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CRIMINALÍSTICA 
PARA CONCURSOS
2023
Pedro Henrique Canezin
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CAPÍTULO II
PERÍCIAS E PERITOS
PERÍCIAS
O conceito doutrinário de perícia, notadamente de Victor 
Stumvoll (2019), envolve a “análise detalhada de determinado ele-
mento supostamente relacionado com o crime por pessoa técnica 
habilitada a compreender o sentido do elemento material, criando-
-se assim vínculo com o crime”. Desta forma, a perícia técnica deve 
sempre ser realizada por pessoa com notório conhecimento acer-
ca da natureza do objeto a ser periciado. Após um incêndio, uma 
parte da parede simplesmente “descolou” enquanto as demais per-
maneceram intactas. Mas por que isso aconteceu? Conhecimentos 
acerca de engenharia (com ênfase em química e física de materiais) 
poderão ser úteis para explicar tal fenômeno. Sendo assim, a perícia 
nada mais é, legalmente falando, que o exame de corpo de delito.
� Considerações iniciais
O exame de corpo de delito e perícias em geral são meios de 
prova em que o juiz vai se valer de especialistas em determinada 
área do conhecimento humano para avaliar o caso. Esses especia-
listas podem ser os peritos oficiais, devidamente concursados e 
com diploma de graduação, ou até mesmo de peritos nomeados, 
ditos “ad hoc” ou juramentados, os quais deverão realizar o encar-
go sob pena de multa. 
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CRIMINALÍSTICA PARA CONCURSOS Pedro Henrique Canezin
 � Corpo de delito
Corpo de delito é todo vestígio que tem relação direta ou in-
direta com o crime. Alguns autores conceituam corpo de delito 
como o conjunto de elementos materiais e sensíveis do fato de-
lituoso. O corpo de delito pode ser direto (quando emerge dire-
tamente uma relação com o crime) ou indireto (quando se utiliza 
outros meios de provas, como o testemunho ou uma gravação). 
Após a formalização dos vestígios em sede de processo, consta-
tando-se relação com o crime, há que se falar em prova técnica 
ou prova material. 
Já o exame de corpo de delito é a própria perícia. Quando 
não for possível a sua realização, a prova testemunhal poderá 
suprir a falta (Art. 167, CPP). O EXAME pode ser direto, quan-
do realizado nos próprios vestígios do crime, ou indireto, por 
meio de registros. Assim, são modalidades de exame corpo de 
delito: 
 DIRETO: É o exame realizado, em regra, por peritos, diretamen-
te sobre o corpo de delito;
 INDIRETO: não é realizado diretamente sobre os vestígios do 
crime, mas por intermédio de testemunhas, prontuários, foto-
grafias etc. 
Art. 167. Não sendo possível o exame de corpo de deli-
to, por haverem desaparecido os vestígios, a prova tes-
temunhal poderá suprir-lhe a falta.
Assim, sempre que a infração deixar vestígios, a realização do 
corpo de delito será obrigatória, sob pena de nulidade (Art. 564, 
III, b do CPP). A Lei 13.721/18 ainda inseriu no CPP algumas priori-
dades em relação à realização do exame de corpo de delito, em se 
tratando de violência doméstica contra mulher, criança, adoles-
cente, idoso ou deficiente. 
Art. 158. Quando a infração deixar vestígios, será indis-
pensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto, 
não podendo supri-lo a confissão do acusado.
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CAPíTULO II • PERíCIAS E PERITOS
Parágrafo único. Dar-se-á prioridade à realização do 
exame de corpo de delito quando se tratar de crime 
que envolva:
I – violência doméstica e familiar contra mulher; 
II – violência contra criança, adolescente, idoso ou pes-
soa com deficiência. 
A requisição da perícia poderá partir de toda autoridade que 
tenha atribuição investigativa, a exemplo, o delegado de polícia 
(por atribuição legal), membro do MP ou autoridade judiciária. O 
mesmo vale para o oficial militar. No entanto, cabe ressaltar que 
a designação do profissional que irá realizar a perícia é feita pelo 
diretor do instituto de criminalística, ou do respectivo órgão pe-
ricial. 
Art. 178. No caso do art. 159, o exame será requisitado 
pela autoridade ao diretor da repartição, juntando-se 
ao processo o laudo assinado pelos peritos.
 � Momento da perícia
Desde que mundo é mundo, crimes acontecem. Assim, não 
há hora para o exercício criminal. Por isso, a perícia poderá ser rea-
lizada a qualquer hora ou dia, independentemente se feriado ou 
finais de semana. 
Art. 161. O exame de corpo de delito poderá ser feito 
em qualquer dia e a qualquer hora. 
CADEIA DE CUSTÓDIA
 � Conceitos doutrinários
A cadeia de custódia é um passo marcante na nova legis-
lação, e que contribui com a manutenção e documentação da 
cronologia da evidência, para rastrear a posse e o manuseio da 
amostra a partir do preparo do recipiente coletor, da coleta em si, 
do transporte, do recebimento, da análise e do armazenamento. 
Inclui, portanto, toda a sequência de posse, desde a coleta até a 
análise.
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CRIMINALÍSTICA PARA CONCURSOS Pedro Henrique Canezin
A doutrina também descreve a cadeia de custódia como o 
processo pelo qual os vestígios estão sempre sob o cuidado de 
um indivíduo conhecido e acompanhado de um documento assi-
nado pelo seu responsável, naquele momento.
Na área forense, todos os itens de ensaio são analisados e o 
seu resultado é apresentado na forma de laudo para ser utiliza-
do na persecução penal. As amostras devem ser manuseadas de 
forma cuidadosa, para evitar futuras alegações de adulteração ou 
má conduta que possam comprometer as decisões relacionadas 
ao caso em questão. 
O detalhamento dos procedimentos deve ser minucioso, 
para tornar o procedimento robusto e confiável, deixando o lau-
do técnico produzido, com teor irrefutável. A sequência dos fatos 
é essencial: quem manuseou, como manuseou, onde o vestígio 
foi obtido, como armazenou-se e por que manuseou. O fato de 
assegurar a memória de todas as fases do processo constitui um 
protocolo legal que possibilita garantir a idoneidade do caminho 
que a amostra percorreu. 
 � Conceito legal
Finalmente o projeto anticrime, no ano de 2019, foi incorpo-
rado no CPP, por meio da Lei 13.964. Tal projeto regulamentou a 
cadeia de custódia no Brasil a nível de lei, fato tão importante para 
a prova técnica produzida. Vejamos a análise detalhada.
Assim, considera-se cadeia de custódia toda a tramitação 
desde a preservação do local do crime até o descarte do vestígio, 
sempre se criando um verdadeiro mapeamento de todo o cami-
nho do vestígio pelos peritos. Note o conceito legal:
Art. 158-A. Considera-se cadeia de custódia o conjunto 
de TODOS OS PROCEDIMENTOS utilizados para man-
ter e documentar a história cronológica do vestígio co-
letado em locais ou em vítimas de crimes, para rastrear 
sua posse e manuseio a partir de seu reconhecimento 
até o descarte.
Após o conceito, o CPP deixa claro que o início de toda a ca-
deia de custódia se dará com a preservação do local, apesar de que 
o art. 158-B determina que a primeira etapa é o reconhecimento 
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CAPíTULO II • PERíCIAS E PERITOS
do vestígio. Por óbvio, para se isolar o local, é preciso detectar os 
elementos materiais que enquadram o fato como um suposto cri-
me. Para isso, a lei fez valer a atuação do primeiro agente público 
que tiver contato com o local, sendo este o responsável pela pre-
servação, até a chegada dos peritos criminais.
Art. 158-A. (...)
§ 1º O início da cadeia de custódia dá-se com a PRESER-
VAÇÃO DO LOCAL DE CRIME ou com procedimentos 
policiais ou periciais nos quais seja detectada a existên-
cia de vestígio.
§ 2º O agente público que reconhecer um elemento 
como de potencial interesse para a produção da prova 
pericial fica responsável por sua preservação.
Por fim, em 2019 o legislador fez bem em finalmente con-
ceituar e diferenciar o que vem a ser vestígio. À luz do parágrafo 
3º do art. 158-A, vestígio consiste em elementos materiais brutos, 
é dizer, sem qualquer tratamento dado por profissional da perí-
cia. Este elemento pode ser visível ou não (latente), recolhido por 
pessoas ou autoridades públicas no local, ou até mesmo consta-
tado pelos peritos. Para arrematar, o CPP afirma que vestígio está 
relacionado necessariamente à infraçãopenal. Com o devido res-
peito ao legislador, nem todo vestígio que se encontra em local 
de crime tem de fato relação com o crime, como acontece com os 
vestígios ilusórios, os quais somente serão descartados da análise 
criminal após serem processados e elucidados como não tendo 
relação com o crime.
§ 3º VESTÍGIO é todo objeto ou material bruto, visível 
ou latente, constatado ou recolhido, QUE SE RELACIO-
NA À INFRAÇÃO PENAL.
 � Etapas da cadeia de custódia
Neste ponto, finalmente o legislador deu voz à doutrina de 
Criminalística. Desta forma, à luz do exposto pelo Pacote Anticri-
me e na Portaria 82 de 2014 da Secretaria Nacional de Segurança 
Pública (SENASP), sugere-se que as etapas listadas no art. 158-B 
do CPP sejam divididas nos seguintes termos:
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CRIMINALÍSTICA PARA CONCURSOS Pedro Henrique Canezin
 FASE EXTERNA: é aquela desde o reconhecimento do vestígio 
em local de crime até o recebimento pelo Instituto de Crimina-
lística ou Instituto Médico-Legal;
 FASE INTERNA: trata-se da fase desde o processamento do ves-
tígio em secretaria do IC/IML até que haja o descarte do vestígio.
Na expectativa de ajustar as etapas da cadeia de custódia, o 
legislador positivou o expresso:
Art. 158-B. A cadeia de custódia compreende o rastrea-
mento do vestígio nas seguintes etapas:
I – RECONHECIMENTO: ato de distinguir um elemento 
como de potencial interesse para a produção da prova 
pericial;
II – ISOLAMENTO: ato de evitar que se altere o esta-
do das coisas, devendo isolar e preservar o ambiente 
imediato, mediato e relacionado aos vestígios e local de 
crime;
III – FIXAÇÃO: descrição detalhada do vestígio confor-
me se encontra no local de crime ou no corpo de delito, 
e a sua posição na área de exames, podendo ser ilus-
trada por fotografias, filmagens ou croqui, sendo indis-
pensável a sua descrição no laudo pericial produzido 
pelo perito responsável pelo atendimento;
IV – COLETA: ato de recolher o vestígio que será sub-
metido à análise pericial, respeitando suas característi-
cas e natureza;
V – ACONDICIONAMENTO: procedimento por meio do 
qual cada vestígio coletado é embalado de forma indi-
vidualizada, de acordo com suas características físicas, 
químicas e biológicas, para posterior análise, com ano-
tação da data, hora e nome de quem realizou a coleta e 
o acondicionamento;
VI – TRANSPORTE: ato de transferir o vestígio de um 
local para o outro, utilizando as condições adequadas 
(embalagens, veículos, temperatura, entre outras), de 
modo a garantir a manutenção de suas características 
originais, bem como o controle de sua posse;
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CAPíTULO II • PERíCIAS E PERITOS
VII – RECEBIMENTO: ato formal de transferência da 
posse do vestígio, que deve ser documentado com, no 
mínimo, informações referentes ao número de proce-
dimento e unidade de polícia judiciária relacionada, 
local de origem, nome de quem transportou o vestígio, 
código de rastreamento, natureza do exame, tipo do 
vestígio, protocolo, assinatura e identificação de quem 
o recebeu;
VIII – PROCESSAMENTO: exame pericial em si, mani-
pulação do vestígio de acordo com a metodologia ade-
quada às suas características biológicas, físicas e quími-
cas, a fim de se obter o resultado desejado, que deverá 
ser formalizado em laudo produzido por perito;
IX – ARMAZENAMENTO: procedimento referente à 
guarda, em condições adequadas, do material a ser 
processado, guardado para realização de contraperícia, 
descartado ou transportado, com vinculação ao núme-
ro do laudo correspondente;
X – DESCARTE: procedimento referente à liberação do 
vestígio, respeitando a legislação vigente e, quando 
pertinente, mediante autorização judicial.
A coleta de vestígios, a partir do marco da Lei 13.964/19, 
deverá ser feita PREFERENCIALMENTE por Perito Oficial, sendo 
proibida a entrada em locais de crime isolados, ou ainda a remo-
ção dolosa de vestígios, penalizando o sujeito aos ditames do art. 
347 do CP (fraude Processual). Com todo respeito aos legisladores 
e doutrinadores acerca do assunto, alguns estados trabalham com 
auxiliares técnicos, que acompanham muitas vezes os peritos aos 
locais de crime, atuando ativamente na coleta de vestígios. Por-
tanto, seria interessante que a legislação previsse também que a 
coleta fosse realizada preferencialmente pelos auxiliares técnicos, 
sob coordenação do perito oficial, já que na prática, em muitos 
locais, os próprios policiais militares, civis ou federais acabam re-
colhendo os vestígios de forma inapropriada. 
Art. 158-C. A coleta dos vestígios deverá ser realiza-
da PREFERENCIALMENTE por PERITO OFICIAL, que 
dará o encaminhamento necessário para a central de 
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CRIMINALÍSTICA PARA CONCURSOS Pedro Henrique Canezin
custódia, MESMO quando for necessária a realização 
de exames complementares.
§ 1º Todos os vestígios coletados no decurso do inquéri-
to ou processo devem ser tratados como descrito nesta 
Lei, ficando o órgão central de perícia oficial de natu-
reza criminal responsável por detalhar a forma do seu 
cumprimento.
§ 2º É PROIBIDA A ENTRADA em locais isolados bem 
como a remoção de quaisquer vestígios de locais de cri-
me antes da liberação por parte do perito responsável, 
SENDO TIPIFICADA COMO FRAUDE PROCESSUAL A 
SUA REALIZAÇÃO.
Mais uma novidade trazida pelo projeto anticrime foi o acon-
dicionamento de amostras de vestígios, os quais deverão ser cole-
tados de acordo com cada natureza. Infelizmente, tal dispositivo 
se mostra ineficaz, isso porque não existe uma correlação entre 
vestígios e acondicionamento a nível de Brasil, o que não aperfei-
çoa em nada o sistema nacional de coleta de vestígios. 
Vejamos o que diz o CPP acerca da coleta e acondiciona-
mento:
Art. 158-D. O recipiente para acondicionamento do ves-
tígio será determinado pela NATUREZA DO MATERIAL.
§ 1º Todos os recipientes deverão ser SELADOS COM 
LACRES, com numeração individualizada, de forma a 
garantir a inviolabilidade e a idoneidade do vestígio 
durante o transporte.
§ 2º O recipiente deverá INDIVIDUALIZAR O VESTÍGIO, 
preservar suas características, impedir contaminação e 
vazamento, ter grau de resistência adequado e espaço 
para registro de informações sobre seu conteúdo.
§ 3º O recipiente só poderá ser aberto PELO PERITO 
QUE VAI PROCEDER À ANÁLISE e, MOTIVADAMENTE, 
por PESSOA AUTORIZADA.
§ 4º Após cada rompimento de lacre, deve se fazer 
constar na ficha de acompanhamento de vestígio o 
nome e a matrícula do responsável, a data, o local, a fi-
nalidade, bem como as informações referentes ao novo 
lacre utilizado.
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CAPíTULO II • PERíCIAS E PERITOS
§ 5º O lacre rompido deverá ser acondicionado no inte-
rior do NOVO RECIPIENTE.
A nova legislação limitou o acesso aos vestígios, criando-se 
um verdadeiro controle operacional de quem manipula-os. Assim, 
a partir de 2019, todo Instituto de Criminalística tem a obrigação 
legal de manter documentos de acesso ao material investigado. 
Art. 158-E. Todos os Institutos de Criminalística deverão 
ter uma CENTRAL DE CUSTÓDIA destinada à guarda e 
controle dos vestígios, e sua gestão deve ser vinculada 
diretamente ao órgão central de perícia oficial de natu-
reza criminal.
§ 1º Toda central de custódia deve possuir os serviços 
de protocolo, com local para conferência, recepção, 
devolução de materiais e documentos, possibilitando 
a seleção, a classificação e a distribuição de materiais, 
devendo ser um espaço seguro e apresentar condições 
ambientais que não interfiram nas características do 
vestígio.
§ 2º Na central de custódia, a entrada e a saída de ves-
tígio deverão ser protocoladas, consignando-se infor-
mações sobre a ocorrência no inquérito que a eles se 
relacionam.
§ 3º Todas as pessoas que tiverem acesso ao vestígio 
armazenado deverão ser identificadas e deverão ser re-
gistradas a data e a hora do acesso.
§ 4º Por ocasião da tramitação do vestígio armazenado, 
todas as ações deverão ser registradas, consignando-se 
a identificação do responsável pela tramitação, a desti-
nação, a data e horárioda ação.
Por fim, a legislação agora prevê a questão relacionada ao 
armazenamento de vestígios durante a persecução criminal. Ve-
jamos:
Art. 158-F. Após a realização da perícia, o material deve-
rá ser DEVOLVIDO À CENTRAL DE CUSTÓDIA, deven-
do NELA PERMANECER.
Parágrafo único. Caso a central de custódia não pos-
sua espaço ou condições de armazenar determinado 
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CRIMINALÍSTICA PARA CONCURSOS Pedro Henrique Canezin
material, deverá a autoridade policial ou judiciária de-
terminar as condições de depósito do referido material 
em local diverso, mediante requerimento do diretor do 
órgão central de perícia oficial de natureza criminal.
 � Rastreabilidade
Por meio da rastreabilidade da cadeia de custódia é mostrada 
a transparência de todo processo de produção da prova pericial. 
A perícia tem que chegar aos tribunais de forma cristalina e clara 
e sem qualquer dúvida quanto a sua autenticidade e idoneidade, 
bem como com a possibilidade de responder a qualquer questio-
namento por meio do rastreamento de toda cadeia de custódia 
que o vestígio foi submetido.
 Ġ ATENÇÃO!
Resumindo o tópico de cadeia de custódia, quanto menos pessoas 
manipularem a amostra melhor, ou seja, a cadeia de custódia ideal 
abrange apenas duas pessoas: uma que realiza a fase externa, outra 
de laboratório; todas as pessoas que entraram em contato devem 
assinar termo próprio para rastreamento. O modo e a forma de tra-
tamento e manipulação da amostra deve também ser registrado.
 � Quebra da cadeia de custódia
Segundo o art. 157 do CPP, são inadmissíveis, devendo ser 
DESENTRANHADAS DO PROCESSO, as provas ilícitas, assim en-
tendidas as obtidas em violação a normas constitucionais ou le-
gais. A consequência é o desentranhamento e a inutilização (por 
meio de destruição) mediante decisão judicial motivada. 
Art. 157 do CPP: São inadmissíveis, devendo ser desen-
tranhadas do processo, as provas ilícitas, assim enten-
didas as obtidas em violação a normas constitucionais 
ou legais. 
(...)
§ 3º Preclusa a decisão de desentranhamento da prova 
declarada inadmissível, esta será inutilizada por deci-
são judicial, FACULTADO às partes acompanhar o in-
cidente.
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CAPíTULO II • PERíCIAS E PERITOS
A quebra da cadeia de custódia deve ser vista como a inob-
servância do próprio conteúdo da matéria em reflexão e, a partir 
disso, os seus efeitos (inadmissibilidade da prova ilícita e proi-
bição de sua valoração) se caracterizam não como sanção pro-
cessual, mas como garantia fundamental. Sendo assim, nossos 
tribunais têm se posicionado no sentido de que a quebra da ca-
deia de custódia gera nulidade da análise do vestígio quando 
houver o descumprimento grave de qualquer uma das etapas 
listadas no art. 158-B do CPP. O STJ já se manifestou nesse sen-
tido1.
PERITOS
Perito é a pessoa com notório conhecimento técnico apto a 
esclarecer a relação existente entre os vestígios e o crime. Vale 
lembrar que, para atuar como perito, este profissional deve ter 
ao menos nível superior completo, ao contrário do que muitos 
imaginam, ou seja, para alguns, acredita-se que o perito deve 
ter pós-graduação, o que não é uma obrigação legal, apesar da 
titulação ser um elemento importante para a credibilidade do 
laudo. 
Art. 159. O exame de corpo de delito e outras perícias 
serão realizados por perito oficial, portador de DIPLO-
MA DE CURSO SUPERIOR.
O legislador, em face da tamanha importância da perícia cri-
minalística, atribuiu ao perito autonomia técnica, científica e fun-
cional. Historicamente “se ouve falar” de situações constrangedo-
ras, muitas vezes caracterizadas como ingerências ou tumultos 
em que autoridades exigem do perito determinadas colocações 
no laudo. Ora, isso fere de morte a imparcialidade pericial, e por 
isso, em 2009, a lei 12.030 cuidou de prever a este profissional al-
gumas autonomias:
1. STJ, HC 653.515, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, 6ª Turma, j. 23.11.2021
89
CAPÍTULO II I
PROVA, EVIDÊNCIA, 
INDÍCIO E VESTÍGIO
PROVA
Antes de adentrar o conceito de vestígios e indícios, é im-
portante contextualizar a elaboração da prova técnica pericial. 
O perito criminal, ao atuar frente à investigação criminal, funciona 
como um filtro que, a partir do método científico, detecta o nexo 
entre os vestígios e os sinais do crime, contextualizando-os com 
elementos de interesse da justiça. Portanto, os vestígios são ver-
dadeiros meios de prova, capazes de convencer o juiz de um fato 
criminoso quando devidamente analisados e legitimados, nos 
termos da lei.
É bem verdade que algumas doutrinas, notadamente Jesus 
Antônio Velho, cita ainda a questão de evidências. Para alguns, 
evidência significa aquilo que é claro, objetivo ou cristalino. Com 
todo respeito à doutrina penal, processual penal e de criminalísti-
ca brasileira, não se mostra razoável a adoção dessa nomenclatu-
ra no Brasil. É fato que a criminalística brasileira foi intensamente 
influenciada pela doutrina europeia e norte americana, sendo 
que não se costuma utilizar essa nomenclatura na prática. A pa-
lavra “evidence” é muito comum na doutrina norte americana, 
90
CRIMINALÍSTICA PARA CONCURSOS Pedro Henrique Canezin
havendo todo um significado nos E.U.A, o qual não é pertinente 
ao Brasil. Não obstante, para a doutrina de criminalística, evidên-
cia significa qualquer material, objeto ou informação que esteja 
claramente relacionado com a ocorrência do delito no campo da 
materialidade.
Como positivado pela ampla doutrina processual penal, 
PROVA é um conjunto de meios idôneos que visam afirmar 
a existência ou não de um fato, destinado a contribuir com a 
convicção do juiz. A doutrina processualista em geral traça um 
sentido genérico do que vem a ser prova, sendo “todo elemento 
trazido à presença do juiz na expectativa de convencê-lo ou não 
dos fatos”. 
Por outro lado, numa visão mais aguçada, Guilherme Nucci 
explica que de nada vale apresentar elementos de convicção ao 
juiz que não sejam capazes de culminar em convencimento. Se 
um objeto é levado ao juízo, mas não se prova que ele tem rela-
ção com o fato, naturalmente não poderá ser considerado uma 
prova, até porque não tem capacidade de contribuir com a razão 
do juiz. De todo modo, para explicar o sentido de prova, Nucci as-
severa haver três sentidos para a palavra prova, os quais deverão 
ser perpetrados ao longo do processo, e que devem resultar no 
convencimento do juiz. São eles:
a) ATO DE PROVAR: é o processo pelo qual se verifica a
exatidão ou a verdade do fato alegado pela parte no
processo (ex.: fase probatória);
b) MEIO: trata-se do instrumento ou pessoa pelo qual se
demonstra a verdade de algo (ex.: prova testemunhal);
c) RESULTADO DA AÇÃO DE PROVAR: é o produto extraí-
do da análise dos instrumentos de prova oferecidos, de-
monstrando a verdade sobre um fato. Esse é o momento 
em que o elemento cria a convicção do juiz, e o convence. 
No processo penal, a prova deve ser revestida de LEGITIMI-
DADE (cumprimento das formalidades processuais) e LEGALIDA-
DE (produzida dentro da lei). São critérios norteadores da legiti-
midade da prova:
91
CAPíTULO III • PROVA, EVIDêNCIA, INDíCIO E VESTígIO
• JUDICIALIDADE: a prova deve ser produzida perante o
juiz;
• OBSERVÂNCIA AO CONTRADITÓRIO E À AMPLA DEFE-
SA: a prova deve ser submetida às partes para a oportuni-
zação do contraditório e ampla defesa, além de ser produ-
zida no momento adequado do processo; 
• LICITUDE: Por outro lado, diz respeito à legalidade da pro-
va a sua produção de acordo com o ordenamento jurídico
brasileiro, sem coação física ou moral, e sem o emprego de
meios fraudulentos. 
Diante dos requisitos acima expostos, é claro notar a diferen-
ça entre prova e vestígios ou evidências. Tanto um quanto outro 
não podem ser considerados prova, visto que não preenchem os 
requisitos fundamentais legais e constitucionais, já que sequer 
chegaram ao processo. Enquanto periciados, esses elementos se 
encontram na posse dos peritos, o qual prepara o vestígio, tor-
nando-o evidência(se houver relação com os fatos), para que 
posteriormente seja submetido ao juiz. 
INDÍCIOS
Primeiramente, a doutrina processualista aponta uma distin-
ção importante: não se pode confundir presunção com indícios. 
PRESUNÇÃO é todo juízo de opinião emanado por pessoa me-
dianamente informada dos fatos sociais. Um exemplo seria a pre-
sunção de que uma mulher casada grávida está nessa condição 
por ato do marido. Por isso, não se confunde com indícios.
INDÍCIOS, de praxe, está conceituado no artigo 239 do CPP, 
sendo toda circunstância CONHECIDA E PROVADA, que permita, 
por indução, presumir a existências de outros fatos relacionados 
ao crime. Há que se falar na classificação dos indícios lastreado na 
relação com o crime, sendo ela:
• Indícios próximos: diretamente relacionados com o crime 
(Ex.: instrumentos do crime);
• Indícios manifestos: são os que resultam da própria natu-
reza do crime (Ex.: solicitação de propina);
92
CRIMINALÍSTICA PARA CONCURSOS Pedro Henrique Canezin
• Indícios distantes ou remotos: são aqueles que possuem 
uma relação aceitável com o crime (Ex.: antecedentes, más 
companhias);
Outra classificação apontada pela doutrina envolve duas 
categorias: indícios propositais, que consistem em indícios au-
tênticos ou falsos; e indícios acidentais, os quais se produzem 
independentemente da vontade do agente (Ex.: manchas de 
sangue).
Portanto, conclui-se que indícios e presunções não se con-
fundem. Indícios, como o art. 239 deixa claro, são circunstâncias 
CONHECIDAS E PROVADAS das quais é possível concluir outras 
circunstâncias, ou seja, presumir, com segurança, algo não conhe-
cido e não provado. Trata-se de uma prova indireta. Ex.: impressão 
digital em um carro (prova que a pessoa esteve lá, não que ele 
cometeu o homicídio). Segundo a doutrina processualista, os in-
dícios podem ser: 
• POSITIVO: indica a presença de um fato ou elemento que 
se quer provar;
• NEGATIVO (CONTRAINDÍCIO): determina uma impossibi-
lidade lógica do fato alegado. É o caso do álibi.
Superado o tema de indícios, é o momento de finalmente 
adentrarmos o tema de vestígios, diferenciando-o de provas e in-
dícios. 
VESTÍGIOS
Em termos periciais, o conceito de vestígio decorre da carac-
terística abrangente do vocábulo que lhe deu origem, podendo 
ser definido como todo e qualquer sinal, marca, objeto, situação 
fática ou ente concreto sensível, potencialmente relacionado a 
uma pessoa ou a um evento de relevância penal, e/ou presente 
em um local de crime, seja este mediato ou imediato, interno ou 
externo, direta ou indiretamente relacionado ao fato delituoso. 
O Código de Processo Penal, após o advento da lei 13.964/19, 
conceituou vestígio como “todo objeto ou material bruto, visível 
93
CAPíTULO III • PROVA, EVIDêNCIA, INDíCIO E VESTígIO
ou latente, constatado ou recolhido, que se relaciona à infração 
penal”. Perceba que há uma divergência doutrinária e o conceito 
legal de vestígio. Para a lei, vestígio está necessariamente relacio-
nado com o crime, enquanto para a doutrina não. Por isso, a título 
de provas, o posicionamento mais importante é o da lei, no art. 
158-A, parágrafo 3º do CPP. 
Assim, a doutrina costuma classificar os vestígios de acordo 
com vários critérios, sendo o primeiro deles de acordo com a re-
lação com o crime: 
1) Vestígio verdadeiro: o vestígio verdadeiro é uma de-
puração total dos elementos encontrados no local do 
crime. Somente são verdadeiros aqueles produzidos di-
retamente pelos autores da infração e, ainda, que sejam 
produtos diretos das ações do cometimento do delito 
em si;
2) Vestígio ilusório: o vestígio ilusório é todo elemento 
encontrado no local do crime que não esteja relaciona-
do às ações dos atores da infração e desde que a sua pro-
dução não tenha ocorrido de maneira intencional;
3) Vestígio forjado: por vestígio forjado entende‐se todo 
elemento encontrado no local do crime, cujo autor teve 
a intenção de produzi‐lo, com o objetivo de modificar o 
conjunto dos elementos originais produzidos pelos au-
tores da infração. 
Ainda existe uma classificação interessante abordada pela 
doutrina que diz respeito à detecção do vestígio:
1) Vestígios perceptíveis: são vestígios que podem ser 
captados diretamente pelos sentidos humanos, sem a 
utilização de qualquer artifício de detecção;
2) Vestígios latentes: são aqueles vestígios que não são 
facilmente detectados pelos sentidos humanos, tornan-
do-se necessária a utilização de agentes de detecção, 
como o luminol e pós impregnadores. 
94
CRIMINALÍSTICA PARA CONCURSOS Pedro Henrique Canezin
 Ġ ATENÇÃO!
Doutrinas pontuais citam a existência dos vestígios ABSOLUTOS, 
sendo aqueles perceptíveis e que atestam uma relação direta com 
o fato.
Por fim, mais uma classificação que diz respeito aos vestígios
leva em conta a integridade, sendo ela:
1) Vestígios fugazes: são aqueles incapazes de durar mui-
to tempo íntegros, por isso exigem coleta rápida e ade-
quada (Ex.: frenagens, manchas de sangue);
2) Vestígios persistentes: permanecem indeléveis ao lon-
go do tempo, permitindo sua análise a posteriori (Ex..:
manchas de sangue em tecidos, pelos, fibras);
3) Vestígios perenes: são aqueles que não desaparecem
com o tempo, mas somente por evento incomum de
grande intensidade (Ex.: colisão contra objetos).
 Ġ ATENÇÃO!
Vestígios de impressão são vestígios em que a impressão reproduz 
a forma do autor (instrumento que a produziu).
Há ainda a classificação em vestígios materiais e imateriais. 
De um lado, os vestígios psíquicos ou imateriais, consubstancia-
dos em determinados tipos de comportamentos associados à 
prática de ilícitos criminais, adentra o campo dos perfis criminais, 
os quais representam um sistema no qual os comportamentos e/
ou ações manifestadas em um crime são avaliados e interpreta-
dos, a fim de compor as previsões relativas às características do 
provável autor do crime. As características previstas são muitas 
vezes referidas como um perfil criminal, cuja finalidade é ajudar 
os investigadores na identificação e, portanto, a detenção de cri-
minosos. 
Do outro lado, um conjunto de alterações materiais (sinais, 
traços, manchas) relacionadas com um acontecimento criminal e 
que podem contribuir para o seu esclarecimento, está relacionado 
com a área da atuação da criminalística. Essas alterações, deixadas 
pelo autor no local do crime, permitem ao pessoal especializado, 
95
CAPíTULO III • PROVA, EVIDêNCIA, INDíCIO E VESTígIO
por meio de fontes técnicas e metodologia científica específica, a 
identificação dos autores e das circunstâncias envolvidas.
As alterações materiais (vestígios materiais) desdobram-se 
em diversos tipos de vestígios, que, a depender da doutrina se-
guida, pode variar. Assim, alguns autores, dentre eles, José Brás e 
Jesus Antônio Velho, propõem a seguinte classificação:
Vestígios
Materiais
Químicos
Físicos
Orgânicos ou Biológicos
Inorgânicos ou Não 
Biológicos
Morfológicos
Entomológicos
Imateriais
1. Vestígios orgânicos ou biológicos (sangue, saliva, pelos, ca-
belos, sêmen etc.);
2. Vestígios inorgânicos ou não biológicos (poeiras, solos, tin-
tas, explosivos, drogas);
3. Vestígios morfológicos (vestígios lofoscópicos, pegadas,
rastos, marcas de objetos);
4. Vestígios entomológicos (análise de larvas, insetos adultos, 
putrefação, etc.);
5. Vestígios imateriais não são objeto de análise da crimi-
nalística, mas é enquadrado como área de estudo da psi-
cologia criminal e psiquiatria forense. Aqui o exemplo é o
próprio local de crime, que pode apontar características do 
perfil do criminoso.
� Resumindo
VESTÍGIO INDÍCIO EVIDÊNCIA
Todo objeto ou material 
bruto constatado e/ou 
recolhido em local de 
crime ou presente em 
uma situação a ser peri-
ciada e que será analisa-
do posteriormente.
Circunstância conhe-
cida e provada, que, 
tendo relação com o 
fato, autorize, por in-
dução, concluir-se a 
existência de outra ou 
outras circunstâncias.
É o vestígio que, após 
as devidas análises, 
tem constatada,técni-
ca e cientificamente, 
sua relação com o fato 
periciado.

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