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Forças Intermoleculares e Estereoquímica Prof. Me. Carlos Renato Nogueira Mestre em Psicofarmacologia (UFC) Introdução Para que entendamos as forças intermoleculares, ou seja, que tipo de força atrai uma molécula à outra em uma substância química, precisamos saber que esse tipo de atração molecular é dependente do surgimento de cargas elétricas, ou seja, de diferenças de eletronegatividade entre os átomos que a constituem. Da mesma forma, a força que atrairá, com maior ou menor intensidade um fármaco ao seu receptor também dependerá dessas atrações eletrostáticas. Polaridade de moléculas Com relação às diferenças de eletronegatividades (tendência em atrair elétrons) entre os átomos de uma molécula, podemos classifica- la como uma molécula polar (quando houver pólo positivo e negativo) ou seja, quando existe diferença de eletronegatividade entre seus átomos, ou apolar, quando não há diferença de eletronegatividade entre os átomos que a constituem. Compostos iônicos Se a substância é originada por ligação iônica (entre um metal e um ametal), quer dizer que ela é formada por íons (cátion e ânion). Assim sendo, essa substância automaticamente apresenta moléculas polares, já que os íons possuem cargas positivas e negativas. (NaCl, MgCl2) Por outro lado, as moléculas formadas por ligações covalentes podem ser polares ou apolares à depender dos átomos que a constituem. Compostos covalentes Todas as ligações dos compostos orgânicos são covalentes, assim, se houver diferença de eletronegatividade na molécula, ocorrendo diferença de cargas, ela será polar, mas se não houver diferença de eletronegatividade entre os átomos, a molécula será apolar. As ligações mais frequentes envolvendo os compostos orgânicos acontecem entre átomos de carbono ou entre átomos de carbono e hidrogênio, isto é, hidrocarbonetos. O carbono é tetravalente, ou seja, ele faz quatro ligações, que podem ser estabelecidas por meio de ligações simples, duplas ou triplas. Qualquer um desses tipos de ligações será apolar se for entre átomos de carbono ou entre carbonos e hidrogênios, em que não há praticamente diferença de eletronegatividade. Consequentemente, se a molécula for formada apenas por esses tipos de ligações, ela também será apolar. No entanto, as moléculas pertencentes a outras funções orgânicas, possuem outros tipos de átomos ligados a átomos de carbono e/ou a átomos de hidrogênio. Por exemplo, os grupos funcionais dos álcoois, cetonas, ésteres, aldeídos, ácidos carboxílicos e éteres possuem o elemento oxigênio; as amidas, as aminas possuem o elemento nitrogênio, os haletos orgânicos possuem halogênios, que podem ser o flúor, cloro, bromo e iodo. Esses elementos são muito eletronegativos, portanto possuem a capacidade de gerar diferenças de cargas na molécula, polarizando-a. Todos esses elementos mencionados (F, O, N, S, Cl, Br, I) são mais eletronegativos que o carbono, por isso, a presença deles nas moléculas orgânicas provoca o aparecimento de uma região com acúmulo de carga elétrica. Isso significa que se a molécula possuir mesmo que seja apenas um átomo diferente do carbono e do hidrogênio, ela será polar. Forças eletrostáticas Do ponto de vista qualitativo, o grau de afinidade e a especificidade da ligação micromolécula-sítio receptor são determinados por interações intermoleculares, as quais compreendem forças eletrostáticas, tais como ligações de hidrogênio, dipolo-dipolo, íon-dipolo, ligações covalentes; e interações hidrofóbicas. As forças de atração eletrostáticas são aquelas resultantes da interação entre dipolos e/ou íons de cargas opostas, cuja magnitude depende diretamente da constante dielétrica do meio e da distância entre as cargas. Interação com o receptor Alguns aminoácidos presentes nos receptores se encontram ionizados (p. ex., aminoácidos básicos – arginina, lisina, histidina – e aminoácidos com caráter ácido – ácido glutâmico, ácido aspártico), podendo interagir com fármacos que apresentem grupos carregados negativa ou positivamente. Reconhecimento do Flurbiprofeno pela COX-I Forças intermoleculares As forças que mantêm as moléculas de determinada substância unidas são chamadas de forças intermoleculares, e são em geral mais fracas do que as ligações que mantêm átomos unidos como as ligações iônicas e covalentes por exemplo. É muito mais fácil vaporizar um líquido (afastando uma molécula da outra) do que romper uma ligação covalente, por exemplo. Ligação covalente As interações intermoleculares envolvendo a formação de ligações covalentes são de elevada energia, ou seja, 77 a 88 kcal/mol. São dificilmente rompidas em processos não enzimáticos, os complexos fármaco-receptores envolvendo ligações covalentes são raramente desfeitos, culminando em inibição enzimática irreversível ou inativação do sítio receptor. O ácido acetilsalicílico é exemplo de fármaco que atuam como inibidor enzimático irreversível, cujo reconhecimento molecular envolve a formação de ligações covalentes. Observe que a força que une as moléculas de ácido clorídrico é muito mais fraca do que a ligação que une os átomos de hidrogênio e cloro (ligação covalente) Pontos de fusão e ebulição Transformar um sólido em líquido (fusão) ou vaporizar um líquido (ebulição) requerem forças para afastarem as moléculas e referem a intensidade das interações intermoleculares, ou seja quanto mais fortes a forças de atração, maior a temperatura na qual um líquido entra em ebulição (ponto de ebulição) ou um sólido passa para o estado líquido (ponto de fusão) Forças pontes de hidrogênio É um tipo especial de atração intermolecular entre o átomo de hidrogênio e um par de elétrons não compartilhado em um íon ou átomo pequeno e eletronegativo que esteja próximo (F, O ou N em outra molécula). Exemplo Observe que entre as moléculas de água existe uma força que aproxima estas moléculas umas das outras. Esta força é chamada de ponte de hidrogênio. Interações na molécula de água (H2O) Força dipolo-dipolo Moléculas polares neutras se atraem quando o lado positivo de uma molécula está próximo do lado negativo da outra. Forças dipolo-dipolo são efetivas tão somente quando moléculas polares estão próximas. Exemplos Força dipolo induzido O pólo positivo do dipolo permanente (molécula polar) vai atrair a nuvem eletrônica da molécula apolar, deformando-a. Esta deformação corresponde ao aparecimento de um dipolo induzido. Força de dispersão de London (Van der Waals) Em média , a nuvem eletrônica distribui-se de uma forma esférica à volta do núcleo, e o movimento do elétron, provoca num determinado instante um dipolo instantâneo. As moléculas sofrem uma deformação momentânea em suas nuvens eletrônicas, em razão do movimento natural dos elétrons, que podem se dispor mais perto de um átomo do que de outro, resultando em uma atração. Este tipo de força acontece apenas em moléculas apolares. Exemplos Fatores que influenciam nas forças de London A força de atração entra as moléculas por forças de London dependem: • Da quantidade de elétrons na molécula • Do raio atômico dos átomos • Do tamanho e forma da molécula Reconhecimento molecular da sub-unidade bifenila da Losartana por meio de interações de Van der Waals com resíduos de aminoácidos hidrofóbicos presentes no receptor de Angiotensina II do tipo AT1. Resumo Forças intermoleculares Com relação à força de atração Fatores estereoquímicos e conformacionais Apesar do modelo chave-fechadura ser útil na compreensão dos eventos envolvidos no reconhecimento molecular ligante-receptor, caracteriza-se como uma representação parcialda realidade, uma vez que as interações entre o receptor e o fármaco apresentam características tridimensionais dinâmicas. Dessa forma, o volume molecular do ligante, as distâncias interatômicas e o arranjo espacial entre os grupamentos farmacofóricos compõem aspectos fundamentais na compreensão das diferenças na interação fármaco-receptor. Estereoquímica A estereoquímica é o ramo da química que estuda os aspectos tridimensionais das moléculas. Os possíveis arranjos espaciais das moléculas são muito variados e, com essa variedade de arranjos diversos fenômenos podem ser observados: a isomeria e o desvio de um feixe de luz sobre uma amostra, por exemplo. https://www.infoescola.com/quimica/isomeria/ Importância A importância da estereoquímica permaneceu obscura até a década de 60, quando, infelizmente, ocorreu a tragédia da talidomida, decorrente do uso de sua forma racêmica, indicada para a redução do desconforto matinal em gestantes, resultando no nascimento de cerca de 12.000 crianças com malformações congênitas. Alterações dos grupamentos farmacofóricos de um ligante também podem repercutir diretamente no seu reconhecimento pelo receptor, uma vez que as diferenças de arranjo espacial dos grupos envolvidos nas interações com o sítio receptor implicam em perda de complementaridade e consequente redução de sua afinidade e atividade. Isomeria Isômeros são compostos que possuem a mesma fórmula molecular, mas diferem na disposição de seus átomos. Isomeria Geométrica (Cis – Trans) Compostos que pertencem ao mesmo grupo funcional, possuem a mesma estrutura esqueletal (quando se considera a fórmula estrutural plana), além de a insaturação, heteroátomo ou substituinte (se houver) e grupo funcional estarem no mesmo carbono da cadeia. A única diferença é realmente o arranjo dos átomos no espaço, o que resulta em propriedades totalmente diferentes. Por isso, a importância de estudar as características das figuras geométricas que apresentam duas ou três dimensões. Isomeria geométrica - nomenclatura A isomeria espacial geométrica é aquela que só pode ser identificada por meio da consideração da disposição dos átomos da molécula no espaço. Esse tipo de isomeria também é denominado de estereoisomeria e os isômeros de estereoisômeros. Também chamada isomeria CIS - TRANS ou Z - E. Os compostos têm a mesma fórmula estrutural plana, mas há que se considerar átomos ligantes espacialmente. Exemplos Estrogênio trans-dietilestilebestrol Cis-dietilestilbestrol Possui efeito 17 vezes menor Isomeria óptica - Enantiômeros (Levógero-Destrógero) Os enantiômeros são compostos que são a imagem especular um do outro, mas não são sobreponíveis. Isso ocorre, por exemplo, com compostos quirais ou assimétricos que possuem pelo menos um carbono quiral, isto é, com os quatro ligantes diferentes. Essa palavra “quiral” significa 'mão' em grego. Os enantiômeros atuam exatamente como ocorre com a nossa mão, ou seja, as nossas mãos são assimétricas (se você dividir a sua mão em duas partes elas serão diferentes), não se sobrepõem (coloque uma mão em cima da outra com as palmas voltadas para o seu rosto e verá que os dedos de uma mão não ficam em cima dos dedos respectivos da outra mão) e são a imagem especular uma da outra (se você colocar a mão direita na frente de um espelho, a imagem dela será exatamente igual à mão esquerda). Enantiômeros - Classificação Quando a luz polarizada atravessa um composto e ela passa a vibrar em um plano à direita daquele em que vibrava antes, isso significa que o composto é opticamente ativo, pois girou o plano de luz polarizada para a direita. Ele é chamado de dextrogiro. Por exemplo: ácido d-lático ou ácido (+) lático. Quando a luz polarizada atravessa um composto e ela passa a vibrar em um plano à esquerda daquele em que vibrava antes, isso significa que o composto é opticamente ativo, pois girou o plano de luz polarizada para a direita, no sentido anti-horário. Ele é chamado de levogiro. Por exemplo: ácido l-lático ou ácido (-) lático. Pode ocorrer ainda a denominação “R” (Right) e “L” (Left) Exemplo Desvio da luz polarizada Importância dos Isômeros Sedativo/Hipnótico Mutagênico Resumão Slide 1 Introdução Polaridade de moléculas Compostos iônicos Compostos covalentes Qualquer um desses tipos de ligações será apolar se for entre á Slide 7 Todos esses elementos mencionados (F, O, N, S, Cl, Br, Forças eletrostáticas Interação com o receptor Reconhecimento do Flurbiprofeno pela COX-I Forças intermoleculares Ligação covalente Slide 14 Pontos de fusão e ebulição Forças pontes de hidrogênio Exemplo Slide 18 Interações na molécula de água (H2O) Slide 20 Força dipolo-dipolo Exemplos Força dipolo induzido Força de dispersão de London (Van der Waals) Exemplos (2) Fatores que influenciam nas forças de London Slide 27 Resumo Forças intermoleculares Com relação à força de atração Fatores estereoquímicos e conformacionais Estereoquímica Importância Slide 33 Slide 34 Isomeria Isomeria Geométrica (Cis – Trans) Isomeria geométrica - nomenclatura Exemplos (3) Isomeria óptica - Enantiômeros (Levógero-Destrógero) Enantiômeros - Classificação Exemplo (2) Desvio da luz polarizada Importância dos Isômeros Resumão