cssa palavra desl'111 Pl' lIIhll III P" I 
I, ,lilli' ii I(' .1 l ....d J de desigllal' a '\:ii:'ncia da liislbl'ia". Mas poss lli, 1111 ,'111, 111 
Il', III" 1I1.I II II I,·III.lsiado pl'c\{'nsioso: 0 dt' SlJPOI' qlle a p('squisa hisl(H if.1 p( III, 
fl ,.'11.,, 1,1,'1, .. 1.1 , srm l1laiol'es jllslilkalivas, lJl1l;I'\;i('II1 i,, ': hli ()rl l·~. 1 y ( ;11 ...... ·' 
i I 'I ( 1"1 11 1,1\,', I AfI'/I,dll /llgJlIlll' 1" 1/'''"1111 M.uli 1\1 ("\11',11 .1. 1<1/1', I' , ;;.\ , '-,', 
' Iud .,,. '.'; 
Parle I 
Teoria, hist6ria e historiogra[ta 
quem propos 0 emprego de termo "Historiologia" para nomear uma ativida­
de que acreditava imprescindivei: "Nao se pode fazer hist6ria se nao se disp6e 
de uma tecnica superior, que e uma teoria geral das realidades humanas, 0 que 
chamo uma Historiologia".1 3"Historiologia" e empregado tambem por mais 
alguns fil6sofos no sentido que aqui assinalamos, como pesquisa da Hist6ria,I"llljuanto certos historiadores, ao contnirio, 0 tern aplicado no sentido de re­
flex,io meta-hist6rica que Ihe atribui Ortega, como Claudio Sanchez Albornoz 
(III Manuel Tun6n de Lara. 1'1 Conseqiientemente, a palavra Historiologia nao 
.Il1-lIde ao nosso prop6sito. Introduz novas dificuldades semimticas no lugar 
.It" I csolvc-las. 
/can Walch fez algumas considerac,:6es extremamente interessantes a 
I t',\lwilo do uso das express6es Hist6ria e Historiografia. 15 Para Walch, 0 recur­
'.(1 .IOS dicionarios antigos ou modernos em qualquer idioma nao resolve 0 
I'whlcllla da distinc,:ao entre essas duas palavras. Ele considera bastante pers­
pILa1. a ajuda que buscou Hegel no latim - res gestae, historia rerum gestarum 
para disLinguir as duas facetas. Mas a epistemologia deve proceder segundo 
prilldpios mais estritos que a linguagem comum. Para tanto, Walch prop6e 
que, em Lodos os casos em que possa haver ambigiiidade, seja aceito 0 termo 
"II isL{)ria" "para designar os fatos e os eventos aos quais se referem os histo­
riadores" e 0 de historiografia "quando se trata de escritos" - "celui d'historio­
graphic lorsque il s'agit d 'ecrits"-. Isto explica com grande tlareza 0 modo 
como duas palavras podem efetivamente servir para designar duas realidades 
disl inLas: Hist6ria, a entidade ontol6gica do hist6rico; historiografia, 0 fato de 
cscrcver a Hist6ria. 
Pois bem, os "maus usos" da palavra Historiografia sao tambern fre­
qlknLes. Certos autores, especialmente em lingua francesa, tem atribuido a 
n OIrl'EGA Y GASSET, J. Una interpretacion de la Historia Universal. En torno a 
·I<>ynbcc. In : Ohms complelus. Madrid: Revista de Occidente-Aliall'l.a Editorial, 
19113 . 1. IX, p. 147- 148.0 grifo edo autllr. Nesta e em outras obras de rcllcxiio so­
br" a Ili~I<)ria, Ortega explicita sua rna opiniao a respcito dos bistoriadores - jll~li 
Iicada? --, sell julgarnento do pedestrisl1lo illtclcctu<l1 que os alillge. 
1,1 SANCIIIZZ Al.Il<lI{NO/.. C. /li ,'lorio), /i/wrll/(/, 1:11.'(/),0,< til' /liSIOI'i%gili. M'ldrid: 
Ih'l( ;11/ . 1' /'1'1. '1'1 JNON IlE I.AI{A. M. () II~ Ilislor ia? AI)\lIl1a, \ 11I'~lilll "" dc Ilislo 
,i"ll lH',I , .\11/, '111"1. M'l\lticl, 'I,,,. 'i ('1 :,('1\ • . ,111 . I'}'!', 
I ', V.iI' l I 'II , I /1 ",u, Ulil"'I ,II//, \ ' "', I" ",I,· 1',11 ,~ : ',,1."""'" 11/'111 I' I.t 
Capftulo I 
Hist6rin e /Jisloriografia: os fundamentos 
I"II ,I VI.I "II istoriografia" significac,:6es que sua simples etimologia nao aulori 
I ' 'Jill" complicam a questao de forma completamente desnecessaria, gera n 
d .. "IjIIIVOCOS quanta asua significac,:ao original. Naturalmente, tais erros to 
,j ' ,l ldo.'; pcios franceses tern sido de imediato aceitos por seus imitadorcs I':; 
I l fl ll hCII.~ . Existem pelo menos dois usos impr6prios da palavra Historiogral1 .. 
~ . -11I'.IIIII.1S outras imprecis6es menores nada dificeis de evitar, em todo caso. () 
1"111 11' 1111 II () uso da historiografia como sinonimo de reflexoes sobre a Hislci 
il,', \111 (' ~Iil() do que fazia Ortega y Gasset com a palavra Historiografia. 0 Sl' 
1'11 1111" I .1 aplicac,:ao, como sinonimo e termo coloquial, para designar a I/i" 
I,', "I "" I/isloriografia, quando nao, como se diz em algumas ocasi6es lamilCll1 
II '" Illt I",~ f'ranceses, a hist6ria da hist6ria. 16 
, Jill autor espanhol atual faz tambem da palavra em questao objclo de 
I!III I II tr l. lvd diatribe. "A palavra historiografia" - afirma - "e urn neo]ogisI1H\ 
11 '. 11111,1 pouco e que se utiliza em algumas poucas ocasi6es. Tern a vallia 
ii l .l, ,dcrir-se a urn tipo de conhecimento sem confundi-Io - como 01.0\ 
""11 1"lIavra hist6ria - com seu objeto de estudo, mas tambem aprCs('III.1 
"IV,' ill~ onvcniente. A disti'nc,:ao analitica entre saber e objeto podcr ia 11.,., 
I.! ff l' "tJ"I'll'r que os "fatos do passado" permanecem inseparavelmclll t' IIl1i 
hr ~ II" I Cl llh l'cimento que temos deles. A escassa beleza e rigor cngalll )s\) till 
t 11 11 ', h"IOI'iografia soma-se 0 problema de seus diversos significado:...."1 
I" "1'1111,10. qllc praticamente nao necessita de nenhuma exegese, dl'poi lo d, 
1 .~ It I , .J. lI, f OlllllllJila propriedade, qual a vantagem do termo - referir-sl>a 11111 
Ilil ll" 11111'1110 S(,1I1 confundi-Io com seu objeto - adentra em epistemologi'lI' 
iIH pli,I.I·. " "111 ticcIanl<,:6es gratuitas, induindo as esteticas, para condu ir di 
Ih l\l'!,!i' ~I' ( ria 11111 confusionismo atribuindo difercntcs signiticados ao l,·I '. 
" I ' ,,,lm.. I" ..('I ('II'ira t'xpres~;I(llel11 akanc,:ado norlo cxito lIa l;ral1~'a, Elil (. "'111'11' 
" ,, 1.1 ,"I " , ""IIOS ('asos. pOl' 11111 livro lao prcll'llsioso c vazio, " dl' 111 0 ('SI'"I1I11',,' 
II ,J! 1,\ .1" I',lIll " ('~I "lIIhol. COIIIO 0 dl' I.F COFF./. /'i'llS/lf /a II isillria. 11.1fH·IIII hI 1',11 
01 ..•. ,1)11' I' I I . I'a:..\i lll. "II isll'lria da II iSl6ria" (, Cl1lll1'l'I'.ado lalll(," II, . por 1'''''"11'1... 
,III I II t ill 1.1 EI(, ( ;.; 'J'l JJ.A IU l. J. Ceill/ll /1/'('/1(//'(/1' /III Imhaill fil' I/ I\I/II/', ("/I 'IlId,," " 
I.' , JllIII ' I II" " ,'11111,,: Oi klls 'I :111, Ii)X'), 1'. 1:1, I'assi 111 (WI ~;\() InU ll I'~,I c1 I' l' IIlK) Nil 
'11' 111 111111("0'''' '' 11111:1 1I, .l1l1· i l'l1 11111111111 d,' aludil ., "III ~II ·III.I d., IIII,lillil'I:I,IlI" 
'I, ' I, dl " ,ll. ,', '"lh"l" '1"1' 11 ()~SIl~ .rll lIll" d.1 11 ,.111'1 iu "Ilihllli ill d.1 hl\"" '"11' 111.1'. ' 
I I JIII''''I0'' ~ 1''''11...·.1111.... ,11\1.1'·11 ' .1 <'1.1 'l11'II' · 'III~I"IIIII \ I.lli ,i" 
III I L . I I III III '" I' 1, 11"" I!II I 1\'11 I" I JI ~ '" II"!:"'II" 1)', 'I, M·.I'" ''' . I :, I', 1.1 . ! ,.'" I , 
Parte 1 
Teoria, historia e historiografUl 
mo, confusionismo para 0 qual inclusive contribui de forma notavel 0 proprio 
titulo da publicac;:ao em que aparece essa argumentac;:ao.'8 
o fato de que esses usos, cuja falta de univocidade ja denuncia uma im­
portante carencia de precisao conceitual em quem os pratica, ten ham sido fa­
vorccidos por alguns historiografos de renome permite sua repetic;:ao de for­
ma bastante acritica. Urn autor tao celebrado como Lawrence Stone, por 
l'xemplo, chama de "Historiografia" urn conjunto variado de reflexoes sobre a 
hist6ria da historiografia, 0 oficio do historiador, a prosopografia e outras ins­
I rill ivas questoes. '9 Eju,stamente devido a esses usos variados e equivocos que 
,I qlll'stao recentemente voltou a ser colocada: "A palavra 'historiografia' e su­
IiI iClllemente ampla para abarcar uma visao in extenso da disciplina?': E tem­
'il' r('spondido: "no modo dos significados trad(cionais do vocabulo 'historio­
gl'.d ia', a resposta deveria ser negativa".20 E essa posic;:ao negativa baseia-se, jus-
1;11I1('l1lc, no fato de que por essa palavra se denomina tambem, entre outras 
,oisas, a "historia da historiografia". 
Essas considerac;:oes ilustram bern as dificuldades relativas ao assunto 
qUl' V.10 alCm da simples questao terminologica. 0 primeiro dos maus usos 
pode deixar claro 0 pouco aprec;:o e atenc;:ao que os historiadores dispen'sam a 
reflexao teorica, de forma que devem empregar uma palavra espedfica para 
desigmi-Ia (como se ateoria sociologica se chamasse de forma espedfica "So­
ciografia", ou talvez "Sociomania': ou a teoria polftica "Politografia"). 0 se­
gundo, que motiva as reticencias de Pasamar, procede, entre outras coisas, da 
difusao de alguns livros ruins, como 0 de Ch. O. Carbonell, que teve em sua 
vcrsao espanhola uma difusao muito alem da merecida.21 Em certos textos 
confunde-se 0 uso simples e etimologicamente correto de historiografia como 
IX Publicaltao que, apressemo-nos em declarar, contem importantes c()l1triblli~()cs, 
como a de J. J.Carreras e a de Justo Serna e Anaclet Pons, quc comcnlarel1los mais 
afrentc. 
I'> STONE, L. t:l pusudo y el presente. Mexico: FeE, 19X6. 'Ii"ata -sc do titlilo qlll' rCI:l' 
he a primeira parte dessa obra, cujo contclHlo descrcVl'lllos.m 	I'ASAMAR, C. l.a TTis/or;a Con/emporIIlICI.I. !I.~"cc/os /C'tll';COS (' iI;.\/or;ogrri/ims. Ma 
drid: Sintl'sis, J.()OO. p. '!. 
.'. 1 	 CAIWON IIJ.I ., C. n. 1.(/ /I;\lorio.~m/lt l. M c xiHI: 1'( :1'., I'IX(, (,'di~,IO Ilal ln" ,1 tI" 
I'IX I ) '1', ,1' ,1 'I' <I" 111 11 10, , "It· 1, "1" .1" (k ,j f l'~ t (" III di' I ii 'j I0lIOI~1I11i.," ,\1II' , '" "I II III 
' " 11 .I" " It'l III'; 111,,11•• UUI Il '''N. 'vlI ll :III!"I" , 1.'IIIIIII'II"'. I ",·v\'~, " "IIIIIl~ ~""I( '" ,1"~llIl 
!lI. '1"1 11.111 "("'(.'"\1 ' 1'1111, III ' Id... ,1,,~011 II.-n"(.j',, 1111' ,I 1 1I ,' t l ' l1hllt/.I~ .III" (\11) 01 ,1 
Capitulo I 
Histuria e historiografia: as IUI/darnerltos 
[lfi IIIII dOl I Iistoria" com 0 uso de tal palavra para designar "a Historia da es. 
C I il.1d.1 Ilist6ria", quer dizer, com a Hist6ria da Historiografia . 
MoIS lambem se diz que a Historia da Historiografia "passou a convcr 
Ii I ,I 11 11111 dominio de pesquisa diferenciado ao longo dos anos 70",22 0 q Ul" 
i" ,··d ,tlll.lria C justifi~aria ainda mais este usa e~pecifico que sustentamos da 
1" ',I" I IIII :rafia como pesquisa da Historia. Mais uma prova da confusao de {lilt' 
I iI.uIl'I\ " ,I que evidencia Helge Kragh, que para diferenciar os dois usos da pit 
I .. 1.1 III/.I,iria recorre a formulas como HI' ocurso dos acontecimentos, e "2' 
",11 '1 'lIhccimento, Quanto apalavra Historiografia, concorda que se emprc 
I' ll' 1(1J ~ "lIlido de H2, mas que "tambem pode querer dizer teoria ou filosofia 
01 .1 111·.1011 01 , ou seja, reflexoes teoricas a respeito da natureza da hist6ria"." 
( ) ~ clllprcgos tergiversadores sao e tern sido bastante freqilentes tambclll 
II I Il h hll lografla espanhola, ainda que nao sejam universais. Dois exemplos <':,1 
I I' lit hilI os por sua procedencia bastarao para dar uma ideia. Urn aulor Illlli 
I" I " IIIII'~ ,do cm seu tempo, 0 padre jesuita Zacarias Garcia Villada, dizia, elll 
111" 11\ 10 IIIctodol6gico muito recomendado, que "Historiografia" signifk ;lv,1 
II I. P II "toLio de escrever a Historia': quer dizer, designaria uma csp('lic de 
I'll '-' I" IV, I <los csi ilos de escrita da Historia, 0 que nao deixa de ser uma \illriu 
1 '- I' 1t1l\I ,ltla defini<,:ao. '- ' Outro autor espanhol mais recente inclui StIll I II' 
1I 1t 1l111 , I lIh ,l r'I~·o a "lIistoriografia" entre "as chamadas ciencias auxiliarcs dol 
111 ' 1'"1.1 ': 1111110 (oIll a Geografia, Epigrafia e Bibliografia (sic), entre olilras," 
hll '1IIldliSiIO, a confusao de historiografia com "reflexao tc6rico Ill" 
!,,, I, ,1 " )1.11.1 .~ol>rl' a pcsquisa historica" (Teoria da Historiografia, pa ra SCI 
, II", 1!,1i1l .I , ""ll a not;ivel parlicularidadc de que a "hist{)ria da Ilisl()ri"~\ I:I 'i.r" I' 
I ir lllll.I,1.11'1'10 alltor sistelllaticarncntc dc "Historiografla". 
, I ',\o,/\MA I{, (; . 1.11 /I;s/or;" Contl'm/)orlim'u. Aspectas lel/ricos I ' hi.<lorioxnil'w" M,I 
.t'I,1 "I II II'I,is, lOOO. ". '!. 
I 11 /\ 1,11, II. I,,/rot/lled,in II III I/is/oritl til" III Cit'nl"ill. Barcelolla: (: dl i"" I')H" 
I' \ I \ 1 
I, ""l 1/\ VII I.AI lA, I .. MI"/OI/%gi" yC'ri/im h;s/ilrims.Ban:ciolla: 1-:1 Alhll, 1'1 /1 p. " 
I I ," '1\111.11 d l ·~.',(· IiVI II I; dt' I') J. l (' ai11.111 SI' cd il ava " Ill 1I1f" ~I'I lIa da 1;1 i IlI li\ 01,1.1, " ' jl l, 
, 1/111,1 1lI ,lt\lJill' ,I 1"(lV;O dl' IIl1lilas <las, a 1''''' " ii l ~ '11 U' <I t'sl;,, ""I11S 1111 liv IP 
I ', ' "Nllfl l l . " '/I',,'i,' tid 11"( /11 ,,, II;\ /Illftlgllllilil. 1111, 11, """ /"'111 11, "/111'1111/ 1,,1 
: ,III • /I 1111 ", ' '. /1 11/('1/11/11 . ( ) VII 'tI, ': I. tllivl"I ~1I1." I .I I' ( Iv 1\'.1.. , " 1'/1.. P 1.11 1',11 1'1 I' , 111111 
;lli, "1"111"111 111\1111 ,"11"·.1, , .111 .111;, '11",) ""I/,loIIIII(I,rll'"" 111 11 ~"lIljdlJ .111"1 rII. '. 
I"" 1.111110. d" qll' "C' d.l ,II ' ~lJh"!.11I1 11'11 1 1I ~11I1 11I'''ll ln,1 
Parte 1 
liwriil, hist6ria e hisl'Oriografia 
mais preciso) ou com "Hist6ria dos modos de pesquisar e escrever a Hist6­
ria" (Hist6ria da Historiografia), mesmo que nao seja, como dissemos, uma 
questao crucial da discipIina, representa, a nosso ver, urn sintoma das impre­
cisoes corren tes entre os profissionais e os estudantes da materia. De fato, a 
palavra historiografia tern sido aplicada, nao se sabe muito bern por que ra­
zao, a coisas que surgiram modernamente - Teoria da Hist6ria e Hist6ria da 
llistoriografia - que tern 0 seunome ja perfeitamente adequado, violentan­
do absolutamente a etimologia do termo que propomos. A palavra, alem 
disso, nao apresenta concomWlncia nem confusao alguma com a "Filosofia 
da llist6ria", atividade que, nem e necessario assinalar, os historiadores nao 
coslumam cultivar. 
Topolsky, sem duvida, destacou 0 problema de forma precisa, mas nao 
propos uma soluyao. Parece-nos hoje plausfvel que uma palavra ja bastante 
dirundida como Historiografia seja a aceita. A palavra historiografia seria, 
como sugere tambem Topolsky, a que melhor resolve ria a necessidade de urn 
\(;rmo para designar a tarefa da il1vestigarao e escrita da Historia, frente ao ter­
mo Hist6ria, que denominaria a realidade historica. Historiografia e, na sua 
acepyao rna is simples, "escrita da Hist6ria". E historicamente pode aludir as di­
versas formas de escrita da Hist6ria que se sucederam desde a Antiguidade 
chlssica. Pode-se falar de " historiografia grega", "chinesa" ou positivista,' por 
exemplo, para referir-se a certas pniticas bern definidas de escrever a hist6ria 
em determinadas epocas, ambitos culturais ou tradiyoes cientfficas. Historio­
grafia seria a atividade e 0 produto da atividade dos historiadores e tambem a 
disciplina intelectual e academica por eles constituida. f: a soluyao proposta, 
afirmou Ferrater Mora, para dissipar a ambigiiidade existente entre os dois 
sentidos principais da palavra Hist6ria. 1sso tenderia a ser suficiente, acrescen­
ta, "mas nao e assim".26 
Foi essa a significayao que deu a palavra urn dos primeiros te6ricos de 
nossa disciplina em sentido moderno, Benedetto Croce, em seu 1coria e l-iis­
Loria da Historiografia; em italiano Storiografia tern 0 sentido preciso de escri­
La da Hist6ria. Esse e 0 uso que Ihe atribui lamhcm Pierrc Vilar CIIl sells mais 
conhecidos lcxlos te6ricos e mClodol6gicos. J. Fonlana, por sua Wi'., ulilizoll a 
II P fi l~ I ~i\T I.I ( M( !lV\, I I lud"II/II U1 '/1' h i/hili/II tI"lm/,,1/1I M.HIr ul AII ,)I!/,!. l' IXi I, 
I' 1/1 
Capitulo 1 
Hist6ria e historiografia: os {lmdamen tos 
il. l\' 1,111.1'.11;\ lIlais correta aCepyaO, ao falar em urn texto conhecido da "I l is 
"'1' 1,11 101 (islo c, a produyao escrita ace rca de temas hist6ricos)".27 No mUll 
I !1 1I1,hl '.. Ixao, essa palavra foi introduzida com a mesma acepyao que Ih" 
!! d l'I " III'" pdo filosofo W. H. Walsh, autor de uma obra basica da "filoso lia 
il!l! lill' I ' d ,1 Ilist6ria,28 e e de uso comurn em lingua' inglesa. 
' ... 11.1 lalsa a impressao de que a palavra historiografia e universaln\(;n 
I, 1!l tl • Ill pn'gada. Nao e assim, de forma alguma, 1mportantes historiadol'cs, 
It ! , , ,, ld ll'l Ida capacidade, influencia e persistente dedicayao aos temas de c;\ 
h I 1"1 II Ill) mclodologico, tem-na utilizado sempre no seu sentido corrclo 
111',/ ' k ldlVrc, P. Vilar, Thomas Kuhn, R. Samuel, J. Fontana, J. Topolsky, 
r , M' II lIlagisterio que se deve impor. Alem disso, 0 uso da expressao ,,;~ 
j'I'wflll para designar a funyao disciplinar da pesquisa e escrita da Hisl6ri.1 
ill ,llIdn progrcssivamente accito, ainda que alguns descordem, no vaslo 
tI 'I "! ol liS hisloriadores, 0 que euma boa noticia. 
1\ 	 Ii IIguagem da historiografia 
1\ q llt'sl,\o do nome nao e 0 unico problema terminologico 110 l'~ l II 
I" " I 1 11 ~. I(iria , 1\ pesquisa hist6rica praticamente nao criou uma lillgll 'l 
III iii ,.pro i.lli/ada, 0 que e tambem urn sintoma do nivel de mew C()III I1,'1i 
111, "1 " I UI IIIIIll que a historiografia tern mantidodesde muito tempo COI1\ O 
II".. )1' 1.1111 da pesquisa historica. Existem apenas termos co115t~uidos lI i,\ /(I 
tl'~t "I" ' '''' (' 11/1' para designar fen6menos espccificos. Algumas COIIO"I, tk~ 
11 "" I,i! '1\1\ . I ~ exprcss()CS como "1dade Media" -, alguns qualifical ivos I' I,' 
i ,.1:1 " 1': 11 11 dclcrmilladas conjunturas historicas - "RenascimclIlo" ,1111 
III I, dl ',411 In ladl' - " Feudalismo", "Capitalismo" - c cOl1ccilua,'ol'S ( Oi li ll 
1!l" II. 1oI l1 l , I ~ , I O", "colljunlura", C algumas outras, sao lcrrnos qUl~ Ilao pnlll' 
.It III d,l hll)',II,I):CIlI COllllltn, ou aos quais sc lem dado llilta Sigllil'il,I, ,\O I' ~ 
II,IN'IANA, I. lIi , /orill: AlI;ilisis dd pasado y proy<'clO s"cial. Ilan .-I""W (;. ,111 ", 
1'111 \ I' 'I , 
'II 	 WA I ', I I, W, 1I.IIII/Ot/II,, 'iOlI II /11 /i/" .'o//II tid" illS/ Prill , M,'xi,,, : Siglo \XI, 1')(011 ( .1 
1'111'11'11 " ...11\ ,II ' " ,II' 1'1 ' , I). I '"eI .. M' V," il" ,II w , ( 0 111\' 111,1 rio, 'I 'll' ,I 1'~1r II ' ~ I II'II" 1.1.' 
IIIIA\, W II /', " -/11"/ 11 '/" " //1 1'I1'I/otl,' ()II,IW,I , I ," I',\,~~(.., .I ,' 1' 1IIHvl'. '.111" 01'1 1110, 
,q I'JHH I' \', I \ '1 '1\'11 
-Parte J 
Teori", lrist<iria e hisloriagrafUl 
Que ninguem entre se nao for filosofo, se antes nao meditou sobre a natureza 
da hist6ria e a condic;:ao do historiador"." 
A HISTORIOGRAFIA, A CIENCIA 
E A CIENCIA SOCIAL 
Por que uma discussao sobre 0- carater do conhecimento da Hist6ria, 
de suas possibilidades e seus limites, deve comec;:ar falando da ciencia? As ra­
zoes existentes para que seja indicado agir assim sao de importancia inques­
tionavel, mas e certo que nao ha unanimidade de criterio sobre elas. Desde 
muito tempo, difundiu-se entre os historiadores uma atitude ascdica ou reti­
cente, quando nao francamente contrchia, a respeito da pertinencia e utilida­
de desse genero de especulac;:oes em relac;:ao ahistoriografia. No mundo dos 
historiadores nunca houve acordo sobre a qualificac;:ao intelectual ou a capa­
cidade cognoscitiva propria da atividade de historiar. A questao se a historio­
gratia e ou nao uma atividade "cientifica", ou que outro tipo de conhecimen ­
to e, nunca preocupou seriamente a maioria dos historiadores. Em outros ca ­
sos, a resposta a perguntas desse genero nao recebeu mais do que conteudos 
meramente formais-, que nao procediam de uma reflexao realmente detida. 
Eimprescindivel, no entanto, que se dedique certa atenc;:ao a esse tipo 
de problemas quando se espera entender 0 que e em seu nucleoa essencia do 
conhecimento que aporta, ou deve aportar, 0 historiador. Para uma considt, 
rac;:ao como essa, nao parece que haja urn marco adequado, ou urn ponto dl' 
partida melhor que 0 do conhecimento cientifico, com uma determinac;:ao tam 
bern essencial: 0 conhecimento cientifico aplicado a sociedade. Quer dizer, 0 
marco da ciencia social. Que tipo de conhecimento cabe esperar da historio 
gratia? E possivel urn conhecimento cientifico da realidade socio-temporal. 
ou seja, da realidade hist6rica? -
Com perguntas desse genero, estamos no terreno em que se silua, o bri 
gatoriamente, a nosso ver, a discussao sobre a natureza do conhecimenlo hi~ 
torico. No presente capitulo se busca estabelecer balizamenlos para 11111 tlt-b:! 
te desse genero e ,para uma resposta que, necessariall1clll(', d('VI' sn prov isol i.1 
-1 H M i\ I{ IH )\1, II. I. /0'1 , ,"IlIII1"II'IIIU li,I/,iI 1/" 11.1I1I 1,",,1 I ,III." , I'III/! JI I J 
CapilUIo J 
His/orill e hislOriagrafia: as fimdamentas 
I vital' a ausencia ate hoje de uma posic;:ao unanime sobre 0 as 
1111 ., 1j11l 'lll nllcnte, hoje em dici, essa resposta nao pode ser, como nito 
~ .1 1l'g(lric~. Em nenhum sentido, nem positivo nem negativo. 
l'l :i l r nl. 111 11,1 primeira constatac;:ao que nos parece inquestionavel: uma 
if:, "I I ·.pt-t i(' nao pode tampouco ser procurada fora de urn marco 
"I I . " I"" c'lIquadra urn problema que, de uma forma ou de outra, {: 
1I /II !, 10 j, I IIIII' I( ,das as ciencias sociais: epossivel urn conhecimento cicll -' 
It. l i""I1I\(' I ': , l'lll lodo caso, 0 que se deve entender rigorosamente pOl' 
1, ","ll1'c 11I1l'lIlo? Na resposta a essa pergunta estarci incluida, sem dl'l­
hi ,It 'I II '1\1 " fi ,1. 'ICntemos,.pois, comec;:ar, enfocando essa ultima queslao 
II!N<:IA E AS CIENCIAS SOCIAlS 
1"11\.1, ,,"IIiI',1 do conhecimento cientifico, que ea vertente espedfilrl 
I", 111 .\ '1 111 ,'qll i nos interessa, e abordada de maneira conc'reta por II lllil 
I'i II,j "" '1/,1 do ((\lIhecimento que e a Epistemologia.'9 Ciencia e"um kr 
' 111 1I n\\,1 11., di~'ao filos6fica e mundana tern significados muilo d is 
1,1 , ,I 1'"I,'v ...., ('Ill seu scntido rnais preciso e correto, que e 0 qUl' elIl 
"1' ", oIc ...If\ lIa 0 que chamamos "ciencia moderna" por antolHlJlI:i 
I ,Ii'I I., 1t' 1I\ i.l l 011100 resultado da "revoluc;:ao cientifica" quc Icve: i lll 
II L\Jo I lIllo'lIlo t' produziu a Mccanica newto'niana, ou a Quil1'lica, dos 
I K, p~ ,IVIIII, os 110 conhccimento da e1etricidade no scculo Ill, .I~ 
'_IMII 1I11111\i\ ,I'> I II) s(',(lIlo 20, clc. 
I !!f,1I Ii I t~11t II lIlillS dc("isiva e a difcrcncia<,:iio mais explicila do l.:llllhe 
.if lllll " 11 111111 1"t'sl'cilo a Imlas as oulras t(xmas dc conhcccr sao .. dl' 
Ih l of ""I/rilll ti l' :i lia slIjci,'ao a rcgras dc ((\/I1pmVllfilO dl' 111<10 () '1 \1( ' S(' 
, \, ",W", ,I'" "I> I 411111'1 II 1(1 "a I'.I,iSlI'lIIologia, III JN( ;1\, M, l i/Jj,'/I'IIIII/II:.!/il (" 1"/1 ' " 
I I''',hl i l,IIo,\t1l1.l I\lil'l, 11) 1I1. M()NSEl{Ri\' I ',J./ :l' , s'nllll/(/,~ f"t'I 'oI""v" l'II'wlll 
"I j " " '" ill , 1\ 1111 1, Ii I "11101" .11 i""l's de la 1111 iVl'r~ lIlad 1'<1 111 il ll i, l"l' (:\1111111.", 11111 
f I I I , til' 11111/""' '/. ' /11 (// '111/11 /'", /III'/11<1' .If' hi I,,~II/I '/,. I" /l1I'1',IIW'1 1011. ,,.,, 
I 	 111 ,. 11.1, Ai"" . 1'.lIdlll" 1'17
'
1. I' IA' :1::1, ,. 'lill/tIIlllti/' I ('S:/I'" 111111/11111111"1/111'"1/ 
I1l h ,," ~ "It ... 1',1101"", p , " , I N.II 11I.lk1.1 )' OIl'I"tI", .II ' 1.1'" PJlI ~ 1t 'I! "11,,,\1,1 
11111 t ,U,I , Ih ,,,,,.lt'! 11,'1/, ,,11"11/,",,1IIVII'III! 1',,,,,,11 ,1. 1'1'1' I hllllllhH"""t..­
Ii IIiI I' • i 
'"",,1 III ,j l" I" "I"II, h',,,,,,,,, 
afirma como prclcnsa wrdadc cil'lItilica. ( :onlo tollo U)(Ii1Cl1 111l'nl tl•.1 1 1I"m I 
parte, ao menos em seu aspecto It'lgico, da obscrvurllo, IllaS partinllo da "IN" ViI 
«yao ou, se quisermos, partindo do conhecimento comum das coisa.~ ate ~·),W 1111 
tro nivel do cientifico, e preciso percorrer um caminho sujeito a lllll 1//(11111/11, ' A 
titulo de introdu«yao, poderiamos adiantar que a ciencia se define como 1/1111/ ,,, 
ma de conhecimento sistematico-explicativo, nao contradit6rio, fdlico (n{\() valor.1 
tivo) e testavel. Vejamos com maiores detalhes 0 que querem dizer esses ll'nnm 
Com efeito, nao ha conhecimento cientifico, em primeiro lugar, Sl' 110111 
for conhecimento sistematico, que se baseia na 'observa«yao dirigida e orgalll 
zada da realidade, que constr6i os "dados" e os organiza dando resposlas .1 
perguntas sobre os fenomenos, respostas, porem, com alto grau de gcnl'l'ali 
dade. A ciencia, em segundo lugar, produz explicaroes, quer dizer, algo di ft:I'~' 11 
te de descriroes e, tambem, de interpretaroes. As explica«yoes tern de ser univl" 
sais, coerentes em todas as suas partes e nao contraditorias; em sua forma ma il! 
perfeita adquirem a forma de teorias. Osfenomenos nao tern mais do que LlJl lil 
identidaae, nao podem ser e nao ser uma coisa ao mesmo tempo.S2 0 conhl' 
cimento da ciencia e fatico, e um conhecimento "de fatos" nao "de valores': qlll' 
nao julga do ponto de vista etico ou de qualquer outro a realidade que expli 
ca. Tampouco e urn conhecimento de "essencias", mas sim de fenomenos. Pi 
nalmente, e esta e provavelmente a caracteristica mais decisiva, e testavel, pode 
ser "demonstrado",explicita 0 caminho pelo qual as proposi«yoes que se enull 
ciam podem ser -consideradas ou nao como verdadeiras. 
o epistemologo e metodologo neopositivista C. G. Hempel falou dl' 
dois grupos fundamentais de ciencias: as empiricas e as nao empiricas.53 Mas 
a classifica«yao mais conhecida e talvez a mais util, mesmo a partir de um cri­
terio mais externo, e a que come«you distinguindo, desde finais do seculo 19, 
. entre dois ambitos do saber cientifico: 0 da natureza e do homem. Dai dedu­
ziu-se, apos sucessivas matiza«yoes, a distin«yao entre ciencias da natureza e 
51 Toda a terceira parte desta obra dedica-se ao metodo. 
52 Em todo caso, isso nao quer dizer que a ciencia possa ou deva estabelecer uma ex­
p!ica~iio unica para os fenomenos. 0 conhecimento humano emais limitado que 
isso. A dencia nao estabelece nunca uma verdade para sempre, nem sequer na L6­
gica, nem se pode dizer que urn conjunto de fenomenos nao admita diferen~es ex­
. plicai):oes. Mas nao se limita a descrever, nem deve ser confundido com interpretar. 
53 HEMPEL, C. G. Filosofia de La ciencia natural. Madrid: Alianza, 1989. p. 13. 
~() 
• """ It'III, lill 11 11111 dil lll!)IIII.1 que I. hl'W)\I a ItT 11111 ( .11 ,H"I 111,1''' 1' ''' 
III. , . IIWIII II ' k ll'l I11..' .10 .l l11hito (·sludado. 
I iii ,Ii . 1111~ , ln 1' lI l n: , i(:ll~ia da lIalmel',a c cit'llria do 1101111'111 slI rg ill q 'l 
, I, UIII III ,Iillda mais ch\ssica, e mais dccisiva, ainda '1l1l' acahc ~ " IIc111 
Ih"lol. 11 1,1111 H, 11I1Ia vel'. que prevc de forma irreversivcl a IIcccssidmk de ' 
III ' \1111 i,1 11111;1 calegoria (ll1ica de conhecimenlo. 1':sla illI1UI'III1...' tli .. 
"i ll' .1'. Ill' llI ias l' a que leve sua origem n<l 1II0solla alcma de Ir.ld l\,1I1 
iii illi i.1 , 11I ~ loricista de finais do seculo 19, e foi a que eslabclecl'lI a tli 
1 1'11111 doi, gnl!ldes tipos: ciencias nomoteticas - do grcgo 1IOIII(I!>, IHlI 
I 11' 111 ias do gcral, e ciencias idiograficas - do grego idios, carall,' 
IIIJIll Llridadc -, ciencias dos comportamentos singulares. 'Jhl disl in 
! d!)II III IV,II11l'nte estabelecida por W. WindelbandS4 e passou a Sl:r 11111 
I I "1I1f 1l 1l . ' 111 lodos os tratamentos a respeito do caniter da cicncial' a u) 
i' lIl f d, l~ao com dois tipos de resultados da ciencia: 0 que se aprcsclI 
111 11, I, , /dim!'(/(I I' 0 que 0 faz como compreensao.ss, 
\'.'01 111, I'II'1l1anto as ciencias nomoteticas ou nomologicas, que Sl' telll 
Il ltl" .u l .. dllrante muito tempo com a ciencia natural, teriam como flll) ~al1 
Ioil, I~ ,111 (lTkliiren); it ciencia idiografica, identificada com as cicncias dll 
II!~ III ' " I , i"lIcias da cultura, estaria reservada a compreensao (versleiIC' II). ," 
i(11t1 i.I·, do homem nao estariam capacitadas para dar explica«yoes na '(II 
IHI (It' 'III ' illS mas deveriam dedicar-se a compreender 0 significado das (\(;( \('s 
' I WIN I II',LBAND, W. Geschichte und Naturwissenschaft (Strasburg Rektorrl'd .. , 
I'IH I ), In: l'riiLuden, AuJsiitze und Reden zur Philosophie und ihrer Geschichtc. 'I'll 
I UII),,t'II: J. C. B. Mohr, 1921. Bd. 2, p. 136 et seq. Ha as tradui):oes fr-ancesa (puhlica 
.\,1 lIa Ucvue de Synthese) e inglesa (na revista History and Theory) desse texto, l11a~, 
. It I '1UC saihamos, nunca foi traduzido para 0 espanhol. Os neologismos nomo((;( i 
,,, ,. idiognifico se transformam as vezes em algunstextos espanh6is, em nomol.\ 
I" " C, de forma err6nea, em " ideografico". 
'.', ',,,llIT a compreensuo, em alemao verstehen, existem muitos estudos. Pode-se Vl'j' a 
., IInpilai):ao dos escritos de WEBER, M. Ensayo9.sobre metodologia sociol6gica. \lilt' 
,I( IS A ires: Amorrortu, 1982; GADAMER, H. G. Verdad y metoda. Salamanca: Sigllt' 
lilt', 1977. 2 V., HAI3ERMAS, J. La logica de las ciencias sociales. Madrid: TeCl1o~ , 
1 ')Ilil. E igualmente util para introduzir 0 assunto, MACElRAS, M.; TREBOLl .E,/. 
1,(/ hermeneutica contemporanea. Madrid: Cincel, 1990. 
' ,(, i\ principio, lima boa explicai):ao dessa oposii):ao se encontra no livro de WRIGI IT, 
II. von. ExplicaciQn y comprension. Madrid: Alianzjl, 1989 (a primeira edii):ao inglt' 
~a ede 1971), em seu capitulo I intitulado "Dos tradiciones". 
57 
Parte J 
Teoria, hist6ria e historiogra[UI 
humanas. Isso esta estreitamente(elacionado com a filosofia hermeneutica. 
Como 0 fato de explicar ou compreender a realidade e 0 objetivo ultimo de 
todo conhecimento humano e a ciencia aspira precisamente a ser 0 conheci­
mento humano mais fiavel de todos, convem deter-se na maneirapela qual a 
ciencia da conta da realidade do mundo, seja 0 natural, seja 0 social. 
Em tempos mais recentes, mesmo com freqUencia, recorreu-se a uma 
triplice distin~ao entre ciencia natural ou fisico-natural, ciencia social, ou cien­
cia do home'm, e ciencia formal, sendo este ultimo 0 genero de conhecimento 
cientffico que, como a matemarica ou a 16gica- recentemente ampliado a 
campos como a computa~ao, por exemplo, ou a semi6tica, que apresentam 
urn carater proprio ainda que derivados daqueles outros - explora urn mun­
do de elementos simbolicos ou ordena~6es formais que nao tern referentes nas 
coisas materiais. Jon Elster, por sua vez, falou de uma triplice classifica~ao dos 
campos de investiga~ao da ciencia, fazendo distin~ao entre a fisica, a biologia 
e a ciencia social, assinalando que 0 que distingue realmente as ciencias e seu 
metodo. Referiu-se, portanto, a tres metodos essenciais: 0 hipotetico-deduti ­
vo, 0 hermeneutico e 0 dialetico, e a tres formas tipicas de explica~ao: a cau­
sal, a funcional e a intencional.57 
o procedimento da ciencia 
Para caracterizar 0 funcionamento da ciencia, ainda que de forma extr(' 
mamente sirriplificada,s8 a primeira coisa que se deve dizer e que 0 procedimcn 
to adotado para a constru~ao do conhecimento cientffico tern urn caminho /r) 
57 	 ELSTER, J. El cambio tecno16gico. Investigaciones sobre la racionalidad y la tralls/ill 
maci6n social. Barcelori'a: Gedisa, 1992. p. 19-20. 
58 	 Existe uma vasta literatura a respeito da estrutura do conhecimento cientitico (. till 
procedimento da pesquisa cientifica. Limitaremo-nos a assinalar alguns titulos I )a~ 
tante conhecidos de diferentes graus de dificuldade. A apreensao pode COlllc\'ar IP ili 
os livros de urn born divulgador, CHALMERS, A. S. Que es esa casa I/II1/1I11ill !'i/'''' III:' 
Madrid: Siglo XXI, 1988 (e ediyoes posteriores) e l.a c:imc:ia y mma SI' 1'111/11)/'(/. M.I 
drid: Siglo XXI, 1992. Urn classiC() manual bastanlc conhccido (. (l dl' III IN< a', M. 
ia investigacilln cientifica. Barcelona: Ariel, 1975. lIlII liv.... lIIais lOlIlpl('X(\. ('III 'I"' 
se expoe c analiS<1 0 <]11" sc ,'hamoll a "('OIlC('P\·,101 h('rdad.1 da (i{· II II ...., 1( 1I l'! dll,I'I. ,I 
itlt'i .. d(' ('i'~JII i;llIasl'ida LOlli 0 lIl:oposiCivislIHlIIO alVOlI'lI'l dll'~ , III "~ /11111./1'1\11.. .1" 
nliliOIl IlI .lIi,.lIlu'nl,· ,odo 0 SI'\ nlll .'11, Slil' l"',!' /11 ,'\/1 , .. " IIII, /" /" '. " ,,,, 111 '.• "'''''(1 
, 0\ M,hh HI \ J'I1V'·'~ltI.1I 1 N." 111111,1tI., IIIIH.H ,.111.1 1/" .1.1111 hi . 1'111(1 , 
Capitulo J 
Historia e historiografia: os fundamentos 
I ll t l ' ll III ~'(, lIlpre coincide com 0 caminho particular que os cientistas pn 
Ii i "u,,' ,i ria da ciencia mostra que se chegou aos grandes descobrimcll 
I, IIII III. I ~ 11I;lIlciras diferentes. Mas se nos atermos no que e a "arquitctura", 
1111 .III ' I, do metodo da ciencia.l 9 e preciso dizer que toda busca parI(' (i t' 
., '.111 11.1. qlle para tentar responde-la se come<;:a observando a realidadl' 
II I. ,Ill' .ISO l' daborando conceitos ou, como poderiamos dizer de {(lI'IH,I 
"'1.1•• ,. , ddlldo nome as coisas. Logo se constroem enunciados ou proP(/ 
I' ll I 01111 '1'. Sl' lilzem afirma~6es ou nega~6es sobre as coisas e as rela<r~II.:s 
ij ~, ' ,1 1' llIi\('1Il julgamentos. Finalmente, 0 conhecimento que pretendc 
111111 11.1', lOlIsequenciasprop6e certas explicafoes. 
11 11 , • pill ,1,'<10 e, definitivamente, urn conjunto de proposi~6es onlc 
I'" 111 1< lilt · " que se encadeii por meio de urn raciocinio do tipo da ill 
III 01.1 IIt·tll/ll/lI, pdo qual se estabelece uma hierarquia de proposi<r<)cs, 
I " 11111.,\ "II~ outras para formar uma argumenta~ao fundamentada. () 
1,1 " .11,,10 prcll'nde, que e verdadeira (mas a verdade pretendida dcw 
I d' , I" III I ~ I I. \(la, mcsmo que ainda ~ao 0 esteja), deve ser contrast;lwi 
\Ii I N,v,l' I .ISO, antes da demonstra~ao da verdade, seja por meio d( 
,, !!!; ~ I,I d, 'II\ollslra<rao matematica ou de outro caminho, esla lllll\ 
11 11 1. " " ,III . I~·ao hipotetica. A explica~o mais complexa, a que prl'lt'll 
"" 111",, ·\ l" llvas c a que, no caso mais perfeito, estabelece leis as q ll: lI ,\. 
d~ Ili tllI', ll.I, os knomenos obedecem, e a que se chama uma ICOtill 
I iii Iii iil" ..., illll'ks, as tcorias sao aqueles conjuntos de proposi<rtles, 1'\' 
I, .,1 ,01 .1 11 ,' "Ill pi rita, que tcntam dar conta do com.portamellto glo 
illt! • ,,1,, 1.1t " ', 1111 scja. cxplicar urn fcnomeno ou grupo de fcnClIlwllos 
1_ ) I Illljll lllll til' proposi<;ocs que constitui a teoria devc tn ullla 
i'.I, I I' hi illlnila t' Ull1<l dcssas proposi<rocs deve cstar f(lI'IlIulad" 
1" "l ) 'lIlt' lahl'l'ia conciuir a partir disso como clIsillallll'1I11l 
' I'" ,I I it' lI( ia ,ollstr()i 11111<1 lillgl/llgC'r1'l com a qllal ' "lmn l.1 II 
' II III1 :U III I"1 1I1I podl' Sl'r l'sqllclllatizado dl' acor<io n)lll (i '111.1 
I \iI !II I !, I \I~ "".~" V.I~IIt··. , ,,",, ' ( ' .. II' .1 ... ", 11"11 1," ,,,,,"1,·,. II .• ,, '1. ,'11.' 11111 11' , .1 1'1111 ,I 
II II"' I.ul" 
I ,' j Il l il lf ~, I • "1/" '/'/1 " I' t''(IIIiII 0'/1 /1111/'/10 I" M,III. ..1 AI "IIII,' . IljhH 
Parle I 
Teoria, his/ciria e his/ariagrafUl 
Quadro 1 - A elabora~ao da linguagem cientifica 
IICbNCEIT~ • IPROPO~I~OES 
Generalizac;oes empfricas 
~observac;ao da realidade~ 
-. i _§:s • ,!!' I ~ EX-PLlCA~bES7' 
--------II TEORIAS I 
Considera-se, normal mente, que a explicayao cientifica obedece a urn 
desses tres modelos, segundo afirmava Elster, os chamados causal, Juncional c 
intencional, que corresponderiam respectivamente as ciencias fisicas, as cien 
cias biol6gicas e as sociais.61 As tradic;:oes positivista, raciona\ista e analitica 
tern sempre defendido a superioridade da primeira delas, a explicac;:ao causal 
baseada no mecanismo causa e efeito, que implica a presenc;:a de leis un'iver 
sais, seja sob urn modelo nomoI6gico-dedutivo, seja sob 0 probabilistico-in 
dutivo. Outra tradiyao da ciencia, mais difii::il de rotular, a idealista, antiposi 
tivista ou, mais cornumente, hermeneutica, ea que tern defendido que 0 me.:' 
canismo causa e efeito nao esgota a explicac;:aode fatos, no que diz respeito ih 
intenyoes, aos objetivos, ao significado, etc. Quer dizer, todos os tipos de a¢ c.·s 
humanas. Para essas ac;:oes serviria muito mais a que Von Wright chama expli 
cayao teleol6gica, uma forma de explicac;:ao funcional. Urn gI."UpO importanll' 
de autores tern defendido tambem que a explicayao adequada para as cicnc..i .I~ 
sociais e a intencional, se bern que com proposiyoes que diferem em pOll los 
consideniveis e com 0 acrescimo de alguns elementos ~ a e1eic,:ao racional, a 10 
gica da situacyao, de certa forma a teoria dos jogos, etc. - que as fazell1 diwi 
61 	 ELSTER, J. El camhia ( ema/i5.~i((/.{nvl.sligllr.i0/1f..~ .•lIlm·IIII.(I( .illlllllid..d .I./ll / IIIllI/II I 
macion social. Barn'lolla: (;('disa, 1'I')} . I'. I~;. 
I 
1, 11111 
I I II I. II ,III II .. 
,n l 
11111 
• , 11 111 
I,,' /., 1111, 
,', I '1'1 
I \ ", ," 
I,' " 
Capitulo I 
His/oria e hislariografia: as fundamenlas 
1,111 ,1~lks intencionais convertem-se, em alguns casos"em "explk,l 
.. 1,1 " I III razoes':62 enquanto a explicac;:ao causal e, justamente, a qllt' 
, III I ,1II \.IS. Isso tern importancia consideravel para a explicac,:ao 1111 
'j' I '" 1. 1. l 11 1110 veremos no devido momento. 
11'1111 .11'1 1101 da explicac;:ao na ciencia social se relaciona, naturalmcllh', 
lit 1'1111111 111,1 que se apresenta tambem na ciencia natural: 0 da predi{,(/(/, 
I. lI lIklll haslante abordado entre os metod610gos em relac,:ao ao t l) 
.111 1•.1 c, com maior intensidade, ao caso das "leis da Hist6ria". 11a 
IIMUIIH 1"1111 ,' ,I" prcdizer os comportamentos humanos? Esse problema, por 
possibilidade de descobrir relac,:oes constantes enlre .IS 
I'" 1111/'1vi'lIl nos fenomenos humanos, A resposta e imprecisa, lIl a~ 
I '.11"111,.1 de que a ciencia pode "predizer" a ocorrencia de falos :.ill 
IIt' l il .1 , i"II(ia fisica, A predic;:ao e sempre algo relacionado COlli .1\ 
' [III' 11111 processo se desencadeia e cdm nosso conhecimenlo 011 
'1'''''' 1,:glllal11 .'" Condic;:oes e leis, no caso das ciencias socia is. !t,ID 
tI, , ,,"IIl'I IlIll'nlo problematico dado que 0 homem concede sl'lllpn' 
"Iltll itil,ado".'" 
fiHt' l1I t' () mnccito das ciencias sociais 
I'i .1 " 11 s(' a viragem intelectual de aceitar 0 modclo dOl dl'\ 
11 11111.1 tI.. 1IIII IIdo IIsico para claborar tambem uma "cicncia SOl i.ll': 
1.11' " 1/111'11\ i.1do h01l1cm. 0 fil6sofo Auguste ComiC (171)1{ IHr'7). 
1111101... 1, " I'~ 01" posil iv iSlI1o, desempcnharia em lodo esse 11I'l)lI ' ,,~.(j, 
Illdll 11111 1'11 111'1ess!'lIcial. A possibilidadc c a nccessidadl' dl' l'sl.llll' 
j. 11'1,1 till ItOIllC.'llI " sao, l'1Il lodo caso, idCias anll'riorcs a AII ):lI ,\1I' 
l' It , "",,11 	 IIIIH" I.II ti l' (; . Ryl,' "1\1 '/'If(' ({)//('('{,( oj'Mi//tI. Vl'I' (;IIIS( )N , () (II /" 
111',11 ' 1111 'I II 1111. Madrid: 'Ih ll<ls. 1')(,'). p. 1') "\ Sl'q. 
I d, d ,d , / -:11" 01,/1'11111 til' III /""'/11 ('/(/11 ('If ('i"If( 'Iit' ,</I, itlh'~. M""" 
I) 11.11 '.IJII" tI" 1'. , d,' ( ;11 ,1 ,11 i t' "1 .lll\ka ,Ie la 1'1I'l li, IIt'H ." V"I Iollllhll ll 
II , "I" ,I III...... 11.11< 11 II,'. II'i L" ,11 111'1 101111"1111', 
iLl, :oI,.! , tI. 1""1 WIII.III I" ..II< I II'·lh\ (I,,/••II',1I11I d,I ~,' It'I " H,.."H',II" lelt ,II" 
ill ill fl I!I 11111 ," 111,111 .• fi liI I', 11'1'1 :1(,1\ It 11/", '1111 oI,., /11"" ' /(1""11 ""Lllithl 1\11.,,\ 
Parle I 
Teoria, ltisl6ria e hisloriografUl 
Comte. Aparece ja durante 0 Iluminismo e e exposta por tratadistas como 
-Helvetius e 0 barao de Holbach. Da mesma forma que a ideia da irredutibili­
dade alma-corpo imp6s cada vez mais a necessidade de se criar uma ciencia 
da alma, as dassifica~oes primitivas das ciencias, como as de Bacon ou de Am­
pere, que tern tambem urn significado teorico, insinuam ja essa ciencia do ho­
mem-alma. Outro dos grandes pensadores ilustrados, Gianbattista Vieo, em 
seus Principios de uma Ciencia Nova, estabeleceu que nao h<i mais ciencia do 
homem que '0 estudo da Historia. Sob a "Historia" se subsume na obra de Vico 
o estudo cientifico do homem como oposto anatureza. 
A rela~ao entre ciencia natural e ciencia social tern sido objeto de espe­
cula~ao e de resolu~oes de todo tipo - quer dizer, pronunciamentos que, sem 
duvida, nao tern sido geralmente aceitos - desde que com Kant aflorou esse 
problema, passando logo pelos delineamentos filosoficos alemaes de tradi~ao 
kantiana do inicio do seculo 20, ate chegar ao historicismo, ahermeneutica e 
apolemica entre positivistas e dialeticos - induindo os dialeticos marxistas-, 
ja na segunda metade do seculo 20.6; As ciencias sociais registraram urn desen­
volvimento espetacular no quarto de seculo 'que sucedeu a Segunda Guerra 
Mundia1.66 
A ciencia do homem se diversificaria progressivamente num conjunto 
de disciplinas que sao chamadas as ciencias socia is, ou ciencias da sociedade, 
diversas disciplinas ou ramifica~oes que abordam os acontecimentos "cienti­
ficos" dq homem como ser social e que sao conhecidas tambem como ciencias 
65 	 Sao inumeros os escritos sohre essa rela<;:aoentre ciencia natural e ciencia social, a 
partir das posi<;:<:lcs que podem ser consideradas mais cl<issicas, como as de Windel­
hand, Rickert, Dilthey ou Weber, em todos os idiomas. Traduzidos para 0 castelha­
no, alem do texto de Piaget ja citado, podem ser consultados FREUND, J. Las teo­
rfas de ciencias humanas. Barcelona: Peninsula, 1975;WELLMER, A. Teoria critica 
de La sociedad y positivismo. Barcelona: Ariel, 1979; HABERMAS, J. La L6gica de Las 
ciencias sociaLes. Madrid: Tecnos, 1988; HOLLIS, M. FiLosofia de Las cienc,ias sociaLes, 
Una introducci6n. Barcelor-a: Ariel, 1998 (original inglcs de 1994). Existe uma boa 
antologia de textos de fil6sofos e cientistas sohre as teorias das ciencias humanas 
em MARDONES, J. M. FiLosofia de Las ciencias humqnas e sociaLes, MateriaLes para 
una Jundamentaci6n cientifica, Barcelona: Anthropos, 1991. Adisputa entre positi ­
vistas (analitiC0S) e dialeticos tern uma publica<;:ao chave, a de ADORNO, T. W cr 
aL La disputa del positivismo en La sociologia alemana, Barcelona: Grijalho, 1<)73, 
66 	 BELL, D. Las Ciencias Sociales desde la segunda guerm mundial. Madrid: i\liallza, 
I'm,1. i\ edi~ilo original inglcsa c de 1<)7<) l' (i' i l'I.'visada <'III 19112. 
Capitulo I 
Histdria e ilisloriografitl: os fllntiamenlos 
hllmanas, urn conjunto de disciplinas academic as cujas fronteiras estao longe 
(Ie serem claramente definidas - "ci~ncias': "humanidades': "tecnicas socia is': 
sao diferentes denomina~oes tambem atribuidas algumas vezes -, que eslu 
dam urn complexo numero de fen6menos, todos relacionados com a realida 
de especifica do ser humano, como individuo e como coletividade. Entre as 
(icncias sociais de maior desenvolvimento atualmente nos ambitos acadcm i 
( os e intelectuais estao a economia, sociologia, politologia, demografia, psico 
logia, antropologia, geografia, lingOistica, semiotica, historia (sic) e outras de 
II.tO menor interesse, Os desacordos sobre 0 carater "cientifico" dessas discipli 
lias, sobre sua dassifica~ao e hierarquia, sobre 0 verdadeiro grau de seu dest'll 
volvimento, sobre seus respectivos campos e suas rela~oes com disciplina~ 
,dillS, {oram e ainda sao objeto de especula~oes e continuos debates,67 
Em resumo, e possivel, no sentido pr6prio, uma ciencia do homcm, d.1 
·.11l iccl ade? Evidentemente, a resposta estcl .sujeita ao que se entenda por cil1/1 
1111, segundo urn maior ou menor rigor e ao que se entenda por homem c ~(I 
, It,t!l/(le. A possibilidade de uma ciencia do homem tern recebido, em lill h.l ~ 
I'" rit is, (res tipos de resposta. A dos que a afirmam; a dos que a negam; l', pOI 
,'dlilllO, a dos que creem que se pode fazer uma ciencia do homem, ma ~ quI' 
1",1,1 sera diferente da ciencianatural.68 Nao podemos aqui entrar na disC II <;!\.I(I 
dl'l.tlhada dessas tres posiyoes, mas podemos assinalar que, na realidadl'. II 
1'1 111> ICIIl a concentra-se em ton'1o da capacidade de explicar os fen6ml'lHlS SCI 
I I,lis (om relayao a leis bastante gerais, A possibilidade disso afirma-sl' a p.1I 
III < 1.ls posiyoes positivistas - com autores como Hempel, Nagel, RlI~lllcr, W.tI 
!o l 	 () panorama descritivo mais completo desse mundo das cicncias so('iais wlllillll,1 
-'i:lldo 0 que ofcrece J. Piaget, "La situaci6n de las ciencias del homhre deil ifo dd 
~i"I I' llIa de las ciencias", que c0 capitulo I da uhfa 'Ic/Ukm:ias tie III iIlVI',\lij!1II1tl1l <'II 
/'1' ci('//cills soc:ialcs. Madrid: ~Iianza : Unesco, 1<)75. p. ,1-1 - 120. Os PUSic:ioll:lIllI'IIIlI'o 
.It' I' iag<'l sao, el11 lodo caso, l11uito discutiveis em divcrsos ponlos (k Slla~ "1'11I"lt' 
"..Ill'<' a elllidadc dc cada lima dcssas cifncias C de lIIodo parliclilar sohre ,I III~h l 
I i,l (II isloriografia). Vcr lambcm Mi\ IU)ON I;,S, J. M. I,'ilo-,o/III i/I'lm 111'11< 111\ //11/1/ " 
Iltl \ (' w, ;I/k.<, MII/{'f'illil's {/(1m l/I/(I/illllil/IIII'IIII/(iclll (il'IIJI/iel/. lIar< ('1011,'1: AIIIIII",,"'" 
I OJ" 	 I. 
I'll 	 1\ I"ClI'<lhla d(' IIl1la <il'lIda social dili:rcllh' da ( i('u<ia 11,'11111;11 ill< hll cI 'V"I ',\I\ 111.111 
II " i\ iI,ldi\,I" II lt' III ,I, qllc 1<' 111 St'll IJlillH'ilO l''' l'o.,i lllf .'1 11 Willdl'lh. lllcl. I",I,IIe,1-, , 
1IIII,llIhllll\.h' ' ,H II I.il l'IlIH' <'IaN , 1I111~ h,I I'II\III I.I' '1"<' 11 <'1\.11 11 'I"I' 1I111' 1 111I1I1 ' 1'~,\t' 
11.1 '11'm 1.1 I II !I 1(1 ,I .I" 1 I<'''I'(I~I\IVI'" 11 1 "<, ,,1 ,ll' il l,IVI'1 >il , ''',llIeI" "" IWIIII III V'I 
III 11,111"1, I I ,11,}mll/11I '/"/11 1111 '1"11,1:'" 11111 "" 1111 "11\11" 1" '1,1'111 
Parte I 
Teoria, hist6ria e hisroriogru[ul 
. 
lace, Braithwaite, etc. A impossibilidade a partir das antipositivistas em geral 
- Hughes, Winch, Searle, Habermas. Os partidarios dessa ultima visao negam 
que as ciencias sociais possam explicar como 0 fazem as . naturais. Urn caso es­
c1arecedor e0 de Peter Winch que, como muitos outros metodologos que cir­
culam na linha da hermeneutica de tradic;:ao alema;9ou na tradic;:ao weberia­
na, adjudica as ciencias sociais a capacidade de "com preen sao" e nao a de ex­
plicac;:ao, porque existe a barreira intransponivel do "significado", 0 "sentido" 
que tern as ac;:oes humanas e que constituiu a chave de seu entendimento.70 Os 
fatos naturais carecem desse significado ou sentido. 
Por sua c1areza argumentativa, outro exemplo notavel da posic;:ao nega­
tiva sobre a possibilidade de uma "ciencia do so<;ial" amlloga a ciencia natural 
e a do filosofo da linguagem John Searle, que as'sinala precisamente este como 
"urn dos problemas intelectuais mais debatidos de nossa epoca"/' A caracte­
ristica essencial dos fenomenos sociais, afirma, e seu carcher de fenomenos 
mentais, de onde se deduz a impossibilidade de sua reduc;:ao a termos fisicos, 
porque nao e possivel a reduc;:ao em materia de termos mentais. Os fatos so­
ciais tern uma semantica, alem de uma sintaxe ... 0 dinheiro, a~ revoluc;:oes ou 
as guerras sao, por exemplo, fenomenos sociais que nunca poderiam ser redu­
zidos a elementos fisicos e, portanto, dos quais nao se podera fazer ciencia.72 
A poIemica em torno do fato das ciencias socia is serem "ciencias, pseu­
dociencias, ciencias imaturas, ~iencias multiparadigmciticas ou ciencias mo­
rais"73 permaneceu, pois, aberta. As opinioes qut: negam a possivel cientifici­
dade dessa "ciencia social" revestiram-se, por fim, de multiplas formas/ 4 E, 
sem duvida, indiscutivel que as ciencias sociais nunca atuaram sob 0 auspicio 
de urn unico paradigma, no sentido dado por Th. Kuhn a essa palavra, de ex­
69 MACEIRAS, M.; TREBOLLE, J. La hermentiutica contemporanea. Madrid: Cincel, 
1990. 
70 WINCH, P. La Idea de una ciencia social. Buenos Aires: Amorrortu, 1972. p. 32 et seq. 
71 SEARLE, J. Mentes; cerebros y ciencia. Madrid: C ltedra, 1990. p. 81, no capitulo: Pers­
pectivas pa ra las ciencias sociales. 
72 Ibid, p. 83. 
73 HUGHES, J. La filosofia de Ia investigacion social. Mexico: FCE, 1987. p. 3334. 
74 GIBSON, Q. La logica de la investigacion social. Madrid: lecnos, I%H. '1(l(la a pri­
meira parte trata de "Posturas anticicntificas en torno a la inv('~l il\'" ilill ',II, i,l l". 
Capilulo I 
Histc>ria e historiografia: os fimdumenlOs 
Idl l :lyao do mundo do homem. Nao existiu uma visao absolutamente hegc 
lIuI llica e global, explicativa do humano, da mesma maneira que existiram l'S 
"I': sucessivas visoes globalizadoras na explicac;:ao da natureza. 0 proprio Th, 
11Ihn ja expos essa distinc;:ao.75 Isto conduz a que se diga que as ciencias socia is 
lidO podem estar sujeitas a urn paradigma unico e que esta e uma diferend .. 
~, III hasica em relac;:ao as ciencias naturais e urn claro indicador das dificulJa 
I ks dc se construir uma ciencia da sociedade. 
No que diz respeito a sua formalizac;:ao e grau de teorizac;:ao, da segll 
1.IIU,·a de seus metodos, existe uma clara hierarquia entre as ciencias sOliais , 
1: 111 sua epoca, Jean Piaget propos, senao entre as mais convincentes,pelos me 
IIc IS lima das mais c1aras dissecac;:oes da relac;:ao interna entre as ciencias sOliais 
I ' 'I'll', aUm disso, fez fortuna. As formulac;:oes de Piaget, ainda que dislUliwis, 
' ,1' 111 duvida, apresentam urn notavel interesse na problematica cOmum a III 
d>ls as ciencias sociais.76 Piaget fez uma peculiar reconversao da distinc,:;\O (.'11 
II,' cicncias nomoteticas e idiognificas introduzida por Windelband para GII'al 
il' 1 izar as ciencias naturais e as humanas, respect iva mente, estabelecendo '11 11' 
<klliro das proprias ciencias sociais ou humanas existem algumas espt'l ili ~,1 
IlIl'nle nomoteticas, quer dizer, capazes de estabelecer "leis" dentro de SCIi pro 
I" io lampo, e outras que nao alcanc;:am tal nivel.77 Piaget considerava !J ilt' ,1 \ 
• le llcias sociais poderiam ser divididas em quatro grupos: as nomotCtj(c/~, /11' 
(ili((l5, juridicas e filosoficas, segundo 0 que se expressa neste quadro: 
i'l 	KUIIN, T. I,a estructura de Ius revoluciones cientificus. Mexico: ~CE, 1'/11 (t-"I~,111 
original inp;lesa de 19fi2). Urn livro extraordinario que mudoll a coll1pn'(' II ,,,11I .1.1 
hisl(\ria da cienci<l. 
ill 	.i(1I na 111 os as id{'ias de Piaget do texto citado "La situaci{)n de las (il'lIrias .1,'/ h01 1l 
IlIc' d"lIlro del sistema de las ciencias", incluido IlO livro w\clivo I'IA( ;1''1', I., I .Ii 
·lhl/l/'IIei".' (!I' I" illvcsligad6n alias ciencias s(lciales. Mad rid: 111H'.~<"O : Aliall /,I, l 'I,!,i 
" . '1'1 1/(/. 
1'1 I'" I,ll \!, ('ssc' I II I' S II 10 cklilll'allll'nto e aU'ilo por Ilah('nllas. ( :1. IIAIIFltMA.... I. I" 
log II II tI,· I,, ·. c11'11' ill ' '/I' III It·.' . Ma,II id : 'Ih II"', I~!ll! , 1', '1.1 c't , (,C(. 
Parte I 
'feoria, hisl6ria e historiografia 
Quadro 2 - As ciencias sociais, segundo a classificarao de Jean Piaget 
Psicologia cientifica 
Sociologia 
Nomoteticas Etnologia 
LingiHstica 
Economia 
Demografia 
Historicas 	 JDisciplinas historiognificas I Historiografias setoriais 
juridicas Direito 
f Ciencias ju ridicas especiais 
Filosoficas· I	Logica? Epistemologia? 
As posiyoes de Piaget sobre a categoria das ciencias hist6ricas - aspecto 
que nos interessa aqui - estabelecem que tal tipo de ciencia tern relacrao com 
o desenvolvimento diacronico dos fenomenos sociais; ocupa-se da "restitui­
crao do concreto". Mas, 0 mais interessante de tudo: aparentam nao ser senao 
"a dimensao diacronica" dos fenomenos de que se ocupam as demais ciencias 50­
ciais. Dito de outra forma, se a historiografia tern alguma entidade estrutura­
da e a qoe as dimensoes de outras ciencias the concedem, ciencias estas cujos 
aspectos diacronicos saoconsiderados pela historiografia. Dessa forma, 0 his­
toriognifico, ou 0 hist6rico, nao constituiu urn campo autonomo de ciencia 
em si mesmo. Tal e0 ditame nada lisonjeiro de Piaget. 
As DIFICULDADES TEORICO-EPISTEMOLOGICAS DAS CIENCIAS SOCIAIS78 
Ainda que hoje nao se discuta de fato nem a pertinencia nem a neces­
sidade de disciplinas que estudem 0 que eespecificamente humano por meio 
de procedimento que se diz "cientifico", esta claro que se tornou mais aguda a 
78 	 Deve-se entender que prescindimos aqui de todos os problemas d(' l i l i!> I'lOl'ria 
mente rrtC'/ot/o/{/gico, pois IralarclIlos dessa <]lIcsl;IO na park <1;1 "h l.l lh'~IIII,I"11 .10 
111 \'11 )(11, I'. \ \11\\ [t'\ ill IlClll t:, Ii" I ·,lpitilio H. 
Capitulo I 
Histaria e historiografia: os Jimdamentos 
.llIvida sobre como se deve entender, no caso das analises das sociedades, esse 
, It Ijclivo tao utilizado, Nao se discute, igualmente, que tais disciplinas aprest'll 
1.1111 urn tronco unico de fundamentos e de problemas, mas que; muito al t-III 
"isso, 0 grau de desenvolvimento e dedominio cientifico de seu pr6prio Lalli 
po 6 altamente desigual se comparados com outras. Afinal, sao irrebativcis al> 
I" )sic;;oes daqueles epistem610gos e metodologos que negam a possibilidaJt' ~c: 
..,' lilzer uma ciencia do homem? 
o primeiro argumento que se deveria utilizar como resposta a tal per 
,:1I111a e que hoje as diferencras entre as ciencias sociais sao de tal dimcIlsao 
'III(' Cbastante improvavel que se possa dar uma resposta em qualquer sCflli 
.10 flU qual poderiam estar compreendidas desde a demografia e a ecoIlolll ia 
.1 ,lIllropologia e a historiografia, por considerar uma gama muito ampla ,Il­
""proximacroes cientificas" ao social. Portanto, nenhuma resposta seria hoj" 
IlIlt:iramente concludente e, ao mesmo tempo, 0 tema ja deixou de apaixolI' lI 
,,~ Ira ladistas. 
No terreno rieopositivista, autores como Ernest Nagel, ou 0 de II willl 
diY lIlgac;;ao, Richard S. Rudner, admitiram que no terreno epistcfIlohif',iu , 
" l( is lelll, para 0 estudo "cientifico" dos fen6menos humanos, aigulls 'OIl,1! 
"Ollanles negativos reais: 79 a relatividade das formayoes culturais C ilS 1"11> 'I( ' 
I iii is, a natureza subjetiva da observacrao e 0 vies valorativo da explil "tr,1 1! \ 11 
, l,tI . No terreno metodoI6gico, destacavam as necessidades de um.1 ifl Vl'Sli g.1 
\.1 0 nlllirolada e 0 conhecimento dos fenomenos sociais como variawis M'III 
III r slljcitas a mudancras. Mas a conclusao final eparecida em ambos os t"MI~ 
II:, proccdimentos da ciencia natural tern tambem seu campo de aplicat,:ao 11.1 
\ Ill llLia social. 
Marlin Hollis, num estudo mais recente, defendeu que as cic"ci a~ so 
lli ti S li'llI como objeto comportamentos que se originam nos estados Illelll .w, 
" ~ I'I( ' , portanto, sao ciencias essencialmente da "acrao", ou da relacra() cnl n.: ill'\ 
I1 11I ura l' a aC;;ao, e atualmente nao se pode dizer que sigam nem tenhall1 ,Il' ~(' 
glll r os rolciros das ciencias naturais. Hollis faz ver a diferenc;;a enlre as ('xp ll 
1'1 	 NA( ;1'1" E./ .iI eslruclura de la cienc;a. "roblemas de la I(},~icl/ de ,(/ illVl'Mlgm iOIl , /1'/1 
IiI'UI. 1Il/('IIOS Aires: Paid6s, 1<)7'1, cf. as sec<rocs tll1ais do livro, XIII, XIV,· XV, ,", 1,1 
IH Iilila ,kd icada aos prohlcmas da h isl <'1I'ia (hisloriogra IIa ). I{ ( 11 IN I'I{. It S. I 't/"'I I 
1111 tI,'11I1 inU' i" \ oo'illl. Madrid: Aliam.a, l 'l7l. 
Parte J 
Teoria, hisl6ria e historiografw 
cacroes por causas e as explicacroes por razoes e assinala como nas Ciencias so­
ciais tem-se tentado ajustar ambos os tipos de explicacrao dos atos humanos.8o 
Talvez 0 melhor procedimento para captar as reais dificuldades episte­
mologicas basicas que a construcrao de uma ciencia social apresenta e fazer urn 
percurso comparativo, de toda forma bastante breve, entre 0 que fazem as 
ciencias da natureza e os obstaculos que aparecem quando se busca aplicar es­
sas mesmas operacroes ao conhecimento pretensamente cientifico da socieda­
de. Faremos esse percurso da maneira mais sistematica possivel. 
a) A primeira das dificuldades refere-se aos modos de observa~ao dos 
fen6menos humanos e ao estabelecimento de uma correta descricrao deles, 
pois na observacrao da realidade encontra-se a origem de todo 0 processo de 
conhecimento cientifico. A impossibilidade da experimentacrao neste tipo de 
fen6meno, diferente do que ocorre com a maior parte dos fen6menos natu­
rais,''' e urn dos problemas mais importantes. Nao ap'enas se trata de dificul­
dades tecnicas, como de especificidades substantivas que a estrutura social 
possui, quer dizer, da qualidade fundamental da materia social que e a rejlexi- , 
vidade, ou a consciencia que tern de seu comportamento. A manipulacrao ex­
perimental nos fen6menos humanos "e possive! unicamente em condicroes 
preparadas e artificiais, tao artificiais que raras vezes as situacroes sociais tern, 
para os sujeitos submetidos a tais experimentos, urn significado equivalente 
ou companive! ao de uma situacrao natural".8' No entanto, e tambem reconhe­
cido, de maneira geral, que a possibilidade da experimentacrao nao e chave 
para a obtencrao de urn conhecimento realmente cientifico. 
b) A segunda dificuldade tern sidodesignada muitas vezes como a 
questao da objetividade, que se poe a mesa sempre que se trata de uma inves­
tigacrao s~cial. De forma equivocada, sem duvida, supoe-se as vezes que o pro­
blema da objetividade do conhecimento afeta apenas a materia social. A obje­
tividade do conhecimento humano significaria, em linhas gerais, que qual­
80 HOLLIS, M, Filosofia de las ciencias sociales. Barcelona: Ariel, 1998, Especialmente 
sua Introdu<,:ao. 
81 Esta claro que se excluem de tais fen6menos natura is testiveis os c6smicos ou os 
geol6gicos, por exemph 
82 WILLER, D. La Sociologia cientifica. Teoria y Metodo. Buenos Aires: A 11101'1'01'1 II , 
19li9. p. 211. 
Capitulo } 
Hislorja e lzistoriograJicL" os tu"damentos 
11"" 1 afirmacrao a respeito da realidade nao teria de estar "contaminada" pclof'> 
11I 1 "I ~' sses, os desejos, as preferencias ou os prejuizos dosujeito que conhCl~" 
1\1,,'. l'stamos aqui diante de urn problema filosofico, epistemologico, de r('so 
111,•.10 hastante dificil e que hoje podemos considerar, na maior parte dos \.'(1 
II',. , 01110 mal colocado. Nao existe nada parecido ao conhecimento absolul.t 
1111 II I I' objetivo em nenhuma esfera nem area do saber. 
Vale dizer que quando se afirma a verdade a respeito de algo, essa aliI' 
11\.1\ .10 parece mais fiave! quanto mais intersubjetiva,'quanto mais compart id.1 
1.1 101'.0 soci610go Norbert Elias assinalou a diferencra entre 0 "distanciamclI 
',1 ' '1I1C0 progresso do conhecimento humano consegue em relacrao a visao tI.I 
" II III eza frente ao "compromisso" que 0 homem ainda hoje nao pode, em gl' 
Iti . ('vi tar quando se defronta com fen6menos sociais. A atitude de compro 
111I1.',tl (', Hesse caso, urn obstaculo <10 conhecimento objetivo.83 Mas nao cxisk . 
II' 1111 11111 conhecimento, ao menos considerado globalmente, que estcja inld 
\.IIIWIl Ie livre dos compromissos de quem os propoe. 
( ) 1\ terceira dificuldade que se costuma assinalar afeta mais prof ull 
d,II\II'1I Ie 0 proprio significado do conhecimento do homem e da so~ it·d.1 
,I , . .... ohjdivos finais de tal conhecimento e seu valor real. Refere-sc a PO\ 
11'111I 1.lde de que os fen6menos sociais possam ser efetivamente explin"1,, ,. 
', 1111111 j:i propunha, desde fins do seculo 19, a ciencia social part idal' iu .1 ,1 
" · I/I/ ' /( ·(, II .~tI(). Ia nos referimos a funcrao explicativa ou comprcells iv.I d.1 
• II 1111 .1. ( ) problema e extrerriamente complicado para que possa sa n'so l 
\ 11 111 "111 POllCOS paragrafos e, ademais, voltaremos mais it frente ,. qlll'~ t l il l 
d .• , ' f' lil 'a~'ao da Historia, 0 que cabe agora dizer e que a capacidadc ex pl i 
, .III V,. d.ls cicl1cias sociais foi sempre uma questao discutida, n~io S(', IH I )<\'11 
1/,1" il l ' qll(, scjam capazes ou nao de faze-lo, como tambcm 110 dc <Jilt' (' ~\I' 
'. 1.' "'11 oiljctivo e nao outro. 
1\ pnglillta chave e, em ultimo caso, a qu~ se refere apr(lpria pOlis," lh 
,1 .10 hill' l'slalwlccer teorias para explicar conjuntos de fenClIllclloS Sill ia i ~, II 
'l ilt lin', Icva ;\ ql1estao tambem central da possibilidade de sc t'sla bc:l~'l l" h'l' 
!l1 1i " .... 1111 sl'ntido cstrito. Jean Piaget disse que as cicllcias sociais S~' t 0 1l11 1l 
\11,1111 1IIIIIIIall1l(,lIt(' com 0 estabelccimento de "rnoddos tdlricos" qlll' II 'VI IiI 
II ) I liA S. N. ( :(I/III' If"J/i.~p y "i.'llllIt illll lt· /III1 . 1I,II l ('l l HIII' PI ·lIfll~tl l u. I" "U, II ,lO ,'1',1"1 
Parte I 
Teoria. hist6ria e historiografia 
a interpreta<,:oes efetivamente verifiC<iveis, mas que nao deixam de ser esque­
mas logicos.81 
CONHECIMENTO CIENTIFICO-SOCIAL E HISTORIOGRAFIA 
E entramos agora no ponto nodal de nossa explora<,:ao: de que manei­
ra 0 conhecimento da Historia participa ou nao dessas caracteristicas e pro­
blemas do conhecimento chamado cientifico e, em particular, do conheci­
mento cientifico do social? 0 conhecimento historico pode ser considerado, 
definitivamente, como mais urn entre os conhecimentos cientifico-sociais? 
Ressaltamos, em primeiro lugar, que afirma<,:oes do tipo daquela feita ja ha 
muito tempo por J. P. Bury, "a Hist6ria e uma ciencia, nem mais nem menos", 
nao podem ser tomadas como algo alem de desejos voluntaristas expressos as 
vezes em frases engenhosas.85 Esses voluntarismos nao foram raros, em tem-' 
pos passados se disse muitas vezes coisas parecidas, desde meados do seculo 
19, pelo menos. Antes de Bury, Johann Gustav Droysen afirmava, em 1858, 
que as "ciencias historicas" eram parte das ciencias do homem chamadas 
"ciencias morais".86 Mas ao se iniciarem as tres decadas finais do seculo 20 po­
dia-se dizer que "0 estatuto da Hist6ria como disciplina permanece insolu­
vel"."7 E sobre essa questao cita<,:oes de autoridades podem ser acrescentadas 
quase indefinidamente. 
Ha diversos generos de questoes previas que deveriam ser elucidadas an­
tes de se buscar uma resposta direta a questao de se a Historia pode ser obje­
to de conhecimento como 0 da ciencia. A que queremos abordar agora e a que 
84 	 PIAGET, J. et al. Tendencias de la investigaci6n en las ciencias sociales. Madrid: 
Unesco: Alianza, 1975. p. 85. 
85 	 Essa frase foi pronunciada na se<;:ao inaugural de sua catedra em Oxford em 1902 e 
publicada em The Science of History. Foi publicada tambem em STERN, F. (Ed.). 
Varieties ofHistory. New York: Harper and Row, 1966. p. 210 et seq. 
86 	 DROYSEN, J. G. Historik: Vorlesungen tiber Enzyklopadie und Methodologieder 
Geschichte. Mtinchen: [s.n.], 1974. A edi<;:ao original apareceu em 1858. (Existc 
uma versao espanhola parcial. Hist6rica. Lecciones sabre la Enciclopedia y MClOt/olo­
gia de la Historia. Barcelona: Alfa, 1983.) . 
87 	 LEFf; G. History anci Social TI1I'0l"),. LOlldoll: I'h,' M erlill Press, I<)(,'J. fl. II. 
Capitulo 1 
His/6ria e historiografia: as fundamentos 
Ih , II( ccisamente a uma presun<,:ao que e incompativel com esse conhe­
•1\1 11 I h.' lIlifico: a de que a Historia e em si mesma uma realidade da qual 
I"" II haver senao urn conhecimento sui generis que nao e equipanlvel a 
1110111 1 Ill1lro, mas que pertence a uma categoria propria, a do "conhecimen 
l .hllll U 0". Sem prejuizo de voltarmos a esse assunto, estabele<,:amos agora 
,II' 1"'1 IIlais especifico e mais imaterial que seja 0 objeto historiografico, seu 
II I" • 1IIII'II to e, em sentido pleno, conhecimento social, objeto da ciencia so 
I, d l 'il'. l !) que 0 historico e uma qualidade do social. Por conseguinte, 0 deli 
III '"11 1110 correto de uma discussao assim nao pode ser feito senao no COil 
III 1;II. tI da "cientificidade" possivel do conhecimento do homem na tolali 
I,\!d•• k sellS enfoques, quer dizer, dentro do problema epistemologico geral 
h i. , 11111. ias sociais. 
Nan cabe negar, tampouco, que a velha polemica sobre 0 cientiJicisl//(/ 
III hila parte, uma disputa retorica e terminologica e, em outra parle 1;.1111 
. . 
I,ti,\ t ll ilsideravel, banal. Mas a alternativa do "vale tudo" pode ter efeitos Ill,li ll 
Iii 1'.1l I v()s ainda. Nem 0 cientificismo a toda prova, nem a postula<,:Jo li t' 11111 
,"tllI 'l imcnto sui generis ou uma forma a mais de mero conhecimento If , 
' ll1lfll. 1111 artistico, sao posi<,:oes satisfatorias como ponto de partida para 11'11 
1111 lI'sponder apergunta sobre a fiabilidade do conhecimento que c p()s~ivd 
.,IHI" da llist6ria. 0 certo e que so uma rigorosa pr<:itica regulada na Ob lc.'11~,'CI 
,It , tillltecimentos assegura sua fiabilidade logica. Deve-se aceitar a condi" .ul 
" ,I ,1 .'.!.,lI llen te formal dessas "ciencias historicas" que lhes e atribuida, CO III 0 vi 
11111'•• por Piaget?;'" deve-se considerar a historiografia nao mais do que 11111 lit! 
IIhllli!-I IIO descritivista, no nivel dos conhecimentos comuns, como 0 qUl' plO 
dIll .1 cr{) nica, ou uma narra<,:ao literaria, ou uma forma de descri<,:<lo lil o~(\!i 
f'l II rlislic<l do cursu dotempo, ou deve-se, ao contr{uio, considcr.i 1:1 1I 11H! 
dh iplina "explicativa"? E, em suma, qual e a rela<,:ao enlre as cii'ncias sod,li, 
\I li t! .. dl' sellvolvidas e a historiografia? f: este 0 tipo de perguntas qUi:, ~'1l1 1I0~ 
'..1 Pl'ili iao, pode valcr a pena abordar. 
A hisloriogralla chegou a ser, parlindo da cpoca de espicndor qll l' 1' ,11 
Idiulil l 011l as dClllais Cil' llcias socia is 110S Irinta anos qlle s(' s~·glli l .1I 1I .1 
lUi 	 I'I AI ;11.'1', 1.1,,1 "illl ;\( i()11 d, ' !as \ it'll< ias d" IIIOIIII" l' dCIII,() dd :;'., It'III.1 eI,' I.,., ,11' 11 
• III', 111 : I'IA( ;IiT, 1. ....1 ,I I, '/i'lId,',will', ,Ic '/II ,1I11I" " I!(I/tOll l'lIlr, \ I ,"11"'" ' II' ,1111'\ M,I 
.1'1'\ ' AII\III/ ., I IIII...~I) . 111/" 1', ~ 7 ',11 
Parle / 
7eoria, hisl6ria e historiogra{", 
Segunda Guerra Mundial, uma forma de investigac;:ao social cada vez mais in­
tegrada nesse campo do conhecimento. Apesar de suas origens rdativamente 
distintas, no seculo 20 a historiografia convergiu plenamente com as ciencias 
sociais. E, portanto, perfeitamente adequado sustentar que os problemas epis­
temologicos comuns a essas clisciplinas sao tambem os que se apresen'tam na 
historiografia, ainda que existam matizes particulares, na rpesma medida em 
que existem em cada disciplina concreta. 1sso nao tern rdac;:ao com 0 fato de 
que se possa discutir se a qualificac;:ao de ciencias no sentido estrito, "duro", · 
convem a esse conjunto de disciplinas. 0 que nao parecediscutivel e que, em 
.todo c~so, nao se pode negar~lhes a condic;:ao de praticas organizadas e siste­
maticas de tipo cientifico, sujeitas a urn metodo explicito, aceito e controlado. 
A imputac;:ao bastante comum a partir da metodologia da ciencia de que 0 his­
toriador nao explicita seus pressupostos, seus principios explicativos, pode pa­
recer precisamente contniria ao que se diz aqui.89 A unica resposta possivel e 
que, com efeito, nao ha pratica cientijica sem a explicitac;:ao de principios ex­
plicativos e·um processo metodologico. 
A pergunta sobre a natureza do conhecimento historico e, consequen­
temente, do mesmo nivel epistemologico que a que encontramos a proposito 
do conhecimento cientifico-social em seu conjunto. Poderia-se questionar se 
e inevitavel a disjunc;:ao entre conhecimento cientifico e' conhecimento co­
mum ou outras formas de conhecimento: nao existem formas de conheci­
mento intermediarias? Nao, nao ha situaC;:6es intermediarias, mistas, no co­
n\1ecimento, 0 que ocorre e que, em aparente contradic;:ao com 0 registrado no 
passado, hoje ninguem defende que entre 0 conhecimento cieritifico e outras 
formas do saber haja urn abismo intransponivel ou, dito de outra forma, que 
o conh~cimento cientifico seja uma forma monolitica: no conhecimento cien­
tifico existem diversos niveis.90 
De forma complementar, deve-se ressaltar que no interior das ciencias 
sociais existem profundas descontinuidades. Ha ciencias desenvolvidas e ou­
89 	 Com efeito, essa imputa<;:ii6 e comum no campo da filosofia analftica da hist6ria, a 
que pretende elucidar a forma como se constr6i 0 conhecimento historico. Ela 6 
feita por W. H. Walsh, A. Danto e tambem , em outro tcrreno, Paul Ricoeur. 
90 	Sao numerosas as argumenta<;:oes embasadas a n'.~p('il() d('ss;1 id6ia e se t'IKOlilralll 
em obras ja eitadas aqui, como as de ChaiIlIcrs, IIIIl\h\'h \. illlllg('. Cf. FI'.I{ NAN I )Fi'. 
IllJI':Y, F./~I ill/sitill cld II/('(Or/O. Id('(/.~ /111m 1111111, /1'/1'''''''111 "'1'11 (('III/'I '/lIdp, II,,,, do 
Capil'u/o I 
His/,)ri" e historiografia: os fimdamelltos 
tras nem tanto. 0 objeto da historiografia, como conhecimento que tern como 
eixo inevitavd 0 comportamento no tempo dos sujeitos e entidades socia is. 
que tern de conhecer atraves de pegadas e que so pode formalizar por meio d~' 
tipologias, e, sem duvida, 0 mais problematico dos objetos da ciencia social. 
Dai que, entre as ciencias sociais, a historiografia, por seu desenvolvimento l' 
status metodologico presente enquanto pratica cientijico-,soci"ai discipiinar, S( ', 
pode acabar sendo colocada nos niveis de baixa formalizac;:ao e generalidadt'. 
Existe urn campo comum das ciencias sociais que apresenta uma clara senw 
lhanc;:a nos objetivose problemas basicos. Os objetos especificos condicionaJ1l 
graus de desenvolvimento desiguais.. 
Em ultimo caso, cabe perguntar-se: e imprescindivel, ou mesmo illl 
portante, a exposic;:ao dessa ordem de questoes para 0 futuro da historiogra 
fia, para sua pratica como disciplina reconhecida e autonoma? Nao mais so 
bre a resposta, mas sobre a pertinencia da propria pergunta, as opiniocs COil 
tinuam hoje; sem duvida, tambem muito divididas.9 ' 0 ceticismo em tomo d,1 
utilidade e necessidade de "teorias" e de "metodologias" ebastante amplo ~' 
conta com uma solida tradic;:ao entre os historiadores. Eigualmente inl.'gfiwl. 
no entanto, que 0 desenvolvimento de certos setores da pesquisa historiognl 
fica, as praticas interdisciplinares e outras influencias propiciaram laIII h('11I 
maiores preocupac;:oes relativas a fundamentac;:ao. Disso depreende-sc que St' 
se espera reorganizar a configurac;:ao disciplinar da historiografia, 0 trallal"" 
cleve comec;:ar, indubitavelmente, pdo tratamento desse tipo de problclll.IS, 
(~ possIVEL UM CONHECIMENTO CIENTfFICO DA HISTORIA? 
A. Marwick assinalou, ha anos, comindiscutivellucidez que "0 gralld(' 
valor de urn debate como 0 que envolve a questao 'ca Hisl6ria lima l icllt i.lf' 
na: Critic;], 1991. lJmu posic,:ao cxtrcmamcnlc eril ica ~ idc:ia dc d i:' Il<'ia 111 0 1" ' ,1 ,I" 
racionalislllo (, a dc FFYERABEN[), 1'. COr/Ira el mftolio. Baret'lona: Arid , I'll] (" 
prillicira ('di,:ao (~ dc 1(70). [)c tom Illais profulldo l' in'\lIim (' do III <::'IIICI 1'1')'''''' 
h(,lId, Il;(ilogos .'olm' d (,()/IO(';mi('1IIo. Madrid: (:;ilcdra, 1'/'11. (TJ'adll~ idll d" fc<,101 
('III il;ili:IIIO.) 
'II 	 Soh,\, . 'SSt · p"l1orallla Ii;\ hoa.~ l ' Ollsi d l'ra~ lks 110 livl'O tic N( lIRl lil., (;, .'1" /1 1,'111'" 
' I ' "I' III I li' (ell ;11 . Malh id : l:rli ' 1l'~i s/( :,\\1'.1 ..,1, I lll)'/ . NI'sS\: ~,IMI il ll~'II'\:.'1 1',"11,., 1111 
1111'1111' ',\'11, Hplllll" '. ~" It... , 11 11'11101i,I, podl'!. 
Parle J 
Teoria, histdria e historiogmfm 
reside no modo como ajuda a esclarecer a natureza da historia (historiografia) 
e a delimitar 0 que a historia po de e nao po de fazer".'" A diferen<;:a entre 0 que 
faz a fisica e 0 que faz a historiografia nao pode, e certo, ser banalizada com a 
ideia de que em decadas recentes do seculo 20 a ciencia natural entrou na era 
do "relativismo", do "principio da incerteza", das logicas confusas e das certe­
zas probabilisticas, 0 que relativizaria a ciencia e suas exigencias estritas de 
metodo e resultados. Tem-se, as vezes, lan<;:ado mao de sse tipd de argumentos, 
que nao deixam de ser uma falckia, que desconhecem absolutamente 0 que 
tais coisas significam e, sobretudo, 0 caudal de trabalho "cientifico" que e pre­
ciso empregar para chegar a propria conclusao de que a ciencia nao da lugar 
a conhecimentos "seguros".93 
E inegavel que uma segunda questao previa a esse problema do grau de 
cientificidade que poderia oferecer urn conhecimento da Historia, como qual­
quer outro conhecimento sobre 0 homem, e 0 erro freqiiente de aborda-lo 
pelo caminho, empreendido tantas vezes, em que se pretende a equipara<;:ao da 
ciencia social com a ciencia natural. Atualmente, existe urn convencimento ge­
ral de que 0 caminho possivel e bern diferente. A ciencia da sociedade e urn 
tipo particular de ciencia e esta ligado a ciencia natural no mesmo sentido e 
grau em que a cultura hu~ana se vincula as condi<;:oes da natureza. Esse e urn 
dos convencimentos rna is firmes que derivam do progresso das ciencias natu­
rais em nosso mundo, em especial da biologia, do progressivo conhecimento 
dos codigos da evolu<;:ao genetica.A ideia de cultura esta passando por uma 
profunda revisao e por 1SS0 mesmo, obviamente, a ideia de ciencias da cultu­
ra.9<1 Ciencia natural e ciencia social sao equiparaveis em seu sentido profun­
92 MARWICK, A. The Nature of History. London: Macmillan, 1970. p. 98. 
93 Urn caso tipico dessa maneira de proceder e0 do Iivro de MARAVALL, J. A. TeoTia 
del saber histoTico. Madrid: Revista de Occidente, 1958 (2. ed. 1967), construido a 
partir da pretensao de que a Historia nao ernais probabilistica do que a Fisica e que 
sua significa"ao como ciencia ve-se fortalecida pela "incerteza" da propria ciencia 
fisica. 
94 Par'a essa revisao das ideias sobre 0 significado da cultura, ver algumas obras recen­
tes. No terreno antropol6gico, CARRITHERS, M. Por que los hombres lmemos cul­
tUTas? Madrid: Alianza, 1995 (I. ed. 1992). A partir da filosofia, MOSTER IN, J. i"i­
losofia de la Cultum. Madrid: Alianza, 1993, e SAN MARTIN SALA, J. 'I'c:or/II riC' III 
Cullum. Madrid: Sintesis, 1999. Uma revisao das velha.~ idCias sobre a rda<;;to ('Ill rc 
biologia e cultura WII.SON, E. O. Consilil'II(,('. /.11 IIItitlml tid col/ocil1lit'llill. lIar<·,·lo 
Ila: (;alaxia (;III(,llhcf)\ (:irclilo dl' I.l'l h ll I"" 11)", 
Capitulo J 
[-[ist<Jria e historiograflll: os Jundmnentos 
ell) na forma de conhecimento que pretendem, no terreno dos principios epis 
II'JIlo!ogicos e dos fundamentos do metodo. Nao se trata do fato de terem 011 
1<'livos diferentes - n'ao sendo aceitavel a dicotomia entre ciencia explicativlI C 
\ It~ ncia compreensiva - mas de seus objetos se manterem bastante distantes." " 
Como no caso das disciplinas sociais em seu conjunto, pode-se acres 
q 'ntar tambem as opinioes de muitos tratadistas que tern negado a possibili 
d"dc de considerar a historiografia como uma ciencia. Isso afeta desde as pr6 
I'rias origens da teoria historiografica, posto que essa teoria constroi-se preci 
~,lIncnte no tempo em que a ciencia e 0 conhecimento por excelencia. Para 
litiS referirmos apenas ao ultimo quartel do seculo 20,96 poderiamos, a titulo 
til: l'xemplo, citar como defensores dessa posi<;:ao nomes tao ilustres como os 
.1(' 1'. Veyne, F. Furet, G. Duby, G. Elton ou I. Berlin, para falar somente dc his 
I(lriadores. Analisando essas posi<;:oes numa perspectiva historica, percc\w s~' 
'Ill(' quando se deu ao velho - e, na realidade, falso - problema da cientifid 
d.l ~k do estudo da Historia uma resposta ou solu<;:ao negativa, fez-se assim. ilt, 
ll lilllcira geral, a partir de U!l1a dessas considera<;:oes: a primeira, de quem neg,l 
ifill' sc possa construir urn conhecimento "cientifico" da Historia simplcslIll'll 
10- porque nao se pode a\can<;:<i-lo; a segunda, a de quem defende iguallll l'lI il' 
'1" l' da Historia nao se pode fazer, de modo algum, urn conhecimento (i t' 1I 11 
III \I, mas nao porque se trate de urn tipo de conhecimento inalcanrravd, I,.Ofl ll1 
lit I ,,<ISO anterior, e sim por crer que da Historia so se pode obter urn con lwn 
II It: II 10 sui generis, quer dizer, urn conhecimento historico, que nao eo CO 1111 11 11 , 
I It' ll 1 0 cientifico, nem 0 filosofico, nem pertence a nenhuma outra catcgori,l, 
',I'lIdO que forma uma categoria propria entre os conhecimentos posslwil>. A 
11i~ I(iria seria, junto com a Filosofia, a Ciencia ou a Religiao uma ('sp6,:it., li t· 
I tl llltcci mento da mesma qualidade. Existiriam urn "conhecimento hi :.16, jut 
, 11111 llIetodo historico, mas nao uma disciplina da Hist6ria, Esta scria ,I plI~i 
".1" de Bencdetto Croce, de Collingwood e dos idealistas. 
No t('freno oposto, quando a resposta foi positiva. as apostas a I, IVOI' 11,1 
de ll lit it.idadc foram tCilas a partir de posi<;:oes que aprcscntam tamllt'tll 111)1 ,1 
'I ', 	 1\ IIldhor ~xl'lic;I\'ao rcccnl(' desse prohlema c das proflilldas dilillddad,'" 41,1 .11'11 
< i;1 ~od;tl (. a .I,' I f( >I ,I.IS, M. hlom(/(/ iiI' IlI,< cil'llcill,< socil/h's. II;lIU'lolI,l : I\lld, 1')111i 
'II, 	 I )(.,~,. 111<",1110 ;1%111110 110 lasv .los 1I ,ltllwi~f, I~ IlII l i, , l lll il~o~, ,I parti. do M'lut" (II, 
1.,1.11 1'11,<1,. ,111 (,Ipilldo M'I', lIi ll lc' , 
Parte I 
TeoTia, hist6ria e historiogmfia 
vcis diferenyas entre si. Para comeyar, urn certo setor da historiografia rna is 
Iradicional, de car.iter "positivista", sempre falou, e continua falando, de uma 
"cicncia" da Hist6ria sem que haja, em ultimo caso, outra forma de conside­
rar essa express30 senao como metafora ou analogia. Seria 0 caso de G. Mo­
lIod, J. P. Bury, Henri Berr, mas tambem 0 de tratadistas mais recentes como 
Iialkin, Marrou, E. H. Carr, Federico Suarez ou Juan RegIa. Outra posiyao si­
lua-se na tradiyao germanica, que incluiria a historiografia entre as cicncias 
sociais de fundamento hermeneutico, historicista, como ciencias radicalmen­
Ie distintas da cicncia natural. Esta seria particularmente a maneira de julgar 
de fil6sofos e tratadistas fora do pr6prio campo historiografico, como Dilthey, 
Weber, Gadamer, Ricoeur ou Habermas. 
Uma terceira posiyao seria a sustentada pela metodologia neopositi­
vista, que defende que a ciencia da Historia deve operar, ao final das contas, 
com 0 mesmo mecanismo que todas as demais cicncias sociais, assimilavel, 
por sua vez, it da cicncia natural. As posiyoes de metodologos como Hem­
pel, com sua conhecida intenyao de aplicar 0 modele nomologico-dedutivo 
il ('xplicayao hist6rica;7 ou E. Nagel, apoiam essa visao. Enfim, mais uma po­
si~-a(), esta de historiadores, seria a que tern falado de uma "ciencia social his­
lI'nic,," ou "Hist6ria cicncia social" (Social Science History), corrente de que 
p,lrlicipam opinioes provenientes tanto do mundo anglo-saxao da Social 
'ic il'I I(C, a familia Tilly, D. Landes, M. Postan, Ch. Lloyd, como tambem do 
1',1'1 11I !l II ico da hist6ria social (a Historische Sozialwissensc:hachft) os Kocka, 
WI I\" kr, W. Mommsen e, em geral, a chamada "escola de Bielefeld":s Eesta, 
,,', 11 11 11"111<', a posiyao mais pr6xima da situayao das ciencias sociais. Tudo 
1,, ·.11 ·,l·rt1 I.dar da cliometria, plenamente caracteriz<ivel como "cientificista". 
(I "l lIl'l"llho da escola francesa dos Annales tern sido tao difundido por sua 
illllll (' llcia que quase nao necessita maiores comentarios. E sobre tudo isso 
h.IV....('1lI0S de voltar posteriormente. 
t)7 No capitulo 5, nos referiremos ao modelo de Hempel sobre a explicac;:ao hist6rica. 
'IX 11;(; I ~ RS. ( ;. C.; PARK EI{, II. T. lnlernalionaillamihook of ilislOricai Silldies. (;0/1 ­
'1'/11/'0"1/ y U"" ·lI r,.1c 1/1/11 Tlcmry. I.ondon: Melhllt'lI, 1979. p. 7. As cxprcss()CS citadas 
10,1,1 .I, ' ( ;"I li /'. (;. I "J\(·I~. 
C"I,illllo I 
ilistflrU:J e IIL.,toriogmfitt: os fimdimlelltos 
"Ciencia" versus "pratica cientifica" 
Seja qual for 0 resultado de tudo isso, a cientificidade da prcitica histo­
riognifica depende, antes de mais nada, do grau de elaborac;ao e aplicayao de 
'"11 metodo que part~cipe das caracteristicas da ciencia e se adapte, mediante 
11111 trabalho teorico rico e suficiente, as peculiaridades de seu objeto. A apli­
t acyao desse metoda, portanto, nao dispensa, de forma alguma, urn trabalho 
Il'(lrico paralelo. Nao ha uma hist6ria empfrica com pretensoes de conheci­
llIento cientifico se nao existe uma teoria da hist6ria. Quanto ao problema da 
ililpossibilidade de equiparar ciencia natural a ciencia social, isso reflete uma 
dilcrenya de carater metodol6gico ou supoe uma diferenc;a substancial e inso­
Ilivcl dos objetos envolvidos, como discutimos antes? Se nos concentrarmos 
110 terreno do hist6rico, do objeto historiografico, mesmo que mais adiante 
nos detenhamos sobre a natureza do hist6rico, digamos que mesmo sendo a 
difcrenc;a dos objetos substancial e insoluvel, 0 historiador nao pode fazer a 
dcscriy30 e materializayao da realidade hist6rica simplesmente a partir da 
(onsiderayao de que se encontra irremediavelmente recluso na prisao dasin­
,1!lIlaridade, na impossibilidade de generalizar. Pelo contrario, sua pratica deve 
recorrer a algo que e comum na ciencia: as generalizafoes, que sao uteis e ab­
solutamente necessarias no sentido de explicar a Hist6ria, mas que aqui nao 
parecem poder chegar a se estabelecer como leis. 
o conhecimento hist6rico nao pode estabelecer leis da Hist6ria nem, 
lIluito menos, produzir predifoes sobre a Hist6ria do futuro. Ambas as coisas 
sao atributos da ciencia no sentido "duro" e estao estreitamente ligadas. Em 
Lonseqiiencia, pode-se falar, rigorosamente, de uma Ciencia da Historia? No 
sClltido estrito da grande ciencia da natureza, como dissemos, da fisica em 
silas diversas variantes, incluindo a cosmol6gica, a quimica, e atualmente ullla 
grande parte da biologia, por exemplo, evidentemente niio. Mas convem LOll 
sidcrar duas nuances importantes. Primeira, que, contra 0 que acreditava Pill 
g<"l c acreditam tambem outros metod610gos, esse C0 caso geral das cil'nda~ 
s()ciais hojc, apesar dos consideraveis progressos de algumas delas cm dirl'~,lo 
:, '\il'ncia dura". Segunda, que nao cabe falar de cicncia somentc quando M' 
Irala de l'slahdecer leis universais e predicy6cs do fUluro. POlIe-SC chamal ti l' 
(ll llhl'Cillll'lllo cicntifi(o construcy()es cognoscilivas lit H.' lIao ChCgllC1I1 a ll'r lt · 
.110 d(' lalnivd. 
Parte J 
Teoria, hist6ria e hi5toriografUl 
No nosso modo de ver, 0 problema de uma ciencia da His~oria mani­
festa-se em tres elementos essenciais, ainda que nao sejam os unicos, inseridos 
em seu objeto, ou seja, na temporalidade do social, que prop6em quest6es 
epistemologicas ainda nao resolvidas para alcanyar um conhecimento cientf­
fico. Sao elas: a singularidade dos atos humanos, a globalidade do meio em que 
e possivel compreende-Ios e a temporalidade que constituiu sua sucessao. A 
tudo isso subjaz, nos parece claro, 0 fato de que para 0 conhecimento cienti­
fico e, sobretudo, para 0 conhecimento cientifico do social, uma dificuldade 
essencial e a explicayao da mudanfa, para cuja compreensao 0 homem tem 
descoberto ate agora um limitado numero de leis, desde aquelas de escala as­
tronomica ate as das particulas elementares. E, seguramente, na analise do sig­
nificado do tempo historico que a reflexao historiognifica precisa insistir mais 
e e tambem ai que, com toda probabilidade, encontra-se a chave da constitui­
yaO de uma verdadeira teoria do historico. Mas e possivel constatar hoje a 
existencia de uma visao teorica historizadora de tudo 0 que existe e conjeturar 
que 0 seu aprofundamento nao se deteni. Com a historiografia, como com ou­
tras ciencias sociais, se nao cabe falar de uma ciencia no sentido pie no, pode­
se dizer que nos encontramos diante de uma prtitica cientifica, e que nao re­
nuncia a se-lo. Tentaremos explicar 0 significado dessa situayao. 
Foi 0 historiador frances Lucien Febvre, um dos fundadores da escola 
dos Annales, quem, nos anos 50, falou com cautela e com certa imprecisao, 
mas com sagaz capacidade de observayao, do que entendia como pnitica da 
historiografia: 
Em minha opiniao - escreveria Febvre -, a historia e 0 estudo cientificamente 
elaborado das diversas atividades e das diversas criac;:6es dos homens de outros tem­
pos, captadas em seu momento, no marco de sociedades extrema mente variadas ... 
A definic;:ao eurn pouco ampla, (mas) em seus proprios termos descarta, me pare­
ce, muitos falsos problemas. A isso se deve, em primeiro lugar, que se qualifique a 
hist6ria como estudo cientificamente elaborado e nao como ciencia.9? 
Como traduzir e desenvolver essas palavras tao perspicazes no curso do 
que desejamos argumentar aqui? Febvre expressou ha cinqiienta anos uma ca­
racterizayao da funyao e resultado cognoscitivos da historiografia que, a nos­
99 FEBVRE, J.. Vivir la /-listoria. Palahras de ini("i:H i"'II . In: . (;omilil/('s {I(lr Ja 
Jlis/oria.llarn·lona: Arid, I 'i/O. p. -10. () 1'.1 do r 1111 '1'" 
Capitulo I 
l-list6ria e historiografia: os fundamentos 
\, I. 11;11) foi superada. A historiografia nao seria uma ciencia mas sim um es 
" , ( 1"Jlli{icamente elaborado. Como isso epossivel? Primeiramente, porquc 
!I,ll I, !llIo pr~fissional do historiador nao eum conjunto de atividades arhi 
11'11111'•• Illcramente empfricas, subjetivas e ficcionais, mas diz respeito, prind 
p 11 ,111" ' 11', a atividades que tendem a estabelecer conjeturas sujeitas a regras Oil 
!' I 1111 Il"os reguladores, a urn metodo. Quer dizer, evisivel que 0 trabalho do 
i" "11,1 III! lor adquire 0 rigor metodologico dos procedimentos da ciencia. E, elll 
HlO ldo lugar, porque 0 historiador trata de buscar, para os processos hisl(l­
I j ' ' " .Ie qualquer nivel, explicafoes demonstraveis, intersubjetivas, contexlu<l ' 
II,. I\',h. como as da ciencia, e que, conseqiientemente, pretende chegar a das 
i' I,oI,.I II!c procedimentos logicos conhecidos, explicitos e comprovados. 
( :aheria acrescentar que uma pr<itica cientifica, ou cientificamente rca 
ii -.ld.l . (: perfeitamente possive! mesmo quando desemboque em resultados 
' I' li IIt' ll I rheguem a ser teorias de valor universal nem possam estabelecer pre 
"",11I"" I~xislem aproximay6es cientificas que terminam nao em leis ou teorias. 
""t. 110 dcscobrimento de tendencias probabilisticas, de tipologias reduJlda ll 
111 1 da lIecessidade da concorrencia de elementos constantes e precisos para 
!'I' '.t' produzam certas conjunturas historicas. A isso se chega com 0 lIS0 d~· 
1" lit' ,tlizat,:iles empfricas, ainda que imperfeitas, e podem ser produzitlas l 'X 
101" ''',O(,S que, se nao sao completas, sao, certamente, refutaveis,falsel?v('i.~, 11.1 
to llili llologia de Popper, 0 que e uma prova de sua cientificidade. '1l1l Nao Sl' 
IIll'! h' (I I rabalho da ciencia somente pela generalidade de seu resulll.ltio, ili a:. 
I. IIlI l ...m por seu proposito e procedimento. As vezes considera-se correia a po 
1~.lp .lhSlllulamente erronea de que uma multiplicidade de explicat;ocs, Oil 
" hll " "',, dc lenlalivas de explicar, demonstra a debilidade cientifica dc 111 1111 
I" "."d,... () corrcto ejustamenteo contnirio: as propostas de explicat,:.10 1"1' 
I ",," til 't' de calegoria cientifica sempre que existe a possibilidade de MI. l 
•"" It 011 ta(;ao" com outras. 
t\ lIisloriografia, como todo discurso ou produto final qUl' rcslIlI ,1 dc ' 
1111111 1'/llI il'll (il'lllijlca, ou de uma ciencia plena, nan reprodllz IH'1I1 pre ll' " 
1110 ,\ I.·";,, d.· 1'01'1"'1' I'Ill n:I<I\'ao ao f;llsarionislllo ('I'xplir:ilacla enl Ill"ila~ 1',ISS.lflc· II '. " , 
II, ' tlilm. V," 1'( )I' I'I:, I~. K. It /.0 /c)gi, " cit' /" illl'('''igilrirlll fil'll/I{im . Madl lei : Ih II ..... 
1'1' 1 FSI'I" ,"11111'11 1.· OS , .!J Illl ti ll" IV •. \ I)" 111 \"1111 11 .1\ If \II • J(I,h'\l IIIIII/Il '/,'1, 111/(1, I 
1111,"/1' ' '''III1/ IHI ( '/IIIII'I/l//fI' I ' 1,./111111 /,11/1" Ihh'lIl1~ '\ "1 '\; 1'.li , h'I~. 111(". p.") \ , I 
',1'1 1 , I.olu., .1 " dt~ 11Mh Ih,lt,, " tl. i Ir, ltl •. 1' lu... .' I I-. .. t 
""
de reproduzir 0 mundo, 0 ambito dc sell campo de explo n ..; a o ~Il,1 .111( ' 11\ 
soluta complexidade, senao que prop6e modclos para torn;i -Io llIais inldi 
givel. A hist6ria total, entendida como a "historia completa de tlldo () q .... 
acontece", ou ('a reconstruyao integra do pass ado", nas palavras de Miclw lt-1. 
tomada emseu sentido literal, e urn absurdo ao qual nos referiremos nova 
mente mais adiante, 
Christopher Lloyd escreve que "'Historical science' is a defensible 110 
tion if is not considered in this quasi-positivist or indeed positivist way"~, Ii" 
Mas 0 que significaria exatamente uma "ciencia" que nao seja considerada no 
sentido quase-positivista ou positivista da expressao? lnicialmente, que nao 
caberia pensar na construyao de uma ciencia "totalizadora" do historico, uma 
ciencia das leis historicas,' Uma ciencia nao positivista do historicoseria nao 
aquela de algumas poucas "leis da Historia" plausiveis, mas de algumas con­
tinuidades ou ruptura~ estruturais e de pniticas humanas que poderiam ser 
essenciais I?ara ajudar a expIicar 0 que sucede em nossa vida presente, Em 
todo caso, 0 trabalho historiognifico rigoroso inclui os mesmos passos meto­
dologicos e a mesma necessidade de "teorizayao" sobre os fenomenos que 
qualquer outra parcela do conhecimento cientifico e social. 0 problema resi­
de hoje em que, ao jnexistir, no campo da historiografia, uma teorizayao acei­
tavel de fato, ao nos movermos em urn mundo de teorias nao especificamen­
te historiograficas, mas referidas genericamente ao comportamento social, 
nao podemos falar de uma "ciencia", senao, cautelosamente, da aplicayao 
mais ou menos bern sucedida e frutuosa do "modeli:> de trabalho" do cientis­
ta a pesquisa historiografica, 
Nao epresumivel que existam leis universais as quais se ajuste 0 desen­
volvimento historico, global, das sociedades, porque nao podemos estabelecer 
e, portanto, predizer em termos cientificos, 0 sentido de uma mudanya como 
a historica, Mas euma questao diferente a de que a historiografia se encontre 
suposta e eternamente prisioneira na jaula do singular, Sendo essa apreciayao . 
equivocadae por essa razao que, de certa forma, podemos falar de uma pniti­
* 	 Em ingles no original. " 'Ciencia hist6rica' euma no<;:ao defensavel se nao for con­
siderada no senti do quase-positivista ou mesmo positivista do termo". (N.T) 
101 	 UDYD, C. The Structures of History. Cambridge: Cambridge University Press, 
1993. p. 132. 
80 
"I " tl' i, • • IIB l 'I~'Jt I1 I1' ,.~ , ........ ". 
ii lili,.I II.1 h i~lcll lol\'."i .. NUll ha po:.si\l ilh l,ltit' dc IK':.qllil.,1 ~(HI(l lI i"lod 
! 11, 11" 
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II' "11\1' Ilt'lIh lllll olilm lipo. qlll' nao fa~a IIS0 Ill- .1!(·//I'/'IIl;z(/\,(//,s. () blo do 
11 ',11 " ,I 11i~I OI ia Sl'!' "I'llli( 0" lIao quer di:r.er qlle os "tipos" dl' kn(lmCnos his 
IO Il1tccidos sejalll irrcpctiveis ou que, sob uma tipologia slIlicil'ntl' 
iii I II I, 1',(' lll' l'alizadora, 11;\0 possam ser cxplicados muitos fenomenos part it'll 
"h'ssa idl'ia dc ~eneraliza'r~lo baseia-se 0 ldealtypus de Max Wchcr para 
' " os a::;peclos gerais dos fenomenos ou processos hist6ricos,"" Essa car"~ 
O1/.I~,10 (kpendc do nivel de fenomenos que estudamos. 0 comportamelll 
It 11'1 ,oral das sociedades mostra, indubitavelmente, regularidades, ao ",cnoS 
11)',tlIlS de seus niveis. Se a Hist6ria nao fosse mais que 0 desenvolvimelllO 
1111\1 11 .11' de individuos e grupos, 0 encadeamento de «fatos sucedidos", n~io s(' 
jllldl'lia estabelecer um conceito como 0 de historicidade, que dizer, 0 deillc.' 
h,I,Iv!.'1 sujeiyao ao tempo de tudo 0 que existe. 
(\ IIISTORlOGRAFlA, CIENCIA SOCIAL 
o historiador alemao Reinhart Koselleck, freqiientador dos problcnHls 
Ic'oricos da historiografia, escreveu que "a hist6ria enquanto ciencia nao lem 
lIotoriamente nenhum objeto de conhecimento especifico, mas 0 partilh •• 
10m todas as ciencias sociais e do espirito".'03 Essa afirmayao, que subscr('vc 
mos com alguma matizayao, jii vale por si s6 comouma definiyao comp\cta tla 
integrayao da historiografia no ambito das ciencias sociais e de seu complcto 
pertencimento a ele, E certo, porem, que, como ja se disse, aqueles que <lli ­
nham a historiografiano ambito das ciencias sociais sem maiores precisi.)cs 
cxpressam mais urn "wishful thinking", urn falar mais da historiografia qUI' 
'04
"deve ser" do que da que e. ,
Everdade que, na posiyao de certos autores e escolas que se tem OCU
cias 
pado da teoria social, 0 pertencimento da historiografia ao campo das cien 
102 M. Weber trata do conceito de idealtypus em muitas passagens de sua extensa obm, 
Cf. Ensayos sobre metodologia sociol6gica. Buenos Aires: Amorro rtu, 1982. 
103 R, Koselleck, Vergangene Zukunft . Apud MOMMSEN, W. J. La storia come sciellztl 
sociale storica.ln: ROSSI, P.(Ed.). La teoria della stDriografia oggi. Milano: Monda 
.dori, 1988. p. 85. . 
104 MARWICK, A. The Nature of History. London: MacMillan, 1970. p. 103. 
HI 
Parte 1 
Teori" hist6ria e historiograJia 
sociais ou e negado ou e enfocado de maneira bastante problematica. Em di­
versos tipos de classificayoes oficiais, supostamente cientificas e, ao final das 
contas, pr6ximas do burocratico, a historiografia (ou a "Hist6ria") nao apare­
ce entre as ciencias sociais. Catalogos da UNESCO, guias de estudos universi­
tarios, catalogos e prateleiras de editoras, livrarias e bibliotecas, etc... colocam 
a "Hist6ria" em local distinto daquele ocupado pelas ciencias sociais. Urn co­
nhecido soci610go, Daniel Bell, em seu relato dos progressos das ciencias so­
ciais registrados desde 0 fim da Segunda Guerra Mundial ate a decada de 1970 
nao s6 nao analisa a trajet6ria da historiografia - 0 que se poderia atribuir it 
falta de competencia ou desejo do autor -, mas esta disciplina nao e sequer 
mencionada entre as tais ciencias. '05 Trata-se de uma posiyao muito america­
na. Urn dicionario sobre 0 vocabuhirio das ciencias sociais, editado na Espa­
nha, nao inclui como tal a historiografia, nem a palavra "Hist6ria" nele apare­
ce em nenhuma das acepyoes que costumamos atribuir-lhe.106 
Ja conhecemos a posiyao de Jean Piaget que, sem expulsar a historio­
grafia do seio das ciencias sociais, a tinha por uma disciplina problematica, de 
forma que 0 historiografico seria dificilmente algo mais do que urn metodo. 
Urn soci610go de destaque como Talcott Parsons, pai do estruto-funcionalis­
mo na sociologia, fazia uma nitida distinyao entre a "ciencia social sistemati­
ca" e a "hist6ria" como pesquisa. '07 Para algumas das mais acreditadas tradi­
yoes te6ricas no interior das ciencias sociais, a Hist6ria nao e uma entidade 
passivel de ser pesquisada de forma autonoma por uma disciplina, senao que 
existiria, na verdade, urn metodo "hist6rico" - geralmente sinonimo de se­
quencia!, temporal, de t[(1S para frente, e pouco mais do que isso -, meramen­
te preliminar, de analises das realidades sociais no tempo.IOS Em outros casos, 
o historiognifico apresenta-se como uma contribuiyao a meio caminho entre 
105 BELL, D. Las ciencias sociales desde La segunda guerra mundial. Madrid: Alianza, 
1984. 
106 REYES, R. (Ed.). TerminoLogfa cientffico-social. Aproximaccii51l aftica. Barcelona: 
. Anthropos, 1988. A palavra Historia nao aparece neste diciomirio senao para expli­
car 0 conceito de "historia de vida". A palavra Historiografia, obviarnente, aparecc 
rnenos ainda. 0 mesmo ocorre no Anexo it obra pubJicado posteriormentc. 
107 	 "PARSONS, t La eslructura de La acci6n social. Madrid: Credos, 196il. I nl rodllc(i61l. 
108 Na realidade, urn dos pais da "prcccptiva" historiogrMica, (:har ll-s SI·igflllhos, lam 
bern acrcditavn l1isso, () 'lilt" IIlcn'n'li dl' L Pd lVr~' 0 U'I1I('II\ .il io 'I"" 1,1 " 11,('111 j,i 
"traIlSCn'V('I1It1S. M aih .u li ,, " I!" vo ll .1I 1'1111 ". ,I ,',,'., ' ,1,, ',111 11 \1, 
Capltll/o / 
IIist6ria e hiSl"Oriograji(l: os jiirul(ww"tos 
!! 11,11, .10 dc ideologias politicas, as "antiguidades", 0 jornalismo ou a de­
lI) J1,1111 1\lI\nio hist6rico para fins de exaltayao nacionalista. 
),1" .\s vczes, 0 historico aparece tambem como uma realidade nao re­
II 'I I)'. lIl1la outra em proposiyoes da ciencia natural ou de sua filosofia. 
I' I' 1I1o:;i<,:i)CS cientifico-filos6ficas atuais, em relayao a problemas basi­
II IIIUdo fisico, ou da cosmologia, apoiam claramente a expJicayao tem­
, IIIIIu l.l liva dos processos do universo, 0 que equivale a dizer a explica­
ii i .\/ 1111 .( ."'" Em outras ocasioes, no entanto, ocorre que 0 reconhecinlcn .. 
II! llllttli lo scnsivel nao leva necessari'amente ao reconhecimento da neces­
l,iilll ,l, 11 111<1 pcsquisa autonoma. °caso de K. R. Popper ao falar da Hist6­
I'" I,It.JI' Iivodos sociologos e urn exemplo ilustre dissO."0As posiyoes nc 
IV.I 	 11,11 1 ('sgolam 0 panorama das diversas teorias ou filosofias das ciencias 
11, 1101 illlportantes tradiyoes na pesquisa social cujo fundamento episll' 
!lh'llllllI " II ("cconhecimento da historicidade de todos os fenomenos socia is, 
1[!Ild, 11 1I 'h 11lO nao levando a urn reconhecimento imediato e explicito cia CII 
I'h li ,II hil> loriografia como disciplina social, conduz it considerayao oa I lill 
IliI • "" ttl lalm imprescindivel de toda pesquisa social, 0 que ja e algUlna wi 
( I IthtllricisIllO, a tradiyao marxista, a hermeneutica, a tradiyao wclwrill ll ii. 
IlIli ~ 11 ,,'l\le sociologia hist6rica, ou 0 estruturacionismo de Anthony (;i\l 
,"11M, ,'U llt· olllras, movem-se dentro da considerayao indubitavel do pc rl ~' 11 
Im. 'Hli. d.t hislori(ografi)a ao proprio campo de pesquisa da ciencia soda l. 
AII "I" cm meio a controversias, com duvidas e reticencias, a agil<II, ,1(1 
I ... " .1,1 Ill) 11111ndo historiognifico, especialmente desde a apclriy30 'dlls 1\ '1 
11/ /' '. It'! I Illli quc a relayao da historiografia com as ciencias sociais tn;li~ 
'I " ".lid.II I.ls s(' aprcsentassc, sobretudo no mundo frances, sob lima !lOV,1 
I " ' _\"'1 1iv.1. 1\111 mcio ao progresso da historiografia no scculo 20, Il l OIlI .1 11l 
Hl lIl II" ,Ivall<,os dcssas outras disciplinas foi determinantc. As "Filllsoti <l~ d,1 
I Ii~ I "" 1.1" , Oil Ii Illlanlm separadas e se huscou dassificar a hisloriogra Ii.I l'lIl 
I'i" 	 /I "lml llrici,lade" do Llnivcrso eh(}jc uma posic;ao ~cral da l"i(~I\(: ia :lllIpl,,"It''''' .11 
",, 111111., 'I"': \('111 IIllla imporlalllc rclac;ao corn a cOllsidl'rac;:ao glohal dlh ""111,, ", , 
III'~ 1,11 111,,' 111 IIa I'scala hllmalla. A qllcslao da "11"l"h" do Il'IlIPO", \111 ([ III' 1,11 ,11 ,1 I " 
,hllilioll , , '~ I :i 110 plallo c\<I I"ollsil"'ra~ao n'lllral dl' irrrv('l'sihilidadl' d c\~ l"O\l"''' ' ~ 
11 ,1 11.1\\ 11 /'/,1 , A., ... il1.11 11!1 10S csla qllcsl:\o ;r il1d a 'I"e' lIao I'"SS'"IlOS lilSl lll il ,1'11 11 '.1111" 
'"II,IIIII",,'S 1':lr:11I "hi:-h ll kitl:ldc" da~ lli'II~I,I~ S()t.i.II~ ( :I. I'IO(;()( 'IN!., I .,', II t J 
I " '. I{~ , I I" " ''''11(1 tI/ltl lI '" NII'/(I'/ IUlI,"!' .I,' 1" ,11'111 III. M,ll" I": I\ IHIIII,I , I 'IIHI 
I lit 	h" I , I 1/11'0,11 """/11/011 IIIWIII . Mill" 1,[ A".11 11 II I /IM I 1" 11 , l" I ~·, 11l1 
H~ 
algllm lugar no wnjunlo dos sabercs SOt i•• i... L. 1.1' I{oy ( ,.<lurk !I(.·slawlI h •• 
tempos como as cicncias sociais se tinham lrilllsfonllado (,'111 lima cspcci~: de 
"terceira cultura" entre a ciencia exata e as humanidadcs, dc onde sC 'prclcll 
dia expulsar a Historia. Mas 0 fato e que, "desde os tempos de Bloch, Braudcl 
, e Labrousse", diria esse autor, ocorrera na historiografia uma "transforma~o 
cientifica". A intenyao, pois, de expulsa-la do campo das cicncias sociais nao 
teria futuro. Nao seria possivel construir uma ciencia humana sem a dimen ­
sao do passado. III 
No mundo anglo-saxao, D. Landes e C. Tilly enfocaram a questao no fi­
nal da decada de 60 do seculo 20 a partir de urn ponto de vista diferente, pro­
pondo a possibilidade de que a historiografia, como prMica real de ciencia so­
cial, atuasse frente ao~ determinismos da cliometria. Para Landes e Tilly, seria 
clara a diferenya entre a forma de proceder de urn historiador inspirado pclos 
metodos da ciencia social e de outro, de orientayao "humanista".112 0 verda­
deiro interesse dessa oposiyao reside no fato de que responde de forma ade­
quada ao que seria urn trabalho historiogrMico orientado de acordo com urn 
mclodo comum na pesquisa social. Alem disso, ambas as praticas, a cientifi­
co-social e a humanista, nao sao excludentes em todos os terrenos, ainda que 
o sejam em alguns. Dai que muitos historiadores nao aceitem como real esse 
lipo de dicotomia e "combinem em seu trabalho e processo intelectual ele­
mentos de ambas as escolas". 
Josep Fontana, por sua vez, criticou sem rodeios 0 que chama de "a ilu­
sao cientificista"1J3 em certos setores da historiografia atual que leva a "bus­
car 0 auxilio de outras cicncias sociais". Fontana parece fazer alusao precisa­
menle aquelas for~as de aproximayao da ciencia, como a representada pela 
di(/metria, que tern comumente identificado a atividade "cientifica" com 0 
IIS0 das pniticas quantificadoras ou a outras que tern levado nossa disciplina 
aos limites das mais esotericas elocubrayoes do p6s-estruturalismo semi6ti­
III Apud LLOYD, C. The Structures of History. Cambridge: Cambridge University 
Press, 1993. p. 124. A citac;:ao esta em Entre los l-listoriadoreL. 
112 LANDES, C.; TILLY, C. History as Social Science. Englewood Cliffs: Prentice Hall, 
1971. p. 9 et seq. 
113 FONTANA, J. La Historia despues del fin de La Historia . Barcelona: Critica, 1992. 
p. 25 et seq. 	 ' 
84 
"'I".,flll IU " .Hh ll" " / '" "4 /1 ,1",.,,,,. ",. . 
I1.1 , I! 11 11 11 •• 11.1 suh;a/., ,KL'rladalllcnlc, a adverlencia de que 0 peri­
• 1I 111'1I h " Il'sidt' precisamcnle no entendimento equivocado dos 
''" ', I' " Ih II' II las lIa ciencia c do seu estado atual. Assim, muitas vezes, 
n, II I .I' .1I!:o qlle SL' desconhece ou cuja inutilidade e manifesta em 
11111'01\, " " 
Ifl i .. · .. II IlIO, a hisloriografia constitui, em ultimo caso, urn tipo parti­
I," i l. 111111 d . l ); pralicas cientifico-so~iais. E 0 historiador em seu pleno exer­
01 '111I1(llllIe acrcditou, na epoca contemporanea, uma maioria qualificada 
1 '1111 'hilI I ollsliluiu, a bern da verdade, nenhuma garantia -, tern se consi­
I ,H I .. 11111 pralicante do metodo cientifico. A Hist6ria, ou 0 discurso histo­
I ""lt II rh- 11m certo nivel, produz seus conhecimentos por meio de meto­
" II III I Ii lOS que constituem uma pnitica estabelecida, sujeita a regras. 0 
IIl l! ,I,· I\l'lIcralidade desse discurso e ainda baixo e a fragmentayao das prati ­
" Iomil- a aumentar. Mas eurn discurso obrigatoriamente sujeito a possibi­
1I. 1.1. 1t d\! lOmprovayao, como 0 de qualquer ciencia. Em todo caso, e inegavel 
I'" .1 hisloriografia como ciencia social necessita de fundamentayoes mais 
1t'111't do que as que possuimos hoje. 0 grau de desenvolvimento de tais fun ­
1.1 1111 Illos e, scm duvida, mesmo hoje, debil. E continuamos scm consenso 
l illoll ilo ao caminho que se deve seguir para urn progresso sustentado. 
( ) (:ONTEUDO DA TEO RIA E OS 
l:lINDAMENTOS DO METODO 
IIISTORIOGRAFICO 
Todas as ciencias sociais que se cultivam hoje, das mais antigas as mais 
I ('centes, coincidem ao menos em uma coisa: buscam sempre dotar-se de al­
I\llm conteudo explicativo de seu objeto que tenha 0 maior nivel de generali­
114 	 A confusao gerada pela aplicac;:ao de conceitos e elaborac;:oes te6ricas das ciencias 
fisico-rnaternaticas as ciencias sociais ou as humanidades, busc:ando-se analogias 
que sao puro disparate, tern sido objeto da recente e bastante conhecida critica de 
urn fisico escritor, Alan Sokal, dirigida sobretudo a obra de varios p6s-estruturalis-': 
tas e pos-rnodernistas franceses~ Este parece ser, de alguma forma, 0 perigo para 0 
qual adverte Fontana. Cf. SOKAL, A.; BRICMONT, J.lmposturas intelectuales. Bar­
celona: Paid6s, 1999 (primeira edic;:ao em ingles de 1998). 
85 
Capitulo / . 
Teoria, historia e liistoriogmfia 
Parte / 
Historia e liistoriografia: os jimdamentos 
dade, seguranya e consistencia e que, se possive!, alcance 0 nive! da teori(l. Ra­ 11I\((lria? Uma pergunta que po de e deve ser acompanhada, no entanto, de 
ras vezes ou nunca uma disciplina estabe!ecida e autonoma reconhece sua 1I111a possive!mente mais complicada resposta: 0 que deveria conter urn trata­
pcrmanencia no nive! da mera descriryao, inventario ou classificaryao de sua ,Ie I desse tipo? 
materia. Por definiryao, as materias disciplinares pretendem estabe!ecer conhe­ Ainda que tudo isso nao passe talvez do nivel do anedotico, representacimentos de alcance maior, no sentido espacial e temporal de seu objeto. Vl'rdadeiramente 0 sintoma de uma carencia patente, ao mesmo tempo que 
Os fundamentos anaHticos de qualquer disciplina, nas ciencias naturais III11a realidade incontormivel: seria impossive! que urn "Tratado de Historia" 
ou nas sociais, seu campo e objeto especifico, seu metodo e suas fronteiras - e IIlIlivesse"o estado atual dos conhecimentos historicos" porque haveria de 
no gerai, expansivas -,0 estadodos conhecimentos adquiridos, costumam ser , Ollter e!e mesmo toda a Historia Universal. Assim, pois, a referencia das pa­
expostos em urn tipo de livro que tern 0 nome ou a disposiryao de urn tratado 1,lvras de Vilar, se tomamos sua expressao no sentido literal ou a consideramos 
sobre a totalidade da disciplina em questao, nao se descartando a possibilida­ ',11 II plesmente uma analogia ou uma metafora, teria de ser urn tratado de con-
dc de que sejam dedicados a somente uma parte de!a."s Nos tratados, que re­ 11'1'1110 peculiar, so poderia refletir 0 estado atual da disciplina, nao 0 conjunto 
conhecem 0 estado das disciplinas cientificas em urn dado momento, ex­ ,k seus conteudos. Em suma, isso equivale a dizer que 0 possive! tratado de 
p()cm-se 0 corpo geral dos conhecimentos adquiridos por ela e 0 conjunto de II iSl6ria haveria de ser necessariamente urn tratado de historiografia, urn tra­
suas operaryoes de conhecimento. Quer dizer, e isso e 0 importante, tais trata­ (,Ido sobre a natureza e desenvolvimento da disciplina que estuda a Historia, 
dos con tern como norma geral 0 tipo duplo de "teoria" que corresponde as I"pela l6gica, nao poderia ocupar-se de outra coisa senao da teoria e do meto­
dllas dimensoes que uma ciencia abarca: seu objeto de estudo, de urn lado, e a '/0 de tal discip lina. 
li)J"Jlla de organizar sua investigaryao, de outro. 
o grande historiador Pierre Vilar escreveu essas palavras na primeira li­
' 1'1':( lI{lA DA HrSTORlA E TEORIA DA HISTORIOGRAFlA
lI"a dc urn conhecido texto sobre questoes de vocabulario e metodo histori ­
('Os: "tcnho sempre sonhado com urn 'tratado de Historia"', e acrescentava: 
hi ressaltamos, em paragrafos anteriores, a conveniencia e a necessida­
"pois considero irritante ver nas estantes de nossas bibliotecas tantos 'tratados' 
cie dc distinguir de forma rigorosa a realidade da Historia da disciplina que se(k 'smiologia', de 'economia', de 'politologia', de 'antropologia', mas nenhum de 
I" liP" de seu conhecimento e pesquisa: Os tratados que descrevem uma dis­1 II ,~ I \~ ri", como se 0 conhecimento historico, que econdirrao de todos os demais, 
, iplina ocupam-se tanto de seu objeto - nesse caso a Historia -, como dos . 1<1 tillt' lot/II sociedade esta situada no tempo, fossc incapaz de se constituir 
I!l occdimentos de seu conhecimento - aqui a historiografia. 0 objeto de co­
1111 11 1.' t. itncia"."6 Se a ausencia que Pierre Vilar lamentava responde a urn fato 
IIhecimcnto "Hist6ria" nao se toma urn tratado com 0 registro do curso da
I\·.d l" lIa() ha duvida quanta a isso - , por que nao se escreve urn tratado de 
II ist()ria scnao com a especularyao sobreessa pergunta que Lucien Febvre con­
·,idcrava cspinhosa: 0 que ea Historia? No entanto, essa pergunta, por sua vez, 
II ', Conviria assinalar que 0 fato de que nos pr6prios livros desse tipo nao apare<;:a a 
...., pode scr respondidano seio de uma questao mais ampla, a de como e pos­
I'alavra "tratado", termo que, certamente, tende ao desuso no meio academico, 
·.IVI'I ter lim conhecimento da Historia. 
nada altera essa situa<;:ao. Alguns exemplos de carater variado e c1assico poderiam 
" 
induir tratados de Economia tao amplamente empregados como 0 de P. Samuel­ A I('oria e uma questao bern diferente da filosofia. Decididamente, 0 
son , C:ursv de Economia Modema. Madrid: Aguilar, edi<;:5es a partir de 1950. Nao hll>l oriador nfio podc exercitar a funryao do filosofo, mas e preciso advertir 
Ilwnos coilhecida na ci€:ncia politica ea obra de M. Duverger, In/roducci(in a la Po­
11111.1 Vl'Z llIais, tcorizar sobre a Historia e funryao do historiador. Isso naolilim. l\an:c1ona: Ariel, edit,:oes desde 1972. Um classico tratado de sociologia eo di­
rigido pm CllRVITCII, C. 'I'm/ado de Sociologia. Buenos Aires: Kapcillsl. , 1%2.2 v. i ll'll('dl' qlll' "tcoria" l' "filosofia" da I Iisl6ria tcnham estado historicamente 
No lilll, lIao h;i disl'iplina SCIll sell "tratado". Il lU ,i l O rda( iOlladas t' a le allIalgallladas 110 pl'lISalllClllo ocidcntal, da mcs­
1.11, VII .I\ I{, I', 1/'1111 11 /01/ ,Ii l'O,,,IIIII,,rio tiel wltih.,i, '/i.,{,irim. Bal, d llll,1 , 11110 ,I . I<Jill) . 
I' 7 ( 1 1',11111 1' tI'l .1111111 
Parte 1 
Teoria, hisloria e historiogmfia 
rna maneira que tambem nao se tern conseguido distinguir com nitidez 
uma teo ria da Historia de uma teo ria da Historiografia. E, porem, comum 
que para encontrar respostas a essa tao mencionada e incontomavel per­
gunta, os proprios historiadores busquem ou se remetam aos filosofos. Esse 
e urn erro fundamental. Como tambem 0 epensar que se de va buscar a res­
posta em algo bern diferente como e 0 metodo correto para tomar possive! 
seu conhecimento; ou busca-la ainda, 0 que nao acontece com menor fre­
quencia, no estudo da historia da historiografia. Na realidade, refletir teo­
ricamente sobre a Historia ja equivale a uma primeira "pesquisa" a respei­
to dela, equivale a se propor averiguar 0 que ee como se manifesta 0 histo­
rico frente a nossa experiencia. 
Consequentemente, 0 que e e como hav~ria de se constituir uma 
teoria da historia e da historiografia? Mas, em primeiro lugar, 0 que se en­
tende, com algum rigor, por teoria? Fizemos referencia a essa questao de 
forma sumaria ao falar anteriormente do procedimento do conhecimen­
to cientifico; assim, limitemo-nos agora a insistir no fato de que a teoria 
pode referir-se a urn fenomeno,a urn conjunto de fenomenos, a urn pro­
cesso repetitivo e, tambem, a propria forma em que se pode conhecer isso 
tudo. Nesse ultimo caso, nos encontramos diante de uma "teoria do co­
nhecimento". Como vimos repetindo, a ciencia maneja ambos os tipos de 
teorizac,:oes. E no caso das ciencias sociais, tambern como ja dissemos, a 
maior dificuldade e a possibilidade de formular leis gerais. Ambas as di­
mensoes, teorizar sobre uma realidade dada e faze-lo sobre 0 conheci­
mento adequado ou possivel a respeito deJa, sao imprescindiveis no caso 
da Historia. E nao stfria demais uma terminologia clara que distinguisse 
entre essas duas operac,:oes. 
Para 0 historiador existem, pois, duas tarefas teoricas: uma, a de e!abo­
rar uma teoria constitutiva de seu objeto de trabalho e que nao e outra senao 
a teoria da natureza do hist6rico. Isso equivaleria a pronunciar-se sobre 0 que 
se chama Historia, 0 que e a dimensao historica para os seres humanos, 0 que 
e isso na 'experiencia de sua vida, como se manifesta essa atribuic,:ao de uma 
historia aos sujeitos e as sociedades, de que maneira se cria c sc cvidcncia a 
imersao no tempo, e outras questoes desse tipo. 0 que essa tcoria n~lo podc­
ra fazer, como nao pode a de nenhuma ciencia em rclac,:ilo a Sl'1I pn')prio oil 
.. 
Capilulo 1 
[[isloria e hisloriografia: os fundamentos 
1"iI" C atribuir urn sentido, uma finalidade ao curso da Historia, uma mellI , 
1'" l qlll' nao poderiamos argumentar sobre nenhuma dessas coisas com Os 
Ijl'll lllmentos de urn conhecimento demonstravel, contrastavcl, empir ic". 
,y,l' lipo de questoes e proprio do que se tern denominado a filosofia "sub.~ 
(:1 11 1iva" ou "especulativa" da Historia, a que 0 idealismo alemao do seculo jl} 
I ", ..~ itou no seu mais alto grau. ll7 0 propos ito e os meios do historiador v,l(I 
I II I ()II tra direc,:ao. 
1\ teoria da Hist6ria refere-se, entao, a isso, e tern sido sempre ullla 
'Ii ln ;lao dificil porque, comumente, e confundida com 0 "filosofar sobrea 
! 
11j·,II'lria". Desde Voltaire, pe!o men os, passando por Kant, Hegel, Marx, Dil ­
dw y. Rickert, Winde!band, os filosofos tern especulado sobre a Historia. Ue 
I " ,,'t, quando ja no seculo 20 estava plenamente constituida uma "disciplina" 
d" hisloriografia, pensadores sociais, filosofos ou historiadores de prollss;l() 
1111110 Croce, Ortega, Collingwood, Aron, Heidegger e muitos outros, prol()fI 
1:,1!'.1I 11 cssa reflexao amalgamando-a, muitas vezes, com as observac,:oes sol lll' 
fI', " Iipos de Historia" existentes, sobre seu metodo e sobre 0 oficio dc hi ~l o 
I j, II , I kgcl pensava realmente em substituir os historiadores nessa e!abOrJ~,Hl. 
( j l , IS() de Ortega y Gasset nao e menos explicito. Ele dira, como ja vimos, qlh ' 
I 1/ 	 Independentemente de mais adiante voltarmos a isso, sao imprescindiveis a l ~llIll,I " 
rclCrcncias bibliograficas c1assicas. Foi WALSH, W. H. Introducci6n a la jilosoJlrl Ii,. 
Iii historia. Mexico: Siglo XXI, 1968,0 primeiro a referir-se a duas formas dt' tilIlS" 
1:11' sobre a hist6ria, esta chamada substantiva ou especulativa e a chamada " fi l"MI 
fia analitica" ou critica, que trata das formas de conhecimento da Hist6ria. A lii, ) 
sofia do conhecimento da Hist6ria come<;a com 0 grupo de pensadores ao,~ q \I,II ,~ 
Raymond Aron agrupou como "filosofia critica da Hist(lria", a que chamllu 1:1111 
hCllI "tcoria alema da hist6ria" e que compreendia Dilthey, Rickert, SiJ1l1ud I' WI' 
he r, alguns dos quais nao sao fil6sofos. ARON, It La philosophie cri/illlle til' /'1' 1)/(// 
n'. h~ll; sur unc lheorie allemande de l'hisloire. Paris: J. Vrin, 1%9 (h,\ llllW 1I IIdll 
\ao cspanhola). 0 p[(lprio Aron praticou esse tipo de fl(osolla, ARON, R. IlI lmt/lI, 
';011 II III I,'iloso/lll de Iii [lisloria. 1!n5ayo soil((' los I[mill's til' III O/Jjl'/il';t/I/(/ hi\ IIII1I1I , 
(OIl/I,I,'llltio WffI /l'xIOS r('c;enll's. Buenos Aires: Siglo XX, I')IH. 7. v.l'odl' R(' VI" lilt ' 
1l,ll;rdo Il'C(' lIle Illuilo ('OJ1lpicIO de lIIosoli;r d.. hishiri;r '111(' illdui ;lIllh;rs 1'l'1~'l'n 
liv.ls , III\NAVI/) ES I.lICAS, M. I,'i/o"o/fll til' III lI;slori(/. Mau rid: Sill ll.'l>i s, II}II'I .,., 
p,lIli l dl' 11111 "" Ii ''1II<' ""lilo dili'lI'II1t" (:IHli" M.I,';/(I )(I/I(/ til' llI 11;\1",;" . /'.'1 dl'/I",. 
,"/I", l'IIII ' /III U" ' " 111 Y ,}//O,' 11/0"" '/1111 ' 11"'1'111 /'\ . 11,11'1 (' I O/ I.I ~ 1',lit!j,\. , ' I'll '1;1I11 1wlI' 
,,,11\'11 :., H. I h I.) . 1-1/'''/1/1/1 tldll 111 , 11111,/ . rvl. l( " It I' ' 11 0" ,), 1'1'1 \ (I ' III II 1,,1" '" 1,1 II " ,,, '" 
IIH'IILIII,I d, ' 1 " "SOh,I , ',j 
Parte 1 
Teor;", Izislliria e historiografia 
"nao se pode fazer Historia se 'nao se possui a tecnica superior, que e uma teo­
ria geral das realidades humanas, 0 que eu chama uma Historiologia".118 A gra­
tuidade de parte dessa afirmayao orteguiana nao diminui 0 interesse de seu 
alerta sobre a necessidade de que a pnitica historiognifica possua essa especie 
de teoria geral das ciencias humamls que ele chama "Historiologia". 
Dito isto, a teoria do conhecimento da Hist6ria e outra questao, e a se­
gunda dastarefas teoricas, aque de forma generica temos de considerar uma 
teoria disciplinar, que nesse caso seria a teoria da historiografia propriamente 
dita, uma teorizayao da disciplina da historiografia. Uma reflexao desse tipo 
se ocuparia daquele conjunto de caracteristicas proprias em sua estrutura in­
terna que fazcm com que uma determinada parcela do conhecimento se dis­
tinga de outras. Teoria disciplinar sera a que pretenda caracterizar, por exem­
plo, a economia ou a psicologia como materias com seu objeto especifico que 
nao se confundem com nenhuma outra. 0 aspecto medular da teo ria discipli­
nar esta em mostrar a forma como uma disciplina articula e ordena seus co­
nhecimentos e a forma como organiza sua pesquisa, assim como os meios es­
colhidos para mostrar suas conclusoes. No caso da historiografia, euma ana­
lise da construyao da disciplina que estuda a Historia. 
Esse tipo de teorizayao, evidentemente, tern sido muito menos cultiva­
do e rna is confundido ainda que 0 anterior. A teoria historiografica, confun­
dida com a metodologia, com a historia da historiografia, com a mera catalo­
gayao da "tematica" que a historiografia tern abordado sucessivamente desde 
a primitiva historia politica aamplitude de campos que hoje se cultivam, tern 
experimentado urn desenvolvimento bastante entrecortado. Ncsse caso, foram 
os historiadores de finais do seculo 19 os que mais se preocuparam com a ar­
ticulayao interna, 0' metoda e os objetivos do estudo da Hist6ria e das pecu­
liaridades da historiografia. Certas escolas, como ados Annales ja no seculo 
20, fizeram na realidade teoria disciplinar, e praticamente nada de teoria da 
Historia, apesardas agudas consideray6es de Febvre. 
Conviria assinalar, para terminar, que a pretensao de instituir uma , 
"hist6ria teo rica" e urn mero disparate retorico, demonstrayao de uma confu­
118 	 ORTEGA Y GASSET, J. Una interpretaci6n de 101 I lishlli.1 IJniwrsal. I-:tl lonto a 
Toynbee. In: Ohms comf11ew$. Madrid: 1~('vi ~t.1 .1(' ( Ii t It 1"111<' Alianza I~dilorial . 
1983.v.IX,p. H7- 14X. 
lAlpftttlo I 
Histllr;a e Izj,toriografia: os fimdilt1lentos 
.. 10 filos6fico-historiografica sobre a qual se deve chamar a atenyao. Ha quem 
111'el enda, com efeito, que os historiadores se dediquern a duas tarefas: "uma 
1".1 Iica': escrever trabalhos historicos, e "outra teorica, que os leva a refletir so 
I" (' esses trabalhos, sobre sua atividade e sobre sua profissao". E esta seglilldu 
.l'I i<l a "teoria da Historia", que se fa ria a partir de urn ponto de vista filos<'ili 
, t I, Jlropondo-se questoes sobre 0 sentido, a finalidade da Hist6ria ou sua f ll II 
.10 social, ou a partir de urn ponto de vista mctodologico, estudando e anali 
.. 11 10 SCLIS metodos e tccnicas de trabalho. A chamada historia teorica prelCII 
de pois, apresentar-se como urn trabalho "hibrido" entre "teoria da Hisloria" 
, "h iSl6ria da historiografia". A mistura da pr<itica, da teo ria eda filosofia, pOI' 
1.11110, {: 0 que parece convir adisciplina historiografica. Estamos, como C110 
Illrio, diante da confusao arquetipica em que se "hibridam" saberes e se des 
, till hece a pratica historiografica real. 119 
'\' , PH :ULIARIDADES DO METODO HISTORIOGRAFICO 
Sc vimos falando de uma estreita relayao teorica entre a natu n.'z ,1 dll 
11I',lorico C as suas formas de conhecimento, assim como da necessaria d isli ll 
, .. 10 ('lIlre ambas as coisas, e preciso reforyar agora a impossibilidade d~' 11 111 .1 
1"111 iii do conhecimento historiografico que nao estiver acompanhada d(' ,I" 
I,I'. LOllceps:oes tambern sobre os principios fundamentais do metoda. P4l1 
1','0 ' Ilslull1a-se assinalar, as vezes com muita confusao, que teoria e IlIclot/o 
It 'HIo I ('stao sempre unidas na pr<itica cientifica. Sem duvida, 0 me'lodll Sl' 
'1 111,1 nii scm pre de maneira bastante vinculada aos objelivos prL'lclldidm 
I" lit \Cillhccimento. Ainda que existam principios gerais de m{:lodo qlt ~' 1..1 
1111 11 '1 i",, 1ll precisamcnte todo procedimcnto de trabalho que Sl' prelt' Il,I .1 
'1t," II .... (i('IJlifiw, cada disciplina tern tambem peculiaridades de 1l\('lodo lilli ' 
I 10 It I Ik~vi r(ltanl essa generalidade. Convem, pois, expor agora alglllll il!> I .II.1t 
II I h il. ,I S ftllldallll'lllais e previas sobre 0 mclodo do Irabalho hislori' ll\I .,111 " , 
II') 	 i<"'fro lilt' a 11111 allior e duas de SIlas oilras, 1II':I(MEjO IIAIUU',I(A, J. ( ' iii 1IIIII1.1t 
/11 "/ \ /Wttl , 1 ;'/'lIy(l~ t/I' ilislflrill lei/rica. Madrid: Akal , I '>Hi, ". X, '-' FlltIIlw/II'III(1f/!1 11 
10.11/11/ tI" It, "/\/IIrt" . IlIlrot/'le';I/1I II Ie, "i.~lOri'l /I'( lti(" , Mad rid : t\k.1 1. 1' )11 1 p, I . '1111 , 
, tlUI\! " \ I'llI k VI'I \ p llhl i, a , IIr io Sll llu'IlI (' ,I " 11 111 \H111 \, 1t'l1I" atl ,I ',',II 1110 tl l'jllll ', , I" '!II'dIll .1,111 11 ill . II 
it 
Parte 1 
Teorin, histOria e historiograjia 
do que depois nos ocuparemos de forma detalhada em toda a terceira pari 
desta obra. 
o primeiro problema que esta analise traz e que a palavra metodll. 
vezes tambern a palavra metodologia, como ocorre com ciencia, com filos(//i" 
com tecnica e outras, aplica-se a tantas coisas e integra tantos contextos tli l 
rentes que, cada vez que se quer usa-Ia com rigor, e preciso primeiro uma tI 
pura<;:ao do sentido em que eempregada. Nao apenas na linguagem com'n 
mas tambern no terreno da prodw;:ao filosofica ou cientifica, a palavra IIH\h 
do acaba sendomuito pouco univoca. Em sua forma mais primaria, na I'lilll 
logica, cuja alusao resulta sempre util na hora de oferecer precisoes, m~1t 
quer dizer 0 percurso de urn "caminho", 0 que, por uma associac;:ao simple. 
nao forc;:ada, nos leva a ideia de "processo", "procedimento", maneira 011 j( 
de fazer algo. A partir de uma pOsic;:ao urn pouco mais restritiva, as (01"11111 
<;:6es filosoficas e tecnicas classicas, por exemplo, falam de metodo W il li! 
programa que regula previamente uma serie de operac;:6es que dewllI 
cumpridas e uma serie de erros que devem ser evitados para se akan,',lf III 
resultado determinado':'20 ou como "urn procedimento que aplica uma onl 
racional e sistematica para a compreensao de urn objeto':' 21 
Metodo de uma determinada forma de conhecimento sera, pois. (J \un 
junto de prescri~oes que devem ser observadas e de decisoes que devcllI SL'I 
madas em certa disciplina para garantir, na ,medida do p,ossivel, um wllh 
mento adequado de seu objeto. Dizemos prescric;:6es porque um melodo ~ " 
conjunto de opera<;:6es que estao reguladas, que nao sao arbitnlrias, 1Il.'~ III 
tern uma ordem e uma obrigatoriedade. Mas dizemos tambem (il-l:is(ln pn 
que um metodo nao e um sistema fechado; mas sim que, dentro dl' !-o1l.1111111'1 
de operac;:6es, 0 sujeito que 0 emprega deve decidir muitas vczcs pOl' ..i III 
mo. Em todo caso, ha determi~adas prescric;:6es as quais 0 mCtodo ('s la 111,11 
soluvelmente ligado: as da logica. 
As quest~es do metodo.hist6rico foram tambem objclo (k gnllllk .11('n 
c;:ao por parte de'muitos historiadores a partir da segunda 1111'1<ldl' do "'1111, 
120 LALANDE, A. Vocabulaire technique el crilillue ill' /11 I'hi/oso/,hif'. Pill i 
1, p. 624. 
121 REYES, R, (Dir.). '(hlllil/%Xfll cll'II/fli('(l '(I(ill/, 1I/llll1illlll lll lll IIflllll 11,1111 ·111" 
i\nlhrol'()~, I'JRX. p.1l0'). i\ tldilli\ao ,0 aqlli hllll.lII,1 tI, · M .I~ 1:"1 ...",,., "11' 1'"" 
.til' IIi .\(/( ill/ ~I "'///1" 
Capitulo I 
Hist6rw e historiografta: os fundametttos 
h, h i • • ",·,dl' 0 momenta em que a historiografia comec;:ou a se cons 
I" 11 111.1 dis(;iplina autonoma e seus estudiosos tenderam ase prolis 
11 1111/ 1'l'Okssores nas universidades. Os debates sobre 0 mclod\! 
I" .tll)llIl lo das pesquisas sociais foram sempre presididos por IIl11il 
... . " 1\'11 ,I wnsiderac;:ao de que 0 que existia realmente, e unicallll'lI 
II n"li",!" iIis(()rico que estava a disposi<;:ao de todas as ciendas sociai !-o 
1.t ,i;1I1I 11 ' 11 em contextos determinados; ou a considerac;:ao de \fll(' 
11;1\'1,11111101 disciplina cientifica, a historiografia, que era a pratican 
IiI! 1.1d, ' l,tlllIctodo e, em func;:ao disso, esta disciplina reclamava 11111 
I • 11' 111 ias da sociedade. Veremos que essas alternativas nao sao, 
I 	 111 ),1 11 11. 1, l'xcludentes: existe urn metodo proprio da pesquisa da 
Ii ' 11 1('\1110 tempo, uma perspectiva historica de toda pesquisa do 
/ 
iilll It l IIl1la perspectiva sociologica, economica ou politol6giGI d.1 
III 1,'11.1 M.lS () conhecimento da historia e seus problemas nao s(' 
hil , I'''I~, 0 llletodo da pesquisa historica e, sem duvida, uma pllllt· 
Iii" I I" "'I "isa da sociedade, da pesquisa social ou, se preferirnH)!-o. d .1 
II .1, ,1 I ' . , ~(It ial. Portanto, 0 metodo do historiador coincide, en I II( ,.1 
OIl! " d~' olll ..as disciplinas como a economia, a sociologia OLJ a .111 
i " ') IXl'IlIplo. 0 historiador estuda, como 0 fazem os eslwJiosm 
111"1 ,Ii", il'lillas,jcnomenos sociais. Mas existe uma peculiaridadc ~llI(' 
l,d" 11I"llI l'iogrMico sua especificidade inequivoca e e0 falo dl' 11111' 
',il h.!' • ""dol US 1;llos sociais sempre em relac;:ao com seu compor(tllJl('/I 
il . ii,," ',llI l1 il ica qllc na historiografia e normal que nao possa hawl 
Ilil/ wl/l lI .I,' "ubscrvayaO direta" da realidadc. Por essa c olliras 1,1 
T Ird 'I"I' ,I hisloriograila c, scm dLlvida, a disciplina social ql ll' fl,1 
I. I "' ·tlll 11111 Illdodo lllcnos f()('malizauo, mcnos eslrlllllrado soh", 
I II II "'H ,;,II, 
il! ji .. Illdo jln "prio 
iii ,.', ,.t lI""III, II.' Il)(' ~ , ('xisl l' "spl'cilil'allll'lIll' 11111 1lIltlodo hisl')1 i, (I 1
'
,1 
II Ii !lif,'II II V, 1'II II' ,I pl'sqllis,l glohal do prOl l'SSoll.'lllpUl'al d,l~ MIII,.d,1 
i i 'rilli ~ .Id l! 11 .1,. lod ." ," Pl'~qllll..IS t' 1'111 i lo~II,1 1II\'I( lIlolop,i,1 do '.,,, 1 • .1 
Parte I 
Teoria. lristIJria e histuriograjia 
tern tendido com bastante frequencia a fazer abstra~o do suceder em gue to­
dos os fen6menos e processos sociais estao imersos. A pesquisa da Hist6ria, 
sempre que se entenda que e uma pesquisa do passado, estani ligada a algumas 
peculiaridades e constrangimentos que nao se apresentam, ou nao se apresen­
tam da mesma forma, em outras ciencias sociais. De tais peculiaridades pode­
riamos desta~ar os problemas derivados da observa~o e documenta-;:ao, da 
temporalidade e os que provem da globalidade de todo 0 devir ·hist6rico. Es­
tamos, portanto, diante da realidade com 0 maior,numero de variaveis que se 
pode conceber. 
A primeira especificidade e a mais censurada do metodo historiognifi­
co reside, sem duvida, na natureza de suas [antes de in[orma~ao. A "materia" 
sobre a qual 0 historiador trabalha e de caniter muito peculiar: restos mate­
riais de atividades humanas, relatos escritos, relatos orais, textos de qualquer 
genero, vestigios de todo tipo, documentos administrativos, etc. Tem-se en­
tendido tradicionalmente que 0 hist6rico nao pode ser outra coisa senao "0 
passado"; veremos que isso nao e inteiramente correto e que 0 hist6rico nao e 
precisamente 0 passado mas 0 temporal, porem, 0 fa to e que as fontes de in­
forma<,:ao indiretas, o que constitui os vestigios, restos ou testemunhos, sao a 
materia informativa normal do historiador. 
o deposito chissico da documenta-;:ao hist6rica, ainda que, em absolu­
to, nao seja hoje 0 unico, e se aproximam mudanyas dnisticas no futuro, tern 
sido 0 arquivo. A caracteristica de todos esses materiais que se referem a uma 
atividade do passado humano e que nao podem ser procurados nem prepara­
dos pela pr6pria atividade do historiador, que deve limitar-se a encontni-Ios. 
Diz-se, por isso, que a historiografia e a ciencia social que nao pode construir 
suas fontes, elas ja se encontram feitas. Isso nao e, tampouco, absoh.itamente 
certo, nem na concepyao do que significam os dados, que nunca sao realida­
des espontaneas, nem na pr6pria natureza do hist6rico, pois existe uma hist6­
ria do presente cada vez mais afianyada, onde a quesUio se apresenta de manei­
ra muito distinta. 
A liga-;:ao do metodo historiografico ao ass unto das [antes e tao estreita 
que durante muito tempo a maioria dos tratamentos d:issicos do metodo his­
toriografico iimitou-se a tratar de forma quase exclusiva 0 prohkllla das "fon­
tes da Hist6ria". E isso tamocm deu lugar a cria-;:ao do Wllll' illl til' ", ii'lIl ias au­
xiliares da Hist{lria". Essa fillsa idt~ia de que a {illlie c'· 1111/0 1'.11 ,I II 11I',ltlll,l(lor r 
Capltlilo 1 
Historin e historiograjia: os [lIlIdamen/os 
,1 ,1, q ll(" Inais prejudicaram no passado 0 progresso disciplinar da hislo 
II Iii 1IIIIa fante de informayao nunca e neutra, nem e dada de anteJ1lao. 
, ~~.. I' lalllbemabsurda a ideia da "finitude" das fontes da Historia. lal 
iiili Ie i'IIll'IHliam os autores de preceitos como Langlois e Seignobos. Me... 
(Ii , :11'1 illicira vista nao pare-;:a, 0 historiador deve, como qualquer oull'Cl 
1111 .11 1111 social, "construlr" tam bern suas fontes, ainda que se 'enconln.. 
1·11" Icn tll ,lI lo para realiza-lo a medida que retrocede no tempo. Pesquisar a 
hHI,1 1"1111\ dc modo algum, transcrevero que as fontes existentes dizl'Ill ... 
IIi ' 111,.10 da I iist6ria, que e 0 resultado final do metodo de pesquisa, kill 
1\ 1111. 11 Iliidigivel e explicavel 0 que as fontes ofere cern como informa<,:ao. 
\ ~I')~lllida das grandes determinayoes do metodo historiogrcifico l~ 1\ 
II,il ' ,tI , i 1\'01 ILl (ll'rspectiva essencial da temporalidade como natureza do hisl6 
,1111. () metodo historiografico correto e0 que entende que investiga ~ I ' 
I'" ',. 111. 11 .1 II istoria nao emeramente descobrir coisas ocorridas no passa 
lel·l 1IIl'\I I1')!'ia se havia perdido, mas dar conta de como as sociedadcs !>l' 
111 111111, 1111 "l'voluem no tempo. Dai que se tenha dito que atuar Sell1prl' lh­
'c, I" "111 11111101 cronologia e outra das caracteristicas mais determinanll's el ll 
1,1, 1. '11 '1)\1 ,, 11( '0, Illas que a cronologia de forma alguma representa por si IlH'S 
I,' I II 1I 11'"I'.tlidadc. Nao ha hist6ria possivel que nao esteja pautada pd ~ 1 SII 
" , ," j 1" 111 pO.' J! e 0 estabelecimento d~ "epocas" historicas tern sidn I ru,1i 
,II ' loti II II lilt· olltra das funyoes da historiografia, mas a cronologia, dt' f( )I1 I1 .1 
1 1~ llItI' l . 1' ~I',()la 0 problema do tempo hist6rico e nao acaba nela a ncC('ssid,ltk 
II i Ii j ;; " II j, \C lor l' do metodo historiografico de considerar todos os fClltlllH:1I0\ 
111\ i'lh 11111 d.1 variavcl tcmpo. 
I' k l \ l'iro f,ranclc aspccto, no que diz respeito as particularidadcs do 
II!f!f!ol". II h' l( ' sc ao fain dc quc 0 proccsso historico de qualqucr ~ocicd,ltk, 
/iii 1Il101,',, dc' qll'''qllcr inslilncia humana cspccifica, lanto como a pn'lpria hi, ill", 1.~1I , '~( .1 1.1 IIl1iwrsal. s;10 rcalidades globais . .Qucr dizcr, a hisl{lI'ia lI l' 111 11 .1 
kil llile l\ ' IIIH' 1'111 si lolias as alividadcs quc os homclIs rcalizam C (lilt' ('S I .1I1 
iII l , · j,I~ .l cl oI" ,k lonlla illdissnh'lvd. /\ hisI6ria dl' lodas as soc.:il'dadl's du 11 11 11 1 
I .. I" II ',1101 VI' '/., SI' ('IKOlllra lamllt'lIl clllrl'la,:ada, Oil IClldl' a cslar. Ikss,l Itll 
I' ." ,I ) 11'.11 '11 i.1 (, M' lIIpl't· glohal. () problema do Illdodo hisllirico rl.'sidl' .H II II 
1,1 ' ,j, ,111 .11111" . I.lIlIlu'l11 111011\ .11 11111 11 (' IIl1 hl .,Io'I I\ ,ill f'\f\l'IlIIl., 11.111111'/,1tI" 1e<'"(1I1 I11,.11I 
'",. 
Parle / 
Teoria, his/oria e hislorwgra[1lI 
em como dar conta ou como representar essa hist6ri~ global, 0 que continua 
sendo urn problema nao resolvido, por mais que a ideia de uma hist6ria total 
tenha sido proposta muitas vezes. Na pnitica historiognifica concreta, 0 que 
ocorre com maior freqilencia e 0 contnirio: a fragmentac;ao da hist6ria em se­
tores, em especialidades, que atneac;am com fraturas a unidade da disciplina, 
mas que sa,o inevitaveis na pratica cientifica de hoje. 
Urn ultimo ponto e a preparaC;ao tecnica 40 historiador a que nos refe­
rimos anteriormente. Mas 0 fato e que urn dos problemas mais comuns que 
afetam a preparaC;ao e a pratica, nao somente do historiador mas de qualquer 
pesquisador social, e a freqilente confusao entre metodo e tecnicas. Para escla­
recer esse assunto, que e importante na pnitica cientifica, dedicamos mais 
adian~e espac;o suficiente. Podemos aqui adiantar que 0 metodo e urn conjun­
to de prindpios sempre ligados a teoria, enquanto as tecnicas, que sao as que 
realmente devem se adaptar em cada caso a natureza do objeto investigado, 
podem ser compartilhadas e sao intercambiaveis entre diferentes disciplinas. 
Uma boa imagem do que seria a preparaC;ao tecnica de urn "pesquisa­
dor social" foi descrita 'por J. Hughes nos seguintes termos: "consistira nor­
malmente em aprender a dominar as tecnicas do questionario; osprindpios 
do esquema e da amilise da pesquisa; as complexidades da verificaC;ao, regres­
sao e correlayao estatisticas; analise de trajet6ria, analise fatorial e, talvez, ate 
programaC;ao de computadores, formatayao e tecnicas similares". 123 Em que 
pese 0 tom .irremediavelmente tecnicista, inclusive mecanicista, dessa descri­
c;ao, e indubitavel que nela se fac;a urn inventario de habilidades sem as quais 
nao se concebe hoje 0 treinamento da materia social. E, tendo em vista que a 
historiografia e uma forma de pesquisa social, seria possivel pensar que tais 
habilidades se incluiriam no perfil da formac;ao de urn historiador? A luz da 
realidade atual, isso poderia nao passar de uma perigosa utopia ou, talvez, in­
clusive, uma profunaC;ao... No en tanto, ainda que custe a alguns, 0 futuro im­
pora muitas dessas tecnicas tambem ao historiador. E evidente que deveria 
impor algumas outras, por exetnplo a pratica da explorayao do arquivo c de 
outros tipos de Fontes nao escritas. Mas seria nos enganar nao admitir qU(o 
'uma suficiente preparaC;ao metodol6gica e tecnica ocupa urn lugar funda ­
mental no horizonte do futuro da tarefado historiador. 0 contra rio sigllifka 
nos condenarmos a fazer uma "rna" Hist6ria. 
123 I IlJC;1IES, J.I ,II (;/o,oITII til'/" iltl,.'~llg(/'Il I " \I" 1ft! "In\l n F(;I'. I'm /I' . 10. 
Capitulo 2 
NASCIMENTO E 0 DESENVOLVIMENTC) 
DA HISTORIOGRAFIA: 
OS GRANDES PARADIGMAS 
h (i(1 ncias hist6ricas estao incluidas sob 0 nome das ciencias morais (' sap 
uma parte dl'i(/ ~ . 
JOHANN GUSTAV iJl(OY"IN 
Histo rik 
I llrillvia, niio tern sido suficientemente estudada a hist6ria de nosslI (i. '1/1 /II , 
\" 111',1/(/ "'1// sido estudado, de preferencia, 0 aspecto extemo... mas niio 0 tI"",,, 
voivimento interno da pesquisa e da conceNiio IlisMl i. II 
ERNST BI'.I(NI II.lM 
Lehrbuch der historischcn Mdl!lIdt'.. 
II 'I\\O;<~ advcrtimos, este nao e urn livro de Hist6ria da Historiogrcl fiil . 
il ~1I1, II. tll, parecc pouco plausivel que 0 prop6~ito de estabcleccr lIllla tl.'lIIl,l
'I i i.,lul lol (' d.. historiografia possa ser levado a cabo sem uma considenl\,ul. 
,,, ," llnt 111 ( ' hislc'lrica, dos desenvolvimentos previos do pcnsamcllto c da pl.lli 
• 11I \IIII IClgralica ate sc chegar asituayao atual. A historiografia, tal ('()I\l (\ .1 , '0 
III"., Oil':' lIo;c, cOllstilui-sc at raves de urn processo cuja analise.: lIao podr ';,'1 
111 .11 I, kv.ldora para cxplicar tanto os avanc;os como as carcilcias de 11111,1 d l~o I 
1,lil LI ,pit" 1'llIt;l('(itcr f(mnal, tern pouco menos de dois sc:cllios dt'l'xi:.l~m il l I 
h il 10 U lll lllll' a tC'c;ria cleve ('star anllnpanlaada da iaist{lria quallto 0 l"OII IIoIlICl 
F~, lIlIill;l1' a laist{lI' iil do slIrgillwllto c (\tosC'lIvolviIlIC'lltO chi disc ipllll.1 
I' l ,d~II 'It~ .1 d,l hi~t()ri(\ ): rali a ", jlol'talllo, 11111<1 t;lId;1 I'ldilllill lil (' illo·vi l.IVI'I

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