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https://sun.eduzz.com/819199?utm_source=dentro-apostila Sumário: Módulo 1 - Histórico, conceitos e fundamentos da Piscomotricidade 1.1 - Um breve histórico 1.2 - O surgimento da Psicomotricidade no Brasil 1.3 - As principais Vertentes da Psicomotricidade Módulo 2 - Psicomotricidade na Educação Infantil 2.1 - introdução 2.2 - A importância da Psicomotricidade na Aprendizagem da Educação Infantil 2.3 - Metodologia Módulo 3 - A importância do Desenvolvimento Psicomotor na Infância 3.1 - Introdução 3.2 - Metodologia 3.3 - Psicomotricidade, Ciência e Técnica 3.4 - Educação Psicomotora 3.5 - Reedução Psicomotora 3.6 - Terapia Psicomotora 3.7 - Pscomotricidade e Conceitos Psicomotores 3.7.1 - Esquema Corporal 3.7.2 - A imagem do Corpo 3.8 - Habilidades Psicomotoras no Processo de Alfabetização 3.9 - Atividades Psicomotoras 3.10 - Desenvolvendo Habilidades. 3.10.1 - Esquema Corporal 3.10.2 - Lateralidade 3.10.3 - Estruturação Espacial 3.10.4 - Orientação Temporal 3.10.5 - Tônus, postura e equilibrio. 3.10.6 - Pré-escrita, psicomotricidade fina. Módulo 4 - Psicomotricidade: Estimulação das habilidades motoras, cognitivas e sócio afetivas. 4.1 - Introdução 4.2 - Psicomotricidade e sua importância 4.3 - Psicomotricidade: Uma questão Legal 4.4 - Psicomotricidade em foco: Pesquisa. Módulo 5 - Anexo Módulo 6 - Psicomotricidade, jogo e corpo-em-relação: Contribuições para a intervenção mailto:moi.raysa2@outlook.com mailto:marcia.mattos@uva.br INTRODUÇÃO A psicomotricidade está presente basicamente em todas as atividades, e além de constituir-se como um fator indispensável ao desenvolvimento global e uniforme da criança, é também a base fundamental para o processo de aprendizagem dos indivíduos. Assim este estudo tem como objetivo o levantamento de informações históricas acerca do tema psicomotricidade e sua relação com a educação como fator fundamental para o desenvolvimento em seus aspectos cognitivos, físicos e sociais da criança. A metodologia utilizada está alicerçada na pesquisa bibliográfica que tem como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito, assim entendermos o conceito de psicomotricidade, e como ela está vinculada com a educação e suas contribuições para a aprendizagem da criança. A psicomotricidade é caracterizada como uma área do conhecimento que utiliza os movimentos físicos para atingir outras aquisições mais elaboradas, como as intelectuais, e durante o processo de ensino, os elementos básicos da psicomotricidade são utilizados com frequência, e cujo desenvolvimento psicomotor é mal constituído, poderá apresentar problemas na escrita, na leitura, na direção gráfica, na distinção de letras (ex:b/d), na ordenação de sílabas, no pensamento abstrato (matemática), na análise gramatical, dentre outras. Assim os movimentos físicos são muito importantes para o desenvolvimento humano, transmitindo sentimentos, emoções e pensamentos, ampliando as possibilidades do uso de gestos e posturas corporais, que auxiliarão no processo de ensino-aprendizagem, considerando que um bom desenvolvimento psicomotor proporciona ao aluno algumas habilidades e um bom desempenho escolar. Neste sentido é importante refletir sobre a história, os conceitos e fundamentos da psicomotricidade, e os benefícios dessa prática para o desenvolvimento integral da criança, o surgimento da psicomotricidade no Brasil e suas principais vertentes. A partir do referencial teórico, obtido com as leituras de autores como Fonseca (2008) que apresenta em sua obra um minucioso estudo sobre os três pioneiros do desenvolvimento psicomotor: Ajuriaguerra, Wallon, Piaget, e as contribuições de Le Boulch (1982), Negrine (1986), entre outros autores, assim sendo possível formular a hipótese de que a psicomotricidade interfere na aprendizagem dos alunos e no desenvolvimento integral. De acordo com Fonseca (2008), a psicomotricidade pode ser definida como o campo transdisciplinar que estuda e investiga as relações e as influências recíprocas e sistêmicas entre o psiquismo e a motricidade. Para Le Boulch, a educação psicomotora deve ser uma formação de base indispensável para toda criança. Assim, é importante uma analise a fim de buscar os motivos das dificuldades encontradas no processo de ensino-aprendizagem, que não estão ligadas às questões patológicas, e acabam se tornando uma problemática educacional nas etapas da vida escolar da criança. Desta maneira destaca-se e a importância para o professor em conhecer a história da psicomotricidade e seus fundamentos, a fim de compreender de fato como ela está ligada à educação e refletir sobre a importância da área psicomotora no desenvolvimento motor e cognitivo. 1. Um Breve Histórico, Conceitos e Fundamentos da Psicomotricidade O corpo é o ponto de referência que os seres humanos buscam conhecer e assim interagir com o mundo, servindo como base para o desenvolvimento nos aspectos cognitivos, sociais, físico-motor e afetivo-emocional. Fonseca (1988) informa que etimologicamente podemos definir o termo psicomotricidade como oriundo do grego psyqué = alma/mente e do verbo latino moto = mover frequentemente, agitar fortemente. A terminologia está ligada ao movimento corporal e sua intencionalidade. A motricidade humana tem sua origem na própria história social do homem, sendo fundamental às atividades no trabalho, em casa, na caça, na comunicação e na perpetuação da espécie. Já o termo “Psicomotricidade” apareceu pela primeira vez no discurso médico, no campo da neurologia, tendo como pioneiro o neurologista francês Ernest Dupré (1862 – 1921), que no século XIX constatou disfunções graves evidenciadas no corpo sem que o cérebro tivesse nenhuma lesão. São descobertos distúrbios da atividade gestual, da atividade práxica, onde o "esquema anátomo-clínico" que determinava para cada sintoma sua correspondente lesão focal já não podia explicar alguns fenômenos patológicos, tendo então a necessidade de encontrar uma área que explicasse tais fenômenos clínicos, e então fez com que surgisse a palavra “Psicomotricidade” em 1870. Em 1909, Dupré definiu a síndrome da debilidade motora através das relações entre o corpo e a inteligência, dando partida para o estudo dos transtornos psicomotores, patologias não relacionadas a nenhum indício neurológico estudados pela Psicomotricidade. Somente no século XX a psicomotricidade passou realmente a ser considerada ciência. Contudo, a prática psicomotora começou em 1935, com Eduard Guilmain, que elaborou protocolos de exames para medir e diagnosticar transtornos psicomotores. Passa-se a ter uma visão integral do indivíduo, de forma a respeitar suas limitações e necessidades, trabalhando-o integralmente o físico, cognitivo e o afetivo. A psicomotricidade é sustentada por três conhecimentos básicos: o movimento, o intelecto e o afeto. Sendo estruturada por três pilares: o querer fazer (emocional) – sistema límbico, o poder fazer (motor) – sistema reticular e o saber fazer (cognitivo) – córtex cerebral. Sendo importante que ocorra o equilíbrio entre eles, caso ao contrário pode acarretar uma desestruturação no processo de aprendizagem da criança. A motricidade tem a função de levar as experiências vivenciadas até o cérebro, que fará a decodificação de cada estimulo enviado e armazenará as informações sensoriais, afetivas e perceptivas que o individuo presenciou. De acordo com a Associação Brasileira de Psicomotricidade, a mesma pode ser definida como: ... a ciência que tem como objetivo de estudo o homem por meio do seu corpo em movimento e em relação ao seu mundo interno e externo, bem como suas possibilidades de perceber, atuar e agir com o outro, com os objetos, e consigo mesmo. Está relacionada ao processo de maturação, onde o corpo é a origem das aquisições cognitivas, afetivas, e orgânicas. Neste sentido Dupré, foi um dos autores quecorpo e suas partes nas interligações. A partir desse momento percebe que é um indivíduo independente da pessoa e cria um tipo de complicação vivida ao nível do corpo. Para Fonseca (1985), a educação psicomotora, mediada pelas aulas de Educação Física, tem muito a contribuir, porque tem como promover atividades que aprimorem essas características citadas acima; trabalhando paralelamente essas ações, respeitando o progresso da constituição fisiológica da criança e auxiliando esse processo. O Educador Físico das séries iniciais do Ensino Fundamental deve, através de atividades que desenvolvam noção de tempo, espaço e ritmo, estimular as crianças de maneira prazerosa e desafiadora, enfatizando a verbalização, memória, raciocínio e principalmente conferindo sentido a esse processo. Atividades Psicomotoras http://dx.doi.org/10.21723/riaee.v12.n1.8278 Para De Meur e Staes (1984), as atividades psicomotoras podem ser consideradas como ações a serviço da educação, pois elas cuidam do movimento e, ao mesmo tempo põem em jogo as funções intelectivas e a afetividade. Segundo os autores acima, geralmente, crianças com distúrbios psicomotores apresentam: i) deficiência na formação de conceitos; ii) falhas de percepção e de discriminação de orientação espaço-temporal, no esquema corporal, na discriminação figura-fundo isto é, na capacidade de integrar estímulos, formando um todo compreensível; iii) atraso nos níveis de desenvolvimento motor (sentar, engatinhar e andar); iv) falta de coordenação motora; v) dificuldade na leitura e na escrita; vi) problemas de fala e de linguagem, como: dislalias, ou atropelamento da fala e gagueira, dentre outras alterações; vii) lentidão na realização dos trabalhos escolares; viii) fácil fatigabilidade; ix) dificuldades em copiar do plano vertical (quadro-de-giz) para o plano horizontal (caderno); x) disgrafias, disortografias e a escrita em espelho; xi) lateralidade indefinida, dentre outros sintomas. Desenvolvendo habilidades De acordo com Freire (1989), para desenvolver habilidades faz-se necessário trabalhar: A) Esquema Corporal: i) aplicar conceitos espaciais (que envolvam a noção de onde) e temporais (envolvem a noção de quando), no próprio corpo, no dos outros, no de bonecos ou desenhos de pessoas; ii) perceber e reproduzir movimentos e ritmos, com partes do corpo; iii) manter o equilíbrio estático, reproduzindo e mantendo posições; iv) expressar com o corpo diversos sentimentos; v) realizar movimentos complexos e diferenciados; vi) dissociar movimentos, com vários segmentos corporais, dentre outros. B) Lateralidade: refere-se ao estabelecimento da dominância lateral da mão, olho e pé, do mesmo lado do corpo. O desenvolvimento da lateralidade inclui exercícios que envolvam os membros inferiores, os membros superiores e os olhos, como: i) jogos que levem ao uso sistemático da mão e do pé; ii) brincar com massa plástica, recortar linhas, figuras geométricas e figuras em geral; iii) desenhar, colorir, pintar; iv) chutar, http://dx.doi.org/10.21723/riaee.v12.n1.8278 pular com o pé dominante; v) brincar com caleidoscópio; vi) mirar alvos através de orifícios, telescópio; etc. C) Estruturação Espacial: a estruturação espacial permite à criança conscientizar-se da situação de seu corpo em determinado meio ambiente. Para o autor a criança com problemas de estruturação espacial não perceberá a diferença entre posições à esquerda ou à direita. Ex: letra “b” e letra “d”, letra “p” e letra “q”, letra “n” e letra “u”, etc. Deve-se trabalhar com exercícios que desenvolvam: i) a posição e a relação no espaço de indivíduos, objetos e situações; ii) a compreensão das relações espaciais que envolvem noções de acima, abaixo, no meio, maior, menor, igual, fora, dentro, longe, perto; etc. D) Orientação Temporal: as noções de tempo são bem abstratas, daí serem mais difíceis de serem adquiridas pelas crianças. As atividades sugeridas são: i) sucessão de acontecimentos (antes, após, durante); ii) duração de intervalos (de tempo longo, de tempo curto); iii) ritmo regular e ritmo irregular (aceleração, freada); iv) locomoção rápida e lenta (diferença entre correr e andar); v) renovação cíclica de certos períodos (os dias da semana, os meses, as estações); vi) o caráter irreversível do tempo (hoje tenho seis anos, ano que vem terei....); vii) fazer com que as crianças avaliem o tempo necessário para escrever seu nome, ir até a outra sala, apontar o lápis, chegar até a escola, etc., sem cobrança de rapidez ou críticas de demoras; viii) explicar linha de tempo, começando com o nascimento até o presente, bem como a projeção para o futuro; ix) criar linhas de tempo para os futuros dias, semanas, meses. E) Tônus, Postura e Equilíbrio: de acordo com Tavares (2003), para o desenvolvimento do tônus, da postura e do equilíbrio são necessários, dentre outros, exercícios para o fortalecimento da tonicidade dos músculos posturais, equilíbrio estático, flexibilização da coluna vertebral, equilíbrio dinâmico e força muscular. São sugeridas atividades como: i) equilibrar-se num dos pés com algum objeto na cabeça; ii) movimentar-se batendo com os pés no chão, alternadamente; iii) andar nas pontas dos pés, nos calcanhares, nas bordas dos pés, fazendo alongamento ou carregando na cabeça objetos de formas e pesos diferentes; iv) flexionar o tronco na posição sentada; v) passar o peso do corpo para a perna esquerda, para a direita, sem mexer os pés, com os olhos fechados ou abertos. http://dx.doi.org/10.21723/riaee.v12.n1.8278 F) Pré-escrita, psicomotricidade fina: para Cunha (1985), geralmente, crianças que têm problemas na coordenação dinâmica manual, apresentam problemas visomotores, com dificuldades para desenhar, recortar, escrever. Os exercícios motores para a pré-escrita e leitura colaboram para a educação de ambas as mãos e todos os dedos, desenvolvendo movimentos simultâneos ou dissociados, estes, diferentes em cada membro do par. Sugerem-se atividades como: i) lançar e receber bolas, picar, rasgar e recortar papel, abrir e fechar as mãos; ii) para desenvolver o grafismo da pré- escrita, os exercícios compreendem basicamente o uso dos dedos para passar sobre traçados de linhas retas, curvas, dentadas, etc., feitas em cor no quadro-de-giz, no papel ou outros materiais; iii) tatear formas desenhadas e recobertas com barbante, sisal, areia ou arroz; iv) tatear os próprios objetos; v) fazer pinturas; vi) traçar linhas horizontais ou verticais; vii) realizar movimentos de pinça, como catar sementes, colar pequenos grãos sobre linhas; viii) usar lápis, pincéis e giz, nos planos horizontal e vertical; ix) executar movimentos ritmados, concomitantes ou dissociados, utilizando as mãos ou os dedos. Considerações Finais Como foi demonstrado ao longo deste estudo, a Psicomotricidade nasceu da necessidade de moldar o homem em instrumento fabril, exigido pela sociedade capitalista. Em razão disso a educação escolar também se adequou às necessidades das classes dominantes, tornando-se diferenciada para a classe fabril. Para conceituar esta área do conhecimento e bem utilizar os benefícios que a mesma pode oferecer para a educação global do educando, torna-se necessário superar a visão tendencialmente positivista e biologista que ela vem sendo, historicamente, concebida, e apreender a Psicomotricidade enquanto prática social, ou seja, concebê-la numa perspectiva de totalidade. Atualmente, a intervenção no campo psicomotor é concebida a partir de quatro áreas, a saber: estimulação, educação, reeducação e terapia psicomotora. Por esta razão, pode-se afirmar que a área mais afim para desenvolver este trabalho é a Educação Física. http://dx.doi.org/10.21723/riaee.v12.n1.8278 PSICOMOTRICIDADE: ESTIMULAÇÃO DAS HABILIDADES MOTORAS, COGNITIVAS E SÓCIO AFETIVAS INTRODUÇÃO A discussão da psicomotricidade esta se tornandocomum no meio escolar, em especial no âmbito pedagógico. Estimular as crianças com ações visando seu desenvolvimento motor, cognitivo e afetivo, faz parte da educação infantil e o professor pode oferecer inúmeras possibilidades para o desenvolvimento integral da criança. Com esta visão, a psicomotricidade tem a intenção de enxergar o ser humano de uma maneira total, levando sempre em consideração a pessoa e suas habilidades como um vasto campo a ser explorado. Gonçalves (2010, p. 87) afirma que “O corpo como porta de entrada e saída da aprendizagem, utiliza-se da Psicomotricidade, para expor toda a transcendência de sua experiência”. Para Fonseca (2008), a psicomotricidade visa privilegiar a qualidade da relação afetiva, a mediatização, a disponibilidade tônica, a segurança gravitacional e o controle postural, à noção de corpo, sua lateralização e direcionalidade e a planificação práxica, enquanto componentes essenciais e globais da aprendizagem e do seu ato mental concomitante. Os dicionários, em sua maneira geral dizem que motricidade é aquilo que nos da força ou movimento, ou seja, a ação motora corporal, e psico, referente aos aspectos cognitivos e afetivos do homem, como Le Boulch (1987, p. 17) escreve: Emitimos a hipótese de que o objeto principal da educação psicomotora é, precisamente, ajudar a criança a chegar a uma imagem do corpo operatório, que concerne não só ao conteúdo, mas também a estrutura da relação entre as partes e a totalidade do corpo, uma unidade organizada, instrumento da relação com a realidade. O desenvolvimento psicomotor estimula o global do ser humano, como dito anteriormente, pois ele: [...] pode funcionar como ferramenta psicopedagógica, pois possibilita à criança utilizar-se do seu corpo para explorar, manipular, sentir, perceber, criar, brincar, relacionar, imaginar, planejar e pensar, tornando-se um facilitador e motivador para aprender. (GONÇALVES, 2010, p. 25). Com isso em mente Le Bouch (1987, p. 27) diz que “Menosprezar a influência de um bom desenvolvimento psicomotor, seria limitar a importância da educação do corpo e recair numa atitude intelectualista”, pois a escola pública brasileira, mesmo com os debates e o tema do desenvolvimento total da criança em voga, ainda se mostra interessada apenas no eixo do ler/escrever/cálculos matemáticos. Ter boas intenções, motivação para o ato e estímulos, é necessário para o professor desempenhar o papel de educador por excelência, mas as suas práticas diárias devem condizer com tais esperanças, como Le Bouch (1987, p. 28) explicita para conhecimento o caso abaixo, das dificuldades escolares globais de origem afetiva: Durante o período escolar, seria possível, apoiando-nos nas atividades de expressão espontânea realizadas em grupo, despistar entraves como a inibição, a insegurança, as dificuldades de comunicação, os atrasos de linguagem. A exploração de situações lúdicas e do trabalho para a imagem do corpo num clima de segurança criado pela educadora deveria permitir às crianças, vítimas de carências afetivas ou, ao contrário, superprotegidas, a recuperação de uma parte de seu atraso no plano funcional [...] Entendendo-se psicomotricidade com essa premissa, faz-se de muito importante estudá-la, vê-la como ferramenta e enxergar o ser humano em sua totalidade, jamais separando o ser racional, do ser emocional e intelectual, dando-lhe oportunidade para o total desenvolvimento das suas habilidades e possibilidades como indivíduo. Os objetivos dessa pesquisa foram dissertar sobre o que é psicomotricidade e sua definição teórica; apresentar as bases legais (leis normas e declarações jurídicas) e sociais do motivo de se estudar a psicomotricidade para o contexto escolar; e aplicar o teste psicomotor Escala de Desenvolvimento Motor (EDM) do doutor Francisco Rosa Neto (ROSA NETO, 2002, p. 31), o qual ilustra em que nível psicomotor a criança se encontra. No capitulo I “Psicomotricidade e sua Importância” diz que o tema em voga, psicomotricidade está sendo discutido e muito no dia a dia escolar. Relata necessidade de se estimular ao todo para obter um bom desenvolvimento, não apenas o cognitivo, mas também social e motor. No capitulo II “Psicomotricidade Uma Questão Legal” trata sobre as leis mundiais e nacionais, e traz à tona o dever do estado de ajudar a criança a desenvolver-se em sua totalidade e também explicita as fases de desenvolvimento infantil e do dever do professor em conhecê-las. E no capítulo III “Psicomotricidade em Foco: Pesquisa” revela o nível psicomotor de uma classe de educação infantil de uma escola pública com crianças de seis anos de idade cronológica. I PSICOMOTRICIDADE 1 PSICOMOTRICIDADE E SUA IMPORTANCIA Vivem-se numa sociedade em que se é esquecida, e por vezes desrespeitada as práticas motoras de uma maneira geral. Na educação infantil ou mesmo no ensino fundamental, esta prática, ou melhor, esta cultura também é adotada e reproduzida, não se levando em conta à importância que o desenvolvimento global pode trazer para o ser humano em formação, neste caso, as crianças. Pais, sociedade, ou mesmo professores, apenas preocupam-se com o intelectual, o cognitivo explicitamente dito, pois em grande parte para “chegar a algum lugar na vida” faz-se necessário à evolução dos saberes, em detrimento ao desenvolvimento total, ou seja, nos âmbitos do social, afetivo e o cognitivo. Encarando estes três pontos, social, afetivo e cognitivo como essenciais e imprescindíveis para a completa evolução do ser humano, a psicomotricidade, como ciência, angaria cada vez mais profissionais, interessados em práticas e conhecimentos que leve a fundo o conhecer e desenvolver o homem. A educação intencional com a estimulação psicomotora significa oferecer a possibilidade de se explorar a todo o entorno da criança, utilizando ela mesma ao próprio corpo como instrumento exploratório da realidade em que ela está inserida, comunicando-se com o mundo, tendo experiências e resgatando o antes com o agora experimentado, apropriando-se do concreto e o englobando as suas práticas. Para esta questão, o psicomotor pode ser assim entendido como diz Gonçalves (2010, p.85): Entende-se “psicomotricidade” como uma ciência que se estuda o indivíduo por meio do seu movimento; movimento esse que exprime, em sua ação, aspectos motores, afetivos e cognitivos, e que é resultado da relação do sujeito com seu meio social. O movimento psicomotor está carregado de intenção, pois é resultado de uma ação planejada (psico) voltada a um fim determinado. Ação com um fim determinado, com uma intencionalidade, uma significação, utilizando como ferramenta o próprio corpo da criança e todas as suas possibilidades, motoras, sociais e intelectuais, traduzindo-a em tudo isso como um facilitador do aprendizado. A estimulação sensorial é parte fundamental da psicomotricidade, como Fonseca (2004, p. 52) relata que “[...] a integração sensorial da espécie humana inicia-se no útero maternal como pré-requisito do desenvolvimento e da aprendizagem e prolonga-se [...]” com isso, entende-se que desde a fase fetal, o ser humano já é exposto a uma grande quantidade de estímulos vindos do meio exterior, levando-o ao desenvolvimento de suas capacidades. Tendo isso em mente, os canais como a visão, audição, olfato, tato e paladar, tornam-se alguns dos principais condutores de tudo aquilo que vem do exterior, integrando todas as informações e as transmitindo ao cérebro e seus sistemas: É o cérebro que cabe organizar um sistema de comunicação de milhões de dados para que as respostas adaptativas façam parte do repertório do indivíduo, por meio das quais ele se apropria de aprendizagens não verbais e verbais múltiplas [...]. (FONSECA, 2004, p.52). Segue abaixo curtas reflexões sobre alguns canais sensoriais adquiridos ao nascer, segundo Fonseca(2004), Ferland (2006), Gonçalves (2009) e Gonçalves (2010). Visão: o primeiro e mais importante meio de comunicação com o social, composto em especial pelos olhos sendo o mais preciso e rápido canal condutor de informações, como diz Fonseca (2004, p. 58) “a visão assume um papel de vigilância, alerta, atenção e de prontidão para a comunicação que mais nenhum outro sentido pode desempenhar [...]”. As aptidões visuais do bebê levam-no a centrar a sua atenção num objeto, a fixa-lo, a seguir as suas deslocações, a registrar as suas características, a avaliar as distâncias, a observar o rosto das pessoas, a decifrar a mensagem afectiva que transmite e a comunicar as suas necessidades e desejos. (FERLAND, 2006, p.54) Audição: importante meio/canal de aprendizagem, pois através dele recebem-se os diversos tipos de sons com sua grande pluralidade. Não se esquecendo de que através da audição a criança incorpora os sons da língua materna ao seu repertório. Graças à audição, a criança localiza a origem dos sons, avalia as distancias, familiariza-se com o som ambiente, o que lhe proporciona um sentimento de segurança. Percebe igualmente a tonalidade afectiva de uma mensagem e desenvolve interesse pelas palavras e pelas vozes que ouve. (FERLAND, 2006, p.52) Olfato: sentido ligado ao prazer e as condições de sobrevivência. Revela-nos odores de realidades desagradáveis como animais putrefatos ou de gás, demonstrando com isso perigo ou pode desencadear e estimular o apetite, ou nos levar a recordar emoções contidas: A criança experimenta igualmente diversas emoções ligadas aos cheiros, pois os receptores situados nas narinas encaminham as sensações olfactivas para as zonas do cérebro que estão associadas à memória e às emoções. Eis a razão de, por exemplo, o cheiro de um livro novo nos lembrar os nossos primeiros dias de escola. (FERLAND, 2006, p.57) Tato: “o feto humano rodeado pelo líquido amniótico já sofre na pele múltiplas estimulações táteis”, como bem escreveu Fonseca (2004, p. 55). Uma infinidade de estímulos, estes que mais tarde condicionarão a pele como órgão sensorial. Através do tato explora-se o universo exterior, como a noção de temperatura, dor ou mesmo pressão. O sistema táctil permite que a criança pequena entre em contacto com os outros e com objetos, que desenvolva um sentimento de segurança, que tome consciência do seu corpo e que registre as características dos objetos.(FERLAND, 2006, p. 50) Paladar: percepção dos sabores devido às papilas gustativas. Através dele discrimina-se a enorme gama de estímulos captados pela língua, como o doce, salgado ou mesmo o amargo. É o sentido que nos permite reconhecer os gostos de substâncias colocadas sobre a língua. Nesta, estão localizadas as papilas gustativas, que são estruturas compostas por células sensoriais que transmitem ao cérebro informações que o permitem identificar os gostos básicos: o amargo, o azedo, o salgado e o doce. (GONÇALVES, 2010, p. 40). A estimulação dos aspectos sensoriais faz-se muito necessária, pois o ser humano depende dos mesmos para alcançar e desenvolver o seu lado psicomotor. O desenvolvimento psicomotor (cognitivo, emocional, motor e social) da criança, subentende, assim, uma integração sensorial em construção sequencializada e integrada. Sem ela o desenvolvimento global não seria possível. (GONÇALVES, 2009, p.69). Compreendendo o psicomotor nesta razão, a prática de se estimular ao todo em projetos educacionais deve ser incorporada ao meio escolar, e não negar a qualquer um dos sentidos/canais torna-se uma necessidade soberana. Ensinar a criança a utilizar o próprio corpo como ferramenta a ser explorada e a se desenvolver, é de fato muito importante para a aquisição de novas competências escolares, mas sempre respeitando e enfatizando aos alunos de que todos, inclusive os próprios, possuem limites. Quanto às práticas a serem colocadas no plano escolar, o professor de educação infantil deve conhecer sobre o que é motricidade e seus elementos básicos, ter em mente que trabalhar com o corpo e seus sentidos, não se limita apenas as aulas de educação física, mas sim a uma ação coordenada envolvendo a todas as disciplinas a serem ministradas aos alunos. O aparato motor que o ser humano possui é individual, pois os canais como a visão, audição, tato, paladar e olfato são estimuladores do psicomotor e únicos, “[...] cada criança traz na sua carga genética [...]” como disse Gonçalves (2010, p. 29). Nesta razão, estimulá-los acima da idade referencial pode ser prejudicial, pois ainda não houve maturação física e neurológica necessária. Todavia, é importante não oferecer estimulações excessivas à criança, o que iria de certa forma sobrecarregar os seus circuitos sensórias [...] Todavia, a estimulação deve ser suficiente para despertar o que a rodeia. Portanto, nada de dietas, mas também nada de excessos de estímulo. Para lhe permitir descobrir-se e contactar com o mundo que a rodeia, basta prodigar-lhe cuidados calorosos, fazê-la participar em atividades agradáveis e oferecer-lhe um ambiente que suscite o seu interesse. (FERLAND, 2006, p. 59) A tomada de consciência por parte da criança do seu corpo deve ser algo estimulado e ensinado na escola, pois as bases da educação psicomotora são essenciais para um melhor nível de desenvolvimento das capacidades intelectuais tão exigidas pela sociedade. Conhecer e registrar o nível motor das crianças é muito importante para o professor, pois como disse Rosa Neto (2002, p.27): O padrão de crescimento e de comportamento motor humano, o qual se modifica através da vida e do tempo, e a grande quantidade de influências que os afetam, constituem fomento para diferentes teorias científicas e sustentam a evolução de estudos que se caracterizam pelas técnicas de pesquisa e pelos meios utilizados na obtenção de dados, os quais são elaborados e discutidos como forma de elucidar os diferentes caminhos que perfazem a existência do homem e sua evolução física, orgânica, cognitiva e psicológica. Conceitos, ilustrações e teorias adicionam ao contexto a estrutura necessária para que tais estudos possam legitimar-se e oferecer fundamentos fidedignos sobre as hipóteses que pretendem estabelecer e discutir. É importante lembrar que o caráter estatístico de nível normal de referência dos testes não engloba o mesmo valor para todas as populações, tendo em vista os aspectos afetivos e sociais. Aplicar testes e provas na educação infantil para se aferir o desenvolvimento motor é uma prática interessante, pois com eles verificamos se as crianças estão em crescimento pleno e adequado para sua idade e se não possui alguma dificuldade motora que possa estar dificultando o crescimento do mesmo. O que é educativo na atividade motora não é a quantidade de trabalho efetuado nem o registro (valor numérico) alcançado, mas sim o controle de si mesmo – obtido pela qualidade do movimento executado, isto é, da precisão e da maestria de sua execução. (ROSA NETO, 2002, p. 17). Com isso em mente, a atividade motora aplicada, e o resultado obtido, se for considerado abaixo do esperado, nunca deve ser de tom pejorativo ou depreciativo para a criança, e o professor consciente deve encorajar o desenvolvimento das habilidades particulares de cada indivíduo, e nunca julgá-la como incapaz, como no caso explicitado abaixo por Bee (2003, p. 149): [...] treinadores amadores, com frequência, conhecem pouco as habilidades motoras normais das crianças [...] quando eles veem uma criança que ainda não consegue arremessar uma bola com habilidade ou chutá-la de forma desastrosa, eles a rotulam de desajeitada ou descoordenada. Estão elencados abaixo os aspectos verificados no teste Escala de Desenvolvimento Motor (EDM) do doutor Francisco Rosa Neto e constam no capítulo posterior sua aplicação e resultados obtidos junto ao publico alvoinvestigado em voga. A Motricidade Fina segundo Rosa Neto (2002, p. 15) “o transporte da mão para um alvo termina pelo ato de agarrar o objeto, o que representa uma das atividades humanas mais complexas”. A motricidade fina é um ato de coordenação, controle e destreza, caracterizada pela estimulação táctil e da percepção-visual do indivíduo e requer precisão do movimento para desempenhar habilidade específica. Como exemplos de atos que demonstram motricidade fina, estão os movimentos de preensão e pinça motor trípode (polegar-indicador-anular), como rasgar papel livremente, recortar, pintar e escrever. Nos anos do ensino fundamental, as habilidades motoras finas melhoram com rapidez, possibilitando a criança não só escreva mais clara e facilmente, mas também toque um instrumento musical, faça desenhos e desenvolva habilidades esportivas que requerem coordenação motora fina. (BEE, 2003, p. 147). A Motricidade Global refere-se ao envolvimento de grupos musculares em ação simultânea, coordenada para execução de movimentos complexos. Os movimentos resultantes poderão ser realizados por diferentes membros, sem perder seu valor. É a atividade primitiva e permanente do músculo, formando o fundo para as atividades motoras e posturais. O tônus muscular é o que assegura a preparação da musculatura para a maioria dos movimentos e atividades práticas. (GONÇALVES, 2010, p. 100) A motricidade global evolui com a maturação dos sentidos da visão, audição e tato e como exemplo pode-se citar manter-se em postura ereta, caminhar nas pontas dos pés e calcanhares, pular como sapo, coelho, pular corda e balançar-se em um pé sem ajuda. O Equilíbrio é a ação que diferencia segmentos corporais. Fonseca (2004, p.72) diz que “sem domínio postural o cérebro não aprende, a motricidade não se desenvolve e a atividade simbólica resulta indubitavelmente afetada”. Sem o equilíbrio necessário, o cérebro perde a orientação, não consegue economizar energia em seus movimentos, e o equilíbrio estático (capacidade de manter certa postura sobre uma base de sustentação) e o equilíbrio dinâmico (orientação controlada do corpo em situações de deslocamento no espaço com olhos abertos) são afetados. Gonçalves (2009, p. 44) relata que “a criança com uma equilibração adequada executa suas atividades com menor esforço e desgaste, mantendo uma movimentação harmônica e coordenada”. Com a automatização de equilibração, o indivíduo vai adquirindo o dinamismo bimanual e bipedal, em equilíbrio estático e dinâmico. Uma ação realizada com o controle da equilibração traduz a economia, a eficácia e a estética do movimento, ou seja, ação de maior rendimento e menor esforço. (GONÇALVES, 2010, p. 103). O Esquema Corporal significa tomar conhecimento do próprio corpo, com capacidade de reconhecê-lo e nomeá-lo, incluindo as funções básicas que cada parte realiza no todo. É a representação relativamente global, científica e diferenciada que o indivíduo tem de seu próprio corpo em um contexto concreto, isto é, a capacidade de reconhecer e nomear as partes do corpo e as funções que elas desempenham. (GONÇALVES, 2010, p. 105) Como exemplo, pode-se citar o identificar as partes que compõem o corpo, reconhecimento dos sentidos, identificação e diferenciação das partes corpóreas. Com todo esse repertório englobado as suas práticas, a criança desenvolve a imagem corporal, que consiste em conhecer ao próprio corpo. A noção de corpo traz a consciência do ser como vivente e pertencente a um meio particular. A criança com uma boa noção de corpo executa suas ações apoiando-se nos segmentos corporais, atribuindo a cada um deles a sua porcentagem de responsabilidade por um movimento bem executado. (GONÇALVES, 2009, p. 48). A Organização Espacial segundo Rosa Neto (2002, p. 21) “todas as modalidades sensoriais participam em certa medida na percepção espacial [...]”. Acima, abaixo, a frente, atrás, esquerda, direita, distante, profundo, dentro e fora. São reflexões espaciais que são definidas conforme diferentes receptores nos trazem informações. Pode-se citar como exemplos exercícios de transposição como inverter as cores, substituir um elemento por outro, modificar o tamanho de um desenho; exercícios de simetria simples e desenhos inacabados. A evolução da noção espacial destaca a existência de duas etapas: uma ligada à percepção imediata do ambiente, caracterizada pelo espaço perceptivo ou sensório-motor; outra baseada nas operações mentais que saem do espaço representativo e intelectual. (ROSA NETO, 2002, p. 22). A Organização Temporal é o transcorrer do tempo que é definido pelos mais variados órgãos sensoriais dos corpos, sendo essa definição estruturada em especial pela memória, com a qual se percebe a velocidade constante do tempo, ou seja, o futuro, o passado e o presente, pois “[...] elabora-se e constrói-se por meio da ação do movimento e dos dados sensoriais que são colhidos pelos sentidos, permitindo a ordenação, organização e processamento da informação” como disse Gonçalves (2009, p.51). A Lateralidade refere-se às vivencias e noções de direita e esquerda com a realidade ao redor. Também a preferência de utilização das partes simétricas corpóreas como olho, mão, perna e pé. Rosa Neto (2002, p. 24) diz que “a lateralidade está em função de um predomínio que outorga a um dos dois hemisférios a iniciativa da organização do ato motor, o qual desembocará na aprendizagem [...]”, por isso identificar a lateralidade da criança é muito importante para colocá-la em condições essenciais para uma boa educação. Segundo Gonçalves (2010, p. 109), “a lateralidade é função da dominância lateral, tendo um dos hemisférios à iniciativa da organização do ato motor e, o outro, a função de apoio e auxilio, que incidem no aprendizado e no desempenho das práxias” Existem outras maneiras de se aferir o nível motor em que as crianças se encontram, mas para este trabalho foi escolhido o EDM em razão de sua praticidade e facilidade de aplicação, não exigindo ou consumindo tempo vultoso para realizá-lo, apenas neste caso, profissionais com conhecimento do mesmo e seu embasamento teórico. Seguem abaixo, contribuições que a psicomotricidade pode gerar para a aprendizagem segundo escreve Gonçalves (2010, p. 116 e 117): Melhorar a organização dinâmica; respostas motoras mais ajustadas; repostas e escolhas mais rápidas aos estímulos; economia e libertação do gesto; [...] aperfeiçoar a ritmicidade; desenvolver a adaptabilidade; manter as integridades sensoriais; [...] propiciar a resolução de problemas, levando às crianças a formular suas próprias hipóteses; [...] estimular a organização e a ordem ligadas a rotina diária; [...] promover o ajustamento da criança as várias solicitações das competências escolares, levando-a a experimentar o conhecimento a partir do seu corpo, transferindo-o, então, para fora dele. Como dito neste capítulo, a psicomotricidade é muito importante para o desenvolvimento global da criança. Com práticas escolares voltadas para o total do aluno, e não apenas o seu intelectual, reforçar seus sentidos, seus canais receptores e seus aspectos pessoais, faz-se de muita necessidade, para poder chegar ao pleno desenvolvimento cognitivo. CAPÍTULO II PSICOMOTRICIDADE UMA QUESTÃO LEGAL 2 A LEGALIDADE DA PSICOMOTRICIDADE Apesar da sociedade civil em grande parcela, se esquecer do desenvolvimento global, existem leis, normas e declarações que imprimem a necessidade deste desenvolverem-se globalmente para a prática e vivência nos mais diversos setores, sejam eles sociais ou culturais. Como está bem explicitado da Constituição Federal do Brasil. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificaçãopara o trabalho. (BRASIL, 2007, p. 136). Pleno desenvolvimento, como dito na Constituição, em paralelo passa pela psicomotricidade, pois como dito anteriormente aborda aspectos do social, cognitivo e afetivo. A Declaração Universal dos Direitos Humanos no artigo 26 e inciso I e página 14, diz que “todo homem tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo menos nos graus elementares e fundamentais”, reforçando com isso, a necessidade e dever do Estado em colocar em práticas tais prerrogativas. A Carta Magna diz em seu artigo 210 p. 137, que “serão fixados conteúdos mínimos para o ensino fundamental, de maneira a assegurar formação básica comum e respeito aos valores culturais e artísticos [...]”. O artigo 3 da Declaração Universal diz que “todo homem tem direito à vida [...]” e o artigo 27 da mesma, na página 14 assim relata em seu inciso I que “todo homem tem direito de participar da vida cultural da comunidade, de fruir as artes e de participar do progresso científico e de seus benefícios”, colaborando com isso também ao desenvolvimento total da pessoa, passando assim pelo meio da psicomotricidade, que é a raiz e base para o crescimento de todo o conhecimento humano. A Resolução XXX da Conferência Internacional Americana, realizada na Colômbia, cidade de Bogotá em 1948, aprovou a Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem, e em seu artigo 12, assim dispôs: Toda pessoa tem direito à educação que deve inspirar-se nos princípios de liberdade, moralidade e solidariedade humana. Tem, outrossim, direito a que, por meio dessa educação, lhe seja proporcionado o preparo para subsistir de uma maneira digna, para melhorar o seu nível de vida e para poder ser útil à sociedade. O direito à educação compreende o de igualdade de oportunidade em todos os casos, de acordo com os dons naturais, os méritos e o desejo de aproveitar os recursos que possam proporcionar a coletividade e o Estado. Toda pessoa tem o direito de que lhe seja ministrada gratuitamente, pelo menos, a instrução primária. (DEVERES DO HOMEM, 1948 apud 2012, p.1) Nos termos dos grandes acordos, não se pode esquecer a Declaração dos Direitos da Criança, adotada pela Assembleia das Nações Unidas em 20 de novembro de 1959, que no Principio 7 propõe: A criança terá direito a receber educação, que será gratuita e compulsória pelo menos no grau primário. Ser-lhe-á propiciada uma educação capaz de promover as suas aptidões, sua capacidade de emitir juízo e seu senso de responsabilidade moral e social, e a tornar-se um membro útil da sociedade. [...] A criança terá ampla oportunidade para brincar e divertir-se, visando os propósitos mesmos da sua educação; a sociedade e as autoridades públicas empenhar-se-ão em promover o gozo desse direito. (DIREITOS DA CRIANÇA, 1959, apud 2012, p. 1) Os grandes acordos internacionais, sempre citam da necessidade do dever do Estado em aplicar políticas que garantem acesso às crianças em tudo o que se diz respeito à educação, cultura e lazer, colaborando com isso sobre a aplicação, mesmo que indiretamente quanto as praticas psicomotoras as quais auxiliam a promoção do cidadão completo, aquele que age e interage com seu meio social. Citando a Constituição da República (2007), o artigo 208 da mesma em seu inciso I, aponta “ensino fundamental obrigatório e gratuito, assegurada, inclusive, sua oferta gratuita para todos [...]” como política a ser empregada em todo o território da nação. Todo esse embasamento legal remete a necessidade imprescindível e inquestionável quanto à formação desde a infância ao global do ser humano, pleno quanto as suas habilidades psicomotoras que devem ser estimuladas desde cedo, contemplando com essas leis o cognitivo, afetivo e o motor. Toda essa definição sobre educação também está explicita no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), com sua dissertação a respeito do tema que está no artigo 53 “a criança e o ao adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho [...]” (FERREIRA, 2008, p.57). A criança por sua integridade pessoal tem o “direito de ser respeitado por seus educadores” como diz o inciso II do mesmo artigo 53, confirmando com isso sobre a relação preciosa que deve existir entre a prática da docência, neste caso, as práticas psicomotoras e o aluno. O ECA, no artigo 54 inciso I (FERREIRA, 2008, p. 50), relata que “é dever do Estado assegurar à criança e ao adolescente: ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram acesso na idade própria”. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) mostra-se mais que uma simples lei para desenvolver o total da pessoa, ele é na verdade, uma poderosa ferramenta, salientando o dever, mais uma vez do Estado e também da família em promover uma educação global. Todo este contexto legal serve para afirmar da importância social que o tema da educação, vista como um todo provoca. Documentos importantes expostos aqui, em especial a Declaração Universal dos Direitos Humanos, a Constituição Brasileira, e o Estatuto da Criança e do Adolescente são embasamentos jurídicos desenvolvidos para sustentar as práticas de ensino global, com vistas à preocupação que as crianças em formação provocam para os governantes. Conhecer desta jurisprudência é importante, pois evoca a sociedade a se manifestar em defesa daqueles mais frágeis, as crianças. Mas também neste mesmo entorno teórico, é de uma importância impar citar da necessidade do se aprofundar na criança e suas fases de desenvolvimento, não apenas para o profissional envolvido com a educação e suas ramificações, mas também a todos cujo desenvolver-se como cidadão faz parte para uma vida plena, seja ela social, emotiva, física e cognitiva. O que a criança faz, como se identifica, sua importância no meio em que se desenvolve, ou seja, como ela se enxerga, é nesse ponto que o suíço Jean Piaget com suas teorias se destaca no cenário educacional brasileiro. A inteligência é uma adaptação. Para aprendermos as suas relações com a vida, em geral, é preciso, pois, definir que as relações existem entre o organismo e o meio ambiente. Com efeito, a vida é uma criação contínua de formas cada vez mais complexas e o estabelecimento de um equilíbrio progressivo entre essas formas e o meio. (PIAGET, 1966, p. 15). Jean Piaget, segundo Biaggio (1988, p. 56) é de suma importância para conhecer e entender a criança, pois ele “[...] havia se dedicado ao trabalho experimental com crianças, numa tentativa de entender a evolução da inteligência humana [...]”. Biaggio (1988, p. 62) traz o esquema de desenvolvimento estudado por Piaget da seguinte forma “[...] estágio sensório motor (0 a 2 anos); estágio pré- operacional (2 a 6 anos); estágio de operações concretas (7 a 11 anos); estágio de operações formais (12 anos em diante) [...]”. Em tempo, deve ficar claro que o objeto de estudo deste trabalho de conclusão de curso foi em foco das crianças de 6 anos de idade, no caso da teoria de Piaget encaixando-se no estágio pré-operacional. Porém, estar ciente da teoria em voga e seus desdobramentos faz-se muito valoroso para o entendimento quanto à aplicação e resultados do teste de Escala de Desenvolvimento Motor (2002), do Doutor Francisco Rosa Neto, registrado no capitulo terceiro. O primeiro estágio, o Sensório Motor, dá-se na idade de 0 a 2 anos, no qual o recém-nascido, ainda frágil é dependente daqueles que estão em seu redor, e de acordo com Biaggio (1988, p. 62) “[...] não há ainda capacidade de abstração, e a atividade intelectual é de natureza sensorial e motora. A criança percebe o ambiente e age sobre ele”. Complementando esta fase de desenvolvimento infantil, ela é de uma natureza valiosa, pois “o mais importante da contribuição dos estudos dePiaget sobre essa fase consiste na ênfase à importância dessas atividades como fundamento de toda a atividade intelectual superior [...]”, segundo Biaggio (1988, p. 63). Com essa razão citada acima, o estimular psicomotor para o processo de desenvolvimento da criança em fase sensório motor é precioso, como explicitado por Fonseca (2009, p. 15): Além disso, a psicomotricidade pode favorecer um trabalho preventivo adequado para equacionar possíveis lacunas deixadas durante o processo maturacional das crianças, compensando déficits atribuídos à privação de movimentos e da experiência lúdico- espacial, comuns na infância contemporânea. O estágio Pré-operacional, abrangido na idade de 2 a 6 anos, e destaca como uma das principais verificações de Piaget foi o do jogo simbólico: O principal progresso desse período em relação ao sensório-motor é o desenvolvimento da capacidade simbólica. Nessa fase, a criança já não depende unicamente de suas sensações, de seus movimentos, mas já distingue um significador (imagem, palavra ou símbolo) daquilo que ele significa (o objeto ausente). (BIAGGIO, 1988, p. 67). No jogo simbólico é onde a criança se adapta, sendo indispensável “[...] ao seu equilíbrio afetivo e intelectual [...]” (PIAGET, 2003, p. 56). Uma característica muito marcante também a este período pré- operacional, é a “incapacidade da criança se colocar no ponto de vista de outrem [...]” (BIAGGIO, 1988, p. 68), onde ela enxerga o derredor apenas de sua própria ótica. O período pré-operacional é um estágio em que há um desequilíbrio, as acomodações predominam marcadamente sobre as assimilações. Parece que a maioria dos estímulos com que se defronta exige da criança mudanças radicais em suas maneiras de lidar com o mundo. É por isso que a criança nessa fase diz tanta coisa que nos parece diferente do pensamento adulto, ilógico ou que nos fazem mesmo achar graça (BIAGGIO, 1988, p. 70). O próximo período é o de Operações Concretas, começando por volta dos 7 até 11 anos de idade, onde “as operações em jogo nesse gênero de problemas podem chamar-se concretas no sentido de que se baseiam diretamente nos objetos e não ainda nas hipóteses enunciadas verbalmente [...]” (PIAGET, 2003, p. 91). Neste período, destaca-se a seriação que “[...] consiste em ordenar os elementos segundo as grandezas crescentes ou decrescentes (PIAGET, 2003, p. 92), a classificação “[...] constitui, do mesmo modo, agrupamento fundamental [...]” (PIAGET, 2003, p. 93), e a noção de espaço, fundamentada “[...] nas diferenças entre elementos e suas semelhanças ou equivalências [...]” (PIAGET, 2003, p. 96). Por meio da motricidade e da interpretação das informações sensoriais, visuais e auditivas, principalmente, ocorre uma transformação: o conceito de corpo se torna conhecimento do espaço, primeiramente intuitivamente, depois lógica e conceitualmente. (GONÇALVES, 2010, p. 111). O crescimento natural do corpo, respeitando sempre seus limites, e sua idade biológica, acompanhados de um bom desenvolvimento psicomotor, é muito importante, pois: O corpo surge, portanto, mais uma vez, como o componente material do ser humano, que, por isso mesmo, contém o sentido concreto de todo o comportamento sócio-histórico da humanidade. O corpo não é, assim, o caixote da alma, mas o endereço da inteligência. O ser humano habita o mundo exterior pelo seu corpo, que surge como um componente espacial e existencial, corticalmente organizado, no qual e a partir do qual o ser humano concentra e dirige todas as suas experiências e vivências. (FONSECA, 2008, apud, GONÇALVES, 2009, p. 14). E a última fase da teoria de Jean Piaget é o estágio de Operações Formais, que se inicia dos 12 anos em diante, sendo caracterizado pelo “[...] libertar-se do concreto e situar o real num conjunto de transformações possíveis [...]” (PIAGET, 2003, p. 117). Nesta fase de operações mentais formais a criança consegue estruturar seus pensamentos e construir hipóteses, como disse Piaget (2003, p. 119) é o “[...] inicio do pensamento hipotético-dedutivo [...]”, já formulando agora suas próprias proposições. O período das operações formais difere grandemente do período das operações concretas, como disse Piaget (2003, p. 132): Com efeito, a diferença essencial entre pensamento formal e as operações concretas é que estas centradas no real, ao passo que aquele atinge as transformações possíveis e só assimila o real em função desses desenvolvimentos imaginados ou deduzidos. Ora tal mudança de perspectiva é tão fundamental do ponto de vista cognitivo, pois o mundo dos valores também pode permanecer aquém das fronteiras da realidade concreta e perceptível ou, ao contrário, abrir-se para todas as possibilidades interindividuais ou sociais. Foram tecidos aqui breves comentários sobre Jean Piaget e sua teoria quanto aos quatro estágios de desenvolvimento infantil. Desde a mais tenra idade (sensório-motor) e toda a sua dependência do meio exterior para protegê-lo até os 12 anos de idade (operações formais), com todo o seu dinamismo e busca pelo novo. Fica caracterizado com isso tudo a importância do desenvolver psicomotor das crianças, em especial neste caso quanto no meio escolar, como bem disse Gonçalves (2009, p. 236): A estimulação psicomotora, incorporada a currículos da Educação Infantil, pode agregar experiências sensoriais, perceptivas, motoras, sociais e afetivas, que são capazes de tornar a aprendizagem da criança repleta de conteúdos simbólicos e não simbólicos que são a gênese da linguagem verbal e, posteriormente da linguagem escrita. A cada fase de desenvolvimento da criança, ela adquiriu estruturas, mas como disse Gonçalves (2010, p. 63): [...] as aquisições psicomotoras de cada fase foram especificadas de acordo com os estágios de evolução da criança [...] as competências formam definidas por padrões ditados pela normalidade, porém algumas delas pode ocorrer mais tardiamente ou precocemente , dependendo do potencial genético e da integração social desta criança [...] Serão vistas agora algumas aquisições funcionais e sócio-cognitivas que um bom desenvolvimento psicomotor pode acarretar em crianças em idade de 0 a 6 anos, tendo a teoria de Jean Piaget como importante base de estudo, e segundo os estudos de Gonçalves (2010). 2.1 Idade de 0 a 3 meses As aquisições funcionais segundo Gonçalves (2010, p. 65) “[...] o recém-nascido apresenta reações automáticas reflexas [...] organizações instintivas que garantem o ajustamento dele ao meio”, como o reflexo de rotação, que é a “[...] virada automática da cabeça em direção a qualquer toque na bochecha [...]” facilitando com isso a amamentação. Seguindo, pode-se citar que o bebê “[...] dorme 19 em 24 horas; segue os estímulos com os olhos; emite sons vocais; boca – principal ligação com o meio”. (GONÇALVES, 2010, p. 66). As aquisições sócio-cognitivas, Gonçalves (2010, p. 66) descreve que de 0 a 3 meses o bebê pode ter “[...] sorriso social; estranhamento de procedimentos desconhecidos; [...] comunica suas necessidades por meio do choro; sorri em resposta a outro sorriso; o eu é um prolongamento do outro”. 2.2 Idade de 4 a 6 meses As aquisições funcionais nesta fase têm o “[...] rolamento lateral; preensão palmar; alcança objetos no seu campo visual; começa a orientar-se no espaço; rasteja; bimanualidade; iniciação do controle do tronco” tudo isso segundo Gonçalves (2010, p. 68). As aquisições sócio-cognitivas Gonçalves (2010, p. 68) dizem que a criança desenvolve “[...] expressões diferenciadas (tristeza, raiva, surpresa); imitação de gestos representativos; ri alto, esconde-se; estimulação maior com pessoas do que com objetos; balbucia; sorrisos frequentes”. 2.3 Idade de 12 a 24 meses Sobre as aquisições funcionais Gonçalves (2010, p. 73) diz que a criança adquire: [...] locomoção (marcha); liberação das mãos; atividadeexploratória intensa; preensão diferenciada (pinça e palmar no uso do lápis); reconhecimento de partes do corpo simples; corrida (com certa dificuldade); capacidade de manusear a colher e comer; início do controle esfincteriano [...] As aquisições sócio-cognitivas, Gonçalves (2010, p. 73) relata da “[...] intenso interesse pela realidade externa; intensificação da atividade simbólica; não percepção do „eu‟ individual (trata-se na terceira pessoa); acha novas soluções para problemas; brinca de faz de conta; empatia egocêntrica”. 2.4 Idade de 2 a 3 anos Nesta fase a “[...] a criança começa a utilizar-se da linguagem oral como meio de comunicação de pensamento [...]” como bem escreveu Gonçalves (2010, p. 74). As aquisições funcionais como diz Gonçalves são: Autonomia da marcha (controle tônico-postural); motricidade sincrética (intuitiva) e simétrica; corre com maior equilíbrio; preensão fina; função simbólica; controle esfincteriano; autonomismo postural integrado; maior domínio da colher [...] (GONÇALVES, 2010, p. 75) As Aquisições sócio-cognitivas: Compreensão de instruções e direções; compreensão dos advérbios de lugar; nomeia imagens; chama-se pelo nome; atividade lúdica; interessa-se pelo outro; reconhecimento de parte do corpo, segura o lápis com os dedos; prevalência manual na maioria das atividades; garatujas; reconhecimento de sua imagem no espelho e em fotografias. (GONÇALVES, 2010, p. 75). 2.5 Idade de 3 a 5 anos: Aquisições funcionais: nesta idade o maior controle motor prevalece, pois as estruturas físicas estão se estabilizando. Gonçalves (2010, p. 77) assim escreveu “[...] controle automático da postura; dominância lateral; aparecimento dos sentidos das posições e direções no espaço em relação com o corpo; [...] aperfeiçoamento perceptivo motor [...]”. Aquisições sócio-cognitivas: Gonçalves (2010, p. 78) descreve: Grande interesse pelo outro, principalmente do mesmo sexo; função simbólica ativa; imitação diferida (reproduz uma situação observada em outra circunstância e momento); estruturação espacial e temporal dos acontecimentos; [...] representação mental (conservação de número e quantidade); enriquecimento do vocabulário; faz perguntas [...] condutas sociais [...]; Nesta fase pode-se claramente visualizar o avanço da criança, constatando a importância do desenvolver psicomotor adequado para sua idade. 2.6 Idade de 6 anos Nesta fase de desenvolvimento, as habilidades da criança estão mais lapidadas e muito mais complexas. Aquisições funcionais: Aquisições gnósico-práxicas (gestos automatizados em ações voluntárias); gnose da lateralidade; somatognosia (conhecimento de si próprio); desenvolvimento práxico eficiente (coordena as ações com pensamento antecipado); aperfeiçoamento da motricidade fina; planificação motora (antecipação das ações); situa-se no espaço e no tempo; joga cooperativamente com as regras; grafismo (representação gráfica dos símbolos). (GONÇALVES, 2010, p. 80). As aquisições funcionais se comparadas com o desenvolvimento anterior devem estar num melhor plano de crescimento, sempre com vistas, claro, a maturação individual infantil. Aquisições sócio-cognitivas: Metacognição e metamemória; conservação de massa e número; representação de símbolos gráficos; condutas sociais; formação de grupos; domínio da linguagem oral; estruturação lógica da linguagem; utilização dos primeiros conceitos; interesse pela leitura; autonomia em tarefas e hábitos de higiene; desenvolvimento da curiosidade e responsabilidade; imitação de modelos do mesmo sexo; desenho da figura humana (detalhes no vestuário e preenchimento de membros). (GONÇALVES, 2010. p. 81). Todos os tópicos elencados neste capítulo são sobre bons conhecimentos básicos, os quais o professor deve possuir a respeito das habilidades psicomotoras, seus desdobramentos, idades abrangentes, limites e conhecimento jurídico, para se obter bons resultados quanto ao desenvolvimento total dos alunos. CAPÍTULO III PSICOMOTRICIDADE EM FOCO: PESQUISA 3 O DIA-A-DIA DA PSICOMOTRICIDADE O autor Francisco Rosa Neto, na obra Manual de Avaliação Motora (2002), discorre sobre testes a serem aplicados nas crianças com intenção de se saber qual o nível motor em que ela se encontra. Tais testes correspondem a Escala de Desenvolvimento Motor, os quais foram aplicados em 10 alunos do primeiro ano do ensino fundamental da Escola EMEIF “Joaquim Caetano Ferraz” município de Getulina/SP, distrito de Macucos, e contemplam aos seguintes conteúdos discorridos: motricidade fina, motricidade global, equilíbrio, esquema corporal, organização espacial e organização temporal. Nestas razões, o teste de Escala de Desenvolvimento Motor (EDM) é descrito assim por Rosa Neto, (2002, p. 30): Compreende um conjunto de provas muito diversificadas e de dificuldade graduada conduzindo a uma exploração minuciosa de diferentes setores do desenvolvimento. A aplicação em um sujeito permite avaliar seu nível de desenvolvimento motor, considerando êxitos e fracassos, levando em conta as normas estabelecidas pelo autor da escala. A Escala de Desenvolvimento Motor (EDM) é considerada um “[...] complemento indispensável do exame psicológico” conforme Rosa Neto (2018, p. 34) e: A escala EDM aparece com o propósito principal de colocar à disposição de profissionais de saúde e de educação um conjunto de instrumentos de diagnóstico que lhes permitam utilizar um método eficaz para realizar estudos transversais e longitudinais através de provas construídas sobre princípios técnicos, científicos, com critérios práticos e coerentes. Os testes da EDM neste trabalho de conclusão de curso são de critério exploratório, e sua coleta estatística realizada em crianças de seis anos consideradas “normais” frente à sociedade em que participam. O público em voga pesquisado não possui quaisquer necessidades de educação especial, apenas listam uma pequena amostra do grande contingente estudantil das escolas públicas brasileiras quanto ao aspecto psicomotor em que se encontram. Ao realizar a testagem do labirinto (ROSA NETO, 2002, p.46) com os alunos, no primeiro teste sobre motricidade fina, no qual todos os alunos apresentavam seis anos de idade cronológica foi verificado que uma criança (10%) atingiu o teste da idade correspondente, outras cinco (50%) atingiram a idade psicomotora de sete anos com o teste de bolinhas de papel (ROSA NETO, 2002, p.46) e quatro crianças (40%), não conseguindo atingir a idade considerada ideal, possuem idade psicomotora de cinco anos, verificado com o teste fazer um nó (ROSA NETO, 2002, p.45). Figura 1: Motricidade Fina 40% 10% 50% Motricidade Fina 5 anos 6 anos 7 anos Fonte: Teste realizado pelos pesquisadores. A motricidade fina tem relação com a coordenação visuomanual, como disse Rosa Neto (2002, p. 14) “[...] representa a atividade mais frequente e mais comum no homem, a qual atua para pegar um objeto e lançá-lo, para escrever, desenhar, pintar [...]”. Neste teste, foi verificado que grande parcela de população investigada, 40%, não apresenta o nível de desenvolvimento adequado, ficando para observação possíveis dificuldades em idades cronológicas superiores quanto à questão de adquirir novas habilidades práticas e motoras, como por exemplo, o escrever, tão necessário e de indescritível utilidade para todas as atividades cotidianas de uma escola. Alunos que apresentam dificuldade de escrita devem ser observados pelos professores, e se necessário, a intervenção deve ser posta em prática, para tentar avançar quanto à motricidade fina e fazer com que a criança adquira coordenação condizente com sua estrutura. O segundo teste refere-se à motricidade global, e foi aplicado ao mesmo público alvo, alunos de seis anos de idade cronológica, onde foi aferido com a testagem do caminhar em linha reta (ROSA NETO, 2002, p.51) quequatro crianças (40%) estão em condições psicomotoras de seis anos de idade, três crianças (30%), com o teste de pé manco (ROSA NETO, 2002, p.51) encontra-se com sete anos em idade psicomotora e, três crianças (30%) estão abaixo da linha considerada normal para este teste, estando assim com cinco anos psicomotores constatados com o teste de saltar uma altura de 20 centímetros (ROSA NETO, 2002, p.50). Figura 2: Motricidade Global 30% 40% 30% Motricidade Global 5 anos 6 anos 7 anos Fonte: Teste realizado pelos pesquisadores. Os testes em motricidade global são muito importantes, pois como salienta Rosa Neto (2002, p.16): A perfeição progressiva do ato motor implica um funcionamento global dos mecanismos reguladores do equilíbrio e da atitude. Quando a criança está capacitada para isso, certas condições de execução permitem reforçar certos fatores de ação (vivacidade, força muscular, resistência, etc). Estes fatores desenvolvem também um certo controle da motricidade espontânea, à medida que a situação- problema exige o respeito a certas consignas que definem as condições de espaço e de tempo para desenvolver a tarefa. A motricidade global refere-se ao controle dos grandes sistemas musculares, para realizar as mais diversas atividades, como caminhar, correr, saltar ou mesmo balançar alguma parte do corpo, como reiterou Fonseca (1995, p. 122) “[...] toda a motricidade necessita do suporte da tonicidade, isto é, de um estado de tensão ativa e permanente [...]”. Como foi constatada, a motricidade global do grupo em questão encontra-se bem desenvolvida, com incríveis 30% acima da idade considerada ideal (seis anos psicomotores) atingindo aos sete motores, mas mesmo assim uma vista criteriosa e interventiva devem ser dadas aos 30% tidos como abaixo do limite cronológico, para dar sustentação as suas práticas e permitir o crescimento dessa área psicomotora tão essencial ao desenvolvimento humano. O terceiro teste que foi aplicado nas crianças que se encontrava com seis anos de idade, refere-se à testagem de equilíbrio, onde uma grande quantidade de resultados foi encontrada conforme a figura a seguir: Figura 3: Equilíbrio Fonte: Teste realizado pelos pesquisadores. A aferição do equilíbrio foi com o teste do pé manco estático (ROSA NETO, 2002, p.56), onde três crianças (30%) estão na idade cronológica e psicomotora equivalente há seis anos, consideradas assim normais pelo EDM. Uma criança (10%) encontra-se com baixa equilibração, possui seis anos cronológicos, mas apenas quatro anos motores quanto ao equilíbrio, verificados com o teste equilíbrio com o tronco flexionado (ROSA NETO, 2002, p.55). E também mais uma criança (10%), está abaixo do considerado ideal pelo EDM, encontra-se com cinco anos nesta característica motora constatados no teste de equilíbrio nas pontas dos pés (ROSA NETO, 2002, p.55). Três crianças (30%) atingiram a idade de equilibração de sete anos de idade, pelo teste equilíbrio de cócoras (ROSA NETO, 2002, p.56). E a maior surpresa foi a de que duas crianças (20%) do total atingiram níveis muito acima da idade cronológica. Um aluno (10%) atingiu os nove anos psicomotores com o teste fazer um quatro (ROSA NETO, 2002, p.57), enquanto outro conseguiu atingir aos onze anos com a prova de equilíbrio na ponta dos pés (ROSA NETO, 2002, p.58). Gonçalves (2010, p. 102) diz que “[...] em psicomotricidade chamamos de equilibração a área básica para o automatismo da movimentação voluntária da criança”, e Gonçalves (2010, p. 103) assim completa que “os reflexos iniciais vão se minimizando e se ajustando com a maturação, até que esse bebê possa se colocar em pé, por volta dos doze meses e adquirir a autonomia de que necessita para conquistar o seu meio”. A equilibração bem desenvolvida é muito importante, pois com ela exploramos ao mundo exterior e nos apropriamos de novas experiências ao repertório pessoal. Nesta causa, as crianças que não atingem à idade motora vista como ideal, devem ser melhores observadas e investigadas pelo professor neste quesito de equilíbrio. O quarto teste foi o de esquema corporal. Esta aferição foi realizada com a prova de rapidez (ROSA NETO, 2002, p.62), que consistia em fazer apenas um risco (traço) dentro de diversos quadrados o mais rápido possível. O resultado foi o surpreendente em relação a outras testagens, onde todas as 10 crianças (100%) obtiveram a idade psicomotora de seis anos, condizente assim com a idade biológica do público alvo que também era de seis anos. Esquema corporal foi assim explanado por Rosa Neto (2002, p. 20): A construção do esquema corporal isto é, a organização das sensações relativas a seu próprio corpo em associação com os dados do mundo exterior, exerce um papel fundamental no desenvolvimento da criança, já que essa organização é o ponto de partida de suas diversas possibilidades de ação. Sendo assim, o esquema corporal é a organização das sensações relativas a seu próprio corpo em ação com os dados do mundo exterior. Figura 4: Esquema Corporal Fonte: Teste realizado pelos pesquisadores. Este teste de esquema corporal é muito importante, pois através dele podemos ver em que nível a criança se encontra quanto a sua imagem corporal, que significa o autoconhecimento de suas possibilidades. A criança descobre seu corpo, conhece-o, e faz uma imagem dele em função da utilização e dos significados que lhe são atribuídos [...] pois a criança se enxerga como uma unidade corporal e como um todo organizado e não fragmentado. (GONÇALVES, 2010, p. 106). Conhecer-se e explorar-se é muito importante para a maturação de novas habilidades, e estar no nível psicomotor adequado com a idade biológica é de suma importância, e o público alvo revelou estar condizente quanto a esta questão. A quinta testagem refere-se à organização espacial, e os resultados revelaram um nível de desenvolvimento muito discrepante quanto ao público alvo. Com o teste direita/esquerda - conhecimento sobre si (ROSA NETO, 2002, p.65), três crianças (30%) atingiram a idade psicomotora de seis anos, lembrando que a aferição foi realizada em alunos possuidores de seis anos de idade biológica na data de realização desta pesquisa. Uma criança (10%) com o teste jogo de paciência (ROSA NETO, 2002, p.65) possui idade motora de cinco anos. Com a prova dos palitos (ROSA NETO, 2002, p.64), dois alunos (20%) atingiram a idade motora de quatro anos, e um discente (10%), com a testagem do tabuleiro/posição invertida atingiu a idade motora de apenas três anos. Um dos testados (10%) com a execução de movimentos (ROSA NETO, 2002, p.66) conseguiu atingir os sete anos motores e por meio do direita/esquerda – reconhecimento sobre o outro (ROSA NETO, 2002, p.66), um aluno (10%) conseguiu os oitos anos motores. E por fim o mais surpreendente, um dos alunos (10%) atingiu os dez anos motores no quesito a organização espacial pelo teste reprodução de movimentos – figura humana (ROSA NETO, 2002, p.67). Figura 5: Organização Espacial Fonte: Teste realizado pelos pesquisadores. Rosa Neto, assim definiu a organização espacial: Adquirimos pouco a pouco a atitude de avaliar nossa relação com o espaço que nos rodeia e de ter em consideração as modificações dessa relação no curso dos deslocamentos que condicionam nossa orientação espacial. A percepção que temos do espaço que nos rodeia e das relações entre elementos que o compõem evolui e modifica-se com a idade e com a experiência. Essas relações chegam a ser, progressivamente, objetivas e independentes. (ROSA NETO, 2002, p. 21). Esta testagem nos revela um profundo abismo que pode existir dentro de um público alvo. Quanto ao esquema corporal, quarto teste desta pesquisa, todas as crianças de seis anos biológicos atingiram aos seis anos motores, mas quanto à organização espacial, uma incrível e notável diferença foiconstatada. A organização espacial, tem uma utilidade impar na vida do homem, pois registrar distâncias, noções de longe e perto ou acima e abaixo são úteis para o cotidiano seja ele em cidades com seus veículos e semáforos ou no ambiente rural, com seus animais e campos abertos. Promover experiências e atividades visando o desenvolver da organização espacial junto das crianças é de suma importância para o professor, e faz-se necessário uma intervenção inteligente e prática, pois perceber o ambiente que a cerca é vital para a criança em fase de crescimento e desenvolvimento de suas funções sócias, físicas e cognitivas. A capacidade para estruturar e organizar o espaço é essencial para qualquer aprendizagem. Basicamente, envolve a elaboração de um conceito a partir de dados visuais e tátil-quinestésicos integrados, que constatam a nossa posição no espaço, espaço esse que constitui o imenso continente da nossa motricidade. (FONSECA, 1995, p. 205). O sexto e último teste foi o de organização temporal. (ROSA NETO, 2002, p.69). Figura 6: Organização Temporal Fonte: Teste realizado pelos pesquisadores. Este teste consiste em duas fases distintas: na primeira a criança repetiu as frases formuladas pelo pesquisador de uma maneira espontânea e clara, e na segunda reproduziu a diferentes sons (batidas) que o pesquisador realizava. Nesta testagem todas as crianças (100%) atingiram a idade psicomotora de seis anos de idade. Fonseca (1995, p. 209), assim declarou: Através da estruturação temporal a criança tem consciência da sua ação, o seu passado conhecido e atualizado, o presente experimentado e o futuro desconhecido é antecipado. Essa estrutura de organização é determinante para todos os processos de aprendizagem. A noção do tempo é uma noção de controle e de organização, quer ao nível da atividade, quer ao nível da cognitividade. Rechamar dados e utilizá-los corretamente na atividade é uma condição básica ao processamento, armazenamento e utilização da informação. Na primeira fase da testagem as crianças apresentaram bom desenvolvimento temporal, conseguindo repetir as frases de uma maneira clara e direta, sem apresentar dificuldades ou empecilhos. Na segunda fase do teste, a repetição de sons, os quais eram simples golpes intercalados por um pequeno espaço de tempo, os alunos apresentaram dificuldades na aplicação, não conseguindo ultrapassar aos seis anos motores. Nota-se que as estruturas de organização espacial e organização temporal são intimamente ligadas, mesmo que os testes para aferir o nível individual de cada uma delas nos seres humanos forem discrepantes, e constados avanços num lado e estagnação do outro, ambas devem ser muito bem estimuladas, pois: A estruturação espácio-temporal emerge da motricidade, da relação com os objetos localizados no espaço, da posição relativa que ocupa o corpo, enfim das múltiplas relações integradas da tonicidade, da equilibração, da lateralização e da noção do corpo, confirmando o princípio da hierarquização dos sistemas funcionais e da sua organização vertical. (FONSECA, 1995, p. 203). O docente deve estar alerta quanto o nível de desenvolvimento dos alunos nestas duas estruturas, imprescindíveis para o crescer e se estabelecer o cognitivo do indivíduo, nunca se esquecendo que intervenção pedagógica não se resume ao campo teórico e depois o prático, mas sim algo vivo e claro, uma troca imediata e inata de experiências. CONCLUSÃO Ao finalizar com os testes EDM (Escala de Desenvolvimento Motor) constatou-se que a psicomotricidade tem a intenção de estimular as crianças em ações, trabalhando o seu desenvolvimento motor, cognitivo e afetivo assim possibilitando o melhor conhecimento de seu corpo, de suas habilidades e de suas possibilidades, enxergando o humano como um ser racional, emocional e intelectual O trabalho de psicomotricidade tem o propósito de contribuir para a formação e a estruturação do esquema corporal e tem como meta principal estimular a função do movimento nas diversas etapas da vida da criança. Cabe ressaltar também a importância da participação do educador no dia-a-dia de cada aluno, e que aquele venha a conhecer às características das faixas etárias, seus interesses e necessidades. É fundamental que o professor elabore atividades, as quais devem colaborar para a construção do desenvolvimento psicomotor. Com a execução dos testes, motricidade fina, motricidade global, equilíbrio, esquema corporal, organização espacial e organização temporal, torna-se possível perceber as capacidades, dificuldades e os limites de cada criança. Em motricidade fina destacou-se a importância de atividades que a criança deve realizar não apenas na escola, como também ser influenciada em casa, por exemplo, o rasgar, recortar, pintar, desenhar, lançar algo e pegar um objeto. Motricidade global permite conhecer e compreender a criança melhor do que se imagina, percebe-se que ela se expressa de uma forma mais espontânea, brinca imitando cenas do cotidiano, conversa se movimentando, sobem em árvores e salta de diferentes formas, isso e outras mais é um relaxamento corporal e liberação de energias físicas. O equilíbrio faz-se entender que é a principal parte de um todo, tem um aspecto de que quanto mais imperfeito é o movimento, mais energia é consumida. Esquema corporal são reações, as quais, os corpos transmitem com relação ao organismo, seja de satisfação, choro, alegria e dor. Nesta razão, entende-se esquema corporal como sensações de nosso próprio corpo. Com a organização espacial, pode-se notar que se bem desenvolvida neste aspecto psicomotor, a criança irá crescer de uma maneira independente, conhecedora dos obstáculos e desafios que a cercam. A organização temporal deixa clara sobre o descobrir das crianças, quando elas começam a notar os acontecimentos de sua vida, como um passeio, aniversário, um piquenique e outros. Tudo fica guardado em sua memória, mas só depois irão ordenar em anos, meses, dias, datas e horas. O intuito deste trabalho de conclusão de curso foi o de explicitar a importância de que a criança deva passar por experiências positivas oferecendo-lhe situações, as quais depositem confiança em seu próprio corpo e no seu desenvolvimento motor, e não fazer com que elas vivam momentos desvalorizantes, mas sim dá-las oportunidades de descobrir os melhores meios para que possam testar suas habilidades. ANEXO Anexo A Tabelas utilizadas para traçar perfis motores dos alunos submetidos aos testes. Aluno 1 11 anos • • • • • • 10 anos • • • • • • 09 anos • • • • • • 08 anos • • • • • • 07 anos • • • • • • 06 anos • • • • • • 05 anos • • • • • • 04 anos • • • • • • 03 anos • • • • • • 02 anos • • • • • • Idade Cronológica Motricidade Fina Motricidade Global Equilíbrio Esquema Corporal Organização Espacial Organização Temporal Aluno 2 11 anos • • • • • • 10 anos • • • • • • 09 anos • • • • • • 08 anos • • • • • • 07 anos • • • • • • 06 anos • • • • • • 05 anos • • • • • • 04 anos • • • • • • 03 anos • • • • • • 02 anos • • • • • • Idade Cronológica Motricidade Fina Motricidade Global Equilíbrio Esquema Corporal Organização Espacial Organização Temporal Aluno 3 11 anos • • • • • • 10 anos • • • • • • 09 anos • • • • • • 08 anos • • • • • • 07 anos • • • • • • 06 anos • • • • • • 05 anos • • • • • • 04 anos • • • • • • 03 anos • • • • • • 02 anos • • • • • • Idade Cronológica Motricidade Fina Motricidade Global Equilíbrio Esquema Corporal Organização Espacial Organização Temporal Aluno 4 11 anos • • • • • • 10 anos • • • • • • 09 anos • • • • • • 08 anos • • • • • • 07 anos • • • • • • 06 anos • • • • • • 05 anos • • • • • • 04 anos • • • • • • 03 anos • • • • • • 02 anos • • • • • • Idade Cronológica MotricidadeFina Motricidade Global Equilíbrio Esquema Corporal Organização Espacial Organização Temporal Aluno 5 11 anos • • • • • • 10 anos • • • • • • 09 anos • • • • • • 08 anos • • • • • • 07 anos • • • • • • 06 anos • • • • • • 05 anos • • • • • • 04 anos • • • • • • 03 anos • • • • • • 02 anos • • • • • • Idade Cronológica Motricidade Fina Motricidade Global Equilíbrio Esquema Corporal Organização Espacial Organização Temporal Aluno 6 11 anos • • • • • • 10 anos • • • • • • 09 anos • • • • • • 08 anos • • • • • • 07 anos • • • • • • 06 anos • • • • • • 05 anos • • • • • • 04 anos • • • • • • 03 anos • • • • • • 02 anos • • • • • • Idade Cronológica Motricidade Fina Motricidade Global Equilíbrio Esquema Corporal Organização Espacial Organização Temporal Aluno 7 11 anos • • • • • • 10 anos • • • • • • 09 anos • • • • • • 08 anos • • • • • • 07 anos • • • • • • 06 anos • • • • • • 05 anos • • • • • • 04 anos • • • • • • 03 anos • • • • • • 02 anos • • • • • • Idade Cronológica Motricidade Fina Motricidade Global Equilíbrio Esquema Corporal Organização Espacial Organização Temporal Aluno 8 11 anos • • • • • • 10 anos • • • • • • 09 anos • • • • • • 08 anos • • • • • • 07 anos • • • • • • 06 anos • • • • • • 05 anos • • • • • • 04 anos • • • • • • 03 anos • • • • • • 02 anos • • • • • • Idade Cronológica Motricidade Fina Motricidade Global Equilíbrio Esquema Corporal Organização Espacial Organização Temporal Aluno 9 11 anos • • • • • • 10 anos • • • • • • 09 anos • • • • • • 08 anos • • • • • • 07 anos • • • • • • 06 anos • • • • • • 05 anos • • • • • • 04 anos • • • • • • 03 anos • • • • • • 02 anos • • • • • • Idade Cronológica Motricidade Fina Motricidade Global Equilíbrio Esquema Corporal Organização Espacial Organização Temporal Aluno 10 11 anos • • • • • • 10 anos • • • • • • 09 anos • • • • • • 08 anos • • • • • • 07 anos • • • • • • 06 anos • • • • • • 05 anos • • • • • • 04 anos • • • • • • 03 anos • • • • • • 02 anos • • • • • • Idade Cronológica Motricidade Fina Motricidade Global Equilíbrio Esquema Corporal Organização Espacial Organização Temporal Psicomotricidade, jogo e corpo-em-relação: contribuições para a intervenção Cad. Bras. Ter. Ocup., São Carlos, v. 26, n. 3, p. 702-709, 2018 1 Introdução Numa intervenção psicomotora realizada por profissionais da área da saúde, existe uma constante interação entre o motor e o psíquico, entre a mente e o corpo, a partir da qual se estrutura o desenvolvimento psicomotor. Esta dialética é reforçada por Fonseca (2010), quando afirma que a psicomotricidade está enquadrada num campo multidisciplinar, que estuda as relações e as influências recíprocas e sistêmicas entre o psiquismo e a motricidade. Não pode existir clivagem entre corpo e psiquismo, mas, se existir, essa separação será artificial, o que leva Golse (2002) a considerá-la como a principal inimiga do desenvolvimento da criança. A dimensão motora é indissociável da energia psíquica, ou seja, é inseparável do pensamento que expressa a intencionalidade de cada movimento (ideomotricidade), assim como, das emoções. A psicomotricidade é, portanto, decorrente de uma integração gnosicopráxica e tonicoemocional, isto é, da associação existente entre o movimento corporal e as expressões imaginárias-simbólicas que dão significado ao corpo, na sua relação dialética com os outros e com os objetos (POTEL, 2010). A intervenção psicomotora implica uma observação, ou seja, a existência de um espaço de escuta do corpo, em que as manifestações conscientes ou inconscientes dos desejos, vontades e necessidades da criança se expressam corporalmente através do tônus, dos gestos, dos movimentos e das diferentes formas de brincar (LIMA; FERNANDES; ARAÚJO, 2015). Essas manifestações estão centradas num paradigma de transposição, que investe na gestão de um ir e vir, entre o interno e o externo, com atividades marcadas pelo agir e reagir, que responde tanto às necessidades internas, como às solicitações externas. Deste modo, o terapeuta olha para o corpo de forma holística, ou seja, para um corpo que se move de um lado para o outro e, também, para um corpo ornado com símbolos, que se comunica com os outros, envolvendo a função e a relação (FERNANDES, 2012, 2015). O corpo que se conhece por meio das sensações provenientes da pele, dos fusos neuromusculares e dos órgãos tendinosos de Golgi, ou o corpo que se expressa e transmite emoções e afetos, formam uma unidade indissociável. Por isso, existe um corpo que age e reage, um corpo real e imaginário (SAMI-ALI, 1998), que é espaço de passagem da comunicação, da relação e da vida psíquica (GATECEL, 2009). Neste enquadramento da psicomotricidade, Fernandes (2012) destaca a importância desta práxis, na ajuda ao desenvolvimento da criança, por esta envolver tanto a possibilidade de melhorar a coordenação motora (real-funcional), como a de aumentar a capacidade criativa numa contínua descoberta do que está para além de si mesma (imaginário-relacional). Na intervenção psicomotora, solicita-se uma meta atividade corporal, no sentido de transcender a atividade do corpo real e ir além do corpo que se conhece e que se move. Se não existir essa transcendência, a atividade corporal ficará associada apenas a um corpo voltado para ele próprio, com o objetivo de melhorar a performance física. A atividade corporal, nesta intervenção terapêutica, deve incluir uma nova dimensão, ou seja, um espaço de atuação que necessariamente abrange o simbolismo vivido pela criança, expresso no seu corpo e pelo seu corpo, que é concomitantemente funcional e relacional (POTEL, 2010; BOUTINAUD et al., 2014). Assim, este simbolismo torna-se um quadro vivo da sua própria história, em que o corpo se move e se expressa, com referências ao passado, presente e futuro. Não constatamos apenas a existência de um corpo real, mas também a representação de um corpo imaginário. O corpo não se reduz ao real porque mediatiza todo o mundo imaginário do sujeito (SAMI-ALI, 1998). Esta dimensão ‒ o imaginário – expressa os desejos, as vontades, os (des)prazeres, por meio de metáforas corporais durante o jogo-em-relação, desde que exista uma relação empática vivenciada entre a criança e o outro, através de uma ressonância tonicoemocional recíproca e empática (AUCOUTURIER, 2010), que se estabelece entre o terapeuta e a criança. A importância da relação de mediação corporal, na intervenção psicomotora, foi apresentada por Ajuriaguerra (1962), ao referir que é através da relação que se estabelece com o outro, com um corpo-em-relação, que a criança adquire a consciência de si e o sentimento de ser e estar. Por sua vez, Joly (2010) considera que esta práxis se operacionaliza por intermédio de uma motricidade lúdica em relação. É, neste sentido, que a relação está associada ao jogo, como um dos principais mediadores em psicomotricidade e, por isso, considerado como jogo-em-relação. De acordo com o exposto, este ensaio apresenta um texto que expressa a centralidade da dimensão lúdica do corpo-em-relação, embasado em conceitos que se agrupam em torno de uma intencionalidade dialética entre função e relação. Pretendemos, através de uma exposição de ideias, que se fundamentam em diferentes áreas do conhecimento, apresentar a gênese do jogo-em-relação e algumas linhas orientadoras para que os profissionais da área da saúde (psicomotricistas, terapeutas ocupacionais, etc.), que pretendem atuar neste âmbito, o utilizem como mediador de intervenção. O saber-teórico da psicomotricidade e o saber-fazer intervenção psicomotora, apresentados neste ensaio, produzem um conhecimento necessário e fundamental para os psicomotricista; no entanto, existem outros terapeutas que também utilizaminfluenciaram fortemente a Psicomotricidade, assim como Wallon, Piaget, Guilmain, Ajuriaguerra entre outros, que estudaram e comprovaram a relação entre o movimento e a aprendizagem. Segundo Wallon (1925), seus estudos estavam voltados para a relação entre as emoções e o certo comportamento tônico, mostrando a importância dos movimentos no desenvolvimento psicológico da criança. Seu olhar psicobiológico influenciou os psicomotricistas que estudam o desenvolvimento motor e mental da criança, auxiliando nos estudos relacionados à aquisição do conhecimento da criança, em seus aspectos intelectuais, motores e afetivos. O movimento não é puramente um deslocamento no espaço, nem uma simples contração muscular, e sim, um significado de relação afetiva com o mundo, assim, para o autor, o movimento é a única expressão e o primeiro instrumento do psiquismo. Neste contexto, pode-se dizer que o desenvolvimento motor é precursor de todas as demais áreas. (WALLON, 1995, p. 01). O que mais tarde será visto por Ferreira (1998), afirma que “não existe aprendizagem sem que seja registrado no corpo”. (p. 18), destacando a importância dos movimentos nas ações de construção do conhecimento. Nos estudos de De Meur & Staes (1984), assinala que “o intelecto se constrói a partir da atividade física”. As funções motoras (movimento) não podem ser separadas do desenvolvimento intelectual (memória, atenção, raciocínio) nem da afetividade (emoções e sentimentos). Para que o ato de ler e escrever se processe adequadamente, é indispensável o domínio de habilidades a ele relacionado, considerando que as habilidades são fundamentais manifestações psicomotoras. No enfoque das pesquisas de Levin (1995), “há uma diferença entre os pensamentos de Wallon e Dupré”; para Wallon, o movimento está relacionado ao afeto, à emoção, ao meio ambiente e aos hábitos das crianças; para Dupré, a motricidade está relacionada inteligência. Assim é possível observar que no início a psicomotricidade tinha seus estudos voltados para a patologia. Porém Wallon, Piaget e Ajuriaguerra aprofundaram seus estudos voltados para o campo do desenvolvimento, nesta perspectiva Wallon se preocupou com a relação psicomotora, afeto e emoção, já Piaget se preocupou com a relação evolutiva da psicomotricidade com a inteligência e Ajuriaguerra consolida as bases da evolução psicomotora, de forma mais específica para o corpo e sua relação com o meio. Para ele, a evolução da criança está na conscientização do seu corpo. Estas contribuições muito avançaram para o conceito da psicomotricidade e as ações metodológicas para o desenvolvimento da aprendizagem, principalmente na aquisição da leitura e escrita. Assim para a psicomotricidade o indivíduo, para aprender, precisa sentir, pensar e agir, a psicomotricidade é a expressão de um pensamento pelo ato motor preciso, econômico e harmonioso. (AJURIAGUERRA, 1983) Em 1948, Ajuriaguerra redefiniu o conceito de debilidade motora e delimitou com clareza os transtornos psicomotores no seu Manual de Psiquiatria Infantil. Ele é o responsável por delimitar com clareza os transtornos psicomotores que oscilam entre o neurológico e o psiquiátrico. Com estas novas contribuições, a psicomotricidade diferencia-se de outras disciplinas, adquirindo sua própria especificidade e autonomia. O corpo é eixo comum na prática da psicomotricidade, porta-voz dos sintomas e sede dos problemas de aprendizagem e/ou psicomotores, podendo ser trabalhados através da reeducação, porém o profissional de educação deve se apropriar deste recurso para aplicá-lo nas rotinas educacionais. Os pesquisadores André Lapierre e Bernard Aucouturier, são considerados os pais da psicomotricidade relacional. Negrine (1995), afirma que com a influência desses dois professores de educação física, a psicomotricidade passou por três períodos: continuador, inovador e de ruptura. O período continuador é caracterizado pela primeira vertente adotada pelos autores Lapierre e Aucouturier, onde as publicações da época expressavam a linha teórico-metodológica funcionalista, marcando a origem da psicomotricidade como campo de estudo e como prática pedagógica, onde as crianças eram submetidas a testes que avaliavam seu perfil psicomotor. Já no período inovador, ao contrário do que acreditavam no estágio anterior, nesse período, o trabalho era desenvolvido com fundamento nas potencialidades dos alunos, unindo teoria e prática com bases relacionais, pois a psicomotricidade funcional não seria adequada quando se tratasse de educação ou reeducação. Assim surge o período da ruptura, onde os autores Lapierre e Aucouturier acabaram tendo suas práticas distanciadas. Lapierre trabalhou com base na potencialização dos jogos simbólicos, acreditando que sempre há uma intenção por trás deles, e que o adulto interviria no jogo simbólico da criança. Já Aucouturier defendia a potencialização dos jogos sensório-motor. Segundo Alves (apud SILVA, 2004), “A psicomotricidade tem como principal propósito melhorar ou normalizar o comportamento geral do individuo, promovendo um trabalho constante sobre as condutas motoras, através das quais o indivíduo toma consciência do seu corpo, desenvolvendo o equilíbrio, controlando a coordenação global e fina e a respiração bem como a organização das noções espaciais e temporais.” É uma pratica pedagógica que contribui para o desenvolvimento da criança no processo de ensino aprendizagem. Favorece os aspectos físicos, mental, afetivo emocional e sócio cultural. É uma forma de ajudar a criança a superar as suas dificuldades e precaver possíveis inadaptações. (OLIVEIRA, 2002). O papel da psicomotricidade na educação é estimular o desenvolvimento das percepções da criança e seu esquema corporal. O ato de movimentar-se fisicamente é privilegiado com o trabalho psicomotor, porém leva-o ao trabalho mental, onde é aprendido a ouvir, interpretar, imaginar, organizar, representar e passar do abstrato para o concreto. O desenvolvimento é adquirido através de suas tentativas e erros. Ela transforma seus erros em aprendizado. Portanto a atividade motora é de extrema importância no desenvolvimento da criança. A psicomotricidade de Le Boulch (1983) justifica sua ação pedagógica colocando em evidencia a prevenção das dificuldades pedagógicas, dando importância a uma educação do corpo que busque um desenvolvimento total da pessoa, tendo como principal papel na escola preparar seus educandos para vida, utilizando métodos pedagógicos renovados, procurando ajudar a criança a ser desenvolver da maneira possível, contribuindo dessa forma para uma boa formação da vida social. Muitos estudos tem na psicomotricidade um olhar apenas para o corpo e o movimento, porém vai além. É responsável também pela contribuição mental e pelo comportamento, neste sentido podemos observar que: A psicomotricidade como seu nome indica, trata de relacionar os elementos aparentemente desconectados, de uma mesma evolução: o desenvolvimento psíquico e o desenvolvimento motor. Parte, portanto, de uma concepção do desenvolvimento que coincide com a maturação e as funções neuromotoras e as capacidades psíquicas do individuo de maneira que ambas as coisas não são duas formas, até então desvinculadas, na realidade é um processo. (NÚNEZ apud COSTALLAT, 2002, p.22) O movimento é a parte integrante do comportamento humano. No entanto, conforme os estudos de Santos; Cavalari (2010) para que haja desenvolvimento integral é preciso que tenhamos profissionais capazes e conscientes da importância da psicomotricidade, considerando-a como a ciência que envolve toda ação realizada pelo individuo, que represente suas necessidades e permita suas relações com os demais. Segundo Alves (2008), “O ser humano não é feito de uma só vez, mais se constrói pouco a pouco, por meio da ação com o meio e de suas próprias realizações, ecomo mediadores de intervenção o corpo e o jogo, que é o caso dos terapeutas ocupacionais (TO). O jogo é um dos instrumentos de intervenção em psicomotricidade? O jogo é um dos instrumentos de intervenção em terapia ocupacional? Para ambas as perguntas, a resposta é sim. Por isso, as noções apresentadas são fundamentais para os psicomotricistas, terapeutas ocupacionais, ou qualquer outro profissional que utilize o jogo como mediador de intervenção na ajuda ao desenvolvimento, profilática ou terapêutica, na criança. Existem noções idênticas e transversais para diferentes áreas de intervenção, mesmo que estas apresentem uma identidade própria, objetivos e formas de intervenção diferenciadas. As intervenções terapêuticas sustentam-se cada vez mais em conhecimentos multidisciplinares e é neste sentido que os saberes de diferentes áreas, ao serem partilhados, permitem criar novos espaços de reflexão, de prática e experimentação. 2 Abordagem Teórica sobre o Jogo-em-relação Como se sabe, é desde a vida intrauterina que a criança esboça um brincar, ao realizar movimentos com o seu corpo. Aqui, o brincar é entendido como o exercício funcional das capacidades corporais. Após o nascimento, a capacidade de brincar da criança passa a incluir a capacidade de brincar do outro. A criança, a partir do momento em que, na relação com o outro, inicia o processo de construção de significados, alcança um novo estágio, no qual o brincar assume, progressivamente, o caráter lúdico que passa a ser a sua modalidade preferencial para explorar, imaginar e comunicar. Assim, por meio do jogo, a criança solicita a sensoriomotricidade, a cognição e, particularmente, os desejos e os prazeres associados a um corpo-em-relação. Trata-se do desejo de a criança se sentir contida pelo outro e do prazer sensoriomotor em jogar com o outro, que tem sido abordado por autores como Winnicott (1964, 1971), Stern (1990) ou Golse (2002, 2006), e que envolve esta noção de corpo-em-relação. Todavia, a criança, ao longo do seu desenvolvimento, vai entrar em contato com diversos tipos de jogos: uns que exigem o domínio de alguns comportamentos específicos, estereotipados e condicionados por regras; outros que solicitam a expressão psíquica do inconsciente e permitem à criança vivenciar a fantasia durante o jogo e expressar-se através de uma “mise en scène” operacionalizada pelas suas metáforas e metonímias corporais. Neste sentido, o jogo assume a função de explorar situações subjetivas, de criar e recriar a subjetividade, de contribuir para a descoberta de novas formas de a criança se relacionar consigo mesma ou com o outro (ROUSSILLON, 2003). Existem jogos com diversas finalidades: simbólicos, não simbólicos, sensoriomotores, funcionais, etc., mas a relevância está em saber como a criança vivencia essas atividades lúdicas em relação; saber como esse jogo-em-relação lhe permite adquirir a consciência do seu próprio corpo, de um corpo que está separado do outro; saber como o jogo possibilita à criança adquirir a consciência da sua identidade e sentir que o corpo lhe pertence. Como afirma Gutierres Filho (2003), a criança, no seu impulso de Ser, utiliza, como instrumento de construção da sua existência, o brincar. 2.1 A gênese do jogo-em-relação Nos primeiros tempos de vida, o bebê e a mãe formam uma unidade fusional, em que o corpo de um está interligado ao corpo do outro, a que Mahler et al. (1977, p. 75) denominam de “[...] estádio de unidade dual com a mãe” ou simbiótico. Nesta fase, para a criança, não existe Eu e não-Eu, não há externalidade, não há objetos externos, não há mãe, porque o externo não se distingue do interno. Existe um sentimento, descrito por Freud (1930/1974) como oceânico (associado à não existência de fronteiras entre o Eu e o mundo). O bebê está completamente dependente dos cuidados da mãe, tanto em termos de necessidades físicas como de afeto, em uma condição de dependência absoluta. Nos momentos em que está acordado, vai estabelecer atividades lúdicas carregadas de emoções partilhadas com a mãe. São estes momentos de jogo-em-relação, por meio de carícias, cantorias e olhares da mãe, que permitem ao bebê vivenciar a sensação de prazer, que Stern (1990) denomina de jogos de interação. Existem, também, momentos de jogo que a criança realiza com as suas mãos, pés, voz e sorrisos, que permitem estabelecer uma relação com a sua própria sensorialidade e que Golse (2006) considera como jogo autossubjetivo. Estes jogos-em-relação estão associados ao papel suficientemente bom da mãe em sustentar/cuidar (holding) e manipular/tratar (handling) o filho (WINNICOTT, 1964, 1971), o que permite que este vivencie uma sensação de proteção física e psíquica, e desenvolva um estado de harmonia entre o psíquico e o corpo (estado de personalização). A presença da mãe fornece, através destes jogos, uma experiência de onipotência ‒ quando deseja a mãe: ela está presente; quando sente necessidade: é satisfeita. Com o avançar do tempo, vai existir uma desadaptação à relação dual e a criança entra em um estado de dependência relativa (WINNICOTT, 1964). Por volta dos seis meses de idade, as solicitações sociais da mãe fazem com que esta retorne às suas rotinas, levando a criança a vivenciar a desilusão da falta dela, a falta do Outro. Durante o processo de separação do não-Eu do Eu, a criança necessita que a mãe introduza objetos na relação, os quais, uma vez revestidos de significados a partir da vivência lúdica, assumem o significado da presença substitutiva dela, quando está ausente, o que caracteriza o objeto transicional. Do ponto de vista afetivo, os jogos interativos permitem que a mãe recorra ao objeto como uma maneira de comunicar ao filho que não lhe pode satisfazer completamente os desejos e, assim, utiliza o objeto como forma de compensação, ou seja, dá-lhe algo com que possa superar qualquer falta que venha a acontecer (RODRIGUEZ, 2014). Assim, cada vez que a mãe introduz na relação um novo objeto, ela desenvolve uma triangulação precoce mãe/bebê/objeto. Pela presença de novos objetos, a criança vivencia qualquer coisa terceirizada, pela percepção de um objeto que não é ele nem é ela. Estas situações, que colocam os objetos como significado de terceiro na relação, abrem caminho para a intersubjetividade, ou seja, para a relação com o outro (relação entre duas subjetividades), ajudando a criança a aceitar e a integrar a admiração intersubjetiva (afinal, somos dois?), e para a transicionalidade (WINNICOTT, 1971). Sobre a transicionalidade, que está relacionada com as atividades de substituição do objeto materno que fornecem segurança, gostaríamos de referir que a realização de jogos com os dedos, o colocar objetos na boca, tocar e acariciar materiais suaves e macios, ou brincar com os seus sons vocais, são formas de representação da mãe como objeto que tranquiliza. Deste modo, ultrapassa a desilusão que sente quando a mãe não está em sua presença, o que abre caminho para a construção da sua independência. Os jogos-em-relação realizados num ambiente de prazer vão permitir a separação-individuação e abrem caminho para a edificação do sentimento de Si (GOLSE, 2006). O processo denominado de separação-individuação acontece, simultaneamente, em um primeiro momento, com uma fase que Lacan (1966) denominou de fase do espelho. Em uma primeira etapa, a criança percebe o seu reflexo no espelho como um ser real de carne e osso (a sua imagem é vivida como sendo de outro). Depois, a criança percebe que o reflexo é apenas uma imagem e não um ser real (ainda não a reconhece como sendo sua). Finalmente, a criança compreende que esta imagem é a imagem do seu corpo, que ela a representa, que é a sua imagem especular. Neste momento, é importante que se atribua a identidade da criança à sua imagem, para facilitar a percepção da imagem do seu corpo, para a tomada de consciência que é um ser único e completo,e para a construção do sentimento de identidade. Por outro lado, vai ser através do jogo-em-relação com os objetos e com a mãe que a criança vivencia experiências cutâneas de contato, o que lhe edifica um sentimento de segurança interna. Vai ser através destes contatos corporais e das comunicações pré-verbais precoces que a criança começa a diferenciar uma superfície com face interna e externa, que representa uma superfície contentora – a pele. Será sobre esta pele contentora, este Eu-pele (ANZIEU, 1989), que se formará a consciência de Si, a sua individualidade e identidade. A qualidade deste Eu-pele está diretamente relacionada com a qualidade dos jogos que a criança vivencia durante os cuidados maternais. Uma boa “maternage” permitirá a construção desta fronteira (Eu-pele) entre espaço exterior (continente físico) e espaço interior (continente psíquico), fundamental para a construção psicocorporal da criança. Percebemos que a constituição da individualidade da criança, ao adquirir a capacidade de brincar só, tem a sua gênese na atividade de jogar com o outro. A possibilidade de jogar-em-relação proporciona à criança estímulos que possuem um papel estratégico no processo de consciência do seu próprio corpo e, consequentemente, de descoberta progressiva do seu Eu, do seu espaço interior, ao mesmo tempo em que descobre a realidade, o seu espaço exterior. Como propõe Oliveira (2006), a criança, ao passar de um estado de dependência absoluta para um estado de independência, a mãe, para ela, passa de objeto subjetivamente concebido para objeto objetivamente percebido, criando-se um espaço compartilhado: o espaço potencial. Este espaço localiza-se entre a criança e a realidade exterior. Vai ser através do jogo, neste espaço, que a criança vai aceitar a separação, ao solicitar experiências ilusórias e aceder a símbolos e signos substitutivos. De forma geral, vai ser através do jogo neste espaço potencial que o ser humano ‒ e, neste caso concreto, a criança ‒ contém as tensões que surgem entre a realidade interior e a realidade exterior, e se assegura face às angústias arcaicas, durante o seu ciclo de vida. Este é o espaço de jogo de todos nós. Cad. Bras. Ter. Ocup., São Carlos, v. 26, n. 3, p. 702-709, 2018 3 Psicomotricidade e Jogo-em-relação A psicomotricidade não é uma teoria em si, mas uma práxis, que tem como referência principal o corpo em toda a sua complexidade (existencial, expressiva, emocional, identitária) e que se integra nas teorias que envolvem o ser humano (CICCONE et al., 2007). A intervenção psicomotora é uma práxis de mediação corporal, porque, pela sua especificidade, intervém com o corpo em relação, como se existisse um corpo entre dois, como se existisse um terceiro, entre o adulto e a criança. Isto, porque existe como que uma reativação no presente das necessidades, emoções ou expectativas que a criança construiu nas relações que estabeleceu com a mãe, o pai e os irmãos, no passado. Existe como que “[...] une expérience a mínima que porte en elle les germes d’une émotion inmense, parce que réactivant les traces contenues dans la mémoire du corps” (POTEL, 2015, p. 113). Assim, a criança se expressa através de metáforas corporais quando joga de forma espontânea, revivenciando a relação com um Outro, neste caso um terceiro, mas atualizado na imagem de autoridade do adulto; nominamos essa relação de jogo-em-relação. No entanto, não nos devemos fixar no passado, ou seja, no que a criança já vivenciou, mas sim no presente em que se estabelece uma relação atual, aproveitando as capacidades e qualidades funcionais e relacionais da criança. Deve-se proporcionar ‒ e como refere Coimbra de Matos (2016) ‒ o estabelecimento de uma relação sã, sanígena e desenvolutiva com o outro, o mundo e ela própria. Por tudo isto e seguindo os princípios definidos por Ajuriaguerra (1962), o jogo tem de ser sempre relacional, o que não significa, contudo, que seja um tudo psíquico. O tudo psíquico não deve ser apanágio da psicomotricidade (CICCONE et al., 2007). A existência da relação corpo-psiquismo não quer dizer que se considerem todas as manifestações corporais como expressão de uma problemática intrapsíquica. Também não devemos estar centrados apenas no desenvolvimento neuromotor, na procura da performance física ou na especialização do movimento pelo treino exclusivo das funções anatomofisiológicas. A psicomotricidade não é uma “orthopedagogie” (JOLY, 2014), pois o modelo de intervenção psicomotora envolve uma abordagem global, lúdica e mediatizada, corpóreo-psíquica, do ser-em-relação. Estas noções são fundamentais para os psicomotricistas, terapeutas ocupacionais ou para qualquer profissional que queira utilizar o jogo como alavanca para o desenvolvimento infantil, de forma a potencializar não somente a sua funcionalidade, mas também as capacidades tonicoemocionais e psicoafetivas. Uma terapia com objetivos psicomotores tem de estruturar-se sobre esta dupla negação. Por quê? Porque uma prática centrada apenas no corpo real corre o risco de se tornar uma ortopedagogia do corpo e uma prática centrada apenas no corpo imaginário corre o risco de provocar uma maior separação entre a função e a relação. Como refere Fernandes (2012, 2015), a intervenção psicomotora deve perspectivar tanto a aquisição de habilidades motoras em um fundo tônico emocional e relacional, como também o desenvolvimento de capacidades relacionais, simbólicas e emocionais em um fundo de vivências motoras. É necessário pensar, conhecer e integrar uma psicomotricidade sem divisões que, por natureza própria, não é nem apenas funcional, nem apenas relacional (CALZA; CONTANT; MOYANO, 2007). Por isso, o jogo-em-relação proporciona à criança estímulos que têm um papel estratégico no processo de consciência do próprio corpo, na aquisição da verticalidade que lhe permite tomar consciência da noção do espaço interior e na descoberta progressiva do Eu, ao mesmo tempo em que descobre a realidade do espaço exterior (JARICOT, 2006). Assim, tanto as vivências sensoriomotoras associadas à realização do jogo-em-relação, como o papel do envelope sensoriomotor na construção do eixo corporal ‒ como o desenvolvimento das representações e emoções pela solicitação do corpo real (função) e imaginário (relação) ‒ fundamentam o desenvolvimento neuro-cognitivo-motor e o desenvolvimento psico-afetivo-corporal da criança (BULLINGER, 2011). Durante o jogo-em-relação (livre e espontâneo), a criança desenvolve e cria atividades de acordo com as suas necessidades psicoafetivas e emocionais, como, por exemplo, construir uma casa com os tecidos, colchões e blocos de espuma, em que se deita e se envolve com tecidos para experimentar uma sensação de tranquilidade, ou correr por toda a sala com um bastão na mão como se fosse um guerreiro para afirmar a sua identidade, ou lançar bolas para os colegas na tentativa em estabelecer um elo de comunicação. Como refere Winnicott (1971), estas formas de jogar são equivalentes à capacidade de a criança representar e criar. No entanto, é fundamental relembrar a necessidade da relação ser uma relação de qualidade, que Coimbra de Matos (2016, p. 6) descreve como [...] relação de confiança – segura e fiável, responsiva e previsível –, de intimidade afetiva – que toca o âmago dos parceiros e por isso perdura para além dos encontros presenciais, deixa rasto, e cria expectativas, constrói futuro. Por esta razão, o terapeuta deve participar dos jogos de imaginação da criança, aprender a escutá-la, receber o que ela oferece, estar disponível para ser e estar com ela, e utilizar a sua criatividade para sugerir a inclusão de novos elementos lúdicos. A sua presença atenta e participativa no jogo proposto pela criança permite que ela experimente a capacidade de ser autônoma, de ser eficaz e ter confiança em si própria; e, se lhe for permitido realizar o que deseja e o que gostade fazer, sentir-se-á valorizada e competente nas atividades que realiza. O jogo livre é fundamental para o desenvolvimento do pensamento, pois a criança, ao ter liberdade de fazer o que deseja, pensa nas funções que gostaria de dar aos objetos, o que permite desenvolver a capacidade em criar, recriar e, simultaneamente, ter o prazer em decidir e pensar. Por meio desta relação dialética, pela qual o adulto deixa fluir o desejo da criança, o jogo psicomotor abre caminho para a construção de uma relação afetiva em que a criança reconhece o outro como par. Quando a criança parte do seu desejo, tendo ela a iniciativa e o outro lhe serve de par, abre-se espaço para uma relação empática que concede ao adulto o direito de assumir, aos poucos, a iniciativa dentro do jogo e, posteriormente, a proposição de novos jogos. Assim, é através da atitude relacional do terapeuta e da sua função de espelho tonicoemocional tranquilizador e não culpabilizante, que a prática psicomotora se torna efetiva e producente (MIRA; FERNANDES, 2015), ou seja, por uma transmissão verbal ou corporal contentora que, de acordo com o que a criança expressa tonicoemocionalmente, vai ao encontro do que ela necessita naquele momento. O terapeuta deve desempenhar a função de Eu-auxiliar e companheiro de jogo da criança. Uma das estratégias para implementar esta relação é estar sempre disponível para as diferenças, especificidades e peculiaridades da criança (GUTIERRES FILHO, 2012), e atuar de forma empática; voltando a parafrasear Coimbra de Matos (2016), pelo estabelecimento de uma relação sadia e saudável. Desta forma, as sensações, ao serem emocionalmente partilhadas, podem ser mais bem integradas, percebidas e representadas, o que ajuda a criança a dar sentido ao que vivencia. O que pretendemos referir é que o terapeuta não pode ficar na inconsciência da relação (comunicação), mas em um parentesco relacional (comunicativo) com a criança, em que este não é o agente nem a criança a agida; o que se pretende é que ambos sejam uma coisa e outra, e construam uma comunidade de sentimentos e emoções que permitam a transformação e o desenvolvimento (MIRA; FERNANDES, 2015). 4 Considerações Finais Após as cogitações apresentadas e para o encerramento deste ensaio ‒ que, de forma indelével, envolve o paradigma dualidade vs. dialética entre função e relação ‒, apresentamos algumas linhas orientadoras que permitem equacionar o jogo-em-relação como mediador de intervenção terapêutica: a) O jogo deve supor sempre uma relação com o objeto, o outro, o espaço e o tempo. Isso pressupõe um espaço potencial de jogo, o qual permite o desenvolvimento da criatividade e não apenas a simples manipulação de objetos; b) A criança deve vivenciar, de forma livre e espontânea, o prazer de jogar, correr, saltar, gritar, desempenhar o papel de um outro, enquanto pensa, espera, observa e explora; também deve realizar atividades e construções com bolas, blocos de espuma, tecidos, cordas, bastões e, sempre que desejar, ter a liberdade de destruir e voltar a construir, de realizar e não realizar, para que possa desenvolver o sentimento de ser; c) A criança, ao jogar, deve estar livre, sentir prazer em utilizar o seu corpo real e vivenciar livremente experiências ilusórias que expressa através do corpo imaginário, pois, como refere Golse (2002), o jogo é um espaço de narração e liberdade; d) O terapeuta deve ter um olhar participativo para o jogo livre e espontâneo, o jogo-em-relação, que é o meio, por excelência, para solicitar as funções gnosicopráxicas, as funções imaginárias simbólicas e o prazer de criar agindo, o que permite, à criança, a aquisição da sua identidade e do sentimento em ser e existir. Constatamos que existe um conjunto de conhecimentos, expressos nestas quatro alíneas orientadoras, que permitem justificar e enquadrar o jogo-em-relação numa prática terapêutica que solicita o corpo real e o corpo imaginário, necessários à Cad. Bras. Ter. Ocup., São Carlos, v. 26, n. 3, p. 702-709, 2018 estruturação e ao desenvolvimento psicomotor e psicocorporal. Albergamos, neste texto, um conjunto de ideias que permitem aos terapeutas, independentemente de serem psicomotricistas, terapeutas ocupacionais ou outros profissionais, refletir sobre a forma de solicitar o corpo funcional e a sensorialidade para favorecer os processos de integração psíquica, ao utilizarem o jogo como mediador da sua intervenção. Entre as diretrizes apresentadas, as mais relevantes estão associadas à forma como as vivências corporais, sensoriais, gnosicopráxicas, lúdicas e cinestésicas devem ser vividas e partilhadas, em um espaço contentor, através de uma relação tonicoemocional empática entre o terapeuta e a criança. Como última consideração, referimos a necessidade de se solicitar sempre o corpo real associado à funcionalidade e o corpo imaginário associado aos desejos, vontades e prazeres da criança, que se expressam através de metáforas durante o jogo-em-relação. Por isso, não devemos centrar a intervenção ou só na função ou só na relação. Assim, este jogo-em-relação permite, ao terapeuta, ajudar a criança a (re)habitar o seu corpo, ao processar tanto as informações sensoriomotoras como as tonicoemocionais, ambas necessárias à (re)construção do seu esquema corporal, imagem corporal, imagem de si, e à promoção da sua identidade. Referências AJURIAGUERRA, J. Le corps comme relation. 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Desta forma, as atividades da Educação Física podem ser consideradas ações a serviço da educação, pois elas cuidam do movimento, e ao mesmo tempo põem em jogo as funções intelectivas e a afetividade. Como ciência em prol da educação, a Psicomotricidade tem como objetivo educar o movimento, ao mesmo tempo em que desenvolve a inteligência e a afetividade. Portanto, a educação psicomotora é indispensável a toda criança. Toda escola deve promover estímulos para desenvolver em seus alunos as habilidades de esquema corporal, lateralidade, estruturação espacial, orientação temporal, tônus, postura e equilíbrio, pré-escrita e a psicomotricidade fina. Referências ALVES, G. L. A produção da escola pública contemporânea. Dissertação (Mestrado em Educação), Unicamp, Campinas, SP, 1998. BUENO, J. M. Psicomotricidade: teoria e prática. 1ª ed. São Paulo: Editora Lovise, 1997. CABRAL, S. Psicomotricidade relacional: prática clínica e escolar. 2ª ed. Rio de Janeiro: Editora Revinter, 2000. 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O desenvolvimento evolui do geral para o específico. Apresentando desta forma ser um dos fatores essenciais ao desenvolvimento global e uniforme da criança. Alexander Romanovich Luria foi um famoso psicólogo soviético especialista em psicologia do desenvolvimento e agrupou as bases psicomotoras em unidades funcionais ou neuroblocos, a primeira composta pela tonicidade e o equilíbrio, a segunda composta pela noção de corpo, lateralidade e estruturação espaço-temporal e a terceira é composta pelas praxias global e distal. A criança não nasce pronta, tudo se constrói aos poucos, por meio das próprias ações, cada ser tem seu eixo corporal que ao decorrer do tempo é adquirido pelo movimento e as experiências vividas. O ser humano necessita através do seu corpo, perceber as coisas que estão ao seu redor, adquirindo as noções de em cima, embaixo, perto, longe, na frente e atrás, sendo sempre estimulada a se auto-independe. No entanto esses desenvolvimentos variam de criança para criança, pois cada uma apresenta competências diferentes. A psicomotricidade trabalha os movimentos da criança, motiva a capacidade sensitiva, cultiva a capacidade perceptiva através da resposta corporal, organiza a capacidade dos movimentos, utilizando objetos reais e imaginários, amplia e valoriza a identidade própria, cria segurança e respeito aos espaços dos demais. Os estudos baseados na psicomotricidade nos auxiliam a entender a importância do corpo para o desenvolvimento global do ser humano, associando dinamicamente o ato ao pensamento, o gesto à palavra, o símbolo ao conceito, e está relacionada ao processo de maturação. Antigamente a educação propôs que os aspectos motores e intelectuais poderiam ser medidos por testes, sendo o sujeito fragmentado, e assim vieram novos tempos e novas idéias, e com isso o corpo e a imaginação só poderiam andar juntos, e o brincar passou a fazer parte da educação, contribuindo para aprendizagem. E as relações com o outro e com o meio, o ser humano se desenvolvia plenamente. 2. O Surgimento da Psicomotricidade no Brasil No Brasil, a Psicomotricidade foi introduzida em meados da década de 70, trazida por profissionais oriundos da Europa. Nesta época, as práticas eram direcionadas a Educação e Reeducação Psicomotora. E em 1976, com a estada de Françoise Désobeau, uma das pioneiras em psicanálise infantil, foi introduzida a Terapia Psicomotora que propunha a substituição das técnicas instrumentais por atividades mais livres, valorizando o jogo e o brincar. Assim, em 1980 foi fundada a Sociedade Brasileira de Psicomotricidade. O início da Psicomotricidade no Brasil ocorreu com profissionais que foram para a França especializar-se em clínica infantil e, depois, em psicomotricidade com Ajuriaguerra - psiquiatra e professor e, depois, com Bergès que era seguidor de Ajuriaguerra, no hospital Henri-Roussele, na escola da equipe de Giselle. B Soubiran- terapeuta psicomotora. Airton Negrine, é uma das primeiras referências no Brasil na área da Psicomotricidade, passando de partidário da linha funcionalista, para defensor da linha relacional, onde o professor deve buscar sempre estratégias para impulsionar o desenvolvimento dos alunos que apresentam dificuldades. A educação especial foi o elo entre o surgimento da psicomotricidade na Europa e no Brasil. De acordo com Negrine (2002), os primeiros trabalhos relacionados à psicomotricidade no Brasil foram realizados por professores das disciplinas ligadas ao ensino de educação física na educação infantil, em cursos superiores de educação física. Esses professores lutaram para que a psicomotricidade fosse uma disciplina integrante do currículo dos cursos de educação física e pedagogia. Antes que isso acontecesse, a psicomotricidade já era desenvolvida dentro de clínicas privadas de reeducação. A história da psicomotricidade chega tardiamente no Brasil, contudo, vêm despertando interesse de muitos estudiosos, principalmente de profissionais da área da educação que buscam melhorar o desempenho de seus alunos no desenvolvimento global, para facilitar a aquisição de conhecimentos, principalmente no processo de alfabetização, onde são encontradas as maiores dificuldades trazidas pelos alunos. 3. As Principais Vertentes da Psicomotricidade Com o intuito de facilitar a compreensão das características das principais vertentes da Psicomotricidade, algumas características são analisadas e destacadas em cada uma delas. A psicomotricidade evidencia três vertentes: a reeducativa, terapêutica e educativa. A Reeducação atende individualmente, ou em pequenos grupos, que apresentam sintomas de ordem psicomotora. Estes sintomas podem vir acompanhados de distúrbios mentais, orgânicos, psiquiátricos, neurológicos, relacionais e afetivos. O trabalho de reeducação privilegia a princípio três situações, que são: o alívio do problema, a redução do sintoma e a adaptação ao problema através de jogos e exercícios psicomotores. A Terapia Psicomotora é realizada individualmente ou em pequenos grupos que apresentam grandes perturbações de ordem patológica, tem como objetivo uma ação diagnóstica dos atrasos psicomotores ou características da personalidade com a utilização do corpo, com seus movimentos e sua expressividade. A terapia psicomotora utiliza-se das contribuições da teoria psicanalítica. Nesta vertente os psicomotricistas estão atentos à vida emotiva de seus pacientes, delegando importância à emoção, à expressão e à afetividade. O corpo é considerado como uma unidade que conjuga a emoção e a motricidade (LEVIN, 1995). A Educação Psicomotora é realizada no âmbito escolar, é uma atividade preventiva, aplicada principalmente na Educação Infantil e no Ensino Fundamental séries iniciais. Sua intensificação como prática pedagógica teve origem na França, com o professor de Educação física Jean Le Boulch, na segunda metade da década de 60, tendo como foco o desenvolvimento global do indivíduo por meio dos movimentos, evitando distúrbios de aprendizagem, proporcionando para os indivíduos, ambientes que estimulem as vivências corporais, desafiando os alunos a alcançarem suas zonas de desenvolvimento, como defende Vygotsky. Segundo Le Boulch (1987) “a Educação Psicomotora deve ser considerada como uma educação básica para o ensino fundamental.” A Educação Psicomotora proporciona atividades escolares, que não podem ser conduzidas se a crianças não tiver alcançado a consciência do seu corpo, lateralizar-se, e se não tiver adquirido habilidades e coordenação de seus gestos e movimentos. CONSIDERAÇÕES FINAIS Assim este estudo buscou alcançar os objetivos propostos, demonstrando assim a grande importância que a psicomotricidade exerce ao longo da vida de um aluno e sua influência no processo de ensino-aprendizagem. Entender a questão histórica e evolução da Psicomotricidade bem como relatar as personalidades importantes para o crescimento desta ciência, é de suma importância para a formação dos docentes e ponto de reflexão para torna-la amplamente conhecida na base de estudos na formação docente. Um desenvolvimento psicomotor não estimulado pode acarretar uma série de problemas não só motores, mas no desenvolvimento total do indivíduo, fazendo com que as ações simples do cotidiano se tornem difíceis pela má formação. Como por exemplo,o desenvolvimento das habilidades psicomotoras para o aluno nos anos iniciais escolares poderá ser grande facilitador no desenvolvimento integral das etapas da alfabetização e levando-o a um desenvolvimento pleno. Assim, é necessário que as escolas proporcionem a formação continuada para os professores através de conhecimentos sobre a temática, e que tenham um olhar sensível para perceber as necessidades dos alunos e poder construir novas possibilidades diante das dificuldades psicomotoras, e nas situações mais complexas solicitar o auxílio necessário, e a escola cumpra sua função social que é garantir os conhecimentos, as habilidades e valores necessários à formação do individuo. Neste sentido esta pesquisa buscou enfatizar, a partir de uma perspectiva histórica, uma breve narrativa do desenvolvimento da Psicomotricidade ao decorrer dos tempos e alguns de seus autores principais, evidenciar através dos estudos destes autores, que não há um conceito único e singular, mas sim, diversos olhares sobre a Psicomotricidade. A Psicomotricidade é apresentada assim, como uma ciência que pretende transformar o corpo em um instrumento de relação e expressão com o outro, através do movimento dirigido ao ser em sua totalidade, em seus aspectos motores, emocionais, afetivos, intelectuais e sociais, considerando o homem como único, em constante evolução e essencialmente um ser interativo. Diante desta pesquisa, o estudo possibilitará o início de outras análises para que este tema ocorra frequentemente nas pesquisas de educação e principalmente nas práticas docentes. PSICOMOTRICIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL 1. INTRODUÇÃO A ideia de infância como um período peculiar de nossas vidas não é um sentimento natural ou inerente à condição humana. A partir do Século XVI, com a mudança no modo de produção no Século XVII, a criança passou a entendida como fator importante para a aquisição e manutenção dos bens familiares, ou, se não fosse de família de posses, deveria ser educada para o trabalho. Neste sentido, surgiu junto outro sentimento para com a infância: a moralização. A criança da modernidade passa a ser vista como um ser imperfeito e incompleto, necessitando ser moralizada através da educação feita pelo adulto (KRAMER, 1995). A criação de escolas para a educação infantil começou no século XVIII, com a Revolução Industrial. A inserção da mulher no mercado de trabalho fez surgir os primeiros estabelecimentos de Educação Infantil no país, no final do século XIX. Eles eram filantrópicos até a década de 1920, quando se iniciou um movimento pela democratização do ensino. Aos poucos o poder público começou a assumir a responsabilidade pela escola dos pequenos. As creches populares atendiam somente o que se referia à alimentação, higiene e segurança física. Na história recente do Brasil, com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBN) em 1996, a educação até seis anos ficou definida como primeira etapa da Educação Básica. Essa divisão só foi alterada em maio de 2005, com o sansão presidencial à lei Federal n.º 11.114, que define que crianças com seis anos completos devem ser matriculadas no primeiro ano do Ensino Fundamental. Dessa forma, a educação infantil passou a atender crianças até cinco anos de idade. No mundo contemporâneo, com as novas configurações da família e do trabalho, a frequência dos pequenos à educação infantil tornou-se uma necessidade do grupo familiar e da criança. Se, por um lado, esta etapa de ensino não pode ser entendida como a solução para os problemas da primeira infância, por outro, não é possível desprezar os importantes papéis que ocupa na vida da criança: social, educacional e cultural (CORSINO, 2003). Sem dúvida, a educação infantil foi uma conquista muito importante para crianças de zero a seis anos e nesse contexto foi necessária a criação de leis específicas da infância e do ensino para regulamentar e organizar essa etapa educacional. 2. A Importância da Psicomotricidade na Aprendizagem na Educação Infantil A psicomotricidade, em sua ação educativa, pretende atingir a organização psicomotora da noção do corpo como marco espaço temporal do “eu” (entendido como unidade psicossomática). Esse marco é fundamental ao processo de conduta ou de aprendizagem, pois, busca conhecer o corpo nas suas múltiplas relações: perceptiva, simbólica e conceitual, que constituem um esquema representacional e uma vivência indispensável à integração, à elaboração e à expressão de qualquer atual gesto intencional. A psicomotricidade procura estabelecer a conexão entre três partes determinantes na vida de qualquer individuo, sendo: emocional, físico e cognitivo. A busca por esse equilíbrio torna possível o aprendizado pedagógico, além das diversas situações internas e externas ao indivíduo. Resaltando que a educação infantil é responsável pela formação, estruturação e estimulação da criança. Porém essa ação pode ser complementada pela família com brincadeiras diversas. As etapas na vida de um aluno são essenciais para que o mesmo consiga desenvolver habilidades que sejam ligadas ao percurso acadêmico. A função da escola, associada ao aspecto da psicomotricidade, revela-se, como fundamental no crescimento do pequeno, tanto pelo lado cognitivo, emocional ou físico. Muitas pessoas pensam equivocadamente que a psicomotricidade esteja relacionada somente ao movimento, porém um estudo definiu qual o valor de todo esse processo, no qual diz que “a motricidade é a faculdade de realizar movimentos e a psicomotricidade é a educação de movimentos que procura melhor utilização das capacidades psíquicas”. Ou seja, o ato de movimentar-se está diretamente ligado ao aspecto mental. Sabemos que a escola exerce um papel crucial para essa finalidade, mas também pode ter seu complemento no ambiente doméstico para desenvolver esse lado tão importante para a vida de uma pessoa. Para Galvão a psicomotricidade pode ser vista como a ciência que estabelece a relação do homem com o meio interno e externo. Psicomotricidade é a ciência que tem como objeto de estudo o homem através do seu corpo em movimento e em relação ao seu mundo interno e externo. Está relacionada ao processo de maturação, onde o corpo é a origem das aquisições cognitivas, afetivas e orgânicas. È sustentada por três conhecimentos básicos: o movimento, o intelecto e o cognitivo. (GALVÂO, 1995, p. 10). “O termo psicomotricidade se divide em duas partes: a motriz e o psiquismo, que constituem o processo de desenvolvimento integral da pessoa”. (Fonseca, 2004, p.16). A palavra motriz se refere ao movimento, já psico determina a atividade psíquica em duas fases, a sócio afetiva e cognitiva. Em outras palavras, o que se quer dizer é que na ação da criança se articula toda sua afetividade, todos seus desejos, mas também todas suas possibilidades de comunicação e articulação de conceitos. A teoria de Piaget afirma que a inteligência se constrói a partir da atividade motriz das crianças. Nos primeiros anos de vida, até os sete anos, aproximadamente, a educação da criança é psicomotriz. Tudo, o conhecimento e a aprendizagem, centram se na ação da criança sobre o meio, os demais e as experiências através de sua ação e movimento. Através da psicomotricidade pode-se estimular e reeducar os movimentos da criança. A estimulação psicomotriz educacional se dirige a indivíduos sãos, através de um trabalho orientado à atividade motriz e as brincadeiras. Na reeducação psicomotriz se trabalha com indivíduos que apresentam alguma deficiência, transtornos ou atrasos no desenvolvimento. Tratam-se corporalmente mediante uma intervenção clínica realizada por um pessoal especializado. Criado em 1998, o Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil (RCNEI) foi desenvolvidopara servir de guia de reflexão sobre conteúdos, objetivos e orientações didáticas escolares. Este documento visa a melhoria da qualidade, do cuidado e educação para as crianças de 0 a 6 anos de idade e ainda contribuir para o aperfeiçoamento e qualificação de seus educadores. Dentre os objetivos gerais que o Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil estabelece, não há uma referência explícita à educação física, mas sim, que dizem respeito ao “corpo” e ao “movimento”, tais como: Descobrir e conhecer progressivamente seu próprio corpo, suas potencialidades e seus limites, desenvolvendo e valorizando hábitos de cuidado com a própria saúde e bem-estar;Brincar, expressando emoções, sentimento, pensamentos, desejos e necessidades; Utilizar as diferentes linguagens (corporal, musical, plástica, oral e escrita) ajustadas às deferentes intenções e situações de comunicação, de forma a compreender e ser compreendido, expressar suas ideias, sentimentos, necessidades e desejos e avançar no seu processo de construção de significados enriquecendo cada vez mais sua capacidade expressiva (VOLUME 1, p. 63). Ainda dentro desse aspecto, temos a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) que tem por objetivo possibilitar aos sistemas de ensino a aplicação dos princípios educacionais constantes na Constituição Federal. A LDB é, portanto, uma Lei que rege os sistemas de ensino. No Capítulo 2 deste documento está presente o parágrafo 3.º onde encontramos: “A educação física, integrada à proposta pedagógica da escola, é componente obrigatório na Educação Básica, [...]” (BRASIL, 1996). Como podemos observar, a educação física está legalmente inserida na educação infantil, pois esta é a primeira etapa da Educação Básica. Assim, observa-se que a Educação Infantil não só pode como deve, unir-se às diversas áreas de conhecimento em seu plano pedagógico, para que a criança possa realmente ser vista como um ser indivisível e para que haja a interação que contribua com sua formação integral. A Educação Física é reconhecidamente uma dessas áreas em que urge unir-se à educação infantil, principalmente quando os currículos dos cursos de Pedagogia não oferecem tal disciplina para os (as) profissionais que agregam a este curso. “O indivíduo não é feito de uma só vez, mas se constrói, através da interação com o meio e de suas próprias realizações”. (Fonseca, 2004, p.19). Diante desta visão, entendemos que a psicomotricidade desempenha papel fundamental, pois o movimento é um suporte que ajuda a criança a adquirir o conhecimento de mundo que a rodeia através de seu corpo, de suas percepções e sensações. Por esse motivo, a educação psicomotora tem sido enfatizada em várias instituições escolares, aplicada principalmente na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, fase em que as crianças estão descobrindo a si mesmo e o mundo em que vive. De acordo Le Bouch, a psicomotricidade visa a uma modificação de atitudes, mediante a sistematização de hábitos, sentimentos e pensamentos. Podemos dizer que a psicomotricidade é o resultado de uma dependência reciproca entre a vida mental e o movimento. Não existe pensamento materializado sem corpo, assim como não existe movimento sem domínio mental. Ou seja, não se pode realizar um movimento sem que esteja presente a mente. Segundo Le Bouch, a teoria psicomotora unificou-se praticamente no contato com os distúrbios de adaptação. Porem foi somente a partir de 1950 que seu ensino foi organizado; sua regularização ocorreu quase trinta anos depois por um diploma do Estado. Para uma melhor compreensão da educação pelo movimento, em primeiro momento, vamos tomar como referencial as obras de Le Bouch, tendo em vista que a ideia da Educação pelo Movimento e fundamentada principalmente na proposta por ele elaborada, sendo de sua autoria a Teoria Psicocinetica. Segundo Le Bouch (1983), “A Psicomotricidade é uma teoria geral do movimento que conduz ao enunciado de princípios metodológicos que permitem encarar sua utilização como meio de formação”. Le Bouch (1983) afirma que “a ciência do movimento não pode ser homologável ao estudo de uma maquina feita de alavancas, articulações e de músculos” e acrescenta que “O movimento deve ser considerado não como uma forma em si, cuja natureza é elucidada por uma descrição, mas como uma manifestação significante da conduta de um homem: a unidade do ser só pode realizar-se no ato que ele inventa”. Segundo Le Bouch (1983) o objetivo que conferimos à educação é o de fornecer um desabrochar humano, que permite ao homem, situar-se e agir no mundo em transformação, por meio de um melhor conhecimento e aceitação de si; um melhor ajustamento de conduta, uma verdadeira autonomia e um acesso a responsabilidade no âmbito da vida social. O movimento para a criança pequena significa muito mais do que mexer partes do corpo ou deslocar-se no espaço. A criança se expressa e se comunica por meio dos gestos e das mímicas faciais e interage utilizando fortemente o apoio do corpo. A dimensão corporal integra-se ao conjunto da atividade da criança. O ato motor faz-se presente em suas funções expressiva, instrumental ou de sustentação às posturas e aos gestos. É importante que o trabalho incorpore a expressividade e a mobilidade próprias às crianças. Assim, um grupo disciplinado não é aquele em que todos se mantêm quietos e calados, mas sim um grupo em que os vários elementos se encontram envolvidos e mobilizados pelas atividades propostas. Os deslocamentos, as conversas e as brincadeiras resultantes desse envolvimento não podem ser entendidos como dispersão ou desordem, e sim como uma manifestação natural das crianças. Compreender o caráter lúdico e expressivo das manifestações da motricidade infantil poderá ajudar o professor a organizar melhor a sua prática, levando em conta as necessidades das crianças. Outro aspecto da dimensão expressiva do ato motor é o desenvolvimento dos gestos simbólicos, tanto aqueles ligados ao faz-de-conta quanto os que possuem uma função indicativa, como apontarem, dar tchau etc. No faz-de-conta pode-se observar situações em que as crianças revivem uma cena recorrendo somente aos seus gestos, por exemplo, quando, colocando os braços na posição de ninar, os balançam, fazendo de conta que estão embalando uma boneca. Nesse tipo de situação, a imitação desempenha um importante papel. No plano da consciência corporal, nessa idade a criança começa a reconhecer a imagem de seu corpo, o que ocorre principalmente por meio das interações sociais que estabelece das brincadeiras que faz diante do espelho. Nessas situações, ela aprende a reconhecer as características físicas que integram a sua pessoa, o que é fundamental para a construção de sua identidade. A Psicomotricidade é a influência mútua de várias funções neurológicas, motrizes e psíquicas. É fundamental, a educação do movimento, ou por meio do movimento, que estimula um melhor uso das capacidades psíquicas. Para A Juria Guerra (1983), médico psiquiatra, considerado pela comunidade científica como o "Pai da Psicomotricidade", Psicomotricidade se conceitua como ciência da saúde e da educação, pois indiferentes das diversas escolas, psicológica, condutista, evolutista, genética, e etc. Ela visa à representação e a expressão motora, através da utilização psíquica e mental do indivíduo. De acordo com Moraes (2002) é a capacidade de determinar e coordenar mentalmente os movimentos corporais; a atividade ou conjunto de funções psicomotoras. A psicomotricidade significa, a potencialização de aptidões da criança nas três áreas já mencionadas sendo: emocional, cognitiva e física. A fórmula de educar o físico tem uma extensão bem mais ampla do que meramente ensinar uma modalidade esportiva, aprimorar o tônus muscular, melhorara resistência aeróbia e anaeróbia do indivíduo, levá-lo abominar o corpo em toda a sua extensão, seja executando os movimentos mais específicos, sejam os mais amplos, aperfeiçoando o controle neuromuscular. A psicomotricidade recentemente encontra-se permeada pela interdisciplinaridade, e essas linhas de análise distintas se cruzam nas práticas viventes. Práticas baseadas nos entendimentos psicomotores existentes acercar-se a considerar que as categóricas biológicas e culturais da criança contribuem dialeticamente na construção do motor, corpo, mente e inteligência da criança. Segundo Le Boulch (1969), a Psicomotricidade se dá através de ações educativas de movimentos espontâneos e atitudes corporais da criança, proporcionando- lhe uma imagem do corpo contribuindo para a formação de sua personalidade. É uma prática pedagógica que visa contribuir para o desenvolvimento integral da criança no processo de ensino-aprendizagem, favorecendo os aspectos físicos, mental, afetivo- emocional e sócio-cultural, buscando estar sempre condizente com a realidade dos educandos. De acordo com Fonseca (1988) em Psicomotricidade, o corpo não é entendido como fiel instrumento de adaptação ao meio envolvente ou como instrumento mecânico que é preciso educar, dominar, comandar, automatizar, treinar ou aperfeiçoar, pelo contrário, o seu enfoque centra-se na importância da qualidade relacional e na mediatização, visando à fluidez eu tônica, a segurança gravitacional, a estruturação somatognósica e a organização práxica expressiva do indivíduo. Para alcançar este objetivo, a educação psicomotora buscar trabalhar como foi descrito acima, prevenindo problemas de dificuldades escolares de várias origens, como: afetividade, leitura, escrita, atenção, lateralidade, funções cognitivas, trabalho em grupo, entre outros (CASTRO, 2008). De acordo com Monteiro (2007) alguns conceitos devem ser trabalhados dentro da aula de educação física como consequência da mesma e não como seu único fim, sendo algumas delas: Coordenação Motora Fina - Capacidade de controlar pequenos músculos para exercícios refinados, como recorte, colagem, encaixe e escrita; Coordenação Motora Global - Possibilidade de controle e organização da musculatura ampla para a realização de movimentos complexos como correr, saltar, andar e rastejar; Estruturação Espacial - É a orientação e estruturação do mundo exterior relacionado com outros objetos ou pessoas em posição estática ou em movimento. Sendo a consciência da relação do corpo com o meio; Organização Temporal - É a capacidade de avaliar tempo dentro da ação, organizar-se a partir do próprio ritmo, situar o presente em relação a um antes e a um depois; Estruturação Corporal - Relacionamento do indivíduo com o mundo exterior, conhecimento e controle do próprio corpo e de suas partes, adaptação do mesmo ao meio ambiente; Imagem Corporal - A experiência do indivíduo em relação ao próprio corpo sujeito, impressão subjetiva. Conhecimento Corporal - Conhecimento intelectual que se tem do próprio corpo. Esquema Corporal - Tomada de consciência de cada segmento do corpo (interna e externa) e de sua relação com o mundo que o cerca; Lateralidade - Representa a conscientização integrada e simbólica interiorizada dos dois lados do corpo, lado esquerdo e lado direito. 3. Metodologia Os procedimentos metodológicos basearam-se na pesquisa bibliográfica que tem como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explicito, assim entendemos a importância psicomotricidade, como ela está vinculada ao processo de alfabetização e suas contribuições para a aprendizagem das crianças. “A pesquisa bibliográfica procura explicar e discutir um tema com base em referencias teóricas publicado em livros, artigos científicos e revistas entre outros. E busca também conhecer e analisar conteúdos científicos sobre determinado tema” (MARTINS, 2001). 4. Considerações finais No decorrer da pesquisa observamos que a Educação Física e a psicomotricidade são uma ciência que podem se interagir, portanto proporcionando o bom desenvolvimento motor contribui futuramente para o desenvolvimento não só físico, mas consequentemente afetivo e cognitivo da criança. Também notamos que o desenvolvimento motor pode ser alterado por condições biológicas ou ambientais, podendo impedir que a criança se desenvolva como seus companheiros da mesma idade. Mas, felizmente, a partir de estudos e pesquisas aprofundadas, os cientistas compreenderam essas alterações, e puderam elaborar soluções clínicas e preventivas, no qual auxiliam no pleno desenvolvimento motor dos indivíduos. As particularidades de uma aprendizagem significativa, a psicomotricidade, tem a relevância na medida em que aceita a estimulação a partir da superação dos limites nas relações com seu mundo interno e externo. Pode-se afirmar que a Educação Física tem uma força positiva no pensamento, no conhecimento e ação, nos domínios cognitivos, na vida do indivíduo. Contudo o individuo fisicamente educado, terá uma vida futura ativa, saudável e produtiva, interagindo corpo, mente e espírito. Portanto, a Educação Física, pelas suas possibilidades de desenvolver a dimensão psicomotora das pessoas, com os domínios cognitivos e sociais, é de grande importância no desenvolvimento da aprendizagem escolar. Entretanto, é de suma importância as aulas de Educação Física no processo de desenvolvimento do individuo, compreendendo as atividades lúdicas, visando a brincadeira ou o jogo como um método para desenvolver as áreas psicomotoras, e assim designando condições para que o individuou possa desenvolver seu nível emocional, intelectual e social, preparando o individuo para o futuro com uma vida saudável. Como argumenta LeBouch (1984), a educação psicomotora atingirá seus objetivos quando trabalhada na escola, nas séries inicias, pois é nessa fase que a criança passa a conhecer a si, seu corpo, suas vontades, constrói sua personalidade, definindo conceitos, pensamentos, ideias, crenças, enfim, torna-se um ser consciente. Desse modo a psicomotricidade recentemente encontra-se permeada pela interdisciplinaridade, e essas linhas de análise distintas se cruzam nas práticas viventes. Práticas baseadas nos entendimentos psicomotores existentes acercar-se a considerar que as categóricas biológicas e culturais da criança contribuem dialeticamente na construção do motor, corpo, mente e inteligência da criança. É importante que o trabalho incorpore a expressividade e a mobilidade próprias às crianças. Assim, um grupo disciplinado não é aquele em que todos se mantêm quietos e calados, mas sim um grupo em que os vários elementos se encontram envolvidos e mobilizados pelas atividades propostas. Os deslocamentos, as conversas e as brincadeiras resultantes desse envolvimento não podem ser entendidos como dispersão ou desordem, e sim como uma manifestação natural das crianças. Compreender o caráter lúdico e expressivo das manifestações da motricidade infantil poderá ajudar o professor a organizar melhor a sua prática, levando em conta as necessidades das crianças. A Importância do Desenvolvimento Psicomotor na Infância Introdução Este estudo aborda a importância do desenvolvimento psicomotor na Educação Física escolar e tem por objetivo evidenciar a importância do trabalho do professor de Educação Física, para o desenvolvimento de pré-requisitos básicos, como: esquema corporal, lateralidade, coordenação motora e viso-motor, estruturação, dentre outros, para a aprendizagem, seja ela escolar, física ou social. Deste modo, contribui para um melhor atendimento educacional, a partir da Psicomotricidade e dos benefícios que ela oferece para a educação escolar. Para Hurtado (1991), a Educação Física representa um conjunto de atividades físicas,metódicas e racionais que se integram ao processo de educação global, visando o pleno desenvolvimento do aparelho locomotor, bem como ao desempenho normal das grandes funções vitais de um indivíduo e ao seu melhor relacionamento social. Embora o trabalho com a Psicomotricidade seja apontado por muitos estudiosos como de fundamental importância na área educacional, seus princípios teóricos ainda são pouco conhecidos pela população acadêmica. Desta forma, isto justifica o presente estudo, que busca fornecer aos educadores, em especial aos professores de Educação Física, informações úteis ao seu trabalho. Esta pesquisa abordada o que é a Psicomotricidade, fornecendo um breve histórico da mesma, evidenciando sua eficiência enquanto ciência e técnica, esclarecendo os papéis da estimulação psicomotora, da educação psicomotora, da reeducação psicomotora e da terapia psicomotora, e também aborda conceitos psicomotores, tais como: Esquema Corporal, Imagem Corporal e Tônus, e apresenta sugestões de exercícios para desenvolver habilidades de esquema corporal, lateralidade, estruturação espacial, orientação temporal, dentre outras. Desta forma, pode-se dizer que se trata de um trabalho enriquecedor para a área educacional, pois evidencia pontos fundamentais da Psicomotricidade e sua eficácia de forma objetiva e prática. Logo, o objetivo deste estudo foi evidenciar a contribuição do trabalho psicomotor como importante suporte para o processo de aprendizagem na Educação Escolar, tendo como mediadora a disciplina de Educação Física e, desta forma, contribuir para a melhoria do atendimento educacional a partir da Psicomotricidade. Metodologia Neste artigo foi feito extenso estudo bibliográfico de autores como Alves (1998), Bueno (1997), Cabral (2000), Foucault (1998), Lapierre (1988), Marx (1987, 2001), dentre outros, acerca da importância da Psicomotricidade para o processo de ensino e aprendizagem na Educação Escolar, e dentre tantos tipos de pesquisas possíveis, a http://dx.doi.org/10.21723/riaee.v12.n1.8278 pesquisa qualitativa descritiva (bibliográfica) apresenta características apropriadas para o foco principal. Conhecendo o Sistema Psicomotor Humano Conforme Vayer e Toulouse (1982), o Sistema Psicomotor Humano (SPMH), baseia-se em estruturas simétricas do sistema nervoso, compreendendo o tronco cerebral, o cerebelo, o mesencéfalo e o diencéfalo, que constituí a integração e a organização psicomotora da tonicidade, da equilibração e parte da lateralização e também de estruturas assimétricas, compreendendo os dois hemisférios cerebrais, que asseguram a organização psicomotora da noção do corpo, da estruturação espaço-temporal e da praxia global e fina, exclusivas de espécie humana devido à sua complexidade organizativa e sistemática (Figura 01). Figura 01: Esquema do Sistema Psicomotor Humano. Fonte: (CUNHA, 1985). Le Boulch (1983) esclarece que a educação psicomotora é formadora de uma base indispensável a toda criança, pois objetiva assegurar o desenvolvimento funcional. O SPMH é um todo único, composto de vários subsistemas ou fatores psicomotores, trata-se de um todo integrado. A noção de integração psicomotora é crucial ao SPMH. http://dx.doi.org/10.21723/riaee.v12.n1.8278 Psicomotricidade, ciência e técnica Como foi visto no Congresso Brasileiro de Psicomotricidade e III Encontro de Profissionais de Psicomotricidade (1995), junto à Associação Brasileira de Psicomotricidade (1995), a Psicomotricidade é uma técnica advinda de múltiplos pontos de vista, utilizando as aquisições de várias ciências constituídas, como a biologia, a psicologia, a psicanálise, a sociologia e a linguística. É também considerada uma terapia, pois se dispõe a desenvolver as faculdades expressivas do indivíduo através da “linguagem corporal”. Na visão de Freire (1989), ao se perguntar o que é Psicomotricidade, uma série de noções aparecem, indo da concepção mais simples, como maturação do sistema nervoso, processos neuromotores, pré-requisitos, coordenação; aos aspectos relacionais da motricidade humana: corpo e emoção. Estudiosos como Bueno (1997), Wallon (1995), Cabral (2000), Fonseca (1985) e Freire (1989), podem explicitar a abrangência da Psicomotricidade, levando-se em conta que: PSICO refere-se aos aspectos Biomaturacionais (maturação do sistema nervoso), Cognitivos (responsável pela aprendizagem) e Afetivos (está relacionado aos sentimentos). Com base nestes conceitos inter-relacionados, a Sociedade Brasileira de Psicomotricidade (1995), em Congresso realizado com profissionais de Psicomotricidade, elaborou um conceito geral: “Uma ciência que tem por objeto o estudo do Homem, através de seu corpo em movimento, nas relações com seu mundo interno e externo”. Neste encontro concluiu-se também que a intervenção no campo psicomotor é concebida a partir de quatro áreas, a saber: estimulação, educação, reeducação e terapia psicomotora. Estimulação psicomotora Bueno (1997), em seu livro Psicomotricidade: teoria e prática, faz a seguinte afirmativa sobre a estimulação psicomotora: Entende-se por estimulação psicomotora o [processo] que envolve contribuições para o desenvolvimento harmonioso da criança no começo da vida. Caracteriza-se por atividades que se preocupam e vão http://dx.doi.org/10.21723/riaee.v12.n1.8278 ao encontro das condições que o indivíduo apresenta, acima de tudo, na sua capacidade maturacional, procurando despertar o corpo e a atividade por meio de movimentos e jogos e buscando a harmonia constante. Estimulação quer dizer despertar, desabrochar o movimento. Dirige-se prioritariamente a recém-natos e pré-escolares. Alguns autores referem-se à estimulação psicomotora como estimulação precoce, mas consideramos o termo errôneo, sendo mais sensato utilizarmos estimulação essencial (BUENO, 1997, p.83). Educação psicomotora Para Cabral (2000), educação psicomotora refere-se a todas as aprendizagens da criança, as quais se processam em etapas progressivas e específicas, em conformidade com o desenvolvimento de cada indivíduo. Tal desenvolvimento se dá em todos os momentos da vida através das percepções vivenciadas, como uma intervenção direta a nível cognitivo, motor e emocional, estruturando o indivíduo como um todo. Segundo Le Boulch (1983), a educação acontece pela facilitação das condições naturais e da prevenção de distúrbios naturais dirigindo-se, prioritariamente, a crianças em condições de frequentar a escola e sem comprometimentos sérios. A educação realiza-se nos mais variados espaços, como: na escola, na família e no meio social, sendo mediada pelos educadores, pelos pais e professores em geral (magistério, natação, balé, judô, ginástica, dança, etc.). Le Boulch (1983) lutou e conquistou, na década de 60, a inclusão da educação psicomotora nos cursos primários das escolas francesas. Para ele “a educação psicomotora deve ser considerada uma educação de base na escola elementar, ponto de partida de todas as aprendizagens pré-escolares e escolares”. A psicomotricidade tem por função destacar a relação entre a motricidade, a mente e a afetividade, e facilitar a abordagem global da criança, e a função motora, o desenvolvimento intelectual e o desenvolvimento afetivo estão intimamente ligados na criança. Para Alves (1998), a maioria das crianças que passam por dificuldades na escolaridade, a causa do problema não está no nível cognitivo da classe a que chegaram, mas bem antes, está no nível das bases. Ou seja, os elementos básicos ou “pré- requisitos”, condições mínimas necessárias para uma boa aprendizagem, constituem a estrutura da educação psicomotora. De acordo com Hurtado (1991), uma criança cujo esquema corporal é mal constituído não coordena bem os movimentos. Notadamente é atrasada quando se despe http://dx.doi.org/10.21723/riaee.v12.n1.8278 e as habilidades manuais lhe são difíceis.Na escola a caligrafia é feia, e a leitura inexpressiva, não-harmoniosa: o gesto vem após a palavra; a criança não segue o ritmo da leitura ou então para no meio de uma palavra. Para Hurtado (1991), uma criança cuja lateralidade não está bem definida encontra problemas de ordem espacial, não percebe diferença entre seu lado dominante e o outro lado, não distingue a diferença entre esquerda e a direita e é incapaz de seguir a direção gráfica (leitura começando pela esquerda). Igualmente não consegue reconhecer a ordem em um quadro. É nesta hora que a atuação do professor de Educação Física deve fazer-se valer. Um trabalho eficiente de esquema corporal certamente amenizará profundamente tais déficits. No olhar de Cabral (2000), diante de problemas de percepção espacial uma criança não é capaz de distinguir a letra “b” da letra “d”, letra “p” da letra “q”, número “21” do número “12”, caso não perceba a diferença entre esquerda e a direita. Se não distingue bem o alto e o baixo, confunde a letra “b” da letra “p”, letra “n” da letra “u”, o conectivo “ou” do “on”. Ainda na ótica de Cabral (2000), os problemas quanto à orientação temporal e a orientação espacial, como, por exemplo, com a noção “antes-depois”, acarretam principalmente confusão na ordenação dos elementos de uma sílaba. A criança sente dificuldade em reconstruir uma frase cujas palavras estejam misturadas, sendo a análise gramatical um quebra-cabeça para ela. Da mesma forma, uma má organização espacial ou temporal acarreta fracasso na matemática. Com efeito, para calcular, a criança deve ter pontos de referência, colocar os números corretamente, possuir noção de “fileira”, de “coluna”; deve conseguir combinar as formas para fazer construções geométricas. Embasado em tais fatos, Lapierre (1988), afirma que a educação psicomotora “é uma ação psicopedagógica que utiliza os meios da educação física, com a finalidade de normalizar ou melhorar o comportamento do indivíduo”. Reforçando o pensamento de Le Boulch (1983), Vayer (1982) destaca que do ponto de vista educativo, o papel e lugar da educação psicomotora na educação geral corresponderá, naturalmente, às diferentes etapas do desenvolvimento da criança, e assim entendemos que: no curso da primeira infância, toda educação é educação psicomotora; no curso da segunda infância, a educação psicomotora permanece sendo o núcleo fundamental de uma educação educativa que começa a diferenciar-se em atividades de expressão, organização das relações lógicas e as necessárias aprendizagens de leitura-escrita-ditado; no curso da ‘grande infância’, a diferenciação http://dx.doi.org/10.21723/riaee.v12.n1.8278 entre as atividades educativas se faz mais acentuadamente, e a educação psicomotora mantém então a relação entre as diversas atividades que concorrem simultaneamente ao desenvolvimento de todos os aspectos da personalidade. Reeducação psicomotora Segundo De Meur e Staes (1984), reeducação psicomotora é entendida como uma ação que é desenvolvida em indivíduos que sofrem com perturbações ou distúrbios psicomotores, e tem por objetivo retomar as vivências anteriores e/ ou fases de educação ultrapassadas inadequadamente; ou seja, educar o que o indivíduo não assimilou adequadamente em etapas anteriores. Para Bueno (1997), a tarefa da reeducação psicomotora é fazer com que o indivíduo possa adaptar-se ao seu meio, seja escolar, familiar ou social, sem que para isso tenha que renunciar à sua personalidade, mas, ao contrário, sabendo conhecer e dominar o seu corpo, através do qual todas as trocas são possíveis. Assim posto, a reeducação é aplicada por várias áreas profissionais: pedagogia, educação física, fonoaudiologia, fisioterapia, terapia educacional, psicologia e por arte-educadores, educadores, médicos da especialidade motora ou psíquica, entre outros. Ainda de acordo com Bueno (1997), condição básica para uma boa reeducação está na tranquilidade e no intercâmbio afetivo entre o reeducador e o reeducando. Embasa sua eficácia no fato de que se remonta às origens, aos mecanismos de base que estão na origem da vida mental, controle gestual e do pensamento, controle das reações tônico-emocionais, equilíbrio, fixação na atenção, justa preensão do tempo e do espaço. Terapia psicomotora A terapia psicomotora é dirigida a indivíduos com conflitos mais profundos na sua estruturação, associados aos (aspectos) funcionais ou com desorganização total de sua harmonia corporal e pessoal. Envolve, por exemplo, crianças com agressividade acentuada, pulsões motoras incontroladas, casos de excepcionalidade e dificuldades de relacionamento corporal, e também destinada a indivíduos que possuem associação de http://dx.doi.org/10.21723/riaee.v12.n1.8278 transtornos da personalidade. Está baseada nas relações e na análise dessas relações por meio do jogo de movimentos corporais (BUENO, 1997). Para este autor, a terapia psicomotora é fator prioritário para as questões biológicas, cognitivas e de comportamento, onde é mais amplamente adotada. Segundo Silva (2002), o estudo da Psicomotricidade é recente. Ainda no início deste século o assunto era abordado apenas excepcionalmente. Atualmente, devido à grande demanda por parte das crianças, o estudo ultrapassa os problemas motores, pesquisando também as ligações com a lateralidade, a estruturação espacial e a orientação temporal por um lado e, por outro, as dificuldades escolares de crianças de inteligência normal. Faz também que se tome consciência das relações existentes entre o gesto e a afetividade. Segundo Cabral (2000), ao observar uma criança de 2 anos que brinca com um jogo de ovos que se encaixam nota-se que ela segura o ovo e sente-o com as mãos; com a boca percebe que esse objeto é duro, liso e de forma arredondada. A criança o olha e sua visão confirma as suas impressões táteis: não existem pontas nem arestas; o objeto não muda de forma quando é tocado; é colorido. A criança joga-o no chão, ouve o barulho da queda do objeto, o vê rolar. Com base nestas observações pode-se concluir que: a partir de uma experiência simples de origem motora a criança vai recebendo inúmeras informações que serão classificadas paulatinamente em um conjunto de indicações similares percebidas em outras circunstâncias. De acordo com Fonseca (1996), pode-se concluir então que a função motora, o desenvolvimento intelectual e o desenvolvimento afetivo estão intimamente ligados à criança. Portanto, a Psicomotricidade visa destacar a importância da motricidade, da mente e da afetividade no processo da aprendizagem. Segundo Le Boulch (1983), pode-se reafirmar que a educação psicomotora é uma técnica, e para utilizá-la é necessário seguir algumas etapas que levem a criança a adquirir a noção de esquema corporal, assim como outras noções indispensáveis ao seu desenvolvimento. Cada noção é abordada primeiro através de exercícios motores. Ou seja, exercícios em que o corpo se desloca e o sujeito percebe as diferentes noções, de maneira interna. Depois, através de exercícios sensoriomotores em virtude dos quais a manipulação de objetos possibilita a percepção de diversas noções e, finalmente, através de exercícios perceptomotores, em que as manipulações são mais sutis e a percepção visual muito importante, domina as outras partes. Tais exercícios possibilitam uma http://dx.doi.org/10.21723/riaee.v12.n1.8278 análise profunda das funções intelectuais motoras, tais como a análise perceptiva, a precisão da representação mental, a determinação de pontos de referência. Segundo Fonseca (1985), a Psicomotricidade abrange cinco etapas: i) a formação do “eu” da personalidade da criança, isto é, o desenvolvimento do esquema corporal através do qual a criança toma consciência de seu corpo e das possibilidades de expressar-se por meio desse corpo; ii) a criança percebe que seus membros não reagem da mesmaforma: dominância lateral; iii) a maneira como a criança se localiza no espaço que a circunda e como situa as coisas, umas em relação às outras: trata-se da estruturação espacial; iv) a orientação temporal diz respeito à maneira como a criança se situa no tempo; v) como a criança se expressa também através do desenho, completa-se o estudo com o domínio progressivo do desenho e do grafismo. Psicomotricidade e conceitos psicomotores Esquema Corporal De acordo com Hurtado (1991), o Esquema Corporal é o elemento básico, indispensável na criança para construção de sua personalidade. É a representação mais ou menos global, mais ou menos específica e diferenciada que ela apresenta de seu próprio corpo. Vayer (1982), descreve a imagem corporal como resultado complexo de toda atividade cinética, sendo a imagem do corpo a síntese de todas as mensagens, de todos os estímulos e de todas as ações que permitam à criança se diferenciar do mundo exterior e de fazer do “eu” o sujeito de sua própria existência. Já Ledoux (1991), descreve que o esquema corporal especifica o indivíduo como representante da espécie. Mais ou menos idêntico em todas as crianças da mesma idade, ele é uma realidade de fato, esteio e intérprete da imagem do corpo. Graças a ele, o corpo atual fica referido no espaço à experiência imediata. À medida que a criança conhece seu corpo e percebe que ele lhe obedece, vai tomando consciência de que pode utilizá-lo não só para movimentar-se, mas também para agir conforme seu desejo e controle, ela então vai sentir-se muito bem. De acordo com Wallon (1989), a Psicomotricidade define o esquema corporal como a organização de estruturas cerebrais que concede ao indivíduo o conhecimento http://dx.doi.org/10.21723/riaee.v12.n1.8278 progressivo das partes e funções do corpo, a partir de etapas sucessivas, que são determinadas pela maturação neuro-cortical e pela relação da pessoa com o meio físico e humano. Desta forma, o esquema corporal propicia ao indivíduo noções de globalidade de si, equilíbrio postural, afirmação da lateralidade, entre outras habilidades. Segundo Ledoux (1991), a criança ou aluno cujo esquema corporal não está bem elaborado em sua percepção, certamente apresentará dificuldade de coordenação dos seus movimentos. Irá atrapalhar-se ao se vestir ou despir, as habilidades manuais lhe serão difíceis e penosas. Na escola apresentará caligrafia feia e leitura não-expressiva, sem ritmo e entrecortada. Desta forma, exercícios de identificação, reconhecimento, localização e conhecimento das funções das partes do corpo auxiliam o desenvolvimento do esquema corporal. A imagem do corpo Comunicação sensorial (emocional) e a fala do outro aparecem como dois substratos dessa imagem do corpo. A simples experiência sensorial (corpo a corpo), sem um mediador humano, só instrui o esquema corporal e não estrutura a imagem do corpo. “[...] viver num esquema corporal, sem imagem do corpo, equivale ao ‘viver mudo’, solitário” (LEDOUX, 1991). Segundo Galvão (1996), a estruturação da imagem do corpo, que é essencialmente relacional e inconsciente, apóia-se na dialética entre o próprio desejo e o desejo do outro, influenciando nos modos de relação que o indivíduo vai empreender com os outros, consigo mesmo e com as coisas. O ser humano, portanto, constrói a visão do eu e da imagem dos seus corpos intimamente associados, ambos dependentes do desenvolvimento do sistema sensorial/neurológico, da percepção e de relações sociais/culturais. Nesse sentido, Tavares (2003) descreve que nossa imagem corporal representa uma experiência muito especial, uma vez que o objeto em foco corresponde ao nosso eu. Inclui aspectos conscientes e inconscientes. Ela está vinculada à minha identidade e à minha experiência existencial. É tão espetacularmente dinâmica como são minhas relações com o mundo e como é a interação entre meus aspectos conscientes e inconscientes. http://dx.doi.org/10.21723/riaee.v12.n1.8278 Habilidades Psicomotoras no Processo de Alfabetização Segundo Fonseca (1996), os jogos, regras e brincadeiras que estimulem a cognição, além de tudo, o que engloba os recursos motores para que a criança possa se ambientar nessa nova fase, a Educação Física pode e deve se orientar para atender as necessidades da alfabetização e minimizar os distanciamentos entre as crianças dotadas de diferentes habilidades. Em forma de aprendizagem lúdica é mais fácil para a criança aprender e erradicar sua deficiência e sua falha, possibilitando uma alfabetização mais tranquila para a criança, segura para a escola e satisfeita para os pais. No Ensino Fundamental, nas Séries Iniciais, as atividades que envolvem ritmo, criatividade, desenhos, bem como pintar, classificar e reconhecer, são desenvolvidos no hemisfério direito; já as aprendizagens primárias, desenvolvidas no hemisfério esquerdo, englobam a leitura, a escrita, a lógica, os números e a matemática. De acordo com Wallon (1995), o movimento não é puramente um deslocamento no espaço, nem uma simples contração muscular, e sim, um significado de relação afetiva com o mundo, assim, para o autor, o movimento é a única expressão e o primeiro instrumento do psiquismo. Neste contexto, pode-se dizer que o desenvolvimento motor é precursor de todas as demais áreas. De Meur e Staes (1984), assinalam que: o intelecto se constrói a partir da atividade física. As funções motoras (movimento) não podem ser separadas do desenvolvimento intelectual (memória, atenção, raciocínio) nem da afetividade (emoções e sentimentos). Para que o ato de ler e escrever se processe adequadamente, é indispensável o domínio de habilidades a ele relacionado, considerando que essas habilidades são fundamentais para as manifestações psicomotoras. Segundo Hurtado (1991), a Educação Física representa um conjunto de atividades físicas, metódicas e racionais que se integram ao processo de educação global, visando o pleno desenvolvimento do aparelho locomotor, bem como ao desempenho normal das grandes funções vitais de um indivíduo e ao seu melhor relacionamento social. Oliveira (1997), postula que é pela motricidade e pela visão que a criança descobre o mundo dos objetos, e é manipulando-os que ela redescobre o mundo, porém, esta descoberta a partir dos objetos só será verdadeiramente frutífera quando a criança for capaz de segurar e de largar, quando ela tiver adquirindo a noção de distância entre ela e o objeto que ela manipula. http://dx.doi.org/10.21723/riaee.v12.n1.8278 Molinari e Sens (2002), afirmam que a educação psicomotora nas séries iniciais do ensino fundamental atua como prevenção. Com ela podem ser evitados vários problemas, como a má concentração, confusão no reconhecimento de palavras, confusão com letras e sílabas e outras dificuldades relacionadas à alfabetização. Uma criança cujo esquema corporal é mal formado não coordena bem os movimentos. Suas habilidades manuais tornam-se limitadas, a leitura perde a harmonia, o gesto vem após a palavra e o ritmo de leitura não é mantido, ou então é paralisado no meio de uma palavra. Fonseca (1996), destaca o caráter preventivo da Psicomotricidade, afirmando ser a exploração do corpo, em termos de seus potenciais, uma “propedêutica das aprendizagens escolares”, especialmente a alfabetização. Para o autor, as atividades desenvolvidas na escola, como a escrita, a leitura, o ditado, a redação, a cópia, o cálculo, o grafismo, e enfim, os movimentos, estão ligados à evolução das possibilidades motoras, e as dificuldades escolares estão, portanto, diretamente relacionadas aos aspectos psicomotores. Para Lagrange (1977), a criança ao nascer é um ser indiferenciado e difuso, não consciente de si e de seu corpo, à medida que começa a se locomover, engatinhar, subir, descer escadas, entrar em contato com os outros, passa a tomar consciência de seu