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1www.neafconcursos.com.br DIREITO PENAL Direito Penal Este material foi elaborado com um objetivo claro: auxiliar na preparação para o concurso de Escrevente do TJ-SP, organizado pela Vunesp. Não é nosso intuito aprofundamentos em doutrina e jurisprudência des- necessários ao fim a que se destina. Bom ressaltar que nas demais disciplinas deste con- curso, a banca geralmente não exige aprofundamen- tos doutrinários mais intensos. No entanto, em Direito Penal, especialmente nas duas últimas provas de 2024, percebe-se que a Vunesp adotou uma abordagem mais exigente. Isso não significa que, em outras matérias, a banca seja simples. Pelo contrário, em CPC, por exemplo, vem cobrando questões com situações hipotéticas complexas, embora sem um enfoque doutrinário tão aprofundado. Com base em nossa experiência de mais de 25 anos na preparação para esse concurso, identificamos a neces- sidade de um material de Direito Penal que combine texto legal e notas doutrinárias. Para otimizar o apren- dizado, utilizaremos quadros de memorização sempre que necessário. Este material também trará, de forma preliminar, um resumo estruturado de Direito Penal, semelhante a um guia prático, destacando conceitos essenciais para a análise dos crimes. Sabemos que cada estudante adota uma metodolo- gia de estudo distinta – alguns preferem videoaulas, outros optam por materiais escritos, e muitos combi- nam ambos os recursos. Independentemente do mé- todo escolhido, esperamos que este material seja um suporte valioso em sua preparação e o guie rumo à aprovação. Que Deus nos guie nessa jornada! Bons estudos! PARTE GERAL TEMAS RELEVANTES PARA A PROVA Crime Considera-se crime a infração penal que a lei co- mina pena de reclusão ou de detenção, quer iso- ladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa. Atualmente, prevalece a teoria tripartida para conceituar materialmente crime, sendo esse um fato típico, ilícito e culpável. Contravenção Considera-se contravenção a infração penal a que a lei comina, isoladamente, pena de prisão simples ou de multa, ou ambas, alternativa ou cumulativamente. Tipicidade É a relação entre um fato e uma norma penal. As pessoas realizam condutas o tempo todo, das mais simples às mais complexas. Quando uma conduta está totalmente descrita em uma norma penal, tem-se uma CONDUTA TÍPICA. Por outro lado, o fato será atípico se não encontrar previsão na norma penal. Ilicitude É a contrariedade do fato com o ordenamento ju- rídico por meio da exposição a perigo de dano ou da lesão a um bem jurídico penalmente tutelado. A lesão cometida pelo agente deve ser proibida pela Direito para ser considerada ilícita. Se hou- ver alguma norma jurídica que considere aquela conduta como lícita, não haverá crime, ainda que a conduta esteja prevista como crime em alguma norma penal. Culpabilidade É o juízo de reprovação/censura que recai sobre o autor do fato que é típico e antijurídico. Culpa- bilidade é o juízo de repúdio que incide sobre a formação e exteriorização da vontade do respon- sável por um fato típico e ilícito, com o propósito de aferir a necessidade de imposição de pena. Conduta (teoria finalista) É a ação ou omissão humana, consciente e vo- luntária, dirigida a uma finalidade. Por isso, tem-se como necessários os três elementos: exteriorização do pensamento, consciência e voluntariedade. A ação é uma conduta positiva (ou comissiva), que se manifesta por um movimento corpóreo como “fabricar”, “falsificar”, “apropriar-se” etc. Já a omissão é uma conduta negativa (ou omis- siva), que consiste na indevida abstenção de um movimento quando a lei obriga o indivíduo a agir, como na condescendência criminosa. Dolo e culpa Ao analisar a conduta penal típica, deve-se veri- ficar se ela ocorreu mediante dolo, dolo eventual ou culpa. Esse fator é relevante, pois, segundo o Código Penal, salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato previsto como crime, senão quando o pratica dolosamente. Ou seja, só existe crime culposo mediante previsão legal expressa, como é o caso do peculato culpo- so (CP, art. 312, § 2º). Nesse contexto, o crime é doloso quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo. Por sua vez, será culposo quando o agente deu causa ao resultado por imprudência (agiu de forma precipitada, sem cuidado ou cautela), ne- gligência (descuido ou desatenção, deixando de observar precaução normalmente adotada na situação) ou imperícia (agiu sem habilidade ou qualificação técnica). Iter criminis (consumação e tentativa) Iter Criminis é uma expressão em latim que pode ser traduzida para “itinerário do crime” ou “cami- nho do crime”, referindo-se às várias etapas que se sucedem cronologicamente no desenvolvi- mento do delito: Fase Interna (Cogitação): não é punível. Enquan- to a ideia delituosa não ultrapassar a esfera do pensamento do indivíduo, por pior que seja, não se poderá censurar criminalmente o ato, pois ainda está apenas na fase de cogitação. A exte- riorização da vontade por meio de uma ação ou omissão é necessária para a tipificação de uma conduta. Fase externa: composta por Preparação, Execu- ção e Consumação. xi xi xx x ix xx xx xx xx x ix xx ix xx xx x i x xx xx ix ii xx xx xx xx x xi xi xx x ix xx xx xx xx x ix xx ix xx xx x i x xx xx ix ii xx xx xx xx x xixixx xixxxxxxxxx xixxxixxxxxx i xxxxxix iixxxxxxxxx 2 www.neafconcursos.com.br DI RE IT O PE NA L Iter criminis (consumação e tentativa) • Preparação: a conduta que vai além da mera cogitação, mas ainda não se iniciou a realização do núcleo do tipo. Os atos considerados mera- mente preparatórios não são punidos criminal- mente, pois o Código Penal exige, pelo menos, o início da execução, salvo se houver previsão expressa da preparação como conduta típica. É o caso, por exemplo, do delito de petrechos de falsificação (CP, art. 294), em que se pune o agente que possui ou guarda o objeto destina- do à falsificação, independentemente de seu efetivo uso. • Execução: trata-se do ato idôneo e inequívoco tendente à consumação do crime. A execução se inicia quando a conduta do sujeito passa a colocar em risco o bem jurídico tutelado pelo delito ou quando o agente pratica alguma con- duta que se amolda ao verbo núcleo do tipo. • Consumação: ocorrerá quando se fazem pre- sentes todos os elementos da definição legal do delito, ou seja, quando há total subsunção da conduta do sujeito com a norma penal. A consumação se dá em momentos diferentes a depender da espécie de crime: a) crimes materiais ou de resultado: consu- mam-se com a ocorrência do resultado na- turalístico ou material previsto na norma, ou seja, com a modificação no mundo exterior provocada pela conduta; b) crimes de mera conduta: consumam-se com a ação ou omissão prevista e punida na norma penal incriminadora. Nesses de- litos, o tipo penal não faz alusão a nenhum resultado naturalístico. Dessa forma, basta a conduta, positiva ou negativa, para que haja consumação; c) crimes formais ou de consumação anteci- pada: apesar da alusão ao resultado natura- lístico no tipo penal, não exigem, para fins de consumação, que ele ocorra, de tal modo que, praticada a conduta prevista em lei, o delito estará consumado. O que é exaurimento do crime? O exaurimento se dá quando o agente, depois de consumar o delito e, portanto, encerrar o iter criminis, prati- ca nova conduta, intensificando a agressão ao bem jurídico penalmente tutelado. Diz-se crime exaurido (ou esgotado plenamente) os aconteci- mentos posteriores ao término do iter criminis. É o caso do funcionário público que, após atingir a consumação do delito de corrupção passiva me- diante a solicitação de vantagem indevida, vem a efetivamente recebê-la (CP, art. 317) Tentativa (conatus): ocorre quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente. O crime é perfeito na esferacompreendida como o con- junto de características próprias de deter- minada pessoa, capazes de identificá-la e individualizá-la em sociedade, tais como o nome, a filiação, a idade, o estado civil, o sexo e profissão. No conceito de identidade não ingressam o endereço, o telefone e a conta de e-mail de alguém (Cleber Masson). Conduta / Núcleo do Tipo “Atribuir”, no sentido de imputar a si próprio ou a terceiro falsa identidade. Sujeito ativo Trata-se de crime comum, que pode ser co- metido por qualquer pessoa. Sujeito passivo É o Estado e, de forma indireta (mediata), a pessoa física ou jurídica que tenha sido pre- judicada pela conduta criminosa. Elemento subjetivo Dolo, acrescido de um especial fim de agir (elemento subjetivo específico), representa- do pela expressão “para obter vantagem, em proveito próprio ou alheio, ou para causar dano a outrem”. Consumação / Tentativa Trata-se de crime formal, que se consuma com o ato de atribuir a si ou a terceiro uma identidade falsa, independentemente da obtenção de vantagem para si ou para ou- tra pessoa, ou da ocorrência de prejuízo a terceiros. A possibilidade de tentativa dependerá da natureza do crime, sendo viável nos casos em que a infração for plurissubsistente, mas inaplicável quando se tratar de crime unissubsistente. Ação Penal Pública incondicionada. Classificação doutrinária Crime simples, comum, formal, expressamen- te subsidiário, instantâneo e unissubjetivo. Destaques jurisprudenciais Súmula 522/STJ: A conduta de atribuir-se falsa identidade perante autoridade policial é típica, ainda que em situação de alegada autodefesa”. Subsidiariedade expressa (Art. 307, parágrafo único) Pena – detenção, de três meses a um ano, ou multa, se o fato não constitui elemento de crime mais grave. Crime subsidiário – aplicável apenas quando não há outro crime mais grave que possa ser imputado ao agente. Em outras palavras, é uma infração penal que funciona como uma espécie de “reserva”, sendo aplicada apenas se a conduta não for enquadrada em um crime mais severo previsto na legislação. Ge- ralmente, os crimes subsidiários são mencio- nados com expressões como “se o fato não constitui crime mais grave” na redação do tipo penal. Art. 308. USAR, como próprio, passaporte, título de eleitor, caderneta de reservista ou qualquer documento de identi- dade alheia OU CEDER a outrem, para que dele se utilize, documento dessa natureza, próprio ou de terceiro: PENA: DETENÇÃO de 4 MESES a 2 ANOS + MULTA, se o fato não constitui elemento de crime mais grave. Considerações iniciais O legislador não conferiu nomen juris ao cri- me definido no art. 308 do Código Penal. Na doutrina é chamado de “uso de documento de identidade alheia”. Objetividade jurídica É a fé pública. Objeto material É o passaporte, título de eleitor, caderneta de reservista ou qualquer outro documento de identidade alheia. Conduta / Núcleo do Tipo Usar (empregar, utilizar) documento de ou- trem como próprio, e ceder (emprestar, for- necer) a outrem seu documento para que se utilize como se fosse próprio. Sujeito ativo Trata-se de crime comum, que pode ser co- metido por qualquer pessoa. Sujeito passivo É o Estado e, de forma indireta (mediata), a pessoa física ou jurídica que tenha sido pre- judicada pela conduta criminosa. xi xi xx x ix xx xx xx xx x ix xx ix xx xx x i x xx xx ix ii xx xx xx xx x xixixx xixxxxxxxxx xixxxixxxxxx i xxxxxix iixxxxxxxxx xixixx xixxxxxxxxx xixxxixxxxxx i xxxxxix iixxxxxxxxx 15www.neafconcursos.com.br DIREITO PENAL Elemento subjetivo Na modalidade “usar, como próprio, docu- mento de identidade alheia”, é o dolo, in- dependentemente de qualquer finalidade específica. Por seu turno, na conduta de “ceder a outrem, para que dele se utilize, documento dessa natureza, próprio ou de terceiro”, exige-se, além do dolo, um especial fim de agir (elemento subjetivo específico), representado pela expressão “para que dele se utilize”. (Cleber Masson). Consumação / Tentativa Na primeira conduta – “usar, como próprio, documento de identidade alheia” –, a consu- mação se verifica quando o sujeito faz efeti- vo uso do documento alheio como se fosse próprio. Já na segunda conduta – “ceder a outrem, para que dele se utilize, documento dessa natureza, próprio ou de terceiro” – o delito se consuma no momento da tradi- ção do documento. Não se exige a efetiva utilização do documento pelo destinatário. Todavia, se este o utilizar, a ele será também imputado o crime em apreço, na modalida- de “usar como próprio documento alheio”. Ação Penal Pública incondicionada. Classificação doutrinária Crime simples, comum, formal, instantâneo, expressamente subsidiário e unissubjetivo. Subsidiariedade expressa Pena – detenção, de quatro meses a dois anos, e multa, se o fato não constitui elemen- to de crime mais grave. (...) CAPÍTULO V DAS FRAUDES EM CERTAMES DE INTERESSE PÚBLICO Fraudes em certames de interesse público Art. 311-A. UTILIZAR OU DIVULGAR, indevidamente, com o fim de beneficiar a si ou a outrem, ou de comprometer a credibilidade do certame, conteúdo sigiloso de: I – concurso público; II – avaliação ou exame públicos; III – processo seletivo para ingresso no ensino superior; ou IV – exame ou processo seletivo previstos em lei: PENA: RECLUSÃO de 1 a 4 ANOS + MULTA. § 1º Nas mesmas penas incorre quem PERMITE OU FACILI- TA, por qualquer meio, o acesso de pessoas não autorizadas às informações mencionadas no caput. § 2º Se da ação ou omissão resulta dano à administração pública: PENA: RECLUSÃO de 2 a 6 ANOS + MULTA. § 3º Aumenta-se a pena de 1/3 se o fato é cometido por funcionário público. Considerações iniciais O conteúdo sigiloso de um concurso ou se- leção envolve não apenas as perguntas e respostas das provas a serem aplicadas, po- dendo abranger toda e qualquer informação que não seja de conhecimento público e que, se divulgada, tenha potencial para be- neficiar alguém ou comprometer a credibili- dade do certame. Considerações iniciais Atualmente entende-se que a chamada “cola eletrônica” é crime tipificado no art. 311-A. Objetividade jurídica É a fé pública na lisura dos concursos, ava- liações ou exames públicos, processos sele- tivos para ingresso no exame superior e exa- mes ou processos seletivos previstos em lei. Objeto material São quatro os objetos materiais do crime: I — concurso público (meio de acesso a car- gos/empregos na Administração Pública); II — avaliação ou exame públicos (meio de seleção de pessoas pela Administração Pú- blica que não sejam cargo/emprego, como ingresso de escolas técnicas, escolas milita- res ou em residência médica); III — processo seletivo para ingresso no ensi- no superior (vestibular ou ENEM); IV — exame ou processo seletivo previstos em lei (exame da OAB, por exemplo). Conduta / Núcleo do Tipo 2 núcleos: utilizar (fazer uso, empregar) e di- vulgar (dar conhecimento, comunicar). Sujeito ativo Trata-se de crime comum. Tanto o responsá- vel pela prova (em qualquer etapa da formu- lação) quanto o candidato que obtém a in- formação maliciosamente respondem pelo crime. Sujeito passivo É o Estado e de forma mediata as pessoas fí- sicas ou jurídicas prejudicadas pela conduta criminosa. Elemento subjetivo O dolo, acrescido de especial fim de agir (ele- mento subjetivo específico), representado pelas expressões “com o fim de beneficiar a si ou a outrem” ou “com o fim de comprometer a credibilidade do certame”. Consumação / Tentativa Por parte de quem divulga, o crime se consu- ma no momento em que o conteúdo é trans- mitido, ainda que o destinatário não consi- ga dele fazer uso por ser a farsa descoberta antes da realização da prova. Por parte do destinatário, o crime se consuma no instante Consumação / Tentativa em que ele utiliza as informações recebidas, ainda que não seja aprovado no concurso ou que a prova seja cancelada ou anulada. A tentativaé admissível, pois se trata de um crime plurissubsistente, permitindo o fracio- namento do iter criminis. Ação Penal Pública incondicionada. Figura equiparada (Art. 311-A, § 1º) § 1º Nas mesmas penas incorre quem per- mite ou facilita, por qualquer meio, o acesso de pessoas não autorizadas às informações mencionadas no caput. Qualificadora (Art. 311-A, § 2º) Se da ação ou omissão resulta dano à admi- nistração pública: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa. * A qualificadora é aplicável somente quan- do houver “dano à Administração Pública”, não incidindo em crimes ocorridos em ves- tibulares de instituições privadas de ensino xi xi xx x ix xx xx xx xx x ix xx ix xx xx x i x xx xx ix ii xx xx xx xx x xixixx xixxxxxxxxx xixxxixxxxxx i xxxxxix iixxxxxxxxx xixixx xixxxxxxxxx xixxxixxxxxx i xxxxxix iixxxxxxxxx 16 www.neafconcursos.com.br DI RE IT O PE NA L Qualificadora (Art. 311-A, § 2º) superior. Nesses casos, o crime permanece configurado, porém sem a forma qualificada. Causa de aumento de pena (Art. 311-A, § 3º) Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se o fato é cometido por funcionário público. * Se uma questão de prova exigir a resposta nos termos do Código Penal, deve-se seguir a interpretação literal da lei, reconhecendo a majorante pelo simples fato de o agente ser funcionário público. No entanto, segundo a doutrina, essa compreensão não preva- lece, pois se entende que a mera condição de funcionário público não é suficiente para justificar o aumento da pena, sendo neces- sário que o crime tenha relação direta com a função exercida. Classificação doutrinária Crime simples, comum, formal, instantâneo e unissubjetivo. TÍTULO XI DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA CAPÍTULO I DOS CRIMES PRATICADOS POR FUNCIONÁRIO PÚBLICO CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL Peculato Art. 312. Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, OU desviá-lo, em proveito próprio ou alheio: PENA: RECLUSÃO de 2 a 12 ANOS + MULTA. § 1º Aplica-se a mesma pena, se o funcionário público, em- bora não tendo a posse do dinheiro, valor ou bem, O SUB- TRAI, OU CONCORRE PARA QUE SEJA SUBTRAÍDO, em proveito próprio ou alheio, valendo-se de facilidade que lhe proporciona a qualidade de funcionário. Peculato culposo § 2º Se o funcionário CONCORRE culposamente para o cri- me de outrem: PENA: DETENÇÃO de 3 MESES a 1 ANO. § 3º No caso do parágrafo anterior, a reparação do dano, se precede à sentença irrecorrível, extingue a punibilidade; se lhe é posterior, reduz de metade a pena imposta. § 3º SE HÁ REPARAÇÃO DO DANO: ANTES da sentença irrecorrível APÓS a sentença irrecorrível EXTINGUE-SE A PUNIBILIDADE REDUZ DE 1/2 A PENA IMPOSTA Considerações iniciais Pode-se falar em várias espécies de peculato descritos no artigo 312 do CP. Vejamos: • Peculato apropriação (caput, 1.ª parte) – Peculato próprio. • Peculato desvio (caput, parte final) – Pecu- lato próprio. Considerações iniciais • Peculato furto (§ 1.º) – Peculato impróprio. • Peculato culposo (§ 2.º). O art. 313 do Código Penal prevê o pecu- lato mediante erro de outrem (peculato estelionato). O art. 313-A do Código Penal trata do crime de inserção de dados falsos em sistemas de informações (peculato eletrônico). Já o arti- go 313-B – Modificação ou alteração não au- torizada de sistema de informações é o que a doutrina apelidou de peculato hacker. Objetividade jurídica Administração Pública. Objeto material É o dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular. Conduta / Núcleo do Tipo No peculato apropriação o núcleo do tipo é “apropriar-se”, O sujeito comporta-se como se fosse dono do objeto material. Já no pe- culato desvio o núcleo do tipo é “desviar”. No peculato furto (ou impróprio) os núcleos são “subtrair” e “concorrer” para subtração. Sujeito ativo Trata-se de crime próprio. Somente o funcio- nário público (CP, art. 327, caput) e as pesso- as a ele equiparadas legalmente (CP, art. 327, §§ 1º e 2º) podem praticar o delito. Poderia o particular responder também por peculato em concurso de pessoas, tendo em vista a comunicabilidade da elementar do crime (CP, art. 30). O particular precisa saber que seu comparsa é funcionário público (liame subjetivo). Sujeito passivo O Estado. O particular, de forma secundária, poderá ser sujeito passivo, na hipótese em que seus bens forem apropriados ou des- viados pelo funcionário público (peculato malversação). Elemento subjetivo Dolo. CUIDADO: existe apenas um crime neste ca- pítulo em que se pune com forma culposa – é o crime de peculato culposo, artigo 312, § 2º. Consumação / Tentativa Trata-se de crime material. É possível a tenta- tiva (conatus) de peculato doloso, em todas as suas formas, pois é possível o fraciona- mento do iter criminis. A tentativa (conatus), que ocorre quando iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à von- tade do agente, é possível em peculato. Na modalidade culposa não há possibilidade de tentativa. Ação Penal Pública incondicionada. Classificação doutrinária Crime simples, próprio, material, instantâneo (regra) e unissubjetivo. Considerações Específicas Peculato desvio: CUIDADO: Servidor públi- co que se apropria dos salários que lhe foram pagos e não presta os serviços, não comete peculato. Por exemplo: Tício, vereador, con- tratou seu primo Mévio para exercer o cargo público de assessor na Câmara Municipal. Ocorre que ele não trabalhava efetivamente. Apenas comparecia ao trabalho para assinar o ponto, sem que exercesse suas atribuições xixixx xixxxxxxxxx xixxxixxxxxx i xxxxxix iixxxxxxxxx xixixx xixxxxxxxxx xixxxixxxxxx i xxxxxix iixxxxxxxxx 17www.neafconcursos.com.br DIREITO PENAL Classificação doutrinária do cargo. Apesar disso, Mévio recebia remu- neração todos os meses. Tício e Mévio não praticaram nenhum crime. Não é típico o ato do servidor que se apropria de valores que já lhe pertenceriam, em razão do cargo por ele ocupado. Assim, a conduta do servidor poderia ter repercussões disciplinares ou mesmo no âmbito da improbidade adminis- trativa, mas não se ajusta ao delito de pecu- lato, porque seus vencimentos efetivamente lhe pertenciam. Se o servidor merecia per- ceber a remuneração, à luz da ausência da contraprestação respectiva, é questão a ser discutida na esfera administrativo-sanciona- dora, mas não na instância penal, por falta de tipicidade. (STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 2073825-RS, j. 16/08/2022). Pergunta: o servidor público (ex: um De- putado Federal) que se utiliza do trabalho de outro servidor público (ex: assessor par- lamentar) para lhe prestar serviços particu- lares pratica crime de peculato (art. 312 do CP)? • Situação 1: Servidor público que se utiliza da mão-de-obra de outro servidor público (normalmente seu subordinado) para, em determinados momentos, fazer com que este preste serviços particulares a ele. Esta conduta não configura peculato nem qual- quer outro crime. Atenção: se o indivíduo que se utilizou do servidor público for Pre- feito, ele cometerá o delito do art. 1º, II, do DL 201/67. • Situação 2: Servidor público que utiliza a Administração Pública para pagar o salá- rio de empregado particular. Aqui o chefe contrata um indivíduo supostamente para ser servidor público (cargo comissionado), mas, na verdade, ele manda que a pessoa contratada preste exclusivamente serviços particulares ao seu superior. Esta conduta, em tese, configura peculato. Isso porque o dinheiro público está sendo desviado para o pagamento de um “servidor” que formalmente, está vinculado à Administra- ção Pública, mas que, na prática, apenas executa serviços para outro servidor pú- blico no interesse particular deste último. Peculato de uso: Há divergência na doutri- na – O funcionário que recebe a posse de um bem em razão docargo, dele se utiliza sem autorização, mas o restitui (“peculato de uso”), não incorre no peculato. Pode-se falar em ato de improbidade administrativa que importa enriquecimento ilícito (Art. 9º da lei nº 8.429/92). Interessante que uma prova em 2015 assim colocou a assertiva como verda- deira: II. No caso de Funcionário Público que faz uso pessoal de veículo pertencente à Ad- ministração Pública não cabe Peculato (Art. 312 do CP) com relação ao veículo. Entretan- to, é admissível o crime em comento no que diz respeito ao combustível utilizado (TRT 16 / REGIÃO (MA) / Juiz do Trabalho Substituto). Peculato furto: Trata-se de peculato impró- prio. O Art. 312, § 1º estabelece que deve-se aplicar a mesma pena (reclusão, de dois a Classificação doutrinária doze anos, e multa), se o funcionário público, embora não tendo a posse do dinheiro, valor ou bem, o subtrai, ou concorre para que seja subtraído, em proveito próprio ou alheio, va- lendo-se de facilidade que lhe proporciona a qualidade de funcionário. Não há posse do bem por parte do funcionário público – o crime aqui se assemelha ao crime de furto (crime contra o patrimônio). Cuidado: não basta afirmar que um servidor subtraiu algo que já podemos afirmar que houve peculato-furto. Para ser Peculato fur- to o sujeito precisa se valer da facilidade que lhe proporciona a qualidade de funcionário. Por exemplo – um Escrevente furtou uma impressora da Receita Federal sem se valer de qualquer facilidade cometerá o delito de furto, não de peculato-furto. Peculato Culposo: O art. 312, § 2.º, do Có- digo Penal apresenta a figura culposa do peculato. A pena não é de reclusão, de dois a doze anos, e multa, mas sim detenção, de três meses a um ano. No Peculato culposo é punido o funcioná- rio público que por negligência, imprudên- cia ou imperícia concorre para a prática de crime de outrem. Esse terceiro pode ser um particular ou outro funcionário público. Exemplo clássico: João, Procurador de As- sembleia Legislativa, ao deixar seu gabinete ao final do expediente, esquece de trancar a porta de sua sala, como determinam as re- gras de segurança. Aproveitando-se desse fato, Miguel, outro funcionário público que exerce suas funções no local, ingressa no ga- binete e subtrai o computador pertencente à Assembleia. Não existe conluio entre eles. Um que agiu com culpa responderá por pe- culato culposo e Miguel poderá responder por Peculato-furto. No Peculato culposo a doutrina ensina que o funcionário público somente poderá respon- der por essa modalidade culposa se o crime doloso praticado por terceiro consumar-se. Não se admite tentativa de crime culposo, de forma que, se o crime doloso ficar na fase da tentativa, não há falar na configuração do crime de peculato culposo. Peculato Culposo e a reparação do dano: No Peculato culposo (não no doloso), a repara- ção do dano, se precede à sentença irrecorrí- vel (transitada em julgado), extingue a puni- bilidade; se lhe é posterior, reduz de metade a pena imposta. Peculato Culposo e a reparação do dano: • Se for feita antes da sentença irrecorrível – ou seja antes do trânsito em julgado: extin- gue a punibilidade. • Se for feita após a sentença irrecorrível – ou seja após o trânsito em julgado: reduz de metade a pena imposta. xi xi xx x ix xx xx xx xx x ix xx ix xx xx x i x xx xx ix ii xx xx xx xx x xi xi xx x ix xx xx xx xx x ix xx ix xx xx x i x xx xx ix ii xx xx xx xx x 18 www.neafconcursos.com.br DI RE IT O PE NA L Destaques jurisprudenciais STJ – O mero proveito econômico não é su- ficiente para tipificar o crime de peculato- -desvio, é necessário que o agente pratique alguma conduta voltada ao desvio de verbas públicas. STJ – Configura o crime de peculato-desvio o fomento econômico de candidatura à ree- leição por Governador de Estado com o pa- trimônio de empresas estatais. As empresas estatais gozam de autonomia administrativa e financeira. Ainda assim, a posse necessá- ria para configuração do crime de peculato deve ser compreendida não só como a dis- ponibilidade direta, mas também como dis- ponibilidade jurídica, exercida por meio de ordens. (STJ. 5ª Turma. REsp 1776680-MG, j. 11/02/2020). STJ – Pratica o crime de peculato-desvio o Governador que determina que os valores descontados dos contracheques dos servi- dores para pagamento de empréstimo con- signado não sejam repassados ao banco, mas sim utilizados para quitação de dívidas do Estado. O administrador que desconta valores da folha de pagamento dos servido- res públicos para quitação de empréstimo consignado e não os repassa à instituição financeira pratica peculato-desvio, sendo desnecessária a demonstração de obtenção de proveito próprio ou alheio, bastando a mera vontade de realizar o núcleo do tipo. Peculato-desvio é crime formal para cuja consumação não se exige que o agente pú- blico ou terceiro obtenha vantagem indevi- da mediante prática criminosa, bastando a destinação diversa daquela que deveria ter o dinheiro. (STJ. Corte Especial. APn 814-DF, j. 06/11/2019). Causa de aumento de pena A pena será aumentada da terça parte se o autor for ocupante de cargos em comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da administração direta, socieda- de de economia mista, empresa pública ou fundação instituída pelo poder público (Art. 327, § 2º do CP). Peculato mediante erro de outrem Art. 313. APROPRIAR-SE de dinheiro ou qualquer utilida- de que, no exercício do cargo, recebeu por erro de outrem: PENA: RECLUSÃO de 1 a 4 ANOS + MULTA. Considerações iniciais A doutrina chama este crime de peculato-es- telionato. A bem da verdade não há nada de estelionato, pois o funcionário não induz a vítima em erro, mas se aproveita do erro em que ela sozinha incidiu para se apropriar do bem (dinheiro ou qualquer utilidade). Objetividade jurídica Tutela-se a Administração Pública. Objeto material É o dinheiro ou qualquer outra utilidade. Conduta / Núcleo do Tipo Apropriar-se. O erro da pessoa que entrega o dinheiro ou qualquer outra utilidade (víti- ma) deve ser espontâneo, pouco importando qual a sua causa (desatenção, confusão etc.); se dolosamente provocado pelo funcionário público, estará configurado o crime de este- lionato (CP, art. 171). Sujeito ativo Crime próprio (cometido por funcionário público). Sujeito passivo É o Estado. Pode-se considerar como sujeito passivo secundário o particular lesado. Elemento subjetivo Dolo. Na doutrina se diz que é dolo supervenien- te, pois surge após o bem se encontrar na posse do funcionário público. Exemplo – Ao receber a intimação para efetuar pagamen- to decorrente de condenação judicial, o réu, pessoa de baixa instrução, entrega o valor pertinente ao oficial de justiça Roberto, que o utiliza para o pagamento de uma dívida própria. Sobre a conduta praticada por Ro- berto, é correto afirmar que foi cometido o crime de peculato mediante erro de outrem, já que o oficial de justiça não colaborou para o erro do sujeito passivo (FGV). Interessante observar que, caso o funcionário também esteja convencido de que, por exemplo, tem competência para receber o bem, não haverá o crime do artigo 313. Não se admite a moda- lidade culposa. Resumindo: O Funcionário não iludiu a pessoa. Ela errou solitariamente. O problema é que o servidor, percebendo o erro – deveria avisar e não receber algo indevido. O crime realmente ocorre quando ao descobrir o erro de outrem, se apodera do bem. Prevalece o entendimen- to de que não pode o funcionário provocar o erro, porque se isso acontecer o crime será de estelionato. O erro deve ser espontâneo. Consumação / Tentativa Consuma-se com a apropriação. Admite-se a forma tentada. Ação Penal Pública incondicionada. Classificação doutrinária Crime simples (atinge um único bem jurídico); próprio (o sujeito ativo tem que ser funcioná- rio público); material (o tipo contém conduta e resultadonaturalístico, exigindo este último para a consumação); em regra comissivo; ins- tantâneo (consuma-se em momento determi- nado, sem continuidade no tempo); e geral- mente plurissubsistente (a conduta pode ser fracionada em diversos atos). Causa de aumento de pena A pena será aumentada da terça parte se o autor for ocupante de cargos em comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da administração direta, sociedade de economia mista, empresa pública ou fun- dação instituída pelo poder público (Art. 327, § 2º do CP). Inserção de dados falsos em sistema de informações Art. 313-A. INSERIR OU FACILITAR, o funcionário auto- rizado, a inserção de dados falsos, ALTERAR OU EXCLUIR indevidamente dados corretos nos sistemas informatizados ou bancos de dados da Administração Pública com o fim de obter vantagem indevida para si ou para outrem ou para causar dano: PENA: RECLUSÃO de 2 a 12 ANOS + MULTA. Considerações iniciais Chamado pela doutrina de peculato eletrônico. Exemplo da Vunesp: José, funcionário públi- co municipal, responsável pelo banco de da- dos eletrônico da dívida ativa, excluiu todas xi xi xx x ix xx xx xx xx x ix xx ix xx xx x i x xx xx ix ii xx xx xx xx x xixixx xixxxxxxxxx xixxxixxxxxx i xxxxxix iixxxxxxxxx 19www.neafconcursos.com.br DIREITO PENAL Considerações iniciais as certidões da dívida ativa que existiam em nome da empresa “Boa Viagem”, de proprie- dade de sua amiga íntima. A conduta de José pode ser tipificada como: inserção de dados falsos em sistema de informações. O preceito secundário é o mesmo que o peculato – reclusão, de dois a doze anos, e multa. Objetividade jurídica Administração Pública (em especial a segu- rança do seu conjunto de informações). Objeto material São os dados, falsos ou corretos, integrantes dos sistemas informatizados ou bancos de dados da Administração Pública. Conduta / Núcleo do Tipo O art. 313-A do Código Penal, delineado em um tipo misto alternativo / crime de ação múltipla / de conteúdo variado, pois possui 4 núcleos: (a) inserir; (b) facilitar a inserção; (c) alterar; e (d) excluir. A prática de duas ou mais condutas descritas é irrelevante, consis- tindo em crime único. Sujeito ativo Crime próprio (cometido por funcionário pú- blico que, nesse caso, deve ser “autorizado” a acessar o sistema restrito aos demais funcio- nários e ao público em geral). Sujeito passivo É o Estado. Pode-se considerar como sujeito passivo secundário o particular lesado. Elemento subjetivo Dolo. Nesse caso, exige-se um especial fim de agir “com o fim de obter vantagem inde- vida para si ou para outrem ou para causar dano”. Consumação / Tentativa Consuma-se no instante em que o sujeito ativo realiza a conduta legalmente prevista (formal). Basta a prática da conduta crimino- sa com a intenção de alcançar a finalidade específica, ainda que esta não se concretize. A consumação independe da ocorrência de efetivo prejuízo para a Administração Públi- ca. É possível a tentativa. Ação Penal Pública incondicionada. Classificação doutrinária Crime simples (atinge um único bem jurí- dico); próprio (o sujeito ativo tem que ser funcionário público); formal; instantâneo (consuma-se em momento determinado, sem continuidade no tempo); e geralmente plurissubsistente (a conduta pode ser fracio- nada em diversos atos). Causa de aumento de pena A pena será aumentada da terça parte se o autor for ocupante de cargos em comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da administração direta, socieda- de de economia mista, empresa pública ou fundação instituída pelo poder público (Art. 327, § 2º do CP). Modificação ou alteração não autorizada de sistema de informações Art. 313-B. MODIFICAR OU ALTERAR, o funcionário, siste- ma de informações ou programa de informática sem autori- zação ou solicitação de autoridade competente: PENA: DETENÇÃO de 3 MESES a 2 ANOS + MULTA. Parágrafo único. As penas são aumentadas de 1/3 ATÉ a METADE se da modificação ou alteração resulta dano para a Administração Pública ou para o administrado. Considerações iniciais Este crime, também chamado de peculato eletrônico e, por alguns, de peculato hacker. Objetividade jurídica Tutela-se a Administração Pública e a inte- gridade e confiabilidade do seu sistema de informações ou programas informáticos. Objeto material 1) sistema de informações; 2) programa de informática. Conduta / Núcleo do Tipo Modificar ou alterar. Sujeito ativo Trata-se de crime próprio. CUIDADO: nesse delito não se exige a condição de “funcioná- rio autorizado”, como ocorre no art. 313-A, de modo que qualquer funcionário público pode cometer o crime. Sujeito passivo É o Estado. Pode-se considerar como sujeito passivo secundário o particular lesado. Elemento subjetivo Dolo, independentemente de qualquer fina- lidade específica. Não se admite a modalida- de culposa Consumação / Tentativa Trata-se de crime formal, de modo que a consumação se dá com a efetiva modifica- ção ou alteração do sistema de informações ou programa de informática pelo funcioná- rio público. É possível a tentativa, pois pode ocorrer o fracionamento do iter criminis. Ação Penal Pública incondicionada. Classificação doutrinária Próprio (somente pode ser cometido por funcionário público); formal / consumação antecipada / resultado cortado, instantâneo (consuma-se em momento determinado, sem continuidade no tempo); plurissubsis- tente (a conduta pode ser fracionada em diversos atos). Causa de aumento de pena As penas são aumentadas de 1/3 até a me- tade se da modificação ou alteração resulta dano para a Administração Pública ou para o administrado. (Art. 313-B, parágrafo único) A pena também será aumentada da terça parte se o autor for ocupante de cargos em comissão ou de função de direção ou assesso- ramento de órgão da administração dire ta, a Causa de aumento de pena sociedade de economia mista, emprespúbli- ca ou fundação instituída pelo poder público (Art. 327, § 2º do CP). CRIMES ELETRÔNICOS Inserção de dados falsos em sistema de informações Modificação ou alteração não autorizada Art. 313-A. INSERIR OU FACILI- TAR, o funcionário autorizado, a inserção de dados falsos, ALTE- RAR OU EXCLUIR indevidamen- te dados corretos nos sistemas informatizados ou bancos de dados da Administração Pública com o fim de obter vantagem in- devida para si ou para outrem ou para causar dano: Art. 313-B. MODIFICAR OU AL- TERAR, o funcionário, sistema de informações ou programa de informática sem autorização ou solicitação de autoridade competente: xi xi xx x ix xx xx xx xx x ix xx ix xx xx x i x xx xx ix ii xx xx xx xx x xi xi xx x ix xx xx xx xx x ix xx ix xx xx x i x xx xx ix ii xx xx xx xx x 20 www.neafconcursos.com.br DI RE IT O PE NA L CRIMES ELETRÔNICOS PENA: RECLUSÃO de 2 ANOS a 12 ANOS + MULTA. PENA: DETENÇÃO de 3 MESES a 2 ANOS + MULTA. Extravio, sonegação ou inutilização de livro ou documento Art. 314. EXTRAVIAR livro oficial ou qualquer documento, de que tem a guarda em razão do cargo; SONEGÁ-LO OU INUTILIZÁ-LO, total ou parcialmente: PENA: RECLUSÃO de 1 a 4 ANOS, se o fato não constitui crime mais grave. Considerações iniciais O nomen iuris (rubrica) do crime em análise é Extravio, sonegação ou inutilização de livro ou documento. O crime ocorre com o extravio de livro ofi- cial ou qualquer documento, de que tem a guarda em razão do cargo ou sonegá-lo ou inutilizá-lo, total ou parcialmente. O crime do artigo 314 é de funcionário pú- blico contra a administração em geral. Já o crime do artigo 337 (semelhante) é crime de particular contra a administração em geral. Objetividade jurídica Administração Pública. Objeto material É o livro oficial ou documento. Conduta / Núcleo do Tipo O art. 314 contém três núcleos: “extraviar”, “sonegar” e “inutilizar”. Sujeito ativo Funcionário público. O crime é próprioou especial e somente pode ser cometido por funcionário público. Cuidado: Não basta ser funcionário público, pois exige o tipo penal que seja o “que tem a guarda em razão do cargo”. Sujeito passivo É o Estado. Pessoa física ou jurídica prejudi- cada pela conduta pode ser considerada, de forma secundária. Elemento subjetivo É o dolo, independentemente de qualquer finalidade específica. Não se admite a moda- lidade culposa Consumação / Tentativa Trata-se de crime formal, consumando-se no instante em que o sujeito extravia livro oficial ou documento, de que tem a posse em razão do cargo, ou quando os sonega ou inutiliza, total ou parcialmente, pouco importando se resulta, ou não, efetivo prejuízo à Adminis- tração Pública. É possível a tentativa. Ação Penal Pública incondicionada. Classificação doutrinária Crime simples, próprio, formal, instan- tâneo, unissubjetivo e normalmente plurissubsistente. Importante: trata-se de crime tipo misto alternativo / de ação múltipla / conteúdo variado: a prática de duas ou mais condutas, no mesmo contexto fático e contra o mesmo bem jurídico, caracteriza um único crime. Causa de aumento de pena A pena será aumentada da terça parte se o autor for ocupante de cargos em comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da administração direta, socieda- de de economia mista, empresa pública ou fundação instituída pelo poder público (Art. 327, § 2º do CP). Subsidiariedade expressa (Art. 314, parágrafo único) Pena – reclusão, de um a quatro anos, se o fato não constitui crime mais grave. DOS CRIMES PRATICADOS POR FUNCIONÁRIO PÚBLICO DOS CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR Art. 314 – Extravio, sonega- ção ou inutilização de livro ou documento Art. 337 – Subtração ou inutili- zação de livro ou documento Extraviar livro oficial ou qual- quer documento, de que tem a guarda em razão do cargo; so- negá-lo ou inutilizá-lo, total ou parcialmente: Subtrair, ou inutilizar, total ou parcialmente, livro oficial, pro- cesso ou documento confiado à custódia de funcionário, em razão de ofício, ou de particular em serviço público: RECLUSÃO de 1 a 4 ANOS, se o fato não constitui crime mais grave. * Nota explicativa: Crime ex- pressamente subsidiário... se o fato não constitui crime mais grave. RECLUSÃO de 2 a 5 ANOS, se o fato não constitui crime mais grave. * Nota explicativa: Crime ex- pressamente subsidiário... se o fato não constitui crime mais grave. Emprego irregular de verbas ou rendas públicas Art. 315. DAR às verbas ou rendas públicas aplicação diver- sa da estabelecida em lei: PENA: DETENÇÃO de 1 a 3 MESES OU MULTA. Considerações iniciais Importante se atentar à distinção em relação ao chamado peculato desvio. No peculato, o funcionário público desvia o dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel em proveito próprio ou alheio, ou seja, age para satisfazer interesses particulares. Já aqui no artigo 315, o funcionário público também desvia valo- res públicos, porém em benefício da própria Administração Pública. Não há enriqueci- mento ilícito. Objetividade jurídica Administração Pública. Em especial a regu- laridade da aplicação dos recursos públicos. Objeto material Verbas públicas e as rendas públicas. Conduta / Núcleo do Tipo “Dar” que, no contexto do crime em apre- ço, significa empregar ou utilizar verbas ou rendas públicas em finalidade diversa da es- tabelecida em lei (em sentido estrito – não decreto). Sujeito ativo Crime próprio, praticável pelo funcionário público que tem o poder de dispor de verbas ou rendas públicas.. Sujeito passivo É o Estado e, secundariamente, a pessoa fí- sica ou jurídica prejudicada pela conduta criminosa. xixixx xixxxxxxxxx xixxxixxxxxx i xxxxxix iixxxxxxxxx xixixx xixxxxxxxxx xixxxixxxxxx i xxxxxix iixxxxxxxxx 21www.neafconcursos.com.br DIREITO PENAL Elemento subjetivo É o dolo, independentemente de qualquer finalidade específica. Não se admite a moda- lidade culposa. Consumação / Tentativa Consuma-se com a aplicação das verbas ou rendas públicas de forma diversa da estabe- lecida em lei, isto é, com o efetivo emprego irregular de verbas ou rendas. É dispensável que ocorra dano ao erário. A tentativa é ad- missível, pois se trata de um crime plurissub- sistente, permitindo o fracionamento do iter criminis. Ação Penal Pública incondicionada. Classificação doutrinária Crime simples, próprio, material, unissubjeti- vo e normalmente plurissubsistente. Causa de aumento de pena A pena será aumentada da terça parte se o autor for ocupante de cargos em comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da administração direta, socieda- de de economia mista, empresa pública ou fundação instituída pelo poder público (Art. 327, § 2º do CP). Concussão Art. 316. EXIGIR, para si ou para outrem, direta ou indireta- mente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida: PENA: RECLUSÃO de 2 a 12 ANOS + MULTA. Considerações iniciais O núcleo do tipo é “exigir”, no sentido de or- denar ou impor. O verbo transmite a ideia de imposição e intimidação no comportamento do funcionário público, que se aproveita do temor proporcionado à vítima em decorrên- cia dos poderes inerentes ao cargo público por ele ocupado. (Cleber Masson) CUIDADO – Não há neste crime emprego de violência à pessoa. Importante lembrar que um eventual par- ticular que concorde (aquiesce) com a exi- gência de funcionário público e, paga o valor exigido, não comete nenhum crime. Objetividade jurídica Tutela-se a Administração Pública Objeto material É a vantagem indevida exigida por um fun- cionário público. A vantagem pode ser atual ou futura, e pode ser exigida para si ou para outrem. Conduta / Núcleo do Tipo O núcleo do tipo é “exigir”. Sujeito ativo É o funcionário público, “ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela”. Sujeito passivo É o Estado e eventual vítima lesada pela conduta. Elemento subjetivo É o dolo, acrescido do elemento subjetivo específico “para si ou para outrem”. Não se admite a modalidade culposa. Consumação / Tentativa O delito é formal, bastando a conduta de “exigir”, que deve chegar ao conhecimento da vítima. Não demanda o recebimento que, se ocorrer, figura mero exaurimento. Admi- te-se tentativa, salvo na modalidade verbal. Ação Penal Pública incondicionada. Classificação doutrinária Crime pluriofensivo, próprio, formal, de dano, instantâneo, unissubjetivo, unilateral ou de concurso eventual. Causa de aumento de pena A pena será aumentada da terça parte se o autor for ocupante de cargos em comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da administração direta, socieda- de de economia mista, empresa pública ou fundação instituída pelo poder público (Art. 327, § 2º do CP). Excesso de exação § 1º Se o funcionário EXIGE tributo ou contribuição social que sabe ou deveria saber indevido, ou, quando devido, emprega na cobrança meio vexatório ou gravoso, que a LEI não autoriza: PENA: RECLUSÃO de 3 a 8 ANOS + MULTA. § 2º Se o funcionário DESVIA, em proveito próprio ou de outrem, o que recebeu indevidamente para recolher aos cofres públicos: PENA: RECLUSÃO de 2 a 12 ANOS + MULTA. Considerações iniciais A conduta delineada no art. 316, § 1º, do CP é autônoma e independe da narrada no caput. No excesso de exação, o funcionário público exige ilegalmente tributo ou contri- buição social em benefício da Administração Pública. Trata-se de subtipo do delito de concussão que implica pena mínima mais grave que a prevista no tipo principal. Objetividade jurídica Tutela-se a Administração Pública Objeto material É o tributo ou contribuição social. Aqui se in- cluem os impostos, as taxas, as contribuições de melhoria, os empréstimos compulsórios e as contribuições sociais (teoria pentapartite – STF). Conduta / Núcleo do Tipo Há dois núcleos: (i) “exigir” tributo ou con- tribuiçãosocial que sabe ou deveria saber indevido; e (ii) “empregar” na cobrança meio vexatório ou gravoso, que a LEI não autoriza. Sujeito ativo É qualquer funcionário público. Sujeito passivo É o Estado e eventual contribuinte lesado pela conduta. Elemento subjetivo Dolo. Consumação / Tentativa Em ambas as espécies do § 1º é delito formal, consumando-se com a exigência indevida ou com o emprego de meio vexatório ou gravoso, independente do efetivo pagamen- to pelo contribuinte. A tentativa é possível na modalidade “exigir”, exceto quando a exigência for verbal. Já na cobrança vexatória ou gravosa a tentativa é plenamente possível. Ação Penal Pública incondicionada. xixixx xixxxxxxxxx xixxxixxxxxx i xxxxxix iixxxxxxxxx xixixx xixxxxxxxxx xixxxixxxxxx i xxxxxix iixxxxxxxxx 22 www.neafconcursos.com.br DI RE IT O PE NA L Classificação doutrinária Crime pluriofensivo, próprio, formal, de dano, instantâneo, unissubjetivo, unilateral ou de concurso eventual. CUIDADO: não há crime se a cobrança em excesso se der por dificuldade na interpreta- ção da legislação tributária no caso concreto, pois ausente o dolo, o que torna a conduta atípica. Causa de aumento de pena A pena será aumentada da terça parte se o autor for ocupante de cargos em comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da administração direta, socieda- de de economia mista, empresa pública ou fundação instituída pelo poder público (Art. 327, § 2º do CP). Qualificadora Há previsão de figura qualificada no § 2º: Se o funcionário DESVIA, em proveito próprio ou de outrem, o que recebeu indevidamente para recolher aos cofres públicos – PENA: RE- CLUSÃO de 2 a 12 ANOS + MULTA. CUIDADO: se a quantia foi regularmente re- colhida aos cofres públicos, e o funcionário público a desvia ulteriormente, estará carac- terizado o peculato desvio, nos termos do art. 312, caput, parte final, do Código Penal. O excesso de exação qualificado depende do desvio do tributo ou contribuição social in- devido antes da sua incorporação aos cofres públicos. A consumação da forma qualificada se ope- ra com o desvio dos valores indevidamente recebidos, de modo que se trata de crime material, sendo a tentativa possível. Um alerta: o crime de concussão, previsto no caput, é formal, assim como o Excesso de Exação, mas a figura qualificada, do crime de excesso de exação, previsto no parágrafo 2º, é material. Corrupção passiva Art. 317. SOLICITAR OU RECEBER, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, OU ACEITAR promessa de tal vantagem: PENA: RECLUSÃO de 2 a 12 ANOS + MULTA. § 1º A pena é aumentada de 1/3, se, em consequência da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou deixa de praticar qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo de- ver funcional. § 2º Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda ato de ofício, com infração de dever funcional, cedendo a pedido ou influência de outrem: PENA: DETENÇÃO de 3 MESES a 1 ANO OU MULTA. Considerações iniciais A doutrina alerta que o CP, ao tratar de cor- rupção, rompeu com a teoria monista no concurso de pessoas. Houve uma exceção pluralística, ou seja, há dois delitos distintos de corrupção: 1) corrupção passiva artigo 317 (crime de funcionário público contra a administração em geral) e 2) corrupção ativa Considerações iniciais – artigo 333 (crime de particular contra a ad- ministração em geral). Exemplo clássico: Particular está em alta velocidade na estrada com seu veículo e é parado por um policial. Oferece R$ 500,00 ao policial para seguir sem sofrer penalidade. O servidor aceita a oferta e libera o veículo. Temos corrupção ativa (Art. 333) para quem ofereceu e corrupção passiva para quem aceitou (Art. 317). Objetividade jurídica É a Administração Pública. Objeto material É a vantagem indevida. Conduta / Núcleo do Tipo 3 núcleos: “solicitar”, “receber” e “aceitar”. Cuida-se de tipo misto alternativo, crime de ação múltipla ou de conteúdo variado. Sujeito ativo Crime próprio, pois somente pode ser come- tido pelo funcionário público em razão da sua função, ainda que esteja fora dela (exem- plo: férias)ou antes de assumi-la (exemplo: candidato já aprovado em concurso público e regularmente nomeado, mas ainda não empossado). Sujeito passivo É o Estado e, de forma secundária, a vítima prejudicada pela conduta criminosa. Elemento subjetivo dolo, acrescido de um especial fim de agir (elemento subjetivo específico), representa- do pela expressão “para si ou para outrem”, ou seja, em proveito próprio ou de terceiro, compreendido este último como qualquer pessoa diversa do próprio funcionário públi- co responsável pela conduta criminosa ou da Administração Pública. Não se pune a moda- lidade culposa. Consumação / Tentativa Trata-se de crime formal. Consuma-se quan- do o funcionário público solicita, recebe ou aceita a promessa de vantagem indevida. Na conduta “solicitar”, não se exige a real en- trega da vantagem indevida pelo particular. Já na conduta “aceitar a promessa”, é prescin- dível (desnecessário) posterior recebimento. Cuidado! O crime de corrupção passiva con- suma-se ainda que a solicitação ou recebi- mento de vantagem indevida, ou a aceitação da promessa de tal vantagem, esteja relacio- nada com atos que formalmente não se inse- rem nas atribuições do funcionário público, Consumação / Tentativa mas que, em razão da função pública, mate- rialmente implicam alguma forma de facilita- ção da prática da conduta almejada. A tentativa é admissível em alguns casos. Na modalidade verbal, impossível. Ação Penal Pública incondicionada. Classificação doutrinária É crime próprio (somente pode ser cometido pelo funcionário público); formal (consuma- -se com a prática da conduta, independen- temente da superveniência do resultado; instantâneo (consuma-se em um momento determinado, sem continuidade no tempo); unissubjetivo, unilateral ou de concurso eventual (normalmente praticado por um xixixx xixxxxxxxxx xixxxixxxxxx i xxxxxix iixxxxxxxxx xixixx xixxxxxxxxx xixxxixxxxxx i xxxxxix iixxxxxxxxx 23www.neafconcursos.com.br DIREITO PENAL Classificação doutrinária só agente, mas admite o concurso); e unis- subsistente ou plurissubsistente (conforme a conduta seja exteriorizada em um ou mais atos de execução). A doutrina fala ainda em corrupção pas- siva própria e imprópria, antecedente e subsequente. Corrupção passiva própria – funcionário pú- blico negocia um ato ilícito. Exemplo: policial rodoviário que deixa de multar motorista de automóvel surpreendido em excesso de ve- locidade em troca do recebimento de deter- minada quantia em dinheiro. Corrupção passiva imprópria o ato sobre o qual recai a transação é lícito. Exemplo: De- legado de Polícia que solicita propina da ví- tima de um crime para agilizar o trâmite de um inquérito policial sob sua presidência). Corrupção passiva antecedente – a vanta- gem indevida é entregue ou prometida ao funcionário público em vista de uma ação ou omissão futura (exemplo: Um oficial de justiça recebe dinheiro do réu para não apre- ender o seu veículo). Corrupção passiva subsequente – relaciona- -se a um comportamento pretérito. Exem- plo: Delegado de Polícia que ganha um carro de um empresário pelo fato de propositada- mente não tê-lo investigado criminalmente há 2 anos). Destaques jurisprudenciais STJ – Não comete crime o médico do SUS que cobra do paciente um valor pelo fato de utilizar, na cirurgia, a sua máquina particular de videolaparoscopia (que não é oferecida na rede pública). Isso porque, para tipifica- ção do art. 317 do Código Penal, deve ser de- monstrada a solicitação ou recebimento de vantagem indevida pelo agente público, não configurada quando há mero ressarcimento ou reembolso de despesa. (STJ. 5ª Turma. HC 541447-SP, j. 14/09/2021). STJ – Ao contrário do que ocorre no crime de corrupçãoativa, o tipo penal de corrupção passiva não exige a comprovação de que a vantagem indevida solicitada, recebida ou aceita pelo funcionário público esteja cau- salmente vinculada à prática, omissão ou retardamento de “ato de ofício”. A expressão “ato de ofício” aparece apenas no caput do art. 333 do CP, como um elemento norma- tivo do tipo de corrupção ativa, e não no Destaques jurisprudenciais caput do art. 317 do CP, como um elemen- to normativo do tipo de corrupção passiva. Ao contrário, no que se refere a este último delito, a expressão “ato de ofício” figura ape- nas na majorante do art. 317, § 1º, do CP e na modalidade privilegiada do § 2º do mesmo dispositivo. (STJ. 6ª Turma. REsp 1745410-SP, j. 02/10/2018). Causa de aumento de pena (Art. 317, § 1º) No parágrafo 1º há causa de aumento de pena de um terço, se, em consequência da vantagem ou promessa, o funcionário retar- da ou deixa de praticar qualquer ato de ofí- cio ou o pratica infringindo dever funcional. Causa de aumento de pena (Art. 317, § 1º) A pena será aumentada da terça parte se o autor for ocupante de cargos em comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da administração direta, socieda- de de economia mista, empresa pública ou fundação instituída pelo poder público (Art. 327, § 2º do CP). Corrupção passiva privilegiada. (Art. 317, § 2º) Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda ato de ofício, com infração de dever funcional, cedendo a pedido ou influência de outrem: Pena – detenção, de três meses a um ano, ou multa. Neste caso a pena não é de reclusão, mas sim detenção, de três me- ses a um ano, ou multa. CONCUSSÃO CORRUPÇÃO PASSIVA Art. 316. EXIGIR, 1. Para si ou para outrem, 2. Direta ou indiretamente, 3. Ainda que fora da função ou antes de assumi-la, 4. Mas em razão dela, vantagem indevida: Art. 317. Solicitar ou receber, 1. Para si ou para outrem, 2. Direta ou indiretamente, 3. Ainda que fora da função ou antes de assumi-la, 4. Mas em razão dela, vantagem indevida, OU aceitar promessa de tal vantagem: Pena – RECLUSÃO de 2 a 12 ANOS + MULTA. Pena – RECLUSÃO de 2 a 12 ANOS + MULTA. (...) Prevaricação Art. 319. RETARDAR OU DEIXAR DE PRATICAR, indevi- damente, ato de ofício, OU PRATICÁ-LO contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal: PENA: DETENÇÃO de 3 MESES a 1 ANO + MULTA. Considerações iniciais Prevaricação é a infidelidade ao dever de ofí- cio, à função exercida. É o não cumprimento pelo funcionário público das obrigações que lhe são inerentes, em razão de ser guiado por interesses ou sentimentos próprios. O delito foi criado com o escopo de evitar a prática de retaliações ou favoritismos no funcionalismo público. Objetividade jurídica O bem jurídico penalmente protegido é a Administração Pública. Objeto material Ensina Cleber Masson que “...É o ato de ofício – compreendido como todo e qualquer ato em que se exterioriza o exercício da função pública ou do cargo público – indevidamen- te retardado ou omitido pelo agente, ou pra- ticado contra disposição expressa de lei. In- cluem-se nessa categoria os atos públicos de qualquer natureza, executivos, judiciais ou legislativos. Como o ato é de ofício, não há prevaricação quando o ato retardado, omiti- do ou praticado não integra a competência ou atribuição do funcionário público...”. (Di- reito Penal – Vol 3 Parte Especial, 8ª Edição, Gen/Método) xi xi xx x ix xx xx xx xx x ix xx ix xx xx x i x xx xx ix ii xx xx xx xx x xixixx xixxxxxxxxx xixxxixxxxxx i xxxxxix iixxxxxxxxx xixixx xixxxxxxxxx xixxxixxxxxx i xxxxxix iixxxxxxxxx 24 www.neafconcursos.com.br DI RE IT O PE NA L Conduta / Núcleo do Tipo 3 núcleos: “retardar”, “deixar de praticar” e “praticar”. As duas primeiras condutas (Re- tardar ou deixar de praticar indevidamente), são crimes omissivos. Na conduta de “prati- car contra disposição expressa de lei”, temos crime comissivo (por ação). Trata-se tipo mis- to alternativo, crime de ação múltipla ou de conteúdo variado. Sujeito ativo Trata-se de crime de mão própria (atuação pessoal ou de conduta infungível), pois so- mente pode ser praticado pelo funcionário público. Sujeito passivo É o Estado e, em caráter secundário, eventual particular prejudicado. Elemento subjetivo O dolo, mas deve ser acrescido de um espe- cial fim de agir: “para satisfazer interesse ou sentimento pessoal”. CUIDADO: na doutrina existe a advertência de que o interesse pessoal de natureza moral não pode ser confundido com o mero como- dismo, desleixo ou preguiça. Aqui não seria crime de prevaricação. Consumação / Tentativa Nas duas primeiras modalidades do delito, a prevaricação se consuma quando o funcio- nário público retarda ou deixa de praticar indevidamente o ato de ofício. Na última modalidade, a consumação verifica-se no instante em que o funcionário público prati- ca o ato de ofício contra disposição expressa de lei. Em todos casos, o crime é formal, pois, para seu aperfeiçoamento, basta a intenção do funcionário público de satisfazer interes- se ou sentimento pessoal, ainda que este re- sultado não venha a ser concretizado. A tentativa é possível na conduta comissiva (praticar contra disposição expressa de lei). Já nas condutas omissivas (Retardar ou dei- xar de praticar) é impossível. Ação Penal Pública incondicionada. Classificação doutrinária Crime simples, de mão própria, formal, co- missivo ou omissivo próprio ou puro, unis- subjetivo e unissubsistente (nas modali- dades omissivas) ou plurissubsistente (na modalidade comissiva). Causa de aumento de pena A pena será aumentada da terça parte se o autor for ocupante de cargos em comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da administração direta, socieda- de de economia mista, empresa pública ou fundação instituída pelo poder público (Art. 327, § 2º do CP). Art. 319-A. DEIXAR o Diretor de Penitenciária e/ou agente público, de cumprir seu dever de vedar ao preso o acesso a aparelho telefônico, de rádio ou similar, que permita a co- municação com outros presos ou com o ambiente externo: PENA: DETENÇÃO de 3 MESES a 1 ANO. Considerações iniciais Este crime recebeu diversas denominações na doutrina. O legislador não atribuiu uma rubrica marginal (nomen iuris), ou seja, não deu um nome específico ao delito. Nas pro- vas, é comum que ele apareça sob a designa- ção de Prevaricação Imprópria. Objetividade jurídica Administração Pública, responsável pela se- gurança pública, tanto no interior dos esta- belecimentos prisionais como no âmbito da sociedade em geral. Objeto material É o aparelho telefônico (fixo ou móvel), de rádio (aparelho que emite e recebe ondas radiofônicas – exemplos: walkie-talkies, Nextel etc.), ou similar (qualquer outro meio de comunicação entre pessoas – exemplo: aparelhos de informática e conversação via webcam). Conduta / Núcleo do Tipo O núcleo do tipo é “deixar”, no sentido de omitir-se ou não fazer algo. Sujeito ativo Trata-se de crime próprio ou especial, pois somente pode ser cometido pelo Diretor de Penitenciária, responsável pela administra- ção prisional, ou agente público. Sujeito passivo É o Estado e, mediatamente, a sociedade, suscetível à prática de novas infrações pe- nais em decorrência do uso do aparelho de comunicação no interior dos estabelecimen- tos prisionais. Elemento subjetivo O dolo, independentemente de qualquer fi- nalidade específica. *Se o funcionário público se omite movido pelo recebimento, solicitação ou promessa de entrega de vantagem indevida, estará caracterizado o crime de corrupção passiva (CP, art. 317). Consumação / Tentativa Dá-se no momento em que o Diretor de Pe- nitenciária ou agente público, conhecendo a situação ilícita, não faz nada para impedir o acesso do preso a aparelho telefônico, de rá- dio ou similar. É dispensável a efetiva utiliza- ção do meio de comunicaçãopelo detento. Basta que tenha a possibilidade de fazê-lo. A tentativa não é cabível, por se tratar de cri- me omissivo próprio ou puro. Ação Penal Pública incondicionada. Classificação doutrinária É simples, próprio, formal, omissivo próprio ou puro, unissubjetivo e unissubsistente. Causa de aumento de pena A pena será aumentada da terça parte se o autor for ocupante de cargos em comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da administração direta, socieda- de de economia mista, empresa pública ou fundação instituída pelo poder público (Art. 327, § 2º do CP). Corrupção Passiva Privilegiada (doutrina) Prevaricação Art. 317. § 2º Se o funcionário PRATICA, DEIXA DE PRATICAR ou RETARDA ato de ofício, com infração de dever funcional, ce- dendo a pedido ou influência de outrem: Art. 319. RETARDAR OU DEI- XAR DE PRATICAR, indevida- mente, ato de ofício, OU PRA- TICÁ-LO contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal: Pena – DETENÇÃO de 3 MESES a 1 ANO OU MULTA. Pena – DETENÇÃO de 3 MESES a 1 ANO + MULTA. xi xi xx x ix xx xx xx xx x ix xx ix xx xx x i x xx xx ix ii xx xx xx xx x xi xi xx x ix xx xx xx xx x ix xx ix xx xx x i x xx xx ix ii xx xx xx xx x xixixx xixxxxxxxxx xixxxixxxxxx i xxxxxix iixxxxxxxxx xixixx xixxxxxxxxx xixxxixxxxxx i xxxxxix iixxxxxxxxx 25www.neafconcursos.com.br DIREITO PENAL Condescendência criminosa Art. 320. DEIXAR o funcionário, por indulgência, de res- ponsabilizar subordinado que cometeu infração no exercí- cio do cargo ou, quando lhe falte competência, não levar o fato ao conhecimento da autoridade competente: PENA: DETENÇÃO de 15 DIAS a 1 MÊS OU MULTA. Considerações iniciais Esse crime nada mais é do que uma moda- lidade de prevaricação, em que o superior hierárquico deixa de responsabilizar o seu subordinado, que cometeu infração no exer- cício do cargo, por indulgência. Em razão do princípio da especialidade, se a omissão do superior hierárquico for motivada por indul- gência, estará configurado o crime do art. 320, especial em relação ao do art. 319. Tal tipificação diz respeito à omissão no exercí- cio do poder disciplinar. Objetividade jurídica A proteção da Administração Pública. Objeto material A infração não punida pelo superior hierár- quico ou não comunicada à autoridade com- petente quando lhe faltar competência para fazê-lo. Conduta / Núcleo do Tipo O tipo penal contém 2 núcleos: “deixar de res- ponsabilizar” e “não levar ao conhecimento”. Sujeito ativo Somente pode ser o funcionário público (art. 327 do CP) hierarquicamente superior ao infrator. Sujeito passivo É o Estado. Elemento subjetivo O dolo. Parte da doutrina ainda menciona um especial fim de agir, qual seja: intenção de ser indulgente com o funcionário. Indulgência é sinônimo de perdão, compla- cência, brandura, clemência ou tolerância. *Se o agente, por culpa, não toma conheci- mento da infração praticada pelo funcioná- rio subalterno, não há configuração do tipo penal. Consumação / Tentativa O Crime é omissivo próprio, portanto, a consumação se dá com a mera omissão em deixar de agir ou, quando lhe falte compe- tência, não levar o fato ao conhecimento da autoridade competente. A tentativa (conatus) se mostra impossível. Não há fracionamento do caminho do crime (iter criminis). *Se for o caso de satisfazer interesse ou sen- timento pessoal – teremos prevaricação (CP, art. 319). Consumação / Tentativa **Se o Intuito for receber vantagem indevida – poderemos ter corrupção passiva (CP, art. 317). Ação Penal Pública incondicionada. Classificação doutrinária Crime próprio, omissivo puro, monos- subjetivo ou de concurso eventual e unissubsistente. Causa de aumento de pena A pena será aumentada da terça parte se o autor for ocupante de cargos em comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da administração direta, socieda- de de economia mista, empresa pública ou fundação instituída pelo poder público (Art. 327, § 2º do CP). Advocacia administrativa Art. 321. PATROCINAR, direta ou indiretamente, interes- se privado perante a administração pública, valendo-se da qualidade de funcionário: PENA: DETENÇÃO de 1 a 3 MESES OU MULTA. Parágrafo único. Se o interesse é ilegítimo: PENA: DETENÇÃO de 3 MESES a 1 ANO + MULTA. Considerações iniciais No crime de advocacia administrativa não importa o fato de ser lícito ou ilegítimo o interesse patrocinado ou apadrinhado pelo agente público. Não há necessidade que o sujeito ativo seja advogado. A palavra utilizada na rubrica marginal (“advocacia”) transmite a equivoca- da ideia de crime praticado exclusivamente por advogados, porém a bem da verdade, é preciso ficar claro que a ideia de “advogar” seria no sentido de “defesa” ou “patrocínio”. Objetividade jurídica É a Administração Pública, relativamente ao seu regular funcionamento e à moralidade administrativa. Objeto material É o interesse (legítimo ou ilegítimo) privado e alheio patrocinado, compreendido como qualquer vantagem ou meta a ser alcançada pelo particular. Segundo a doutrina, quando o interesse pa- trocinado é legítimo, trata-se de advocacia administrativa imprópria. Por outro lado, se o interesse for ilegítimo, configura-se a advo- cacia administrativa própria. Conduta / Núcleo do Tipo “Patrocinar”, ou seja, amparar, advogar, defender ou pleitear interesse privado de outrem. Sujeito ativo Trata-se de crime próprio. Sujeito passivo É o Estado. Elemento subjetivo É o dolo, independentemente de qualquer finalidade específica. Não se admite a moda- lidade culposa. Consumação / Tentativa Trata-se de crime formal, consumando-se com o simples patrocínio pelo funcionário público do interesse privado e alheio, inde- pendentemente da efetiva obtenção de be- nefício pelo particular. A tentativa é admissível, salvo na conduta omissiva. Ação Penal Pública incondicionada. Classificação doutrinária Crime simples, próprio, formal e instantâneo. Causa de aumento de pena A pena será aumentada da terça parte se o autor for ocupante de cargos em comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da administração direta, socieda- de de economia mista, empresa pública ou fundação instituída pelo poder público (Art. 327, § 2º do CP). Qualificadora Se o interesse é ilegítimo (parágrafo único): Pena – detenção, de três meses a um ano, além da multa. xi xi xx x ix xx xx xx xx x ix xx ix xx xx x i x xx xx ix ii xx xx xx xx x xixixx xixxxxxxxxx xixxxixxxxxx i xxxxxix iixxxxxxxxx 26 www.neafconcursos.com.br DI RE IT O PE NA L Violência arbitrária Art. 322. PRATICAR violência, no exercício de função OU a pretexto de exercê-la: PENA: DETENÇÃO de 6 MESES a 3 ANOS, além da pena correspondente à violência. Considerações iniciais Consiste na prática de violência, no exercício de função ou a pretexto de exercê-la. “Há anos existe séria controvérsia a respeito da vigência deste tipo penal. São vários os doutrinadores que sustentam ter sido tacita- mente revogado pela Lei 4.898/65 (esta, por sua vez, revogada pela Lei 13.869/19). (Ma- nual de Direito Penal, ROGÉRIO SANCHES CUNHA, Parte Especial, 2021). De qualquer forma e, por cautela, analisare- mos o dispositivo. Deve-se observar que nem toda violência usada pelo funcionário público leva à confi- guração do delito. Há dispositivos legais que, de forma expressa, indicam o uso de violên- cia por agentes públicos e seus auxiliares. Elementar violência: lesão corporal ou vias de fato. Aqui é violência física, excluindo vio- lência moral (grave ameaça). Objetividade jurídica Trata-se de crime pluriofensivo. Há proteção da Administração Pública e da integridade física e da liberdade das pessoas em geral. Objeto material É a pessoa contra quem a violência é dirigi- da, podendo ser um particular ou mesmo outro funcionário público Conduta / Núcleo do Tipo Onúcleo do tipo penal é “praticar”, no sen- tido de exercer ou cometer violência contra a pessoa Sujeito ativo Crime próprio. Sujeito passivo É o Estado e, de forma indireta, a pessoa físi- ca afetada pela conduta criminosa. Elemento subjetivo É o dolo, acrescido de um especial fim de agir (elemento subjetivo específico), consistente na intenção do funcionário público de abu- sar de sua autoridade. Consumação / Tentativa O crime é material ou causal: consuma-se no momento em que o funcionário público, de forma abusiva, pratica o ato violento, no exercício da função ou a pretexto de exercê- -la. É possível a tentativa, em face do caráter plurissubsistente do delito, permitindo o fra- cionamento do iter criminis. Ação Penal Pública incondicionada. Classificação doutrinária Crime pluriofensivo, próprio, material, unis- subjetivo e normalmente plurissubsistente. Causa de aumento de pena A pena será aumentada da terça parte se o autor for ocupante de cargos em comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da administração direta, socieda- de de economia mista, empresa pública ou fundação instituída pelo poder público (Art. 327, § 2º do CP). Abandono de função Art. 323. ABANDONAR cargo público, fora dos casos per- mitidos em lei: PENA: DETENÇÃO de 15 DIAS a 1 MÊS OU MULTA. § 1º Se do fato resulta prejuízo público: PENA: DETENÇÃO de 3 MESES a 1 ANO + MULTA. § 2º Se o fato ocorre em lugar compreendido na faixa de fronteira: PENA: DETENÇÃO de 1 ANO a 3 ANOS + MULTA. Considerações iniciais A rubrica do crime se utiliza da expressão abandono de função, mas o tipo penal em exame faz menção a cargo público, conceito mais estreito. A ação nuclear está consubstanciada no ver- bo abandonar cargo público. Abandonar é afastar-se, largar. O abandono pode ocorrer de duas formas: pelo mero afastamento do funcionário ou quando ele não se apresenta no momento devido. Objetividade jurídica O bem jurídico penalmente tutelado é a Ad- ministração Pública. Objeto material O cargo abandonado pelo funcionário público. Conduta / Núcleo do Tipo “Abandonar”, ou seja, largar algo, deixando-o ao desamparo. Sujeito ativo Crime próprio. Tendo em conta que o crime de abandono de função encontra-se no rol daqueles que exigem uma atuação pessoal, personalíssima do próprio agente, é chama- do de crime de mão própria. Sujeito passivo É o Estado. Elemento subjetivo É o dolo, independentemente de qualquer finalidade específica. Não há espaço para a forma culposa Consumação / Tentativa O crime consuma-se com o abandono do cargo público por tempo juridicamente re- levante, de forma a criar probabilidade de dano ou prejuízo à Administração Pública. Por se tratar de delito omissivo próprio, não admite a forma tentada. Ação Penal Pública incondicionada. Classificação doutrinária Crime simples, de mão própria, for- mal, omissivo próprio, unissubjetivo e unissubsistente. Causa de aumento de pena A pena será aumentada da terça parte se o autor for ocupante de cargos em comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da administração direta, socieda- de de economia mista, empresa pública ou fundação instituída pelo poder público (Art. 327, § 2º do CP). Qualificadoras (Art. 323, § 1º e 2º) § 1º – Se do fato resulta prejuízo público: Pena – detenção, de três meses a um ano, e multa. § 2º – Se o fato ocorre em lugar compreendi- do na faixa de fronteira: Pena – detenção, de um a três anos, e multa. xi xi xx x ix xx xx xx xx x ix xx ix xx xx x i x xx xx ix ii xx xx xx xx x xixixx xixxxxxxxxx xixxxixxxxxx i xxxxxix iixxxxxxxxx 27www.neafconcursos.com.br DIREITO PENAL Exercício funcional ilegalmente antecipado ou prolongado Art. 324. ENTRAR no exercício de função pública antes de satisfeitas as exigências legais, OU CONTINUAR a exercê-la, SEM AUTORIZAÇÃO, depois de saber oficialmente que foi 1. Exonerado, 2. Removido, 3. Substituído ou 4. Suspenso: PENA: DETENÇÃO de 15 DIAS a 1 MÊS OU MULTA. Objetividade jurídica O bem jurídico penalmente protegido é a Administração Pública. Objeto material É a função pública ilegalmente exercida. Conduta / Núcleo do Tipo O tipo penal contém duas condutas típicas: “entrar no exercício” e “continuar a exercê-lo”. Entrar no exercício equivale a começar a de- sempenhar uma determinada função públi- ca; continuar a exercê-la, por sua vez, signi- fica dar a ela prosseguimento. Em ambas as situações, o crime é instantâneo. Sujeito ativo Trata-se de crime próprio, pois somente pode ser praticado por funcionário público. *Caso seja uma conduta cometida por al- guém que não foi nomeado – um particular – pode responder pelo artigo 328 – Usurpa- ção de função pública (Usurpar o exercício de função pública). Sujeito passivo É o Estado. Elemento subjetivo Dolo, independentemente de qualquer fina- lidade específica. Consumação / Tentativa O crime se aperfeiçoa quando o sujeito ativo realiza indevidamente o primeiro ato ineren- te à função pública, prescindindo do efetivo prejuízo à Administração Pública. A tentativa é admissível, pois se trata de um crime pluris- subsistente, permitindo o fracionamento do iter criminis. Ação Penal Pública incondicionada. Classificação doutrinária Crime de mão própria, formal, unissubjetivo e normalmente plurissubsistente. Causa de aumento de pena A pena será aumentada da terça parte se o autor for ocupante de cargos em comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da administração direta, socieda- de de economia mista, empresa pública ou fundação instituída pelo poder público (Art. 327, § 2º do CP). Violação de sigilo funcional Art. 325. REVELAR fato de que tem ciência em razão do cargo e que deva permanecer em segredo, OU FACILITAR- -LHE a revelação: PENA: DETENÇÃO de 6 MESES a 2 ANOS OU MULTA, se o fato não constitui crime mais grave. § 1º Nas mesmas penas deste artigo incorre quem: I – permite ou facilita, mediante atribuição, fornecimento e empréstimo de senha ou qualquer outra forma, o acesso de pessoas não autorizadas a sistemas de informações ou banco de dados da Administração Pública; II – se utiliza, indevidamente, do acesso restrito. § 2º Se da ação ou omissão resulta dano à Administração Pública ou a outrem: PENA: RECLUSÃO de 2 a 6 ANOS + MULTA. Considerações iniciais Um dos princípios administrativos expressos no artigo 37 da CF é a publicidade, pois a ati- vidade funcional do Estado deve ser pautada pela transparência. Por outro lado, a própria Constituição Fede- ral impõe o sigilo das informações imprescin- díveis à segurança da sociedade e do Estado. Art. 5º (...) XXXIII: “todos têm direito a rece- ber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à se- gurança da sociedade e do Estado”. Resumindo: a regra é a publicidade dos atos do Poder Público, mas existem exce- ções em que o funcionário público tem o dever de guardar sigilo, sob pena de responsabilização. Objetividade jurídica Administração Pública, relativamente à pro- teção de informações que devem perma- necer em segredo no tocante às pessoas em geral. Objeto material É o segredo funcional, ou seja, a informação sigilosa obtida em razão da função pública. Conduta / Núcleo do Tipo 2 núcleos: (1) “revelar” fato de que tem ciência em razão do cargo e que deva per- manecer em segredo; e (2) “facilitar-lhe a revelação”. Sujeito ativo Trata-se de crime próprio. Para uma parce- la da doutrina a norma também alcança o funcionário aposentado ou posto em dispo- nibilidade, pois, embora não exerça mais as funções, continua a ser funcionário público. Sujeito passivo O Estado e, mediatamente, a pessoa física ou jurídica prejudicada pela conduta criminosa. Elemento subjetivo O dolo, independentemente dequalquer finalidade específica. Não se admite a moda- lidade culposa. Consumação / Tentativa Trata-se de crime formal. Tanto na modalida- de “revelar” quanto na “facilitar a revelação”, o crime se consuma com a simples revelação do segredo pelo funcionário público a uma terceira pessoa, a quem o conhecimento do fato não se destinava. Na modalidade “revelar”, a tentativa somente é admissível quando a conduta for praticada por escrito. Não há tentativa na revelação verbal. xi xi xx x ix xx xx xx xx x ix xx ix xx xx x i x xx xx ix ii xx xx xx xx x xi xi xx x ix xx xx xx xx x ix xx ix xx xx x i x xx xx ix ii xx xx xx xx x 28 www.neafconcursos.com.br DI RE IT O PE NA L Ação Penal Pública incondicionada. Classificação doutrinária Crime de mão própria, formal, unissubjetivo e normalmente plurissubsistente. Figuras equiparadas: O §1º inciso I prevê que nas mesmas penas do artigo incorre quem: I – permite ou facilita, mediante atribuição, fornecimento e empréstimo de senha ou qualquer outra forma, o acesso de pesso- as não autorizadas a sistemas de informa- ções ou banco de dados da Administração Pública; II – se utiliza, indevidamente, do acesso restrito. Qualificadora (Art. 325, § 2º) Se da ação ou omissão resulta dano à Admi- nistração Pública ou a outrem: Pena – reclu- são, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa. Causa de aumento de pena A pena será aumentada da terça parte se o autor for ocupante de cargos em comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da administração direta, socieda- de de economia mista, empresa pública ou fundação instituída pelo poder público (Art. 327, § 2º do CP). Violação do sigilo de proposta de concorrência Art. 326. DEVASSAR o sigilo de proposta de concorrên- cia pública, OU PROPORCIONAR a terceiro o ensejo de devassá-lo: PENA: DETENÇÃO de 3 MESES a 1 ANO + MULTA. Considerações iniciais O crime descrito no artigo 326 do Código Penal foi tacitamente revogado pelo artigo 94 da lei 8666/93. Já o artigo 94 da lei de licitações foi revogado pelo artigo 337 J do CP, acrescentado pela lei 14.133/2021 (Lei de licitações e contratos administrativos). Funcionário público Art. 327. Considera-se FUNCIONÁRIO PÚBLICO, para os efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou sem re- muneração, exerce: 1. Cargo, 2. Emprego ou 3. Função Pública. § 1º Equipara-se a FUNCIONÁRIO PÚBLICO quem exer- ce cargo, emprego ou função em entidade paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora de serviço contra- tada ou conveniada para a execução de atividade TÍPICA da Administração Pública. § 2º A pena será aumentada da 1/3 quando os autores dos crimes previstos neste Capítulo* forem ocupantes de cargos em comissão ou de função de direção ou assessora- mento de órgão**: 1. Da administração direta, 2. Sociedade de economia mista, 3. Empresa pública ou 4. Fundação instituída pelo poder público. * (crimes de Funcionário Público contra Adm em Geral) ** (não se fala em aumento quando se tratar de autarquia) Considerações iniciais Trata-se de norma penal interpretativa, pois esclarece o conteúdo e o significado de ou- tras normas penais. Temos aqui um conceito amplo de funcionário público para efeitos penais. Na doutrina, este dispositivo é cha- mado também de interpretação autêntica ou Legislativa, ou seja, a interpretação é feita pela própria lei. O art. 327, caput, do Código Penal refere-se a cargo, emprego e função pública. Já o cha- mado “munus público” (os encargos públicos atribuídos por lei a algumas pessoas) não é abarcado pelo conceito do artigo 327. Assim, tutores, administrador judicial, depositário judicial, curadores e inventariantes judiciais não são funcionários para efeitos penais. Destaques jurisprudenciais STJ – O advogado dativo, embora não seja integrante dos quadros da Defensoria Públi- ca, tem sido compreendido como funcioná- rio público para fins penais (STJ. 5ª Turma. HC 264459-SP, j. 10/3/2016). STJ – Os empregados da OAB são equipara- dos a funcionários públicos para fins penais (STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 750.133-GO, j. 14/5/2024). E o jurados? Resposta: podem ser sujeitos ativos de todas as infrações penais definidas no Capítulo I do Título XI da Parte Especial do Código. CPP, Artigo 445: O jurado, no exercí- cio da função ou a pretexto de exercê-la, será responsável criminalmente nos mesmos ter- mos em que o são os juízes togados. Figura equiparada A pena será aumentada da terça parte quan- do os autores dos crimes previstos neste Ca- pítulo (Crimes de funcionário público contra a Administração em geral) forem ocupantes de cargos em comissão ou de função de di- reção ou assessoramento de órgão da ad- ministração direta, sociedade de economia mista, empresa pública ou fundação instituí- da pelo poder público. Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função em entida- de paraestatal, e quem trabalha para empre- sa prestadora de serviço contratada ou con- veniada para a execução de atividade típica da Administração Pública. Exercem cargo, emprego ou função pública em entidade paraestatal (ou terceiro setor): paraestatal é a entidade que se posta para- lelamente ao Estado, com a finalidade de prestar serviços de relevância pública. São pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, que integram o chamado tercei- ro setor (o primeiro é o Estado, detentor do Poder Público, e o segundo as empresas que estão no mercado, visando lucro). Exemplos: SESC, o SENAI e o SESI. xi xi xx x ix xx xx xx xx x xi xx xi xx xx xx i xx xx xi x iix xx xx xx xx xixixx xixxxxxxxxxx xixxxixxxxxx i xxxxxix iixxxxxxxxx xixixx xixxxxxxxxxx xixxxixxxxxx i xxxxxix iixxxxxxxxx 29www.neafconcursos.com.br DIREITO PENAL Figura equiparada Trabalham para empresa prestadora de ser- viço contratada ou conveniada para a exe- cução de atividade típica da Administração Pública: Cuida-se aqui de empresas privadas que executam serviços de natureza públi- ca por delegação estatal, a qual poderá ser feita mediante concessão, permissão ou autorização. CUIDADO: Não há equiparação quando o trabalhador da empresa exerce atividade atí- pica da Administração Pública. Exemplo: O TJ SP contrata uma empresa de manobristas para estacionar os carros num evento públi- co. Um dos empregados subtrai, para si, um automóvel da frota pública. Não é considera- do funcionário por equiparação. Responderá por eventual crime contra o patrimônio. E se um pedreiro de empresa contratada para a reforma da fachada do prédio do TJ SP se apropriar de uma impressora do Tribu- nal de Justiça? Resposta: Não é equiparado a funcionário público quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para a execução de atividade típica da Administração Pública. Aqui se tra- ta de atividade típica para a Administração e não da Administração Pública. Causa de aumento de pena Caso um funcionário, ocupante de cargo em comissão ou de função de direção ou asses- soramento de órgão da administração dire- ta, sociedade de economia mista, empresa pública ou fundação instituída pelo poder público, cometa um dos crimes descritos nos artigos 312 ao 326, haverá aumento de pena de terça parte. A palavra “autores” há de ser interpretada em sentido amplo, podendo abranger autores, coautores e partícipes do delito funcional. Cargo em comissão: preenchido mediante provimento em comissão, compreendido como o que se faz mediante nomeação para cargo público, independentemente de con- curso público e em caráter transitório. A causa de aumento se dará quando os au- tores dos crimes previstos neste Capítulo forem ocupantes de cargos em comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da administração direta, sociedade de economia mista, empresa pública ou funda- ção instituída pelo poder público. E as autarquias? Resposta: Cuidado com este ponto. Funcionáriosubjetiva do agente (queria a consu- mação do delito e agiu para alcançar tal fim), mas imperfeito na esfera objetiva (crime não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente). Há três elementos fundamentais para caracteri- zar a tentativa: início da execução do crime; au- sência de consumação por circunstâncias alheias à vontade do agente; e dolo de consumação. Ela é punida com a pena correspondente ao crime consumado, diminuída de um a dois terços. Iter criminis (consumação e tentativa) Importante: só há viabilidade da tentativa se o iter criminis puder ser fracionado. Por exemplo: Crime de Peculato – Art. 312 – Apropriar-se o fun- cionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio. É possível se falar em tentativa em face do caráter plurissubsistente (conduta é fracionada em diversos atos que, so- mados, provocam a consumação) do delito, per- mitindo o fracionamento. Se não for possível fracionar a conduta, a tentati- va será inviável. Um exemplo disso ocorre na for- ma verbal do crime de corrupção passiva (“solici- tar”) ou na condescendência criminosa (“deixar”). Preceito primário e secundário Toda lei penal incriminadora é formada por um preceito primário e um preceito secundário. O preceito primário é aquele encarregado de des- crever detalhadamente a conduta que se procura proibir ou impor. Já o preceito secundário é aque- le que fica encarregado de individualizar a pena. Exemplo: Condescendência criminosa (Preceito primário) Art. 320 – Deixar o fun- cionário, por indulgência, de responsabilizar subordinado que cometeu infração no exer- cício do cargo ou, quando lhe falte compe- tência, não levar o fato ao conhecimento da autoridade competente: (Preceito secundário) Pena – detenção, de quinze dias a um mês, ou multa. Observações: • Rubrica ou nome iuris é a denominação da in- fração penal (no exemplo, condescendência criminosa). • Norma penal em branco: em regra, as normas penais possuem preceitos primário e secundá- rio definidos. Entretanto, alguns tipos penais têm seu preceito primário incompleto, neces- sitando de complementação por outra norma (norma penal em branco). É o caso do emprego irregular de verbas ou rendas públicas (CP, art. 315), em que é necessário analisar a lei que con- fere às verbas ou rendas públicas uma finalida- de específica para só então concluir se ocorreu o emprego de valores em destinação diversa. Causa de aumento de pena X qualificadora Qualificadoras e causas de aumento são circuns- tâncias que, agregadas ao tipo penal, influem na quantidade de pena. As qualificadoras alteram as penas mínima e/ ou máxima do tipo ao preverem algum detalhe a mais na prática do crime ou no seu resultado. Um exemplo é o crime de resistência (art. 329). O tipo simples prevê: Art. 329 – Opor-se à execução de ato legal, mediante violência ou ameaça a funcionário competente para executá-lo ou a quem lhe esteja prestando auxílio: Pena – detenção, de dois meses a dois anos. Já o § 1º prevê a modalidade qualificada: § 1º – Se o ato, em razão da resistência, não se executa: Pena – reclusão, de um a três anos. Já as causas de aumento, também conhecidas como majorantes, são circunstâncias que aumen- tam a pena, aplicando-se uma fração à sanção es- tabelecida no tipo penal. Essa fração de aumento xi xi xx x ix xx xx xx xx x ix xx ix xx xx x i x xx xx ix ii xx xx xx xx x xi xi xx x ix xx xx xx xx x ix xx ix xx xx x i x xx xx ix ii xx xx xx xx x xixixx xixxxxxxxxx xixxxixxxxxx i xxxxxix iixxxxxxxxx 3www.neafconcursos.com.br DIREITO PENAL Causa de aumento de pena X qualificadora pode ser fixa (ex. 1/2 , 1/3, 1/4) ou um intervalo (ex. de 1/3 a 1/2). Um exemplo é o parágrafo úni- co do art. 299 que traz um aumento de 1/6 para o crime de falsidade ideológica. Falsidade ideológica Art. 299 – Omitir, em documento público ou particular, declaração que dele devia cons- tar, ou nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita, com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamen- te relevante: Pena – reclusão, de um a cinco anos, e mul- ta, se o documento é público, e reclusão de um a três anos, e multa, de quinhentos mil réis a cinco contos de réis, se o documento é particular. Parágrafo único – Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-se do cargo, ou se a falsificação ou alteração é de assentamento de registro civil, aumenta- -se a pena de sexta parte. Concurso de pessoas Tem-se o chamado concurso de pessoas quando houver a participação consciente e voluntária de duas ou mais pessoas na mesma infração penal. A doutrina aponta como requisitos do concurso de pessoas: a) Pluralidade de agentes: duas ou mais pes- soas envolvidas na prática da infração; b) Relevância causal das condutas: contri- buição pessoal dos agentes de forma física ou moral, direta ou indireta, comissiva ou omissiva, anterior ou simultânea à execução do crime, de forma que o crime não teria ocorrido da forma que ocorreu sem aquelas condutas; c) Vínculo/liame subjetivo: todos os agentes devem estar vinculados subjetivamente, ou seja, deve haver um nexo psicológico entre os agentes em concurso visando alcançar o resultado do crime; Consideremos a seguinte situação: se o Peculato é um crime que só pode ser cometido por funcio- nário Público, poderia um particular que ajuda o servidor responder por Peculato (Art. 312 do CP)? Resposta: Sim! Não se comunicam as circuns- tâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando elementares do crime. A condição de funcionário público é elementar do crime de peculato, pois essencial para o delito do art. 312 do CP. Assim, o particular que, conscientemente, participar de um peculato responde por esse cri- me (CP, art. 30), desde que saiba que seu compar- sa é funcionário público (liame subjetivo). A doutrina prevê duas modalidades de concurso de pessoas: COAUTORIA e PARTICIPAÇÃO. a) Coautoria: duas ou mais pessoas, conjun- tamente, praticam a conduta descrita no tipo penal. Ambos os agentes praticam a ação ou omissão. b) Participação: um dos agentes, chamado de partícipe, não realiza o ato de execução descrito no tipo penal, mas, de alguma ou- tra forma, concorre intencionalmente para o crime. Principais classificações de crime para fins de concurso • Quanto à qualidade do sujeito ativo Crime comum (geral): é aquele que não exige ne- nhuma qualidade específica do sujeito ativo para sua prática (Ex. Falsidade ideológica e corrupção ativa). Crime próprio (especial: é aquele que exige de- terminada qualidade do sujeito ativo para sua prática (ex. corrupção passiva – somente pode ser praticada por funcionário público). Caso a conduta do crime próprio seja realizada por agente que não detém as características exigidas tem-se um fato atípico ou a prática de outro cri- me. Exemplo: um funcionário público que deixa seu cargo sem justificativa legal comete o crime de abandono de função; um particular que deixa seu emprego não comete crime. Crime de mão própria: também se trata de crime que exige determinada qualidade do sujeito ati- vo para sua prática, mas que não admite coauto- ria. Ex. crime de falso testemunho ou falsa perícia. Somente a testemunha ou o perito podem come- ter tal crime. • Quanto ao resultado naturalístico ou mate- rial (modificação no mundo exterior provo- cada pela conduta) Crime material ou de resultado: tipo penal des- creve uma conduta e um resultado material (ou naturalístico) e exige ambos para efeito de con- sumação. Ex.: Peculato. Tipo define a conduta (ação dirigida a se apropriar ou desviar) e o resul- tado (apropriação ou desvio). Crime formal: tipo penal descreve uma conduta e um resultado, contentando-se com a conduta (dirigida ao resultado) para consumação.de autarquia pode ser considerado funcionário para efeitos penais, mas não pode ser aplicado o § 2º do art. 327 aos dirigentes de autarquias (ex: a maioria dos Detrans) porque esse dispositi- vo menciona apenas órgãos, sociedades de economia mista, empresas públicas e funda- ções (STF. 2ª Turma. AO 2093/RN, j. 3/9/2019). Exemplo colhido de prova: O Ministério Pú- blico denunciou Joana, servidora ocupante de função de direção de determinada au- tarquia, por delito de peculato, mas com a incidência da causa de aumento de pena prevista no parágrafo segundo do art. 327 do Código Penal, in verbis: “A pena será au Causa de aumento de pena mentada da terça parte quando os autores dos crimes previstos neste Capítulo forem ocupantes de cargos em comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da administração direta, sociedade de economia mista, empresa pública ou funda- ção instituída pelo poder público.” Acerca do caso, assinale a alternativa correta. Não inci- de a causa de aumento de pena, pois as au- tarquias não foram mencionadas em referida causa de aumento e, com base no princípio da legalidade, veda-se analogia in malam partem. CUIDADO: A mera afirmação de que o de- nunciado ocupa o cargo de desembargador é insuficiente para a incidência da causa de aumento de pena prevista no art. 327, § 2º, do Código Penal. (STJ. Corte Especial. AgRg na APn 970-DF, j. 04/05/2022). Essa causa de aumento aplica-se tam- bém para agentes políticos detentores de mandato eletivo? Sim. É o caso, por exem- plo, de um Governador do Estado que, valen- do-se de seu cargo, pratique crime contra a Administração Pública. Como ele desempe- nha uma função de direção do Estado, con- tra ele incidirá a causa de aumento do § 2º do art. 327 do CP. (STF. Plenário. Inq 2606/MT, j. 4/9/2014). Contudo, o simples fato de o réu ocupar um cargo eletivo já faz com que incida obrigatoriamente esta causa de aumen- to? Não. O simples fato de o réu exercer um mandato popular não é suficiente para fazer incidir a causa de aumento do art. 327, § 2º, do CP. É necessário que ele ocupe uma posi- ção de superior hierárquico (o STF chamou de “imposição hierárquica”). (STF. Plenário. Inq 3983/DF, j. 02 e 03/03/2016). CAPÍTULO II DOS CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL Usurpação de função pública Art. 328. USURPAR o exercício de função pública: PENA: DETENÇÃO de 3 MESES a 2 ANOS + MULTA. Parágrafo único. Se do fato o agente aufere vantagem: PENA: RECLUSÃO de 2 a 5 ANOS + MULTA. Considerações iniciais Usurpar o exercício de função pública é in- vestir-se nela e executá-la indevidamente, ou seja de forma arbitrária, sem possuir mo- tivo legítimo para tanto. Comete o delito aquele que pratica função própria da administração indevidamente, ou seja, sem estar legitimamente investido na função de que se trate. Não bastando, por- tanto, que o agente se arrogue na função, sendo imprescindível que este pratique atos de ofício como se legitimado fosse, com o ânimo de usurpar, consistente na vontade deliberada de praticá-lo (RHC 20.818/AC, rel. Min. Felix Fischer, 5.ª Turma, j. 22.05.2007). xi xi xx x ix xx xx xx xx x xi xx xi xx xx xx i xx xx xi x iix xx xx xx xx xi xi xx x ix xx xx xx xx x xi xx xi xx xx xx i xx xx xi x iix xx xx xx xx xixixx xixxxxxxxxxx xixxxixxxxxx i xxxxxix iixxxxxxxxx xixixx xixxxxxxxxxx xixxxixxxxxx i xxxxxix iixxxxxxxxx 30 www.neafconcursos.com.br DI RE IT O PE NA L Objetividade jurídica É a Administração Pública. Objeto material Função pública – compreendida como qual- quer atividade desempenhada pelo Estado para satisfazer as necessidades de interes- se público – indevidamente exercida pelo agente. Conduta / Núcleo do Tipo O núcleo do tipo penal é usurpar, no sentido de apoderar-se indevidamente ou exercer ilegitimamente uma função pública. Dessa forma, como visto, é imprescindível a execu- ção de atos inerentes à função pública pelo usurpador. Sujeito ativo Trata-se de crime comum. O funcionário público pode ser autor do delito, desde que usurpe função distinta da sua. Sujeito passivo É o Estado, titular do bem jurídico protegido, e, de forma mediata, a pessoa física ou jurídi- ca prejudicada pela conduta criminosa. Elemento subjetivo É o dolo (animus de usurpar função pública), independentemente de qualquer finalida- de específica. Não se admite a modalidade culposa. Consumação / Tentativa Trata-se de crime formal, consumado-se com a simples usurpação da função pública, ou seja, a realização pelo agente de algum ato de ofício inerente à função da qual não é titu- lar. Vale frisar que não é necessário que o ato tenha produzido efeito de dano patrimonial. O tipo penal também não exige obtenção de qualquer vantagem pelo sujeito ativo. Admissível a tentativa. Ação Penal Pública incondicionada. Classificação doutrinária Crime comum, formal (na modalidade sim- ples, consuma-se com a prática da conduta criminosa, independentemente do efetivo prejuízo à Administração Pública) ou mate- rial (na forma qualificada), unissubjetivo, uni- lateral ou de concurso eventual. Qualificadora (Art. 328, parágrafo único) Se do fato o agente aufere vantagem: Pena – reclusão, de dois a cinco anos, e multa. Resistência Art. 329. OPOR-SE à execução de ato legal, mediante vio- lência ou ameaça a funcionário competente para executá- -lo ou a quem lhe esteja prestando auxílio: PENA: DETENÇÃO de 2 MESES a 2 ANOS. § 1º Se o ato, em razão da resistência, não se executa: PENA: RECLUSÃO de 1 a 3 ANOS. § 2º As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo das correspondentes à violência. Considerações iniciais A resistência é um crime caracterizado por ser uma forma mais grave de desobediência, ou seja, um crime que se dá mediante em- prego de violência ou ameaça. Na doutrina já se chamou esse crime de desobediência belicosa. Objetividade jurídica É a administração pública. Objeto material É o funcionário público competente para a execução do ato legal ou o particular que lhe presta auxílio. Conduta / Núcleo do Tipo “Opor-se”, no sentido de impedir ou obstruir a execução de ato legal. Sujeito ativo Trata-se de crime comum. Um funcionário público, despido de sua função, também pode cometer o crime. Sujeito passivo É o Estado. De forma secundária, o funcio- nário público competente para executar o ato legal ou eventualmente até mesmo um terceiro, ou seja, particular que esteja pres- tando auxílio. Elemento subjetivo Exige-se o dolo, acrescido de um especial fim de agir (elemento subjetivo específico), que consiste na intenção de impedir a execução de um ato legal. Consumação / Tentativa Trata-se de crime formal, ou seja, consuma- -se com o emprego da violência ou ameaça a funcionário competente para execução do ato legal ou quem lhe esteja prestando auxílio. *O crime de resistência somente ocorre quando há oposição à execução de ato legal, mediante violência e ameaça, não se confi- gurando quando o ato for ilegal. Ação Penal Pública incondicionada. Classificação doutrinária Crime comum, formal (na modalidade simples) ou material (na forma qualifica- da), unissubjetivo e unissubsistente ou plurissubsistente. Qualificadora (Art. 329, § 1º) Se o ato, em razão da resistência, não se exe- cuta: Pena – reclusão, de um a três anos. Concurso Material (Art. 329, § 2º) As penas deste artigo são aplicáveis sem pre- juízo das correspondentes à violência. Desobediência Art. 330. DESOBEDECER a ordem legal de funcionário público: PENA: DETENÇÃO de 15 DIAS a 6 MESES + MULTA. Considerações iniciais O crime de desobediência se diferencia do crime de resistência pela ausência de empre- go de violência ou ameaça ao funcionário público. Na doutrina o crime de desobediência já foi chamado de resistência passiva. O crime de desobediência não exige, para sua configuração, que a ordem seja emana- da apenas por autoridadejudiciária. Objetividade jurídica É a Administração Pública. Objeto material É a ordem legal emanada do funcionário público, ou seja, a determinação dirigida a alguém para fazer ou deixar de fazer algo, e não um mero pedido ou solicitação. xixixx xixxxxxxxxxx xixxxixxxxxx i xxxxxix iixxxxxxxxx 31www.neafconcursos.com.br DIREITO PENAL Conduta / Núcleo do Tipo É “desobedecer”, que significa desatender ou recusar o cumprimento à ordem legal de um funcionário público competente para emiti- -la. Não há a utilização de grave ameaça ou violência contra o agente público ou qual- quer outra pessoa. Sujeito ativo Trata-se de crime comum ou geral. Sujeito passivo É o Estado e, mediatamente, o funcionário público emissor da ordem legal injustifica- damente descumprida. Elemento subjetivo É o dolo, que envolve o conhecimento da legalidade da ordem e da competência do funcionário público para emiti-la, indepen- dentemente de qualquer finalidade específi- ca. Não se admite a modalidade culposa. Consumação / Tentativa O crime se consuma quando o agente faz ou deixa de fazer alguma coisa contrariamen- te à ordem legal de funcionário público. A tentativa é cabível somente na modalidade comissiva (ação), pois nesse caso a desobedi- ência é crime plurissubsistente, comportan- do o fracionamento do iter criminis. Ação Penal Pública incondicionada. Classificação doutrinária Crime comum, formal, unissubjetivo, unilate- ral ou de concurso eventual e unissubsisten- te ou plurissubsistente. Desacato Art. 331. DESACATAR funcionário público no exercício da função ou em razão dela: PENA: DETENÇÃO de 6 MESES a 2 ANOS OU MULTA. Considerações iniciais O funcionário público representa o estado, ou seja, está agindo em seu nome e em seu benefício, devendo ser respeitado e pro- tegido contra qualquer ação violenta ou ameaçadora. CUIDADO: Isoladamente ofender uma pes- soa que é funcionário público não é desa- cato, precisa ter relação com o exercício da função ou em razão dela. Por exemplo: Tícia xingou o seu vizinho, que é funcionário pú- blico, de ignorante e agressor de mulheres – obviamente pode ter cometido crime contra a honra, mas não crime de desacato. Objetividade jurídica É a Administração Pública. Objeto material Funcionário público contra quem se dirige a conduta criminosa. Conduta / Núcleo do Tipo “Desacatar”. Sujeito ativo Trata-se de crime comum. Sujeito passivo É o Estado e, indiretamente, a pessoa física (funcionário público) afetada pela conduta criminosa. Elemento subjetivo o dolo. Não se admite a modalidade culposa. Consumação / Tentativa Trata-se de crime formal, consumando-se quando o agente pratica atos ofensivos ou dirige palavras ultrajantes ou ofensivas ao funcionário público com o propósito de me- nosprezar as funções por eles exercidas. É indiferente se o agente público sentiu-se ou não ofendido. Não se admite tentativa de desacato quando estivermos diante da forma verbal, pois tere- mos o caráter unissubsistente do delito. Há divergência na doutrina sobre possibilidade de tentativa nos demais casos. Ação Penal Pública incondicionada. Classificação doutrinária Crime comum, formal, unissubjetivo, unilate- ral ou de concurso eventual. RESISTÊNCIA DESOBEDIÊNCIA DESACATO Art. 329 OPOR-SE à execução de ato le- gal, mediante violên- cia OU ameaça a fun- cionário competente para executá-lo ou a quem lhe esteja prestando auxílio: Art. 330 DESOBE- DECER a ordem le- gal de funcionário público: Art. 331 DESACA- TAR funcionário pú- blico no exercício da função OU em razão dela: DETENÇÃO de 2 MESES a 2 ANOS. Sem multa. DETENÇÃO de 15 DIAS a 6 MESES + MULTA. DETENÇÃO de 6 MESES a 2 ANOS OU MULTA. § 1º Se o ato, em razão da resistên- cia, não se executa: RECLUSÃO de 1 a 3 ANOS. § 2º As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo das correspondentes à violência. Tráfico de Influência Art. 332. SOLICITAR, EXIGIR, COBRAR OU OBTER, para si ou para outrem, vantagem ou promessa de vantagem, a pretexto de influir em ato praticado por funcionário público no exercício da função: PENA: RECLUSÃO de 2 a 5 ANOS + MULTA. Parágrafo único. A pena é aumentada da METADE, se o agente ALEGA OU INSINUA que a vantagem é também destinada ao funcionário. Considerações iniciais Esse delito é verdadeiro estelionato, pois o agente ilude, frauda o pretendente ao dizer que possui influência. O próprio tipo penal ao afirmar “a pretexto de influir” deixa bem cristalina essa situação. Objetividade jurídica É o prestígio da Administração Pública. Objeto material É a vantagem ou promessa de vantagem, de qualquer natureza (econômica, moral, sexu- al etc.). xixixx xixxxxxxxxxx xixxxixxxxxx i xxxxxix iixxxxxxxxx xixixx xixxxxxxxxxx xixxxixxxxxx i xxxxxix iixxxxxxxxx 32 www.neafconcursos.com.br DI RE IT O PE NA L Conduta / Núcleo do Tipo Solicitar, exigir, cobrar ou obter (S.E.C.O) Sujeito ativo Trata-se crime comum. Sujeito passivo O Estado é o titular do bem jurídico prote- gido e, indiretamente, também pode ser considerada vítima a pessoa que paga ou promete vantagem para obter um benefício, lícito ou ilícito, junto ao funcionário público. No entanto, ainda que sua conduta seja ilíci- ta, o comprador de influência não pode ser sujeito ativo do crime. Elemento subjetivo Trata-se de crime doloso, exigindo um espe- cial fim de agir, expresso na fórmula “para si ou para outrem”. Isso significa que o agente deve atuar com a intenção de obter a vanta- gem para si próprio ou destiná-la a terceiros. Consumação / Tentativa Nas condutas de solicitar, exigir e cobrar, te- mos crime formal, ou seja, consuma-se com a realização da conduta independentemente da efetiva obtenção da vantagem desejada. No núcleo “obter” é crime material e, portan- to, a consumação se dará no momento em que o sujeito alcança a vantagem almejada. A tentativa é possível, exceto nos casos em que a conduta se dá por meio de ato verbal. Ação Penal Pública incondicionada. Classificação doutrinária Crime comum, formal (nos núcleos “so- licitar”, “exigir” e “cobrar”) ou material (no núcleo “obter”), unissubjetivo, unilateral ou de concurso eventual e normalmente plurissubsistente. Causa de aumento de pena (Art. 332, parágrafo único) A pena é aumentada da metade, se o agente alega ou insinua que a vantagem é também destinada ao funcionário. Cuidado: “...se for a pretexto de influir em ato pratica- do por funcionário público no exercício da função: Tráfico de Influência. “...se for a pretexto de influir em ato pratica- do por Juiz de Direito / Promotor: Explora- ção de Prestígio. “...se for a pretexto de influir em ato pratica- do por Escrevente do TJ: Exploração de Pres- tígio (funcionário da Justiça). Cuidado: “...se for a pretexto de influir em ato pratica- do por Oficial de Promotoria do MP: Tráfico de Influência. ( aqui não é o Promotor, é um funcionário público). Crimes praticados por PARTICULAR contra a Administração Em Geral Dos Crimes contra a ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA Tráfico de Influência (1/2 SECO) Exploração de prestígio (RESO 1/3) Art. 332. SOLICITAR, EXIGIR, COBRAR OU OBTER, Art. 357. SOLICITAR OU RECEBER 1 – Dinheiro ou qualquer outra utilidade, 1 – Para si ou para outrem, 2 – Vantagem ou promessa de vantagem, 3 – A pretexto de influir em ato praticado por funcionário públi- co no exercício da função. 2 – A pretexto de influir em (aqui há um rol): 2.1 – Juiz; 2.2 – Jurado; 2.3 – Órgão do Ministério Público; 2.4 – Funcionário de Justiça; 2.5 – Perito; 2.6 – Tradutor; 2.7 – Intérprete; ou 2.8 – Testemunha. Pena – RECLUSÃO de 2 a 5 ANOS + MULTA. Pena – RECLUSÃO de 1 a 5 ANOS + MULTA. Parágrafo único. A pena é au- mentada da METADE: Se o agente alega ou insinua que a vantagem é também des- tinada ao funcionário. Parágrafo único. As penas au- mentam-se de 1/3: Se o agente alega ou insinua que o dinheiro ou utilidadetam- bém se destina a qualquer das pessoas referidas neste artigo. Corrupção ativa Art. 333. OFERECER OU PROMETER vantagem indevida a funcionário público, para determiná-lo a PRATICAR, OMI- TIR OU RETARDAR ato de ofício: PENA: RECLUSÃO de 2 a 12 ANOS + MULTA. Parágrafo único. A pena é aumentada de 1/3, se, em razão da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou omite ato de ofício, ou o pratica infringindo dever funcional. Considerações iniciais Corrupção ativa é crime de particular contra a administração pública (Art. 333) e Corrup- ção passiva é crime de funcionário público contra a administração pública (Art. 317) . A corrupção ativa (Art. 333) possui dois ver- bos: “oferecer” e “prometer”. A corrupção pas- siva (Art. 317) contém três verbos: “solicitar”, “receber” e “aceitar” promessa. Objetividade jurídica É a administração pública. Objeto material É a vantagem indevida. Conduta / Núcleo do Tipo 2 núcleos: “oferecer” e “prometer” vantagem indevida. Sujeito ativo Trata-se de crime comum, que pode ser cometido por qualquer pessoa, inclusive o próprio funcionário público, desde que ele venha a realizar uma conduta e não esteja se aproveitando das facilidades inerentes à sua condição funcional. Exemplo: um delegado de polícia em viagem de férias com a família é parado por um policial de trânsito e ofere- ce R$ 100,00 para não ser multado. Cometeu o crime de corrupção ativa consumada, in- dependentemente do recebimento do valor pelo policial. (já ofereceu). Sujeito passivo É o Estado e, de forma indireta, a pessoa físi- ca ou jurídica lesada pela conduta criminosa. xi xi xx x ix xx xx xx xx x xi xx xi xx xx xx i xx xx xi x iix xx xx xx xx xi xi xx x ix xx xx xx xx x xi xx xi xx xx xx i xx xx xi x iix xx xx xx xx xixixx xixxxxxxxxxx xixxxixxxxxx i xxxxxix iixxxxxxxxx xixixx xixxxxxxxxxx xixxxixxxxxx i xxxxxix iixxxxxxxxx 33www.neafconcursos.com.br DIREITO PENAL Elemento subjetivo Trata-se de crime doloso, exigindo um espe- cial fim de agir (elemento subjetivo especí- fico), caracterizado pela intenção de deter- minar que o funcionário público pratique, omita ou retarde ato de ofício. Consumação / Tentativa Trata-se de crime formal, consumando-se com a oferta ou promessa de vantagem in- devida ao funcionário público, não depen- dendo da aceitação do funcionário ou do pagamento posterior, ainda que em parce- las. Eventual recebimento seria mero exauri- mento do crime. Na forma verbal, é impossível a tentativa. Ação Penal Pública incondicionada. Classificação doutrinária Crime comum, formal, unissubjetivo, unilate- ral ou de concurso eventual e unissubsisten- te ou plurissubsistente. Causa de aumento de pena (Art. 333, parágrafo único) A pena é aumentada de um 1/3, se, em ra- zão da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou omite ato de ofício, ou o pratica infringindo dever funcional. Crimes praticados por FUNCIONÁRIO PÚBLICO contra a Adm. Em Geral Crimes praticados por PARTICULAR contra a Adm. Em Geral CORRUPÇÃO PASSIVA CORRUPÇÃO ATIVA Art. 317. SOLICITAR OU RE- CEBER, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, OU ACEI- TAR promessa de tal vantagem: Art. 333. OFERECER OU PRO- METER vantagem indevida a funcionário público, para deter- miná-lo a PRATICAR, OMITIR OU RETARDAR ato de ofício: Pena – RECLUSÃO de 2 a 12 ANOS + MULTA. Pena – RECLUSÃO de 2 a 12 ANOS + MULTA. § 1º A pena é aumentada de 1/3, se, em consequência da vanta- gem ou promessa, o funcionário RETARDA OU DEIXA DE PRATI- CAR qualquer ato de ofício OU O PRATICA infringindo dever funcional. Parágrafo único. A pena é au- mentada de 1/3, se, em razão da vantagem ou promessa, o funcionário RETARDA OU OMI- TE ato de ofício, OU O PRATICA infringindo dever funcional. (...) Inutilização de edital ou de sinal Art. 336. RASGAR OU, de qualquer forma, INUTILIZAR OU CONSPURCAR edital afixado por ordem de funcionário público; VIOLAR OU INUTILIZAR selo ou sinal empregado, por determinação legal ou por ordem de funcionário públi- co, para identificar ou cerrar qualquer objeto: PENA: DETENÇÃO de 1 MÊS a 1 ANO OU MULTA. Considerações iniciais A conduta é (i) rasgar ou de qualquer forma utilizar ou conspurcar o edital afixado por or- dem de funcionário ou (ii) violar ou inutilizar selo ou sinal empregado por determinação legal ou por ordem do funcionário para iden- tificar ou cerrar qualquer objeto. Objetividade jurídica É a Administração Pública. Objeto material É o edital afixado por ordem de funcionário público ou o selo ou sinal empregado, por determinação legal ou por ordem de funcio- nário público, para identificar ou cerrar qual- quer objeto. Conduta / Núcleo do Tipo Na primeira parte do caput do art. 336 do Código Penal, há três núcleos verbais: “ras- gar”, “inutilizar” e “conspurcar”. Já na segunda parte, além de repetir o verbo “inutilizar”, o tipo penal acrescenta o verbo “violar”, em- pregado no sentido de infringir, transgredir ou devassar. Sujeito ativo Trata-se de crime comum. Sujeito passivo É o Estado. Elemento subjetivo Dolo, independentemente de qualquer fina- lidade específica. Não se admite a modalida- de culposa. Consumação / Tentativa Trata-se de crime de dano, consumando-se quando o agente rasga, inutiliza ou conspur- ca o edital mencionado pela primeira parte do artigo 336 do código penal. De igual modo ocorrerá consumação quan- do a gente vier a violar inutilizar o selo ou sinal empregado por determinação legal ou por ordem de funcionário público para iden- tificar ou cerrar qualquer objeto. Tendo em vista se tratar de crime plurissub- sistente, é possível o fracionamento do iter criminis e, portanto, o reconhecimento de eventual tentativa (conatus). Exemplo de prova TJ SP: Tício, intencional- mente, inutilizou o lacre colocado por perito criminal do Instituto Médico Legal para cer- rar e preservar quarto de hotel em que fora praticado um crime. Ação Penal Pública incondicionada. Classificação doutrinária Crime comum material, unissubjetivo, uni- lateral ou de concurso eventual e em regra plurissubsistente. Subtração ou inutilização de livro ou documento Art. 337. SUBTRAIR, OU INUTILIZAR, total ou parcialmen- te, livro oficial, processo ou documento confiado à custódia de funcionário, em razão de ofício, ou de particular em ser- viço público: PENA: RECLUSÃO de 2 a 5 ANOS, se o fato não constitui crime mais grave. Considerações iniciais No artigo 337, o crime de subtração ou inuti- lização de livro ou documento é considerado comum. Já o crime do artigo 314 é praticado por funcionário público (crime próprio). Objetividade jurídica É a administração pública. Objeto material Livro oficial, processo ou documento (públi- co ou particular) confiado à custódia de fun- cionário, em razão de ofício, ou de particular em serviço público. xi xi xx x ix xx xx xx xx x xi xx xi xx xx xx i xx xx xi x iix xx xx xx xx xi xi xx x ix xx xx xx xx x xi xx xi xx xx xx i xx xx xi x iix xx xx xx xx xixixx xixxxxxxxxxx xixxxixxxxxx i xxxxxix iixxxxxxxxx 34 www.neafconcursos.com.br DI RE IT O PE NA L Conduta / Núcleo do Tipo “Subtrair” e “inutilizar”. Sujeito ativo Trata-se crime comum ou geral. Sujeito passivo É o Estado e, de forma indireta, a pessoa fí- sica ou jurídica prejudicada pela conduta criminosa, como no caso do titular do docu- mento confiado à custódia do funcionário público. Elemento subjetivo dolo, independentemente de qualquer fina- lidade específica. A modalidade culposa não é admitida. Consumação / Tentativa Trata-se de crime material, consumado-se quando o livro oficial, processo ou documen- to é subtraído mediante seu apoderamento pelo agente. Tendo em vista a possibilidade de fraciona- mento do iter criminis é possível a tentativa. Ação Penal Pública incondicionada.Classificação doutrinária Crime comum, material, unissubjetivo, uni- lateral ou de concurso eventual e em regra plurissubsistente. Subsidiariedade expressa (Art. 337, parágrafo único) No preceito secundário consta expressa- mente que a pena é de “reclusão, de dois a cinco anos, se o fato não constitui crime mais grave”. DOS CRIMES PRATICADOS POR FUNCIONÁRIO PÚBLICO DOS CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR Art. 314 – Extravio, sonega- ção ou inutilização de livro ou documento Art. 337 – Subtração ou inutili- zação de livro ou documento Extraviar livro oficial ou qual- quer documento, de que tem a guarda em razão do cargo; so- negá-lo ou inutilizá-lo, total ou parcialmente: Subtrair, ou inutilizar, total ou parcialmente, livro oficial, pro- cesso ou documento confiado à custódia de funcionário, em razão de ofício, ou de particular em serviço público: RECLUSÃO de 1 a 4 ANOS, se o fato não constitui crime mais grave. * Nota explicativa: Crime ex- pressamente subsidiário... se o fato não constitui crime mais grave. RECLUSÃO de 2 a 5 ANOS, se o fato não constitui crime mais grave. * Nota explicativa: Crime ex- pressamente subsidiário... se o fato não constitui crime mais grave. CAPÍTULO III DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA Denunciação caluniosa Art. 339. DAR causa à instauração de inquérito policial, de procedimento investigatório criminal, de processo judicial, de processo administrativo disciplinar, de inquérito civil ou de ação de improbidade administrativa contra alguém, im- putando-lhe crime, infração ético-disciplinar ou ato ímpro- bo de que o sabe inocente: PENA: RECLUSÃO de 2 a 8 ANOS + MULTA. § 1º A PENA É AUMENTADA § 2º A PENA É DIMINUÍDA A pena é AUMENTADA de 1/6, se o agente se serve de ANONIMATO ou de NOME SUPOSTO. A pena é DIMINUÍDA de METADE, se a imputação é de prática de CONTRAVENÇÃO. Considerações iniciais Não se deve confundir esse crime com o cri- me de calúnia. Caso uma pessoa se limite a imputar falsamente a outra a prática de um crime, sem comunicar tal fato à autoridade competente, poderá responder apenas pelo crime contra a honra (calúnia). Por outro lado, se alguém apresentar ao de- legado uma acusação contra outra pessoa, sabendo que esta é inocente, e essa denún- cia resultar na instauração de um inquérito policial para averiguação do suposto crime, estará configurado o crime previsto no arti- go 339 do Código Penal. Objetividade jurídica É Administração da justiça. Também se pro- tege, de forma mediata, a honra e o patrimô- nio da pessoa física ou jurídica. Objeto material Inquérito policial, procedimento investigató- rio criminal, processo judicial, processo ad- ministrativo disciplinar, inquérito civil e ação de improbidade administrativa. Conduta / Núcleo do Tipo É “dar causa”, o que significa provocar ou ocasionar a instauração de inquérito poli- cial, procedimento investigatório criminal, processo judicial, processo administrativo disciplinar, inquérito civil ou ação de impro- bidade administrativa. Sujeito ativo Quando a falsa imputação se refere a um cri- me de ação penal pública incondicionada ou a uma contravenção penal com ação penal da mesma natureza, a denunciação calu- niosa é classificada como crime comum ou geral, podendo ser cometida por qualquer pessoa. Por outro lado, se a imputação falsa recai sobre um crime ou contravenção penal de ação penal pública condicionada – seja à representação do ofendido ou de seu repre- sentante legal, seja à requisição do Ministro da Justiça – ou de ação penal privada, a de- nunciação caluniosa configura-se como cri- me próprio ou especial. Sujeito passivo É o Estado e, de forma mediata, também a pessoa física ou jurídica prejudicada pela conduta pode ser considerado sujeito passivo. Elemento subjetivo Trata-se de dolo direto, pois o tipo penal utiliza a expressão “imputando-lhe crime de que o sabe inocente”. É fundamental que o agente tenha pleno conhecimento da ino- cência da pessoa a quem atribui falsamente a infração penal. Consumação / Tentativa Trata-se de crime material, consumando-se com a efetiva instauração do inquérito po- licial, procedimento investigatório criminal, processo judicial, processo administrativo disciplinar, inquérito civil ou ação de improbi- dade administrativa contra alguém, em ra zão da imputação falsa de crime, contravenção xi xi xx x ix xx xx xx xx x xi xx xi xx xx xx i xx xx xi x iix xx xx xx xx xi xi xx x ix xx xx xx xx x xi xx xi xx xx xx i xx xx xi x iix xx xx xx xx 35www.neafconcursos.com.br DIREITO PENAL Consumação / Tentativa penal, infração ético-disciplinar ou ato ím- probo, de que o agente saiba ser inocente. Doutrinariamente, afirma-se que é possível a tentativa, devido ao caráter plurissubsisten- te do delito, compatível com o fracionamen- to do iter criminis. Ação Penal Pública incondicionada. Classificação doutrinária Crime comum, material, unissubjetivo, unila- teral ou de concurso eventual e normalmen- te plurissubsistente. Causa de aumento de pena (majorante – Art. 339, § 1º) A pena é aumentada de sexta parte, se o agente se serve de anonimato ou de nome suposto. Causa de diminuição de pena (Art. 339, § 2º) A pena é diminuída de metade, se a imputa- ção é de prática de contravenção. Comunicação falsa de crime ou de contravenção Art. 340. PROVOCAR a ação de autoridade, comunican- do-lhe a ocorrência de crime ou de contravenção que sabe não se ter verificado: PENA: DETENÇÃO de 1 a 6 MESES OU MULTA. Considerações iniciais O crime descrito no artigo 340 apresenta semelhanças se comparado com o crime de denunciação caluniosa do artigo 339, mas são delitos diferentes. No crime de denunciação caluniosa, o sujeito dá causa à instauração de inquérito policial, de procedimento investigatório criminal, de processo judicial, de processo administrativo disciplinar, de inquérito civil ou de ação de improbidade administrativa contra alguém, imputando-lhe crime, infração ético-discipli- nar ou ato ímprobo de que o sabe inocente. Por outro lado, na comunicação falsa de crime ou contravenção (Art. 340), o sujeito apenas irá comunicar falsamente a ocorrên- cia de um crime ou de contravenção de que sabe não ter se verificado, provocando ação da autoridade. Aqui não se acusa falsamente nenhuma pessoa. Outro detalhe interessante se compararmos denunciação caluniosa (Art. 339) e comuni- cação falsa de crime ou contravenção (Art. 340): se a imputação for de contravenção haverá diminuição de pena no crime de de- nunciação caluniosa, o que não acontece com o crime de comunicação falsa de crime ou contravenção. Considerações iniciais Aqui neste crime, o agente provoca a ação de autoridade, comunicando-lhe a ocorrên- cia de crime ou de contravenção que sabe não se ter verificado Objetividade jurídica É a Administração da Justiça. Objeto material A ação da autoridade ilegalmente provocada pela conduta criminosa. Conduta / Núcleo do Tipo É “provocar”, que, no contexto desse crime, significa dar causa à ação da autoridade pública, induzindo sua atuação no caso concreto. Sujeito ativo Trata-se de crime comum. Sujeito passivo É o Estado. Elemento subjetivo dolo, acrescido de um especial fim de agir (elemento subjetivo específico), caracteri- zado pela intenção de provocar, de forma inútil, a ação da autoridade. A modalidade culposa não é punida. O sujeito deve comunicar a ocorrência de crime ou de contravenção que “sabe” não se ter verificado. Portanto, se a pessoa tem dúvida acerca da existência da infração pe- nal, e ainda assim comunica sua ocorrência à autoridade, o fato é atípico (não será crime). Consumação / Tentativa Trata-se de crime material, consumando-se quando a autoridade pública adota alguma ação ou providência com a finalidade de apurar a ocorrência do crime ou contraven- ção penal falsamente comunicados. Em ra- zão do caráter plurissubsistentedo delito, é possível a tentativa. Ação Penal Pública incondicionada. Classificação doutrinária Crime comum, material, unissubjetivo, unila- teral ou de concurso eventual e normalmen- te plurissubsistente. Auto-acusação falsa Art. 341. ACUSAR-SE, perante a autoridade, de crime ine- xistente ou praticado por outrem: PENA: DETENÇÃO de 3 MESES a 2 ANOS OU MULTA. Considerações iniciais Não se trata de algo muito comum, mas são diversos motivos que podem levar alguém a se auto acusar falsamente: razão de nature- za mercenária, sacrifício, álibi ou até mesmo exibicionismo. Pode-se destacar os seguintes pontos: a) a conduta de se acusar; b) perante autoridade; c) de crime (não contravenção) inexistente; d) ou praticado por outrem. Não configuraria o crime se uma pessoa afir- masse falsamente à autoridade policial, a fim de isentar o filho, ser o responsável pelo jogo de bicho (contravenção penal). Objetividade jurídica É a Administração da justiça. Objeto material É a autoacusação falsamente prestada pe- rante a autoridade, ou seja, uma declaração contaminada pela falsidade. Conduta / Núcleo do Tipo É “acusar-se”, ou seja, imputar ou atribuir a si próprio a prática de crime. Sujeito ativo Crime comum, que pode ser praticado por qualquer pessoa, salvo o autor, coautor ou partícipe do crime noticiado no bojo da au- toacusação falsa. Sujeito passivo É o Estado. Elemento subjetivo É o dolo, independentemente de qualquer finalidade específica. Não se admite a moda- lidade culposa. xi xi xx x ix xx xx xx xx x xi xx xi xx xx xx i xx xx xi x iix xx xx xx xx xi xi xx x ix xx xx xx xx x xi xx xi xx xx xx i xx xx xi x iix xx xx xx xx 36 www.neafconcursos.com.br DI RE IT O PE NA L Consumação / Tentativa Trata-se de crime formal, consumando-se no instante em que o sujeito efetua a auto acusação falsa perante a autoridade, inde- pendentemente de ser tomada qualquer providência por parte desta. A doutrina entende que é possível a tentati- va unicamente na autoacusação falsa come- tida por meio escrito (exemplo: carta que foi extraviada). Não se admite a tentativa (conatus) quando o crime é praticado verbalmente, em face do seu caráter unissubsistente, impedindo o fra- cionamento do iter criminis. Ação Penal Pública incondicionada. Classificação doutrinária Crime comum, formal, unissubjetivo, unila- teral ou de concurso eventual, mas admite o concurso. Denunciação Caluniosa Art.339 Comunicação Falsa De Crime Ou De Contravenção Art.340 Autoacusação Falsa Art.341 DAR causa à instau- ração de inquérito policial, de procedi- mento investigatório criminal, de processo judicial, de processo administrativo disci- plinar, de inquérito civil ou de ação de improbidade ad- ministrativa contra alguém, imputando- -lhe crime, infração ético-disciplinar ou ato ímprobo de que o sabe inocente: PROVOCAR a ação de autoridade, co- municando-lhe a ocorrência de crime ou de contravenção que sabe não se ter verificado: ACUSAR-SE, peran- te a autoridade, de crime inexistente ou praticado por outrem: RECLUSÃO de 2 ANOS a 8 ANOS + MULTA. DETENÇÃO de 1 a 6 MESES OU MULTA. DETENÇÃO de 3 MESES a 2 ANOS OU MULTA. § 1º A pena é au- mentada de 1/6, se o agente se serve de anonimato ou de nome suposto. § 2º A pena é di- minuída de me- tade, se a imputa- ção é de prática de contravenção. Observação: Foi mantido o texto original do CP em relação ao termo “au- to-acusação falsa”, porém, pelo Acordo Ortográfico de 1990, a grafia correta é “au- toacusação falsa”. Falso testemunho ou falsa perícia Art. 342. FAZER afirmação falsa, OU NEGAR OU CALAR a verdade como testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete em processo judicial, ou administrativo, inquéri- to policial, ou em juízo arbitral: PENA: RECLUSÃO de 2 a 4 ANOS + MULTA. § 1º As penas aumentam-se de 1/6 a 1/3, se o crime é prati- cado mediante suborno ou se cometido com o fim de obter prova destinada a produzir efeito em processo penal, ou em processo civil em que for parte entidade da administração pública direta ou indireta. § 2º O fato deixa de ser punível se, antes da sentença no processo em que ocorreu o ilícito, o agente se retrata ou de- clara a verdade. Considerações iniciais O que se busca por meio da proteção penal é impedir que as pessoas descritas no tipo penal (Testemunha, Perito, Contador, Tra- dutor ou Intérprete – 2 T P C I) prejudiquem a busca da verdade no processo judicial ou administrativo, inquérito policial ou em juízo Arbitral – seja falseando ou omitindo a ver- dade, de forma a prejudicar a realização da justiça. Cuidado: o acusado, mesmo se calar a ver- dade ou mentir, não comete crime de Falso Testemunho. Objetividade jurídica É a Administração da justiça. Objeto material É o depoimento prestado perante a autori- dade competente. A falsa perícia, de outro lado, pode ter como objeto material o laudo pericial, o cálculo, a tradução ou a interpre- tação, sejam estas últimas orais ou escritas. Conduta / Núcleo do Tipo 3 núcleos: “fazer afirmação falsa”, “negar a verdade” e “calar a verdade”. Sujeito ativo A doutrina denomina este crime de crime de mão própria / de atuação pessoal / de conduta infungível, ou seja, somente pode ser praticado pelas pessoas expressamente indicadas na lei. São elas: Testemunha, Perito, Contador, Tra- dutor ou Intérprete (2TPCI). Sujeito passivo É o Estado, e, de forma secundária, a pessoa física ou jurídica prejudicada pela falsidade nas declarações ou nos laudos. Elemento subjetivo É o dolo, independentemente de qualquer finalidade específica. Consumação / Tentativa Consuma-se com o encerramento do de- poimento, momento em que será reduzido a termo e assinado pela testemunha, pelo magistrado e pelas partes. A doutrina diverge sobre a possibilidade de tentativa. Majoritariamente se diz que não é possível. Ação Penal Pública incondicionada. Classificação doutrinária Crime de mão própria, doloso. comissivo ou omissivo próprio (na hipótese em que o agente, por exemplo, se cala sobre a verda- de), monossubjetivo (praticados por apenas um sujeito, entretanto, admite-se a co-au- toria e a participação) e monossubsistente (admite a prática do crime por meio de um único ato) . Causa de aumento de pena (Art. 342, § 1º) As penas aumentam de um sexto a um terço, se o crime é praticado mediante suborno ou se cometido com o fim de obter prova desti- nada a produzir efeito em processo penal, ou em processo civil em que for parte entidade da administração pública direta ou indireta. xi xi xx x ix xx xx xx xx x xi xx xi xx xx xx i xx xx xi x iix xx xx xx xx xixixx xixxxxxxxxxx xixxxixxxxxx i xxxxxix iixxxxxxxxx 37www.neafconcursos.com.br DIREITO PENAL Causa de extinção da punibilidade – Retratação (Art. 342, § 2º) O fato deixa de ser punível se, antes da sen- tença no processo em que ocorreu o ilícito, o agente se retrata ou declara a verdade. Exemplo de prova: A Banca Vunesp deu como incorreta a seguinte frase: No crime de falso testemunho ou falsa perícia, é extinta a punibilidade, se o agente se retrata ou decla- ra a verdade, até sentença irrecorrível no pro- cesso instaurado para apurar aludido crime. (pois não se trata de sentença irrecorrível). Art. 343. DAR, OFERECER OU PROMETER dinheiro ou qualquer outra vantagem a testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete, para FAZER afirmação falsa, NEGAR OU CALAR a verdade em depoimento, perícia, cálculos, tra- dução ou interpretação: PENA: RECLUSÃO de 3 a 4 ANOS + MULTA. Parágrafo único. As penas aumentam-se de 1/6 a 1/3, se o crime é cometido com o fim de obter prova destinada a produzir efeito em processo penal ou em processo civil em que for parte entidade da administração pública direta ou indireta. Considerações iniciais O legislador não atribuiu o nome iuris (rubri- ca) à figura típicadescrita no artigo 343 do CP. Na doutrina e na jurisprudência é chamado de corrupção ativa de testemunha ou perito. Os artigos 342 e 343 do Código Penal, de fato, tratam de condutas que visam prejudi- car a Administração da Justiça por meio do falso testemunho ou da falsa perícia, mas com diferenças quanto à atuação de cada envolvido na empreitada criminosa. Art. 342: Trata da testemunha ou perito que, em razão de suborno, faz afirmação fal- sa, nega ou omite a verdade. O § 1.º deste artigo dispõe que, se o agente agir de forma a falsear a verdade, ele estará sujeito a pe- nas por falso testemunho ou falsa perícia. Art. 343: Este artigo descreve o terceiro que oferece, promete ou dá dinheiro ou qualquer outra vantagem a uma testemunha ou perito com a intenção de que ele se comporte de maneira ilícita, seja fazendo uma afirmação falsa, seja se omitindo. A conduta do terceiro também é criminalizada, mas com pena mais específica, punindo o ato de corromper ou influenciar o comportamento da testemunha ou perito. Portanto, enquanto o art. 342 pune o agen- te (testemunha ou perito) que age ilicita- mente, o art. 343 pune o terceiro que ofe- rece ou promete vantagens para induzir a testemunha ou perito a cometer a infração. Inclusive a Vunesp deu a seguinte frase como incorreta: “Caio, por pagar Tício para prestar falso testemunho, e Tício, por aceitar e efe- tivamente prestar falso testemunho, incor- rem, em tese, no crime de falso testemunho.” O crime de falso testemunho não engloba a conduta de pagar alguém para prestar falso testemunho. Tal conduta possui tipo penal próprio, previsto no art. 343 do CP. Obser- ve-se que o crime de falso testemunho é crime próprio, uma vez que apenas aquele que presta a afirmação ou cala a verdade, nas Considerações iniciais condições especificadas no art. 342, pode ser autor do crime. Objetividade jurídica É a Administração da justiça. Objeto material Testemunha, perito, contador, tradutor ou in- térprete a quem se entrega, oferece ou pro- mete dinheiro ou qualquer outra vantagem. Conduta / Núcleo do Tipo 3 núcleos: “dar”, “oferecer” e “prometer”. Tra- ta-se de tipo misto alternativo, crime de ação múltipla ou de conteúdo variado. Sujeito ativo Trata-se de crime comum podendo ser co- metido por qualquer pessoa. Sujeito passivo É o Estado. Secundariamente, também pode ser considerado sujeito passivo a pessoa físi- ca ou jurídica que eventualmente seja lesado pelo Falso Testemunho. Elemento subjetivo É o dolo, acrescido de um especial fim de agir (elemento subjetivo específico). Esse fim de agir consiste na intenção de efetuar o subor- no para que a testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete realize afirmações falsas, negue ou omita a verdade durante o depoimento, perícia, cálculos, tradução ou interpretação. Esse tipo penal não admite modalidade culposa. Consumação / Tentativa Trata-se de crime formal, consumando-se com a prática da conduta de dar, oferecer ou prometer dinheiro ou qualquer outra vantagem a testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete, independentemente da anuência ou recusa dessas pessoas. A consumação do crime previsto no art. 343 do Código Penal ocorre independentemente da consumação do crime de falso testemu- nho ou falsa perícia (CP, art. 342), e sempre a antecede. A tentativa seria possível quando se fala em fracionamento do iter criminis (Carta extra- viada com oferecimento de valores para tes- temunha mentir). Ação Penal Pública incondicionada. Classificação doutrinária Crime comum, formal, unissubjetivo, unilate- ral ou de concurso eventual. Causa de aumento de pena (Art. 343, parágrafo único) As penas aumentam de um sexto a um terço, se o crime é cometido com o fim de obter prova destinada a produzir efeito em processo penal ou em processo civil em que for parte entidade da administração pública direta ou indireta. ARTS. 342 E 343 Art. 342. FAZER afirmação falsa, OU NEGAR OU CALAR a verda- de como: 1. Testemunha; 4. Tradutor; 2. Perito; 3. Contador; Art. 343. DAR, OFERECER OU PROMETER dinheiro ou qual- quer outra vantagem a: 1. Testemunha; 4. Tradutor; 2. Perito; 3. Contador; xi xi xx x ix xx xx xx xx x xi xx xi xx xx xx i xx xx xi x iix xx xx xx xx xi xi xx x ix xx xx xx xx x xi xx xi xx xx xx i xx xx xi x iix xx xx xx xx xixixx xixxxxxxxxxx xixxxixxxxxx i xxxxxix iixxxxxxxxx 38 www.neafconcursos.com.br DI RE IT O PE NA L 5. Intérprete. Em: 6. Processo Judicial; ou 7. Administrativo; 8. Inquérito Policial; ou em 9. Juízo Arbitral. 5. Intérprete. Para FAZER afirmação falsa, NE- GAR OU CALAR a verdade em: 1. Depoimento; 2. Perícia; 3. Cálculos; 4. Tradução; ou 5. Interpretação. Pena – RECLUSÃO de 2 a 4 ANOS + MULTA. Pena – RECLUSÃO de 3 a 4 ANOS + MULTA. § 1º As penas aumentam-se de 1/6 a 1/3, se o crime é praticado mediante suborno ou se come- tido com o fim de obter prova destinada a produzir efeito em: 1. Processo penal; 2. Processo civil em que for par- te entidade da administração pública direta OU indireta. Parágrafo único. As penas au- mentam-se de 1/6 a 1/3, se o crime é cometido com o fim de obter prova destinada a produ- zir efeito em*: 1. Processo penal; 2. Processo civil em que for par- te entidade da administração pública direta OU indireta. *não traz previsão “crime prati- cado mediante suborno” Coação no curso do processo Art. 344. USAR de violência ou grave ameaça, com o fim de favorecer interesse próprio ou alheio, contra autoridade, parte, ou qualquer outra pessoa que funciona ou é chama- da a intervir em processo: 1. Judicial, 2. Policial ou 3. Administrativo, ou em 4. Juízo arbitral. PENA: RECLUSÃO de 1 a 4 ANOS + MULTA, além da pena correspondente à violência. Parágrafo único. A pena aumenta-se de 1/3 até a metade se o processo envolver crime contra a dignidade sexual. Considerações iniciais O propósito do crime de coação no curso do processo é impedir manobras violentas ou ameaçadoras que frustrem a administração da justiça, interferindo no regular andamen- to do processo de qualquer natureza ou em juízo Arbitral. Objetividade jurídica É a Administração da Justiça, com ênfase na independência e isenção que devem orientar a atuação das autoridades responsá- veis pela condução e desenvolvimento dos processos judiciais, policiais ou administrati- vos, ou até mesmo juízos arbitrais. Objeto material É a pessoa física que sofre a violência ou a grave ameaça imposta pelo sujeito ativo, com o objetivo de beneficiar interesse pró- prio ou de terceiros. Conduta / Núcleo do Tipo “Usar”, no sentido de empregar ou aplicar violência (vis absoluta) ou grave ameaça (vis compulsiva) com a intenção de favorecer in- teresse próprio ou de terceiros, a fim de co- agir qualquer pessoa envolvida em processo judicial, policial ou administrativo, ou em juízo arbitral. Sujeito ativo Trata-se de crime comum. Não é necessário que o sujeito ativo tenha interesse próprio no processo judicial, policial ou administra- tivo, ou em juízo arbitral. Sujeito passivo O Estado, responsável pela integridade da Administração da justiça, e, de forma media- ta, a autoridade, a parte envolvida ou qual- quer outra pessoa que atue ou seja chamada a intervir em um processo. Elemento subjetivo O dolo, acrescido de um especial fim de agir (elemento subjetivo específico), representa- do pela expressão “com o fim de favorecer interesse próprio ou alheio”. Não é punida a modalidade culposa. Consumação / Tentativa Trata-se de crime formal, consumando-se no momento em que o sujeito usa da violência ou grave ameaça com o fim de favorecer interesse próprio ou alheio contra uma ou mais pessoas indicadas no tipo penal. É possível se falar em tentativa, tendo em vista que é cabível fracionamento da con- duta. Na modalidade verbal, não será pos- sível a tentativa, pois o crime se consuma no momento em que a ameaça é proferida,não sendo passível de fracionamento do iter criminis. Ação Penal Pública incondicionada. Classificação doutrinária Crime comum, formal, unissubjetivo, unila- teral ou de concurso eventual e unissubsis- tente ou plurissubsistente, conforme o caso concreto. Causa de aumento de pena (Art. 344, parágrafo único) A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até a metade se o processo envolver crime contra a dignidade sexual. Concurso material A pena cominada para o artigo 344 é de re- clusão de 1 a 4 anos e multa. O próprio dis- positivo ressalva que é possível ter, além da penalidade prevista, a pena correspondente à violência. Exercício arbitrário das próprias razões Art. 345. FAZER justiça pelas próprias mãos, para satisfazer pretensão, embora legítima, SALVO quando a lei o permite: PENA: DETENÇÃO de 15 DIAS a 1 MÊS OU MULTA, além da pena correspondente à violência. Parágrafo único. Se não há emprego de violência, somente se procede mediante QUEIXA. Considerações iniciais Tutela-se a administração da Justiça, ou seja, ninguém pode arbitrariamente fazer justiça por si mesmo. Caso uma pessoa tenha ou suponha ter um direito contra alguém deve buscar o Poder Judiciário e não resolver as questões pelo uso da força. xi xi xx x ix xx xx xx xx x xi xx xi xx xx xx i xx xx xi x iix xx xx xx xx xi xi xx x ix xx xx xx xx x xi xx xi xx xx xx i xx xx xi x iix xx xx xx xx xixixx xixxxxxxxxxx xixxxixxxxxx i xxxxxix iixxxxxxxxx 39www.neafconcursos.com.br DIREITO PENAL Objetividade jurídica É a Administração da justiça. Objeto material Pessoa ou coisa contra a qual se dirige o exercício arbitrário das próprias razões. Conduta / Núcleo do Tipo “Fazer” justiça pelas próprias mãos, no sen- tido de satisfazer pretensão pessoal sem buscar ajuda Estatal, mediante a atuação do Poder Judiciário. Cuidado: A parte final do caput do art. 345 do Código Penal – “salvo quando a lei o per- mite” – aqui o legislador desejou afirmar ex- pressamente que não há crime de exercício arbitrário das próprias razões nas situações em que a lei taxativamente autoriza a auto- tutela de um direito (por exemplo a legítima defesa ou desforço imediato para proteção da posse) Sujeito ativo Trata-se de crime comum. Sujeito passivo É o Estado e, mediatamente, a pessoa fí- sica ou jurídica prejudicada pela conduta criminosa. Elemento subjetivo dolo, acrescentado de um especial fim de agir (elemento subjetivo específico), repre- sentado pela expressão “para satisfazer pre- tensão, embora legítima”. Não se admite a modalidade culposa Consumação / Tentativa Consuma-se com o emprego do meio ar- bitrário, ainda que o agente não consiga satisfazer a sua pretensão (STJ. 6ª Turma. REsp 1860791, j. 09/02/2021). Há divergência doutrinária. É possível o reconhecimento da tentativa, haja vista tratar-se de crime plurissubsistente. Ação Penal Se não há emprego de violência, somente se procede mediante queixa (Ação penal privada). Caso haja violência, a ação penal será pública. Classificação doutrinária Crime comum no que diz respeito ao sujeito ativo, bem quanto ao sujeito passivo, doloso, plurissubsistente e transeunte. Art. 346. TIRAR, SUPRIMIR, DESTRUIR OU DANIFICAR coisa própria, que se acha em poder de terceiro por deter- minação judicial ou convenção: PENA: DETENÇÃO de 6 MESES a 2 ANOS + MULTA. Considerações iniciais Não existe qualquer rubrica ao artigo 346 do CP. A doutrina chama este crime de subtra- ção ou dano de coisa própria em poder de terceiro. Objetividade jurídica É a Administração da justiça. Objeto material A coisa própria, móvel ou imóvel, que se acha em poder de terceiro por determina- ção judicial ou convenção, tirada, suprimida, destruída ou danificada. Conduta / Núcleo do Tipo 4 núcleos: “tirar”, “suprimir”, “destruir” e “danificar”. Sujeito ativo Crime próprio, somente o proprietário da coisa que se acha em poder de terceiro por determinação judicial ou convenção é que pode ser considerado sujeito ativo do delito tipificado no art. 346 do Código Penal. Sujeito passivo É o Estado, bem como aquele que foi preju- dicado com a conduta praticada pelo sujeito ativo. Elemento subjetivo O dolo, independentemente de qualquer finalidade específica. Não se admite a moda- lidade culposa. Consumação / Tentativa Consuma-se com a prática de uma das ações típicas, isto é, com a tirada, supressão, des- truição ou danificação da coisa própria que se acha em poder de terceiro. A tentativa é admissível. Ação Penal Pública incondicionada. Classificação doutrinária Crime próprio, material, unissubjetivo, unila- teral ou de concurso eventual e normalmen- te plurissubsistente. Trata-se de crime de ação múltipla. Ações nucleares: Tirar, suprimir, destruir ou danificar. Fraude processual Art. 347. INOVAR artificiosamente, na pendência de pro- cesso civil ou administrativo, o estado de: 3. Lugar; 4. de Coisa; ou 5. de pessoa. Com o fim de induzir a erro o: 1. Juiz ou 2. Perito. PENA: DETENÇÃO de 3 MESES a 2 ANOS + MULTA. Parágrafo único. Se a inovação se destina a produzir efei- to em PROCESSO PENAL, ainda que não iniciado, as penas aplicam-se em DOBRO. (...) Considerações iniciais Quando o dispositivo fala “inovar artificiosa- mente”, está indicando um ardil ou artifício com finalidade de enganar, iludir, modifican- do o estado de lugar, de coisa ou de pessoa, com escopo de induzir a erro o juiz ou o perito. Objetividade jurídica É a Administração da justiça. Objeto material É a coisa, o lugar ou a pessoa que suporta a inovação artificiosa. Conduta / Núcleo do Tipo É “inovar”, no sentido de modificar ou alterar algo, introduzindo uma novidade. Sujeito ativo Trata-se de crime comum. Sujeito passivo O sujeito passivo é o Estado, bem como aquele que foi de alguma forma prejudicado com a conduta praticada pelo sujeito ativo. xi xi xx x ix xx xx xx xx x xi xx xi xx xx xx i xx xx xi x iix xx xx xx xx xixixx xixxxxxxxxxx xixxxixxxxxx i xxxxxix iixxxxxxxxx 40 www.neafconcursos.com.br DI RE IT O PE NA L Elemento subjetivo o dolo, acrescido de um especial fim de agir (elemento subjetivo específico), consistente na intenção de induzir a erro o juiz ou perito. Não se admite a modalidade culposa. Consumação / Tentativa Trata-se de crime formal. Consuma-se no momento em que o agente utiliza de artifí- cio (meio fraudulento) para inovar na pen- dência de processo civil, administrativo, ou de processo penal, ainda que não iniciado, o estado de lugar, de coisa ou de pessoa, com o fim de induzir a erro o juiz ou o perito. A tentativa é possível, em razão do caráter plurissubsistente do delito, compatível com o fracionamento do iter criminis. Ação Penal Pública incondicionada. Classificação doutrinária Crime comum, formal, unissubjetivo e nor- malmente plurissubsistente. Causa de aumento de pena (Art. 347, parágrafo único) Se a inovação se destina a produzir efeito em processo penal, ainda que não iniciado, as penas aplicam-se em dobro. Exploração de prestígio Art. 357. SOLICITAR OU RECEBER dinheiro ou qualquer outra utilidade, a pretexto de influir em: 1. Juiz; 2. Jurado; 3. Órgão do Ministério Público; 4. Funcionário de justiça; 5. Perito; 6. Tradutor; 7. Intérprete; ou 8. Testemunha: PENA: RECLUSÃO de 1 a 5 ANOS + MULTA. Parágrafo único. As penas aumentam-se de 1/3, se o agen- te alega ou insinua que o dinheiro ou utilidade também se destina a qualquer das pessoas referidas neste artigo. (...) Considerações iniciais Trata-se de hipótese similar àquela prevista pelo art. 332 do Código Penal, que cuida do delito de tráfico de influência. A bem da verdade, ele não possui influência na atuação do magistrado, apenas alega ter total prestígio. Eventualmente, se o sujeito ativo realmente ostentar e possui prestígio e que possa corromper o magistrado, o crime Considerações iniciais seria de corrupção ativa descritono artigo 333 e o destinatário (magistrado) responderá pelo artigo 317 (corrupção passiva). Objetividade jurídica É a Administração da justiça. Objeto material Dinheiro ou qualquer outra utilidade, seja qual for sua natureza (econômica, moral, se- xual etc.), solicitada ou recebida a pretexto Objeto material de influir em juiz, jurado, órgão do Ministério Público, funcionário de justiça, perito, tradu- tor, intérprete ou testemunha. Conduta / Núcleo do Tipo Contém dois núcleos: “solicitar” e “receber”. Sujeito ativo Trata-se de crime comum. Sujeito passivo É o Estado e, mediatamente, o comprador do prestígio, ou seja, a pessoa que entrega di- nheiro ou outra utilidade com o propósito de obter algum benefício, lícito ou ilícito, junto a qualquer das pessoas indicadas no art. 357, caput, do Código Penal Elemento subjetivo Dolo + um especial fim de agir (elemento subjetivo específico), representado pela ex- pressão “a pretexto de influir em juiz, jurado, órgão do Ministério Público, funcionário de justiça, perito, tradutor, intérprete ou teste- munha”. Não é punida a forma culposa. Consumação / Tentativa Na modalidade “solicitar”, o crime é formal (consuma-se no instante em que o sujeito ativo formula o pedido de dinheiro ou qual- quer outra utilidade). Na modalidade “receber”, o crime é material ou causal: dá-se a consumação no momento em que o agente efetivamente ingressa na posse do dinheiro ou da utilidade de outra natureza. Dependendo da forma como for praticado o delito, poderá ser reconhecida a tentativa. Se a forma for verbal, impossível a tentativa (conatus) Ação Penal Pública incondicionada. Classificação doutrinária Crime comum, formal (na modalidade “solici- tar”) ou material (no núcleo “receber”), unis- subjetivo, unilateral ou de concurso eventual e unissubsistente (na solicitação verbal) ou plurissubsistente (nos demais casos). Causa de aumento de pena (Art. 357, parágrafo único) As penas aumentam-se de 1/3, se o agente alega ou insinua que o dinheiro ou utilidade também se destina a qualquer das pessoas referidas no artigo. Crimes praticados por PARTICULAR contra a Administração Em Geral Dos Crimes contra a ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA Tráfico de Influência (1/2 SECO) Exploração de prestígio (RESO 1/3) Art. 332. SOLICITAR, EXIGIR, COBRAR OU OBTER, 1 – Para si ou para outrem, 2 – Vantagem ou promessa de vantagem, 3 – A pretexto de influir em ato praticado por funcionário públi- co no exercício da função. Art. 357. SOLICITAR OU RECEBER 1 – Dinheiro ou qualquer outra utilidade, 2 – A pretexto de influir em (aqui há um rol): 2.1 – Juiz; 2.2 – Jurado; 2.3 – Órgão do Ministério Público; xi xi xx x ix xx xx xx xx x xi xx xi xx xx xx i xx xx xi x iix xx xx xx xx xixixx xixxxxxxxxxx xixxxixxxxxx i xxxxxix iixxxxxxxxx 41 DIREITO PENAL www.neafconcursos.com.br 2.4 – Funcionário de Justiça; 2.5 – Perito; 2.6 – Tradutor; 2.7 – Intérprete; ou 2.8 – Testemunha. Pena – RECLUSÃO de 2 a 5 ANOS + MULTA. Pena – RECLUSÃO de 1 a 5 ANOS + MULTA. Parágrafo único. A pena é au- mentada da METADE: Se o agente alega ou insinua que a vantagem é também des- tinada ao funcionário. Parágrafo único. As penas au- mentam-se de 1/3: Se o agente alega ou insinua que o dinheiro ou utilidade tam- bém se destina a qualquer das pessoas referidas neste artigo. Desobediência a decisão judicial sobre perda ou sus- pensão de direito Art. 359. EXERCER 1. Função, 2. Atividade, 3. Direito, 4. Autoridade ou 5. Múnus, De que foi suspenso ou privado por decisão judicial: PENA: DETENÇÃO de 3 MESES a 2 ANOS OU MULTA. Considerações iniciais Trata-se de modalidade especial do delito de desobediência, tipificado pelo art. 330 do Código Penal. Aqui no art. 359, há elementos especiais, pois o agente não desobedece Considerações iniciais uma simples ordem legal emitida por qual- quer funcionário público, ele avança e exer- ce função, atividade, direito, autoridade ou múnus que estava suspenso ou privado por decisão judicial. Objetividade jurídica É a Administração da justiça. Objeto material É a função, atividade, direito, autoridade ou múnus indevidamente exercido pelo agente, em oposição a determinação judicial. Conduta / Núcleo do Tipo Exercer função, atividade, direito, autoridade ou múnus do qual o sujeito ativo estava sus- penso ou privado por decisão judicial. Sujeito ativo Crime próprio, pois somente pode ser prati- cado pela pessoa que, por decisão judicial, foi suspensa ou privada relativamente ao exercício de determinada função, atividade, direito, autoridade ou múnus (maioria da doutrina). Sujeito passivo É o Estado. Elemento subjetivo o dolo, independentemente de qualquer fi- nalidade específica. Não se admite a moda- lidade culposa Consumação / Tentativa Trata-se de crime formal, consumando-se quando o agente inicia o exercício, afrontan- do a decisão judicial. A tentativa é admissível. Ação Penal Pública incondicionada. Classificação doutrinária Crime próprio, formal, unissubjetivo, unilate- ral ou de concurso eventual e normalmente plurissubsistente. FONTE: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del 2848compilado.htm ÚLTIMAS QUESTÕES DE ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO APLICADAS EM 2024 PELA BANCA VUNESP 1. (VUNESP – 2024 – TJSP – ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁ- RIO) A respeito do crime de petrechos de falsificação, previsto no artigo 294 do Código Penal, assinale a alternativa correta. A) Tem por objeto material o objeto (instrumento) destinado à falsi- ficação de papéis públicos e particulares. B) Admite a modalidade culposa. C) É crime instantâneo e inadmite tentativa. D) É crime próprio de funcionário público. E) É crime de ação múltipla ou de conteúdo variado. COMENTÁRIOS: A) Incorreta. O art. 294 do CP tipifica diferentes condutas que envolvem objeto destinado à falsificação dos papéis especifi- cados pelo art. 293 do CP. Observa-se que os dois artigos inte- gram o Capítulo II do Título “crimes contra a fé pública”, deno- minado “da falsidade de títulos e outros papéis públicos”. Dessa forma, a alternativa, ao incluir a falsificação de papéis particu- lares como destinação do objeto, vai além do que prevê o artigo. Petrechos de falsificação Art. 294 – Fabricar, adquirir, fornecer, possuir ou guardar objeto especialmente destinado à falsificação de qualquer dos papéis referidos no artigo anterior: Pena – reclusão, de um a três anos, e multa. Falsificação de papéis públicos Art. 293 – Falsificar, fabricando-os ou alterando-os: I – selo destinado a controle tributário, papel selado ou qual- quer papel de emissão legal destinado à arrecadação de tri- buto; (Redação dada pela Lei n. 11.035, de 2004) II – papel de crédito público que não seja moeda de curso legal; III – vale postal; IV – cautela de penhor, caderneta de depósito de caixa eco- nômica ou de outro estabelecimento mantido por entidade de direito público; V – talão, recibo, guia, alvará ou qualquer outro documento relativo a arrecadação de rendas públicas ou a depósito ou caução por que o poder público seja responsável; VI – bilhete, passe ou conhecimento de empresa de xi xi xx x ix xx xx xx xx x xi xx xi xx xx xx i xx xx xi x iix xx xx xx xx 42 www.neafconcursos.com.br DI RE IT O PE NA L transporte administrada pela União, por Estado ou por Município: Pena – reclusão, de dois a oito anos, e multa. [...] B) Incorreta. Cabe lembrar que a regra geral do CP é que os crimes sejam dolosos, de modo que a admissão da modalida- de culposa está vinculada à necessária previsão legal. Diferen- te da admissão de tentativa, por exemplo, que abre margem para discussão doutrinária, a tipificação culposa de um crime está atrelada ao texto da lei. No caso do art. 294, não há men- ção à modalidade culposa, o que se estende a todos os crimes contra a fé pública. C) Incorreta. O crime instantâneo é aquele cujo exaurimento não se prolongano tempo, diferente do crime permanente. No caso de crimes de ação múltipla (também chamados de ação multinuclear ou de tipo misto), existe uma variedade de dife- rentes ações caracterizadoras do tipo penal, permitindo que algumas sejam instantâneas e outras de caráter permanente. É o caso do crime previsto no art. 294. Enquanto o verbo forne- cer, por exemplo, indica uma ação pontual, o verbo possuir su- gere uma ação que se prolonga no tempo. Dessa forma, pode- -se concluir que o crime em análise pode ser instantâneo ou permanente, a depender da ação efetivada no caso concreto. Na doutrina, afirma-se que o crime é considerado instantâneo nas modalidades de “fabricar”, “adquirir” e “fornecer”, pois essas condutas se consumam em um único momento, sem continui- dade no tempo. Por outro lado, é considerado permanente nas condutas de “possuir” e “guardar”, já que a situação ilícita se prolonga enquanto o agente mantiver o objeto da infração sob sua posse ou guarda. Com relação à possibilidade de tentativa, observa-se que os crimes a admitem quando podem ser fracionados. Com rela- ção ao artigo 294, não existe um consenso doutrinário a respei- to. Enquanto autores como Cleber Masson consideram que o crime em questão não admite tentativa, outros doutrinadores, como Rogerio Sanches, consideram possível a forma tentada desse tipo penal. D) Incorreta. Para que um crime seja próprio de funcionário pú- blico, é necessário que haja expressa previsão legal, como ocorre em qualquer crime próprio. No caso do art. 294, não há qualquer especificação nesse sentido. Trata-se, portanto, de crime co- mum, ou seja, que não atribui qualidades específicas ao autor. Cuidado: Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-se do cargo, aumenta-se a pena de sexta parte. (Art. 295) E) Correta. O tipo penal em questão de fato apresenta diferen- tes núcleos tipificadores, conforme apontado no comentário da alternativa “C”. GABARITO ALTERNATIVA “E” 2. (VUNESP – 2024 – TJSP – ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁ- RIO) Mévia, advogada, cedeu a Tícia, sua irmã gêmea, a carteira profissional da OAB, para ela ingressar no presídio, passando-se por advogada, a fim de visitar, quando quisesse, o namorado que se encontrava preso. Tícia, de fato, usou o documento profissional de Mévia, por várias vezes, sendo descoberta na última vez. Dian- te da situação hipotética, assinale a alternativa correta. A) Mévia e Tícia incorreram no crime do artigo 308, do Código Penal (uso de documento de identidade alheia). B) Tícia incorreu no crime do artigo 308, do Código Penal (uso de documento de identidade alheia). Mévia não incorreu em qual- quer crime, por ausência de previsão típica para a cessão de do- cumento de identidade a outrem. C) Tícia incorreu no crime do artigo 307, do Código Penal (falsa identidade). Mévia não incorreu em qualquer crime, por ausên- cia de previsão típica para a cessão de documento de identidade a outrem. D) Mévia e Tícia não incorreram em qualquer crime, visto que o uso de documento de identidade alheia e falsa identidade, para se caracterizar como crime, exige vantagem patrimonial indevida. E) Mévia e Tícia incorreram no crime do artigo 307, do Código Penal (falsa identidade). COMENTÁRIOS: A) Correta. O artigo 308 do CP apresenta mais de um núcleo tipificador, de modo que tanto o uso quanto a cessão dos obje- tos especificados caracterizam o crime. CUIDADO: O legislador não conferiu nomen juris ao crime definido no art. 308 do Có- digo Penal. Na doutrina é chamado de “uso de documento de identidade alheia”. Art. 308 – Usar, como próprio, passaporte, título de eleitor, caderneta de reservista ou qualquer documento de identi- dade alheia ou ceder a outrem, para que dele se utilize, do- cumento dessa natureza, próprio ou de terceiro: Pena – detenção, de quatro meses a dois anos, e multa, se o fato não constitui elemento de crime mais grave. B) Incorreta. Conforme observado no comentário da alternati- va anterior, a cessão de documento de identidade também compõe o tipo penal do art. 308. C) Incorreta. O crime previsto no art. 307 possui caráter mais genérico, limitando-se a tipificar a atribuição de falsa identida- de a si ou a terceiro. Já o art. 308 descreve condutas específicas, delimitando, entre outras, a ação de utilizar documento de identidade alheio. Art. 307 – Atribuir-se ou atribuir a terceiro falsa identida- de para obter vantagem, em proveito próprio ou alheio, ou para causar dano a outrem: Pena – detenção, de três meses a um ano, ou multa, se o fato não constitui elemento de crime mais grave. D) Incorreta. A redação do art. 308 não impõe finalidade espe- cífica ou resultado naturalístico para o uso ou cessão dos obje- tos listados no tipo penal, entre os quais o documento de iden- tidade alheia. Dessa forma, o uso ou a cessão desses objetos resultam na incidência do crime independentemente da finali- dade por trás dessas ações ou da ocorrência de um resultado, como uma vantagem patrimonial indevida. Trata-se, portanto, de crime formal, bastante o uso ou a cessão do documento de identidade alheia para caracterizar o tipo penal. E) Incorreta. Conforme já comentado, o art. 308 é responsável por tipificar o uso ou a cessão de documento de identidade alheio. GABARITO ALTERNATIVA “A” 3. (VUNESP – 2024 – TJSP – ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁ- RIO) Tendo em conta o crime de fraudes em certames de interes- se público, é correto afirmar: A) o dano à administração pública enseja causa de aumento da pena. xixixx xixxxxxxxxxx xixxxixxxxxx i xxxxxix iixxxxxxxxx xixixx xixxxxxxxxxx xixxxixxxxxx i xxxxxix iixxxxxxxxx 43www.neafconcursos.com.br DIREITO PENAL B) é crime próprio de funcionário público ou de pessoas que te- nham por função atuar na elaboração e na aplicação de concur- sos, processos seletivos, avaliações e exames. C) tem por objeto material conteúdo sigiloso de concurso público; de processo seletivo para ingresso no Ensino Superior, pouco im- portando se em instituição pública ou privada; de avaliação ou exame públicos e de exame ou processo seletivo previstos em lei. D) só se caracteriza se resultar comprometimento à credibilidade do certame. E) é qualificado quando praticado por funcionário público. COMENTÁRIOS: A) Incorreta. O dano à administração pública constitui qualifi- cadora do tipo penal. Vale lembrar que a qualificadora altera o intervalo da pena imposta ao crime, ao invés de implicar em uma fração de aumento, como ocorre com as causas de au- mento de pena. Art. 311-A. Utilizar ou divulgar, indevidamente, com o fim de beneficiar a si ou a outrem, ou de comprometer a credibi- lidade do certame, conteúdo sigiloso de: (Incluído pela Lei 12.550. de 2011) I – concurso público; (Incluído pela Lei 12.550. de 2011) II – avaliação ou exame públicos; (Incluído pela Lei 12.550. de 2011) III – processo seletivo para ingresso no ensino superior; ou (Incluído pela Lei 12.550. de 2011) IV – exame ou processo seletivo previstos em lei: (Incluído pela Lei 12.550. de 2011) Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. (Inclu- ído pela Lei 12.550. de 2011) § 1º Nas mesmas penas incorre quem permite ou facilita, por qualquer meio, o acesso de pessoas não autorizadas às informações mencionadas no caput. (Incluído pela Lei 12.550. de 2011) § 2º Se da ação ou omissão resulta dano à administração pública: (Incluído pela Lei 12.550. de 2011) Pena – reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa. (Incluído pela Lei 12.550. de 2011) § 3º Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se o fato é come- tido por funcionário público. (Incluído pela Lei 12.550. de 2011) CUIDADO: O Crime do art 311-A também apresenta causa de aumento de pena – pena será aumentada em 1/3 se o crime for cometido por funcionário público, valendo-se da sua condição profissional. B) Incorreta. Trata-se de crime comum, que não restringe a au- toria a qualidades específicas do agente. O fato de o autor ser funcionáriopúblico constitui causa de aumento de pena, pre- vista no parágrafo 3º do art. 311-A do CP. Art. 311-A. ... § 3º Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se o fato é cometi- do por funcionário público. C) Correta. O art. 311-A do Código Penal contempla os seguin- tes objetos materiais: I – concurso público; II – avaliação ou exame públicos; III – processo seletivo para ingresso no ensino superior; e IV – exame ou processo seletivo previstos em lei. É provável que o objetivo da banca, nessa alternativa, tenha sido confundir o aluno com relação ao processo seletivo para ingresso no ensino superior. Isso porque, diferente das demais hipóteses previstas, nesse caso, não há vinculação ao caráter público do objeto ou à lei, como ocorre nas demais hipóteses listadas pelo art. 311-A do CP. D) Incorreta. O comprometimento da credibilidade do certame é uma das finalidades delimitadas pelo tipo penal, que não exi- ge sua efetivação (crime formal). A concretização de qualquer prejuízo à administração pública caracteriza qualificadora, conforme previsto pelo § 2º do art. 311-A do CP. Art. 311-A. Utilizar ou divulgar, indevidamente, com o fim de beneficiar a si ou a outrem, ou de comprometer a credibi- lidade do certame, conteúdo sigiloso de ... § 2º Se da ação ou omissão resulta dano à administração pública: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa. E) Incorreta. Como comentado na alternativa “B”, o fato de o agente ser funcionário público caracteriza causa de aumento de pena e não qualificadora, prevista no § 3º do art. 311-A do CP. GABARITO ALTERNATIVA “C” 4. (VUNESP – 2024 – TJSP – ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁ- RIO) A respeito da reparação do dano no crime de peculato, assi- nale a alternativa correta. A) Extingue a punibilidade, no peculato culposo, e implica diminui- ção da pena, da metade, no peculato mediante erro de outrem, desde que feita antes da denúncia. B) Extingue a punibilidade, no crime de peculato mediante erro de outrem, desde que feita antes da denúncia. Se feita posterior- mente, implica diminuição da pena, da metade. C) Extingue a punibilidade, no peculato culposo e no peculato me- diante erro de outrem, desde que feita antes da sentença irrecor- rível. D) Extingue a punibilidade, no peculato culposo, quando feita an- tes da sentença irrecorrível. Se feita posteriormente, implica di- minuição da pena, da metade. E) Extingue a punibilidade, no peculato culposo, e implica diminui- ção da pena, da metade, no peculato mediante erro de outrem, desde que feita antes da sentença irrecorrível. COMENTÁRIOS: A) Incorreta. De fato, a reparação do bem, no peculato culposo, extingue a punibilidade, desde que realizada antes da sentença irrecorrível. Contudo, no caso do peculato mediante erro de ou- trem, que constitui tipo penal próprio, não há previsão de que a reparação do dano implique diminuição de metade da pena. Observe-se que a reparação do dano, antes do julgamento, sempre caracteriza hipótese atenuante genérica, prevista no art. 65 do CP, inciso III, “b” (incidindo, portanto, na segunda fase de dosimetria da pena). Para que tal circunstância seja causa de diminuição de pena, no entanto, é necessária disposição espe- cífica (que incide na terceira fase da dosimetria da pena), o que não ocorre no caso do crime previsto no art. 313. Art. 312 – Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em pro- veito próprio ou alheio: Pena – reclusão, de dois a doze anos, e multa. § 1º – Aplica-se a mesma pena, se o funcionário público, em- bora não tendo a posse do dinheiro, valor ou bem, o subtrai, ou concorre para que seja subtraído, em proveito próprio ou xixixx xixxxxxxxxxx xixxxixxxxxx i xxxxxix iixxxxxxxxx xixixx xixxxxxxxxxx xixxxixxxxxx i xxxxxix iixxxxxxxxx 44 www.neafconcursos.com.br DI RE IT O PE NA L alheio, valendo-se de facilidade que lhe proporciona a qua- lidade de funcionário. Peculato culposo § 2º – Se o funcionário concorre culposamente para o crime de outrem: Pena – detenção, de três meses a um ano. § 3º – No caso do parágrafo anterior, a reparação do dano, se precede à sentença irrecorrível, extingue a punibilidade; se lhe é posterior, reduz de metade a pena imposta. Peculato mediante erro de outrem Art. 313 – Apropriar-se de dinheiro ou qualquer utilidade que, no exercício do cargo, recebeu por erro de outrem: Pena – reclusão, de um a quatro anos, e multa. B) Incorreta. Os efeitos descritos estão corretos, mas ocorrem no caso do peculato culposo, e não no peculato mediante erro de outrem. C) Incorreta. A punibilidade é extinta por reparação do dano antes da sentença irrecorrível apenas no caso do peculato culposo. D) Correta. Para resolver a questão, o candidato tinha que lem- brar os efeitos da reparação do dano no peculato culposo, a depender do momento dessa reparação. Ou seja, lembrar que, até a sentença irrecorrível, ocorre a extinção da punibilidade, enquanto a reparação posterior resulta na diminuição de me- tade da pena. E) Incorreta. Não há diminuição da pena por reparação do dano no peculato mediante erro de outrem. GABARITO ALTERNATIVA “D” 5. (VUNESP – 2024 – TJSP – ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁ- RIO) A respeito dos crimes contra a administração pública e con- tra a administração da justiça, assinale a alternativa correta. A) Mévio, ao praticar o crime de exercício arbitrário das próprias ra- zões, empregando violência, somente será processado median- te ação penal pública condicionada à representação da vítima. B) Caio, por pagar Tício para prestar falso testemunho, e Tício, por aceitar e efetivamente prestar falso testemunho, incorrem, em tese, no crime de falso testemunho. C) Tício, funcionário público, ao deixar de punir Mévio, seu subordi- nado, por falta funcional, em razão de ter sido presenteado por ele com uma caixa de vinho, em tese, incorre no crime de con- descendência criminosa. D) Caio, ao dar ensejo à instauração de procedimento administrati- vo contra Tício, funcionário público, imputando infração discipli- nar que o sabe inocente, em tese, incorre no crime de denuncia- ção caluniosa. E) Tício, ao afirmar falsamente à autoridade policial, a fim de isentar o filho, ser o responsável pelo jogo de bicho (contravenção pe- nal), em tese, incorre no crime de autoacusação falsa. COMENTÁRIOS: Essa questão da VUNESP realmente demonstra uma mudança no estilo de cobrança da banca, que parece ter exigido do can- didato um conhecimento mais técnico e aprofundado do Di- reito Penal. A abordagem foi bem detalhada e desafiadora, apresentando casos hipotéticos e exigindo um exame cuida- doso dos tipos penais descritos nas alternativas. O examinador explorou diversas modalidades de crimes, exigindo que o can- didato fosse além do básico e aplicasse o conhecimento da “lei seca” para fazer o enquadramento adequado (tipicidade). A questão reflete uma exigência de atenção extrema, pois além de demandar um conhecimento sólido da legislação, ela também requer a capacidade de identificar nuances nos tipos penais apresentados. Provas com esse estilo, que são mais tra- balhosa e cansativas, forçam o candidato a aprimorar a capaci- dade de análise e interpretação das questões. O aprendizado principal desse estilo de cobrança é a neces- sidade de treinar para o tradicional, mas também estar atento às novas formas de indagação. O candidato deve ser capaz de identificar e analisar com precisão as alternativas, perceber as sutilezas e, principalmente, aplicar de forma técnica e assertiva os conceitos do Direito Penal. A) Incorreta. A alternativa afirmou que “Mévio, ao praticar o cri- me de exercício arbitrário das próprias razões, empregando violência, somente será processado mediante ação penal pú- blica condicionada à representação da vítima.” De modo geral, os crimes contra a administração pública e contra a administração da justiça são de açãoO resul- tado naturalístico é mencionado como um fim almejado pelo agente, e não como algo que deva ser concretizado. Ex: crime de corrupção passiva (art. 317). A conduta descrita consiste em solici- tar ou receber vantagem ou aceitar promessa de vantagem em razão da função pública exercida. A mera solicitação ou aceite de promessa são su- ficientes para consumação do crime, não sendo necessária a efetiva entrega do solicitado. Crime de mera conduta: tipo penal somente des- creve a conduta, sem fazer qualquer alusão a re- sultado naturalístico. Ex. Art. 296, § 1º, III, do CP (quem altera, falsifica ou faz uso indevido de mar- cas, logotipos, siglas ou quaisquer outros símbolos utilizados ou identificadores de órgãos ou entida- des da Administração Pública). Segundo o Supe- rior Tribunal de Justiça, é crime de mera conduta, sendo suficiente, para sua caracterização, o uso indevido das marcas, logotipos, siglas ou outros símbolos identificadores de órgãos ou entidades da Administração Pública, mostrando-se desne- cessária a demonstração de dolo específico, bem como de ocorrência de prejuízo a terceiros. Quanto à conduta Crime comissivo (ação): conduta nuclear corres- ponde a uma ação. Ex. subtrair, apropriar-se, so- licitar, etc. Crime omissivo (omissão) : conduta nuclear con- substancia uma omissão. Ex. Condescendência criminosa (CP, art. 320). Os crimes comissivos di- videm-se em: omissivos próprios ou puros (fato descrito no tipo corresponde a um não-fazer) e xixixx xixxxxxxxxx xixxxixxxxxx i xxxxxix iixxxxxxxxx 4 www.neafconcursos.com.br DI RE IT O PE NA L Principais classificações de crime para fins de concurso omissivos impróprios, impuros ou comissivos por omissão (crimes comissivos praticados por meio de uma inatividade). Quanto ao momento consumativo Crime instantâneo: a consumação ocorre de modo instantâneo. Crime permanente: têm uma consumação que se prolonga no tempo (Crime instantâneo de efeito permanente: efeitos subsistem após a consuma- ção, independentemente da vontade do agente; ex. bigamia). Observação: não confundir o crime perma- nente com o crime instantâneo de efeitos permanentes. O delito permanente carac- teriza-se por ter um momento consumativo duradouro, sendo a prolongação da fase consumativa dependente da vontade do agente. O crime instantâneo de efeitos per- manentes é aquele em que a consumação ocorre instantaneamente, muito embora seus efeitos se façam sentir de modo dura- douro, pois a prorrogação dos efeitos não depende do sujeito, mas é inerente ao fato praticado (ex. homicídio). Em 2021 e em 2024, a Vunesp cobrou tal conhe- cimento na prova de escrevente, indagando se o crime de Petrechos de falsificação, previsto no ar- tigo 294 do Código Penal, era instantâneo ou per- manente. Parcela da doutrina ensina que o crime é instantâneo (nos núcleos “fabricar”, “adquirir” e “fornecer”) e permanente (nas modalidades “pos- suir” e “guardar”). • Quanto à possibilidade de fracionamento da conduta Crime unissubsistente: conduta típica não admi- te qualquer fracionamento. Comportamento de- finido no verbo núcleo do tipo penal constitui-se de uma ação ou omissão indivisível. Crime plurissubsistente: conduta que admite ci- são (fracionamento). O comportamento descrito no verbo nuclear pode ser dividido em vários atos. Importante destacar que somente os crimes plurissubsistentes admitem a forma tentada. • Quanto à pluralidade de verbos nucleares Crime de ação simples: crime possui apenas um verbo nuclear. Ex. peculato cujo núcleo é apropriar-se. Crime de ação múltipla, de ação plurinuclear, de conteúdo variado ou tipo misto: possuem dois ou mais núcleos e, se um for praticado, já se consumou o crime. Ex. petrechos de falsificação (fabricar, adquirir, fornecer, possuir ou guardar). Os crimes de ação múltipla dividem-se em: tipo misto alternativo (prática sucessiva de diversos núcleos caracteriza um único crime) e tipo misto cumulativo (prática de mais de um núcleo carac- teriza concurso material). Vunesp cobrou 2 vezes essa classificação para Escrevente. Em 2021, indicou como correta alter- nativa que qualifica o crime de petrechos de fal- sificação como tipo misto alternativo e, em 2024, indicou como correta alternativa que afirma ser o crime de petrechos de falsificação delito de ação múltipla ou conteúdo variado. Principais classificações de crime para fins de concurso Outras classificações importantes Crime obstáculo: O legislador opta por incrimi- nar, de maneira autônoma, atos que constituem a fase preparatória de outros crimes, tais como: petrechos de falsificação (CP, art. 294). Crime remetido: é aquele cuja definição remete a outros crimes. Ex: crime de uso de documento falso (art. 304, CP): “Fazer uso de qualquer dos pa- péis falsificados ou alterados, a que se referem os arts. 297 a 302”. Estrutura da análise dos crimes Considerações iniciais: apresentaremos consi- derações que reputamos importantes acerca do delito sob análise. Objetividade jurídica: é o bem jurídico tutelado pela norma penal. Objeto material: é a pessoa ou coisa sobre a qual recai a conduta criminosa. Conduta / Núcleo do Tipo: é o verbo que descre- ve a ação criminosa, sendo o elemento central da tipificação penal. Sujeito ativo: é quem pratica o delito. Sujeito passivo: é o titular do bem jurídico lesa- do ou ameaçado pela conduta criminosa, ou seja, aquele que sofreu pela infração penal cometida pelo sujeito ativo. Elemento subjetivo: é a finalidade específica que deve ou não animar o agente, o que está na cabeça do agente, sua intenção, finalidade. Consumação Tentativa: Consumação – quando se reúnem todos os elementos da definição legal do delito; Tentativa: quando, iniciada a execu- ção, o crime não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente. Ação Penal: É a ação para examinar a ocorrên- cia de crime ou contravenção. Pode ser privada, quando promovida pela pessoa que foi ofendi- da, ou pública. Ela é privada quando é o próprio ofendido que pede a punição do ofensor, porque o bem violado é exclusivamente privado (por exemplo, exercício arbitrário das próprias razões sem o emprego de violência – art. 345, parágra- fo único, do CP). A ação é penal pública quando os crimes têm reflexos na sociedade, por isso o próprio Estado tem interesse na sua punição e repressão. Nesse caso, ele vai agir por intermé- dio do Ministério Público. Só o MP pode propor a ação penal pública em juízo. Classificação doutrinária: apresentaremos as qualificações doutrinárias específicas de cada delito. Como visto, a Vunesp tem explorado es- sas classificações em questões recentes. Apre- sentaremos as qualificações doutrinárias espe- cíficas de cada delito. Observa-se que a Vunesp tem abordado essas classificações em questões recentes. Como os critérios variam conforme a abordagem de cada doutrinador, algumas cate- gorias geram debates sobre sua aplicação. Busca- remos, sempre que possível, alinhar nossa análise ao entendimento adotado pelo examinador da Vunesp. xi xi xx x ix xx xx xx xx x ix xx ix xx xx x i x xx xx ix ii xx xx xx xx x xi xi xx x ix xx xx xx xx x ix xx ix xx xx x i x xx xx ix ii xx xx xx xx x xixixx xixxxxxxxxx xixxxixxxxxx i xxxxxix iixxxxxxxxx 5www.neafconcursos.com.br DIREITO PENAL DECRETO LEI N. 2.848, DE 07 DE DEZEMBRO DE 1940 CÓDIGO PENAL PARTE ESPECIAL TÍTULO X DOS CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA CAPÍTULO II DA FALSIDADE DE TÍTULOS E OUTROS PAPÉIS PÚBLICOS Falsificação de papéis públicos Art. 293. FALSIFICAR, fabricando-os OU alterando-os: I – selo destinado a controle tributário, papel selado ou qualquer papel de emissão legal destinado à arrecadação de tributo; II – papel de crédito público que não seja moeda de curso legal; III – vale postal; IV – cautela de penhor, caderneta de depósito de caixa eco- nômica ou de outro estabelecimento mantido por entidade de direito público; V – talão, recibo,penal pública in- condicionada, sendo que as poucas exceções dependem de previsão legal em sentido diverso. Observe-se que, apesar de protegerem também outros bens jurídicos, a repressão aos cri- mes dessa natureza busca proteger bens como a fé pública, o que torna natural que o Estado possa mover a ação em caso de violação. Exercício arbitrário das próprias razões Art. 345 – Fazer justiça pelas próprias mãos, para satisfazer pretensão, embora legítima, salvo quando a lei o permite: Pena – detenção, de quinze dias a um mês, ou multa, além da pena correspondente à violência. Parágrafo único – Se não há emprego de violência, somen- te se procede mediante queixa. No caso do artigo 345: A ação penal, como regra, será de inicia- tiva privada, passando a ser de natureza pública incondiciona- da se houver o emprego de violência contra a pessoa. O pará- grafo é expresso: Se não há emprego de violência, somente se procede mediante queixa. B) Incorreta. A alternativa afirmou que “Caio, por pagar Tício para prestar falso testemunho, e Tício, por aceitar e efetiva- mente prestar falso testemunho, incorrem, em tese, no crime de falso testemunho.” O crime de falso testemunho não engloba a conduta de pagar alguém para prestar falso testemunho. Tal conduta possui tipo penal próprio, previsto no art. 343 do CP. Observe-se que o cri- me de falso testemunho é crime próprio, uma vez que apenas aquele que presta a afirmação ou cala a verdade, nas condi- ções especificadas no art. 342, pode ser autor do crime. Art. 342. Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade como testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete em processo judicial, ou administrativo, inquérito policial, ou em juízo arbitral: (Redação dada pela Lei n. 10.268, de 28.8.2001) Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. (Re- dação dada pela Lei n. 12.850, de 2013) (Vigência) § 1º As penas aumentam-se de um sexto a um terço, se o xixixx xixxxxxxxxxx xixxxixxxxxx i xxxxxix iixxxxxxxxx 45www.neafconcursos.com.br DIREITO PENAL crime é praticado mediante suborno ou se cometido com o fim de obter prova destinada a produzir efeito em processo penal, ou em processo civil em que for parte entidade da ad- ministração pública direta ou indireta. (Redação dada pela Lei n. 10.268, de 28.8.2001) § 2º O fato deixa de ser punível se, antes da sentença no pro- cesso em que ocorreu o ilícito, o agente se retrata ou declara a verdade.(Redação dada pela Lei n. 10.268, de 28.8.2001) Art. 343. Dar, oferecer ou prometer dinheiro ou qualquer outra vantagem a testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete, para fazer afirmação falsa, negar ou calar a verdade em depoimento, perícia, cálculos, tradução ou in- terpretação: (Redação dada pela Lei n. 10.268, de 28.8.2001). Pena – reclusão, de três a quatro anos, e multa (Redação dada pela Lei n. 10.268, de 28.8.2001). Parágrafo único. As penas aumentam-se de um sexto a um terço, se o crime é cometido com o fim de obter prova destinada a produzir efeito em processo penal ou em pro- cesso civil em que for parte entidade da administração pú- blica direta ou indireta. (Redação dada pela Lei n. 10.268, de 28.8.2001). Vejamos exemplo que ilustra bem a chamada exceção pluralís- tica, em que dois delitos distintos são cometidos por diferentes sujeitos, cada um respondendo por um tipo penal específico, de acordo com a sua posição na relação com a Administração Pública. O particular que oferece dinheiro ao policial para que ele deixe de multá-lo estará cometendo o crime de corrupção ativa (art. 333 do Código Penal), pois é ele quem propõe ou oferece a vantagem indevida ao servidor público. O policial que recebe o dinheiro para deixar de realizar a multa comete o crime de corrupção passiva (art. 317 do Código Pe- nal), pois ele é o funcionário público que aceita a vantagem indevida, em troca de não exercer a função que lhe cabe corretamente. A exceção pluralística ocorre porque, apesar de ambos os indi- víduos estarem envolvidos em um mesmo contexto de corrup- ção, cada um responde por um crime distinto, conforme sua conduta específica. O particular, ao oferecer a vantagem, res- ponde pela corrupção ativa, e o policial, ao recebê-la, respon- de pela corrupção passiva. Ambos são responsabilizados de acordo com as diferentes modalidades de crime previstas no Código Penal. C) Incorreta. A alternativa afirmou que “Tício, funcionário pú- blico, ao deixar de punir Mévio, seu subordinado, por falta fun- cional, em razão de ter sido presenteado por ele com uma cai- xa de vinho, em tese, incorre no crime de condescendência criminosa.” No crime de condescendência criminosa, o que motiva a ação do funcionário é o sentimento de indulgência. Na situação descrita, o que motivou a conduta de Tício foi o recebimento de uma vantagem indevida (o vinho). Dessa forma, estão pre- sentes as circunstâncias que caracterizam a corrupção passiva, uma vez que Tício recebeu a vantagem em razão da função pú- blica que exerce. No caso, existe ainda, a incidência da qualifi- cadora prevista no art. 317, §2º, pois, além de aceitar o vinho, Tício efetivamente deixou de praticar o ato devido (punição de Mévio). Condescendência criminosa Art. 320 – Deixar o funcionário, por indulgência, de respon- sabilizar subordinado que cometeu infração no exercício do cargo ou, quando lhe falte competência, não levar o fato ao conhecimento da autoridade competente: Pena – detenção, de quinze dias a um mês, ou multa. Corrupção passiva Art. 317 – Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de as- sumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. (Reda- ção dada pela Lei n. 10.763, de 12.11.2003) § 1º – A pena é aumentada de um terço, se, em conseqüên- cia da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou dei- xa de praticar qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo dever funcional. § 2º – Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda ato de ofício, com infração de dever funcional, cedendo a pe- dido ou influência de outrem: Pena – detenção, de três meses a um ano, ou multa. D) Correta. A alternativa afirmou que “Caio, ao dar ensejo à ins- tauração de procedimento administrativo contra Tício, funcio- nário público, imputando infração disciplinar que o sabe ino- cente, em tese, incorre no crime de denunciação caluniosa.” Há uma lista abrangente de atos que caracterizam a denuncia- ção caluniosa, todas baseadas na ideia de movimentar a “má- quina estatal” de forma indevida. É o caso da instauração de procedimento administrativo. O candidato deve estar atento ao fato de que o agente deve estar ciente da inocência do ter- ceiro, assim como ao fato de que o tipo penal engloba não ape- nas a atribuição de crimes a terceiro, mas também infração ético-disciplinar ou ato ímprobo. Denunciação caluniosa Art. 339. Dar causa à instauração de inquérito policial, de procedimento investigatório criminal, de processo judicial, de processo administrativo disciplinar, de inquérito civil ou de ação de improbidade administrativa contra alguém, im- putando-lhe crime, infração ético-disciplinar ou ato ímpro- bo de que o sabe inocente: (Redação dada pela Lei n. 14.110, de 2020) Pena – reclusão, de dois a oito anos, e multa. § 1º – A pena é aumentada de sexta parte, se o agente se serve de anonimato ou de nome suposto. § 2º – A pena é diminuída de metade, se a imputação é de prática de contravenção. E) Incorreta. A alternativa afirmou que “Tício, ao afirmar falsa- mente à autoridade policial, a fim de isentar o filho, ser o res- ponsável pelo jogo de bicho (contravenção penal), em tese, incorre no crime de autoacusação falsa.” Diferente do crime discutido na alternativa anterior, no caso da auto-acusação falsa, o tipo penal delimita que a acusação deve ser necessariamente de um crime. Dessa forma, tendo em vistaque o jogo do bicho é uma contravenção penal, Tício não in- correu no crime em questão. Auto-acusação falsa Art. 341 – Acusar-se, perante a autoridade, de crime inexis- tente ou praticado por outrem: xixixx xixxxxxxxxxx xixxxixxxxxx i xxxxxix iixxxxxxxxx xixixx xixxxxxxxxxx xixxxixxxxxx i xxxxxix iixxxxxxxxx 46 www.neafconcursos.com.br DI RE IT O PE NA L Pena – detenção, de três meses a dois anos, ou multa. GABARITO ALTERNATIVA “D” 6. (VUNESP – 2024 – TJSP – ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁ- RIO – REAPLICAÇÃO) Tendo em conta as condutas criminaliza- das no artigo 296, caput e parágrafos, do Código Penal (crime de falsificação de selo ou sinal público), é correto afirmar: A) todas as modalidades previstas exigem elemento subjetivo es- pecial, consistente na finalidade de prejudicar terceiros, em be- nefício próprio ou alheio. B) a modalidade de falsificar, prevista no caput, tem por objeto ma- terial selo para autenticação de ato oficial da União e dos Esta- dos, excluídos os Municípios. C) a modalidade de utilizar, prevista no inciso II, do parágrafo 1º, tem por objeto material selo ou sinal público verdadeiros. D) todas as modalidades previstas são crime de perigo abstrato, não se exigindo resultado naturalístico diverso da conduta reali- zada. E) todas as modalidades previstas são crimes próprios de funcioná- rios públicos. COMENTÁRIOS: A) Incorreta. Antes de adentrar à resolução da questão, importante esclare- cer que o tipo penal é sempre composto por núcleo e elemen- tos. Nas figuras qualificadas e privilegiadas, são acrescentadas circunstâncias. Essa é a fórmula do tipo penal incriminador: Tipo Penal = Núcleo (verbo) + Elementos (Objetivos, Subjeti- vos, Normativos) + Circunstâncias (para as figuras privilegiadas ou qualificadas) O núcleo é representado pelo verbo. Na falsificação do selo ou sinal público, é falsificar. Em torno do núcleo se agregam ele- mentos, que visam descrever a conduta criminosa. Essas ele- mentares podem ser objetivas (constatáveis por qualquer pes- soa, prescindindo de valoração cultural ou jurídica; ex. “alguém” nos crimes de homicídio e estupro); subjetivas (dizem respeito à esfera anímica do agente, ou seja, à sua especial finalidade de agir e suas intenções); e, normativas (reclamam juízo de valor acerca da situação de fato por parte do destinatário da lei pe- nal, ex. “honesto”, “sem justa causa”, “cruel”). Nesse contexto, a análise das condutas descritas no art. 296, caput e parágrafos, do Código Penal permite concluir que ine- xiste previsão dessa especial finalidade de agir do agente como ocorre, por exemplo, no crime de “Fraudes em certames de interesse público”, previsto no art. 311-A do Código Penal. Veja-se a título comparativo: FALSIFICAÇÃO DO SELO OU SINAL PÚBLICO FRAUDES EM CERTAMES DE INTERESSE PÚBLICO Art. 296 – Falsificar, fabricando- -os ou alterando-os: I – selo público destinado a au- tenticar atos oficiais da União, de Estado ou de Município; II – selo ou sinal atribuído por lei a entidade de direito público, ou a autoridade, ou sinal público de tabelião: “Art. 311-A. Utilizar ou divulgar, indevidamente, com o fim de beneficiar a si ou a outrem, ou de comprometer a credibi- lidade do certame, conteúdo sigiloso de: I – concurso público; II – avaliação ou exame públicos; Pena – reclusão, de dois a seis anos, e multa. § 1º – Incorre nas mesmas penas: III – processo seletivo para in- gresso no ensino superior; ou IV – exame ou processo seletivo previstos em lei: FALSIFICAÇÃO DO SELO OU SINAL PÚBLICO FRAUDES EM CERTAMES DE INTERESSE PÚBLICO I – quem faz uso do selo ou sinal falsificado; II – quem utiliza indevidamente o selo ou sinal verdadeiro em prejuízo de outrem ou em pro- veito próprio ou alheio. III – quem altera, falsifica ou faz uso indevido de marcas, logoti- pos, siglas ou quaisquer outros símbolos utilizados ou identifi- cadores de órgãos ou entidades da Administração Pública. (In- cluído pela Lei n. 9.983, de 2000) § 2º – Se o agente é funcionário público, e comete o crime preva- lecendo-se do cargo, aumenta- -se a pena de sexta parte. Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. § 1º Nas mesmas penas incorre quem permite ou facilita, por qualquer meio, o acesso de pes- soas não autorizadas às informa- ções mencionadas no caput. § 2º Se da ação ou omissão resulta dano à administração pública: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa. § 3º Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se o fato é cometido por funcionário público. Desse modo, a alternativa está incorreta. B) Incorreta. O conceito de “objeto material”, abordado na alternativa, con- siste na pessoa ou na coisa sobre a qual recai a conduta crimi- nosa. Conforme se extrai do art. 296, I, do Código Penal, a mo- dalidade de falsificar, prevista no caput, abrange “selo público destinado a autenticar atos oficiais da União, de Estado ou de Município”. Desse modo, ao contrário do quanto afirmado, es- tão incluídos os Municípios. “Art. 296 – Falsificar, fabricando-os ou alterando-os: I – selo público destinado a autenticar atos oficiais da União, de Estado ou de Município”; (g.n.) C) Correta. O art. 296, § 1º, II, do Código Penal prevê que “quem utiliza in- devidamente o selo ou sinal verdadeiro em prejuízo de outrem ou em proveito próprio ou alheio” (g.n.). Como se vê, a conduta tipificada nesse inciso recai sobre o selo ou sinal verdadeiro (objeto material), estando correta a alternativa. Art. 296 – Falsificar, fabricando-os ou alterando-os: (...) § 1º – Incorre nas mesmas penas: (...) II – quem utiliza indevidamente o selo ou sinal verdadei- ro em prejuízo de outrem ou em proveito próprio ou alheio”. (g.n.) D) Incorreta. Dentre as classificações possíveis dos crimes, tem-se aquela que os divide entre de dano (ou de lesão) e de perigo: Crimes de dano (ou lesão): aqueles em que a consumação somente se produz com a efetiva lesão ao bem jurídico. É o caso do delito de homicídio (art. 121 do Código Penal) ou de lesão corporal (art. 129 do Código Penal). Crimes de perigo: aqueles que se consumam com a mera exposição do bem jurídico à situação de perigo, ou seja, bas- ta a possibilidade de dano. Há os crimes de perigo concreto, que se consumam com a efe- tiva comprovação, no caso concreto, da situação de perigo. xi xi xx x ix xx xx xx xx x xi xx xi xx xx xx i xx xx xi x iix xx xx xx xx xixixx xixxxxxxxxxx xixxxixxxxxx i xxxxxix iixxxxxxxxx 47www.neafconcursos.com.br DIREITO PENAL Também há os crimes de perigo abstrato, tema abordado pela alternativa, em que ocorre consumação com a mera prática da conduta, não se exigindo a comprovação da situação de peri- go (há presunção absoluta de que determinadas condutas acarretam perigo a bens jurídicos, como no caso do tráfico de drogas). A alternativa também aborda o conceito de resultado natura- lístico. Segundo a essa concepção, resultado é a modificação do mundo externo causada por um comportamento humano (por exemplo, no caso do homicídio, se dá com a morte da vítima). Especificamente em relação ao art. 296 do Código Penal, há parcela da doutrina que defende se tratar de crime formal, de consumação antecipada ou de resultado cortado, pois se con- suma com a falsificação, mediante fabricação ou alteração, do selo ou sinal público, independentemente da obtenção de vantagem indevida ou da provocação de prejuízo a alguém. Questões de prova objetiva deveriam evitar pontos de diver- gência doutrinária e jurisprudencial. E) Incorreta. Outra classificação possível dos crimes envolve os crimes co- muns, próprios e de mão própria: Crimes comuns são aqueles que podem ser praticado por qualquer pessoa. Crimes próprios são aqueles em que o tipo penal exige si- tuação fática ou jurídica diferenciada do sujeito ativo (agen- te), como é o caso do peculato, que só pode ser praticado por funcionário público. Crimes de mão própria: são aqueles que só podem ser pra- ticados por pessoasexpressamente indicadas no tipo penal. É o caso do falso testemunho (art. 342 do Código Penal), que só pode ser praticado por testemunha, perito, contador, tra- dutor ou intérprete. No caso do art. 296 do Código Penal, está-se diante de crime comum, pois pode ser cometido por qualquer pessoa. O fato de ser o delito praticado por funcionário público é mera causa de aumento de pena prevista no § 2º. Logo, a alternativa está incorreta. Art. 296 – § 2º – Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-se do cargo, aumenta-se a pena de sexta parte. GABARITO ALTERNATIVA “C” 7. (VUNESP – 2024 – TJSP – ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁ- RIO – REAPLICAÇÃO) Caio, comerciante, contratou Mévia para trabalhar como recepcionista na loja de sua propriedade, tendo procedido à anotação do contrato de trabalho na carteira profis- sional, mas com remuneração menor à efetivamente paga. Tício alterou o número do chassi constante do documento de Certifica- do de Registro e Licenciamento de Veículo. Seprônia, em petição protocolizada em processo em que atua como advogada, afirmou de forma inverídica a hipossuficiência de Mévio, seu cliente, para o fim da concessão da justiça gratuita. Mévio, por sua vez, cliente de Seprônia, firmou declaração inverídica de hipossuficiência, para instruir pedido de justiça gratuita. Com base nas situações hipotéticas, assinale a alternativa correta. A) Tício, em tese, incorreu no crime de falsidade de documento pú- blico. B) Mévio, em tese, incorreu no crime de falsidade de documento particular. C) Mévia, em tese, ao permitir a anotação de informação não verda- deira em sua carteira profissional, incorreu no crime de falsidade ideológica, em coautoria com Caio. D) Caio, em tese, incorreu no crime de falsidade de documento par- ticular, na modalidade omissiva, já que deixou de anotar a corre- ta remuneração de Mévia. E) Seprônia, em tese, incorreu no crime de falsidade de documento público. COMENTÁRIOS: Incluiremos, no comentário de cada alternativa, a situação hi- potética de cada personagem citado no enunciado para facili- tar e tornar mais clara a assimilação dos conteúdos. A) Correta. Consta do enunciado que ”Tício alterou o número do chassi constante do documento de Certificado de Registro e Licenciamento de Veículo.” Ao alterar o número do chassi, Tício incorreu na prática de fal- sidade material. Considerando que o Certificado de Registro e Licenciamento de Veículo é documento público, está configu- rado o delito previsto no art. 297 do Código Penal: Falsificação de documento público Art. 297 – Falsificar, no todo ou em parte, documento públi- co, ou alterar documento público verdadeiro: Pena – reclusão, de dois a seis anos, e multa. § 1º – Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-se do cargo, aumenta-se a pena de sexta parte. § 2º – Para os efeitos penais, equiparam-se a documento público o emanado de entidade paraestatal, o título ao por- tador ou transmissível por endosso, as ações de sociedade comercial, os livros mercantis e o testamento particular. § 3º Nas mesmas penas incorre quem insere ou faz inserir: (Incluído pela Lei n. 9.983, de 2000) I – na folha de pagamento ou em documento de informa- ções que seja destinado a fazer prova perante a previdência social, pessoa que não possua a qualidade de segurado obri- gatório;(Incluído pela Lei n. 9.983, de 2000) II – na Carteira de Trabalho e Previdência Social do empre- gado ou em documento que deva produzir efeito perante a previdência social, declaração falsa ou diversa da que deve- ria ter sido escrita; (Incluído pela Lei n. 9.983, de 2000) III – em documento contábil ou em qualquer outro docu- mento relacionado com as obrigações da empresa perante a previdência social, declaração falsa ou diversa da que de- veria ter constado. (Incluído pela Lei n. 9.983, de 2000) § 4º Nas mesmas penas incorre quem omite, nos documen- tos mencionados no § 3o, nome do segurado e seus dados pessoais, a remuneração, a vigência do contrato de traba- lho ou de prestação de serviços. (Incluído pela Lei n. 9.983, de 2000) Assim, a alternativa está correta. B) Incorreta. Consta do enunciado que ” Mévio, por sua vez, cliente de Seprônia, firmou declaração inverídica de hipossufi- ciência, para instruir pedido de justiça gratuita.” Ao firmar declaração inverídica de hipossuficiência, Mévio não adulterou materialmente o documento, de modo que, estando a falsidade concentrada em seu conteúdo, a conduta, em tese, xi xi xx x ix xx xx xx xx x xi xx xi xx xx xx i xx xx xi x iix xx xx xx xx xixixx xixxxxxxxxxx xixxxixxxxxx i xxxxxix iixxxxxxxxx xixixx xixxxxxxxxxx xixxxixxxxxx i xxxxxix iixxxxxxxxx 48 www.neafconcursos.com.br DI RE IT O PE NA L se amoldaria ao delito de falsidade ideológica. Contudo, con- forme entendimento dos Tribunais Superiores, tal conduta é atípica: Supremo Tribunal Federal: “FALSIDADE IDEOLÓGICA. DE- CLARAÇÃO DE POBREZA PARA FINS DE GRATUIDADE JUDI- CIÁRIA. Declaração passível de averiguação ulterior não constitui documento para fins penais. HC deferido para trancar a ação penal”. (HC 85976, Relator(a): ELLEN GRACIE, Segunda Turma, julgado em 13-12-2005, DJ 24-02-2006 PP- 00051 EMENT VOL-02222-02 PP-00375 RT v. 95, n. 849, 2006, p. 490-491) Superior Tribunal de Justiça: “2. O entendimento do Su- perior Tribunal de Justiça é no sentido de que a mera de- claração de estado de pobreza para fins de obtenção dos benefícios da justiça gratuita não é considerada conduta típica, diante da presunção relativa de tal documento, que comporta prova em contrário “(RHC 24.606/RS, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, DJe 02/06/2015) (...)”. (AgRg no RHC n. 43.279/SP, relator Ministro Ribeiro Dantas, Quinta Turma, julgado em 13/12/2016, DJe de 19/12/2016.) Assim, a alternativa está incorreta, pois o fato é atípico. Ainda que se desconhecesse o entendimento jurisprudencial, nesse caso, poder-se-ia eliminar a alternativa pois, como visto acima, a conduta descrita não se amolda ao delito de falsidade de do- cumento particular. Falsificação de documento particular Art. 298 – Falsificar, no todo ou em parte, documento parti- cular ou alterar documento particular verdadeiro: Pena – reclusão, de um a cinco anos, e multa. Falsificação de cartão Parágrafo único. Para fins do disposto no caput, equipa- ra-se a documento particular o cartão de crédito ou débito. C) Incorreta. Consta do enunciado que ” Mévia, em tese, ao per- mitir a anotação de informação não verdadeira em sua carteira profissional, incorreu no crime de falsidade ideológica, em co- autoria com Caio.” A conduta realizada por Mévia se enquadra no disposto no art. 297, § 3º, II, do Código Penal: Falsificação de documento público Art. 297 – Falsificar, no todo ou em parte, documento públi- co, ou alterar documento público verdadeiro: (...) § 3º Nas mesmas penas incorre quem insere ou faz inserir: (Incluído pela Lei n. 9.983, de 2000) (...) II – na Carteira de Trabalho e Previdência Social do empre- gado ou em documento que deva produzir efeito perante a previdência social, declaração falsa ou diversa da que deve- ria ter sido escrita; (Incluído pela Lei n. 9.983, de 2000) Logo, ainda que exista controvérsia doutrinária acerca da cor- reta inclusão dessa hipótese no delito de falsificação de docu- mento público, já que ela mais se aproximaria do delito de fal- sidade ideológica, fato é que, diante da previsão legal expressa, o delito em tese praticado seria de falsificação de documento público. Assim, a alternativa está incorreta. D) Incorreta. Consta do enunciado que ” Caio, em tese, incorreu no crime de falsidade de documento particular, na modalidade omissiva, já que deixou de anotar a correta remuneração de Mévia.” Inicialmente, há de se destacar a classificação do crime de acor- do com a forma pela qual a conduta criminosa é praticada: Crimes comissivos (de ação): são praticados mediante conduta positiva, um fazer. Nessa categoria seenquadra a ampla maioria dos crimes. Crimes omissivos: são os cometidos através de uma condu- ta negativa, de inação, um não fazer. Podem ser próprios, quando a inação está prevista no próprio tipo penal (p. ex., o delito de omissão de socorro, previsto no art. 135 do Có- digo Penal, que prevê as condutas negativas de “deixar de prestar” e de “não pedir” socorro). Também podem ser im- próprios, quando existir um dever jurídico de agir, conforme hipóteses previstas no art. 13 do Código Penal. No presente caso, a conduta de Caio é comissiva (ação), pois ele praticou ativamente a conduta de “anotação do contrato de trabalho na carteira profissional, mas com remuneração menor à efetivamente paga”. Ademais, o delito, em tese, é de falsificação de documento público, nos termos do art. 297, § 3º, II, do Código Penal, conforme descrito na alternativa anterior. Assim, há dois equívocos na alternativa: o delito não é omissivo e tampouco de falsidade de documento particular. E) Incorreta. Consta do enunciado que ” Seprônia, em tese, in- correu no crime de falsidade de documento público.” Inicialmente, cabe destacar que a conduta de Seprônia, em tese, se amoldaria ao delito de falsidade ideológica, pois não há qualquer falsidade material na petição protocolizada, ape- nas seu conteúdo é inverídico. Não obstante, aplica-se o enten- dimento dos Tribunais Superiores abordado acima para o caso de Mévio, de modo que a conduta é atípica, pois tal documen- to goza de presunção relativa de veracidade, estando sujeito à verificação posterior. GABARITO ALTERNATIVA “A” 8. (VUNESP – 2024 – TJSP – ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁ- RIO – REAPLICAÇÃO) Caio, após finalizar e resolver prova para seleção em exame público, ao deixar o local, através de equipa- mento eletrônico (ponto de escuta), passa a divulgar o gabarito das questões a Mévia, sua namorada, que também prestava o exame. Contudo, Mévia, após assinalar algumas das respostas di- tadas na folha própria, é flagrada pelo fiscal da prova, sendo ime- diatamente desclassificada. Caio também foi desclassificado, e o exame público foi mantido, sem a necessidade de anulação, dada a inocorrência de prejuízo. Com base na situação hipotética e tendo em vista o crime de fraude em certames de interesse público, previsto no artigo 311-A do CP, assinale a alternativa correta. A) Caio e Mévia não incorreram no crime de fraude em certame de interesse público, que tem por objeto material apenas concurso público e processo seletivo para ingresso no ensino superior. B) Caio e Mévia não incorreram no crime de fraude em certame de interesse público, que, para se caracterizar, exige o recebimento de vantagem patrimonial indevida. C) Caio incorreu no crime de fraude em certame de interesse públi- co, pois divulgou conteúdo sigiloso de certame público. Mévia, contudo, não incorreu nesse crime, pela atipicidade da conduta de utilizar conteúdo sigiloso em certame público. D) Caio e Mévia incorreram no crime de fraude em certame de inte- resse público; ele, por divulgar conteúdo sigiloso de certame pú- blico, e ela, por utilizar esse conteúdo. E) Caio e Mévia não incorreram no crime de fraude em certame de interesse público, que, para se caracterizar, exige a ocorrência de prejuízo à administração pública, o que inexistiu. xi xi xx x ix xx xx xx xx x xi xx xi xx xx xx i xx xx xi x iix xx xx xx xx xixixx xixxxxxxxxxx xixxxixxxxxx i xxxxxix iixxxxxxxxx xixixx xixxxxxxxxxx xixxxixxxxxx i xxxxxix iixxxxxxxxx 49www.neafconcursos.com.br DIREITO PENAL COMENTÁRIOS: A) Incorreta. O delito previsto no art. 311-A do Código Penal possui a se- guinte redação: Fraudes em certames de interesse público Art. 311-A. Utilizar ou divulgar, indevidamente, com o fim de beneficiar a si ou a outrem, ou de comprometer a credibi- lidade do certame, conteúdo sigiloso de: I – concurso público; II – avaliação ou exame públicos; III – processo seletivo para ingresso no ensino superior; ou IV – exame ou processo seletivo previstos em lei: Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. § 1º Nas mesmas penas incorre quem permite ou facilita, por qualquer meio, o acesso de pessoas não autorizadas às informações mencionadas no caput. § 2º Se da ação ou omissão resulta dano à administração pública: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa. § 3º Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se o fato é cometi- do por funcionário público. O conceito de “objeto material”, abordado na alternativa, con- siste na pessoa ou na coisa sobre a qual recai a conduta crimi- nosa. Desse modo, o delito sob análise tem como objeto mate- rial concurso público, avaliação ou exame públicos, processo seletivo para ingresso no ensino superior ou exame ou processo seletivo previsto em lei. Desse modo, ao contrário do que afirma a alternativa, também se incluem como objeto material avaliação ou exame públicos ou exame ou processo seletivo previsto em lei. Assim, a alternati- va está incorreta, sendo a conduta praticada por Caio e Mévia típica. B) Incorreta. Ao contrário do que afirma a alternativa, a caracterização do crime de fraude em certame de interesse público exige que a utilização ou divulgação indevida do conteúdo sigiloso se dê com o fim de beneficiar a si ou a outrem ou de comprometer a credibilidade do certame. Logo, não se exige o recebimento de vantagem patrimonial indevida, bastando que estejam pre- sentes as elementares subjetivas já descritas, de forma alternativa. Fraudes em certames de interesse público Art. 311-A. Utilizar ou divulgar, indevidamente, com o fim de beneficiar a si ou a outrem, ou de comprometer a credibi- lidade do certame, conteúdo sigiloso de: C) Incorreta. A primeira parte da alternativa está correta, pois, a conduta de Caio de fato se amolda, em tese, ao delito de fraude em certa- me de interesse público. Contudo, está incorreta a afirmação de que a conduta de Mévia seria atípica, pois, o delito é tipo misto alternativo (aquele em que o tipo penal possui dois ou mais verbos nucleares, que definem a conduta do agente. No caso, a prática de somente uma ou mais dessas condutas, é suficiente para a caracterização do crime). Ou seja, pune-se igualmente quem divulga e quem se utiliza: Fraudes em certames de interesse público Art. 311-A. Utilizar ou divulgar, indevidamente, com o fim de beneficiar a si ou a outrem, ou de comprometer a credibi- lidade do certame, conteúdo sigiloso de: D) Correta. De fato, como visto, Caio divulgou conteúdo sigiloso de sele- ção em exame público com a finalidade de beneficiar sua na- morada. Mévia, por sua vez, utilizou-se das informações divul- gadas por Caio em benefício próprio. Logo, ambos incorreram nas condutas descritas pelo art. 311-A, conforme corretamente descrito pela alternativa. Fraudes em certames de interesse público Art. 311-A. Utilizar ou divulgar, indevidamente, com o fim de beneficiar a si ou a outrem, ou de comprometer a credibi- lidade do certame, conteúdo sigiloso de: E) Incorreta. Como visto, o delito de fraudes em certames de interesse pú- blico, para se configurar, demanda apenas que a utilização ou divulgação indevida do conteúdo sigiloso se dê com o fim de beneficiar a si ou a outrem ou de comprometer a credibilidade do certame. A eventual existência de prejuízo à administração pública enseja aplicação da figura qualificada, prevista no § 2º do art. 311-A do Código Penal: Fraudes em certames de interesse público Art. 311-A. Utilizar ou divulgar, indevidamente, com o fim de beneficiar a si ou a outrem, ou de comprometer a credibi- lidade do certame, conteúdo sigiloso de: ... § 2º Se da ação ou omissão resulta dano à administra- ção pública: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa. Apenas a título de esclarecimento, há qualificadora quando o tipo penal prevê preceito secundário (quantidade de pena) es- pecífico para determinada conduta, distinto daquele previsto para o caput do dispositivo. No crimeprevisto no Art. 311-A, a pena base é de reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, além de multa. Já na figura qualifica- da, a pena é de reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa. Observa-se uma alteração nos limites (marcos) das penas. Assim, considerando que o dano à administração pública não é elementar do tipo, mas mera qualificadora, a alternativa está incorreta. GABARITO ALTERNATIVA “D” 9. (VUNESP – 2024 – TJSP – ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁ- RIO – REAPLICAÇÃO) Considerando os crimes de concussão e de excesso de exação, previstos no caput e nos parágrafos do artigo 316 do Código Penal, é correto afirmar: A) são crimes formais. B) o crime de excesso de exação prevê a extinção da punibilidade, na hipótese de reparação do dano, até a sentença condenatória irrecorrível. C) admitem a modalidade culposa. D) são crimes materiais. E) o crime de concussão, previsto no caput, é formal, mas a figura qualificada, do crime de excesso de exação, previsto no parágra- fo 2º, é material. xi xi xx x ix xx xx xx xx x xi xx xi xx xx xx i xx xx xi x iix xx xx xx xx 50 www.neafconcursos.com.br DI RE IT O PE NA L COMENTÁRIOS: A) Incorreta. Antes de adentrar à análise da alternativa, é importante distin- guir a classificação entre crimes materiais, formais e de mera conduta: Crimes materiais: aqueles em que o tipo penal aloja em seu interior uma conduta e um resultado naturalístico (veri- ficável no mundo exterior), sendo a ocorrência deste último necessária para a consumação. É o caso do homicídio (art. 121 do Código Penal), em que a conduta é matar alguém e o resultado naturalístico ocorre com o falecimento da vítima, quando se dá a consumação. Crimes formais: aqueles nos quais o tipo penal contém uma conduta e um resultado naturalístico, mas este último é desnecessário para a consumação. Ou seja, apesar de pos- sível a produção de resultado no mundo exterior, o crime está consumado com a mera prática da conduta. É o caso do delito de concussão (art. 316 do Código Penal), em que a mera exigência já consuma o delito, sendo o eventual rece- bimento da vantagem indevida mero exaurimento. Crimes de mera conduta: são aqueles em que o tipo pe- nal se limita a descrever uma conduta, ou seja, não contém resultado naturalístico, de modo que ele jamais poderá ser verificado. Como visto, no caso do delito de concussão (art. 316, caput, do Código Penal), trata-se de crime formal, que se consuma com a exigência (que deve chegar ao conhecimento da vítima) pelo funcionário público, para si ou para outrem, da vantagem inde- vida, sendo desnecessário o efetivo recebimento. Concussão Art. 316 – Exigir, para si ou para outrem, direta ou indireta- mente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. O excesso de exação (art. 316, § 1º, do Código Penal) também é delito formal, consumando-se com a exigência indevida ou com o emprego de meio vexatório ou gravoso para cobrança do tributo ou contribuição social, independentemente do seu efetivo pagamento. Art. 316 – Excesso de exação § 1º – Se o funcionário exige tributo ou contribuição social que sabe ou deveria saber indevido, ou, quando devido, em- prega na cobrança meio vexatório ou gravoso, que a lei não autoriza: Pena – reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa. Contudo, o excesso de exação qualificado (art. 316, § 2º, do Có- digo Penal) é delito material, pois se consuma com o efetivo desvio dos valores recebidos indevidamente. Logo, a alternati- va está incorreta. Art. 316 – § 2º – Se o funcionário desvia, em proveito próprio ou de ou- trem, o que recebeu indevidamente para recolher aos cofres públicos: Pena – reclusão, de dois a doze anos, e multa. B) Incorreta. Não há referida previsão no delito de excesso de exação: Art. 316 – Excesso de exação § 1º – Se o funcionário exige tributo ou contribuição social que sabe ou deveria saber indevido, ou, quando devido, em- prega na cobrança meio vexatório ou gravoso, que a lei não autoriza: Pena – reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa. § 2º – Se o funcionário desvia, em proveito próprio ou de ou- trem, o que recebeu indevidamente para recolher aos cofres públicos: Pena – reclusão, de dois a doze anos, e multa. Logo, a reparação do dano ou a restituição da coisa ao ofendi- do não exclui o delito, ensejando, no máximo, a diminuição da pena pelo arrependimento posterior (art. 16 do Código Penal). Dentre os delitos contra Administração Pública, a reparação do dano até a sentença irrecorrível enseja extinção da punibilida- de no peculato culposo: Art. 312 – Peculato culposo § 2º – Se o funcionário concorre culposamente para o crime de outrem: Pena – detenção, de três meses a um ano. § 3º – No caso do parágrafo anterior, a reparação do dano, se precede à sentença irrecorrível, extingue a pu- nibilidade; se lhe é posterior, reduz de metade a pena imposta. C) Incorreta. Os delitos culposos se configuram quando o agente, deixando de observar o dever objetivo de cuidado, por imprudência, ne- gligência ou imperícia, realiza voluntariamente uma conduta que produz resultado naturalístico, não previsto nem querido, mas objetivamente previsível, e excepcionalmente previsto e querido, que podia, com a devida atenção, se evitado. Conforme prevê o art. 18, parágrafo único, do Código Penal, salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato previsto como crime, senão quando o pratica dolosamente. Resumindo: crime culposo precisa estar previsto de forma expressa! No caso dos delitos contra Administração Pública, o único que contém previsão de punibilidade da modalidade culposa é o peculato. Logo, a alternativa está incorreta. D) Incorreta. Conforme explicação contida na análise da alternativa “a”, os delitos de concussão e excesso de exação são formais, de modo que apenas o excesso de exação qualificado é crime ma- terial. Assim, a alternativa está incorreta. E) Correta. Conforme explicação contida na análise da alternativa “a”, de fato, o crime de concussão, previsto no caput, é formal, consu- mando-se com a exigência (que deve chegar ao conhecimento da vítima) pelo funcionário público, para si ou para outrem, da vantagem indevida, sendo desnecessário o efetivo recebimen- to. Por outro lado, a figura qualificada, do crime de excesso de exação, previsto no parágrafo 2º, é material, consumando-se com o efetivo desvio dos valores recebidos indevidamente. xixixx xixxxxxxxxxx xixxxixxxxxx i xxxxxix iixxxxxxxxx xixixx xixxxxxxxxxx xixxxixxxxxx i xxxxxix iixxxxxxxxx 51www.neafconcursos.com.br DIREITO PENAL Logo, a alternativa está correta. Concussão (Formal) Art. 316 – Exigir, para si ou para outrem, direta ou indireta- mente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. Excesso de exação (Formal) § 1º – Se o funcionário exige tributo ou contribuição social que sabe ou deveria saber indevido, ou, quando devido, em- prega na cobrança meio vexatório ou gravoso, que a lei não autoriza: Pena – reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa. § 2º – Se o funcionário desvia, em proveito próprio ou de ou- trem, o que recebeu indevidamente para recolher aos cofres públicos: (Material) Pena – reclusão, de dois a doze anos, e multa. GABARITO ALTERNATIVA “E” 10. (VUNESP – 2024 – TJSP – ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁ- RIO – REAPLICAÇÃO) Caio, em aplicativo de namoro, apresenta- -se como delegado de polícia, sem ser, ostentando foto de distin- tivo da Polícia Civil. Mévia, ao ser abordada por oficial de justiça para proceder sua citação, recusa-se a receber e assinar o manda- do. Tício, intencionalmente, inutilizou o lacre colocado por perito criminal do Instituto Médico Legal para cerrar e preservar quarto de hotel em que fora praticado um crime. Seprônio inutilizou livro fiscal da empresa privada onde trabalhava.Tícia xingou o seu vizi- nho, que é funcionário público, de ignorante e agressor de mulhe- res. Com base nas situações hipotéticas, assinale a alternativa correta. A) Mévia praticou o crime de resistência (artigo 329 do CP). B) Seprônio praticou o crime de subtração ou inutilização de livro ou documento (artigo 337 do CP). C) Tício praticou o crime de inutilização de edital ou sinal (artigo 336 do CP). D) Tícia praticou o crime de desacato (artigo 331 do CP). E) Caio praticou o crime de usurpação de função pública (artigo 328 do CP). COMENTÁRIOS: Incluiremos, no comentário de cada alternativa, a situação hi- potética de cada personagem citado no enunciado para facili- tar e tornar mais clara a assimilação dos conteúdos. A) Incorreta. Consta do enunciado que “Mévia, ao ser abordada por oficial de justiça para proceder sua citação, recusa-se a re- ceber e assinar o mandado.” Mévia, ao ser abordada por oficial de justiça para proceder sua citação, recusa-se a receber e assinar o mandado. Referida con- duta, em tese, amolda-se ao delito de desobediência (art. 330 do CP), pelo fato de estar presente a mera recusa. A configura- ção do delito de resistência (art. 329 do CP) exige que a oposi- ção se dê mediante violência ou ameaça a funcionário compe- tente para executá-lo ou a quem lhe esteja prestando auxílio, o que não se verificou no caso concreto. Resistência Art. 329 – Opor-se à execução de ato legal, mediante violên- cia ou ameaça a funcionário competente para executá-lo ou a quem lhe esteja prestando auxílio: Pena – detenção, de dois meses a dois anos. § 1º – Se o ato, em razão da resistência, não se executa: Pena – reclusão, de um a três anos. § 2º – As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo das correspondentes à violência. Desobediência Art. 330 – Desobedecer a ordem legal de funcionário público: Pena – detenção, de quinze dias a seis meses, e multa. B) Incorreta. Consta do enunciado que ” Seprônio inutilizou li- vro fiscal da empresa privada onde trabalhava.” A configuração do delito previsto no art. 337 do Código Penal demanda que o livro oficial, processo ou documento estejam confiados à custódia de funcionário, em razão de ofício, ou de particular em serviço público: Subtração ou inutilização de livro ou documento Art. 337 – Subtrair, ou inutilizar, total ou parcialmente, li- vro oficial, processo ou documento confiado à custódia de funcionário, em razão de ofício, ou de particular em serviço público: Pena – reclusão, de dois a cinco anos, se o fato não constitui crime mais grave. No caso, como Seprônio inutilizou livro fiscal da empresa priva- da onde trabalha, não se amoldando ao tipo penal, de modo que a alternativa está incorreta. C) Correta. Consta do enunciado que “Tício, intencionalmente, inutilizou o lacre colocado por perito criminal do Instituto Mé- dico Legal para cerrar e preservar quarto de hotel em que fora praticado um crime.” O delito previsto no art. 336 do CP assim dispõe: Inutilização de edital ou de sinal Art. 336 – Rasgar ou, de qualquer forma, inutilizar ou cons- purcar edital afixado por ordem de funcionário público; violar ou inutilizar selo ou sinal empregado, por determi- nação legal ou por ordem de funcionário público, para identificar ou cerrar qualquer objeto: Pena – detenção, de um mês a um ano, ou multa. Ao intencionalmente inutilizar o lacre colocado por perito cri- minal do Instituto Médico Legal para cerrar e preservar quarto de hotel em que fora praticado um crime, a conduta de Tício, em tese, se amolda ao delito do art. 336 do CP, de modo que a alternativa está correta. D) Incorreta. Consta do enunciado que “Tícia xingou o seu vizi- nho, que é funcionário público, de ignorante e agressor de mulheres.” O delito de desacato (art. 331 do CP) exige para sua configura- ção que a conduta se dê contra funcionário público no exercí- cio da função ou em razão dela: Desacato Art. 331 – Desacatar funcionário público no exercício da função ou em razão dela: Pena – detenção, de seis meses a dois anos, ou multa. Desse modo, apesar de o vizinho de Tícia ser funcionário públi- co, o xingamento contra ele proferido (ignorante e agressor de mulheres) não se deu no exercício da função, tampouco em razão dela, de modo que a conduta não se adequa ao tipo pe- nal. Em tese, seria hipótese de crime contra a honra. Assim, a alternativa está incorreta. xi xi xx x ix xx xx xx xx x xi xx xi xx xx xx i xx xx xi x iix xx xx xx xx xi xi xx x ix xx xx xx xx x xi xx xi xx xx xx i xx xx xi x iix xx xx xx xx xixixx xixxxxxxxxxx xixxxixxxxxx i xxxxxix iixxxxxxxxx 52 www.neafconcursos.com.br DI RE IT O PE NA L E) Incorreta. Consta do enunciado que “Caio, em aplicativo de namoro, apresenta-se como delegado de polícia, sem ser, os- tentando foto de distintivo da Polícia Civil.” O delito de usurpação de função pública (art. 328 do CP) tem como núcleo usurpar, no sentido de apoderar-se indevida- mente ou exercer ilegitimamente uma função pública. Dessa forma, para sua configuração, é imprescindível a execução de atos inerentes à função pública pelo usurpador: Usurpação de função pública Art. 328 – Usurpar o exercício de função pública: Pena – detenção, de três meses a dois anos, e multa. Parágrafo único – Se do fato o agente aufere vantagem: Pena – reclusão, de dois a cinco anos, e multa. Desse modo, como a conduta de Caio se limitou a, em aplicati- vo de namoro, apresenta-se como delegado de polícia, osten- tando foto de distintivo da Polícia Civil, não houve a efetiva usurpação da função, de modo que a alternativa está incorreta. Curiosamente: Existe uma contravenção e não um crime, pre- vista no art. 45 do Decreto-lei 3.688/1941 – Lei das Contraven- ções Penais, que assim expressa: “Fingir-se funcionário público: Pena – prisão simples, de um a três meses, ou multa”. GABARITO ALTERNATIVA “C” 11. (VUNESP – 2024 – TJSP – ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁ- RIO – REAPLICAÇÃO) A respeito dos crimes contra a administra- ção da justiça, assinale a alternativa correta. A) No crime de denunciação caluniosa, incidirá causa de aumento da pena se a imputação mentirosa for de crime. B) O crime de desobediência à decisão judicial sobre perda ou sus- pensão de direito admite a modalidade culposa. C) O crime de exploração de prestígio é material em todas as moda- lidades. D) No crime de falso testemunho ou falsa perícia, é extinta a punibi- lidade, se o agente se retrata ou declara a verdade, até sentença irrecorrível no processo instaurado para apurar aludido crime. E) O crime de fraude processual, para se caracterizar, exige o ele- mento subjetivo especial, consistente no especial fim de induzir a erro o juiz ou o perito. COMENTÁRIOS: Questão no formato tradicional da Vunesp, mas com elemen- tos doutrinários inseridos. A) Incorreta. O delito de denunciação caluniosa tem como causas de au- mento se o agente se serve de anonimato ou nome suposto: Denunciação caluniosa Art. 339. Dar causa à instauração de inquérito policial, de procedimento investigatório criminal, de processo judicial, de processo administrativo disciplinar, de inquérito civil ou de ação de improbidade administrativa contra alguém, im- putando-lhe crime, infração ético-disciplinar ou ato ímpro- bo de que o sabe inocente: Pena – reclusão, de dois a oito anos, e multa. § 1º – A pena é aumentada de sexta parte, se o agente se serve de anonimato ou de nome suposto. § 2º – A pena é diminuída de metade, se a imputação é de prática de contravenção. Assim, como se vê, é elementar do tipo (e não causa de aumento) a imputação de crime de que se sabe inocente, dan- do causa à instauração de inquérito policial, de procedimento investigatório criminal, de processo judicial, de processo admi- nistrativo disciplinar, de inquérito civil ou de ação de improbi- dade administrativa contra alguém. Desse modo, a alternativa está incorreta. B) Incorreta. O crime do art. 359 do CP não prevê expressamente a modali- dade culposa:Desobediência a decisão judicial sobre perda ou sus- pensão de direito Art. 359 – Exercer função, atividade, direito, autoridade ou múnus, de que foi suspenso ou privado por decisão judicial: Pena – detenção, de três meses a dois anos, ou multa. Contudo, conforme prevê o art. 18, parágrafo único, do Código Penal, salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato previsto como crime, senão quando o pratica dolosamente. Desse modo, ante a ausência de previsão legal expressa, a al- ternativa está incorreta. Cumpre relembrar que, no caso dos delitos contra a Adminis- tração Pública, o único que contém previsão de punibilidade da modalidade culposa é o peculato: Peculato culposo § 2º – Se o funcionário concorre culposamente para o crime de outrem: Pena – detenção, de três meses a um ano. § 3º – No caso do parágrafo anterior, a reparação do dano, se precede à sentença irrecorrível, extingue a punibilidade; se lhe é posterior, reduz de metade a pena imposta. C) Incorreta. Antes de adentrar à análise da alternativa, é importante distin- guir a classificação entre crimes materiais, formais e de mera conduta: Crimes materiais: aqueles em que o tipo penal aloja em seu interior uma conduta e um resultado naturalístico (veri- ficável no mundo exterior), sendo a ocorrência deste último necessária para a consumação. É o caso do homicídio (art. 121 do Código Penal), em que a conduta é matar alguém e o resultado naturalístico ocorre com o falecimento da vítima, quando se dá a consumação. Crimes formais: aqueles nos quais o tipo penal contém uma conduta e um resultado naturalístico, mas este último é desnecessário para a consumação. Ou seja, apesar de pos- sível a produção de resultado no mundo exterior, o crime está consumado com a mera prática da conduta. É o caso do delito de concussão (art. 316 do Código Penal), em que a mera exigência já consuma o delito, sendo o eventual rece- bimento da vantagem indevida mero exaurimento. Crimes de mera conduta: são aqueles em que o tipo pe- nal se limita a descrever uma conduta, ou seja, não contém resultado naturalístico, de modo que ele jamais poderá ser verificado. No caso da exploração de prestígio, na modalidade solicitar, a consumação se dá no instante em que o sujeito ativo formula o pedido de dinheiro ou qualquer outra utilidade, indepen- dentemente da anuência do destinatário do pleito, tratando- -se de crime formal. Contudo, no núcleo receber, a xi xi xx x ix xx xx xx xx x xi xx xi xx xx xx i xx xx xi x iix xx xx xx xx 53 DIREITO PENAL www.neafconcursos.com.br consumação se dá quando o agente efetivamente ingressa na posse do dinheiro ou da utilidade de outra natureza, de modo que se está diante de crime material: Exploração de prestígio Art. 357 – Solicitar ou receber dinheiro ou qualquer outra utilidade, a pretexto de influir em juiz, jurado, órgão do Mi- nistério Público, funcionário de justiça, perito, tradutor, in- térprete ou testemunha: Pena – reclusão, de um a cinco anos, e multa. Parágrafo único – As penas aumentam-se de um terço, se o agente alega ou insinua que o dinheiro ou utilidade também se destina a qualquer das pessoas referidas neste artigo. Assim, a alternativa está incorreta, pois a modalidade receber é crime material. D) Incorreta. A alternativa está incorreta pois, nos termos do art. 342, § 2º, do CP, o fato deixa de ser punível se, antes da sentença (não irre- corrível) no processo em que ocorreu o ilícito, o agente se retrata ou declara a verdade: Falso testemunho ou falsa perícia Art. 342. Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade como testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete em processo judicial, ou administrativo, inquérito policial, ou em juízo arbitral: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. § 1º As penas aumentam-se de um sexto a um terço, se o crime é praticado mediante suborno ou se cometido com o fim de obter prova destinada a produzir efeito em processo penal, ou em processo civil em que for parte entidade da ad- ministração pública direta ou indireta. § 2º O fato deixa de ser punível se, antes da sentença no pro- cesso em que ocorreu o ilícito, o agente se retrata ou declara a verdade. E) Correta. Antes de adentrar à resolução da questão, importante esclare- cer que o tipo penal é sempre composto por núcleo e elemen- tos. Nas figuras qualificadas e privilegiadas, são acrescentadas circunstâncias. Essa é a fórmula do tipo penal incriminador: Tipo Penal = Núcleo (verbo) + Elementos (Objetivos, Subjeti- vos, Normativos) + Circunstâncias (para as figuras privilegiadas ou qualificadas) O núcleo é representado pelo verbo. Na fraude processual é inovar, no sentido de modificar ou alterar algo, especificamen- te nos casos em que essa inovação é artificiosa, ou seja, com emprego de fraude material. Nesse caso, o elemento subjetivo especial (dolo, acrescido de um especial fim de agir) consiste na intenção de induzir a erro o juiz ou perito, como correta- mente afirmado na alternativa. CUIDADO: O tipo penal (do art 347) não alcança as alterações naturais dos lugares – exemplo: deixar a barba crescer para in- duzir a erro o reconhecimento. Para incluir-se no âmbito de proteção normativa do artigo 347 do Código Penal, a inovação da coisa na pendência de processo notadamente precisa ser cênica e/ou ardilosa. Fraude processual Art. 347 – Inovar artificiosamente, na pendência de proces- so civil ou administrativo, o estado de lugar, de coisa ou de pessoa, com o fim de induzir a erro o juiz ou o perito: Pena – detenção, de três meses a dois anos, e multa. Parágrafo único – Se a inovação se destina a produzir efei- to em processo penal, ainda que não iniciado, as penas apli- cam-se em dobro. GABARITO ALTERNATIVA “E” CONTROLE DE ARTIGOS Direito Penal Artigo Lido Revisão Falsificação de papéis públicos Art. 293 Petrechos de falsificação Art. 294 Art. 295 Falsificação do selo ou sinal público Art. 296 Falsificação de documento público Art. 297 Falsificação de documento particular e Falsificação de cartão Art. 298 Falsidade ideológica Art. 299 Falso reconhecimento de firma ou letra Art. 300 Certidão ou atestado ideologicamente falso e Falsidade material de atestado ou certidão Art. 301 Falsidade de atestado médico Art. 302 Reprodução ou adulteração de selo ou peça filatélica Art. 303 Uso de documento falso Art. 304 Supressão de documento Art. 305 Falsa identidade Art. 307 Uso de documento de identidade alheia* Art. 308 xi xi xx x ix xx xx xx xx x xi xx xi xx xx xx i xx xx xi x iix xx xx xx xx 54 www.neafconcursos.com.br DI RE IT O PE NA L Fraudes em certames de interesse público Art. 311-A Peculato Art. 312 Peculato mediante erro de outrem Art. 313 Inserção de dados falsos em sistema de informações Art. 313-A Modificação ou alteração não autorizada de sistema de informações Art. 313-B Extravio, sonegação ou inutilização de livro ou documento Art. 314 Emprego irregular de verbas ou rendas públicas Art. 315 Concussão e Excesso de exação Art. 316 Corrupção passiva Art. 317 Prevaricação Art. 319 Prevaricação Imprópria* Art. 319-A Condescendência criminosa Art. 320 Advocacia administrativa Art. 321 Violência arbitrária Art. 322 Abandono de função Art. 323 Exercício funcional ilegalmente antecipado ou prolongado Art. 324 Violação de sigilo funcional Art. 325 Violação do sigilo de proposta de concorrência Art. 326 Funcionário público Art. 327 Usurpação de função pública Art. 328 Resistência Art. 329 Desobediência Art. 330 Desacato Art. 331 Tráfico de Influência Art. 332 Corrupção ativa Art. 333 Inutilização de edital ou de sinal Art. 336 Subtração ou inutilização de livro ou documento Art. 337 Denunciação caluniosa Art. 339 Comunicação falsa de crime ou de contravenção Art. 340 Auto-acusação falsa Art. 341 Falso testemunho ou falsa perícia Art. 342 Corrupção ativa detestemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete Art. 343 Coação no curso do processo Art. 344 Exercício arbitrário das próprias razões Art. 345 Subtração ou dano de coisa própria em poder de terceiro Art. 346 Fraude processual Art. 347 Exploração de prestígio Art. 357 Desobediência a decisão judicial sobre perda ou suspensão de direito Art. 359 xi xi xx x ix xx xx xx xx x xi xx xi xx xx xx i xx xx xi x iix xx xx xx xx xixixx xixxxxxxxxxx xixxxixxxxxx i xxxxxix iixxxxxxxxx xixixx xixxxxxxxxxx xixxxixxxxxx i xxxxxix iixxxxxxxxxguia, alvará ou qualquer outro documento relativo a arrecadação de rendas públicas ou a depósito ou caução por que o poder público seja responsável; VI – bilhete, passe ou conhecimento de empresa de trans- porte administrada pela União, por Estado ou por Município: PENA: RECLUSÃO de 2 a 8 ANOS + MULTA. § 1º Incorre na mesma pena quem: I – usa, guarda, possui ou detém qualquer dos papéis falsifi- cados a que se refere este artigo; II – importa, exporta, adquire, vende, troca, cede, empresta, guarda, fornece ou restitui à circulação selo falsificado des- tinado a controle tributário; III – importa, exporta, adquire, vende, expõe à venda, man- tém em depósito, guarda, troca, cede, empresta, fornece, porta ou, de qualquer forma, utiliza em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, produto ou mercadoria: a) em que tenha sido aplicado selo que se destine a contro- le tributário, falsificado; b) sem selo oficial, nos casos em que a legislação tributária determina a obrigatoriedade de sua aplicação. § 2º Suprimir, em qualquer desses papéis, quando legíti- mos, com o fim de torná-los novamente utilizáveis, carimbo ou sinal indicativo de sua inutilização: PENA: RECLUSÃO de 1 a 4 ANOS + MULTA. § 3º Incorre na mesma pena quem usa, depois de alterado, qualquer dos papéis a que se refere o parágrafo anterior. § 4º Quem usa ou restitui à circulação, embora recebido de boa-fé, qualquer dos papéis falsificados ou alterados, a que se referem este artigo e o seu § 2º, depois de conhecer a falsidade ou alteração, incorre na: PENA: DETENÇÃO de 6 MESES a 2 ANOS OU MULTA. § 5º Equipara-se a atividade comercial, para os fins do inciso III do § 1º, qualquer forma de comércio irregular ou clandes- tino, inclusive o exercido em vias, praças ou outros logra- douros públicos e em residências. Objetividade jurídica É a fé pública presente nos papéis elencados no tipo penal. Objeto material São os papéis públicos indicados nos incisos do art. 293, caput, do Código Penal, quais sejam: Inciso I: Selo destinado a controle tributário, papel selado ou qualquer outro papel de emis- são legal destinado à arrecadação de tributo. O dispositivo se refere a marcas que devem ser inseridas ou afixadas em produtos a fim de demonstrar o pagamento de qualquer tipo de tributo. Inciso II: Papel de crédito público que não seja moeda de curso legal. O dispositivo se refere a apólices e títulos da dívida pública. Inciso III: Vale postal. O dispositivo foi tacita- mente revogado pelo art. 36 da Lei n. 6.538/78. Inciso IV: Cautela de penhor, caderneta de depósito de caixa econômica ou de outro esta- belecimento mantido por entidade de direito público. A cautela de penhor é o título com o qual o sujeito pode retirar o bem empenhado das mãos do credor. Na doutrina se diz que a falsificação de cadernetas de estabelecimen- tos privados configura o crime de falsificação de documento particular (CP, art. 298), e não o delito em análise. Inciso V: Talão, recibo, guia, alvará ou qualquer outro documento relativo a arrecadação de rendas públicas ou a depósito ou caução por que o poder público seja responsável. Trata-se de documentos relativos a tributação. Exemplo: falsificação de guias de arrecadação da Receita Federal (DARFs), mediante inserção de autenti- cação bancária, como forma de comprovação do recolhimento dos tributos devidos. Inciso VI: Bilhete, passe ou conhecimento de empresa de transporte administrada pela União, Estado ou Município. Bilhete e passe são papéis que autorizam o transporte de pessoas, de forma gratuita ou não, em veículo de trans- porte coletivo; conhecimento diz respeito ao transporte de mercadorias. Conduta / Núcleo do Tipo Falsificar, que pode se dar por fabricação (criar imitando um verdadeiro) ou alteração (modifi- cação de um documento verdadeiro). Sujeito ativo Trata-se de crime comum ou geral. Sujeito passivo É o Estado e, de forma indireta, a pessoa física ou jurídica afetada pela conduta criminosa. Elemento subjetivo É o dolo, não sendo exigida qualquer finali- dade específica. Não se admite a modalidade culposa. xi xi xx x ix xx xx xx xx x ix xx ix xx xx x i x xx xx ix ii xx xx xx xx x xi xi xx x ix xx xx xx xx x ix xx ix xx xx x i x xx xx ix ii xx xx xx xx x xixixx xixxxxxxxxx xixxxixxxxxx i xxxxxix iixxxxxxxxx xixixx xixxxxxxxxx xixxxixxxxxx i xxxxxix iixxxxxxxxx 6 www.neafconcursos.com.br DI RE IT O PE NA L Consumação / Tentativa A consumação se dá no momento em que o agente realiza a figura típica, ou seja, quando falsifica o papel. Trata-se de crime formal (de resultado cortado), prescindindo da efetiva cir- culação/utilização do papel falsificado. A ten- tativa é possível devido ao caráter plurissub- sistente do delito, permitindo o fracionamento do iter criminis. Ação Penal Pública incondicionada. Classificação doutrinária Trata-se de crime de forma livre, de conteúdo múltiplo ou variado, de concurso eventual, for- mal, instantâneo e plurissubsistente. O art. 293 traz em seus parágrafos figuras equi- paradas e figuras privilegiadas, ou seja, tipos penais próximos ao previsto no caput, mas com alguns elementos especiais. O § 1º, inciso I não criminaliza aquele que re- alizou a falsificação do papel, mas quem usou, guardou, possuiu ou deteve o papel que sabia ser falsificado. Já o § 1º, inciso II prevê que incorre na mesma pena quem importa, exporta, adquire, vende, troca, cede, empresta, guarda, fornece ou res- titui à circulação selo falsificado destinado a controle tributário. Por fim, o § 1º, inciso III criminaliza a conduta do empresário que negocia mercadorias que sabe possuírem selo público falsificado. Os parágrafos 2º, 3º e 4º trazem figuras privilegiadas. O § 2º trata da hipótese em que se tem papéis públicos legítimos, mas que foram, por algum motivo, inutilizados. A conduta criminosa está em suprimir/apagar o carimbo de inutilização, a fim de reutilizar o papel de forma ilícita. O § 3º estabelece as mesmas penas do §2º para quem usa, depois de alterado, qualquer dos papéis a que se refere o §2º (papel legítimo com carimbo de uso suprimido). O § 4º pune o agente que teria recebido o pa- pel falsificado de boa-fé, mas, ao perceber que se trata de documento falso, coloca o papel novamente em circulação a fim de livrar-se do prejuízo sofrido. Por fim, o § 5º equipara a atividade comercial, para os fins desse dispositivo, qualquer forma de comércio irregular ou clandestino, inclusive o exercido em vias, praças ou outros logradou- ros públicos ou em residências. Dessa forma, não é necessário que seja uma empresa ou co- mércio regularizado. Causa de aumento de pena Se o sujeito ativo for funcionário público e cometer o crime prevalecendo-se do cargo, aumentar-se-á a pena de sexta parte (Art. 295 CP). Petrechos de falsificação Art. 294. Fabricar, adquirir, fornecer, possuir ou guardar objeto especialmente destinado à falsificação de qualquer dos papéis referidos no artigo anterior: PENA: RECLUSÃO de 1 a 3 ANOS + MULTA. Art. 295. Se o agente é funcionário público, e comete o cri- me prevalecendo-se do cargo, aumenta-se a pena de 1/6. Considerações iniciais O crime de petrechos de falsificação previsto no art. 294 do Código Penal se refere especifi- camente à falsificação de papéis públicos pre- vista no art. 293 do mesmo diploma. Trata-se de autêntico “crime obstáculo”, pois, não se aguarda que o agente execute os atos tendentes a imitar, alterar os papéis públicos verdadeiros, já configurando crime a simples conduta de adquirir, possuir, guardar esses ma- teriais/equipamentos destinados especifica- mente a falsificar os papéis públicos previstos no art. 293. Objetividade jurídica A proteção da fé pública. Objeto material É o objeto especialmente destinado à falsifica- ção dos papéis públicos especificados no art. 293 do Código Penal. Conduta / Núcleo do Tipofabricar (inventar, construir), adquirir (obter), fornecer (dar, abastecer), possuir (ter como pro- priedade), guardar (abrigar, vigiar). Trata-se de tipo misto alternativo, crime de ação múltipla ou de conteúdo variado. Interessante observar que o crime pode ser considerado instantâneo nos núcleos “fabri- car”, “adquirir” e “fornecer” e crime permanente nas modalidades “possuir” e “guardar”. Sujeito ativo Trata-se de crime comum. Sujeito passivo É o Estado. Elemento subjetivo É o dolo, independentemente de qualquer fi- nalidade específica. Não se admite a modalida- de culposa Consumação / Tentativa Ocorre com a realização das condutas típicas. Há controvérsia na doutrina acerca da possi- bilidade de tentativa. Enquanto Rogério San- ches a defende, Cleber Masson diz que “Não é cabível, pois o legislador incriminou de forma autônoma atos representativos da preparação do delito tipificado no art. 293 do Código Pe- nal (falsificação de papéis públicos). Em outras palavras, o delito de petrechos de falsificação é classificado como crime obstáculo, logicamen- te incompatível com o conatus”. Ação Penal Pública incondicionada. Classificação doutrinária Trata-se de crime de forma livre (crime onímo- do), de conteúdo múltiplo ou variado, unissub- jetivo ou de concurso eventual, formal, instan- tâneo e plurissubsistente. CUIDADO: Se o agente utilizar os petrechos e efetivamente falsificar os papéis públicos, res- ponderá apenas pelo crime do art. 293 do Có- digo Penal, restando absorvido o crime do art. 294 do mesmo diploma. Causa de aumento de pena Se for funcionário público e cometer o crime prevalecendo-se do cargo, aplica-se o disposto no art. 295 do Código Penal, aumentando-se a pena de sexta parte. xi xi xx x ix xx xx xx xx x ix xx ix xx xx x i x xx xx ix ii xx xx xx xx x xixixx xixxxxxxxxx xixxxixxxxxx i xxxxxix iixxxxxxxxx xixixx xixxxxxxxxx xixxxixxxxxx i xxxxxix iixxxxxxxxx 7www.neafconcursos.com.br DIREITO PENAL CAPÍTULO III DA FALSIDADE DOCUMENTAL Falsificação do selo ou sinal público Art. 296. FALSIFICAR, fabricando-os OU alterando-os: I – selo público destinado a autenticar atos oficiais da União, de Estado ou de Município; II – selo ou sinal atribuído por lei a entidade de direito públi- co, ou a autoridade, ou sinal público de tabelião: PENA: RECLUSÃO de 2 a 6 ANOS + MULTA. § 1º Incorre nas mesmas penas: I – quem faz uso do selo ou sinal falsificado; II – quem utiliza indevidamente o selo ou sinal verdadeiro em prejuízo de outrem ou em proveito próprio ou alheio. III – quem altera, falsifica ou faz uso indevido de marcas, logotipos, siglas ou quaisquer outros símbolos utilizados ou identificadores de órgãos ou entidades da Administra- ção Pública. § 2º Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-se do cargo, aumenta-se a pena de 1/6. Considerações iniciais A conduta consiste em falsificar (fabrican- do ou alterando): selo público destinado a autenticar atos oficiais da União, Estado ou Município; ou selo ou sinal atribuído por lei a entidade de direito público (pessoas jurídicas de direito público, abrangendo autarquias e fundações), autoridade, ou sinal público de tabelião. Objetividade jurídica É a fé pública. Objeto material É o selo público destinado a autenticar atos oficiais da União, de Estado ou de Município, bem como o selo ou sinal atribuído por lei à entidade de direito público, ou a autoridade, ou sinal público de tabelião. Cuidado: Inciso I não se refere ao Distrito Fe- deral (DF) e o Direito Penal não admite ana- logia in malam partem, então, caso ocorra falsificação de um selo público destinado a autenticar atos oficiais do DF, não configura este crime porque o Direito Penal não permi- te analogia que venha a prejudicar o réu. IMPORTANTE: empresas públicas e socieda- des de economia mista (espécies de empre- sas estatais) possuem natureza jurídica de pessoa de direito privado, por isso seus selos não são objeto do tipo do art. 296, CP. Conduta / Núcleo do Tipo Falsificar, que significa imitar, reproduzir ou modificar. “Na fabricação, também conhecida como contrafação, opera-se a formação ou re- produção integral do selo ou sinal público. Na alteração, por sua vez, há modificação do selo ou sinal público, para que passe a ostentar, mediante acréscimo ou supressão, informação diversa da original” (Cleber Masson). Sujeito ativo Trata-se de crime comum. Sujeito passivo É o Estado e, mediatamente, a pessoa física ou jurídica prejudicada pela conduta criminosa. Elemento subjetivo É o dolo, sem a exigência de qualquer finali- dade específica. Não se admite a modalidade culposa. Cuidado: No § 1º, II (quem utiliza indevida- mente o selo ou sinal verdadeiro em prejuízo de outrem ou em proveito próprio ou alheio) exige-se uma finalidade especial do agente. Consumação / Tentativa Consuma-se com a prática de uma das con- dutas, sendo irrelevante a efetivação do dano. A Tentativa é possível, tendo em conta que é permitido o fracionamento do iter criminis. Ação Penal Pública incondicionada. Classificação doutrinária Trata-se, em regra, de crime comum, comissi- vo, instantâneo e plurissubsistente. A nature- za formal ou material do delito dependerá da figura típica analisada. O artigo 296 do Código Penal apresenta di- versas modalidades típicas, abrangendo o caput, seus incisos e figuras equiparadas previstas no § 1º. Diante dessa diversidade, a doutrina reconhece que o tipo pode assumir natureza formal ou material, conforme o caso. Quando se trata da falsificação de selo ou si- nal público, como descrito no caput e nos in- cisos I e II, o crime é tipicamente formal, sen- do suficiente a prática do ato de falsificação para sua consumação, independentemente da ocorrência de prejuízo efetivo. Por outro lado, há entendimento de que o de- lito previsto no § 1º, inciso II — que trata do uso indevido de selo ou sinal verdadeiro em prejuízo de outrem ou em proveito próprio ou alheio — possui natureza material, exigin- do a demonstração de um resultado natura- lístico, ou seja, a efetiva produção de prejuízo ou obtenção de vantagem indevida, para que se configure a consumação do delito. A jurisprudência e a interpretação adotada por bancas examinadoras como a VUNESP reforçam essa distinção. Em questão aplicada ao concurso de Delegado de Polícia Civil de Roraima, a banca considerou correta a asser- tiva de que o crime de utilizar indevidamente selo ou sinal verdadeiro é de natureza mate- rial, por exigir, para sua consumação, a ocor- rência de prejuízo ou vantagem. Um detalhe importante: a Banca não considerou o crime (inteiro do art 296) como sendo material, mas apenas o caso de “utilizar indevidamente selo ou sinal verdadeiro”. Interessante observar que numa prova de Es- crevente do TJ, a VUNESP considerou incorre- ta a seguinte afirmação: “todas as modalidades previstas são crime de perigo abstrato, não se exigindo resultado na- turalístico diverso da conduta realizada” Precisamos dividir as informações em duas partes: 1) “todas as modalidades previstas são crime de perigo abstrato 2) não se exigindo resultado naturalístico diverso da conduta realizada. Não podemos afirmar nem a primeira parte e nem a segunda como corretas, como um todo. xi xi xx x ix xx xx xx xx x ix xx ix xx xx x i x xx xx ix ii xx xx xx xx x xixixx xixxxxxxxxx xixxxixxxxxx i xxxxxix iixxxxxxxxx xixixx xixxxxxxxxx xixxxixxxxxx i xxxxxix iixxxxxxxxx 8 www.neafconcursos.com.br DI RE IT O PE NA L Classificação doutrinária A doutrina ensina que: Crime de Perigo Abstrato – É aquele em que a lei presume o perigo ao bem jurídico, sem exigir prova de que o risco realmente ocorreu. Crime de Perigo Concreto – É aquele que exi- ge a comprovação efetiva de que houve risco real ao bem jurídico protegido. Crimes contra a fé pública são, via de regra, crimes de perigo abstrato, pois a simples con- duta já compromete aconfiança da coletivi- dade nas instituições e documentos. Alguns tipos equiparados ou específicos exi- gem resultado naturalístico (como o §1º, II do art. 296 do CP – uso indevido de selo público, quando há prejuízo efetivo). Nestes casos, o crime pode assumir natureza material. Condutas equiparadas: O § 1º inciso I prevê que incorre nas mesmas penas quem faz uso do selo ou sinal falsifica- do. Importante observar que a lei fala em uso, o que torna atípica a conduta de guardar, de- ter ou possuir. Caso o agente tenha falsificado o selo e pos- teriormente utilizado, responderá apenas pela falsificação sendo o uso um post factum impunível. Responderá pelo uso quando não for o falsificador, mas dolosamente utilizar um selo ou sinal público sabidamente falsificado. O § 1º inciso II prevê que incorre nas mesmas penas quem utiliza indevidamente selo ou si- nal verdadeiro em prejuízo de outrem ou em proveito próprio. Nesta hipótese, o sinal é ver- dadeiro, mas sua utilização é indevida. Por fim, o § 1º inciso III prevê que incorre nas mesmas penas quem altera, falsifica ou faz uso indevido de marcas, logotipos, siglas ou outros símbolos que identifiquem órgãos da Administração: considera-se quaisquer carac- teres aptos a identificar órgãos ou entidades da Administração. Causa de aumento de pena (Art. 296, § 2º) Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-se do cargo, aumenta-se a pena de sexta parte. Falsificação de documento público Art. 297. FALSIFICAR, no todo ou em parte, documento público, OU ALTERAR documento público verdadeiro: PENA: RECLUSÃO de 2 a 6 ANOS + MULTA. § 1º Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-se do cargo, aumenta-se a pena de 1/6. § 2º Para os efeitos penais, equiparam-se a DOCUMENTO PÚBLICO: 1. O emanado de entidade paraestatal; 2. O título ao portador ou transmissível por endosso; 3. As ações de sociedade comercial; 4. Os livros mercantis; e 5. O testamento particular. § 3º Nas mesmas penas incorre quem INSERE ou FAZ INSERIR: I – na folha de pagamento ou em documento de informa- ções que seja destinado a fazer prova perante a previdên- cia social, pessoa que não possua a qualidade de segurado obrigatório; II – na Carteira de Trabalho e Previdência Social do empre- gado ou em documento que deva produzir efeito perante a previdência social, declaração falsa ou diversa da que deve- ria ter sido escrita; III – em documento contábil ou em qualquer outro docu- mento relacionado com as obrigações da empresa perante a previdência social, declaração falsa ou diversa da que de- veria ter constado. § 4º Nas mesmas penas incorre quem OMITE, nos docu- mentos mencionados no § 3º, nome do segurado e seus dados pessoais, a remuneração, a vigência do contrato de trabalho ou de prestação de serviços. Considerações iniciais Esse crime é conhecido como falsificação MATERIAL de documento público. Nesse caso, a falsificação recai sobre a forma do documento, sobre a expressão externa do documento. Objetividade jurídica É a fé pública contida nos documentos públi- cos. Documento público é aquele elaborado por funcionário público no exercício de fun- ção pública de acordo com as formalidades previstas em lei, como o RG, Carteira de tra- balho, CNH, Passaporte, Certificado de Regis- tro e Licenciamento de Veículo etc. Objeto material o documento público falsificado, no todo ou em parte, ou o documento público verdadei- ro alterado. Conduta / Núcleo do Tipo 2 núcleos: falsificar e alterar. Falsificar significa criar materialmente, for- mar um documento falso. A falsificação pode ser total (quando o documento é integral- mente forjado) ou parcial (quando uma parte do documento é verdadeira quanto à forma e parte é falsa). Conduta / Núcleo do Tipo Alterar significa modificar um documento verdadeiro. P. ex: uma pessoa troca a foto- grafia em um documento de identidade, ou altera a categoria para a qual é habilitado em sua CNH. RG ou a CNH em questão são ver- dadeiros, mas foram ilicitamente alterados. Sujeito ativo Trata-se de crime comum. Sujeito passivo É o Estado e, de forma indireta, a pessoa física ou jurídica afetada pela conduta criminosa. Elemento subjetivo Dolo, independentemente de qualquer fina- lidade específica, não sendo admitida a for- ma culposa. Consumação / Tentativa Trata-se de crime formal. Na modalidade falsificar, a consumação se dá quando o do- cumento falso fica pronto; na modalidade alterar, quando a modificação se concretiza. A tentativa é possível, considerando o caráter plurissubsistente do delito, o que permite o fracionamento do iter criminis. Ação Penal Pública incondicionada. xi xi xx x ix xx xx xx xx x ix xx ix xx xx x i x xx xx ix ii xx xx xx xx x 9www.neafconcursos.com.br DIREITO PENAL Classificação doutrinária Crime comum, formal, instantâneo e plurissubsistente. Condutas equiparadas: O § 2º equipara alguns documentos par- ticulares a documentos públicos para fins penais: documentos emanados de entidade paraestatal (p.ex. autarquias, empresas pú- blicas, sociedades de economia mista, fun- dações instituídas pelo Poder Público); título ao portador ou transmissível por endosso (p. ex. cheque, nota promissória etc.); ações das sociedades mercantis (sociedades anônimas ou em comandita por ações); livros mercan- tis; e testamento particular (holográfo). Todas essas espécies de documentos são produzi- das por particulares, mas para fins penais são considerados públicos. O diploma de conclusão de curso superior é documento público, ainda que emitido por instituição particular, porque a instituição atua como delegada da União, integrando o sistema federal de ensino superior. Bom ressaltar que o registro em cartório não altera a natureza do documento. A cópia autenticada de documento público é do- cumento público. Já a cópia autenticada de documento particular continua sendo docu- mento particular. A Lei n. 9.983/2000 acrescentou os § 3º e § 4º ao art. 297, punindo com as mesmas penas da falsidade material de documento público a falsificação de determinados documentos que têm reflexos na Previdência Social. Causa de aumento de pena (Art. 297, § 1º) O § 1º prevê que se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-se do cargo, aumenta-se a pena em 1/6. Falsificação de documento particular Art. 298. FALSIFICAR, no todo ou em parte, documento particular OU ALTERAR documento particular verdadeiro: PENA: RECLUSÃO de 1 a 5 ANOS + MULTA. Falsificação de cartão Parágrafo único. Para fins do disposto no caput, equipara- -se a documento particular o cartão de crédito ou débito. Considerações iniciais Os mesmos comentários feitos em relação ao crime do art. 297 cabem aqui, pois a única mu- dança é o objeto do crime: no art. 298 trata-se de falsificação MATERIAL de documento privado. No crime de falsificação de documento públi- co, previsto no artigo 297, a pena é maior: re- clusão 2 a 6 anos de reclusão e multa. Já no crime de falsificação de documento particular, ora analisado, a pena é levemente menor: re- clusão 1 a 5 anos e multa. Objetividade jurídica É a fé pública nos documentos particulares. Considera-se documento particular todo aque- le que não é público nem equiparado ao pú- blico. Os requisitos do documento particular são os mesmos do documento público: forma escrita, autor certo, conteúdo com relevância jurídica e valor probatório. A única diferença é que não são elaborados por funcionário públi- co no desempenho de suas funções. Objetividade jurídica OBSERVAÇÃO: o documento particular regis- trado em cartório não tem sua natureza altera- da. O registo apenas dá publicidade ao docu- mento, assim como cópia autenticada. Objeto material É o documento particular falsificado, no todo ou em parte, bem como o documento particu- lar verdadeiro alterado. Conduta / Núcleo do Tipo 2 núcleos: falsificar e alterar. Falsificar significacriar materialmente, formar um documento falso. A falsificação pode ser total (quando o documento é integralmente forjado) ou parcial (quando uma parte do documento é verdadei- ra quanto à forma e parte é falsa). Alterar signi- fica modificar um documento verdadeiro. P. ex. um contrato de locação de imóvel. Sujeito ativo Trata-se de um crime comum, passível de ser praticado por qualquer pessoa. Sujeito passivo É o Estado e, de forma indireta (mediata), a pes- soa física ou jurídica que tenha sido prejudica- da pela conduta criminosa. Elemento subjetivo Dolo, sem a necessidade de qualquer finali- dade específica. A modalidade culposa não é admitida. Consumação / Tentativa Trata-se de crime formal. Na modalidade falsifi- car, a consumação se dá quando o documento falso fica pronto; na modalidade alterar, quando a modificação se concretiza. A tentativa é possí- vel devido ao caráter plurissubsistente do delito, permitindo o fracionamento do iter criminis. Ação Penal Pública incondicionada. Classificação doutrinária Crime comum, formal, instantâneo e plurissubsistente. Norma penal explicativa (Art. 298, parágrafo único) Falsificação de cartão – Parágrafo único. Para fins do disposto no caput, equipara-se a docu- mento particular o cartão de crédito ou débito. FALSIDADE DE DOCUMENTO PÚBLICO X FALSIDADE DE DOCUMENTO PARTICULAR Falsificação de documento PÚBLICO Falsificação de documento PARTICULAR Art. 297. FALSIFICAR, no todo ou em parte, documento públi- co, OU ALTERAR documento público verdadeiro: Art. 298. FALSIFICAR, no todo ou em parte, documento parti- cular OU ALTERAR documento particular verdadeiro: RECLUSÃO de 2 a 6 ANOS + MULTA. RECLUSÃO de 1 a 5 ANOS + MULTA. EQUIPARAÇÃO DE DOCUMENTO PÚBLICO PARTICULAR Equiparam-se a documento PÚBLICO Equipara-se a documento PARTICULAR 1. O emanado de entidade paraestatal, 1. O cartão de crédito. 2. O título ao portador ou trans- missível por endosso, 2. O cartão de débito. 3. As ações de sociedade comercial, 4. Os livros mercantis e 5. O testamento particular. xi xi xx x ix xx xx xx xx x ix xx ix xx xx x i x xx xx ix ii xx xx xx xx x xi xi xx x ix xx xx xx xx x ix xx ix xx xx x i x xx xx ix ii xx xx xx xx x xixixx xixxxxxxxxx xixxxixxxxxx i xxxxxix iixxxxxxxxx xixixx xixxxxxxxxx xixxxixxxxxx i xxxxxix iixxxxxxxxx 10 www.neafconcursos.com.br DI RE IT O PE NA L Falsidade ideológica Art. 299. OMITIR, em documento público ou particular, declaração que dele devia constar, ou nele INSERIR OU FA- ZER INSERIR declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita, com o fim de: 1. Prejudicar direito; 2. Criar obrigação; ou 3. Alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante: PENA SE O DOCUMENTO FOR PÚBLICO SE O DOCUMENTO FOR PARTICULAR RECLUSÃO de 1 a 5 ANOS + MULTA. RECLUSÃO de 1 a 3 ANOS + MULTA. Parágrafo único. Se o agente é funcionário público, e co- mete o crime prevalecendo-se do cargo, ou se a falsificação OU alteração é de assentamento de registro civil, aumenta- -se a pena de 1/6. Considerações iniciais Também conhecida por falsidade intelectual, ideal ou moral, tem como objeto documen- to autêntico em seus requisitos extrínsecos, tendo sido emanado realmente pela pessoa que nele figura como seu autor e seguindo os ditames legais, entretanto seu conteúdo é falso. A mensagem/ideia exposta no docu- mento é mentirosa ou diversa da que deve- ria ter sido escrita. As condutas podem recair sobre documento público ou particular, sendo que, na primeira hipótese, a pena é de reclusão, de um a cin- co anos, e multa, e, na segunda, reclusão, de um a três anos, e multa. Objetividade jurídica É a fé pública contida em documentos públi- cos ou particulares. Objeto material O documento público ou particular. Conduta / Núcleo do Tipo São três as condutas típicas: Omitir declaração que devia constar do do- cumento: trata-se de conduta omissiva. O agente elabora um documento deixando, dolosamente, de inserir alguma informação que era obrigatória. Inserir declaração falsa ou diversa da que de- via constar: trata-se de conduta comissiva. O agente confecciona o documento inserindo informação inverídica ou diversa da que de- via constar. Fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia constar: trata-se de conduta co- missiva. O agente fornece informação falsa a terceira pessoa, responsável pela elaboração do documento, e esta, sem ter ciência da fal- sidade, o confecciona. Nas duas primeiras hipóteses (omitir e inse- rir) existe a chamada falsidade imediata, pois é a própria pessoa que confecciona o docu- mento quem comete o falso ideológico. Na última modalidade (fazer inserir) a lei não pune quem confecciona o documento, mas quem lhe passa a informação falsa (falsidade mediata), pois, neste caso, quem o elabora está de boa-fé. Sujeito ativo Crime comum ou geral, podendo ser cometi- do por qualquer pessoa. Sujeito passivo É o Estado e, de forma indireta (mediata), a pessoa física ou jurídica que tenha sido pre- judicada pela conduta criminosa. Elemento subjetivo O dolo, acrescido de um especial fim de agir (elemento subjetivo específico), representa- do pela expressão “com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante”. Consumação / Tentativa Trata-se de crime formal, sendo que a con- sumação se dá quando o documento fica pronto com a efetiva omissão ou inserção de declaração, de forma a tornar falso o seu conteúdo, mesmo que o agente não atinja a sua finalidade de prejudicar direito, criar obrigação etc. Na modalidade omissiva – “omitir, em docu- mento público ou particular, declaração que dele devia constar” – não se admite tentativa – ou o sujeito omite a declaração, e o delito estará consumado, ou corretamente efetua a declaração, e seu comportamento será atípico. Por outro lado, nas modalidades co- missivas – “inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita” – a tentativa é possível. Ação Penal Pública incondicionada. Classificação doutrinária Crime comum, formal, instantâneo e pluris- subsistente nas modalidades inserir e fase in- serir e unissubsistente na modalidade omitir. Causa de aumento de pena (Art. 299, parágrafo único) 1) Se o agente é funcionário público, e co- mete o crime prevalecendo-se do cargo, aumenta-se a pena de sexta parte. 2) Se a falsificação ou alteração é de assenta- mento de registro civil, aumenta-se a pena de sexta parte. Falso reconhecimento de firma ou letra Art. 300. RECONHECER, como verdadeira, no exercício de função pública, firma ou letra que o não seja: PENA SE O DOCUMENTO FOR PÚBLICO SE O DOCUMENTO FOR PARTICULAR RECLUSÃO de 1 a 5 ANOS + MULTA. RECLUSÃO de 1 a 3 ANOS + MULTA. Considerações iniciais Para gerar mais segurança jurídica a certos procedimentos e documentos, o Estado criou o instituto do reconhecimento de firma ou letra. Trata-se da conduta positiva de um servidor público, especialmente designado para tal função, na qual se reconhece a au- tenticidade de uma assinatura (firma) lançada por alguém em determinado papel. O art. 300 do Código Penal criminaliza a conduta desse servidor público que dolosamente re- conhece como verdadeira uma firma ou letra que não é. Objetividade jurídica Trata-se da fé pública nas letras ou firmas reconhecidas. Objeto material É a firma ou letra falsa xi xi xx x ix xx xx xx xx x ix xx ix xx xx x i x xx xx ix ii xx xx xx xx x 11www.neafconcursos.com.br DIREITO PENAL Conduta / Núcleo do Tipo Consiste em reconhecer (afirmar, declarar, proclamar), no exercício de função pública, como verdadeira firma ou letra que não o seja. Firma é a assinatura de alguém, e letra é o manuscrito de uma pessoa. Sujeito ativo Trata-se de crime próprio que só pode ser cometido por quem tem atribuição legal para reconhecer firma ou letra: tabelião, es- creventedo tabelionato, oficial do cartório de registro civil etc. Sujeito passivo É o Estado e, de forma indireta (mediata), a pessoa física ou jurídica que tenha sido pre- judicada pela conduta criminosa. Elemento subjetivo dolo, independentemente de qualquer fina- lidade específica. Não se admite a modali- dade culposa. Consumação / Tentativa Trata-se de crime formal, cuja consumação se dá com o reconhecimento da firma ou letra, independentemente de qualquer con- sequência posterior. A tentativa é admissível, pois se trata de um crime plurissubsistente, permitindo o fracio- namento do iter criminis. Ação Penal Pública incondicionada. Classificação doutrinária Crime simples, próprio, formal, instantâneo e unissubjetivo. Certidão ou atestado ideologicamente falso Art. 301. ATESTAR OU CERTIFICAR falsamente, em razão de função pública, fato ou circunstância que habilite al- guém a obter: 1. Cargo público; 2. Isenção de ônus; ou 3. De serviço de caráter público; ou 4. Qualquer outra vantagem: PENA: DETENÇÃO de 2 MESES a 1 ANO. Falsidade material de atestado ou certidão § 1º FALSIFICAR, no todo ou em parte, atestado ou certi- dão, OU ALTERAR o teor de certidão ou de atestado ver- dadeiro, para prova de fato ou circunstância que habilite alguém a obter: 1. Cargo público; 2. Isenção de ônus; ou 3. De serviço de caráter público; ou 4. Qualquer outra vantagem: PENA: DETENÇÃO de 3 MESES a 2 ANOS. § 2º Se o crime é praticado com o fim de lucro, aplica-se, além da pena privativa de liberdade, a de MULTA. Considerações iniciais No exercício da função pública, o servidor é capaz de certificar ou atestar certas situa- ções relacionadas a sua função. As certidões são feitas com base em um documento guar- dado ou em tramitação em uma repartição pública (p.ex. o escrevente judiciário certifica que a petição foi juntada aos autos de um Considerações iniciais processo em certa data), enquanto os atesta- dos são um testemunho por escrito do fun- cionário público sobre um fato ou circuns- tância que ocorreu em sua presença (p.ex. o oficial de promotoria atesta que um advoga- do esteve presente na promotoria e solicitou verbalmente vistas de um processo). O crime em tela é hipótese especial de falsi- dade ideológica, na qual o agente, funcioná- rio público, em documento materialmente verdadeiro, atesta ou certifica fato ou cir- cunstância que não é verdadeira. Objetividade jurídica É a fé pública contida em certidões ou ates- tados públicos. Objeto material É o atestado ou a certidão ideologicamente falso. Conduta / Núcleo do Tipo 2 núcleos: “atestar” e “certificar”. Atestar é afirmar a ocorrência de fato ou situação de que o funcionário público tenha ciência dire- ta e pessoal. Certificar é afirmar a existência ou inexistência de determinado documento ou registro junto ao órgão público. Sujeito ativo Trata-se de crime próprio, que só pode ser cometido por funcionário público no exercí- cio de suas funções. Aquele que recebe o atestado ou certidão e dele faz uso incide no art. 304, CP (uso de documento falso). Sujeito passivo É o Estado e, de forma indireta (mediata), a pessoa física ou jurídica que tenha sido pre- judicada pela conduta criminosa. Elemento subjetivo É o dolo, independentemente de qualquer finalidade específica. Não se admite a moda- lidade culposa. Consumação / Tentativa Crime é formal, ou seja, sua consumação independe de o destinatário efetivamente conseguir, com o atestado ou certidão, ob- ter o benefício visado, bastando a confecção do atestado ou certidão de conteúdo falso. A tentativa é admissível, pois se trata de um crime plurissubsistente, permitindo o fracio- namento do iter criminis. Ação Penal Pública incondicionada. Classificação doutrinária Crime simples, próprio, formal, instantâneo e unissubjetivo. Falsidade material de atestado ou certidão (Art 301, § 1º) No caput temos um crime de falsidade de or- dem ideológica e no § 1º um crime de ordem material. O § 1º trata-se de crime de falsidade material de atestado ou certidão. Nessa modalidade, a falsidade do atestado ou certidão é mate- rial, portanto, consiste em falsificar, no todo ou em parte, atestado ou certidão, ou alterar o teor de certidão ou atestado verdadeiro. É também necessário que o objeto da falsi- ficação seja fato ou circunstância que habi- lite alguém a obter cargo público, isenção de ônus ou de serviço de caráter público, ou qualquer outra vantagem. O caput do art. 300 configura um crime pró- prio, sendo sua prática restrita a funcionário público no exercício de suas funções. xi xi xx x ix xx xx xx xx x ix xx ix xx xx x i x xx xx ix ii xx xx xx xx x 12 www.neafconcursos.com.br DI RE IT O PE NA L Falsidade material de atestado ou certidão (Art 301, § 1º) O § 1º descreve um crime comum, que pode ser cometido por qualquer pessoa ao fal- sificar ou alterar um atestado ou certidão verdadeiros. Multa: o § 2º prevê que se há intenção de lucro na conduta, aplica-se também pena de multa. Essa pena aplica-se tanto ao caput quanto ao § 1º. CERTIDÃO OU ATESTADO IDEOLOGICAMENTE FALSO FALSIDADE MATERIAL DE ATESTADO OU CERTIDÃO ATESTAR OU CERTIFICAR falsa- mente, em razão de função pú- blica, fato ou circunstância que habilite alguém a obter: 1. Cargo público; 2. Isenção de ônus; ou 3. De serviço de caráter público; ou 4. Qualquer outra vantagem: FALSIFICAR, no todo ou em par- te, atestado ou certidão, OU AL- TERAR o teor de certidão ou de atestado verdadeiro, para prova de fato ou circunstância que ha- bilite alguém a obter: 1. Cargo público; 2. Isenção de ônus; ou 3. De serviço de caráter público; ou 4. Qualquer outra vantagem: PENA: DETENÇÃO de 2 MESES a 1 ANO. PENA: DETENÇÃO de 3 MESES a 2 ANOS. Falsidade de atestado médico Art. 302. DAR o médico, no exercício da sua profissão, ates- tado falso: PENA: DETENÇÃO de 1 MÊS a 1 ANO. Parágrafo único. Se o crime é cometido com o fim de lucro, aplica-se também MULTA. Considerações iniciais No exercício da profissão, o médico tem a ca- pacidade de atestar fatos/acontecimentos, como a existência de certa doença, a neces- sidade de repouso para convalescência, o atendimento de pessoa em consulta médica, atestado de óbito etc. Esse poder do médi- co recebe fé pública, pois o que foi atestado tem relevância jurídica. Portanto, quando o médico atesta algo falsamente está violan- do a fé pública que foi depositada nesse seu poder. É importantíssimo ressaltar que se trata de crime praticado por médico particular. Quando o médico fornece o atestado no de- sempenho de função pública (por trabalhar em hospital público, por exemplo), comete o crime do art. 301, CP (Certidão ou atestado ideologicamente falso), que é mais grave. Caso o médico funcionário público receba alguma vantagem para a emissão do atesta- do falso, haverá o crime de corrupção passi- va (art. 317, CP), que é ainda mais grave. Objetividade jurídica Fé pública nos atestados médicos. Objeto material É o atestado médico falso. Conduta / Núcleo do Tipo É “dar”, ou seja, fornecer, entregar, produzir documento em que se atesta fato médi- co relevante e não correspondente com a realidade. Sujeito ativo Trata-se de crime próprio, pois só pode ser cometido por médico. Possíveis situações: • Médico Particular – Art. 302 – Falsidade de atestado médico • Médico Funcionário Público Público: Art. 301 – Certidão ou Atestado Ideologica- mente Falso • Dentista, veterinário, psicólogo – Particula- res – Art. 299 – Falsidade ideológica • Dentista, veterinário, psicólogo – Funcio- nários Públicos – Art. 301 – Certidão ou Atestado Ideologicamente Falso • Quem usa o atestado médico falso incorre no crime do art. 304, CP (uso de documen- to falso). Sujeito passivo Sujeito passivo do crime é o Estado e qual- quer outra pessoa prejudicada pelo uso do atestado falso, como o empregador a quem o atestado é apresentado a fim de abonar faltas ao trabalho.Elemento subjetivo O dolo, independentemente de qualquer fi- nalidade específica. Consumação / Tentativa É crime formal que se consuma no momen- to em que o médico fornece o atestado a alguém, mesmo que não chegue a ser utili- zado. A tentativa é admissível, pois se trata de um crime plurissubsistente, permitindo o fracionamento do iter criminis. Ação Penal Pública incondicionada. Classificação doutrinária Crime simples, próprio, formal, de forma li- vre, instantâneo e unissubjetivo. Multa (Art. 302, parágrafo único) Parágrafo único – Se o crime é cometido com o fim de lucro, aplica-se também multa. Se o médico particular dá o atestado com o intuito de lucro, cobrando por sua emissão, incorre na figura agravada do parágrafo úni- co, cuja única consequência é a aplicação cumulativa de pena de multa. Caso se trate de médico funcionário público e haja co- brança, tem-se o crime de corrupção passiva. Reprodução ou adulteração de selo ou peça filatélica Art. 303. REPRODUZIR OU ALTERAR selo ou peça filatélica que tenha valor para coleção, SALVO quando a reprodução ou a alteração está visivelmente anotada na face ou no ver- so do selo ou peça: PENA: DETENÇÃO de 1 a 3 ANOS + MULTA. Parágrafo único. Na mesma pena incorre quem, para fins de comércio, faz uso do selo ou peça filatélica. Referido dispositivo legal foi tacitamente revogado pelo art. 39 da Lei n. 6.538/78 (Lei dos Serviços Postais). Considerações iniciais Trata-se de um tipo penal que tutela o mer- cado filatelista, ou seja, o mercado de cole- cionadores de selos. A doutrina entende que este crime está tacitamente revogado, tendo em vista que a Lei n. 6.538/78 (art. 39) pune as mesmas condutas e é mais recente. xi xi xx x ix xx xx xx xx x ix xx ix xx xx x i x xx xx ix ii xx xx xx xx x xixixx xixxxxxxxxx xixxxixxxxxx i xxxxxix iixxxxxxxxx 13www.neafconcursos.com.br DIREITO PENAL Uso de documento falso Art. 304. FAZER USO de qualquer dos papéis falsificados ou alterados, a que se referem os arts. 297 a 302: Considerações iniciais Trata-se de crime remetido, pois faz referên- cia ao uso de quaisquer dos documentos fal- sos descritos nos arts. 297 a 302, CP. O uso de documento falso enquadra-se no conceito de crime acessório (de fusão ou parasitário), pois sua existência pressupõe a ocorrência de um crime anterior, qual seja, o de falsificação do documento. Além disso, para se caracterizar o crime de uso de documento falso é preciso que a fal- sidade seja apta a iludir alguém. Falsidades grosseiras tornam a conduta atípica, mesmo que o agente busque convencer alguém. Objetividade jurídica É a fé pública nos documentos públicos e particulares. Objeto material Qualquer dos papéis falsificados ou altera- dos a que se referem os arts. 297 a 302 do Código Penal. Artigos 297 ao 302: Art. 297 Falsificação de Documento Público; Art. 298 Falsificação de documento parti- cular; Art. 299 Falsidade Ideológica; Art. 300 Falso reconhecimento de firma ou letra; Art. 301 Certidão ou atestado ideologica- mente Falso; Objeto material Art. 301 – § 1º Falsidade material de atesta- do ou certidão; Art. 302 Falsidade de atestado médico. Conduta / Núcleo do Tipo “Fazer uso”, no sentido de utilizar ou empre- gar qualquer dos papéis falsificados ou alte- rados, a que se referem os arts. 297 a 302 do Código Penal. Sujeito ativo Trata-se de crime comum, praticável por qualquer pessoa, exceto o autor da falsifica- ção, visto que o entendimento é de que o fal- sário que posteriormente usa o documento responde apenas pela falsificação, sendo o uso um post factum impunível. Deve-se ter atenção apenas à hipótese em que o agente pratica o delito de falsidade ideológica e, posteriormente, faz uso do do- cumento falsificado. Nesse caso, entende o Superior Tribunal de Justiça que o delito de falsidade ideológica (art. 299) será absorvido pelo de uso de documento falso (art. 304) em razão do princípio da consunção. Sujeito passivo É o Estado e, de forma indireta (mediata), a pessoa física ou jurídica que tenha sido pre- judicada pela conduta criminosa. Elemento subjetivo O dolo. Consumação / Tentativa Dá-se com o uso, independentemente de o agente ter obtido qualquer vantagem, ou seja, mesmo que não engane o destinatá- rio. É crime formal. A possibilidade de ten- tativa no crime de uso de documento falso dependerá da interpretação do tipo penal, sendo que a doutrina se divide entre os que defendem a natureza unissubsistente e os que defendem a natureza plurissubsistente do crime. Ação Penal Pública incondicionada. Classificação doutrinária Crime simples, comum, formal, instantâneo e unissubjetivo. Supressão de documento Art. 305. DESTRUIR, SUPRIMIR OU OCULTAR, em bene- fício próprio ou de outrem, ou em prejuízo alheio, docu- mento público ou particular verdadeiro, de que não podia dispor: PENA SE O DOCUMENTO FOR PÚBLICO SE O DOCUMENTO FOR PARTICULAR RECLUSÃO de 2 a 6 ANOS + MULTA. RECLUSÃO de 1 a 5 ANOS + MULTA. Considerações iniciais Parte da doutrina entende que este tipo pe- nal está equivocadamente neste Capítulo (Da falsidade documental), pois não há falsi- dade envolvida. O art. 305 criminaliza aquele que destrói, suprime ou oculta documento verdadeiro que não podia dispor. Objetividade jurídica Fé pública contida nos documentos públicos e particulares. Objeto material É o documento público ou particular verda- deiro, de que não podia dispor. Conduta / Núcleo do Tipo 3 núcleos: destruir (eliminar), suprimir(fazer desaparecer) e ocultar (esconder). Sujeito ativo Trata-se de crime comum, praticável por qualquer pessoa. Inclusive, o próprio pos- suidor do documento pode cometer o cri- me caso seja um documento que não possa dispor. Sujeito passivo É o Estado e, de forma indireta (mediata), a pessoa física ou jurídica que tenha sido pre- judicada pela conduta criminosa. Elemento subjetivo O dolo, acrescido de um especial fim de agir (elemento subjetivo específico), representa- do pelas expressões “em benefício próprio ou de outrem” (vantagem patrimonial ou de qualquer outra natureza) e “em prejuízo alheio”. Consumação / Tentativa Trata-se de crime formal que se consuma no momento em que o agente destrói, suprime ou oculta o documento, ainda que não atinja sua finalidade de obter vantagem ou causar prejuízo. A tentativa é admissível, pois se tra- ta de um crime plurissubsistente, permitindo o fracionamento do iter criminis. xi xi xx x ix xx xx xx xx x ix xx ix xx xx x i x xx xx ix ii xx xx xx xx x xixixx xixxxxxxxxx xixxxixxxxxx i xxxxxix iixxxxxxxxx 14 www.neafconcursos.com.br DI RE IT O PE NA L Ação Penal Pública incondicionada. Classificação doutrinária Crime simples, comum, formal, instantâneo e unissubjetivo. (...) CAPÍTULO IV DE OUTRAS FALSIDADES Falsa identidade Art. 307. ATRIBUIR-SE OU ATRIBUIR a terceiro falsa identi- dade para obter vantagem, em proveito próprio ou alheio, ou para causar dano a outrem: PENA: DETENÇÃO de 3 MESES a 1 ANO ou MULTA, se o fato não constitui elemento de crime mais grave. Considerações iniciais O art. 307 criminaliza a conduta de atribuir-se ou atribuir a terceiro uma falsa identidade, mentindo a idade, dando nome inverídico ou característica que atribua personalidade. Nesse crime, não há uso/apresentação de documento falso ou verdadeiro, mas mera atribuição verbal falsa de identidade. Como o núcleo do tipo é “Atribuir”, entende-se que se trata de uma conduta ativa/comissiva do agente. Não se consuma o crime se o agente permanecer em silêncio quando questiona- do sobre sua identidade ou se deixar de ne- gar falsa identidade a ele atribuída por ter- ceiro.Trata-se da chamada falsidade pessoal. Se houver uso de documento verdadeiro de terceiro como se fosse próprio tem-se o cri- me do art. 308 (uso de documento de iden- tidade alheio). Objetividade jurídica É a fé pública. Objeto material É a identidade,