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EA
D
Ensino de Ciências
no Ensino
Fundamental 4
1. OBJETIVOS
• Reconhecer os eixos temáticos de Ciências Naturais defi-
nidos pelos Parâmetros Curriculares nacionais (PCns).
• Identificar a articulação entre os diversos conteúdos que
compõem a área de Ciências Naturais.
• Analisar os conteúdos e objetivos propostos para o Ensi-
no de Ciências no Ensino Fundamental.
• Compreender as categorias de conteúdos: conceituais, proce-
dimentais e atitudinais propostas para o Ensino de Ciências.
• Reconhecer os critérios para seleção de conteúdos no En-
sino de Ciências.
• Organizar situações de ensino e aprendizagem adequadas
aos objetivos, conteúdos e princípios didáticos propostos
para o primeiro e segundo ciclos.
© Fundamentos e Métodos do Ensino das Ciências da Natureza190
• Identificar os eixos temáticos de Ciências Naturais defini-
dos pelos Parâmetros Curriculares nacionais.
• Compreender objetivos, conteúdos e critérios de avaliação
no Ensino de Ciências para o primeiro e segundo ciclos.
2. CONTEÚDOS
• Objetivos gerais de Ciências Naturais para o Ensino Fun-
damental.
• Conteúdos de Ciências Naturais no Ensino Fundamental.
• Critérios para seleção dos conteúdos de Ciências.
• Blocos temáticos para o Ensino de Ciências no Ensino
Fundamental.
• Organização de situações de ensino e aprendizagem ade-
quadas aos objetivos e conteúdos para o Ensino de Ciências.
• Ciências Naturais no primeiro ciclo.
• Eixos temáticos de Ciências Naturais para o Ensino Fun-
damental.
• Objetivos de Ciências Naturais para o primeiro e segundo
ciclos.
• Conteúdos de Ciências Naturais para o primeiro e segun-
do ciclos.
• Critérios de avaliação de Ciências Naturais para o primei-
ro e segundo ciclos.
3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE
Antes de iniciar o estudo desta unidade, é importante que
você leia as orientações a seguir.
Pense como deveriam ser desenvolvidas com os alunos das
séries iniciais do Ensino Fundamental as aulas de Ciências Natu-
rais. Faça anotações para confrontar com o conteúdo que nós
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191© U4 - Ensino de Ciências no Ensino Fundamental
apresentaremos nesta unidade. Ter conhecimento a respeito dos
pressupostos que abarcam esse eixo curricular e que vão viabilizar
um bom trabalho didático favorece a reflexão sistemática sobre a
prática pedagógica à medida que vamos adquirindo uma postu-
ra condizente com os princípios fundamentais para o sucesso da
aprendizagem de nossos alunos.
Para que a reflexão e formação pautadas nesses princípios
possam ocorrer, sugerimos, primeiramente, que você siga algumas
orientações para esta unidade:
1) identifique a importância das variáveis que vão interferir
na organização do trabalho pedagógico.
2) Leia os livros da bibliografia indicada para que você am-
plie seus horizontes teóricos. Coteje-os com o material di-
dático e discuta a unidade com seus colegas e com o tutor.
3) Antes de iniciar os estudos desta unidade, é interessan-
te conhecer um pouco da biografia dos pensadores cujo
pensamento norteia este estudo. Para saber mais, aces-
se os sites indicados.
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
A essência da autonomia é que as crianças se tornam capazes de to-
mar decisões por elas mesmas. Autonomia não é a mesma coisa que
liberdade completa. Autonomia significa ser capaz de considerar os
fatores relevantes para decidir qual deve ser o melhor caminho da
ação. Não pode haver moralidade quando alguém considera somen-
te o seu ponto de vista. Se também consideramos o ponto de vista
das outras pessoas, veremos que não somos livres para mentir, que-
brar promessas ou agir irrefletidamente. (KAMii, 1996, s/p).
Estudamos, na unidade anterior, os conteúdos pertinentes
às áreas das Ciências Naturais que compõem os currículos de Edu-
cação Infantil. Compreendemos quais os pressupostos do conhe-
cimento sobre natureza e sociedade que devem ser desenvolvidos
com as crianças de zero a seis anos.
Agora, nesta Unidade 4, vamos discutir os eixos temáticos de
Ciências naturais definidos pelos Parâmetros Curriculares nacionais
© Fundamentos e Métodos do Ensino das Ciências da Natureza192
(PCns), com o propósito de organizar a eleição e a articulação entre
os diversos conteúdos que compõem a área de Ciências Naturais.
De acordo com Pozo e Crespo (1998, p. 67):
Uma das justificativas mais comuns para a inclusão das Ciências da
Natureza como uma parte substantiva do currículo da Educação Básica
em todos os países costuma ser a necessidade de proporcionar aos
alunos uma cultura científica mínima que lhes permita compreender
não somente o funcionamento do mundo natural mas, também, os
envolvimentos que os avanços do conhecimento científico e tecnológico
têm para a vida social do cidadão comum. Já que vivemos num mundo
no qual os conhecimentos e os procedimentos das ciências têm ampla
difusão e uma presença quase permanente em nossa vida cotidiana,
parece necessário dotar os futuros cidadãos de uma bagagem conceitual
e metodológica que lhes permita ser partícipes desses conhecimentos.
Como vimos o Estudo de Ciências é extremamente relevante
no currículo escolar para que a criança se compreenda o seu meio
natural e se compreenda como sujeito histórico em relação com o
seu meio social e natural.
Estamos caminhando para mais uma etapa em nossos estu-
dos. Vamos em frente!
5. OBJETIVOS E CONTEÚDOS DE CIÊNCIAS NATURAIS
PARA O ENSINO FUNDAMENTAL
Objetivos de Ciências Naturais para o Ensino Fundamental
Os objetivos de Ciências Naturais para o Ensino Fundamental
são concebidos para que o aluno desenvolva competências que lhe
permitam compreender o mundo e atuar como indivíduo e como ci-
dadão, utilizando conhecimentos de natureza científica e tecnológica.
Pozo e Crespo (1998, p. 68) afirmam que:
[...] o objetivo fundamental da formação científica na Educação Básica
será fazer com que os alunos sejam capazes de enfrentar situações co-
tidianas, analisando-as e interpretando-as através dos modelos concei-
tuais também dos procedimentos próprios da ciência. Não é por acaso
que esse vínculo entre o conhecimento científico dos alunos e o mundo
cotidiano que os cerca se torna explícito na resolução de problemas.
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193© U4 - Ensino de Ciências no Ensino Fundamental
O Ensino de Ciências Naturais deverá, então, se organizar de
forma que, ao final do Ensino Fundamental, os alunos tenham as
seguintes capacidades:
1) compreender a natureza como um todo dinâmico e o ser
humano como parte integrante e agente de transforma-
ções do mundo em que vive;
2) identificar relações entre conhecimento científico, pro-
dução de tecnologia e condições de vida, no mundo de
hoje e em sua evolução histórica;
3) formular questões, diagnosticar e propor soluções para
problemas reais com base em elementos das Ciências
Naturais, colocando em prática conceitos, procedimen-
tos e atitudes desenvolvidos no aprendizado escolar;
4) saber utilizar conceitos científicos básicos associados a
energia, matéria, transformação, espaço, tempo, siste-
ma, equilíbrio e vida;
5) saber combinar leituras, observações, experimentações,
registros etc. para coleta, organização, comunicação e
discussão de fatos e informações;
6) valorizar o trabalho em grupo, sendo capaz de realizar
ações críticas e cooperativas para a construção coletiva
do conhecimento;
7) compreender a saúde como bem individual e comum
que deve ser promovido pela ação coletiva;
8) compreender a tecnologia como meio para suprir necessi-
dades humanas, distinguindo usos corretos e necessários
daqueles prejudiciais ao equilíbrio da natureza e ao homem.
Conteúdos de Ciências Naturais para o Ensino Fundamental
A literatura científica atual, no que se refere ao Ensino de
Ciências na escola, tem apontado as três grandes acepções inte-
gradas e complementares de Ciência como corpo de conhecimen-
tos. As três grandes acepções integradas e complementares são:
conjunto conceitual, forma de produção de conhecimentosaté o segundo
ciclo, porém, que não sejam aprofundados, pois esses conceitos
serão novamente revistos em ciclos posteriores.
No primeiro ciclo, é proposto que se trabalhe a higiene pes-
soal; nesse caso, o professor deve estimular a autonomia da crian-
ça, respeitando as condições socioeconômicas e culturais em que
ela vive, além de incentivar os modos saudáveis de alimentação,
higiene bucal, cuidados com o corpo, organização e limpeza.
Despertar os alunos para as mudanças físicas do corpo, prin-
cipalmente as características externas do menino e da menina,
preparando-os para as modificações do corpo e na forma como
relacionar-se com o mundo e com sua sexualidade são tarefas,
também, desse ciclo.
No segundo ciclo, os temas para este bloco temático são
mais amplos. É proposta uma tomada de consciência de que o
corpo humano é constituído por sistemas, que apresenta funções
específicas e que a manutenção de todo o organismo depende das
interações entre os sistemas e o equilíbrio com o meio.
Nesse ciclo, são trabalhadas as funções específicas dos sis-
temas, mas sem maiores aprofundamentos quanto à sua fisiolo-
gia e anatomia. O professor, como ponto de partida, deve fazer
uma análise das suposições apresentadas pelos alunos sobre os
temas e buscar estratégias pedagógicas eficazes, como trabalhos
em grupo com textos específicos, buscar informações em Atlas de
anatomia, livros ou outras fontes apropriadas aos alunos do ciclo,
como os experimentos.
Durante todo o estudo sobre o corpo humano e a saúde,
deve ser apresentada a importância dos cuidados com corpo, ali-
mentação, ambiente em que se vive, medicação sob prescrição
médica e o repouso e o lazer como atividades fundamentais para
a preservação da saúde.
© Fundamentos e Métodos do Ensino das Ciências da Natureza230
Diferentes temas relacionados à sexualidade devem ser
abordados sem causar constrangimento ao aluno. O trabalho de
orientação sexual realizado pela escola deve ser complementar
ao recebido pela família ou mesmo pela cultura do aluno, visando
debater, informar e ajudar a adotar atitudes coerentes com seus
valores pessoais.
Nesse contexto, os temas relacionados à saúde pública, prin-
cipalmente os mais alarmantes na comunidade em que vive o alu-
no, podem ser propostos pelo professor como forma de pesquisa,
contribuindo para que o aluno trace uma correlação entre suas
condições de higiene e saúde e de outros grupos.
Confira os conteúdos que deverão ser trabalhados neste blo-
co temático:
1) Concepção de corpo humano como um sistema integra-
do que interage com o ambiente e reflete a história de
vida do sujeito.
2) Natureza do corpo humano visto como um todo articulado.
3) Diferentes aparelhos e sistemas e suas funções especí-
ficas.
4) Relações fisiológicas e anatômicas do corpo humano.
5) Corpo humano – um sistema fruto das interações entre
suas partes com o meio.
6) Equilíbrio dinâmico – chamado de estado de saúde.
7) O estado de saúde ou de doença decorre da satisfação
ou não das necessidades biológicas, afetivas, sociais e
culturais, que, embora sejam comuns, apresentam par-
ticularidades em cada indivíduo, nas diferentes culturas
e fases da vida.
8) Sexualidade humana (anatomia e fisiologia dos apare-
lhos reprodutores, masculino e feminino, gravidez, par-
to, contracepção, formas de prevenção às doenças sexu-
almente transmissíveis etc.).
9) Outros assuntos, como doenças, hábitos alimentares,
higiene etc.
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231© U4 - Ensino de Ciências no Ensino Fundamental
Recursos tecnológicos
A utilização de recursos tecnológicos foi fundamental para a
civilização. Os produtos industriais e artesanais utilizados no dia a
dia do homem são constituídos de materiais como madeira, me-
tais, minérios, petróleo, energia e outros.
Nas séries iniciais, sugere-se que o professor selecione al-
guns produtos para que seja investigada, de modo geral, a sua ori-
gem e os seus modos de obtenção.
Os temas relacionados aos recursos tecnológicos podem ser
também trabalhados conjuntamente com os temas relativos ao
ambiente por meio da plantação e manutenção de uma horta na
escola ou mesmo em casa.
Esse tipo de trabalho possibilita o desenvolvimento das ha-
bilidades de observação, análise, correlação e, também, permite a
cooperação entre os alunos na realização das tarefas e valorização
dos recursos naturais.
É necessário que o aluno obtenha o conhecimento sobre a
utilização dos recursos naturais e, ao mesmo tempo, aprenda a
necessidade do seu uso racional, ou seja, sem ação predatória. Es-
sas informações contribuem para a formação de um cidadão cons-
ciente quanto à preservação e conservação do meio ambiente.
No segundo ciclo, é possível trabalhar vários assuntos re-
ferentes aos recursos tecnológicos, que podem ser selecionados
juntamente com os temas dos blocos ambiente e ser humano. É
interessante a escolha de assuntos referentes a problemas locais
ou mesmo regionais.
A água como recurso natural esgotável é um tema atual, polê-
mico e interessante para ser estudado pelo aluno do segundo ciclo.
nessa fase, o aluno é capaz de compreender a importância
vital da água para os seres vivos, seus benefícios e sua utilização
pela civilização humana, bem como a limitação da disponibilidade
© Fundamentos e Métodos do Ensino das Ciências da Natureza232
de água potável no planeta Terra. Em conexão com esses conteú-
dos, ele poderá levantar os problemas sobre a necessidade do tra-
tamento da água, sua poluição e o uso irracional da água potável
pelo homem.
O professor pode propor um trabalho de observação quanto ao
uso da água em ambiente doméstico, na vizinhança, na escola e até
mesmo no bairro. Dessa forma, ele estará incentivando uma reflexão,
um questionamento sobre a necessidade, a importância e o uso da
água tratada, levando o aluno a uma mudança de atitudes e valores
quanto à importância da água para a vida e seu uso irracional.
O solo e as atividades humanas, como agricultura, criação de
animais e ocupação urbana, são possíveis temas de investigação,
particularmente sem grandes aprofundamentos, para que o edu-
cando perceba a relação entre as diferentes formas de uso do solo
e selecione a mais expressiva na sua região. Nesse ciclo, o estabe-
lecimento das relações, comparações e a organização de dados e
registros são procedimentos que podem ser aprimorados.
Temos, também, o lixo, seu destino e tratamento, que são
assuntos importantes e pertinentes à "época dos descartáveis",
pois podem auxiliar na habilidade de observação direta, na qual
se é possível listar os componentes do lixo (plástico, papel, metais,
restos de alimentos). Estimular a busca de informações em várias
fontes quanto aos destinos do lixo (lixão, aterro sanitário, incinera-
ção, lixo hospitalar e reciclagem) e suas vantagens e desvantagens,
proporcionando, dessa forma, reflexão e questionamentos quanto
aos problemas gerados pelo lixo e possíveis soluções, principal-
mente, no ambiente escolar e doméstico, são ações importantes.
Outro ponto interessante e curioso neste bloco temático
diz respeito à origem, à invenção e ao funcionamento dos equi-
pamentos utilizados na sociedade tecnológica, como avião, carro,
televisão, telefone, lâmpada, rádio, computador, celular e outros.
Esses equipamentos podem ser investigados com relação à fonte
de energia utilizada para seu funcionamento.
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233© U4 - Ensino de Ciências no Ensino Fundamental
É condizente mostrar os benefícios que os equipamentos
trouxeram para a vida do homem e também os cuidados necessá-
rios quanto à sua utilização no trabalho e no lazer.
Veja, nos itens a seguir, os conteúdos que deverão ser traba-
lhados neste bloco temático:
1) Transformações dos recursos materiais e energéticos em
produtos necessários à vida humana, aparelhos, máqui-
nas, instrumentos e processos.
2) Oferta e aplicação de recursos tecnológicos.
3) Utilização de técnicas antigas e artesanaiscom aplica-
ções tecnológicas.
4) Relações entre Ciência, Tecnologia e Sociedade, no pre-
sente e no passado, no Brasil e no mundo, em vários
contextos culturais.
5) Questões éticas, valores e atitudes compreendidos nas
relações entre Ciência, Tecnologia e Sociedade.
6) Origem e destino social dos recursos tecnológicos, as con-
sequências para a saúde pessoal e ambiental e as vanta-
gens sociais do emprego de determinadas tecnologias.
7) Construção de modelos e experimentos em eletroeletrô-
nica, magnetismo, acústica, óptica e mecânica (circuitos
elétricos, campainhas, máquinas fotográficas, motores,
chuveiros, torneiras, rádios a pilha etc.).
8) Experimentação e interpretação da ação de catalisado-
res, fermentos e fertilizantes.
9) Assuntos: matéria, energia, espaço, tempo, transforma-
ção e sistema, aplicados às tecnologias que medeiam as
relações do ser humano com o seu meio.
10) Procedimentos: visitas a usinas ou estações de transmis-
são, entrevistas, leituras, experimentos e montagens.
Investigações sobre o descobrimento e aplicação da ele-
tricidade, sobre os limites dos usos de recursos hídricos
e suas implicações ambientais e sobre o acesso das po-
pulações a esse bem.
11) Processos de: extração e cultivo de plantas em hortas,
pomares e lavouras; de criação de animais em granjas,
© Fundamentos e Métodos do Ensino das Ciências da Natureza234
viveiros e pastagens; de extração e transformação indus-
trial de metais; e de extração de areia e outros materiais
utilizados na construção civil.
12) A indústria alimentícia pode ser discutida, investigando-
-se alguns processos de transformação dos alimentos,
adição de substâncias corantes, conservantes etc. Tam-
bém cabem relações com aspectos político-econômicos
envolvidos na disponibilidade de tais alimentos.
Estamos terminando esta unidade, e você precisa ter certeza de
que não ficou nenhuma dúvida em sua cabeça. Releia o texto se
necessário, anote os exemplos e reflita sobre eles!
A escolha de conteúdos sempre deve ser cuidadosa, para
que seja estimulante e de real interesse dos alunos e que sirva à
sua aprendizagem, respeitando o amadurecimento corresponden-
te a cada faixa etária, levando à aprendizagem de procedimentos,
ao desenvolvimento de valores e à construção da cidadania.
9. CONTEÚDOS: PROFESSOR × ALUNO
Em cada conceito a ser trabalhado pelo professor, é impres-
cindível que ele faça um levantamento dos conhecimentos prévios
que as crianças apresentam.
Com base nas concepções dadas pelas crianças, o professor
irá constatar se a ideia foi baseada em informações oriundas de
vários meios de comunicação, ou seja, uma repetição do que viu
ou ouviu falar, ou se o educando, ao receber informações sobre o
conceito, realmente o elaborou e foi capaz de alterar sua concep-
ção inicial.
Para entender melhor, veja um exemplo com alunos da últi-
ma série do segundo ciclo, no qual o professor fala com seus alu-
nos:
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235© U4 - Ensino de Ciências no Ensino Fundamental
Exemplo 2 –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Professor: Por que as plantas são verdes?
Alunos: Porque têm clorofila.
Professor: Qual a função da clorofila?
Aluno: Realizar a fotossíntese.
Professor: Como se alimentam os vegetais?
Aluno: Por meio da terra (CAMPOS E NIGRO, 1999, p. 23).
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
O exemplo nos mostra uma situação muito comum em sala
de aula. Os alunos possuem o conhecimento de que o vegetal é
verde por causa da presença do pigmento clorofila e que sua fun-
ção é fazer fotossíntese. Mas, pelas respostas, pode-se constatar
que não compreendem a função do processo de fotossíntese para
os vegetais.
Assim, o que podemos perceber é que o aluno criou um sig-
nificado para os conteúdos recebidos, entretanto, as formas como
as informações foram transmitidas não alteraram a sua concepção
inicial, e o aluno continuou com o conhecimento do senso comum.
Em muitas situações pedagógicas, é comum, mesmo após
a informação obtida pelo professor, o aluno não conseguir esta-
belecer uma concepção idêntica ou próxima à estabelecida pelo
conhecimento científico.
Segundo Serrano (1997), cada criança interage de maneira
particular após a informação obtida. Observe, a seguir, o que pode
ocorrer:
I A concepção do aluno permanece inalterada. Nesse caso,
o aluno apenas incorpora em seu vocabulário expressões cien-
tíficas, mas mantém suas concepções alternativas.
II O aluno fica com duas concepções, a concepção original
permanece, e ele adquire outra concepção, semelhante à
científica, mas independente da primeira. Nessa situação o
aluno somente aceita as concepções científicas [...] na pers-
pectiva da aula de Ciências. Nas situações do dia-a-dia, conti-
nua aplicando suas próprias concepções alternativas.
III A concepção científica fornecida pelo professor serve ape-
nas para reforçar a concepção do aluno. Ele utiliza algumas
© Fundamentos e Métodos do Ensino das Ciências da Natureza236
ideias expostas pelo professor, de forma que reforce sua pró-
pria explicação para o fenômeno.
IV O aluno faz uma ligação das duas concepções, a científica e a
alternativa. Assimila parte da concepção científica e incorpora às
suas próprias concepções alternativas, criando uma teoria que tem
alguns aspectos explicados pelas suas ideias anteriores e outros,
pelas concepções científicas. O resultado é uma mistura de ideias
científicas e pessoais.
V O aluno consegue unificar sua ideia pessoal com a concepção
científica. Sua explicação para os fenômenos naturais coincide com
a explicação científica (SERRANO, 1987, p. 31).
Os conteúdos não serão apresentados em blocos de conteú-
dos, mas em blocos temáticos, dada a natureza da área. Estão or-
ganizados em blocos temáticos para que não sejam tratados como
assuntos isolados.
Os blocos temáticos indicam perspectivas de abordagem e
dão organização aos conteúdos sem se configurarem como padrão
rígido, pois possibilitam estabelecer diferentes sequências inter-
nas aos ciclos, tratar conteúdos de importância local e fazer cone-
xão entre conteúdos dos diferentes blocos, das demais áreas e dos
temas transversais.
Em cada bloco temático, são apontados conceitos, procedi-
mentos e atitudes centrais para a compreensão da temática em
foco.
10. CRITÉRIOS PARA SELEÇÃO DOS CONTEÚDOS
De acordo com os objetivos gerais da área e com os fun-
damentos apresentados nos PCNs, apontaremos alguns critérios
para seleção dos conteúdos no Ensino Fundamental:
1) Conteúdos devem se constituir em fatos, conceitos, pro-
cedimentos, atitudes e valores compatíveis com o nível
de desenvolvimento intelectual do aluno, de maneira
que ele possa operar com tais conteúdos e avançar efe-
tivamente nos seus conhecimentos.
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237© U4 - Ensino de Ciências no Ensino Fundamental
2) Conteúdos devem favorecer a construção de uma visão
de mundo, que se apresenta como um todo formado por
elementos inter-relacionados, entre os quais o homem,
agente de transformação. O Ensino de Ciências Naturais
deve relacionar fenômenos naturais e objetos da tecno-
logia, possibilitando a percepção de um mundo perma-
nentemente reelaborado, estabelecendo relações entre
o conhecido e o desconhecido, entre as partes e o todo.
3) Conteúdos devem ser relevantes do ponto de vista social
e ter revelados seus reflexos na cultura para permitirem
ao aluno compreender, em seu cotidiano, as relações en-
tre o homem e a natureza mediadas pela tecnologia, su-
perando interpretações ingênuas sobre a realidade à sua
volta.
11. TEXTOS COMPLEMENTARES
Observe uma sequência didática intitulada "O que acontece
quando comemos?", preparada e realizada por um projeto da Aca-
demia Brasileira de Ciências e do Centro de Divulgação Científica
e Cultural (CDCC)/USP de São Carlos. Observe a coerência e varie-
dade de recursos e estratégias didático-metodológicas utilizadas
nestas aulas:
1º Exemplo de sequência didática para o ensinofundamental –––
SEQUÊNCIA DIDÁTICA – O que acontece com os alimentos que comemos?
Para todo organismo vivo, alimentar-se é uma necessidade fundamental.
A alimentação humana, tema interdisciplinar por excelência, tem dimensão
individual e coletiva ao mesmo tempo. Isso porque cada criança, cada família,
cada sociedade tem com o alimento uma relação particular; assim, entender
o que acontece com os alimentos dentro do corpo oferece a oportunidade de
construir um fundo científico comum, partilhado por todas as culturas, no que
concerne à educação para a saúde. O módulo proposto não pretende ser um
modelo. Ele sugere uma investigação que pode ser conduzida em horas de
pesquisa pessoal, só ou em grupo, alternando com momentos de síntese na
classe inteira. Ele integra objetivos de aprendizagem transversais: conhecimento
das linguagens oral-escrita-imagem, pesquisa documental, confrontação dos
saberes elaborados pelas crianças com os saberes estabelecidos e publicados.
© Fundamentos e Métodos do Ensino das Ciências da Natureza238
Conteúdos:
Da Educação Infantil à 2ª série: foram certamente feitos trabalhos sobre a
dietética, sobre a higiene alimentar e os dentes. O que é comer bem? Como se
come bem? Para que servem os dentes? Como protegê-los? Os alunos podem
ter descoberto que, em sua família ou na escola, certas pessoas seguem regimes
alimentares particulares por razões médicas (intolerância a certas substâncias,
necessidade de emagrecer), por razões de estética ou como parte de uma
atividade esportiva intensa.
A partir da 2ª série: uma investigação mais detalhada sobre as necessidades
alimentares leva o aluno a descobrir a organização geral do aparelho digestório
e a função da nutrição. A educação para a saúde é muito fundada em bases
científicas.
Objetivo do conhecimento: o corpo humano e a educação para a saúde.
Aproximação inicial das funções da nutrição (digestão, respiração e circulação).
Competência específica: ser capaz de perceber o trajeto e as transformações
dos alimentos no tubo digestório e de sua passagem para o sangue. Ser capaz
de explorar os documentos (radiografias, livros, multimídia).
Conceitos em jogo, noções a serem construídas:
– trajetória dos alimentos;
– transformação mecânica dos alimentos;
– transformação química dos alimentos;
– funcionamento das enzimas digestivas;
– solubilização dos nutrientes;
– difusão através de uma membrana;
– passagem dos nutrientes para o sangue;
– noção de célula;
– utilização celular dos nutrientes.
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239© U4 - Ensino de Ciências no Ensino Fundamental
Recursos e materiais didáticos:
– as radiografias do tubo digestório, por exemplo;
– um filme;
– material para fazer maquetes do tubo digestório: mangueiras, sacos de plástico,
corda (10 m), papelão, tesouras, presilhas bailarinas;
– imagens endoscópicas do tubo digestório.
Precauções: este assunto se refere ao corpo da criança, a sua intimidade e também
a sua integridade. Por isso, é essencial respeitar a sensibilidade de cada um.
Duração: seis a oito aulas de aproximadamente 45 minutos com as 2ª a 4ª
séries. Dependendo dos objetivos, geralmente se dá mais valor a uma produção
escrita, gráfica ou tecnológica (maquete e exposições). A compreensão de todos
os pontos do programa não requer duração igual. Neste exemplo, foi escolhida,
voluntariamente, uma extensa série de diferentes atividades, a fim de mostrar a
variedade dos modos de investigação que os alunos deverão praticar ao longo
do ano. O professor tem a liberdade de privilegiar o que acredita ser melhor para
atingir os objetivos propostos para sua classe.
Livros:
FERRARI, E. A. Sistema digestivo. S.1. Ed. Brasileitura, s/d. Este livro traz
informações básicas sobre o sistema digestório.
SHOWERS, P. O que acontece com o hambúrguer. São Paulo: Ática, 1995.
(Série Vamos ler e descobrir). Este livro fornece informações básicas sobre os
alimentos, digestão e hábitos alimentares.
SUHR, M. Eu me alimento. Tradução de Irami B. Silva. Ilustrações de Mike
Gordon. São Paulo: Scipione, 1996. (Coleção Eu Vivo). Este livro apresenta aos
pequenos leitores as primeiras noções sobre o corpo humano e a alimentação.
© Fundamentos e Métodos do Ensino das Ciências da Natureza240
RUSSELMAN, A. Próxima parada: estação barriga. Ilustrações de Anna
Russelman e Stefan Schultz. Tradução de Reny Hernandes. São Paulo: Ática,
2003. Uma lição divertida e cativante para as crianças desenvolverem bons
hábitos alimentares e, assim, crescerem mais fortes e saudáveis.
Vídeos:
PARA ONDE VÃO os alimentos. Produzido por Sutherland Learning Associates.
Um filme para aprender sobre o processo digestório, desde o início da ingestão
do alimento até a evacuação.
COMO UTILIZAMOS os alimentos. Produzido por Coronet Films, 1993. Um filme
que fala dos alimentos como meio de nutrição, energia e crescimento importantes
para a saúde. Um ser de outro planeta por meio de sua visão de raio X enxerga
todo o processo de digestão.
A QUÍMICA da digestão. Produção de Coronet Films. São Paulo: Didak, 1980.
Um filme que mostra os fenômenos que ocorrem durante a digestão.
COMO UTILIZAMOS os alimentos. Produção de Coronet Films. São Paulo:
Didak, 1993. Com explicações simples as crianças aprendem sobre o processo
digestório, desde o início da ingestão do alimento até a evacuação.
Debate inicial sobre nutrição
Há diversas maneiras de introduzir o tema da alimentação. Pode-se começar por
um jogo questões da alimentação. Observa-se que não se come a toda hora. A
dimensão social do encontro em uma refeição constitui uma referência à dieta
alimentar: pode-se questionar sobre as consequências das lambiscadas e do
consumo abusivo de refrigerantes. Enquanto a obesidade ameaça um número
crescente de indivíduos, há a desnutrição por falta de alimentos em muitos países.
Certas perguntas que as crianças fazem a seus colegas durante o debate com
a classe inteira são escritos no quadro negro: servem para prolongar a reflexão
individual.
Cada criança responde por escrito na parte pessoal de seu caderno de
experimentos e utilizará as suas anotações para participar da discussão seguinte.
São alguns exemplos de perguntas feitas pelo professor:
– "O que você prefere comer?"
– "De que você não gosta?"
– "Qual comida dá força?"
– "De que você não gosta, mas deve comer e por quê?"
– "O que acontece quando não se come?"
Debate e questionamento
São reproduzidos em seguida extratos dos cadernos de experimentações de
alunos de 4ª série:
Pontos de vista individuais:
Extraído do caderno de L: "Que comida dá força. Eu acho que a comida que dá
força são os legumes, pois contêm muito cálcio e vitaminas, por isso é que se
deve comer muitos legumes".
Extraído do caderno de R: "A comida que dá força, são os kiwis, pois contêm
vitaminas. Também acho que os espinafres dão força. A sopa também deve dar
força, pois tem muitos legumes nela [...]. Adoro balas de frutas e de hortelã. O
que não gosto e que dão forças são os espinafres".
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241© U4 - Ensino de Ciências no Ensino Fundamental
Extraído do caderno de A: "A comida que dá força são o kiwi, a maçã, a pêra e
as outras frutas e os cereais. Os cereais são eficientes para se ficar em forma,
mas não gosto disso".
Cada aluno tem seu ponto de vista sobre a questão da alimentação. Por
outro lado, nessa fase da progressão, a palavra "força" não significa nada de
preciso, está sem conexão com o conceito científico de força. A palavra será
progressivamente substituída pela palavra "energia". Nessa classe, as crianças
acreditam que vitaminas e cálcio dão "forças", conforme uma representação
frequentemente veiculada por mensagens publicitárias. E elas creem que são
justamente as comidas de que não gostam que dão "forças", provavelmente
porque é um dos argumentos utilizados por seus pais para estimulá-las a
consumir esses alimentos pouco apreciados.
No final do debate, uma pergunta é destacada: como os alimentos que comemos
podem dar "forças"ao corpo e também "fazer crescer"? O professor pode sugerir
que as crianças perguntem a um esportista (se há um clube perto da escola) ou
ao médico da escola ou, então, procurarem em um livro o que se deve comer
e beber antes e durante uma competição para se ter energia. Uma conversa
com um responsável pelo restaurante escolar também pode ser interessante.
Esse debate leva a várias pistas possíveis, ou seja, vários caminhos a serem
levados em conta. Essas pistas, já trabalhadas na educação infantil e na 1ª
série, podem ser examinadas mais detalhadamente da 2ª à 4ª série e nas séries
finais do Ensino Fundamental. A pista examinada em seguida é principalmente
mecanicista, em oposição às sequências mais fundamentais. Como o nosso
corpo se apropria dos alimentos?
Esse é o principal problema a ser resolvido.
Aula 1 – Para onde vão a água e o pão? – Formulação do problema e
levantamento dos conceitos iniciais
Primeiro, o professor verifica se alguma criança está submetida a um regime
alimentar particular. Oferece pão e um copo de água a cada aluno, como
merenda. Começa uma discussão sobre o destino desses alimentos: "Para que
parte do corpo vai a água e o pão?". Em seguida, distribui folhas de papel com a
silhueta de um homem, com as tarefas: desenhar a trajetória do pão e da água;
nomear os lugares por onde passam esses alimentos; o que acontece com os
alimentos em seu corpo?
Análise coletiva da produção das crianças
A confrontação das representações feitas pelos alunos começa pela troca das
folhas entre vizinhos. É provável que, durante o debate, os alunos utilizem
espontaneamente um vocabulário infantil, com palavras como "xixi" e "cocô".
O professor escolhe o momento oportuno para ensinar-lhes um vocabulário
científico correspondente: urina e fezes, tomando todas as precauções para
evitar situações em que as crianças poderiam se sentir humilhadas. O professor
coleta os desenhos, classifica-os em várias categorias, reorganiza os grupos
com crianças que defendem o mesmo ponto de vista e solicita que façam um
cartaz para cada tipo de representação.
Levantamento das perguntas das crianças e elaboração de hipóteses
É designado um relator em cada grupo para que explique à classe o que acha
do destino dos alimentos. Inicia-se uma discussão coletiva em que cada grupo
tem a sua vez para defender livremente seu ponto de vista. Não se pretende
© Fundamentos e Métodos do Ensino das Ciências da Natureza242
encontrar a resposta certa imediatamente, mas procura-se o que poderia existir.
O professor anota no quadro ou num cartaz a pergunta feita pelas crianças
durante a fase de troca e de confronto das representações. O trabalho é facilitado
pela apresentação, por retroprojetor ou videoprojetor, de algumas produções da
classe, escaneadas ou fotocopiadas sobre transparências.
Seguem alguns exemplos típicos de representações obtidas.
Os alunos não concordam entre si ou parecem bloqueados no que diz respeito a:
Trajeto Transformações Transformações Destino
Uma ou duas
entradas?
Uma ou duas saídas?
Um ou dois tubos?
Pelo estômago?
Como acontece a
digestão?
O que é digerir?
O que é má digestão?
O que é o vômito?
Alimentos bons e
alimentos
ruins?
Água gera urina?
Como são utilizados os
bons
alimentos?
O cérebro se alimenta?
Para que serve o sangue?
A aula na qual as representações são confrontadas permite a cada um questionar
as suas próprias ideias e ser motivado a procurar provas e uma argumentação
firme para responder às perguntas escolhidas pela classe.
Os obstáculos encontrados na ocasião dessa confrontação poderiam levar a
classe a empreender múltiplas atividades propostas pelos alunos ou sugeridas
pelo professor. É preciso fazer uma seleção, para não começar um trabalho
complexo e longo demais. Parte do fenômeno em discussão pode ser evidenciada
por meio de experiências ou por manipulação de maquetes, e o restante será
tratado durante uma fase de pesquisa em documentos.
Claretiano - Centro Universitário
243© U4 - Ensino de Ciências no Ensino Fundamental
Uma hipótese feita pela classe no final dessa aula pode ser a seguinte:
"Suponhamos que os líquidos vão para uma bolsa para líquidos e se transformem
em urina, enquanto os alimentos sólidos pegam outro caminho e se transformam
em fezes". Essa hipótese será testada na próxima aula.
Aula 2 – O que se percebe quando se come? – A investigação pelo seu
próprio corpo
O professor entrega pão e água a cada aluno e um espelho para cada grupo. A
tarefa é procurar índices sensoriais, especialmente para saber se há um ou dois
tubos, um para os líquidos e um para os sólidos.
Qual é a sensação de cada um quando come?
Durante a preparação coletiva da aula, o professor pergunta se alguém já se
engasgou e como se explica esse fenômeno. A observação do fundo da garganta
e uma apalpação tátil no pescoço no momento da deglutição não permitem
responder à pergunta, mas parece indicar que a entrada dos alimentos líquidos e
a dos sólidos é a mesma. Acontece que se engasga tanto com alimentos sólidos
como líquidos. Uma vez mastigados, os alimentos sólidos se tornam uma espécie
de pasta, nem líquida nem sólida. Por isso é pouco provável que a hipótese de
um trajeto distinto para líquidos e outro para sólidos seja confirmada.
A investigação por imagens científicas (radiografias)
Esta fase pode eventualmente ser substituída ou completada pela consulta a
radiografias do aparelho digestório fornecidas por um médico ou um pai de aluno.
A hipótese segundo a qual os líquidos e os sólidos seguiriam dois trajetos distintos
não é aceita. Há certamente dois tubos, mas apenas um serve para alimentos,
quer sejam líquidos ou sólidos. Uma procura em documentos (por exemplo, em
um dicionário ilustrado) mostra que o tubo pelo qual passam todos os alimentos
é chamado de esôfago. A bolsa é chamada de estômago, e o tubo corrugado,
o intestino. O segundo tubo que se encontra na parte da frente do pescoço é
chamado de traqueia. Esta leva o ar aos pulmões. Se os alunos quiserem saber
como o alimento é guiado para o esôfago e não para a traqueia ou, ainda, o que
acontece quando se engasga, uma atividade facultativa, com modelos, proposta
por parte na aula 3, pode trazer elementos de resposta.
Aula 3 – O que acontece quando engolimos? – Construção de uma maquete
Uma maquete é construída para ilustrar o funcionamento das válvulas naturais,
que são o palato e a epiglote da garganta, para melhor entender o cruzamento
das vias respiratórias e alimentares. Para isso, o professor pede aos alunos para
detectarem a parte da garganta que se movimenta no momento da deglutição (é
a epiglote que entra em posição fechada sobre o orifício da traqueia, localizada
na frente do esôfago) e a que no momento da inspiração nasal é bloqueada
repentinamente (é o palato que se coloca de maneira a isolar a cavidade nasal
da boca). A secção da garganta, proposta neste documento (ou tirada de um
banco de imagens), é completada pelos alunos com elementos móveis e rebites
para papel.
O trajeto dos alimentos
As etapas seguintes serão completadas por algumas radiografias, distribuídas
na forma de fotocópias. A tarefa é procurar, a partir dessas imagens, elementos
que permitam responder a questões de "encanamentos". Imagens fixas de
radiografias facilitam a esquematização e a interpretação. Os alunos poderão,
© Fundamentos e Métodos do Ensino das Ciências da Natureza244
assim, verificar se o contorno corrugado do intestino é diferente em alguns
lugares específicos e estender para o intestino inteiro esse aumento da área de
troca em razão do grande número de dobras.
Como os alimentos são movidos da boca até o fim do intestino?
Se esta pergunta for selecionada, surgirão várias explicações dos alunos: a maioria
pensa que os alimentos descem por gravidade. A surpresa e o questionamento
dessa hipótese são grandes quando se chega à conclusão de que o tubo digestivo
é dobrado várias vezes sobre si mesmo e que, à noite, quando a pessoa fica
deitada,a digestão se desenvolve bem. Se um aluno encosta uma orelha na
barriga de outro, ele pode escutar o barulho. As novas hipóteses evocadas agora
podem ser testadas por meio de um dispositivo descrito nos sites e . O problema a ser resolvido é: dentro de
um conduíte feito com uma meia de náilon tem bolas de pingue-pongue. Como
se faz para que as bolas passem de um lado para outro?
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245© U4 - Ensino de Ciências no Ensino Fundamental
Manipulando, os alunos vão simular o princípio da peristáltica, ou seja, das ondas
de contrações ao longo do intestino.
Representação do tubo digestório por uma maquete
Outras informações poderão ser deduzidas das imagens radiográficas:
– avaliação do tamanho do estômago, por comparação com recipientes
conhecidos;
– avaliação do comprimento do intestino por meio de cálculo de escala, com base
em imagem fixa (atividade de matemática).
Agora é construída uma maquete do tubo digestório, feita com uma mangueira
de jardim ou uma corda de, aproximadamente, 10 m de comprimento, sacos de
plástico, esquemas e etiquetas identificando os diversos órgãos do tubo digestório.
Essa maquete permite representar melhor o tamanho do tubo digestório. Ajuda
a compreender como uma superfície maior de troca favorece a passagem dos
nutrientes para o sangue (próximas aulas). Porém, há seus limites: a corda tem
diâmetro constante, não tem dobras e não tem relação com o sistema sanguíneo.
Esquematização do tubo digestório
A distribuição de esquemas incompletos para serem reconstruídos e legendados
permite à classe encerrar esta parte retendo o essencial. O aparelho digestório,
assim reconstruído, pode ser levado a um esquema mais geral, no qual o aparelho
respiratório e o aparelho circulatório serão instalados progressivamente.
Aula 4 – Como funciona o aparelho digestório? – Observações em seu
próprio corpo
Pode-se comparar a quantidade de alimentos entrando e a quantidade de
dejetos saindo. Estimativas de ordem de grandeza podem ser feitas com base
em medidas aproximadas.
Laranja: 100 g Um copo de água: 100 g Um prato de massa: 200 g
Uma colher de sopa de
açúcar: 5 g Fezes diárias: 200 g
Urinas diárias: 1 kg
aprox. para criança, mais
que o dobro para adulto.
Esse tipo de comparação mostra que boa parte dos alimentos não é expelida
pelas fezes e pela urina. Agora são lembradas as hipóteses sobre o papel dos
alimentos, levantadas na primeira aula. Estas respondem parte da pergunta:
parte dos alimentos serve para reparar, repor os cabelos e peles mortas (caspas)
que nosso corpo não para de produzir e para o crescimento da criança. Outra
parte é consumida para produção de energia para respiração. Resta saber por
onde e como os alimentos passam para o corpo, para ter seu papel nutritivo.
© Fundamentos e Métodos do Ensino das Ciências da Natureza246
Observação: o papel dietético dos alimentos e a noção do equilíbrio alimentar
não são abordados neste módulo. Muito importante para a educação dos alunos
no que diz respeito à saúde, esta parte do programa foi tratada antes desta
sequência ou será abordada depois.
Pesquisa em casa:
Quais remédios são empregados para combater os diferentes problemas
digestivos?
– todos os derivados do bicarbonato de sódio contra a difícil digestão;
– os medicamentos contra a diarreia ou contra o vômito;
– os medicamentos ou alimentos enriquecidos com fibras, contra a constipação.
Essas informações obtidas em casa mostram a importância social da digestão.
Pode-se também citar expressões relacionadas à nutrição ("bom apetite!").
Balanço de etapa
A classe é questionada, e as palavras-chave, anotadas no quadro, tentando
elaborar uma síntese.
Não há bons ou maus alimentos. Determinados alimentos resistem à digestão e
não são triturados (as fibras vegetais, por exemplo). Outros não resistem e são
reduzidos a pedaços muito pequenos. Uma experiência de simulação utilizando
um filtro para café mostra que a água pode levar finas partículas, enquanto
as maiores são retidas pelo filtro. Uma colher de açúcar, mesmo em pó, não
passará pelo filtro. Mas a água pode dissolver o açúcar e, nesse estado, passará
totalmente. Os alimentos passam por transformações tanto mecânicas quanto
químicas, que serão estudadas nos últimos anos do Ensino Fundamental. Um
questionamento sobre a origem do gosto adocicado de um pedaço de pão
mastigado por muito tempo ou o cheiro do vômito pode introduzir essa noção,
sem, porém, entrar em muitos detalhes.
Aula 5 – O que acontece com os alimentos dentro do corpo?
Vários problemas ainda devem ser resolvidos, como: onde ocorre a passagem
dos alimentos para o corpo? Como os alimentos ingeridos vão ser usados no
corpo inteiro?
Pesquisa documental
Para responder a essas perguntas, os métodos de trabalho utilizados
anteriormente (observação ao vivo e de imagens científicas, experimentações,
construção de maquetes) não são suficientes. Agora é necessário buscar os
conhecimentos estabelecidos sobre o assunto. Servirá para elaborar uma
síntese mais ampla e para confrontar os resultados obtidos pela classe com os já
estabelecidos pelos cientistas (que são baseados em casos médicos e técnicos
de investigação, inacessíveis aos alunos). As pesquisas são empreendidas por
metade da classe na biblioteca e pela outra metade na Internet.
Instruções:
Encontrar textos simples (dez linhas no máximo), imagens científicas e esquemas
que permitam responder, em parte ou totalmente, às duas perguntas: "Como
ocorre a passagem dos alimentos pelo corpo?" e "Como os alimentos digeridos
serão utilizados pelo corpo inteiro?".
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247© U4 - Ensino de Ciências no Ensino Fundamental
Ficha: busca na internet
1. Escolhi o instrumento de busca: www.............................................................
2. Escolhi como palavras-chave: .......................................................................
3. Entre os sites propostos, escolhi o primeiro cujo resumo me parece o mais
simples e o mais apropriado: .............................................................................
4. No site que me parece o mais interessante, encontrei as informações em:
...........................................................................................................................
5. Texto escolhido (frase mais interessante para nossa pesquisa):
...........................................................................................................................
6. Imagem científica encontrada (descrição e endereço):
7. Esquema escolhido (descrição e endereço):
Ficha: busca na biblioteca
1. Utilizo a prateleira chamada de: .....................................................................
2. A obra escolhida tem título que parece responder a minha procura:
...........................................................................................................................
3. No índice escolhi o capítulo: ..........................................................................
4. O texto selecionado contém: .........................................................................
5. Texto escolhido: .............................................................................................
6. Imagem científica encontrada (descrição e página):
7. Esquema escolhido (descrição e página):
Síntese coletiva, a partir da pesquisa documental
Os grupos mostram para a classe o que encontraram: o professor já tem em
mãos as folhas das "coletas documentais" e tem preparado alguns textos e
imagens, esquemas extraídos dessa coleta. O professor distribui para quatro
grupos de seis a oito alunos os quatro temas seguintes:
– grupo 1: destino dos alimentos dentro do aparelho digestório;
– grupo 2: o papel do sangue;
– grupo 3: destino dos alimentos dentro do corpo;
– grupo 4: esquema geral da nutrição (digestão, circulação, excreção).Este trabalho é uma oportunidade para cada aluno anotar em seu caderno de
experimentos o que tem retido assim como os ajustes coletivos. O professor
providencia uma fotocópia do esquema completo do aparelho circulatório e do
aparelho digestório. Utiliza papéis translúcidos para sobrepor esses dois aparelhos
de maneira a ressaltar as interligações. Seguem-se alguns exemplos de frases que
podem ser anotadas na parte coletiva dos cadernos de experimentos: "Os alimentos
que comemos são transformados e triturados. Não há separação entre alimentos
sólidos e líquidos. Em seguida, os alimentos de tamanho pequeno passam através
da parede do intestino delgado para o sangue. O sangue leva-os para todos os
órgãos, para os quais fornecem energia (açúcar, gordura...), servem como elementos
de construção (cálcio, proteínas) ou, ainda, como elemento de funcionamento (água,
vitaminas)." "Os alimentos insuficientemente triturados (não digeridos) passam para
o intestino grosso e são rejeitados como fezes." "Os dejetos rejeitados no sangue por
todos os órgãos são filtrados pelos rins e se encontram na urina."
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Digestão significa a transformação dos alimentos em material de menor volume.
Absorção significa a passagem através da parede intestinal. O transporte pelo
sangue e a entrada nos órgãos (permitindo a liberação de energia, o crescimento
e a renovação de tecidos) vêm em seguida. O papel da respiração como parte da
nutrição será estudado após um trabalho sobre ventilação pulmonar e respiração.
É fundamental estabelecer uma relação entre respiração e alimentação, pois a
finalidade da respiração é fornecer oxigênio para todas as células de todas as
partes do corpo.
Esse oxigênio permite a oxidação dos alimentos trazidos por via sanguínea,
uma reação química que libera energia. Além disso, a respiração elimina do
organismo o dióxido de carbono produzido pela oxidação dos alimentos. Essas
duas frases correspondem a um nível de formulação que é acessível apenas nas
séries finais do Ensino Fundamental. Na presente fase basta saber da existência
de relações entre essas duas funções: um exercício esportivo requer ao mesmo
tempo alimentação apropriada e boa ventilação pulmonar (caso contrário, há
risco de cãibras decorrentes da deficiente oxidação dos alimentos e da produção
de ácido láctico nos músculos).
Aula 6 – Avaliação
Os alunos recebem a silhueta de uma criança com o pedido para desenharem
novamente o trajeto dos alimentos dentro do corpo. O professor pode repetir as
propostas de manipulação da aula 3. Perguntas mais abertas permitem verificar
se o aluno sabe como reinvestir o conhecimento adquirido ao longo desse
módulo. Explique por que, quando você come carne de frango ou uma cenoura,
você não se torna frango ou cenoura.
Os alimentos passam por transformações, entram em nosso corpo e servem
como material de construção para fabricar o nosso corpo (crescer, engordar)
e para fornecer energia (a demanda aumenta quando nos movimentamos).
Observar, em sua carteira de saúde, a curva de seu crescimento quando você
era bebê e descrevê-la. O que lhe permitiu crescer e engordar? O bebê cresce
e engorda graças aos alimentos. O leite contém todos os materiais necessários.
Também há perdas. Apenas parte do que o bebê bebe e come entra em seu
corpo por meio do sangue. A alimentação permite crescer e fornece energia.
As avaliações propostas como exemplos deixam dúvidas no que diz respeito à
evolução das representações das crianças entre o começo e o fim do módulo.
Exemplos de formulações aceitáveis para as 2ª a 4ª séries encontram-se no
texto "Uma sala de ciências em Ariège", no site , com formulações acessíveis à
Educação Infantil e à 1ª série, para comparação.
Conclusão
Alguns desvios devem ser evitados. Um trabalho exageradamente centrado
sobre a mastigação (processamento mecânico dos alimentos) e o papel da saliva
(processamento químico dos alimentos) pode dar aos alunos a ideia errada de
que toda a digestão acontece na boca. Convém insistir no fato de que isto é assim
apenas com o açúcar. A mastigação é apenas uma fase preliminar da trituração
mecânica. A maior parte da trituração mecânica acontece no estômago. Se não
fosse assim, deveríamos passar horas mastigando (o vômito, que corresponde
ao estado físico dos alimentos na bolsa do estômago, frequentemente vem com
pedaços grandes). A digestão é em grande parte facilitada pela hidrólise ácida dos
alimentos (o estômago produz ácido clorídrico). Essa noção pode ser introduzida
Claretiano - Centro Universitário
249© U4 - Ensino de Ciências no Ensino Fundamental
mostrando que o estômago é um músculo triturador potente, o que não é o caso
do intestino. Pode se mostrar que, quando se joga ácido sobre os alimentos,
estes se decompõem rapidamente. A essência do processamento químico dos
alimentos ocorre no intestino delgado, graças às enzimas digestivas. O estômago
é uma bolsa fechada por uma válvula (esfíncter do piloro) que mistura e reduz os
alimentos, literalmente, em estado de pirão. Somente quando os alimentos estão
reduzidos a esse estado físico (suspensão), a válvula abre periodicamente para
deixar passar a pasta alimentar para o intestino. A duração da etapa gástrica é
longa (várias horas).
A água não é alimento igual aos outros. É o solvente indispensável para a vida
das células, em outras palavras, de nossos órgãos (músculos, cérebro, tubo
digestório, vasos sanguíneos). Há um pequeno "lago interno" dentro de nosso
corpo (o espaço extracelular), o qual banha todas as nossas células. A água
representa 60% do peso de nosso corpo. A água que bebemos passa pelo
sangue e, em seguida, para este lago interno. Quando bebemos muito, o excesso
passa para a urina (igual uma banheira que transborda!). Podemos ter sede
sem ter fome, por exemplo, quando se transpira muito (o nível da banheira é
insuficiente!). Isto é fundamental, pois a água é o solvente dos sais, e quando nos
falta água, o aumento da concentração dos sais provoca sede. A urina contém
parte dos dejetos da atividade das células do organismo (por exemplo, a ureia),
cujo solvente é a água. A urina é o resultado da filtração do sangue que permite
a evacuação desses dejetos (a outra parte é o dióxido de carbono eliminado
pelos pulmões). O processo de evacuação das fezes não é igual ao da urina.
As fezes contêm os dejetos dos alimentos que ficaram no "ambiente externo"
do organismo (de fato, a cavidade do tubo digestório está em comunicação
direta com o exterior, pela boca e pelo ânus). A urina contém dejetos que vêm
das atividades dos órgãos, ou seja, do interior do corpo, do "ambiente interno".
Passam para o sangue e em seguida são filtrados e excretados pelos rins.
(Adaptado de HAMBURGER, 2005, p. 46-53).
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
12. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Confira, a seguir, as questões propostas para verificar o seu
desempenho no estudo desta unidade:
1) Como os autores Pozo e Crespo (1998) justificam a importância da inclusão
de Ciências da Natureza no Ensino Fundamental?
2) Quais são os objetivos para o Ensino de Ciências Naturais para o Ensino Fun-
damental de acordo com os PCNs?
3) Como se caracteriza o método científico de acordo com Pozo e Crespo
(1998)?
4) Quais são os critérios para a avaliação dos conteúdos de Ciências Naturais
no Ensino Fundamental?
© Fundamentos e Métodos do Ensino das Ciências da Natureza250
5) Quais são os blocos temáticos propostos para o Ensino Fundamental, segun-
do os PCns de Ciências naturais (BRASiL, 1998)?
6) Como e por que os PCNs estabelecem a organização curricular de Ciências
Naturais por blocos temáticos?
Gabarito
Confira, a seguir, as respostas corretas para as questões au-
toavaliativas propostas:
1) Uma das justificativas mais comuns para a inclusão das Ciências da Natureza
como uma parte substantiva do currículoda Educação Básica em todos os
países costuma ser a necessidade de proporcionar aos alunos uma cultura
científica mínima, que lhes permita compreender não somente o funciona-
mento do mundo natural, mas também os envolvimentos que os avanços
do conhecimento científico e tecnológico têm para a vida social do cidadão
comum. Já que vivemos num mundo no qual os conhecimentos e os pro-
cedimentos das ciências têm ampla difusão e uma presença quase perma-
nente em nossa vida cotidiana, parece necessário dotar os futuros cidadãos
de uma bagagem conceitual e metodológica que lhes permita ser partícipes
desses conhecimentos.
2) Os objetivos para o Ensino de Ciências Naturais para o Ensino Fundamental
de acordo com os PCNs são:
• compreender a natureza como um todo dinâmico e o ser humano como
parte integrante e agente de transformações do mundo em que vive;
• identificar relações entre conhecimento científico, produção de tecnolo-
gia e condições de vida, no mundo de hoje e em sua evolução histórica;
• formular questões, diagnosticar e propor soluções para problemas re-
ais com base em elementos das Ciências Naturais, colocando em prática
conceitos, procedimentos e atitudes desenvolvidos no aprendizado es-
colar;
• saber utilizar conceitos científicos básicos, associados à energia, matéria,
transformação, espaço, tempo, sistema, equilíbrio e vida;
• saber combinar leituras, observações, experimentações, registros etc.,
para coleta, organização, comunicação e discussão de fatos e informa-
ções;
• valorizar o trabalho em grupo, ser capaz de ação crítica e cooperativa
para a construção coletiva do conhecimento;
• compreender a saúde como bem individual e comum que deve ser pro-
movido pela ação coletiva;
• compreender a tecnologia como meio para suprir necessidades huma-
nas, distinguindo usos corretos e necessários daqueles prejudiciais ao
equilíbrio da natureza e ao homem.
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251© U4 - Ensino de Ciências no Ensino Fundamental
3) De acordo com Pozo e Crespo (1998), o método científico é a estratégia atra-
vés da qual os problemas são resolvidos, baseada, fundamentalmente, na
formulação de hipóteses derivadas de modelos teóricos, na experimentação
e nas medidas quantitativas. Mas, também é própria e característica da ciên-
cia a forma como esse método é usado para resolver problemas.
4) Os critérios para a avaliação dos conteúdos de Ciências Naturais no Ensino
Fundamental estão referenciados nos objetivos, mas eles não coincidem in-
tegralmente. Os objetivos são metas que balizam e orientam o ensino, indi-
cam expectativas quanto ao desenvolvimento de capacidades pelos alunos
ao longo de cada ciclo. Conheça os critérios de avaliação e o que cada um
pretende:
• Identificar componentes comuns e diferentes em ambientes diversos, a
partir de observações diretas e indiretas.
• Esse critério pretende avaliar se o aluno, utilizando dados de observação
direta ou indireta, reconhece que todo ambiente é composto por seres
vivos, água, ar e solo, e os diversos ambientes diferenciam-se pelos tipos
de seres vivos e pelas características da água e do solo.
• Observar, descrever e comparar animais e vegetais em diferentes am-
bientes, relacionando suas características ao ambiente em que vivem.
• Com esse critério, pretende-se avaliar se o aluno é capaz de identificar
características dos seres vivos que permitam sua sobrevivência nos am-
bientes que habitam, utilizando dados de observação.
• Buscar informações mediante observações, experimentações ou outras
formas, e registrá-las, trabalhando em pequenos grupos, seguindo um
roteiro preparado pelo professor ou pelo professor em conjunto com a
classe.
• Com esse critério, pretende-se avaliar se o aluno, tendo realizado vá-
rias atividades em pequenos grupos de busca de informações em fontes
variadas, é capaz de cooperar nas atividades de grupo e acompanhar,
adequadamente, um novo roteiro.
• Registrar sequências de eventos observadas em experimentos e outras
atividades, identificando etapas e transformações.
• O objetivo desse critério é avaliar a capacidade do aluno de identificar e
registrar sequências de eventos − as etapas e as transformações − em um
experimento ou em outras atividades.
• Identificar e descrever algumas transformações do corpo e dos hábitos
− de higiene, alimentação e atividades cotidianas − do ser humano nas
diferentes fases da vida.
• Aqui, pretende-se avaliar se o aluno relaciona os hábitos e as característi-
cas do corpo humano a cada fase do desenvolvimento e se identifica com
as transformações ao longo desse desenvolvimento.
• Identificar os materiais de que os objetos são feitos, descrevendo algu-
mas etapas de transformação de materiais em objetos por meio de ob-
servações realizadas.
© Fundamentos e Métodos do Ensino das Ciências da Natureza252
Com esse critério, pretende-se avaliar se o aluno é capaz de compreender que
diferentes materiais são empregados para a confecção de diferentes objetos.
Pretende-se avaliar, também, a capacidade do aluno de descrever as etapas
de transformação de materiais em objetos.
5) Os blocos temáticos propostos para o Ensino Fundamental, segundo os
PCns de Ciências naturais (BRASiL, 1998), são: ambiente; ser humano e saú-
de; recursos tecnológicos e Terra e Universo. Os três primeiros blocos se de-
senvolvem ao longo de todo o Ensino Fundamental. O bloco Terra e Universo
apenas será destacado a partir do terceiro ciclo, ou seja, do sexto ao nono
ano, que, no caso, não é a nossa faixa etária de formação.
6) A organização do currículo de Ciências Naturais por blocos temáticos facilita
o tratamento interdisciplinar das Ciências Naturais. É mais flexível para se
adequar ao interesse e às características do aluno, pois é menos rigorosa
que a estrutura das disciplinas.
Dessa forma, os temas podem ser escolhidos considerando-se a realidade da
comunidade escolar, ou seja, do contexto social e da vivência cultural de alu-
nos e professores.
Os blocos temáticos possibilitam que eles não sejam trabalhados de forma
isolada, mas sim organizados sem rigidez quanto à ordem sequencial que de-
verão ser trabalhados ao longo dos dois ciclos, e também possibilita o desen-
volvimento de projetos interdisciplinares.
É importante ressaltar que o professor deverá ter claro os conteúdos conceitu-
ais, procedimentais e atitudinais que pretende alcançar em cada bloco temáti-
co para que ocorra a aprendizagem da temática em questão.
13. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Meio Ambiente e da Amazônia Legal/ ibama, 1994.
ASTOLFI, J.-P.; DEVELAY, M. A didática das ciências. Tradução de Magda Sento Sé Fonseca.
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RIO GRANDE DO SUL. Secretaria da Educação. Departamento Pedagógico. Divisão de
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1996.
SPERB, M. H. B. Vegetais: estudando as plantas, alunos produzem e socializam
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Alegre: Artes Médicas, 1998.e mo-
dalidade de vínculo com o saber e sua produção.
© Fundamentos e Métodos do Ensino das Ciências da Natureza194
Esse corpo de conhecimentos contém conceitos, procedi-
mentos e atitudes, obtidos com base no que se considera como
erudito, em uma perspectiva interdisciplinar.
Os conteúdos são os meios pelos quais a criança desenvol-
verá as competências que permitirão a ela se beneficiar dos bens
culturais, sociais e econômicos, e é por meio dos conteúdos que as
ações da escola são operacionalizadas.
Os conteúdos são classificados em três categorias, descritas
por Coll et al. (1987) e atualmente propostas pelos PCns:
• conteúdos conceituais;
• conteúdos procedimentais;
• conteúdos atitudinais.
Os conteúdos conceituais abrangem diferentes tipos, como
dados, fatos, conceitos e princípios. Esses conteúdos remetem ao
conhecimento construído pela humanidade ao longo da história.
Os conceitos e os princípios auxiliam o aluno a compreender sua
realidade e, assim, organizá-la e prevê-la. Um exemplo desse tipo
de conteúdo é a respiração dos seres vivos (a importância da respi-
ração para os seres vivos). Ao compreender o significado da respi-
ração, o aluno entenderá o papel dela como forma de obtenção de
energia para manutenção da vida e a dependência dos seres vivos
com relação ao ambiente.
Os conteúdos de procedimentos envolvem, também, dife-
rentes tipos, caracterizando ações internas e externas do indiví-
duo que ensina e do que aprende: modos de indagar, selecionar e
elaborar o conhecimento (observar, comparar, registrar, analisar,
sintetizar, interpretar e comunicar).
Segundo Laura Fumagalli (1998, p. 34):
Quando falo de conteúdos de procedimentos, não faço alusão ao
ensino de um único método científico (...) e sim ao ensino de um
conjunto de procedimentos que aproximem as crianças às formas
de trabalhar mais rigorosas e criativas, mais coerentes com o modo
de produção do conhecimento científico.
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195© U4 - Ensino de Ciências no Ensino Fundamental
Os conteúdos procedimentais referem-se ao "saber fazer",
como técnicas, métodos, regras, habilidades, procedimentos,
comparação de dados, revisão de texto; portanto, um conjunto de
ações que direcione a aprendizagem da leitura, escrita, investiga-
ção, cálculo e experimentação – ações específicas que, de certo
modo, ensinam a pensar e produzir o conhecimento.
Segundo Campos e nigro (1999), os conteúdos procedimen-
tais relacionados às Ciências foram descritos e classificados em:
Quadro 1 Conteúdos Para A Realização De Uma Investigação.
CONTEÚDOS NECESSÁRIOS PARA A
REALIZAÇÃO DE UMA INVESTIGAÇÃO DESCRIÇÃO
Observação de objetos e fenômenos Registro qualitativo dos dados e
descrição das observações.
Medição de objetos e transformação
Registro quantitativo dos dados; seleção
de instrumentos de medidas adequados;
estimativa de uma medida de precisão
de um instrumento.
Reconhecimento de problemas Identificação do motivo pelo qual se estuda
o problema; contextualização do problema
Formulação de hipóteses
Estabelecimento de idéias para resolver o
problema; dedução de previsões com base
em uma pesquisa ou conhecimento teórico.
Identificação e controle de variáveis
Delimitação das variáveis relevantes
e irrelevantes em um problema;
estabelecimento de relações de
dependência entre as variáveis.
Montagens experimentais
Seleção de experiências adequadas para
testar uma hipótese; estabelecimento de
uma estratégia de resolução.
Técnicas de investigação
Conhecimento de estratégias de
investigação básicas para resolução de
problemas.
Análise de dados
Organização (tabelas) e representação
de dados (gráficos); processamento dos
dados e explicação de seu significado;
relações entre as variáveis.
Estabelecimento de conclusões
Estabelecimento e avaliação crítica dos
resultados experimentais e elaboração
de informes científicos sobre o processo
(relatório científico).
Fonte: CAMPOS; niGRO, 1999, p. 48-49.
© Fundamentos e Métodos do Ensino das Ciências da Natureza196
É comum, na prática pedagógica, que os conteúdos procedi-
mentais sejam abordados de forma equivocada, não considerados
como objetos de ensino, nos quais a participação ativa do profes-
sor é necessária, principalmente, no primeiro e segundo ciclos do
Ensino Fundamental. Esses procedimentos são considerados por
muitos educadores como habilidades individuais que são aprendi-
das espontaneamente.
Porém, experiências didáticas mostraram que esses proce-
dimentos são importantes para a aprendizagem dos conteúdos do
Ensino de Ciências. Perceba isso no exemplo a seguir:
Exemplo ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Em reuniões pedagógicas entre professores, é comum a afirmação de que: "os
alunos não sabem realizar uma pesquisa bibliográfica"; "o aluno não sabe elabo-
rar um texto sozinho, somente cópia".
Mas, afinal, se as habilidades de pesquisar, comparar, elaborar e revisar texto
compõem conteúdos procedimentais, eles podem e devem ser aprendidos pelos
alunos, portanto devem ser ensinados pelo educador.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
A aprendizagem dos conteúdos procedimentais pode ser
promovida com atividades de ações repetitivas e sequenciais, po-
rém, contextualizadas.
Por exemplo, a elaboração de um experimento que demons-
tre a respiração é vital aos seres vivos. No entanto, a operação me-
cânica da experiência por si própria não constitui uma estratégia
de aprendizagem, pois é importante que o aluno, juntamente com
o professor, participe ativamente da elaboração da experiência.
Os conteúdos atitudinais referem-se à vivência de valores,
normas e regras, ou seja, às atitudes que os alunos devem ter em
sala de aula e na escola. Portanto, esses conteúdos permeiam todo
o conhecimento escolar.
Por isso, ensinar e aprender os conteúdos atitudinais exige
um posicionamento aberto e consciente, principalmente do edu-
cador, sobre o que e como a escola ensina.
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197© U4 - Ensino de Ciências no Ensino Fundamental
Dessa forma, é importante que o professor:
• organize a turma de forma que todos ouçam e entendam
sua exposição;
• estimule e valorize as ideias dos alunos;
• promova o respeito entre os alunos para que todos te-
nham as mesmas oportunidades de participação.
Esses conteúdos abrangem conjuntos de normas, valores
e posturas, por meio dos quais podemos oferecer às crianças a
oportunidade da criação de vínculos com o saber e sua produção:
relação entre o homem, o conhecimento e o ambiente.
De acordo com Laura Fumagalli (1998, p. 37, grifo nosso):
[...] a categoria de conteúdos de atitudes abrange um conjunto de
normas e valores (Coll, 1996), através dos quais nos propomos a
formar nas crianças uma atitude científica, ou seja, uma modalida-
de de vínculo com o saber e sua produção. A curiosidade, a busca
constante, o desejo de conhecer pelo prazer de conhecer, a crítica
livre, em oposição ao critério de autoridade, a comunicação e a co-
operação na produção coletiva de conhecimentos são alguns dos
traços que caracterizam a atitude que nos propomos a formar.
O texto dos PCns de Ciências naturais (2000, p. 23) analisa o
porquê do trabalho com Ciências no Ensino Fundamental:
Mostrar a Ciência como um conhecimento que colabora para a
compreensão do mundo e suas transformações, para reconhecer o
homem como parte do universo e como indivíduo, é a meta que se
propõe para o ensino da área na escola fundamental.
O Ensino de Ciências no Ensino Fundamental se faz necessá-
rio para que a criança compreenda seu meio natural e suas trans-
formações e como ele integra e se relaciona com este mundo.
É preciso que entendamos que não é possível pensar na formação
de um cidadão crítico à margem do saber científico.
O questionamento do que vemos e ouvimos ao nosso redor
poderá ampliar:
© Fundamentos e Métodos do Ensino das Ciências da Natureza198
1) a construção de conceitos;
2) a explicação de fenômenosda natureza;
3) a compreensão e valorização dos modos de intervir e
agir no e sobre o ambiente e de usar os seus recursos;
4) o entendimento das funções da tecnologia e a reflexão
das questões éticas que cercam a sociedade, a técnica e
a ciência.
Uma aula de Ciências poderá ser transformada em um dos
espaços ideais em que professor e alunos expõem conhecimentos
intuitivos, produtos da vivência de cada um, adquiridos pelo senso
comum e pela cultura, em uma espécie de contraponto à estrutura
do conhecimento científico e seu histórico processo de produção,
resultando, possivelmente, no amadurecimento de conceitos, em
aprendizagens significativas que contribuem para o desenvolvi-
mento do grupo.
Esse estabelecimento de relações entre o que já é conhecido
e as novas ideias, entre o real e o imaginário, entre o trivial e o es-
tranho, o comum e o diferente, o geral e o particular e a definição
dos antagonismos entre os inúmeros elementos que compõem a
rede de conhecimentos são, como nos informam os PCNs, proces-
sos essenciais para que possamos estruturar o pensamento, parti-
cularmente, o método científico.
Segundo Pozo e Crespo (1998, p. 72, grifos do autor):
O que caracteriza o método científico é, em primeiro lugar, a estra-
tégia através da qual os problemas são resolvidos, baseada funda-
mentalmente na formulação de hipóteses derivadas de modelos
teóricos, na experimentação e nas medidas quantitativas. Mas
também é próprio e característico da ciência a forma como esse
método é usado para resolver problemas.
Em outras palavras, o método científico não é somente uma
forma de resolver problemas, mas também de propô-los. A ciência
gera ou elabora seus próprios problemas, suas experiências, que
consistem geralmente em cenários idealizados.
Claretiano - Centro Universitário
199© U4 - Ensino de Ciências no Ensino Fundamental
Ensinar Ciências não se resume em apresentar definições ou
conceitos prontos ou fazer experimentos para que os alunos tes-
temunhem.
Em qualquer obra didático-pedagógica, poderemos ler que
conceitos ou definições são pontos de chegada (não de partida)
para o ensino-aprendizagem. Especialmente nesta área, é relevan-
te a noção de que os procedimentos fundamentais são aqueles
que facilitam, favorecem e permitem investigar, observar, buscar,
experimentar, descobrir, estabelecer relações, comunicar, debater,
discutir a respeito de fenômenos, conteúdos, fatos e situações.
Como nos ensinou Piaget, é por meio da ação sobre o objeto
do conhecimento que se produzirá o saber.
6. CIÊNCIAS NATURAIS NO PRIMEIRO CICLO DO EN-
SINO FUNDAMENTAL
É importante lembrarmos que o processo de aprendizagem
das crianças se inicia antes de seu acesso à escolaridade obriga-
tória, mesmo se ela frequentou ou não a Educação Infantil. Isso
ocorre porque as crianças são curiosas, livres para perguntar o que
veem, ouvem e sentem. Esses conhecimentos foram adquiridos
pela sua vivência em ambiente familiar, pela cultura regional, cul-
tura de massa e mídia.
Podemos, então, concluir que as crianças chegam à escola
tendo um repertório de representações e explicações da realida-
de. É importante que tais representações encontrem lugar na sala
de aula para se manifestarem, pois, além de constituírem impor-
tante fator no processo de aprendizagem, poderão ser ampliadas,
transformadas e sistematizadas com a sua mediação.
A escola e o professor têm o papel de estimular os alunos a
perguntar e a buscar respostas sobre a vida humana, os ambientes
e recursos tecnológicos que fazem parte do cotidiano ou que este-
jam distantes no tempo e no espaço.
© Fundamentos e Métodos do Ensino das Ciências da Natureza200
Nessa fase, a criança não se diferencia de seu meio. Seus
conhecimentos não são objetivos, pois ela está centrada em si
mesma, não reconhecendo as ideias de outros companheiros ou
mesmo do que desconhece. Por exemplo, uma criança, ao obser-
var um cavalo, pode perguntar: "O cavalo não sente frio?".
Nas séries iniciais, quando ocorre a aprendizagem da leitura
e da escrita, os temas relacionados a Ciências, como meio ambien-
te, corpo humano e tecnologia, despertam curiosidade, interesses
e explicações, podendo ser empregados para auxiliar no processo
de alfabetização.
Nessa fase, a criança apresenta um desenvolvimento signifi-
cativo da linguagem oral, descritiva e narrativa, portanto, sua ca-
pacidade de narrar ou descrever um fato inicia-se, geralmente, por
meio de desenhos.
Além do registro por meio do desenho, há possibilidades,
nessa fase, da construção de pequenos textos, listas e tabelas.
É importante ressaltar que o papel do educador é de grande
relevância nesse processo, no sentido de incentivar o educando a
perguntar e formular suposições e, assim, conhecer as represen-
tações e os conceitos intuitivos do aluno. Dessa forma, é possível
orientá-lo em seu processo de construção do conhecimento.
Segundo os PCns (1997), no primeiro ciclo, as possibilidades
de trabalho com os conteúdos da área de Ciências Naturais são
inúmeras.
Nas classes de primeiro ciclo, ainda que explicações mági-
cas persistam, é possível elaborar algumas explicações objetivas e
mais próximas da Ciência, de acordo com a idade e o amadureci-
mento dos alunos e sob influência do processo de aprendizagem.
Também é possível o contato com uma variedade de aspec-
tos do mundo, explorando-os, conhecendo-os, explicando-os e
iniciando a aprendizagem de conceitos, procedimentos e valores
importantes.
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201© U4 - Ensino de Ciências no Ensino Fundamental
Objetivos de Ciências Naturais para o primeiro ciclo
De acordo com os PCns (1997), as atividades e os projetos
de Ciências Naturais devem ser organizados para que os alunos
ganhem, progressivamente, as seguintes capacidades:
1) Observar, registrar e comunicar algumas semelhanças
e diferenças entre diversos ambientes, identificando a
presença comum de água, seres vivos, ar, luz, calor, solo
e características específicas dos ambientes diferentes.
2) Estabelecer relações entre as características, os compor-
tamentos dos seres vivos e as condições do ambiente
em que vivem, valorizando a diversidade da vida.
3) Observar e identificar algumas características do corpo
humano e alguns comportamentos nas diferentes fases
da vida, no homem e na mulher, aproximando-se à no-
ção de ciclo vital do ser humano e respeitando as dife-
renças individuais.
4) Reconhecer processos e etapas de transformação de
materiais em objetos.
5) Realizar experimentos simples sobre os materiais e ob-
jetos do ambiente para investigar características e pro-
priedades dos materiais e de algumas formas de energia.
6) Utilizar características e propriedades de materiais, ob-
jetos e seres vivos para elaborar classificações.
7) Formular perguntas e suposições sobre o assunto em es-
tudo.
8) Organizar e registrar informações por meio de desenhos,
quadros, esquemas, listas e pequenos textos, sob orien-
tação do professor.
9) Comunicar, de modo oral, escrito e por meio de dese-
nhos, perguntas, suposições, dados e conclusões, res-
peitando as diferentes opiniões e utilizando as informa-
ções obtidas para justificar suas ideias.
10) Valorizar atitudes e comportamentos favoráveis à saúde,
em relação à alimentação e à higiene pessoal, desenvol-
vendo a responsabilidade no cuidado com o próprio cor-
po e com os espaços que habita.
© Fundamentos e Métodos do Ensino das Ciências da Natureza202
Conteúdos de Ciências Naturais para o primeiro ciclo
No primeiro ciclo, as crianças têm uma primeira aproximação
das noções de ambiente, corpo humano e transformações de mate-
riais do ambiente por meio de técnicas criadas pelo homem. Podem
aprender procedimentos simples de observação, comparação, bus-
ca e registro de informações e, também, desenvolver atitudes de
responsabilidade para consigo, com o outro e com o ambiente.
A seguir, vamos conhecer como trabalhar os conteúdos de
Ciências Naturais nesse ciclo.
Serhumano
Sobre o ser humano, segundo os PCns (1997), os conteúdos
para o primeiro ciclo referentes a fatos, conceitos, procedimentos,
valores e atitudes são os seguintes:
1) Comparação do corpo e de alguns comportamentos de
homens e mulheres nas diferentes fases da vida − ao
nascer, na infância, na juventude, na idade adulta e na
velhice − para compreender algumas transformações,
valorizar e respeitar as diferenças individuais.
2) Conhecimento de condições para o desenvolvimento
e preservação da saúde: atitudes e comportamentos
favoráveis à saúde em relação à alimentação, higiene
ambiental e ao asseio corporal, bem como modos de
transmissão e prevenção de doenças contagiosas, parti-
cularmente a aids.
3) Comparação do corpo e dos comportamentos do ser hu-
mano e de outros animais para estabelecer semelhanças
e diferenças.
4) Elaboração de perguntas e suposições acerca das carac-
terísticas das diferentes fases da vida e dos hábitos de
alimentação e de higiene para a manutenção da saúde,
em cada uma delas.
5) Observação, representação e comparação das condições
de higiene dos diferentes espaços habitados, desenvolven-
do cuidados e responsabilidades para com esses espaços.
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203© U4 - Ensino de Ciências no Ensino Fundamental
6) Busca e coleta de informações por meio de leituras reali-
zadas pelo professor para a classe, interpretação de ima-
gens, entrevistas a familiares, pessoas da comunidade e
especialistas em saúde.
7) Confrontação das suposições individuais e coletivas com
as informações obtidas.
8) Organização e registro de informações por meio de de-
senhos, quadros, listas e pequenos textos, sob orienta-
ção do professor.
9) Comunicação oral e escrita de suposições, dados e con-
clusões, respeitando diferentes opiniões.
10) Recursos tecnológicos.
Para os recursos tecnológicos, segundo os PCns (2000), os
conteúdos para o primeiro ciclo referentes a fatos, conceitos, pro-
cedimentos, valores e atitudes são:
1) Investigação de processos artesanais ou industriais da
produção de objetos e alimentos, reconhecendo a ma-
téria-prima, algumas etapas e características de deter-
minados processos.
2) Conhecimento de origens e algumas propriedades de
determinados materiais e formas de energia, para rela-
cioná-las a seus usos.
3) Formulação de perguntas e suposições sobre os proces-
sos de transformação de materiais em objetos.
4) Busca e coleta de informações por meio de observação
direta e indireta, experimentação, interpretação de ima-
gens e textos selecionados.
5) Organização e registro de informações por intermédio
de desenhos, quadros, esquemas, listas e pequenos tex-
tos.
6) Interpretação das informações por meio do estabeleci-
mento de regularidades e das relações de causa e efeito.
7) Utilização das informações obtidas para justificar suas
ideias.
8) Comunicação oral e escrita de suposições, dados e con-
clusões, respeitando diferentes opiniões.
© Fundamentos e Métodos do Ensino das Ciências da Natureza204
Critérios de avaliação de Ciências Naturais para o primeiro ciclo
Como você avaliaria seus alunos nos conteúdos de Ciências
Naturais?
Os critérios de avaliação estão referenciados nos objetivos,
mas, como você poderá notar, eles não coincidem integralmente.
Os objetivos são metas que balizam e orientam o ensino – indicam
expectativas quanto ao desenvolvimento de capacidades pelos
alunos ao longo de cada ciclo.
Sabe-se, porém, que o desenvolvimento de todas as capa-
cidades não se completa dentro da duração de um ciclo. Assim, é
necessário o estabelecimento de critérios de avaliação que indi-
quem as aprendizagens imprescindíveis, básicas para cada ciclo,
dentro do conjunto de metas que os norteia.
Conheça os critérios de avaliação e o que cada um pretende:
1) Identificar componentes comuns e diferentes em ambien-
tes diversos a partir de observações diretas e indiretas.
Esse critério pretende avaliar se o aluno, utilizando da-
dos de observação direta ou indireta, reconhece que
todo ambiente é composto por seres vivos, água, ar e
solo e que os diversos ambientes se diferenciam pelos
tipos de seres vivos e pelas características da água e do
solo.
2) Observar, descrever e comparar animais e vegetais em
diferentes ambientes, relacionando suas características
ao ambiente em que vivem.
Com esse critério, pretende-se avaliar se o aluno é capaz
de identificar características dos seres vivos que permi-
tam sua sobrevivência nos ambientes que habitam, utili-
zando dados de observação.
3) Buscar informações mediante observações, experimen-
tações ou outras formas e registrá-las trabalhando em
pequenos grupos, seguindo um roteiro preparado pelo
professor ou por este em conjunto com a classe.
Com esse critério, pretende-se avaliar se o aluno, ten-
do realizado várias atividades em pequenos grupos de
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205© U4 - Ensino de Ciências no Ensino Fundamental
busca de informações em fontes variadas, é capaz de co-
operar nas atividades de grupo e acompanhar, adequa-
damente, um novo roteiro.
4) Registrar sequências de eventos observadas em experi-
mentos e outras atividades, identificando etapas e trans-
formações.
O objetivo desse critério é avaliar a capacidade do alu-
no de identificar e registrar sequências de eventos − as
etapas e as transformações − em um experimento ou em
outras atividades.
5) Identificar e descrever algumas transformações do cor-
po e dos hábitos (de higiene, alimentação e atividades
cotidianas) do ser humano nas diferentes fases da vida.
Aqui, pretende-se avaliar se o aluno relaciona os hábitos
e as características do corpo humano a cada fase do de-
senvolvimento e se identifica as transformações ao lon-
go desse desenvolvimento.
6) Identificar os materiais de que os objetos são feitos, des-
crevendo algumas etapas de transformação de materiais
em objetos por meio de observações realizadas.
Com esse critério, pretende-se avaliar se o aluno é capaz
de compreender que diferentes materiais são emprega-
dos para a confecção de diferentes objetos. Pretende-se
avaliar, também, a capacidade do aluno de descrever as
etapas de transformação de materiais em objetos.
7. CIÊNCIAS NATURAIS NO PRIMEIRO CICLO DE ENSI-
NO FUNDAMENTAL
No início do segundo ciclo, na maioria das escolas, uma par-
cela de alunos ainda não finalizou sua alfabetização. No entanto,
eles apresentam um universo de ideias e questionamentos bem
mais organizado em relação ao primeiro ciclo.
Como o Ensino de Ciências permite inúmeras formas de ex-
pressão, a aprendizagem nessa área não só é possível como esti-
mula o aluno a aprender a ler e escrever.
© Fundamentos e Métodos do Ensino das Ciências da Natureza206
Nessa fase, o aluno apresenta maior capacidade de observa-
ção, comparação, descrição, narração e de registros mais delinea-
dos. Esse aluno é capaz de buscar informações por meio das leitu-
ras em diversas fontes como livros, jornais, revistas e organizá-las
por meio da escrita ou de outras formas e representações.
O desenho, como forma de registro, é mais elaborado e de-
talhado, sendo possível por meio dele registrar as atividades práti-
cas de observação e experimentação.
Depois de realizado o desenho, pode-se elaborar o relatório
do experimento e/ou do que foi observado. Esse relatório deverá
conter as etapas básicas:
1) tema;
2) objetivo;
3) materiais utilizados;
4) procedimentos;
5) resultados;
6) conclusão.
A sua mediação deve viabilizar o desenvolvimento de ob-
servações e registros detalhados, buscar informações por meio de
leitura em fontes diversas, organizá-las por meio da escrita e de
outras formas de representação, de modo completo e elaborado.
Em relação ao primeiro ciclo, ampliam-se, também, as possi-
bilidades de estabelecer relações e trabalhar com maior variedade
de informações, ampliando a compreensão de mundo e as rela-
ções entre homem e natureza.
Nesse sentido, a exigência quanto aos relatórios de observa-
ção e experimentaçãodeve ser intensificada. Neles, deverá cons-
tar a descrição das etapas básicas, como materiais utilizados, pro-
cedimentos e dados obtidos.
Os alunos do segundo ciclo já são capazes de buscar infor-
mações em livros, jornais e revistas com bastante autonomia. É
esse o instrumental do aluno para interpretar dados e informa-
Claretiano - Centro Universitário
207© U4 - Ensino de Ciências no Ensino Fundamental
ções, e pelo qual ele será capaz de realizar algumas generalizações
mais abrangentes, aproximando-se dos modelos oferecidos pelas
Ciências.
Os modos de organizar e buscar informações são:
1) observar;
2) comparar;
3) descrever;
4) narrar;
5) desenhar;
6) perguntar.
Esses procedimentos permitem que a dimensão conceitual e
a rede de ideias que confere significado ao tema possam ser traba-
lhadas pelo professor.
Objetivos de Ciências Naturais para o segundo ciclo
Os PCns de Ciências (2000) sugerem que alguns objetivos
sejam propostos no segundo ciclo do Ensino Fundamental, vamos
observá-los a seguir:
1) Identificar e compreender as relações entre solo, água e
seres vivos nos fenômenos de escoamento da água, ero-
são e fertilidade dos solos, nos ambientes urbano e rural.
2) Caracterizar espaços do planeta possíveis de serem ocu-
pados pelo homem, considerando as condições de qua-
lidade de vida.
3) Caracterizar causas e consequências da poluição da
água, do ar e do solo.
4) Compreender o corpo humano como um todo integra-
do e a saúde como bem-estar físico, social e psíquico do
indivíduo.
5) Compreender o alimento como fonte de matéria e ener-
gia para o crescimento e manutenção do corpo e a nu-
trição como conjunto de transformações sofridas pelos
alimentos no corpo humano: digestão, absorção e trans-
porte de substâncias e eliminação de resíduos.
© Fundamentos e Métodos do Ensino das Ciências da Natureza208
6) Estabelecer relação entre a falta de asseio corporal, a hi-
giene ambiental e a ocorrência de doenças no homem.
7) identificar as defesas naturais e estimuladas (vacinas) do
corpo.
8) Caracterizar o aparelho reprodutor masculino e femini-
no e as mudanças no corpo durante a puberdade, res-
peitando as diferenças individuais do corpo e do com-
portamento nas várias fases da vida.
9) identificar diferentes manifestações de energia − luz,
calor, eletricidade e som − e conhecer alguns processos
de transformação de energia na natureza por meio de
recursos tecnológicos.
10) Identificar os processos de captação, distribuição e ar-
mazenamento de água e os modos domésticos de tra-
tamento da água − fervura e adição de cloro −, relacio-
nando-os com as condições necessárias à preservação
da saúde.
11) Compreender a importância dos modos adequados de
destinação das águas servidas para a promoção e manu-
tenção da saúde.
12) Caracterizar materiais recicláveis e processos de trata-
mento de alguns materiais do lixo − matéria orgânica,
papel, plástico etc.
13) Formular perguntas e suposições sobre o assunto em es-
tudo.
14) Buscar e coletar informações por meio da observação
direta e indireta, da experimentação, de entrevistas e vi-
sitas, conforme requer o assunto em estudo e sob orien-
tação do professor.
15) Confrontar as suposições individuais e coletivas com as
informações obtidas, respeitando as diferentes opiniões
e reelaborando suas ideias diante das evidências apre-
sentadas.
16) Organizar e registrar as informações por intermédio de
desenhos, quadros, tabelas, esquemas, gráficos, listas,
textos e maquetes, de acordo com as exigências do as-
sunto em estudo, sob orientação do professor.
Claretiano - Centro Universitário
209© U4 - Ensino de Ciências no Ensino Fundamental
17) Interpretar as informações por meio do estabelecimento
de relações de dependência, de causa e efeito, de sequ-
ência e de forma e função.
18) Responsabilizar-se no cuidado com os espaços que ha-
bita e com o próprio corpo, incorporando hábitos possí-
veis e necessários de alimentação e higiene no preparo
dos alimentos e de repouso e lazer adequados.
19) Valorizar a vida em sua diversidade e a preservação dos
ambientes.
Conteúdos de Ciências Naturais para o segundo ciclo
Os conteúdos que serão trabalhados no segundo ciclo ga-
nham certo grau de profundidade em relação aos conteúdos ante-
riormente aprendidos.
Pelos procedimentos de observação, comparação, descrição,
narração, desenho, experimentação e problematização, o aluno
realiza estudos comparativos em relação aos temas estudados no
primeiro ciclo.
Essas temáticas se referem aos elementos constituintes do
meio ambiente, tais como:
1) solo;
2) água;
3) fontes e transformações de energia;
4) interferências do ser humano no ambiente e suas con-
sequências;
5) funcionamento do corpo humano;
6) condições de saúde;
7) tecnologias utilizadas para a exploração de recursos na-
turais;
8) reciclagem de materiais.
Ambiente
Segundo os PCns (1997), os conteúdos para o primeiro ciclo
referentes a fatos, conceitos, procedimentos, valores e atitudes são:
© Fundamentos e Métodos do Ensino das Ciências da Natureza210
1) Estabelecimento de relação entre troca de calor e mu-
danças de estados físicos da água para fundamentar ex-
plicações acerca do ciclo da água.
2) Comparação de diferentes misturas na natureza, iden-
tificando a presença da água, para caracterizá-la como
solvente.
3) Comparação de solos de diferentes ambientes relacio-
nando suas características às condições desses ambien-
tes para se aproximar da noção de solo como compo-
nente dos ambientes integrado aos demais.
4) Comparação de diferentes tipos de solo para identificar
suas características comuns: presença de água, ar, areia,
argila e matéria orgânica.
5) Estabelecimento de relações entre os solos, a água e os
seres vivos nos fenômenos de permeabilidade, fertilida-
de e erosão.
6) Estabelecimento de relações de dependência (cadeia ali-
mentar) entre os seres vivos em diferentes ambientes.
7) Estabelecimento de relação de dependência entre a luz
e os vegetais (fotossíntese), para compreendê-los como
iniciadores das cadeias alimentares.
8) Reconhecimento da diversidade de hábitos e comporta-
mentos dos seres vivos relacionados aos períodos do dia
e da noite e à disponibilidade de água.
9) Elaboração de perguntas e suposições sobre as relações
entre os componentes dos ambientes.
10) Busca e coleta de informação por meio de observação
direta e indireta, experimentação, entrevistas, visitas,
leitura de imagens e textos selecionados.
11) Organização e registro de informações por intermédio
de desenhos, quadros, tabelas, esquemas, listas, textos
e maquetes.
12) Confrontação das suposições individuais e coletivas com
as informações obtidas.
13) Interpretação das informações por meio do estabeleci-
mento de relações de causa e efeito, dependência, sin-
cronicidade e sequência.
Claretiano - Centro Universitário
211© U4 - Ensino de Ciências no Ensino Fundamental
14) Utilização das informações obtidas para justificar suas
ideias.
15) Comunicação oral e escrita de suposições, dados e con-
clusões.
16) Ser humano e saúde.
Segundo os PCns (1997), os conteúdos para o segundo ciclo
relativos a fatos, conceitos, procedimentos, valores e atitudes em
relação ao ser humano e a saúde são:
1) Estabelecimento de relações entre os diferentes apare-
lhos e sistemas que realizam as funções de nutrição para
compreender o corpo como um todo integrado (trans-
formações sofridas pelo alimento na digestão e na respi-
ração; transporte de materiais pela circulação e elimina-
ção de resíduos pela urina).
2) Estabelecimento de relações entre aspectos biológicos,
afetivos, culturais, socioeconômicos e educacionais na
preservação da saúde para compreendê-la como bem-
-estar psíquico, físico e social.
3) Identificação de limites e potencialidades de seu próprio
corpo, compreendendo-o como semelhante, mas não
igual aos demais para desenvolver autoestima e cuidado
consigo próprio.
4) Reconhecimento dos alimentos como fontes de energiae materiais para o crescimento e a manutenção do corpo
saudável, valorizando a máxima utilização dos recursos
disponíveis na reorientação dos hábitos de alimentação.
5) Estabelecimento de relações entre a falta de higiene
pessoal e ambiental e a aquisição de doenças: contágio
por vermes e microrganismos.
6) Estabelecimento de relações entre a saúde do corpo e
a existência de defesas naturais e estimuladas, como as
vacinas.
7) Comparação dos principais órgãos e funções do apare-
lho reprodutor masculino e feminino, relacionando seu
amadurecimento às mudanças no corpo e no compor-
tamento de meninos e meninas durante a puberdade e
respeitando as diferenças individuais.
© Fundamentos e Métodos do Ensino das Ciências da Natureza212
8) Estabelecimento de relações entre aspectos biológicos,
afetivos e culturais na compreensão da sexualidade e
suas manifestações nas diferentes fases da vida.
9) Elaboração de perguntas e suposições acerca dos assun-
tos em estudo.
10) Busca e coleta de informação por meio da observação
direta e indireta, experimentação, entrevistas, visitas a
equipamentos de saúde (postos, hospitais), leitura de
imagens e textos selecionados.
11) Confronto das suposições individuais e coletivas com as
informações obtidas.
12) Organização e registro de informações por meio de de-
senhos, quadros, tabelas, esquemas, listas, textos e ma-
quetes.
13) Interpretação das informações por intermédio do esta-
belecimento de relações de dependência, causa e efeito,
forma e função, sequência de eventos.
14) Utilização das informações obtidas para justificar suas
ideias.
15) Comunicação oral e escrita de suposições, dados e con-
clusões.
Recursos tecnológicos
Para o ensino dos recursos tecnológicos, os conteúdos para
o segundo ciclo relativos a fatos, conceitos, procedimentos, valo-
res e atitudes, segundo os PCns (1997), são:
1) Comparação das condições do solo, da água, do ar e a
diversidade dos seres vivos em diferentes ambientes
ocupados pelo homem.
2) Caracterização de técnicas de utilização do solo nos am-
bientes urbano e rural, identificando os produtos des-
ses usos e as consequências das formas inadequadas de
ocupação.
3) Reconhecimento do saneamento básico como técnica
que contribui para a qualidade de vida e a preservação
do meio ambiente.
Claretiano - Centro Universitário
213© U4 - Ensino de Ciências no Ensino Fundamental
4) Reconhecimento das formas de captação, armazena-
mento e tratamento de água, de destinação das águas
servidas e das formas de tratamento do lixo na região
em que se vive, relacionando-as aos problemas de saúde
local.
5) Reconhecimento das principais formas de poluição e ou-
tras agressões ao meio ambiente de sua região, identifi-
cando as principais causas e relacionando-as aos proble-
mas de saúde da população local.
6) Caracterização de materiais recicláveis e processos de
reciclagem do lixo.
7) Caracterização dos espaços do planeta possíveis de se-
rem ocupados pelo ser humano.
8) Comparação e classificação de equipamentos, utensílios,
ferramentas para estabelecer relações entre as caracte-
rísticas dos objetos (sua forma, material de que é feito).
9) Comparação e classificação de equipamentos, utensílios
e ferramentas, relacionando seu funcionamento à utili-
zação de energia, para se aproximar da noção de energia
como capacidade de realizar trabalho.
10) Reconhecimento e nomeação das fontes de energia que
são utilizadas por equipamentos ou que são produto de
suas transformações.
11) Elaboração de perguntas e suposições sobre os assuntos
em estudo.
12) Busca e organização de informação por meio de obser-
vação direta e indireta, experimentação, entrevistas,
visitas, leitura de imagens e textos selecionados, valori-
zando a diversidade de fontes.
13) Confronto das suposições individuais e coletivas com as
informações obtidas.
14) Organização e registro de informações por meio de de-
senhos, quadros, tabelas, esquemas, listas, textos e ma-
quetes.
15) Interpretação das informações por intermédio do esta-
belecimento de relações causa e efeito, sincronicidade
e sequência.
© Fundamentos e Métodos do Ensino das Ciências da Natureza214
16) Utilização das informações obtidas para justificar suas
ideias, desenvolvendo flexibilidade para reconsiderá-las
mediante fatos e provas.
17) Comunicação oral e escrita de suposições, dados e con-
clusões.
18) Valorização da divulgação dos conhecimentos elabora-
dos na escola para a comunidade.
19) Tomar fatos e dados como tais e utilizá-los na elaboração
de suas ideias.
20) Terra e universo.
Uma forma efetiva de iniciar o estudo de corpos celestes é
proporcionando observações sistemáticas, fomentando a explici-
tação das ideias intuitivas, solicitando explicações, baseando-se na
observação direta do Sol, da Lua, das outras estrelas e dos planetas.
Assim, o professor deverá propiciar situações de aprendiza-
gem que ajudem o aluno imaginar e explicar o que observa, ao
mesmo tempo em que torna acessíveis informações sobre outros
modelos de Universo. Nesse processo, os alunos devem incorporar
novos enfoques, novas informações, mudar suas concepções de
tempo e espaço.
O conhecimento sobre os corpos celestes foi sendo acumulado
historicamente pela necessidade de aprender a registrar o tempo
cíclico e de se orientar no espaço. Assim, com a elaboração do
mapa dos céus, começou-se a desenvolver a Geometria, situando
o ser humano com maior precisão na Terra e no espaço cósmico.
Sabemos que muitas variações e transformações do ambien-
te terrestre não dependem apenas de fatores relacionados aos
corpos celestes, pois muitas dessas transformações são provoca-
das pela ação humana, como a degradação ambiental e a promo-
ção das alterações do relevo.
Outras transformações ocorrem em razão da própria estru-
tura. O que se sabe é que a estrutura interna da Terra é dinâmica,
capaz de originar vulcões, terremotos e distanciamento entre os
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215© U4 - Ensino de Ciências no Ensino Fundamental
continentes, o que altera constantemente o relevo e a composi-
ção das rochas e da atmosfera, seja pela deposição de gases das
erupções, seja por mudanças climáticas drásticas, como glaciações
e degelos.
É preciso haver a compreensão do Universo para além do
horizonte terrestre, projetando-se em direção a dimensões maio-
res de espaço e de tempo. Isso pode nos dar um novo significado
dos limites do nosso planeta, de nossa existência no Cosmos.
Critérios de avaliação de Ciências Naturais para o segundo ciclo
Os critérios de avaliação para esse ciclo seguem a mesma
abordagem que a do primeiro ciclo. Veja a seguir:
1) Comparar diferentes tipos de solo, identificando compo-
nentes semelhantes e diferentes.
Com esse critério, pretende-se avaliar se o aluno é ca-
paz de compreender que os solos têm componentes co-
muns − areia, argila, água, ar, seres vivos, inclusive os
decompositores e restos de seres vivos − e os diferentes
solos apresentam esses componentes em quantidades
variadas.
2) Relacionar as mudanças de estado da água às trocas de
calor entre ela e o meio, identificando a amplitude de
sua presença na natureza, muitas vezes misturada a di-
ferentes materiais.
Com esse critério, é possível avaliar se o aluno identifica
a presença da água em diferentes espaços terrestres e
no corpo dos seres vivos, e que as trocas de calor entre
água e o meio têm como efeito a mudança de estado fí-
sico, sendo capaz de explicar o ciclo da água na natureza.
3) Relacionar solo, água e seres vivos nos fenômenos de
escoamento e erosão.
Esse critério pretende avaliar se o aluno é capaz de com-
preender que a permeabilidade é uma propriedade do
solo, estando relacionada à sua composição, e a água,
agente de erosão, atua mais intensamente em solos des-
cobertos.
© Fundamentos e Métodos do Ensino das Ciências da Natureza216
4) Estabelecer relação alimentar entre seres vivos de um
mesmo ambiente.
Com esse critério, pretende-seavaliar se o aluno iden-
tifica a cadeia alimentar como relação de dependência
alimentar entre animais e vegetais, estando os vegetais
no início de todas elas.
5) Aplicar seus conhecimentos sobre as relações entre
água, solo e seres vivos na identificação de algumas
consequências das intervenções humanas no ambiente
construído.
Com esse critério, pode-se avaliar se o aluno é capaz de re-
conhecer a erosão tanto quanto a perda de fertilidade dos
solos como resultado da ação das chuvas sobre solos desma-
tados e queimados (ambiente devastado) e a necessidade
de construção de sistemas de escoamento de água em locais
onde o solo foi recoberto por asfalto (ambiente urbano).
6) Identificar e localizar órgãos do corpo e suas funções, es-
tabelecendo relações entre sistema circulatório, apare-
lho digestivo, aparelho respiratório e aparelho excretor.
Com esse critério, pretende-se avaliar se o aluno é capaz
de perceber a disposição espacial dos órgãos e apare-
lhos estudados e suas funções, compreendendo o corpo
como um sistema em que tais aparelhos se relacionam
realizando trocas.
7) Identificar as relações entre condições de alimentação,
higiene pessoal, ambiental e a preservação da saúde hu-
mana.
Esse critério tem por objetivo avaliar se o aluno é ca-
paz de compreender que a saúde individual depende de
um conjunto de fatores (alimentação, higiene pessoal e
ambiental) e que a carência, ou inadequação, de um ou
mais desses fatores acarreta doença.
8) Identificar e descrever as condições de saneamento bá-
sico – com relação à água e ao lixo – de sua região, rela-
cionando-as à preservação da saúde.
Com esse critério, pretende-se avaliar se o aluno é ca-
paz de compreender como o saneamento se estrutura
na sua região, relacionando-o aos problemas de saúde
Claretiano - Centro Universitário
217© U4 - Ensino de Ciências no Ensino Fundamental
ali verificados.
9) Reconhecer diferentes papéis dos microrganismos e fun-
gos em relação ao homem e ao ambiente.
Pretende-se avaliar, com esse critério, se o aluno é capaz
de compreender que os microrganismos e fungos atuam
como decompositores, contribuindo para a manutenção
da fertilidade do solo, e que alguns deles são causadores
de doenças, entre eles, o vírus da aids.
10) Reconhecer diferentes fontes de energia utilizadas em
máquinas e outros equipamentos e as transformações
que tais aparelhos realizam.
Esse critério pretende avaliar se o aluno é capaz de no-
mear as formas de energia utilizadas em máquinas e
equipamentos, descrevendo suas finalidades e as trans-
formações que realizam, identificando algumas delas
como outras formas de energia.
11) Organizar registro de dados em textos informativos, ta-
belas, desenhos ou maquetes que melhor se ajustem à
representação do tema estudado.
Com esse critério, pode-se avaliar a capacidade do aluno
de representar diferentes objetos de estudo por meio de
desenhos ou maquetes que guardem detalhes relevan-
tes do modelo observado; de tabelas como instrumento
de registro e interpretação de dados; e de textos infor-
mativos como forma de comunicação de suposições, in-
formações coletadas e conclusões.
12) Realizar registros de sequências de eventos em experi-
mentos, identificando etapas, transformações e estabe-
lecendo relações entre os eventos.
Com esse critério, pretende-se avaliar se o aluno é capaz de
identificar e registrar sequências de eventos − as etapas e
as transformações − em um experimento por ele realizado
e de estabelecer relações causais entre esses eventos.
13) Buscar informações por meio de observações, experi-
mentações ou outras formas e registrá-las, trabalhando
em pequenos grupos, seguindo um roteiro preparado
pelo professor ou pelo professor em conjunto com a
classe.
© Fundamentos e Métodos do Ensino das Ciências da Natureza218
Com este critério, pretende-se avaliar se o aluno, ten-
do realizado várias atividades em pequenos grupos de
busca de informações em fontes variadas, é capaz de co-
operar nas atividades de grupo e acompanhar, adequa-
damente, um novo roteiro.
8. BLOCOS TEMÁTICOS
De acordo com os PCns de Ciências naturais (BRASiL, 1998,
p. 43), são quatro os blocos temáticos propostos para o Ensino
Fundamental:
1) Ambiente.
2) Ser humano e saúde.
3) Recursos tecnológicos.
4) Terra e Universo.
Os três primeiros blocos se desenvolvem ao longo de todo o
Ensino Fundamental. O bloco Terra e Universo só será destacado
a partir do terceiro ciclo, ou seja, do sexto ao nono ano, que, no
caso, não é a nossa faixa etária de formação.
A organização do currículo por blocos temáticos facilita o tra-
tamento interdisciplinar das Ciências Naturais. É mais flexível para
se adequar ao interesse e às características do aluno, pois é menos
rigorosa que a estrutura das disciplinas.
Dessa forma, os temas podem ser escolhidos considerando-
-se a realidade da comunidade escolar, ou seja, do contexto social
e da vivência cultural de alunos e professores.
Os blocos temáticos possibilitam que eles não sejam traba-
lhados de forma isolada, mas sim organizados sem rigidez quanto
à ordem sequencial em que deverão ser trabalhados ao longo dos
dois ciclos, como também possibilitam o desenvolvimento de pro-
jetos interdisciplinares.
É importante ressaltar que o professor deverá ter claro os
conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais que pretende
Claretiano - Centro Universitário
219© U4 - Ensino de Ciências no Ensino Fundamental
alcançar em cada bloco temático para que ocorra a aprendizagem
da temática em questão.
Ambiente
Você tem observado o quanto às questões ambientais estão,
frequentemente, em evidência nos meios de comunicação?
Esses meios contribuem para despertar o interesse ou mes-
mo alertar a população acerca dos grandes problemas ambientais.
No entanto, observa-se que as notícias nem sempre garantem a
obtenção de informações cientificamente corretas. Ao contrário,
são comuns notícias que trazem informações confusas e distorci-
das sobre as questões ambientais. Por exemplo, utilizando o termo
ecologia como sinônimo de meio ambiente; Amazônia é o pulmão
do mundo.
No primeiro e segundo ciclos, o principal referencial teóri-
co para os estudos ambientais é a Ecologia. Dentro dos conteú-
dos dela, são enfocados, principalmente, os estudos das cadeias
e teias alimentares, fluxo de energia, ciclo da matéria no plane-
ta Terra, características e particularidades dos diferentes tipos de
ambientes e suas relações com os seres vivos, relações entre os
seres vivos entre si, a água e o solo.
No primeiro ciclo, os assuntos relacionados ao ambiente são
bastante instigantes e familiares à criança. Os conteúdos propostos
têm como objetivo mostrar noção do ambiente como um processo
da interação entre seus componentes abióticos e bióticos, além
da observação e diferenciação de ambientes naturais e ambientes
construídos, seres vivos (animal e vegetal), características externas
gerais e comportamentos (reprodução, hábitat, alimentação).
Quanto aos conteúdos procedimentais nesse ciclo, devem
ser trabalhados a observação, a experimentação e o registro em
forma de desenho, listas, tabelas, pequenos textos e outros.
Os conteúdos conceituais propostos pelo professor devem
© Fundamentos e Métodos do Ensino das Ciências da Natureza220
auxiliar a formação de atitudes e valores nos alunos. Por exemplo,
não é suficiente explicar que não se pode jogar o papel de bala
no chão da sala de aula, o copo de plástico ou resto de comida no
pátio ou jogar lixo e entulho em rios e nas ruas. É preciso mostrar
o problema que esse lixo irá causar no meio ambiente, principal-
mente a curto e a longo prazos. Ensinar que os lixos jogados nas
ruas podem ocasionar entupimento de bueiros, causando enchen-
tes e doenças ao homem.
Portanto, é importante mostrar ao aluno que sua mudança
de comportamento no ambiente escolar, em casa e outros am-
bientes sociais contribuirá para a conservação e preservação do
meio ambiente.
Já no segundo ciclo,o aluno apresenta maiores conhecimen-
tos sobre os diferentes tipos de ambientes e sobre a intervenção
humana no ambiente natural – agricultura, pesca, ocupação urba-
na e poluição dos ambientes.
As questões ambientes que assolam o planeta e, consequen-
temente, os seres vivos e o homem podem ser temas para incenti-
var os alunos a buscarem informações.
Nesse ciclo, sob orientação do professor, é possível a rea-
lização de atividades experimentais que dispensem laboratórios
equipados, como mudanças dos estados físicos da água, filtração
da água, separação de misturas, tipos de solos, entre outros.
Esse tipo de atividade proporciona o desenvolvimento das
habilidades de observação, verificação, organização dos dados,
comparação e questionamento do aluno. O registro pode ser re-
presentado em forma de desenhos mais detalhados, tabelas e tex-
tos descritivos e dissertativos.
Explicitaremos os conteúdos que deverão ser trabalhados
neste bloco temático:
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221© U4 - Ensino de Ciências no Ensino Fundamental
1) Meio ambiente e suas relações recíprocas com a socie-
dade, marcadas pelas necessidades humanas, seus co-
nhecimentos e valores.
2) Questões específicas dos recursos tecnológicos, intima-
mente relacionadas às transformações ambientais.
3) Ecologia estuda as relações de interdependência entre os
organismos vivos e destes com os componentes sem vida
do espaço em que habitam, resultando em um sistema
aberto denominado ecossistema. Tais relações são enfoca-
das nos estudos das cadeias e teias alimentares, dos níveis
tróficos (produção, consumo e decomposição), do ciclo dos
materiais e fluxo de energia, da dinâmica das populações e
do desenvolvimento e evolução dos ecossistemas.
4) Fluxo de energia nos ambientes e as relações dos seres vivos
com os componentes abióticos do meio. O conceito de flu-
xo de energia no ambiente só pode ser compreendido, em
sua amplitude, ao se reunir noções sobre fontes e transfor-
mações de energia; radiação solar diferenciada conforme a
latitude geográfica da região; fotossíntese (transformação de
energia luminosa em energia química dos alimentos produzi-
dos pelas plantas) e respiração celular (processo que conver-
te energia acumulada nos nutrientes em energia disponível
para a célula dos organismos vivos); teia alimentar (que sina-
liza passagem e dissipação de energia em cada nível da teia);
dinâmica terrestre (a ocorrência de vulcões); e transforma-
ções de energia provocadas pelo homem.
5) Relação dos seres vivos com os componentes abióticos do
meio: relação geral entre plantas e luz solar, consideran-
do-se a variação da intensidade luminosa em diferentes
ambientes terrestres e aquáticos no decorrer do ano e as
adaptações evolutivas dos organismos autótrofos a essas
condições; as relações entre animais e luz, considerando-
-se suas adaptações morfofisiológicas aos hábitos de vida
noturno ou diurno; as relações entre água e seres vivos;
diferentes processos metabólicos; processos de repro-
dução; as relações entre solo e seres vivos; e as relações
entre seres vivos no espaço e no tempo, determinando a
biodiversidade de ambientes naturais específicos.
© Fundamentos e Métodos do Ensino das Ciências da Natureza222
Como vimos, dentre os inúmeros conteúdos a serem de-
senvolvidos no Ensino Fundamental, encontramos aquele que se
identifica como ambiente, enriquecido pelo tema transversal meio
ambiente e que aborda, sobretudo, a necessidade da reconstru-
ção da relação homem-natureza.
no âmbito desse conteúdo, reside a Ecologia − principal re-
ferencial teórico para os estudos ambientais −, na sua interdisci-
plinaridade. Dentre outros conceitos, no ensino das Ciências, nos
ciclos iniciais (1º e 2º) do Ensino Fundamental, deve-se considerar
o de relações entre seres vivos no espaço e no tempo, determinan-
do a biodiversidade de ambientes naturais específicos.
Dentro desse foco, com qualquer grupo de alunos podem
ser realizadas inúmeras atividades, tendo como objeto de estudo
os vegetais, o seu papel no ambiente em que vivemos, sua impor-
tância para o homem e o meio.
Cada uma das sugestões de atividades que apresentaremos,
a seguir, poderá ser adaptada ao nível do grupo de alunos, e o nível
de aprofundamento dos conceitos deverá ser compatível com o
nível de conhecimento de cada ciclo.
Sugestão 1
Como são os vegetais?
Conteúdos conceituais
• Identificar as partes dos vegetais.
• Desenvolver as habilidades de observação, identificação,
comparação e descrição.
Conteúdos procedimentais
1) Orientar os alunos na organização do material necessá-
rio: lápis, borracha, lápis de cor, folhas de desenho ou
outro papel, pequenas plantas de jardim ou do entorno
da escola (ervas daninhas, preferencialmente).
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223© U4 - Ensino de Ciências no Ensino Fundamental
2) Propiciar a realização de uma atividade de observação pelos
arredores da escola, verificando o tipo de vegetação existen-
te, que tipos de plantas vivem ali, como elas se apresentam e
solicitar que coletem algumas plantas para trabalho em aula.
3) Retornar à sala de aula e incentivar os alunos a repre-
sentarem o que viram, desenhando diferentes tipos de
vegetais observados, tentando reproduzir o máximo
possível de detalhes constatados.
4) Orientar os alunos para a observação dos detalhes das
plantas trazidas para a sala, comparando-as com as plan-
tas desenhadas.
5) Convidar os alunos para sentarem em círculo, na sala,
e solicitar que cada um descreva, oralmente, uma das
plantas que observou, relatando os detalhes: cor das fo-
lhas, do caule ou tronco, como são as raízes ou como
imaginam que sejam; se possuem flores, frutos, espi-
nhos, entre outras particularidades.
6) Levantar questionamentos do tipo: todas as plantas são
iguais? Todas têm raízes? Caules? Folhas? Flores? Frutos?
7) Criar, com os alunos, um cartaz com o desenho de uma
das plantas, esclarecendo, à medida que se realiza o de-
senho, que uma planta completa possui todas as partes
(órgãos) que a compõem (identificando-as como raiz,
caule, folhas, flores, frutos). indicar a função de cada
uma delas (manutenção da vida da planta, reprodução
e nutrição), comentando a existência de plantas que não
apresentam algumas das partes.
8) Propor que cada aluno desenhe, em seu caderno, uma
planta, identificando suas partes.
9) Convidar os alunos a realizarem o plantio de algumas
mudas, ensinando-lhes a posição correta de sua coloca-
ção no solo, a distância entre as mudas, os cuidados que
devem ter com o vegetal etc.
Conteúdos atitudinais
• Participar significativamente das tarefas.
• Empenhar-se em realizá-las adequada e corretamente.
© Fundamentos e Métodos do Ensino das Ciências da Natureza224
Sugestão 2
As folhas são assim.
Conteúdos conceituais
1) Identificar as partes e funções da folha vegetal.
2) Concluir que as folhas vegetais se apresentam de diver-
sas formas, cores e tamanhos.
3) Concluir que as folhas realizam as funções de respiração
e de fotossíntese, entre outras.
4) Desenvolver as habilidades de observação, identifica-
ção, comparação, classificação, descrição (oral e por de-
senho), representação e conclusão.
Conteúdos procedimentais
1) Sugerir aos alunos que organizem o material necessário:
folhas de papel ofício, giz de cera, lápis de cor, lápis pre-
to, borracha, folhas de jornal, folhas vegetais, vasos pe-
quenos com plantas, sacos plásticos transparentes.
2) Solicitar que saiam ao pátio da escola ou arredores para
coletarem uma folha de um vegetal que esteja inteira,
porém, caída no chão, retornando à sala de aula.
3) Oferecer, a cada aluno, uma folha de papel ofício, outra
branca e um giz de cera.
4) Orientar os alunos a dobrarem a folha ao meio, no sen-
tido vertical, marcando a dobra sem cortá-la e a realiza-
rem o trabalho utilizando a folha no sentido horizontal.
5) Colocar a folha vegetal coletada sob um dos lados do pa-
pel e, com o auxílio do giz de cera (usado horizontalmen-te), marcar as impressões da folha, passando o giz sobre
o papel, diversas vezes, para a direita e para a esquerda.
6) Acompanhar a realização da tarefa.
7) Propor aos alunos a confecção conjunta de um cartaz
com o desenho de uma folha, identificando suas partes
(bordo, limbo, pecíolo, bainha, nervuras).
8) Sugerir aos alunos que observem bem o cartaz, compa-
rando-o com a impressão da folha no papel e realizem,
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225© U4 - Ensino de Ciências no Ensino Fundamental
no outro lado do papel, um desenho, reproduzindo, o
mais fielmente possível, a folha impressa, identificando,
nesse desenho, cada uma das partes.
9) Realizar perguntas do tipo: a folha desenhada no cartaz
é a mesma do papel? Em que são semelhantes? Em que
são diferentes? A folha desenhada no papel é a mesma
da qual foi retirada a impressão? As folhas (impressa e
desenhada) são semelhantes? Existem diferenças entre
elas? Quais?
10) Incentivar os alunos à observação das duas folhas, a im-
pressa e a desenhada no papel, para verificarem suas
semelhanças e chegarem à conclusão de que é uma re-
presentação científica, que deve atender ao critério de
fidelidade.
11) Sugerir aos alunos que juntem todas as folhas de vege-
tais coletadas sobre folhas de jornal, no chão, sentando
em volta, formando um círculo.
12) Solicitar que três ou quatro alunos classifiquem as fo-
lhas, incentivando os demais a opinarem pela adequa-
ção ou não do processo.
13) Questionar a classificação, realizando perguntas do tipo:
o que pensaram para classificar ou agrupar essas folhas?
Por que classificaram assim?
14) Incentivar mais alguns alunos a realizarem outras classi-
ficações, utilizando outros critérios, que podem ser: bor-
da, cor, forma de bainha etc.
15) Orientar os alunos para que, em casa, plantem, em um
vaso pequeno, uma mudinha qualquer, trazendo-a para
a sala de aula.
16) Sugerir aos alunos que coloquem alguns dos vasinhos
dentro dos sacos de plástico, observando o que pode
acontecer com os que ficam fora do saco e os que estão
ensacados, depois de dois ou três dias.
17) Levantar questões para os alunos do tipo: o que aconte-
ceu com as plantas que estão dentro do saco plástico? E
com as que estão fora? Todas as plantas estão viçosas ou
murchas? Se murchas, seria por falta de umidade? de luz
solar? de ar? por quê?
© Fundamentos e Métodos do Ensino das Ciências da Natureza226
18) Promover debate para que os alunos cheguem à solu-
ção: a planta murcha por falta de ar. Então, as folhas são
os pulmões da planta.
19) Sugerir aos alunos que coloquem mais alguns vasinhos
em um lugar bem escuro, observando o que acontece
depois de alguns dias.
20) Incentivar a comparação entre os vasos que ficaram no
escuro e os que estavam na luz.
21) Levantar questões do tipo: como ficaram as folhas das plan-
tinhas que estavam no escuro? E as que estavam na luz?
Por que as folhas precisam de luz? Qual é a importância da
luz para uma planta? Como a luz age sobre as folhas?
22) Promover debates e estabelecimento de conclusões
sobre a realização dos experimentos e seus resultados:
constatação de que a folha respira e de que realiza a fo-
tossíntese sob a luz solar.
Conteúdos atitudinais
• Participar ativamente de todas as tarefas.
• Empenhar-se na realização correta do que foi solicitado.
Sugestão 3
Descobrindo a clorofila.
Conteúdos conceituais
• Identificar a clorofila como pigmento.
• Concluir que a clorofila é responsável pela cor verde dos
vegetais.
• Desenvolver as habilidades de observação, experimenta-
ção, identificação, comparação, descrição e conclusão.
Conteúdos procedimentais
1) Solicitar aos alunos que, em conjunto, organizem o mate-
rial necessário: tigelas ou potes plásticos (material reapro-
veitável), amassadores de madeira, folhas vegetais verdes
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(coletadas no pátio da escola ou arredores), álcool, 15 a 20
pedaços de papel-filtro de 10 cm, cortado em semicírculo
(conforme o número de alunos), placas de Petri, cadernos.
2) Organizar a turma em grupos de no mínimo quatro alu-
nos em cada um e distribuir, para cada grupo, uma tige-
la, um amassador, uma placa de Petri e, para cada aluno,
um semicírculo de papel-filtro.
3) Propor o início do experimento, solicitando que os alunos
partam, em pequenos pedaços, as folhas verdes (em tomo
de quatro), colocando-os dentro da tigela de plástico.
4) Acompanhar o trabalho dos grupos, orientando-os e co-
locando cerca de 5 ml de álcool em cada tigela.
5) Orientar os alunos para que amassem bem os pedaços
de folhas, como se estivessem fazendo comidinha, e ob-
servem, depois de algum tempo, como vai ficando a cor
do álcool que antes era incolor.
6) Levantar questões do tipo: qual era a cor do álcool antes de
amassar as folhas? E depois? Qual a cor das folhas antes de
amassá-las no álcool? E depois? Por que o álcool ficou verde?
7) Incentivar os alunos a estabelecerem comparações e a
descobrirem que o álcool dissolve a clorofila − pigmento
verde que se encontra nas folhas vegetais.
8) Orientar os alunos a continuarem o experimento, viran-
do o líquido verde (álcool + clorofila) da tigela sobre a
placa de Petri e colocando de pé, dobrados ao meio, so-
bre o líquido, os semicírculos de papel-filtro.
9) Incentivar os alunos à observação do que começa a ocor-
rer: o papel vai absorvendo o líquido, separando o verde
(clorofila) do álcool de outros pigmentos que existem na
folha, formando listas coloridas no papel.
10) Solicitar que os alunos registrem suas observações e
conclusões, orientando para que colem o papel filtro no
caderno junto ao relatório que for elaborado.
11) Propor questões do tipo: e se realizássemos o experi-
mento com folhas vegetais de outras cores? Com pétalas
de flores? O que aconteceria? Isso, por certo, desper-
taria a curiosidade dos alunos, promovendo situações
para a descoberta.
© Fundamentos e Métodos do Ensino das Ciências da Natureza228
Conteúdos atitudinais
• Participar atenta e comprometidamente dos experimentos.
• Realizar todas as tarefas solicitadas.
Essas sugestões e outras atividades que o professor, com sua
criatividade, irá desencadear em sala de aula podem, certamen-
te, propiciar aos alunos o desenvolvimento de competências que
lhes permitam compreender o mundo em que vivem, atuar como
indivíduos e como cidadãos que percebem a natureza como um
todo dinâmico do qual fazem parte. Além disso, permitir que os
alunos assumam, também, posturas e valores pertinentes às rela-
ções entre os seres vivos e desenvolvam o respeito à diversidade
do ambiente, como preconizam os PCNs.
Ser humano e saúde
Sabemos que, antes de ingressar na escola, o aluno já tem no-
ções sobre o corpo humano e seu funcionamento. Algumas dessas
noções aproximam-se das concepções científicas, outras são bastante
divergentes dos conceitos científicos, como comparações do corpo hu-
mano com uma máquina, não lavar o cabelo no período menstrual etc.
Essas comparações são corriqueiras, mas não corretas, cons-
tituindo as concepções alternativas que os alunos trazem em sua
bagagem cultural sobre o corpo humano, as quais, conforme foi
discutido anteriormente, o professor deve explorar como ponto
de partida para mostrar seus pontos falhos, a fim de que o aluno
consiga reconstruir os conceitos científicos.
Para o processo de reconstrução do conhecimento, é ne-
cessário criar um ambiente durante as aulas no qual o educando
aprenda a questionar, argumentar, discutir e refletir sobre suas
concepções alternativas e científicas. Para auxiliar nesse processo
importante, é preciso buscar informações em textos específicos,
compatíveis à capacidade de leitura e escrita da criança sobre o
corpo humano e a saúde.
Claretiano - Centro Universitário
229© U4 - Ensino de Ciências no Ensino Fundamental
Os PCNs propõem que os estudos sobre o corpo humano e
a saúde se iniciem no primeiro ciclo e se estendam