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A m en or re ia Prezado aluno, Desenvolvemos uma apostila interativa para oferecer um material inovador e, ainda melhor, focado na metodologia Aristo. Para uma experiência completa, sugerimos que realize os seus estudos pelo computador, possibilitando abrir os comentários das questões, respondê-las de forma interativa e até mesmo pular o conteúdo da questão respondida, em caso de acerto, para o tópico seguinte, de forma opcional. A interatividade traz novas possibilidades, mas você continua podendo abrir os seus materiais em tablets e celulares, além de poder imprimi-lo para usar em seus estudos e revisões. ↺3 Amenorreia 1. Definição 5 2. Divisão por compartimentos 5 3. Amenorreias primárias 7 Questão 01 7 3.1 Investigação das amenorreias primárias ⚠ 7 3.2 Desenvolvimento da genitália interna e externa feminina 12 3.3 Principais causas de amenorreia primária nas provas ⚠ 13 3.3.1 Síndrome Mayer-Rokitansky-Kuster (agenesia mulleriana) ⚠ 14 3.3.2 Hímen imperfurado 16 3.3.3 Síndrome de Morris (ou síndrome da insensibilidade androgênica) ⚠ 16 3.3.4 Síndrome de Turner ⚠ 18 Questão 02 18 3.3.5 Outras disgenesias gonadais 20 3.3.6 Síndrome de Savage 20 3.3.7 Síndrome de Kallmann 20 3.3.8 Outras causas de amenorreia hipotalâmica 21 3.3.9 Hiperplasia adrenal congênita (HAC) 22 3.3.9.1 HAC forma clássica 23 3.3.9.2 HAC forma não clássica 24 4. Amenorreias secundárias 24 4.1. Investigação das amenorreias secundárias ⚠ 25 Questão 03 25 4.1.1 Beta-hCG ⚠ 27 ↺4 Amenorreia 4.1.2 TSH e prolactina ⚠ 27 4.1.3 Teste da progesterona 27 4.1.4 Teste do estrogênio + progesterona 27 4.1.5 Dosagem do FSH 28 4.1.6 Teste do GnRH 28 4.2 Principais causas de amenorreia secundária nas provas 30 4.2.1 Hiperprolactinemia ⚠ 30 Questão 04 30 4.2.1.1 Hiperprolactinemia induzida por medicação 32 4.2.1.2 Prolactinomas ⚠ 32 4.2.2 Síndrome de Asherman ⚠ 34 Questão 05 34 4.2.3 Síndrome de Sheehan 35 4.2.4 Insuficiência ovariana prematura (IOP) 36 TOP FIVE 38 ↺5 Amenorreia Aluno Aristo, o assunto que vamos discutir agora é muito frequente nas provas e no dia a dia do médico, justamente porque as alterações menstruais estão entre as principais queixas das pacientes no ginecologista, e a amenorreia corresponde a uma grande parcela dessas situações. Desse assunto, o que as bancas mais gostam de cobrar são as síndromes, cujo primeiro sinal pode ser exatamente esse: a ausência de menstruação! Vamos dominar esse tema? 1. Definição Primeiramente, devemos entender a definição das amenorreias: Primária: quando nunca houve menstruação (ausência de menarca). E quando devemos investigar? • Aos 13-14 anos sem caracteres sexuais secundários. • Aos 15-16 anos com caracteres sexuais secundários. • Após cinco anos do início do desenvolvimento das mamas, se o processo se iniciou antes dos 10 anos. Secundária: quando a paciente já apresentou ciclos menstruais anteriormente. E quando devemos investigar? • Ausência de menstruação por três meses. • Ausência de menstruação por um período equivalente a três ciclos habituais em uma mulher. • Quando ocorrerem menos de nove menstruações ao longo de um ano. Cuidado! As referências divergem na idade de início de investigação, mas giram em torno dessa faixa etária. 2. Divisão por compartimentos Outro ponto teórico que algumas provas cobram é a divisão das amenorreias por compartimentos, ou seja, os locais que podem apresentar alterações que levam ao início do problema. Vamos pensar juntos… O que é preciso existir para que ocorra a menstruação? Um eixo hipotálamo-hipófise-ovariano funcionante, útero (endométrio) e vagina (o sangue precisa sair por algum lugar)! Intuitivo, não é mesmo? ↺6 Amenorreia Vamos então aos compartimentos: Compartimentos da amenorreia ↺7 Amenorreia 3. Amenorreias primárias As amenorreias primárias geralmente resultam de alguma anormalidade genética ou anatômica. Entretanto, todas as causas de amenorreia secundária também podem se apresentar como amenorreia primária. Se a paciente nunca menstruou, temos duas grandes possibilidades: ⚠ • Existe deficiência no eixo hipotálamo-hipófise-ovariano; ou • Existe alguma alteração anatômica afetando útero e/ou vagina. 3.1 Investigação das amenorreias primárias ⚠ Uma boa anamnese e um exame físico já nos trazem boas informações acerca de cada caso. Os aspectos mais importantes a serem avaliados são a presença ou a ausência de caracteres sexuais secundários (desenvolvimento das mamas e crescimento dos pelos na região pubiana e axilas). Então, lembre-se: sempre que você estiver diante de uma questão sobre amenorreia primária, a primeira pergunta que deve ser feita é: os caracteres sexuais secundários estão ausentes ou presentes? Questão 01 (INEP-Revalida - DF - 2015) Uma adolescente de 17 anos comparece à Unidade Básica de Saúde com queixa de nunca ter tido menstruação. Ela informa que sente dores abdominais, aumento da sensibilidade nas mamas e mudanças no estado de humor, e que esses sintomas se repetem ciclicamente. Apresenta distribuição pilosa e desenvolvimento mamário compatíveis com a idade. Nega atividade sexual. Para confirmação da provável hipótese diagnóstica deve-se realizar: a) Ultrassonografia pélvica. b) Dosagem dos hormônios FSH e LH. c) Exame para avaliar permeabilidade vaginal. d) Teste terapêutico com anticoncepcional, aguardando-se a menstruação. Comentário CCQ: Saber que em pacientes com desenvolvimento hormonal normal, devemos lembrar de avaliar a permeabilidade vaginal Caso tenha acertado, gostaria de pular para o próximo tópico? NãoSim ↺8 Amenorreia Investigação da amenorreia primária: parte I Caracteres sexuais secundários Desenvolvimento mamário O desenvolvimento das mamas (telarca) indica a presença de estrogênio, seja por produção endógena ou exposição exógena. Desenvolvimento de pelos A pubarca depende da presença de androgênios, também por produção endógena ou exógena. Pubarca e telarca são eventos próximos no desenvolvimento puberal, portanto, a presença de mamas com ausência de pubarca pode ser um sinal de insensibilidade a androgênios. Caracteres sexuais ausentes: se os caracteres sexuais secundários estão ausentes, então temos algum problema hormonal (pois é preciso um estímulo hormonal para que o desenvolvimento aconteça). Nos resta saber se é um problema hormonal relacionado ao eixo central (hipófise e hipotálamo) ou ao eixo gonadal (ovários). Então, o primeiro passo é realizar a dosagem de FSH, pois estamos diante de um quadro de hipogonadismo… Mas será hiper ou hipogonadotrófico? Se o FSH estiver elevado (hipergonadotrofia), vamos pensar em alterações dos ovários, ou seja, os ovários não estão respondendo ao alto estímulo das gonadotrofinas. Amenorreia primária Caracteres sexuais secundários presentes Caracteres sexuais secundários ausentes O eixo hipotálamo-hipófise -ovariano funciona O problema é periférico (ovários)? O problema é central (hipófise ou hipotálamo)? O eixo hipotálamo-hipófise -ovariano NÃO funciona O problema é no compartimento útero-vaginal ↺9 Amenorreia Mas como assim? Se o FSH está alto, significa que o eixo central é capaz de produzir esses hormônios, então não é ali que vai estar o problema. Além disso, o FSH estimula os ovários na produção hormonal. Porém, como a paciente não possui caracteres sexuais secundários, significa que, mesmo que o eixo central esteja mandando LH e FSH, o ovário não está respondendo. Em outras palavras, temos uma disgenesia (distúrbio) gonadal. Nesses casos, devemos solicitar o cariótipo da paciente, pois uma das causas mais comuns de disgenesia gonadal hipergonadotrófica (altos níveis de FSH e LH) é a síndrome de Turner. ⚠ Por outro lado, se o FSH estiver baixo, vamos pensar em amenorreia de origem central, já que as gonadotrofinas devem estar reduzidas por alteração da hipófise ou estímulo insuficiente do GnRH. Então, solicitamos o teste do GnRH, que consiste na administração deGnRH seguida de dosagem de LH e FSH. Se o teste vier negativo (ou seja, sem alterar o LH e o FSH), pensamos em um problema na hipófise. Se vier positivo (com aumento do LH e do FSH), o problema deve estar no hipotálamo. E por que isso? Quando fornecemos um estímulo com GnRH, esperamos um aumento do LH e do FSH. Se ao receber um estímulo com GnRH, o LH e FSH não se alterarem, então o problema está na hipófise, pois ela não produziu esses hormônios, mesmo recebendo o estímulo necessário de GnRH. Por outro lado, se ao fornecer GnRH, os valores de LH e FSH subirem, então temos uma hipófise funcionando adequadamente! Ela só não estava produzindo esses hormônios por não estar recebendo o estímulo de GnRH do hipotálamo. Portanto, o problema deve estar no hipotálamo. ⚠ ↺10 Amenorreia Investigação da amenorreia primária com caracteres sexuais secundários ausentes Amenorreia primária O eixo hipotálamo-hipófise -ovariano NÃO funciona Dosagem de FSH FSH ↑ O problema é periférico (ovários)? O problema é central (hipófise ou hipotálamo)? Para o desenvolvimento de caracteres secundários, há necessidade de estrogênios e androgênios Caracteres sexuais secundários ausentes Hipogonadismo hipergonadotrófico FSH ↓ Hipogonadismo hipogonadotrófico Teste GnRH Aumento de FSH / LH Distúrbio hipotalâmico Distúrbio hipofisário Sem aumento de FSH / LH Distúrbio ovariano ↺11 Amenorreia Caracteres sexuais presentes: se a paciente possui caracteres sexuais secundários presentes, a função hormonal está adequada. Então por que ela não menstruou? Ora, ela pode ter algo obstruindo o trato de saída ou ter um problema anatômico uterovaginal. O exame físico é o primeiro exame a ser realizado para avaliar a presença da vagina e excluir o hímen imperfurado. Se a vagina for ausente ou curta, pensamos em anomalias mullerianas e em síndrome da insensibilidade aos androgênios. Nesse caso, vamos solicitar o cariótipo da paciente e exames de imagem pélvicos. Aqui, as bancas cobram a diferenciação entre dois diagnósticos: ⚠ • Malformações mullerianas • Síndrome da insensibilidade aos androgênios, ou síndrome de Morris Investigação da amenorreia primária com caracteres sexuais secundários presentes Amenorreia primária O eixo hipotálamo-hipófise -ovariano funciona O problema é no compartimento útero-vaginal 46,XX Espectro de malformações mullerianas ou síndrome Mayer-Rokitansky-Kuster Síndrome de insensibilidade a androgênio ou síndrome de Morris Caracteres sexuais secundários presentes 46,XY EXAME FÍSICO + US ↺12 Amenorreia 3.2 Desenvolvimento da genitália interna e externa feminina Antes de continuarmos com as principais causas de amenorreia primária cobradas pelas bancas, vamos rever rapidamente como funciona o processo de desenvolvimento da genitália interna e externa femininas. Representação do desenvolvimento da genitália feminina e masculina As gônadas masculinas, ou seja, aquelas com a presença do cromossomo Y, produzem androgênios e o hormônio antimulleriano. Este hormônio induz a regressão dos ductos paramesonéfricos (ductos de Müller) e a testosterona promove o desenvolvimento dos ductos mesonéfricos (ductos de Wolff) na genitália interna masculina. Portanto, os fetos que apresentam gônadas femininas, ou seja, sem a presença do cromossomo Y, não apresentarão regressão dos ductos paramesonéfricos (ductos de Müller), que irão se desenvolver em útero, trompas e os 2/3 superiores da vagina. Durante a embriogênese, os ductos de Müller se fundem na linha média, formando o canal uterovaginal. Posteriormente, o canal uterovaginal cresce caudalmente em direção ao seio urogenital (que dá origem à genitália externa e ao ⅓ inferior da vagina). Ocorre, então, um processo de canalização, com descamação das células centrais, tornando estes órgãos cavitários. ↺13 Amenorreia Gônada indiferenciada Ovários 46,XX Testículos 46,XY Sem hormônio antimulleriano Sem hormônio testosterona Regressão dos ductos de Wolff Células de Sertoli Hormônio antimulleriano Testosterona Di-hidrotestosterona Células de Leydig Trompas Útero 2/3 superiores da vagina Desenvolvimento dos ductos de Müller Regressão dos ductos de Müller Desenvolvimento dos ductos de Wolff Genitália externa masculina Desenvolvimento da genitália feminina e masculina Após essa breve revisão, vamos retomar a discussão das principais causas de amenorreia primária nas provas! 3.3 Principais causas de amenorreia primária nas provas ⚠ Principais condições que levam à amenorreia primária cobradas em provas Com caracteres sexuais secundários Sem caracteres sexuais secundários FSH elevado (hipogonadismo hipergonadotrófico) FSH baixo (hipogonadismo hipogonadotrófico) Alteração hipofisária Alteração hipotalâmica Síndrome Mayer- Rokitansky-Kuster Outras malformações mullerianas Hímen imperfurado Síndrome de Morris Síndrome de Turner (45,X0) Outras disgenesias gonadais Síndrome de Savage Tumores infecções / inflamações Hipopituitarismo Síndrome de Kallmann Deficiência isolada de gonadotrofinas Desnutrição Exercícios físicos extenuantes Estresse crônico As provas não costumam ser muito específicas quando abordam essas síndromes que vamos comentar. Porém, vale a pena conhecer um pouco mais sobre cada uma delas. ↺14 Amenorreia 3.3.1 Síndrome Mayer-Rokitansky-Kuster (agenesia mulleriana) ⚠ Essa é de longe uma das condições clínicas mais cobradas dentro da amenorreia primária. Durante o processo de formação da genitália interna, com o desenvolvimento dos ductos de Müller, muitas coisas podem dar errado, gerando um grande espectro de malformações mullerianas. A síndrome de Mayer-Rokitansky-Kuster é caracterizada pela ausência completa do desenvolvimento de trompas, útero e 2/3 superiores da vagina. Essas pacientes possuem gônadas funcionantes, portanto, apresentam caracteres sexuais secundários e até mesmo ovulação. No entanto, sem trompas, útero e vagina, não existe menstruação. O cariótipo é 46 XX. A clínica é marcada por amenorreia primária, vagina curta (podendo levar a dificuldades no início da vida sexual, com dispareunia), presença de mamas e pelos pubianos e axilares. Malformações mullerianas: agenesia mulleriana No entanto, existem outras malformações mullerianas que vale a pena conhecermos. As malformações que não apresentam obstrução do trato de saída geralmente não cursam com amenorreia. No entanto, quando há obstrução do trato de saída, as pacientes apresentam, além de amenorreia, dor abdominal cíclica secundária ao hematométrio (sangue acumulado no útero) ou hematocolpo (sangue acumulado na vagina). ↺15 Amenorreia ↺16 Amenorreia 3.3.2 Hímen imperfurado Hímen imperfurado Cirurgia de correção de hematocolpo secundária a hímen imperfurado O hímen imperfurado é resultado de uma falha no processo de canalização inferior da placa vaginal. Durante a infância, não traz grandes repercussões, apesar de poder trazer desconforto pelo acúmulo de secreções vaginais. No entanto, pode ser causa de amenorreia primária e hamatocolpo após o início dos ciclos menstruais: ocorre acúmulo de sangue na vaginal e dor pélvica cíclica. 3.3.3 Síndrome de Morris (ou síndrome da insensibilidade androgênica) ⚠ A síndrome de Morris também é conhecida como insensibilidade completa aos androgênios. Pacientes com insensibilidade completa aos androgênios possuem gônadas com cariótipo 46,XY e produzem androgênios e hormônio antimulleriano (HAM). No entanto, o defeito está nos receptores de androgênios, que são insensíveis à ação desses hormônios. Uma mutação inativadora no gene que codifica o receptor androgênico intracelular (AR) resulta na insensibilidade às ações androgênicas, impedindo a masculinização da genitália externa durante desenvolvimento embrionário. No entanto, como a sinalização do HAM está intacta, a genitália interna segue o padrão masculino de diferenciação com regressão das estruturas mullerianas. ↺17 Amenorreia As pacientes com síndromeda insensibilidade androgênica apresentam o fenótipo feminino, colo e útero ausentes (devido à ação normal do AMH) e vagina curta e em fundo cego (derivada apenas do seio urogenital): ⚠ • Cariótipo 46,XY • Testículos intra-abdominais ou no canal inguinal • Ausência de genitália interna • Vagina curta em fundo cego (o terço inferior da vagina tem origem no seio urogenital) • Desenvolvimento de mamas pequenas (os androgênios são convertidos perifericamente em estrona) • Ausência de pelos Síndrome de Morris Os níveis de testosterona diferenciam facilmente as pacientes com síndrome de Morris daquelas com agenesia mulleriana, porque os níveis são bem acima da faixa normal para mulheres e muitas vezes acima da faixa observada em homens. Os níveis séricos de LH também estão elevados, refletindo a insensibilidade androgênica no nível hipotálamo-hipofisário. ⚠ ↺18 Amenorreia Por possuírem cariótipo 46,XY, a retirada dos testículos é obrigatória (orquiectomia) devido à incidência aumentada de tumores malignos nessas pacientes. A diferenciação entre a agenesia mulleriana e a síndrome de insensibilidade aos androgênios é muito cobrada pelas bancas, portanto, guarde bem a tabela abaixo: ⚠ Síndrome de Rokitansky X Síndrome de Morris Características Síndrome de Rokitansky Síndrome de Morris Cariótipo 46, XX 46, XY Mamas Normais Pequenas Vagina Curta Curta Pelos Normais Ausentes ou escassos Órgão reprodutor Ovários Testículos (intra-abdominais) Síndrome de Rokitansky X Síndrome de Morris 3.3.4 Síndrome de Turner ⚠ Questão 02 (USP-SP-Revalida - SP - 2021) Jovem de 16 anos procura atendimento médico ambulatorial com queixa de nunca ter menstruado e sem desenvolvimento de mamas e pelos, feito o diagnóstico de amenorreia primária. Paciente é virgo, sem outras queixas. Ao exame clínico, apresenta caracteres secundários ausentes - mamas M1 e pilificação P1. Realizaram dosagens hormonais, que demonstraram FSH elevado. Qual é o principal exame a ser solicitado no momento para definição da etiologia da amenorreia? a) Cariótipo. b) Ressonância magnética de crânio. c) Testosterona livre. d) Estradiol e progesterona. Comentário CCQ: Amenorreia primária com hipergonadotrofia em paciente sem caracteres sexuais secundários indica realização de cariótipo Caso tenha acertado, gostaria de pular para o próximo tópico? NãoSim ↺19 Amenorreia A principal causa de amenorreia primária sem caracteres sexuais secundários é a disgenesia gonadal, mais especificamente a síndrome de Turner, que cursa com ovários em fita e cariótipo 45,X0. As pacientes acometidas possuem, além da amenorreia primária, baixa estatura, hipertelorismo, pescoço alado e infantilismo sexual (a genitália é feminina e útero, vagina e trompas estão presentes, porém, infantilizados). Pode-se associar a diabetes mellitus, tireoidite de Hashimoto, hipertensão arterial, algum déficit cognitivo e uma série de distúrbios autoimunes. ⚠ Representação esquemática da síndrome de Turner Nessas pacientes, a análise citogenética é extremamente importante, uma vez que a presença de fragmentos de cromossomo Y indica a necessidade de retirada das gônadas, pelo risco aumentado de desenvolvimento de neoplasia ↺20 Amenorreia Nas pacientes com síndrome de Turner, o uso de estrogênio exógeno permite o desenvolvimento puberal e ganho de massa óssea. No momento em que apresentam sangramento vaginal, está indicado também o uso de progesterona. ⚠ 3.3.5 Outras disgenesias gonadais A disgenesia gonadal se caracteriza pela formação defeituosa das gônadas. Pacientes com disgenesia gonadal podem apresentar diferentes fenótipos, englobando tanto fenótipo feminino, masculino ou ambíguo. Aqui, o importante é saber que, caso haja fragmentos de cromossomo Y, há indicação de retirada cirúrgica das gônadas. Síndrome de Swyer (disgenesia gonadal completa): a síndrome de Swyer é uma disgenesia gonadal incomum. Nessas pacientes, que apresentam um cariótipo 46,XY, as gônadas em fita não produzem nem androgênios, nem o hormônio antimulleriano. Por isso, existe o desenvolvimento de vagina, colo do útero, útero e trompas, e a genitália externa não sofre masculinização. Presume-se que em até 15% das pacientes exista uma mutação que inativa o gene SRY, localizado no cromossomo Y. Apesar do fenótipo feminino, existe indicação de gonadectomia, devido ao risco aumentado de desenvolvimento de neoplasias. A clínica dessas pacientes inclui amenorreia primária com ausência de desenvolvimento de mamas. Há presença de pelos pubianos (androgênios produzidos pelas adrenais) e genitália interna e externa feminina. Está indicada a terapia com estrogênio para promover o desenvolvimento mamário e, após, associação de progestágeno. Essas pacientes podem gestar a partir da doação de oócitos e fertilização in vitro. 3.3.6 Síndrome de Savage A síndrome de Savage é caracterizada pela resistência ovariana à ação das gonadotrofinas, não havendo desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários quando for de origem primária. Pode ocorrer por motivo adquirido e, nesses casos, o desenvolvimento é normal até o momento do evento que causou a resistência. Pode ocorrer também como amenorreia secundária. As pacientes com síndrome de Savage apresentam altos níveis séricos de gonadotrofinas, baixos níveis séricos de estrogênio e reserva ovariana normal (HAM normal, níveis de inibina B e quantidades normais de folículos primordiais). 3.3.7 Síndrome de Kallmann A síndrome de Kallmann é a causa hipotalâmica mais cobrada pelas bancas. É uma doença genética congênita caracterizada por hipogonadismo hipogonadotrófico por deficiência de GnRH. Cursa com amenorreia e anosmia. ↺21 Amenorreia 3.3.8 Outras causas de amenorreia hipotalâmica Além de alterações estruturais, como neoplasias e infecções, que podem comprometer tanto a função hipotalâmica quanto a função hipofisária (insuficiência hipotálamo- hipofisária), outras causas capazes de levar à amenorreia de origem hipotalâmica são: distúrbios alimentares (anorexia), desnutrição, estresse crônico e atividade física extenuante - em conjunto, são causas de disfunção hipotalâmica. A disfunção hipotalâmica é uma das causas mais comuns de amenorreia secundária na prática clínica. Pode manifestar-se como irregularidade menstrual, mas sua forma mais grave está associada à amenorreia hipotalâmica, quando o eixo HHO é profundamente suprimido - a alteração da pulsatilidade do GnRH leva à secreção de quantidades muito pequenas de gonadotrofinas, que falham em estimular os ovários, resultando em hipoestrogenismo. Essas causas de amenorreia podem se manifestar tanto como amenorreia primária (quando o evento precede o desenvolvimento puberal), quanto como amenorreia secundária (quando acontecem após a presença de ciclos menstruais). E como fazer o diagnóstico? A associação da amenorreia relacionada ao hipogonadismo hipogonadotrófico às disfunções hipotalâmicas deve ser feita na ausência de qualquer suspeita de lesão de massa selar ou de outras causas hipofisárias raras de hipogonadismo hipogonadotrófico. As disfunções hipotalâmicas estão associadas a estresse físico, nutricional ou emocional extremo, sugerindo que representam uma supressão funcional da reprodução nessas condições. Amenorreia hipotalâmica Distúrbios alimentares Desnutrição Estresse crônico Atividade física extenuante Amenorreia secundáriaAmenorreia primária ↓ Leptina ↑ NPY ↑ Opioides ↑ Endorfina↑ Cortisol Anovulação crônica Pulsatilidade do GnRH ↓ FSH e LH ↺22 Amenorreia Um exemplo importante são as ginastas olímpicas, ou mesmo as bailarinas. Nessas pacientes, tanto o estresse crônico quanto a atividade física extenuante contribuem para ciclos anovulatórios e amenorreia. Como a prática desses esportes geralmente começa na infância, é comum vermos mulheres com baixa estatura, sem caracteres sexuais desenvolvidos e mesmo com amenorreia primária. 3.3.9 Hiperplasia adrenal congênita (HAC) Questões sobre hiperplasiaadrenal congênita podem aparecer também dentro de amenorreia! Além de ser diagnóstico diferencial da síndrome dos ovários policísticos, nos casos de hiperplasia adrenal congênita forma não clássica, cuja manifestação ocorre mais tardiamente na vida da mulher, também pode ser causa de genitália ambígua nas formas clássicas. Pregnenolona Progesterona Deoxicorticosterona Corticosterona Aldosterona Colesterol CCL* 3β-HSD 17α* 17α* 17,20* 17,20* SL 21* 11β 18 17-Hidroxipregnenolona 3β-HSD 17-Hidroxiprogesterona 21* 11-Deoxicortisol 11β* DHEA 3β-HSD Androstenediona 17β-HSD Testosterona Cortisol DHEAS Hiperplasia adrenal fisiopatologia Nas suprarrenais, o colesterol é convertido em cortisol, aldosterona e androgênios. A cascata de produção desses hormônios é complexa e depende do funcionamento de diversas enzimas. Na hiperplasia adrenal congênita, em sua forma mais comum, existe uma deficiência parcial ou completa da 21-hidroxilase. Portanto, existe um aumento dos substratos desta enzima (17-hidroxiprogesterona e progesterona). ↺23 Amenorreia A 17-hidroxiprogesterona em excesso é convertida em androstenediona e em testosterona. Dessa forma, existe um excesso de produção de androgênios e uma deficiência na produção do cortisol e da aldosterona. Quando a deficiência de 21-hidroxilase é grave, ocorre virilização da genitália externa no intraútero, além dos recém-nascidos evoluírem com insuficiência adrenal aguda nas primeiras semanas após o nascimento. No entanto, quando a deficiência dessa enzima é leve, as mulheres irão manifestar clínica de irregularidade menstrual e hiperandrogenismo (como hirsutismo e acne). 3.3.9.1 HAC forma clássica Recém-nascidos 46,XX: Virilização da genitália externa: aumento do clítoris e fusão labial. Raramente, a virilização é tão intensa que a genitália adquire fenótipo masculino e o sexo masculino é erroneamente atribuído à criança. A virilização da genitália externa é classificada em diferentes graus pela escala de Prader, que vai de I a V, conforme demonstrado abaixo - mas não se preocupe em decorar esta classificação. I. Genitália feminina normal com clitoromegalia II. Fusão parcial dos pequenos lábios e clitoromegalia III. Fusão labioescrotal com única abertura do seio urogenital e clitoromegalia IV. Fusão das dobras labioescrotais e hipospádia pene-escrotal V. Virilização masculina completa Escala de Prader ↺24 Amenorreia Genitália ambígua Recém nascidos 46,XY Virilização da genitália externa: hiperpigmentação do escroto e aumento do falo. O diagnóstico é mais difícil e frequentemente são pacientes que apresentam a forma “perdedora de sal”. Evoluem com piora clínica rápida decorrente da crise adrenal, com desidratação, hiponatremia e hipercalemia, tipicamente entre 7 e 14 dias de vida. Nos aprofundaremos nesse tema dentro da Pediatria! 3.3.9.2 HAC forma não clássica Pacientes nascidos 46,XX: • Oligomenorreia • Sinais de hiperandrogenismo Pacientes nascidos 46,XY: • Maioria não é diagnosticada • Pubarca prematura, velocidade de crescimento acelerada e idade óssea avançada podem estar presentes na infância 4. Amenorreias secundárias A principal causa de amenorreia secundária é a gestação, então esse é o primeiro passo no diagnóstico. ↺25 Amenorreia Outra causa importante é a síndrome dos ovários policísticos, mas na sua prova ela vai aparecer com outros comemorativos, como obesidade, resistência insulínica, hirsutismo e oligomenorreia, em vez da amenorreia propriamente dita. Dessa forma, fique atento a essa síndrome, mas vamos abordá-la com mais profundidade em outra aula. Por enquanto, seguimos nas amenorreias. 4.1. Investigação das amenorreias secundárias ⚠ A literatura traz duas principais formas de abordagem das amenorreias secundárias: a primeira, com a realização de testes clássicos, e a segunda, baseada na interpretação de três principais exames (FSH, TSH e prolactina). Portanto, vamos abordar as duas formas de raciocínio para que você não seja pego de surpresa! Vamos começar com os testes clássicos de investigação da amenorreia secundária: Questão 03 (INEP - REVALIDA - DF - 2014) Uma mulher com 47 anos, com antecedente de quatro partos normais, comparece à consulta na Unidade Básica de Saúde com queixa de ciclos menstruais irregulares há cerca de dois anos, sem outras queixas. Relata que os intervalos entre as menstruações foram progressivamente aumentando e que, atualmente, está menstruando a cada 60-90 dias. Quando era mais jovem tinha dismenorreia, mas atualmente não sente cólicas durante o fluxo menstrual. Nega comorbidades e uso de medicações. O exame ginecológico da paciente é normal. Diante das informações disponíveis, o quadro clínico dessa paciente sugere: a) Anovulação. b) Endometriose. c) Sinéquia uterina. d) Falência ovariana precoce. Comentário CCQ: Saber realizar o diagnóstico clínico de perimenopausa Caso tenha acertado, gostaria de pular para o próximo tópico? NãoSim ↺26 Amenorreia Amenorreia secundária: investigação e principais causas Amenorreia secundária Beta-hCG Pré-natalPositivo Negativo Tratamento da causaAlterados Anovulação Positivo A paciente apresentou sangramento Negativo A paciente não apresentou sangramento TSH e prolactina Teste da progesterona Negativo A paciente não apresentou sangramento Síndrome de Asherman - Estenose cervical Teste do estrogênio + progesterona Alteração anatômica (compartimento I) Alteração ovariana (compartimento II) Alteração central (compartimento III ou IV) FSH FSH aumentado FSH normal ou ↓ Teste do GnRH Normais O eixo HHO não funciona Insuficiência ovariana prematura ( 40 anos) Positivo Aumento de FSH/LH Alteração hipotalâmica (compartimento IV) Positivo A paciente apresentou sangramento Distúrbio alimentar Estresse crônico Atividade física Trauma Tumor Infecção Negativo Sem aumento de FSH/LH Alteração hipofisária (compartimento III) Síndrome de Sheehan Trauma Tumor Infecção ↺27 Amenorreia 4.1.1 Beta-hCG ⚠ • Como a gestação é a principal causa de amenorreia secundária, devemos sempre excluir esse diagnóstico logo no primeiro passo. • Se vier negativo, devemos prosseguir com a investigação. ↓ 4.1.2 TSH e prolactina ⚠ • Doenças tireoidianas como hiper ou hipotireoidismo também são causas importantes de amenorreia, assim como hiperprolactinemia. Devemos, então, sempre solicitar estes exames e fazer a avaliação concomitantemente, já que hipotireoidismo pode levar à hiperprolactinemia. • Se estiverem normais, devemos prosseguir com a investigação. ↓ 4.1.3 Teste da progesterona • Técnica: administração de 5 a 10 mg de acetato de medroxiprogesterona durante 7 a 10 dias e aguardar 2-7 dias pelo sangramento. • Positivo: houve sangramento → Concluímos que a paciente possui níveis adequados de estrogênio para estimular a proliferação endometrial e que o trato genital é pérvio, faltava apenas a progesterona. Lembre-se de que no ciclo menstrual quem produz progesterona é o corpo lúteo, produto da ovulação. Assim, se o que faltava era progesterona, na verdade, o que faltava era ovulação, por isso o diagnóstico de anovulação. Diagnóstico: anovulação, sendo a síndrome dos ovários policísticos a causa mais comum de amenorreia secundária quando excluída a gestação. ⚠ • Negativo: sem sangramento, então o problema não é a falta de progesterona, pois demos progesterona e mesmo assim a paciente não sangrou. Diagnóstico: problemas no compartimento I, II, III ou IV. • Se vier negativo, devemos prosseguir com a investigação. ↓ 4.1.4 Teste do estrogênio + progesterona • Técnica: administração de estrogênio + progesterona: estrogênio por 21 dias para induzir a proliferação endometrial, com adição de progesterona nos últimos 5 dias. ↺28 Amenorreia • Negativo: sem sangramento → Ao fornecer estrogênio + progesterona, estamos fornecendo todo o arcabouço hormonal necessário para a menstruação. Senão houver sangramento, então percebemos que o problema não era deficiência de hormônio. Diagnóstico: problema no compartimento I - útero-vaginal, logo, anatômico, do trato de saída, como a síndrome de Asherman, discutida mais à frente. ⚠ • Positivo: sangramento → Entendemos que existe falta de estrogênio (pois, ao dar estrogênio, a paciente sangrou). Diagnóstico: problema nos compartimentos II, III ou IV. • Se vier positivo, devemos prosseguir com a investigação. ↓ 4.1.5 Dosagem do FSH • FSH elevado (> 20 mUI/mL) → Integridade do eixo hipotálamo-hipofisário. O problema está na produção dos hormônios ovarianos (gônadas); é o que chamamos de hipogonadismo hipergonadotrófico. Diagnóstico: problema no compartimento II - ovariano, que pode ser: • Menopausa: data da última menstruação, que é confirmada de maneira retrógrada após 1 ano sem menstruar. • Falência ovariana precoce (ou menopausa precoce) ⚠: ocorre quando a paciente tem menos de 40 anos e apresenta esgotamento folicular, sinalizado pelo FSH alto, que aumenta pela falta de feedback negativo dos hormônios ovarianos. Um diagnóstico diferencial que as bancas podem cobrar é a síndrome de Savage, que é quando a paciente possui os folículos, porém, apresenta uma resistência às gonadotrofinas. Como o tratamento é o mesmo da falência ovariana precoce (reposição hormonal), na prática dificilmente confirmamos esse diagnóstico. Para o diagnóstico definitivo, seria necessário realizar uma biópsia. • FSH diminuído (sendo a droga mais usada a cabergolina. ⚠ ↺33 Amenorreia Após dois anos de tratamento, com normalização dos níveis de prolactina e regressão completa do adenoma na ressonância magnética, podemos considerar a interrupção do agonista dopaminérgico. A cirurgia fica reservada para casos refratários ou com sintomas compressivos do tumor mesmo após o uso de agonistas dopaminérgicos. Tumor hipofisário E a paciente pode engravidar? Os microadenomas têm um crescimento baixo durante a gestação, no entanto, os macroadenomas podem crescer e causar sintomas neurológicos importantes. Por isso, para esses, recomenda-se a terapia prévia com agonistas dopaminérgicos antes da gestação, para alcançar a redução do seu volume para menos de 10 mm. Se não houver a resposta esperada, está indicada a cirurgia antes da concepção. ↺34 Amenorreia 4.2.2 Síndrome de Asherman ⚠ A síndrome de Asherman é marcada pela presença de sinéquias intrauterinas. Devemos lembrar dessa síndrome principalmente em mulheres que realizaram manipulação uterina, como curetagem. O tratamento é feito com histeroscopia com lise de aderências. Questão 05 (INEP-Revalida - DF - 2020) Uma paciente de 27 anos é encaminhada ao ambulatório de Ginecologia com história de parto vaginal há sete meses, complicado com hemorragia intensa devido a descolamento prematuro de placenta. Após o parto, suspeitou-se de restos placentários e realizou-se curetagem uterina. A paciente recebeu três unidades de concentrado de hemácias devido ao sangramento intenso. A paciente refere que não menstrua desde o parto e que não amamentou seu filho, referindo não ter produzido leite materno. Não refere uso de medicamentos, cefaleia e anormalidades visuais. Traz teste de fração beta do hormônio gonadotrófico coriônico (Beta-HCG) não reagente. Diante desse quadro clínico, qual a melhor hipótese diagnóstica e as complicações prováveis e secundárias ao diagnóstico? a) Síndrome de Sheehan; hipotireoidismo e insuficiência adrenal. b) Necrose hipofisária posterior; hipertireoidismo e insuficiência adrenal. c) Síndrome de Asherman; hipertiroidismo e elevação de gonadotrofinas. d) Aderências intrauterinas; hipotireoidismo e redução de gonadotrofinas. e) Necrose hipofisária anterior; hipotireoidismo e elevação de gonadotrofinas. Comentário CCQ: Saber que amenorreia secundária pós-sangramentos importantes (com consequente hipoperfusão e necrose hipofisária) é sugestivo de síndrome de Sheehan Caso tenha acertado, gostaria de pular para o próximo tópico? NãoSim ↺35 Amenorreia Fisiopatologia e tratamento da síndrome de Asherman 4.2.3 Síndrome de Sheehan A síndrome de Sheehan resulta da necrose hipofisária decorrente de hemorragias importantes no parto. Ela se expressa clinicamente semanas após o parto, como hipopituitarismo. A primeira manifestação clínica é a ausência de produção de leite, uma vez que a população de lactotrofos hipofisários é a mais afetada. ↺36 Amenorreia Síndrome de Sheehan 4.2.4 Insuficiência ovariana prematura (IOP) A insuficiência ovariana prematura (IOP) é definida pela perda da função ovariana antes dos 40 anos. A IOP se manifesta como hipogonadismo hipergonadotrófico e pode ser causa tanto de amenorreia secundária, quanto de amenorreia primária, quando a falência ovariana ocorre antes do processo puberal. ↺37 Amenorreia Podemos dividir as etiologias da insuficiência ovariana prematura (IOP) em cinco grandes áreas: • Autoimunes: 30% dos casos. As pacientes podem apresentar função ovariana flutuante. • Genéticas: 15% dos casos. Aqui estão incluídas causas genéticas ligadas ao cromossomo X ou autossômicas. • Iatrogênicas: radioterapia, quimioterapia ou cirurgias. • Infecciosas: diversos agentes infecciosos podem comprometer a função ovariana; entre eles, temos o vírus da caxumba, rubéola, varicela e o CMV. Tuberculose pélvica também pode ser uma etiologia de IOP. • Idiopática: em 60% dos casos não descobrimos a etiologia da insuficiência ovariana. Diagnóstico: dosagem de FSH > 25 mUI/ mL, em dois momentos distintos, medidos com intervalo de ao menos quatro semanas. • Cariótipo deve ser solicitado para todas as pacientes com IOP em idade inferior a 30 anos. O tratamento dessa condição é feito com reposição hormonal. Lembre-se que aqui as doses de estrogênio serão maiores do que naquela reposição pós-menopausa, isso porque níveis estrogênicos maiores são necessários para manutenção da saúde óssea. E há necessidade de contracepção? A literatura traz que 5 a 10% das pacientes com IOP podem apresentar gestação espontânea, isso porque algumas etiologias, principalmente a autoimune, estão associadas a uma função ovariana flutuante. Então, para essas pacientes, se a concepção não for desejada, utilizamos contraceptivos hormonais combinados para a reposição hormonal. ↺38 Amenorreia TOP FIVE ➀ Conhecer os passos da investigação da amenorreia secundária ➁ Investigação e diagnóstico diferencial das amenorreias primárias ➂ A hiperprolactinemia pode ser causa de amenorreia secundária ➃ A síndrome de Turner é a principal causa de amenorreia primária associada a hipogonadismo hipergonadotrófico ➄ Pacientes com história de curetagem uterina e amenorreia secundária devem ser investigadas para síndrome de Asherman Resolva as questões na plataforma Questão 1 Questão 2 Questão 3 Questão 4 Questão 5 Aponte a câmera do seu celular para o QR Code ou clique sobre ele para abrir a questão na plataforma. https://aristoclass.com.br/viewer/questao?id=5f5fa62a8c17db9f3a8c2828 https://aristoclass.com.br/viewer/questao?id=628dbfe57b850b0d028ab2a9 https://aristoclass.com.br/viewer/questao?id=5f5fa62a8c17db9f3a8c81a7 https://aristoclass.com.br/viewer/questao?id=607f608fdb22c5520c5ca0d6 https://aristoclass.com.br/viewer/questao?id=5f5fa62a8c17db9f3a8cb41d ↺39 Amenorreia Referências: 1. Tratado de Ginecologia da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), 1ª edição, 2018. 2. Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo). Amenorreia. São Paulo: Febrasgo; 2021. (Protocolo Febrasgo-Ginecologia, n. 25/Comissão Nacional Especializada em Ginecologia Endócrina). 3. Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo). Diagnóstico e tratamento da hiperprolactinemia. São Paulo: Febrasgo; 2021 (Protocolo Febrasgo Ginecologia, n. 79/Comissão Nacional Especializada em Ginecologia Endócrina). 4. Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo). Insuficiência ovariana prematura. São Paulo: Febrasgo; 2021. (Protocolo Febrasgo - Ginecologia, n. 26/ Comissão Nacional Especializada em Ginecologia Endócrina). 5. HUGH, S. Taylor; LUBNA Pal; EMRE, Seli. Speroff's Clinical Gynecologic Endocrinology and Infertility. 9.ª edição, 2020. 40 Amenorreia Comentário da Questão 01 A questão traz um caso clínico de amenorreia primária e quer saber qual o próximo passo na investigação a partir de um diagnóstico provável. Tanto na amenorreia primária quanto na secundária precisamos lembrar que a causa está em um dos compartimentos responsáveis pelo ciclo menstrual: útero, ovários, hipófise e hipotálamo. Note que a paciente teve desenvolvimento dos caracteres secundários (desenvolvimento mamário e distribuição pilosa normais), o que nos indica que o ciclo hormonal está funcionando, portanto, não deve haver alteração nos ovários, hipófise e hipotálamo. Fora isso, a paciente parece sentir alterações cíclicas menstruais. Analisando as alternativas, temos: Alternativa A - Incorreta - Outras alterações anatômicas também devem ser avaliadas e a ultrassonografia é um bom exame para isso. No entanto, só é necessário ultrassom após a avaliação por exame físico e a impermeabilidade vaginal; nossa principal hipótese, não é verificada no ultrassom. Alternativa B - Incorreta - A presença de caracteres secundários e alterações cíclicas compatíveis com ciclo menstrual indicam que nãohá alteração na função das gonadotrofinas (FSH e LH). Alternativa C - Correta - Temos que pensar então em alguma alteração uterina ou vaginal, provavelmente, de origem anatômica. Inicialmente podemos realizar exame físico para avaliar a permeabilidade vaginal. Hímen imperfurado é uma hipótese diagnóstica provável neste caso. Alternativa D - Incorreta - O teste com anticoncepcional é usado na avaliação de amenorreia secundária para avaliar se há sangramento após a reposição hormonal semelhante a um ciclo fisiológico. Neste caso, nunca houve menstruação, então é necessário primeiro uma avaliação anatômica de que o sangramento existe, mas não se exterioriza. Portanto, o gabarito é a letra C! 41 Amenorreia Comentário da Questão 02 Temos uma paciente de 16 anos em amenorreia primária, ou seja, que nunca menstruou, e que não apresenta caracteres sexuais secundários. Na verdade, o diagnóstico e a investigação dessa paciente poderiam ter sido iniciados logo aos 14 anos, já que a ausência de caracteres sexuais nessa idade já define amenorreia primária. Uma vez que o desenvolvimento de caracteres sexuais secundários implica no estímulo hormonal, é importante definir se essa paciente apresenta um problema no eixo central ou gonadal, através da dosagem de LH e FSH. Caso o FSH fosse baixo, pensaríamos em uma amenorreia central e realizaríamos o teste de GnRh, para definir se o problema é hipofisário ou hipotalâmico. Uma vez que nossa paciente apresentou hipergonadotrofia, dado o FSH elevado, constatamos que o problema não está no eixo central. Definimos, portanto, que essa paciente apresenta uma disgenesia gonadal. Vale lembrar que a principal causa de disgenesia gonadal hipergonadotrófica é a síndrome de Turner, de cariótipo 45,X0. Veja, na imagem abaixo, as principais manifestações clínicas da síndrome de Turner: Representação esquemática da síndrome de Turner 42 Amenorreia Comentário da Questão 02 Vamos às alternativas? Alternativa A – Correta: Após a constatação de hipergonadotrofismo em uma paciente em amenorreia primária, o próximo passo é a solicitação do cariótipo! A principal hipótese diagnóstica seria exatamente a síndrome de Turner, e não seria estranho se, ao enunciado, a banca nos colocasse que a paciente apresentava baixa estatura, hipertelorismo, pescoço alado e ovários em fita ao exame de imagem. Alternativa B – Incorreta: Se no exame clínico houvesse indícios de caracteres sexuais secundários, adrenarca ou hiperprolactinemia, seria indicada a ressonância para pesquisa de tumores hipofisários. Alternativa C – Incorreta: A dosagem de testosterona no contexto da amenorreia primária é interessante na pesquisa da síndrome de Morris ou da insensibilidade androgênica. O diagnóstico definitivo dessa síndrome, porém, também passa pela realização do cariótipo, que teria resultado 46,XY. Alternativa D – Incorreta: Uma vez que nossa paciente apresenta hipergonadotrofia e ausência de caracteres sexuais secundários, a dosagem de estrogênio e progesterona provavelmente estaria diminuída, não tendo aplicabilidade clínica nesses casos. Portanto, a resposta correta é a alternativa A! 43 Amenorreia Comentário da Questão 03 A questão quer que você avalie o provável diagnóstico associado a um sangramento uterino anormal a partir das suas características clínicas. A alteração na duração, volume e intervalo entre os ciclos menstruais pode ser chamada de sangramento uterino anormal. Quando esses ciclos ficam mais espaçados e a paciente apresenta ausência de menstruação por mais de 3 meses ou por um período maior ao que seriam 3 ciclos menstruais, chamamos de amenorreia secundária. Vamos analisar as alternativas: Alternativa A - Correta: Temos então que pensar em possíveis causas para esta alteração, baseado nos outros dados clínicos. Veja que esse atraso menstrual é progressivo, gradual e não está associado à dor pélvica. Além disso, a paciente apresenta-se no final da menacme, com 47 anos. O diagnóstico provável para o caso é que ela está passando pela perimenopausa: período de irregularidade menstrual por baixa reserva folicular que apresenta ciclos anovulatórios até a parada completa da menstruação (menopausa propriamente dita). Alternativa B - Incorreta: A endometriose é a presença de tecido endometrial fora da cavidade uterina, provocando dor pélvica cíclica associada ao sítio de implantação de endometriose, infertilidade e dismenorreia intensa. Alternativa C - Incorreta: As sinéquias uterinas são cicatrizes formadas na cavidade uterina após manipulação (cesáreas, miomectomias, curetagens). Elas podem gerar amenorreia por obstrução anatômica ao fluxo sanguíneo. No caso em questão, a paciente não tem história de manipulação uterina e não há obstrução ao fluxo sanguíneo, apenas uma irregularidade na sua apresentação. Alternativa D - Incorreta: A falência ovariana precoce ocorre quando o ovário deixa de responder aos estímulos hipofisários gonadotróficos. Isso é esperado na menopausa, quando temos FSH aumentado sem resposta ovariana que já está sem reserva. No entanto, para falarmos em falência ovariana precoce, pensamos em pacientes abaixo de 40 anos, geralmente com falência ovariana por causa secundária. Portanto, a alternativa correta é a letra A. 44 Amenorreia Comentário da Questão 04 Questão sobre uma das causas de amenorreia secundária. Então, no nosso caso, temos uma paciente de 32 anos com ausência de menstruação nos últimos 13 meses, associada à galactorreia, hiperprolactinemia e ressonância magnética que evidencia o diagnóstico de tumor hipofisário de 1,3 cm. Frente a esse quadro, temos um provável prolactinoma. Os prolactinomas são a principal causa de hiperprolactinemia patológica cobrada nas provas. São denominados microprolactinomas quando menores que 1 centímetro. e macroprolactinomas quando ≥ 1 cm. Outros tumores da região hipotalâmico-hipofisária podem cursar com hiperprolactinemia, seja por produção aumentada da prolactina (adenomas hipofisários mistos) ou por comprometimento da haste hipotálamo-hipofisária (adenomas hipofisários clinicamente não funcionantes e craniofaringeomas), em que interferem com o aporte de dopamina do hipotálamo para a hipófise (inibidora da secreção de prolactina). Vamos analisar as alternativas: Alternativa A – Incorreta: Realmente, é um macroadenoma hipofisário, contudo, o tratamento inicial é farmacológico, a fim de conseguir a redução dos níveis de prolactina, correção dos sintomas, restabelecimento da função gonadal, do hipoestrogenismo e da fertilidade, redução do volume tumoral e de efeitos compressivos. O tratamento utiliza agonistas dopaminérgicos, sendo disponíveis em nosso país a cabergolina e a bromocriptina. Alternativa B – Correta: Isso mesmo! E usualmente se inicia o tratamento com cabergolina, um comprimido de 0,5 mg uma vez por semana ou dividido em duas doses semanais (meio comprimido). O ajuste de dose é feito de acordo com a dosagem de prolactina. Alternativa C – Incorreta: Tem mais de 1 cm, logo, é um macroadenoma. E apenas usar anticoncepcional, não ajudará no tratamento da causa da amenorreia. Alternativa D – Incorreta: O tratamento deve ser com agonistas dopaminérgicos. Alternativa E – Incorreta: A dopamina inibe a secreção de prolactina, logo, devemos aumentar sua produção. Portanto, o gabarito é a alternativa B! 45 Amenorreia Comentário da Questão 05 A síndrome de Sheehan classicamente trata-se de hipopituitarismo pós-parto secundário à necrose hipofisária, decorrente de hipotensão ou choque, por causa de hemorragia maciça durante ou após o parto. É decorrente do infarto da glândula hipofisária, principalmente do lobo anterior, em virtude de baixo fluxo sanguíneo, que pode ser secundário à vasoespasmo, trombose ou compressão vascular. Sabe-se que durante a gestação ocorre um aumento progressivo da glândula hipofisária, cerca de 30% a 100% do seu peso; porém, acredita- se que o seu suprimento de sangue se mantenha inalteradoem relação ao estado pré- gestacional, sendo tal situação responsável por tornar a glândula mais suscetível à necrose por causa da hipotensão ou do choque pós-parto. A apresentação do quadro clínico pode ser dividida nas formas: aguda e crônica. A primeira conta com sintomas e sinais de insuficiência adrenal aguda, sendo a agalactia o sinal mais precoce, acompanhada de rápida involução da mama e o não retorno aos ciclos menstruais regulares. Já a segunda engloba características dos diversos deficits hipofisários, como astenia, fadiga e confusão mental, além de pele hipopigmentada e rarefação dos pelos axilares e pubianos, tendo a hiponatremia como o distúrbio eletrolítico mais comum, o qual pode estar presente por mais de 30 anos após o início da doença. 46 Amenorreia Comentário da Questão 05 Alternativa A - Correta: Conforme citado acima, a paciente apresenta síndrome de Sheehan, e pelo fato dos hormônios ACTH e TSH serem produzidos na hipófise anterior, ocorre insuficiência adrenal e hipotireoidismo como consequência. Alternativa B - Incorreta: Tipicamente, após esses quadros de sangramentos volutuosos durante a gestação ocorre necrose da hipófise anterior. Além disso, pela redução do TSH, temos um quadro de hipotiroidismo. Síndrome de Sheehan 47 Amenorreia Comentário da Questão 05 Alternativa C - Incorreta: A síndrome de Asherman ocorre por sinéquias uterinas. Geralmente é descrita em um caso de amenorreia que acontece após procedimentos uterinos (como curetagem). Não é compatível com a história apresentada e nem com as alterações laboratoriais. Alternativa D - Incorreta: As aderências intrauterinas ocorrem na síndrome de Asherman. Conforme o comentário do item C, não é compatível com a questão. Alternativa E - Incorreta: Na síndrome de Sheehan ocorre FSH/LH baixos, visto que também são secretados pela hipófise anterior. Portanto, alternativa correta é alternativa A. 1. Definição 2. Divisão por compartimentos 3. Amenorreias primárias Questão 01 3.1 Investigação das amenorreias primárias ⚠ 3.2 Desenvolvimento da genitália interna e externa feminina 3.3 Principais causas de amenorreia primária nas provas ⚠ 3.3.1 Síndrome Mayer-Rokitansky-Kuster (agenesia mulleriana) ⚠ 3.3.2 Hímen imperfurado 3.3.3 Síndrome de Morris (ou síndrome da insensibilidade androgênica) ⚠ 3.3.4 Síndrome de Turner ⚠ Questão 02 3.3.5 Outras disgenesias gonadais 3.3.6 Síndrome de Savage 3.3.7 Síndrome de Kallmann 3.3.8 Outras causas de amenorreia hipotalâmica 3.3.9 Hiperplasia adrenal congênita (HAC) 3.3.9.1 HAC forma clássica 3.3.9.2 HAC forma não clássica 4. Amenorreias secundárias 4.1. Investigação das amenorreias secundárias ⚠ Questão 03 4.1.1 Beta-hCG ⚠ 4.1.2 TSH e prolactina ⚠ 4.1.3 Teste da progesterona 4.1.4 Teste do estrogênio + progesterona 4.1.5 Dosagem do FSH 4.1.6 Teste do GnRH 4.2 Principais causas de amenorreia secundária nas provas 4.2.1 Hiperprolactinemia ⚠ Questão 04 4.2.1.1 Hiperprolactinemia induzida por medicação 4.2.1.2 Prolactinomas ⚠ 4.2.2 Síndrome de Asherman ⚠ Questão 05 4.2.3 Síndrome de Sheehan 4.2.4 Insuficiência ovariana prematura (IOP) TOP FIVE Tesoura 1 A 28: Tesoura 1 C 30: A 29: Botão de rádio 16: Off Tesoura 1 D 28: Tesoura 1 B 28: B 29: C 30: D 32: Resposta 29: Respostas 15: Tesoura 1 A 29: Tesoura 1 C 31: A 30: Tesoura 1 D 29: Tesoura 1 B 29: B 30: C 31: D 33: Resposta 30: Respostas 16: Tesoura 1 A 30: Tesoura 1 C 32: A 31: Tesoura 1 D 30: Tesoura 1 B 30: B 31: C 32: D 34: Resposta 31: Respostas 17: Tesoura 1 A 27: Tesoura 1 C 29: A 28: Tesoura 1 D 27: Tesoura 1 E 28: Tesoura 1 B 27: B 28: C 29: D 31: E 30: Resposta 28: Respostas 14: Tesoura 1 A 31: Tesoura 1 C 33: A 32: Tesoura 1 D 31: Tesoura 1 E 29: Tesoura 1 B 31: B 32: C 33: D 35: E 31: Resposta 32: Respostas 18: Botão 185: Página 40: Botão 194: Página 41: Página 42: Botão 203: Página 43: Botão 2012: Página 44: Botão 2021: Página 45: Página 46: Página 47: