Logo Passei Direto
Buscar
Material

Prévia do material em texto

TEOLOGIA CONCISA SÍNTESE DOS FUNDAMENTOS HISTÓRICOS DA FÉ CRISTÃTEOLOGIA CONCISA SÍNTESE DOS FUNDAMENTOS HISTÓRICOS DA FE J.I.PACKERTeologia Concisa J.I. Packer © 1999 Direitos reservados por Editora Cultura Cristã Prefácio Teologia Concisa; síntese dos fundamentos históricos da fé cristã por J.I. Packer Trad. Rubens Castilho Campinas-SP: Luz Para Caminho, 1998. 246p. Conteúdo. Parte 1. Deus revelado como criador. Parte 2. Deus revelado como redentor. Parte 3. Deus revelado como Senhor da Graça. Parte 4. Deus revelado como Senhor do Destino. 1. Teologia cristã. I. Título. MAZINHO RODRIGUES ESTE LIVRO EXPÕE EM BREVES COMPASSOS Packer, J.I. o que me parece ser a essencialidade permanente do Cristia- nismo, visto tanto como um sistema de fé quanto uma forma de vida. Outros têm idéias distintas de como deve ser o perfil do Cristianismo, porém esta é a minha. É Reformacional e evangélica e, como tal, assim defendo, a corrente fundamen- tal histórica e clássica. Estas porções resumidas, que foram cialmente planeja- das para um estudo bíblico e surgem agora revisadas, têm um molde intencionalmente escriturístico e, como outros escri- tos meus, são temperados com textos para consulta. Sustento que assim deve ser, porquanto é básico para o Cristianismo o CDD-230 ensino bíblico como instrução do próprio Deus, emanando, como afirma Calvino, dos lábios santos do Altíssimo e che- gando a nós por mediação humana. Se a Escritura é, na ver- Edição: 1999 3.000 exemplares dade, o próprio Deus pregando e ensinando, como o grande corpo da igreja tem sempre afirmado, segue-se então que a Tradutor: Rubens Castilho primeira marca da boa teologia é procurar ecoar a Palavra divina tão fielmente quanto possível. Teologia é, primeiramente, a atividade de pensar e falar a Produção: respeito de Deus (teologização), e, em segundo lugar, o pro- LPC Comunicações duto dessa atividade (a teologia de Lutero, ou Wesley, ou Caixa Postal 130 13001-970 Campinas, SP Finney, ou Wimber, ou Packer, ou quem quer que seja). Como atividade, a teologia é como um prisma que decompõe a luz em distintas disciplinas, embora inter-relacionadas: elucidação de textos (exegese), síntese do que eles dizem sobre coisas EDITORA CULTURA CRISTÃ com que tratam (teologia bíblica), visão da fé expressa no Rua Miguel Telles Júnior, 382/394 -Cambuci passado (teologia histórica), sua formulação para a atualida- CEP 01540-040 São Paulo SP Tel.:(011) 270-7099 Fax.: (011) 279-1255 Cx. Postal 15.136 CEP 01599-970 de (teologia sistemática), busca de suas implicações para a E-mail: cep@cep.org.br Site: www.cep.org.br conduta (ética), recomendação e defesa de sua verdade e sa-anglicano e não presbiteriano. Entretanto, como a Confissão pretendeu ampliar os Trinta e Nove Artigos, e a maior parte bedoria (apologética), definição da tarefa cristã no mundo de seus autores era do clero anglicano, e como ela é uma es- (missões), absorção de recursos para a vida em Cristo pécie de obra-prima, fruto mais maduro da elaboração do (espiritualidade), adoração em grupo (liturgia) e ministério credo Reformado", como B. B. Warfield a chamou, sinto-me perquiridor (teologia prática). Os capítulos seguintes, em for- autorizado a reputá-la como parte de minha herança anglicana ma de esboço, exploram todas essas áreas. Reformada, usando-a como principal recurso. Recordando que o Senhor Jesus Cristo chamou aqueles Reconheço agradecido a mão oculta de meu muito admi- que designou como ovelhas apascentadas, em vez de girafas, rado amigo R. C. Sproul, de quem me veio a idéia-embrião objetivei manter as coisas tão simples quanto possível. Al- de vários destes esboços. Embora nossos estilos difiram, pen- guém disse certa ocasião ao arcebispo William Temple que samos de maneira muito semelhante, e temos cooperado com ele havia tornado muito simples um assunto complexo; ele sucesso em numerosos projetos. Sei que somos algumas ve- sentiu enorme satisfação e disse prontamente: "Senhor, que zes chamados de Máfia Reformada, mas palavras duras não me fizeste simples, faze-me ainda mais simples." Meus senti- quebram ossos, e vamos prosseguindo. mentos acompanham os de Temple, e tentei manter minha Agradecimentos são devidos também a Wendell Hawley, cabeça ao mesmo nível da dele. meu publicador, e a LaVonne Neff, meu editor, pela assistên- Como digo freqüentemente a meus alunos, a teologia é cia e paciência demonstradas de muitas maneiras. Trabalhar doxologia e devoção, isto é, louvor a Deus e prática da pieda- com eles tem sido um privilégio e um prazer. de. Ela deve, pois, ser apresentada de forma que desperte a consciência da presença divina. A teologia alcança o auge da J.I. PACKER sua perfeição quando está conscientemente sob o olhar de Deus, de quem ela fala, e quando está cantando ao seu louvor. Tenho também procurado ter isso em mente. Estes breves estudos de grandes assuntos se parecem, agora que já os escrevi, com os rápidos passeios turísticos da Ingla- terra, que companhias de ônibus operam para os visitantes americanos (quinze minutos em Stonehenge, duas horas em Oxford, teatro e pernoite em Stratford, uma hora e meia em York, uma tarde em Lake District ufa!). Cada capítulo é uma nota esboçada. Não obstante, espero que meu material comprimido, empacotador-empacotado [Packer-packed] como é, possa expandir-se nas mentes dos leitores para elevar seus corações até Deus, do mesmo modo que uma forma diferente de ar aquecido leva os balões e seus passageiros às alturas. Veremos. Minhas freqüentes citações da Confissão de Westminster podem levantar algumas sobrancelhas, uma vez que souÍndice Trindade 38 Deus é Um e São Três Santidade 41 Deus é Luz PARTE UM Bondade 43 DEUS REVELADO COMO CRIADOR Deus é Amor Sabedoria 46 Revelação 3 A Dupla Vontade de Deus é Uma A Escritura é a Palavra de Deus Mistério 48 Interpretação 6 Deus é Insuperavelmente Grande Os Cristãos Podem Compreender a Palavra de Deus Providência 51 Deus Governa Este Mundo Revelação Geral 9 A Realidade de Deus é Conhecida de Todos Milagres 54 Culpa 11 Deus Mostra Sua Presença e Poder O Efeito da Revelação Geral Glória 56 Testemunha Interior 13 A Glória Manifesta de Deus Requer a Glória Concedida A Escritura é Autenticada Pelo Espírito Santo Idolatria 58 Autoridade 15 Deus Exige Total Devoção Deus Governa Seu Povo Através da Escritura Anjos 60 Conhecimento 17 Deus Utiliza Agentes Sobrenaturais O Verdadeiro Conhecimento de Deus Vem Por Meio da Fé Demônios 62 Criação 19 Deus Tem Opositores Sobrenaturais Deus é Criador Satanás 64 Auto-Revelação 21 Os Anjos Caídos Têm Um Líder Este é Meu Nome Humanidade 66 Auto-Existência 24 Deus Fez Seres Humanos à Sua Imagem Deus Tem Sido Sempre A Raça Humana 69 Transcedência 26 Os Humanos São Corpo e Alma em Dois Gêneros A Natureza de Deus é Espiritual Onisciência 29 Deus Vê e Conhece PARTE DOIS Soberania 31 DEUS REVELADO COMO REDENTOR Deus Reina Onipotência 33 A Queda 75 Deus é Onipresente e Onipotente O Primeiro Casal Humano Pecou Predestinação 35 Pecado Original 78 Deus Tem Um Propósito A Depravação Contamina a TodosIncapacidade 81 Mediação 125 Os Seres Humanos Decaídos São Tanto Livres Como Escravizados Jesus Cristo é Mediador entre Deus e Homem Aliança 83 Sacrifício 128 Deus Faz Com OS Humanos Pecadores Uma Aliança de Graça Jesus Cristo Fez-se Expiação Por Nosso Pecado A Lei 86 Redenção Definitiva 131 Deus Legisla e Exige Obediência Jesus Cristo Morreu Pelos Eleitos de Deus A Lei em Ação 88 A Lei Moral de Deus Tem Três Propósitos PARTE TRÊS A Consciência 90 DEUS REVELADO COMO SENHOR DA GRAÇA Deus Instrui Coração e Limpa-o A Adoração 92 Paráclito 135 Deus Oferece Um Modelo Litúrgico O Espírito Santo Ministra aos Crentes Os Profetas 96 Salvação 138 Deus Enviou Mensageiros Para Declararem Sua Vontade Jesus Livra Seu Povo do Pecado Encarnação 98 Eleição 140 Deus Enviou Seu Filho Para Nos Salvar Deus Escolhe Seus Duas Naturezas 102 Vocação Eficaz 143 Jesus Cristo é Inteiramente Humano Deus Atrai Seu Povo a Si Nascimento Virginal 105 Iluminação 145 Jesus Cristo Nasceu de Um Milagre O Espírito Santo Dá Entendimento Espiritual Mestre 107 Regeneração 147 Jesus Cristo Proclamou Reino e a Família de Deus O Cristão Nasceu de Novo Impecabilidade 110 Obras 149 Jesus Cristo Era Totalmente Isento de Pecado Boas Obras São Uma Expressão de Fé Obediência 112 Arrependimento 152 Jesus Cristo Cumpriu a Vontade Redentora de Seu Pai O Cristão Muda Radicalmente Vocação 115 Justificação 154 A Missão de Jesus Cristo foi Revelada em Seu Batismo A Salvação é Pela Graça Por Meio da Fé Transfiguração 117 Adoção 157 Como Foi Revelada a Glória de Jesus Cristo Deus Faz de Seu Povo Seus Filhos Ressurreição 119 Santificação 159 Jesus Cristo Ressuscitou Dentre OS Mortos O Cristão Cresce em Graça Ascensão 121 Liberdade 162 Jesus Cristo Foi Elevado ao Céu A Salvação Traz Liberdade Entronizado 123 Legalismo 165 Jesus Reina no Céu As Obras Feitas em Favor de Deus Não Têm ValorO Mundo 216 Antinomianismo 168 Os Cristãos Estão na Sociedade Para Servi-la e Transformá-la Não Somos Livres Para Pecar O Estado 219 Amor 171 Os Cristãos Devem Respeitar Governo Civil O Amor é Básico na Conduta Cristã Esperança 173 Esperar é Fundamental na Perspectiva Cristã PARTE QUATRO Iniciativa 175 DEUS REVELADO COMO SENHOR DO DESTINO O Cristão Vive Para Agradar a Deus Oração 177 Perseverança 223 Os Cristãos Praticam a Comunhão Com Deus Deus Guarda Seu Povo Juramentos e Votos 180 Pecado Imperdoável 225 Os Cristãos Devem Ser Verdadeiros Somente a Impenitência Não Pode Ser Perdoada O Reino de Deus 182 Mortalidade 227 Os Cristãos Devem Manifestar a Vida do Reino Os Cristãos Não Precisam Temer a Morte Apóstolos 184 A Segunda Vinda 230 Os Representantes de Deus Exerceram Autoridade Jesus Cristo Retornará à Terra em Glória Igreja 186 Ressurreição Geral 233 Deus Estabelece Seu Povo em Uma Nova Comunidade Os Mortos em Cristo Ressuscitarão em Glória Palavra e Sacramento 190 O Tribunal do Juízo 237 Como Identificar Uma Igreja Genuína Deus Julgará Toda a Humanidade Presbíteros 192 Inferno 240 Os Pastores Devem Cuidar da Igreja Os Maus Serão Destinados ao Imfortúnio Perpétuo Sacramentos 194 Céu 243 Deus Instituin Dois Sinais da Aliança de Deus Deus Acolherá Seu Povo Com Júbilo Perene Batismo 197 Este Rito Revela União Com Cristo A Ceia do Senhor 201 Este Rito Revela Comunhão Com Cristo Disciplina 204 A Igreja Deve Apoiar OS Padrões Cristãos Missão 207 Cristo Envia a Igreja ao Mundo Dons Espirituais 209 O Espírito Santo Prepara a Igreja Casamento 211 O Matrimônio Deve Ser um Pacto de Relação Permanente A Família 214 O Lar Cristão é Uma Unidade EspiritualPARTE UM DEUS REVELADO COMO CRIADORREVELAÇÃO A ESCRITURA É A PALAVRA DE DEUS As tábuas eram obra de Deus; também a escritura era a mesma escritura de Deus, esculpida nas tábuas. ÊXODO 32.16 O Cristianismo é a verdadeira adoração e serviço do verdadeiro Deus, Criador e Redentor da humanidade. É uma religião firmada na revelação: ninguém conheceria a verdade sobre Deus, ou seria capaz de se relacionar com Ele de um modo pessoal, se Ele não tivesse agido primeiro para se fazer conhecido. Mas Deus agiu desta maneira, e sessenta e seis livros da Bíblia, trinta e nove escritos antes da vinda de Cristo e vinte e sete depois, compreendem registro, inter- pretação, expressão e incorporação de sua auto-revelação. Deus e a religiosidade são os temas unificados da Bíblia. De um ponto de vista, as Escrituras são testemunho fiel dos piedosos ao Deus a quem amam e servem; de outro ponto de vista, por meio de um exercício singular da divina supremacia em sua composição, são elas O próprio testemu- nho e ensino de Deus em forma humana. A igreja chama a esses escritos Palavra de Deus, porque sua autoria e conteúdo são ambos divinos. A garantia decisiva de que a Escritura, ou Bíblia, deriva de Deus e consiste inteiramente de sua sabedoria e verdade vem de Jesus Cristo e seus apóstolos, que ensinaram em seu nome. Jesus, Deus encarnado, viu sua Bíblia (nosso Velho Testa- mento) como instrução escrita de seu Pai celestial, à qual Ele, não menos que outrem, deve obedecer (Mt 4.4,7,10; 5.19,20; 319.4-6; 26.31,52-54; Lc 4.16-21; 16.17; 18.31-33; 22.37; 24.25- ensinam deve ser reverenciado como instrução autorizada de 27,45-47; Jo 10.35), e a qual Ele tinha vindo cumprir (Mt Deus. Os cristãos devem ser gratos a Deus pelo dom de sua 5.17,18; 26.24; Jo 5.46). Paulo se refere ao Velho Testamento Palavra escrita, e devem ser cuidadosos em basear sua fé e sua como inteiramente impregnado pelo "sopro de Deus" isto vida total e exclusivamente nela. Caso contrário, não pode- é, um produto do Espírito ("sopro") de Deus, tanto quanto O remos jamais honrá-lo ou agradar-lhe, como Ele nos ordena a fazer. é O cosmos (SI 33.6; Gn 1.2) e escrito para ensinar Cristianismo (2 Tm 3.15-17; Rm 15.4; 1 Co 10.11). Pedro afirma a origem divina do ensino bíblico em 2 Pedro 1.21 e 1 Pedro 1.10-12, e assim também O escritor de Hebreus por sua forma de citação (Hb 1.5-13; 3.7; 4.3; 10.5-7,15-17; cf. At 4.25; 28.25-27). Uma vez que O ensino dos apóstolos sobre Cristo é em si a verdade revelada nas palavras transmitidas por Deus (1 Co 2.12,13), a igreja corretamente considera OS escritos autên- ticos dos apóstolos como complemento das Escrituras. Pedro se refere às cartas de Paulo como Escritura (2 Pe 3.15,16), e Paulo, de forma nítida, recorre à Escritura do Evangelho de Lucas em 1 Timóteo 5.18, onde menciona as palavras de Lucas 10.7. A idéia de escritos orientativos do próprio Deus como base para a vida piedosa remonta ao ato divino de inscrever O Decálogo sobre tábuas de pedra e, em seguida, induzir Moisés a escrever suas leis e a história de suas relações com seu povo 32.15,16; 34.1,27,28; Nm 33.2; Dt 31.9). Meditar e viver com base nesse material foi sempre fundamental para a verdadeira devoção em Israel, tanto para OS líderes como para a comunidade (Js 1.7,8; 2 Rs 17.13; 22.8-13; 1 Cr 22.12,13; Ne 8; SI 119). O princípio, segundo qual todos devem ser governados pelas Escrituras, isto é, pelo Velho e O Novo Testamentos juntos, é igualmente básico para O que as Escrituras dizem, Deus diz; porquanto, de modo comparável somente ao profundo mistério da Encarnação, a Bíblia tanto é plenamente humana como plenamente divina. Assim, todos os seus múltiplos conteúdos histórias, profecias, poesias, canções, escritos de sabedoria, sermões, estatísticas, cartas, e que mais houver devem ser recebidos como vindos de Deus, e tudo 0 que escritores da Bíblia 4 5mento com Ele agora e para futuro não nos alcançarão, contudo, pelo texto, até que véu seja removido de nossos corações e sejamos capazes de compartilhar próprio sentimento do escritor para conhecer, agradar e honrar a Deus (2 Co 3.16; 1 Co 2.14). Impõe-se aqui a necessidade da INTERPRETAÇÃO oração, para que Espírito Santo possa gerar em nós esse sentimento e mostrar-nos Deus no texto. (Ver SI 119.18,19,26, OS CRISTÃOS PODEM COMPREENDER 27,33,34,73,125,144,169; Ef 1.17-19; 3.16-19.) A PALAVRA DE DEUS Cada livro teve seu lugar na progressão da revelação da Dá-me entendimento, e guardarei a tua lei; graça de Deus, iniciada no e atingindo seu clímax em de todo 0 coração a cumprirei. Jesus Cristo, no Pentecoste e no Novo Testamento apostólico. SALMO 119.34 Esse lugar deve estar na mente do leitor quando estudar texto. Os Salmos, por exemplo, moldam coração piedoso em cada época, mas expressam suas preces e louvores em Todos os cristãos têm direito e dever não somente termos de realidades típicas (reis terrestres, reinos, saúde, de aprender por meio da herança da fé recebida da riqueza, guerra, vida longa), que circunscrevem a vida de igreja, mas também de interpretar a Escritura por si mesmos. graça na era pré-cristã. A igreja de Roma desconfia disto, alegando que indivíduos Cada livro originou-se da mesma mente divina, por isso facilmente interpretam mal as Escrituras. Isto é verdade; ensino dos sessenta e seis livros da Bíblia é complementar e porém, as regras seguintes, fielmente observadas, ajudarão a autoconsistente. Se, apesar disso, não pudermos vê-lo assim, a evitar que isso aconteça. falta está em nós, não na Escritura. E certo que a Escritura Cada livro da Bíblia é uma composição humana, e embora nunca se contradiz em parte alguma; antes, uma passagem deva sempre ser acatado como Palavra de Deus, sua inter- fundamenta a outra. Este sólido princípio de interpretar a pretação deve começar a partir do caráter humano. Portanto, Escritura pela Escritura é, às vezes, chamado a analogia da a alegorização, que desrespeita O sentido expresso do escritor Escritura, ou a analogia da fé. humano, jamais é apropriada. Cada livro demonstra a imutável verdade acerca de Deus, da Cada livro foi escrito não em linguagem cifrada e, sim, de humanidade, da piedade e da impiedade, aplicada a situações forma que possa ser compreendido pelo leitor, a quem se particulares e ilustrada por elas, em que indivíduos e grupos destina. Isto é verdade mesmo nos livros que empregam se encontram. O estágio final na interpretação bíblica é simbolismo: Daniel, Zacarias e Apocalipse. O ponto central da reaplicar essas verdades a nossas situações pessoais de vida; mensagem é sempre claro, ainda que OS detalhes sejam um este é O meio para discernir O que Deus na Escritura está nos tanto obscuros. Assim, quando compreendemos as palavras dizendo neste momento. Exemplos de tal reaplicação são a empregadas, fundo histórico e a formação cultural do descoberta feita por Josias da ira de Deus contra Judá pela escritor e de seus leitores, estamos aptos a apreender as idéias falha em observar sua lei (2 Rs 22.8-13), argumento de Jesus transmitidas. A compreensão espiritual isto é, discer- sobre Gênesis 2.24 (Mt 19.4-6), e O uso de Paulo de Gênesis nimento da realidade de Deus, seus caminhos para a 15.6 e do Salmo 32.1,2 para mostrar a realidade da presente humanidade, sua vontade presente, e nosso próprio relaciona- justiça pela fé (Rm 4.1-8). 6 7Nenhum sentido pode ser lido na Escritura, ou atribuído a ela, que não possa, com certeza, ser extraído dela demons- trado, ou seja, indubitavelmente expresso por um ou mais de um escritor humano. Cuidadosa e devotada observância destas regras é a marca de todo cristão "que maneja bem a palavra da verdade" (2 Tm REVELAÇÃO GERAL 2.15). A REALIDADE DE DEUS É CONHECIDA DE TODOS Os céus proclamam a glória de Deus, e firmamento anuncia as obras das suas mãos. SALMO 19.1 + O mundo de não é um escudo que esconde poder e a majestade do Criador. Pela ordem natural, é evidente que um potente e majestoso Criador lá está. Paulo escreve em Romanos 1.19-21, e em Atos 17.28 cita um poeta grego como testemunha de que OS humanos são divinamente criados. Paulo afirma ainda que a bondade desse Criador é manifesta por meio de suas providências generosas (At 14.17; cf. Rm 2.4), e que ao menos algumas das exigências de sua santa lei são conhecidas de todas as consciências humanas (Rm 2.14,15), juntamente com a desconfortável certeza do julgamento final de retribuição (Rm 1.32). Essas certezas evidentes constituem conteúdo da revelação geral. A revelação geral é assim chamada porque todas as pessoas a recebem pelo simples fato de estarem vivas no mundo de Deus. Isto foi assim desde início da história humana. Deus revela ativamente esses aspectos de si mesmo a todos os seres humanos, de forma que todos OS casos de falha em render graças e servir ao Criador com justiça constituem pecado contra conhecimento, e negações de ter recebido tal conhecimento não devem ser tomadas seriamente. A revelação universal de seu poder, seu merecimento de louvor e sua exigência moral é a base da acusação de Paulo a toda raça humana como pecadora e culpada perante Deus por falhar em servi-lo como deve (Rm 1.18-3.19). 8 9Deus agora suplementa sua revelação geral com a revelação adicional de si mesmo como Salvador dos pecadores, por meio de Jesus Cristo. Esta revelação, ocorrida na história e incorporada à Escritura, e abrindo a porta da salvação aos perdidos, é geralmente chamada revelação especial ou específica. Ela inclui a declaração verbal explícita de tudo O CULPA que a revelação geral nos fala a respeito de Deus, e nos ensina O EFEITO DA REVELAÇÃO GERAL a reconhecer essa revelação na ordem natural, nos eventos da história, e em figura de seres humanos, de sorte que O que de Deus se pode conhecer é aprendemos a ver mundo inteiro, na frase de Calvino, como manifesto entre eles, porque um teatro da glória de Deus. Deus manifestou. ROMANOS 1.19 A Escritura admite, e a experiência confirma, que seres humanos inclinam-se naturalmente por uma forma de religião, embora falhem em adorar seu Criador, cuja revelação geral de si mesmo torna-o conhecido univer-sal- mente. O ateísmo teórico e O monoteísmo moral são opostos naturais: ateísmo é sempre uma reação contra a crença pré- existente em Deus ou deuses, e monoteísmo moral somente surgiu no despertar da revelação especial. A Escritura explana este estado de coisas dizendo-nos que O pecado do egoísmo e da aversão às prescrições de nosso Criador conduz a humanidade à idolatria, que significa transferir a adoração e reverência a outro poder ou objeto que não O Deus Criador (Is 44.9-20; Rm 1.21-23; 3.5). Desta maneira, OS humanos apóstatas "suprimiram a verdade" e "mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, bem como de aves, quadrúpedes e répteis" (Rm 1.23). Eles sufocam e extinguem, tanto quanto podem, a consciência que a revelação geral lhes dá do Criador-Juiz transcendente, e com seu inextirpável senso de deidade se apegam a objetos indignos. Isto, ao revés, leva a um drástico declínio moral, com a conseqüente miséria, como primeira manifestação da ira de Deus contra a apostasia humana (Rm 1.18,24-32). 10 11No momento atual, no Ocidente, as pessoas idolatram e, na realidade, adoram objetos seculares, tais como a empresa, a família, futebol e sensações agradáveis de várias espécies. Mas, O declínio moral persiste como resultado, tal como ocorreu quando pagãos adoraram ídolos literais nos tempos bíblicos. TESTEMUNHA INTERIOR Os seres humanos não podem suprimir completamente sua A ESCRITURA É AUTENTICADA percepção de Deus, bem como de seu julgamento presente e PELO ESPIRITO SANTO futuro; próprio Deus não permitirá que façam. Algum sentido do que é certo e errado, como também de ser subme- E vós possuís unção que vem do Santo e todos tendes conhecimento. tido a um Juiz divino, sempre permanece. Em nosso mundo decaído, todas as mentes que não estão de algum modo 1 JOÃO 2.20 anestesiadas têm uma consciência que, em certos pontos, as dirige e, de tempos em tempos, as condena, dizendo-lhes que devem sofrer pelos erros cometidos (Rm 2.14ss.); e quando a Por que OS cristãos crêem que a Bíblia é a Palavra de Deus, sessenta e seis livros formando um único livro de consciência fala nestes termos é, na verdade, Deus quem está falando. instrução, no qual Deus nos revela a realidade da redenção A humanidade arruinada é, em certo sentido, ignorante de por meio de Jesus Cristo, O Salvador? A resposta é que próprio Deus confirmou isto por meio do que chamamos a Deus, uma vez que que as pessoas gostam de crer, e de fato crêem, com vistas ao objeto de seu culto falseia e distorce a testemunha interior do Espírito Santo. Nas palavras da Confissão de Westminster (1647): revelação de Deus, da qual não podem escapar. Em outro sentido, contudo, todos seres humanos permanecem cônscios de Deus, de modo culpável, com desconfortáveis Podemos ser movidos e induzidos pelo testemunho da igreja a uma alta e reverente estima pela Sagrada Escritura. E a sacralidade do pressentimentos do julgamento vindouro, que esperam não se assunto, a eficácia da doutrina, a majestade do estilo, a harmonia de cumpra. Somente evangelho de Cristo pode falar de paz a todas as partes, a finalidade do todo (que é dar toda glória a Deus), esse aflitivo aspecto da condição humana. a plena descoberta que faz do único caminho para salvação do homem, as outras muitas incomparáveis excelências, e a sua total perfeição, são argumentos por meio dos quais ela abundantemente evidencia por si mesma ser a Palavra de Deus: não obstante, a plena persuasão e certeza que temos da sua infalível verdade e divina autoridade deve-se à obra interior do Espírito Santo que dá testemunho da Palavra em nosso coração. O testemunho do Espírito sobre a Escritura é como seu testemunho a respeito de Jesus, que encontramos declarado em João 15.26 e 1 João 5.7 (cf. 1 Jo 2.20,27). Não é uma questão de dar nova informação, mas de esclarecer mentes 12 13antes obscurecidas, que não discerniram a divindade por meio da apreensão de seu único impacto impacto, de um lado, do Jesus do evangelho, e, de outro lado, das palavras da Escritura Sagrada. O Espírito ilumina nossos corações para dar-nos a luz do conhecimento da glória de Deus, não somente na face de Jesus Cristo (2 Co 4.6), mas também no AUTORIDADE ensino da Sagrada Escritura. O resultado deste testemunho é um estado de espírito em que ambos, Salvador e Escritura, se DEUS GOVERNA SEU POVO ATRAVÉS DA ESCRITURA evidenciam diante de nós como divinos Jesus, uma pessoa divina; a Escritura, um produto divino de um modo tão Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para direto, imediato e impressionante como aquele em que gostos ensino, para a repreensão, para e cores se tornam evidentes por se imporem aos nossos a correção, para a educação na justiça. sentidos. Em conseqüência disto, não mais achamos possível 2 TIMÓTEO 3.16 duvidar da divindade, seja de Cristo ou da Bíblia. Assim, Deus autentica para nós a Escritura Sagrada como sua Palavra não por alguma experiência mística ou O princípio cristão da autoridade bíblica significa, por informação secreta sussurrada às escondidas no ouvido um lado, que é propósito de Deus dirigir a crença e con- interior de alguém, não por argumento humano isolado (por duta de seu povo mediante a verdade revelada que a Escritura mais forte que ele seja), nem pelo testemunho isolado da Sagrada anuncia; por outro lado, significa que todas as nossas igreja (comovente como é quando visto ao longo desses dois idéias a respeito de Deus devem ser medidas, testadas e, onde mil anos). Deus O faz, antes, por meio de sua luz perscru- necessário, corrigidas e ampliadas, tendo como referência tadora e poder transformador, pelos quais a Escritura atesta ensino bíblico. A autoridade como tal é direito, reivindicação, por si mesma sua origem divina. O impacto dessa luz e desse aptidão e, por extensão, poder de controlar. A autoridade no poder é O próprio testemunho do Espírito "pela Palavra e com Cristianismo pertence ao Deus Criador, que nos levou a ela em nosso coração". Argumento, testemunho de outrem, e conhecê-lo, amá-lo e servi-lo, e seu modo de exercer sua nossa própria experiência pessoal podem preparar-nos para autoridade sobre nós é por meio da verdade e sabedoria de receber esse testemunho, mas sua concessão, como a sua Palavra escrita. Do ponto de vista humano, cada livro concessão da fé na divina obra salvífica de Cristo, é prerroga- bíblico foi escrito para promover O serviço de Deus com mais tiva exclusiva e soberana do Espírito Santo. consistência e dedicação, e, de igual modo, do ponto de vista A iluminação do Espírito testemunhando a divindade da divino, toda a Bíblia tem este propósito. E uma vez que Pai Bíblia é experiência cristã universal, e tem sido assim desde deu ao Filho plena autoridade para governar cosmos em seu princípio, embora muitos cristãos não tenham sabido nome (Mt 28.18), a Escritura funciona precisamente como verbalizá-la ou manejar a Bíblia de modo compatível com ela. instrumento do senhorio de Cristo sobre seus seguidores. Toda a Escritura é, neste sentido, como as cartas de Cristo às sete igrejas (Ap 2-3). Onde encontrar hoje a verdade definitiva de Deus? Há três respostas, cada qual a seu próprio modo recorrendo à Bíblia. 14 15As igrejas católica romana e ortodoxa encontram a verdade de Deus, como crêem, nas interpretações da Escritura incor- poradas em sua própria tradição e consenso. Elas visualizam a Bíblia como verdade dada por Deus, porém insistem que a igreja deve interpretá-la, sendo infalível quando assim procede. CONHECIMENTO Contrastando com essa visão, indivíduos rotulados de libe- O VERDADEIRO CONHECIMENTO DE DEUS rais, radicais, modernistas, ou subjetivistas, encontram a VEM POR MEIO DA verdade de Deus nas idéias, impressões, julgamentos, teorias e especulações que a Escritura provoca em suas mentes. "Mas que se gloriar, glorie-se nisto: Enquanto rejeitam O conceito neotestamentário da inspiração em me conhecer e saber que eu sou SENHOR, e faço misericórdia, juízo e justiça na terra; da Escritura, e não consideram sua Bíblia totalmente digna de porque destas coisas me agrado", diz SENHOR. confiança ou como receptáculo das transcrições absolutas e peremptórias da mente divina, estão confiantes de que JEREMIAS 9.24 Espírito guia-os a pinçar e escolher desta forma O que resulta da sabedoria de Deus. O protestantismo histórico, entretanto, encontra a verdade Em 1 Timóteo 6.20,21 Paulo adverte Timóteo contra "os de Deus no ensino das Escrituras canônicas como tais. Ele falatórios inúteis e profanos e as contradições do saber recebe essas Escrituras como inspiradas (isto é, como sopro de (grego gnosis), como falsamente lhe chamam, pois alguns, Deus, 2 Tm 3.16), inerrantes (ou seja, totalmente verdadeiras professando-o, se desviaram da fé". Paulo está atacando as em tudo que afirmam), suficientes (a saber, dizendo-nos tendências teosófico-religiosas que evoluíram para gnosticis- tudo O que Deus deseja dizer-nos e tudo que precisamos mo no segundo século desta era. Mestres dessas crenças e saber para a salvação e a vida eterna), e claras (isto é, objetivas práticas aconselharam crentes a considerar seu compro- e auto-interpretativas sobre todos OS assuntos de importância). misso cristão como que um confuso primeiro passo na estrada As duas primeiras posições tratam OS julgamentos humanos do "conhecimento", e OS incentivaram a tomar novos passos sobre a Bíblia como decisivos para a verdade e a sabedoria; a ao longo dessa estrada. Esses mestres, porém, tinham a ordem terceira, enquanto valoriza a herança de da igreja e material como desprezível e corpo como uma prisão para a é sensível à exigência por coerência, que pensamento alma, adotando a iluminação como a resposta completa à racional envolve, submete sistematicamente todos pensa- necessidade espiritual do homem. Negavam que O pecado mentos à Escritura, que toma seriamente como cânon. Cânon fosse alguma parte do problema, e "conhecimento" que significa uma regra ou padrão. As duas primeiras posições se ofereciam incluía somente palavras de encantamento, contra- referem à Escritura como cânon, mas deixam de considerá-la senhas celestiais, disciplinas místicas e concentração extática. com a devida seriedade como regra que funciona para a fé e Eles reclassificaram Jesus como um mestre sobrenatural que para a vida. Assim, na prática, elas não aceitam plenamente parecia homem, embora não fosse; a Encarnação e a sua autoridade, enquanto sua profissão cristã, embora sincera, Reconciliação eram negadas, e substituíram convite de é conseqüentemente falha. Cristo para uma vida de amor santificado por prescrições para ascetismo ou permissão para a licenciosidade. As cartas de 16 17Paulo a Timóteo (1 Tm 1.3,4; 4.1-7; 6.20,21; 2 Tm 3.1-9); Judas 4,8-19); Pedro (2 Pe 2); e as duas primeiras cartas de João (1 Jo 1.5-10; 2.9-11,18,29; 3.7-10; 4.1-6; 5.1-12; 2 Jo 7-11) se contrapõem explicitamente às crenças e práticas que mais tarde emergiriam como gnosticismo. Em contraste, a Escritura fala de "conhecer" a Deus como a CRIAÇÃO pessoa espiritual ideal: a saber, a plenitude de uma fé rela- DEUS É O CRIADOR cionamento que traz salvação e vida eterna e gera amor, esperança, obediência e gozo. (Ver, por exemplo, Ex 33.13; Jr Que variedade, SENHOR, nas tuas obras! 31.34; Hb 8.8-12; Dn 11.32; Jo 17.3; 4.8,9; Ef 1.17-19; 3.19; Todas com sabedoria as fizeste; cheia está a terra das tuas riquezas. Fp 3.8-11; 2 Tm 1.12.) As dimensões deste conhecimento são intelectuais (conhecer a verdade acerca de Deus: Dt 7.9; SI SALMO 104.24 100.3); volitivas (crer em Deus, obedecer-lhe e adorá-lo em termos daquela verdade); e morais (praticar a justiça e amor: Jr 22.16; 1 Jo 4.7,8). A fé-conhecimento focaliza Deus "No princípio, criou Deus os céus e a terra" (Gn 1.1). encarnado, homem Cristo Jesus, mediador entre Deus e Ele fez por meio do fiat (latim: faça-se), sem qualquer nós pecadores, por meio de quem vimos a conhecer seu Pai material pré-existente; sua decisão de que as coisas deveriam como nosso Pai (Jo 14.6). A fé procura conhecer a Cristo e seu existir ("Haja...") fez com que elas surgissem e formou-as em poder especificamente (Fp 3.8-14). O conhecimento da fé é ordem com uma existência que dependia de sua vontade, e fruto da regeneração, a doação de um coração novo (Jr 24.7; que era, no entanto, distinta de sua essência divina. Pai, Filho 1 Jo 5.20), e da iluminação pelo Espírito (2 Co 4.6; Ef 1.17). e Espírito Santo envolveram-se juntamente (Gn 1.2; SI 33.6,9; O conhecimento-relacionamento é recíproco, implicando 148.5; Jo 1.1-3; 1.15,16; Hb 1.2; 11.3). Os seguintes pontos devem ser assinalados: afeição pactual de ambos OS lados: conhecemos a Deus como nosso, porque Ele nos conhece como dele (Jo 10.14; Gl 4.9; 2 (a) O ato da Criação é um mistério para nós; há mais nele Tm 2.19). do que podemos compreender. Não podemos criar por fiat, e não sabemos como Deus pôde. Dizer que Ele criou "do nada" Toda a Escritura nos foi dada para ajudar-nos a conhecer a é confessar mistério e não explicá-lo. Em particular, não Deus deste modo. Trabalhemos para usá-la para seu adequado podemos conceber como a existência dependente pode ser propósito. existência distinta, nem como anjos e seres humanos em sua existência dependente podem não ser robôs, mas criaturas capazes de decisões livres, pelas quais são moralmente responsáveis perante Aquele que os fez. Entretanto, a Escritura em todos lugares ensina que é assim. (b) Espaço e tempo são dimensões da ordem criada; Deus não está "em" um ou outro; nem está sujeito a um ou outro, como nós estamos. 18 19(c) Como a ordem universal não foi autocriada, ela tampouco é auto-sustentável, como Deus é. A estabilidade do universo depende da constante manutenção divina; este é um ministério específico do Filho de Deus (Cl 1.17; Hb 1.3), e sem isso toda criatura de toda espécie, nós inclusive, cessaria de ser. Como Paulo disse aos atenienses, "ele mesmo é quem AUTO-REVELAÇÃO a todos dá vida, respiração e tudo mais. pois nele vivemos, "ESTE É O MEU NOME" e nos movemos, e existimos" (At 17.25,28). (d) A possibilidade de intromissões criativas (p. ex., mila- Disse Deus ainda mais a Moisés: "Assim dirás aos gres de poder criativo; criação de novas pessoas mediante a filhos de Israel: 'O SENHOR, Deus de vossos pais, atividade procriativa humana; reorientação dos corações 0 Deus de Abraão, Deus de Isaque, e Deus de Jacó, me enviou a vós este é 0 meu nome eternamente, humanos e redirecionamento das vontades e energias huma- e assim serei lembrado de geração em geração." nas na regeneração) é tão velha como O próprio cosmos. Até ÊXODO 3.15 quando Deus, em sua atividade mantenedora, realmente continuará a criar novas coisas, que não podem ser explicadas em termos de qualquer coisa que foi antes, está além de nosso No mundo moderno, nome de uma pessoa é poder de saber; porém, certamente este mundo permanece meramente uma etiqueta de identificação, como um aberto ao seu poder criativo em todos os pontos. número, que pode ser mudado sem prejuízo. Os nomes Saber que Deus criou O mundo à nossa volta, e nós mesmos bíblicos, entretanto, têm seu cenário na ampla tradição em como parte dele, é básico à verdadeira religião. Deus deve ser que nomes pessoais dão informações, revelando, de certa louvado como Criador, em razão de sua maravilhosa ordem, forma, quem são as pessoas. O Velho Testamento constante- variedade e beleza de suas obras. Os salmos, como 104, são mente celebra O fato de que Deus tornou seu nome conhe- modelos desse louvor. Deus deve ser crido como Senhor cido a Israel, e OS OS salmos dirigem louvor ao nome de Deus soberano, com um plano eterno abrangendo todos eventos incessantemente 8.1; 113.1-3; 145.1,2; 148.5,13). "Nome" e destinos, sem exceção, e com poder de redimir, recriar e aqui quer dizer próprio Deus, tal como Ele se revelou por renovar; tal crença torna-se racional quando nos lembramos palavras e atos. No âmago desta auto-revelação é nome pelo de que é no Criador todo-poderoso que estamos crendo. qual Ele autorizou Israel a invocá-lo Yahweh, como os Reconhecer a cada momento nossa dependência do Deus eruditos modernos escrevem; Jeová, como se usa traduzi-lo; Criador para nossa existência faz com que se torne apropriado SENHOR, como ele é impresso nas versões do Velho Testa- viver vida de devoção, compromisso, gratidão e lealdade para mento em português. com Ele, sem qualquer impureza. A retidão começa aqui, com Deus declarou este nome a Moisés, quando lhe falou do Deus, O soberano Criador, como O primeiro ponto de meio da sarça ardente que não se consumia pelo fogo. Deus convergência de nossos pensamentos. iniciou por identificar-se como Deus que empenhou a si mesmo em um pacto com patriarcas (cf. Gn 17.1-14); depois, quando Moisés lhe perguntou qual ele diria ao povo ser nome desse Deus (pois a antiga pressuposição era que a oração seria ouvida somente se fosse citado corretamente 20 21nome daquele a quem era dirigida), Deus primeiro disse "EU 14.9-11; cf. 1.18). "Santificado seja teu nome", na oração do SOU O que SOU" (ou "serei que serei"), depois encurtou Senhor (Mt 6.9), expressa desejo de que a primeira pessoa para "EU SOU", e finalmente chamou a si mesmo da Divindade seja reverenciada e louvada, como O esplendor SENHOR (hebraico Yahweh, um nome que soa como "EU de sua auto-revelação merece. A Deus deve ser dada glória por SOU" em hebraico), O Deus de pais" 3.6,13-16). O todas as glórias de seu nome, isto é, sua gloriosa auto- nome, em todas as suas formas, proclama sua realidade sobe- revelação na criação, providência e graça. rana eterna, auto-sustentada, autodeterminada modo sobrenatural de existência que O sinal da sarça ardente tinha significado. A sarça, podemos dizer, foi a ilustração divina tridimensional de sua vida inexaurível. "Este é meu nome eternamente", disse Ele isto é, O povo de Deus deveria sempre pensar nele como rei vivo, reinante, potente, irrestrito, irreduzível, que a sarça ardente demonstrou (Êx 3.15). Mais tarde (Êx 33.18-34.7) Moisés pede para ver a "glória" de Deus, e, em resposta, Deus "proclamou seu nome" assim: "SENHOR, SENHOR Deus compassivo, clemente e longâ- nimo, e grande em misericórdia e fidelidade; que guarda a misericórdia em mil gerações, que perdoa a iniqüidade, a transgressão e pecado, ainda que não inocenta O culpado..." Na sarça ardente Deus tinha respondido à pergunta: De que forma Deus existe? Aqui Ele responde à pergunta: De que forma Deus procede? Esta proclamação fundamental de seu caráter moral é muitas vezes reiterado em passagens poste- riores (Ne 9.17; SI 86.15; 2.13; Jo 4.2). É tudo parte de seu "nome", isto é, sua revelação de sua natureza, pelo qual Ele deve ser adorado para sempre. Deus completa esta revelação da glória de seu caráter moral chamando a si mesmo "zeloso" "pois nome do Senhor é Zeloso [ciumento]" 34.14). Isto repete, com ênfase, O que Ele disse de si mesmo na sanção do segundo mandamento 20.5). O zelo afirmado é pactual: é a virtude do amante comprometido, que deseja lealdade total daquele a quem sujeitou a si para honrá-lo e servir-lhe. No Novo Testamento, as palavras e atos de Jesus, Filho encarnado, constituem uma plena revelação da mente, perspectiva, caminhos, planos e propósitos de Deus Pai (Jo 22 23sua inexaurível energia de si mesmo (a se significa em latim "de si mesmo"), foi cunhada pelos teólogos para expressar esta verdade, que a Bíblia faz clara 90.1-4; 102.25-27; Is 40.28-31; Jo 5.26; Ap 4.10). Em teologia, equívocos infindáveis resultam de se supor que AUTO-EXISTÊNCIA as condições e OS limites de nossa própria existência finita se aplicam a Deus. A doutrina de sua aseidade permanece como DEUS TEM SIDO SEMPRE um baluarte contra tais equívocos. Em nossa vida de fé, Antes que os montes nascessem facilmente nos empobrecemos por abraçar uma idéia tão e se formassem a terra e mundo, pequena e limitada de Deus, e, de novo, a doutrina da de eternidade a eternidade tu és Deus. ascidade de Deus ergue-se como um baluarte para cessar essa SALMO 90.2 ocorrência. É vital para a saúde espiritual crer que Deus é grande (cf. SI 95.1-7), e compreender a verdade de sua aseidade é primeiro passo na estrada dessa crença. Algumas vezes, as crianças perguntam, "Quem fez Deus?" A resposta mais clara é que Deus nunca precisou ser feito, porque Ele sempre esteve lá. Ele existe de uma maneira diferente de nós: nós, criaturas suas, existimos em forma dependente, derivada, finita e frágil, mas nosso Criador existe em forma eterna, auto-sustentada e necessária neces- sária quer dizer no sentido de que Deus não tem, por sua imanência, de sair da existência, como, inversamente, não temos em nós a faculdade de viver para sempre. Nós necessariamente envelhecemos e morremos, porque é nossa presente natureza fazer isso; Deus necessariamente continua para sempre imutável, porque é sua natureza eterna fazer isso. Este é um dos muitos contrastes entre a criatura e O Criador. A auto-existência de Deus é uma verdade básica. No início de sua apresentação do Deus desconhecido aos idólatras atenienses, Paulo explicou que esse Deus, O Criador do mundo, "nem é servido por mãos humanas, como se de alguma coisa precisasse; pois ele mesmo é quem a todos dá vida, respiração e tudo mais" (At 17.25). Os sacrifícios oferecidos aos ídolos nas religiões tribais de hoje, como na antiga Atenas, são tidos como algo que mantém a idolatria, porém O Criador não precisa de tal sistema de apoio. A palavra aseidade, significando que Ele tem vida própria e que extrai 24 25as criaturas (2 Pe 3.8). Longe de estar afastado e imóvel, Ele está sempre ativo em seu mundo, constantemente fazendo novas coisas surgirem (Is 42.9; 2 Co 5.17; Ap 21.5); mas, em tudo isso, Ele expressa seu perfeito caráter com perfeita consistência. É precisamente a imutabilidade de seu caráter que garante sua fidelidade às palavras que tem falado e aos A NATUREZA DE DEUS É ESPIRITUAL planos que tem feito (Nm 23.19; SI 33.11; MI 3.6; Tg 1.16-18); e é essa imutabilidade que explica porque, quando as pessoas Assim diz SENHOR: O céu é 0 meu trono, mudam sua atitude para com Ele, Ele muda sua atitude para e a terra estrado dos meus pés; que casa me com elas (Gn 6.5-7; Ex 32.9-14; 1 Sm 15.11; Jn 3.10). A idéia edificareis vós? E qual é 0 lugar do meu repouso? de que a invariabilidade de Deus envolve indiferença ao que ISAÍAS 66.1 se passa neste mundo é precisamente oposto da verdade. Terceiro, sentimentos de Deus não estão fora de seu controle, como OS nossos freqüentemente estão. Os teólogos "Deus é espírito", disse Jesus à mulher samaritana junto expressam isto dizendo que Deus é impassível e insensível, ao poço (Jo 4.24). Embora plenamente pessoal, Deus porém aquilo que Ele sente, como que Ele faz, é uma não vive em um corpo e por meio dele, como nós, e, por isso, questão de sua própria escolha deliberada e voluntária e está não está ancorado em uma moldura espaço-tempo. Deste fato, incluída na unidade de seu ser infinito. Deus jamais é nossa além do fato adicional de que Ele é auto-existente e não vítima no sentido de que O fazemos sofrer naquilo que Ele não marcado, como nós somos, pela desintegração pessoal (falta tinha previamente escolhido sofrer. Contudo, são abundantes de concentração e controle), que pecado produziu em nós, as passagens que expressam a realidade das emoções de Deus várias coisas decorrem. (alegria, tristeza, ira, deleite, amor, ódio, etc.), sendo um Primeiro, Deus não é limitado nem pelo espaço (Ele está grande equívoco esquecer que Deus sente embora em continuamente em todo lugar em sua plenitude) nem pelo forma de necessidade que transcende a experiência tempo (não há "momento presente", no qual Ele esteja emocional de um ser finito. contido, como nós estamos). Os teólogos se referem à Quarto, todos pensamentos e ações de Deus envolvem liberdade limitativa de Deus como sua infinidade, sua todo seu ser. Esta é a sua integração, às vezes chamada "sua imensidade e sua transcendência (1 Rs 8.27; Is 40.12-26; 66.1). simplicidade". Ela se coloca em completo contraste com a Como Ele mantém todas as coisas existentes, assim tem Ele complexidade e falta de integração de nossa própria todas as coisas em todos lugares sempre diante de sua existência pessoal, na qual, como resultado do pecado, mente, cada qual em sua própria relação com seu plano e raramente ou talvez nunca somos capazes de concentrar a propósito totalmente abrangente para todo item e toda pessoa totalidade de nosso ser e todos OS nossos poderes sobre em seu mundo (Dn 4.34,35; Ef 1.11). qualquer coisa. Um aspecto da maravilha de Deus, entretanto, Segundo, Deus é imutável. Isto significa que Ele é é que Ele simultaneamente dá total e indivisa atenção não totalmente consistente: por ser necessariamente perfeito, Ele apenas a uma coisa de cada vez, mas a todas as coisas e a todas não pode mudar, seja para melhor ou para pior; e porque não as pessoas em todo lugar em seu mundo passado, presente e está limitado no tempo, Ele não está sujeito a mudança, como futuro (cf. Mt 10.29,30). 26 27Quinto, Deus que é espírito deve ser adorado em espírito e verdade, como Jesus ensinou (Jo 4.24). "Em espírito" quer dizer "com um coração renovado pelo Espírito Santo". Nem rituais, movimentos de corpo ou formalidades devocionais constituem adoração, sem envolvimento do coração, qual somente O Espírito Santo pode induzir. "Em verdade" significa ONISCIÊNCIA "com base na revelação da realidade de Deus, que culmina na DEUS VÊ E CONHECE Palavra encarnada, Jesus Cristo". Antes de mais nada, esta é a revelação do que somos como pecadores perdidos e do que Os olhos do SENHOR estão em todo lugar, Deus é para nós como Criador-Redentor pelo ministério contemplando os maus e os bons. mediador de Jesus. PROVÉRBIOS 15.3 Nenhum lugar sobre a terra é atualmente determinado como único centro para adoração. A habitação simbólica de Deus na Jerusalém terrena foi substituída, quando veio O Onisciência é uma palavra que significa "conhecer todas tempo (Jo 4.23), por sua morada na Jerusalém celestial, de as coisas". A Escritura declara que OS olhos de Deus onde Jesus agora ministra (Hb 12.22-24). No Espírito, "perto percorrem todos lugares (Jó 24.23; SI 33.13-15; 139.13-16; está SENHOR de todos OS que invocam, de todos OS que Pv 15.3; Jr 16.17; Hb 4.13). Ele busca todos corações e invocam em verdade", onde quer que estejam (SI 145.18; cf. observa OS caminhos de cada um (1 Sm 16.7; 1 Rs 8.39; 1 Cr Hb 4.14-16). Esta disponibilidade universal de Deus é parte 28.9; SI 139.1-6,23; Jr 17.10; Lc 16.15; Rm 8.27; Ap 2.23) em das boas novas do evangelho; ela é um precioso benefício, e outras palavras, Ele conhece cada coisa entre todas as coisas e não deve ser apenas considerada superficialmente. sobre todas as pessoas por todo tempo. Ele também conhece futuro, não menos que O passado e presente, e possíveis eventos que nunca acontecem, não menos que eventos reais que acontecem (1 Sm 23.9-13; 2 Rs 13.19; SI 81.14,15; Is 48.18). Nem tem Ele de "acessar" informações sobre as coisas, como um computador que restaura dados de um arquivo; todo O seu conhecimento está imediata e diretamente em sua mente. Os escritores bíblicos se surpreendem com a capacidade da mente de Deus a este respeito 139.1-6; 147.5; Is 40.13,14,28; cf. Rm 11.33-36). O conhecimento de Deus associa-se à sua soberania: Ele conhece cada coisa, tanto em si mesma como em relação a todas as outras coisas, porque Ele a criou, sustenta e a faz funcionar a todo momento, de acordo com seu plano para ela (Ef 1.11). A idéia de que Deus pode saber, e prever, todas as coisas sem controlar todas as coisas parece não somente não- escriturística, mas ilógica. 28 29Para cristão, O conhecimento da onisciência de Deus traz a certeza de que ele não foi esquecido, mas está sendo e será cuidado de acordo com a promessa de Deus (Is 40.27-31) A qualquer um, porém, que não seja cristão, a verdade do conhecimento universal de Deus deve causar pavor, pois ela vem como um lembrete de que não se pode ocultar seja a si SOBERANIA mesmo ou a seus pecados da vista de Deus 139.7-12; 94.1- 11; Jo 1.1-12). DEUS REINA Mas ao fim daqueles dias eu, Nabucodonosor, levantei os olhos ao céu, tornou-me a vir entendimento, e eu bendisse Altíssimo, e louvei e glorifiquei ao que vive para sempre, cujo domínio é sempiterno, e cujo reino é de geração em geração. DANIEL 4.34 A asserção da absoluta soberania de Deus na criação, providência e graça é fundamental à crença bíblica e ao louvor bíblico. A visão de Deus no trono, isto é, reinando, retorna à lembrança (1 Rs 22.19; Is 6.1; Ez 1.26; Dn 7.9; Ap 4.2; cf. SI 11.4; 45.6; 47.8,9; Hb 12.2; Ap 3.21); e somos constantemente lembrados em termos explícitos de que SENHOR (Yahweh) reina como rei, exercendo domínio sobre as coisas grandes e também as minúsculas 15.18; SI 47; 93; 96.10; 97;99.1-5; 146.10; Pv 16.33; 21.1; Is 24.23; 52.7; Dn 4.34,35; 5.21-28; 6.26; Mt 10.29-31). O domínio de Deus é total: Ele decide à medida que escolhe e executa tudo aquilo que decide, e ninguém pode parar sua mão ou impedir seus planos. E claro em toda a Escritura que as criaturas racionais de Deus, angélicas e humanas, têm livre ação (poder de decisão pessoal naquilo que fazem); não seríamos seres morais, responsáveis perante Deus O Juiz, se assim não fosse, nem seria possível distinguir, como faz a Escritura, entre OS maus propósitos dos agentes humanos e bons propósitos de Deus, que soberanamente governa a ação humana como meio planejado para seus próprios objetivos (Gn 50.20; At 2.23; 30 3113.26-39). Não obstante, O fato da livre ação nos confronta com O mistério, uma vez que controle de Deus sobre nossas atividades livres e autodeterminadas é tão completo quanto O é sobre qualquer outra coisa, e como isto pode ser escapa ao nosso conhecimento. Regularmente, porém, Deus exerce sua soberania permitindo que as coisas tomem seu curso natural, ONIPOTÊNCIA em lugar de intervir miraculosamente causando uma ruptura. DEUS É ONIPRESENTE No Salmo 93, a realidade do governo soberano de Deus é E ONIPOTENTE afirmado para "Ocultar-se-ia alguém em esconderijos, (a) garantir a estabilidade do mundo contra todas as forças de modo que eu não veja? diz SENHOR; porventura, não encho eu os céus e a terra?" do caos (v. diz SENHOR. (b) confirmar a fidelidade de todos OS testemunhos e instruções de Deus (v. 5a), e JEREMIAS 23.24 (c) requerer de seu povo reverência à santidade (v. 5b). Todo O salmo expressa alegria, esperança e confiança Deus está presente em todos lugares; não devemos, em Deus, e não é de admirar. Faremos bem em abrigar porém, imaginá-lo ocupando espaços, porque Ele não seu ensino no coração. tem dimensões físicas. É como puro espírito que Ele permeia todas as coisas, em uma relação de imanência que é mais do que nós, criaturas corpóreas, podemos compreender. Uma coisa clara, contudo, é que Ele está presente em toda parte na plenitude de tudo O que Ele é e de todos OS poderes que possui, de sorte que as almas necessitadas que oram a Ele em qualquer lugar do mundo recebem a mesma plenitude de sua atenção indivisa. Por ser Deus onipresente, Ele é capaz de dispensar sua atenção a milhões de indivíduos ao mesmo tempo. A crença na onipresença de Deus, assim compreendida, é refletida em: Salmo 139.7-10; Jeremias 23.23,24; Atos 17.24-28. Quando Paulo fala do Cristo elevado ao céu para encher todas as coisas (Ef 4.10), a disponibilidade de Cristo em toda parte na plenitude de seu poder é certamente parte do sentido que está sendo expresso. É verdadeiro dizer que Pai, Filho e Espírito Santo estão hoje juntamente onipresentes, embora a presença do Filho seja espiritual (por meio do Espírito Santo), não física (no corpo). "Bem sei que tudo podes, e nenhum dos teus planos pode ser frustrado" (Jó 42.2). Assim, Jó testifica a onipotência de 32 33Deus. Onipotência significa, na prática, poder de fazer todas as coisas que em sua perfeição racional e moral (isto é, sua sabedoria e bondade) Deus deseja fazer. Isto não quer dizer que Deus pode fazer literalmente todas as coisas: Ele não pode pecar, mentir, mudar sua natureza, ou negar as exigências de seu caráter santo (Nm 23.19; 1 Sm 15.29; 2 Tm 2.13; Hb 6.18; PREDESTINAÇÃO Tg 1.13,17); nem pode Ele fazer um círculo quadrado, pois a DEUS TEM UM PROPÓSITO noção de um círculo quadrado é, em si mesma, contraditória; nem pode Ele cessar de ser Deus. Porém, tudo O que Ele "Eu vos tenho amado", diz SENHOR; deseja e promete Ele pode fazer e fará. "mas vós dizeis: Em que nos tens amado?' Teria sido demasiado para Davi dizer "Eu te amo, ó "Não foi Esaú irmão de Jacó?" disse 0 SENHOR; "todavia amei a Jacó, porém aborreci a Esaú..." SENHOR, força minha. O SENHOR é a minha rocha, a minha cidadela, O meu libertador; O meu Deus, O meu rochedo em MALAQUIAS 1.2,3 que me refugio; meu escudo, a força da minha salvação, meu baluarte" (SI 18.1,2)? Teria sido excessivo para outro salmista declarar "Deus é nosso refúgio e fortaleza, socorro Os quarenta ou mais escritores que produziram os sessenta e seis livros da Escritura no espaço de tempo bem presente nas tribulações" (46.1)? Não quando eles conheciam Deus como onipresente e onipotente, embora, de aproximado de mil e quinhentos anos viram-se, e a seus leito- res, envoltos na realização do propósito soberano de Deus outra forma, pudesse ter sido. Conhecimento da grandeza de Deus (e sua onipresença e onipotência são aspectos de sua para este mundo, propósito que O levou a criar, que pecado grandeza) naturalmente produz grande fé e grande louvor. depois rompeu, e que sua obra de redenção está presente- mente restaurando. Esse propósito era, e é, em essência, a incessante expressão e gozo do amor entre Deus e suas criatu- ras racionais amor manifesto em sua adoração, louvor, gra- tidão, honra, glória e serviço prestados a Ele, e na comunhão, privilégios, alegrias e dádivas que Ele lhes dá. Os escritores lançam um olhar àquilo que já se fez para promover O plano salvífico no planeta terra danificado pelo pecado, e olham à frente O dia de sua completitude, quando planeta terra será recriado com glória inimaginável (Is 65.17-25; 2 Pe 3.10-13; Ap 21.1-22.5). Eles proclamam Deus como todo-poderoso Criador-Redentor e se apóiam constan- temente nas multiformes obras da graça que Deus realiza na história para assegurar para si um povo, uma grande compa- nhia de indivíduos reunidos, com OS quais seu propósito original de dar e receber amor possa ser cumprido. E os escri- tores insistem que, como Deus se mostra absoluto no controle 34 35dos fatos ao conduzir seu plano ao ponto atingido no momen- (b) Uma vez que todos estão naturalmente mortos em to em que eles escrevem, assim Ele continuará com total pecado (isto é, excluídos da vida de Deus e indiferentes a Ele), controle, executando todas as coisas de acordo com sua pró- ninguém que ouve evangelho jamais chegará ao arrependi- pria vontade, completando assim seu projeto redentor. É mento e à fé sem um toque íntimo que somente Deus pode dentro desta moldura de referência (Ef 1.9-14; 2.4-10; 3.8-11; transmitir Jesus disse: "Ninguém poderá vir a mim, 4.11-16) que se inserem as questões sobre predestinação. se pelo Pai não lhe for concedido" (Jo 6.65, cf. 44; 10.25-28). Predestinação é uma palavra freqüentemente usada para Os pecadores escolhem Cristo somente porque Deus os significar a preordenação de Deus de todos eventos da escolheu para essa escolha e OS inspirou a fazê-lo pela reno- história universal, passados, presentes e futuros, e este uso é vação de seus corações. bem apropriado. Contudo, na Escritura e na linha teológica Embora todos atos humanos sejam livres no sentido de prevalecente, predestinação significa especificamente a deci- autodeterminados, nenhum deles está livre do controle de são de Deus, tomada na eternidade antes da existência do Deus, conforme seu eterno propósito e preordenação. mundo e de seus habitantes, com respeito ao destino final dos Os cristãos devem, portanto, agradecer a Deus sua conver- pecadores individuais. De fato, Novo Testamento usa as são, olhar para Ele para que guarde na graça para a qual OS palavras predestinação e eleição (ambas sinônimas), somente trouxe, e confiantemente esperar seu triunfo final, de acordo para indicar a escolha divina de pecadores particulares para a com seu plano. salvação e a vida eterna (Rm 8.29; Ef 1.4,5,11). Muitos, entretanto, têm chamado a atenção para fato de a Escritura também atribuir a Deus uma decisão antecipada sobre aqueles que não se salvarão (Rm 9.6-29; 1 Pe e assim tornou- se comum na teologia protestante definir a predestinação de Deus como incluindo tanto a decisão de salvar alguns do pecado (eleição) como, paralelamente, sua decisão de condenar OS restantes por seu pecado (reprovação). À pergunta, "Sobre que base Deus escolhe indivíduos para a salvação?", responde-se ocasionalmente: com base em sua presciência de que, quando se defrontassem com evangelho, eles escolheriam Cristo como seu Salvador. Nessa resposta, presciência significa uma previsão passiva da parte de Deus daquilo que indivíduos se inclinam a fazer, sem que Ele predetermine sua ação. Porém (a) Antever em Romanos 8.29; 11.2 (cf. 1 Pe 1.2 e 1.20, onde a Bíblia NVI traduz grego antevisto por "escolhido") significa "amor prévio" e "designação não expressa a idéia de uma antecipação do espectador sobre que acontecerá espontaneamente. 36 37mesmo tendo sido primeiro), e Paráclito significa um minis- tério pessoal multiforme, como conselheiro, advogado, ajudador, confortador, aliado, sustentador (Jo 14.16,17,26; 15.26,27; 16.7-15). Este outro Paráclito, que veio no Pente- coste para cumprir este ministério prometido, era Espírito TRINDADE Santo, reconhecido desde início como uma terceira pessoa DEUS É UM E SÃO TRÊS divina: mentir a Ele, diz Pedro não muito depois do Pente- coste, é mentir a Deus (At 5.3,4). Assim diz SENHOR, Rei de Israel, Assim, Cristo prescreveu O batismo "em nome (singular: um seu Redentor, 0 SENHOR dos Exércitos: Deus, um nome) do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo" as "Eu sou primeiro e eu sou último, e além de mim não há Deus." três pessoas que são um Deus, a quem OS cristãos se submetem (Mt 28.19). Portanto, encontramos as três pessoas no relato ISAÍAS 44.6 do próprio batismo de Jesus: Pai reconheceu Filho, e Espírito mostrou sua presença na vida e no ministério do O Velho Testamento insiste constantemente em que há Filho (Mc 1.9-11). É assim que lemos a bênção trinitária de 2 somente um Deus, auto-revelado Criador, que deve Coríntios 13.14, e a oração por graça e paz do Pai, Espírito e ser adorado e amado com exclusividade (Dt 6.4,5; Is 44.6- Jesus Cristo, em Apocalipse 1.4,5 (teria João colocado 45.25). O Novo Testamento confirma-o (Mc 12.29,30; 1 Co Espírito entre O Pai e O Filho, se não reconhecesse O Espírito 8.4; Ef 4.6; 1 Tm 2.5), porém fala de três agentes pessoais, Pai, como divino no mesmo sentido em que Eles são?). Estes são Filho e Espírito Santo, que operam juntos em forma de alguns dos mais notáveis exemplos da perspectiva e ênfase trinitárias do Novo Testamento. Embora a linguagem técnica equipe para efetivar a salvação (Rm 8; Ef 1.3-14; 2 Ts 2.13,14; 1 Pe 1.2). A formulação histórica da Trindade (derivada da do trinitarianismo não seja aí encontrada, a fé e O pensamento palavra latina trinitas) procura circunscrever e salvaguardar trinitários estão presentes por meio de suas páginas, e, neste sentido, a Trindade deve ser reconhecida como doutrina este mistério (não explaná-lo, pois ele está além de nossa compreensão), e nos confronta com a mais difícil noção talvez bíblica: uma eterna verdade a respeito de Deus, que, embora que a mente humana já teve de assimilar. Ela não é fácil; mas não explícita no Velho Testamento, é clara e marcante no Novo. é verdadeira. A doutrina origina-se dos fatos que OS historiadores do A afirmação básica desta doutrina é que a unidade de um Novo Testamento relatam, e do ensino revelador que, huma- Deus é complexa. As três "subsistências" pessoais (como são chamadas) são centros co-iguais e co-eternos de autocons- namente falando, decorreu desses fatos. Jesus, que orou a seu Pai e ensinou seus discípulos a fazerem mesmo, convenceu- ciência, cada qual sendo "Eu" em relação aos dois que são os de que Ele era pessoalmente divino, e de que a crença em "Vós", e cada qual participando da plena essência divina (a "substância" da deidade, se assim podemos chamá-la) junta- sua divindade e na retitude de dedicar-lhe adoração e oração é basica à fé neotestamentária (Jo 20.28-31; cf. 1.18; At 7.59; mente com OS outros dois. Eles não são três papéis represen- Rm 9.5; 10.9-13; 2 Co 12.7-9; Fp 2.5,6; 1.15-17; 2.9; Hb 1.1- tados por uma pessoa (o que seria modalismo), nem são eles 12; 1 Pe 3.15). Jesus prometeu enviar outro Paráclito (Ele três deuses agrupados (o que seria triteísmo); Deus ("Ele") é, igualmente, "Eles", e "Eles" estão sempre juntos e sempre 38 39cooperando, com O Pai iniciando, Filho aquiescendo e O Espírito executando a vontade de ambos, que também é sua. Esta é a verdade acerca de Deus, a qual foi revelada mediante as palavras e obras de Jesus, e que dá suporte à realidade da salvação, à medida que Novo Testamento a expõe. A importância prática da doutrina da Trindade é que ela SANTIDADE requer que demos igual atenção e igual honra às três pessoas na unidade de seu gracioso ministério para conosco. Esse DEUS É LUZ ministério é O ponto central do evangelho, que, como de- "Eu sou 0 SENHOR, vosso Deus; portanto, monstra a conversa de Jesus com Nicodemos, não pode ser vós vos consagrareis e sereis santos, declarado sem incluir seus diferentes papéis no plano da porque eu sou santo..." graça de Deus (Jo 3.1-15; notem-se especialmente OS VV. 3, 5-8, LEVÍTICO 11.44 13-15, bem como comentários expositivos de João, que a Bíblia NVI traduz como parte da própria conversação, VV. 16- 21). Todas as formulações não-trinitárias da mensagem cristã Quando a Escritura chama "santo" a Deus, ou a pessoas são, pelos padrões bíblicos, inadequadas e, de fato, fundamen- individuais da Divindade (como ela freqüentemente talmente falsas, tendendo naturalmente a deformar a vida faz: Lv 11.44,45; Js 24.19; 1 Sm 2.2; SI 99.9; Is 1.4; 6.3; cristã. 41.14,16,20; 57.15; Ez 39.7; Am 4.2; Jo 17.11; At 5.3,4,32; Ap 15.4), a palavra significa tudo a respeito de Deus que coloca separado de nós e faz dele objeto de nossa reverência, ado- ração e temor. Ela cobre todos OS aspectos de sua grandeza transcendente e perfeição moral, e, assim, é um atributo de todos OS seus atributos, salientando a "Divindade" de Deus em cada ponto. Cada faceta da natureza de Deus e cada aspecto de seu caráter pode apropriadamente ser chamado santo, precisamente porque Ele é. A essência do conceito, porém, é a pureza de Deus, que não pode tolerar qualquer forma de pecado (Hc 1.13) e, por isso, impõe aos pecadores a constante autocontrição em sua presença (Is 6.5). Justiça, que significa fazer em todas as circunstâncias coisas que são corretas, é uma expressão da santidade de Deus. Deus manifesta sua justiça como legislador e juiz, e também como guardador da promessa e perdoador do pecado. Sua lei moral, que requer conduta que se equipare à sua própria, é "santa, justa e boa" (Rm 7.12). Ele julga justamente, de acordo com O mérito real (Gn 18.25; SI 7.11; 96.13; At 17.31). Sua "ira", isto é, sua ativa hostilidade judicial ao pecado, é 40 41totalmente justa em suas manifestações (Rm 2.5-16), e seus "julgamentos" específicos (castigos eqüitativos) são gloriosos e dignos de louvor (Ap 16.5,7; 19.1-4). Toda vez que Deus cum- pre a promessa de sua aliança, agindo para salvar seu povo, pratica um gesto de "eqüidade", isto é, justiça (Is 51.5,6; 56.1; 63.1; 1 Jo 1.9). Quando justifica OS pecadores pela fé em BONDADE Cristo, Ele faz com base na justiça aplicada, isto é, 0 castigo DEUS É AMOR de nossos pecados na pessoa de Cristo, nosso substituto; portanto, a forma tomada por sua misericórdia justificadora Rendei graças ao SENHOR, por que ele é bom, mostra que Ele é absoluta e totalmente justo (Rm 3.25,26), e porque a sua misericórdia dura para sempre. nossa própria justificação se revela judicialmente justificada. SALMO 136.1 Quando João diz que Deus é "luz", não havendo nele treva alguma, a imagem está afirmando a santa pureza de Deus, que torna impossível a comunhão entre Ele e profano inten- A declaração "Deus é amor" é freqüentemente expli- cional, e requer a busca da santidade e retidão de vida como cada em termos de (a) revelação, dada por meio da vida objetivo central do povo cristão (1 Jo 1.5-2.1; 2 Co 6.14-7.1; Hb e ensino de Cristo, da vida sem fim do Deus triúno como 12.10-17). A convocação dos crentes, regenerados e perdoa- sendo de mútuo afeto e honra (Mt 3.17; 17.5; Jo 3.35; 14.31; dos que são, a praticarem uma santidade que se equipare à 16.13, 14; 17.1-5,22-26), ligada a (b) reconhecimento de que própria santidade de Deus, e desta forma agradando a Ele, é Deus fez anjos e OS humanos para glorificar seu Criador, constante no Novo Testamento, como certamente foi no compartilhando O jubiloso intercâmbio dessa vida divina, à Velho Testamento (Dt 30.1-10; Ef 4.17-5.14; 1 Pe 1.13.22). feição de sua própria maneira humana. Porém, verdadeiro Porque Deus é santo, povo de Deus deve também ser santo. como isto pareça ser, quando João diz "Deus é amor" (1 Jo 4.8), que ele quer dizer (como continua a explanar) é que Pai, por meio de Cristo, verdadeiramente nos salvou, a nós outrora pecadores perdidos que agora cremos. "Nisto se manifestou amor de Deus em nós: em haver Deus enviado seu Filho unigênito ao mundo, para vivermos por meio dele. Nisto consiste amor: não em que nós tenhamos amado a Deus," nós não O fizemos "mas em que ele nos amou e enviou seu Filho como propiciação pelos nossos pecados" (vv. 9,10). Como sempre, no Novo Testamento, "nós", como objetos e beneficiários do amor redentor, significa que cremos". Nem aqui nem em outro lugar ou "nos" se refere a cada indivíduo pertencente à raça humana. O ensino do Novo Testamento sobre a redenção é inteiramente particularista, e quando se diz que mundo" foi objeto de amor e redenção 42 43(Jo 3.16,17; 2 Co 5.19; 1 Jo 2.2), a referência é ao grande terreno firme sobre qual depositamos nossa fé e número dos eleitos de Deus dispersos por todo mundo no esperança. meio da incrédula comunidade humana (cf. Jo 10.16; 11.52,53), não para cada e toda pessoa que existiu, existe ou existirá. Se assim não fosse, João e Paulo estariam contradi- zendo que disseram em outros textos. Este amor redentor soberano é uma faceta da qualidade que a Escritura chama bondade de Deus 100.5; Mc 10.18), isto é, a gloriosa benignidade e generosidade que toca todas as suas criaturas 145.9,15,16) e que deve levar todos OS pecadores ao arrependimento (Rm 2.4). Outros aspectos dessa bondade são a misericórdia e a compaixão ou piedade, que mostra benignidade às pessoas infortunadas, livrando-as de suas desventuras 107,136), bem como a paciência, clemência e demora em irar-se que continuam a mostrar bondade para com as pessoas que persistem no pecado 34.6; SI 78.38; Jo 3.10-4.11; Rm 9.22; 2 Pe 3.9). A expressão suprema da bondade de Deus ainda é, contudo, a surpreendente graça e inexprimível amor que revela bondade ao salvar pecadores que merecem unicamente condenação: salvando-os, sobretudo, ao custo espantoso da morte de Cristo no Calvário (Rm 3.22-24; 5.5-8; 8.32-39; Ef 2.1-10; 3.14-18; 5.25-27). A fidelidade de Deus a seus propósitos, promessas e pessoas é um outro aspecto de sua bondade e louvabilidade. Os humanos mentem e quebram sua palavra; Deus não. Nos piores tempos ainda se pode dizer: "As suas misericórdias não têm fim"; "A tua benignidade, SENHOR, chega até aos céus" (Lm 3.22,23; SI 36.5; cf. SI 89, especialmente OS VV. 1,2,14,24,33, 37,49). Embora meios de Deus expressar sua fidelidade sejam algumas vezes inesperados e desconcertantes, parecendo antes infidelidade ao observador ocasional em curto espaço de tempo, testemunho final dos que andam com Deus ao longo dos altos e baixos da vida é que "todas [promessas] vos sobrevieram, nem uma delas falhou" (Js 23.14,15). A fidelidade de Deus, ao lado de outros aspectos de sua bondade gratuita demonstrados em sua Palavra, é sempre 44 45decisão, ou decreto, acerca do que acontecerá "seu eterno propósito, de acordo com conselho de sua vontade, pelo qual, para a sua própria glória, ele predestinou tudo quanto sucede" (Catecismo Menor de Westminster, Pergunta 7). Esta é a vontade de Deus sobre os eventos, referida em Efésios 1.11. SABEDORIA No segundo e secundário sentido, a vontade de Deus é sua A DUPLA VONTADE DE DEUS É UMA ordem, isto é, sua instrução, dada na Escritura, de como as pessoas devem e não devem conduzir-se: é algumas vezes Seja bendito nome de Deus de eternidade chamada sua vontade de preceito (ver Rm 12.2; 1.9; a eternidade, porque dele é a 1 Ts 4.3-6). Algumas dessas exigências têm raízes em seu sabedoria e poder. caráter santo, que nos cumpre imitar: como são os princípios DANIEL 2.20 do Decálogo e dos dois grandes mandamentos 20.1-17; Mt 22.37-40; cf. Ef 4.32-5.2). Algumas de suas exigências emanam simplesmente da divina instituição: como são a circuncisão e Sabedoria na Escritura significa escolher fim melhor e as leis sacrificiais e purificadoras do Velho Testamento, e mais nobre a que visamos, servindo-nos dos meios mais como são batismo e a Ceia do Senhor em nossos dias. Todas, apropriados e efetivos para isso. A sabedoria humana é porém, obrigam igualmente a consciência, e plano de Deus exposta nos livros da Sabedoria do Velho Testamento (Jó, para OS eventos já inclui as "boas obras" de obediência que Salmos, Provérbios, Eclesiastes e Cânticos de Salomão, que crêem realizarão (Ef 2.10). mostrando-nos como sofrer, orar, viver, desfrutar e amar, É às vezes difícil acreditar que a penosa obediência, que nos respectivamente) e na carta de Tiago (recomendando uma coloca em desvantagem no mundo (como a obediência leal a consistente conduta isto significa desenvolver Deus comumente faz), seja parte de um plano predestinado a "temor" de Deus ou seja, culto e serviço reverente a Ele promover tanto a glória de Deus como nosso próprio bem propósito do homem (Pv 1.7; 9.10; Ec 12.13), e cultivar a (Rm 8.28). Porém, temos de glorificar a Deus crendo que prudência, constância, paciência e zelo, como meios de assim é, e que um dia veremos como será; porquanto sua alcançá-la. A sabedoria de Deus é vista nas suas obras da sabedoria é suprema e infalível. Uma das formas em que Deus criação, preservação e redenção: é sua escolha para sua realiza a sua vontade de eventos, ou decretos, é tornando própria glória como alvo 46.10; Is 42.8; 48.11), e sua deci- conhecida a sua vontade de preceitos, sua instrução, e admi- são de alcançá-la, primeiro pela criação de uma variedade nistrando a resposta de livre arbítrio a ela, mesmo quando maravilhosa de coisas e pessoas 104.24; Pv 3.19,20), essa resposta do homem for de incredulidade e desobediên- segundo, por suas bondosas providências de toda sorte cia. Paulo ilustra isto quando diz aos Romanos que a descren- 145.13-16; At 14.17), e terceiro, pela "sabedoria" redentora do ça de Israel tem seu lugar no plano de Deus para progresso "Cristo crucificado" (1 Co 1.18-2.16), bem como pela igreja do evangelho (Rm 11.11-15,25-32): uma compreensão que universal resultante 3.10). induz ao clamor: profundidade da riqueza... da A operação da sabedoria de Deus envolve a expressão de sabedoria... de Deus! A ele, pois, a glória eternamente. sua vontade em ambos OS sentidos que essa frase contém. No Amém" (vv. 33,36). Seja este também nosso clamor. primeiro e fundamental sentido, a vontade de Deus é sua 46 47para não in além são fatos, e tomamos sua palavra pelo que eles são; acreditamos, porém, que eles O são sem conheci- mento de como podem ser. Como criaturas, somos incapazes de compreender plenamente quer ser quer as ações do Criador. MISTÉRIO Assim como seria equivocado, de qualquer modo, nos DEUS É INSUPERAVELMENTE GRANDE supormos conhecedores de todas as coisas sobre Deus (e com isso aprisioná-lo na caixa de nossa própria noção limitada Teu, SENHOR, é poder, a grandeza, sobre Ele), do mesmo modo seria errado duvidar quanto ao a honra, a vitória e a majestade; porque nosso conceito constituir ou não um real conhecimento dele. teu é tudo quanto há nos céus e na terra; teu, SENHOR, é reino, e tu te Parte do significado de nossa criação à imagem de Deus é que exaltaste por chefe sobre todos. somos capazes tanto de saber a respeito dele como de conhe- 1 CRÔNICAS 29.11 cê-lo relacionalmente em um verdadeiro ainda que limitado sentido de "conhecer"; e que Deus diz na Escritura sobre si mesmo é verdade quanto a isso. Calvino fala a respeito de Deus é grande, diz a Escritura (Dt 7.21; Ne 4.14; Deus como tendo transigido com nossa fraqueza e se acomo- 86.10; 95.3; 145.3; Dn 9.4): maior do que possamos com- dado à nossa capacidade, seja na inspiração das Escrituras, seja preender. A teologia afirma isto retratando-o como incompre- na encarnação do Filho, de sorte que Ele pudesse dar-nos uma ensível não no sentido de que a lógica seja algo diferente genuína compreensão sobre si. A forma e substância do modo para Ele do que é para nós, de sorte que não possamos de falar dos pais a um bebê não se compara com O conteúdo acompanhar de forma alguma as obras de sua mente, mas no total da mente dos pais, que ele ou ela pode expressar plena- sentido de que nunca poderemos compreendê-lo plenamen- mente ao falar a outro adulto; mas a criança recebe por meio te, exatamente por ser Ele infinito e nós sermos finitos. A desse modo de falar como bebê a informação factual, real Escritura fala de Deus habitando não somente em espessa e ainda que limitada, sobre pais, e amor e a confiança impenetrável obscuridade, mas também em luz inalcançável responsiva cresce Esta é a analogia neste 97.2; 1 Tm 6.16), ambas imagens expressando a mesma caso. idéia: nosso Criador está acima de nós, e está além de nosso Vemos agora por que nosso Criador se apresenta a nós poder tomar sua medida em qualquer hipótese. antropomorficamente, como tendo um rosto (Ex 33.11), uma Isto é expresso algumas vezes ao se falar do mistério de mão (1 Sm 5.11), um braço (Is 53.1), ouvidos (Ne 1.6), olhos Deus, usando esta palavra não no sentido bíblico de um (Jó 28.10), e pés (Na 1.3), bem como sentando-se em um segredo que Deus revelou agora (Dn 2.29,30; Ef 3.2-6), mas no trono (1 Rs 22.19), voando ao vento 18.10), e lutando em sentido, desenvolvido mais recentemente, de uma realidade batalha (2 Cr 32.8; Is 63.1-6). Estas não são características do que não temos capacidade de compreender adequadamente, que Deus é em si mesmo, mas do que Ele é para nós, a saber, a despeito do muito que se tem dito sobre ela. Deus nos diz na Senhor transcendente que se dirige a seu povo como Pai e Bíblia que a criação, governo providencial, a Trindade, a amigo, e que age como seu aliado. Ele se coloca diante de nós Encarnação, a obra regeneradora do Espírito, a união com desta forma para nos atrair à sua adoração, amor e confiança, Cristo em sua morte e ressurreição, e a inspiração da Escritura muito embora conceitualmente sejamos sempre como as 48 49criancinhas que ouvem a VOZ dos pais falando como bebês e conhecem somente em parte quem fala (1 Co 13.12). Não devemos esquecer-nos jamais do que, em qualquer caso, a teologia é para a doxologia: a expressão mais verdadeira de confiança em um grande Deus será sempre a adoração, e uma adoração apropriada para louvá-lo por ser PROVIDÊNCIA muito maior do que podemos imaginar. DEUS GOVERNA ESTE MUNDO A sorte se lança no regaço, mas do SENHOR procede toda decisão. PROVÉRBIOS 16.33 "As obras da providência de Deus são a mais santa, sábia e poderosa preservação e direção de todas as criaturas e de todas as ações" (Breve Catecismo de Westminster, P. 11). Se a Criação foi um exercício único da energia divina ao que mundo existisse, a providência é um exercício contínuo da mesma energia, pela qual Criador, de acordo com sua própria vontade, (a) mantém todas as criaturas como seres, (b) envolve-se em todos OS eventos, e (c) dirige todas as coisas a seu fim determinado. O modelo é de orientação pessoal intencional com total e efetivo controle: Deus tem comando completo deste mundo. Sua mão pode estar escondida, mas seu governo é absoluto. Alguns têm restringido a providência de Deus à presciência sem controle, ou sustentação sem intervenção, ou supervisão geral sem preocupação com detalhes, porém testemunho da providência, conforme formulado acima, é extraordina- riamente preponderante. A Bíblia ensina claramente controle providencial de Deus (1) sobre universo como um todo, Sl 103.19; Dn 4.35; Ef 1.11; (2) sobre mundo físico, Jó 37; Sl 104.14; 135.6; Mt 5.45; (3) sobre a criação irracional, 104.21,28; Mt 6.26; 10.29; (4) sobre os negócios das nações, Jó 12.23; Sl 22.28; 66.7; At 17.26; (5) sobre nascimento e 0 destino na vida humana, 1 Sm 16.1; Sl 139.16; Is 45.5; Gl 50 511.15,16; (6) sobre os sucessos e fracassos aparentes na vida dos 14); e um dia Ele restaurará completamente O seu povo do homens, Lc 1.52; (7) sobre coisas aparentemente acidentais poder e presença do mal (Ap 21.27; 22.14,15). ou insignificantes, 16.33; Mt 10.30; (8) na proteção ao justo, Sl A doutrina da providência ensina aos cristãos que eles 4.8; 5.12; 63.8; 121.3; Rm 8.28; (9) suprindo as necessidades do nunca estão sob O domínio de forças cegas (ventura, oportu- povo de Deus, Gn 22.8,14; Dt 8.3; Fp 4.19; (10) dando respostas a nidade ou sorte); tudo quanto acontece a eles é divinamente orações, 1 Sm 1.19; Is 20.5,6; 2 Cr 33.13; Sl 65.2; Mt 7.7; Lc planejado, e cada evento é acompanhado de um novo chama- 18.7,8; e (11) na execração e punição do iníquo, Sl 7.12,13; 11.6. mento à crença, obediência e regozijo, sabendo que tudo é (L. Berkof, Teologia Sistemática, ed., Luz Para O Caminho) para O bem espiritual e eterno de cada um (Rm 8.28). Uma clara noção sobre O envolvimento de Deus no processo universal e nos atos das criaturas racionais requer um conjunto complementar de afirmações, como: uma pessoa pratica uma ação, ou um evento é desencadeado por causas naturais, ou Satanás se manifesta contudo, Deus prevalece. Esta é a mensagem do livro de Ester, em que nome de Deus não aparece em parte alguma. Outra: fazem-se coisas que se opõem ao conselho da vontade de Deus não obstante, elas cumprem seu propósito por meio dos acontecimentos (Ef 1.11). Outra: OS humanos intentam fazer mal porém Deus, que superintende, usa suas ações para O bem (Gn 50.20; At 2.23). Outra: OS humanos, sob domínio de Deus, pecam entretanto Deus não é autor do pecado (Tg 1.13-17); antes, Ele é seu juiz. A natureza do envolvimento "simultâneo" ou "confluente" de Deus em tudo O que acontece em seu mundo sem violar a natureza das coisas, avanço dos processos causativos, ou a livre intervenção humana que faz com que sua vontade resultante ocorra, é um mistério para nós, mas O consistente ensino bíblico sobre O envolvimento de Deus é como afirma- mos acima. Dos males que infestam mundo de Deus (perversidade moral e espiritual, desperdício de bens, desordens físicas e rupturas de um cosmos arruinado), podemos dizer em resumo que: Deus permite O mal (At 14.16); pune O mal com O mal 81.11,12; Rm 1.26-32); transforma em bem mal (Gn 50.20; At 2.23; 4.27,28; 13.27; 1 Co 2.7,8); usa mal para testar e disciplinar aqueles a quem ama (Mt 4.1-11; Hb 12.4- 52 53desenvolvimento de seu curso. O mesmo é verdadeiro nas curas orgânicas, muitas das quais são narradas pelos Evan- gelhos; elas também demonstram recriação e restauração sobrenaturais. O sinal, como um rótulo para milagres (o rótulo usado MILAGRES regularmente no Evangelho de João, onde sete milagres-chave são registrados), indica que eles significam alguma coisa; em DEUS MOSTRA SUA PRESENÇA outras palavras, eles carregam uma mensagem. Os milagres na E PODER Escritura estão quase todos agrupados no tempo do êxodo, de O SENHOR atendeu à de Elias; Elias e Eliseu, e de Cristo e seus apóstolos. Antes de mais nada, e a alma do menino tornou eles consagram operadores de milagres como represen- a entrar nele, e reviveu. tantes e mensageiros de Deus (cf. Ex 4.1-9; 1 Rs 17.24; Jo 1 REIS 17.22 10.38; 14.11; 2 Co 12.12; Hb 2.3,4); e também anunciam algo do poder de Deus na salvação e julgamento. Tal é seu significado. A Escritura não tem uma palavra específica para A crença no miraculoso é inerente ao Cristianismo. milagre. O conceito é uma combinação de idéias ex- Teólogos que refutam todos milagres, obrigando-se assim a pressas por três termos: maravilha (ou prodígio), obra poderosa negar a encarnação e a ressurreição de Jesus dois mila- e sinal. gres supremos da Escritura não devem alegar que são Maravilha é primeiro conceito. (Milagre, do latim miracu- cristãos: a alegação não é válida. A rejeição de milagres pelos lum, tem sentido de algo que evoca admiração ou espanto.) cientistas de ontem não resultou da ciência, mas do dogma de Um milagre é um acontecimento observado que desperta a um universo de absoluta uniformidade que OS cientistas consciência da presença e do poder de Deus. Providências e incorporaram a seu trabalho científico. Nada há de irracional coincidências surpreendentes, e eventos admiráveis como um na crença de que Deus, que fez O mundo, pode ainda penetrar parto, tão significativos quanto as obras de um novo poder nele criativamente. Os cristãos devem entender que não é a fé criativo, são apropriadamente chamados milagres, uma vez nos milagres bíblicos, e na capacidade de Deus operar mila- que comunicam esta consciência. Ao menos neste sentido, há gres hoje, se assim O quisesse, mas a dúvida acerca destas milagres hoje em dia. coisas é que é irracional. A obra poderosa focaliza a impressão produzida pelos milagres e aponta para a presença na história bíblica dos atos sobrenaturais de Deus, envolvendo O poder que criou O mundo do nada. Assim, a restauração à vida dos mortos, que Jesus realizou três vezes, sem contar sua própria ressurreição (Lc 7.11-17; 8.49-56; Jo 11.38-44), e que Elias, Eliseu, Pedro e Paulo fizeram uma vez cada um (1 Rs 17.17-24; 2 Rs 4.18-37; At 9.36-41; 20.9-12), é obra desse poder criativo; ela não pode ser explicada em termos de coincidência ou pela natureza no 54 55medo e reverência, Shekina (habitação de Deus), uma nuvem brilhante que era vista como um fogo consumidor. O Shekinah era Ele mesmo chamado glória de Deus; Ele apareceu em momentos significativos da história bíblica como GLÓRIA sinal da presença ativa de Deus (Êx 33.22; 34.5; cf. 16.7,10; 24.15-17; 40.34,35; Lv 9.23,24; 1 Rs 8.10,11; Ez 1.28; 8.4; 9.3; A GLÓRIA MANIFESTA DE DEUS REQUER 10.4; 11.22,23; Mt 17.5; Lc 2.9; cf At 1.9; 1 Ts 4.17; Ap 1.7). Os A GLORIA CONCECIDA escritores do Novo Testamento proclamam que a natureza, Como aspecto do arco que aparece caráter, poder propósito da glória de Deus é agora aberta à na nuvem em dia de chuva, nossa visão na pessoa e papel do Filho encarnado de Deus, assim era resplendor em redor. Jesus Cristo (Jo 1.14-18; 2 Co 4.3-6; Hb 1.1-3). EZEQUIEL 1.28 A glória de Deus, anunciada no plano e obra da graça, pela qual Ele salva OS pecadores, deve gerar louvor Ef 1.6,12,14), isto é, a expressão de glória a Deus por palavras faladas (cf. Ap O alvo de Deus é sua glória, mas isto necessita de cuida- 4.9; 19.7). Todas as atividades da vida devem também ser dosa explanação, pois é facilmente mal interpretado. exercidas com objetivo de prestar a Deus homenagem, Ele aponta não para egoísmo divino, como se imagina algu- honra e prazer, que significa a concessão de glória em nível mas vezes, mas para amor divino. Certamente, Deus deseja prático (1 Co 10.31). ser louvado por seu merecimento de louvor e exaltado por Deus não dividiria com ídolos louvor para a restauração sua grandeza e bondade; Ele deseja ser apreciado pelo que é. do seu povo, porque ídolos, sendo irreais, em nada contri- Mas a glória, que é seu alvo, é um relacionamento de dois buem para esta obra de graça (Is 42.8; 48.11); e Deus hoje não lados, de duas etapas: é, precisamente, uma conjunção de (a) dividirá louvor pela salvação com OS seres humanos, porque atos reveladores de sua parte, por meio dos quais Ele mostra nós também sendo objetos desta salvação nada contribuímos sua glória aos homens e aos anjos com espontânea generosi- para ela além de nossa necessidade dela. Do princípio ao fim, dade, com (b) adoração responsiva da parte deles, por meio e em todas as etapas do processo, a salvação vem do Senhor, e da qual lhe prestam glória de gratidão pelo que têm visto e nosso louvor deve mostrar nossa consciência disto. É por isso recebido. A alternância de contemplar a glória de Deus e dar- que a teologia da Reforma foi tão insistente no princípio lhe glória é a verdadeira realização da natureza humana em "Glória a Deus somente" (soli Deo gloria), e é por isso que preci- sua essência, que traz suprema alegria ao homem, tanto samos manter este princípio com igual zelo hoje. quanto a Deus (cf. Sf 3.14-17). "Glória" no Velho Testamento encerra associações de peso, valor, riqueza, esplendor e dignidade, todas as quais estão presentes quando se diz que Deus revelou sua glória. Deus estava respondendo ao apelo de Moisés para que mostrasse sua glória quando Ele lhe proclamou seu nome (isto é, sua natureza, caráter e poder; Êx 33.18-34.7). Com aquela proclamação houve uma manifestação física que inspirou 56 57predominava 0 politeísmo e em que floresceu toda sorte de cultos. Os mestres cristãos lutaram muito para manter a fé a salvo de ser assimilada pelo gnosticismo (uma espécie de teo- sofia em que não havia lugar para a encarnação e a expiação, uma vez que, para ela, problema do homem era a ignorân- IDOLATRIA cia, não pecado), e mais tarde pelo neoplatonismo e pelo DEUS EXIGE TOTAL DEVOÇÃO maniqueísmo, ambos OS quais, como O gnosticismo, viam a salvação no expediente da separação física do mundo. Estes "Castigá-la-ei pelos dias dos baalins, nos quais lhes conflitos foram relativamente bem-sucedidos, e as formula- queimou incenso, e se adornou com as suas arrecadas e com as suas jóias, e andou atrás de seus amantes, ções clássicas do credo sobre a Trindade e a Encarnação são mas de mim se esqueceu", diz parte de seu permanente legado. OSÉIAS 2.13 A Escritura é rigorosa a respeito do mal de praticar a idolatria. Os ídolos são escarnecidos como ilusórios, não exis- tentes 115-4-7; Is 44.9-20), mas escravizam seus adoradores Embora haja somente um Deus e somente uma fé verda- em uma superstição cega (Is 44.20), que significa infidelidade deira, a saber, a que é ensinada na Bíblia, nosso mundo perante Deus (Jr 2), e Paulo acrescenta que demônios ope- apóstata (Rm 1.18-25) sempre esteve cheio de religiões, e ram por intermédio dos ídolos, fazendo deles uma ameaça antiqüíssimo impulso em direção ao sincretismo, pelo qual espiritual concreta; contato com falsos deuses somente aspectos de uma religião assimilam-se a outra, mudando assim corrompe (1 Co 8.4-6; 10.19-21). Em nossa cultura ocidental ambas, ainda está entre nós. Na realidade, ele revive de forma pós-cristã, que está preparada para preencher vazio espiri- alarmante em nosso tempo por meio da renovada busca tual que as pessoas sentem ao voltar-se com simpatia para acadêmica de uma unidade transcendente de religiões e O sincretismo, a feitiçaria e os experimentos com ocultismo, as desabrochar do amálgama popular das idéias do Oriente e do advertências bíblicas contra a idolatria precisam ser tomadas Ocidente, que se autodenomina Nova Era. com sensibilidade (cf. 1 Co 10.14; 1 Jo 5.19-21). Esta pressão não é nova. Tendo ocupado Canaã, Israel era constantemente tentado a introduzir culto cananita dos deuses e deusas da no culto de Yahweh, e a fazer imagens do próprio Yahweh mudanças ambas proibidas pela lei 20.3-6). A questão espiritual era se OS israelitas se lembrariam de que Yahweh, Deus do pacto, era plenamente suficiente para eles, e além disso reivindicava sua fidelidade exclusiva, de sorte que adorar outros deuses era adultério espiritual (Jr 3; Ez 16; Os 2). Este foi um teste em que a nação falhou grandemente. De modo semelhante, sincretismo foi muito difundido e aprovado no primeiro século do império romano, em que 58 59mente demonstrando mais da sabedoria e glória divinas do que eles antes conheciam (Ef 3.10; 1 Pe 1.12). Os santos anjos guardam crentes (SI 34.7; 91.11), os pe- queninos em particular (Mt 18.10), e observam que se passa na igreja (1 Co 11.10). Está implícito ANJOS que eles são mais instruídos a respeito das coisas divinas do que OS humanos (Mc 13.32), e que exercem um ministério DEUS UTILIZA AGENTES especial para os crentes no momento de sua morte (Lc 16.22), SOBRENATURAIS Então perguntei: "Meu senhor, quem são estes?" porém não dispomos de detalhes sobre qualquer destes Respondeu-me anjo que falava comigo: ofícios. É bastante ressaltar a relevância dos anjos dizendo "Eu te mostrarei quem são eles." que, se em algum tempo estivermos necessitando de seu mi- Então, respondeu homem que estava entre as nistério, nós receberemos; e que, assim como o mundo espia murteiras, e disse: "São os que SENHOR os cristãos na esperança de vê-los tropeçar, assim também OS tem enviado para percorrerem a terra." bons anjos olham cristãos na esperança de ver triunfo da ZACARIAS 1.9,10 graça em suas vidas. O misterioso "anjo do SENHOR" ou "anjo de Deus", que aparece com freqüência nos primórdios da história do Velho Anjos (seu nome significa "mensageiros") são uma das Testamento e que algumas vezes se identifica com Deus de duas classes de seres pessoais que Deus criou, sendo a quem se distingue em outras ocasiões (Gn 16.7-13; 18.1-33; outra gênero humano. Há muitos deles (Mt 26.53; Ap 5.11). 22.11-18; 24.7,40; 31.11-13; 32.24-30; 48.15,16; 3.2-6; 14.19; São agentes morais inteligentes, não encarnados ou visíveis de 23.20-23; 32.34-33.5; Nm 22.22-35; Js 5.13-15; Jz 2.1-5; 6.11-23; forma usual, embora capazes de mostrar-se aos humanos no 9.13-23), é, em um certo sentido, Deus agindo como seu pró- que se parece como forma física (Gn 18.2-19.22; Jo 20.10-14; prio mensageiro, sendo comumente visto como um apareci- At 12.7-10). Eles não se casam e não estão sujeitos à morte (Mt mento pré-encarnado do Deus 22.30; Lc 20.35,36). Podem mover-se de um ponto no espaço A atividade angélica foi proeminente nos grandes momen- para outro, e muitos deles podem congregar-se em áreas dimi- tos decisivos do plano divino da salvação (os dias dos patriar- nutas (Lc 8.30, onde a referência é aos anjos caídos). cas, o tempo do êxodo e da entrega da lei, o período do exílio Como seres humanos, anjos foram originalmente e restauração, e nascimento, ressurreição e ascensão de postos sob provação, e alguns deles caíram em pecado. Os Jesus Cristo), e será proeminente novamente quando Cristo muitos que passaram no teste estão agora, evidentemente, voltar (Mt 25.31; Mc 8.38). confirmados em um estado de santidade e glória imortal. O céu é seu centro de operações (Mt 18.10; 22.30; Ap 5.11), onde continuamente adoram a Deus 103.20,21; 148.2) e de onde saem para prestar serviço aos cristãos por ordem de Deus (Hb 1.14). Estes são OS anjos "santos" e "eleitos" (Mt 25.31; Mc 8.38; Lc 9.26; At 10.22; 1Tm 5.21; Ap 14.10), a quem a obra da graça de Deus por meio de Cristo está presente- 60 61to e força (Mc 1.24; 9.17-27). Eles infligiram, ou pelo menos exploraram, enfermidades físicas e mentais (Mc 5.1-15; 9.17,18; Lc 11.4). Reconheciam e temiam a Cristo, a cuja autoridade estavam sujeitos (Mc 1.25; 3.11,12; 9.25), embora, DEMÔNIOS por sua própria confissão, somente por meio de esforço em oração era Ele capaz de expeli-los (Mc 9.29). DEUS TEM OPOSITORES Cristo autorizou e deu condições aos Doze e aos Setenta SOBRENATURAIS para exorcizar em seu nome (isto é, por seu poder Lc 9.1; Sacrifícios ofereceram aos demônios, 10.17), e ministério do exorcismo continua ainda como uma não a Deus; a deuses que não conheceram, necessidade pastoral ocasional. A igreja luterana do século novos deuses que vieram há pouco, dezesseis aboliu O exorcismo, crendo que a vitória de Cristo dos quais não se estremeceram seus pais. sobre Satanás havia suprimido a invasião demoníaca para DEUTERONÔMIO 32.17 sempre, porém isto foi uma precipitação. O exército de demônios de Satanás usa também estratégias mais sutis, ou seja, embuste e desânimo em suas muitas "Demônio" ou "Diabo", como as versões mais antigas formas. A oposição a estes artifícios é a essência do combate traduziram as palavras, é grego daimon e daimonion, OS espiritual (Ef 6.10-18). Ainda que os demônios possam causar termos usuais dos Evangelhos para designar seres espiri- transtornos de muitos tipos às pessoas regeneradas, em quem tuais, corruptos e hostis a Deus e ao homem, os quais Jesus habita Espírito Santo, eles não podem impedir propósito muitas vezes exorcizou de suas vítimas durante seu ministério de Deus de salvar seus eleitos, do mesmo modo que não terrestre. Os demônios eram anjos caídos, criaturas imortais podem evitar seu próprio tormento eterno. Assim como que servem a Satanás (Jesus equiparou Belzebu, seu suposto Diabo é o Diabo de Deus (esta é a frase de Lutero), os príncipe, a Satanás: Mt 12.24-29). Tendo aderido à rebelião de demônios são OS demônios de Deus, inimigos derrotados Satanás, foram eles expulsos do céu para aguardar o 2.15), cujo poder limitado é prolongado apenas para o pro- julgamento final (2 Pe 2.4; Jd 6). Suas mentes estão perma- gresso da glória de Deus, enquanto seu povo contende com nentemente voltadas à oposição a Deus, à bondade, à verdade, eles. ao reino de Cristo e ao bem-estar dos seres humanos, tendo um poder e liberdade de movimento reais embora limitados, porém, na frase pitoresca de Calvino, eles arrastam suas correntes aonde quer que vão e jamais esperam suplantar a Deus. O nível e intensidade das manifestações demoníacas nas pessoas durante ministério de Cristo eram peculiares, não tendo paralelo nos tempos do Velho Testamento; era indubi- tavelmente parte da desesperada batalha de Satanás por seu reino contra ataque de Cristo sobre ele (Mt 12.29). Os demônios foram revelados como possuidores de conhecimen- 62 63(1 Pe 5.8), e como um dragão (Ap 12.9). Como foi inimigo jurado de Cristo (Mt 4.1-11; 16.23; Lc 4.13; Jo 14.30; cf. Lc 22.3,53), assim é ele hoje dos cristãos, sempre esquadri- nhando as fraquezas, desviando as forças e solapando a fé, a esperança e caráter (Lc 22.32; 2 Co 2.11; 11.3-15; Ef 6.16). SATANÁS Ele deve ser tomado seriamente, pois a malícia e a astúcia OS ANJOS CAÍDOS TÊM UM LÍDER fazem temível; porém, não tão seriamente a ponto de provo- car um medo horroroso dele, uma vez que ele é um inimigo Um dia em que os filhos de Deus (anjos) derrotado. Satanás é mais forte do que nós, mas Cristo vieram apresentar-se perante SENHOR, veio triunfou sobre ele (Mt 12.29), e cristãos também triunfarão também Satanás entre eles. sobre ele, se lhe resistirem com recursos supridos por JÓ 1.6 Cristo (Ef 6.10-13; Tg 4.7; 1 Pe 5.9,10). "Maior é aquele que está vós do que aquele que está no mundo" (1 Jo 4.4). Admitindo a realidade de Satanás, tomando seriamente sua Satanás, líder dos anjos caídos, surge, como eles, em oposição, observando sua estratégia (qualquer que seja, plenitude somente no Novo Testamento. Seu nome exceto O Cristianismo bíblico), e considerando que estamos significa "adversário" (opositor de Deus e de seu povo), e é sempre em guerra contra ele isto não significa uma incli- assim que Velho Testamento apresenta (1 Cr 21.1; Jó 1-2; nação por um conceito dualístico de dois deuses, um bom, Zc 3.1,2). O Novo Testamento dá a ele títulos reveladores: outro mau, lutando entre si até as últimas conseqüências para "Diabo" (diabolos) significa "acusador" (a saber, do povo de ambos. Satanás é uma criatura, super-humana mas não divina; Deus: Ap 12.9,10); "Apoliom" (Ap 9.11) significa destruidor; ele tem muito conhecimento e poder, porém não é nem tentador" (Mt 4.3; 1 Ts 3.5) e maligno" (1 Jo 5.18,19) onisciente nem onipotente; ele pode movimentar-se de significam que os títulos indicam; "príncipe" e "deus deste formas que OS humanos não podem, mas não é onipresente; e mundo" apontam Satanás presidindo sobre estilos de vida é já um rebelde derrotado, não tendo mais poder do que Deus anti-Deus da espécie humana (Jo 12.31; 14.30; 16.11; 2 Co 4.4; lhe permite e estando destinado ao lago de fogo (Ap 20.10). cf. Ef 2.2; 1 Jo 5.19; Ap 12.9). Jesus disse que Satanás foi sem- pre um homicida e é pai da mentira ou seja, ele é tanto mentiroso original como patrocinador de toda a falsidade e dolos subseqüentes (Jo 8.44). Finalmente, ele é identificado como a serpente que enganou Eva no Éden (Ap 12.9; 20.2). O retrato é de inimaginável torpeza, malícia, fúria e crueldade dirigidas contra Deus, contra a verdade de Deus e contra aqueles a quem Deus estendeu seu amor salvador. A astúcia enganosa de Satanás é ressaltada pela afirmação de Paulo de que ele se torna um anjo de luz, disfarçando mal como sendo bem (2 Co 11.14). Sua ferocidade destruti- va aparece em sua descrição como um leão que ruge e devora 64 65do por Deus sobre a criação inferior (ressaltada no Salmo 8 como resposta à pergunta 'Que é homem?'), despontam como facetas adicionais da imagem. A imagem de Deus no homem na Criação consiste, pois, (a) em ser o homem uma "alma" ou "espírito" (Gn 2.7, que a NVI corretamente traduz "ser vivo"; Ec 12.7), isto é, uma criatura HUMANIDADE pessoal, autoconsciente, divina, com uma capacidade divina DEUS FEZ OS SERES HUMANOS para O conhecimento, pensamento e ação; (b) em ser hom- A SUA IMAGEM em moralmente íntegro, uma qualidade perdida na queda e Criou Deus, pois, 0 homem à sua que está sendo agora progressivamente restaurada em Cristo imagem, à imagem de Deus criou; (Ef 4.24; 3.10); (c) no domínio sobre ambiente. Comu- homem e mulher os criou. mente e racionalmente, acrescenta-se que (d) a imortalidade GÊNESIS 1.27 divina do homem e (e) corpo humano, por meio do qual experimentamos a realidade, expressamos nossa identidade e exercitamos nosso domínio, pertencem também à imagem. A declaração no início da Bíblia (Gn 1.26,27, com ecos O corpo pertence à imagem, não diretamente, uma vez que em 5.1; 9.6; 1 Co 11.7; Tg 3.9) de que Deus fez ho- Deus, como notamos antes, não possui um corpo, mas indire- mem à sua própria imagem, de modo que OS humanos são tamente, visto que as atividades divinas de exercer domínio semelhantes a Deus como nenhuma outra criatura terrestre sobre a criação material e demonstrar afeição a outros seres é, nos diz que a dignidade especial de sermos humanos é que, racionais tornam nossa corporificação necessária. Não há vida como tais, podemos refletir e reproduzir em nosso próprio humana plena sem um corpo funcional, quer aqui ou na vida nível de criaturas as santas características de Deus, e, assim, futura. Esta verdade, implícita em Gênesis 1, tornou-se explí- agir como seus representantes diretos na terra. Foi para isso cita na encarnação e na ressurreição de Jesus Cristo: como que nós humanos fomos criados, e, em certo sentido, somos imagem verdadeira de Deus em sua humanidade, bem como humanos somente na medida em que estamos fazendo. em sua divindade. O Senhor Jesus glorificado é corporificado A extensão da imagem de Deus no homem não é definida por toda a eternidade, exatamente como serão OS cristãos. em Gênesis 1.26,27, mas contexto a torna clara. Gênesis 1.1- A queda diminuiu a imagem de Deus não somente em Adão 25 mostra Deus como pessoal, racional (com inteligência e e Eva, mas em todos OS seus descendentes, isto é, em toda a vontade, capaz de formar planos e executá-los), criativo, raça humana. Retemos a imagem estruturalmente, no sentido competente para controlar mundo que fez, e moralmente de que nossa humanidade é intacta, porém não funcional- admirável, no sentido de que tudo que Ele criou é bom. mente, porque somos agora escravos do pecado e incapazes Obviamente, a imagem de Deus inclui todas estas qualidades. de usar nossos poderes para espelhar a santidade de Deus. A Os versículos 28-30 mostram Deus abençoando as criaturas regeneração inicia o processo de restauração da imagem humanas recém-criadas (o que deve significar dizer-lhes seu moral de Deus em nossa vida, porém, enquanto não privilégio e destino) e outorgando-lhes governo sobre a cria- estivermos plenamente santificados e glorificados, não ção como seus representantes e assistentes. A capacidade humana de comunicação e relacionamento tanto com Deus refletiremos Deus perfeitamente em pensamento e ação, do como com outros humanos, e domínio que lhes foi atribuí- modo como a espécie humana foi criada para fazer e como 66 67Filho encarnado de Deus fez em sua humanidade e faz atualmente (Jo 4.34; 5.30; 6.38; 8.29,46; Rm 6.4,5,10; 8.11). A RAÇA HUMANA OS HUMANOS SÃO CORPO E ALMA, EM DOIS GÊNEROS Então, formou 0 SENHOR Deus ao homem do pó da terra e lhe soprou nas narinas 0 fôlego de vida, e 0 homem passou a ser alma vivente. GÊNESIS 2.7 Homem e mulher os criou. GÊNESIS 1.27 Cada ser humano neste mundo consiste de um corpo material animado por um eu distinto e imaterial. A Escritura dá a este eu O nome de "alma" ou "espírito". "Alma" enfatiza a distinção da individualidade consciente de uma pessoa como tal; "espírito" contém as nuanças do eu derivado de Deus, dependência dele e distinção do corpo como tal. O uso bíblico leva-nos a dizer que temos e somos tanto almas como espíritos, mas é um equívoco pensar que alma e espírito são duas coisas diferentes; uma visão "tricotômica" do homem como sendo corpo, alma e espírito é incorreta. A idéia comum de que a alma é apenas um órgão da consciência temporal e que O espírito é um órgão distinto de comunhão com Deus trazido à vida na regeneração cria um descompasso entre O ensino bíblico e O uso da palavra. Além disso, Ela conduz a um anti-intelectualismo deformado, segundo O qual discerni- mento espiritual e pensamento teológico são separados para empobrecimento de ambos, sendo a teologia tida como "pró- alma" e não espiritual, enquanto a percepção espiritual se 68 69imagina desvinculada do ensino e aprendizado da verdade gênero requer. A ideologia do "unissexo", que deprecia a revelada de Deus. significação dos dois gêneros, perverte assim a ordem de A corporificação da alma é inerente ao desígnio de Deus Deus, enquanto o estribilho francês sobre a distinção dos gê- para O gênero humano. Por intermédio do corpo, como foi neros, "vive la différence!" (viva contraste), expressa ponto dito antes, devemos experimentar nosso ambiente, desfrutar e de vista bíblico. controlar as coisas à nossa volta, e relacionar-nos com outras pessoas. Nada havia de mau ou corruptível no corpo feito inicialmente por Deus, e não tivesse O pecado surgido, a doença, envelhecimento e deterioração física que levam à morte, como a conhecemos, não fariam parte da vida humana (Gn 2.17; 3.19,22; Rm 5.12). Agora, porém, OS seres humanos são corruptos do começo ao fim em seu ser psicofísico, como comprovam claramente seus desejos desordenados, tanto físicos como mentais, OS quais guerreiam entre si e também contra OS princípios da sabedoria e da retidão. Na morte a alma deixa corpo inanimado para trás, porém esta não é a feliz libertação que filósofos gregos e alguns cultistas imaginaram. A esperança cristã não é redenção por libertar-se do corpo, mas redenção do próprio corpo. Ante- vemos nossa participação na ressurreição de Cristo na ou por meio da ressurreição de nossos próprios corpos. Embora a exata composição de nossos futuros corpos glorificados seja atualmente desconhecido, sabemos que será alguma espécie de continuidade de nossos corpos terrenos (1 Co 15.35-49; Fp 3.20,21; 3.4). Os dois gêneros, macho e fêmea, pertencem ao modelo da Criação. Homens e mulheres são igualmente portadores da imagem de Deus (Gênesis 1.27), e sua dignidade é, conse- qüentemente, igual. A natureza complementar dos gêneros é vista como conducente a uma cooperação enriquecida (ver Gn 2.18-23), uma vez que seus papéis são desempenhados não apenas no casamento, procriação e vida familiar, mas também em atividades mais amplas da vida. A percepção da insondável diferença entre pessoas de gêneros distintos converte-se em uma escola para aprendizado da prática e alegria da apre- ciação, abertura, honra, serviço e fidelidade, todas as quais pertencem à cortesia que a realidade misteriosa do outro 70 71PARTE DOIS DEUS REVELADO COMO REDENTORA QUEDA O PRIMEIRO CASAL HUMANO PECOU Vendo a mulher que a árvore era boa para se comer, agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento, tomou-lhe do fruto e comeu, e deu também ao marido, e ele comeu. GÊNESIS 3.6 Paulo, em Romanos, afirma que todo O gênero humano está naturalmente sob a culpa e poder do pecado, do reino da morte, e sob a inevitável ira de Deus (Rm 3.9,19; 5.17,21; 1.18,19; cf. todo O trecho, 1.18-3.20). Ele retrocede até ao pecado de um homem, a quem, falando em Atenas, descreve como nosso ancestral comum (Rm 5.12-14; At 17.26; cf. 1 Co 15.22). Esta é a autorizada interpretação apostólica da história registrada em Gênesis 3, onde encontramos a narrativa da queda, a desobediência do homem original a Deus e à religiosidade resultando no pecado e na perdição. Os pontos principais nessa história, vistos através da lente da interpretação paulina, são OS seguintes: (a) Deus fez do primeiro homem representante de toda a posteridade, do mesmo modo que ia fazer de Jesus Cristo representante de todos eleitos de Deus (Rm 5.15-19 com 8.29,30; 9.22-26). Em cada caso O representante devia envolver todos OS que ele representava nos frutos de sua ação pessoal, fosse para O bem ou para mal, exatamente como um líder nacional envolve seu povo nas conseqüências de sua ação quando, por exemplo, declara guerra. O plano divinamente escolhido, por meio do qual Adão determinaria O destino de 75seus descendentes, foi chamado pacto de obras, embora esta demais na história, é cuidadosamente registrada (Gn 50.22- não seja uma expressão bíblica. 26); a afirmação de Paulo "em Adão todos morrem" (1 Co (b) Deus colocou O primeiro homem em um estado de 15.22) apenas torna explícito que Gênesis já claramente felicidade e prometeu continuar isso para ele e sua posterida- implica. de, se ele mostrasse fidelidade por meio de um comporta- Pode-se argumentar razoavelmente que a narrativa da mento de obediência positiva perfeita, e especificamente por queda proporciona a única explanação convincente da per- não comer de uma árvore descrita como a árvore do conheci- versidade da natureza humana que mundo jamais viu. Pascal mento do bem e do mal. Parecia que a árvore trazia este nome disse que a doutrina do pecado original parece uma ofensa à porque a questão era saber se Adão deixaria que Deus lhe razão, mas, uma vez aceita, ela faz sentido total com toda a dissesse O que era bom e O que era mau, ou procuraria decidir condição humana. Ele estava certo, e a mesma coisa pode e isso por si mesmo, desconsiderando que Deus havia dito. deve ser dita da própria narrativa da queda. Comendo daquela árvore, Adão estaria, de fato, reivindicando que poderia conhecer e decidir que era bem ou mal para ele, sem qualquer referência a Deus. (c) Adão, guiado por Eva, que, por sua vez, foi guiada pela serpente (Satanás disfarçado: 2 Co 11.3 com V. 14; Ap 12.9), desafiou Deus comendo fruto proibido. Os resultados foram, primeiro, que O anti-Deus, auto-enaltecido e obstina- do, expresso no pecado de Adão tornou-se parte dele e da natureza moral que ele transmitiu a seus descendentes (Gn 6.5; Rm 3.9.20). Segundo, Adão e Eva viram-se dominados por um senso de poluição e culpa que fez envergonhados e atemorizados perante Deus com boa razão. Terceiro, foram amaldiçoados com expectativa de sofrimento e morte, e expulsos do Éden. Ao mesmo tempo, contudo, Deus começou a mostrar-lhes a misericórdia salvadora; Ele fez para eles vestes de pele para cobrir sua nudez, e prometeu-lhes que a semente da mulher esmagaria um dia a cabeça da serpente. Isto pre- nunciava Cristo. Embora narrando a história em um estilo um tanto figurado, Gênesis nos pede que a leiamos como história; no Gênesis, Adão liga-se aos patriarcas e com eles ao resto da raça humana pela genealogia (caps. 5,10,11), O que faz dele parte significativa da história no tempo e no espaço, tanto quanto Abraão, Isaque e Jacó. Todos OS principais personagens do livro, exceto José, são apresentados como pecadores, de uma forma ou de outra, e a morte de José, como a de quase todos 76 77Gálatas 5.16-21; Efésios 2.1-3; 4.17-19; Hebreus 3.12; Tiago 1 João 3.4; 5.17. Carne em Paulo usualmente significa um ser humano levado por desejo pecaminoso; a NVI traduz estes exemplos da palavra por "natureza pecaminosa". As faltas e vícios peculiares (isto é, formas e expressões do PECADO ORIGINAL pecado) que a Escritura detecta e denuncia são muito nume- rosos para relacionar aqui. A DEPRAVAÇÃO CONTAMINA A TODOS Pecado original, significando O pecado derivado de nossa Eu nasci na iniquidade, e em pecado origem, não é uma expressão bíblica (foi Agostinho quem a me concebeu minha mãe. cunhou), mas é uma expressão que traz a uma proveitosa foca- SALMO 51.5 lização a realidade do pecado em nosso sistema espiritual. A asserção de pecado não significa que O pecado pertence à natureza humana como Deus a fez ("Deus fez homem reto", A Escritura diagnostica O pecado como uma defor- Ec 7.29), nem que pecado está envolvido no processo de midade universal de natureza humana, em todas as reprodução e nascimento (a impureza ligada à menstruação, circunstâncias e em todas as pessoas (1 Rs 8.46; Rm 3.9-23; esperma e parto, em Levítico 12 e 15 era somente típico e 7.18; 1 Jo 1.8-10). Ambos Testamentos têm nomes para ele cerimonial, não moral e real), mas sim que (a) a pecabilidade que revelam seu caráter ético como rebelião contra OS marca todos desde O nascimento, e está lá na forma de um preceitos de Deus, errando O alvo fixado por Deus para nós, coração motivacionalmente torcido, anterior a quaisquer transgredindo a lei de Deus, desobedecendo às instruções de pecados reais; (b) esta pecabilidade interior é a raiz e fonte de Deus, maculando a pureza de Deus com nossa corrupção e todos pecados reais; (c) ela nos vem por derivação de uma incorrendo em culpa perante Deus O Juiz. Esta deformidade forma real, embora misteriosa, desde Adão, nosso primeiro moral é dinâmica: O pecado permanece patente como uma representante diante de Deus. A afirmação do pecado original energia em reação irracional, negativa e rebelde ao chamado indica intrinsicamente que não somos pecadores porque e comando de Deus, lutando contra Deus com O intento de pecamos, mas sim que pecamos porque somos pecadores, manipulá-lo. A raiz do pecado é O orgulho e inimizade contra nascidos com a natureza escravizada ao pecado. Deus, espírito que é visto na primeira transgressão de Adão; e A expressão depravação total é comumente usada para tornar atos pecaminosos sempre têm atrás de si pensamentos, moti- explícitas as implicações do pecado original. Ela significa uma e desejos que, de uma forma ou de outra, expressam a corrupção de nossa natureza moral e espiritual que é total não oposição obstinada do coração decaído às reivindicações de em grau (pois ninguém é tão mau quanto pode ser), mas em Deus em nossa vida. [O pecado pode ser compreensivelmente extensão. Ela declara que nenhuma parte de nós é intocável definido como falta de conformidade à lei de Deus em ação, pelo pecado e, portanto, nenhuma ação nossa é tão boa como hábito, atitude, perspectiva, disposição, motivação e modo de deve ser, e conseqüentemente nada em nós ou acerca de nós viver. Os textos que ilustram diferentes aspectos do pecado jamais parece meritório aos olhos de Deus. Não podemos con- incluem Jeremias 17.9; Mateus 12.30-37; Marcos 7.20-23; quistar O favor de Deus, não importando que venhamos a Romanos 1.18-3.20; 7.7-25; 8.5-8; 14.23 (Lutero disse que fazer; a menos que a graça nos salve, estamos perdidos. Paulo escreveu Romanos para "superlativar O pecado"); 78 79A depravação total vincula a capacidade total, isto é, O estado de não poder em si mesmo responder a Deus e à sua Palavra de modo sincero e prazenteiro (Jo 6.44; Rm 8.7,8). Paulo chama a este alheamento do coração decaído um esta- do de morte (Ef 2.1,5; Cl 2.13), e a Confissão de diz: homem, caindo em um estado de pecado, perdeu INCAPACIDADE totalmente todo poder de vontade quanto a qualquer bem OS SERES HUMANOS DECAÍDOS SÃO espiritual que acompanhe a salvação, de sorte que um homem TANTO LIVRES COMO ESCRAVIZADOS natural, inteiramente adverso a esse bem e morto no pecado, é incapaz de, pelo seu próprio poder, converter-se ou mesmo Enganoso é coração, mais do que todas as preparar-se para isso." coisas, e desesperadamente corrupto; quem conhecerá? JEREMIAS 17.9 Uma idéia clara a respeito da condição degradada do homem requer uma distinção entre O que nos dois últi- mos séculos tem sido chamado livre agência e que desde começo do Cristianismo tem sido chamado livre arbítrio. Agostinho, Lutero, Calvino e outros falaram do livre arbítrio em dois sentidos, O primeiro trivial, segundo importante; mas isto era confuso, sendo melhor sempre usar livre agência para seu primeiro sentido. A livre agência é uma marca dos seres humanos como tais. Todos OS seres humanos são agentes livres no sentido de que tomam suas próprias decisões a respeito do que devem fazer, escolhendo que lhes agrada à luz de seu discernimento do que é certo e errado e das inclinações que sentem. Assim, eles são agentes morais, responsáveis para com Deus e entre si por suas escolhas voluntárias. Assim foi Adão, antes e depois de pecar; assim somos nós agora, e assim são santos glorifi- cados que estão confirmados na graça em tal sentido que eles não mais têm em si esta inclinação para cometer pecado. A incapacidade para pecar será um dos deleites e glórias do céu, mas não extinguirá a humanidade de ninguém; os santos glorificados farão ainda escolhas de acordo com sua natureza, e essas escolhas não serão de forma alguma produto da livre 80 81agência humana, exatamente porque elas serão sempre boas e retas. O livre arbítrio, porém, tem sido definido por eruditos cristãos, a partir do segundo século, como a capacidade de escolher todas as opções morais que uma situação oferece, e Agostinho afirmou contra Pelágio e a maioria dos Pais gregos ALIANÇA que pecado original nos tirou livre arbítrio neste sentido, DEUS FAZ COM OS HUMANOS PECADORES Não temos capacidade natural de discernir e escolher UMA ALIANÇA DE GRAÇA caminhos de Deus, porque não temos inclinação natural em direção a Deus; nossos corações são cativos do pecado, e Disse SENHOR a Abrão: "Sai da tua terra, somente a graça da regeneração pode libertar-nos desta da tua parentela e da casa de teu pai e vai para a terra que te mostrarei; de ti farei uma escravidão. Isto, em substância, foi O que Paulo ensinou em grande nação, e te abençoarei, e te Romanos 6.16-23; somente a vontade libertada (Paulo fala em engrandecerei 0 nome. Sê tu uma bênção! homens libertados) livre e fervorosamente escolhe a retidão. Abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei Um amor permanente pela retidão isto é, uma inclinação os que te amaldiçoarem; em ti serão benditas do coração pelo modo de vida que agrada a Deus é um todas as famílias da terra." aspecto da liberdade que Cristo nos dá (Jo 8.34-36; Gl 5.1,13). GÊNESIS 12.1-3 Vale a pena notar que vontade é uma abstração. Minha vontade não é parte de mim no sentido de que eu decida mover-me ou ficar parado, tal como minhas mãos ou meus Alianças ou pactos na Escritura são acordos solenes, pés; é precisamente a escolha de agir e, em seguida, de entrar negociados ou impostos unilateralmente, que impõem a em ação. A verdade sobre a livre agência, e sobre Cristo liber- ambas as partes permanentes relações definidas, com promes- tando escravo do pecado do domínio do pecado, pode ser sas específicas, reivindicações e obrigações de ambos lados mais claramente expresso se a palavra vontade for eliminada e (por exemplo, a aliança do casamento, MI 2.14). cada pessoa diga: Eu sou agente livre moralmente responsá- Quando Deus faz uma aliança com suas criaturas, somente vel; eu sou escravo do pecado que Cristo deve libertar; eu sou Ele estabelece seus termos, como mostra sua aliança com Noé ser degradado que tenho unicamente em mim a escolha e com cada criatura vivente (Gn 9.9). Quando Adão e Eva contra Deus até que Ele renove meu coração. falharam em obedecer aos termos da aliança de obras (Gn 3.6), Deus não os destruiu, mas revelou-lhes sua aliança de graça, prometendo-lhes um Salvador (Gn 3.15). A aliança de Deus apóia-se em sua promessa, como está claro em sua alian- ça com Abraão. Ele chamou Abraão para in à terra que Ele lhe daria, e prometeu abençoá-lo e a todas as famílias da terra por meio dele (Gn 12.1-3). Abraão atendeu ao chamado de Deus porque acreditou em sua promessa; foi sua fé na promessa que lhe foi imputada para justiça (Gn 15.6; Rm 4.18-22). A aliança de Deus com Israel no Sinai tomou a forma de um 82 83tratado de suserania do Oriente Próximo, isto é, uma aliança O cumprimento da velha aliança em Cristo abre a porta da real imposta unilateralmente sobre um rei vassalo e um povo fé aos gentios. A "semente de a comunidade defi- servil. Embora aquela aliança requeresse obediência às leis de nida, com a qual a aliança se fez, foi redefinida em Cristo. Deus sob a ameaça de sua maldição, ela foi uma continuação Gentios e judeus, que estão unidos a Cristo pela fé, tornam-se de sua aliança de graça 3.15; Dt 7.7,8; 9.5,6). Deus deu a semente de Abraão por meio dele 3.26-29), ao passo que seus mandamentos a um povo que Ele já havia redimido e ninguém que esteja fora de Cristo pode estar em aliança com reivindicado 19.4; 20.2). A promessa da aliança de Deus Deus (Rm 4.9-17; 11.13-24). tornou-se mais forte por meio dos tipos e sombras da lei dada O alvo dos procedimentos na aliança de Deus é, como a Moisés. O malogro dos israelitas em guardar a aliança mosai- sempre foi, a reunião e santificação do povo da aliança "de ca mostrou a necessidade de uma nova redenção e aliança, se todas as nações, tribos, povos e línguas" (Ap 7.9), que um dia é que O povo de Deus devia ser verdadeiramente dele e Ele habitarão a nova Jerusalém em uma renovada ordem universal deles (Jr 31.31-34; 32.38-40; cf. Gn 17.7; Ex 6.7; 29.45,46; Lv (21.1,2). Aqui O relacionamento pactual encontrará sua mais 11.44,45; 26.12). plena expressão "eles serão povos de Deus e Deus mesmo A aliança de Deus com Israel era uma preparação para a estará com eles" (21.3). Em direção a este alvo, a moldagem vinda do próprio Deus, na pessoa de seu Filho, para cumprir de Deus sobre OS eventos do mundo continua em ação. todas as suas promessas e dar substância às sombras lançadas A estrutura da aliança compreende a inteira administração pelos tipos (Is 40.10; MI 3.1; Jo 1.14; Hb 7-10). Jesus Cristo, da graça soberana de Deus. O ministério celestial de Cristo mediador da nova aliança, ofereceu-se como O verdadeiro e continua a ser a do "mediador de uma nova aliança" (Hb final sacrifício pelo pecado. Ele obedeceu à lei perfeitamente, 12.24). A salvação é a salvação da aliança; a justificação, a e como segundo cabeça representante da raça humana, tor- adoção, a regeneração e a santificação são as misericórdias da nou-se herdeiro de todas as bênçãos pactuadas de perdão, aliança; a eleição foi a escolha de Deus dos futuros membros paz e comunhão com Deus em sua criação renovada, as quais da comunidade de sua aliança, a igreja; O batismo e a Ceia do bênçãos Ele agora confere aos crentes. As providências típicas Senhor, correspondendo à circuncisão e à Páscoa, são e temporárias para a concessão daquelas bênçãos foram ordenanças da aliança; a lei de Deus é a lei da aliança, e sua abolidas pela realização do que elas anteciparam. O envio do observância é a expressão mais verdadeira de gratidão pela Espírito de Cristo do trono de sua glória sela O povo de Deus aliança da graça e de lealdade ao nosso Deus da aliança. como seu, ainda que Ele tenha dado a si mesmo por ele (Ef Pactuar com Deus em resposta à sua aliança conosco deve 1.13,14; 2 Co 1.22). constituir um exercício devocional regular para todos os Como assinala Hebreus 7-10, Deus providenciou uma crentes, seja na privacidade ou na Ceia do Senhor. Uma versão avançada de sua única aliança eterna com OS pecadores compreensão da aliança da graça guia-nos do começo ao fim (13.20) uma aliança melhor com promessas melhores e ajuda-nos a apreciar as maravilhas do amor salvífico de Deus. (8.6), baseadas em um sacrifício melhor (9.23), oferecido por um sumo sacerdote melhor em um santuário melhor (7.26- 8.6; 8.11,13,14), e garantindo uma melhor esperança que a da primitiva versão da aliança, nunca tornada explícita, a saber, glória sempiterna com Deus em uma "pátria superior, isto é, celestial" (11.16; cf. V. 40). 84 85

Mais conteúdos dessa disciplina