Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ - UECE FACULDADE DE EDUCAÇÃO DE ITAPIPOCA - FACEDI LICENCIATURA EM CIÊNCIAS SOCIAIS ACADÊMICA: SABRINA BARROSO TABOSA DISCIPLINA: SEMINÁRIO DE DIREITOS HUMANOS E DIVERSIDADE CULTURAL PROFESSOR: ARTUR DE FREITAS PIRES PESQUISAS EM VERSUS – PESQUISAS COM SERES HUMANOS: LUÍS ROBERTO CARDOSO DE OLIVEIRA (PÁGINAS 33 – 44) ITAPIPOCA – CE 2025 RESENHA: PESQUISAS EM VERSUS – PESQUISAS COM SERES HUMANOS (AUTOR: LUÍS ROBERTO CARDOSO DE OLIVEIRA) O texto “Pesquisa em versus pesquisas com seres humanos”, do antropólogo Luís Roberto Cardoso de Oliveira, presente na coletânea Antropologia e ética: o debate atual no Brasil (2004), discute com profundidade a inadequação da aplicação de modelos biomédicos de ética à prática antropológica e às ciências sociais em geral. A partir da crítica à Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, o autor aponta como a imposição desse modelo revela um viés “biocêntrico” — ou seja, uma perspectiva centrada nos parâmetros e pressupostos da biomedicina — que desconsidera as especificidades epistemológicas e metodológicas das ciências humanas. Segundo Oliveira, ao tratar toda e qualquer pesquisa com seres humanos a partir de um único modelo ético, a resolução ignora a distinção essencial entre pesquisas em seres humanos, como as da biomedicina, e pesquisas com seres humanos, como as da antropologia. Nas primeiras, o sujeito é objeto de intervenção; já nas segundas, como no trabalho etnográfico, há interlocução, convivência, trocas simbólicas e construção conjunta do conhecimento. Essa diferença é fundamental, especialmente no que tange à exigência do chamado "consentimento informado por escrito", que, segundo o autor, pode comprometer o vínculo de confiança com populações ágrafas ou pouco familiarizadas com a linguagem legal e burocrática do Estado. O autor destaca ainda que, no campo antropológico, o consentimento é um processo contínuo e dinâmico, construído no dia a dia da pesquisa de campo. Como os antropólogos assumem múltiplos papéis no campo — ora como pesquisadores, ora como participantes da vida comunitária —, a relação com os interlocutores se dá por meio de negociação constante. A exigência de um documento formal assinado no início da pesquisa, portanto, não só é ineficaz, como pode causar ruídos na relação ética e metodológica entre pesquisador e comunidade. Outro ponto relevante abordado por Oliveira é que a antropologia já possui seus próprios instrumentos éticos, como o Código de Ética da Associação Brasileira de Antropologia (ABA), que assegura o direito dos sujeitos à informação, ao anonimato, à recusa e ao acesso aos resultados da pesquisa. Assim, o autor não propõe a ausência de regulamentação, mas sim o respeito à pluralidade de práticas científicas e à especificidade do campo antropológico. Dessa forma, a crítica de Luís Roberto Cardoso de Oliveira não se restringe à forma, mas se estende ao conteúdo das normativas éticas impostas por instâncias de regulação. Sua abordagem é propositiva ao defender uma ética situada, relacional e contextual, que leve em conta a complexidade das relações humanas nas práticas de pesquisa. Trata-se de uma chamada à reflexão sobre a ética não como um protocolo, mas como um exercício contínuo de responsabilidade e escuta. Em suma, o texto contribui significativamente para o debate sobre ética na pesquisa antropológica e evidencia o perigo de se aplicar modelos homogêneos e normativos a realidades múltiplas e complexas. Oliveira defende uma ética que dialogue com as práticas concretas, reafirmando o compromisso político, social e humano da antropologia com os sujeitos com os quais se relaciona e investiga. image1.jpeg