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20.	CRIME	CONSUMADO
20.1.	Conceito
É	aquele	em	que	 foram	realizados	 todos	os	elementos	constantes	de	 sua
definição	 legal.	Por	exemplo,	o	crime	de	 furto	 se	consuma	no	momento	em
que	o	agente	subtrai,	para	si	ou	para	outrem,	coisa	alheia	móvel,	ou	seja,	no
exato	instante	em	que	o	bem	sai	da	esfera	de	disponibilidade	da	vítima,	que,
então,	precisará	agora	retomá-lo.	Nesse	caso,	todas	as	elementares	do	tipo	do
furto	foram	inteiramente	realizadas.
20.2.	Diferença	entre	crime	consumado	e	exaurido
Crime	 exaurido	 é	 aquele	 no	 qual	 o	 agente,	 após	 atingir	 o	 resultado
consumativo,	 continua	 a	 agredir	 o	 bem	 jurídico,	 procura	 dar-lhe	 uma	 nova
destinação	 ou	 tenta	 tirar	 novo	 proveito,	 fazendo	 com	 que	 sua	 conduta
continue	 a	 produzir	 efeitos	 no	 mundo	 concreto,	 mesmo	 após	 a	 realização
integral	do	tipo.
É	o	caso	do	funcionário	público	que,	após	atingir	a	consumação	mediante
a	 solicitação	 de	 vantagem	 indevida,	 vem	 a	 efetivamente	 recebê-la	 (CP,	 art.
317).	Para	o	aperfeiçoamento	típico,	o	efetivo	recebimento	dessa	vantagem	é
irrelevante,	pois	atinge-se	a	consumação	com	a	mera	solicitação;	no	entanto,	o
recebimento	é	um	proveito	ulterior	obtido	pelo	sujeito	ativo.
Quando	 não	 prevista	 como	 causa	 específica	 de	 aumento,	 o	 exaurimento
funcionará	como	circunstância	judicial	na	primeira	fase	da	aplicação	da	pena
(CP,	 art.	 59,	 caput	 –	 consequências	 do	 crime).	 Tal	 função	 é	 subsidiária,
porque,	em	alguns	casos,	como	no	da	corrupção	passiva,	em	que	vem	previsto
expressamente	no	tipo	incriminador	como	causa	de	aumento	de	pena	(CP,	art.
317,	 §	 1º),	 o	 exaurimento	 incidirá	 como	 tal,	 hipótese	 em	 que	 não	 poderá
funcionar	 também	 como	 circunstância	 judicial,	 evitando-se,	 assim,	 a	 dupla
apenação.
20.3.	A	consumação	nas	várias	espécies	de	crimes
(i)	materiais:	com	a	produção	do	resultado	naturalístico;
(ii)	culposos:	com	a	produção	do	resultado	naturalístico;
(iii)	de	mera	conduta:	com	a	ação	ou	omissão	delituosa;
(iv)	formais:	com	a	simples	atividade,	independente	do	resultado;
(v)	permanentes:	o	momento	consumativo	se	protrai	no	tempo;
(vi)	omissivos	próprios:	com	a	abstenção	do	comportamento	devido;
(vii)	omissivos	impróprios:	com	a	produção	do	resultado	naturalístico;
(viii)	 qualificados	 pelo	 resultado:	 com	 a	 produção	 do	 resultado
agravador;
(ix)	 complexos:	 quando	 os	 crimes	 componentes	 estejam	 integralmente
realizados;
(x)	habituais:	com	a	reiteração	de	atos,	pois	cada	um	deles,	isoladamente,
é	indiferente	à	lei	penal.	O	momento	consumativo	é	incerto,	pois	não	se	sabe
quando	 a	 conduta	 se	 tornou	 um	hábito,	 por	 essa	 razão,	 não	 cabe	 prisão	 em
flagrante	nesses	crimes.
20.4.	Iter	criminis
É	o	caminho	do	crime.	São	quatro	as	etapas	que	deve	percorrer:
(i)	cogitação;
(ii)	preparação;
(iii)	execução;
(iv)	consumação.
20.4.1.	Cogitação
O	 agente	 apenas	 mentaliza,	 idealiza,	 prevê,	 antevê,	 planeja,	 deseja,
representa	mentalmente	a	prática	do	crime.
Nessa	 fase	 o	 crime	 é	 impunível,	 pois	 cada	 um	 pode	 pensar	 o	 que	 bem
quiser.	Pensiero	non	paga	gabella,	cogitationis	poena	nemo	patitur.	Enquanto
encarcerada	 nas	 profundezas	 da	 mente	 humana,	 a	 conduta	 é	 um	 nada,
totalmente	irrelevante	para	o	Direito	Penal.
Somente	 quando	 se	 rompe	 o	 claustro	 psíquico	 que	 a	 aprisiona,	 e
materializa-se	concretamente	a	ação,	é	que	se	pode	falar	em	fato	típico.
20.4.2.	Preparação
Prática	dos	atos	imprescindíveis	à	execução	do	crime.
Nessa	fase	ainda	não	se	iniciou	a	agressão	ao	bem	jurídico.	O	agente	não
começou	 a	 realizar	 o	 verbo	 constante	 da	definição	 legal	 (o	 núcleo	do	 tipo),
logo,	o	crime	ainda	não	pode	ser	punido.
No	 ensinamento	 de	Maurach,	 ato	 preparatório	 “é	 aquela	 forma	 de	 atuar
que	 cria	 as	 condições	 prévias	 adequadas	 para	 a	 realização	 de	 um	 delito
planejado.	 Por	 um	 lado,	 deve	 ir	 mais	 além	 do	 simples	 projeto	 interno
(mínimo)	sem	que	deva,	por	outro,	 iniciar	a	 imediata	 realização	 tipicamente
relevante	da	vontade	delitiva	(máximo)”126.
Assim,	como	exemplos	de	atos	preparatórios,	temos:	a	aquisição	de	arma
para	a	prática	de	um	homicídio	ou	a	de	uma	chave	falsa	para	o	delito	de	furto
e	o	estudo	do	local	onde	se	quer	praticar	o	roubo.
Ressalte-se,	 porém,	 que	 o	 legislador,	 por	 vezes,	 transforma	 atos
preparatórios	 em	 tipos	 penais	 especiais,	 quebrando	 a	 regra	 geral.	 Por
exemplo,	“petrechos	para	falsificação	de	moeda”	(art.	291),	que	seria	apenas
ato	preparatório	do	crime	de	moeda	falsa	(art.	289).
Observe-se,	finalmente,	que,	de	acordo	com	o	art.	31	do	CP,	“o	ajuste,	a
determinação	 ou	 instigação	 e	 o	 auxílio,	 salvo	 disposição	 expressa	 em
contrário,	não	são	puníveis,	se	o	crime	não	chega,	pelo	menos,	a	ser	tentado”.
20.4.3.	Execução
O	bem	jurídico	começa	a	ser	atacado.
Nessa	fase	o	agente	inicia	a	realização	do	núcleo	do	tipo,	e	o	crime	já	se
torna	punível.
20.4.3.1.	Fronteira	entre	o	fim	da	preparação	e	o	início	da	execução
É	 muito	 tênue	 a	 linha	 divisória	 entre	 o	 término	 da	 preparação	 e	 a
realização	do	primeiro	ato	executório.	Torna-se,	assim,	bastante	difícil	saber
quando	o	agente	ainda	está	preparando	ou	já	está	executando	um	crime.
O	melhor	 critério	 para	 tal	 distinção	 é	 o	 que	 entende	 que	 a	 execução	 se
inicia	com	a	prática	do	primeiro	ato	idôneo	e	inequívoco	para	a	consumação
do	 delito.	 Enquanto	 os	 atos	 realizados	 não	 forem	 aptos	 à	 consumação	 ou
quando	 ainda	 não	 estiverem	 inequivocamente	 vinculados	 a	 ela,	 o	 crime
permanece	em	sua	fase	de	preparação.
Desse	modo,	no	momento	em	que	o	agente	aguarda	a	passagem	da	vítima,
escondido	 atrás	 de	 uma	 árvore,	 ainda	não	praticou	nenhum	ato	 idôneo	para
causar	a	morte	daquela,	nem	se	pode	estabelecer	induvidosa	ligação	entre	esse
fato	e	o	homicídio	a	ser	praticado.	Da	mesma	forma,	enquanto	o	ladrão	estiver
perambulando	pela	residência,	sem	começar	a	subtração	do	bem	(iniciar	a	sua
retirada	da	esfera	de	disponibilidade	da	vítima),	a	execução	do	furto	ainda	não
principiou.	 O	 agente	 que	 promete	 matar	 um	 desafeto	 e	 é	 surpreendido	 a
caminho	 da	 casa	 deste	munido	 de	 uma	 arma	 ainda	 não	 começou	 a	 praticar
nenhum	ato	idôneo	para	produzir	a	sua	morte,	não	se	podendo	falar	em	início
de	execução.
Por	 essa	 razão,	 somente	 há	 execução	 quando	 praticado	 o	 primeiro	 ato
capaz	 de	 levar	 ao	 resultado	 consumativo	 e	 não	 houver	 nenhuma	 dúvida	 de
que	tal	ato	destina-se	à	consumação.
O	 tema,	 no	 entanto,	 tem	 gerado	 muita	 polêmica	 na	 doutrina,	 havendo
várias	correntes,	conforme	será	visto	no	 tópico	“Início	de	execução”,	 logo	a
seguir.
20.4.4.	Consumação
Ocorre	 quando	 todos	 os	 elementos	 que	 se	 encontram	 descritos	 no	 tipo
penal	foram	realizados.
20.4.5.	Exaurimento
Ocorre	quando	o	agente,	após	consumar	o	delito,	prossegue	agredindo	o
bem	jurídico.	Sua	importância	está	relacionada	à	dosimetria	da	pena,	uma	vez
que	aquela	nova	conduta	pode	estar	prevista	como	causa	especial	de	aumento,
tal	 qual	 se	 verifica	 no	 art.	 317,	 §	 1º,	 do	CP,	 ou	 como	circunstância	 judicial
desfavorável,	na	medida	em	que	as	consequências	do	crime	estão	previstas	no
art.	 59	 do	 CP,	 como	 circunstâncias	 judiciais	 que	 devem	 ser	 levadas	 em
consideração	pelo	juiz	para	a	fixação	da	pena-base.
21.	TENTATIVA	(CONATUS)
21.1.	Conceito
Não	 consumação	 de	 um	 crime,	 cuja	 execução	 foi	 iniciada,	 por
circunstâncias	alheias	à	vontade	do	agente.
Na	 definição	 de	 Wessels,	 “É	 a	 manifestação	 da	 resolução	 para	 o
cometimento	 de	 um	 fato	 punível	 através	 de	 ações	 que	 se	 põem	 em	 relação
direta	com	a	 realização	do	 tipo	 legal,	mas	que	não	 tenham	conduzido	à	 sua
consumação”127.
A	 tentativa,	ensina	Alberto	Silva	Franco,	“se	caracteriza	por	ser	um	tipo
manco,	 truncado,	 carente.	 Se,	 de	 um	 lado,	 exige	 o	 tipo	 subjetivo	 completo
correspondente	 à	 fase	 consumativa,	 de	 outro,	 não	 realiza	 plenamente	 o	 tipo
objetivo.	O	 dolo,	 próprio	 do	 crime	 consumado,deve	 iluminar,	 na	 tentativa,
todos	os	elementos	objetivos	do	tipo.	Mas	a	figura	criminosa	não	chega	a	ser
preenchida,	por	inteiro,	sob	o	ângulo	do	tipo	objetivo.	Bem	por	isso,	Zaffaroni
e	 Pierangeli	 (Da	 tentativa,	 p.	 59)	 observaram	 que	 a	 tentativa	 ‘é	 um	 delito
incompleto,	 de	 uma	 tipicidade	 subjetiva	 completa,	 com	 um	 defeito	 na
tipicidade	objetiva’”128.
21.2.	Natureza	jurídica
Norma	 de	 extensão	 temporal	 da	 figura	 típica	 causadora	 de	 adequação
típica	mediata	ou	indireta.
21.3.	Elementos
Constituem	elementos	da	tentativa:
(i)	o	início	de	execução;
(ii)	a	não	consumação;
(iii)	a	interferência	de	circunstâncias	alheias	à	vontade	do	agente.
21.3.1.	Início	de	execução
Conforme	 já	 salientado,	 é	 bastante	 nebulosa	 a	 linha	 demarcatória	 que
separa	os	atos	preparatórios	não	puníveis	dos	atos	de	execução	puníveis.
O	 legislador,	 no	 art.	 14,	 II,	 do	 CP,	 estabelece	 essa	 divisão	 ao	 fazer
referência	 ao	 início	 de	 execução.	Não	 obstante	 isso,	 a	 dúvida	 persiste,	 uma
vez	 que	 o	 conteúdo	 de	 significado	 da	 mencionada	 expressão	 gera	 sérias
divergências	ao	ser	aplicado	concretamente.
Para	 entender	 o	 que	 vem	 a	 ser	 início	 de	 execução,	 precisamos	 analisar
vários	critérios	pelos	quais	é	fixado.
21.3.1.1.	Critério	lógico-formal
Parte	de	um	enfoque	objetivo,	diretamente	ligado	ao	tipo.
Conforme	anota	José	Frederico	Marques129,	a	atividade	executiva	é	típica,
e,	portanto,	o	princípio	de	execução	tem	de	ser	compreendido	como	início	de
uma	atividade	típica.	Assim,	o	ato	executivo	é	aquele	que	realiza	uma	parte	da
ação	típica.
Segundo	 Rodriguez	 Mourullo,	 existiria	 “começo	 de	 execução”	 sempre
que	 houvesse	 a	 “correspondência	 formal	 dos	 atos	 executados	 com	 a
realização	parcial	do	correspondente	tipo	delitivo”130.
Critica-se	a	adoção	de	tal	critério,	pois	estreitaria	sobremaneira	a	esfera	de
incidência	da	 tentativa,	deixando	esta	de	abarcar	diversos	atos	reprováveis	e
passíveis	de	 sancionamento,	os	quais	 constituiriam	meros	 atos	preparatórios
impuníveis.
Silva	Franco,	por	sua	vez,	complementa	as	críticas	à	adoção	desse	critério
ao	sustentar	que	“o	critério	exclusivo	de	correspondência	formal	com	o	 tipo
mostra-se	 totalmente	 ineficaz,	 em	 face	 de	 tipos	 que	 não	 apresentam	 uma
forma	 vinculada,	 isto	 é,	 não	 oferecem	 uma	 descrição	 pormenorizada	 da
conduta	criminosa”131.
Nosso	entendimento:	esse	critério	deve	ser	adotado	por	respeitar	o	princípio	da	reserva	legal.
Até	 porque	 o	 único	 parâmetro	 para	 aferição	 do	 fato	 típico	 é	 a
correspondência	 entre	 a	 conduta	 humana	 praticada	 e	 a	 descrição	 contida	 na
lei.	 Ora,	 somente	 começa	 a	 existir	 tipicidade	 quando	 inicia	 essa
correspondência,	 não	 se	 concebendo	 início	 de	 execução	 sem	 começo	 de
realização	do	verbo	do	tipo.
21.3.1.2.	Critério	subjetivo
Seu	enfoque	não	é	a	descrição	da	conduta	típica,	mas	o	momento	interno
do	autor,	uma	vez	que	não	importa	mais	verificar	se	os	atos	executados	pelo
agente	correspondem	a	uma	realização	parcial	do	tipo,	mas	sim	examiná-los
em	função	do	ponto	de	vista	subjetivo	do	respectivo	autor.
Foi	 criticada	 pela	 doutrina,	 porque	 o	 agente	 é	 apontado,	 cedo	 demais,
como	 delinquente,	 correndo-se	 o	 risco	 de	 dilatar	 ao	 infinito	 o	 esquema	 de
incriminação,	 de	 forma	 que	 ponha	 em	 perigo	 o	 próprio	 princípio	 da
legalidade.
Além	disso,	torna	possível	incriminar	o	crime	até	mesmo	em	sua	fase	de
cogitação.	Por	essa	razão,	não	deve	ser	adotado.
21.3.1.3.	Critério	compositivo	ou	misto
É	o	que	busca	compor	os	critérios	lógico-formal	e	subjetivo,	ou	seja,	o	da
correspondência	formal	com	o	tipo	e	o	do	plano	do	autor.
Enrique	Cury	Urzúa	logrou	bem	demonstrar	a	aplicação	desse	critério	ao
ensinar	que	“as	ações	são	multiformes	e,	por	esta	razão,	podem	prolongar-se
mais	ou	menos,	segundo	se	exteriorizem	desta	ou	daquela	forma.	É	possível
matar-se	 alguém	 empregando	 um	 procedimento	 complexo	 e	 dilatado	 ou
assestar-lhe	 uma	 punhalada	 por	 causa	 da	 ira	 que	 provoca,	 de	 súbito,	 sua
atitude.	 É	 possível	 subtrair-se	 uma	 coisa	 mediante	 um	 só	 movimento	 que
aproveita	a	ocasião	 inesperada	ou	recorrendo-se	a	recursos	complicados	que
exigem	uma	sucessão	de	operações	preconcebidas.	Como	é	lógico,	a	 lei	não
pode	 –	 nem	 pretende	 –	 descrever	 separadamente	 todas	 as	 formas	 de
exteriorização	possíveis.	O	tipo,	em	consequência,	 limita-se	a	apresentar	um
esquema	 de	 conduta	 que,	 na	 prática,	 pode	 adotar	 modos	 de	 realização
díspares,	 cada	 um	 dos	 quais,	 não	 obstante,	 satisfaz	 as	 linhas	 gerais	 por	 ele
contempladas.	Resulta	daí	a	conclusão	de	que	o	conteúdo	executivo	dos	tipos
é	muito	variável	e	depende	da	forma	em	que	o	agente	se	proponha	a	consumá-
lo.	Assim,	o	que	o	determina,	em	cada	caso	concreto,	é	o	plano	individual	do
autor.	A	tentativa	começa	com	aquela	atividade	com	a	qual	o	autor,	segundo
seu	 plano	 delitivo,	 se	 põe	 em	 relação	 imediata	 com	 a	 realização	 do	 tipo
delitivo”132.
21.3.1.4.	Critério	adotado
Deve	ser	adotado	o	critério	lógico-formal.
Como	 já	 dissemos,	 nosso	 sistema	 jurídico	 tem	 como	 um	 de	 seus
princípios	basilares	o	princípio	da	reserva	legal,	pois	só	constitui	crime	o	fato
expressamente	 previsto	 em	 lei.	 Logo,	 somente	 caracterizará	 início	 de
execução	(e,	portanto,	a	tentativa	punível)	o	ato	idôneo	para	a	consumação	do
delito.
Assim,	se	o	sujeito	é	surpreendido	subindo	a	escada	para	entrar	em	uma
residência,	não	há	como	sustentar	que	houve	tentativa	de	furto	ou	roubo,	uma
vez	que	não	havia	ainda	se	iniciado	nenhuma	subtração	(não	começou	a	tirar
nada	de	ninguém,	logo	não	houve	início	de	execução).
Além	de	idôneo	(apto	à	consumação),	o	ato	deve	ser	também	inequívoco
(indubitavelmente	 destinado	 à	 produção	 do	 resultado),	 de	 maneira	 que
somente	depois	de	 iniciada	a	ação	 idônea	e	 inequívoca,	ou	 seja,	o	verbo	do
tipo,	é	que	 terá	 início	a	 realização	do	 fato	definido	no	modelo	 incriminador
(tem	 de	 começar	 a	matar,	 a	 subtrair,	 a	 constranger,	 a	 falsificar	 e	 assim	 por
diante).
Só	a	idoneidade	não	basta,	assim	como	só	a	inequivocidade	é	insuficiente
para	 o	 início	 da	 execução,	 já	 que	 o	 núcleo	 da	 conduta	 típica	 pressupõe	 a
somatória	de	ambos	(ato	idôneo	+	inequívoco	=	verbo	do	tipo).
“Figuremos	o	seguinte	caso:	Tício,	tendo	recebido	uma	bofetada	de	Caio,
corre	a	um	armeiro,	adquire	um	revólver,	carrega-o	com	seis	balas	e	volta,	ato
seguido,	 à	 procura	 de	 seu	 adversário,	 que,	 entretanto,	 por	 cautela	 ou
casualmente,	 já	 não	 se	 acha	 no	 local	 da	 contenda;	 Tício,	 porém,	 não
desistindo	de	encontrar	Caio,	vai	postar-se,	dissimulado,	atrás	de	uma	moita,
junto	ao	caminho	onde	ele	habitualmente	passa,	rumo	de	casa,	e	ali	espera	em
vão	pelo	seu	 inimigo	que,	desconfiado,	 tomou	direção	diversa.	Não	se	pode
conceber	uma	série	de	atos	mais	inequivocamente	reveladores	da	intenção	de
matar,	embora	todos	eles	sejam	meramente	preparatórios”133.
Neste	 exemplo,	 embora	 inequívocos,	 são	 ainda	 atos	 inidôneos,	 pois
enquanto	Tício	estiver	sentado	na	moita,	só	aguardando,	Caio	não	morrerá.
21.4.	Formas
21.4.1.	Imperfeita
Há	 interrupção	 do	 processo	 executório;	 o	 agente	 não	 chega	 a	 praticar
todos	os	atos	de	execução	do	crime,	por	circunstâncias	alheias	à	sua	vontade.
21.4.2.	Perfeita	ou	acabada
Também	 conhecida	 por	 crime	 falho,	 é	 aquela	 na	 qual	 o	 agente	 pratica
todos	os	atos	de	execução	do	crime,	mas	não	o	consuma	por	circunstâncias
alheias	à	sua	vontade.
21.4.3.	Branca	ou	incruenta
A	vítima	não	é	atingida,	nem	vem	a	sofrer	ferimentos.
Importante	 notar	 que	 a	 tentativa	 branca	 pode	 ser	 perfeita	 ou	 imperfeita.
No	 primeiro	 caso,	 o	 agente	 realiza	 a	 conduta	 integralmente,	 sem,	 contudo,
conseguir	 ferir	 a	 vítima	 (erra	 todos	 os	 tiros);	 no	 segundo,	 a	 execução	 é
interrompida	sem	que	a	vítima	seja	atingida	(após	o	primeiro	disparo	errado,	o
agente	é	desarmado).
21.4.4.	Cruenta
A	vítima	é	atingida,	vindo	a	lesionar-se.Do	mesmo	modo,	pode	ocorrer	tentativa	cruenta	na	tentativa	imperfeita	(a
vítima	 é	 ferida,	 e,	 logo	 em	 seguida,	 o	 agente	 vem	 a	 ser	 desarmado)	 ou	 na
perfeita	(o	autor	descarrega	a	arma	na	vítima,	lesionando-a).
à	Atenção:	embora	não	haja	distinção	quanto	à	pena	abstratamente	cominada	no	tipo,	o	juiz	deve
levar	em	consideração	a	espécie	de	tentativa	no	momento	de	dosar	a	pena,	pois,	quanto	mais	próxima	da
consumação,	menor	será	a	redução	(mais	próxima	de	1/3),	e	vice-versa.
21.5.	Tentativa	na	lesão	corporal	de	natureza	grave	e	gravíssima
É	 perfeitamente	 possível,	 desde	 que	 não	 haja	 dúvida	 que	 o	 agente
pretendia	 produzir	 o	 resultado	 agravador.	 “Ninguém	 deixaria	 de	 reconhecer
uma	tentativa	de	lesão	gravíssima	no	fato,	por	exemplo,	de	quem	atira	vitríolo
na	 direção	 do	 rosto	 do	 seu	 inimigo,	 que,	 desviando-se	 tempestivamente,
consegue	escapar	ileso”134.
21.6.	Infrações	penais	que	não	admitem	tentativa
São	elas:
(i)	culposas	(salvo	a	culpa	imprópria,	para	parte	da	doutrina);
(ii)	 preterdolosas	 (no	 latrocínio	 tentado,	 o	 resultado	 morte	 era	 querido
pelo	agente,	logo,	embora	qualificado	pelo	resultado,	esse	delito	só	poderá	ser
preterdoloso	quando	consumado);
(iii)	contravenções	penais	(a	tentativa	não	é	punida	–	v.	art.	4º	da	LCP);
(iv)	 crimes	 omissivos	 próprios	 (de	mera	 conduta,	 por	 exemplo,	 CP,	 art.
135);
(v)	 habituais	 (ou	há	 a	 habitualidade	 e	 o	 delito	 se	 consuma,	 ou	não	há	 e
inexiste	crime);
(vi)	crimes	que	a	lei	só	pune	se	ocorrer	o	resultado	(CP,	art.	122);
(vii)	crimes	em	que	a	lei	pune	a	tentativa	como	delito	consumado	(crimes
de	atentado	ou	de	empreendimento,	por	exemplo,	CP,	art.	352).
à	Atenção:	o	crime	unissubsistente	comporta	tentativa	em	certos	casos.
Por	exemplo,	quando	o	agente	efetua	um	único	disparo	contra	a	vítima	e
erra	 o	 alvo.	Outra	 hipótese	 é	 a	 da	 injúria	 verbal	 (crime	 unissubsistente	 por
excelência),	 em	 que	 o	 agente	 profere	 a	 ofensa,	 mas	 a	 vítima	 não	 a	 ouve:
ocorreu	tentativa	de	injúria	verbal,	pois,	embora	executada	toda	a	conduta,	o
resultado	não	se	produziu	por	circunstâncias	alheias	à	vontade	do	agente.
Os	 crimes	 formais	 também	 podem	 ocorrer	 na	 forma	 tentada,	 e	 a	maior
prova	 disso	 é	 a	 extorsão	 (Súmula	 96	 do	 STJ),	 que	 é	 formal	 e	 admite	 a
tentativa.
21.7.	Teorias
21.7.1.	Subjetiva
A	tentativa	deve	ser	punida	da	mesma	forma	que	o	crime	consumado,	pois
o	que	vale	é	a	intenção	do	agente.
21.7.2.	Objetiva	ou	realística
A	tentativa	deve	ser	punida	de	forma	mais	branda	que	o	crime	consumado,
porque	objetivamente	produziu	um	mal	menor.
21.7.3.	Teoria	adotada
A	objetiva.	Não	 se	 pune	 a	 intenção,	mas	 o	 efetivo	 percurso	 objetivo	 do
iter	criminis.
21.8.	Critério	para	redução	da	pena
A	pena	 do	 crime	 tentado	 será	 a	 do	 consumado,	 diminuída	 de	 1/3	 a	 2/3.
Quanto	mais	próximo	o	agente	chegar	da	consumação,	menor	será	a	redução,
e	vice-versa.	Assim,	na	tentativa	branca	a	redução	será	sempre	maior	do	que
naquela	 em	 que	 a	 vítima	 sofre	 ferimentos	 graves.	 Tal	 critério	 é	 fruto	 de
construção	jurisprudencial.
Observe-se	que	o	critério	para	a	redução	da	pena	pela	tentativa	há	de	ser	o
mesmo	 para	 todos	 os	 participantes	 nos	 delitos	 praticados	 em	 concurso	 de
agentes.	O	 percentual	 redutor	 é,	 portanto,	 incindível	 e	 deverá	 beneficiar	 de
forma	uniforme	 todos	os	participantes,	pouco	 importando	que	contra	alguns
existam	 agravantes	 e	 em	 prol	 de	 outros	 atenuantes,	 até	 porque	 tais
circunstâncias	 não	 são	 levadas	 em	 consideração	 no	momento	 da	 fixação	 do
percentual	redutor,	mas	tão	somente	o	iter	criminis	percorrido.	Por	exemplo,
se	um	dos	agentes	foi	preso	ao	final	da	prática	do	delito	de	roubo,	e	o	outro
logrou	 fugir	 com	 parte	 da	 res	 furtiva,	 isso	 não	 dá	 azo	 a	 que	 o	 crime	 seja
cindido	e,	ao	mesmo	tempo,	considerado	consumado	para	o	coautor	e	tentado
para	o	seu	partícipe.

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