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1 2 3 OBSERVAÇÕES INICIAIS A prova objetiva do TRF5 foi aplicada dia 25/05/2025. Assim que tivemos acesso ao gabarito preliminar iniciamos a tradicional prova comentada do Mege e aceleramos para entregar tudo dentro do prazo recursal. Mais uma vez, missão cumprida! A intenção neste material é auxiliar nossos alunos e seguidores na análise da elaboração de seus recursos, além de possibilitar, em formato conclusivo, a revisão de temas cobrados no certame e verificação de maiores chances de avanço para 2ª fase. O arquivo aqui apresentado trata de versão preliminar elaborada com as finalidades informadas e concluído por nosso time específico de 1ª fase de magistratura, sem maiores pretensões de aprofundamento ou trabalho editorial neste momento, que é de puro apoio (e não foca na detectação de questões antecipadas em nossas várias formas de atuação). No Clube da Magistratura, o Mege revisa um edital completo em 1 ano de estudo, ou seja, a produção é realmente vasta. O corte, neste momento, segue estimado em 63/64 acertos para ampla concorrência. Os(as) candidatos(as) que concorrem às vagas destinadas ao sistema de cotas precisam acertar 60 pontos. Os nossos professores entendem que 2 (duas) questões, em especial, estão envolvidas em maior polêmica a serem apreciadas (2 e 100). Portanto, podem ter suas situações alteradas na fase recursal, o que deixa em aberto a nota de corte para outras possibilidades. É claro que podem ter mais questões que venham a ser anuladas ou alteradas com o gabarito oficial (mas, como a prova foi bem elaborada, não entendemos que a surpresa seja maior que 1 ou 2 a mais que a nossa previsão). De todo modo, levamos esse pensamento de probabilidade no mapa mental dos caminhos indicados, que apresentamos nas páginas seguintes. Diante disso, em nosso sentimento, ainda é possível sonhar com a aprovação na ampla concorrência com até 62/63 certos (tendo como parâmetro o corte atual e uma margem de erro razoável sobre a quantidade de anulações). A sua maior ou menor probabilidade dependerá do aproveitamento das questões mais polêmicas. Trata-se de mera opinião de parâmetro circunstancial de tudo que temos de informação neste momento. Em cotas, o desempenho nas questões que apontamos com maior probabilidade de mudança passam a ter chances (notas entre 58/59 passam a ter chances). Em nossa experiência, constatamos um parâmetro de que a cada 2 (duas) questões anuladas a pontuação oficial de corte aumenta em 1 (um) ponto. Essa dica deve seguir como norte para definição de maiores chances de avanço no certame. Não temos como cravar quantas questões efetivamente serão afetadas, mas guardem esta informação de parâmetro para verificarem suas chances reais! 4 É importante mencionar que o Clube da Magistratura, a nossa turma mais completa, é extremamente decisiva em qualquer prova (especialmente por tratar de um edital completo ao longo de 1 ano – e aqui falamos, sem qualquer receio, em todas as fases). Não fizemos maiores apontamentos sobre sua produção neste material por conta do curto tempo de comparativo temático entre a sua produção e as questões de prova (ainda dentro do prazo recursal – objetivo maior). ESTUDE PARA TODAS AS FASES AO LADO DO MEGE SUA APROVAÇÃO OU SEU DINHEIRO DE VOLTA! APROVEITEM PARA CONHECER EM DETALHES SOBRE O PLANO ATÉ PASSAR (que libera turmas do Mege para todas as fases: Clube da Magistratura, Retas Finais, 2ª fases e Provas Orais) e seus benefícios de economia, praticidade e garantia, para quem realmente está comprometido com o projeto de se tornar Juiz/Juíza de Direito. É válido citar que, neste momento, estamos com inscrições abertas para Clube da Magistratura 2025.2, TJCE (reta final), turmas de 2ª fase para TJSC e TJSE. Próximas turmas: TRF 3ª região (2ª fase), TRF (reta final). Clube da Magistratura 2025.2 (+ Plano Até Passar) CAMINHOS POSSÍVEIS APÓS A PROVA OBJETIVA DO TRF5 Em nossa análise, sobre caminhos pós-prova no TRF5, entendemos que esse direcionamento esquematizado pode orientar da melhor forma. https://lp.mege.com.br/clube-da-magistratura-ate-passar/ 5 Sobre a nota de corte de ampla concorrência (estimada em 63/64 acertos) e cotas (58/59 acertos), analisamos abaixo possíveis caminhos. Na sequência, preparamos um quadro esquematizado para facilitar sua compreensão. SE VOCÊ NÃO FOI TÃO BEM NO TRF5, NÃO SE DESESPERE! O Clube da Magistratura foi pensado para ajudar nos próximos desafios Aos colegas que não estão dentro das faixas mencionadas, indicamos, conforme o caso, entrar imediatamente no Clube da Magistratura (turma 2025.2). Nossa turma mais completa para quem se prepara para carreira (inclusive assinante premium ganha acesso a todas as retas finais de magistratura que atuamos). Se você presta concursos de magistratura em outros estados, o Clube da Magistratura conta com tudo que você precisa para preparação em todas as fases do concurso. Em 2025, temos a sua melhor versão da história! Com muitas novidades sobre o apoio de Inteligência Artificial. Uma preparação completa: desde o estudo voltado para 1ª fase até correções de provas de 2ª fase de forma personalizada (com opção de acompanhamento personalizado). Vale a pena conferir! 6 A SEGUNDA FASE É LOGO ALI Nós criamos um grupo de whatsapp para ajudar nos debates dos candidatos sobre este desafio. GRUPO ABERTO DE DISCUSSÕES DO TRF5 Agora é com vocês, vamos para análise de tudo que caiu na objetiva do TRF5 em detalhes. Seguiremos firmes em um trabalho realmente específico também para 2ª fase deste desafio! Arnaldo Bruno Oliveira1 Equipe Mege 1 Insta: @prof.arnaldobruno (fiquem à vontade para o envio de mensagens sobre o Mege). https://chat.whatsapp.com/L7qGJ4u3dKO4tr1NEXpkFy 7 SUMÁRIO BLOCO I ..................................................................................................................... 8 DIREITO CONSTITUCIONAL .................................................................................8 DIREITO PREVIDENCIÁRIO ................................................................................ 18 DIREITO PENAL ............................................................................................... 28 DIREITO PROCESSUAL PENAL ............................................................................ 41 DIREITO ECONÔMICO E DE PROTEÇÃO AO CONSUMIDOR .................................... 57 BLOCO II .................................................................................................................. 74 DIREITO CIVIL.................................................................................................. 74 DIREITO PROCESSUAL CIVIL .............................................................................. 87 DIREITO EMPRESARIAL................................................................................... 100 DIREITO FINANCEIRO E TRIBUTÁRIO ................................................................ 104 BLOCO III ............................................................................................................... 122 DIREITO ADMINISTRATIVO ............................................................................. 122 DIREITO AMBIENTAL ...................................................................................... 135 DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO E PRIVADO ................................................. 141 NOÇÕES GERAIS DE DIREITO E FORMAÇÃO HUMANÍSTICA ................................. 151 DIREITOS HUMANOS ..................................................................................... 155de”. Porém, na modalidade prevista no parágrafo único, não há tal previsão. Assim, incorreto afirmar que em todas as modalidades há a necessidade de finalidade específica. (D) INCORRETA. Vide comentários da alternativa A. (E) INCORRETA. Sobre o tema: [...] 2. A conduta relativa à exportação de mercadorias sem a respectiva liquidação do contrato de câmbio, com o ingresso das correspondentes divisas, não se enquadra no fato típico supramencionado. [...] (STJ, REsp 898.554/RS, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 22/06/2010, DJe 02/08/2010) Assim, correta a alternativa B. _______________________________________________________________________ 23. Investigação da Polícia Federal revelou que um grupo criminoso se dedicava à remessa de drogas para a Europa por meio de um aeroporto internacional. O grupo formado por sete pessoas, estruturalmente ordenado e caracterizado pela divisão de tarefas, encarregava-se, dentre outras atividades voltadas ao comércio ilegal, de cooptar funcionários da concessionária que opera o aeroporto, para que não fiscalizassem as malas nas quais as drogas eram escondidas. Apesar da vigilância ao longo da investigação, nenhuma droga foi apreendida. O Ministério Público Federal ofereceu denúncia e imputou aos envolvidos os crimes de tráfico de drogas, associação para o tráfico de drogas, organização criminosa e corrupção ativa e passiva. O juiz, ao proferir sentença, deverá observar que: (A) a condenação concomitante pelos crimes de associação para o tráfico de drogas e de organização criminosa é impossível, por configurar bis in idem, ainda que o grupo estruturalmente ordenado e caracterizado pela divisão de tarefas se dedique à prática de outros crimes, além do tráfico de drogas; 35 (B) os funcionários da concessionária que opera o aeroporto, se contratados pelo regime da CLT, não são sujeitos ativos do crime de corrupção passiva; (C) a transnacionalidade da organização configura causa de aumento de pena do crime de organização criminosa; (D) a ausência de apreensão de material entorpecente é obstáculo à condenação pelos crimes de tráfico de drogas e de associação para o tráfico de drogas; (E) a sentença pode condenar os réus pela prática do crime de tráfico de drogas, a despeito da ausência de apreensão de material entorpecente, desde que outros elementos dos autos revelem a prática de uma das condutas previstas no tipo penal. _______________________________________________________________________ GABARITO: C COMENTÁRIOS (A) INCORRETA. É possível a condenação concomitante pelos crimes de associação para o tráfico e organização criminosa, desde que as condutas tenham ocorrido em diferentes contextos fático e temporal, como é caso dos autos, em que se aponta a associação para o tráfico com terceiros não integrantes da organização criminosa (STF, RHC 242673 AgR, 2ª Turma, Relator(a): Min. EDSON FACHIN, Julgamento: 02/09/2024, Publicação: 12/09/2024). (B) INCORRETA. O crime de corrupção passiva, previsto no art. 317, do CP, está no Capítulo referente aos crimes praticados por funcionário público. Por sua vez, o art. 327, do CP, conceitua funcionário público para fins penais, trazendo, ainda, no parágrafo primeiro, a figura do "funcionário público por equiparação”, nos seguintes termos: Art. 327, § 1º Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função em entidade paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para a execução de atividade típica da Administração Pública. No caso da questão, os funcionários da concessionária que opera o aeroporto que fiscalizam as malas, são pessoas que trabalham para empresa prestadora de serviço contratada para a execução de atividade típica da Administração Pública, motivo pelo qual são considerados funcionários públicos por equiparação. Assim, possível serem sujeitos ativos do crime de corrupção passiva. (C) CORRETA. É o que dispõe o art. 2º, § 4º, V, da Lei n. 12.850/2013, nos seguintes termos: Art. 2º [...] § 4º A pena é aumentada de 1/6 (um sexto) a 2/3 (dois terços): V - se as circunstâncias do fato evidenciarem a transnacionalidade da organização. 36 (D) e (E) INCORRETAS. É importante diferenciar os requisitos de materialidade do tráfico de drogas e do crime de associação para o tráfico. Em relação ao tráfico de drogas, a apreensão da droga é imprescindível. Nesse sentido: É flagrantemente ilegal a condenação pelo crime de tráfico de drogas fundamentada essencialmente em prints de publicações de venda de entorpecentes em redes sociais e mensagens eletrônicas, sem a efetiva apreensão de drogas. STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 977.266-RN, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 20/3/2025 (Info 846). Já em relação ao delito de associação para o tráfico, a apreensão não é imprescindível. Vejamos: Para a configuração do delito previsto no art. 35 da Lei n.º 11.343/06 é desnecessária a comprovação da materialidade quanto ao delito de tráfico, sendo prescindível a apreensão da droga ou o laudo toxicológico. É indispensável, tão somente, a comprovação da associação estável e permanente, de duas ou mais pessoas, para a prática da narcotraficância. (STJ, HC n. 432.738/PR, relatora Ministra Maria Thereza de Assis Moura, Sexta Turma, julgado em 20/3/2018, DJe de 27/3/2018.) Assim, correta a alternativa C. _______________________________________________________________________ 24. No que diz respeito aos efeitos da condenação, observadas as disposições constitucionais, do Código Penal e da legislação extravagante, é CORRETO afirmar que: (A) a hipótese do confisco previsto na Constituição da República de 1988 em virtude da prática do tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins alcança apenas os bens imóveis utilizados na atividade criminosa; (B) a decretação da perda de bens ou valores lícitos equivalentes é inviável se o produto ou proveito do crime não for localizado; (C) a condenação de funcionário público pelo crime de organização criminosa implicará a perda do cargo, função, emprego ou mandato eletivo e a interdição para o exercício de função ou cargo público pelo período de um a cinco anos; (D) a decretação da perda dos instrumentos lícitos empregados na prática de um delito é admitida nas hipóteses de crimes definidos na Lei de Drogas e daqueles praticados por organizações criminosas e milícias; (E) a decretação da perda de bens classificada pela doutrina como confisco alargado é cabível nas condenações por crimes aos quais a lei comine pena máxima superior a quatro anos e depende de requerimento expresso do Ministério Público. _______________________________________________________________________ GABARITO: D COMENTÁRIOS 37 (A) INCORRETA. O erro da alternativa está em afirmar que o confisco alcança “apenas” os bens imóveis utilizados na atividade criminosa. O tema está previsto no art. 243, parágrafo único, da CF. Confira-se: Art. 243. As propriedades rurais e urbanas de qualquer região do País onde forem localizadas culturas ilegais de plantas psicotrópicas ou a exploração de trabalho escravo na forma da lei serão expropriadas e destinadas à reforma agrária e a programas de habitação popular, sem qualquer indenização ao proprietário e sem prejuízo de outras sanções previstas em lei, observado, no que couber, o disposto no art. 5º. Parágrafo único. Todo e qualquer bem de valor econômico apreendido em decorrência do tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e da exploração de trabalho escravo será confiscado e reverterá a fundo especial com destinação específica, na forma da lei. (B) INCORRETA. A alternativa menciona o contrário do previsto no art. 91, §§ 1º e 2º, do CP: Art. 91 [...] § 1º Poderá ser decretada a perda de bens ou valores equivalentes ao produto ou proveito do crime quando estes não forem encontrados ou quando se localizaremno exterior. § 2º Na hipótese do § 1º, as medidas assecuratórias previstas na legislação processual poderão abranger bens ou valores equivalentes do investigado ou acusado para posterior decretação de perda. (C) INCORRETA. Cuidado para não confundir a interdição para o exercício de função ou cargo público prevista na Lei de Organização Criminosa com a inabilitação prevista na Lei de Abuso de Autoridade! Vejamos: (D) CORRETA. É o que dispõe o art. 91-A, § 5º, do CP: Interdição | inabilitação para exercício de função pública Lei de Tortura Dobro da pena privativa de liberdade Lei de Organização Criminosa 8 anos subsequentes ao cumprimento da pena Lei de abuso de autoridade 1 a 5 anos em caso de reincidência específica 38 Art. 91-A [...] § 5º Os instrumentos utilizados para a prática de crimes por organizações criminosas e milícias deverão ser declarados perdidos em favor da União ou do Estado, dependendo da Justiça onde tramita a ação penal, ainda que não ponham em perigo a segurança das pessoas, a moral ou a ordem pública, nem ofereçam sério risco de ser utilizados para o cometimento de novos crimes. (E) INCORRETA. A pena máxima tem que ser superior a 6 anos, e não a 4 anos, conforme menciona a questão, nos termos do art. 91-A, caput, do CP: Art. 91-A. Na hipótese de condenação por infrações às quais a lei comine pena máxima superior a 6 (seis) anos de reclusão, poderá ser decretada a perda, como produto ou proveito do crime, dos bens correspondentes à diferença entre o valor do patrimônio do condenado e aquele que seja compatível com o seu rendimento lícito. Assim, correta a alternativa D. _______________________________________________________________________ 25. A respeito do fenômeno da prescrição, segundo a jurisprudência das Cortes Superiores, é CORRETO afirmar que: (A) o cálculo do lapso temporal da prescrição da pretensão punitiva em abstrato deve incluir as agravantes ou atenuantes genéricas aplicáveis ao caso concreto; (B) o dia do começo não será computado na contagem do prazo prescricional; (C) o recebimento da denúncia oferecida em face de um dos autores do crime implicará a interrupção do curso da prescrição relativamente aos demais; (D) o acórdão condenatório interrompe o curso da prescrição somente na hipótese em que reforma sentença absolutória; (E) a instauração de incidente de insanidade mental é causa suspensiva do curso da prescrição. _______________________________________________________________________ GABARITO: C COMENTÁRIOS (A) INCORRETA. Não há como incluir as agravantes e atenuantes na contagem do prazo prescricional pelo simples fato de que o legislador não mensura o quantum de agravação ou atenuação da pena, ficando a cargo do juiz, de acordo com o caso concreto. Assim, não há como utilizar esse quantum na contagem do prazo prescricional. (B) INCORRETA. A contagem do prazo prescricional é um prazo penal e, por isso, é contado incluindo-se o dia de início, de acordo com o art. 10, do Código Penal. Cuidado para não confundir a forma de contagem do prazo penal e do prazo processual penal: 39 PRAZO PENAL PRAZO PROCESSUAL PENAL Regra: Quanto mais rápido acabar, melhor para o agente Regra: Quanto mais prazo tiver, melhor par a agente Computa-se o dia de início Não se computa o dia de início Não há prorrogação do prazo, caso termine em dia não útil Há a prorrogação do prazo, caso termine em dia não útil Ex.: prazo de prisão, prazo prescricional, prazo decadencial. Ex.: prazo recursal, prazo para apresentação da resposta à acusação. (C) CORRETA. É o que dispõe o art. 117, § 1º, do CP. Nesses termos: O recebimento parcial da denúncia, bem como o provimento do recurso especial, em que determinou o recebimento da ação penal em face das pessoas jurídicas, constituem marcos interruptivos do lapso prescricional, devendo ser estendido para todos os corréus, consoante art. 117, I c/c § 1º, do CP (STJ, AgRg nos EDcl no REsp n. 1.368.111/PE, relator Ministro Nefi Cordeiro, Sexta Turma, julgado em 18/9/2018, DJe de 25/9/2018.) (D) INCORRETA. De acordo com o Tema 1100, do STJ: O acórdão condenatório de que trata o inciso IV do art. 117 do Código Penal interrompe a prescrição, inclusive quando confirmatório de sentença condenatória, seja mantendo, reduzindo ou aumentando a pena anteriormente imposta (STJ. 3ª Seção. REsp 1.930.130-MG, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 10/08/2022 - Recurso Repetitivo – Tema 1100 - Info 744). (E) INCORRETA. Sobre o tema, destaco julgado elucidativo do STJ: RECURSO ESPECIAL. PENAL. AMEAÇA E LESÃO CORPORAL. PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA. OCORRÊNCIA. INCIDENTE DE INSANIDADE MENTAL. SUSPENSÃO DO CURSO DA PRESCRIÇÃO. NÃO OCORRÊNCIA. AUSÊNCIA DE PREVISÃO LEGAL. RECURSO ESPECIAL PROVIDO. 1. A jurisprudência desta Corte Superior orienta no sentido de que, em observância ao princípio da legalidade, as causas suspensivas da prescrição demandam expressa previsão legal, o que não ocorre no caso de instauração de incidente de insanidade mental, em que não há previsão normativa de suspensão do curso da prescrição. 2. Não se pode criar, por via interpretativa, causa suspensiva da prescrição vinculada a incidente instaurado no curso da ação penal, tendo em vista a inexistência de norma legal conferindo o vindicado efeito a simples incidentes processuais. 40 3. Não é possível equiparar os incidentes processuais instaurados perante o mesmo juízo, no curso da ação penal, com a pendência de questão prejudicial em "outro processo", prevista no art. 116, inciso I, do Código Penal como causa suspensiva da prescrição, pois se tratam de institutos com natureza jurídica completamente distintas. 4. Recurso especial provido. (REsp n. 1.904.590/RJ, relatora Ministra Laurita Vaz, Sexta Turma, julgado em 19/10/2021, DJe de 25/10/2021.) Correta, assim, a alternativa C. _______________________________________________________________________ 26. Adriano praticou o crime de estelionato mediante falsificação de guias de recolhimento de contribuições previdenciárias, tendo ocorrido lesão à autarquia federal (Art. 171, §3º, do Código Penal). Ouvido em sede policial, Adriano, que era primário e não possuía antecedentes, negou a prática do crime. Os autos do inquérito foram relatados pela autoridade policial, com indiciamento de Adriano pelo referido crime, e remetidos ao Ministério Público. Nessa hipótese, relativamente aos institutos despenalizadores previstos na legislação penal e processual, é CORRETO afirmar que: (A) poderá o Ministério Público, com o oferecimento da denúncia, propor a Adriano a suspensão condicional do processo, em razão de sua primariedade; (B) poderá o juiz, rejeitando a denúncia, oferecer a Adriano acordo de não persecução penal, se não o fizer o Ministério Público; (C) poderá o Ministério Público oferecer a Adriano transação penal consistente em reparação do dano e prestação de serviços à comunidade pelo prazo de dois anos; (D) poderá o juiz, em caso de condenação não superior a dois anos, suspender a execução da pena privativa de liberdade, se não for cabível a substituição da pena; (E) poderá o Ministério Público oferecer a Adriano acordo de não persecução penal, condicionado à reparação do dano à administração. _______________________________________________________________________ GABARITO: D COMENTÁRIOS A questão cobrou conhecimento sobre os institutos despenalizadores. (A) INCORRETA. A suspensão condicional do processo é instituto previsto no art. 89, da Lei n. 9.099/95, para, além de outros requisitos, os casos em que a pena mínima é igual ou inferior a 1 ano. No caso do estelionato, a pena mínima é de 1 ano. Todavia, sendo o estelionato “previdenciário”, incide a causa de aumento de pena prevista no art. 171, § 41 3º, do CP, fazendo com que a pena mínima possível seja maior que 1 ano, tornandoinaplicável o referido instituto. (B) INCORRETA. O juiz não pode substituir o Ministério Público no oferecimento de acordo de não persecução penal. Na verdade, o juiz não participa das negociações e nem pode oferecer o acordo. A única participação judicial é a análise da legalidade do acordo para fins de homologação ou não homologação. (C) INCORRETA. Não é cabível transação penal em razão de o crime não ser de menor potencial ofensivo. (D) CORRETA. É cabível suspensão condicional da pena, nos termos do art. 77, do Código Penal. (E) INCORRETA. De fato, é necessária a reparação do dano para fins de acordo de não persecução penal. Porém, não se trata de requisito inafastável. O legislador, no art. 28- A, I, do CPP, traz o referido requisito da seguinte forma: Art. 28-A [...] mediante as seguintes condições ajustadas cumulativa e alternativamente: I - reparar o dano ou restituir a coisa à vítima, exceto na impossibilidade de fazê-lo; Esse é o único requisito que não é indispensável, sendo possível a comprovação da impossibilidade de reparação do dano. Assim, nesse caso, mesmo não reparando o dano, seria possível o ANPP. Para as próximas provas de magistratura federal: Estelionato previdenciário (art. 171, § 3º, do CP) ANPP É cabível (pena mínima inferior a quatro anos) Transação penal Não é cabível (pena máxima superior a dois anos – não é crime de menor potencial ofensivo) Suspensão condicional do processo Não é cabível (pena mínima superior a um ano, em razão do aumento de pena) Assim, correta a alternativa D. _______________________________________________________________________ DIREITO PROCESSUAL PENAL 27. Régis e Renato foram condenados a uma pena de quatro e seis anos de reclusão e multa, bem como à reparação dos danos mínimos causados em razão da prática do crime de peculato em detrimento de bens da União. Renato tomou ciência da sentença e recorreu para anular o feito, em razão da inépcia da denúncia. Régis, por sua vez, recorreu para diminuir a pena a ele aplicada, alegando não ter sido considerada a 42 circunstância de sua primariedade. O Ministério Público deixou transcorrer o prazo recursal sem a interposição de recurso. Diante desse contexto, é CORRETO afirmar que: (A) a União poderá interpor recurso de apelação, visando ao agravamento da pena de ambos os condenados e à majoração da reparação mínima dos danos, no prazo de 15 dias após decorrido prazo do Ministério Público; (B) o provimento do recurso de apelação interposto por Régis poderá aproveitar a Renato, acarretando a diminuição de sua pena, apesar de este não ter recorrido; (C) o tribunal não poderá conhecer de recurso da União visando ao aumento da pena dos condenados e da reparação dos danos, pois o Ministério Público não recorreu; (D) o provimento do recurso de Renato, por parte do tribunal, não poderá aproveitar a Régis, em razão da diversidade de fundamentos de cada impugnação recursal; (E) a União não poderá interpor recurso, pois não se habilitou anteriormente como assistente de acusação durante o processo de primeiro grau. _______________________________________________________________________ GABARITO: A COMENTÁRIOS (A) CORRETA. De acordo com o art. 598 do CPP, "nos crimes de competência do Tribunal do Júri, ou do juiz singular, se da sentença não for interposta apelação pelo Ministério Público no prazo legal, o ofendido ou qualquer das pessoas enumeradas no art. 31, ainda que não se tenha habilitado como assistente, poderá interpor apelação". No caso em questão, a União, como vítima do crime de peculato, tem legitimidade para recorrer após o término do prazo do MP, podendo pleitear o agravamento das penas e a majoração da reparação mínima de danos. Dispõe o art. 577 do CPP que recurso poderá ser interposto: a) pelo Ministério Público; b) ou pelo querelante; c) ou pelo réu, seu procurador ou seu defensor. A ausência do assistente de acusação no rol de legitimados do art. 577 do CPP não decorreu de impropriedade legislativa tampouco de um descuido do legislador. Em verdade, o assistente de acusação não está previsto no referido dispositivo como legitimado recursal, porque nele estão arrolados os sujeitos processuais que podem ingressar com qualquer recurso entre os previstos em lei. 43 São os chamados legitimados gerais, nos quais não se enquadra o assistente do Ministério Público, cuja legitimidade é restrita e subsidiária (supletiva). Diz-se restrita a legitimação do assistente, porque, em tese, somente poderá ele recorrer nos casos expressamente previstos em lei, quais sejam: a) Apelar da sentença, com fundamento no art. 598 do CPP (nos crimes de competência do Tribunal do Júri, ou do juiz singular, se da sentença não for interposta apelação pelo Ministério Público no prazo legal, o ofendido ou qualquer das pessoas enumeradas no art. 31, AINDA QUE NÃO SE TENHA HABILITADO COMO ASSISTENTE, poderá interpor apelação, que não terá, porém, efeito suspensivo); b) Apelar da decisão de impronúncia, com fundamento no art. 584, § 1.º, c/c os arts. 416 e 598 do CPP; c) Recorrer em sentido estrito da decisão que julgar extinta a punibilidade pela prescrição ou outra causa, com base no art. 584, § 1.º, c/c o art. 598 do CPP. Diz-se subsidiária ou supletiva a legitimidade recursal do assistente porque, MESMO NAS HIPÓTESES EM QUE PODE SE INSURGIR, fica ele condicionado a que NÃO TENHA O MINISTÉRIO PÚBLICO RECORRIDO DA RESPECTIVA DECISÃO. Se o Ministério Público interpuser recurso contra a decisão judicial, é necessário distinguir duas situações: 1) Sendo parcial o recurso do Ministério Público Poderá o assistente insurgir-se em relação à parte da decisão não abrangida pela impugnação do Promotor de Justiça. 2) Abrangendo o recurso ministerial toda a decisão recorrida Apenas poderá o assistente arrazoar tal insurgência. Neste caso, o recurso do Ministério Público terá duas razões recursais: as oferecidas pelo próprio promotor de justiça recorrente e aquelas deduzidas pelo assistente. Isto se extrai da parte final do art. 271 do CPP, quando refere que o assistente poderá “arrazoar os recursos interpostos pelo Ministério Público, ou por ele próprio, nos casos dos arts. 584, § 1.º, e 598”. Este artigo nos permite concluir que o assistente de acusação poderá arrazoar todo e qualquer recurso interposto pelo Ministério Público, mas, quanto aos por ele próprio interpostos, apenas poderá oferecer razões nas hipóteses dos arts. 584, § 1.º, e 598, porque, simplesmente, apenas nestes casos é que pode ele recorrer. 44 Neste caso, como o ente público foi diretamente lesado pelos crimes mencionados e o Ministério Público não interpôs recurso, é legítima sua atuação como assistente de acusação, podendo, assim, apresentar o recurso cabível. (B) e (D) INCORRETAS. O efeito extensivo, previsto no art. 580 do Código de Processo Penal, permite que o resultado favorável de um recurso interposto por um dos réus seja estendido aos demais acusados que não tenham recorrido, desde que os fundamentos do recurso não sejam de caráter exclusivamente pessoal. Art. 580 do CPP - No caso de concurso de agentes (CP, art. 25), a decisão do recurso interposto por um dos réus, se fundado em motivos que não sejam de caráter exclusivamente pessoal, aproveitará aos outros. Outro aspecto importante é o de que, para efeitos da extensão, não basta que todos os réus tenham sido acusados no mesmo processo, sendo necessário que a eles tenha sido imputado o mesmo crime, em concurso de agentes (autoria ou participação). No caso analisado, a primariedade requeridas por Regis é de natureza personalíssima e, portanto, não podem beneficiar Renato. Por outro lado, o recurso interposto por Renato, que busca a inépcia da exordial acusatória, pode sim beneficiar Regis, já que tal fundamento não é de caráter exclusivamente pessoal. ATENCÃO!O art. 580 do CPP não pode ser aplicado quando: a) o réu que estiver requerendo a extensão da decisão não participar da mesma relação jurídico- processual daquele que foi beneficiado. O requerente será, neste caso, parte ilegítima; b) se invoca extensão da decisão para outros processos que não foram examinados pelo órgão julgador. Isso porque neste caso, o que o requerente está pretendendo é obter a transcendência dos motivos determinantes para outro processo, o que não é admitido pela jurisprudência do STF. STF. 1ª Turma. HC 137728 EXTN/PR, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 30/5/2017 (Info 867). (C) INCORRETA. Vide fundamentos à assertiva ‘‘A’’ (E) INCORRETA. Vide fundamentos à assertiva ‘‘A’’ _______________________________________________________________________ 28. Heitor, valendo-se da regra que dispõe que o habeas corpus pode ser impetrado por qualquer pessoa, ajuizou a referida ação em favor de seu inimigo declarado Aquiles, que sofria coação em sua liberdade de locomoção por força de ato de juiz federal de primeiro grau. Contudo, Heitor foi propositalmente desidioso quanto à referida ação, pois visava à improcedência do pedido por ele formulado em favor de Aquiles, que não autorizou a impetração. 45 Diante desse contexto, é CORRETO afirmar que: (A) o conhecimento do habeas corpus pela superior instância depende de manifestação favorável do Ministério Público; (B) a decisão de improcedência no habeas corpus vincula Aquiles, que foi substituído processualmente por Heitor; (C) o conhecimento do habeas corpus pela superior instância pressupõe o consentimento de Aquiles à impetração de Heitor; (D) a decisão de improcedência no habeas corpus vincula o Ministério Público, que não poderá impetrar novo habeas corpus; (E) o conhecimento do habeas corpus pela superior instância pressupõe impetração por advogado constituído por parte de Heitor. _______________________________________________________________________ GABARITO: C COMENTÁRIOS Conquanto conste de normas internas de diversos órgãos jurisdicionais, inclusive do Regimento Interno do STF, que a oposição do paciente configuraria óbice ao conhecimento do habeas corpus, tais previsões devem ser compreendidas com ressalvas. O dissenso do paciente ou de sua defesa técnica pode, de fato, figurar como legítimo obstáculo ao conhecimento da impetração, notadamente em casos em que, por exemplo, o HC possa ser manejado com desvio de finalidade, tendo por escopo tão somente conferir notoriedade ao impetrante ou, ainda que não intencionalmente, a impetração possa acarretar atropelo da estratégia defensiva e submissão precoce de teses defensivas ao crivo do Estado-Juiz. Registre-se que, a Segunda Turma STF, em impetrações formalizadas por terceiros alheios à defesa técnica que patrocina os interesses do paciente, tem afirmado o não conhecimento de habeas corpus que possam, ainda que indireta e não deliberadamente, desvirtuar a função protetiva da referida garantia constitucional e acarretar prejuízos ao desenvolvimento das atividades da defesa técnica constituída. PEDRINA, Gustavo et al. Habeas Corpus no Supremo Tribunal Federal. São Paulo (SP): Editora Revista dos Tribunais. 2019. (...)É por essa razão que o Supremo Tribunal Federal, em situações como a que se registra nestes autos, tem decidido, com apoio no preceito regimental mencionado, que “Não se deve conhecer do pedido de ‘habeas corpus’, quando este, ajuizado originariamente perante o Supremo Tribunal Federal, é desautorizado pelo próprio paciente (RISTF, art. 192, parágrafo único)...” (RTJ 161/475, Rel. Min. CELSO DE MELLO) 46 REGIMENTO INTERNO STF Art. 192. Quando a matéria for objeto de jurisprudência consolidada do Tribunal, o Relator poderá desde logo denegar ou conceder a ordem, ainda que de ofício, à vista da documentação da petição inicial ou do teor das informações. (...) § 3o Não se conhecerá de pedido desautorizado pelo paciente. Ademais, cumpre destacar que, consoante o art. 654 CPP e a jurisprudência consolidada, o Ministério Público dispõe de legitimidade ativa ‘ad causam’ para ajuizar, em favor de terceiros, a ação de ‘habeas corpus’. _______________________________________________________________________ 29. Luigi e Filippo, funcionários públicos, foram indiciados formalmente em inquérito policial pelos crimes de estelionato, corrupção e lavagem de dinheiro. O Ministério Público, quando do oferecimento da denúncia, constatou que não havia bens no patrimônio de Luigi relativos ao produto ou proveito dos crimes, sendo que seus bens foram localizados no exterior. Filippo, por sua vez, tinha patrimônio totalmente incompatível com seus ganhos lícitos, em valores superiores ao produto ou proveito dos crimes. Diante desse contexto, é CORRETO afirmar que: (A) o Ministério Público poderá requerer o sequestro alargado dos bens de Luigi; (B) o juiz, quando da sentença condenatória, poderá decretar de ofício a perda alargada dos bens de Filippo; (C) o Ministério Público poderá requerer o sequestro pelo equivalente dos bens de Filippo; (D) o juiz, quando da sentença condenatória, poderá decretar de ofício a perda alargada dos bens de Luigi; (E) o Ministério Público poderá requerer o sequestro pelo equivalente dos bens de Luigi. _______________________________________________________________________ GABARITO: E COMENTÁRIOS A prática de uma infração penal não apenas desencadeia a pretensão punitiva do Estado, mas também pode resultar em danos patrimoniais à vítima, conferindo-lhe o direito ao correspondente ressarcimento. Esse ressarcimento pode ser obtido de diversas maneiras: 47 • Voluntariamente, quando o agressor, sem a necessidade de uma ação judicial, opta por reparar o dano patrimonial causado pela infração penal; • Nos Juizados Especiais Criminais, em casos de infrações de menor potencial ofensivo, por meio da composição dos danos cíveis, conforme o art. 74 da Lei 9.099/1995; • Por aceitação da proposta de suspensão condicional do processo, conforme o art. 89 da Lei 9.099/1995, sendo a reparação do dano cível uma condição obrigatória; • Por meio de busca e apreensão, quando são confiscados os produtos do crime. Na ausência de acordo para a reparação do prejuízo por meio dessas formas, a vítima tem a opção de recorrer à via judicial, utilizando o direito de ação como meio de compelir o autor do dano a reparar o prejuízo. Nesse caso, a lei oferece duas alternativas: 1) AÇÃO DE EXECUÇÃO EX DELICTO 2) AÇÃO CIVIL EX DELICTO Aguardar o trânsito em julgado da sentença penal condenatória para, posteriormente, executá-la no âmbito cível. Arts. 63 do CPP; 515, VI, do CPC 2015; e 91, I, do CP. Ingressar imediatamente com uma ação de indenização na esfera cível. Com fulcro no art. 64 do CPP, para obter um título executivo que viabilize a reparação do prejuízo. Se a escolha recair sobre a primeira opção (ação de execução ex delicto, com base no art. 63 do CPP), o interessado não pode utilizar o Código de Processo Civil para garantir os bens do autor do crime e impedir que ele os alienasse antes do término da ação penal. Isso ocorre porque, conforme o regimento desse diploma, as tutelas cautelares requerem a existência de uma ação principal já em curso ou a ser ajuizada no prazo máximo de trinta dias após a efetivação da cautela, como estabelece o art. 308, caput, 1.ª parte, do CPC/2015. Isso não é o desejado pelo lesado, que, como mencionado, aguarda o trânsito em julgado da decisão na esfera penal. Nesse cenário, surgem as medidas assecuratórias como autênticas ações cautelares previstas no CPP. Essas medidas têm o propósito de garantir que a vítima possa reaver seu prejuízo por meio do patrimônio do réu, caso este não efetue o ressarcimento de forma voluntária, e assegurar que o condenado perca todos os bens adquiridos com os proventos da prática criminosa. O sequestro,como primeira medida assecuratória regulada pelo CPP, desempenha um papel crucial ao reter os bens móveis e imóveis do indiciado ou acusado, mesmo que estejam em posse de terceiros, quando adquiridos com o proveito da infração penal. Essa medida visa evitar que o detentor desses bens os dissipe durante o curso da ação 48 penal, garantindo assim a indenização da vítima ou impedindo que o agente obtenha lucro com a atividade criminosa, conforme estipulado pelo art. 125 do CPP. O sequestro não apenas impede o enriquecimento ilícito do imputado, mas também assegura os efeitos extrapenais da sentença condenatória transitada em julgado, tais como a reparação do dano causado pela infração penal e a perda dos bens adquiridos com os proventos do crime, conforme previsto no art. 91, I e II, b, 2.ª parte, do Código Penal. O SEQUESTRO GARANTE OS EFEITOS EXTRAPENAIS DA SENTENÇA CONDENATÓRIA, MAS É IMPORTANTE DESTACAR QUE NÃO SE CONFUNDE COM ELES. Esta medida se destina a recolher os proventos do crime, representando tudo o que o agente adquiriu utilizando os ganhos ilícitos, como carros, joias, apartamentos e terrenos adquiridos com o dinheiro subtraído da vítima. Se não houver ofendido buscando indenização, os proventos do delito são confiscados pela União, nos termos do art. 91, II, b, do Código Penal. O sequestro pode ser solicitado tanto durante o processo criminal quanto na fase anterior a este, conforme estabelece o art. 127 do CPP. Não é necessário a existência de inquérito policial, como expresso pelo legislador. Para que o sequestro seja determinado, é imprescindível a existência de indícios veementes da origem ilícita dos bens, como previsto no art. 126 do CPP. Esses indícios são meios indiretos de prova, conforme a definição do art. 239 do CPP. O ingresso dessa medida não exige prova plena, mas requer indícios fortes de que o bem sequestrado foi adquirido com os proventos da infração penal. O art. 127 do CPP especifica que o sequestro pode ser solicitado pelo Ministério Público, pelo ofendido, seu representante legal ou herdeiros (se morto). A autoridade policial também pode representar ao juiz pela necessidade de sequestro na fase investigatória. Recentemente, a Lei 13.367/2016 introduziu a possibilidade de o presidente de Comissão Parlamentar de Inquérito, com a aprovação desta, solicitar medidas cautelares necessárias, incluindo o sequestro, ao juízo criminal competente quando houver indícios veementes da proveniência ilícita de bens, conforme o art. 3.º-A da Lei 1.579/1952. O art. 127 também prevê a possibilidade de o juiz ordenar o sequestro de ofício, independentemente de provocação, em qualquer fase do processo ou antes de oferecida a denúncia ou a queixa. Apesar dessa previsão, a prática doutrinária e jurisprudencial tem se inclinado a coibir a atuação de ofício pelo juiz na fase investigativa, considerando que essa etapa se destina naturalmente à produção de provas para a ação penal. Diante dessa explanação, é importante destacar a distinção entre o sequestro e a busca e apreensão. O sequestro de bens móveis ocorre em relação às coisas adquiridas com o provento da prática criminosa (produto indireto do ilícito), enquanto a busca e apreensão se aplica às coisas obtidas diretamente por meios criminosos e instrumentos do crime (produto direto do ilícito). Por exemplo, o sequestro é apropriado quando 49 alguém, após cometer um crime, adquire patrimônio em valor equivalente ao obtido ilegalmente, omitindo esse bem da declaração de bens junto à Receita Federal. Por outro lado, se o crime envolver o furto de um carro que é posteriormente localizado em uma garagem, a busca e apreensão é a medida adequada, pois o veículo é o produto direto do ilícito. MAS ATENÇÃO! O que seria o sequestro por equivalência narrado no enunciado? O sequestro por equivalência, também conhecido como sequestro subsidiário, constitui uma exceção ao pressuposto básico do sequestro assecuratório (art. 125 caput do CPP), que impõe a medida sobre bens ilícitos, ou seja, aqueles provenientes direta ou indiretamente de infrações penais. O termo “subsidiário” reflete o caráter alternativo da medida, aplicada quando há dificuldade ou frustração na localização dos bens originados do crime. Essa medida tem cabimento quando os produtos ou o proveito do crime não forem localizados ou estiverem no exterior. Nessas hipóteses, o sequestro poderá recair sobre bens ou valores de origem lícita que possuam valor equivalente ao benefício obtido por meio do delito. De maneira análoga – embora o instituto não se confunda com o sequestro por equivalência – a “perda de bens pelo equivalente” ocorre ao término do processo, efeito da sentença penal condenatória, quando não se localizam os produtos ou benefícios ilícitos, acarretando o confisco de bens e valores legítimos com valor correspondente aos obtidos pelo crime. Esses institutos foram introduzidos no ordenamento jurídico brasileiro com a Lei nº 12.694/2012, que adicionou os §§1º e 2º ao art. 91 do Código Penal. Antes dessa inovação, o sequestro e a perda de bens frequentemente fracassavam, justamente pela dificuldade de localizar ativos que eram destinados a paraísos fiscais ou utilizados na lavagem de dinheiro. (A) INCORRETA. O CONFISCO ALARGADO não se confunde com o sequestro. O confisco é a perda de bens ou perdimento. Visa neutralizar os lucros e restaurar o status anterior à prática delitiva, como forma de impedir e desestimular a reincidência. Requer expressa declaração do perdimento na sentença condenatória. O Código Penal prevê̂ três modalidades, que constituem efeitos da condenação criminal: 1. Confisco genérico (art. 91, II, do CP); 2. Confisco por equivalente (art. 91, §§ 1º e 2º, do CP); 3. Confisco alargado (art. 91-A do CP). Já o sequestro é uma medida constritiva CAUTELAR voltada para a retenção de bens móveis e imóveis do indiciado ou acusado, ainda que em poder de terceiros, quando adquiridos com PROVENTOS de crime, para que não se desfaça deles DURANTE O CURSO DA AÇÃO PENAL. O objetivo é assegurar a indenização da vítima ou impossibilitar que o agente fique com o lucro da atividade criminosa. 50 (B) e (D) INCORRETAS. O Pacote Anticrime introduziu no Código Penal o art. 91-A, que regula o chamado confisco alargado – também conhecido como confisco ampliado ou perda alargada – uma medida que, como efeito secundário da sentença penal condenatória, permite a apreensão de bens equivalentes ao produto ou ao proveito do crime. Importante ressaltar que O JUIZ NÃO PODE DECRETAR A PERDA ALARGADA DE BENS DE OFÍCIO. Essa medida deve ser solicitada expressamente pelo Ministério Público no momento do oferecimento da denúncia, acompanhado da indicação da diferença patrimonial apurada. Por sua vez, o condenado tem a oportunidade de demonstrar a inexistência de incompatibilidade ou comprovar a origem lícita do patrimônio, conforme estabelecido no art. 91-A, §§2º e 3º, do Código Penal. (C) INCORRETA. Para Filippo, o Ministério Público poderia ter requerido o confisco alargado, e não o confisco por equivalência, uma vez que seu patrimônio era manifestamente incompatível com seus ganhos lícitos. O confisco alargado não se confunde com o confisco por equivalência, inserido nos §§ 1° e 2° do art. 91 pela Lei 12.694/12. O primeiro se caracteriza por uma extensão do perdimento a bens que, embora não estejam ligados diretamente ao crime que está sendo julgado, de alguma forma provêm de atividades ilegais, tanto que seu conjunto é incompatível com o rendimento lícito do condenado. Já o segundo se impõe nas situações em que o produto ou o proveito direto do crime julgado não é encontrado ou se localiza no exterior, quando então se autoriza a medida sobre bens equivalentes que possam constituir o patrimônio lícito do condenado, como no caso de Luigi. (E) CORRETA. Como vimos, o sequestro é uma medida cautelar real que incide sobre bensou valores equivalentes proveito do crime, com o objetivo de possibilitar, dentre outros efeitos, a posterior decretação de sua perda em favor da União, conforme os artigos 125 e seguintes do CPP e o disposto no art. 91, §2º, do CP. No que se refere à perda pelo equivalente, trata-se de um efeito da condenação que resulta no confisco dos instrumentos ou produtos do crime, conforme os termos do art. 91, inciso II, alíneas "a" e "b", e do §1º do CP. Tais medidas, entretanto, somente são aplicáveis quando os produtos ou o proveito do crime não forem localizados ou estiverem no exterior. Nesse sentido, estabelece o CP: Art. 91, § 1o , CP - Poderá ser decretada a perda de bens ou valores equivalentes ao produto ou proveito do crime quando estes não forem encontrados ou quando se localizarem no exterior. § 2o Na hipótese do § 1o, as medidas assecuratórias previstas na legislação processual poderão abranger bens ou valores equivalentes do investigado ou acusado para posterior decretação de perda. _______________________________________________________________________ 51 30. Washington e Wellington foram denunciados pelos crimes de tráfico de armas e tráfico internacional de entorpecentes. Durante a instrução criminal, o Ministério Público não requereu que fossem juntados aos autos os laudos definitivos relativos às armas e às drogas apreendidas e, afirmando não haver prova segura da materialidade delitiva, opinou pela absolvição dos acusados em alegações finais. Nesse contexto, é CORRETO afirmar que o juiz: (A) não está vinculado ao pedido de absolvição formulado pelo Ministério Público, mas, em razão de sua imparcialidade, não poderá requisitar a juntada dos laudos faltantes aos autos; (B) está vinculado ao pedido de absolvição formulado pelo Ministério Público, pois este é o titular da ação penal e desta desistiu formalmente; (C) não está vinculado ao pedido de absolvição formulado pelo Ministério Público e desfruta de poderes instrutórios para requisitar a juntada dos laudos faltantes aos autos; (D) está vinculado ao pedido de absolvição formulado pelo Ministério Público, se este pedido for ratificado pela defesa dos acusados em suas alegações finais; (E) não está vinculado ao pedido de absolvição formulado pelo Ministério Público, devendo, porém, extinguir o feito sem análise do mérito diante da preclusão probatória. _______________________________________________________________________ GABARITO: C COMENTÁRIOS O artigo 385 do CPP estabelece que o juiz não está vinculado ao pedido de absolvição feito pelo MP nas alegações finais, permitindo que profira sentença condenatória se entender que existem elementos suficientes nos autos que comprovem a responsabilidade penal do acusado. Em recente decisão, o ministro Rogério Schietti, do STJ, afirmou que este dispositivo está em harmonia com o sistema acusatório adotado no Brasil e não foi tacitamente revogado pela Lei 13.964/2019 (Pacote Anticrime), que introduziu o artigo 3º-A ao CPP, o qual reforça os limites do sistema acusatório. Segundo o entendimento do STJ, a manifestação do MP, ainda que favorável à absolvição, não descaracteriza a pretensão acusatória inicialmente formulada na denúncia. O promotor de justiça, ao opinar pela absolvição, não "desiste" da ação penal, mas exerce seu papel no processo, que abrange tanto a busca pela condenação quanto pela absolvição, se esta se revelar a medida justa. Assim, a independência funcional da magistratura é preservada, permitindo ao juiz analisar de forma plena os elementos probatórios constantes nos autos e decidir com base no princípio da busca pela verdade real. O princípio da correlação obriga o magistrado a se vincular aos fatos descritos na denúncia, mas não às interpretações jurídicas ou pedidos formulados pelas partes. Exigir 52 que o juiz siga, obrigatoriamente, o pedido do MP pela absolvição subverteria a estrutura acusatória, pois retiraria do julgador sua independência para avaliar os fatos e provas de forma imparcial, solapando a indelegabilidade e a indeclinabilidade da jurisdição. ADPF 1122: A questão também está sendo discutida no STF por meio da ADPF 1122, ajuizada pela Anacrim, que argumenta que permitir ao juiz decidir contrariamente ao pedido de absolvição do MP afrontaria o sistema acusatório e a paridade de armas entre acusação e defesa. O caso, que tramita sob a relatoria do ministro Edson Fachin, busca um pronunciamento definitivo sobre a interpretação do artigo 385 do CPP e sua compatibilidade com os princípios constitucionais. _______________________________________________________________________ 31. Ruy e Rodrigo, servidores públicos federais, foram vítimas do crime de injúria racial praticado por Rafael, que foi formalmente indiciado em inquérito policial. Os autos do inquérito foram relatados e remetidos ao Ministério Público, que, no prazo legal, entendeu pela atipicidade da conduta de Rafael e decidiu promover o arquivamento do feito, notificando as vítimas, a autoridade policial e o juízo. Passados três meses da notificação, Ruy ajuizou ação penal subsidiária da pública em face de Rafael, sendo que Rodrigo não tomou qualquer providência. Diante desse contexto, a ação penal subsidiária: (A) poderá ser recebida pelo juízo em razão de o crime ser imprescritível e não ter ocorrido a decadência; (B) não poderá ser recebida pelo juízo, pois houve renúncia ao direito de queixa por parte de Rodrigo; (C) poderá ser recebida pelo juízo, pois o Ministério Público não ajuizou a ação penal, que é pública incondicionada; (D) não poderá ser recebida pelo juízo, pois o Ministério Público promoveu o arquivamento no prazo legal; (E) não poderá ser recebida pelo juízo, pois houve a perempção do direito de queixa subsidiária por parte de Ruy. _______________________________________________________________________ GABARITO: D COMENTÁRIOS Quando o Ministério Público requer o arquivamento do inquérito policial, não se verifica qualquer inércia ou desídia na atuação ministerial, de modo que não há espaço para a propositura de ação penal privada subsidiária da pública. 53 Ademais, no caso narrado, a ação penal é pública incondicionada, pois a Lei nº 14.532, ao equiparar a injúria racial ao crime de racismo, suprimiu a exigência de representação prévia. A imprescritibilidade dessa modalidade permanece inalterada, uma vez que o STF já a reconhecera como forma de racismo, e o legislador apenas reforçou esse entendimento consolidado em nossa jurisprudência. Caso o aluno deseje revisar, sobre o arquivamento do inquérito policial: A Lei nº 13.964/2019 alterou a redação do art. 28 do CPP, que tem atualmente a seguinte redação: Art. 28. Ordenado o arquivamento do inquérito policial ou de quaisquer elementos informativos da mesma natureza, o órgão do Ministério Público comunicará à vítima, ao investigado e à autoridade policial e encaminhará os autos para a instância de revisão ministerial para fins de homologação, na forma da lei. § 1º Se a vítima, ou seu representante legal, não concordar com o arquivamento do inquérito policial, poderá, no prazo de 30 (trinta) dias do recebimento da comunicação, submeter a matéria à revisão da instância competente do órgão ministerial, conforme dispuser a respectiva lei orgânica. § 2º Nas ações penais relativas a crimes praticados em detrimento da União, Estados e Municípios, a revisão do arquivamento do inquérito policial poderá ser provocada pela chefia do órgão a quem couber a sua representação judicial. O STF atribuiu interpretação conforme à Constituição ao dispositivo para assentar que: 1) Mesmo sem previsão legal expressa, o MP possui o dever de submeter a sua manifestação de arquivamento à autoridade judicial. Assim, ao se manifestar pelo arquivamento do inquérito policial ou de quaisquer elementos informativos da mesma natureza, o órgão do MinistérioPúblico submeterá sua manifestação ao juiz competente e comunicará à vítima, ao investigado e à autoridade policial. 2) Não existe uma obrigatoriedade de o MP encaminhar os autos para o PGJ (MPE) ou para a Câmaras de Coordenação e Revisão (MPF). Segundo decidiu o STF, o membro do Ministério Público poderá encaminhar os autos para o Procurador-Geral ou para a instância de revisão ministerial, quando houver, para fins de homologação, na forma da lei. 54 3) Mesmo sem previsão legal expressa, o juiz pode provocar o PGJ ou a CCR caso entenda que o arquivamento é ilegal ou teratológico. Desse modo, além da vítima ou de seu representante legal, a autoridade judicial competente também poderá submeter a matéria à revisão da instância competente do órgão ministerial, caso verifique patente ilegalidade ou teratologia no ato do arquivamento. Se o juiz entender que a manifestação de arquivamento foi correta, ele não precisa proferir decisão homologatória. Basta se manter inerte. STF. Plenário. ADI 6.298/DF, ADI 6.299/DF, ADI 6.300/DF e ADI 6.305/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgados em 24/08/2023 (Info 1106). Pela interpretação dada pelo STF, verifica-se uma mescla entre o “antigo” art. 28 (anterior ao “Pacote Anticrime”) e o “novo” art. 28 (aquele com a redação dada pelo “Pacote Anticrime”). É que, de um lado, retomou-se a sistemática do “antigo” art. 28 do CPP no sentido de autorizar ao juiz, de alguma forma, o controle do arquivamento do inquérito policial promovido pelo Ministério Público. De outro lado, adota-se a previsão do “novo” art. 28 do CPP quando se estabelece que o arquivamento do inquérito é providência que emana da manifestação do Ministério Público, a qual NÃO DEPENDERÁ MAIS DE UMA DECISÃO JUDICIAL HOMOLOGATÓRIA para produzir efeitos. Nesse passo, a manifestação ministerial deverá ser comunicada pela instituição ao delegado, ao investigado e à vítima. Porém, apesar do silêncio da lei, o STF acrescentou que o Ministério Público deverá submeter sua manifestação de arquivamento ao juiz competente, o qual irá analisá-la. Tanto a VÍTIMA quanto o MAGISTRADO podem provocar, de modos e por fundamentos distintos, o órgão superior do Parquet a rever o ato. Ao ser informada pelo Ministério Público do arquivamento promovido pelo órgão, a vítima terá o prazo de 30 (trinta) dias para impugnar este ato perante a instância de revisão ministerial, por meio de um simples “recurso administrativo” (ou “recurso inominado” ou ainda “pedido de reexame”), sem qualquer necessidade de externar os motivos da sua impugnação, podendo inclusive afirmar que apresenta a sua irresignação tão somente porque não concorda com o arquivamento. Por sua vez, o juiz competente (em regra, o juiz das garantias) analisará a manifestação ministerial de arquivamento. Se ele concordar com tal manifestação, não irá proferir qualquer decisão (homologatória), devendo apenas ficar inerte; ou seja, o magistrado irá aceitar o arquivamento. Não há mais, portanto, pedido de arquivamento formulado pelo Ministério Público e dirigido ao juiz; LOGO, DEIXA DE 55 EXISTIR DECISÃO JUDICIAL HOMOLOGATÓRIA DE ARQUIVAMENTO, conforme o prof. Leonardo Barreto. Por outro lado, se discordar do arquivamento e desde que vislumbre patente ilegalidade ou teratologia no ato, SUBMETERÁ A MATÉRIA À INSTÂNCIA DE REVISÃO MINISTERIAL. Entende-se que o magistrado terá o mesmo prazo de 30 (trinta) dias atribuído à vítima para provocar o órgão superior do Parquet para rever o arquivamento. Ademais, ainda que o caput do art. 28 do CPP afirme que o arquivamento será “ordenado” pelo Ministério Público, na verdade, pelo que decidiu o STF, não há propriamente uma ordem, mas sim uma manifestação de arquivamento, que, para produzir efeitos, depende ou da não provocação da instância de revisão ministerial pela vítima e pelo juiz após 30 (trinta) dias, ou da confirmação (homologação) por essa instância, se ela for provocada pela vítima ou pelo magistrado. Tal manifestação, ao contrário também do texto expresso deste dispositivo, não será sempre encaminhada à instância de revisão ministerial pelo membro do Parquet que arquivou o inquérito; esse encaminhamento ocorrerá apenas e tão somente se houver provocação da instância de revisão ministerial por parte da vítima ou do juiz competente. Nessa esteira, no âmbito estadual, a instância de revisão ministerial será, em regra, o Procurador-Geral de Justiça, ou, excepcionalmente, se especificado em lei, outro órgão interno da instituição; no âmbito do Ministério Público Federal, serão as Câmaras de Coordenação e Revisão. _______________________________________________________________________ 32. Juan, Pablo e Oscar foram processados pelo Ministério Público pela prática dos crimes de associação criminosa e tráfico internacional de pessoas. Juan foi citado por edital e constituiu advogado em juízo para se defender; Pablo se encontra em lugar sabido na Bolívia e foi expedida carta rogatória para a sua citação; Oscar, por sua vez, foi citado pessoalmente, mas não apresentou resposta à acusação. Diante do contexto narrado, é CORRETO afirmar que: (A) o curso do processo e da prescrição não serão suspensos em relação a Juan e Oscar, sendo o curso da prescrição suspenso em relação a Pablo até o cumprimento da rogatória; (B) o curso do processo e da prescrição serão suspensos em relação a Juan e Pablo, seguindo o processo e o prazo prescricional, sem suspensões, em relação a Oscar; (C) o curso do processo e do prazo prescricional serão suspensos em relação a Pablo até o cumprimento da rogatória, sendo o curso do processo suspenso em relação a Juan e Oscar; (D) o curso da prescrição será interrompido em relação a Juan e Oscar e será suspenso em relação a Pablo até o cumprimento da carta rogatória; 56 (E) o curso do processo e da prescrição serão interrompidos em relação a Pablo até o cumprimento da rogatória, sendo o curso do processo suspenso em relação a Juan. _______________________________________________________________________ GABARITO: A COMENTÁRIOS No processo penal, há duas espécies de citação: 1. Citação real (pessoal): ocorre quando o acusado é comunicado diretamente, recebendo ele mesmo a intimação. Subespécies: a) Citação por mandado (art. 351); b) Citação por carta precatória (art. 353); c) Citação de militar (art. 358); d) Citação de funcionário público (art. 359); e) Citação de acusado preso (art. 360); f) Citação de acusado no estrangeiro (art. 368); g) Citação em legações estrangeiras (art. 369). 2. Citação ficta (presumida): ocorre quando o acusado não é encontrado para ser citado pessoalmente. Nesse caso, a lei presume que ele tomou ciência do processo desde que cumpridos requisitos legais. Subespécies: a) Citação por edital (art. 361); b) Citação por hora certa (art. 362). Caso prático narrado na questão: Quanto a Pablo: Pablo encontrava-se na Bolívia e será citado por carta rogatória. Neste caso, aplica-se o art. 368 do CPP, que determina a suspensão do prazo prescricional até o cumprimento da carta rogatória. O curso do processo não é suspenso, sendo que a suspensão se restringe apenas ao prazo prescricional. Art. 368 do CPP: "Estando o acusado no estrangeiro, em lugar sabido, será citado mediante carta rogatória, suspendendo-se o curso do prazo de prescrição até o seu cumprimento." Carta de ordem Carta rogatória Carta precatória Serve para que um Tribunal delegue a juízo Ocorre quando um juízo solicita que outro juízo Ocorre quando um juízo solicita que outro juízo, de 57 inferior “subordinado” a ele a prática de determinado ato processual. pratique determinado ato processual fora do país. igual hierarquia, pratique determinado ato processual, nos limites de sua competência, dentro do Brasil. Assim, estão INCORRETOS os itens (B), (C), (E). (A) CORRETA. Juan Pablo Oscar Citado por edital.Se encontra em lugar sabido na Bolívia e foi expedida carta rogatória. Citado pessoalmente. Constituiu advogado em juízo. Apenas o prazo prescricional fica SUSPENSO até o cumprimento da carta, não havendo suspensão do processo. Não apresentou resposta à acusação, processo segue. Juiz nomeará defensor para oferecê-la, concedendo-lhe vista dos autos por 10 (dez) dias. O curso do processo segue normalmente. Art. 368 do CPP: "Estando o acusado no estrangeiro, em lugar sabido, será citado mediante carta rogatória, suspendendo-se o curso do prazo de prescrição até o seu cumprimento." Art. 396-A, § 2o do CPP: ‘‘Não apresentada a resposta no prazo legal, ou se o acusado, citado, não constituir defensor, o juiz nomeará defensor para oferecê-la, concedendo- lhe vista dos autos por 10 (dez) dias. ‘’ (D) INCORRETA. Vide comentários anteriores. _______________________________________________________________________ DIREITO ECONÔMICO E DE PROTEÇÃO AO CONSUMIDOR 33. O juiz da 1ª Vara Federal de Recife identifica que, desde o final de 2023, multiplicaram-se exponencialmente os feitos distribuídos por diversos autores, 58 representados pelo mesmo advogado, em face de uma empresa pública de atuação no mercado bancário. Passa a exigir, então, a emenda da inicial para a juntada de procuração específica ao ajuizamento de cada demanda, bem como de todos os extratos de movimentação financeira dos autores no período questionado. Tudo a fim de que se demonstre a verossimilhança das alegações do consumidor em ordem a justificar a inversão do ônus da prova em seu favor, nos termos do Art. 6º, VIII, do CDC. Nesse caso, à luz do recente julgado do Superior Tribunal de Justiça, a decisão: (A) é acertada e vai ao encontro da tese repetitiva firmada, desde que fundamentada nos elementos de cada caso concreto; (B) não poderia influenciar na distribuição do ônus da prova; (C) embora seja escorreita no âmbito cível, não se sustenta no âmbito consumerista, em que vige o princípio de proteção à parte vulnerável; (D) é acertada e vai ao encontro da tese repetitiva firmada apenas quanto à exigência de apresentação de procuração específica, desde que fundamentada nos elementos de cada caso concreto; (E) é acertada e vai ao encontro da tese repetitiva firmada apenas quanto à exigência de apresentação dos extratos de movimentação financeira dos autores no período questionado, desde que fundamentada nos elementos de cada caso concreto. _______________________________________________________________________ GABARITO: A COMENTÁRIOS A questão apresentada tem como fundamento a tese firmada pela Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça no Tema 1.198 dos recursos repetitivos, que trata da atuação do magistrado diante de indícios de litigância abusiva. A tese repetitiva fixada estabelece que: “Constatados indícios de litigância abusiva, o juiz pode exigir, de modo fundamentado e com observância à razoabilidade do caso concreto, a emenda da petição inicial a fim de demonstrar o interesse de agir e a autenticidade da postulação, respeitadas as regras de distribuição do ônus da prova.” Tal entendimento teve origem no voto do ministro Moura Ribeiro, o qual alertou para o aumento de demandas massificadas que, embora sejam expressão legítima do direito de ação em sociedades de massa, vêm sendo utilizadas, em muitos casos, de forma fraudulenta ou abusiva. Essa situação gera impacto negativo na efetividade da prestação jurisdicional e compromete a política judiciária. Diante desse contexto, o STJ reconheceu a possibilidade de o magistrado exigir a apresentação de documentos complementares, como procuração específica atualizada, 59 extratos bancários, comprovantes de residência ou contratos, com o objetivo de verificar a existência de interesse processual e a verossimilhança das alegações, especialmente quando há indícios de uso indevido do processo judicial. A decisão do juiz da 1ª Vara Federal de Recife, descrita no enunciado da questão, alinha- se integralmente a essa orientação firmada pelo STJ, pois, ao identificar um possível padrão de litigância abusiva, exigiu fundamentadamente: • Procuração específica para cada demanda, respeitando o art. 682, IV, do Código Civil, que prevê a extinção do mandato após o cumprimento do negócio para o qual foi concedido; • Documentos que demonstrem a verossimilhança das alegações, em consonância com o art. 6º, VIII, do CDC e com o poder-dever do juiz de conduzir o processo com segurança e coerência. _______________________________________________________________________ 34. A sociedade empresária Delta, com sede e capital nacional, que se dedica às atividades de produção, programação e empacotamento de conteúdo utilizado em comunicação audiovisual de acesso condicionado, sugeriu que a Agência Nacional do Cinema (Ancine) editasse regulamentação sobre certa temática. De acordo com a proposta, seria vedada a oferta de canais, pelos programadores, que contivessem publicidade de serviços e produtos direcionados ao público brasileiro, com veiculação contratada no exterior, salvo se elaborada por meio de agência de publicidade nacional. Ao analisar a proposta de regulamentação, a Ancine concluiu CORRETAMENTE que: (A) a matéria, com os contornos almejados, já está disciplinada em lei, não precisando ser reproduzida em regulamento; (B) a regulação das atividades de programação e empacotamento de conteúdo não é de competência da Ancine; (C) a proposta afronta a isonomia, além de não estar lastreada em justificativa que indique a vulnerabilidade das empresas brasileiras de publicidade; (D) a proposta é mero desdobramento da exigência de que as atividades de seleção e distribuição da programação sejam privativas de brasileiros natos ou naturalizados há mais de dez anos; (E) a atuação de operadores estrangeiros na produção, programação e empacotamento de conteúdo direcionado ao público brasileiro pressupõe autorização específica, que deve prever, a contrario sensu, a restrição proposta por Delta. _______________________________________________________________________ GABARITO: C COMENTÁRIOS 60 O enunciado origina-se na ADI 4747/DF. A Lei n. 12.485/2011 — marco regulatório da “comunicação audiovisual de acesso condicionado” (TV por assinatura) — estabelece, em seu art. 9º, que as atividades de programação e de empacotamento serão reguladas e fiscalizadas pela Agência Nacional do Cinema (ANCINE). Já o art. 25 proibia expressamente a oferta, em território nacional, de canais de TV por assinatura que veiculassem publicidade comercial dirigida ao público brasileiro, caso essa propaganda fosse contratada no exterior por agência de publicidade estrangeira. O Supremo Tribunal Federal, contudo, declarou esse dispositivo inconstitucional por violar o princípio da isonomia (art. 5º, caput, CF). Para o Plenário, o tratamento diferenciado só se justifica por motivos jurídicos razoáveis, sempre passíveis de controle judicial em razão da inafastabilidade da jurisdição. Ao conferir às empresas brasileiras exclusividade absoluta — e não mera preferência percentual — sem estabelecer prazo ou apresentar justificativa concreta sobre a vulnerabilidade das agências nacionais, o art. 25 ultrapassou o limite da discricionariedade legislativa, tornando-se incompatível com a igualdade prevista na Constituição. Nesse sentido: 1. A revisão judicial de marcos regulatórios editados pelo legislador requer uma postura de autocontenção em respeito tanto à investidura popular que caracteriza o Poder Legislativo quanto à complexidade técnica inerente aos temas a que o Poder Judiciário é chamado a analisar pela ótica estrita da validade jurídica. 2. A competência legislativa do Congresso Nacional para dispor sobre telecomunicações (CRFB, art. 22, IV) e para disciplinar os princípios constitucionaisincidentes sobre a produção e a programação das emissoras de rádio e televisão (CRFB, art. 221 e art. 222, §5º) confere autoridade ao Poder Legislativo para, sponte propria, criar ou modificar marcos regulatórios setoriais, no que estão abarcados poderes para adaptar as instituições vigentes de modo a garantir a efetividade das novas regras jurídicas. 3. In casu, os artigos 10, 12, 13, 19, § 3°, 21, 22, 25, §1°, 31, caput, 36 e 42 da Lei nº 12.485/11 se limitaram a indicar a autoridade do Estado encarregada de zelar pelo cumprimento da novel disciplina normativa aplicável ao serviço de acesso condicionado, em tudo harmônica com as regras de competência definidas na legislação até então vigente (MP nº 2.228-1/01), emanada do próprio Poder Executivo. Inexistência de vício formal de constitucionalidade a ponto de justificar a glosa judicial da Lei nº 12.485/11 com fulcro no art. 61, §1º, “e”, da CRFB. 4. As diretrizes constitucionais antitruste (CRFB, arts. 173, §4º e 220, §5º), voltadas a coibir o abuso do poder econômico e a evitar a concentração excessiva dos mercados, permitem combater a ineficiência econômica e a injustiça comutativa que tendem a florescer em regimes de 61 monopólio e oligopólio. No setor audiovisual, prestam-se também a promover a diversificação do conteúdo produzido, impedindo que o mercado se feche e asfixie a manifestação de novos entrantes. 5. In casu, as restrições à propriedade cruzada (art. 5º, caput e §1º), bem como a vedação à verticalização da cadeia de valor do audiovisual (art. 6º, I e II), todas introduzidas pela Lei nº 12.485/11, pretendem, de forma imediata, concretizar os comandos constitucionais inscritos no art. 170, §4º e 220, §5º, da Lei Maior; bem como realizam, de forma mediata, a dimensão objetiva do direito fundamental à liberdade de expressão e de informação, no que tem destaque o papel promocional do Estado no combate à concentração do poder comunicativo. Inexistência de ofensa material à Carta da República. 6. A moderna concepção do princípio da legalidade, em sua acepção principiológica ou formal axiológica, chancela a atribuição de poderes normativos ao Poder Executivo, desde que pautada por princípios inteligíveis (intelligible principles) capazes de permitir o controle legislativo e judicial sobre os atos da Administração. 7. In casu, os arts. 9º, parágrafo único, 21 e 22 da Lei nº 12.485/11, apesar de conferirem autoridade normativa à Agência Nacional do Cinema (ANCINE), estão acompanhados por parâmetros aptos a conformar a conduta de todas as autoridades do Estado envolvidas na disciplina do setor audiovisual brasileiro (ex vi do art. 3º da Lei do SeAC), impedindo que qualquer delas se transforme em órgão titular de um pretenso poder regulatório absoluto. Não ocorrência de violação material à Carta da República. 8. A Constituição de 1988 não estabeleceu qualquer regra jurídica que interdite a distinção entre brasileiro e estrangeiro, ao contrário do que acontece com a situação do brasileiro nato e do naturalizado, para a qual há explícita reserva constitucional acerca das hipóteses de tratamento diferenciado (CRFB, art. 12, §2º). Destarte, é juridicamente possível ao legislador ordinário fixar regimes distintos, desde que, em respeito ao princípio geral da igualdade (CRFB, art. 5º, caput), revele fundamento constitucional suficiente para a discriminação, bem como demonstre a pertinência entre o tratamento diferenciado e a causa jurídica distintiva. 9. In casu, o art. 10, caput e §1º, da Lei nº 12.485/11, ao restringir a gestão, a responsabilidade editorial e as atividades de seleção e direção inerentes à programação e ao empacotamento a brasileiros natos ou naturalizados há mais de 10 (dez) anos, representou típica interpretação legislativa evolutiva do comando constitucional encartado no art. 222, §2º, da Lei Maior, de todo condizente com os vetores axiológicos que informam, no plano constitucional, a atividade de comunicação de massa, dentre os quais a preservação da soberania e identidade nacionais, o pluralismo informativo e a igualdade 62 entre os prestadores de serviço a despeito da tecnologia utilizada na atividade. 10. O poder de polícia administrativa manifesta-se tanto preventiva quanto repressivamente, traduzindo-se ora no consentimento prévio pela Administração Pública para o exercício regular de certas liberdades, ora no sancionamento do particular em razão do descumprimento de regras materiais aplicáveis à atividade regulada. Em qualquer caso, a ingerência estatal (fiscalizatória e punitiva) exsurge como garantia da efetividade da disciplina jurídica aplicável. 11. In casu, os arts. 12 e 13 da Lei nº 12.485/11 simplesmente fixam deveres instrumentais de colaboração das empresas para fins de permitir a atividade fiscalizatória da ANCINE quanto ao cumprimento das novas obrigações materiais a que estão sujeitos todos os agentes do mercado audiovisual. Já o art. 31, caput, §§1º e 2º, da Lei nº 12.485/11 consubstancia engenhosa estratégia do legislador para conduzir as empacotadoras ao credenciamento exigido pela nova disciplina normativa, bem como induzir o cumprimento das respectivas cotas de conteúdo nacional. Ausência de quaisquer vícios que justifiquem declaração de inconstitucionalidade do modelo regulatório. 12. A legitimidade constitucional de toda intervenção do Estado sobre a esfera jurídica do particular está condicionada à existência de uma finalidade lícita que a motive, bem como ao respeito ao postulado da proporcionalidade, cujo fundamento deita raízes na própria noção de princípios jurídicos como mandamentos de otimização (ALEXY, Robert. Teoria dos Direitos Fundamentais. Trad. Virgílio Afonso da Silva. São Paulo: Malheiros, 2011, p. 116). 13. In casu, os arts. 16, 17, 18, 19, 20, 23 da Lei nº 12.485/11, ao fixarem “cotas de conteúdo nacional” para canais e pacotes de TV por assinatura, promovem a cultura brasileira e estimulam a produção independente, dando concretude ao art. 221 da Constituição e ao art. 6º da Convenção Internacional sobre a Proteção e Promoção da Diversidade das Expressões Culturais (Decreto nº 6.177/2007). A intervenção estatal revela-se, ademais, (i) adequada, quando relacionada ao fim a que se destina, (ii) necessária, quando cotejada com possíveis meios alternativos e (iii) proporcional em sentido estrito, quando sopesados os ônus e bônus inerentes à medida restritiva. 14. O art. 24 da Lei nº 12.485/11, que fixou limites máximos para a publicidade comercial na TV por assinatura, encontra-se em harmonia com o dever constitucional de proteção do consumidor (CRFB, art. 170, V), máxime diante do histórico quadro registrado pela ANATEL de reclamações de assinantes quanto ao volume de publicidade na grade de programação dos canais pagos. 15. O princípio constitucional da igualdade (CRFB, art. 5º, caput), enquanto regra de ônus argumentativo, exige que o tratamento diferenciado entre indivíduos seja acompanhado de causa jurídica suficiente para 63 amparar a discriminação, cujo exame de consistência, embora preserve um espaço de discricionariedade legislativa, é sempre passível de aferição judicial (CRFB, art. 5º , XXXV). 16. In casu, o art. 25 da Lei nº 12.485/11 proíbe a oferta de canais que veiculem publicidade comercial direcionada ao público brasileiro contratada no exterior por agência de publicidade estrangeira, estabelecendo (i) uma completa exclusividade em proveito das empresas brasileiras (e não apenas preferência percentual), (ii) sem prazo para ter fim (ex vi do art. 41 da Lei do SeAC) e (iii) despida de qualquer justificação que indique a vulnerabilidade das empresas brasileiras de publicidade. Inconstitucionalidade do art. 25 da Lei nº 12.485/11 por violação ao princípio constitucional da isonomia (CRFB, art. 5º, caput). 17. O dever constitucional de licitar (CRFB, art. 37, XXI) somente incide nas hipóteses em que o acesso de particularesa alguma situação jurídica de vantagem relacionada ao Poder Público não possa ser universalizada. Destarte, descabe cogitar de certame licitatório quando a contratação pública não caracterizar escolha da Administração e todo cidadão possa ter acesso ao bem pretendido. Ademais, no campo das telecomunicações, é certo que a Constituição admite a outorga do serviço mediante simples autorização (CRFB, art. 21, XI). 18. In casu, o art. 29 da Lei nº 12.485/11 viabiliza que a atividade de distribuição do serviço de acesso condicionado seja outorgada mediante autorização administrativa, sem necessidade de prévio procedimento licitatório, o que se justifica diante da nova e abrangente definição do SeAC (art. 2º, XXIII, da Lei nº 12.485/11), apta a abarcar todas as possíveis plataformas tecnológicas existentes (e não apenas cabos físicos e ondas de radiofrequência), bem como diante da qualificação privada recebida pela atividade no novo marco regulatório da comunicação audiovisual. Inexistência de ofensa material à Constituição de 1988. 19. O art. 32, §§ 2º, 13 e 14, da Lei nº 12.485/11, ao impor a disponibilidade gratuita dos canais de TV aberta às distribuidoras e às geradoras de programação da TV por assinatura, não ofende a liberdade de iniciativa nem os direitos de propriedade intelectual, porquanto o serviço de radiodifusão é hoje inteiramente disponibilizado aos usuários de forma gratuita. A Lei do SeAC apenas replicou, no âmbito do serviço de acesso condicionado, a lógica vigente na televisão aberta. 20. O art. 36 da Lei nº 12.485/11, ao permitir o cancelamento do registro de agente econômico perante a ANCINE por descumprimento de obrigações legais, representa garantia de eficácia das normas jurídicas aplicáveis ao setor, sendo certo que haveria evidente contradição ao se impedir o início da atividade sem o registro (por não preenchimento originário das exigências legais) e, ao mesmo tempo, permitir a continuidade de sua exploração quando configurada a perda 64 superveniente da regularidade. Destarte, a possibilidade de cancelamento do registro é análoga à do seu indeferimento inicial, já chancelada nos itens 10 e 11 supra. 21. A existência de um regime jurídico de transição justo, ainda que que consubstancie garantia individual diretamente emanada do princípio constitucional da segurança jurídica e da proteção da confiança legítima (CRFB, art. 5º, XXXVI), não impede a redefinição e a atualização dos marcos regulatórios setoriais, tão caras à boa ordenação da vida em sociedade. 22. In casu, o art. 37, §§ 6º, 7º e 11, da Lei nº 12.485/11, ao fixar regras sobre a renovação das outorgas após o fim do respectivo prazo original de vigência e regras pertinentes às alterações subjetivas sobre a figura do prestador do serviço, é constitucionalmente válido ante a inexistência, ab initio, de direito definitivo à renovação automática da outorga, bem como da existência de margem de conformação do legislador para induzir os antigos prestadores a migrem para o novo regime. 23. O art. 37, §§ 1º e 5º, da Lei nº 12.485/11, ao vedar o pagamento de indenização aos antigos prestadores do serviço em virtude das novas obrigações não previstas no ato de outorga original, não viola qualquer previsão constitucional, porquanto, em um cenário contratual e regulatório marcado pela liberdade de preços, descabe cogitar de qualquer indenização pela criação de novas obrigações legais (desde que constitucionalmente válidas). Eventuais aumentos de custos que possam surgir deverão ser administrados exclusivamente pelas próprias empresas, que tanto podem repassá-los aos consumidores quanto retê-los em definitivo. Impertinência da invocação do equilíbrio econômico e financeiro dos contratos administrativos (CRFB, art. 37, XXI). 24. Conclusão. Relativamente à ADI 4679, julgo o pedido procedente em parte, apenas para declarar a inconstitucionalidade material do art. 25 da Lei nº 12.485/2011; relativamente às ADI 4747, 4756 e 4923, julgo os pedidos improcedentes. (ADI 4923, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Tribunal Pleno, julgado em 08/11/2017, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-064 DIVULG 04-04- 2018 PUBLIC 05-04-2018) _______________________________________________________________________ 35. João, beneficiário de seguro de vida comercializado por empresa pública federal, consegue decisão liminar favorável para redução de seu prêmio mensal. O juiz fundamenta que não é possível, no âmbito do direito do consumidor, onerar o segurado com pagamentos elevados em razão de sua condição pessoal de idoso. Assim, feita a análise econômica do Direito, sustenta que o sobrecusto incorrido pelos consumidores idosos deve ser compensado pelo aumento dos prêmios pagos pelos mais jovens, de modo que se dividam os custos igualmente pelo princípio do mutualismo. Nesse caso, a decisão: 65 (A) é correta à luz de uma análise econômica do Direito e do direito do consumidor; (B) não se sustenta à luz de uma análise econômica do Direito, por implicar seleção adversa ou antisseleção, nem no âmbito do direito do consumidor, diante de suas implicações coletivas; (C) embora respaldada nos princípios que orientam o direito do consumidor, não se sustenta à luz de uma análise econômica do Direito, por implicar seleção adversa ou antisseleção; (D) não se sustenta à luz de uma análise econômica do Direito, por implicar exceção de ruína, nem no âmbito do direito do consumidor, diante de suas implicações coletivas; (E) embora respaldada nos princípios que orientam o direito do consumidor, não se sustenta à luz de uma análise econômica do Direito, por implicar exceção de ruína. _______________________________________________________________________ GABARITO: B COMENTÁRIOS Com base na legislação e jurisprudência brasileiras, a decisão judicial liminar em favor de João, beneficiário idoso de seguro de vida, não se sustenta juridicamente por motivos tanto econômicos quanto jurídicos. A análise econômica do Direito reconhece que os contratos de seguro operam sob um regime atuarial que precisa refletir o risco real dos segurados para garantir a sustentabilidade do sistema. Ao determinar a redução do prêmio de um segurado idoso e impor a compensação desse valor pelos mais jovens, o juiz desconsidera completamente os fundamentos técnicos do seguro, criando uma grave distorção no mercado. O fenômeno da seleção adversa ou antisseleção, amplamente reconhecido na literatura jurídica e econômica, ocorre justamente quando há uma precificação inadequada que não reflete o risco real, levando os segurados de baixo risco (jovens) a abandonarem o plano por considerá-lo desvantajoso, enquanto os de alto risco (idosos) permanecem. Esta situação cria um desequilíbrio progressivo que, no limite, pode levar ao colapso do sistema de seguro. O princípio do mutualismo, por sua vez, exige que os prêmios sejam calculados com base no risco, permitindo apenas uma solidariedade intergeracional limitada e tecnicamente fundamentada, não uma transferência forçada e desproporcional de custos. Ademais, no âmbito do direito do consumidor, a decisão também não se sustenta, pois prejudica a coletividade de consumidores ao interferir no equilíbrio econômico- financeiro do contrato e potencialmente inviabilizar o produto no mercado. 66 O STJ já reconheceu, inclusive no Tema 952, que reajustes por faixa etária são válidos desde que tenham previsão contratual e base atuarial idônea, justamente para prevenir a seleção adversa. Portanto, embora a decisão judicial pretenda proteger o consumidor idoso, acaba por prejudicar toda a coletividade de segurados ao criar uma distorção econômica insustentável, violando assim tanto os princípios da análise econômica do Direito quanto os do próprio direito do consumidor, que visa o equilíbrio e a transparência das relações, não apenas a proteção individual a qualquer custo. (A) INCORRETA. A decisão judicial viola os princípios8 BLOCO I DIREITO CONSTITUCIONAL 1. Determinado legitimado à deflagração do controle concentrado de constitucionalidade perante o Supremo Tribunal Federal ajuizou ação direta de inconstitucionalidade (ADI), tendo por objeto a Medida Provisória nº X (MPX), que incluiu despesa no orçamento fiscal da União para a qual não havia dotação orçamentária específica. Por entender que a afronta à ordem constitucional era evidente, além de se tratar de situação urgente, estando caracterizados o fumus boni iuris e o periculum in mora, requereu a concessão de medida cautelar, em caráter monocrático, para suspender a eficácia da MPX com efeitos ex tunc. À luz da sistemática vigente, é CORRETO afirmar que: (A) a MPX não apresenta vício de inconstitucionalidade; (B) a MPX não apresenta generalidade e abstração, não podendo ser objeto de ADI; (C) a regra geral é a de que a medida cautelar produza os efeitos almejados pelo legitimado; (D) a ADI perderá o objeto caso não seja julgada em momento anterior à cessação da eficácia da MPX; (E) a análise, pelo Plenário, da medida cautelar concedida monocraticamente qualifica- se como condição resolutiva, sendo que os efeitos ex tunc exigem deliberação expressa. _______________________________________________________________________ GABARITO: E COMENTÁRIOS No âmbito do controle concentrado de constitucionalidade exercido pelo Supremo Tribunal Federal, é possível a concessão de medida cautelar em ação direta de inconstitucionalidade, com o objetivo de suspender a eficácia da norma impugnada até o julgamento de mérito. Essa suspensão cautelar poderá ser deferida de forma monocrática pelo relator, em situações de urgência e perigo na demora, nos termos do art. 10, §3º da Lei nº 9.868/1999, conforme se observa a seguir: “Art. 10. § 3o Em caso de excepcional urgência, o Tribunal poderá deferir a medida cautelar sem a audiência dos órgãos ou das autoridades das quais emanou a lei ou o ato normativo impugnado.” Contudo, essa decisão monocrática não possui caráter definitivo, pois está submetida ao referendo do Plenário do STF. A submissão ao colegiado pleno qualifica-se como 9 condição resolutiva, isto é, a manutenção da eficácia da medida depende da deliberação majoritária do Tribunal. Caso o Plenário não ratifique a cautelar concedida pelo relator, os efeitos da medida cessam automaticamente. Além disso, no que se refere ao efeito temporal da medida cautelar, a jurisprudência consolidada do STF estabelece que a produção de efeitos ex tunc (retroativos), ou seja, desde a edição da norma, não se presume. Para que a suspensão da norma surta efeitos retroativos, é necessário que o Plenário expresse essa vontade de forma clara e fundamentada, pois a regra geral nas decisões cautelares é a de que os efeitos sejam prospectivos (ex nunc), respeitando-se a segurança jurídica e a boa-fé dos administrados. _______________________________________________________________________ 2. Os partidos políticos representam mecanismos importantes de representação da democracia brasileira. Contudo, se os referidos partidos passarem a representar interesses alheios aos dos cidadãos (“partidocracia”), podem ser acionados mecanismos que visam a combater tal prática sem, no entanto, violar o pluralismo político. Diante do exposto, é CORRETO afirmar que: (A) o Supremo Tribunal Federal é contrário à cláusula de barreira que limita o acesso ao fundo partidário e ao direito de antena dos partidos políticos, pois violaria o pluralismo político democrático; (B) o estímulo à criação de partidos políticos de natureza jurídica pública limita a prática da sobreposição de interesses particulares no âmbito dessas instituições de direito privado; (C) a cláusula de barreira foi admitida via emenda constitucional e validada pelo Supremo Tribunal Federal, não havendo violação ao pluralismo político, uma vez que pretende manter a lisura e a moralidade do debate político-democrático; (D) partidos “nanicos” ou “legendas de aluguel” são mecanismos de contenção da “partidocracia”; (E) a adoção do bipartidarismo tende a conter a “partidocracia” e, ao mesmo tempo, assegurar o pluralismo político. _______________________________________________________________________ GABARITO: C COMENTÁRIOS QUESTÃO PASSÍVEL DE RECURSO. A alternativa (C) foi indicada como correta pela banca por afirmar que "a cláusula de barreira foi admitida via emenda constitucional e validada pelo Supremo Tribunal Federal, não havendo violação ao pluralismo político". No entanto, a assertiva omite um aspecto central e histórico da jurisprudência constitucional brasileira, o que pode induzir 10 o candidato a erro ou levar à leitura de que a jurisprudência do STF foi uniforme sobre o tema, o que não é verdade. Em 2006, ao julgar a Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 1351, o Supremo Tribunal Federal declarou a inconstitucionalidade da cláusula de barreira então prevista na Lei nº 9.096/1995, sob o argumento de que a limitação ao funcionamento parlamentar, ao acesso ao fundo partidário e ao tempo de propaganda gratuita violava o princípio do pluralismo político e da liberdade partidária consagrados no art. 17 da Constituição Federal. Naquele julgamento, o STF foi enfático ao afirmar que a imposição de restrições materiais ao exercício da representação política e à estrutura de funcionamento dos partidos somente poderia ser feita por meio de norma constitucional e de maneira proporcional e razoável, sob pena de comprometer a pluralidade partidária que sustenta o sistema representativo brasileiro. Posteriormente, em 2017, por meio da Emenda Constitucional nº 97, o Congresso Nacional inscreveu no texto constitucional uma nova cláusula de desempenho (ou cláusula de barreira), conferindo a ela estatura constitucional. A partir de então, o cenário jurídico se alterou, já que o vício de inconstitucionalidade anteriormente reconhecido pelo STF era formal e material, especialmente pela ausência de base constitucional para restringir direitos partidários. Assim, a jurisprudência do STF não validou a cláusula de barreira desde a sua origem, como faz parecer a alternativa (C). O que houve foi: uma declaração de inconstitucionalidade da cláusula prevista em lei ordinária (ADI 1351/DF); e posteriormente, a mudança constitucional promovida pelo legislador constituinte derivado, que eliminou o vício apontado pelo STF. Portanto, a redação do item (C) pode ser considerada imprecisa e parcialmente incorreta, pois sugere que o STF sempre foi favorável à cláusula de barreira, quando na verdade houve uma mudança relevante entre o entendimento de 2006 e o novo quadro constitucional de 2017. Já o item (A), embora não esteja redigido da forma mais precisa, está mais alinhado com o posicionamento histórico do STF na ADI 1351/DF, ao reconhecer que houve sim um momento em que o Tribunal se manifestou contra a cláusula de barreira, por violação ao pluralismo político. _______________________________________________________________________ 3. Ana e Maria nasceram no mesmo dia e decidiram que seguiriam a carreira política na República Federativa do Brasil. Ana nasceu no território francês no momento em que seus pais, de nacionalidade brasileira e russa, se encontravam a serviço de uma indústria de cosméticos. Ao completar 18 anos de idade, Ana se naturalizou francesa. Maria, por sua vez, nasceu no território brasileiro quando seus pais, de nacionalidade indiana, 11 estavam trabalhando na embaixada espanhola, deixando o país logo em seguida. Tanto Ana como Maria completaram 19 anos ontem e passaram a residir em caráter definitivo no território brasileiro. À luz da sistemática vigente, é CORRETO afirmar, em relação à condição de elegibilidade consistente na nacionalidade brasileira, que: (A) Ana e Maria são brasileiras natas; (B) Ana pode optar pela nacionalidade brasileira,da análise econômica do Direito ao ignorar o impacto da seleção adversa, que ocorre quando há um desequilíbrio na precificação dos riscos. O juiz, ao determinar que jovens paguem mais para compensar idosos, cria um incentivo perverso que afasta os segurados de baixo risco e pode levar à inviabilidade do seguro. Também não se sustenta no direito do consumidor, que embora proteja individualmente o consumidor vulnerável, não ignora o impacto coletivo das decisões e a necessidade de equilíbrio econômico-financeiro dos contratos. (B) CORRETA. A decisão judicial viola os princípios econômicos ao ignorar o fenômeno da seleção adversa, onde a precificação inadequada de riscos leva à saída dos segurados jovens (baixo risco) e permanência apenas dos idosos (alto risco), tornando o sistema economicamente insustentável. Adicionalmente, sob a ótica do direito do consumidor, a decisão aparentemente benéfica a um consumidor individual (João) prejudica a coletividade de consumidores, criando um desequilíbrio que poderá resultar em produtos mais caros ou até indisponíveis no mercado, contrariando o interesse coletivo dos consumidores. (C) INCORRETA. Esta alternativa está parcialmente correta ao apontar a seleção adversa como problema econômico, mas erra ao sugerir que a decisão estaria respaldada nos princípios do direito do consumidor. O CDC visa o equilíbrio das relações de consumo e a proteção do mercado como um todo, não apenas o benefício imediato e insustentável de um consumidor específico em detrimento dos demais. A jurisprudência do STJ reconhece a validade de reajustes por faixa etária desde que fundamentados atuarialmente, justamente para preservar o equilíbrio do sistema. (D) INCORRETA. O conceito de "exceção de ruína" está aplicado incorretamente. Este termo refere-se à impossibilidade econômica de cumprimento de uma obrigação que levaria à ruína financeira de uma parte, e não ao fenômeno descrito no caso. O problema econômico correto é a seleção adversa ou antisseleção. (E) INCORRETA. Além de utilizar incorretamente o conceito de "exceção de ruína" em vez de "seleção adversa", esta alternativa erra ao sugerir que a decisão estaria respaldada no direito do consumidor, quando na verdade ela também viola os princípios de equilíbrio e sustentabilidade que norteiam a proteção coletiva dos consumidores. _______________________________________________________________________ 36. Foi encaminhada representação ao órgão competente do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) informando que a sociedade empresária Alfa teria praticado abuso do poder econômico. Após o recebimento da representação, em uma análise preliminar, foram avaliados: a ação ou omissão de Alfa; os objetivos ou efeitos 67 almejados, bem como se foram realizados, ou não; e o seu enquadramento na tipologia legal. A partir da análise desses fatores iniciais, concluiu-se corretamente, na perspectiva da Lei nº 12.529/2011, que, para a caracterização da ilicitude da atividade de Alfa: (A) deve ser demonstrado o dolo ou a culpa grave de algum dirigente ou preposto; (B) deve ser aferido se os objetivos almejados foram efetivamente alcançados; (C) é preciso que essa licitude seja enquadrada na tipologia taxativa das infrações contra a ordem econômica; (D) a ação ou omissão não pode ser dissociada das causas e das consequências para um mercado em particular; (E) não se deve perquirir a intensidade da lesão à concorrência, de modo que o ilícito deve ser analisado de per si. _______________________________________________________________________ GABARITO: D COMENTÁRIOS (A) INCORRETA. A responsabilidade da pessoa jurídica é objetiva. Nos termos do artigo 36 da Lei 12.529/2011, constituem infração da ordem econômica, “independentemente de culpa, os atos sob qualquer forma manifestados, que tenham por objeto ou possam produzir os efeitos ali elencados, ainda que não sejam alcançados”. (B) INCORRETA. Isso decorre diretamente do caput do artigo 36 da Lei 12.529/2011: “Constituem infração da ordem econômica, independentemente de culpa, os atos sob qualquer forma manifestados, que tenham por objeto ou possam produzir os efeitos ali previstos, ainda que não sejam alcançados: I - limitar, falsear ou de qualquer forma prejudicar a livre concorrência ou a livre iniciativa; II - dominar mercado relevante de bens ou serviços; III - aumentar arbitrariamente os lucros; e IV - exercer de forma abusiva posição dominante.” (C) INCORRETA. O rol de infrações previsto no § 3º do artigo 36 é exemplificativo, não exaustivo. Para configurar uma infração, basta que a conduta redunde na produção dos efeitos previstos no caput (art. 36, caput, e § 3º). (D) CORRETA. A Lei exige que a análise do abuso de poder econômico considere não apenas a conduta em si, mas também seu contexto setorial e seus reflexos no mercado relevante. 68 O caput do art. 36 interpreta infração como “ato que tenha por objeto ou possa produzir efeitos sobre a concorrência”, enfatizando a importância do impacto potencial. Por conseguinte, o § 2º do mesmo artigo presume posição dominante quando a empresa, “por sua dimensão, estrutura de mercado ou outros fatores, possa agir isoladamente de modo a influir nas condições de um mercado relevante”, o que implica avaliar causas e consequências específicas de cada caso. (E) INCORRETA. A gravidade e a extensão do dano são critérios obrigatórios para aplicação de sanções. Conforme o artigo 45, inciso V, devem ser considerados, entre outros fatores, “o grau de lesão, ou perigo de lesão, à livre concorrência, à economia nacional, aos consumidores ou a terceiros”. _______________________________________________________________________ 37. Considerando a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, no âmbito dos contratos administrativos, o Código de Defesa do Consumidor: (A) nunca se aplica, diante da presença de cláusulas exorbitantes e de outros privilégios da Fazenda Pública que já garantem tutela reforçada a seus interesses; (B) não se aplica, diante das prerrogativas já asseguradas por lei à administração, salvo hipóteses excepcionais em que evidenciada a vulnerabilidade da Fazenda Pública que adquiriu bens ou serviços como destinatária final, independentemente de se tratar de contrato celebrado por ente com personalidade de direito público ou privado; (C) sempre se aplica em diálogo de fontes, independentemente de se tratar de contrato celebrado por ente com personalidade de direito público ou privado, quando a Fazenda Pública adquire bens e serviços como destinatária final; (D) só se aplica aos contratos privados da Fazenda Pública ou quando ente com personalidade de direito privado adquirir produtos e serviços como destinatário final, independentemente de haver licitação precedente; (E) só se aplica aos contratos privados da Fazenda Pública ou quando ente com personalidade de direito privado adquirir produtos e serviços como destinatário final, desde que não tenha havido licitação precedente. _______________________________________________________________________ GABARITO: B COMENTÁRIOS Os contratos celebrados pela Administração Pública formam um gênero que se divide em duas categorias: os contratos administrativos, regidos pelo regime de Direito Público, e os contratos privados da Administração, sujeitos ao Direito Civil ou Empresarial. Nos primeiros, a Administração detém prerrogativas especiais — como o poder de impor penalidades e tutela do interesse público — e aplica normas de direito público, recorrendo ao direito privado apenas de forma supletiva. 69 Já nos contratos privados a Administração e o particular ocupam posição jurídica equivalente, sem vantagens específicas para o ente estatal, de modo que se aplicam integralmente as regras do sistema contratual comum. Quanto à aplicação do Código de Defesa do Consumidor (CDC) aos contratos administrativos,a posição tradicional do Superior Tribunal de Justiça (REsp 1.661.184/DF, julgado em 10 de maio de 2017) afasta a incidência do CDC, entendendo que a Administração, em razão de sua supremacia decorrente do interesse público, não pode ser considerada parte vulnerável nem consumidora frente ao fornecedor. Porém, há entendimento que admite aplicação subsidiária do CDC em casos excepcionais nos quais a Administração demonstre vulnerabilidade técnica, científica, fática ou econômica e atue como destinatária final do produto ou serviço — hipótese discutida no RMS 31.073/TO. Senão vejamos: ADMINISTRATIVO - RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA - CONTRATO ADMINISTRATIVO - PRESTAÇÃO DE SERVIÇO DE PUBLICIDADE - INEXISTÊNCIA DE RELAÇÃO DE CONSUMO - INCOMPETÊNCIA DO PROCON - NULIDADE DA MULTA APLICADA. 1. Em se tratando de contrato administrativo, em que a Administração é quem detém posição de supremacia justificada pelo interesse público, não incidem as normas contidas no CDC, especialmente quando se trata da aplicação de penalidades. 2. Somente se admite a incidência do CDC nos contratos administrativos em situações excepcionais, em que a Administração assume posição de vulnerabilidade técnica, científica, fática ou econômica perante o fornecedor, o que não ocorre na espécie, por se tratar de simples contrato de prestação de serviço de publicidade. 3. Incompetência do PROCON para atuar em relação que não seja de consumo. 4. Recurso ordinário em mandado de segurança provido. Essa interpretação encontra respaldo em autores como Jatir Batista da Cunha. Para o autor, é razoável a interpretação de que são aplicáveis as disposições do Código de Defesa do Consumidor aos contratos administrativos, em caráter subsidiário, desde que atendidas as seguintes condições: a) o órgão ou entidade pública estiver em posição de vulnerabilidade técnica, científica, fática ou econômica perante o fornecedor, visto que a superioridade jurídica do ente público é presumida nos contratos administrativos; b) o órgão ou entidade pública estiver adquirindo o produto ou serviço na condição de 70 destinatário final, ou seja, para o atendimento de uma necessidade própria e não para o desenvolvimento de uma atividade negocial. _______________________________________________________________________ 38. A sociedade empresária Alfa, que atua como revendedora de gás de cozinha, ingressou com ação judicial em face da sociedade empresária Sigma, distribuidora do referido produto, para que esta última seja compelida a negociar com ela a compra e venda pelo mesmo preço praticado com outras revendedoras. Na situação descrita, restou apurado, durante a instrução processual, que efetivamente eram praticados preços diferentes com outras revendedoras. Na situação descrita, é CORRETO afirmar, à luz das normas de defesa da concorrência, que: (A) está caracterizada a afronta à livre concorrência com a recusa de Sigma em contratar a preços uniformes; (B) deve ser reconhecida a liberdade de contratar de Sigma, sendo que as diferenças de preço podem ser justificadas por circunstâncias mercadológicas; (C) está caracterizado o exercício abusivo de posição dominante por Sigma, ao fixar preços diferenciados de revenda e influir na margem de lucro dos revendedores; (D) o princípio da livre iniciativa assegura aos operadores do mercado, inclusive Sigma, a liberdade de contratar ou de não contratar, o que não está sujeito ao intervencionismo estatal; (E) deve ser reconhecida a ilicitude da conduta de Sigma, por se tratar de atividade legalmente reconhecida como de utilidade pública, não podendo gerar prejuízos aos consumidores em razão dos preços diferenciados. _______________________________________________________________________ GABARITO: B COMENTÁRIOS O enunciado narrado na questão foi extraído integralmente do REsp 1317536, no qual não se reconheceu infração à ordem econômica com base apenas na recusa de contratação e na prática de preços diferenciados pela distribuidora — condutas que, isoladas, não configuram ilícito. Vejamos: RECURSO ESPECIAL. DIREITO ECONÔMICO. DIREITO CONCORRENCIAL. ART. 29 DA LEI N. 8.884/94. PRETENSÃO DE CESSAÇÃO DE CONDUTAS QUE CONFIGURARIAM INFRAÇÃO À ORDEM ECONÔMICA. RECUSA DE CONTRATAR E PREÇOS DIFERENCIADOS. CONDUTAS QUE, POR SI SÓS, NÃO REPRESENTAM ILÍCITO CONCORRENCIAL. COMPRA E VENDA MERCANTIL. DIREITO PRIVADO. PRINCÍPIO DA AUTONOMIA PRIVADA. AUSÊNCIA DE INFRAÇÃO À CONCORRÊNCIA E À LIVRE 71 INICIATIVA. 1. Pretensão da empresa demandante, revendedora de Gás Liquefeito de Petróleo (gás de cozinha), de condenação da empresa distribuidora a negociar com ela a compra e venda do produto pelo mesmo preço praticado com outras revendedoras. 2. Operação de compra e venda mercantil que, por se inserir na seara do Direito Privado, se realiza à luz do princípio da autonomia privada. 3. Como corolário do poder negocial, a decisão de contratar, ou não, e o preço a ser praticado constituem manifestações exercício da liberdade econômica constitucionalmente garantida, que, apenas em situações excepcionais, quando verificada ofensa à liberdade de concorrência, pode ser limitada. 4. Caso concreto em que, apesar de tratar de atividade legalmente considerada como de utilidade pública, não há monopólio ou razão especial para que se imponha a obrigatoriedade de contratar, sendo que as diferenças de preços podem se dar em razão de circunstâncias mercadológicas. 5. Condutas que, examinadas isoladamente, se apresentam perfeitamente lícitas, não havendo qualquer circunstância particular que permita a conclusão de que houve afronta à livre iniciativa e à livre concorrência. 6. RECURSO ESPECIAL PROVIDO, JULGANDO-SE IMPROCEDENTES OS PEDIDOS. _______________________________________________________________________ 39. Resulta da força do conceito de oferta e de sua força vinculativa, tal como definidos pelo Código de Defesa do Consumidor: (A) a vedação ao puffing ou puffery; (B) a inadmissão do caveat emptor; (C) a proibição da publicidade comparativa; (D) a impossibilidade de limitar a aquisição de itens promocionais a número de unidades compatível com o consumo pessoal ou familiar; (E) a exigibilidade da oferta, mesmo quando veiculada em evidente erro material, como no caso de preço manifestamente irrisório. _______________________________________________________________________ GABARITO: B COMENTÁRIOS (A) INCORRETA. Puffing é uma técnica publicitária que faz uso lícito de exageros para enaltecer determinadas características de um produto. Conforme o STJ (REsp 1.759.745), essa estratégia — mesmo quando deliberadamente voltada ao consumidor mais 72 ingênuo — não configura anúncio enganoso, pois cabe a cada pessoa avaliar, por si só, as qualidades a elas atribuídas. (B) CORRETA. O Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078/1990) consagra o Direito à Informação como pilar da relação de consumo, impondo ao fornecedor o dever de esclarecer todas as características relevantes de produtos e serviços. Ao consumidor não cabe investigar ou indagar — a omissão de perguntas não afasta as responsabilidades do fornecedor. Antes de 1990 vigorava a regra do caveat emptor (“que o comprador se previna”), segundo a qual cabia ao consumidor verificar, in loco, a qualidade e o funcionamento do bem. Se não o fizesse, perdia o direito a reclamações, e o fornecedor só era responsabilizado mediante prova de culpa ou dolo. Essa lógica, hoje, é considerada inaceitável diante da desigualdade entre consumidor e fornecedor. Com a edição da Lei 8.078/1990, o ônus da informação passou integralmente ao fornecedor, eliminando-se o caveat emptor e garantindo ao consumidor o exercício pleno de seus direitos sem necessidade de cautela prévia. (C) INCORRETA. A propaganda comparativa contrapõe direta ou indiretamente produtos ou serviços concorrentes para influenciar a escolha do consumidor.No Brasil, embora não exista lei específica sobre o tema, a doutrina e o Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária do CONAR reconhecem sua admissibilidade, desde que sejam respeitados certos limites. Conforme o STJ (REsp 1.377.911-SP, julgado em 2/10/2014), a publicidade comparativa é lícita quando: 1. Tem como objetivo principal o esclarecimento do consumidor; 2. Emprega informações verdadeiras, objetivas e não abusivas, sem induzir em erro ou depreciar produto ou marca (art. 37, § 2º, CDC); 3. Evita comparação entre marcas que possam gerar confusão. Além disso, a Lei de Propriedade Industrial (Lei 9.279/96) não proíbe essa modalidade, desde que a menção à marca concorrente não seja depreciativa nem cause degradação ou desvio de clientela. (D) INCORRETA. O art. 39, I, do CDC (Lei n.º 8.078/90) proíbe o fornecedor de impor limites quantitativos à venda de produtos, salvo “justa causa”. Entende-se por justa causa a restrição de unidades oferecidas em quantidade compatível com as necessidades de uma família média. Nesse sentido, o STJ, no REsp 1.551.907: 1. A matéria suscitada apenas no recurso, em torno do teor da Lei n° 9.784199 e Decreto n° 2.181197, representa inovação recursal da defesa, que, assim, não pode ser conhecida. 2.O art. 39, 1, da Lei n° 8.078/90 veda ao fornecedor estabelecer a venda de produtos a limites quantitativos, salvo justa causa. 3. A limitação quantitativa de bens colocados em oferta, em quantidade proporcional às necessidades de uma família média, não traz prejuízos aos consumidores. 4. Busca-se, com esse intento, evitar a compra de todo o estoque de produtos 73 promocionais por atravessadores. 5. Pode-se vislumbrar nesse caso a justa causa, eis que é de interesse da coletividade que a venda de mercadorias em oferta seja controlada, a fim de que um maior número de famílias possa ter-thés acesso. 6. Recurso parcialmente conhecido e provido. (E) INCORRETA. “Em respeito ao princípio da boa-fé objetiva, segundo o qual as partes (fornecedor e consumidor) deverão agir com base na lealdade e confiança, tem-se admitido o chamado ‘erro grosseiro’ como forma de não responsabilizar o fornecedor. O erro grosseiro é aquele erro latente, que facilmente o consumidor tem condições de verificar o equívoco, por fugir ao padrão normal do que usualmente acontece.” (Direito do Consumidor. 14ª ed., Salvador: Juspodivm, 2020, p. 241). Nesse sentido: O erro sistêmico grosseiro no carregamento de preços e a rápida comunicação ao consumidor podem afastar a falha na prestação do serviço e o princípio da vinculação da oferta. STJ. 3ª Turma. REsp 1.794.991-SE, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 05/05/2020 (Info 671). _______________________________________________________________________ 40. Determinadas regras, afetas à exploração de certa atividade econômica privada, foram editadas no plano federal, com o emprego de conceitos jurídicos indeterminados, que exigem uma intensa atividade valorativa do intérprete para o delineamento do seu conteúdo. O órgão de fiscalização competente, ao constatar a inobservância das referidas regras em uma visita realizada à sede da sociedade empresária Alfa, que exercia atividade econômica considerada de baixo risco, procedeu à lavratura de auto de infração. Na situação descrita, à luz da sistemática estabelecida na Lei nº 13.874/2019, é CORRETO afirmar que: (A) é afastado o critério da dupla visita para a lavratura do auto de infração em razão do nível de risco da atividade econômica desenvolvida por Alfa; (B) é vedado o uso de conceitos jurídicos indeterminados em regras sobre ordenação pública de atividades econômicas privadas, o que torna ilegal o auto de infração; (C) deve ser reconhecido o prazo em dobro para a apresentação de defesa por Alfa, em razão do emprego de termos subjetivos e abstratos nas regras tidas como afrontadas; (D) é admitida a lavratura do auto de infração caso os conceitos jurídicos indeterminados tenham sido previamente regulamentados por meio de critérios claros, objetivos e previsíveis; (E) deve ter sido apresentada motivação idônea, no auto de infração, para justificar a subsunção da situação concreta às regras violadas, de modo a densificar os conceitos jurídicos indeterminados ali empregados. 74 _______________________________________________________________________ GABARITO: D COMENTÁRIOS (A) INCORRETA. Contraria o disposto no art. 4º-A, inciso III, da Lei 13.874/2019 (introduzido pela Lei 14.195/2021), que impõe o dever de “observar o critério de dupla visita para lavratura de autos de infração decorrentes do exercício de atividade considerada de baixo ou médio risco”. (B) INCORRETA. O inciso II do art. 4º-A não proíbe o uso de conceitos jurídicos indeterminados; exige apenas que esses conceitos sejam regulamentados por meio de “critérios claros, objetivos e previsíveis” antes de fundamentar qualquer autuação ou sanção. (C) INCORRETA. Não há na Lei 13.874/2019 qualquer previsão de prazo em dobro para a apresentação de defesa em razão do emprego de termos subjetivos ou abstratos. (D) CORRETA. O art. 4º-A estabelece, em seu inciso II, que é dever da administração pública e das entidades sujeitas à lei “proceder à lavratura de autos de infração ou aplicar sanções com base em termos subjetivos ou abstratos somente quando estes forem propriamente regulamentados por meio de critérios claros, objetivos e previsíveis” (Lei 14.195/2021). (E) INCORRETA. Também viola o inciso II do art. 4º-A, que exige regulamentação dos conceitos indeterminados por atos normativos dotados de critérios claros, objetivos e previsíveis. O próprio § 1º desse dispositivo determina que “os órgãos e as entidades competentes editarão atos normativos para definir a aplicação e a incidência de conceitos subjetivos ou abstratos por meio de critérios claros, objetivos e previsíveis”. _______________________________________________________________________ BLOCO II DIREITO CIVIL 41. Wagner, de 83 anos de idade, tem três filhos: Simone, Sara e Samuel. Ele cuidou dos três filhos sozinho durante toda a vida, visto que a esposa faleceu quando os três ainda eram crianças. A boa criação dada por Wagner contribuiu para o sucesso pessoal e financeiro dos três. Simone, com 30 anos, é advogada, não tem filhos e percebe mensalmente R$ 15.000,00. Sara tem 40 anos, é cirurgiã, tem dois filhos e percebe mensalmente a quantia de R$ 25.000,00. Samuel, por sua vez, tem 45 anos, é especialista em inteligência artificial, tem quatro filhos e percebe mensalmente a quantia de R$ 40.000,00. Wagner, nos últimos anos, foi acometido de uma doença que não lhe permite mais trabalhar, e a sua aposentadoria não lhe permite pagar todas as contas. Assim, pediu a 75 ajuda dos filhos para complementar a renda, de modo a ter o suficiente para sobreviver, o que foi negado pelos três. Nesse caso, Wagner pode propor ação de alimentos em face: (A) somente de Simone, que não tem filhos; (B) somente de Samuel, que tem o salário mais alto; (C) somente de Simone e Sara, já que Samuel tem quatro filhos; (D) dos três juntos, mas cada um só responde por um terço da pensão devida a Wagner; (E) de qualquer um dos filhos, à sua escolha, e o demandado pode ser exigido pela totalidade da pensão. _______________________________________________________________________ GABARITO: E COMENTÁRIOS (A) INCORRETA. Vide comentários alternativa E. (B) INCORRETA. Vide comentários alternativa E. (C) INCORRETA. Vide comentários alternativa E. (D) INCORRETA. Vide comentários alternativa E. (E) CORRETA. A Lei n.º 10.741/2003, acolhendo o princípio da proteção integral e do atendimento prioritário ao idoso estabeleceu o seguinte em relação aos alimentos em seu art. 12:" Art. 12. A obrigação alimentar é solidária, podendo a pessoa idosa optar entre os prestadores. (Redação dada pela Lei nº 14.423, de 2022).".A doutrina e jurisprudência interpretando tal dispositivo, fixou o entendimento de que é permitido ao idoso, considerando a natureza solidária da obrigação de prestar alimentos, escolher livremente qual dos parentes previstos em lei deseja acionar. Em outras palavras, restou sedimentado que é possível ao credor de alimentos optar por um dos coobrigados ou ingressar contra todos, não existindo a necessidade de formação de litisconsórcio passivo necessário. Nesse sentido o STJ: RECURSO ESPECIAL. DIREITO CIVIL. AÇÃO DE ALIMENTOS. OBRIGAÇÃO DE PRESTAR ALIMENTOS. OBRIGAÇÃO SOLIDÁRIA. PRETENSÃO DE DIREITO DE REGRESSO EM RELAÇÃO AOS DEMAIS COOBRIGADOS. CABIMENTO. “1. A Lei n.º 10.741/2003, atribuiu natureza solidária à obrigação de prestar alimentos quando os credores forem idosos, que por força da sua natureza especial prevalece sobre as disposições específicas do Código Civil. 2. Conforme o ordenamento civil, o devedor que satisfez a 76 dívida por inteiro tem direito a exigir de cada um dos co- devedores a sua quota”. 3. RECURSO ESPECIAL CONHECIDO E PROVIDO. Sob tal contexto, partindo da premissa que a obrigação estabelecida pelo Estatuto do Idoso é uma dívida solidária, a escolha pode recair sobre qualquer um dos filhos, independentemente de ter ou não filhos próprios ou de possuir maior ou menor renda. Essa escolha é do credor (Wagner), e o filho demandado pode ser obrigado a arcar com a totalidade da pensão. Logo, a alternativa E é a correta. _______________________________________________________________________ 42. Aos 17 anos, Tadeu comprou a motocicleta usada de seu vizinho, Adamastor. Ele pagou metade do preço avençado no ato, comprometendo-se a pagar a outra metade dali a um ano. Ocorre que, quando chegou o vencimento da segunda e última parcela, um ano depois, Tadeu não tinha dinheiro para pagar. Ele procurou Adamastor e eles negociaram a substituição da parcela inadimplida por uma nova obrigação: ele se comprometeu a, a partir do mês seguinte, prestar serviço de transportador para Adamastor durante duas semanas. Se Tadeu descumprir também essa nova obrigação, Adamastor: (A) nada poderá exigir, haja vista a invalidade que inquina o negócio firmado aos 17 anos; (B) poderá exigir apenas a devolução da motocicleta, para evitar enriquecimento sem causa; (C) poderá executar a nova obrigação, pois a novação confirma o negócio jurídico original; (D) poderá exigir a metade do preço inicialmente avençado e inadimplido, em razão de se restabelecer a obrigação original; (E) poderá exigir apenas perdas e danos, referentes aos prejuízos do descumprimento de ambas as obrigações. _______________________________________________________________________ GABARITO: C COMENTÁRIOS (A) INCORRETA. Vide comentários alternativa C. (B) INCORRETA. Vide comentários alternativa C. (C) CORRETA. A novação, tratada entre os arts. 360 a 367 do CC, pode ser definida como uma forma de pagamento indireto em que ocorre a substituição de uma obrigação anterior por uma obrigação nova, diversa da primeira criada pelas partes. Seu principal efeito é a extinção da dívida primitiva, com todos os acessórios e garantias, sempre que não houver estipulação em contrário (art. 364 do CC). 77 No caso, a dívida inicial de Tadeu (o pagamento da segunda parcela da motocicleta) foi extinta pela novação, sendo substituída por uma nova obrigação: a prestação de serviços a Adamastor por duas semanas. Isso confirma a validade do negócio jurídico original. Tadeu, aos 17 anos, era relativamente incapaz, conforme o art. 4º, I, do CC. Contudo, contratos celebrados por relativamente incapazes não são automaticamente nulos, mas apenas anuláveis, de acordo com o art. 171, I, do CC, e a anulação não é automática, não tendo sido instada no caso. Assim, Se Tadeu descumprir também essa nova obrigação, Adamastor poderá executar a nova obrigação, pois a novação confirma o negócio jurídico original. (D) INCORRETA. Vide comentários alternativa C. (E) INCORRETA. Vide comentários alternativa C. _______________________________________________________________________ 43. A sociedade Alfa, grande fabricante de processadores, encomendou, junto à sociedade Beta, a construção e entrega de um maquinário especial para purificação de silício, matéria-prima necessária para sua atividade. Ficou acordado ainda que a Beta ofereceria à Alfa garantia de 20 dias após a entrega do maquinário contra qualquer problema de funcionamento. Executado o contrato e entregue o maquinário pontualmente, logo no segundo dia, a Alfa detectou problemas no funcionamento do maquinário, mas foi somente no quadragésimo dia após a entrega que interpelou a Beta, judicialmente, alegando vício oculto e pleiteando a redibição do negócio. O direito da Alfa à redibição do contrato, no caso: (A) havia decaído, pois expirado o prazo contratual de 20 dias contados da entrega, que prevalece sobre o prazo legal; (B) havia decaído, pois expirado o prazo legal de 30 dias contados da entrega, que prevalece sobre o convencional; (C) havia decaído, pois o adquirente não denunciou o defeito ao alienante nos 30 dias seguintes ao seu descobrimento; (D) não havia decaído, pois o prazo legal somente começa a correr após expirado o prazo da garantia convencional; (E) não havia decaído, pois é nula a cláusula que visa a modificar convencionalmente prazo decadencial fixado por lei. _______________________________________________________________________ GABARITO: C COMENTÁRIOS (A) INCORRETA. Vide comentários alternativa C. (B) INCORRETA. Vide comentários alternativa C. 78 (C) CORRETA. Os vícios redibitórios podem ser conceituados como os defeitos que desvalorizam a coisa ou a tornam imprópria para uso. A matéria está tratada no Código Civil, entre os arts. 441 a 446, sendo aplicável aos contratos civis. O art. 445 do atual Código Civil diferencia os prazos nos casos em que os vícios podem ser conhecidos de imediato ou mais tarde: “Art. 445. O adquirente decai do direito de obter a redibição ou abatimento no preço no prazo de trinta dias se a coisa for móvel, e de um ano se for imóvel, contado da entrega efetiva; se já estava na posse, o prazo conta-se da alienação, reduzido à metade. § 1 o Quando o vício, por sua natureza, só puder ser conhecido mais tarde, o prazo contar-se-á do momento em que dele tiver ciência, até o prazo máximo de cento e oitenta dias, em se tratando de bens móveis; e de um ano, para os imóveis. § 2 o Tratando-se de venda de animais, os prazos de garantia por vícios ocultos serão os estabelecidos em lei especial, ou, na falta desta, pelos usos locais, aplicando-se o disposto no parágrafo antecedente se não houver regras disciplinando a matéria.” O prazo decadencial para o exercício da pretensão redibitória ou de abatimento do preço de bem móvel é de 30 dias (art. 445 do CC). Caso o vício, por sua natureza, somente possa ser conhecido mais tarde, o § 1º do art. 445 estabelece, em se tratando de coisa móvel, o prazo máximo de 180 dias para que se revele, correndo o prazo decadencial de 30 dias a partir de sua ciência. No caso apresentado, a sociedade Alfa encomendou um maquinário especial da sociedade Beta, que apresentou defeito no segundo dia após a entrega. Contudo, a Alfa só interpôs a ação judicial no quadragésimo dia após a entrega, deixando de comunicar o defeito à Beta no prazo de 30 dias após sua descoberta. Apesar de o prazo decadencial de 180 dias (aplicável a bens duráveis) ainda não ter expirado, a falta de denúncia do vício dentro do prazo legal de 30 dias após o descobrimento resultou na perda do direito da Alfa, conforme previsto na legislação. É dizer, o direito da Alfa à redibição do contrato, no caso havia decaído, pois o adquirente não denunciou o defeito ao alienante nos 30 dias seguintes ao seu descobrimento. (D) INCORRETA. Vide comentários alternativa C. (E) INCORRETA. Vide comentáriosalternativa C. _______________________________________________________________________ 44. Inocêncio decidiu doar a Venâncio uma das vastas fazendas que possui no interior da Bahia. Dentro da fazenda há um galpão de armazenamento de defensivos agrícolas, que era usado também pela fazenda vizinha, de propriedade de Deocleciano. Por conta disso, no contrato de doação, fizeram constar que o donatário se obrigaria a manter o 79 galpão de armazenamento de defensivos agrícolas aberto para uso também da fazenda de Deocleciano. O cumprimento dessa obrigação pode ser exigido por: (A) Inocêncio, apenas; (B) Deocleciano, apenas; (C) Inocêncio e Deocleciano, necessariamente juntos; (D) Inocêncio ou Deocleciano, necessariamente em separado; (E) Inocêncio ou Deocleciano, juntos ou em separado. _______________________________________________________________________ GABARITO: E COMENTÁRIOS (A) INCORRETA. Vide comentários alternativa E. (B) INCORRETA. Vide comentários alternativa E. (C) INCORRETA. Vide comentários alternativa E. (D) INCORRETA. Vide comentários alternativa E. (E) CORRETA. A alternativa E é a correta porque, no contrato de doação, foi inserida uma cláusula que beneficia um terceiro, Deocleciano, ao estabelecer que o donatário, Venâncio, deveria manter o galpão de armazenamento acessível para uso da fazenda vizinha, de propriedade de Deocleciano. Essa cláusula caracteriza uma obrigação com estipulação em favor de terceiro, regulada pelos arts. 436 a 438 do Código Civil. Nesse tipo de estipulação, o terceiro, ainda que não seja parte do contrato, adquire o direito de exigir o cumprimento da obrigação prevista em seu favor. De acordo com o art. 436 do Código Civil, o estipulante (Inocêncio) pode, em um contrato, criar uma obrigação em benefício de um terceiro (Deocleciano), conferindo a este o direito de exigir a execução da obrigação. Além disso, o próprio estipulante mantém a faculdade de exigir o cumprimento da obrigação, conforme o parágrafo único do art. 436, especialmente se ele tiver interesse direto no cumprimento da cláusula contratual. Assim, tanto Inocêncio quanto Deocleciano possuem legitimidade para exigir o cumprimento da cláusula. Outro ponto importante é que a lei não exige que Inocêncio e Deocleciano atuem necessariamente juntos para exigir o cumprimento da obrigação. Ambos têm o direito de agir de forma conjunta ou separada, reforçando a legitimidade autônoma de cada um para buscar a execução da obrigação. Essa flexibilidade é inerente às obrigações com estipulação em favor de terceiro, que visam garantir que o beneficiário não fique desamparado. 80 _______________________________________________________________________ 45. Fulano, jovem estagiário, sofreu um acidente automobilístico grave e, por conta disso, ficou irrecuperavelmente paraplégico. A sentença, então, condenou Beltrano, o responsável pela colisão, ao pagamento de pensão pela comprovada diminuição da capacidade laborativa de Fulano. O juiz arbitrou o pensionamento considerando a expectativa média de vida do brasileiro e, atendendo ao pedido do autor, determinou o pagamento em parcela única na forma do Art. 950, parágrafo único, do Código Civil (“O prejudicado, se preferir, poderá exigir que a indenização seja arbitrada e paga de uma só vez”). Com isso, Fulano comprou uma mansão em Maceió, além de um carro esportivo. Ocorre que, dois meses depois do recebimento da indenização, sofreu severa reação ao prato de lagosta que pedira para almoço e faleceu aos 19 anos. Nesse caso, à luz da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, é CORRETO afirmar que: (A) deve-se reconhecer o enriquecimento sem causa de Fulano, sobretudo porque a norma do Art. 950 do Código Civil não é direito absoluto, muito menos se coaduna com a vitaliciedade própria do pensionamento imposto; (B) deve-se reconhecer o enriquecimento sem causa de Fulano, porque, embora a norma do Art. 950 do Código Civil não seja direito absoluto, o pagamento em parcela única não se coaduna com a vitaliciedade própria do pensionamento imposto; (C) apesar de a norma do Art. 950 do Código Civil não ser direito absoluto, muito menos se coadunar com a vitaliciedade própria do pensionamento imposto, não se cogita de enriquecimento sem causa, na medida em que só se antecipou o pagamento de indenização que, de todo modo, seria devida pela perda da capacidade produtiva projetada pela expectativa de vida (princípio da reparação integral); (D) não se deve reconhecer o enriquecimento sem causa de Fulano, sobretudo porque a norma do Art. 950 do Código Civil é direito potestativo do credor e, no mais, coaduna- se plenamente com a vitaliciedade própria do pensionamento imposto; (E) não se deve reconhecer o enriquecimento sem causa de Fulano, porque, embora a norma do Art. 950 do Código Civil não constitua direito potestativo do credor, ela se coaduna plenamente com a vitaliciedade própria do pensionamento imposto, na medida em que só se antecipou o pagamento de indenização que, de todo modo, seria devida pela perda da capacidade produtiva projetada pela expectativa de vida (princípio da reparação integral). _______________________________________________________________________ GABARITO: A COMENTÁRIOS (A) CORRETA. O art. 950 do Código Civil prevê que, em casos de redução ou perda da capacidade laborativa, a indenização incluirá uma pensão proporcional à depreciação 81 sofrida pela vítima, além das despesas com tratamento e lucros cessantes. O parágrafo único do artigo permite que o prejudicado solicite o pagamento da indenização em parcela única, desde que os prejuízos sejam devidamente comprovados. Segundo o Enunciado 48 do CJF/STJ, esse direito é potestativo, mas deve respeitar os princípios da proporcionalidade e da capacidade econômica do devedor: “O parágrafo único do art. 950 do novo Código Civil institui direito potestativo do lesado para exigir pagamento da indenização de uma só vez, mediante arbitramento do valor pelo juiz, atendidos os arts. 944 e 945 e a possibilidade econômica do ofensor.” O Enunciado 381 do CJF/STJ complementa, afirmando que, se o pagamento em parcela única for economicamente inviável para o devedor, o juiz pode estabelecer outra forma de pagamento. O STJ entende que o direito ao pagamento em parcela única não é absoluto, cabendo ao magistrado avaliar, no caso concreto, aspectos como a condição financeira do devedor, a idade da vítima e o prazo do pensionamento, para evitar desequilíbrios — seja o risco de ruína do devedor ou a ameaça ao crédito do beneficiário. Assim, à luz da jurisprudência do STJ2, deve-se evitar o enriquecimento sem causa em situações como a descrita. O art. 950, parágrafo único, do Código Civil confere ao prejudicado o direito de exigir o pagamento da indenização em parcela única, mas esse direito não é absoluto e deve ser analisado em consonância com o princípio da reparação integral e com a natureza vitalícia do pensionamento imposto. No caso apresentado, Fulano, após receber o montante correspondente à pensão vitalícia em parcela única com base na expectativa de vida média, faleceu apenas dois meses depois, o que resultou em um evidente descompasso entre o valor recebido e o dano efetivamente sofrido ao longo de sua vida. O STJ entende que, em situações excepcionais como essa, é possível reconhecer o enriquecimento sem causa do credor, pois a indenização, que deveria ter caráter compensatório e proporcional ao dano, acabou gerando um benefício econômico desproporcional, o que viola os princípios da razoabilidade e da equidade. Além disso, o art. 950 do Código Civil não pode ser interpretado de forma isolada, ignorando o caráter vitalício da pensão. A antecipação do valor total, portanto, deve considerar o equilíbrio entre o direito do credor à reparação integral e a proteção do devedor contra um enriquecimento excessivo e injustificadodo credor. (B) INCORRETA. Vide comentários alternativa A. (C) INCORRETA. Vide comentários alternativa A. (D) INCORRETA. Vide comentários alternativa A. (E) INCORRETA. Vide comentários alternativa A. _______________________________________________________________________ 2 REsp 1.349.968/DF, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 14.04.2015, DJe 04.05.2015. 82 46. Tício deve R$ 10.000,00 ao Banco Xpto S/A em razão de um empréstimo que tomara. Sucede que, em demanda judicial, o Banco Xpto S/A é condenado a pagar R$ 5.000,00 a Tício, a título de danos morais. Nesse ínterim, para maximizar seus ganhos, a instituição financeira cede o crédito em face de Tício para a faturizadora XXY S.A. por R$ 8.500,00. Notificado, Tício nada objeta. Nessa data, Tício mantém R$ 2.000,00 em conta-corrente no Banco XPTO S/A. Se a faturizadora desejar securitizar sua carteira, o valor máximo pela qual poderá assegurar esse crédito cedido será: (A) R$ 10.000,00; (B) R$ 5.000,00, porque Tício poderá alegar que houve a extinção parcial da obrigação pela compensação com o valor devido a título de danos morais; (C) R$ 8.000,00, porque Tício poderá alegar que houve a extinção parcial da obrigação pela compensação com o valor depositado perante o cedente; (D) R$ 3.000,00, porque Tício poderá alegar que houve a extinção parcial da obrigação pela compensação com o valor depositado perante o cedente e com aquele devido a título de danos morais; (E) R$ 8.500,00, porque foi o valor pago pela cessionária pelo crédito. _______________________________________________________________________ GABARITO: A COMENTÁRIOS (A) CORRETA. A alternativa A é a correta porque, conforme o art. 286 do Código Civil, o credor pode ceder o seu crédito, se a isso não se opuser a natureza da obrigação, a lei, ou a convenção com o devedor; a cláusula proibitiva da cessão não poderá ser oposta ao cessionário de boa-fé, se não constar do instrumento da obrigação. Assim, o crédito pode ser cedido a terceiros, salvo se houver cláusula em contrário ou se a natureza da obrigação for incompatível com a cessão. No caso narrado, o crédito de R$ 10.000,00 foi transferido integralmente para a faturizadora XXY S.A., sendo esse o valor pelo qual o crédito pode ser securitizado. A compensação de dívidas, que poderia reduzir o valor do crédito, pressupõe a existência de dívidas líquidas, certas e exigíveis entre as mesmas partes, conforme o art. 368 do Código Civil. No caso, a dívida de R$ 5.000,00 devida pelo Banco Xpto S/A a título de danos morais não pode ser automaticamente compensada pela faturizadora, pois a compensação opera apenas entre o Banco e Tício, e não entre Tício e a faturizadora. De forma semelhante, o saldo de R$ 2.000,00 que Tício mantém em conta-corrente no Banco Xpto S/A tampouco pode ser utilizado para compensação com o crédito cedido, já que esse saldo não é devido à faturizadora, mas sim ao Banco. De tal modo, o valor do crédito cedido permanece inalterado em R$ 10.000,00, e a faturizadora XXY S.A. pode securitizá-lo por esse montante. O valor pago pela 83 cessionária (R$ 8.500,00) ou os outros valores relacionados à relação entre Tício e o Banco Xpto S/A (como os danos morais ou o saldo em conta-corrente) não interferem no valor securitizável, que corresponde ao total do crédito cedido. (B) INCORRETA. Vide comentários alternativa A. (C) INCORRETA. Vide comentários alternativa A. (D) INCORRETA. Vide comentários alternativa A. (E) INCORRETA. Vide comentários alternativa A. _______________________________________________________________________ 47. A Cooperativa XPTO firmou, com uma de suas cooperadas, três contratos prevendo entrega futura de produto (10.000 litros de etanol e 500.000 sacas de 50 quilos de açúcar bruto) com adiantamento de pagamento (R$ 30.000.000,00). Com o objetivo de garantir o cumprimento dessas obrigações, a seguradora SSS emitiu três apólices de seguro, com importâncias seguradas equivalentes aos valores totais das vendas adiantadas. Diante do descumprimento das obrigações de entrega de produtos assumidas pela cooperada – que ingressou com pedido de recuperação judicial –, a seguradora foi instada a pagar as indenizações previstas nos contratos de seguro garantia, mas arguiu exceção de contrato não cumprido, sob o fundamento de que os valores previstos nos contratos segurados não foram, de fato, disponibilizados pela Cooperativa XPTO. Nesse caso, é CORRETO afirmar que: (A) considerada a relatividade contratual e presente o caráter acessório do contrato de seguro, à luz da teoria da orbitação ou gravitação jurídica, a seguradora não pode arguir exceção de contrato não cumprido, porque a entrega futura de produto é, em relação a si, res inter alios acta; (B) considerada a relatividade contratual e tratando-se de contratos coligados, em que se verifica a autonomia de cada negócio jurídico, a seguradora não teria legitimidade para a exceção e não poderia se exonerar de sua obrigação; (C) presente o caráter acessório do contrato de seguro, a seguradora poderia arguir a exceção de contrato não cumprido quanto às obrigações garantidas (contrato principal), à luz da teoria da orbitação ou gravitação jurídica, de modo a se eximir de pagar a indenização; (D) aplicada a teoria do terceiro cúmplice, a seguradora poderia arguir a exceção de contrato não cumprido quanto às obrigações garantidas, de modo a se eximir de pagar a indenização; (E) mesmo em se tratando de contratos coligados, com autonomia e densidade próprias, a exceção de contrato não cumprido constitui efeito não de um ou de outro negócio isoladamente considerado, mas da vinculação jurídica existente entre ambos, de modo que é possível a arguição feita pela seguradora e sua exoneração da garantia. 84 _______________________________________________________________________ GABARITO: E COMENTÁRIOS (A) INCORRETA. Vide comentários alternativa E. (B) INCORRETA. Vide comentários alternativa E. (C) INCORRETA. Vide comentários alternativa E. (D) INCORRETA. Vide comentários alternativa E. (E) CORRETA. A alternativa E é correta porque os contratos firmados (entrega futura, seguro garantia e adiantamento de pagamento) estão coligados, ou seja, cada um possui autonomia jurídica, mas estão interligados por um vínculo jurídico de interdependência, conforme reconhece a teoria dos contratos coligados. Essa teoria afirma que o descumprimento de um contrato pode repercutir nos demais contratos vinculados. No caso, a seguradora SSS emitiu o seguro garantia condicionada à realização do pagamento adiantado pela Cooperativa XPTO à cooperada. Como o pagamento não foi efetivamente realizado, o contrato principal foi descumprido, o que impacta o contrato acessório de seguro. Com base na exceção de contrato não cumprido (art. 476 do CC), a seguradora pode se recusar a pagar as indenizações, pois sua obrigação está diretamente vinculada ao cumprimento do contrato principal. Deste modo, a seguradora tem legitimidade para invocar a exceção de contrato não cumprido, já que o descumprimento do contrato principal exonera sua obrigação de indenizar no contrato acessório. Ou seja, é correto afirmar que mesmo em se tratando de contratos coligados, com autonomia e densidade próprias, a exceção de contrato não cumprido constitui efeito não de um ou de outro negócio isoladamente considerado, mas da vinculação jurídica existente entre ambos, de modo que é possível a arguição feita pela seguradora e sua exoneração da garantia. _______________________________________________________________________ 48. Noah, 15 anos, perdeu pai e mãe em um acidente de automóvel. Sua família atual é composta por seu tio Júlio, 49 anos, que está em serviço pela Aeronáutica, sua tia Flávia, 62 anos, secretária-executiva, sua irmã Maria, 20 anos, portadora de cardiopatia grave e incapacitante, e sua irmã Júlia, 30 anos, médica.Diante da situação hipotética apresentada, Noah precisará de um tutor ou tutora. Nesse caso, pode(m) apresentar escusa à tutela somente: (A) tia Flávia; (B) as irmãs Maria e Júlia; 85 (C) tio Júlio e tia Flávia; (D) tio Júlio, tia Flávia e a irmã Maria; (E) a irmã Maria, a irmã Júlia e tio Júlio. _______________________________________________________________________ GABARITO: D COMENTÁRIOS (A) INCORRETA. Vide comentários alternativa D. (B) INCORRETA. Vide comentários alternativa D. (C) INCORRETA. Vide comentários alternativa D. (D) CORRETA. De acordo com os arts. 1.735 e 1.736 do Código Civil, algumas pessoas podem escusar-se de assumir a tutela caso enfrentem situações que dificultem ou impeçam o exercício adequado dessa função. No caso apresentado, três membros da família de Noah possuem justificativas legais para apresentar escusa à tutela. O tio Júlio, que está em serviço pela Aeronáutica, pode escusar-se com base no inciso VII do art. 1.736 do Código Civil, que permite a recusa à tutela para aqueles que desempenham cargos ou funções públicas que os impeçam de exercer adequadamente a função de tutor. O serviço militar ativo se enquadra como um encargo público que justifica a escusa. A tia Flávia, com 62 anos, pode escusar-se com fundamento no inciso II do art. 1.736 do Código Civil, que estabelece que pessoas com mais de 60 anos podem recusar o encargo de tutor. A idade avançada é um motivo legalmente reconhecido que justifica a escusa. A irmã Maria, aos 20 anos, é portadora de uma cardiopatia grave e incapacitante, o que constitui motivo para escusa com base no inciso IV do art. 1.736 do Código Civil, que prevê que enfermidades que tornem a pessoa incapaz de cumprir as responsabilidades do encargo são justificativas legais para recusa. Já a irmã Júlia, aos 30 anos, não possui qualquer impedimento relatado que justifique sua recusa. Logo, apenas o tio Júlio, a tia Flávia e a irmã Maria possuem justificativas legais para apresentar escusa ao encargo da tutela. Dessa forma, a alternativa D é a correta. (E) INCORRETA. Vide comentários alternativa D. _______________________________________________________________________ 49. Reinaldo era sócio da XPTO Empreendimentos Imobiliários Ltda. Em 2020, foi condenado, por sentença transitada em julgado, pelo crime de lesão corporal leve contra sua esposa no âmbito da Lei Maria da Penha. Em 2023, após ele anunciar sua candidatura para as eleições da diretoria que aconteceriam no ano de 2024, sobrevém 86 alteração no estatuto da sociedade para vedar que pessoas condenadas por violência doméstica pudessem ocupar cargos diretivos. Nesse caso, à luz das disposições da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, notadamente seu Art. 6º, a nova disposição: (A) não poderá ter aplicação retroativa para prejudicar Reinaldo, o que infringiria a coisa julgada penal; (B) não poderá ter aplicação retroativa para prejudicar Reinaldo, o que infringiria o ato jurídico perfeito; (C) não poderá ter aplicação retroativa para prejudicar Reinaldo, o que infringiria o direito adquirido; (D) poderá prejudicar Reinaldo, uma vez que não produz efeito ultrativo, na medida em que apenas comina efeitos futuros a fatos passados, de modo que sequer se poderia falar em sua retroatividade; (E) poderá prejudicar Reinaldo, embora produza efeito ultrativo, na medida em que comina efeitos futuros a fatos passados, tratando-se de retroatividade mínima, plenamente admissível. _______________________________________________________________________ GABARITO: E COMENTÁRIOS (A) INCORRETA. Vide comentários alternativa E. (B) INCORRETA. Vide comentários alternativa E. (C) INCORRETA. Vide comentários alternativa E. (D) INCORRETA. Vide comentários alternativa E. (E) CORRETA. A alteração no estatuto da sociedade, que veda a ocupação de cargos diretivos por pessoas condenadas por violência doméstica, aplica-se com retroatividade mínima, que sucede quando a lei nova atinge apenas os efeitos dos fatos anteriores, verificados após a sua entrada em vigor. Esse tipo de retroatividade ocorre quando uma norma nova produz efeitos futuros com base em fatos passados, sendo plenamente admitida pelo art. 6º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB). No caso, a proibição se aplica às eleições futuras (2024) e não interfere diretamente no passado de Reinaldo, mas traz consequências futuras para sua condenação anterior. A retroatividade mínima não viola direitos como coisa julgada penal, ato jurídico perfeito ou direito adquirido. A coisa julgada penal continua preservada, pois a alteração estatutária não altera os efeitos da condenação penal, mas apenas regulamenta critérios de elegibilidade para cargos diretivos. Além disso, Reinaldo não possui um direito 87 adquirido à candidatura, já que o direito de se candidatar está sujeito às regras estatutárias vigentes no momento das eleições. Deste modo, a nova regra estatutária é válida, pois projeta efeitos futuros (vedação à candidatura) a partir de um fato passado (a condenação de Reinaldo). Essa aplicação está de acordo com a autonomia privada das sociedades e os princípios da LINDB, sendo a retroatividade mínima plenamente admissível. _______________________________________________________________________ DIREITO PROCESSUAL CIVIL 50. A competência da Justiça Federal é definida pela Constituição da República e, não raro, suscita controvérsias em sede doutrinária e jurisprudencial. Acerca do tema, considerando as disposições do texto constitucional e a jurisprudência dos Tribunais Superiores, é CORRETO afirmar que: (A) a Justiça Federal é competente para as causas em que a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil figurem como parte, em razão da função social de tais instituições financeiras; (B) compete à Justiça Federal processar e julgar execução fiscal promovida por conselho de fiscalização profissional; (C) é da competência da Justiça Federal autorizar o levantamento dos valores relativos ao PIS/PASEP e FGTS, em decorrência do falecimento do titular da conta; (D) compete à Justiça do Trabalho processar e julgar os feitos relativos à movimentação do FGTS, por se tratar de direito inerente ao contrato de trabalho; (E) a decisão do juízo federal que exclui da relação processual ente federal pode ser reexaminada no juízo estadual, o qual poderá suscitar conflito negativo de competência ao STJ. _______________________________________________________________________ GABARITO: B COMENTÁRIOS (A) INCORRETA. Conforme previsão do art. 109, I, da CF/88, aos juízes federais compete processar e julgar: I - as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho; 88 Desse modo, diferentemente da Caixa Econômica Federal, que ostenta a natureza de empresa pública federal, o Banco do Brasil é sociedade de economia mista, não atraindo a competência da Justiça Federal, portanto. No mesmo sentido, Súmula 42 do STJ: Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar as causas cíveis em que é parte sociedade de economia mista e os crimes praticados em seu detrimento. (B) CORRETA. O Supremo Tribunal Federal, no julgamento da ADI n. 1.717/DF (Rel. Ministro Sydney Sanches, Tribunal Pleno, julgado em 07/11/2002, DJ 28/03/2003, p. 63), firmou o entendimento de acordo com o qual a fiscalização das profissões regulamentadas compreende atividade tipicamente estatal e, por esse motivo, resta preservada a natureza de autarquia federal atribuída aos conselhos de fiscalização profissional. Ademais, depreende-se do art. 109, I, da Constituição Federal, que compete à Justiça Federal processar e julgar as causas nas quais autarquia públicafederal figura como parte interessada, seja na condição de autora ou na de ré. Então, em regra, os conselhos de fiscalização profissional litigam perante a Justiça Federal, porquanto equiparados às autarquias federais. Nessa linha: CC 169379 / MG, PRIMEIRA SEÇÃO, DJe 16/03/2020. (C) INCORRETA. Súmula 161 do STJ: "É da competência da Justiça estadual autorizar o levantamento dos valores relativos ao PIS/Pasep e FGTS, em decorrência do falecimento do titular da conta". (D)INCORRETA. Súmula 82/STJ: "Compete a Justiça Federal, excluídas as reclamações trabalhistas, processar e julgar os feitos relativos a movimentação do FGTS". (E) INCORRETA. Súmula 254/STJ: “A decisão do Juízo Federal que exclui da relação processual ente federal não pode ser reexaminada no Juízo Estadual”. _______________________________________________________________________ 51. Janaína ajuizou ação declaratória de nulidade de negócio jurídico em face de Tânia. Em sua causa de pedir, Janaína alega que Tânia falsificou escritura pública de compra e venda de domínio útil, o qual lhe pertence, de imóvel situado em terreno de marinha. Ao tomar ciência da demanda, a União, possuindo o interesse econômico de oferecer o resgate da enfiteuse ao real titular do domínio útil, requer seu ingresso no feito na qualidade de terceiro interveniente, para permitir a juntada de documentos e esclarecimentos essenciais ao deslinde da causa. Nesse caso, o pleito da União visa a permitir a seguinte modalidade de intervenção de terceiro em seu favor: (A) assistência simples; (B) intervenção anômala; (C) amicus curiae; (D) assistência litisconsorcial; (E) chamamento ao processo. 89 _______________________________________________________________________ GABARITO: B COMENTÁRIOS Conforme cediço, as pessoas jurídicas de direito público, ao intervirem no processo com fundamento no parágrafo único do art. 5º da Lei n. 9.469/1997, passam a dispor de limitados poderes, podendo apenas esclarecer questões de fato e de direito, além de juntar documentos e memoriais reputados úteis ao exame da matéria. Cuida-se da chamada “intervenção anômala”, com fundamento em interesse econômico: Art. 5º A União poderá intervir nas causas em que figurarem, como autoras ou rés, autarquias, fundações públicas, sociedades de economia mista e empresas públicas federais. Parágrafo único. As pessoas jurídicas de direito público poderão, nas causas cuja decisão possa ter reflexos, ainda que indiretos, de natureza econômica, intervir, independentemente da demonstração de interesse jurídico, para esclarecer questões de fato e de direito, podendo juntar documentos e memoriais reputados úteis ao exame da matéria e, se for o caso, recorrer, hipótese em que, para fins de deslocamento de competência, serão consideradas partes. Verifica-se que, na assistência simples, pela própria dicção do Código de Processo Civil, o terceiro interessado necessita ter interesse jurídico na causa, diferentemente do que ocorre na intervenção anômala, na qual basta, tão somente, o interesse meramente de natureza econômica (EREsp 1265625 / SP, Corte Especial, DJe 01/08/2022). Importante destacar que, segundo entendimento do STJ, "a intervenção anômala da União, regulamentada pelo art. 5º, parágrafo único, da Lei n. 9.469/1997, é admitida nas causas em que figurarem, como autoras ou rés, entidades da administração pública indireta, e não em causas que versam sobre direitos estritamente particulares, como na hipótese" (AgInt na PET no REsp n. 1.825.274/SC, relator Ministro Marco Aurélio Bellizze, Terceira Turma, julgado em 21/8/2023, DJe de 23/8/2023). No caso apresentado, como apenas se indaga qual a natureza da intervenção de terceiro pretendida pela União, e não, propriamente, se deve ser deferido o requerimento, o gabarito é a letra B. _______________________________________________________________________ 52. Pedro, inconformado com cláusulas constantes de edital de concurso público, que, no seu entender, violam a moralidade administrativa, deseja ajuizar ação popular exclusivamente em face da União, responsável por promover o certame. Tomando o caso acima como premissa, é CORRETO afirmar que: 90 (A) ainda que esteja com os direitos políticos suspensos, Pedro será parte legítima para propor a ação popular; (B) a intervenção do Ministério Público será facultativa, somente sendo cabível se presente interesse de incapazes; (C) além da União, os agentes públicos responsáveis pela edição do edital deverão figurar como réus; (D) o prazo de contestação será de 15 dias, prorrogáveis por mais 15, a requerimento dos interessados; (E) eventual improcedência do pedido formulado por Pedro não estará sujeita ao reexame necessário. _______________________________________________________________________ GABARITO: C COMENTÁRIOS (A) INCORRETA. De acordo com o art. 1º, §3º, da Lei 4717/1965, a prova da cidadania, para ingresso em juízo, será feita com o título eleitoral, ou com documento que a ele corresponda. Desse modo, na hipótese em que os direitos políticos do indivíduo de Pedro estejam, não terá legitimidade para propor ação popular. (B) INCORRETA. Lei 4717/1965, Art. 6º, § 4º O Ministério Público acompanhará a ação, cabendo-lhe apressar a produção da prova e promover a responsabilidade, civil ou criminal, dos que nela incidirem, sendo-lhe vedado, em qualquer hipótese, assumir a defesa do ato impugnado ou dos seus autores. A intervenção do MP é obrigatória, e não meramente facultativa, considerando a previsão acima mencionada. (C) CORRETA. Lei 4717/1965, Art. 6º A ação será proposta contra as pessoas públicas ou privadas e as entidades referidas no art. 1º, contra as autoridades, funcionários ou administradores que houverem autorizado, aprovado, ratificado ou praticado o ato impugnado, ou que, por omissas, tiverem dado oportunidade à lesão, e contra os beneficiários diretos do mesmo. (D) INCORRETA. Lei 4717/1965, Art. 7º, IV - O prazo de contestação é de 20 (vinte) dias, prorrogáveis por mais 20 (vinte), a requerimento do interessado, se particularmente difícil a produção de prova 91 documental, e será comum a todos os interessados, correndo da entrega em cartório do mandado cumprido, ou, quando for o caso, do decurso do prazo assinado em edital. (E) INCORRETA Art. 19. A sentença que concluir pela carência ou pela improcedência da ação está sujeita ao duplo grau de jurisdição, não produzindo efeito senão depois de confirmada pelo tribunal; da que julgar a ação procedente caberá apelação, com efeito suspensivo. _______________________________________________________________________ 53. João, empregado público do Estado Alfa, ajuizou ação em face do ente público, na qual pleiteou a implementação de gratificação de representação, que é prevista no Estatuto dos Servidores Públicos como direito de todos os servidores estatutários e celetistas do Estado Alfa. O juízo concedeu tutela provisória de urgência, determinando ao Estado Alfa que implementasse de imediato a gratificação. A sentença julgou procedente o pedido, condenando o Estado Alfa a implementar a gratificação no contracheque de João, confirmando a tutela de urgência concedida, bem como a pagar as verbas devidas e em atraso, respeitada a prescrição quinquenal. Não houve interposição de recurso em face da sentença. Quatro anos após o trânsito em julgado da sentença, o Supremo Tribunal Federal, em sede de controle difuso, declarou a inconstitucionalidade do artigo do Estatuto dos Servidores Públicos que previa a gratificação de representação. Em tal caso, é CORRETO afirmar que: (A) a competência para o julgamento de eventual ação rescisória proposta em face da sentença será do Tribunal Regional do Trabalho da respectiva região, por se tratar de demanda proposta por servidor público celetista; (B) ajuizada ação rescisória, haverá suspensãoautomática da eficácia da sentença rescindenda, bastando a comunicação da propositura ao juízo prolator da decisão; (C) o cumprimento provisório da obrigação de fazer deverá estar sujeito ao regime constitucional dos precatórios ou da requisição de pequeno valor, conforme o caso, tal como a obrigação de pagar as verbas em atraso; (D) o Estado Alfa poderá ajuizar ação rescisória em face da sentença, cujo termo inicial será contado do trânsito em julgado da decisão proferida pelo Supremo Tribunal Federal; (E) é lícito ao Estado Alfa ofertar impugnação ao cumprimento de sentença fundado em fato superveniente, em razão da inexigibilidade da execução declarada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal. _______________________________________________________________________ GABARITO: D 92 COMENTÁRIOS A resposta é extraída do art. 525 e seus parágrafos: § 12. Para efeito do disposto no inciso III do § 1º deste artigo, considera-se também inexigível a obrigação reconhecida em título executivo judicial fundado em lei ou ato normativo considerado inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal, ou fundado em aplicação ou interpretação da lei ou do ato normativo tido pelo Supremo Tribunal Federal como incompatível com a Constituição Federal , em controle de constitucionalidade concentrado ou difuso. § 13. No caso do § 12, os efeitos da decisão do Supremo Tribunal Federal poderão ser modulados no tempo, em atenção à segurança jurídica. § 14. A decisão do Supremo Tribunal Federal referida no § 12 deve ser anterior ao trânsito em julgado da decisão exequenda. § 15. Se a decisão referida no § 12 for proferida após o trânsito em julgado da decisão exequenda, caberá ação rescisória, cujo prazo será contado do trânsito em julgado da decisão proferida pelo Supremo Tribunal Federal. Considerando que, no caso da questão, a decisão do Supremo Tribunal Federal foi proferida após o trânsito em julgado da decisão exequenda, o Estado Alfa poderá ajuizar ação rescisória, cujo prazo será contado do trânsito em julgado da decisão proferida pelo Supremo Tribunal Federal. _______________________________________________________________________ 54. Carla, aposentada pelo regime geral de previdência social em razão de incapacidade permanente por acidente de trabalho, ajuizou ação em face do INSS, requerendo a condenação da autarquia a promover a revisão da renda mensal inicial (RMI) de seu benefício previdenciário e o pagamento das diferenças devidas. Para tanto, a autora arguiu que o INSS promoveu a averbação a menor de diversos salários de contribuição, impactando no montante percebido a título de aposentadoria. Aduziu, ainda, que formulou requerimento administrativo prévio, que foi indeferido liminarmente. O juízo julgou procedente o pedido, condenando a autarquia a ajustar os salários de contribuição de Carla, bem como a lhe pagar os valores em atraso devidos desde a data de sua aposentadoria, ocorrida três anos antes da propositura da ação, até a data da efetivação do benefício na quantia correta. Os honorários advocatícios foram fixados em 10% do total devido em favor de Carla. Sobre o caso acima, é CORRETO afirmar que: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm 93 (A) o requerimento administrativo prévio é dispensável para fins de configuração do interesse de agir de Carla, sendo lícito ao segurado, em todo e qualquer caso, ajuizar a ação independentemente de prévio pedido junto ao INSS; (B) o advogado de Carla poderá interpor recurso tão somente para obter a majoração dos honorários advocatícios, hipótese em que a ele será extensível a isenção legal de preparo prevista em favor do segurado na Lei nº 8.213/1991; (C) os honorários advocatícios devidos em favor do advogado de Carla incidirão tão somente sobre as prestações devidas até a sentença, não incidindo sobre as prestações vencidas após a sentença; (D) o processo tramita perante a Justiça Federal, pois a ação movida em face do INSS que tenha por objeto a revisão da aposentadoria por incapacidade permanente é de competência de tal justiça especializada; (E) o percentual dos honorários advocatícios nas ações acidentárias é fixo, não devendo obedecer às faixas previstas no Código de Processo Civil para as causas em que a Fazenda Pública for parte. _______________________________________________________________________ GABARITO: C COMENTÁRIOS (A) INCORRETA. O Supremo Tribunal Federal, no julgamento do Tema 350 do STF (RE 631.240/MG), fixou orientação segundo a qual a concessão de benefícios previdenciários depende de prévio requerimento do interessado na seara administrativa, por considerar que o pleito do segurado só se caracterizaria ameaça ou lesão a direito depois de apreciado e indeferido pela autarquia, ou se excedido o prazo legal para sua análise. (B) INCORRETA. A isenção legal do preparo prevista no parágrafo único do art. 129 da Lei nº 8.213/91 não se estende ao patrono da parte autora, no caso em que o recurso versar exclusivamente sobre verba honorária de sucumbência fixada em favor do advogado da causa. STJ. 2ª Turma. AgInt no AgInt no AREsp 2.246.596-SP, Rel. Min. Teodoro Silva Santos, julgado em 29/4/2024 (Info 19 – Edição Extraordinária). Súmula 110-STJ: A isenção do pagamento de honorários advocatícios, nas ações acidentárias, é restrita ao segurado. (C) CORRETA. Súmula 111/STJ: Os honorários advocatícios, nas ações previdenciárias, não incidem sobre as prestações vencidas após a sentença. Importante destacar que, no bojo do Tema 1105/STJ, a Corte Superior firmou a seguinte tese vinculante: “Continua eficaz e aplicável o conteúdo da Súmula 111/STJ (com a redação modificada em 2006), mesmo após a vigência do CPC/2015, no que tange à fixação de honorários advocatícios.” 94 (D) INCORRETA. O entendimento do STJ acerca da irresignação da parte recorrente é no sentido da competência da Justiça Estadual quando o pedido de pensão, a sua revisão ou outro benefício discutem, como causa de pedir, o próprio acidente de trabalho, ou quando há necessidade de prova pericial em derredor do próprio acidente. Precedente: AgRg no CC 139.399/RJ, Rel. Ministro Olindo Menezes (Desembargador convocado do TRF 1ª Região) Primeira Seção, DJe 02/03/2016. (E) INCORRETA. Não há previsão legal no sentido indicado na alternativa. Os honorários devem observar o disposto no art. 85, §3º, do CPC: § 3º Nas causas em que a Fazenda Pública for parte, a fixação dos honorários observará os critérios estabelecidos nos incisos I a IV do § 2º e os seguintes percentuais: I - mínimo de dez e máximo de vinte por cento sobre o valor da condenação ou do proveito econômico obtido até 200 (duzentos) salários-mínimos; II - mínimo de oito e máximo de dez por cento sobre o valor da condenação ou do proveito econômico obtido acima de 200 (duzentos) salários-mínimos até 2.000 (dois mil) salários- mínimos; III - mínimo de cinco e máximo de oito por cento sobre o valor da condenação ou do proveito econômico obtido acima de 2.000 (dois mil) salários-mínimos até 20.000 (vinte mil) salários- mínimos; IV - mínimo de três e máximo de cinco por cento sobre o valor da condenação ou do proveito econômico obtido acima de 20.000 (vinte mil) salários-mínimos até 100.000 (cem mil) salários- mínimos; V - mínimo de um e máximo de três por cento sobre o valor da condenação ou do proveito econômico obtido acima de 100.000 (cem mil) salários-mínimos. _______________________________________________________________________ 55. A imparcialidade é atributo essencial ao bom exercício da jurisdição. Com efeito, a equidistância entre o magistrado, o membro do Ministério Público e os demais auxiliares da justiça em relação às partes se faz necessária para a solução adequada dos conflitos de interesse. Sobre o tema, é CORRETO afirmar que: (A) é impedido o juiz que for amigo íntimo ou inimigo de qualquer daspartes ou de seus advogados; (B) o juiz poderá se declarar suspeito por motivo de foro íntimo, sendo imprescindível que declare suas razões de suspeição à presidência do Tribunal, em expediente sigiloso; (C) o incidente de suspeição será autuado nos próprios autos e, caso esta não seja reconhecida pelo juiz, este ordenará a remessa dos autos ao Tribunal para seu processamento; 95 (D) arguido o impedimento do membro do Ministério Público, o juiz mandará processar o incidente em separado, ouvindo o arguido no prazo de 15 dias; (E) o ministro do Superior Tribunal de Justiça que oficiou no processo como procurador da República, tendo proferido parecer, é suspeito para atuar no processo perante o Supremo Tribunal Federal ou o Superior Tribunal de Justiça. _______________________________________________________________________ GABARITO: D COMENTÁRIOS (A) INCORRETA. Art. 145. Há suspeição do juiz: I - amigo íntimo ou inimigo de qualquer das partes ou de seus advogados; (B) INCORRETA. Art. 145, § 1º Poderá o juiz declarar-se suspeito por motivo de foro íntimo, sem necessidade de declarar suas razões. (C) INCORRETA. Art. 146. No prazo de 15 (quinze) dias, a contar do conhecimento do fato, a parte alegará o impedimento ou a suspeição, em petição específica dirigida ao juiz do processo, na qual indicará o fundamento da recusa, podendo instruí-la com documentos em que se fundar a alegação e com rol de testemunhas. § 1º Se reconhecer o impedimento ou a suspeição ao receber a petição, o juiz ordenará imediatamente a remessa dos autos a seu substituto legal, caso contrário, determinará a autuação em apartado da petição e, no prazo de 15 (quinze) dias, apresentará suas razões, acompanhadas de documentos e de rol de testemunhas, se houver, ordenando a remessa do incidente ao tribunal. (D) CORRETA. Art. 148. Aplicam-se os motivos de impedimento e de suspeição: I - ao membro do Ministério Público; II - aos auxiliares da justiça; III - aos demais sujeitos imparciais do processo. § 1º A parte interessada deverá arguir o impedimento ou a suspeição, em petição fundamentada e devidamente instruída, na primeira oportunidade em que lhe couber falar nos autos. § 2º O juiz mandará processar o incidente em separado e sem suspensão do processo, ouvindo o arguido no prazo de 15 96 (quinze) dias e facultando a produção de prova, quando necessária. (E) INCORRETA. A hipótese é de impedimento, na forma do art. 144, I, do CPC: Art. 144. Há impedimento do juiz, sendo-lhe vedado exercer suas funções no processo: I - em que interveio como mandatário da parte, oficiou como perito, funcionou como membro do Ministério Público ou prestou depoimento como testemunha; _______________________________________________________________________ 56. Vladimir Filho foi citado em execução fiscal movida em face de Vladimir Pai, tendo por objeto o recebimento de valores a título de imposto sobre a renda. Ao ler a petição inicial, Vladimir Filho identificou que a União lançou o imposto em seu desfavor por equívoco, em razão da homonímia parcial. Em tal caso, para defesa dos interesses de seu cliente em juízo, o advogado de Vladimir Filho poderá alegar: (A) a ilegitimidade ativa do executado, por meio de embargos à execução fiscal, somente; (B) a ilegitimidade ativa ou passiva de Vladimir Filho, exclusivamente por meio de exceção de pré-executividade, que não permite a condenação em honorários advocatícios, se acolhida para extinguir a execução fiscal; (C) a ilegitimidade passiva de Vladimir Filho, por meio de exceção de pré-executividade, a qual, caso acolhida para extinguir a execução fiscal, não ensejará a condenação da União ao pagamento de honorários advocatícios; (D) a ilegitimidade passiva do executado, por meio de embargos à execução fiscal ou exceção de pré-executividade, os quais, se acolhidos para extinguir a execução fiscal, ensejarão a condenação da União ao pagamento de honorários advocatícios; (E) a ilegitimidade passiva de Vladimir Filho, somente por meio de embargos à execução fiscal, exigida, em todo e qualquer caso, a garantia do juízo para fins de sua admissibilidade. _______________________________________________________________________ GABARITO: D COMENTÁRIOS Vladimir filho poderá distribuir os embargos à execução fiscal, na forma do art. 16 da LEF, podendo alegar toda matéria útil à defesa, inclusive sua ilegitimidade, requerer provas e juntar aos autos os documentos e rol de testemunhas, até três, ou, a critério do juiz, até o dobro desse limite. Ademais, também poderá deduzir exceção de pré-executividade. Conforme cediço, o Superior Tribunal de Justiça perfilha o entendimento de que “a exceção de pré- executividade é cabível quando atendidos simultaneamente dois requisitos, um de 97 ordem material e outro de ordem formal, quais sejam: a) a matéria invocada deve ser suscetível de conhecimento de ofício pelo juiz; e b) desnecessidade de dilação probatória” (REsp 2052225 / RJ, Terceira Turma, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, DJe 19/05/2023). Ademais, para a Corte Superior, questões afetas aos pressupostos processuais e às condições da ação podem ser alegadas, a qualquer tempo, em exceção de pré- executividade, porquanto são matérias de ordem pública (AgInt no AREsp 1268464 / SP, Rel. Ministra ASSUSETE MAGALHÃES, DJE DJe 19/06/2020). Em ambos os casos, é cabível a condenação em honorários da União Federal (AgInt no REsp 1684597 / RS, DJe 10/05/2023). _______________________________________________________________________ 57. O direito processual civil trata de diversos aspectos do fenômeno processual. Sobre o processo civil brasileiro, analise as afirmativas a seguir. I. Consoante a jurisprudência do STJ, o prazo decadencial da ação rescisória só se inicia quando não for cabível qualquer recurso do último pronunciamento judicial. II. É cabível o agravo de instrumento em face de decisão que verse sobre o acolhimento da alegação de convenção de arbitragem. III. É incapaz de depor o que tiver menos de 18 anos. Está CORRETO o que se afirma em: (A) I, apenas; (B) I e II, apenas; (C) I e III, apenas; (D) II e III, somente; (E) I, II e III. _______________________________________________________________________ GABARITO: A COMENTÁRIOS Conforme entendimento sumulado do STJ (Súmula 401), ainda não superado, a despeito de sinalização de que tende a adotar a chamada “coisa julgada por capítulos”, “o prazo decadencial da ação rescisória só se inicia quando não for cabível qualquer recurso do último pronunciamento judicial”. Apenas cabe agravo de instrumento na hipótese de decisão que rejeita a alegação de convenção de arbitragem. CPC, Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que versarem sobre: 98 III - rejeição da alegação de convenção de arbitragem; E, por último, apenas são considerados incapazes, para proibição de depor como testemunhas, os menores de 16 anos. Art. 447. Podem depor como testemunhas todas as pessoas, exceto as incapazes, impedidas ou suspeitas. § 1º São incapazes: (...) III - o que tiver menos de 16 (dezesseis) anos; O gabarito, portanto, é a letra A. _______________________________________________________________________ 58. Solano, Manoel e Thiago, amigos e estudiosos do direito processual, debatiam a respeito das prerrogativas processuais da Fazenda Pública. Solano, inicialmente, afirmou que o reexame necessário não se aplica quando a condenação imposta ao Estado for de valor certo e líquido inferior a 1.000 salários mínimos. Manoel, por sua vez, aduziu que não se aplica o benefício da contagem em dobro dos prazos processuais em favor da advocacia pública quando a lei estabelecer, de forma expressa, prazo próprio para o ente público. Por fim, Thiago afirmou que o pagamento das obrigações de pequeno valor deve ser realizado no prazoe Maria é brasileira nata; (C) Ana e Maria são estrangeiras, devendo passar pelo processo de naturalização; (D) Ana é estrangeira, devendo se naturalizar brasileira, e Maria é brasileira nata; (E) Ana pode readquirir a nacionalidade brasileira, o que não depende de naturalização, e Maria é estrangeira. _______________________________________________________________________ GABARITO: B COMENTÁRIOS Ana nasceu no exterior, filha de pai ou mãe brasileiros não a serviço do Brasil — neste caso, a serviço de empresa privada, o que não confere automaticamente a nacionalidade brasileira nata. Contudo, conforme o art. 12, I, c, da CF/88, será brasileira nata se vier a residir na República Federativa do Brasil e optar, a qualquer tempo, após atingir a maioridade, pela nacionalidade brasileira. Como Ana reside atualmente de forma definitiva no Brasil e tem mais de 18 anos, poderá optar pela nacionalidade brasileira. Maria nasceu em território brasileiro, mas filha de pais estrangeiros a serviço de seu país (embaixada é extensão do território estrangeiro). De acordo com o art. 12, I, a, não são brasileiros natos os nascidos no Brasil de pais estrangeiros que estejam a serviço de seu país. Porém, como os pais são de nacionalidade indiana e estavam a serviço da embaixada espanhola (e não da Índia), não estavam a serviço de seu país, portanto, Maria é considerada brasileira nata. _______________________________________________________________________ 4. Ao proferir sua sentença, determinado magistrado analisou o diálogo possível entre os direitos fundamentais de terceira dimensão, direcionados por referenciais de solidariedade e fraternidade, no âmbito de um Estado de Direito em particular, e a teoria dos status de Georg Jellinek. Ao final de suas reflexões, concluiu CORRETAMENTE que: (A) a eficácia indireta dos status aponta para a sua compatibilidade com a terceira dimensão dos direitos fundamentais; 12 (B) os direitos fundamentais de terceira dimensão não afastam a preservação da perspectiva individual dos direitos, dialogando com o status libertatis; (C) o status civitatis gera o dever de proteção em relação aos direitos individuais, o que é indicativo da concretização dos direitos lastreados na solidariedade e na fraternidade; (D) os status estão lastreados na dicotomia entre os planos da ação e da omissão, que não se harmonizam com o dever de proteção exigido pelos direitos fundamentais de terceira dimensão; (E) a atribuição de centralidade ao coletivo, que assegura a coesão e a continuidade das partes que o integram, faz do status activus a forma de instrumentalização dos referenciais de solidariedade e fraternidade. _______________________________________________________________________ GABARITO: B COMENTÁRIOS A terceira dimensão dos direitos fundamentais não exclui os direitos individuais, mas sim os expande. O item não afirma que todos os direitos de terceira dimensão são individuais, mas sim que há um diálogo com a perspectiva individual, o que é compatível com a doutrina contemporânea de interpretação dos direitos fundamentais como interdependentes e inter-relacionados. O status libertatis, segundo Jellinek, refere-se à posição do indivíduo livre de interferências estatais, típica dos direitos de primeira dimensão (liberdades negativas). Contudo, mesmo os direitos de terceira dimensão se estruturam com base na dignidade da pessoa humana, o que preserva a perspectiva individual como um de seus fundamentos, ainda que a realização ocorra em nível coletivo. _______________________________________________________________________ 5. Exercentes do controle externo sobre a Administração Pública, os Tribunais de Contas (federal, estadual ou municipal, onde existir) devem ser acionados sempre que houver a necessidade de fiscalização de atos e contratos administrativos, na forma da Constituição Federal de 1988. Diante do exposto, é CORRETO afirmar que: (A) como integrantes do Poder Legislativo, os Tribunais de Contas devem submeter suas fiscalizações a eventual aprovação ou reprovação da respectiva Casa Legislativa; (B) uma vez que são tribunais integrantes da estrutura do Poder Judiciário, os Tribunais de Contas podem aplicar sanções diretamente àqueles que tenham cometido irregularidades/ilegalidades no âmbito da Administração Pública; (C) os Tribunais de Contas, auxiliares do Poder Legislativo, devem julgar com eficiência e economicidade atos e contratos públicos, bem como imputar as devidas 13 responsabilidades de pessoas naturais e jurídicas pela prática de condutas tanto culposas como dolosas; (D) os Tribunais de Contas devem atuar somente após o exercício do controle interno desempenhado pelas controladorias dos órgãos e entidades da Administração Pública; (E) considerando sua atuação voltada à proteção do interesse público indisponível, os Tribunais de Contas afastam a adoção da consensualidade, largamente empregada no Poder Judiciário, em suas decisões e manifestações. _______________________________________________________________________ GABARITO: C COMENTÁRIOS Nos termos da Constituição Federal (art. 71, incisos e §§), os Tribunais de Contas (da União, dos Estados e dos Municípios onde existirem) não integram o Poder Legislativo, mas exercem função de controle externo da Administração Pública, auxiliando o Legislativo. Eles têm competência para: - julgar contas dos administradores e demais responsáveis por dinheiro público; - imputar débitos e multas a pessoas físicas e jurídicas; - analisar atos de concessão de aposentadorias, reformas e pensões; - apreciar legalidade de atos de admissão de pessoal; - e fiscalizar a aplicação de recursos repassados a entidades privadas. Além disso, o art. 70 da CF/88 estabelece que a fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial será exercida quanto à legalidade, legitimidade, economicidade, aplicação das subvenções e renúncia de receitas, justamente o que está descrito no item. Tanto condutas dolosas quanto culposas podem dar ensejo a responsabilização perante os Tribunais de Contas. _______________________________________________________________________ 6. As empresas públicas e sociedades de economia mista, integrantes da Administração Pública indireta brasileira, têm natureza híbrida, uma vez que gozam de natureza jurídica privada e visam à obtenção de lucros. Diante do exposto, é CORRETO afirmar que: (A) considerando a livre iniciativa e a livre concorrência, as estatais têm liberdade econômica para adquirir produtos e contratar serviços no mercado brasileiro; (B) considerando serem entidades da administração indireta, as contratações realizadas pelas estatais devem ser precedidas de licitação pública na forma da Constituição Federal de 1988; 14 (C) a Constituição Federal de 1988 afastou o controle do Tribunal de Contas em face de tais entidades, em razão de sua natureza jurídica privada; (D) a extinção e a alienação do controle acionário de empresa pública e sociedade de economia mista exigem autorização legislativa; (E) a atuação das estatais deve ser validada pela análise do respectivo ente público direto ao qual estão vinculadas, sob pena de violação ao princípio da separação e da harmonia entre os poderes. _______________________________________________________________________ GABARITO: D COMENTÁRIOS O dispositivo constitucional impõe lei autorizativa para criação, o que logicamente implica também a necessidade de lei para sua extinção, com base no princípio da simetria legislativa. Constituição Federal – art. 37, XIX: “Somente por lei específica poderá ser criada autarquia e autorizada a instituição de empresa pública, sociedade de economia mista e fundação, cabendo à lei complementar definir as áreas de sua atuação.” O Supremo Tribunal Federal no julgamento da ADI 5624, entendeu que:de 90 dias contados da entrega da requisição. A respeito do diálogo acima, está(ão) CORRETA(S) a(s) afirmativa(s) de: (A) Solano, Manoel e Thiago; (B) Manoel, somente; (C) Solano e Thiago, somente; (D) Manoel e Thiago, somente; (E) Solano e Manoel, somente. _______________________________________________________________________ GABARITO: B COMENTÁRIOS Incorreta a afirmação de Solano. Quanto ao reexame necessário, não se aplica quando a condenação ou o proveito econômico obtido na causa for de valor certo e líquido inferior a 500 (quinhentos) salários-mínimos para os Estados, o Distrito Federal, as respectivas autarquias e fundações de direito público e os Municípios que constituam capitais dos Estados: 99 Art. 496. Está sujeita ao duplo grau de jurisdição, não produzindo efeito senão depois de confirmada pelo tribunal, a sentença: I - proferida contra a União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e suas respectivas autarquias e fundações de direito público; II - que julgar procedentes, no todo ou em parte, os embargos à execução fiscal. § 1º Nos casos previstos neste artigo, não interposta a apelação no prazo legal, o juiz ordenará a remessa dos autos ao tribunal, e, se não o fizer, o presidente do respectivo tribunal avocá-los-á. § 2º Em qualquer dos casos referidos no § 1º, o tribunal julgará a remessa necessária. § 3º Não se aplica o disposto neste artigo quando a condenação ou o proveito econômico obtido na causa for de valor certo e líquido inferior a: I - 1.000 (mil) salários-mínimos para a União e as respectivas autarquias e fundações de direito público; II - 500 (quinhentos) salários-mínimos para os Estados, o Distrito Federal, as respectivas autarquias e fundações de direito público e os Municípios que constituam capitais dos Estados; De outro giro, Manoel, corretamente, invocou o teor do art. 183, caput e §2º, do CPC. Confira-se: Art. 183. A União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e suas respectivas autarquias e fundações de direito público gozarão de prazo em dobro para todas as suas manifestações processuais, cuja contagem terá início a partir da intimação pessoal. § 1º A intimação pessoal far-se-á por carga, remessa ou meio eletrônico. § 2º Não se aplica o benefício da contagem em dobro quando a lei estabelecer, de forma expressa, prazo próprio para o ente público. Incorreta, ainda, a afirmação de Thiago. É o que se extrai do seguinte dispositivo legal do CPC: Art. 535, § 3º Não impugnada a execução ou rejeitadas as arguições da executada: II - por ordem do juiz, dirigida à autoridade na pessoa de quem o ente público foi citado para o processo, o pagamento de obrigação de pequeno valor será realizado no prazo de 2 (dois) meses contado da entrega da requisição, mediante depósito na agência de banco oficial mais próxima da residência do exequente. (Vide ADI 5534) (Vide ADI nº 5492) O gabarito, portanto, é a letra B. http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=4989940 https://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=4959031 https://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=4959031 100 _______________________________________________________________________ DIREITO EMPRESARIAL 59. Em ação pelo procedimento comum intentada em face do Instituto Nacional da Propriedade Industrial, discute-se, no mérito, o cabimento do direito de prioridade ao pedido posterior de patente de modelo de utilidade depositado originalmente no Brasil, sem reivindicação de prioridade e não publicado. Segundo a legislação patentária, nesse caso, é CORRETO afirmar que: (A) é assegurado o direito de prioridade ao pedido posterior sobre a mesma matéria, depositado no Brasil pelo mesmo requerente ou sucessores, dentro do prazo de 1 ano; (B) não será admitida prioridade para a matéria revelada no pedido anterior, apenas para a matéria nova introduzida no segundo pedido; (C) o pedido de patente de modelo de utilidade originário de divisão de pedido anterior poderá servir de base à reivindicação de prioridade; (D) é assegurado o direito de prioridade ao pedido posterior sobre a mesma matéria, depositado no Brasil ou em país unionista pelo mesmo requerente, dentro do prazo de 6 meses; (E) o pedido depositado anteriormente e ainda pendente será conservado, exceto se o interessado requerer seu arquivamento no prazo de 90 dias, contado da data do pedido posterior sobre a mesma matéria. _______________________________________________________________________ GABARITO: A COMENTÁRIOS A questão em análise exige a compreensão do candidato sobre o Direito da Propriedade Industrial, regulamentado pela Lei nº 9.279/96, notadamente sobre a prioridade para a obtenção de concessão de patente. Na situação hipotética apresentada, tem-se um “pedido posterior de patente de modelo de utilidade depositado originalmente no Brasil, sem reivindicação de prioridade e não publicado”. Neste caso, o art. 17, Lei nº 9.279/96, estabelece o direito de prioridade, dentro do prazo de 1 ano. Dessa forma, a alternativa correta é a letra A. Observe o art. 17, da Lei nº 9.279/96: Art. 17. O pedido de patente de invenção ou de modelo de utilidade depositado originalmente no Brasil, sem reivindicação de prioridade e não publicado, assegurará o direito de prioridade ao pedido posterior sobre a mesma matéria depositado no Brasil pelo mesmo requerente ou sucessores, dentro do prazo de 1 (um) ano. 101 A alternativa B está errada porque a prioridade será admitida apenas para a matéria revelada no pedido anterior e não para a matéria nova introduzida (art. 17, §1º). A alternativa C está errada porque o pedido de patente originário de divisão de pedido anterior não poderá servir de base a reivindicação de prioridade (art. 17, §3º). A alternativa D está errada porque o prazo para a prioridade é estabelecido no acordo, “, não sendo o depósito invalidado nem prejudicado por fatos ocorridos nesses prazos” (art. 16). A alternativa E está errada porque pedido anterior de prioridade pendente será arquivado (art. 17, §2º). _______________________________________________________________________ 60. Em 21 de junho de 2021, a Fazenda Nacional ajuizou execução fiscal em face da sociedade empresária Caitano, Goitá & Passira Ltda. O processo foi distribuído para a 11ª Vara Federal da Seção Judiciária de Pernambuco. No curso do processo e após a realização da penhora de bens da executada, foi decretada a falência da sociedade pelo juízo da 5ª Vara Cível da Comarca do Recife. Em razão da decretação de falência e de seu efeito sobre a execução fiscal em curso, é CORRETO afirmar que: (A) a execução fiscal não será suspensa com a decretação da falência, exceto se o juiz da falência não instaurar de ofício o incidente de classificação de crédito público nos 60 dias seguintes ao da publicação da sentença de falência; (B) haverá a suspensão automática da execução fiscal até o encerramento da falência, exceto se for requerida pelo administrador judicial a instauração do incidente de classificação de crédito público, hipótese em que a execução permanecerá tramitando no juízo de origem; (C) a execução fiscal não será suspensa com a decretação da falência, sendo exceção ao princípio da indivisibilidade do juízo da falência, e o administrador judicial deverá ser intimado para representar a massa falida, sob pena de nulidade do processo; (D) haverá a suspensão da execução fiscal por decisão do juiz da falência pelo prazo de até 180 dias, após o qual ela será retomada no juízo de origem se não tiver sido finalizada a realização do ativo pelo administrador judicial; (E) a execução fiscal não será suspensa e são proibidos atos de constrição sobre os bens penhorados pelo administrador judicial, como a arrecadação para a massa falida objetiva, diante da natureza extraconcursal do crédito da Fazenda Nacional. _______________________________________________________________________GABARITO: C COMENTÁRIOS Esta questão exige do candidato o conhecimento dos efeitos da decretação da falência do devedor, previsto no art. 6º, da Lei 11.101/05, dentre outros, de suspender execução de créditos que possam ser habilitados no processo de falência. Com efeito, o crédito 102 tributário não se habilita em processo de falência (art. 187, CTN). Tal fato, por si só, já justificaria as execuções fiscais não suspenderem com o decreto de quebra. Como se isso não bastasse, estabelece o art. 6º, §7º-B Lei nº 11.101/05: § 7º-B. O disposto nos incisos I, II e III do caput deste artigo não se aplica às execuções fiscais, admitida, todavia, a competência do juízo da recuperação judicial para determinar a substituição dos atos de constrição que recaiam sobre bens de capital essenciais à manutenção da atividade empresarial até o encerramento da recuperação judicial, a qual será implementada mediante a cooperação jurisdicional, na forma do art. 69 da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil), observado o disposto no art. 805 do referido Código Por outro lado, estabelece o art. 75, V, do CPC estabelece que cabe ao administrador judicial representar ativa e passivamente a massa falida. _______________________________________________________________________ 61. Acerca dos fundos de investimento, analise as afirmativas a seguir. I. Competem concorrentemente ao Conselho Monetário Nacional e à Comissão de Valores Mobiliários autorizar a constituição, o funcionamento e a administração de fundos mútuos de investimento em sociedades empresárias cuja atividade principal seja a inovação, caracterizados pela comunhão de recursos captados por meio do sistema de distribuição de valores mobiliários, destinados à aplicação em carteira diversificada de valores mobiliários de emissão dessas sociedades. II. Os regulamentos dos fundos de investimento deverão observar a regulamentação editada pela Comissão de Valores Mobiliários e poderão estabelecer a limitação da responsabilidade de cada investidor ao valor de suas quotas. III. Compete ao Conselho Monetário Nacional regulamentar a constituição e o funcionamento de fundos de investimento em direitos creditórios, destinados exclusivamente à aplicação em direitos creditórios e em títulos representativos desses direitos, originários de operações realizadas nos segmentos financeiro, comercial, industrial, imobiliário, de hipotecas, de arrendamento mercantil e de prestação de serviços. Está CORRETO o que se afirma em: (A) I, apenas; (B) II, apenas; (C) I e III, apenas; (D) II e III, apenas; (E) I, II e III. _______________________________________________________________________ https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13105.htm#art69 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13105.htm#art69 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13105.htm#art805 103 GABARITO: B COMENTÁRIOS A questão submete ao candidato o exame da competência da CVM e do CMN enquanto órgãos normativos e regulamentadores do Sistema Financeiro Nacional. O CMN é órgão máximo do Sistema Financeiro Nacional. Sua competência está prevista no art. 3º, da Lei nº 6.385/76: Art. 3º Compete ao Conselho Monetário Nacional: I - definir a política a ser observada na organização e no funcionamento do mercado de valores mobiliários; II - regular a utilização do crédito nesse mercado; III - fixar, a orientação geral a ser observada pela Comissão de Valores Mobiliários no exercício de suas atribuições; IV - definir as atividades da Comissão de Valores Mobiliários que devem ser exercidas em coordenação com o Banco Central do Brasil. V - aprovar o quadro e o regulamento de pessoal da Comissão de Valores Mobiliários, bem como fixar a retribuição do presidente, diretores, ocupantes de funções de confiança e demais servidores. VI - estabelecer, para fins da política monetária e cambial, condições específicas para negociação de contratos derivativos, independentemente da natureza do investidor, podendo, inclusive: a) determinar depósitos sobre os valores nocionais dos contratos; e b) fixar limites, prazos e outras condições sobre as negociações dos contratos derivativos. Como se vê, dentre as competências atribuídas ao CMN não se encontra a constituição e regulamentação dos fundos de investimento que fica a cargo da CVM enquanto órgão fiscalizador e normatizador do mercado de capitais, nos termos do Art. 1.368-C, §§ 2º e 3º, do Código Civil: Art. 1.368-C. O fundo de investimento é uma comunhão de recursos, constituído sob a forma de condomínio de natureza especial, destinado à aplicação em ativos financeiros, bens e direitos de qualquer natureza. § 2º Competirá à Comissão de Valores Mobiliários disciplinar o disposto no caput deste artigo. § 3º O registro dos regulamentos dos fundos de investimentos na Comissão de Valores Mobiliários é condição suficiente para garantir a sua publicidade e a oponibilidade de efeitos em relação a terceiros. 104 Assim, os itens I e III estão errados por indicarem o CMN como órgão competente para regulamentar a constituição de fundos de investimento. _______________________________________________________________________ DIREITO FINANCEIRO E TRIBUTÁRIO 62. A Lei Complementar nº 208, de 2 de julho de 2024, incluiu o Art. 39-A na Lei nº 4.320/1964, o qual estabeleceu que a União, o Estado, o Distrito Federal ou o Município poderá ceder onerosamente, nos termos de lei específica autorizativa do ente, direitos originados de créditos tributários e não tributários, inclusive quando inscritos em dívida ativa, a pessoas jurídicas de direito privado ou a fundos de investimento regulamentados pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Segundo dispõe a Lei Complementar nº 208/2024, a cessão de direitos creditórios: (A) deverá ser realizada até 60 dias antes da data de encerramento do mandato do chefe do Poder Executivo, salvo quando o integral pagamento pela cessão dos direitos creditórios ocorrer após essa data; (B) é considerada operação de venda definitiva de patrimônio público, devendo a receita de capital dela decorrente ser destinada, em pelo menos 50%, ao financiamento de despesas associadas a regime de previdência social, e o restante, a despesas com investimentos; (C) é considerada operação de crédito, por envolver compromisso financeiro assumido em razão do recebimento antecipado de valores provenientes da venda de ativos públicos, motivo pelo qual são aplicáveis os requisitos e as vedações previstos na Constituição Federal de 1988 e na Lei Complementar nº 101/2000; (D) deverá ser realizada mediante operação definitiva, não podendo, contudo, ser o cedente isentado de eventual responsabilidade, compromisso ou dívida de que decorra obrigação de pagamento perante o cessionário, resguardada a prerrogativa da Fazenda Pública de promover a cobrança judicial e extrajudicial dos créditos de que se tenham originado os direitos cedidos; (E) deverá preservar a natureza, as garantias e os privilégios do crédito de que se tenha originado o direito cedido, assim como manter inalterados os critérios de atualização ou correção de valores e os montantes representados pelo principal, juros e multas, admitida a modificação das condições de pagamento e dos prazos originalmente avençados entre a Fazenda Pública ou o órgão da Administração Pública e o devedor ou contribuinte. _______________________________________________________________________ GABARITO: E COMENTÁRIOS (A) INCORRETA. O prazo é de 90 dias: 105 Art. 39-A, VII - realizar-se até 90 (noventa) dias antes da data de encerramento do mandato do chefe do Poder Executivo, ressalvado o caso em que o integral pagamento pela cessão dos direitos creditórios ocorra após essa data. (Incluído pela Lei Complementar nº 208, de 2024) (B) CORRETA.Art. 39-A, § 4º As cessões de direitos creditórios realizadas nos termos deste artigo não se enquadram nas definições de que tratam os incisos III e IV do art. 29 e o art. 37 da Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000 (Lei de Responsabilidade Fiscal), sendo consideradas operação de venda definitiva de patrimônio público. (Incluído pela Lei Complementar nº 208, de 2024) § 6º A receita de capital decorrente da venda de ativos de que trata este artigo observará o disposto no art. 44 da Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000 (Lei de Responsabilidade Fiscal), devendo-se destinar pelo menos 50% (cinquenta por cento) desse montante a despesas associadas a regime de previdência social, e o restante, a despesas com investimentos. (Incluído pela Lei Complementar nº 208, de 2024) (C) INCORRETA. Não é uma operação de crédito (art. 29, III, da LC 101/2000) e sim uma operação de venda definitiva de patrimônio público (art. 39-A, §4º, Lei 4320/64). Art. 39-A, § 4º As cessões de direitos creditórios realizadas nos termos deste artigo não se enquadram nas definições de que tratam os incisos III e IV do art. 29 e o art. 37 da Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000 (Lei de Responsabilidade Fiscal), sendo consideradas operação de venda definitiva de patrimônio público. (Incluído pela Lei Complementar nº 208, de 2024) LC 101/2000. Art. 29. Para os efeitos desta Lei Complementar, são adotadas as seguintes definições: III - operação de crédito: compromisso financeiro assumido em razão de mútuo, abertura de crédito, emissão e aceite de título, aquisição financiada de bens, recebimento antecipado de valores provenientes da venda a termo de bens e serviços, arrendamento mercantil e outras operações assemelhadas, inclusive com o uso de derivativos financeiros; IV - concessão de garantia: compromisso de adimplência de obrigação financeira ou contratual assumida por ente da Federação ou entidade a ele vinculada; 106 (D) INCORRETA IV - realizar-se mediante operação definitiva, isentando o cedente de responsabilidade, compromisso ou dívida de que decorra obrigação de pagamento perante cessionário, de modo que a obrigação de pagamento dos direitos creditórios cedidos permaneça, a todo tempo, com o devedor ou contribuinte; (Incluído pela Lei Complementar nº 208, de 2024) (E) INCORRETA. § 1º Para fins do disposto no caput, a cessão dos direitos creditórios deverá: (Incluído pela Lei Complementar nº 208, de 2024) I - preservar a natureza do crédito de que se tenha originado o direito cedido, mantendo as garantias e os privilégios desse crédito; (Incluído pela Lei Complementar nº 208, de 2024) II - manter inalterados os critérios de atualização ou correção de valores e os montantes representados pelo principal, os juros e as multas, assim como as condições de pagamento e as datas de vencimento, os prazos e os demais termos avençados originalmente entre a Fazenda Pública ou o órgão da administração pública e o devedor ou contribuinte; (Incluído pela Lei Complementar nº 208, de 2024) _______________________________________________________________________ 63. Suponha que, ao final do segundo bimestre de determinado exercício financeiro, o Poder Executivo Federal tenha verificado que as receitas arrecadadas pela União haviam sido inferiores às estimativas previstas na Lei Orçamentária Anual, e que não seriam atingidas as metas de resultado primário estabelecidas na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO). Nesse cenário, de acordo com a Lei Complementar nº 101/2000 e com a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, é CORRETO afirmar que: (A) o Poder Executivo poderá promover, por ato próprio e nos montantes necessários, nos 30 dias subsequentes, limitação de empenho e movimentação financeira, segundo os critérios fixados pela LDO, em harmonia com o caráter autorizativo do orçamento público, notadamente após a Emenda Constitucional nº 100/2019; (B) o agente que deixar de expedir ato determinando limitação de empenho e movimentação financeira, nos casos e condições estabelecidos em lei, incorre em infração administrativa punida com multa de 30% dos seus vencimentos anuais, a ser aplicada pelo órgão da Administração Pública a que estiver vinculado o agente, sem prejuízo da apuração de sua responsabilidade civil e criminal; (C) caso o Ministério Público não promova, por ato próprio, a limitação de empenho nos 30 dias subsequentes, o Poder Executivo poderá limitar os valores financeiros conforme os critérios previstos na LDO, observada a exigência de desconto linear e uniforme da 107 Receita Corrente Líquida prevista na lei orçamentária, de modo a concretizar o princípio do equilíbrio fiscal; (D) não poderão ser objeto de contingenciamento as despesas destinadas ao pagamento do serviço da dívida e as relativas ao Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), o qual constitui fundo especial integrante do Sistema Financeiro Nacional, voltado à promoção do desenvolvimento econômico e social do país por meio do financiamento da inovação e do desenvolvimento científico e tecnológico; (E) a limitação de empenho será dispensada no caso de reconhecimento da ocorrência de calamidade pública, nos termos de decreto legislativo editado pelo Congresso Nacional, hipótese em que também serão afastadas, enquanto perdurar a situação, as condições e as vedações para a concessão ou ampliação de incentivo ou benefício de natureza tributária que implique renúncia de receita, desde que destinado ao combate à calamidade pública. _______________________________________________________________________ GABARITO: E COMENTÁRIOS (A) INCORRETA. LC 101/2000 Art. 9o Se verificado, ao final de um bimestre, que a realização da receita poderá não comportar o cumprimento das metas de resultado primário ou nominal estabelecidas no Anexo de Metas Fiscais, os Poderes e o Ministério Público promoverão, por ato próprio e nos montantes necessários, nos trinta dias subseqüentes, limitação de empenho e movimentação financeira, segundo os critérios fixados pela lei de diretrizes orçamentárias. (B) INCORRETA. Não será aplicada pelo órgão da Administração Pública a que estiver vinculado o agente, mas sim pelo Tribunal de Contas a que competir a fiscalização contábil, financeira e orçamentária da pessoa jurídica de direito público envolvida. Lei 10028/2000 Art. 5o Constitui infração administrativa contra as leis de finanças públicas: I – deixar de divulgar ou de enviar ao Poder Legislativo e ao Tribunal de Contas o relatório de gestão fiscal, nos prazos e condições estabelecidos em lei; II – propor lei de diretrizes orçamentárias anual que não contenha as metas fiscais na forma da lei; 108 III – deixar de expedir ato determinando limitação de empenho e movimentação financeira, nos casos e condições estabelecidos em lei; IV – deixar de ordenar ou de promover, na forma e nos prazos da lei, a execução de medida para a redução do montante da despesa total com pessoal que houver excedido a repartição por Poder do limite máximo. § 1o A infração prevista neste artigo é punida com multa de trinta por cento dos vencimentos anuais do agente que lhe der causa, sendo o pagamento da multa de sua responsabilidade pessoal. § 2o A infração a que se refere este artigo será processada e julgada pelo Tribunal de Contas a que competir a fiscalização contábil, financeira e orçamentária da pessoa jurídica de direito público envolvida. (C) INCORRETA. Não há previsão sobre a parte final. LC 101/2000, Art. 9o Se verificado, ao final de um bimestre, que a realização da receita poderá não comportar o cumprimento das metas de resultado primário ou nominal estabelecidas no Anexo de Metas Fiscais, os Poderes e o Ministério Público promoverão, por ato próprio e nos montantes necessários, nos trinta dias subseqüentes, limitação de empenho e movimentação financeira,segundo os critérios fixados pela lei de diretrizes orçamentárias. § 3o No caso de os Poderes Legislativo e Judiciário e o Ministério Público não promoverem a limitação no prazo estabelecido no caput, é o Poder Executivo autorizado a limitar os valores financeiros segundo os critérios fixados pela lei de diretrizes orçamentárias. (D) INCORRETA. O FNDCT não se vincula ao sistema financeiro e bancário nacional. LC 101/2000, Art. 8º, § 2º Não serão objeto de limitação as despesas que constituam obrigações constitucionais e legais do ente, inclusive aquelas destinadas ao pagamento do serviço da dívida, as relativas à inovação e ao desenvolvimento científico e tecnológico custeadas por fundo criado para tal finalidade e as ressalvadas pela lei de diretrizes orçamentárias. Lei 11540/2027 Art. 1º O Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), instituído pelo Decreto-Lei nº 719, de 31 de julho de 1969, e restabelecido pela Lei nº 8.172, de 18 de janeiro de 1991, é um fundo especial de natureza contábil e financeira e tem o objetivo de financiar a inovação e o 109 desenvolvimento científico e tecnológico com vistas a promover o desenvolvimento econômico e social do País. Parágrafo único. O FNDCT não se caracteriza como fundo de investimentos e não se vincula ao sistema financeiro e bancário nacional. (Incluído pela Lei Complementar nº 177, de 2021) (E) CORRETA. Em conformidade com art. 65, c/c, art. 14, da LC 101/2000 Art. 65. Na ocorrência de calamidade pública reconhecida pelo Congresso Nacional, no caso da União, ou pelas Assembléias Legislativas, na hipótese dos Estados e Municípios, enquanto perdurar a situação: II - serão dispensados o atingimento dos resultados fiscais e a limitação de empenho prevista no art. 9o. § 1º Na ocorrência de calamidade pública reconhecida pelo Congresso Nacional, nos termos de decreto legislativo, em parte ou na integralidade do território nacional e enquanto perdurar a situação, além do previsto nos inciso I e II do caput: III - serão afastadas as condições e as vedações previstas nos arts. 14, 16 e 17 desta Lei Complementar, desde que o incentivo ou benefício e a criação ou o aumento da despesa sejam destinados ao combate à calamidade pública. Da Renúncia de Receita Art. 14. A concessão ou ampliação de incentivo ou benefício de natureza tributária da qual decorra renúncia de receita deverá estar acompanhada de estimativa do impacto orçamentário- financeiro no exercício em que deva iniciar sua vigência e nos dois seguintes, atender ao disposto na lei de diretrizes orçamentárias e a pelo menos uma das seguintes condições: I - demonstração pelo proponente de que a renúncia foi considerada na estimativa de receita da lei orçamentária, na forma do art. 12, e de que não afetará as metas de resultados fiscais previstas no anexo próprio da lei de diretrizes orçamentárias; II - estar acompanhada de medidas de compensação, no período mencionado no caput, por meio do aumento de receita, proveniente da elevação de alíquotas, ampliação da base de cálculo, majoração ou criação de tributo ou contribuição. § 1o A renúncia compreende anistia, remissão, subsídio, crédito presumido, concessão de isenção em caráter não geral, alteração de alíquota ou modificação de base de cálculo que implique redução discriminada de tributos ou contribuições, e outros benefícios que correspondam a tratamento diferenciado. § 2o Se o ato de concessão ou ampliação do incentivo ou benefício de que trata o caput deste artigo decorrer da condição contida no inciso II, o benefício só entrará em vigor quando implementadas as medidas referidas no mencionado inciso. 110 § 3o O disposto neste artigo não se aplica: I - às alterações das alíquotas dos impostos previstos nos incisos I, II, IV e V do art. 153 da Constituição, na forma do seu § 1º; II - ao cancelamento de débito cujo montante seja inferior ao dos respectivos custos de cobrança. _______________________________________________________________________ 64. A sociedade empresária XYZ apurou que teria recolhido indevidamente, na data de 26/03/2014, valores relativos à Contribuição para o Programa de Integração Social (PIS). Nesse sentido, a sociedade empresária XYZ requereu junto à Administração Tributária, na data de 07/11/2016, a compensação do suposto crédito mencionado com débito concernente à Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (COFINS). Todavia, o Fisco indeferiu, na data de 24/10/2018, a compensação pleiteada, com ciência do contribuinte na data de 12/02/2019. A sociedade empresária XYZ, então, ajuizou ação em 25/03/2021, com vistas à desconstituição da referida decisão proferida pelo Fisco, tendo o despacho citatório sido proferido em 18/08/2021 e a citação do procurador da Fazenda Nacional ocorrido em 29/03/2022. Tendo em conta as disposições do Código Tributário Nacional e a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça acerca da matéria, é CORRETO afirmar que: (A) deverá ser reconhecida a prescrição da pretensão formulada na ação, porquanto ultrapassado o prazo prescricional quinquenal para a propositura de demanda judicial visando à repetição do indébito tributário ou à compensação, notadamente porque o pedido administrativo de compensação não interrompe o curso do aludido prazo prescricional; (B) a pretensão formulada na ação foi exercida de forma tempestiva, haja vista que o pedido administrativo de compensação, por equivaler ao reconhecimento inequívoco, ainda que extrajudicial, do débito devido acarreta a interrupção do curso do prazo prescricional, o qual voltou a correr por inteiro após a decisão administrativa do Fisco que indeferiu a compensação; (C) deverá ser reconhecida a prescrição da pretensão formulada na ação, uma vez que decorrido o prazo prescricional bienal para a propositura de demanda judicial objetivando a anulação da decisão administrativa do Fisco que indeferiu a compensação, sendo inaplicável, nessa hipótese, o prazo prescricional quinquenal relativo à pretensão de repetição do indébito ou compensação; (D) a pretensão formulada na ação foi exercida de forma tempestiva, sendo certo que, após a interrupção do prazo prescricional pela propositura da demanda judicial, o referido prazo recomeçou a correr pela metade após a citação do procurador da Fazenda Nacional em 29/03/2022, de modo que o julgamento da ação deverá ocorrer até 29/03/2023, sob pena de configuração da prescrição intercorrente; (E) deverá ser reconhecida a prescrição da pretensão formulada na ação, considerando o transcurso do prazo prescricional bienal para a propositura de demanda judicial objetivando a anulação da decisão administrativa do Fisco que indeferiu a compensação, 111 ainda que o pedido administrativo de compensação tenha interrompido o curso do prazo prescricional para o ajuizamento de ação com vistas à repetição do indébito tributário ou à compensação. _______________________________________________________________________ GABARITO: C COMENTÁRIOS (A) INCORRETA. De fato, a Súmula 625-STJ prevê que o pedido administrativo de compensação ou de restituição não interrompe o prazo prescricional para a ação de repetição de indébito tributário de que trata o art. 168 do CTN nem o da execução de título judicial contra a Fazenda Pública. Porém, no caso em tela, a sociedade empresária ajuizou ação com vistas à desconstituição da decisão proferida pelo Fisco denegatória de compensação. Assim, aplica-se a regra prescricional prevista no art. 169 do CTN, afastando-se o art. 168 do CTN e o entendimento da súmula 625 STJ. Não se deve confundir o prazo prescricional do art. 168 do CTN (direito do contribuinte de pleitear a restituição diretamente na via judicial) com o prazo do art. 169 do CTN (prazo extintivo de ação anulatória, na qual o contribuinte se insurge contra decisão administrativa do Fisco).(B) INCORRETA. Não está em conformidade com entendimento sumulado do STJ: Súmula 625-STJ: O pedido administrativo de compensação ou de restituição não interrompe o prazo prescricional para a ação de repetição de indébito tributário de que trata o art. 168 do CTN nem o da execução de título judicial contra a Fazenda Pública. (C) CORRETA. Como visto, não se deve confundir o prazo prescricional do art. 168 do CTN (direito do contribuinte de pleitear a restituição diretamente na via judicial) com o prazo do art. 169 do CTN (prazo extintivo de ação anulatória, na qual o contribuinte se insurge contra decisão administrativa do Fisco). No caso em tela, a sociedade empresária ajuizou ação com vistas à desconstituição da decisão proferida pelo Fisco denegatória de compensação, aplicando-se a regra prescricional prevista no art. 169 do CTN: Art. 169. Prescreve em dois anos a ação anulatória da decisão administrativa que denegar a restituição. Parágrafo único. O prazo de prescrição é interrompido pelo início da ação judicial, recomeçando o seu curso, por metade, a partir da data da intimação validamente feita ao representante judicial da Fazenda Pública interessada. 112 Considerando que o contribuinte foi intimado da decisão administrativa em 12/02/2019, quando do ajuizamento da ação judicial em 25/03/2021 já havia transcorrido o prazo prescricional bienal previsto no art. 169 do CTN. (D) INCORRETA. Como visto na alternativa C, ocorreu a prescrição bienal prevista no art. 169 do CTN. (E) INCORRETA. Como visto na alternativa B, nos termos da Súmula 625-STJ, o pedido administrativo de compensação ou de restituição não interrompe o prazo prescricional para a ação de repetição de indébito tributário de que trata o art. 168 do CTN nem o da execução de título judicial contra a Fazenda Pública. _______________________________________________________________________ 65. A entidade religiosa XYZ, constituída sob a forma de associação civil de direito privado sem fins lucrativos, possui como objetivos estatutários a divulgação dogmática e o desenvolvimento de programas de educação e assistência social, por meio da realização de obras de caridade e da doação de recursos a instituições afins. Nessas circunstâncias, a entidade religiosa XYZ impetrou mandado de segurança preventivo a fim de ver reconhecido o seu direito à fruição da imunidade tributária em relação ao Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) incidente sobre aplicações financeiras de curto prazo, bem como no que concerne ao Imposto de Importação e ao Imposto sobre Produtos Industrializados incidentes sobre a importação de uma máquina de utilização gráfica, que seria destinada às suas finalidades institucionais. Nos termos da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, o juiz deverá: (A) conceder em parte a segurança para obstar a exigência do IOF, pois a imunidade prevista no Art. 150, inciso VI, alínea c), da Constituição Federal de 1988 não abarca o Imposto de Importação e o Imposto sobre Produtos Industrializados incidentes sobre a importação de bens, dado o forte caráter extrafiscal desses tributos, os quais constituem instrumentos de intervenção na ordem econômica e se voltam precipuamente à regulação do mercado; (B) denegar a segurança, uma vez que as entidades de natureza religiosa não podem ser qualificadas como instituições de assistência social para os fins de fruição da imunidade prevista no Art. 150, inciso VI, alínea c), da Constituição Federal de 1988, porquanto ausentes os requisitos da generalidade e da universalidade da prestação assistencial, extraídos do Art. 203 da Carta Magna; (C) conceder a segurança, haja vista que a imunidade prevista no Art. 150, inciso VI, alínea c, da Constituição Federal de 1988 deve ser interpretada de modo a abranger os impostos que possam desfalcar o patrimônio, prejudicar as atividades ou reduzir as rendas da entidade beneficiária, ainda que estejam apenas indiretamente relacionados com as suas finalidades essenciais, desde que os recursos obtidos sejam direcionados para o implemento de tais fins; (D) conceder em parte a segurança para obstar a exigência do IOF, na medida em que a imunidade prevista no Art. 150, inciso VI, alínea c), da Constituição Federal de 1988 alcança apenas o Imposto de Importação e o Imposto sobre Produtos Industrializados 113 incidentes sobre a importação de bens relacionados com as atividades de assistência social, o que não se verifica na hipótese, pois a importação do bem foi meramente decorrente das finalidades essenciais da entidade religiosa; (E) conceder em parte a segurança para obstar a exigência do Imposto de Importação e do Imposto sobre Produtos Industrializados, uma vez que a imunidade prevista no Art. 150, inciso VI, alínea c), da Constituição Federal de 1988 alcança apenas os impostos incidentes sobre patrimônio, renda ou serviços relacionados com as finalidades essenciais das entidades beneficiárias, não abarcando o IOF, já que inexiste vinculação entre as operações financeiras oneradas e as finalidades essenciais da entidade religiosa. _______________________________________________________________________ GABARITO: C COMENTÁRIOS A questão exigia o conhecimento de entendimento do Supremo Tribunal Federal proferida no Tema 328 da Repercussão Geral: A imunidade assegurada pelo art. 150, VI, “c”, da Constituição da República aos partidos políticos, inclusive suas fundações, às entidades sindicais dos trabalhadores e às instituições de educação e de assistência social, sem fins lucrativos, que atendam aos requisitos da lei, alcança o IOF, inclusive o incidente sobre aplicações financeiras. STF. Plenário. RE 611510/SP, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 12/4/2021 (Repercussão Geral – Tema 328) (Info 1012). _______________________________________________________________________ 66. Suponha que determinada lei estadual instituiu taxa de controle, monitoramento e fiscalização ambiental das atividades de geração, transmissão e/ou distribuição de energia elétrica de origem hidráulica, térmica e termonuclear, tendo como fato gerador o exercício regular do poder de polícia sobre as referidas atividades no âmbito da unidade federativa. Considere, ainda, que a aludida lei estadual estabeleceu que o valor do tributo será determinado em razão do volume de energia elétrica gerado pelo explorador da atividade, bem como em virtude da receita bruta e do número de empregados do estabelecimento contribuinte. De acordo com a Constituição Federal de 1988 e com a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal sobre o tema, a mencionada lei estadual pode, em tese, ser considerada: (A) materialmente constitucional no que concerne à previsão de que o valor da taxa será fixado em virtude da receita bruta do explorador da atividade, haja vista que o porte da empresa pode ser utilizado como critério idôneo para a mensuração do custo da atividade estatal de fiscalização ambiental; 114 (B) materialmente inconstitucional no que diz respeito à previsão de que o valor da taxa será condicionado à quantidade de energia elétrica produzida e ao número de empregados do estabelecimento contribuinte, uma vez que tais critérios não guardam relação de pertinência com a atividade estatal de fiscalização ambiental; (C) formalmente inconstitucional no que tange à previsão relativa à energia termonuclear, por invadir a competência privativa da União para legislar sobre atividades nucleares, assim como por inobservar o monopólio exercido pela União sobre a pesquisa, a lavra, o enriquecimento, o reprocessamento, a industrialização e o comércio de minérios nucleares e seus derivados; (D) materialmente constitucional no que se refere à previsão de que o valor do tributo será fixado em razão do número de empregados do estabelecimento contribuinte, na medida em que, quanto maior for o referido número, maior poderá ser o impacto social e ambientaldo empreendimento, a justificar um grau mais elevado de controle e fiscalização do poder público; (E) materialmente inconstitucional em relação à previsão de que o valor do tributo será determinado pelo volume de energia elétrica gerado pelo contribuinte, porquanto tal critério excede de forma desproporcional os custos da atividade estatal de fiscalização, descaracterizando a natureza contraprestacional da taxa e violando o princípio da capacidade contributiva, na dimensão do custo/benefício. _______________________________________________________________________ GABARITO: A COMENTÁRIOS (A) CORRETA. Em conformidade com o entendimento do STF: Ementa: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. TRIBUTÁRIO. TAXA DE CONTROLE E FISCALIZAÇÃO AMBIENTAL DO ESTADO DE MINAS GERAIS – TFAMG. LEI ESTADUAL 14.940/2003, COM AS ALTERAÇÕES DA LEI ESTADUAL 17.608/2008. BASE DE CÁLCULO. SOMATÓRIO DAS RECEITAS BRUTAS DE TODOS OS ESTABELECIMENTOS DO CONTRIBUINTE. ART. 145, II, § 2º, DA CF. CONSTITUCIONALIDADE. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO. I – A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal tem reconhecido a constitucionalidade de taxas cobradas em razão do controle e fiscalização ambiental, por serem cobradas em razão do exercício regular do poder de polícia. II – É legítima a utilização do porte da empresa, obtido a partir do somatório das receitas bruta de seus estabelecimentos, para mensurar o custo da atividade despendida na fiscalização que dá ensejo a cobrança da taxa. Precedente. III – Agravo regimental a que se nega provimento. 115 (ARE 738944 AgR, Relator(a): RICARDO LEWANDOWSKI, Segunda Turma, julgado em 11-03-2014, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-059 DIVULG 25-03-2014 PUBLIC 26-03-2014) (B) INCORRETA. Admite-se que valor da taxa seja condicionado à quantidade de energia elétrica produzida, pois se relaciona ao custo da atividade estatal desenvolvida. (C) INCORRETA. Apesar de a exploração da energia nuclear ser de competência privativa da União, o exercício do poder de polícia ambiental sobre atividades potencialmente poluidoras pode ser exercido por entes federativos, inclusive estados, conforme jurisprudência do STF. A fiscalização ambiental (não energética ou de política nuclear) é concorrente e pode ser exercida pelos estados, inclusive com instituição de taxa. (D) INCORRETA. Afirmativa que viola o entendimento do STF sobre a impossibilidade de se usar o número de empregados como base de cálculo das taxas de fiscalização e funcionamento. A taxa é um tributo contraprestacional. Logo, sua base de cálculo deve estar relacionada com o custo do serviço ou do poder de polícia exercido. As taxas municipais de fiscalização e funcionamento não podem ter como base de cálculo o número de empregados ou ramo de atividade exercida pelo contribuinte. STF. 2ª Turma. ARE 990914/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 20/6/2017 (Info 870). (E) INCORRETA. Admite-se que valor da taxa seja condicionado à quantidade de energia elétrica produzida, pois se relaciona ao custo da atividade estatal desenvolvida. _______________________________________________________________________ 67. O Banco ABC ajuizou ação de execução de título extrajudicial contra Romero, visando à cobrança de dívida materializada em Cédula de Crédito Bancário. Realizada a penhora de um dos imóveis pertencentes a Romero, foi designado leilão para a alienação judicial do bem, o qual veio a ser arrematado por Saldanha na data de 08/05/2022. O edital do referido leilão previa expressamente que os débitos tributários anteriores à alienação judicial são de responsabilidade do arrematante. Assim, após a aquisição do imóvel em hasta pública, a União passou a cobrar de Saldanha os débitos de ITR relativos aos anos de 2018 e 2019. Inconformado, Saldanha ajuizou ação em 18/04/2023, objetivando a declaração de inexigibilidade dos débitos tributários cujos fatos geradores ocorreram anteriormente à data de 08/05/2022, com fundamento no Art. 130, parágrafo único, do Código Tributário Nacional (CTN). Diante desse cenário, e à luz da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça sobre a questão, o pedido formulado na ação declaratória deverá ser julgado: (A) improcedente, uma vez que o conteúdo do Art. 130, parágrafo único, do CTN deve ser afastado quando houver previsão expressa no edital do leilão de que o arrematante possui responsabilidade pelos débitos tributários anteriores à alienação judicial, caso em que ocorre sub-rogação pessoal do crédito tributário; 116 (B) improcedente, porquanto a regra de sub-rogação tributária prevista no Art. 130, parágrafo único, do CTN não resulta na transferência da sujeição passiva do contribuinte para o responsável, mas sim na solidariedade de ambos como devedores do tributo, de sorte que tanto Romero quanto Saldanha respondem solidariamente pela obrigação tributária; (C) procedente, tendo em vista que, embora haja vínculo entre Saldanha e o fato gerador da obrigação tributária, inexiste lei complementar que restrinja ou excepcione o disposto no Art. 130, parágrafo único, do CTN, razão pela qual é vedado exigir do arrematante, com base em previsão editalícia, o pagamento dos créditos tributários cujos fatos geradores sejam anteriores à alienação judicial; (D) improcedente, haja vista que, diante da existência de previsão no Código de Processo Civil de que o edital da hasta pública deve mencionar os ônus existentes sobre o bem a ser leiloado, a prévia ciência e a eventual concordância, expressa ou tácita, do arrematante em assumir os ônus das exações incidentes sobre o imóvel possuem o condão de configurar renúncia à aplicação do Art. 130, parágrafo único, do CTN; (E) procedente, na medida em que a aquisição da propriedade em hasta pública ocorre de forma originária, de modo que inexiste responsabilidade do terceiro adquirente pelos débitos tributários anteriores à arrematação, não podendo a regra do Art. 130, parágrafo único, do CTN ser excepcionada por previsão no edital do leilão, o qual não possui aptidão para modificar a definição legal do sujeito passivo da obrigação tributária. _______________________________________________________________________ GABARITO: E COMENTÁRIOS A questão exige conhecimento da jurisprudência do STJ acerca do art. 130 do CTN. Houve mudança na jurisprudência do STJ acerca do contribuinte do IPTU na hipótese de arrematação de imóvel em hasta pública. Antes do julgamento do Tema Repetitivo 1134, ocorrido em 09/10/2024, o STJ entendia pela possibilidade de responsabilização do arrematante pelo pagamento dos débitos tributários anteriores, desde que houvesse previsão no edital neste sentido. Aplicava-se o art. 886, VI, do CPC, em detrimento do parágrafo único do art. 130 do CTN. Porém, de acordo com o novo entendimento, a arrematação em hasta pública exonera a reponsabilidade do adquirente pelo pagamento do IPTU (entendimento que também se aplica ao ITR), havendo a sub-rogação do crédito tributário sobre o preço pelo qual foi arrematado o bem. O tema 1134 tem a seguinte redação: Diante do disposto no art. 130, parágrafo único, do Código Tributário Nacional, é inválida a previsão em edital de leilão atribuindo responsabilidade ao arrematante pelos débitos tributários que já incidiam sobre o imóvel na data de sua 117 alienação. (STJ. 1ª Seção. REsp 1.914.902-SP, REsp 1.944.757-SP e REsp 1.961.835-SP, Rel. Min. Teodoro Silva Santos, julgados em 9/10/2024 (Recurso Repetitivo – Tema 1134) O novo entendimento do STJ fundamenta-se no seguinte: i) a aquisição da propriedade em hasta pública ocorre de forma originária, inexistindo responsabilidade do terceiro adquirente pelos débitos tributários incidentes sobre o imóvel anteriormente à arrematação, por força do disposto no parágrafo único do art. 130 do CTN; ii) a aplicação dessa norma geral, de natureza cogente, não pode ser excepcionada por previsão noedital do leilão, notadamente porque o referido ato não tem aptidão para modificar a definição legal do sujeito passivo da obrigação tributária; iii) é irrelevante a ciência e a eventual concordância, expressa ou tácita, do participante do leilão, em assumir o ônus pelo pagamento das exações que incidam sobre o imóvel arrematado, não configurando renúncia tácita ao disposto no art. 130, parágrafo único, do CTN; e iv) em atenção à norma geral sobre responsabilidade tributária trazida pelo art. 128 do CTN e à falta de lei complementar que restrinja ou excepcione o disposto no art. 130, parágrafo único, do CTN, é vedado exigir do arrematante, com base em previsão editalícia, o recolhimento dos créditos tributários incidentes sobre o bem arrematado cujos fatos geradores sejam anteriores à arrematação. _______________________________________________________________________ 68. A Receita Federal do Brasil procedeu ao arrolamento dos bens e direitos da sociedade empresária Alfa, nos termos do Art. 64 da Lei nº 9.532/1997, sob o fundamento de que os débitos tributários de responsabilidade do sujeito passivo ultrapassavam 30% de seu patrimônio conhecido e remontavam a R$ 3.500.000,00. Após a regular notificação do sujeito passivo acerca do ato de arrolamento, a Receita Federal do Brasil tomou conhecimento de que a sociedade empresária Alfa transferiu à sociedade empresária Ômega um imóvel arrolado, no valor de R$ 1.200.000,00. A autoridade fiscal, então, representou pela propositura de medida cautelar fiscal, a qual foi ajuizada pela Fazenda Nacional em face da sociedade empresária Alfa. Diante desse contexto, e considerando a jurisprudência dominante do Superior Tribunal de Justiça sobre o tema, é CORRETO afirmar que a hipótese narrada: (A) autoriza a propositura de medida cautelar fiscal, uma vez que, após a notificação do ato de arrolamento, a sociedade empresária Alfa somente poderia ter transferido o bem imóvel arrolado após a prévia comunicação ao Fisco, ainda que o crédito tributário não tenha sido constituído; (B) somente autoriza a propositura de medida cautelar fiscal se a sociedade empresária Alfa tiver transferido o bem imóvel arrolado sem a devida comunicação ao órgão 118 fazendário, desde que o crédito tributário já tenha sido constituído, ainda que suspensa a exigibilidade deste; (C) autoriza a propositura de medida cautelar fiscal, haja vista que, após a notificação do ato de arrolamento, a sociedade empresária Alfa somente poderia ter transferido o bem imóvel arrolado após a aquiescência do Fisco, sob pena de esvaziamento do patrimônio do sujeito passivo e frustração do adimplemento do crédito tributário; (D) somente autoriza a propositura de medida cautelar fiscal se a sociedade empresária Alfa tiver transferido o bem imóvel arrolado sem a devida comunicação ao órgão fazendário, sendo certo, contudo, que, se a referida comunicação ocorrer após o ato de disposição do bem, a medida cautelar fiscal não deverá subsistir; (E) somente autoriza a propositura de medida cautelar fiscal se a sociedade empresária Alfa tiver transferido o bem imóvel arrolado sem a prévia comunicação ao órgão fazendário, mesmo que suspensa a exigibilidade do crédito tributário, sendo vedada, contudo, a decretação da indisponibilidade dos bens do sujeito passivo enquanto a exigibilidade do crédito tributário estiver suspensa. _______________________________________________________________________ GABARITO: D COMENTÁRIOS Exige o conhecimento da Lei 8.397/92, que trata da medida cautelar fiscal, da Lei 9.532/97, que trata do arrolamento de bens e o entendimento do STJ sobre o tema. Lei 8.397/92 Art. 2º A medida cautelar fiscal poderá ser requerida contra o sujeito passivo de crédito tributário ou não tributário, quando o devedor: VII - aliena bens ou direitos sem proceder à devida comunicação ao órgão da Fazenda Pública competente, quando exigível em virtude de lei; Lei 9.532/97 Art. 64. A autoridade fiscal competente procederá ao arrolamento de bens e direitos do sujeito passivo sempre que o valor dos créditos tributários de sua responsabilidade for superior a trinta por cento do seu patrimônio conhecido. § 3º A partir da data da notificação do ato de arrolamento, mediante entrega de cópia do respectivo termo, o proprietário dos bens e direitos arrolados, ao transferi-los, aliená-los ou onerá-los, deve comunicar o fato à unidade do órgão fazendário que jurisdiciona o domicílio tributário do sujeito passivo. 119 § 4º A alienação, oneração ou transferência, a qualquer título, dos bens e direitos arrolados, sem o cumprimento da formalidade prevista no parágrafo anterior, autoriza o requerimento de medida cautelar fiscal contra o sujeito passivo. A transferência de bens arrolados sem a devida comunicação ao Fisco autoriza a propositura da medida cautelar fiscal, mesmo que o crédito tributário ainda não esteja definitivamente constituído. Além disso, não é necessário que a notificação seja anterior ao ato de alienação: A Lei nº 9.532/97 não exige que a notificação ao órgão fazendário seja prévia à alienação, mas simplesmente que exista a comunicação. Assim, a alienação de bens que foram objeto de arrolamento fiscal não depende de prévia notificação ao órgão fazendário. STJ. 1ª Turma. REsp 1.217.129-SC, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 27/10/2016 (Info 594). _______________________________________________________________________ 69. Após a constituição definitiva de determinado crédito tributário pela via administrativa, a União procedeu à inscrição deste em dívida ativa, notificando o devedor para, em até cinco dias, efetuar o pagamento do valor atualizado monetariamente, acrescido de juros, multa e demais encargos. Constatada a falta de pagamento do débito no prazo mencionado, a Fazenda Pública comunicou a inscrição em dívida ativa ao Serasa e averbou a certidão de dívida ativa (CDA) junto ao registro de imóveis, tornando os respectivos bens indisponíveis. Nesse cenário, tendo em vista a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal acerca da matéria, é CORRETO afirmar que: (A) é legítima a averbação da CDA junto ao registro de imóveis, por propiciar a proteção da boa-fé de terceiros adquirentes de bens do devedor, porém a indisponibilidade de bens do devedor na via administrativa padece de inconstitucionalidade, por violar a reserva de jurisdição, o contraditório e a ampla defesa; (B) é legítima a comunicação da inscrição em dívida ativa aos órgãos de proteção ao crédito, sendo certo, todavia, que a averbação pré-executória da CDA e a indisponibilidade dos bens se revelam medidas inconstitucionais, por violarem o devido processo legal, o contraditório, a ampla defesa, a reserva de jurisdição e o direito de propriedade; (C) são materialmente inconstitucionais a comunicação da inscrição em dívida ativa ao Serasa e a averbação da CDA junto ao registro de imóveis, assim como a indisponibilidade dos respectivos bens, haja vista que tais medidas configuram sanções políticas, por constituírem meios de coerção estatal indireta com o objetivo de forçar o devedor a adimplir as dívidas tributárias; (D) são formalmente inconstitucionais as medidas de averbação pré-executória da CDA e de indisponibilidade de bens do devedor pela via administrativa, porquanto veiculadas por lei ordinária, violando a reserva de lei complementar para estabelecer normas gerais 120 em matéria de legislação tributária, notadamente para a ampliação das garantias do crédito tributário; (E) são legítimas a comunicação da inscrição em dívida ativa ao Serasa e a averbação pré- executória da CDA, bem como a indisponibilidade dos bens, na medida em que as referidas medidas se afiguram proporcionais e não restringem indevidamente o exercício de direitos fundamentais, tendo por objetivo proteger terceiros de boa-fé e impedir a dilapidação patrimonial pelo devedor._______________________________________________________________________ GABARITO: A COMENTÁRIOS A questão exigia o conhecimento do art. 20-B da Lei 10522/2002 e o julgamento do STF na ADI 5581: Lei 10522/2002 Art. 20-B. Inscrito o crédito em dívida ativa da União, o devedor será notificado para, em até cinco dias, efetuar o pagamento do valor atualizado monetariamente, acrescido de juros, multa e demais encargos nela indicados. § 1o A notificação será expedida por via eletrônica ou postal para o endereço do devedor e será considerada entregue depois de decorridos quinze dias da respectiva expedição. § 2o Presume-se válida a notificação expedida para o endereço informado pelo contribuinte ou responsável à Fazenda Pública. § 3o Não pago o débito no prazo fixado no caput deste artigo, a Fazenda Pública poderá: I - comunicar a inscrição em dívida ativa aos órgãos que operam bancos de dados e cadastros relativos a consumidores e aos serviços de proteção ao crédito e congêneres; e II - averbar, inclusive por meio eletrônico, a certidão de dívida ativa nos órgãos de registro de bens e direitos sujeitos a arresto ou penhora, tornando-os indisponíveis. Na ADI 5881, o STF reconhece a validade da averbação da CDA como meio de publicidade e proteção de terceiros e rechaça a indisponibilidade de bens por via administrativa, por violar garantias constitucionais fundamentai: É constitucional a comunicação da inscrição em dívida ativa aos órgãos que operam bancos de dados e cadastros relativos a consumidores e aos serviços de proteção ao crédito e congêneres. 121 É constitucional a averbação, inclusive por meio eletrônico, da certidão de dívida ativa (CDA) nos órgãos de registro de bens e direitos sujeitos a arresto ou penhora, relativamente aos créditos inscritos em dívida ativa da União. É inconstitucional a previsão legal que permite à Fazenda Nacional tornar indisponíveis, administrativamente, bens dos contribuintes devedores para garantir o pagamento dos débitos fiscais a serem executados. STF. Plenário. ADI 5881/DF, ADI 5886/DF, ADI 5890/DF, ADI 5925/DF, ADI 5931/DF e ADI 5932/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgados em 9/12/2020 (Info 1002). _______________________________________________________________________ 70. A sociedade empresária ABC adquiriu, em 2019, 2020 e 2021, diversos produtos importados pela sociedade empresária DEF, com quem firmara contrato de importação por conta e ordem daquela. Nos períodos mencionados, as importações foram realizadas mediante indicação da classificação “X”, tendo os procedimentos sido regularmente homologados pelo Fisco. Entretanto, na data de 15/12/2022, as mercadorias adquiridas pela sociedade empresária ABC foram classificadas pela autoridade fiscal sob o código “Y”, embora se tratasse dos mesmos tipos de produtos importados nos anos anteriores com indicação classificatória diversa. O Fisco, então, lavrou Auto de Infração em face das sociedades empresárias ABC e DEF, em virtude da incorreta classificação das mercadorias relativas às Declarações de Importação concernentes aos períodos de 2019, 2020 e 2021, cobrando as diferenças do Imposto sobre a Importação (II) e do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) incidentes sobre as aludidas operações, acrescidas de juros e multa. Segundo o disposto no Código Tributário Nacional e no Decreto- Lei nº 37/1966, assim como em conformidade com a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça sobre o tema, o referido lançamento suplementar deverá ser considerado: (A) insubsistente em relação à sociedade empresária ABC, uma vez que esta não pode ser qualificada como sujeito passivo da obrigação tributária, ainda que a importação das mercadorias estrangeiras por ela adquiridas seja realizada por sua conta e ordem; (B) insubsistente, haja vista ser vedada a revisão do lançamento anterior diante de erro de classificação operado pelo Fisco aceitando as declarações do importador quando do desembaraço aduaneiro, por se tratar de mudança de critério jurídico; (C) subsistente, porquanto a autoridade fiscal possui o poder-dever de efetuar a revisão do lançamento anterior, observado o prazo decadencial, na hipótese de ocorrência de erro de fato na classificação das mercadorias importadas, sendo este entendido como aquele relacionado ao conhecimento da existência de determinada situação; (D) insubsistente apenas em relação aos acréscimos legais, pois a observância das normas complementares, a exemplo das práticas reiteradamente adotadas pelas 122 autoridades administrativas até a data da revisão do lançamento, exclui a imposição de juros e multa, não havendo, contudo, dispensa legal do pagamento dos tributos devidos; (E) subsistente, na medida em que o Decreto-Lei nº 37/1966 prevê procedimento específico para a apuração da exatidão das informações prestadas pelo importador e a aferição da regularidade do pagamento do imposto, podendo ser efetuada a revisão do lançamento em razão da alteração da classificação tarifária, desde que dentro do prazo decadencial de cinco anos. _______________________________________________________________________ GABARITO: B COMENTÁRIOS A questão exigiu o conhecimento do art. 146 do CTN Artigo 146. A modificação introduzida, de ofício ou em consequência de decisão administrativa ou judicial, nos critérios jurídicos adotados pela autoridade administrativa no exercício do lançamento somente pode ser efetivada, em relação a um mesmo sujeito passivo, quanto a fato gerador ocorrido posteriormente à sua introdução. Esse dispositivo significa que só pode ser feita a modificação do lançamento por erro de fato. Não se admite que seja feita alteração por ‘erro de direito’, que aqui significa alteração do critério de aplicação da norma jurídica. O fisco não pode mudar sua interpretação (critérios jurídicos) alegando erro de direito. Essa nova interpretação só poderá ocorrer, quanto ao mesmo sujeito passivo, para fatos geradores posteriores (efeito ex nunc da nova interpretação). Essa norma traduz o princípio da proteção à confiança. O erro do fisco está em tentar cobrar retroativamente com base exclusiva na mudança de interpretação da classificação fiscal (critério jurídico). _______________________________________________________________________ BLOCO III DIREITO ADMINISTRATIVO 71. A União, por intermédio de determinado ente, publicou dois editais de licitação para o fornecimento imediato, respectivamente, dos bens X e Y. Na primeira situação (1S), a sociedade empresária Alfa, apesar de regularmente convocada, deixou de comparecer, no prazo estabelecido, para assinar o termo de contrato. Na segunda situação (2S), o objeto do contrato foi adjudicado ao licitante vencedor, a sociedade empresária Beta, que iniciou a sua execução e a interrompeu abruptamente, o que levou a rescisão 123 contratual, embora ainda estivesse pendente o fornecimento de 30% do quantitativo contratado do bem Y. Em relação às duas situações descritas, considerando a sistemática estabelecida na Lei nº 14.133/2021, é CORRETO afirmar que: (A) em 2S, a Administração deve realizar nova licitação para a contratação do remanescente de serviço; (B) em 2S, a Administração pode convocar os demais licitantes classificados para a contratação do remanescente de fornecimento; (C) em 1S, a Administração está obrigada a convocar os licitantes remanescentes, na ordem de classificação, para celebrar o contrato nas mesmas condições estabelecidas por Alfa; (D) em 1S e em 2S, a Administração tem a faculdade de realizar a contratação com um dos licitantes remanescentes, observada a ordem de classificação e os exatos termos das propostas originais; (E) em 1S, a Administração tem a faculdade de reabrir o prazo para encaminhamento das propostas, estabelecendo os valores ofertadospor Alfa como patamar básico de economicidade. _______________________________________________________________________ GABARITO: B COMENTÁRIOS Aplicação do art. 90 da Lei Federal n.º 14.133/2021, que prevê a mesma regra tanto para o caso do (i) licitante vencedor não assinar o contrato dentro do prazo fixado no edital quanto para a hipótese de (ii) rescisão e contratação do remanescente contratual: a. Convocam-se os demais licitantes, na ordem de classificação, para celebração do contrato nas condições e propostas pelo licitante vencedor; b. Caso nenhum aceite praticar as mesmas condições do licitante vencedor, os licitantes remanescentes serão chamados para negociação, na ordem de classificação, com vistas à obtenção do melhor preço, mesmo que acima do preço do adjudicatário [mas desde que abaixo, é claro, do orçamento estimado pela Administração]. Um detalhe: essa convocação dos licitantes remanescentes é uma faculdade da Administração, e não uma regra imperativa. Com efeito, a Administração sempre poderá, desde que devidamente justificado, realizar nova licitação. _______________________________________________________________________ 72. No curso de uma ação por ato de improbidade administrativa, o Ministério Público, que figurava como demandante, imputou a um dirigente do partido político Alfa a conduta de desviar, para benefício próprio, a quantia X, oriunda do Fundo Especial de Assistência Financeira aos Partidos Políticos. Em sua defesa, o dirigente argumentou que: 124 I. a Lei nº 8.429/1992 não é aplicável aos partidos políticos, cujos dirigentes devem ser responsabilizados nos termos da Lei nº 9.096/1995; II. ocorrera a sua absolvição criminal pelos mesmos fatos, em razão da ausência de provas da autoria; logo, a responsabilização por ato de improbidade administrativa também não é possível por este motivo; III. o Tribunal de Contas não foi ouvido em relação ao quantum debeatur, o que configura uma irregularidade. Ao apreciar os três argumentos de defesa do demandado, o magistrado concluiu corretamente que: (A) os três estão certos; (B) os três estão errados; (C) apenas o argumento I está certo; (D) apenas o argumento II está certo; (E) apenas os argumentos I e III estão certos. _______________________________________________________________________ GABARITO: B COMENTÁRIOS I. INCORRETA. A Lei Federal n.º 14.230/2021 incluiu expressamente os agentes políticos no art. 2º da Lei Federal n.º 8.429/1991 – Lei de Improbidade Administrativa (LIA), entre aqueles que poderão sofrer suas penalidades. Os Tribunais Superiores reconhecem mansamente a submissão dos agentes políticos à LIA, consagrando o duplo regime de responsabilidade político-administrativa, com possibilidade de responsabilização concomitante por ato de improbidade administrativa e por crime de responsabilidade. A única exceção à LIA é o Presidente da República, que se sujeita tão somente à Lei 1.079/1950. Confiramos: O Superior Tribunal de Justiça firmou o entendimento de que os agentes políticos se submetem aos ditames da Lei de Improbidade Administrativa, sem prejuízo da responsabilização política e criminal. (AgInt no REsp 1607976/RJ) Há plena compatibilidade entre os regimes de responsabilização pela prática de crime de responsabilidade e por ato de improbidade administrativa, tendo em vista que não há norma constitucional que imunize os agentes políticos municipais de qualquer das sanções previstas no art. 37, § 4º, da CF, bem como 125 resta sedimentada a compreensão de que as ações de improbidade devem ser processadas nas instâncias ordinárias, não havendo que se cogitar de prerrogativa de foro. (AgRg no AREsp 461.084/SP, Rel. Ministro Og Fernandes, Segunda Turma, julgado em 16/10/2014). Excetuada a hipótese de atos de improbidade praticados pelo Presidente da República (art. 85, V), cujo julgamento se dá em regime especial pelo Senado Federal (art. 86), não há norma constitucional alguma que imunize os agentes políticos, sujeitos a crime de responsabilidade, de qualquer das sanções por ato de improbidade previstas no art. 37, § 4º. (STJ, Rcl 2790/SC). Os agentes políticos, com exceção do Presidente da República, encontram-se sujeitos a duplo regime sancionatório, de modo que se submetem tanto à responsabilização civil pelos atos de improbidade administrativa quanto à responsabilização político- administrativa por crimes de responsabilidade. O foro especial por prerrogativa de função previsto na Constituição Federal em relação às infrações penais comuns não é extensível às ações de improbidade administrativa. (Pet 3240 AgR/DF) TESE DE REPERCUSSÃO GERAL: “O processo e julgamento de prefeito municipal por crime de responsabilidade (Decreto-lei 201/67) não impede sua responsabilização por atos de improbidade administrativa previstos na Lei 8.429/1992, em virtude da autonomia das instâncias”. (RE 976566, Relator(a): Min. ALEXANDRE DE MORAES, Tribunal Pleno, julgado em 13/09/2019). II. INCORRETA. De acordo com o art. 66 do CPP e art. 935 do Código Civil, a sentença penal somente repercute no plano civil quando presente deliberação positiva ou negativa acerca da existência material do fato e de sua respectiva autoria. Assim também, os arts. 125 e 126 da Lei 8.112/1990 preveem que a responsabilidade administrativa do servidor será afastada no caso de absolvição criminal que negue a existência do fato ou de sua autoria. Trata-se do princípio da relativa independência entre as instâncias cível, administrativa e penal, que dá prevalência à jurisdição criminal quando decidido, positiva ou negativamente, quanto à existência do fato ou à sua autoria. Mas isso não é tudo. 126 Reconhecendo a correlação entre o direito penal e o direito administrativo sancionador e necessidade de se manter a coerência entre essas duas esferas de responsabilização, o STJ entende que, à luz do princípio da culpabilidade, a sentença absolutória imprópria no juízo criminal afasta a sanção administrativa pelo mesmo fato, até mesmo porque o Judiciário atua como instância máxima revisora da legitimidade dos atos da Administração Pública, impondo-se a esta avaliar eventual concessão de licença para tratamento de saúde ou de aposentadoria por invalidez (STJ. 1ª Turma. RMS 72.642-PR, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 1/10/2024, Info 828). Note-se que não se trata de absolvição por insuficiência de provas, mas de uma decisão judicial em cognição exauriente que decidiu cabalmente, com base em provas colhidas em incidente próprio, que o acusado não tinha capacidade cognitiva. Em caso de absolvição criminal pro falta de provas, continua possível a condenação por ato de improbidade administrativa. III. INCORRETA. As instâncias cível, administrativa, criminal e controladora são relativamente independentes, sendo prescindível, assim, a oitiva do Tribunal de Contas para fixação do quantum debeatur numa ação de improbidade administrativa. A LIA apenas exige a oitiva do Tribunal de Contas competente para fixação do valor do dano a ser ressarcido no caso de acordo de não persecução civil (art. 17-B, § 3º). _______________________________________________________________________ 73. O Tribunal de Contas da União instaurou processo de tomada de contas especial, com o objetivo de quantificar o dano causado e apurar responsabilidades no âmbito de certo contrato celebrado entre sociedade de economia mista federal e consórcio formado por duas sociedades empresárias privadas, com o objetivo de construção de obra a ser utilizada na exploração de atividade econômica em sentido estrito. A partir de uma cognição sumária, o Tribunal decidiu adotar três medidas de natureza cautelar, diferindo as garantias do contraditório e da ampla defesa para momento posterior ao seu cumprimento. As medidas cautelares adotadas foram: I. a decretação da indisponibilidadedos bens dos empregados da sociedade de economia mista diretamente envolvidos na celebração do contrato; II. a desconsideração da personalidade jurídica das duas sociedades empresárias privadas que formavam o consórcio; III. a decretação da indisponibilidade dos bens dos dirigentes das sociedades empresárias, representantes do consórcio, que firmaram o contrato. Considerando as competências do Tribunal de Contas da União, é correto afirmar, em relação às referidas medidas cautelares, que: (A) as três medidas são ilícitas, pois impõem restrições diretas ou indiretas à esfera jurídica individual com contraditório diferido, o que é expressamente vedado; (B) medidas constritivas do patrimônio de pessoas naturais, sejam ou não agentes públicos, não podem ser adotadas pelo Tribunal de Contas; logo, apenas as medidas I e III são ilícitas; 127 (C) medidas constritivas do patrimônio de pessoas naturais, que não atuam como ordenadoras de despesas, não podem ser adotadas pelo Tribunal de Contas; logo, apenas a medida III é ilícita; (D) as três medidas cautelares são lícitas, enquanto aplicação da teoria dos poderes implícitos, sendo proferidas em caráter não definitivo, mas a decretação da indisponibilidade não pode se estender por prazo superior a 1 ano; (E) medidas constritivas do patrimônio de pessoas naturais, que não atuam como ordenadoras de despesas, e a desconsideração da personalidade jurídica somente podem ser decretadas pelo Poder Judiciário, não pelo Tribunal de Contas; logo, apenas as medidas II _______________________________________________________________________ GABARITO: D COMENTÁRIOS No que diz respeito à indisponibilidade, o § 2º do art. 44 da Lei Orgânica do Tribunal de Contas da União – Lei Federal n.º 8.443/1992 prevê expressamente a possibilidade de, no curso de qualquer apuração, o TCU, de ofício ou a requerimento do MP, determinar, cautelarmente, a indisponibilidade de bens dos responsáveis, por prazo não superior a 01 ano, tantos quantos bastantes para garantir o ressarcimento dos danos em apuração. A seu turno, quanto à desconsideração da personalidade, o art. 50 do CC/02 adotou a chamada “teoria maior” e prevê a possibilidade da desconsideração da personalidade jurídica quando demonstrado o desvio de finalidade ou a confusão patrimonial, para se atingir os bens particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica beneficiados direta ou indiretamente pelo abuso. Além disso, mas se valendo da “teoria menor”, que dispensa a comprovação do dolo/fraude, o art. 14 da Lei Anticorrupção – Lei Federal n.º 12.846/2013 – que dispõe sobre a responsabilização objetiva administrativa e civil de pessoas jurídicas pela prática de atos contra a administração pública – prescreve que “A personalidade jurídica poderá ser desconsiderada sempre que utilizada com abuso do direito para facilitar, encobrir ou dissimular a prática dos atos ilícitos previstos nesta Lei ou para provocar confusão patrimonial, sendo estendidos todos os efeitos das sanções aplicadas à pessoa jurídica aos seus administradores e sócios com poderes de administração, observados o contraditório e a ampla defesa.”. Assim também, o art. 160 da Nova Lei Geral de Licitações – Lei Federal n.º 14.133/2021, que estabelece que “A personalidade jurídica poderá ser desconsiderada sempre que utilizada com abuso do direito para facilitar, encobrir ou dissimular a prática dos atos ilícitos previstos nesta Lei ou para provocar confusão patrimonial, e, nesse caso, todos os efeitos das sanções aplicadas à pessoa jurídica serão estendidos aos seus administradores e sócios com poderes de administração, a pessoa jurídica sucessora ou a empresa do mesmo ramo com relação de coligação ou controle, de fato ou de direito, com o sancionado, observados, em todos os casos, o contraditório, a ampla defesa e a obrigatoriedade de análise jurídica prévia.”. 128 A despeito da ausência de previsão legal específica em favor das Cortes de Contas, o STF possui jurisprudência firme no sentido de que, além dos poderes explícitos conferidos pelo art. 71 da CF/88, os Tribunais de Contas possuem competência implícita para afastar a personalidade jurídica (MC-MS 34.446/DF, rel. Min. Rosa Weber, julg. 23/11/2016; MS- MC 32.494/DF, rel. Min. Celso de Mello, decisão de 11/11/2013) com o objetivo de assegurar a eficácia de suas decisões (MS 24.510, rel. Min. Ellen Gracie, Pleno, julg. 19/11/2003; MS 24.510/DF, rel, Min. Ellen Gracie, MS 26.094/DF, rel. Min. Dias Toffoli e o MS 26.547-MC/DF, rel. Min. Celso de Mello), coibindo os efeitos da fraude ou simulação destinadas a evitar efeitos sancionatórios. _______________________________________________________________________ 74. A União, por seu órgão competente, declarou a utilidade pública de imóvel urbano pertencente a João, com o objetivo de ali instalar estrutura de apoio à concessão administrativa de obra pública. Frustrada a solução consensual para a desapropriação, foi ajuizada a ação pertinente, que teve o seu trâmite regular, incluindo a imissão provisória na posse. Decorridos cinco anos após o fim do respectivo processo, com a atribuição da propriedade à União, João tomou conhecimento de que a construção da referida estrutura jamais fora iniciada, bem como que acabara de ser divulgado edital para a alienação onerosa do imóvel, que estava ocioso. A justificativa apresentada pela União era a de que ocorrera a perda objetiva do interesse público em manter a referida destinação, não havendo outra finalidade pública para a qual o imóvel pudesse ser destinado. Considerando os balizamentos estabelecidos em lei, é CORRETO afirmar que: (A) ocorreu a tredestinação ilícita, sendo possível a retrocessão, a critério de João; (B) é possível que a União aliene o imóvel, devendo apenas assegurar o direito de preferência a João; (C) ocorreu a tredestinação ilícita, que acarreta o dever de indenizar, não sendo cabível a retrocessão; (D) ocorreu a tredestinação lícita, e João pode apenas concorrer com os demais interessados na aquisição do imóvel; (E) é ilícita a alienação do imóvel, não operando nesse plano a discricionariedade na definição do destino que deve ter. _______________________________________________________________________ GABARITO: B COMENTÁRIOS Preliminarmente, esclareça-se que, sendo concluído o processo judicial de desapropriação, não há que se falar em desistência da desapropriação, que sempre ocorre antes da incorporação do bem ao patrimônio do poder público. No caso, tendo havido o desvio de finalidade, ocorreu a chamada “tredestinação”. 129 A tredestinação classifica-se em lícita, quando o expropriante, embora não satisfaça o interesse público previsto no decreto expropriatório, dá ao bem outra finalidade pública, e ilícita, em que o bem desapropriado serve à satisfação de interesses privados. No caso, não tendo sido conferida finalidade pública ao bem expropriado, estamos diante de uma tredestinação ilícita, a qual, nos termos do art. 519 do Código Civil, garante ao ex-proprietário o direito de preferência na aquisição do bem, por seu preço atual. De acordo com o STJ, apenas a tredestinação ilícita enseja o direito de retrocessão do expropriado, pois, na tredestinação lícita, o Poder Público concede destinação pública ao bem, ainda que diversa da inicialmente programada (REsp. 968.414/SP). _______________________________________________________________________ 75. Alfa, sociedade empresária por quotas de responsabilidade limitada, participou de licitação na modalidade de concorrência, saiu-se vitoriosa e, ao final, teve adjudicado o objeto do contrato. Os concorrentes preteridos, por sua vez, informaram que Alfa tinha um conluio com a comissão de contratação, que deliberadamente a beneficiou, em afronta aos princípios da Administração Pública, ainda que sem receber qualquer vantagem patrimonial indevida para“A alienação do controle acionário de empresas públicas e sociedades de economia mista exige autorização legislativa e licitação; e ii) a exigência de autorização legislativa, todavia, não se aplica à alienação do controle de suas subsidiárias e controladas.” _______________________________________________________________________ 7. Após ampla mobilização da sociedade civil organizada, a Comissão de Legislação Participativa da Assembleia Legislativa do Estado Alfa, em atendimento a requerimento recebido, apresentou proposição legislativa, no âmbito da referida Casa Legislativa, dispondo sobre o procedimento a ser adotado para a retirada de animais mortos e a destinação a ser dada aos respectivos despojos. Após o processo legislativo regular, sendo inclusive derrubado o veto do chefe do Poder Executivo, que vetara a proposição sob o argumento de ser inconstitucional, foi publicado o diploma normativo nº X. À luz da sistemática constitucional, é CORRETO afirmar que o diploma normativo nº X: (A) afrontou a competência legislativa privativa da União; (B) é inconstitucional em razão do vício de iniciativa legislativa; (C) deve ser considerado constitucional caso tenha a forma de lei complementar; (D) foi editado por Alfa no exercício de sua competência legislativa residual; (E) foi editado por Alfa no exercício de sua competência legislativa concorrente. 15 _______________________________________________________________________ GABARITO: E COMENTÁRIOS Trata-se de matéria relacionada à Competência concorrente: Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: VI – florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição; XII – previdência social, proteção e defesa da saúde; XV – proteção à infância e à juventude; XVI – organização, garantias, direitos e deveres das polícias civis. O tema também pode envolver aspectos de política agrícola, produção e consumo de alimentos, controle sanitário e proteção ambiental, o que reforça a competência concorrente. _______________________________________________________________________ 8. João, deputado federal, almejava apresentar emenda individual impositiva ao projeto de lei orçamentária anual do exercício X, com o objetivo de direcionar uma transferência especial ao Estado Alfa, ente federativo no qual fora eleito. Ao ver de João, seriam alcançados bons resultados caso os recursos em questão fossem aplicados em despesas de capital. Para verificar a possibilidade de realização dos objetivos almejados, João solicitou que sua assessoria analisasse a sua conformidade constitucional, sendo-lhe corretamente esclarecido que: (A) os recursos transferidos devem ser aplicados em área de competência constitucional da União; (B) são excluídos da receita de Alfa, para fins de cálculo dos limites da despesa com pessoal ativo e inativo; (C) é exigido que Alfa esteja adimplente com seus débitos com a União ou tenha promovido a sua renegociação; (D) é necessária a celebração de convênio ou ajuste similar, definindo as áreas em que os recursos serão aplicados; (E) não é possível a realização do objetivo almejado, pois os recursos devem ser aplicados em ações e serviços de saúde. _______________________________________________________________________ GABARITO: B COMENTÁRIOS 16 Conforme o artigo 166 § 1° da Constituição Federal: “Os recursos transferidos na forma do caput deste artigo não integrarão a receita do Estado, do Distrito Federal e dos Municípios para fins de repartição e para o cálculo dos limites da despesa com pessoal ativo e inativo, nos termos do § 16 do art. 166, e de endividamento do ente federado, vedada, em qualquer caso, a aplicação dos recursos a que se refere o caput deste artigo no pagamento de: I – despesas com pessoal e encargos sociais relativas a ativos e inativos, e com pensionistas; e II – encargos referentes ao serviço da dívida.”; O §1º do art. 166-A da CF/88 estabelece um regime jurídico excepcional e protetivo para as transferências especiais oriundas de emendas parlamentares impositivas, reconhecendo que se tratam de receitas de natureza eventual, vinculada e extraordinária, que não podem gerar dependência estrutural do ente subnacional. Com isso, garante-se que os recursos sejam efetivamente direcionados à implementação de políticas públicas de interesse coletivo, sem comprometer o equilíbrio fiscal do Estado, do Distrito Federal ou do Município beneficiado. _______________________________________________________________________ 9. A Lei Federal nº X, ao dispor sobre as características da propriedade produtiva, o que obstaria a sua desapropriação para fins de reforma agrária, exigiu que tal propriedade fosse explorada de maneira eficiente, conforme índices fixados pelo órgão federal competente. Além disso, essa exploração "deve ser realizada, simultaneamente, de maneira racional, de modo a caracterizar o cumprimento de sua função social". Esta última expressão veio a ser impugnada, em sede de controle difuso de constitucionalidade, o que frustraria a desapropriação para fins de reforma agrária, promovida pela União no caso concreto. À luz da sistemática constitucional, é CORRETO afirmar que a Lei Federal nº X é: (A) inconstitucional, por adotar um conceito jurídico indeterminado em detrimento do direito fundamental à propriedade; (B) constitucional, pois a vedação ao uso de conceitos jurídicos indeterminados somente seria operativa em se tratando de desapropriação-sanção, o que não é o caso; (C) constitucional, pois a cláusula de imunidade à desapropriação pode ser integrada por conceitos que conjuguem funcionalização social e propriedade produtiva; (D) inconstitucional, pois a função social da propriedade é cumprida pelo seu caráter produtivo, não por uma racionalidade idealizada pelas maiorias ocasionais; 17 (E) inconstitucional, pois o conceito de propriedade produtiva possui estatura constitucional, não estando condicionado a novos requisitos estruturados no plano infraconstitucional. _______________________________________________________________________ GABARITO: C COMENTÁRIOS A Constituição Federal de 1988 estabelece que a propriedade rural só será insuscetível de desapropriação para fins de reforma agrária se for produtiva e cumprir sua função social. Isso está claramente previsto no art. 185, II, da CF: “Art. 185. São insuscetíveis de desapropriação para fins de reforma agrária: II – a pequena e média propriedade rural, desde que seu proprietário não possua outra; e a propriedade produtiva.” O próprio art. 186 da CF/88 define função social da propriedade com base em critérios que incluem: - Aproveitamento racional e adequado, - Utilização adequada dos recursos naturais, - Observância das disposições que regulam as relações de trabalho, e - Exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores. Assim, não basta ser produtiva em sentido econômico; é necessário também que a exploração da terra atenda ao interesse coletivo e ambiental, nos termos da função social, que é uma cláusula constitucional expressa. A imunidade à desapropriação da propriedade produtiva não é absoluta, a propriedade deve ser produtiva e cumprir função social e a lei infraconstitucional pode, sim, detalhar os elementos do que venha a ser “exploração racional e adequada”, desde que em conformidade com o art. 186 da CF/88. _______________________________________________________________________ 10. Ato infralegal editado pelo chefe do Poder Executivo federal dispôs sobre certos requisitos a serem inseridos nos editais de licitação para a outorga de permissão para a exploração do serviço de radiodifusão sonora de caráter comercial. Entre os requisitos exigidos, está a determinação de quea realização desse objetivo. À luz da sistemática estabelecida pela Lei nº 12.846/2013, é CORRETO afirmar que: (A) a responsabilidade de Alfa no âmbito do direito sancionador cível e no âmbito do direito administrativo sancionador está sujeita a tipologias distintas; (B) a adoção da consensualidade no âmbito do direito administrativo sancionador pode se estender a ilícitos previstos na Lei nº 14.133/2021; (C) a consensualidade de colaboração que venha a ser adotada por Alfa no âmbito do direito sancionador cível produz efeitos necessários no âmbito do direito administrativo sancionador; (D) os dirigentes de Alfa que praticaram a conduta ilícita podem figurar como litisconsortes passivos na ação que venha a ser ajuizada, sujeitando-se à mesma sistemática de responsabilização de Alfa; (E) a adoção de uma tipologia de caráter exemplificativo, no âmbito do direito administrativo sancionador, não exime a comissão processante do ônus de reconstruir argumentativamente o enquadramento da conduta de Alfa. e III são ilícitas. _______________________________________________________________________ GABARITO: B COMENTÁRIOS (A) INCORRETA. Nos termos do art. 2º da Lei Federal n.º 12.846/2013, é igualmente objetiva as responsabilidades civil e administrativa das pessoas jurídicas pelos atos lesivos previstos naquela lei em seu interesse ou benefício, exclusivo ou não. (B) CORRETA. Art. 151 da Lei Federal n.º 14.133/2021. 130 (C) INCORRETA. O acordo de leniência celebrado nos termos do art. 16 da Lei Federal n.º 12.846/2013 isenta a pessoa jurídica das sanções de publicação extraordinária da decisão condenatória e de proibição de receber incentivos, subsídios, subvenções, doações ou empréstimos, não alcançando a multa (apenas a reduz em até 2/3), o perdimento das vantagens ou proveitos direitos ou indiretos da infração e o ressarcimento ao erário. Além disso, o art. 30 da Lei Federal n.º 12.846/2013 é peremptório no sentido de que “A aplicação das sanções previstas nesta Lei não afeta os processos de responsabilização e aplicação de penalidades decorrentes de: I- ato de improbidade administrativa; e II – atos alcançados pela Lei de Licitações Públicas”. (D) INCORRETA. De acordo com o § 2º do art. 3º da Lei Federal n.º 12.846/2013, “Os dirigentes ou administradores somente serão responsabilizados por atos ilícitos na medida de sua culpabilidade”, donde se infere que seu regime de responsabilidade é subjetivo. (E) INCORRETA. Os atos lesivos à administração pública sancionáveis nos termos da Lei Federal n.º 12.846/2013 estão previstos em rol taxativo em seu art. 5º. _______________________________________________________________________ 76. Após a realização de processo licitatório e da correlata celebração do contrato administrativo com a sociedade empresária Sigma, o órgão federal competente, tendo realizado a devida apuração por meio de processo administrativo próprio, no qual foram asseguradas as garantias do contraditório e da ampla defesa, constatou a ocorrência de vício insuscetível de ser sanado. Assim ocorria pelo fato de Sigma não ter preenchido todos os requisitos exigidos no edital da licitação. Apesar disso, também se constatou que metade do objeto do contrato tinha sido regularmente executada. Ao ser instada a se pronunciar sobre a declaração de nulidade do contrato, a autoridade competente observou corretamente, à luz da sistemática estabelecida na Lei nº 14.133/2021, que: (A) por se tratar de nulidade, o estágio de execução física e financeira do contrato não afasta a necessidade de que seja declarada; (B) na medida em que o vício ocorrera durante a licitação, o que não obstou o cumprimento do contrato por Sigma, considera-se sanado; (C) a nulidade, caso seja declarada, deve produzir efeitos ex tunc, mas não afasta o dever de Sigma ser indenizada pelo que houver executado até aquela data; (D) a nulidade somente pode ser declarada caso seja demonstrada a ocorrência de prejuízo para a Administração Pública ou se estiver caracterizada a má-fé de Sigma; (E) a declaração de nulidade pressupõe a análise de pautas argumentativas indicando tratar-se de medida de interesse público, sendo que a sua não decretação não afasta a aplicação das penalidades cabíveis. _______________________________________________________________________ GABARITO: E COMENTÁRIOS 131 (A) INCORRETA. De acordo com o art. 147 da Lei Federal n.º 14.133/2021, a declaração de nulidade do contrato somente será adotada se não for possível o saneamento e for medida de interesse público. É, pois, a ultima ratio. Inclusive, seu par. único estabelece que, não sendo medida de interesse público, o poder público deve optar pela continuidade do contrato e pela solução da irregularidade por meio de indenização por perdas e danos, sem prejuízo da apuração da responsabilidade e da aplicação de penalidades cabíveis. (B) INCORRETA. A nulidade do processo licitatório enseja a do contrato administrativo dele decorrente (art. 147, caput). (C) INCORRETA. “Art. 149. A nulidade não exonerará a Administração do dever de indenizar o contratado pelo que houver executado até a data em que for declarada ou tornada eficaz, bem como por outros prejuízos regularmente comprovados, desde que não lhe seja imputável, e será promovida a responsabilização de quem lhe tenha dado causa.”. (D) INCORRETA. A má-fé da contratada é relevante apenas para definição do dever de indenizar o contratado e, é claro, para determinação das responsabilidades e penalidades aplicáveis. (E) CORRETA. Vide comentários anteriores. _______________________________________________________________________ 77. João, servidor público federal ocupante de cargo de provimento efetivo no âmbito da autarquia Alfa, tomou posse nesse cargo em 1º de janeiro de 2004, após regular aprovação em concurso público de provas e títulos, tendo permanecido desde então no regular exercício de suas funções. No dia 12 de novembro de 2024, João completou 61 anos de idade e 38 anos de contribuição previdenciária, sendo uma parte deste tempo decorrente do cargo de provimento efetivo ocupado em Alfa e o restante junto à iniciativa privada. Não optou, ademais, pelo regime de previdência complementar. Por entender que preenchia os requisitos exigidos pelas regras de transição para a aposentadoria voluntária, requereu a concessão do benefício previdenciário ao órgão competente. Na ocasião, foi corretamente explicado a João, considerando a análise dos requisitos exigidos apenas em anos, que: (A) não faz jus à aposentadoria, por não ter alcançado a idade mínima; (B) não faz jus à aposentadoria, por não ter alcançado o tempo mínimo de contribuição; (C) faz jus à aposentadoria, que será concedida sem observância da integralidade e da paridade; (D) faz jus à aposentadoria, que será concedida com observância da integralidade e da paridade; 132 (E) não faz jus à aposentadoria, por não ter alcançado a pontuação exigida para a soma da idade e do tempo de contribuição. _______________________________________________________________________ GABARITO: C COMENTÁRIOS Por ter ingressado após a EC n.º 41/2003, João não tem direito às regras anteriores a essa emenda, como a EC n.º 20/1998 e a EC n.º 41/2003. Aplicam-se-lhe as regras permanentes da EC n.º 103/2019 (Reforma da Previdência) e as regras de transição previstas na própria EC n.º 103/2019, em especial os arts. 4º e 20. João não tem direito à aposentadoria voluntária pela regra permanente do art. 10 da EC 103/2019, que exige 65 anos de idade, 25 anos de contribuição, 10 anos de serviço público e 05 anos no cargo. Ele também não faz jus à aposentadoria voluntária pela transição do art. 4º da EC 103/2019, que reclama 62 anos de idade, 35 anos de contribuição, 20 anos de serviço público, 05 anos no cargo e 105 pontos (soma da idade com o tempo de contribuição).Entretanto, João poderá se aposentar voluntariamente pela regra de transição do art. 20 da EC n.º 103/2019, que depende de 60 anos de idade, 35 anos de contribuição, 20 anos de serviço público e 05 anos no cargo, além de período adicional de contribuição correspondente ao tempo que, na data de entrada em vigor da EC 103/2019, faltaria para atingir o tempo mínimo de contribuição de 35 anos. No caso, ele tem 38 anos de contribuição, o que preenche esse requisito adicional. Destaca-se, por fim, que sua aposentadoria será sem integralidade e sem paridade, extintas pela EC n.º 41/2003 e que continuam aplicáveis apenas para aqueles que ingressaram no serviço público antes da EC n.º 41/2003 (art. 3º da EC 47/2005). _______________________________________________________________________ 78. A União, por seu órgão competente, celebrou contrato administrativo de concessão de serviço público, na modalidade de concessão patrocinada, para a formação de parceria público-privada, com a sociedade empresária Delta. O ajuste celebrado, que foi norteado pelo edital de licitação, somente contemplou as exigências consideradas necessárias pela Lei nº 11.079/2004. À luz da sistemática vigente, é CORRETO afirmar que o referido ajuste previu: (A) a vinculação de receitas do orçamento fiscal para assegurar os repasses pactuados; (B) a instituição de fundo garantidor para assegurar o cumprimento do contrato; (C) o compartilhamento objetivo dos riscos entre a União e Delta, incluídos os extraordinários; (D) a associação da integralidade da remuneração de Delta à contraprestação pecuniária paga pelos usuários do serviço; 133 (E) os requisitos para a constituição de sociedade de propósito específico destinada a implantar e gerir o objeto da parceria. _______________________________________________________________________ GABARITO: C COMENTÁRIOS (A) INCORRETA. A vinculação de receitas tributárias é uma somente uma das possíveis garantias no art. 8º da Lei das PPP’s – Lei Federal n.º 11.079/2004 (inciso I). (B) INCORRETA. A instituição de fundo garantidor também é apenas uma possibilidade de garantia contida art. 8º da Lei das PPP’s (inciso V). (C) CORRETA. O art. 4º, VI, da Lei das PPP’s impõe a “repartição objetiva de riscos entre as as partes”, o que é complementado pelo inciso III do art. 5º dessa Lei, que estabelece como cláusula necessária dos contratos de PPP’s “a repartição de riscos entre as partes, inclusive referentes a caso fortuito, força maior, fato do príncipe e álea econômica extraordinária”. (D) INCORRETA. A concessão patrocinada é caracterizada justamente pela remuneração do parceiro privado composta pela contraprestação pecuniária do parceiro público combinada com a tarifa cobrada dos usuários. (E) INCORRETA. A sociedade de propósito específico deve ser constituída antes da celebração do contrato de PPP (art. 9º). _______________________________________________________________________ 79. A fundação Alfa, instituída por um grupo de pessoas naturais com o objetivo de atuar em atividades direcionadas ao desenvolvimento tecnológico, almejava obter a sua qualificação como organização social, de modo a celebrar com a estrutura competente da União o ajuste pertinente e desenvolver as referidas atividades. No entanto, havia dúvidas, entre os seus dirigentes, em relação à forma de obtenção dessa qualificação, ao ajuste a ser celebrado e à forma de desenvolvimento dos projetos, considerando, neste último caso, que Alfa não tem fins lucrativos. Após analisarem a sistemática vigente, os dirigentes concluíram corretamente que: (A) o ajuste a ser celebrado por Alfa, caso obtenha a qualificação, tem a natureza de contrato de direito público, de natureza sinalagmática, que deve se ajustar às metas pactuadas; (B) a natureza jurídica de Alfa e a atividade que desenvolve não se ajustam à legislação de regência das organizações sociais, o que impede que venha a obter a qualificação almejada; (C) a outorga da qualificação, requisito necessário à celebração do ajuste almejado, configura ato discricionário, mas o seu indeferimento deve observar critérios objetivos fixados em ato regulamentar; 134 (D) é admitido o repasse de bens e recursos públicos a Alfa, caso obtenha a qualificação necessária, devendo contratar diretamente os seus colaboradores, vedada a cessão de servidores públicos; (E) a outorga da qualificação e a correlata celebração do termo de parceria por Alfa pressupõem o preenchimento de critérios objetivos, o que elimina a margem de livre apreciação e os torna atos vinculados. _______________________________________________________________________ GABARITO: C COMENTÁRIOS (A) INCORRETA. Segundo a jurisprudência do STF, o contrato de gestão com organização social tem natureza convenial (ADI 1.923/DF). (B) INCORRETA. Nos termos do art. 1º da Lei Federal n.º 9.637/1998, “O Poder Executivo poderá qualificar como organizações sociais pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, cujas atividades sejam dirigidas ao ensino, à pesquisa científica, ao desenvolvimento tecnológico, à proteção e preservação do meio ambiente, à cultura e à saúde, atendidos aos requisitos previstos nesta Lei.”. (C) CORRETA. O art. 1º da Lei Federal n.º 9.637/1998 enuncia a facultatividade da qualificação, a indicar sua discricionariedade, o que é reforçado pelo inciso II do art. 2º, que exige a aprovação, quanto à conveniência e oportunidade, pelo Ministro ou titular de órgão supervisor ou regulador da área de atividade correspondente. (D) INCORRETA. Dentre as atividades de fomento público às organizações sociais por intermédio de contratos de gestão, estão a transferência de recursos orçamentários e a permissão de bens públicos (art. 12), além da cessão de servidores (art. 14). (E) INCORRETA. O instrumento adequado é o contrato de gestão, e não o termo de parceria. Além disso, como visto, o ato de qualificação é de natureza discricionária. _______________________________________________________________________ 80. João possui imóvel financiado pelo Sistema Financeiro da Habitação, figurando como credor ente da Administração Pública indireta federal. O contrato, que prevê o pagamento por meio de prestações periódicas, foi celebrado há cinco anos, e foi estabelecida divergência entre as partes em relação ao sistema de amortização do saldo devedor, o que levou à judicialização da questão. O magistrado competente, ao analisar a questão à luz da Lei nº 4.380/1964, concluiu corretamente que: (A) deve ser utilizada a taxa de juros pactuada no contrato; (B) caso haja previsão de juros no contrato, é vedada a sua capitalização por periodicidade inferior à anual; (C) deve ser seguida, no referido sistema, a norma quadro de regência, sendo apenas assegurada às partes liberdade para escolha dos prazos de amortização; 135 (D) era facultada a oferta a João, pelo credor, por ocasião da celebração do contrato, de outro sistema de amortização que não o Sistema de Amortização Constante (SAC); (E) era vedada a pactuação entre as partes dos critérios a serem utilizados para a amortização do saldo devedor, por se tratar de disciplina prevista em norma de ordem pública. _______________________________________________________________________ GABARITO: A COMENTÁRIOS (A) CORRETA. “Art. 15-B. Nas operações de empréstimo ou financiamento realizadas por instituições integrantes do Sistema Financeiro da Habitação que prevejam pagamentos por meio de prestações periódicas, os sistemas de amortização do saldo devedor poderão ser livremente pactuados entre as partes. (Incluído pela Lei nº 11.977, de 2009)”. (B) INCORRETA. “Art. 15-A. É permitida a pactuação de capitalização de juros com periodicidade mensal nas operações realizadas pelas entidades integrantes do Sistema Financeiro da Habitação - SFH. (Incluído pela Lei nº 11.977,de 2009)”. (C) INCORRETA. Art. 15-B, fine. (D) INCORRETA. “Art. 15-B, § 3º. Nas operações de empréstimo ou financiamento de que dispõe o caput é obrigatório o oferecimento ao mutuário do Sistema de Amortização Constante - SAC e de, no mínimo, outro sistema de amortização que atenda o disposto nos §§ 1o e 2o, entre eles o Sistema de Amortização Crescente - SACRE e o Sistema Francês de Amortização (Tabela Price)”. (E) INCORRETA. Art. 15-B, fine. _______________________________________________________________________ DIREITO AMBIENTAL 81. A microempresa rural XYC, proprietária de uma fazenda no interior, deseja contribuir para a preservação ambiental e considera instituir uma servidão ambiental em parte de sua propriedade, renunciando voluntariamente ao direito de uso e exploração dos recursos naturais dessa área. No entanto, seus representantes têm dúvidas sobre as implicações legais dessa decisão. Com base na Lei nº 6.938/1981, é CORRETO afirmar que a servidão ambiental: 136 (A) se aplica às Áreas de Preservação Permanente e à Reserva Legal mínima exigida; (B) apenas pode ser instituída por pessoas naturais, não por pessoas jurídicas; (C) pode ser instituída apenas em caráter temporário, com prazo máximo de 20 anos; (D) não pode ser transferida a terceiros, seja de forma gratuita ou onerosa; (E) pode ser instituída mediante registro por instrumento público ou particular. _______________________________________________________________________ GABARITO: E COMENTÁRIOS Art. 9o-A da Lei nº 6.938/1981 - O proprietário ou possuidor de imóvel, pessoa natural ou jurídica, pode, por instrumento público ou particular ou por termo administrativo firmado perante órgão integrante do Sisnama, limitar o uso de toda a sua propriedade ou de parte dela para preservar, conservar ou recuperar os recursos ambientais existentes, instituindo servidão ambiental. _______________________________________________________________________ 82. Durante uma fiscalização ambiental, a empresa Verde Limpo S/A foi autuada por operar sem as licenças ambientais necessárias, configurando atividade potencialmente poluidora. Para regularizar sua situação, a empresa propôs celebrar um termo de compromisso com o órgão ambiental competente. Considerando as disposições da Lei nº 9.605/1998, é CORRETO afirmar que: (A) o termo de compromisso pode ser celebrado, mas não possui força de título executivo extrajudicial, necessitando de homologação judicial para sua execução; (B) a celebração do termo de compromisso é facultativa e depende exclusivamente da vontade do autuado e da participação do Ministério Público, sem necessidade de anuência do órgão ambiental; (C) o termo de compromisso se destina exclusivamente à reparação de danos ambientais já ocorridos, não podendo ser utilizado para regularizar atividades em andamento; (D) a celebração do termo de compromisso suspende a aplicação de sanções administrativas enquanto suas cláusulas estiverem sendo cumpridas; (E) somente pessoas físicas podem celebrar termos de compromisso com órgãos ambientais, não sendo permitida a celebração pela empresa Verde Limpo S/A. _______________________________________________________________________ GABARITO: D COMENTÁRIOS 137 Art. 79-A, § 3o da Lei 9.605/1998 - Da data da protocolização do requerimento previsto no § 2o e enquanto perdurar a vigência do correspondente termo de compromisso, ficarão suspensas, em relação aos fatos que deram causa à celebração do instrumento, a aplicação de sanções administrativas contra a pessoa física ou jurídica que o houver firmado. _______________________________________________________________________ 83. Uma empresa de abastecimento de água pretende captar água de um rio federal para abastecer um município. Considerando a Política Nacional de Recursos Hídricos (Lei nº 9.433/1997), é CORRETO afirmar que a outorga de direitos de uso de recursos hídricos: (A) é dispensada quando o uso da água é destinado ao consumo humano e à dessedentação de animais, independentemente do volume captado; (B) é um ato administrativo que confere ao usuário o direito de utilizar a água, desde que respeitadas as condições estabelecidas pelo poder público outorgante; (C) só é exigida para captações de água superficiais, não se aplicando a águas subterrâneas; (D) tem caráter permanente e não pode ser revisada ou suspensa, mesmo em situações de escassez ou de não cumprimento das condições estabelecidas; (E) é de competência exclusiva dos municípios, não cabendo à União ou aos estados a gestão desse instrumento. _______________________________________________________________________ GABARITO: B COMENTÁRIOS Art. 12 da Lei 9.433/1997 - Estão sujeitos a outorga pelo Poder Público os direitos dos seguintes usos de recursos hídricos: I - derivação ou captação de parcela da água existente em um corpo de água para consumo final, inclusive abastecimento público, ou insumo de processo produtivo; II - extração de água de aquífero subterrâneo para consumo final ou insumo de processo produtivo; Art. 14 da Lei 9.433/1997 - A outorga efetivar-se-á por ato da autoridade competente do Poder Executivo Federal, dos Estados ou do Distrito Federal. 138 Art. 15 da Lei 9.433/1997 - A outorga de direito de uso de recursos hídricos poderá ser suspensa parcial ou totalmente, em definitivo ou por prazo determinado, nas seguintes circunstâncias: I - não cumprimento pelo outorgado dos termos da outorga; (...) III - necessidade premente de água para atender a situações de calamidade, inclusive as decorrentes de condições climáticas adversas; _______________________________________________________________________ 84. João, proprietário rural, pretende comercializar um novo agrotóxico em seu estado. Para isso, ele precisa entender qual órgão é responsável pelo registro desses produtos. De acordo com a Lei dos Agrotóxicos, para registrar o agrotóxico, João deve procurar o órgão: (A) federal responsável pelo setor da saúde; (B) estadual de defesa agropecuária; (C) federal responsável pelo setor da agricultura; (D) municipal responsável pelo setor do meio ambiente; (E) federal responsável pelo setor do meio ambiente. _______________________________________________________________________ GABARITO: C COMENTÁRIOS Art. 3º da Lei 14.785/2023 - Os agrotóxicos, os produtos de controle ambiental, os produtos técnicos e afins, de acordo com as definições constantes do art. 2º desta Lei, somente poderão ser pesquisados, produzidos, exportados, importados, comercializados e utilizados se previamente autorizados ou registrados em órgão federal, nos termos desta Lei. Art. 4º da Lei 14.785/2023 - É estabelecido o órgão federal responsável pelo setor da agricultura como o órgão registrante de agrotóxicos, de produtos técnicos e afins, bem como o órgão federal responsável pelo setor do meio ambiente como o órgão registrante de produtos de controle ambiental, de produtos técnicos e afins. _______________________________________________________________________ 85. Determinado proprietário de um imóvel rural de 500 hectares, localizado em área rural no Estado de Pernambuco, deseja regularizar sua propriedade junto ao Cadastro Ambiental Rural (CAR), conforme exigido pelo Código Florestal (Lei nº 12.651/2012). 139 Durante o preenchimento do CAR, surgem dúvidas sobre as informações que devem ser fornecidas e os prazos aplicáveis. Sobre o caso, é CORRETO afirmar que: (A) o CAR é obrigatório apenas para propriedades rurais com área superior a 1.000 hectares, sendo facultativo para propriedades menores; (B) o CAR deve conter informações georreferenciadas do perímetro do imóvel, das áreas de preservação permanente, de reserva legal e de remanescentes de vegetação nativa, além de outras informações previstas em regulamento;(C) o prazo para inscrição no CAR é de dois anos a partir da data de publicação da Lei nº 12.651/2012, não sendo possível realizar novas inscrições após esse período; (D) a inscrição no CAR é dispensada para propriedades que já possuem licença ambiental válida, independentemente do tamanho da área; (E) o CAR é um instrumento de caráter voluntário, sem efeito jurídico direto ou vinculação com a regularização ambiental do imóvel rural. _______________________________________________________________________ GABARITO: B COMENTÁRIOS Art. 29, § 1º da Lei 12.651/2012 - A inscrição do imóvel rural no CAR deverá ser feita, preferencialmente, no órgão ambiental municipal ou estadual, que, nos termos do regulamento, exigirá do proprietário ou possuidor rural: (...) III - identificação do imóvel por meio de planta e memorial descritivo, contendo a indicação das coordenadas geográficas com pelo menos um ponto de amarração do perímetro do imóvel, informando a localização dos remanescentes de vegetação nativa, das Áreas de Preservação Permanente, das Áreas de Uso Restrito, das áreas consolidadas e, caso existente, também da localização da Reserva Legal. Art. 29, § 3º da Lei 12.651/2012 - A inscrição no CAR é obrigatória e por prazo indeterminado para todas as propriedades e posses rurais. _______________________________________________________________________ 86. Maria é proprietária de um terreno rural. Há alguns anos, ela removeu parte da vegetação nativa situada em uma Área de Preservação Permanente (APP) para ampliar sua área de cultivo agrícola. Recentemente, Maria foi notificada pelo órgão ambiental competente sobre a necessidade de regularizar a situação da APP em sua propriedade. 140 Diante disso, Maria busca orientação jurídica para entender suas obrigações legais referentes à manutenção e à recuperação da APP, conforme o Código Florestal (Lei nº 12.651/2012). Com base no caso apresentado, é CORRETO afirmar que Maria: (A) é obrigada a manter a vegetação da APP em seu terreno, mas não é responsável por sua recomposição caso tenha ocorrido alguma supressão anterior à sua aquisição; (B) não é obrigada a manter a vegetação da APP, pois essa responsabilidade recai exclusivamente sobre pessoas jurídicas de direito público; (C) pode suprimir a vegetação da APP, sem necessidade de recomposição, desde que a sua finalidade seja a expansão de atividades agrícolas; (D) é responsável por manter a vegetação da APP em seu terreno e, caso tenha ocorrido supressão, é obrigada a promover sua recomposição, exceto nos casos de usos autorizados previstos em lei; (E) tem a opção de manter ou suprimir a vegetação da APP, uma vez que pretende realizar atividade de natureza agorossilvipastoril. _______________________________________________________________________ GABARITO: D COMENTÁRIOS Art. 7º da Lei 12.651/2012 - A vegetação situada em Área de Preservação Permanente deverá ser mantida pelo proprietário da área, possuidor ou ocupante a qualquer título, pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado. § 1º Tendo ocorrido supressão de vegetação situada em Área de Preservação Permanente, o proprietário da área, possuidor ou ocupante a qualquer título é obrigado a promover a recomposição da vegetação, ressalvados os usos autorizados previstos nesta Lei. _______________________________________________________________________ 87. No âmbito de suas atribuições legais, agentes de fiscalização ambiental receberam denúncia de desmatamento ilegal em uma área que, até recentemente, integrava uma Unidade de Conservação (UC). Ao investigar, constataram que a área foi desafetada por meio de um decreto estadual, resultando na redução dos limites originais da UC. Diante da situação narrada, a ação CORRETA da equipe de fiscalização é: (A) proceder com a autuação dos responsáveis pelo desmatamento, pois a desafetação da área é inválida, uma vez que a redução dos limites de uma UC só pode ocorrer mediante lei específica; (B) abster-se da ação fiscalizatória, considerando que o decreto estadual é suficiente para validar a redução dos limites da UC; 141 (C) encaminhar um relatório ao órgão gestor da UC, sugerindo a regularização das atividades na área desafetada com base no decreto estadual; (D) inaugurar processo administrativo para avaliar a legalidade do decreto estadual e, enquanto isso, suspender qualquer ação fiscalizatória na área em questão; (E) abster-se da ação fiscalizatória, desde que a UC atingida não seja classificada como Unidade de Proteção Integral ou de Uso Sustentável. _______________________________________________________________________ GABARITO: A COMENTÁRIOS Art. 22, §7º da Lei 9.985/2000 – A desafetação ou redução dos limites de uma unidade de conservação só pode ser feita mediante lei específica. _______________________________________________________________________ DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO E PRIVADO 88. A expulsão é medida administrativa de retirada compulsória de migrantes ou visitantes do território nacional, acompanhada de impedimento de reingresso por período determinado. Sobre esse instrumento, é CORRETO afirmar que um indivíduo NÃO poderá ser expulso quando: (A) for o único genitor de uma criança ou adolescente brasileiro; (B) tiver um filho brasileiro com menos de 14 anos; (C) tiver um filho brasileiro com deficiência; (D) tiver ingressado no país antes do nascimento do seu filho brasileiro; (E) tiver um filho brasileiro que esteja sob dependência socioafetiva. _______________________________________________________________________ GABARITO: E COMENTÁRIOS Consoante o Superior Tribunal de Justiça, não se viabiliza a expulsão de estrangeiro visitante ou migrante do território nacional quando comprovado tratar-se de pai de criança brasileira que se encontre sob sua dependência socioafetiva. A respeito: 142 ADMINISTRATIVO. HABEAS CORPUS CÍVEL. EXPULSÃO DE ESTRANGEIRO VISITANTE. PACIENTE GENITOR DE FILHO BRASILEIRO DE TENRA IDADE. DEPENDÊNCIA SOCIOAFETIVA COMPROVADA. INVIABILIDADE DA EXPULSÃO. APLICAÇÃO DO ART. 55, II, "A", DA NOVA LEI DE MIGRAÇÃO (LEI Nº 13.445/2017). PRINCÍPIO DA PRIORIDADE ABSOLUTA NO ATENDIMENTO DOS DIREITOS E INTERESSES DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE (ART. 227 DA CF). DOUTRINA DA PROTEÇÃO INTEGRAL (ART. 1º DO ECA). CONCESSÃO DO REMÉDIO HEROICO. 1. Na forma da jurisprudência, não se viabiliza a expulsão de estrangeiro visitante ou migrante do território nacional quando comprovado tratar-se de pai de criança brasileira que se encontre sob sua dependência socioafetiva (art. 55, II, a, da Lei nº 13.445/2017). Precedentes: STF, RE 608.898, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO, TRIBUNAL PLENO, DJe 6/10/2020; STF, RHC 123.891-AgR, Rel. Ministra ROSA WEBER, PRIMEIRA TURMA, DJe 4/5/2021. 2. O princípio da prioridade absoluta no atendimento dos direitos e interesses da criança e do adolescente, em cujo rol se inscreve o direito à convivência familiar (art. 227 da CF), direciona, in casu, para solução que privilegie a permanência do genitor em território brasileiro, em harmonia, também, com a doutrina da proteção integral (art. 1º do ECA). 3. Habeas corpus concedido, com a consequente revogação da portaria de expulsão. Resta prejudicado o agravo interno. (HC 666.247/DF, Rel. Ministro SÉRGIO KUKINA, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 10/11/2021, DJe 18/11/2021) No mesmo sentido: É inadmissível a expulsão de estrangeiro que possua filho brasileiro, dependente socioafetivo ou econômico, mesmo que o crime ensejador da expulsão tenha ocorrido em momento anterior ao reconhecimento ou adoção do filho. O Estado deve garantir a proteção especial à família e a proteção integral às crianças e aos adolescentes, sendo o convívio familiar uma das mais expressivas projeções dos direitos sociais. Além disso, a dependência econômica não é o único fator a impedir a expulsãode estrangeiros com filhos brasileiros. A dependência socioafetiva também constitui fato juridicamente relevante apto a obstar o processo expulsório. Nesse sentido, o art. 55, II, “a”, da Lei nº 13.445/2017 expressamente prevê que “Não se procederá à expulsão quando o expulsando tiver filho brasileiro que esteja sob sua guarda ou dependência econômica ou 143 socioafetiva ou tiver pessoa brasileira sob sua tutela”. Evidencia- se, portanto, que o próprio legislador infraconstitucional erigiu a socioafetividade à condição de causa impeditiva da expulsão. STF. Plenário. RHC 123891 AgR/DF, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 23/2/2021 (Info 1007). _______________________________________________________________________ 89. A República Federativa do Brasil tem as suas relações internacionais regidas por princípios listados na Constituição Federal. Entre esses princípios se encontra: (A) a concessão de asilo político; (B) o repúdio à misoginia; (C) o combate ao crime organizado e ao tráfico de drogas; (D) a preservação das fronteiras nacionais; (E) a defesa do livre comércio. _______________________________________________________________________ GABARITO: A COMENTÁRIOS De acordo com o art. 4º, inciso X, da Constituição Federal, a República Federativa do Brasil adota, em suas relações internacionais, diversos princípios basilares, entre os quais se inclui a concessão de asilo político. Confira: Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios: I - independência nacional; II - prevalência dos direitos humanos; III - autodeterminação dos povos; IV - não-intervenção; V - igualdade entre os Estados; VI - defesa da paz; VII - solução pacífica dos conflitos; VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo; IX - cooperação entre os povos para o progresso da humanidade; X - concessão de asilo político. _______________________________________________________________________ 90. Em 1943, no contexto da Segunda Guerra Mundial, um submarino alemão atacou um barco de pesca no litoral brasileiro. Ao buscarem ressarcimento material e moral contra a República Federativa Alemã, os descendentes de uma das vítimas desse ataque foram confrontados com o argumento de que aquele Estado gozaria de imunidade de jurisdição com relação a esses atos. 144 Considerando a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal sobre o tema, para relativizar a imunidade de jurisdição de um Estado, é necessário que: (A) um tribunal internacional determine que crimes de guerra foram cometidos; (B) fique comprovada uma violação do direito humano à vida; (C) haja uma declaração de renúncia à imunidade pelo próprio Estado; (D) fique comprovada uma violação aos direitos humanos em território nacional; (E) os atos questionados não sejam considerados atos de império. _______________________________________________________________________ GABARITO: D COMENTÁRIOS Embora a imunidade de jurisdição reconheça a impossibilidade de um Estado estrangeiro ser julgado por tribunais brasileiros sem seu consentimento — princípio hoje regido no Brasil pelo direito costumeiro, em razão da não adesão à Convenção da ONU sobre Imunidade Jurisdicional de Estados — essa proteção não é absoluta. Historicamente, a teoria da imunidade absoluta sustentava que “iguais não podem julgar iguais” (par in parem non habet jurisdictionem), conferindo imunidade total a todo ato estatal, salvo renúncia expressa. Contudo, o crescente volume de relações comerciais entre Estados levou ao reconhecimento de distinções entre acta jure imperii (atos de império, praticados no exercício da soberania) e acta jure gestionis (atos de gestão, típicos de particulares), admitindo-se justiça estrangeira sobre estes últimos. Com a Constituição de 1988, o STF consolidou esse entendimento, passando a relativizar a imunidade de jurisdição, mantendo-a apenas para atos de império, mas sem estender àqueles de gestão, e preservando, ainda que como exceção, a imunidade executória absoluta preconizada pela Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas. No ARE 954858/RJ, o relator, ministro Edson Fachin, afirmou que essa imunidade de jurisdição sofre “derrotabilidade” — isto é, pode ceder diante de circunstâncias não previstas originalmente e que ofendam preceitos fundamentais — quando aplicada a atos de império que violem o direito internacional da pessoa humana no território brasileiro, como é o caso de ações que resultem na morte de civis durante conflitos armados. Desse modo, ao reconhecer a existência de atos ilícitos e ofensivos a direitos humanos praticados em solo nacional, o STF autorizou que o Judiciário brasileiro afaste a regra geral de imunidade, garantindo acesso à jurisdição e permitindo a responsabilização de Estados estrangeiros em situações que coloquem em risco a dignidade e a vida das pessoas. Vejamos: A imunidade de jurisdição de Estado estrangeiro não alcança atos de império ofensivos ao direito internacional da pessoa humana 145 praticados no território brasileiro, tais como aqueles que resultem na morte de civis em período de guerra. Tese fixada pelo STF: “Os atos ilícitos praticados por Estados estrangeiros em violação a direitos humanos não gozam de imunidade de jurisdição”. STF. Plenário. ARE 954858/RJ, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 20/8/2021 (Repercussão Geral – Tema 944) (Info 1026). _______________________________________________________________________ 91. O Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU) é responsável pela manutenção da paz e da segurança internacional. Para tanto, dispõe de diversos instrumentos, entre os quais se destacam as sanções que têm sido aplicadas com frequência contra atores não estatais considerados responsáveis por atos de terrorismo que ameaçam a paz e a segurança internacional. Essas sanções são impostas por meio de resoluções do CSNU ou por designações dos comitês de sanções em seu âmbito. Sobre a execução dessas sanções no Brasil, é CORRETO afirmar que: (A) será necessária, como primeiro passo, a proposição de ação de indisponibilidade de bens pela Advocacia-Geral da União; (B) será necessária a realização de procedimento de homologação perante o Superior Tribunal de Justiça; (C) são dotadas de executoriedade imediata as resoluções sancionatórias e as referidas designações; (D) dependerá de condenação judicial por atos de terrorismo, conforme previsto na Lei Antiterrorismo; (E) dependerá da publicação das resoluções e das designações no Diário Oficial da União em língua portuguesa. _______________________________________________________________________ GABARITO: C COMENTÁRIOS (A) INCORRETA. O auxílio direto judicial não é um primeiro passo necessário, mas sim uma medida secundária utilizada apenas quando o cumprimento imediato não ocorre naturalmente. Conforme o Art. 12 da Lei 13.810/2019, a União só ingressará com auxílio direto judicial se não houver cumprimento na forma da Seção I. (B) INCORRETA. A Lei 13.810/2019 não exige qualquer procedimento de homologação pelo STJ. As resoluções do CSNU são de aplicação direta e imediata no Brasil. (C) CORRETA. Esta alternativa está expressamente prevista no Art. 6º da Lei 13.810/2019: "As resoluções sancionatórias do Conselho de Segurança das Nações 146 Unidas e as designações de seus comitês de sanções são dotadas de executoriedade imediata na República Federativa do Brasil." (D) INCORRETA. Não há requisito de condenação judicial prévia por atos de terrorismo. (E) INCORRETA. O Art. 7º da Lei 13.810/2019 é explícito ao afirmar que a publicação no Diário Oficial da União é apenas para fins de publicidade e ocorre "sem prejuízo da obrigação de cumprimento imediato". Ou seja, a executoriedade independe da publicação. _______________________________________________________________________ 92. A Convenção de Haiasobre os Aspectos Civis do Sequestro Internacional de Crianças foi assinada em 1980 e ratificada pelo Brasil em 1999. Acerca dessa convenção, é CORRETO afirmar que: (A) a aplicação dessa convenção cessa quando a criança atinge a idade de 14 anos; (B) a Secretaria Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente desempenha o papel de autoridade central nos pedidos de retorno; (C) a autoridade central brasileira pode ser acionada para intermediar casos em que não há sequestro, como a regulamentação do direito de visita transfronteiriça; (D) os pedidos encaminhados por estrangeiros poderão ser juntados aos autos judiciais se estiverem acompanhados por uma tradução em inglês ou francês; (E) o processamento de pedidos de retorno de crianças ilicitamente transferidas ou retidas competirá, onde houver e excepcionalmente, aos Juizados da Infância e da Juventude. _______________________________________________________________________ GABARITO: C COMENTÁRIOS (A) INCORRETA. Nos termos do artigo 4º da Convenção, sua aplicação restringe-se às crianças que tenham residência habitual em um Estado Contratante, imediatamente antes da violação do direito de guarda ou de visita. Além disso, a Convenção deixa de ser aplicável quando a criança atinge a idade de dezesseis anos. (B) INCORRETA.O Decreto nº 9.734/2019, que promulgou a Convenção da Haia sobre Citação, Intimação e Notificação no Estrangeiro de Documentos Judiciais e Extrajudiciais em Matéria Civil e Comercial, confere ao Ministério da Justiça e Segurança Pública o papel de Autoridade Central para a Convenção. (C) CORRETA. A Convenção da Haia sobre os Aspectos Civis do Sequestro Internacional de Criança permite a regulamentação do direito de visita transfronteiriça independentemente de subtração ou retenção ilícita da criança envolvida. 147 Tese de julgamento: 1. A Convenção da Haia permite a regulamentação do direito de visita transfronteiriça independentemente de subtração ou retenção ilícita. 2. A União possui legitimidade ativa para ajuizar ação de regulamentação de visitas com base na Convenção da Haia. 3. A competência para julgar a ação é da Justiça Federal. STJ. 4ª Turma. REsp 1.905.440-SP, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 5/11/2024 (Info 835). (D) INCORRETA. O artigo 24 da Convenção estabelece que os pedidos, comunicações e demais documentos devem ser enviados à Autoridade Central do Estado requerido na sua língua original, acompanhados de tradução para a língua oficial — ou uma das línguas oficiais — desse Estado. Caso a tradução para essa língua seja de difícil realização, admite-se o uso do francês ou do inglês. No entanto, um Estado Contratante pode, mediante a reserva prevista no artigo 42, opor-se ao uso do francês ou do inglês (mas não de ambos) em qualquer pedido, comunicação ou documento enviado à sua Autoridade Central. Entretanto, o Brasil apresentou expressamente uma reserva a esse dispositivo. Conforme a referida reserva, os documentos relacionados a casos de sequestro internacional de crianças devem ser acompanhados de tradução para a língua portuguesa, realizada por tradutor público juramentado. Essa reserva foi feita nos termos do artigo 42 e, à época da sua apresentação pelo governo brasileiro, não houve oposição por parte dos demais Estados Contratantes. (E) INCORRETA. A competência para julgar a ação é da Justiça Federal. STJ. 4ª Turma. REsp 1.905.440-SP, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 5/11/2024 (Info 835). _______________________________________________________________________ 93. Uma empresa brasileira do setor de cosméticos identificou que circulava amplamente na Internet um vídeo em que se afirmava, falsamente, que ela realizava testes bioquímicos em animais de forma cruel. Após ingressar na Justiça, a empresa obteve uma decisão favorável pela retirada desse conteúdo da Internet, mas, mesmo após a execução dessa decisão, o vídeo continuou circulando para internautas de países para onde seus produtos eram exportados. Nesse contexto, é CORRETO afirmar que: (A) o direito à liberdade de expressão, previsto no Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos, comporta restrições apenas para a proteção da segurança nacional e da saúde pública; (B) essa sentença representará ofensa à soberania de outros países caso tenha efeitos extraterritoriais; 148 (C) a ordem judicial, para que seja aplicável em outros países, precisará incluir uma análise sobre a legalidade do vídeo de acordo com o ordenamento de cada país; (D) a avaliação da ofensa de decisão doméstica à soberania estrangeira não cabe ao judiciário brasileiro; (E) as decisões judiciais brasileiras sobre atos na Internet passaram a ter efeitos extraterritoriais após a promulgação do Marco Civil da Internet. _______________________________________________________________________ GABARITO: D COMENTÁRIOS (A) INCORRETA. O artigo 19 do Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos estabelece, em seu parágrafo 2º, que toda pessoa tem direito à liberdade de expressão, o que inclui a liberdade de buscar, receber e divulgar informações e ideias de qualquer natureza, sem considerar fronteiras, por meio oral, escrito, impresso, artístico ou por qualquer outro meio à sua escolha. Entretanto, conforme o parágrafo 3º do mesmo artigo, o exercício desse direito implica deveres e responsabilidades específicas, podendo ser objeto de restrições. Tais limitações, no entanto, devem estar expressamente previstas em lei e ser necessárias para: a) assegurar o respeito aos direitos ou à reputação de terceiros; b) proteger a segurança nacional, a ordem pública, a saúde ou a moral públicas. (B), (C) e (E) INCORRETAS. Decisões judiciais ao redor do mundo têm demonstrado uma tendência de determinar a remoção global de conteúdos ilegais da internet, indo além dos limites territoriais tradicionais. A Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, quando menciona ofensa à soberania, refere-se à proteção da soberania nacional brasileira em relação a decisões estrangeiras, e não o contrário. Mesmo antes do Marco Civil da Internet, as decisões judiciais brasileiras já produziam efeitos extraterritoriais sobre conteúdos na internet, visando garantir a efetividade da prestação jurisdicional. A Lei nº 12.965/2014 (Marco Civil da Internet) consolidou uma evolução nos conceitos tradicionais de jurisdição, território e fronteiras nas normas processuais brasileiras. O art. 11 do MCI estabeleceu a jurisdição brasileira com caráter transfronteiriço e sem limitação geográfica sobre provedores de aplicações, bastando que os dados sejam coletados no território nacional para que se aplique o direito brasileiro. O legislador deixou claro que o objetivo era evitar que provedores com atuação no Brasil, mas que mantêm dados fora do território nacional, escapassem de cumprir 149 determinações administrativas e judiciais para disponibilização ou remoção de conteúdo. Veja a redação do dispositivo: Lei nº 12.965/2014 Art. 11. Em qualquer operação de coleta, armazenamento, guarda e tratamento de registros, de dados pessoais ou de comunicações por provedores de conexão e de aplicações de internet em que pelo menos um desses atos ocorra em território nacional, deverão ser obrigatoriamente respeitados a legislação brasileira e os direitos à privacidade, à proteção dos dados pessoais e ao sigilo das comunicações privadas e dos registros. Ou seja, ocorrendo a coleta de dados no território nacional, aplica-se o direito brasileiro - mesmo que o armazenamento, a guarda ou o tratamento seja feito por provedor sediado no exterior, mas que possua representação comercial no Brasil ou oferte serviços a usuários brasileiros. Caso semelhante ao narrado na questão foi analisado pelo STJ, no REsp 2.147.711-SP, em que uma empresa brasileira do setor alimentício foi vítima de difamação pormeio de vídeo falso no YouTube, que mostrava supostos ratos em suas instalações. A ordem de remoção apenas no Brasil mostrou-se insuficiente, pois o conteúdo continuava acessível em outros países. Consoante o STJ, é infundado alegar que o Judiciário brasileiro não pode limitar o acesso de internautas estrangeiros a conteúdos considerados ilegais pelo direito brasileiro. O próprio provedor da plataforma possui política institucional global para, “voluntariamente”, cumprir certas decisões judiciais, mesmo quando não são diretamente dirigidas a ele, em respeito à autoridade dos tribunais na determinação da ilegalidade de conteúdos. Essa política aumenta a probabilidade de remoção de links considerados falsos por tribunais, mesmo em jurisdições diferentes da decisão original. A ordem de remoção global do conteúdo infrator atende a um interesse brasileiro e está fundamentada em normas nacionais. Sua efetivação transfronteiriça é um efeito natural do caráter global da internet, definida no art. 5º, I, do MCI como um “sistema estruturado em escala mundial”. No direito internacional, a liberdade de expressão não é um direito absoluto. Pode ser legitimamente limitada em casos de conflito com o direito à proteção da honra, desde que: • Haja previsão legal de ilicitude de atos difamatórios e revisão judicial independente; • A finalidade seja proteger a reputação ou honra de terceiros; • A limitação seja proporcional à decisão; 150 • Não haja discriminação baseada em características pessoais, como a nacionalidade das partes. • A remoção de conteúdo difamatório com efeitos globais está de acordo com a diretriz internacional da ONU que recomenda a concentração da responsabilização civil em um único foro como boa prática para evitar penalizações múltiplas pela mesma publicação em diferentes jurisdições. Uma plataforma, uma ação judicial. Em suma: Inexiste ofensa à soberania estrangeira a efetivação de forma global de uma ordem judicial específica de indisponibilidade de conteúdo na internet, considerado infrator segundo o direito brasileiro. STJ. 3ª Turma. REsp 2.147.711-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 12/11/2024 (Info 835). (D) CORRETA. Conforme demonstrado no acima, no REsp 2.147.711-SP, a interpretação correta da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro revela que, quando esta menciona ofensa à soberania, refere-se exclusivamente à proteção da soberania nacional brasileira em relação a decisões estrangeiras, e não o contrário. Isso significa que não compete ao Poder Judiciário brasileiro avaliar se suas próprias decisões poderiam configurar ofensa à soberania de outros países. Esta compreensão é reforçada pelo entendimento do STJ de que "inexiste ofensa à soberania estrangeira a efetivação de forma global de uma ordem judicial específica de indisponibilidade de conteúdo na internet, considerado infrator segundo o direito brasileiro". O tribunal não considera como sua atribuição analisar potenciais conflitos com jurisdições estrangeiras ao emitir ordens de alcance global, pois tal análise extrapolaria sua competência constitucional. No caso concreto da empresa de cosméticos, quando o Judiciário brasileiro determina a remoção global do conteúdo difamatório, ele o faz com base exclusivamente na legislação brasileira e nos interesses nacionais a serem protegidos. O tribunal não precisa e nem deve realizar uma avaliação prévia sobre como esta decisão impactará ou será interpretada por soberanias estrangeiras, pois isso representaria uma ingerência em matéria de política externa que não lhe compete. O Marco Civil da Internet (Lei nº 12.965/2014) reforça esta posição ao estabelecer jurisdição brasileira com caráter transfronteiriço sobre provedores de aplicações que coletam dados no território nacional. A efetivação transfronteiriça das decisões judiciais brasileiras decorre naturalmente do caráter global da internet, sem que o juiz brasileiro precise preocupar-se com possíveis 151 ofensas a soberanias estrangeiras, pois tal avaliação não está dentro de suas atribuições constitucionais. Essa interpretação está alinhada com a tendência global de jurisdições nacionais emitirem ordens de alcance internacional em matéria digital, reconhecendo a natureza transfronteiriça da internet e a necessidade de proteção efetiva de direitos fundamentais no ambiente digital. _______________________________________________________________________ NOÇÕES GERAIS DE DIREITO E FORMAÇÃO HUMANÍSTICA 94. A organização internacional Alfa ajuizou ação de reparação de danos em face do Município Beta, tendo sustentado que os recursos que repassara a esse ente federativo, para a realização de determinada política pública de viés prestacional, teriam sido desviados. O pedido foi julgado procedente em primeira instância, tendo Beta considerado a sentença manifestamente contrária à Constituição da República. Além disso, após a interposição do recurso cabível, estando o processo em tramitação no âmbito do juízo ad quem, Beta constatou que sentenças similares foram proferidas em desfavor de outros municípios, o que o levou a cogitar a formulação de requerimento ao Supremo Tribunal Federal (STF) para a edição de súmula vinculante sobre a matéria. Na situação descrita, é CORRETO afirmar que: (A) Beta não tem legitimidade para requerer a edição da súmula vinculante; (B) o requerimento de edição da súmula vinculante não suspenderá a tramitação do processo no âmbito do Superior Tribunal de Justiça; (C) Beta deve requerer, em petição fundamentada, que o Tribunal Regional Federal da respectiva região requeira a edição da súmula vinculante; (D) o STF somente irá apreciar o requerimento de edição da súmula vinculante caso seja interposto o recurso extraordinário no momento oportuno; (E) o requerimento de edição de súmula vinculante não configura prejudicial externa em relação ao processo principal, mas deve ser assegurado o contraditório com Alfa em seu âmbito. _______________________________________________________________________ GABARITO: B COMENTÁRIOS (A) INCORRETA. De acordo com o Art. 3º, § 1º da Lei 11.417/2006, os Municípios possuem legitimidade para propor edição de súmula vinculante, desde que o façam incidentalmente ao processo em que sejam parte. Como Beta é parte no processo mencionado, ele tem legitimidade para fazer este requerimento diretamente ao STF. 152 (B) CORRETA. O requerimento de edição de súmula vinculante não suspende automaticamente a tramitação de processos em curso. O Art. 3º, §1º dispõe: "O Município poderá propor, incidentalmente ao curso de processo em que seja parte, a edição, a revisão ou o cancelamento de enunciado de súmula vinculante, o que não autoriza a suspensão do processo. (C) INCORRETA. Não há necessidade dessa intermediação. O Município Beta, como parte no processo, tem legitimidade para propor diretamente ao STF a edição de súmula vinculante, sem necessidade de intermediação pelo TRF ou qualquer outro tribunal. (D) INCORRETA. A apreciação do pedido de edição de súmula vinculante não está condicionada à interposição de recurso extraordinário. São instrumentos processuais distintos e independentes. A proposta de súmula vinculante pode ser apreciada pelo STF independentemente da existência de recurso extraordinário. (E) INCORRETA. A Lei 11.417/2006, que regulamenta o Art. 103-A da Constituição Federal, estabelece em seu Art. 3º, §2º: "No procedimento de edição, revisão ou cancelamento de enunciado da súmula vinculante, o relator poderá admitir, por decisão irrecorrível, a manifestação de terceiros na questão, nos termos do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal." A lei não estabelece um dever de assegurar o contraditório com Alfa (parte contrária), mas sim uma faculdade do relator em admitir manifestações de terceiros. A participação da parte contrária não é automática ou obrigatória, mas discricionária.A edição de súmula trata-se de processo objetivo. _______________________________________________________________________ 95. João investiu parte de seus ativos em criptomoedas. Como não obteve os retornos financeiros que alegadamente lhe teriam sido prometidos pelo respectivo gestor, ingressou com ação judicial visando à reparação dos prejuízos sofridos. Ao descrever os fatos que embasavam sua pretensão, demonstrou que o sistema adotado apresentava uma característica em particular que comprometia sua higidez na perspectiva dos elementos estruturais subjacentes à blockchain e às criptomoedas. Entre as características abaixo, é CORRETO afirmar que se ajusta à descrição de João: (A) a ausência de supervisão do sistema por uma autoridade monetária oficial; (B) a mutabilidade das cadeias de blocos que armazenam o registro histórico das operações; (C) a distribuição do registro histórico das operações a todos os usuários do sistema por meio de uma rede peer-to-peer; (D) a impossibilidade de gasto duplo da quantia virtual investida, sem a necessidade de intervenção de um intermediário confiável; (E) o registro sequencial das operações realizadas, tornando-as visíveis no sistema, preservando-se as identidades e as chaves de segurança dos respectivos usuários. 153 _______________________________________________________________________ GABARITO: B COMENTÁRIOS (A) INCORRETA. Esta é uma característica intencional e fundamental das criptomoedas, não um problema. A ausência de autoridade central é justamente um dos princípios da tecnologia blockchain, sendo vista como vantagem por permitir transações sem intermediários centralizados. Isso não compromete a higidez do sistema, mas sim define seu funcionamento descentralizado. (B) CORRETA. Esta alternativa identifica um problema grave que comprometeria fundamentalmente a integridade de qualquer blockchain. A imutabilidade (não a mutabilidade) é uma característica essencial das criptomoedas legítimas - uma vez que uma transação é registrada e confirmada na blockchain, ela não deve poder ser alterada. Se o sistema permitia modificações nos blocos já registrados, isso comprometeria toda a segurança e confiabilidade do sistema. (C) INCORRETA. Esta é uma característica positiva e essencial da tecnologia blockchain, não um problema. A distribuição do registro através de uma rede peer-to-peer é o que garante a descentralização e a segurança do sistema, permitindo que múltiplos usuários validem as transações. (D) INCORRETA. A prevenção do gasto duplo sem necessidade de intermediários é uma das principais inovações e vantagens da tecnologia blockchain, não um problema. Esta característica reforça a segurança do sistema ao invés de comprometê-la. (E) INCORRETA. O registro sequencial transparente, combinado com a preservação da privacidade através de chaves criptográficas, é um dos pontos fortes dos sistemas blockchain, não uma fragilidade. Esta característica garante simultaneamente a auditabilidade e a privacidade. _______________________________________________________________________ 96. Ao interpor recurso de apelação contra sentença proferida pelo juízo de primeira instância, o recorrente argumentou que a sentença teria afrontado os alicerces estruturais do método de interpretação pela lógica do razoável ao interpretar o Art. X da Lei nº Y. O relator, ao proferir seu voto, constatou o acerto da tese do recorrente, observando corretamente que a sentença: (A) afastou o uso da estrutura da inferência correta; (B) reconheceu que os fatos humanos, a serem alcançados pela norma, se relacionam com valorações; (C) afastou a validade íntrinseca da norma jurídica, situando-a no plano extrínseco, jurídico ou social; 154 (D) reconheceu a permeabilidade do direito a referenciais axiológicos colhidos no ambiente sociopolítico; (E) defendeu que a norma, a exemplo das proposições matemáticas, se ajusta à racionalidade própria dos referenciais de certo e errado. _______________________________________________________________________ GABARITO: E COMENTÁRIOS (A) INCORRETA. O método da lógica do razoável não rejeita completamente as estruturas de inferência correta, mas sustenta que o raciocínio jurídico requer mais do que apenas lógica formal. A sentença não estaria violando os alicerces estruturais do método simplesmente por afastar estruturas de inferência. (B)INCORRETA. Esta alternativa está incorreta porque apresenta algo que está em conformidade com o método da lógica do razoável, não uma violação. Este método justamente reconhece que os fatos humanos estão interligados com valorações e que a interpretação jurídica deve considerar esta dimensão valorativa. (C) INCORRETA. Embora o método da lógica do razoável considere fatores sociais e contextuais, ele não nega a validade intrínseca das normas jurídicas. A abordagem contextual complementa, mas não substitui, a análise da validade intrínseca da norma. (D) INCORRETA. Assim como a alternativa B, descreve algo que está em consonância com o método da lógica do razoável, não uma violação. Este método justamente reconhece que o direito é permeável a referenciais axiológicos provenientes do ambiente sociopolítico. (E) CORRETA. A sentença violou os alicerces estruturais do método da lógica do razoável precisamente ao defender que as normas jurídicas funcionam como proposições matemáticas, ajustando-se a uma racionalidade binária de certo e errado. Isso contradiz diretamente o núcleo do método de Recaséns Siches, que rejeita explicitamente a ideia de que o raciocínio jurídico possa ser equiparado ao raciocínio matemático ou à lógica formal. O método da lógica do razoável sustenta que a interpretação jurídica deve considerar valores, finalidades sociais e contexto histórico, indo além de uma aplicação rígida de categorias abstratas de certo e errado. _______________________________________________________________________ 97. Em uma gincana jurídica, os grupos Alfa, Beta e Gama foram instados a apresentar algumas características essenciais do whistleblower na realidade brasileira. O grupo Alfa observou que o reportante que sofrer danos materiais causados por ações ou omissões praticadas em retaliação deve ser ressarcido em dobro. O grupo Beta, por sua vez, afirmou que há uma simbiose existencial entre a figura do whistleblower e a consensualidade de colaboração, mas não apresenta qualquer correlação com consensualidade de pura reprimenda. Por fim, o grupo Gama sustentou que o reportante 155 é uma pessoa envolvida direta ou indiretamente na prática do ilícito, que colabora com as autoridades. Os jurados, ao analisarem as afirmações dos três grupos, concluíram corretamente que: (A) todas estão certas; (B) apenas as do grupo Alfa estão certas; (C) apenas as do grupo Beta estão certas; (D) apenas as dos grupos Alfa e Gama estão certas; (E) apenas as dos grupos Beta e Gama estão certas. _______________________________________________________________________ GABARITO: B COMENTÁRIOS A afirmação do grupo Alfa está CORRETA. A Lei nº 13.608/2018, alterada pela Lei nº 13.964/2019 (Pacote Anticrime), estabelece expressamente que o reportante (whistleblower) que sofrer danos materiais causados por ações ou omissões praticadas em retaliação será ressarcido em dobro. Conforme o §2º do art. 4º-C: "O informante será ressarcido em dobro por eventuais danos materiais causados por ações ou omissões praticadas em retaliação, sem prejuízo de danos morais." A afirmação do grupo Beta está INCORRETA. O whistleblower (reportante) na legislação brasileira não está necessariamente vinculado à "consensualidade de colaboração". Na realidade, o whistleblower é justamente uma figura distinta do colaborador/delator premiado. Enquanto o colaborador/delator é aquele que participou do delito e decide colaborar com as autoridades em troca de benefícios, o whistlebloweré tipicamente alguém que NÃO participou do delito, mas tomou conhecimento dele e decide reportá- lo às autoridades. Portanto, não há uma "simbiose existencial" entre o whistleblower e a consensualidade de colaboração. A afirmação do grupo Gama está INCORRETA. Esta descrição não corresponde ao whistleblower, mas sim ao colaborador/delator premiado. Na legislação brasileira, o whistleblower (reportante) é caracterizado como uma pessoa que NÃO está envolvida na prática do ilícito. Ele é justamente alguém que, ao tomar conhecimento de irregularidades, as reporta às autoridades competentes. A diferença fundamental entre o whistleblower e o colaborador/delator é que o primeiro não está envolvido no ilícito, enquanto o segundo é um participante do ato ilícito que decide colaborar com as autoridades. _______________________________________________________________________ DIREITOS HUMANOS 156 98. Em janeiro de 2022, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), ao editar a Recomendação nº 123, orientou os órgãos do Poder Judiciário quanto à observância dos tratados e convenções internacionais de direitos humanos em vigor no Brasil e à utilização da jurisprudência da Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH), bem como apontou para a necessidade de controle de convencionalidade das leis internas. Sobre o exercício do controle de convencionalidade, é CORRETO afirmar que: (A) o controle de convencionalidade traduz-se na verificação da compatibilidade da Constituição de um Estado com as normas dos tratados internacionais firmados e incorporados pelo país; (B) a compatibilização das decisões internacionais ao ordenamento jurídico brasileiro, de modo a aplicar a norma mais benéfica à promoção dos direitos humanos é prerrogativa exclusiva do Supremo Tribunal Federal (STF); (C) o controle de convencionalidade não é exercido de ofício pelos órgãos do Poder Judiciário, tratando-se de função provocada, pois ainda não foi instituída uma estrutura institucional dirigida à fiscalização e ao monitoramento da agenda de direitos humanos pelos Estados; (D) a supressão, a revogação e a suspensão dos efeitos jurídicos de determinada norma no direito brasileiro podem ser realizadas por meio do controle de convencionalidade se houver afronta à Convenção Interamericana de Direitos Humanos (Pacto de San José da Costa Rica); (E) o controle de convencionalidade, quando de matriz internacional, opõe-se ao controle interno de constitucionalidade e dele é excludente. Os dois sistemas não coexistem no mesmo ordenamento jurídico. _______________________________________________________________________ GABARITO: D COMENTÁRIOS (A) INCORRETA. Confunde controle de convencionalidade com controle de constitucionalidade. O controle de convencionalidade visa a compatibilização de normas internas com tratados internacionais de direitos humanos, não com a Constituição. (B) INCORRETA. Não é prerrogativa exclusiva do STF aplicar tratados de direitos humanos. O controle de convencionalidade pode e deve ser exercido por qualquer juiz ou tribunal nacional, inclusive de ofício, conforme a Corte IDH (caso Almonacid Arellano vs. Chile, 2006). “Os Estados que ratificaram a Convenção estão obrigados a assegurar que os efeitos das disposições da Convenção não sejam prejudicados pela aplicação de leis contrárias à sua finalidade e objeto, pelo que os juízes e órgãos vinculados à aplicação do Direito, em todos os níveis, devem exercer ex officio um ‘controle de convencionalidade’ entre as normas internas e a Convenção Americana sobre Direitos Humanos, evidentemente no marco de suas respectivas competências e dos regulamentos processuais 157 correspondentes.” (CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. Caso Almonacid Arellano y otros vs. Chile: Sentença de 26 de setembro de 2006. Série C n. 154. San José, Costa Rica: Corte IDH, 2006. Disponível em: https://www.corteidh.or.cr/docs/casos/articulos/seriec_154_esp.pdf. Acesso em: maio 2025.) (C) INCORRETA. Errada ao afirmar que o controle de convencionalidade não pode ser exercido de ofício. A jurisprudência da Corte IDH afirma o oposto. O controle de convencionalidade deve ser exercido por todos os órgãos estatais, inclusive sem provocação. (D) CORRETA. É a única assertiva precisa. De fato, se uma norma interna violar tratado de direitos humanos, como a Convenção Americana (Pacto de San José), pode ser afastada pelo controle de convencionalidade, suprimindo seus efeitos jurídicos no caso concreto. (E) INCORRETA. Equivocada ao afirmar que o controle de convencionalidade e o de constitucionalidade seriam excludentes. Pelo contrário, os dois controles são complementares e coexistem, como reconhecido pelo STF e pela Corte IDH. _______________________________________________________________________ 99. Em 2014, em resposta à solicitação feita por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai em busca de orientações acerca de standards de proteção à criança migrante diante dos desafios enfrentados na região, a Corte IDH emitiu a Opinião Consultiva nº 21, denominada “Direitos e Garantias de crianças no contexto da migração e/ou necessidade de proteção internacional”. Considerando a referida opinião consultiva, além da legislação pertinente sobre o tema, é CORRETO afirmar que: (A) quando a criança está desacompanhada ou separada de seus pais, não pode ficar no mesmo espaço que outros adultos, sendo necessário um local especial; já quando está junto de seus pais, deve ser respeitado o direito à convivência familiar, devendo a criança ou adolescente ser alojado junto com sua família em qualquer hipótese; (B) nas hipóteses em que a criança tem direito à nacionalidade do país do qual um ou ambos os progenitores podem ser expulsos, ou que cumpra as condições legais para residir permanentemente neste país, os Estados não podem expulsar um ou ambos os progenitores por infrações migratórias de caráter administrativo, pois se sacrificaria de forma irrazoável ou desmedida o direito à vida familiar da criança; (C) em casos controvertidos, as questões de nacionalidade e status migratório devem prevalecer sobre o princípio do superior interesse da criança; (D) em algumas hipóteses especificamente delimitadas por lei e tidas como excepcionais é permitido aos Estados o recurso ao uso da detenção e restrição da liberdade pessoal de crianças e adolescentes por motivos migratórios; (E) nesse documento, a referência a crianças se faz apenas às migrantes que se deslocam internacionalmente para fugir de seu país, seja por temor fundado de serem perseguidas por determinados motivos ou porque suas vidas, segurança ou liberdade foram ameaçadas pela violência generalizada. 158 _______________________________________________________________________ GABARITO: B COMENTÁRIOS (A) INCORRETA. A segunda parte da afirmativa falha ao dizer que o alojamento com a família deve ocorrer “em qualquer hipótese”. A Corte admite exceções desde que fundadas no interesse superior da criança: “Devem alojar-se com seus familiares, exceto se for mais conveniente a separação, em aplicação do interesse superior da criança” (CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. Opinião Consultiva OC-21/14 – Direitos e Garantias de Crianças no Contexto da Migração e/ou em Necessidade de Proteção Internacional. San José, Costa Rica, 19 ago. 2014. Série A, n. 21. Disponível em: https://www.corteidh.or.cr. Acesso em: maio 2025.) (B) CORRETA. A Corte reconheceu que a expulsão de um ou ambos os progenitores em tais circunstâncias sacrificaria desproporcionalmente o direito à vida familiar da criança: “A ruptura da unidade familiar através da expulsão de um ou de ambos os progenitores por infrações migratórias […] parece irrazoável ou desmedida frente às vantagens de forçar o progenitor a abandonar o território” (CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. Opinião Consultiva OC-21/14 – Direitos e Garantias de Criançasno Contexto da Migração e/ou em Necessidade de Proteção Internacional. San José, Costa Rica, 19 ago. 2014. Série A, n. 21. Disponível em: https://www.corteidh.or.cr. Acesso em: maio 2025.) (C) INCORRETA. A Opinião Consultiva é explícita ao afirmar que o interesse superior da criança deve ser a consideração primordial: “O interesse superior da criança deve ser a base de qualquer decisão tomada sobre essa criança” (CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. Opinião Consultiva OC-21/14 – Direitos e Garantias de Crianças no Contexto da Migração e/ou em Necessidade de Proteção Internacional. San José, Costa Rica, 19 ago. 2014. Série A, n. 21. Disponível em: https://www.corteidh.or.cr. Acesso em: maio 2025.) (D) INCORRETA. A Corte foi clara ao vedar a detenção de crianças com base em sua situação migratória: “A privação de liberdade de crianças migrantes […] é arbitrária e, deste modo, contrária tanto à Convenção como à Declaração Americana” (CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. Opinião Consultiva OC-21/14 – Direitos e Garantias de Crianças no Contexto da Migração e/ou em Necessidade de Proteção Internacional. San José, Costa Rica, 19 ago. 2014. Série A, n. 21. Disponível em: https://www.corteidh.or.cr. Acesso em: maio 2025.) (E) INCORRETA. A Opinião Consultiva tem escopo mais amplo: “[…] os direitos de todas as crianças no contexto da migração internacional […] com independência de sua nacionalidade ou apatridia, e situação em termos de imigração” (CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. Opinião Consultiva OC-21/14 – Direitos e Garantias de Crianças no Contexto da Migração e/ou em Necessidade de Proteção Internacional. San José, Costa Rica, 19 ago. 2014. Série A, n. 21. Disponível em: https://www.corteidh.or.cr. Acesso em: maio 2025.) https://www.corteidh.or.cr/ https://www.corteidh.or.cr/ https://www.corteidh.or.cr/ https://www.corteidh.or.cr/ https://www.corteidh.or.cr/ 159 _______________________________________________________________________ 100. A Convenção nº 169 da Organização Internacional do Trabalho é o principal instrumento jurídico internacional de proteção aos direitos dos povos indígenas e tribais, abrangendo aspectos econômicos, sociais e culturais. Em relação ao tema, é CORRETO afirmar que: (A) a Convenção nº 169 nasce da luta dos povos pelo reconhecimento do direito à diferença e à autodeterminação mantendo o paradigma da assimilação cultural presente na norma internacional anterior, a Convenção nº 107 da OIT, de 1957; (B) a consulta aos povos indígenas surge como uma obrigação nos termos da Convenção nº 169 sempre que obras, ações, políticas ou programas, desde que desenvolvidos pela esfera pública, sejam suscetíveis de afetá-los diretamente; (C) a Convenção nº 169 aplica-se aos povos em países independentes, considerados indígenas pelo fato de descenderem de populações que habitavam o país ou uma região geográfica pertencente ao país na época da conquista ou da colonização ou do estabelecimento das atuais fronteiras estatais e que conservam todas as suas próprias instituições sociais, econômicas, culturais e políticas, ou parte delas; (D) a participação de representantes dos povos indígenas no planejamento e na execução dos programas de saúde voltados às suas comunidades constitui direito reconhecido por norma com status infralegal, aprovada pelo Congresso Nacional e pelo presidente da República; (E) os indígenas localizados em zona urbana também constituem povos indígenas, mas, nessas condições, não gozam dos mesmos direitos que o indígena aldeado localizado em Terras Indígenas. _______________________________________________________________________ GABARITO: C – MEGE: B COMENTÁRIOS QUESTÃO PASSÍVEL DE RECURSO. (A) INCORRETA. A Convenção nº 169 supera a lógica assimilacionista da Convenção nº 107, e rompe com o paradigma da integração forçada, reconhecendo o direito à autodeterminação e à diferença cultural. (B) INCORRETA. Convenção 169 da OIT, Artigo 6º: “1. Na aplicação das disposições da presente Convenção, os governos deverão: a) consultar os povos interessados, por meio de procedimentos adequados e, em particular, de suas instituições representativas, 160 sempre que sejam previstas medidas legislativas ou administrativas suscetíveis de afetá-los diretamente;” Desse modo, a obrigação de consulta aos povos indígenas não se limita a obras, ações, políticas ou programas desenvolvidos pela esfera pública, motivo pelo qual está errada a alternativa. (C) CORRETA. Convenção 169 da OIT, Artigo 1º, item 1, alínea b: “1. A presente Convenção aplica-se a: (...) b) povos em países independentes considerados indígenas pelo fato de descenderem de populações que viviam no país ou região geográfica na qual o país estava inserido no momento da sua conquista ou colonização ou do estabelecimento de suas fronteiras atuais e que, independente de sua condição jurídica, mantêm algumas de suas próprias instituições sociais, econômicas, culturais e políticas ou todas elas.” (D) INCORRETA. A participação indígena em políticas de saúde é reconhecida como direito previsto na própria Convenção nº 169 (art. 25), com status de norma supralegal, conforme jurisprudência do STF (RE 466.343/SP e ADI 5543). (E) INCORRETA. Os direitos da Convenção 169 não se aplicam apenas a populações residentes em terras demarcadas, mas a todos os povos indígenas ou tribais conforme os critérios do art. 1º da convenção, independentemente da formalização fundiária. _______________________________________________________________________deve ser inserida cláusula editalícia prevendo a reserva de percentual do tempo de transmissão para a veiculação de conteúdo local e regional. Após a frustração das medidas administrativas voltadas à impugnação de edital que fora elaborado com base no referido ato normativo, a sociedade empresária interessada impetrou mandado de segurança, argumentando com a desconformidade constitucional do edital. 18 O órgão jurisdicional competente observou corretamente que a medida: (A) é incompatível com o caráter nacional do poder concedente; (B) está em harmonia com os direitos de acesso à comunicação e à cultura; (C) precisa estar amparada na lei, não podendo ser exigida apenas em ato administrativo; (D) se ajusta à plena liberdade valorativa do poder concedente em relação ao conteúdo da programação; (E) afronta o princípio da neutralidade conteudística do poder concedente em relação à programação das emissoras de radiodifusão. _______________________________________________________________________ GABARITO: B COMENTÁRIOS Os dispositivos constitucionais autorizam e incentivam a inclusão de conteúdo regional e cultural local nas grades das emissoras, especialmente no âmbito de concessões e permissões públicas como é o caso da radiodifusão sonora comercial, conforme pode ser observado a seguir: “Art. 221. A produção e a programação das emissoras de rádio e televisão atenderão aos seguintes princípios: I – preferência a finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas; II – promoção da cultura nacional e regional e estímulo à produção independente que objetive sua divulgação; III – regionalização da produção cultural, artística e jornalística, conforme percentuais estabelecidos em lei; IV – respeito aos valores éticos e sociais da pessoa e da família.” O art. 223 da CF estabelece que a outorga e renovação das permissões e concessões de radiodifusão sonora e de sons e imagens será feita pelo Poder Executivo, respeitado o art. 221. Ou seja, há uma função constitucional ativa da Administração Pública na promoção da pluralidade e regionalização do conteúdo _______________________________________________________________________ DIREITO PREVIDENCIÁRIO 11. Maria, moradora de cidade do interior do Estado da Paraíba, em região de atividade econômica eminentemente rural, busca aposentadoria por idade, haja vista ter provas documentais de atividade profissional em pequena propriedade rural, em conjunto com sua família. 19 Na referida situação hipotética, é CORRETO afirmar que: (A) segundo a descrição de sua atividade profissional, Maria está qualificada como segurada obrigatória empresária do Regime Geral de Previdência Social (RGPS); (B) na situação descrita, a única possibilidade de aposentadoria para Maria seria por idade, ao completar 62 anos, e desde que comprovado o recolhimento de 15 anos de contribuição; (C) em qualquer situação, o INSS poderá exigir de Maria a prova de todos os recolhimentos previdenciários derivados da comercialização de sua produção rural, haja vista ela ser a responsável tributária; (D) caso Maria obtenha aposentadoria por idade na condição de pequena produtora rural, ela impedirá que os demais membros da família recebam prestação semelhante, por conta do necessário custeio do sistema previdenciário; (E) caso Maria desempenhe suas atividades em estrito regime de economia familiar, em área não superior a quatro módulos fiscais, poderá enquadrar-se como segurada especial do RGPS e aposentar-se nessa condição. _______________________________________________________________________ GABARITO: E COMENTÁRIOS A alternativa correta reconhece o enquadramento de Maria como segurada especial do RGPS, desde que atue em regime de economia familiar, sem empregados permanentes, e em área de até quatro módulos fiscais, nos termos do art. 11, VII, da Lei 8.213/1991. Essa categoria tem direito à aposentadoria por idade aos 60 anos (homem) e 55 anos (mulher), mediante comprovação de atividade rural por 15 anos, sem necessidade de contribuição direta. _______________________________________________________________________ 12. Mário, juiz federal lotado na 5ª Região, sofre acidente automobilístico que o deixa temporiamente afastado de suas funções, haja vista a comprovada incapacidade temporária, mediante perícia médica. Nesse contexto, é CORRETO afirmar que: (A) caso a incapacidade laboral de Mário ultrapasse 12 meses, ele será compulsoriamente aposentado por incapacidade permanente; (B) na hipótese de agravamento do quadro clínico de Mário, eventual aposentadoria por incapacidade permanente será concedida pelo regime previdenciário próprio federal; (C) caso Mário tenha plena recuperação para suas atividades profissionais, ele poderá requerer o benefício de auxílio-acidente, junto ao INSS, na hipótese de sequelas definitivas; 20 (D) caso Mário fique incapacitado definitivamente após 24 meses de afastamento, ele terá de se submeter a processo de readaptação profissional, podendo ser realocado em qualquer atividade do tribunal; (E) na eventualidade de óbito de Mário durante seu afastamento, o benefício previdenciário de pensão por morte será encargo do Tesouro Nacional e não do Regime Próprio de Previdência Federal. _______________________________________________________________________ GABARITO: B COMENTÁRIOS Mário é servidor público federal e está vinculado ao Regime Próprio de Previdência Social da União (RPPS). Caso haja agravamento de seu quadro e se comprove incapacidade permanente para o cargo, poderá ser aposentado por invalidez nos termos da Lei 8.112/1990 (art. 186), com a aposentadoria sendo custeada pelo RPPS. (A) INCORRETA. Não existe prazo fixo de 12 meses para aposentadoria compulsória por invalidez. A concessão depende de laudo médico oficial. (C) INCORRETA. O auxílio-acidente é benefício exclusivo do RGPS e não é aplicável a servidores do RPPS. (D) INCORRETA. A readaptação é possível, mas não obrigatória após 24 meses. Deve ser precedida de avaliação e respeitar limitações funcionais (art. 24 da Lei 8.112/1990). (E) INCORRETA. O benefício de pensão por morte seria pago pelo RPPS. _______________________________________________________________________ 13. A sociedade XPTO, atuante no setor alimentício, possui 1.500 empregados em sua folha mensal de pagamentos. Todos estão devidamente registrados, recebendo salário mensal contratualmente pactuado, mas com algumas adições que refletem pagamentos não necessariamente de índole contraprestacional. Nesse contexto hipotético, uma parcela que deve ser adicionada ao salário de contribuição mensal dos empregados é: (A) licença-prêmio indenizada; (B) vale-transporte, pago na forma da legislação; (C) diárias para viagem; (D) participação nos lucros da empresa, paga na forma da legislação; (E) aportes à previdência complementar, quando não extensível a todos os empregados. _______________________________________________________________________ GABARITO: E COMENTÁRIOS 21 A parcela adicionada ao salário de contribuição é o aporte do empregador à previdência complementar não extensível a todos os empregados, conforme o art. 28, §9º, alínea “q”, da Lei 8.212/1991. Nessa hipótese, o valor integra a base de cálculo da contribuição. (A) INCORRETA. licença-prêmio convertida em pecúnia, na rescisão, não integra o salário de contribuição (art. 28, §9º, “e”). (B) INCORRETA. O vale-transporte pago nos moldes legais é expressamente excluído da base de cálculo (art. 28, §9º, “f”). (C) INCORRETA. Diárias para viagem são excluídas do salário de contribuição, salvo quando excedentes ou habituais. (D) INCORRETA. Participação nos lucros regularmente paga não integra o salário de contribuição (art. 28, §9º, “j”). _______________________________________________________________________ 14. Pedro, juiz federallotado em cidade do interior de Pernambuco, recebe demanda na qual o autor requer aposentadoria por idade, na condição de segurado especial, alegando ter desempenhado, ao longo de toda a sua vida, atividade rural em sua pequena propriedade. Diante do cenário hipotético narrado, uma decisão acertada seria não admitir a condição de segurado especial do autor: (A) uma vez demonstrado que ele, de forma limitada e por qualquer período, tenha usado sua propriedade para fins turísticos; (B) uma vez comprovado que ele, de forma concomitante e continuada, tenha exercido diversos mandatos de vereador na referida cidade; (C) na hipótese de ele ter, por meio de contrato, realizado parceria rural de qualquer parcela de seu terreno; (D) na hipótese de ele ter sido beneficiário de benefício de prestação continuada no passado; (E) na hipótese de comprovada utilização de mão de obra remunerada de forma continuada e sem interrupção. _______________________________________________________________________ GABARITO: COMENTÁRIOS A utilização habitual de mão de obra remunerada descaracteriza a condição de segurado especial, conforme o art. 11, §1º, da Lei 8.213/1991. A norma só admite o auxílio eventual de terceiros ou familiares, sob pena de configurar atividade empresarial rural. 22 (A) INCORRETA. O § 8º, II, do art. 11 da Lei nº 8.213/1991 estabelece expressamente que a exploração da atividade turística da propriedade rural, inclusive com hospedagem, por até 120 dias ao ano, não descaracteriza a condição de segurado especial. “§ 8º. Não descaracteriza a condição de segurado especial: II – a exploração da atividade turística da propriedade rural, inclusive com hospedagem, por não mais de 120 (cento e vinte) dias ao ano.” Portanto, o uso limitado da propriedade para fins turísticos não impede o enquadramento. (B) INCORRETA. A participação em mandato eletivo de vereador não exclui a condição de segurado especial, desde que no mesmo município em que o segurado desenvolve a atividade rural e que não haja regime de dedicação exclusiva ou integral. “§ 9º, V, a: exercício de mandato de vereador do Município em que desenvolve a atividade rural.” A norma autoriza expressamente essa hipótese. O exercício de mandato de vereador no município da atividade rural não afasta a condição de segurado especial. (C) INCORRETA. O § 8º, I, do art. 11 admite a outorga de parceria, meação ou comodato de até 50% do imóvel, desde que a área total seja de até quatro módulos fiscais e que outorgante e outorgado continuem exercendo a atividade. “§ 8º, I: a outorga [...] de até 50% (cinquenta por cento) de imóvel rural [...] desde que outorgante e outorgado continuem a exercer a respectiva atividade [...]” Ou seja, nem toda parceria exclui a condição de segurado especial — só haveria descaracterização se descumpridos os requisitos legais (como cessação do trabalho ou área superior ao limite). (D) INCORRETA. O § 8º, IV, do art. 11 afirma que o recebimento de benefício assistencial oficial de governo não descaracteriza a condição de segurado especial. Isso inclui o BPC, ainda que recebido anteriormente. “§ 8º, IV: ser beneficiário ou fazer parte de grupo familiar que tem algum componente que seja beneficiário de programa assistencial oficial de governo.” Portanto, essa hipótese não exclui o enquadramento como segurado especial. (E) CORRETA. O § 1º do art. 11 exige, para caracterização do regime de economia familiar, a ausência de utilização de empregados permanentes. A exceção prevista no § 7º admite uso de empregados por prazo determinado, até o limite de 120 pessoas/dia por ano civil. “§ 1º: [...] sem a utilização de empregados permanentes.” “§ 7º: [...] à razão de no máximo 120 (cento e vinte) pessoas por dia no ano civil.” 23 Assim, o uso de mão de obra remunerada de forma continuada e sem interrupção viola diretamente a definição legal de economia familiar, descaracterizando a condição de segurado especial. _______________________________________________________________________ 15. A sociedade Brasiliana Ltda., especializada em confecção de bolsas de couro, possui 55 empregados em atividade, sendo 15 deles em atividade insalubre, por exposição ao ruído de forma permanente, acima dos limites de tolerância da legislação vigente. Nesse contexto, é CORRETO afirmar que: (A) a exposição a agente nocivo, caso seja capaz de viabilizar a contagem de tempo especial para fins de aposentadoria, trará, como consequência tributária, a majoração da contribuição para financiamento das prestações oriundas de riscos ambientais do trabalho; (B) a referida sociedade deve ser imediatamente fechada, com o encerramento de suas atividades, por exposição de trabalhadores a agentes nocivos, o que é peremptoriamente vedado pela legislação previdenciária, independentemente de eventual ação regressiva por parte do INSS; (C) a situação descrita poderá acarretar, como consequência, incremento de contribuição previdenciária por parte do empregador, na forma de incidência adicional de contribuição sobre a totalidade da folha de empregados da sociedade; (D) como somente parcela dos empregados está exposta a agentes nocivos, a consequência natural é a inexistência de qualquer encargo previdenciário adicional, dentro de um crivo de razoabilidade; (E) a elaboração, por parte do empregador, de perfis profissiográficos previdenciários dos empregados é encargo legal que possui presunção absoluta de veracidade quanto à ausência de exposição nociva ao ruído. _______________________________________________________________________ GABARITO: A COMENTÁRIOS (A) CORRETA. Lei nº 8.213/1991, art. 57, § 6º: "O benefício de aposentadoria especial será financiado com os recursos provenientes da contribuição a cargo da empresa, incidente sobre a remuneração paga ou creditada aos segurados empregados sujeitos a condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física, nos termos do art. 22, inciso II, da Lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991." Lei nº 8.212/1991, art. 22, II: 24 "A contribuição a cargo da empresa, destinada à Seguridade Social, é de: II – adicional de 1% (um por cento), 2% (dois por cento) ou 3% (três por cento), conforme o grau de risco da atividade, incidente sobre o total das remunerações pagas, devidas ou creditadas aos segurados empregados." STJ – REsp 1.310.034/PR (Tema 534): A Corte reconheceu a legalidade da contribuição adicional ao SAT, conforme previsto nos arts. 22, II, da Lei 8.212/1991 e 57, §6º, da Lei 8.213/1991, mesmo quando não houver concessão de aposentadoria especial individualizada, bastando a exposição ao risco. (B) INCORRETA. Não há previsão legal ou administrativa para encerramento compulsório de atividade empresarial por exposição a agente nocivo. A legislação previdenciária prevê medidas de compensação e custeio, como o SAT, e não o fechamento automático da empresa. Além disso, a responsabilidade civil e administrativa é apurada em sede própria, e o INSS pode propor ação regressiva (Lei 8.213/1991, art. 120), mas isso não autoriza o encerramento sumário. (C) INCORRETA. A majoração da alíquota do SAT não incide sobre toda a folha, mas apenas sobre a remuneração dos empregados efetivamente expostos a agentes nocivos, conforme o art. 22, II, da Lei 8.212/1991 c/c art. 57, par. 7º da Lei 8213/91 (O acréscimo de que trata o parágrafo anterior incide exclusivamente sobre a remuneração do segurado sujeito às condições especiais referidas no caput). A incidência geral violaria o princípio da capacidade contributiva e da vinculação do risco ao trabalhador afetado. (D) INCORRETA. O fato de apenas parte dos empregados estar exposta a risco não exime a empresa da obrigação de pagar o adicional de contribuição para o SAT sobre a remuneração desses trabalhadores expostos. A lei é clara em prever o dever de custeio sempre que houver risco caracterizado,mesmo que apenas parcial. (E) INCORRETA. O Perfil Profissiográfico Previdenciário (PPP), exigido pelo art. 58, § 4º, da Lei nº 8.213/1991, não goza de presunção absoluta de veracidade. Trata-se de documento passível de fiscalização e contradita pelo INSS, e sua veracidade pode ser verificada por laudos técnicos de condições ambientais (LTCAT). _______________________________________________________________________ 16. Jorge, idoso e desempregado, sem qualquer forma de renda derivada do trabalho e desprovido de patrimônio, reside com sua esposa, Maria, que é aposentada pelo Regime Geral de Previdência Social (RGPS), e recebe benefício de um salário mínimo. Ambos residem, sozinhos, na mesma casa, sem filhos ou parentes próximos. Jorge requereu, junto ao INSS, o benefício assistencial de prestação continuada (BPC). Nesse contexto hipotético, é CORRETO afirmar que: (A) Jorge poderá receber benefício assistencial de um salário mínimo, na forma do Art. 20 da Lei nº 8.742/1993, pois atende a todos os requisitos legais; 25 (B) Jorge poderá receber o benefício assistencial, desde que possua mais de 65 anos de idade, pois a aposentadoria de sua esposa não entrará no cômputo da renda mensal para esse fim; (C) o benefício de Jorge deve ser indeferido na via administrativa, pois o INSS não é competente para fins de avaliação e concessão de prestações assistenciais; (D) o benefício assistencial de Jorge somente será devido se, além de idoso, for pessoa com deficiência que careça do auxílio permanente de terceiros; (E) Jorge, se possuir mais de 65 anos de idade, não precisará da prestação assistencial, pois poderá aposentar-se por idade, benefício previdenciário que dispensa qualquer tempo de contribuição. _______________________________________________________________________ GABARITO: B COMENTÁRIOS (A) INCORRETA. Embora pareça correta, ignora a necessidade de verificação da idade de Jorge (mínimo 65 anos, conforme caput do art. 20). O enunciado não informa essa idade. Além disso, não menciona a exclusão da renda da esposa com base no § 14, o que torna a assertiva tecnicamente imprecisa. (B) CORRETA. O art. 20, caput, da Lei nº 8.742/1993 estabelece o BPC como o direito a um salário mínimo mensal para a pessoa idosa com 65 anos ou mais, desde que não tenha meios de prover a própria manutenção nem de tê-la provida por sua família. Art. 20, caput: “O benefício de prestação continuada é a garantia de um salário- mínimo mensal à [...] pessoa idosa com 65 (sessenta e cinco) anos ou mais que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção nem de tê-la provida por sua família.” O critério objetivo de renda familiar per capita está previsto no § 3º do art. 20, fixando o limite de 1/4 do salário mínimo, embora sua aplicação seja flexibilizada conforme a jurisprudência (vide abaixo). Já o § 14 do art. 20, incluído pela Lei nº 13.982/2020, é central para esta questão: § 14: “O benefício de prestação continuada ou o benefício previdenciário no valor de até 1 (um) salário-mínimo concedido a idoso acima de 65 (sessenta e cinco) anos [...] não será computado, para fins de concessão do benefício de prestação continuada a outro idoso ou pessoa com deficiência da mesma família [...]” Isso significa que a aposentadoria de Maria (esposa de Jorge), de valor correspondente a um salário mínimo, não deve ser considerada no cálculo da renda familiar per capita, 26 não impedindo a concessão do benefício a Jorge, desde que ele tenha 65 anos ou mais e cumpra os demais requisitos legais. (C) INCORRETA. O INSS é, sim, competente para análise, avaliação e concessão do BPC, conforme o próprio § 6º do art. 20, que atribui à autarquia a responsabilidade pela avaliação médica e social. (D) INCORRETA. Confunde os requisitos. O BPC pode ser concedido tanto à pessoa idosa quanto à pessoa com deficiência, de forma alternativa, conforme o caput do art. 20. Não se exige acumulação dos dois requisitos. (E) INCORRETA. Essa alternativa ignora que a aposentadoria por idade no RGPS exige carência de 180 contribuições mensais (art. 48 da Lei nº 8.213/1991). Como Jorge nunca contribuiu, ele não pode se aposentar por idade e, portanto, pode ser elegível ao BPC. _______________________________________________________________________ 17. João, segurado empregado em conhecida metalúrgica, foi contratado para a respectiva atividade em janeiro de 2020, aos 20 anos de idade, sendo esse seu primeiro emprego e primeira atividade remunerada, sem qualquer liame com o sistema previdenciário nacional antes disso. João, desde o início, tem atividade insalubre, de forma permanente, a qual se qualifica como atividade especial de 25 anos, na forma do laudo técnico de condições ambientais do trabalho. Admitindo, por hipótese, que João permaneça na referida atividade por toda a sua vida profissional, ele poderá aposentar-se com a idade de: (A) 45 anos; (B) 50 anos; (C) 55 anos; (D) 58 anos; (E) 60 anos. _______________________________________________________________________ GABARITO: E COMENTÁRIOS Após a EC 103/2019, a aposentadoria especial exige tempo de efetiva exposição (ex: 25 anos para agentes nocivos) e idade mínima de 60 anos (art. 19, §1º da EC). Ainda que João complete 25 anos de atividade especial, ele só poderá se aposentar ao atingir 60 anos de idade. (A-D) INCORRETAS. Todas indicam idades inferiores à exigida atualmente pela Constituição. Ainda que João inicie a atividade aos 20 anos, sua aposentadoria só será possível aos 60. _______________________________________________________________________ 27 18. A Constituição de 1988 tem ampla previsão de objetivos da seguridade social brasileira a serem concretizados mediante ações legislativas e administrativas, em prol do bem-estar e da justiça sociais. Nesse sentido, a necessidade de equilíbrio financeiro e atuarial dos sistemas previdenciários significa: (A) a impossibilidade de concessão de qualquer serviço ou benefício da seguridade social sem contribuição prévia do interessado; (B) a impossibilidade de concessão de prestações previdenciárias acidentárias, no âmbito do Regime Geral de Previdência Social, sem o atendimento à carência mínima necessária; (C) comando voltado ao legislador ordinário, de tal maneira que assegure, a toda e qualquer pessoa, pagamentos mínimos de sobrevivência desde que haja recolhimentos prévios; (D) regra específica do subsistema previdenciário na qual haja dimensionamento de plano de custeio compatível com o plano de benefícios, mediante cálculo atuarial; (E) a necessária equidade do valor de benefícios, de forma a preservar a base contributiva de aposentados e pensionistas do Regime Geral de Previdência Social. _______________________________________________________________________ GABARITO: D COMENTÁRIOS (A) INCORRETA. A Constituição não veda a concessão de benefícios sem contribuição prévia. O próprio sistema contempla benefícios assistenciais, como o BPC (art. 203, V da CF/88), sem exigência de carência ou contribuição. (B) INCORRETA. O equilíbrio atuarial não se relaciona diretamente com a exigência de carência para benefícios acidentários. Estes, inclusive, não exigem carência, nos termos do art. 26, II da Lei nº 8.213/1991, quando decorrentes de acidente de qualquer natureza ou doença do trabalho. (C) INCORRETA. A alternativa confunde os papéis do legislador. O equilíbrio atuarial não exige o pagamento de “mínimos de sobrevivência” nem vincula o direito a “recolhimentos prévios” em qualquer situação. Trata-se de uma interpretação imprecisa da finalidade do princípio. A ideia de garantir “pagamentos mínimos de sobrevivência” se vincula mais diretamente ao princípio da dignidade da pessoa humana; ao direito à assistência social (CF, art. 203, V), eao princípio da proteção social ampla, que orienta a seguridade social como um todo (CF, art. 194).(D) CORRETA. A alternativa (D) está correta. O princípio do equilíbrio financeiro e atuarial é previsto no art. 201, caput, da Constituição Federal, segundo o qual: “A previdência social será organizada sob a forma de regime geral, de caráter contributivo e de filiação 28 obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial [...]”. Isso significa que deve haver compatibilidade entre o plano de custeio e o plano de benefícios, com base em avaliação atuarial, de modo a garantir a sustentabilidade do sistema a longo prazo. Esse equilíbrio é buscado mediante o dimensionamento das contribuições, idade mínima, tempo de contribuição e valor dos benefícios, sem comprometer a solvência do sistema. Essa diretriz não impede, por si só, a concessão de benefícios não contributivos, desde que devidamente financiados. (E) INCORRETA. O equilíbrio atuarial não se refere à equidade entre valores de benefícios, mas sim à sustentabilidade financeira do sistema. A equidade pode ser objetivo de política distributiva, mas é outra noção em relação à técnica atuarial. _______________________________________________________________________ DIREITO PENAL 19. A respeito do concurso aparente de normas, é CORRETO afirmar que: (A) na relação de especialidade entre duas normas, prevalecerá a norma cujo preceito secundário preveja a maior pena; (B) o princípio da especialidade expressa uma relação de gênero e espécie entre as normas em conflito, ao passo que o princípio da subsidiariedade expressa uma relação de continente e conteúdo e, nesse último, a norma prevalente é obrigatoriamente mais grave; (C) o agente que pratica dois ou mais núcleos do tipo penal responde apenas por um crime, graças à aplicação do princípio da absorção; (D) a punição exclusivamente pelo crime de descaminho, quando o crime de falso naquele se exaure, é hipótese de aplicação do princípio da subsidiariedade; (E) crime progressivo, sinônimo de progressão criminosa, é exemplo da aplicação do princípio da consunção. _______________________________________________________________________ GABARITO: B COMENTÁRIOS Sobre o conflito aparente de normas, é importante ter em mente os quatro princípios: [a] princípio da subsidiariedade: há um crime que faz parte de outro, mais grave. Ex.: constrangimento ilegal e estupro. Sempre prevalecerá o mais grave. [b] princípio da consunção ou absorção: há a relação entre crime-meio e crime-fim. Um crime é praticado como meio para se conseguir a prática de outro. Nem sempre o crime- 29 fim é mais grave que o crime-meio, mas sempre o crime-fim absorverá o crime-meio. Ex.: Súmula n. 17, do STJ, em que o estelionato absorve a falsificação, mesmo a falsificação sendo mais grave. Por outro lado, é importante diferenciar CRIME PROGRESSIVO de PROGRESSÃO CRIMINOSA. ▪ O crime progressivo é aquele em que o dolo do agente é o mesmo do início ao fim, percorrendo o agente vários delitos-meio para se chegar ao delito-fim. Ex.: Tício, com dolo de matar Mévio, efetua um disparo de arma de fogo em seu braço direito, depois outro disparo em seu braço esquerdo, depois outro disparo em sua perna direita, depois outro disparo em sua perna esquerda, tudo isso com o objetivo de fazer Mévio sofrer. Quando Mévio está no auge do sofrimento, Tício, então, efetua um disparo em sua testa, ceifando sua vida. Do início ao fim, o objetivo de Tício era matar Mévio. Em suma: no crime progressivo, o dolo não é alterado. ▪ Na progressão criminosa, o dolo do agente é alterado durante a execução. Ele inicia a execução com o dolo de praticar um delito, mas acaba alterando seu objetivo. Ex.: Tício, com dolo de lesionar Mévio, efetua um disparo de arma de fogo em seu braço direito, depois outro disparo em seu braço esquerdo. Posteriormente, Tício resolve torturar Mévio, em vez de apenas lesioná-lo. Então efetua um disparo de arma de fogo em sua perna direita, depois outro disparo em sua perna esquerda. Por fim, Tício, então, resolve matar Mévio, efetuando um disparo em sua testa, ceifando sua vida. O dolo inicial era de lesionar, depois evoluiu para o dolo de torturar e terminou com o dolo de matar. Em suma, na progressão criminosa, o dolo é alterado. [c] princípio da especialidade: há uma relação de gênero e espécie entre os crimes, prevalecendo o crime especial em relação ao genérico. Ex.: homicídio culposo no Código Penal (art. 121, § 3º) e homicídio culposo no CTB (art. 302). Não prevalece o que possui a maior pena, mas, sim, o que é mais específico. [d] princípio da alternatividade: quando o crime é de ação múltipla, contendo na descrição do preceito primário vários verbos-núcleo, o agente responderá por crime único, mesmo se praticar mais de um desses verbos. Dessa forma, correta a alternativa B. _______________________________________________________________________ 20. A Lei nº 7.492/1986 define os crimes contra o sistema financeiro nacional. Acerca dela e da interpretação dada pelo Superior Tribunal de Justiça, é CORRETO afirmar que: (A) contempla modalidade específica de colaboração premiada, reconhecendo, em favor do coautor ou partícipe que revelar toda a trama delituosa em confissão espontânea, a redução de sua pena de um a dois terços; 30 (B) a obtenção, mediante fraude, de financiamento em instituição financeira para a aquisição de uma motocicleta tipifica o crime de estelionato previsto no Código Penal, haja vista a ausência de efetivo ou potencial abalo ao sistema financeiro; (C) são penalmente responsáveis, nos termos da lei em questão, a pessoa jurídica, o controlador e os administradores, assim considerados os diretores e gerentes; (D) a competência da Justiça Federal é afastada se o crime for praticado no âmbito de bancos públicos estaduais; (E) o crime de gestão temerária é próprio e não admite o concurso de terceiros que não tenham poderes de administração, controle e direção da instituição financeira. _______________________________________________________________________ GABARITO: A COMENTÁRIOS (A) CORRETA. Art. 25 [...] § 2º Nos crimes previstos nesta Lei, cometidos em quadrilha ou co-autoria, o co-autor ou partícipe que através de confissão espontânea revelar à autoridade policial ou judicial toda a trama delituosa terá a sua pena reduzida de um a dois terços. (B) INCORRETA. Art. 19. Obter, mediante fraude, financiamento em instituição financeira. Estelionato Art. 19, da Lei n. 7.492/1986 Fraude praticada para obtenção de qualquer tipo de empréstimo Fraude praticada para obtenção específica de financiamento em instituição financeira (C) INCORRETA. Não há responsabilização das pessoas jurídicas nos crimes contra o Sistema Financeiro. Pessoas Jurídicas apenas são responsabilizadas nos crimes ambientais. (D) INCORRETA. Todos os crimes contra o Sistema Financeiro são julgados pela Justiça Federal, ainda que praticado no âmbito de bancos públicos estaduais. (E) INCORRETA. O delito de gestão fraudulenta de instituição financeira classifica-se como crime próprio, exigindo-se do sujeito ativo a condição especial constante no artigo 25 da Lei nº 7.492/86 (controladores, administradores, diretores, gerentes e equiparados). Todavia, tal situação não impede que, mediante a norma de extensão prevista no artigo 29 do Código Penal, a condição especial do gestor da instituição 31 financeira se comunique a terceiros estranhos a ela, desde que tal circunstância de caráter pessoal, por ser elementar do tipo (artigo 30 do CP), seja conhecida dos demais comparsas estranhos à diretoria. STJ. 6ª Turma. AgRg no AREsp 1.061.456/RS, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 21/11/2017. Apesar de o julgado mencionar a gestão fraudulenta, o mesmo raciocínio se aplica à gestão temerária. Correta, assim, a alternativa A. _______________________________________________________________________21. Dentre os princípios basilares do Direito Penal, está o da legalidade. Acerca dele, é CORRETO afirmar, à luz da Constituição da República e da jurisprudência dos Tribunais Superiores, que: (A) o Supremo Tribunal Federal, no julgamento do ADO nº 26, expressamente excepcionou o princípio da legalidade e admitiu o emprego da analogia in malam partem, para equiparar as condutas homotransfóbicas aos crimes de racismo; (B) se admite que medidas provisórias tipifiquem penalmente comportamentos; (C) não se admite combinação de leis, salvo para beneficiar o réu; (D) tratados e convenções internacionais, ainda que ratificados, não têm o condão de, no direito interno, tipificar crimes e cominar penas, por conta do princípio da reserva legal; (E) leis complementares não podem tipificar penalmente comportamentos. _______________________________________________________________________ GABARITO: D COMENTÁRIOS (A) INCORRETA. Não se admite analogia in malam partem no Direito Penal para tipificação de crimes não previstos em lei. No julgamento da ADO 26, o próprio STF deixou claro que a equiparação das condutas homotransfóbicas aos crimes de racismo não se tratava de analogia: A solução propugnada não sugere a aplicação analógica das normas penais previstas na Lei 7.716/1989 nem implica a formulação de tipos criminais ou cominação de sanções penais. É certo que, considerado o princípio constitucional da reserva absoluta de lei formal, o tema pertinente à definição de tipo penal e à cominação de sanção penal subsume-se ao âmbito das normas de direito material, de natureza eminentemente penal, regendo-se, em consequência, pelo postulado da reserva de parlamento. 32 Assim, inviável, em controle abstrato de constitucionalidade, colmatar, mediante decisão desta Corte Suprema, a omissão denunciada pelo autor da ação direta, procedendo-se à tipificação penal de condutas atentatórias aos direitos e liberdades fundamentais dos integrantes da comunidade LGBT. Na verdade, a solução ora proposta limita-se à mera subsunção de condutas homotransfóbicas aos diversos preceitos primários de incriminação definidos em legislação penal já existente (Lei 7.716/1989), pois os atos de homofobia e de transfobia constituem concretas manifestações de racismo, compreendido em sua dimensão social, ou seja, o denominado racismo social (Trecho do voto do Ministro Celso de Melo) (B) INCORRETA. Para que seja tipificado penalmente um comportamento, é necessária lei em sentido estrito, ou seja, lei do próprio Congresso Nacional – seja lei ordinária, excepcionalmente, lei complementar -, não sendo admitida a tipificação penal de comportamento por meio de medida provisória ou de analogia, em homenagem ao princípio da reserva legal, desdobramento do princípio da legalidade. As medidas provisórias poderão ser utilizadas para normas não incriminadoras, porém, inviável a utilização para normas incriminadoras. (C) INCORRETA. Não é admitida a combinação de leis em hipótese alguma. Caso uma lei seja mista (lex tertia), ou seja, tenha partes favoráveis e partes desfavoráveis ao acusado, não poderá ser aplicada retroativamente apenas no que for favorável ao réu. Em outras palavras, não se pode combinar a parte boa da lei nova com a parte boa da lei velha. Para que essa nova lei tenha aplicação retroativa, deve ser analisada como um todo. Assim, somente retroagirá se, em sua integralidade, for mais favorável ao réu. Essa foi justamente a posição do STJ ao se manifestar sobre a “nova” Lei de Drogas, o que culminou na Súmula n. 501, do STJ: Súmula n. 501, do STJ: É cabível a aplicação retroativa da Lei n. 11.343/2006, desde que o resultado da incidência das suas disposições, na íntegra, seja mais favorável ao réu do que o advindo da aplicação da Lei n. 6.368/1976, sendo vedada a combinação de leis. (D) CORRETA. As convenções e tratados internacionais não detêm força normativa suficiente para a criação de tipos penais ou para a imposição de sanções criminais no ordenamento jurídico interno, sendo instrumentos destinados precipuamente ao âmbito do direito internacional. Nesse contexto, antes da promulgação das Leis nº 12.694/2012 e nº 12.850/2013 — diplomas normativos que, sucessivamente, passaram a disciplinar e a tipificar a conduta relacionada à organização criminosa —, manifestou- se o Supremo Tribunal Federal no sentido da inviabilidade de se conferir eficácia normativa, no plano interno, ao conceito de organização criminosa delineado pela Convenção de Palermo. Em consonância com tal entendimento, a Suprema Corte determinou o trancamento da ação penal instaurada, sob o fundamento da ausência de tipicidade da conduta imputada (HC nº 96.007/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, Primeira Turma, julgamento ocorrido em 12/06/2012). 33 (E) INCORRETA. Vide comentários da alternativa B. Correta, assim, a alternativa D. _______________________________________________________________________ 22. A respeito do crime de evasão de divisas previsto no Art. 22 e parágrafo único da Lei nº 7.492/1986, considerando a jurisprudência dos Tribunais Superiores, é CORRETO afirmar que: (A) a entrega de moeda estrangeira no exterior em contrapartida a prévio pagamento de reais no Brasil não tipifica o crime de evasão de divisas, diante da ausência de saída física da moeda do território nacional; (B) a manutenção no exterior de imóveis e veículos não declarados à Receita Federal e ao Banco Central não tipifica o crime de evasão de divisas; (C) as três modalidades do crime exigem o elemento subjetivo próprio “com o fim de promover evasão de divisas do País”; (D) o ingresso irregular de divisas no território nacional, se resultante de operação de câmbio não autorizada, tipifica o crime de evasão de divisas; (E) a exportação de mercadorias sem a respectiva liquidação do contrato de câmbio é suficiente para tipificar o crime de evasão de divisas. _______________________________________________________________________ GABARITO: B COMENTÁRIOS (A) INCORRETA. a entrega de moeda estrangeira no exterior em contrapartida a prévio pagamento de reais no Brasil é caracterizada como “dólar-cabo”, tipificando, assim, o crime de evasão de divisas. Nesse sentido: O dólar-cabo se caracteriza por uma operação de câmbio informal, na qual a parte entrega valores ao ‘doleiro’ no Brasil e recebe o correspondente em outro país. A operação de dólar- cabo invertido, que consistiria em efetuar operação de câmbio não autorizada com o fim de promover a internalização de capital estrangeiro, não se enquadra na evasão de divisas, na forma do caput do art. 22. Além disso, não há que se cogitar de seu enquadramento no tipo do parágrafo único do art. 22, uma vez que não podemos presumir que a internalização decorra de valores depositados no exterior e não declarados à autoridade financeira no Brasil. (STF, HC 157.604/RJ). Assim, enquanto a operação dólar-cabo é caracterizadora do crime de evasão de divisas, a operação dólar-cabo invertido não se enquadra no delito de evasão de divisas. 34 (B) CORRETA. O dispositivo menciona expressamente a “moeda” ou “divisa”, bem como o “depósito” e a “operação de câmbio”. Não se enquadra em nenhum dos conceitos bens móveis ou imóveis. Sobre o tema: “Deve-se incluir no conceito de depósito qualquer tipo de investimento no exterior aplicado no sistema financeiro, tais como, ações, fundos ou cotas de fundos de investimentos (incluindo previdência privada), haja vista o escopo da norma em tutelar o controle das divisas situadas no exterior, abrangendo os respectivos depósitos oriundos de quaisquer tipos de aplicações financeiras, com base na hermenêutica da interpretação sistemática e teleológica.” (NUNES, Leandro Bastos. Evasão de Divisas. 2ª ed., Salvador: Juspodivm, 2017, p. 141-142). (C) INCORRETA. O dispositivo legal possui, no caput, a previsão da finalidade específica “com o fim