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AULA 6 PROJETOS INTERDISCIPLINARES E EXPERIÊNCIAS EM EDUCAÇÃO INFANTIL Profª Luciana da Silva Rodrigues A luno: E T E LV IN A R IB E IR O LIM A E m ail: ct.etelribeiro@ hotm ail.com INTRODUÇÃO Nesta etapa, vamos nos concentrar nos instrumentos de registro e acompanhamento utilizados como prática avaliativa no contexto da educação infantil, com o foco em projetos interdisciplinares. Para detalhar o assunto, exploraremos os seguintes tópicos: 1) Por que avaliar? 2) Avaliação na educação infantil 3) Instrumentos de acompanhamento e registros 4) Organização e comunicação dos registros de acompanhamento 5) Compartilhamento de registros como ponte para a transição A avaliação como uma ação natural do trabalho docente deve ser incorporada à prática educativa a partir de uma proposta que seja progressiva e contínua para acompanhar o desenvolvimento das crianças, e não como uma punição que valoriza a competição ou os resultados de desempenho. Dessa forma, ela deve ser compreendida como um modo de repensar o que já se fez e para quem se fez. Com base no que foi obtido, será possível tomar decisões e definir os próximos passos, seja sobre o desenvolvimento de uma criança, ou de um grupo de crianças, seja sobre a prática educativa de um professor, seja até mesmo sobre o percurso e objetivos de um projeto interdisciplinar. Portanto, avaliar é acompanhar cada progresso (ou não), que deve ser registrado e organizado em instrumentos avaliativos, dando base à interpretação fidedigna do desenvolvimento de cada criança e do grupo. Vamos (re)conhecer algumas possibilidades de instrumentos que fazem parte desse contexto, entender como podem ser usados durante o ciclo da educação infantil e também a importância desses registros na transição para o ensino fundamental, dando continuidade e sequência à aprendizagem das crianças. Bons estudos! TEMA 1 – POR QUE AVALIAR? Avaliar faz parte da natureza humana. No campo educacional, a avaliação é um recurso pedagógico que favorece a prática educativa docente, ajudando a identificar possíveis falhas que podem ocorrer no processo de aprendizagem ou, A luno: E T E LV IN A R IB E IR O LIM A E m ail: ct.etelribeiro@ hotm ail.com ainda, enxergar o suporte necessário para reavaliar suas ações e delas extrair recursos que irão colaborar em sua autoconstrução diária e contínua. Para Luckesi (2011), a avaliação é parte integrante do ato pedagógico, que também inclui o planejamento e a intenção de alcançar os objetivos propostos. Nesse sentido, é entendida como base para o caminho da aprendizagem e vista a partir de dois aspectos bem distintos: examinar e avaliar. Para o autor, a ação de examinar é vista como forma de valorizar a classificação e resulta em aprovar ou reprovar. Por outro lado, no processo de avaliação não há intenção de julgar ou classificar, mas oportunizar condições de colher informações essenciais para diagnosticar e propor ações de intervenção, visando à qualidade no processo ensino-aprendizagem. Para a prática da avaliação na aprendizagem, deverão ser coletados os dados que lhe sejam essenciais, relevantes, significativos. A semelhança do que ocorre na prática científica, a avaliação da aprendizagem não pode assentar-se sobre dados secundários do ensino-aprendizagem, mas apenas sobre os que efetivamente configuram a conduta que cabe ao educador ensinar e ao educando aprender. No caso da aprendizagem, dados essenciais são os que estão definidos no projeto pedagógico e nos planejamentos de ensino. (Luckesi, 2011, p. 281) Com base na perspectiva de Luckesi, podemos considerar que a avaliação é também mediadora ao dispor-se no campo construtivo e fornecendo informações a serem utilizadas na reorganização dos caminhos da aprendizagem, sobretudo na educação infantil. A avaliação não só faz parte do trabalho docente, como também é aliada da prática educativa e possui caráter progressivo e contínuo como forma de acompanhar o desenvolvimento das crianças. De acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (2010), os procedimentos avaliativos para o acompanhamento do trabalho pedagógico devem ser criados pelas instituições sem que tenham o objetivo de classificar ou selecionar as crianças, além de garantir: • A observação crítica e criativa das atividades, das brincadeiras e interações das crianças no cotidiano; • Utilização de múltiplos registros realizados por adultos e crianças (relatórios, fotografias, desenhos, álbuns etc.); • A continuidade dos processos de aprendizagens por meio da criação de estratégias adequadas aos diferentes momentos de transição vividos pela criança (transição casa/instituição de Educação Infantil, transições no interior da instituição, transição creche/pré-escola e transição pré-escola/Ensino Fundamental); • Documentação específica que permita às famílias conhecer o trabalho da instituição junto às crianças e os processos de desenvolvimento e aprendizagem da criança na Educação Infantil; A luno: E T E LV IN A R IB E IR O LIM A E m ail: ct.etelribeiro@ hotm ail.com • A não retenção das crianças na Educação Infantil. (Brasil, 2010, p. 29) Conforme destaca a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), o trabalho do professor parte também da ação de “refletir, selecionar, organizar, planejar, mediar e monitorar o conjunto das práticas e interações, garantindo a pluralidade de situações que promovam o desenvolvimento pleno das crianças” (Brasil, 2018, p. 39). Nesse sentido, espera-se do professor atuante no contexto da educação infantil criatividade na organização formativa do ensino, uma vez que a proposta não é avaliar somente o resultado final, mas respeitar e acompanhar todo o percurso construído pelo grupo e pela própria criança em seu processo de aprendizagem (Barbosa; Horn, 2012). Como já foi dito, o ato de avaliar deve ser compreendido como forma de repensar o que já se fez e para quem se fez; a partir dos resultados obtidos pela avaliação será possível tomar decisões e definir os passos seguintes. TEMA 2 – AVALIAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL Vimos que o ato de avaliar na educação infantil deve ser entendido como um processo de acompanhamento contínuo e progressivo atrelado a instrumentos de registros que partem da observação e do planejamento docente. [...] é preciso acompanhar tanto essas práticas quanto as aprendizagens das crianças, realizando a observação da trajetória de cada criança e de todo o grupo – suas conquistas, avanços, possibilidades e aprendizagens. Por meio de diversos registros, feitos em diferentes momentos tanto pelos professores quanto pelas crianças (como relatórios, portfólios, fotografias, desenhos e textos), é possível evidenciar a progressão ocorrida durante o período observado, sem intenção de seleção, promoção ou classificação de crianças em “aptas” e “não aptas”, “prontas” ou “não prontas”, “maduras” ou “imaturas”. Trata- se de reunir elementos para reorganizar tempos, espaços e situações que garantam os direitos de aprendizagem de todas as crianças. (Brasil, 2018, p. 39, grifo do original) Sendo assim, os procedimentos de acompanhamento do trabalho pedagógico devem ser organizados priorizando a criança como elemento central do processo ensino-aprendizagem. A partir desses registros, gradativamente o professor reunirá elementos centrados pela observação para criar estratégias significativas que farão diferença no processo de aprendizagem dos alunos, como também para elaborar ações interventivas que atendam às necessidades individuais ou do grupo que se mostrarem relevantes. Vale ainda mencionar que a organização dos instrumentos de registro e acompanhamento elaborados pelo docente requer atenção e compromisso com sua prática diária, garantindo assim A luno: E T E LVIN A R IB E IR O LIM A E m ail: ct.etelribeiro@ hotm ail.com condições de trabalho que mensurem a evolução no desenvolvimento das crianças e também de sua ação pedagógica. Os registros de acompanhamento são também chamados de documentação específica ou pedagógica e constituem referências na educação infantil para acompanhar e potencializar o desenvolvimento e as aprendizagens das crianças. De acordo com Barbosa e Horn (2012, p. 94), o registro pedagógico diário possibilita a criação de “elementos de memória, recuperação de episódios e de acontecimentos” que serão compartilhados posteriormente com toda a escola, a família e os demais professores. Portanto, podemos considerar que o objetivo central de documentar sistematicamente os processos e os resultados dos trabalhos com as crianças nos orienta para: • Oferecer às crianças uma memória do que disseram e fizeram que sirva como ponto de partida para os próximos passos; • Oferecer aos educadores uma ferramenta para compreensão, pesquisa e renovações contínuas; • Oferecer à comunidade algumas informações detalhadas sobre o que ocorre nas escolas, como um meio de tornar a escola realmente pública. (Malaguzzi, 2003, citado por Barbosa; Horn, 2012, p. 94) Diante dessa perspectiva, reafirma-se a proposição da avaliação na educação infantil, não com caráter classificatório, mas como um instrumento que deve ser utilizado como aporte para incluir a criança no contexto de aprendizagem, fornecendo subsídios a um conhecimento mais detalhado e aprofundado pela observação a qual, quando registrada e compartilhada, permite a ela construir a própria história dentro das relações, respeitando e reconhecendo sua singularidade. Por outro lado, a documentação pedagógica como prática reflexiva oportuniza momentos de troca com a família acerca do desenvolvimento e aprendizagens das crianças. Assim, a avaliação vista sob a ótica da ação compartilhada com outros atores sociais (professores, família, coordenadores e gestores) enriquece e amplia as percepções sobre o desenvolvimento no aspecto coletivo e individual, respeitando as particularidades de cada criança, além de favorecer o planejamento das ações docentes. Portanto, é indicado como auxílio ao trabalho do professor sequenciar as ações na construção dessa etapa por meio do planejamento, da observação, do registro, da reflexão e da comunicação. A observação docente como um ato intencional se faz presente em todos os momentos de interação. Seja na hora das brincadeiras livres ou guiadas, seja A luno: E T E LV IN A R IB E IR O LIM A E m ail: ct.etelribeiro@ hotm ail.com durante as trocas com os colegas da sala com ou sem a participação de adultos, seja na relação com a natureza, tudo precisa ser detalhadamente registrado e explorado sob uma perspectiva investigativa com o intuito de conhecer e identificar os interesses das crianças para, posteriormente, interligá-los ao planejamento pedagógico. Pesquisadores como Jean Piaget, Vygotsky e Wallon já apontavam que as experiências obtidas pelo meio e objetos presentes no mundo físico influenciam e modificam as percepções das crianças à medida que se desenvolvem e crescem. TEMA 3 – O QUE AVALIAR EM PROJETOS INTERDISCIPLINARES NA EDUCAÇÃO INFANTIL? Será que existe uma forma diferente de avaliar os projetos no contexto da educação infantil? Ou melhor, o que se deve avaliar em um projeto interdisciplinar quando desenvolvido com crianças? Essas dúvidas podem inquietar muitos docentes nessa etapa escolar, por isso vale reforçar que todo projeto deve estar alinhado ao planejamento escolar com o propósito de dar sentido aos objetivos educacionais. Nesse sentido, os projetos interdisciplinares são propostas de ensino que se mostram mais eficazes ao explorar na vivência de experiências a construção do conhecimento, sobretudo às crianças da educação infantil. Da mesma forma, o docente, ao avaliar um projeto pedagógico, utilizará os mesmos mecanismos de registro das avaliações rotineiras de sala de aula, tendo em vista que ao final, por meio dos registros, será possível acompanhar o desenvolvimento das crianças em uma leitura integral e não fragmentada. Mas, o que avaliar? Como estruturar essa avaliação? Não há uma regra que deve ser criteriosamente seguida, mas é preciso respeitar as características individuais de cada criança, como também do grupo, e como elas se relacionam entre si, com o docente e com os demais profissionais do ambiente escolar. Entretanto, há de se dar atenção a alguns aspectos que podem trazer informações ricas e cruciais para interpretar todo o trabalho desenvolvido ao longo do ano, bem como o desenvolvimento das crianças nas diferentes dimensões sociais e culturais. Diante disso, cabe ao professor conhecer o perfil das crianças, acompanhá- las e integrar a aprendizagem aos interesses e realidade do grupo. Para tanto, apresentamos dicas que podem auxiliar no trabalho de avaliação dos projetos interdisciplinares. A luno: E T E LV IN A R IB E IR O LIM A E m ail: ct.etelribeiro@ hotm ail.com • Quais são as características de cada criança? • Como é a participação da criança nas atividades? • Ela se mostra curiosa e interessada nas atividades? • Como a criança se comporta nas aulas? • Como é a socialização com os outros colegas e professores? • Quais são suas principais habilidades? • Quais são suas principais dificuldades? • Diante de conflitos, ela consegue ter calma para pensar em soluções? • Quais são os recursos utilizados na aprendizagem que mais chamam sua atenção? • A criança teve avanços? Quais? Pronto! Tudo anotado e detalhado, mas como organizar isso para que, ao comunicar todos os registros, as informações façam sentido ao processo de desenvolvimento e aprendizagem das crianças? 3.1 Instrumentos de acompanhamento e registros A palavra acompanhar está relacionada à ideia de estar junto, compartilhar experiências, situações e momentos, sendo, portanto, um dos atributos da função do professor na educação infantil. Como já mencionado anteriormente, acompanhar a vivência dos estudantes nessa etapa escolar é também ter uma atitude acolhedora, atenta e investigativa com relação às peculiaridades e à forma como eles experimentam e compreendem os sentidos dessa vivência. Assim, é preciso diversificar as formas de registro, análise e observação, pois ao adotar diferentes tipos de instrumentos para registro, será possível ter percepções diversificadas e mais detalhes sobre cada criança. Barbosa e Horn (2012, p. 104-110, grifo do original) apresentam algumas possibilidades de instrumentos que servem de apoio para o acompanhamento e registro das experiências vivenciadas pelas crianças no contexto da educação infantil. Diário de campo: este instrumento, importado da antropologia, pode ser considerado um caderno de registro do professor, no qual ele poderá não apenas registrar dados objetivos, mas principalmente seus sentimentos sobre o que vê ou ouve, isto é, suas interpretações. [...] Diário de aula: instrumento no qual o professor planeja suas atividades e relata os acontecimentos, podendo servir como fonte de informações e subsídio precioso para a sua reflexão. [...] As planilhas: material quantitativo que pode ser usado para o controle tanto das crianças como da professora. Nele são demonstrados A luno: E T E LV IN A R IB E IR O LIM A E m ail: ct.etelribeiro@ hotm ail.com desempenhos sequenciais, servindo para fins de controle dos objetivos levantados por ambos. Podem ser usados quadros de dupla entrada com os nomes e as habilidades específicas que se queira avaliar. As entrevistas: são instrumentos importantes, pois oportunizam o registro de diálogos entre os diferentes atores (professores, alunos, pais) e podem ser desenvolvidas não só no processo de ensino e aprendizagem,mas também nas situações significativas do dia a dia. Além de possibilitarem um conhecimento mais aprofundado das crianças, permitem estreitar laços de afeto. Debates ou conversas: é o registro escrito ou gravado de conversas, ideias, debates entre o grupo de crianças e deste com a professora, podendo constituir-se em elemento avaliador e qualificador do trabalho desenvolvido em classe, já que nesse processo também aparecem as habilidades sociais e a capacidade comunicativa das crianças. Realizar no grupo a releitura coletiva do trabalho efetuado serve para refletir sobre os percursos e construir novos caminhos. Relatórios narrativos de acompanhamento das crianças e relatórios narrativos de estudos realizados: este tipo de instrumento é caracterizado por imagens, desenhos, textos, coleta de amostras de trabalho, fotografias, diários de aprendizagem, gravações (vídeo e som) e agendas. [...] Autoavaliação: nas entrevistas, podemos ter momentos de análise dos trabalhos com as crianças, propiciando a autoavaliação e a seleção de trabalhos que parecem mais significativos para elas. Trabalhos de integração e consolidação dos conhecimentos: são propostas pedagógicas que possibilitam a integração das aprendizagens de diferentes áreas e envolvem trabalho intelectual, manual e criativo como realizar, por exemplo, uma excursão, fazer uma maquete, etc. Coleta de amostras de trabalho: consiste em realizar a seleção de materiais significativos realizados durante um período do percurso, justificando e argumentando a seleção. Fotografias e gravações em vídeo e em som: o registro fotográfico ou sonoro é imprescindível para o trabalho com as crianças pequenas, pois é um registro visual que inspira a reflexão sobre o acontecido, possibilitando a quem não estava presente conhecer determinados fatos. Depoimentos de pais: ao afirmarmos a importância da parceria com os pais, acreditamos que é imprescindível a sua participação nesse processo, informando aos educadores o que observam das crianças em casa, dos registros fotográficos e escritos, criando uma comunicação permanente. Comentários dos colegas: a análise dos colegas sobre os trabalhos realizados pode ser um interessante momento de partilha e discussão sobre a inclusão no grupo. As sugestões apresentadas como fonte de registros podem (e devem) ser adequadas ao planejamento docente conforme as particularidades e objetivos de cada grupo escolar. No entanto, a similaridade entre elas é a de priorizar o detalhamento das vivências para evitar improvisações na construção dos dossiês, portfólios e também dos relatórios descritivos. TEMA 4 – ORGANIZAÇÃO E COMUNICAÇÃO DOS REGISTROS DE ACOMPANHAMENTO Agora chegamos à etapa de compartilhar e comunicar todo o progresso das crianças ao longo do ano letivo. A organização dessas informações é A luno: E T E LV IN A R IB E IR O LIM A E m ail: ct.etelribeiro@ hotm ail.com fundamental para que o relato seja significativo e apresente de forma progressiva a evolução e o desenvolvimento dos estudantes em diferentes aspectos, porém, respeitando sua integralidade, como um sujeito dotado de afeto, emoções, movimentos e cognição. Para isso, há várias maneiras de preparar a comunicação no contexto da educação infantil. Vamos agora relembrar um pouco sobre elas, entender como organizá-las e seus objetivos. 4.1 Portfólios, dossiês e arquivos biográficos Os portfólios e dossiês são documentos que possuem significados muito próximos, e ambos têm a finalidade de reunir e apresentar os trabalhos realizados pelas crianças. São bastante utilizados na comunicação final do processo escolar delas. Entretanto, há uma sutil diferença entre as duas propostas. Os dossiês se referem à organização de materiais por temas e assuntos, podendo ser organizados pelos professores e pelas crianças; são elaborados normalmente com o intuito de estruturar e apresentar as aprendizagens sobre determinado tema ou assunto. Já os portfólios são mais amplos e reúnem todos os trabalhos realizados pela criança, além de englobar diferentes percepções por ter uma característica mais diversificada. De acordo com Barbosa e Horn (2012, p. 112), “os portfólios não são apenas a seleção dos materiais. É preciso apreciar, analisar, interpretar, construir sentidos, planejar o futuro, criar uma narrativa final”. Assim, esse recurso é mais utilizado para registrar as potencialidades e os progressos e também para orientar a prática docente, indicando qual assunto precisa de mais atenção e quais foram superados e que exigem novos desafios e estímulo para mais descobertas na aprendizagem. Para as autoras, os arquivos biográficos são “oportunidades de reouvir, revisitar, relembrar experiências e acontecimentos que podem marcar significativamente a história das crianças” (Barbosa; Horn, 2012, p. 112). São fontes que possibilitam revisitar as emoções dos momentos vividos, são registros captados por desenhos, falas, fotografias, pinturas, filmagens, que valorizam a história e as experiências sociais de um exato momento. Esses instrumentos são em sua maioria costumeiramente organizados em pastas como forma de facilitar o manuseio e a apresentação dos registros; no A luno: E T E LV IN A R IB E IR O LIM A E m ail: ct.etelribeiro@ hotm ail.com entanto, podemos ainda considerar o uso das tecnologias digitais tanto para registrar quanto para armazenar e compartilhar em tempo real as informações sobre o dia a dia das crianças. Essa possibilidade também favorece o recebimento do feedback dos familiares no momento adequado, caso seja necessário realizar alguma ação interventiva. 4.2 Relatórios descritivos Os relatórios descritivos são documentos que trazem de forma objetiva e explícita informações sobre a criança e seu percurso em determinada etapa da educação infantil. Devem ser cuidadosamente preparados pelo docente que acompanhou e vivenciou momentos significativos com a criança no ambiente escolar; podem, até mesmo, resultar da construção colaborativa de outros educadores que compartilharam e contribuíram com a trajetória do aluno. Eles não podem ser elaborados às pressas ou nos meses finais do ano letivo, pois isso pode acarretar uma observação fragmentada e generalizada dos aspectos fundamentais de desenvolvimento da criança. Cabe ainda considerar os preceitos da BNCC segundo os quais o relatório descritivo, bem como os demais documentos pedagógicos da educação infantil, não deve ter a finalidade de classificar, aprovar ou reprovar, mas sim estruturar e criar um repertório que contribua com a continuação da aprendizagem nas etapas seguintes. TEMA 5 – COMPARTILHAMENTO DOS REGISTROS: CAMINHOS PARA A TRANSIÇÃO Iniciamos este último tópico com uma afirmação de Paulo Freire: “Só aprende aquele que se apropria do aprendido, transformando-o em apreendido, com o que pode, por isso mesmo, reinventá-lo; aquele que é capaz de aplicar o aprendido-apreendido a situações concretas” (Freire, 1992, p. 27). Os documentos pedagógicos também servirão de base, reunindo informações essenciais sobre as crianças no sentindo de contribuir com a atuação dos docentes envolvidos e conduzi-las no momento de transição da educação infantil para o ensino fundamental. De acordo com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), A luno: E T E LV IN A R IB E IR O LIM A E m ail: ct.etelribeiro@ hotm ail.com A transição entre essas duas etapas da Educação Básica requer muita atenção, para que haja equilíbrio entre as mudanças introduzidas, garantindo integração e continuidade dos processos de aprendizagens das crianças, respeitando suas singularidades e as diferentes relações que elas estabelecem com os conhecimentos, assim como a natureza das mediações de cada etapa. (Brasil, 2018, p. 54) A transição deve ser feita com o máximo de segurança e tranquilidade, sobretudo para as criançase familiares. Reservar momentos para estimular a conversa entre os professores que atuam nas diferentes etapas é também um indicativo de compromisso e responsabilidade educacional que cabe também às escolas e a toda a equipe diretiva. A continuidade do processo de aprendizagem da nova etapa deve partir do conhecimento e de experiências já apreendidos pelos estudantes durante a educação infantil e registrados nos documentos pedagógicos, pois assim a nova etapa será introduzida respeitando-se a singularidade e as diferenças de cada aluno. Outra possibilidade interessante para construir essa ponte é sugerir ainda na fase escolar infantil que os familiares façam visitas guiadas com a criança como forma de deixá-la mais ambientada e familiarizada com a estrutura da nova fase. Percebe-se que a transição entre os níveis de ensino nem sempre é priorizada, e em alguns casos pode implicar sérios problemas relacionados ao processo de ensino-aprendizagem, como desgaste entre professores e estudantes e ruptura da sensação prazerosa e de curiosidade em relação à construção do conhecimento. Outros prejuízos são a desmotivação e a falta de interesse e engajamento nas atividades propostas, pois a criança que antes pertencia a um espaço que privilegiava a ludicidade e as descobertas passa agora a um novo ambiente que se apresenta complexo, formal e exigente. Muitos educadores não se dão conta desse precioso momento na vida das crianças, e é comum até a adoção de estratégias que reforcem a nova rotina escolar como forma de distanciar a fase lúdica das experiências vividas na educação infantil. De fato, sabemos que a nova etapa representa um marco no desenvolvimento das crianças, que devem ter uma postura mais consciente e responsável no processo educativo e cada vez mais ser instigadas a desenvolver habilidades que gerem atitudes de independência e autonomia relacionadas aos estudos. Portanto, trata-se de um momento oportuno que requer dos professores ações estratégicas que fortaleçam esse crescimento e não dispersem o interesse pela escola. Talvez um caminho possível que facilite e ajude no processo de transição seja ampliar as experiências já vivenciadas pelas crianças, aproveitando todo o aprendizado já compreendido na fase anterior, e implementar elementos A luno: E T E LV IN A R IB E IR O LIM A E m ail: ct.etelribeiro@ hotm ail.com significantes da nova fase. Nesse sentido, os projetos interdisciplinares são mais uma vez oportunidades que podem amenizar os desafios presentes no processo de ensino-aprendizagem, tanto para os estudantes quanto para os professores. Para que as crianças superem com sucesso os desafios da transição, é indispensável um equilíbrio entre as mudanças introduzidas, a continuidade das aprendizagens e o acolhimento afetivo, de modo que a nova etapa se construa com base no que os educandos sabem e são capazes de fazer, evitando a fragmentação e a descontinuidade do trabalho pedagógico. (Brasil, 2018, p. 53) Por fim, as informações contidas nos relatórios, portfólios e outros documentos de registros podem fornecer subsídios valiosos que podem ajudar na formulação de estratégias para a nova etapa escolar das crianças. Ainda conforme a BNCC (2018, p. 53), os direitos e objetivos da aprendizagem adotados na educação infantil devem ser compreendidos como orientações para o trabalho docente visando ao aprofundamento dos conhecimentos que serão estabelecidos no ensino fundamental. Dessa forma, os projetos interdisciplinares se reafirmam como um caminho possível para a continuidade do percurso educativo das crianças, sem deixar que elas percam o encantamento pelo prazer de aprender. A luno: E T E LV IN A R IB E IR O LIM A E m ail: ct.etelribeiro@ hotm ail.com REFERÊNCIAS AUSUBEL, D. P.; NOVAK, J. D.; HANESIAN, H. Psicologia educacional. Rio de Janeiro: Interamericana, 1980. BARBOSA, M. C. S.; HORN, M. G. S. Projetos pedagógicos na educação infantil. Porto Alegre: Artmed, 2012. BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: Ministério da Educação, 2018. _____. Diretrizes Nacionais Curriculares para Educação Infantil. Brasília: Ministério da Educação, 2010. Disponível em: . Acesso em: 7 abr. 2022. FREIRE, P. Extensão ou comunicação? Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992. LUCKESI, C. C. Avaliação da aprendizagem: componente do ato pedagógico. São Paulo: Cortez, 2011. A luno: E T E LV IN A R IB E IR O LIM A E m ail: ct.etelribeiro@ hotm ail.com